Iv Enecult - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura 28 A 30 de Maio de 2008 Faculdade de Comunicação/Ufba, Salvador-Bahia-Brasil
Iv Enecult - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura 28 A 30 de Maio de 2008 Faculdade de Comunicação/Ufba, Salvador-Bahia-Brasil
Iv Enecult - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura 28 A 30 de Maio de 2008 Faculdade de Comunicação/Ufba, Salvador-Bahia-Brasil
28 a 30 de maio de 2008
Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.
Resumo
A discussão sobre Arte e cultura passa, necessariamente, pelo papel atribuído por
ambas nas sociedades humanas. Alguns autores atribuem o caráter de expressão
descompromissada dos anseios humanos, outros a necessidade de engajamento da Arte e da
ação cultural.
Não obstante, o presente artigo não tem por objetivo encerrar uma discussão e
apresentar uma definição sobre o que é ou o que não é Arte, mas apresentar argumentos que
denunciam a descaracterização da Arte politicamente engajada.
Com base em revisão bibliográfica específica sobre o tema ideologia, este trabalho
busca realizar uma análise científica sobre o tema para realizar a pretendida crítica e a relação
entre as expressões humanas e os interesses sociais envolvidos no campo social.
Palavras- chave: Arte, cultura, ideologia.
Introdução
Definir estes conceitos representa como uma tarefa um tanto quanto inglória,
semelhante a encher o tonel das danaides2 no tártaro, todavia, a compreensão destes é
fundamental para o presente artigo.
A definição do que é arte apresenta-se como um desafio à capacidade de se analisar as
transformações históricas deste termo e onde este se encaixa na atual sociedade. Para um dos
mais importantes historiadores da arte, Gombrich, é “uma coisa que realmente não existe” e
prossegue: “existem apenas artistas” (1985, p.04).
1
Mestrando de Ciências da Administração da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Graduado em Ciências da Administração na UFSC.
2
Na mitologia romana, as danaides são irmãs condenadas a encher com água um tonel cheio de
buracos no fundo.
Todavia, mais que buscar definições estanques e desligadas da realidade, busca-se no
presente artigo relacionar as definições de Arte e cultura, com as “ideologias” de nosso tempo
histórico e das sociedades humanas.
Arte e cultura
Arte se apresenta como uma expressão dos sentimentos humanos, em um dado período
e não, exclusivamente, conforme a subjetividade do ser, mas conforme o meio em que este
está inserido e a forma como enxerga a si e a seus semelhantes, na relação do sujeito com o
objeto 3.
O criador do conceito de Representação na conceituação histórica da arte, afirma que
“Arte, com A maiúsculo não existe. Na verdade, Arte com A maiúsculo passou a ser algo de
um bicho-papão e de um fetiche” (GOMBRICH, 1985: p. 04). Para Bosi (2002), a definição
do que é arte é fruto uma elitização dos padrões de belo e feio 4, de modo a arte ser a
expressão das classes superiores como demonstração da real beleza (PONCE, 1996), como
nos modelos de beleza das mulheres. Nestes padrões, pode-se comparar a beleza da mulher do
período feudal e da mulher do capitalismo do período monopolista. Nesta conceituação, que
parece hoje ser como natural, a beleza do gênero feminino como sendo um corpo esguio e a
pele bronzeada, quando comparada com a beleza do século XVII de opulência física, gordura
e pela alva, demonstra muito mais que a aparente evolução do mundo e do conceito de
estética, uma vez que no período feudal as mulheres das classes dominantes não trabalhavam
no campo, como as mulheres das classes dominadas. Dessa forma, as primeiras, além de
alimentar-se melhor, não se expunham ao sol como as segundas.
De forma semelhante ocorre no capitalismo na pós-modernidade, onde a maioria das
trabalhadoras das metrópoles do capital realiza suas atividades em escritórios por seis ou oito
horas, sem exposição ao astro rei. Em contrapartida, aquelas mulheres que pertencem à alta
burguesia (cada vez menor) têm maior tempo de exposição aos raios que bronzeiam a pele -
sejam eles naturais ou “artificiais” o ano inteiro e, portanto, é este o padrão que as mulheres
da atual sociedade costumam gastar sua renda para “ficarem bonitas”.
3
“Ao Homo sapiens devemos [...], muito provavelmente, [...] a invenção dos maiores sistemas
consoladores de todos os tempos: a arte e o além”. (DE MASI, 2002: p. 90).
