ENCICLOPÉDIA DA VIDA DOS PERSONAGENS BÍBLICOS DE A A Z
ENCICLOPÉDIA DA VIDA DOS PERSONAGENS BÍBLICOS DE A A Z
ENCICLOPÉDIA DA VIDA DOS PERSONAGENS BÍBLICOS DE A A Z
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do autor.
Título
Enciclopédia da V id a d os Personagens Bíblicos de A a Z: A Vida dos
Principais Personagens Bíblicos em Detalhes C om o Você Nunca Viu Antes!
Editor
M a th e u s Soares
Revisão de Conteúdo
H e rnandes D ias Lopes
Revisão Ortográfica
Tarik Ferreira, Elói Feitosa, Rose Sena
I a Edição - Abril / 2 0 1 7
2 a Edição - A g o sto / 2 0 1 7
3 a Edição - O utubro/ 2 0 1 8
S O A R E S , M atheus
Enciclopédia da vida d o s personagens bíblicos de A a Z: a vida dos
principais personagens bíblicos em detalhes com o você nunca viu antes!
Rio de Janeiro: Edições Acadêmicas, 2018.
ISBN :
ENCICLOPÉDIA
Da V ida Dos
PERSONAGENS BÍBLICOS
DeAaZ
A Vida dos Principais Personagens Bíblicos em Detalhes
Como Você Nunca Viu Antes!
Matheus Soares
Apresentação
É com louvor e gratidão a Deus que coloco nas mãos dos leitores
de língua portuguesa a primeira edição da E n c ic lo p é d ia d a V ida d o s
P e r s o n a g e n s B íb lic o s . Como fruto de mais de sete anos de estudos,
pesquisas e escrita, nasce esta obra, com o intuito de acrescentar à
Igreja brasileira um conteúdo conciso sobre a vida dos principais per
sonagens bíblicos.
Sempre que estudava sobre a vida de um determinado persona
gem bíblico, eu percebia que tínhamos inúmeras obras disponíveis, em
nossa língua portuguesa, sobre a vida destes. No entanto, havia duas
questões que me pareciam muito perceptíveis.
A primeira: dificilmente uma única obra conseguia reunir uma vi
são panorâmica “completa” acerca dos principais aspectos da vida dos
personagens. Às vezes, uma obra conseguia um bom fundo histórico, mas
havia uma certa deficiência no contexto cultural; às vezes, conseguia-se
boas interpretações sobre alguns momentos principais da vida de deter
minado personagem, porém, falhava-se em conseguir construir uma cro
nologia definida sobre sua vida. Enfim, parecia-me que era necessário
uma obra que reunisse o máximo possível de informações biográficas
dentro dessa categoria literária. De modo que, para que eu conseguisse
ter uma visão completa sobre a vida de personagens como, por exemplo,
Abraão, era necessário consultar algumas dezenas de obras a fim de que
algumas interrogações fossem respondidas.
Uma segunda questão que eu percebi durante meus momentos de
estudo - sem ainda ter tido a ideia de construir essa obra - é que a grande
maioria dos autores que se lançaram a reconstruir as biografias dos per
sonagens bíblicos, no desejo de conseguir escrever sobre todos, acabavam
não enfatizando a vida dos principais personagens. É claro que todos têm
a sua importância histórica e espiritual. No entanto, é nítido também que
existem alguns personagens que merecem destaque, como: Jesus, Abraão,
Paulo, Davi, Moisés etc., sobre os quais temos uma necessidade maior de
conhecer, devido à importância que suas histórias representam na narra
tiva sagrada. É diante da visão dessas lacunas que me propus a escrever a
obra que vos apresento. Não falo aqui sobre todos os personagens bíblicos.
Dediquei-me, porém, a enfatizar a vida dos principais, com o desejo de que
esta simples parcela de contribuição à literatura cristã brasileira seja rele
vante a um público de leitores amante da Palavra de Deus.
Expresso também minha profunda gratidão ao querido Rev. Her-
nandes Dias Lopes por ter aceitado gentilmente o pedido de que me aju
dasse com sua opinião na revisão do conteúdo deste livro. Seu comen
tário de revisão me honrou grandemente. Poucos homens conseguem
transmitir zelo e fervor de uma maneira tão cativante enquanto expõem
as escrituras quanto ele! Em minha opinião, é o nosso “David Martyn
Lloyd-Jones Brasileiro”! Que Deus desperte em nossos corações a priori
dade pela pregação expositiva!
Por fim, gostaria de glorificar a Deus e honrar a memória da vida de
um dos homens mais parecidos com Jesus em sua mansidão, ternura e pie
dade que o Brasil já teve: o Dr. Russell Philip Shedd, conhecido carinhosa
mente como Dr. Shedd. No dia 15 de maio de 2016 tive o privilégio de jantar
com o Dr. Shedd. Na ocasião, pedi a ele que me honrasse com o prefácio
desta enciclopédia, entregando a ele os originais desta obra. No dia 30 de
junho, tive a alegria de receber por e-mail o prefácio que os leitores podem
ler em seguida. Conversamos mais algumas vezes depois daquela data,
mas, infelizmente, ainda no mesmo ano, no dia 26 de novembro, o Senhor
chamava para a eternidade este homem, um gigante da fé, embaixador de
Cristo em terras brasileiras.
Agora, só nos resta dar graças ao Senhor por ter nos permitido ofe
recer esta obra ao leitor, com o desejo de que o público veja nela, ao fim
de tudo, a intenção primordial de glorificar ao Deus que, através da vida
de todos esses homens e mulheres, nos permitiu conhecer a Sua própria
história e o Seu próprio coração e vontade. Que o Senhor acrescente a
sua bênção aos nossos esforços de produzir uma obra que proporcione
graça e conhecimento aos que a consultarem. Para Deus seja sempre a
glória, a honra e o louvor!
Apresentação
Prefácio
Esta fonte de informação sobre personagens na Bíblia será muito
útil para pregadores e professores da Escola Dominical que querem
saber mais sobre aquelas pessoas que são familiares para os leitores
da Bíblia. Mas é bom que todos os que amam a Palavra leiam este livro.
A vantagem desta fonte é a sua abrangência e a garantia que os
leitores lerão fatos que não conheciam antes. O escritor Matheus Soa
res nos galardoou com a inclusão de fatos que se pode esperar encon
trar apenas em grandes tomos e dicionários bíblicos de muitas páginas
e de letra miúda. Matheus se mostrou hábil em suas pesquisas.
Nessa obra, Matheus, teve facilidade de juntar m aterial da Bí
blia - fonte primária de suas pesquisas - e outras fontes extra bíblicas.
Porém, não se contentou em se limitar à leitura da Bíblia para contar
as histórias dos personagens escolhidos, mas acrescentou muito mais
conteúdo de outras fontes históricas. Não creio que temos outra obra
em português que reúne tantas informações sobre os indivíduos men
cionados na Bíblia do que esta que o jovem escritor Matheus escolheu
para comentar.
Fica claro que o autor deste extenso tomo sobre os personagens
bíblicos, não quis apenas contar as biografias deles, mas também dese
java extrair lições que poderíam oferecer orientação para a vida daque
les que desejam servir a Deus. Vemos isso bem claro na vida de todos os
personagens aqui abordados, como por exemplo, Judas: “Quando João
vai escrever este evangelho, ele denuncia o que no dia do episódio ain
da não sabia. Judas não queria dinheiro para os pobres, Judas queria
dinheiro para ele. Porém, o que ele não sabia era que a maior de todas
as pobrezas, a espiritual, estava sobre ele”; Moisés: “Moisés ao matar
um egípcio, pensava que ninguém o tenha visto. Mesmo que não perce
bamos, há sempre alguém nos vendo. Isso nos revela um princípio: Se
você quer que ninguém saiba, não faça!”; Sobre o bezerro de ouro, Ma
theus escreveu: “Tenhamos o cuidado de não termos nenhum homem
como Deus. Por mais milagres que alguém possa fazer, ele sempre será
homem, e Deus sempre será Deus. Se considerarmos um homem como
Deus, levantaremos novamente um bezerro de ouro em nossos dias”.
Recomendo este livro para quem deseja descobrir mais informa
ções tanto bíblicas como de fontes fora da Bíblia sobre estes persona
gens. Este livro será muito útil para buscar fatos que dificilmente serão
encontrados nos livros sobre personagens bíblicos já existentes e que
são muito menos abrangentes.
Prefacio
Comentário do Revisor
Sou grato a Deus pela robusta obra ENCICLOPÉDIA DA VIDA DOS
PERSONAGENS BÍBLICOS da lavra do escritor Matheus Soares. Este cer
tamente é um reservatório para os estudiosos da Bíblia, uma mina para
se garimpar tesouros preciosos, uma fonte de informações para todos
aqueles que amam as Escrituras e têm o sublime privilégio de ensiná-la.
Matheus Soares, com esta obra, oferece uma importantíssima contribui
ção à literatura evangélica brasileira. Sua pesquisa profunda, sua lin
guagem clara e sua precisão nos relatos ajudarão o leitor a compreender
melhor esses personagens distantes de nós no tempo, mas companhei
ros nossos na gloriosa jornada rumo à glória. Recomendo este livro com
todo entusiasmo!
Sumário
Abraão foi o progenitor da nação hebreia. É considerado o pai das
três maiores religiões monoteístas do mundo: os cristãos (em Cristo, filhos
na fé de Abraão - G1 3.16), os judeus (descendência de Isaque) e os mu
çulmanos (descendência de Ismael). Poucas pessoas na Bíblia conheceram
Deus na mesma proximidade como Abraão conheceu.
Abraão nasceu aproximadamente em 2.100 a.C., em Ur dos Caldeus,
cidade rica e sofisticada da antiga região da Mesopotâmia. Por meio de Eber,
estava na nona geração depois de Sem, filho de Noé. Seu pai chamava-se Terá
e teve dois outros filhos, Naor e Harã. Sara também era filha de Terá, porém
não da mesma mãe de Abraão (Gn 20.12). O casamento entre irmãos foi proi
bido apenas a partir de Moisés (Lv 18.6).
Pouco se sabe sobre Terá. Segundo Flávio Josefo, Terá praticava a ido
latria e também fabricava ídolos. Josefo ainda afirma que Terá tinha um
quarto em sua casa que era utilizado para guardar esses ídolos por ele fa
bricados, e certo dia ele precisou fazer uma viagem e pediu a Abraão que
cuidasse desses ídolos. Em seguida, Abraão pegou um machado e destruiu
muitos daqueles ídolos, menos o maior deles. A seguir, pôs o machado na
mão deste ídolo-maior, e disse a Terá que este havia destruído todos os ou
tros. Terá dissera ser impossível tal coisa, pois este não era um ser vivo, não
se movia, não tinha sentimentos e era de argila. Abraão então perguntou:
“Então por que você adora um ser que não tem vida e não passa de argila?” -
esta talvez seja uma das informações mais antigas que temos sobre Abraão.
Harã morreu cedo e deixou seu filho Ló, que se apegou ao seu
tio Abraão. Após a morte de Harã, Terá saiu com sua família de Ur em
direção a Canaã. Flávio Josefo sugere que Terá mudou-se de Ur devido
à tristeza da morte de seu filho. Terá, no entanto, viajou apenas mil qui
lômetros até chegar a um lugar chamado Harã e ali ficou. Curiosamente
Terá parou e ficou em um lugar que tinha o mesmo nome do seu filho
que havia morrido. A Bíblia conclui dizendo que Terá não continuou seu
trajeto até Canaã, e “havendo Terá vivido duzentos e cinco anos ao todo,
morreu em Harã” (Gn 11.32).
A morte de Terá em Harã é curiosa. Alguma coisa distraiu Terá
em Harã, tirando-o do seu foco inicial (Canaã). Talvez a semelhança do
nome da cidade com a dor da perda do seu filho o fez trocar Canaã, que
representava seu destino futuro e inicial, por Harã que tinha a ver com a
lembrança do seu passado. O nome Harã significa “força”. Aprendemos
com isso que o nosso passado pode até ter força, porém ele não pode nos
impedir de irmos ao encontro do nosso destino final (“Canaã Eterna”).
Quando Abraão (que ainda se chamava Abrão) tinha a idade de
setenta e cinco anos Deus falou com ele pela primeira vez. Essa é a pri
meira das sete vezes que a Bíblia relata que Deus falou com o patriarca.
A proposta de Deus para Abraão não era das mais fáceis de ser aceita.
Ele já tinha família, e por certo já havia se adaptado ao lugar nos anos
que estava em Harã. Deus havia lhe dito: “Sai-te da tua terra e da tua pa-
rentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei... farei de ti
uma grande nação, te abençoarei, engrandecerei o seu nome, e tu serás
uma benção” (Gn 12.1-2). Após ter aceitado a direção de Deus, Abraão
então saiu de Harã (atualmente Turquia), e não de Ur dos Caldeus (atual
mente Iraque) - (Gn 12.4). Embora, haja evidências de que desde Ur, na
Mesopotâmia, Deus já havia dito a Abraão acerca de Canaã (At 7.2-4).
Abraão pegou sua esposa Sarai, Ló, seu sobrinho, todas as suas
posses e “os seus servos, comprados em Harã” (Gn 12.5), e partiu rumo
a um destino desconhecido. A proposta de Deus era “sai da terra” e “de
pois te mostrarei”, isso exigia uma confiança total. O fato de que tinha
servos indica que ele acumulara, pelo menos, uma quantidade razoável
de riquezas. A imagem que a maioria das pessoas tem de Abraão é a
de um andarilho perambulando com sua família pelas montanhas de
Canaã, no entanto, Abraão na verdade era equivalente, na antiguidade
a um xeique beduíno muito rico que governava centenas de súditos e
servos. Abraão era rico em ovelhas, bois, jumentos, camelos, servos e
servas. Quando correu para libertar Ló levou consigo 318 homens da
sua casa. Os reis vizinhos reconheceram-no como príncipe poderoso
com quem eles se prezavam de ter aliança. Abraão era um homem mui
to bem sucedido em todas as suas posses, e não um beduíno desprovido
de condições necessárias para sua sobrevivência.
Ele viajou seiscentos e cinquenta quilômetros de Harã até chegar
a Siquém, em Canaã. Siquém era um santuário pagão dos cananeus, e
foi ali que Deus disse que daria aquela terra a ele e seus descendentes.
Caminhando por Canaã, Abraão poderia ter se perguntado: como seria
possível aquela terra tornar-se propriedade de sua prole, que ainda nem
era nascida? A área já estava bastante ocupada, a Bíblia menciona dez
povos distintos que ali viviam. Mas, novamente, Deus aparece e declara
explicitamente: “É à tua posteridade que eu darei esta terra” (Gn 12.7).
Como sinal de fé Abraão erigiu um altar a Deus em Siquém. A expressão
“invocar o nom e do Senhor” (Gn 12.8) significa mais do que apenas orar.
Na verdade, Abraão fez uma proclamação, declarando a realidade de
Deus aos cananeus nos centros da falsa adoração deles.
No entanto, à medida que o tempo passava, Abraão continuava
sem filhos e estava cada vez mais cercado, na terra prometida, pelos
cananeus pagãos. Parecia que sua fé na promessa de Deus começava a
vacilar. Assim, quando uma violenta fome assolou Canaã, ele não espe
rou pelo Senhor e tomou uma decisão para “proteger” a si e sua família.
Levantou imediatamente acampamento e conduziu sua casa para o Egi
to fértil e próspero, em busca de alimento.
Então Abraão revelou ainda outro aspecto intrigante do seu cará
ter. Com medo de que alguém o tentasse matar para tomar sua esposa,
Sarai, ele mentiu. Por ser belíssima, ele pediu à ela que dissesse ser sua
irmã, e não sua esposa. O faraó ouviu comentários sobre sua beleza e pe
diu que a trouxessem ao palácio (Gn 12.11 em diante). Ele a tratou bem,
e a tomou para si, recompensando Abraão com “ovelhas, bois, jumentos,
escravos, servas e cam elos” em troca de sua “irmã”. Porém, Deus puniu
faraó com “graves doenças”, por ter ele tomado Sarai para si. Quando o
faraó descobriu que Abraão havia mentido, ficou furioso. Enviou Sarai de
volta para Abraão e expulsou toda sua tribo do Egito - mais tarde, Abraão
teve uma experiência semelhante com Abimeleque, rei de Gerar, uma ci
dade filisteia perto de Gaza (Gn 20).
Após deixarem o Egito, eles retornaram para Neguebe, uma região
desértica no sul da palestina, e de lá foram para Betei. Os rebanhos de
Abraão e os de Ló cresceram tanto que já não havia pasto suficiente para
todos os animais. Houve então uma desavença entre os pastores de Abraão
e os de Ló, e os dois decidiram se separar (Gn 13.7). Abraão disse a Ló que
escolhesse que região ele gostaria de ficar e Abraão ficaria com a parte que
sobrasse. Isso mostra que Abraão vivia pela fé e não pelas aparências. Qual
quer que fosse a decisão de Ló, não abalaria Abraão. Ele não estava preocu
pado com o futuro, pois sabia que tudo estava nas mãos do Senhor. Ló pos
suía uma tenda, mas não tinha um altar. Ló não invocava a direção de Deus
para tomar suas decisões. Para alguém que não tem comunhão com Deus,
tudo que lhe resta é seguir pelas aparências. Ló havia levantado os olhos
e visto o que o mundo tinha a lhe oferecer, então, Deus convidou Abraão
a levantar os olhos e ver o que o céu tinha a lhe oferecer. Ló escolheu um
pedaço de terra que acabou perdendo, mas Deus deu a Abraão toda a terra
que ainda pertence a ele e seus descendentes até o dia de hoje.
Esse episódio revelou o caráter de Ló. Ele só havia prosperado e
conseguido um rebanho porque Abraão havia lhe permitido sair com
ele de Harã. Na primeira opção que teve, escolheu o “melhor” para si e
o “pior” para o tio, demonstrando que em seu coração não havia nem ao
menos o princípio da gratidão.
Ló escolheu a bacia fértil do Jordão, estabelecendo-se próximo a
cidade de Sodoma, na costa do Mar Morto. A Bíblia indica que naquela
época, tal área era exuberante e fértil, e não o deserto árido que é hoje
em dia. No entanto, sobrou para Abraão a terra de Canaã, na planície
de Manre, perto de Hebrom. Aquele foi um indício não apenas da ge
nerosidade de Abraão e do egoísmo de Ló, mas uma prova de que não
é o lugar que faz a pessoa, mas sim a pessoa que faz o lugar. A benção
estava sobre Abraão e não sobre Ló, e para onde ele fosse à benção de
Deus o acompanharia.
Por causa da fé que Abraão demonstrou, Deus ampliou a aliança.
Antes, Deus havia prometido que a semente de Abraão possuiría a ter
ra e seria uma grande nação. Agora, Deus prometia a Abraão que sua
descendência seria “tão num erosa com o o pó da terra” (Gn 13.16-18).
Para confirmar essa palavra Deus disse: “Levanta-te! Percorre essa terra
no seu comprimento e na sua largura, porque Eu a ti darei”. Pela pri
meira vez é dito claramente que Canaã será dada diretamente a Abraão
durante sua vida terrena, e não apenas aos seus descendentes em um
tempo futuro. Abraão mudou sua tenda para os Carvalhais de Manre,
em Hebrom, e estabeleceu-se ali, usando Hebrom como uma base mais
ou menos permanente, embora fosse basicamente um nômade. Assim,
que Abraão armou ali as suas tendas, edificou um altar ao Senhor (Gn
13.18). Algum tempo depois, sem que Abraão esperasse Deus o visitou
ali em Hebrom (Gn 18.11). Deus sempre nos visitará onde houver um
altar edificado a Ele.
Houve uma guerra em que os reis de várias localidades próximas se
uniram e atacaram as cidades ao longo da costa do Mar Morto, incluindo
Sodoma e Gomorra. As cidades caíram, e Ló e sua família estavam entre
os que foram capturados como escravos. Quando Abraão ouviu que Ló
fora capturado, reuniu em meio ao seu povo um exército de 318 soldados
para resgatá-los. Ele os perseguiu até Dã, onde dividiu suas tropas e ata
cou quando o inimigo não esperava qualquer oposição. Ele os enfrentou
e afugentou-os, libertando todos os prisioneiros e recapturando todos os
bens retirados das cidades. Ele devolveu tudo ao rei de Sodoma, recusando
qualquer recompensa, exceto a reposição de tudo quanto o povo comera
enquanto ele os trouxera de volta (Gn 14.22ss). Interessante que Abraão
não se envolveu na guerra até ficar sabendo que Ló havia sido capturado.
Só então decidiu tomar uma atitude. Abraão sabia estar separado do mun
do, sem estar isolado dele. Era independente, porém não indiferente.
A seguir, Melquisedeque, rei de Salém (antigo nome de Jerusa
lém), veio e abençoou Abraão. Abraão deu-lhe o dízimo de tudo o que
possuía, não por ele ser o rei de Salém, mas sim por ele ser “sacerdote do
Deus Altíssim o” (Gn 14.18).
Mas ainda havia em Abraão uma incerteza acerca de quem her
daria a sua herança. Certa vez ele argumentou com Deus que ainda não
tinha filhos e que Eliezer de Damasco, seu mordomo, seria também seu
herdeiro. A descoberta dos documentos de Nuzi tem ajudado a esclarecer
essa ainda obscura declaração. De acordo com o costume hurriano, um
casal sem filhos sem condições de engravidar poderia adotar um herdei
ro. Na maioria das vezes um servo, que era um escravo, e ele seria respon
sável pelo sepultamento e pelo luto dos pais adotivos. Se um filho nasces
se depois da adoção de um escravo herdeiro, o filho natural iria, é claro,
suplantá-lo. Desse modo, a resposta de Deus à pergunta de Abraão vai
diretamente a esse ponto: “Seu herdeiro não será esse. Um filho gerado
por você mesmo será o seu herdeiro” (Gn 15.4). Deus então confirmou sua
aliança com Abraão, garantindo-lhe um herdeiro, uma nação e uma terra.
Em seguida, Deus reafirmou a promessa da terra e de que Abraão
teria um filho. Sarai era estéril, por isso acabou se aproveitando de uma
lei que dizia que, se uma mulher fosse estéril, seu esposo poderia ter um
filho com uma concubina, e a criança seria considerada filho legítimo
de sua esposa. Abraão, erroneamente consentiu e, aos 86 anos, teve um
filho com a concubina Hagar, que era serva de Sarai, e o menino cha
mou-se Ismael.
No entanto, Hagar começou a tratar Sarai de forma insolente, tra-
tando-a com desprezo. A forma indiferente com que Hagar tratava a Sarai
tornou-se algo tão evidente que Sarai reclamou com Abraão. Ele disse à
esposa que poderia tratar o assunto como ela achasse necessário. Sarai
maltratou tanto Hagar que a escrava egípcia pegou o menino e fugiu para
o deserto (Gn 16.6). Um anjo encontrou-se com Hagar no deserto. Ele a
orientou a retornar e submeter-se à sua senhora, prometendo que os des
cendentes de Ismael se tornariam uma grande nação: os árabes.
Esse episódio relata um lapso na fé de Abraão. Ele foi impaciente.
Sarai era uma boa pessoa, porém seu conselho não era bom. A aliança
de Deus com Abraão não precisava da ajuda humana. Até hoje, muçul
manos e judeus brigam, principalmente por Jerusalém, reivindicam a
posse do território que era de seu pai e tudo isso porque Abraão ouviu
um conselho que não era para ser ouvido. Sempre haverá consequên
cias negativas na nossa vida quando quisermos colocar a nossa mão na
quilo que Deus está construindo com a Dele.
Treze anos depois Deus voltou a falar com Abraão (Gn 17). Deus se
revelou a Abraão como o Deus Todo-Poderoso (El-Shaddai). Este era o nome
de Deus para Abraão. Décadas depois, para os judeus, Deus se revelou como
o “Eu Sou o Que Sou”. Como os Judeus temiam falar o nome de Deus mencio
navam o nome Yahweh, que era como se fosse a pronúncia de uma sigla das
inicias do nome que Deus revelou a Moisés (YHWH). Mas a Abraão Deus se
revelou não como o Eu Sou o Que Sou, mas sim como o Todo-Poderoso. E isso
foi proposital de Deus para com Abraão, pois só um Deus que tem todo po
der pode fazer um casal cujo esposo tem cem anos, e a esposa noventa anos,
gerar um filho de modo natural (Gn 17.17). Como sinal físico da aliança de
Abraão com o Senhor, este o instruiu a circuncidar-se e a todos os membros
de sua casa e, a partir daquela data, todas as crianças do sexo masculino de-
veriam ser circuncidadas oito dias após o nascimento (o brith millah - pacto
da circuncisão - religiosamente guardado pelos judeus até os dias de hoje).
Nesse mesmo período Deus mudou o nome de Abrão para Abraão,
e de Sarai para Sara. Abrão significa “pai exaltado”, e passou a ser
Abraão, que significa “pai de multidões”. Sarai significava “contencio
sa”, e passou a ser Sara, que significa “princesa”.
Pouco tempo depois o Senhor apareceu a ele em sua tenda reafir
mando a promessa que Sara teria um filho. Tanto Sara quanto Abraão
riram. O riso de Abraão (Gn 17.17) parece ter sido uma expressão de
alegria, enquanto o de Sara (Gn 18.11-15) uma expressão de incredu
lidade que ela, vergonhosamente tentou desmentir. Por isso o menino
chamou-se Isaque, que significa riso. O nome Isaque se origina da raiz
hebraica sahaq, que significa “rir”.
Deduz-se que, nesse dia, Deus fez uma parada no caminho para
sua ação mais devastadora, devendo julgar Sodoma e Gomorra devido
à maldade desse povo. Deus deu a Abraão o privilégio de compartilhar
dessa informação. Numa cena comovente, Abraão mostra-se digno de
ser o pai das nações ao ousar interceder por esses estrangeiros: “Destrui
rás o justo com o pecador?”, pergunta ele (Gn 18.23). Abraão consegue
que Deus concorde em poupar as cidades se houver cinquenta justos.
