Desenvolvimento Humano Estudo
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CASO CLÍNICO 1
Demanda e encaminhamento
⁃ IMPORTANTE
Foram adotados nomes fictícios, para preservar a identidade do avaliando e a de seus
familiares.
Nome: Fernando
Idade: 6 anos
A gestação de Fernando foi de risco, uma vez que a mãe tinha um mioma no útero, e, por
isso, até os três meses, não sabia se a gestação poderia chegar ao fim. Fernando nasceu
prematuro, com 36 semanas, e, devido a isso, tomou complemento alimentar junto à
amamentação enquanto esteve hospitalizado. Por indicação médica, a administração do
complemento foi interrompida, na ocasião da alta hospitalar. A mãe teve depressão pós-
parto e, em razão dos antidepressivos administrados desde o nascimento do menino,
decidiu amamentá-lo até os 3 meses de idade. Apesar da prematuridade, os marcos do
desenvolvimento (como engatinhar, balbuciar, andar sem ajuda, adquirir o controle
esfincteriano) foram alcançados conforme o período esperado.
Até o ingresso na educação infantil, aos 5 anos de idade, o paciente não tinha contato
com outras crianças além da irmã mais velha, Caroline, de 15 anos. A relação dos irmãos
foi classificada como boa, porém a irmã tinha ciúmes de Fernando por ele ser tratado
como o bebê da família. O menino foi descrito pelos pais como bastante dependente.
Havia fiscalização intensa para realização de atividades cotidianas, como se vestir, tomar
banho e ir ao banheiro, e a mãe relatou que em vários momentos acabava fazendo essas
tarefas por ele. Fernando dormia na cama com a mãe, e o pai dormia em um colchão no
chão, ao lado, no entanto, sete meses antes de realizar a avaliação psicológica, Fernando
iniciou psicoterapia individual, e vinha recebendo incentivo da psicoterapeuta para dormir
sozinho em seu quarto. Além disso, com o ingresso na terapia, a família vinha trabalhando
a relação de dependência, e, de acordo com os pais, Fernando também não queria mais
ser visto como o bebê da família.
Na educação infantil, as professoras relataram que seu comportamento era agitado,
agressivo, desatento e “mal-educado”. Por indicação da instituição, os pais procuraram
atendimentos pediátrico, psicopedagógico, neurológico, fonoaudiológico e
psicoterapêutico. Em avaliação com médico neurologista, não foi indicado tratamento,
apenas recomendado observar o comportamento do menino na nova escola até os 5 anos
e meio, e, caso não houvesse mudanças, a família deveria retornar para investigações
adicionais. Fernando realizou duas consultas com psicopedagoga, que sugeriu a
ocorrência de um possível Transtorno do Espectro Autista (TEA). Contudo a avaliação com
fonoaudióloga não constatou prejuízos nesse sentido.
Com a mudança de escola, os pais perceberam que a relação com os colegas melhorou.
No entanto o paciente apresentava dificuldades em entender explicações e regras de
jogos. Nesses momentos, era necessário que recebesse uma explicação individual para
compreensão do que havia sido solicitado.
Inicialmente, a maior ênfase foi dada à investigação das questões cognitivas, em razão
das dificuldades apresentadas por Fernando na escola para compreender as tarefas.
Porém foi se evidenciando uma demanda emocional bastante acentuada, que poderia
estar interferindo de modo direto na capacidade de aprendizagem do menino. As
informações da hora do jogo de diagnóstico, das entrevistas com os pais e do contato
com os profissionais que acompanham o paciente (psicoterapeuta e coordenadora
pedagógica de sua escola) foram fundamentais para a compreensão do caso.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Caso adaptado de: SILVEIRA, L. B. et al. Menino de 6 anos com queixa de
dificuldade de aprendizagem e desatenção. In: YATES, D. B.; SILVA, M. A. da;
BANDEIRA, D. R. (ed.). Avaliação psicológica e desenvolvimento humano:
casos clínicos. São Paulo: Hogrefe, 2019. p. 75–88.
CASO CLÍNICO 2
Demanda e encaminhamento
A escola na qual Ricardo estudava, havia quatro meses, antes do começo da avaliação,
solicitou que a família procurasse atendimento psicológico em razão do comportamento
do paciente em sala de aula. O menino de 13 anos não fazia as atividades propostas, além
de não copiar a matéria e ficar isolado da turma.
A queixa da família versava sobre a mudança de comportamento do filho, que estava mais
agressivo e isolado. Não estava empenhado nos estudos como em anos anteriores, não
queria ir à escola e estava sendo alvo de bullying pelos colegas. Os pais afirmavam que o
menino sempre havia sido tímido e tinha dificuldades de relacionamento. Em casa, o
comportamento era agressivo. Respondia aos outros gritando, batia no irmão menor, de 9
anos, e ameaçava bater nos pais.