4
A apreciação da arte passa, necessariamente, pelo que ela desperta no artista e em seus apreciadores,
havendo uma relação direta entre a compreensão de beleza artística. Mesmo o “feio”, como destaca
Gombrich (1985), quando representado na arte torna-se belo.
Obviamente, o padrão da beleza feminina, mesmo quando analisado historicamente,
não é suficiente para analisar-se o padrão da beleza artística. Porém, exemplifica, embora
também simplifique em demasia, o conceito de belo em cada tempo e espaço social.
Neste contexto, o conceito de arte é muito mais influenciado por fatores culturais de
onde o artista está inserido e, mesmo se se considerar como sendo a expressão individual do
artista, com fatores de cunho ideológico.
Dessa forma, caracterizar historicamente o vocábulo cultura, apresenta-se como de
grande valia para o presente estudo. Segundo o dicionário eletrônico Priberam, a palavra
cultura remete à palavra idêntica, de língua latina. Entretanto, entre os vários significados
expressos não há a consideração do aspecto histórico do termo (http://www.priberam.pt).
Cultura vem do termo latino culturus, cuja origem é, segundo Bosi (2002), a mesma
das palavras culto e colonização, ou seja, todas derivam do “verbo latino colo, cujo particípio
passado é cultus e o particípio futuro é culturus” (BOSI, 2002: p. 11). Colo, em latim,
significa morar, ocupar a terra e, por extensão, trabalhar, cultivar o campo, derivando do
termo outros como íncola e inquilinus, significando, respectivamente, habitante e residente de
terra alheia; e colonia e colonus, como sendo o primeiro o “espaço ocupado, terra ou povo
que se pode trabalhar e sujeita” e o último aquele que cultiva uma propriedade alheia (BOSI,
2002: p. 11),
O autor (2002: p. 16) define culturus como particípio de colo, designando o sufixo
“urus” a idéia de porvir, ou seja, sendo culturus o que se vai trabalhar, ou o que se quer
cultivar, de onde se origina o termo cultura.
Dessa forma, cultura seria, originalmente, “o conjunto das práticas, das técnicas, dos
símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução
de um estado de coexistência social” (BOSI, 2002: p.16). Entre esses valores, estão os gestos,
o idioma, as vestimentas e a expressão artística. A regionalidade e temporalidade de cada
conjunto de valores, crenças, idioma, formas de expressão artística etc., permitiu às ciências
humanas, ao analisar várias sociedades, classificar suas expressões artísticas como sendo
características próprias de cada povo ou região, como a cultura de cada povo.
Contudo, no que se refere às representações artísticas, suas primeiras manifestações
não podem ser especificamente datadas, uma vez que o ser humano parece ter representado
suas angústias e crenças de modo artístico desde o princípio da espécie, seja em escrituras
rupestres ou nas encenações das relações do ser com a natureza.
Na arte, o conceito de belo relaciona-se com a produção e reprodução dos valores das
classes dominantes, de modo a alguns autores dividirem a produção cultural no capitalismo
em três: cultura de massa - masscult, midcult e cultura superior (MACDONALD apud
TEIXEIRA, 1980).
MacDonald (apud TEIXEIRA, 1980) define cultura superior como sendo as
representações experimentais de “alto nível” como
Ideologia
Para Ponce (1996), com o desenvolvimento das primeiras formações sociais com
divisão de classes a consciência de si, a noção de indivíduo acentuou-se. E, com o nascimento
da Filosofia, resultante do ócio das classes dominantes, as construções das idéias começaram
a ser questionadas quanto à veracidade e aproximação do real, em especial nos filósofos
socráticos (CHAUÍ. 1993). A isto, muitos chamam ideologia.
Löwy (2003: p.10) aponta as dificuldades do tema quando afirma que:
O termo ideologia aparece pela primeira vez no ano de 1796 no livro “Elementos da
Ideologia”, de Destutt de Tracy. Com considerável repercussão na época, o autor concebia o
termo como sendo uma nova disciplina filosófica, de modo a conter todas as demais
disciplinas, formando uma categoria do conhecimento que contivesse a gênese das idéias
(THOMPSOM, 1995).
A respeito deste livro, Konder assinala que:
Essa corrente, conhecida como a dos ideólogos, lutava, no campo das idéias, contra a
metafísica e a religião, de modo a conceber uma forma de ver a realidade em sua plenitude e
alterá-la para melhor.
