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ENCICLOPÉDIA DA VIDA DOS PERSONAGENS BÍBLICOS DE A A Z

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Copyright, 2 0 1 8 © M ath e u s Soares.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do autor.

Título
Enciclopédia da V id a d os Personagens Bíblicos de A a Z: A Vida dos
Principais Personagens Bíblicos em Detalhes C om o Você Nunca Viu Antes!

Editor
M a th e u s Soares

Revisão de Conteúdo
H e rnandes D ias Lopes

Diagramação e Projeto Gráfico


Tarik Ferreira

Revisão Ortográfica
Tarik Ferreira, Elói Feitosa, Rose Sena

I a Edição - Abril / 2 0 1 7
2 a Edição - A g o sto / 2 0 1 7
3 a Edição - O utubro/ 2 0 1 8

S O A R E S , M atheus
Enciclopédia da vida d o s personagens bíblicos de A a Z: a vida dos
principais personagens bíblicos em detalhes com o você nunca viu antes!
Rio de Janeiro: Edições Acadêmicas, 2018.

ISBN :

1. O bra de Pesquisa 2. Enciclopédia 3. Dicionário

Fale com o autor:


Tel.: (22) 2 6 4 5 - 4 7 0 1 1 (22) 9 9 9 5 5 -8 9 1 9
email: matheuskairos@hotmail.com
ÍOC3S

ENCICLOPÉDIA
Da V ida Dos
PERSONAGENS BÍBLICOS

DeAaZ
A Vida dos Principais Personagens Bíblicos em Detalhes
Como Você Nunca Viu Antes!

Matheus Soares
Apresentação
É com louvor e gratidão a Deus que coloco nas mãos dos leitores
de língua portuguesa a primeira edição da E n c ic lo p é d ia d a V ida d o s
P e r s o n a g e n s B íb lic o s . Como fruto de mais de sete anos de estudos,
pesquisas e escrita, nasce esta obra, com o intuito de acrescentar à
Igreja brasileira um conteúdo conciso sobre a vida dos principais per­
sonagens bíblicos.
Sempre que estudava sobre a vida de um determinado persona­
gem bíblico, eu percebia que tínhamos inúmeras obras disponíveis, em
nossa língua portuguesa, sobre a vida destes. No entanto, havia duas
questões que me pareciam muito perceptíveis.
A primeira: dificilmente uma única obra conseguia reunir uma vi­
são panorâmica “completa” acerca dos principais aspectos da vida dos
personagens. Às vezes, uma obra conseguia um bom fundo histórico, mas
havia uma certa deficiência no contexto cultural; às vezes, conseguia-se
boas interpretações sobre alguns momentos principais da vida de deter­
minado personagem, porém, falhava-se em conseguir construir uma cro­
nologia definida sobre sua vida. Enfim, parecia-me que era necessário
uma obra que reunisse o máximo possível de informações biográficas
dentro dessa categoria literária. De modo que, para que eu conseguisse
ter uma visão completa sobre a vida de personagens como, por exemplo,
Abraão, era necessário consultar algumas dezenas de obras a fim de que
algumas interrogações fossem respondidas.
Uma segunda questão que eu percebi durante meus momentos de
estudo - sem ainda ter tido a ideia de construir essa obra - é que a grande
maioria dos autores que se lançaram a reconstruir as biografias dos per­
sonagens bíblicos, no desejo de conseguir escrever sobre todos, acabavam
não enfatizando a vida dos principais personagens. É claro que todos têm
a sua importância histórica e espiritual. No entanto, é nítido também que
existem alguns personagens que merecem destaque, como: Jesus, Abraão,
Paulo, Davi, Moisés etc., sobre os quais temos uma necessidade maior de
conhecer, devido à importância que suas histórias representam na narra­
tiva sagrada. É diante da visão dessas lacunas que me propus a escrever a
obra que vos apresento. Não falo aqui sobre todos os personagens bíblicos.
Dediquei-me, porém, a enfatizar a vida dos principais, com o desejo de que
esta simples parcela de contribuição à literatura cristã brasileira seja rele­
vante a um público de leitores amante da Palavra de Deus.
Expresso também minha profunda gratidão ao querido Rev. Her-
nandes Dias Lopes por ter aceitado gentilmente o pedido de que me aju­
dasse com sua opinião na revisão do conteúdo deste livro. Seu comen­
tário de revisão me honrou grandemente. Poucos homens conseguem
transmitir zelo e fervor de uma maneira tão cativante enquanto expõem
as escrituras quanto ele! Em minha opinião, é o nosso “David Martyn
Lloyd-Jones Brasileiro”! Que Deus desperte em nossos corações a priori­
dade pela pregação expositiva!
Por fim, gostaria de glorificar a Deus e honrar a memória da vida de
um dos homens mais parecidos com Jesus em sua mansidão, ternura e pie­
dade que o Brasil já teve: o Dr. Russell Philip Shedd, conhecido carinhosa­
mente como Dr. Shedd. No dia 15 de maio de 2016 tive o privilégio de jantar
com o Dr. Shedd. Na ocasião, pedi a ele que me honrasse com o prefácio
desta enciclopédia, entregando a ele os originais desta obra. No dia 30 de
junho, tive a alegria de receber por e-mail o prefácio que os leitores podem
ler em seguida. Conversamos mais algumas vezes depois daquela data,
mas, infelizmente, ainda no mesmo ano, no dia 26 de novembro, o Senhor
chamava para a eternidade este homem, um gigante da fé, embaixador de
Cristo em terras brasileiras.
Agora, só nos resta dar graças ao Senhor por ter nos permitido ofe­
recer esta obra ao leitor, com o desejo de que o público veja nela, ao fim
de tudo, a intenção primordial de glorificar ao Deus que, através da vida
de todos esses homens e mulheres, nos permitiu conhecer a Sua própria
história e o Seu próprio coração e vontade. Que o Senhor acrescente a
sua bênção aos nossos esforços de produzir uma obra que proporcione
graça e conhecimento aos que a consultarem. Para Deus seja sempre a
glória, a honra e o louvor!

OAutor, Matheus Soares

Apresentação
Prefácio
Esta fonte de informação sobre personagens na Bíblia será muito
útil para pregadores e professores da Escola Dominical que querem
saber mais sobre aquelas pessoas que são familiares para os leitores
da Bíblia. Mas é bom que todos os que amam a Palavra leiam este livro.
A vantagem desta fonte é a sua abrangência e a garantia que os
leitores lerão fatos que não conheciam antes. O escritor Matheus Soa­
res nos galardoou com a inclusão de fatos que se pode esperar encon­
trar apenas em grandes tomos e dicionários bíblicos de muitas páginas
e de letra miúda. Matheus se mostrou hábil em suas pesquisas.
Nessa obra, Matheus, teve facilidade de juntar m aterial da Bí­
blia - fonte primária de suas pesquisas - e outras fontes extra bíblicas.
Porém, não se contentou em se limitar à leitura da Bíblia para contar
as histórias dos personagens escolhidos, mas acrescentou muito mais
conteúdo de outras fontes históricas. Não creio que temos outra obra
em português que reúne tantas informações sobre os indivíduos men­
cionados na Bíblia do que esta que o jovem escritor Matheus escolheu
para comentar.
Fica claro que o autor deste extenso tomo sobre os personagens
bíblicos, não quis apenas contar as biografias deles, mas também dese­
java extrair lições que poderíam oferecer orientação para a vida daque­
les que desejam servir a Deus. Vemos isso bem claro na vida de todos os
personagens aqui abordados, como por exemplo, Judas: “Quando João
vai escrever este evangelho, ele denuncia o que no dia do episódio ain­
da não sabia. Judas não queria dinheiro para os pobres, Judas queria
dinheiro para ele. Porém, o que ele não sabia era que a maior de todas
as pobrezas, a espiritual, estava sobre ele”; Moisés: “Moisés ao matar
um egípcio, pensava que ninguém o tenha visto. Mesmo que não perce­
bamos, há sempre alguém nos vendo. Isso nos revela um princípio: Se
você quer que ninguém saiba, não faça!”; Sobre o bezerro de ouro, Ma­
theus escreveu: “Tenhamos o cuidado de não termos nenhum homem
como Deus. Por mais milagres que alguém possa fazer, ele sempre será
homem, e Deus sempre será Deus. Se considerarmos um homem como
Deus, levantaremos novamente um bezerro de ouro em nossos dias”.
Recomendo este livro para quem deseja descobrir mais informa­
ções tanto bíblicas como de fontes fora da Bíblia sobre estes persona­
gens. Este livro será muito útil para buscar fatos que dificilmente serão
encontrados nos livros sobre personagens bíblicos já existentes e que
são muito menos abrangentes.

A Deus toda a glória!


Russell P. Shedd, Ph.D

Prefacio
Comentário do Revisor
Sou grato a Deus pela robusta obra ENCICLOPÉDIA DA VIDA DOS
PERSONAGENS BÍBLICOS da lavra do escritor Matheus Soares. Este cer­
tamente é um reservatório para os estudiosos da Bíblia, uma mina para
se garimpar tesouros preciosos, uma fonte de informações para todos
aqueles que amam as Escrituras e têm o sublime privilégio de ensiná-la.
Matheus Soares, com esta obra, oferece uma importantíssima contribui­
ção à literatura evangélica brasileira. Sua pesquisa profunda, sua lin­
guagem clara e sua precisão nos relatos ajudarão o leitor a compreender
melhor esses personagens distantes de nós no tempo, mas companhei­
ros nossos na gloriosa jornada rumo à glória. Recomendo este livro com
todo entusiasmo!

Hernandes Dias Lopes


Sumário
A D H
Abraão 11 Daniel 81 Habacuque 171
Absalão 19 Davi 85 Herodes 172
Acã 24 Débora 97
Adão 28 Dorcas 100 /
Ageu 32
Amós 34 E Isabel 183
Ana 38 Isaías 185
Ananias 41 Efraim 101 Isaque 190
André 43 EU 103 Ismael 194
Apoio 46 EUas 106 Issacar 198
Arão 49 EUseu 116
Asafe 54 Enoque 123 J
Esaú 124
B Esdras 127 Jabez 201
Ester 132 Jacó 201
Balaão 57 Estevão 136 Jairo 209
Barnabé 59 Eva 140 Jefté 212
Barrabás 63 Ezequias 141 Jeremias 215
Bartimeu 65 Ezequiel 147 Jeroboão 224
Bartolomeu 66 Jesus Cristo 227
Benjamim 67 F Jezabel 239
Jó 241
c Filemon 153 João 250
Fiüpe 156 João Batista 244
Caifás 71 FiUpe 161 Joel 256
Caim 74 Jonas 258
Calebe 77 G Jônatas 264
Josafá 267
Gideão 165 José 270
Josias 278
Josué 281
Judá 285 N s
Judas 287
Naamã 353 Salomão 419
L Naum 356 Samuel 427
Neemias 357 Sansão 431
Lázaro 295 Nicodemos 361 Sara 438
Ló 297 Noé 363 Saul 440
Lucas 302 Sofonias 447
O T
M T
Obadias 369
Malaquias 307 Oseias 370 Tiago 449
Manassés 309 Tiago 450
Marcos 312 P Tiago 454
Maria 317 Timóteo 458
Maria Madalena 315 Paulo 375 Tito 463
Mateus 323 Pedro 391
Matias 329 u
Mefibosete 330 R
Melquisedeque 332 Uzias 467
Mical 334 Raabe 405
Miqueias 335 Raquel 407 z
Moisés 338 Rebeca 409
Roboão 410 Zacarias 469
Rúben 412 Zaqueu 470
Rute 414 Zorobabel 472

Sumário
Abraão foi o progenitor da nação hebreia. É considerado o pai das
três maiores religiões monoteístas do mundo: os cristãos (em Cristo, filhos
na fé de Abraão - G1 3.16), os judeus (descendência de Isaque) e os mu­
çulmanos (descendência de Ismael). Poucas pessoas na Bíblia conheceram
Deus na mesma proximidade como Abraão conheceu.
Abraão nasceu aproximadamente em 2.100 a.C., em Ur dos Caldeus,
cidade rica e sofisticada da antiga região da Mesopotâmia. Por meio de Eber,
estava na nona geração depois de Sem, filho de Noé. Seu pai chamava-se Terá
e teve dois outros filhos, Naor e Harã. Sara também era filha de Terá, porém
não da mesma mãe de Abraão (Gn 20.12). O casamento entre irmãos foi proi­
bido apenas a partir de Moisés (Lv 18.6).
Pouco se sabe sobre Terá. Segundo Flávio Josefo, Terá praticava a ido­
latria e também fabricava ídolos. Josefo ainda afirma que Terá tinha um
quarto em sua casa que era utilizado para guardar esses ídolos por ele fa­
bricados, e certo dia ele precisou fazer uma viagem e pediu a Abraão que
cuidasse desses ídolos. Em seguida, Abraão pegou um machado e destruiu
muitos daqueles ídolos, menos o maior deles. A seguir, pôs o machado na
mão deste ídolo-maior, e disse a Terá que este havia destruído todos os ou­
tros. Terá dissera ser impossível tal coisa, pois este não era um ser vivo, não
se movia, não tinha sentimentos e era de argila. Abraão então perguntou:
“Então por que você adora um ser que não tem vida e não passa de argila?” -
esta talvez seja uma das informações mais antigas que temos sobre Abraão.
Harã morreu cedo e deixou seu filho Ló, que se apegou ao seu
tio Abraão. Após a morte de Harã, Terá saiu com sua família de Ur em
direção a Canaã. Flávio Josefo sugere que Terá mudou-se de Ur devido
à tristeza da morte de seu filho. Terá, no entanto, viajou apenas mil qui­
lômetros até chegar a um lugar chamado Harã e ali ficou. Curiosamente
Terá parou e ficou em um lugar que tinha o mesmo nome do seu filho
que havia morrido. A Bíblia conclui dizendo que Terá não continuou seu
trajeto até Canaã, e “havendo Terá vivido duzentos e cinco anos ao todo,
morreu em Harã” (Gn 11.32).
A morte de Terá em Harã é curiosa. Alguma coisa distraiu Terá
em Harã, tirando-o do seu foco inicial (Canaã). Talvez a semelhança do
nome da cidade com a dor da perda do seu filho o fez trocar Canaã, que
representava seu destino futuro e inicial, por Harã que tinha a ver com a
lembrança do seu passado. O nome Harã significa “força”. Aprendemos
com isso que o nosso passado pode até ter força, porém ele não pode nos
impedir de irmos ao encontro do nosso destino final (“Canaã Eterna”).
Quando Abraão (que ainda se chamava Abrão) tinha a idade de
setenta e cinco anos Deus falou com ele pela primeira vez. Essa é a pri­
meira das sete vezes que a Bíblia relata que Deus falou com o patriarca.
A proposta de Deus para Abraão não era das mais fáceis de ser aceita.
Ele já tinha família, e por certo já havia se adaptado ao lugar nos anos
que estava em Harã. Deus havia lhe dito: “Sai-te da tua terra e da tua pa-
rentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei... farei de ti
uma grande nação, te abençoarei, engrandecerei o seu nome, e tu serás
uma benção” (Gn 12.1-2). Após ter aceitado a direção de Deus, Abraão
então saiu de Harã (atualmente Turquia), e não de Ur dos Caldeus (atual­
mente Iraque) - (Gn 12.4). Embora, haja evidências de que desde Ur, na
Mesopotâmia, Deus já havia dito a Abraão acerca de Canaã (At 7.2-4).
Abraão pegou sua esposa Sarai, Ló, seu sobrinho, todas as suas
posses e “os seus servos, comprados em Harã” (Gn 12.5), e partiu rumo
a um destino desconhecido. A proposta de Deus era “sai da terra” e “de­
pois te mostrarei”, isso exigia uma confiança total. O fato de que tinha
servos indica que ele acumulara, pelo menos, uma quantidade razoável
de riquezas. A imagem que a maioria das pessoas tem de Abraão é a
de um andarilho perambulando com sua família pelas montanhas de
Canaã, no entanto, Abraão na verdade era equivalente, na antiguidade
a um xeique beduíno muito rico que governava centenas de súditos e
servos. Abraão era rico em ovelhas, bois, jumentos, camelos, servos e
servas. Quando correu para libertar Ló levou consigo 318 homens da
sua casa. Os reis vizinhos reconheceram-no como príncipe poderoso
com quem eles se prezavam de ter aliança. Abraão era um homem mui­
to bem sucedido em todas as suas posses, e não um beduíno desprovido
de condições necessárias para sua sobrevivência.
Ele viajou seiscentos e cinquenta quilômetros de Harã até chegar
a Siquém, em Canaã. Siquém era um santuário pagão dos cananeus, e
foi ali que Deus disse que daria aquela terra a ele e seus descendentes.
Caminhando por Canaã, Abraão poderia ter se perguntado: como seria
possível aquela terra tornar-se propriedade de sua prole, que ainda nem
era nascida? A área já estava bastante ocupada, a Bíblia menciona dez
povos distintos que ali viviam. Mas, novamente, Deus aparece e declara
explicitamente: “É à tua posteridade que eu darei esta terra” (Gn 12.7).
Como sinal de fé Abraão erigiu um altar a Deus em Siquém. A expressão
“invocar o nom e do Senhor” (Gn 12.8) significa mais do que apenas orar.
Na verdade, Abraão fez uma proclamação, declarando a realidade de
Deus aos cananeus nos centros da falsa adoração deles.
No entanto, à medida que o tempo passava, Abraão continuava
sem filhos e estava cada vez mais cercado, na terra prometida, pelos
cananeus pagãos. Parecia que sua fé na promessa de Deus começava a
vacilar. Assim, quando uma violenta fome assolou Canaã, ele não espe­
rou pelo Senhor e tomou uma decisão para “proteger” a si e sua família.
Levantou imediatamente acampamento e conduziu sua casa para o Egi­
to fértil e próspero, em busca de alimento.
Então Abraão revelou ainda outro aspecto intrigante do seu cará­
ter. Com medo de que alguém o tentasse matar para tomar sua esposa,
Sarai, ele mentiu. Por ser belíssima, ele pediu à ela que dissesse ser sua
irmã, e não sua esposa. O faraó ouviu comentários sobre sua beleza e pe­
diu que a trouxessem ao palácio (Gn 12.11 em diante). Ele a tratou bem,
e a tomou para si, recompensando Abraão com “ovelhas, bois, jumentos,
escravos, servas e cam elos” em troca de sua “irmã”. Porém, Deus puniu
faraó com “graves doenças”, por ter ele tomado Sarai para si. Quando o
faraó descobriu que Abraão havia mentido, ficou furioso. Enviou Sarai de
volta para Abraão e expulsou toda sua tribo do Egito - mais tarde, Abraão
teve uma experiência semelhante com Abimeleque, rei de Gerar, uma ci­
dade filisteia perto de Gaza (Gn 20).
Após deixarem o Egito, eles retornaram para Neguebe, uma região
desértica no sul da palestina, e de lá foram para Betei. Os rebanhos de
Abraão e os de Ló cresceram tanto que já não havia pasto suficiente para
todos os animais. Houve então uma desavença entre os pastores de Abraão
e os de Ló, e os dois decidiram se separar (Gn 13.7). Abraão disse a Ló que
escolhesse que região ele gostaria de ficar e Abraão ficaria com a parte que
sobrasse. Isso mostra que Abraão vivia pela fé e não pelas aparências. Qual­
quer que fosse a decisão de Ló, não abalaria Abraão. Ele não estava preocu­
pado com o futuro, pois sabia que tudo estava nas mãos do Senhor. Ló pos­
suía uma tenda, mas não tinha um altar. Ló não invocava a direção de Deus
para tomar suas decisões. Para alguém que não tem comunhão com Deus,
tudo que lhe resta é seguir pelas aparências. Ló havia levantado os olhos
e visto o que o mundo tinha a lhe oferecer, então, Deus convidou Abraão
a levantar os olhos e ver o que o céu tinha a lhe oferecer. Ló escolheu um
pedaço de terra que acabou perdendo, mas Deus deu a Abraão toda a terra
que ainda pertence a ele e seus descendentes até o dia de hoje.
Esse episódio revelou o caráter de Ló. Ele só havia prosperado e
conseguido um rebanho porque Abraão havia lhe permitido sair com
ele de Harã. Na primeira opção que teve, escolheu o “melhor” para si e
o “pior” para o tio, demonstrando que em seu coração não havia nem ao
menos o princípio da gratidão.
Ló escolheu a bacia fértil do Jordão, estabelecendo-se próximo a
cidade de Sodoma, na costa do Mar Morto. A Bíblia indica que naquela
época, tal área era exuberante e fértil, e não o deserto árido que é hoje
em dia. No entanto, sobrou para Abraão a terra de Canaã, na planície
de Manre, perto de Hebrom. Aquele foi um indício não apenas da ge­
nerosidade de Abraão e do egoísmo de Ló, mas uma prova de que não
é o lugar que faz a pessoa, mas sim a pessoa que faz o lugar. A benção
estava sobre Abraão e não sobre Ló, e para onde ele fosse à benção de
Deus o acompanharia.
Por causa da fé que Abraão demonstrou, Deus ampliou a aliança.
Antes, Deus havia prometido que a semente de Abraão possuiría a ter­
ra e seria uma grande nação. Agora, Deus prometia a Abraão que sua
descendência seria “tão num erosa com o o pó da terra” (Gn 13.16-18).
Para confirmar essa palavra Deus disse: “Levanta-te! Percorre essa terra
no seu comprimento e na sua largura, porque Eu a ti darei”. Pela pri­
meira vez é dito claramente que Canaã será dada diretamente a Abraão
durante sua vida terrena, e não apenas aos seus descendentes em um
tempo futuro. Abraão mudou sua tenda para os Carvalhais de Manre,
em Hebrom, e estabeleceu-se ali, usando Hebrom como uma base mais
ou menos permanente, embora fosse basicamente um nômade. Assim,
que Abraão armou ali as suas tendas, edificou um altar ao Senhor (Gn
13.18). Algum tempo depois, sem que Abraão esperasse Deus o visitou
ali em Hebrom (Gn 18.11). Deus sempre nos visitará onde houver um
altar edificado a Ele.
Houve uma guerra em que os reis de várias localidades próximas se
uniram e atacaram as cidades ao longo da costa do Mar Morto, incluindo
Sodoma e Gomorra. As cidades caíram, e Ló e sua família estavam entre
os que foram capturados como escravos. Quando Abraão ouviu que Ló
fora capturado, reuniu em meio ao seu povo um exército de 318 soldados
para resgatá-los. Ele os perseguiu até Dã, onde dividiu suas tropas e ata­
cou quando o inimigo não esperava qualquer oposição. Ele os enfrentou
e afugentou-os, libertando todos os prisioneiros e recapturando todos os
bens retirados das cidades. Ele devolveu tudo ao rei de Sodoma, recusando
qualquer recompensa, exceto a reposição de tudo quanto o povo comera
enquanto ele os trouxera de volta (Gn 14.22ss). Interessante que Abraão
não se envolveu na guerra até ficar sabendo que Ló havia sido capturado.
Só então decidiu tomar uma atitude. Abraão sabia estar separado do mun­
do, sem estar isolado dele. Era independente, porém não indiferente.
A seguir, Melquisedeque, rei de Salém (antigo nome de Jerusa­
lém), veio e abençoou Abraão. Abraão deu-lhe o dízimo de tudo o que
possuía, não por ele ser o rei de Salém, mas sim por ele ser “sacerdote do
Deus Altíssim o” (Gn 14.18).
Mas ainda havia em Abraão uma incerteza acerca de quem her­
daria a sua herança. Certa vez ele argumentou com Deus que ainda não
tinha filhos e que Eliezer de Damasco, seu mordomo, seria também seu
herdeiro. A descoberta dos documentos de Nuzi tem ajudado a esclarecer
essa ainda obscura declaração. De acordo com o costume hurriano, um
casal sem filhos sem condições de engravidar poderia adotar um herdei­
ro. Na maioria das vezes um servo, que era um escravo, e ele seria respon­
sável pelo sepultamento e pelo luto dos pais adotivos. Se um filho nasces­
se depois da adoção de um escravo herdeiro, o filho natural iria, é claro,
suplantá-lo. Desse modo, a resposta de Deus à pergunta de Abraão vai
diretamente a esse ponto: “Seu herdeiro não será esse. Um filho gerado
por você mesmo será o seu herdeiro” (Gn 15.4). Deus então confirmou sua
aliança com Abraão, garantindo-lhe um herdeiro, uma nação e uma terra.
Em seguida, Deus reafirmou a promessa da terra e de que Abraão
teria um filho. Sarai era estéril, por isso acabou se aproveitando de uma
lei que dizia que, se uma mulher fosse estéril, seu esposo poderia ter um
filho com uma concubina, e a criança seria considerada filho legítimo
de sua esposa. Abraão, erroneamente consentiu e, aos 86 anos, teve um
filho com a concubina Hagar, que era serva de Sarai, e o menino cha­
mou-se Ismael.
No entanto, Hagar começou a tratar Sarai de forma insolente, tra-
tando-a com desprezo. A forma indiferente com que Hagar tratava a Sarai
tornou-se algo tão evidente que Sarai reclamou com Abraão. Ele disse à
esposa que poderia tratar o assunto como ela achasse necessário. Sarai
maltratou tanto Hagar que a escrava egípcia pegou o menino e fugiu para
o deserto (Gn 16.6). Um anjo encontrou-se com Hagar no deserto. Ele a
orientou a retornar e submeter-se à sua senhora, prometendo que os des­
cendentes de Ismael se tornariam uma grande nação: os árabes.
Esse episódio relata um lapso na fé de Abraão. Ele foi impaciente.
Sarai era uma boa pessoa, porém seu conselho não era bom. A aliança
de Deus com Abraão não precisava da ajuda humana. Até hoje, muçul­
manos e judeus brigam, principalmente por Jerusalém, reivindicam a
posse do território que era de seu pai e tudo isso porque Abraão ouviu
um conselho que não era para ser ouvido. Sempre haverá consequên­
cias negativas na nossa vida quando quisermos colocar a nossa mão na­
quilo que Deus está construindo com a Dele.
Treze anos depois Deus voltou a falar com Abraão (Gn 17). Deus se
revelou a Abraão como o Deus Todo-Poderoso (El-Shaddai). Este era o nome
de Deus para Abraão. Décadas depois, para os judeus, Deus se revelou como
o “Eu Sou o Que Sou”. Como os Judeus temiam falar o nome de Deus mencio­
navam o nome Yahweh, que era como se fosse a pronúncia de uma sigla das
inicias do nome que Deus revelou a Moisés (YHWH). Mas a Abraão Deus se
revelou não como o Eu Sou o Que Sou, mas sim como o Todo-Poderoso. E isso
foi proposital de Deus para com Abraão, pois só um Deus que tem todo po­
der pode fazer um casal cujo esposo tem cem anos, e a esposa noventa anos,
gerar um filho de modo natural (Gn 17.17). Como sinal físico da aliança de
Abraão com o Senhor, este o instruiu a circuncidar-se e a todos os membros
de sua casa e, a partir daquela data, todas as crianças do sexo masculino de-
veriam ser circuncidadas oito dias após o nascimento (o brith millah - pacto
da circuncisão - religiosamente guardado pelos judeus até os dias de hoje).
Nesse mesmo período Deus mudou o nome de Abrão para Abraão,
e de Sarai para Sara. Abrão significa “pai exaltado”, e passou a ser
Abraão, que significa “pai de multidões”. Sarai significava “contencio­
sa”, e passou a ser Sara, que significa “princesa”.
Pouco tempo depois o Senhor apareceu a ele em sua tenda reafir­
mando a promessa que Sara teria um filho. Tanto Sara quanto Abraão
riram. O riso de Abraão (Gn 17.17) parece ter sido uma expressão de
alegria, enquanto o de Sara (Gn 18.11-15) uma expressão de incredu­
lidade que ela, vergonhosamente tentou desmentir. Por isso o menino
chamou-se Isaque, que significa riso. O nome Isaque se origina da raiz
hebraica sahaq, que significa “rir”.
Deduz-se que, nesse dia, Deus fez uma parada no caminho para
sua ação mais devastadora, devendo julgar Sodoma e Gomorra devido
à maldade desse povo. Deus deu a Abraão o privilégio de compartilhar
dessa informação. Numa cena comovente, Abraão mostra-se digno de
ser o pai das nações ao ousar interceder por esses estrangeiros: “Destrui­
rás o justo com o pecador?”, pergunta ele (Gn 18.23). Abraão consegue
que Deus concorde em poupar as cidades se houver cinquenta justos.
Depois continua a negociar o número até chegar a apenas dez justos.
Mas os depravados cidadãos de Sodoma e Gomorra mostraram-se
indignos da intervenção de Abraão. Os anjos não conseguiram encontrar
sequer dez justos. Logo cedo, na manhã seguinte, quando Abraão se le­
vantou e saiu para contemplar o vale do Jordão, onde ficavam as duas
cidades “viu a fumaça subir da terra, como a fumaça de uma fornalha”
(Gn 19.28). Mas em resposta ao apelo de Abraão na véspera, Deus avisou a
Ló e sua família. Embora a esposa de Ló tenha perecido na destruição des­
sas cidades, Ló e suas filhas sobreviveram fixando-se no planalto oriental
daquela região da bacia do Jordão.
Logo após, Sara deu à luz Isaque. Quando Isaque nasceu, Ismael
era aproximadamente da idade de quatorze anos (Gn 16.16; 17.17). Isso
aparentemente gerou uma grande ameaça a Hagar, que até aquele mo­
mento acreditava que Ismael seria o único herdeiro de Abraão. À medi­
da que Isaque crescia, a tensão entre Hagar e Sara também aumentava.
E, ao que parece, Ismael maltratava, ou pelo menos, desprezava Isaque
(Gn 21.9-10). Sara mais uma vez insistiu que Hagar e o menino deveríam
ser expulsos dali. De início, Abraão recusou-se a fazer isso, mas Deus
lhe disse para fazer o que Sara queria. Assim, Abraão entregou água e
alimento a Hagar e Ismael e os enviou para o deserto. Deus os protegeu
e cumpriu a promessa de que Ismael, assim como Isaque, seria pai de
uma grande nação.
No entanto, o maior teste de fé que Abraão enfrentou ainda esta­
va para acontecer. Deus ordenou que ele oferecesse Isaque em sacrifício.
Segundo Russel Norman Champlin, nessa época Isaque tinha aproxima­
damente vinte anos. Esse foi um teste de fé não apenas para Abraão, mas
também para Isaque, que já era um jovem forte e podia facilmente se
livrar de Abraão, que já tinha mais de cento e vinte anos de idade. Porém,
Isaque também estava disposto a aceitar a vontade de Deus. Isaque cons­
tantemente ofertava e sacrificava a Deus com seu pai, a prova disso é que
ele sabia que naquele dia entre os elementos básicos de um holocausto
estava faltando o cordeiro. Ao interrogar ao seu pai sobre onde estava o
cordeiro para o holocausto, Abraão sabiamente lhe disse: O Senhor Prove­
rá. O escritor aos Hebreus afirma que Abraão confiava que até dos mortos
Deus se quisesse podia ressuscitar Isaque (Hb 11.18).
Sem dúvidas essa foi uma das decisões mais difíceis que Abraão
tomou em sua vida. Deus havia dito que era através de Isaque que a sua
aliança se concretizaria. Aparentemente matar Isaque significava matar
a promessa. Naquele tempo Isaque havia se tornado o núcleo principal
de todas as esperanças de Abraão. Isso explica a importância do pedido
do oferecimento de Isaque em sacrifício. O dilema que Abraão experi­
mentou era que a promessa de Deus não poderia se cumprir se Isaque
morresse. No entanto, Deus estava pedindo Isaque a Abraão para que
ele entendesse que o centro da promessa não era Isaque, mas era Deus.
Quando Abraão estava prestes a cravar o cutelo sobre Isaque “o
Anjo do Senhor bradou desde os céus e disse: Não estendas a tua mão
sobre o moço e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus
e não me negastes o teu filho, o teu único filho”. (Gn 22.11-12). O escritor
aos Hebreus, no entanto, menciona que Abraão “ofereceu a Isaqu e” (Hb
11.17). De fato, para Deus Isaque foi oferecido, pois Deus valoriza mais
a intenção do que a ação. A ação pode não ter sido a morte de Isaque
em sacrifício, mas a intenção em obediência a voz de Deus foi de entrega
completa. O sacrifício de Isaque foi aceito sem ele ter sido sacrificado.
Algum tempo depois Sara faleceu, na idade de cento e vinte e sete
anos em Quiriate-Arba, que é Hebrom, território de Canaã (Gn 23.1).
Foi enterrada na caverna do campo de Macpela. O local, na região de
Hebrom, tornou-se a partir daquele momento o lugar de sepultamento
da família. Era costume das famílias daquele tempo levar seus mor­
tos de volta para casa, a fim de sepultá-los em suas terras. Até alguns
patriarcas fizeram isso (Gn 50.4-5-25). Porém, Sara não foi conduzida
para Ur ou Harã (Gn 11.31-32), mas foi sepultada em Canaã. O túmulo
da família de Abraão em Canaã era uma declaração muda e poderosa:
“E sta terra é nossa, está terra é nosso lar, con form e o Senhor p rom eteu ”.
Três anos depois da morte de Sara, sendo já Abraão velho e adian­
tado em dias arranjou um casamento para Isaque, que na época tinha
quarenta anos. Ele escolheu seu servo Eliezer para escolher uma mu­
lher em meio a sua parentela, os descendentes de seu irmão Naor (Gn
24). Isso manteria a integridade da linhagem familiar, evitando a possi­
bilidade de Isaque se casar com uma cananeia. Esse arranjo para esco­
lher a esposa de Isaque também fez com que o rapaz permanecesse na
terra prometida e não fosse exposto as influências pagãs para encontrar
sua noiva. Com isso, até mesmo em sua morte, Abraão tomou medidas
para proteger os dois maiores aspectos da sua aliança com Deus: a sua
terra e a sua descendência.
Algum tempo depois Abraão casou-se com Quetura, que lhe deu
seis filhos: Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Suá (Gn 25.1-6; lCr 1.32-
33). Os midianitas são descendência de Midiã, o quarto filho de Abraão
com Quetura. Mas apenas Isaque teve direito a herança de Abraão,
como dizem as escrituras “Abraão deu tudo o que tinha a Isaque” (Gn
25.5). Por fim, os midianitas tornaram-se inimigos dos israelitas, embo­
ra tenha sido por intermédio deles que Moisés aprendeu sobre a fé que
fora revelada a Abraão.
Os dias de Abraão foram cento e setenta e cinco anos (Gn 25.7). O
que significa que ele andou com Deus durante um século (Gn 12.4). Abraão
começou a andar com Deus e percorreu o caminho completo. Apesar de
seus erros ocasionais, Abraão realizou a vontade de Deus e por Ele foi
usado para abençoar todo o mundo. Abraão foi sepultado pelos seus dois
primeiros filhos, Ismael e Isaque (Gn 25.9), ao lado de Sara, na caverna de
Macpela. Para os judeus, a história de Abraão é de importância nacional,
pois marca a transição para o início de sua existência como povo e o seu
direito divino à terra de Israel. No sentido religioso, também simboliza
a ruptura com a idolatria pagã e o compromisso com o monoteísmo, em
servir somente ao Senhor.
Abraão viveu o processo da promessa na integra. No começo da
peregrinação de Abraão, Deus lhe disse: “Vai para a terra que eu te mos­
trarei” (Gn 12.1). Mais tarde, disse: “Eu te darei” (Gn 13.15-17). Então, sua
palavra a Abraão foi: “À tua descendência dei esta terra” (Gn 15.18).
Em 2 Crônicas 20.7 e Tiago 2.23, Abraão é chamado de amigo de Deus.
A universalidade desse título para o pai da nação hebraica está refletida no
nome da mesquita construída em sua honra em Hebrom, isto é, Al-Khalil
(“O Amigo”). Segundo a tradição esta mesquita está construída exatamente
sobre o local em que estão enterrados Abraão e sua família no campo de
Macpela, em Gênesis 23.19 a Bíblia afirma que eles foram realmente sepul­
tados em Hebrom.

Absalão Nome hebraico, significa “Pai da paz".

Absalão era o terceiro dos seis filhos de Davi. Nasceu em Hebrom


(durante o primeiro reinado de Davi, em Judá), depois de Amnom e Quilea-
be (2Sm 3.2-3). Sua mãe chamava-se Maaca, terceira esposa de Davi, filha
de Talmai, rei de Gesur, um pequeno reino arameu próximo ao mar da
Galileia. Por certo, Davi havia tomado Maaca como esposa a fim de estabe­
lecer um tratado de paz com o pai dela. O fato de Absalão ter sangue real
nas veias tanto por parte de pai como por parte de mãe pode tê-lo impelido
em sua busca egoísta por um trono.
Absalão é descrito como um homem formoso (2Sm 14.25), e isso
pode ter contribuído para sua arrogância. Seus cabelos eram tosquiados
anualmente e pesavam cerca de dois quilos (2Sm 14.26). Seu orgulho
por seus cabelos longos e belos, por fim, custou-lhe a vida, quando mor­
reu agarrado a uma árvore devido a eles. Sua vida turbulenta não faz
jus a seu nome, que quer dizer o “pai da paz”.
O primeiro evento crítico envolvendo a vida de Absalão foi o estupro
de sua irmã Tamar por seu meio irmão Amnom (2Sm 13.1-34). Davi, ao
saber sobre o ocorrido, embora tenha ficado indignado com a atitude de
Amnom, acabou não tomando nenhuma medida para puni-lo. Esses acon­
tecimentos ocorreram logo após o adultério de Davi com Bate-Seba. Deus
havia dito que a espada não mais se apartaria da casa de Davi (2Sm 12.10).
O julgamento de Davi contra o homem rico da história de Natã foi: “pela
cordeirinha restituirá quatro vezes” (12.6), e esse julgamento foi executado
contra o próprio Davi. O bebê de Bate-Seba morreu; Absalão matou Am­
nom por haver violentado Tamar; Joabe matou Absalão durante a batalha
no monte em Efraim; e Adonias foi morto ao tentar usurpar o trono de Sa­
lomão (lRs 2.12-25). Sendo assim, quatro filhos de Davi foram mortos pela
restituição da “cordeirinha”, conforme Davi havia predito em sua ira pela
história de Natã.
A omissão de Davi em corrigir Amnom gerou em Absalão um sen­
timento de vingança pela dor de sua irmã. Absalão não falou nada com
Amnom por dois anos, nem para ser gentil, nem para expressar sua raiva
(2Sm 13.22). Um dia atraiu Amnom a uma festa de tosquia de ovelhas,
um evento alegre em Israel, na antiguidade. Ali, fez com que Amnom se
embebedasse e o matou. A seguir, fugiu para Gesur, quase cento e trinta
quilômetros ao norte de Jerusalém, onde, por três anos, refugiou-se no
palácio de seu avô, o rei Talmai.
Mesmo depois de ter matado Amnom, Absalão continuava sendo
muito amado por Davi e desejava poder voltar. Através da mediação de
Joabe, Davi o chamou de volta, porém foi inepto ao lidar com o seu filho
amado. Deixou que ele voltasse, mas recusou-se a vê-lo.
Na verdade, o próprio retorno de Absalão do exílio foi concretiza­
do pelo trabalho engenhoso de Joabe, o principal chefe militar de Davi.
Joabe usou uma mulher inteligente de Tecoa (vila da qual veio o profeta
Amós) e juntos inventaram uma história, aparentemente para assegurar
a ajuda do rei à mulher em sua vida pessoal doméstica, mas, na verdade,
a intenção era envolver psicologicamente o rei, por causa do paralelismo
entre seu próprio filho Absalão e o caso da mulher. A história envolvia
dois filhos, um dos quais feriu o outro e agora a mulher estava em risco de
perder o outro filho, por causa do costume da vingança de sangue. Com
astúcia, ela repetidamente obteve o juramento do rei de que ninguém
poderia matar o seu filho, até finalmente introduzir o nome do Senhor
nas repetidas declarações que lhe foram feitas por Davi. O rei até mesmo
jurou a ela, pelo nome do Senhor, de que não haveria nenhuma matança
(2 Sm 14.11).
Ao invés de sair satisfeita, a mulher pressionou o rei, substituindo,
com audácia e coragem, “o povo de Deus” pela família, e “o desterrado”
pelo filho fictício em sua parábola. Ela chamou o rei Davi de “o culpado”
(2Sm 14.13). Percebendo que o rei estava compreendendo o plano muito
rapidamente, a mulher tentou desconversar e fazer parecer que ela estava
ainda descrevendo o seu próprio caso, mas Davi já havia entendido. Conhe­
cendo as idéias de Joabe sobre o assunto, o rei perguntou à mulher: “Não
é certo que a mão de Joabe anda contigo em tudo isto?”. Rapidamente a
mulher revelou a verdade e louvou a sabedoria do rei com extravagância
(2Sm 14.19,20). Foi dada a Joabe a permissão de restaurar Absalão, mas
este permaneceu infeliz porque não havia ainda uma reconciliação plena.
Quando Joabe recusou-se a fazer qualquer outra coisa mais por Absalão,
este se enfureceu e ordenou a seus servos que colocassem fogo no campo
de cevada de Joabe. Então Joabe veio até Absalão e os acordos para Absalão
encontrar Davi foram completados (2Sm 14.28-33).
Finalmente, então, a reconciliação aconteceu. Absalão curvou-se pe­
rante Davi, que o ergueu e o beijou com carinho. Davi, nessa época, tinha
aproximadamente sessenta anos de idade. Porém, infelizmente, da parte *
de Absalão, essa reconciliação foi mais aparente do que real. •
Isso porque, dois anos após (quando já havia quatro anos que ha- *
via retornado de Gesur para Jerusalém), Absalão estava preparado para •
dar o golpe contra o reinado de Davi. A frieza de Absalão é algo que nos *
impressiona na sua história. Ele foi insensível o suficiente para planejar •
por dois anos a morte de Amnom, e agora para planejar durante quatro *
anos a revolta contra o pai, sem que isso gerasse nele algum receio.
Ao lermos os “salmos do exílio”, de Davi, temos a impressão de que, .
nessa época, o rei se encontrava enfermo e não estava podendo cuidar *
diretamente dos assuntos do reino, dando a Absalão a oportunidade de •
ouvir as necessidades do povo, “tomar” o lugar de seu pai e de assumir *
o “controle” do reino. Não porque Davi estava sendo negligente com o •
reino, mas porque a sua enfermidade o obrigou se ausentar mais do exer­
cício do poder.
Devido ao fato de que Davi não estava à disposição, Absalão en­
contrava-se pessoalmente com o povo na estrada que levava à porta da
cidade, para onde os israelitas se dirigiam todas as manhãs a fim de
que suas queixas fossem examinadas e suas causas fossem julgadas. Na
antiguidade, a porta da cidade equivalia à prefeitura e ao fórum (Rt 4.1;
Gn 23.10; Dt 22.15; 25.7), e Absalão sabia que encontraria ali muita gente
insatisfeita se perguntando porque o sistema judicial não funcionava
com eficiência (Veja 2Sm 19.1-8). Absalão cumprimentava esses visitan­
tes como se fossem amigos de longa data e descobria de onde vinham
e quais eram seus problemas. Concordava com todos que suas queixas
eram válidas e que deveriam ser decididas em favor deles no tribunal
do rei. Suas palavras não passavam de bajulação barata, do tipo mais
desprezível, mas o povo adorava. Absalão dizia que poderia cuidar me­
lhor dos assuntos do reino se, ao menos, fosse juiz (v.4). Uma forma sutil
de criticar o pai. Quando as pessoas começavam a se curvar diante de
Absalão por ser o “príncipe herdeiro”, estendia a mão a fim de detê-las,
puxava-as para junto de si e as beijava (v.5).
Davi havia conquistado o coração do povo pelo seu serviço e de­
dicação, mas Absalão o fez do modo mais fácil, como se faz hoje em dia:
criando uma imagem irresistível de si mesmo ao povo. Davi foi um he­
rói, enquanto Absalão foi apenas uma celebridade. Infelizmente muitos
israelitas haviam se acostumado com seu rei e não lhe davam mais o
devido valor.
Por fim, quando sentiu que já possuía bastante apoio, Absalão reuniu
suas tropas em Hebrom, que ficava a cerca de 30 quilômetros ao sul de
Jerusalém. Hebrom era seu local de nascimento e a capital do primeiro rei­
nado de Davi. Por que Absalão decidiu começar sua rebelião em Hebrom?
Um dos motivos foi o fato de a cidade ser a antiga capital de Judá, e talvez
alguns deles estivessem se sentindo rejeitados com o fato de Davi ter mu­
dado a capital para Jerusalém. Como Absalão havia nascido em Hebrom
podia dizer que possuía maior afinidade com seus habitantes. Além dis­
so, Hebrom era de fácil alcance a Jerusalém, um ponto favorável em uma
possível tomada de Jerusalém. Hebrom era uma cidade sagrada para os
israelitas, pois havia sido designada para os sacerdotes e era relacionada à
Calebe (Js 21. 8-16).
Um passo decisivo para Absalão foi conquistar o apoio de Aitofel,
o conselheiro mais astuto de Davi. Aitofel era avô de Bate-Seba, e cer­
tamente não havia aceitado o adultério de Davi com a jovem e a morte
de Urias encomendada por Davi. Era a grande oportunidade de Aitofel
vingar-se de Davi. Porém, ao apoiar Absalão, Aitofel rejeitou Salomão,
filho de Bate-Seba, o qual Deus havia escolhido para ser o próximo rei
de Israel.
Diante disso Davi deixou Jerusalém e foi para Maanaim, do outro
lado do Jordão (2Sm 15.7-18), para proteger-se e para planejar sua resis­
tência. Davi havia entendido que é melhor a vida do que o trono.
Absalão, ouvindo dizer que Davi abandonara Jerusalém, para ali
se dirigiu e apossou-se do poder, sem qualquer oposição. Com a com­
panhia de Aitofel ele estava mais forte ainda. Aconselhado por Aitofel,
Absalão marcou a conquista mantendo relações sexuais com as dez con­
cubinas que Davi havia deixado para cuidar do palácio.
Havia também outros a quem Davi, com sangue frio, persuadira a
ficar em Jerusalém, para servirem a seus interesses no coração do territó­
rio de Absalão. Os dois sumos sacerdotes Abiatar e Zadoque (2Sm 15.29),
encarregavam-se de manter Davi informado, usando seus próprios filhos
como mensageiros.
Havia ainda Husai, a quem Davi enviou para tentar reverter à situa­
ção, conquistando a confiança de Absalão e neutralizando a orientação
de Aitofel. Aitofel aconselhou Absalão a perseguir imediatamente a Davi,
antes que ele tivesse tempo para recuperar-se do golpe recebido (2Sm
17.1-2) ele havia trabalhado muito tempo com Davi e não duvidava de
sua capacidade. Mas Husai, procurando ganhar tempo e desempenhando
bem o seu papel como “agente duplo” designado por Davi, persuadiu Ab­
salão a não arriscar uma possível derrota, dizendo que Davi e seus vete­
ranos combatentes eram homens desesperados e perigosos “como a ursa
a que se tiram as crias no campo” (2Sm 17.8). Fatalmente, para Absalão,
ele ouviu esse conselho. Aitofel percebeu claramente que o príncipe para
o qual tinha transferido sua lealdade havia cometido um erro fatal e que
sua própria carreira estava destruída. Foi para sua casa e lá se enforcou.
Enquanto isso, Davi reuniu suas forças e conseguiu organizar três
divisões de soldados comandados por Joabe, Abisai e Itai (2Sm 18.2). Joabe
era o comandante em guerra. Sua tática foi de atrair o adversário para os
bosques na floresta de Efraim para então cercá-lo. Isso foi feito e os ho­
mens de Absalão foram destruídos facilmente (20 mil deles) pelos bem
treinados homens de Davi, acostumados ao difícil terreno de florestas e
elevações, enquanto que os demais fugiram.
Absalão montou em uma mula ligeira, mas, enquanto fugia, os ga­
lhos de uma árvore enroscaram-se em seus longos cabelos e ele ficou
suspenso no ar, enquanto que a mula passou adiante. Um dos homens
de Joabe o viu e não ousou tocá-lo, pois tinha ouvido Davi dar instruções
para que não o matassem, mas Joabe apressou-se até o lugar e o trans-
passou com três dardos. Seu corpo foi arriado e lançado em uma cova,
com um montão de pedras por cima (2Sm 18. 7-17). Davi muito se entris­
teceu quando soube da morte de Absalão. Embora Absalão tivesse feito
tantas coisas que entristecera seu pai, ele ainda o amava, e não desejava
sua morte.
Absalão teve quatro filhos, sendo três homens e uma mulher. Sua
filha se chamou Tamar, em homenagem a sua irmã que ele tanto amava.
Parece-nos que seus três filhos morreram ainda na infância, pois, mais a
frente, Absalão lamenta dizendo: “Filho nenhum tenho para conservar a
memória do meu nome” (2Sm 18.18), é provável que somente sua filha
Tamar tenha sobrevivido.
A história de Absalão serve para nos ensinar sobre a soberania
de Deus. Independente da maquinação maligna dos homens, Deus con­
tinua sendo soberano. Não foi porque Davi fugiu de Jerusalém que dei­
xou de ser rei, e nem foi porque Absalão invadiu Jerusalém e tomou
o trono de seu pai que permaneceu sendo rei. Precisamos confiar que
nosso Deus é soberano e não perde o controle das nossas vidas. Existem
situações em que tudo o que precisamos fazer é nos reservar e esperar
a ação divina em nosso favor.

Acõ Nome hebraico, significa "Perturbação".

Acã é um dos personagens bíblicos que ao falarmos dele sempre


haverá uma lembrança negativa de sua pessoa em nossa memória. Era
filho de Carmi, e pertencia a tribo de Judá.
Deus disse a Josué e ao povo de Israel que Jerico seria entregue a
eles, Raabe e seus familiares seriam preservados, todos os moradores de
Jerico seriam destruídos e toda prata, todo ouro e todos os vasos de metal
seriam consagrados ao Senhor, e guardados para o tesouro do Senhor (Js
6.17-19). Todo o povo obedeceu a essa ordem divina, menos Acã.
Acã tomou para si parte do tesouro de Jerico e Deus se irou tre­
mendamente contra Israel, punindo assim toda a nação com a derrota
para Ai e a morte de trinta e seis soldados por causa do pecado de Acã.
Por causa de um único ato inconsequente, ele obteve uma lamentável
notoriedade.
Interessante que o pecado de Acã aconteceu em Jerico, mas a con­
sequência se manifestou apenas em Ai. O pecado pode não gerar con­
sequências hoje, mas um dia a justiça de Deus se revelará. O Pecado de
hoje, pode até não comprometer o hoje, porém não poupará a conse­
quência do amanhã.
Ai era uma pequena cidade de poucos habitantes em uma região
montanhosa de Canaã, à quase seiscentos metros acima do nível do mar,
localizada a aproximadamente vinte quilômetros a oeste-noroeste de Je­
rico, e dezesseis quilômetros ao norte de Jerusalém. Josué empolgado
com a conquista da grande cidade de Jerico mandou alguns espias a Ai,
e enviou apenas uns três mil soldados para a batalha. Após a derrota
para Ai, Josué orou ao Senhor, perguntando a Deus porque ele havia
permitido a derrota de Israel. É lamentável o fato de Josué ter orado ape­
nas após a derrota. Se tivesse orado antes de subir contra os moradores
de Ai, por certo Deus revelaria o pecado de Acã e ele poderia tratar o
problema. Assim, a vida de trinta e seis soldados teria sido poupada. A
impressionante vitória de Josué em Jerico havia dado a ele autoconfian­
ça, o que afasta o homem da oração e quase sempre o leva a desastres.
Depois disso Josué orou ao Senhor, e Deus lhe orientou que reu­
nisse todo povo, pois Israel havia pecado, e eles não venceríam ninguém
até que o anátema (pecador e amaldiçoado) fosse descoberto. Com o
povo reunido Deus indicaria quem havia pecado e este junto com seus
bens e toda sua família teriam de ser destruídos.
Consideremos algumas lições aqui: Deus havia punido toda uma
nação por causa de um único homem. Deus lidou com essa situação di­
zendo que Israel havia pecado e não apenas Acã. Por que Deus colocou
a culpa da desobediência de um só soldado sobre toda a nação? Porque
Israel era um só povo no Senhor e não apenas um conjunto de tribos,
famílias e indivíduos. Integração e interdependência entre eles eram va­
lores importantes que mantinham o grupo em unidade. Como resultado,
o comportamento de um indivíduo não era visto como algo isolado do
restante do grupo.
A história de Acã representa uma forte evidência de um poderoso
senso de unidade e solidariedade que impregnam a cultura judaica há
milênios. Toda a comunidade sente o fardo do pecado e a benção da justi­
ça de um homem. Na história de Acã, a culpa de um homem ameaçava a
segurança de toda uma comunidade, e Deus considerou toda comunidade
responsável por sua ação, embora eles nem soubessem nada a respeito
desse ato de desobediência. Entretanto, a expiação de Acã, também sal­
vou toda a comunidade da ira de Deus.
Warren Wiersbe classifica esse episódio como “Derrota na Terra da
Vitória”. O pecado nos faz perder um tempo que Deus havia reservado
apenas para ganharmos. Jamais subestime o estrago que uma só pessoa
fora da vontade de Deus pode fazer. A desobediência de Abraão no Egito
quase lhe custou à vida de Sara; a desobediência de Davi ao realizar um
senso sem a permissão de Deus causou a morte de setenta mil homens; a
desobediência de Jonas quase fez afundar um navio cheio de pessoas ino­
centes. Um homem fora da direção de Deus pode causar estragos a todos
que estão por perto.
Acã ouviu seu comandante Josué ordenar que todos os utensílios
de Jerico deveriam ser consagrados ao Senhor e ir para o tesouro de
Deus. Uma vez que Jerico era a primeira vitória de Israel em Canaã, as
primícias dos despojos de toda Canaã pertenciam ao Senhor. No entanto,
Acã tomou um caminho perigoso que o conduziu ao pecado e a morte.
Os despojos da vitória de Jerico tinham sido proibidos de serem aprovei­
tados pelo povo, mas os despojos da vitória de Ai tinham sido reservados
pelo Senhor para o povo de Israel (Js 8.2), se Acã apenas obedecesse e
esperasse mais um pouco receberia a recompensa de Deus para Israel.
A consumação do pecado sempre terá três etapas: visualização,
cobiça e posse. Isso aconteceu com Acã: “Quando vi entre os despojos
uma boa capa babilônica, duzentos siclos de prata e uma cunha de ouro
do peso de cinquenta ciclos, cobicei-os e tomei-os” (Js. 7.21). O primeiro
erro de Acã foi olhar outra vez para os utensílios. É provável que não
tivesse como evitar vê-los pela primeira vez, mas jamais deveria ter vol­
tado o olhar para eles e pensado em tomá-los para si. O primeiro olhar é
acidental, o segundo sempre será intencional. O segundo erro foi de dar
outro nome aos tesouros de Deus ao chamá-los de “despojos”. Não eram
“despojos”, mas sim parte do tesouro de Deus e inteiramente destinados
a serem consagrados a ele. Isso já era o processo da cobiça sendo gerado
dentro dele. Não pertenciam a Acã, nem mesmo a Israel, mas sim ao
Senhor. E o terceiro erro foi após ter cobiçado e tomado, pensar que po-
deria escapar de seu delito guardando o que havia tomado para si. Fez
isso achando que nunca seria descoberto. Aquele que encobre as suas
transgressões nunca prosperará (Pv 28.13). O pecado sempre deixará
marcas, o pecado sempre trará consequências!
O pecado de Acã torna-se mais odioso pelo fato de ser ele conscien­
te de tudo que Deus havia feito em seu favor. Deus cuidara dele e de sua
família no deserto; havia feito com que atravessassem o rio Jordão em
segurança e concedera vitória ao exército em Jerico. Na aliança em Gil-
gal, Deus havia aceitado Acã como filho. E, no entanto, apesar de todas
essas experiências maravilhosas, Acã desobedeceu à voz de Deus só para
se apropriar de uma riqueza que nem sequer pode desfrutar.
Ele tomou para si uma capa babilônica, duzentos siclos de prata
e uma barra de ouro do peso de cinquenta siclos, que eram equivalen­
tes a aproximadamente quase dois quilos e meio de prata e seiscentos
gramas de ouro. Curiosamente isso representava o salário de uma vida
inteira de um trabalhador comum. Acã havia passado grande parte da
sua vida peregrinando pelo deserto sem nunca ter financeiramente al­
cançado nada, de repente ele vê diante de si a “chance da vida” de re­
solver de uma vez por todas o seu futuro. Mesmo que isso lhe custasse
pecar contra Deus, ele optou por pegar aqueles utensílios. Toda riqueza
que é fácil demais se torna perigosa. Há situações que o diabo põe dian­
te de alguém a chance de definir a vida, porém por caminhos errados,
caminhos que sempre terminarão em morte.
O castigo pela violação da ordem divina de destruição total era ser
totalmente destruído. Toda a descendência do infrator tinha de ser elimi­
nada para que seu nome caísse no esquecimento. A lei proibia que os filhos
fossem punidos pelos pecados de seus pais (Dt 24.16), mas o objetivo dessa
lei era restringir certas práticas bastante específicas. Por exemplo, nas leis
de Hamurabi, se um homem provocasse a morte de um filho de outro ho­
mem, seu próprio filho teria de ser morto. Outro exemplo era a aplicação
de vingança de sangue sobre toda família do assassino. Assim, a lei tinha
o objetivo de aplicar restrições ao sistema legal civil. No entanto, o caso de
Acã pertence a uma situação totalmente diferente, em que o próprio Deus
estava julgando a situação.
O apedrejamento era uma forma de execução comunitária men­
cionada inúmeras vezes na Bíblia. Era constantemente usada para pu­
nir crimes contra a comunidade e exigia que as pessoas que tivessem
sido ofendidas participassem da execução, nenhum indivíduo podia ser
responsabilizado pela morte do criminoso. Em um primeiro encontro
com a história parece que Deus foi radical ao exigir que Acã, sua famí­
lia e todos os seus bens fossem apedrejados e queimados, porém, isso
que parece ser a “radicalidade de Deus” no exercício do seu juízo é o
instrumento do Senhor para gerar o temor no coração de seu povo. A
consciência da justiça de Deus não pode ser esquecida na memória de
uma geração.
O pecado de Acã trouxe consequências sobre ele, sobre a comuni­
dade de Israel, e sobre toda sua família. Da mesma forma, o pecado de
uma pessoa sempre trará consequências sobre ele, sobre a comunidade
cristã que ele pertence e sobre toda sua família.
Chamou-se o lugar da destruição de Acã, Vale de Acor, que signi­
fica “lugar da perturbação”, uma alusão ao significado do nome de Acã,
que também significa “perturbação”.

Adão Nome hebraico, significa "Homem

Adão foi o primeiro ser humano da história. O termo deriva-se


do hebraico adam ah que significa terra. O termo no original bíblico do
nome Adão aparece por 560 vezes no Antigo Testamento, para indicar
homem ou humanidade, mas no começo do livro do Gênesis indica o
primeiro homem, e é um nome próprio.
Foi feito pelo próprio Deus no sexto dia da criação. Ele veio à exis­
tência por um ato especial de Deus, e não mediante a algum processo
evolutivo. Deus formou o homem do pó da terra (Gn 2.7). O verbo formou
aqui no hebraico éyeiseir, que é a mesma palavra usada para o trabalho
de um oleiro formando um vaso. Deus havia criado tudo apenas com a
sua palavra, mas, o homem, Ele fez questão de fazer com as Suas próprias
mãos, convocando assim a Trindade para isso: “Façam os o hom em à nossa
imagem, conform e a nossa sem elhan ça” (Gn 1.26). Ser à “imagem de Deus”
talvez sugira a imagem da santidade de Deus, devido ao homem ter sido
criado sem pecado. E “à nossa semelhança” se refira à semelhança da
Trindade (três em um: Pai, Filho e Espírito Santo), enquanto que o homem
foi feito na mesma semelhança sendo três em um: corpo, alma e espírito.
Analisar a quantos milênios isso aconteceu é algo polêmico. Isso pelo
fato de que a nossa contagem de dias e anos é marcada pelo sol e a lua, e
estes só foram criados no quarto dia da criação. A expressão “dia” aqui
empregada à contagem de dias na criação pode não se referir a um período
de 24 horas, e sim a um período incalculável de tempo. Partindo desse prin­
cipio não há como calcularmos a quantos milênios atrás Deus criou a terra
e o homem. O que podemos afirmar é que se calculam aproximadamente
seis mil anos da queda do homem no Éden até a atualidade. O período an­
tes da queda é incalculável.
Deus plantou na parte oriental do Éden um jardim, e ah colocou Adão.
Percebendo que todos os animais tinham uma companheira e Adão não ti­
nha, Deus o fez dormir um profundo sono e tomou uma de suas costelas,
para que dessa costela fosse formada a primeira mulher. A história da cria­
ção de Eva a partir da costela de Adão sustenta o conceito de que os laços
entre marido e esposa são mais estreitos que qualquer outro laço social ou
familiar: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mu­
lher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2.24).
No jardim do Éden Deus fez brotar uma grande quantidade diferente
de árvores, todas elas agradáveis a vista e boa para comida. No entanto,
colocou ah também no centro do jardim a Árvore da Vida e a Árvore do Co­
nhecimento do Bem e do Mal, e essas duas árvores Deus proibiu que Adão
comesse do seu fruto.
Deus deu a Adão o poder de domínio sobre toda a terra, os peixes,
as aves e os animais. A única coisa que Deus não deu a Adão poder para
dominar foi sobre o ser humano. Pessoas não são para ser dominadas, a
base da vida humana é a liberdade. Pessoas precisam ser orientadas, e
não dominadas. Deus disse a Adão que ele podería comer das aves, dos
peixes, dos animais, das ervas, das árvores (Gn 1.29-30), e a única restrição
que Deus fez para o mantimento e a alimentação, Adão desconsiderou.
Adão tinha o livre-arbítrio na escolha de qual fruto comería. Po­
rém, Deus havia dito que, no dia em que ele comesse do fruto daquelas
árvores, certamente morrería. Adão não sabia o que era morrer, ele era
o primeiro homem e ninguém havia morrido antes dele. Isso nos ensina
que podemos até não conhecermos a dimensão da consequência que o
pecado pode gerar, mas é melhor não pecar, do que pecar por não saber
o tamanho da consequência.
A serpente veio até a mulher (o nome Eva ainda não tinha sido
dado) e a persuadiu para que comesse da Árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal. É interessante destacar que a Bíblia não chama de “uma
serpente”, mas sim de “a serpente” fazendo alusão ao próprio Diabo, que
no Apocalipse é a antiga serpente (Ap 12.9). A queda de Eva começou
quando “respondeu a serpente” (Gn 3.2-3). Conversar com a tentação sem­
pre será perigoso. Ela comeu e deu a Adão, e este comeu com ela (Gn 3.6).
Quando Deus proibiu que se comesse daquele fruto, Eva ainda
não tinha sido criada. A ordem de Deus havia sido dada para Adão (Gn
2.15-17). Não há como afirmarmos que se apenas Eva tivesse comido do
fruto não teria acontecido o que aconteceu, mas penso que se Adão não
tivesse cedido a aquela proposta o fim da história teria sido diferente.
Infelizmente, Adão não havia entendido que o compromisso de Deus era
com ele. Ele era o sacerdote, o líder do lar. Eva errou por estar distante
de Adão, e Adão errou por não entender que a santidade devia ser um
compromisso pessoal.
Deus não havia feito o homem para o pecado, mas também não
podería privá-lo de sua própria decisão. Deus queria que os seres hu­
manos o amassem e lhe obedecessem livre e espontaneamente e não
que fossem programados como robôs sem qualquer outra opção a não
ser a obediência. Deus não queria o homem apenas como servo, queria
principalmente como amigo, e uma amizade não pode ser imposta. Esse
desejo era tão forte em Deus que ele vinha ao jardim para estar com
Adão. Deus dialogava com Adão (Gn 1.28-30). O desejo de Deus em ter
comunhão com Adão era tão grande que em vez de ser Adão que ia à
presença de Deus, era Deus que desejoso em ter o homem como amigo
vinha até Adão (Gn 3.8).
Curiosamente, na lei eram dez os mandamentos e o homem possuía
a inclinação ao pecado. No Éden Adão não possuía a inclinação para o
pecado, e era um só mandamento (não coma da árvore), e mesmo assim
Adão decidiu pecar. Há aqui um princípio estabelecido por Deus: o princí­
pio da fidelidade como uma decisão. Adão tinha tudo para ser fiel, porém
preferiu não o ser.
Após pecar seus olhos foram abertos, e eles perderam a inocência.
Percebendo então que estavam nus, tomaram folhas de figueiras para co­
brirem sua nudez. As folhas de figueiras estão entre as maiores folhas en­
contradas em toda a região da geografia bíblica, e poderíam fornecer cer­
ta cobertura ao envergonhado casal. Antes da queda, Adão era revestido
de glória, fundamentalmente, vestes passaram a ser lembrança da culpa.
Gênesis 3 descreve o pecado de Adão. A comunhão com Deus e a su­
jeição ao criador, mostradas com frequência nos dois primeiros capítulos,
são repentinamente destruídas. Deus se apresenta no Éden, e eles aos se
esconderem são questionados por Deus sobre onde estavam. Interessante
que Adão responde: “Ouvi a tua voz so a r no jardim , e temi, porque estava
nu, e escondi-m e”. O Diabo havia dito que ao comer do fruto eles seriam
semelhantes a Deus. A tentação pelo “poder” de ser semelhante a Deus
fez com que se esquecessem de que já eram “à im agem e sem elhança de
Deus”. Agora, além de perder a santidade de Deus, passaram a ter medo
até da voz do Criador (Gn 3.8).
Deus puniu a serpente fazendo dela a partir daquele momento
um ser rastejante. A serpente é o único animal de esqueleto ósseo que
rasteja (Gn 3.14). O que sugere que possivelmente de alguma forma a
serpente se movimentava sem se rastejar.
Deus puniu a Eva multiplicando grandemente suas dores de parto
(Gn 3.16). É possível que pelo menos Caim já houvesse nascido, pois Deus
disse que multiplicaria as dores de parto e só pode ser multiplicado algo
que já existe.
A punição de Deus para o pecado de Adão também é declarada em
termos bem claros. As duas áreas em que ele era tão claramente distinto
dos animais foram afetados pelo castigo: o seu trabalho passou a ser do­
loroso e ele perdeu grande parte do seu domínio sobre os animais. Além
disso, Deus o disse que para o pó do qual ele havia vindo, voltaria nova­
mente (Gn 3.19). O homem agora morrería, pois esse seria o salário do seu
pecado (Rm 6.23). No entanto, para Adão, pior do que morrer foi ver Caim
matar Abel, sofrendo assim a dor da consequência do seu erro dentro da
sua própria casa com a morte do seu amado filho. Talvez nesse momento
Adão tenha se lembrado do aviso divino: “no dia que com eres do fruto,
certam ente m orrerás”.
Após o castigo de Deus ter sido lançado sobre eles, chamou Adão o
nome de sua mulher: Eva. Deus os expulsou do Jardim, e colocou queru­
bins guardando a entrada do Éden, não permitindo mais que o homem
tivesse acesso a ele. Afinal, a Árvore da Vida ainda estava lá.
O fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal servia para
gerar a consciência e o desejo pelo pecado no homem, enquanto que o
fruto da Árvore da Vida servia para o homem viver para sempre, ge­
rando assim a imortalidade. Seria terrível se o homem tivesse comido
também do fruto da Árvore da Vida, pois assim vivería para sempre na
prática do pecado, por isso Deus fechou o jardim, impedindo o acesso à
Árvore da Vida. Em Apocalipse 22.2 João viu a Nova Jerusalém que des­
cia do céu, e “no meio da praça estava à Árvore da Vida”. O céu é melhor
do que o Éden. Além de no céu existir a Árvore da Vida, não haverá lá a
Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, e o diabo e a morte já estarão
destruídos (Ap 20.10-14).
A Bíblia nos diz pouca coisa a respeito de Adão e Eva após terem sido
expulsos do Éden. Caim foi o seu primeiro filho, depois teve Abel e aos 130
anos nasceu Sete, e depois gerou filhos e filhas, e morreu aos 930 anos (Gn
5.3-5). Certa tradição judaica conta que Adão e Eva tiveram ao todo 60 filhos,
33 filhos e 27 filhas durante os 930 anos que Adão viveu.
Em Lucas 3.38, Adão encabeça a genealogia que leva até Jesus. En­
quanto que a genealogia sugerida por Mateus começa por Abraão (Mt
1.1). Isto se dá porque Lucas era gentio, e Mateus era Judeu. Enquanto
que Mateus via a salvação para os Judeus desde Abraão, Lucas conseguiu
enxergar a salvação para toda a humanidade desde Adão.
Paulo estabeleceu o contraste entre o primeiro e o segundo Adão
(Rm 5.12-2; ICo 15.22-45), vinculando a origem do pecado ao primeiro
Adão, e a redenção, ao segundo Adão (Jesus Cristo). O último Adão é uma
pessoa histórica indiscutível, ficando claro que isso se dá também com
o primeiro.

Nome hebraico, significa “Festa’'.

Ageu é o décimo dos doze “profetas menores”, que eram assim


chamados não devido à sua importância, mas ao volume de seus escri­
tos. Quase nada se sabe sobre seu passado, sua genealogia, local de nas­
cimento e acontecimentos envolvendo sua vida. A palavra Ageu parece
ter derivado do termo hebraico que significa festividade, provavelmente
porque seu nascimento coincidiu com a data de uma das festas judaicas.
Em 538 a.C. os judeus começaram a voltar do exílio na Babilônia.
Ao chegarem a Jerusalém, começaram a tentar retomar o ritmo normal
da vida reconstruindo suas casas. Muitos judeus que tinham conseguido
desenvolver carreiras bem-sucedidas ou atividades comerciais na Babi­
lônia estavam relutantes em abandoná-las pela perspectiva de um futu­
ro desolador e não promissor na Palestina. Entretanto, pode-se concluir
que a maioria dos que retornaram à Judeia foram motivados mais pelo
zelo do que por posses comerciais.
Dois anos depois, em 536 a.C., foram lançados os alicerces para
reconstruírem o templo que havia sido destruído por Nabucodonosor.
Os mais novos exultavam com a construção do novo templo, pois não
conheceram a glória do templo construído por Salomão, enquanto que
os mais velhos choravam (Ed 3.8-13).
Porém, o povo desanimou na construção do novo templo e a inter­
rompeu de 536 até 520 a.C. Durante aproximadamente dezesseis anos, o
povo não teve ânimo e forças para retomar os serviços. Foi nesse momento
que Deus usou Ageu com uma mensagem motivadora aos que estavam de­
sanimados e parados. Calcula-se que Ageu profetizou de agosto a dezembro
de 520 a.C., no segundo ano de reinado do rei Dario I, rei da Pérsia. Seu mi­
nistério como profeta durou apenas quatro meses. Porém, mais importante
do que o tempo de duração, foi a eficiência com a qual exerceu a tarefa que
Deus confiou a ele. Seu ministério pode ser considerado como o ministério
da esperança, suas palavras foram fontes de ânimo.
Provavelmente Ageu tenha conhecido a glória do templo de Salo­
mão antes do exílio (Ag 2.3). O primeiro livro profético dos tempos pós-exí-
licos foi o de Ageu, o qual registra quatro discursos dirigidos aos judeus
durante os quatro meses do seu ministério. A comunidade judaica dali,
com dezoito anos de existência, também estava desencorajada devido ao
fracasso das colheitas, a seca e a hostilidade das populações vizinhas, a
ponto de alguns já estarem intentando voltar para a Babilônia. Por isso,
Ageu repreendeu-os por terem deixado o templo semidestruído.
Para Ageu, os problemas da comunidade estavam ligados ao fato de
a casa do Senhor ainda continuar em ruínas. Era por esse motivo que as co­
lheitas eram magras e seus campos assolados pela seca. Se desejassem que
fosse restaurada a prosperidade, eles deveríam “subir a montanha, trazer
madeira e reconstruir a casa” (Ag 1.8). Esse entendimento de Ageu asso­
ciando à mentaüdade das pessoas com a realidade da cidade de Jerusalém
pode nos ensinar um princípio: o nível de espiritualidade das pessoas de
um lugar determinará como será esse lugar.
Ageu foi diferente dos outros profetas reformadores que profetiza­
ram antes do exílio. Ele era mais sacerdotal no caráter, enfatizava mais a
adoração no templo e o cumprimento da lei na vida, como o caminho para
maior prosperidade.
O profeta Zacarias foi contemporâneo de Ageu. Os dois não somente
estabeleceram o impulso necessário para a reconstrução do templo (Ed 5.1),
como também permaneceram envolvidos no projeto até sua finalização, qua­
tro anos mais tarde (Ed 6.14-15). Ageu não faz menção a essa fase posterior da
reconstrução. No entanto, os anciãos presentes na dedicação lembraram-se da
glória do templo anterior. O atual jamais seria comparado com aquele.
Embora pouco se saiba sobre o chamado “segundo templo”, que foi
construído após a exortação de Ageu, ele sobrevivería por aproximada­
mente 600 anos, dois séculos a mais do que durara o primeiro templo. No
entanto, não era esse tempo maior de duração que representava a expres­
são "a glória desta última casa, será m aior que a da prim eira” (Ag 2.9). Na
verdade, essa profecia apontava diretamente para Cristo. Em 19 a.C. He-
rodes começou a restaurar esse templo. A profecia de Ageu faz referência
à “glória”, e o que representava a glória de Deus no meio do seu povo no
Antigo Testamento era a Arca da Aliança, que havia desaparecido em 586
a.C., na invasão de Nabucodonosor a Jerusalém. Que glória, então, seria
essa que Ageu estava profetizando, já que a Arca da Aliança não existia
mais? Essa glória era uma alusão ao próprio Messias, que foi apresentado
nesse mesmo templo, após a restauração por Herodes (Lc 2.25-32).
A profecia de Ageu, contudo, encorajou os trabalhadores a antecipa­
rem um dia no futuro, que seria mais glorioso que a dedicação do presente
templo. Ageu visualizou aquele que atrairía a riqueza e a adoração das na­
ções (Ag 2.6-9). E, na pessoa de Zorobabel, viu uma figura messiânica que
governaria sobre os reinos, como o rei. (Ag 2.20-23).

Amós Nome hebraico, significa "Carregador de fardos

Amós foi o terceiro dos doze profetas menores, embora fosse o


primeiro em ordem cronológica e o primeiro dos profetas “escritores”.
Profetas anteriores como Elias e Eliseu eram mais conhecidos por seus
feitos do que por suas mensagens, e não haviam deixado nada escrito
para a posteridade. Amós, no entanto, começou a tradição dos profetas
escritores. Ele Nasceu em Tecoa, uma aldeia a quinze quilômetros ao sul
de Jerusalém, pertencendo assim, a Judá, Reino do Sul. Ele nada cita sobre
sua família ou linhagem. Ele era pastor (Am 1.1), trabalhava com bois
(Am 7.14-15) e era cultivador de sicômoros. O sicômoro é uma espécie de
figo silvestre, e são capazes de produzir até seis vezes ao ano. Sendo que,
é inferior ao figo comum, e é consumido principalmente pelos pobres.
No entanto, é possível que essa posição mais modesta tenha sido
por escolha pessoal, não por nascimento. Naqueles dias, a maioria dos
pastores e fazendeiros era iletrada, mas a linguagem que Amós usa é so­
fisticada e poética, e sua fraseologia e referências bibliográficas indicam
uma excelente educação. Entretanto, muitos estudiosos acreditam que
ele era um rico proprietário de ovelhas e de plantações de figos silves­
tres, e não um pastor comum. Isto devido ao fato de ele se apresentar em
Amós 1.1 como “um dos pastores de Tecoa”, e usou a palavra noqed, “fa­
zendeiro de ovelhas reais”, e não o termo mais comum r a ’ah, “pastor”.
Só há mais uma referência desse termo na Bíblia, em 2 Reis 3.4, para se
referir ao rei de Moabe como proprietário de rebanhos de ovelhas. A
importância disso está no fato de que Deus chamou um homem ocupado
e próspero, e separou-o de seus interesses seculares, para realizar uma
missão entre os israelitas, o rebanho de Deus, errante e pecaminoso.
A vida tranquila de Amós foi perturbada por uma série de visões
que o levaram à conclusão de que Israel estava prestes a ser aniquilada
como nação, a despeito de afirmar-se sob a perpétua proteção de Deus. A
sua familiaridade com a vida rural se encontra refletida na sua escolha de
palavras usadas mediantes as visões: leão, urso e cobra (5.19), gafanhotos
e ervas (7.1), e cestos de frutos de verão (8.1).
Três afirmações em Amós 1.1 indicam a época em que ele viveu:
Prim eira: Uzias era o rei de Judá. Segunda: Jeroboão era o rei de Israel.
Terceira: Dois anos antes do terremoto. As atividades sísmicas são ocor­
rências comuns na Siro-Palestina. A região fica sobre uma fenda na pla­
ca tectônica do Jordão, que se estende desde Damasco até o golfo de
Ácaba, portanto, está sujeita a movimentos periódicos da terra. Há evi­
dências de um grande terremoto de grandes proporções no sedimen­
to da escala 6 nas escavações em Hazor, datando aproximadamente de
760 a.C. É possível que esse se trate do terremoto mencionado aqui pela
combinação de datas com os reinados de Uzias e Jeroboão. Sendo assim,
Amós recebeu o chamado de Deus em aproximadamente 762 a.C.
Esse chamado era para que ele saísse de Judá e fosse até Israel
para profetizar contra o paganismo e os excessos morais daquele povo.
Ele avisou a todos a respeito do desastre iminente que viria pelas mãos
dos assírios, caso não se arrependessem. Ele pregava de forma veemente
contra a corrupção religiosa e social de Israel, avisando os israelitas que
caso eles não se voltassem para Deus, cairiam nas mãos dos assírios. Ele
chamou as mulheres de Samaria de “vacas de B asã que oprim iam os po­
bres e esm agavam os necessitados” (Am 4.1). Acusando-as de exigir que
seus maridos as cobrissem de luxo e, portanto, forçando-os a explorar
os pobres. Essas vacas eram de uma região famosa pela excelência do
seu rebanho na Transjordânia, as margens do rio Iarmuque (Dt 32.14).
Amos comparou essas vacas com as autoindulgentes esposas dos nobres e
mercadores abastados de Samaria. Nem as vacas, nem aquelas mulheres
eram capazes de enxergar além das suas próprias necessidades egoístas e
desejos (compare com Isaías 3.16). Aquelas mulheres como vacas pastan­
do completamente absortas, não conseguiam sequer imaginar que o povo
podia estar morrendo de fome enquanto que elas pediam outro cálice de
vinho ou mais uma refeição extravagante. Elas haviam aprendido a amar
e praticar a injustiça e a desigualdade social.
Os ricos estavam dispostos a ficarem mais ricos a qualquer custo
(2.6-7). O descontrole moral era desenfreado. A embriaguez e a permis-
sividade sexual estavam em um nível abominável (2.7,8). A perversão
religiosa era absurda. E infelizmente, para a maior parte da população,
a idolatria era considerada algo normal (2.8). Os fiéis, entretanto, eram
ridicularizados, punidos e objetos de zombaria (2.12).
Amós negou-se ser chamado de profeta (Am 7.14), provavelmente
para não ser confundido com os muitos profetas profissionais que “fazem
o meu povo se desviar dizendo lhe ‘Paz’, quando não há paz” (Ez 13.10).
Obviamente, ele respeitava a instituição do ministério profético e se via
como alguém que preenchia essas responsabilidades, mas ignorava os
profetas mercenários que se autoproclamavam como tal, vendendo seus
“serviços” para quem pagasse mais, profetizando aquilo que seus patro­
cinadores queriam ouvir. Israel estava repleto de profetas, tanto os falsos
quanto os fiéis, mas os fiéis se calavam com medo. Assim, o leigo Amós de
Judá foi chamado para falar em nome de Deus para Israel.
É relevante o fato de Amós sempre se referir ao Senhor como
“Deus dos Exércitos” ou “Senhor Jeová”, e jamais “Deus de Israel” (devi­
do ao comportamento dos israelitas para com Deus naquela época), que
era a forma usual para se referir a Deus.
Embora tivesse profetizado no Reino do Norte (Israel), suas pro­
fecias foram endereçadas a todo o povo israelita, do norte e do sul, de
Israel e de Judá (Am 1.1; 2.4), incluindo uma denúncia contra todas as
nações que se recusavam a adorar a Deus de maneira certa e corrom­
piam seus caminhos (Am 1.3,6,9,11; 2.1,4,6).
Ao que parece o ministério de Amós durou apenas algumas sema­
nas, no entanto, foi um ministério bem-sucedido, pois independente do
tempo que levou, cumpriu tudo o que Deus o havia chamado para fazer.
O único local citado em suas mensagens é Betei, um dos principais
lugares de adoração estabelecidos por Jeroboão I, logo depois da divisão
do reino em 931 a.C. (lRs 12.29-33). Esse ato ímpio de criar locais ilegí­
timos para adoração, a fim de competir com o único lugar autorizado
pelo Senhor (Jerusalém), resultou em uma profecia de que o altar de Be­
tei seria destruído e seus sacerdotes mortos (lRs 13.1-3). Isso aconteceu *
como parte das reformas realizadas pelo rei Josias, 300 anos mais tarde •
(2Rs 23.15-16), e o próprio Amós ajudou a preparar o caminho para que .
o culto de Betei fosse denunciado (Am 3.14; 5.5). *
Por causa da sua firme mensagem, Amós foi expulso de Betei por .
Jeroboão II e seu sacerdote Amazias, sob as acusações mentirosas de que *
ele visava apenas o ganho financeiro e estava construindo uma conspi- •
ração contra o rei (Am 7.12). Atingido por essa interpretação equivocada *
de suas motivações, Amós replicou que “não era nem profeta, nem filho •
de profeta” (Am 7.14), mas sim, um homem de negócios que Deus tinha *
chamado. Com essa alegação, Amós estava mais uma vez desfazendo •
qualquer conexão entre eles e os profetas “profissionais”. .
Amós, com isso, estava revelando uma verdade com a sua vida. *
Aqueles que são chamados e comissionados por Deus não precisam de >
credenciais formais nem qualificações religiosas, para serem bem-suce- *
didos em cumprir seus propósitos. Deus usa homens, não funções. •
Após ter cumprido a sua missão, Amós retornou a Judá, onde pode *
ter compilado o registro escrito de seus oráculos. No entanto, perma- •
necem desconhecidos o tempo e os motivos da sua morte, assim como *
qualquer detalhe subsequente de sua vida.
O tempo provou que Amós estava certo. A morte do astuto Jeroboão .
II em 746 a.C., foi seguida pela ascensão do poderoso Teglat Falasar III *
na Assíria, em 745 a.C. Israel vivenciou um declínio. O filho de Jeroboão, .
Zacarias, reinou apenas seis meses antes de ser assassinado. Isso fez com *
que a autoconfiança e a riqueza de Israel fossem esmagadas pelo exército
assírio expansionista. A crítica de Amós a Israel não visava dar apoio a *
nenhuma potência estrangeira; ao contrário, queria revelar o lado escuro •
sob a superfície brilhante da nação. I
Estevão, em seu discurso diante do Sinédrio (At 7.42-43), citou o *
trecho de Amós 5.25-27. Tiago, falando diante do Concilio de Jerusalém .
(At 15.16), citou o trecho de Amós 9.11. Essa circunstância demonstra *
naturalmente que Amós, um livro do Antigo Testamento, era considera- .
do autorizado, por judeus e cristãos do século I d.C. *
Ana Nome hebraico, significa "Graça".

A vida de Ana, embora seja mencionada apenas nos dois primei­


ros capítulos do primeiro livro do profeta Samuel, tornou-se uma das
histórias mais conhecidas da Bíblia. Ela era a amada esposa de Elcana,
um levita da linhagem de Coate, que vivia nas montanhas de Efraim, na
cidade de Ramataim-Zofim. Elcana era levita por descendência e efrai-
mita por residência. Esta Ramataim-Zofim é a famosa cidade de Ramá.
Ao que parece Ana foi sua primeira esposa, e ao ver que ela era esté­
ril, Elcana casou-se também com Penina para que pudesse ter filhos. Uma
espécie de “imortalidade” era conseguida através da continuidade da li­
nhagem genealógica. Um israelita temia “morrer” se sua linhagem fosse
descontinuada devido à ausência de filhos. A poligamia não era proibida
pela lei mosaica (Dt 21.15-17). Os fatores que impediam a poligamia eram
mais financeiros do que moral. Um rei que dispunha de muito dinheiro
e autoridade tinha grande número de esposas e concubinas. Um homem
mais pobre contentava-se com apenas duas mulheres. E um homem real­
mente pobre podia possuir apenas uma única esposa.
O valor de uma esposa para a maioria dos israelitas estava ligado
ao fato dela pode gerar filhos ou não. Porém, mesmo Penina gerando
filhos e Ana sendo estéril, Ana ainda era mais amada por Elcana do que
Penina. Isso, por certo, gerou em Penina um sentimento de “desvan­
tagem” em relação à Ana. Penina não podia afrontar Elcana, por isso
afrontava Ana, irritando-a, provocando-a e a tomando por rival, aquela
que nenhum mal lhe fizera.
Anualmente os hebreus tinham de sair de suas casas e irem adorar
e sacrificar ao Senhor em Siló. Siló ficava a aproximadamente 24 quilô­
metros de Ramataim-Zofim, essa distância representava para uma família
uma viagem de dois dias. A lei estabelecia três festas anuais que os varões
hebreus tinham de ir, essas festas eram Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos
(Ex 34.23; Dt 16.16). Elcana, pois, fazia pelo menos uma peregrinação anual.
Em Siló estava o centro da adoração nacional a Yahweh. Somente
algumas décadas mais tarde que Salomão construiu o templo em Jeru­
salém. Contudo, mesmo depois da mudança para Jerusalém, Siló conti­
nuou sendo um lugar sagrado.
Em Siló as pessoas sacrificavam ao Senhor. Exceto os holocaustos,
porções dos sacrifícios eram consumidas pelos sacerdotes e por aqueles
que os ofereciam. Oito porções diferentes dos sacrifícios cabiam aos sa­
cerdotes (Lv 6.26; 7.11-24; Nm 18.8). Essas porções eram compartilhadas
em algumas ocasiões por aqueles que traziam animais para serem sacri­
ficados. Por sua parte, as ofertas pacíficas requeriam que a gordura e o
sangue fossem entregues ao Senhor (a gordura era queimada e o sangue
derramado), mas o peito e o ombro direito do animal eram porções que
pertenciam aos sacerdotes. O restante pertencia a quem tivesse trazido o
animal para ser sacrificado e à sua família. Dessa parte que restava Elca-
na dava porções a Penina, seus filhos e dava porção dupla a Ana.
Naqueles dias, Eli era o sumo sacerdote e Hofni e Fineias (filhos de
Eli) eram os sacerdotes. Certo ano, a perseguição de Penina contra Ana foi
tão intensa que a deixou extremamente angustiada, a ponto dela apenas
conseguir chorar, não lhe restando vontade nem ao menos de comer a
porção dos sacrifícios que cabia aos adoradores. Dá-nos a entender que
sua dor era tão grande que por um instante ela deixou sua família em
umas das refeições festivas em Siló e foi ao tabernáculo orar. Ana quase
não conseguia falar, apenas chorava. Ela pranteava em voz baixa (apa­
rentemente os votos eram feitos em voz alta) e o sacerdote Eli pensou que
ela estivesse embriagada. O texto bíblico diz que “Ana, no seu coração
falava, e só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz” (ISm
1.13). Como disse John Bunyan: “É melhor orar de coração, mas sem pa­
lavras, do que orar com palavras, mas sem coração”. No entanto, Ana se
defendeu apropriadamente dizendo a Eli que ela não estava embriagada,
mas grande era a dor do seu coração e o sacerdote no mesmo instante
mudou seu posicionamento acerca dela e a despediu em paz.
O que provavelmente Ana ainda não sabia era que a necessidade
dela estava paralela a “necessidade” da casa de Deus. Ana desejava um
filho, mas Deus desejava um profeta. Um filho para Ana daria um fim à
humilhação que ela vivia em sua casa; um profeta para Deus daria um
fim à apostasia que estava acontecendo na Casa do Senhor em Siló. Hofni
e Fineias estavam desviados de Deus, moldados ao pecado e foi através de
Samuel que Deus realizou uma revolução espiritual em todo Israel.
O voto de Ana dizia que se Deus a desse um filho ela o devolvería a
Deus para que pudesse viver no tabernáculo de Deus por toda sua vida.
Não era uma decisão simples. Este voto falava sobre uma renúncia pessoal
de criar o próprio filho consigo em casa. Além disso, o filho não era só dela,
e pela lei mosaica o marido podia anular o voto da esposa caso não concor­
dasse (Nm 30). No entanto, Elcana concordou por amor a Deus e a Ana que
o voto fosse cumprido caso Deus os presenteasse com um filho. É admirável
a atitude de Elcana em concordar com a entrega a Deus de seu filho primo­
gênito com sua amada esposa. Elcana estava entregando o seu filho como
um sacrifício vivo ao Senhor.
Interessante notar que todo esse processo que Ana viveu, serviu
para consolidar sua fé e sua fidelidade a Deus. Parecia injusto uma mu­
lher de índole tão má quanto Penina, ter uma porção de filhos, enquanto
que Ana, com toda sua fé e devoção a Deus, sofria devido a sua esterilida­
de. Ana havia aprendido a ser fiel a Deus mesmo quando aparentemente
o errado estava sendo tido como certo, e o certo como errado. Uma con­
fiança incondicional havia se apoderado dela, e isso a ajudava a perma­
necer com a mesma fé em Deus, mesmo não estando vivendo aquilo que
por certo ela desejaria viver.
Deus ouviu a oração de Ana e lhe deu um filho. Seu nome era Sa­
muel. O termo hebraico sa-al quer dizer “pedido” e sam a significa “ou­
vido”, enquanto que El é um dos nomes de Deus, de modo que Samuel
significa “ouvido por Deus” ou “pedido a Deus”. De acordo com 1 Samuel
1.20, o último significado é o mais correto.
Após ter sido desmamado Ana levou Samuel a Siló e o entregou
ao sumo sacerdote Eli, lembrando-o o encontro anterior e cumprindo
assim o seu voto, para que ele vivesse por todos os dias da sua vida na
casa do Senhor. Antigamente, as mulheres israelitas amamentavam até
aproximadamente três anos de idade.
Todos os anos Ana ia a Siló e levava uma túnica de presente para
Samuel. O Senhor foi gracioso com Ana e posteriormente ela deu a Elca­
na mais três filhos e duas filhas (ISm 2.19-21). No cântico de Ana (ISm
2.1-10), Ana expressa em seu louvor que “a que tinha muitos filhos en­
fraqueceu”. Há os que interpretam essa frase como Deus abrindo a ma­
dre de Ana e fechando para sempre a madre de Penina, fazendo dela
então uma mulher estéril. A expressão “a que era estéril teve sete filhos”
talvez não seja literal, mas sim figurada, já que a Bíblia diz que após
Samuel ela teve apenas cinco filhos. A expressão “sete” aqui provavel­
mente sugira realização total, já que na Bíblia o número sete é o número
da perfeição. Ana foi uma mulher extraordinária em sua integridade, fé
e compromisso com Deus. Manteve seu voto a um grande custo pessoal
e tornou-se um modelo para todas as futuras gerações.
Ananias Nome grego, significa "Deus tem sido gracioso".

Um personagem do Novo Testamento, esposo de Safira e membro ™


da igreja em Jerusalém. Ironicamente, o nome Ananias, significa “Deus *
tem sido gracioso”, mas Ananias descobriu que Deus além de ter a graça, •
também é santo. Safira quer dizer “bela”, mas o pecado acabou tornan- .
do feio o seu coração. *
Segundo o livro de Atos, no início da igreja primitiva, a fim de po- .
der cuidar dos necessitados, praticava-se uma cultura na qual “ninguém *
considerava exclusivam ente seu o que possuía, m as tudo entre eles era co- •
mum” (At 4.32). Não havia nenhum necessitado entre eles. Os que eram *
possuidores de campos ou de casas- inclusive Barnabé - em concordân- •
cia com essa cultura cristã primitiva, vendiam suas propriedades e “lan- *
çavam o dinheiro aos pés dos apóstolos que distribuíam conforme as •
necessidades de cada um” (At 4.34-35). Isso não era uma lei, e ninguém .
era obrigado a ser liberal e generoso dessa forma, mas isso foi uma cul- *
tura que os primeiros cristãos em Jerusalém adotaram para que a igreja .
fosse também uma comunidade em que todos vivessem em comum. *
Ananias e Safira fizeram o mesmo, mas ao contrário dos outros, em •
um ato de pura cobiça retiveram parte do dinheiro, afirmando, no entanto, *
que tinham dado tudo. Pedro revelou que Ananias não havia mentido ape- •
nas para a igreja, mas principalmente ao Espírito Santo. Na mesma hora, *
Ananias foi fulminado e morreu diante do apóstolo. Três horas depois, Safira •
veio em concordância com a mesma mentira (At 5.2) - sem saber sobre o que .
havia acontecido com seu esposo - e ao repetir a mentira que eles haviam *
combinado, acabou recebendo a mesma sentença e sofrendo o mesmo juízo. .
Vale a pena lembrarmos que Pedro enfatizou que o que pertencia *
a eles, era deles (At 5.4). Eles não eram obrigados a dar nada. O pecado
não consistia em reter uma parte (o que tinham plena liberdade de fazer *
e seria aceitável caso fizessem de forma honesta a respeito do assunto), •
mas em enganar a igreja quanto à motivação que tinham. O problema .
foi o engano e a hipocrisia e não a quantidade de dinheiro. Além de que, *
provavelmente havia também uma tentativa deles de serem vangloria- .
dos na igreja, assim como a atitude de Barnabé havia trazido reconheci- *
mento. Ananias e Safira cobiçavam a aprovação que a igreja dedicava a .
aqueles que generosamente praticavam a fé do bem comum. *
Como disse George McDonald: “Metade da infelicidade do mundo de­
corre da tentativa de aparentar em lugar da tentativa de ser”. Jesus chama­
va isso de hipocrisia, que significa simplesmente “usar uma máscara” ou
“desempenhar o papel de um ator”. A hipocrisia é a dissimulação delibera­
da, a tentativa de fazer as pessoas acreditarem que somos mais espirituais
do que na realidade, é o caso. Ananias e Safira haviam assumido esse papel.
Segundo Frank Stagg, um pecado ainda mais grave podemos encon­
trar no verso 3, na tradução correta do texto. Uma sugestão de tradução para
“mentir” ali é “falsificar”. É possível traduzir assim então: “Ananias, como
é que você deixou Satanás entrar no seu coração para falsificar o Espírito
Santo?”. A acusação consistia então não só em ter mentido ao Espírito Santo,
mas em ter falsificado o Espírito, buscando representar a sua fraudulenta
ação como de certa forma inspirada pelo Espírito Santo. Assim procurava ele
fazer com que o Espírito Santo participasse de seu abominável crime.
Por certo, há quem fique estarrecido ao ler que Deus matou duas
pessoas só porque mentiram sobre uma transação comercial e sobre sua
oferta à igreja. Mas quando consideramos os elementos relacionados a esse
pecado, devemos concordar que Deus os julgou corretamente. Primeiro,
porque esta foi a primeira vez que uma transgressão grave acontecia na
igreja primitiva, então era necessária uma resposta radical contra o pecado
para que a moral fosse restabelecida e houvesse temor. Convém observar
que o Senhor sempre julgou o pecado com severidade no começo de um
novo período na história da salvação do seu povo. Por exemplo: Logo assim
que o tabernáculo foi erguido, Deus matou Nadabe e Abiú por tentarem
apresentar “fogo estranho” ao Senhor (Lv 10); Assim que os hebreus con­
quistaram Canaã, Deus matou Acã por desobedecer às ordens que Deus
havia dado para a conquista de Jerico (Js 7); E quando a igreja começou,
Deus não poderia fazer diferente; Era preciso ser estabelecido o temor, e
por causa da morte de Ananias e Safira “grande temor apoderou-se de toda
a igreja e de todos os que ouviram falar desse acontecimento (At 5.11).
Há alguns que supõe que Ananias e Safira não foram enviados à puni­
ção eterna, mas antes, foram levados desta vida para que não fossem conde­
nados junto com os infiéis. A base para esta opinião é o ensino de Paulo em
1 Coríntios 11.29-32, que diz que aqueles que forem culpados de profanar o
corpo do Senhor, seriam punidos com enfermidades ou até mesmo com a
morte, para não serem condenados junto com o mundo (nesse sentido, os
descrentes). No entanto, há pouca probabilidade desse texto ser aplicado ao
contexto de Ananias e Safira, pois essa história não descreve um caso de “dis­
ciplina eclesiástica”, mas sim, um julgamento pessoal do próprio Deus.
André foi um dos primeiros discípulos a serem chamados por Je­
sus para comporem o grupo apostólico. Nasceu na discreta aldeia de Bet-
saida, na Galileia. Era irmão de Simão Pedro. Ambos eram pescadores e
moravam em Cafarnaum (Mt 4.18). Seu pai chamava-se Jonas (Mt 16.17).
Não sabemos nada sobre Jonas, mas como no texto se usa o patrônimo
(nome que identifica o pai) podemos assumir que era um homem com al­
guma importância na comunidade. Era provavelmente um pescador (era
comum um filho seguir a profissão do pai), e devido ao fato de Pedro ter o
seu próprio barco, podemos pressupor que a família era muito próspera.
É provável que André e Pedro, por serem de Betsaida e de uma família
de classe média, falassem grego e também aramaico, sua língua nativa. Eles
podem ter aprendido um pouco de latim com os romanos, embora o grego
deles fosse suficiente para conversar com a maioria dos romanos, uma vez
que todos os romanos instruídos falavam o grego fluentemente. Os romanos
amavam tudo o que era grego, e os romanos de classe alta preferiam usar o
grego, e não o latim, uma língua que consideram inferior. O povo falava la­
tim, mas os romanos de classe média e alta falavam grego. Embora todos co­
nhecessem o latim, eles eram julgados socialmente pelo domínio que tinham
do grego (língua dominante da época, assim como o inglês nos nossos dias).
Isso se torna mais evidente pelo fato de André ser judeu, e o seu
nome ser grego. Na época, os gregos, e depois os romanos, controlaram
toda aquela região por pelo menos três séculos.
André foi discípulo de João Batista (Jo 1.35,40), que estava pregando
e batizando perto do Rio Jordão. Quando João Batista estava pregando em
Betânia, do outro lado do Jordão (Jo 1.28), André, como muitos dos seus con­
terrâneos, deixou de lado seu trabalho cotidiano e foi ouvir o famoso prega­
dor. Quando João Batista apontou a Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo (Jo 1.29,36), André tornou-se convencido de que Jesus era
o Messias (Jo 1.41), e foi através desse acontecimento que André apresentou
seu irmão Simão Pedro a Jesus (Jo 1.42).
Aparentemente, André e os demais seguidores alcançados em Betâ­
nia permaneceram com Jesus durante os eventos registrados em João 1.43
- 4.54. Se assim for, André foi um ávido participante naqueles eventos e
participou do batismo registrado em João 3.22; 4.2.
Quando Jesus retomou para Galileia, André reassumiu seu trabalho
como pescador. Aproximadamente um ano depois, quando Jesus estabeleceu
seu “quartel-general” em Cafarnaum (Mt 4.13), Jesus chamou a André e Pedro
para deixarem seu negócio de pesca e tomarem-se seus discípulos a fim de
serem “pescadores de homens” (Mt 4.18-20; Mc 1.16-18).
Simão Pedro, André, Tiago e João, eram pescadores e trabalhavam
juntos (Mt 4.18-22). Foram chamados por Jesus para serem discípulos no
mesmo dia. Porém, existem algumas informações relevantes que preci­
sam ser consideradas aqui: A partir do momento que André apresenta
Pedro a Jesus, André sai de cena, e seu irmão passou a ter proeminência.
Toda vez que o relacionamento dos dois é mencionado, André é sempre
descrito como o irmão de Simão Pedro, e nunca o contrário (Mt 4.18; Mc
1.16; Jo 1.40). Se Pedro, André, Tiago e João foram chamados juntos, por
que apenas Pedro, Tiago e João iam aos lugares mais importantes com
Jesus? Na casa de Jairo, no monte da transfiguração, entre tantos outros
lugares Pedro, Tiago e João foram, e André não. Por quê? Será que ele
era mais jovem do que Pedro e os dois filhos de Zebedeu? Será que ele
era o líder designado para supervisionar os oito discípulos restantes?
Não há como respondermos a isso. Nós, talvez, nos sentiriamos tris­
tes pela limitação do aceso a Jesus em alguns momentos. André, porém,
fez diferente. André se tornou o discípulo que mais levou pessoas a Je­
sus. Ele quem levou Pedro a Jesus. Na multiplicação dos pães e peixes ele
quem levou o menino com cinco pães e dois peixes a Jesus (Jo 6.8). Quan­
do alguns gregos queriam conhecer Jesus, foi André que os conduziu até o
mestre (Jo 12.20 em diante). André havia entendido que Jesus ama e cuida
de todos, tem os seus escolhidos para o ministério de forma mais direta,
porém, sempre haverá amplo espaço para alguém que deseja viver a sua
vida levando pessoas a Cristo!
Ainda nos dias de hoje há muitas pessoas que se “ferem” e desis­
tem de algo, por não fazer parte de algum “grupo especifico”, enquanto
que deviam se alegrar pelo simples fato de terem sido escolhidos por
Jesus e com isso levar o máximo de pessoas a ele.
No início da igreja primitiva André foi uma pessoa ativa no minis­
tério, sendo sempre incluído entre os apóstolos mencionados, e inclusive
entre os que estavam no cenáculo no dia de Pentecostes (At 1.13).
A partir desse momento, tudo o que sabemos sobre André é fruto de
tradições e lendas religiosas espalhadas por alguns lugares do mundo. A tra-
dição medieval desenhou a figura de André a partir do testemunho de João
1.40-42, definindo-o como o pai das missões apostólicas, embora o fato de ter
sido André que apresentou Jesus a Pedro não faz dele o principal referencial
de missionário cristão na igreja primitiva.
Uma das mais fortes tradições acerca do trabalho missionário de An­
dré, endossada pelo historiador Eusébio de Cesareia e por Nicéforo, diz res­
peito ao sudoeste da Rússia, nas regiões próximas ao mar Negro, especial­
mente nas terras outrora chamada Cítia. Em função de testemunhos como
esses, ele foi adotado como patrono do cristianismo russo.
Há relatos antigos da Igreja Ortodoxa Russa, que apresenta a se­
guinte proposta para as jornadas missionárias de André: “Após o Pente-
costes, André ensinou em Bizâncio, na Trácia, na Rússia, em Épiro e no Pe-
loponeso. Em A m isos no templo, converteu os judeus locais, batizando-os e
curando seus enfermos. Edificou ali uma igreja e deixou-os em com panhia
de um sacerdote. Na Bítinia, pregou a palavra, curou os enferm os e expul­
sou os dem ônios que os perturbavam . Suas orações destruíram os templos
pagãos, e aqueles que se opunham à sua palavra acabavam oprim idos e
atorm entados em seus corpos até que fossem p or ele libertos e curados...”.
Essa tradição russa sobre as rotas missionárias de André está em-
basada na autoridade de vários autores patrísticos. Gregório de Nazianzo
afirma, por exemplo, que André esteve em Épiro; Teodoreto ressalta sua
passagem pela Grécia, enquanto que Jerônimo diz que ele pregou na Acaia.
Nicéforo amplia a üsta, incluindo Capadócia, Bítinia, Galácia, Bizâncio, Trá­
cia, Macedônia e Tessália, além da já mencionada Cítia, em suas regiões
desérticas. Há até um conto, chamado de “Atos de André” que diz que ele
resgatou Matias de um grupo de canibais. Não se pode negar que a maior
parte dos relatos sobre as missões de André englobou a Palestina, a Ásia
Menor, a Macedônia, a Grécia e as regiões próximas ao Cáucaso.
Entretanto, é para a cidade de Patras, na Grécia que repousam as
mais antigas narrativas referentes ao seu apostolado. Ali, após evangeli-
zar e converter Maximila, esposa de um Procônsul romano local chama­
do Egates, André foi crucificado como mártir a mando do Procônsul em
uma cruz em forma de “X”. Em virtude dessa tradição, a cruz em “X” ou
cruz decu ssata (como era chamada), passou a ser associada ao apóstolo
e chamada de "Cruz de Santo André".
Por causa dessa tradição ele também se tornou o santo patrono da
Grécia. As tradições se multiplicam afirmando que seu corpo foi transferi­
do para Constantinopla (atualmente chamada Istambul, na Turquia), e dali
para a Itália durante as cruzadas da Idade Média. Uma tradição posterior diz
que um de seus braços foi trazido para a costa oriental da Escócia, por Regu­
lo, tomando-o, ainda, o santo patrono deste país. No entanto, isso não é tão
importante, se comparado às muitas lições poderosas que aprendemos com
André durante seu tempo de vida.
Boa parte da tradição grega e latina defende que o martírio de
André em Patras, na Grécia, teria ocorrido entre os reinados de Nero e
Vespasiano em Roma, por volta de década de sessenta do primeiro sécu­
lo da era cristã.

Apoio Nome grego, provavelmente significa “Força".

Apoio foi um judeu cristão e eloquente pregador no tempo das


viagens missionárias do apóstolo Paulo. Além de eloquente, Apoio era
também “ferv o ro so de espírito” (At 18.25). Apoio nasceu e foi educado na
“segunda Atenas” de sua época, isto é, a cidade de Alexandria, no Egito,
e figurou entre o limitado número de judeus que possuíam cidadania
alexandrina. Alexandria era um dos grandes centros do mundo helêni-
co da época.
Acredita-se que Apoio pertencia ao mais elevado quadro social da
famosa cidade de Alexandria, devido aos termos citados por Lucas em sua
breve, mas altamente informativa descrição em Atos 18.24-28. Como ho­
mem “instruído”, recebeu por certo alto nível de instrução em sua forma­
ção na valorizada educação grega. Lucas diz que Apoio era “poderoso” no
uso das escrituras, o que indica uma alta capacidade de lógica e persua­
são. Pelo padrão do primeiro século, é apresentado como um formidável
judeu cristão, apologista e debatedor, e sabia combinar seu conhecimento
exaustivo do Antigo Testamento com sua alta educação secular na arte
da retórica. Apoio se destacou no contexto em que viveu, principalmente
porque havia outros pregadores, dos quais, em termos de educação for­
mal, eram descritos como “sem letras e indoutos” (At 4.13).
Seu ensino dizia respeito ao batismo de João Batista para o arrepen­
dimento. Ele havia sido instruído nos caminhos do Senhor (At 18.25), pre­
sumivelmente pelos discípulos de João Batista. A mensagem de João tinha
se espalhado além das fronteiras da Judeia, até o Egito e a Ásia Menor.
Em aproximadamente 52 d.C., Apoio foi de Alexandria para Éfeso,
na Ásia Menor. Ali ele começou a pregar de forma corajosa e aberta na
sinagoga. Quando Paulo chegou a Éfeso encontrou lá uma pequena co­
munidade cristã de doze pessoas que haviam se convertido através de
Apoio. Esses doze irmãos somente conheciam o batismo de João e ainda
não tinham ouvido falar do Espírito Santo (At 19.1-7).
Apoio sabia e pregava sobre a vinda messiânica de Jesus, mas a co­
nhecia apenas por meio da mensagem do precursor de Jesus, João Batista.
Áquila e Priscila - que eram amigos de Paulo - ouviram Apoio pregar em
Éfeso e perceberam que ele não havia ouvido acerca do que acontecera
com Jesus após o seu batismo. Eles perceberam que a mensagem de Apoio
não era incorreta, mas era incompleta. Então, eles o chamaram de lado,
e em particular preencheram as lacunas no conhecimento dele, explican­
do-lhe a vida do Senhor Jesus mais detalhadamente. Até então, Apoio era
convencido apenas do valor do batismo de João e de sua mensagem iden­
tificando Jesus como o Messias. Ele evidentemente não estava informado
sobre ensinamentos como a justificação pela fé em Cristo ou a obra do Espí­
rito Santo na salvação. Como qualquer discípulo de João Batista na época,
Apoio não havia tomado conhecimento da existência do grupo apostólico,
assim como também provavelmente não sabia sobre os eventos finais da
vida de Jesus, inclusive sua morte, ressurreição, ascensão ao céu e sobre
a descida do Espírito Santo no dia de pentecostes. Nesses pontos, Áquila
e Priscila, tendo vivido e trabalhado com Paulo, foram capazes de ajudar
Apoio em um entendimento completo sobre a vida e o ministério de Cristo.
Logo depois das instruções de Áquila e Priscila, Apoio partiu de
Éfeso para a província romana da Acaia, na Grécia, com cartas de reco­
mendação dos cristãos de Éfeso, pedindo aos discípulos daquela provín­
cia (mais precisamente de Corinto) que recebessem Apoio dando-lhes
boas-vindas como um irmão na fé. Nessa época Áquila e Priscila eram
o elo entre as duas igrejas (At 18.2). Na chegada, ele refutou os judeus
vigorosa e publicamente, usando o seu vasto conhecimento do Antigo
Testamento para provar que Jesus era o Messias.
No entanto, com base na primeira carta aos Coríntios, fica claro que
havia algumas divisões internas que estavam atrapalhando a unidade da
igreja daquela cidade. Uns diziam ser de Paulo, outros diziam ser de Cris­
to, uns diziam ser de Cefas (Pedro) - embora aparentemente Pedro nun­
ca tivesse ido a Corinto, certamente aquela igreja conhecia a fama dele
que foi um dos principais discípulos de Jesus - e ainda uma das facções
que dividia a igreja em Corinto era um grupo de cristãos que diziam ser
de Apoio, embora ele mesmo não fosse diretamente responsável por isso
(ICo 1.12; 3.1-4). Na verdade, aparentemente alguns cristãos de Corinto
diziam que Paulo não possuía nem a presença carismática de Apoio - pois
a presença física de Paulo provavelmente era discreta - nem o seu estilo
eloquente. A eloquência de Apoio havia impressionado tanto aos corín-
tios, que Paulo chegou a enfatizar que ele mesmo não agiu dessa forma,
ou seja, não pregou e nem falou “com sublimidade de palavras ou de sabe­
doria” (ICo 2.1), para que a fé dos coríntios “não se apoiasse em sabedoria
humana, m as sim no poder de Deus” (ICo 2.5), como sendo uma justificati­
va da diferença do estilo dele para o de Apoio.
Paulo, porém, não demonstrou qualquer ressentimento contra Apo-
lo. Em 1 Coríntios 4.6, Paulo condena a competição entre seguidores de
Paulo, de Apoio, de Cefas e de Cristo como “imatura” e “mundana”. Embo­
ra, os coríntios se preocupassem muito sobre quem era Paulo e quem era
Apoio. Paulo, ao contrário, revelou as funções distintas de cada um, des­
tacando que um plantava e outro regava, cooperando juntamente para
o crescimento da Igreja, porque apenas Deus é quem pode dar o cresci­
mento (ICo 3.5,6). Porém, tanto Paulo como Apoio eram de uma nobreza
espiritual tão grande, que nenhum dos dois reagiu ao jogo de poder dos
coríntios, mas continuaram empenhados em prol do bem-estar da igreja.
Apoio parece ter se tornado consciente do problema referente às ten­
sões na igreja de Corinto, e embora Paulo o encorajasse a visitá-los nova­
mente, ele se recusou a ir daquela vez (ICo 16.12), pois julgou que não seria
“boa ocasião”, embora considerasse que em outra oportunidade aceitaria.
Em Tito 3.13, Apoio - cuja educação também o qualificava para tra­
balhar como advogado - estava envolvido com Zenas, “um doutor da lei”
(talvez melhor entendido como um assistente legal), em Creta. Paulo pediu
a Tito que providenciasse tudo que precisassem para a jornada, isto é, as
finanças necessárias. Isso indica que Apoio ainda estava engajado no mi­
nistério cristão em tempo integral e, por esse motivo necessitava de sus­
tento (ICo 9.14). Isso, no entanto, nos mostra uma outra realidade: Apoio
poderia ter assegurado para si, uma vida abastada, devido à sua educação,
trabalhando como um eloquente orador ou advogado, entretanto, escolheu
usar seus talentos e privilégios em favor do reino de Deus, e ao fazer isso,
contribuiu grandemente para o testemunho cristão e a defesa da fé.
Ao que parece, Apoio não se sentia vocacionado para o trabalho pio­
neiro de plantar novas igrejas. Tudo indica que ele preferia empregar seus
esforços no fortalecimento de igrejas já estabelecidas (At 18.27).
É pensamento de alguns eruditos que a epístola aos Hebreus foi es­
crita por Apoio. Isso é possível, considerando-se a elevada qualidade do
grego - o que era sinal da elevada erudição de Alexandria - e ao alto conhe­
cimento do Antigo Testamento que o autor da carta aos Hebreus possuía. O
autor dessa carta não foi apenas alguém que conhecia o Antigo Testamen­
to, mas foi alguém que conhecia o Antigo Testamento na visão judaica. Hoje
por exemplo conhecemos o Antigo Testamento na visão cristã, enquanto
que conhecê-lo na visão judaica é totalmente diferente. Esse conhecimento
judaico é bem exposto nas expücações sobre o tabernáculo e a pessoa de
Cristo, a expiação, o sacerdócio de Melquisedeque, etc. Martinho Lutero,
por exemplo, argumentava que Apoio era o autor desta carta, no entan­
to, não existem evidências e provas convincentes que comprovem isso, e a
autoria da carta aos Hebreus continua sendo desconhecida por todos nós.

Arão Nome hebraico, significa "Iluminado".

Arão foi conhecido como o líder ou pai dos sacerdotes hebreus.


Era descendente de Levi, filho de Anrão e de sua esposa Joquebede (Êx
6.20), e foi o primeiro sumo sacerdote de Israel. Arão foi o irmão mais
velho de Miriã, ele tinha três anos quando seu irmão Moisés nasceu
(Êx 7.7). Arão e sua esposa Eliseba tiveram quatro filhos: Nadabe, Abiú,
Eleazar e Itamar. Os dois primeiros morreram diante do altar do Senhor
(Lv 10.1-2). O sacerdócio foi então transferido aos outros dois irmãos,
Eleazar e Itamar, que também por vezes fracassaram em cumprir com
precisão as instruções divinas (Lv 10.6-20). Depois da morte de Arão, a
sucessão passou para Eleazar (Nm 20.26).
Pouco se sabe sobre sua vida até Moisés receber a incumbência
de libertar o povo hebreu. Ele tinha cerca de oitenta e três anos quando
foi designado por Deus para poder ajudar Moisés. Deus escolheu Moisés
para liderar, mas, ao que tudo indica, Moisés possuía alguma limitação
na sua fala. O fato de Moisés ser “pesado de língua” pode indicar tanto
uma gagueira, uma dificuldade na pronúncia do idioma devido aos qua­
renta anos que ele esteve ausente do Egito ou até certa brutalidade no
falar. A primeira opção parece ser a mais indicada. Arão era uma voz
para as palavras de Moisés.
Há uma tradição rabínica antiga que diz que Arão foi um líder em
meio ao seu povo durante os anos de escravidão no Egito, agindo como pa­
cificador, além de ser o porta-voz deles. Em algum momento, ele escapou do
Egito ou foi enviado para fora dessa nação em alguma missão, pois quando
Moisés estava falando com Deus no Monte Sinai, na sarça ardente, o Senhor
lhe disse que Arão, naquele exato momento, ia ao encontro de Moisés (Êx
4.14). Essa tradição ainda diz que ele foi enviado para contar a Moisés que o
faraó que procurava matá-lo já havia morrido, e ele podia voltar ao palácio.
Para os egípcios, os escravos fugitivos não representavam grandes proble­
mas. Poucos fugitivos sobreviviam ao deserto, por isso não havia tanta segu­
rança entre os escravos.
Moisés havia saído do Egito há quarenta anos, portanto, quando
ele retornou ao Egito, havia poucos hebreus e egípcios que o conheciam.
Arão, um eloquente porta-voz, apresentou-o às autoridades israelitas e
explicou-lhes sua missão. Moisés realizou os milagres que Deus o mos­
trou, transformando sua vara em serpente e fazendo com que sua mão
ficasse leprosa e, a seguir, limpa de novo. Mesmo alguns apresentando
alguma resistência, o povo acreditou (Êx 4.31). Depois, Arão e Moisés fo­
ram ao faraó. Eles exigiam que os hebreus tivessem permissão de ir ao
deserto por três dias para adorar a Deus. O faraó se recusou a aceitar essa
proposta e aumentou a carga de trabalho, dizendo sarcasticamente que o
fato do povo ter tempo para fazer proposta era devido a poucas tarefas.
Entretanto, após várias recusas e dez pragas, os hebreus foram, por fim,
libertados.
Arão estava com Moisés quando Deus relevou como “passaria so­
bre" as casas dos israelitas marcados apropriadamente, poupando seus
filhos na noite em que os filhos dos egípcios morreríam (Êx 12.1-28).
Esse evento deu origem à festa da Páscoa, guardada pelos até os dias de
hoje (Êx 13.1-16).
Durante os anos de peregrinação no deserto, Arão ficou ao lado de
Moisés. Nas poucas ocasiões em que ele se opôs ao irmão, sua virtude
enfraqueceu; quando o apoiava, porém, parecia um gigante de retidão,
e a batalha contra os amalequitas é um exemplo disso. Moisés ficou no
topo de uma montanha e observou a batalha, ao passo que Josué e os is­
raelitas lutavam contra esse inimigo. Enquanto Moisés permanecia com
as mãos erguidas Israel vencia a guerra, quando ele cansado abaixava
as mãos, os amalequitas prevaleciam. Então Arão e o general Hur segu-
raram as mãos de Moisés para cima até os amalequitas serem completa­
mente derrotados (Êx 17.8-15).
Embora sempre subordinado ao irmão, Arão parece ter sido reco­
nhecido como um importante líder (Êx 18.12). Deus o convidou a estar com
Moisés quando transmitiu a lei no monte Sinai (Êx 19.24). Depois, ele, seus
dois filhos mais velhos, Nadabe e Abiú, e setenta autoridades de Israel fo­
ram ao Sinai onde “viram o Deus de Israel” (Êx 24.9-10).
Algum tempo depois, quando Moisés devia se encontrar sozinho
com Deus no Sinai, ele nomeou Arão como líder interino do povo (Êx
24.13-18). Foi durante esse período de maior responsabilidade que Arão
traiu sua confiança. Menos de quarenta dias depois de ter estado face a
face com o Deus de Israel, Arão cedeu a pressão popular e sancionou a
volta dos hebreus a idolatria. Ao construírem o bezerro de ouro o povo
quebrou o primeiro, o segundo e o sétimo mandamentos (Os israelitas
provavelmente haviam sido influenciados no Egito pelo culto à Ápis, um
deus da fertilidade em forma de touro). A princípio Arão parecia pensar
que estava fazendo algo agradável a Deus (Êx 32.5), mas as coisas fugiram
do seu controle. Apalavra “folgar” que se encontra no texto (Êx 32.6) é um
termo que sugere atividade de área sexual, levando-nos a entender que
houve ali imoralidades e orgias assim como se praticava nos cultos pa­
gãos. Foi um grande pecado devido ao que eles já haviam experimentado
do poder e da misericórdia de Deus: os juízos contra o Egito, o livramento
no mar Vermelho, a provisão de comida e água e a direção de Deus, por
meio da coluna de nuvem e de fogo. Aquele ato constituiu uma rebelião
contra a bondade de Deus.
Quando Moisés desceu do monte e viu o que estava acontecendo,
ficou furioso. Ele jogou as tábuas da lei no chão, quebrando-as e depois
destruiu o ídolo. Arão com isso atraiu contra ele a ira de Deus e só não
morreu porque Moisés intercedeu por ele a Deus (Dt 9.20).
Outro erro de Arão foi se juntar a Miriã em uma rebelião contra
Moisés. Eles estavam contestando a liderança de Moisés. Exigindo que
desempenhassem um papel igual a ele na liderança do povo. Moisés, Arão
e Miriã formavam uma equipe enviada por Deus para ajudar a nação de
Israel (Mq 6.4). Deus havia usado Miriã para salvar a vida de seu irmão
mais novo (Êx 2.1-10), e além de ser uma profetisa, ela dirigira as mulhe­
res de Israel no louvor a Deus (Êx 15.20-21). Arão era o irmão mais velho
da família (Êx 7.7), nomeado por Deus não apenas para ajudar Moisés
diante de faraó, mas também para servir como sumo sacerdote. Todos em
Israel sabiam que Moisés, Arão e Miriã eram os servos escolhidos de Deus,
mas que Moisés era o líder.
Deus ouviu as palavras deles, viu as motivações maldosas em seus
corações e agiu rapidamente para que o pecado deles não se espalhasse
no meio do povo. Pois quando líderes pecam, as consequências podem
ser desastrosas.
Deus deixou claro que Moisés era mais do que um profeta, pois o
Senhor se comunicava com ele pessoalmente e até revelou-lhe a sua glória
(Êx 19.16-19; 24.17-18; 34. 5-11). Tanto Miriã quanto Arão tinham seus res­
pectivos ministérios, mas Deus havia escolhido Moisés para liderar Israel,
e ninguém poderia tomar o seu lugar. Foi o Senhor quem deu a Moisés sua
posição de autoridade. E foi um erro Miriã desafiar o seu irmão. Como for­
ma de julgamento, Deus deixou Miriã leprosa.
Arão e Miriã pediram perdão, Moisés intercedeu por eles e Miriã
finalmente ficou curada. Porém, apesar de Miriã ter sido curada, teve
que ficar fora do acampamento durante sete dias (Lv 13.1-6; 14.1-8; 15.
8), pois havia sido contaminada. Isso lhe causou grande vergonha, pois
todo o acampamento ficou sabendo do que havia acontecido. Significou,
também, um atraso para o povo, pois tiveram que esperar pela restau­
ração de Miriã antes que pudessem seguir viagem. O pecado de rebeldia
sempre será motivo de atraso no progresso do povo de Deus.
Deus não deixou Arão leproso como fez com Miriã, porque segundo
a lei um leproso não poderia ser sacerdote. No entanto, o maior símbolo da
autoridade do seu ministério, que era a vara que havia florescido, foi tirado
dele por Deus, quando foi posto dentro da arca da aliança.
Infelizmente Arão era facilmente manipulado. Vemos isso tanto no
episódio em que o povo o influenciou na construção do bezerro de ouro,
quanto na rebelião de Miriã contra Moisés, onde foi persuadido a assumir
uma posição firme no lugar errado. Em toda sua vida Deus falou direta­
mente com Arão apenas duas vezes (Êx 4.27; 18.1-20).
Um episódio único aconteceu na vida de Arão envolvendo os seus
filhos: Nadabe e Abiú (Lv 10). Nadabe e Abiú ofereceram fogo estranho
a Deus e Deus os matou. Tudo o que esses dois homens fizeram naquele
dia foi errado. Para começar eram as pessoas erradas para manusear
o incenso e apresentá-lo ao Senhor. Essa era uma tarefa do pai deles,
o sumo sacerdote (Êx 30. 7-10). Também usaram os instrumentos er­
rados, seus incensários, em vez do incensário do sumo sacerdote, que
era santificado com o óleo especial da unção (Êx 40.9). Agiram na hora
errada, pois era somente no Dia da Expiação que o sumo sacerdote tinha
permissão para levar incenso para dentro do Santo dos Santos e, mes­
mo assim somente uma pessoa podia entrar no Santo dos Santos, nunca
duas pessoas. Além disso, precisava submeter-se a um ritual especifico
(Lv 16). Como o acesso ao altar principal (de onde o fogo para as ofertas
de incenso devia ser tirado) era difícil, por causa do fogo que queima­
va, eles resolveram (sem autorização) trazer fogo de outro lugar (fogo
profano e “estranho” para as narinas de Deus que recebe o sacrifício).
A Bíblia ainda diz que eles estavam sobre o efeito do álcool (Lv 10.9-10).
O que mais nos impressiona é que Nadabe e Abiú não eram de
fora, eram de dentro do ambiente sacerdotal e conheciam as exigências
de Deus para o sacerdócio. Eram sacerdotes que viram Deus no monte
Sinai (Êx 24.1-11). Seu pai era o sumo sacerdote, e eles foram treinados
para servir ao Senhor. No entanto, foram mortos por sua desobediência
a lei de Deus.
Após um incidente final em Meribá, onde os israelitas quase se re­
voltaram novamente, Deus falou que Moisés e Arão haviam falhado na
obediência a Ele e lhes negou a entrada na terra prometida (Nm 20.1-12).
Finalmente, depois de quarenta anos de peregrinação no deserto, Arão
acompanhado de seu filho Eleazar e Moisés subiram ao topo do monte
Hor, na fronteira com a terra prometida. Ali, Moisés retirou as vestes sa­
cerdotais de Arão e colocou sobre Eleazar (filho de Arão) e ali Arão mor­
reu na idade de cento e vinte e três anos (Nm 33. 38-39). Foi homenageado
com um luto que durou trinta dias.
No entanto, a morte de Arão não interrompeu o ministério sacer­
dotal, pois sua linhagem permaneceu no sacerdócio através de Eleazar.
Como John Wesley costumava dizer: “Deus enterra seus obreiros, mas
continua a sua obra”. O maior privilégio de Arão foi ver que seu minis­
tério, com todas as falhas que teve, continuou através do seu filho. Na
vida de um líder, sucesso só será sucesso, quando o seu sucessor também
fizer sucesso. Lembrando é claro que o conceito de sucesso bíblico não é
fundamentado em fama, mas sim, em êxito na missão que se desenvolve.
O sacerdócio de Arão durou mais de quatorze séculos através dos
seus descendentes. Apenas os descendentes de Levi podiam ser sacerdotes,
e os da tribo de Levi e da casa de Arão eram os mais importantes. Os sa­
cerdotes da linhagem de Arão serviram ao judaísmo em vários santuários
sagrados e no templo de Jerusalém até os romanos determinarem o fim da
adoração sacrificial dos judeus com a destruição do templo pelo general
romano Tito Flávio Vespasiano em 70 d.C.
A Bíblia, como um todo fala gentilmente de Arão. Nos Salmos ele é
chamado de pastor (SI 77.20), sacerdote (SI 99.6), escolhido (SI 105.26), santo
(SI 106.16), ungido (SI 133.2) e Arão também é reconhecido como sendo o
sumo sacerdote nomeado por Deus que ajudou a preparar o povo para o
sumo sacerdócio maior, que foi o de Cristo (Hb 5.4).

Asafe Nome hebraico, significa "Deus foi benevolente para mim".

Asafe era um dos três músicos principais no tabernáculo de Davi, ao


lado de Hemã e Etã. Ele era um levita, filho de Berequias, portanto, da li­
nhagem dos sacerdotes hereditários, embora não se saiba se ele, de fato era
sacerdote. Sua genealogia é derivada do clã levítico de Gerson (lCr 6.24-28).
Os descendentes de Asafe, por centenas de anos, preservaram
o oficio de músicos diante do Senhor, sendo chamado de os “filh o s de
A safe”, termo que se tornou quase o equivalente a cantor ou músico
(Ed 2.41; 3.10; Ne 7.44; 11. 16,22; 12.35-36). Asafe é mencionado na Bí­
blia pela autoria do salmo 50 e dos salmos 73 a 83 - 1 2 salmos ao todo.
De todos os seus salmos, talvez o mais conhecido seja o salmo 73.
Nesse salmo Asafe abre o seu coração para Deus sobre a aparente vanta­
gem dos ímpios. Ele é confrontado sobre a dificuldade que o justo enfren­
ta para alcançar patamares em sua vida, enquanto que para o ímpio apa­
rentemente as coisas se tornam mais fáceis devido ao sistema corrupto
do mundo. Nesse salmo ele é tentado a ceder devido à prosperidade dos
ímpios e o preço da fidelidade dos justos. Ele confessa que seus pés quase
“escorregaram”, pois a “tentação” da facilidade do ímpio estava balan­
ceando as colunas do seu coração. Porém, essa inquietação foi resolvida
quando ele “entrou no santuário de Deus”. Isso o fez avistar o fim dos
ímpios. Embora o ímpio aparentemente conseguisse tudo mais rápido, na
mesma velocidade perecia, enquanto que o justo aparentemente espera­
va um pouco mais, porém tudo em sua vida permanecia por muito tempo.
Asafe conclui esse belo salmo dizendo que “bom é estar junto de Deus”.
Quando Davi construiu o tabernáculo e trouxe a arca da aliança
para Jerusalém, foi acompanhado pelos músicos de Asafe, Hemã e Etã.
Eles cantavam e tocavam címbalos enquanto a arca da aliança entrava
na cidade, e desse momento em diante, Asafe tornou-se o chefe dos mú­
sicos, cantando e tocando a harpa e os címbalos em cerimônias formais
no tabernáculo. Davi nomeou Asafe para servir “fazendo petições, dan­
do graças e louvando ao Senhor, o Deus de Israel” (lCr 16.4-5).
Ele liderou os louvores, juntamente com outros levitas, quando o tem­
plo foi consagrado pelo rei Salomão (2Cr 5.12). Sua influência musical esten-
deu-se muito além do serviço do templo. Isso nos faz refletir que o verdadeiro
ministério não é influente apenas nos “serviços no templo”, que represen­
tam o nosso “ser religioso”, mas alcança e influencia os demais segmentos
da nossa vida, inclusive o social e o moral, através do nosso “ser espiritual”.
Esses salmos figuraram entre os cânticos durante o avivamento
nos tempos do rei Ezequias (2Cr 29.30). A música de Asafe foi considera­
da uma música para o momento profético (lCr 25.1-2). A corporação dos
“filhos de Asafe” era responsável pela música do templo depois do exílio
(Ed 3.10). Jaaziel, um músico do templo e “levita e descendente de A safe”
(2Cr 20.14), utilizou a canção profética para inspirar Judá a derrotar os
edomitas.
Asafe encabeçou uma escola de música, onde é dito que seus filhos
na música eram 148 (Ne 7.44). Os filhos não parecem ter sido muito proe­
minentes antes do exílio. Cerca de 128 membros de sua família voltaram
da Babilônia (Ed 2.41) e serviram no templo de Zorobabel (Ed 3.10). Os
filhos de Asafe de tempos posteriores formaram uma associação e foram
proeminentes nos reavivamentos da fé da nação. Eles compartilharam
o ministério de música com os filhos de Coré no período posterior da
história do Antigo Testamento.
Balaão foi um estranho “profeta” do Antigo Testamento. O termo
usado para Balaão é hakkisim (adivinho) e não navi (profeta).É uma das
figuras mais curiosas de toda a Bíblia, e aparentemente era um famoso
vidente, haja vista Balaque ter feito sua comitiva viajar aproximada­
mente 750 quilômetros das terras de Moabe até a região de Petor para
chamar Balaão. Ele não era israelita, mas conhecia e se comunicava com
o Senhor. Era filho de Beor e residia numa cidade chamada Petor, pró­
ximo ao rio Eufrates na Mesopotâmia. Acredita-se que a cidade de Petor
é a atual Tell Ahmar, perto de Carquemis, sendo assim, a cidade de Ba­
laão era perto de Harã, que fora uma vez a cidade de Abraão. Isso pode
sugerir a possível fonte do conhecimento que Balaão tinha de Deus. Ou
ainda, Balaão pode ter aprendido sobre o Senhor Jeová com os midiani-
tas ou queneus (o povo que ensinou a Moisés sobre Jeová).
Quando os israelitas derrotaram os reis amorreus Seom e Ogue e, as­
sim, adquiriram toda terra de Amom até o monte Hermom, estabeleceram-
-se nas planícies de Moabe, preparando-se para a invasão e conquista de Ca-
naã. Embora já tivessem passado por Moabe em paz, a visão deste exército
vitorioso em suas fronteiras alarmou Balaque, rei de Moabe. Após consultar
seus aliados midianitas, Balaque enviou uma embaixada a Petor - cidade de
Balaão - para convidar o renomado profeta para ajudá-los. A embaixada de
Balaque ofereceu recompensas de riquezas, honra e poder se Balaão viesse
para amaldiçoar Israel. Mas Deus falou com Balaão: “Não irás com eles, nem
amaldiçoarás a este povo, porquanto bendito é ” (Nm 22.12).
Balaque então enviou uma outra comitiva oferecendo mais rique­
zas a Balaão para que este aceitasse a proposta. Balaão revelou uma co­
biça interior por riqueza e posição ao retornar ao Senhor e perguntar se
deveria ir, e tomado por ganância sucumbiu a esta proposta. Num sonho,
Deus liberou Balaão para ir e dizer somente aquilo que lhe fosse ordena­
do pelo Senhor. Deus, ao permitir a ida de Balaão, estava criando uma
situação para sentenciar Balaque e Moabe.
Na manhã seguinte, Balaão montou sua jumenta e partiu. Deus ficou
furioso por pela sua atitude . Essa ira de Deus sobre Balaão confunde exege-
tas há milênios. A interpretação mais correta é que Deus conhecia a motiva­
ção de Balaão e, embora ele fosse obediente a Deus, sua intenção era aceitar
o considerável pagamento dos moabitas para amaldiçoar Israel. Embora
Balaão tenha feito somente o que o Senhor lhe mandara, ele se tornou um
excelente exemplo de alguém que faz a coisa certa pela razão errada.
Na viagem, Deus enviou um anjo empunhando uma espada para blo­
quear o caminho. A jumenta enxergou o anjo, mas Balaão, cuja mente estava
voltada para a riqueza que lhe fora oferecida, não o viu. A jumenta temerosa
ao ver o anjo saiu da estrada, entrando em um campo. Balaão bateu na ju­
menta até ela voltar para a estrada. O anjo ficou em uma passagem estreita
entre duas vinhas protegidas por um muro. A jumenta apertou o pé de Ba­
laão contra o muro para evitar o anjo, e Balaão bateu nela novamente. A
seguir, o anjo ficou bem no meio do caminho e a jumenta, por fim, deitou-se
no chão em baixo de Balaão, e este continuou a bater nela. Por fim milagro­
samente, Deus deu voz à jumenta e ela lhe falou: “Que te fiz eu, para que me
espancaste três vezes? Porventura não sou a tua jumenta, que foste fiel em
cavalgar toda a tua vida contigo até hoje? Tenho o costume de agir assim
contigo?” (Nm 22.28-30). Então os olhos de Balaão foram abertos, ele viu o
anjo, e tornou-se consciente da oposição do Senhor contra ele. Em temor,
ofereceu-se para retornar a sua casa, mas recebeu ordens para continuar até
Moabe onde falaria “somente a palavra que o Senhor lhe falasse” (Nm 22.35).
A ocorrência da fala da jumenta foi registrada não só para demonstrar que
Deus pode fazer um animal falar, mas sim para mostrar que ele pode usar
qualquer circunstância para transmitir sua mensagem.
Quando Balaão chegou a Moabe, Balaque o recebeu com grande ex­
pectativa e o guiou até um santuário de Baal no alto de uma montanha, de
onde podia ver uma parte do acampamento de Israel. Balaão ergueu sete
altares, e depois dos sacrifícios apropriados, abriu sua boca para amaldi­
çoar, mas as palavras que saíram foram palavras de benção sobre Israel.
Balaque desapontando pela tentativa sem êxito levou Balaão a observar
outra parte do acampamento israeüta de cima do monte Pisga. Mais uma
vez Balaão sacrificou, no entanto, novamente o povo israelita foi aben­
çoado. Balaque então o conduziu ao cume do monte Peor, na cordilheira
do monte Nebo, mas ah outra vez se repetiram as bênçãos sobre Israel.
Balaque se irou com Balaão, e ele despejou uma profecia contra Balaque
acerca de uma estrela de Jacó que haveria de nascer, para ferir os capi­
tães de Moabe e destruir todos os filhos de Sete - ou seja, além de Balaão
não profetizar a destruição de Israel, terminou profetizando a destruição
de Moabe. Então, Balaque totalmente furioso e frustrado, ordenou que o
infeliz Balaão fosse embora sem recompensa alguma.
No entanto, ainda determinado a ganhar a recompensa prometida,
Balaão elaborou um plano pelo qual o próprio Deus destruiría Israel. Balaão
voltou e disse a Balaque, para que o rei liberasse as mulheres moabitas para
se misturar e seduzir os homens israelitas e forçarem relações sexuais com
eles, para desviá-los de Deus e levá-los a adoração degradante a Baal. Isso
iria atrair a ira de Deus sobre os israelitas e Deus iria destruí-los. Como Ba-
laão não conseguiu amaldiçoar o povo, ele tentou corrompê-los e colocar o
próprio Deus contra eles. O plano foi altamente bem-sucedido (Nm 25), mas
os resultados não foram os que Balaão havia planejado. O juízo de Deus veio
rapidamente sobre o povo, e os que haviam se envolvido em relações com as
moabitas foram rapidamente eliminados da congregação. Então Deus orde­
nou a Moisés que impusesse a derrota a Moabe por seu ataque maldoso (Nm
25.16-18). Nessa batalha, o profeta Balaão foi morto - sem ter recebido re­
compensa alguma de Balaque - sofrendo a derrota juntamente com aqueles
que haviam buscado a sua ajuda (Nm 31.8). Todavia, Israel também recebeu
o devido castigo, por ter-se deixado corromper (Nm 31.16).
O Novo Testamento adverte contra “pessoas que buscando lucro, caí­
ram no erro de Balaão” (Jd 11), e sobre pessoas que amando o salário da
injustiça seguiram pelo “caminho de B alaão” (2Pe 2.15). Essa descrição de
Pedro refere-se a pessoas que comercializam o dom profético, e se corrom­
pem por dinheiro ou outras vantagens materiais exageradas, adquiridas
em nome da religião; Pessoas que possuem o talento profético, mas usam os
dons de Deus a fim de alcançar seus objetivos pessoais. Balaão se tornou um
tipo de todos aqueles que conhecendo a Deus, ainda voltam suas costas para
Ele para se agarrarem às coisas temporais dessa vida. Apocalipse 2.14 fala da
maligna “doutrina de Balaão”, que é o ensino que leva o povo de Deus a se
envolver nos pecados da carne como se Deus não estivesse atento a isso. O
termo usado no grego nesse texto do Apocalipse é skandalon (armadilha), ou
qualquer coisa que leva alguém a “tropeçar” e “cair”. E assim, o juízo mais ri­
goroso está reservado para os que conscientemente induzem outros ao erro.

Barnabé Nome hebraico, significa “Filho da consolação

Barnabé foi um levita de Chipre, e por ser isso talvez tenha ser­
vido no templo. Seu nome judeu era José, mas os apóstolos chamaram
seu nome de Barnabé, que significa “filho da consolação”, para sugerir
uma virtude do seu caráter (At 4.36). Aparentemente esse nome enfatiza
sua habilidade de consolar e animar as pessoas, e não sua proeminência
na exortação ou ensino. Barnabé é citado 29 vezes no bvro dos Atos dos
Apóstolos e 5 vezes nas cartas paulinas. Foi um membro notável da Igreja
Primitiva em Jerusalém e um ativo missionário entre os gentios.
Como cipriota (morador de Chipre), ele era judeu helenista (judeu
de fala grega), portanto tinha muito em comum com Paulo, um nativo da
cidade helenista de Tarso. Isso também o tornou uma pessoa ideal para se
comunicar com judeus e gentios, pois ele compreendia as duas culturas.
Parece que ele era um dos muitos judeus helenistas que, como Paulo que
era de Tarso, voltara para Jerusalém para ali morar. A possibilidade de ter
conhecido Saulo em Tarso, como mero estudante, é apenas especulação.
Na primeira aparição de Barnabé na Bfbüa ele estava em Jerusalém,
e foi citado como um maravilhoso exemplo de generosidade (At 4.32-37).
Ele vendeu uma propriedade e trouxe o dinheiro da venda aos apóstolos
para que as necessidades dos membros mais pobres da igreja fossem supri­
das. Os levitas não poderiam possuir terras, de modo que é difícil entender
como Barnabé adquiriu a propriedade que vendeu. Talvez essa lei especí­
fica (Nm 18.20; Dt 10.9) se aplicasse somente à Palestina e sua propriedade
estivesse em Chipre. No entanto, de uma coisa sabemos: a generosidade era
um princípio do seu caráter.
Barnabé foi enviado para auxiliar a igreja de Antioquia. Lucas deixa
bem claro que Barnabé era o líder da igreja naquela cidade. Após algum
tempo, ele sentiu necessidade de ter um colega para ajudá-lo na supervi­
são daquela obra crescente, e trouxe Paulo de Tarso para Antioquia para
ajudá-lo ali. Em Atos 9.27, Barnabé ajuda a Paulo, quando este retornou a
Jerusalém, recomendando-o aos apóstolos e afirmando que Paulo era um
cristão genuíno. Isso é devido ao fato de que durante um bom tempo (nos
primeiros anos de conversão de Paulo), Barnabé era bem mais considerado
em Jerusalém do que Paulo. A prova disso é a ordem em que seus nomes
são citados em Atos 11.30, intencionalmente refletindo a ordem da hierar­
quia da liderança naquela altura.
Em um período de grande fome, durante o governo do imperador
Cláudio (fome que havia sido profetizada por um profeta chamado Ága-
bo - At 11.28), a igreja em Antioquia enviou uma oferta para ajudar os
irmãos na Judeia (em Jerusalém), cuja tarefa foi confiada a Barnabé e a
Paulo (At 11.29-30).
Barnabé e Paulo trabalharam na igreja de Antioquia por um ano.
Após isso, deixaram aquela igreja para assumir um ministério ainda
mais extensivo. Barnabé e Paulo haviam sido escolhidos por Deus para
realizarem a primeira viagem missionária (At 13.1-3). Conscientes da
direção do Espírito, eles pregaram por toda a ilha de Chipre, onde o pro-
cônsul Sérgio Paulo creu no evangelho (At 13.7-12). Depois, navegaram
adiante e chegaram a Perge, na Panfília (atual Turquia), nesse lugar um
dos componentes da viagem chamado João Marcos (primo de Barnabé)
os abandonou em plena missão e voltou para Jerusalém (At 13.13).
Daí em diante, parece que Paulo assumiu a liderança, pois Lucas
refere-se a “Paulo e seus com panheiros” (At 13.13). Lucas claramente des­
taca o recuo de Barnabé para o segundo plano, usando a ordem “Paulo e
B arn abé” (Lc 13.43,46-50) no restante da viagem, com uma notável exce­
ção: quando um paralítico foi curado em Listra, os habitantes da cidade,
empolgados, consideraram os dois como divindades em visita a terra. À
Barnabé chamaram Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, porque este era o prin­
cipal portador da palavra. Barnabé dentro de uma visão mitológica foi
considerado o deus principal, enquanto Paulo, como seu subordinado, fa­
lava e trabalhava para ele. Aparentemente, a igreja em Antioquia parece
também ter aceitado a liderança de Paulo, de acordo com a ordem usada
por Lucas ao mencioná-los novamente naquela cidade (Paulo e Barnabé
- At 15.2,35). Em Jerusalém, no entanto, Barnabé claramente era tido em
mais alta estima (Barnabé e Paulo - At 15.12).
A dupla seguiu sua viagem missionária adiante e pregou em Antio­
quia da Psídia, Listra, Icônio e Derbe, diante tanto da oposição como do
interesse da multidão (At 13.42-51; 14.1-7,19-21). E indicaram homens aptos
a prover futura liderança para cada igreja (At 14.23). Na viagem de volta
fizeram o mesmo itinerário e, ao chegar a Antioquia da Síria, prestaram o
relatório sobre a missão realizada (At 14.21-28).
Aparentemente, em duas ocasiões Barnabé e Saulo visitaram Je­
rusalém como representantes da igreja de Antioquia. Na primeira, eles
trouxeram uma oferta para a igreja no período da grande escassez (At
11.30), conforme citado acima. Foi provavelmente durante essa visita
que tiveram algumas reuniões com os líderes da igreja em Jerusalém, e
nesse período o apostolado deles para com os gentios fora reconhecido
(G12.1-10). Na segunda, eles participaram do concilio (At 15) para discu­
tirem e decidirem com os líderes de Jerusalém os termos sob os quais os
gentios convertidos seriam admitidos à comunhão da igreja. A grande
pauta da discussão era se os gentios tinham de ser circuncidados para
serem cristãos. Os judeus diziam que sim. Paulo dizia que não, e argu­
mentava pelo seu vasto conhecimento acerca tanto do judaísmo quanto
da cultura greco-romana que a circuncisão não era necessária para pro­
fessar a fé cristã, ao contrário de como era para professar a fé judaica.
Após o Concilio de Jerusalém, Barnabé e Paulo retornaram para
Antioquia, mas logo se apartaram. Essa separação ocorreu por causa da
possibilidade da ida de João Marcos na segunda viagem missionária. Na
primeira viagem, ele os havia abandonado em Perge. Paulo não era a fa­
vor que o levassem novamente, ao contrário de Barnabé.
Paulo e Barnabé concordavam sobre a importância da viagem, mas
discordavam sobre a formação da “equipe”. Não causa surpresa Barnabé
defender João Marcos, pois os dois eram primos (Cl 4.10), e os laços de fa­
mília deviam ser fortes. Mas, além disso, Barnabé era o tipo de pessoa que
procurava ajudar ao próximo de todas as maneiras. Estava disposto a dar
a João Marcos uma nova oportunidade de servir ao Senhor e de encon­
trar sua importância no ministério. Assim, Barnabé insistiu que levassem
João Marcos consigo na viagem.
Paulo, no entanto, mostrou-se irredutível em sua posição. O resul­
tado foi que os dois missionários e amigos dividiram o território e apar­
taram-se. Barnabé foi para Chipre, sua terra natal, levando consigo João
Marcos. Paulo chamou Silas e ambos se dirigiram à Síria e Cicüia (At
15.23), iniciando então a segunda viagem missionária.
A partir desse momento nunca mais foi contada a história de Barnabé
no livro dos Atos dos Apóstolos. Quem estava errado? Talvez ambos estavam
certos em alguns aspectos e errados em outros. Se Barnabé errou por ser in­
sistente, Paulo errou por sua severidade. No entanto, Barnabé rompeu com
algo que Deus havia formado que era a união dele com Paulo para a obra
missionária (At 13.2). O compromisso de Deus em Atos 13 não foi com João
Marcos, mas sim com Barnabé e Paulo. Barnabé permitiu que preferências e
favorecimentos humanos o tirassem da rota de Deus para sua vida. A histó­
ria de Paulo continuou a ser contada no livro dos Atos, e a de Barnabé passou
a ser esquecida.
Paulo, porém, sempre se referia a Barnabé com afeição e estima,
como um companheiro missionário para os gentios (ICo 9.6). No entan­
to, o ministério paciente de Barnabé com João Marcos teve resultado,
pois anos depois o próprio Paulo reconheceu a importância que João
Marcos possuía no ministério (2Tm 4.11). Podemos concluir que Barna­
bé fez por João Marcos o mesmo que havia feito, anteriormente, pelo
próprio apóstolo Paulo. A diferença é que, talvez, naquele momento,
Paulo não foi sensível a isso.
Nada se sabe sobre o fim da vida de Barnabé. Os livros apócrifos
Epístola de Barnabé e Atos de B arnabé não foram escritos por ele. O pri­
meiro foi escrito somente no século 2 e o segundo é datado no século 5
d.C. Tertuliano, teólogo de Cartago, credita a ele a autoria da carta aos He-
breus, embora essa afirmativa não passe de especulação. Há evidências
internas contestam isso. É ponto pacífico que ele ainda estava vivo em
56-57 d.C., quando Paulo escreveu sua primeira carta aos coríntios (ICo
9.5-6). Em 61-63, entretanto, quando Paulo estava na prisão em Roma, ele
chamou João Marcos para servi-lo, indicando que provavelmente Barna­
bé já estava morto nessa ocasião. Não há nenhum registro bíblico sobre
sua morte, mas a tradição afirma que ele foi apedrejado em 61 d.C., em
Salamina, que ficava em Chipre - sua terra natal - na Grécia.

