Um Banquinho, Um Violão ...
Um Banquinho, Um Violão ...
Um Banquinho, Um Violão ...
IFGW / UNICAMP
Junho/2003
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1. Introdução
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2. Produção do som
O som é produzido ao criarmos algum tipo de mecanismo que altere a pressão
do ar em nossa volta. Podemos dizer que o som é produzido ao colocarmos uma
quantidade de ar em movimento. É a variação da pressão sobre a massa de ar que
causa os diferentes sons, dentre eles os que são combinados para criar a música.
A vibração de determinados materiais é transmitida às moléculas de ar sob a
forma de ondas sonoras. Ouvimos os sons porque, as ondas no ar, causadas por essa
variação de pressão, chegam aos nossos ouvidos e fazem os tímpanos vibrarem. As
vibrações são transformadas em impulsos nervosos, levadas até o cérebro e
decodificadas.
Uma nota musical é um som cuja vibração encontra-se dentro de um intervalo
perceptível pelo ouvido humano e a música é a combinação, sob as mais diversas
formas, de uma seqüência de notas em diferentes intervalos. Entretanto, uma mesma
nota emitida por diferentes instrumentos musicais pode ter a mesma freqüência e
ainda assim soar de maneira diferente para quem ouve.
A partir dos princípios da acústica e da propagação de ondas pode-se descrever
com precisão todas as características associadas aos fenômenos acústicos. A teoria
matemática que descreve fenômenos ondulatórios foi desenvolvida por Jean Baptiste
Fourier no início do século XIX. Esta teoria afirma que qualquer onda pode ser
decomposta em uma combinação de ondas primitivas, todas com a forma de uma
senóide. A soma de ondas senoidais formando ondas complexas é chamada de síntese
de Fourier; a decomposição de uma onda complexa em suas componentes senoidais é
conhecida como análise de Fourier. O gráfico das amplitudes das ondas senoidais que
formam uma onda complexa é chamado de espectro de Fourier, e cada onda senoidal
recebe o nome de componente de Fourier.1
A figura 1 representa uma senóide. Esta função pode ser completamente descrita
especificando sua amplitude, comprimento de onda e freqüência.
O comprimento de onda é a grandeza física que define o “tamanho do ciclo”, ou
seja, qual a distância percorrida por um ciclo de onda até que ele volte a se repetir.
A amplitude é o afastamento da forma de onda da origem, na direção vertical.
Neste caso, a onda tem 4 unidades de comprimento de onda e amplitude máxima de
10 unidades.
1
Uma explicação mais detalhada do método de Fourier é feita na referência 1 e na referência 2 encontramos
uma página interessante de espectros de freqüência da voz humana.
3
Figura 1 – Gráfico de uma função seno onde o eixo horizontal representa o deslocamento da onda com
3,5 ciclos e o eixo vertical a amplitude da onda igual a 10 unidades.
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O comprimento de onda é calculado através da relação v=λf, onde v é a velocidade da onda, λ o comprimento e f a
freqüência.
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3. Freqüências naturais
Qualquer corpo sólido e mesmo as pequenas moléculas que formam os objetos
macroscópicos possuem uma certa vibração natural, uma "freqüência característica".
A combinação das freqüências de todos os átomos cria um "padrão de vibração"
que caracteriza os corpos.
As freqüências ligadas à música são criadas por um estímulo ao corpo que será
posto para vibrar.
A energia natural de vibração depende da densidade, rigidez, constituição
molecular, forma e uma enorme variedade de outros fatores relacionados ao material
que vibra.
Um exemplo de padrões de vibração característicos pode ser observado se uma
pancada leve for dada no tampo de um violão ou no tampo da caixa de ressonância de
um piano. É notável a diferença de som produzido.
A combinação desse padrão de vibração (a soma das diversas freqüências
individuais) pode ser representada, genericamente, na forma descrita abaixo:
N
SOM = C1 + C2 + C3 + C4 + C5 + C6 + ... = ∑C
i =1
i (1)
3
Nem todo instrumento musical é harmônico e nem todo som pode ser representado por uma série harmônica.