No campo concreto, os ideólogos eram antimonarcas e logo se posicionaram
favoráveis a Napoleão Bonaparte, que, segundo o ponto de vista desta corrente de filósofos,
estava disposto a retomar os princípios da Revolução Francesa. Todavia, diante da não
concretização destas expectativas, os ideólogos logo se tornaram uma voz contra a de
Napoleão que tratou de tirar-lhes os cargos concedidos e condená-los como causadores de
todas as desgraças da França de sua época.
Quanto a este fato, Chauí acrescenta:
Desta forma, o significado de ideologia predominante foi o dado por Napoleão, não
pelos ideólogos.
O termo ideologia voltou a ser usado em um sentido próximo ao dos ideólogos pelo
positivista Augusto Comte, em Cours de Philosophie Positive. Para o autor, o termo passa a
possuir dois significados: um referente à formação das idéias mediante observações das
relações e sensações entre o corpo humano e o meio ambiente; e significa, igualmente, o
conjunto das idéias de um dado momento histórico, tanto no sentido de opinião geral quanto
de elaboração teórica, organização sistemática dos conhecimentos científicos da realidade –
portanto livre de vestígios metafísicos ou religiosos, por parte dos pensadores deste período.
Todavia, a discussão acerca da ideologia passa, necessariamente, pela concepção de
sociedade que cada autor tem. Não se trata de buscar uma verdade única, de encontrar a teoria
que explique a realidade, mas de, antes, evitar que a realidade borre e nuble o estudo e a
concepção de uma teoria que lhe explique em suas leis naturais de funcionamento e o
relacionamento histórico de seres históricos (KONDER, 2002), de forma que, considerando a
sociedade como capitalista, considera-se como sendo, segundo a ótica marxiana, uma
sociedade de classes (MARX, 2006).
Leandro Konder (2002) divide o termo mediante as intervenções teóricas de Karl
Marx, onde o mesmo ganhou a relevância que culminaria nos trabalhos de teóricos como
Lênin, Lukács, Gramsci, Adorno e Habermas, entre tantos outros. Entretanto, o filósofo
brasileiro aponta três definições em Marx (2002) reiterando as observações de Chauí (1993) e
Bottmore (1993). Para Bottmore, o pensamento do filósofo alemão sofreu influências de duas
correntes do pensamento: o materialismo francês e de Feuerbach, por um lado, e a crítica à
epistemologia tradicional e a revalorização do indivíduo, especialmente, em Hegel.
Inicialmente, Marx, ao lado de Engels, tenta mostrar a existência da contradição entre
a consciência do Estado prussiano defendido por Hegel e a realidade material dos homens
(BOTTMORE, 1993). O idealista alemão, autor da Fenomenologia do Espírito, afirmava ser o
Estado a síntese do substancial e do particular como realidade moral (TRAGTENBERG,
1977). Com base nisto, o filósofo alemão autor d’O Capital afirmou ser este raciocínio
“invertido” da realidade, defendendo a tese de ser o Estado não o fim da sociedade, nem o
construtor final do princípio de liberdade, mas uma construção histórica, como quando afirma
que “o ser humano é o verdadeiro princípio do Estado, mas é o ser humano não livre. O
Estado, então, é a democracia da não-liberdade, a consumação da alienação”.(apud
KONDER, 2002: p. 31).
Sartre (2002, p. 144) ressalta a importância da contribuição do co-autor do Manifesto
do Partido Comunista, quando afirma que:
5
“[...] ainda que meu pertencer a tal ou qual classe, a tal ou qual nação, não derive de minha
facticidade, enquanto estrutura ontológica do Para-si, é evidente que minha existência de fato, ou seja,
meu nascimento e meu lugar, envolve minha apreensão do mundo e de mim mesmo através de certas
técnicas. Logo, essas técnicas não escolhidas por mim conferem ao mundo suas significações.
Aparentemente, não sou eu quem decide, a partir de meus fins, se o mundo me aparece com as
oposições simples e fatiadas do universo “proletário” ou com as nuanças inumeráveis e ardilosas do
mundo “burguês”. Não somente estou arremessado frente ao existente em bruto: estou jogado em um
mundo operário francês, lorenense ou sulista, que me oferece suas simplificações sem que eu nada
tenha feito para descobri-las”.(Sartre: 1997, p. 630-1).