Depois continua a negociar o número até chegar a apenas dez justos.
Mas os depravados cidadãos de Sodoma e Gomorra mostraram-se
indignos da intervenção de Abraão. Os anjos não conseguiram encontrar
sequer dez justos. Logo cedo, na manhã seguinte, quando Abraão se le
vantou e saiu para contemplar o vale do Jordão, onde ficavam as duas
cidades “viu a fumaça subir da terra, como a fumaça de uma fornalha”
(Gn 19.28). Mas em resposta ao apelo de Abraão na véspera, Deus avisou a
Ló e sua família. Embora a esposa de Ló tenha perecido na destruição des
sas cidades, Ló e suas filhas sobreviveram fixando-se no planalto oriental
daquela região da bacia do Jordão.
Logo após, Sara deu à luz Isaque. Quando Isaque nasceu, Ismael
era aproximadamente da idade de quatorze anos (Gn 16.16; 17.17). Isso
aparentemente gerou uma grande ameaça a Hagar, que até aquele mo
mento acreditava que Ismael seria o único herdeiro de Abraão. À medi
da que Isaque crescia, a tensão entre Hagar e Sara também aumentava.
E, ao que parece, Ismael maltratava, ou pelo menos, desprezava Isaque
(Gn 21.9-10). Sara mais uma vez insistiu que Hagar e o menino deveríam
ser expulsos dali. De início, Abraão recusou-se a fazer isso, mas Deus
lhe disse para fazer o que Sara queria. Assim, Abraão entregou água e
alimento a Hagar e Ismael e os enviou para o deserto. Deus os protegeu
e cumpriu a promessa de que Ismael, assim como Isaque, seria pai de
uma grande nação.
No entanto, o maior teste de fé que Abraão enfrentou ainda esta
va para acontecer. Deus ordenou que ele oferecesse Isaque em sacrifício.
Segundo Russel Norman Champlin, nessa época Isaque tinha aproxima
damente vinte anos. Esse foi um teste de fé não apenas para Abraão, mas
também para Isaque, que já era um jovem forte e podia facilmente se
livrar de Abraão, que já tinha mais de cento e vinte anos de idade. Porém,
Isaque também estava disposto a aceitar a vontade de Deus. Isaque cons
tantemente ofertava e sacrificava a Deus com seu pai, a prova disso é que
ele sabia que naquele dia entre os elementos básicos de um holocausto
estava faltando o cordeiro. Ao interrogar ao seu pai sobre onde estava o
cordeiro para o holocausto, Abraão sabiamente lhe disse: O Senhor Prove
rá. O escritor aos Hebreus afirma que Abraão confiava que até dos mortos
Deus se quisesse podia ressuscitar Isaque (Hb 11.18).
Sem dúvidas essa foi uma das decisões mais difíceis que Abraão
tomou em sua vida. Deus havia dito que era através de Isaque que a sua
aliança se concretizaria. Aparentemente matar Isaque significava matar
a promessa. Naquele tempo Isaque havia se tornado o núcleo principal
de todas as esperanças de Abraão. Isso explica a importância do pedido
do oferecimento de Isaque em sacrifício. O dilema que Abraão experi
mentou era que a promessa de Deus não poderia se cumprir se Isaque
morresse. No entanto, Deus estava pedindo Isaque a Abraão para que
ele entendesse que o centro da promessa não era Isaque, mas era Deus.
Quando Abraão estava prestes a cravar o cutelo sobre Isaque “o
Anjo do Senhor bradou desde os céus e disse: Não estendas a tua mão
sobre o moço e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus
e não me negastes o teu filho, o teu único filho”. (Gn 22.11-12). O escritor
aos Hebreus, no entanto, menciona que Abraão “ofereceu a Isaqu e” (Hb
11.17). De fato, para Deus Isaque foi oferecido, pois Deus valoriza mais
a intenção do que a ação. A ação pode não ter sido a morte de Isaque
em sacrifício, mas a intenção em obediência a voz de Deus foi de entrega
completa. O sacrifício de Isaque foi aceito sem ele ter sido sacrificado.
Algum tempo depois Sara faleceu, na idade de cento e vinte e sete
anos em Quiriate-Arba, que é Hebrom, território de Canaã (Gn 23.1).
Foi enterrada na caverna do campo de Macpela. O local, na região de
Hebrom, tornou-se a partir daquele momento o lugar de sepultamento
da família. Era costume das famílias daquele tempo levar seus mor
tos de volta para casa, a fim de sepultá-los em suas terras. Até alguns
patriarcas fizeram isso (Gn 50.4-5-25). Porém, Sara não foi conduzida
para Ur ou Harã (Gn 11.31-32), mas foi sepultada em Canaã. O túmulo
da família de Abraão em Canaã era uma declaração muda e poderosa:
“E sta terra é nossa, está terra é nosso lar, con form e o Senhor p rom eteu ”.
Três anos depois da morte de Sara, sendo já Abraão velho e adian
tado em dias arranjou um casamento para Isaque, que na época tinha
quarenta anos. Ele escolheu seu servo Eliezer para escolher uma mu
lher em meio a sua parentela, os descendentes de seu irmão Naor (Gn
24). Isso manteria a integridade da linhagem familiar, evitando a possi
bilidade de Isaque se casar com uma cananeia. Esse arranjo para esco
lher a esposa de Isaque também fez com que o rapaz permanecesse na
terra prometida e não fosse exposto as influências pagãs para encontrar
sua noiva. Com isso, até mesmo em sua morte, Abraão tomou medidas
para proteger os dois maiores aspectos da sua aliança com Deus: a sua
terra e a sua descendência.
Algum tempo depois Abraão casou-se com Quetura, que lhe deu
seis filhos: Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Suá (Gn 25.1-6; lCr 1.32-
33). Os midianitas são descendência de Midiã, o quarto filho de Abraão
com Quetura. Mas apenas Isaque teve direito a herança de Abraão,
como dizem as escrituras “Abraão deu tudo o que tinha a Isaque” (Gn
25.5). Por fim, os midianitas tornaram-se inimigos dos israelitas, embo
ra tenha sido por intermédio deles que Moisés aprendeu sobre a fé que
fora revelada a Abraão.
Os dias de Abraão foram cento e setenta e cinco anos (Gn 25.7). O
que significa que ele andou com Deus durante um século (Gn 12.4). Abraão
começou a andar com Deus e percorreu o caminho completo. Apesar de
seus erros ocasionais, Abraão realizou a vontade de Deus e por Ele foi
usado para abençoar todo o mundo. Abraão foi sepultado pelos seus dois
primeiros filhos, Ismael e Isaque (Gn 25.9), ao lado de Sara, na caverna de
Macpela. Para os judeus, a história de Abraão é de importância nacional,
pois marca a transição para o início de sua existência como povo e o seu
direito divino à terra de Israel. No sentido religioso, também simboliza
a ruptura com a idolatria pagã e o compromisso com o monoteísmo, em
servir somente ao Senhor.
Abraão viveu o processo da promessa na integra. No começo da
peregrinação de Abraão, Deus lhe disse: “Vai para a terra que eu te mos
trarei” (Gn 12.1). Mais tarde, disse: “Eu te darei” (Gn 13.15-17). Então, sua
palavra a Abraão foi: “À tua descendência dei esta terra” (Gn 15.18).
Em 2 Crônicas 20.7 e Tiago 2.23, Abraão é chamado de amigo de Deus.
A universalidade desse título para o pai da nação hebraica está refletida no
nome da mesquita construída em sua honra em Hebrom, isto é, Al-Khalil
(“O Amigo”). Segundo a tradição esta mesquita está construída exatamente
sobre o local em que estão enterrados Abraão e sua família no campo de
Macpela, em Gênesis 23.19 a Bíblia afirma que eles foram realmente sepul
tados em Hebrom.
Barnabé foi um levita de Chipre, e por ser isso talvez tenha ser
vido no templo. Seu nome judeu era José, mas os apóstolos chamaram
seu nome de Barnabé, que significa “filho da consolação”, para sugerir
uma virtude do seu caráter (At 4.36). Aparentemente esse nome enfatiza
sua habilidade de consolar e animar as pessoas, e não sua proeminência
na exortação ou ensino. Barnabé é citado 29 vezes no bvro dos Atos dos
Apóstolos e 5 vezes nas cartas paulinas. Foi um membro notável da Igreja
Primitiva em Jerusalém e um ativo missionário entre os gentios.
Como cipriota (morador de Chipre), ele era judeu helenista (judeu
de fala grega), portanto tinha muito em comum com Paulo, um nativo da
cidade helenista de Tarso. Isso também o tornou uma pessoa ideal para se
comunicar com judeus e gentios, pois ele compreendia as duas culturas.
Parece que ele era um dos muitos judeus helenistas que, como Paulo que
era de Tarso, voltara para Jerusalém para ali morar. A possibilidade de ter
conhecido Saulo em Tarso, como mero estudante, é apenas especulação.
Na primeira aparição de Barnabé na Bfbüa ele estava em Jerusalém,
e foi citado como um maravilhoso exemplo de generosidade (At 4.32-37).
Ele vendeu uma propriedade e trouxe o dinheiro da venda aos apóstolos
para que as necessidades dos membros mais pobres da igreja fossem supri
das. Os levitas não poderiam possuir terras, de modo que é difícil entender
como Barnabé adquiriu a propriedade que vendeu. Talvez essa lei especí
fica (Nm 18.20; Dt 10.9) se aplicasse somente à Palestina e sua propriedade
estivesse em Chipre. No entanto, de uma coisa sabemos: a generosidade era
um princípio do seu caráter.
Barnabé foi enviado para auxiliar a igreja de Antioquia. Lucas deixa
bem claro que Barnabé era o líder da igreja naquela cidade. Após algum
tempo, ele sentiu necessidade de ter um colega para ajudá-lo na supervi
são daquela obra crescente, e trouxe Paulo de Tarso para Antioquia para
ajudá-lo ali. Em Atos 9.27, Barnabé ajuda a Paulo, quando este retornou a
Jerusalém, recomendando-o aos apóstolos e afirmando que Paulo era um
cristão genuíno. Isso é devido ao fato de que durante um bom tempo (nos
primeiros anos de conversão de Paulo), Barnabé era bem mais considerado
em Jerusalém do que Paulo. A prova disso é a ordem em que seus nomes
são citados em Atos 11.30, intencionalmente refletindo a ordem da hierar
quia da liderança naquela altura.
Em um período de grande fome, durante o governo do imperador
Cláudio (fome que havia sido profetizada por um profeta chamado Ága-
bo - At 11.28), a igreja em Antioquia enviou uma oferta para ajudar os
irmãos na Judeia (em Jerusalém), cuja tarefa foi confiada a Barnabé e a
Paulo (At 11.29-30).
Barnabé e Paulo trabalharam na igreja de Antioquia por um ano.
Após isso, deixaram aquela igreja para assumir um ministério ainda
mais extensivo. Barnabé e Paulo haviam sido escolhidos por Deus para
realizarem a primeira viagem missionária (At 13.1-3). Conscientes da
direção do Espírito, eles pregaram por toda a ilha de Chipre, onde o pro-
cônsul Sérgio Paulo creu no evangelho (At 13.7-12). Depois, navegaram
adiante e chegaram a Perge, na Panfília (atual Turquia), nesse lugar um
dos componentes da viagem chamado João Marcos (primo de Barnabé)
os abandonou em plena missão e voltou para Jerusalém (At 13.13).
Daí em diante, parece que Paulo assumiu a liderança, pois Lucas
refere-se a “Paulo e seus com panheiros” (At 13.13). Lucas claramente des
taca o recuo de Barnabé para o segundo plano, usando a ordem “Paulo e
B arn abé” (Lc 13.43,46-50) no restante da viagem, com uma notável exce
ção: quando um paralítico foi curado em Listra, os habitantes da cidade,
empolgados, consideraram os dois como divindades em visita a terra. À
Barnabé chamaram Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, porque este era o prin
cipal portador da palavra. Barnabé dentro de uma visão mitológica foi
considerado o deus principal, enquanto Paulo, como seu subordinado, fa
lava e trabalhava para ele. Aparentemente, a igreja em Antioquia parece
também ter aceitado a liderança de Paulo, de acordo com a ordem usada
por Lucas ao mencioná-los novamente naquela cidade (Paulo e Barnabé
- At 15.2,35). Em Jerusalém, no entanto, Barnabé claramente era tido em
mais alta estima (Barnabé e Paulo - At 15.12).
A dupla seguiu sua viagem missionária adiante e pregou em Antio
quia da Psídia, Listra, Icônio e Derbe, diante tanto da oposição como do
interesse da multidão (At 13.42-51; 14.1-7,19-21). E indicaram homens aptos
a prover futura liderança para cada igreja (At 14.23). Na viagem de volta
fizeram o mesmo itinerário e, ao chegar a Antioquia da Síria, prestaram o
relatório sobre a missão realizada (At 14.21-28).
Aparentemente, em duas ocasiões Barnabé e Saulo visitaram Je
rusalém como representantes da igreja de Antioquia. Na primeira, eles
trouxeram uma oferta para a igreja no período da grande escassez (At
11.30), conforme citado acima. Foi provavelmente durante essa visita
que tiveram algumas reuniões com os líderes da igreja em Jerusalém, e
nesse período o apostolado deles para com os gentios fora reconhecido
(G12.1-10). Na segunda, eles participaram do concilio (At 15) para discu
tirem e decidirem com os líderes de Jerusalém os termos sob os quais os
gentios convertidos seriam admitidos à comunhão da igreja. A grande
pauta da discussão era se os gentios tinham de ser circuncidados para
serem cristãos. Os judeus diziam que sim. Paulo dizia que não, e argu
mentava pelo seu vasto conhecimento acerca tanto do judaísmo quanto
da cultura greco-romana que a circuncisão não era necessária para pro
fessar a fé cristã, ao contrário de como era para professar a fé judaica.
Após o Concilio de Jerusalém, Barnabé e Paulo retornaram para
Antioquia, mas logo se apartaram. Essa separação ocorreu por causa da
possibilidade da ida de João Marcos na segunda viagem missionária. Na
primeira viagem, ele os havia abandonado em Perge. Paulo não era a fa
vor que o levassem novamente, ao contrário de Barnabé.
Paulo e Barnabé concordavam sobre a importância da viagem, mas
discordavam sobre a formação da “equipe”. Não causa surpresa Barnabé
defender João Marcos, pois os dois eram primos (Cl 4.10), e os laços de fa
mília deviam ser fortes. Mas, além disso, Barnabé era o tipo de pessoa que
procurava ajudar ao próximo de todas as maneiras. Estava disposto a dar
a João Marcos uma nova oportunidade de servir ao Senhor e de encon
trar sua importância no ministério. Assim, Barnabé insistiu que levassem
João Marcos consigo na viagem.
Paulo, no entanto, mostrou-se irredutível em sua posição. O resul
tado foi que os dois missionários e amigos dividiram o território e apar
taram-se. Barnabé foi para Chipre, sua terra natal, levando consigo João
Marcos. Paulo chamou Silas e ambos se dirigiram à Síria e Cicüia (At
15.23), iniciando então a segunda viagem missionária.
A partir desse momento nunca mais foi contada a história de Barnabé
no livro dos Atos dos Apóstolos. Quem estava errado? Talvez ambos estavam
certos em alguns aspectos e errados em outros. Se Barnabé errou por ser in
sistente, Paulo errou por sua severidade. No entanto, Barnabé rompeu com
algo que Deus havia formado que era a união dele com Paulo para a obra
missionária (At 13.2). O compromisso de Deus em Atos 13 não foi com João
Marcos, mas sim com Barnabé e Paulo. Barnabé permitiu que preferências e
favorecimentos humanos o tirassem da rota de Deus para sua vida. A histó
ria de Paulo continuou a ser contada no livro dos Atos, e a de Barnabé passou
a ser esquecida.
Paulo, porém, sempre se referia a Barnabé com afeição e estima,
como um companheiro missionário para os gentios (ICo 9.6). No entan
to, o ministério paciente de Barnabé com João Marcos teve resultado,
pois anos depois o próprio Paulo reconheceu a importância que João
Marcos possuía no ministério (2Tm 4.11). Podemos concluir que Barna
bé fez por João Marcos o mesmo que havia feito, anteriormente, pelo
próprio apóstolo Paulo. A diferença é que, talvez, naquele momento,
Paulo não foi sensível a isso.
Nada se sabe sobre o fim da vida de Barnabé. Os livros apócrifos
Epístola de Barnabé e Atos de B arnabé não foram escritos por ele. O pri
meiro foi escrito somente no século 2 e o segundo é datado no século 5
d.C. Tertuliano, teólogo de Cartago, credita a ele a autoria da carta aos He-
breus, embora essa afirmativa não passe de especulação. Há evidências
internas contestam isso. É ponto pacífico que ele ainda estava vivo em
56-57 d.C., quando Paulo escreveu sua primeira carta aos coríntios (ICo
9.5-6). Em 61-63, entretanto, quando Paulo estava na prisão em Roma, ele
chamou João Marcos para servi-lo, indicando que provavelmente Barna
bé já estava morto nessa ocasião. Não há nenhum registro bíblico sobre
sua morte, mas a tradição afirma que ele foi apedrejado em 61 d.C., em
Salamina, que ficava em Chipre - sua terra natal - na Grécia.
Infelizmente, pouco se sabe sobre Bartimeu. Ele era um cego que men
digava à porta de Jerico. A história de sua cura é relatada por Marcos (Mc
10.46-52) e Lucas (Lc 18.35-43), e as características desses relatos são seme
lhantes ao de Mateus, em que ele fala sobre a cura de dois cegos (Mt 20.29-34).
Bartimeu percebendo que Jesus passava pelo caminho onde ele
esmolava, começou a chamá-lo pedindo ajuda. Algumas pessoas pediam
para que ele se calasse e não importunasse o mestre, mas ele persistiu
chamando até que Jesus, ao ouvi-lo, parou e ordenou que o trouxessem.
Ao informar ao Senhor o desejo por sua cura, Bartimeu foi curado, po
dendo assim voltar a ver.
Seu nome é o que chamamos de “patrônimo”, um nome que o
identifica como filho de alguém. O nome Bartimeu significa “filho de
Timeu”. Segundo uma tradição antiga, Timeu foi um general aposentado
do exército de Israel, que havia servido em Belém. Na época que os ro
manos dominaram a Palestina, Timeu teve sua aposentadoria cortada e
seus bens confiscados. Isso o deixou revoltado contra o domínio romano
na Palestina. Essa era uma das estratégias dos romanos quando domi
navam um território, para que, através disso, fosse enfraquecida toda
a resistência dos exércitos inimigos. Unindo-se a alguns companheiros
militares que também haviam sido prejudicados, começaram a organi
zar uma revolta contra os romanos. A fim de impedir que isso fosse pos
sível, os romanos mataram a Timeu e sua família.
Timeu foi crucificado (método de execução dos romanos) e pou
param-lhe apenas um filho que ainda era menino, que ficou conhecido
como “Bartimeu”. Arrancaram os seus dois olhos, evitando assim que
ele crescesse e vingasse a morte do pai, e deram-lhe uma capa romana
(Mc 10.50). Essa capa também servia como uma “autorização” romana
para pedir esmolas. Bartimeu a usava aberta de dia para que as pessoas
lhe dessem esmolas, e a noite a usava como um agasalho para dormir.
Aquela capa tinha um significado muito importante para ele, represen
tava “provisão” durante o dia, e “proteção” durante a noite. Quando Je
sus o chamou, a primeira coisa que Bartimeu fez foi jogar a capa fora.
Com isso, ele estava declarando que a partir daquele momento sua pro
visão e proteção viriam do Senhor.
A comprovação que um dia ele enxergou perfeitamente está no fato
de o texto afirmar que ele “imediatamente recuperou a visão” (Mt 20.34; Mc
10.52). Só pode ser recuperado algo que um dia se teve e foi perdido.
Outra coisa que podemos observar em Bartimeu foi a sua sensibi
lidade em perceber que ele estava diante de uma oportunidade única.
Essa foi a última ida de Jesus a Jerico antes da entrada triunfal em Jeru
salém. Em seguida aconteceria a prisão, morte e ressurreição de Jesus, e
o mestre não voltaria mais a passar por aquele caminho onde Bartimeu
mendigava. Sua perseverança em clamar pelo mestre foi válida. Aquela
era a única oportunidade que Bartimeu tinha de ter um encontro trans
formador com Jesus.
O apelo de Bartimeu para que o “filho de Davi” tivesse misericór
dia dele é muito significativo. Era um duplo reconhecimento de Jesus,
como integrante da linhagem real de Davi e como o Messias sobre Israel.
Ester era seu nome persa, que significa estrela, e Hadassa era o
seu verdadeiro nome de origem hebraica, que significa murta. A mur-
ta era uma planta que crescia nas montanhas perto de Jerusalém e da
Palestina. Essa planta possuía um cheiro muito agradável, dava frutos
e quando esmagada exalava uma fragrância ainda mais intensa, pois
saía dela um óleo composto por diversas pontuações ao longo do limbo.
Interpretando simbologicamente o significado do nome Hadassa, temos
algumas idéias interessantes: fragrância agradável (testemunho cris
tão), frutos (obras), e quando esmagada (provação) emana da planta um
“óleo” ainda muito mais agradável do que a própria planta.
Ester foi uma linda jovem hebreia, filha de Abiail, da tribo de Ben
jamim (Et 2.15). Viveu em um tempo pós-exílio. Passados setenta anos
de exílio, muitos judeus haviam se adaptado e se estruturado financei
ramente na Babilônia e em todo o território persa, e devido a isso acaba
ram não retornando a Jerusalém. Entre esses judeus estava a família de
Ester. Infelizmente, nesse período os pais de Ester vieram a falecer dei
xando-a órfã. Ester tinha um primo chamado Mardoqueu, que morava
em Susã, capital persa. Quando Ester ficou órfã, ele a recebeu e a criou
como se fosse sua filha.
Mardoqueu era um judeu fiel ao Senhor. Por algumas vezes, a Bí
blia informa que Mardoqueu ficava à porta do palácio do rei. Possivel
mente, ele desenvolvia alguma função em Susã, talvez ligada ao palácio
ou ao reino, mas nada muito ligado ao rei.
O rei dos persas naquela época era Assuero, este Assuero é o rei
Xerxes da história que reinou entre 486 a 466 a.C. Sua esposa era a ra
inha Vasti. Naqueles dias, Assuero decidiu fazer uma festa que durou
180 dias em Susã, porém dividiu homens e mulheres em dois comparti
mentos, um feminino e outro masculino. Ao fim dos 180 dias de festas,
embriagado pelo vinho, Assuero mandou que chamassem a rainha Vas
ti, para que ela dançasse para ele na frente de todos os outros homens.
A rainha não aceitou o convite, e recusou-se a se expor dançando para
o rei diante de tal situação. Assuero recebeu isso como um desacato, e
de forma tola e impensável rompeu sua aliança com Vasti, destituindo-a
assim de ser sua esposa e da posição de rainha.
Segundo a Bíblia, Assuero realizou essa grande festa no terceiro
ano de seu reinado (Et 1.3). Assuero separou-se de Vasti, sem ter a cons
ciência das consequências do que estava fazendo. Para não voltar atrás
em sua palavra real, manteve a decisão. No entanto, passado certo tem
po Assuero sentiu a falta de uma esposa, e iniciou-se um concurso para
a escolha de uma nova rainha, para assumir o lugar de Vasti.
O Império Persa abrangia cento e vinte e sete províncias desde a
índia até a Etiópia. Assuero reinava sobre todo esse território, e em todas
essas cento e vinte e sete províncias foram selecionadas virgens formosas
para serem analisadas pelo rei a fim de concorrerem a “vaga” de rainha.
Ester 2.8 diz que Mardoqueu ao ser informado da procura do rei
por uma donzela formosa para ser sua nova rainha, apresentou sua
“prima-filha” Ester para Hegai, que era o eunuco do rei e guarda das
mulheres. Quando Hegai viu a Ester percebeu que esta era formosa e
agradável aos olhos. Ester lhe agradou tanto que este lhe destinou sete
servas para atendê-la, deu-lhe o melhor aposento do harém e a selecio
nou para o processo de purificação de um ano que era necessário a vir
gem passar antes de se encontrar com o rei.
Alguns intérpretes enxergam essa história como um tipo do arre-
batamento da igreja. Assuero tipifica Cristo e Ester tipifica a igreja. No
entanto, Ester precisou se purificar para encontrar-se com o rei. Este
processo de purificação durava um ano. Seis meses para o tratamento
com óleo de mirra e seis meses com especiarias, perfumes e unguentos.
Representando assim a santificação que a igreja deve viver para encon
trar-se com Cristo.
Após o período da preparação, quando Assuero conheceu Ester,
ele se encantou por ela e decidiu que ela seria a sua rainha. No terceiro
ano do seu reinado, Assuero separou-se de Vasti. Apenas no sétimo ano
do seu reinado que ele conheceu Ester (Et 2.16), o que significa que ele
passou pelo menos quatro anos à procura da nova rainha, mas quando
ele conheceu a Ester, não teve dúvidas sobre sua escolha. Ester segundo
a Bíblia era uma jovem “de corpo bonito e aspecto agradável (Et 2.7).
Impressiona-nos o favor de Deus na vida de Ester. De uma jovem pobre,
órfã e exilada Deus a abençoou a tal ponto que se tornou a rainha de
um reino de cento e vinte e sete províncias, e que ia da índia (Ásia) até
a Etiópia (África).
Após Ester tornar-se rainha, dois oficiais do rei, chamados Bigtã
e Teres planejaram, não sabemos o porquê, a morte de Assuero. Mar-
doqueu descobriu esse plano dos dois oficiais contra o rei e avisou a
Ester para que ela pudesse informá-lo sobre essa conspiração. Assuero
investigou o caso e descobriu que realmente havia um plano para sua
morte. Após a certeza desse plano, Bigtã e Teres foram mortos e o rei foi
livre da execução.