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A percepção sonora de um ouvinte numa sala de concerto ou em um ambiente
fechado, por exemplo, não é só resultado da forma como o som é produzido no
instrumento. Uma série de fenômenos ligados à teoria da produção de ondas
influencia essa percepção de modo muitas vezes dramático. Por exemplo, podemos
citar as tentativas muitas vezes frustradas de se fazer shows de bandas de rock em
locais fechados como ginásios esportivos. Todos nós percebemos a interferência e
uma espécie de "eco" com o qual os engenheiros de som sempre têm problemas. A
percepção do som da banda é uma se estamos de frente para o palco, diferente se nos
encontramos fora do "eixo" das caixas de som e ainda outro se estivermos do lado de
fora do ginásio. Em todos esses casos, estaremos ouvindo a mesma banda, tocando a
mesma música, mas algumas das propriedades ligadas à propagação das ondas afetam
essa percepção. Os principais efeitos são a refração, a difração, a reflexão, a
interferência e os efeitos de transmissão, absorção e dispersão das ondas.
A refração é a variação na direção da transmissão do som causada por uma
variação espacial na velocidade de propagação do som no meio. No nosso caso,
consideramos sempre o meio como sendo o ar. Notamos o efeito que a refração tem
na propagação do som ao ligarmos um aparelho de som dentro de um quarto fechado
e tentarmos ouvir o que está sendo tocado colando o ouvido na porta do quarto. A
velocidade de propagação da onda na madeira da porta modifica a nossa percepção,
fazendo com que, embora a característica principal da música se mantenha, alguns
detalhes e freqüências sejam amortecidos ou ressaltados.
A difração é a mudança na direção da propagação da onda devido à passagem do
som por um obstáculo qualquer. Isso permite que possamos ouvir o rádio num local
da casa diferente de onde o rádio se encontra. É notável a relação entre o
comprimento de onda, as dimensões do obstáculo e a difração. Quanto maior a razão
entre os dois primeiros, maior é a difração.
A reflexão, observada quando existe o encontro de uma onda com uma
superfície rígida, mantém as características da onda incidente e ocorre sempre que as
dimensões da superfície rígida forem muito maiores do que o comprimento de onda.
Um exemplo interessante de reflexão sonora é o eco, observado sempre que a onda
incidente possui intensidade suficiente e permite um atraso tal que a onda refletida
seja percebida distintamente.
A absorção e a transmissão (onda refratada), de uma certa forma modificam as
características da onda incidente. A absorção ocorre quando uma onda atinge um
obstáculo qualquer e deposita parte de sua energia sonora, sendo refletida,
transmitida ou refratada com uma intensidade menor. A parcela de energia depositada
normalmente é transformada em calor. A transmissão acontece em praticamente
todos os refletores ou absorvedores de som, causando uma propagação da onda na
superfície rígida que causou a reflexão, por exemplo.
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4. Análise dos sons
O ouvido humano médio é capaz de distinguir cerca de 1400 freqüências
discretas, variando entre aproximadamente 20 Hz e 20000 Hz. Sons fora deste
intervalo não são percebidos, ou porque não possuem energia suficiente para excitar
o tímpano, ou porque a freqüência é tão alta que o tímpano não consegue perceber.
Entretanto, quando o som situa-se no intervalo mencionado, a vibração do tímpano
gera uma corrente elétrica, um estímulo, que será enviado ao cérebro. A estes
estímulos físicos mensuráveis correlacionamos sensações mentais. Fisicamente,
detecta-se uma freqüência, uma amplitude e uma composição de diferentes senóides
num espectro sonoro, todas múltiplas da fundamental para sons harmônicos.
A cada um desses parâmetros físicos está associada uma interpretação mental
dos sons quanto à sua altura, à sua intensidade e ao seu timbre, respectivamente.
Podemos então fazer dois tipos de análise sobre o som. Uma delas é a análise
qualitativa, que descreve as propriedades sonoras em termos da nossa percepção,
conforme a receita mencionada acima. Esse tipo de análise não pode ser quantificado
e, muitas vezes, modifica-se de acordo com as nossas emoções. A outra forma,
matemática, descreve as propriedades físicas do som e é mensurável univocamente.
Em termos perceptivos, o som pode ser descrito através da sua altura, timbre e
intensidade. O timbre está associado à qualidade do som. Ele pode ser comparado a
uma "receita mental" para distinguir sons complexos (formados por uma
superposição de diversos sons relacionados entre si). Sons provenientes de
instrumentos diferentes são perfeitamente distintos, mesmo que exatamente a mesma
nota musical seja tocada, uma vez que eles possuem diferentes "receitas de
composição".