6
Obra de Antonio Gramsci.
Iasi (2007) aponta para os equívocos gerados pela concepção de ideologia proletária,
ou ideologia libertária, uma vez que o termo, na terceira fase do conceito em Marx, possuir
uma conotação negativa, no sentido de representar idéias que impedem a liberdade humana e
justificam sua dominação.
O sociólogo brasileiro ressalta que ideologia pressupõe a expressão da dominação da
classe dominante em um conjunto de idéias, em uma apresentação particular desta classe
como sendo o ideal universal de forma a realidade ser deformada, velada, invertida, como
justificação e naturalização das relações de dominação (p. 81).
Contudo, o autor afirma serem justificáveis as definições de Lênin e Gramsci, uma vez
que esses desconheciam as argumentações mais vigorosas de Marx e Engels por estarem em
um momento histórico bastante singular com levantes populares muito fortes no mundo
capitalista. Todavia, ressalta que de fato existe uma “ideologia proletária”, com início na
sociedade pós-capitalista soviética, onde o projeto de construção de uma sociedade sem
classes foi suprimido por novas formas de dominação.
Nesse contexto, passou a ser necessário apresentar uma visão do mundo que
reproduzisse e justificasse a dominação, que apresentasse como “natural” o
domínio de certos setores, investidos de funções ditas especiais, uma visão
que procurasse apresentar os interesses desses setores particulares como se
fossem universais. Representam-se [assim] todos os elementos da ideologia.
(IASI, 2007: p. 85).
Porém, tão logo rui o mundo soviético, Francis Fukuyama pronuncia, em outro
clássico da literatura contemporânea, O fim da história e o último Homem, de 1992, que a
história acabara. Para Fukuyama, a História da humanidade termina com a “vitória do
capitalismo sobre o comunismo” e o último Homem é este, remanescente de um novo
momento da história, sem classes sociais em disputa (FUKUYAMA, 1992). Ou seja, afirma,
de modo nem tão implícito, que toda a história da espécie, dos milhares de anos que se passou
desde a separação gradual do Homem dos demais animais, leva, inexoravelmente, ao
capitalismo e que este é o ápice de todo o processo evolutivo. Contudo, Hobsbawm (1984),
muito antes do livro de Fukuyama, já alerta quanto a esta “neutralidade”, como sendo fruto de
uma defesa da permanência das relações de poder.
Mészáros (apud VECCHIO, 2007: p. 38) ainda ressalta que:
cabe frisar que este antagonismo [...] jamais será reconhecido pela classe
dominante que, fazendo uso uma vez mais de sua retórica, há de insistir no
“interesse comum”, na “moderação”, na “unidade” a fim de manter as
relações de poder hierarquicamente estabelecidas.
Assim, esta “neutralidade” nem sempre é tão sutil quanto em Fukuyama. Para um dos
mestres da gestão contemporânea, Peter Drucker, a gerência deve ser o motor primordial não
apenas das empresas, mas de toda a sociedade, uma vez que, segundo seu raciocínio, uma
organização competente da sociedade é uma organização heterogestionada, como a das
empresas capitalistas (VECCHIO, 2007).
O dito empresariamento da vida humana, onde famílias, grupos religiosos, de jovens e
outros tipos de reunião de indivíduos humanos passam a reproduzir as formas organizacionais
das empresas capitalistas é uma das conseqüências deste fenômeno que reduz a ciência, a
racionalidade e, inclusive, a afetividade humana à lógica de mercado, indo além da
mercantilização das relações e compreendendo todas as formas de apreensão da realidade
pelos seres humanos, como afirma Mészáros (2002).