Mais tarde, o rei concedeu honra mais elevada que a todos os outros
do reino a um de seus conselheiros chamado Hamã. Hamã e Mardoqueu
nunca tiveram comunhão entre si. Mardoqueu temia a Deus, e Hamã não.
Hamã lançou um decreto como segunda pessoa do rei, que todos que pas
sassem perante ele deveriam se prostrar em sinal de reverência, e todos
assim faziam, menos Mardoqueu. Há evidências de que havia uma rixa
antiga entre as famílias de Hamã e Mardoqueu desde a época do rei Saul.
Hamã é identificado como filho de Hamedata, o agagita (8.5), indicação de
que era da tribo de Agague, o amalequita inimigo do rei Saul (ISm 15.7 em
diante). E Mardoqueu era filho (descendente) de Jair, filho de Simei, filho
de Quis (Et 2.5). E quem era Quis? Quis era pai de Saul. Essa talvez seja
uma das razões que alimentava a diferença entre Mardoqueu e Hamã.
Cinco anos depois de Ester ter se tornado rainha, Hamã projetou a
morte de todos os judeus no império persa. Essa era uma forma dele se
vingar de Mardoqueu, não sabendo ele, que Ester também era judia. Ele
convenceu o rei que os judeus eram inimigos da Pérsia e pediu permissão
para matar todos os judeus. Assuero sem saber quais eram as motivações
internas de Hamã, deu-lhe permissão para isso. Hamã jogou a sorte a fim
de encontrar uma data para o massacre, e a data no calendário hebraico,
caiu no dia 13 do mês de adar (março). Nessa data todos os judeus seriam
enforcados por uma forca de 22 metros e 50 centímetros de altura construí
da pelo próprio Hamã (Et 7.9).
Quando Mardoqueu soube do plano de extermínio dos judeus
procurou a Ester, e solicitou a ajuda dela para que os judeus fossem
socorridos. A princípio, Ester não queria comparecer perante o rei. Há
os que pensam que ela não queria, pelo fato de aparentemente mesmo
sendo de origem judaica não estar correndo risco de vida por ser rainha.
No entanto, a verdade era que comparecer na presença do rei sem ter
sido chamada por ele era um grande risco. Era uma ofensa passível de
pena capital alguém abordar o rei sem sua solicitação. Ester poderia ser
executada por ir ao rei sem ser convocada, caso o rei naquele dia não
estivesse com humor agradável. Através da insistência de Mardoqueu
Ester aceitou procurar o rei, porém, pediu a Mardoqueu que todo o povo
judeu estivesse durante três dias orando e jejuando para que Deus fosse
com ela e sua visita ao rei fosse do agrado dele.
Quando Ester procurou Assuero, ele a recebeu de forma calorosa
e disse que daria a ela o que quisesse, mesmo que fosse metade do reino.
Primeiro, ela pediu ao rei para convidar Hamã para um banquete que
ela daria naquela noite. Hamã aceitou, compareceu ao banquete, diver
tiu-se e foi convidado para outro banquete na noite seguinte.
Nessa ocasião, a Bíblia nos conta que Assuero perdeu o sono. A ma
drugada passava e o rei não conseguia dormir, foi quando ele teve a ideia
de que o trouxessem o livro dos relatos históricos de seu reinado. Quando
foi aberto o livro estava exatamente na página que contava o livramento
que o rei tinha recebido através de Mardoqueu.
Pela manhã, enquanto o rei estava no palácio, Hamã foi até ele
para pedi-lo que o desse autorização para enforcar a Mardoqueu (Et
6.4). Hamã ao chegar foi interrogado por Assuero acerca do que ele po
deria fazer a um homem da qual ele se agradara. Dominado pela sober
ba do seu coração Hamã entendeu que ele era esse homem, e sugeriu
uma procissão real (a maior honra possível a um cidadão) com o cavalo,
a coroa e as vestes do rei. O rei então disse: “Levanta-te e faze assim para
o judeu Mardoqueu, e não retire nada do que dissestes” (Et 6.1-10).
O declínio de Hamã estava apenas começando. Quando ele chegou
naquela noite ao segundo banquete dado pela rainha, viu Ester contar ao
rei que era judia, e com isso por causa do decreto seria morta junto com
os judeus. Além disso, Hamã viu Ester convencer Assuero que a decisão
que ele estava fazendo era uma injustiça e uma traição com os judeus. Na
mesma hora, o rei deixou o banquete furioso, Hamã ao perceber o perigo
que estava correndo atirou-se aos pés de Ester, implorando que ela con
vencesse o rei de não lhe fazer mal algum. Neste momento, o rei retornou
ao banquete, e pensando que Hamã estava atacando Ester, mandou que o
tirassem dali e o levassem para pendurá-lo na forca que ele havia prepara
do para os judeus.
A pedido de Ester, Assuero cessou o massacre programado, deu
a Ester as propriedades e bens que eram de Hamã (Et 8.1) e colocou
Mardoqueu para ocupar o lugar que era de Hamã. A forca que era de
Mardoqueu Deus transferiu para Hamã, e a posição que era de Hamã
Deus transferiu para Mardoqueu.
Assuero também autorizou os judeus se defenderem de qualquer ou
tro que quisesse prejudicá-los. No dia escolhido para exterminar os judeus,
foram exterminados todos os que tramavam matá-los (Et 9.1). O dia seguin
te foi declarado o dia da celebração em honra da libertação dos judeus. Esse
dia, 14 do mês adar, é celebrado como o Purim (nome originário de pur,
jogar a sorte, método por meio do qual Hamã escolheu o dia do massacre).
O Purim se tornou uma festa judaica imensamente comemorada e total
mente identificada com o livro de Ester. Trata-se de uma espécie de alegre
“carnaval”, o único do calendário judaico. É bom que se entenda que esse
“carnaval” não é, por exemplo, como o típico carnaval que conhecemos no
ocidente, que é uma festa secular, marcada por orgias e carnalidade. Mas
sim, uma festa em que as famílias saem com seus filhos fantasiados nas
ruas, reúnem-se nas sinagogas para lerem o livro de Ester e comem um
doce de formato triangular, recheado com sementes de papoulas ou uvas,
popularmente chamado de “Orelha de Hamã”, tudo isso em comemoração
ao livramento dado por Deus aos judeus nos dias de Ester. O livro de Ester
tem sido uma fonte de encorajamento aos judeus perseguidos no mundo,
pois é a própria palavra de Deus contando o cuidado que Deus tem pelo seu
povo. Não se sabe quando ou como Ester morreu.
O Apóstolo
Gideão foi o quinto juiz em Israel. Era filho de Joás, do clã de Abiezer
e da tribo de Manassés. Dos 12 juizes de Israel, mais versículos são dedi
cados a historia dele do que a história de qualquer outro juiz (Jz 6 a 8). Ele
viveu em Ofra, a leste da colina de Moré, entre Bete-Seã e o monte Tabor,
uma cidade de Issacar (Js 17.11). De maneira geral, os juizes não eram ma
gistrados do judiciário no sentido moderno do termo. Eram, na verdade,
líderes políticos, heróis locais, e muitas vezes poderosos guerreiros.
Como muitos israelitas durante os ciclos de apostasia no período
dos juizes, o pai de Gideão também tinha se voltado para a idolatria
na adoração a Baal. Poucos israelitas se importavam em comparecer
nas solenidades do Senhor em Siló, que era o único fator unificador que
Deus havia designado para manter um sentido nacional de interdepen
dência em Israel.
Por causa disso, nessa época - em aproximadamente 1200 a.C. - os
hebreus haviam se tornado presa fácil para os beduínos midianitas sa
queadores. Os midianitas invadiam a terra de Israel para roubar o gado
e saquear as colheitas quando elas já estavam maduras. Enquanto isso,
os israelitas empobrecidos, escondiam-se em montanhas e em cavernas,
temendo esses povos inimigos. Eles vinham “como enxames de gafanho
tos, e era impossível contá-los” (Jz 6.5). Eles entravam nas proprieda
des, saqueavam as plantações e os rebanhos e destruíam os campos e os
agricultores e donos das terras só voltavam dos esconderijos depois que
eles iam embora. Eles - os midianitas - eram uma federação de tribos
do deserto que vivia a leste do Jordão e ao sul dos assentamentos nas
montanhas de Canaã. Deslocando-se desde a Mesopotâmia até o sul da
Arábia, essas tribos viviam da negociação de especiarias e incenso. E
esse jugo opressor dos midianitas sobre os israelitas se repetiu por sete
anos. Até que depois desse período de opressão cruel dos midianitas, o
povo de Israel clamou pela libertação do Senhor (Jz 6.6).
Durante essa opressão, o anjo do Senhor apareceu a Gideão, que
tinha aproximadamente 30 anos na época. Gideão estava escondida-
mente trabalhando com um pouco da colheita de trigo que ele havia
conseguido salvar daquela estação. O desespero da situação fica eviden
te na cena de Gideão malhando o trigo no lagar, em vez de fazê-lo com
os bois treinados para trabalhar com o trigo no cume de um monte, ou
na eira, como de costume (Jz 6.11). No entanto, o mensageiro divino lhe
informou que um novo tempo havia chegado para Israel e ele havia sido
escolhido para livrar os israelitas do jugo dos midianitas.
Naquela mesma noite o Senhor pôs à prova a obediência de Gi-
deão. A primeira tarefa de Gideão foi destruir o altar que seu pai havia
dedicado a Baal e o altar adjacente, dedicado a Aserá, parceira femi
nina de Baal. E em seguida levantasse um altar ao Senhor (Jz 6.11-27).
Sabendo que as pessoas seriam contra a este ato, Gideão e seus servos
destruíram essas imagens cananeias à noite. No dia seguinte, os ho
mens de Ofra tentaram matar Gideão em retaliação pelo ato. Joás, no
entanto, implorou pela causa do seu filho, dizendo que caso Baal fosse
deus e tivesse se ofendido com aquilo, que ele revidasse. O raciocí
nio rápido de Joás salvou a vida do seu filho. Por causa disso, a partir
desse confronto, Gideão passou a ser chamado Jerubaal, que significa
“Que Baal contenda contra ele, pois destruiu o seu altar” (Jz 6.32), ou
em outras palavras, “Baal que se vingue”. Vale a pena sabermos, que
aparentemente, esses nomes dados as pessoas depois de um aconteci
mento representavam mais um “sobrenome” do que o primeiro nome
da pessoa a partir daquele momento.
Os midianitas haviam se unido e acampado no vale de Jezreel,
provavelmente com a intenção de tomar as terras israelitas. Deus, no
entanto, havia dito a Gideão que aquele tempo era de vitória para Israel.
Sendo Gideão um novato em guerras, antes de ir para a batalha, buscou
a orientação divina para o fortalecimento de sua fé. Deus respondeu por
meio de um sinal milagroso na natureza. Primeiramente, pediu como
sinal que o orvalho da noite caísse sobre um novelo de lã, sem que a
terra ficasse molhada. Na noite seguinte, pediu o sinal ao contrário, que
o orvalho molhasse apenas o solo, e a lã permanecesse seca, e assim foi
feito (Jz 6.35-40).
Gideão tinha agora a missão de reunir soldados em Israel para
vencerem uma guerra contra os midianitas, que eram 135 mil homens
montados em camelos (Jz 8.10). Interessantemente antes mesmo do
exército israelita se formar, o lado vitorioso da guerra já havia sido defi
nido. O povo de Deus já havia entrado vitorioso na guerra! Gideão con
vocou os homens, e vieram 32 mil voluntários das tribos de Manassés,
Aser, Zebulom, Naftali e provavelmente Issacar, para serem guerreiros.
No entanto, de 32 mil soldados das tropas de Gideão, o Senhor interveio
e foram reduzidos os homens até restaram apenas 300 soldados. O mo
tivo era que o Senhor queria fazer os israelitas compreenderem que a
vitória seria conquistada pelo poder divino e não pela força do número
de combatentes.
Uma missão secreta de reconhecimento às cercanias do acampa
mento midianita fez Gideão receber mais força enquanto ele e seu ser
vo Pura ouviram um soldado midianita contar que tivera um sonho, e
nesse sonho a vitória tinha sido de Israel (Jz 7.13-14). Em resposta a esse
encorajamento adicional, Gideão se levantou e se animou para a guerra
(Jz 7.15).
Como os midianitas, estavam amplamente mobilizados com seu
camelos, permaneceram acampados no vale de Jezreel, e Gideão e seus
homens posicionaram-se na montanha de Gilboa, nas proximidades da
fonte de Harode (fonte onde os soldados beberam água no teste propos
to por Deus - Jz 7.4-7). Dividido em três parte, o exército de Gideão se
colocou à noite próximo do acampamento midianita. Tirando proveito
do medo que os beduínos têm do escuro, Gideão começou o ataque perto
da meia-noite, justamente após a troca de sentinelas, no momento de
maior fragilidade da guarda do acampamento. Ao sinal de Gideão to
dos os homens tocaram as suas trombetas, quebraram o seu cântaro de
barro e levantaram suas tochas - que provavelmente foram usadas para
atear fogo às tendas dos midianitas - e os israelitas gritaram “à espada
pelo Senhor e p o r G ideão” (Jz 7.20). O efeito desse clamor foi avassalador.
Pensando estarem em número inferior, os midianitas, confusos e abati
dos, começaram a se golpear uns aos outros na escuridão e providen-
cialmente morreram 120 mil midianitas. Provavelmente os midianitas
acharam mais “honroso” caírem na própria espada, do que caírem na
espada do exército inimigo.
Gideão enviou mensageiros para convocar os homens de Efraim
para interromper a fuga dos sobreviventes inimigos na travessia do Jor
dão (Jz 7.9-24). Eles capturaram dois príncipes midianitas - Orebe e Zee-
be - e trouxeram suas cabeças a Gideão. Humilde e diplomaticamente,
Gideão aplacou a amargura dos homens de Efraim, que o recriminaram
por não terem sido chamados inicialmente para participarem da guerra
(Jz 7.25 - 8.3). Os 15 mil soldados midianitas que conseguiram fugir do
acampamento, aparentemente foram “d esbaratad os” (derrotados) pró
ximo a Sucote (Jz 8.10-12).
No caminho de volta para casa, Gideão se vingou do povo de duas
cidades que se recusaram a dar alimento a eles anteriormente - Sucote
e Penuel (cidades não-israelitas) - e destruiu os dois lugares. E executou
também Zeba e Zalmuna pessoalmente para cumprir uma vingança de
sangue - em cumprimento a Números 35.19 - porque eles haviam ma
tado no passado os irmãos de sangue de Gideão que viviam perto do
monte Tabor (Jz 8.18-21).
Esta vitória contra os midianitas foi tão completa e divina que o
“dia dos m idianitas” (ou o “dia de Midiã”) parece ter se tornado um pro
vérbio que significava a libertação divina (Is 9.4; 10.26; SI 83.11).
Em resposta à vitória conquistada por Gideão, os israelitas lhe ofe
receram a oportunidade de iniciar uma monarquia hereditária, a qual
ele recusou quando disse: “Não dominarei sobre vós; o Senhor sobre vós
dominará” (Jz 8.23). Gideão, aceitou, contudo, alguns brincos de ouro
como despojo da batalha. Com este ouro Gideão fez uma estola sacer
dotal e a colocou em sua própria cidade. O infeliz final da história de
Gideão está ligado à confecção dessa vestimenta. Isto provou ser uma
armadilha para ele e para sua família, porque Gideão consequentemen
te invadiu a prerrogativa do sacerdócio de Arão, mesmo que talvez de
sejasse usar a roupa apenas em seu ofício de magistrado civil. Talvez
para Gideão aquela estola fosse apenas um memorial, mas os israelitas a
transformaram em um ídolo. Infelizmente, esta estola sacerdotal serviu
como motivo de idolatria para Gideão e sua casa (Jz 8.27). O texto bíblico
chamou isso de “prostitu ição” (Jz 8.27), visto que toda idolatria desvia
os homens para longe da adoração ao Senhor, sendo uma infidelidade
espiritual. Por causa disso, um novo nome foi dado a Gideão, Jerubese-
te. O termo “Baal” foi substituído por “besete”, palavra hebraica para
“vergonha” ([besheth), assim o novo nome de Gideão passou a significar
“Deixe o vergonhoso lutar”. Mostrando assim a mancha que essa atitude
trouxe para o legado de Gideão.
John Davis sugere, que essa atitude de Gideão em mandar confec
cionar uma estola sacerdotal e colocá-la em sua cidade, onde um anjo
lhe havia aparecido e ele oferecera um sacrifício ao Senhor (Jz 6.21-28),
o fez pensar que o oficio do sacerdote lhe era destinado, e por isso man
dou fazer essa estola sacerdotal - provavelmente com o Urim e Tumim -
pensando ele que isso serviria em suas “consultas” ao Senhor. Mediante
isso então, o erro de Gideão foi fazer o que parecia bom, no entanto, sem
ter a direção de Deus para aquilo. Infelizmente tudo isso serviu para sua
ruína.
Gideão em desobediência ao mandamento do Senhor também teve
muitas esposas e 70 filhos (Jz 8.30; Dt 17.17). Além disso, Gideão teve mais
um filho com uma concubina, chamado Abimeleque. Este descendente de
Gideão tentou se fazer rei, e após a morte de Gideão, Abimeleque matou
seus setenta irmãos (exceto Jotão, o mais novo que fugiu) e se declarou
rei, tendo reinado estranhamente por um período de 3 anos em Israel (Jz
9.22-23). Curiosamente, de acordo com este texto, Abimeleque foi então
rei em Israel, algumas décadas antes de Saul - que classicamente chama
mos de “o primeiro rei de Israel”.
No entanto, apesar de tudo isso, ainda assim Gideão é lembrado
como uma pessoa direcionada por Deus no Antigo Testamento e o servi
ço prestado por ele, livrando Israel dos seus adversários, foi um dos pon
tos altos na história de Israel antes da monarquia. Gideão parecia ser
uma pessoa com certa tendência ao medo (Jz 6.11,22,23,27; 7.10), mas
mesmo assim se tornou impressionante alguém que “pela fé, venceu rei
nos” (Hb 11.32-33).
Habacuque Nome hebraico, significa "Abraço".
Herodes, o Grande
Este Herodes foi o primeiro rei-vassalo de Israel, depois do domí
nio romano. Foi de 47 a.C. até 37 a.C. governador da Judeia, e de 37 a.C.
até 4 a.C. rei em Israel.
Herodes, o Grande nasceu por volta de 73 a.C. Era da Idumeia -
região de Edom, no sul da Palestina, conhecido hoje como Neguebe. Seu
pai - Antípater - também era um idumeu (povo predominantemente
árabe) e sua mãe era uma mulher nobre da Nabateia. Por isso, embora
ele alegasse ser um judeu praticante, a sua verdadeira origem era árabe
dos dois lados. Josefo relata que era um excelente atleta, sobretudo no
uso de dardo e arco.
Quando Pompeu, o Grande, esteve na Palestina, em 63 a.C., o pai
de Herodes, Antípater, aliou-se a Roma e enviou Herodes, então um me
nino de dez anos, para viver com seu tio em Petra (a capital da Nabateia
- atualmente Jordânia). Ali ele passou alguns anos. Quando Herodes ti
nha dezesseis anos ele conheceu o general romano Marco Antônio, que
reconheceu e admirou o grande talento do rapaz. Os dois se tornaram
amigos inseparáveis. Por intermédio de Marco Antônio ele conheceu o
líder militar romano Júlio César, que também se tornou apreciador da
família de Antípater.
Em 47 a.C., Antípater conseguiu que César nomeasse Herodes como
governador da Galileia com aproximadamente 25 anos de idade. Antípa
ter era um bajulador de César, assim como também Herodes o era. Antí
pater tentou convencer César a destituir o rei corrente, Antígono, e faz
dele rei da Judeia. César, no entanto, recusou-se deixando-o como procu
rador e Herodes como governador da Galileia.
A princípio, Herodes era admirado pelos judeus da Galileia e pe
los oficiais romanos locais. E essa admiração aumentou depois que ele
capturou um perigoso rebelde judeu e mandou que ele fosse executado,
e trabalhou junto com seu pai para conter várias revoltas naquele perío
do. Isso chamou a atenção dos altos oficiais romanos, e César o nomeou
governador da Síria em 46 a.C. (a Síria na época era província romana
que incluía o norte da Palestina).
Após o assassinato de César em 44 a.C., Antípater e Herodes ime
diatamente transferiram sua lealdade a Cássio, um dos assassinos de
César, porque ele havia conquistado o controle sobre as províncias
orientais. Assim que Marco Antônio derrotou Cássio, Antípater e Hero
des mais uma vez deslocaram sua lealdade, dessa vez de volta a Marco
Antônio, que os perdoou e fez uma nova aliança com eles. Marco Antô
nio então nomeou Herodes rei da Judeia, e Herodes ascendeu ao trono
após a morte de Antígono, em 37 a.C., com aproximadamente 35 anos e
passou a ser conhecido como Herodes, o Grande, pois passou a governar
sobre todo o Israel (que abrangia Galileia, Samaria, Pereia e Judeia).
O reinado de Herodes, o Grande é dividido pela maioria dos historia
dores em três períodos: consolidação (de 37 a.C. até 25 a.C.), prosperidade
(de 25 a.C. até 13 a.C.) e problemas familiares (13 a.C. até 4 a.C.).
O período de consolidação se estendeu de sua ascensão como rei
em 37 a.C. até a morte dos filhos de Babas, que eram os últimos repre
sentantes masculinos das famílias dos hasmoneus. Durante este período
ele teve que lutar com muitos adversários, entre eles: Antígono, Alexan
dra (sogra de Herodes, o Grande), Aristóbulo e principalmente a rainha
Cleópatra do Egito. Cleópatra além de amiga de Alexandra - a sogra que
odiava Herodes - era também altamente interessada em se apossar do
seu território.
O segundo período do reinado de Herodes, o Grande foi o da pros
peridade. Foi um período de esplendor e de alegrias, marcado por grandes
projetos de construções. Dois desses muitos projetos de construções foram
considerados verdadeiramente magníficos. No primeiro, ele aterrou um
porto marítimo chamado Estrato, que estava em decadência, e o recons
truiu totalmente como uma cidade resplandecente em estilo romano. Em
honra ao imperador Augusto, ele a chamou Cesareia Palestina (conhecida
também como Cesareia M arítim a-não a confunda com Cesareia de Filipe).
Foi uma bela cidade, com um excelente porto, um imponente areópago e
uma estrutura de fortaleza herodiana. Esta cidade logo se tornaria a capital
romana na Palestina.
Sua outra grande façanha da engenharia foi a reconstrução do
templo de Jerusalém. De acordo com Flávio Josefo - historiador da épo
ca - esta foi a mais nobre de todas as conquistas de Herodes. Essa re
construção do templo em Jerusalém se iniciou por volta de 20/19 a.C. A
literatura rabínica chega a dizer que “quem não viu o templo de Hero
des, nunca viu um belo edifício”. Na reconstrução deste templo, Herodes
teve o cuidado de satisfazer seus súditos judeus e confiou a supervisão
dos trabalhos a sacerdotes dessa religião. Nenhuma imagem foi exibida
dentro dele e Herodes nunca entrou na área do santuário. No entanto,
0 trabalho completo da reconstrução do templo de Jerusalém continuou
durante todo o seu reinado e muito após a sua morte, sendo concluído
apenas durante o período do procurador romano Albino (62-64 d.C.),
pouco antes da destruição pelos romanos no ano 70 d.C.
Nesse período - no fim de 24 a.C., ele se casou com Mariane, filha de
Simão - um sacerdote famoso em Jerusalém (essa ficou conhecida como
Mariane II). Durante esse período o governo de Herodes, o Grande teve
uma grande aprovação popular. Ele exercia um grande controle sobre o
povo e por duas vezes, favoreceu o povo abaixando os impostos - chegan
do a reduzir 75% dos impostos em 14 a.C.
O terceiro período do governo de Herodes, o Grande foi claramen
te o período marcado por problemas na família real. Nesse período ele
já havia se casado com dez esposas. Sua primeira, Doris, teve apenas
um filho, Antípater. No entanto, ele repudiou Doris e Antípater, quando
se casou com Mariane I, permitindo a eles que visitassem Jerusalém so
mente durante as festividades. Herodes, o Grande se casou com Mariane
1 em 37 a.C. Ela era neta de Hircano e teve cinco filhos, duas meninas
e três meninos. O mais novo morreu ainda em Roma, e os outros dois
iriam desempenhar um importante papel nesse período do reinado dele.
No fim de 24 a.C., ele se casou com sua terceira esposa, Mariane II,
com quem teve um filho (Herodes Filipe). Sua quarta esposa foi Malta-
ce, ela era samaritana e foi mãe de dois filhos, Arquelau e Antipas. Sua
quinta esposa, Cleópatra de Jerusalém, foi mãe de Filipe, o Tetrarca. Das
cinco esposas restantes, somente Palas, Fedra e Elpsis são conhecidas
pelo nome, e nenhuma desempenhou um papel significante nos eventos
desse período.
Alexandre e Aristóbulo, os filhos de Mariane I, eram os filhos favori
tos de Herodes, o grande. No entanto, imediatamente, após seus casamen
tos, iniciaram-se os problemas dentro da casa herodiana. Salomé, irmã
de Herodes, o Grande e mãe de Berenice (esposa de Aristóbulo), odiava
esses dois filhos, principalmente porque queria para seu filho a posição e
o favor de que desfrutavam. Herodes então decidiu repatriar o seu filho
exilado Antípater, para mostrar a Alexandre e Aristóbulo que havia outro
herdeiro para o trono. Antípater tirou plena vantagem da situação e usou
todos os meios concebíveis para adquirir o trono cobiçado. Finalmente,
um homem de mau caráter - Euricles, de Lacedemom - o tomou a fim de
incitar o pai contra seus filhos e vice-versa. Logo outros causadores de
dano se uniram a Euricles, e a paciência de Herodes se esgotou. Ele colo
cou Alexandre e Aristóbulo na prisão e nomeou Antípater seu herdeiro.