O timbre está associado à série harmônica do som (no caso de instrumentos
harmônicos), onde cada nota musical é composta de uma nota fundamental e uma
combinação de harmônicos superiores com diferentes freqüências (múltiplas da
freqüência fundamental), diferentes intensidades e diferentes durações.
A altura está ligada à percepção de mais agudo e mais grave. Quanto mais alto é
um som, mais agudo ele é. Esta diferenciação é baseada nas variações da freqüência
de vibração destes sons. Aos sons graves relacionam-se as baixas freqüências e aos
agudos as altas. A freqüência é um conceito objetivo e pode ser cientificamente
medido. A altura do som depende da percepção sonora de quem está ouvindo o som e
é bastante subjetivo. Entretanto, a relação direta entre os dois pode ser claramente
percebida.
Quanto à intensidade pode-se dizer que um som é forte ou fraco. Intensidade
pode ser interpretada como a quantidade de energia sonora que chega aos nossos
ouvidos, ou seja, classifica-se como mais fortes os sons provenientes de vibradores
que oscilam em maiores amplitudes exercendo assim uma maior pressão sobre o ar.
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Considerando os fatores acima citados, vemos que o som é bastante afetado
pelas condições do ambiente. Quando percebemos um som, diversos fatores externos
à fonte sonora influenciam na qualidade deste: as paredes e as propriedades de seu
revestimento, o volume de ar da sala, a densidade do ar, a umidade, o coeficiente de
reverberação do recinto, etc. Portanto, uma fonte sonora não produz o mesmo som
em ambientes diferentes, principalmente se esta fonte for um instrumento musical.
Nesse caso, ele está sempre sujeito a alterações de timbre e volume quando
submetido às alterações climáticas. As ondas sonoras, ao deixarem a fonte, sofrem
uma série de alterações qualitativas.
A escolha de um bom instrumento musical é algo extremamente delicado, uma
vez que a análise de sua qualidade sonora pode ser comprometida em função do local
em que ele se encontra, ou das condições climáticas da época, além da percepção
sonora da pessoa que toca o instrumento.
É interessante ressaltar que a percepção do timbre e do volume está relacionada
com a série harmônica e com a quantidade de energia sonora gerada por um
instrumento musical. Portanto, diferenças sonoras sutis podem não ser percebidas
quando dois instrumentistas tocam um certo instrumento, mas são detectadas por
medidas físicas.
5. Intervalos musicais
Se tomarmos duas notas musicais, a primeira mais grave, com uma freqüência
de m Hz e uma mais aguda, com freqüência de n Hz, o intervalo entre elas é, por
definição, a razão n/m, em que m e n são números inteiros.
Essa razão entre as freqüências e as alturas dos sons pode ser determinada no
comprimento das cordas de uma harpa, no tamanho da coluna de ar dentro de uma
flauta e ao se olhar dentro da caixa de um piano: as cordas mais curtas e as menores
colunas de ar corresponderão sempre aos sons mais agudos e vice-versa.
Uma forma de analisar o conceito de intervalo é pensarmos em freqüências
relativas. O ouvido humano está mais preparado para "entender" diferenças entre
freqüências do que para identificar uma nota solta. Por isso, ao tocarmos uma
determinada nota no piano, por exemplo, é difícil saber se aquela nota é um Dó, um
Dó# ou um Si. E mesmo os ouvidos mais treinados, capazes de perceber essa
diferença, não têm condições fisiológicas de distinguir intervalos inferiores ou iguais
a 81/80, ou 1,0125, a chamada coma. Essa limitação fisiológica leva a duas
conseqüências importantes na música. A primeira é que, embora exista um número
infinito de freqüências (um "continuum"), somente é possível definir um número
finito de intervalos perceptíveis ao ouvido humano, a partir das 1400 freqüências
discretas mencionadas na seção anterior. Isso leva à noção de escala musical. A outra
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é que, dentro do intervalo de uma coma, uma pequena "desafinação" é perfeitamente
tolerável.
O conceito de raiz harmônica está diretamente ligado ao conceito de
interferência. Se tocarmos duas notas musicais com freqüências de m Hz e n Hz, a
sua raiz harmônica é uma nota mais grave, produzida pela interferência entre elas,
dada pelo máximo divisor comum das duas. A raiz harmônica da combinação do Dó
3 (264 Hz) e do Sol 3 (396 Hz) é o Dó 2 (132 Hz). A sensação que se tem quando
tocamos a combinação Dó 3 – Sol 3 é que se está ouvindo um Dó 2 desfalcado de
alguns harmônicos, inclusive da nota fundamental.