Barrabás Nome hebraico, significa "Filho do pai".

Barrabás foi o criminoso de quem Jesus tomou o lugar ao ser con­


denado à crucificação. Mateus diz que ele era um “prisioneiro muito co­
nhecido”, mas não menciona qual foi o seu crime (Mt 27.16). Marcos e
Lucas o identificam como um rebelde que havia cometido um assassinato
durante uma revolta (Mc 15.7; Lc 23.19). João diz que ele era um bandido
(Jo 18.40). Segundo a história, um pouco antes do julgamento de Jesus
houve uma rebelião e um tumulto em que vários soldados romanos fo­
ram mortos em um aqueduto em Jerusalém. Barrabás, certamente estava
envolvido nessa rebelião, e como o povo da cidade o conhecia muito bem,
ele provavelmente deveria ter sido o líder dos rebeldes.
Barrabás era provavelmente um líder sicário, uma facção do gru­
po revolucionário dos zelotes, que, por sua vez, eram um grupo de re­
voltosos contra o domínio romano sobre Israel, constantemente cons­
pirando contra o império por meio de atos violentos. Muitos judeus
consideravam Barrabás um herói, não um criminoso. Por isso, não foi
difícil encontrar vozes para clamar por sua libertação.
Pôncio Pilatos, governador romano em Jerusalém, ofereceu à mul­
tidão a opção entre Jesus e Barrabás, na expectativa de Jesus ser liberto,
pois seus atos não eram considerados tão graves. Para Pilatos era me­
lhor soltar Jesus e condenar Barrabás, pois Jesus, pelo conteúdo dos seus
ensinos, não representava grave ameaça política contra o império ro­
mano. Jesus já havia deixado claro que o reino Dele não era dessa terra,
mas um reino espiritual. Apesar disso, Pilatos também tinha interesse
em agradar aos líderes judeus, a fim de proteger sua posição política. Foi
diante desse dilema que ele ofereceu à multidão a opção de um dos pri­
sioneiros ser devolvido aos judeus durante a festa da Páscoa (Jo 18.39).
Marcos revela que, na Judeia, era costume soltar um prisioneiro
na Páscoa. Não foi, portanto, uma inovação de Pilatos naquele dia. Os
outros evangelhos nada relatam sobre esse costume, mas o explicam
com certa naturalidade. Não há registro em fontes extra bíblicas sobre a
existência desse costume na Judeia, mas essas convenções sociais eram
consideradas comuns em outras províncias romanas. Portanto, é aceitá­
vel assumir que essa tradição também era respeitada na Judeia.
Alguns estudiosos acreditam que os dois criminosos crucificados
com Jesus eram cúmplices de Barrabás, por isso Pilatos preparara três
cruzes. É provável que os dois também fossem saqueadores capturados
na revolta do aqueduto.
Há uma tradição que sugere que seu nome era Jesus Barrabás (Mt
27.16, na versão NTLH, em português). Essa tradição era conhecida de
Orígenes (aproximadamente em 200 d.C.), mas não é encontrada nos
melhores e mais antigos textos. Alguns pensam que esta denominação
provavelmente tenha se originado do erro de algum escriba, devido à
proximidade do nome de Jesus em Mateus 27.17.
Não há registro do que aconteceu com Barrabás após sua liberta­
ção. Houve muitas rebeliões em Jerusalém nos anos seguintes, e é pro­
vável que ele tenha sido morto em uma delas, ou talvez foi preso e exe­
cutado pelo poder romano em oportunidade posterior.
O detalhe mais interessante da vida de Barrabás, porém, é o fato
de que, na condenação e morte de Cristo, ele se tornou um tipo da hu­
manidade. Jesus foi condenado e crucificado para que Barrabás fosse
livre, tornando-o um símbolo de todos os pecadores que são libertos
através do sacrifício do Senhor Jesus Cristo por nós.
Bartimeu Nome hebraico, significa "Filho de Timeu".

Infelizmente, pouco se sabe sobre Bartimeu. Ele era um cego que men­
digava à porta de Jerico. A história de sua cura é relatada por Marcos (Mc
10.46-52) e Lucas (Lc 18.35-43), e as características desses relatos são seme­
lhantes ao de Mateus, em que ele fala sobre a cura de dois cegos (Mt 20.29-34).
Bartimeu percebendo que Jesus passava pelo caminho onde ele
esmolava, começou a chamá-lo pedindo ajuda. Algumas pessoas pediam
para que ele se calasse e não importunasse o mestre, mas ele persistiu
chamando até que Jesus, ao ouvi-lo, parou e ordenou que o trouxessem.
Ao informar ao Senhor o desejo por sua cura, Bartimeu foi curado, po­
dendo assim voltar a ver.
Seu nome é o que chamamos de “patrônimo”, um nome que o
identifica como filho de alguém. O nome Bartimeu significa “filho de
Timeu”. Segundo uma tradição antiga, Timeu foi um general aposentado
do exército de Israel, que havia servido em Belém. Na época que os ro­
manos dominaram a Palestina, Timeu teve sua aposentadoria cortada e
seus bens confiscados. Isso o deixou revoltado contra o domínio romano
na Palestina. Essa era uma das estratégias dos romanos quando domi­
navam um território, para que, através disso, fosse enfraquecida toda
a resistência dos exércitos inimigos. Unindo-se a alguns companheiros
militares que também haviam sido prejudicados, começaram a organi­
zar uma revolta contra os romanos. A fim de impedir que isso fosse pos­
sível, os romanos mataram a Timeu e sua família.
Timeu foi crucificado (método de execução dos romanos) e pou­
param-lhe apenas um filho que ainda era menino, que ficou conhecido
como “Bartimeu”. Arrancaram os seus dois olhos, evitando assim que
ele crescesse e vingasse a morte do pai, e deram-lhe uma capa romana
(Mc 10.50). Essa capa também servia como uma “autorização” romana
para pedir esmolas. Bartimeu a usava aberta de dia para que as pessoas
lhe dessem esmolas, e a noite a usava como um agasalho para dormir.
Aquela capa tinha um significado muito importante para ele, represen­
tava “provisão” durante o dia, e “proteção” durante a noite. Quando Je­
sus o chamou, a primeira coisa que Bartimeu fez foi jogar a capa fora.
Com isso, ele estava declarando que a partir daquele momento sua pro­
visão e proteção viriam do Senhor.
A comprovação que um dia ele enxergou perfeitamente está no fato
de o texto afirmar que ele “imediatamente recuperou a visão” (Mt 20.34; Mc
10.52). Só pode ser recuperado algo que um dia se teve e foi perdido.
Outra coisa que podemos observar em Bartimeu foi a sua sensibi­
lidade em perceber que ele estava diante de uma oportunidade única.
Essa foi a última ida de Jesus a Jerico antes da entrada triunfal em Jeru­
salém. Em seguida aconteceria a prisão, morte e ressurreição de Jesus, e
o mestre não voltaria mais a passar por aquele caminho onde Bartimeu
mendigava. Sua perseverança em clamar pelo mestre foi válida. Aquela
era a única oportunidade que Bartimeu tinha de ter um encontro trans­
formador com Jesus.
O apelo de Bartimeu para que o “filho de Davi” tivesse misericór­
dia dele é muito significativo. Era um duplo reconhecimento de Jesus,
como integrante da linhagem real de Davi e como o Messias sobre Israel.

Bartolomeu Nome hebraico, significa "Filho de Talmai".

Bartolomeu foi um dos doze discípulos de Jesus. Seu nome, como


o de Bartimeu, é o “patrônimo”, nome que identifica seu portador com o
nome de seu pai. Provavelmente, outro nome de Bartolomeu era Natanael.
O nome Bartolomeu, embora pertencente a um dos doze, não é mencio­
nado no evangelho escrito por João, enquanto o nome Natanael, aparece
no evangelho de João, mas não aparece nos evangelhos sinóticos (Mateus,
Marcos e Lucas). Nas listas apostólicas de Mateus (10.2-4) e Lucas (6.14-16),
Bartolomeu é citado ao lado de Filipe e, no evangelho escrito por Marcos
(3.16-19), próximo deste. Por sua vez, João, mesmo sem apresentar uma
lista completa dos apóstolos, descreve Natanael como um velho amigo de
Filipe, discípulo que o apresentara a Cristo (Jo 1.45-46), dando a entender
com isso que Bartolomeu e Natanael eram a mesma pessoa. Bartolomeu
também aparece na lista dos doze de Atos (At 1.13). E em todas as listas dos
discípulos ele sempre aparece no segundo grupo de quatro discípulos.
Nada havia de incomum no fato de um apóstolo possuir dois no­
mes. Simão era também chamado Pedro, Levi era conhecido como Ma-
teus, e outro discípulo ainda era chamado de três nomes diferentes: Le-
beu, Tadeu e Judas (este Judas não é o Iscariotes).
Bartolomeu era natural de Caná da Galileia (Jo 21.2). Ele é citado por
alguns escritores primitivos como um judeu descendente da casa de Naftali.
Além de o nome Natanael aparecer apenas no evangelho escrito
por João, ocorre apenas por duas vezes: primeira, no primeiro capítulo (Jo
1.45-51), em que se vê sua vocação, e segunda, no último capítulo (Jo 21.2).
Se o primeiro capítulo de João torna provável o discipulado de Na­
tanael, o último faz disso um fato acima de qualquer dúvida. Ali, acom­
panhando Pedro, Tiago, João e Tomé, Natanael é citado por João como
um dos discípulos (Jo 21.2), ao lado dos quais testemunharam as glorio­
sas aparições do Cristo ressuscitado.
A Bíblia não diz nada sobre Bartolomeu além de enumerá-lo
como um dos doze e de identificá-lo como um dos que estavam no ce-
náculo quando Jesus apareceu a eles depois da ressurreição (At 1.13).
Provavelmente também estava no cenáculo na descida do Espírito San­
to no dia de pentecostes.
O historiador Eusébio de Cesareia (século IV) tinha conhecimento
de uma tradição antiga que dizia que Pantenus, o primeiro líder da escola
catequética de Alexandria (180 d.C.), foi à índia e lá encontrou cristãos
que conheciam o evangelho de Mateus em hebraico. De acordo com Eusé­
bio, Bartolomeu havia pregado na índia e deixou lá uma cópia do evange­
lho de Mateus com eles. Em outras tradições, Bartolomeu foi companhei­
ro missionário também de Filipe e Tomé. E ainda há uma tradição cristã
antiga que diz que ele foi missionário em toda a Ásia Menor e morreu
como mártir em Albana, na Armênia.

Benjamim Nome hebraico, significa "Filho da minha mão direita".

Benjamim foi o filho mais novo de Jacó, e o único entre os treze


filhos do patriarca que nasceu na Palestina. Ele nasceu em algum lugar
quando estavam indo para Hebrom, entre Betei e Belém, em aproxima­
damente 1900 a.C. Era filho de Jacó com a esposa que ele amava, Raquel.
Infelizmente, Raquel morreu ao dar à luz a Benjamim. E antes de mor­
rer ela o chamou de Benoni, que significa “filho da minha dor”. Jacó,
temendo as consequências de tal nome, chamou-o Benjamim, que sig­
nifica “filho da minha mão direita”, ou até, “filho do sul”, isto é, alguém
nascido no sul, embora o primeiro significado seja o mais aceito (Gn
35.16-18). O códice samaritano, aponta o nome Benjamim como “o filho
de dias”, ou seja, “o filh o da m inha velhice” (Gn 44.20). No entanto, se o
nome realmente significa “filho da minha mão direita”, então a ideia era
que Benjamim seria o apoio e amparo de Jacó em sua velhice.
Depois de José ter sido vendido aos ismaelitas, Benjamim se tornou
o filho favorito de seu pai, Jacó. José e Benjamim eram os únicos irmãos
de pai e mãe - ambos nascidos de Raquel - os outros filhos foram gerados
por Lia, pelas servas de Lia ou servas de Raquel.
Quando José era governador no Egito, houve uma grande fome em
Canaã e Jacó - que na época morava na cidade de Hebrom - enviou os seus
filhos - menos Benjamim - para comprarem comida no Egito. Como José
controlava o suprimento de comida no Egito, seus irmãos precisaram im­
plorar a ele para comprarem o alimento, embora sem reconhecê-lo. Depois
de lhes vender os grãos, José os acusou de espionagem. Mantendo Simeão
como refém, mandou que os seus irmãos voltassem e trouxessem Benja­
mim. Quando finalmente, Benjamim chegou ao Egito, José liberou Simeão
e colocou uma taça de prata na bagagem de Benjamim.
Quando eles já estavam do lado de fora da cidade, José pediu que
os seus guardas o prendessem por roubo, acusando-os de roubar a taça.
Eles protestaram e alegaram inocência, dizendo que se isso fosse verdade,
eles se tornariam seus escravos. Quando foram revistados, a taça foi en­
contrada na bagagem de Benjamim, e José disse que eles poderíam seguir
a diante, mas Benjamim iria ficar como seu escravo. Judá implorou para
que ele ficasse como escravo no lugar do irmão, pedindo a José que deixas­
se Benjamim partir. Nesse momento, José revelou-se aos seus irmãos e os
convidou para buscar Jacó e fim de que vivessem com eles nas terras férteis
de Gósen, no Egito.
Uma vez que Benjamim é chamado de moço em Gênesis 44.20-22,
seus filhos e netos provavelmente nasceram no Egito, depois de José ter
levado toda a sua família para o Egito na época da escassez. Benjamim
teve ao todo dez filhos (Gn 46.21).
Em sua velhice Jacó abençoou todos os seus filhos, e profetizou que
no futuro voltariam para Canaã. A Benjamim, progenitor dos benjamitas,
Jacó pronunciou: “Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã devorará
a presa, e a tarde repartirá o despojo” (Gn 49.27).
A tribo de Benjamim - embora fosse uma das menores tribos - tinha
reputação de bravura e muita habilidade militar. Eram adeptos do manu­
seio de armas com a mão esquerda, o que, no caso de Eúde, resultou no
livramento de Israel das mãos dos moabitas (Jz 3.15ss; ISm 9.1), em cum­
primento da profecia de Jacó. Na conquista de Canaã, depois de as tribos
de Judá e Efraim terem recebido seu território, o primeiro lote foi dado a
Benjamim. Seu território media aproximadamente 56 quilômetros de oeste
a leste, e 22 quilômetros de norte a sul e estava entre Judá e Efraim, era uma
faixa de terra entre o monte Efraim e as colinas da Judeia. Era uma área
montanhosa, localizada estrategicamente para controlar passagens estra­
tégicas, mas com vales férteis. A fronteira lesta nos limites de Efraim era o
rio Jordão, a fronteira oeste se estendia do Jordão até Betei e Atarote-Adar,
na baixa Bete-Herom, ao norte estava o mar Morto, e a fronteira sul, nos
limites com Judá, era claramente definida pelo vale de Hinom, na parte sul
da cidade de Jerusalém. Talvez por isso, Moisés declarou que Deus aben­
çoaria Benjamim e “descansaria em seus braços” - Jerusalém, “a cidade de
Deus”, estava ao lado do território de Benjamim (Dt 33.12).
A descendência de Benjamim possuiu pessoas importantes para Is­
rael: Eúde, que foi o primeiro dos juizes em Canaã (Jz 3.15); Saul, que foi
o primeiro rei de Israel (ISm 9.1-2); E o apóstolo Paulo, que foi o principal
missionário da época da igreja primitiva e o responsável pelo perfil da
teologia e do cristianismo que temos até hoje (Fp 3.5).
A tribo continuou a produzir grandes homens: líderes políticos (lCr
27.21), capitães no exército de Israel - nas épocas de Saul e Davi (2Sm
4.2; 23.29), arqueiros habilidosos (lCr 8.40) e supervisores da força de
trabalho de Salomão (lRs 4.18).Infelizmente, também eram da tribo de
Benjamim os homens perversos que atacaram a concubina do levita, inci­
dente que culminou numa guerra civil que quase levou a tribo à extinção
(Jz 20.3-48). Mais à frente, na época do cisma entre Roboão e Jeroboão
- quando Israel se dividiu no Reino do Sul e no Reino do Norte - os benja-
mitas recusaram participar da rebeüão e se uniram aos descendentes de
Judá, constituindo juntos o Reino do Sul, cuja capital foi Jerusalém.
Caifás Nome grego, significa "Depressão".

Caifás foi sumo sacerdote em Jerusalém. Para assegurar o controle


sobre todos os assuntos da Judeia, os romanos se reservaram ao direito
de indicar não apenas o legislador civil (governador, que era Pilatos),
mas também o líder religioso dos judeus: o sumo sacerdote. Flávio Jose-
fo relata que “José, também chamado Caifás” fora feito sumo sacerdote
pelo procurador romano Valérius Gratus em 18 d.C. e foi deposto pelo
procurador Vitellius, juntamente com Pilatos em 36 d.C.
Fora, portanto, sumo sacerdote por dezoito anos, o ministério mais
extenso do primeiro século da era cristã. Foi sumo sacerdote nos dias de
João Batista, nos dias da prisão e crucificação de Jesus e seu sumo sacerdó­
cio ainda existia durante a perseguição a Pedro e João depois da ascensão
de Jesus, na época da igreja primitiva (At 4.6).
Caifás era genro de Anás. Anás fora sumo sacerdote antes dele, e ha­
via estabelecido quatro de seus filhos para também serem sumo sacerdo­
tes, mas nenhum deles fora bem-sucedido. Em um período de quatro anos,
Caifás foi o quinto a ser designado para ser sumo sacerdote em Jerusalém,
pois nenhum filho de Anás teve êxito.
A mais antiga menção feita a Caifás pode ser encontrada em Lucas
3.2: “Sendo Anás e Caifás sum os sacerdotes...”. Isso denuncia uma irregu­
laridade. Essa estranha expressão reflete, evidentemente, o fato de que
enquanto Caifás ocupava o cargo de sumo sacerdote, Anás continuava
a exercer o poder referente aquele cargo. A influência de Anás perma­
necia sobre o cargo, sendo que agora seu genro que oficialmente era o
sumo sacerdote. Ou seja, Anás queria alguém que apenas ocupasse a
função, obedecendo às ordens dele. Era uma espécie de “poder por trás
do trono”.
Como sumo sacerdote, Caifás era o terceiro homem mais impor­
tante de Israel, abaixo apenas de Pôncio Pilatos e do rei Herodes. O grau
de autoridade dele era, de algum modo, semelhante ao de um primeiro-
-ministro da era moderna.
Uma de suas obrigações era supervisionar todos os rituais e negó­
cios do templo e presidir o Sinédrio (grupo de senadores de Jerusalém),
o corpo de julgamento judaico. Ele era também responsável por manter
a paz em Jerusalém. Se Caifás e seus guardas permitissem que as coisas
saíssem do controle, os romanos assumiríam o controle e imporiam a or-
dem. E isso Caifás não desejava, pois o método padrão dos romanos de
controlar as multidões era o massacre, seguido da substituição daqueles
que deveriam ter mantido a ordem.
Na páscoa, a cidade se transformava por cerca de três semanas em
uma massa palpitante de gente, e havia um enorme risco de tumulto. Isso
deixava os romanos muito nervosos e dificultava o trabalho de Caifás. Além
disso, a Páscoa era uma época muito lucrativa para a cidade e, em especial
para os sacerdotes. Era a época em que os peregrinos judeus vindos de todo
o mundo se reuniam em Jerusalém, e apenas um homem cerimonialmente
puro podia entrar no templo. Apenas por garantia, todos os que entravam
no templo passavam pela cerimônia da purificação. A forma mais fácil de
fazer isso era banhar-se em um tanque batismal chamado miqvah (ver Jo ã o
Batista para entender melhor sobre o custo para se banhar no miqvah), e
depois era necessário oferecer um sacrifício, que na maioria das vezes era
uma pomba. Os sacerdotes cobravam uma taxa para o miqvah e outra para
o sacrifício, além de terem uma participação no lucro da venda da pomba.
Além disso, exigia-se que os peregrinos fizessem uma oferta em
dinheiro no templo, e a Lei proibia o uso de qualquer moeda com ima­
gem gravada para presentear o templo. Como as moedas romanas eram
gravadas com a imagem do imperador, as pessoas tinham que trocar
as moedas romanas por dracmas judaicas, e nessa troca também havia
uma taxa de câmbio a ser paga. Os sacerdotes, mercadores e cambistas,
percebendo que podiam ganhar muito dinheiro com isso, instalaram-se
na entrada do templo, e ali negociavam o dinheiro e comercializavam as
pombas na casa do Senhor.
Por isso, que quando Jesus entrou no templo, no período da pás­
coa, derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam
as pombas (Mt 21.12). Na atmosfera carregada da tensão de Jerusalém
naquela época, qualquer indivíduo que tivesse feito tal coisa seria preso
imediatamente. No entanto, Caifás não ousou prender Jesus diante do
público, pelo alvoroço ainda maior que isso podia gerar, devido à popu­
laridade de Jesus.
Todos os acontecimentos que aumentavam a popularidade de Jesus
em Jerusalém, não agradavam a Caifás. Depois da ressurreição de Láza­
ro, o Sinédrio se reuniu para discutir o que fariam a respeito de Jesus
(Jo 11.47-53). As palavras de Caifás nessa reunião - mesmo que ele não
soubesse - foram como uma profecia acerca da vida de Jesus: “convém
que um só homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação”. Ele
intentava matar Jesus para diminuir a aglomeração de pessoas. Embora
tenha dito isso motivado simplesmente pela sua autopreservação, esse
era precisamente o curso da ação que Deus planejara para Jesus. Assim,
João identificou claramente esse comentário como uma profecia: “Ele não
disse isto de si mesmo, mas como sumo sacerdote naquele ano, profetizou
que Jesus morreria. E não somente pela nação, mas também para reunir
em um só corpo os filhos de Deus que andavam dispersos (Jo 11.51-52).
Daquele momento em diante, Caifás e os líderes planejaram como matar
Jesus.
É possível que Judas não tenha conspirado diretamente com Cai­
fás, mas com os seus subordinados que simpatizavam com o desejo de
Caifás de ver Jesus morto, afinal, o emprego deles dependia de Caifás. Os
guardas do templo prenderam Jesus no jardim do Getsêmani em algum
momento no início na noite de quinta-feira. Eles não podiam prendê-lo
na frente do público porque tinham medo que houvesse uma revolta. Le­
varam Jesus até Anás, e Anás o encaminhou a Caifás, o qual convocou
uma reunião imediata do Sinédrio para julgá-lo. Para Caifás isso era um
assunto urgente. Além disso, o julgamento à noite aconteceu antes que a
multidão (que poderia reagir de forma violenta) se reunisse nas ruas para
iniciar as atividades do dia.
Caifás convenceu o Sinédrio a condenar Jesus sob pena capital, por
afirmar ser Filho de Deus (Mt 26.63). No entanto, os criminosos só podiam
ser executados pelos romanos ou com a autorização deles. A condenação
só poderia ser executada se o criminoso houvesse desobedecido alguma
lei romana. Os romanos não se importavam com a lei religiosa dos ju­
deus. Por isso, Caifás tinha de encontrar um crime na lei romana, punido
com a pena capital, do qual pudesse acusar Jesus. Acusaram a Jesus de se
proclamar rei dos judeus (Lc 23.2), acusação que Jesus não negou quando
foi interrogado por Pilatos. Essa declaração era considerada traição, cri­
me punido com a crucificação.
De acordo com a Bíblia, Pilatos não queria condená-lo, mas a
multidão exigiu a morte de Jesus. Podemos nos perguntar, por que a
multidão que aclamara a Jesus quando ele entrou na cidade na entrada
triunfal agora pedia a crucificação dele poucos dias depois? Caifás não
teria mantido o seu posto por tanto tempo se não fosse um mestre na
persuasão de pessoas comuns, ele sabia que era muito fácil transfor­
mar uma multidão em um grupo de pessoas cheias de ódio por alguma
coisa. Alguns homens postos em lugares estratégicos gritando: “Crucifi­
quem-no”, no momento certo, poderíam fazer toda a multidão aderir ao
clamor. Isso confirma o poder persuasivo que Caifás possuía através de
suas atitudes como sumo sacerdote.
O antagonismo perseguidor de Caifás para com a fé cristã conti­
nuou bem depois da morte de Jesus. Nos primeiros anos da igreja Pedro
e João foram levados diante dele, mas foram soltos logo depois devido à
inexistência de evidências contra eles (At 4.6).
Após ele ter sido deposto do cargo em 36 d.C. pelo procurador ro­
mano Vitellius, nada mais se soube sobre ele. Em 1990, apareceram na
necrópole de Talpiot, em Jerusalém, doze ossuários numa sepultura fami­
liar de um certo Caifás. Um deles tinha a descrição: “Joseph bar Kaiapha”
(José, filho de Caifás), enquanto um outro ossuário tinha apenas o nome
“Kaiapha” (Caifás). Tratava-se de um ossuário do século I. Após serem
examinados, os ossos foram enterrados novamente no monte das Olivei­
ras. Num dos ossuários havia uma moeda cunhada pelo rei Herodes Agri-
pa (37-44 d.C.). Este pode ter sido um indício que aqueles ossos se trata­
vam de fato do sumo sacerdote que entregou nosso Senhor à crucificação
pela mão dos romanos.

Caim Nome hebraico, significa '‘Adquirido".

Caim foi o primogênito de Adão e Eva. Foi o primeiro ser huma­


no a nascer por meios naturais do útero de uma mulher. Como tal ele
herdou a maldição adquirida por Adão e Eva, que é o que chamamos de
“pecado original” (tendência a pecar como parte da natureza do ser hu­
mano após a queda no Éden). Caim também se tornou o primeiro assas­
sino, ilustrando o desenvolvimento do pecado dentro da raça humana.
Caim era lavrador, e Abel, seu irmão mais moço, era pastor. O
nome Caim significa “adquirido”, e Abel significa “vapor”. O nome de
Caim nos lembra que a vida é uma dádiva concedida por Deus, enquan­
to o de Abel, que a vida é curta e passageira.
Quando Caim e Abel ofereceram um sacrifício a Deus (provavelmen­
te o primeiro sacrifício da colheita anual deles, o que era obrigatório se­
gundo a tradição, embora a Bíblia não o diga), Caim ofereceu os frutos do
campo, e Abel, as melhores partes das primeiras crias de seu rebanho (Gn
4.3-4). Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim. Não era uma com­
petição acerca de qual oferta seria aceita ou rejeitada. As duas ofertas tanto
podiam ser aceitas ou rejeitadas, dependendo da qualidade da oferta e do
ofertante. A Bíblia não nos dá nenhuma explicação exata sobre o porquê
Deus rejeitou a oferta de Caim e aceitou a de Abel, porém, nos fornece de­
talhes que nos fazem entender o porquê da rejeição e aceitação das ofertas
dos dois irmãos.
Em primeiro lugar, há uma diferença da qualidade da oferta. Caim
ofereceu “parte d o”, Abel ofereceu “as primícias de”. Há uma diferença em
dar parte de algo, e dar a primeira e melhor parte de algo. Caim fez por fa­
zer, Abel fez porque amava e priorizava Deus; Caim apenas deu sua oferta,
Abel fez o seu melhor. Aqui está revelado um critério de Deus na hora de
receber uma oferta: Deus atenta mais para o coração do ofertante do que
para a oferta em si. É por isso que a Bíblia não estipula valores para a ofer­
ta, mas deixa claro que Deus ama quem dá com alegria, pois o coração do
ofertante vale mais para Deus do que a própria oferta (Mt 6.23-24). Oferta
é manifestação de voluntariedade e generosidade. Caim ofertou como se
estivesse dando algo comum a uma pessoa qualquer; Abel ofertou com a
alegria de oferecer o seu melhor Àquele que merece o nosso melhor. Anali­
sando assim, Deus rejeitou a oferta de Caim e aceitou a de Abel.
Um detalhe relevante é que Deus não apenas aceitou a oferta de
Abel ou rejeitou a oferta de Caim, mas “Agradou-se o Senhor de Abel e
da sua oferta, ao passo que de Caim e da sua oferta não se agradou” (Gn
4.4,5). Não está em foco apenas a oferta de Caim e Abel, mas a pessoa de
cada um. O termômetro da oferta, portanto, é o coração do ofertante.
Não se sabe quanto tempo passou do dia em que Deus rejeitou a
oferta de Caim até o dia em que este matou Abel. Porém, sabemos que
houve tempo suficiente para Deus avisar a Caim que os sentimentos dele
o levariam a destruição. Em Gênesis 4.5 está escrito que o “sem blante de
Caim caiu”, resultado da ira que encheu o seu coração. Nos versículos seis
e sete, o próprio Deus pergunta a ele: “Porque decaiu o seu sem blante? O
pecado está à porta, e junto com ele o desejo de fa z e r o m al cabe a você
dom iná-lo”. É provável que, em seu coração, Caim tenha assassinado o
irmão várias vezes antes de cometer o ato em si. Ele invejava o seu irmão
por conta do seu relacionamento com Deus (ljo 3.12).
Ainda assim, Caim não se dispôs a considerar o conselho do Senhor.
Enganou seu irmão, atraindo-o para o lugar onde planejava matá-lo. En­
ganou-se ao pensar que podería cometer um crime tão hediondo e es-
capar impune. Intentou ainda enganar o próprio Deus, encobrindo seus
atos perversos.
Caim teve tempo para refletir sobre o aviso divino, e ainda assim
decidiu fazer o mal. Dominado pela raiva e enciumado por Deus ter
aceitado Abel e o rejeitado, Levou seu irmão ao campo e lá privou-lhe
da vida. Embora a Bíblia não detalhe como, a tradição rabínica sugere
que ele o fez usando uma pedra.
Ao pedir a Caim explicação pelo primeiro assassinato da história hu­
mana, o Senhor perguntou-lhe: “Onde está teu irmão Abel?”. Recusando-se
a aceitar a responsabilidade pelo ato, Caim disse nada sabia: “Acaso sou
guarda de meu irmão?” (Gn 4.9). Disse-lhe o Senhor: “Ouço o sangue de teu
irmão, do solo, clam ar para mim” (Gn 4.10). Caim, no entanto, não admitiu
o que havia feito e, quando julgado, não demonstrou arrependimento.
Como consequência do seu pecado premeditado, Deus disse a Caim
que ele seria “fugitivo e errante sobre a terra”, e para Caim a “terra não
daria a sua fo r ç a ”. Antes lavrador, agora suas habilidades se mostravam
inúteis. O solo onde correra o sangue de Abel se recusaria a dar qualquer
produto a ele. Não lhe restou alternativa a não ser tornar-se fugitivo e
errante sobre a terra.
Não podemos nos esquecer de uma característica social dos tempos
da antiguidade que acrescenta uma dimensão extraordinária à história
de Caim. Não se considerava importante a privacidade e a individualida­
de, em muitos lugares isso chegava a ser algo indesejável. A existência hu­
mana apenas fazia sentido no relacionamento da pessoa com os outros.
Num tempo em que a terra ainda estava sendo povoada, estar sozinho
era desolador. Uma das piores punições era ser banido do convívio social.
Percebamos o poder distanciador do pecado: primeiro, afastou Adão e
Eva do Éden; depois, afastou Caim do convívio de seus pais. Com isso, Caim
foi forçado a vagar pela terra pelo resto da sua vida. Seu destino foi a terra
de Node (que quer dizer “peregrinação”). Lá ele construiu uma cidade que
recebeu o nome do seu filho, Enoque (este não é o Enoque que “andou com
Deus”). Seus descendentes foram os patriarcas dos pastores, músicos e pes­
soas que trabalhavam com metais.
Provavelmente, Caim se casou com uma de suas irmãs. O casa­
mento entre irmãos (incesto) só passou a ser proibido a partir da Lei,
com Moisés (Lv. 18.6). Como Caim juntou-se à sua irmã? Naturalmente
Caim e Abel cresceram como qualquer outra criança. Nisso, passaram,
sem dúvida, muitos anos desde o nascimento deles até que eles desen­
volvessem suas profissões. Nesse período, aconteceu a coisa mais natu-
ral que existe entre um casal, “Adão e Eva continuaram tendo filhos e
filhas” (Gn 5.4). E uma dessas filhas por certo se tornou esposa de Caim.
Há uma tradição judaica que conta que Adão e Eva tiveram ao todos 60
filhos, 33 filhos e 27 filhas, durante os 930 anos em que Adão viveu.
Porém, para protegê-lo e impedir que alguém o matasse, Deus co­
locou nele um sinal. Quando Caim reclamou que sua punição foi maior
do que ele podia suportar e que alguém o encontraria e o mataria, o
Senhor colocou sobre ele uma marca e prometeu vingar-se sete vezes
sobre qualquer um que ousasse matá-lo. Não se sabe que marca seria
essa. Podia ser visível, de modo que, quando o vissem, as pessoas se
afastavam. Ou ainda uma marca invisível, como uma proteção espiri­
tual para que ninguém conseguisse chegar até ele para matá-lo. O que
podemos afirmar é que Deus, de alguma forma, marcou Caim para que
ninguém o matasse, morrendo, assim, provavelmente de modo natural.
Caim é mencionado duas vezes no Novo Testamento. Os cristãos
são prevenidos a “não ser com o Caim” (ljo 3.12). Dos ímpios se diz que
“trilham o cam inho de Caim” (Jd 11). Demonstrando assim o triste legado
que Caim atraiu para a sua vida.

Calebe Nome hebraico, significa "Escravo".

Calebe foi filho de Jefoné, o quenezeu, chefe de uma das famílias de


Judá. Os quenezeus, descendentes de Quenaz, ao que tudo indica, foram
uma das tribos nômades dos desertos do Sinai (Gn 36.15). Foi em uma
dessas tribos de edomitas que Moisés se casou (Jz 1.16; 4.11). A migração
de Israel em direção ao norte atraiu alguns desses povos a unirem-se ao
Senhor e ao seu povo. A família de Calebe foi anexada à tribo de Judá, e
Calebe conquistou rapidamente uma posição de liderança na tribo.
Embora o chefe da tribo fosse Naasom, filho de Aminadabe (Nm
2.3), foi Calebe que representou a tribo como espia e, mais tarde, como
um daqueles que dividiu a terra em áreas tribais (Js 21.12). Está registra­
do que foi entregue a Calebe a sua parte “no m eio dos filh os de J u d á ” (Js
15.13) sugerindo que realmente ele não era um membro daquela tribo.
0 significado do seu nome parece estranho. Não é fácil compreen­
der porque um pai coloca em seu filho um nome que significa escravo.
No entanto, analisando o contexto histórico na época do nascimento de
Calebe, entendemos esse significado. Quando Calebe nasceu, os hebreus
eram escravos no Egito. O Êxodo acontece quando Calebe tinha aproxi­
madamente quarenta anos. Por certo seu pai estava expressando, atra­
vés do seu nome, a situação que os hebreus viviam: escravos. Dentro de
uma lógica humana a vida de Calebe estava confinada a ser um escravo.
No entanto, Deus o abençoou, tirando-o do Egito com os hebreus. Dando-
-lhe credibilidade em sua tribo e fé para não temer os anaquins, além de
fazê-lo herdar a promessa dos hebreus sobre possuir Canaã.
Moisés o escolheu para representar a tribo de Judá no grupo dos doze
homens enviados para expiar Canaã (Nm 13.6). Os doze espias viajaram
cerca de oitocentos quilômetros durante os quarenta dias de sua inspeção
da terra prometida. A terra que viram era muito fértil. Trouxeram gran­
des cachos de uvas e relataram sobre a prosperidade da região. Entretanto,
descobriram que a área era também ocupada por povos temíveis, princi­
palmente os descendentes de Anaque, os anaquins, que viviam próximo a
Hebrom. Os anaquins eram gigantes que mediam até aproximadamente
2,70 cm de altura. A Bíblia refere-se duas vezes à “Cidade de Arba, pai de
Anaque” (Js 15.13; 21.11). A “Cidade de Arba” era um dos nomes de He­
brom (Gn 23.2), o que sugere que Arba foi o patriarca daquela geração de
gigantes e, nesse caso, a cidade foi à pátria ancestral dos anaquins. Eram
descendentes de Anaque os Refains e os Nefilins, outros grupos de gigantes.
Dez dos doze espias voltaram desapontados e convencidos de que
jamais conseguiríam vencer uma batalha contra aqueles povos. Porém,
Josué e Calebe mesmo sabendo da altura daqueles gigantes, não os te­
meram, pois a confiança deles em Deus era maior. Calebe nos ensina
uma definição prática do que é confiar em Deus. Confiar em Deus não é
ignorar ou desconhecer a existência de um problema, mas é saber que
maior do que qualquer problema sempre será o Senhor.
Interessante como os dez espias identificaram Canaã como “a ter­
ra que nos enviaste” (Nm 13.27) e a “terra pelo m eio da qual p assam os” (v.
32), mas não como “a terra que o Senhor nosso Deus nos deu”. A expres­
são mais desanimadora desses dez espias é quando dizem: “éram os aos
nossos próprios olhos com o gafan hotos perante eles” (Nm 13.33). Alguém
desmotivado sempre verá seus problemas maiores do que são, e sempre
se julgará menor do que de fato é. Os únicos que enxergavam eles como
gafanhotos eram eles mesmos. A falta de visão em uma pessoa pode des-
motivar toda uma equipe. A expressão “a os nossos próprios o lh o s” já
define que uma das grandes causas do fracasso daquela geração era que
eles ouviam pessoas desmotivadoras, como por exemplo, aqueles dez
espias. Moisés, em primeiro lugar, errou por enviar espias quando Deus
não havia mandando que ele fizesse isso. E, em segundo lugar, errou por
delegar responsabilidades a pessoas que não tinha uma mentalidade
saudável para a conquista. Eles eram pessoas pessimistas e sofriam de
uma síndrome de inferioridade muito grave. Espiritualmente falando,
alguém que é deficiente em sua visão, nunca poderá gerar pessoas com
uma visão saudável de futuro. Diante disso, a visão desesperançosa do
povo acabou se tornando a consequência da visão desesperançosa da­
queles dez espias. Certamente, esses dez espias não conheciam a Deus,
pois se o conhecessem, perceberiam que o Senhor vê todas as nações da
terra como gafanhotos (Is 40.22).
A incredulidade desses dez espias não apenas contaminou todo o
povo, como também os incitou a organizarem uma revolta. Perdendo a fé na
proteção divina, os israelitas “murmuraram contra Moisés e A rão”, dizendo
uns aos outros: “Escolhamos um chefe, e voltemos para o Egito” (Nm 14.2-4).
Como castigo pela incredulidade do povo, todos os “homens” da­
quela geração foram impedidos de entrar em Canaã e gastaram o resto
de suas vidas “vagando” pelo deserto (Nm 14. 22-23). Daquela geração,
somente Josué e Calebe viveram para conquistar Canaã. Vale a pena
lembrarmos que a expressão “homens” na Bíblia, refere-se a pessoas
do sexo masculino maiores de vinte anos de idade. E, dos “homens” que
saíram do Egito, apenas Josué e Calebe chegaram a Canaã. O restante da
geração que conquistou Canaã era dos homens menores de vinte anos
na época do êxodo, e dos hebreus que nasceram durante os quarenta
anos na peregrinação no deserto.
Calebe voltou a ser mencionado na Bíblia apenas quarenta e cin­
co anos mais tarde. Naquela época, a terra já conquistada estava sendo
dividida entre as tribos e ele reivindicou uma herança especial, prome­
tida por Moisés. Isso foi cumprido por Josué. Com a idade de oitenta e
cinco anos, Calebe continuava vigoroso, tendo participado de diversas
batalhas (Js 14. 6-15; 15.4). Calebe pediu a Josué a cidade de Hebrom por
Herança. Esta mesma Hebrom, era a cidade onde moravam os gigantes
que haviam amedrontado os dez espias quarenta e cinco anos atrás. E
esta era a herança que Calebe estava reivindicando. Contudo, existiam
algumas dificuldades para conquistar a cidade de Debir (Quiriate-Sefer),
então Calebe ofereceu uma de suas filhas como esposa ao homem que
a conquistasse. A cidade foi conquistada por Otniel, filho de Quenaz,
irmão mais jovem de Calebe, e assim Acsa, filha de Calebe, tornou-se
a esposa de Otniel (Js 15.13-19). Nos anos seguintes Otniel tornou-se o
primeiro dos juizes de Israel (Jz 3.9).
Nada mais ouvimos sobre Calebe, e nem sabemos como a sua vida
terminou. Séculos mais tarde, nos dias de Saul e Davi, os descendentes de
Calebe ainda formavam uma famüia distinta em Judá (ISm 25.3; 30.14).
Daniel Nome hebraico, significa "Deus é meu juiz".

Daniel foi um célebre profeta judeu do período babilônico e persa.


Exerceu seu ministério em um período de mais de setenta anos, durante
o reinado de quatro reis: Nabucodonosor, Belsazar, Dario e Ciro. Da­
niel parece ter nascido em Jerusalém, de uma família nobre de Judá não
mencionada no livro (Dn 1.2-3), algum tempo antes da reforma de Josias
em 621 a.C.
Com aproximadamente dezesseis anos de idade, Daniel já se encon­
trava na Babilônia. Foi levado por Nabucodonosor na primeira deporta­
ção da nação de Judá, no quarto ano do rei Joaquim, em 605 a.C. A filoso­
fia babilônica era levar em cativeiro todos os líderes políticos, religiosos e
intelectuais das nações conquistadas.
A reconstrução da sequência dos fatos da vida de Daniel, partindo
do livro que leva o seu nome, é um grande desafio. O texto desenvolve-se
em tópicos não ordenados cronologicamente em seus movimentos mais
amplos. Por exemplo: os episódios citados em Daniel 7 são bem anterio­
res aos citados nos capítulos 5 e 6. O fato mais notável, entretanto, é a
escassez de informações sobre o próprio Daniel, quando tinha entre 20
e 25 anos (antes de 600 a.C.), até os incidentes datados em Daniel 5 a 10
(por volta de 553-536 a.C.), quando ele já estava com aproximadamente
setenta anos.
O único evento registrado em que Daniel é visto durante este período
de cinquenta anos, é sua interpretação do segundo sonho do rei Nabuco­
donosor, no capítulo 4. Não é possível, no entanto, estabelecer a data dos
eventos deste registro de forma precisa, sabe-se apenas que foi em alguma
época antes do final do reinado de Nabucodonosor, em 562 a.C. Assim, tudo
o que se sabe, de um período de quase meio século de vida de Daniel, é a
informação contida nesse capítulo, o que faz da biografia de Daniel uma
tarefa desafiadora e minuciosa.
Cativos junto com ele na Babilônia estavam outros jovens hebreus
chamados Ananias, Misael e Azarias. Ele e seus companheiros foram for­
çados a entrar no serviço da corte real babilônica. Na Babilônia, Daniel
aprendeu falar e a escrever em caldeu (Dn 1.4). Quando Daniel iniciou o
estudo de três anos, pelo qual passavam os que entravam para o serviço
do rei Nabucodonosor (Dn 1.5), recebeu o nome caldeu de Beltessazar,
que significa “Bel (deus caldeu) te proteja”. Ele e seus companheiros fo-
ram treinados entre os melhores e mais brilhantes jovens do império (Dn
1.4). Capacitados por Deus (Dn 1.17), provaram ser muito superiores, não
somente aos outros estudantes (Dn 1.19), mas também a “todos os m agos
e encantadores que havia em todo o reino” (Dn 1.20).
A posição privilegiada de Daniel e seus amigos lhes dava direito
a se alimentar da comida preparada para o próprio rei, para que cres­
cessem “saudáveis e fortes” a fim de desempenharem seus papéis no
império. Daniel, porém, mostrou-se extremamente leal às tradições de
seu povo. Embora sem rejeitar o chamado para servir ao rei na corte,
decidiu “não se contam inar com as iguarias do rei nem com o vinho da
sua m esa ” (Dn 1.8). O texto bíblico não indica com precisão porque a
comida contaminaria Daniel - talvez por derivar de animais impuros,
conter sangue, ou incluir carnes de sacrifícios pagãos - mas deixa claro
o seu que o seu simbolismo está relacionado aos compromissos atraen­
tes e corruptores com a vida pagã, tentadores para muitos judeus fiéis
em uma terra estrangeira.
Ao fim dos três anos de estudos Daniel se tornou um dos cortesãos
do palácio de Nabucodonosor. Neste período, em 602 a.C. Nabucodonosor
teve um estranho sonho (Dn 2.1-45) e exigiu que seus sábios o interpre­
tassem. No entanto, decidiu não contar a eles como fora o sonho, dizendo
que, se eles tivessem realmente um contato com os deuses, saberíam o
sonho sem que ele precisasse contá-lo. Nabucodonosor ameaçou cortá-los
em pedaços se não dissessem o conteúdo e o significado do sonho.
Daniel orou intensamente a Deus, então o Senhor revelou-lhe o sonho
e sua respectiva interpretação. Nabucodonosor sonhou com uma estátua
enorme com cabeça de ouro, peito de prata, ventre de bronze, pernas de fer­
ro e pés parte de ferro e parte de barro (Dn 2.32-33). Uma pedra não talhada
por mãos humanas atingiu a estátua, transformando-a em pó, enquanto a
pedra transformou-se em uma montanha. O estátua representava os quatro
impérios mundiais: Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma, que precederíam a in­
trodução do reino messiânico.
Daniel revelou que a cabeça de ouro representava Nabucodonosor,
mas que seus sucessores seriam inferiores a ele e causariam a perda da
dinastia. A prata representava os medos e os persas, os quais conquista­
riam o reino babilônico. O ventre de bronze representava um reino que
destruiría os medos e os persas (os gregos sob o comando de Alexandre,
o Grande), as pernas de ferro representavam os romanos e os pés de fer­
ro e barro indicavam que o reino de ferro se dividiría e se ramificaria
em outros domínios governamentais, porém, não com a mesma força dos
primeiros. Isso ocorreu na divisão do império romano pelos bárbaros em
476 d.C., quando Roma foi dividida em dez estados separados e distintos,
a exata quantia de dedos dos pés da estátua. A pedra representava o Rei­
no de Deus, o qual destruiria todos os reinos e governaria o universo. Na-
bucodonosor ficou tão impressionado com Daniel que o tornou chefe de
todos os outros sábios do reino e governador da província da Babilônia,
uma posição que Daniel transferiu para os seus três amigos (Dn 2.48-49).
Algum tempo depois Nabucodonosor teve um segundo sonho (Dn
4.4-37), no qual uma árvore imensa foi cortada por um anjo. O toco da ár­
vore permaneceu no deserto por sete tempos (a interpretação desses “tem­
pos” é incerta, não se sabe se o termo refere-se a semanas, meses ou anos,
embora muito considerem a última opção), depois, a árvore floresceu de
novo. Foi necessário coragem para que Daniel fosse fiel a interpretação do
sonho de Nabucodonosor. Ele interpretou que a árvore representava o rei
e, o fato deste não se submeter ao poder do Deus de Israel, por sua arrogân­
cia, faria com que ele fosse derrubado por Deus, passando a viver como os
animais no deserto, até que aceitasse e reconhecesse o poder do Senhor.
Um ano depois, Nabucodonosor ficou louco e passou a viver como
um animal, comendo grama e andando como um quadrúpede. Depois
dos “sete tempos”, Nabucodonosor recuperou a sanidade, reconheceu a
soberania de Deus e retornou ao trono (Dn 4.28-34).
Após isso, a história de Daniel só volta a ser contada anos depois,
durante o governo de Belsazar. Nesse tempo, Daniel já não exercia na
Babilônia a mesma influência dos dias de Nabucodonosor, falecido
desde 562 a.C. Belsazar era um rei que não temia a Deus. Certa noite,
promoveu uma orgia desmedida, na qual mandou trazer as taças que
Nabucodonosor tirara do templo em Jerusalém. Três taças, tratadas com
respeito por Nabucodonosor, foram usadas por Belsazar para propósi­
tos profanos e obscenos “enquanto eles entoavam louvores a os deuses de
ouro e de prata, de bronze e de ferro, de m adeira e de p ed ra” (Dn 5.4). Re­
pentinamente, apareceu uma misteriosa mão sem corpo e escreveu na
parede em uma língua desconhecida. Daniel foi chamado para interpre­
tar essas palavras, explicando a Belsazar que fora o próprio Deus quem
escrevera na parede, e o significado das palavras era: “mene, mene, tekel,
parsin”, cujo sentido era: Mene, Deus mediu o seu reino; Tekel, pesado
fostes na balança e achado em falta; Parsin, o teu reino foi dividido e
será tirado de ti. Esses são três termos aramaicos que denotam medidas,
pesos e divisões. Naquela mesma noite, Belsazar foi morto por Dario, o
medo, que tomou o seu reino.
Durante o governo de Dario, foram instituídos cento e vinte prínci­
pes que estivessem sobre todo o reino, bem como, para os liderar, três pre­
sidentes, dentre os quais estava Daniel.
Para evitar que Daniel fosse nomeado para o mais importante
cargo administrativo por Dario, oficiais do governo medo-persa cons­
piraram contra ele para tirá-lo do poder a qualquer custo (Dn 6.4-5).
Observando a conduta ética e o costume religioso de oração de Daniel,
os conspiradores arquitetaram um plano para persuadir o rei a decretar
que, por um período de trinta dias, toda oração que não fosse feita ao rei
seria considerada ilegal e, o culpado, sentenciado à morte em uma cova
de leões (Dn 6.6-9). Dario não atentou à malícia deles e, inadvertida-
mente, aprovou o decreto. Uma vez que um documento fosse assinado,
de acordo com a lei dos medos e dos persas, não poderia mais sofrer
alterações, nem mesmo da parte do rei.
Daniel não abandonou o seu hábito e, por causa de sua disposição
de orar três vezes ao dia, foi imediatamente preso e jogado na cova dos
leões (Dn 6.10-17). Nessa época, Daniel tinha aproximadamente oitenta
anos. Naquela noite o rei Dario não dormiu e jejuou toda a noite, preo­
cupado com Daniel. Deus enviou o seu anjo, protegendo-o e não dei­
xando que nenhum dos leões o fizesse mal. Ao amanhecer, o rei chegou
angustiado à cova dos leões, mas encontrou Daniel são e salvo (Dn 6.18-
23). Deus interveio para salvar seu servo, mas a sentença foi transferida
para os acusadores de Daniel. Dario prendeu a todos, lançando-os aos
leões, que imediatamente os despedaçaram. A seguir, Dario anunciou:
“Estou editando um decreto p ara que em todos os dom ínios do im pério os
hom ens tem am e reverenciem o Deus de Daniel, pois Ele é o Deus Vivo e
perm an ece para sem pre” (Dn 6.26).
Quando o exílio dos judeus na Babilônia chegou ao fim em 538 a.C.,
o anjo Gabriel respondeu às preces de Daniel, revelando-lhe um período
de tempo de “setenta semanas proféticas”, as quais representavam 490
anos, e foram decretadas por Deus para o futuro da nação de Israel (Dn
9.24-27). Este intervalo de tempo compreendia-se do decreto da recons­
trução do templo até o início da obra do Messias.
Daniel teve ainda a satisfação de ver um remanescente de Israel
voltar à Palestina (Dn 10.12). Sua carreira profética, no entanto, não ha­
via terminado. No terceiro ano do reinado de Ciro, Daniel recebeu outra
série de visões, informando acerca dos futuros sofrimentos de Israel, do
período de sua redenção através do Messias, da ressurreição dos mortos
e do fim da atual dispensação (Dn 11 e 12). Este parece ter sido o último
registro da sua vida. Nessa série de visões ele viu o conflito entre Miguel e
os poderes demoníacos da sociedade. Esta revelação tratava, com algum
detalhe, sobre a perseguição de Antíoco Epifanes (175 a.C.) e a ascensão
do anticristo escatológico.
A partir desse momento, o que resta relatado da vida de Daniel são
apenas tradições. Há uma tradição rabínica posterior que afirma que Da­
niel teria retornado à Palestina entre os exilados. Mas, um viajante judeu,
Benjamim de Tudela (Século XII d.C.), supostamente teria encontrado o
túmulo de Daniel em Susã, na Babilônia. Nesse caso, se o primeiro infor­
me é verídico, então Daniel pode ter retornado mais tarde à Babilônia.
Daniel nunca traiu suas convicções, nem hesitou em sua lealdade
a Deus. Viveu aproximadamente noventa anos, e ainda bastante ativo.
Deixou atrás de si uma reputação impressionante ao inspirar fé por inter­
médio do exercício da coragem quando confrontado por perigos mortais.
Ele também manifestou completa dedicação aos ideais de Deus, mesmo
em uma sociedade pagã, e deu exemplo de perseverança na oração.
O profeta Ezequiel fez menção à grande sabedoria de Daniel (Ez
28.3) e o colocou, segundo a revelação de Deus, no mesmo patamar de
Noé e Jó (Ez 14.14-20). No Novo Testamento, há menção de Daniel em
Mateus 24.15, passagem na qual Jesus, durante o discurso do Monte das
Oliveiras (Mt 24 e 25) faz referência à “abom inação da desolação, de que
falo u o profeta Daniel” (Mt 24.15). A maneira como Cristo fala do profeta
durante o seu discurso autentica a exatidão histórica dos eventos e das
visões concedidas a Daniel e registradas em seu livro.

Davi Nome hebraico, significa "O Amado".

Davi é o nome do maior rei de Israel e o terceiro na ordem crono­


lógica. O primeiro foi Saul (ISm 10.1), o segundo Is-Bosete, filho de Saul,
enquanto Davi reinava em Hebrom (2Sm 2.10). Nasceu em Belém de Judá,
aproximadamente em 1040 a.C. e governou em Israel entre 1.010 e 970 a.C.
Davi é o personagem mais citado na Bíblia, com 1.105 ocorrências. Além
de ser um dos personagens cuja história a Bíblia dedica mais páginas, de 1
Samuel 16 a 2 Reis 1 e de 1 Crônicas 2 a 29, a importância de Davi pode ser
percebida pela posição que ele e sua família ocuparam na história de Israel.
Em um dos extremos, Boaz e Rute eram seus antepassados (Rt 4.18-22), no
outro, Jesus Cristo foi seu descendente (Mt 1.6; Lc 3.31).
Davi era filho de Jessé e bisneto de Rute e Boaz. Era o mais novo
de um total de dez filhos (ISm 16.10-11). 1 Crônicas 2.13-16 relaciona
apenas nove (talvez um filho tivesse morrido na infância). Os nomes
dos seus irmãos registrados na Bíblia eram Eliabe, Abinadabe, Samá,
Natanael, Radai e Ozém. Os nomes de suas irmãs eram Abigail e Zeruia
(lCr 2.13-16). O filho não registrado de Jessé por certo ainda era vivo
quando Davi foi ungido por Samuel, pois o texto registra que passaram
sete irmãos para depois então passar Davi (ISm 16.10).
Jessé era um ancião rico e muito respeitado em Belém, e que rei­
vindicava ser da linhagem de Boaz. Não era um israelita de linhagem
pura, pois Rute era moabita. Os israelitas odiavam e desprezavam os
moabitas. Isso fazia do jovem pastor Davi um candidato ainda menos
provável ao trono.
Davi era filho da velhice de Jessé (ISm 17.12). Sua responsabilida­
de dentro da divisão de tarefas da família era a de um pastor de ovelhas,
ocupação que lhe deu a chance de desenvolver a coragem utilizada em
seus anos como guerreiro, os quais consolidaram o seu reinado (ISm
17.34-35). Essa experiência o ensinou a confiar e depender do Senhor,
conforme afirmou para Saul: “O Senhor que m e livrou das garras do leão,
e das g arras do urso, m e livrará das m ãos deste fllisteu ” (ISm 17.37). É
possível que, durante o tempo em que cuidava dos rebanhos, o jovem
Davi tenha desenvolvido suas habilidades poéticas, e a vida no cam­
po também lhe forneceu muitas metáforas utilizadas em seus salmos,
dentre eles o clássico Salmo 23. Além de, em seus dias como pastor, ter
desenvolvido sua habilidade com o uso da funda, a qual lhe foi muito
útil na sua vitória contra Golias. Isso nos ensina que todos os desafios
enfrentados hoje servem para nos ensinar a lidar com situações que en­
frentaremos em processo do nosso amadurecimento.
Depois que Saul foi rejeitado por seus atos de desobediência (ISm
15.26), o Senhor incumbiu Samuel da tarefa de ungir um dos filhos de
Jessé. Quando o profeta nacionalmente conhecido visitou a casa de Jes­
sé, todos os filhos mais velhos estavam disponíveis para encontrá-lo. Os
mancebos passaram um por vez diante do profeta, mas nenhum deles
foi aprovado por Deus. Depois que os sete mais velhos foram apresen­
tados, Samuel não entendeu porque o Senhor o enviara a ungir um rei
naquela casa. O profeta procurava um candidato que se qualificasse por
sua estatura física. Afinal, anteriormente tinha dito ao povo que Saul
preenchia os requisitos, devido à sua bela aparência: “Vedes o hom em
que o Senhor escolheu? N ão há entre o povo nenhum sem elhante a ele”
(ISm 10.24).
Samuel, não tendo encontrado entre eles aquele que Deus havia
escolhido, perguntou se Jessé tinha mais algum filho. Jessé disse que ti­
nha ainda Davi, mas que este era apenas um menino e estava cuidando
das ovelhas no campo. Davi foi chamado e, assim que ele entrou na casa,
Samuel reconheceu de imediato que se tratava do escolhido de Deus. O
Senhor disse a Samuel: “É este! Levante-se e unja-o” (ISm 16.12).
Davi era ruivo {‘admoni, “vermelho” expressão também usada para
Esaú, sugerindo que Davi tivesse cabelos vermelhos), tinha belos olhos e
sua beleza era encantadora. No entanto, o mais importante é que “desde
aquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi” (ISm 16.12).
Embora tivesse sido ungido rei durante sua juventude, Davi se
dispôs a servir a outros. Foi a sua disposição de levar suprimentos aos
seus irmãos mais velhos no exército que deu a ele a oportunidade de
alcançar a fama nacional. Davi ficou conhecido em Israel por causa de
dois importantes acontecimentos: um relacionado com a música e o ou­
tro relacionado com a sua coragem em desafiar Golias. Saul cometeu
muitos erros e sua situação chegara a um ponto sem retorno. O Espírito
de Deus havia se afastado dele, e um espírito maligno foi enviado para
perturbá-lo. Na busca de um habilidoso músico que pudesse aliviar a
perturbação de Saul, Davi foi recomendado por um membro da corte
para ocupar tal posição. Era um homem de diferentes habilidades e o
testemunho sobre ele é de que era alguém que “sabe tocar, é valente, é
anim oso, hom em de guerra, sisudo em palavras, de gentil presen ça e o Se­
nhor é com ele ” (ISm 16.18). O êxito de Davi não estava pautado apenas
em suas habilidades humanas, mas sim em ter a presença de Deus.
A versatilidade de Davi chamou a atenção de Saul, de forma que
ele rapidamente ganhou um duplo papel na corte: portador da arma­
dura do rei e seu músico particular. Como Belém estava a apenas treze
quilômetros de Gibeá, o domicílio do rei Saul, acredita-se que Davi re­
tornava sempre à sua casa para continuar a cuidar dos rebanhos de seu
pai (ISm 17.15). Seu prestígio cresceu, com grande velocidade, tanto em
Benjamim (tribo de Saul) como em Judá.
Outro acontecimento que chamou a atenção nacional foi sua vitória
sobre Golias, um gigante que media aproximadamente 2,93 cm de altura
(ISm 17.4). Davi deixou sua casa em Belém para levar alimento aos seus
irmãos guerreiros e trazer notícias a Jessé sobre como a batalha estava
evoluindo. Naquela época os soldados tinham de providenciar o próprio
alimento, equipamento e armas.
Ao chegar ao campo de batalha, Davi ficou sabendo que Golias esta­
va desafiando o exército hebreu havia quarenta dias, para apresentar um
homem que pudesse lutar contra ele e, assim, determinar o resultado da
guerra. Como o povo filisteu dominava a fabricação do metal e era forma­
do por guerreiros treinados desde a juventude, o exército hebreu estava
em grande desvantagem. Seus equipamentos e táticas militares eram in­
feriores aos do gigante filisteu habilmente treinado. Apresentar-se como
voluntário para lutar contra ele era quase um suicídio.
Saul conhecia as poucas chances de uma vitória e ofereceu eleva­
das recompensas a qualquer um que pudesse se apresentar: isenção de
impostos para a casa de seu pai e a mão de sua filha em casamento. Davi
ofereceu-se para aceitar o desafio de Golias, e Saul lhe deu o melhor equi­
pamento militar que o exército hebreu conseguiu reunir. Davi recusou as
armaduras por dificultarem sua movimentação, escolhendo, então, suas
próprias armas, armas de um pastor: cinco pedrinhas e uma funda. Com
esses instrumentos ele havia protegido o rebanho de seu pai terreno, e
com eles protegeria o povo do rebanho de seu Pai Celestial. O vencedor do
confronto foi Davi. Golias foi derrotado por um menino pastor. Sua cabe­
ça foi levada para Jerusalém como troféu de guerra, e sua armadura co­
locada na “Tenda de Davi”, também interpretada como a tenda em Nobe.
A fama de Davi, entretanto, gerou ciúmes em Saul. Embora Saul ti­
vesse prometido Merabe, sua filha mais velha (primogênita) a Davi, ele não
manteve o acordo, Merabe se casou com outro (ISm 18.19). Então Mical,
sua segunda filha foi oferecida como esposa a Davi, contanto que este trou­
xesse cem prepúcios de filisteus. Saul esperava que o jovem fosse morto
nessa tentativa, mas Davi conseguiu duzentos prepúcios. Logicamente,
Davi e seus homens tiveram que matar duzentos filisteus (ISm 18.27).
Nesse período de popularidade de Davi, nasceu entre ele e Jôna-
tas - filho de Saul - uma das amizades mais leais e puras da Bíblia, a tal
ponto de o texto afirmar que "a alma de Jônatas se apegou à de Davi, e
ele começou a amá-lo" (ISm 18.1). Jônatas, porém, ficou refém do dilema
entre a amizade com Davi e a lealdade a seu pai, que desejava matar
Davi. A verdade é que Jônatas conseguiu ser leal a seu pai e ao seu ami­
go até o fim de sua vida, embora soubesse que o sucessor escolhido por
Deus para o trono de Israel seria o jovem Davi, ao invés dele, o filho do
atual rei (ISm 23.16-18).
Era apenas natural que a reputação de Davi crescesse, e que a de Saul
diminuísse, pois não foi o jovem Davi que arriscou a vida enquanto Saul ape­
nas olhava? A vida não promove os que olham, mas os que fazem. A simpatia
transmutou-se em ódio, e o ódio inspirou a tentativa de homicídio.
Finalmente, Davi foi obrigado a fugir. O ódio de Saul aumentava
à proporção que a popularidade de Davi crescia. Davi fugiu para a com­
panhia de Samuel em Ramá, e juntos foram para Naiote. Saul enviou ho­
mens para prender Davi, no entanto, estes estranhamente se distraíram
e começaram a profetizar (ISm 19.18-24).
Enquanto fugia do rei Saul, Davi foi formando um exército fas­
cinante na caverna de Adulão. Seus irmãos e toda a sua família foram
fazer companhia a ele. Além destes, os miseráveis, os que estavam em
débito e os descontentes se juntaram a ele. Dessa estranha mistura, Davi
formou um sólido núcleo de companheiros leais. Eram com ele uns qua­
trocentos homens (ISm 22.2), e desse grupo saíram aqueles chamados
de “os valentes de Davi" (2Sm 23.8-39).
Durante este período Davi tomou a cidade de Queila dos filisteus e
Saul, ao saber disso, deslocou-se para lá, para tentar capturá-lo. Porém,
o Senhor informou a Davi que o povo de Queila o trairia e ele fugiu dali,
levando consigo seiscentos homens.
Davi se refugiou nas montanhas no deserto de Zife, escondendo-se
numa floresta. Foi neste local que ele e Jônatas se viram pela última vez.
Quando os zifeus ofereceram ajuda a Saul para capturar Davi, este se
foi para Maon, no Arabá, parte sul do deserto. Saul o perseguiu e quase
conseguiu capturá-lo em uma montanha. Justamente quando Saul es­
tava para conseguir, recebeu uma mensagem para que retornasse e se
defendesse de um ataque filisteu. Com razão Davi deu nome ao lugar de
Sela-Hamalecote (Pedra de Escape) (ISm 23.1-29).
Em seguida, Davi fugiu para En-Gedi. Saul levou consigo três
mil homens para tentar capturá-lo. Davi e seus homens estavam es­
condidos no fundo de uma caverna. Sem saber que sua presa estava
lá, Saul entrou na caverna para fazer suas necessidades. Davi se re­
cusou a matá-lo. No entanto, andando com cuidado, aproximou-se do
rei e cortou um pedaço de seu manto sem ele percebesse. Em seguida,
Davi mostrou o pedaço do manto a Saul para provar que ainda era
leal ao rei. Saul ficou comovido e permitiu que Davi retornasse em
segurança para sua fortaleza no deserto (ISm 24). Em outra ocasião,
Davi e seus soldados entraram com cuidado no acampamento de Saul
enquanto ele dormia, pegando a lança e o jarro de água que estava ao
lado dele para provar, uma vez mais, que Davi poderia tê-lo matado,
mas não o fez (ISm 26.7-21). CAMP001X012021
Por muitas vezes Saul tentou matar Davi, mas não o achou. Por
mais de uma vez, Davi poderia ter matado Saul, mas sempre lhe poupou
a vida. Davi sabia que fora ungido para suceder Saul no trono, mas não
para tomar seu lugar. Aquilo não era obra para a mão de Davi, mas para
a mão de Deus. Por isso, o jovem ungido aguardou a intervenção do Se­
nhor. Sua paciência e seu respeito para com Saul eram admiráveis. Ele
nada fez para derrubá-lo do trono, mantinha-se simplesmente um passo
à frente daquele que o perseguia. Desse modo, quando a dinastia de Saul
acabou, Davi foi visto pelo povo não como um usurpador, mas como um
sucessor natural.
Apesar de toda a lealdade que Davi demonstrava a Saul, muitas ati­
tudes que ele tomou para sobreviver não foram dignas de honra. Ele foi ao
santuário sagrado de Nobe e disse ao sumo sacerdote Aimeleque que esta­
va em missão secreta em nome de Saul (ISm 21.1-10), e que seus homens
estavam famintos. Por isso, os sacerdotes deram a ele o pão sagrado do
altar. Davi disse que precisava de uma espada. A espada de Golias, que há
muitos anos fora usada para cortar a cabeça do gigante, estava guardada
no santuário, e Aimeleque entregou-lhe a arma. Doegue, o edomita, espião
de Saul, testemunhou tudo isso e contou ao rei, que mandou liquidar todos
os sacerdotes e o povo de Nobe (ISm 22.9-19). Um filho de Aimeleque, Abia-
tar, conseguiu escapar, levando consigo a estola sacerdotal, e juntou-se a
Davi (ISm 22.6-23).
Por fim, Davi percebeu que o ódio e o medo que Saul sentia por ele
não cederiam e que precisaria sair de Judá. Davi, então, procurou refú­
gio entre os filisteus, os piores inimigos de Saul. Ele convenceu Aquis, rei
de Gate, que faria ataques noturnos contra o povo de Saul, e Aquis deu
a ele a cidade de Ziclague, na fronteira com a Judeia, para que ele e seus
guerreiros vivessem lá. Estando Davi afastado da cidade, os amalequi-
tas aproveitaram-se da situação, incendiaram Ziclague e levaram todas
as mulheres. Davi os perseguiu e, alcançando-os, tomou de volta tudo
quanto pode (ISm 30).
Na verdade, Davi não atacava o povo de Israel, mas eliminava as
vilas fUisteias. Ele dividia parte dos despojos com Aquis, depois de tirar o
necessário para as necessidades dele e de seus homens, e dava o que so­
brava para as vilas israelitas a fim de conquistar o apoio popular. Ele con­
tinuou a fazer esse jogo perigoso por mais de um ano até que, por fim, em
uma importante batalha dos filisteus contra Saul, teve de escolher entre
abandonar os filisteus ou ficar ao lado deles. No entanto, ele foi poupado
de tomar essa decisão. Aquis queria Davi e seus homens ao seu lado, mas
nenhum comandante filisteu confiava nele por ser israelita. Davi foi for­
çado a afastar-se da batalha e retornar a Ziclague e, enquanto estava lá,
Saul e Jônatas foram mortos na batalha contra os filisteus.
As notícias foram enviadas a Davi em Ziclague. O mensageiro,
pensando que seria recebido como um herói, exagerou, declarando que
ele próprio havia matado Saul, a quem havia encontrado sofrendo do­
res. Davi sentiu-se consternado diante do relato e mandou executar o
mensageiro. Davi não desejava amigos que desprezavam um ungido do
Senhor (2Sm 1.1-16).
Com a morte de Saul, Abner, comandante (e tio) do rei pôs no tro­
no Is-Bosete, filho de Saul e bastante incompetente para ocupar tal posi­
ção. Mesmo sabendo que ele não tinha capacidade para governar e era
manipulado por Abner, as tribos do norte se juntaram a ele. As tribos de
Judá e de Benjamim, por sua vez, permaneceram leais a Davi e o ungi­
ram rei sobre Judá.
Abner atravessou o rio Jordão e atacou Judá. A guerra se arrasta­
va, mas a liderança de Is-Bosete era tão fraca que, por fim, Abner, des-
gostoso com isso, desertou para o lado de Davi. Joabe, então, o matou.
Davi ficou furioso com Joabe, mas o próprio povo de Is-Bosete resolveu
o problema. Assassinaram Is-Bosete e levaram sua cabeça para mostrar
a Davi. Todavia, Davi mandou executá-los imediatamente por assassi­
nato e convenceu o povo que não havia ordenado a Joabe que matasse
Abner. Seu ato de lealdade à dinastia de Saul agradou tanto as tribos do
norte que os anciãos das tribos ungiram-no rei de Israel. Pela primeira
vez, as doze tribos de Israel foram unidas sob um único rei. A união de
Judá e Israel foi chamada de Reino Unido. Esse Reino Unido existiu por
aproximadamente oitenta anos, até pouco depois da morte de Salomão,
nos dias do rei Roboão.
Portanto, Davi foi o primeiro monarca de um império unificado
e o fundador de uma dinastia que permaneceu no poder durante qua­
trocentos e vinte e cinco anos. Mesmo depois da divisão das doze tribos
a dinastia de Davi continuou reinando no reino do Sul. O último rei de
Judá, Zedequias, como todos os seus predecessores, era descendente di­
reto de Davi. Poucas dinastias no mundo conseguiram igualar os recor­
des de permanência da família de Davi.
O primeiro ato de Davi como rei de Israel foi escolher um determi­
nado lugar como capital, o qual pudesse ser aceito tanto pelas tribos do
norte como do sul: Jerusalém tornou-se esse lugar. Durante este tempo, o
rei de Tiro, Hirão, viu a grande vantagem de se tornar amigo de Davi e lhe
enviou cedros para construir sua casa em Jerusalém (2Sm 5.11-25). Davi
estabeleceu o seu palácio no Monte Sião, uma colina situada a sudoeste de
Jerusalém, que havia sido capturada dos jebuseus (2Sm 5.6-9).
Pensando que Davi ainda era aliado deles e que seria seu vassalo
(pagador de tributos), os filisteus vibraram por vê-lo ocupando o trono
de Israel. Eles tiveram uma péssima surpresa logo depois, quando ficou
evidente que Davi não seria vassalo de ninguém. Então, resolveram ata­
car o novo rei no vale de Refaim, mas foram derrotados. Davi os levou
de volta à região costeira e, ao contrário do que planejavam os filisteus,
estes é que acabaram como vassalos do rei de Israel.
Davi fortaleceu Jerusalém e conseguiu trazer de volta a Arca da
Afiança. Desenvolveu uma administração de governo centralizada, ex­
pulsou as forças invasoras e foi decisivo no estabelecimento da paz em
Israel. Subjugou, além dos filisteus, os moabitas, edomitas e amonitas
(2Sm 12.29-31). Cobrou impostos dos arameus e das nações que decidiu
não subjugar (2Sm 8.10). Depositou a maior parte dos tributos e espólios
no fundo econômico para a construção do Templo (2Sm 8.11-12). Embora
fosse severo na sua justiça para com as nações, Davi foi generoso no trato
para com Mefibosete, filho de Jônatas. Providenciou-lhe um lugar e ga­
rantiu-lhe um sustento vitalício (2Sm 9).
Sua própria experiência e o período dos juizes provaram que a
nação não podia depender de um exército formado apenas pelo povo.
Por esta razão, Davi criou um exército de soldados profissionais. Este
era composto por muitos quereteus e peleteus sob a liderança de Benaia,
de Cabzeel, e de seiscentos homens sob Itai de Gate, um velho amigo do
período em que Davi era um fugitivo.
A própria Bíblia registra o crescimento dos homens que seguiam
Davi. Na casa de seu pai ninguém o imaginava com rei. Três anos mais
tarde ele já contava com 400 seguidores (ISm 22.2); quatro anos adiante
ele contava com 600 seguidores (ISm 27.2); em 1 Crônicas 12.22, Davi
possuía um grande exército; um ano mais tarde possuía “os hom ens de
Ju d á ” (2Sm 2.4) e depois os homens de Israel (2Sm 5.1-3). Havia uma at­
mosfera de liderança envolvendo a vida e a trajetória de Davi.
Quando o governo de Davi estava bastante seguro e os filisteus to­
talmente sob controle, o rei começou a expandir seu império. Nos anos
seguintes, Davi empreendeu constantes guerras de expansão, tomando
muitos dos reinos vizinhos dos territórios dos assírios na região nordes-
te da Transjordânia. Essa expansão aborreceu aos sírios, e o rei Hadade-
zer, da Síria, por fim, atacou pelo lado norte. O principal método sírio de
guerra envolvia o uso de carros puxados por cavalos, mas Davi provou
que sua infantaria era superior. Eles cortaram o tendão da maior parte
dos cavalos sírios, tornando os carros inúteis, e a Síria caiu sob o contro­
le israelita. Essa expansão para todos os lados abriu grandes oportuni­
dades de comércio e proporcionou imensa riqueza a Israel.
Foi durante essas campanhas de guerra que Davi cometeu seu pe­
cado mais famoso. Em uma das guerras de Israel, Davi enviou todo o seu
exército para guerrear contra os amonitas. Permaneceu, porém, em Je­
rusalém. Certa tarde o rei estava passeando pelo terraço do seu palácio,
o qual dava vista para toda cidade. Ele viu uma bela mulher tomando
banho no telhado da casa e a cobiçou. Era Bate-Seba, filha de Eliã e espo­
sa de Urias, o hitita. Os dois homens eram membros da guarda de elite
do exército de Israel, e estavam na batalha. Calcula-se que o período das
campanhas de guerra de Davi durou 5 anos e, no décimo ano do seu rei­
nado em Jerusalém, o monarca adulterou com Bate-Seba.
Davi convidou Bate-Seba para se apresentar no palácio e iniciou
um desastroso caso de amor com ela. Era uma das piores violações da
lei de Moisés, passível de punição com a morte da mulher. Quando Bate-
-Seba engravidou, o caso não podia mais ser mantido em segredo. Davi
mandou que Urias voltasse do campo de batalha para ir à sua casa, a
fim de manter relações sexuais com sua esposa, e assim parecer que a
criança fora concebida por ele. Contudo Urias, temente à lei de Israel,
não desobedecería à regra que proibia o homem de se deitar com a sua
esposa enquanto estivesse servindo ao exército em período de guerra.
Ele dormiu do lado de fora de sua casa e todos souberam disso. Por isso,
Davi arranjou um meio para enviar Urias a uma batalha na qual tinha
certeza que ele sairia morto. A maior ironia dessa história foi que Davi
fez com que Urias levasse para Joabe, comandante de Davi, uma carta
lacrada com as ordens que eram, de fato, a sentença de morte do próprio
soldado. Agora, Davi não era culpado apenas de adultério, mas também
de homicídio.
Logo depois da morte de Urias, Bate-Seba casou-se com Davi. Pa­
recia que seus pecados iriam passar despercebidos, mas o profeta Natã
contou-lhe uma parábola: “H avia em uma cidade dois homens. Um rico e
outro pobre. O rico tinha ovelhas e g ad o em grande número. Mas, o pobre
não tinha coisa alguma, senão um a pequena cordeirinha que com prara e
criara, e que em sua ca sa crescera, junto com seus filhos. Do seu bocado
com ia, do seu copo bebia, e dorm ia em sua casa, e ele a tinha com o sua
filha. Chegando um viajante ao hom em rico, não quis este tom ar das suas
ovelhas e do seu g ad o p ara dar de com er ao viajante que viera a ele. Em
vez disso, tom ou a cordeira do pobre, e a preparou p ara o hom em que lhe
havia chegado” (2Sm 12.1-4). Quando Davi ouviu isso sua ira se acendeu
de tal modo que disse a Natã: “Tão certo com o vive o Senhor, digno de
m orte é esse homem . P ela cordeira restituirá o quádruplo, porque fe z tal
coisa e não se com padeceu”. E Natã disse a Davi: “Tu és esse hom em ”.
O julgamento de Davi contra o homem rico da história de Natã foi:
“p ela cordeirinha restituirás quatro vezes”. E esse julgamento foi execu­
tado contra o próprio Davi. O bebê de Bate-Seba morreu; Absalão matou
Amnom por ter violentado Tamar; Joabe matou Absalão durante a ba­
talha no monte em Efraim e Adonias foi morto ao tentar usurpar o tro­
no de Salomão. Natã disse que a casa de Davi seria amaldiçoada com a
discórdia e a violência, e que a criança morreria. A criança morreu, mas
logo depois disso, Bate-Seba deu outro filho a Davi, Jedidias, que veio a
ser conhecido como Salomão.
Algumas lições podemos aprender com o pecado de Davi:
• Primeiro, a fidelidade ou a infidelidade a Deus é uma
decisão. Do momento que viu Bate-Seba pela primeira vez até a
consumação física do adultério, Davi teve tempo de sobra para op­
tar entre pecar ou fugir da tentação e vencê-la naquele momento;
• Segundo, o pecado sempre deixará aquele que pecou
“escravo” de alguém. Por mais que Davi não confessasse seu
pecado e Natã não o confrontasse, Joabe com o tempo saberia a
maldade do coração de Davi, devido à carta que ele lhe enviou pe­
dindo a morte de Urias;
• Terceiro, o pecado tem o poder de parar o crescimento
da história de uma pessoa. De 1 Samuel 16 até 2 Samuel 11,
a história de Davi encanta a qualquer leitor, pois nos mostra a
trajetória de um menino simples nos caminhos desconhecidos
da vida que, no entanto, Deus escolheu para ser rei. Um pastor
que vencera gigantes e conquistara reinos. Porém, por causa da
sua escolha em pecar, interrompeu uma história que estava sen­
do escrita pelo próprio Deus. Até o momento do adultério com
Bate-Seba, Davi vencera todas as batalhas disputadas. A partir
desse episódio o rei vê sua honra, sua família e sua reputação
desmoronando em uma sequência ininterrupta de desventuras.
Que Deus nos guarde do pecado!
Nos anos seguintes cumpriu-se muitas vezes a profecia de Natã.
Davi teve ao todo dezessete filhos (é provável que esse número tenha
chegado a dezenove), quase todos de diferentes esposas (Salomão foi o
décimo filho), e teve também muitos filhos de concubinas (embora esses
não tivessem direito ao trono). Havia constante intriga e jogo pelo poder
entre as esposas de Davi, cada uma delas tentando pôr o filho na diantei­
ra da corrida pela sucessão do trono. O tumulto era constante à medida
que as esposas surgiam e caíam no favor de Davi, apesar de Abigail e
Bate-Seba serem, visível e continuamente as favoritas do rei.
Os anos pós-adultério de Davi foram sem dúvidas os mais amargos
de sua vida. Amnom, o filho mais velho de Davi, estuprou a meia-irmã Ta-
mar e, como Davi não tomou nenhuma atitude contra ele, Absalão, irmão
da jovem por parte de pai e de mãe, matou Amnom. Absalão foi exilado,
mas, no fim, voltou e promoveu uma revolta contra Davi da qual quase
saiu vitorioso. Davi foi forçado a sair de Jerusalém, e Absalão proclamou-
-se rei. Para provar sua vitória, ele e seus partidários violentaram sexual­
mente todo o harém de Davi.
No entanto, as forças de Davi por fim prevaleceram em uma bata­
lha. Absalão foi derrotado e, enquanto fugia, foi capturado pelo general
Joabe, que o matou a despeito da ordem do rei para que Absalão não
fosse ferido. Davi ficou muito sentido com o que aconteceu [para mais
detalhes veja: A bsalão],
Antes de poder retornar à Jerusalém, Davi teve de enfrentar outra
rebelião comandada pelo benjamita Seba, filho de Bicri. Seba tentava
separar as dez tribos do norte do governo de Davi. O rei o perseguiu até
o norte, onde, por fim, Seba foi morto (2Sm 20).
Esse período foi marcado por uma severa crise de fome (2Sm
21.1). A dificuldade era tão grande que Davi pediu uma explicação ao
Senhor. Foi revelado ao rei que a escassez de alimento era resultado do
juízo de Deus pelo equivocado zelo de Saul, ao tentar aniquilar os gibeo-
nitas (2Sm 21.2), povo que buscara e recebera proteção de Israel, nos
dias de Josué (Js 9.15,18-26). Deus graciosamente removeu a maldição e
renovou a terra com chuva abundante.
No término da sua vida, Davi tinha alcançado o objetivo de solidifi­
car Israel contra as seguintes ameaças: os filisteus, ao sudoeste; os edomi-
tas, ao sudeste; os moabitas e amonitas, ao leste; e os arameus, ao norte.
Havia estendido o seu reino por todas as áreas da terra que fora prometida
a Abraão (Gn 15.18-19), façanha que nenhum outro líder havia conseguido.
Desenvolveu uma administração eficiente, pela qual era capaz de governar
este vasto império. Um excelente exército era mantido constantemente em
prontidão, para assegurar a paz e a estabilidade dentro do reino.
Por causa do seu sucesso, Davi confiou em si mesmo e decidiu
fazer um censo. Isso desagradou ao Senhor, pois a lei ensinava que a
contagem do povo era assunto exclusivo para Deus. A única contagem
legal do povo era a que visava determinar o número de presentes para o
santuário sagrado. Como castigo Deus deu três opções a Davi: três anos
de fome, três meses de derrotas militares ou três dias de praga (2Sm
24.13-25; lCr 21.12). Davi escolheu a última opção. Israel foi atingido
por uma praga que os profetas tomaram como um sinal inconfundível
da ira de Deus. Desde Dã até Berseba morreram setenta mil homens do
povo. Para aplacar a ira de Deus Davi comprou a eira de Araúna, no topo
do monte Sião (chamado anteriormente de monte Moriá, onde hoje está
localizada a Mesquita de Ornar, em Jerusalém) e ali levantou um altar a
Deus. Segundo a tradição, aquele era o local no qual Abraão esteve pres­
tes a sacrificar Isaque a Deus.
Por Davi ser considerado um homem de guerra, Deus não permitiu
que ele construísse o Templo. No entanto, sobre o lugar onde foi levantado
um altar, o rei colocou uma imensa tenda erguida. Anos mais tarde, naque­
le lugar, foi edificado o magnífico Templo construído por Salomão.
Antes da sua morte, Davi tomou providências para a construção
do Templo. Ele deu instruções especificas a Salomão, insistindo que esse
seguisse à risca a lei de Moisés (lCr 22.1-19). Ele anunciou publicamente
que Salomão seria o seu sucessor e deu a ele, bem como aos oficiais, ins­
truções especificas de como construir o Templo. No dia de encerramen­
to das cerimônias Davi fez orações de ações de graça e ofereceu muitos
sacrifícios (lCr 23.1-29.22).
Davi não ficou livre de problemas em sua velhice. Já idoso e de­
bilitado, uma moça virgem foi chamada para aquecer seu corpo, mas
suas forças haviam chegado ao fim. Nestes dias, Adonias, filho de Davi,
tentou tomar o poder. No sopé da colina de Jerusalém, perto da fonte
chamada En-Rogel, ele tentou usurpar o trono para si. Conseguiu con­
vencer Joabe e Abiatar, o sacerdote, a segui-lo, mas Zadoque e Natã não
quiseram abandonar Salomão.
Natã e Bate-Seba foram imediatamente contar a Davi sobre o gol­
pe de Adonias. Davi imediatamente ordenou que Salomão fosse trazido
à fonte de Giom, perto de En-Rogel e lá o proclamou rei, estando ainda
em vida. O plano funcionou e todos aqueles que seguiam a Adonias fugi­
ram com medo da ira de Davi.
Davi, antes de morrer, exortou a Salomão para ser forte e guardar a
lei de Deus. Após quarenta anos de reinado - sete em Hebrom e trinta e três
em Jerusalém - Davi morreu, aos setenta anos, e foi sepultado em Jerusa­
lém, chamada “a cidade de Davi” (IRe 2.10-11). Quando começou a reinar
em Hebrom tinha trinta anos (2Sm 5.4) e provavelmente tinha entre qua­
torze e dezesseis anos quando foi ungido pelo profeta Samuel em Belém.
Davi era humano e falho, mas permaneceu fiel ao Senhor durante
toda sua vida. Embora tenha pecado tragicamente contra Deus e contra
o próximo, era um homem humilde e quebrantado, pronto ao arrepen­
dimento. A sua força estava no Senhor, desde o princípio até o fim de
seus dias. Os salmos atribuídos a ele falam desta verdade. Davi era mais
acessível à direção dos profetas do que Saul. Foi um homem amado por
Deus, pois o seu coração estava inclinado a Ele, e sabia como se humi­
lhar e implorar a graça divina.

Débora Nome hebraico, significa "Abelha".

Débora foi profetisa e a única juíza de Israel. A posição de Débora


como profetisa, indicando que a sua mensagem era de Deus não é exclu­
siva na Bíblia, porém foi incomum. Entre outras profetisas, incluem-se
Miriã (Êx 15.20), Hulda (2Rs 22.14) e Ana (Lc 2.36). Débora, no entanto,
foi a única no sentido de ter sido juíza em Israel. Era esposa de Lapi-
dote, que segundo a tradição rabínica era quem cuidava das lâmpadas
do tabernáculo. Débora era uma profetisa que aconselhava e julgava
o povo que vinha consultá-la e pedir que ela julgasse processos legais.
Ela residia à sombra de uma palmeira que era chamada a “Palmeira
de Débora”, entre Ramá e Betei, na região montanhosa de Efraim. (Jz
4.4-5). Débora, por certo, foi uma mulher extraordinária para ser aceita
como juíza sobre todo Israel em uma época muito patriarcal, em que as
mulheres não possuíam muito direito de expressão. Em todo o antigo
testamento, Débora é a única mulher que com sua força de caráter e
inteligência, alcançou posição de liderança nessa proporção.
Durante oitenta anos, os israelitas haviam desfrutado o descanso
sob a liderança de Eúde, no período mais longo de paz registrado no
livro dos Juizes. Mas assim que esse juiz piedoso deixou o cargo, o povo
recaiu na idolatria, levando Deus a castigá-los (Jz 2.10-19).
Por isso, Deus entregou os israelitas por um espaço de vinte anos nas
mãos de Jabim, rei de Canaã, que morava em Hazor. Josué havia incendia­
do Hazor (Js 11.13), mas os cananeus reconstruíram a cidade e voltaram
a ocupá-la. Com seu grande exército e seus novecentos carros de ferro, o
controle de Jabim sobre a terra era invulnerável (esses carros de ferro ti­
nham lanças de ferro nos eixos, o que aumentava mais ainda o perigo para
os inimigos). No entanto, ao ler-se à narrativa tem-se a impressão de que
Sísera, capitão do exército de Jabim, era quem, de fato, controlava a terra.
Jabim sequer é mencionado no cântico de Débora em Juizes 5.
Débora enviou um mensageiro a Baraque, dizendo que o Senhor es­
tava pronto para livrar Israel das mãos de Jabim. Baraque foi instruído a
reunir um exército de dez mil homens de Naftali e de Zebulom, estacio­
nando-o ao pé do monte Tabor. O relato em prosa menciona que apenas
essas duas tribos se envolveram na batalha. Porém, o cântico de Débora diz
que ela enviou um pedido geral de ajuda e que também vieram forças da
tribo de Issacar, de Efraim, de Benjamim, da região montanhosa central e
de uma parte da tribo de Manassés, do lado oriental do Jordão. Além dis­
so, Débora extravasou sua ira sobre as tribos que não responderam ao seu
apelo: Gade, que permaneceu em Gileade; Dã, que continuou a trabalhar
nos navios de estrangeiros; Aser, que ficou na orla do mar; e Rúben, que
ficou no planalto moabita da Transjordânia, a quem ela clamou: “Por que
ficastes nos currais, a escutar o assobio, junto aos rebanhos?” (Jz 5.16). De
alguma maneira, a história nos sugere que Débora entendia que um dos
fatores importantes para a vitória de Israel seria a unidade do povo.
O Senhor então atrairía Sísera para guerrear contra eles às mar­
gens do rio Quisom, e assim Israel obteria a vitória. Quando levamos em
consideração que as armas eram escassas em Israel (Jz 5.8; ISm 13.19-
22) e que não havia um exército efetivo, o que Débora e Baraque reali­
zaram foi, sem dúvidas, um ato de fé. No entanto, Deus havia prometido
dar-lhes a vitória e eles se firmaram em suas promessas (Rm 10.17).
Baraque aprovou o plano com a condição de que Débora fosse
com ele. Ela concordou, no entanto, o Senhor disse que daria a vitória a
Israel, mas isso seria através da mão de uma mulher, reprovando assim
a covardia dos homens de Israel.
Quando Sísera soube que os israelitas estavam se preparando para a
guerra no monte Tabor, ele sentiu-se favorecido e saiu para o campo de ba­
talha chegando à região do rio Quisom, que deságua na baia de Haifa. De lá,
avançaram em formação de batalha ao longo da planície aberta. Sem dú­
vidas, Sísera imaginava que diante dessa demonstração de poderio militar,
os homens de Israel desapareceríam no meio das montanhas, porém não
percebeu que o Senhor e o clima estavam ao lado dos seus oponentes. A
batalha foi do Senhor do início ao fim. Uma tempestuosa enchente repenti­
na e violenta do rio Quisom transformou a planície num charco no qual as
equipadas carruagens dos cananeus se tornaram um obstáculo e não uma
vantagem (Jz 5.20-22). O resultado foi à destruição total de Sísera e de seu
exército. Sísera abandonou sua carruagem atolada e fugiu a pé. Na fuga, ele
se escondeu na tenda de Jael, mulher de Héber, o queneu. Os queneus eram
nômades que vagueavam pelas regiões desérticas ao sul da Judeia.
Quando Jael viu Sísera passar por ali, disse: “Seja bem-vindo a mi­
nha tenda Senhor meu, não temas”. Assim ele parou e entrou na tenda,
onde ele cobriu-o com uma coberta. Quando Sísera pediu água, ela abriu
um odre de leite e deixou que ele bebesse. Encorajado pela hospitalida­
de aparentemente amigável e pelo fato de que os nômades viviam em
paz com os moradores de Canaã, Sísera orientou sua anfitriã para que
se colocasse à porta da tenda e se alguém perguntasse se houvesse um
homem ah, respondesse que não. Então, confiante e seguro ele adorme­
ceu. Foi, porém, o sono da morte. Ao perceber que seu convidado estava
em um sono profundo, Jael tomou uma estaca da tenda e um martelo e
cravou-lhe em sua testa, atravessando a cabeça e fincando ao chão. Foi
dessa forma que Sísera morreu pelas mãos de Jael, cumprindo a profe­
cia de Débora que a vitória viria pela mão de uma mulher.
Essa batalha foi o ponto decisivo entre israelitas e cananeus, e, no
fim, eles subjugaram os cananeus. A vitória de Débora garantiu quarenta
anos de paz em Israel (Jz 5.31). Em toda a situação, ela invocou ao Senhor
e deu a ele a glória devida. Seu canto em ações de graça a Deus pela vitória
dos israelitas foi registrado e ficou conhecido como “A Canção de Débora”
(Jz 5). Seus próprios contemporâneos a respeitavam como “uma m ãe em
Israel” (Jz 5.7). Débora conseguiu combinar a autoridade de uma juíza com
o dom profético (Jz 4.6 e 6.7).
Provavelmente, Débora pertencia à tribo de Efraim, embora alguns
opinem que ela era da tribo de Issacar, por causa do que se lê em Juizes 5.15.
Seu nome só é mencionado em Juizes 4 e 5 e viveu em cerca de 1120 a.C.
Dorcas era uma cristã que morava em Jope. Foi chamada de dis­
cípula em Atos 9.36, e essa é a única vez em que essa palavra é usada
na forma feminina no Novo Testamento. Suas origens étnicas são des­
conhecidas. Dorcas era seu nome grego - era muito comum esse nome
entre judeus e gregos - e Tabita era o equivalente em aramaico. O seu
nome duplo provavelmente indica que ela era uma judia helenista, que
se convertera ao cristianismo. Os gregos chamavam-na Dorcas, e os ju­
deus, Tabita.
Dorcas era praticante de atos caridosos, inclusive a confecção de
túnicas e outras vestimentas para pessoas pobres. Quando adoeceu e
morreu, sua perda foi lamentada por muitos. Na ocasião, Pedro estava
em Lida - apenas 15 quilômetros de distância de Jope - e os cristãos de
Jope enviaram dois homens para pedir-lhe que viesse até eles. Quando
ele chegou à cidade, o corpo havia sido preparado para o sepultamento
e colocado em um quarto superior. Pedro mandou que todos saíssem
daquele aposento, ajoelhou-se e orou diante do corpo de Dorcas e disse:
“Tabita, levanta-te!”. Quando ela abriu os olhos e estendeu a mão, Pedro
“apresentou-a viva” (At 9.40-41).
Vale à pena lembrarmos que a vontade de Deus está envolvida
em tudo isso, bem como a questão da missão dada a cada indivíduo.
Nem todos os que morrem já cumpriram sua finalidade na vida. Diante
disso, entendemos que a oração de Pedro foi atendida porque estava de
acordo com o propósito que Deus tinha para a vida de Dorcas. Se tivesse
chegado o seu tempo, de acordo com a vontade de Deus, para ir para a
pátria celeste, certamente Pedro não teria podido chamá-la de volta à
vida.
Esse milagre ficou muito conhecido, pois foi o primeiro caso de
ressurreição por meio de um apóstolo na igreja primitiva, e muitos ha­
bitantes da cidade converteram-se a Cristo por causa desse milagre.
Embora seja progenitor de uma das tribos de Israel, Efraim não
era filho de Jacó, mas seu neto. Após sua ascensão no Egito, José casou-se
com a egípcia Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om (Gn 41.50-52).
Dessa união, nasceram-lhes dois filhos: Manassés e Efraim. O fato de
Efraim e Manassés serem filhos de Azenate nos remonta a um detalhe
interessante, porque injeta em Israel, em sua herança genética, o san­
gue egípcio, isto é, camita. Aliás, esse não foi um caso isolado, pois as
duas concubinas de Jacó, Bila e Zilpa, eram egípcias e elas foram mães
de quatro filhos de Jacó: Dã e Naftali, de Bila, e Gade e Aser, de Zilpa. Se
adicionarmos isso a Manassés e Efraim, temos um total de seis entre os
doze que encabeçaram as tribos de Israel, com sangue camita.
Efraim nasceu no fim dos sete anos de plenitude e fartura que an­
tecederam os sete anos de fome no Egito. Sua vida cobriu o fim desse
período e o período da escassez. Nessa época o patriarca Jacó e sua fa­
mília estabeleceram residência no Egito, através da bondade de José. Foi
assim que Efraim ficou sujeito às influências do modo de viver patriar­
cal de Israel, bem como as promessas e bênçãos que provinham de sua
família desde Abraão. A infância de Efraim coincidiu com os últimos
dezessete anos do seu avô, o patriarca Jacó.
Há um detalhe interessante no propósito dos dois nomes dos fi­
lhos de José em relação à trajetória de sua vida. José “cham ou ao seu
prim ogênito M anassés, e disse: Deus m e fe z esquecer-se de toda a m inha
hum ilhação (em algumas versões “trabalho”), e de toda ca sa de meu pai
(se referindo ao quanto sofreu pelos seus irmãos). E ao segundo filho
cham ou Efraim, e disse: Deus m efe z prosperar na terra da m inha aflição”.
José estabeleceu no nome dos seus filhos um memorial acerca da traje­
tória por ele vivida desde que fora vendido pelos seus irmãos em Canaã,
até o momento que fora reconhecido como governador no Egito por Fa­
raó. Posteriormente, isso resultou na subdivisão de José em duas linha­
gens que compuseram as doze tribos de Israel (Gn 49.22-26; Dt 33.13-17).
Mais tarde, quando apresentou seus filhos a Jacó, para a benção, José
esperava que Manassés por ser o mais velho recebesse a benção da primo-
genitura, colocando assim a mão direita sobre a cabeça de Manassés e a
mão esquerda sobre a cabeça de Efraim, mas irônica e inesperadamente,
Jacó inverteu os braços, colocou a mão direita na cabeça de Efraim e, des-
sa maneira, assegurou-lhe os direitos da primogenitura (Gn 48.13-20). Pela
terceira vez, o filho mais novo na linhagem patriarcal tomou o lugar do
filho mais velho (Gn 17.19-20 Isaque /Gn 27.27-29 Jacó). A benção de Deus
repousa sobre aqueles a quem Deus escolhe, e não sobre aqueles que são
“marcados” pelas mãos dos homens. Essa benção foi um ato de “adoção”,
mediante o qual Efraim e Manassés passaram a ser contados como filhos
de Jacó para encabeçarem as tribos, em lugar de seu pai, José. O objetivo
do ato foi dar a José, através de seus filhos, uma dupla porção das bênçãos
divinas que acompanhariam o reino de Israel, através das doze tribos.
Essas bênçãos proféticas se cumpriram tanto no tamanho como no
poderio da tribo de Efraim e também em sua localização privilegiada na
região montanhosa, no centro de Canaã, ao leste do que hoje é a moderna
Tel Aviv. Seu território ia de Gilgal a Betei. Além da geografia montanhosa,
o território de Efraim possuía vales férteis e um período de chuvas maior
do que era desfrutado nas outras partes do país. Sua liderança tornou-se
evidente no arranjo do acampamento de Israel na marcha do Egito para a
Terra Prometida: ela liderava as três tribos que ficavam do lado oeste (Nm
2.18-24). Josué era da tribo de Efraim (Nm 13.8) e sob o seu comando ela
recebeu e ocupou uma das maiores porções da terra, depois da conquista
de Canaã (Js 16.5-10). O tabernáculo foi erguido no centro religioso de Siló,
cidade locaüzada em Efraim, onde a Arca da Aliança foi colocada no tempo
de Josué (Js 18.1; 22.12). Ana e Samuel também eram de Efraim (ISm 1.1-
28). Na época dos juizes, Efraim foi derrotado, e morreram quarenta e dois
mil efraimitas nas mãos de Jefté e os homens de Gileade (Jz 12).
Estranhamente dois filhos de Efraim, Ézer e Eleade, foram rou­
bar gado nas terras dos fUisteus e por eles foram assassinados. Isso fez
Efraim sentir profunda tristeza e chorar. Depois Efraim teve outro filho,
e chamou-o de Berias, porque as coisas iam de m al a pior em sua casa (lCr
7.20-23). O que nos consola na história é que da descendência de Berias,
nasceu Josué. O homem que liderou Israel na conquista da terra de Canaã
mais tarde. As nossas tristezas do presente podem nos ajudar a gerar o
caminho das nossas conquistas do amanhã.
Embora Efraim não seja mencionado especificamente na benção
de Gênesis 49, fica claro que Jacó o tinha em mente quando abençoou
seu filho amado: “J o s é é um ram o fru tífero” (Gn 49.22). “Frutífero” é um
jogo de palavras com o próprio nome de Efraim.
Depois da divisão do reino, Jeroboão colocou um dos seus santuá­
rios idólatras na cidade de Betei (lRs 12.29), em Efraim, e estabeleceu
sua capital em Siquém, que, naquela época, estava no distrito adminis-
trativo dessa tribo, conforme foi definido por Salomão (lRs 12.25). O
próprio Jeroboão, na verdade, era Efraimita (lRs 11.26), e a partir dessa
época o centro da vida política e religiosa do reino do Norte foi Efraim.
Isso se tornou tão forte que Israel geralmente era chamado de Efraim,
até o tempo da sua queda e deportação pelos assírios em 722 a.C. (Is 7.2-
17; Jr 7.15; 31.9; Os 4.17; 5.3-5).

Nome hebraico, significa "Meu Deus" ou "Meu Deus é exaltado".

Eli era sumo sacerdote em Siló. Descendia de Arão por meio de .


Itamar (Lv 10.1-12). A linhagem sumo sacerdotal passava através de *
Eleazar, irmão de Itamar, mas, durante certo tempo, por razões desco- .
nhecidas, essa linhagem havia sido transferida para os descendentes de *
Itamar. Porém, a tragédia que envolveu Eli e seus filhos fez a linhagem >
sumo sacerdotal voltar aos descendes de Eleazar. *•
A dramática história de Eh está registrada nos quatro primeiros •
capítulos de 1 Samuel, um livro que tem o nome do seu sucessor. Eli foi *
0 responsável pela criação de Samuel no tabernáculo em Siló, desde sua •
infância até a sua juventude. E em todo o texto de 1 Samuel 1-4, a Bíblia *
estabelece um contraste entre a maldade dos filhos naturais de Eli com •
a espiritualidade crescente e o discernimento de Samuel, que era como .
que um “filho adotivo” dele. *
Supostamente, Eli teria sido o primeiro sumo sacerdote da linha- .
gem de Itamar, o filho mais novo de Arão. Isso é deduzido com base em *
1 Crônicas 24.3-6. Esse fato também se evidencia diante da omissão dos
nomes de Eli e de seus descendentes, na enumeração dos sumos sacer- *
dotes da linhagem de Eleazar (lCr 6.4-6). •
Após a morte de Sansão, Eh atuou como juiz civil e rehgioso em .
Israel. Eh foi um dos juizes de Israel pelo espaço de quarenta anos (ISm •
4.18). No entanto, a Septuaginta só lhe atribui vinte anos como juiz. Se .
o registro da Septuaginta está correto, então, provavelmente, o número *
quarenta se refere ao total combinado de seu ofício como sumo sacerdote •
e como juiz. Nesse caso, vinte anos como sumo sacerdote teriam sido pa- *
ralelos aos vinte anos em que Sansão foi juiz em Israel (Jz 16.31). Eh tor- •

nou-se sumo sacerdote com aproximadamente cinquenta e oito anos de
idade, pois faleceu com a idade de noventa e oito anos, no quadragésimo
ano do ofício sacerdotal (ISm 4.15).
O maior erro da vida de Eli foi o consentimento em relação ao
pecado de seus dois filhos, Hofni e Fineias (que eram nomes egípcios
- Fineias significa negro, e Hofni significa girino), eles eram devassos e
corruptos. Eles não temiam a Deus e nem respeitavam os homens, abu­
saram seriamente da posição que ocupavam, usando o ministério sa­
grado para satisfazer seus caprichos pessoais e imorais. A despeito da
confiança e da fé que Eli tinha no Senhor, ele não foi bem-sucedido na
formação de sua família. Hofni e Fineias praticavam imoralidades se­
xuais com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação no
tabernáculo em Silo, e não respeitavam os princípios divinos em relação
aos sacrifícios que eram feitos no santuário, desprezando assim a oferta
do Senhor (ISm 2.12-22). Eles não prestavam atenção ao ritual dos sa­
crifícios e nem muito menos ao significado deles. Eles usavam o ofício
sacerdotal apenas para o próprio sustento. O maior agravante dessa his­
tória era a negligência da autoridade de Eli em relação aos seus filhos.
Por causa deles, o sacerdócio estava caindo em descrédito em Israel, e
Eli não os corrigia, omitindo-se em conferir a disciplina que lhes era
necessária.
A triste realidade da situação de Eh requer uma reflexão. Eh não pos­
suía pecados morais em sua conduta. A sua fé e devoção a Deus não estavam
em declínio. Seu sacerdócio era confirmado pelo Senhor. Seu único pecado
era se omitir na correção dos erros cometidos pela sua família, honrando
assim mais os seus filhos do que a Deus (ISm 2.29). Eh era praticante da ideo­
logia de “um peso e duas medidas”. Para os fiéis ele era radical na corre­
ção, pois já estava recriminando Ana por causa da sua entrega de espírito,
a chamando de embriagada (ISm 1.12-14), mas com os de sua casa ele era
liberal, pois mesmo tendo provas concretas das orgias deles, nem ao menos
os confrontava com seriedade e disciplina. O estilo de hderança de Eh era
um estilo injusto, pois colocava um jugo sobre os membros da congregação
para punição de seus erros, e não utilizava o mesmo critério quando os erros
partiam da sua família.
Eli não era caracterizado por uma personalidade firme. Ele sem
dúvidas era sincero e dedicado, porém também aparentava ser fraco
e tolerante. O grande erro de E1Í não se concentrava apenas na defor­
midade da educação e do caráter espiritual de seus filhos, mas sim, no
consentimento em deixá-los no exercício do ministério sacerdotal, como
se nada estivesse acontecendo. O próprio Deus havia dito que se algum
descendente sacerdotal profanasse o santuário deveria ser afastado do
oficio sacerdotal (Lv 22.1-3). Eli não tinha culpa deles serem sacerdotes,
pois era um cargo hereditário. Mas, era culpado por eles permaneceram
no sacerdócio em pecado, e por não conhecerem ao Senhor (ISm 2.12).
Por causa disso Deus sentenciou Eli e seus filhos. “Veio um hom em de
Deus a Eli, e lhe disse: Assim diz o Senhor... Por que honras seus filhos mais
do que a mim?... Vêm dias que cortarei o seu braço (descendência) e o braço
da casa de seu pai, para que não haja mais velho nenhum na sua casa... Todos
os descentes da sua casa m orrerão na flo r da idade. O que sobrevirá aos seus
dois filhos Hofni e Fineias te serão por sinal: am bos m orrerão no m esm o dia.
Eu suscitarei para mim um sacerdote fiel (Davi), que fa r á segundo o que está
no meu coração e na minha mente. Eu lhe edificarei uma casa duradoura, e
ele andará sem pre diante do meu Ungido (Jesus Cristo). Então todo aquele
que restar da sua casa virá a inclinar-se diante dele por uma m oeda de prata
e por um bocado de pão, e implorará: Nomeia-me a algum cargo sacerdotal
para que eu possa ter alguma coisa para com er’’ (ISm 2. 27-36).
Esse prenúncio de castigo cumpriu-se parcialmente com a morte
de Hofni e Fineias na batalha contra os filisteus em Afeca (ISm 4.11), e
o cruel assassinato dos sacerdotes em Nobe pelo rei Saul (ISm 22.9-20).
Porém, Abiatar escapou e dividiu o sacerdócio com Zadoque, sob o co­
mando do rei Davi (2Sm 15.24-29; 19-11). Entretanto, seu afastamento
ordenado pelo rei Salomão, restaurou a linhagem de Eleazar na pessoa
de Zadoque, e essa foi a concretização final do antigo oráculo profético
(lRs 2.26-27).
No final da vida de Eli, houve uma guerra entre os israelitas e os
filisteus. Em certo momento da guerra, Israel estava sendo derrotado e
os filhos de Eli tiveram a ideia de mandar que a Arca da Aliança fosse
trazida para servir como uma espécie de talismã, para assegurar a vi­
tória de Israel. No entanto, o que eles não sabiam é que a Arca estava
presente, mas Deus estava ausente. O Senhor não guerreou pelos solda­
dos de Israel, e os filisteus os derrotaram. Mataram trinta mil israelitas,
entre eles Hofni e Fineias e capturaram a Arca da Aliança. Quando Eli
soube que seus filhos haviam sido mortos e a Arca da Aliança havia sido
roubada, caiu da cadeira onde estava sentado, quebrou o pescoço e mor­
reu. O texto deixa claro que a maior dor de Eli foi pela perda da Arca da
Aliança, e foi devido a isso que ele sofreu a queda que ocasionou a sua
morte (ISm 4.12-18).
Uma de suas noras estava grávida, e quando se soube a noticia da
morte de Fineias, seu esposo, teve a criança prematuramente, logo em
seguida a mulher morreu e chamou-se o menino Icabode, que significa
“Foi-se a Glória de Israel”. Em algum momento logo depois desse evento,
o tabernáculo em Siló foi destruído, investigações arqueológicas indi­
cam que Siló fora destruída aproximadamente em 1050 a.C. A função
de juiz que Eli ocupava foi substituída pelo profeta Samuel, e aparente­
mente a função sacerdotal de Eli foi substituída por Aitube (ISm 14.3).

Elias Nome hebraico, significa "O Senhor é meu Deus".

Elias foi um dos mais conhecidos profetas do Antigo Testamento. E


famoso pela sua ousadia em enfrentar o sistema de governo corrompido
pela apostasia nos dias dos reis Acabe e Acazias em Israel (aproximada­
mente entre 875 a 850 a.C.). O relato bíblico da missão de Elias abrange
cerca de quinze anos - de cerca de 865 a.C. a 850 a.C. De todos os pro­
fetas, sacerdotes e sábios do Antigo Testamento, poucos tiveram uma
influência tão vivida sobre a mente popular de seu tempo como Elias.
Pouco sabemos sobre sua história antes dele comparecer diante
de Acabe em 1 Reis 17. A Bíblia o chama de Tisbita, de Tisbe, nas terras
de Gileade, a leste do rio Jordão, atual Transjordânia. Nada se sabe so­
bre sua genealogia. Elias ganhou fama em Israel como quem aparecia e
desaparecia como o vento, como se o Espírito de Deus o tivesse trazido e
arrebatado. Sem dúvidas essa é uma das características de um profeta:
saber a hora certa de aparecer. Isso não deixava a imagem do profeta
ficar desgastada entre o povo e isso assegurava ao povo que quando o
profeta estivesse nas ruas era sinal que Deus iria falar com eles.
Elias serviu como porta-voz de Deus na ocasião em que o reino do
norte havia alcançado sua mais forte posição econômica e política desde
os dias da separação do reino do sul. Eram dias politicamente bem-su­
cedidos, porém, espiritualmente fracassados. O rei Onri, pai de Acabe,
introduziu uma política de boas relações de amizades com as nações
vizinhas, e selou essa aliança com a Fenícia casando seu filho Acabe
com Jezabel, filha de Etbaal, o rei dos sidônios. Corremos sérios riscos
quando fazemos alianças com pessoas que não temem a Deus, tanto em
relações pessoais, como em relações políticas para com o povo de Deus.
Os sidônios não adoravam a Jeová, mas sim a Baal. E Jezabel in­
fluenciou e persuadiu a Acabe, para que em Israel a adoração passasse
a ser oferecida a Baal, assim como na Fenícia. Aqueles que antes eram
profetas de Deus não se posicionaram a favor do Senhor, mas preferi­
ram estar ao lado de Acabe, em troca do “conforto” que isso lhes pro­
porcionaria ao comer na mesa de Jezabel. No entanto, cem profetas
permaneceram fiéis ao Senhor e foram escondidos por Obadias, sendo
alimentados a pão e água, para não morrerem (2Rs 18.4). Quatrocentos
e cinquenta passaram a serem profetas de Baal e outros quatrocentos
passaram a serem profetas de Asera, ambos deuses fenícios. É interes­
sante destacar que a mesa não era de Acabe, era de Jezabel. Isso sugere
que ela tinha seus próprios recursos e aposentos de refeições e que era
também a protetora e benfeitora desses profetas. O propósito de Jezabel
era fazer com que todo Israel, nunca mais adorasse a Jeová, mas sim a
Baal. Por isso que Elias tornou-se uma ameaça para ela.
Acabe até construiu um templo para Baal na cidade de Samaria,
que era a capital do Reino do Norte (lRs 16.32). Enquanto a liderança
real estava envolvida na adoração a Baal, Elias tinha a responsabilidade
de lembrar aos israelitas que era a Jeová que eles deveriam adorar.
Elias foi até Acabe e o disse: “Tão certo como vive o Senhor, Deus
de Israel, perante cuja face estou, nem orvalho nem chuva haverá nes­
ses dias em Israel, senão, segundo a minha palavra”. Isso era uma afron­
ta não apenas a Acabe, mas principalmente a Baal, pois havia a crença
que Baal era o deus das tempestades, responsável pela chuva e pela fer­
tilidade da terra. Com isso Elias estava confrontando o sistema corrupto
daquela época e mostrando que a palavra de um só homem enviado por
Deus tinha mais poder que a palavra do próprio Baal. Elias não era um
pregador refinado como Isaías e Jeremias, e sim um reformador rude,
que desafiou o povo a abandonar seus ídolos e voltar-se para Deus.
O povo de Israel dependia das chuvas sazonais para que suas plan­
tações produzissem. Se o Senhor não enviasse as primeiras chuvas (tem-
porã) em outubro e novembro e a chuva serôdia em março e abril, logo
haveria grande fome na terra. Porém, a benção das chuvas dependia da
obediência do povo à aliança do Senhor (Dt 11. 13-14). Deus advertiu o
povo que sua desobediência transformaria o céu em bronze e a terra em
ferro (Dt 28.23).
É bem provável que Elias tenha se apresentado diante de Acabe
em outubro, na época em que as primeiras chuvas deveriam ter começa­
do. Não chovia a seis meses, de abril a outubro (período do verão, onde
o clima é quente e seco), e o profeta anunciou que não chovería os três
anos seguintes, dando assim a soma de três anos e meio que Tiago men­
ciona (Tg 5.17). Essa seca era uma forma de Deus cumprir a sua palavra,
e ao mesmo tempo manter sua aliança. Deus é sempre fiel a sua aliança,
seja para abençoar o povo por sua obediência, seja para discipliná-los
por seus pecados. Uma seca prolongada, anunciada e controlada por um
profeta de Jeová, deixaria claro a todos que Baal, “deus das tempestades
e das chuvas”, não era de maneira nenhuma, o Deus verdadeiro.
Nos próximos três anos, as condições meteorológicas em Israel se­
riam controladas pela palavra de Elias. Esses anos de seca preparariam
o povo para o confronto dramático entre os sacerdotes de Baal e o pro­
feta do Senhor no monte Carmelo.
Após isso Deus ordenou a Elias que se retirasse dali, e se escon­
desse junto ao ribeiro de Querite, próximo ao rio Jordão. É provável que
esse ribeiro seja o profundo vale do rio Jarmuque, ao norte de Gileade,
terra natal de Elias. Sendo assim, o ribeiro de Querite ficava aproxima­
damente a cinquenta quilômetros de Samaria. Ali ele bebia das águas
do ribeiro e era alimentando diariamente por corvos que o trazia pão e
carne, pela manhã e ao anoitecer (lRs 17.6).
No entanto, com a intensificação da seca, a torrente secou, deixando
Elias sem água. Elias permaneceu onde estava mesmo depois que o ribeiro
se secou, e não tomou atitude alguma enquanto a palavra de Deus não lhe
veio para dizer o que ele deveria fazer. A vontade de Deus nunca nos con­
duzirá a um lugar onde Deus não poderá cuidar de nós. Elias havia passado
cerca de um ano em Querite, até que o ribeiro se secasse. E agora a palavra
de Deus lhe diria para que fosse à Serepta, pois ah j á havia uma mulher viúva
escolhida por Deus para cuidar dele.
A instrução de Deus pode ter espantado o profeta, mas o Senhor
ordenou que ele viajasse cerca de cinquenta quilômetros ao norte, onde
ficava Serepta, uma cidade fenícia, conhecida atualmente como Sarafan-
de, entre Tiro e Sidom. Deus estava enviando Elias, para um território
gentio, Sidom era a cidade natal de Jezabel. Ironicamente Acabe e Jezabel
estavam procurando Elias, e ele estava próximo à terra natal de Jezabel.
Deus havia tirado ele de um ribeiro seco, para colocá-lo ao lado de
uma viúva pobre. Essa viúva estava apanhado lenha para fazer a última
refeição com o alimento que ainda lhe restava. Ali Deus estava provan­
do o cuidado dele para com Elias.
Watchman Nee disse: “D ada a nossa tendência de olhar para o balde
e de esquecerm os a fonte, Deus com frequência m uda seu m eio de suprir as
necessidades, a fim de m anter nossos olhos fixos na fon te”. Quando Elias
estava começando a se sentir confortável pela comodidade da providên­
cia do Querite, Deus para corrigir seu foco, muda-o para Serepta, para ele
não ter dúvidas da dependência da fonte.
Provavelmente, Elias ficou cerca de dois anos em Serepta. Milagro­
samente, Deus não deixou nem que o azeite, nem que a farinha acabas­
sem naqueles dois anos até que a estação das chuvas fosse restaurada á
terra. Era como que uma ajuda mútua, a viúva de Serepta ajudava a Elias
dando a ele alimento, e a presença do profeta ajudava a viúva garantindo
para ela o devido suprimento alimentar naquele período de seca. Um dos
aümentos que faziam parte de uma refeição básica naqueles dias era um
pequeno bolo achatado feito da farinha do trigo e cozido no azeite. Cardá­
pio que foi multiplicado por Deus naquele período de seca.
Dessa forma Eüas estava vivendo naqueles anos o peso da própria
palavra que havia anunciado a Acabe. A seca que ele havia profetizado ha­
via secado o ribeiro, e o deixado sem água. E, agora por dois anos ele come­
ría apenas um tipo de refeição, feita com os mesmos ingredientes: farinha
e azeite. No cumprimento do ministério existe momentos que Deus nos dei­
xará viver a consequência causada pela própria palavra que anunciamos.
Essa é uma forma de Deus nos mostrar que quem leva a sua palavra, deve
estar preparado para vivê-la primeiramente.
Mais tarde, porém, o filho da viúva contraiu uma doença e veio a
falecer. Tanto o profeta como a viúva entenderam isso como uma ação de
Deus. Mas quando Elias estendeu-se por três vezes sobre o menino e invo­
cou o Senhor, a onipotência de Deus novamente se manifestou e a alma
do menino voltou a ele e ele reviveu (lRs 17.17-22).
Outro detalhe interessante é como Deus fez Elias dar um passo de
cada vez nesse momento da sua vida. O Senhor não deu a Elias um cro-
nograma completo sobre o que ele iria fazer nos próximos três anos.
Mas, primeiro Ele o direcionou ao Querite, depois a Serepta, e depois
então a voltar a Acabe. Deus é mestre em nos dirigir em cada momento
de nossas vidas. Para isso precisamos estar sempre sintonizados nele.
Podemos até ainda não saber hoje onde vamos chegar, mas sabemos
que no momento certo ele nos direcionará, e no final dará tudo certo,
pois Deus não perde o controle das nossas vidas. Deus ordenou a Elias,
“Vá se esconder”, e, três anos depois Deus disse: “Apresenta-te”. Mos­
trando que nas mãos dele está o caminho que devemos seguir. Deus
havia ensinado a Elias a viver um dia de cada vez!
Warren Wiersbe escreveu que ao se esconder publicamente naqueles
três anos, Elias criou outra “seca” em Israel: a ausência da palavra de Deus.
Quando Elias apareceu de novo a Acabe, depois daqueles anos de seca, ele
encontrou um cenário desastroso em Israel. Aqueles anos sem chuva ha­
viam prejudicado Israel na agricultura, na pecuária e em todas as atividades
que necessitava de água para serem realizadas.
Foi então que Elias desafiou Acabe mais uma vez. Convidando-o para
subirem ao monte Carmelo, juntamente com todos os profetas de Baal e
Asera. Um grande grupo de pessoas se reuniram no Carmelo para ver 850
profetas idólatras com o rei e um imponente altar de Baal contra um profe­
ta do Senhor sozinho e um altar em ruínas do lado.
O monte Carmelo ficava próximo a Samaria, entre as fronteiras de
Israel com a Fenícia, de modo que era um bom lugar para o deus fenício
Baal encontrar-se com Jeová, o Deus de Israel. Ali eles iriam clamar cada
um ao seu Deus. Acabe juntamente com os profetas de Baal clamariam
por Baal, porém se até o meio-dia Baal não respondesse, era a vez de
Elias clamar por Jeová. O Deus que respondesse com fogo seria o verda­
deiro Deus.
Os profetas de Baal clamaram, gritaram, fizeram todos os rituais sa­
grados durante todo o período da manhã, porém não tiveram respostas. Ao
meio-dia Elias zombou deles, dizendo que talvez Baal estivesse dormindo,
meditando, ocupado ou viajando. Aproximadamente às três da tarde, que
era o horário do sacrifício da tarde em Jerusalém, Elias tomou a frente no
confronto, reparou o altar do Senhor que estava em ruínas, tomou doze
pedras, jogou doze cântaros de água sobre o altar e orou ao Senhor para
que ele respondesse com fogo.
Há alguns detalhes importantes aqui. Porque o altar do Senhor teve
que ser reparado? Porque estava em ruínas devido ao abandono e a apos­
tasia do povo. Os sacrifícios não eram mais a Jeová, e sim a Baal. Com fre­
quência, durante uma reforma religiosa, altares “rivais” ou inaceitáveis
eram destruídos. Elias reparou o altar do Senhor que estava abandonado e
destruído, e há muito tempo não recebia sacrifício.
O Reino do Norte havia se dividido do Reino do Sul e agora tinha
apenas dez tribos. Não seria o certo pegar dez pedras? Por que Elias
pegou doze pedras? Porque Elias sabia que Deus não aceitaria um sa­
crifício de um altar dividido, Deus só receberia aquele sacrifício se as
doze pedras estivessem no altar. Assim o altar se tornou um símbolo da
verdadeira identidade de Israel.
Por que doze cântaros de água? Porque aquela era a melhor oferta
naqueles dias. Todo altar deve ter um sacrifício, e o melhor sacrifício na­
queles dias era a oferta de água, porque há três anos não chovia em Israel.
Elias estava ofertando a Deus uma oferta de valor.
Elias orou ao Senhor, Deus respondeu com fogo, consumiu o holo­
causto, a lenha, as pedras e a água, o que vendo todo povo caíram prostra­
dos, gritando: “Só o Senhor é Deus, Só o Senhor é Deus!”. A resposta com
fogo era um sinal que Deus havia aceitado o sacrifício. Imediatamente,
Elias mandou o povo pegar os profetas de Baal e matar a todos no ribeiro
de Quisom. Foram todos condenados à morte em cumprimento de uma an­
tiga lei israelita contra a apostasia: “Quem sacrificar a outros deuses, exceto
ao único Senhor, será destruído” (Êx 22.20).
O lugar de adoração em montanhas sagradas normalmente ficava na
base e não no cume, que era considerado terreno santo, inacessível às pes­
soas comuns. Apenas no fim do episódio, após matar os profetas de Baal,
Elias subiu ao cume do Carmelo para oferecer sua oração, pedindo chuva
(lRs 18.42). O topo do monte era restrito a poucos. Vemos isso, por exemplo,
em Moisés. Moisés foi ao topo do Sinai, enquanto o povo ficou na base do
monte. Em Cristo, no entanto, foi diferente, Jesus e o povo subiram juntos
no sermão da montanha ao cume do monte para aprenderem juntos sobre
as boas-novas do Evangelho.
Na oração pedindo chuva aconteceu o contrário da oração pedindo
fogo. Na oração pedindo fogo, o pedido foi atendido na hora, ao contrário
da oração pedindo chuva, que não foi atendida imediatamente. Foi preciso
clamar sete vezes, para que Deus respondesse dando a eles um sinal que vi­
ría chuva. Deus lhe deu esse sinal através de uma nuvem que visivelmente
era pequena como a mão de um homem, mas seria um agente divino para
uma grande chuva em Israel. Existem orações que Deus responde na hora,
existem orações que precisamos ter paciência e perseverarmos em orar até
que Deus venha responder.
Elias disse a Acabe que se apressasse e voltasse correndo para
Jezreel para não ser interceptado pela chuva (lRs 18.41). Do Carmelo
até Jezreel são aproximadamente trinta quilômetros. Em Jezreel Acabe
construiu uma capital onde passava o inverno. Estava situada na entra­
da sudeste do vale de Jezreel, entre a colina de Moré e o monte Gilboa.
Escavações trouxeram à tona um grande recinto real murado que data
desse período, ocupando uma ampla porção da colina. No entanto, a
Bíblia nos diz que Acabe foi primeiro com seu carro para Jezreel, e Elias
foi depois andando, porém a “m ão do Senhor veio sobre Elias, o qual
cingiu os seus lom bos e ele correu a fren te de Acabe, e chegou prim eiro a
Jez r e e l” (v.46).
Isso é fantástico e enriquecedor. Elias pela “mão do Senhor” correu
mais do que Acabe com seu carro. Só há uma maneira de se explicar isso:
A mão de Deus pode nos fazer ir além do que os recursos e mecanismos
humanos podem nos levar. A mão de Deus nos leva até aonde somente
Deus pode nos levar. Elias havia entendendo que existem coisas na vida
que se Deus não fizer, ninguém mais faz.
Quando Jezabel soube que Elias havia matado os profetas de Baal,
e que o povo havia voltado a adorar ao Deus Jeová, seu coração encheu-
-se de fúria e Elias teve que fugir para não ser morto por Jezabel. Elias
fugiu para Judá, e ali se deitou e dormiu debaixo de um zimbro, que é
um arbusto que cresce de um metro e meio a três metros no deserto. O
zimbro é o único arbusto que oferece sombra nessa região seca e árida.
Ali Elias pediu a Deus a morte.
Você consegue enxergar um profeta no meio de um deserto, que
havia matado centenas de profetas de Baal, deitado debaixo de um zim­
bro, fugindo de uma mulher e pedindo a Deus a morte? - Charles Spur-
geon disse: “Elias bateu em retirada diante de um inimigo que já estava
vencido”.
Um anjo lhe visitou e disse: Levante-te! Ele olhou e viu ao seu lado
um pão cozido sobre pedras em brasa e uma botija de água. Elias comeu,
bebeu e voltou a dormir. O anjo lhe despertou novamente e disse: Le-
vante-te e come, porque longo será seu caminho.
Elias assim o fez e com a força daquela comida caminhou quarenta
dias até chegar a Horebe. Horebe é um dos nomes do monte Sinai. Foi
como se Elias tivesse refeito os quarenta anos de Israel no deserto e tives­
se voltado ao lugar da revelação original de Deus, na montanha onde a
aliança sagrada havia sido revelada. De onde Elias estava até Horebe são
320 quilômetros. Uma caravana normalmente conseguiría percorrer trin­
ta quilômetros por dia, mas Eüas não estava acostumado com uma via­
gem dessa distância e estava sozinho. Nessas condições e considerando o
clima da região, oito quilômetros por dia era uma distância considerável
para ser percorrida por Elias, por isso ele precisou de quarenta dias para
esse trajeto.
Chegando a Horebe, Elias entrou em uma caverna, e ali passou
a noite. O Senhor lhe perguntou: “O que fazes aqui Elias?”. É sugestiva
essa pergunta. Deus estava dizendo a ele: Com tanta coisa que ainda te­
nho para você fazer, o que você faz dentro de uma caverna?
Elias tentou argumentar com Deus que estava cansado, deprimi­
do, desanimado, havia sido zeloso, e não havia sido correspondido. Deus
o chamou para fora da caverna, e apenas quando Elias saiu da caverna
que Deus lhe falou o que ele tinha a dizer. Existem experiências que
teremos com Deus apenas depois de nos posicionarmos fora das “caver­
nas” que nos escondemos na vida. A caverna limita o propósito de Deus
de ser cumprido em sua totalidade. A caverna limita a visão em relação
ao horizonte, que representa o futuro. Elias precisava sair da caverna
para entender o propósito de Deus.
Quando Elias saiu da caverna Deus manifestou a ele alguns sinais tais
como um forte vento, um terremoto e um fogo, porém, em nenhum desses
sinais Deus falou. O último sinal seria imperceptível a Elias se ele não estives­
se atento, uma simples brisa, delicada, suave, mas foi ali que Deus decidiu
falar com ele. O uso dessas quatro figuras (vento, terremoto, fogo e brisa)
era como uma proposta de Deus para Elias, a respeito da próxima etapa do
seu ministério. Até aquele momento da sua vida, Elias estava acostumado
a desenvolver o seu ministério por meio de magníficos milagres de “efeitos
especiais”, com secas, altar encharcado de água pegando fogo, fogo descendo
do céu à vista de todos, etc. Mas, dali em diante o ministério de Elias enfati­
zaria mais a palavra e o relacionamento com as pessoas do que a ação “ater-
rorizante” de um profeta. Deus lhe orientou a ungir Hazael, como rei sobre a
Síria, a Jeú, como rei em Israel, e a Eliseu, como profeta em seu lugar. Dá-nos
a sensação de que Elias vivería agora um pouco mais o “ministério da brisa”.
Além disso, seu trabalho não seria mais solitário, mas ele criaria a escola dos
profetas, e continuaria seu ministério na companhia de Eliseu.
Passaram-se seis anos, e acerca desses seis anos nada sabemos.
Então, Elias foi novamente enviado a Acabe, a fim de pronunciar contra
ele o juízo divino. Jezabel havia acabado de tramar a morte do inocente
Nabote, a fim de tomar a vinha dele. Elias encontrou Acabe no caminho
e proferiu contra ele uma terrível maldição (lRs 21.19-25). Era cerca de
869 a.C. Acabe ao ouvir o juízo pronunciado contra ele, aparentemente
se arrependeu, e isso ainda o deu mais algum tempo de oportunidade,
porém já era tarde demais, e seu fim já estava próximo.
Israel e Judá se alinharam em uma batalha contra a Síria, Acabe
entrou na guerra disfarçado de soldado. Um arqueiro sírio lançou uma
flecha ao acaso, e atingiu a Acabe na junta de sua armadura. Acabe re-
sistiu apenas por algumas horas, e morreu. O juízo de Deus havia come­
çado contra eles!
Agora Acabe estava morto, e seu filho Acazias reinava em seu lu­
gar. Era um novo rei, porém com o mesmo coração perverso do seu pai.
Em certa ocasião, Acazias sofreu uma queda e ficou aleijado, e enviou
seus servos a Baal-Zebude (Baal das Moscas), o deus de Ecrom, para sa­
ber se ele ficaria recuperado. Elias direcionado por Deus interceptou
os servos de Acazias, e ordenou que eles voltassem a Acazias levando
a repreensão por ele ter ignorado o Deus de Israel, dizendo-o que ele
rapidamente morreria. Após algumas tentativas fracassadas de prender
Elias, o profeta acompanhou o terceiro capitão que se comportou humil­
demente e foi até o rei. Elias disse a Acazias que ele não se recuperaria e
morreria. Acazias não se recuperou e morreu como Elias havia predito.
Algum tempo depois, ao aproximar-se o final do ministério de
Elias, Eliseu e alguns dos profetas associados a ele, perceberam que seu
mestre estava prestes a deixá-los. Mas Eliseu prometeu que permanece­
ría com Elias, e seguiu com ele o seu caminho. Eliseu já estava a apro­
ximadamente dez anos vivendo ao lado de Elias, aprendendo com ele
sobre como era cumprir um ministério com seriedade.
Nesse tempo, Elias fez a Eliseu a mesma proposta que fez ao seu
primeiro moço (lRs 19.3). O primeiro moço de Elias aceitou ficar em
Berseba quando ele assim o propôs. E nunca mais ele o viu. Dezesseis
versículos depois Eliseu preencheu a vaga do primeiro moço. E, Elias vai
fazer-lhe a mesma proposta (2Rs 2.2). Eliseu, no entanto, não era como
o primeiro moço de Elias. Eliseu disse: “Tão certo com o vive o Senhor, e
vive a tua alm a não te deixarei”. A vaga da sucessão ministerial a princi­
pio não era de Eliseu, a vaga era do primeiro moço. Mas, como ele acei­
tou abandonar o seu líder, ele mesmo foi abandonado na história. Por
causa da perseverança de Eliseu, Elias lhe disse: “Pede-m e o que queres
antes que eu seja tom ado de ti”. Então Eliseu pediu porção dobrada do
espírito de Elias. Isso nos ensina que existem dimensões na vida que só
iremos alcançar se estivermos decididos a não desistir por nada. A per­
severança nos levará a lugares que nem todos chegarão!
Elias fez com Eliseu o caminho inverso pelo qual os filhos de Is­
rael fizeram ao entrarem na Terra Prometida: da região montanhosa
de Betei e Ai para a região de Jerico e finalmente para o Jordão. Assim
como aquelas águas se dividiram para o povo ocupar a banda ocidental
de Canaã, o mesmo aconteceu a fim de que Elias passasse para o lado
oriental do rio.
Talvez um dos assuntos mais curiosos da Bíblia seja o significado
do que a porção dobrada do espírito de Elias representava. Em primeiro
lugar precisamos entender que essa porção dobrada não era do Espírito
Santo, mas sim do espírito de Elias. A palavra espírito aqui não começa
com a letra maiúscula, por isso, este não é o Espírito Santo. O espírito de
Elias que ele se referia é a ousadia, a coragem, o caráter, a unção, entre
tantos outros valores morais, pessoais e espirituais que Elias possuía.
Vale a pena lembrar que a porção dobrada em Israel era referente à
porção do primogênito em uma família. O que Eliseu estava dizendo era
que independente se alguns dos outros “filhos dos profetas” recebessem
alguma “porção” de seu mestre, ele queria a porção dobrada do que o
próprio Elias possuía.
A condição de Elias para que a porção dobrada do espírito dele re­
pousasse sobre Eliseu era ele ver o seu mestre no momento que ele fosse
tomado dele. Caso não o visse, não recebería. “Estando eles andando e falan ­
do, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro, e
Elias subiu ao céu em um redem oinho” (2Rs 2.11).
É bom destacar que Elias não subiu ao céu no carro de fogo. O carro
de fogo foi apenas para separá-lo de Eliseu. Elias subiu ao céu no redemoi­
nho. Não há uma definição clara sobre o porquê o carro de fogo foi apenas
para separá-los em vez de também levar Elias ao céu. O que sabemos é que
a partir daquele dia Eliseu nunca mais o viu.
Malaquias, o último profeta do Antigo Testamento, prometeu o re­
torno de “Elias”, que oferecería uma esperança para o arrependimento
antes do juízo (Ml 4.5,6). No Novo Testamento essa profecia é lembrada
e incorporada em parte com a vinda de João Batista (Lc 1.17). Este, um
também solitário profeta assim como Elias, chamou o povo ao arrepen­
dimento, junto às margens do rio Jordão. João recusou essa identificação
(Jo 1.21-25), mas Jesus alegou que ele era o “Elias” que haveria de vir (Mt
11.14; 17.10-13; Mc 9.11-13).
Eliseu foi um profeta de Deus para Israel. Foi sucessor do profeta
Elias e filho de Safate. Morava em Abel-Meolá, que alguns estudiosos
id e n tificam como a moderna Tell Abu Sifri, a oeste do rio Jordão, entre o
mar da Galileia e o mar Morto.
A chamada de Eliseu acontece em 1 Reis 19. Elias havia recebido
ordem de Deus para ungir dois reis e ungir Eliseu para ser profeta em seu
lugar. Quando Eüas o encontrou, Eliseu estava arando a terra, talvez na
esperança da primeira boa colheita após os longos anos de seca profetiza­
dos por Elias. Eliseu nunca pensara em ser profeta. Eüas o encontrou tra­
balhando com a 12a junta de bois que arava a terra, bois esses que eram
de seu pai, o que sugere que Eüseu era de uma famüia próspera. A frente
dele havia 22 bois nas 11 juntas e 11 homens conduzindo cada junta, mas
Eüas foi até ele, como sinal de que Deus sabe aonde nos encontrar. Eüas
vendo a Eüseu lançou a sua capa sobre ele, e sem dizer nenhuma palavra
saiu. Eüseu foi ao seu encontro e pediu que ele apenas esperasse ele des­
pedir-se dos seus pais para que pudesse segui-lo.
Eüas respondeu: “Vai, o que te fiz eu?”. Essa resposta de Eüas é di­
fícil de ser interpretada, pois Eüas não havia dito nada a Eüseu, apenas
havia passado sobre ele a sua capa. Isso era um sinal do chamado de
Deus envolvendo Eüseu para o ministério. A capa de Eüas possui uma
importância muito grande sobre a vida e o ministério de Eüseu. Com ela
Eüas o chamou, ela foi o sinal da porção dobrada sobre Eüseu (pois foi à
única coisa que ficou de Eüas para Eüseu), e com ela Eüseu abriu o Jor­
dão depois que Eüas foi tomado. Essa capa era como que um memorial
do chamado de Eüseu desde os primórdios, e trazia boas lembranças
para Eüseu do início do seu chamado.
A escolha de Eüseu foi uma expressão da soberania de Deus, mas
exigia uma resposta pessoal, envolvia sacrifício. Ele fazia parte de uma
famüia bem-sucedida e amorosa, mas a convicção do chamado era mais
forte. Eüseu pegou a junta de bois que era dele, matou os bois e fez dos
aparelhos (peças de madeira) que eram os jugos dos bois, lenha para acen­
der o fogo. Eüseu rompeu definitivamente com aquüo que lhe impedia de
atender ao chamado, ele matou os bois e queimou os aparelhos, com isso
ele estava dizendo que ainda que ele quisesse não teria como voltar atrás
no seu chamado. Isso nos ensina que no relacionamento com Deus a re-
núncia e o sacrifício devem ser completos e o fato de Eliseu ter matado
apenas os dois bois que faziam parte da sua junta de bois indica que o de­
sapego as coisas dessa vida e o compromisso com o ministério devem ser
uma decisão pessoal e individual. A carne dos bois ele não comeu, deu ao
povo. Uma das marcas de um ministério confirmado por Deus é o serviço
ao povo. Não há como um ministro servir a Deus sem servir ao povo!
Eliseu seguiu a Elias, e a Bíblia diz que ele o servia (lRs 19.21).
Após esse momento do chamado de Eliseu a sua história só volta a ser
contada no segundo capítulo do segundo livro dos Reis. Aproximada­
mente 10 anos é o período que separa a chamada de Eliseu do dia que
Elias foi tomado dele. Nesses 10 anos a história de Eliseu não foi conta­
da, pois dificilmente acompanham a trajetória de alguém como servo
de um líder. No entanto, a porção dobrada só é consequência de quem
primeiro foi fiel no dever de servir.
O ministério de Eliseu durou aproximadamente 50 anos, de 850 a
800 A.C. Há algumas características diferentes entre os ministérios de
Elias e Eliseu. Elias aparentemente não vem de uma família muito co­
nhecida, não há nenhuma referência sobre seus antepassados. Eliseu,
no entanto, vem de uma família provavelmente mais influente na área
rural de Israel. Elias foi um profeta “solitário” de poucos amigos. Eliseu,
no entanto, foi um profeta “comunitário” e teve mais amigos, a tal ponto
de uma mulher com o consentimento de seu esposo construir um quarto
para ele em sua casa, só para tê-lo por mais tempo com eles.
Além disso, Eüseu foi o profeta da porção dobrada. Isso ficou bem
percebível na quantidade de milagres operados por eles. Elias realizou 7
milagres, Eliseu realizou 13 milagres em vida e para cumprir a porção do­
brada, ao jogarem um defunto sobre o túmulo dele o defunto ressuscitou,
reaüzando assim o 14° milagre de seu ministério e completando também
a porção dobrada de milagres que Elias realizou (2Rs 13.21).
Quando estava prestes de Elias ser tomado, ele perguntou a Eliseu:
“O que queres antes que eu seja tomado de ti?”. Eliseu disse que que­
ria porção dobrada do espírito de Elias. É bom entendermos que essa
porção dobrada era a porção dobrada do espírito de Elias, e não porção
dobrada do Espírito Santo como alguns pensam [para mais detalhes, ver
Elias], Elias disse que Eliseu só recebería essa porção dobrada do espí­
rito de Elias se o visse no momento que Deus o tomasse, no entanto, se
não visse, não recebería - sugerindo tanto que Eliseu deveria ser fiel até
o fim como também que Deus o concedería tal visão. Em um daqueles
dias indo eles andando e falando, de repente veio um carro de fogo, com
cavalos de fogo, e os separou um do outro, e então Elias subiu em um
redemoinho. Um detalhe interessante é que Elias não subiu no carro de
fogo, este veio apenas para separá-lo de Eliseu, Elias subiu foi em um re­
demoinho. Eliseu viu o carro de fogo que o separou do seu mestre, e da­
quele dia em diante nunca mais o viu. Deus havia tomado Elias para si.
Os milagres do ministério de Eliseu começaram nesse momento,
pois o Jordão estava cheio, e Eliseu precisava atravessá-lo, então ele pe­
gou a capa de Elias que havia caído próximo a ele e bateu com ela no
Jordão dizendo: “Onde está o Deus de E lias?’. O Jordão abriu e ele atra­
vessou até o outro lado. A partir desse momento ele passou a ser o pro­
fessor da escola de profetas, que foi um projeto do ministério de Elias
para ensinar e formar jovens vocacionados para o ministério.
Sua autoridade, entretanto, não era baseada no autoritarismo,
nem sua liderança simplesmente baseada na tomada de decisões. Em
sua imaturidade, o grupo de profetas queria procurar por Elias e, em­
bora Eliseu soubesse que seria perda de tempo procurá-lo, não repri­
miu aquilo que, afinal, era o produto de uma preocupação amorosa dos
filhos dos profetas pelo seu mestre Elias (2Rs 2.17). Eliseu é o tipo do
líder que quando assume um grupo de pessoas ao seu comando não se
inveja do carinho que os liderados possuem pelo líder que acabou de ser
substituído. Quando os moços voltaram, sem terem encontrado Elias,
o profeta Eliseu não transformou aquilo num problema, mas se calou,
para não ferir o coração daqueles que agora ele haveria de sarar. Esse
espírito amável, gentil e ameno sempre foi uma característica de Eliseu.
Desse dia em diante uma sequência de milagres começaram a acon­
tecer. As águas amargas de Jerico foram transformadas em águas potá­
veis; o aparecimento das duas ursas para matar os meninos zombadores;
a multiplicação do azeite da viúva; a gravidez da mulher rica que não
tinha filhos e a ressurreição desse menino quando morreu; o fim do vene­
no que havia na panela; a alimentação de cem homens com apenas vinte
pães; a cura da lepra de Naamã; o machado que flutuou, entre outros.
Os milagres de Eliseu revelam um pouco sobre sua personalidade
e o seu caráter. Principalmente em 2 Reis 4. Nesse capítulo Eliseu alcan­
ça duas mulheres. Uma tinha filhos, a outra não os tinha. Uma era tão
pobre que estava perdendo os filhos por causa das dívidas, a outra era
tão rica que construiu um quarto para ele. Uma era viúva, a outra era
casada. Havia uma diferença gigantesca entre as duas, mas a mesma
atenção que Eliseu deu à pobre, também deu à rica. O mesmo senti­
mento em abençoar a rica, Eliseu teve pela pobre. Isso nos revela um
princípio inegociável que todo líder deve possuir: a alegria de abençoar
pessoas, independente de quem elas sejam, ou do que elas possam fazer
ou representar. Eliseu havia entendido que o ministério é uma oportu­
nidade que Deus dá ao homem para servir pessoas.
Outra grande qualidade de Eliseu era que ele sabia ser ousado
quando preciso e manso quando necessário. Eliseu representava bem
uma mistura balanceada da “bon dade e severidade de Deus” (Rm 11.22).
Por um lado, ao sustentar os indignos (2Rs 3.17), suprir as necessidades
do pobre (4.1-7), alimentar o faminto (4.38), preocupar-se com uma fer­
ramenta perdida (6.1) chorar diante de um sofrimento (8.11) e restaurar
uma criança (4.8-37). Por outro lado, severo em suas denúncias (3.13;
2.23-25), resoluto na execução dos juízos de Deus (9.1,2) e na destruição
dos inimigos de seu povo (13.14).
Na luta contra os sírios, Eliseu fez uso de seus poderes sobrena­
turais para a inusitada finalidade de espionagem militar. Predizia com
exatidão a hora e o local dos ataques dos sírios, fazendo com que fossem
constantemente repelidos pelos defensores israelitas (2Rs 6.8-12). O rei
da Síria disse aos seus oficiais que havia um traidor entre eles, e ouviu
como resposta que os vazamentos de informações eram devidos ao pro­
feta israelita Eliseu, então residindo na cidade de Dotã, a cerca de quinze
quilômetros ao norte de Samaria. Sob a proteção da noite, uma força-ta­
refa dos sírios, composta de carros e cavalaria, avançou até Dotã e cer­
cou a cidade, com instruções para capturar o homem de Deus que havia
se transformado em uma ameaça para os planos militares dos sírios.
Ao acordar pela manhã e ver-se sitiado, Eliseu invocou ao Senhor
e os soldados sírios foram acometidos de uma cegueira temporária. Eli­
seu então lhes disse que haviam tomado o caminho errado e se ofereceu
para guiá-los até o homem que procuravam, levando-os diretamente
para Samaria (capital do reino norte - Israel) e entregando-os às forças
do rei, antes que recobrassem a visão. O rei israelita pensou em mandar
matá-los, mas Eliseu o dissuadiu, observando que eles na verdade não
haviam sido capturados em batalha. Assim, a conselho do profeta, os
soldados sírios foram alimentados e mandados de volta aos seus pais,
sem serem molestados. Esse ato de clemência proporcionou uma trégua
temporária nos rumores de guerra entre os dois reinos.
Algum tempo depois, quando os sírios sob o comando do rei de
Damasco invadiram Israel em grande número, Eliseu foi envolvido no
cerco de Samaria. A cidade ficou totalmente isolada e a fome se instalou.
O pouco alimento que restara alcançara preços exorbitantes no merca-
do, a ponto de uma mãe ter comido o seu próprio filho (2Rs 6.28-29). O
desesperado rei Jorão culpou Eliseu de ter causado todo esse sofrimento
por sua fé erroneamente depositada na proteção do Senhor. O profeta
prometeu que no dia seguinte, haveria uma abundância alimentos.
Durante a noite, o exército sírio fugiu em pânico, pois o Senhor fez
com que ouvissem o som de carros de guerra e um grande exército, e eles
imaginaram que a força dos heteus e dos egípcios haviam chegado para se
juntarem aos israelitas. O cerco terminou e grandes quantidades de provi­
sões abandonadas pelos sírios foram levadas para a cidade.
Desde o começo de seu ministério, Eüseu esteve envolvido em as­
suntos de estado. Ele sempre foi um conselheiro de guerra e um fazedor
de reis. Uma das histórias que comprovam isso é a participação de Eliseu
em uma situação durante o reinado do rei Jorão, rei de Israel. O reino de
Moabe, no planalto leste do mar Morto, havia rompido seu compromisso
de fidelidade ao reino de Israel. O rei Jorão propôs a Josafá, rei de Judá
uma campanha conjunta contra Moabe. O rei de Edom, vassalo de Judá,
também foi chamado a participar. Fizeram uma longa volta passando pelo
deserto de Edom, além da extremidade sul do mar Morto, de modo a ata­
carem Moabe pelo lado sul. Porém, acabou-se a água (o principal em todas
as campanhas militares no deserto) e as tropas e os animais dos três reinos
estavam ameaçados a morrerem de sede. Depois que Josafá sugeriu que
fossem consultar um profeta do Senhor, os aliados foram visitar Eliseu. Pri­
meiro o profeta se recusou a ter qualquer encontro com Jorão, por causa
do apoio que seus pais, Acabe e Jezabel, tinham dado aos profetas de Baal.
Mas por causa de Josafá, rei de Judá, que era fiel ao culto ao Senhor, Eliseu
concordou em ajudar. O profeta mandou chamar um músico e “enquanto
o músico tocava veio à mão do Senhor sobre Eliseu” (2Rs 3.15). Eliseu anun­
ciou a eles que cavassem poços no deserto, pois Deus mandaria água e eles
venceríam os moabitas. Na manhã seguinte milagrosamente esses poços
amanheceram encharcados de água.
De longe, as sentinelas moabitas viram a água refletindo à luz da
manhã, vermelha como sangue, ilusão acentuada pelas rochas de arenito
avermelhado da região. Concluíram que os aliados haviam lutado entre
si, matando-se uns aos outros, e se adiantaram para o acampamento is­
raelita para os despojarem. Ali chegados foram ali surpreendidos e derro­
tados, cumprindo assim a palavra que havia sido profetizada por Eliseu.
Pouco depois, cumprindo uma tarefa que originalmente Deus dera a
Elias no monte Horebe, Eliseu ungiu dois reis. É dito, na verdade, que Eliseu
instigou duas revoluções políticas, uma na Síria e outra em Israel. A revolu-
ção síria começou quando Eliseu disse a Hazael, ministro do rei Ben-Hadade,
que o seu senhor morrería e ele seria rei em seu lugar (2Rs 8.13). Hazael fez a
profecia se cumprir matando Ben-Hadade e assumindo o trono.
A segunda revolução ocorreu após Hazael ter começado os seus
ataques no reino do norte após uma batalha na qual o rei Jorão foi feri­
do e teve de retirar-se. Eliseu enviou um dos filhos dos profetas secreta­
mente a Jeú, comandante israelita, para derramar um frasco de óleo na
cabeça dele com as palavras: “Assim diz o Senhor: Eu te unjo como rei de
Israel” (2Rs 9.3). Quando este ato do representante de Eliseu tornou-se
conhecido, os outros generais aclamaram unanimemente Jeú como rei.
Logo em seguida, Jorão foi assassinado, sua mãe Jezabel foi atirada de
uma alta janela e seu corpo comido por cães, e 70 outros filhos e netos de
Acabe foram mortos (2Rs 9.30-37/10.1-14). Com isso cumpriu-se o juízo
profetizado por Elias contra Jezabel (lRs 21.23).
No entanto, Eliseu não foi feliz na escolha de um substituto. Seu
moço chamava-se Geazi, era um bom assistente, mas com alguns defei­
tos no caráter que são inadmissíveis no ministério. Geazi aparece pelo
menos em três episódios com Eliseu.
O primeiro ocorre quando eles estão hospedados no quarto que a
sunamita havia construído para Eliseu, e ele descobre o que faltava para
aquela mulher: um filho. Eliseu profetizou que a mulher teria um filho.
Quando o menino já estava grande, veio a falecer, a sunamita procurou
o profeta para ressuscitar seu filho. Geazi, porém tentou impedir a mu­
lher ir até o profeta. Mas Eliseu demonstrou carinho e gratidão por ela,
enviando Geazi a sua casa com a instrução de colocar o bordão sobre o
rosto do menino, porém, a criança não voltou à vida, pois o bordão era
de Eliseu, mas a mão era de Geazi, e Deus não opera por mãos de quem
há engano. Quando Eliseu foi até a criança, Deus operou o milagre res­
suscitando o menino.
O segundo encontra-se em 2 Reis 8.1-6. Eüseu dissera a mulher su­
namita que deixasse o país, pois havería sete anos de fome na região. Ela
foi com a família para a terra dos filisteus. Quando voltaram, a rica mulher
procurou o rei Jeorão, para recuperar suas propriedades. Na chegada des­
cobriu que Geazi contava ao rei sobre as proezas de Eüseu e ouviu justa­
mente o episódio da ressurreição do filho dela. Isso comoveu o rei ao ver
o menino vivo, e este deu a sunamita de volta todas as suas propriedades.
Aqui está um princípio espiritual: se nas suas propriedades houver um es­
paço dedicado a Deus (quarto do profeta) mesmo quando a crise vier, Deus
guardará e preservará tudo o que é seu.
O terceiro ocorre na cura de Naamã, o comandante do exército sí­
rio. Este general ofereceu uma recompensa a Eliseu por sua cura. O pro­
feta recusou, entretanto, depois que Naamã partiu, Geazi foi atrás dele,
com a intenção de tirar algum proveito da situação, pois era ganancioso.
Geazi mentiu para Naamã, dizendo a ele que Eliseu precisava de algum
dinheiro para ajudar dois profetas. Mas tarde, mentiu novamente para
Eliseu, quando este lhe perguntou onde tinha ido. Dificilmente, o que
começa errado terminará certo. O castigo de Geazi foi que a lepra de
Naamã passou para ele, como recompensa de seus erros.
Um detalhe interessante sobre Geazi é que ele só aparece em his­
tórias de pessoas ricas, a mulher rica e o general do exército sírio. Em
nenhum momento ele aparece se compadecendo de alguém necessitado.
Ainda em nossos dias existem essas duas classes de pessoas no ministério:
Eliseu é o tipo de pessoa que desenvolve seu ministério para abençoar
pessoas, independente de quem elas sejam ou do que elas tenham. Geazi
é o tipo de pessoa que apenas desenvolve seu “pseudo-ministério” em um
cenário que haja pessoas que tenham alguma coisa para lhe oferecer. Um
cristão do quilate de Geazi nunca viverá o que de fato é o Evangelho, pois
suas motivações são erradas, e seu coração é enganoso.
Quando Eliseu estava no final de sua vida, ocupava o trono de Israel,
Joás, neto de Jeú. O rei veio visitá-lo e chorou por ele. Eliseu lhe disse para
abrir a janela oriental e atirar uma flecha na direção de seu antigo inimigo,
a Síria. Eliseu profetizou que os sírios seriam derrotados e repelidos em
Afeque, a leste do mar da Galileia. A seguir pediu que o rei golpeasse o chão
com suas flechas e Joás o fez por três vezes. Eliseu reclamou que ele deveria
ter feito isso cinco ou seis vezes, para assegurar uma vitória total. Devido a
isso, ele derrotaria os sírios apenas três vezes (2Rs 13.14-19).
Eliseu morreu com idade avançada, com pelo menos oitenta anos.
Porém, mesmo depois de morto seu ministério ainda continuava vivo.
O último milagre relatado de Eliseu talvez seja o mais assombroso de
todos, pois aconteceu depois que estava morto. Um cortejo funeral que
passava perto da sua sepultura foi atacado por saqueadores moabitas.
Em pânico, os homens que iam sepultar o morto jogaram o corpo que
carregavam num túmulo próximo, que por acaso era o de Eliseu. Ao to­
car os ossos de Eliseu, foi como se a vida brotasse a partir dos restos do
profeta. O homem reviveu e pôs-se de pé (2Rs 13. 20-21).
Enoque Nome hebraico, significa "Dedicado".