Em sua impaciência para obter o trono, Antípater tentou envene
nar Herodes, o Grande. O plano, no entanto, fracassou quando Feroras,
irmão de Herodes, o Grande bebeu o veneno por engano. Toda a trama
foi descoberta e Herodes colocou Antípater na prisão e relatou o fato ao
imperador. Nesse tempo (5 a.C.), Herodes adoeceu gravemente de uma
doença incurável. Ele então redigiu um novo testamento que ignorava
seus filhos mais velhos - Arquelau e Filipe - porque Antípater também
havia envenenado sua mente contra eles. Ele escolheu seu filho mais
moço, Antipas, como seu único sucessor.
Foi durante este tempo que os magos chegaram à Judeia, buscando
pelo rei dos judeus que havia acabado de nascer. Herodes, o Grande ao sa
ber disso, os instruiu para que o informassem do paradeiro dessa criança
tão logo que a encontrassem. No entanto, sendo advertidos em sonho, os
magos não fizeram isso, mas retornaram aos seus lares por outro caminho.
Deus advertiu José (marido da mãe de Jesus) para que fugisse para o Egito,
porque a intenção de Herodes era matar Jesus. José tomou sua família e
deixou Belém. Logo depois, Herodes matou todas as crianças do sexo mas
culino em Belém que tivessem 2 anos ou menos. Essa atitude de Herodes
em matar crianças inocentes por causa do medo de perder o seu trono re
vela quão decrescente foi o reinado de um Herodes que ficou conhecido
como “o Grande”.
A doença de Herodes, o Grande piorou rapidamente. Nesse pe
ríodo chegou de Roma uma permissão para executar Antípater, e ele
prontamente atendeu. E novamente alterou seu testamento, e os seus
domínios foram divididos entre três filhos, fazendo Arquelau ser rei da
Judeia, Idumeia e Samaria; Antipas, tetrarca da Galileia e da Pereia; e
Filipe, tetrarca dos territórios a leste da Galileia.
No quinto dia após a execução de Antípater, Herodes, o Grande
morreu em Jerico, na primavera de 4 a.C., sem ser pranteado por sua fa
mília nem pelo povo judeu, e foi enterrado em Herodeion. Ele governou
a Judeia por aproximadamente 33 anos. Arquelau, seu filho foi procla
mado como rei em seu lugar.
Pelos padrões modernos, este Herodes foi um monstro, mas para
sermos justos, ele deve ser analisado de acordo com as normas do seu
tempo. Na verdade, ele nada mais foi do que um exemplo típico dos
governantes orientais daquela época, que eram altamente cruéis, bár
baros e tirânicos déspotas.
Herodes, o Grande jamais levou o judaísmo a sério. Seu interesse
era somente político, e como judeu ele foi um apóstata. Mesmo que ele
tenha sido rei dos judeus, não se pode dizer, entretanto, que ele tenha
sido um rei verdadeiramente judeu.
Curiosamente nenhuma das moedas preservadas da época de He
rodes, o Grande exibe uma efígie (imagem de como ele era) e não existe
nenhuma estátua dele, de modo que não sabemos como era sua fisionomia.
Herodes, Arquelau
Arquelau foi o filho de Herodes, o Grande e Maltace (uma samari-
tana). Arquelau governou de 4 a.C. até 6 d.C. Ele tratou com brutalidade
tanto a judeus como a samaritanos. Quando José retornou de sua fuga
ao Egito e ouviu que Arquelau governava a Judeia, ficou com medo de ir
até lá e foi direcionado por Deus a levar o menino Jesus para a Galileia
(Mt 2.22).
A tirania de Arquelau finalmente fez com que judeus e samarita
nos enviassem uma delegação a Roma, a fim de reclamar formalmente
ao imperador Augusto. O fato de inimigos tão ferrenhos como judeus e
samaritanos se unirem para cooperar nesse assunto indica a seriedade
da reclamação. Antipas e Filipe também foram a Roma nesse período
para reclamar dele.
Desse modo, em 6 d.C., Arquelau foi deposto e exilado em Viena, na
Gália (ao sul de Lyon). Antipas e Filipe tiveram permissão para continuar
seus respectivos governos, e os territórios de Arquelau foram reduzidos a
uma província governada por prefeitos e procuradores.
Herodes Antipas
Antipas foi filho de Herodes, o Grande e Maltace, e governou de 4
a.C. até 39 d.C. Ele e seu irmão, Herodes Arquelau, de acordo com Flávio
Josefo, foram criados em Roma por um patrício cujo nome é desconheci
do. De todos os herodianos, ele é o mais mencionado no Novo Testamento
porque governou a Galileia e a Pereia, e os ministérios de João Batista e Je
sus ocorreram durante a gestão deste Herodes (Lc 3.1). Politicamente, ele
foi um tetrarca, e não um rei. O tetrarca era um governante com poderes
mais ou menos monárquicos, mas que governava sem autonomia com
pleta, tendo que estar sob o controle de Roma. Originalmente, Antipas
- assim como seu pai - patrocinou uma grande campanha de construção
e fez da cidade de Seforis (entre Nazaré e Caná), a sua capital. Mais tarde,
Antipas construiu para ser a nova capital a cidade de Tiberíades, junto ao
mar da Galileia, que também ficou conhecido como lago de Tiberíades,
dando-lhe esse nome em homenagem ao imperador Tibério, que havia
sucedido Augusto. Contudo, isso foi altamente ofensivo para os judeus
porque ele não só abandonou a cidade santa de Jerusalém, como também
construiu uma nova cidade capital (Tiberíades) em cima de um local que
era um famoso cemitério da época, território altamente impuro na lei dos
judeus. Assim, todo judeu fiel que precisava ir a Tiberíades tinha de pas
sar por um complexo ritual de purificação.
Em uma visita a Roma, Antipas apaixonou-se pela esposa do seu
meio irmão Herodes Filipe (Herodias), e em pouco tempo casou-se com
ela (Mc 6.17). Ela insistiu para que ele se divorciasse de sua primeira es
posa, Fasaleia (que era filha do rei de Petra). Mas quando esta - que era
a esposa oficial de Antipas - soube desta armação, decidiu por conta pró
pria abandonar Antipas e voltar para à casa de seu pai.
Isso revoltou ainda mais não apenas aos judeus, mas também a
João Batista, que teve a coragem de acusá-lo de estar em adultério com
sua cunhada (Mt 14; Mc 6; Lv 20.21). Herodias odiava João Batista e aca
bou convencendo Antipas a prendê-lo. Poucos dias depois, Salomé, filha
de Herodias, pediu a cabeça de João Batista em um prato, e então o pro
feta veio a morrer (Mc 6.26).
Jesus também não tinha medo de Antipas, e por isso quando ele
espalhou a notícia de que queria matar Jesus, o Senhor o chamou de
“raposa” (Lc 13.31-32), e lhe disse que não iria nem se amedrontar e nem
para a sua obra. Depois de ter lidado duramente com João Batista, He
rodes Antipas não teve coragem de lidar da mesma forma com Jesus, e
esperava amedrontá-lo com ameaças. Joana, a esposa de um dos oficiais
de Antipas, tornou-se seguidora de Jesus (Lc 8.30).
Politicamente, Antipas não tinha boas relações com Pilatos. Dentre
outras coisas, Pilatos tinha assassinado alguns dos súditos herodianos en
quanto eles ofereciam sacrifícios no templo (Lc 13.1). Mas a permissão de
Pilatos, em enviar-lhe Jesus em um intervalo no julgamento, deixou- o tão
satisfeito que a sua disputa com Pilatos acabou (Lc 23.12). Pilatos certamen
te sabia que um dos desejos de Antipas era ter Jesus morto, e aproveitando
que naqueles dias Antipas estava em Jerusalém, não hesitou e enviar-lhe o
mestre a fim de que pudesse também ser julgado por ele devido ao fato de
Jesus residir na Galileia. Claramente Pilatos se aproveitou disso para resol
ver um problema pessoal com Herodes Antipas. Lamentavelmente, Pilatos
se tornou aqui um símbolo de pessoas que “usam” Jesus para o benefício
próprio.
Mas a arrogância de Herodes Antipas acabou levando-o à sua pró
pria ruína. Incentivado por sua esposa Herodias, ele solicitou ao impe
rador Gaio (Calígula) o titulo de rei, que havia sido conferido a Herodes
Agripa I, que governava ao norte e ao leste de seus domínios. No entan
to, Antipas foi mal visto devido àquela atitude presunçosa e foi banido
para a Gália por volta de 40 d.C., onde ficou até sua morte. Agripa I aca
bou assumindo o seu território.
Herodes Agripa I
Este Herodes foi neto de Herodes, o Grande e filho de Aristóbulo. Ele
nasceu em Jerusalém, em 10 a.C., e recebeu esse nome em homenagem
a Agripa, o competente ministro do imperador Augusto. Seu pai e seu tio
Alexandre foram executados em 7 a.C., sob suspeita de terem conspirados
contra o trono de Herodes, o Grande (o próprio pai).
Após a morte de Tibério e a ascensão de Gaio, Agripa I recebeu
a tetrarquia de Filipe, que morreu em 34 d.C., e obteve a permissão de
ostentar o título de rei. Quando Herodes Antipas foi deposto, Agripa I
assumiu também seu território. Em 41 d.C., Gaio (Calígula) foi assassi
nado e sucedido por Cláudio. O novo imperador - que era amigo deste
Herodes - adicionou a Judeia e Samaria ao domínio de Agripa I, de modo
que agora ele era o rei dos judeus assim como havia sido anteriormente
Herodes, o Grande.
Agripa I foi bem educado no judaísmo. Ele era um judeu fiel e
praticante (o único de todos os Herodes). Pouco se sabe sobre sua mãe,
mas ela foi provavelmente quem providenciou para que ele fosse treina
do no judaísmo e na prática da lei judaica. A grande população judaica
de Roma tinha muitos rabinos famosos e sinagogas, de modo que isso
ainda não era um problema para o império romano naquela época. Isso
fez ele conquistar um alto respeito entre os judeus e se tornar um forte
defensor de sua fé e de sua nacionalidade judaica por ter nascido em
Jerusalém.
Devido a isso, biblicamente Herodes Agripa I é conhecido pela sua
perseguição aos cristãos da igreja primitiva. Foi ele quem mandou exe
cutar Tiago, filho de Zebedeu, e determinou a prisão de Pedro em 44 d.C.
(At 12). A Bíblia conta que Agripa I reuniu um grande ajuntamento de
pessoas em Cesareia (que havia substituído Jerusalém, como a capital da
Judeia). Em meio a uma cerimônia luxuosa no anfiteatro de Cesareia, de
repente, o anjo do Senhor o feriu mortalmente, e ele morreu comido por
vermes porque “não deu glórias a Deus”. Os cristãos interpretaram sua
morte como sendo um castigo de Deus por sua arrogância (At 12.19-23).
Essa morte de Herodes Agripa I é altamente curiosa. Sem saber
mos ao certo a razão de seu falecimento. Flávio Josefo, historiador con
fiável da época faz uma descrição paralela ao texto de Lucas em Atos,
que vale a pena analisarmos abaixo:
“Então, quando Agripa tinha reinado durante três anos sobre toda a
Judeia, ele veio à cidade de Cesareia, e ali ele apresentou espetáculos em hon
ra a César. No segundo dia dos quais espetáculos ele vestiu um traje feito to
talmente de prata, e de uma contextura verdadeiram ente maravilhosa, e veio
para o teatro de manhã cedo; ao tempo em que a prata de seu traje sendo ilu
minada pelo fresco reflexo dos raios do sol sobre ela, brilhou de uma maneira
surpreendente, e ficou tão resplendente que espalhou espanto entre aqueles
que olhavam firm em ente para ele; e no momento seus bajuladores gritaram
um de um lugar, outro de outro lugar, que ele era um deus, e imploravam suas
clemência com estas palavras: ‘Temos temido a ti com o se fosses um homem,
m as temos visto que daqui para frente confessarem os que tu és superior à
natureza dos m ortais’. Quanto a isto o rei não os repreendeu, nem rejeitou
sua ímpia bajulação (a razão de não ter dado “glórias” a Deus). Mas, depois
de um breve momento, olhou para cima, viu um anjo sentado acim a de sua
cabeça, e imediatamente entendeu que este era a causa de seus males, assim
com o antes fo r a a causa dos seus sucessos; e caiu na mais profunda tristeza.
Uma dor severa também atravessou o seu coração e tomou suas entranhas
de m aneira muito violenta. Ele, portanto olhou para seus amigos e disse: ‘Eu,
a quem cham ais deus, estou presentemente cham ado a partir desta vida; e
eu, que por vós fui cham ado im ortal tenho que ser imediatamente afastado
depressa para a morte... ’ Quando ele acabou de dizer isto, sua dor se tornou
ainda mais violenta. Desse modo, ele fo i carregado com grande pressa para
dentro do palácio; e o rumor espalhou-se por toda parte, que ele certamente
m orrería dentro de pouco tempo... Por fim, tom ado de dor nas entranhas por
cinco dias seguidos, ele terminou esta vida aos cinquenta e quatro anos de
idade” (Antiguidades, XIX, 7.2 ou História dos Hebreus pág. 453).
Embora Josefo seja mais detalhista que Lucas, a concordância en
tre os dois é existente, e conseguimos ter através desse texto uma visão
ampliada sobre como terminou a vida deste homem que perseguiu e
matou o povo de Deus. Ele deixou três filhas e um filho, Marco Júlio
Agripa, que se tornaria Herodes Agripa II.
Herodes Agripa II
Herodes Agripa II nasceu em Roma em 27 d.C. Na ocasião da morte
de seu pai (Herodes Agripa I), este seu filho era jovem demais, na opinião
do imperador Cláudio, para assumir o reinado sobre os judeus - aproxi
madamente 17 anos de idade - de modo que foi imposto aos judeus mais
uma vez um governador romano, e Agripa II não reinou sobre eles. Em 50
d.C., quando Herodes Agripa II tinha 23 anos, foi lhe dado o trono do reino
de Cálcis, no Líbano. No entanto, aproximadamente nessa época, estra
nhamente o imperador Cláudio lhe concedeu o direito de indicar o sumo
sacerdote e também uma pessoa para ser responsável da supervisão do
templo em Jerusalém, de modo que devido a isso ele acabou se envolven
do nos assuntos judaicos. Posteriormente, o imperador Nero lhe adicio
nou uma parte do território próximo ao mar da Galileia, e uma parte do
sul da Pereia. Agripa II, assim como seu pai, também foi chamado de rei.
Foi na presença de Herodes Agripa II que o apóstolo Paulo fez a
sua defesa quando estava preso em Cesareia antes de ir para Roma, en
tre 57 e 59 d.C. (At 25.13 a 26.1-32).
Ele era também o Herodes da época da destruição do templo de
Jerusalém e da conquista de Massada. Quando a primeira grande revol
ta judaica aconteceu, em 66 d.C., os seus exércitos lutaram ao lado dos
romanos contra os judeus. Flávio Josefo afirma que Agripa II lhe enviou
mais de 60 cartas com informações sobre a sua participação no conflito.
Agripa II se envolveu em um caso incestuoso, com a própria irmã, Be
renice. Depois da destruição do templo e da tomada de Jerusalém, Agrupa II
- embora ainda governasse a Palestina - mudou-se para Roma junto com Be
renice por volta de 75 d.C. E a partir de então governou à distância, retornan
do só muito raramente para visitas breves. Enquanto ele estava em Roma,
Berenice o deixou para se tornar amante do general romano Tito Flávio Ves-
pasiano, filho do imperador Vespasiano. Este mesmo Tito foi o que invadiu
Jerusalém em 70 d.C., e teve o apoio de Agripa II para isso. Ou seja, Agripa II
estava vivendo na própria pele as consequências de uma aliança ímpia que
ele havia feito com Tito para estar à favor dos romanos e contra os judeus.
Pouco se sabe sobre os últimos anos da vida de Agripa II, mas ele pro
vavelmente viveu até o final do primeiro século da era cristã. Ele não teve
filhos e com sua morte, a dinastia dos Herodes chegou ao fim.
Isabel foi esposa do sacerdote Zacarias e mãe de João Batista (Lc
1.5-56). Sua história é registrada apenas por Lucas e se limita ao capítulo
1 do evangelho escrito por ele. Isabel também era de linhagem sacerdotal,
sendo descendente de Arão. Sendo assim, seu casamento com o sacerdote
Zacarias - dentro da visão judaica - seria considerado a união perfeita.
Provavelmente Isabel foi assim chamada em homenagem a Eliseba (no
hebraico, 'elisheba - que vem da mesma raiz hebraica que Isabel), que
era esposa de Arão (Êx 6.23).
Isabel e Zacarias eram justos e irrepreensíveis em sua dedicação à
lei (Lc 1.6), e podem ser incluídos entre os piedosos judeus que estavam
ansiosamente esperando a vinda do Messias. No entanto, eles não ha
viam tido filhos, e além de idosos, Isabel era estéril.
Certo dia, enquanto Zacarias estava queimando incenso no tem
plo, o anjo Gabriel apareceu a ele e o anunciou que Isabel daria à luz a
um filho que seria “grande diante do Senhor” (Lc 1.15). Essa palavra se
cumpriu a tal ponto de Jesus declarar que “dos nascidos de mulher, não
existiu um maior que João Batista” (Mt 11.11). Sendo Zacarias idoso, e
Isabel idosa e estéril, Zacarias questionou a possibilidade de tal nasci
mento acontecer, e sua incredulidade custou-lhe a capacidade de falar,
Zacarias ficou mudo (Lc 1.18). Só voltando a falar depois que a criança
nascesse (Lc 1.19-20).
Após Isabel descobrir que estava grávida, não saiu de casa por
cinco meses. O texto não revela o motivo, mas pode ser considerado ou
um cuidado especial por ser uma “gravidez de risco” ou ainda a fim de
consagrar-se ao Senhor em sinal de gratidão. No sexto mês da gravidez
de Isabel, o anjo Gabriel apareceu a Maria e anunciou que ela seria mãe
de Jesus. O anjo também disse a ela que Isabel estava grávida. Maria foi
imediatamente visitar Isabel. Assim que Maria viu a Isabel, a saudou
dizendo: “Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você
dará à luz (Lc 1.42). Logo que Isabel ouviu essa saudação de Maria - que
estava grávida de Jesus - João Batista saltou dentro do seu ventre, ela foi
cheia do Espírito Santo (Lc 1.41), e fez uma previsão em alta voz de que
Maria seria a mãe do seu Senhor (Lc 1.43-44). Maria e Isabel aparen
temente eram de tribos diferentes - Isabel da tribo de Levi e Maria da
tribo de Judá - provavelmente elas eram primas.
Maria ficou com Isabel por cerca de três meses e, em seguida, vol
tou para sua casa em Nazaré. A Bíblia não deixa claro se ela permaneceu
até o nascimento de João, mas é muito provável que tenha permanecido.
Naquela época, os partos eram muito perigosos, e é pouco provável que
Maria deixasse Isabel antes de saber que o parto havia ocorrido bem e
ela estava segura.
João Batista recebeu esse nome no oitavo dia de vida, na cerimô
nia da circuncisão. Não se sabe por que esperaram tanto tempo para
dar-lhe o nome, especialmente porque o nome já havia sido anunciado
pelo anjo desde a gestação do menino ser comunicada (Lc 1.13). Talvez
tenham seguido o costume helenista de esperar uma semana antes de
oficializar o nome do recém-nascido.
No entanto, queriam que a criança fosse chamada Zacarias, nome
do pai. Mas Isabel fez objeção a isto e insistiu que o nome seria João.
Ao desprezarem seu pedido (provavelmente porque era mulher), vol
taram-se para Zacarias - que estava mudo - e perguntaram-lhe como o
menino seria chamado. Ele escreveu numa tábua que o menino se cha
maria João e naquele momento sua mudez passou e ele voltou a falar.
Zacarias, então, cheio do Espírito Santo, profetizou sobre o futuro do seu
filho, dizendo que ele seria um profeta do Senhor (Lc 1.64-79).
Esses acontecimentos causaram alvoroço entre os judeus e todos
ficaram assombrados. Sentiam que Deus estava com aquela nova famí
lia e perguntavam-se o que aconteceria a seguir (Lc 1.65-66). Já há apro
ximadamente 400 anos a voz de Deus havia se silenciado, e não havia
sido levantado profeta em Israel. O nascimento de João Batista repre
sentava o inicio de um novo tempo. O Senhor havia começado a trazer o
seu povo de volta para si.
Após isso, nem Isabel, nem Zacarias são mencionados mais no
Novo Testamento. A menção enigmática de que a criança “habitava nos
desertos, até o dia em que se manifestou a Israel” (Lc 1.80), leva alguns a
pensar que Isabel e Zacarias morreram ainda na infância de João, e este
foi entregue a uma seita religiosa rigorosa para ser criado - provavel
mente os essênios.
Isaías Nome hebraico, significa "Deus é a salvação".
Issacar foi o nono filho de Jacó, e o quinto com Lia (Gn 30.17,18;
35.23). Após o nascimento de Judá (quarto filho de Lia), Lia não gerou
nenhum outro filho por vários anos e pensou ter ficado estéril. Seu pri
mogênito, Rúben, encontrou algumas raízes de mandrágoras no campo
durante a colheita e as levou a ela. Acreditava-se que a mandrágora era
um remédio que curava a esterilidade. No entanto, Raquel, irmã mais
nova de Lia, que era estéril, pediu-lhe algumas mandrágoras, e elas bri
garam. Por fim, Raquel concordou em pedir a Jacó que se deitasse com
Lia naquela noite em troca de algumas mandrágoras. Naquela noite, Lia
engravidou de Issacar. Logo depois do seu nascimento por volta de 1750
a.C., Lia também engravidou de seu sexto filho, Zebulom, e de uma filha,
Diná. E Raquel engravidou de José.
A origem do nome de Issacar se dá devido ao fato de que como Lia
pensava que estava estéril, ela havia liberado sua serva Zilpa como con
cubina para dar filhos a Jacó. Assim, quando Issacar nasceu, ela disse:
“Deus me deu meu salário (minha recompensa), por ter dado minha ser
va a meu marido” (Gn 30.18). Estranhamente, parece que Lia pensava
que a atitude dela em ceder sua serva para gerar filhos a Jacó havia feito
Deus se mostrar favorável de alguma maneira a ela. Outros estudiosos
derivam seu nome de ish, que significa “homem”, e sakar, que significa
“salário”, ou seja, “trabalhador contratado”, mas parece que o primeiro
significado é o mais correto.
Posteriormente Issacar foi um dos dez filhos enviados por Jacó
para comprar alimento no Egito, onde José havia se tornado figura proe
minente na corte de Faraó.
Issacar teve ao todo quatro filhos - Tola, Puva, Jó (este não é o co
nhecido “Jó” da Bíblia) e Sinrom (Gn 46.13), e mudaram-se juntos com
Issacar para o Egito, quando o patriarca Jacó mudou-se com toda sua
família a convite de José.
Antes de morrer, Jacó chamou seus filhos à sua presença para pro
nunciar uma benção e uma declaração profética sobre cada um deles.
Jacó disse: “Issacar é um jumento de fortes ossos, deitado entre dois far
dos” (Gn 49.14). A imagem sugerida nessas palavras é a de um jumento
carregado por dois fardos, que se recusa a remover seu fardo, ou seja,
um homem preguiçoso que não estaria disposto a fazer sua parte no
trabalho. Não sabemos, no entanto, se essa era uma visão que Jacó já co
nhecia da vida de Issacar naquela época, ou se foi uma visão futurística
de como se comportaria sua tribo em relação às outras tribos vizinhas.
Moisés, no entanto, (ao contrário de Jacó) predisse uma vida alegre e
tranquila para Issacar (Dt 33.18). Aparentemente, Issacar morreu no
Egito e ali foi enterrado.
Os descendentes de Issacar desenvolveram-se inicialmente em
famílias tribais, crescendo de 54.400 na primeira contagem (Nm 1.29),
para 64.300 no segundo censo (Nm 26.25) e para 87.000 durante o reina
do de Davi (lCr 7.1-5).
Os descendentes dessa tribo eram “destros na ciência dos tempos,
para saber o que Israel devia fazer” e, por isso, mudaram sua aliança po
lítica de Saul para Davi no tempo oportuno (lCr 12.32,38). São também
da tribo de Issacar o juiz Tola (Jz 10.10) e os reis de Israel, Baasa e Elá
(lRs 15.27). Débora e Baraque também eram da tribo de Issacar (Jz 5.15).
Na divisão da terra de Canaã, o quarto lote foi conferido à tribo de
Issacar depois que a arca foi levada para Siló. Isso incluía as cidades de
Jezreel, Súnem e Em-Ganim, que ficavam entre as montanhas de Gilboa
e Tabor. Seu lote fazia fronteira ao sul e a oeste com a tribo de Manassés,
ao norte com Zebulom e Naftali e a leste com o rio Jordão. Este território
possuía uma planície fértil e ribeiros como o de Quisom, e tinha algumas
vantagens e desvantagens. Sua localização, por exemplo, era desvanta
josa porque os cananeus por muito tempo dominaram aquela área (Jz
1.27 em diante), e invasores estrangeiros frequentemente vinham para
saquear a plantação (Jz 6.3-6,33). Além disso, carros de guerra de ini
migos, por algumas vezes, envolveram-se em batalhas nesse território,
cumprindo-se assim a profecia de Jacó expressa em Gênesis 49.15. No
lado positivo, o “caminho do m ar” passava por meio da terra de Issacar
e tornou-se uma fonte de renda lucrativa para seus ocupantes (Dt 33.19).
Lá na frente, quando Salomão reorganizou Israel em distritos adminis
trativos (em vez de doze tribos), o território de Issacar tornou-se uma
província independente (lCr 4.17).
Jabez foi um descendente da tribo de Judá que, no entanto, não foi
relacionado com nenhuma família ou época. Pouco se sabe sobre ele e
sua única referência bíblica encontra-se em 1 Crônicas 4.9-10. Seu nome
significa dor, como uma lembrança de uma declaração de sua mãe que
disse que “com dores o dei à luz”.