A proximidade entre a raiz harmônica de um intervalo e a mais grave de duas
notas tocadas simultaneamente define o "parentesco" entre essas duas notas.
Especificamente, sejam duas notas de freqüências m Hz e n Hz, m e n sendo números
inteiros (n > m) e q o máximo divisor comum de m e n. O parentesco entre as duas
notas é, por definição, o inteiro m/q. A relação de parentesco entre notas é definida a
partir do intervalo entre elas. Genericamente, se este intervalo é expresso pela razão
p/q (p > q), o parentesco entre elas é de ordem q. Assim, num intervalo de uma
oitava, temos uma relação p/q = 2/1, então o parentesco é de primeiro grau (a
segunda nota está inteiramente contida dentro da senóide da primeira); num intervalo
de quinta perfeita, a relação é p/q = 3/2, o parentesco é de segundo grau. Na quarta
perfeita, p/q = 4/3 e temos um parentesco de terceiro grau e assim por diante.
Veremos que a idéia de parentesco tem implicações diretas na combinação de
sons, criando os conceitos de consonância e dissonância. Essas relações são resultado
das possibilidades discretas para a criação dos cerca de 1400 intervalos comentados
anteriormente. Certas combinações, dentro desse conjunto de intervalos, são mais
agradáveis ao ouvido humano que outras.
6. Escalas musicais
As escalas musicais são, a rigor, a divisão da seqüência de notas contidas dentro
de uma oitava. Essa divisão pode ser feita de diversas formas, obedecendo
principalmente a critérios estéticos, quer em termos da melodia que as notas formam,
quer em termos das relações harmônicas entre elas. Sem entrar em detalhes no
processo da construção das escalas, vemos que a divisão da escala musical é feita em
sete notas principais: tom – tom – semitom – tom – tom – tom – semitom.
A idéia de parentesco entre as notas (ligada à relação harmônica entre elas) pode
ser analisada novamente à luz das séries de Fourier, uma vez que combinações de
formas sonoras cujas freqüências não tenham entre si alguma possibilidade de
interferência construtiva dentro de uma ou duas oitavas quase certamente não
formarão nenhum tipo de relação harmônica, pelo menos dentro da estética ocidental.
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Por exemplo, na escala de Dó maior, alguns intervalos foram arranjados para
que se tornassem iguais a 9/8, ou seja, um intervalo de um tom. São esses os
intervalos dó-ré, fá-sol e lá-si. Já os intervalos ré-mi e sol-lá são iguais a 10/9,
ligeiramente inferiores a um tom.
DÓ RÉ MI FÁ SOL LÁ SI DÓ
f 9f/8 5f/4 4f/3 3f/2 5f/3 15f/8 2f
9/8 10/9 16/15 9/8 10/9 9/8 16/15
Como a diferença relativa entre 9/8 e 10/9 é igual a uma coma, a diferença é
imperceptível. O intervalo entre mi e fá e si e dó (16/15) é ligeiramente superior a um
semitom, mas também menos que uma coma. As diferenças mencionadas acima
criaram duas assimetrias: uma assimetria que os músicos chamam de "primeiro grau"
e que é próxima de um intervalo de ½ tom; a outra é uma assimetria de "segundo
grau" e está relacionada ao intervalo de cerca de uma coma. Essas assimetrias
levaram à criação de notas estranhas às presentes na escala de Dó maior. Isso ocorreu
para permitir que uma mesma melodia pudesse ser cantada a partir de uma tônica
diferente, isto é, mantendo as mesmas assimetrias (a estrutura de 2 tons, um semitom,
3 tons e mais um semitom) presentes na escala maior de sete notas.
Duas soluções foram criadas para resolver o problema das notas intermediárias.
Uma delas foi a introdução das notas alteradas (sustenidos e bemóis), formadas a
partir da multiplicação ou divisão da nota original por 25/24. A multiplicação criava
uma nota sustenida e a divisão criava uma nota bemol. Com isso a escala de sete
notas passava a ter vinte e uma notas, todas elas guardando algum parentesco com a
tônica. O intervalo entre duas notas sucessivas nunca excede 25/24, que é menor do
que três comas e, portanto, perceptível somente para os ouvidos mais treinados.