Enoque era descendente de Adão por meio de seu terceiro filho,


Sete. Era Filho de Jarede, avô de Noé e pai de Matusalém - o homem que
detém o recorde da mais longa vida registrada na Bíblia. É bom lembrar
que este Enoque não é o mesmo Enoque que fora filho de Caim (Gn 4.17).
I
Enoque fez parte das chamadas “gerações de Adão”, dez gerações que
tiveram uma vida extremamente longa. Enoque era um homem justo que
“andou com Deus” até a idade de 365 anos, depois dessa idade “já não foi en­
contrado, pois Deus o tomou para si” (Gn 5.24). Naturalmente, isso significa
que ele foi a primeira pessoa a ser arrebatada, sem passar pela morte.
O nascimento de Matusalém tratou-se de um ponto decisivo na
vida de Enoque, pois foi a partir de então que ele começou a andar com
Deus (Gn 5.22). Será que a responsabilidade de criar um filho num mun­
do tão perverso desafiou Enoque a ponto de ele entender que precisa­
va mais do que nunca da companhia indispensável do Senhor? Ou será
que, quando o bebê nasceu, Deus deu a Enoque discernimento sobre o
futuro para que ele soubesse que o dilúvio estava por vir? Não se pode
dizer ao certo. No entanto, podemos dizer que a chegada dessa criança
mudou a vida de Enoque.
Alguns estudiosos veem nesse “arrebatamento” de Enoque em um
tempo anterior ao juízo de Deus no dilúvio uma figura da igreja. Enten­
dendo que assim como Enoque foi arrebatado antes do dilúvio, a igreja
também será arrebatada antes do juízo (tribulação) que Deus enviará
sobre a terra (lTs 4.13; 5.11).
Não há dúvidas de que Enoque foi “trasladado”, ou simplesmen­
te removido da terra para a presença de Deus. Enoque foi uma pessoa
incomum, homem de poder e de notável influência. Como membro da
linhagem dos descendentes de Adão que permaneceram fiéis ao Senhor,
Enoque também aparece como ancestral de Jesus, em Lucas 3.37.
Além disso, Enoque é posto em evidência na crônica judaica. Ele
teria sido o inventor das letras, da matemática e da astronomia. De fato,
é reputado como o primeiro autor de livros e supõe-se que vários livros
emanaram dele.
Judas 1.14-15 apresenta trechos do livro de Enoque. Nesse registro há
uma referência a uma profecia de Enoque em que declara o juízo de Deus
contra toda a impiedade. Aparentemente essa profecia se cumpriu na che-
gada do dilúvio. Embora muitos possam discutir sobre a fonte de que Judas
estava realmente utilizando (tradição escrita ou oral) podemos realçar que
a inclusão dessa citação em um livro do Novo Testamento é suficiente para
confirmar a importância dessa mensagem e fazer dela um decreto sagrado.
Depois de ter sido citado em Judas e conhecido por alguns patriar­
cas da igreja, esse livro desapareceu. Nenhuma parte do original hebrai­
co chegou até nós, embora existam fragmentos em grego e etíope que os
estudiosos associam a esse livro. Nas cavernas próximas ao mosteiro es-
seno, junto ao mar Morto, foram encontradas parte de oito manuscritos
de registro que se acredita ser de Enoque escritos em aramaico.
O escritor da carta aos Hebreus insere Enoque como um dos que
faziam parte da galeria dos heróis da fé: “Pela f é Enoque fo i arrebatado, de
m odo que não experimentou a morte, pois antes de ser arrebatado recebeu
testemunho de que tinha agradado a Deus” (Hb 11.5).
Enoque demonstrou com a sua vida que é possível ao homem,
mesmo vivendo em um mundo corrompido conseguir desenvolver uma
elevadíssima espiritualidade. A oportunidade de Andar com Deus é dada
a todos os homens, nosso dever e nos dedicarmos para que a caminhada
diária com Deus faça parte da nossa existência.

Esaú Nome hebraico, significa "Cabeludo".

Esaú era filho de Isaque e Rebeca e irmão gêmeo de Jacó. Também


era conhecido como Edom, que significa “vermelho”. Esaú é o ancestral
tradicional dos edomitas (Gn 36; Ml 1.2-3).
Estes gêmeos lutaram um contra o outro no ventre antes do nasci­
mento (Gn 25.22). Este foi um prenuncio pré-natal do relacionamento de
Esaú e Jacó na vida, como também entre os seus descendentes (Gn 25.23).
O primeiro a nascer foi Esaú, coberto de pelos ruivos. Em seguida veio
Jacó, agarrado ao calcanhar do seu irmão. Deus, no entanto, já havia dito
a Rebeca que “o m aior serviría ao m en or”. O “maior” na cultura antiga era
uma referência ao primogênito.
Jacó era do tipo introvertido e pensativo, no entanto, era astuto e in­
teligente. Esaú era extrovertido e um homem do campo que se tornou um
hábil caçador. Esaú era o favorito de seu pai, Isaque. Enquanto que Jacó
tornou-se o favorito de sua mãe, Rebeca. Esaú fornecia a seu pai as carnes
favoritas de suas expedições de caça, mas o seu amor pela caça acabou se
tornando uma das razões de sua ruína.
Um dia, quando Esaú retornou da caça, cansado e faminto. Jacó estava
esperando por ele com um prato bem preparado de lentilhas avermelhadas
com guisado (carne). Quando o cheiro dessa comida foi percebido por Esaú,
ele disse, “Deixa-me, peço-te, comer deste guisado vermelho” (Gn 25.30). Jacó
propôs a ele a troca do prato pelo direito à primogenitura, e Esaú pronta­
mente aceitou. As escrituras, dizem que Esaú “desprezou” o seu direito de
primogenitura (Gn 25.34). Podemos supor com segurança que Esaú demons­
trou pouco caso quanto à questão da primogenitura, não tendo sido prova­
velmente a fome a causa principal de seu desprezo por sua descendência.
No entanto, a importância desse episódio do guisado é demonstrada por sua
associação com o segundo nome de Esaú, “Edom”, que significa “vermelho”
(cor do guisado). Ou seja, “aquilo pela qual você se vende, é o que você se
torna”.
O termo primogenitura denota as vantagens e direitos normalmen­
te desfrutados pelo filho mais velho. Estes incluíam o vigor natural do
corpo e do caráter (Gn 49.3; Dt 21.17), uma posição de honra na direção
da família (Gn 27.29), e uma porção dobrada na herança (Dt 21.15-17).
Quando aplicado a tribos e nações, a benção da primogenitura transmite
a ideia de superioridade política e material. Este ato impulsivo tirou de
Esaú a liderança do povo através do qual o propósito redentor de Deus
iria fluir. Como castigo, também lhe foi confiscada a vantajosa porção do
filho primogênito nos bens temporais do pai. Fazendo com que a partir
daquele momento a descendência de Abraão e Isaque, passasse por Jacó,
e não mais por ele, Esaú.
Estando Isaque já velho e quase cego, pediu a Esaú seu filho pre­
ferido, que fosse caçar e lhe preparasse um prato de caça como ele gos­
tava, após isso ele o concedería sua benção. Rebeca ouviu tudo e decidiu
conseguir a benção para Jacó, a quem ela preferia. Preparou então um
saboroso prato de carne de cabrito e fez com que fosse levado ao seu ma­
rido por Jacó, antes o vestindo com uma das roupas de Esaú e cobrindo
suas mãos e pescoço com a pele de cabrito, para simular o corpo peludo
do seu irmão. Assim o velho pai foi enganado e concedeu a benção a Jacó,
declarando que ele seria o cabeça da família após sua morte e que seus
irmãos o serviríam.
Quando Esaú voltou e soube do que havia acontecido, chorou
amargamente e pediu ao pai para abençoá-lo também. Isaque respon­
deu que Esaú teria de servir a seu irmão Jacó, mas prometeu que ele
também havia de prosperar e, com o tempo, tornar-se independente. E
acrescentou que Esaú viveria da sua espada.
Esaú passou a odiar Jacó por causa dessa traição e ameaçou ma-
tá-lo. Jacó fugiu para a família de sua mãe em Padã-Arã, para se escon­
der da vingança de Esaú e também para encontrar uma esposa entre
os parentes.
Com quarenta anos de idade, Esaú casou-se com duas mulheres,
com pequeno intervalo de tempo entre o primeiro e o segundo casa­
mento. Ambas as mulheres eram cananeias e isso causou dificuldades
consideráveis para a família de Esaú, gerando em Isaque e Rebeca uma
amargura de espírito (Gn 26.34-35). O trecho de Gênesis 27.46 registra
o descontentamento de Rebeca acerca dessa questão. Uma terceira es­
posa foi escolhida entre a sua própria parentela, chamada Basemate,
também conhecida como Maalate (Gn 28.9), irmã de Naiabote e filha de
Ismael, filho de Abraão e Hagar (Gn 36.3).
Os intérpretes acreditam que o fato de Esaú casar-se com mu­
lheres estrangeiras, não relacionadas ao povo compactuado com Deus,
serviu de sinal da pouca importância que ele dava às coisas espirituais.
Esaú se estabeleceu na terra de Seir, ao sul do mar Morto. Pas­
sados muitos anos (pelo menos, 21 anos que Jacó e Esaú não se viam),
chegaram mensageiros de Jacó para dizer que ele havia retornado a Ca-
naã com suas esposas e filhos. Esaú saiu ao encontro de Jacó, à frente
de quatrocentos homens. Jacó temeu que o irmão gêmeo, com quem
ele havia procedido mal, pudesse estar vindo para matá-lo e mandou
adiante dele muitos carneiros, cabras, vacas e camelos escolhidos como
presente para Esaú. A princípio, Esaú recusou os animais, dizendo que
já os possuía em número suficiente, mas no final foi persuadido por Jacó
a aceitar o presente.
O encontro se deu perto do vau do rio Jaboque. Jacó se adiantou
com suas duas esposas, duas concubinas e filhos e se prostrou no chão
diante de Esaú. Viu então que seus temores eram desnecessários. Esaú
correu até ele e o abraçou, eles se beijaram e choraram (Gn 33.4). Esaú
queria que Jacó voltasse com ele para a terra de Seir, mas Jacó argumen­
tou que só poderia viajar devagar, pois seus filhos ainda eram de pouca
idade e seus animais estavam com filhotes, convenceu Esaú e seus ho­
mens a seguirem na frente e ele iria devagar atrás até chegar a Seir. Jacó,
no entanto, não seguiu a Esaú, mas mudou de direção e continuou em
Canaã. Ironicamente Jacó ainda possuía muita esperteza dentro de si.
O caráter de Esaú parece franco e direto sem sinal de astúcia de
seu irmão Jacó. Suas emoções são fortes e espontâneas, esteja ele implo­
rando diante do pai quando lesado no caso da benção - ou ameaçando
matar Jacó como vingança - ou correndo para abraçar o irmão quando
os dois se encontraram e reconciliaram tempos depois. No entanto, Esaú
e Jacó aparentemente só se encontraram novamente no enterro de seu
pai, Isaque (Gn 35.29).
Os profetas usaram o nome de Esaú para simbolizar Edom. “Como
Esaú foi revolvido”, exclama Obadias “não haverá sobreviventes da casa de
Esaú” (Ob 1.6,18). Malaquias descreve como a herança de Esaú se transfor­
mou em “pastagens de chacais do deserto” (Ml 1.3).
A relação subserviente dos edomitas para os israelitas existia no
tempo de Davi (2Sm 8.11-15; lCr 18.13) e continuou até o tempo de Jeorão
(2Rs 8.20-22; 2Cr 21.8-10). Após uma rebelião em 845 a.C., os edomitas
ganharam sua independência por um tempo, mas foram reconquistados
por Amazias (796-797 a.C.). Até que em 735 a.C., tiveram de volta sua li­
berdade e permaneceram independentes de Judá.
O nome de Esaú aparece também no Novo Testamento. Paulo cita
Esaú em Romanos 9 como um exemplo dos não escolhidos por Deus, e o
autor anônimo de Hebreus manda que seus leitores não sejam impuros
ou profanos “como foi Esaú, o qual, por uma só refeição, vendeu o seu
direito de primogenitura (Hb 12.16).

Esdras Nome hebraico, significa "O Senhor ajuda".

Esdras é conhecido de diversas maneiras: como sacerdote (Ed


10.10,16; Ne 8.2), como escriba (Ed 7.6; Ne 12.36) e como um sacerdote
e escriba (Ed 7.11,12,21; Ne 8.9; 12.26). O escriba no Antigo Testamento
não era um mero copista, como nos tempos de Jesus, mas um profundo
estudante das leis e mandamentos de Deus. Esdras era descendente
de Arão, o primeiro sumo sacerdote de Israel (Ed 7.2-7). Era filho de
Seraías, que era neto de Hilquias, sumo sacerdote durante o reinado
de Josias. Aparentemente foi o autor do livro bíblico de Esdras, pois
nos últimos quatro capítulos desse livro, ele fala na primeira pessoa do
singular. Nada se sabe sobre o começo da sua vida.
Esdras ocupou uma posição de liderança no exílio, provavelmente,
devido a sua linhagem sacerdotal. O seu título de “escriba” pode signifi­
car que ele era secretário oficial na corte persa, tendo servido como uma
espécie de conselheiro do rei, em questões pertinentes aos judeus cativos.
Seu bom conceito perante a corte real é comprovado pelo fato de Artaxer-
xes, o imperador persa, dar-lhe sua recomendação pessoal (Ed 7.11-12).
Esdras liderou uma caravana de exilados da Babilônia para Israel,
após o decreto do rei Artaxerxes (Ed 7.1-12). Esse não era o primeiro
grupo de exilados que voltavam a Jerusalém. O primeiro foi liderado
pelo príncipe Sesbazar (Ed 5.14-16), um segundo retorno, por seu sobri­
nho, Zorobabel em 537 a.C. O retorno de Esdras foi um dos últimos. A
caravana de Esdras era composta de mil setecentos e cinquenta e quatro
homens judeus (Ed 8.1-14), contados com mulheres e crianças acredita-
-se que tenham chegado ao cálculo de cinco mil pessoas. Esdras também
levou consigo uma grande oferta voluntária em ouro, prata e vasos de
prata, para tal quantia haviam contribuído outros judeus, o rei da Pérsia
e seus conselheiros. Esdras também tinha a permissão de valer-se do
tesouro real na Palestina, sempre que para isso houvesse necessidade
(na época pós-exílio a Palestina foi por um tempo uma província persa).
Também tinha autoridade para nomear magistrados e juizes na Judeia,
bem como para impor a sua própria liderança (Ed 7.11-28). Suas creden­
ciais foram endossadas pelos sete principais membros da corte real da
Pérsia (Ed 7.14). A Bíblia hebraica reproduz em aramaico o documento
real autorizando a missão de Esdras (Ed 7.11-26).
O grupo reuniu-se às margens do rio Aava, onde habitaram em
tendas pelo espaço de três dias, e dali partiram para Jerusalém (Ed 8.15).
A viagem até Jerusalém durou cerca de quatro meses. Foi uma jornada
longa (1600 km) e perigosa, atravessando um deserto cheio de perigos,
como por exemplo, os salteadores. Chegando a Jerusalém celebraram
ao Senhor e Esdras transmitiu as incumbências do rei persa para os go­
vernadores locais. Certamente a comunidade de Jerusalém era pobre e
atrasada, quando comparada com o grupo de judeus que regressaram
da Babilônia. A chegada de Esdras significou muito para a comunidade
de Jerusalém, que enfrentava grandes dificuldades.
No entanto, há um problema de datas quando se refere ao ano exa­
to em que Esdras voltou com esse grupo de exilados a Jerusalém. Essa
jornada aconteceu “no sétim o ano do rei A rtaxerxes” (Ed 7.7), mas Esdras
não especificou se esse retorno foi no sétimo ano do rei Artaxerxes Lon-
gimanus, conhecido como Artaxerxes I (458 a.C.), ou no sétimo ano do rei
Artaxerxes Mnemon, conhecido como Artaxerxes II (397 a.C.). Embora, a
primeira opção pareça ser a mais coerente, devido ao fato de Neemias ter
chegado a Jerusalém em 444 a.C., e provavelmente Esdras ter chegado
primeiro que Neemias em Jerusalém. Sendo assim, o retorno de Esdras foi
aproximadamente 80 anos após o edito de Ciro ter iniciado o movimento
de retorno à Terra Santa.
Em Jerusalém, Esdras ficou horrorizado, ao saber que muitos sa­
cerdotes, levitas e líderes civis tinham-se casado com mulheres pagãs (Ed
9). Essas uniões mistas haviam corrompido a vida moral e religiosa da
nação. Em seu desgosto, Esdras chorou humildemente diante do Senhor
e conduziu toda a comunidade ao arrependimento (Ed 9 a 10). Muitos
judeus divorciaram-se de suas esposas pagãs e foram reintegrados no ser­
viço do Senhor. Alguns judeus, no entanto, recusaram-se a acompanhar
essa reforma, mas o livro de Esdras termina com uma longa lista dos is­
raelitas, entre eles sacerdotes e levitas, que concordaram em divorciar-se
de suas esposas idólatras e fizeram sacrifícios de expiação por sua trans­
gressão de casar-se com elas.
É importante notar que a exigência de Esdras quanto ao divór­
cio não era motivada por questões raciais. Os exemplos de Zípora (Êx
2.21,22), Raabe (Js 6.25) e Rute (Rt 1.4) deixam claro que a união mista
com estrangeiros não era terminantemente proibida no Antigo Testa­
mento. A questão em pauta nos dias de Esdras era o casamento inter-re-
ligioso, e não inter-racial. A mesma proibição aparece também no Novo
Testamento (2Co 6.14 a 7.1).
Depois disso, a história de Esdras volta a ser contada apenas al­
guns anos depois em Neemias 8 e 9. Nessa época, a corte persa havia
enviado Neemias a Jerusalém para ser governador judeu, ele adminis­
traria a então província palestina da Judeia. Neemias restaurou as mu­
ralhas de Jerusalém e aumentou sua população trazendo gente das cida­
des menores e das aldeias da Judeia.
Era chegado o tempo de Esdras estabelecer com mais firmeza a lei
religiosa, como base na vida diária. Ele havia trazido da Babilônia as escri­
turas codificadas em um rolo da lei. No primeiro dia do sétimo mês - um
dia tradicional de convocação que os judeus ainda celebram como Rosh
Hashanah, o Ano Novo Judaico - Esdras e toda a comunidade reuniram-se
na praça junto à porta das águas, e Esdras, sobre um estrado de madeira, e
na presença do governador Neemias, leu alto para todos os judeus o livro
sagrado, e todos choraram de emoção. Ele lhes disse que não deviam cho­
rar, mas sim ir comer, beber e alegrar seus corações “pois hoje é um dia
consagrado ao nosso Senhor. Não vos aflijais, a alegria do Senhor é a vossa
fortaleza” (Ne 8.10).
No dia seguinte Esdras continuou o estudo da lei junto com os
levitas e os chefes das famílias. Quando se leu que “os filhos de Israel
deveriam morar em tendas durante a festa do sétimo mês” (Ne 8.14),
foi decidido imediatamente reviver a festa dos tabernáculos, para reme­
morarem o tempo em que seus antepassados foram tirados do Egito por
Moisés e vagaram durante 40 anos no deserto (no ciclo do ano agrícola,
essa época era a ocasião do festival da colheita do outono). De todas as
cidades da Judeia, os homens saíram para recolher ramos de oliveira, pi­
nheiro, murta e palmeira para montar as tendas nos terraços, nos pátios
e nas praças públicas. A festa durou sete dias e no oitavo dia foi realiza­
da outra assembléia solene. Duas semanas mais tarde, em outra assem­
bléia em Jerusalém, os israelitas vestiram pano de saco e, com a cabeça
coberta de pó em sinal de luto, “confessaram seus p eca d o s” (Ne 9.2).
Esdras consolidou o código religioso e legal da ainda pequena comu­
nidade judaica de Jerusalém e, dessa forma, lançou as bases para o poste­
rior desenvolvimento do judaísmo como credo e como forma de vida.
Ao contrário do que muitos pensam, a forte ligação entre a prática
judaica e a obediência à lei depois do exílio, não existia antes da época
de Esdras. O conceito da grande alegria dos judeus de estudarem a Torá,
no período que se dá após o exílio até a época de Cristo, é fruto do tra­
balho de Esdras.
As cerimônias de Esdras foram, de fato, a instituição da religião ju­
daica como seria até a destruição do templo em 70 d.C. Depois de Esdras
terminar o seu trabalho, Israel não mais seria apenas um grupo de pes­
soas unidas por uma residência comum ou devoção comum ao Senhor.
Agora significava que os judeus eram um povo marcado principalmente
pela adesão à Torá - os cinco primeiros livros da Bíblia - que continham
a história da formação do povo judeu e a lei de Moisés. Os exilados ti­
nham feito um longo caminho rumo à redefinição de Israel, pois mesmo
sem seus ritos no templo os israelitas ainda tinham os mandamentos da
lei. Mas, foi apenas no tempo de Esdras que a religião do judaísmo ficou
firmemente vinculada à obediência a lei.
Há muitas características em Esdras que se assemelham as carac­
terísticas de Neemias. Ambos demonstraram notáveis qualidades de li­
derança, energia ilimitada, fé intensa e anseios espirituais semelhantes.
Há razões para crer, segundo o que alguns historiadores sugerem,
que originalmente Esdras e Neemias formavam um único livro, em con­
tinuação cronológica aos livros das Crônicas. É assim que ele aparece
nas Bíblias gregas e latinas. Os dois últimos versículos de 2 Crônicas são
idênticos aos dois primeiros de Esdras, o que leva alguns a pensar que
Esdras também tivesse escrito as Crônicas. No entanto, Esdras e Neemias
foram posteriormente divididos em dois livros na Bíblia hebraica e, por
conseguinte, nas versões protestantes. Essa divisão acaba não sendo sa­
tisfatória, pois a parte mais importante do trabalho de Esdras - a leitura
do livro da lei e as reformas religiosas que se seguiram - encontram-se
nos capítulos 8, 9 e 10 do livro de Neemias.
A história de Esdras também é recontada nos üvros apócrifos de
1 e 2 Esdras. O primeiro é em essência, a tradução grega do livro de Es­
dras com alguns acréscimos da tradição oral. O segundo parece ter sido
tirado da primeira versão do (agora perdido) único volume hebraico de
Esdras-Neemias.
Há uma forte tradição de que Baruque, que foi escrevente e copis-
ta de Jeremias em Jerusalém, tenha sido professor de Esdras durante o
exílio na Babilônia. O estilo dos livros de Jeremias, Lamentações, Esdras
e Neemias e os livros apócrifos de Esdras são semelhantes o bastante em
suas características de linguagem para sustentar esse argumento.
Infelizmente, as circunstâncias da morte de Esdras não são conhe­
cidas. Não há um consenso sobre o lugar onde ele morreu. Flávio Josefo
informa-nos que ele faleceu pouco depois da celebração da festa dos ta-
bernáculos. Sua missão estava terminada, e não havia razão para quei­
xas ou lamentos. Josefo ainda afirma que ele foi sepultado em Jerusalém.
Alguns cronistas têm dito que Esdras morreu no ano em que Alexandre,
o Grande, chegou diante de Jerusalém. Presumivelmente, naquele mes­
mo ano morreram os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias, disso resultan­
do que a profecia escrita havia se encerrado. No entanto, outra tradição
assevera que Esdras retornou a Babilônia, onde faleceu, com a idade de
cento e vinte anos. Há uma declaração do Talmude que afirma que Esdras
morreu em Zamzumu, uma cidade à beira do rio Tigre, quando estava de
caminho de Jerusalém para Susã, a fim de consultar o rei Artaxerxes so­
bre certos acontecimentos em Jerusalém. Portanto, as informações tradi­
cionais parecem não se harmonizarem-se umas com as outras. Por muito
tempo, um certo túmulo, cerca de trinta e dois quilômetros da junção dos
rios Tigre e Eufrates, era exibido como o sepulcro de Esdras. Não há como
julgar o valor histórico dessas diversas tradições. O que podemos afirmar
é que em vida, Esdras foi um homem fiel a Deus e aos seus mandamentos,
tornando-se assim, sem dúvidas, um dos personagens mais importantes
dentro da tradição judaica.

Ester Nome persa, significa "Estrela".

Ester era seu nome persa, que significa estrela, e Hadassa era o
seu verdadeiro nome de origem hebraica, que significa murta. A mur-
ta era uma planta que crescia nas montanhas perto de Jerusalém e da
Palestina. Essa planta possuía um cheiro muito agradável, dava frutos
e quando esmagada exalava uma fragrância ainda mais intensa, pois
saía dela um óleo composto por diversas pontuações ao longo do limbo.
Interpretando simbologicamente o significado do nome Hadassa, temos
algumas idéias interessantes: fragrância agradável (testemunho cris­
tão), frutos (obras), e quando esmagada (provação) emana da planta um
“óleo” ainda muito mais agradável do que a própria planta.
Ester foi uma linda jovem hebreia, filha de Abiail, da tribo de Ben­
jamim (Et 2.15). Viveu em um tempo pós-exílio. Passados setenta anos
de exílio, muitos judeus haviam se adaptado e se estruturado financei­
ramente na Babilônia e em todo o território persa, e devido a isso acaba­
ram não retornando a Jerusalém. Entre esses judeus estava a família de
Ester. Infelizmente, nesse período os pais de Ester vieram a falecer dei­
xando-a órfã. Ester tinha um primo chamado Mardoqueu, que morava
em Susã, capital persa. Quando Ester ficou órfã, ele a recebeu e a criou
como se fosse sua filha.
Mardoqueu era um judeu fiel ao Senhor. Por algumas vezes, a Bí­
blia informa que Mardoqueu ficava à porta do palácio do rei. Possivel­
mente, ele desenvolvia alguma função em Susã, talvez ligada ao palácio
ou ao reino, mas nada muito ligado ao rei.
O rei dos persas naquela época era Assuero, este Assuero é o rei
Xerxes da história que reinou entre 486 a 466 a.C. Sua esposa era a ra­
inha Vasti. Naqueles dias, Assuero decidiu fazer uma festa que durou
180 dias em Susã, porém dividiu homens e mulheres em dois comparti­
mentos, um feminino e outro masculino. Ao fim dos 180 dias de festas,
embriagado pelo vinho, Assuero mandou que chamassem a rainha Vas­
ti, para que ela dançasse para ele na frente de todos os outros homens.
A rainha não aceitou o convite, e recusou-se a se expor dançando para
o rei diante de tal situação. Assuero recebeu isso como um desacato, e
de forma tola e impensável rompeu sua aliança com Vasti, destituindo-a
assim de ser sua esposa e da posição de rainha.
Segundo a Bíblia, Assuero realizou essa grande festa no terceiro
ano de seu reinado (Et 1.3). Assuero separou-se de Vasti, sem ter a cons­
ciência das consequências do que estava fazendo. Para não voltar atrás
em sua palavra real, manteve a decisão. No entanto, passado certo tem­
po Assuero sentiu a falta de uma esposa, e iniciou-se um concurso para
a escolha de uma nova rainha, para assumir o lugar de Vasti.
O Império Persa abrangia cento e vinte e sete províncias desde a
índia até a Etiópia. Assuero reinava sobre todo esse território, e em todas
essas cento e vinte e sete províncias foram selecionadas virgens formosas
para serem analisadas pelo rei a fim de concorrerem a “vaga” de rainha.
Ester 2.8 diz que Mardoqueu ao ser informado da procura do rei
por uma donzela formosa para ser sua nova rainha, apresentou sua
“prima-filha” Ester para Hegai, que era o eunuco do rei e guarda das
mulheres. Quando Hegai viu a Ester percebeu que esta era formosa e
agradável aos olhos. Ester lhe agradou tanto que este lhe destinou sete
servas para atendê-la, deu-lhe o melhor aposento do harém e a selecio­
nou para o processo de purificação de um ano que era necessário a vir­
gem passar antes de se encontrar com o rei.
Alguns intérpretes enxergam essa história como um tipo do arre-
batamento da igreja. Assuero tipifica Cristo e Ester tipifica a igreja. No
entanto, Ester precisou se purificar para encontrar-se com o rei. Este
processo de purificação durava um ano. Seis meses para o tratamento
com óleo de mirra e seis meses com especiarias, perfumes e unguentos.
Representando assim a santificação que a igreja deve viver para encon­
trar-se com Cristo.
Após o período da preparação, quando Assuero conheceu Ester,
ele se encantou por ela e decidiu que ela seria a sua rainha. No terceiro
ano do seu reinado, Assuero separou-se de Vasti. Apenas no sétimo ano
do seu reinado que ele conheceu Ester (Et 2.16), o que significa que ele
passou pelo menos quatro anos à procura da nova rainha, mas quando
ele conheceu a Ester, não teve dúvidas sobre sua escolha. Ester segundo
a Bíblia era uma jovem “de corpo bonito e aspecto agradável (Et 2.7).
Impressiona-nos o favor de Deus na vida de Ester. De uma jovem pobre,
órfã e exilada Deus a abençoou a tal ponto que se tornou a rainha de
um reino de cento e vinte e sete províncias, e que ia da índia (Ásia) até
a Etiópia (África).
Após Ester tornar-se rainha, dois oficiais do rei, chamados Bigtã
e Teres planejaram, não sabemos o porquê, a morte de Assuero. Mar-
doqueu descobriu esse plano dos dois oficiais contra o rei e avisou a
Ester para que ela pudesse informá-lo sobre essa conspiração. Assuero
investigou o caso e descobriu que realmente havia um plano para sua
morte. Após a certeza desse plano, Bigtã e Teres foram mortos e o rei foi
livre da execução.
Mais tarde, o rei concedeu honra mais elevada que a todos os outros
do reino a um de seus conselheiros chamado Hamã. Hamã e Mardoqueu
nunca tiveram comunhão entre si. Mardoqueu temia a Deus, e Hamã não.
Hamã lançou um decreto como segunda pessoa do rei, que todos que pas­
sassem perante ele deveriam se prostrar em sinal de reverência, e todos
assim faziam, menos Mardoqueu. Há evidências de que havia uma rixa
antiga entre as famílias de Hamã e Mardoqueu desde a época do rei Saul.
Hamã é identificado como filho de Hamedata, o agagita (8.5), indicação de
que era da tribo de Agague, o amalequita inimigo do rei Saul (ISm 15.7 em
diante). E Mardoqueu era filho (descendente) de Jair, filho de Simei, filho
de Quis (Et 2.5). E quem era Quis? Quis era pai de Saul. Essa talvez seja
uma das razões que alimentava a diferença entre Mardoqueu e Hamã.
Cinco anos depois de Ester ter se tornado rainha, Hamã projetou a
morte de todos os judeus no império persa. Essa era uma forma dele se
vingar de Mardoqueu, não sabendo ele, que Ester também era judia. Ele
convenceu o rei que os judeus eram inimigos da Pérsia e pediu permissão
para matar todos os judeus. Assuero sem saber quais eram as motivações
internas de Hamã, deu-lhe permissão para isso. Hamã jogou a sorte a fim
de encontrar uma data para o massacre, e a data no calendário hebraico,
caiu no dia 13 do mês de adar (março). Nessa data todos os judeus seriam
enforcados por uma forca de 22 metros e 50 centímetros de altura construí­
da pelo próprio Hamã (Et 7.9).
Quando Mardoqueu soube do plano de extermínio dos judeus
procurou a Ester, e solicitou a ajuda dela para que os judeus fossem
socorridos. A princípio, Ester não queria comparecer perante o rei. Há
os que pensam que ela não queria, pelo fato de aparentemente mesmo
sendo de origem judaica não estar correndo risco de vida por ser rainha.
No entanto, a verdade era que comparecer na presença do rei sem ter
sido chamada por ele era um grande risco. Era uma ofensa passível de
pena capital alguém abordar o rei sem sua solicitação. Ester poderia ser
executada por ir ao rei sem ser convocada, caso o rei naquele dia não
estivesse com humor agradável. Através da insistência de Mardoqueu
Ester aceitou procurar o rei, porém, pediu a Mardoqueu que todo o povo
judeu estivesse durante três dias orando e jejuando para que Deus fosse
com ela e sua visita ao rei fosse do agrado dele.
Quando Ester procurou Assuero, ele a recebeu de forma calorosa
e disse que daria a ela o que quisesse, mesmo que fosse metade do reino.
Primeiro, ela pediu ao rei para convidar Hamã para um banquete que
ela daria naquela noite. Hamã aceitou, compareceu ao banquete, diver­
tiu-se e foi convidado para outro banquete na noite seguinte.
Nessa ocasião, a Bíblia nos conta que Assuero perdeu o sono. A ma­
drugada passava e o rei não conseguia dormir, foi quando ele teve a ideia
de que o trouxessem o livro dos relatos históricos de seu reinado. Quando
foi aberto o livro estava exatamente na página que contava o livramento
que o rei tinha recebido através de Mardoqueu.
Pela manhã, enquanto o rei estava no palácio, Hamã foi até ele
para pedi-lo que o desse autorização para enforcar a Mardoqueu (Et
6.4). Hamã ao chegar foi interrogado por Assuero acerca do que ele po­
deria fazer a um homem da qual ele se agradara. Dominado pela sober­
ba do seu coração Hamã entendeu que ele era esse homem, e sugeriu
uma procissão real (a maior honra possível a um cidadão) com o cavalo,
a coroa e as vestes do rei. O rei então disse: “Levanta-te e faze assim para
o judeu Mardoqueu, e não retire nada do que dissestes” (Et 6.1-10).
O declínio de Hamã estava apenas começando. Quando ele chegou
naquela noite ao segundo banquete dado pela rainha, viu Ester contar ao
rei que era judia, e com isso por causa do decreto seria morta junto com
os judeus. Além disso, Hamã viu Ester convencer Assuero que a decisão
que ele estava fazendo era uma injustiça e uma traição com os judeus. Na
mesma hora, o rei deixou o banquete furioso, Hamã ao perceber o perigo
que estava correndo atirou-se aos pés de Ester, implorando que ela con­
vencesse o rei de não lhe fazer mal algum. Neste momento, o rei retornou
ao banquete, e pensando que Hamã estava atacando Ester, mandou que o
tirassem dali e o levassem para pendurá-lo na forca que ele havia prepara­
do para os judeus.
A pedido de Ester, Assuero cessou o massacre programado, deu
a Ester as propriedades e bens que eram de Hamã (Et 8.1) e colocou
Mardoqueu para ocupar o lugar que era de Hamã. A forca que era de
Mardoqueu Deus transferiu para Hamã, e a posição que era de Hamã
Deus transferiu para Mardoqueu.
Assuero também autorizou os judeus se defenderem de qualquer ou­
tro que quisesse prejudicá-los. No dia escolhido para exterminar os judeus,
foram exterminados todos os que tramavam matá-los (Et 9.1). O dia seguin­
te foi declarado o dia da celebração em honra da libertação dos judeus. Esse
dia, 14 do mês adar, é celebrado como o Purim (nome originário de pur,
jogar a sorte, método por meio do qual Hamã escolheu o dia do massacre).
O Purim se tornou uma festa judaica imensamente comemorada e total­
mente identificada com o livro de Ester. Trata-se de uma espécie de alegre
“carnaval”, o único do calendário judaico. É bom que se entenda que esse
“carnaval” não é, por exemplo, como o típico carnaval que conhecemos no
ocidente, que é uma festa secular, marcada por orgias e carnalidade. Mas
sim, uma festa em que as famílias saem com seus filhos fantasiados nas
ruas, reúnem-se nas sinagogas para lerem o livro de Ester e comem um
doce de formato triangular, recheado com sementes de papoulas ou uvas,
popularmente chamado de “Orelha de Hamã”, tudo isso em comemoração
ao livramento dado por Deus aos judeus nos dias de Ester. O livro de Ester
tem sido uma fonte de encorajamento aos judeus perseguidos no mundo,
pois é a própria palavra de Deus contando o cuidado que Deus tem pelo seu
povo. Não se sabe quando ou como Ester morreu.

Estevão Nome grego, significa “Coroa".

Estevão foi um membro da igreja primitiva de Jerusalém e o pri­


meiro mártir do cristianismo. Seu nome significa "coroa”, e é bem signi­
ficativo ter sido ele o primeiro a receber a coroa do martírio. Sua história
está registrada em Atos 6.5 - 8.12. Não dispomos de qualquer relato sobre
sua conversão, embora haja uma tradição antiga que dizia que ele havia
sido um dos setenta discípulos de Jesus. No entanto, há mais probabilida­
de dele ter sido ganho para a causa cristã através da pregação dos apósto­
los, em Jerusalém. E essa possibilidade é grande devido ao fato de que seu
martírio ocorreu apenas no quinto ano após o início da igreja primitiva
no dia de pentecostes.
A história de Estevão, situa-se em um ponto crucial do desenvolvi­
mento dos primórdios da igreja. Os conflitos que a cercaram ajudaram
a por a nova fé fora da esfera do judaísmo palestino e dentro da órbita
muito mais ampla do império romano e ajudaram a inseri-la no mundo
grego. E curiosamente não demorou muito para que a igreja se transfor­
masse de um movimento tipicamente judaico para uma comunhão com­
posta quase exclusivamente de gentios.
Jerusalém no primeiro século da era cristã era uma cidade cosmopoli­
ta povoada por judeus que haviam imigrado de diversas regiões do império
romano. E em Atos 6, Lucas registra a primeira divisão na igreja primitiva
em Jerusalém. A igreja, até então, era constituída por dois grupos de judeus
descritos como “judeus hebreus” e “judeus helenistas”. Os hebreus falavam o
aramaico e os helenistas falavam grego - embora eles também conhecessem
o aramaico - o hebraico não era usado na Palestina durante séculos, exceto
em casos de rituais. Esse conflito se espalhou pela igreja primitiva. Um dos
ministérios dos cristãos era a distribuição de alimentos para as viúvas. Mui­
tas delas, naquele tempo, não tinham ninguém que lhes oferecesse cuidado e
viviam na mais absoluta pobreza. As viúvas helenistas estavam sendo negli­
genciadas pelos hebreus cristãos, e os cristãos helenistas reclamaram (At 6).
Os apóstolos então decidiram indicar sete varões que fossem
“cheios do Espírito e de sabedoria” para atender essa missão. Nisso
que Estevão aparece pela primeiramente como um destes sete varões,
indicados para ocuparem a função de diáconos e supervisionarem a
distribuição diária de alimentação às viúvas e aos outros membros ne­
cessitados na igreja. Parecem que todos esses varões eram gregos (At
6.1-16). No entanto, embora eles sejam popularmente chamados como
os primeiros diáconos, apenas o trabalho de dois deles - Estevão e Fili­
pe - é descrito no livro de Atos, revelando que sua principal atividade
era pregar e ensinar. Curiosamente, desse grupo de diáconos, Estevão é
o único que é descrito como “cheio de f é e do Espírito Santo” (At 6.5). E
após a sua comissão, Estevão é mencionado novamente como “cheio de
graça e do poder” e depois de sua eleição como diácono, tornou-se um
importante pregador e “realizava grandes maravilhas e sinais no meio
do povo (At 6.8).
No entanto, não foi como diácono que Estevão deixou sua marca
na história da igreja primitiva, mas como um resoluto apologista da fé
cristã. O seu discurso é o mais longo do livro de Atos (At 7.2-53).
Naqueles dias, a nova fé introduzida pelo Senhor Jesus contraria­
va a tradição judaica e o culto no templo. Estevão transmitiu essas con­
vicções publicamente a ponto de levantar uma grande oposição entre
os judeus em Jerusalém. Foi realizado um debate na sinagoga, ao qual
compareceram muitos judeus das províncias ocidentais (inclusive, pro­
vavelmente, Saulo de Tarso). Os argumentos de Estevão sobre o caráter
temporário da adoração no templo, e a substituição dos antigos costu­
mes judaicos por um novo estilo de vida no Senhor Jesus (o segundo
Moisés - Dt 18.15 em diante), mostraram-se difíceis de refutar - sem
dúvidas por sua facilidade de argumentar que os registros do Antigo
Testamento confirmavam essa doutrina.
Portanto, as autoridades da sinagoga levaram informações contra
ele perante o Sinédrio e fizeram duas acusações. Primeira, disseram que
Estevão havia cometido uma blasfêmia contra Deus ao dizer que Jesus
de Nazaré iria destruir o templo (observe a grande semelhança entre
essa acusação e a acusação que foi feita contra Jesus em marcos 14.58).
E, segunda, disseram que Estevão havia cometido uma blasfêmia contra
Moisés ao dizer que Jesus iria mudar os costumes que o próprio Moi­
sés havia lhes entregado. No entanto, apesar da oposição, seus inimigos
“não podiam resistir à sabedoria e ao espírito com que ele falava” (At
6.10), e “fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um
anjo” (At 6.15).
Conduzido ao Sinédrio para responder essas acusações, Estevão
foi convidado a se explicar. Lucas diz que apresentaram falsas testemu­
nhas contra ele (At 7.12-14), assim como tinham feito contra Cristo. As
acusações feitas contra Estevão eram destituídas de fundamentos, e só
prevaleceram porque suas palavras haviam sido distorcidas por essas
falsas testemunhas e por causa dos preconceitos judaicos contra o cris­
tianismo. Sua resposta, no entanto, não foi declaradamente uma defesa
jurídica destinada a inocentá-lo, mas sim uma fundamentada apologia
de seus ensinos e sua fé, que adquiriu a forma de um retrospecto histó­
rico no relacionamento de Deus com o seu povo (At 7.2-53).
Seu discurso concentrou-se em três fases da história israelita: a
era patriarcal, Moisés e a peregrinação pelo deserto e o tabernáculo e o
templo. E Estevão usou a própria Torá - üvro sagrado dos judeus - para
narrar à desobediência constante do povo de Israel. Estevão argumen-
tou que Israel havia se acostumado devido à lei a um padrão de vida
religiosa, porém, agora o Senhor estava pedindo que eles deixassem a
suposta segurança desse culto tradicional e caminhassem para onde Ele
quisesse levá-los (At 7.44-50). Estevão ainda argumentou que essas mes­
mas escrituras anunciaram a vinda do “justo”, a quem Israel crucifica­
ra. Com isso Estevão acusou àqueles judeus de assassinos do Messias e
traidores de Deus.
Ao ouvirem essas palavras, enraiveceram em seus corações e ran­
giam com os dentes contra ele (At 7.51-54). Nesse ponto, Estevão olhan­
do para o céu, viu o Filho do homem em pé, à direita de Deus, pronto
para recebê-lo. Ao declarar essa visão, lançaram-se contra ele furiosa­
mente, arrastaram-no para fora da cidade e o apedrejaram até a morte.
Não era lícito matar alguém sem permissão do governador romano. Por
isso, o martírio de Estevão foi o resultado de uma explosão irreprimível,
e não de uma condenação. Enquanto faziam isso, os acusadores deixa­
vam seus mantos aos pés do ainda jovem Saulo, que aprovava o ape-
drejamento (At 7.58; 8.1). Curiosamente, alguns anos mais tarde, Deus
chamou este mesmo Saulo para se tornar um apóstolo da nova fé e para
continuar o trabalho que havia sido iniciado por Estevão.
Há um detalhe interessante na visão que Estevão teve de Cristo
em pé à direita do Pai: No Evangelho escrito por Lucas, estão registradas
as seguintes palavras de Jesus: “Digo-vos que todo aquele que me confes­
sar diante dos homens também o Filho do homem o confessará diante
dos anjos de Deus” (Lc 12.8). Estevão diante do seu martírio, reivindicou
ousadamente essa promessa e pediu a Jesus, o Filho do homem, que o
reconhecesse no céu, na presença de Deus, como verdadeiro discípulo.
Seu pedido foi concedido e ele exclamou: “Olhai! Eu vejo os céus abertos,
e o Filho do homem, que está em pé à direita de Deus (At 7.56). Como o
primeiro mártir do cristianismo, Estevão imitou Jesus até a morte. Falou
a verdade em seu julgamento (At 7.51-53), pediu perdão por seus acusa­
dores (At 7.59-60) e entregou o seu espírito a Jesus (At 7.59 -como Cristo
fez ao pai - Lc 23.46). Estevão viveu, sofreu e morreu por amor a Cristo!
O martírio de Estevão ocorreu por volta do ano 35 d.C. e trouxe
maiores consequências para os cristãos primitivos dando início a uma
grande perseguição em Jerusalém: “Naquele dia, levantou-se grande per­
seguição contra a igreja em Jerusalém, e todos, exceto os apóstolos, foram
dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria” (At 8.1). Deus, entretanto,
serve-se até mesmo da ira humana, encaminhando-a para seus propósi­
tos. Foi desta maneira, pois, que teve começo a segunda fase da missão
evangelizadora da igreja primitiva, pois “os que foram dispersos iam por
toda parte pregando a palavra” (At 8.5) Através de sua morte, foi rapi­
damente exercitada a missão da evangelização aos gentios, liderada por
cristãos gregos que possuíam o mesmo pensamento de Estevão. Seus en­
sinos continuaram a produzir frutos, e ecoaram através da epístola aos
Hebreus, que embora não se saiba quem foi o autor, acabou reproduzin­
do a mesma visão doutrinária que Estevão manifestou em seu discurso.

Eva Nome hebraico, significa "Vida ou Geradora de Vida".

Eva foi a primeira mulher da raça humana. Foi esposa de Adão,


e mãe de Caim, Abel, Sete e outros filhos (uma antiga tradição judaica
diz que Adão e Eva tiveram ao todo 60 filhos). Depois que Deus criou o
homem, decidiu também criar alguém “que o auxiliasse” para que ele
não estivesse só (Gn 2.18). Fazendo com que Adão caísse em um sono
profundo, Deus tomou uma de suas costelas e a usou para formar Eva
(Gn 2.21-25). A mulher é chamada ezer (em hebraico, “ajuda”).
Eva recebeu dois nomes na narrativa do Gênesis. O primeiro foi
mulher: “Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem” (Gn
2.23). O segundo, Eva, foi dado por Adão após a queda e parece se referir
à missão que ela teria na procriação da raça humana (Gn 3.20). No mes­
mo contexto, a palavra Adam começou a ser usada como nome próprio
para o primeiro homem.
O mal e o pecado entraram no mundo, quando Eva foi tentada pela
serpente para desobedecer ao mandamento divino que proibia que comes­
sem o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.17; 3.3).
Enganada pela persuasão sutil da serpente, Eva transgrediu a vontade de
Deus comendo o fruto. Adão fez o mesmo quando ela lhe trouxe o fruto, em­
bora não tenha sido enganado como ela foi. Isso sugere que Adão também
queria comer do fruto e só esperava uma oportunidade? Não sabemos. O
que sabemos é que ambos então reconheceram sua nudez e fizeram vestes
de folhas de figueira para se cobrirem. Os seus olhos realmente se abriram,
mas não para que eles se vissem como deuses. Ao contrário, viram que
eram fracos, nus e a partir daquele momento merecedores da ira de Deus.
Deus disse a Eva que, como conseqüência do pecado, o parto seria
uma experiência dolorosa a partir daquele momento, e o homem - Adão
- a governaria (Gn 3.16). Isso não quer dizer que não havia hierarquia
conjugal antes desse momento, mas sim, que ela seria de algum modo
reconfigurada a partir daquela ocasião. Em meio à maldição, porém,
podemos ver a benção de Deus, pois a capacidade da mulher conceber
foi preservada. Eva continuaria a ser uma geradora de vida, mesmo a
morte sendo o castigo da rebelião da raça humana para com o Senhor
[para mais detalhes sobre Eva, ler Adão].

Ezequias Nome hebraico, significa "O Senhor fortalece".

Ezequias foi o décimo terceiro rei de Judá após a divisão do reino


unificado (os que não consideram o reinado de Atalia - 2Rs 11.3 - con­
sideram Ezequias como o 12° rei de Judá), e reinou por 29 anos em Judá
- aproximadamente de 715 a 686 a.C.
Ezequias nasceu por volta de 740 a.C., e era filho do rei Acaz e de Abi.
Acaz foi um rei perverso e não somente roubou o tesouro do templo para
subornar os assírios e mantê-los afastados como trouxe também para Judá
o culto idólatra aos deuses cananeus (2Cr 28 19.22). Acaz não foi colocado
no sepulcro dos reis, e por isso, acredita-se que ele havia sido vítima de
alguma enfermidade, que representava um juízo de Deus sobre seus peca­
dos. Ezequias reinou conjuntamente com seu pai de 729 a 715 a.C. e, com
a idade de 25 anos tornou-se rei absoluto em Judá. É dito que a queda de
Samaria - 722 a.C. - ocorreu no sexto ano de seu reinado (2Rs 18.10), esse
“sexto ano” não era do reinado absoluto, mas sim do período ainda de cor-
regente junto com seu pai.
Ezequias era um rei piedoso como todos os relatos bíblicos de­
monstram (2Rs 18 a 20; 2Cr 29 a 33; Is 33 a 39). De acordo com o autor
dos livros dos Reis, “não houve outro como ele, nem antes, nem depois,
porque Ezequias confiava no Senhor” (2Rs 18.5). Um testemunho da fi­
delidade dele também é citado em Jeremias 26.18-19.
Os dias de anteriores a Ezequias haviam sido dias de mudanças no
cenário político e militar do mundo da época. Damasco havia sido con­
quistada por Tiglate-Pileser III em 732 a.C., e Samaria (capital do Reino
do Norte) por Salmaneser V em 723/22 a.C. Sargão II - o rei sucessor de
Salmaneser da Assíria (722-706 a.C.) - havia avançado em direção a Fi-
lístia para conquistar Asdode em 711 a.C. Ou seja, Judá era um dos pró­
ximos alvos a serem alcançados naqueles dias. O pai de Ezequias, o rei
Acaz, havia aceitado se tornar vassalo da Assíria, e sobre os ombros de
Ezequias que repousava a responsabilidade de se posicionar em relação
a essa política de conquistas.
No primeiro ano do seu reinado, Ezequias se viu diante de uma deci­
são crítica. Várias cidades füisteias e o Egito se recusaram a pagar tributos
a Assíria e convidaram Ezequias para que participasse de uma rebelião,
fazendo uma coligação. Atendendo a orientação do profeta Isaías, Ezequias
sabiamente se recusou a fazer essa aliança política. Isaías havia caminhado
nu (aparentemente só com uma tanga) durante três anos em Jerusalém,
avisando que sua nudez representava como ficaria Judá caso se aüançasse
com aqueles que estavam propondo a rebelião. Ezequias tomou a decisão
certa, pois Sargão II devastou todas aqueles cidades rebeldes, mas deixou
Judá relativamente ilesa.
Assim que Ezequias iniciou o seu reinado, iniciou também uma re­
forma religiosa em toda Judá. Ele estava profundamente consciente que
o cativeiro do Reino do Norte havia sido causado pela quebra da aliança
com Deus e pela desobediência aos seus mandamentos (2Rs 18.9-12). Eze­
quias eliminou a idolatria - inclusive a serpente de bronze que Moisés
erigira no deserto, para que o povo não morresse atacado por cobras ve­
nenosas, mas que havia se tornado um símbolo de idolatria nos dias de
Ezequias, pois as pessoas estavam a identificando com uma deusa em for­
ma de serpente, chamada Neustã (2Rs 18.4; Nm 21.6-9) - Ezequias restau­
rou e purificou o templo, restabeleceu a adoração ao Senhor e celebrou
novamente a Páscoa, a qual superou todas as celebrações desde o tempo
de Salomão. Ezequias até mesmo incentivou os moradores do Reino do
Norte para que viessem a Jerusalém e celebrassem ao Senhor. Nessa épo­
ca, eles não mais possuíam seu centro político, pois Samaria havia sido
destruída pelos assírios em 722 a.C., e os israelitas que sobreviveram coe­
xistiam com outros povos, que o rei assírio Salmaneser havia mandando
instalar na região. Em suma, a reforma de Ezequias teve como objetivo
principal centralizar a adoração ao Senhor novamente em Jerusalém e
sob o ponto de vista religioso esta reforma foi um grande sucesso.
Ezequias também foi um importante líder militar e “consertou to­
das as brechas da muralha, sobre ela construiu torres, ergueu uma segun­
da muralha na parte externa, restaurou o terraço de apoio na cidade de
Davi e mandou fazer grandes quantidades de armas e escudos” (2Cr 32.5).
Ezequias também previu um ataque assírio contra Judá e concentrou sua
atenção em um programa de defesa, fortificando Jerusalém. Construiu
um túnel com aproximadamente 550 metros de extensão através de du­
ras rochas para ligar a fonte de Giom com o tanque de Silóe (2Rs 20.20;
2Cr 22.30).
A única nascente natural de Jerusalém era a fonte de Giom, que
brotava de uma gruta fora das muralhas da cidade. Esse túnel que Eze­
quias construiu passava sob a parte sudeste das muralhas até chegar ao
tanque de Silóe, que era um reservatório de 9 metros e 15 centímetros de
comprimento por 6 metros e 10 centímetros de largura dentro das mura­
lhas cidade.
Nesse mesmo tempo, a gruta da nascente do lado de fora da cidade
foi fechada, de modo a impedir que um exército inimigo que sitiasse a
cidade, usasse ou poluísse a água. Dessa forma ele assegurou a Jerusalém
um suplemento de água adequado caso a cidade fosse sitiada. Os traba­
lhadores começaram a cavar a partir dos dois pontos opostos - tanque de
Siloé e fonte de Giom. Esse túnel foi descoberto em 1880 e encontraram
na parte interna do túnel um texto escrito em hebraico clássico que data a
época de Ezequias. No texto estavam as seguintes palavras: “A escavação
terminou. Quando os trabalhadores ainda estavam levantando suas pica­
retas, cada qual na direção de seu vizinho e quando um m etro e m eio ainda
precisava ser cavado, cada qual ouvia a voz do outro, do outro lado da es­
cavação, pois havia uma fen d a na rocha que ligava as duas partes do lado
direito. E no dia que a escavação terminou, os escavadores se encontraram,
picareta com picareta. E então fluíram as águas para o p oço (tanque de
Siloé), e a altura da rocha acim a da nossa cabeça era de cinquenta m etros”.
Essa foi uma das maiores obras de engenharia da antiguidade e a des­
coberta desse túnel foi uma das maiores descobertas da arqueologia de
todos os tempos. Esse túnel encontra-se intacto até os dias de hoje, sendo
uma atração turística em Israel.
Com o crescimento religioso e os preparativos militares, Ezequias
reuniu o povo na praça da cidade e corajosamente manifestou sua con­
fiança em Deus e na sua proteção (2Cr 32.1-8).
Judá era obrigado a pagar um imenso tributo todos os anos à Assí­
ria, e à medida que o tempo passava, mais e mais Ezequias sonhava com
a independência. Em 705 a.C., Sargão II, rei da Assíria, morreu, e Sena-
queribe assumiu o seu lugar. Assim que Sargão II morreu, grande parte
dos vassalos da Assíria decidiram novamente se rebelar contra o domí­
nio dela, e desta vez Ezequias aceitou fazer parte. Judá havia se tornado
vassalo da Assíria nos dias de Acaz, pai de Ezequias, e ele achava essa a
oportunidade ideal para romper com esse jugo. Ezequias enviou embai­
xadores ao Egito para negociar um tratado de apoio contra a Assíria e fez
aliança também com as cidades Fenícia e Filisteia, que também haviam se
rebelado contra a Assíria.
No entanto, em 701 a.C., Senaqueribe - atual rei da Assíria - iniciou
uma campanha para reconquistar e subjugar novamente essas cidades.
Ele avançou pelas planícies marítimas a oeste de Jerusalém, conquistan­
do diversas cidades. Registros assírios afirmam que Senaqueribe captu­
rou nessa empreitada 46 cidades muradas e inúmeras vilas - incluindo
Laquis e Debir - chegando a um total de mais de 200 mil pessoas, casas,
gado e rebanhos capturados. Senaqueribe fez um exército marchar para
o oeste e sul ao longo da costa do Mediterrâneo, onde depôs o rei de Tiro,
um líder da coalizão contra a Assíria. Desbaratou ainda os filisteus e os
egípcios e então voltou sua atenção contra Judá.
Consciente de que sua “rebelião” havia chegado ao fim, Ezequias
enviou uma mensagem de submissão a Senaqueribe em Laquis, dizen­
do: “Cometi um erro! (Se referindo a sua rebelião contra a Assíria). Re-
tira-te de mim e aceitarei as condições que me impuseres” (2Rs 18.4).
Senaqueribe exigiu um tributo de 300 talentos de prata e 30 talentos de
ouro. Pelos padrões de hoje, isso representaria centenas de milhões de
reais. Para pagar esse tributo foi preciso Ezequias pegar todo o tesouro
do palácio e do templo e ainda arrancar o ouro que havia nas portas
do santuário para chegar à quantia que Senaqueribe havia exigido. Os
registros assírios alegam que Senaqueribe recebeu 800 talentos de pra­
ta, acrescentados de uma fortuna de joias e das filhas de Ezequias, mas
claramente isso parece ter sido um exagero dos assírios.
Mas Senaqueribe não se contentou apenas com o tributo. Enviou
uma comitiva contra Ezequias, incluindo Tartã (comandante-chefe), Rab-
saris (eunuco-chefe) e Rabsaqué (copeiro de Senaqueribe) para conversa­
rem com os oficiais de Ezequias fora dos muros da cidade de Jerusalém,
instando-os a se renderem. Eles avisaram aos comandantes de Ezequias
que caso não se rendessem seriam destruídos. Muitos moradores de Je­
rusalém estavam em cima da muralha para assistirem ao encontro e ver
o que acontecia. Para preservarem a sua moral e impedirem que o povo
entendessem as negociações, os oficiais de Ezequias pediram aos assírios
que falassem aramaico, a língua diplomática da época. Mas Rabsaqué gri­
tou “em alta voz em língua judaica (hebraico)... Não vos deixareis enga­
nar por Ezequias, pois ninguém vos poderá livrar da minha mão” (2Rs
18.28-29). Ele insistiu para que o povo de Jerusalém fizessem um acordo
separado com ele e seriam levados para uma terra de riquezas onde vi­
veríam, e não morreríam. Mas eles ficaram em silêncio como Ezequias
ordenara. Talvez os assírios quisessem evitar repetir o cerco de Samaria,
a capital do Reino do Norte, que havia durado três anos.
Senaqueribe ainda escreveu uma carta - e enviou através de seus
oficiais - blasfemando do Senhor, Deus de Israel, e dizendo contra ele
que da mesma maneira que os deuses das outras terras não livraram o
seu povo das mãos dele, assim também o Deus de Ezequias não livraria
Israel das mãos de Senaqueribe (2Cr 32.17).
Ezequias foi ao templo orar e colocou a carta diante do Senhor
(2Rs 19.14). Em sua oração reconheceu que somente o Todo-Poderoso é
Deus sobre os reinos da terra. E encerrou sua oração implorando que o
Senhor os livrasse de Senaqueribe e, dessa forma, mostrasse que era o
único Deus verdadeiro.
O profeta Isaías, no entanto, garantiu a Ezequias que o rei dos as­
sírios “não havería de entrar na cidade, nela não lançaria flecha, nem
empunharia escudo contra ela e nem acumularia território contra ela”
(2 Rs 19.32).
Por volta desta época (bem provável que neste mesmo ano, 701
a.C.), Ezequias adoeceu gravemente. Ezequias tinha 29 anos de idade nes­
te período e esta doença não era para vida, e sim para a morte (2Rs 20.1).
Ezequias então orou ao Senhor e apresentou a Deus a sua fidelidade du­
rante aqueles 14 anos que havia reinado sobre Judá. Providencialmente,
Deus ouviu a sua oração, e por meio do profeta Isaías o Senhor restaurou
a sua saúde e lhe garantiu mais 15 anos de vida (2Rs 20.6). O texto de 2
Reis 20, aparentemente está fora da cronologia exata do livro dos Reis.
Deus havia prometido enquanto restaurava a saúde de Ezequias, livrá-lo
também das mãos do rei assírio (2Rs 20.6), mas isso já havia acontecido
no texto do capitulo anterior (2Rs 19.35-36). De modo que, aparentemen­
te o escritor deste livro preferiu primeiro concluir a história da derro­
ta de Senaqueribe, para depois registrar a cura do rei Ezequias, mesmo
esta tendo acontecido antes de Senaqueribe ser derrotado. Por certo, foi
grande a dor de Ezequias em ter que lidar com a aproximação de duas
tragédias em sua vida: internamente uma doença que estava o levando à
destruição, e externamente o perverso Senaqueribe, que estava ameaçan­
do trazer uma destruição sobre toda Judá. Mas Deus foi bondoso e livrou
Ezequias tanto de sua doença, quando deste audacioso rei assírio.
Deus falou por meio do profeta Isaías que colocaria Senaqueribe
em seu devido lugar e por causa da arrogância de Senaqueribe, Deus
colocaria anzóis em seu nariz e freio em sua boca (2Rs 19.25-28). Isaías
declarou também que Senaqueribe jamais voltaria a Jerusalém e teria
uma morte cruel. Providencialmente, Deus enviou o seu anjo naquela
mesma noite sobre o acampamento assírio que estava se preparando
para invadir Jerusalém e matou em uma só noite 185 mil soldados do
exército de Senaqueribe. Quando o restante dos soldados se levantaram
pela manhã e viram os cadáveres, desesperaram-se, levantaram acam­
pamento, e juntos com Senaqueribe voltaram desapontados para Nínive
(2Rs 19.35-36). Heródoto registra uma narrativa surpreendente sobre
este evento. Diz que além da morte de todos esses soldados, pequenos
ratos vieram sobre o acampamento e roeram as aljavas, as cordas dos
arcos e as correias dos escudos, e deixaram os assírios praticamente
desarmados (Livro 1, página 141). Os vizinhos em redor de Judá cele­
braram sua libertação trazendo presentes de gratidão a Ezequias (2Cr
32.23), e Jerusalém foi poupada da ira dos assírios e sobreviveu por mais
um século antes de cair nas mãos dos babilônios.
Cumprindo-se a palavra de Isaías, em 681 a.C., Senaqueribe foi
assassinado pelos seus dois filhos, Adrameleque e Sarezer, dentro do
templo pagão de seu deus Nisroque, em Nínive (2Rs 19.37).
No entanto, Ezequias após ser curado e receber vitória contra o rei
assírio veio a cometer um grande erro em sua vida. Nesse tempo, Mero-
daque-Baladã, rei da Babilônia, enviou uma carta e presentes a Ezequias,
porque tinha sabido que Ezequias havia estado doente. Porém, o propósi­
to principal da visita dessa embaixada babilônica era persuadir Ezequias
a fazer parte de uma grande confederação que se formava secretamente
contra o poder dos assírios. Ezequias se alegrou muito com as cortesias do
rei da Babilônia e imprudentemente levou-os a uma turnê dentro do palá­
cio e do templo, mostrando-lhes todos os seus tesouros, incluindo o ouro,
a prata e todos os outros bens do palácio. O profeta Isaías declarou a ele
que por causa daquela atitude todos aqueles tesouros seriam levados para
a Babilônia, e até mesmo alguns dos filhos de Ezequias, porque ele havia
aguçado o desejo dos babilônios revelando-lhes a sua riqueza. Deus usou
os caldeus para testar o que Ezequias tinha em seu coração (2Cr 32.31), e
aparentemente, o rei não foi aprovado no teste devido a forte repreensão
do profeta Isaías.
Uma pista deste fracasso do rei Ezequias é encontrada em 2 Crônicas
32.25. O cronista registra que, após seu tempo de vida ter sido ampliado,
Ezequias não foi grato, e seu coração se exaltou. Por causa disso, o Senhor
declarou que sua ira viria sobre o rei e todo o povo judeu. No entanto, Eze­
quias e os moradores de Jerusalém, aparentemente reconheceram seu erro,
e se humilharam e evitaram a ira de Deus sobre aquela geração (2Cr 32.26).
É interessante essa capacidade de quebrantamento e arrependimento que
havia em Ezequias, mesmo que as vezes o seu coração caminhava para se
desviar de Deus.
Ezequias morreu em 686 a.C., com aproximadamente 54 anos de
idade e foi sucedido por seu filho, Manassés - o pior rei de Judá - que
havia sido provavelmente nomeado como corregente de Ezequias em 696
a.C. Apesar de alguns erros, Ezequias é lembrado como uma pessoa hon­
rada, e foi enterrado em Jerusalém, junto com os descendentes de Davi. A
última menção ao rei Ezequias é encontrada de maneira muito apropria­
da, na genealogia de Jesus Cristo (Mt 1.9).

Ezequiel Nome hebraico, significa "Deus fortalece".

Ezequiel foi um dos grandes profetas de Israel - viveu durante um


dos períodos mais difíceis da história judaica, o exílio babilônico. Foi um
dos três profetas escritores no período do exílio, juntamente com Jere­
mias e Daniel. Enquanto Jeremias ministrava em Judá para os que não
haviam sido levados no exílio e Daniel (deportado em 605 a.C. - aproxi­
madamente 8 anos antes de Ezequiel) ministrava à corte real de Nabu-
codonosor (Dn 1.1-7), Ezequiel pregava aos judeus cativos na Babilônia.
Ele tinha sido levado à Babilônia com o segundo grupo de exilados e
com o rei Joaquim (Ez 1.2; 33.21), depois do cerco de Jerusalém, no oita­
vo ano do reinado de Nabucodonosor (2Rs 24.10-16). Ezequiel soube da
queda de Jerusalém já quando estava na Babilônia (Ez 33.21-22). O único
período semelhante a este em abundância de profetas, foi na época de
Isaías, Oseias, Amós e Miqueias, na metade do século 8o a.C. Raramente
existiam vários profetas em uma mesma geração. Os profetas normal­
mente eram pessoas solitárias.
Ezequiel antes de profeta, primeiro era sacerdote. Embora, pro­
vavelmente, ele nunca tenha desenvolvido esse ofício. Ele era filho de
Buzi, da família de Zadoque (Ez 1.3). Possivelmente, Ezequiel foi criado
e passou sua mocidade próximo a Jerusalém e estava ritualmente fami­
liarizado com a liturgia do templo. Entende-se pela afinidade de idéias e
de linguagem que Ezequiel se familiarizou com os ensinos de Jeremias
- que era aproximadamente 28 anos mais velho que ele. Possivelmente,
mesmo no exílio, Ezequiel tinha uma cópia dos discursos de Jeremias (Ez
29.1; 36.22). Aparecem no seu livro, doutrinas, alegorias e pequenos pen­
samentos de Jeremias, que ele amplia, dando-lhes um colorido literário,
como no caso da panela ao fogo (Jr 1.13-15; Ez 11.2-11; 24.3-14); das duas
irmãs (Jr 3.6-11; Ez 23.1-49); o perdão para os condenados que se arrepen­
dem, seja em um coletivo nacional ou individual (Jr 18.5-12; Ez 18.21-32);
os maus pastores (Jr 23.1-6; Ez 34.1-24); o provérbio das uvas verdes (Jr
31.29-30; Ez 18.2-31); a nova natureza espiritual (Jr 31.33-34; Ez 11.19-20;
36.25-29) e os desterrados e não judeus de Jerusalém que são as esperan­
ças do futuro da nação de Israel (Jr 24.1-10; Ez 11.15-21).
Ezequiel foi levado para a Babilônia na idade de 25 anos. E cinco
anos depois, aos trinta anos de idade, Deus chamou Ezequiel para ser
profeta (Ez 1.1). Provavelmente, ele deve ter nascido em 622 a.C. Sua
última profecia datada é do ano 570 a.C., no ano 27 do cativeiro de Joa­
quim e indica que Ezequiel desenvolveu seu ofício profético por aproxi­
madamente 22 anos, tendo sua primeira profecia anunciada em 592 a.C.
Era com a idade de 30 anos que os sacerdotes davam início ao seu
ofício sacerdotal, de modo que esse seria um ano importante para Eze­
quiel, caso estivesse em Jerusalém, pois era com essa idade que os levi-
tas entravam em serviço (Nm 4.3). Faltavam cinco anos apenas para ele
começar seu ofício sacerdotal quando ele foi levado cativo. Na Babilônia
não havia um templo judaico, então não havia necessidades de um sacer­
dote. No entanto, ao completar 30 anos - que seria a data que ele serviria
no templo caso o exílio não tivesse acontecido - Deus se revelou a Eze­
quiel, e ele “teve visões de Deus” (Ez 1.1). Ele ficou tão chocado com esses
acontecimentos que permaneceu lá “por sete dias, consternado, no meio
deles” (Ez 3.15), Em vez de sacerdote, Ezequiel serviu como profeta ao
povo judeu na Babilônia.
Deus se dirigiu a Ezequiel como “filho do homem” por 87 vezes
ao longo do livro. Essa expressão não é encontrada mais em nenhum
outro lugar do Antigo Testamento, exceto em duas passagens no livro de
Daniel (Dn 7.13; 8.17).
Ezequiel era casado (Ez 24.18) e, provavelmente, viveu na Babilô­
nia na aldeia de Tel-Abibe, perto de Nipur (Ez 3.15), em sua própria casa
(Ez 3.24). Jeremias havia escrito aos exilados naquela época para que
comprassem casas, cassassem e tivessem filhos, pois o exílio não seria
rápido, mas duraria 70 anos (Jr 29.1-7). Os anciãos vinham consultar
Ezequiel em sua casa (Ez 8.1; 14.1; 20.1), o que indica que ele era respei­
tado entre os judeus na Babilônia.
A esposa de Ezequiel morreu repentinamente na Babilônia no dia
exato que Nabucodonosor se aproximou de Jerusalém para tomar a ci­
dade (Ez 24.1-2 - Ezequiel já havia sido levado exilado com os primeiros
grupos nessa época), porém, ele não teve permissão de prantear o seu
luto em público. Deus lhe disse para continuar fazendo o que sempre
fazia, como se nada tivesse acontecido, sem nenhum sinal de luto (Ez
24.16-18). Sua morte serviu para comunicar uma advertência forte e so­
lene do que ocorrería em Jerusalém, na terra dos cativos (Ez 24.15-27).
Do que ela morreu, não sabemos, mas podemos estar certos de que isso
fazia parte dos planos divinos para Ezequiel e para os judeus.
A maioria dos judeus havia se estabelecido ao longo do rio Que-
bar, que era um braço do rio Eufrates, que fluía desde a Babilônia, por
Nipur até Ereque. Nessa região, tábuas de argila de Nipur, do século
5o a.C., mencionam os “Filhos de Murashu”, que eram mercadores que
faziam negócios com os judeus durante a era persa. Esta evidência con­
firma também pela arqueologia a residência dos judeus nessa região.
No início, as mensagens de Ezequiel não eram bem recebidas (Ez
3.25; 14.1-3; 18.19,25), mas com o passar do tempo as suas profecias come­
çaram a dar frutos, e o povo criou estima pelo profeta (Ez 8.1; 14.1; 20.1).
O profeta viu claramente que as condições que estavam o povo trariam
uma nova etapa no julgamento por parte do Senhor, o que ocorreu com
a terceira deportação de Judá em 586 a.C. Assim que o julgamento havia
atingido o seu objetivo, então a missão do momento era a necessidade de
consolo para a nação ferida.
O livro de Ezequiel contém 48 capítulos, agrupados em torno de
quatro temas principais. Após uma introdução descrevendo como ele re­
cebeu o seu chamado em uma visão, a primeira parte apresenta as adver­
tências e ameaças de Deus contra a população de Judá, por sua apostasia.
Em seguida, estão os oráculos contra as nações circunvizinhas - princi­
palmente Tiro e o Egito e, em menor escala, Sidom, Filístia, Amon, Moabe
e Edom. Após a queda de Jerusalém, seus discursos ao exilados traziam
uma mensagem de consolo e uma promessa de retorno à pátria. E a par­
te final estabelecia disposições detalhadas para o futuro estado de Israel
restaurado, incluindo a reconstrução do templo e o restabelecimento das
normas do culto.
Além desses quatro temas, o ministério de Ezequiel cobriu dois
períodos principais. Durante o primeiro período (592-587 a.C.), suas
mensagens eram advertências repetidas - em prosa e em atos simbóli­
cos - com o objetivo de levar os exilados ao arrependimento e a fé em
Deus. Vale a pena destacar que não bastava apenas os judeus estarem
exilados, eles precisavam também entender porque eles estavam ali e se
arrependerem de seus caminhos errados antes de voltarem a Jerusalém.
Era a materialização do famoso ditado popular: “Apanhar e saber por
que está apanhando!”. Durante o segundo período (586-570 a.C.), depois
da destruição de Jerusalém e do templo por Nabucodonosor, o profeta
confortou os exilados e os encorajou a olhar para o futuro com esperan­
ça (Ez 33 ao 48). Talvez o exemplo mais substancial dessa mensagem
de esperança de Ezequiel esteja em sua visão do vale de ossos secos.
Aqueles ossos representavam Israel, e assim como eles haviam sido res­
taurados e formaram um grande exército, Israel também se restauraria
e voltaria a ser uma nação (Ez 37). No entanto, houve 13 anos da vida de
Ezequiel durante os quais nenhuma mensagem profética foi comunica­
da, a saber, de 585 a.C. (Ez 32.1,17; 33.21) a 572 a.C. (Ez 40.1).
De acordo com a tradição rabínica, Ezequiel morreu às mãos de
um príncipe israelita cuja idolatria ele repreendeu por volta de 570 a.C.,
na Babilônia. Sendo assim, Ezequiel viveu aproximadamente 52 anos.
Por volta de quarenta anos após sua morte, suas profecias finais come­
çaram a se cumprir com a volta de um grupo de judeus que retornaram
a Judá sob a liderança de Zorobabel.
Teólogos modernos chegam a questionar a sanidade do profeta
Ezequiel, por causa dos extremos a que chegava para ilustrar as suas
mensagens. Por exemplo: fez uma réplica de barro do cerco de Jeru­
salém (Ez 4.1-3); ficou deitado sobre o seu lado esquerdo durante 390
dias e virou-se sobre o lado direito por mais 40 dias (Ez 4.4-17); raspou
o cabelo, queimou um terço dele, cortou um terço com uma espada e
espalhou o outro terço ao vento (Ez 5.1-4); a dieta dele era pão de cevada
assado com esterco de vaca, entre tantas outras anormalidades que fa­
ziam parte da vida e das experiências de Ezequiel. No entanto, esses atos
não dão em si uma visão da personalidade de Ezequiel porque eram
atos simbólicos, realizados às vezes como “teatro de rua” para transmi­
tir sua mensagem profética para aquela geração. No final de tudo isso,
Ezequiel declarou: “Saberão que um profeta esteve no meio deles” (Ez
33.27 em diante).
Ezequiel tem sido considerado por alguns como “o pai do judaísmo”
por causa da sua suposta influência sobre a adoração posterior de Israel.
Sua maior contribuição à adoração judaica pós-exüica foi o estabeleci­
mento da base da sinagoga. Curiosamente, nem Ezequiel e nem seu livro
são citados em nenhum outro lugar das escrituras.
Pode ser feita uma comparação entre o apóstolo João, na ilha de
Patmos, e Ezequiel, no rio Quebar. Ambos foram levados a um lugar de
isolamento e opressão pelas forças iníquas do mundo daquela época e
geraram uma mensagem que abençoou a posteridade.
Filemon Nome grego, significa “Amoroso ou Amável".

Filemon era um cristão aparentemente rico e senhor de escravos


da cidade de Colossos. É provável que Arquipo fosse seu filho e Ápia, sua
mulher (Fm 2). Ele é conhecido e citado apenas na carta que Paulo es­
creveu a ele. Não é citado em nenhum outro lugar do Novo Testamento.
É muito provável também que a igreja em Colossos era na casa dele (Fm
2). No começo do cristianismo, as pessoas geralmente cultuavam em ca­
sas particulares, devido à ausência de templos. E normalmente essas
casas eram as casas dos irmãos mais ricos, simplesmente porque eram
grandes o suficiente para comportar a todos. Em geral, o culto aconte­
cia bem cedo aos domingos. Embora o domingo fosse um dia sagrado
para os cristãos, para o mundo greco-romano era apenas mais um dia
de trabalho, assim como era para os judeus. Os cristãos faziam o seu cul­
to antes do amanhecer, porque o dia de trabalho começava assim que
clareava. Além disso, em tempos de perseguição, era bem mais seguro
sair no escuro para os bairros mais nobres, um ou dois por vez, do que
se reunir em áreas cheias de gente nas partes periféricas da cidade. O
amor de Filemon “pelos san tos” (outros irmãos e irmãs) era bem conhe­
cido, pois tinha reanimado o coração dos cristãos (Fm 5,7).
Filemon tinha um escravo chamado Onésimo, que roubou dele uma
quantia financeira e fugiu. Isoladamente, qualquer dos dois crimes podia
ser punido com açoites - chicotadas que quase matavam - mas a punição
dos dois crimes podia ser punida até com crucificação.
Paulo afirma estar na prisão quando escreveu esta carta (Fm
1,9,10,13,23). Muito provavelmente, Paulo estava em preso em Roma
nesse período. A menção de Marcos e Lucas parecem favorecer isso (Fm
24). Embora existam intérpretes que sugiram que essa prisão possa ter
sido em Cesareia ou em Éfeso, é muito pouco provável que possa ter
sido nessas cidades. É sabido que Paulo foi preso em Cesareia antes de
ser enviado a Roma. Entretanto, não existem provais documentais con­
cretas de seu encarceramento em Éfeso. No entanto, embora uma prisão
em Éfeso não seja explicitamente menciona no livro de Atos, o relato
das ações missionárias naquela cidade evidencia que Paulo encontrou
considerável perseguição (At 20.19), descrita pelo apóstolo em termos
que poderíam implicar uma prisão temporária (ICo 15.32; 2Co 1.8-10).
Mas, mesmo assim, Roma ainda parece ser o local mais aceito para essa
carta ter sido escrita, onde Paulo encontrava-se acessível aos visitantes
(At 28.30-31). Onésimo não era cristão quando roubou o dinheiro de Fi-
lemon e provavelmente fugiu para Roma esperando perder-se em meio
à grande multidão de escravos da cidade.
Por uma feliz e divina coincidência, Onésimo conheceu Paulo após
ter fugido de Filemon. Aparentemente, Onésimo conheceu o apóstolo na
prisão e durante o tempo que passou com Paulo ele se converteu ao cris­
tianismo. Onésimo se tornou um filho na fé para Paulo, enquanto este
estava preso por causa do evangelho. Paulo se refere a Onésimo como
“meu filho” e “meu próprio coração”, dizendo que só está relutante em
devolver o escravo para seu senhor porque Onésimo foi muito “útil” (Fm
10,12,11). Sendo que ele estava fazendo um jogo de palavras em home­
nagem à nova vida em Cristo de Onésimo, cujo nome significa “útil”.
Basicamente era como se Paulo estivesse falando “Útil (Onésimo) antes
era inútil, mas agora é útil” (Fm 11). Onésimo havia sido transformado
radicalmente pela graça de Deus.
Paulo o enviou de volta a Filemon com uma carta que está entre os
livros mais breves da Bíblia - A carta de Paulo a Filemon. Esta é a menor
das cartas escritas por Paulo, consistindo apenas de 335 palavras no texto
original. No entanto, é um apelo poderoso de Paulo pedindo que Filemon
perdoasse e recebesse o seu servo Onésimo e prometendo que ele (Paulo)
pagaria por aquilo que Onésimo tivesse furtado. A dica, como fica evidente,
era para que Filemon cancelasse a dívida.
Paulo insistiu com Filemon para que aceitasse Onésimo “não mais
como um escravo, mas como amado irmão (em Cristo)” (Fm 16). Contu­
do, Paulo decidiu usar aquela situação ambígua que havia se formado
como uma oportunidade de levar Filemon a considerar as implicações
de sua fé sobre a questão da escravidão, levando Filemon a considerar
Onésimo como irmão não apenas no sentido espiritual (no Senhor), mas
também com respeito a sua condição civil (na carne - Fm 16). Em segui­
da, Paulo pede a Filemon para preparar acomodações, pois planejava
visitar Colossos. Isso revelava a esperança do apóstolo de ser solto logo
da prisão. Se Filemon fez tudo o que Paulo pediu, ele deve ter deixado
sua raiva de lado, perdoado Onésimo (inclusive liberando-o de qualquer
dívida financeira), resolvido qualquer obstáculo em sua casa e prepara­
do um quarto de visita para Paulo.
Embora, aparentemente Paulo jamais tenha estado em Colossos
(Cl 2.1), obviamente, conhecia Filemon muito bem, pois o apóstolo o cita
como “nosso am ado co o p erad o r” (Fm 1). Provavelmente, foi através de
Paulo que Filemon se converteu a Cristo (Fm 1,5,19), talvez no período
que Paulo esteve três anos em Éfeso (At 19.8-10; 20.31), que ficava a 193
quilômetros a oeste de Colossos. E o apóstolo sabia que podia apelar a
ele em favor de seu escravo fugitivo.
Embora seja um dos menores livros do Novo Testamento, a carta
nos apresenta um valioso panorama sobre como os primeiros cristãos
encaravam a escravidão. A escravidão havia se espalhado pelo Império
Romano. Acredita-se que um terço da população do império era cons­
tituída de escravos. Nos dias de Paulo, os escravos podiam ser médi­
cos, músicos, professores, artistas e ter muitas outras profissões. Alguns
usufruíam de situações favoráveis e tinham uma vida melhor do que
muitos trabalhadores livres, embora muitos também eram tratados com
crueldade.
Como era perigoso para Onésimo viajar sozinho, por causa dos
caçadores de escravos, Paulo enviou Tíquico com ele. Tíquico também
estava retornando a Colossos com uma carta para a igreja daquela ci­
dade (Cl 4.7-9), e com a epístola aos Efésios (Ef 6.21-22). Talvez, para
evitar uma indiferença dos irmãos de Colossos para com Onésimo após
o seu retorno, Paulo faz questão de mencioná-lo na carta aos Colossen-
ses como “um de v ó s” (Cl 4.9). Essas epístolas foram escritas ao mesmo
tempo em Roma, em 61 ou 62 d.C.
Um intrigante adendo foi adicionado a essa história com a desco­
berta de repetidas referências a um antigo bispo chamado Onésimo, que
liderou a igreja em Éfeso no início do século 2, conforme citado na carta
de Inácio aos efésios. A identificação do bispo Onésimo como o escravo de
Filemon é confiável porque foi usado por Inácio em sua carta o mesmo
jogo de palavras que Paulo usou com o nome de Onésimo nos versículos
11 e 20. Sendo assim, é concebível supor que o outrora escravo Onésimo,
tenha se tornado bispo de uma das igrejas mais importantes do segundo
século da era cristã, comprovando com isso a firmeza da fé de Onésimo
nos anos posteriores.
Filipe Nome grego, significa ''Apreciador de cavalos".

O Apóstolo

Filipe foi um dos doze discípulos de Jesus e futuramente um dos


apóstolos na igreja primitiva. A tradição aponta que Filipe era da tribo
de Zebulom. As únicas referências a Filipe nos três evangelhos sinóticos -
Mateus, Marcos e Lucas - e no livro de Atos aparecem nas listas dos doze
discípulos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.14; At 1.13). E no evangelho de João que
ele é mais citado e desempenha um papel mais importante entre os discí­
pulos (de acordo com o método de apresentação de João). O próprio João
era galileu, e vivia na aldeia vizinha de Cafarnaum, à beira do mar da
Galileia, e há os que acreditem que os dois se conheciam antes de serem
discípulos (falaremos mais sobre isso a seguir). Ao juntar as peças do que
o apóstolo João relata sobre Filipe, temos a impressão de que ele dentro
dos doze era a típica “pessoa de processos”, ligado a fatos e números. O
tipo de pessoa que fazia as coisas como deveria ser, de modo prático, tra­
dicional e metódico.
Filipe era de Betsaida, na Galileia, a mesma cidade de André e Si-
mão (Jo 1.44). Uma vez que todos eles eram judeus tementes a Deus, é
bem provável que Filipe tenha crescido frequentando a mesma sinago­
ga que Pedro e André. Betsaida era uma localidade dedicada principal­
mente à pesca, situada a nordeste do ponto onde o rio Jordão deságua
no mar da Galileia. Filipe, o tetrarca (filho de Herodes, O Grande), apro­
ximadamente 30 anos antes do chamado de Filipe para ser discípulo,
havia reconstruído essa cidade e a chamado de “Júlia”, em homenagem
a filha do imperador romano Augusto. A associação que a localidade
tinha com o tetrarca talvez explique a razão do nome do apóstolo.
Os pais certamente colocaram o nome de Filipe em homenagem ao
governante, e não porque “eram apreciadores de cavalo”. Outro detalhe
interessante sobre o nome de Filipe é que sendo judeu, possuía um nome
grego. Isso era comum na Galileia na época de Jesus, principalmente por­
que poucos séculos antes, Alexandre, o Grande havia conquistado toda
aquela região e disseminado ali a cultura grega, que nos tempos bíblicos
era conhecido como a cultura helenística.
Nas quatro listas dos doze apóstolos, o quinto nome de cada uma
delas é o de Filipe. Talvez indicando que Filipe era o líder do segundo
grupo de quatro discípulos, assim como André aparentemente era o líder
dos “oito últimos discípulos”. Não se sabe qual era a sua profissão antes de
ser chamado por Jesus. Embora, existam fortes evidências bíblicas de que
Filipe, Natanael e Tomé eram todos pescadores na Galileia, pois em João
21, depois da ressurreição, quando os apóstolos voltaram para a Galileia
e Pedro disse: “vou pescar”, outros que também estavam lá responderam:
“também nós vamos contigo”. De acordo com João 21.2, faziam parte des­
se grupo “Simão Pedro, Tomé, também chamado Dídimo, Natanael, que
era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu (Tiago e João) e mais dois dos
seus discípulos”. O mais provável é que esses outros “dois dos seus dis­
cípulos” eram Filipe e André, pois em outras ocasiões são sempre vistos
na companhia dos homens que são mencionados nessa passagem. Se es­
ses sete homens eram todos pescadores profissionais, é bem possível que
fossem todos amigos chegados e companheiros de trabalho muito antes
de seguirem a Cristo. Isso mostra quão unido era o grupo dos apóstolos,
tendo pelo menos a metade do grupo - incluindo todos os membros mais
íntimos - vindo de uma pequena região, trabalhando bem provavelmente
na mesma ocupação e sendo conhecidos e amigos uns dos outros, bem
antes de se tornarem discípulos de Jesus.
Certo dia, Jesus o encontrou na Galileia e disse-lhe: “Siga-me”. O
impacto espiritual causado pelo encontro com Jesus foi tal, que Filipe
por sua vez, lançou-se a procura de seu amigo Natanael e quando o en­
controu lhe disse: “Achamos aquele sobre quem Moisés escreveu na lei,
e a respeito de quem os profetas também escreveram”, e convidou Na­
tanael, que era cético quando a “alguém bom” sair de Nazaré, para vir
e ver por si mesmo (Jo 1.35-51). Seria bom se todos, assim como Filipe
levassem pelo menos um amigo a conhecer Jesus. Na narrativa de João
conclui-se que Filipe foi o primeiro dos discípulos a ser chamado pelo
mestre e seguir Jesus e não perdeu tempo a persuadir outros também a
seguir o Senhor. Aproximadamente um ano depois, Jesus o incorporou
ao apostolado, quando ele chamou 12 dos seus discípulos para caminha­
rem mais junto dele, a fim de futuramente se tornarem apóstolos.
No entanto, como os demais discípulos, ele ainda tinha muito a
aprender sobre a pessoa e o poder de Jesus. Mais tarde, depois de pre­
gar para uma multidão de cinco mil pessoas que havia se reunido para
ouvi-lo perto de Betsaida, Jesus pôs Filipe a prova, para ver até aonde ele
compreendia o seu poder, perguntando-lhe como e onde comprariam
pão para alimentar aquela multidão. Não sabemos se Jesus queria so­
mente testar Filipe ou se ele era a pessoa mais indicada para responder
a tal pergunta, por está próximo a Betsaida e conhecer tão bem aquela
região do mar da Galileia. O certo é que Filipe respondeu de forma per-
plexa que nem duzentos denários (salário de aproximadamente 7/8 me­
ses de trabalho comum) seriam suficientes para dar um pedaço de pão a
cada um dos que estavam ali (Jo 6.5-7). Parece que ele tinha uma mente
objetiva que calculava antes de falar - ao contrário de Pedro, por exem­
plo. Sua resposta o revelou como uma pessoa prática e realista, mas que
ainda não conhecia a plenitude do poder de Jesus.
Na semana anterior à morte de Jesus, “alguns gregos” - e não judeus
de fala grega - vieram a Jerusalém para falar com Jesus. Era época da pás­
coa e na verdade, seria aquela a última páscoa do sistema do Antigo Tes­
tamento, pois durante ela o próprio Jesus seria crucificado como o verda­
deiro cordeiro de Deus. Esses homens gregos procuraram primeiramente
a Filipe, talvez porque eles conhecessem o seu nome grego (Philippos), ou
pelo fato de que provavelmente Filipe também falava o grego, ou até mes­
mo pelo fato de que aparentemente Filipe era - como já dissemos no início
- encarregado das “questões operacionais” no grupo dos discípulos de Je­
sus. Sua reação foi relatar o fato a André, e juntos levarem aqueles homens
até Jesus (Jo 12.20-22).
Na última ceia, Filipe mais uma vez serviu de exemplo daqueles que
ainda não compreendiam totalmente a missão de Jesus. Após a saída de Ju­
das Iscariotes do cenáculo e da afirmação de Pedro de que nunca negaria
Jesus, Filipe pediu por uma revelação especial de Jesus para fundamentar
sua fé: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso basta!” (Jo 14.8-9). Talvez Filipe es­
perasse, em toda sua devoção, pelo privilégio de alguma revelação especial
(similar ao pedido de Moisés - Êx 33.18). A resposta de Jesus teve um tom
profundamente triste. Filipe e os outros discípulos já estavam com Jesus há
tanto tempo, mas ainda não haviam percebido que ao contemplar Jesus,
viam o próprio Pai. Em outras palavras, a substância da encarnação do Pai
já lhes havia sido dada. Enfaticamente Cristo lhe perguntou como faziam tal
pergunta depois de tanto tempo em sua presença. A resposta era que Filipe
e seus companheiros ainda não tinham seus olhos espirituais abertos ade­
quadamente para entender essas coisas. Essa seria a tarefa do Espírito Santo
mais tarde - abrir totalmente seu entendimento (Jo 14.25-26).
A última menção a Filipe é em Atos 1.13, entre os onze discípulos
que estavam reunidos no cenáculo na descida do Espírito Santo, no dia
de pentecostes.
Não se deve confundi-lo com “Filipe, o evangelista”, que foi um
dos diáconos e futuramente evangelistas da igreja em Jerusalém.
Há algumas coisas a conhecermos e outras a considerarmos so­
bre a tradição antiga envolvendo Filipe. Clemente de Alexandria, por
exemplo, curiosamente afirmava que Filipe foi àquele jovem que pediu
permissão para enterrar seu pai antes de seguir Jesus (Mt 8.21; Lc 9.59).
Outro detalhe da vida de Filipe ligado à tradição antiga é que ao que pa­
rece parte dos pais da igreja confundiram Filipe, o apóstolo com Filipe, o
evangelista. As advertências surgiram no século 2 da era cristã, quando
Papias, ao escrever as Exposições dos oráculos do Senhor, afirma ter co­
nhecido certas pessoas que conheceram pessoalmente as filhas do após­
tolo Filipe, as quais teriam vivido em Hierápolis - na região da Frigia
(província romana na Ásia). A controvérsia se estabeleceu quando, mais
tarde, o montanista Proclus declarou que o referido Filipe não se tratava
do apóstolo, mas sim do evangelista Filipe que, conforme a narrativa
de Atos 21.8-9, possuía quatro filhas profetisas. No entanto, no final do
século 2, Polícrates - bispo de Éfeso - confirmou a descrição de Papias
acrescentando que além de viverem em Hierápolis, Filipe, o apóstolo e
uma de suas filhas haviam sido martirizados naquela cidade. De modo,
que não se sabe ao certo até aonde confundiam “os dois Filipes” entre
os pais da igreja.
A autora Anna Jamerson, chega a registrar em sua obra Sacred
and Legendary Arts (Artes Sacras e legendárias) que: “Após a ascensão
de Jesus, Filipe viajou até a Cítia, onde permaneceu pregando o evan­
gelho por 20 anos e depois se deslocou para Hierápolis, na Frigia, onde
se deparou com os adeptos da adoração de um monstro em forma de
serpente. E Filipe, ordenando que a serpente desaparecesse, imediata­
mente o réptil rastejou desde o interior do altar, emitindo um odor tão
repugnante que muitos não o suportaram, e vieram a morrer. Entre os
tais, encontrava-se o filho do rei, que expirou nos braços dos seus servos.
Filipe, no entanto, por intermédio do poder divino, restaurou-lhe a vida.
E por causa disso, os sacerdotes que serviam a serpente, enfureceram-se
contra ele e tomando-o, o crucificaram e o apedrejaram até a morte”.
Um livro apócrifo também do segundo século chamado Atos de
Filipe chega a dizer que Filipe evangelizou Hierápolis, na companhia de
Mariane - uma irmã de sangue de Filipe - e de Natanael (também cha­
mado Bartolomeu), que era o antigo amigo do apóstolo e também fora
discípulo de Jesus.
Assim como vemos, são muitas as informações da tradição sobre
o fim da vida de Filipe. Mas podemos considerar algumas coisas aqui.
Primeiro, o fato de que a cidade de Hierápolis era vizinha de Laodiceia
e Colossos. E embora existisse em Hierápolis uma numerosa igreja, eles
nunca foram alvos das epístolas de Paulo - ao contrário de Laodiceia e
Colossos (Cl 4.16). Isso pode ser uma evidência de que um outro apóstolo
experiente já se incumbira da administração pastoral de Hierápolis, e o
próprio Paulo havia escrito que durante o período que esteve na Ásia
“se esforçou para não anunciar o evangelho onde Cristo já havia sido
anunciado, para não edificar fundamento desnecessário” (Rm 15.20). Se
Filipe, de fato, estava em Hierápolis, pode ter sido essa a razão de Paulo
não ter investido tempo naquela cidade como fizera nas cidades daque­
la região.
E segundo, Polícrates (130-196 d.C.), que além de respeitado Bispo
de Éfeso fora também líder da igreja na Ásia Menor, confirmou através
de uma carta escrita a Vitor - líder da igreja em Roma - o martírio e se-
pultamento de Filipe em Hierápolis. Sendo assim, não devemos duvidar
que Hierápolis - atualmente chamada Pamukalle, na Turquia - seja o lu­
gar do martírio e descanso do apóstolo Filipe. Hierápolis era, nos tempos
bíblicos, um conhecido SPA, visitado por pessoas enfermas devido as
suas terapêuticas águas termais que até hoje brotam das belas rochas de
calcário. Sem dúvida, isso tornava a cidade potencialmente importante
na estratégia missionária, onde o evangelho poderia ser divulgado aos
muitos visitantes e também por meio deles, alcançando assim muitos
lugares no mundo.
Por outro lado, temos ainda a tradição que relata a aquisição do
corpo do apóstolo Filipe pelo papa João III - que “governou” a Igreja
Romana aproximadamente de 560 a 572 d.C. O pontífice teria na épo­
ca, ordenado seu traslado para Roma, para sepultá-lo originalmente em
uma igreja chamada “Igreja dos Santos Apóstolos Filipe e Tiago”. Esse
santuário cuja construção remonta do século 6, é atualmente conhecido
como a Igreja dos Santos Apóstolos.
Na igreja romana, seu dia é comemorado em 1 de maio; na igreja
grega, em 14 de novembro. E seu símbolo universal é uma cruz com um
pedaço de pão de cada lado, fazendo alusão ao diálogo entre ele e Jesus
na multiplicação dos pães.
Nome grego, significa "Apreciador de cavalos".
O Evangelista

Filipe, conhecido como “o evangelista” foi primeiramente um im­


portante diácono na igreja em Jerusalém (At 6.5).
Os apóstolos haviam percebido que o trabalho de administração da
igreja em Jerusalém era muito pesado e, portanto, precisavam de ajuda.
Muitas pessoas convertiam-se ao evangelho. Os cristãos de origem grega
reclamavam que suas viúvas eram desprezadas na distribuição diária de
alimentos. Os apóstolos observaram que perdiam muito tempo na solução
desse tipo de problema (At 6.2) e acabavam com isso, negügenciando o mi­
nistério da palavra. Portanto, sete homens foram indicados e escolhidos
entre os que eram “cheios do Espírito Santo e de sabedoria”. Os apóstolos
oraram e impuseram as mãos sobre eles e os nomearam para o serviço
social da igreja como diáconos.
Após a morte de Estevão - o primeiro mártir do cristianismo - uma
grande perseguição foi realizada sobre a igreja em Jerusalém por Hero-
des com a ajuda de Saulo de Tarso. E devido a isso muitos cristãos aca­
baram fugindo de Jerusalém para lugares mais seguros, inclusive Felipe,
que foi forçado a fugir de Jerusalém para Samaria. Ali, Filipe proclamou
Cristo (o Messias) aos samaritanos com tal poder que grande quantidade
de pessoas alegremente se converteram a Cristo (At 8.1-8), inclusive um
certo “Simão, o mágico”, que se converteu e se batizou durante a esta­
dia de Filipe em Samaria (At 89-13), embora futuramente a conversão
desse Simão seja questionada pela forma que ele se comporta perante o
apóstolo Pedro (At 8.20-24). No entanto, esses episódios mostram como
a perseguição resultou não no enfraquecimento do evangelho, mas sim
em sua expansão. Atos 8 concede-nos uma ideia de como foi o trabalho
de Filipe em Samaria. Ele proclamou o evangelho, operou milagres e de­
senvolveu um ministério que mais parecia com o de um apóstolo do que
de um diácono ou cooperador. Seu trabalho naquela locaüdade foi espe­
cialmente importante para a mensagem do livro de Atos. Lucas mostra
como a grande comissão foi cumprida, sob a direção do Espírito Santo.
Atos 1.8 registra o mandamento de Jesus para os discípulos, a fim de que
fossem testemunhas em Jerusalém, Judeia, Samaria e até aos confins da
terra. Por meio de Filipe, essa mensagem chegou a Samaria. Posterior­
mente os apóstolos Pedro e João foram até lá e confirmaram que o evan­
gelho era aceito de bom grado pelos gentios e samaritanos (At 8.14).
No entanto, em meio a essa obra extraordinária, Filipe foi divina-
mente instruído a deixar Samaria e descer ao deserto, na região sul do
país. Humanamente falando, deixar as multidões que tão positivamente
respondiam a sua mensagem em Samaria e partir para um território ina-
bitado em pleno deserto podia parecer-lhe uma insensatez. No entanto,
Filipe mostrou-se não apenas sensível, mas também obediente à vontade
de Deus, seguindo sua orientação sem questionar. No deserto, ele não en­
controu uma multidão, porém apenas um único só homem, um importan­
te oficial da corte etíope que, após visitar Jerusalém, estava retornando
à África. Filipe na verdade estava seguindo os passos do mestre Jesus,
que certa feita também havia deixado uma multidão (Mc 4.35-36), para ir
atender e pregar para um único só homem, o endemoninhado de Gadara
(Mc 5.1-2).
A sabedoria de Deus em dirigir Filipe àquele local foi plenamente jus­
tificada, pois o etíope estava lendo Isaías 53, o grande capítulo do evange­
lho no Antigo Testamento - Filipe conseguiu ouvi-lo porque naqueles dias
a maioria das pessoas ha em voz alta, e considerava-se um talento muito
incomum a capacidade de ler e absorver a informação em silêncio. Felipe
perguntou a ele se ele entendia o que estava lendo. O etíope respondeu-lhe
que não lhe perguntou sobre uma passagem em que Isaías fala sobre uma
pessoa que estava sofrendo humilhação e sendo injustiçada. Filipe então
lhe explicou a passagem e informou que a profecia apontava para Cristo, e
após contar para ele a vida de Jesus anunciou-lhe o evangelho. Enquanto
iam pela estrada na carruagem do eunuco etíope, eles chegaram perto de
um riacho e este pediu para que Filipe o batizasse. Após esse batismo o
etíope seguiu o seu caminho em renovado júbilo (At 8.25.40).
A conversão desse etíope significou muito para a história da salva­
ção. Ele foi o primeiro gentio (e também africano) a ser batizado por um
cristão. E, há fortes evidências que o evangelho se espalhou por toda a
Etiópia através desse homem. O cristianismo até hoje existe na Etiópia, e
as igrejas etíopes são igrejas coptas que carregam uma tradição histórica
em comum com as igrejas coptas do Egito.
Na verdade esse é um método de Jesus: ganhar pessoas chaves. Em
seu ministério Jesus desenvolveu esse método. Jesus não se preocupava
em ganhar a cidade; Jesus ganhava uma “pessoa chave” e essa pessoa ga­
nhava a cidade. Jesus ganhou a Samaritana, e ela ganhou a cidade (Jo
4.28-30). Jesus ganhou o “gadareno”, e ele ganhou a Decápolis, que eram
as dez principais cidades de sua região (Mc 5.20). Filipe ganhou o eunuco
etíope, e ele era a pessoa chave para ganhar também toda a sua região!
Você é uma pessoa chave para sua região!
O predominante orgulho nacionalista dos judeus era tanto que
eles desprezavam os samaritanos e consideravam os samaritanos como
cerimonialmente impuros. Porém, Filipe por seu saudável entendimen­
to do evangelho levou Cristo aos samaritanos, e depois ao etíope. Isso
reflete a maneira como o evangelho penetrou as barreiras sociais, dis­
solveu preconceitos raciais e demonstrou que a graça de Deus em Cristo
Jesus está disponível a todos.
Assim que o eunuco etíope saiu da água, “o Espírito Santo veio so­
bre o eunuco e Filipe foi arrebatado, e o eunuco seguiu jubiloso o seu ca­
minho” (At 8.39). Filipe foi milagrosamente transladado e apareceu em
Azoto (ou Asdode, uma antiga cidade filisteia). Inexplicavelmente, Filipe
foi arrebatado e transportado para Azoto, que ficava a aproximadamen­
te 30 quilômetros de distância do deserto onde Filipe estava próximo a
Gaza. E “passando adiante anunciava o evangelho em todas as cidades
que atravessava, até que chegou a Cesareia” (At 8.40).
Filipe, então, estabeleceu-se em Cesareia, e ah era conhecido como
“evangelista” (At 21.8). Em Cesareia, ele hospitaleiramente recebeu Paulo
e Lucas, no final da terceira viagem missionária do apóstolo. Lucas nos
informa que Filipe tinha quatro filhas virgens que profetizavam (At 21.8-
9). Na casa de Filipe, o profeta Ágabo previu que Paulo seria preso quan­
do chegasse a Jerusalém. Sem se deixar intimidar, o apóstolo partiu para
Jerusalém. Ao que parece havia uma igreja em Cesareia, e provavelmente
os irmãos se reuniam na casa de Filipe. Poucos meses depois disso, Paulo
foi preso em Jerusalém e levado para Cesareia, onde ficou dois anos de­
tido ah. Por certo a bondade e a amizade de Filipe devem ter significado
muito para o apóstolo naquele período (At 23.31-35; 24.23,27).
A tradição sugere Filipe foi um dos setenta discípulos de Jesus e
que em algum momento, ele tenha se tornado bispo da igreja em Trales,
na Lídia - região sudoeste da Turquia.
Cideão Nome hebraico, significa "Lenhador".

Gideão foi o quinto juiz em Israel. Era filho de Joás, do clã de Abiezer
e da tribo de Manassés. Dos 12 juizes de Israel, mais versículos são dedi­
cados a historia dele do que a história de qualquer outro juiz (Jz 6 a 8). Ele
viveu em Ofra, a leste da colina de Moré, entre Bete-Seã e o monte Tabor,
uma cidade de Issacar (Js 17.11). De maneira geral, os juizes não eram ma­
gistrados do judiciário no sentido moderno do termo. Eram, na verdade,
líderes políticos, heróis locais, e muitas vezes poderosos guerreiros.
Como muitos israelitas durante os ciclos de apostasia no período
dos juizes, o pai de Gideão também tinha se voltado para a idolatria
na adoração a Baal. Poucos israelitas se importavam em comparecer
nas solenidades do Senhor em Siló, que era o único fator unificador que
Deus havia designado para manter um sentido nacional de interdepen­
dência em Israel.
Por causa disso, nessa época - em aproximadamente 1200 a.C. - os
hebreus haviam se tornado presa fácil para os beduínos midianitas sa­
queadores. Os midianitas invadiam a terra de Israel para roubar o gado
e saquear as colheitas quando elas já estavam maduras. Enquanto isso,
os israelitas empobrecidos, escondiam-se em montanhas e em cavernas,
temendo esses povos inimigos. Eles vinham “como enxames de gafanho­
tos, e era impossível contá-los” (Jz 6.5). Eles entravam nas proprieda­
des, saqueavam as plantações e os rebanhos e destruíam os campos e os
agricultores e donos das terras só voltavam dos esconderijos depois que
eles iam embora. Eles - os midianitas - eram uma federação de tribos
do deserto que vivia a leste do Jordão e ao sul dos assentamentos nas
montanhas de Canaã. Deslocando-se desde a Mesopotâmia até o sul da
Arábia, essas tribos viviam da negociação de especiarias e incenso. E
esse jugo opressor dos midianitas sobre os israelitas se repetiu por sete
anos. Até que depois desse período de opressão cruel dos midianitas, o
povo de Israel clamou pela libertação do Senhor (Jz 6.6).
Durante essa opressão, o anjo do Senhor apareceu a Gideão, que
tinha aproximadamente 30 anos na época. Gideão estava escondida-
mente trabalhando com um pouco da colheita de trigo que ele havia
conseguido salvar daquela estação. O desespero da situação fica eviden­
te na cena de Gideão malhando o trigo no lagar, em vez de fazê-lo com
os bois treinados para trabalhar com o trigo no cume de um monte, ou
na eira, como de costume (Jz 6.11). No entanto, o mensageiro divino lhe
informou que um novo tempo havia chegado para Israel e ele havia sido
escolhido para livrar os israelitas do jugo dos midianitas.
Naquela mesma noite o Senhor pôs à prova a obediência de Gi-
deão. A primeira tarefa de Gideão foi destruir o altar que seu pai havia
dedicado a Baal e o altar adjacente, dedicado a Aserá, parceira femi­
nina de Baal. E em seguida levantasse um altar ao Senhor (Jz 6.11-27).
Sabendo que as pessoas seriam contra a este ato, Gideão e seus servos
destruíram essas imagens cananeias à noite. No dia seguinte, os ho­
mens de Ofra tentaram matar Gideão em retaliação pelo ato. Joás, no
entanto, implorou pela causa do seu filho, dizendo que caso Baal fosse
deus e tivesse se ofendido com aquilo, que ele revidasse. O raciocí­
nio rápido de Joás salvou a vida do seu filho. Por causa disso, a partir
desse confronto, Gideão passou a ser chamado Jerubaal, que significa
“Que Baal contenda contra ele, pois destruiu o seu altar” (Jz 6.32), ou
em outras palavras, “Baal que se vingue”. Vale a pena sabermos, que
aparentemente, esses nomes dados as pessoas depois de um aconteci­
mento representavam mais um “sobrenome” do que o primeiro nome
da pessoa a partir daquele momento.
Os midianitas haviam se unido e acampado no vale de Jezreel,
provavelmente com a intenção de tomar as terras israelitas. Deus, no
entanto, havia dito a Gideão que aquele tempo era de vitória para Israel.
Sendo Gideão um novato em guerras, antes de ir para a batalha, buscou
a orientação divina para o fortalecimento de sua fé. Deus respondeu por
meio de um sinal milagroso na natureza. Primeiramente, pediu como
sinal que o orvalho da noite caísse sobre um novelo de lã, sem que a
terra ficasse molhada. Na noite seguinte, pediu o sinal ao contrário, que
o orvalho molhasse apenas o solo, e a lã permanecesse seca, e assim foi
feito (Jz 6.35-40).
Gideão tinha agora a missão de reunir soldados em Israel para
vencerem uma guerra contra os midianitas, que eram 135 mil homens
montados em camelos (Jz 8.10). Interessantemente antes mesmo do
exército israelita se formar, o lado vitorioso da guerra já havia sido defi­
nido. O povo de Deus já havia entrado vitorioso na guerra! Gideão con­
vocou os homens, e vieram 32 mil voluntários das tribos de Manassés,
Aser, Zebulom, Naftali e provavelmente Issacar, para serem guerreiros.
No entanto, de 32 mil soldados das tropas de Gideão, o Senhor interveio
e foram reduzidos os homens até restaram apenas 300 soldados. O mo­
tivo era que o Senhor queria fazer os israelitas compreenderem que a
vitória seria conquistada pelo poder divino e não pela força do número
de combatentes.
Uma missão secreta de reconhecimento às cercanias do acampa­
mento midianita fez Gideão receber mais força enquanto ele e seu ser­
vo Pura ouviram um soldado midianita contar que tivera um sonho, e
nesse sonho a vitória tinha sido de Israel (Jz 7.13-14). Em resposta a esse
encorajamento adicional, Gideão se levantou e se animou para a guerra
(Jz 7.15).
Como os midianitas, estavam amplamente mobilizados com seu
camelos, permaneceram acampados no vale de Jezreel, e Gideão e seus
homens posicionaram-se na montanha de Gilboa, nas proximidades da
fonte de Harode (fonte onde os soldados beberam água no teste propos­
to por Deus - Jz 7.4-7). Dividido em três parte, o exército de Gideão se
colocou à noite próximo do acampamento midianita. Tirando proveito
do medo que os beduínos têm do escuro, Gideão começou o ataque perto
da meia-noite, justamente após a troca de sentinelas, no momento de
maior fragilidade da guarda do acampamento. Ao sinal de Gideão to­
dos os homens tocaram as suas trombetas, quebraram o seu cântaro de
barro e levantaram suas tochas - que provavelmente foram usadas para
atear fogo às tendas dos midianitas - e os israelitas gritaram “à espada
pelo Senhor e p o r G ideão” (Jz 7.20). O efeito desse clamor foi avassalador.
Pensando estarem em número inferior, os midianitas, confusos e abati­
dos, começaram a se golpear uns aos outros na escuridão e providen-
cialmente morreram 120 mil midianitas. Provavelmente os midianitas
acharam mais “honroso” caírem na própria espada, do que caírem na
espada do exército inimigo.
Gideão enviou mensageiros para convocar os homens de Efraim
para interromper a fuga dos sobreviventes inimigos na travessia do Jor­
dão (Jz 7.9-24). Eles capturaram dois príncipes midianitas - Orebe e Zee-
be - e trouxeram suas cabeças a Gideão. Humilde e diplomaticamente,
Gideão aplacou a amargura dos homens de Efraim, que o recriminaram
por não terem sido chamados inicialmente para participarem da guerra
(Jz 7.25 - 8.3). Os 15 mil soldados midianitas que conseguiram fugir do
acampamento, aparentemente foram “d esbaratad os” (derrotados) pró­
ximo a Sucote (Jz 8.10-12).
No caminho de volta para casa, Gideão se vingou do povo de duas
cidades que se recusaram a dar alimento a eles anteriormente - Sucote
e Penuel (cidades não-israelitas) - e destruiu os dois lugares. E executou
também Zeba e Zalmuna pessoalmente para cumprir uma vingança de
sangue - em cumprimento a Números 35.19 - porque eles haviam ma­
tado no passado os irmãos de sangue de Gideão que viviam perto do
monte Tabor (Jz 8.18-21).
Esta vitória contra os midianitas foi tão completa e divina que o
“dia dos m idianitas” (ou o “dia de Midiã”) parece ter se tornado um pro­
vérbio que significava a libertação divina (Is 9.4; 10.26; SI 83.11).
Em resposta à vitória conquistada por Gideão, os israelitas lhe ofe­
receram a oportunidade de iniciar uma monarquia hereditária, a qual
ele recusou quando disse: “Não dominarei sobre vós; o Senhor sobre vós
dominará” (Jz 8.23). Gideão, aceitou, contudo, alguns brincos de ouro
como despojo da batalha. Com este ouro Gideão fez uma estola sacer­
dotal e a colocou em sua própria cidade. O infeliz final da história de
Gideão está ligado à confecção dessa vestimenta. Isto provou ser uma
armadilha para ele e para sua família, porque Gideão consequentemen­
te invadiu a prerrogativa do sacerdócio de Arão, mesmo que talvez de­
sejasse usar a roupa apenas em seu ofício de magistrado civil. Talvez
para Gideão aquela estola fosse apenas um memorial, mas os israelitas a
transformaram em um ídolo. Infelizmente, esta estola sacerdotal serviu
como motivo de idolatria para Gideão e sua casa (Jz 8.27). O texto bíblico
chamou isso de “prostitu ição” (Jz 8.27), visto que toda idolatria desvia
os homens para longe da adoração ao Senhor, sendo uma infidelidade
espiritual. Por causa disso, um novo nome foi dado a Gideão, Jerubese-
te. O termo “Baal” foi substituído por “besete”, palavra hebraica para
“vergonha” ([besheth), assim o novo nome de Gideão passou a significar
“Deixe o vergonhoso lutar”. Mostrando assim a mancha que essa atitude
trouxe para o legado de Gideão.
John Davis sugere, que essa atitude de Gideão em mandar confec­
cionar uma estola sacerdotal e colocá-la em sua cidade, onde um anjo
lhe havia aparecido e ele oferecera um sacrifício ao Senhor (Jz 6.21-28),
o fez pensar que o oficio do sacerdote lhe era destinado, e por isso man­
dou fazer essa estola sacerdotal - provavelmente com o Urim e Tumim -
pensando ele que isso serviria em suas “consultas” ao Senhor. Mediante
isso então, o erro de Gideão foi fazer o que parecia bom, no entanto, sem
ter a direção de Deus para aquilo. Infelizmente tudo isso serviu para sua
ruína.
Gideão em desobediência ao mandamento do Senhor também teve
muitas esposas e 70 filhos (Jz 8.30; Dt 17.17). Além disso, Gideão teve mais
um filho com uma concubina, chamado Abimeleque. Este descendente de
Gideão tentou se fazer rei, e após a morte de Gideão, Abimeleque matou
seus setenta irmãos (exceto Jotão, o mais novo que fugiu) e se declarou
rei, tendo reinado estranhamente por um período de 3 anos em Israel (Jz
9.22-23). Curiosamente, de acordo com este texto, Abimeleque foi então
rei em Israel, algumas décadas antes de Saul - que classicamente chama­
mos de “o primeiro rei de Israel”.
No entanto, apesar de tudo isso, ainda assim Gideão é lembrado
como uma pessoa direcionada por Deus no Antigo Testamento e o servi­
ço prestado por ele, livrando Israel dos seus adversários, foi um dos pon­
tos altos na história de Israel antes da monarquia. Gideão parecia ser
uma pessoa com certa tendência ao medo (Jz 6.11,22,23,27; 7.10), mas
mesmo assim se tornou impressionante alguém que “pela fé, venceu rei­
nos” (Hb 11.32-33).
Habacuque Nome hebraico, significa "Abraço".

Habacuque foi um profeta hebreu no reino de Judá. Ele é o oitavo


dos doze profetas menores, viveu provavelmente em Jerusalém, no fim
do século 7 a.C., durante os últimos dias de Josias e no reinado de Jeoia-
quim. Naquela época, Judá foi invadida por Nabucodonosor e começou o
exílio na Babilônia. Sabemos disso porque ele faz referência aos “babilô­
nios, nação cruel e im petuosa” (Hc 1.6). As datas de 612-589 a.C. delineiam
o período provável de sua atividade profética.
As informações sobre Habacuque estão limitadas ao livro que traz
seu nome. O templo nessa época ainda existia (Hc 2.20), e nele o exercício
do coro musical (Hc 3.19). O povo caldeu já era conhecido, desde muito,
dos hebreus. Chamaram sobre si a atenção do mundo pela revolta contra o
poder dos assírios em 625 a.C. prosseguindo, daí em diante a sua carreira
de conquistas, que lhes deu lugar destacado entre os povos antigos, com a
tomada de Nínive em 607 a.C., e pelas vitórias alcançadas sobre os egípcios
em 605 a.C. na batalha de Carquemis. Nessa batalha, os caldeus após der­
rotarem os egípcios, dirigidos pelo Faraó Neco, nos vaus do rio Eufrates,
marcharam para o Ocidente, a fim de dominar Jeoiaquim, rei de Judá. A
maioria dos historiadores sugere que o livro de Habacuque tenha sido es­
crito nesse período.
O trecho de Habacuque 3.19 indica que ele estava oficialmente
qualificado para participar do cântico litúrgico do templo de Jerusalém,
e isso parece apontar que Habacuque era da tribo de Levi, ocupando
assim a função de um levita, visto que estava encarregado da música
sacra. É curioso que não nos seja dado o nome de seu pai, nem a sua
genealogia, algo contrário dos costumes judaicos.
Habacuque viveu em tempos difíceis. À semelhança de Jó, Jere­
mias e Asafe, ele enfrentou o problema do sofrimento dos justos e da
aparente vantagem dos ímpios. Ele expressou: “Por que razão um Deus
justo silencia e nada faz, quando os ímpios devoram aqueles que são
mais justos do que eles?” (Hc 1.13). A resposta certa é que devemos a
questão aos cuidados da vontade soberana de Deus, crendo que ele con­
tinua sendo soberano, e que, a seu próprio modo e no tempo certo, usará
de estrita justiça com todos os seres humanos, incluindo os ímpios.
Há apenas 56 versículos no livro de Habacuque, mas um deles - “o
justo viverá por sua f é ” (Hc 2.4) - se destaca em relação a todos outros. Ci-
tado por Paulo em Romanos 1.17 e em Gálatas 3.11, é um versículo que
teve um enorme efeito na teologia cristã. Desse versículo se fundamentou
o ensinamento de que a justificação é pela fé somente, e não por obras, e foi
amplamente enfatizado na reforma protestante.
O livro é dividido facilmente em três seções, cada uma correspon­
dendo aproximadamente a um dos três capítulos. A primeira seção é um
diálogo entre Habacuque e Deus no qual o profeta se lamenta pelo fato de
os justos sofrerem e os maus prosperarem. A segunda seção é a concepção
de Habacuque sobre a punição que finalmente virá sobre os malfeitores.
Nessa parte em cinco grupos de versículos, Habacuque proclama cinco
“ais” acerca de tais transgressões: os saqueadores serão saqueados; aque­
les que exploram o fraco em benefício próprio perderão a vida; crimino­
sos violentos serão esmagados pelo poder de Deus; os violentos sofrerão
violência e os adoradores de ídolos ficaram mudos diante do Senhor em
seu templo.
A terceira seção do livro é uma oração que tem muita semelhança
com os salmos que eram cantados durante as celebrações do templo. Tem
até uma instrução final para que seja acompanhada com instrumentos de
corda. Nessa seção Habacuque apresenta o Senhor como um guerreiro
que vai contra seus inimigos num carro e armado com arco e flechas e
com uma lança cujo brilho supera o sol e a lua.
Um dos manuscritos do mar Morto descobertos por pastores be-
duínos em 1947, é um comentário em hebraico do livro de Habacuque
escrito por volta do século 1 a.C. O autor faz uma analogia entre os cal-
deus dos dias de Habacuque e os romanos, que eram os dominadores do
seu próprio tempo no primeiro século da era cristã.

Herodes Nome hebraico, significa "Dragão em fogo".

Cinco gerações diferentes de pessoas, todos com o título de “Hero­


des” (devido à dinastia herodiana), aparecem nos Evangelhos e em Atos.
O termo “Herodes” aparenta não ser um nome próprio, mas um título,
da mesma forma como “Faraó” era o nome dado aos governantes egíp­
cios e “César” era o nome dado a todos os imperadores romanos.
A família herodiana governou a Judeia e grande parte de Israel
durante muito mais de um século, de 47 a.C. até quase 100 d.C.
É fundamental entendermos quem eles foram e onde são citados
para que possamos entender o contexto histórico e político do Novo Tes­
tamento. Vamos então conhecê-los um por um:

Herodes, o Grande
Este Herodes foi o primeiro rei-vassalo de Israel, depois do domí­
nio romano. Foi de 47 a.C. até 37 a.C. governador da Judeia, e de 37 a.C.
até 4 a.C. rei em Israel.
Herodes, o Grande nasceu por volta de 73 a.C. Era da Idumeia -
região de Edom, no sul da Palestina, conhecido hoje como Neguebe. Seu
pai - Antípater - também era um idumeu (povo predominantemente
árabe) e sua mãe era uma mulher nobre da Nabateia. Por isso, embora
ele alegasse ser um judeu praticante, a sua verdadeira origem era árabe
dos dois lados. Josefo relata que era um excelente atleta, sobretudo no
uso de dardo e arco.
Quando Pompeu, o Grande, esteve na Palestina, em 63 a.C., o pai
de Herodes, Antípater, aliou-se a Roma e enviou Herodes, então um me­
nino de dez anos, para viver com seu tio em Petra (a capital da Nabateia
- atualmente Jordânia). Ali ele passou alguns anos. Quando Herodes ti­
nha dezesseis anos ele conheceu o general romano Marco Antônio, que
reconheceu e admirou o grande talento do rapaz. Os dois se tornaram
amigos inseparáveis. Por intermédio de Marco Antônio ele conheceu o
líder militar romano Júlio César, que também se tornou apreciador da
família de Antípater.
Em 47 a.C., Antípater conseguiu que César nomeasse Herodes como
governador da Galileia com aproximadamente 25 anos de idade. Antípa­
ter era um bajulador de César, assim como também Herodes o era. Antí­
pater tentou convencer César a destituir o rei corrente, Antígono, e faz
dele rei da Judeia. César, no entanto, recusou-se deixando-o como procu­
rador e Herodes como governador da Galileia.
A princípio, Herodes era admirado pelos judeus da Galileia e pe­
los oficiais romanos locais. E essa admiração aumentou depois que ele
capturou um perigoso rebelde judeu e mandou que ele fosse executado,
e trabalhou junto com seu pai para conter várias revoltas naquele perío­
do. Isso chamou a atenção dos altos oficiais romanos, e César o nomeou
governador da Síria em 46 a.C. (a Síria na época era província romana
que incluía o norte da Palestina).
Após o assassinato de César em 44 a.C., Antípater e Herodes ime­
diatamente transferiram sua lealdade a Cássio, um dos assassinos de
César, porque ele havia conquistado o controle sobre as províncias
orientais. Assim que Marco Antônio derrotou Cássio, Antípater e Hero­
des mais uma vez deslocaram sua lealdade, dessa vez de volta a Marco
Antônio, que os perdoou e fez uma nova aliança com eles. Marco Antô­
nio então nomeou Herodes rei da Judeia, e Herodes ascendeu ao trono
após a morte de Antígono, em 37 a.C., com aproximadamente 35 anos e
passou a ser conhecido como Herodes, o Grande, pois passou a governar
sobre todo o Israel (que abrangia Galileia, Samaria, Pereia e Judeia).
O reinado de Herodes, o Grande é dividido pela maioria dos historia­
dores em três períodos: consolidação (de 37 a.C. até 25 a.C.), prosperidade
(de 25 a.C. até 13 a.C.) e problemas familiares (13 a.C. até 4 a.C.).
O período de consolidação se estendeu de sua ascensão como rei
em 37 a.C. até a morte dos filhos de Babas, que eram os últimos repre­
sentantes masculinos das famílias dos hasmoneus. Durante este período
ele teve que lutar com muitos adversários, entre eles: Antígono, Alexan­
dra (sogra de Herodes, o Grande), Aristóbulo e principalmente a rainha
Cleópatra do Egito. Cleópatra além de amiga de Alexandra - a sogra que
odiava Herodes - era também altamente interessada em se apossar do
seu território.
O segundo período do reinado de Herodes, o Grande foi o da pros­
peridade. Foi um período de esplendor e de alegrias, marcado por grandes
projetos de construções. Dois desses muitos projetos de construções foram
considerados verdadeiramente magníficos. No primeiro, ele aterrou um
porto marítimo chamado Estrato, que estava em decadência, e o recons­
truiu totalmente como uma cidade resplandecente em estilo romano. Em
honra ao imperador Augusto, ele a chamou Cesareia Palestina (conhecida
também como Cesareia M arítim a-não a confunda com Cesareia de Filipe).
Foi uma bela cidade, com um excelente porto, um imponente areópago e
uma estrutura de fortaleza herodiana. Esta cidade logo se tornaria a capital
romana na Palestina.
Sua outra grande façanha da engenharia foi a reconstrução do
templo de Jerusalém. De acordo com Flávio Josefo - historiador da épo­
ca - esta foi a mais nobre de todas as conquistas de Herodes. Essa re­
construção do templo em Jerusalém se iniciou por volta de 20/19 a.C. A
literatura rabínica chega a dizer que “quem não viu o templo de Hero­
des, nunca viu um belo edifício”. Na reconstrução deste templo, Herodes
teve o cuidado de satisfazer seus súditos judeus e confiou a supervisão
dos trabalhos a sacerdotes dessa religião. Nenhuma imagem foi exibida
dentro dele e Herodes nunca entrou na área do santuário. No entanto,
0 trabalho completo da reconstrução do templo de Jerusalém continuou
durante todo o seu reinado e muito após a sua morte, sendo concluído
apenas durante o período do procurador romano Albino (62-64 d.C.),
pouco antes da destruição pelos romanos no ano 70 d.C.
Nesse período - no fim de 24 a.C., ele se casou com Mariane, filha de
Simão - um sacerdote famoso em Jerusalém (essa ficou conhecida como
Mariane II). Durante esse período o governo de Herodes, o Grande teve
uma grande aprovação popular. Ele exercia um grande controle sobre o
povo e por duas vezes, favoreceu o povo abaixando os impostos - chegan­
do a reduzir 75% dos impostos em 14 a.C.
O terceiro período do governo de Herodes, o Grande foi claramen­
te o período marcado por problemas na família real. Nesse período ele
já havia se casado com dez esposas. Sua primeira, Doris, teve apenas
um filho, Antípater. No entanto, ele repudiou Doris e Antípater, quando
se casou com Mariane I, permitindo a eles que visitassem Jerusalém so­
mente durante as festividades. Herodes, o Grande se casou com Mariane
1 em 37 a.C. Ela era neta de Hircano e teve cinco filhos, duas meninas
e três meninos. O mais novo morreu ainda em Roma, e os outros dois
iriam desempenhar um importante papel nesse período do reinado dele.
No fim de 24 a.C., ele se casou com sua terceira esposa, Mariane II,
com quem teve um filho (Herodes Filipe). Sua quarta esposa foi Malta-
ce, ela era samaritana e foi mãe de dois filhos, Arquelau e Antipas. Sua
quinta esposa, Cleópatra de Jerusalém, foi mãe de Filipe, o Tetrarca. Das
cinco esposas restantes, somente Palas, Fedra e Elpsis são conhecidas
pelo nome, e nenhuma desempenhou um papel significante nos eventos
desse período.
Alexandre e Aristóbulo, os filhos de Mariane I, eram os filhos favori­
tos de Herodes, o grande. No entanto, imediatamente, após seus casamen­
tos, iniciaram-se os problemas dentro da casa herodiana. Salomé, irmã
de Herodes, o Grande e mãe de Berenice (esposa de Aristóbulo), odiava
esses dois filhos, principalmente porque queria para seu filho a posição e
o favor de que desfrutavam. Herodes então decidiu repatriar o seu filho
exilado Antípater, para mostrar a Alexandre e Aristóbulo que havia outro
herdeiro para o trono. Antípater tirou plena vantagem da situação e usou
todos os meios concebíveis para adquirir o trono cobiçado. Finalmente,
um homem de mau caráter - Euricles, de Lacedemom - o tomou a fim de
incitar o pai contra seus filhos e vice-versa. Logo outros causadores de
dano se uniram a Euricles, e a paciência de Herodes se esgotou. Ele colo­
cou Alexandre e Aristóbulo na prisão e nomeou Antípater seu herdeiro.
Em sua impaciência para obter o trono, Antípater tentou envene­
nar Herodes, o Grande. O plano, no entanto, fracassou quando Feroras,
irmão de Herodes, o Grande bebeu o veneno por engano. Toda a trama
foi descoberta e Herodes colocou Antípater na prisão e relatou o fato ao
imperador. Nesse tempo (5 a.C.), Herodes adoeceu gravemente de uma
doença incurável. Ele então redigiu um novo testamento que ignorava
seus filhos mais velhos - Arquelau e Filipe - porque Antípater também
havia envenenado sua mente contra eles. Ele escolheu seu filho mais
moço, Antipas, como seu único sucessor.
Foi durante este tempo que os magos chegaram à Judeia, buscando
pelo rei dos judeus que havia acabado de nascer. Herodes, o Grande ao sa­
ber disso, os instruiu para que o informassem do paradeiro dessa criança
tão logo que a encontrassem. No entanto, sendo advertidos em sonho, os
magos não fizeram isso, mas retornaram aos seus lares por outro caminho.
Deus advertiu José (marido da mãe de Jesus) para que fugisse para o Egito,
porque a intenção de Herodes era matar Jesus. José tomou sua família e
deixou Belém. Logo depois, Herodes matou todas as crianças do sexo mas­
culino em Belém que tivessem 2 anos ou menos. Essa atitude de Herodes
em matar crianças inocentes por causa do medo de perder o seu trono re­
vela quão decrescente foi o reinado de um Herodes que ficou conhecido
como “o Grande”.
A doença de Herodes, o Grande piorou rapidamente. Nesse pe­
ríodo chegou de Roma uma permissão para executar Antípater, e ele
prontamente atendeu. E novamente alterou seu testamento, e os seus
domínios foram divididos entre três filhos, fazendo Arquelau ser rei da
Judeia, Idumeia e Samaria; Antipas, tetrarca da Galileia e da Pereia; e
Filipe, tetrarca dos territórios a leste da Galileia.
No quinto dia após a execução de Antípater, Herodes, o Grande
morreu em Jerico, na primavera de 4 a.C., sem ser pranteado por sua fa­
mília nem pelo povo judeu, e foi enterrado em Herodeion. Ele governou
a Judeia por aproximadamente 33 anos. Arquelau, seu filho foi procla­
mado como rei em seu lugar.
Pelos padrões modernos, este Herodes foi um monstro, mas para
sermos justos, ele deve ser analisado de acordo com as normas do seu
tempo. Na verdade, ele nada mais foi do que um exemplo típico dos
governantes orientais daquela época, que eram altamente cruéis, bár­
baros e tirânicos déspotas.
Herodes, o Grande jamais levou o judaísmo a sério. Seu interesse
era somente político, e como judeu ele foi um apóstata. Mesmo que ele
tenha sido rei dos judeus, não se pode dizer, entretanto, que ele tenha
sido um rei verdadeiramente judeu.
Curiosamente nenhuma das moedas preservadas da época de He­
rodes, o Grande exibe uma efígie (imagem de como ele era) e não existe
nenhuma estátua dele, de modo que não sabemos como era sua fisionomia.

Herodes, Arquelau
Arquelau foi o filho de Herodes, o Grande e Maltace (uma samari-
tana). Arquelau governou de 4 a.C. até 6 d.C. Ele tratou com brutalidade
tanto a judeus como a samaritanos. Quando José retornou de sua fuga
ao Egito e ouviu que Arquelau governava a Judeia, ficou com medo de ir
até lá e foi direcionado por Deus a levar o menino Jesus para a Galileia
(Mt 2.22).
A tirania de Arquelau finalmente fez com que judeus e samarita­
nos enviassem uma delegação a Roma, a fim de reclamar formalmente
ao imperador Augusto. O fato de inimigos tão ferrenhos como judeus e
samaritanos se unirem para cooperar nesse assunto indica a seriedade
da reclamação. Antipas e Filipe também foram a Roma nesse período
para reclamar dele.
Desse modo, em 6 d.C., Arquelau foi deposto e exilado em Viena, na
Gália (ao sul de Lyon). Antipas e Filipe tiveram permissão para continuar
seus respectivos governos, e os territórios de Arquelau foram reduzidos a
uma província governada por prefeitos e procuradores.

Herodes Antipas
Antipas foi filho de Herodes, o Grande e Maltace, e governou de 4
a.C. até 39 d.C. Ele e seu irmão, Herodes Arquelau, de acordo com Flávio
Josefo, foram criados em Roma por um patrício cujo nome é desconheci­
do. De todos os herodianos, ele é o mais mencionado no Novo Testamento
porque governou a Galileia e a Pereia, e os ministérios de João Batista e Je­
sus ocorreram durante a gestão deste Herodes (Lc 3.1). Politicamente, ele
foi um tetrarca, e não um rei. O tetrarca era um governante com poderes
mais ou menos monárquicos, mas que governava sem autonomia com­
pleta, tendo que estar sob o controle de Roma. Originalmente, Antipas
- assim como seu pai - patrocinou uma grande campanha de construção
e fez da cidade de Seforis (entre Nazaré e Caná), a sua capital. Mais tarde,
Antipas construiu para ser a nova capital a cidade de Tiberíades, junto ao
mar da Galileia, que também ficou conhecido como lago de Tiberíades,
dando-lhe esse nome em homenagem ao imperador Tibério, que havia
sucedido Augusto. Contudo, isso foi altamente ofensivo para os judeus
porque ele não só abandonou a cidade santa de Jerusalém, como também
construiu uma nova cidade capital (Tiberíades) em cima de um local que
era um famoso cemitério da época, território altamente impuro na lei dos
judeus. Assim, todo judeu fiel que precisava ir a Tiberíades tinha de pas­
sar por um complexo ritual de purificação.
Em uma visita a Roma, Antipas apaixonou-se pela esposa do seu
meio irmão Herodes Filipe (Herodias), e em pouco tempo casou-se com
ela (Mc 6.17). Ela insistiu para que ele se divorciasse de sua primeira es­
posa, Fasaleia (que era filha do rei de Petra). Mas quando esta - que era
a esposa oficial de Antipas - soube desta armação, decidiu por conta pró­
pria abandonar Antipas e voltar para à casa de seu pai.
Isso revoltou ainda mais não apenas aos judeus, mas também a
João Batista, que teve a coragem de acusá-lo de estar em adultério com
sua cunhada (Mt 14; Mc 6; Lv 20.21). Herodias odiava João Batista e aca­
bou convencendo Antipas a prendê-lo. Poucos dias depois, Salomé, filha
de Herodias, pediu a cabeça de João Batista em um prato, e então o pro­
feta veio a morrer (Mc 6.26).
Jesus também não tinha medo de Antipas, e por isso quando ele
espalhou a notícia de que queria matar Jesus, o Senhor o chamou de
“raposa” (Lc 13.31-32), e lhe disse que não iria nem se amedrontar e nem
para a sua obra. Depois de ter lidado duramente com João Batista, He­
rodes Antipas não teve coragem de lidar da mesma forma com Jesus, e
esperava amedrontá-lo com ameaças. Joana, a esposa de um dos oficiais
de Antipas, tornou-se seguidora de Jesus (Lc 8.30).
Politicamente, Antipas não tinha boas relações com Pilatos. Dentre
outras coisas, Pilatos tinha assassinado alguns dos súditos herodianos en­
quanto eles ofereciam sacrifícios no templo (Lc 13.1). Mas a permissão de
Pilatos, em enviar-lhe Jesus em um intervalo no julgamento, deixou- o tão
satisfeito que a sua disputa com Pilatos acabou (Lc 23.12). Pilatos certamen­
te sabia que um dos desejos de Antipas era ter Jesus morto, e aproveitando
que naqueles dias Antipas estava em Jerusalém, não hesitou e enviar-lhe o
mestre a fim de que pudesse também ser julgado por ele devido ao fato de
Jesus residir na Galileia. Claramente Pilatos se aproveitou disso para resol­
ver um problema pessoal com Herodes Antipas. Lamentavelmente, Pilatos
se tornou aqui um símbolo de pessoas que “usam” Jesus para o benefício
próprio.
Mas a arrogância de Herodes Antipas acabou levando-o à sua pró­
pria ruína. Incentivado por sua esposa Herodias, ele solicitou ao impe­
rador Gaio (Calígula) o titulo de rei, que havia sido conferido a Herodes
Agripa I, que governava ao norte e ao leste de seus domínios. No entan­
to, Antipas foi mal visto devido àquela atitude presunçosa e foi banido
para a Gália por volta de 40 d.C., onde ficou até sua morte. Agripa I aca­
bou assumindo o seu território.