Jabez foi o “mais ilustre do que seus irmãos”. A Septuaginta diz
que ele foi “mais glorioso”, a versão siríaca diz “mais querido”, o Talmu-
de diz que ele foi “mais sábio” e a versão caldaica diz “mais honroso e
habilidoso”.
Suas marcas principais foram a resiliência, a sabedoria e a oração.
Ele orou pedindo a Deus uma benção e o Senhor a concedeu. Interessan-
temente, o pedido de sua oração foi espiritual, e não apenas material, e
Deus lhe concedeu prosperidade espiritual e física.
m j| A vida de Jairo
Assim que Jairo foi informado da morte de sua filha, Jesus lhe dis
se: “Não temas, crê somente”. Jesus estava dizendo a Jairo que não pode
ría existir dois sentimentos no coração dele, ou ele aceitava a fé e cria,
ou aceitava o medo e temia. Esses dois sentimentos sempre nos ronda
rão em nossa vida, e eles podem ser determinantes acerca de como será
o final da história. A orientação de Jesus, entretanto, sempre será: “Não
temas, crê somente”!
Quando Jesus chegou à casa de Jairo, todos estavam em pranto,
inclusive as carpideiras. As carpideiras eram mulheres, que geralmente
eram pagas para chorar em um velório, eram “pranteadoras profissio
nais”. Devido ao fato de os corpos entrarem em decomposição muito rápi
do na Palestina (devido à temperatura do lugar e as condições da época),
as carpideiras eram reunidas o mais rápido possível, e já estavam juntas
antes mesmo de Jairo saber da morte da filha. Quando morria alguém
elas eram contratadas para prantearem, jogavam cinzas sobre a cabeça e
lamentavam com um choro uivante e agudo que podia ser ouvido à dis
tância. Isso continuava até o corpo ser sepultado. Depois do sepultamento
a família as pagava pelo seu “serviço”. Era uma forma de mostrar o quan
to a pessoa que havia morrido era querida. Essa era também uma das
poucas formas pela qual as mulheres viúvas e solteiras ganhavam dinhei
ro. Através de um choro artificial que transmitia falsidade e desamor.
Ao chegar à casa de Jairo, Jesus disse que a menina não estava
morta, mas “dormia”. Essa expressão não é literal, mas sim figurada.
Para Jesus, a morte foi e sempre será apenas um sono. Essa figura lite
rária é frequentemente usada para definir a morte no Novo Testamento
(Jo 11.11-14; At 7.59-60; ICo 15.51; lTs 4.13-18). O que a Bíblia ensina
com isso é que para Jesus, o ato de ressuscitar alguém, está no mesmo
nível de facilidade de se acordar alguém que está dormindo. Jesus sem
pre lidou com a morte como um simples sono.
As carpideiras zombaram de Jesus quando o ouviram dizer que a
menina estava dormindo, pois todos sabiam que a menina havia mor
rido. Pessoas que não convivem com Jesus nunca entenderão a sua lin
guagem. Diante disso, Jesus expulsou todas as carpideiras da casa. É im
possível aceitar a ideia de que aquelas pessoas queriam o bem de Jairo
e de sua família. Quando Jesus cogitou a possibilidade da menina voltar
a viver, eles riram desacreditando das expectativas de Jairo, com isso Je
sus estava mostrando a Jairo que quem zombava de sua esperança, não
podiam estar juntos com ele na concretização do seu milagre.
Tendo todas elas saído, a casa ficou vazia. Jesus convidou o pai e
a mãe da menina e Pedro, Tiago e João para dentro da casa. Tomando a
menina pela mão Jesus disse: Talita Cumi. “Talita Cumi” é uma expres
são aramaica, que era a língua usada na Palestina naqueles tempos. Essa
expressão significa: Menina Levanta-te. Na mesma hora a menina le
vantou. Feito isto, ordenou Jesus que a ninguém dissessem o acontecido.
Porém, um milagre dessa natureza não poderia ficar oculto (Mt 9.26).
Infelizmente, nada se sabe sobre a vida de Jairo após esse acon
tecimento, no entanto, a sua humildade em procurar Jesus e sua fé em
confiar em sua palavra nos revelam valores importantes que ele carre
gava consigo ao longo da sua vida.
Jezabel foi esposa de Acabe, rei de Israel. Era filha de Etbaal, rei
dos sidônios e de toda a Fenícia. Etbaal, no entanto, não foi apenas um
rei, mas era também sacerdote de Baal-Melcarte, o deus das tempesta
des, e de Asera, a deusa da fertilidade. Jezabel também era devota de
Baal e de Asera (IRe 18.19). Ela encorajou Acabe a construir santuários
para o culto a esses deuses, e trouxe centenas de sacerdotes e profetas
dessa reügião para Israel. Ao todo eram 450 profetas de Baal e 400 pro
fetas de Asera que eram mantidos no palácio com os recursos do tesouro
real (lRs 18.19). Além de fortalecer os profetas de Baal, Jezabel perse
guia os profetas do Senhor, e mandava matar aqueles que falassem con
tra seus atos de idolatria (lRs 18.4).
Israel estava corrompido pela idolatria desde a rebelião de Jero-
boão contra Roboão. Assim que Jeroboão se tornou rei, ele estabeleceu
em Siquém, um altar aos deuses egípcios Hator e Ápis, fazendo dois
bezerros de ouro e dizendo: “Aqui estão os seus deuses, ó Israel” (lRs
12.28). Daquele momento em diante os lugares de adoração idólatra se
multiplicaram por todo o Reino do Norte.
Quando Jezabel se tornou rainha - por volta de 869 a.C. - Acabe
imediatamente construiu um templo a Baal na cidade capital de Samaria
(lRs 16.31-33). Jezabel tinha grande domínio sobre Acabe, e este permitia
que ela fizesse tudo o que desejava. “Nunca existiu ninguém com o Aca
be que, pressionado p or sua m ulher Jezabel, vendeu-se p ara fa z e r o que o
Senhor reprovava. Ele se com portou da m aneira m ais detestável possível,
indo atrás dos ídolos, com o faziam os amorreus, que o Senhor tinha expul
sado de diante de Israel” (lRs 21.25-26).
Jezabel também criou os seus dois filhos - Acazias e Jorão - para
observar as mesmas práticas, e sua filha Atalia (2Rs 8.18), também levou
suas idéias idólatras para Judá quando se casou com o filho do rei Josafá.
No entanto, Jezabel não só instituiu sua religião em Israel, mas também,
perseguiu e combateu a todos os que adoravam ao Senhor Jeová. Ela se
tornou uma adversária do Senhor Deus.
O principal oponente de Jezabel em Israel era o profeta Elias (lRs
18.21-46). Elias realizou uma disputa no monte Carmelo para provar
quem era o verdadeiro Deus de Israel. E após isso, incitou a multidão a
matar os 450 profetas de Baal que Jezabel cuidava em Israel. Assim que
Jezabel descobriu isso, ela ameaçou matar o profeta Elias, e ele teve que
fugir para a região do monte Horebe.
Jezabel, não só era desrespeitosa, como também não possuía con
sideração pela propriedade e direitos dos outros. Isso ficou bem evidente
na história da vinha de Nabote que era ao lado do palácio de inverno de
Acabe, em Jezreel. Acabe respeitou o desejo de Nabote de manter a terra
de sua herança, mas Jezabel apossou-se dela de forma impiedosa, forjan
do uma acusação com testemunhas falsas contra Nabote e depois fazendo
com que ele fosse apedrejado até a morte (lRs 21.1-15). Elias profetizou
que por causa desse assassinato de Nabote, Jezabel e Acabe morreriam de
maneira desonrosa e que Jezabel seria devorada por cães no mesmo local
onde o sangue de Nabote havia sido derramado (lRs 21.19-23).
Após a morte de Acabe - disfarçado em uma batalha - Jezabel conti
nuou a governar por meio de seus dois filhos, Acazias e Jorão. Uma espécie
de “poder por trás do trono”. Ela também conseguiu desenvolver uma má
influência sobre o Reino do Sul por meio da rainha Atalia, que era sua filha
não só de sangue, mas também de espírito (2Rs 8.18). O remado de Acazias em
Israel, fora um remado fraco e idólatra, seguindo os passos de Jezabel e sendo
manipulado por ela. Ele morreu depois de cair de uma janela no palácio -
provavelmente por causa de um surto de bebedeira. Sem ter nenhum filho,
Acazias teve como sucessor seu irmão, Jorão.
Jorão, embora tenha deixado de promover o culto a Baal, ainda era
em sua essência um idólatra, e pouco fez para apaziguar a ira de Deus con
tra sua dinastia. Depois de doze anos de governo, ele foi morto pelo general
revolucionário Jeú, que se tornou o próximo rei de Israel.
Quando Jeú assumiu o trono de Israel, ele limpou tudo o que ainda
havia de resquício do governo e da família de Jezabel no Reino do Norte.
Jezabel foi lançada por dois guardas israelitas - a mando de Jeú - da torre do
palácio de Jezreel e atropelada por sua carruagem sendo pisoteada por seus
cavalos. De forma muito insensível, Jeú depois entrou no seu palácio para
almoçar com seus soldados e, mais tarde, quando ele enviou seus servos para
enterrá-la, os cães já haviam se lançado sobre o seu corpo, restando apenas
seu crânio, seus pés e as palmas de suas mãos (2Rs 9.34-37). Cumprindo-se
assim, a profecia que Elias fizera.
Em Apocalipse 2.20, o nome Jezabel é dado a uma falsa profetiza
da igreja de Tiatira que encorajava a idolatria e a imoralidade sexual.
Evidentemente, esse nome já havia se tornado um símbolo de apostasia
desde aquela época.
O Apóstolo
Josafá foi o quarto rei de Judá de 873 a 849 a.C. - e sexto rei da linha
gem real de Davi. Era filho do rei Asa, e foi corregente com seu pai por três
anos, assumindo em 870 a.C., definitivamente o reino de Judá com a idade
de 35 anos. Sua mãe era Azuba, filha de Sili. Josafá “fez o que era reto aos
olhos do Senhor” (lRs 22.43; 2Cr 20.32), e “não buscou aos baalins. Antes
buscou ao Senhor Deus de seu pai, e andou nos seus mandamentos, e não
segundo as obras de Israel” (2Cr 17.3-4). 0 resultado foi a benção pessoal e
nacional, na forma de riqueza, honra e poder (2Cr 5.11-13).
O reinado de Josafá durou 25 anos e foi o auge da história de Judá.
Josafá está entre os principais reis do Reino do Sul, ao lado de Josias e Eze-
quias. Foi o primeiro a estabelecer a paz entre os reinos de Judá e Israel,
que viviam em conflito desde a ruptura nos dias de Roboão e Jeroboão. Isto
se deu, em parte, graças ao casamento de seu filho Jeorão com Atalia, filha
do rei Acabe de Israel. No entanto, embora tenha unido os dois reinos em
uma afiança, mais tarde esse casamento viria a se revelar um verdadeiro
desastre para Judá, inclusive abrindo as portas para a adoração a Baal no
Reino do Sul, e trazendo outras inúmeras consequências para a vida espiri
tual, social e política de Judá (2Rs 8.27; 9.27; 10.14; 11.1-20; 2Cr 22.2-3).
No terceiro ano de seu reinado, Josafá conduziu algumas refor
mas religiosas para melhorar o bem-estar espiritual da nação, instruin
do pessoalmente o seu povo a enviar os levitas e sacerdotes com os li
vros da lei para ensinar a lei de Deus nas cidades de Judá (2Cr 17.7-9).
Nessa época, os filisteus e os árabes lhe pagavam tributos - os filisteus
levam-lhe prata, e os árabes, milhares de carneiros e bodes (2Cr 17.10-
11). Mais tarde, Josafá fortificou as cidades do seu reino (2Cr 17.12-19).
Josafá também removeu os lugares altos e os postos sagrados de ido
latria em Judá (2Cr 17.6), e fechou todos os templos religiosos onde se
praticavam a prostituição (lRs 22.46).
Em uma visita a Acabe, por volta de 853 a.C., Josafá foi convencido a
fazer uma tentativa de recuperar Ramote-Gileade. Josafá, porém, resistiu à
ideia de começar a campanha militar sem a aprovação de Deus (2Cr 18.4).
Unânimes, os quatrocentos profetas de Acabe profetizaram vitória para Is
rael. Mesmo assim, Josafá não se convenceu, pois achava que os profetas de
Acabe não passavam de bajuladores. Relutante, mandou chamar Micaías,
filho de Inlá, que era conhecido por causa da veracidade e da precisão de
suas profecias. Acabe odiava Micaías porque ele nunca profetizava algo
bom ao seu respeito. A princípio, Micaías parecia concordar com os pro
fetas da corte, mas, depois, profetizou a vitória dos assírios e a morte de
Acabe (lRs 22.13). A profecia se cumpriu! Acabe tentou se disfarçar, mas
foi ferido na guerra (lRs 22.30). Josafá, no entanto, saiu ileso e voltou para
Jerusalém. No entanto, um profeta chamado Jeú, repreendeu severamente
a Josafá pelo seu envolvimento com Acabe (2Cr 19.1-2).
Após esse tempo, a jornada real e militar de Josafá obteve excelen
tes resultados. Ele foi vitorioso em várias batalhas, incluindo o controle de
uma rebelião de moabitas. Josafá já havia sido bem-sucedido em uma ten
tativa de anexar Edom ao reino de Judá, e isto lhe deu o comando da rota
das caravanas que viajavam para a Arábia - entre os portos do mar Medi
terrâneo e do mar Vermelho - e lhe trouxe uma riqueza adicional (2Cr 17.5;
18.1). No entanto, ele sofreu um sério contratempo ao investir uma enor
me fortuna numa parceria com Acazias, rei de Israel e filho de Acabe, na
construção de um estaleiro em Eziom-Geber (próximo a Eilat), no golfo de
Ácaba. O objetivo era construir uma frota de navios para buscar ouro em
Ofir, cuja localização é desconhecida hoje em dia. Tragicamente, toda frota
naufragou antes que pudessem navegar, supostamente por causa de uma
terrível tempestade. Porém, Eliezer, filho de Dodã de Meresa, profetizou a
Josafá, dizendo: “Devido à aliança que fizeste com Acazias, destruiu o Senhor
as tuas obras e despedaçaram -se as suas naus e não puderam ir a Társis”
(2Cr 20.37). Curiosamente, Eliezer sugere que esses navios iam para Társis.
Se era próximo à Társis que Josafá e Acazias iriam buscar o ouro de Ofir
não sabemos, mas uma coisa é certa: Deus quebra os navios de quem não
lhe consulta. Em outros momentos Josafá havia consultado a Deus antes de
suas decisões, nessa ocasião, infelizmente não havia buscado a aprovação
divina. As naus de Josafá foram quebradas porque ele não buscou respos
ta em Deus para tal empreendimento e porque ele se afiançou com uma
pessoa errada, Acazias (I Re 22.49; II Cr 20.6). Após essa experiência, Josafá
recusou quaisquer novas parcerias, provavelmente, por ter sido mais uma
vez repreendido pelo Senhor, desta vez, por ter se unido a Acazias.
Próximo ao final de seu reinado, os amonitas, os edomitas e os moabi
tas uniram forças para invadirem Judá cruzando a região do mar Morto em
direção a En-Gedi. Josafá proclamou um jejum, buscou ao Senhor e acatou
as palavras do profeta Jaaziel, não se precipitando, mas acalmando-se e con
templando a salvação do Senhor ao seu favor (2Cr 20.15). Josafá saiu de en
contro ao inimigo, levando à sua frente os cantores que louvavam ao Senhor
Deus de Israel em alta voz. A vitória foi alcançada sem combate. Na confusão
causada pelos cânticos de louvor de Judá, os inimigos começaram a se ataca
rem uns contra os outros, até se destruírem mutuamente (2Cr 20.1-30).
Nos últimos cinco anos do seu reinado, Josafá teve seu filho Jeorão rei
nando junto com ele (2Rs 8.16; 1.17). Josafá morreu aos sessenta anos, hon
rado e amado por seu povo. Flávio Josefo comparou seu reinado ao de Davi.
Infefizmente, o seu filho Jeorão, não foi um bom rei. Josafá foi sepultado na
cidade de Davi (lRs 22.50). Seu nome aparece na genealogia de Jesus (Mt 1.8).
José foi o décimo primeiro filho de Jacó, e primeiro filho com sua
esposa favorita, Raquel. O nascimento de José foi um sinal do fim da
esterilidade de Raquel. Raquel deu a José este nome porque dizia: “que
ele [Deus] possa acrescentar [outro filho]” (Gn 30.24), expressando o seu
desejo de ser mãe mais uma vez. Infelizmente, quando este “outro filho”
veio, Raquel acabou morrendo no parto. Este menino chamou-se Benoni
,“filho da minha dor”, e Jacó trocou o seu nome para Benjamim , “filho
da minha mão direita” (Gn 35.18).
José nasceu em Padã-Arã, na Mesopotâmia, na época em que Jacó
ainda trabalhava para Labão, seu sogro. Provavelmente, José viveu de
1680 a 1570 a.C. Ele acabou se tornando o filho favorito de Jacó, e parece
que o velho patriarca não fazia esforços para esconder isso, pois lhe deu
uma túnica colorida de mangas longas. Esse presente indicava que Jacó
pretendia fazer de José o seu principal herdeiro e, com isso, acirrou a ira
de seus irmãos contra José (Gn 37.4). As constantes referências a essa tú
nica, mostram que ela havia se tornado um símbolo do ódio dos irmãos
para com José. Isso porque ela sempre os fazia lembrar-se da posição
que eles ocupavam em relação a José.
A vida de José é contada nos capítulos 37 a 50 do livro de Gênesis-
que corresponde a aproximadamente um terço desse livro. Sua história
começa a ser contada quando ele tem dezessete anos de idade. Nessa
época eles moravam em Hebrom. Na fogueira de ódio dos seus irmãos,
foi colocado mais um pouco de lenha quando José relatou os dois so
nhos que tivera com eles. Em um dos sonhos, todos eles tinham feixes
de trigo, e os feixes dos dez irmãos mais velhos se ajuntaram ao redor do
feixe de José e se curvaram diante dele (Gn 37.5). Essa informação do so
nho é interessante, pois revela que a família de Jacó não era apenas for
mada de pastores de ovelhas itinerantes, mas também de plantadores
e agricultores, o que exigia que eles se estabelecessem em algum lugar
fixo. Em outro sonho, o sol, a lua e onze estrelas se curvaram diante de
José (Gn 37.9). Aparentemente, Jacó não gostou desse último sonho (Gn
37.10). Isso porque, até ele também estava no sonho, sendo representa
do pelo “sol”. Este sonho sugeria que Jacó também seria subserviente de
José em algum momento. No fim, aquela profecia em forma de sonho
acabou se cumprindo.
No entanto, o ciúme dos irmãos os levaram a tomar uma atitude
radical contra José. Quando José foi enviado para supervisionar o traba
lho de seus irmãos, em Siquém, não os encontrou ali, mas um homem o
informou que seus irmãos haviam ido para Dotã, e lá José os encontrou
apascentando os rebanhos. Há uma providência extraordinária de Deus
aqui. A distância entre Hebrom e Siquém, são aproximadamente mais
de 80 quilômetros. E de Siquém a Dotã são 17 quilômetros ao norte. En
tretanto, Deus os levou a Dotã, pois devido ao seu grande abastecimento
de água, Dotã era rota das caravanas que se dirigiam ao Egito. Ou seja, se
os irmãos de José tivessem tentado matá-lo em Siquém, provavelmente
ali não haveria um meio de ele seguir em direção ao lugar onde Deus o
estava esperando. Deus estava no controle de toda aquela situação.
Quando seus irmãos o viram, disseram em uníssono: “Eis que che
ga o tal sonhador. Vinde, matemo-lo, e veremos o que acontecerá com
seus sonhos” (Gn 37.19-20). Entretanto, foram dissuadidos por Rúben, o
filho mais velho, que chegou após a decisão tomada (Gn 37.21-22). Rú
ben convenceu seus irmãos a jogarem José numa cisterna vazia, pois
pensava resgatá-lo na sequência.
Eles arrancaram de José o símbolo do seu favoritismo - a túnica
colorida - e sem o consentimento de Rúben, venderam José para uma ca
ravana de comerciantes ismaelitas que passava em direção ao Egito (Gn
37.25-28). Numa reviravolta irônica, a vestimenta que representava o
favoritismo de Jacó por José foi encharcada com o sangue de um cabrito
e apresentada ao velho patriarca como um sinal de que seu filho amado
havia sido morto por animais selvagens. A ironia maior é que foram
os próprios irmãos de José que agiram como esses “animais selvagens”
projetando a morte do jovem sonhador. No entanto, esse é um exemplo
de como Deus utiliza momentos críticos para gerar coisas extraordiná
rias. Aquele ato de brutalidade dos irmãos de José mudou para sempre
a história do Oriente Médio.
A partir desse momento, a vida do jovem sonhador se tornou uma
sequência bem-aventurada de fatos, e duas palavras vão ser constan
temente usadas para demonstrar os acontecimentos da vida de José:
“mão” (yod) e “prosperar” (tsalach).
No Egito, P otifar- que era capitão da guarda de Faraó - comprou-o
das mãos dos vendedores de escravos (Gn 39.1). O Senhor estava com
José (Gn 39.2), de maneira que Potifar percebeu a prosperidade que al
cançou sua casa por meio da gestão do jovem rapaz. Como resultado,
Potifar colocou tudo o que possuía “nas mãos de José” (Gn 39.4). E, me
diante esta decisão, Potifar prosperou ainda mais.
A Bíblia diz que José era de “belo porte e tinha um rosto boni
to” (Gn 39.6). A esposa de Potifar sentiu-se atraída por José e procurava
continuamente seduzi-lo (Gn 39.10). José, no entanto, embora estivesse
longe de seu lar e de sua família, sabia que não estava longe do seu Deus,
e permaneceu fiel ao seu Senhor e a Potifar, não aceitando as propostas
daquela mulher, por ser perversidade contra Deus. As tentativas de se
dução continuaram até que, em certo dia, quando não havia ninguém
em casa além de José e a esposa de Potifar - provavelmente ela mesma
providenciou a saída de todos os seus empregados a fim de alcançar
seus propósitos - ela o agarrou pela roupa. No entanto, José resistiu fir
memente à sua tentativa e fugiu, deixando a roupa nas mãos de sua se
nhora que, mortificada e furiosa, vingou-se chamando os criados. Para
eles - e para o marido mais tarde - ela afirmou que José tinha tentado
agarrá-la, fugindo quando ela gritara por socorro. Estranhamente, José
não foi de pronto executado pela alegada investida. Na cultura egípcia
antiga, uma acusação deste nível levaria o escravo diretamente a uma
condenação à morte. Curiosamente, José foi apenas preso. Ou porque
Potifar estimava muito a José, ou porque, de fato, Potifar conhecia a mu
lher com quem tinha casado.
Mais uma vez, uma peça de roupa de José fora usada em um fal
so testemunho que provocaria uma reviravolta na vida do preferido de
Jacó. Novamente, ele era prisioneiro (Gn 39.20). No entanto, também
desta vez “o Senhor era com ele” (Gn 39.21), de maneira que José en
controu favor diante de seu novo superior (Gn 39.21,4). José conquistou
a confiança do carcereiro de tal maneira que todas as tarefas da prisão
ficaram “nas mãos” dele (Gn 39.22). E novamente o texto nos diz que
o Senhor fez com que ele “prosperasse” (Gn 39.23). Não importava em
que “mãos” a vida de José estava colocada, no final, era sempre a mão de
Deus que o livrava e o fazia prosperar!
Quando estava na prisão, José entrou em contato com funcioná
rios da corte real e interpretou os sonhos que o copeiro do rei e o padeiro
da palácio tiveram em uma mesma noite. Da forma que José interpretou
os sonhos deles, assim sucedeu. O copeiro foi perdoado e reintegrado ao
cargo e o padeiro foi executado. José tinha vinte e oito anos nessa época,
e ainda permaneceu preso por mais dois anos.
Quando José tinha trinta anos de idade, Faraó teve um sonho que
ninguém conseguiu interpretar. O copeiro se lembrou da interpretação
do seu sonho feita por José, e então, ele foi convidado à corte do rei.
Antes de comparecer à presença do Faraó, no entanto, José se barbeou,
banhou-se e colocou vestes novas (Gn 41.14).
Os sonhos do Faraó incluíam sempre o rio Nilo, o gado que pasta
va ao longo das suas margens e os grãos que fizeram daquele país o ce
leiro do mundo Mediterrâneo. A interpretação de José indicava que sete
anos de fartura seriam seguidos por sete anos de escassez. José então
sugeriu que deveriam ser feitas provisões para os anos ruins recolhen
do-se um quinto de toda a produção obtida nos anos de abundância. O
rei, impressionado com a sabedoria com a qual Deus havia abençoado
José, o nomeou como superintendente sobre todo o reino (Gn 41.39). O
segundo em autoridade sobre todo o Egito (Gn 41.39-44). Esta função é
bastante conhecida graças a alguns documentos encontrados no Egito e,
no antigo Oriente, o seu ocupante recebia o título de vizir. O vizir era o
principal funcionário administrativo da corte, e ele era encarregado do
tesouro, da justiça e da execução de todos os decretos reais (função hoje
comparada a de um primeiro-ministro). Numa reviravolta completa de
sua sorte, o jovem hebreu descobriu que todo o reino do Egito estava em
suas mãos - o que ficou evidente pelo anel que ele passou a usar, dado
pelo próprio Faraó (Gn 41.42).