Assim, qualquer nota imaginável, nos cerca de 1400 intervalos perceptíveis para o
ouvido humano, se aproximaria de uma das 21 notas da escala de naturais, sustenidos
e bemóis com um erro menor do que uma coma e meia. Esta escala é chamada de
escala justa.
A outra solução, ideal para os instrumentos de teclado, foi dividir a afinação e
distribuir esse erro, inevitável por causa da forma da divisão da escala, entre notas
vizinhas. Dividiu-se a oitava em 12 intervalos rigorosamente iguais à raiz duodécima
de 2, ou seja, a razão entre as notas passou a ser de 1,059 entre semitons e 1,122 por
tom. Com isso, o dó sustenido se iguala ao ré bemol, o mi sustenido ao fá e o fá
bemol ao mi, reduzindo as 21 notas iniciais a 12. Esta escala é chamada de escala
temperada.
É interessante notar que, devido à distribuição de freqüências ser contínua, essa
divisão não alterou em nada a análise física dos sons. Ao medir o espectro sonoro de
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uma nota musical, observamos exatamente os mesmos harmônicos e freqüências que
seriam esperados em uma série normal.
O que se altera é a definição de onde fica a freqüência fundamental da nota. Por
exemplo, a junção do Dó# com o Réb faz com que a freqüência fundamental da nota
(já que, na escala temperada ambos são a mesma coisa e na justa não) seja
ligeiramente deslocada para um ponto entre ambas as notas.
Na escala justa, as notas guardam sempre uma relação de parentesco com a
tônica, uma vez que a construção da escala é feita sempre a partir de uma subdivisão
de intervalos racionais. Na escala temperada esse parentesco não existe, uma vez que
a relação entre as freqüências é expressa por números irracionais. A sensação de
parentesco resulta, na melhor das hipóteses, da ilusão auditiva resultante da falta de
sensibilidade a intervalos de uma ou duas comas. A Tabela 1 mostra, de forma
comparativa, a diferença entre as freqüências e as relações entre notas nas escalas
justa e temperada. Note-se a existência de intervalos na escala justa que foram
simplesmente eliminados na escala temperada, por uma questão de simplificação.
O grande problema ligado às escalas diferentes encontra-se quando instrumentos
temperados como o piano e o violão tocam com instrumentos não temperados, como
o violino, por exemplo. A única coisa a ser feita, nesse caso, é o violinista ouvir e
ajustar a nota tocada ao temperamento do outro instrumento, para que não haja um
choque harmônico muito grande.
Tabela 1 – Relação entre as notas musicais, intervalos e freqüências correspondentes
Intervalo com a nota Afinação Freqüência Afinação Freqüência
Nota
básica natural (Hz) temperada (Hz)
Dó Uníssono 1=1,000 132,000 1,000 132,000
Dó # Semitom 25/24=1,042 137,544 1,059 139,788
Ré b Segunda diminuta 27/25=1,080 142,560 1,059 139,788
Ré Segunda maior 9/8=1,125 148,500 1,122 148,104
Ré # Segunda aumentada 76/64=1,172 154,704 1,189 156,948
Mi b Terça menor 6/5=1,200 158,400 1,189 156,948
Mi Terça maior 5/4=1,250 165,000 1,260 166,320
Fá b Quarta diminuta 32/25=1,280 168,96 1,260 166,320
Mi # Terça aumentada 125/96=1,302 171,864 1,335 176,220
Fá Quarta perfeita 4/3=1,333 175,956 1,335 176,220
Fá # Quarta aumentada 25/18=1,389 183,348 1,414 186,648
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Sol b Quinta diminuta 36/25=1,440 190,080 1,414 186,648
Sol Quinta perfeita 3/2=1,500 198,000 1,498 197,736
Sol # Quinta aumentada 25/16=1,563 206,316 1,587 209,484
Lá b Sexta menor 8/5=1,600 211,200 1,587 209,484
Lá Sexta maior 5/3=1,667 220,044 1,682 222,024
Lá # Sexta aumentada 125/72=1,737 229,284 1,782 235,224
Si b Sétima menor 9/5=1,800 237,600 1,782 235,224
Si Sétima maior 15/8=1,875 247,50 1,888 249,216
Dó b Oitava diminuta 48/25=1,920 253,440 1,888 249,216
Si # Sétima aumentada 125/64=1,953 257,796 2,000 264,000
Dó Oitava perfeita 2=2,000 264,000 2,000 264,000
7. Ondas sonoras
As ondas sonoras complexas geradas por um instrumento musical sempre
poderão ser representadas por uma série de Fourier, composta das notas fundamentais
e da série de harmônicos ou sobretons, cada um com a sua amplitude e fase. A
expressão matemática de uma onda complexa poderia ter a seguinte forma:
P1 = sen ωt + 1/2 sen 2ωt + 1/3 sen 3ωt + 1/4 sen 4ωt + 1/5 sen 5ωt (2)
As figuras abaixo mostram as componentes individuais da série acima
construídas separadamente, em conjunto e o resultado das somas de todas (P)
respectivamente.