Herodes Agripa I
Este Herodes foi neto de Herodes, o Grande e filho de Aristóbulo. Ele
nasceu em Jerusalém, em 10 a.C., e recebeu esse nome em homenagem
a Agripa, o competente ministro do imperador Augusto. Seu pai e seu tio
Alexandre foram executados em 7 a.C., sob suspeita de terem conspirados
contra o trono de Herodes, o Grande (o próprio pai).
Após a morte de Tibério e a ascensão de Gaio, Agripa I recebeu
a tetrarquia de Filipe, que morreu em 34 d.C., e obteve a permissão de
ostentar o título de rei. Quando Herodes Antipas foi deposto, Agripa I
assumiu também seu território. Em 41 d.C., Gaio (Calígula) foi assassi­
nado e sucedido por Cláudio. O novo imperador - que era amigo deste
Herodes - adicionou a Judeia e Samaria ao domínio de Agripa I, de modo
que agora ele era o rei dos judeus assim como havia sido anteriormente
Herodes, o Grande.
Agripa I foi bem educado no judaísmo. Ele era um judeu fiel e
praticante (o único de todos os Herodes). Pouco se sabe sobre sua mãe,
mas ela foi provavelmente quem providenciou para que ele fosse treina­
do no judaísmo e na prática da lei judaica. A grande população judaica
de Roma tinha muitos rabinos famosos e sinagogas, de modo que isso
ainda não era um problema para o império romano naquela época. Isso
fez ele conquistar um alto respeito entre os judeus e se tornar um forte
defensor de sua fé e de sua nacionalidade judaica por ter nascido em
Jerusalém.
Devido a isso, biblicamente Herodes Agripa I é conhecido pela sua
perseguição aos cristãos da igreja primitiva. Foi ele quem mandou exe­
cutar Tiago, filho de Zebedeu, e determinou a prisão de Pedro em 44 d.C.
(At 12). A Bíblia conta que Agripa I reuniu um grande ajuntamento de
pessoas em Cesareia (que havia substituído Jerusalém, como a capital da
Judeia). Em meio a uma cerimônia luxuosa no anfiteatro de Cesareia, de
repente, o anjo do Senhor o feriu mortalmente, e ele morreu comido por
vermes porque “não deu glórias a Deus”. Os cristãos interpretaram sua
morte como sendo um castigo de Deus por sua arrogância (At 12.19-23).
Essa morte de Herodes Agripa I é altamente curiosa. Sem saber­
mos ao certo a razão de seu falecimento. Flávio Josefo, historiador con­
fiável da época faz uma descrição paralela ao texto de Lucas em Atos,
que vale a pena analisarmos abaixo:
“Então, quando Agripa tinha reinado durante três anos sobre toda a
Judeia, ele veio à cidade de Cesareia, e ali ele apresentou espetáculos em hon­
ra a César. No segundo dia dos quais espetáculos ele vestiu um traje feito to­
talmente de prata, e de uma contextura verdadeiram ente maravilhosa, e veio
para o teatro de manhã cedo; ao tempo em que a prata de seu traje sendo ilu­
minada pelo fresco reflexo dos raios do sol sobre ela, brilhou de uma maneira
surpreendente, e ficou tão resplendente que espalhou espanto entre aqueles
que olhavam firm em ente para ele; e no momento seus bajuladores gritaram
um de um lugar, outro de outro lugar, que ele era um deus, e imploravam suas
clemência com estas palavras: ‘Temos temido a ti com o se fosses um homem,
m as temos visto que daqui para frente confessarem os que tu és superior à
natureza dos m ortais’. Quanto a isto o rei não os repreendeu, nem rejeitou
sua ímpia bajulação (a razão de não ter dado “glórias” a Deus). Mas, depois
de um breve momento, olhou para cima, viu um anjo sentado acim a de sua
cabeça, e imediatamente entendeu que este era a causa de seus males, assim
com o antes fo r a a causa dos seus sucessos; e caiu na mais profunda tristeza.
Uma dor severa também atravessou o seu coração e tomou suas entranhas
de m aneira muito violenta. Ele, portanto olhou para seus amigos e disse: ‘Eu,
a quem cham ais deus, estou presentemente cham ado a partir desta vida; e
eu, que por vós fui cham ado im ortal tenho que ser imediatamente afastado
depressa para a morte... ’ Quando ele acabou de dizer isto, sua dor se tornou
ainda mais violenta. Desse modo, ele fo i carregado com grande pressa para
dentro do palácio; e o rumor espalhou-se por toda parte, que ele certamente
m orrería dentro de pouco tempo... Por fim, tom ado de dor nas entranhas por
cinco dias seguidos, ele terminou esta vida aos cinquenta e quatro anos de
idade” (Antiguidades, XIX, 7.2 ou História dos Hebreus pág. 453).
Embora Josefo seja mais detalhista que Lucas, a concordância en­
tre os dois é existente, e conseguimos ter através desse texto uma visão
ampliada sobre como terminou a vida deste homem que perseguiu e
matou o povo de Deus. Ele deixou três filhas e um filho, Marco Júlio
Agripa, que se tornaria Herodes Agripa II.
Herodes Agripa II
Herodes Agripa II nasceu em Roma em 27 d.C. Na ocasião da morte
de seu pai (Herodes Agripa I), este seu filho era jovem demais, na opinião
do imperador Cláudio, para assumir o reinado sobre os judeus - aproxi­
madamente 17 anos de idade - de modo que foi imposto aos judeus mais
uma vez um governador romano, e Agripa II não reinou sobre eles. Em 50
d.C., quando Herodes Agripa II tinha 23 anos, foi lhe dado o trono do reino
de Cálcis, no Líbano. No entanto, aproximadamente nessa época, estra­
nhamente o imperador Cláudio lhe concedeu o direito de indicar o sumo
sacerdote e também uma pessoa para ser responsável da supervisão do
templo em Jerusalém, de modo que devido a isso ele acabou se envolven­
do nos assuntos judaicos. Posteriormente, o imperador Nero lhe adicio­
nou uma parte do território próximo ao mar da Galileia, e uma parte do
sul da Pereia. Agripa II, assim como seu pai, também foi chamado de rei.
Foi na presença de Herodes Agripa II que o apóstolo Paulo fez a
sua defesa quando estava preso em Cesareia antes de ir para Roma, en­
tre 57 e 59 d.C. (At 25.13 a 26.1-32).
Ele era também o Herodes da época da destruição do templo de
Jerusalém e da conquista de Massada. Quando a primeira grande revol­
ta judaica aconteceu, em 66 d.C., os seus exércitos lutaram ao lado dos
romanos contra os judeus. Flávio Josefo afirma que Agripa II lhe enviou
mais de 60 cartas com informações sobre a sua participação no conflito.
Agripa II se envolveu em um caso incestuoso, com a própria irmã, Be­
renice. Depois da destruição do templo e da tomada de Jerusalém, Agrupa II
- embora ainda governasse a Palestina - mudou-se para Roma junto com Be­
renice por volta de 75 d.C. E a partir de então governou à distância, retornan­
do só muito raramente para visitas breves. Enquanto ele estava em Roma,
Berenice o deixou para se tornar amante do general romano Tito Flávio Ves-
pasiano, filho do imperador Vespasiano. Este mesmo Tito foi o que invadiu
Jerusalém em 70 d.C., e teve o apoio de Agripa II para isso. Ou seja, Agripa II
estava vivendo na própria pele as consequências de uma aliança ímpia que
ele havia feito com Tito para estar à favor dos romanos e contra os judeus.
Pouco se sabe sobre os últimos anos da vida de Agripa II, mas ele pro­
vavelmente viveu até o final do primeiro século da era cristã. Ele não teve
filhos e com sua morte, a dinastia dos Herodes chegou ao fim.
Isabel foi esposa do sacerdote Zacarias e mãe de João Batista (Lc
1.5-56). Sua história é registrada apenas por Lucas e se limita ao capítulo
1 do evangelho escrito por ele. Isabel também era de linhagem sacerdotal,
sendo descendente de Arão. Sendo assim, seu casamento com o sacerdote
Zacarias - dentro da visão judaica - seria considerado a união perfeita.
Provavelmente Isabel foi assim chamada em homenagem a Eliseba (no
hebraico, 'elisheba - que vem da mesma raiz hebraica que Isabel), que
era esposa de Arão (Êx 6.23).
Isabel e Zacarias eram justos e irrepreensíveis em sua dedicação à
lei (Lc 1.6), e podem ser incluídos entre os piedosos judeus que estavam
ansiosamente esperando a vinda do Messias. No entanto, eles não ha­
viam tido filhos, e além de idosos, Isabel era estéril.
Certo dia, enquanto Zacarias estava queimando incenso no tem­
plo, o anjo Gabriel apareceu a ele e o anunciou que Isabel daria à luz a
um filho que seria “grande diante do Senhor” (Lc 1.15). Essa palavra se
cumpriu a tal ponto de Jesus declarar que “dos nascidos de mulher, não
existiu um maior que João Batista” (Mt 11.11). Sendo Zacarias idoso, e
Isabel idosa e estéril, Zacarias questionou a possibilidade de tal nasci­
mento acontecer, e sua incredulidade custou-lhe a capacidade de falar,
Zacarias ficou mudo (Lc 1.18). Só voltando a falar depois que a criança
nascesse (Lc 1.19-20).
Após Isabel descobrir que estava grávida, não saiu de casa por
cinco meses. O texto não revela o motivo, mas pode ser considerado ou
um cuidado especial por ser uma “gravidez de risco” ou ainda a fim de
consagrar-se ao Senhor em sinal de gratidão. No sexto mês da gravidez
de Isabel, o anjo Gabriel apareceu a Maria e anunciou que ela seria mãe
de Jesus. O anjo também disse a ela que Isabel estava grávida. Maria foi
imediatamente visitar Isabel. Assim que Maria viu a Isabel, a saudou
dizendo: “Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você
dará à luz (Lc 1.42). Logo que Isabel ouviu essa saudação de Maria - que
estava grávida de Jesus - João Batista saltou dentro do seu ventre, ela foi
cheia do Espírito Santo (Lc 1.41), e fez uma previsão em alta voz de que
Maria seria a mãe do seu Senhor (Lc 1.43-44). Maria e Isabel aparen­
temente eram de tribos diferentes - Isabel da tribo de Levi e Maria da
tribo de Judá - provavelmente elas eram primas.
Maria ficou com Isabel por cerca de três meses e, em seguida, vol­
tou para sua casa em Nazaré. A Bíblia não deixa claro se ela permaneceu
até o nascimento de João, mas é muito provável que tenha permanecido.
Naquela época, os partos eram muito perigosos, e é pouco provável que
Maria deixasse Isabel antes de saber que o parto havia ocorrido bem e
ela estava segura.
João Batista recebeu esse nome no oitavo dia de vida, na cerimô­
nia da circuncisão. Não se sabe por que esperaram tanto tempo para
dar-lhe o nome, especialmente porque o nome já havia sido anunciado
pelo anjo desde a gestação do menino ser comunicada (Lc 1.13). Talvez
tenham seguido o costume helenista de esperar uma semana antes de
oficializar o nome do recém-nascido.
No entanto, queriam que a criança fosse chamada Zacarias, nome
do pai. Mas Isabel fez objeção a isto e insistiu que o nome seria João.
Ao desprezarem seu pedido (provavelmente porque era mulher), vol­
taram-se para Zacarias - que estava mudo - e perguntaram-lhe como o
menino seria chamado. Ele escreveu numa tábua que o menino se cha­
maria João e naquele momento sua mudez passou e ele voltou a falar.
Zacarias, então, cheio do Espírito Santo, profetizou sobre o futuro do seu
filho, dizendo que ele seria um profeta do Senhor (Lc 1.64-79).
Esses acontecimentos causaram alvoroço entre os judeus e todos
ficaram assombrados. Sentiam que Deus estava com aquela nova famí­
lia e perguntavam-se o que aconteceria a seguir (Lc 1.65-66). Já há apro­
ximadamente 400 anos a voz de Deus havia se silenciado, e não havia
sido levantado profeta em Israel. O nascimento de João Batista repre­
sentava o inicio de um novo tempo. O Senhor havia começado a trazer o
seu povo de volta para si.
Após isso, nem Isabel, nem Zacarias são mencionados mais no
Novo Testamento. A menção enigmática de que a criança “habitava nos
desertos, até o dia em que se manifestou a Israel” (Lc 1.80), leva alguns a
pensar que Isabel e Zacarias morreram ainda na infância de João, e este
foi entregue a uma seita religiosa rigorosa para ser criado - provavel­
mente os essênios.
Isaías Nome hebraico, significa "Deus é a salvação".

Isaías foi um dos profetas maiores, talvez o principal deles. Profe­


tizou para o reino do sul, em Judá. Isaías era filho de Amoz (não se deve
confundir esse Amoz com o profeta Amós, pastor de Tecoa). No entanto,
o fato de Isaías ser chamado de “filho de Amoz” 13 vezes no Antigo Tes­
B
tamento pode significar que seu pai era um homem proeminente.
Isaías aparentemente morava em Jerusalém, visto que seu filho
pequeno, chamado “Sear-Jasube”, caminhou com ele para encontrar o
rei Acaz fora da cidade (Is 7.3). Sua esposa era conhecida como “profeti-
sa”, no entanto, não se sabe se ela também desenvolvia esse ministério
ou se ela era assim chamada por ser esposa de um profeta. Juntos tive­
ram dois filhos: “ ” e “Sear-Jasube” (Is 8.1-4). Estes nomes eram significa­
tivos, eram lembretes constantes ao povo e ao rei acerca da mensagem
do profeta. O nome do filho mais velho significava “um remanescente
voltará”, uma promessa referente aos que seriam tementes e obedientes
ao Senhor em Judá. O nome do filho mais novo significava “rápido é o
despojo, veloz é a presa” (Is 8.3), e apontava para o juízo próximo que
viria por intermédio do rei da Assíria.
A roupa costumeira de Isaías era uma roupa de profeta, ou seja,
sandálias e um manto de pele de cabra ou pano de saco (que aparente­
mente era a veste que Isaías mais usava). Em determinado ponto do seu
ministério, Deus disse a Isaías para que andasse descalço e tirasse o pano
de saco - que era a sua veste - de sobre os seus ombros (Is 20.2-6). Obede­
cendo, Isaías andou descalço e nu - aparentemente vestindo só uma tanga
- durante três anos como sinal do destino do Egito. Isso serviría de alerta
contra a confiança dos judeus na ajuda dos egípcios, em vez de confiarem
em Deus. Isso deve ter sido chocante para aquela geração, em uma socie­
dade que media o status de uma pessoa por meio de códigos meticulosos
de vestimenta.
A vida de Isaías pode ser dividida em quatro partes: O reinado de
Uzias, o reinado de Jotão, o reinado de Acaz e o reinado de Ezequias.
O reinado de Uzias (2Rs 15.1-7; Is 1-6.1). Isaías começou seu mi­
nistério durante o próspero reinado de Uzias, também conhecido como
Azarias. No entanto, a condição espiritual do povo começou a declinar,
e a queda de Uzias resultou da sua tentativa de exercer o papel de sacer­
dote e queimar incenso no altar - tarefa que Deus não havia designado
ele para fazer. Por causa disso, Deus o feriu com lepra, da qual ele nunca
se recuperou.
No ano da morte do rei Uzias, por volta de 740 a.C., Isaías rece­
beu a visão majestosa da santidade do Todo-Poderoso (Is 6.1-7). Isaías
teve sua primeira experiência direta com Deus no templo. O profeta
teve uma visão repentina e extraordinária de Deus sentado em um tro­
no. Tão grande era a visão que só a cauda do manto de Deus já enchia
o enorme santuário. Percebendo que assistia uma assembléia em que
Deus dialogava com aparentemente com o exército celeste e ciente da
incapacidade da humanidade profana de sobreviver diante de tal gran­
deza, Isaías gritou: “Ai de mim!... meus olhos viram o Rei, o Senhor dos
Exércitos!” (Is 6.8). Imediatamente, um serafim de seis asas voou a seu
encontro para tocar-lhe os lábios com uma brasa tirada do altar de Deus,
purificando assim o profeta de toda culpa e pecado. Isaías então, pode
permanecer no conclave divino. Quando o Senhor perguntou que iria
ser seu mensageiro, Isaías, sem duvidar, ofereceu a si mesmo: “Eis-me
aqui, envia-me a mim” (Is 6.8). Deus aceita a oferta, mas adverte que a
mensagem não seria ouvida. Isaías então, pergunta por quanto tempo, e
recebe a resposta de que “até que as cidades fiquem desertas por falta de
habitantes... até que o solo se reduza ao ermo, a desolação” (Is 6.110 - ou
seja, até a época, no futuro, em que o reino de Judá fosse dominado pela
Babilônia. Nascido aproximadamente no ano 760 a.C., Isaías tinha por
volta de vinte anos quando teve esta experiência transformadora com o
próprio Deus.
No entanto, embora os ouvintes pudessem não aceitar sua mensa­
gem, Isaías não estava só, pois tinha o total apoio de sua família. Alguns
anos após receber sua missão, Isaías citava a sua esposa como “profeti-
sa”, além de seus filhos que viviam a mensagem junto com ele através
de seus nomes. Provavelmente, isso falta para Jeremias, que não tinha
família, pois não havia casado (Jr 16.1-4). E embora recebendo a mes­
ma mensagem de juízo sobre Judá, aparentemente sofreu mais do que
Isaías, talvez por não ter uma reserva emocional através de uma família
dentro de casa.
A tradição judaica sugere que Amoz foi o irmão do rei Amazias de
Judá, sendo assim Isaías seria primo do rei Uzias. É evidente que Isaías
veio de uma família de boa posição social, visto que ele tinha acesso fá­
cil ao rei (Is 7.3) e proximidade com um sacerdote (Is 8.2). Isso também
pode ter cooperado para que o profeta houvesse tido uma educação no­
bre, o que se percebe devido à eloquência de sua linguagem. Além disso,
Isaías também parece ter sido um historiógrafo na corte de Judá por
vários anos (2Cr 26.22; 32.32).
O reinado de Jotão (Is 1-5). Após a morte de Uzias, seu filho Jotão
reinou por 16 anos. Isaías recebeu as profecias que estão nos primeiros
cinco capítulos de seu livro durante o governo de Uzias, porém a condição
espiritual do povo não progrediu no reinado de Jotão. Uma grande quanti­
dade de corrupção espiritual ainda existia pelo reino.
O reinado de Acaz (2Cr 28; Is 7-27). Do capítulo 7 ao 27, Isaías re­
gistrou muito do material profético que recebeu nos 16 anos do reinado
de Acaz (2Rs 16.2), rei idólatra e perverso que Deus entregou nas mãos
da Síria. Pouco depois de Acaz ter assumido o trono de Judá, o rei Peca,
de Israel e o rei Rezim, da Síria, formaram uma aliança para tentar deter
o avanço do rei Tiglate-Pileser, da Assíria. Queriam que Acaz também
se juntasse a eles e, diante de sua recusa, invadiram Judá para depô-
-lo. Quando alcançaram Jerusalém, instalou-se o pânico na cidade. Acaz
consultou a Isaías, que respondeu com firmeza: “não tenhas medo e não
vaciles o seu coração diante desses dois pedaços de tições fumegantes”
(Is 7.4). O Senhor não permitiría o sucesso dessa investida contra Judá.
Contra o conselho do profeta, Acaz mandou mensageiros com pre­
sentes para o rei da Assíria, pedindo sua ajuda. Os assírios avançaram,
tomaram Damasco - capital da Síria - e ocuparam parte de Israel. A
pressão sobre Judá foi aliviada momentaneamente, mas o reino ficou
sendo um vassalo subserviente da Assíria, o que não era a vontade de
Deus.
Mesmo Isaías tendo alertado contra os envolvimentos políticos
com nações vizinhas, Acaz, infelizmente, não o ouviu. Essa aliança teve
como consequência a colocação de um altar pagão no templo de Salo­
mão (2Rs 16.10-16).
O reinado de Ezequias (Is 36-39). Ezequias reinou por 29 anos e foi
um dos poucos reis do sul de quem se disse: “E fez o que era reto aos olhos
do Senhor, conforme tudo o que fizera Davi, seu pai” (2Rs 18.3). Os relatos
do reinado de Ezequias vão do capítulo 36 ao 39 do livro de Isaías. Ezequias
liderou Judá numa série de reformas (2Rs 18.4,22), que chegaram ao ápice
com a celebração da festa da páscoa (2Cr 30). Surpreendentemente, Eze­
quias, pensava diferente de seu pai (o desobediente rei Acaz) e foi o único
rei que acatou os conselhos de Isaías.
Já haviam se passado 30 anos, desde que Acaz, pai de Ezequias,
havia se subordinado aos assírios. O rei Ezequias então decidiu romper
esse jugo, e aliou-se a uma revolta contra os assírios, que se puseram em
marcha para sufocá-los. Em 701 a.C. o monarca assírio Senaqueribe pas­
sou arrasador sobre Judá e exigiu a rendição de Jerusalém. Isaías então
persuadiu Ezequias a manter-se firme: “Eis, pois, o que diz o Senhor so­
bre o rei da Assíria: Ele não há de entrar nessa cidade, nela não lançará
flecha... Por onde veio, voltará... Protegerei esta cidade e a salvarei” (2Rs
19.32-34).
O Senhor foi fiel à sua promessa de livrar seu povo e enviou o
seu anjo, para destruir os assírios em seu acampamento e “de manhã,
ao despertar, só havia cadáveres” (Is 37.36). O anjo do Senhor matou
em uma única noite 185 mil soldados do exército assírio e Senaqueribe
bateu em retirada voltando para Nínive derrotado. Enquanto isso, os ju­
deus celebravam o livramento miraculoso contra esse tirano cruel (2Rs
19.35-36; Is 1.5-9).
Na mesma época, Ezequias adoeceu e Isaías lhe avisou que ele não
viveria. Ezequias, então, orou ao Senhor, procurando lembrá-lo de que
ele - o rei - havia tentado cumprir a vontade do Senhor durante toda a
sua vida. Isaías então recebeu uma nova palavra de Deus informando
ao rei que Deus estava o curando e lhe acrescentando mais quinze anos
de vida (Is 38.1-8; 2Rs 20.1-21).
A última história envolvendo Isaías trata-se da hospitalidade de
Ezequias com a comitiva de um rei estrangeiro chamado Merodac-Ba-
dalã, da Babilônia, que na época ainda era uma pequena potência locali­
zada ao sul da poderosa Assíria na Mesopotâmia. A visita foi totalmente
amistosa, em decorrência da boa notícia da recuperação de Ezequias da
grave doença. Após a partida dos visitantes, Isaías soube que o rei havia
lhes mostrado seu palácio magnífico e tudo de valor que guardavam os
depósitos. Isaías então, confrontou o rei e anunciou que por causa da­
quela atitude inconsequente de Ezequias, no futuro a Babilônia iria in­
vadir Judá, e que alguns descendentes do próprio Ezequias veriam parte
desse patrimônio como despojos nas mãos desses mesmos babilônicos,
que viriam conquistar Judá e destruir Jerusalém (Is 39). Em 597 a.C.,
quase noventa anos após a morte de Ezequias, essa profecia se cumpriu.
No entanto, a visão profética de Isaías, ia além desses tempos con­
turbados. Suas palavras de esperança confortaram uma geração futura,
posterior à tomada de Jerusalém e ao exílio de seus habitantes, quase
dois séculos mais tarde, prometendo-lhe a libertação do cativeiro e a
reconstrução de sua cidade sagrada.
Embora no primeiro versículo do livro, Isaías declara que rece­
beu revelações de Deus durante os reinados dos reis Uzias, Jotão, Acaz
e Ezequias, é bem certo que ele deve ter vivido mais tempo para ser
capaz de registrar a morte de Senaqueribe em 681 a.C., e saber o nome
do monarca assírio sucessor, Esar-Hadom (Is 37.38). Consequentemente,
Isaías também estava vivo no reinado de Manassés. Considerando que
ele havia estado ativamente envolvido na vida da corte durante os rei­
nados anteriores (Is 7.8,20,22; 28-31; 36-39; 2Rs 19.2-7,20; 20.1-19), neste
momento ele havia sem dúvidas alguma se retirado da vida pública e
não mais se sentia no dever de registrar o nome do governante cuja mal­
dade recebeu do profeta uma forte oposição em seus últimos escritos. O
texto de 2 Reis 21 é um relato histórico sucinto da adoração apóstata do­
minante e da injustiça civil que evocou do profeta a advertência da vin­
gança divina (Is 56.9-12; 44.9-20; 57.1-21; 58.1-4; 59.1-15; 65.2-7,11-15). O
texto em 2 Crônicas 33 indica que a violência idólatra de Manassés foi
pior durante os seus anos iniciais antes de Esar-Hadom, exibi-lo como
um escravo acorrentado na Babilônia em 679 a.C. (2Cr 33.11). Portanto,
cronologicamente é possível crer na tradição de que Isaías foi serrado
ao meio por ordem de Manassés. Talvez Hebreus 11.37 (“fo ra m apedre­
jados, fo r a m tentados, foram serrados pelo meio”), seja uma alusão a
este fato.
Os profetas Oseias e Miqueias foram contemporâneos de Isaías.
O texto de Miqueias 4.1-3 é praticamente idêntico a Isaías 2.2-4. Qual
desses profetas citou o outro não podemos dizer. Talvez eles estivessem
familiarizados com a pregação um do outro.
Isaías ficou conhecido como o “profeta messiânico” devido à grande
quantidade de profecias acerca da vinda do Messias. A profecia messiânica
mais conhecida, de que a virgem daria à luz um filho (Is 9. 6-7 - e o menino
se chamaria Emanuel - Is 7.14), foi entregue na época de Acaz como sinal
de que, independente da corrupção de Acaz, Deus salvaria o povo judeu.
Além disso, as vitórias de Ciro e o livramento de um remanes­
cente do cativeiro foram profetizados por Isaías. Ciro foi induzido a
libertar os judeus pelas profecias de Isaías ao seu respeito que haviam
sido registradas pelo menos 150 anos antes de Ciro tornar-se rei. Isaías
havia profetizado sobre Ciro, rei da Pérsia: “Que digo de Ciro: É meu
pastor, e cumprirá tudo o que me apraz, dizendo também a Jerusalém:
Tu serás edificada; e ao templo: Tu serás fundado.” (Is 44.28) - “Assim
diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para
abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis,
para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão.” (Is 45.1).
Este era um exemplo claro para Ciro da soberania de Deus sobre o tem­
po e sobre as circunstâncias.
Quando a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada, para
a humanidade abatida pela guerra, foi gravado na pedra diante da en­
trada de seu edifício, em Nova York, a visão escrita de Isaías sobre um
mundo melhor: "... e eles quebrarão as suas espadas, transformando-as
em relhas de arado, e as suas lanças, a fim de fazerem podadeiras. Uma
nação não levantará a espada contra a outra, e nem se aprenderá mais
a fazer guerra” (Is 2.4).

Isaque Nome hebraico, significa “Riso".

Isaque nasceu de Abraão e Sara quando estes tinham 100 e 90 anos,


respectivamente (Gn 17.17; 21.5). Ele foi o filho mais esperado de todo o An­
tigo Testamento. Foi o segundo filho do patriarca, que já havia se precipita­
do em sua caminhada e tido um filho com Agar, chamado Ismael. Ele foi o
primeiro a ser circuncidado no período normal, quando tinha oito dias de
idade (Gn 21.4), em reconhecimento a promessa da afiança (Gn 17.2-17). A
presença de Agar e Ismael foi motivo de perturbação na família de Abraão,
e por ordem divina eles foram mandados embora. Ismael tinha aproxima­
damente 14 anos quando Isaque nasceu, e tinha em torno de 16 e 17 anos
quando ele e Agar tiveram que sair da tenda de Abraão. Provavelmente,
Ismael ainda era um jovem dependente que não sabia se proteger (Gn
21.15,18). Mas já tinha idade suficiente para ser um zombador (Gn 21.9).
Nada é conhecido sobre a infância de Isaque, sabe-se, no entanto,
que durante os anos de adolescência de Isaque, Abraão vivia em terri­
tório filisteu (Gn 21.34). Na próxima história o envolvendo ele já está
grande e forte o suficiente para carregar a madeira para o fogo do altar
subindo o monte Moriá, não sabendo que ele mesmo seria colocado no
altar como sacrifício. Isaque é a única pessoa em toda a Bíblia que foi
amarrada e colocada sobre um altar. A experiência de ter sido amar­
rado como uma vítima de sacrifício e então libertado pela intervenção
divina deve ter afetado profundamente toda a sua vida.
Não se sabe se Isaque era um adolescente ou um rapaz na época
do sacrifício do Moriá. Há muito controvérsia sobre essa questão. Rus-
sell Norman Champlin sugere que ele tinha 8 anos, Flávio Josefo propõe
a idade de 25 anos e ainda há alguns eruditos que falam entre 13 e 15
anos como a idade aproximada de Isaque quando foi levado para ser
sacrificado. O grande detalhe da história, no entanto, é a submissão e
a mansidão do filho do patriarca em ser levado para ser sacrificado em
obediência ao pedido de Deus.
Isaque tinha 37 anos quando sua mãe morreu em Hebrom. Após
a morte de Sara (Gn 23), três anos mais tarde, Abraão dedicou-se a con­
seguir uma esposa para Isaque, assim como era de costume que os pais
arranjassem casamentos para os filhos. Em vez de casar Isaque com uma
mulher pagã da região, Abraão enviou o seu servo Eüezer até Naor, na
Mesopotâmia, para buscar uma esposa para seu filho entre seus parentes.
Acima de tudo, Abraão não queria que Isaque tomasse por esposa “uma
m ulher entre as filh as dos cananeus” (Gn 24.3). O relato da missão de Elie-
zer demonstra que Deus interveio na escolha de Rebeca, a filha de um dos
sobrinhos de Abraão (sendo assim, Rebeca era prima de segundo grau de
Isaque). Eliezer pedira como sinal que a jovem escolhida por Deus fosse
a primeira mulher a lhe dar água de um poço e a se oferecer para dar de
beber também aos camelos. E isso foi exatamente o que Rebeca fez. Eüe­
zer se apresentou e revelou porque estava aü. A famüia da jovem, reco­
nhecendo a direção de Deus, permitiu que Rebeca partisse com o criado.
O relato do primeiro encontro de Isaque com Rebeca encanta pela
singeleza e sensibilidade. Tendo saído uma noite para meditar, quem
sabe ansioso pela chegada da noiva, Isaque avistou uma caravana de
camelos. Rebeca, vendo se aproximar um homem, perguntou quem era.
Ao tomar conhecimento que era Isaque, imediatamente cobriu o rosto
com o véu, como se exigia de uma mulher solteira diante do seu pro­
metido. Assim que foram apresentados, “Isaque introduziu Rebeca na
tenda de sua mãe Sara; ele a tomou e ela se tornou sua mulher e ele a
amou” (Gn 24.67). O casamento ocorreu em Laai-Roi.
Com a idade de 40 anos Isaque se casou, mas esperaria mais 20
anos para ter filhos. Rebeca - assim como aconteceu com Sara - também
era estéril. No entanto, ao contrário do pai, Isaque se mostrou pacien­
te, sem protestar ou agir precipitadamente. Confiante em Deus, Isaque
orou por sua esposa, e suas orações foram ouvidas, e Isaque foi pai aos
60 anos de filhos gêmeos - Esaú e Jacó.
Para proteger a herança, Abraão despediu todos os seus filhos
para longe, assim como havia feito com Ismael, fazendo de Isaque o úni­
co herdeiro (Gn 25.1-6). Isso evitaria qualquer disputa sobre o direito da
primogenitura. A morte de Abraão com a idade avançada de 175 anos
reuniu Ismael e Isaque, provavelmente pela última vez.
Naqueles dias houve uma grande fome, e Deus instruiu Isaque a
não descer para o Egito (Gn 26.2), e sim permanecer na Palestina, onde
desfrutaria de grande prosperidade. Ele então seguiu para uma cidade
chamada Gerar, cerca de 92 km ao norte. No entanto, em Gerar Isaque
acabou repetindo o mesmo erro do pai, quando mentiu acerca da identi­
dade da sua esposa (Gn 26.6-11). Quando os homens perguntaram sobre
Rebeca, Isaque fez sua esposa se passar por sua irmã - imaginando que
um irmão não correria o mesmo risco de um marido caso outro homem
a desejasse. Um suposto pretendente daria um dote a um irmão na au­
sência do pai, mas poderia matar um marido para ganhar o “prêmio”.
Vale a pena também destacar que naquela época, os chefes das tribos
antigas podiam fazer qualquer coisa que quisessem com as mulheres
do lugar, incluindo aquelas que passavam pelo seu território. Muitos
homens modernos, encontrando-se em tais circunstâncias, também fa­
riam algo similar. Quando o engano foi descoberto, Abimeleque, o rei,
repreendeu Isaque e proibiu que qualquer um lhe tocasse. A partir da­
quele momento, o Senhor abençoou tão abundantemente a Isaque que
ele “colheu o cêntuplo” e “enriqueceu-se cada vez mais, até tornar-se ex­
tremamente rico” (Gn 26.12-13). Infelizmente, essa prosperidade gerou
inveja entre os moradores de Gerar, e o rei Abimeleque pediu a ele para
que se mudasse. Primeiro ele foi para Eseque e depois para Sitna, onde
Isaque se estabeleceu perto de um antigo poço aberto por Abraão, mas
desde então coberto de terra pelos filisteus. Quando os criados de Isaque
abriram o poço, os vizinhos pagãos reclamaram o poço pra si. Isso acon­
teceu por duas vezes, Isaque então levantou acampamento e se mudou.
Depois que encontrou e reabriu um terceiro poço, não houve mais obje-
ções. Reconhecendo ser este um sinal de Deus para que se estabelecesse
ali, batizou o local de “Reobote” ou “lugar amplo”.
No entanto, passado algum tempo, Isaque retornou a Berseba e teve
ah a benção do Senhor e uma renovação da promessa divina (Gn 26.23-
24). Assim como o seu pai havia feito, Isaque construiu um altar ao Se­
nhor em Berseba. Mas ali, Isaque também viveu as suas dores.
A primeira grande dor foi o casamento de Esaú com mulheres hi-
titas, que não serviam ao mesmo Deus de seu pai. A segunda grande dor
foi a “contenda” entre Esaú e Jacó acerca de quem recebería a benção da
primogenitura. Isaque e Rebeca haviam cometido um erro gravíssimo
ao criarem um favoritismo entre seus filhos.
Talvez tenha sido a evidente parcialidade de Rebeca por Jacó que
induziu Isaque a preferir Esaú. Mas ao mesmo tempo ele admirava a
coragem e esportismo de Esaú - Além de incidentalmente também apre­
ciar a sua culinária. Sem dúvidas, isso criou um sentimento de inferio­
ridade em Jacó, e impeliu-o a compensar essa preferência do pai pelo
irmão por meio da astúcia.
Isaque e Rebeca compartilhavam uma profunda espiritualidade
(Gn 24.1-3,67), mas acabaram falhando como pais. O favoritismo indi­
vidual deles promoveu nos filhos a luta pela herança geracional da pri­
mogenitura, culminando com a trapaça de Jacó pela qual ele assegurou
a benção patriarcal.
Um outro erro deles, talvez também tenha sido o fato de não leva­
rem seus filhos ao conhecimento da palavra que Deus havia falado no
nascimento deles. Seria bem mais fácil se tivessem compartilhado com
eles, quando ainda eram adolescentes: que, embora Esaú fosse fisica­
mente o “primogênito”, Deus já tinha determinado de outra maneira.
Os filhos iriam absorver essa informação, e ela ficaria gravada em suas
consciências, evitando assim efeitos negativos no futuro. No entanto, a
palavra que Deus havia falado não foi comunicada e posteriormente ge­
rou todos os lamentáveis eventos que abalaram a família (Gn 27.41).
Ainda mais lamentável, foi que, quando deixaram de compartilhar
a palavra do Senhor com os filhos, Isaque e Rebeca esqueceram-se dela
também, de maneira que o patriarca, quando chegou o momento de pas­
sar a benção de Deus, seguiu a lógica e voltou-se para Esaú, embora o Se­
nhor já houvesse dito que escolhera Jacó; e Rebeca, após aparentemente
não confiar no que Deus já havia dito que aconteceria, sentiu que tinha a
obrigação de usurpar a benção de Esaú.
Um outro ponto a ser pensado também é até aonde o direito à
primogenitura interferiría na descendência que Deus já havia proposto.
Esaú - mesmo sendo o primeiro - poderia continuar sendo o primogêni­
to e a descendência patriarcal estabelecida por Deus passar por Jacó. Já
havia acontecido isso com Abraão, Isaque não era o primogênito, e nem
por isso precisou “roubar” a “benção de Ismael”. Deus já havia estabe­
lecido Isaque como a sequência genealógica, sem precisar existir uma
trapaça entre eles como houve entre Jacó e Esaú. Isaque já tinha mais de
100 anos quando esta história entre Esaú e Jacó aconteceu (compare Gn
25.26; 26.34, 27.1).
Vinte e um anos depois, um Jacó rico retornou para seu pai. Isaque
ainda estava vivo, mas habitando em Hebrom, onde havia sepultado Re-
beca. Ali ele morreu, com a idade de 180 anos (dos três patriarcas, foi o
que viveu mais tempo), e ali seus filhos - Jacó e Esaú - aparentemente
reconciliados, o sepultaram na caverna de Macpela (Gn 35.27-29; 49.30-
31) - onde também haviam sido sepultados, Abraão, Sara e Rebeca.
Isaque não foi tão grande quanto Abraão, nem tão vivido quanto
Jacó. Contudo ele teve sua grandeza, e preencheu um lugar importante
entre o “pai da nação” e o “pai das tribos”.
Isaque era um homem que vivia comunhão com Deus. E embora
não houvesse tido as constantes visitações divinas que foram concedi­
das a seu pai, Isaque teve comunhão com os céus e obedeceu aos man­
damentos de Deus. O altar, a tenda e o poço simbolizavam os principais
interesses em sua vida.
Dois simples versículos em Gênesis elucidam de um modo fasci­
nante os princípios religiosos de Isaque. Por duas vezes, Jacó se refere a
Deus como o “Temor” de Isaque (Gn 31.42,53). Tanto, Abraão quanto Jacó
obviamente entenderam que, embora fosse uma divindade temível, Deus
era, principalmente um Deus de amor e compaixão, mas é evidente que
Isaque via Deus como um Deus a ser temido. Jacó havia entendido que o
Deus de seu pai era pra ser tratado com Temor.
O Novo Testamento apresenta Isaque como filho da promessa (G1
4.22-23), e cita o exemplo de sua habitação em cabanas e o caso sobre
Esaú e Jacó como evidência de sua fé (Hb 11.9,20).

Ismael Nome hebraico, significa "Deus ouve".

Ismael foi o filho primogênito de Abraão com Agar, a serva egípcia


de sua esposa Sara. Deus havia prometido fazer de Abraão uma grande
nação (Gn 12.2), assegurando-lhe que seu filho seria seu herdeiro (Gn
15.4). No Oriente Médio, era muito importante para as mulheres casadas
que elas tivessem filhos, no entanto, quando Sara passou dos 75 anos sen­
do ainda estéril, decidiu invocar o costume de que uma esposa sem filhos
dava sua serva ao seu marido como concubina e reivindicava a prole de
sua união (Gn 16.1-2), e os filhos nascidos da concubina eram criados pela
esposa legítima, ficando sob seu controle. A criança era cuidada pela es­
posa, e não pela escrava. Culturalmente se entendia nessa história, que
“Sara havia tido um filho por meio de Agar”. Visto então que Agar era
serva de Sara, Ismael era naturalmente considerado filho legal de Sara.
Esse costume é visto tanto no código de Hamurabi como nas tábuas de
Nuzu. No entanto, de acordo com os códigos de lei da época, a mãe escra­
va não podia fazer prevalecer os seus direitos sobre a mãe livre. Não se
permitiam que as escravas fossem arrogantes ou exigentes. Quando Agar
engravidou, começou a olhar com desprezo para sua senhora. Agar mos­
trou-se orgulhosa e altiva. Ela, e não Sara, é quem pudera dar um filho
a Abraão. Devido a isso, com o consentimento de Abraão, Sara passou a
maltratá-la, e ela então fugiu. Um anjo encontrou-se com Agar e a enviou
de volta a fim de submeter-se à sua senhora, porquanto havia um propó­
sito divino em andamento, que requerería que Agar e Ismael ficassem
por mais algum tempo em companhia de Abraão. O anjo do Senhor disse
que o menino se chamaria Ismael - “Deus ouve” - devido ao fato de que
Deus ouvira Agar quando ela clamou em grande necessidade. Foi esse o
primeiro conflito “árabe-judaico”.
Nesse episódio, vemos alguns aspectos do caráter de Ismael serem
revelados antes mesmo do seu nascimento. O anjo do Senhor disse a
Agar: “Ele será como um jumento selvagem entre os homens; a sua mão
será contra todos e a mão de todos contra ele, e habitará diante de todos
os seus irmãos” (Gn 16.12). O cognome “como um jumento selvagem”,
não deve ser considerado um opróbrio, mas sim um elogio. O jumento
selvagem era o animal mais importante na lista de caça do rei assírio, e
uma iguaria nos cardápios dos banquetes reais. Essa expressão se refere
à liberdade beduína dos ismaelitas no deserto do sul (Gn 25.16-18). Na
verdade, o próprio Deus estava explicando nessa declaração como seria
o futuro dos árabes: povo forte, unidos contra todos e todos contra eles
e habitando de forma duradoura e permanente diante dos seus irmãos.
Até hoje os árabes habitam no Oriente Médio diante dos judeus, que são
descendência de Isaque, que foi irmão de Ismael. E literalmente, “são
contra todos, e todos contra eles”.
Quando Ismael nasceu Abraão tinha 86 anos de idade, e tinha vi­
vido em Canaã aproximadamente por 10 anos (compare Gn 16.3,15 com
Gn 12.4). Provavelmente, Ismael nasceu em Hebrom, que era a região
em que Abraão vivia nessa época. Ao que parece, Abraão era muito ape­
gado a Ismael, pois quando Deus disse a ele que Sara teria um filho,
e este seria o filho prometido, Abraão revelou a Deus o desejo de que
Ismael fosse o filho oficial de sua descendência (Gn 17.18). Para Abraão,
Ismael era o filho prometido por Deus. Sua precipitação em ouvir Sara
e deitar-se com Agar, havia desconfigurado em parte, o conceito dele
acerca da promessa que Deus havia lhe feito no início de sua caminha­
da. Foi preciso Deus mostrar ao patriarca que o projeto inicial dele não
havia sido mudado, e era ele - Abraão - que havia criado um problema e
teria de conviver com as suas consequências. O plano de Deus ainda era
o original. De Ismael procederia uma grande nação, mas era de Isaque,
o filho da promessa, que descenderia a nação de Israel, que seria o meio
da vinda do Messias a este mundo!
Quando Abraão estava com 99 anos de idade, Deus renovou sua
aliança com ele e ordenou a circuncisão de sua descendência, como
um sinal exterior que os identificava como membros da comunidade
da aliança (Gn 17.1-14). Nessa ocasião Ismael também foi circuncidado,
juntamente com o próprio Abraão e todos os servos que trabalhavam
em sua casa. Ismael tinha nessa ocasião 13 anos. Devido a isso, criou-se
a tradição que existe até hoje em muitas famílias árabes de circuncidar
os meninos aos 13 anos de idade.
Quatorze anos após o nascimento de Ismael, nasceu Isaque, o filho
legítimo de Sara e Abraão. Na cerimônia de desmame de Isaque, Sara
teve um ataque de fúria quando viu Ismael “rindo” de seu filho Isaque,
e determinou que o filho da escrava não deveria ser herdeiro com o seu
filho da promessa. Talvez tudo quanto temos aqui, seja aquele ciúme
comum de um irmão mais velho diante de um irmão mais novo que lhe
ameaça a posição. Usualmente, com o tempo, tais coisas tendem a serem
ajustadas, mas Sara não tinha paciência para tentar conciliação, e exi­
giu que Abraão expulsasse Agar e Ismael de seu clã. Abraão a princípio
hesitou, mas Deus lhe disse para fazer a vontade de Sara, pois Isaque
daria continuidade a sua linhagem, enquanto Ismael estava destinado
a ser pai de outra nação. O que mais se pode deduzir do texto sagrado é
que Sara foi assaltada por um violento ataque de ciúmes. Isso reforçaria
a preocupação de Sara de que Ismael pudesse competir com Isaque pelo
direito à condição de herdeiro. E, quer creiamos quer não, ela parece
que exercia bastante domínio sobre Abraão, que desejando manter bons
relacionamentos com ela, dispôs-se a praticar um ato contrário a sua
natureza - expulsar de casa uma mulher e seu filho em pleno deserto e
sem terem para onde ir.
0 trecho de Gênesis 21.14 em diante, registra uma história como­
vente. Abraão, triste no coração, levantou-se cedo pela manhã e preparou
pão e água para Agar, para que ela seguisse em sua jornada em direção
ao deserto. Então, ela pôs as provisões sobre o ombro e partiu, levando
consigo Ismael. Quando o alimento e a água acabaram, no pior calor do
dia, ela pôs Ismael debaixo de uma árvore, para deixá-lo morrer sozinho.
E se assentou longe dele para não testemunhar aquele momento. Então
Ismael chorou, e Deus fez uma segunda intervenção a favor dele. O anjo
do Senhor apareceu novamente, e foi relembrada a promessa de que uma
grande nação procederia dele. Milagrosamente, Deus mostrou a eles um
poço de água perto daü e eles foram salvos daquela situação. Isso nos
ensina que é Deus quem controla o nosso futuro, e não as circunstâncias
da vida humana. É importante observarmos que apesar de Ismael não ter
sido um filho prometido, ainda assim, um destino que era importante aos
olhos de Deus havia sido designado para ele.
A Bíblia diz que embora Isaque fosse seu único herdeiro, Abraão
não desamparou os filhos de suas concubinas - Agar e Quetura - en­
quanto estava vivo (Gn 25.6). Isso nos leva a pensar que Ismael também
recebeu alguns dos bens materiais de Abraão no decorrer de sua vida.
Por fim, os filhos de Quetura foram mandados para o Oriente, e Ismael
foi para o sudeste.
Agar tomou para Ismael uma esposa egípcia e ele se tornou o pai
de doze filhos e uma filha. Esta filha de Ismael chamou-se Maalate (Gn
28.9), ou Basemate (Gn 36.3), e se casou com Esaú (Gn 25.13 em diante).
Os nomes dos filhos de Ismael eram: Nebaiote, Quedar, Abdeel, Mibsão,
Misma, Dumá, Massá, Hadade, Tema, Jetur, Nafis e Quedemá (Gn 25.13-
15). Assim como Jacó teve doze filhos e formou os israelitas; Ismael tam­
bém teve doze filhos que se tornaram cabeças de tribo e formaram os
ismaelitas. A mesma coisa também é dito acerca de Naor (Gn 21.21-24).
No entanto, alguns estudiosos consideram este lista genealógica de Is­
mael como uma lista étnica, e não pessoal.
Os ismaelitas habitaram desde o território do Egito até o rio Eufra-
tes. Seus descendentes habitavam em doze colônias, em acampamentos
móveis no deserto do norte da Arábia. Os nabateus - descendentes de
Nebaiote, um dos filhos de Ismael - nos tempos greco-romanos estabe­
leceram-se permanentemente em Petra (Jordânia) e em Palmira (Síria),
e desenvolveram uma civilização próspera. Os ismaelitas viviam como
comerciantes de caravanas itinerantes, moradores de tenda, e andavam
em camelos (lCr 27.30). Eram caracterizados pelo seu espírito de inde­
pendência e de aventura. Eles transportavam incensos aromáticos de
Gileade para os mercados egípcios. Uma dessas caravanas comprou José
e o vendeu como escravo no Egito (Gn 37.25).
Quando Abraão morreu, seus dois filhos - Isaque e Ismael - o se­
pultaram (Gn 25.9). Provavelmente, esta foi a última ocasião em que os
dois irmãos se viram. Entretanto, há um detalhe para observarmos aqui.
No Oriente, os funerais ocorriam pouco depois da ocorrência da morte
do indivíduo. O forte calor e as escassas opções de conservação do corpo
impediam que fosse prolongado o enterro. Podemos então concluir, que
mesmo vivendo uma vida nômade, Ismael ainda vivia em algum lugar
próximo ao seu pai.
Ismael morreu com 137 anos de idade (Gn 25.17). O local do seu
sepultamento é desconhecido, mas os muçulmanos insistem em afirmar
que ele e sua mãe - Agar - foram sepultados na Caaba, em Meca, na Ará­
bia Saudita. Os árabes veneram Ismael como o seu ancestral.

Issacar Nome hebraico, que significa “Há uma recompensa".

Issacar foi o nono filho de Jacó, e o quinto com Lia (Gn 30.17,18;
35.23). Após o nascimento de Judá (quarto filho de Lia), Lia não gerou
nenhum outro filho por vários anos e pensou ter ficado estéril. Seu pri­
mogênito, Rúben, encontrou algumas raízes de mandrágoras no campo
durante a colheita e as levou a ela. Acreditava-se que a mandrágora era
um remédio que curava a esterilidade. No entanto, Raquel, irmã mais
nova de Lia, que era estéril, pediu-lhe algumas mandrágoras, e elas bri­
garam. Por fim, Raquel concordou em pedir a Jacó que se deitasse com
Lia naquela noite em troca de algumas mandrágoras. Naquela noite, Lia
engravidou de Issacar. Logo depois do seu nascimento por volta de 1750
a.C., Lia também engravidou de seu sexto filho, Zebulom, e de uma filha,
Diná. E Raquel engravidou de José.
A origem do nome de Issacar se dá devido ao fato de que como Lia
pensava que estava estéril, ela havia liberado sua serva Zilpa como con­
cubina para dar filhos a Jacó. Assim, quando Issacar nasceu, ela disse:
“Deus me deu meu salário (minha recompensa), por ter dado minha ser­
va a meu marido” (Gn 30.18). Estranhamente, parece que Lia pensava
que a atitude dela em ceder sua serva para gerar filhos a Jacó havia feito
Deus se mostrar favorável de alguma maneira a ela. Outros estudiosos
derivam seu nome de ish, que significa “homem”, e sakar, que significa
“salário”, ou seja, “trabalhador contratado”, mas parece que o primeiro
significado é o mais correto.
Posteriormente Issacar foi um dos dez filhos enviados por Jacó
para comprar alimento no Egito, onde José havia se tornado figura proe­
minente na corte de Faraó.
Issacar teve ao todo quatro filhos - Tola, Puva, Jó (este não é o co­
nhecido “Jó” da Bíblia) e Sinrom (Gn 46.13), e mudaram-se juntos com
Issacar para o Egito, quando o patriarca Jacó mudou-se com toda sua
família a convite de José.
Antes de morrer, Jacó chamou seus filhos à sua presença para pro­
nunciar uma benção e uma declaração profética sobre cada um deles.
Jacó disse: “Issacar é um jumento de fortes ossos, deitado entre dois far­
dos” (Gn 49.14). A imagem sugerida nessas palavras é a de um jumento
carregado por dois fardos, que se recusa a remover seu fardo, ou seja,
um homem preguiçoso que não estaria disposto a fazer sua parte no
trabalho. Não sabemos, no entanto, se essa era uma visão que Jacó já co­
nhecia da vida de Issacar naquela época, ou se foi uma visão futurística
de como se comportaria sua tribo em relação às outras tribos vizinhas.
Moisés, no entanto, (ao contrário de Jacó) predisse uma vida alegre e
tranquila para Issacar (Dt 33.18). Aparentemente, Issacar morreu no
Egito e ali foi enterrado.
Os descendentes de Issacar desenvolveram-se inicialmente em
famílias tribais, crescendo de 54.400 na primeira contagem (Nm 1.29),
para 64.300 no segundo censo (Nm 26.25) e para 87.000 durante o reina­
do de Davi (lCr 7.1-5).
Os descendentes dessa tribo eram “destros na ciência dos tempos,
para saber o que Israel devia fazer” e, por isso, mudaram sua aliança po­
lítica de Saul para Davi no tempo oportuno (lCr 12.32,38). São também
da tribo de Issacar o juiz Tola (Jz 10.10) e os reis de Israel, Baasa e Elá
(lRs 15.27). Débora e Baraque também eram da tribo de Issacar (Jz 5.15).
Na divisão da terra de Canaã, o quarto lote foi conferido à tribo de
Issacar depois que a arca foi levada para Siló. Isso incluía as cidades de
Jezreel, Súnem e Em-Ganim, que ficavam entre as montanhas de Gilboa
e Tabor. Seu lote fazia fronteira ao sul e a oeste com a tribo de Manassés,
ao norte com Zebulom e Naftali e a leste com o rio Jordão. Este território
possuía uma planície fértil e ribeiros como o de Quisom, e tinha algumas
vantagens e desvantagens. Sua localização, por exemplo, era desvanta­
josa porque os cananeus por muito tempo dominaram aquela área (Jz
1.27 em diante), e invasores estrangeiros frequentemente vinham para
saquear a plantação (Jz 6.3-6,33). Além disso, carros de guerra de ini­
migos, por algumas vezes, envolveram-se em batalhas nesse território,
cumprindo-se assim a profecia de Jacó expressa em Gênesis 49.15. No
lado positivo, o “caminho do m ar” passava por meio da terra de Issacar
e tornou-se uma fonte de renda lucrativa para seus ocupantes (Dt 33.19).
Lá na frente, quando Salomão reorganizou Israel em distritos adminis­
trativos (em vez de doze tribos), o território de Issacar tornou-se uma
província independente (lCr 4.17).
Jabez foi um descendente da tribo de Judá que, no entanto, não foi
relacionado com nenhuma família ou época. Pouco se sabe sobre ele e
sua única referência bíblica encontra-se em 1 Crônicas 4.9-10. Seu nome
significa dor, como uma lembrança de uma declaração de sua mãe que
disse que “com dores o dei à luz”.
Jabez foi o “mais ilustre do que seus irmãos”. A Septuaginta diz
que ele foi “mais glorioso”, a versão siríaca diz “mais querido”, o Talmu-
de diz que ele foi “mais sábio” e a versão caldaica diz “mais honroso e
habilidoso”.
Suas marcas principais foram a resiliência, a sabedoria e a oração.
Ele orou pedindo a Deus uma benção e o Senhor a concedeu. Interessan-
temente, o pedido de sua oração foi espiritual, e não apenas material, e
Deus lhe concedeu prosperidade espiritual e física.

Jacó Nome hebraico, significa "Aquele que agarra o calcanhar".

Jacó foi o filho gêmeo mais novo de Isaque e Rebeca. O nascimento


de Esaú e Jacó está registrado em Gênesis 25.21-28. Isaque casou-se com
Rebeca quando tinha quarenta anos de idade (Gn 24), e Rebeca, assim como
Sara, era estéril. As orações de Isaque por sua esposa foram ouvidas e aten­
didas, e ela ficou grávida de gêmeos. Embora a idade de Rebeca não seja
mencionada, eles estavam casados havia 20 anos quando os gêmeos nas­
ceram (Gn 25.26). Ao que parece, Rebeca teve uma gravidez muito difícil,
pois os meninos lutavam dentro do seu ventre. Quando Rebeca perguntou
ao Senhor sobre isso, ele lhe disse que ela estava carregando em seu ventre
duas nações, e que o filho mais velho serviría ao filho mais moço (Gn 25.23).
Esaú, o primeiro a nascer, foi assim chamado porque era peludo.
O segundo saiu do útero agarrado no calcanhar do seu irmão, e devido
a isso foi chamado de Jacó “aquele que agarra (o calcanhar)”. O nome
Jacó em hebraico é Ya’acov, e é derivado de ekev, que significa “calca-
nhar”. Por muito tempo tenta se lançar a ideia de “enganador” para Jacó
devido a esse ocorrido, supondo-se que Jacó nasceu agarrado ao calca­
nhar de Esaú porque tinha a intenção de nascer primeiro. Lamentável
algumas pessoas pensarem assim, pois uma criança recém-nascida não
possuía esse pensamento.
Esaú tornou-se um hábil caçador, um homem do campo, a quem
Isaque tinha uma inclinação maior. Em contraste a isso, Jacó era mais
calado, introspectivo, acomodado, vivendo em tendas e mais amado por
Rebeca, sua mãe.
Deus prometeu a Abraão que através de sua descendência, Isaque,
faria dele uma grande nação. Esta promessa foi renovada em Isaque. A
questão era, através de qual filho, Jacó ou Esaú? Gênesis 25.23 declara
que pela escolha divina, Jacó seria o herdeiro da promessa, mas dois
eventos interessantes ocorreram para implementar o propósito divino
dessa história.
O primeiro é a compra do direito de primogenitura de Esaú (Gn
25.29-34). Quando Esaú, o caçador, veio do campo de mãos vazias e fa­
minto, desejou um pouco do guisado vermelho que Jacó havia prepara­
do (Gn 25.30). Esaú era um indivíduo rude e despreocupado, que não
levava nada muito a sério e que dava um valor exagerado aos prazeres
passageiros. Jacó percebeu então que essa era a sua chance e argumen­
tou que só cederia aquele guisado se em troca dele recebesse o direito à
primogenitura. Em sua condição faminta, Esaú aceitou essa proposta e
fez em um juramento, considerado irrevogável (Gn 25.33). Então, atra­
vés de sua sagacidade Jacó “comprou” o direito à primogenitura, que a
sua ordem de nascimento não lhe garantia.
As tábuas de Nuzu descobertas a sudeste de Nínive em 1926, reve­
lam que na cultura mesopotâmica, prevalecente no mundo antigo desde
o segundo milênio a.C., o direito de primogenitura podia ser comprado
e vendido, assim como ocorreu entre Esaú e Jacó. A importância desse
episódio do guisado é demonstrada por sua associação com o segundo
nome de Esaú, “Edom”, que significa “vermelho” (cor do guisado). Ou
seja, “aquilo pela qual você se vende, é o que você se torna”.
O segundo evento é o roubo da benção da aliança (Gn 27.1-46). O
já idoso Isaque, temendo a morte iminente (137 anos de idade na época
-p orém 43 anos antes de sua morte), instruiu Esaú para que preparasse
para ele o seu prato favorito, para que pudesse transmitir ao seu primo­
gênito a benção patriarcal contida em sua alma (Gn 27.4). Rebeca ouviu
isso, chamou Jacó e lhe disse que fosse até o rebanho e selecionasse dois
cabritos. Ela prepararia um prato que se passaria pela caça, enquanto
Esaú estivesse fora caçando. À medida que o inocente Esaú estava cum­
prindo a sua tarefa, Jacó cooperou com o plano de Rebeca para tomar a
benção para si mesmo. Com audácia e mentiras grosseiras - a ponto de
dizer “Porque o Senhor, teu Deus, mandou a caça ao meu encontro” -
Jacó executou a fraude conforme havia sido orientado por sua mãe (Gn
27.19-24). Para que Isaque não desconfiasse dele, Jacó vestiu-se com as
melhores roupas de Esaú, que tinham o cheiro do campo nelas, e colo­
cou as peles dos dois cabritos sobre as suas mãos e pescoço para dar a
impressão de que era peludo (Gn 27.16). Mesmo depois de comer e be­
ber, Isaque continuou a ter dúvidas, mas quando pediu ao filho um beijo
antes da benção, foi convencido pelo cheiro das roupas de Esaú, impreg­
nadas da fragrância natural do campo. Embora Isaque reconhecesse a
voz de Jacó, seus outros sentidos o traíram. Além de Isaque perceber o
cheiro e a “textura” de Esaú, Jacó contava também com o segredo do
prato de caça para a transferência da benção - algo que Isaque pensava
que somente Esaú sabia. Então Isaque colocou a mão sobre Jacó e trans­
feriu para ele a benção da aliança em lugar do seu irmão (Gn 27.27-29).
Assim que Esaú retornou, Isaque tomou conhecimento do engano,
mas a benção não podia ser mais alterada, nem retirada (Gn 27.37-38).
Então, nada mais restava do que uma triste sorte para Esaú (Gn 27.39-40).
Esaú decidiu que iria matar Jacó, e para poupá-lo, Rebeca o enviou
para a terra de sua família - Padã-Arã - onde vivia seu irmão Labão. Rebe­
ca havia revelado através de sua atitude precipitada que ela pensava que
era sua a obrigação de providenciar o cumprimento da promessa de Deus
feita na gestação dos gêmeos sobre “o maior que serviría ao menor”. Isa­
que aparentemente esquecera-se também totalmente disso. No entanto,
como toda atitude gera sua consequência, não foi diferente também para
Rebeca. Sua amarga consequência foi a inimizade entre os dois irmãos
(Gn 27.41), e a separação entre ela - Rebeca - e seu querido filho Jacó (Gn
25.28), o qual de fato nunca mais se viram. Para Jacó, a consequência se­
ria a troca da segurança do lar por um futuro incerto e desconhecido (Gn
28.1,2,10). Uma atitude errada sempre trará as suas consequências!
Em sua viagem, Jacó passou sua primeira noite em lugar chamado
Luz. Em uma visão noturna, Deus se revelou a este patriarca peregrino
como o Deus de seu pai. Ali o Senhor renovou a benção da aliança (Gn
12.7; 13.14-17; 28.11-15), prometeu-lhe a terra, deu-lhe uma missão uni­
versal e assegurou-lhe que teria a orientação divina e uma vida próspe­
ra. Jacó respondeu com um voto pessoal e chamou o local de Betei.
Alguns dias depois, Jacó chegou a Padã-Arã, na Mesopotâmia, e ali a
misericórdia do Senhor veio sobre ele novamente. Ele conheceu Raquel,
em um poço, e este encontrou se tornou um caso de amor à primeira vista.
Ela por sua vez, levou-o até a casa de seu pai, Labão - que era tio de Jacó
(Gn 29.10-20). O amor de Jacó por Raquel o fez trabalhar sete anos como
o pagamento de um dote pela liberação para casar-se com Raquel. No en­
tanto, na manhã seguinte a cerimônia do casamento, Jacó descobriu que
em vez de ter recebido Raquel, que tinha uma voz suave, havia recebido
Lia, que tinha uma enfermidade nos olhos. Naquela época, as noivas fica­
vam totalmente cobertas com um véu, por isso, assim que a festa do casa­
mento se acabou, eles foram para a sua tenda. Estava tudo escuro e como
Jacó havia se embriagado e a noiva tinha que continuar com o véu até a
consumação do casamento, Jacó não percebeu que a noiva que lhe fora
oferecida, havia sido propositalmente a filha errada. Interessantemente,
aquele que alcançou a condição de primogênito por meio do engano, foi
enganado da mesma forma na noite do seu casamento. Pela primeira vez,
era Jacó quem estava sendo enganado, em vez de enganar. A semente do
engano havia produzido o seu fruto - “Deus não se deixa escarnecer, tudo
que o homem semear, isto ceifará” (G16.7).
Labão se justificou dizendo que a cultura daquela região ensinava
que a filha mais nova não podia se casar primeiro que a filha mais velha.
Labão então propôs a Jacó que cumprisse os sete dias de núpcias com
Lia, e após esses sete dias com Lia, receberia Raquel como esposa, e em
troca disso, trabalharia outros sete anos por Raquel. Infelizmente, essa
era a única alternativa que havia restado para o velho patriarca. Em
contrapartida, Jacó estava revelando o tamanho do seu amor por Raquel
e o quanto ela valia para ele: quatorze anos de trabalho ininterruptos.
Através desses anos de trabalho Jacó trouxe grande prosperidade
para seu sogro (Gn 30.30). No entanto, assim como cresceu a prosperida­
de de Labão, cresceu também a família de Jacó. Doze filhos nasceram a
Jacó na Mesopotâmia. Lia havia gerado Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issa-
car, Zebulom e a única filha de Jacó, Diná (Gn 29.31-35; 30.17-21). Da cria­
da de Lia, Zilpa, nasceram Gade e Aser (Gn 30.9-13). Da criada de Raquel,
Bila, nasceram Dã e Naftali (Gn 29.31; 30.1-8). Até que por fim, Deus abriu
a madre de Raquel e ela teve José, e mais tarde em Canaã, nasceu Benja­
mim (Gn 30.22-24; 35.16-18).
Depois de 14 anos em Padã-Arã, Jacó decidiu voltar para Canaã.
Labão, percebendo que sua prosperidade havia sido alcançada por cau­
sa de Jacó, o exortou a ficar (Gn 30.27), e Jacó concordou com a condição
que pudesse trabalhar sete anos a fim de construir um patrimônio pes­
soal para cuidar de sua família. Eles discutiram salários e Jacó propôs
que todas as ovelhas e cabras salpicadas e manchadas e todos os cor­
deiros pretos seriam seus. Labão concordou, mas rapidamente separou
todos os animais com essas características e os colocou sob o cuidado de
seus filhos, a três dias de viagem do restante do rebanho (Gn 30.35-36).
Por outro lado, Jacó também tramou obter uma vantagem, in­
fluenciando a genética dos animais colocando galhos descascados junto
aos bebedouros de água enquanto os animais mais fortes e melhores se
acasalavam. Tanto Labão tentava levar vantagem sobre Jacó, como Jacó
tentava levar vantagem sobre Labão. Na verdade, os dois se mereciam.
O Senhor, no entanto, abençoou Jacó, e ele ficou rico de rebanhos e de
manadas (Gn 30.37-43).
Os filhos de Labão ficaram amargurados com Jacó, e a atitude de
Labão para com ele também mudou. Jacó notou isso, e então o Senhor
falou com ele, dizendo-lhe para retornar para Canaã (Gn 31.3-16). Jacó
fez uma reunião em família com suas duas esposas e lhes disse como
o Senhor o abençoara, embora o pai delas lhe tivesse enganado e mu­
dado seu salário dez vezes (sempre para pior, naturalmente). Não se
sabe ao certo como foi essa “mudança de dez vezes” no salário de Jacó.
Muitos eruditos supõem que apesar da barganha que fora feita, Labão
conseguira enganar Jacó, não lhe dando todos os animais das cores que
tinham sido combinadas. Alguns até dizem que devemos entender aqui
“dez números”, e não “dez vezes”, o que envolvia (de alguma manei­
ra desconhecida), o número de animais que lhe haviam sido entregues.
Sustenta essa ideia o fato de a Septuaginta dizer “dez cordeiros” em vez
de “dez vezes”. Agostinho interpretou isso como o salário de cinco anos,
como se Labão lhe tivesse negado os animais combinados por cinco
anos, devido ao fato de que as ovelhas produziam ninhadas duas vezes
por ano, ou seja, dez ninhadas em cinco anos. Há ainda os que pensam
que Labão não fizera nenhuma modificação no trato durante o primeiro
ano. Mas depois, vendo que as coisas lhe eram desfavoráveis, nos próxi­
mos anos não observou o acordo, resultando disso a mudança nas dez
vezes em que cordeiros deveríam nascer. Em fim, não se pode precisar
como foi essas dez mudanças no salário, o fato é que Jacó prosperou tão
notavelmente em Padã-Arã que independente das tentativas de Labão,
ele continuava saindo perdendo diante de Jacó.
Jacó então organizou a sua caravana de volta para Canaã em se­
gredo. Raquel estranhamente roubou os ídolos (imagens de escultura)
da casa de seu pai, e os levou consigo na viagem. É no mínimo intrigan­
te, a atitude de Raquel de possuir comportamentos idólatras na viagem.
No entanto, vale a pena lembrarmos que estamos tratando aqui com
antigas formas religiosas que dificilmente podem satisfazer os padrões
cristãos modernos. Antigos intérpretes judeus sugerem que Raquel fur­
tou as imagens porque ela pode ter crido que a adivinhação (mediante
consulta a esses ídolos) poderia ajudar Labão a segui-los na viagem. Ou­
tra opção considerável para a interpretação do furto dessas imagens está
na tradição pagã que associa esses ídolos do lar aos direitos de herança
através de adivinhações. Os pagãos mesopotâmios acreditavam que os
ídolos podiam sugerir quem iria receber a herança de uma família. Essa
podia ser então, uma forma estranha de Raquel tentar “garantir” a he­
rança de sua família futuramente estando em posse daquelas imagens.
Enquanto Labão estava pastoreando o seu rebanho, Jacó com suas
esposas, filhos, servos e rebanhos partiram rumo à terra de Canaã (Gn
31.17-20). Eles cruzaram uma parte do rio Eufrates e seguiram em dire­
ção a Gileade. Depois de três dias, Labão, ouvindo sobre a fuga, os perse­
guiu durante sete dias, encontrando-os na montanha de Gileade. Nesses
dez dias de caminhada, Jacó já havia caminhado aproximadamente 410
quilômetros (distância de Gileade até Padã-Arã). Isso significava que
Jacó já havia conseguido cobrir quase dois terços da viagem em dez dias.
Caminhar cerca de cinquenta quilômetros por dia, significava que ele
havia estabelecido uma “marcha forçada”, por temer a aproximação de
Labão. Estava a talvez duzentos e cinquenta quilômetros de casa ainda
quando Labão o alcançou, pois a distância entre Padã-Arã e a casa de
seu pai era de aproximadamente 750 quilômetros.
Irado, Labão, levantou três acusações contra Jacó (Gn 31.26-30): que
ele fugiu em segredo, que sequestrou suas filhas e que roubara seus ídolos
do lar. Jacó não sabia o que Raquel havia feito, de modo que disse que
quem fosse encontrado com os ídolos deveria ser morto (Gn 31.32). Ra­
quel os havia escondido na sela de um camelo e estava sentada sobre ela
quando seu pai procurou pelos ídolos da tenda. Labão não encontrou os
ídolos. Raquel permaneceu sentada em cima da sela, e quando a pediram
para se mexer, ela disse que não podia porque estava em seu período
menstruai (Gn 31.35). Depois disso, Jacó ficou irado e reclamou que havia
servido Labão com 21 anos de serviço árduo, e Labão havia o prejudicado
reajustando seu salário por dez vezes. Depois de alguns discursos argu-
mentativos, nos quais, cada um tentava sobrepujar o outro exagerando
nos erros cometidos pela outra parte, Labão sugeriu uma trégua, que foi
marcado pelo estabelecimento de uma coluna e um monte de pedras, e
isso culminou em um banquete de aliança que durou toda a noite (Gn
31.31-54). Chamaram aquele lugar de Mispá, e uma benção foi liberada:
“Que o Senhor nos vigie, a mim e a você, quando estivermos separados
um do outro”. Esta foi, de fato, uma advertência. Na realidade, significa­
va: “Não posso ficar de olho em você, mas Deus sabe o que você está fa­
zendo”. Na manhã seguinte, Labão retornou para Padã-Arã e Jacó viajou
em direção ao sul com os ídolos roubados que continuaram escondidos.
Quando Jacó e sua família seguiram viagem, anjos de Deus vieram
ao seu encontro (“exército de Deus” - Gn 32.1-2), assegurando-lhe que
mais uma vez a proteção de Deus estaria sobre ele, e ele chamou aquele
lugar de Maanaim, que significa “os dois campos”. Passando pelo ribeiro
do Jaboque para proteger sua família de Esaú, Jacó encontrou-se com
um “varão” - que era uma manifestação do próprio Deus - “Jacó, porém
ficou só, e esse varão lutou com ele até o romper do dia” (Gn 32.24). Em­
bora estivesse com seu quadril ferido, Jacó foi vitorioso sobre o varão
com quem lutou. Curiosamente, Jacó de fato tinha “prevalecido contra
Deus”, pois essa é a maneira de Deus manifestar em nós a sua miseri­
córdia: ele não pode ser derrotado pela nossa força, mas se permite ser
“vencido” pelo nosso clamor (“não te deixarei ir, se não me abençoares”
- Gn 32.26). Com isso, Jacó se tornou um exemplo típico da graça reden­
tora de Deus, pois apesar dele ser oportunista, e às vezes egoísta e trapa­
ceiro em seus negócios, a graça venceu e por isso Jacó tornou-se Israel,
“aquele que luta com Deus”. Jacó chamou aquele lugar de Peniel (“face
de Deus”), porque ele havia visto a “face de Deus” e sobrevivido. Tradi­
cionalmente, dizemos que Jacó havia prevalecido contra Deus, mas na
verdade, foi a graça que havia prevalecido sobre Jacó.
O próximo desafio de Jacó era enfrentar o seu temido irmão Esaú.
Esse encontro está registrado em Gênesis 33.1-16. Mais de duas décadas
haviam se passado desde que Jacó havia enganado o seu velho pai e rou­
bado a benção de Esaú. Temeroso de que o ódio de Esaú ainda existisse,
Jacó enviou mensageiros para espionar os planos de Esaú, e estes relata­
ram que Esaú estava marchando com 400 homens armados. Jacó então
orou ao Senhor (Gn 32.9-12), e não ganhou apenas a ajuda de Deus, mas
também o coração de Esaú, apesar dos 400 homens armados. Em uma
cena de grande ternura, Jacó encontrou-se com Esaú, e a discórdia foi re­
solvida entre os dois irmãos.
Depois deste encontro, Esaú seguiu para Seir e lá formou uma na­
ção (Gn 33.16 - cumprindo a promessa de Gn 25.23; 27.39-40; 36.1-43).
Jacó, entretanto, permaneceu a leste do rio Jordão e acampou próximo
a Sucote, indo depois para Siquém, onde comprou terras e reconstruiu
um altar (Gn 33.17-20). Deus direcionou Jacó a ir para Luz (Betei) e ali
novamente o Senhor o encontrou e reconfirmou seu novo nome, reno­
vando sua promessa da terra e dos descendentes (Gn 35.9-15). Jacó e sua
caravana seguiram em direção ao sul, e infelizmente durante esta jorna­
da, enquanto dava à luz a Benjamim, Raquel morreu (Gn 35.16-20). Na
sequência, morreu também Isaque - com a idade de 180 anos - e Esaú e
Jacó o sepultaram na caverna de Macpela, que era o sepulcro da família
(Gn 35.27-29; 49.30-31).
Os anos posteriores da vida de Jacó foram anos de conflitos dentro de
sua família. Parece que da mesma forma que ele havia levado conflitos a fa­
mília de seu pai, também havia recebido conflitos em sua família por causa
dos seus filhos. Primeiro, houve sérios conflitos entre seus filhos tempestuo­
sos, Simeão e Levi, com os filhos de Hamor, em Siquém, devido ao problema
de Diná (Gn 34.1-31); depois, Rúben deitou-se com Bila, concubina do seu pai
(Gn 35.22) e ainda teve o caso de José, o filho predileto de Jacó, que foi afas­
tado cruelmente dele, fazendo com que o velho Jacó, já de cabelos grisalhos
fosse tomado de sofrimento (Gn 37).
Depois de toda esta sequência de dores, a notícia de que José não
estava morto foi uma surpresa e consolo para Jacó. José fez os prepa­
rativos para que Jacó e toda família fossem morar perto dele na terra
de Gósen, no Egito, onde permaneceu até sua morte - 17 anos depois.
Provavelmente, no ano em que chegou ao Egito - com 130 anos de idade
-Ja c ó teve uma audiência com o Faraó e o abençoou (Gn 47.7-10).
Antes de morrer com a idade avançada de 147 anos (Gn 47.28), Jacó
concedeu a benção patriarcal aos filhos de José: Efraim e Manassés (Gn
48.8-20), e subsequentemente a seus próprios filhos (Gn 49.1-33). Após sua
morte, os egípcios lhes prestaram uma grande homenagem. Seus filhos, li­
derados por José (o governador do Egito - que hoje seria semelhante a um
primeiro-ministro), levaram seu corpo de volta a Canaã, e o sepultaram
em Macpela, junto com Abraão e Isaque (Gn 49.29-50; 25.9-10; 35.28-29),
realizando um desejo comum dos antigos, de serem enterrados junto dos
seus antepassados. A comitiva pranteou por sete dias na eira de Atade.
Após isso, o grupo todo retornou ao Egito, e José assegurou a seus irmãos
que não tinha nenhuma intenção de vingar o mal que lhe haviam feito.
Deus tornara todo o episódio em bem (Gn 50.15.21).
Jacó, além de ser um grande personagem histórico, foi também um
importante símbolo da disposição de Deus em usar pessoas - apesar de
suas falhas humanas - para reaüzar sua obra. Israel, o nome que Deus
concedeu a Jacó, tornou-se o nome da nação da qual Abraão, Isaque e
Jacó foram os patriarcas. Em 1948, foi enfatizada a importância desse
simbolismo, quando a nação judaica recém-formada na Palestina esco­
lheu como seu nome o novo nome de seu antigo patriarca, Jacó (Israel).

Jairo Nome grego, significa "Ele levanta".

Jairo é chamado pela Bíblia de “um dos principais da sinagoga” (Mc


5.21). Era o chefe de uma sinagoga e o ancião encarregado das reuniões
públicas e da manutenção do local das reuniões. Era ele quem presidia os
outros anciãos da sinagoga, e costumava ser um homem rico e de excelente
reputação. Não se menciona o local da ressurreição da filha de Jairo, mas
provavelmente Jairo morava em Cafarnaum.
Jairo é citado na Bíblia, devido ao fato de que em um momento de
imensa angústia e preocupação de sua vida, ele procurou Jesus. Sua úni­
ca filha estava doente, e quase à morte. Os recursos materiais e religio­
sos não haviam resolvido o problema de Jairo, foi quando ele em uma
atitude de coragem procurou o Mestre. Não foi fácil para Jairo pedir pu­
blicamente que Jesus o ajudasse. Os líderes religiosos não gostavam de
Jesus, e principalmente os das sinagogas o odiavam. Certamente esses
mesmo não aprovariam a atitude de Jairo. Os ensinamentos e os mila­
gres que Jesus havia feito nas sinagogas haviam provocado à ira dos es-
cribas e dos fariseus, alguns dos quais certamente eram amigos de Jairo.
No entanto, Jairo não somente foi até Jesus, mas se humilhou,
prostrando-se aos seus pés. Uma pessoa só se prostrava aos pés diante
de alguém de muito maior status (como por exemplo, um rei). Um ho­
mem tão ilustre quanto Jairo se humilhar desta forma perante Jesus, in­
dicava que ele, solenemente, reconhecia o poder do Mestre. Entretanto,
Jairo se tornou um modelo de identificação de socorro, pois assim como
ele, há muitos em nossos dias que desfrutam de altas posições na socie­
dade, mas que sentem profundamente a sua insuficiência em si mesmo
e anseiam por conhecer a Cristo de uma maneira mais pessoal.
Outro detalhe interessante sobre Jairo, é que ele não permitiu que as
opiniões - nem o julgamento futuro - das pessoas o impedissem de salvar
uma das coisas que ele mais amava: sua única filha. O comportamento de
Jairo é diferente de qualquer outro personagem dos evangelhos. O centu-
rião de Cafarnaum disse que “não era digno” de ter Jesus em casa; Zaqueu
só teve Jesus em sua casa porque Jesus foi quem teve a iniciativa; a mulher
do fluxo de sangue, caso Jesus não perguntasse quem havia tocado nele,
nem identificada seria; os leprosos nem para agradecer voltaram. Mas Jai­
ro teve um comportamento diferente: decidiu levar Jesus para sua casa, re­
conhecendo a grandeza do ministério de Jesus e a necessidade de inseri-lo
em sua vida.
No entanto, no meio do caminho para a casa de Jairo, apareceu uma
mulher que a Bíblia apenas a chama de “a mulher do fluxo de sangue” (Mc
5.25). Esta estava a doze anos sofrendo de uma intensa hemorragia. Era
como se seu período menstruai durasse todo o mês. Isso a tornava conti­
nuamente impura de acordo com a lei, e mesmo após o fluxo cessar, ela
ainda era considerada impura por sete dias (Lv 15.25-28). Após a cura desta
mulher, Jesus continuou indo em direção à casa de Jairo, mas chegaram
alguns funcionários de Jairo dizendo: “Sua filha acaba de morrer, não inco­
modes mais o mestre”. Há uma curiosidade na semelhança de datas nessas
duas histórias: o mesmo tempo de vida que a filha de Jairo tinha, era o tem­
po de dor e sofrimento que esta mulher havia vivido sobre as garras dessa
enfermidade. Quando uma fase de alegria iniciou-se na vida de Jairo, com o
nascimento de sua filha, iniciou-se também uma fase de sofrimento na vida
da mulher do fluxo de sangue, com o surgimento dessa doença. Quando
Jesus terminou os doze anos de adversidades dessa mulher com a sua cura,
iniciou-se a agonia de Jairo com a morte da sua filha. Isso lembra-nos que
a nossa vida terrena é marcada por intempéries. Neste mundo dificilmente
teremos uma fase sem nenhuma adversidade, quando se finda um desafio,
sempre existirá outro a ser vencido.
A filha de Jairo era menor de idade até aquele ano. Naquela cultura,
com doze anos de idade uma menina já era considerada maior de idade
e na maioria dos casos era nessa idade que uma moça se casaria (as mu­
lheres não poderíam continuar sua educação ou ter um emprego fora de
casa, como o fazem hoje). As jovenzinhas esperavam ansiosamente por
seu dia de casamento como o evento mais feliz de suas vidas, e morrer
solteira, especialmente quando já tão próximo de casar-se, era para ser
lamentado como uma tragédia imensa.

m j| A vida de Jairo
Assim que Jairo foi informado da morte de sua filha, Jesus lhe dis­
se: “Não temas, crê somente”. Jesus estava dizendo a Jairo que não pode­
ría existir dois sentimentos no coração dele, ou ele aceitava a fé e cria,
ou aceitava o medo e temia. Esses dois sentimentos sempre nos ronda­
rão em nossa vida, e eles podem ser determinantes acerca de como será
o final da história. A orientação de Jesus, entretanto, sempre será: “Não
temas, crê somente”!
Quando Jesus chegou à casa de Jairo, todos estavam em pranto,
inclusive as carpideiras. As carpideiras eram mulheres, que geralmente
eram pagas para chorar em um velório, eram “pranteadoras profissio­
nais”. Devido ao fato de os corpos entrarem em decomposição muito rápi­
do na Palestina (devido à temperatura do lugar e as condições da época),
as carpideiras eram reunidas o mais rápido possível, e já estavam juntas
antes mesmo de Jairo saber da morte da filha. Quando morria alguém
elas eram contratadas para prantearem, jogavam cinzas sobre a cabeça e
lamentavam com um choro uivante e agudo que podia ser ouvido à dis­
tância. Isso continuava até o corpo ser sepultado. Depois do sepultamento
a família as pagava pelo seu “serviço”. Era uma forma de mostrar o quan­
to a pessoa que havia morrido era querida. Essa era também uma das
poucas formas pela qual as mulheres viúvas e solteiras ganhavam dinhei­
ro. Através de um choro artificial que transmitia falsidade e desamor.
Ao chegar à casa de Jairo, Jesus disse que a menina não estava
morta, mas “dormia”. Essa expressão não é literal, mas sim figurada.
Para Jesus, a morte foi e sempre será apenas um sono. Essa figura lite­
rária é frequentemente usada para definir a morte no Novo Testamento
(Jo 11.11-14; At 7.59-60; ICo 15.51; lTs 4.13-18). O que a Bíblia ensina
com isso é que para Jesus, o ato de ressuscitar alguém, está no mesmo
nível de facilidade de se acordar alguém que está dormindo. Jesus sem­
pre lidou com a morte como um simples sono.
As carpideiras zombaram de Jesus quando o ouviram dizer que a
menina estava dormindo, pois todos sabiam que a menina havia mor­
rido. Pessoas que não convivem com Jesus nunca entenderão a sua lin­
guagem. Diante disso, Jesus expulsou todas as carpideiras da casa. É im­
possível aceitar a ideia de que aquelas pessoas queriam o bem de Jairo
e de sua família. Quando Jesus cogitou a possibilidade da menina voltar
a viver, eles riram desacreditando das expectativas de Jairo, com isso Je­
sus estava mostrando a Jairo que quem zombava de sua esperança, não
podiam estar juntos com ele na concretização do seu milagre.
Tendo todas elas saído, a casa ficou vazia. Jesus convidou o pai e
a mãe da menina e Pedro, Tiago e João para dentro da casa. Tomando a
menina pela mão Jesus disse: Talita Cumi. “Talita Cumi” é uma expres­
são aramaica, que era a língua usada na Palestina naqueles tempos. Essa
expressão significa: Menina Levanta-te. Na mesma hora a menina le­
vantou. Feito isto, ordenou Jesus que a ninguém dissessem o acontecido.
Porém, um milagre dessa natureza não poderia ficar oculto (Mt 9.26).
Infelizmente, nada se sabe sobre a vida de Jairo após esse acon­
tecimento, no entanto, a sua humildade em procurar Jesus e sua fé em
confiar em sua palavra nos revelam valores importantes que ele carre­
gava consigo ao longo da sua vida.

Jefté Nome hebraico, significa "Libertado".

Jefté foi o nono juiz de Israel. Pertencia a tribo de Manassés. Pro­


vavelmente, nasceu em Gileade e era filho de Gileade — nome idêntico
ao da cidade — com uma prostituta. Seus meios-irmãos e a esposa legí­
tima de seu pai o expulsaram de casa para que não tivessem de dividir
a herança com ele.
Jefté fugiu para a terra de Tobe, um distrito da Síria, não muito
longe de Gileade. Lá ele reuniu em torno de si um grupo de homens
violentos, que sobreviviam à custa de roubos e crimes, porém, eram ho­
mens de grande coragem (Jz 11.3). Apesar de ter começado mal, no fim
ele atingiu tanta proeminência em Israel, que se tornou um juiz, ou “go­
vernante” para seu povo.
Quando o povo de Gileade foi ameaçado pelos hostis amonitas, as
mesmas pessoas que antes haviam rejeitado Jefté, pediram a ele que lide­
rasse seus exércitos. Jefté, contudo reagiu mal ao pedido de ajuda: “Não
fostes vós que me odiastes e me expulsastes da casa de meu pai? Por que
vindes a mim agora que vos achais em aflição?” (Jz 11.7). Apesar disso,
Jefté concordou em liderar a luta com uma condição: que os anciãos pro­
metessem constituí-lo líder sobre o seu povo quando o Senhor lhes entre­
gasse os amonitas. Os anciãos então propuseram constituí-lo seu “chefe”
temporário (qasin em hebraico) na batalha contra os amonitas e, em se­
guida, caso fosse bem sucedido em derrotar o inimigo, Jefté tornar-se-ia
seu “comandante permanente” (rosh em hebraico). O acordo foi solene­
mente fechado em Mispa, acompanhado de troca de juramentos (Jz 11.9-
11). O termo “juiz” (shofet em hebraico) não foi empregado por nenhum
dos dois grupos. Esse título foi empregado a Jefté em retrospecto pelo au-
tor-editor de Juizes, o qual viu em Jefté características semelhantes às ca­
racterísticas dos homens que faziam parte de um grupo maior de líderes
chamados de juizes, cujas histórias são contadas nesse livro.
Tendo assumido o comando, Jefté tentou a princípio chegar a um
acordo por meios mais pacíficos. Mandou uma delegação ao rei dos amoni-
tas propondo a ele a retirada das suas forças. Em resposta, o rei reivindicou
todo o território israelita na Transjordânia, ao sul de Gileade, entre os rios
Arnom e Jaboque, ocupado pelas tribos de Gade e Rüben. Jefté enviou mais
uma vez seus mensageiros para provar que não havia base histórica para
tal reivindicação, pois os filhos de Israel no tempo de Moisés haviam toma­
do a área dos amorreus governados pelo rei Seon, que havia barrado a sua
passagem. E a partir de então, já por 300 anos, os israelitas vinham vivendo
nessas terras (Jz 11.26-27).
O rei de Amon rejeitou as propostas de Jefté e as hostilidades se
irromperam. Jefté marchou para o sul, fazendo um amplo movimento
para atacar os amonitas na retaguarda. No entanto, antes de se lançar à
batalha, fez um voto: se tivesse êxito, sacrificaria ao Senhor “aquele que
sair primeiro da porta da minha casa para vir ao meu encontro quando
eu voltar vencedor” (Jz 11.31).
Quando Jefté voltou, após ter vencido a batalha, sua única filha saiu
correndo de casa para recebê-lo, dançando ao som de tamborins. Ele ras­
gou suas vestes e gritou em sofrimento, mas ela própria concordou que
seu voto sagrado não deveria ser quebrado. Ela pediu, entretanto, que a
deixasse ir por dois meses com suas amigas para os montes, e chorou a
sua virgindade (Jz 11.38). Ao retornar, o sacrifício foi realizado. Desse trá­
gico episódio surgiu o costume de as jovens de Israel saírem quatro dias a
cada ano, para lamentar a “morte da filha de Jefté”. A Bíblia não cita seu
nome, mas a tradição a chama de Ada.
Um voto significava um sinal de submissão a Deus pela fé. Esta, po­
rém, não era a natureza do que Jefté fez. Para ele, aparentemente consti-
tuía-se uma barganha com o Senhor. Não era um voto de submissão, mas
uma posição de sofrer inutilmente, o que foi provado pelo fato de Deus
lhe conceder a vitória. Não há razão para supormos que Deus tenha dado
a Jefté a sua notável vitória porque ele fizera aquele voto; ou que, se Jefté
não tivesse feito o voto não teria vencido; ou, até mesmo, que depois da
vitória, haveria qualquer juízo de Deus caso ele não o cumprisse. Jefté é
que havia criado toda a questão. Deus não estava envolvido em tão trágico
ato. A tristeza que Jefté experimentou ao ver a filha saindo de sua casa é
uma indicação clara disso. As ofertas e os votos sempre eram oferecidos ao
Senhor com alegria, ao contrário do que de fato aconteceu nessa história.
Provavelmente, Jefté ainda possuía um entendimento errado sobre Deus,
adquirido na sociedade pagã na qual ele vivera. Por seu amor e graça, o
Senhor livrou os israelitas dos inimigos pelas mãos de Jefté, não por causa
do voto. Não se pode “comprar” a misericórdia de Deus.
Os intérpretes têm transformado em campo de batalha essa questão
do voto de Jefté. Jefté realmente cumpriu o seu horrendo voto? Alguns res­
pondem na afirmativa, e outros, na negativa. Alguns acreditam que esse foi
um voto precipitado, feito em um momento de empolgação e desespero, e
que ele não imaginava o que poderia acontecer. É pouco provável a ideia
de que Jefté esperava que pudesse sair um animal de sua casa no momen­
to de sua chegada. Não há razão para acreditar que um líder como Jefté
mantivesse em sua casa animais que ele considerasse válidos para serem
sacrificados como comprimento de um voto. Todo o contexto sugere que
ele intencionava o sacrifício humano desde o começo. Provavelmente, Jefté
pensava que poderia sair de sua casa um escravo, que era o costume da
época. Neste caso, aqueles que assim pensam, consideram que para Jefté a
vitória lhe era suficientemente importante para justificar uma retribuição
desse alto preço, mesmo se tratando de uma vida humana.
Há até os que pensam que ela não foi executada. Mas pode ter sido
redimida com dinheiro (Lv 27.1-8), ou até mesmo ter sido entregue por
Jefté no tabernáculo, onde ela poderia ter passado o resto de sua vida
trabalhando na assistência ao sacerdócio, nunca vindo a se casar (por
isso poderíam ter “chorado a sua virgindade”), e assim seria dedicada
aos serviços religiosos. De qualquer forma, não existe um exemplo es­
pecifico de celibato feminino no Antigo Testamento para o serviço do
templo. Historicamente, esta interpretação surgiu de explicações alegó­
ricas dos rabinos Kimchi nos séculos XI e XII. Esta interpretação foi sub­
sequentemente adotada por muitos cristãos expositores, mas tem pouca
base bíblica. Na verdade, o grito de Jefté quando vê a menina parece
ser uma prova conclusiva de que a vida de sua filha havia de fato sido
perdida, e a linguagem e o tom do texto em hebraico confirmam isso.
Que o voto de Jefté foi cumprido, tenhamos a certeza. Isso é apenas uma
evidência da natureza primitiva da fé de um homem violento.
Depois desse incidente Jefté guerreou contra os efraimitas, e Deus
novamente lhe deu vitória. Os efraimitas eram uma tribo judaica vio­
lenta e rebelde que detestava os amonitas. Gideão, antepassado de Jefté,
conseguira com diplomacia manter a paz com os efraimitas, mas, a di­
plomacia praticamente não era um dos pontos fortes de Jefté. Os efrai­
mitas, esperando acumular preciosos despojos de guerra, ofereceram-se
para lutar ao lado de Jefté contra os amonitas. No entanto, Jefté não con­
fiava neles e se recusou. Furiosamente, os efraimitas atacaram Gileade
(Jz 12), mas Jefté os derrotou.
Ao tentar atravessar o Jordão para voltar para sua terra, os efraimi­
tas tinham de passar por vários caminhos estreitos. Jefté colocou guardas
ah e exigiu que todos os que passassem dissessem “Chibolete” - que signi­
fica “espiga de milho” - Os efraimitas falavam um dialeto que não tinham
o som de “ch” e, consequentemente, diziam “Sibolete”, identificando-se
como os inimigos efraimitas e colocando sobre si a marca da morte. Qua­
renta e dois mil efraimitas falharam no teste e foram mortos. Isso quase
acabou com a capacidade que Efraim tinha de representar uma ameaça e
fortaleceu imensamente à posição de Jefté como líder em Israel.
Jefté julgou Israel durante seis anos — provavelmente entre 1105
a 1099 a.C. — e ao morrer foi sepultado nas terras de Gileade, sua terra
natal (Jz 12.7). Ele foi longamente lembrado em Israel. No final de sua
vida, Samuel lembrou como Deus usara Jefté em favor de seu povo (ISm
12.11). No Novo Testamento, o escritor da Carta aos Hebreus menciona
Jefté entre os heróis da fé (Hb 11.32).

Jeremias Nome hebraico, significa "O Senhor estabelece".

Jeremias foi um dos maiores profetas do Antigo Testamento e o


principal profeta durante o período de declínio e queda de Judá nos
séculos 7 e 6 a.C. Profetizou em Judá por aproximadamente 40 anos
— entre 627 a 587 a.C., sob o reinado do rei Josias e seus quatro suces­
sores até a queda de Jerusalém nas mãos dos babilônios. Jeremias era
filho de Hilquias (Jr 1.1) — Não confunda este Hilquias com o sacerdote
Hilquias que serviu no tempo do rei Josias e achou o livro da lei - O
nome Hilquias, é um nome hebraico que significa: “O Senhor é a mi­
nha porção”. Ambos os nomes — Jeremias e Hilquias — sugerem que a
família era fiel e dedicada ao Deus de Israel durante o reinado tirânico
do rei pagão Manassés.
Jeremias nasceu em aproximadamente 650 a.C., em Anatote, um
pequeno vilarejo a três quilômetros a noroeste de Jerusalém. Desde a épo­
ca de Davi, Anatote, era o local de residência dos sacerdotes (Jr 1.1; 29.27;
32.7). Esse lugar é conhecido hoje como Ras El-Kharrubeh, uma colina de
onde se avista o vale do Jordão. Sua ampla extensão e a paisagem que se
via de lá eram um bom berço para a formação de um profeta. Anatote es­
tava locafizada no território de Benjamim, no entanto, seu solo era duro e
espinhoso, o que requeria que fosse arado de uma forma mais profunda.
O surgimento homens fortes parece combinar com a origem nesse tipo
de solo. “O que vocês podem cultivar aqui?”, perguntou um cavaleiro in­
glês em visita à Nova Inglaterra (hoje, Estados Unidos), observando pela
primeira vez o seu solo pedregoso. A resposta orgulhosa foi: “Aqui... nós
criamos homens!”. Lugares difíceis formam pessoas fortes!
É provável que a família de Jeremias tenha descendido de Eli, por­
que Abiatar, o último descendente a exercer um ofício sacerdotal, possuía
uma propriedade recebida por herança em Anatote, onde ele passou a vi­
ver como um aposentado depois de ser destituído por Salomão (lRs 2.26).
Como Jerusalém ficava a menos de uma hora a pé de Anatote, Je­
remias estava perto do coração da nação e do pulsar do mundo religioso
judaico. Todas as notícias políticas e sociais chegavam em pouco tempo
ao vilarejo do profeta, e também a repercussão das campanhas incita­
das pelos assírios, citas e babilônios.
Jeremias não era recluso. Ele era um homem tanto do campo
como da cidade. Ele estava atento aos acontecimentos do seu tempo e a
sua alma de forma sensível e conectada também sentia a impressão do
Deus eterno sobre a história que acontecia.
Aproximadamente setenta anos antes da data de nascimento de
Jeremias, Samaria, a capital do Reino do Norte, havia caído. E aproxi­
madamente 65 anos depois do nascimento do profeta cairia à capital
do Reino do Sul, Jerusalém. Jeremias provavelmente nasceu no fim do
reinado do perverso Manassés, que morreu em 642 a.C. Amon, filho de
Manassés governou por dois anos (642-640 a.C.) e então o jovem rei Jo-
sias (640-609 a.C.) assumiu o trono de Judá.
No décimo terceiro ano do reinado do rei Josias, aproximadamen­
te em 627 a.C. (Jr 1.2), Jeremias foi designado pelo Senhor para ser pro­
feta para as nações da época. Calcula-se que Jeremias tinha aproxima­
damente 23 anos de idade no período do seu chamado. Jeremias em seu
chamado se referiu a si mesmo “com o uma crian ça” (Jr 1.6), mas a pala­
vra hebraica usada aqui não é a mesma usada em Jeremias 30.6 e 31.8 e
não se referia à fase da pré-adolescência. Jeremias estava se referindo à
sua inexperiência, e não a sua idade.
O ano 627/626 a.C., foi um ano memorável na história mundial. As-
surbanipal, o último grande rei assírio, morreu, e Nabopolassar, o primeiro
grande rei neobabilônio, assumiu o trono da Babilônia. Dez anos depois, os
babilônios e os medos, junto com os citas, deram início a um ataque unifi­
cado contra Nínive. O ruído de derrota já podia ser ouvido na garganta da
soberana do mundo. Nínive nunca mais seria a mesma. Durante esta insta­
bilidade das nações, a mão de Deus permaneceu sobre Jeremias no sereno
caminho da vida, e o habilitou conforme está registrado no capítulo 1.
Em 622/621 a.C., ocorreu uma grande reforma religiosa em Judá. Jo-
sias havia tomado as rédeas do governo e decidido restaurar a fé do povo
no Deus de Israel. No 18° ano do seu reinado, ele emitiu um decreto para
que o templo fosse reparado. No processo de limpeza do entulho do templo,
o livro da lei foi encontrado pelo sacerdote Hilquias. Ele imediatamente o
enviou a Josias, que o leu e rasgou as suas vestes em sinal de humilhação
e arrependimento perante o Senhor. O jovem rei decidiu fazer com que a
vida religiosa da nação passasse a estar em conformidade com as leis do
livro recém-encontrado. Então, ele deu início ao seu grande movimento de
reforma, com a intenção de trazer um avivamento nacional da verdadeira
religião. Toda a adoração religiosa deveria ser centrada no templo e todos
os altares idólatras deveríam ser destruídos. Jeremias provavelmente se
envolveu nesse movimento de renovação. Porém, mais tarde o movimento
diminuiu e não chegou a mudar a vida inteira da nação.
Após isso, há um estranho período de silêncio de aproximadamente
13 anos em relação à vida de Jeremias (621-609 a.C.). Evidentemente, du­
rante este período, ele mudou a sua base de operação de Anatote para Jeru­
salém, tornando-se assim o profeta respeitado do estado daquela geração.
Após a morte de Josias em 609 a.C., na batalha do Megido, não
houve mais um rei bom em Judá. Os primeiros 18 anos do ministério
de Jeremias foram sob o governo do rei Josias. Certamente, esses anos
foram os mais felizes de seu ministério. Na sequência, o povo da Judeia
ignorou Jeoaquim, o filho mais velho de Josias, e colocou Jeoacaz, que
reinou apenas três meses no trono de Judá. Este foi deposto pelo faraó
Neco do Egito, e Jeoaquim (609-598 a.C.), foi posto no trono de Judá como
uma marionete do Egito. Jeremias imediatamente se opôs a este tirano,
egoísta, mimado, e ambicioso, filho do harém de seu pai, que cobriu o
seu palácio com painéis de cedro (Jr 22.13-14). O famoso sermão do tem­
plo (Jr 7.1 - 8.3), foi pregado durante o início do reinado de Jeoaquim.
Jeremias plantou-se no pátio do templo e se dirigiu à multidão de fiéis
que ali estavam vindas de toda parte do país. Ele os chocou com um dis­
curso no qual prometia que, caso eles não corrigissem os seus caminhos,
Deus haveria de destruir o santuário. Jeremias gritou: “Vocês roubam,
matam, cometem adultério, juram falsamente, queimam incenso a Baal,
correm atrás de seus deuses estrangeiros que não conhecem, e depois
vocês chegam e se apresentam diante de mim neste templo, onde o meu
nome é invocado, e dizem: ‘Estamos salvos!’ - mas depois vocês conti­
nuam cometendo todas essas abominações!” (Jr 7.9-10). Como resultado
desse sermão, Jeremias foi proibido de entrar no templo e quase perdeu
a vida (compare Jeremias 7 com o capítulo 26).
Em outra ocasião, Jeremias diante de uma multidão de sacerdotes,
denunciou suas práticas pagãs e num gesto inesperado estilhaçou uma
bilha, bradando: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu vou quebrar este
povo e essa cidade como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais
ser concertado” (Jr 19.11).
Em 612 a.C. Nínive enfim caía diante dos babilônios e, em 605 a.C.,
na batalha de Carquemis (Jr 46.2), os babilônios derrotaram a coalizão
unificada do restante do exército da Assíria e do Egito. Agora, os ba­
bilônios se tornariam no cenário mundial, aqueles que possuíam uma
incontestável superioridade.
Com o crescimento do poder da Babilônia, a pregação de Jeremias
adquiriu um novo tom de urgência. Agora ele sentia que mais do que
nunca o perigo era eminente. Jeremias tinha um discípulo e escriba de­
voto chamado Baruque. Ele mandou chamá-lo e ditou um rolo contendo
os discursos e oráculos de juízo desde o início do seu ministério. Como
Jeremias havia sido proibido de entrar na área do templo, ele ordenou
a Baruque que lesse o rolo para todas as pessoas em um grande dia de
festa. A acusação contra o rei e contra todos os que o apoiavam foi tão
grave que, ao ouvir sobre ela, o rei se enfureceu. Os nobres esconderam
Jeremias e Baruque, mas atendendo a ordem do rei, Jeudi, levou o livro
para que fosse lido para o rei Jeoaquim. Enquanto Jeudi lia cada passa­
gem, o rei em um gesto de desprezo, cortava cada pedaço e queimava-o
num braseiro.
Deus ordenou a Jeremias que reescrevesse o rolo, e foi o que ele
fez reescrevendo os oráculos e acrescentando ainda outros editos de
juízo (Jr 36.32). Entre o que foi acrescentado, estava uma profecia de
castigo sobre Jeoaquim. Jeremias então, violou a ordem que lhe proibia
de entrar no templo, e entrou na corte dos fiéis - onde somente homens
judeus ritualmente puros eram permitidos entrar - e ali Jeremias pro­
nunciou outra condenação contra os pecados de Judá e uma profecia
acerca da destruição de Jerusalém.
O sacerdote Passur o espancou e deixou-o a noite toda preso num
tronco junto à porta do templo. Enquanto estava no tronco, Jeremias
repetiu o que dissera anteriormente e pronunciou outra condenação,
dessa vez contra Passur.
A agonia de Jeremias foi muito bem representada nas palavras de
Shakespeare, mais de dois mil anos após: “Os tempos andam fo r a dos eixos
— ó terrível contrariedade, ter eu nascido para os por no lugar!”.
Naquele período, Jeoaquim se tornou vassalo de Nabucodonosor
(605-562 a.C.), e Judá foi reduzida a um vassalo pagador de tributos da
Babilônia. Jeoaquim permaneceu leal a Babilônia por alguns anos, até
que o faraó Neco do Egito o encorajou a ser unir aos países do oeste em
uma revolta. Então, em 598 a.C. o rei de Judá se rebelou e se recusou a
pagar o tributo anual a Nabucodonosor. O exército babilônio marchou ra­
pidamente em direção a Jerusalém para abolir a revolta. Provavelmente,
nessa empreitada de guerra, Jeoaquim tenha sido morto fora dos muros
de Jerusalém, recebendo um sepultamento indigno de uma pessoa des­
prezível, exatamente como Jeremias havia previsto (Jr 22.18-19; 36.30).
Joaquim, seu filho de 17 anos, assumiu o seu lugar no trono de Judá. Três
meses após Joaquim começar a reinar, ele se entregou incondicionalmen­
te a Nabucodonosor. Naquele momento, os babilônios não destruíram Je­
rusalém, mas levaram consigo 8 mil cativos. Inclusive, o rei Joaquim e sua
mãe, alguns artesãos, oficiais e executivos (Ezequiel entre eles) e toda a
corte real foram levados como reféns para a Babilônia (2Rs 24.16).
Jeremias lamentou profundamente esse acontecimento (Jr 13.15-
19), e previu a sorte de Joaquim (Jr 22.24-30). Trinta e seis anos mais tar­
de Joaquim foi libertado, pelo filho e sucessor de Nabucodonosor (2Rs
25.27-30), cumprindo assim a previsão de Jeremias.
Depois da prisão de Joaquim, Zedequias foi designado como novo rei
de Judá, e manteve alianças com o Egito. Jeremias continuou a profetizar
sobre o mesmo tema: os babilônios eram instrumentos do juízo de Deus
sobre Judá, pelos pecados que o povo havia praticado. Durante o primeiro
ano do reinado de Zedequias, Jeremias teve a visão de dois cestos de figos.
Os judeus carregados para a Babilônia eram os figos do cesto de figos bons,
enquanto que, Zedequias e os que confiavam no Egito eram os figos podres
(Jr 24.1-8). Para Jeremias seria inútil Zedequias resistir! Submeter-se a Ba­
bilônia era a atitude mais sábia, e o único meio de sobreviver. Aos olhos de
Jeremias, o Senhor já havia ordenado que a Babilônia invadisse Judá.
Jeremias foi capaz de prever que o cativeiro duraria 70 anos (Jr
25.11-12). Dado ao uso dos símbolos dramáticos em suas “pregações”,
Jeremias passou a usar um jugo de madeira em seu pescoço represen­
tando o período do cativeiro babilônico. Havia naquela época em Jeru­
salém, um outro profeta chamado Hananias. Hananias era um profeta
querido do povo, pois só profetizava coisas boas, enquanto que Jeremias
só profetizava juízo. Hananias começou a proclamar que em dois anos
o Senhor esmagaria a Babilônia e traria de volta os cativos com todos os
objetos sagrados do templo que haviam sido saqueados por Nabucodo-
nosor. Em um ato simbólico para ilustrar isso, Hananias quebrou o jugo
usado por Jeremias e proclamou em nome de Deus: “Dessa maneira eu
quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilônia, de sobre o pes­
coço das nações” (Jr 28.11). Jeremias profetizou que esse falso profeta
estaria morto naquele mesmo ano, o que aconteceu dois meses depois.
Por esse tempo, Zedequias enviou uma delegação oficial à Babilônia.
Dois membros dessa delegação eram amigos de Jeremias e por intermédio
deles o profeta enviou uma carta para a pequena comunidade de israelitas,
que haviam sido levados para lá como cativos juntamente com o rei Joa­
quim. Nela, ele lhes pedia para serem pacientes e não se iludirem com os
falsos profetas entre eles, que lhes prometiam um breve retorno à pátria.
Jeremias repetiu que o seu exílio seria de 70 anos e que no final Deus os
traria de volta em paz. Devido a isso, eles deveríam se acomodar, construir
ah suas vidas normalmente e tentar manter-se bons com as autoridades
babilônicas. O profeta escreveu nessa carta: “Construa casas e instalai-vos;
plantai pomares e comei seus frutos; casai-vos e gerai filhos e filhas e daí as
vossas filhas em casamento; que eles gerem filhos e filhas; multiplicai-vos
ai e não diminuais! Procurai a paz da cidade, para onde eu vos deportei.
Rogai por ela ao Senhor, porque a sua paz será a vossa paz” (Jr 29.5-7).
Mediante a isso, Jeremias se opôs diante do rei, dos sacerdotes,
dos outros profetas “covardes” da época e do povo. Se opôs também a
qualquer aliança com o Egito, e profetizou o aumento da supremacia
babilônica e a destruição do estado judeu. Além disso, já naquela épo­
ca, Jeremias havia percebido que a esperança futura da nação de Israel
estava exclusivamente relacionada aos judeus cativos na Babilônia (Jr
31), e não aos judeus que ainda estavam em Jerusalém. Aqueles que fo­
ram deixados em Jerusalém não representavam o verdadeiro grupo de
remanescentes. Por causa de suas predições de destruição que obvia­
mente estavam tendo cumprimento, Jeremias foi detido. O acusaram de
querer favorecer o inimigo e, por causa disso, ele foi lançado em uma
masmorra (Jr 27.11-16).
Posteriormente, foi removido para um cárcere no pátio da guarda,
perto do palácio real (Jr 27.17-21). Em seguida, o profeta foi acusado de
traição, e lançado em uma cisterna sem água, mas cheia de lama. Teria
morrido ali, se Obede-Meleque não intervisse, tirando o profeta da cister­
na com uma corda. Por causa desse ato, o Senhor prometeu que Obede-
-Meleque seria salvo dos babilônios. Então, Jeremias foi transferido para
o pátio da guarda novamente (Jr 38.13), onde o rei o procurou para con­
versar secretamente (Jr 38.14-28).
Em 588 a.C., Zedequias, que há muito tempo vinha conspirando
contra a Babilônia, rebelou-se diretamente contra Nabucodonosor. A vin­
gança babilônica foi rápida e final. Eles marcharam até Jerusalém em 588
a.C., e em julho de 586 a.C., após um longo cerco de 18 meses, a cidade foi
tomada. A paciência de Nabucodonosor havia se esgotado, e então ele or­
denou a destruição completa da cidade. O templo construído por Salomão
foi saqueado e demolido. O rei foi levado para Ribla acorrentado. Seus
filhos e seus ministros foram assassinados, seus olhos foram furados, e
muitos judeus foram levados para o cativeiro. Somente as pessoas mais
pobres foram deixadas para trás para serem vinhateiros ou agricultores.
Jeremias que havia sido preso por Zedequias (Jr 37.15), foi solto da
prisão por Nabucodonosor (Jr 39.11-14). O rei babilônico ordenou que
Jeremias fosse poupado e bem tratado. Além disso, Nabucodonosor lhe
deu permissão de ir a Babilônia, se assim o desejasse, ou ficar em qual­
quer lugar do país que ele quisesse. Jeremias preferiu ir para Mispá, ao
norte de Jerusalém, onde estava seu amigo Gedalias - que havia sido de­
signado para ser governador, da agora, província babilônica da Judeia
-Jerem ias o influenciou e ele começou a trabalhar para a “reedificação”
e “replantação” da nação (Jr 40.6-16 - Compare com Jeremias 1.10, os
termos “reedificar” e “replantar”).
Após esse momento, Jeremias retornou a Jerusalém, onde, de
acordo com a tradição, passou a morar em uma caverna próxima ao que
hoje é conhecido como o “Calvário de Gordon”, do lado de fora da Porta
de Damasco, em Jerusalém. Ah, ele escreveu o livro de Lamentações.
No entanto, em 581 a.C., cerca de dois meses depois de ter sido colo­
cado como governador da Judeia, Gedalias foi assassinado por um judeu fa­
nático chamado Ismael, que também massacrou os partidários de Gedalias.
Isto trouxe o exército babilônico de volta à Palestina. No decorrer deste re­
torno, o povo ficou em pânico temendo a represália da Babilônia, e fugiram
para o Egito. Eles então levaram Jeremias consigo para uma cidade egípcia
chamada Tafnes. Jeremias, no entanto, não parou o seu ministério do Egito.
Sua pregação em Tafnes assegurou uma conquista vitoriosa da terra do Egi­
to para Nabucodonosor (Jr 43.1-7), e isso aconteceu em 567 a.C. Como sinal
de confirmação, Jeremias predisse que o faraó Hofra, seria assassinado (Jr
44.30), o que aconteceu em 466 a.C. Nas margens do rio Nilo Jeremias tam­
bém pregou contra a adoração fanática praticada pelas mulheres judias à
“rainha dos céus” (Jr 44.15-30). Segundo uma tradição antiga, Jeremias mor­
reu sob uma avalanche de pedras lançadas pelos maridos dessas mulheres
idólatras e assim concluiu seu ministério no Egito.
Os pais da igreja confirmam a crença de que ele foi apedrejado
pelos judeus até a morte na cidade de Tafnes, no Egito. Pelo fato de Jere­
mias ter amado tanto a cidade de Jerusalém - e se alinhado ao propósito
de Deus para sua nação - surgiu à tradição de que Jeremias ressuscitaria
dos mortos. Alguns esperavam que ele aparecesse e restaurasse o tem­
plo, a arca da aliança e o altar do incenso que ele supostamente teria es­
condido em uma caverna (2Mac 2.1-8). Por isso, quando Jesus perguntou
aos seus discípulos que lhe respondessem, “quem dizem os homens, que
eu sou?”, eles responderam: “uns dizem... Jerem ia s” (Mt 16.13-14).
Historicamente falando, o que Lutero foi na Dieta de Worms, Jere­
mias foi para Jerusalém em seu famoso sermão do templo de 609/608 a.C.
(o capítulo 7 traz o conteúdo do sermão e o capítulo 26 traz a narrativa). A
palavra do Senhor vinha a Jeremias, e ele tinha que dar o golpe final para
a destruição da superstição no templo em Jerusalém, e o esvaziamento do
formalismo religioso. Esses erros estavam substituindo a verdadeira reli­
gião, que deve ser praticada de todo o coração.
Jeremias nunca se casou (Jr 12.1-2) e dedicou toda sua vida adul­
ta ao ministério profético. Certamente, isso também cooperou para que
emocionalmente Jeremias fosse uma pessoa frágil, devido à sua vida so­
litária. A final de contas, “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18).
Sua pregação não foi popular. As pessoas não gostavam de ou­
vi-lo, mas independente disso, ele continuou a anunciar ousadamente
que os pecados de Judá tinham condenado Jerusalém à destruição e
sua população iria para o exílio. Jeremias era um homem com profun­
das lutas interiores e muitos complexos de inferioridade, depressão,
dúvida e falta de esperança. Numerosas passagens, frequentemente
chamadas de “confissões de Jerem ias”, revelam graves conflitos inte­
riores. O profeta lamentava a traição de seus amigos e familiares (Jr
11.18 a 12.6); Ficava impaciente, no aguardo do cumprimento da pala­
vra de Deus (Jr 17.12-18); Perguntava-se sobre o propósito do seu mi­
nistério (Jr 15.10-21); e em sua última lamentação registrada, disse ao
Senhor: “Iludiste-me, ó Senhor; iludido fiq u e i” (Jr 20.7), e amaldiçoou o
dia do seu nascimento (Jr 20.14-18).
Muitas foram às feridas da sua alma. Sua comunhão com Deus era
a única fonte de alegria espiritual (Jr 15.16). Em meio as suas profundas
crises, Jeremias pensava que até havia sido abandonado pelo Senhor
(Jr 15.17-18). Jeremias só conseguia vencer esses momentos difíceis em
seu ministério porque era um homem de oração. Ele buscava forças em
Deus. Jeremias falava pouco sobre oração, ele simplesmente orava! Ele
derramava as aflições de sua alma na presença daquele que ouve e vê
em segredo, mas que recompensa publicamente. Ele orava pela cura es­
piritual de seu coração ferido (Jr 17.9,14), e pela remoção de complexos
que o bloqueavam e consumiam a sua energia física e mental. Ele orava
para que fosse livre de seus opositores, pela causa à qual estava dedican­
do a sua vida, e pela vingança contra os seus perseguidores (Jr 18.18-23).
A oração era o exercício de sua alma, através da qual, ele se aliviava das
pesadas cargas da vida (Jr 15.15-18).
Essas declarações demonstram importantes dimensões da pessoa de
Jeremias. Ele lutava frequentemente contra o desanimo por causa de um
ministério que não tinha boa aceitação por parte do povo. Várias vezes ele
sofreu por causa da mensagem e poucas vezes recebeu incentivo. No en­
tanto, nenhum outro profeta - nem mesmo Oseias - teve o conflito interior
por trás da mensagem, tão exposto como ele.
O livro conhecido como “Lamentações de Jeremias” é um trabalho
dramático, constituído por cinco cantos sobre a queda de Jerusalém e
o exílio. Todos eles compostos em padrão de acrósticos. O tom é deter­
minado pelos versículos iniciais: “Que solitária está a cidade populosa!
Tornou-se viúva a [que era] primeira entre as nações. Judá foi dester­
rada, humilhada, submetida a uma dura servidão; hoje habita entre as
nações, sem encontrar repouso” (Lm 1.1,3). Essa obra externa os senti­
mentos do coração de Jeremias e foi incluída no Cânon imediatamente
após o livro de Jeremias.
Jeroboão é o nome de dois reis que reinaram no Reino do Norte, Is­
rael. Jeroboão I, que deu origem a primeira monarquia das dez tribos de
Israel, e Jeroboão II, que foi o décimo quarto rei do Reino do Norte.
Jeroboão I - reinou de 931 a 910 a.C. - era da tribo de Efraim e era
filho de Nebate e Zerua. Seu trabalho e habilidade foram reconhecidos
por Salomão, e seus esforços foram recompensados com sua nomeação
como supervisor de uma força de trabalho efraimita (lRs 11.28). No en­
tanto, o profeta Alas disse a Jeroboão que ele se tornaria rei das dez
tribos do norte, ao invés de Roboão, o filho de Salomão. Esta profecia
foi encenada com uma roupa que Aías rasgou em doze pedaços, e deu
dez pedaços a Jeroboão (lRs 11.29-30). Aías tinha mostrado simbolica­
mente a Jeroboão que Deus lhe daria dez tribos, mantendo, no entanto,
a linhagem de Davi preservada como outro reino, o Reino do Sul. Isso
aconteceu porque as esposas estrangeiras de Salomão o levaram a ado­
rar falsos deuses, e foi devido a idolatria de Salomão, que esse juízo veio
sobre a linhagem de Davi (lRs 11.33).
Na verdade, o que Deus estava propondo a Jeroboão era fazer dele
um “novo Davi”. Tudo que Jeroboão tinha que fazer era “ouvir o que
Deus o ordenar, andar nos seus caminhos, fazer o que é reto aos seus
olhos e guardar os seus estatutos e mandamentos” (lRs 11.37-38). Quan­
do Salomão soube disso, quis matar Jeroboão, e este teve que fugir para
o Egito, por segurança, para salvar sua própria vida até que Salomão
morresse (lRs 11.40).
Após a morte de Salomão, Jeroboão retornou à Palestina e se apro­
ximou de Roboão, filho de Salomão, com um pedido para que seu pro­
grama de impostos diminuísse (lRs 12.1-4). Roboão, pediu três dias para
consultar seus conselheiros antes de responder. Os conselheiros mais
velhos disseram que o pedido fosse atendido e os impostos fossem re­
duzidos, mas as cabeças mais jovens e nervosas aconselharam que os
impostos fossem aumentados e o jugo aumentasse sobre o povo. Roboão
ouviu os jovens, e como fruto disso, o reino se dividiu e as tribos do nor­
te se afastaram da casa de Davi e estabeleceram Jeroboão como seu rei
(lRs 12.2-15,19-20).
No entanto, sendo ambicioso e sagaz, construiu duas cidades capitais,
uma em Siquém, no território oeste do Jordão, e fez dela a residência real, e a
outra em Peniel, a leste do Jordão, que serviu como uma residência de inver­
no ou uma capital alternativa por causa da campanha do Faraó Sisaque em
926 a.C. (lRs 12.25). Depois ele mudou sua residência real para Tirza, uma
cidade a noroeste de Siquém (lRs 14.17).
Jeroboão, porém, não deu crédito às instruções de Deus, e reinstituiu
o culto aos bezerros de ouro, trocando a adoração ao Senhor Jeová por uma
prática idólatra antiga. Ele mudou os centros de adoração,o alvo da ado­
ração, o sacerdócio e o tempo da adoração. Os novos centros de adoração
se tornaram Betei e Dã (lRs 12.29). Betei havia sido um lugar de adoração
patriarcal (Gn 28.10-22; 31.13; 35.1-7). Dã havia sido uma área de adoração
levítica nos dias dos juizes (Jz 18).
Infelizmente, o objeto da adoração havia se tornado um ídolo be­
zerro (lRs 12.28). Sem dúvidas, a residência de Jeroboão no Egito con­
tribuiu para o rumo de Israel nessa direção. A adoração dos egípcios à
H ator e Ápis (deus-touro e deusa-vaca), fazia parte da cultura pagã dos
egípcios. O touro na adoração egípcia tinha o objetivo de representar
de modo visível uma divindade invisível. Esse conceito pode ter sido
facilmente introduzido nos israelitas como a adoração ao “Jeová invi­
sível”. Essa mesma mentalidade foi praticada nos dias de Arão, quando
este, sendo sacerdote, aceitou a construção de um bezerro de ouro para
representar a idolatria como se fosse um culto ao Senhor Jeová (Êx 32.4-
5). Tragicamente Jeroboão estava repetindo esta mesma mentalidade.
O propósito de Jeroboão era político, para manter o povo do Reino
do Norte afastado do templo de Jerusalém - no Reino do Sul - onde seus
corações poderiam ser atraídos de volta para a casa de Davi. No entan­
to, essa atitude não foi simplesmente contra Roboão, mas sim, contra o
Senhor, que havia estabelecido o templo em Jerusalém como o lugar de
sua presença especial e o único lugar aceito de adoração (lRs 8.27-30).
Propositalmente, os sacerdotes e levitas cujas casas estavam no territó­
rio de Jeroboão não receberam nenhuma função na “nova adoração”.
Jeroboão escolheu e nomeou os seus próprios sacerdotes. Jeroboão tam­
bém construiu altares em vários lugares altos de seu reino, criou suas
próprias festas de adoração e determinou que a festa das colheitas, ce­
lebrada em Judá no dia 15 do sétimo mês, se efetuasse ali no Reino do
Norte no dia 15 do oitavo mês (lRs 12.31-33). Ao erigir os bezerros de
ouro, Jeroboão pronunciou: “Vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram
subir da terra do Egito” (lRs 12.28). Por causa disso, ele ficou conhecido
como “Jeroboão, filho de Nebate, que fez pecar a Israel”.
Embora seu reinado tenha sido próspero, seu pecado lhe trouxe o
severo juízo de Deus. O plano de Jeroboão, de enganar o profeta Alas, fra­
cassou e se tornou o meio pela qual foi pronunciado o juízo sobre à casa
de Jeroboão e o Reino do Norte (lRs 14.7-16). Uma consequência imediata
foi a morte do seu jovem filho Abias (lRs 14.1,17).
A idolatria de Jeroboão I se tornou uma marca tão terrível, que o
escritor do livro dos Reis comparou todos os demais governantes per­
versos do Reino do Norte, como aqueles que andavam “nos cam inhos de
J e r o b o ã o ” (lRs 16.26; 2Rs 14.24). Ou seja, assim como Davi havia se tor­
nado o modelo do rei integro, Jeroboão se tornou o modelo do rei ímpio.
Jeroboão I morreu depois de reinar 22 anos sobre Israel (lRs
14.19-20). Seu filho sobrevivente, Nadabe, governou em seu lugar por
apenas dois anos antes de ser assassinado por Baasa, da tribo de Issacar
(lRs 14.20; 15.25-31). Então, toda a casa de Jeroboão I foi assassinada por
Baasa, cumprindo assim a profecia de Alas, referente ao fim da dinastia
de Jeroboão. Baasa, no entanto, trilhou as mesmas pegadas de apostasia
que havia trilhado Jeroboão (lRs 15.34).

Jeroboão II - reinou de 794 a 753 a.C. - era filho de Joás, e tercei­


ro na sucessão de Jeú. Jeroboão II reinou sobre Israel por mais tempo
que qualquer outro rei do Reino do Norte. No entanto, a duração de
seu reinado apresentada em 2 Reis 14.23 (41 anos), incluiu uma cor-
regência de aproximadamente 12 anos com seu pai. Ou seja, de 794
a 782 a.C., Jeroboão segundo reinou junto com seu pai, e de 782 a 753
a.C., Jeroboão II reinou como o único soberano na monarquia do Rei­
no do Norte. Seu palácio estava em Samaria (2Rs 14.23). Infelizmente
Jeroboão II também seguiu o mau exemplo do seu ancestral de mesmo
nome, Jeroboão I (2Rs 14.23-24).
No entanto, seu reinado foi de grande prosperidade financeira e
militar. A Assíria havia enfraquecido a Síria, que dessa maneira não re­
presentava mais uma ameaça contra Israel. Jeroboão, então, continuou
com as conquistas que seu pai Jeoás havia começado, restaurando as
fronteiras de Israel que haviam sido invadidas pelos sírios e subjugando
Damasco. Curiosamente, assim como seu pai (Joás) havia recebido en­
corajamento do profeta Eliseu neste assunto, Jeroboão também foi en­
corajado pelo profeta Jonas (2Rs 14.25). Jonas profetizou que Jeroboão
restauraria as fronteiras dos dias de Salomão e realmente Jeroboão al­
cançou esse objetivo (2Rs 14.25). Nesse período, o Reino do Norte al­
cançou sua maior extensão desde o tempo de Salomão. As fronteiras se
estenderam desde Hamate, no rio Orontes ao norte, até o golfo de Ácaba,
com suas cidades de Eilat e Eziom-Geber, no sul.
Porém, essa prosperidade não foi o suficiente para libertar Israel de
problemas internos e externos. Seu governo excedeu em extravagâncias
e luxos. Os pobres eram oprimidos e os padrões éticos e morais se dege­
neravam rapidamente. O livro de Amós - contemporâneo dessa época -
apresenta um retrato da inclinação às paixões e prazeres ímpios dos dias
de Jeroboão II. Embora este governo fosse exteriormente próspero, seu
reino estava na iminência de ser desintegrado. O longo reinado de Jero­
boão levou a nação de Israel à beira do juízo, o qual, 31 anos depois, foi
confirmado quando os assírios tomaram Samaria em 722 a.C., e o Reino
do Norte deixou de existir.
O reinado de Jeroboão II é uma advertência sobre quão facilmente
a prosperidade pode levar a corrupção. Embora Deus tivesse abençoado
a nação de Israel de muitas maneiras, a benção do Senhor acabou se tor­
nando ocasião para a desobediência e a destruição decorrente do mau
uso dela. Ou seja, uma benção mal administrada pode se tornar a causa
de grandes problemas.

Jesus Cristo Forma grega do nome hebraico "Josué",


que significa "O Senhor é salvação".

Qualquer tentativa de expor de modo breve e completo a vida e o


ministério de Jesus, deve ser vista como algo semelhante à tentativa de
pôr um oceano dentro de uma xícara. Diz João, que se todas as coisas
que Jesus fez e tudo que ele ensinou fossem registradas, nem todos os
livros do mundo seriam suficientes (Jo 21.25). Naturalmente, isso apa­
renta ser uma hipérbole, no entanto, indica que existiram muitas coisas
que ele fez, milagres que ele realizou e palavras que ele proferiu que
jamais foram registrados por qualquer autor. Entretanto, não devemos
nos preocupar com isso, pois tudo que precisamos saber sobre Jesus e
tudo que precisamos entender sobre ele para não perdermos a direção
do céu ficaram registrado nas escrituras sagradas.
Jesus é chamado de “Cristo”, o equivalente em grego da palavra
“Messias”, que significa “O Ungido”. Quase tudo o que sabemos sobre Je­
sus vem dos evangelhos escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. As
cartas de Paulo concentram-se mais em sua teologia, do que em sua vida
propriamente dita. Há também inúmeras tradições não bíblicas sobre
Jesus, sendo que a maioria delas não são confiáveis e algumas são tão
fantasiosas que chegam a ser ridículas. Por exemplo: um livro apócrifo
chamado “Evangelho da Infância de São Tom ás”, fala que o menino Jesus,
tendo sido ridicularizado por um de seus amiguinhos, usou seus poderes
para fazê-lo cair de um telhado e morrer. Quando os vizinhos, indigna­
dos, procuraram José para se queixar, Jesus ressuscitou o menino. Em
outra história, o pequeno Jesus, do barro, fez alguns pássaros e lhes deu
vida. Quando José o repreendeu por causa disso, ele os matou, e depois
os ressuscitou e deixou que fossem embora voando. Essas histórias não
possuem nenhuma credibilidade, e faziam parte dos inúmeros livros apó­
crifos que foram escritos nos primeiros séculos depois de Cristo.
Jesus nasceu em Belém, sua mãe se chamava Maria. Ele foi gerado
pelo Espírito Santo e criado por José, esposo de Maria. Tinha um certo
número de irmãos e irmãs (Tiago, José, Judas e Simão - Mc 6.3). Jesus
nasceu provavelmente entre 6 a 4 a.C. Existe uma contagem de anos
errada envolvendo o nascimento de Jesus em relação ao termo “antes”
e “depois de Cristo”. O rei Herodes, o Grande, que tentou matar Jesus,
morreu em 4 a.C., e o nascimento de Jesus teria acontecido, pelo menos,
um ou dois anos antes da morte de Herodes para que a cronologia se en­
caixasse perfeitamente. Essa discrepância em relação ao ano do nasci­
mento de Jesus é resultado de um erro de cálculo que foi feito no século
6 d.C., por um erudito chamado Dionisius Exiguus.
Os reis magos, ou “sábios”, vieram do oriente para encontrar
“aquele que é nascido rei dos ju deu s” (Mt 2.2). Isso é muito interessante,
porque todos aqueles que um dia se tornaram rei, não nasceram rei. No
máximo, nasceram sendo príncipe. Jesus é o único que já nasceu rei.
Embora os evangelhos não especifiquem quantos reis magos foram visi­
tar Jesus, a tradição sustenta que eram três. O portador de ouro foi Mel-
quior, um persa; O que levou incenso era Gaspar, um indiano; E o último
era um árabe, chamado Baltasar, que levou mirra e a amarga resina de
goma, ambas valiosas por suas propriedades medicinais.
Um detalhe interessante sobre o tempo do nascimento de Jesus
está no fato de que os evangelhos registram que na época em que Jesus
nasceu, “as ovelhas saiam p a ra os p a sto s” (Lc 2.8). Isso ocorria apenas
nos meses de primavera e outono, o que indica que, dificilmente, Jesus
nasceu no verão ou no inverno palestino. Isso é interessante porque des-
constrói a ideia do nascimento de Jesus em 25 de dezembro. Na verdade,
está data natalina foi denominada como o dia do nascimento de Jesus
para substituir as práticas pagãs do solstício de inverno (culto ao sol) por
uma celebração cristã igualmente festiva. Não tendo nada haver com o
dia de fato em que nosso Senhor nasceu.
Somente Mateus e Lucas falam sobre o nascimento de Jesus. Mar­
cos e João apresentam Jesus pela primeira vez quando ele foi batizado.
O relato de Mateus sobre o nascimento nada diz sobre Jesus ter nascido
em uma estrebaria; ele conta a história da visita dos magos, da fuga para
o Egito e do massacre dos bebês ordenado por Herodes. Lucas conta
histórias mais íntimas de Maria, incluindo o anúncio da concepção de
Jesus por parte do anjo Gabriel; sua visita a Isabel, mãe de João Batista;
a viagem para Belém, o nascimento na estrebaria e a visita dos pastores.
No entanto, muito pouco se sabe sobre a vida de Jesus antes do início
do seu ministério, exceto acerca do seu nascimento e sobre um incidente
ocorrido em Jerusalém quando Jesus tinha 12 anos de idade (Lc 2.41). Este
incidente ocorreu devido ao costume das famílias judaicas de irem a Jeru­
salém todos os anos para a celebração das festas. Era mais seguro para as
famílias irem em grupo por duas razões: primeiro, porque eram vizinhos
e se conheciam bem, e isso ajudaria a perceberem menos a caminhada de
alguns dias até chegarem a Jerusalém; e segundo, porque as viagens eram
perigosas naquela época por causa dos bandidos e salteadores que ata­
cam pessoas em viagem, por isso era mais seguro permanecer em grupos.
Como todos se conheciam, normalmente as crianças iam juntos
na viagem (quase sempre no meio da caravana), e uns iam cuidando
dos filhos dos outros no caminho. Nessa ocasião, quando eles estavam
voltando para Nazaré - já a um dia de distância de caminhada de Jeru­
salém - perceberam que Jesus havia sido esquecido para trás. Maria e
José então voltaram as pressas para Jerusalém e o encontraram ainda
no templo discutindo questões religiosas com os rabinos, que estavam
impressionados com seu entendimento (Lc 2.47). Quando seus pais o
repreenderam por ficar para trás e deixá-los tão preocupados, a res­
posta de Jesus foi: “Por que vocês estavam me procurando? Não sa­
biam que eu estava na casa de meu Pai?” (Lc 2.49).
Certamente, Jesus cresceu em Nazaré e aprendeu a trabalhar como
carpinteiro com José (esposo de Maria) quando tinha talvez a idade de dez
a doze anos. Há muita dúvida quanto a se José e Jesus eram carpinteiros
no sentido moderno da palavra. Na nossa época, ser carpinteiro significa
trabalhar com madeiras, mas, aparentemente, não era o que representava
essa função na Palestina antiga. A palavra “carpinteiro” é usada somente
duas vezes como referência a eles. Em referência a Jesus, Marcos relata que
a multidão perguntava: “Não é este o carpinteiro?” (Mc 6.3), e em Mateus
perguntavam: “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13.55). A palavra usa­
da em ambos os casos é tekton, que significa “aquele que trabalha com ma­
teriais sólidos”. Ou seja, poderia até ser carpinteiro no sentido comum, mas
é bem mais provável que se referia a “construtor” ou “escultor de pedras”.
Muito provavelmente, eles eram construtores. Até porque seria
muito difícil para um carpinteiro - que trabalha com madeiras - ganhar
a vida em Nazaré, onde não havia muitos negócios e onde a madeira era
rara e cara. Madeiras boas para construção eram normalmente impor­
tadas do Norte (principalmente do Líbano) e usadas para construções
apenas dos ricos (que não eram muito numerosos na Galileia - se é que
havia algum em Nazaré). Madeiras e árvores locais eram usadas para
fazer jugos para bois e arados, e isso, quando muito, dava apenas para
proporcionar uma vida mísera financeiramente. Um construtor, no en­
tanto, teria uma vida mais confortável, uma vez que pedra e adobe eram
os materiais de construção mais preferidos daquela época.
Vale a pena sabermos que a cerca de uma hora de caminhada de Naza­
ré estava a cidade romana de Séforis. Esta cidade havia sido destruída alguns
anos antes do nascimento de Jesus. Quando Jesus era menino, os romanos e
os judeus ricos a estavam reconstruindo como uma cidade romana. Embora
não haja menção a Séforis na Bíblia, Jesus certamente a conheceu, princi­
palmente, porque era a cidade mais importante em toda região que cercava
Nazaré. Séforis ficava em uma colina e a noite as luzes e fogueiras usadas
para aquecer e cozinhar podiam ser vistas a quilômetros de distância. Prova­
velmente, tenha sido Séforis que Jesus tinha em mente quando disse: “Não se
pode esconder uma cidade construída sobre um monte” (Mt 5.14).
Nada se sabe mais sobre a vida de Jesus durante os dezoito anos
que se passaram desde o incidente no templo em Jerusalém até o início
do seu ministério. Sua história só volta a ser contada quando ele está
indo em direção a ser batizado por João Batista, quando tinha aproxi­
madamente 30 anos. Certamente, durante sua juventude e início da fase
adulta ele permaneceu em Nazaré, e ali tinha exercido sua função como
carpinteiro. Provavelmente, nesses anos Jesus também tenha participa­
do e falado na sinagoga em Nazaré, como se esperava que qualquer ho­
mem adulto fizesse.
É muito provável que José tenha morrido durante este período,
uma vez que não há nenhuma menção a ele após o incidente do templo.
Sem dúvida, ele já estava morto na época da crucificação de Jesus, pois, se
estivesse vivo, certamente teria sido mencionado, e Jesus não teria preci­
sado entregar Maria, sua mãe, aos cuidados do apóstolo João (Jo 19.26-27).
O ministério de Jesus se iniciou após o seu batismo (Mt 3.1; Mc 1.4;
Lc 3.23; Jo 1.6). Os quatro evangelhos falam que no batismo de Jesus, o
Espírito Santo desceu sobre ele na forma de uma pomba. Nos evange­
lhos sinóticos, ouve-se a voz de Deus dizendo: “Este é o meu filho amado,
e nele eu tenho prazer” (Mt 3.17). Após o seu batismo, Jesus foi para
o deserto a fim de jejuar, orar e meditar. Ele permaneceu no deserto
por 40 dias, e enquanto estava lá foi tentado pelo Diabo. Após um longo
período de jejum, Jesus teve fome e foi tentado a usar o seu poder espi­
ritual para obter comida, em vez de confiar que Deus supriría a sua ne­
cessidade. Usar seus dons para servir a si mesmo, e não à humanidade,
seria contrário ao seu propósito na vida como Messias. Isso era o que
o Diabo queria: corromper o propósito central da vida e ministério de
Jesus. Mas Jesus sabia muito bem que o seu poder não era para benefí­
cio próprio, mas sim para abençoar as pessoas. Ao resistir às tentações,
Jesus encerrou seu jejum e partiu para cumprir seu ministério (Lc 4.14),
e a partir daquele momento, ele deixou a vida de isolamento em Nazaré
pela assunção de seu papel como Messias, mudando-se geograficamente
para Cafarnaum, na Galileia (Mt 4.13).
Não há como precisar uma crônica diária das atividades ministe­
riais de Jesus. O que existem são informações ocasionais sobre tempo e
lugares, porém são insuficientes para proporcionar uma exposição mi­
nuciosa daqueles dias. A partir dos evangelhos sinóticos, está claro que
grande parte do ministério de Jesus aconteceu na Galileia, através de
um considerado itinerário de viagens entre cidades e vilas. Cafarnaum
mostrou ser um local ideal para Jesus viver durante o período do seu
ministério por causa da localização central às margens do mar da Gali­
leia. Além disso, Jesus fez uma viagem fora dos limites da Palestina para
Tiro e Sidom (Mc 7.24). Outra viagem, levou Jesus e seus discípulos a
um setor da região da Decápolis, que consistia de um grupo de algumas
comunidades gregas localizadas a leste do mar da Galileia (Mc 7.31).
Além disso, houve uma retirada para Cesareia de Filipe (Mc 8.27) - que
ficava ao Norte, na divisa com a Síria - e algumas atividades na Pereia,
um território a leste do rio Jordão (Mc 10.1).
Por outro lado - através dos escritos de João - ficamos sabendo
bem pouco sobre a obra de Jesus na Galileia, pois a maior parte da sua
narrativa está centrada em visitas a Jerusalém, especialmente em cone-
xão com as várias festas anuais dos judeus, como por exemplo, a Páscoa
(Jo 2.23; 6.4; 13.1), Tabernáculos (Jo 7.2), Dedicação (Jo 10.22) e uma festa
que João não especificou qual era (Jo 5.1). Enquanto que os evangelhos
sinóticos mencionam apenas uma Páscoa.
Jesus, ao contrário do costume da época, não teve um treinamento
rabínico formal - assim como Paulo teve, por exemplo, com Gamaliel -
no entanto, ele foi capaz de determinar as necessidades espirituais de
sua nação de maneira independente, e indicar o caminho pelos quais os
líderes judaicos haviam desviado o seu povo. Ao contrário da maioria dos
doutores da lei de sua época, Jesus não se envolvia em um emaranhado
de detalhes desnecessários e nem se envolvia em minúcias exaustivas,
mas concentrava o seu discurso em verdades essenciais. Uma grande
simplicidade caracterizava os seus ensinos, e estes eram auxiliados por
sua aversão a termos técnicos e pelo uso frequente de ilustrações coti­
dianas especialmente relacionadas com as parábolas. Seus ensinos eram
desenvolvidos em vários cenários - sobre o declive de uma montanha;
à beira de um lago; nas casas; nas sinagogas e no templo em Jerusalém.
E tudo isso estava aberto ao público (Jo 18.20). A maior prova que além
de divino ele também era humano, está na realidade de que tudo isso
levava ele a um severo esgotamento das suas energias em seu corpo, a
ponto dele precisar dormir durante uma viagem (Mc 4.36-38).
Essa habilidade de pertencer ao judaísmo, e ao mesmo tempo se
limitar a mentalidade dele, era evidente em sua vida. De certa forma,
Jesus, o judeu, era ao mesmo tempo o menos judeu dos homens. Ele era,
na verdade, um homem universal, e isso está evidenciado na maneira
em que ele gostava de se chamar: Filho do homem.
O primeiro milagre de Jesus foi à transformação da água em vinho
(Jo 2). Havia acabado o vinho em um casamento, e Maria, mãe de Jesus,
havia pedido a ele para que solucionasse aquele problema. Jesus, em seu
tempo, mandou que trouxessem uma grande quantidade de água, e no
mesmo instante, elas foram transformadas em vinho e dada aos servos
para que fosse servido. Curiosamente, ninguém, fora os servos, soube o
que aconteceu (Jo 2.9). Isso ensina como Jesus é mestre em resolver pro­
blemas sem expor as pessoas (Os noivos pela falta do vinho). Curiosamen­
te, houve um lugar onde Jesus não pode realizar muitos milagres: em sua
própria cidade, Nazaré. A incredulidade dos nazarenos e ausência de va­
lorização da pessoa de Jesus em sua própria terra fez com que os milagres
ali não se tornassem evidente (Mt 13.53-58; Mc 6.1-6). Esse incidente é im­
portante porque mostra que a fé era especialmente necessária para que o
povo recebesse seus milagres de cura.
Curiosamente, tudo isso acontecia simultaneamente em meio a dife­
rentes motivações que existiam no coração de todos aqueles que seguiam
a Jesus. Talvez a característica mais frustrante para ele era a motivação
egoísta de muitos que o seguiam. Isso ficou evidente em uma ocasião em
que ele acusou a multidão de o estar seguindo meramente por causa daqui­
lo que ele poderia lhes proporcionar em forma de bens materiais (Jo 6.26).
Em contrapartida, havia também aqueles que, de bom grado, esqueceram-
-se de suas posses, objetivos de lucro, casas e entes queridos a fim de se
tornar seus íntimos seguidores (Mt 19.27). Entre esses muitos exemplos de
fidelidade e entrega, estavam os apóstolos, e Jesus lhes dedicava uma aten­
ção especial na preparação deles para serem os futuros líderes da igreja. Ali
existia um ministério dentro de outro ministério. E para esses homens foi
um verdadeiro choque ouvir dos lábios de Jesus que ele deveria ir a Jerusa­
lém para ah ser rejeitado e condenado a morte (Mt 16.21-22).
Na verdade, ao longo de todo o seu ministério, Jesus mostrou que
seu destino era ser crucificado (Mt 16.21; Jo 3.14). Mas esse sentimento se
tornou ainda mais forte depois que eles estiveram em Cesareia de Filipe
(Mt 16.13-20). Os discípulos não aceitavam a ideia de que Jesus iria ser
crucificado. Eles não conseguiam entender esse lado do propósito messiâ­
nico. Jesus estava se aproximando da cruz sem nenhum apoio daqueles
que estavam mais próximos dele. Por isso, não é de se surpreender que,
quando a hora chegou, todos o tivessem abandonado.
Dois assuntos parecem dominar os ensinos de Jesus à medida que
o momento do calvário se aproximava (Jo 12.23-27). Um deles é a rejeição
pelo seu próprio povo, e o outro era o seu futuro retorno coberto de glória.
Sobre sua rejeição, ele mencionou vários ensinos e parábolas que eviden­
ciavam isso: Ele é o nobre que visita o seu campo para se apossar de seu
reino. Os cidadãos o odeiam e insistem que não querem que ele os governe,
e ele então retorna (Lc 19.14); Ele é o filho e herdeiro cujos súditos o dese­
jam matar para se apossar de sua herança, mas com isso só conseguiram
destruir a si próprios (Mt 21.33-41); Ele é a pedra que foi rejeitada pelos edi­
ficadores (Mt 21.42) e ele é o filho do rei, cujos convidados para o casamen­
to rejeitaram o convite a fim de darem prosseguimento aos seus próprios
interesses (Mt 22.2 em diante). Acerca do seu retorno em glória ele ensinou
que: Ele é o noivo que espera que haja vigilância acerca do seu retorno (Mt
25.1); Ele é o Senhor que verificará a fidelidade de seus servos quando vier
outra vez (Mt 25.14) e ele é o rei que irá julgar as nações (Mt 25.31).
Naturalmente, os doze apóstolos enfrentaram dificuldades na
adaptação a nova mentalidade que estava sendo compartilhada com eles
através da pessoa de Jesus. Poucas horas antes da última ceia - no cenácu-
lo - eles ainda estavam disputando entre si quem seria o maior (Lc 22.24).
Mas, ver o Senhor inclinar-se para lavar os pés de cada um, ouvindo-o
falar mansamente sobre o seu amor por eles e sua oração para que fos­
sem um nele, e depois vê-lo submeter-se tranquilamente à prisão por seus
algozes, e se dispor a beber do cálice que o Pai lhe havia oferecido - lhes
causou uma profunda revolução e um entendimento de que o evangelho
era um convite a uma nova vida, marcada por prioridades e motivações
diferentes do que até então eles ainda viviam em suas mentes.
Quando estava chegando a hora de enfrentar o calvário, eles se di­
recionaram pela última vez juntos com Jesus à Jerusalém. A cidade estava
abarrotada de peregrinos que haviam ido para a Páscoa, como também
de multidões de zelotes que se preparavam sempre para incitar uma
rebelião contra o domínio romano. As autoridades do templo ficavam
a todo instante apavoradas com tumultos ou rebeliões porque os roma­
nos julgavam-nas responsáveis por manterem a paz na cidade. Jerusa­
lém, literalmente, era o pavio de uma dinamite, e a entrada triunfal de
Jesus sendo saudado pela multidão como “aquele que vem em nome do
Senhor” acendeu o estopim - e ele sabia disso. Jesus não tinha a intenção
de começar uma revolta, mas sabia que atrairia para si a atenção das au­
toridades, deixando-as assustadas e enfurecidas. Isso, na verdade, desen­
cadeou o processo que levaria ao cumprimento de seu destino - prisão,
crucificação e ressurreição.
No dia seguinte, ele assegurou isso ao virar as mesas dos cambis­
tas no templo (para entender mais, veja Caifás). No entanto, Jesus era
muito conhecido para que os guardas do templo tivessem coragem de
prendê-lo em público. Durante o início daquela semana, ele pregou no
templo, discutiu com os fariseus e saduceus (Mt 21.23 - 22.45), que ten­
taram, sem êxito, pegá-lo em suas próprias palavras. Pela noite, entre­
tanto, ele e seus discípulos, saíam da cidade.
Na primeira noite, eles ficaram em Betânia - a três ou quatro qui­
lômetros de Jerusalém - provavelmente na casa de Lázaro (Mt 21.17).
Parece que, depois disso, eles ficaram no monte das Oliveiras, na parte
externa da cidade (Mt 24.3). E isso não se tratava de uma tentativa de se
esconder, mas sim, o fato de que nas festas judaicas a cidade ficava com­
pletamente lotada, e as acomodações eram muito raras e caras, e muitos
preferiam dormir em grupos nos montes do lado de fora da cidade. As
autoridades do templo queriam prender Jesus de um modo discreto e
longe das multidões, mas era difícil encontrá-lo. Esta é a razão porque
as autoridades estavam à procura de alguém que pudesse levá-los a ele,
e foi Judas que, no final, fez este favor.
No quinto dia da semana, Jesus sabia que tudo estava pronto para
o cumprimento do seu destino e disse aos discípulos que se preparassem
para a ceia da Páscoa. Após lavar os pés dos discípulos, ele surpreendeu
a todos ao identificar o pão e o vinho com seu próprio corpo e sangue (Mt
26.26). Este último elemento, em especial, causou-lhes surpresa, uma vez
que a lei proibia o indivíduo de comer sangue (Dt 12.23). Foi só depois da
revelação do dia de pentecostes que eles entenderíam que Jesus estava
se referindo ao corpo e sangue numa perspectiva espiritual, e não a sua
carne e seu sangue físicos.
Após a ceia, Jesus e seus discípulos seguiram para o Jardim do Get-
sêmani, que ficava na parte baixa da encosta do monte das Oliveiras, onde
se acomodaram para passar a noite. Jesus sabia que seria entregue as auto­
ridades naquela noite e se afastou com Pedro, Tiago e João para se preparar
em oração. Não fazendo nenhuma ideia, do que aquela noite significava,
eles adormeceram enquanto Jesus orava. Ele estava muito angustiado, e
Lucas relata que o seu suor era como gotas de sangue que caiam no chão
(Lc 22.44). Este é um fenômeno médico conhecido em casos de grande es­
tresse, e Lucas, sendo médico, foi o único que se interessou por esse detalhe
entre os quatro evangelistas, a ponto de registrá-lo em seu evangelho. Esse
era um fenômeno em que tamanha adrenalina e preocupação faziam com
que a pele ficasse extremamente sensível, a tal ponto que os poros se rom­
piam, e o sangue entrava em contato com o suor. Certamente, isso agravou
a dor que Jesus sentiu após o tratamento brutal que os carrascos tiveram
com ele - enquanto os açoitavam - ainda naquela noite.
O fato de Jesus precisar agonizar para fazer a vontade do Pai, é a
nossa melhor indicação da severidade do seu conflito. Somente uma alma
totalmente livre do pecado podería sentir tamanho horror, como sentiu
Jesus, ao tomar sobre si os pecados de todo o mundo.
Primeiro, Jesus foi levado ao sumo sacerdote, Caifás. Enquanto Jesus
estava lá, Pedro, como Jesus havia alertado na ceia, negou três vezes que o
conhecia. Os guardas maltrataram e humilharam Jesus, e ele foi examinado
pelos oficiais do templo e declarado culpado de blasfêmia. Ao nascer do dia,
levaram-no ao procurador romano Pôncio Pilatos, que era o único que tinha
autoridade legal para punir Jesus. Pilatos não era tão bom quanto parecia.
Embora agiu com “aparente bondade” com Jesus, ele acabou consentindo
na morte do Senhor e usando Jesus para beneficio próprio em seu relaciona­
mento com Herodes Antipas [para saber mais, veja Herodes Antipas].
Quando descobriu que Jesus era um galileu, Pilatos mandou Jesus
para Herodes Antipas - que estava em Jerusalém naqueles dias - e cuja ju­
risdição incluía a Galileia. Herodes era extremamente supersticioso e ain­
da estava apavorado porque havia sido instigado a matar João Batista, a
quem sabia que era um profeta. Por causa disso, Herodes enviou Jesus de
volta a Pilatos. Enquanto isso, os guardas também humilhavam Jesus ao
fazê-lo se vestir com um manto de púrpura (um manto real) e zombavam
dele. Quando Jesus chegou a Pilatos, os sacerdotes ainda o agrediram.
Pilatos então deu uma opção ao povo para que um prisioneiro fosse
solto, ou Jesus ou Barrabás. As pessoas gritaram para soltarem Barrabás e
tiraram Pilatos do sério ao dizerem que ele não era amigo de César se liber­
tasse Jesus que, segundo eles, se dizia rei dos judeus. No governo de Tibério,
não ser chamado de amigo de César poderia ser fatal. Devido também a isso,
embora Pilatos não se importasse com a inocência ou morte de Jesus, o con­
denou a ser crucificado pela multidão.
A crucificação é um dos meios mais cruéis de todos os tempos de
execução. Era extremamente dolorosa e muitas vezes a vítima levava
dias para morrer. Em Roma, a crucificação a princípio, era usada so­
mente para escravos, mas na época de Jesus, em todo o império romano,
havia se tornado uma forma comum de execução de qualquer pessoa
que não fosse um cidadão romano. A última afronta de Pilatos diante
dos sacerdotes judeus foi uma placa que ele escreveu e pendurou no alto
da cruz, dizendo: “JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS” (Jo 19.19). Jesus
foi crucificado junto com dois ladrões - embora a Bíblia não diga o nome
deles, a tradição os chama de Dimas e Gestas. Um deles (Demas), estava
arrependido e, da cruz, falou com o outro em defesa de Jesus, que lhe
prometeu salvação (Lc 23.40-43).
Vale a pena, no entanto, observarmos um detalhe da interpretação
dessa passagem. O texto escrito por Lucas que temos diz o seguinte: “Então
[o ladrão] disse: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. J e ­
sus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”
(Lucas 23:42-43). Entretanto, três dias depois - no domingo da ressurrei­
ção - o próprio Jesus disse a Maria Madalena que ainda não havia ido ao
céu depois de sua morte: “Não m e detenhas, porque a in d a n ã o su b i p a r a
m eu p a i ’’ (Jo 20.17). Jesus morreu em uma sexta-feira e ressuscitou em um
domingo. Como explicar a ida dele para o céu com o ladrão na sexta, se no
domingo ele disse para Maria Madalena que ainda não tinha ido?
Como entender esse texto? Jesus teria mesmo prometido ao ladrão
da cruz que na sexta-feira eles estariam no paraíso? Se eles estiveram no
paraíso, porque Deus Pai não estava lá? Haveria o paraíso sem o Pai?
O mais provável é que há nas traduções contemporâneas um equí­
voco de interpretação em relação ao texto de Lucas. A preposição “que”
existente em nossas Bíblias (no texto de Lucas 23.43) não existia no grego
Koiné, que era o tipo de grego utilizado na época de Jesus. Ou seja, a es­
crita original era provavelmente assim: “Em verdade te digo hoje estarás
com igo no paraíso". Sendo assim, é bem provável, que “hoje” se referisse
ao tempo em que a promessa havia sido feita, e não ao dia em que o la­
drão entraria no paraíso.
Após isso, as últimas palavras de Jesus na cruz foram: “Está con­
sum ado” (Jo 19.30), indicando com isso que sua missão estava cumprida.
Essas palavras foram ditas como um grito de vitória, depois do qual ele
“curvou a cab eça e entregou o espírito”. Uma tradução mais üteral seria
que “ele não moveu mais a cabeça e liberou seu espírito”, mostrando que
esse era um ato de vontade pessoal, e não simplesmente uma morte pas­
siva. Jesus permaneceu consciente e sob o controle da situação até o fim,
quando voluntariamente entregou ao Pai à sua vida terrena.
Como essa crucificação ocorreu em um dia de sexta-feira - e ter al­
guém na cruz no dia de sábado era considerado uma abominação para os
judeus - Pilatos permitiu a remoção dos corpos das cruzes antes do pôr-
-do-sol na véspera do sábado sagrado dos judeus. Quando isso precisava
acontecer, a maioria das vítimas sempre ainda estavam vivas, e por isso
suas pernas precisavam ser quebradas. Com isso acontecia o que era cha­
mado de crucifixão, que é a morte por asfixia. Os pés das vítimas ficavam
presos à cruz (normalmente eram pregados), e a posição desconfortável
na qual a vítima ficava, colocava pressão em seu peito, interrompendo
a entrada de ar nos pulmões. Então a vítima firmava as pernas na base
onde os pés eram pregados e impulsionavam o corpo para cima, alivian­
do assim a pressão para conseguirem respirar novamente. Esse processo
poderia se estender por dias, causando um sofrimento terrível até que,
finalmente, os músculos das pernas ficavam muito fracos, levando a víti­
ma, nesse momento, finalmente a morrer - quase sempre asfixiado.
Isso não aconteceu com Jesus, pois ele foi crucificado às nove horas
da manhã, e às três da tarde entregou ao Pai o seu espírito (Mc 15.25-34).
Quando perceberam que Jesus já estava morto, os soldados não quebraram
as suas pernas, mas cravaram uma lança nele para terem certeza que ele
estava morto. Contudo, cumpriu-se a profecia de que seus ossos não seriam
quebrados (SI 34.20) e de que seu lado seria transpassado (Zc 12.10).
Uma vez que Jesus estava morto, os romanos deixaram José de Ari-
mateia - um judeu rico e um discípulo secreto - levar o corpo de Jesus
para o sepultamento em um túmulo que ele havia feito para si mesmo.
Como sabiam sobre o ensino de que Jesus ressuscitaria, os sa­
cerdotes insistiram para que Pilatos colocasse guardas no túmulo com
medo de que os discípulos de Jesus roubassem o seu corpo e afirmassem
que ele havia ressuscitado (Mt 27.62 em diante). No entanto, no domin­
go pela manhã, quando um anjo rolou a pedra do túmulo, os guardas
ficaram apavorados e desmaiaram (Mt 28.2 em diante). De acordo com
Mateus, os guardas se foram e contaram o ocorrido aos sacerdotes, que
os subornaram para que dissessem que adormeceram e os discípulos,
então, roubaram o corpo de Jesus.
Se os discípulos tivessem roubado o corpo, seria impossível
uma história dessas ter sobrevivido por tanto tempo. Se fosse men­
tira, mais cedo ou mais tarde, alguém deixaria a verdade escapar.
A maior prova da ressurreição, é a fé dos discípulos que m orreram
praticam ente todos martirizados por causa da fé no evangelho e na
ressurreição de Jesus. Ninguém m orrería por uma m entira. A intensi­
dade com que o cristianismo imediatamente começou a se espalhar e
a força com que ele sobreviveu por dois milênios são provas inques­
tionáveis de que o que estava em questão ali era consideravelmente
mais do que uma simples mentira. Como disse Frederick Buechner:
“O que convenceu as pessoas de que Jesus havia ressuscitado não foi
a ausência de seu corpo, mas sua presença viva entre eles. E assim
tem sido desde então”. A ressurreição de Jesus, na verdade, transfor­
mou a crucificação de uma tragédia em um triunfo. Jesus não apenas
morreu por nós, ele também ressuscitou por nós.
Jesus teve um ministério pós-morte e pré-ressurreição (depois da mor­
te e antes da ressurreição). Esse ministério ocorreu no Hades como é afirma­
do em diversas passagens bíblicas do Novo Testamento, como por exemplo,
em Efésios 4.8-10; 1 Pedro 3.18-20 e 4.6. O ministério de Jesus no Hades foi
de redenção. Chamado também de “O ministério da descida”, esse ministé­
rio levou a uma outra dimensão, o poder da missão messiânica, exaltando a
Cristo, que é “o salvador de todo o mundo, em todos os mundos”.
Depois da ressurreição de Jesus, um grupo de aproximadamente
500 pessoas o viram por um período de quase 40 dias. Essas aparições ter­
minaram com a sua ascensão, que por sua vez, deu início a uma nova era
caracterizada pela presença do Senhor no céu em benefício do seu povo
(Hb 9.24). Como cabeça da igreja, Jesus continua a nos dar a sua verdadei­
ra presença e poder sobre a terra, e sem dúvida cumprirá a sua promessa
de retornar e consumar todas as coisas.