⁃ IMPORTANTE
Todos os nomes são fictícios, a fim de preservar a identidade do avaliando e a de seus
familiares.
Avaliação de acordo com o Critério Brasil da Associação Brasileira das Empresas de
Pesquisa (ABEP, 2014).
Nome: Ricardo
Idade: 13 anos
Classe socioeconômica: C2, correspondente a uma renda familiar bruta de
aproximadamente 1,4 salário-mínimo, na época da avaliação
Depois dos meses iniciais, nunca mais ficou doente ou teve qualquer problema físico. Não
necessitou de internação e sequer contraiu gripe. Também nunca tomou medicação
psiquiátrica. Mamou no peito até os 6 meses, tendo seguido na mamadeira até os 7 anos.
Sempre foi muito “de dentro de casa”, assim como toda a família, não tendo amizades na
vizinhança e nunca saindo à rua para brincar. Como lazer, o menino gostava de jogar
videogame com os irmãos. Fora do ambiente doméstico, o máximo que fazia era jogar
bola com os irmãos, no campo de futebol que existia na rua. Na semana anterior ao início
da avaliação, Marta passou a levá-lo à igreja com ela. Segundo ela, ele relutava e dizia que
não queria ir, mas acabava cedendo.
Ao serem questionados sobre algum evento que acreditavam que poderia ter
desencadeado a mudança de comportamento do filho, os pais citaram uma situação
ocorrida na escola. Em certa ocasião, Ricardo chegou em casa “branco e tonto”. Ao
questionarem o que o filho tinha, Ricardo disse que uma colega afirmou saber a razão de
todos o tratarem mal: ele era muito estudioso e os colegas não gostavam disso.
Os pais do paciente haviam procurado um psicólogo particular, o qual disse que Ricardo
“não tinha nada”, encaminhando-o para um psiquiatra.
O profissional solicitou o psicodiagnóstico, em razão dos comportamentos
relatados: avaliação de síndrome psicótica, bem como outros diagnósticos
diferenciais dos Eixos I e II (4ª edição do Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais [DSM-IV]). Sugeriu também a Escala de Inteligência
Wechsler para Crianças (WISC-III). O psiquiatra, ainda, solicitou uma
avaliação neurológica, tendo tal investigação não evidenciado qualquer
anormalidade. O menino já havia realizado um Eletroencefalograma (EEG), o
qual não apontou a presença de patologias. Não havia queixas do pediatra, e a
família negou outras doenças, informando que Ricardo sempre havia sido
saudável.
Vale referir que os pais de Ricardo apresentavam baixo nível socioeconômico, tendo
estudado apenas até o 1° ano do ensino fundamental. Houve dificuldade de ambos para
responder algumas questões, ou mesmo lembrar de algumas datas.
⁃ IMPORTANTE
A avaliação foi realizada em 2013, época em que DSM-IV e a WISC-III eram utilizados.
Tendo em vista não haver possibilidade de comunicação oral, a maneira encontrada para
se comunicar com o paciente foi a escrita, meio pelo qual Ricardo demonstrou maior
facilidade para se expressar. Em nenhum momento ele se opôs a entrar na sala de
atendimento, mas, por vezes, recusou-se a realizar algumas das atividades propostas
(sobretudo, testagem psicológica), permanecendo imóvel na frente do material que lhe era
apresentado.
No quarto encontro, o adolescente revelou, de forma inesperada, ter sido vítima de abusos
sexuais quando tinha 10 anos de idade. Por escrito, indicou: “minha família é legal, meus
primos trabalham, um deles tem uma namorada. Ele sempre foi melhor que eu em tudo.
Ele é mais velho, mais inteligente, arrumava amigos aonde fosse, ele nunca foi humilhado,
nem sofreu três vezes abuso sexual. Ele luta melhor que eu, sempre se dava bem com as
mulheres, ele sempre teve tênis de marca, ele se achava melhor só porque eu sempre fui
um fracassado.”.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Caso adaptado de: CATTANI, B. C. et al. Adolescente de 13 anos com queixa
de mudança de comportamento. In: YATES, D. B.; SILVA, M. A. da; BANDEIRA,
D. R. (ed.). Avaliação psicológica e desenvolvimento humano: casos clínicos.
São Paulo: Hogrefe, 2020. p. 139-153.
REFERÊNCIAS
ABEP - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE PESQUISA. Alterações na aplicação
do Critério Brasil, válidas a partir de 01/01/2014. São Paulo: ABEP, 2014. Disponível em:
https://www.abep.org/criterio-brasil. Acesso em: 5 abr. 2022.
WECHSLER, D. WISC-III: Escala de Inteligência Wechsler para Crianças: Manual. 3. ed. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.