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Figura 5 – Gráfico da função 1/4 sen 4ωt.
Figura 2 – Gráfico da função sen ωt.
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Figura 8 – Gráfico da onda complexa P1.
14
Figura 10 – Gráfico da onda complexa P3.
O espectro sonoro é uma forma de mostrar a estrutura de uma onda complexa. Ele é
capaz de mostrar quais são as freqüências principais que constituem um determinado
som. Então, ao invés de um gráfico onde temos a amplitude em função do tempo,
teremos um gráfico de amplitude x freqüência. Essa mudança é conhecida como
transformada de Fourier e será usada na análise das notas musicais nas seções abaixo.
Para facilitar os cálculos computacionais foi utilizada a transformada rápida de Fourier.4
O que diferencia um instrumento do outro é exatamente a distribuição de
freqüências e das formas de ondas que vimos nas figuras anteriores. Instrumentos de
corda são, em geral, bem mais ricos em termos de harmônicos e possuem a forma de
onda mais complexa que outros.
A freqüência fundamental de ressonância dos instrumentos de corda é dada pela
fórmula abaixo. Sistemas acionados por cordas vibrantes possuem uma freqüência
fundamental que depende da tensão, massa e comprimento da corda:
1 T
f0 = (5)
2L ρ
v=λf (6)
T
v= (7)
ρ
4
Uma explicação mais detalhada da transformada rápida de Fourier é feita na referência 1.
15
encontramos:
v
f0 = (8)
2L
nv
f = (9)
2L
Tabela 2 – Relação entre as notas, comprimento da corda do violão, freqüência tabelada e freqüência
calculada a partir dos comprimentos respectivos.
Nota Comprimento da Freqüência tabelada na Freqüência calculada a partir do
corda (cm) afinação temperada (Hz) comprimento da corda (Hz)
Mi 61,0 ± 0,3 83,160 83,160
Fá 57,7 ± 0,3 88,110 87,92 ± 0,63
Fá# 54,7 ± 0,3 93,324 92,74 ± 0,68
Sol 51,9 ± 0,3 98,868 97,74 ± 0,74
Sol# 49,3 ± 0,3 104,742 102,90 ± 0,81
Lá 46,8 ± 0,3 111,012 108,39 ± 0,88
5
Ver tabela 1, dividindo as freqüências por 2 (uma oitava abaixo).
6
Os cálculos de erro foram baseados na referência 8.
16
8.2. Análise de Fourier
A figura 11 foi obtida gravando a nota musical Sol com um violão no programa
“Coll Edit”. Nesta janela podemos ampliar a forma da onda, normalizar e obter o
espectro de freqüência (figura 12).
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Os espectros de freqüências aqui foram obtidos da mesma forma. O intervalo Dó-
Mi corresponde a uma terça maior (5/4=1,250 na afinação natural e 1,260 na
temperada). Os números indicados nos espectros indicam os harmônicos
correspondentes e através das linhas vemos que a proporção 5/4 é mantida.
Realizamos gravações análogas para as notas Sol e Sib e as comparamos com o
mesmo Dó aqui analisado.
Há uma concordância muito boa entre a freqüência obtida tocando as cordas do
violão com as encontradas na tabela 1.
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O intervalo Dó-Sol corresponde a uma quinta perfeita (3/2=1,500 na afinação
natural e 1,498 na temperada).
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8.4. Diferença no timbre de uma corda tocada em diferentes posições
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Tabela 3 – Relação entre a freqüência, o harmônico correspondente e sua intensidade.
Freqüência (Hz) Harmônico Intensidade (dB)
Centro Extremidade
440 fundamental - 30,2 - 37,82
880 2º - 38 - 36
1320 3º - 41 - 47
1760 4º - 53 - 49
2200 5º - 55 - 59
2640 6º - 67 - 66
9. Conclusões
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10. Referências
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