Jezabel Nome fenício, significa "Onde está o príncipe (Baal)?"

Jezabel foi esposa de Acabe, rei de Israel. Era filha de Etbaal, rei
dos sidônios e de toda a Fenícia. Etbaal, no entanto, não foi apenas um
rei, mas era também sacerdote de Baal-Melcarte, o deus das tempesta­
des, e de Asera, a deusa da fertilidade. Jezabel também era devota de
Baal e de Asera (IRe 18.19). Ela encorajou Acabe a construir santuários
para o culto a esses deuses, e trouxe centenas de sacerdotes e profetas
dessa reügião para Israel. Ao todo eram 450 profetas de Baal e 400 pro­
fetas de Asera que eram mantidos no palácio com os recursos do tesouro
real (lRs 18.19). Além de fortalecer os profetas de Baal, Jezabel perse­
guia os profetas do Senhor, e mandava matar aqueles que falassem con­
tra seus atos de idolatria (lRs 18.4).
Israel estava corrompido pela idolatria desde a rebelião de Jero-
boão contra Roboão. Assim que Jeroboão se tornou rei, ele estabeleceu
em Siquém, um altar aos deuses egípcios Hator e Ápis, fazendo dois
bezerros de ouro e dizendo: “Aqui estão os seus deuses, ó Israel” (lRs
12.28). Daquele momento em diante os lugares de adoração idólatra se
multiplicaram por todo o Reino do Norte.
Quando Jezabel se tornou rainha - por volta de 869 a.C. - Acabe
imediatamente construiu um templo a Baal na cidade capital de Samaria
(lRs 16.31-33). Jezabel tinha grande domínio sobre Acabe, e este permitia
que ela fizesse tudo o que desejava. “Nunca existiu ninguém com o Aca­
be que, pressionado p or sua m ulher Jezabel, vendeu-se p ara fa z e r o que o
Senhor reprovava. Ele se com portou da m aneira m ais detestável possível,
indo atrás dos ídolos, com o faziam os amorreus, que o Senhor tinha expul­
sado de diante de Israel” (lRs 21.25-26).
Jezabel também criou os seus dois filhos - Acazias e Jorão - para
observar as mesmas práticas, e sua filha Atalia (2Rs 8.18), também levou
suas idéias idólatras para Judá quando se casou com o filho do rei Josafá.
No entanto, Jezabel não só instituiu sua religião em Israel, mas também,
perseguiu e combateu a todos os que adoravam ao Senhor Jeová. Ela se
tornou uma adversária do Senhor Deus.
O principal oponente de Jezabel em Israel era o profeta Elias (lRs
18.21-46). Elias realizou uma disputa no monte Carmelo para provar
quem era o verdadeiro Deus de Israel. E após isso, incitou a multidão a
matar os 450 profetas de Baal que Jezabel cuidava em Israel. Assim que
Jezabel descobriu isso, ela ameaçou matar o profeta Elias, e ele teve que
fugir para a região do monte Horebe.
Jezabel, não só era desrespeitosa, como também não possuía con­
sideração pela propriedade e direitos dos outros. Isso ficou bem evidente
na história da vinha de Nabote que era ao lado do palácio de inverno de
Acabe, em Jezreel. Acabe respeitou o desejo de Nabote de manter a terra
de sua herança, mas Jezabel apossou-se dela de forma impiedosa, forjan­
do uma acusação com testemunhas falsas contra Nabote e depois fazendo
com que ele fosse apedrejado até a morte (lRs 21.1-15). Elias profetizou
que por causa desse assassinato de Nabote, Jezabel e Acabe morreriam de
maneira desonrosa e que Jezabel seria devorada por cães no mesmo local
onde o sangue de Nabote havia sido derramado (lRs 21.19-23).
Após a morte de Acabe - disfarçado em uma batalha - Jezabel conti­
nuou a governar por meio de seus dois filhos, Acazias e Jorão. Uma espécie
de “poder por trás do trono”. Ela também conseguiu desenvolver uma má
influência sobre o Reino do Sul por meio da rainha Atalia, que era sua filha
não só de sangue, mas também de espírito (2Rs 8.18). O remado de Acazias em
Israel, fora um remado fraco e idólatra, seguindo os passos de Jezabel e sendo
manipulado por ela. Ele morreu depois de cair de uma janela no palácio -
provavelmente por causa de um surto de bebedeira. Sem ter nenhum filho,
Acazias teve como sucessor seu irmão, Jorão.
Jorão, embora tenha deixado de promover o culto a Baal, ainda era
em sua essência um idólatra, e pouco fez para apaziguar a ira de Deus con­
tra sua dinastia. Depois de doze anos de governo, ele foi morto pelo general
revolucionário Jeú, que se tornou o próximo rei de Israel.
Quando Jeú assumiu o trono de Israel, ele limpou tudo o que ainda
havia de resquício do governo e da família de Jezabel no Reino do Norte.
Jezabel foi lançada por dois guardas israelitas - a mando de Jeú - da torre do
palácio de Jezreel e atropelada por sua carruagem sendo pisoteada por seus
cavalos. De forma muito insensível, Jeú depois entrou no seu palácio para
almoçar com seus soldados e, mais tarde, quando ele enviou seus servos para
enterrá-la, os cães já haviam se lançado sobre o seu corpo, restando apenas
seu crânio, seus pés e as palmas de suas mãos (2Rs 9.34-37). Cumprindo-se
assim, a profecia que Elias fizera.
Em Apocalipse 2.20, o nome Jezabel é dado a uma falsa profetiza
da igreja de Tiatira que encorajava a idolatria e a imoralidade sexual.
Evidentemente, esse nome já havia se tornado um símbolo de apostasia
desde aquela época.

Nome semita, significa: “Onde está meu pai?".

A narrativa de Jó e suas experiências representam uma história


verídica, e não uma ficção. Essa conclusão é fundamentada nas refe­
rencias feitas a Jó em outras passagens bíblicas (Ez 14.14,20; Tg 5.11).
Ele foi célebre tanto pela sua riqueza, como posteriormente pela forma
que soube lidar com sua pobreza, e também por sua paciência e temor
a Deus. O Todo-Poderoso o descreveu como um “homem íntegro e reto,
que temia a Deus e se desviava do mal” (Jó 1.8).
Quem ele era, quando viveu ou mesmo a época em que foi escrito
o livro que leva seu nome tem sido alvo de muito debate e até o momen­
to não se chegou a um consenso. O que existem são algumas pistas no
próprio livro de Jó que nos sugerem algumas idéias sobre ele. Por exem­
plo, no registro de suas posses o uso da palavra qesitha para “dinheiro”
(Jó 42.11), que era uma moeda da época dos patriarcas. Outro detalhe
é a ausência de qualquer referência a fé e a cultura judaica (dando a
entender que Jó viveu antes da lei ser dada a Moisés) e também a quan­
tidade de anos em que Jó viveu (provavelmente mais de 200 anos). Tudo
isso sugere que Jó tenha vivido ainda no período patriarcal (época de
Abraão, Isaque e Jacó).
Jó, provavelmente, não viveu apenas no tempo patriarcal, mas
principalmente viveu “a vida patriarcal”. Isso se entende pela quantida­
de de filhos que tinha - sete filhos e três filhas - pelo fato de que seus fi­
lhos aparentemente não se ausentaram de seu convívio próximo (talvez
formando até um clã) e pela quantidade de animais que ele tinha - sete
mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas
mulas. Além disso, ele tinha um nome usado por um grande número de
semitas da região ocidental no início do segundo milênio a.C., mas que
não é encontrado mais no primeiro milênio naquela região.
Jó vivia na terra de Uz (Jó 1.1), o que segundo alguns estudiosos,
ficava situada em algum ponto entre Damasco, ao norte, e Edom, ao sul,
ou seja, na região de divisa da Síria com a Palestina. Jó é chamado de “o
m aior de todos os do Oriente” (Jó 1.3), mas essa é uma descrição muito
vaga, e para descrições concretas parece não ter muita utilidade.
No entanto, de uma forma misteriosa, quando tinha por volta de
70 anos - segundo a tradição antiga pelos intérpretes hebreus - Jó aca­
bou se tornando o centro de um debate entre Deus e Satanás - claramen­
te este debate foi vencido pelo Senhor - mas até que isso acontecesse à
vida de Jó se tornou um reboliço. Satanás acusou Jó de servir ao Senhor
por interesse naquilo que o Senhor lhe dava. Deus então o autorizou a
tirar tudo o que Jó possuía de valor na vida humana para que a motiva­
ção verdadeira de Jó fosse revelada. Após perder bens, rebanhos, filhos
e a sua própria casa, Jó adorou ao Senhor em vez de blasfemá-lo. Deus
havia vencido o debate. Satanás tentou mais uma vez dizendo que “pele
p or pele, o hom em dará tudo p o r sua vida”. Deus então o autorizou a
tocar em sua saúde, sem tocar em sua alma. Veio sobre Jó uma enfermi­
dade em sua pele - mais semelhante a uma lepra - e “em tudo isso não
pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2.10), mas manteve sua fé e devoção ao
Senhor, e mais uma vez Satanás saíra derrotado do debate.
Vale a pena destacarmos, no entanto, que na primeira autoriza­
ção que Deus deu a Satanás para que tocasse nos bens terrenos de Jó,
havia uma variedade imensa de coisas que poderíam ser tiradas primei­
ro, como por exemplo: os filhos, a casa, os servos, os rebanhos, etc. No
entanto, a primeira coisa que o Diabo tirou de Jó foram os bois (Jó 1.13-
15). Isso é interessante, pois eram justamente os bois que eram ofereci­
dos em adoração e holocaustos de sacrifício ao Senhor, principalmente
quando Jó sacrificava pelos seus filhos (Jó 1.5). Era uma tentativa clara
do Diabo de começar destruindo Jó, calando a sua adoração. No entanto,
“J ó se levantou, rasgou o seu manto, raspou a sua ca b eça e, lançando-se
em terra, ad o ro u ” (Jó 1.20). Jó havia entendido que adoração não está
ligado somente ao que eu tenho ou ofereço, mas principalmente, ao que
eu sou e faço. A adoração de Jó não foi calada!
Jó não tinha ideia sobre o desafio entre Deus e Satanás, que estava
acontecendo na eternidade por causa dele. Na verdade, sabemos mais
sobre a causa do sofrimento de Jó do que ele próprio sabia. Pois ao leitor
é permitido passar alguns momentos junto a Deus e ouvir conversas
relacionadas à situação de Jó. Conversas essas que Jó não teve acesso.
Em pouco tempo o homem que era riquíssimo, veio a um estado
de miséria de forma inexplicável, perdendo todos os rebanhos e ser­
vos, e o mais doloroso de tudo: os seus amados dez filhos. Entretanto, a
esposa de Jó, aparentemente, não morreu durante essa crise, mas foi a
mesma mulher com quem Jó teve os últimos dez filhos após a restaura­
ção de seus bens.
Satanás não havia conseguido vencer o Senhor, mas Deus havia
permitido ele ferir Jó. Sentado no meio das cinzas e coçando-se com um
caco de cerâmica, Jó ouviu sua mulher gritar-lhe amargamente: “Persis­
tes ainda em tua integridade? Amaldiçoa a teu Deus e morra” (Jó 2.9).
A partir da agonia e do enigma de seus sofrimentos, Jó levantou
uma queixa (Jó 3), e uma discussão longa e formal entre ele e seus três
amigos - Elifaz, Bildade e Zofar - se iniciou (Jó 4-31). Na verdade, esses
homens foram seus detratores e algozes mentais, apesar de seus discur­
sos serem bastante eloquentes, em certo momento. As palavras desses
homens que devia ser de consolo, logo se tornaram em acusações. No
entanto, esse debate serviu para mostrar a insensatez da sabedoria tra­
dicional do mundo, que levou os amigos de Jó ao juízo totalmente falso
de que seus sofrimentos eram uma indigna consequência de um radical
abandono do temor de Deus na vida de Jó.
Na mentalidade religiosa daquela época - representada pelos três
amigos de Jó - defendia-se claramente a ideia de que prosperidade e
miséria eram o salário da justiça e do pecado, respectivamente. Eles só
conseguiam enxergar as perdas como símbolo do mal, e não como um
processo para revelar um bem ainda não existente. Eles enxergavam o
mal apenas como fruto do pecado, e não da permissão de Deus.
No ápice da sua dor, Jó expressou sua mais profunda depressão ao
amaldiçoar seu próprio nascimento - entretanto, ele não amaldiçoou a
Deus. Por fim, Eliú, o mais jovem e o último a chegar, protestou, irritado
com todos eles. Ele dizia que os três amigos de Jó não havia lhe dado
respostas apropriadas, e se irou equivocadamente com Jó dizendo que
Jó havia pecado, porém negava em reconhecer esse “seu p eca d o ” (Jó 32.2
em diante). Porém, o livro de Jó não atribuiu os sofrimentos daquele
homem ao fato dele ser um pecador, aquilo era uma permissão dos de­
sígnios de Deus.
Por seis capítulos, Eliú repreendeu a Jó e a seus amigos. Mas Deus
falou com Jó “do seio da tem pestade” (Jó 38.1), e calou todos os amigos
de Jó, inclusive Eliú. Deus fez uma proposta a Jó de castigar os seus três
amigos, por causa do entendimento errado que eles tinham da obra do
Senhor. Jó, no entanto, intercedeu por seus amigos e “o Senhor aceitou a
o raçã o d ele” (Jó 42.9).
Por fim, Elifaz, Bildade e Zofar foram repreendidos. Jó recuperou
sua posição e sua riqueza perdida lhe foi retribuída em dobro. Em sua
nova casa, Jó recebeu todos os seus parentes (irmãos) e amigos que vie­
ram para lhe trazer presentes e consolo (Jó 42.11). E ele gerou novamen­
te sete filhos e três filhas - Jemima, Quésia e Queren-Hapuque - e estas
eram as moças mais formosas de sua época.
Jó ainda viveu para ver a quarta geração de seus filhos (seus ta-
taranetos), e morreu com aproximadamente dois séculos de vida (pro­
vavelmente 210 anos). Isso porque após a restauração de seus bens e de
sua saúde Jó ainda viveu mais 140 anos (Jó 42.16).

João Batista Nome hebraico,


significa “Deus tem sido gracioso".

João Batista foi o precursor do ministério de Cristo. Foi aquele que


“preparou o caminho” para a vinda do Messias. Sua mensagem incluía
instrução ética, denúncia profética e ensinos escatológicos. O último
profeta do período da lei não foi Malaquias, como muitos pensam, mas
sim João Batista. Pois, o que marcou o fim da lei (velha aliança) e o início
da graça (nova aliança) não foi o nascimento de Cristo, mas, sim a sua
morte como o “cordeiro da nova aliança”, cumprindo assim a lei e, inau­
gurando um novo e vivo caminho de volta a Deus.
Jesus disse que “nascido de mulher, ninguém foi maior do que João
Batista” (Lc 7.28). Ele era também considerado por Jesus como o “Elias que
haveria de vir” ou o segundo Elias, enviado por Deus de acordo com uma
antiga profecia (Ml 4.5; Mt 11.13-15). Tudo em João lembrava o profeta Elias
-vivia no deserto, sua vestimenta (vestia-se de pele de camelos), a severidade
de sua mensagem e pessoas reunidas para ouvi-lo.
João Batista era filho de Zacarias, um sacerdote “da classe de Abias”,
um dos 24 grupos que serviam no templo. Sua mãe, Isabel, era descenden­
te de Arão (Lc 1.5). Isabel era estéril, e assim como Zacarias eram idosos.
Foi quando o anjo Gabriel apareceu a Zacarias lhe trazendo uma mensa­
gem de Deus, dizendo que Isabel teria um filho. Quando o anjo explicou
que o menino convertería o coração dos pais aos filhos e prepararia para
o Senhor um povo bem disposto, indicou que, por meio do ministério de
João Batista, a última profecia no antigo testamento estava prestes a se
cumprir (Ml 4). Zacarias não creu nessa possibilidade devido a sua idade
avançada, e por isso ficou mudo até o dia do nascimento de João Batista.
O nascimento de João Batista aconteceu três meses antes do de
Jesus, Isabel e Maria, mãe de Jesus eram primas, sendo assim, eles eram
primos de segundo grau. João Batista nasceu aproximadamente no ano
5 a.C. Os pais de João moravam em uma cidade situada na região mon­
tanhosa de Judá, talvez em Juta, que era a cidade sacerdotal de Hebrom.
Um fato interessante sobre a gestação de Maria e Isabel está no relato
do dia que Maria, gestante de Jesus foi visitar Isabel, gestante de João
Batista. “Ao entrar Maria na casa de Zacarias, saudou a Isabel, ao ouvir
Isabel a saudação de Maria, a criança saltou no seu ventre, e Isabel foi
cheia do Espírito Santo. Exclamou Isabel em alta voz: Bendita és tu entre
as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre” (Lc 1.39-42).
No entanto, a história do nascimento de João Batista é exclusiva
de Lucas. Nenhum dos outros evangelistas demonstra qualquer conhe­
cimento de vínculo tão próximo entre João e Jesus anteriormente ao ba­
tismo. Lucas concluiu o relato do nascimento de João com a observação
enigmática de que “já crescido, o menino habitava nos desertos, até o
dia em que se manifestou a Israel” (Lc. 1.80). [Para saber como Lucas teve
acesso a essas histórias, ver Lucas].
Em Lucas 3.2, nós temos um importante detalhe sobre os dias em
que João Batista viveu. Lucas escreve que “sendo Anás e Caifás sum os
sacerdotes, veio no deserto à palavra do Senhor a Jo ã o , filh o de Z acarias”.
Nesse texto há uma aparente incoerência. Não havia “sumos sacerdo­
tes”, havia um sumo sacerdote. O que Lucas está fazendo é uma denún­
cia. Anás era sogro de Caifás, ele havia transformado a posição religiosa
em um patrimônio familiar.
Anás passou o sumo sacerdócio para o seu genro, Caifás. Este era
o escolhido de Anás, mas o escolhido de Deus para aquele momento no
sacerdócio era João Batista (que era de linhagem sacerdotal e também a
comunicação de Deus com Israel naqueles dias). Anás decidiu fazer suas
escolhas, mantendo sua família no poder. Com isso Deus “saiu do templo”
(inclusive a Arca da Aliança não estava mais lá) e foi para o deserto e le­
vou com ele o seu sumo sacerdote, João Batista. E as multidões saiam da
cidade para o deserto para ouvir João Batista, o sacerdote de Deus [para
mais informações, ver Caifás].
Por isso, que João é chamado de “a voz do que clam a do deserto” (Lc
3.4). Quem estava clamando no deserto? O próprio Deus, pois havia saído
do templo. No livro do Apocalipse, Jesus saiu da igreja em Laodiceia. A
permissividade ao pecado, a corrupção no ministério e ausência da glori­
ficação exclusiva de Deus, faz com que ele abandone alguns lugares.
Embora João Batista fosse da linhagem sacerdotal, grande parte
das suas pregações era contra a corrupção dos sacerdotes do templo. Ele
era um fervoroso denunciador do engano, a antítese perfeita dos fari­
seus e saduceus, que pelo poder e influência das riquezas, controlavam
a vida social e religiosa da Judeia. Enquanto eles viviam luxuosamente
nas cidades grandes, João Batista vivia em uma caverna do deserto, so­
brevivendo à base de gafanhotos e mel silvestre (Mt 3.4).
Seu ministério começou muito antes do de Jesus. João era muito
conhecido em toda a Judeia e Galileia na época em que Jesus foi por ele
batizado. Ao contrário de Jesus, ele não ia de um lugar para o outro para
pregar, mas permanecia em um único lugar. Formou um grupo de dis­
cípulos e, ao que parece, estabeleceu seu “centro de operações” em uma
caverna do lado oriental do rio Jordão, a alguns quilômetros ao norte do
mar Morto. O batismo era a principal marca do seu ministério, todavia,
ele não foi seu originador. Sua distinção estava no sentido que João colo­
cou no ato. Basicamente ele tinha duas facetas: uma orientação messiâni­
ca ou escatológica, e uma renovação pessoal na vida da pessoa batizada.
O evangelho escrito João diz que João Batista batizava em Betânia,
do outro lado do Jordão (Jo 1.28). Isto para distingui-la da Betânia que
ficava próxima de Jerusalém, onde morava Lázaro. Próximo da caverna
de João batizava, do outro lado do rio, ficava o Wadi Qumran, onde vivia
uma comunidade de essênios. Os essênios eram judeus que haviam rejei­
tado a corrupção de Jerusalém e do templo, e preferiam viver uma vida
simples e isolada no deserto. Há os que pensam, que devido João ter sido
filho de pais idosos, pode ter ficado órfão cedo e ter sido adotado pela
comunidade essênia. No entanto, não podemos afirmar que João era tam­
bém um essênio, embora muitos acreditam que era, mas, o que sabemos é
que certamente ele se simpatizava com os padrões morais e religiosos dos
essênios. Os essênios, porém, ainda esperavam pela chegada do Messias;
João sabia que ele já estava ah. Assim como os essênios João se afastou da
sociedade, porém, ao contrário deles, ele procurou reformá-la mediante
sua pregação. Sua comida, roupa e estilo indicavam sua rejeição do “Is­
rael” oficial da época e sua convicção de uma chamada profética.
Quando tinha 30 anos, João Batista apareceu pregando no deserto
do Jordão. Acredita-se que exerceu o seu ministério em um ano sabático,
em que o povo descansava dos trabalhos rurais, e, portanto, estavam em
condições de atenderem e seguirem as suas pregações. Provavelmente
esse ano foi o ano 26 d.C.
Seu ministério pregava o juízo final e conclamava o povo a se ar­
repender. “Raça de víboras”, exclamava. “Quem vos ensinou a fugir da
ira que está para vir? Produzi, então, frutos dignos de arrependimento...
O machado já está posto à raiz das árvores, e toda a árvore que não
produzir bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (Lc 3.7-9). Quando,
porém, João definiu as regras do arrependimento, não falou de rituais
religiosos, como seus ouvintes provavelmente esperavam. Em vez dis­
so, enfatizou a justiça social: “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com
aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo” (Lc 3.11).
Tendo definido sua mensagem na ênfase da necessidade de ar­
rependimento, como um símbolo dele, ele usava o tradicional miqvah,
(batismo) um ritual para purificação de pecados. Antes de entrar no san­
tuário principal do templo, em Jerusalém, um homem tinha que ir para
um tanque ritual chamado iqah onde se emergia por inteiro em águas
limpas como um símbolo de sua purificação ritual. Na época de João,
isto havia se tornado um negócio muito lucrativo. Todo peregrino com
destino ao templo tinha de entrar nos m iqvoh (o plural de m iqvah), e ha­
via uma taxa a ser paga para isso. As melhores m iqvoh (para as pessoas
mais ricas) ficavam nas casas dos sacerdotes, e os ricos pagavam caro
para usar esses belos tanques, em vez de terem de “se misturar” com as
pessoas comuns. As pessoas mais pobres não podiam nem sequer pagar
os mais baratos, e consequentemente, não podiam fazer parte da “corte
dos fiéis” daqueles que se purificavam.
Próximo ao que se acredita ser a caverna de João Batista, no Jor­
dão, havia um m iqvah natural alimentada pelas águas do Jordão, onde
João batizava qualquer pessoa que o procurasse, sem cobrar taxas. O
único preço a ser pago era o preço do arrependimento de seus pecados,
abandonando sua vida passada e decidindo seguir um caminho melhor
e reto dali em diante. O batismo de João era de uma vez por todas, um
ato final e decisivo de arrependimento, para não ser mais repetido.
A palavra “batizar” vem do grego baptizein, “mergulhar-se” ou “la­
var-se”. Ao fazer isto, João deu um significado completamente novo ao
miqvah. Antes, ele era um simples símbolo de pureza ritual de acordo
com os padrões da lei mosaica. João transformou-o de modo que fosse
um símbolo do perdão de pecados e de um novo estilo de vida em rela­
ção a Deus. Essa era uma ameaça ao sistema tradicional da época, que
afirmava que o perdão de pecados só poderia ser concedido pelos sa­
cerdotes do templo (mediante tal taxa). João declarava que Deus dava o
perdão de pecados gratuitamente a qualquer pessoa que se arrependes­
se e o pedisse. Seu modelo de batismo se tornou uma ordenança cristã
central (At 2.38).
Um dos momentos mais marcantes do seu ministério foi o batis­
mo de Jesus (Mt 3). Ele nunca concentrou o foco do seu ministério em si
mesmo. Seu ministério sempre apontava para Cristo. No fim de sua vida
quando questionado sobre o porquê as multidões agora seguiam mais a
Jesus do que a ele, respondeu: “é necessário que ele cresça e eu diminua”
(Jo 3.30). Ele sabia que o batismo nas águas feito por ele, era um sinal de
um batismo ainda maior pelo Espírito que o Messias administraria.
João não abandonou o seu ministério após o batismo de Jesus, mas
continuou até sua prisão e morte, provavelmente menos de um ano de­
pois. Alguns dos seus discípulos, no entanto, deixaram-no e seguiram
Jesus, entre eles, André, irmão de Pedro (Jo 1.35). É provável que grande
parte de seus seguidores tenha se dirigido a Jesus após a morte de João.
O rei Herodes Antipas era odiado por seus súditos. Ele não só adu­
lava os romanos, mas também era um idumeu, não um judeu. E, embora
tecnicamente tivesse adotado a fé judaica, ele certamente não a levava a
sério. Casou-se com Herodias, mulher de seu irmão, e a lei judaica proi­
bia esse tipo de união no casamento.
João Batista condenava Herodes por tal imoralidade, e essa foi “a
gota d’água” que faltava para Herodes, que já estava furioso com João
por pregar contra o sistema tradicional da época. Não obstante a isso,
Herodes tinha medo de João. Ele era um homem supersticioso e tinha
medo de fazer mal a um profeta. No entanto, também era um homem
cobiçoso, e Herodias, que detestava João, aproveitou-se desse fato. A so-
brinha-neta de Herodes, filha de Herodias com seu primeiro marido,
Herodes Felipe, dançou cheia de lascívia para Herodes depois de arran­
car dele uma promessa de que, se ela dançasse assim, ele lhe daria qual­
quer coisa que ela pedisse (Mt 14.6). Flávio Josefo diz que seu nome era
Salomé. Quando terminou de dançar para surpresa de todos o que ela
pediu foi à cabeça de João Batista em um prato. Herodes não teve cora­
gem de se rebaixar para quebrar uma promessa feita em público, por
isso concordou com seu pedido. João Batista foi preso na Fortaleza de
Maquero e foi decapitado a mando de Herodes, morrendo assim com 31
anos de idade. Essa fortaleza está nas montanhas da parte oriental do
mar Morto, 10 km ao norte de Arnom e sobre um espaço de forma côni­
ca de 1.300 metros acima do nível do mar Morto. Ainda se podem ver as
ruínas das muralhas que circundavam a antiga fortaleza de Maquero,
dentro da qual existe uma profunda cisterna e duas prisões. Uma delas
teria sido a que foi preso e morto João Batista.
O historiador Flávio Josefo apresenta em seus escritos um rela­
to interessante sobre as consequências que vieram sobre Herodes por
ter matado João Batista: “M as alguns dos judeus criam que o exército
de H erodes fo r a destruído p o r Deus. Deus o puniu, muito justam en te por
cau sa de Jo ã o , o Batista, a quem H erodes matou. Pois J o ã o era um hom em
piedoso, e orden ava aos judeus que praticassem a virtude, exercitassem
a ju stiça uns p a ra com os outros e p ara com Deus e se unissem p a ra o
batism o. E quando todos se viraram p a ra Jo ã o , fo r a m profundam ente agi­
tados p o r tudo o que ele falou . H erodes temeu que a extensa influência
de J o ã o sobre o povo levasse a uma revolta (pois provavelm ente o povo
p a recia fa z e r tudo o que ele recom endava). Ele pensou que seria melhor,
sob as circunstâncias, tirar J o ã o do cam inho, antes que qualquer insur­
reição pudesse se desenvolver. Assim, p o r cau sa da suspeita de H erodes,
J o ã o f o i enviado com o prisioneiro a M aquero, a fo rta lez a j á m encionada
e ali levado à morte. Mas os judeus acreditavam que a destruição que al­
cançou o exército veio como castigo por causa de Herodes, Deus queria
fazer-lhe mal”.
Essa destruição sobre o exército de Herodes se referia a uma guer­
ra que Herodes perdeu em 36 d.C. para o rei Aretas IV, rei dos nabateus e
ex-sogro de Herodes. Aretas IV era o pai da primeira esposa de Herodes,
que foi abandonada quando ele tomou por mulher Herodias, que era
esposa de seu irmão. O testemunho de Josefo nos lembra que a memória
de João durou bastante tempo mesmo após a sua morte.
Em João 10.41 “muitos procuravam Jesus, e diziam: embora João
Batista não tenha feito nenhum sinal miraculoso, tudo o que ele falou
sobre este homem era verdade”. Isso nos ensina que a maior virtude de
um homem de Deus não está em reaüzar grandes feitos ou operar sinais
miraculosos, mas sim, em ter credibilidade em suas palavras. A cons­
tância no caráter de um homem vale mais que a operação de um sinal.
Bem depois da morte de Jesus, Áquila e Priscila encontraram um
judeu chamado Apoio, que tinha sido discípulo de João Batista e tinha
vindo de Alexandria (At 18.24 em diante), e logo depois Paulo encontrou
um grupo de doze discípulos de João em Éfeso (At 19.1-7). Isto indica que
os seguidores de João eram razoavelmente numerosos e foram espalha­
dos após a sua morte. Até hoje existe uma seita chamada de os mandea-
nos, que alega perpetuar o movimento iniciado por João Batista.
A igreja atual possui uma semelhança com João Batista. Pois João
Batista preparou o caminho para a primeira vinda de Jesus, e a igre­
ja atual tem a missão de preparar o caminho para a segunda vinda de
Cristo. Mas, para isso, a mensagem de arrependimento que João Batista
pregava, precisa voltar a ser pregada. Que Deus desperte a todos que
compartilham o evangelho para que preguem sobre a necessidade de
arrependimento na atualidade, preparando as pessoas para a segunda
vinda de Cristo.

Nome hebraico, significa "Deus tem sido gracioso".

O Apóstolo

O apóstolo João foi um dos principais líderes que deram forma ao


curso do cristianismo na época primitiva, tanto pelo seu trabalho pas­
toral, como também pelos seus escritos (o quarto Evangelho, suas três
epístolas e o Apocalipse).
João era filho de Zebedeu (Mc 1.2), sua mãe era Salomé (Mc 15.40;
Mt 27.56), e tinha um irmão chamado Tiago, que também foi discípulo de
Jesus (Mt 4.21). Fazendo uma comparação com João 19.25, é provável que
Salomé tenha sido irmã de Maria, a mãe de Jesus - sendo assim, provavel­
mente João e Jesus eram primos. Isso pode explicar, em parte, a intimida­
de existente entre eles, claramente demonstrada pelos evangelhos.
Essa família se dedicava à atividade da pesca, e haviam servos que
ajudavam a Zebedeu e seus filhos (Mc 1.20). Uma sociedade havia sido for­
mada com outra dupla de irmãos, Simão Pedro e André (Lc 5.10), e como
Simão Pedro e André viviam em Betsaida, na Galileia (Jo 1.44), é provável
que este também fosse o lugar da moradia de João. É bem possível também
que a família de João possuísse alguns recursos. Provavelmente, sua mãe era
membro daquele grupo de mulheres que forneciam a Jesus os recursos para
sua subsistência (Lc 8.2-3; Jo 19.25). Em João 19.26-27, temos a impressão de
que essa família mantinha também uma casa na região de Jerusalém.
Embora o nome de João seja frequente nos evangelhos sinóticos,
isso não acontece no quarto evangelho. Nele, João se apresenta como “um
dos filhos de Zebedeu” (Jo 21.2), “o discípulo a quem Jesus am ava” (Jo 13.23;
19.26; 20.2; 21.7,20), “o outro discípulo” (Jo 18.15) e “o discípulo am ado” (Jo
21.24). A razão disto, é que provavelmente por modéstia João tenha prefe­
rido manter o seu nome fora dos seus escritos.
Vale a pena lembrarmos, que a expressão “o discípulo a quem Je­
sus amava” não significa que ele não amava a todos. No caso de João,
elas significavam que ele reconhecia esse amor do Senhor por ele. A
constatação de que ele era íntimo do Senhor está indicada no fato de que
ele repousou sua cabeça sobre o peito dele na última ceia (Jo 13.23). Seu
relacionamento com o mestre também fica evidente no fato de que João
foi o único discípulo que esteve presente no momento da crucificação,
e que foi a ele que Jesus deu a incumbência de cuidar de sua mãe após
sua partida (Jo 19.26-27). Esse episódio certamente mostra que havia um
relacionamento próximo entre Jesus e João.
É bastante provável também que João fosse aquele discípulo anô­
nimo que, em companhia de André, passou várias horas ao lado de Jesus,
depois que João Batista o indicou (Jo 1.35-40). Se assim for, isso significa
que ele e alguns dos outros discípulos de Jesus tinha sido seguidores de
João Batista antes de dedicar seu tempo a seguir ao Senhor. Entretanto,
o apelo mais definitivo ao discipulado veio um pouco mais tarde, na Ga-
lileia, quando João e seu irmão Tiago, foram convocados a deixar as suas
redes e se tornarem pescadores de homens (Mc 1.19). Ainda mais tarde,
quando 12 homens foram escolhidos para serem os futuros apóstolos da
igreja, João foi incluído entre eles.
João aparece como pertencente do grupo mais intimo de Jesus en­
tre os discípulos, juntamente com Pedro e Tiago. Estes três discípulos
estiveram sozinhos com Jesus em momentos especiais: ressurreição da
filha de Jairo (Mc 5.37), na ocasião da transfiguração (Mc 9.2), e na noite
de vigília do Getsêmani (Mc 14.33). Ao lado de Pedro, João também re­
cebeu a responsabilidade de preparar a festa da Páscoa para Jesus e os
demais apóstolos (Lc 22.8).
Em certa ocasião, a caminho de Jerusalém, Tiago e João, ofereceram-se
para fazer cair fogo do céu sobre uma cidade de Samaria que havia recusado
hospitalidade a Jesus. Provavelmente, eles ainda não haviam entendido que
o poder miraculoso que eles possuíam não era para ser usado para expres-
sar um comportamento de vingança para aqueles que eram alvos da sua
missão (Lc 9.51-55). Justamente por isso, eles foram chamados de “filhos do
trovão”, indicando assim, que eles possuíam um temperamento impulsivo e
um caráter intempestivo. Vemos isso, por exemplo, quando João encontrou
um homem que expulsava demônios em nome de Jesus, porém não era um
dos discípulos. João o instruiu a não fazê-lo, “porque não era um dos nossos”
(Mc 9.38; Lc 9.49). Jesus, no entanto, mostrou a João que ele não deveria proi­
bi-lo, pois “quem não é contra vós é por vós” (Lc 9.50). Interessantemente, as
ricas experiências ao lado de Jesus, causaram tanto impacto em João que ele
foi transformado de “filho do trovão” para o “apóstolo do amor”.
Em outra ocasião, João se aliou ao seu irmão Tiago na exposição
de indesejáveis interesses pessoais. Usando a mãe - Salomé - como uma
intermediária para expressar a ambição que eles possuíam, João e Tia­
go solicitaram lugares exclusivos de honra ao lado de Jesus quando o
seu reino de glória chegasse (Mc 10.35; Mt 20.20). Provavelmente, eles
ainda não haviam aprendido a crucificar a sua egoísta ambição. Jesus
então passou a perguntar-lhes se eles poderíam beber o cálice que ele
beberia. Claramente, essas eram metáforas para o sofrimento pelo qual,
em tempo oportuno, Jesus passaria. Tiago e João, sem ter noção do que
aquilo representava, afirmaram que poderíam, e Jesus curiosamente
lhes assegurou que de fato eles fariam isso, ou seja, beberiam do cálice
de sofrimento de Cristo.
No entanto, Jesus não lhes prometeu nada acerca dos “lugares no
reino”, mas fica claro, que eles sofreram por Cristo. Tiago foi o primeiro
apóstolo a ser martirizado, em torno de 44 d.C. (At 12.1). João, embora te­
nha sido o último dos doze apóstolos a morrer, não escapou, no entanto,
dos sofrimentos por amor a Cristo, sendo assim, participante também de
um “pouco deste cálice” que eles disseram que aceitariam beber. Porém, o
Senhor garantiu a João um futuro totalmente diferente do de Simão Pedro
no decorrer de sua vida (Jo 21.22).
No entanto, é justo registrarmos, que essa “sede por poder e por
posição” não era exclusiva de Tiago e João. Pouco antes desse pedido que
eles fizeram a Jesus, encontramos uma deücada situação de conflito entre
os doze sobre quem entre eles era o maior (Mc 9.33-34). Mateus e Lu­
cas também registra que havia entre os doze uma certa contenda “sobre
qual deles parecia ser o m aior” (Mt 18.1; Lc 22.24). Diante disso, o pedido
ganancioso de Tiago e João gerou indignação nos outros discípulos, não
porque isso lhes tinha parecido algo abominável a eles, mas sim, porque
isso representou um ousado adiantamento deles na busca pelas posições
e privilégios tão sonhados por todos eles no reino messiânico (Mc 10.41).
Depois da ressurreição, na manhã da Páscoa, João correu com Pedro
até o sepulcro, quando Maria Madalena lhes contou que ele estava vazio.
João ganhou a corrida, mas ficou do lado de fora até que Pedro chegasse.
Pedro, o líder dos discípulos, entrou direto, e João o seguiu. Lemos que ele
“viu e creu” (Jo 20.8). Poucos dias depois, os discípulos se reuniram para
pescarem na Galileia, e é importante notar que foi João quem reconheceu
que era Jesus quem estava na praia e lhes disse onde lançar a rede (Jo 21.7).
Após o dia de pentecostes, João é mencionado de uma maneira
um pouco mais discreta. Nos capítulos 3 e 4 de Atos, João é menciona­
do ao lado de Pedro, como coparticipante da cura miraculosa de um
coxo, que mendigava diariamente à porta do templo. Na ocasião, eles
estavam indo à oração a nona (oração das três da tarde). Antes de tudo,
esse relato demonstra que João - assim como Pedro - embora ministros
do evangelho, ainda se encontravam, de alguma maneira, ligados aos
rituais judaicos, sob os quais haviam crescido.
Embora João não seja mencionado especificamente, sem dúvidas,
ele também estava incluído entre os apóstolos que foram presos por
causa da inveja de alguns judeus importantes (At 5.17-18). Essa prisão,
no entanto, não durou muito tempo, de modo que retomaram sua pre­
gação de manhã bem cedo (At 5.21).
João e Pedro também foram a Samaria para conferirem de perto a
obra que Deus estava realizando ali através do evangelista Filipe. É inte­
ressante notar que o mesmo João que anteriormente queria carbonizar
os samaritanos pela falta de hospitalidade deles com Jesus (Lc 9.54), é
justamente um dos enviados à Samaria, para acompanharem a igreja
ali, orando com imposição de mãos sobre aqueles novos irmãos em Cris­
to. Curiosamente, João acabou realizando seu antigo desejo, porém de
outro modo e com outra motivação. Fez cair sobre os samaritanos “fo g o
do céu ”, porém, um fogo purificador, que ardia o interior com o calor da
presença divina: “Então [Pedro e Jo ã o ] lhes im puseram as m ãos, e eles [os
sam aritanos] receberam o Espírito Santo” (At 8.17).
Após isso, João não é mais citado no livro de Atos, mas certamente
estava entre os que estavam no primeiro concilio da igreja em Jerusa­
lém, em 49 d.C., quando se reuniram os líderes da igreja para discutirem
como seria a integração dos gentios na comunidade cristã (At 15). Nos­
sa última visão de João na região de Jerusalém é fornecida por Paulo,
quando este se encontrou com Tiago, irmão de Jesus, Pedro e João, e
nessa ocasião, João foi considerado como uma das colunas da igreja de
Jerusalém (G1 2.9). Vale lembrar que o termo usado aqui para “coluna”
no grego é stulos. Esse termo era frequentemente aplicado aos mestres
da lei e àqueles sobre quem pesavam grandes responsabilidades espiri­
tuais, o que sugere a forma com que Paulo - e provavelmente a igreja da
época - enxergavam João.
Acredita-se que João tenha permanecido em Jerusalém por alguns
anos, mas certamente, não esteve naquela cidade até os dias tumultuo­
sos em que a cidade foi tomada por Tito em 70 d.C. Na verdade, ele já
não tinha sido mencionado em conexão com a última visita de Paulo a
Jerusalém, por volta de 58 d.C. (At 21). Isso sugere que no máximo no
fim da década de 50 do primeiro século da era cristã, João mudou-se de
Jerusalém para Éfeso, na Ásia Menor. Nesse lugar estratégico, segundo a
tradição, João se tornou o pastor da igreja de Éfeso mantendo um estreito
relacionamento com as igrejas da região, como vemos a partir de suas
cartas para as sete igrejas da Ásia.
Quando João estava morando em Éfeso, acredita-se que Maria,
mãe de Jesus, tenha vivido com ele por alguns anos, e ali ela teria morri­
do. Como já dissemos, Jesus havia entregue a João a responsabilidade de
cuidar de sua mãe após a crucificação. E aparentemente, Maria viveu o
restante de sua vida ao lado do discípulo amado.
Um problema existente em relação à morte de Maria, é que exis­
tem dois lugares atualmente atribuídos como o local do sepultamento
de Maria: um túmulo em Éfeso e outro em Jerusalém, embora o de Éfeso
seja o mais provável.
De acordo com Apocalipse 1.9, João foi exilado na ilha de Patmos
por causa do seu testemunho ao evangelho. Irineu - um dos pais da igre­
ja - afirma que isso aconteceu perto do final do reinado de Domiciano,
que terminou em 96 d.C. Na verdade, João foi exilado em Patmos em
95 d.C., e um ano depois (alguns até sugere que um ano e meio) foi li­
bertado pelo imperador Nerva, sucessor de Domiciano. Era costume de
um imperador que assumia o governo, libertar alguns prisioneiros que
acreditavam ter sido injustamente presos pelo governo anterior. Devido
a isso, João teve autorização para retornar a Éfeso em 96 d.C.
O imperador que havia exilado João - Domiciano - era filho do
grande imperador Vespasiano e irmão do general Tito Flávio Vespasia-
no, que havia destruído Jerusalém. Domiciano foi o último dos césares
da dinastia Flaviana. Ou seja, quando Nerva assumiu o império em 96
d.C., ele tentou implantar uma nova dinastia, desconsiderando assim,
quase tudo que o governo anterior havia feito, inclusive a detenção de
alguns presos como João.
Eusébio ainda informa que João viveu durante o reinado de Trajano,
que começou no ano de 98 d.C., e morreu tranquilamente em Éfeso, em
idade avançada, por volta do ano 100 d.C., com cem ou mais anos de idade.
João teve ainda pelo menos quatro anos de vida em Éfeso após seu
retomo do exílio na ilha de Patmos. Com esse tempo, João compartilhou as
revelações do Apocalipse e entregou as sete cartas às sete igrejas da Ásia Me­
nor. João foi o único dos doze apóstolos que morreu de morte natural. Todos
os outros, exceto Judas Iscariotes, morreram martirizados. Eusébio confir­
mou o túmulo de João em Éfeso, dizendo: “João, que se recostou sobre o peito
do Senhor, descansa agora em Éfeso”.
Acredita-se que João tenha escrito o quarto evangelho por volta de
85 d.C., em Éfeso. Nessa mesma cidade, ele provavelmente escreveu as
três epístolas por volta de 90 d.C., e por volta de 95-96 d.C., João escreveu o
Apocalipse. Não se sabe ao certo se João escreveu o Apocalipse em Patmos
ou no seu retorno a Éfeso. Embora, a última opção seja a mais provável.
Uma antiga tradição - sem muita aprovação histórica - dizia que
João havia sido lançado em um caldeirão de óleo fervente, mas saiu mi-
raculosamente ileso. A igreja romana até hoje ostenta a igreja de San
Giovani in Olio, em Roma, construída para eternizar esse suposto livra­
mento da vida do apóstolo.
Irineu afirmou que Policarpo (Bispo de Esmirna) e Papias foram
discípulos pessoais de João. Clemente de Alexandria escreveu que “du­
rante seus últimos dias João nomeou bispos na comunidade cristã”. Cle­
mente ainda contou uma variedade de histórias relacionadas a João. In­
clusive, uma emocionante história de sua preocupação pastoral no fim de
sua vida, quando morava em Éfeso. Segundo essa história, um jovem que
conhecia João caiu em um comportamento ímpio depois de seu batismo.
João se deixou capturar por ladrões, dos quais esse jovem era o novo che­
fe, e quando foi entregue a ele, o aconselhou, orou com ele e o levou de
volta ao Senhor e à igreja.
Praticamente nada se sabe sobre a vida de Joel, e as tradições tam­
bém não ajudam muito. Sabemos que ele atuou como profeta no Reino do
Sul - Judá - e que seu livro está localizado na Bíblica hebraica e também no
Antigo Testamento como o segundo dos profetas menores.
Joel era filho de Petuel (J11.1). Esse era um nome comum na épo­
ca, há outras 14 pessoas com o mesmo nome no Antigo Testamento. Ele
vivia em Judá, provavelmente em Jerusalém. Diferente da maior parte
dos profetas, ele não vincula seu ministério ao governo de nenhum rei.
A data de seu ministério é disputada. Alguns o situam tão cedo quanto
800 a.C., colocando Joel como contemporâneo do rei Uzias e de profetas
como Amós e Isaías. Outros pensam que ele viveu no tempo de Esdras
e Neemias (450 a.C.), ou até mesmo no tempo de Malaquias, em cerca
de 400 a.C. Toda essa discussão se dá em torno de detalhes do livro que
aparentam ser tanto do tempo pré-exílico, como do tempo pós-exílico.
Confira abaixo os principais argumentos:
Argumentos em favor da data pré-exílica (mais antiga): (1) O estilo
e as características gerais do livro são diferentes do tempo de Ageu, Za­
carias e Malaquias (profetas pós-exílicos). Sua linguagem pertence mais
ao período da üteratura clássica dos hebreus. (2) Joel aparece paralelo ao
livro de Amós (750 a.C.), e este parece ter feito uso de certas idéias de Joel,
como Joel 3.16 (em Amós 1.2) e Joel 3.18 (em Amós 9.13). (3) A posição de
Joel, como o segundo livro dos profetas menores (embora seja o quarto da
Septuaginta), indica uma data mais antiga do livro.
Argumentos em favor da data pós-exüica (mais nova): (1) Não há
alusões à adoração idólatra nos lugares altos. E esses locais de altares pa­
gãos fizeram parte importante da história de Judá antes do cativeiro. (2)
Nenhuma menção é feita ao Reino do Norte, provavelmente porque ele
não existia mais. Judá agora era Israel. As circunstâncias que prevaleciam
após o exílio babilônico, assim como o reíorno de Judá, transparecem no
fato de que “Judá” e “Israel” são nomes usados como sinônimos (J1 2.27;
3.2,16-20). Esperaríamos uma maneira diferente de falar sobre Israel an­
tes da queda do Reino do Norte sob os assírios em 722 a.C. (3) A expressão
de Joel, “opróbrio, para que as nações façam escárnio dele” (J12.17,19), é
típica do tempo pós-exílico. (4) Os “muros” referidos em Joel 2.9, talvez
sejam as muralhas restauradas por Neemias, em Jerusalém, em 444 a.C.
(5) Os gregos são mencionados (J1 3.6). Não era comum os gregos serem
mencionados no período pré-exüico. As nações mencionadas antes do
exílio eram principalmente os assírios e os babilônicos, e não os gregos.
No entanto, no texto de Joel os gregos não são mencionados como poder
mundial dominante, e o predomínio grego só ocorreu após a ascensão
de Alexandre, o Grande (336 - 323 a.C.). (6) Sidom ainda haveria de ser
julgada (J1 3.4), e isso só aconteceu quando Artaxerxes III executou esse
julgamento, vendendo os sidônios à escravidão, em cerca de 345 a.C.
Infelizmente, não há como solucionar o problema da data do livro
e consequentemente do ministério de Joel, embora o tempo pós-exflio seja
bem mais provável. No entanto, a ausência dessa informação, não prejudi­
ca, em sentido algum, a tremenda mensagem divina que o livro nos oferece.
As profecias de Joel são também belas poesias literárias. Seu livro
está dividido em duas partes distintas. A primeira é uma lamentação e
um chamado ao arrependimento, baseado em uma terrível seca e na
praga de gafanhotos que trouxe fome e desgraça sobre todo o povo. Joel
comparou os gafanhotos a um exército invasor, dizendo que “eles ata­
cam como guerreiros e escalam muralhas como soldados” (J12.7). Pare­
cia uma profecia apocalíptica, descrevendo o terror e a destruição total.
Se tivesse sido escrito antes do exílio, o livro descrevería a queda e a des­
truição de Jerusalém nas mãos dos enxames babilônios. Se tivesse sido
escrito após o exílio - o que é mais provável - descrevería um chamado
ao arrependimento em reconhecimento do castigo com o qual Deus ha­
via corrigido o seu povo no exílio por causa dos seus pecados.
A segunda parte da profecia, curiosamente, está em contraste com
a primeira. É uma promessa de perdão, redenção e esperança. Joel con­
fronta seus ouvintes, dizendo: “Rasguem o coração, e não as vossas ves­
tes” (J1 2.13). Com isso Deus estava chamando o povo a uma mudança
interna, e não externa. Os judeus sempre rasgavam as vestes em sinal de
luto e arrependimento, mas Deus percebeu que embora as vestes fossem
rasgadas, o coração - que era o mais principal - permanecia do mes­
mo jeito. Deus, na verdade, estava dizendo ao povo: Estou cansado de
performance religiosa externa. Vocês precisam mudar por dentro, vocês
precisam rasgar o coração!
Uma das expressões que Joel mais menciona em seus decretos à
Judá é a manifestação do “dia do S en hor” (J11.15; 2.1,11,31; 3.14). Quando
o Senhor se manifestar “naquele dia”, virá como guerreiro e juiz, para
derrubar os governos da terra e estabelecer seu próprio reino. Isto suge­
re que o “dia do Senhor” tem também um aspecto triunfante, pois a der-
rota do mal tornará possível o triunfo da justiça. Portanto, será também
um dia de renovação e alegria, pois o Espírito de Deus se manifestará
abundantemente sobre todos os seus remidos (J12.28-32). Ironicamente,
o “dia do Senhor” que é caracterizado pela guerra e pelo derramamento
de sangue (J1 2.3-11; 3.1-3,12,13), levará a humanidade a um período de
paz sem precedentes da história humana (J13.9-11,17-21).
Pedro entendeu que parte desta profecia foi cumprida no dia de pen-
tecostes, em Jerusalém, quando os discípulos de Jesus foram cheios do Espí­
rito Santo (At 2.17-21). Isso porque Joel profetizou que “depois derramarei
o meu Espírito sobre toda carne” (J12.28). Curiosamente o texto de Joel diz
“derramarei o meu Espírito”, e a declaração de Pedro foi “derramarei do
meu Espírito”. Qual a diferença de “o meu Espírito” para “do meu Espíri­
to”? “O” é totalidade, “do” é ‘parte de...’, ou seja, Joel profetizou que todo o
Espírito seria derramado, Pedro entendeu que no dia de pentecoste, Deus
não derramou todo o Espírito, mas apenas começou esse derramamento.
Ou seja, essa profecia também é para os nossos dias! Ao contrário do que
ensina a doutrina do “cessacionismo”, os dons e as manifestações de Deus
não foram apenas para a época apostóüca, esses sinais são também para os
nossos dias. O Espírito Santo continua se derramando!
Embora Joel demonstre um profundo zelo pelos sacrifícios no
templo (J11.9; 2.13-16), sua familiaridade com a vida agrícola e o fato
de não ser contado entre os sacerdotes (J11.13-14; 2.17) sugerem que ele
não era da tribo de Levi. Há uma tradição extrabíblica que indica que
ele seria da tribo de Rúben, e que havia nascido em Betaram, a nordeste
do mar Morto, na fronteira entre Rúben e Gade. No entanto, o contexto
da profecia bíblica parece não favorecer isso. O mais provável é que ele
era da tribo de Judá, principalmente, por ser bem provável que ele vivia
nos arredores de Jerusalém.

Jonas Nome hebraico, significa “Pombo".

Jonas foi um profeta da tribo de Zebulom. Era filho de Amitai e na­


tural da pequena vila de Gate-Hefer (2Rs 14.25). Essa vila ficava próxima
a Nazaré, a primeira residência de Jesus, de quem Jonas era um “sinal”.
Com o significado de “pombo”, no hebraico, o nome de Jonas parece ser
singularmente irônico, no que se refere à teimosia de Jonas e a dureza
de sua mensagem para Nínive. O significado de seu nome pode refletir o
desejo dos pais para que fosse uma criança dócil e pacífica.
Ao contrário do que muitos pensam, Jonas não atuou apenas no
livro que leva o seu nome, mas profetizou também em 2 Reis 14.25 para
Jeroboão II, e foi por meio de suas palavras de incentivo que Jeroboão II
recuperou o território anteriormente perdido para os sírios (2Rs 10.32-
33), e trouxe de volta um pouco da glória dos dias dos reis Davi e Salo­
mão (lRs 8.65).
No entanto, Jonas é mais conhecido pelo relato da mensagem que
Deus o escolheu para levar aos ninivitas. Os ninivitas eram um povo terrí­
vel, cuja malícia havia subido até Deus (Jn 1.2). Nínive foi fundada por Nin-
rode (Gn 10.8-11). Ninrode foi um homem iníquo, e isso havia trazido um
legado de maldição sobre Nínive, fazendo daquele povo um povo também
iníquo. Nínive foi chamada de “cidade sanguinária, toda cheia de mentira e
repleta de despojos” pelo profeta Naum (Na 3.1). Nínive também era uma
cidade idólatra e havia ali um templo da deusa Istar, que era a deusa dos
ninivitas. Essa era uma cidade tão grande que demandava três dias para
ser atravessada, e foi a capital do poderoso império assírio. No entanto, nos
dias de Jonas Nínive ainda não havia se tornado a capital da Assíria, mas
a capital era Calá, que foi a capital do império assírio entre 880 a 701 a.C.
Jonas diferencia-se dos outros doze profetas menores, pois seu li­
vro não contém várias profecias. Seu único anúncio profético: “Ainda
quarenta dias, eN ínive será destruída” (Jn 3.4), não tem mais que sete pa­
lavras. Em vez de profecias, o livro é mais histórico, preparando então
o leitor para entender os bastidores que envolveram a profecia contra
Nínive. Historiadores sugerem aproximadamente 860 a.C., como a data
em que Jonas evangelizou Nínive.
Os assírios eram grandes guerreiros. O profeta Naum chama Níni­
ve de a “cidade do sangue” (Na 3.1). Ela era chamada assim, não só por
causa das guerras que havia tido com as nações vizinhas durante alguns
séculos, mas também pelas crueldades praticadas com os povos venci­
dos. Os ninivitas eram acostumados, depois das vitórias a cortar as mãos
e os pés dos soldados das nações inimigas e montarem pirâmides com
as cabeças humanas dos povos capturados, quando não, abriam covas
gigantescas e enterravam seus inimigos vivos. Eles eram um povo muito
cruel, por isso que Deus disse que a malicia deles já havia subido até Ele.
Társis está localizada no sul da atual Espanha, e muitos a identi­
ficam como a moderna cidade de Gibraltar. Nínive é a atual Mossul, no
estado de Ninawa, no Iraque. A distância entre Jope e Társis é a aproxima­
damente 3.500 quilômetros, enquanto que de Jope a Nínive são aproxima­
damente 1.100 quilômetros. Társis era provavelmente um posto comer­
cial fenício e um importante centro de fundição de ferro na Espanha. Era
um dos destinos mais longos do mundo antigo a partir de Jope. O desejo
de Jonas era literalmente se distanciar do lugar da vontade de Deus.
Há uma antiga tradição, que diz que, Amitai, o pai de Jonas, foi mor­
to pelos ninivitas. Israel sempre viveu guerras contras os assírios. Sena-
queribe, por exemplo, era assírio. Inúmeros inimigos do povo de Deus
eram nativos de lá. A existência dessa tradição pode nos propor uma nova
explicação lógica sobre o porquê Jonas recusou ir profetizar contra Níni­
ve. Durante muito tempo foi defendida a ideia de que Jonas recusou ir a
Nínive apenas por temer a maldade dos ninivitas. Mas, existe outra opção
de interpretação envolvendo os sentimentos de Jonas, que também nos
explica a recusa do profeta. Levando em conta essa tradição que afirma
que o pai de Jonas foi morto pelos ninivitas, podemos entender que havia
uma resistência contra Nínive no coração de Jonas. Nínive estava prestes
a ser destruída, e Jonas sabia disso. Apenas um profundo arrependimento
por parte dos ninivitas podería evitar a destruição dessa cidade. Caso Jo­
nas não fosse a eles, eles não ouviríam a mensagem. Se a mensagem não
fosse ouvida, não havería arrependimento. Se não houvesse arrependi­
mento, eles seriam destruídos. Então a “sentença de vingança” pela morte
de Amitai estava pronta: Era só Jonas não ir a Nínive, que eles seriam
destruídos pela ausência de arrependimento, e automaticamente, Jonas
se vingaria pela morte de Amitai.
O desabafo de Jonas para Deus parece confirmar essa ideia: “Ó
Senhor! N ão fo i isso o que eu disse estando ainda na m inha terra? P or isso
é que m e apressei em fu gir p ara Társis. Eu sabia que és Deus clem ente e
m isericordioso, tardio em irar-se e grande em am or, e que irias se arre­
pender do m al” (Jn 4.2). Ou seja, Jonas não queria ir a Nínive, justamente
porque queria que Nínive fosse destruída.
Provavelmente, Jonas também sabia que os assírios seriam usa­
dos por Deus como um meio para punir Israel. Ironicamente, o mesmo
Jonas que havia sido enviado a Jeroboão II para assegurá-lo de que seu
reino prosperaria, foi o mesmo que Deus escolheu para enviar a Níni­
ve, a fim de evitar a destruição dessa cidade. Somente se Nínive fosse
preservada, o exército assírio podería ser usado por Deus para corrigir
o Reino do Norte em 722 a.C. Nenhum outro profeta foi tão fortemente
direcionado a uma nação não judaica.
Jonas então, saiu de Gate-Hefer, desceu a Jope (que era a cidade
portuária mais próxima) e pegou um navio para Társis. No entanto,
Deus não deixa seus planos serem frustrados por interesses humanos e
mandou uma tempestade sobre o mar Mediterrâneo por onde Jonas es­
tava navegando. Essa tempestade quase partiu o navio ao meio, e gerou
grande prejuízo aos seus tripulantes. O surgimento inesperado dessa
tempestade nos ensina uma lição: existem tempestades que enfrenta­
mos em nossas vidas apenas por causa da nossa desobediência a voz
de Deus. Não estava nos planos iniciais de Deus essa tempestade para
Jonas. Essa tempestade Jonas trouxe para si pelas suas próprias atitudes.
Algumas tragédias em nossas vidas acontecem simplesmente porque es­
colhemos fugir de Deus.
A Bíblia descreve que o mar estava agitado a tal ponto que os ma­
rinheiros para aliviarem o peso da embarcação, começaram a lançar a
carga com alguns bens e objetos ao mar, nisso acharam Jonas, no porão
do navio dormindo. O causador da tempestade dormia, enquanto pessoas
inocentes estavam sendo prejudicadas. Após lançarem sorte para sabe­
rem quem era o culpado daquela tempestade, pegaram Jonas e o lança­
ram ao mar, cessando assim no mesmo instante aquela tempestade (Jn
1.15). Coisas erradas param de acontecer nas nossas vidas quando pes­
soas erradas se distanciam de nós.
Vale a pena considerarmos a sequência de “descidas” que fez parte
da vida de Jonas no caminho de sua desobediência: Em vez de ir para Ní-
nive, ele desceu para Jope (Jn 1.3). Quando entrou no navio ele desceu para
o porão (Jn 1.5), e ele concluiu sua sequência, descendo ao fundo do mar
quando os marinheiros o jogaram para fora do barco (Jn 1.15). O caminho
do homem que se afasta de Deus sempre será um caminho de declínio!
Estranhamente, a primeira vez que Jonas vai orar em todo o livro
é quando ele estava dentro das entranhas do peixe (Jn 2.1). Jonas não
orou ao ir para Jope; não orou ao comprar a passagem para Társis; nem
orou ao ir dormir no porão do navio. Jonas somente se lembrou de orar
quando as entranhas do grande peixe eram tudo que lhe havia restado.
Infelizmente as vezes precisamos chegar às profundezas da vida para
lembrarmo-nos de orar.
Jonas 1.17, nos conta que Deus preparou um “grande peixe” para
tragar a Jonas. Porém, Jesus disse em Mateus 12.40, que foi uma baleia. Al­
gum dos dois estão errados? Não. Tanto a afirmativa de um grande peixe
como a de uma baleia estão corretos. Existe uma espécie de baleia (cacha­
lote) que tem a possibilidade de engolir um ser humano inteiro.
A comprovação histórica de que é possível essa espécie de baleia
engolir um ser humano inteiro está em um relato de fevereiro de 1891.
Um marinheiro britânico chamado James Bartley, foi engolido por uma
baleia e escapou com vida para contar a história. Bartley estava fazendo
sua primeira viagem (que acabou também sendo a última) como mari­
nheiro de um navio baleeiro, cujo nome era Estrela do Oriente. Estava há
algumas centenas de quilômetros a leste das ilhas Falkland, no Atlântico
Sul. Em certo momento foi arpada uma grande baleia, que então mergu­
lhou as profundezas abissais. Quando ela subiu para respirar, ocorreu
que seu grande corpo esmigalhou o bote, e muitos homens caíram no
mar. Alguns pescadores não foram encontrados, entre eles James Bartley.
Pouco antes do pôr-do-sol, naquele mesmo dia, a baleia moribun­
da flutuou à superfície. A tripulação rapidamente prendeu uma corda na
baleia e a arrastou até o navio-mãe. Sendo tempo de verão, foi necessário
despedaçar imediatamente o gigantesco animal antes que entrasse em
decomposição. A baleia foi sendo cortada em pedaços. Pouco depois das
onze horas da noite, dezoito horas depois do desaparecimento de James
Bartley, os exaustos tripulantes removeram o estômago e o enorme fígado
do animal. Esses pedaços foram levados para a coberta e notou-se que
havia algum movimento no interior do estômago da baleia. Abriram o
estômago do animal, e apareceu um pé humano. Era James Bartley, do­
brado em dois, inconsciente, mas ainda vivo. Bartley soltava grunhidos
incoerentes ao recuperar um pouco mais a consciência, e durante cerca
de duas semanas pendeu entre a vida e a morte. Passou-se um mês inteiro
até que pudesse contar por completo à história que lhe acontecera.
Lembrava-se de que, quando a baleia atingiu o bote, ele foi atirado
ao ar. Ao cair foi engolfado pela gigantesca boca da baleia. Passou por
fileiras de minúsculos e afiados dentes e sentiu uma dor incomparável.
Percebeu que estava escorregando por um tubo liso, e então desapa­
receu na escuridão. De nada mais se lembrava, senão depois de ter re­
cuperado a consciência. Porém, saiu sem boa parte de sua pele, pois a
enzima digestiva do estômago do animal havia digerido parte de sua
pele. Muitos médicos de vários países vieram examiná-lo. Bartley viveu
ainda dezoito anos após essa experiência.
O milagre na vida de Jonas não foi ter sido engolido pelo grande
peixe, mas sim, ter sido vomitado por ele vivo e sem nenhum dano diges­
tivo. A Bíblia diz que Deus falou ao peixe e ele vomitou Jonas em terra (Jn
2.10). No ventre do peixe Jonas orou ao Senhor, o que prova que ele não
ficou inconsciente. No entanto, não se sabe ao certo onde o peixe vomitou
Jonas. Certamente não foi em Nínive, porque Nínive não era uma cidade
marítima. Bem provável que Jonas tenha sido devolvido pelo peixe em
Jope, lugar de onde ele não deveria ter saído.
Não se sabe ao certo se nesse tempo entre o capítulo 2 e 3 Jonas vol­
tou a Gate-Hefer. Mas, em Jonas 3.1 a palavra do Senhor veio pela segunda
vez a Jonas, dizendo a ele que fosse a Nínive (Jn 3.1). Dessa vez, ele não
fugiu de Deus, mas obedeceu a sua ordem. Chegando a Nínive ele pregou a
mensagem de juízo que Deus havia o dado, dizendo que em 40 dias Nínive
seria destruída. No entanto, o que Jonas mais temia, aconteceu: os ninivitas
ouviram a mensagem, e se arrependeram.
Após entregar a mensagem Jonas subiu ao topo de uma montanha
para ver a destruição de Nínive. Enquanto ele em cima do monte espe­
rava a destruição da cidade, lá em baixo o rei de Nínive reuniu toda a
população e decretou um jejum, como forma de arrependimento para
que Deus aplacasse sua ira e não os destruíssem. Deus aceitou o sacrifí­
cio dos ninivitas, e decidiu não destruí-los.
Deus então fez crescer uma aboboreira onde Jonas estava para lhe
proteger do calor do sol. Em um dia a aboboreira nasceu e cresceu, e no
outro dia pela manhã, Deus mandou um verme que feriu a planta e a
aboboreira morreu. Deus então mandou sobre Jonas um vento oriental.
Esse tipo de vento é conhecido pela sua temperatura escaldante e caute-
rizante. Jonas chegou a um ponto tão crítico que pediu a Deus a morte,
por Deus não ter matado os ninivitas.
Nesse momento Deus lembrou a Jonas que ele não havia feito
nada para a aboboreira que lhe produzia sombra existir. Em um dia ela
nasceu, e no outro dia morreu. E, Jonas estava inconformado pela morte
da aboboreira, a quem ele não havia criado. Se os sentimentos de Jonas
lamentavam pela morte de uma aboboreira que ele não havia criado,
maiores ainda eram os sentimentos de Deus que criara os ninivitas e
não iria mais destruí-los por se arrependerem.
Jonas estava mais comovido pelo seu prejuízo de uma aboboreira,
do que pelo “prejuízo de Deus” de mais cento e vinte mil almas que ha­
viam se perdido. O livro de Jonas termina com uma pergunta de Deus:
“Tiveste compaixão da aboboreira que não te custou trabalho, e nem a
fizeste crescer. Numa manhã ela nasceu, e numa noite pereceu. Mas em
Nínive há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir en­
tre a mão direita e entre a mão esquerda, e também muitos animais. Não
hei eu de ter compaixão desta grande cidade?”. O livro de Jonas termina
sem uma resposta de Jonas para Deus.
Há também aqueles que aplicam uma visão tipológica a história de
Jonas. Identificando Jonas como os judeus, pois a grande missão deles era
declarar a verdade de Deus ao mundo, mas eles não o fizeram. O “grande
peixe” é a Babilônia, que engoliu os judeus (levando os para o exílio). O fato
de Jonas ter sido vomitado de volta a terra representa o retorno dos judeus
do exílio, e a insatisfação de Jonas com o arrependimento dos pagãos é um
paralelo do espírito do Judaísmo em relação à igreja e os gentios.

Jônatas Nome hebraico, significa "O Senhor tem dado".

Foi o primeiro filho de Saul com Aquinoã. Jônatas é um dos seres


humanos mais generosos e amáveis da Bíblia. Era um homem de cora­
gem, sabedoria, lealdade e honra. Tinha potencial para ser um dos maio­
res reis de Israel, mas infelizmente, ele ficou preso entre o ódio e a pa­
ranóia de seu pai - o rei Saul, que estava enlouquecendo - e o carisma e
popularidade de seu melhor amigo, o jovem herói Davi.
Nada sabemos sobre sua infância. Quando ele aparece pela pri­
meira vez na Bíblia já é um adulto com capacidade para comandar tro­
pas militares (ISm 13). Jônatas foi um destemido e vitorioso jovem ofi­
cial do exército de Saul, hábil no manejo do arco, como todos os homens
da tribo de Benjamim. “O arco de Jôn ata s jam a is hesitou” (2Sm 1.22).
Começou a destacar-se ainda no início do reinado de Saul, no ataque
ao acampamento dos filisteus em Gibeá, terra natal de Saul, ao norte
de Jerusalém. Dois mil israelitas sob o comando de Saul bloquearam a
retaguarda do acampamento filisteu, enquanto Jônatas conduzia mil
homens em um ataque frontal. Os filisteus reagiram com rapidez e vol­
taram para as montanhas com um numeroso exército compostos de car­
ros e cavalaria, e ocuparam a cidade de Micmás, que ficava próxima.
Para piorar as coisas, os filisteus controlavam toda produção de
ferro da Palestina, de modo que os israelitas tinham armas e armaduras
totalmente inadequadas, enquanto que os filisteus possuíam o melhor
do armamento de guerra da época.
Os soldados israelitas fugiram e Saul se viu em uma situação de­
sesperada, restando-lhe apenas um grupo de seiscentos homens. Diante
disso, Jônatas e seu escudeiro - sem que Saul soubesse - saíram às escon­
didas do acampamento e iniciaram um ataque repentino pela subida de
um penhasco contra o acampamento dos filisteus, um dos atos de maior
coragem no relato do antigo testamento. Jônatas acompanhado de seu es­
cudeiro matou um pelotão de vinte homens filisteus e Deus acompanhou
o feito de Jônatas com um terremoto e os filisteus fugiram tomados de
pânico. Notícias exageradas desse ataque relâmpago se espalharam entre
o exército filisteu, que entrou em desespero. Quando Saul soube que os
filisteus haviam fugido, reuniu seus soldados e saiu em perseguição e pôs
o exército filisteu para correr de um modo completamente caótico. A vitó­
ria foi de Jônatas, mas foi Saul quem levou todo o crédito por ela.
Durante o combate Saul ansioso pela vitória impôs de forma in­
consequente e supersticiosa um juramento sobre o povo de que ninguém
comeria nada até a noite, até que ele se vingasse dos seus inimigos (ISm
14.27). Jônatas, sem saber da existência do juramento, comeu um pouco
de mel que ele encontrou pelo caminho. Suas tropas contaram-lhe sobre
o juramento, e ele respondeu que o juramento era insensato, pois os sol­
dados precisavam de toda energia possível para liquidar os filisteus. Sua
afirmação mostrou-se verdadeira no final do dia, pois ao fim do dia, quan­
do o jejum pôde ser concluído seus saldados estavam tão famintos que
chegaram a comer a carne dos animais ainda com sangue (o ritual para
se matar e “purificar” adequadamente a carne era um processo que con­
sumia muito tempo). Sem dúvidas, essa sim foi uma séria transgressão
das leis dietéticas judaicas. Naquela noite, quando Saul consultou o orá­
culo do Senhor, ele não teve resposta. Culpou Jônatas por isso, porque ele
havia quebrado o jejum, e teria matado Jônatas se não fosse a interven­
ção de seus soldados (ISm 14.16-52). Bem provável que ao longo dos anos
seguintes, Jônatas tenha participado de todas as outras vitórias de Saul
contra os inimigos de Israel, incluindo os moabitas, amonitas e filisteus.
Seu caráter, no entanto, é manifesto em uma outra guerra - a guerra pelo
prestígio e popularidade entre seu pai e Davi.
Quando o jovem Davi foi levado à presença de Saul após ter derro­
tado Golias, Jônatas se encontrou com ele e “a alma de Jônatas apegou-se
à alma de Davi. E Jônatas começou a amá-lo” (ISm 18.1). Só entende esse
sentimento quem ainda possui pureza no coração e consciência sobre o
que é de fato uma amizade verdadeira desprovida de qualquer interesse
humano. Jônatas não tinha nada a ganhar por sua devoção ininterrupta
a Davi, era o inverso, tinha tudo a perder. No entanto, num gesto impul­
sivo, Jônatas tirou sua armadura e a deu a Davi, junto com sua espada e
seu arco. Nascia ali uma das amizades mais fortes e leais da Bíblia.
Enquanto a carreira militar de Davi prosperava, a paranóia de Saul
chegava ao limite. Saul não só tinha medo de ser ofuscado pelo jovem he­
rói, mas começou a imaginar de uma maneira doentia que Davi fazia pla­
nos para tomar o seu trono. Embora fosse verdade que o profeta Samuel
havia ungido Davi como rei - Saul não sabia nada disso - Davi entendia
perfeitamente que o seu destino era suceder Saul, e não tomar o seu lugar.
Saul incentivou Jônatas a matar Davi lançando sobre ele a sua lan­
ça. No entanto, Jônatas intercedeu com tanta eloquência e determinação
em favor de Davi que Saul cedeu e permitiu que ele voltasse à corte. Na
época Davi já havia se casado com Mical e provavelmente morava tam­
bém ali. Logo depois disso, as suspeitas de Saul novamente dominaram
sua razão, ele sofreu um ataque de melancolia e lançou sua lança contra
Davi, que conseguiu se desviar a tempo. Diante disso, Davi foi forçado a
fugir para Naiote, em Ramá, para salvar à sua própria vida (ISm 19.9-18).
Reconhecendo que dessa vez o conflito poderia acabar em uma
hostilidade militar declarada, Jônatas e Davi fizeram um pacto de ami­
zade. Jônatas reconheceu que Davi seria o próximo rei de Israel, e pediu
que Davi jurasse que teria misericórdia de sua casa. Através disso, eles
renovaram o pacto de sempre proteger a posteridade de ambos (ISm
20.12-17,42; ISm 23.16-18; 2Sm 9.1).
Quando Saul tomou conhecimento dessa aliança que havia entre
Jônatas e Davi, quase matou o seu próprio filho, Jônatas, ao lançar contra
ele uma lança (ISm 20.32-33). Jônatas tentava reverter os maus intentos
de seu pai contra Davi, mas mesmo assim, Davi tinha de permanecer
exilado, pois Saul queria matá-lo. E a partir daquele momento Davi e
Jônatas só se encontravam quando as circunstâncias o permitiam.
Jônatas era o oposto de Saul. Jônatas sempre foi um homem gene­
roso, justo e completamente destituído de inveja. Em contraste com o es­
pírito traiçoeiro de Saul, Jônatas era leal. A última vez que Jônatas e Davi
se encontraram foi em Horesa, no deserto de Zife. Saul e seus homens
estavam à procura de Davi para matá-lo, e Jônatas saiu às escondidas
do acampamento e encontrou-se com Davi no deserto. Ele o incentivou
dizendo: “Meu pai não p o rá as m ãos em você. Você será rei de Israel, e
eu lhe serei o segundo no com ando. A té m eu pai sa b e disso” (ISm 23.17).
No entanto, isso não acabou acontecendo. Jônatas morreu em uma
grande batalha contra os filisteus no monte Gilboa, na qual Saul e outros
dois dos seus filhos - Abinadabe e Malquisua - também foram mortos. No
dia seguinte, seus corpos foram roubados e expostos pelos filisteus em um
muro em frente à praça pública de Bete-Seã (2Sm 21.12). Os homens de
Jabes-Gileade, cheios de gratidão porque o rei Saul, no início do seu reina­
do, havia salvado a sua cidade, atravessaram o Jordão, invadiram Bete-Seã
e recuperaram os corpos e os sepultaram em Jabes (ISm 31; lCr 10.1-12;
2Sm 2.5-7). Quando Davi ficou sabendo das mortes lamentou profunda­
mente. Mais tarde, depois que Davi se tornou rei da monarquia unida, em
um ato honroso transferiu os restos de Saul e de seus filhos para a sepultu­
ra de Quis, pai de Saul, em Zela, no território de Benjamim (2Sm 21.12-14).
Apesar de estar em uma posição muito difícil, Jônatas permane­
ceu leal a Davi até aquele dia fatal, quando também provou sua devoção
e lealdade para com seu pai morrendo com ele no monte Gilboa. Davi
resumiu essa lealdade de Jônatas para com Saul quando escreveu: “tan­
to na vida com o na m orte não se sep araram ” (2Sm 1.23).
Jônatas teve um filho, cujo nome era Meribe-Baal (Mefibosete).
Mefibosete tinha apenas cinco anos de idade quando aconteceu o mas­
sacre de Gilboa levando Jônatas à morte (2Sm 4.4). Davi foi fiel à sua
palavra ao cumprir sua promessa para Jônatas em proteger sua descen­
dência. Era costume naquela época matar qualquer membro da antiga
família real que pudesse reivindicar o trono. Contudo, Davi chamou Me­
fibosete, o filho aleijado de Jônatas, na idade de doze anos, à corte real.
Talvez mediante a isso o menino esperasse ser morto. Em vez disso, Davi
restituiu-lhe todas as terras de seu pai e de seu avô e assumiu o compro­
misso de cuidar dele durante toda sua vida e deixou que ele continuasse
a ser um membro honrado de sua corte.

Josafá Nome hebraico, significa "O Senhor é juiz".

Josafá foi o quarto rei de Judá de 873 a 849 a.C. - e sexto rei da linha­
gem real de Davi. Era filho do rei Asa, e foi corregente com seu pai por três
anos, assumindo em 870 a.C., definitivamente o reino de Judá com a idade
de 35 anos. Sua mãe era Azuba, filha de Sili. Josafá “fez o que era reto aos
olhos do Senhor” (lRs 22.43; 2Cr 20.32), e “não buscou aos baalins. Antes
buscou ao Senhor Deus de seu pai, e andou nos seus mandamentos, e não
segundo as obras de Israel” (2Cr 17.3-4). 0 resultado foi a benção pessoal e
nacional, na forma de riqueza, honra e poder (2Cr 5.11-13).
O reinado de Josafá durou 25 anos e foi o auge da história de Judá.
Josafá está entre os principais reis do Reino do Sul, ao lado de Josias e Eze-
quias. Foi o primeiro a estabelecer a paz entre os reinos de Judá e Israel,
que viviam em conflito desde a ruptura nos dias de Roboão e Jeroboão. Isto
se deu, em parte, graças ao casamento de seu filho Jeorão com Atalia, filha
do rei Acabe de Israel. No entanto, embora tenha unido os dois reinos em
uma afiança, mais tarde esse casamento viria a se revelar um verdadeiro
desastre para Judá, inclusive abrindo as portas para a adoração a Baal no
Reino do Sul, e trazendo outras inúmeras consequências para a vida espiri­
tual, social e política de Judá (2Rs 8.27; 9.27; 10.14; 11.1-20; 2Cr 22.2-3).
No terceiro ano de seu reinado, Josafá conduziu algumas refor­
mas religiosas para melhorar o bem-estar espiritual da nação, instruin­
do pessoalmente o seu povo a enviar os levitas e sacerdotes com os li­
vros da lei para ensinar a lei de Deus nas cidades de Judá (2Cr 17.7-9).
Nessa época, os filisteus e os árabes lhe pagavam tributos - os filisteus
levam-lhe prata, e os árabes, milhares de carneiros e bodes (2Cr 17.10-
11). Mais tarde, Josafá fortificou as cidades do seu reino (2Cr 17.12-19).
Josafá também removeu os lugares altos e os postos sagrados de ido­
latria em Judá (2Cr 17.6), e fechou todos os templos religiosos onde se
praticavam a prostituição (lRs 22.46).
Em uma visita a Acabe, por volta de 853 a.C., Josafá foi convencido a
fazer uma tentativa de recuperar Ramote-Gileade. Josafá, porém, resistiu à
ideia de começar a campanha militar sem a aprovação de Deus (2Cr 18.4).
Unânimes, os quatrocentos profetas de Acabe profetizaram vitória para Is­
rael. Mesmo assim, Josafá não se convenceu, pois achava que os profetas de
Acabe não passavam de bajuladores. Relutante, mandou chamar Micaías,
filho de Inlá, que era conhecido por causa da veracidade e da precisão de
suas profecias. Acabe odiava Micaías porque ele nunca profetizava algo
bom ao seu respeito. A princípio, Micaías parecia concordar com os pro­
fetas da corte, mas, depois, profetizou a vitória dos assírios e a morte de
Acabe (lRs 22.13). A profecia se cumpriu! Acabe tentou se disfarçar, mas
foi ferido na guerra (lRs 22.30). Josafá, no entanto, saiu ileso e voltou para
Jerusalém. No entanto, um profeta chamado Jeú, repreendeu severamente
a Josafá pelo seu envolvimento com Acabe (2Cr 19.1-2).
Após esse tempo, a jornada real e militar de Josafá obteve excelen­
tes resultados. Ele foi vitorioso em várias batalhas, incluindo o controle de
uma rebelião de moabitas. Josafá já havia sido bem-sucedido em uma ten­
tativa de anexar Edom ao reino de Judá, e isto lhe deu o comando da rota
das caravanas que viajavam para a Arábia - entre os portos do mar Medi­
terrâneo e do mar Vermelho - e lhe trouxe uma riqueza adicional (2Cr 17.5;
18.1). No entanto, ele sofreu um sério contratempo ao investir uma enor­
me fortuna numa parceria com Acazias, rei de Israel e filho de Acabe, na
construção de um estaleiro em Eziom-Geber (próximo a Eilat), no golfo de
Ácaba. O objetivo era construir uma frota de navios para buscar ouro em
Ofir, cuja localização é desconhecida hoje em dia. Tragicamente, toda frota
naufragou antes que pudessem navegar, supostamente por causa de uma
terrível tempestade. Porém, Eliezer, filho de Dodã de Meresa, profetizou a
Josafá, dizendo: “Devido à aliança que fizeste com Acazias, destruiu o Senhor
as tuas obras e despedaçaram -se as suas naus e não puderam ir a Társis”
(2Cr 20.37). Curiosamente, Eliezer sugere que esses navios iam para Társis.
Se era próximo à Társis que Josafá e Acazias iriam buscar o ouro de Ofir
não sabemos, mas uma coisa é certa: Deus quebra os navios de quem não
lhe consulta. Em outros momentos Josafá havia consultado a Deus antes de
suas decisões, nessa ocasião, infelizmente não havia buscado a aprovação
divina. As naus de Josafá foram quebradas porque ele não buscou respos­
ta em Deus para tal empreendimento e porque ele se afiançou com uma
pessoa errada, Acazias (I Re 22.49; II Cr 20.6). Após essa experiência, Josafá
recusou quaisquer novas parcerias, provavelmente, por ter sido mais uma
vez repreendido pelo Senhor, desta vez, por ter se unido a Acazias.
Próximo ao final de seu reinado, os amonitas, os edomitas e os moabi­
tas uniram forças para invadirem Judá cruzando a região do mar Morto em
direção a En-Gedi. Josafá proclamou um jejum, buscou ao Senhor e acatou
as palavras do profeta Jaaziel, não se precipitando, mas acalmando-se e con­
templando a salvação do Senhor ao seu favor (2Cr 20.15). Josafá saiu de en­
contro ao inimigo, levando à sua frente os cantores que louvavam ao Senhor
Deus de Israel em alta voz. A vitória foi alcançada sem combate. Na confusão
causada pelos cânticos de louvor de Judá, os inimigos começaram a se ataca­
rem uns contra os outros, até se destruírem mutuamente (2Cr 20.1-30).
Nos últimos cinco anos do seu reinado, Josafá teve seu filho Jeorão rei­
nando junto com ele (2Rs 8.16; 1.17). Josafá morreu aos sessenta anos, hon­
rado e amado por seu povo. Flávio Josefo comparou seu reinado ao de Davi.
Infefizmente, o seu filho Jeorão, não foi um bom rei. Josafá foi sepultado na
cidade de Davi (lRs 22.50). Seu nome aparece na genealogia de Jesus (Mt 1.8).
José foi o décimo primeiro filho de Jacó, e primeiro filho com sua
esposa favorita, Raquel. O nascimento de José foi um sinal do fim da
esterilidade de Raquel. Raquel deu a José este nome porque dizia: “que
ele [Deus] possa acrescentar [outro filho]” (Gn 30.24), expressando o seu
desejo de ser mãe mais uma vez. Infelizmente, quando este “outro filho”
veio, Raquel acabou morrendo no parto. Este menino chamou-se Benoni
,“filho da minha dor”, e Jacó trocou o seu nome para Benjamim , “filho
da minha mão direita” (Gn 35.18).
José nasceu em Padã-Arã, na Mesopotâmia, na época em que Jacó
ainda trabalhava para Labão, seu sogro. Provavelmente, José viveu de
1680 a 1570 a.C. Ele acabou se tornando o filho favorito de Jacó, e parece
que o velho patriarca não fazia esforços para esconder isso, pois lhe deu
uma túnica colorida de mangas longas. Esse presente indicava que Jacó
pretendia fazer de José o seu principal herdeiro e, com isso, acirrou a ira
de seus irmãos contra José (Gn 37.4). As constantes referências a essa tú­
nica, mostram que ela havia se tornado um símbolo do ódio dos irmãos
para com José. Isso porque ela sempre os fazia lembrar-se da posição
que eles ocupavam em relação a José.
A vida de José é contada nos capítulos 37 a 50 do livro de Gênesis-
que corresponde a aproximadamente um terço desse livro. Sua história
começa a ser contada quando ele tem dezessete anos de idade. Nessa
época eles moravam em Hebrom. Na fogueira de ódio dos seus irmãos,
foi colocado mais um pouco de lenha quando José relatou os dois so­
nhos que tivera com eles. Em um dos sonhos, todos eles tinham feixes
de trigo, e os feixes dos dez irmãos mais velhos se ajuntaram ao redor do
feixe de José e se curvaram diante dele (Gn 37.5). Essa informação do so­
nho é interessante, pois revela que a família de Jacó não era apenas for­
mada de pastores de ovelhas itinerantes, mas também de plantadores
e agricultores, o que exigia que eles se estabelecessem em algum lugar
fixo. Em outro sonho, o sol, a lua e onze estrelas se curvaram diante de
José (Gn 37.9). Aparentemente, Jacó não gostou desse último sonho (Gn
37.10). Isso porque, até ele também estava no sonho, sendo representa­
do pelo “sol”. Este sonho sugeria que Jacó também seria subserviente de
José em algum momento. No fim, aquela profecia em forma de sonho
acabou se cumprindo.
No entanto, o ciúme dos irmãos os levaram a tomar uma atitude
radical contra José. Quando José foi enviado para supervisionar o traba­
lho de seus irmãos, em Siquém, não os encontrou ali, mas um homem o
informou que seus irmãos haviam ido para Dotã, e lá José os encontrou
apascentando os rebanhos. Há uma providência extraordinária de Deus
aqui. A distância entre Hebrom e Siquém, são aproximadamente mais
de 80 quilômetros. E de Siquém a Dotã são 17 quilômetros ao norte. En­
tretanto, Deus os levou a Dotã, pois devido ao seu grande abastecimento
de água, Dotã era rota das caravanas que se dirigiam ao Egito. Ou seja, se
os irmãos de José tivessem tentado matá-lo em Siquém, provavelmente
ali não haveria um meio de ele seguir em direção ao lugar onde Deus o
estava esperando. Deus estava no controle de toda aquela situação.
Quando seus irmãos o viram, disseram em uníssono: “Eis que che­
ga o tal sonhador. Vinde, matemo-lo, e veremos o que acontecerá com
seus sonhos” (Gn 37.19-20). Entretanto, foram dissuadidos por Rúben, o
filho mais velho, que chegou após a decisão tomada (Gn 37.21-22). Rú­
ben convenceu seus irmãos a jogarem José numa cisterna vazia, pois
pensava resgatá-lo na sequência.
Eles arrancaram de José o símbolo do seu favoritismo - a túnica
colorida - e sem o consentimento de Rúben, venderam José para uma ca­
ravana de comerciantes ismaelitas que passava em direção ao Egito (Gn
37.25-28). Numa reviravolta irônica, a vestimenta que representava o
favoritismo de Jacó por José foi encharcada com o sangue de um cabrito
e apresentada ao velho patriarca como um sinal de que seu filho amado
havia sido morto por animais selvagens. A ironia maior é que foram
os próprios irmãos de José que agiram como esses “animais selvagens”
projetando a morte do jovem sonhador. No entanto, esse é um exemplo
de como Deus utiliza momentos críticos para gerar coisas extraordiná­
rias. Aquele ato de brutalidade dos irmãos de José mudou para sempre
a história do Oriente Médio.
A partir desse momento, a vida do jovem sonhador se tornou uma
sequência bem-aventurada de fatos, e duas palavras vão ser constan­
temente usadas para demonstrar os acontecimentos da vida de José:
“mão” (yod) e “prosperar” (tsalach).
No Egito, P otifar- que era capitão da guarda de Faraó - comprou-o
das mãos dos vendedores de escravos (Gn 39.1). O Senhor estava com
José (Gn 39.2), de maneira que Potifar percebeu a prosperidade que al­
cançou sua casa por meio da gestão do jovem rapaz. Como resultado,
Potifar colocou tudo o que possuía “nas mãos de José” (Gn 39.4). E, me­
diante esta decisão, Potifar prosperou ainda mais.
A Bíblia diz que José era de “belo porte e tinha um rosto boni­
to” (Gn 39.6). A esposa de Potifar sentiu-se atraída por José e procurava
continuamente seduzi-lo (Gn 39.10). José, no entanto, embora estivesse
longe de seu lar e de sua família, sabia que não estava longe do seu Deus,
e permaneceu fiel ao seu Senhor e a Potifar, não aceitando as propostas
daquela mulher, por ser perversidade contra Deus. As tentativas de se­
dução continuaram até que, em certo dia, quando não havia ninguém
em casa além de José e a esposa de Potifar - provavelmente ela mesma
providenciou a saída de todos os seus empregados a fim de alcançar
seus propósitos - ela o agarrou pela roupa. No entanto, José resistiu fir­
memente à sua tentativa e fugiu, deixando a roupa nas mãos de sua se­
nhora que, mortificada e furiosa, vingou-se chamando os criados. Para
eles - e para o marido mais tarde - ela afirmou que José tinha tentado
agarrá-la, fugindo quando ela gritara por socorro. Estranhamente, José
não foi de pronto executado pela alegada investida. Na cultura egípcia
antiga, uma acusação deste nível levaria o escravo diretamente a uma
condenação à morte. Curiosamente, José foi apenas preso. Ou porque
Potifar estimava muito a José, ou porque, de fato, Potifar conhecia a mu­
lher com quem tinha casado.
Mais uma vez, uma peça de roupa de José fora usada em um fal­
so testemunho que provocaria uma reviravolta na vida do preferido de
Jacó. Novamente, ele era prisioneiro (Gn 39.20). No entanto, também
desta vez “o Senhor era com ele” (Gn 39.21), de maneira que José en­
controu favor diante de seu novo superior (Gn 39.21,4). José conquistou
a confiança do carcereiro de tal maneira que todas as tarefas da prisão
ficaram “nas mãos” dele (Gn 39.22). E novamente o texto nos diz que
o Senhor fez com que ele “prosperasse” (Gn 39.23). Não importava em
que “mãos” a vida de José estava colocada, no final, era sempre a mão de
Deus que o livrava e o fazia prosperar!
Quando estava na prisão, José entrou em contato com funcioná­
rios da corte real e interpretou os sonhos que o copeiro do rei e o padeiro
da palácio tiveram em uma mesma noite. Da forma que José interpretou
os sonhos deles, assim sucedeu. O copeiro foi perdoado e reintegrado ao
cargo e o padeiro foi executado. José tinha vinte e oito anos nessa época,
e ainda permaneceu preso por mais dois anos.
Quando José tinha trinta anos de idade, Faraó teve um sonho que
ninguém conseguiu interpretar. O copeiro se lembrou da interpretação
do seu sonho feita por José, e então, ele foi convidado à corte do rei.
Antes de comparecer à presença do Faraó, no entanto, José se barbeou,
banhou-se e colocou vestes novas (Gn 41.14).
Os sonhos do Faraó incluíam sempre o rio Nilo, o gado que pasta­
va ao longo das suas margens e os grãos que fizeram daquele país o ce­
leiro do mundo Mediterrâneo. A interpretação de José indicava que sete
anos de fartura seriam seguidos por sete anos de escassez. José então
sugeriu que deveriam ser feitas provisões para os anos ruins recolhen­
do-se um quinto de toda a produção obtida nos anos de abundância. O
rei, impressionado com a sabedoria com a qual Deus havia abençoado
José, o nomeou como superintendente sobre todo o reino (Gn 41.39). O
segundo em autoridade sobre todo o Egito (Gn 41.39-44). Esta função é
bastante conhecida graças a alguns documentos encontrados no Egito e,
no antigo Oriente, o seu ocupante recebia o título de vizir. O vizir era o
principal funcionário administrativo da corte, e ele era encarregado do
tesouro, da justiça e da execução de todos os decretos reais (função hoje
comparada a de um primeiro-ministro). Numa reviravolta completa de
sua sorte, o jovem hebreu descobriu que todo o reino do Egito estava em
suas mãos - o que ficou evidente pelo anel que ele passou a usar, dado
pelo próprio Faraó (Gn 41.42).
Vale a pena sabermos que não era um costume egípcio conceder
um cargo semelhante a este a um semita. Somente egípcios assumiam
cargos na corte egípcia. A grande questão é que a época em que José
governou sobre o Egito, o país era governado por faraós hicsos, e não
por faraós egípcios. Os hicsos eram uma tribo semita violenta. Vindos
da Ásia, invadiram e conquistaram o Egito no século 17 a.C. - em apro­
ximadamente 1750 a.C. - e governaram até aproximadamente 1550
a.C., quando então, uma dinastia de faraós egípcios novamente tomou
o poder. Isso explica por que eles, sendo semitas, estariam dispostos a
colocarem um estrangeiro - José - em uma posição tão elevada quanto
esta de grande autoridade do governo - o que seria inviável em uma
dinastia de faraós egípcios no Egito. Isso explica o porquê de ter surgido
um “novo Faraó que não conheceu a José” (Êx 1.8). Ele era justamente
o primeiro de uma nova dinastia de egípcios que, após a expulsão dos
hicsos, subjugou a todos os aliados desta dinastia, inclusive os hebreus.
Uma outra evidência clara dessa ideia é que os israelitas também residi­
ram na planície de Tanis, que era chamada de “campo de Zoã” (SI 78.12),
e essa era a capital hicsa no Egito.
Comparando a data aproximada da morte de José (1770 a.C.), com a
data do fim da dinastia hicsa (1750 a.C.), podemos concluir, que após a morte
de José os hebreus ainda tiveram 20 anos de paz e conforto, antes da nova
dinastia assumir o trono e surgir “um novo Faraó que não conheceu a José”.
José, quando assumiu o cargo de governador do Egito, também
recebeu um novo nome: Zafenate-Paneia, que aparentemente significa:
“Deus fala e está vivo”. Junto com o novo nome, José recebeu também
uma esposa, Asenate, filha de Potífera (e não de Potifar), sacerdote de
Om (Gn 41.45). Durante os sete anos de fartura,nasceram-lhes dois fi­
lhos: Manassés e Efraim. Então José pôde dizer com gratidão: “Deus me
fez esquecer de todos os meus dos trabalhos e... me tornou próspero na
terra da minha aflição” (Gn 41.51-52).
No fim dos sete anos, José havia armazenado alimento suficiente
para a nação atravessar uma grande fome e, no ano seguinte, sua inter­
pretação se cumpriu: as colheitas por todo o Egito foram fracas e continua­
ram assim pelos próximos sete anos. No entanto, por causa da prudência
de José, não faltou nada no Egito. Como, porém, a escassez continuava,
José começou inteligentemente a trocar grãos por animais e terras, de
forma que o trono egípcio se tornou o dono de todas as propriedades do
Egito, com exceção das terras que pertenciam aos sacerdotes egípcios (Gn
47.20-22). José, então, começou a executar um programa de reforma agrá­
ria: terras e sementes foram distribuídas gratuitamente aos camponeses,
e estes entregavam ao Faraó, como imposto, um quinto de suas colheitas,
ficando com o restante para as suas próprias necessidades.
Vale a pena lembrarmos que aquela seca e a fome afetaram não
somente o Egito, mas todo o Oriente Médio, inclusive a região onde mo­
rava Jacó e sua família. A tribo de José não era formada apenas de sua
família, mas, possivelmente, possuía também dezenas de empregados e
servos. Jacó não era um asceta itinerante. Era o equivalente a um xeique
beduíno rico. No entanto, uma vez que as colheitas estavam ruins, o
pasto também ficou ruim, por isso não havia trigo para o povo comer e
certamente os rebanhos também começaram a padecer, assim como as
“vacas do sonho” haviam padecido.
Então, eles ficaram sabendo que havia muita comida no Egito (Gn
42). A tribo era grande, mas não era pobre, por isso Jacó decidiu enviar
seus filhos com dinheiro ao Egito para comprarem trigo. Por precaução,
Benjamim ficou para trás. Afinal, ele era o único filho de Raquel que Jacó
pensava que estava vivo, e Jacó o amava na mesma medida como havia
amado José.
Quando chegaram ao Egito, tiveram que procurar o governador -
que lhes foi apresentado como Zafenate-Paneia e não como José - para
comprar trigo. Fazia vinte anos que eles o haviam visto pela última vez.
A última recordação que eles tinham de José era a de um menino de de­
zessete anos, machucado e todo ensanguentado por causa dos maus-tra-
tos que havia recebido dos seus irmãos. Quando viram o oficial egípcio
de alta posição, que usava o anel sinete de Faraó, a maquiagem tradi­
cional que os oficiais egípcios usavam e o colar de ouro de autoridade,
os irmãos não reconheceram nele o menino franzino que quase haviam
matado no passado.
No mesmo instante, José reconheceu seus irmãos, mas não se re­
velou a eles. Pelo contrário, começou um jogo complicado que tinha por
objetivo forçá-los a confrontar a culpa pelo modo como o haviam tra­
tado. Ele os acusou de serem espiões, jogou-os na prisão por três dias e
submeteu-os a um duro interrogatório durante o qual eles admitiram
que havia outro irmão, Benjamim. Nesse meio tempo que eles ficaram
como reféns, eles discutiram entre si em sua própria língua, sem saber
que o governador que lhes havia falado através de um interprete, era
capaz de entender o que eles diziam. Quando os irmãos se perguntaram
se aquela situação que estavam vivendo no Egito não seria devido à mal­
dade que haviam feito a seu jovem irmão há tantos anos, José teve de se
afastar para ocultar seus sentimentos (Gn 42.21-24).
José finalmente concordou em vender-lhes trigo com a condição
de que deixassem um dos irmãos como refém, fossem para casa, e vol­
tassem com Benjamim. Simeão foi escolhido para ser deixado para trás.
José então ordenou aos guardas que devolvessem o dinheiro, esconden­
do-o secretamente nas bagagens deles com trigo. A caminho de casa -
quando descobriram o dinheiro - eles ficaram apavorados. Perceberam
que estavam envolvidos em algo que não conseguiam entender e acha­
ram ser um castigo de Deus (Gn 42.28).
Quando eles chegaram em casa, Jacó ficou perturbado com a exigên­
cia do governante egípcio (ele ainda não sabia que era José) e se recusou a
arriscar a vida de Benjamim, acreditando por certo que Simeão já estava
morto. No entanto, à medida que a fome aumentou, ele teve de ceder. Por
fim, enviou seus filhos, incluindo Benjamim, de volta para o Egito. Jacó lhes
disse sabiamente para levarem de volta o dinheiro encontrado nas bolsas
e mandou um presente para o senhor egípcio: “um pouco de bálsamo, um
pouco de mel, alcatira e ládano, pistácias e amêndoas” (Gn 43.11).
Quando chegaram, eles ficaram surpresos por não serem rece­
bidos como inimigos, mas como convidados de honra. Foram tratados
como reis, bebendo vinho e jantando no palácio de José. Quando en­
tregaram a José o presente enviado por Jacó e lhe apresentaram Ben­
jamim, José teve de deixar a sala novamente para que eles não vissem
suas lágrimas. José mandou servir aos irmãos porções escolhidas de sua
própria mesa, sendo a maior para Benjamim, e depois eles foram envia­
dos de volta para casa não só com o trigo solicitado, mas também com
grande honra. Entretanto, José novamente ordenou ao administrador
que devolvesse secretamente o dinheiro e escondesse sua taça de prata
na bagagem de Benjamim.
Assim que passaram pelo portão da cidade, os irmãos foram de­
tidos pelos guardas do palácio e acusados de roubar o seu anfitrião de
maneira ingrata. Certos de que eram inocentes, eles se ofereceram como
escravos se qualquer prova fosse achada. O guarda disse que somente
o ladrão se tornaria escravo. A busca tensa começou pela bagagem de
Rúben, encerrando-se com a bagagem de Benjamim. Quando a taça de
José foi encontrada na bagagem de Benjamim, aterrorizados, os irmãos
voltaram e se prostraram diante de José, cumprindo, assim, seu sonho.
Imploraram pela misericórdia de José, dizendo que o pai era idoso e
morreria se algo acontecesse com Benjamim, seu querido filho caçula.
Por fim, José ficou tão emocionado que dispensou todos os seus
servos e se revelou aos seus irmãos, dizendo-lhes que Deus o havia en­
viado à frente deles para preparar-lhes uma futura sobrevivência (Gn
45). José, em uma explosão de emoção represada, chorou tão alto que
todos os egípcios o ouviram (Gn 45.2). José lhes disse que havería ainda
mais cinco anos de fome, e os enviou para casa a fim de que trouxessem
Jacó e toda a sua família para viverem no Egito. Além disso, José viu a
mão de Deus em sua trajetória, e entendeu que o Senhor o havia escolhi­
do com a finalidade de preservar o início da nação de Israel (Jacó e sua
família) através de sua pessoa (Gn 45.7-8; 50.20). Ou seja, José entendia
que o que Deus havia feito por ele, não fez por causa dele apenas, mas
sim, para que através dele Israel fosse preservado. Deus usou José como
agente primário no cumprimento desta promessa.
Enquanto isso, Faraó ficou tão comovido com esta história que en­
viou, com generosidade, presentes para Jacó e prometeu: “Eu lhes darei
o melhor da terra do Egito e vocês poderão desfrutar a fartura desta ter­
ra” (Gn 45.18). Arranjos foram feitos para a vinda de Jacó e carruagens
foram fornecidas, juntamente com provisões para a viagem (Gn 45.21).
0 objetivo era garantir a segurança no trajeto para o Egito do velho pa­
triarca que na época tinha 130 anos de idade (Gn 47.8-9).
Quando Jacó soube que seu filho José estava vivo, exclamou: “Bas­
ta! José, meu filho, ainda está vivo! Que eu vá vê-lo antes de m orrer”
(Gn 45.28). Jacó e sua família foram para o Egito e se estabeleceram na
terra de Gósen, uma região fértil no delta do Nilo, que era, na verdade,
a melhor parte do país (Gn 45.16-20). Eles foram com a benção de Deus,
e sob uma promessa que Deus havia feito: “Não tenham medo de descer
ao Egito, porque lá farei de vocês uma grande nação. Eu mesmo descerei
ao Egito com vocês e certamente vos trarei de volta” (Gn 46.3-4).
José veio encontrar-se com todos em Gósen, onde se deu um emo­
cionado reencontro entre o idoso patriarca e seu filho sonhador. Em sua
velhice, Jacó deu a sua benção patriarcal aos dois filhos de José, mas, a
principal ele a deu ao mais moço, Efraim (Gn 48.13). Ambos se tornaram
tribos de Israel, garantindo que o número das tribos ainda fosse doze
quando os descendentes de Levi se tornaram o sacerdócio hereditário e
não puderam mais ocupar o território de uma tribo.
Depois da morte de Jacó, os irmãos de José ficaram temerosos de
que ele poderia tentar se vingar deles, mas, novamente foram assegura­
dos de que Deus em sua providência havia planejado tudo isso somente
para o bem. Com isso, podemos observar claramente o sensível e miseri­
cordioso caráter de José pela segurança que deu aos irmãos, mostrando
que os havia perdoado e estava preocupado com o bem-estar deles.
José viveu ainda para conhecer os seus bisnetos e morreu no Egito
com a idade de 110 anos. Ele foi mumificado (embalsamado) e colocado
em um sarcófago de madeira para múmias (Gn 50.26). José, no entan­
to, havia pedido que quando os israelitas deixassem o Egito, levassem
consigo os seus ossos (Gn 50.25). Isso foi fielmente atendido por Moisés
na época do Êxodo (Êx 13.19). E os ossos de José foram sepultados em
Siquém, em um pedaço de terra que anteriormente Jacó havia adquirido
(Js 24.32; Gn 33.18-20).
Como José, provavelmente, fez parte da época do governo dos hicsos,
o seu nome não é encontrado nos registros egípcios. Entretanto, é interes­
sante observar que o nome “José-El” aparece como o nome de um lugar
palestino na relação das cidades conquistadas pelo Faraó Tutmósis III.
Josias foi rei em Judá por 31 anos, entre 640 a 609 a.C. Seu avô, o per­
verso rei Manassés, reinou por 55 anos, perseguiu as pessoas piedosas e re­
primiu a verdadeira religião e a adoração a Deus. Seu pai, Amon, governou
apenas dois anos, dando continuidade às práticas malignas de Manassés. Seu
reinado foi interrompido por intrigas na corte que culminaram com o seu
assassinato (2Rs 21.24). O anterior desgoverno de seu pai e seu avô foi corri­
gido por Josias. Isso nos ensina que em nossa vida temos a oportunidade de
corrigir os erros que os nossos antepassados cometeram. Erros que foram
cometidos no histórico de nossas famílias podem ser abolidos em nós.
Em meio a essa difícil época de apostasia, Josias assumiu o trono
com apenas oito anos de idade. Foi o décimo sétimo rei de Judá. Enquan­
to jovem, teve como seu conselheiro o sumo sacerdote Hilquias, a quem
ele ouvia atentamente. Esses conselhos cooperaram para que Josias ao
longo de sua infância e adolescência despertasse o desejo de conhecer
ao Senhor, e isso fez com que “Josias, no oitavo ano do seu reinado [com
16 anos de idade] com eçou a buscar o Senhor” (2Cr 34.3). Nesse período,
Deus começou estabelecer Josias como um reformador em Judá. Desper­
tando o povo para voltar-se para Deus.
Quatro anos depois, quando Josias tinha a idade de 20 anos, come­
çou a purificar a Judá e a Jerusalém, destruindo os altares idólatras, os
bosques de sacrifícios pagãos e reduzindo as imagens de escultura e de
fundição a pó. Até os ossos dos sacerdotes que haviam praticado sacrifí­
cios pagãos também foram consumidos sobre os seus altares. Com isso,
Josias estava declarando que aqueles que haviam instituído e praticado
o pecado seriam consumidos e reduzidos a nada juntos com o pecado.
Essa iniciativa de Josias foi tão bem-sucedida que, sendo ele rei em
Judá, até em Israel foram removidos todos os altares e lugares onde era
praticada a idolatria (2Cr 34.7). Josias havia entendido que o desejo de
Deus é que o seu povo viesse a se unir para combater o pecado, e promo­
ver a santidade ao Senhor, independente de serem de “Judá ou Israel”.
No entanto, foi no décimo oitavo ano de seu reinado, aos26 anos de
idade, que Josias realizou o principal feito de seu reinado. Depois de já ha­
ver purificado a terra e as casas, Josias “enviou a Safei, filho de Azalias, a
Maaseias, m aioral da cidade e a Joá, filho de Joacaz, para repararem a Casa
do Senhor” (2Cr 34.8). Junto com eles estava Hilquias, sumo sacerdote. En-
quanto limpava uma parte danificada do templo, Hilquias encontrou um
livro antigo da lei, que segundo os historiadores e alguns mestres nas tradi­
ções, era o volume completo ou parte do livro de Deuteronômio. Os livros
sagrados haviam sido, em geral, destruídos e postos longe do alcance de to­
dos durante a apostasia e perseguição que celebrizaram o longo reinado do
ímpio Manassés (2Rs 21.16; 2Cr 33.9). O livro encontrado teria sido algum
exemplar da lei para uso do templo, e que havia sido escondido, ou talvez
atirado para algum canto, quando se deu a profanação do santuário.
Quando Safã leu o livro para Josias, o rei rasgou as suas vestes e cho­
rou, um gesto tradicional que significava lamento ou grande calamidade. O
que mais constrangeu o rei foi que o povo não havia vivido de acordo com os
mandamentos do Senhor que estavam escritos no livro, e o livro prenunciava
a destruição de Judá por causa dos pecados do povo. Josias havia percebido
que aquele texto, por mais antigo que fosse, não havia deixado de ser atual.
A leitura do livro da lei foi tão importante que deu início a uma
segunda empreitada contra a idolatria e, desta vez, mais forte do que a
primeira. Josias enviou uma comissão à profetisa Hulda, a qual profe­
tizou que, por causa da reação devota e sincera de Josias para com a lei
do Senhor, Deus não permitiría que ele visse a destruição de Jerusalém.
Judá seria destruída, mas Deus o recolhería antes (2Cr 34.23 em diante).
Aquilo, porém não fora suficiente para Josias. Ele reuniu todos os sacer­
dotes e líderes de Judá e leu todo o livro para eles, exigindo que jurassem
lealdade às palavras do livro e seguissem seus mandamentos.
Como prova de que essa segunda empreitada de Josias contra a
idolatria foi mais forte que a primeira, o jovem rei, em seguida, reinsti-
tuiu a observância da festa da Páscoa e, com seus próprios rebanhos e
gados, proveu para todo o povo os animais ritualmente aceitáveis para
o sacrifício ao Senhor (2Cr 35.7). Feito isto, ordenou a celebração da Pás­
coa em honra ao Senhor, com tal solenidade, como não se tinha visto
desde os tempos de Samuel.
Os próximos 13 anos da vida de Josias passaram despercebidos pelo
caminho da história. Quando celebrou a Páscoa tinha 26 anos de idade. A
Bíblia só volta a narrar sua história nos idos de seus 39 anos, por ocasião
de sua morte na batalha de Megido, em 609 a.C.
Durante esse período, a Assíria estava ruindo por causa de suas
guerras civis, e Nabopolasar estava transformando a Babilônia em um
reino poderoso que estava tomando conta de parte da Mesopotâmia. Ao
mesmo tempo, o Egito também se fortalecia, e isso predisse de forma
definida, o fim do império assírio, que os babilônios não demoraram a
derrubar. Porém, o Egito, procurando evitar a extinção final da Assíria,
por temer o inimigo comum, a Babilônia, aliou-se aos assírios e foi fazer
guerra contra Carquemis. Consequentemente, à medida em que a Assíria
declinava, aumentava a independência de Josias e de seu reino em Judá.
Nessa investida do Faraó Neco II contra Carquemis, Josias o inter­
ceptou. Neco II tentou convencê-lo de que não tinha planos de pelejar
contra Judá e que Deus o havia ordenado a dizer para Josias que ficasse
fora do caso. Josias não acreditou na palavra do Faraó Neco II, colocou
um disfarce e foi com suas tropas de guerra contra eles. Tragicamente,
Josias foi atingido por uma flecha, e foi levado de volta para Jerusalém,
onde faleceu. Uma morte desnecessária, por assim dizer.
Podemos tirar algumas lições desse episódio. Primeira, Deus nun­
ca abençoará alguém que tenta mostrar ser quem não é, usando um “dis­
farce”. Segunda, aprendemos também que, talvez Josias tenha julgado a
si mesmo como sendo tão “próximo de Deus”, que Deus não falaria com
ele através de outra pessoa (Faraó Neco II). Terceira, aprendemos com a
morte de Josias sobre o cuidado que precisamos ter para não entrarmos
em guerras que não são nossas. O Diabo sempre tenta nos envolver em
guerras erradas. Josias, por um instante, ficou “cego” e não percebeu
o perigo que estava correndo desnecessariamente em uma guerra que
não era dele. Perdeu a vida em uma guerra desnecessária. Podia ter fei­
to mais, gerado mais, conquistado mais. Porém, envolveu-se em uma
guerra que não era sua e abortou o futuro de sua história.
Alguns eruditos, acreditam também que é possível que a morte
de Josias tenha ocorrido em resultado de seu desejo de obter uma inde­
pendência ainda maior do que qualquer nação estrangeira - vencendo
o Faraó Neco II - na esperança de consolidar seu reinado, e alcançar o
Egito - o que revela uma certa ambição.
Entretanto, as reformas instituídas por Josias foram mais profun­
das que as do rei Ezequias, apesar de terem ocorrido tarde demais para
impedir o desastre nacional de Judá. Josias foi o último rei bom de Judá,
antes da destruição de Jerusalém e do cativeiro da Babilônia. O melhor
tributo lhe é rendido em 2 Reis 23.25: “E antes dele não houve rei sem e­
lhante, que se convertesse ao Senhor com todo o seu coração, e com toda
a sua alma, e com todas as suas forças, conform e toda a Lei de Moisés, e,
depois dele, nunca se levantou outro tal”.
Josué Nome hebraico, significa "0 Senhor é salvação".

Josué foi o sucessor de Moisés na liderança do povo de Israel na


época da conquista de Canaã. Seu nome original era Oseias (Nm 13.8). 0
nome Oseias significa salvação, enquanto que Josué significa O Senhor é
salvação. 0 nome dele foi trocado por Moisés como um sinal de reconhe­
I
cimento de que todas as suas futuras vitórias dependeríam de que Deus
lutasse por ele em suas batalhas, pois, “o Senhor seria a sua salvação”.
Josué era filho de Num, da tribo de Efraim (Nm 13.8), e tinha mais de
40 anos quando deixou o Egito. O nome de Josué aparece pela primeira vez
em um contexto militar. Foi numa batalha travada pelos hebreus depois
que saíram do Egito em Refidim. Os amalequitas ameaçavam os israelitas.
Quando a batalha começou, Moisés, Arão e Hur foram para o alto de uma
colina para observá-la. Enquanto Moisés mantinha as mãos erguidas, Josué
vencia, e quando ele as abaixava, os amalequitas prevaleciam. Arão e Hur,
então mantiveram os braços de Moisés erguidos até o pôr-do-sol, quando os
amalequitas foram destruídos pelo exército Israelita de Josué (Êx 17.8-16).
A tarefa de Josué não era nada fácil. Ele tinha que selecionar um exército -
composto de um grupo de ex-escravos que não entendiam nada de guerra
- e batalhar com eles. No entanto, com a ajuda de Moisés, Arão e Hur, eles
venceram o exército inimigo. A maioria dos eruditos concorda que é bem
provável que Josué tivesse sido um soldado profissional, treinado no Egito
pelo exército de Faraó, pois dificilmente um escravo hebreu entendia de
estratégias militares de guerra. Um argumento a favor dessa ideia é o fato
de Moisés ter considerado Josué suficientemente experiente em combates
para apontá-lo como líder da defesa de guerra de Israel.
Josué também foi um dos doze espias enviados para sondar Canaã
durante 40 dias (Nm 13.16). Foi escolhido para ser o representante da tribo
de Efraim (Nm 13.8). Ser escolhido como um dos doze espias deu-lhe a opor­
tunidade de aprender, em primeira mão, sobre a natureza dos moradores
de Canaã e sobre a topografia daquela terra. Sem dúvidas, esta informação
tornou-se importantíssima quando chegou a hora de planejar a campanha
de conquista de Canaã. No entanto, dez dos doze espias voltaram com um
resultado negativo, dizendo que seria impossível o povo conquistar a ter­
ra. Somente Josué e Calebe confiaram em Deus e disseram que o lugar era
possível de ser conquistado. Por causa dessa postura de fé, Josué e Cale­
be foram os únicos homens da nação israelita daquela época que viveram
a promessa de entrar na terra prometida e receber uma herança ali (Nm
14.6,30,38; 26.65; 32.12; Dt 1.34-40). Quanto aos dez espias - que fizeram
murmurar toda a congregação contra o Senhor - Deus enviou uma praga
e matou todos eles (Nm 14.36-37). Quanto à nação, foram condenados a
40 anos de peregrinações que terminaram em morte no deserto - um ano
para cada dia que os espias estiveram em Canaã.
Durante aquele ano, no monte Sinai, Moisés passou a considerar
Josué como o seu “moço”. Josué passou a servir como auxiliar direto de
Moisés, e foi a única pessoa autorizada a subir com ele o Sinai quando a
lei foi revelada (Êx 24.13; 32.17) e a acompanhá-lo quando ele ia à tenda
da congregação onde encontrava e ouvia o Senhor (Êx 33.11).
Esse foi um fator decisivo para consolidar o papel de Josué como
sucessor de Moisés na liderança do povo israelita. Essa sucessão foi regis­
trada oficialmente em Números 27.18-23. A passagem narra que Moisés
impôs publicamente as mãos sobre Josué e compartilhou o espírito de sa­
bedoria com ele (Nm 27.18-23; Dt 34.9). As responsabilidades de Josué de­
terminavam a sua permanência diante do sumo sacerdote Eleazar, o qual
discerniría a vontade de Deus por meio do uso do Urim. Incluíam também
a liderança do povo de Israel e o comando das forças militares israelitas.
Juntos Josué e Eleazar receberam instruções concernentes à distribuição
das terras do lado oriental do Jordão, entre as tribos (Nm 32).
Quando Moisés e Josué se dirigiram à porta da tenda, Deus co­
missionou Josué de uma forma direta (Dt 31.14-15,23), e todo o Israel
percebeu que Josué era o escolhido de Deus para suceder Moisés. Ou
seja, Moisés não escolheu o moço sozinho. Josué era uma escolha prin­
cipalmente de Deus. Seu comando, no entanto, foi como o de um líder
ou chefe militar, enquanto o de Moisés havia sido o de um chefe tribal.
Deus deu ordens a Moisés para “fo rta lecer” Josué (Dt 1.38) e “enco-
rajá-lo” (Dt 3.28). Depois, pela boca do próprio Deus, Josué ouviu a confir­
mação das palavras de Moisés, quando Deus falou com ele usando as mes­
mas palavras que Moisés dissera: “Esforça-te, e tem bom ânim o” (Js 1.6-9).
Depois da morte de Moisés, Josué e o povo de Israel acamparam a
leste do Jordão. Dois imensos problemas estavam diante de Josué: atra­
vessar o rio Jordão que estava transbordando e vencer os temidos ad­
versários cananeus. Ele enviou dois espias para fazer o reconhecimen­
to da fortaleza de Jerico e ordenou-lhes que mantivessem a missão em
segredo caso seu relatório pudesse desencorajar o povo, como os dez
espias da época de Moisés haviam feito (Js 2). Deus, no entanto, deu-lhe
vitória sobre os dois obstáculos, enchendo de terror os habitantes de
Jerico (Js 2.9-11) e interrompendo o curso das águas do Jordão.
Curiosamente, repetiram-se na vida de Josué algumas experiências
que Deus havia proporcionado a Moisés. Muitas das atividades que Josué
desempenhou eram como um espelho das ações anteriores do grande le­
gislador: Assim como Moisés, Josué também enviou “espias” para inves­
tigar a terra prometida (Nm 13; Js 2); Assim como Moisés, üderou o povo
através de uma imponente corrente de água, que se abriu miraculosa-
mente diante deles (Êx 13.17 a 15.21; Js 3 e 4); Assim como Moisés, teste­
munhou a circuncisão de todos os israelitas (Êx 4.26-28; Js 5.2-9); Assim
como Moisés, também celebrou a Páscoa em Israel (Êx 12; Nm 9.1-4; Js
5.10-12); Assim como Moisés, uma voz aproximou-se dele, quando estava
sozinho, e lhe deu ordem para que tirasse às sandálias dos pés, em reve­
rência a terra santa em que se encontravam (Êx 3.1-5; Js 5.13-15) e, assim
como Moisés, Josué também concluiu a sua jornada com um discurso de
despedida para o povo no fim de sua vida (Dt 1; Js 23).
Sua primeira conquista foi uma série de cidades fortificadas, co­
meçando por Jerico (Js 6). Depois de Jerico Josué conquistou as seguintes
cidades: Ai, Jerusalém, Hebrom, Jarmute, Laquis, Eglom, Gezer, Debir,
Geder, Horma, Arade, Libna, Adulã, Maquedá, Betei, Tapua, Héfer, Afe-
ca, Lasarom, Madom, Hazor, Sinrom-Merom, Acsafe, Taanaque, Megido,
Quedes, Jocneão (perto do monte Carmelo), Dor (cidade litorânea), Goim
(que ficava na região que mais tarde viria a ser a Galileia) e Tirza. Ao
todo Josué conquistou 31 cidades (Js 12.24). Sua política militar era uma
combinação de surpresa e velocidade, de pegar seus inimigos em campo
aberto e destruir suas tropas, até porque, seu próprio exército de ex-es­
cravos egípcios não era treinado em operações de cerco.
Há um fato curioso em uma batalha que Josué lutou no vale de Ai-
jalom. A história relata que ele estava guerreando contra os cinco pode­
rosos exércitos dos amorreus, e estava vencendo a guerra. No entanto,
precisava da claridade do dia para confirmar a vitória destruindo todos
os inimigos. Então, ele orou pedindo que o Sol parasse em Gibeom e a lua
aguardasse no vale de Aijalom. Com isso, a noite seria impedida de chegar
ao local da batalha até que os amorreus fossem vencidos por completo.
Deus atendeu a oração de Josué, contrariando as leis da natureza que ele
mesmo havia estabelecido. “N ão houve dia sem elhante a esse, nem antes e
nem depois dele, atendendo o Senhor assim à voz de um homem. Certamen­
te o Senhor pelejava p ôr Israel" (Js 10.14). Hoje, devido à ciência, sabemos
que não é o Sol e a Lua que se movimentam, mas a terra. No entanto,
Josué não sabia disso. Ele simplesmente orou, de acordo com o entendi­
mento que ele tinha na época e, extraordinariamente, Deus entendeu o
que Josué estava pedindo, segurando o sistema solar por mais algumas
horas para que o seu povo fosse vencedor naquela batalha.
Algumas destas incursões foram no norte, mas, em grande parte, a
área ocupada foi à região em tomo do oeste do mar Morto e a margem oci­
dental do rio Jordão, e algumas regiões a leste. Em alguns feitos heroicos,
Josué venceu cinco reis de uma única vez (Js 10.16-27) e depois venceu mais
sete reis, também em uma única vez (Js 10.28-43). Acredita-se que Josué pre­
cisou de um período de aproximadamente 7 anos para conquistar todas es­
tas 31 cidades. Após cada conquista, Josué dividia os despojos entre as tribos.
No entanto, embora Josué tivesse conquistado “m uita terra", aca­
bou não conquistando “toda a terra da prom essa”. Em Josué 13.1, o pró­
prio Deus informa a Josué que ele não havia conseguido concluir toda a
sua missão. Ainda havia ficado muita terra para ser conquistada, inclu­
sive o território dos filisteus e dos cananeus (Js 13.1-5). Curiosamente,
esses dois povos que Josué não conseguiu alcançar - os filisteus e os
cananeus - se tornaram os maiores inimigos dos israelitas nas próximas
gerações. Somente nos dias de Davi - quando Israel alcançou o seu terri­
tório máximo - os israelitas conseguiram dominar toda a área que Deus
havia disponibilizado para eles desde os dias de Josué.
Após o período da conquista de Canaã (Js 1.1 a 13.5), iniciou-se a tare­
fa de repartir às terras entre as tribos (Js 13.6 a 21.43). Josué mostrou então
que era um hábil administrador, dando ao sistema tribal de Israel um ter­
ritório fixo (Js 24.1-28) e, contribuindo assim, com a organização necessária
que serviría de base para as demais fases do povo escolhido por Deus.
Depois de liderar os israelitas por muitos anos, Josué, em sua velhi­
ce, reuniu todas as tribos em Siquém para renovar sua aliança com Deus.
Josué subiu o monte Ebal, e ali leu toda a lei, acrescentando algumas leis
novas ao corpo da Torá. Depois reafirmou a aliança segundo a lei, e o
povo concordou. Josué disse a Israel: “Escolheis hoje a quem sirvais... Eu e
m inha casa servirem os ao Senhor” (Js 24.15). Isso expressou a atitude que
Josué teve durante toda a sua vida.
Três séculos depois, o monte Ebal seria considerado um lugar sa­
grado e, logo depois, os samaritanos olhariam para ele como o monte
santo de Deus, em lugar do Sinai, em cujo cume a Lei foi dada a Moisés.
Até hoje, os samaritanos em Israel reverenciam o monte Ebal como lu­
gar sagrado, em lugar do Sinai, e reverenciam Siquém (atual Nablus),
em lugar de Jerusalém, como a cidade santa de Deus.
Josué morreu com 110 anos de idade e foi sepultado no lugar que
havia escolhido para ser sua morada, em Timnate-Sera, na região monta­
nhosa de Efraim (Js 24.29-30). Isso ocorreu aproximadamente em 1365 a.C.
Alguns criticam Josué por falhar em escolher e treinar um sucessor.
Por outro lado, após a divisão da terra, Deus também queria que cada tri­
bo consolidasse seu próprio território, como Calebe fez em Hebrom, por
exemplo. Mas, certamente, se Josué houvesse preparado um sucessor, as
coisas teriam sido mais fáceis para o futuro administrativo de Israel.
No entanto, Josué havia sido um homem de honra em sua palavra.
Ele cumpriu o acordo feito com os dois espias sobre o lar de Raabe e poupou
a vida desta mulher quando a cidade de Jerico foi derrotada (Js 6.22-25). Jo­
sué também não invalidou o tratado feito pelos príncipes israelitas com os
gibeonitas, mesmo sabendo que havia sido enganado por eles (Js 9.18-26).

Judá Nome hebraico, significa ‘Louvor".

Judá foi o quarto filho de Jacó e Lia (Gn 29.35). Nasceu em Padã-A-
rã, na Mesopotâmia. Seus irmãos por parte de pai e mãe foram Rúben,
Simeão e Levi (mais velhos do que ele) e Issacar e Zebulom (mais novos).
Judá tornou-se o progenitor da maior das doze tribos de Israel e viveu
em torno de 1950 a.C.
Em certa ocasião, Judá saiu para passar uns dias com seu amigo
Hira, em Adulão, onde conheceu e casou-se com uma mulher cananeia,
filha de um homem chamado Sua. Judá teve três filhos com ela: Er, Onã
e Selá. Um deles (Er) se casou com uma mulher chamada Tamar, mas
era um homem maldoso e ímpio e foi morto pelo Senhor (Gn 38.7). Uma
vez que ele não tinha filhos, segundo a lei da época, seu irmão Onã de­
veria tentar perpetuar a linhagem de seu irmão ao gerar um filho com
a viúva dele. Esse filho seria legalmente considerado descendente de Er.
Onã negou-se a fazer isso porque não queria ser pai de um filho para
perpetuar a linhagem do seu irmão, e sempre que tinha relações sexuais
com Tamar, jogava o sêmen na terra para não dar descendência ao seu
irmão. Por causa disso, o Senhor também o matou (Gn 38.8-9). Esta res­
ponsabilidade, então, caiu sobre Selá, que ainda era um menino. Por
isso, Judá mandou Tamar de volta para casa de seu pai até que Selá atin­
gisse a maioridade. No entanto, quando chegou à hora de Selá deitar-se
com Tamar, Judá não exigiu isso de seu filho, e por isso, Tamar conti­
nuou sem filhos. Presume-se com isso, que o costume do casamento levi-
rato já existia, antes mesmo de sua formalização em Deuteronômio 25.6.
Algum tempo depois, a esposa de Judá morreu e ele foi com seu
amigo Hira às terras filisteias de Timna, e “avisaram isso a Tamar, dizen­
do: o teu sogro so b e a Timna p a ra tosquiar as suas ov elh as” (Gn 38.13).
Tamar então, vestiu-se de prostituta - com um véu na cabeça - e ficou na
entrada de Timna esperando Judá. A estratégia deu certo: Judá dormiu
com Tamar e engravidou a própria nora.
Três meses depois, Judá soube que Tamar estava grávida e quis
queimá-la. Mas, Tamar provou que estava grávida dele e, então, ele re­
conheceu que ela havia sido mais justa do que ele (Gn 38.26). Ela deu à
luz gêmeos, Perez e Zerá, e foi de Perez que descendeu a tribo de Judá,
incluindo Davi (Rt 4.18-22) e Jesus (Mt 1.3,16). Com isso, Judá teve, ao
todo, cinco filhos durante a sua vida.
Propositalmente, o escritor de Gênesis, conta esta história no capí­
tulo 38, para fazer um contraste entre a infidelidade de Judá, quando viu
uma mulher que se fazia passar por prostituta (Gn 38), e a fidelidade de
José perante a mulher de Potifar (Gn 39). Todo o relato de Judá é narrado
pelo escritor bem no meio da trajetória de provação e fidelidade de José,
aparentemente, para fazer um paralelo entre o caráter dos dois irmãos.
Judá aparece novamente em cena quando os irmãos viajaram pela
segunda vez ao Egito, a fim de comprar alimento, durante a fome que asso­
lava todo o Oriente. Parece que ele se tornou o líder dos irmãos nos conta­
tos que tiveram com José (Gn 44.14-34). Quando, finalmente, José revelou
sua identidade, Judá também veio com sua família para a terra de Gósen,
no Egito, junto com o patriarca Jacó (Gn 46.28).
Quando estava próximo da morte de Jacó, o velho patriarca aben­
çoou seus filhos e profetizou que Judá seria a maior de todas as tribos. “Judá
seus irm ãos o louvarão... OsJilhos de seu pai se curvarão diante de você... O
cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de com ando de seus descenden­
tes” (Gn 49.8). Jacó também chamou Judá carinhosamente de “leãozinho”.
Além disso, Jacó concedeu a Judá o privilégio do direito à primogenitura
(Gn 49.8-12). Essa benção lhe garantiu a maior parte da terra de Canaã,
medindo desde o mar Morto até o mar Mediterrâneo, um território de 130
quilômetros de comprimento por 50 quilômetros de largura. Além de que,
Judá também foi a primeira tribo autorizada a tomar posse do território
que lhe foi conferido após a conquista inicial de Canaã (Js 14.6 -15.63). Ca-
lebe, um dos líderes dessa conquista, também era da tribo de Judá.
A benção de Jacó sobre Judá provou ser verdadeira e duradoura.
Judá se tornou a tribo abençoada por Deus e, depois da invasão de Israel
pelos assírios em 722 a.C., Judá tornou-se o reino abençoado por Deus
para representar geograficamente a descendência de Jacó (Israel). Como
Davi e Jesus descenderam de Judá, o cetro permaneceu para sempre esta­
belecido entre os descendentes de Judá (Lc 3.33).
O termo “judeu”, também se deriva do nome desse patriarca. A
tradição antiga diz que Judá morreu no Egito aos 119 anos de idade.

Judas Forma grega de Judá, que significa “Louvor".