Vale a pena sabermos que não era um costume egípcio conceder
um cargo semelhante a este a um semita. Somente egípcios assumiam
cargos na corte egípcia. A grande questão é que a época em que José
governou sobre o Egito, o país era governado por faraós hicsos, e não
por faraós egípcios. Os hicsos eram uma tribo semita violenta. Vindos
da Ásia, invadiram e conquistaram o Egito no século 17 a.C. - em apro
ximadamente 1750 a.C. - e governaram até aproximadamente 1550
a.C., quando então, uma dinastia de faraós egípcios novamente tomou
o poder. Isso explica por que eles, sendo semitas, estariam dispostos a
colocarem um estrangeiro - José - em uma posição tão elevada quanto
esta de grande autoridade do governo - o que seria inviável em uma
dinastia de faraós egípcios no Egito. Isso explica o porquê de ter surgido
um “novo Faraó que não conheceu a José” (Êx 1.8). Ele era justamente
o primeiro de uma nova dinastia de egípcios que, após a expulsão dos
hicsos, subjugou a todos os aliados desta dinastia, inclusive os hebreus.
Uma outra evidência clara dessa ideia é que os israelitas também residi
ram na planície de Tanis, que era chamada de “campo de Zoã” (SI 78.12),
e essa era a capital hicsa no Egito.
Comparando a data aproximada da morte de José (1770 a.C.), com a
data do fim da dinastia hicsa (1750 a.C.), podemos concluir, que após a morte
de José os hebreus ainda tiveram 20 anos de paz e conforto, antes da nova
dinastia assumir o trono e surgir “um novo Faraó que não conheceu a José”.
José, quando assumiu o cargo de governador do Egito, também
recebeu um novo nome: Zafenate-Paneia, que aparentemente significa:
“Deus fala e está vivo”. Junto com o novo nome, José recebeu também
uma esposa, Asenate, filha de Potífera (e não de Potifar), sacerdote de
Om (Gn 41.45). Durante os sete anos de fartura,nasceram-lhes dois fi
lhos: Manassés e Efraim. Então José pôde dizer com gratidão: “Deus me
fez esquecer de todos os meus dos trabalhos e... me tornou próspero na
terra da minha aflição” (Gn 41.51-52).
No fim dos sete anos, José havia armazenado alimento suficiente
para a nação atravessar uma grande fome e, no ano seguinte, sua inter
pretação se cumpriu: as colheitas por todo o Egito foram fracas e continua
ram assim pelos próximos sete anos. No entanto, por causa da prudência
de José, não faltou nada no Egito. Como, porém, a escassez continuava,
José começou inteligentemente a trocar grãos por animais e terras, de
forma que o trono egípcio se tornou o dono de todas as propriedades do
Egito, com exceção das terras que pertenciam aos sacerdotes egípcios (Gn
47.20-22). José, então, começou a executar um programa de reforma agrá
ria: terras e sementes foram distribuídas gratuitamente aos camponeses,
e estes entregavam ao Faraó, como imposto, um quinto de suas colheitas,
ficando com o restante para as suas próprias necessidades.
Vale a pena lembrarmos que aquela seca e a fome afetaram não
somente o Egito, mas todo o Oriente Médio, inclusive a região onde mo
rava Jacó e sua família. A tribo de José não era formada apenas de sua
família, mas, possivelmente, possuía também dezenas de empregados e
servos. Jacó não era um asceta itinerante. Era o equivalente a um xeique
beduíno rico. No entanto, uma vez que as colheitas estavam ruins, o
pasto também ficou ruim, por isso não havia trigo para o povo comer e
certamente os rebanhos também começaram a padecer, assim como as
“vacas do sonho” haviam padecido.
Então, eles ficaram sabendo que havia muita comida no Egito (Gn
42). A tribo era grande, mas não era pobre, por isso Jacó decidiu enviar
seus filhos com dinheiro ao Egito para comprarem trigo. Por precaução,
Benjamim ficou para trás. Afinal, ele era o único filho de Raquel que Jacó
pensava que estava vivo, e Jacó o amava na mesma medida como havia
amado José.
Quando chegaram ao Egito, tiveram que procurar o governador -
que lhes foi apresentado como Zafenate-Paneia e não como José - para
comprar trigo. Fazia vinte anos que eles o haviam visto pela última vez.
A última recordação que eles tinham de José era a de um menino de de
zessete anos, machucado e todo ensanguentado por causa dos maus-tra-
tos que havia recebido dos seus irmãos. Quando viram o oficial egípcio
de alta posição, que usava o anel sinete de Faraó, a maquiagem tradi
cional que os oficiais egípcios usavam e o colar de ouro de autoridade,
os irmãos não reconheceram nele o menino franzino que quase haviam
matado no passado.
No mesmo instante, José reconheceu seus irmãos, mas não se re
velou a eles. Pelo contrário, começou um jogo complicado que tinha por
objetivo forçá-los a confrontar a culpa pelo modo como o haviam tra
tado. Ele os acusou de serem espiões, jogou-os na prisão por três dias e
submeteu-os a um duro interrogatório durante o qual eles admitiram
que havia outro irmão, Benjamim. Nesse meio tempo que eles ficaram
como reféns, eles discutiram entre si em sua própria língua, sem saber
que o governador que lhes havia falado através de um interprete, era
capaz de entender o que eles diziam. Quando os irmãos se perguntaram
se aquela situação que estavam vivendo no Egito não seria devido à mal
dade que haviam feito a seu jovem irmão há tantos anos, José teve de se
afastar para ocultar seus sentimentos (Gn 42.21-24).
José finalmente concordou em vender-lhes trigo com a condição
de que deixassem um dos irmãos como refém, fossem para casa, e vol
tassem com Benjamim. Simeão foi escolhido para ser deixado para trás.
José então ordenou aos guardas que devolvessem o dinheiro, esconden
do-o secretamente nas bagagens deles com trigo. A caminho de casa -
quando descobriram o dinheiro - eles ficaram apavorados. Perceberam
que estavam envolvidos em algo que não conseguiam entender e acha
ram ser um castigo de Deus (Gn 42.28).
Quando eles chegaram em casa, Jacó ficou perturbado com a exigên
cia do governante egípcio (ele ainda não sabia que era José) e se recusou a
arriscar a vida de Benjamim, acreditando por certo que Simeão já estava
morto. No entanto, à medida que a fome aumentou, ele teve de ceder. Por
fim, enviou seus filhos, incluindo Benjamim, de volta para o Egito. Jacó lhes
disse sabiamente para levarem de volta o dinheiro encontrado nas bolsas
e mandou um presente para o senhor egípcio: “um pouco de bálsamo, um
pouco de mel, alcatira e ládano, pistácias e amêndoas” (Gn 43.11).
Quando chegaram, eles ficaram surpresos por não serem rece
bidos como inimigos, mas como convidados de honra. Foram tratados
como reis, bebendo vinho e jantando no palácio de José. Quando en
tregaram a José o presente enviado por Jacó e lhe apresentaram Ben
jamim, José teve de deixar a sala novamente para que eles não vissem
suas lágrimas. José mandou servir aos irmãos porções escolhidas de sua
própria mesa, sendo a maior para Benjamim, e depois eles foram envia
dos de volta para casa não só com o trigo solicitado, mas também com
grande honra. Entretanto, José novamente ordenou ao administrador
que devolvesse secretamente o dinheiro e escondesse sua taça de prata
na bagagem de Benjamim.
Assim que passaram pelo portão da cidade, os irmãos foram de
tidos pelos guardas do palácio e acusados de roubar o seu anfitrião de
maneira ingrata. Certos de que eram inocentes, eles se ofereceram como
escravos se qualquer prova fosse achada. O guarda disse que somente
o ladrão se tornaria escravo. A busca tensa começou pela bagagem de
Rúben, encerrando-se com a bagagem de Benjamim. Quando a taça de
José foi encontrada na bagagem de Benjamim, aterrorizados, os irmãos
voltaram e se prostraram diante de José, cumprindo, assim, seu sonho.
Imploraram pela misericórdia de José, dizendo que o pai era idoso e
morreria se algo acontecesse com Benjamim, seu querido filho caçula.
Por fim, José ficou tão emocionado que dispensou todos os seus
servos e se revelou aos seus irmãos, dizendo-lhes que Deus o havia en
viado à frente deles para preparar-lhes uma futura sobrevivência (Gn
45). José, em uma explosão de emoção represada, chorou tão alto que
todos os egípcios o ouviram (Gn 45.2). José lhes disse que havería ainda
mais cinco anos de fome, e os enviou para casa a fim de que trouxessem
Jacó e toda a sua família para viverem no Egito. Além disso, José viu a
mão de Deus em sua trajetória, e entendeu que o Senhor o havia escolhi
do com a finalidade de preservar o início da nação de Israel (Jacó e sua
família) através de sua pessoa (Gn 45.7-8; 50.20). Ou seja, José entendia
que o que Deus havia feito por ele, não fez por causa dele apenas, mas
sim, para que através dele Israel fosse preservado. Deus usou José como
agente primário no cumprimento desta promessa.
Enquanto isso, Faraó ficou tão comovido com esta história que en
viou, com generosidade, presentes para Jacó e prometeu: “Eu lhes darei
o melhor da terra do Egito e vocês poderão desfrutar a fartura desta ter
ra” (Gn 45.18). Arranjos foram feitos para a vinda de Jacó e carruagens
foram fornecidas, juntamente com provisões para a viagem (Gn 45.21).
0 objetivo era garantir a segurança no trajeto para o Egito do velho pa
triarca que na época tinha 130 anos de idade (Gn 47.8-9).
Quando Jacó soube que seu filho José estava vivo, exclamou: “Bas
ta! José, meu filho, ainda está vivo! Que eu vá vê-lo antes de m orrer”
(Gn 45.28). Jacó e sua família foram para o Egito e se estabeleceram na
terra de Gósen, uma região fértil no delta do Nilo, que era, na verdade,
a melhor parte do país (Gn 45.16-20). Eles foram com a benção de Deus,
e sob uma promessa que Deus havia feito: “Não tenham medo de descer
ao Egito, porque lá farei de vocês uma grande nação. Eu mesmo descerei
ao Egito com vocês e certamente vos trarei de volta” (Gn 46.3-4).
José veio encontrar-se com todos em Gósen, onde se deu um emo
cionado reencontro entre o idoso patriarca e seu filho sonhador. Em sua
velhice, Jacó deu a sua benção patriarcal aos dois filhos de José, mas, a
principal ele a deu ao mais moço, Efraim (Gn 48.13). Ambos se tornaram
tribos de Israel, garantindo que o número das tribos ainda fosse doze
quando os descendentes de Levi se tornaram o sacerdócio hereditário e
não puderam mais ocupar o território de uma tribo.
Depois da morte de Jacó, os irmãos de José ficaram temerosos de
que ele poderia tentar se vingar deles, mas, novamente foram assegura
dos de que Deus em sua providência havia planejado tudo isso somente
para o bem. Com isso, podemos observar claramente o sensível e miseri
cordioso caráter de José pela segurança que deu aos irmãos, mostrando
que os havia perdoado e estava preocupado com o bem-estar deles.
José viveu ainda para conhecer os seus bisnetos e morreu no Egito
com a idade de 110 anos. Ele foi mumificado (embalsamado) e colocado
em um sarcófago de madeira para múmias (Gn 50.26). José, no entan
to, havia pedido que quando os israelitas deixassem o Egito, levassem
consigo os seus ossos (Gn 50.25). Isso foi fielmente atendido por Moisés
na época do Êxodo (Êx 13.19). E os ossos de José foram sepultados em
Siquém, em um pedaço de terra que anteriormente Jacó havia adquirido
(Js 24.32; Gn 33.18-20).
Como José, provavelmente, fez parte da época do governo dos hicsos,
o seu nome não é encontrado nos registros egípcios. Entretanto, é interes
sante observar que o nome “José-El” aparece como o nome de um lugar
palestino na relação das cidades conquistadas pelo Faraó Tutmósis III.
Josias foi rei em Judá por 31 anos, entre 640 a 609 a.C. Seu avô, o per
verso rei Manassés, reinou por 55 anos, perseguiu as pessoas piedosas e re
primiu a verdadeira religião e a adoração a Deus. Seu pai, Amon, governou
apenas dois anos, dando continuidade às práticas malignas de Manassés. Seu
reinado foi interrompido por intrigas na corte que culminaram com o seu
assassinato (2Rs 21.24). O anterior desgoverno de seu pai e seu avô foi corri
gido por Josias. Isso nos ensina que em nossa vida temos a oportunidade de
corrigir os erros que os nossos antepassados cometeram. Erros que foram
cometidos no histórico de nossas famílias podem ser abolidos em nós.
Em meio a essa difícil época de apostasia, Josias assumiu o trono
com apenas oito anos de idade. Foi o décimo sétimo rei de Judá. Enquan
to jovem, teve como seu conselheiro o sumo sacerdote Hilquias, a quem
ele ouvia atentamente. Esses conselhos cooperaram para que Josias ao
longo de sua infância e adolescência despertasse o desejo de conhecer
ao Senhor, e isso fez com que “Josias, no oitavo ano do seu reinado [com
16 anos de idade] com eçou a buscar o Senhor” (2Cr 34.3). Nesse período,
Deus começou estabelecer Josias como um reformador em Judá. Desper
tando o povo para voltar-se para Deus.
Quatro anos depois, quando Josias tinha a idade de 20 anos, come
çou a purificar a Judá e a Jerusalém, destruindo os altares idólatras, os
bosques de sacrifícios pagãos e reduzindo as imagens de escultura e de
fundição a pó. Até os ossos dos sacerdotes que haviam praticado sacrifí
cios pagãos também foram consumidos sobre os seus altares. Com isso,
Josias estava declarando que aqueles que haviam instituído e praticado
o pecado seriam consumidos e reduzidos a nada juntos com o pecado.
Essa iniciativa de Josias foi tão bem-sucedida que, sendo ele rei em
Judá, até em Israel foram removidos todos os altares e lugares onde era
praticada a idolatria (2Cr 34.7). Josias havia entendido que o desejo de
Deus é que o seu povo viesse a se unir para combater o pecado, e promo
ver a santidade ao Senhor, independente de serem de “Judá ou Israel”.
No entanto, foi no décimo oitavo ano de seu reinado, aos26 anos de
idade, que Josias realizou o principal feito de seu reinado. Depois de já ha
ver purificado a terra e as casas, Josias “enviou a Safei, filho de Azalias, a
Maaseias, m aioral da cidade e a Joá, filho de Joacaz, para repararem a Casa
do Senhor” (2Cr 34.8). Junto com eles estava Hilquias, sumo sacerdote. En-
quanto limpava uma parte danificada do templo, Hilquias encontrou um
livro antigo da lei, que segundo os historiadores e alguns mestres nas tradi
ções, era o volume completo ou parte do livro de Deuteronômio. Os livros
sagrados haviam sido, em geral, destruídos e postos longe do alcance de to
dos durante a apostasia e perseguição que celebrizaram o longo reinado do
ímpio Manassés (2Rs 21.16; 2Cr 33.9). O livro encontrado teria sido algum
exemplar da lei para uso do templo, e que havia sido escondido, ou talvez
atirado para algum canto, quando se deu a profanação do santuário.
Quando Safã leu o livro para Josias, o rei rasgou as suas vestes e cho
rou, um gesto tradicional que significava lamento ou grande calamidade. O
que mais constrangeu o rei foi que o povo não havia vivido de acordo com os
mandamentos do Senhor que estavam escritos no livro, e o livro prenunciava
a destruição de Judá por causa dos pecados do povo. Josias havia percebido
que aquele texto, por mais antigo que fosse, não havia deixado de ser atual.
A leitura do livro da lei foi tão importante que deu início a uma
segunda empreitada contra a idolatria e, desta vez, mais forte do que a
primeira. Josias enviou uma comissão à profetisa Hulda, a qual profe
tizou que, por causa da reação devota e sincera de Josias para com a lei
do Senhor, Deus não permitiría que ele visse a destruição de Jerusalém.
Judá seria destruída, mas Deus o recolhería antes (2Cr 34.23 em diante).
Aquilo, porém não fora suficiente para Josias. Ele reuniu todos os sacer
dotes e líderes de Judá e leu todo o livro para eles, exigindo que jurassem
lealdade às palavras do livro e seguissem seus mandamentos.
Como prova de que essa segunda empreitada de Josias contra a
idolatria foi mais forte que a primeira, o jovem rei, em seguida, reinsti-
tuiu a observância da festa da Páscoa e, com seus próprios rebanhos e
gados, proveu para todo o povo os animais ritualmente aceitáveis para
o sacrifício ao Senhor (2Cr 35.7). Feito isto, ordenou a celebração da Pás
coa em honra ao Senhor, com tal solenidade, como não se tinha visto
desde os tempos de Samuel.
Os próximos 13 anos da vida de Josias passaram despercebidos pelo
caminho da história. Quando celebrou a Páscoa tinha 26 anos de idade. A
Bíblia só volta a narrar sua história nos idos de seus 39 anos, por ocasião
de sua morte na batalha de Megido, em 609 a.C.
Durante esse período, a Assíria estava ruindo por causa de suas
guerras civis, e Nabopolasar estava transformando a Babilônia em um
reino poderoso que estava tomando conta de parte da Mesopotâmia. Ao
mesmo tempo, o Egito também se fortalecia, e isso predisse de forma
definida, o fim do império assírio, que os babilônios não demoraram a
derrubar. Porém, o Egito, procurando evitar a extinção final da Assíria,
por temer o inimigo comum, a Babilônia, aliou-se aos assírios e foi fazer
guerra contra Carquemis. Consequentemente, à medida em que a Assíria
declinava, aumentava a independência de Josias e de seu reino em Judá.
Nessa investida do Faraó Neco II contra Carquemis, Josias o inter
ceptou. Neco II tentou convencê-lo de que não tinha planos de pelejar
contra Judá e que Deus o havia ordenado a dizer para Josias que ficasse
fora do caso. Josias não acreditou na palavra do Faraó Neco II, colocou
um disfarce e foi com suas tropas de guerra contra eles. Tragicamente,
Josias foi atingido por uma flecha, e foi levado de volta para Jerusalém,
onde faleceu. Uma morte desnecessária, por assim dizer.
Podemos tirar algumas lições desse episódio. Primeira, Deus nun
ca abençoará alguém que tenta mostrar ser quem não é, usando um “dis
farce”. Segunda, aprendemos também que, talvez Josias tenha julgado a
si mesmo como sendo tão “próximo de Deus”, que Deus não falaria com
ele através de outra pessoa (Faraó Neco II). Terceira, aprendemos com a
morte de Josias sobre o cuidado que precisamos ter para não entrarmos
em guerras que não são nossas. O Diabo sempre tenta nos envolver em
guerras erradas. Josias, por um instante, ficou “cego” e não percebeu
o perigo que estava correndo desnecessariamente em uma guerra que
não era dele. Perdeu a vida em uma guerra desnecessária. Podia ter fei
to mais, gerado mais, conquistado mais. Porém, envolveu-se em uma
guerra que não era sua e abortou o futuro de sua história.
Alguns eruditos, acreditam também que é possível que a morte
de Josias tenha ocorrido em resultado de seu desejo de obter uma inde
pendência ainda maior do que qualquer nação estrangeira - vencendo
o Faraó Neco II - na esperança de consolidar seu reinado, e alcançar o
Egito - o que revela uma certa ambição.
Entretanto, as reformas instituídas por Josias foram mais profun
das que as do rei Ezequias, apesar de terem ocorrido tarde demais para
impedir o desastre nacional de Judá. Josias foi o último rei bom de Judá,
antes da destruição de Jerusalém e do cativeiro da Babilônia. O melhor
tributo lhe é rendido em 2 Reis 23.25: “E antes dele não houve rei sem e
lhante, que se convertesse ao Senhor com todo o seu coração, e com toda
a sua alma, e com todas as suas forças, conform e toda a Lei de Moisés, e,
depois dele, nunca se levantou outro tal”.
Josué Nome hebraico, significa "0 Senhor é salvação".
Judá foi o quarto filho de Jacó e Lia (Gn 29.35). Nasceu em Padã-A-
rã, na Mesopotâmia. Seus irmãos por parte de pai e mãe foram Rúben,
Simeão e Levi (mais velhos do que ele) e Issacar e Zebulom (mais novos).
Judá tornou-se o progenitor da maior das doze tribos de Israel e viveu
em torno de 1950 a.C.
Em certa ocasião, Judá saiu para passar uns dias com seu amigo
Hira, em Adulão, onde conheceu e casou-se com uma mulher cananeia,
filha de um homem chamado Sua. Judá teve três filhos com ela: Er, Onã
e Selá. Um deles (Er) se casou com uma mulher chamada Tamar, mas
era um homem maldoso e ímpio e foi morto pelo Senhor (Gn 38.7). Uma
vez que ele não tinha filhos, segundo a lei da época, seu irmão Onã de
veria tentar perpetuar a linhagem de seu irmão ao gerar um filho com
a viúva dele. Esse filho seria legalmente considerado descendente de Er.
Onã negou-se a fazer isso porque não queria ser pai de um filho para
perpetuar a linhagem do seu irmão, e sempre que tinha relações sexuais
com Tamar, jogava o sêmen na terra para não dar descendência ao seu
irmão. Por causa disso, o Senhor também o matou (Gn 38.8-9). Esta res
ponsabilidade, então, caiu sobre Selá, que ainda era um menino. Por
isso, Judá mandou Tamar de volta para casa de seu pai até que Selá atin
gisse a maioridade. No entanto, quando chegou à hora de Selá deitar-se
com Tamar, Judá não exigiu isso de seu filho, e por isso, Tamar conti
nuou sem filhos. Presume-se com isso, que o costume do casamento levi-
rato já existia, antes mesmo de sua formalização em Deuteronômio 25.6.
Algum tempo depois, a esposa de Judá morreu e ele foi com seu
amigo Hira às terras filisteias de Timna, e “avisaram isso a Tamar, dizen
do: o teu sogro so b e a Timna p a ra tosquiar as suas ov elh as” (Gn 38.13).
Tamar então, vestiu-se de prostituta - com um véu na cabeça - e ficou na
entrada de Timna esperando Judá. A estratégia deu certo: Judá dormiu
com Tamar e engravidou a própria nora.
Três meses depois, Judá soube que Tamar estava grávida e quis
queimá-la. Mas, Tamar provou que estava grávida dele e, então, ele re
conheceu que ela havia sido mais justa do que ele (Gn 38.26). Ela deu à
luz gêmeos, Perez e Zerá, e foi de Perez que descendeu a tribo de Judá,
incluindo Davi (Rt 4.18-22) e Jesus (Mt 1.3,16). Com isso, Judá teve, ao
todo, cinco filhos durante a sua vida.
Propositalmente, o escritor de Gênesis, conta esta história no capí
tulo 38, para fazer um contraste entre a infidelidade de Judá, quando viu
uma mulher que se fazia passar por prostituta (Gn 38), e a fidelidade de
José perante a mulher de Potifar (Gn 39). Todo o relato de Judá é narrado
pelo escritor bem no meio da trajetória de provação e fidelidade de José,
aparentemente, para fazer um paralelo entre o caráter dos dois irmãos.
Judá aparece novamente em cena quando os irmãos viajaram pela
segunda vez ao Egito, a fim de comprar alimento, durante a fome que asso
lava todo o Oriente. Parece que ele se tornou o líder dos irmãos nos conta
tos que tiveram com José (Gn 44.14-34). Quando, finalmente, José revelou
sua identidade, Judá também veio com sua família para a terra de Gósen,
no Egito, junto com o patriarca Jacó (Gn 46.28).
Quando estava próximo da morte de Jacó, o velho patriarca aben
çoou seus filhos e profetizou que Judá seria a maior de todas as tribos. “Judá
seus irm ãos o louvarão... OsJilhos de seu pai se curvarão diante de você... O
cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de com ando de seus descenden
tes” (Gn 49.8). Jacó também chamou Judá carinhosamente de “leãozinho”.
Além disso, Jacó concedeu a Judá o privilégio do direito à primogenitura
(Gn 49.8-12). Essa benção lhe garantiu a maior parte da terra de Canaã,
medindo desde o mar Morto até o mar Mediterrâneo, um território de 130
quilômetros de comprimento por 50 quilômetros de largura. Além de que,
Judá também foi a primeira tribo autorizada a tomar posse do território
que lhe foi conferido após a conquista inicial de Canaã (Js 14.6 -15.63). Ca-
lebe, um dos líderes dessa conquista, também era da tribo de Judá.
A benção de Jacó sobre Judá provou ser verdadeira e duradoura.
Judá se tornou a tribo abençoada por Deus e, depois da invasão de Israel
pelos assírios em 722 a.C., Judá tornou-se o reino abençoado por Deus
para representar geograficamente a descendência de Jacó (Israel). Como
Davi e Jesus descenderam de Judá, o cetro permaneceu para sempre esta
belecido entre os descendentes de Judá (Lc 3.33).
O termo “judeu”, também se deriva do nome desse patriarca. A
tradição antiga diz que Judá morreu no Egito aos 119 anos de idade.
Maria Forma grega do nome hebraico "M / riã" que significa" Rebelião”,
M ãe de Jesus
Mateus foi um dos doze discípulos de Jesus. Ele aparece nas qua
tro listas dos discípulos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 5.27; At 1.13). Além da pre
sença de seu nome nas listas dos apóstolos, ele é citado apenas duas
vezes nos evangelhos. Primeiro, em sua chamada na coletoria de im
postos, nas proximidades de Cafarnaum (a única chamada individual a
um discípulo, relatada nos evangelhos sinóticos). Segundo, no banquete
oferecido por ele a Jesus, para o qual muitos “publicanos e pecadores”
foram convidados (Lc 5.29-30).
Marcos e Lucas informam que Mateus também era chamado Levi
(Mc 2.14; Lc 5.27-29). É provável que “Levi” tenha sido o seu nome an
tigo, antes de receber seu chamado, e que “Mateus” tenha sido o nome
dado a ele por Jesus como discípulo (como, por exemplo, o nome de Si-
mão foi trocado para Pedro). Assim, o novo nome passou a ser um sím
bolo e uma lembrança da mais importante mudança ocorrida em seu
coração e em sua vida.