Tal termo, cunhado por Andréu Solé (VECCHIO, 2007), para designar este fenômeno
em que a empresa capitalista torna-se “referência para qualquer associação de pessoas”
(VECCHIO, 2007: p. 39), apresenta-se como um dos vários fatores de manutenção da ordem
capitalista, de modo consolador moral quando os indivíduos concluem que este, bem ou mal,
ainda é o melhor meio de manter a civilização e, quando somado ao que Laclau e Mouffe
(VECCHIO, 2007) chamam de “mercantilização da vida” 7, não apenas justifica, como
também renuncia as opções de resistência, o que leva Vecchio (2007, p. 38) a afirmar que
Assim, escritos como o que segue, extraído de um livro destinado aos estudantes de
Ciências da Administração, bem como a gerentes e, especialmente nesta citação,
trabalhadores subordinados, demonstram bem a necessidade de conformação da classe
trabalhadora e a naturalização da ordem vigente:
Não existe uma fórmula perfeita para se obter satisfação plena no mundo do
trabalho. Assim, não há um guia infalível para se conseguir harmonia no
casamento. Portanto, o importante é perceber que o mundo é composto de
singularidades. Essa repartição pública é assim, aquela outra é totalmente
diferente. Numa delas há um Santo Expedito na parede, na outra uma figura
de Iemanjá. Numa empresa a conversa é estímulo criativo, noutra é
considerada ruído ou motivo de dispersão. Portanto, caberá a cada um
adaptar-se ao ambiente ou, quem sabe modificá-lo. Os mais competentes são
aqueles capazes de compreender os métodos vigentes, avaliar suas eficácias
e transformá-los de acordo com as urgências e novos paradigmas da máquina
produtiva. Por isso, perceba a conveniência de sugerir em vez de contestar.
(JÚLIO, 2002: p. 152).
Considerações Finais
9
A luta de classes, definida por Marx e Engels em 1848 , está visível em todos os
momentos, não apenas em grandes mobilizações populares ou greves. Este “combate
ideológico” é fruto e imagem do combate real do antagonismo de interesse entre as classes
sociais, em especial entre trabalhadores e capitalistas10.
Embora existam outras classes sociais na sociedade, estas duas apresentam o confronto
mais forte, em especial se se considerar que uma, os capitalistas - ou burgueses, como
preferem os socialistas, comunistas, anarquistas e afins, mantém o controle dos meios de
produção material e espiritual da sociedade (MARX e ENGELS, 2006) e os trabalhadores - ou
proletários, como definiram Marx e Engels (2001), são a fonte do lucro (MARX, 1987) e,
consequentemente, da sustentação do capital, uma vez que este é dependente do trabalho
(MÉSZÁROS, 2002).
Para Paulo Freire, a harmonia entre as classes pode dar-se apenas em momentos
efêmeros de emergências nacionais que, tão logo se tornem controláveis, deixam de
“desmascarar” o “antagonismo indisfarçável entre uma classe e outra” (FREIRE, 1987: p.
141).
9
Ano em que os autores escreveram e publicaram o Manifesto do partido comunista, iniciando o texto
com a frase “A história de toda sociedade até nossos dias é a história da luta de classes” (MARX;
ENGELS, 2001: p. 23). Posteriormente, Engels ressalta que os autores se referiam apenas a história
escrita, uma vez que Hauxthausen pouco depois descobriu a propriedade comunal na Rússia e,
posteriormente, outros historiadores descobrem sociedades comunais em outros lugares, o que ajudou,
e muito, os estudos de Karl Marx para escrever O Capital.
10
“luta ininterrupta, velada algumas vezes, franca e aberta outras” (MARX e ENGELS apud PONCE,
1996: p. 35).
Freire (1987: p.140) propõe a “ação cultural” como processo totalizado e totalizador
capaz de fazer “os indivíduos como sujeitos dos processos” conforme uma nova percepção
social emerge entre os ditos “oprimidos”, não havendo uma dependência exclusiva de
lideranças.
Todavia, cabe ressaltar que este processo totalizador é fruto da ação prática dos
indivíduos, não de suas idéias, embora estas concebam suas ações, as mesmas são igualmente
formadas por suas ações e, de combater ideologias a mudar realidades, há uma grande
diferença que não pode ser desprezada.
Importante destacar a produção artística e cultural como contestadora da sociedade.
Artistas como Piscator, Brecht, Maiakovski, Chico Buarque de Hollanda e Jean-Paul Sartre
engajam-se politicamente na busca pelo desvelamento da realidade que muitos cientistas
construíram em submissão à manutenção de status quo. Porém, não somente nas sociedades
capitalistas há a intervenção, denúncia, busca por construção de um sentimento coletivo de
um novo mundo, mas também nas sociedades escravista (Sófocles), feudal (Voltaire) e
soviética (Soljenitzyne), indo além da expressão de um sentimento individual preocupado
com a forma da arte em si, como se a arte existisse por si própria, fora de um contexto
histórico e social, como se fosse esta algo fora dos seres humanos, uma criatura dominando
seus criadores, pairando no éter e dotada de lógica própria.
REFERÊNCIAS