Dentre as centenas de pessoas citadas na Bíblia, talvez nenhuma


tenha deixado para a posteridade uma memória tão trágica e desagra­
dável quanto Judas. Seu nome virou sinônimo de infidelidade, despre­
zo e falsidade. O nome Judas era um nome comum entres os judeus.
Esse era um nome honroso. Um dos grandes patriotas da nação judaica
era um homem chamado Judas Macabeu, mas daquele dia em diante se
tornaria um dos nomes mais rejeitados da história. Há um terror mis­
terioso a respeito deste personagem que o torna peculiar dentre todos
os traidores covardes de todos os tempos, a tal ponto que Jesus disse
que “M elhor lhe seria não haver n ascid o” (Mt 26.24).
Judas Iscariotes foi um dos doze discípulos de Jesus. Judas prova­
velmente se tornou discípulo de Cristo quando Jesus estava em um de
seus tours de pregação ao redor da Judeia. É possível que Judas tenha
conhecido Jesus durante esse tempo, embora seu chamado para se tor­
nar discípulo possa ter acontecido somente na região da Galileia.
Judas era filho de Simão Iscariotes (Jo 6.71), e até na citação do
chamamento dos discípulos sua história está manchada como “aquele
que o traiu” (Mt 10.4). O nome Judas Iscariotes aparece sempre como
último nas listas dos discípulos (Mt 10.4; Mc 3.19; Lc 6.16), talvez indi­
cando sua afronta na mente dos crentes mais recentes, e não sua impor­
tância original entre os doze.
0 significado do nome Iscariotes é incerto, porém há algumas su­
posições a respeito de seu significado. Há quem pense que Iscariotes
vem de sicarius. Israel era dominada pelos romanos nos dias de Jesus,
e os sicários eram um dos grupos rebeldes mais violentos dos judeus
que lutavam para tomar o poder da mão dos romanos e devolvê-lo aos
judeus. E, com isso, Judas pensava que Jesus poderia iniciar essa revol­
ta, fazendo dele um participante fundamental para “a revolta de Israel
contra Roma”.
Há também os que pensam que a palavra Iscariotes vem de um pos­
sível lugar chamado Iscaria. Contudo, o fato de não haver nenhum regis­
tro histórico, em Israel ou em qualquer lugar do mundo antigo, de uma
província, região ou cidade com esse nome enfraquece essa hipótese.
Há ainda uma outra interpretação, essa mais coerente para o
significado do nome Isca rio tes, sugerindo que signifique, no hebrai­
co, “homem de Queriote”, em uma alusão ao indivíduo oriundo de
Queriote-Hezron, um vilarejo da Judeia, localizado ao sul de Hebrom
e identificado como a antiga cidade de Hazor, de Josué 15.25. Sendo
assim, dos doze discípulos, Judas era o único que não era da Galileia.
Porém, independente de fazer ou não parte dos sicários, Judas, como
judeu, esperava um líder m ilitar que restaurasse o domínio do go­
verno a Israel e, certamente, por algum momento pensou que Jesus
poderia ser esse líder.
Da época de seu chamamento como discípulo até a semana da
crucificação, quase nenhuma menção é feita a Judas Iscariotes. Este
silêncio só é interrompido por João em seu relato da unção de Jesus por
Maria, irmã de Lázaro, na aldeia de Betânia. É a partir desse relato que
se deduz não apenas a ocupação que Judas exercia entre os doze, mas
também os indícios da torpeza que ele já dissimulava em seu coração.
Pois João escreveu que “Ju d a s Iscariotes, um dos discípulos, aqu ele que
hav eria de traí-lo disse: P or que não se vendeu este unguento p o r tre­
zentos den ários e não se deu a o s pobres? Ora, ele disse isto, não porqu e
tivesse cuidado dos pobres, m as porqu e era ladrão e rou bava o que na
b olsa se lan çava...” (Jo 12. 4-6).
O bálsamo (unguento) de nardo era um dos perfumes mais caros
e apreciados de toda a antiguidade. Fabricado a partir da essência de
flores cultivadas na índia e de lá importada a um preço que beirava o
do ouro, o volume da especiaria derramada por Maria de Betânia sobre
Jesus equivalia a nada menos que um ano inteiro de salário de um tra­
balhador comum.
Quando João vai escrever este evangelho, ele denuncia o que no dia
do episódio ainda não se sabia. Ninguém, na época, imaginava a farsa que
Judas representava entre os discípulos. Todos enxergavam em Judas uma
pessoa confiável, e ficaram perplexos quando sua traição foi revelada.
Tanto que, quando Jesus, na última ceia, afirmou que alguém o trairia, os
discípulos começaram a perguntar: “Sou eu?” e não: “É Judas?”. Ninguém,
no momento em que o bálsamo foi derramado, deduziu que Judas não
queria o dinheiro para “os pobres”, mas sim para ele. Trezentos denários
teriam sido uma quantia considerável para se acrescentar ao tesouro, ofe­
recendo uma oportunidade perfeita para Judas embolsar parte do dinhei­
ro. Porém, o que ele não sabia era que a maior de todas as pobrezas - a
pobreza espiritual - estava sobre ele, ainda que não percebesse.
Judas era o tesoureiro do ministério de Jesus. Isso desfaz o concei­
to de Judas como um personagem mal humorado, de semblante caído
e desprovido de carisma. Judas era inteligente, possuía características
administrativas cativantes, persuasivo no falar, porém deficiente no ca­
ráter. Ao que parece, a imagem do tesoureiro do grupo sempre foi a de
alguém desinteressado de si próprio e apegado ao bem comum, como
faziam crer as palavras por ele pronunciadas a respeito do unguento
de nardo derramado por Maria. Interessante que Judas roubou de Jesus
por três anos, e nem por isso enriqueceu. Jesus foi roubado por Judas
pelo mesmo tempo, mas nem por isso empobreceu. Deus nunca dará a
sua benção, a quem pratica o engano!
Porém, por que Jesus e seus discípulos precisavam de um tesou­
reiro? E como o futuro traidor pôde ocupar esse posto? O relato dos
evangelhos deixa claro que ao ponto que os discípulos eram chamados,
abandonavam seus ofícios e dedicavam-se integralmente a vida disci-
pular aos pés de Cristo (Mt 19.27; Mc 1.16-18; Lc.5.11). Assim, ao se es­
tabelecerem naturalmente como uma pequena comunidade, os doze (e
talvez, durante algum tempo, parte dos setenta), passaram a sobreviver
das ofertas generosas que recebiam daqueles que de perto seguiam Je­
sus. Dentre os piedosos que colaboravam com as doações, encontravam-
-se algumas pessoas de posse, como Joana, mulher de Cuza, procurador
de Herodes (Lc.8.1-3).
Pessoas bem-sucedidas financeiramente mantinham um bom re­
lacionamento com Jesus. A própria família de Lázaro provavelmente é
um exemplo disso. O perfume que Maria quebrou para ungir Jesus pode
ilustrar isso. Um perfume que representa a quantia de dinheiro do salá­
rio de um ano de trabalho não é algo comum. Você pode já ter comprado
perfumes caros, mas penso que jamais você gastaria o salário de um
ano inteiro em um vidro de perfume. Tratava-se de um gesto de ado­
ração manifestando um luxo extraordinário por parte daquela família
que, provavelmente, tinha posses. Isso nos faz entender que o volume
de ofertas recebidas no ministério de Jesus não era desprezível e podia
muito bem manter o grupo dos discípulos. Com o crescimento dessas
doações foi então necessário alguém para trabalhar na contabilidade
financeira do grupo.
O contraste disso é assustador: nosso Senhor foi honrado por uma
mulher que ofereceu a ele uma adoração que se fosse para ser medida
humanamente representava 300 denários. E por Judas, um de seus discí­
pulos, pessoa próxima ao Senhor, Jesus foi desonrado e traído pelo valor
de 30 moedas de prata, a quantia que custava um escravo. Por Maria,
Jesus foi ungido por um amor inexprimível e, por Judas, Jesus foi traído
por um ódio inexplicável.
A Bíblia nada comenta a respeito de como Judas foi escolhido para
ser o administrador da bolsa comum, mas isso parece revelar que ele
era alguém bem preparado para isso. O fato de haver no grupo uma pes­
soa hábil e experiente em contabilidade como Mateus indica que, para
ter sido Judas o escolhido para tal função, também mostrava ele um bom
conhecimento na área contábil.
Acima de tudo isso, porém, Jesus sempre conheceu Judas em uma
esfera que os discípulos não conheciam: a esfera do coração. Aproxi­
madamente um ano antes da traição, Jesus, após um duro discurso aos
discípulos, havia dito “Não vos escolhí a vós os doze? Contudo um de vós
é diabo...” (Jo 6.70).
Os dias que antecederam a traição certamente foram dias de
grande turbulência dentro de Judas. No convívio com Jesus, Judas des­
cobriu que Jesus não era um líder político que restauraria o governo a
Israel, mas sim o Rei de um Reino que não era da Terra, era dos Céus.
O Senhor lhes garantiu que eles seriam recompensados, mas que o ga­
lardão final e completo lhes seria dado na era vindoura (Lc 18.29-30).
Aos poucos, o restante dos discípulos havia começado a compreender
que o verdadeiro Messias não era aquilo que esperavam inicialmente.
Através disso aceitaram o entendimento superior das promessas bí­
blicas que Jesus lhes mostrara. Com isso, seu amor por Cristo superou
suas ambições terrenas, e ficaram satisfeitos em se tornarem partici­
pantes do seu reino.
A nenhum dos discípulos o desmoronamento do sonho de um rei­
no terrestre de pompas e glórias trouxe maior desapontamento do que
para Judas. É lamentável pensar que, tendo ele o privilégio de aprender
aos pés de Jesus, havia desmerecido isso por meros interesses pessoais.
No cenáculo, eles haviam se reunido para a ceia. Estavam ali os
discípulos, inclusive Judas. Judas foi com o propósito de descobrir onde
Jesus passaria aquela noite, para assim guiar os guardas para prender
o mestre. Havia um sentimento de suspense entre eles. Jesus, nos dias
passados, alertara com frequência que estava perto o dia da sua morte.
Uma insegurança acerca do futuro tentava tomar o coração dos discípu­
los, até que Jesus declara que um deles havería de traí-lo. Parece que,
por meio desses comentários citados, Jesus estava dando a Judas opor­
tunidades de arrependimento, como se ele estivesse dizendo que sabia,
o tempo todo, que Judas o trairía. Mas, mesmo assim, caso ele mudasse
em seu coração, a porta da misericórdia e do perdão estaria aberta para
a reconciliação.
Na cultura judaica daquela época, as mesas de cear tinham o for­
mato da letra “U”. Judas e João estavam ao lado de Jesus na Última Ceia.
A prova disso é que João reclinou sua cabeça no mestre e o mestre falou
também ao ouvido de Judas, indicando a proximidade física de ambos
com Jesus. Cada reta da mesa tinha um prato contendo uma espécie de
molho, onde se mergulhava o bocado, que era um pedaço de pão. O pra­
to onde Jesus mergulhava o seu bocado era o mesmo no qual Judas e
João mergulhavam os seus. Os outros discípulos tinham seus pratos em
grupo de três na mesa. Por isso, quando Jesus disse que o que metia
com ele a mão no prato havería de traí-lo os outros dez discípulos se
acalmaram, e Judas perguntou: “Porventura sou eu o traidor?”, Jesus lhe
respondeu: “Tu o disseste”. Foi naquele momento que a Bíblia diz que o
diabo entrou em Judas, e ele foi entregá-lo aos sacerdotes do templo e fa­
riseus. Isso havia sido profetizado nos salmos: “o que com e o p ã o comigo,
levantou contra mim o seu calcan h ar” (SI 41.9).
Somente João vai adiante e diz que “tendo Jesu s dito isso, pertur­
bou-se em espírito, e afirm ou: Em verdade, vos digo que um de vós m e trai­
r á ” (Jo 13.21). Jesus identificou o traidor como aquele para quem desse
um pedaço de pão: “Então, m olhando o p ed aço de p ã o deu-o a Ju d as Isca-
riotes. Assim que Ju d as tom ou o pão, entrou nele Satan ás” (Jo 13.26-27).
Uma coisa podemos afirmar: Judas fez isso de livre e espontânea vonta­
de, sem qualquer coerção. Satanás não podia obrigá-lo a trair Jesus. No
entanto, por certos meios, Satanás sugeriu a trama, tentou Judas quanto
a isso e plantou a semente da deslealdade em seu coração. Infelizmente
o coração de Judas era tão hostil para com a verdade e tão cheio de per­
versidade que ele personificou a intenção do próprio diabo.
João também relata que Jesus disse a Judas: “O que estás prestes a
fazer, fa z e-o d ep ressa”. A narrativa diz, em sequência, que Judas saiu do
cenáculo e o parágrafo termina com as palavras sugestivas: “E era noite”
(v.30). O dia da salvação havia se encerrado para Judas.
É muito provável que Judas não estivesse presente no momento
da instituição da Santa Ceia. Judas esteve na ceia e participou dela com
os demais (Mt 26.20). Porém, saiu logo depois de receber o bocado (Jo
13.30), e a conscientização daquele momento se deu apenas após a ceia
(Mt 26.26-29; Mc 14.22-25; Lc 22.19-20). Assim, no exato momento em
que Jesus estava instituindo a ceia no cenáculo, Judas estava combinan­
do como seria sua captura.
Por que Judas teria feito isso? O Evangelho escrito por Mateus su­
gere que sua principal motivação foi a ganância. Recebeu 30 moedas
de prata, quantia equivalente a dois ou três meses de remuneração de
um trabalhador - soma insignificante para justificar uma ação tão abo­
minável. Na tradição bíblica, porém, essa é a quantia usual a ser paga
ao proprietário de um escravo pelo homicídio acidental do mesmo. Em
Mateus 27.9-10, o valor se encontra associado a duas profecias do Antigo
Testamento. Uma combinação da referência a 30 moedas de prata, em
Zacarias 11.12-13 e a compra de uma terra, em Jeremias 32.6-15. No en­
tanto, há uma outra questão envolvendo essa quantia. Já sabemos que
essa era uma quantia relativamente pequena. Sendo Judas um ladrão da
bolsa de Jesus, ele poderia certamente usurpar uma quantia superior a
essa com o tempo, continuando como tesoureiro do grupo. A lei judaica
exigia que, se um criminoso fosse entregue às autoridades, deveria se
pagar o preço de um escravo àquele que o havia entregado. Desse modo,
Judas aceitou o dinheiro para selar o acordo com os sacerdotes, indican­
do, provavelmente, não ser a quantia financeira a principal motivação
para entregar Jesus.
As forças do mal também são responsabilizadas pela traição de
Judas: “Satanás entrou em Ju d a s” (Lc 22.3); “e o diabo pusera no coração
de Ju d as Iscariotes... o projeto de entregá-lo [Jesus]” (Jo 13.2). Estudiosos
sugerem ainda outra motivação: desapontamento. Jesus não se tornara
o líder de uma revolta contra Roma, como muitos - entre eles, Judas - es­
peravam. Assim, ele se voltou contra Jesus, entregando-o àqueles que o
consideravam perigoso. Provavelmente, não imaginava que sua traição
acarretaria a morte do mestre.
Dificilmente alguém conseguirá provar que qualquer uma dessas
hipóteses esteja certa ou errada, embora seja possível que alguns desses
fatores tenham influenciado o pensamento de Judas. Nenhum deles, en­
tretanto, proporciona uma base completa e suficientemente forte para
justificar uma atitude tão hedionda como trair o próprio filho de Deus.
Quaisquer que tenham sido as razões, Judas foi aos chefes dos
sacerdotes para entregá-lo (Mc 14.10). Ao que tudo indica, ele simples­
mente lhes disse onde encontrar Jesus sozinho, de modo que pudesse
ser preso longe das multidões da Páscoa, evitando com isso uma cena
desagradável. Após a Última Ceia, Jesus foi orar no jardim do Getsêma-
ni, levando os onze com ele. Tratava-se de um local bastante conhecido
de Judas, pois frequentemente Jesus estava naquele jardim. À frente de
guardas armados enviados pelas autoridades judaicas para prender Je­
sus, Judas adentrou no jardim. Havia combinado identificar Jesus por
meio de um beijo, o que fez sem demora, saudando-o: “R abi” (Mc 14.45).
Os guardas prenderam Jesus e depois de um pequeno confronto, no qual
Pedro cortou a orelha de Malco - servo do sumo sacerdote - levaram
Jesus para ser julgado.
No dia seguinte, quando Judas voltou a si, soube da condenação
de Jesus e que ele seria crucificado. Despertou nele o sentimento de sua
enorme culpa e foi ter com os príncipes dos sacerdotes para dizer-lhes
“Pequei, entregando o sangue inocente”, e lançou diante deles as 30 moe­
das de prata. Os sacerdotes, porém, viraram-lhe as costas, dizendo: “Que
nos im porta?Isso é contigo” (Mt 27.3-5).
Até a morte de Judas é cheia de mistérios. Marcos e João não a
mencionam. Mateus diz que Judas reconheceu o seu erro, tentou devol­
ver o dinheiro aos sacerdotes e depois se enforcou (Mt 27.5). Lucas, no
livro de Atos, diz que Judas usou o dinheiro para comprar um campo e
depois caiu nele, e suas vísceras se derramaram (At 1.16 em diante). O
que parece ter acontecido mediante todas essas informações é que Ju­
das em meio a uma certa confusão mental, saiu de dentro de Jerusalém
e se enforcou em um campo no lado de fora das muralhas da cidade e
esse campo foi comprado com as 30 moedas de prata que Judas havia
lançado sobre os sacerdotes pela negociação da traição com Jesus - esse
campo mais tarde foi chamado de campo de sangue e campo do oleiro,
e desta forma se cumpriu a profecia de Zacarias (Zc 11.12-14), atribuída
por Mateus a Jeremias (Mt 27.2-10). De alguma forma, a corda que ele
usou para se enforcar arrebentou-se e ele então caiu da altura em que
estava de modo que suas vísceras se derramaram. Essa parece ser uma
versão mais correta unindo-se todas as informações existentes sobre
esse acontecimento.
Talvez o fato mais significativo que pode ser dito sobre Judas é que,
quando ele se entristeceu por causa da sua traição, ele não buscou, da­
quele a quem tinha ofendido, o perdão pelo seu pecado, mas foi até seus
cúmplices - os sacerdotes - e lá tentou se justificar. Judas é um homem
que revela a complexidade de uma pessoa que conhece a Deus, mas que
não se permitiu ser transformado por ele. Como os outros discípulos, Ju­
das deixou para trás sua ocupação - qualquer que tenha sido ela - e pos­
sivelmente passou a seguir Jesus em tempo integral. Judas permaneceu
com Jesus até mesmo quando discípulos menos dedicados começaram a
abandonar o grupo (Jo 6.66-71). Havia aberto mão de sua vida para seguir
o mestre. No entanto, não havia entregue ao Senhor o seu coração.
Além disso, há duas verdades latentes na vida de Judas. Primei­
ra, a vida de Judas nos faz lembrar que é possível estar perto de Jesus,
relacionar-se de modo muito próximo a ele, porém em uma dimensão
superficial; segunda, Judas nos lembra que não importa quão pecadora
é uma pessoa, o tanto que ele pode tentar ser contra Deus, a realização
do propósito de Deus não pode ser impedida. Até a pior das traições tra­
balha para que o plano divino se cumpra.
Lázaro era irmão de Marta e Maria. Eles viviam em Betânia, uma
aldeia localizada a três quilômetros de Jerusalém. Aparentemente Jesus
se hospedava frequentemente na casa deles quando ia a Jerusalém (Mt
21.17; Lc 10.38-42; Jo 11; 12). Jesus também tinha uma profunda afeição
pelos três irmãos e os amava (Jo 11.5). Jesus chamou Lázaro de “nosso
am igo” (Jo 11.11), indicando sua amizade não apenas com ele, mas tam­
bém com os discípulos.
Curiosamente, Lázaro só é mencionado pelo nome no quarto evan­
gelho (Jo 11 e 12). Lucas menciona Maria e Marta, porém jamais mencio­
na Lázaro (Lc 10.38-42). Entretanto, embora muito pouco seja revelado
sobre Lázaro, a Bíblia evidencia que eles eram amigos próximos de Jesus.
Certa ocasião, Lázaro ficou gravemente enfermo, e suas irmãs
enviaram uma mensagem a Jesus, a fim de que ele viesse curá-lo. Ao
receber a notícia, Jesus falou que aquela enfermidade não terminaria
na morte de Lázaro, mas sim na revelação da glória de Deus (Jo 11.4). As­
sim, apesar de sua preocupação, Jesus, em obediência à vontade do Se­
nhor, retardou a volta para Betânia por alguns dias. Então, poucos dias
depois, ciente de que Lázaro estava morto, Jesus anunciou sua intenção
de retornar a Betânia, para despertar o seu amigo (Jo 11.11).
Depois de uma longa jornada (Jo 11.17), Jesus foi recebido por Mar­
ta quatro dias após o sepultamento de Lázaro. Sua confiança no Mestre,
apesar de acreditar que se ele estivesse presente, seu irmão não teria
morrido, ocasionou a autorrevelação de Jesus: “Eu sou a ressu rreição e
a vida” (Jo 11.25). Logo em seguida, Maria foi chamada e encontrou-se
com Cristo, este, ao vê-la chorar, ficou profundamente comovido, e cho­
rou também (Jo 11.35).
Jesus dirigiu-se ao túmulo e ordenou que a pedra que selava a en­
trada fosse removida. Pela fé, apesar do mau cheiro, eles obedeceram, e
Cristo, com uma palavra de ordem dirigida para dentro do túmulo, fez
Lázaro retornar a vida e sair caminhando do interior do túmulo.
A narrativa da ressurreição de Lázaro é o mais longo registro de
um milagre realizado por Jesus descrito nos evangelhos. Este também
foi o mais espetacular de todos os milagres realizados pelo Mestre. As
outras ressurreições - da filha de Jairo (Mc 5.35-42) e do filho da viúva
de Naim (Lc 7.11-15) - ocorreram imediatamente após as respectivas
mortes, enquanto que a ressurreição de Lázaro ocorreu quatro dias
após o seu sepultamento.
Havia um propósito messiânico nesse milagre envolvendo a pes­
soa de Jesus. Os judeus devotos acreditavam que a alma de uma pessoa
que morria pairava próximo ao corpo por três dias e só partia defini­
tivamente para a eternidade após o quarto dia. Devido a essa crença,
desenvolveu-se um pensamento de que somente alguém que tivesse a
autoridade messiânica, teria a capacidade de devolver a vida a alguém
após o quarto dia do seu falecimento. Marta podia estar pensando nessa
ideia - de que após o quarto dia a alma seguia definitivamente para a
eternidade - quando fez objeção para que Jesus abrisse à sepultura do
seu irmão. Mas ele insistiu, e chamou a Lázaro de volta à vida, revelan­
do assim, mais uma vez, a sua missão messiânica como o Cristo.
A notícia deste milagre inspirou a fé de muitas pessoas (Jo 11.45),
mas também promoveu um complô no Sinédrio para matar Jesus (Jo
11.53), e Lázaro (Jo 12.9-11). Este foi na verdade, o auge dos sinais descri­
tos do ministério de Jesus, pois ele produziu dois resultados notáveis: (1)
muitos judeus nas cercanias de Jerusalém creram em Jesus (Jo 11.45) e, al­
gumas semanas depois o acompanharam até a cidade (Jo 12.17-18); (2) os
líderes judeus, firmes em sua rejeição a Jesus, decidiram que ele deveria
morrer (Jo 11.53). Ou seja, esse milagre não apenas confirmou o poder e a
autoridade de Jesus sobre a morte, como também estabeleceu o caminho
que culminaria em sua própria morte e ressurreição poucos dias depois.
No sábado antes da sua crucificação, Jesus esteve mais uma vez
em Betânia como convidado para um jantar na casa de Lázaro. Naquele
dia, muitos foram a Betânia, “não só p o r causa de Jesus, m as tam bém
p ara ver a Lázaro, a quem ele ressuscitara de dentre os m ortos” (Jo 12.9).
No dia seguinte, ele entrou em Jerusalém na entrada triunfal, e muitos
saíram para ver aquele que ressuscitara Lázaro (Jo 12.12-13).
A conspiração para matar a Lázaro, certamente não foi levada a
sério. De acordo com uma antiga tradição, registrada por Epifânio - bis­
po de Salamina no século quarto - Lázaro tinha trinta anos de idade
quando Jesus o ressuscitou, e viveu mais trinta anos após sua ressurrei­
ção, morrendo assim, como sessenta anos.
Existem tradições, que fazem de Lázaro um ministro do evange­
lho em anos posteriores, em Marselha, no sul da França, onde ele teria
fundado uma igreja e finalmente teria morrido como mártir. Mas essas
lendas são totalmente destituídas de base histórica, sem qualquer valor,
exceto como ficção religiosa. Há ainda diversas tentativas de identifi-
cá-lo com o jovem rico de Mateus 19.16, mas não há também qualquer
evidência confiável em favor dessa suposição.
Há aqueles que criticam Marta e engrandecem Maria, devido à
repreensão e elogio que elas receberam de Jesus em Lucas 10.40-42. En­
tretanto, é mais correto interpretarmos aquele texto como uma propos­
ta de Jesus para um novo estilo de vida construído com o “melhor de
Maria” e o “melhor de Marta”. Pois de um modo geral, a igreja precisa
tanto do serviço de Marta, da adoração de Maria e do testemunho de Lá­
zaro. As diferenças entre eles não são para escolhermos quem seremos,
mas sim, para nos esforçarmos para que possamos construir em nós o
melhor das qualidades que eles desenvolveram neles.

Nome Hebraico, significa “Cobertura".

Ló era filho de Harã e sobrinho de Abraão. Harã foi o irmão mais


novo de Abraão (Gn 11.27-32; 12.5). Ele nasceu em Ur dos Caldeus e vi­
veu por volta de 1.900 a.C. O pai de Ló morreu relativamente jovem.
Abraão não tinha filhos nessa época, e Ló ficara órfão. Talvez os dois se
consolavam mutuamente.
Quando Terá, seu filho Abraão e a mulher dele, Sarai, deixaram o
seu lar em Ur dos Caldeus, lançando-se rumo a uma viagem à Canaã, Ló
decidiu ir com eles. Primeiramente, eles se estabeleceram em um lugar
chamado Harã (escrita em hebraico de forma diferente do nome do pai
de Ló), onde Terá veio a falecer.
Assim, Abraão e Ló viajaram em direção a Canaã. Ao longo da via­
gem, eles estabeleceram altares a Deus em Siquém e Betei (Gn 11.27-32,
12.4-10). Ao chegarem à Canaã encontraram uma região com grande es­
cassez de alimentos, razão pela qual continuaram em direção ao Egito.
Naqueles dias o território do Egito era maior do que é hoje, estendendo-
-se até a porção sul do que constitui o atual território de Israel. O Gêne­
sis Apócrifo, um livro histórico da tradição essênia descoberto entre os
Manuscritos do Mar Morto, preserva uma antiga tradição judaica que
diz que Ló encontrou uma esposa no Egito, acumulou riquezas e serviu
como porta-voz de Abraão diante de Faraó.
Anos mais tarde, todos eles cruzaram o deserto do Neguebe nova­
mente e retornaram para Canaã. Durante aqueles vários anos de pere­
grinação, os respectivos clãs de Abraão e Ló, bem como seus rebanhos,
aumentaram em grande medida. Na época, eles retornaram para a terra
que futuramente seria o território da tribo de Benjamim. Quando os re­
banhos de Ló e Abraão aumentaram, surgiu uma disputa entre seus pas­
tores por este espaço que representava a sobrevivência de seus animais.
Abraão generosamente deixou Ló decidir qual parte da terra escolhería
ocupar. Ló preferiu o fértil vale do Jordão, na direção em que ficava a
cidade de Sodoma, um solo fértil onde havia pastagem suficiente para
as suas ovelhas. Na verdade, era a única porção de terra fértil em toda
aquela região. Deixou para o tio Abraão o território pedregoso e seco de
Canaã. As terras que Ló escolheu eram férteis, possuíam bom suprimen­
to de água e pareciam com o “jardim do Senhor” (Gn 13.10-13). Interes­
sante o fato de Sodoma “p a recer com o jardim do Senhor”. Na verdade,
Sodoma era a terra de um povo extremamente pecador (Gn 13.5-13).
Ló não estava levando em conta o caráter e a moral de seus habitantes
e o efeito negativo que esses maus exemplos dos Sodomitas causariam
sobre sua família. Ele estava escolhendo pelas aparências. “P arecia o
jardim de Deus”, mas Ló sabia que apenas parecia, e que a essência de
Sodoma era maligna. O Novo Testamento declara que Ló sentia-se per­
turbado pela maldade explícita à sua volta em Sodoma (2Pe 2.7), embora
isso não o tenha feito afastar-se daquela região.
Os intérpretes supõem que foi nessa época que começaram a
surgir falhas e pontos fracos no caráter de Ló. Em primeiro lugar, ele
preferiu egoisticamente as melhores terras para si, às custas do seu tio
Abraão. Em segundo lugar, ele achou que havia vantagem em residir
entre um povo ímpio e profano. Aquelas terras eram férteis e havia um
bom suprimento de água (Gn 13.13). Naquele lugar os animais de Ló es­
tavam bem alimentados, mas a alma dele começou a definhar, porquan­
to seus novos vizinhos eram degenerados. Em essência, a escolha de Ló
foi a escolha da prosperidade (v.10), em detrimento dos valores morais
e do favor divino (v.13). Depois disso, a história de Ló segue um gráfico
descendente. Da separação de Abraão até o estabelecimento em Sodoma
foram três estágios: “até S odom a” (Gn 13.12); “habitava em S odom a” (Gn
14.12); “sentado à p orta de S odom a” (Gn 19.1). Ló aceitou se adaptar ao
ambiente do pecado. Como o apóstolo Pedro disse, Ló se encontrava em
constante conflito de consciência (2Pe 2.7,8), porque: a) vivia sempre
situações comprometedoras, que o envolviam rapidamente (Gn 19.8);
b) sabia o que era certo diante de Deus (2Pe 2.7,8), mas mesmo sob a
ameaça de juízo, apegava-se a Sodoma (Gn 19.16); c) tinha se identifica­
do demais com a cidade escolhida, a fim de dar um testemunho efetivo
ali (Gn 19.9,14); d) tinha deixado sua fé sem uso por tanto tempo que não
podia exercitá-la quando precisou (Gn 19.18-20). E, como consequência
disso, sua família não o apoiava mais nas coisas concernentes a Deus
(Gn 19.26,30-36).
Mediante tudo isso, é de se admirar a confiança de Abraão em Deus.
O velho patriarca nessa época já contava com mais de oitenta anos e, mes­
mo assim, ele não temeu o fato de Ló ter ficado com a parte fértil, enquanto
que ele ficara com a parte pedregosa e seca. Talvez por entender que a ben­
ção de Deus não está sobre o lugar, mas sim sobre a pessoa e, como se diz,
não é o lugar que faz a pessoa, mas a pessoa quem faz o lugar.
No entanto, a região onde Ló escolheu morar, perto do atual mar
Morto, tornou-se o alvo de uma série de ataques armados, por parte de
quatro reis do Oriente. Naquela época, o termo rei era um vocábulo ge­
ralmente mais aplicado ao governante de uma cidade-estado, do que ao
chefe de toda uma nação. Quedorlaomer, rei de Elão, e seus aliados, der­
rotaram o rei de Sodoma e os seus quatro aliados (Gn 14.1-16). Sodoma e
Gomorra sofreram o ataque e os seus habitantes foram levados cativos,
incluindo Ló e sua família. Abraão, porém, ouviu as notícias, reuniu 318
dos seus homens e saiu atrás dos invasores. Próximo ao norte de Damas­
co, Abraão conseguiu apanhar os inimigos de surpresa, recuperando Ló,
sua família, os cativos e muitos despojos.
Ló, apesar de sua consciência pesada quanto aos males de sua ci­
dade, decidiu permanecer em Sodoma. Mas, a iniquidade dos habitantes
desta planície tornou-se insuportável à santidade de Deus, e foi decreta­
do o julgamento da cidade. Ló se tornou o tipo do crente carnal e mun­
dano, que não tem força suficiente para desligar-se das coisas que, em
seu coração, sabe que estão erradas.
Foi assim, por causa da grande perversidade das cidades de So­
doma e Gomorra, que Deus decidiu destruí-las. A caminho de Sodoma
e Gomorra, três anjos pararam para visitar Abraão e contar-lhes as in­
tenções do Senhor. Abraão orou para que a cidade fosse poupada, se ao
menos dez homens justos pudessem ser encontrados ah. Mas não havia
nem mesmo esse pequeno número. Dois dos anjos foram adiante, avisar
Ló sobre o que estava prestes a acontecer e orientá-los a deixarem logo
a cidade. Eles ficaram com Ló aquela noite, mas os pervertidos homens
de Sodoma vieram para tentar abusar deles (Gn 19.5). Ló, tentando evitar
que isso acontecesse, ofereceu aos homens de Sodoma as suas duas filhas,
mas eles rejeitando as filhas de Ló continuaram a querer os anjos. Está
claro que eram muitos os pecados de Sodoma, mas, dentre eles, talvez
esse fosse o principal. Dessa cidade vem a expressão Sodomia. Essa pala­
vra veio à existência com base na natureza moral pervertida dos homens
de Sodoma. Em pauta estão comportamentos como, por exemplo, a ho­
mossexualidade. A investida maligna dos homens de Sodoma contra os
anjos que estavam visitando Ló, ilustra o tipo de depravação que atraiu o
juízo divino. Naquele mesmo momento os anjos cegaram os homens que
desejam molestá-los e, em seguida, permitiram que Ló, sua mulher e suas
filhas saíssem em segurança da cidade. Os noivos das filhas se recusaram
a ir com eles por não acreditarem na destruição iminente (Gn 19.14).
Os anjos advertiram que a cidade seria completamente destruí­
da e que ninguém da família de Ló poderia olhar para trás, pois, assim
fazendo, seriam punidos com a morte pela desobediência. Olhar p ara
trás aqui pode sugerir um desejo de voltar para aquilo que Deus não
tem para nossas vidas. Também denota que quando Deus estabelece um
novo rumo para a nossa história, podemos perder tudo se permitirmos
que o nosso coração fique preso ao passado, sentindo falta do que dei­
xamos para trás. Esse foi, por exemplo, um dos pecados dos israelitas,
após Moisés tê-los libertado da escravidão do Egito. Eles haviam saído
do Egito, mas o Egito ainda permanecia dentro deles.
O trecho de Gênesis 19.24 revela que Deus fez chover fogo e enxofre
sobre Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas. Curiosamente, o Mar Morto -
lugar atual onde ficavam as cidades de Sodoma e Gomorra - é uma área rica
em minerais combustíveis, inclusive petróleo, piche e enxofre. E a Bíblia cita
que aquela região foi destruída depois que “enxofre efo g o vindos do Senhor”
inflamaram gases liberados sobre a cidade (Gn 19.24). Quando a cidade já
ardia em chamas, a esposa de Ló, cujo nome não é revelado, olhou para trás
e imediatamente foi transformada em uma estátua de sal. O fato da mulher
de Ló ser uma egípcia que, possivelmente nunca foi convertida ao culto ao
Senhor, pode ter sido a razão de sua falta de confiança na proteção divina e,
por consequência, a sua desobediência por não confiar em Deus.
As águas do Mar Morto - local onde a história ocorreu - possuem a
maior concentração salina do mundo. Em consequência disso, os que ten­
tam mergulhar em suas águas não conseguem afundar e automaticamente
flutuam. Em seu lado ocidental, elevam-se, sobre as margens, blocos sali­
nos e paredões de calcário. Uma lenda local identifica uma das estranhas
projeções salinas como sendo a estátua da mulher de Ló - afirmação ex­
tremamente contestável e indigna de crédito, visto que não há nenhuma
evidência arqueológica que a sustente.
Há, porém, uma verdade incontestável neste ponto da história.
Tudo o que Ló trouxe do Egito - esposa, rebanhos e possivelmente pas­
tores do rebanho - se perdeu. O seu rebanho, fruto da sua estadia e re­
lacionamento com o Egito, foi o grande motivo do seu afastamento de
Abraão, homem que, de fato, tinha a benção de Deus. Os pastores desse
rebanho trouxeram contenda e problemas para a sua vida por causa do
desentendimento com os pastores de Abraão. E a sua esposa foi trans­
formada em uma estátua de sal por não obedecer à ordem de Deus. O
que o Egito nos oferece não vale a pena. O que vem do Egito não tem a
benção de Deus e não permanece por muito tempo!
Após escapar da destruição de Sodoma, Ló e suas filhas se refugia­
ram em uma caverna nas montanhas. Estas, em uma atitude insana e
desesperada, pensaram que Ló era o único homem que havia sobrevivido
(Gn 19.31) e que o único jeito de manterem a raça humana era tendo fi­
lhos com o seu próprio pai. Ló e suas filhas haviam deixado Sodoma, mas
aparentemente as incünações para uma moral pervertida ainda habitava
neles. Qualquer que tenha sido a verdadeira intenção, o fato é que as duas
filhas de Ló o embebedaram com vinho e ambas mantiveram relações
incestuosas com o pai (Gn 19.33-36). Considerando os padrões da época,
os antigos hebreus não consideravam a embriaguez como um pecado,
muito embora o incesto fosse abominado, como acontece em quase to­
das as culturas. Somente muito tempo depois é que os hebreus tomaram
consciência de que a irresponsabilidade e a perda da inibição que advém
do consumo excessivo de bebidas alcoólicas são capazes de conduzir ao
pecado, concluindo, portanto, que a embriaguez é pecaminosa.
O resultado desse duplo incesto foram dois filhos: Moabe e Ben-
-Ami. Os seus descendentes vieram deram origem às tribos moabitas e
amonitas, as quais se tornaram duas ferrenhas inimigas dos hebreus.
Suas terras eram, no entanto, consideradas sagradas, pois Deus prome­
teu que jamais daria aquelas terras aos israelitas (Dt 2.9,19). Jesus men­
cionou Ló ao ensinar sobre a importância de estar preparado para o
fim dos tempos (Lc 17.28-29). Pedro também fez menção a ele, desta vez
como um exemplo de homem justo em meio à maldade e que foi salvo
pela graça de Deus (2Pe 2.7-9).
Lucas Nome grego, significa "Iluminado".

Lucas era médico (Cl 4.14) e durante alguns anos acompanhou as


viagens missionárias de Paulo. Foi o que podemos chamar de um m édico
m issionário, o que deve ter lhe possibilitado aprender muito sobre a im­
portância da medicina em junção com o poder curador de Cristo. Lucas
foi o único autor sacro da Bíblia que não era de origem hebraica. Sem­
pre que cita o Antigo Testamento, Lucas usa a versão grega e não traduz
diretamente do hebraico. Ele se refere quatro vezes à língua hebraica
de uma maneira que deixa a impressão de que ele não era fluente no
idioma (At 1.19; 21.40; 22.2; 26.14).
Além disso, em Colossenses 4.11,14, Lucas é distinguido dos ho­
mens da circuncisão. Certamente Lucas era gentio, e segundo Jerônimo
e Eusébio era de Antioquia da Síria. Provavelmente devido a isso Lucas
manifesta tanto interesse e alegria pelo nascimento e crescimento da
igreja de Antioquia (At 11.19-30).
Os historiadores afirmam que Lucas estudou medicina na Escola de
Alexandria, no Egito. Recém-formado como médico, Lucas viajou para Trôa-
de e ali se juntou a Paulo na segunda viagem missionária do apóstolo (At
16.10). Isso aconteceu em algum momento entre os versículos 9 e 10. Pois
até o versículo 8 deste capítulo de Atos o pronome usado é eles e a partir do
versículo 10 o pronome toma-se nós. Nesse ponto da história Lucas muda
a narrativa da terceira pessoa do plural para a primeira pessoa do plural.
O versículo 8 diz: “E, quando (eles) chegaram a Mísia, intentavam ir para a
Bitínia, m as o Espírito do Senhor não Iho permitiu. E, tendo passado por Mísia,
desceram a Trôade”, e então no versículo 10 ocorre uma mudança no prono­
me: “E, logo depois dessa visão (nós) procuramos partir para a Macedônia...”.
O que sugere que, nesse exato momento do livro, Lucas junta-se a Paulo.
De Trôade, Paulo, Silas, Timóteo e Lucas partiram para a Macedô­
nia e a primeira cidade na Macedônia em que eles pregaram foi Filipos.
Há historiadores cristãos que concordam que Lucas, alguns anos após,
pastoreou aquela igreja por um determinado tempo.
Paulo faz menção de Lucas três vezes (Cl. 4.14; Fm 1.24; 2Tm 4.11).
Na carta aos Colossenses, Paulo o chama de “m édico a m a d o ”, em File-
mon, Paulo o chama de “meu co o p erad o r”. O que sugere que a princípio
Lucas começou a viajar com Paulo como um médico para auxiliar nas
fragilidades da saúde de Paulo. Somente depois ele deve ter se torna­
do um cooperador na obra missionária ao lado de Paulo, para agora
curar as feridas daqueles que precisavam da cura que somente o evan­
gelho produz. Começou curando feridas através da medicina e terminou
curando feridas através do evangelho. Feridas essas que não são físicas,
são interiores e espirituais, as quais só o amor de Deus pode curar! Lu­
cas foi um médico de homens e de almas.
Lucas é o autor do evangelho que leva o seu nome e do livro dos
Atos dos Apóstolos. Segundo a tradição, Lucas foi criado na casa de Teófilo,
um rico oficial do governo romano, em Antioquia da Síria, e que foi a esse
homem que Lucas dedicou suas duas produções literárias (Lucas e Atos).
Originalmente, esses dois livros juntos formavam um único volume, pois
o livro de Atos é a continuação da narrativa do evangelho segundo Lucas
(ver At 1.1). Juntos, os escritos de Lucas compõe mais de xk do conteúdo do
Novo Testamento - cerca de 27%. Sua linguagem e seu estilo mostram que
ele foi um homem de elevada educação, além de ser um excelente histo­
riador. Ele dispunha de um rico vocabulário. O evangelho escrito por ele e
Atos tem cerca de 800 palavras que não ocorrem em nenhuma outra parte
do Novo Testamento. Das 35 parábolas do Novo Testamento, 19 estão no
evangelho de Lucas. Seu grego é polido e possui um estilo semelhante ao
grego da carta aos Hebreus, o mais elegante do Novo Testamento.
Lucas não conheceu Jesus pessoalmente, ele mesmo deixa claro
que não estava entre aqueles que “desde o princípio fo r a m testem unhas
ocu lares e m inistros da p a la v ra ” (Lc 1.2). Por isso nunca foi reconhe­
cido como um apóstolo. Ele escreveu um dos evangelhos porque, após
conhecer o apóstolo Paulo, ficou encantado pela maneira como Paulo
apresentava Cristo. Acredita-se que no período de dois anos em que
Paulo esteve preso em Cesareia, Lucas foi aos lugares onde ainda ha­
viam pessoas conheceram o Mestre. Visitou Marta e Maria, o apóstolo
Pedro, o Centurião de Cafarnaum, a viúva de Naim, Maria, mãe de Je­
sus, entre tantas outras pessoas que seguiam Jesus diariamente. Dessa
profunda investigação e pesquisa nasceu o evangelho escrito por Lu­
cas. Na abertura desse evangelho, Lucas afirma que a história já havia
sido escrita por outros, e que ele estaria trabalhando somente a partir
de fontes confiáveis com pesquisas acuradas (Lc 1.1-4). Seu conheci­
mento dos muitos detalhes sobre o nascimento e a infância de Jesus
sustenta a antiga tradição de que Lucas teria sido um amigo íntimo
de Maria, que compartilhou com ele essas histórias. Somente Lucas
acrescenta a história de Jesus aos 12 anos de idade, revelando seu co­
nhecimento aos mestres da lei no templo (Lc 2.41-52).
Lucas descreve também uma peculiaridade da vida de Maria, an­
tes não conhecida. Maria era uma mulher pobre: ela pôde trazer apenas
um par de rolinhas ou dois pombinhos para sua purificação, porque suas
posses não lhe permitiam oferecer um cordeiro (Lc 2.22-24; Lv 12.6-8).
Em razão de sua pobreza, o próprio Salvador é então deitado numa man­
jedoura e visitado por pastores. Interessante que Jesus, sendo possuidor
de tudo, escolheu, para vir ao mundo, o ventre de uma mulher pobre,
mostrando com isso que faz parte da mensagem do evangelho cuidar e se
importar com os mais necessitados. Seu relato sobre a crucificação tam­
bém indica que, embora não tenha sido testemunha ocular, ele estava
particularmente interessado nos aspectos fisiológicos da crucificação de
Jesus. Por certo, tal interesse seria de se esperar de um médico.
Um detalhe interessante é que o médico historiador conta como
nenhum outro evangelista inúmeras parábolas e informa detalhes de
acontecimentos que nenhum dos outros evangelistas informou. Todos os
evangelhos falam da negação de Pedro, mas somente Lucas diz que Jesus,
naquele momento, voltou-se para Pedro e o olhou fixamente (Lc 22.61),
detalhe que ele colheu pessoalmente, do próprio Pedro. Assim como tam­
bém as parábolas da ovelha perdida, dracma perdida e filho pródigo que
somente Lucas registrou (Lc 15). Ele mesmo introduz o livro explicitando
que foi dessa forma que tudo aconteceu (Lc 1.1-4). Apenas Lucas relacio­
na o nascimento de Jesus com um censo ordenado pelo imperador Au-
gustus na época em que Quirino era governador da Síria (Lc 2.1-2). Lucas
também acrescenta o nascimento de João Batista (Lc 1.57-66).
Lucas é o evangelista que mais enfatizou o amor de Jesus pela
prática da oração. Existem nada menos que onze pontos em que Lucas
acrescenta uma referência de Jesus orando em situações nas quais Ma­
teus e Marcos apenas registraram a história:
1. Jesus orava enquanto era batizado. Neste momento o céu se
abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele - Lc 3.21
2. Jesus se retirou ao deserto para orar - Lc 5.16
3. Jesus, tendo orado toda uma noite, no outro dia pela manhã
chamou seus doze discípulos - Lc 6.12
4. Jesus orou a sós antes de fazer a primeira predição de sua mor­
te e ressurreição próximas - Lc 9.18
5. Jesus sobe o monte da transfiguração a fim de orar, e está real­
mente orando quando se transfigura - Lc 9.28-29
6. É a visão de Jesus orando que leva os discípulos a pedir-lhe:
“Senhor, ensina-nos a orar”, e isso resultou na oração do Pai-
-Nosso - Lc 11.1
7. Ao predizer que Pedro o trairia, Jesus, apesar disso, assegura a Pedro:
“Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” - Lc 22.32
8. No jardim do Getsêmani Jesus convida seus discípulos a orar
para que não entrem em tentação - Lc 22.40
9. Lucas acrescenta o detalhe de que Jesus, “estando em agonia,
orava mais intensamente”, e em seguida, ”levantando-se da
oração”, foi ter com seus discípulos - Lc 22.44-45.
10. Apenas Lucas faz constar a oração de Jesus na cruz: “Pai, per­
doa-lhes porque não sabem o que fazem” - Lc 23.34
11. E também está somente em Lucas a última oração de Jesus antes de
sua morte: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” - Lc 23.46
Outra característica interessante dos escritos de Lucas é que ele,
sendo gentio, dirigiu-se diretamente a leitores não-judeus e omitiu em
seus escritos qualquer referência à restrição da missão de Jesus e de seus
discípulos à casa de Israel. Lucas também eliminou os comentários de
Jesus sobre não judeus serem “cães” ou “porcos”. Ele contextualizou seu
texto culturalmente àqueles que leriam o relato da vida de Jesus sem o
embasamento e visão da cultura judaica.
O fato de Lucas ser um médico o fazia possuir compaixão das dificulda­
des e limitações das pessoas. Isto influenciou muito sua forma de registrar os
acontecimentos da vida de Jesus. Percebe-se sua preocupação em destacar o
carinho de Jesus pelos excluídos da época: doentes, pobres, mulheres e peca­
dores. Ele é o único que escreve sobre o perdão de Jesus para Maria Madalena
e sobre a parábola do bom samaritano, revelando assim sua preocupação em
valorizar os excluídos da sociedade, independente de quem eles eram antes.
Para escrever o livro de Atos ele fez usou a mesma visão, agora já
com os apóstolos e, principalmente com Paulo, para reconstruir a cro­
nologia até o capítulo 16. No entanto, a partir desse capítulo ele mesmo
presenciou os acontecimentos que iam se sucedendo. Acredita-se que o
evangelho de Lucas tenha sido escrito por volta do ano 60 d.C. A maior
dificuldade, no entanto, é definir uma data para a composição de Atos.
Para isso, alguns fatores precisam ser analisados. Atos não menciona:
a) a queda de Jerusalém, que ocorreu em 70 d.C.; b) o martírio de Paulo,
por volta de 67 d.C.; c) a perseguição por parte de Nero, que começou
por volta do ano 64 d.C. O último acontecimento narrado em Atos ocorre
em 62 d.C. (At 28.30). Nesse mesmo ano foi martirizado Tiago, o justo - e
seu martírio não é narrado em Atos. Diante disso acredita-se que 62 d.C.
seja uma data provável para Lucas ter composto sua última obra. Diante
disso, Lucas é considerado o primeiro historiador cristão.
Depois da prisão de dois anos de Paulo em Cesareia - período em
que Lucas escreveu o evangelho que leva o seu nome - o médico seguiu
com Paulo (que ainda estava preso) para Roma (At 27.1-2). A experiência
de Lucas como viajante é confirmada por seu notável cuidado ao usar os
termos técnicos da navegação em seu dramático naufrágio registrado em
Atos 27. Sua precisão a esse respeito foi notada em 1848, por James Smith,
um escocês membro da Real Sociedade (Academia Nacional de Ciências
e letras de Edimburgo, na Escócia). Smith, escrevendo como velejador e
historiador, confirmou as referências detalhadas de Lucas quanto aos
ventos, geografia e construção naval.
Uma virtude inegável de Lucas é a sua lealdade como amigo de
Paulo, tanto nos momentos bons, como nos momentos difíceis da vida
do apóstolo. Lucas esteve presente nas quatro vezes em que Paulo este­
ve preso: Em Jerusalém (At 21.17), em Cesareia (At 23.23) e duas vezes
em Roma (At 28.26; 2Tm 4.10-11).
Na última prisão, a amizade de Lucas mais uma vez foi provada. “Só
Lucas está com igo”, disse Paulo para Timóteo (2Tm 4.11). Nesse período,
Paulo estava esperando sua execução, a qual aconteceu aproximadamente
em 67 d.C. Todos os demais “companheiros” de Paulo o haviam deixado.
Até nisso Paulo se parecia com Cristo. Com Jesus, até a cruz, havia perma­
necido apenas João; com Paulo, em sua última prisão, ficou apenas Lucas.
Interessante percebermos como Lucas se dedicou ajudando Paulo em
todas essas prisões. Mesmo sendo ele um homem preparado para uma vida
de sucesso profissional na medicina, renunciou a vários anos de sua vida
para acompanhar o apóstolo enquanto ele estava preso. Certamente não foi
fácil para Lucas após a morte de Paulo, pois o apóstolo havia sido como um
“pai na fé” para ele, e na convivência dos dois desenvolveu-se uma comu­
nhão duradoura. Pouco se sabe sobre a vida de Lucas após a morte de Paulo.
Alguns estudiosos antigos, em particular Orígenes e Jerônimo, acreditavam
que Lucas e Tito eram irmãos. Há indícios históricos de que Lucas jamais
se casou e ainda pregou na Grécia, onde morreu com aproximadamente 84
anos, como mártir, enforcado em uma oliveira em Bítinia.
Malaquias Nome hebraico, significa "Meu mensageiro".

Malaquias foi o último profeta do Antigo Testamento. No passado,


alguns estudiosos argumentaram que o nome Malaquias era apenas um
cognome e que o autor do livro teria sido Esdras ou Neemias. Hoje em
dia, essa hipótese é descartada.
O estilo literário de Malaquias é direto e conciso. Uma de suas ca­
racterísticas marcantes é o frequente uso de perguntas retóricas (Ml 1.6-
7; 3.7-10).
As referências do livro de Malaquias quanto aos problemas do tem­
plo claramente indicam que ele profetizou depois do retorno de Judá do
exílio. Malaquias também faz menção a um devastador ataque sobre a
terra de Edom (Ml 1.4). Isso aconteceu pelos nabateanos, próximo ao fim
do século 6 a.C., porém, o ano exato em que isso aconteceu até hoje é in­
certo. Malaquias também menciona alguns problemas em relação à cor­
rupção no sacerdócio (Ml 1.6-14), o divórcio leviano de esposas israebtas
(Ml 2.10-16) e o casamento misto com mulheres pagãs. Esses problemas
também foram mencionados por Esdras e Neemias (Ed 9.1-4; 10.1-4; Ne
10.28-31; 13.10-14, 23-37). Isso quer dizer que Esdras e Neemias vieram
depois de Malaquias, caso contrário, as reformas de Esdras e Neemias
teriam sido um fracasso. Esdras chegou a Jerusalém em 458 a.C., e Nee­
mias em 444 a.C. Isso indica que Malaquias deve ter escrito seu livro no
máximo por volta de 460 a.C. Assim, podemos concluir, com alguma se­
gurança, que Malaquias profetizou entre o fim do século 6 a.C. e início do
século 5 a.C.
A situação em Jerusalém no tempo de Malaquias era muito infeliz
e perigosa para a sobrevivência da religião e do povo. A nação estava
sob o domínio do império persa, e embora os persas não se mostras­
sem dominadores opressores, Jerusalém e suas cercanias se constituíam
em uma pequena e improdutiva província. Somando-se às dificuldades
da própria submissão, a região ainda sofria de uma seca que já durava
alguns anos, doenças nas plantações e pragas de gafanhotos. As espe­
ranças anteriores de que com a restauração do templo nos dias de Zo-
robabel - aproximadamente 516-515 a.C. - surgiría uma nação judaica
independente e próspera não se realizaram. A Judeia continuava a ser
um obscuro e turbulento rincão do império persa. Apenas cinquenta mil
exilados haviam deixado a Babilônia e regressado para Judá. Os judeus
estavam desanimados e desinteressados com a religião, e isso só havia
fortalecido a frouxidão religiosa, a erosão moral e o cinismo imperante.
O templo havia sido reconstruído há aproximadamente meio sécu­
lo antes da data provável do ministério de Malaquias, mas seus sacerdo­
tes já haviam corrompido os serviços, com o intuito de obter vantagem
da função sagrada. Eles haviam se tornado ricos e corruptos, levando o
povo a banalizarem a fé em Deus. Havia um abismo crescente entre a
minoria de judeus piedosos e a grande maioria que tinha se tornado ne­
gligente na fé, avançada no secularismo e libertina na moral. Uma cho­
cante demonstração dessa situação era o fato de os sacerdotes aceitarem
animais defeituosos para os rituais do sacrifício, enquanto os doadores
mantinham os melhores animais em seus rebanhos. A lei exigia animais
puros e sem máculas, os melhores do rebanho. No entanto, os sacerdo­
tes estavam dispostos a sacrificar qualquer animal que lhes trouxessem
ao templo, inclusive os animais cegos e aleijados que traziam para o
sacrifício (Ml 1.8) e até animais roubados (Ml 1.13), contanto que lhes
pagassem uma taxa adequada na hora de sacrificar. Os ímpios e pagãos
demonstravam maior reverência por seus deuses do que os sacerdotes
exibiam pelo Senhor.
Malaquias também censurou aquela geração por não pagarem o
dízimo: “P odeu m hom em rou bar a Deus?... T od av iav ocêsm e roubam nos
dízim os e nas o fertas” (Ml 3.8-10). O Senhor reclamou que eles tratavam
a Ele com desonra e com um desrespeito que eles sequer sonhariam em
mostrar pelo governador persa local: “Quando trazeis um anim al cego
p ara sacrificar, isso não é mal?... Oferece-os ao teu governador, acaso
fic a r á contente com isso, ou receberá am igavelm ente?” (Ml 1.8).
Malaquias, então, pediu ao povo que se arrependesse (Ml 3.7; 4.2-
4). Ele conclui seu livro com uma recomendação à obediência à lei de
Deus e com uma profecia sobre o “retorno de E lias”, a fim de preparar o
caminho para o Messias (Ml 4.4-6). Esse Elias era o profeta João Batista,
que Jesus chamou de o “Elias que haveria de vir” ou o segundo Elias,
enviado por Deus de acordo com a profecia de Malaquias (Mt 11.13-15).
Malaquias, apesar de morto, ainda fala ao mundo moderno sobre
a necessidade de manter o desempenho alinhado à convicção. Sua men­
sagem, portanto, continua atual.
Manassés Nome hebraico, significa “Aquele que faz esquecer".

Existem dois importantes personagens com este nome na Bíblia:


um é o filho mais velho de José e neto de Jacó;o outro é filho do rei Eze-
quias e também reinou sobre Judá.
O nome Manassés é um indicativo de que o seu nascimento re­
I
presentou uma alegria tão grande que gerou “esquecimento” das tris­
tezas do passado. O uso deste nome por José para o seu primogênito
reflete o efeito que o nascimento da criança teve em sua atitude em
relação às provações do seu passado no Egito (Gn 41.51). O uso deste
nome, também para o filho do rei Ezequias, certamente foi uma lem ­
brança de seus ancestrais - talvez em homenagem ao filho de José.

Manassés, filho de José.


Foi o filho primogênito de José com Asenate. Nasceu no Egito e,
portanto, foi o primeiro hebreu nascido nessas terras. É o progenitor da
tribo de Manassés.
Jacó adotou Manassés e Efraim como se fossem seus filhos na
repartição da bênção patriarcal, dando-lhe, portanto, tratamento igua­
litário em relação aos demais. Quando ele deu a sua bênção no leito de
morte, colocando a mão direita sobre Efraim e a mão esquerda sobre
Manassés, José o corrigiu, lembrando-lhe que Manassés era o seu filho
primogênito. No entanto, Jacó recusou-se a destroçar as mãos dizendo
que, embora Manassés viesse a ser grande, Efraim seria ainda maior
(Gn 48.17-19). A prática comum de dar a benção preferencial ao filho
mais velho foi quebrada por repetidas vezes na linhagem dos patriar­
cas - Ismael e Isaque, Esaú e Jacó, Manassés e Efraim - fazendo da fé
em Deus, da obediência a Ele e dos planos extraordinários de Deus os
fatores determinantes no momento da bênção.
Efraim, portanto, foi abençoado e tornou-se progenitor de uma tri­
bo dominante em Israel. Manassés, entretanto, de maneira alguma foi
ignorado. De fato, a tribo que fundou dividiu-se posteriormente em duas
partes: uma delas ocupou um vasto território na Transjordânia (Nm
32.33-43; Js 12.1-6) e a outra uma importante região ao norte de Efraim,
que se estendia do mar Mediterrâneo até o rio Jordão (Js 17.1-13).
A tribo de Manassés deu origem a grandes heróis, incluindo Gi-
d e ã o e J e f t é [para saber mais sobre a história de cada um, consulte o su-
mário]. No conflito envolvendo Davi e Saul, um grande número de pes­
soas da tribo de Manassés desertou das tropas de Saul para se unir às
forças de Davi. Um século mais tarde, porém, os descendentes de Manas­
sés se tornaram participantes das forças rebeldes aliadas a Jeroboão, o
que resultou na divisão das doze tribos de Israel em reino do Sul e reino
do Norte. Ocorre que, quando os assírios destruíram Israel em 722 a.C.,
levando cativas as dez tribos do Reino do Norte, a tribo de Manassés de­
sapareceu da história. Embora existam ainda alguns registros indicando
que remanescentes dessa tribo podem ter se estabelecido em Jerusalém
após o término do exílio babilônico, dois séculos mais tarde.

Manassés, rei de Judá.


Filho de Hefzibá e Ezequias, rei de Judá, Manassés precisou suce­
der o pai quando tinha apenas 12 anos de idade, por volta de 687-86 a.C.
Embora 2 Reis 21.1 registre que ele reinou por 55 anos, registros histó­
ricos e outras referências bíblicas deixam claro que seu reinado durou,
na verdade, cerca de 45 anos. Ainda assim, alcançou a marca histórica
de ser a mais longa regência do Reino do Sul. Os que defendem a exati­
dão do cálculo de 55 anos sugerem uma corregência de 10 anos com seu
pai, o que parece impossível, já que o jovem assumiu definitivamente o
reinado com 12 anos.
Infelizmente, Manassés dedicou grande parte de seu tempo pro­
movendo a idolatria, edificando santuários pagãos e construindo altares
a Baal em toda Judá. Seu pai, Ezequias, havia sido um rei bem-sucedido
porquanto honrou a Deus e combateu a idolatria, expurgando os com­
portamentos idólatras e restaurando a prática do culto ao Senhor no
templo em Jerusalém [para saber mais, veja a história de Ezequias na pági­
na 140]. Manassés, diferente de seu pai, sucumbiu diante das influências
pró-assírias que insistiam em desfazer as reformas de Ezequias, voltan­
do assim ao culto pagão, chegando até o ponto de colocar um ídolo no
próprio templo de Jerusalém (2Rs 21.7). As abominações de Manassés
foram citadas pelos profetas como “a gota d’água” que motivou Deus a
selar o julgamento de Judá com o cativeiro (2Rs 21.10-15).
Essas abominações incluíam necromancia (consulta aos espíritos
dos mortos) e sacrifícios humanos, tendo o monarca incluído neles os
seus próprios filhos: “Fez ele tam bém p a ssa r os seus filh os pelo fo g o no
vale de Hinom, e usou de adivinhações, e de agouros, e de feitiçarias, e
consultou adivinhos e encantadores, e fe z muitíssimo m al a os olhos do
SENHOR, p ara provocá-lo à irá” (2Cr 33.6). Não é de surpreender que ele
seja considerado o pior rei a assumir o trono de Davi.
Em resumo, Manassés corrompeu totalmente o judaísmo, mistu­
rando-o com todo tipo imaginável de práticas abomináveis. Somando-se
a isso, o rei promoveu um massacre entre os profetas e sacerdotes fiéis,
derramando “tanto sangue inocente que encheu Jerusalém de um extrem o
ao outro” (2Rs 21.16). Ele era constantemente advertido pelos profetas de
que estava semeando desastres sobre si e sobre Judá, porém, parece que,
ao invés de dar ouvidos à mensagem profética, ele preferia assassinar
os mensageiros. Segundo a tradição, o profeta Isaías foi serrado ao meio
nessa época por ordem de Manassés. É possível que Hebreus 11.37 - “f o ­
ram apedrejados, fora m tentados, f o r a m s e r r a d o s p e lo m e io ” - seja uma
alusão a este fato.
Embora seu pai Ezequias tenha resistido com êxito ao avanço dos
assírios, Manassés aliou-se a eles, sujeitando Judá à posição de um esta­
do vassalo dos assírios e os ajudando em suas guerras. Quando Assurba-
nipal - rei da Assíria - conquistou o Egito, ele listou 22 reis vassalos que
o auxiliaram, e entre eles estava Manassés.
Por volta de 670 a.C., finalmente, Manassés foi derrotado e humi­
lhado por sua apostasia. Apesar de sua submissão aos assírios, eles ata­
caram Jerusalém e levaram Manassés como refém, “colocando-lhe um
gancho no nariz e algem as de bron ze”, levando-o cativo para a Babilônia
(na época sob o domínio assírio. Veja 2Cr 33.11). A partir desse ponto, o
cronista registra que “Então conheceu M anassés que o Senhor era Deus”
(2Cr 33.12-13). Enquanto estava na prisão, Manassés se arrependeu e
orou fervorosamente ao Senhor, suplicando por perdão. Então, o Se­
nhor, teve compaixão dele e colocou um fim à sua punição, levando-o
de volta a Jerusalém (2Cr 33.12-13). Esse relato indica a profundidade da
graça de Deus, ao perdoar um homem tão ímpio como Manassés, quan­
do este se arrependeu sinceramente dos seus pecados.
Após seu retorno a Jerusalém, “M anassés reconstruiu os seus mu­
ros... e tirou da casa do Senhor os deuses estranhos e o ídolo, com o tam bém
todos os altares que tinha edificado no monte da casa do Senhor, e em Jeru ­
salém , e os lançou fora da cidade. E reparou o altar do Senhor e ofereceu
sobre ele sacrifícios de ofertas pacíficas e de louvor; e ordenou a Ju d á que
servisse ao Senhor Deus de Israel” (2Cr 33.14-16).
Contudo, as reformas e ele creditadas não foram duradouras (2Cr
33.17). Manassés não conseguiu deter a onda de corrupção religiosa li­
berada através de sua influência passada (2Rs 21.-19-21; 2Cr 33.21-23).
Manassés continuou a governar o Reino do Sul após o seu retorno
da Babilônia. Morreu em 642 a.C., sendo sucedido por seu filho Amom,
cujo breve reinado foi marcado por uma continuação da política idóla­
tra anterior de seu pai e a colaboração com os mesopotâmios. Quando
Josias - neto de Manassés - subiu ao trono, apenas alguns anos mais tar­
de, havia pouquíssima adoração ao Senhor em Israel, sendo necessária
uma nova reforma, concluindo assim a tentativa iniciada por Manassés
após se arrepender perante o Senhor.

Marcos Nome latino, significa "Grande martelo".

Marcos era sobrinho de Barnabé (Cl 4.10) e filho de Maria, que


morava em Jerusalém, em cuja casa os primeiros cristãos da cidade se
congregavam (At 12.12). Por isso, Pedro dirigiu-se até lá assim que foi
solto da prisão pelo Senhor, pois ali estava a igreja orando. Devia ser
uma casa espaçosa e a família de Marcos era suficientemente abastada
financeiramente para permitir-se ter pelo menos uma criada em casa:
a jovem Rode, que deixou Pedro do lado de fora da porta (At 12.13-14).
Marcos é mencionado pela primeira vez na Bíblia no livro de Atos
dos Apóstolos, no qual é mencionado como filho de Maria (At 12.12). Ele
não é mencionado pelo nome em nenhum dos evangelhos. Porém, de
acordo com a antiga tradição, Marcos era o jovem que, durante a pri­
são de Jesus no jardim do Getsêmani, teria se escondido dos soldados,
deixando as roupas e fugindo nu (Mc 14.51-52). Muito provavelmente,
na época, o evangelista era apenas um adolescente ou, no máximo, um
jovem na casa dos vinte anos. Seu nome hebreu era João - muito comum
entre os judeus -, mas ele ficou mais conhecido por seu sobrenome lati­
no: Marcos.
Paulo e Barnabé o levaram na primeira viagem missionária que
empreenderam no início da igreja primitiva. A mesma palavra, auxiliar,
usada para descrever o papel de Marcos nessa viagem, é usada por Lu­
cas em outros textos para referir-se aos que eram “m inistros da palav ra”
(Lc 1.2), cujo trabalho era voltado para o ensino. Isso parece sugerir que,
embora João Marcos fosse um assistente de trabalhos gerais, provavel­
mente um dos aspectos de sua contribuição na equipe missionária era a
participação em alguma forma de ensino.
No entanto, depois de ministrarem em Chipre, João Marcos aban­
donou Paulo e Barnabé, quando estavam na Panfília (At 13.5,13), presu­
mivelmente para retornar à sua casa em Jerusalém. Nenhuma razão é
fornecida, porém existem algumas idéias sugeridas para a desistência
de João Marcos no meio da missão:
• É possível que ele não estivesse gostado de Paulo ter assumi­
do a liderança no meio da missão, quando Barnabé claramente
tinha sido o líder em sua organização inicial.
• Outros sugeriram que Marcos não tenha aceitado totalmente
a doutrina da salvação pela graça por meio da fé apenas (os ju­
deus criam na salvação racial pelas obras). Até mesmo Barnabé,
em momento posterior, foi acusado por Paulo de ter apresentado
alguns desvios quanto à doutrina da salvação pela fé (G1 2.13).
Obviamente, Barnabé deve ter influenciado Marcos quanto a
esta doutrina, pelo menos no início.
• Há os que pensam que já pode ter iniciado ali um conflito
doutrinário sobre a necessidade ou não da circuncisão para os
gentios.
• Há ainda os que pensam que Marcos abandonou Paulo e Bar­
nabé devido a dois fatores importantes: perigo de saúde e perse­
guição. A Panfília era uma área quase ao nível do mar e era infes­
tada por várias pestes e febres. Além disso, Marcos tinha acabado
de testemunhar um confronto emocionalmente extenuante com
Elimas, o mágico, em Pafos (At 13.6-12). Talvez ele tenha sentido
algum pressentimento ruim do que iriam encontrar pela frente.
De fato, se tivesse continuado a viagem com Paulo e Barnabé,
ele enfrentaria uma perseguição física em Listra, onde Paulo foi
apedrejado ao ponto de quase morrer (At 14.19). Parece que o
esgotamento e o perigo foram demais para que Marcos pudesse
suportar, e então ele fugiu para Jerusalém.
Enfim, todas essas hipóteses estão fundadas no terreno especula­
ção, e a verdade é que não há como se precisar o motivo exato do aban­
dono de Marcos na primeira viagem missionária. Porém, há um detalhe
interessante a ser destacado aqui: se Marcos, de fato, foi o jovem que fu­
giu nu quando Jesus foi preso, como está registrado em Marcos 14.51-52,
não seria difícil imaginar o nível de dificuldade que Marcos possuía em
suportar o desafio do discipulado pela segunda vez ao fugir na viagem
na Panfília. De modo que, admitindo-se tais hipóteses como verdadeiras,
seria a segunda vez que Marcos revelaria uma tendência em sua perso­
nalidade: a de fugir em momentos delicados e decisivos.
O abandono de Marcos irritou Paulo, que se recusou a levá-lo na
segunda viagem missionária - aproximadamente dois anos após o epi­
sódio - causando assim, uma dissensão entre Paulo e Barnabé (At 15.36-
41). Como resultado, eles seguiram caminhos diferentes. Paulo se uniu
a Silas e Barnabé seguiu com Marcos para Chipre (At 15.39). Ou seja, a
região onde Marcos havia conseguido servir e ministrar na vez anterior
era a mesma região onde o jovem evangelista teria a oportunidade de
recomeçar a sua história. Após aquele incidente, Marcos e Barnabé não
são mais mencionados por Lucas no livro de Atos.
Vale a pena destacarmos que a palavra afastara que Paulo usa em
Atos 15.38 - quando Marcos deseja ir à segunda viagem - lembra a que
foi usada na parábola do semeador referindo-se à semente que caiu so­
bre a pedra: “A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a re­
cebem com alegria; estes não tem raiz, creem apenas por algum tem po e,
na hora da p rovação s e d e s v ia m ” (Lc 8.13). O sentido de a fastar na fala
de Paulo é o mesmo de desviar da fala de Jesus. Era o que Paulo pensava
acerca de Marcos. Quando enfrentou o teste, ele se desviou da missão e
mostrou ser um discípulo ainda sem raízes.
Cerca de doze anos depois, durante a prisão domiciliar de Paulo
em Roma, Marcos aparece novamente como um cooperador do após­
tolo Paulo (Fm 24) e estava pronto para viajar para a província roma­
na da Ásia (Cl 4.10). Na carta aos Colossenses, Marcos é mencionado
com outros cooperadores de Paulo como alguém que havia sido “uma
consolação” para ele (Cl 4.10-11). Quando Pedro escreveu sua primei­
ra epístola, Marcos estava com ele na “Babilônia” (acredita-se que era
uma referência a Roma). Na época da segunda prisão de Paulo em
Roma (66-67 d.C.), Marcos, que na época estava em Éfeso, provou seu
valor e sua utilidade de tal maneira que Paulo solicitou que ele fosse a
Roma (U m 4.11). Evidentemente, a ferida entre Paulo e Marcos havia
sido completamente curada!
Marcos desfrutou de um relacionamento próximo com Pedro, que
o chamava de “meu filh o ” (lPe 5.13). Como fruto dessa convivência nas­
ceu o segundo evangelho - o evangelho escrito por Marcos - por volta de
65 a 70 d.C., durante ou imediatamente após o reinado de Nero. Isso fez
do evangelho de Marcos o primeiro dos quatro evangelhos a serem es­
critos. Sua contribuição ao cristianismo foi muito importante, uma vez
que jamais qualquer coisa semelhante tinha sido escrita antes. Desse
modo, Marcos tornou-se um autor desbravador que preparou o cami­
nho para que os outros três evangelistas seguissem seu modelo.
Os Pais da Igreja Pós-Nicenos, chegam a registrar a seguinte tradi­
ção: “M arcos, discípulo e intérprete de Pedro, escreveu um pequeno Evan­
gelho a pedido dos irm ãos em Roma, form alizan do p o r escrito o que tinha
ouvido de P edro”. Ou seja, o evangelho de Marcos é quase um “evange­
lho de Pedro escrito por Marcos”.
Papias, um escritor cristão do início do segundo século - morto
em 163 d.C. - afirmou que o evangelho de Marcos é um registro preci­
so pelo fato de seu autor ter sido íntimo de Pedro, ouvindo dele assim,
muitas informações que foram registradas nesse evangelho. No entanto,
Papias também parece supor que Marcos jamais conheceu Jesus, tendo
acompanhado e ouvido somente a Pedro. Isso desafia as tradições an­
teriormente mencionadas quanto ao fato de Marcos ter testemunhado
os momentos de Jesus no Getsêmani. Não se sabe, entretanto, se Papias
seria realmente conhecedor dessa informação.
Nada mais se sabe sobre João Marcos, porém muitas tradições an­
tigas creditam a ele a fundação da igreja em Alexandria, no Egito. Há até
uma crônica antiga que afirma que Marcos teria morrido como mártir
lá, e seus ossos foram posteriormente transportados para a Basílica de
São Marcos, em Veneza, na Itália.

Maria Madalena Forma grega do nome hebraico


"Miriã" que significa ‘'Rebelião".

Maria, de Magdala, popularmente conhecida como Maria Mada­


lena, foi a mais importante discípula (seguidora) de Jesus e foi mencio­
nada mais vezes do que qualquer outra mulher no Novo Testamento.
Magdala era uma cidade localizada à beira do mar da Galileia, ao norte
de Tiberíades.
Maria Madalena não aparece no texto de Mateus, Marcos e João
até a crucificação. Lucas é quem dá uma atenção especial ao relato de
sua vida. Ela fazia companhia a Joana, mulher de Cuza, o procurador
de Herodes Antipas, e Susana. Essas mulheres, aparentemente, eram
mulheres de posses, pois “serviam com os seus ben s” a Jesus e aos seus
discípulos (Lc 8.3). Ou seja, elas mantinham Jesus e os discípulos finan­
ceiramente na missão. Lucas afirma que Madalena foi liberta por Jesus
de sete demônios, indicando assim, que ela possuía algum problema es­
piritual (Lc 8.2; Mc 16.9).
Uma conclusão mais plausível é que Maria Madalena, como pes­
soa de posses e como amiga da esposa do procurador de Antipas, fosse
uma mulher de posição social alta, e não uma prostituta como já foi
interpretado antes.
A devoção de Maria Madalena pelo Senhor fica evidente pelo ser­
viço e respeito constantemente dedicado a Ele. Madalena estava junto
da cruz quando Jesus estava sendo crucificado (Jo 19.25). Ela cuidou de
Jesus até depois da morte. Enquanto os discípulos fugiam e se escon­
diam, ela ficou para trás para observar onde José de Arimateia o sepul­
taria. Depois do descanso do sábado, planejaram voltar ao túmulo no
domingo pela manhã, para ungirem o corpo de Cristo com especiarias e
perfumes, que era um costume da época (Lc 23.56). No entanto, quando
chegaram ao local onde Jesus foi sepultado, elas ficaram surpresas ao
ver que a grande pedra que bloqueava a entrada do túmulo, estava re­
movida (Jo 20.1). No mesmo instante, elas correram de volta à cidade, a
fim de contar aos discípulos (Jo 20.2).
Maria Madalena, no entanto, voltou sozinha ao túmulo e chorou
pelo Senhor. Dois anjos apareceram e lhe perguntaram qual a razão das
lágrimas (Jo 20.11-13). Subitamente, no momento de seu maior deses­
pero, Cristo apareceu, mas ela não foi capaz de reconhecê-lo. Ao pensar
que se tratava do jardineiro, perguntou-lhe sobre o corpo de Jesus (Jo
20.14-15). Cristo, então, gentilmente chamou-a pelo nome e Madalena o
reconheceu (Jo 20.16). Ela tentou abraçá-lo, mas Jesus disse: “N ão m e de­
tenhas, pois ainda não subi ao Pai. Vai, porém , a meus irm ãos e dize-lhes:
subo a m eu pai e vosso pai, a meu Deus e vosso Deus”. E assim, Maria
Madalena tornou-se a primeira testemunha da ressurreição de Jesus (Jo
20.17-18).
Existem duas interpretações erradas sobre Maria Madalena que
precisam ser explicadas. A primeira, considera que ela era uma prostitu­
ta; a segunda, que ela era a “M aria de Betânia”, irmã de Lázaro.
O primeiro equívoco, no qual se supõe que Maria Madalena era
uma prostituta, é uma interpretação errada do fato de Lucas a mencio­
nar pela primeira vez logo após a história de uma meretriz (Lc 7.36 em
diante), levando os leitores a associarem as duas mulheres como se fos­
sem uma só. No século 6, o papa Gregório I (papa de 590 a 604 d.C.), fez
essa mesma associação em um sermão e Maria passou a ser identificada
como uma prostituta desde então.
O segundo equívoco, pelo qual se supõe que Maria Madalena era
a irmã de Lázaro, provavelmente surgiu das duas histórias sobre o der­
ramamento de perfume sobre Jesus. O relato sobre a meretriz que la­
vou os pés de Jesus (que não foi Maria Madalena) e os enxugou com os
próprios cabelos, derramando, a seguir, perfume sobre eles (Lc 7.36-50),
precede a apresentação de Maria, que ocorre no capítulo seguinte (Lc
8.2). Essa proximidade de relatos levou à errônea conclusão de que elas
eram a mesma mulher e, portanto, que Maria Madalena era uma pros­
tituta. Ou seja, o primeiro equívoco gerou o segundo. Essa ideia parece
ter sido erroneamente sustentada por Tertuliano, por volta de 150 d.C.
Maria Madalena é também o pivô de muitas controvérsias envol­
vendo Jesus. Nos anos recentes, em função do romance O código Da Vin-
ci, algumas tradições heréticas antigas voltaram à tona. Entre elas está
a de que Maria Madalena seria esposa de Jesus. Tais histórias - embo­
ra tenham suscitado o interesse popular - não são histórias embasadas
em fontes confiáveis. São partes de textos apócrifos que tinham como
propósito denegrir o evangelho em sua fase primitiva, utilizando-se de
informações totalmente falsas.

Maria Forma grega do nome hebraico "M / riã" que significa" Rebelião”,
M ãe de Jesus

Maria, mãe de Jesus, ocupa uma posição única na história huma­


na, como a mulher escolhida por Deus para conceber Jesus, o Salvador
do mundo. A Bíblia se refere a ela por dezessete vezes em todo o Novo
Testamento. A maioria das informações que encontramos sobre Maria
foi registrada não com o propósito de falar a respeito dela, mas para
confirmar a divindade, a missão messiânica e o cumprimento profético
da vinda de Jesus.
Maria vivia numa vila chamada Nazaré, localizada ao sul da Ga-
lileia. Era noiva de José, um homem - ou jovem - temente a Deus. Ele
também vivia em Nazaré (Mt 1.18). Sua origem humilde e pobre é pratica­
mente inquestionável (ninguém de origem abastada viveria em Nazaré).
Provavelmente de aparência simples, trajava roupas não refinadas, tecido
em casa e tingido de cor marrom clara, de modo a esconder as manchas
que, naturalmente, resultariam do fato de viver em um pequeno vilarejo
sem recursos e com ruas sem calçamento. Somente as pessoas de posses
podiam usar roupas de seda ou dar-se ao luxo de usar roupas brancas.
A Bíblia nada revela sobre o nascimento de Maria ou sua infância.
Ela é mencionada pela primeira vez na ocasião da concepção de Jesus.
A Bíblia não fala sobre sua genealogia, no entanto, um livro apócrifo do
século 3 d.C., diz que seus pais se chamavam Joaquim de Nazaré e Ana
de Belém. Maria tinha também uma irmã chamada Salomé, casada com
o pescador Zebedeu (Mt 27.56; Mc 15.40; Jo 19.25). Sendo assim, os discí­
pulos Tiago e João, filhos de Zebedeu, eram primos de Jesus.
A vida para uma jovem mulher no Oriente Médio daquela época
era difícil e perigosa. As mulheres eram consideradas como cidadãs de
segunda classe e propriedade de seus pais e maridos. Desde o momento
em que davam os primeiros passos, eram ensinadas sobre as habilida­
des básicas de uma dona de casa, tais como cozinhar, tecer, costurar
e limpar. Aos garotos era permitido algum tempo para o lazer, mas as
meninas eram obrigadas a trabalhar em casa tão logo fossem capazes
de fazer isso.
Aos doze anos, em geral, a menina era submetida a exames re­
gulares (usualmente feitos por parteiras) e, tão logo apresentassem os
primeiros sinais de puberdade, era declarada apta para o casamento.
Embora seja assustador para a nossa cultura, aparentemente, essa era
a idade que Maria tinha quando foi desposada por José - 12 anos.
O matrimônio não era uma relação romântica, mas um contrato
feito pelos pais. Quando uma menina era concedida em noivado a um
homem, já era legalmente considerada esposa dele. O noivado e o casa­
mento tinham quase o mesmo peso de compromisso. Mesmo que eles
não tivessem se casado no sentido comum, a menina era declarada já
compromissada para o matrimônio. O noivado poderia ser interrompi­
do apenas por um processo formal de divórcio, o que era muito raro de
acontecer. O casamento livraria o pai da responsabilidade de criar uma
filha, e o marido recebería alguém para cuidar de suas necessidades e
dar-lhe filhos.
Nenhuma relação conjugal acontecia até que a noiva fosse viver
com o marido. Ter relações conjugais antes desse tempo era considerado
um ato de adultério, severamente punido. O homem seria alvo de discipli­
na de ordem religiosa, mas a mulher poderia ser apedrejada até a morte.
Foi dentro desse contexto histórico e cultural que o anjo Gabriel
apareceu a Maria e anunciou que ela conceberia e daria à luz um filho.
Essa criança seria chamada de “Filho de Deus” e receberia o trono de Davi
(Lc 1.26-33). Maria, por ser virgem, questionou Gabriel sobre como isso
poderia acontecer. O anjo lhe disse: “O Espírito Santo descerá sobre ti e a
virtude do Altíssimo te cobrirá da sua som bra. E por isso m esm o o Santo
que h á de nascer de ti será cham ado Filho de Deus” (Lc 1.35). Gabriel infor­
mou também a Maria que Isabel - uma prima dela já bem idosa - estava
grávida. Maria então, em uma demonstração real de fé submeteu-se à
vontade do Senhor (Lc 1.36-38).
Maria foi imediatamente visitar Isabel, futura mãe de João Batista.
Assim que Isabel ouviu sua voz, o bebê em seu ventre pulou de alegria e
ela foi cheia do Espírito Santo. Isabel louvou divinamente ao Deus de Is­
rael porque lhe fora também revelado que Maria daria à luz o Salvador
do mundo. Ela era bem-aventurada, escolhida para ser a mãe do Filho
unigênito de Deus (Lc 1.39-45). Maria ficou ainda três meses com Isabel
e depois voltou para Nazaré (Lc 1.56). Provavelmente, José, seu noivo,
descobriu sua gravidez nesse período, e por certo se sentiu chocado e
profundamente magoado.
Hoje, lembramos a anunciação do nascimento de Jesus como um
momento de grande honra e alegria. Entretanto, se considerarmos a so­
ciedade judaica da época, o que houve na época foi exatamente o oposto.
Ser descoberta grávida antes de seu casamento resultaria em imediata
acusação de adultério. Por ser noiva de José, a sua vida estava nas mãos
dele. Como noivo de Maria, José tinha legalmente diante de si três opções:
casar-se imediatamente, dar-lhe permissão para ela ir embora e viver em
outro lugar (o que seria quase uma sentença de morte para uma mulher
solteira e grávida devido à desonra) ou entregá-la a população para que
ela fosse apedrejada.
José planejou terminar o relacionamento em secreto, para não hu­
milhá-la, e deixar que ela vivesse a desonra de estar grávida e solteira.
O Senhor, porém, revelou-lhe por meio de um sonho que aquela criança
fora gerada pelo Espírito Santo e o exortou a tomar Maria como sua espo­
sa. José, sendo um homem integro, obedeceu a Deus e então se casou com
ela (Mt 1.18-25). Por certo, isso o rotulou aos olhos das pessoas como o pai
adúltero do filho dela, pelo resto de sua vida.
Quando César Augusto ordenou que se fizesse um recenseamento
em todo o mundo romano, José e Maria tiveram que ir à Belém de Judá
(pois eles eram da tribo de Judá). Ambos pertenciam à linhagem de Davi
e também precisavam comparecer na cidade onde nasceram (Lc 2.1-5).
Enquanto estavam lá, chegou o momento de Maria dar à luz. Não havia
lugar para eles nas hospedarias, por isso, provavelmente, eles tiveram
que alugar um espaço em um cômodo das casas que era usado também
para guardar animais: uma estrebaria. Nessa estrebaria, Maria o colocou
dentro de uma manjedoura, que era um tabuleiro onde os animais se ali­
mentavam (Lc 2.6-7).
Se tivéssemos somente o relato de Mateus, pensaríamos que José e
Maria moravam em Belém. Lucas, porém, deixa claro que o nascimento
de Jesus ocorreu em Belém só por causa do recenseamento, que levou
seus pais à cidade natal dos seus ancestrais.
Apesar de seu nascimento humilde, a presença do filho de Deus nas­
cendo entre os homens não poderia ficar em segredo. Um grupo de pasto­
res, os quais receberam uma visitação celestial que lhes falou sobre o nas­
cimento de Cristo, procurou-o para adorá-lo. Maria, no entanto, guardava
todas estas coisas, meditando no coração (Lc 2.8-20). No oitavo dia após o
nascimento de Jesus, Maria e José o circuncidaram.
Eles ficaram nos arredores de Jerusalém até que dois requisitos
da lei judaica fossem cumpridos. O primeiro era que, para cada filho
primogênito, um preço de resgate de cinco ciclos de prata - ou o salário
de dez dias de trabalho - tinha de ser pago no templo após o nascimento
(Nm 18.15-16). O segundo ritual exigido era que no 41° dia após o nasci­
mento do menino, subissem ao templo, para a cerimônia de purificação
da mulher e a apresentação do menino (Lc 2.21-24; Lv 12.1-8; Nm 18.15).
A oferta pela purificação da mãe era um cordeiro ou dois pombinhos
(para os mais pobres).José e Maria fizeram a oferta alternativa permiti­
da a pessoas pobres demais para oferecer um cordeiro: duas pombinhas
(Lc 2.24).
Enquanto estavam lá, um homem justo e dedicado ao Senhor, chama­
do Simeão, falou profeticamente sobre o futuro de Jesus como o Messias (Lc
2.25-32). Depois, Simeão abençoou os pais e profetizou a Maria que o menino
seria a causa da queda de muitos, e da elevação de muitos outros em Israel.
Lalariam contra ele e ele revelaria os segredos dos corações dos homens.
Quanto à própria Maria, uma espada atravessaria sua alma, quando visse
como seu filho seria tratado. Após o cumprimento das exigências cerimo­
niais no templo, José e Maria voltaram para Belém, que ficava a nove quilô­
metros de distância de Jerusalém.
Nesse tempo, os magos do oriente, viram um sinal nos céus e saí­
ram para encontrar o menino Jesus e adorá-lo. Primeiro, foram a Jeru­
salém e perguntaram onde o “Rei dos Ju d eu s” havia nascido (Mt 2.1-2).
Quando o rei Herodes, o Grande, soube da chegada deles e das pergun­
tas que faziam, ficou profundamente perturbado. Pediu que os magos
procurassem o menino e o avisassem quando o localizassem. Os magos,
então, seguiram “a estrela” (um sinal no céu), a qual finalmente os levou
até o destino procurado (Mt 2.3-10).
Quando chegaram à casa onde estavam Maria e José, adoraram
ao menino Jesus e entregaram-lhes presentes. Advertidos num sonho
sobre as intenções malignas de Herodes, o Grande, os magos não o pro­
curaram mais. Pelo contrário, voltaram imediatamente para o Oriente,
seguindo por outro caminho (Mt 2.11-12).
Após isso, José também teve um sonho, no qual foi alertado que
Herodes planejava matar Jesus. José, então, tomou Maria e o bebê e fugiu
às pressas durante a noite para o Egito, onde permaneceu até a morte
desse perverso rei (Mt 2.13-15). Após a morte de Herodes, o Grande, em
março de 4 a.C., José foi informado novamente através de um sonho que
já poderia voltar para Israel. Estabeleceram-se então, em Nazaré, na Ga-
lileia, onde o menino Jesus cresceu (Mt 2.19-23; Lc 2.39). O lar em Nazaré
era cheio de meninos e meninas, pois José e Maria tiveram pelo menos
seis outros filhos (Mc 6.3). No entanto, Jesus como o mais velho, seguiu a
profissão do “pai”, como carpinteiro.
Anualmente, José e Maria subiam a Jerusalém. Quando Jesus tinha
12 anos de idade, eles subiram novamente para participarem da festa da
Páscoa. Nessa ocasião, quando voltavam para casa, descobriram que Je­
sus não estava no grupo com os parentes, mas havia ficado em Jerusa­
lém. Voltando às pressas, o encontraram no templo. Quando seus pais o
repreenderam por ficar para trás e deixá-los tão preocupados, a resposta
de Jesus foi: “Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu
estava na casa de meu Pai?” (Lc 2.49).
Essa é a última vez que José é mencionado no texto bíblico. Depois
desse episódio, a única menção a ele é quando Jesus é identificado como
“filh o de J o s é ” (Jo 1.45). Não há qualquer menção à sua pessoa na cruci­
ficação, nem no ministério de Jesus, e isso pode ser presumido como um
sinal de que ele tenha morrido em algum momento entre o incidente do
templo e o início do ministério de Jesus, cerca de 18 anos depois.
A próxima vez que encontramos Maria, é já durante o ministério
de Jesus, que começou quando ele tinha cerca de 30 anos de idade (Lc
3.23). Naqueles dias, houve um casamento em Caná da Galileia para o
qual Maria e Jesus foram convidados a participar. Acabou o vinho e, Ma­
ria, tentando poupar a família que promovia a festa de uma vergonha,
falou com Jesus sobre o assunto (Jo 1.10). Ele operou ali o seu primeiro
milagre público, ao transformar água em vinho. Leitores dessa história
ficam confusos pela aparente aspereza de Jesus com sua mãe, ao se refe­
rir a ela como “mulher” (Jo 2.4). Tal referência, no entanto, era o padrão
da época, sendo considerado respeitoso e não rude.
Em uma outra ocasião, quando Jesus ministrava para uma grande
multidão, Maria e os outros filhos foram questioná-lo, pois não estavam
entendendo o propósito messiânico da vida de Jesus e diziam “que ele es­
tava fo r a de si” (Mc 3.20-21; 31-35). Esse incidente, além de mostrar a falta
de entendimento deles acerca do ministério de Cristo, mostrava também
o cuidado e as preocupações que tinham para com Ele. Parece que Maria
e seus filhos, temiam que a sobrecarga de trabalho pudesse afetar a capa­
cidade mental de Jesus.
Maria também sofreu a dor de ver seu filho sendo crucificado (Jo
19.25). Estava bem perto da cruz e observou a dor e a tortura do seu fi­
lho. Jesus notou a presença dela ali e a colocou sob os cuidados de João,
seu discípulo amado (Jo 19.26-27). Isso indica mais uma vez que José já
havia morrido e que Jesus havia assumido o cuidado de sua mãe. No en­
tanto, ao se aproximar da morte, Jesus transmitiu essa responsabilidade
para João.
A última referência a Maria na Bíblia, encontra-se depois da res­
surreição de Cristo. Ela, provavelmente seus outros filhos, os apóstolos e
quase 120 pessoas estavam reunidos no cenáculo, em Jerusalém (At 1.14).
A tradição sugere que Maria tenha vivido em Éfeso com o apóstolo
João, no final de sua vida e ali tenha morrido. Como foi dito, Jesus havia
entregue a João a responsabilidade de cuidar de sua mãe após a crucifi­
cação. E, aparentemente, Maria viveu o restante de sua vida ao lado do
discípulo amado. Um problema existente em relação à morte de Maria,
é que existem dois lugares atualmente atribuídos como o local do seu
sepultamento: um túmulo em Éfeso e outro em Jerusalém. O de Éfeso,
porém, é o mais plausível.
Embora ela seja objeto de adoração no catolicismo, não há venera­
ção a Maria em lugar nenhum da Bíblia. Na verdade, Jesus rejeitou isso
(Lc 11.27-28). A Igreja Católica estabeleceu dogmas, como por exemplo,
a virgindade perpétua de Maria, afirmando que Jesus, quando nasceu,
deixou a virgindade de Maria intacta e, os outros “filh os e filh a s ” (Mc 6.3)
seriam filhos de um “primeiro casamento” de José, e não de Maria. Ou­
tra heresia é a ideia de que Maria também teve uma ascensão aos céus,
não passando por uma morte natural (o que mostra uma contradição
entre esta ideia e a dos que creem que seu túmulo está ou em Jerusalém
ou em Éfeso). E há ainda os que dizem que Maria não possuía o pecado
original, ou seja, era da mesma qualidade espiritual e moral de Jesus.
Embora Duns Scotus tivesse argumentado, no século XIII, a favor
dessa doutrina, Tomás de Aquino e os dominicanos, por diferentes ra­
zões, se opuseram a ela. Cristo, diziam eles, não podia ser o Salvador do
mundo, inclusive de Maria, se ela não tivesse pecado e se não tivesse a
necessidade de salvação.
Essas doutrinas não têm apoio nenhum no Novo Testamento. Os
textos bíblicos concordam que depois do nascimento perfeitamente nor­
mal de Jesus (Lc 2.5), José e Maria viveram como marido e esposa, e expe­
rimentaram a bênção de ter uma grande família (Mc 6.3).
Diante disso, podemos dizer que Maria, mãe de Jesus, é digna do
nosso respeito, no entanto, não da nossa adoração.

Mateus Nome hebraico, significa "Dom de Deus".

Mateus foi um dos doze discípulos de Jesus. Ele aparece nas qua­
tro listas dos discípulos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 5.27; At 1.13). Além da pre­
sença de seu nome nas listas dos apóstolos, ele é citado apenas duas
vezes nos evangelhos. Primeiro, em sua chamada na coletoria de im­
postos, nas proximidades de Cafarnaum (a única chamada individual a
um discípulo, relatada nos evangelhos sinóticos). Segundo, no banquete
oferecido por ele a Jesus, para o qual muitos “publicanos e pecadores”
foram convidados (Lc 5.29-30).
Marcos e Lucas informam que Mateus também era chamado Levi
(Mc 2.14; Lc 5.27-29). É provável que “Levi” tenha sido o seu nome an­
tigo, antes de receber seu chamado, e que “Mateus” tenha sido o nome
dado a ele por Jesus como discípulo (como, por exemplo, o nome de Si-
mão foi trocado para Pedro). Assim, o novo nome passou a ser um sím­
bolo e uma lembrança da mais importante mudança ocorrida em seu
coração e em sua vida.
R.V.G. Tasker - perito na biografia de Mateus - sugere que a “troca”,
pelos evangelistas Marcos e Lucas, do nome Mateus por Levi no episódio
da coletoria é uma tentativa de ambos os autores desassociarem o nome
do apóstolo de sua antiga e mal vista profissão.
Marcos e Lucas mencionam que Mateus - também chamado Levi
- era filho de Alfeu (Mc 2.14-17; Lc S.27-32). Tiago, o Menor, também era
filho de um “Alfeu” (Mt 10.3). Seria esse Alfeu pai dos dois discípulos?
Provavelmente não! Vale a pena lembrar que “Alfeu” é um dos muitos e
típicos nomes helênicos adotados por judeus durante o século I d.C. Não
há nenhuma evidência bíblica, histórica ou de tradição que indique esse
parentesco entre os dois discípulos. E, caso Alfeu fosse o pai de Tiago e
Mateus, certamente os escritores iam mencionar que eles eram irmãos
assim como mencionou o parentesco de Tiago e João e Pedro e André.
Mateus era um publicano judeu, um cobrador de impostos que
trabalhava para os romanos e, portanto, era considerado pelos demais
membros do seu povo como um traidor, colaborador dos inimigos e la­
drão. Entretanto, com tal ocupação, é provável que ele tenha tido uma
boa educação e estivesse familiarizado com o aramaico, o grego e o latim.
Mas, por que um cobrador de imposto era visto assim naquele tempo?
O Império Romano tinha elaborado sistemas de cobrança de im­
postos que variavam de um lugar para o outro. Naqueles dias, vários
sistemas operavam na Palestina. Dois destes sistemas de impostos se
destacavam: o imposto por pessoa, arrecadado de todos os adultos, e
o imposto sobre a terra. Entretanto, o direito para coletar alguns im­
postos menores - como as taxas aduaneiras cobradas nos portos e nas
principais estradas - eram arrematados pelos maiores licitantes.
Zaqueu, por exemplo, havia adquirido este direito de coletar im­
postos em Jerico (Lc 19.1-10). Por isso, ele era chamado “o m aioral dos
publicanos” e “rico” (Lc 19.2). A Judeia - ao sul - era governada dire­
tamente por Roma. A Galileia - ao norte - era governada por Herodes
Antipas, sob autoridade direta de Roma. E era para esse Herodes que
Mateus trabalhava.
Mateus, como coletor de impostos, estava incumbido de tributar
tanto os comerciantes e pescadores que cruzavam o mar da Galileia
(provavelmente Mateus recolhia os impostos de Pedro, Tiago, João e An­
dré antes de serem discípulos) quanto os demais viajantes da importan­
te estrada que ligava Damasco ao mar Mediterrâneo, que passava por
Cafarnaum. Essa estrada era chamada de Via M aris naquela época.
A grande questão negativa dos publicanos era a injustiça e cruelda­
de que praticavam contra o povo ao coletar os impostos. Sentavam-se no
portão da cidade - como um inspetor da alfândega na chegada interna­
cional dos aeroportos - e todo aquele que quisesse entrar na cidade era
obrigado a se submeter a exames, às vezes humilhantes, sobre tudo o que
possuía consigo. O publicano determinava o que era passível de taxas e o
valor do imposto sobre aquele item, coletando o dinheiro na hora.
Muitos deles usavam sua posição para cobrar valores exorbi­
tantes, com o objetivo de levantar dinheiro extra para si mesmos. Eles
acrescentavam as suas próprias taxas para aumentar o seu lucro. Era
preciso uma grande dose de ambição e cobiça para um judeu se dispor
a ser um coletor de impostos, servindo assim aos “odiosos” romanos e
sendo associado à casa de Herodes Antipas. A maneira como o termo
“publicano” era usado na Bíblia mostra que ser um coletor de impostos
era conquistar uma posição em que o suborno e a corrupção não somen­
te eram possíveis, mas eram muito prováveis.
Os judeus somente assumiríam tal emprego se amassem mais o di­
nheiro do que sua herança nacional como judeus. Os rabinos ensinavam
que era perfeitamente permitido enganar um cobrador de impostos. Eles
colocavam a cobrança de impostos ao lado da prostituição como ocupa­
ções que nenhum judeu cumpridor da lei poderia aceitar - uma vez que
isso significava tratar com gentios e trabalhar aos sábados -, estando to­
talmente ligada à ganância e à injustiça.
Assim, pois, os publicanos formavam uma classe à parte, hostiliza­
da pela sociedade judaica. Sua presença nas sinagogas era inaceitável.
Por estas razões, em sua maioria, os publicanos tinham pouco interesse
na lei e na adoração ao Deus de Israel. Eles haviam colocados seus cora­
ções nas riquezas terrenas, e não nas espirituais.
Jesus viu Mateus “assentado na coletoria” (Mt 9.9). A Bíblia não
nos revela onde isso ocorreu, mas podemos pensar que aconteceu em
Cafarnaum, levando em conta que a história do relato imediatamente
anterior ocorreu nessa cidade. O texto de Mateus 9.1 nos diz que Jesus
foi à sua cidade - que era Cafarnaum - e o versículo 9.9 diz que ele esta­
va “sain do”, ou seja, provavelmente esse encontro se deu no portão de
saída da cidade.
Jesus simplesmente disse a Mateus: “Siga-m e”. Ele, ato contínuo,
levantou e o seguiu. O versículo seguinte informa sobre Jesus em um
jantar na casa de Mateus. Ao entrar ali para jantar, Jesus provocou um
escândalo. Os convidados eram “publicanos e pecadores”, o que podería
incluir até prostitutas, porque eram as únicas pessoas que se relaciona­
vam socialmente com os da classe moral de Mateus. Pouco se sabe sobre
esse evento, exceto que os fariseus desafiaram Jesus e ele respondeu:
“N ão são os que têm saúde que precisam de m édico, m as sim os doentes...
pois eu não vim p a ra cham ar justos, m as peca d o res” (Mt 9.12-13).
O encontro de Mateus com Jesus verdadeiramente transformou a
sua vida. Como resultado disso, ele deixou definitivamente sua função de
cobrador de impostos. Concluímos isso com base em dois pontos evidentes.
Primeiro, no grupo dos doze apóstolos estava “Simão, o Zelote” (Mt 10.4).
Este Simão era um ex-membro de um movimento revolucionário inconfor­
mado com a submissão a Roma, inclusive com a prática de pagar tributos a
Roma que era liderada em Cafarnaum por Mateus. Os dois seriam profun­
dos inimigos entre os doze, caso não tivessem sido transformados por Jesus.
Mateus, intencionalmente, menciona tanto sua profissão como a de Simão
em sua lista de apóstolos, em Mateus 10.2-4, com o propósito de sublinhar
a reconciliação de ambos. Eles não poderíam estar juntos no apostolado
se não tivessem abandonado suas vidas anteriores para seguirem a Jesus.
Segundo, somente Mateus se refere ao ensino de Jesus sobre o pa­
gamento do imposto (Mt 17.24-27). Apenas ele registra esse incidente
em que Jesus paga o imposto em Cafarnaum, mandando Pedro pescar
e procurar uma moeda na boca de um peixe. Podemos suspeitar que
Mateus incluiu essa história porque ela significava muito para ele. Ele
havia sido liberto de todo aquele sistema, na realidade, libertado de ser­
vir a M amom, o deus do dinheiro (Mt 6.24).
Outra evidência da conversão de Mateus e de como sua experiên­
cia pessoal interferiu no seu relacionamento com Deus está registrado na
“Oração do Pai-Nosso” nos registros de Mateus e Lucas. Mateus usa o termo
“perdoa-nos as nossas dívidas”, e Lucas usa o termo “perdoa-nos os nossos
pecados” para o mesmo trecho da oração (Mt 6.12; Lc 11.4). Como cobrador
de impostos, ele nunca perdoava dívidas - mas depois que conheceu Jesus,
ele reconheceu a enorme dívida não paga que tinha para com Deus - a
dívida do perdão e da salvação. Por isso, é plausível a ideia de Levi ser o
seu nome antigo, e Mateus o novo nome, como uma referência de sua nova
vida: “dom de Deus”.
A data do chamado de Mateus não pode ser determinada com pre­
cisão, mas existe uma boa razão para colocá-la antes do sermão da monta­
nha, sobre o qual o evangelho segundo Mateus contém o relato mais com­
pleto. O fato por si só sustenta uma forte evidência a favor dessa colocação
cronológica, porque tal narrativa tão completa do sermão não poderia se
originar de alguém que não o tivesse ouvido.
A próxima - e última - vez que Mateus é mencionado diretamente
no Novo Testamento, é em sua inclusão entre as quase 120 pessoas que
estavam no cenáculo quando o Espírito Santo foi derramado no dia de pen-
tecostes (At 1.13). Após essa ocasião, o Novo Testamento nada mais diz so­
bre as atividades de Mateus na igreja primitiva. Em contrapartida, existem
muitas histórias sobre as missões de Mateus e algumas tradições que pare­
cem reconstruir os últimos anos de sua vida.
Irineu disse que ele pregou o evangelho entre os judeus. Provavel­
mente isso significa que ele teria pregado tanto na Palestina quanto para
os judeus da dispersão, no período da diáspora. Clemente de Alexandria
disse que Mateus permaneceu 15 anos nesse trabalho atendendo os judeus
na Judeia. Conta ainda que Mateus desenvolveu o seu ministério entre os
etíopes, os gregos da Macedônia (norte da Grécia), os sírios e os persas.
Mateus é também o autor do primeiro dos quatro evangelhos. Du­
rante séculos os cristãos acreditaram que, devido à ordem no Cânon sa­
grado, Mateus teria sido o primeiro evangelho a ser escrito. Porém, este
ponto de vista tem sido majoritariamente abandonado, pois evidências
concretas apontam que Marcos foi o primeiro que escreveu os ensinos e
os relatos da vida de Jesus. Um forte argumento que embasa essa tese é
o fato de que, dos 662 versículos de Marcos, cerca de 600 aparecem tam­
bém em Mateus. Faz pouco sentido imaginar que Marcos copiou cerca
de 600 versos de Mateus, acrescentando apenas alguns outros poucos,
publicando-o como um evangelho separado. É mais plausível admitir
que Mateus usou Marcos como base de uma produção de maior vulto
(principalmente porque o evangelho de Marcos foi contado por Pedro,
que esteve junto com Tiago e João em lugares em que Mateus não pôde
estar). Seguindo basicamente o modelo de Marcos, Mateus suplementa-
-o com material adicional que torna o seu evangelho quase duas vezes
mais extenso que o de Marcos (1069 versículos no total).
Mateus entendeu o modo como Jesus cumpriu as profecias do Antigo
Testamento. Por isso, aparecem mais referências a elas neste evangelho do
que nos outros três. Isso é mais uma evidência de que o evangelho escrito
por Mateus foi claramente escrito para os judeus e não para os gentios.
E somente Mateus registra a história sobre o homem que encontrou um
tesouro escondido num campo e vendeu tudo o que tinha para adquiri-lo.
Mateus sabia, a partir da sua experiência pessoal, o que isso significava.
Ele também deixara sua carreira vantajosa e lucrativa para seguir a Jesus.
Talvez, devido a isso, Mateus enfatizou muito mais do que Marcos,
Lucas e João o autosacrifício que Jesus exigiu de seus discípulos no cum­
primento da missão. Isto deve ter sido extremamente difícil para Mateus
e deve ter evidenciado para ele a enorme mudança que existiu em sua
vida. Da riqueza ilícita para a pobreza moderada; da autodeterminação
para o discipulado; da segurança para a perigosa vida da fé e; acima de
tudo, do eu para Cristo. Portanto, deixar tudo para acompanhar Jesus
numa vida de discípulo itinerante provavelmente exigiu mais sacrifício
para Mateus do que para alguns dos outros discípulos - isto evidenciou
a verdadeira conversão de Mateus.
Este evangelho escrito por Mateus também é muito rico em deta­
lhes exclusivos sobre a vida de Jesus. De um total de 35 milagres de Jesus
relatados nos evangelhos, Mateus descreve 20 deles. Três deles - os dois
cegos que recuperaram a visão (Mt 9.27-31), a cura do homem mudo e
endemoninhado (Mt 9.32-33) e o dinheiro na boca do peixe (Mt 17.24-27)
- só aparecem em Mateus.
Essa riqueza existe também nas parábolas. De um total de 51 parábo­
las descritas nos evangelhos, 21 são relatadas em Mateus. Onze delas são ex­
clusivas de Mateus - a das sementes (Mt 13.24-30; 37-43), a do tesouro escon­
dido (Mt 13.44), a da pérola de grande valor (Mt 13.45-56), a da rede de pesca
(Mt 13.47-50), a do servo ingrato e mau (Mt 18.23-35), a dos trabalhadores da
vinha (Mt 20.1-6), a dos dois filhos (Mt 21.28-32), a do casamento do filho do
rei (Mt 22.1-14), a das dez virgens (Mt 25.13), a dos talentos (Mt 25.14-30) e a
das ovelhas e bodes (Mt 25.31-46). Outra curiosidade deste evangelho é que
ele é o único em que aparece a palavra igreja (Mt 16.18; 18.17).
Mateus foi um escritor talentoso, um discípulo fervoroso e, talvez,
tenha sido o mais culto dos doze discípulos. Não há, no entanto, uma
definição sobre como Mateus morreu. Clemente de Alexandria indicou
que ele teria morrido de morte natural. Adicionalmente, afirmou que
Mateus era vegetariano e se alimentava de sementes, nozes e vegetais,
não ingerindo qualquer tipo de carne. O Talmude, no entanto, diz que
Mateus foi condenado à morte pelo Sinédrio dos judeus de Alexandria e
uma antiga tradição diz que Mateus foi morto perfurado por uma lança,
na Etiópia. Embora não se possa precisar como Mateus morreu, seus
restos mortais encontram-se na Catedral de Salerno, na Itália.
Matias Nome hebraico, significa "Dom de Deus".

Matias foi o discípulo escolhido para substituir Judas Iscariotes


como o décimo segundo apóstolo. O nome Matias é o diminutivo de Ma-
tatias, e no grego é Mateus.
Após a Ascensão de Jesus, Pedro liderou o grupo de cerca de 120
I
cristãos seguidores de Jesus que tomou a medida de incluir Matias no in­
tervalo entre a ascensão do Senhor e o dia de pentecostes (At 1.15-26).
Ele disse que, assim como as escrituras tinham profetizado a traição de
Judas Iscariotes, também prediziam que outro receberia “o seu encargo”
(At 1.20). Foram propostos dois homens que preenchiam certas condições
- José, chamado Barsabás (também conhecido como “Justo”) e Matias.
Essas condições eram que eles deveríam ter acompanhado os discípulos
durante todo o ministério de Jesus, desde o seu batismo realizado por João
Batista até a sua ascensão aos céus no Monte das Oliveiras. Portanto, eles
teriam de ser capazes de testemunhar a ressurreição de Jesus.
Depois de uma oração, lançaram sortes, e a escolha caiu sobre Ma­
tias, assim ele foi “contado entre os doze a p óstolos” (At 1.26). Esse ato
de tirar a sorte (purim, em hebraico) era uma prática antiga. No peito
do sumo sacerdote haviam pedras sagradas, o Urim e Tumim (“luzes” e
“verdades”). Essas pedras eram utilizadas para tirar a sorte, na crença
de que Deus guiaria qual pedra iria cair. Alguns estudiosos sugerem que
o método utilizado para escolher Matias envolveu duas pedras seme­
lhantes a essas, cada qual representando um dos candidatos a ocupar
aquela função. Elas foram colocadas em um jarro de boca pequena que
foi agitado até que uma pedra caísse. A pedra que caiu determinou o
escolhido a ser Matias.
Eusébio - antigo historiador cristão e um dos pais da igreja - en­
sinava que Matias tinha sido um dos 70 discípulos que Jesus escolhera
para enviar de “dois a dois à sua frente a toda cidade e lugar aonde ele
próprio deveria ir” (Lc 10.1).
Matias, no entanto, não é mencionado em nenhum outro lugar
no Novo Testamento. Alguns escritores consideram que Pedro teria sido
presunçoso e impaciente ao tomar a iniciativa de substituir Judas e que
ele e os demais apóstolos deveríam ter esperado e aceitado a escolha do
Senhor, isto é, o apóstolo Paulo.
Várias tradições estão ligadas a vida de Matias. Acredita-se que ele
morreu como mártir pregando na Judeia ao ser apedrejado por judeus
em Jerusalém. Dornan Newman, escrevendo em 1685 reconheceu uma
tradição que apontava o ano 51 d.C. como o ano do martírio de Matias.
Há ainda uma tradição que sugere que os restos mortais de Matias fo­
ram mantidos em Jerusalém e mais tarde foram levados a Roma pela
rainha Helena (mãe do imperador Constantino), e depois transportados
para Tréveris (hoje Trier), na Alemanha.

Mefibosete Nome hebraico, provavelmente significa


"Aquele que luta contra a vergonha".

Mefibosete era filho de Jônatas e neto de Saul. A forma original do


seu nome era Meribe-Baal (1 Cr 8.34; 9.40), mas, quando a palavra baal
tornou-se costumeiramente associada à divindade pagã dos cananeus, ela
foi substituída pela palavra hebraica bosete, que significa “vergonha”.
Como neto do rei Saul, Mefibosete nasceu em uma situação privi­
legiada que mudou drasticamente quando os filisteus venceram Israel.
Saul, Jônatas e dois de seus irmãos foram mortos em batalha no monte
Gilboa (1 Sm 31.1-6). Quando essas notícias chegaram ao palácio israelita
em Jezreel, Mefibosete, então com 5 anos, foi levado fugitivo por sua ama.
Naquele tempo, era costume um novo rei matar todos os postulantes ao
seu trono, mesmo que fossem membros da própria família. Por isso que a
ama de Mefibosete fugiu com ele, temendo por sua própria vida.
No entanto, ao fugir, a mulher tropeçou, e derrubou também Me­
fibosete, que fraturou os dois pés ficando aleijado para sempre (2 Sm
4.4). O menino encontrou refúgio em Lo-Debar, em Gileade, na casa de
Maquir, que tempos depois, auxiliou o próprio Davi (2 Sm 9.4; 17.27).
O tio de Mefibosete, Is-Bosete (o único filho sobrevivente de Saul), se
tornou um rei sem nenhuma expressão e logo foi assassinado (2 Sm 4).
Mefibosete ficou então sem ninguém que o ajudasse além de Maquir.
Quando Davi foi estabelecido como rei de Israel, ficou sabendo da
existência de Mefibosete por Ziba, outrora influente servo no palácio de
Saul (2 Sm 9.1-13). Davi então o convidou para comparecer em sua pre­
sença. Intimidado a seguir para Jerusalém, Mefibosete ficou naturalmen­
te apreensivo, temendo que Davi fosse eliminar qualquer descendente de
Saul que fosse rival no trono. Porém, a natureza generosa de Davi logo foi
demonstrada ao restaurar a Mefibosete todas as terras que pertencera a
Saul, bem como garantir a ele um lugar permanente à mesa real.
Entretanto, anos depois quando a rebelião de Absalão aconteceu,
Ziba encontrou-se com o fugitivo Davi, suprindo-o com muitas provisões
(que eram tão necessárias naquele momento de fuga) e aproveitando a
oportunidade de maneira maliciosa disse a Davi que Mefibosete nutria
esperanças de reivindicar o reino para si mesmo. Davi, no estresse do
momento, foi iludido por essa improvável história e prometeu a Ziba
toda a propriedade que tinha dado a Mefibosete (2 Sm 16.1-4).
Quando acabou a rebelião e Davi voltou a Jerusalém, o próprio
Mefibosete veio a Davi e forneceu evidências da sua inocência, revelan­
do assim a duplicidade de Ziba. Ao ser perguntado por que não havia
acompanhado Davi, Mefibosete relatou a mentira de Ziba - Mefibosete
havia pedido que um jumento fosse selado para ele poder viajar junto
com Davi, mas Ziba propositalmente o deixou para trás.
O sincero pesar de Mefibosete foi demonstrado por sua aparência
desleixada perante o rei. Desde a fuga de Davi, ele não havia tomado ba­
nho, nem lavado as roupas e nem aparado a barba, como sinal de luto pela
rebelião de Absalão (2 Sm 19.24-30). Contudo, Davi, mesmo tendo acredita­
do em Mefibosete, não desejou perder o vínculo com Ziba e provavelmente
agradecido pelo auxílio que este lhe dera durante a sua fuga, acabou di­
vidindo a terra entre os dois (2 Sm 19.24 em diante).No entanto, a alegria
genuína de Mefibosete pela sua restauração à presença do rei foi tamanha
que a perda de parte de sua propriedade nada significou (2 Sm 19.24-30).
Mais tarde, quando sete descendentes de Saul foram assassinados
para satisfazer os gibeonitas, a vivida lembrança de Jônatas em Davi
fez com que a vida de Mefibosete fosse poupada (2 Sm 21.7). Mefibosete
teve um filho, ele chamou-se Mica (2 Sm 9.12), e tornou-se o chefe de
uma família consideravelmente numerosa em Israel (1 Cr 8.35; 9.41).
Melquisedeque Nome hebraico,
significa “Rei de justiça".

Melquisedeque é o nome de um misterioso personagem do Antigo


Testamento. Ele era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo (Gn 14.18).
Salém é a atual Jerusalém, e na época era cidade pagã dos cananeus.
Quando Abraão derrotou a coalizão dos cinco reis que haviam
capturado Ló (Gn 14.8-16), Melquisedeque veio ao seu encontro carre­
gando presentes, como pão e vinho, e abençoando a Abraão em nome de
Deus. Abraão submeteu-se a Melquisedeque, pagando o dízimo de tudo
quanto possuía.
O senso comum ensina que a pessoa que recebe o dízimo e aben­
çoe o que dá é o maior dos dois. Assim, Melquisedeque é superior a
Abraão - pois recebeu o dízimo até mesmo de Levi - representado figu-
radamente pelo patriarca (Hb 7.4-10). Isso deixa claro que o sacerdócio
da ordem de Melquisedeque é superior ao sacerdócio levítico. E Abraão
reconheceu, portanto, a posição espiritual mais elevada de Melquisede­
que como sacerdote patriarcal.
Muitas especulações têm existido sobre como Melquisedeque co­
nhecia Deus. O mais provável é que Melquisedeque conhecia o Senhor
por meio de uma tradição que se espalhou após o dilúvio ou até mesmo
devido a uma revelação pessoal e sobrenatural de Deus a ele. Ele per­
cebeu que Abraão servia ao mesmo Deus (Gn 14.22). O patriarca, por
sua vez, reconheceu Melquisedeque como sacerdote de Deus, digno de
receber seu dízimo (Gn 14.20). No entanto, embora a referência a Mel­
quisedeque como rei de Salém seja breve, aparece num contexto que o
retrata como uma figura histórica.
O termo “Deus Altíssimo”, referente ao sacerdócio de Melquisedeque
é El Elion no hebraico. El Elion não é a divindade pagã adorada pelos ca­
naneus, mas o título do único Deus verdadeiro, que criou os céus e a terra,
e isso era uma identidade diferente da religião dos cananeus (Gn 14.22; SI
7.17; 47.2; 57.2; 78.56). Com isso, Melquisedeque não era representante de
uma divindade pagã dos cananeus, mas sim representante do Deus vivo.
Abraão não só demonstrou seu apoio a esse rei-sacerdote, como
também publicamente reconheceu como uma pessoa de categoria espi­
ritual maior do que ele e recebeu seus presentes. Em contraste, Abraão
recusou um presente do rei de Sodoma no mesmo instante (Gn 14.21-
23), a fim de mostrar publicamente que não havia qualquer ligação teo­
lógica ou espiritual entre eles.
Os textos de Ras Shamra mostraram que as cidades cananeias ti­
nham sumos sacerdotes na primeira metade do segundo milênio a.C., e
que Idrimi, rei de Alalakh, ao norte da Síria, em aproximadamente 1500
a.C., era o representante pessoal de seu deus e aquele que oficializava o
santuário. Dessa forma, o relato de Gênesis não precisa ser considerado
antiquado e isolado.
Um documento encontrado em Qunrã - nos manuscritos do mar
Morto - considerava Melquisedeque um ser angelical. Nos primeiros sé­
culos da igreja cristã, era comum ele ser descrito como um anjo encar­
nado. Targuns, Jerônimo e Lutero, acreditavam que Melquisedeque era
Sem - um dos filhos de Noé - pois se imaginava que ele tivesse vivido até
o tempo de Abraão. No entanto, todas essas teorias são especulativas.
Há ainda alguns estudiosos, que têm considerado que Melquise­
deque tenha sido uma aparição de Cristo pré-encarnado no Antigo Tes­
tamento (tecnicamente chamado de teofania). Essa argumentação ba­
seia-se na referência de Hebreus 7.3, que afirma que não há registros
de seu pai ou sua mãe ou qualquer um de seus ancestrais. Revela ainda
que sua vida não teve princípio nem fim. Contudo, tal afirmação deve
ser compreendida apenas de que seu sacerdócio não tinha ligação com
nenhuma linhagem sacerdotal. O mesmo escritor aos Hebreus afirma
que Melquisedeque foi feito “sem elhante ao Filho de Deus” (Hb 7.3). Ou
seja, isso claramente indica que ele mesmo não era o Filho de Deus.
Embora Melquisedeque apareça apenas em três versículos no Gê­
nesis (Gn 14.18-20), a reputação envolvendo o seu nome deve ter causa­
do um grande impacto nas pessoas por meio da tradição oral ao longo
dos séculos.
Melquisedeque, o rei-sacerdote, é lembrado em um salmo de Davi
que exalta o seu reinado e os aspectos santos de seu domínio pelo direito
divino: “O Senhor estenderá o cetro de seu p od er sobre os teus inimigos...
O Senhor jurou e não se arrependerá: ‘Tu és sacerdote p ara sem pre, se­
gundo a ordem de M elquisedeque’” (SI 110.2-4).
O escritor da carta aos Hebreus é o único autor sagrado do Novo
Testamento que estabelece a doutrina do sacerdócio de Cristo. Ele expõe
a superioridade do sacerdócio da ordem de Melquisedeque sobre o sa­
cerdócio levítico especialmente no capítulo 7.
O sacerdócio de Melquisedeque não estava limitado a uma raça
ou uma tribo, sendo, portanto, universal. Sua realeza não foi herdada de
seus pais. E essa realeza também não foi transmitida a um descendente,
e assim ela era eterna. Portanto, Melquisedeque é uma tipologia de Cris­
to e de seu sacerdócio eterno e universal.
Enquanto os descendentes de Levi precisavam mostrar sua linha­
gem para servir no tabernáculo e, posteriormente, no templo, por um
período relativamente curto de suas vidas, Melquisedeque, mesmo sem
linhagem, tem um sacerdócio que permanece para sempre (Hb 7.3). O
escritor aos Hebreus declara que não é o Filho de Deus que se assemelha
a Melquisedeque, mas sim Melquisedeque que é semelhante ao Filho de
Deus, o qual é eterno (Hb 7.3).

Mical Nome hebraico, que significa “Quem é como Deus?'

Mical foi a filha mais nova de Saul, provavelmente com Ainoã (1


Sm 14.50). Mical veio a ser a primeira esposa de Davi.
Saul prometera que aquele que vencesse a Golias recebería sua
filha por esposa. Após a vitória de Davi sobre Golias, Merabe (a filha
mais velha de Saul), deveria ter sido dada a Davi, mas ela acabou sendo
dada a Adriel, o meolatita. Mical, no entanto, apaixonou-se por Davi (1
Sm 18.20-21).
Saul - querendo já livrar-se de Davi - não pediu o dote por Mi­
cal, mas disse que ela seria dada a Davi como esposa, se ele conseguisse
trazer os prepúcios de cem filisteus. Logicamente, para conseguir esses
prepúcios ele precisaria matar esses homens.
Sem dúvidas, Saul não acreditava que Davi conseguiría tal faça­
nha, mas para sua surpresa, Davi não matou somente cem, mas sim,
duzentos filisteus e trouxe os seus prepúcios. Como recompensa disso,
Mical tornou-se esposa de Davi.
No início, tudo seguia bem entre Davi e Mical, até que Saul tramou
mais uma vez se hvrar de Davi. Mical ficou do lado do seu esposo e de­
cidiu livrar Davi do maldoso plano de seu pai. No entanto, para não ser
morto por Saul, Davi precisou fugir.
Por algum tempo Davi precisou continuar fugindo de Saul, e nesse
tempo Mical ficou sem esposo. Provavelmente, por um sentimento de
vingança Saul deu Mical como esposa para Paltiel, da região de Galim (1
Sm 25.44; 2 Sm 3.15).
Depois que Davi se tornou rei de Israel, uma de suas primeiras
exigências foi que Mical lhe fosse devolvida como esposa (2 Sm 3.12-16).
Certamente, isso deixou Palti muito abatido e ele a seguiu à distância
“chorando até Baurim ” (2 Sm 3.16). Porém, já haviam se passado dez
anos desde que Mical havia se separado de Davi, e ela já não lhe amava
mais - provavelmente agora ela preferia o seu atual relacionamento.
Quando Davi trouxe a arca da aliança de volta para Jerusalém, ele
estava tão feliz que decidiu dançar diante de todos. Mical, entretanto,
não gostou do que viu e o recebeu com palavras deselegantes, o criti­
cando por ter dançado diante de homens e mulheres. Davi sentindo-se
ofendido pela postura de Mical, fez questão de lembrá-la que o Senhor
havia o escolhido no lugar de Saul, seu pai. Foi uma clássica briga de
fim de casamento, e a consequência disso é que Davi passou a tratar
Mical de maneira fria e repudiante - provavelmente não tendo mais
relações sexuais com ela - nesse caso, Mical, rejeitada por Davi, e tirada
da companhia de Paltiel, terminou abandonada e por causa disso “Mical
m orreu sem filh o s ” (2 Sm 6.23).
Algumas versões fazem o nome de Mical ser mencionado em 2
Samuel 21.8, como mãe de cinco filhos, mas trata-se de um erro de tra­
dução, a versão correta grafa ali o nome Merabe, irmã de Mical.

Miqueias Nome hebraico, significa "Quem é como Jeová?"

Miqueias foi o sexto dos profetas menores e autor do livro que


leva o seu nome (Mq 1.1; Jr 26.18). Viveu em Moresete-Gate (Mq 1.1,14),
uma cidade em Judá, perto da cidade filisteia de Gate, e que possivel­
mente esteve algumas vezes sob o governo de Gate. Esta cidade estava
a 30 ou 40 quilômetros a sudeste de Jerusalém. Jerônimo e Eusébio
informam-nos que ela ficava a leste de Eleuterópolis. Dessa forma, o
profeta viveu onde era capaz de observar a longa estrada por onde,
durante séculos, haviam passado os exércitos invasores, assim como
os ancestrais dos judeus e as caravanas comerciais.
Miqueias foi contemporâneo de Isaías - embora fosse mais jovem
do que ele - uma leitura cuidadosa dos respectivos livros deixa claro
que se conheciam e havia uma dependência literária entre eles (Mq 4.1-
3; Is 2.2-4,12; 4.7; 5.6; 7.18; 37.32).
Miqueias profetizou durante os reinados de Jotão (aproximada­
mente de 742-735 a.C.), Acaz (aproximadamente de 735-715 a.C.) e Eze-
quias (aproximadamente de 715-687 a.C.) - reis de Judá - e serviu tanto
ao Reino do Norte como ao Reino do Sul, e dirigiu-se tanto a Samaria
como a Jerusalém.
Ele começou seu ministério bem antes da queda de Israel diante da
Assíria em 722 a.C., possivelmente no fim do período de ministério de Amós,
por volta de 735-710 a.C. Tecoa, a cidade de Amós, ficava próxima a Morese-
te, e as profecias desse profeta tinham claramente uma forte influência no
pensamento de Miqueias. Assim como Amós, Miqueias também foi oriun­
do do interior, e utiliza imagens do campo em suas profecias, como por
exemplo, os feixes trazidos para a eira e os chacais uivando à noite.
Após a queda de Samaria - Reino do Norte - Miqueias voltou sua
atenção para Judá. Embora de maneira não tão grave como Israel, Judá
também havia permitido a propagação da iniquidade e da idolatria en­
tre a população. Por essa razão, estava sob a mesma ameaça de juízo por
parte do Senhor Deus. Miqueias os advertiu que Samaria era um exem­
plo do que poderia acontecer a eles, porém não lhe deram ouvidos. Em
uma atitude similar àquela adotada por Isaías, ele andou nu e descalço
como um escravo, lamentando e pranteando sobre os pecados de Judá.
“Por cau sa disso chorarei, e lam entarei, andando descalço e nu. Pois a
fer id a de Sam aria é incurável e chegou a Judá. Oflag elo alcançou até m es­
m o a p orta do m eu povo, até a própria Jeru sa lém ” (Mq 1.8-9).
A partir daí, Miqueias passou a concentrar sua atenção nos líderes de
Judá, nos profetas e na aristocracia (os nobres). Ele denunciou os profetas
por predizerem o que o povo lhes pagava para dizer e condenou a aristo­
cracia pela corrupção, idolatria e opressão aos pobres.
Um dos silêncios de Miqueias é que ele não dá o nome de seu pai.
Por isso, os eruditos têm concluído que ele pertencia a uma família de
condições humilde. Com isso concorda a natureza de sua mensagem,
onde, naturalmente, entre várias outras coisas, ele defende o direito dos
camponeses humilhados, que estavam sendo oprimidos pelos ricos ar­
rogantes.
Faltam evidências, no entanto, para comprovar que Miqueias era
um homem do campo, simplesmente porque residia em uma cidade do
interior da Judeia. Seu estilo não mostra que era uma pessoa rústica.
Suas rápidas transições de um tema para outro mostram apenas que
tinha um espírito disposto e contemporâneo e que possuía coragem ao
falar. Por outro lado, tem sido conjecturado, a partir de Miqueias 2.2,
que ele era um fazendeiro e que aquela propriedade que foi tomada
com violência poderia ter sido sua. No entanto, não existem evidências
que comprovem isso, e é pouco provável que isso fosse verdade.
Não se pode duvidar que Miqueias, assim como Isaías, exerceram
grande influência sobre o rei Ezequias em sua reforma na vida espiri­
tual do reino (Jr 26.18). Ele era movido por essa compaixão, a ponto de
ser um homem capaz de ter grande simpatia pelos oprimidos e sensibi­
lidade pelos sofrimentos de seus conterrâneos.
Alguns comentadores têm chamado Miqueias de o “Tiago do Anti­
go Testamento”. E isso têm sentido: Tiago, assim como Miqueias, não so­
mente tomava a defesa dos pobres explorados pelos ricos (Tg 5.1-6), mas
também fez incessantes apelos para que o povo tivesse uma autêntica
piedade, que não estivesse preso às externalidades do cerimonialismo
religioso, e sim, partisse de um coração voltado para a prática do bem
(Tg 1.19-27). Esse ataque ao cerimonialismo religioso, que prevalecia em
seus dias, pode ser visto, especialmente na seção de seu livro que apare­
ce em Miqueias 6.6-8. Miqueias era contra a injustiça social e o ritualis-
mo, prezando assim, pela verdadeira prática da religião.
No entanto, o desânimo de Miqueias quanto à liderança de Israel e
Judá não é sem esperança, pois ele antecipa o dia quando o tão esperado
descendente de Davi virá de Belém - um insignificante vilarejo naque­
les dias (Mq 5.2; Mt 2.6) - e ele seria o meio da efetuação da paz entre o
Senhor e o seu povo (Mq 5.5). Desta maneira, Miqueias faz uma ponte
de ligação entre o pessimismo compreensível de sua época e o glorioso
futuro da redenção e reconciliação por meio do Messias.
De acordo com Miqueias 1.9, ele ainda estava profetizando, em 701
a.C., quando os exércitos assírios, sob o comando de Senaqueribe (Is 36-
37), sitiaram Jerusalém. Cerca de cem anos mais tarde, Miqueias foi lem­
brado por Jeremias como um exemplo de um profeta anterior que predis­
se a destruição da cidade de Jerusalém (Jr 26.16-19).
Moisés sem dúvidas nenhuma foi uma das maiores, senão a maior,
autoridade constituída por Deus no Antigo Testamento. Ele é conhecido
por ser o grande libertador dos hebreus.
Pertencente à tribo de Levi, da família de Coate. Era filho de Anrão
com sua esposa Joquebede (Ex 6.18-20). Nasceu em cerca de 1520 a.C. Ele
nasceu em Heliópolis, no Egito.
Quando Moisés nasceu, os seus dois irmãos (Miriã e Arão) já ha­
viam nascido. Não se sabe o nome de Moisés antes dele ser achado pela
filha de Faraó. Pois, seu nome significa “aquele que foi tirado das águas”.
E, antes de ser tirado das águas, qual era o seu nome?
No primeiro capítulo do Êxodo, a Bíblia relata o crescimento ex­
pressivo que os hebreus tiveram no Egito. Eles estavam como escravos,
porém, a cada dia que passava eles aumentavam e se fortaleciam. Isso
fez com que o Faraó daquela época temesse uma possível revolta dos he­
breus. Talvez, por isso Faraó mandou as parteiras Sifrá e Puá, matarem
a todos os meninos que nascessem dos hebreus.
As parteiras temeram a Deus, e desobedeceram a ordem de Faraó.
Alegando que quando elas chegavam para fazer o parto, os meninos já
haviam nascido. Faraó então mandou que os meninos recém-nascidos
fossem jogados no rio Nilo. Porém, Deus poupou a Moisés, pois tinha um
plano na vida dele. Interessante que na própria ordem de Faraó, Deus
tomou um caminho inverso para livrar Moisés. A ordem dele era que as
crianças fossem jogadas no Nilo, e foi no Nilo que Moisés foi posto para
não ser morto pelos egípcios.
A vida de Moisés é dividida em três partes de 40 anos. Os primei­
ros 40 anos são do nascimento até o momento que ele foge do Egito por
ter matado um egípcio. Os segundos 40 anos acontecem desde a fuga
do Egito até o momento em que Deus se revela a ele no monte Sinai em
uma sarça ardente. E, os últimos 40 anos se dão desde o encontro com
a voz de Deus na sarça até o dia em que Moisés subiu o monte Nebo, de
frente para terra prometida, após ter cumprido a sua missão de levar o
povo até Canaã.

Os primeiros quarenta anos: A mãe de Moisés foi capaz de es­


conder o menino até que ele estivesse com três meses de idade, mas
então para Moisés ser salvo foi posto em um cesto de juncos com be­
tume, por sua irmã Miriã, a mando de sua mãe, no meio da vegetação
ribeirinha do rio Nilo. O cesto desceu o Nilo até chegar a um lugar onde
a filha de Faraó estava se banhando. Ao se interessar pelo cesto man­
dou que fossem apanhá-lo, que para sua surpresa estava com o menino
Moisés dentro.
De acordo com o que afirma a maioria dos historiadores, inclusive
Flávio Josefo, o Faraó daquela época era Ramsés II, e sua filha que ado­
tou a Moisés como seu filho chamava-se Termutis. Já o Faraó da época
do êxodo chamava-se Menépta - isto porque o êxodo aconteceu quando
Moisés tinha 80 anos, e aqui, Moisés era apenas um recém-nascido.
A princesa Termutis se interessou em cuidar de Moisés, mas, como
ele era um recém-nascido necessitava de leite materno para o seu cresci­
mento. A Bíblia nos diz que Miriã havia seguido todo o percurso do ces­
to, e se apresentou a Termutis, dizendo a ela que conhecia alguém que
poderia amamentar a criança. Assim foi chamada Joquebede, a própria
mãe de Moisés, para amamentá-lo até que ele fosse desmamado.
Após ser desmamado, Moisés foi introduzido na corte real e na
cultura egípcia. O historiador Flávio Josefo registrou em sua H istória
dos H ebreus que quando Moisés era ainda pequeno, Termutis apresen­
tou-o a Faraó dizendo: “Foi um presente que o Nilo me fez (porque o
Nilo era tido com o um “deus” p a ra os egípcios, fa la rem o s m ais sobre isso
adiante), recebi-o de maneira admirável, resolvi adotá-lo e ofereço-o
como sucessor, já que não tendes filho”. E, com essas palavras Termutis
colocou a Moisés nos braços de Ramsés II, que com prazer abraçou a
criança colocando-lhe o diadema na cabeça. Moisés como uma criança,
que se diverte, tirou-o e o jogou no chão, pisando-lhe em cima. Suge­
rindo, ainda que inocentemente, a missão que Deus o havia escolhido
para cumprir, tirar os hebreus do Egito, que era a “coroa” trabalhista da
escravidão para os egípcios.
Ainda na sua infância e juventude, Moisés recebeu a melhor edu­
cação possível para os egípcios. Vivia próximo a Faraó. Era tratado como
membro da família real. Isso, por certo cooperou muito para Moisés ter
aprendido de todas as principais ciências dos egípcios. No entanto, não
se sabe dizer como ele aprendeu o hebraico, mas por certo, ele mesmo
deva ter se interessado pela questão.
Nesse período Moisés foi designado para exercer funções milita­
res no Egito. Diz Josefo, que ele comandou o exército no sul. Isso lhe fez
conquistar autoridade e reputação consideráveis. Contudo, é lamentá-
vel o fato de que os hebreus ainda não estavam preparados para esta­
rem debaixo de sua liderança.