R.V.G. Tasker - perito na biografia de Mateus - sugere que a “troca”,
pelos evangelistas Marcos e Lucas, do nome Mateus por Levi no episódio
da coletoria é uma tentativa de ambos os autores desassociarem o nome
do apóstolo de sua antiga e mal vista profissão.
Marcos e Lucas mencionam que Mateus - também chamado Levi
- era filho de Alfeu (Mc 2.14-17; Lc S.27-32). Tiago, o Menor, também era
filho de um “Alfeu” (Mt 10.3). Seria esse Alfeu pai dos dois discípulos?
Provavelmente não! Vale a pena lembrar que “Alfeu” é um dos muitos e
típicos nomes helênicos adotados por judeus durante o século I d.C. Não
há nenhuma evidência bíblica, histórica ou de tradição que indique esse
parentesco entre os dois discípulos. E, caso Alfeu fosse o pai de Tiago e
Mateus, certamente os escritores iam mencionar que eles eram irmãos
assim como mencionou o parentesco de Tiago e João e Pedro e André.
Mateus era um publicano judeu, um cobrador de impostos que
trabalhava para os romanos e, portanto, era considerado pelos demais
membros do seu povo como um traidor, colaborador dos inimigos e la
drão. Entretanto, com tal ocupação, é provável que ele tenha tido uma
boa educação e estivesse familiarizado com o aramaico, o grego e o latim.
Mas, por que um cobrador de imposto era visto assim naquele tempo?
O Império Romano tinha elaborado sistemas de cobrança de im
postos que variavam de um lugar para o outro. Naqueles dias, vários
sistemas operavam na Palestina. Dois destes sistemas de impostos se
destacavam: o imposto por pessoa, arrecadado de todos os adultos, e
o imposto sobre a terra. Entretanto, o direito para coletar alguns im
postos menores - como as taxas aduaneiras cobradas nos portos e nas
principais estradas - eram arrematados pelos maiores licitantes.
Zaqueu, por exemplo, havia adquirido este direito de coletar im
postos em Jerico (Lc 19.1-10). Por isso, ele era chamado “o m aioral dos
publicanos” e “rico” (Lc 19.2). A Judeia - ao sul - era governada dire
tamente por Roma. A Galileia - ao norte - era governada por Herodes
Antipas, sob autoridade direta de Roma. E era para esse Herodes que
Mateus trabalhava.
Mateus, como coletor de impostos, estava incumbido de tributar
tanto os comerciantes e pescadores que cruzavam o mar da Galileia
(provavelmente Mateus recolhia os impostos de Pedro, Tiago, João e An
dré antes de serem discípulos) quanto os demais viajantes da importan
te estrada que ligava Damasco ao mar Mediterrâneo, que passava por
Cafarnaum. Essa estrada era chamada de Via M aris naquela época.
A grande questão negativa dos publicanos era a injustiça e cruelda
de que praticavam contra o povo ao coletar os impostos. Sentavam-se no
portão da cidade - como um inspetor da alfândega na chegada interna
cional dos aeroportos - e todo aquele que quisesse entrar na cidade era
obrigado a se submeter a exames, às vezes humilhantes, sobre tudo o que
possuía consigo. O publicano determinava o que era passível de taxas e o
valor do imposto sobre aquele item, coletando o dinheiro na hora.
Muitos deles usavam sua posição para cobrar valores exorbi
tantes, com o objetivo de levantar dinheiro extra para si mesmos. Eles
acrescentavam as suas próprias taxas para aumentar o seu lucro. Era
preciso uma grande dose de ambição e cobiça para um judeu se dispor
a ser um coletor de impostos, servindo assim aos “odiosos” romanos e
sendo associado à casa de Herodes Antipas. A maneira como o termo
“publicano” era usado na Bíblia mostra que ser um coletor de impostos
era conquistar uma posição em que o suborno e a corrupção não somen
te eram possíveis, mas eram muito prováveis.
Os judeus somente assumiríam tal emprego se amassem mais o di
nheiro do que sua herança nacional como judeus. Os rabinos ensinavam
que era perfeitamente permitido enganar um cobrador de impostos. Eles
colocavam a cobrança de impostos ao lado da prostituição como ocupa
ções que nenhum judeu cumpridor da lei poderia aceitar - uma vez que
isso significava tratar com gentios e trabalhar aos sábados -, estando to
talmente ligada à ganância e à injustiça.
Assim, pois, os publicanos formavam uma classe à parte, hostiliza
da pela sociedade judaica. Sua presença nas sinagogas era inaceitável.
Por estas razões, em sua maioria, os publicanos tinham pouco interesse
na lei e na adoração ao Deus de Israel. Eles haviam colocados seus cora
ções nas riquezas terrenas, e não nas espirituais.
Jesus viu Mateus “assentado na coletoria” (Mt 9.9). A Bíblia não
nos revela onde isso ocorreu, mas podemos pensar que aconteceu em
Cafarnaum, levando em conta que a história do relato imediatamente
anterior ocorreu nessa cidade. O texto de Mateus 9.1 nos diz que Jesus
foi à sua cidade - que era Cafarnaum - e o versículo 9.9 diz que ele esta
va “sain do”, ou seja, provavelmente esse encontro se deu no portão de
saída da cidade.
Jesus simplesmente disse a Mateus: “Siga-m e”. Ele, ato contínuo,
levantou e o seguiu. O versículo seguinte informa sobre Jesus em um
jantar na casa de Mateus. Ao entrar ali para jantar, Jesus provocou um
escândalo. Os convidados eram “publicanos e pecadores”, o que podería
incluir até prostitutas, porque eram as únicas pessoas que se relaciona
vam socialmente com os da classe moral de Mateus. Pouco se sabe sobre
esse evento, exceto que os fariseus desafiaram Jesus e ele respondeu:
“N ão são os que têm saúde que precisam de m édico, m as sim os doentes...
pois eu não vim p a ra cham ar justos, m as peca d o res” (Mt 9.12-13).
O encontro de Mateus com Jesus verdadeiramente transformou a
sua vida. Como resultado disso, ele deixou definitivamente sua função de
cobrador de impostos. Concluímos isso com base em dois pontos evidentes.
Primeiro, no grupo dos doze apóstolos estava “Simão, o Zelote” (Mt 10.4).
Este Simão era um ex-membro de um movimento revolucionário inconfor
mado com a submissão a Roma, inclusive com a prática de pagar tributos a
Roma que era liderada em Cafarnaum por Mateus. Os dois seriam profun
dos inimigos entre os doze, caso não tivessem sido transformados por Jesus.
Mateus, intencionalmente, menciona tanto sua profissão como a de Simão
em sua lista de apóstolos, em Mateus 10.2-4, com o propósito de sublinhar
a reconciliação de ambos. Eles não poderíam estar juntos no apostolado
se não tivessem abandonado suas vidas anteriores para seguirem a Jesus.
Segundo, somente Mateus se refere ao ensino de Jesus sobre o pa
gamento do imposto (Mt 17.24-27). Apenas ele registra esse incidente
em que Jesus paga o imposto em Cafarnaum, mandando Pedro pescar
e procurar uma moeda na boca de um peixe. Podemos suspeitar que
Mateus incluiu essa história porque ela significava muito para ele. Ele
havia sido liberto de todo aquele sistema, na realidade, libertado de ser
vir a M amom, o deus do dinheiro (Mt 6.24).
Outra evidência da conversão de Mateus e de como sua experiên
cia pessoal interferiu no seu relacionamento com Deus está registrado na
“Oração do Pai-Nosso” nos registros de Mateus e Lucas. Mateus usa o termo
“perdoa-nos as nossas dívidas”, e Lucas usa o termo “perdoa-nos os nossos
pecados” para o mesmo trecho da oração (Mt 6.12; Lc 11.4). Como cobrador
de impostos, ele nunca perdoava dívidas - mas depois que conheceu Jesus,
ele reconheceu a enorme dívida não paga que tinha para com Deus - a
dívida do perdão e da salvação. Por isso, é plausível a ideia de Levi ser o
seu nome antigo, e Mateus o novo nome, como uma referência de sua nova
vida: “dom de Deus”.
A data do chamado de Mateus não pode ser determinada com pre
cisão, mas existe uma boa razão para colocá-la antes do sermão da monta
nha, sobre o qual o evangelho segundo Mateus contém o relato mais com
pleto. O fato por si só sustenta uma forte evidência a favor dessa colocação
cronológica, porque tal narrativa tão completa do sermão não poderia se
originar de alguém que não o tivesse ouvido.
A próxima - e última - vez que Mateus é mencionado diretamente
no Novo Testamento, é em sua inclusão entre as quase 120 pessoas que
estavam no cenáculo quando o Espírito Santo foi derramado no dia de pen-
tecostes (At 1.13). Após essa ocasião, o Novo Testamento nada mais diz so
bre as atividades de Mateus na igreja primitiva. Em contrapartida, existem
muitas histórias sobre as missões de Mateus e algumas tradições que pare
cem reconstruir os últimos anos de sua vida.
Irineu disse que ele pregou o evangelho entre os judeus. Provavel
mente isso significa que ele teria pregado tanto na Palestina quanto para
os judeus da dispersão, no período da diáspora. Clemente de Alexandria
disse que Mateus permaneceu 15 anos nesse trabalho atendendo os judeus
na Judeia. Conta ainda que Mateus desenvolveu o seu ministério entre os
etíopes, os gregos da Macedônia (norte da Grécia), os sírios e os persas.
Mateus é também o autor do primeiro dos quatro evangelhos. Du
rante séculos os cristãos acreditaram que, devido à ordem no Cânon sa
grado, Mateus teria sido o primeiro evangelho a ser escrito. Porém, este
ponto de vista tem sido majoritariamente abandonado, pois evidências
concretas apontam que Marcos foi o primeiro que escreveu os ensinos e
os relatos da vida de Jesus. Um forte argumento que embasa essa tese é
o fato de que, dos 662 versículos de Marcos, cerca de 600 aparecem tam
bém em Mateus. Faz pouco sentido imaginar que Marcos copiou cerca
de 600 versos de Mateus, acrescentando apenas alguns outros poucos,
publicando-o como um evangelho separado. É mais plausível admitir
que Mateus usou Marcos como base de uma produção de maior vulto
(principalmente porque o evangelho de Marcos foi contado por Pedro,
que esteve junto com Tiago e João em lugares em que Mateus não pôde
estar). Seguindo basicamente o modelo de Marcos, Mateus suplementa-
-o com material adicional que torna o seu evangelho quase duas vezes
mais extenso que o de Marcos (1069 versículos no total).
Mateus entendeu o modo como Jesus cumpriu as profecias do Antigo
Testamento. Por isso, aparecem mais referências a elas neste evangelho do
que nos outros três. Isso é mais uma evidência de que o evangelho escrito
por Mateus foi claramente escrito para os judeus e não para os gentios.
E somente Mateus registra a história sobre o homem que encontrou um
tesouro escondido num campo e vendeu tudo o que tinha para adquiri-lo.
Mateus sabia, a partir da sua experiência pessoal, o que isso significava.
Ele também deixara sua carreira vantajosa e lucrativa para seguir a Jesus.
Talvez, devido a isso, Mateus enfatizou muito mais do que Marcos,
Lucas e João o autosacrifício que Jesus exigiu de seus discípulos no cum
primento da missão. Isto deve ter sido extremamente difícil para Mateus
e deve ter evidenciado para ele a enorme mudança que existiu em sua
vida. Da riqueza ilícita para a pobreza moderada; da autodeterminação
para o discipulado; da segurança para a perigosa vida da fé e; acima de
tudo, do eu para Cristo. Portanto, deixar tudo para acompanhar Jesus
numa vida de discípulo itinerante provavelmente exigiu mais sacrifício
para Mateus do que para alguns dos outros discípulos - isto evidenciou
a verdadeira conversão de Mateus.
Este evangelho escrito por Mateus também é muito rico em deta
lhes exclusivos sobre a vida de Jesus. De um total de 35 milagres de Jesus
relatados nos evangelhos, Mateus descreve 20 deles. Três deles - os dois
cegos que recuperaram a visão (Mt 9.27-31), a cura do homem mudo e
endemoninhado (Mt 9.32-33) e o dinheiro na boca do peixe (Mt 17.24-27)
- só aparecem em Mateus.
Essa riqueza existe também nas parábolas. De um total de 51 parábo
las descritas nos evangelhos, 21 são relatadas em Mateus. Onze delas são ex
clusivas de Mateus - a das sementes (Mt 13.24-30; 37-43), a do tesouro escon
dido (Mt 13.44), a da pérola de grande valor (Mt 13.45-56), a da rede de pesca
(Mt 13.47-50), a do servo ingrato e mau (Mt 18.23-35), a dos trabalhadores da
vinha (Mt 20.1-6), a dos dois filhos (Mt 21.28-32), a do casamento do filho do
rei (Mt 22.1-14), a das dez virgens (Mt 25.13), a dos talentos (Mt 25.14-30) e a
das ovelhas e bodes (Mt 25.31-46). Outra curiosidade deste evangelho é que
ele é o único em que aparece a palavra igreja (Mt 16.18; 18.17).
Mateus foi um escritor talentoso, um discípulo fervoroso e, talvez,
tenha sido o mais culto dos doze discípulos. Não há, no entanto, uma
definição sobre como Mateus morreu. Clemente de Alexandria indicou
que ele teria morrido de morte natural. Adicionalmente, afirmou que
Mateus era vegetariano e se alimentava de sementes, nozes e vegetais,
não ingerindo qualquer tipo de carne. O Talmude, no entanto, diz que
Mateus foi condenado à morte pelo Sinédrio dos judeus de Alexandria e
uma antiga tradição diz que Mateus foi morto perfurado por uma lança,
na Etiópia. Embora não se possa precisar como Mateus morreu, seus
restos mortais encontram-se na Catedral de Salerno, na Itália.
Matias Nome hebraico, significa "Dom de Deus".
Os anos silenciosos.
Nós só conseguiremos perceber a dimensão desses anos por causa
da carta de Paulo aos Gálatas (G11.15 - 2.5). Nesse texto Paulo diz que
se passaram 14 anos (G12.1) desde a sua conversão (ano 35 d.C.) até um
retorno dele a Jerusalém que ocorreu junto com Tito, provavelmente
para o concilio de Jerusalém, no ano 49 d.C. Antes desse concilio Paulo
já havia realizado a primeira viagem missionária (acredita-se que du
rou de 2 a 3 anos, possivelmente de 46 a 48 d.C.), e antes da primeira
viagem missionária Paulo havia ajudado Barnabé no cuidado da igreja
em Antioquia por um ano. Então, aparentemente esses anos silenciosos
da vida de Paulo foram aproximadamente 10 anos - 1 4 anos entre a con
versão e o concilio de Jerusalém, menos 2 ou 3 anos da primeira viagem
missionária e menos 1 ano em Antioquia.
Nesse período também aconteceu o que Paulo registrou em 2a aos
Coríntios 11.32-33: “Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs
guardas às portas dos damascenos, para me prenderem; Mas por uma
janela na muralha desceram-me num grande cesto, e assim escapei de
suas mãos”. Esse ocorrido aconteceu durante o segundo período que
Paulo esteve em Damasco (G11.17).
O esboço desse período pode ser dado assim: Pregação em Damas
co (rapidamente) (At 9.20-22); Viagem pela Arábia (G11.17); Retorno a
Damasco (G11.17); Fuga para Jerusalém (G11.18; 2Co 11.32-33; At 9.23-
26); Encontro com Pedro e Tiago em Jerusalém (G1 1.18-19); Retorno à
Síria e Cilícia (Tarso) (G1 1.21-24; At 9.30); e esse período termina com
o convite de Barnabé para ajudar na igreja em Antioquia (At 11.20-26).
O entanto, a insuficiência de informações deixou muitas pergun
tas sem respostas para a reconstrução da vida de Paulo nesse período.
Onde era a Arábia? E o que ele fazia lá? Porque ele se retirou por tanto
tempo antes de começar seu ministério público? E, além disso porque
ele estava continuamente fugindo?
Uma coisa sabemos, os anos silenciosos não foram anos de repouso
ou inativos. As indicações sugerem que nesse período Paulo esteve pregan
do e ensinando, ainda que sem nenhuma evidência pública.
O trabalho em Antioquia
Enquanto Paulo estava em Tarso, o evangelho havia se difundi
do de Jerusalém a Antioquia da Síria (At 11.19-21). Barnabé foi enviado
para ver o que estava acontecendo ali, e foi usado por Deus como um
instrumento para aumentar o número de convertidos. Mas quando o
trabalho ficou grande demais, ele “partiu p a ra Tarso p a ra buscar Saulo”
(At 11.25). Os dois juntos trabalharam em Antioquia por um ano inteiro.
E em Antioquia foram os discípulos pela primeira vez chamados “cris
tãos” (At 11.26). Até então, os cristãos eram chamados de “membros do
caminho”.
Este foi um ponto crucial na vida de Paulo, porque pode ter sido
ali que sua visão de levar o evangelho aos gentios se consolidou. Foi en
quanto ele estava ativo em Antioquia que o Espírito Santo disse: “Apar
tai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At
13.2). A partir desse momento que tiveram início as viagens missioná
rias de Paulo.
As viagens missionárias
Abrangendo um período de aproximadamente 10 anos, o trabalho
missionário de Paulo aconteceu principalmente em 4 províncias do im
pério romano: Galácia, Macedônia, Acáia e Ásia (que na época era consi
derada abrangendo uma província). Em cada uma delas ele concentrou
nas cidades-chaves, que eram os maiores centros populacionais. Uma
vez alcançadas essas cidades principais, através delas eram alcançadas
as áreas rurais, normalmente usando convertidos de cada um destes lu
gares (Cl 1.7-8; 4.2).
Os métodos de Paulo de estabelecer e plantar igrejas podem se ver
em resumo em Atos 14.21-23: (1) pregando o evangelho (evangelização);
(2) fortalecendo e encorajando os crentes (con solidação e edificação); e
(3) escolhendo presbíteros em cada igreja (organ ização). Assumiu-se a
mesma abordagem nas cidades de Filipos (At 16.40; Fp 1.1), Corinto (At
18.4,11; ICo 16.15-16) e Éfeso (At 19.8-10).
Nesse período, talvez por volta do início de 45 d.C., Barnabé e Pau
lo levaram ajuda aos crentes de Jerusalém (naquele período houve uma
grande fome na Judeia), e voltaram com o primo de Barnabé, João Mar
cos, para Antioquia.
Primeira viagem missionária (At 13.2 -14.28). Essa viagem durou
de 2 a 3 anos, possivelmente de 46 a 48 d.C. Esta foi uma missão para os
gentios (At 14.27). Foram nessa viagem Saulo, Barnabé e seu sobrinho João
Marcos. Como cada um dos períodos das viagens de Paulo, o ponto de par
tida foi Antioquia, um lugar que assumiu o papel de centro do cristianismo
para os gentios. Partindo do porto de Selêucia, Paulo e seus companheiros
desembarcaram em Chipre, em seu extremo leste. De Salamina cruzaram
toda a extensão da ilha, pregando primeiro nas sinagogas dos judeus. De
fato, este era seu ponto de contato com os gentios, alguns dos quais eram
adeptos do judaísmo. O primeiro encontro com funcionários romanos tam
bém ocorreu em Pafos, a cidade capital daquela região e residência do pro-
cônsul Sérgio Paulo. Ah também eles encontraram uma primeira grande
perseguição: um judeu chamado Bar-Jesus, que alegava ser profeta e mago,
e que se tornou conselheiro espiritual do procônsul Sérgio Pardo. Bar-Jesus
tentou impedir o procônsul de escutar a mensagem cristã, Paulo fez com
que o mago ficasse cego, e Sérgio Paulo acreditou em Cristo “maravilhado
com a doutrina do Senhor” (At 13.12).
Saindo para o mar, o grupo foi então para Perge, na Panfília. Nessa
cidade João Marcos os abandonou voltando para Jerusalém (At 13.13).
O momento parecia inesperado para essa atitude. O que pode ter acon
tecido? Ele havia se ofendido? Ou apenas estava com saudades de Casa?
Não sabemos. O certo, é que este episódio marcou o momento em que
Paulo se tornou o líder da expedição missionária. Até então se falava
sobre “Barnabé e Paulo”, a partir desse momento se fala “Paulo e seus
com pan heiros” (At 13.7-13). Coincidentemente, a partir desse momento
também, Saulo começou a ser chamado por seu nome romano Paulo. Ele
provavelmente achou que usar seu nome romano seria mais adequado
para se movimentar entre os gentios no mundo romano. Era como se
um americano que se chama John , preferisse ao morar no Brasil ser cha
mado de Jo ã o , para facilitar sua integração na nova sociedade.
Em seguida, a dupla viajou em direção ao norte, e entrou na pro
víncia da Galácia, e suas visitas estenderam-se a quatro cidades: Antio-
quia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe.
Em Antioquia, Paulo pregou na sinagoga discursando sobre a his
tória do povo de Israel e o cumprimento das promessas de Deus através
da vinda do Salvador, Jesus Cristo. Sua ênfase era sobre o perdão dos
pecados e justificação pela fé (At 13.38-39). No entanto, os judeus se opu
seram a eles, e Paulo declarou: “Voltemos p a ra os gentios” (At 13.46).
Este acabou se tornando um comportamento comum do ministério de
Paulo em outras cidades (At 18.6; 28.28).
Levados para fora de Antioquia, eles foram para Icônio. Chegando
ali “falavam ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à
palavra de sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e
prodígios” (At 14.3; G13.5; Hb 2.4).
•Oterceiro centro a ser alcançado na Galácia foi Listra, uma cidade
que não tinha sinagoga, um sinal de que provavelmente poucos judeus
moravam ali. Em Listra, Paulo e Barnabé curaram um aleijado, e o povo
ficou tão impressionado que os confundiram com Hermes e Zeus (Júpiter
e Mercúrio), que eram dois deuses da mitologia grega. Quando Paulo e
Barnabé negaram isso e disseram que não passavam de meros humanos,
um grupo de oponentes vindos de Icônio incitou a multidão e colocou
o povo contra eles. As pessoas arrastaram Paulo para fora da cidade e
o apedrejaram até acharem que ele tinha morrido. Barnabé escapou e
resgatou Paulo, que não estava morto e se levantou milagrosamente e
voltou para dentro da cidade para pregar de novo (At 14.8 em diante).
Interessantemente, esse incidente foi um claro contraste com o sermão
de Paulo na sinagoga de Antioquia da Psídia, que foi tão bem recebido a
ponto das pessoas pedirem para que ele voltasse no sábado seguinte para
continuar (At 13.42).
No dia seguinte em que foi apedrejado Paulo iniciou com Barnabé
uma viagem de 96 quilômetros até Derbe para ali pregar o evangelho.
Era impressionante a disposição e a doação de Paulo. Em Derbe, a via
gem chegou ao seu ponto final e então retornaram pelas cidades fazen
do discípulos (At 14.21-23), chegando finalmente a Antioquia da Síria.
Em algum ponto dessa viagem, uniu-se a Paulo e Barnabé um jovem
grego convertido chamado Tito, que depois se tornou um dos colaborado
res mais importantes da vida e do ministério de Paulo. Juntos, eles viaja
ram de volta para Antioquia e relataram à igreja de lá tudo que Deus tinha
feito “abrindo a os gentios a porta da f é ” (At 14.27).
Nesse período ocorreu o concilio de Jerusalém, onde e Paulo e Pe
dro discursaram sobre se havia ou não necessidade para os gentios que
se convertiam passarem pela circuncisão. E Tito foi junto com eles a Jeru
salém a fim de argumentar sobre a ausência da circuncisão para aqueles
que não eram judeus e desejavam fazer parte da igreja de Cristo (At 15).
Segunda viagem missionária (At 15.36 - 18.22). Essa viagem du
rou possivelmente 4 anos. Do ano 50 d.C. até o fim de 53 ou início de 54
d.C. aproximadamente. O propósito dessa viagem conforme Paulo disse a
Barnabé, era: “Visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anun
ciamos a palavra do Senhor” (At 15.36). Mas ao se desentenderem sobre a
possibilidade de levarem João Marcos, que havia os abandonado na pri
meira viagem, decidiram separar-se. Barnabé seguiu com João Marcos
para a região de Chipre, e Paulo chamou a Silas (também chamado Silvano)
para seguir consigo. Paulo e Silas viajaram por terra na estrada em sentido
norte, pela Síria e Cilícia, e assim começaram sua segunda visita à Galácia.
Passando por Listra, se uniu a eles um jovem cristão chamado Timóteo -
assim como Tito, Timóteo era um jovem que se dedicou com lealdade ao
ministério de Paulo e lhe foi um dos principais auxiliares e cooperadores
do seu ministério. Os três viajaram para o norte, no interior das cidades da
Galácia, depois para a Frigia, e chegaram então a Trôade. Em algum mo
mento nessa cidade, Lucas também se uniu ao grupo. De lá então, foram
direcionados em uma visão a seguirem para a Macedônia. Era a primeira
vez que uma equipe missionária chegava a Europa (Atos 16).
Na Macedônia, o trabalho centralizou-se em três centros-chave:
Filipos (At 16.12-40), Tessalônica (At 17.1-9) e Bereia (At 17.10-14). En
quanto que na região da Acaia duas cidades foram visitadas: Atenas (At
17.15-34) e Corinto (At 18.1-18).
Em Filipos, Paulo encontrou Lídia, uma adoradora do Senhor (At
16.14). Sua casa transformou-se no primeiro centro da igreja em Filipos.
Mas quando Paulo e Silas expulsaram os demônios de uma jovem escra
va cujos donos diziam praticar adivinhação, eles foram arrastados até
a praça da cidade, apresentados aos magistrados, tiveram suas vestes
arrancadas, foram açoitados com vara e lançados na prisão, com os pés
presos num tronco. Destemidos, à meia-noite eles cantavam hinos de
louvor a Deus, quando, de repente, sobreveio um terremoto de tal inten
sidade que os alicerces do cárcere se abalaram milagrosamente, e mila
grosamente abriram-se todas as portas e foram soltos os grilhões de to
dos. Após converterem o carcereiro e sua família, eles foram libertados.