Os segundo quarenta anos: Quando Moisés tinha quarenta anos,


viu um supervisor egípcio açoitando um escravo hebreu. Em uma ex­
plosão de ira, Moisés matou o egípcio. Ele não sabia, mas, aquilo era um
sinal do seu chamado. O seu chamado era livrar os hebreus das mãos
dos egípcios. Sem ele perceber, os seus instintos e impulsos já estavam
mostrando através daquele comportamento o que ele havia sido gera­
do para fazer: livrar os hebreus das mãos dos egípcios. Nosso chamado
sempre nos dará sinais. Faz parte da nossa vida e influenciará nossas
emoções. Um simples sentimento de compaixão por alguém que precisa
ser salvo, pode ser um sinal do que Deus te gerou para fazer. Aquilo que
te indigna é um sinal do que você está designado para resolver!
Moisés, no entanto, pensou que ninguém o tinha visto. No dia se­
guinte, Moisés interveio em uma briga entre dois hebreus e ficou alar­
mado quando um deles disse incisivamente: “Quem te constituiu nosso
chefe e nosso juiz? Acaso queres matar-me como mataste ontem o egíp­
cio?” (Ex 2.14). A notícia se espalhou rapidamente e chegou ao conheci­
mento de Faraó. Diante disso, Moisés teve que fugir, pois agora até Fa­
raó queria matá-lo. Devemos ter cuidado com o nosso comportamento
na sociedade. Há sempre alguém nos vendo, mesmo sem percebermos.
Essa experiência de Moisés ensina um princípio: S e v o c ê n ã o q u e r q u e
n in g u ém s a ib a , n ã o f a ç a ! Porque se você fizer, sempre vai existir um
“hebreu” que se tornará uma testemunha.
Moisés teve que fugir para Midiã, na Península do Sinai. Chegan­
do lá, próximo a um poço, ele ajudou certas donzelas a tirarem água
para suas ovelhas, e por causa disso, elas conseguiram voltar mais cedo.
Como era característico dele, Moisés mais uma vez defendeu os menos
favorecidos, pondo em fuga alguns pastores que estavam maltratando
as sete filhas de Jetro. Chegando em casa elas contaram a seu pai (Jetro)
o que havia acontecido no poço. Jetro que era um sacerdote midianita,
convidou Moisés para trabalhar consigo, para ser pastor de suas ove­
lhas, e não muito depois disso, Jetro deu Zípora, sua filha para ser espo­
sa de Moisés. Assim Moisés, presumivelmente criado no luxo, tornou-se
um simples pastor.
Com Zípora, Moisés teve dois filhos. O primeiro foi Gérson, que
significa “estrangeiro”, dando a entender a situação migratória de Moi­
sés. O segundo chamou-se Eliezer, que significa “Deus foi minha ajuda”,
dando a entender que mesmo estando em uma terra distante, Deus ha­
via cuidado dele.
Os midianitas eram descendentes de Abraão e de sua segunda es­
posa, Quetura. Sendo assim, os midianitas eram parentes distantes dos
israelitas. E o Senhor escolheu o lugar sagrado midianita, “a m ontanha
de Deus” (Êx 3.1), conhecida como Sinai ou Horebe, para revelar a si e o
seu plano para a libertação dos hebreus.
Moisés continuou a trabalhar como pastor para seu sogro por
quarenta anos. Esses quarenta anos no deserto do Sinai cuidando das
ovelhas de Jetro fez com que Moisés se familiarizasse com a região na
qual ele conduziria Israel por outros quarenta anos. Um dia quando ele
conduzia o rebanho no monte Sinai, viu uma sarça que pegava fogo.
Esse arbusto possivelmente era uma acácia espinhenta. Moisés ficou ad­
mirado ao ver que as chamas não consumia a sarça, quando se aproxi­
mou para vê-la, a voz de Deus bradou de dentro da sarça. Deus mandou
Moisés tirar as sandálias dos pés, pois, aquele lugar era santo, seguindo
um costume antigo praticado sempre que alguém entrasse em um lugar
sagrado. Por meio daquele sinal, Deus disse a Moisés que o clamor do
povo por libertação havia chegado até Ele, e seria Moisés quem Deus iria
usar para cumprir essa missão.
A sa rça sim bolizava Isr a e l o fo g o sim bolizava a opressão dos egíp­
cios, porém a chama não consumia a sarça. Por mais que os egípcios a
cada dia oprimiam mais os hebreus, eles não podiam consumi-los. Isto
também podia tipificar futuramente a igreja, que quanto mais persegui­
da pelas chamas da oposição, mais permanecería viva, acesa, e tendo
Deus falando através dela.
Para Moisés não ter dúvidas sobre seu chamado, Deus deu a ele
dois sinais: a vara que se tornou serpente, e a mão que ficou leprosa,
ambos após aquela manifestação repentina voltavam ao estado origi­
nal. Mesmo assim, Moisés não estava convencido, e queixava-se com
Deus dizendo não ser ele um bom orador. Deus então nomeou Arão, seu
irmão, o qual falava bem, para ser seu companheiro diante de Faraó.
Moisés despediu-se do seu sogro e partiu com sua esposa, seu pri­
mogênito Gérson e o recém-nascido Eliezer. No caminho, acontece uma
complexa história. Deus quis matar Moisés, mas por interferência de
Zípora, sua esposa, Moisés foi poupado. Zípora pegou uma pedra aguda
e circuncidou, ali mesmo em pleno deserto, o seu filho (provavelmente
o recém-nascido), dando a entender que caso o menino não fosse circun-
cidado, Moisés não seria poupado (Ex 4.24-26).
Os últimos quarenta anos: Esse último período da vida de Moi­
sés começou quando ele retornou ao Egito após Deus ter falado com ele
por meio da sarça. Agora Moisés já tinha oitenta anos de idade, mas foi
então, que começou o período mais importante da sua vida. A sua tarefa
era libertar os hebreus da servidão no Egito. Essa não foi uma tarefa fá­
cil, pois a servidão fez dos hebreus um povo teimoso, em Deuteronômio
9.24, somos informados de que Moisés queixou-se de que os israelitas se
mostravam rebeldes contra Deus desde o primeiro dia.
Moisés e Arão compareceram perante Faraó e apresentaram a exi­
gência de Deus em liberar o povo (Arão foi o porta-voz) - (Ex. 3.18; 4.29-
31; 5.1,2,22). O Senhor Deus é quem estava exigindo a liberação do povo,
mas o Faraó não se sentia impressionado diante da menção do nome
do Senhor. Ele não reconhecia o Senhor e nem aceitava o pedido feito
por Moisés. O Faraó reagiu contra a iniciativa de Moisés, aumentando
os labores e trabalhos dos hebreus, que já eram escravos oprimidos. Ele
acusou os hebreus de serem preguiçosos e deu instruções para que não
mais lhes fornecessem a palha para a fabricação de tijolos; eles mes­
mos teriam agora que conseguir a palha, sem diminuir, no entanto, a
produção diária de tijolos. Com isso, as coisas estavam ficando cada vez
piores. Moisés e Arão foram acusados pelos israelitas de terem piorado
a situação, em vez de melhorá-la e Moisés, por sua vez, lançou a respon­
sabilidade disso sobre Deus (Ex 5.22).
Pela segunda vez Moisés e Arão compareceram diante de Faraó
para que os hebreus fossem libertados, mas Faraó estava com o coração
endurecido por Deus para que o povo não fosse liberado. Parece parado­
xal a ideia de que Deus queria que o povo fosse liberado, mas endurecia
o coração de Faraó para que ele não liberasse o povo. Mas, isso fazia par­
te do juízo de Deus para com Faraó e o Egito. Deus endureceu o coração
de Faraó para que ele fosse punido pela sua maldade de coração. Era
como se Deus colocasse o Faraó contra o próprio Faraó.
Outro detalhe interessante, é que a maioria dos sinais dados por
Deus a Moisés eram copiados e realizados pelos magos egípcios. No en­
tanto, sempre os sinais de Deus prevaleciam contra os sinais dos magos
egípcios, mostrando em quem habitava a verdadeira força. Seus nomes
eram Janes e Jambres (2Tm 3.8).
Depois de duas tentativas de Moisés convencer a Faraó em liberar
o povo, Deus resolveu pessoalmente ir. Porém, Deus não foi com a man­
sidão de Moisés, mas foi com o juízo da sua justiça, trazendo consigo dez
pragas sobre o Egito.
Há algumas curiosidades nas dez pregas. A primeira delas, é o fato
que as dez áreas afetadas pelas pragas representavam dez deuses do
Egito. Os egípcios eram politeístas, serviam a muitos deuses. Dentre as
centenas de deuses que eles criam estavam os dez deuses envergonha­
dos nas dez pragas:
Hápi (deus do Nilo), o rio Nilo era tido como um deus. A primeira
praga foi às águas do Nilo transformadas em sangue.
Hekt (deusa rã), a segunda praga foi o aparecimento incontável de
rãs. As rãs eram tidas como uma deusa para os egípcios, Deus fez essas
rãs aparecerem e depois morrerem, mostrando quem era o verdadeiro
Deus. Provavelmente foi uma praga da infestação das minúsculas rãs do
Nilo, que os egípcios chamam de dolfa. As pequenas rãs disseminaram-se
por toda parte durante sete dias. As rãs haviam se espalhado e enchido as
casas, os quartos de dormir, a cama, as casas dos servos e os fornos e as
amassadeiras onde se produzia pão (Ex 8.3). Talvez por uma doença ge­
ral, todas as rãs morreram em massa, seus corpos decompostos era uma
ameaça a saúde e produzia um mal cheiro muito forte por todo o Egito.
Tot (deus da magia), a terceira praga foi o surgimento aterro-
rizante de piolhos. Os magos não eram capazes de realizar qualquer
tipo de magia em virtude da presença destes pequenos seres pelo corpo.
O deus Tot foi envergonhado. Segundo a Bíblia essa praga foi iniciada
quando Arão bateu no pó da terra, que então se transformou em uma
incrível massa de piolhos. Como calcular a quantidade de pó que há na
terra? É incalculável a quantidade de piolhos nessa praga.
Ptah (deus controlador do universo), a quarta praga foi das
moscas, o deus egípcio do universo não fora capaz de deter o verdadeiro
e único Deus do universo em realizar o seu juízo. Além de tirar o sossego
dos egípcios, essas moscas podem ter sido atraídas pelo mau cheiro dos
restos das rãs e dos piolhos. Provavelmente essas moscas tiveram uma
grande importância na proliferação das bactérias que causaram infec­
ção no gado na quinta praga.
Nessa praga Faraó disse que até liberava o povo, mas apenas para
sacrificar ao Senhor, mas teria que voltar para o Egito para continua­
rem como escravos. Essas pragas estavam desestabilizando Faraó ao tal
ponto que ele pediu que Moisés orasse por ele (Ex 8.28). Deus estava
endurecendo o seu coração para que o juízo divino fosse completado.
Hator e Ápis (deus-touro e deusa-vaca), a quinta praga foi à
peste no gado, os deuses egípcios do gado não foram capazes de im­
pedirem essa praga. Por certo está em pauta aqui uma grave infecção
que veio sobre todo o gado dos egípcios. É possível que algum inseto
(acredita-se que as moscas da praga anterior) tenha espalhado a doen­
ça entre os animais.
ísis (deusa da medicina), a sexta praga foi o surgimento de doen­
ças e úlceras sobre todos os egípcios, mas a deusa da medicina não pode
fazer nada para livrá-los. Essas úlceras muito provavelmente eram cau­
sadas por picadas de insetos, que permitiam que bactérias como estrep-
tococos e estafilococus penetrassem sob a proteção da pele. A mosca
cujo nome científico é Stomoxys Calcitrans multiplica-se na matéria em
decomposição (gados da quinta praga em decomposição) e poderia ser
a principal transmissora das bactérias causadoras dessa doença. Essas
úlceras afetavam principalmente as mãos e os pés, dificultando assim
tanto a movimentação como a reação dos egípcios. Os mágicos do Egito
também foram afetados por essa praga, pelo que não tentaram duplicá-
-las com suas mágicas.
Reshpu (deus da natureza que controlava as chuvas, os ventos
e os trovões), a sétima praga foi trovões e saraiva. Trovões são tem­
pestades através de raios com eletricidade e saraivas são pedras gigan­
tescas caindo sobre a terra. O texto bíblico diz “grave chuva de pedras”
destruindo casas, plantações e cidades. O deus da natureza nada pode
fazer para impedir esses estragos. Todas as cidades dos egípcios foram
afetadas por essa praga, mas em Gósen, onde moravam os hebreus ne­
nhuma dessas pragas chegaram.
Min (deus protetor das colheitas), a oitava praga foi a dos gafa­
nhotos. Os gafanhotos destruíram toda a colheita dos egípcios, era Deus
mostrando que o deus protetor da colheita dos egípcios não tinha poder
para impedi-lo e detê-lo. A praga dos gafanhotos era uma das piores pra­
gas que existiam. O texto menciona um vento que soprou durante um
dia e uma noite, e que trouxera os gafanhotos. Durante uma invasão
de gafanhotos, os gafanhotos chegam a escurecer a luz solar com o seu
número intenso quando voam. Enquanto os adultos voam escurecendo
a luz do sol, os filhotes ficam devorando tudo o que está ao seu alcance
no solo. A sensação que essa praga provocava era como estar em casa à
noite com a luz acesa, porém, ao apagar a luz e acender de novo contem­
plar todos os móveis, alimentos e roupas destruídos. Não é nada agra­
dável. A fêmea do gafanhoto enquanto isso, deposita os seus ovos em
buracos na terra formando assim uma massa oval escondida. Esses ovos
são muito resistentes, capazes de tolerar condições naturais adversas,. O
nascimento dos filhotes depende muito da umidade, mas os ovos podem
ser postos em terrenos muito secos, que mesmo assim sobrevivem por
mais de três anos. E assim que chega a umidade, no espaço de dez dias,
os ovos são chocados, e há uma produção de gafanhotos em números
alarmantes. Quando todos pensavam que a praga já havia passado, sur­
gia um novo exército de gafanhotos destruindo tudo o que fora recons­
truído nesse curto período.
Rá (deus sol) e Hórus (deus solar). A nona praga foi o surgimen­
to de trevas. O que para os egípcios eram os deuses do sol e do sistema
solar, para Deus foi o mesmo que nada na hora de manifestar trevas
sobre o Egito. As trevas cobriram o Egito inteiro, foram totais e absolu­
tas. Um homem não podia ver a um seu semelhante que estivesse a sua
frente. Alguns intérpretes entendem que houve nisso um acontecimento
sobrenatural, talvez único até hoje, em toda a história da humanidade.
Diante disso, o Faraó resolveu que seria aceitável uma saída par­
cial do Egito, por parte dos israelitas. As pessoas poderíam ir, mas não o
seu gado (Faraó tinha interesse no gado dos hebreus, pois os gados egíp­
cios que haviam sobrevivido a quinta praga estavam muito debilitados).
Moisés rejeitou esse plano econômico do monarca, e o Faraó ficou tão
irado que disse a Moisés para partir e não voltar, sob ameaça de morte.
O Faraó disse a Moisés que nunca mais queria ver o seu rosto (Ex 10.29).
Ele não sabia, mas a praga final seria um golpe definitivo, depois do qual
não havería mais a necessidade da mediação de Moisés.
Amon-Rá (deus protetor da vida). Os egípcios tinham esse deus
como o deus que protegia suas vidas e suas famílias. Mas, ele não pode
fazer nada para impedir que o verdadeiro Deus matasse todos os primo­
gênitos do Egito. A décima praga foi à morte dos primogênitos. As cala­
midades sofridas até então tinham sido tão severas que o Egito estava
totalmente arruinado. Ao término da oitava praga, a dos gafanhotos, os
servos de Faraó lhes haviam dito: “Acaso não sabes que o Egito está to­
talmente arruinado?” (Ex 10.7). Porém, nenhuma das pragas anteriores
foi capaz de se comparar à da morte dos primogênitos dos homens e dos
animais. O anjo da morte passou por todo o Egito. Mas o povo de Israel
foi protegido mediante a instituição da páscoa com o sangue espargido
do cordeiro. Esse sangue espargido do cordeiro nos aponta para o sa­
crifício de Cristo no Calvário por nós, pois pelo sangue de Cristo, somos
guardados da morte eterna.
A morte sobreveio à meia-noite. E entre todos os primogênitos,
morreu também o primogênito de Faraó, que era o sucessor no trono.
Um grande clamor de desespero ouviu-se por todo o Egito. E, Moisés e os
hebreus não apenas tiveram permissão para sair, como também foram
obrigados a fazê-lo rapidamente. Naquela noite o Faraó mandou chamar
Moisés e Arão e lhes implorou para partirem imediatamente com o povo,
levando todos rebanhos, manadas e bens. O desespero dos egípcios foi
tão grande que eles “pagaram” os hebreus para saírem. Eles deram aos
hebreus: ouro, prata e roupas, de modo que ficaram pobres e despoja­
dos para que os hebreus saíssem rapidamente, pois eles temiam também
morrerem, assim como aconteceu aos primogênitos (Ex 12. 33-36).
Uma outra curiosidade interessante sobre as dez pragas, está liga­
da a tradição que diz que as pragas duraram do mês de julho até março.
Sendo assim, durante 8 meses o Egito foi assolado pelo juízo de Deus.
Outra curiosidade, é que a primeira praga das águas do Nilo transforma­
das em sangue, aconteceu na época das cheias do Nilo. As pragas come­
çaram no período em que o rio transbordava, isso sugere que em vez de
uma inundação de água no Egito, aconteceu uma inundação de sangue.
Isso nos ensina que Deus sabe o momento certo de revelar o seu juízo!
Ao fim das dez pragas Faraó não resistiu, liberou o povo. Os he­
breus celebraram a páscoa, e desde então, todos os anos os judeus co­
memoram a Páscoa nos sete dias festivos do Pessach, conforme pres­
crito (Ex 13.6-10), quando comem “m atzot” (bolachas de pães asmos),
recordam a pressa com que seus ancestrais partiram, pois a partida foi
tão repentina que os hebreus não tiveram tempo de fermentar o pão do
dia. No Seder, ou refeição cerimonial, ervas amargas simbolizavam a
escravidão no Egito e uma coxa assada de perna de carneiro representa
o cordeiro pascal comido naquela noite decisiva.
Os hebreus, liderados por Moisés seguiram rumo à terra de Ca-
naã. Porém, para irem em direção a Canaã eles teriam que atravessar
o mar Vermelho, obstáculo que seria até fácil de ser vencido, se todos
soubessem nadar, e não existissem mulheres e crianças. Mas, não era
essa a realidade. A Bíblia menciona que havia cerca de seiscentos mil
homens, fora mulheres e crianças (Ex 12.37). A expressão “homem”
no Antigo Testamento fala sobre: pessoa do sexo masculino maior que
vinte anos de idade. Haviam seiscentos mil homens. Ao todo entre ho­
mens, mulheres e crianças acredita-se que havia mais de 2 milhões e
meio de pessoas.
Quando Faraó viu toda essa multidão de hebreus saindo do Egi­
to, ele viu o prejuízo que teria por não ter mais aquela “mão de obra”
barata. Mais uma vez Deus endureceu o seu coração, dessa vez para
concluir o juízo sobre os egípcios, e ele junto com seu exército e suas
carruagens saiu em perseguição aos hebreus. Porém, Deus não permitiu
que os egípcios alcançassem os hebreus (Ex 14.19-20). Moisés estendeu
a mão sobre o mar e Deus soprou um forte vento oriental durante toda a
noite de modo que o mar Vermelho foi aberto para que todos os hebreus
passassem. Quando os hebreus acabaram de passar os egípcios ainda
estavam no meio do mar, liderados por Faraó que estava à frente em
sua carruagem, foi quando Moisés orou ao Senhor, e Deus fechou o mar
matando assim, tanto a Faraó como a todo o exército egípcio (Ex. 14.28).
A partir desse momento iniciou-se a peregrinação de Israel no de­
serto. Três dias após a travessia do mar Vermelho, acabou-se a água, e não
havia água no deserto. Finalmente encontraram água em Mara, mas essa
água era amarga demais para ser bebida. Moisés orientado por Deus lan­
çou um tipo de madeira de árvore nas águas e as águas milagrosamente
tornaram-se potáveis. Em seguida, os israelitas marcharam na direção de
Elim, onde havia água abundante, porquanto ah havia um oásis com 12
fontes de água e 70 palmeiras (Ex 15.27). É paradoxal a realidade de Mara
e de Elim, em Mara faltava, em Elim sobrava água. Isso é um sinal que
se perseverarmos em nossos objetivos e formos fiéis a Deus podemos até
viver hoje momentos de escassez, mas Deus nos fará alcançar Elim, aonde
há abundância de bênçãos de Deus para nossas vidas!
Trinta e um dias após os israelitas terem saído do Egito, os alimen­
tos terminaram. As murmurações intensificaram-se, porque não havia
nada para comer. Moisés clamou ao Senhor e naquela mesma noite um
número prodigioso de codornizes ajuntou-se ao redor das tendas dos
israelitas. As codornizes eram aves que a partir do mês de março migra­
vam para a Palestina, vindas do sul. Era época da primavera. As codor­
nizes voam rapidamente e são bem resistentes aos ventos. Somente um
vento em direção contrária conseguiría cansá-las facilmente, de modo
que elas desfalecessem e descessem sobre a terra. Provavelmente, foi
isso que aconteceu com os israelitas, pois as codornizes se cansaram e
começaram a descerem e caírem sobre a terra, de modo que formaram
uma camada de mais de trinta quilômetros com altura de noventa cen­
tímetros (Nm 11.31).
Na manhã seguinte começou o milagre do maná. O maná era o ali­
mento que Deus mandou para os israelitas durante os quarenta anos no de­
serto. Era de cor branca, semelhante à semente de coentro e tinha o sabor de
bolos de mel. O maná descia do céu assim como desce a chuva. Pela manhã,
logo que desaparecia o orvalho, estava o chão coberto de maná, quando os
israeütas viram isso pela primeira vez, disseram: “o que é isso?”, e Moisés
disse-lhes: “este é o pão que o Senhor lhes deu para comerdes”. O maná era
uma providência diária, quem guardasse para o outro dia não aproveitaria,
pois amanhecia estragado, com bichos e cheirando mal, a não ser na sexta-
-feira que Deus mandava uma porção dobrada para a sexta e para o sábado,
pois o sábado era guardado pelos judeus segundo a lei. À medida que cada
um podia pegar por pessoa era de dois litros de maná (um gômer). É de se
estranhar a expressão “litros” para alimentos, mas é a expressão que a Bíblia
usa, porém, dá para imaginarmos a porção que dava mediante a quantidade
que cabe em dois litros. Está era a provisão de Deus para Israel durante os
quarenta anos no deserto mediante a liderança de Moisés.
Os israelitas defrontaram-se então com uma ameaça humana, ao
serem atacados por um grupo de amalequitas, que eram violentos as­
saltantes do deserto. Mas, os hebreus ainda não estavam organizados
e treinados para lutar. Moisés então mandou chamar Josué e lhe disse
para escolher e chefiar um grupo de defensores hebreus. Moisés subiu
ao topo de uma colina junto com Arão e Hur (segundo a tradição, cunha­
do de Moisés), e de lá observaram a batalha. Enquanto Moisés mantinha
as mãos levantadas os hebreus prevaleciam, mas quando as mãos de
Moisés cansavam e abaixavam os amalequitas prevaleciam. Então, Arão
e Hur sentaram Moisés numa pedra, e colocando-se cada um de um lado
de Moisés, sustentaram-lhes as mãos até o cair da noite, quando então
os amalequitas foram vencidos e a batalha foi terminada. Ali Moisés
construiu um altar ao Senhor (Ex 17.8-16).
No entanto, grande era a responsabilidade de Moisés em cuidar
de todo aquele povo. Moisés julgava disputas, reclamações e problemas
trazidos a ele. Seria muito difícil para Moisés tratar pessoalmente de
todos os assuntos triviais, sempre com um grande número de pessoas
aguardando para serem atendidas. Jetro, sogro de Moisés, estava na­
queles dias visitando Moisés e Zípora junto ao povo. À noite Jetro deu
a Moisés um sábio conselho, para que ele delegasse poder a homens
capazes para que esses o ajudasse a cuidar de um número fixo de pes­
soas. Moisés concordou e designou “chefes de mil, chefes de 100, chefes
de 50 e chefes de 10. Eles julgavam o povo em todo o tempo. Toda causa
importante, eles a levavam a Moisés” (Ex 18.25-26). Moisés os instruiu
para fazerem “justiça entre um homem e seu irmão, ou o estrangeiro
que mora com ele. Não sereis parciais no julgamento; ouvireis de igual
modo o pequeno e o grande. A ninguém temais, porque a sentença é de
Deus” (Dt 1.16-17). Tendo recomendado esse sistema de administração,
Jetro despediu-se e voltou para sua terra.
Nesse tempo Deus revelou a Moisés a lei e os dez mandamentos.
Moisés foi convidado por Deus a subir o monte Sinai, onde a lei lhe seria
revelada (Ex. 19). Foi-lhes ordenado que se lavassem e purificassem du­
rante dois dias, e no terceiro dia, reuniram-se diante da montanha enco­
berta por uma nuvem espessa. De lá vinham trovões, relâmpagos e sons
de trombeta. “Toda montanha do Sinai fumegava, porque Deus descera
sobre ela no fogo; a sua fumaça subiu como a fumaça de uma fornalha,
e toda a montanha tremia violentamente” (Ex 19.18).
Quando Moisés desceu, passou a lei do Senhor para o povo, mas
Deus o convidou a retornar ao Sinai pela segunda vez (Ex 24.12), onde
Deus falou-lhe sobre o tabernáculo. Moisés deixou então o acampamen­
to aos cuidados de Arão e Hur e subiu até desaparecer na nuvem que
ainda cobria a montanha. Lá, permaneceu por 40 dias e 40 noites, em
comunhão com o Senhor. Ao final daquele período, Deus lhe entregou
“duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de
Deus” (Ex 31.18). Do alto da montanha, o Senhor contou a Moisés que o
“povo de dura cerviz” (Ex 32.9), havia construído e estavam adorando a
um bezerro de ouro. Oferecendo-lhe holocaustos, cantando, festejando
e dançando nus ao seu redor.
Quando Moisés desceu desse segundo período de quarenta dias,
e viu esse bezerro de ouro, ele ficou muito irado, e quebrou as tábuas
da lei, simbolizando a aliança rompida. Pulverizou a imagem de ouro
e misturou o pó em água, e fez o povo beber a mistura. Era necessária
uma limpeza drástica, Moisés reuniu em torno de si os homens da tribo
sacerdotal de Levi e lhes ordenou que matassem a espada um grande
número de idólatras, ao todo uns três mil entre eles.
É paradoxal o que estava acontecendo ao mesmo tempo no Sinai.
No cume do monte Deus estava dando a lei para o povo dizendo “não
terás outros deuses” e “não farás para si imagem esculpida”; lá embai­
xo na planície do Sinai, o povo já estava quebrando esses mandamen­
tos através de uma imagem do bezerro de ouro feita por eles para a
adoração. Os princípios que Deus estava estabelecendo, eles já estavam
quebrando. Isso revelava quão distante o coração e os desejos do povo
estavam dos planos e desejos de Deus.
Os idólatras argumentaram que construíram o bezerro de ouro
para adorarem, porque pensavam que Moisés havia morrido no monte,
e então queriam adorar a um “deus”. Esse comportamento do povo, no
entanto, revela que as raízes da idolatria estavam dentro deles há muito
tempo. Pois se a “intenção” deles era adorar a Deus, porque eles espera-
ram ter a sensação da ausência de Moisés para fazerem essa imagem?
Isso levanta uma questão: Na verdade quem eles tinham como Deus era
Moisés. Eles não serviam ao Senhor Jeová. Eles conheciam as manifesta­
ções de Deus por meio de um homem, mas eles ainda não haviam se iden­
tificado com o próprio Deus. A prova disso é que os milagres eles viam
acontecer pelas mãos de Moisés. Pelas mãos de Moisés as águas do Nilo
tornaram-se em sangue, o cajado virou serpente, as águas do mar Verme­
lho se abriram, as águas de Mara ficaram potáveis, a rocha havia gerado
água, etc. Eles se “acostumaram” com um Moisés “milagreiro”, e quando
acharam que Moisés havia morrido construíram o bezerro de ouro. Eles
deveríam entender que caso Moisés estivesse morto, Deus continuava
vivo, e se Deus estava vivo para que ser construído um bezerro de ouro?
O deus do coração deles havia se tornado Moisés. Deus matou essa gera­
ção inteira, e só poupou os que criam e confiavam de fato no Senhor e em
sua palavra: Josué e Calebe. Tenhamos o cuidado de não termos nenhum
homem como Deus. Por mais milagres que alguém possa fazer, ele sem­
pre será homem, e Deus sempre será Deus. Se considerarmos um homem
como Deus, levantaremos de novo um bezerro de ouro nos nossos dias.
O mais grave é que atribuíram a essa estátua o mérito do povo ter
saído do Egito. Mas, na verdade, Israel estava voltando espiritualmente
para o Egito, visto que o culto ao boi era tão importante naqueles dias
entre os egípcios. Aliás, esse foi o causador de inúmeros problemas en­
tre os hebreus: Os hebreus haviam saído do Egito, mas o Egito ainda não
havia saído de dentro deles!
Após a segunda permanência no monte, Moisés desceu com seu
rosto resplandecente, como se dele saíssem raios (Ex 34. 29-35). Os intér­
pretes têm duas idéias sobre a questão. A primeira é que o véu protegia
as pessoas, a fim de que não contemplassem essa visão tão gloriosa, por
não serem capazes de suportá-la. A outra ideia é que o véu impedia as
pessoas de verem a glória celeste que elas não mereciam contemplar,
nem mesmo estando preparadas para tal experiência. Gradualmente,
porém, esse brilho foi-se dissipando. Paulo, em 2 Coríntios 3.13, faz alu­
são a essa experiência. Essa glória no rosto de Moisés segundo Paulo
desde o início já estava destinada a desaparecer, e o próprio Moisés sa­
bia disso. Diante disso, Paulo sugere que Moisés usou o véu não para
proteger o povo, mas para não deixarem as pessoas perceberem que
essa glória era desvanecente e estava desaparecendo.
Nem bem o povo tinha deixado o Sinai, murmuraram, dizendo
estarem enfadados do maná. Eles tinham o pão do céu, mas queriam
carne. Deus ficou muito irado com a ingratidão do povo. Grande núme­
ro de codornizes foi enviado para atender o pedido do povo, mas, então,
sobreveio uma praga para castigá-los. Muitos morreram e foram sepul­
tados no local. O lugar passou a ser chamado Quibrote-Taavá: “Sepulcro
dos D esejos” (Nm 11.34).
Em outra ocasião, aborrecidos com um desvio particularmen­
te cansativo em torno da terra de Edom, os hebreus murmuraram tão
rudemente que Deus castigou-os com uma praga de cobras fatalmen­
te venenosas. Quando Moisés interveio, o Senhor diminuiu a sua ira e
indicou uma cura: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma
haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá” (Nm 21.8).
No entanto, em 2 Reis 18.4, a imagem ainda estava no templo em Jeru­
salém até o oitavo século a.C., quando o rei Ezequias mandou destruí-la
porque o povo estava cometendo pecados oferecendo sacrifícios a ela. É
um grande erro quando tentamos manter em outras gerações coisas que
Deus estabeleceu apenas para um tempo. O símbolo da cura no deserto
havia se tornado símbolo de idolatria para o templo.
Em Cades, mais uma vez os israelitas murmuraram com Moisés,
devido à falta de água. A Moisés e Arão foi dada a ordem para que fa­
lassem a uma rocha, da qual brotaria água pela sua palavra. Mas, irado
com o povo, Moisés bateu na rocha com a vara por duas vezes, descon­
tando na rocha a ira que a desobediência do povo havia lhe causado. É
verdade que a água jorrou na rocha, mas, Moisés acabava de cometer
um erro gravíssimo. Em uma ocasião anterior, Moisés havia ferido uma
rocha e obtido água (Ex 17.2), e agora, no episódio das águas de Meribá,
ele imitou aquele mesmo ato, ferindo a rocha, quando Deus havia ape­
nas mandado ele falar a racha (Nm 20.7-11). Como castigo, Moisés não
teve permissão para entrar na terra prometida.
Por causa das diversas murmurações do povo, Deus decidiu não
dá a aquela geração a terra prometida, deixando-os por quarenta anos
peregrinando no deserto, para que toda aquela geração morresse, e aos
filhos deles foi dado então, a alegria de conquistarem a terra.
A morte de Moisés é narrada no último capítulo de Deuteronômio.
Ao chegar perto da morte, aos 120 anos de idade, Moisés implorou que
Deus cedesse e o deixasse entrar em Canaã. Mas o líder que tantas vezes
intercedera para salvar o seu povo não teve êxito em defender a sua
própria causa. O Senhor foi firme em seu decreto: “Não me fales mais a
este respeito! Sobe ao topo do Pisga, levanta teus olhos para o ocidente,
para o norte, para o sul e para o oriente, e contempla com os teus olhos,
pois não vais atravessar o Jordão” (Dt 3.26-27).
Há aqui um ponto para a nossa reflexão: Moisés fez tudo por esse
povo, e esse povo não fez nada por ele. Moisés quando feriu a rocha em
Meribá, não feriu porque estava irado com Deus; feriu porque estava
irado com o povo. Quando Deus decidiu matar o povo, Moisés entrou
na frente e defendeu o povo, intercedendo por eles. Mas, quando Deus
decidiu matar Moisés o povo nada fez para defender e interceder por
aquele que havia cuidado deles durante tantos anos. Até aonde vale a
pena se sacrificar pelo povo? Qual o limite da autodoação ao povo? O
que vale a pena sacrificar pelo povo? Infelizmente muitos sacrificam
bens irreparáveis, inclusive a família, a saúde e o tempo em medidas in­
calculáveis de doação que acabam lhe custando à vida. Enquanto que se
essa doação fosse mais equilibrada, poder-se-ia ser mais bem aproveita­
da a oportunidade de viver e conquistar coisas a tanto tempo esperadas.
Antes que Moisés contemplasse sua visão tentadora de Canaã, fez
três longas exortações aos israelitas, lembrando as quatro décadas de
dificuldades e triunfos no deserto desde que deixaram o Egito e repetiu
os teores básicos da lei transmitida a eles no monte Sinai.
Finalmente Moisés subiu desde as planícies de Moabe até o monte
Nebo, ao cume do Pisga, que ficava defronte de Jerico. Ali ele foi capaz
de contemplar, em um lance de olhos, a terra prometida, onde não teve
permissão de entrar. O fim de Moisés é anunciado com simplicidade. Ele
era um servo de Deus, morreu, e Deus o sepultou em um vale, na terra
de Moabe, defronte de Baal-Peor, embora ninguém saiba dizer onde. Em
Judas no versículo nove, a Bíblia fala sobre o arcanjo Miguel, conten­
dendo com o Diabo, a respeito do corpo de Moisés, pois ninguém, nem
mesmo o Diabo, sabe aonde Deus enterrou o corpo de Moisés.
Mesmo com cento e vinte anos de idade quando morreu, sua vi­
são era como a visão de um jovem, e ele não havia perdido suas forças
(Dt 34.7). O fato de Moisés morrer com visão de jovem e cheio de forças
pode nos sugerir que Deus havia preparado ele para viver mais. Ele es­
tava com saúde para conquistar Canaã, mas a sua desobediência o fez
morrer sem vivenciar o cumprimento da conquista daquela terra. Que
Deus nos ajude a vivermos uma vida de obediência e fidelidade, para
não perdermos nada daquilo que Deus preparou para nós!
Naamã Nome hebraico, significa "Agradável

Naamã foi um comandante do exército do rei da Síria, em Damas­


co, nos tempos de Jorão, Rei de Israel (2 Reis 5.1). Segundo Flávio Josefo,
o rei da Síria daquela época era Ben-Hadade II. A Bíblia nos conta que
ele era um homem muito respeitado, pois Deus o havia feito ser um per­
sonagem importantíssimo em uma vitória do exército sírio.
A Bíblia diz que: “Naamã era chefe do exército do rei da Síria,
grande homem diante do seu senhor e de muito conceito, porque por
ele o Senhor dera vitória à Síria; era ele herói da guerra, porém leproso”.
A lepra era uma doença incurável, a medicina naquela época ainda não
havia desenvolvido nenhum meio de cura. A lepra era como um imposto
pesado sobre o valor de Naamã.
A natureza precisa da lepra de Naamã é desconhecida, pois o termo
hebraico “sara 'at” é usado para vários tipos de doença de pele (Lv 13-14).
Na Síria o leproso não era afastado do convívio social, como em Israel. Os
judeus só afastavam os leprosos do convívio social porque era uma orde­
nança divina para eles, dada através de Moisés (Lv 13.46). Os sírios não
tinham Jeová como Deus, o deus dos sírios era Rimom. E isso agravava
mais ainda a situação, pois o leproso vivia junto da família, dando assim a
possibilidade para que a doença se espalhasse por toda a sua casa.
No entanto, uma menina de Israel foi levada como escrava para a
Síria, e começou a servir na casa de Naamã. A menina sugeriu que Naamã
visitasse o profeta Eliseu em Samaria. Naamã pediu uma carta de auto­
rização ao rei da Síria e foi a Samaria a procura de Eliseu, pois a menina
havia dito: “Oxalá que o meu senhor estivesse diante do profeta que está
em Samaria, ele o restauraria da sua lepra”.
A carta dizia: “Junto com esta carta estou lhe enviando meu oficial
Naamã, para que o cures da lepra” (2Rs 5.6). Quando Naamã chegou com
a carta do seu rei para o rei Jorão, este ficou preocupado e acreditou que
se tratava de uma provocação de guerra, pois a lepra era uma doença
incurável e comentou: “Acaso sou Deus, com poder de tirar a vida ou dá-
-la, para que este envie a mim um homem para eu curá-lo de sua lepra?”
(2Rs 5.7). No entanto, quando Eliseu ficou sabendo do acontecido, disse
ao rei que Naamã fosse enviado até ele, “e ele saberá que há profeta em
Israel” (2Rs 5.8). Naamã foi procurar Eliseu esperando um ritual de cura
bastante elaborado. Mas Eliseu nem mesmo foi recebê-lo, nem muito
menos o convidou para entrar. Ele enviou um mensageiro para dizer a
Naamã que fosse e se lavasse sete vezes no rio Jordão. Naamã irritou-se
com esse tratamento seco e falou com desdém que os rios de Damasco
eram muito mais limpos para se lavar. Mas é que aqui é dada uma outra
lição ao mundo: quando Deus intervém, é ele quem dita as regras. O
primeiro passo da transformação consiste na obediência.
O comportamento de Naamã chega a ser sarcástico. Ele nega-se a
mergulhar nas águas do Jordão porque eram águas barrentas. Mas a le­
pra dele era mais impura que as barrentas águas do Jordão. Isso parece
nos sugerir que o maior problema de Naamã não era a sua lepra, mas sim
o seu orgulho pessoal. O orgulho de revelar para sua comitiva quem ele
era de verdade: um leproso. Para mergulhar no Jordão era preciso tirar
todas as vestes do exército sírio, mostrando assim a pele leprosa. Por de­
trás das patentes de herói, existia a lepra de um homem que estava per­
dendo a oportunidade da cura por causa do seu orgulho. O orgulho é uma
doença na alma que destrói a sensibilidade da pessoa aos poucos. O orgu­
lho só tem um propósito: isolar a pessoa dos demais, fazendo-a sentir-se
superior aos outros. Mas, na verdade o propósito do orgulho não é apenas
isolar a pessoa, mas sim, afastá-la de perto das pessoas que possam ajudá-
-la a entender a sua realidade para que seja üvre das consequências que o
orgulho proporciona na mente humana. Era melhor se humilhar e descer
ao Jordão, do que morrer leproso por causa do orgulho. Não deixe que o
seu orgulho te impeça de receber o seu milagre!
Nesse momento, um dos que estavam na comitiva de Naamã per­
guntou a ele “se caso Eliseu lhe tivesse pedido uma coisa difícil, o senhor
não faria?” (2Rs 5.13). Muito mais fácil então seria mergulhar sete vezes
nas águas do Jordão e ser curado de todo aquele mal que tanto lhe asso­
lava. Interessante que a Bíblia não revela a função, nem mesmo o nome
desse moço que aconselhou a Naamã, mas foi por causa dele que Naamã
não voltou leproso para sua casa. Que tragédia seria para Naamã não ou­
vi-lo. Muitas vezes Deus coloca pessoas ao nosso lado para nos ajudar, e
essas pessoas talvez não tenham nenhuma “expressão”, mas é através de
pessoas simples e discretas que Deus pode nos livrar de grandes tragédias.
Naamã mergulhou nas barrentas águas do Jordão por nada menos
que sete vezes. Ao sair da água pela sexta vez, continuava leproso. Porém
ao sair da água pela sétima vez “sua carne se tornou como a carne de
uma criança e ele ficou limpo” (2Rs 5.14). O milagre não atingiu apenas a
pele, mas restaurou principalmente a carne. Ensinando-nos com isso que
Deus vai além da superficialidade. A atitude de Naamã após a cura é lou­
vável, o que demonstra que ele havia conseguido vencer o seu orgulho,
se humilhando e reconhecendo que independente da posição, era um ser
humano como qualquer outro.
Naamã retornou a Eüseu e reconheceu que os deuses sírios eram fal­
sos, e que não há outro Deus senão Jeová. O rei da Síria tinha dado a Naamã
350 quilos de prata, 72 quilos de ouro e dez mudas de roupa como paga­
mento pela cura. Naamã tentou dar os presentes para Eüseu, mas ele re­
cusou terminantemente a aceitá-los. Eüseu rejeitou qualquer benefício em
troca da cura, pois tinha a consciência de que quem havia feito o müagre
era Deus. Naamã então, de forma louvável declarou: “Nunca mais ofere­
cerei holocausto nem sacrifícios a outros deuses, senão ao SENHOR”. Todo
müagre tem um propósito. Deus nunca fará um müagre por acaso. Através
da sua cura, Naamã passou a servir ao Senhor. Todo esse relato mostra-nos
como a providência de Deus pode operar das maneiras mais surpreenden­
tes. A menina israeüta escravizada foi o primeiro elo dentro dessa sequên­
cia de acontecimentos providenciais. Na verdade, essa história nos ensina
como Deus ama usar pessoas simples e desconhecidas (a menina escrava
israeüta (verso 2) e o próprio servo de Naamã(verso 13).
Naamã também pediu perdão por antecipação, pois quando retor­
nasse a Síria, teria que ir com o seu rei ao templo do deus Rimom, porque
seu rei o obrigaria a isso, embora ele tivesse aceitado Jeová como seu úni­
co Deus. Vivendo em uma sociedade pagã dificümente Naamã consegui­
ría fugir de atos externos do paganismo, como por exemplo, levar o seu
rei diante desse deus e se curvar diante dele, mas seu coração não estaria
dedicado a tal culto. Eüseu lhe respondeu para ir em paz e consentiu que
ele continuasse a exercer os seus deveres seculares, mesmo que assim
fazendo, se prestasse a participar de um ato de culto pagão.
Naamã foi embora com a benção de Eüseu, levando duas mulas car­
regadas com a terra de Israel (2Rs 5.17-19). Nos primórdios da história
humana, as pessoas acreditavam que o poder dos deuses estava ligado a
seus próprios países. Naamã quis levar solo israeüta para a Síria a fim de
adorar e oferecer sacrifícios a Jeová lá em solo israeüta.
Quando Naamã já estava bem distante, Geazi, o servo de Eüseu, o
alcançou e disse que Eüseu tinha mudado de ideia. Ele disse a Naamã
que dois jovens profetas tinham acabado de chegar em missão, e que
Eüseu queria que ele lhe desse um talento de prata e duas mudas de
roupas. Naamã insistiu para Geazi ficasse com dois talentos e as roupas.
Geazi aceitou a oferta e foi embora. Quando voltou, Eüseu perguntou
onde tinha ido, e ele mentiu dizendo que não tinha ido a lugar nenhum.
Eliseu disse a Geazi que havia o acompanhado em espírito através do
seu coração e que o viu enganando Naamã. Como punição a lepra de
Naamã passaria para Geazi e toda a sua descendência e Geazi ficou ime­
diatamente leproso (2Rs 5.20-27).
Infelizmente a Bíblia não nos da nenhuma outra informação mais
sobre Naamã, mas por certo ele compartilhou a sua nova fé entre seus
conhecidos e liderados na região da Síria. No Novo Testamento quando
a família e os vizinhos de Jesus o rejeitaram em Nazaré, ele citou a his­
tória de Naamã, dizendo que Deus fora rejeitado pelos judeus, mas que
foi aceito por Naamã, um não israelita, a qual foi o único do seu tempo a
ser curado de lepra (Lc 4.27).

Naum Nome hebraico, significa "Consolação".

Naum foi um profeta no Reino do Sul e o sétimo dos profetas me­


nores do Antigo Testamento, embora o sexto em ordem cronológica. Ele
era de Elcós. Não se sabe ao certo a localização desse lugarejo. A grande
maioria dos eruditos acredita que Elcós fica próximo a Jerusalém. Jerô-
nimo, no entanto, reconta uma antiga tradição judaica identificando-a
como uma vila na Galiléia chamada Elcesai. Há ainda os que identificam
Elcós com Cafarnaum, que significa “A Vila de Naum”, embora não haja
nenhuma ligação do profeta com esta cidade.
Ele profetizou depois da deportação das dez tribos do Norte, já no
fim do reinado de Ezequias (na 1.11-13; 2.1,14). A análise da linguagem
de Naum, junto com a interpretação de diversas referências, indica que
seu livro foi escrito depois da queda de Tebas, em 663 a.C. (Na 3.8 em
diante) e antes da queda do império assírio diante dos neobabilônicos,
em 612 a.C.
Naum não discorre sobre o bem-estar religioso e moral de seu pró­
prio povo, como fizera os outros profetas. Ele se limitou apenas a pro­
fetizar contra Nínive, a capital do odiado império assírio que dominava
o Oriente Próximo em seu tempo. Naum a chamou de “cidade sangui­
nária, toda cheia de mentira, repleta de despojos” (Na 3.1), e prediz sua
eminente destruição em uma das mais vividas e poderosas passagens do
Antigo Testamento. Com isso, Naum estava garantindo ao povo do Reino
do Sul que eles logo se veriam livres do império assírio. No entanto, o
livro também deixa um alerta para o povo de Judá de que se eles não
fossem fiéis a Deus, a destruição também poderia alcançá-los. E de fato
os alcançou em 586 a.C. com Nabucodonosor.
A Bíblia não relata se a mensagem de Naum chegou até aos nini-
vitas, embora provavelmente isso não tenha acontecido. Ao que parece,
sua mensagem era apenas para conscientizar o povo de Judá de que
Deus estava ciente de tudo o que havia acontecido e em breve julgaria e
destruiría os assírios.
Há uma semelhança entre o ministério de Naum e o ministério
do profeta Jonas: ambos receberam uma mensagem acerca de Nínive.
A diferença entre eles, no entanto, é que o povo dessa cidade se arre­
pendeu na época do primeiro profeta (Jn 3.5-10), mas não houve chance
para arrependimento nos dias de Naum, pois o livro termina com uma
nota sombria de que a condição de Nínive desta vez era irremediável e
sem esperança (Na 3.18-19). De fato, em 612 a.C., Nínive foi destruída
e o império assírio nunca mais se levantou. O Senhor escarneceu dos
assírios, dizendo que eles terminariam tal como Tebas, a capital egípcia,
derrotada e escravizada. Ironicamente, foram justamente os assírios
que haviam derrubado Tebas.
Entre os fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto encontrados
nas cavernas de Qumran, encontraram partes de um comentário sobre
Naum.

Neemias Nome hebraico, significa "O Senhor consola

Neemias foi o governador de Judá - governando em Jerusalém -


após o exílio na Babilônia. Ele era filho de Hecalias (Ne 1.1) e irmão de
Hanani (Ne 1.2; 7.2).
Na Babilônia, ele alcançou a alta posição de copeiro pessoal do rei per­
sa, Artaxerxes I (465-424 a.C.), bem depois de os persas vencerem a Babilônia
e libertarem os judeus. Essa era uma profissão de extrema confiança. So­
mente Neemias levava o vinho que era destinado ao rei, e tinha que prová-lo
antes do rei beber, para garantir o seu não-envenenamento. Essa posição
próxima ao monarca, lhe garantia estar com o rei diariamente e falar com
ele livremente quando precisasse (Ne 2.1-10).
Como resultado de seu relacionamento com Artaxerxes, Neemias
tornou-se o instrumento em prol da reconstrução dos muros de Jerusalém
e da reforma civil e religiosa, no período pós-exílio em Judá.
A convicção da necessidade de reconstruir os muros de Jerusalém co­
meçou logo após seu irmão Hanani visitá-lo na fortaleza de Susã - palácio
onde Neemias morava. Neemias ali lhe perguntou sobre como estavam os
judeus que haviam retornado para Jerusalém. Soube então que as pessoas
estavam em extrema miséria e os muros da cidade se encontravam em ruí­
nas. Depois de orar, se humilhar e jejuar perante o Senhor, aproximou-se
do rei e pediu permissão para reconstruir a muralha de Jerusalém. A per­
missão foi concedida e o rei lhe deu o título persa de tirshatha, “governa­
dor”, que era sua autorização para agir.
Neemias foi enviado com uma escolta de cavalarias e munido de
cartas, da parte do rei, endereçadas a diversos governantes das provín­
cias pelas quais ele deveria de passar. A viagem era de mais de 1.600 qui­
lômetros através de montanhas, rios e desertos. Neemias prometeu ao rei
que voltaria, assim que toda a sua tarefa fosse terminada (Ne 1.1 - 2.10).
Neemias chegou a Jerusalém por volta de 445 a.C. Ao chegar ali,
Neemias não se apresentou de imediato às autoridades judaicas, mas,
descansou por três dias e saiu à noite com alguns poucos homens para
uma inspeção secreta, percorrendo as portas danificadas da cidade e as
ruínas das muralhas que haviam sido derrubados por Nabucodonosor
(Ne 2.11-16). Só após essa inspeção ele revelou o propósito de sua missão
aos líderes judeus e propôs o inicio do andamento imediato das obras.
Nessa época, o sacerdote Esdras já estava em Jerusalém, onde havia che­
gado cerca de 13 anos antes.
Ele enfrentou muita oposição no trabalho de reconstrução dos mu­
ros de Jerusalém. A resistência surgiu das nações vizinhas que viviam ao
redor. Sambalate de Samaria, Tobias de Amon e Gesém da Arábia foram os
principais opositores do trabalho de Neemias. Eles zombaram de Neemias
e do seu projeto. Também levantaram uma calúnia política de que Neemias
havia se rebelado contra Artaxerxes (Ne 2.10,19-20), com o intuito de fazê-
-lo cair em descrédito. Eles escarneciam dos “pobres judeus” que trabalha­
vam na reconstrução das muralhas a tal ponto de afirmar que a construção
era tão ruim que “se uma raposa subir aí, derrubará sua m uralha de pedras”
(Ne 4.2-3). Neemias, no entanto, resistiu às tentativas deles para desanimá-
-los por meio da oração e do trabalho cada vez mais árduo (Ne 4.4-6).
Depois que os ataques verbais falharam, Sambalate e Tobias ex­
perimentaram usar a força (Ne 4.8). Diante disso, Neemias orou e pre­
parou seus trabalhadores para se defenderem em uma possível guer­
ra. Os operários preveniram-se contra qualquer ataque inesperado, e
trabalhavam, tendo em uma das mãos uma espada e a ferramenta de
trabalho na outra mão (Ne 4.17).
Logo após, mais uma vez Sambalate se opôs a Neemias. Juntamente
com Gesém e outros inimigos, eles tentaram tirá-lo de Jerusalém (Ne 6.2),
mas este se recusou a sair. Gesém então, o acusou de traição (Ne 6.6), mas
Neemias mais uma vez resistiu a tal acusação (Ne 6.8).
O livro menciona também que Noadia e outros profetas tentaram
intimidar Neemias, o qual, entretanto, superou todas as suas tentativas
(Ne 6.14). Existiam ainda alguns habitantes de Judá - que fingiam apoiar
Neemias - mas pelas costas relatavam todas as suas palavras a Tobias.
No entanto, como resultado de sua persistência, Neemias concluiu a
obra depois de 52 dias de trabalho (Ne 6.15 - 7.3), no mesmo ano de 445
a.C., e 75 anos depois que o segundo templo havia sido reconstruído.
Jerusalém estava novamente segura contra os povos inimigos!
No entanto, o legado de Neemias não se consistiu apenas em re­
construir as muralhas de Jerusalém, mas devotou-se também às refor­
mas religiosas de Judá. Com a assistência do escriba Esdras, Neemias
renovou o compromisso da comunidade pós-exüica para com o Senhor.
Enquanto os muros estavam sendo reconstruídos, Neemias de­
terminou leis que deram estabilidade à terrível situação econômica da
província e, com o conselho de Esdras, decretou uma legislação que au­
mentou em muito o padrão moral da comunidade judaica daquele tem­
po. A fim de aumentar a pequena população da cidade, ele ordenou que
cada um a cada dez judeus em Judá fosse viver em Jerusalém. Com isso,
ele estava cooperando para que a reconstrução não fosse apenas dos
muros, mas fosse também das pessoas. Neemias não queria um lugar
reconstruído com pessoas destruídas!
As reformas aconteceram em várias áreas da sociedade: repreen­
deu os casamentos mistos que estavam manchando a pureza racial; re­
vitalizou os serviços do templo; melhorou o apoio aos sacerdotes e res­
tabeleceu a observância do sábado; providenciou para que todos fossem
ensinados na lei de Moisés e supervisionou a leitura da lei durante a
festa dos tabernáculos (Ne 8 a 10).
Em cerca de 433 a.C., Neemias voltou a Pérsia, onde permaneceu
por cerca de um ano (Ne 13.6). Neemias pediu nova licença para voltar a
Jerusalém (Ne 13.6-7), onde permaneceu até o fim de sua vida como go­
vernador. Durante sua ausência, os padrões da observância religiosa dos
judeus declinaram e os abusos morais e religiosos foram se introduzindo.
Quando retornou à Jerusalém, em 432 a.C., descobriu que Tobias, seu an­
tigo adversário amonita, havia alcançado o favor do sumo sacerdote Elia-
sibe e morava no templo, na qual nenhum gentio tinha permissão nem
para entrar. Tobias estava morando numa sala do templo anteriormente
usada para guardar os alimentos dos sacrifícios, o incenso e alguns uten­
sílios. Neemias então o expulsou da província e ordenou que a mobília de
Tobias fosse posta para fora e que o aposento fosse restituído à sua devida
função.
Após isso, Neemias foi informado que muitos judeus tinham se casado
novamente com mulheres estrangeiras , preparando assim o cenário para
uma futura apostasia (Ne 13.23-27). Em resposta a isso, Neemias repreendeu
severamente os infratores. Para dar o exemplo, expulsou da cidade Joiada, o
filho do sumo sacerdote, por ter desposado a filha de Sambalate, o governa­
dor de Samaria e opositor de Neemias.
Originalmente, ele foi nomeado para um período definido que
começou no 21° ano de Artaxerxes I (445 a.C.). Entretanto, esse limite
foi sem dúvidas ampliado devido às constantes necessidades de Jerusa­
lém. A menção de Dário, o persa no livro de Neemias (Ne 12.22) sugere
que ele continuou ainda durante algum tempo como um líder ativo em
Jerusalém. Embora alguns estudiosos tenham ampliado o governo de
Neemias até 405 a.C., uma carta de aramaico, chamado de “O Papiro
de Elephantine” - um confiável documento arqueológico do Egito - se
refere à Bagoas como governador de Jerusalém em 407 a.C. Portanto, o
período de legislação de Neemias como governador de Jerusalém deve
ter durado no máximo 35 anos.
Através de todas as reformas realizadas, Neemias mostrou ser
muito mais do que um líder político, ele era uma referência da santi­
dade em meio ao povo. Neemias havia entendido que a reconstrução
dos muros de Jerusalém precisava ser acompanhada de uma reforma
no estilo de vida das pessoas. Desta maneira, ele nos lembra que a ver­
dadeira devoção ao Senhor alcança não apenas o âmbito exterior, mas
principalmente o coração e a mente das pessoas.
Embora Neemias e Esdras fossem amigos e companheiros de trabalho,
Esdras era o homem das idéias e pensamentos, e Neemias, o homem da ação.
A combinação de seus esforços deixou uma marca indestrutível na história
dos judeus, cuja intensidade é sentida ainda hoje. Acredita-se que os livros de
Neemias e Esdras eram originalmente um único livro, contando a história de
toda essa conquista do povo judeu.

Nicodemos Nome grego, significa “Conquistador do povo".

Nicodemos só é mencionado na Bíblia no Evangelho escrito por


João. Nada se sabe sobre sua família ou antecedentes. Ele era um judeu
fariseu e membro do Sinédrio, o conselho de setenta anciãos que dirigia
o Judaísmo. Seu nome era grego, mas naquela época isso era bastante
comum entre os judeus, mesmo entre os fariseus fiéis.
Ele foi descrito também como “o” (este artigo está presente na ver­
são grega) mestre de Israel. Isto não quer dizer que Nicodemos fosse um
mestre superior a todos os outros mestres, mas simplesmente que era um
mestre bem conhecido e muito respeitado, e que tinha lugar reservado
no Sinédrio. Nicodemos, como assim se supõe devia realmente conhecer
muito bem o Antigo Testamento. Como mestre de Israel tinha a respon­
sabilidade da instrução do povo de Deus. Obviamente, ele também era
um homem muito influente. Como Nicodemos não foi chamado apenas
de “dirigente dos judeus”, mas também “mestre”, isso indicava sua alta
posição em instrução (Jo 3.10).
Aparentemente, Nicodemos foi um homem muito rico, pois as cem
libras de mirra e aloés - aproximadamente 34 quilos - que ele usou no
sepultamento de Jesus teriam custado uma quantia enorme de dinheiro
(Jo 19.39).
Ao contrário da maioria dos membros do Sinédrio, Nicodemos era
mais flexível e estava disposto a ouvir os ensinamentos de Jesus e ana­
lisá-los com uma mente mais aberta e sem preconceitos. Era perigoso
para um homem em sua posição reconhecer a atração que sentia pe­
los ensinamentos de Jesus. O sumo sacerdote Caifás via em Jesus uma
oposição perigosa e também uma ameaça à estabilidade de seu poder
sacerdotal. Uma vez que Caifás presidia o Sinédrio, era muito arriscado
fazer-lhe oposição.
Nicodemos procurou Jesus durante a noite - uma opção bem mais
segura do que ser visto conversando com ele em público durante o dia
- ele reconheceu que Jesus era um “mestre” que ensinava da parte de
Deus (Jo 3.2). Jesus lhe ensinou a doutrina do novo nascimento (Jo 3.1-
10). Essas palavras confrontavam a crença judaica de que o nascimento
físico era o mais importante - o fato de ser da descendência de Abraão.
No entanto, à medida que a conversa é relatada, Nicodemos exemplifica
com perfeição a cegueira farisaica diante dos ensinos de Jesus. Jesus lhe
disse que somente quando o homem nascesse de novo poderia ver o
reino de Deus. Nicodemos, sendo um fariseu típico levou ao pé da letra
e perguntou como um homem poderia entrar no ventre de sua mãe e
nascer novamente. Jesus deixou transparecer sua frustração pelo fato
de que um mestre e guia de tal envergadura não conseguia entender o
ensino que lhe estava sendo dado. Nicodemos, que veio procurar Jesus
na calada da noite, havia vindo também em trevas no entendimento. Na
resposta de Jesus está aquele que provavelmente é um dos versículos
mais clássicos da Bíblia: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu único filho, para que todo aquele que nele crer, não pere­
ça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Em outra ocasião quando Jesus tentou visitar Jerusalém, duran­
te as festas do tabernáculo, Nicodemos defendeu Jesus contra os chefes
dos sacerdotes e fariseus que queriam prendê-lo (Jo 7.50 em diante). Já
por ocasião do enterro de Jesus, Nicodemos apresentou-se abertamente,
diante de todos, levando especiarias para ungir o corpo de Jesus e ajudar
no sepultamento (Jo 19. 39-42).
Aparentemente, Nicodemos ficou muito atraído por aquilo que
Jesus tinha a dizer, embora em nenhuma passagem dos evangelhos se
afirme que ele se tornou um discípulo. No entanto, ele pode ter sido
um discípulo em secreto. Alguns eruditos sugerem que Nicodemos te­
nha sido um dos líderes judeus que creram em Jesus, mas não o con­
fessou pubücamente, temendo ser expulso da sinagoga (Jo 12.42). Por
outro lado, há uma tradição cristã que diz que Nicodemos foi batizado
por Pedro e João, sofreu muitas provações nas mãos de judeus hostis, foi
privado de suas funções no Sinédrio e expulso de Jerusalém por causa
de sua fé em Cristo. Em fim, não há como precisarmos com segurança
quais foram os acontecimentos que se sucederam em sua vida.
Os registros históricos falam de um influente rabino, chamado Ni­
codemos Ben Gurion, que viveu em Jerusalém na época da destruição
do templo, em 70 d.C. muitos comentaristas o identificam como o Nico-
demos que se encontrou com Jesus. Embora seja possível, essa identifi­
cação é pouco provável. Para Nicodemos Ben Gurion ter tido idade para
ser considerado “dirigente dos judeus” na época de Jesus, seria necessá­
rio que ele tivesse noventa anos ou mais quando o templo foi destruído.

Noé Nome hebraico, significa "Consolo ou Descanso".

Noé foi um dos mais brilhantes homens do Antigo Testamento,


nasceu quando seu pai Lameque tinha 182 anos de idade, é neto de
Matusalém e é o décimo descendente linear de Adão. É interessante
observar que, de acordo com as genealogias, Noé foi a primeira pessoa
a nascer depois da morte de Adão, mesmo fazendo parte da décima
geração após Adão, que viveu 930 anos. A razão desse nome afirma-se
nas palavras de Lameque que disse “Ele nos confortará (no h ebraico:
nahan, a m esm a raiz de Noé, no h ebraico: noah) do nosso trabalho e do
sofrimento de nossas mãos, causados pela terra que o Senhor amaldi­
çoou” (Gn 5.29). Isso revela por qual razão Lameque deu esse nome ao
seu filho. Deus havia amaldiçoado o solo, mas agora havia nascido al­
guém que faria os homens descansarem de sua labuta. Alguns também
sugerem que Lameque simplesmente queria alguém para ajudá-lo no
plantio. Outros pensam que Noé estava destinado a inventar instru­
mentos agrícolas, que aliviaria o labor envolvido na agricultura.
Noé desempenhou dois papéis importantes na história da hu­
manidade. Primeiro, ele é diretamente o segundo pai da humanidade,
porque todos os outros descendentes de Adão foram mortos no grande
dilúvio que cobriu a terra mais de 1.600 anos depois da criação. Nesse
papel, ele serve como elo entre as narrativas incompletas das primei­
ras gerações da humanidade e as biografias mais detalhadas dos pa­
triarcas de Israel que são apresentadas nos livros do Gênesis. Segundo,
ele é o descobridor da vinicultura, ou da plantação de uvas, e a primei­
ra pessoa conhecida a produzir vinho.
Nos dias de Noé a maldade no coração dos homens estava em
nível avançado a ponto de Deus se arrepender de ter feito o homem
(Gn 6. 6-7). Foi um tempo de apostasia universal, de completa indife-
rença religiosa, em que até os filhos de Deus haviam tomado para si,
mulheres dos filhos dos homens, por causa da sua formosura (6. 2).
Era um tempo também em que a terra estava totalmente corrompida
diante de Deus e cheia de iniquidade. Um tempo em que a imaginação
e a aplicação dos pensamentos humanos eram todas voltadas para a
prática do mal. Mediante isso, Deus decidiu destruir por completo a
vida na terra, tanto de homens como animais. Porém, em meio a toda
essa corrupção moral, a Bíblia diz que Noé achou graça aos olhos do
Senhor (v.8). J. Alec. Motyer, diz que a tradução “N oé achou g r a ç a ” é
exata, mas o verdadeiro significado é expresso na ordem inversa: “a
g ra ça achou N oé”, em uma situação de juízo total, o Senhor agiu com
uma livre manifestação de graça imerecida sobre ele.
Noé tinha três características principais (v.9). No caráter, era jus­
to. Entre as pessoas do seu tempo, era integro. E na sua vida espiritual,
tinha comunhão e andava com Deus. Entretanto, uma característica é
destacada de maneira particular: a obediência detalhada e imediata à
palavra do Senhor - ao receber a ordem para construir a arca (v. 14-
16): “assim fez segundo tudo o que Deus lhe mandou” (v. 22). Noé não
entrou na arca enquanto o Senhor não lhe mandou (7. 1), nem saiu
dela enquanto o Senhor lhe determinou (8. 15-16), embora soubesse
que o dilúvio já havia acabado.
Há os que acreditam que o dilúvio foi a primeira vez que choveu
na terra, antes o que havia era apenas orvalho. E, devido a isso o ar­
co-íris nunca havia aparecido, e Deus usou isso como um memorial da
sua aliança com o homem. Acredita-se que o dilúvio ocorreu por volta
de 2400 a.C. É nos revelado que Noé tinha 500 anos de idade quando o
seu primeiro filho nasceu (Gn 5.32 - 6. 10), e então, o dilúvio ocorreu
cerca de 100 anos após isso. No entanto, Noé já sabia sobre este julga­
mento , 120 anos antes da sua ocorrência (lPe 3.20).
Deus ordenou que Noé construísse uma arca, dando-lhes instru­
ções específicas de como proceder. Foi feita de madeira resinosa (ci­
preste), com 135 metros de comprimento, 22,5 metros de largura e 13,5
metros de altura, projetada para ter mais estabilidade de flutuação do
que capacidade de navegação. Seus filhos Sem, Cam e Jafé lhe ajuda­
ram na preparação da arca. Noé pregou a todo aquele povo que se
eles cressem em Deus e se arrependesse dos seus maus caminhos, Deus
teria misericórdia deles, e os livraria da destruição através da arca.
Mas nenhum deles creram, senão os da família de Noé. Isso apontava
para Cristo, pois somente em Cristo o homem estará salvo do castigo
de Deus que virá sobre o mundo. Outro detalhe interessante sobre a
vida e a pregação de Noé, está no fato que ele não conseguiu salvar a
todos, mas pelo menos a sua família ele salvou. Talvez você não con­
siga ganhar os de fora, mas lute, para que pelo menos os da sua casa
você consiga salvar!
Sob as ordens de Deus, Noé encheu a arca com pares de cada tipo
de animal - sete pares de cada tipo de ave e animal ritualmente puro e
um par de cada animal impuro. A influência pós-mosaica fica evidente
nesses termos, porque as leis sobre animais puros e impuros foram
entregues apenas depois da saída do Egito. De acordo com alguns estu­
diosos, os seres humanos eram vegetarianos no período do dilúvio (Gn
9.3). Talvez esse fosse um dos fatores que cooperavam para os seres
humanos viverem tanto. Noé tinha seiscentos anos, quando o dilúvio
veio sobre a terra. Depois de entrarem na arca, ainda se passaram sete
dias até que o dilúvio começou (Gn 7. 10).
A Bíblia diz que “se romperam todas as fontes do grande abis­
mo (lençóis freáticos, e toda água que há no subterrâneo) e as janelas
do céu se abriram ”. (7. 11). Crateras imensas abriram na terra, com
a pressão da água que se rompeu do subterrâneo, do céu veio chu­
va como nunca antes existira nem depois veio a existir; isso durante
quarenta dias e quarenta noites, até que “todos os altos montes que
haviam sobre a terra foram cobertos, e quinze côvados (6 metros e 75
centímetros) esteve as águas acima dos mais altos montes” (7. 19-20).
A arca então flutuou com toda sua carga, enquanto toda a vida sobre a
terra era destruída.
As águas do dilúvio ainda ficaram sobre a terra por cento e cin­
quenta dias. E para onde foi toda essa água? Para o lugar de onde ela
veio! Uma parte evaporou, e outra parte voltou de novo para o abismo
e foram soterrados todos os restos mortais dos animais e seres que
morreram no dilúvio. Essas coisas com certeza cooperaram para a for­
mação de petróleo, que vem da decomposição de restos de animais e
seres vivos no interior da terra, soterrados nas camadas subterrâneas,
que estão mortos a milhares de anos.
Depois de cento e cinquenta dias as águas começaram a baixar.
Primeiro Noé soltou um corvo, este não voltou, pois se distraiu com os
restos mortais. Depois soltou uma pomba, esta foi e voltou trazendo
um ramo de oliveira, como sinal de que a terra já estava voltando a
aparecer. Da terceira vez, a pomba não voltou mais, significando que a
terra já estava seca e a vida animal já poderia recomeçar. Então a arca
se atracou em cima do monte Ararate, onde atualmente fica a Turquia.
As chuvas começaram no décimo sétimo dia, do segundo mês do
ano seiscentos de Noé. No décimo sétimo dia do sétimo mês daquele
ano a arca pousou sobre o monte Ararate. Os picos dos montes torna-
ram-se visíveis no primeiro dia do décimo mês. O solo secou no primei­
ro dia do primeiro mês do ano seiscentos e um de Noé, e Noé deixou a
arca no segundo mês, no vigésimo sétimo dia.
Quando Noé saiu da arca, levantou com sua família um altar ao
Senhor, revelando o propósito de Deus em ter as famílias juntas ao
altar. Deus fez um pacto com o homem, que nunca mais destruiría a
terra com água, e como prova disso Deus estabeleceu o arco-íris, que
ele chama de “o m eu a r c o ’’ (Gn 9.13). Todas as vezes que chovesse não
mais haveria um dilúvio, pois Deus através do seu arco se lem braria da
sua aliança com o homem. O sentido da palavra arco aqui, é o de arma
(o arco como ferramenta de guerra), é como se Deus dissesse: “Vejam,
acabou a guerra, vou pendurar meu arco”. Dali em diante sempre que
houvesse uma ameaça, Noé veria o sinal de que nenhuma ameaça atin­
giría novamente a humanidade, pois Deus assim prometera.
Noé viveu ao todo 950 anos e pouco se sabe acerca dos trezentos
e cinquenta anos que Noé viveu após o dilúvio. Mas, entendemos que a
vida continuou em sua normalidade, até que Noé decidiu plantar uma
vinha e dessa vinha se embebedou, pois por certo ainda não conhecia a
força do suco fermentado da uva. Estando bêbado se despiu, e estando
nu, foi visto por seu filho Cam que em vez de cobri-lo, contou para as
pessoas que seu pai estava bêbado e nu. Quando Sem e Jafé souberam
que o pai estava nu,entraram na tenda de costas, trazendo uma capa,
com a qual cobriram Noé, com os rostos voltados para não vê-lo. Esse
acontecimento foi decisivo não apenas para os filhos de Noé, mas tam­
bém para toda a raça humana. Noé amaldiçoou a Cam e aos seus des­
cendentes e abençoou a Sem, Jafé e todos os seus descendentes.
Dos filhos de Noé vieram os povos e as nações da terra:
Cam: Os descendentes de Cam se estabeleceram na Arábia Me­
ridional, em um território denominado Canaã (nome de um filho de
Cam) e na África. Na tradição islâmica, Cam é considerado o ancestral
dos coptas do Egito, dos berberes do norte da África.
Sem: Os descendentes de Sem povoaram as regiões asiáticas,
desde as praias do Mediterrâneo até o oceano Índico, ocupando a
m aior parte do território entre Jafé e Cam. Foi dentre eles que Deus
escolheu o seu povo, cuja história constitui o tema central das sagra­
das escrituras.
Jafé: Os descendentes de Jafé, que migraram para o norte, se es­
tabeleceram nas terras costeiras dos mares Negro e Cáspio, foram os
progenitores dos medos, dos gregos e das raças brancas da Europa e
da Ásia.
A maldição de Noé sobre Cam dizia que “Maldito seja Canaã (des­
cendência de Cam), servo dos servos seja entre seus irmãos”. A maldi­
ção de Noé dizia que a descendência de Cam iria ser servo, escravos,
subjugados pela descendência de Sem e Jafé. Essa profecia se cumpre
durante muitos séculos. Até o dia de hoje, a descendência de Cam (Os
árabes da parte meridional e os africanos) são subjugados por outros
povos. Isso nos lembra o cuidado que os pais devem ter sobre as pala­
vras liberadas sobre a vida de seus filhos.
Obadias Nome hebraico, significa "Servo do Senhor".

Obadias foi o quarto dos profetas menores. Também é o mais bre­


ve deles, com apenas 21 versículos. Ele nada fala sobre sua família, sua
residência ou onde escreveu este livro.
Obadias tem um detalhe em comum com outros dois profetas -
Jonas e Naum - o fato de proferir sua mensagem para um povo que
não era nem Israel e nem Judá, mas exclusivamente para uma nação
estrangeira: os edomitas. Neste caso, Obadias fala sobre um julgamento
vindouro sobre Edom (Ob 1.6,8-10,18-19,21).
Os judeus daquela época consideravam os vizinhos edomitas como
parentes hostis. Esse difícil relacionamento remonta ao antagonismo
entre Jacó e Esaú, os ancestrais bíblicos das duas nações. Ao longo dos
séculos, os edomitas que habitavam a região árida ao sul do mar Mor­
to sempre tiveram intrigas com Israel. Os edomitas se opuseram obsti­
nadamente aos israelitas quando se aproximaram da terra prometida
junto com Moisés. Mais tarde, Davi conquistou Edom, e seu implacável
comandante Joabe foi enviado para matar todos os homens de Edom,
massacrando 18 mil homens e estabelecendo uma guarnição em todo
o território deles. Este massacre enfraqueceu de tal forma os edomitas
que um século e meio se passou antes que conseguissem reunir forças
suficientes para se livrar do jugo israelita, por volta do ano 845 a.C.
Entretanto, nenhuma data específica é definida com precisão para
o ministério de Obadias. A época em que Obadias viveu, parece estar li­
gada a uma terrível desgraça que aconteceu na cidade de Jerusalém, e os
edomitas alegremente se orgulharam do fato de que eles, por causa de
sua localização geográfica, ficaram imunes a esta tragédia (Ob 1.11-14).
As invasões significativas que Jerusalém sofreu no Antigo Testa­
mento foram: Por Sisaque, rei do Egito, durante o reinado de Roboão por
volta de 925 a.C. (lRs 14.25-26); Pelos filisteus e árabes quando Jeorão
era rei por volta de 848-841 a.C. (2Cr 21.16-17; 2Rs 8.20); Pelo rei Joás de
Israel enquanto Amazias governava em Jerusalém por volta de 790 a.C.
(2Rs 14.13-14); Pelos edomitas que atacaram Judá durante o reinado de
Acaz por volta de 720 a.C. (2Cr 28.17); E principalmente por Nabucodo-
nosor, que não só invadiu Judá, mas também reduziu Jerusalém e o seu
templo a ruínas durante os anos de 605 a 586 a.C. (2Rs 24).
A maioria dos estudiosos apontam para a época de Nabucodonor,
como a época que Obadias desenvolveu o seu ministério. E é bem prová­
vel que esta seja mesmo a data em que ele viveu. Alguns outros profetas
da época do exílio babilônico também fizeram denúncias contra Edom
(Jr 49.7-22; Ez 25.12-14; Ez 35). Sendo assim, Obadias aparentava estar
em concordância com esses profetas.
Uma forte evidência que fortalece essa ideia é o fato de os edomitas
terem se unido a Nabucodonosor para destruírem a cidade de Jerusalém
em 587 a.C. O salmista declara: “Lembra-te, ó Senhor, do que fizeram os
filh os de Edom no dia da queda de Jerusalém . Diziam: Arrasai-a, arrasai-a
até os seus alicerces” (SI 137.7). Jeremias - por causa dessa aliança entre
os edomitas e Nabucodonosor-profetizou a ruína de Edom quando disse:
“Regozija-te e alegra-te ó filh a de Edom, que habitas na terra de Uz. M as sai­
b a que o cálice (do juízo) tam bém chegará para ti... Ele punirá a sua m alda­
de, e exporá os teus pecados” (Lm 4.21-22). Toda essa sentença veio sobre
os edomitas no século 5o a.C., quando eles caíram sob o poder dos árabes,
e no século seguinte, os nabateus, conquistaram a região e fizeram de Pe-
tra (Sela) a sua capital. A profecia de Obadias e Jeremias estava cumprida!

Oseias Nome hebraico, significa ‘'Salvação".

Oseias é o primeiro e um dos mais importantes dos doze “profetas


menores”. Ele foi o único profeta que morou em Israel, o Reino do Nor­
te, e que também escreveu seu próprio livro - Elias, Eliseu e Miqueias
aparecem nos registros bíblicos, mas eles não deixaram nenhum livro
próprio.
Oseias era filho de Beeri (Am 1.1). Foi contemporâneo mais jovem
de Amós, iniciou seu ministério profético antes de 753 a.C., quando Je-
roboão II morreu. Há os que presumem que Oseias profetizou durante
os 12 ou 13 últimos anos do reinado de Jeroboão II e que chegou a ver a
queda de Samaria, no ano 722 a.C., sendo assim o seu ministério pode
ter se estendido por mais de 40 anos. Ninguém sabe qual era a real ocu­
pação de Oseias, mas visto que há uma referência ao “padeiro” e ao ato
de sovar “a massa” em Oseias 7.4, alguns pensam que essa era a sua ati-
vidade. Não se sabe muita coisa sobre sua vida, os três primeiros capítu­
los do seu livro nos dão a única informação biográfica que temos sobre
ele. Os onze capítulos restantes contêm uma série de discursos escritos
talvez depois da morte de Jeroboão.
Oseias profetizou durante um tempo em que a maior parte dos
profetas de Israel era tão bajuladora e desregrada que Amós - que era
seu contemporâneo - tinha vergonha até mesmo de ser chamado profe­
ta quando deixou Judá e foi profetizar para o Reino do Norte. O profeta
Oseias apareceu em cena para advertir sobre a ameaça externa da As­
síria. Predisse também que a nação mergulharia na anarquia e decla­
rou que todos esses problemas iminentes eram resultado da traição que
Israel fez da sua aliança com o Senhor. Ele comparou a relação entre
Deus e Israel a um casamento em que Israel havia tomado a riqueza do
marido e utilizado para se prostituir diante de Baal. Ele disse também
que Israel era como um filho ingrato que havia gasto os presentes de seu
pai com farras e prostitutas. Essa figura de linguagem lembra a história
do filho pródigo contada por Lucas (Lc 15.11-32). Assim como Lucas es­
creveu a história do filho pródigo, Oseias escreve a história da esposa
pródiga. Sua vida pessoal com uma mulher adúltera e crianças bastar­
das estavam diante de Israel como uma ilustração do pecado do povo.
Os três primeiros capítulos do seu livro contam sua vida pessoal e
familiar, o que era no mínimo, pouco comum. Para simbolizar e encenar
o adultério espiritual do povo, Deus ordenou que Oseias tomasse uma mu­
lher da casa de prostituição para ser sua esposa, e com ela teria filhos de
uma prostituta (Os 1.2). Ele se casou com Gômer, filha de Diblaim, que era
uma prostituta conhecida da cidade, ou provavelmente uma prostituta sa­
grada do culto idólatra da deusa da fertilidade, Astarote. Ela lhe deu dois fi­
lhos e uma filha, e o texto nos dá a entender que apenas o primeiro filho era
dele. Os versículos 4, 5 e 8 mostram que os três filhos de Gômer nasceram
no decurso de cinco ou seis anos, pois o terceiro filho só foi gerado depois
que o segundo desmamou, período que levava de dois a três anos.
Era costume da época nomear uma criança de acordo com as
circunstâncias de seu nascimento, e Oseias seguiu esse costume ao dar
nome aos filhos. Ao primeiro, um menino, ele chamou Jezreel, que signi­
fica “Deus semeia”, para lembrar a Israel os pecados do rei Jeú, que mas­
sacrou o povo de Jezreel. O agente ativo dessa “semeadura” é o próprio
Senhor, mas fica implícita a semeadura iníqua de Israel. Jezreel, nome
de uma localidade de Israel, foi onde se deu o massacre sanguinário
de Jeú da casa de Acabe, em cerca de 841 a.C. Isso por sua vez, nos faz
lembrar do julgamento de Deus contra os ímpios, mostrando-nos qual
é a colheita temível feita daquele que está pagando por seus pecados.
Mas todo o Israel, simbolizado como a casa de Jeú, deveria sofrer seu
merecido julgamento. A matança da casa de Acabe foi ordenada pelo
Senhor (2Rs 9.6-10). Portanto, pode parecer uma contradição a casa de
Jeú ser punida por esse motivo. Mas, também é verdade que a matança
ultrapassou o que havia sido ordenado por Deus, o que tornou Jeú cul­
pado de crimes de sangue. Ele também matou Jorão (2Rs 9.24), Acazias,
rei de Judá (2Rs 9.27-28), e 42 parentes de Acazias (2Rs 10.12-14), além
de tantos outros. Portanto, Jeú foi um homem sanguinário e não podia
mesmo escapar, independente do bem que tinha feito. Desse modo, o Se­
nhor colocaria fim a Israel - Reino do Norte - a quem Jeú representava,
devido às muitas infrações que o povo de Israel tinha praticado contra
a lei dada a Moisés.
A segunda era uma filha, ele chamou Lo-Ruama, que significa
“não amada”, porque Deus não mais demonstraria seu amor por Israel.
E o terceiro, ele chamou Lo-Ammi, que significa “não-meu-povo”, por­
que Deus não mais considerava o povo de Israel como seu escolhido. No
entanto, Oseias profetizou que a punição de Deus poderia ser revogada
caso Israel se voltasse para ele: “Tratarei com amor aquela que chame
não-amada. Direi àquele chamado não-meu-povo: Você é meu povo, e
ele dirá: Tu és meu Deus” (Os 2.23).
Aparentemente Oseias divorciou-se de Gômer (Os 2.2; 19-20). Algum
tempo depois Deus mandou Oseias casar-se novamente, aparentemente
com a mesma mulher. Ela já estava sobre outro domínio (Os 3.1) e ele teve
que comprá-la para ser sua novamente por quinze ciclos de prata e uma
medida de cevada (Os 3.2). Sem dúvida, essa foi uma espécie de redenção.
Um sentido do versículo é claro: Custou muito ao Senhor libertar Israel.
Seu amor, entretanto, cobriu o preço da redenção. A mensagem de fundo
de Oseias é o amor redentor. Embora Deus possa vir abandonar os que o
abandonam, ele estará disposto a perdoar os pecadores, mesmo que seu
pecado tenha sido o de deixá-lo.
Durante séculos estes capítulos tem sido o tema de muita discus­
são. As várias opiniões podem basicamente, ser divididas em duas par­
tes: alegórica e literal.
A opinião alegórica tem sido defendida por alguns intérpretes ju­
deus e cristãos. Ela sustenta que todas as passagens relacionadas ao ca­
samento e a vida familiar de Oseias, tais como a ordem para tomar uma
mulher de prostituições, devem ser entendidas simbolicamente.
A opinião literal parece ser a mais considerável. De acordo com
essa opinião os capítulos 1 e 3 devem ser tomados juntos e se referirem à
mesma esposa. Assim, Oseias casou-se com uma mulher chamada Gômer
e ela teve três filhos. Gômer provou a sua infidelidade e deixou seu mari­
do; mais tarde, Oseias a comprou de seu amante e a trouxe de volta nova­
mente. Esta opinião, apesar de muitas dificuldades óbvias, é a de muitos
exegetas. Certos detalhes do ocorrido, como por exemplo, a quantia gasta
por Oseias para recuperar sua esposa (Os 3.2), não se encaixa em uma
interpretação alegórica. Seja qual for à opinião correta, os desaponta­
mentos pessoais de Oseias certamente contribuíram para a sua delicada
mensagem profética. Em Oseias, a experiência humana se tornou o canal
da revelação divina.
O ministério de Oseias seguiu-se imediatamente após o de Amós,
um profeta que veio avisar ao externamente próspero, mas internamen­
te corrupto reino do norte do desastre iminente. Em Amós está retrata­
da a justiça inigualável de Deus, enquanto que em Oseias está demons­
trado o amor infalível de Deus. Quando Oseias proferira seus últimos
oráculos, o desastre estava próximo e provavelmente ele viu ou soube
do cumprimento de suas profecias. Em tempo relativamente curto, Za­
carias e três de seus quatro sucessores como reis de Israel foram assas­
sinados. Quando Oseias completou os seus avisos de catástrofe, Israel
ainda mantinha uma independência precária. Mas aproximadamente
em 722 a.C., os assírios capturaram a capital do reino do norte - Samaria
- após um cerco de três anos. E o reino do norte nunca mais existiría.
Paulo Nome Romano, significa: “Pequeno".

Paulo, o “apóstolo dos gentios”, foi sem dúvidas um dos maiores


missionários e plantadores de igrejas de todos os tempos. Além de ter sido
o primeiro grande teólogo cristão e o responsável pela configuração que
temos do cristianismo desde os tempos apostólicos. 13 das epístolas do
Novo Testamento são de sua autoria. O cristianismo que conhecemos hoje
é, antes de tudo, um produto do desenvolvimento que Paulo fez com base
nos ensinamentos de Cristo. Se dependesse de Pedro e de alguns outros
apóstolos o cristianismo teria permanecido apenas entre os judeus. Pau­
lo, no entanto, inspirado e direcionado por Deus decidiu romper essas
barreiras religiosas e raciais, a fim de que os gentios também fossem al­
cançados.
O próprio testemunho de Paulo, certamente aponta para o que ele
foi: Um judeu circuncidado da tribo de Benjamim, que falava a língua
aramaica em sua casa, herdeiro da tradição do farisaísmo, estrito ob­
servador das exigências da Torá, e mais avançado no judaísmo do que
seus contemporâneos era o primeiro e o mais proeminentes entre os
judeus (Fp 3.5-6; G11.14). Estas qualidades estavam tão enraizadas em
sua alma, que até mesmo quase no final de sua vida, ele falaria com um
honesto apreço daquela herança. Mais de 20 anos depois de sua conver­
são cristã, ele dizia: “Eu sou fariseu, e filho de fariseu!” (At 23.6). Mes­
mo depois desta afirmação, ele declarou: “Sirvo ao Deus de nossos pais,
crendo tudo quando está escrito na lei e nos profetas” (At 24.14).
Contudo, Paulo foi um judeu nascido aproximadamente no ano 10
d.C. na cidade grega de Tarso, na Cilícia, onde hoje é a Turquia. Na verda­
de, o nome de Paulo era Saulo (At 13.9), mas ele só usou o nome Paulo de­
pois de se converter ao cristianismo. Saulo, era o nome hebraico; Paulos,
era o nome grego; Paulus, o nome latino e Paulo, o nome romano. Seus
pais lhe deram o nome hebreu Saulo, em homenagem ao rei Saul, que
assim como eles era da tribo de Benjamim.
Quando criança viveu no meio da cultura grega, um lugar de edu­
cação e comércio. William Mitchell Ramsay definiu Tarso como “a cidade
cujas instituições reuniam o que havia de melhor e mais completo do cará­
ter oriental e ocidental”. Em suma, Tarso era considerado um lugar comple­
to. A tradição e as diversas informações implícitas em suas cartas indicam
que ele era de uma família rica e respeitada.
A maioria dos judeus que vivia em cidades fora da Palestina era
helenizada, falava grego e se sentia totalmente à vontade com a cultura
grega. No entanto, embora muitos tivessem permitido que a cultura e
as religiões gregas corrompessem as tradições judaicas, a maioria havia
permanecido fiel à lei e a fé judaica.
Paulo era fluente em grego, hebraico e aramaico e, provavelmen­
te, também em latim.
Além destes aspectos da sua vida, Paulo também era um cidadão
romano (At 16.37-39; 22.25-28). E esta era uma posse premiada, porque
não era algo fácil de ser conseguido. Raramente uma pessoa não nascida
em Roma recebia a cidadania. A maioria dos que moravam na própria
Roma não era composta por cidadãos. Cerca de um a dois terços da po­
pulação do império romano era da classe de escravos e, portanto, sem
cidadania. Geralmente esse era um privilégio da aristocracia e das clas­
ses mais altas.
Paulo aparentemente herdou a sua cidadania do seu pai. O pai de
Paulo deve ter recebido sua cidadania por ter prestado algum serviço
relevante ao governo romano. Paulo reconhecia o valor de ambas as ci­
dadanias, a de Tarso (At 21.39) e a romana (At 22.25-28). É interessante
notar a diferença dessas cidadanias na reação do capitão romano Cláudio
Lísias. A cidadania de Tarso apenas havia estabelecido o fato dele não ser
um egípcio (At 21.38); a segunda lhe deu uma imunidade aos açoites.
Alguns dos privilégios contidos nesta cidadania eram: (1) a garan­
tia do julgamento perante César, se exigido, nos casos de execução (At
25.11); (2) imunidade legal dos açoites antes da condenação (ao contrá­
rio do caso do Senhor Jesus - Mt 27.24-26); e (3) imunidade em relação
à crucificação, que era a pior forma de pena de morte executada pelos
romanos no caso de condenação. Um exemplo disso está nas execuções
de Paulo e Pedro. Ambos morreram diante da mesma perseguição (a
perseguição de Nero), mas a cidadania romana de Paulo deu a ele uma
morte menos dolorosa - a decapitação. Enquanto que a morte de Pedro
foi mais cruel por não ter a cidadania romana - Pedro morreu crucifica­
do de cabeça para baixo.
Aparentemente, durante a juventude de Paulo, sua família se
mudou para Jerusalém. Enquanto o lugar do nascimento de Paulo era
Tarso, sua criação, tanto em casa como na escola, parece ter sido em Je­
rusalém (At 22.3). Essa possibilidade se sustenta com muitas evidências
vindas da literatura antiga, Van Unnik se arrisca a dizer que essa mu­
dança ocorreu bem cedo na vida de Paulo. Acredita-se que Paulo tenha
formalmente começado seus estudos rabínicos entre 13 e 15 anos de ida­
de. Provavelmente, em Jerusalém também moravam os únicos parentes
de Paulo que a Bíblia menciona: uma irmã de Paulo e seu filho, que era
sobrinho do apóstolo. Isso só se sabe porque seu sobrinho ficou sabendo
de uma conspiração contra Paulo e foi contar ao tio (At 23.16). Não exis­
te nenhuma outra referência a irmão e ao sobrinho.
As raízes farisaicas o levaram a estudar com um dos mais respei­
tados doutores da lei da época, Gamaliel, que era o ancião conhecido na
tradição como o neto do grande Hilel, o proeminente mestre judeu do
primeiro século antes de Cristo e fundador de uma escola farisaica cujo
ensino abrangia os textos talmúdicos até sua época. Sobre sua formação,
Paulo disse: “Progredia no judaísmo mais do que muitos compatriotas
da minha idade, distinguindo-me no zelo pelas tradições paternas” (G1
1.14). Ao mesmo tempo, Paulo aprendeu o ofício de fazer tendas para
sustentar-se em seus estudos.
Enquanto Paulo estudava a lei judaica em Jerusalém, Jesus tra­
balha como carpinteiro em Nazaré. Provavelmente Paulo estava em Je­
rusalém no período final da vida de Jesus. Embora não haja qualquer
indicação de que Paulo chegou a conhecer Jesus durante o ministério
terreno do filho de Deus.
Paulo (ainda conhecido como Saulo) aparece pela primeira vez no
Novo Testamento como uma testemunha favorável à execução de Es­
tevão, o primeiro mártir cristão. Estevão foi levado perante o Sinédrio
por ser acusado de falar contra os judeus e a lei, e argumentar que Jesus
“destruiría o tem plo e m odificaria os costum es que M oisés havia trans­
m itido” (At 6.13-14). Saulo pensava que tudo aquilo que era tão querido
para ele - a lei, o templo e as tradições de seu povo - pareceríam se fosse
permitido a uma “seita” como a de Estevão sobreviver. Além disso, os
cristãos proclamava como Messias o homem que tinha sido pregado em
uma cruz, enquanto que as escrituras ensinavam que “o que for sus­
penso em um madeiro é maldito de Deus” (Dt 21.23). Interessante que o
próprio Paulo lá na frente vai explicar que Cristo se fez maldito por nós
na cruz para que pudéssemos ser livres (G1 3.13).
Então Saulo começou a perseguir os cristãos. Saulo “assolava a igre­
ja, entrando na casa dos cristãos, e arrastando homens e mulheres, os en­
cerrava na prisão” (At 8.3). Naquela hora ele acreditava que ao seguir esse
caminho, estava servindo a Deus e mantendo a pureza da lei.
Por volta de 35 d.C., aproximadamente cinco anos depois da crucifi­
cação de Jesus, Paulo estava a caminho de Damasco levando as cartas do
sumo sacerdote para perseguir os cristãos daquela cidade. No entanto, Deus
escolheu aquele momento para promover uma guinada radical em sua vida.
Anos mais tarde, Paulo descreveria o acontecimento calmamente, dizendo
apenas que Deus quis “por bem revelar em mim o seu filho para que eu
evangelizasse entre os gentios” (G11.16). No caminho de Damasco o próprio
Jesus através de uma visão veio se encontrar com Paulo. Ele viu uma grande
luz que o deixou cego por três dias e uma inconfundível voz que dizia: “Sau­
lo, Saulo, porque me persegues?” (At 9.4). Chegando a Damasco Saulo saberia
que havia sido escolhido para levar o nome do Senhor entre os gentios (At
9.15). Esse acontecimento foi tão importante e revolucionário que três rela­
tos detalhados são fornecidos no livro de Atos (At 9.1-19; 22.1-21; 26.1-23).
Há dois elementos nessa história que ficam muito claros: Primei­
ro, Paulo estava convencido de que tinha visto o Senhor ressurreto. Se­
gundo, sua vida foi radicalmente mudada daquele dia em diante. A base
da afirmação do seu apostolado reside naquela experiência. Ele insistiu
nisso algumas vezes (ICo 9.1; 15. 8-15; G11.15-17; At 9.3-8; 22.6-11; 26.12-
18). Visto que ele não era um dos doze discípulos, esse chamado visível
do Senhor no caminho de Damasco lhe era insubstituível.
A partir daquele momento, Paulo não desperdiçou tempo na sua
nova vida como cristão. Imediatamente, ele começou a proclamar a sua
nova fé em Jesus com o mesmo vigor que antes usara para defender a
lei. A mudança foi evidenciada pela mensagem que Paulo começou a
pregar nas sinagogas de Damasco (precisamente no lugar onde ele pre­
tendia prender os seguidores de Jesus daquela cidade). Sua mensagem
era: “Ele (Jesus) é o filho de Deus” (At 9.20). Agora sua tarefa era provar
“que aqu ele era o Cristo” (At 9.22).
Após a experiência de conversão, a vida de Paulo pode ser dividida
em quatro períodos gerais: Primeiro, os anos relativamente silenciosos;
Segundo, o trabalho em Antioquia; Terceiro, as viagens missionárias; E
quarto, as prisões.

Os anos silenciosos.
Nós só conseguiremos perceber a dimensão desses anos por causa
da carta de Paulo aos Gálatas (G11.15 - 2.5). Nesse texto Paulo diz que
se passaram 14 anos (G12.1) desde a sua conversão (ano 35 d.C.) até um
retorno dele a Jerusalém que ocorreu junto com Tito, provavelmente
para o concilio de Jerusalém, no ano 49 d.C. Antes desse concilio Paulo
já havia realizado a primeira viagem missionária (acredita-se que du­
rou de 2 a 3 anos, possivelmente de 46 a 48 d.C.), e antes da primeira
viagem missionária Paulo havia ajudado Barnabé no cuidado da igreja
em Antioquia por um ano. Então, aparentemente esses anos silenciosos
da vida de Paulo foram aproximadamente 10 anos - 1 4 anos entre a con­
versão e o concilio de Jerusalém, menos 2 ou 3 anos da primeira viagem
missionária e menos 1 ano em Antioquia.
Nesse período também aconteceu o que Paulo registrou em 2a aos
Coríntios 11.32-33: “Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs
guardas às portas dos damascenos, para me prenderem; Mas por uma
janela na muralha desceram-me num grande cesto, e assim escapei de
suas mãos”. Esse ocorrido aconteceu durante o segundo período que
Paulo esteve em Damasco (G11.17).
O esboço desse período pode ser dado assim: Pregação em Damas­
co (rapidamente) (At 9.20-22); Viagem pela Arábia (G11.17); Retorno a
Damasco (G11.17); Fuga para Jerusalém (G11.18; 2Co 11.32-33; At 9.23-
26); Encontro com Pedro e Tiago em Jerusalém (G1 1.18-19); Retorno à
Síria e Cilícia (Tarso) (G1 1.21-24; At 9.30); e esse período termina com
o convite de Barnabé para ajudar na igreja em Antioquia (At 11.20-26).
O entanto, a insuficiência de informações deixou muitas pergun­
tas sem respostas para a reconstrução da vida de Paulo nesse período.
Onde era a Arábia? E o que ele fazia lá? Porque ele se retirou por tanto
tempo antes de começar seu ministério público? E, além disso porque
ele estava continuamente fugindo?
Uma coisa sabemos, os anos silenciosos não foram anos de repouso
ou inativos. As indicações sugerem que nesse período Paulo esteve pregan­
do e ensinando, ainda que sem nenhuma evidência pública.

O trabalho em Antioquia
Enquanto Paulo estava em Tarso, o evangelho havia se difundi­
do de Jerusalém a Antioquia da Síria (At 11.19-21). Barnabé foi enviado
para ver o que estava acontecendo ali, e foi usado por Deus como um
instrumento para aumentar o número de convertidos. Mas quando o
trabalho ficou grande demais, ele “partiu p a ra Tarso p a ra buscar Saulo”
(At 11.25). Os dois juntos trabalharam em Antioquia por um ano inteiro.
E em Antioquia foram os discípulos pela primeira vez chamados “cris­
tãos” (At 11.26). Até então, os cristãos eram chamados de “membros do
caminho”.
Este foi um ponto crucial na vida de Paulo, porque pode ter sido
ali que sua visão de levar o evangelho aos gentios se consolidou. Foi en­
quanto ele estava ativo em Antioquia que o Espírito Santo disse: “Apar­
tai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At
13.2). A partir desse momento que tiveram início as viagens missioná­
rias de Paulo.

As viagens missionárias
Abrangendo um período de aproximadamente 10 anos, o trabalho
missionário de Paulo aconteceu principalmente em 4 províncias do im­
pério romano: Galácia, Macedônia, Acáia e Ásia (que na época era consi­
derada abrangendo uma província). Em cada uma delas ele concentrou
nas cidades-chaves, que eram os maiores centros populacionais. Uma
vez alcançadas essas cidades principais, através delas eram alcançadas
as áreas rurais, normalmente usando convertidos de cada um destes lu­
gares (Cl 1.7-8; 4.2).
Os métodos de Paulo de estabelecer e plantar igrejas podem se ver
em resumo em Atos 14.21-23: (1) pregando o evangelho (evangelização);
(2) fortalecendo e encorajando os crentes (con solidação e edificação); e
(3) escolhendo presbíteros em cada igreja (organ ização). Assumiu-se a
mesma abordagem nas cidades de Filipos (At 16.40; Fp 1.1), Corinto (At
18.4,11; ICo 16.15-16) e Éfeso (At 19.8-10).
Nesse período, talvez por volta do início de 45 d.C., Barnabé e Pau­
lo levaram ajuda aos crentes de Jerusalém (naquele período houve uma
grande fome na Judeia), e voltaram com o primo de Barnabé, João Mar­
cos, para Antioquia.
Primeira viagem missionária (At 13.2 -14.28). Essa viagem durou
de 2 a 3 anos, possivelmente de 46 a 48 d.C. Esta foi uma missão para os
gentios (At 14.27). Foram nessa viagem Saulo, Barnabé e seu sobrinho João
Marcos. Como cada um dos períodos das viagens de Paulo, o ponto de par­
tida foi Antioquia, um lugar que assumiu o papel de centro do cristianismo
para os gentios. Partindo do porto de Selêucia, Paulo e seus companheiros
desembarcaram em Chipre, em seu extremo leste. De Salamina cruzaram
toda a extensão da ilha, pregando primeiro nas sinagogas dos judeus. De
fato, este era seu ponto de contato com os gentios, alguns dos quais eram
adeptos do judaísmo. O primeiro encontro com funcionários romanos tam­
bém ocorreu em Pafos, a cidade capital daquela região e residência do pro-
cônsul Sérgio Paulo. Ah também eles encontraram uma primeira grande
perseguição: um judeu chamado Bar-Jesus, que alegava ser profeta e mago,
e que se tornou conselheiro espiritual do procônsul Sérgio Pardo. Bar-Jesus
tentou impedir o procônsul de escutar a mensagem cristã, Paulo fez com
que o mago ficasse cego, e Sérgio Paulo acreditou em Cristo “maravilhado
com a doutrina do Senhor” (At 13.12).
Saindo para o mar, o grupo foi então para Perge, na Panfília. Nessa
cidade João Marcos os abandonou voltando para Jerusalém (At 13.13).
O momento parecia inesperado para essa atitude. O que pode ter acon­
tecido? Ele havia se ofendido? Ou apenas estava com saudades de Casa?
Não sabemos. O certo, é que este episódio marcou o momento em que
Paulo se tornou o líder da expedição missionária. Até então se falava
sobre “Barnabé e Paulo”, a partir desse momento se fala “Paulo e seus
com pan heiros” (At 13.7-13). Coincidentemente, a partir desse momento
também, Saulo começou a ser chamado por seu nome romano Paulo. Ele
provavelmente achou que usar seu nome romano seria mais adequado
para se movimentar entre os gentios no mundo romano. Era como se
um americano que se chama John , preferisse ao morar no Brasil ser cha­
mado de Jo ã o , para facilitar sua integração na nova sociedade.
Em seguida, a dupla viajou em direção ao norte, e entrou na pro­
víncia da Galácia, e suas visitas estenderam-se a quatro cidades: Antio-
quia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe.
Em Antioquia, Paulo pregou na sinagoga discursando sobre a his­
tória do povo de Israel e o cumprimento das promessas de Deus através
da vinda do Salvador, Jesus Cristo. Sua ênfase era sobre o perdão dos
pecados e justificação pela fé (At 13.38-39). No entanto, os judeus se opu­
seram a eles, e Paulo declarou: “Voltemos p a ra os gentios” (At 13.46).
Este acabou se tornando um comportamento comum do ministério de
Paulo em outras cidades (At 18.6; 28.28).
Levados para fora de Antioquia, eles foram para Icônio. Chegando
ali “falavam ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à
palavra de sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e
prodígios” (At 14.3; G13.5; Hb 2.4).
•Oterceiro centro a ser alcançado na Galácia foi Listra, uma cidade
que não tinha sinagoga, um sinal de que provavelmente poucos judeus
moravam ali. Em Listra, Paulo e Barnabé curaram um aleijado, e o povo
ficou tão impressionado que os confundiram com Hermes e Zeus (Júpiter
e Mercúrio), que eram dois deuses da mitologia grega. Quando Paulo e
Barnabé negaram isso e disseram que não passavam de meros humanos,
um grupo de oponentes vindos de Icônio incitou a multidão e colocou
o povo contra eles. As pessoas arrastaram Paulo para fora da cidade e
o apedrejaram até acharem que ele tinha morrido. Barnabé escapou e
resgatou Paulo, que não estava morto e se levantou milagrosamente e
voltou para dentro da cidade para pregar de novo (At 14.8 em diante).
Interessantemente, esse incidente foi um claro contraste com o sermão
de Paulo na sinagoga de Antioquia da Psídia, que foi tão bem recebido a
ponto das pessoas pedirem para que ele voltasse no sábado seguinte para
continuar (At 13.42).
No dia seguinte em que foi apedrejado Paulo iniciou com Barnabé
uma viagem de 96 quilômetros até Derbe para ali pregar o evangelho.
Era impressionante a disposição e a doação de Paulo. Em Derbe, a via­
gem chegou ao seu ponto final e então retornaram pelas cidades fazen­
do discípulos (At 14.21-23), chegando finalmente a Antioquia da Síria.
Em algum ponto dessa viagem, uniu-se a Paulo e Barnabé um jovem
grego convertido chamado Tito, que depois se tornou um dos colaborado­
res mais importantes da vida e do ministério de Paulo. Juntos, eles viaja­
ram de volta para Antioquia e relataram à igreja de lá tudo que Deus tinha
feito “abrindo a os gentios a porta da f é ” (At 14.27).
Nesse período ocorreu o concilio de Jerusalém, onde e Paulo e Pe­
dro discursaram sobre se havia ou não necessidade para os gentios que
se convertiam passarem pela circuncisão. E Tito foi junto com eles a Jeru­
salém a fim de argumentar sobre a ausência da circuncisão para aqueles
que não eram judeus e desejavam fazer parte da igreja de Cristo (At 15).
Segunda viagem missionária (At 15.36 - 18.22). Essa viagem du­
rou possivelmente 4 anos. Do ano 50 d.C. até o fim de 53 ou início de 54
d.C. aproximadamente. O propósito dessa viagem conforme Paulo disse a
Barnabé, era: “Visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anun­
ciamos a palavra do Senhor” (At 15.36). Mas ao se desentenderem sobre a
possibilidade de levarem João Marcos, que havia os abandonado na pri­
meira viagem, decidiram separar-se. Barnabé seguiu com João Marcos
para a região de Chipre, e Paulo chamou a Silas (também chamado Silvano)
para seguir consigo. Paulo e Silas viajaram por terra na estrada em sentido
norte, pela Síria e Cilícia, e assim começaram sua segunda visita à Galácia.
Passando por Listra, se uniu a eles um jovem cristão chamado Timóteo -
assim como Tito, Timóteo era um jovem que se dedicou com lealdade ao
ministério de Paulo e lhe foi um dos principais auxiliares e cooperadores
do seu ministério. Os três viajaram para o norte, no interior das cidades da
Galácia, depois para a Frigia, e chegaram então a Trôade. Em algum mo­
mento nessa cidade, Lucas também se uniu ao grupo. De lá então, foram
direcionados em uma visão a seguirem para a Macedônia. Era a primeira
vez que uma equipe missionária chegava a Europa (Atos 16).
Na Macedônia, o trabalho centralizou-se em três centros-chave:
Filipos (At 16.12-40), Tessalônica (At 17.1-9) e Bereia (At 17.10-14). En­
quanto que na região da Acaia duas cidades foram visitadas: Atenas (At
17.15-34) e Corinto (At 18.1-18).
Em Filipos, Paulo encontrou Lídia, uma adoradora do Senhor (At
16.14). Sua casa transformou-se no primeiro centro da igreja em Filipos.
Mas quando Paulo e Silas expulsaram os demônios de uma jovem escra­
va cujos donos diziam praticar adivinhação, eles foram arrastados até
a praça da cidade, apresentados aos magistrados, tiveram suas vestes
arrancadas, foram açoitados com vara e lançados na prisão, com os pés
presos num tronco. Destemidos, à meia-noite eles cantavam hinos de
louvor a Deus, quando, de repente, sobreveio um terremoto de tal inten­
sidade que os alicerces do cárcere se abalaram milagrosamente, e mila­
grosamente abriram-se todas as portas e foram soltos os grilhões de to­
dos. Após converterem o carcereiro e sua família, eles foram libertados.
Deixando Filipos, o grupo de Paulo chegou a Tessalônica, que era
a capital romana da Macedônia. Seguindo seu costume, Paulo pregou
primeiro na sinagoga (At 17.3). Alguns dentre eles se converteram e uni­
ram a Paulo. Não é difícil entender o desapontamento de muitos líderes
de sinagogas sentiam ao ver suas comunidades viradas de avesso por
aquele terremoto religioso. Em Tessalônica eles não conseguiram pren­
der Paulo, mas vociferaram: “Esses que tem alvoroçado o mundo che­
garam também até nós” (At 17.6). Ali Paulo “disputou com eles sobre as
escrituras” (At 17.2). Foi a primeira vez que o termo “disputar” apareceu
em Atos. É importante notar que esta palavra descreve a abordagem de
Paulo, ao falar da chegada da palavra de Deus ao coração das cidades
gregas, porque está era a forma de pensar dos gregos, através de debates
e disputas de idéias (veja também At 17.7 em Atenas; At 18.4 em Corinto
e At 18.19; 19.8 em Éfeso).
Ainda em Tessalônica, os missionários foram acusados de sedição
contra César, por dizerem que existia outro rei, o Senhor Jesus (At 17.7). A
acusação foi suficiente para forçar sua expulsão da cidade, e eles viajaram
em direção ao Sul, a Bereia, um lugar onde tiveram uma curta estadia, an­
tes de Paulo ir sozinho para Atenas (At 17.10-15).
Agora, Paulo havia entrado na província da Acaia (Grécia) e se via
na cidade mais famosa do mundo grego, Atenas. Era uma cidade repleta
de ídolos (At 17.16), “um lugar onde era mais fácil encontrar um deus do
que um homem”. Ao encontrar as pessoas, tanto na sinagoga como no
mercado (ágora - que eram os mercados do mundo romano), ele logo
encontrou os filósofos epicureus e estoicos.
Os epicureus e os estoicos eram duas escolas filosóficas de teo­
rias totalmente diferentes. Os epicureus eram filósofos e seguidores de
Epicuro (341-270 a.C.), famoso pensador grego, criador da tese sobre a
“ética do prazer”. Os estoicos, por sua vez, eram discípulos de Zeno (340-
265 a.C.), outro importante pensador grego, criador da filosofia da “vida
natural”, que dizia que a vida deve conformar-se à lógica da natureza.
Eram, portanto, panteístas (doutrina que ensina que Deus é a soma de
tudo o que existe na natureza). Eles chamaram Paulo de “tagarela” (fa­
lador), ao sugerirem que Paulo estava tentando apresentar outros no­
vos “deuses”, pois entenderam que “Jesus” e “Ressurreição” (em grego:
anaistasis, palavra do gênero feminino) seriam um casal de “deuses”
diferentes dos que eles tinham (At 17.18).
Então Paulo foi levado até o conselho de Atenas (Ou Areópago, um
nome também dado ao lugar onde reunia o tribunal para julgar os casos
que afetavam o bem estar da cidade). Ah Paulo expôs a doutrina do Deus
vivo e poderoso que criou o mundo, que o sustenta, e que um dia o jul­
gará. Devido a isso, Deus mandava que os homens se arrependessem (At
17.22-31), e alguns responderam positivamente , dentre eles um membro
do Areópago chamado “Dionísio, e uma mulher chamada Dâmaris, e com
eles outros” (At 17.34). Mas Paulo, aparentemente não obteve sucesso em
estabelecer uma igreja ah, pelo menos não uma igreja que tenha sobrevivi­
do por muito tempo (At 17.22 em diante).
Depois desse tempo em Atenas, Paulo foi para Corinto e perma­
neceu ah cerca de um ano e meio. Sua visita aconteceu na época de Gá-
lio, procônsul da Acaia entre 51 e 52 d.C. Gálio era irmão do importante
filósofo estoico Sêneca, que era conselheiro do imperador Nero. Em
Corinto, Paulo morou com um casal, Áquila e Priscila, que se tornaram
seus amigos e companheiros de profissão (Rm 6.3-5), fazendo tendas
para seu sustento, e desempenhando um longo e importante ministé­
rio de ensino.
No entanto, Paulo estava tendo cada vez mais consciência da vulne­
rabilidade das pequenas comunidades de fiéis que ele tinha fundado. A
igreja de Tessalônica enfrentava forte oposição e Paulo receava que depois
de sua partida a comunidade pudesse ter sido subjugada. “Não podendo
mais suportar” (lTs 3.1), Paulo enviou Timóteo de volta para Tessalônica
a fim de colher informações. Reanimado, aliviado e agradecido devido às
boas notícias trazidas por Timóteo em seu retorno, Paulo tomou uma nova
iniciativa, que viria a mudar completamente a história do cristianismo. Ele
começou a escrever cartas.
A primeira epístola de Paulo aos Tessalonicenses, datada por volta
de 51 d.C., constitui os primeiros escritos paulinos do Novo Testamento.
A carta veicula uma verdadeira efusão de afeição pelos cristãos de Tes-
salônica. Ela está repleta de memórias de suas lutas, combinadas com
instruções da nova fé e exortações para crescer espiritualmente, amar
o próximo, viver em paz e a orientação de “Ficai sempre alegres, orai
sem cessar, por tudo daí graças” (lTs 5.27). Nos anos subsequentes, as
cartas de Paulo se tornariam uma ferramenta eficaz para lidar com as
necessidades de suas vastas congregações. Os documentos escritos subs-
tituiriam sua presença em uma era em que as viagens seriam lentas e
perigosas. Poucos meses depois, no início do ano 52 d.C., Paulo escreveu
a segunda epístola aos Tessalonicenses quando ainda estava em Corinto.
Enquanto isso, em Corinto, Paulo pregava na sinagoga e conven­
ceu Crispo, o soberano da sinagoga, assim como Tito Justo, um devoto
gentio que emprestava sua casa ao lado da sinagoga para que ensinasse.
Como fruto disso, muitos outros gentios também foram convertidos ao
cristianismo. Nesse tempo, o apóstolo foi acusado pelos judeus de “per­
suadir os homens a servir a Deus contra a lei”, e o levaram a julgamento
perante Gálio. No entanto, o sábio juiz romano recusou-se a intervir na
disputa religiosa dos judeus (At 18.15-17), e Paulo foi absolvido.
Corinto foi uma das igrejas mais desafiadoras do ministério de
Paulo. A tendência dos cristãos de Corinto era sempre levar sua expe­
riência individual ao extremo. Eles se sentiam como reis, saciados com
a riqueza dos seus dons espirituais, enquanto que, aparentemente ao
mesmo tempo viviam uma certa ausência dessa “riqueza espiritual” na
manifestação dos frutos do Espírito. Foi uma das igrejas que mais rece­
beu exortações do apóstolo.
Depois de Corinto, eles fizeram uma rápida visita a Éfeso e deixa­
ram uma promessa: “Querendo Deus, outra vez voltarei a vós”, e Paulo
então retornou à sua base em Antioquia (At 18.19-21).
Terceira viagem missionária (At. 18.23 - 21.14). Essa viagem du­
rou aproximadamente entre 4 e 5 anos. Do ano 54 até 58 d.C. Atravessan­
do mais uma vez a região da Galácia e Frigia, Paulo passou algum tempo
fortalecendo a fé dos discípulos nas cidades da Galácia. Então ele prosse­
guiu sua viagem em sentido oeste, indo até a Ásia e à sua principal cidade,
Éfeso. Ah ele passou entre dois e três anos. Esta foi sua maior estadia em
um único lugar (At 19.8-10; 20.31).
Antes da visita de Paulo, Apoio havia passado pregando e ensi­
nando por Éfeso (At 18.24-29). Juntamente com o trabalho de Priscila e
Áquila, deixados ali anteriormente por Paulo (At 18.18,19,26), seu traba­
lho pode ser considerado como o alicerce para a extensão do ministério
de Paulo naquela cidade.
Naquele momento, Éfeso era o principal centro da província roma­
na da Ásia. Naquele período, Lucas registra que “todos os que habitavam
na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos” (At
19.10); “Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia”
(At 19.20). O próprio Paulo ensinava diariamente em uma sala alugada, a
escola de tiranos (At 19.9), e a igreja floresceu.
Assim começou a crescer a maior igreja fundada por Paulo. Essa
é a única igreja do Novo Testamento cuja história foi contada em várias
etapas desde a época de sua fundação até o final da era apostólica: Atos
18 ao 20; a epístola aos Efésios; 1 e 2 Timóteo (lTm 1.3) e Apocalipse 2.1-
7. Durante esses anos que foram acompanhados desde a fundação até
a carta no livro do Apocalipse, três grandes líderes foram responsáveis
pelo seu progresso: Paulo, Timóteo e João. Uma igreja muito bem funda­
mentada em sua liderança!
Depois de sua saída de Éfeso, Paulo viajou em direção norte até
Trôade (2Co 2.12-13), e depois para a Macedônia e a Grécia, onde pas­
sou três meses (At 20.3). Passando por Corinto, o apóstolo escreveu sua
epístola aos Romanos. Nessa carta ele expôs o desejo do seu coração de
viajar em direção a Espanha, uma região ainda intocada pela mensagem
do Evangelho. Era o inverno de 55-56 d.C., e Paulo escrevendo essa carta
aos Romanos pediu a hospitalidade e ajuda de seus membros quando
atravessasse Roma, que era caminho para a Espanha. Paulo ainda não
conhecia a igreja em Roma, e usou essa carta - sua carta mais longa e
importante - como uma oportunidade para expor os fundamentos do
evangelho que ele pregava.
No entanto, antes de partir para a Espanha, Paulo decidiu fazer
uma última visita a Jerusalém. Retornando por Filipos e Trôade, ele
parou em Mileto e encontrou-se com os anciãos da igreja de Éfeso (At
20.17-35). Este é um encontro emocionante, onde Paulo abre o seu co­
ração e revela princípios que todo pastor e líder deve possuir em sua
vida. Ali ele revisou seu ministério entre os anciãos da igreja de Éfeso,
encarregando-os de suas responsabilidades, enquanto os advertia sobre
os perigos que surgiriam depois da sua partida (At 20.28-31) - (Confira
também lTm 1.3,4,18-20; 6.3-5,20-21; 2Tm 2.16-18). Ele se despediu da­
queles irmãos, dizendo: “Estou certo de que não mais vereis a minha
face” (At 20.25).
Com muitos esforços e dificuldades, e enfrentando duras persegui­
ções, Paulo sentiu que tinha finalmente conseguido levar as igrejas da
região do Mar Egeu e do interior da Ásia Menor a um nível de estabilidade
e maturidade que lhes permitiría se manterem sozinhas.
O desejo de Paulo era estar em Jerusalém para a festa de pentecostes
(At 20.16). Com ele estava o dinheiro que havia sido coletado para suprir as
necessidades dos irmãos em Jerusalém (ICo 16.1-4; 2Co 8-9; Rm 15.25-27).
Aparentemente, Paulo ainda mantinha a cultura de participar das festas
judaicas em Jerusalém, a exemplo do Senhor Jesus e dos primeiros discípu­
los. Paulo então viajou por Tiro e Cesareia (At 21.3-6,8-16), onde foi avisado
dos perigos que o esperavam. Mas “estando pronto a morrer em Jerusa­
lém pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13), ele prosseguiu em seu trajeto.
Embora tenha sido calorosamente recebido em Jerusalém por Tiago e pe­
los anciãos, alguns judeus da Ásia, presentes em Jerusalém para a festa de
pentecostes, o acusaram de profanar a área do templo, levando um gentio
ao pátio interno do templo dos judeus (At 21.27-36). Seguiu-se então um tu­
multo, e o incidente resultou em sua prisão pelo capital romano da cidade.

O período da prisão (At 21.15 - 28.31)


À primeira vista parece estranho Lucas ter dado um espaço tão
grande no livro de Atos para a prisão de Paulo, quando até este ponto ele
ocupara-se da expansão missionária da igreja primitiva. Para falar do
período da prisão de Paulo ele gastara 8 capítulos (At 21-28), enquanto
que para falar das três viagens missionárias ele gastara aproximada­
mente a mesma quantidade de capítulos (At 13-20). Mas por causa de
uma grande parte de sua apologia ao cristianismo primitivo, é que se
pôde mostrar que este “prisioneiro” havia sido preso injustamente, e
que a igreja não tinha violado a lei romana (At 23.26-30; 25.23-27; 26.30-
32; 28.30-31). Paulo ficou conhecido como “o embaixador do evangelho
em cadeias (Ef 6.20).
No dia seguinte à prisão no templo, os romanos o levaram ao Si-
nédrio para ser interrogado, na esperança de que eles conseguissem en­
tender o porquê de tanta confusão. Suas afirmações fizeram até mesmo
este respeitável grupo quase irromper em violência, e novamente os sol­
dados o resgataram e o devolveram à prisão (At 23.9-10). Naquela noite,
Paulo teve uma visão que lhe dizia para defender seu caso em Roma
diante do imperador, um direito que tinha como cidadão romano. Nesse
meio tempo, 40 judeus arquitetaram um plano assassino contra Paulo.
Eles fizeram o voto de não comer ou beber até que o apóstolo fosse mor­
to (At 23.12-15). Eles quase obtiveram sucesso em seu intento, mas no
dia seguinte, o sobrinho de Paulo ficou sabendo dessa conspiração para
matar o apóstolo e contou tudo para Paulo (At 23.16).
Paulo então foi transferido preso de Jerusalém para Cesareia, que
era a capital romana da Judeia, sob a guarda de 470 soldados e lá ficou
preso dois anos sob a autoridade do procurador romano Félix. Félix sabia
algumas coisas sobre o ensino do “Caminho”, e sendo muito supersticioso
(como eram muitos romanos), ficou aterrorizado, e tornou a prisão de Pau­
lo o equivalente a uma prisão domiciliar (At 24.23).
Depois de dois anos, Félix foi substituído por Festo, que queria agra­
dar os judeus e ver o assunto encerrado. Ele ofereceu a Paulo voltar para
Jerusalém e enfrentar seus acusadores, mas Paulo, sabendo que nunca
seria julgado com justiça lá, invocou seu direito de cidadão romano de
ser enviado para Roma para ser julgado diante do imperador. Naquela
altura dos acontecimentos, mesmo com todos os seus defeitos, Nero ainda
não havia degenerado para o estado de quase loucura que alcançou mais
tarde em seu reinado. Por isso, Paulo não percebeu que ele estava “saindo
da frigideira para entrar no fogo”.
A viagem de Paulo até Roma foi longa e cheia de perigos, incluin­
do tempestades, naufrágios e enfrentamento com inimigos. Ele foi em­
barcado em um navio com diversos companheiros entregues a um bon­
doso centurião chamado Júlio, que transportava diversos prisioneiros
para Roma. A viagem começou no final do ano (na época do inverno
- provavelmente ano 60 d.C.), já na época em que o Mediterrâneo ficava
perigoso demais para a navegação. A princípio, a viagem transcorreu
tranquila, mas quando zarparam em Creta o navio foi pego em uma ter­
rível tempestade. Durante 14 dias, ficou a mercê dos ventos, até que se
despedaçou em um banco de areia próximo a Malta. Milagrosamente,
assim como Paulo havia dito, todos se salvaram (At 27.22-44).
Três meses depois, embarcaram em um navio de Alexandria que
tinha passado o inverno na ilha, seguiram para Siracusa, onde ficaram
três dias. De lá, correndo à costa, foram a Régio, e dois dias depois chega­
ram a Puteóli, a sudoeste da Itália. Ali, Paulo encontrou irmãos em cuja
companhia ficou sete dias (At 28.11-14). No entanto, a notícia chegou a
Roma. Os irmãos vieram encontrá-lo na Praça de Ápio e Três Vendas, no­
mes de dois lugares distantes de Roma, Praça de Ápio a 70 km e Três ven­
das a 53 km. 0 centurião entregou os prisioneiros ao capitão da guarda,
que era o prefeito da guarda pretoriana, em 61 d.C.
Quando finalmente chegaram a Roma (aparentemente na prima­
vera), ele viveu lá durante dois anos às próprias custas, no que hoje seria
considerado “liberdade provisória sem o pagamento de fiança”. Já que ele
tinha sido acusado de nenhum crime contra Roma, os romanos não tinham
muito interesse no que consideravam ser disputas internas entre judeus.
Esses dois anos que Paulo esteve em Roma, resultou em um período de
pregações e ensinos públicos, com toda liberdade, em uma casa que Pau­
lo havia alugado, e ah Paulo vivia acorrentado a um guarda romano (At
28.16,30-31). Ah Paulo podia atender a todos os que o procuravam. Em Oné-
simo, um escravo fugitivo que se converteu, vemos um exemplo vivo do
fruto do trabalho de Paulo em Roma (Fm 10). Evidentemente, foi nesse pe­
ríodo que ele escreveu as cartas às igrejas em Colossos e Éfeso, assim como
uma carta pessoal a Füemon. Ele enviou essas três cartas para a Ásia Menor
por Tíquico e Onésimo. Provavelmente nessa época também ele escreveu
a epístola aos Fihpenses (Fp 1.12-13), e enviou saudações dos da casa de
César, o que indica que Paulo já havia ganhado alguns membros da guarda
pretoriana para Cristo (Fp 4.22). Aqui chega ao fim a história escrita por
Lucas em Atos estando Paulo preso em Roma.
O que aconteceu com Paulo após isso? Compareceu perante Nero?
Caso tenha comparecido, foi condenado ou absolvido? Se foi solto o que
ele fez no momento seguinte? A única informação que se tem sobre isso
no Novo Testamento, parte de suas epístolas pastorais, mostrando que
Paulo foi solto depois de uma primeira prisão em Roma (2Tm 4.16-17),
viajou a lugares como Creta (onde deixou Tito - Tt 1.15), Nicópolis (Tt
3.12), Trôade (onde deixou sua capa e livros com Carpo - 2Tm 4.13), Mile-
to (onde deixou Trófimo - 2Tm 4.20), aparentemente foi a Macedônia (de
onde provavelmente escreveu a primeira epístola a Timóteo) e Corinto
(2Tm 4.20). Ele havia decidido passar o inverno em Nicópolis (Tt 3.12),
mas provavelmente foi preso pela segunda vez em Corinto, e levado mais
uma vez para Roma. Não se sabe ao certo se Paulo realizou o desejo de ir
à Espanha nesse período entre a primeira e a prisão em Roma. Clemen­
te de Roma afirma que Paulo reahzou esse desejo e pregou na Espanha.
Esse fato é confirmado pelo Fragmento Muratório, em 170 d.C. A tradição
afirma que Paulo chegou até Bretanha (atual território francês), porém
não há evidências que confirmem isso. Eusébio de Cesareia em 324 d.C.
registrou que Paulo saiu da primeira prisão em Roma e se entregou no­
vamente ao ministério da pregação. A absolvição de Paulo na primeira
prisão ocorreu provavelmente em 63 d.C. e sua atividade missionária
subsequente acredita-se que durou de três a quatro anos, sendo ele pre­
so novamente em 66-67 d.C. Não se sabe por que Paulo foi preso pela
segunda vez, mas devemos recordar que a perseguição de Nero contra
os cristãos explodiu no ano 64 d.C. e sem dúvidas qualquer procurador
de uma província romana desejava gratificar a vaidade do tirano Nero,
enviando-lhe tão precioso preso.
Em sua segunda prisão em Roma, Paulo escreveu a sua última
epístola, a segunda carta a Timóteo. Nesse momento ele estava preso
na prisão Mamertina, no centro de Roma, ao lado do antigo fórum ro­
mano e próximo ao coliseu. Essa prisão pode ser visitada até os dias de
hoje. Naquela época muitos o abandonaram (2Tm 4.16), incluindo todos
os seus colaboradores da Ásia (2Tm 1.15), e Demas, que amou mais ao
mundo (2Tm 4.10). Apenas Lucas, que também era médico, estava com o
apóstolo quando sua última carta foi escrita (2Tm 4.11). Contudo, apesar
de representar um risco, alguns fiéis cristãos, escondidos em Roma por
causa da perseguição, ainda mantinham contato com o apóstolo (2Tm
1.16; 4.19,21). Paulo pediu a Timóteo que o visitasse em Roma, trazendo
também João Marcos (2Tm 4.11). Ao que tudo indica, Timóteo atendeu
ao pedido de Paulo. Não se sabe se Timóteo chegou a tempo de encon­
trar o seu velho amigo, mas provavelmente quando chegou a Roma tam­
bém foi preso (Hb 13.23). A solicitação de Paulo por seus livros e perga­
minhos (2Tm 4.13) revela que o apóstolo leu e estudo as escrituras até
o fim da sua vida. Foi impressionante esse pedido de Paulo, ele estava
morrendo mas não havia deixado morrer o seu amor pela leitura.
Enquanto estava preso ali, Paulo aguardava o julgamento, mas
não esperava um resultado favorável. Nero estava em uma intensa per­
seguição contra os cristãos; O coliseu romano já existia e nele muitos
cristãos já estavam sendo devorados por leões. O próprio Paulo registra
que havia sido “livre da b oca do leã o ” (2Tm 4.17). Mas Paulo era deste­
mido, e escreveu a Timóteo: “Quanto a mim, já estou sendo oferecido
em libação, e o tempo da minha partida já está próximo! Combati o bom
combate, terminei minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4.6-7).
Paulo teve duas audiências diante de César. Em sua primeira de­
fesa, apenas o Senhor esteve com ele (2Tm 4.16). Nada se conhece da
segunda audiência de Paulo diante do imperador romano, exceto que
resultou em sua sentença de morte. A tradição registra que Paulo foi
decapitado pela espada de um carrasco imperial na Via Óstia, nos arre­
dores de Roma por volta do ano 67 d.C., no final do reinado de Nero, que
faleceu no ano seguinte no verão de 68 d.C.
Às vezes, Paulo é acusado de ser machista, mas essa não é uma acu­
sação justa. Ele era filho de uma era na qual as mulheres eram tratadas
como cidadãs de segunda classe, e ele não era nem mais e nem menos
culpado disso do que qualquer outra pessoa de sua época. Jesus era bem
mais receptivo aos talentos das mulheres do que a maioria dos homens do
seu tempo, mas Paulo, infelizmente não refletia esta maneira de pensar.
A formulação teológica que Paulo empreendeu seguindo os ensinos
de Jesus moldou a igreja cristã e preparou o caminho para que ela cres­
cesse e se desenvolvesse, saindo de um grupo de discípulos galileus, para
uma fé de alcance mundial que transformou o curso da história humana.

Pedro Nome grego, significa "Pedra".

Pedro é chamado por quatro nomes no Novo Testamento. No he­


braico era chamado Simeão, no grego Simão. Jesus o chamou de Cefas,
que significa rocha, e o conhecemos mais como Pedro, que significa pedra.
Jesus o chamou de Simão Barjonas (Mt 16.17), fazendo referência
ao fato dele ser filho de certo homem chamado Jonas. Seu pai era pro­
vavelmente um pescador (Jo 1.42), uma ocupação também seguida por
Pedro e seu irmão André.
Pouco se sabe sobre Pedro antes do seu encontro com Jesus. Pro­
vavelmente ele nasceu em Betsaida, também chamada de Betsaida-Júlia
na costa norte do mar da Galileia. Betsaida-Júlia era a aldeia, cujo nome
significa “casa dos pescadores”, ficava na margem leste do rio Jordão e,
portanto, na fronteira com a província da Galileia, e estava sobre o do­
mínio de Herodes Filipe, um dos filhos e sucessores do notório Herodes,
o Grande. Filipe havia transformado Betsaida em uma aldeia de judeus,
em uma cidade rica com uma população mista, composta por gregos e
judeus. Acrescentou Júlia ao seu nome em homenagem à filha do impe­
rador Augusto. Pedro e seu irmão André, que também tinha nome grego,
cresceram em uma família de pescadores que certamente negociava tan­
to com judeus como com gregos. Pedro provavelmente falava aramaico
com um sotaque galileu, assim como também devia saber rudimentos do
grego. Embora provavelmente tenha recebido uma educação básica na
sinagoga, é pouco provável que Pedro tenha se aprofundado mais no es­
tudo da Torá.
Na época em que encontrou Jesus, provavelmente Pedro tinha
se casado e mudado para a cidade de Cafarnaum, que ficava a alguns
quilômetros ao oeste. Sabemos que ele era casado, pois Jesus curou sua
sogra (Lc 4.38), e Paulo faz referências a Pedro levando sua esposa em
diversas viagens (ICo 9.5).
Em Cafarnaum ele era sócio de Zebedeu e de seus filhos Tiago e
João - futuros discípulos de Jesus junto com Pedro (Lc 5.10). Eles parti­
cipavam de um negócio de pesca muito bem-sucedido, e a prova disso
era que Pedro tinha seu próprio barco (Lc. 5.3). Barcos de pesca eram
itens extremamente caros, e poucos pescadores galileus podiam dar-se
ao luxo de ter um.
O primeiro registro bíblico sobre Pedro é dado no Evangelho es­
crito por João. Pedro antes de ser discípulo de Jesus, fora discípulo de
João Batista, e por ele já havia sido batizado. De acordo com João, de­
pois que João Batista apontou Jesus como o Messias, dois dos discípulos
de João Batista o deixaram para seguir a Jesus (Jo 1.35-42). Um deles
era André, e este que apresentou seu irmão Pedro para Jesus dizendo:
“A cham os o M essias” (Jo 1.41). Quando Pedro foi apresentado a Jesus por
seu irmão André, o Senhor o chamou de Cefas (em aramaico) ou Pedro
(em grego), que quer dizer “pedra”, significando que ao invés de ter o
temperamento violento e inconstante de um Simeão/Simão (Gn 49.5-7),
ele tornar-se-ia firme como uma rocha (Jo 1.422).
Pedro e outros discípulos acompanharam Jesus desde a região
onde João Batista batizava até Cafarnaum (Jo 2.1,12). Provavelmente
eles voltaram à pescaria por um curto período de tempo, embora os
Evangelhos não o afirmem tão diretamente. Os Evangelhos Sinóticos
(Mateus, Marcos e Lucas) indicam que embora eles já tivessem tido esse
primeiro contato com Jesus, só foram chamados para o ministério quan­
do estavam em seus barcos de pesca, para acompanharem ao Senhor
Jesus em sua viagem pela Galileia, a fim de treiná-los como seus discípu­
los (Mc 1.16-20). Entretanto, é na narrativa de Lucas que encontramos
o relato mais dramático do chamado de Pedro. Jesus estava ensinando
às margens do lago, junto aos barcos onde os pescadores lavavam suas
redes, após uma noite de pesca fracassada. Subindo num dos barcos, o
de Pedro, Jesus pediu-lhe que se afastasse um pouco da praia em direção
ao lago. Depois se assentando, ensinava do barco às multidões. Quando
acabou de ensinar, Jesus falou a Pedro e seus ajudantes para voltarem
ao lago e lançarem as redes. A princípio Pedro contestou, dizendo “Mes­
tre pescamos toda a noite, e nada apanhamos”, mas depois ele se dis­
pôs e disse “mas pela tua palavra, lançaremos as redes” (Lc 5.5). Como
consequência disso apanharam tamanha quantidade de peixes que suas
redes se rompiam.
Se no primeiro contato com Jesus, às margens do Jordão, a decla­
ração de Jesus sensibilizou a Pedro; seu súbito reencontro com Ele, ao
fim de um dia de trabalho exaustivamente improdutivo, o fez reconhe­
cer que em Jesus havia algo mais sublime que um mero discurso espi­
ritual. Pedro imediatamente percebeu que não era apenas boa sorte na
pescaria. Ele estava era diante da manifestação de um poder que ainda
não podia compreender na pessoa de Jesus.
A imediata resposta de Pedro foi de se sentir indigno e ter medo,
caiu de joelho dizendo “afaste de mim, Senhor, porque sou um pecador”
(Lc 5.10). Mas Jesus não se afastou. Pois era precisamente esta pessoa,
um homem que podia reconhecer suas próprias fraquezas e limitações,
que Jesus queria. “Não tenhas medo! Daqui em diante serás pescador de
homem”. Pedro então deixou tudo e seguiu a Jesus.
A impressão que se tem desde o começo é que Pedro era o mais
destacado dos apóstolos. Nas quatro listas dos apóstolos o nome de Pedro
sempre é o que aparece primeiro (Mt 10.2-4; Mc 3.16-19; Lc 6.14-16; At
1.13-14). Ele costumava falar em nome do grupo. Quando ele repreendeu
Jesus por falar do seu sofrimento e morte, Jesus olhou para os discípulos
e depois repreendeu a Pedro (Mc 8.32), reconhecendo que as opiniões de
Pedro refletiam a opinião do grupo. Ele era o primeiro do círculo íntimo.
Somente Pedro, Tiago e João foram convidados a testemunhar a ressur­
reição da filha de Jairo (Mc 5.37), e somente eles estavam com Jesus na
transfiguração (Lc 9.28) e no jardim do Getsêmani (Mc 14.33).
Embora fosse impetuoso e de gênio difícil (Jo 18.10), Pedro pos­
suía habilidades naturais de liderança e uma dedicação a Jesus e a seus
ensinamentos que não se encontrava semelhante entre os demais dis­
cípulos. Ele normalmente compreendia os ensinos de Jesus com mais
rapidez que os outros, e tinha percepções que mostravam com clareza
que compreendia a natureza de seu mestre (Mt 16.16).
Os motivos que levaram Pedro a seguir Jesus eram inicialmente tan­
to pessoais quanto espirituais. Sabendo que Jesus era recomendado por
uma figura tão influente como João Batista, e vendo nele o Messias para
a nação, Pedro sentiu o desejo de aperfeiçoar-se em sua espiritualidade.
Mas, em contrapartida, Pedro também comentou com o Senhor Jesus que
ele e os outros discípulos haviam deixado suas casas e negócios para segui­
do (Mc 10.28; Lc 18.28), e que esperavam ser devidamente recompensados
pelo seu sacrifício. Até na última ceia ainda discutiam sobre os lugares de
honra no rei vindouro (Lc 22.24).
Os Evangelhos frequentemente apresentam Pedro como um pa­
radigma tanto de enorme fé como de incerteza e dúvida humanas. Há,
por exemplo, a história de Jesus andando na escuridão sobre as águas
agitadas pelo vento no mar da Galileia, em direção aos seus discípulos
que remavam o seu barco contra o vento. Quando o viram, os discípulos
gritaram atemorizados. Mas Jesus logo lhes disse: “Sou eu, não temais”.
Pedro imediatamente o interrompeu, dizendo: “Se és tu, manda que eu vá
a ti andando sobre as águas”. Jesus lhe disse para vir. Confiante em sua fé,
descendo do barco, Pedro caminhou sobre as águas e foi ao encontro de
Jesus - fazendo o impossível com facilidade. Mas, o poder do vento e das
ondas desviou a sua atenção, até que ele teve medo e começou afundar.
Jesus então, estendendo a mão, prontamente o segurou, repreendendo-o:
“homem de pequena fé, porque duvidaste?” (Mt 14. 27-31). Na verdade, a
fé vacilante de Pedro demonstrava a luta dos discípulos para entender o
grande mistério da vinda de Jesus a um mundo tão turbulento.
Em outra ocasião, Pedro combinou novamente inspiração e in­
compreensão enquanto lutava para compreender a missão de Jesus.
Quando seguia para a nascente do rio Jordão, Jesus perguntou aos seus
discípulos quem as pessoas diziam que ele era. A especulação popular
era impressionante: João Batista, Elias ou talvez algum outro profeta.
“E vós, perguntou ele, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu por
todos eles, dizendo: “Tu és o Cristo” (Mc 8.29). Jesus o respondeu “não foi
carne ou sangue quem te revelaram isso, e sim o meu pai que estás no
céu. Também eu te digo que tu és Pedro (em grego, petrus - que significa
pequeno fragmento de pedra), e sobre esta pedra (em grego, petra - que
significa grande rocha) edificarei minha igreja”.
Há nesse texto um grande e polêmico desafio de interpretação.
Quando Jesus diz “sobre esta pedra edificarei a minha igreja” a quem
ele estava se referindo como a pedra? A Pedro ou a ele mesmo? É alta­
mente possível que um interessante jogo de palavras tenha se perdido
na tradução do aramaico para o grego e do grego para o português. Pos­
sivelmente no aramaico, a mesma palavra teria sido usada para “Pedro”
e “pedra”, e a identificação teria sido muito mais direta do que no grego,
onde ambas as palavras vêm da mesma raiz, ou em português, onde elas
são duas palavras diferentes.
No entanto, existem algumas interpretações para esse texto. A pri­
meira é que a “pedra” aqui é Pedro. A segunda é que a “pedra” aqui é
Cristo. A terceira é que a “pedra” aqui é a confissão de Pedro, e ainda há
a quarta interpretação que diz que a “pedra” é a revelação que foi dada
a Pedro sobre Jesus ser o Cristo.
A terceira e quarta interpretação parecem ser menos prováveis.
Os argumentos em favor da primeira interpretação são pelo menos dois.
O primeiro foi muito usado pela Igreja Católica Romana, tentando usar
esse texto para fundamentar a ideia de Pedro como o primeiro papa da
igreja. O segundo parece ser mais coerente, indicando que Jesus estava
se referindo a condição presente de Pedro (pequeno fragmento de pe­
dra) e a condição futura de Pedro, como uma rocha maciça e firme no
início da igreja primitiva. Dessa forma então, esse texto traduzido seria
assim: Tu és uma pedra, um pequeno e insignificante fragmento, mas
eu mostrarei que grande coisa posso fazer de ti. Tu serás uma rocha
maciça, rocha fundamental na minha igreja, que brevemente começarei
a edificar.
Entretanto, a interpretação mais correta perece ser a primeira,
que aponta a pedra sendo Cristo. Sendo assim, Jesus falou de si mesmo
quando disse “esta pedra”. Diante disso, Jesus teria feito a diferença por
um movimento de mão. Quando falou sobre Pedro, ao usar a palavra
“petrus”, devia ter feito uma ação na direção do apóstolo, e quando fa­
lou sobre a “petra”, a rocha maciça e firma que é ele mesmo, sobre quem
a igreja deveria ser edificada, deve ter feito um gesto que apontava para
si mesmo. Aqueles que assim interpretam se referem também a passa­
gem de 1 Coríntios 3.11, que diz: “Porque ninguém pode lançar outro
fundamento além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”.
Entretanto, ironicamente, Marcos e Mateus revelam que Pedro
não compreendeu o significado das palavras de Jesus. Quando Jesus
começou a contar que eles deveriam sofrer e morrer - idéias que não
combinavam sobre o conceito dos discípulos acerca do Messias -, Pe­
dro prontamente repreendeu Jesus. Percebendo que Pedro estava ex­
pressando a incompreensão de todos os discípulos, Jesus repreendeu-
-lhe diretamente: “Afasta-te de mim Satanás! Tu me serves de pedra de
tropeço” (Mt 16.23). Essa inconstância frequente de Pedro talvez seja
um dos pontos mais anormais de sua personalidade. Mas ao mostrar
tanto a fraqueza como a força de Pedro, os Evangelhos não reduzem sua
importância. Pelo contrário, ele representa o modelo da luta pela fé e
compreensão que todo discípulo enfrenta em sua caminhada por Cristo.
Jesus estava começando a ensinar a Pedro um novo modo de vida.
Em resposta à pergunta de Pedro com relação ao pagamento da taxa
do templo, Jesus assegurou-o que os verdadeiros israelitas deveríam ser
livres da taxação, mas enquanto isso não acontecia, deveríam pagar, e
então deu o dinheiro suficiente para pagar por si e também por Pedro.
Quando Pedro perguntou Jesus se deveria perdoar um inimigo mais de
7 vezes, Jesus respondeu que deveria perdoar 70 vezes 7 (Mt 18.21-22).
Pela surpresa de Pedro com a figueira seca, percebe-se alguma incredu­
lidade acerca do poder de Jesus, que imediatamente o lembrou que pre­
cisava de mais fé (Mc 11.20-22). Era um convite a um novo estilo de vida!
Pedro destacou-se especialmente nas últimas horas da vida de Je­
sus. Ele e João estavam incumbidos de organizar a última ceia em Jeru­
salém (Lc 22.8). Provavelmente Jesus os considerava os mais fiéis e está­
veis entre os discípulos. Na última ceia, Pedro recusou-se a deixar que
Jesus lavasse seus pés, pois essa era uma função do servo. Mas, quando
o Senhor lhe disse que essa seria uma condição necessária para a sua co­
munhão, Pedro revelou sua verdadeira condição pedindo até um banho.
Ele não queria separar-se de Cristo (Jo 13.6-9). Quando Jesus anunciou
a traição iminente, Pedro perguntou a João a identidade do traidor, e
talvez se ele soubesse naquela hora, Judas não teria sobrevivido para
completar a sua barganha maligna com os sacerdotes.
Naquela noite, Jesus alertou os discípulos sobre a terrível prova que
vinha pela frente: “Esta noite, vós vos escandalizareis por minha causa”.
Mais uma vez Pedro se precipitou em suas palavras e disse: “Eu jamais me
escandalizarei”. Jesus olhou para ele e declarou calmamente: “Esta noite,
antes que o galo cante por três vezes me negarás”, ao que Pedro respon­
deu: “Mesmo que tiver de morrer contigo, não te negarei” (Mt 26.31-35).
Após a última ceia, os discípulos seguiram com Jesus para o Get-
sêmani. Ali, Pedro foi um dos três escolhidos para vigiar em oração com
Jesus, mas todos dormiram de cansaço (Mt 26.37-46). De acordo com Ma­
teus e Marcos, Pedro foi chamado à parte para uma repreensão. Quando
os guardas chegaram, Pedro tentou defender Jesus com armas, e foi re­
preendido severamente (Jo 18.10-11). Desconcertado pela resposta inco-
mum de Jesus, e talvez magoado pela repreensão enquanto deveria espe­
rar um agradecimento por arriscar sua vida, Pedro fugiu do jardim com
os outros discípulos enquanto Jesus foi preso e levado pelos soldados.
Ninguém jamais conhecerá o conflito interno de Pedro ao longo
daquela noite. Depois do seu sono letárgico no jardim do Getsêmani, e
de despertar atordoado com uma multidão vindo prender Jesus, feriu
com uma espada Malco, o servo do sumo sacerdote. Somente depois de
recuperarem alguma tranquilidade, Pedro e João seguiram para a sala
do sumo sacerdote após terem seguido os guardas à distância (Jo 18.IS).
Após serem aceitos no pátio, Pedro aquecia-se na fogueira quando um dos
servos perguntou se ele era um dos discípulos de Jesus. Alarmado pela
hostilidade latente à sua volta, ele negou por três vezes qualquer ligação
com Jesus (Mt 26.58,69-75; Mc 14.66-72; Lc 22.54-62; Jo 18. 15-18, 25-27).
Ao ser instantaneamente convencido de seu erro pelo olhar de Jesus, ele
deixou a casa do sumo sacerdote em prantos e arrependeu-se chorando
amargamente.
A Bíblia só volta a falar sobre Pedro na manhã da ressurreição.
Aparentemente ele não esteve presente no Calvário. Quando Maria Ma­
dalena contou na manhã da ressurreição, que o túmulo estava vazio,
Pedro e João correram para investigar e notaram que as vestes de Jesus
estavam no túmulo, mas ele não estava ali (Jo 20.1-10).
Mais tarde, no mesmo dia, Jesus apareceu primeiro para Pedro e
depois aos outros (Lc 24.33-34; ICo 15.5). Oito dias depois da ressurreição
mais uma vez Jesus apareceu aos discípulos (Jo 20.26). Nesses dois encon­
tros que Pedro havia tido com Jesus, nem ele nem o Senhor haviam men­
cionado as três vezes que Pedro o havia negado. A consciência de Pedro
continuava latente quanto ao seu erro, e o fato de Jesus não ter iniciado
um diálogo de reconciliação acerca do ocorrido, com certeza gerou em
Pedro a sensação de que de alguma maneira sua atitude de negar a Cristo
por três vezes havia comprometido a permanência dele entre os discípu­
los. A maior evidência disso é que na sequência da história Pedro volta a
pescar (Jo 21.3). Faziam mais de três anos que Pedro não pescava para sua
sobrevivência, a única vez que ele havia o feito nesse período, foi quando
o Mestre o orientou a fazê-lo para que ele tirasse uma moeda da boca do
peixe para pagar o imposto (Mt 17.27). No chamado de Pedro, Jesus havia
o dito que dali em diante ele seria não mais pescador de peixes, mas sim
pescador de homens. Então porque Pedro voltar a pescar peixes? Sem
dúvidas ele havia pensado que Jesus havia desistido dele.
Na sequência da história acontece a restauração ministerial de Pe­
dro. A impressão que temos é que a atitude de Pedro em voltar a pescar
revela nele um sentimento de “abandono” das esperanças futuras no
ministério. Um sentimento de culpa havia o envolvido. Jesus até então
não havia iniciado um diálogo de reconciliação. No entanto, outra vez
aconteceu o que havia acontecido há quase três anos atrás, os discípulos
pescaram a noite inteira e não apanharam nada. Pela manhã eles esta­
vam voltando novamente para a praia, quando Jesus chegou até eles,
mas eles não o reconheceram (aparentemente a aparência de Jesus era
diferente depois da ressurreição, como que em um corpo glorificado),
novamente eles voltaram ao mar com Jesus, e quando eles lançaram
a rede mais uma vez, a surpresa se repetiu, a rede estava cheia, eles
reconheceram que o companheiro do barco era Jesus, e em uma cena
inesperada, Pedro se lança ao mar, envergonhado da presença de Jesus.
A cura na alma do discípulo ainda não havia acontecido (Jo 21.1-8).
Na praia Jesus chamou Pedro para conversar, e da mesma forma
que Pedro havia negado três vezes ao Senhor, por três vezes ele foi in­
terrogado se ainda amava o mestre (a repetição das “três vezes” não ia
passar despercebida para Pedro). Pedro respondeu por três vezes que
amava ao Senhor, e por três vezes Jesus lhe confirmou a responsabilida­
de de cuidar de suas ovelhas.
Não podemos deixar passar despercebida a riqueza que há nesse
texto. Por três vezes Jesus pergunta se Pedro o ama. Na língua portugue­
sa não conseguimos perceber a variedade do verbo “amar” que há no
texto. No texto original são usadas duas palavras para “tu me am as”. A
primeira palavra é agapas (ágape) e a segunda é phileo. O amor ágape
é o amor profundo e sacrificial, o amor phileo é o amor que pode ser
traduzido por “gostar” ou “ter afeição”. Trata-se de um grau inferior de
amor que agapas. Nas duas primeiras vezes que Jesus perguntou se Pe­
dro o amava Jesus perguntou usando o termo ágape, e Pedro respondeu
usando o termo phileo. Era como se Jesus tivesse perguntado: Pedro tu
me amas? E Pedro respondesse: Tu sabes que eu gosto do Senhor. Pedro
ainda não estava se sentindo à vontade para declarar seu amor por Je­
sus. Sua negação a Cristo não havia demonstrado isso.
Na terceira vez que Jesus perguntou a Pedro se ele o amava, ele
não usou o termo ágape, mas desceu o nível do amor no diálogo em
relação ao amor de Pedro, e usou o termo phileo. Era como se Jesus per­
guntasse: Pedro, então você só gosta de mim? Quando Pedro percebeu
isso ele se entristeceu diante de Jesus e disse: “Senhor tu sabes de tudo,
tu sabes que eu te amo” (Jo 21.17). No entanto, mais uma vez, Pedro não
usou o termo ágape, mas repetiu o termo phileo. Como que responden­
do: Senhor tu sabes de tudo, tu sabes que eu gosto do Senhor. Porém,
dessa vez de alguma maneira Pedro sentiu-se perdoado no Senhor, e
abandonou para sempre a pescaria e assumiu de uma vez por todas a
responsabilidade de liderança no cuidado das ovelhas de Jesus.
Outro detalhe interessante do grego nesse texto são os dois termos
que Jesus usou para o rebanho e para o cuidado do rebanho. Jesus usou as
expressões cordeiros e ovelhas, para o rebanho e usou as expressões pasto­
rear e apascentar em relação ao cuidado do rebanho. Cordeiros são ovelhas
ainda novas antes de um ano de idade, enquanto que ovelhas se refere à
mesma espécie de ovelhas que os cordeiros, mas em uma idade já adulta
(Como se fosse, por exemplo, bezerro e boi - é a mesma espécie, no entanto,
são fases diferentes). Aparentemente Jesus está enfatizando aqui o cuidado
mais atencioso com aqueles que ainda são novos na fé. Já sobre o cuidado
do rebanho, a palavra para “apascentar” que é usada nos versículos 15 e
17 no grego é bosko. Enquanto que, a palavra para pastorear que é usada
no versículo 16 no grego é poim ano. No sentido original do texto, a palavra
“apascentar” significa o trabalho coletivo de alimentar todas as ovelhas, en­
quanto que, “pastorear” fala sobre o trabalho individual realizado no cui­
dado pessoal com cada ovelha. Era como se Jesus estivesse ensinando que o
cuidado do pastor com o rebanho precisa ser tanto na coletividade como na
individualidade. Por último, vale à pena destacar que a única condicional
que Jesus impôs a Pedro para que ele cuidasse das ovelhas era o seu amor
por Jesus, e não pelas ovelhas. Isso não significa que o pastor não irá amar
as ovelhas, mas ensina que a motivação do ministério pastoral deve ser o
amor por Jesus. Pois assim, ainda que o “cansaço” do relacionamento do
pastor com a ovelha tente desanimá-lo em sua missão, se a sua motivação
principal for o seu amor a Jesus, ele irá continuar em sua missão por enten­
der que Cristo confiou a ele o fruto do seu penoso trabalho, as suas ovelhas.
Sete semanas após a crucificação de Jesus, no dia de Pentecostes,
no início da grande festa, Pedro e os outros discípulos receberam o novo
poder que Jesus prometera - a vinda do Espírito Santo. Reunidos em
Jerusalém, os discípulos ouviram um ruído como o agitar de um vento
impetuoso e viram o que pareciam ser línguas de fogo que se repartiam
e pousavam sobre eles. Eles correram em direção da multidão que esta­
va na festa e começaram a anunciar “as m aravilhas de Deus” (At 2.11).
Impressionadas, as multidões de judeus de todo o Império Romano, do
Império dos Partos e de todas as nações ali presentes escutaram em suas
próprias línguas essa mensagem maravilhosa (ao todo eram povos de
16 localidades).
Pedro, de pé, foi o porta-voz que lhes explicou o que estava aconte­
cendo. Explicando o que havia profetizado o profeta Joel, Pedro lembra-
va a todos que “sucederá nos últimos dias”, diz Deus, “que derramarei
do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetiza­
rão, vossos jovens terão visões e vossos velhos sonharão” (At 2.17). Essa
tão esperada vinda do Espírito Santo, Pedro disse, foi enviada pelo mes­
mo Jesus por meio de quem eles testemunharam os prodígios do poder
de Deus, mas que foi crucificado por homens “ímpios”. Entretanto, Deus
reverteu essa condenação humana, ao ressuscitar Jesus dos mortos e
por tê-lo exaltado à direita de Deus (At 2.23-33). Cerca de três mil pes­
soas se converteram a Cristo, convencidas pelo poder dessa mensagem e
foram batizadas naquele mesmo dia, unindo-se a Pedro e aos discípulos
para formar a nova comunidade da fé de Jerusalém.
Os meses subsequentes foram um período de perseguições e cres­
cimento. Certa vez, Pedro, acompanhado de João, curou um aleijado no
templo e, com esse acontecimento, proclamou Jesus e a sua ressurreição
para uma vasta multidão de pessoas impressionadas. Este acontecimen­
to, no entanto, contrariou os aristocráticos sacerdotes do templo. Pedro
e os demais discípulos foram presos inúmeras vezes e foram seriamente
ameaçados, mas recusaram a interromper seu trabalho de anunciação
das boas novas de Cristo. Pedro então afirmou: “É preciso obedecer an­
tes a Deus do que aos homens” (At 5.29) - vale à pena lembrar que esse
texto nunca deu base para “obedecer a Deus” e desobedecer a lideranças
espirituais estabelecidas por Deus. Esse gesto de tamanha ousadia em
homens “iletrados e sem posição social” causou admiração até mesmo
em seus oponentes, que os reconheceram como “aqueles que haviam es­
tado com Jes u s ” (At 4.13). Esse comportamento também mereceu a cui­
dadosa tolerância do fariseu Gamaliel, que orientou as demais autorida­
des religiosas judaicas a não se preocuparem com os discípulos de Jesus,
dizendo que, se esse movimento não viesse de Deus, cairia sozinho. Mas,
se viesse de Deus, nada os impediria (At 5.39).
Pedro e João viajaram até Samaria para ajudar e confirmar o tra­
balho de Filipe e impor as mãos sobre os novos crentes, para que “re­
cebessem o Espírito Santo” (At 8.15). Em Samaria, Pedro encontrou um
famoso mágico chamado Simão, que iludira muitos samaritanos. Quando
viu o poder do Espírito Santo manifestado através de Pedro e João, Simão
ofereceu dinheiro a Pedro para que ele também fosse capaz de transmitir
o Espírito Santo impondo as mãos sobre as pessoas, mas Pedro replicou:
“Pereça o teu dinheiro, e tu com ele, porque julgaste poder comprar com
dinheiro o dom de Deus (At 8.20).
Na época da igreja primitiva uma das primeiras controvérsias da
igreja foi decidir se os gentios que aceitaram “o Caminho” precisavam an­
tes serem circuncidados para depois receberem o batismo. Naqueles dias,
o movimento ainda era considerado uma seita do judaísmo. Paulo enten­
dia que alguns judeus ainda tinham a expectativa de permanecerem fiéis
à lei, mas disse que os gentios não estavam obrigadas a segui-la. Esperava-
-se que eles seguissem os princípios morais da lei, mas não as prescrições
rituais, tais como circuncisão e restrições alimentares. Pedro, no entanto,
considerava que para os gentios tornarem-se cristãos precisavam primei­
ro tornar-se judeus pela lei. Essa foi à chamada “controvérsia judaizante”,
que ameaçou a criar uma divisão significativa entre os primeiros crentes.
Pedro estava em Jope na época em que essa questão chegou ao
seu ponto culminante, hospedado na casa de Simão, o curtidor. Ele es­
tava no terraço da casa de Simão, e ali teve uma visão. Deus baixou um
lençol onde havia uma diversidade de animais considerados impuros
pela lei e mandou que Pedro matasse os animais e comesse. Crendo que
era um teste de obediência à lei, ele se recusou, dizendo que nunca na
vida tinha comido algo que fosse ritualmente impuro. Deus lhe disse:
“Não chame de impuro aquilo que eu purifiquei” (At 10.15). Deus estava
dizendo com isso a Pedro, que os gentios não eram mais impuros, eles
haviam em Cristo sido purificados pelo Senhor, por isso eles deveríam
ser reconhecidos também como Igreja, independente da observância da
lei. Enquanto Pedro tentava compreender o significado da visão, alguns
homens vieram de Cesareia para pedir que ele explicasse a nova fé a
Cornélio, um gentio, centurião romano que queria saber mais sobre Je­
sus. Ficou claro para Pedro que a visão servira para lhe dizer que Corné­
lio, e por extensão todos os outros gentios, poderíam se tornar cristãos
sem antes precisar se tornar judeus pela obediência da lei.
Depois disso, Pedro relatou sua mudança de posição aos líderes
da igreja em Jerusalém. Para que os anciãos definissem a posição da
igreja em relação a essa questão foi organizado um concilio dos anciãos
da igreja em Jerusalém, em 49 d.C. Essa decisão pode ser considerada o
primeiro grande rompimento entre o cristianismo e o judaísmo. A par­
tir daquele momento, os gentios, que eram considerados ritualmente
impuros pelos judeus, foram plenamente aceitos no “Caminho”. Depois
desse concüio, embora Pedro tenha concordado com Paulo, continuou
sendo missionário, principalmente entre os judeus. Enquanto isso, Pau­
lo dedicou-se mais a pregar o evangelho aos gentios, e esse trabalho de
Paulo com os não judeus rendeu a ele o título de “Apóstolo dos Gentios”.
Quando os apóstolos, no concilio de Jerusalém, foram decidir as
condições nas quais os gentios podiam ser admitidos na igreja, o presi­
dente do concilio que editou o decreto não foi Pedro, mas Tiago, o irmão
do Senhor, líder da comunidade de Jerusalém. Naquela época, Tiago era
provavelmente a pessoa mais influente no cristianismo na Palestina. É
importante notar em relação a isso, que quando Paulo mencionou os
“pilares” da igreja, Pedro aparentemente já não era o líder principal:
Tiago foi o primeiro, Cefas (Pedro), o segundo e João, filho de Zebedeu,
o terceiro (G12.9).
Independente de seu interesse principal ser a conversão dos judeus,
Pedro também foi a regiões gentflicas. Paulo indica que Pedro (ou Cefas,
como Paulo geralmente o chamava), tornou-se uma figura importante nas
igrejas de Corinto e Antioquia. Em Corinto, Paulo afirma que existia um
grupo que declarava “ser de Cefas" (ICo 1.12). Em Antioquia Pedro e Paulo
tiveram um grande desentendimento sobre questões judaicas, acerca de
até aonde os gentios cristãos tinham que ceder às práticas das leis dietéti-
cas. Quando Pedro foi inspecionar a Barnabé e Paulo, ele desejava sentar
à mesa comunal de judeus e gentios para partilhar do momento das refei­
ções. Mas, quando membros da devota e estritamente observante “facção
da circuncisão” chegaram a Antioquia, vindos de Jerusalém, Pedro, não
querendo ser visto comendo com gentios, que eram considerados pela lei
como pagãos, retirou-se da mesa e convenceu os judeus cristãos, incluin­
do Barnabé, a fazerem o mesmo. Paulo o repreendeu publicamente por
sua duplicidade (G1 2.11-14). Sua discordância com Paulo foi resolvida, e
mais tarde Pedro referiu-se a ele como “am ado irm ão” (2Pe 3.15). Pedro
também empreendeu numerosas viagens e ensinou nas igrejas de Ponto,
Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (lPe 1.1).
Enquanto isso, a perseguição estava aumentando, e Herodes Agri-
pa I executou Tiago, o irmão de João. Pedro foi lançado na prisão com
sentença de morte definida. No entanto, ele foi libertado por um anjo, e
“então saiu e f o i para outro lugar" (At 12.17). Há grandes evidências que
o Evangelho escrito por Marcos tenha tido Pedro como a fonte principal
de informações.
Existe uma grande polêmica se Pedro foi ou não a Roma. A tra­
dição católica romana, diz que ele fundou a igreja ali e viveu em solo
romano por vinte e cinco anos até seu martírio. Mas, não há nenhuma
evidência concreta dessa declaração da igreja romana. Se ele tivesse
vivido em Roma entre os anos de 55 e 65 d.C., poderiamos considerar
inconcebível que Paulo não tenha o mencionado em sua carta aos roma-
nos. A ausência de alguma citação à sua pessoa em Atos, se ele estivesse
na cidade quando Paulo esteve preso ali, também seria inconcebível. Al­
guns chegam a afirmar que Pedro faz menção de Roma em sua primeira
carta, quando ele manda saudações de “B abilôn ia” (lPe 5.13), e que a
menção de “Babilônia” aqui se referia a Roma.
A tradição de que Pedro foi o primeiro Bispo de Roma não é sus­
tentada por nenhum texto bíblico, e até mesmo seu martírio em Roma
baseia-se em um testemunho expresso muitos anos após sua morte. Iri-
neu, em aproximadamente 180 d.C., disse que Paulo e Pedro pregaram
em Roma e colocaram os alicerces da Igreja. Tertuliano, em aproxima­
damente 200 d.C., refere-se ao martírio de Pedro e Paulo em Roma, mas
faz isso em uma linguagem que soa como se estivesse citando mais uma
outra tradição do que se de fato estivesse registrando uma evidência
documentária. Orígenes, afirmou que Pedro finalmente visitou Roma e
foi crucificado de cabeça para baixo, e Eusébio de Cesareia confirma a
informação de Orígenes. Clemente de Roma, que morreu em 95 d.C., diz
que a morte de Pedro aconteceu no tempo de Nero, por volta do ano 64.
Uma análise cuidadosa dessas tradições mostra que embora possa exis­
tir alguma razão para se acreditar que Pedro esteve em Roma, aparente­
mente ele não fundou a igreja e nem foi seu bispo durante um período
considerável. A tradição por Clemente, Irineu e Tertuliano aponta que
Pedro foi martirizado na colina do Vaticano, em Roma, e um memorial
sobre esse acontecimento ali existia por volta do ano 160 d.C. Não se
pode afirmar, sem gerar controvérsias, onde ele foi sepultado. As dis­
cussões sobre a localização do túmulo de Pedro tem se concentrado em
torno da Basílica de São Pedro e das catacumbas de São Sebastião na
Via Ápia. A existência de um grafite com informações de Pedro nas cata­
cumbas de São Sebastião sugeria a alguns que os restos de Pedro estive­
ram ali durante algum tempo - sendo transferidas para essas catacum­
bas por questão de segurança, durante a feroz perseguição de Valeriano
em 258 d.C. No entanto, para muito isso não passa de uma teoria de
especulação, não sendo provada por nenhuma pesquisa arqueológica.
O que podemos afirmar é que Pedro - tendo visitado ou não a cidade de
Roma - foi um grande líder do inicio da história da igreja, um importan­
te apóstolo que andou pessoalmente com Jesus e deixou-nos um legado
que tem abençoado muitas gerações até o dia de hoje.
Logo depois da morte de Moisés, Deus disse a Josué que ele e o
povo tinham de atravessar o Jordão e ocupar a terra prometida. Contu­
do, antes de atravessar o rio, Josué enviou dois espias para a terra a fim
de fazer reconhecimento da oposição, em particular da cidade fortifi­
cada de Jerico. Depois de entrarem na cidade, os espias encontraram o
caminho para a casa de Raabe. Os espias certamente entenderam que a
casa de Raabe não chamaria tanta atenção, uma vez que era frequente­
mente frequentada por estranhos.
Raabe foi uma meretriz (prostituta) de Jerico, que morava na mu­
ralha da cidade. Sua história é contada em Josué 2.1-22; 6.17-25. A ex­
pressão usada para a casa de Raabe no hebraico é bet 'isha zona, “casa
de uma m ulher prostituta” (Js 2.2). A tradução da palavra “z o n a ” pode
simplesmente significar uma mulher que tem relacionamento com ho­
mens. Por isso há os que supõem que esse termo também possa se refe­
rir à proprietária de uma hospedaria, e este significado é defendido por
alguns intérpretes. Devido a isso, há os que pensam que a casa de Raabe
era uma hospedaria, além de aparentemente ser também um bordel.
De acordo com o código de Hamurabi, a hospedaria era um lugar
onde os visitantes podiam se hospedar ou se reunir, porém a presença
de suspeitos ou criminosos tinha que ser reportada ao palácio. A pro­
prietária era a vendedora de vinho, e assim encarregada do estabele­
cimento, o qual estrangeiros frequentavam, mas não necessariamente
para uma condição imoral. De acordo com o Épico de Gilgamesh, uma
proprietária de hospedaria desempenhava um papel similar. No entan­
to, as referências a Raabe em Hebreus e Tiago usam a palavra grega
porne, que definitivamente significa “prostituta” e isso é decisivo para
aqueles que sustentam a inspiração plena das escrituras. Embora aceita­
mos a designação “prostituta” com a força da referência do NT, isto não
elimina a possibilidade da casa de Raabe ser também uma pousada ou
hospedaria, o que na verdade pode explicar a escolha dos espias como
um local para se hospedarem. Essa escolha pode não ter sido a melhor
em questão de segurança, pois era aberto ao público, mas era um lugar
conveniente uma vez que qualquer pessoa podia entrar.
A notícia da chegada dos espias não demorou a chegar aos ouvidos
do rei de Jerico, que naturalmente exigiu que Raabe informasse o paradeiro
deles. Ela disse ao rei: “De fato, estes homens vieram a mim e eu não sabia de
onde eram. E, havendo de fechar a porta da cidade, à noite, esses homens saí­
ram e não sei para onde foram. Persiga-os rapidamente e os alcançarás” (Js
2.4-5). Os homens do rei saíram em perseguição procurando pelos caminhos
dos vaus do Jordão. Na verdade, os espias estavam escondidos nos talos de
linho que estavam secando no telhado da casa dela. Enquanto o rei exami­
nava a banda esquerda da cidade de Jerico à caça dos espias. Raabe disse a
eles o motivo de sua cumplicidade para com os israelitas: ela temia o Deus de
Israel. Raabe implorou por sua vida e pela vida de seus parentes. Ela ouvira
as histórias sobre como Deus ajudara os israelitas contra os egípcios abrindo
o mar Vermelho e destruindo os inimigos de Israel, e expressou sua fé em
Deus, dizendo: “Sei que o Senhor vos deu esta terra” (Js 2.9).
Uma vez que a casa estava construída na muralha da cidade, ela os
fez descer por uma corda pela janela. Por sugestão dela, os espias ficaram
três dias escondidos antes de voltarem para o seu acampamento em Moabe
e Raabe os alertou sobre qual estrada pegar a fim de não serem capturados.
Daí por diante, a história de Raabe tomou um rumo decisivo. Por
causa dessa ajuda, os espias concordaram em salvar Raabe e sua famí­
lia. Mas, ela teria de manter silêncio sobre a missão que havia os levado
até lá. Ela teria que colocar um fio de escarlate pendurado na janela
dela para o lado de fora da muralha da cidade para que quando os is­
raelitas fossem destruir a cidade identificassem a sua casa e os resgatas­
sem. Raabe e sua família, na verdade, foram os únicos sobreviventes da
cidade de Jericó. Eles foram levados em segurança, sob o comando de
Josué, pelos mesmos homens que Raabe salvara. A família de Raabe foi
poupada e incorporada ao povo de Deus e os seus descentes “habitam
em Israel a té h o je” (Js 6.25).
De acordo com a genealogia de Jesus, Raabe tornou-se progenitora
do Messias. Mateus registra que ela se casou com Salmon e foi mãe de Boaz,
que se casou com Rute e foi avó de Davi (Mt 1.5). Além disso, tia genealogia
de Jesus existem mais duas mulheres de reputação duvidosa: Tamar, que
seduziu seu sogro Judá, e Bate-Seba, que cometeu adultério com Davi.
Raabe se tornou um exemplo clássico do que a fé pode fazer na
vida de uma pessoa, independente de um passado humano menos pro­
missor. Mostrando-nos ao mesmo tempo, que não há uma pessoa que
esteja fora do alcance do favor da graça de Deus. O poder salvador de
Deus não exclui nem mesmo os piores pecadores.
O autor da epístola aos Hebreus menciona seu nome como um exem­
plo de fé (Hb 11.31), e Tiago, menciona Raabe, por haver demonstrado sua
fé mediante suas obras (Tg 2.25). Além disso, Tiago reuniu Abraão e Raabe
juntamente (Tg 2.21-25). E isso foi algo espantoso, o fato de que Raabe veio
a ser mencionada em justaposição com o de Abraão, sendo usado dentro
de um mesmo parágrafo, entretanto, isso ilustra duas coisas: o poder ex­
traordinário da fé e o fato de mesmo Raabe, sendo uma meretriz, acabou
não dificultando em nada a ação da graça, pois para Deus não há diferença,
todos nós somos pecadores.