Deixando Filipos, o grupo de Paulo chegou a Tessalônica, que era
a capital romana da Macedônia. Seguindo seu costume, Paulo pregou
primeiro na sinagoga (At 17.3). Alguns dentre eles se converteram e uni
ram a Paulo. Não é difícil entender o desapontamento de muitos líderes
de sinagogas sentiam ao ver suas comunidades viradas de avesso por
aquele terremoto religioso. Em Tessalônica eles não conseguiram pren
der Paulo, mas vociferaram: “Esses que tem alvoroçado o mundo che
garam também até nós” (At 17.6). Ali Paulo “disputou com eles sobre as
escrituras” (At 17.2). Foi a primeira vez que o termo “disputar” apareceu
em Atos. É importante notar que esta palavra descreve a abordagem de
Paulo, ao falar da chegada da palavra de Deus ao coração das cidades
gregas, porque está era a forma de pensar dos gregos, através de debates
e disputas de idéias (veja também At 17.7 em Atenas; At 18.4 em Corinto
e At 18.19; 19.8 em Éfeso).
Ainda em Tessalônica, os missionários foram acusados de sedição
contra César, por dizerem que existia outro rei, o Senhor Jesus (At 17.7). A
acusação foi suficiente para forçar sua expulsão da cidade, e eles viajaram
em direção ao Sul, a Bereia, um lugar onde tiveram uma curta estadia, an
tes de Paulo ir sozinho para Atenas (At 17.10-15).
Agora, Paulo havia entrado na província da Acaia (Grécia) e se via
na cidade mais famosa do mundo grego, Atenas. Era uma cidade repleta
de ídolos (At 17.16), “um lugar onde era mais fácil encontrar um deus do
que um homem”. Ao encontrar as pessoas, tanto na sinagoga como no
mercado (ágora - que eram os mercados do mundo romano), ele logo
encontrou os filósofos epicureus e estoicos.
Os epicureus e os estoicos eram duas escolas filosóficas de teo
rias totalmente diferentes. Os epicureus eram filósofos e seguidores de
Epicuro (341-270 a.C.), famoso pensador grego, criador da tese sobre a
“ética do prazer”. Os estoicos, por sua vez, eram discípulos de Zeno (340-
265 a.C.), outro importante pensador grego, criador da filosofia da “vida
natural”, que dizia que a vida deve conformar-se à lógica da natureza.
Eram, portanto, panteístas (doutrina que ensina que Deus é a soma de
tudo o que existe na natureza). Eles chamaram Paulo de “tagarela” (fa
lador), ao sugerirem que Paulo estava tentando apresentar outros no
vos “deuses”, pois entenderam que “Jesus” e “Ressurreição” (em grego:
anaistasis, palavra do gênero feminino) seriam um casal de “deuses”
diferentes dos que eles tinham (At 17.18).
Então Paulo foi levado até o conselho de Atenas (Ou Areópago, um
nome também dado ao lugar onde reunia o tribunal para julgar os casos
que afetavam o bem estar da cidade). Ah Paulo expôs a doutrina do Deus
vivo e poderoso que criou o mundo, que o sustenta, e que um dia o jul
gará. Devido a isso, Deus mandava que os homens se arrependessem (At
17.22-31), e alguns responderam positivamente , dentre eles um membro
do Areópago chamado “Dionísio, e uma mulher chamada Dâmaris, e com
eles outros” (At 17.34). Mas Paulo, aparentemente não obteve sucesso em
estabelecer uma igreja ah, pelo menos não uma igreja que tenha sobrevivi
do por muito tempo (At 17.22 em diante).
Depois desse tempo em Atenas, Paulo foi para Corinto e perma
neceu ah cerca de um ano e meio. Sua visita aconteceu na época de Gá-
lio, procônsul da Acaia entre 51 e 52 d.C. Gálio era irmão do importante
filósofo estoico Sêneca, que era conselheiro do imperador Nero. Em
Corinto, Paulo morou com um casal, Áquila e Priscila, que se tornaram
seus amigos e companheiros de profissão (Rm 6.3-5), fazendo tendas
para seu sustento, e desempenhando um longo e importante ministé
rio de ensino.
No entanto, Paulo estava tendo cada vez mais consciência da vulne
rabilidade das pequenas comunidades de fiéis que ele tinha fundado. A
igreja de Tessalônica enfrentava forte oposição e Paulo receava que depois
de sua partida a comunidade pudesse ter sido subjugada. “Não podendo
mais suportar” (lTs 3.1), Paulo enviou Timóteo de volta para Tessalônica
a fim de colher informações. Reanimado, aliviado e agradecido devido às
boas notícias trazidas por Timóteo em seu retorno, Paulo tomou uma nova
iniciativa, que viria a mudar completamente a história do cristianismo. Ele
começou a escrever cartas.
A primeira epístola de Paulo aos Tessalonicenses, datada por volta
de 51 d.C., constitui os primeiros escritos paulinos do Novo Testamento.
A carta veicula uma verdadeira efusão de afeição pelos cristãos de Tes-
salônica. Ela está repleta de memórias de suas lutas, combinadas com
instruções da nova fé e exortações para crescer espiritualmente, amar
o próximo, viver em paz e a orientação de “Ficai sempre alegres, orai
sem cessar, por tudo daí graças” (lTs 5.27). Nos anos subsequentes, as
cartas de Paulo se tornariam uma ferramenta eficaz para lidar com as
necessidades de suas vastas congregações. Os documentos escritos subs-
tituiriam sua presença em uma era em que as viagens seriam lentas e
perigosas. Poucos meses depois, no início do ano 52 d.C., Paulo escreveu
a segunda epístola aos Tessalonicenses quando ainda estava em Corinto.
Enquanto isso, em Corinto, Paulo pregava na sinagoga e conven
ceu Crispo, o soberano da sinagoga, assim como Tito Justo, um devoto
gentio que emprestava sua casa ao lado da sinagoga para que ensinasse.
Como fruto disso, muitos outros gentios também foram convertidos ao
cristianismo. Nesse tempo, o apóstolo foi acusado pelos judeus de “per
suadir os homens a servir a Deus contra a lei”, e o levaram a julgamento
perante Gálio. No entanto, o sábio juiz romano recusou-se a intervir na
disputa religiosa dos judeus (At 18.15-17), e Paulo foi absolvido.
Corinto foi uma das igrejas mais desafiadoras do ministério de
Paulo. A tendência dos cristãos de Corinto era sempre levar sua expe
riência individual ao extremo. Eles se sentiam como reis, saciados com
a riqueza dos seus dons espirituais, enquanto que, aparentemente ao
mesmo tempo viviam uma certa ausência dessa “riqueza espiritual” na
manifestação dos frutos do Espírito. Foi uma das igrejas que mais rece
beu exortações do apóstolo.
Depois de Corinto, eles fizeram uma rápida visita a Éfeso e deixa
ram uma promessa: “Querendo Deus, outra vez voltarei a vós”, e Paulo
então retornou à sua base em Antioquia (At 18.19-21).
Terceira viagem missionária (At. 18.23 - 21.14). Essa viagem du
rou aproximadamente entre 4 e 5 anos. Do ano 54 até 58 d.C. Atravessan
do mais uma vez a região da Galácia e Frigia, Paulo passou algum tempo
fortalecendo a fé dos discípulos nas cidades da Galácia. Então ele prosse
guiu sua viagem em sentido oeste, indo até a Ásia e à sua principal cidade,
Éfeso. Ah ele passou entre dois e três anos. Esta foi sua maior estadia em
um único lugar (At 19.8-10; 20.31).
Antes da visita de Paulo, Apoio havia passado pregando e ensi
nando por Éfeso (At 18.24-29). Juntamente com o trabalho de Priscila e
Áquila, deixados ali anteriormente por Paulo (At 18.18,19,26), seu traba
lho pode ser considerado como o alicerce para a extensão do ministério
de Paulo naquela cidade.
Naquele momento, Éfeso era o principal centro da província roma
na da Ásia. Naquele período, Lucas registra que “todos os que habitavam
na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos” (At
19.10); “Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia”
(At 19.20). O próprio Paulo ensinava diariamente em uma sala alugada, a
escola de tiranos (At 19.9), e a igreja floresceu.
Assim começou a crescer a maior igreja fundada por Paulo. Essa
é a única igreja do Novo Testamento cuja história foi contada em várias
etapas desde a época de sua fundação até o final da era apostólica: Atos
18 ao 20; a epístola aos Efésios; 1 e 2 Timóteo (lTm 1.3) e Apocalipse 2.1-
7. Durante esses anos que foram acompanhados desde a fundação até
a carta no livro do Apocalipse, três grandes líderes foram responsáveis
pelo seu progresso: Paulo, Timóteo e João. Uma igreja muito bem funda
mentada em sua liderança!
Depois de sua saída de Éfeso, Paulo viajou em direção norte até
Trôade (2Co 2.12-13), e depois para a Macedônia e a Grécia, onde pas
sou três meses (At 20.3). Passando por Corinto, o apóstolo escreveu sua
epístola aos Romanos. Nessa carta ele expôs o desejo do seu coração de
viajar em direção a Espanha, uma região ainda intocada pela mensagem
do Evangelho. Era o inverno de 55-56 d.C., e Paulo escrevendo essa carta
aos Romanos pediu a hospitalidade e ajuda de seus membros quando
atravessasse Roma, que era caminho para a Espanha. Paulo ainda não
conhecia a igreja em Roma, e usou essa carta - sua carta mais longa e
importante - como uma oportunidade para expor os fundamentos do
evangelho que ele pregava.
No entanto, antes de partir para a Espanha, Paulo decidiu fazer
uma última visita a Jerusalém. Retornando por Filipos e Trôade, ele
parou em Mileto e encontrou-se com os anciãos da igreja de Éfeso (At
20.17-35). Este é um encontro emocionante, onde Paulo abre o seu co
ração e revela princípios que todo pastor e líder deve possuir em sua
vida. Ali ele revisou seu ministério entre os anciãos da igreja de Éfeso,
encarregando-os de suas responsabilidades, enquanto os advertia sobre
os perigos que surgiriam depois da sua partida (At 20.28-31) - (Confira
também lTm 1.3,4,18-20; 6.3-5,20-21; 2Tm 2.16-18). Ele se despediu da
queles irmãos, dizendo: “Estou certo de que não mais vereis a minha
face” (At 20.25).
Com muitos esforços e dificuldades, e enfrentando duras persegui
ções, Paulo sentiu que tinha finalmente conseguido levar as igrejas da
região do Mar Egeu e do interior da Ásia Menor a um nível de estabilidade
e maturidade que lhes permitiría se manterem sozinhas.
O desejo de Paulo era estar em Jerusalém para a festa de pentecostes
(At 20.16). Com ele estava o dinheiro que havia sido coletado para suprir as
necessidades dos irmãos em Jerusalém (ICo 16.1-4; 2Co 8-9; Rm 15.25-27).
Aparentemente, Paulo ainda mantinha a cultura de participar das festas
judaicas em Jerusalém, a exemplo do Senhor Jesus e dos primeiros discípu
los. Paulo então viajou por Tiro e Cesareia (At 21.3-6,8-16), onde foi avisado
dos perigos que o esperavam. Mas “estando pronto a morrer em Jerusa
lém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13), ele prosseguiu em seu trajeto.
Embora tenha sido calorosamente recebido em Jerusalém por Tiago e pe
los anciãos, alguns judeus da Ásia, presentes em Jerusalém para a festa de
pentecostes, o acusaram de profanar a área do templo, levando um gentio
ao pátio interno do templo dos judeus (At 21.27-36). Seguiu-se então um tu
multo, e o incidente resultou em sua prisão pelo capital romano da cidade.
Rebeca foi a esposa do patriarca Isaque. Era filha de Betuel, que, por
sua vez, era filho de Milca e Naor, irmão de Abraão (Gn 22.20-23). Abraão
era seu tio-avô e, no fim, é claro, tornou-se seu sogro. Labão, pai de Lia e
Raquel era irmão de Rebeca.
I
Gênesis 24 é o relato da busca bem-sucedida do servo de Abraão -
Eliezer - por uma esposa para Isaque. Abraão não queria que seu filho se
casasse com uma mulher cananéia da região. Em resposta a oração de Elie
zer, Rebeca não só deu de beber aos homens, mas também deu água aos
seus camelos. Após certa dose de hospitalidade e o pagamento ter sido feito,
Rebeca, de boa vontade, partiu para se encontrar com o seu marido.
Durante uma fome que houve naquela época, Isaque e Rebeca, mu
daram-se temporariamente para território filisteu, na parte ocidental de
Canaã, a aproximadamente 30 km do mar Mediterrâneo. Rebeca era tão
bonita (Gn 26.7), que Isaque temeu que os homens poderiam querer matá-
-lo para se casar com ela. Então ele disse a todos que Rebeca era sua irmã.
Certo dia, porém, o rei flagrou acariciando-a e repreendeu-o pela mentira,
e depois deu ordens para que ninguém o tocasse. Curiosamente, Isaque re
petiu o mesmo erro do pai: mentir para não correr riscos, dizendo que a
esposa era irmã. No caso de Abraão, Sara era meia-irmã, entretanto, essa
não era a realidade entre Isaque e Rebeca. Isso nos ensina a influência que
nossos comportamentos geram nas próximas gerações! Aquilo que uma ge
ração aceitar, a outra literalmente praticará!
Após 20 anos de esterilidade (Gn 25. 21-26), Rebeca gerou dois fi
lhos gêmeos: Esaú e Jacó. Ela tinha preferência por Jacó, o mais novo,
e participou do arranjo para enganar o marido e assegurar o direito da
primogenitura para Jacó. Disfarçar Jacó para que esse se assemelhasse a
Esaú tanto ao tato quanto ao cheiro - individuo que vivia ao ar-livre no
campo - foi ideia dela. Foi ela também quem preparou o prato favorito de
Isaque a fim de facilitar a trapaça (Gn 27.5-17). Quando Jacó teve que fugir
da ira de Esaú, Rebeca rogou-lhe que fosse até o seu povo, em Padã-Arã,
e provavelmente ela morreu antes de Jacó retornar para as terras de seu
pai, vinte e um ano depois.
Sua determinação foi usada de maneira errada. E espiritualidade foi
sufocada pela falta de paciência e confiança para esperar o cumprimento
das promessas de Deus (Gn 25.23), e aquela que era a esposa digna acabou
se transformando em uma mulher dominadora. E que preço Rebeca pa
gou! Nunca mais viu seu querido filho Jacó.
Após sua morte, Rebeca foi sepultada na caverna de Macpela, junto
com Sara (Gn 49.31) [Para mais informações sobre Rebeca, ver Isaquej.
Roboão foi filho e sucessor do rei Salomão. Foi na sua gestão que
a monarquia, antes unida (12 tribos), se dividiu. Quando Salomão mor
reu, Roboão, seu filho, assumiu o trono com 41 anos de idade. Até onde
sabemos, Roboão era o único filho homem de Salomão, cuja mãe era
Naamá, a amonita (lRs 14.21). No entanto, apesar de ser filho de um pai
sábio, Roboão possuía idéias muito limitadas.
Como filho e sucessor de Salomão, Roboão esperava governar so
bre todo o Israel, assim como fizera seu pai. No entanto, ele havia her
dado muitos problemas e, na época da morte de Salomão a situação do
reino estava longe de ser estável. À medida que o poder e a riqueza de
Salomão acumulavam-se, ele deixava de seguir ao Senhor de todo o seu
coração (lRs 11.4). Seus casamentos com mulheres estrangeiras, realiza
dos contra a lei de Deus, foram os fatores que mais contribuíram para a
sua apostasia moral e religiosa. Sem dúvidas tais esposas, como a filha
do Faraó do Egito, por exemplo, foram tomadas por razões políticas e
diplomáticas, a fim de assegurar a estabilidade do reino e a paz com as
nações vizinhas.
Salomão havia falhado na confiança de que o Senhor protegeria as fron
teiras de Israel. Ojuízo de Deus veio rapidamente, por meio de inimigos que se
levantaram contra a nação de Israel e atacaram e causaram problemas cons
tantes a Salomão (lRs 11.14,23). Diante dessa apostasia, o Senhor prometeu
que o reino seria dividido após a morte de Salomão. Ou seja, embora a culpa
pela divisão do reino normalmente recaia sobre Roboão, claramente a estrada
já havia pavimentada por seu pai, Salomão.
Além de toda essa sequência que já havia sido estabelecida por Deus,
o governo de Salomão exigia também uma entrada financeira dispendiosa,
que ocasionava o pagamento de altos impostos do povo para manter as enor
mes despesas da corte e o luxo desnecessário do palácio e das “esposas” de
Salomão (lRs 4.9; 9.15-24). Durante seu reinado, um de seus principais ofi
ciais (Jeroboão I) rebelou-se e fugiu para o Egito. Após a morte de Salomão,
Jeroboão retornou para Israel e iniciou o seu projeto de conquistas das tribos
para formar um novo reino.
Depois de sua posse, Roboão foi a Siquém, onde os líderes de Israel
lhe perguntaram se ele continuaria com a mesma política de trabalhos
forçados e impostos onerosos do seu pai. Os anciãos o aconselharam a
ceder e governar servindo ao povo e diminuindo a carga tributária. Ro
boão, porém, preferiu ouvir seus amigos e respondeu a multidão: “Se meu
pai vos impôs um jugo pesado, eu aum entarei mais ainda o vosso jugo. Meu
pai vos castigou com açoites, eu vos castigarei com escorpiões” (lRs 12.11).
Jeroboão, então, imediatamente se rebelou contra Roboão que fu
giu para Jerusalém. No entanto, “esta m udança vinha do Senhor, para
confirm ar a palavra que o Senhor havia dito” (lRs 12.15).
A partir daquele momento, as dez tribos do norte declararam Jero
boão como rei, mantiveram o nome de Israel e formaram o Reino do Nor
te, cuja capital a princípio foi Siquém, e depois, Samaria. Roboão governou
apenas sobre as tribos da parte do sul - Judá e Benjamim - e formaram o
Reino do Sul, cuja capital era Jerusalém. Este reino ficou conhecido como
o reino de Judá, cuja tribo era muito maior que a tribo de Benjamim. De
fato, a população e as terras de Judá e Benjamim eram quase equivalentes
à soma das dez outras tribos.
Roboão tentou mostrar sua autoridade enviando um superinten
dente chamado Adonirão para por um fim àquela rebelião. No entanto, os
homens de Israel o apedrejaram até a morte. Roboão percebeu o perigo
que corria e vergonhosamente correu para sua carruagem e fugiu para
Jerusalém (2Cr 10.16-19). Em seguida, Roboão mobilizou um exército de
180 mil homens contra Israel, mas a guerra foi impedida pelo Senhor, ao
enviar o profeta Semaías, que disse ao povo que a divisão do reino fora
ocasionada pelo Senhor. Portanto, eles não deveriam lutar contra as tri
bos do norte (lRs 12.22-24).
Roboão reinou durante 17 anos em Judá - de 931 a 913 a.C. - mas
não seguiu ao Senhor como fez Davi (lRs 11.43; 14.21,31). No seu reina
do, a idolatria foi praticada em Judá, e diversos altares foram construí
dos a deuses estranhos. Práticas proibidas pela lei - inclusive a prosti-
tuição-cultual - foram permitidas durante o seu governo (lRs 14.21-24).
Como resultado dessa apostasia, no quinto ano do reinado de Ro
boão, o rei Sisaque, do Egito, invadiu e atacou Jerusalém, saqueando os
tesouros do templo (2Cr 12.1-6). A Bíblia da pouca atenção a esse ataque,
mas os registros egípcios indicam que foi vigoroso e bem-sucedido. Apa
rentemente, Sisaque, tinha o sonho de restabelecer o grandioso império
egípcio de mil anos antes, mas a força da monarquia unida da época
de Salomão havia sido um impedimento. Depois dessa monarquia se
desagregar, Sisaque viu uma oportunidade de realizar esse desejo. De
acordo com as inscrições arqueológicas do templo de Karnak, no Egito,
ele assumiu o controle de mais de 150 cidades na região, e a arqueologia
confirma que esse número é aceitável. Jerusalém e Siquém, no entanto,
não foram tomadas, mas foram obrigadas a pagar tributos pesados ao
Egito. Roboão teve que entregar os tesouros do templo de Jerusalém a Si
saque, e até mesmo os escudos de ouro que Salomão havia feito tiveram
que ser entregues (2Cr 12.1-12).
Provavelmente a única coisa que impediu o Egito de obter o con
trole total do Oriente Médio foi a morte de Sisaque em 915 a.C. Os su
cessores de Sisaque no Egito não tiveram a mesma ambição e dedicação
que ele, e se passaram dois séculos até que o Egito voltasse a ser uma
ameaça significativa à Palestina.
Roboão seguiu os mesmos passos do seu pai, Salomão. Teve 18 es
posas e 60 concubinas, permitindo que suas esposas estrangeiras man
tivessem seus costumes idólatras e praticassem suas religiões pagãs em
Judá. Além disso, Roboão incentivou o mesmo procedimento entre os
seus filhos (2Cr 11.18-23). Roboão teve ao todo 28 filhos e 60 filhas (2Cr
11.21). A esposa que Roboão mais amava era Maaca, filha de Absalão
(que não era o filho de Davi), o filho dela, Abias, foi o sucessor de Roboão
no trono do Reino do Sul.
Filho de Zebedeu
Uzias foi rei em Judá. Infelizmente, ele viveu uma mistura trágica
em sua vida de retidão e pecado. Seu pai era o rei Amazias, e sua mãe
chamava-se Jecolia e era de Jerusalém.
Uzias tinha apenas 16 anos quando subiu ao trono de Judá, depois
da morte de seu pai (2Cr 26.1). Seu reinado durou aproximadamente 52
anos (794-742 a.C. - 2Cr 26.3).
Assim como seu pai Amazias, Uzias teve grande sucesso “enquanto
buscava ao Senhor” (2Cr 26.5). Durante esse tempo, Uzias foi ensinado
sobre a fé em Deus por um profeta chamado Zacarias (que não é o
profeta pós-exüio). A fama dele espalhou-se muito além das fronteiras
de Judá e chegou até o Egito (2Cr 26.8).
Ele juntou um poderoso e enorme exército, muito bem equipado,
e até mesmo desenvolveu novos tipos de armas para serem usadas
na defesa dos muros da cidade de Jerusalém (2Cr 26.9-15). Isso foi
necessário, pois ele herdou um reino praticamente falido de seu pai,
fraco por várias derrotas e quase destruído por causa de uma guerra
contra o Reino do Norte. Entretanto, ele conseguiu reconstruir Judá e
recuperar a independência do povo e levá-los a lealdade a Deus.
Uma de suas grandes conquistas foi restabelecer uma aliança de
paz com Israel (Reino do Norte), governado pelo rei Jeroboão II. Por
causa disso, naquele período tanto Israel quanto Judá desfrutaram de
grande prosperidade. Por causa de sua retidão naquela época, a Bíblia
diz que Uzias “fe z o que o Senhor ap rov a” (2Rs 15.3).
Uzias também foi capaz de manter o controle sobre Edom,
além de consolidar sua posição ao longo das rotas comerciais através
de operações contra os amonitas e contra as tribos árabes situadas a
noroeste (2Cr 26.7-8). Além de abrir, novamente, os portos e as indústrias
de Eziom-Geber (atual Eilat - 2Rs 14.22).
Entretanto, apesar do quadro de paz exterior, poder e prosperidade,
as profecias de Amós, Isaías e Oseias deixavam bem claro que as coisas
não estavam assim tão bem quanto pareciam, pois internamente estava
acontecendo uma decadência moral, social e espiritual. A preocupação
deles com a riqueza e o orgulho era evidente em todas as profecias feitas
naquele período (Is 1.1; 7.1; Os 1.1; Am 1.1).
Como, porém, acontece com muitas pessoas que se tornaram
poderosas e famosas, Uzias ficou orgulhoso e desobedeceu ao
Senhor. Como Provérbios 26.15 diz, “o orgulho precede a qu eda”. Em
aproximadamente 750 a.C., ele entrou no templo para oferecer sacrifícios
- algo que somente os sacerdotes podiam fazer de acordo com a lei de
Deus - mas o sumo sacerdote Azarias e cerca de 80 sacerdotes mandaram
que parasse, mas ele os desafiou. Por causa disso, naquele mesmo
instante Uzias ficou leproso “visto que o Senhor o fe r ir a ” (2Cr 26.16-20).
Flavio Josefo acrescenta que isso aconteceu durante um grande festival
e que a lepra veio através do brilho do sol por uma das frestas do templo.
J. Morgenstern, aceita esses detalhes como “essenciais e importantes”
para apoiar sua teoria de que se tratava de uma cerimônia de inicio de
Ano Novo que o rei queria oficializar.
O que sabemos, no entanto, é que pela lei judaica, isso significava
que ele nunca mais poderia entrar no templo - ou seja, um castigo
apropriado para o crime que ele cometeu - nem em qualquer outro lugar
público. Uzias então se retirou para um casa isolada - fora da cidade (2Rs
15.5) - e assumiu o nome de Azarias. Entregou o governo a seu filho Jotão,
e continuou leproso até a sua morte, por volta de 742 a.C. (2Cr 26.21). O
ano da morte do rei Uzias, ficou conhecido na Bíblia devido uma visão
que Isaías teve naquele ano de Deus em seu trono (Is 6.1). Aparentemente,
embora Uzias foi sepultado no cemitério dos reis, não foi sepultado perto
de nenhum outro rei, porque era leproso (2Cr 26.23).
Como parte do juízo de Deus, o Senhor enviou também um
terremoto sobre a nação. Esse tremor de terra oi tão forte que Amos o
usou como referência para identificar uma data particular e o profeta
Zacarias tempos depois o mencionou para ilustrar o que Deus faria no
final para julgar a terra (Am 1.1; Zc 14.5).
Zacarias Nome hebraico, significa "O Senhor se lembra".