Raquel Nome hebraico, significa "Ovelha".

Raquel era a filha mais nova de Labão. Em toda a Bíblia, há apenas


uma cena em que um homem beija uma mulher. A cena aconteceu em Pa-
dã-Arã, onde “Ja c ó deu um beijo em Raquel e depois caiu em profundo choro
(soluço em algumas tradições)” (Gn 29.11). Ele então pediu a Labão - que
era pai de Raquel e tio de Jacó - que lhe concedesse sua filha em casamento.
Jacó, que estava fugitivo de Canaã, não tinha dinheiro para fazer o paga­
mento do dote por Raquel, então um mês depois fez uma proposta a Labão:
“Eu te servirei sete anos p or R aquel tua filha mais nova” (Gn 29.18).
Embora, Jacó amasse muito a Raquel, esse foi um preço altíssimo
para o dote de um casamento, mas Labão tinha poucos escrúpulos na hora
de negociar. Ele viu que Jacó estava desesperadamente apaixonado por Ra­
quel e quis se aproveitar disso.
Ao fim daqueles sete anos, Labão fez uma trapaça. Os casamentos
eram eventos festivos que começavam ao entardecer com uma procissão
que saia da casa do noivo até a casa da noiva - nesse caso, de uma tenda
a outra. A procissão ficava dando voltas por um caminho longo, enquanto
a noiva totalmente coberta era carregada em uma liteira. A procissão era
acompanhada de música, danças e muito vinho. Assim, já era bem escuro
quando a noiva e o noivo eram finalmente declarados marido e mulher. A
noiva ainda ficava toda coberta, todos já estavam cansados e, no mínimo,
um pouco bêbados, e somente no quarto - ou na tenda - do casal que a
noiva tirava o véu.
Jacó, quando levou sua esposa para a tenda, logo consumou o ca­
samento, mas descobriu no dia seguinte, que ele tinha se casado com
Lia, a irmã mais velha de Raquel. Quando Labão barganhou pela pri­
meira vez, certamente pensou que Lia se casaria dentro dos próximos
sete anos, mas não foi o que aconteceu. Labão e Jacó então acertaram
que após os sete dias de núpcias com Lia, ele se casaria com Raquel e
trabalharia mais sete anos para Labão.
As duas irmãs tornaram-se duras concorrentes na luta pela afeição
de seu marido, embora Jacó “am ou Raquel m ais que L ia” (Gn 29.30). As
duas desejavam fazer o que era esperado de uma mulher naquela época:
conceber e dar luz a filhos. Lia logo concebeu Rúben, Simeão, Levi e Judá.
Entretanto, Raquel continuava estéril, e acabou a ter dois filhos indiretos
- Dã e Naftali - através de sua escrava Bila.
Ainda assim, Raquel queria ter seus próprios filhos. Ela chegou a
oferecer a Lia uma noite com Jacó em troca das “m andrágoras de seu fi­
lho” (Gn 30.14). Essa era uma planta afrodisíaca e que também acredi­
tavam que combatia a esterilidade. Naquela noite, Lia engravidou-se de
Issacar, e depois deu à luz ainda a Zebulom, e Diná, a única filha de Jacó.
Somente após isso que Raquel conseguiu dar um filho a Jacó, que ela cha­
mou José, dizendo: “Deus retirou a minha vergonha” (Gn 30.23).
Quando Jacó completou o segundo período de sete anos de serviço,
ele finalmente estava livre para ir embora. Mais uma vez, Labão tentou
enganar Jacó, mas ele foi mais esperto que o sogro, virando a mesa e indo
embora com uma grande fortuna em rebanhos, que era a riqueza da épo­
ca (Gn 30.31 em diante).
Ironicamente, esta mulher que tão desesperadamente queria ter fi­
lhos morreu em um parto na viagem de volta a Canaã. Raquel ao dar luz a
esse menino o chamou de Benoni {“filho da minha dor”), mas Jacó mudou o
nome dele para Benjamim {“filho da minha m ão direita”), e o amou muito.
Raquel foi enterrada no caminho para Belém, e em seu túmulo foi
erguido um monumento. Ela é a única representante das três primeiras
famílias patriarcais que não foram sepultadas na caverna de Macpela, lu­
gar que Abraão comprou para servir de descanso eterno para Sara. Atual­
mente está localizado nas proximidades de Belém, um monumento que
é chamado de “Cúpula de Raquel”. Hoje, é uma pequena mesquita sob
o controle de muçulmanos. Samuel, entretanto, mencionou o túmulo de
Raquel como estando em Zelza (1 Sm 10.2)
Rebeca Nome hebraico, significa "Deus acrescente o povo".

Rebeca foi a esposa do patriarca Isaque. Era filha de Betuel, que, por
sua vez, era filho de Milca e Naor, irmão de Abraão (Gn 22.20-23). Abraão
era seu tio-avô e, no fim, é claro, tornou-se seu sogro. Labão, pai de Lia e
Raquel era irmão de Rebeca.
I
Gênesis 24 é o relato da busca bem-sucedida do servo de Abraão -
Eliezer - por uma esposa para Isaque. Abraão não queria que seu filho se
casasse com uma mulher cananéia da região. Em resposta a oração de Elie­
zer, Rebeca não só deu de beber aos homens, mas também deu água aos
seus camelos. Após certa dose de hospitalidade e o pagamento ter sido feito,
Rebeca, de boa vontade, partiu para se encontrar com o seu marido.
Durante uma fome que houve naquela época, Isaque e Rebeca, mu­
daram-se temporariamente para território filisteu, na parte ocidental de
Canaã, a aproximadamente 30 km do mar Mediterrâneo. Rebeca era tão
bonita (Gn 26.7), que Isaque temeu que os homens poderiam querer matá-
-lo para se casar com ela. Então ele disse a todos que Rebeca era sua irmã.
Certo dia, porém, o rei flagrou acariciando-a e repreendeu-o pela mentira,
e depois deu ordens para que ninguém o tocasse. Curiosamente, Isaque re­
petiu o mesmo erro do pai: mentir para não correr riscos, dizendo que a
esposa era irmã. No caso de Abraão, Sara era meia-irmã, entretanto, essa
não era a realidade entre Isaque e Rebeca. Isso nos ensina a influência que
nossos comportamentos geram nas próximas gerações! Aquilo que uma ge­
ração aceitar, a outra literalmente praticará!
Após 20 anos de esterilidade (Gn 25. 21-26), Rebeca gerou dois fi­
lhos gêmeos: Esaú e Jacó. Ela tinha preferência por Jacó, o mais novo,
e participou do arranjo para enganar o marido e assegurar o direito da
primogenitura para Jacó. Disfarçar Jacó para que esse se assemelhasse a
Esaú tanto ao tato quanto ao cheiro - individuo que vivia ao ar-livre no
campo - foi ideia dela. Foi ela também quem preparou o prato favorito de
Isaque a fim de facilitar a trapaça (Gn 27.5-17). Quando Jacó teve que fugir
da ira de Esaú, Rebeca rogou-lhe que fosse até o seu povo, em Padã-Arã,
e provavelmente ela morreu antes de Jacó retornar para as terras de seu
pai, vinte e um ano depois.
Sua determinação foi usada de maneira errada. E espiritualidade foi
sufocada pela falta de paciência e confiança para esperar o cumprimento
das promessas de Deus (Gn 25.23), e aquela que era a esposa digna acabou
se transformando em uma mulher dominadora. E que preço Rebeca pa­
gou! Nunca mais viu seu querido filho Jacó.
Após sua morte, Rebeca foi sepultada na caverna de Macpela, junto
com Sara (Gn 49.31) [Para mais informações sobre Rebeca, ver Isaquej.

Roboão Nome hebraico, significa "Deus acrescente o p o v o ".

Roboão foi filho e sucessor do rei Salomão. Foi na sua gestão que
a monarquia, antes unida (12 tribos), se dividiu. Quando Salomão mor­
reu, Roboão, seu filho, assumiu o trono com 41 anos de idade. Até onde
sabemos, Roboão era o único filho homem de Salomão, cuja mãe era
Naamá, a amonita (lRs 14.21). No entanto, apesar de ser filho de um pai
sábio, Roboão possuía idéias muito limitadas.
Como filho e sucessor de Salomão, Roboão esperava governar so­
bre todo o Israel, assim como fizera seu pai. No entanto, ele havia her­
dado muitos problemas e, na época da morte de Salomão a situação do
reino estava longe de ser estável. À medida que o poder e a riqueza de
Salomão acumulavam-se, ele deixava de seguir ao Senhor de todo o seu
coração (lRs 11.4). Seus casamentos com mulheres estrangeiras, realiza­
dos contra a lei de Deus, foram os fatores que mais contribuíram para a
sua apostasia moral e religiosa. Sem dúvidas tais esposas, como a filha
do Faraó do Egito, por exemplo, foram tomadas por razões políticas e
diplomáticas, a fim de assegurar a estabilidade do reino e a paz com as
nações vizinhas.
Salomão havia falhado na confiança de que o Senhor protegeria as fron­
teiras de Israel. Ojuízo de Deus veio rapidamente, por meio de inimigos que se
levantaram contra a nação de Israel e atacaram e causaram problemas cons­
tantes a Salomão (lRs 11.14,23). Diante dessa apostasia, o Senhor prometeu
que o reino seria dividido após a morte de Salomão. Ou seja, embora a culpa
pela divisão do reino normalmente recaia sobre Roboão, claramente a estrada
já havia pavimentada por seu pai, Salomão.
Além de toda essa sequência que já havia sido estabelecida por Deus,
o governo de Salomão exigia também uma entrada financeira dispendiosa,
que ocasionava o pagamento de altos impostos do povo para manter as enor­
mes despesas da corte e o luxo desnecessário do palácio e das “esposas” de
Salomão (lRs 4.9; 9.15-24). Durante seu reinado, um de seus principais ofi­
ciais (Jeroboão I) rebelou-se e fugiu para o Egito. Após a morte de Salomão,
Jeroboão retornou para Israel e iniciou o seu projeto de conquistas das tribos
para formar um novo reino.
Depois de sua posse, Roboão foi a Siquém, onde os líderes de Israel
lhe perguntaram se ele continuaria com a mesma política de trabalhos
forçados e impostos onerosos do seu pai. Os anciãos o aconselharam a
ceder e governar servindo ao povo e diminuindo a carga tributária. Ro­
boão, porém, preferiu ouvir seus amigos e respondeu a multidão: “Se meu
pai vos impôs um jugo pesado, eu aum entarei mais ainda o vosso jugo. Meu
pai vos castigou com açoites, eu vos castigarei com escorpiões” (lRs 12.11).
Jeroboão, então, imediatamente se rebelou contra Roboão que fu­
giu para Jerusalém. No entanto, “esta m udança vinha do Senhor, para
confirm ar a palavra que o Senhor havia dito” (lRs 12.15).
A partir daquele momento, as dez tribos do norte declararam Jero­
boão como rei, mantiveram o nome de Israel e formaram o Reino do Nor­
te, cuja capital a princípio foi Siquém, e depois, Samaria. Roboão governou
apenas sobre as tribos da parte do sul - Judá e Benjamim - e formaram o
Reino do Sul, cuja capital era Jerusalém. Este reino ficou conhecido como
o reino de Judá, cuja tribo era muito maior que a tribo de Benjamim. De
fato, a população e as terras de Judá e Benjamim eram quase equivalentes
à soma das dez outras tribos.
Roboão tentou mostrar sua autoridade enviando um superinten­
dente chamado Adonirão para por um fim àquela rebelião. No entanto, os
homens de Israel o apedrejaram até a morte. Roboão percebeu o perigo
que corria e vergonhosamente correu para sua carruagem e fugiu para
Jerusalém (2Cr 10.16-19). Em seguida, Roboão mobilizou um exército de
180 mil homens contra Israel, mas a guerra foi impedida pelo Senhor, ao
enviar o profeta Semaías, que disse ao povo que a divisão do reino fora
ocasionada pelo Senhor. Portanto, eles não deveriam lutar contra as tri­
bos do norte (lRs 12.22-24).
Roboão reinou durante 17 anos em Judá - de 931 a 913 a.C. - mas
não seguiu ao Senhor como fez Davi (lRs 11.43; 14.21,31). No seu reina­
do, a idolatria foi praticada em Judá, e diversos altares foram construí­
dos a deuses estranhos. Práticas proibidas pela lei - inclusive a prosti-
tuição-cultual - foram permitidas durante o seu governo (lRs 14.21-24).
Como resultado dessa apostasia, no quinto ano do reinado de Ro­
boão, o rei Sisaque, do Egito, invadiu e atacou Jerusalém, saqueando os
tesouros do templo (2Cr 12.1-6). A Bíblia da pouca atenção a esse ataque,
mas os registros egípcios indicam que foi vigoroso e bem-sucedido. Apa­
rentemente, Sisaque, tinha o sonho de restabelecer o grandioso império
egípcio de mil anos antes, mas a força da monarquia unida da época
de Salomão havia sido um impedimento. Depois dessa monarquia se
desagregar, Sisaque viu uma oportunidade de realizar esse desejo. De
acordo com as inscrições arqueológicas do templo de Karnak, no Egito,
ele assumiu o controle de mais de 150 cidades na região, e a arqueologia
confirma que esse número é aceitável. Jerusalém e Siquém, no entanto,
não foram tomadas, mas foram obrigadas a pagar tributos pesados ao
Egito. Roboão teve que entregar os tesouros do templo de Jerusalém a Si­
saque, e até mesmo os escudos de ouro que Salomão havia feito tiveram
que ser entregues (2Cr 12.1-12).
Provavelmente a única coisa que impediu o Egito de obter o con­
trole total do Oriente Médio foi a morte de Sisaque em 915 a.C. Os su­
cessores de Sisaque no Egito não tiveram a mesma ambição e dedicação
que ele, e se passaram dois séculos até que o Egito voltasse a ser uma
ameaça significativa à Palestina.
Roboão seguiu os mesmos passos do seu pai, Salomão. Teve 18 es­
posas e 60 concubinas, permitindo que suas esposas estrangeiras man­
tivessem seus costumes idólatras e praticassem suas religiões pagãs em
Judá. Além disso, Roboão incentivou o mesmo procedimento entre os
seus filhos (2Cr 11.18-23). Roboão teve ao todo 28 filhos e 60 filhas (2Cr
11.21). A esposa que Roboão mais amava era Maaca, filha de Absalão
(que não era o filho de Davi), o filho dela, Abias, foi o sucessor de Roboão
no trono do Reino do Sul.

Rúben Nome Hebraico, significa "O Senhor atendeu à minha Aflição’’.

Rúben foi o filho primogênito de Jacó. Nasceu em Padã-Arã e era


filho de Lia (Gn 29.31-32; 35.23; 46.8). Rúben teve quatro filhos: Enoque,
Palu, Hezron e Carmi (Gn 46.8-9; Êx 6.14; lCr 5.3). É bem provável que seu
nome derive de dois vocábulos hebraicos que provavelmente signifiquem
“veja, um filho”. Entretanto, o jogo de palavras em Gênesis 29.32 relaciona
seu nome à frase traduzida como “o Senhor atendeu à minha aflição”. Isso
indica o sentimento que Lia teve ao nascer Rúben. Ela viu o fim de sua es­
terilidade como resultado da graça de Deus.
Sobre o início da vida de Rúben só sabemos a respeito do inciden­
te registrado em Gênesis 30.14, quando ele encontrou mandrágoras no
campo e levou-as para sua mãe. As mandrágoras eram plantas conside­
radas afrodisíacas. Mas quando a estéril Raquel lhe pediu algumas, Lia
as deu em troca de uma noite com Jacó, que resultou no nascimento de
Issacar. Esse episódio deu início a intriga em família (Gn 30.14-16).
Um dos fatos mais conhecidos sobre Rúben é o desonroso envol­
vimento dele em se deitar com Bila, a concubina de seu pai (Gn 35.22).
Devido a isso, Jacó não lhe concedeu o direito a porção dobrada da heran­
ça que era direito dele, o primogênito (Gn 49.3-4). Este incidente é men­
cionado posteriormente como a razão pela qual os rubenitas não foram
mencionados como descendentes do primogênito na restauração depois
do exílio, como era de se esperar (lCr 2.1; 5.1)
Seus atos posteriores foram mais nobres. Foi ele que livrou José da
morte quando seus irmãos tramaram matar o jovem sonhador. Rúben os
convenceu a invés de matá-lo, colocá-lo em uma cisterna, com a esperança
de que no final do dia ele pudesse libertá-lo. Mas assim que Rúben se au­
sentou, os seus irmãos venderam José para uma caravana de ismaelitas, e
isso lhe angustiou muito (Gn 37.21-29). Não sabemos se a autoridade dele
sobre os irmãos era fraca ou se a determinação deles contra José era muito
forte. Embora provavelmente estivesse aflito também por ter de dar uma
satisfação ao pai sobre o paradeiro de José. Deve ser mencionar, no entanto,
que Rúben era o melhor entre os dez irmãos, pois, embora, suas ações não
fossem recomendáveis, demonstrava ter mais consciência do que os outros.
Aproximadamente 20 anos depois, quando os irmãos estavam no
Egito comprando cereais, sem saberem que José era o governador do
Egito, Rúben imediatamente associou o perigo que eles estavam passan­
do como juízo de Deus pelo que eles haviam feito com José (Gn 42.22).
Rúben demonstrou um bom coração quando esteve disposto a penhoras
os seus próprios filhos com seu pai para garantir o retorno seguro de
Benjamim (Gn 49.1-4).
Em seu leito de morte, Jacó elogiou Rúben por sua força, classifi­
cando-o como “o mais excelente em alteza e o mais excelente em poder”,
mas em seu último fôlego Jacó lhe disse que ele era “impetuoso (incons­
tante) como a água” e confirmou que ele não seria o líder sobre seus
irmãos por causa de seu ato incestuoso com Bila.
Rúben morreu no Egito, e segundo a tradição judaica tinha 125 anos.
A tribo de Rúben é mencionada pela primeira vez nas listas de Êxo­
do 1.1-4 e Números 1.5,20-21, aparecendo em primeiro lugar. Mas em
outras listas, já não era mencionada em primeiro lugar, pois a liderança
havia passado para a tribo de Judá (Nm 2.10; 3). A tribo de Rúben divi-
dia-se em quatro grandes famílias tribais, procedentes dos quatro filhos
do patriarca (Nm 26.5-11). Em troca da ajuda dos rubenitas na conquista
de Canaã, Moisés deu aos descendentes de Rúben terras em Gileade para
que pudessem criar gado e ovelhas, à leste do Jordão, entre os rios Arnon
e Jaboque. A benção atribuída a Moisés diz: “Que Rúben viva e não morra,
e não sejam poucos os seus homens” (Dt 33.6). No entanto, três homens da
tribo de Rúben - Datã, Abirão e Om - se aliaram na revolta de Corá contra
Moisés e Arão, e Deus os matou (Nm 16.1-50; 26.9; Dt 11.6).
O Novo Testamento menciona Rúben apenas uma vez, entre os
144 mil na enumeração das tribos que serão seladas (Ap 7.5).

Rute Nome Moabita, significa "Amizade".

Rute é uma das mais extraordinárias mulheres da Bíblia. É lem­


brada como uma verdadeira heroína. Sua história é registrada no livro
bíblico que leva o seu nome - Ester e Rute são os dois únicos livros da Bí­
blia cujos nomes são de mulheres. Esse livro, de apenas quatro capítulos,
é um dos mais ricamente elaborados da literatura hebraica, transitando
entre um suspense e outro até chegar a uma surpreendente conclusão. É
bastante interessante o fato de que Rute não era hebreia. Em uma nação
que se orgulhava de ser a escolhida por Deus e de ser espiritualmente
distinta das outras, ela era uma estrangeira natural de Moabe, país vizi­
nho da Judeia, na região leste do mar Morto. Os moabitas eram um povo
desprezado pelos judeus por serem descendentes da relação incestuosa
entre Ló e suas filhas. Apesar disso, foi o único refúgio que Elimeleque
conseguiu encontrar para impedir que sua família sofresse com a fome.
No entanto, para entendermos a história de Rute precisamos pri­
meiro conhecer a história de outra mulher, Noemi. Noemi era esposa de
Elimeleque, e juntos tinham dois filhos, Malon e Quiliom. Essa família
viveu em Belém de Judá, próximo a Jerusalém. Veio uma grande fome
naquela época sobre a Judeia e fez com que Elimeleque, Noemi e seus
dois filhos migrassem para Moabe em busca de alimentos. Depois que a
família se estabeleceu em Moabe, os filhos decidiram-se casar com mu­
lheres locais. Malon casou-se com Rute e Quiliom casou-se com Orfa.
Infelizmente, em menos de dez anos os três homens haviam mor­
rido, deixando as três viúvas sem filhos. Numa sociedade dominada por
homens, mulheres sem um pai, sem um marido ou sem filhos para cui­
dar delas passavam necessidades e podiam morrer até de fome.
Ao ouvir dizer que a fome na Judeia havia terminado, Noemi deci­
diu voltar para sua terra natal. Talvez tivesse pensado que seus parentes
ficariam penalizados pela sua situação e lhe dariam um lugar para viver.
Mas certamente não acolheríam as três mulheres. Além disso, Noemi res­
saltou que era muito velha para ter outros filhos, mesmo que suas noras
quisessem esperar para que crescessem e depois desposá-los. Portanto
Noemi insistiu para que suas duas noras voltassem para casa de suas mães
e começassem a procurar outros maridos (Rt 1.8-9). A princípio, as duas
rejeitaram a ideia, mas depois que Noemi voltou a expor os seus argumen­
tos, Orfa concordou e se despediu chorando. Rute, no entanto, recusou-se
terminantemente a deixar Noemi sozinha e assumiu cinco compromissos
com sua sogra: “Para onde fores, irei também, onde for tua morada, será
também a minha. O teu povo será o meu povo e teu Deus será o meu Deus”
(Rt 1.16). E por último Rute declarou: “Onde fores sepultada, ali também
serei sepultada (Rt 1.17). Por causa do seu amor por Noemi, Rute desejava
permanecer com sua sogra, tornar-se uma judia, trocar o seu deus (prova­
velmente Quemos - Nm 21.29; lRs 11.7,33) pelo Deus de Noemi (O Senhor
Jeová - Rt 2.12-13) e ser sepultada no mesmo local de Noemi, indicando
com isso que sua família era Noemi. Indiscutivelmente, Rute foi notável em
sua disposição de renunciar ao seu próprio lugar em troca de outro que lhe
era estranho, isso se parece um pouco com Abraão ao se aventurar em uma
terra que nunca tinha visto (Gn 12.1; Rt 2.11).
Quando as duas mulheres chegaram a Belém era época de colheita
de cevada e trigo e toda a cidade mostrou-se solidária a Noemi, e sem dú­
vida, admirada com a inabalável lealdade de Rute com a sua sogra. Mas
ninguém se ofereceu para acolhê-las. No dia seguinte à triste chegada
das duas em Belém (Rt 1.19-22), Rute saiu para catar espigas nos campos
para conseguir alimento (Rt 2.2-3).
Pela lei judaica, os segadores só podiam passar uma vez no campo
fazendo a colheita. Qualquer grão que não colhessem na primeira pas-
sada deveria ser deixado para os pobres catarem. Além disso, a lei exigia
que um canto de cada campo não fosse colhido pelo mesmo motivo de
servir de provisão para os que não tinham o que comer. A lei não definia
a área desse canto nem a precisão da colheita. O tanto que era deixado
normalmente era uma indicação da generosidade ou avareza do pro­
prietário. Com muita dificuldade Rute e Noemi conseguiram sobreviver
com aquilo que Rute catava.
Felizmente, Rute escolheu o campo de Boaz. Boaz era um rico pro­
prietário de terra e parente de Elimeleque, o falecido marido de Noemi.
Ele observou Rute catando os restos da colheita e ficou atraído por sua
beleza. Boaz lhe disse que ouvira falar de sua devoção a sua sogra, a quem
ela havia acompanhado até uma terra estranha. Ele discretamente ins­
truiu seus funcionários segadores a deixarem uma porção extra de grãos
para trás para que ele tivesse uma boa quantidade para ela e sua sogra.
Quando Rute voltou para Noemi com uma grande medida de ceva­
da e contou o que acontecera, a sogra ficou radiante. Boaz não era ape­
nas um vizinho simpático. Noemi lhe disse: “esse hom em é nosso paren te
próxim o” (Rt 2.2).
Tendo notado o interesse de Boaz pela jovem viúva, Noemi acon­
selhou Rute a agir com rapidez. Rute deveria se lavar, perfumar-se e ves­
tir a sua melhor roupa. Então devia descer à eira onde Boaz e os traba­
lhadores estavam peneirando a cevada. “Não te deixes reconhecer por
ele, até que tenha acabado de comer e beber”, instruiu Noemi. “Quando
ele for dormir, observe o lugar em que está deitado; então entra, desco­
bre seus pés e deita-te; e ele te dirá o que fazer” (Rt 3.3-4).
Ela então sem fazer ruído levantou a ponta do manto de Boaz e se
deitou aos seus pés. Ele acordou no meio da noite e se surpreendeu ao
vê-la. Ela lhe disse quem era e acrescentou: “Estende teu manto sobre
tua serva, pois tens o direito de resgate” (Rt 3.9). Boaz respondeu com
compaixão. Ele lhe disse que a resgataria e que passasse a noite aos seus
pés e se levantasse antes do amanhecer para que ninguém soubesse que
ela havia estado na eira.
Alguns estudiosos interpretam esta atitude de Rute - principal­
mente a maneira como descobriu os pés de Boaz ao se deitar (Rt 3.7) e
permaneceu lá durante toda a noite (Rt 3.13-14), como clara indicação de
que ela tentou uma investida sexual, à qual Boaz foi receptivo. Tal ideia,
entretanto, é totalmente contrária ao que pode ser visto do caráter dos
dois por todo livro. Especificamente, na conversação entre eles no meio
da noite, Boaz expressou admiração pela decência de Rute (Rt 3.10), e
considerou-a uma “m ulher virtuosa” (Rt 3.11). Além disso, os detalhes da
cena interpretados como de natureza sexual podem ser entendidos de
outras formas. Não há uma evidência concreta de que houver qualquer
envolvimento sexual entre eles nesse encontro.
Porém, Boaz acrescentou que ele não era o parente mais próximo
e que ele apenas a poderia resgatar se o outro parente decidisse não fa-
zê-lo. Era necessário que esse homem renunciasse ao seu direito e à sua
responsabilidade, para que Boaz fechasse seu acordo com Rute (Rt 3.13).
Naquela manhã, Boaz esperou a passagem do outro parente na
porta da cidade. A área da porta da cidade representava o fórum, onde
os assuntos públicos da cidade eram discutidos. Boaz indicou que gosta­
ria de discutir um assunto de negócios com o “parente mais próximo”.
Dez dos anciãos da cidade atuaram como testemunhas. O primeiro as­
sunto tratado foi a questão da propriedade. Boaz perguntou ao parente
mais próximo se ele estava disposto a adquirir a propriedade de Noemi.
Isso está determinado na estipulação original: “No dia que você adquirir
as terras de Noemi e da moabita Rute, estará adquirindo também a viú­
va” (Rt 4.5). O parente mais próximo não estava disposto a isso, porque
isso, inevitavelmente, acarretar-lhe-ia alguma perda financeira, visto
que teria de dividir a sua propriedade com algum filho que tivesse com
Rute. Assim, ele abdicou de seu direito e, de acordo com o costume da
época, tirou os sapatos (o sapato simbolizava os direitos à terra obtida
por herança). Assim, Boaz assumiu a parte de ser o parente remidor.
Boaz se casou com Rute e juntos tiveram um filho: Obede, que foi
pai de Jessé e avô de Davi. Sendo assim, Rute se tornou bisavó do maior
rei de Israel e foi uma das ancestrais na genealogia de Jesus, o maior rei
do Mundo (Mt 1.5). Em uma das últimas cenas do livro, Noemi segura seu
neto no colo e lhe serve de ama. E as mulheres do povoado exaltam Rute
porque amava Noemi e valia mais do que sete filhos - um número sim­
bólico de perfeição. Essas mesmas mulheres deram a criança o nome de
“consolador de Noemi” (Rt 4.15). Boaz acolheu Noemi para ela cuidar do
menino, e as pessoas disseram “Noemi tem um filh o ” (Rt 4.17), reconhecen­
do assim, Obede como descendente direto de Elimeleque que manteria sua
linhagem. Pela lei judaica, as linhagens familiares poderiam ser perpetua­
das pela linhagem da mãe. Rute era esposa do filho de Elimeleque (Malon),
e Boaz, embora também a amasse, tinha se casado com ela de acordo com a
chamada lei do levirato, que servia para preservar a linhagem familiar de
um parente. Sendo assim, Obede também era legalmente um descendente
de Elimeleque e também de Boaz, seu verdadeiro pai. A lei do levirato era
um costume que havia entre os hebreus de que quando um israelita casado
morria, sem deixar descendentes do sexo masculino, seu parente mais pró­
ximo era obrigado a casar-se com a viúva, caso esse parente fosse solteiro,
a fim de dar continuidade ao nome de família do falecido. O filho primo­
gênito do casal era reconhecido como filho do falecido. Naturalmente, o
propósito era preservar a herança em famílias e clãs específicos, o que era
muito importante nas civilizações antigas. Além de que havia um benefício
de natureza social: a viúva teria alguém que cuidasse dela, e isso foi um
fator importante no caso de Rute (Rt 1.11; 3.1).
Na época do casamento de Boaz e Rute, não é possível determinar
especificamente qual era a diferença de idade entre os dois. Desde que
ele várias vezes refere-se a Rute com as palavras “m inha filh a ” (Rt 2.8;
3.10-11), assim como Noemi a chamava (Rt 2.2,22; 3.1,16,18). Provavel­
mente Boaz estava mais perto da idade de Noemi do que da de Rute.
Depois de aproximadamente dez anos de casamento e viuvez (Rt 1.4-5),
Rute provavelmente estivesse com 30 anos quando se casou com Boaz e
ele deveria ter em torno de 50 anos ou um pouco mais.
Estudiosos bíblicos não sabem ao certo quem é o autor do livro de
Rute. Tampouco sabem quando e porque ele foi escrito. Uma hipótese
popular é que o livro tenha sido compilado entre 1000 a 900 a.C., logo
após a vida de Davi, e que tenha sido escrito com o objetivo de rastrear
sua linhagem. Entretanto, provavelmente a história foi preservada por
diversas razões. Uma delas pode ter sido permitir que as futuras gera­
ções aprendessem com o exemplo inspirador do amor de Rute para Noe­
mi. Os judeus atualmente ainda honram Rute ao reler sua história na
Festa das Semanas, que todos os anos marca o fim da colheita dos grãos.
Salomão foi aparentemente o décimo filho de Davi, e o segundo de
Bate-Seba com o rei, pois o primeiro morreu, como castigo pelo pecado de
adultério e homicídio de Urias, marido de Bate-Seba (2Sm 11). Dos irmãos
de Salomão, seis nasceram de mães diferentes (2Sm 3.2-5). Salomão nasceu
em Jerusalém e, em seu nascimento o profeta Natã lhe deu o nome de
Jedidias, “o amado de Deus”. O fato de a Bíblia chamá-lo de Jedidias só uma
vez (2Sm 12.25), indica que o nome “Salomão” era o seu nome oficial. O
nome Salomão aparece aproximadamente 300 vezes no Antigo Testamento
e 12 vezes no Novo.
Sua história está registrada em 1 Reis 1 a 11 e 1 Crônicas 28 a 2
Crônicas 9. No entanto, ao contrário da história de Davi, não há uma
continuidade na sequência cronológica da vida de Salomão. Tudo o que
temos é uma coleção de histórias desconexas, sendo que a mais completa
dessas histórias é o relato da construção do templo em Jerusalém. Richard
Hess sugere que para entendermos melhor a vida e a obra de Salomão, é
necessário dividirmos sua história em quatro partes: a garantia do trono
para Salomão (lRs 1 e 2), a sabedoria de Salomão e suas realizações (lRs
3 a 8), a fama internacional de Salomão e a consequente apostasia (lRs
9 a 11.8) e os oponentes finais de Salomão (lRs 11.9-43).
Infelizmente Salomão cresceu em uma casa polígama. O rei Davi
casava-se frequentemente (as Escrituras registram 18 casamentos). Isso
sem dúvidas, o influenciou de uma maneira negativa. Havia constante
tensão entre as esposas e os filhos de Davi. O harém do rei tornou-se
o cenário de todos os tipos de intrigas daqueles que faziam as suas
manobras para conseguir favores e posições de prestigio. Assim, Salomão
cresceu em um tipo de ambiente que acabou por educá-lo e acostumá-lo
à arte das práticas políticas agressivas e da poligamia desenfreada.
Salomão tinha cerca de vinte anos quando assumiu o trono de
Israel em aproximadamente 970 a.C. O reino de Davi veio completo para
as mãos dele. Era uma área estimada em 128 mil quilômetros quadrados.
Davi havia recebido uma revelação de que “Salomão era o homem
certo” para o cargo (lCr 22). Depois que ele nasceu, Davi prometeu a
Bate-Seba que ungiria Salomão como seu sucessor. Entretanto, pouco
antes da morte de Davi, Adonias, meio-irmão de Salomão - e também
filho mais velho - se autoproclamou rei. Ele e Joabe viajaram por todo
o Israel fazendo com que o povo bradasse “Viva o rei Adonias!”. O sumo
sacerdote Abiatar, também o apoiou e deu às suas ambições um tipo de
aval espiritual (lRs 1.7).
Natã e Bate-Seba ouviram isso e contaram a Davi, que estava em seu
leito de morte. Davi imediatamente fez com que Salomão fosse ungido
rei publicamente por Zadoque, ordenando que a cerimônia estabelecida
para a sucessão de um rei fosse realizada. Isso foi o suficiente para
dissolver qualquer oposição. Davi morreu poucos dias depois e Salomão
foi indiscutivelmente o rei de Israel.
A ascensão de Salomão ao trono foi completamente diferente da
de Saul e de Davi. Não havia anciãos das dez tribos presentes, e todo o
ato de unção teve áreas de medida de emergência para deter Adonias,
que queria usurpar o poder. Na verdade, em muitas outras coisas
Salomão era diferente de Saul e Davi, inclusive na origem social. Saul
e Davi tiveram uma origem simples, em contraste com Salomão, que já
nasceu em um palácio.
Em Gibeão, Salomão ofereceu mil holocaustos ao Senhor e o Senhor
se apareceu a ele pela primeira vez (lRs 3.4). Essa visita divina foi através
de um sonho e Deus permitiu que Salomão escolhesse o que queria
receber. Salomão solicitou “um coração entendido” (lRs 3.9), e especificou
o pedido com uma referência de discernir “entre o bem e o m al”. No original
hebraico a oração de Salomão pediu um coração compreensivo. A palavra
usada para “compreensivo” nesse texto é “ouvir”, ou seja, Salomão pediu
a Deus um coração que ouvia o que de fato estava acontecendo em uma
determinada situação. Isso significava mais do que o conhecimento do
certo ou do errado - isso envolvia a habilidade de captar a essência de um
problema e entender exatamente o que se passava na mente das pessoas
ao redor. Essa benção de “um coração entendido que discernia entre o bem
e o m al” é muito bem revelada, logo na sequência, na história das duas
mães que reclamavam o mesmo bebê (lRs 3.16-26). A famosa decisão
do rei, em ameaçar dividir a criança ao meio para assim descobrir qual
era a verdadeira mãe, demonstrou a todos que “havia nele a sabedoria
de Deus para fa z e r ju stiça” (lRs 3.38). Um juiz moderno - por não haver
testemunhas - teria arquivado o caso por falta de provas. Mas Salomão
havia recebido de Deus o que curiosamente havia pedido através de um
sonho. A sabedoria de Deus já estava ativa nele!
No livro das Crônicas também está registrado que Salomão
quando se tornou rei pediu a Deus: “Dá-me sabed oria e conhecim ento,
p a ra que eu p o ssa liderar esta n a çã o ” (2Cr 1.10). E Deus lhe disse que,
uma vez que ele havia pedido sabedoria, e não riquezas, recebería as
duas. Fazendo dessa a informação bíblica que explica a razão de sua
tamanha sabedoria.
Logo em seguida, Salomão estabeleceu o seu estilo de liderança
de modo resoluto e seguro. Matou todos os inimigos do seu pai e, em
seguida, executou todos aqueles que poderíam tomar seu trono, inclusive
Adonias, a quem acusou de traição (lRs 2.13-25). Ele também mandou
executar Joabe, o general de Davi, que havia dado apoio a Adonias. Joabe,
temendo pela própria vida, fugiu para o tabernáculo para esconder-se.
Mas Salomão ordenou que Benaia, o matasse. Por sua vez, Benaia
sucedeu a Joabe como comandante do exército de Israel (lRs 2.28-35).
Abiatar não foi executado, mas a linhagem de Zadoque tomou o oficio de
sumo sacerdote, em recompensa de ter apoiado Davi e Salomão, e Abiatar
foi expulso para sua cidade natal, Anatote (lRs 2.27-36), e se cumpriu a
profecia - dos dias de Eli - que sua casa seria extinta do altar de Israel
(ISm 2.27-36). Embora esse capitulo 2 de 1 Reis revele um comportamento
altamente violento e vingativo de Salomão, ele nunca realizou uma
campanha militar sequer, mesmo tendo um exército que possuía 12.000
cavaleiros e 1.400 carros de batalha extremamente preparados para uma
possível guerra.
O foco principal de Salomão era fortalecer a unidade das dez
tribos e concentrar todo o poder administrativo em Jerusalém. Ele
estabeleceu doze distritos administrativos - “em vez de doze tribos”
- e cuidadosamente os dispôs de modo que eles se estendiam pelas
fronteiras tribais e nenhuma tribo tinha poder sobre nenhum deles.
Cada distrito era responsável por prover todas as necessidades do
templo e do palácio durante um mês por ano. Isso incluía absolutamente
tudo: alimento, estuário, gado, material de construção, trabalhadores e
dinheiro para impostos. “As provisões diárias de Salom ão eram trinta tonéis
da m elhor farinha e sessenta tonéis da farinha comum, dez cabeças de gado
engordado em cocheiras, vinte cabeças de gado engordado no pasto e cem
ovelhas e bodes, bem com o cervos, gazelas, corças e aves escolhidas” (lRs 4.22-
23). Um tonel era o equivalente a um coro - o coro era uma medida de litros
e peso que equivalia a 450 litros ou quilos.
Tudo isso significava um pesado fardo para um distrito, pois
representava quase tudo o que ele produzia em um mês. Os distritos,
então, estocavam durante todo o ano para a época em que tivesse que
pagar o seu tributo. Ao longo dos anos, isso gerou um descontentamento
considerável entre o povo. Além disso, as doze tribos nunca esqueceram
o tempo quando elas eram independentes - com governo e administração
próprias - e certamente ansiavam pelo dia em que retornariam a essa
condição. Na verdade, esta foi a grande causa humana da divisão do
reino nos dias de Roboão: Roboão queria manter e aumentar os impostos,
enquanto que, Jeroboão prometia a liberdade tributária.
Por outro lado, Salomão - assim como Ramsés II do Egito - era
um construtor ambicioso e esbanjador. Seus dois primeiros projetos
arquitetônicos - o templo e o palácio - eram luxuosos e muito
dispendiosos. Vale a pena lembrar que, Salomão tinha uma alta fortuna
deixada por Davi em caixa. Somada a essa quantia, estava o fruto da
opressão do povo, que eram as arrecadações das altas taxas e impostos
guardadas nos primeiros anos de seu governo.
No início do governo de Davi, ele havia feito uma aliança com Hirão,
rei de Tiro e dos fenícios. Durante esse tempo, Hirão e Davi se tornaram
amigos muitos próximos. Hirão visitava o palácio com frequência à
medida que Salomão crescia, e Hirão também o considerava como um
amigo. Os fenícios eram considerados os melhores marinheiros, arquitetos
e construtores daquele tempo. Além de terem também o controle das
florestas do Líbano, onde cresciam madeiras de ótima qualidade. Sendo
assim, era previsível que Salomão iria buscar a ajuda de Hirão quando
fosse construir o templo.
Salomão possuía trabalhadores, dinheiro e pedras, mas em
seu reino não haviam artesãos com habilidade para uma obra de tal
magnitude. Ele conseguiu com Hirão os arquitetos e artesãos, assim
como todo o ouro, cedro puro e pinho para que a obra fosse realizada
com beleza e elegância (lRs 5). Em contrapartida, ele faria a Hirão um
enorme pagamento em trigo e óleo e também cedería a Hirão vinte
cidades da fronteira ocidental da Galileia. Hirão inspecionou as cidades
e não se agradou do que viu, por isso, as devolveu de volta a Salomão,
presume-se que em troca de outro pagamento (2Cr 8.2). Embora esse
tipo de pagamento - de dar cidades - fosse comum naquela época, o
desejo de Salomão de se desfazer de cidades judaicas dando-as a um
reino pagão, não foi bem visto pelos fies judeus do norte de Israel (região
da Galileia).
Essa situação se tornou ainda pior quando Salomão decidiu tornar
as políticas de trabalho forçado maiores do que da época de Davi. O pai
de Salomão havia pressionado os estrangeiros e prisioneiros de guerra
a realizarem trabalho forçado, dando a eles um status quase semelhante
ao de escravos. Eles eram um tipo de “escravo feudal” que podia ser
chamado para trabalhar sempre que necessário, recebendo somente o
mínimo para sua subsistência. Salomão foi um pouco além, recrutando o
seu próprio povo para esse serviço, e nomeou Jeroboão - que mais tarde
se rebelaria contra ele - como o supervisor dessa força de trabalho.
Ao todo, Salomão tinha cerca de 150 mil estrangeiros e 30 mil
israelitas nessa equipe de trabalho forçado (2Cr 2.17).
Por fim, Salomão escolheu a eira que era de Araúna - e segundo
a tradição era também o antigo monte Moriá - para construir o
templo. Salomão começou a construção no quarto ano do seu reinado
(lRs 6.1). Ao todo, demorou sete anos para o templo ser construído. O
térreo foi baseado no Tabernáculo de Moisés (átrio, lugar santo e lugar
santíssimo), e o protótipo arquitetônico da parte externa do santuário era
correspondente ao estilos dos templos sírios e cananeus (por exemplo,
como os templos encontrados em Ugarit, Qatna e Hazor). Não se ouviu o
som de nenhum martelo, machado ou ferramenta de ferro durante sua
construção (lRs 6.7), mostrando assim, que a matéria prima do templo
não era para ser pregada, mas encaixada.
Há os que entendem essa questão como um protótipo do ideal
futuro de Deus para a igreja: um lugar onde as coisas não acontecem
pela força (martelo, machado e ferramentas de ferro), mas sim, um
lugar onde as coisas existem para se encaixar (ajuste, comunhão e
cumplicidade).
Os detalhes da arquitetura do templo foram adornados com
madeira folheada a ouro e pedras que foram talhadas. Os recipientes
sagrados eram de bronze fundidos feitos por Hurão-Abi, um artesão
cuja mãe era judia e o pai, um famoso ferreiro fenício.
Entre seus trabalhos mais impressionantes estavam dois pilares
de bronze na entrada do templo, com mais de 10 metros de altura,
um altar de bronze com 9 metros de comprimento, 9 de largura e 9
de altura e um tanque de purificação feito em metal fundido com 4,5
metros de diâmetro, decorado com 300 frutos de metal e apoiado em
doze touros de bronze em tamanho real. Esse tanque foi chamado de
“o Grande Mar”. Alguns acreditam que esses doze touros de bronze era
uma violação ao segundo mandamento, que proíbe que o povo fizesse
imagens esculpidas. No entanto, nenhum comentário negativo foi feito
na Bíblia sobre isso. Para se ter uma descrição completa de toda a
mobília do templo leia 2 Crônicas 3.
Ao concluir o templo no décimo primeiro ano do seu reinado (lRs
6.38), Salomão planejou uma grandiosa celebração (lRs 8). Perante uma
grande congregação dos líderes das tribos e dos principais descendentes
dos patriarcas dos israelitas, a arca da aliança foi trazida da casa de Davi
para o lugar santíssimo do templo, debaixo das asas dos querubins. A
nuvem da glória de Deus encheu o santuário, de modo que “os sacerdotes
tiveram que se agachar p a ra m inistrarem p o r cau sa da nuvem, pois a
glória do Senhor havia enchido a ca sa do Senhor” (lRs 8.10-11).
Depois, Salomão se pôs em pé diante do altar do Senhor e estendeu
as mãos para o céu e ofereceu uma oração de dedicação jamais superada
em toda a literatura religiosa (lRs 8.23-53). Por fim, Salomão ofereceu
um grande número de sacrifícios aos Senhor, como ofertas pacíficas,
ofertas queimadas e ofertas de manjares (lRs 8.62-66).
Algum tempo depois, o Senhor lhe apareceu pela segunda vez -
assim como tinha lhe aparecido em Gibeão - prometendo-lhe firmar seu
trono para sempre e dando-lhe algumas admoestações (lRs 9.1-10; 2Cr
7.12-22).
Após isso, Salomão dedicou sua atenção para a construção do seu
palácio, próximo ao templo. Esse palácio, possivelmente, foi um dos mais
opulentos no mundo da época, e embora o projeto mais lembrado de
Salomão seja o templo, o palácio o ultrapassava em tamanho, esplendor e
custo, e levou o dobro de tempo para ser concluído.
Para cobrir todo este custo, Salomão não somente aumentou os
tributos como também estabeleceu amplas negociações internacionais.
Salomão obteve através de sua parceria com Hirão, o controle das rotas
comerciais para o Egito, o que lhe deu também o controle do comércio das
caravanas e do comércio de cavalos por todo o lado ocidental do Oriente
Médio. O controle de Salomão sobre essas rotas de comércio do sul lhe
deu também o controle do comércio árabe de especiarias raras e tecidos
exóticos - o que era extremamente lucrativo.
Através desse empreendimento, Salomão conheceu também a
rainha de Sabá. Ela era rainha de um reino árabe do sul, e estava em
uma missão comercial na Palestina quando chegou a Jerusalém com
“enorm e caravan a com cam elos carregados de especiarias, grande
quantidade de ouro e pedras p reciosa s” (lRs 10.2). Ela ficou maravilhada
com a magnitude do palácio que “não houve m ais espírito nela” (lRs
10.5) e, aparentemente ele se apaixonou por ela, e foi correspondido.
Ela ficou fascinada com sua sabedoria e exclamou: “Bem -aventurados
os teus homens, bem -aventurados estes teus servos que estão sem pre
diante de ti, que ouvem a tua sabed oria!” (lRs 10.8). Ao que parece, ela
permaneceu no palácio com ele por algum tempo. Quando retornou a
Sabá, ela recebeu de Salomão uma grande fortuna em ouro e objetos
preciosos (lRs 10.13).
Embora essa fosse uma cena aparentemente feliz, com a rainha
maravilhada com a grandeza do reino de Salomão e agradecida ao Deus
que ele adorava, também era um quadro que reunia dois governantes
de dois países pagãos: a rainha de Sabá e Hirão, o rei de Tiro. Tal
comunhão seria condenada mais tarde pelos profetas como responsável
pelos pecados dos reis de Jerusalém (Is 7). Além disso, embora o costume
de um rei ter várias esposas fosse algo comum naquela época, estava
em conflito com a lei de Deus (lRs 11.2). Tão séria foi esta quebra de
mandamento, que Deus apareceu a ele pela terceira vez e o repreendeu,
dizendo que nos dias de seu filho o reino seria dividido (lRs 11.9-13).
Na verdade, Salomão teve uma vida libertina e devassa, a ponto de
dizer que “não houve prazer que os meus olhos desejaram e eu os neguei,
nem privei o m eu coração de alegria algum a [que ele desejou ter - grifo
do autor]” (Ec 2.10). Isso levou Salomão a ter ao todo setecentas esposas
e trezentas concubinas (mil mulheres no total). Sua primeira esposa,
aparentemente, foi a filha do Faraó egípcio (lRs 11.1), e outra esposa
citada é Naamá, a amonita (mãe de Roboão, sucessor de Salomão). Isso
nos ajuda a ter noção de quão longe os pés e o coração de Salomão
andaram de Deus.
Vale à pena lembrar, entretanto, que essa “coleção de mulheres”,
obviamente era mais um símbolo de virilidade e poder político do que
bravura amorosa. Certamente, Salomão não se relacionava sexualmente
com as mil mulheres, pois muitas delas não passavam de casamentos
que representavam acordos políticos.
Infelizmente, essa quantidade extravagante de esposas de Salomão
trouxe para ele muitos males. Inclusive, a multiplicidade de prática
religiosa - oriundas das religiões dessas esposas - em seu reino. Salomão
foi mais tolerante com as religiões pagãs do que qualquer outro líder
anterior da história de Israel. Ele permitiu que várias cidades cananeias
que haviam sido anexadas a Israel mantivessem seus costumes pagãos
na adoração no templo em Jerusalém, adaptando-os para parecerem-se
com a lei judaica. Na velhice, o próprio Salomão praticou o paganismo. “A
m edida que Salom ão fo i envelhecendo, suas mulheres o induziram a voltar-
se p ara os outros deuses, e o seu coração j á não era totalm ente dedicado ao
Senhor, o seu Deus, com o fo r a o coração do seu pai Davi” (lRs 11.4).
É possível que sua tolerância com relação ao paganismo tenha sido
também uma força em termos políticos e diplomáticos, mas certamente isto
ajudou a abrir o caminho para os desastres espirituais que em poucos anos
dividiríam o reino, provocando no futuro, o desaparecimento das dez tribos
do norte depois de 722 a.C. No entanto, Deus lhe disse que iria certamente
tirar o seu reino, mas não enquanto ele vivesse.
Quando Deus fez sua aliança com Salomão, o advertiu da seguinte
maneira: “M as se você ou seus filh os se afastarem de mim e (...) prestarem
culto a outros deuses e adorá-los, desarraigarei Israel da terra que lhes
dei, e lançarei p a ra longe da m inha presen ça este tem plo que consagrei
ao m eu nome. Israel então se tornará objeto de zom baria entre todos os
p o v o s” (lRs 9.7-8).
Embora Salomão seja lembrado como o mais sábio governante
da história, ele cometeu uma quantidade incontável de erros que, por
fim, levaram à desintegração de seu reinado. O fato de humanamente,
ele ter sido o monarca mais bem-sucedido do mundo, não compensou
o fracasso de sua vida também não ter sido um sucesso em termos de
verdades eternas. O homem que inicialmente teve “um coração que
ouvia” (lRs 3.9), logo passou a ter uma mente totalmente poluída e um
coração engessado para Deus. Ele também parece ter errado perante o
Senhor em oferecer sacrifícios no templo - função que era permitida
apenas aos sacerdotes (lRs 9.25; Êx 23.14). Isso era um pecado perante
Deus. O reino de Israel havia sido tirado de Saul anteriormente por
causa disso (ISm 13.8-14).
O escritor de 1 Reis, afirma que Salomão foi o autor de 3 mil
provérbios e 1.005 cânticosflRs 4.32). Os eruditos, também atribuem
a Salomão os salmos 72 e 127. Salomão também “entendia acerca das
plantas, desde o cedro que está no Líbano até o hissopo que brota na parede.
Também entendia de anim ais e de aves, e de répteis e de peixes. E de todos
os povos vinha gente ouvir a sabedoria de S alom ão” (lRs 4.33-34).
Ele reinou durante 40 anos - 970 a 931 a.C. - e foi sepultado na
cidade de Davi em Jerusalém (lRs 11.42; 2Cr 9.30-31). Seu filho Roboão
o sucedeu, mas as 10 tribos do Norte se rebelaram e elegeram Jeroboão
como rei pouco tempo depois. A monarquia unificada - que havia sido
iniciada por Saul, expandida por Davi e consolidada por Salomão - então
chegava ao fim e se dividira irrecuperavelmente.
Samuel Nome hebraico, significa "Nome de Deus" ou "Ouvido por Deus".

Samuel pode ser considerado o último dos juizes e o primeiro dos


profetas, porque teve a oportunidade de observar a transição entre os dois
grandes períodos da história judaica: a teocracia e a monarquia. Ele serviu
a Israel como juiz, sacerdote e profeta. Tanto como o último juiz (At 13.20),
I
como sendo o primeiro profeta (At 3.24), Samuel teve um ministério bem-
sucedido “e todo o Israel desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava
confirmado com o profeta do Senhor” (ISm 3.20).
Samuel era filho de Ana e Elcana. Seu pai era descendente de Levi,
embora não da linhagem sacerdotal de Arão (lCr 6.33-34). Eles moravam
na região montanhosa de Efraim em Ramá. Sua mãe era estéril, e ela
orou ao Senhor e recebeu a promessa, por meio do sacerdote Eli, de que
teria um filho. Quando o menino nasceu, ela o dedicou ao Senhor. Assim
que Samuel foi desmamado (entre 2 ou 3 anos), Ana o levou a Siló e o
deixou aos cuidados do sacerdote Eli.
Desde sua mais tenra infância, Samuel serviu no tabemáculo usando
uma veste sacerdotal judaica, um éfode de linho (ISm 2.18; 3.1), e se tornou
o “discípulo” do velho sacerdote Eh. Este era um período de declínio
espiritual na nação. Naqueles dias poucas mensagens vinham do Senhor, e
as visões também eram raras (ou “não havia visões m anifestas” - ISm 3.1).
No entanto, era nesse tempo que “o Senhor se manifestava por palavras a
Sam uel em Siló” (ISm 3.21).
O Sacerdote Eli criou o menino na casa do Senhor e o treinou
para auxiliá-lo na ministração perante o Senhor. Samuel morava no
tabernáculo do Senhor, e dormia a poucos metros da arca da aliança
(ISm 3.3). Quando Samuel tinha provavelmente 12 anos (segundo o
registro de Flávio Josefo), Deus o chamou durante a noite. Era a primeira
vez que Samuel ouvia a voz de Deus. Samuel pensou que era EU que o
chamava e foi até ele. Isso aconteceu mais duas vezes naquela noite.
Na terceira vez, Eli percebeu que era Deus querendo falar com Samuel
“que ainda não con hecia o Senhor” e ensinou o menino como deveria
responder ao Senhor: “F ala Senhor, que o teu servo ouve” (ISm 3.7-9).
Deus então chamou Samuel mais uma vez e lhe entregou uma
dolorosa mensagem dizendo que a casa de Eli era indigna no sacerdócio
e deveria ser destruída, e que outra família sacerdotal assumiría o
sacerdócio de Israel (ISm 3.10-18). Esse oráculo foi o início do seu
ministério profético.
Na manhã seguinte, Eli insistiu que o atemorizado menino lhe
contasse a mensagem. Aceitando calmamente a palavra de Deus, Eli
contou a todo Israel a visão de Samuel no santuário e que o menino
estava confirmado como profeta do Senhor. Pouco tempo depois, os
filhos de Eli foram mortos em uma batalha contra os filisteus e a arca
da aliança foi tomada. Quando Eli soube da notícia, caiu para trás na
cadeira, quebrou o pescoço e morreu.
Depois da morte de Eli, embora não fosse descendente de Arão,
Samuel serviu como sacerdote. Entretanto, a captura da arca da aliança
significava que Deus havia abandonado Siló. Embora a narrativa bíblica
não mencione nos livros históricos a destruição de Siló, há referências
que dão a entender que isso aconteceu (SI 78.60; Jr 7.12-14; 26.6-9). Siló
deixou de ser mencionada como centro religioso de Israel após o capítulo
4 de 1 Samuel. E com isso, Samuel ficou sem um local para ministrar. Por
isso, ele retornou a Ramá - seu lugar de origem - onde construiu um
altar e dali julgava a todo o Israel, fazendo um circuito regular onde
dirigia tribunais anualmente em Betei, Gilgal e Mispa (ISm 7.15-16).
Algum tempo depois, ele reuniu todos os líderes de Israel em
Mispá e os alertou a deixarem as práticas idólatras e oferecerem
sacrifícios somente ao Senhor. Quando eles ofereceram sacrifício, Deus
se manifestou com grande estrondo, fazendo com que os filisteus, que
haviam se posicionado para atacar Israel, fugissem assustados (ISm
7.10). Isso convenceu o povo acerca da autoridade espiritual que estava
sobre Samuel. A vitória foi celebrada com a colocação de uma pedra
memorial em Mispa (ISm 7.12), que se chamou “E ben ézer”, que significa
“Até aqui nos ajudou o Senhor”.
Quando ia findando o seu ministério público, Samuel fez uma
revisão histórica do passado do povo de Israel, exortou os israelitas a
aprenderem com a história e demonstrou sua autoridade orando para
que viessem trovões e uma forte chuva (ISm 12.18). Ao ouvir suas
declarações proféticas e ver a devastação causada pela tempestade, o
povo pediu a Samuel que orasse por eles. Ele concordou, mas advertiu-
os sobre o juízo iminente de Deus: “Tão som ente tem ei ao Senhor, e
servi-o fielm ente de todo o vosso cora çã o ; considerai quão grandes coisas
voz fez. Se, porém , perseverardes em fa z e r o mal, perecereis, assim vós
com o o vosso rei” (ISm 12.24-25).
Na sua velhice, Samuel já estava preparado para transferir a
autoridade para os seus filhos: Joel e Abias, que foram constituídos
juizes por Samuel em Berseba (ISm 8.1-2). Entretanto, Samuel cometeu
a mesma falha de Eli. Seus filhos “não andaram pelos cam inhos dele,
m as se inclinaram à avareza, aceitaram subornos e perverteram o ju íz o ”
(ISm 8.3). Parece que Samuel havia herdado de Eli o mesmo estilo de
paternidade, pois assim como Eli, Samuel possuía uma vida correta, mas
gerou filhos desviados.
Os anciãos de Israel, percebendo que o velho sistema dos juizes *
sacerdotes tinha se tornado pesado demais, vieram a Samuel e exigiram •
que ele escolhesse um rei. Samuel resistiu, dizendo que Deus era *
suficiente como rei para Israel, mas eles insistiram em um rei. Samuel •
ainda os advertiu sobre a opressão que viria através de um monarca, *
mas eles continuaram a insistir. Por fim, Deus ordenou a Samuel que •
escolhesse um rei para eles, dizendo que Ele próprio o guiaria nessa *
tarefa (ISm 8.10-22). Saul foi esse rei. •
Apesar de um início promissor, o rei Saul começou a destruir o .
seu relacionamento com o profeta Samuel ao oferecer em desespero *
um holocausto antes de um combate sem esperar a chegada do profeta. >
Somente os sacerdotes podiam oferecer holocaustos, e Saul não era um *
sacerdote. Samuel então anunciou a Saul que “o Senhor lhe tiraria o reino, e •
daria a um hom em segundo o seu coração” (ISm 13.14). *
Em outra ocasião, Saul desafiou as instruções de Samuel de •
exterminar completamente os amalequitas, pois guardou parte dos ’
rebanhos e poupou a vida de Agague, o rei amalequita. Esse incidente •
causou uma ruptura decisiva entre os dois e resultou na rejeição .
definitiva de Saul como rei em Israel. *
Quando Samuel disse a Saul que Deus o havia rejeitado, Saul •
agarrou-se à barra do manto do profeta e o rasgou. Samuel disse a ele: *
“O Senhor rasgou de você hoje o reino de Israel, e o entregou a alguém •
que é m elhor que v o cê” (ISm 15.28). Samuel ainda exigiu que Agague *
fosse trazido à sua presença: “E disse Samuel: ‘A ssim com o a tua esp ad a •
arrancou das m ulheres os seus filhos, entre as m ulheres, a sua m ãe I
tam bém perderá o seu filh o ’. E Samuel fe z Agague em pedaços diante •
do Senhor, em Gilgal” (ISm 15.33). Após essa sangrenta manifestação,
Samuel retirou-se para sua casa em Ramá e Saul nunca mais o viu. *
Sendo rejeitado por Deus, Saul se tornou paranoico e rancoroso, •
chegando ao limite da loucura. Entretanto, de alguma maneira parece *
que Samuel ainda pretendia insistir em recuperar Saul, mas Deus disse •
a ele: “Até quando terás dó de Saul, sendo que eu j á o rejeitei?” (ISm 16.1).
Deus então enviou Samuel a Belém, para que ele ungisse um dos filhos
de Jessé como o futuro rei de Israel. Esse filho era Davi. Embora ainda se
passasse aproximadamente quinze anos até ele receber o trono.
Quando Samuel viajava de Ramá para Belém, ele tinha que passar
pelas terras de Gibeá, que era a cidade de Saul. Ele certamente temia
por sua vida, e por isso não revelou a ninguém a verdadeira razão que
o levara a Belém. Simplesmente disse que havia ido visitar Jessé para
oferecerem um sacrifício juntos.
Infelizmente, Samuel não teve o privilégio de viver o bastante para
ver Davi assumir o trono. Enquanto Saul perseguia Davi para matá-lo em
En-Gedi - nas regiões desérticas da Judeia - Samuel morreu, e foi sepultado
em Ramá, e sua morte foi lamentada em toda a nação (ISm 25.1).
Encontramos Samuel pela última vez em uma estranha e
polêmica história que aconteceu depois de sua morte. Saul foi
procurar uma feiticeira em En-Dor, para que ela trouxesse de volta “o
espírito de Samuel” para ele consultá-lo sobre a luta contra os filisteus.
Como o Urim e o Tumim - um dado de pedra que dava respostas -
não funcionava nas mãos de Saul e não havia nenhum outro profeta
para ele consultar, Saul então decidiu se disfarçar e ir consultar essa
feiticeira. “Um velho envolto num pan o a p a receu ” e anunciou a morte
de Saul e seus filhos: “A m anhã tu e os teus jilh o s estareis com igo, e o
acam pam en to de Israel tam bém . O Senhor o en tregará nas m ãos dos
jilisteu s” (ISm 28.19). A crença cristã propõe que o espírito que surgiu
na história não era o de Samuel, mas sim um espírito qualquer que se
passou pelo espírito do profeta. Duas evidências parecem demonstrar
isso: primeiro, o fato de não ser confirmado que era Samuel, mas sim
“um velho envolto num p a n o ”. Segundo, “esse v elh o” disse que no outro
dia Saul e seus filhos estariam com ele. Onde? Como? Dificilmente Saul
- que morreu como suicida se lançando sobre uma espada - foi para o
mesmo lugar que Samuel.
Samuel, por fim, deixou um legado como um fiel servo do Senhor.
Hemã, um dos cantores de Davi, era neto do profeta Samuel (lCr 6.33).
Samuel teve também seu nome mencionado no Novo Testamento entre
os heróis da fé (Hb 11.32).
Sansão Nome hebraico, significa "Pequeno sol".

0 relato bíblico não dá explicação, etimologia ou significado para o


nome Sansão. Contudo, é derivado do termo shemesh, que significa “sol”.
Isto não é inesperado, visto que Sansão tenha nascido a poucos quilômetros
a
de Bete-Semes, a cidade cujo nome significa “casa do sol”. Provavelmente,
essa cidade foi outrora o lugar de um santuário ao deus sol, isso devido
ao fato desses nomes serem sobreviventes da antiga Canaã, que reflete
a adoração cananita do sol antes da ocupação dos israelitas. Embora a
derivação do nome Sansão da palavra shem esh seja clara, a função do termo
on do nome não é tão clara. Possivelmente, representa uma terminação
diminutiva fazendo então o nome significar “pequeno sol”.
Sansão foi um herói israelita e o último dos juizes de Israel
antes da transição de Eli para Samuel que culminou na monarquia
(Jz. 13.24 - 16.31). Os filisteus já oprimiam os israelitas por 20 anos.
As armas de Sansão - uma queixada de jumentos, suas mãos vazias e
sua força física - claramente indicavam que Israel estava sem armas
de guerra e explicam o sucesso dos filisteus. Os filisteus tinham uma
cultura de guerra material superior, que incluía a fundição de ferro.
Eles guardavam especificamente esse conhecimento e impediam que os
israelitas aprendessem a usá-lo para fazer armas de ferro (ISm 13.19-
23). Assim, Israel não era ameaça para os filisteus, a menos que tivessem
um homem de extraordinária força, como Sansão, lutando por eles.
O livro dos Juizes tenta enquadrar Sansão no padrão dos chefes
tribais chamados “juizes” e diz que ele foi um juiz em Israel na época
dos filisteus, durante 20 anos (Jz 15.20). No entanto, nada da narrativa
sugere que ele tenha exercido seu papel de juiz e comandado seu povo em
batalhas. Ele não chamou ninguém mais para ajudá-lo, não liderou tropas
para guerras e em nenhum sentido foi um líder nacional. Na verdade,
tudo o que ele fez foi para se vingar de seus próprios erros pessoais contra
os filisteus. Sua motivação sempre foi pensando apenas nele, e nunca no
povo. A sua história nos da à impressão que ele nada tenha feito para
julgar, pois estava “ocupado” demais entrando e saindo de encrencas.
Os quatro capítulos de Juizes dedicados a Sansão (13-16) foram
construídos sobre o tema de um voto quebrado. Sansão recebe tanta
atenção no livro dos Juizes, talvez porque sua vida resuma muito bem
o tema do livro: “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia
o que lhe parecia bem” (Jz 21.25). Ele é bem lembrado por suas nobres
façanhas, contaminadas pela falta de domínio próprio. Sansão, assim
como Israel, testou a paciência do Senhor ao extremo. Seu sucesso,
entretanto, foi esporádico e de curta duração.
Sansão pertencia à tribo de Dã, que na época estava dividida em
duas partes. Sansão viveu na parte sul, na região que hoje chamamos
de “Faixa de Gaza”, no sudeste da Palestina. Quando Josué distribuiu as
terras de Canaã para as doze tribos, ele entregou a Dã esta região de Gaza.
Entretanto, muitos dos danitas não ficaram satisfeitos com essa divisão,
lançando-se a descobrir terras ao norte por conta própria. Eles tomaram
a cidade de Laís, renomeando-a como Dã e estabeleceram-se ah.
Infelizmente os danitas rapidamente se renderam ao culto
idólatra. O restante dos que ficaram para trás em Gaza, permaneceram
leais a Jeová, e entre eles estavam os antepassados de Manoá. No
entanto, nessa época, os filisteus haviam tomado o controle de Canaã, e
oprimiam os israelitas.
Sansão nasceu em aproximadamente 1090 a.C. no início da opressão
dos filisteus em Zorá (Jz 13.1). Zorá está localizada no lado oposto do vale
de Soreque, de Bete-Semes, muito perto da fronteira Filisteia-Israelita
daqueles dias. Bete-Semes estava na época no domínio dos israelitas (ISm
6.12-16), porém as ruínas arqueológicas da camada III (1200-1000 a.C.)
revelam que a cidade estava sobre uma forte influência dos filisteus.
Sansão era filho de Manoá e sua esposa, a quem a Bíblia não
revela o nome. Certo dia apareceu um anjo a ela, dizendo que ela teria
um filho, e a existência desse filho estaria ligada a um propósito de Deus
para libertar os israelitas do domínio dos filisteus. Uma das formas desse
menino não se esquecer disso seria o compromisso do nazireado que ele
teria que honrar por todos os dias da sua vida. O nazireu era alguém
separado para Deus (Nm 6). Havia algumas restrições no nazireado,
entre elas, a proibição de tocar em coisas mortas, de beber ou comer
qualquer coisa que fosse fruto da videira e a proibição de cortar os
cabelos. Desse modo a pessoa nunca se esquecería que o seu estilo de
vida era um memorial da sua aliança diferenciada com Deus.
Um detalhe interessante nessa história é que as proibições do
nazireado estavam válidas não apenas para Sansão, mas também para
a sua mãe. Desde aquele momento até o nascimento do menino, ela
também não poderia tocar em coisa morta e nem comer do fruto da
vide. Se considerarmos o nazireado como um modelo de santificação e
consagração pessoal podemos interpretar essa exigência de Deus para a
esposa de Manoá como uma ordenança de que a santificação de Sansão
começaria através da santificação dela. Isso nos leva a entender que a
santificação de nossos filhos deve começar em nós, tornando-nos assim
referências no caminho que toda a nossa descendência deverá seguir.
Os pais de Sansão dedicaram-no a ser um nazireu de Deus por toda
a vida. Quando ele já era crescido, o Espírito do Senhor veio sobre ele
repetidas vezes com o propósito de capacitá-lo para reaüzar inúmeras
demonstrações de forças físicas que tinham como propósito libertar o
povo do domínio filisteu (Jz 13.25; 14.6,19; 15.14).
Sansão, no entanto, não teve o cuidado de honrar a Deus como
um nazireu. Quando jovem ele secretamente desobedeceu à proibição
de aproximar-se de um corpo morto (Jz 14.8,9) e ofereceu e participou
publicamente da ingestão de vinho em uma festa (Jz 14.10) - (O texto no
original hebraico sugere que ele participou do banquete que ofereceu
em seu casamento que continha vinho, bebida que era cultural nas
cerimônias da época). Sansão violou o princípio nazireu de viver
separado para Deus, por suas relações imorais com a prostituta de Gaza
e Dalila (Jz 16.1-20). E como se não fosse o bastante, sua indiferença
espiritual alcançou o clímax ao cortar seus longos cabelos, o sinal
característico da consagração de um nazireu.
A narrativa de Sansão está centralizada em suas experiências com
três mulheres filisteias. A primeira grande história de Sansão, fala sobre
seu amor por uma mulher com quem ele propôs se casar em Timna,
cidade filisteia a seis quilômetros de onde ele morava. Sansão pediu a
seus pais para acertarem o casamento.
A princípio, eles protestaram, exortando-o a tomar por esposa
alguém do seu próprio povo, pois ignoravam que o desejo de Sansão
provinha de Deus que buscava um motivo de desentendimento com os
filisteus (Jz 14.4). Sansão, porém convenceu a eles a irem até a casa da
jovem para conversar com a família.
Durante essa visita, Sansão encontrou um leão nas vinhas de Timna
e o matou usando apenas as suas mãos. Ao passar pelo lugar em uma
outra ocasião, afastou-se do caminho para ver o que havia acontecido
com a carcaça do leão, e notou que um enxame de abelhas havia feito
ali a sua colmeia. Sansão sem pensar nas consequências daquela atitude
recolheu o mel, comeu uma parte e a outra parte deu aos seus pais, não
dizendo a ele que retirara o mel do corpo do leão.
Ali Sansão estava quebrando sua primeira aliança ao tocar o corpo
do leão. Duas coisas precisamos aprender aqui: a ilusão da doçura do
mel e a omissão da origem do mel para os pais de Sansão. A ilusão da
doçura do mel se refere ao fato de que o “bem-estar” da doçura do mel
não compensava o prejuízo que era necessário para tê-lo, pois o acesso a
ele custaria à quebra de uma aliança com Deus no nazireado. E a omissão
de Sansão em não revelar a origem daquela porção de mel demonstra
a consciência dele em saber que estava quebrando o voto, a final de
contas, seus pais sabiam que ele não poderia tocar em algo morto. Sansão
representa o tipo de pessoa que se beneficia do erro, mas não quer que isso
custe a sua reputação. Essa atitude de Sansão nos ensina um princípio: Se
você não puder contar como fez algo, então não faça.
Alguns dias depois como era o costume, Sansão ofereceu a festa
de casamento na aldeia da noiva. A palavra hebraica usada no texto
para festa é misteh, que significa uma rodada de bebidas cuja pessoa que
oferece também participa. Embora o texto não diga especificamente que
Sansão bebeu, a sugestão do texto hebraico é que ele o fez, e deste modo
quebrou o segundo compromisso do seu voto de nazireu. Esta festa se
prolongou por sete dias, e foram convidados 30 jovens filisteus. Sansão
lhes propôs um enigma, se eles descobrissem a resposta o prêmio seria
30 vestes de festas. O enigma era: “Do que come saiu comida, e do forte
saiu doçura” (Jz 14.14). Os enigmas era um passatempo comum nas festas
daqueles dias. Não conseguindo decifrar o enigma eles persuadiram a
noiva de Sansão para que ela conseguisse dele a resposta. Ela atormentou
Sansão até que conseguiu a solução do enigma.
Na última noite da festa, os filisteus triunfantemente apresentaram
a resposta “O que é mais doce do que o mel? E o que é mais forte do que o
leão?”. Sansão encheu-se de fúria e replicou: “Se não tivesses lavrado com
a minha novilha, não terias adivinhado o meu enigma”.
Sansão se afastou altivamente e foi a Asquelon, onde matou 30
filisteus, dos quais tirou os trajes festivos para pagar o prêmio e os
entregou aos jovens que declararam o enigma. Porém ele se irou e subiu
à casa de seu pai sem consumar fisicamente seu casamento.
Quando sua ira se aplacou, foi novamente a casa de sua mulher
levando um cabrito de presente. Seu sogro, porém, o impediu de entrar
no quarto da jovem, dizendo que pelo fato dele ter se ausentado da festa
de casamento, ela havia sido dada a outro homem, um filisteu, que fora
acompanhante de honra de Sansão no casamento (esse acompanhante
de honra era uma espécie de padrinho). De acordo com a lei cananita,
influenciada pela lei sumeriana e babilônica, o pai poderia dar sua filha a
outro homem quando o primeiro noivo a deixasse antes da consumação
do casamento. Mas era expressamente proibido dá-la ao padrinho, o qual
devia proteger os interesses do noivo. Mediante a isso, o pai da jovem
ofereceu a Sansão uma irmã mais nova, como substituta. Sansão rejeitou
a proposta e declarou-se no direito de se vingar do povo de sua mulher.
Sansão capturou 300 raposas, amarrou-as duas a duas pela cauda,
prendeu tochas acessas entre as caudas e soltou os animais nos campos
de trigo dos filisteus. Era tempo de colheita e o fogo consumiu os feixes
e também os grãos ainda não colhidos, e estes queimaram de tal forma
que o mesmo fogo queimou também as vinhas e os olivais.
Os aterrorizados filisteus indagaram quem havia causado aquela
destruição e lhes disseram que Sansão estava se vingando pelo que a
família de sua mulher havia lhe feito. Em represália, os filisteus sabendo
que a lei estava do lado de Sansão, se vingaram ateando fogo sobre a
mulher que era a noiva de Sansão e sobre o seu pai, queimando-os, que
era o castigo comum de uma adúltera (Jz 15.6). Sansão ao saber disso se
irou contra os filisteus e reagiu com violência matando muitos deles e
fazendo deles uma grande carnificina (Jz 15.8), e em seguida se refugiou
em uma fenda nas rochas de Etã.
Naquele momento, o que havia começado como um
desentendimento em uma família já ameaçava se tornar uma guerra.
Os filisteus enviaram uma tropa armada ao território da tribo de Judá,
exigindo que Sansão lhes fosse entregue. Os homens de Judá foram
ter com Sansão em seu esconderijo e lhes disseram: “Não sabes que os
filisteus dominam sobre nós? Que nos fizeste? (Jz 15.11) e ele retrucou
“Assim como me fizeram eu fiz também”. Sansão então aceitou que
os homens de Judá o amarrassem para entregá-lo aos filisteus, com a
promessa de que eles mesmos não tentariam matá-lo. Ataram-no com
duas cordas e o levaram até aonde os filisteus aguardavam.
Porém, quando os inimigos gritaram em triunfo, o Espírito do Senhor
veio sobre Sansão e ele arrebentou as cordas que o amarravam, e vendo
uma queixada de jumento, apanhou-a e com ela atacou e matou mil dos
filisteus que ah estavam (Jz 15.14). Quando ele acabou de lutar lançou aquela
queixada fora e chamou aquele lugar Ramate-Lei, “A colina da queixada”.
Após esse grande esforço, Sansão sentiu uma grande sede. Reconhecendo
que o poder de Deus o auxiliava, pediu socorro ao Senhor, que providencial
e milagrosamente matou a sua sede. O Senhor abriu uma fenda no solo de
onde brotou água, e ele bebeu até saciar-se e recobrou-se o ânimo.
Algum tempo depois Sansão foi passar a noite em Gaza, e ali se
enveredou mais uma vez em seus caminhos imorais. Naquela noite ele
dormiu com uma prostituta. A notícia de sua presença correu pela cidade
e um grupo de homens armou-lhe uma emboscada perto do portão da
cidade, fechando assim o portão para que ele não fugisse. Porém, ele se
levantou à meia-noite e arrancou os portões da cidade de Gaza, junto
com os batentes e as trancas, carregando tudo sobre os ombros até o
alto de um monte perto de Hebrom, a alguns quilômetros dali. Fazendo
isso ele humilhou sobremaneira os moradores de Gaza, pois os portões
simbolizavam a força e resistência de uma cidade (Jz 16.1-3).
Passado algum tempo Sansão novamente se deixou levar pela sua
atração pelas mulheres filisteias. Apaixonou-se por Dalila, que morava
no vale de Soqueque. Foi esta a causadora de sua ruína. Um grupo de
príncipes filisteus veio a ela, oferecendo cada um deles, 1.100 ciclos de
prata, o equivalente a 13 quilos de prata, caso ela conseguisse arrancar
dele o segredo de sua força descomunal, a fim de capturá-lo e subjugá-lo.
Nenhum homem podería ser tão forte quanto ele sem nenhum tipo
de segredo. Fingindo satisfazer a curiosidade de Dalila, Sansão lhe disse
que ficaria indefeso se o amarrassem com sete tiras de couro úmidas.
Escondendo homens filisteus em seu quarto, Dalila amarrou Sansão
enquanto ele dormia e então gritou: “Os filisteus vêm sobre ti Sansão” (Jz
16.9). Ele se levantou e arrebentou as cordas com facilidade. A mesma
história se repetiu com cordas ainda não usadas, e mais uma vez a história
se repetiu, quando Dalila teceu as sete tranças do cabelo de Sansão com
a urdidura de uma teia e as prendeu com um pino. Em todas as ocasiões,
ele conseguia se livrar e o plano de capturar Sansão não se concretizava.
Tendo falhado por três vezes, ela o importunou até que “ele se
angustiou até a m orte” (Jz 16.16). Por fim, ela o venceu e ele revelou que,
como havia sido dedicado ao serviço do Senhor desde o nascimento,
sua força o abandonaria com o corte dos seus cabelos. Sansão revelou
que se seus cabelos fossem cortados ele seria reduzido à normalidade.
Convencida, dessa vez, de ter obtido a verdade, mandou chamar os
filisteus, que chegaram com a sua recompensa nas mãos. Quando
Sansão adormeceu com a cabeça sobre seus joelhos, Dalila chamou um
dos homens para cortar-lhes os cabelos e a sua força se retirou dele.
Quando Sansão tentou se livrar dos filisteus não conseguiu, pois o
Espírito do Senhor havia se retirado dele (Jz 16.20). Ironicamente o valente
que nenhum homem pode conquistar foi derrubado por uma mulher.
Daquela vez os filisteus conseguiram prendê-lo e subjugá-lo. Furaram-lhe
os olhos e o levaram a Gaza, onde o puseram para trabalhar girando um
moinho no cárcere, serviço que normalmente era feito por animais.
Alguns comportamentos em Sansão nos revelam nela uma
personalidade muito complexa. Ele era um homem de um temperamento
indomável, possuía uma insaciável sede por vingança e uma inclinação por
mulheres imorais. Seu compromisso do nazireado foi se desfazendo aos
poucos, de uma maneira muito sutil. As consequências de sua desobediência
foram sobre ele manifestas apenas quando o último elo desse compromisso
foi rompido, o corte dos seus cabelos.
Após ele ter tocado no leão morto e ter ingerido vinho, nenhuma
reação negativa aconteceu a ele, mas após seus cabelos terem sido
cortados, na mesma hora ele perdeu sua tão admirável força. Se
encontrássemos Sansão 30 minutos depois dele ter comido o mel retirado
do corpo do leão, não suspeitaríamos que ele houvesse quebrado aquela
aliança. Se encontrássemos Sansão 30 minutos depois dele ter bebido
vinho, não suspeitaríamos que ele houvesse quebrado aquela aliança.
Mas, se encontrássemos Sansão 30 minutos depois dos seus cabelos
terem sido cortados perceberiamos que algo errado havia acontecido. As
duas primeiras alianças quebradas produziram uma mudança interna,
somente a terceira aliança depois de quebrada produziu uma mudança
externa. Isso nos ensina que quando alguém chega a mudar por fora, é
porque primeiro, algumas mudanças já ocorreram por dentro por algum
tempo. O exterior é apenas um reflexo do nosso interior. Precisamos
pedir que Deus sonde nossos corações e remova de nós todo caminho
mal que se não for tratado por causar mudanças irreparáveis.
Alguns dias depois todos os príncipes filisteus se reuniram no
templo do deus Dagon, para a celebração da captura de seu inimigo
(Dagon era o deus do trigo e da produtividade dos cananeus, cujo culto
foi absorvido pelos filisteus). E como os filisteus desejam se alegrar pela
ruína de Sansão mandou trazê-lo para se divertirem dele (Jz 16.25). O
templo estava cheio e aproximadamente 3 mil pessoas se amontoavam
no telhado, para zombarem de Sansão.
Sansão conhecia a estrutura do templo por ter estado antes em
Gaza e pediu ao moço que o guiava para que o levasse até as duas colunas
que sustentavam o templo. Quando se encontrava entre elas e as tocou
com suas mãos, suplicou ao Senhor, para que ele lhe desse pela última
vez a força que um dia ele teve, para que ele se vingasse dos filisteus e
morresse junto com eles (Jz 16.30).
As colunas estalaram e cederam e o edifício inteiro desabou,
matando todos os presentes junto com Sansão. No ano de 1972, em Tell
Qasile, nas ruínas do primeiro templo filisteu encontrado na Palestina,
foram descobertas duas bases de pedra, tombadas uma para cada
lado e separadas a uma distância de 90 centímetros uma da outra.
Provavelmente esse tenha sido o templo onde ocorreu essa tragédia com
Sansão. Sua família veio buscar seu corpo e o enterrou no túmulo dos
seus pais, entre Zorá e Estaol, na região de sua infância.
Apesar dos defeitos do seu caráter, o seu nome aparece no Novo
Testamento como um dos heróis da fé (Hb 11.32). Mas, devido à sua
falta de autocontrole, seu ministério foi altamente ineficiente. Assim,
ele não conquistou uma libertação permanente para Israel. Somente
cerca de 50 anos depois, o rei Davi terminou o trabalho começado por
Sansão, quando este definitivamente derrotou os filisteus e encerrou
seu domínio na região.

Sara Nome hebraico, significa "Princesa".

Sara era esposa de Abraão e foi a mãe de Isaque. Ela casou-se


com Abraão quando ainda moravam em Ur dos Caldeus, na antiga
Mesopotâmia. Sara era cerca de dez anos mais nova que Abraão (Gn
17.17). Curiosamente, também era meia-irmã de Abraão (Gn 20.12).
Sara era considerada uma mulher muito bonita, a ponto de com
sessenta e cinco anos despertar grande interesse no faraó do Egito. No
entanto, quando ele descobriu que Sara era esposa - e não irmã, como
Abraão havia dito - a devolveu e repreendeu a Abraão dizendo-os que
seguissem viagem (Gn 12.12-20). Vinte anos depois, Abraão sofreu
novamente um lapso e disse mais uma vez que Sara era apenas sua irmã.
Desta vez, Abimeleque, o rei de Gerar, foi avisado por Deus, em sonhos,
de que Sara era casada com Abraão (Gn 20). Um dos Manuscritos do Mar
Morto achados em 1948, possui um comentário apócrifo sobre a vida de
Abraão falando longamente sobre a beleza de Sara.
No entanto, a tragédia da vida de Sara era ser estéril. O fato de não
ter filhos era amplamente irônico, pois o Senhor sempre dizia a Abraão
que tornaria sua posteridade numerosos “com o a p oeira da terra” (Gn
13.16), e que toda a terra de Canaã pertencería a seus descendentes.
Quando Sara tinha setenta anos, ela parece ter aceitado a ideia
de que nunca teria um filho. De acordo com a lei daquele tempo, se a
esposa de um homem fosse estéril, ele poderia conceber um filho de
outra mulher e o menino seria considerado legal desse homem e dessa
mulher. Por causa disso, Sara orientou que Abraão tomasse a escrava
Hagar, e tivesse um filho com ela.
Assim que Hagar engravidou, ela começou a tratar Sara com
desprezo até que se tornou insustentável a convivência das duas. Sara
exigiu que Abraão expulsasse Hagar de sua casa. Ele se recusou a fazer
isso e disse a Sara que cuidasse pessoalmente do problema. Sara então
destratou Hagar, que fugiu para o deserto (Gn 16.4 em diante). Lá, um
anjo disse a ela para que voltasse e prometeu que Ismael seria pai de
uma grande nação.
Quando completou noventa anos, seu nome foi mudado para Sara
(até então ela chamava-se Sarai). Mudanças de nome eram comuns em
momentos de grande mudança na vida de alguém. Nesta ocasião, ele
recebeu a promessa divina de que dentro de um ano teria um filho e
se tornaria “m ãe das n ações” (Gn 17.15-17; 18.9-15). Em outra ocasião,
Abraão recebeu uma teofania e pediu a Sara para assar uns bolos para
três varões - que eram anjos - que visitaram Abraão. Ao ouvir pelo
lado interno da tenda, ela sorriu com incredulidade pensando que esta
profecia sobre seu filho seria algo impossível de acontecer.
O nascimento de Isaque foi um choque para Hagar, que naquela
época devia estar imaginando que Ismael seria o único herdeiro de
Abraão. Sua convivência com Sara mais uma vez se tornou insuportável.
Sara novamente pediu a Abraão que os expulsasse de seu clã. Novamente
ele recusou, mas Deus lhe disse para fazer o que Sara queria. Abraão então,
deu a ambos comida e água e os mandou para o deserto. No entanto, Deus
cumpriu sua promessa e Ismael se tornou o ancestral do povo árabe.
Sara viveu até os cento e vinte e sete anos (a única mulher cuja
idade por ocasião da morte está registrada na Bíblia). Ela foi sepultada
perto de Hebrom, na caverna de Macpela, que Abraão havia comprado
para ser a sepultura da família depois da morte de Sara (Gn 23). [Para
saber mais sobre Sara, ler Abraão],
Saul era filho de Quis, um homem de posses da tribo de Benjamim.
Saul nasceu no século XI a.C., provavelmente por volta de 1060 a.C. Na
primeira vez que aparece na Bíblia, Saul já era casado com Aquinoã, tinha
um filho chamado Jônatas, e moravam em Gibeá, a cinco quilômetros ao
norte de Jerusalém. O todo Saul teve seis filhos - quatro filhos e duas
filhas (ISm 14.49-50; 2Sm 2.8-10)). Três dos filhos de Saul morreram com
ele na batalha (ISm 31.2), e o outro tornou-se rei no lugar de seu pai
(2Sm 2.8-10); de suas duas filhas, a mais conhecida é Mical, a filha mais
nova, que se casou com Davi. A outra filha chama-se Merabe.
Foi o primeiro rei de Israel e é desconhecida a idade com que ele
começou a reinar. Poucas histórias da Bíblia são tão trágicas quanto à
de Saul. Um herói trágico não é apenas um herói derrotado, mas alguém
cuja destruição é o resultado de um defeito de caráter que poderia ter sido
superado se tivesse sido percebido e confrontado. A essência dos erros de
Saul estava em sua arrogância e sua obsessão pela glória e o poder.
Sua história está registrada em 1 Samuel 9 a 31. Desde os
dias de Moisés Deus governara Israel através de juizes e sacerdotes
especialmente dotados com poder e habilidade espirituais. Deus era o
único e verdadeiro rei dos Israelitas, ele era o único que reinava (Êx
15.18) Consequentemente, embora tenha havido indivíduos que foram
governantes poderosos no passado da história de Israel, ninguém havia
assumido o título de rei, porque respeitavam esse princípio estabelecido
por Deus. Entretanto, havia sido feita uma provisão para a ascensão do
reinado na lei (Dt 19.14-20).
Quando Samuel, o último dos juizes, envelheceu, o povo pediu um
rei para que eles fossem como as outras nações que estavam ao redor.
Na verdade, eles não estavam retornando a Samuel como juiz, mas sim
ao próprio Deus como rei sobre eles. Eles desejaram imitar as nações
não apenas no governo, mas também no espírito, dependendo de suas
próprias possibiüdades e poder ao invés de depender do Senhor (ISm 8).
Ao aceitar este pedido, Deus ofereceu aos israelitas um rei exatamente
do tipo que eles desejavam. Saul era o reflexo literal do sentimento de
independência do povo.
Ele era forte, guerreiro e habilidoso, mas não agiu no poder
e na sabedoria do Senhor, mas sim na dependência do seu próprio
julgamento e força e isso o levou ao desastre. Deus deu aos israelitas a
materialização de quem eles eram.
Saul é mencionado pela primeira vez em 1 Samuel 9.1. Aparentemente
era de presença forte, alto e belo. A descrição “desde os ombros para cima
sobressaia de todo o povo” torna isso muito provável. Também é bom
notar que, apesar de positiva, essa primeira descrição de Saul focaliza
exclusivamente as qualidades externas, em contraste, por exemplo, com a
apresentação de Davi (ISm 16.18). Logo fica claro que Saul, embora tivesse
uma aparência física excelente, era carente das qualidades espirituais
necessárias para ser um rei bem-sucedido em Israel.
Quis havia mandado Saul, junto com um servo, procurar por algumas
jumentas que haviam se perdido nas montanhas ao norte de Gibeá. Os dois
chegaram a uma localidade onde Samuel estava e resolveram consultá-lo,
pois ele era um famoso profeta. Samuel já havia sido avisado pelo Senhor
que Saul estava destinado a ser rei. Portanto, dedicou-lhe atenção especial,
convidando a comer e passar a noite com ele. Ao nascer do dia, Samuel
despediu-se dele, após tê-lo ungido com azeite e revelar-lhe que o Senhor o
havia designado para ser o “chefe de sua herança” (ISm 10.1). No caminho,
Saul se deparou com vários sinais previstos por Samuel: dois homens lhe
disseram que as jumentas perdidas haviam sido encontradas e três profetas
que passavam lhe ofereceram pão. Ao encontrar um grupo de profetas
descendo do lugar alto ao som de música, o Espírito de Deus desceu sobre ele,
e ele profetizou entre os profetas, para espanto de todos os que o conheciam.
O primeiro indicador de sua falta de qualificação foi seu repetido
fracasso em obedecer à palavra do Senhor transmitida por Samuel. As
ocasiões mais conhecidas da desobediência de Saul estão em 1 Samuel 13
e 15. No entanto, Philip Long, interessantemente sugere que a primeira
manifestação desse comportamento de desobediência encontra-se em 1
Samuel 10, quando Saul foi ungido por Samuel, e esses três sinais foram dados
como confirmação. De acordo com o texto, quando o último se cumprisse,
Saul deveria “fazer o que a sua mão achasse para fazer” (de acordo com
as palavras de Samuel em ISm 10.7). Depois deveria ir a Gilgal e aguardar
novas ordens sobre a batalha contra os filisteus, que sua ação certamente
provocaria (de acordo com ISm 10.8).
Se Saul tivesse obedecido, teria mostrado sua submissão para se
submeter ao governo de Deus. E confirmaria assim sua qualificação
para ser um rei. Se assim acontecesse ele vivenciaria esses três sinais:
designação (por meio da unção derramada), m an ifestação (por meio
de um ato de heroísmo contra os filisteus) e finalmente a confirm ação
pelo povo e o profeta. Infelizmente, ao que parece Saul se desviou da
responsabilidade de ISm 10.7, e assim, precipitou o processo de sua
ascensão. Embora sua vitória sobre os amonitas (ISm 11) fosse suficiente
para satisfazer o povo e ocasionar“renovação” de seu reinado (ISm
11.14), pelo tom do discurso de Samuel (ISm 12), é evidente que, pelo
menos em sua mente, Saul ainda precisava passar por mais um teste.
Em 1 Samuel 13, Jônatas, e não Saul, fez o que o rei deveria ter feito,
ao atacar a guarnição dos filisteus. Aparentemente, ao reconhecer que
a tarefa de ISm 10.7 fora realizada, ainda que por Jônatas, Saul desceu
imediatamente a Gilgal (em cumprimento a ISm 10.8) para esperar a
chegada de Samuel. Esse foi o primeiro episódio de guerra em grande
escala entre os israelitas e filisteus. Antes disso os embates se limitavam
a poucas brigas e rebeliões não articuladas que os filisteus geralmente
eram capazes de reprimir com facilidade.
No entanto, há um detalhe interessante nessa história. O relato
desse incidente diz: “Então, Saul edificou um altar para o Senhor; foi a
primeira vez que Saul fez isso” (ISm 14.35). Era costume naquele tempo
que qualquer judeu quando estivesse envolvido em um importante
empreendimento juntar algumas pedras para fazer um altar e oferecer,
pelo menos, um pequeno sacrifício. Se aquela era a primeira vez que
Saul fazia isso, então ele obviamente havia sido negligente em seu dever
religioso durante toda a sua vida.
Nessa ocasião Saul cometeu o seu primeiro erro gravíssimo
desobedecendo à direção de Deus por meio de Samuel. Saul usurpou o
ofício sacerdotal. Samuel havia dito que Saul o esperasse para sacrificar
ao Senhor. Saul em sua impaciência tomou a iniciativa de oferecer os
sacrifícios em preparação para a batalha, ao julgar precipitadamente
que a situação militar não permitiria mais espera. Mal terminou de
oficializar o holocausto, Samuel chegou. Depois de ouvir as justificativas
de Saul, o profeta anunciou que o rei agiu insensatamente, por isso seu
reinado não seria permanente.
O rompimento final ocorreu em uma batalha contra os
amalequitas, povo que Deus havia determinado que fosse totalmente
destruído, incluindo todo o seu gado. Nessa ocasião Saul cometeu um
segundo erro gravíssimo, desobedecendo a essa ordenança que Deus
havia o dado (ISm 15). Tendo recebido de Deus a ordem de destruir
todos os amalequitas, Saul alcançou uma vitória esmagadora, porém,
fracassou por não ter obedecido todas as instruções de Deus ao poupar
Agague, o rei dos amalequitas, e também a melhor parte dos animais.
Samuel novamente veio como porta-voz do julgamento de Deus.
O profeta ignorou as desculpas de Saul, de ter se aproveitado do
despojo por causa da pressão do povo, e que pretendia oferecer tudo como
oferta de sacrifício ao Senhor. O profeta recusou essa ideia do rei e se voltou
para sair. Saul agarrou-se à orla de seu manto, que se rasgou, e Samuel
logo interpretou o fato como um sinal de que o Senhor havia arrancado de
Saul o reino de Israel. Samuel exigiu que o rei prisioneiro fosse trazido até
ele, e Samuel “fez Agague em pedaços diante do Senhor em Gilgal” (ISm
15.33). Diante disso, Samuel disse a Saul: “Eis que o obedecer é melhor do
que o sacrificar (pelo fato de que Saul disse que iria sacrificar ao Senhor os
animais capturados em desobediência)... Porquanto tu rejeitaste a palavra
do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (ISm 15.22-
23). Após essa lição sangrenta, o profeta se retirou para sua casa em Ramá e
não mais viu Saul até o fim de sua vida. O próximo ato de Samuel foi ungir
o sucessor de Saul, Davi (ISm 16).
Às vezes os comentaristas justificam ou atenuam as ações de Saul e
criticam a reação de Samuel como severa demais. No entanto, de acordo
com o significado da tarefa dada a Saul em ISm 10.7-8, como um teste
para a sua qualificação, tais interpretações são equivocadas. Na ocasião
da primeira rejeição de Saul (ISm 13) e também na segunda (ISm 15),
suas ações especificas de desobediência eram apenas sintomas da
incapacidade fundamental para se submeter aos requisitos necessários
para um reinado teocrático. Resumindo, eram sintomas da falta da
verdadeira fé em Deus (lCr 10.13).
Depois de sua rejeição definitiva em 1 Samuel 15, Saul já não era
mais aceitável diante dos olhos de Deus (embora ainda fosse permanecer
no trono por alguns anos), e devido a isso, o Senhor voltou sua atenção
para outro homem, ou seja, Davi. O texto de 1 Samuel 16 a 31 narra a
desintegração emocional e psicológica de Saul, agravado pelo seu medo
do talentoso Davi (ISm 18.29), pois pressentia que aquele era o escolhido
de Deus para substituí-lo como rei (ISm 18.8; 20.31).
O restante do reinado de Saul foi trágico. Ele foi se afastando cada
vez mais do Senhor, tornando-se ainda mais desesperado e medroso. É
possível que Saul tenha se tornado um doente mental, com grandes crises
de esquizofrenia. Ele ficou progressivamente pior, refém de períodos cada
vez piores de depressão (ISm 16.14; 19.9). Mesmo assim Saul se recusou a
se humilhar diante de Deus. Cada vez mais ele percebia que Deus já havia
provido um sucessor, e sentia ciúmes de qualquer homem que ele pensava
que podia ser um rival.
Davi, que se tornou um herói de Israel depois da derrota de Golias,
foi o principal objeto de sua inimizade e medo. No dia seguinte à morte
de Golias, Davi estava no palácio cantando para Saul quando o rei, em um
repentino ataque de cólera, tentou por duas vezes encravá-lo na parede
com uma lança (ISm 18.10-11). Saul procurou matar Davi, perseguiu-o
como se faz a um criminoso, e finalmente conseguiu expulsá-lo do reino,
apesar de Davi ser agora seu genro (ISm 18-20).
Devido ao fato do sumo sacerdote Aimeleque ter ajudado Davi,
Saul assassinou uma linhagem inteira de sacerdotes em Nobe (ISm 21-
22). Embora Davi tenha poupado a vida de Saul por duas vezes, o rei não
se arrependeu e prosseguiu no caminho que o levaria a destruição final.
Ironicamente, depois de falhar em diversas tentativas de ceifar a vida
de Davi, Saul finalmente acabou tirando a sua própria (ISm 31.4).
O reinado de Saul terminou da mesma maneira que começou,
em batalha. Mas que diferença havia! O jovem rei que prosseguia em
direção a vitória, havia se tornado no velho rei que desacreditado e
rejeitado caminhava para a derrota e morte. No entanto, Saul ainda não
havia maculado a sua história por inteiro, faltava ainda um agravante.
Em desespero, antes da sua última batalha, Saul procurou ajuda de uma
feiticeira, embora em dias melhores ele havia excluído tais práticas do
seu reino ( ISm 28). Na véspera da batalha ele apelou para a pitonisa de
En-Dor, à procura de algum direcionamento.
O aparecimento do ancião coberto com uma capa, durante a
entrevista de Saul com a feiticeira (ISm 28.3-19), tem sido explicado de três
modos diferentes: Primeiro: A personagem que subiu da terra tornou-se
cúmplice com a mulher. Quando apareceu, a mulher soltou grande grito
e disse a Saul: “Porque me enganaste? Tu és Saul!”. O grito que a mulher
soltou fazia parte do seu truque. Ela percebeu que o consulente era o rei,
por causa da sua elevada estatura, modo de trajar, linguagem e por causa do
cortejo que o acompanhava. Segundo: O grito que essa mulher soltou pode
ter sido em razão do aparecimento de um espírito que ela não esperava
ver, e que lhe causou grande espanto.
Essa aparição, de acordo com a opinião de Lutero e Calvino era
ou o Diabo ou um espírito maligno com o propósito de enganar a Saul. É
bom destacar que essa mulher somente viu uma aparição que relatou em
termos vagos dizendo: “Vi um homem ancião e ele estava coberto com uma
capa”. Tal descrição pode ser aplicada a qualquer pessoa idosa. Saul foi
quem concluiu que era Samuel quem havia aparecido. Terceiro: Há ainda
os que dizem que de fato o ancião que apareceu era Samuel. Se realmente
Samuel apareceu, este é o único registro que a escritura menciona, que o
espírito de um morto tenha voltado à terra para conversar com os homens,
uma vez que o aparecimento de Moisés e Elias em conversa com Jesus não
é comparável a essa manifestação. Seria muito estranho que tendo Deus
se recusado a se revelar a Saul por meio de sonhos, ou por meio de seus
profetas, consentisse que o seu servo Samuel se manifestasse para uma
entrevista formalmente proibida por Deus, e por meio de uma mulher cuja
prática era condenada pelas leis civis e religiosas (Êx 22.18; Lv 20.27; Dt
18.10-14; ISm 28.3,9; lCr 10.13). No entanto, o que esse ser que apareceu
falou acabou acontecendo, Israel perdeu a batalha e Saul morreu na
guerra. Embora Satanás não conheça o futuro, ele pode presumi-lo e foi
exatamente nesse episódio que a sentença de Saul foi lançada.
Os filisteus reuniram-se em grande exército nas proximidades de
Afeque (ISm 29.1), mas, em vez de, atacar o território montanhoso de Saul
diretamente, o exército se moveu na direção norte e entrou no território
israelita em um ponto frágil nas proximidades de Jezreel (ISm 29.11).
Saul tentou reunir força militar adequada para enfrentar a ameaça
filisteia, mas foi incapaz de fazer isso. Com preparação inadequada e
forças insuficientes, ele se preparou para a batalha no monte Gilboa,
(ISm 31.1). Saul nunca deveria ter entrado nessa batalha, porque nunca
poderia ter ganhado. Seus filhos foram mortos no campo de batalha, e
Saul, para não cair nas mãos dos filisteus, cometeu suicídio (ISm 31.2-6).
No dia seguinte, os filisteus encontraram o corpo de Saul no campo
de batalha. Cortaram-lhe a cabeça, penduraram seu corpo e de seus
filhos no muro de Bete-Seã e expuseram suas armas como troféu em seu
principal templo. Quando a notícias chegaram aos habitantes de Jabes-
Gileade (a cidade que Saul havia salvado no início do seu reinado), eles
saíram e andaram a noite toda, recuperaram e levaram de volta os corpos
de Saul e seus filhos, os cremaram e enterraram os ossos debaixo de uma
árvore em Jabes, e jejuaram sete dias em sinal de luto (ISm 31.8-13).
Do ponto de vista militar, Saul havia se tornado rei em um tempo de
crise. No início, ele havia evitado um desastre, e com isso ganhou algum
descanso para seu país. Mas a batalha na qual morreu foi um desastre
para Israel. O país que ele deixou depois da sua morte ficou em situação
pior do que era antes da sua posição de poder.
O texto de 1 Samuel não menciona a duração do reinado de Saul,
mas segundo o apóstolo Paulo e o historiador Flávio Josefo, foi de 40
anos (At 13.21 - Antiguidades 6.14,9). Saul na verdade, não governou
um reino unificado, mas sim uma confederação instável formada pelas
doze tribos de Israel com uma fortaleza bem armada como capital.
Aqueles que escreveram sobre ele enfocaram mais seus fracassos que
suas virtudes.
Há até os que pensam que se Saul tivesse contado com um profeta
mais compreensivo, que lhe desse apoio como Natã fez com Davi, Saul
talvez tivesse sido lembrado como um dos maiores reis da história.
Parece impossível desassociar o destino do reinado de Saul em ligação
a figura do profeta Samuel, e desde o início o relacionamento dos dois
havia se desgastado, gerando assim uma indisposição de Samuel para
com Saul. Desde o início do reinado de Saul, suas relações com Samuel
foram tensas.
No momento em que o rei se desviou do que havia sido instruído a
fazer, o profeta voltou-se violentamente contra ele e o rejeitou. A rixa era
unilateral. Por mais forte e corajoso que Saul se mostrasse em combate
contra os inimigos de seu povo, se intimidava com a ira de Samuel e sentia
um temor respeitoso por sua afirmação de falar por Deus. Ele não discutia
nem agia quando confrontado pelo profeta.
Saul foi o primeiro rei de Israel, mas não se configura entre os
principais reis. Em seus primeiros anos como rei, Saul é tratado como
um homem cujos instintos básicos eram generosos; ele era bondoso e leal
aos seus amigos e não guardava rancor ou ódio com relação aos que se
opunham a ele (ISm 11.12-13). Mas a verdadeira força de Saul, em seus
primeiros anos, estava em sua relação com Deus. Ele se tornou rei como
resultado de uma indicação divina (ISm 10.1) e porque o “Espírito do
Senhor” veio sobre ele (ISm 10.6). A partir do momento que o Espírito do
Senhor se afastou de Saul ele se transformou por completo, ao ponto de
se tornar uma das pessoas mais mal lembradas da Bíblia, revelando com
isso a maldade que habita no homem que não tem a presença de Deus.
Infelizmente, no final morreu derrotado, mas suas conquistas
poderíam ter sido mais bem lembradas se ele tivesse sido sucedido por
qualquer outro líder que não fosse Davi. Os dons e a competência de
Davi eram tão magníficos e incomuns que as modestas conquistas de
Saul tornaram-se discretas e somente seus erros foram lembrados.
Sofonias Nome hebraico, significa "O Senhor me esconde".

Sofonias foi profeta em Judá e o nono dos doze profetas menores,


sendo que foi o último dos profetas menores que profetizou antes do
exílio da Babilônia. A origem do nome “Sofonias” deriva-se da ideia de
ser escondido por Deus do mal (SI 27.5; 31.20). Sofonias demonstrou
1
muita familiaridade com as características físicas da cidade de Jerusalém
(Sf 1.10-13), talvez tenha morado ali.
Nenhum outro profeta é apresentado com uma genealogia tão
longa (Sf 1.1). Sofonias, de acordo com esta lista, pertencia à quarta
geração de um homem chamado Ezequias. Devido a ligação de
Sofonias com o movimento reformista alguns estudiosos sugerem que
sua árvore genealógica é mencionada para mostrar seu vínculo com
Ezequias, o famoso rei de Judá, que morreu em 687 a.C. Entretanto,
outros estudiosos alegam que essa árvore genealógica não identifica o
progenitor de Sofonias como o rei. Isso é sugerido devido ao fato de não
existir nenhum registro de que o rei Ezequias teve um filho chamado
Amarias, identificado como o bisavô do profeta Sofonias.
O único filho de Ezequias mencionado pelo nome é Manassés, que
reinou em Judá em aproximadamente 686 a 642 a.C. e foi seguido por
Amon (642 a 640 a.C.) e depois por Josias (640 a 609 a.C.). Entretanto, é
provável que - assim como outros reis de Israel e Judá - Ezequias tivesse
algum filho que nunca apareceu nos registros oficiais. Sendo assim,
existe a possibilidade de Sofonias ter sido o único profeta com sangue
real na história de Israel e Judá.
Sofonias data sua mensagem nos dias de Josias (640 a 609 a.C.).
Consequentemente, é bem provável que Sofonias tenha profetizado por
volta de 635 a 625 a.C. Se a data do início do seu ministério for 625 a.C.,
então ele começou o seu ministério na mesma época em que Jeremias
também início a sua trajetória ministerial.
Sofonias profetizou que Deus acabaria com toda a criação na
ordem inversa em que criou (Sf 1.3-4). Para as pessoas familiarizadas
com a história de como Deus criou a terra, as palavras de Sofonias
revelaram uma ordem inversa de destruição. Porque Deus havia criado
os peixes, as aves, os animais e o homem, nesta ordem. Mas Sofonias
disse que Deus suprimiría “homens e gado... pássaros do céu e os peixes
do m ar” (Sf 1.3).
Sofonias também denunciou os enganadores de sua época, que
tentavam influenciar com conselhos ludibriosos o rei, ostentando
roupas estrangeiras. “Seus profetas são aventureiros, hom ens da traição,
seus sacerdotes profan aram o que é santo e violaram a lei” (Sf 3.4).
Embora muitos tenham acreditado na palavra do profeta Sofonias,
a reforma acabou findando com a morte do rei Josias, ferido na batalha
contra o Faraó Neco do Egito, no ano 609 a.C. Joacaz, seu filho e sucessor,
levou a nação em um caminho de retorno a idolatria. O povo retomou
os costumes pecaminosos e 35 anos depois, os babilônios destruíram
Jerusalém e arrasaram Judá, assim como Sofonias profetizara (Sf 1.4).
Isto serviu para fortalecer ainda mais as palavras de Sofonias,
visto que no último capítulo do seu livro ele falou sobre Jerusalém: “Ela
não ouviu o cham ado, não aceitou a lição, não confiou no Senhor, não
se aproxim ou de seu Deus” (Sf 3.2). Mas assim como o profeta Isaías,
Sofonias concluiu sua profecia com uma mensagem de esperança:
“N aquele tem po vos trarei, naquele tem po vos recolherei. Certam ente vos
darei honra e louvor entre todos os povos da terra, quando eu restaurar a
v ossa sorte, diante dos seus próprios olhos, diz o Senhor” (Sf 3.20).
Filho de A l feu

Tiago, filho de Alfeu, foi um dos doze discípulos próximos de Jesus.


Ele é mencionado nas quatro listas dos discípulos no Novo Testamento
(Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). No entanto, quase nada se sabe sobre
ele. McBirnie sugere que ele era de Cafarnaum. Ele sempre aparece na
lista dos quatro últimos discípulos, indicando que ocupava uma posição
mais discreta na hierarquia do grupo.
A única coisa que as escrituras dizem sobre ele é o seu nome e
de quem ele era filho. Se, porventura, ele perguntou algo a Jesus ou
fez alguma coisa que o destacasse no grupo, não há registro disso nos
evangelhos. Em momento algum ele chegou a ter qualquer evidência
ou notoriedade. Ele não era o tipo de pessoa que chama a atenção. Era
absolutamente obscuro. Até mesmo o seu nome - na época - era comum.
Contudo, ele era um dos doze. Por algum motivo, o Senhor
o escolheu, treinou, deu poder como fez aos outros e enviou para
testemunhar o evangelho. Ele nos lembra as pessoas de Hebreus 11.33-
38, cujos nomes não são mencionados apesar de seus grandes feitos.
Certamente, a eternidade vai nos revelar o nome e os testemunhos
dessas pessoas, bem como de Tiago, filho de Alfeu, do qual o mundo não
se lembra e sobre o qual nada se sabe.
Marcos 15.40 refere-se a ele como “Tiago, o Menor”. Apalavra grega
que foi traduzida como “menor” é m ikros, que significa literalmente
“pequeno”. Ou seja, parecia indicar que Tiago, filho de Alfeu era de
pequena estatura. Embora, fosse possível também que essa descrição
“o menor”, identificava ele sendo mais jovem do que o outro Tiago, que
era filho de Zebedeu. Ambas as possibilidades parecem estar corretas.
Outra questão interessante sobre a linhagem de Tiago surge
quando comparamos Marcos 15.40 com João 19.25. Ambos os versículos
mencionam outras duas Marias - além da mãe de Jesus - que estavam
perto da cruz de Cristo. Marcos 15.40 menciona “M aria M adalena, Maria,
m ãe de Tiago, o m enor e de J o s é ”. João 19.25 cita “a m ãe de Jesus, e a irmã
dela, e Maria, m ulher de Clopas, e M aria M adalena”. É bem provável, que
a irmã da mãe de Jesus (“Maria, mulher de Clopas”) e “Maria, a m ãe de
Tiago, o M enor” sejam a mesma pessoa. (“Clopas”, podia ser um outro
nome de Alfeu, ou talvez a mãe de Tiago tivesse se casado novamente
depois que o pai dele faleceu). Se isso for correto, então Tiago, filho de
Alfeu - assim como Tiago e João, filhos de Zebedeu - era primo de Jesus.
Essa hipótese fortalece ainda mais o cognome “o menor” para diferenciá-
lo do outro Tiago.
Outra informação que também é cogitada sobre Tiago, filho de
Alfeu é que ele também seria irmão de Mateus (também chamado de
Levi, filho de Alfeu). No entanto, não existem referências concretas
aos dois como irmãos, enquanto que outros pares de irmãos entre
os discípulos sempre foram citados juntos: Pedro e André e Tiago e
João, filhos de Zebedeu. A tradição sugere que Tiago, filho de Alfeu -
assim como Tiago, irmão de Jesus - morreu como mártir após ter sido
apedrejado em Jerusalém.

Forma grega de Jacó, significa "Aquele que agarra (o calcanhar)".

Filho de Zebedeu

Tiago era filho de Zebedeu e Salomé, e irmão de João, que também


havia sido um dos discípulos do Senhor (Mt 4.21; 20.20; Mc 1.19; 15.40;
16.1; Lc 5.10). Eles eram pescadores no mar da Galileia. Todas as vezes
que os dois irmãos são mencionados por nome, Tiago sempre aparece
primeiro, dando a entender que ele era o mais velho.
O fato de serem frequentemente chamados de “filh os de Z ebedeu”,
parece indicar que Zebedeu era alguém conhecido naquela sociedade.
Uma vez que tinha seus próprios barcos (um grande investimento) e
tinha empregados (Mc 1.20), certamente, segundo os padrões da época,
Zebedeu era muito próspero. Aparentemente, eles tinham também
uma certa posição social privilegiada, pois João era conhecido do sumo
sacerdote em Jerusalém, e pôde entrar na casa deste na noite da traição
de Jesus (Jo 18.16).
Mateus relata que “M aria M adalena; Maria, m ãe de Tiago e de Jo s é
e a m ãe dos filhos de Zebedeu” estavam presentes na crucificação (Mt
27.56). Marcos relata que “M aria Madalena, Salom é e Maria, m ãe de Tiago”
compraram especiarias para embalsamar Jesus (Mc 16.1), e João diz que
“sua mãe, a irm ã dela, Maria, mulher de Clopas e M aria M adalena” estavam
aos pés da cruz de Cristo (Jo 19.25). Se essa terceira mulher - que foi
identificada como “a m ãe dos filhos de Zebedeu”, “Salom é” e “a irmã dela (de
Maria, m ãe de Jesus)”- for a mesma pessoa, então Zebedeu era casado com
Salomé, irmã de Maria, e portanto, tio de Jesus. Sendo assim, Tiago e João
seriam primos de Jesus.
Se esse for o caso, uma vez que moravam a aproximadamente 25
quilômetros de distância um do outro, eles provavelmente se conheciam
desde a infância. Essa pode ter sido também uma das razões pelas quais
Jesus escolheu Cafarnaum como seu lar depois da rejeição em Nazaré no
início do seu ministério.
Jesus estava andando às margens do mar da Galileia quando
chamou Simão Pedro e André para o seguirem. Tiago e João, estavam
no outro barco com Zebedeu, e Jesus também os chamou. Eles
imediatamente deixaram seu pai no barco e foram com Jesus (Mt 4.18).
Posteriormente, depois de passar a noite em oração, Jesus o chamou
para fazer parte do grupo dos doze discípulos (Lc 6.12-14).
Em uma leitura superficial, tem-se a impressão de que Tiago e João
foram insensíveis pelo simples fato de abandonarem seu pai e seguirem
Jesus. No entanto, Zebedeu certamente se alegrou pelo convite feito por
Jesus e devido a quantidade de empregados que tinha, certamente, ele
não ficou desamparado no serviço de pescaria depois da ausência dos
seus dois filhos.
Eles - junto com Pedro - faziam parte do íntimo grupo de três
discípulos de Jesus. Apenas eles estavam em algumas ocasiões ao
lado do Mestre: Na ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.37; Lc 8.51), na
transfiguração (Mt 17.1; Mc 9.2; Lc 9.28), no monte das Oliveiras (Mc
13.3), no jardim do Getsêmani (Mt 26.37; Mc 14.33), etc.
Tiago e João obviamente eram homens de personalidade forte e
também eram impulsivos na forma de se expressar. Jesus os chamou de
Boanerges, que em aramaico significa “Filhos do Trovão” (Mc 3.17). Esse
comportamento foi revelado em uma ocasião em que os samaritanos
não deram hospedaria a Jesus, e Tiago e João perguntaram: “Senhor,
queres que fa ç a m o s descer fo g o do céu para destruí-los ?” (Lc 9.54).
Jesus, naturalmente, os repreendeu. O exemplo de Jesus ensinou
a Tiago que a bondade e a misericórdia são virtudes a serem praticadas
tanto quanto a justiça e o zelo reügioso. Observe o que aconteceu: Em vez
de pedir fogo do céu, eles “seguiram p ara outra aldeia” (Lc 9.56). Ou seja,
eles simplesmente tentaram hospedagem em outro lugar. Alguns anos
depois disso, à medida que a igreja primitiva foi crescendo e a mensagem
do evangelho se espalhou para além da Judeia, Filipe, o diácono, “descendo
à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo” (At 8.5). Algo maravilhoso
aconteceu: “As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia,
ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de
muitos possessos saíam gritando em alta voz, e muitos paralíticos e coxos
fo ra m curados. E houve grande alegria naquele lugar” (At 8.6-8).
Sem dúvidas, muitos dos que foram salvos pela pregação de Filipe
eram algumas das mesmas pessoas a quem Jesus poupou quando Tiago e
João quiseram incendiá-las. Certamente, até o próprio Tiago - que estava
vivo na época - se regozijou grandemente com a salvação de tantos que
outrora haviam desonrado a Cristo de modo tão evidente.
Aparentemente, Tiago e João ofenderam os outros discípulos
quando pediram uma posição privilegiada no reino do Messias, querendo
se assentar um à direita e o outro à esquerda do “trono de Jesu s” (Mc 10.35-
41). Provavelmente, eles ainda não haviam aprendido a crucificar a sua
egoísta ambição. Jesus então passou a perguntar-lhes se eles poderiam
beber o cálice que ele beberia. Claramente, essas eram metáforas para o
sofrimento pelo qual, em tempo oportuno, Jesus teria que passar.
Tiago e João, sem ter noção do que aquilo representava, afirmaram
que poderiam, e Jesus curiosamente lhes assegurou que de fato eles fariam
isso, ou seja, beberiam do cálice de sofrimento de Cristo.
No entanto, Jesus não lhes prometeu nada acerca dos “lugares no
reino”, mas fica claro, que eles sofreram por Cristo. Tiago foi o primeiro
apóstolo a ser martirizado, em torno de 44 d.C. (At 12.1), e João, embora
tenha sido o último dos doze apóstolos a morrer, não escapou, no entanto,
dos sofrimentos por amor a Cristo, sendo assim, participante também de
um “pouco deste cálice” que eles disseram que aceitariam beber.
Vale à pena ressaltar mais uma vez que, curiosamente, Tiago foi o
primeiro dos apóstolos a morrer, e João, o último.
Entretanto, é justo também registrarmos, que essa “sede por
poder e por posição” não era exclusiva de Tiago e João. Pouco antes
desse pedido que eles fizeram a Jesus, encontramos uma delicada
situação de conflito entre os doze sobre quem entre eles era o maior (Mc
9.33-34). Mateus e Lucas também registra que havia entre os doze uma
certa contenda “sobre qual deles pa recia ser o m aior” (Mt 18.1; Lc 22.24).
Diante disso, o pedido ganancioso de Tiago e João gerou indignação nos
outros discípulos, não porque isso lhes tinha parecido algo abominável
a eles, mas sim, porque isso representou um ousado adiantamento deles
na busca pelas posições e privilégios tão sonhados por todos eles no
reino messiânico (Mc 10.41).
Tiago estava presente no cenáculo em Jerusalém (At 1.13), mas não
é encontrado mais no texto de Atos, exceto na ocasião da sua execução
(At 12.2). Diante disso, a pergunta que incomoda muitos pesquisadores
cristãos é: se Pedro, Tiago e João formavam um trio inseparável nos
evangelhos, e Pedro e João continuavam ministrando juntos nos
primeiros capítulos de Atos, por que razão não temos Tiago, irmão de
João, presente entre eles como de costume? Do dia de pentecostes -
onde ocorreu a descida do Espírito Santo - até o martírio de Tiago são
aproximadamente 15 anos.
Porque houve esse silêncio sobre Tiago? Onde ele estava?
Muitos eruditos têm visto nesse silêncio um respaldo bíblico para
a suspeita de que Tiago havia se ausentado de Jerusalém por ocasião
dos primeiros acontecimentos descritos em Atos, rumo às missões
internacionais. Seria pouco provável que Lucas, o autor de Atos,
omitisse o nome de Tiago se ele estivesse cooperando com seus mais
próximos companheiros apostólicos em Jerusalém. Existe, portanto, a
possibilidade dele ter deixado Jerusalém no início de seu ministério.
Existem algumas tradições que tentam reconstruir esses “anos
perdidos” da vida de Tiago. Um apócrifo chamado São Tiago na índia,
fala de uma viagem de Pedro e Tiago a índia. Outras narrativas como
O M artírio de São Tiago, falam de uma missão voltada às doze tribos da
dispersão, para os quais o apóstolo teria ensinado, com suas pregações,
que destinassem seus dízimos à igreja de Jerusalém, e não a Herodes ou
qualquer outro templo judaico, inclusive o de Jerusalém.
Entretanto, a mais conhecida sugestão é que Tiago tenha ido
pregar na Espanha. Alguns historiadores sugerem que o cristianismo
chegou à Espanha na metade do primeiro século da era cristã. Paulo, por
exemplo, quando escreveu a carta aos Romanos, desejava ir a Espanha
para pregar o evangelho ali (Rm 15.24,28). Segundo a tradição, Tiago
teria levado a fé cristã a Zaragoza (na época Cesaraugusta) e à região
da Galácia, no noroeste da Espanha, onde se encontra a tradicional
cidade de Santiago de Compostela, local de infindáveis peregrinações
na idade média. No entanto, tudo são apenas tradições, embora se
encaixem dentro da cronologia desses prováveis 15 anos de anonimato
de Tiago em Jerusalém. O certo é que por volta de 44 d.C., Tiago estava
em Jerusalém, e ali foi morto à espada a mando de Herodes Agripa.
A história registra que o testemunho de Tiago deu frutos até no
momento de sua execução. Eusébio - o principal historiador da igreja
primitiva - transmite um relato da morte de Tiago, apresentado por
Clemente de Alexandria:
“Clemente diz que aquele que entregou Tiago ao tribunal de
Herodes, ao ouvir seutestemunho, eleteriadetalm odosearrepen dido,
que se apresentou aos m esm os m agistrados e confessou-se cristão
(ou confessou a Cristo e se tornou um cristão). Am bos então, fora m
levados à m orte juntos, e no caminho, ele implorou a Tiago que o
perdoasse. Depois de refletir por um instante, Tiago disse: ‘Paz seja
convosco’ e o beijou. Os dois fo ra m então decapitados juntos. Então,
também, conform e dizem as escrituras, H erodes vendo que a m orte
de Tiago dava grande prazer aos judeus, desejou tam bém m atar
Pedro, conduzindo-o a prisão [...] m as um anjo lhe apareceu a noite
libertando-o assim para proclam ar o evangelho”.
A tradição diz que depois de seu martírio, seu corpo foi levado
para a Espanha, onde está enterrado em Santiago de Compostela - que
recebeu esse nome em homenagem a Tiago, pois Santiago é o termo em
espanhol para “São Tiago”.

Forma grega deJacó, significa "Aquele que agarra (o calcanhar)1'.


Irmão de Jesus

Tiago, o irmão de Jesus, tornou-se o mais proeminente líder da


igreja em Jerusalém, na época do Concilio de Jerusalém (At 15 - 49 d.C.).
Também é o autor da epístola de Tiago.
A primeira menção a ele está em Mateus 13.55, junto com os
nomes de outros três filhos de Maria e José, além do próprio Jesus, junto
com uma vaga referência às “irmãs” de Jesus no versículo 56. O fato de o
nome Tiago ser o primeiro entre os irmãos parece indicar que ele fosse
o mais velho depois de Jesus.
Uma passagem anterior a esta aparentemente também se refere
a Tiago (Mt 12.46). Nesse texto, “a m ãe e os irm ãos” de Jesus esperavam
para falar com ele. Quando ouviu o pedido deles (Mt 12.47), Jesus
redefiniu sua família como “todo aquele que fiz er a vontade do meu Pai
que está nos céu s” (Mt 12.50). Embora, provavelmente ele não entendesse
a realidade espiritual da afirmação de Jesus naquele momento, uma
semente foi plantada na mente de Tiago, a qual contribuiu muito para
que ele entendesse a natureza do que é ser “igreja” em seu ministério
como líder.
Provavelmente, foi uma experiência confusa crescer na família de
José e Maria, sendo o irmão mais novo do Cristo. Seus pais certamente
criam que Jesus era o Messias tão esperado, mas até eles nem sempre o
compreendiam (Lc 2.49-50). O fato de Jesus nunca ter pecado e ter alcançado
um crescimento perfeitamente equilibrado (Lc 2.52), provavelmente criava
ciúmes e ressentimento entre os outros irmãos menores.
Embora José e Maria sem dúvida tivessem dito a Tiago e aos outros
irmãos que Jesus tinha um papel muito especial nos planos de Deus,
ainda assim, era difícil para eles entenderem porque Jesus abandonara
os negócios da família aos 30 anos de idade (Lc 3.23). Se José já tivesse
morrido - o que é bem provável que houvesse acontecido - Jesus, como
o filho primogênito, automaticamente teria que ser o cabeça da casa e o
responsável pela manutenção financeira da família com sua carpintaria
(Mt 13.55; Mc 6.3).
Devido também a isso, Tiago parecia não entender a missão de Jesus
durante o período do seu ministério. Provavelmente, a conversão dele
só aconteceu depois da ressurreição de Jesus. É bem certo também, que
ele estava no cenáculo - no dia de pentecostes - junto com os apóstolos,
Maria e os demais “irmãos” de Jesus, agora também convertidos (At
1.14). A menção dos “irmãos” (plural) em Atos 1.14, parece indicar a
conversão de pelo menos dois dos meios-irmãos de Jesus. Provavelmente
eram Tiago e Judas (Mt 13.55; Jd 1). Que também foram contribuintes na
autoria dos livros do Novo Testamento (epístolas de Tiago e Judas).
Paulo revela em uma de suas cartas que depois de sua ressurreição,
Jesus apareceu em seu corpo glorificado a Tiago (ICo 15.7). Antes disso,
“seus irm ãos não criam nele” (Jo 7.5), embora ficassem impressionados
com os milagres que ele operava (Jo 7.30). É bem provável que a conversão
dele seja resultado desse encontro transformador com Jesus, assim como
aconteceu também com Paulo mais tarde (ICo 15.8; At 9.3-19).
Tiago vai ser mencionado outras duas vezes em Atos. Primeiro,
no Concilio de Jerusalém. Dele foi a palavra final, a fim de fundamentar
o testemunho de Pedro (At 15.7-11), de Paulo e de Barnabé (At 15.12).
Sua abordagem foi plenamente aceita pelos demais líderes e pela igreja
ali reunida. Segundo, foi na conclusão da terceira viagem missionária
de Paulo, o qual, tendo chegado a Jerusalém, procurou “Tiago e todos
os anciãos (tam bém ) com pareceram ” (At 21.18). Nas duas ocasiões, fica
evidente que Tiago era um importante líder na igreja, e ocupava uma
função hierárquica maior que a dos anciãos.
Outra importante referência a Tiago - fora do livros de Atos do
Apóstolos - está na epístola aos Gálatas, escrita por Paulo, pouco depois
da realização do Concilio, onde Tiago, Pedro e João são chamados de
“as colunas da igreja” (G1 2.9). Obviamente, Tiago era o líder, porque
os representantes que vinham da igreja de Jerusalém para a igreja de
Antioquia diziam ter sido enviados por Tiago (G1 2.12). Paulo chamava
e reconhecia Tiago como “ap óstolo” (G11.19), embora ele não houvesse
sido um dos doze (Mt 10.2-4), e nem fosse “crente” no início (Jo 7.5).
Em 1 Coríntios 9, Paulo mencionou que “os irm ãos do Senhor”
eram casados (v.5) e suas famílias eram sustentadas financeiramente
pela igreja (v.4-6). Certamente, Tiago estava incluído nessa frase.
A epístola de Tiago - que teve o privilégio de crescer junto com Jesus
- foi o primeiro documento a ser escrito do Cânon do Novo Testamento.
A grande maioria dos eruditos sugerem 50 d.C., como a data provável de
sua composição. Essa epístola foi escrita “às doze tribos que se encontram
na dispersão” (Tg 1.1). Isto parece significar que ela foi escrita para todos
os judeus cristãos de todas as partes do império romano.
A tradição diz que Tiago foi morto por causa de sua fé, em
aproximadamente 62 d.C., pelos judeus em Jerusalém. Eusébio de
Cesareia - principal historiador dos primeiros 4 séculos do cristianismo
- diz o seguinte:
“Tiago fo i m orto no intervalo entre a m orte do procurador
rom ano Festo e a chegada de Albino, seu sucessor. N esse
período, Anano, que havia sido colocado com o sum o sacerdote
pelo rei Agripa, estava testando sua fo r ç a política durante a
ausência do novo procurador, e levou a um tribunal ju daico
“Tiago, irm ão de Jesu s cham ado ‘O Cristo’”, acusando-o e a
outros de transgredirem a lei judaica, e os condenou a m orte p or
apedrejam ento. Primeiram ente, ele fo i lançado do pináculo do
templo, m as m ilagrosam ente sobreviveu tanto à queda quanto
ao apedrejam ento posterior. M as fo i então executado - enquanto
orava no chão pedindo a Deus que p erd oasse os seus opositores -
p o r um hom em p isoeiro que esm agou a sua ca b eça com um bastão
que usava p ara b ater as roupas. Assim Tiago sofreu m artírio e o
sepultaram em Jerusalém . ”
Uma curiosidade arqueológica que talvez possa endossar essa
narrativa é o fato de ter sido descoberto, em escavações junto ao muro
sudoeste da cidade velha de Jerusalém, vestígios de lavadouros usados
pelos pisoeiros daquela época.
Ao contrário do que se imagina, as “lavanderias” da época não
eram frequentadas por mulheres, mas por lavadeiros profissionais
que, usualmente, lavavam as roupas batendo fortemente com bastões
apropriados . Considerando-se que o local do achado arqueológico não é
distante de onde teria ocorrido a queda de Tiago, é possível que Eusébio,
em sua descrição, tenha se aproximado daquilo que se sucedeu, ao citar
o golpe final de um desses pisoeiros sobre o líder da igreja em Jerusalém.
Eusébio menciona também - através de Hegésipo, um cristão
historiador do primeiro século - que Tiago foi escolhido como alvo
de perseguição dos judeus devido Paulo ter apelado para César e ter
sido enviado para Roma, enquanto estava preso em Cesareia. Ou seja,
segundo essa descrição, o alvo dos judeus opositores dos cristãos era
Paulo, mas como ele tinha cidadania romana e apelou para ser julgado
em Roma, eles se vingaram voltando-se contra Tiago, o irmão do Senhor,
a quem os apóstolos haviam confiado o assento episcopal da igreja em
Jerusalém (História Eclesiástica - página 72).
Eusébio ainda informa que pouco tempo depois disso,
Vespasiano, que era o imperador da época, invadiu e tomou a Judeia,
futuramente tomando também Jerusalém. Ou seja, eles entenderam
a destruição de Jerusalém como “uma resposta de Deus” aos judeus
por terem matado Tiago.
Hegésipo retrata Tiago em seus registros como um homem
piedoso que beirava a santidade em sua vida. Segundo ele, “Este Tiago,
tam bém cham ado ‘o Ju sto ’, entrava diariam ente no santuário e sem pre
era encontrado de jo elh o s pedindo a Deus que p erd oasse as pessoas, de tal
fo r m a que seus jo elh o s ficara m duros com o os de um cam elo p o r estarem
sem pre d obrados diante de Deus”.
O Novo Testamento não traz explicação para a ascensão meteórica
de Tiago na liderança da igreja em Jerusalém, mas há dois motivos que
são prováveis: sua santidade e piedade pessoal (confirmada pela tradição
através de historiadores como Flávio Josefo, Eusébio de Cesareia e
Hegésipo) e a importância de sua ligação familiar com Jesus.
Essa questão do parentesco com Jesus parece ter exercido alguma
influência naquele contexto. Embora, nem Paulo nem o Novo Testamento
incluam nenhum indício quanto a isso, a tradição por Hegésipo parece
trazer tais vestígios. Hegésipo descreve a escolha do sucessor de Tiago
no bispado de Jerusalém em termos quase dinásticos:
“Quando Tiago, o irm ão do Senhor, sofreu seu martírio,
Simeão, o filh o do seu tio Clopas, fo i nom eado bispo. Sendo ele
um prim o do Senhor, era o su cessor p ara a igreja de Jeru salém ”.
(História Eclesiástica - página 93).
Assim, ao que parece, durante sessenta ou até setenta anos após
a morte de Jesus, a ligação familiar com o Mestre havia se tornado um
patrimônio significativo no que dizia a sucessão da liderança na igreja
de Jerusalém (uma espécie de Nepotismo). Contudo, no início do século
II, com a quantidade principal das igrejas cristãs tendo se afastado da
terra santa, tais ligações familiares deixaram de desempenhar um papel
significativo na igreja primitiva.
A última referência a Tiago no Novo Testamento está no primeiro
versículo da curta epístola de Judas. Assim como Tiago, Judas refere-se a si
mesmo como “Servo de Jesu s Cristo”, mas para estruturar sua autoridade
como escritor das escrituras se apresentou também como “irm ão de Tiago”
(Jd 1). Isso nos leva a entender, que naquele momento da era apostólica
em que a epístola de Judas foi escrita (entre 68 e 70 d.C.), a memória de
Tiago ainda era uma importante referência na igreja primitiva.
Em 2002, um ossuário de pedras de propriedade particular foi
encontrado em Jerusalém. Nele estava escrito em aramaico a seguinte
descrição: YA 'AQÔB BAR YÔSEPH 'AHÔY DEYESHÜA' (Tiago frjacó),
filh o de José, irm ão de Jesus). A inscrição foi confirmada do século I d.C.
Provavelmente, se tratava dos restos mortais de Tiago, o irmão de Jesus,
que fora um dos principais líderes da igreja primitiva.

Timóteo Nome grego, significa “Aquele que honra a Deus".

Foi o cooperador e discípulo mais próximo do apóstolo Paulo. Era


considerado por ele como “um filh o” (Fp 2.22), “verdadeiro filho na f é ” (lTm
1.2) e “am ado filh o ” (2Tm 1.2). Timóteo nasceu em Listra, na Ásia Menor,
seu pai era grego, mas sua mãe Eunice e sua avó Loide eram judias cristãs
(At 16.1; 2Tm 1.5). Casamentos mistos dessa natureza eram muito comuns
nas regiões gentílicas fora de Jerusalém, embora eram raros em Jerusalém
e cercanias por causa do sistema religioso judaico. Distante de Jerusalém,
apesar de haver alguma população judaica, as sinagogas não exerciam
toda a influência que tinham naquele principal centro do judaísmo, devido
a isso casamentos mistos aconteciam com mais frequência.
Eles provavelmente se converteram durante a primeira e
tumultuada visita de Paulo e Barnabé a Derbe e Listra (At 14.6-22). Por
volta do ano 47 d.C. Paulo e Barnabé haviam enfrentado em Icônio,
na Frigia, uma terrível oposição a sua mensagem, e viajaram para
o sul, até chegarem a Listra, na Licaônia. Eles pregaram ali com um
considerável sucesso por um bom período de tempo, mas a situação
mudou quando curaram um homem aleijado de nascimento. Noticias
dessa cura atingiram a região como um raio, convencendo a maioria
que eles eram deuses gregos e estavam sendo agraciados com uma visita
divina. Com grandes dificuldades, os missionários conseguiram impedir
que sacrifícios pagãos fossem feitos em sua honra.
O incidente deixou Paulo e Barnabé em uma condição confusa
e vulnerável. Eles eram homens bons com poder de cura ou eram
charlatões que ludibriavam as pessoas ao personificarem divindades?
Alguns de seus opositores de Icônio vieram para Listra e intentaram fazer
com que todos mudassem de opinião em relação a Paulo. Finalmente,
uma grande multidão expulsou Paulo da cidade, apedrejando-o até
acreditar que o tivessem matado. Mas ele se recuperou e logo voltou
para Listra. Foi provavelmente nessa época que Eunice, Loide e Timóteo
se converteram a Cristo através da pregação de Paulo.
Naquele período, depois do apedrejamento, Paulo e Barnabé
permaneceram em Derbe, uma cidade vizinha. E durante aqueles dias iam
a Listra para encorajar a igreja iniciante e nomear anciãos para liderar
seus membros, e depois continuaram a primeira viagem missionária.
Os cristãos de Listra, Icônio e Derbe, não voltaram a ver o apóstolo por
quase dois anos, mas foram capazes de se encorajar mutuamente e de
prosperarem, apesar das “muitas tribulações” (At 14.22). Durante aquele
período, Timóteo foi ordenado para o trabalho da pregação.
Por volta de 49 d.C. Paulo retornou a Listra, acompanhado de
Silas e outros colaboradores em sua segunda viagem missionária.
Durante o período que Paulo esteve ausente, Timóteo sem dúvida, fora
crescendo na fé e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo, e quando
Paulo ali voltou, Timóteo já havia adquirido maturidade suficiente
para ter sido imediatamente reconhecido por Paulo como um ministro
potencialmente valoroso. Timóteo tinha aproximadamente entre 18 a
20 anos de idade nessa época, e os irmãos de Listra e Icônio davam bom
testemunho sobre ele (At 16.2).
Timóteo ainda não era circuncidado, mas independente disso,
fora fortemente influenciado pela profunda fé em Deus tanto de sua
mãe, Eunice, como de sua avó, Loide. No entanto, antes de continuaram
a segunda viagem missionária, Timóteo foi circuncidado pelo apóstolo,
pois iria trabalhar em regiões onde moravam muitos judeus.
Normalmente, Paulo possuía uma forte convicção de que a circuncisão
era desnecessária para o cristão, e se opunha fortemente às exigências dos
adeptos da religião judaica de que os gentios deveriam ser circuncidados
antes da admissão como membros da igreja. No concilio de Jerusalém, por
exemplo, que aconteceu um pouco antes da segunda viagem missionária (At
15.27-29), Paulo havia sido contra a necessidade da circuncisão, mas neste
caso, entretanto, Paulo fez com que Timóteo se submetesse a esse rito para
não causar qualquer preconceito desnecessário entre os inúmeros judeus a
quem ele iria proclamar o evangelho. Paulo estava sempre disposto a fazer
grandes concessões se preciso fosse para compartilhar o evangelho com os
outros: “Fiz-me judeu para os judeus, para ganhar os judeus” (ICo 9.20). Essa
flexibilidade de Paulo é muito bem ilustrada na circuncisão de Timóteo.
Foi dessa maneira que Timóteo se tomou companheiro do apóstolo no
ministério, talvez começando na mesma posição que fora ocupada por João
Marcos na primeira viagem missionária, como assistente dos missionários.
Paulo, Silas e Timóteo viajaram em direção ao norte-noroeste
através do elevado planalto da Ásia Menor, e desceram a Trôade, onde
Paulo teve uma significativa visão de “um varão da Macedônia” que
lhe rogava, dizendo: “Passa a Macedônia e ajuda-nos” (At 16.9). Era um
chamado para evangelizar a Europa. Lucas se juntou a eles, e assim se
apressaram a atravessar o mar Egeu até Neápolis.
A primeira incumbência de Timóteo foi a responsabilidade de
encorajar os crentes perseguidos em Tessalônica. Paulo enviando Timóteo
para levar a primeira epístola a essa igreja, escreveu: “enviamos Timóteo,
nosso irmão e ministro de Deus na pregação do evangelho de Cristo, com
o fim de vos fortificar e edificar na fé, para que ninguém desfaleça nessas
tribulações”. A missão de Timóteo teve êxito e quando ele voltou para
perto de Paulo teve “boas noticias da fé e caridade” deles (lTs 3.1-3,6).
Em seguida, ele é encontrado em Bereia, onde Paulo o deixou
para continuar seu trabalho (At 17.10-14). Mais tarde, Timóteo seguiu
Paulo até Atenas e de lá foi enviado de volta a Tessalônica. Tendo
completado sua missão, Timóteo juntou-se a Paulo em Corinto. Como
o nome de Timóteo aparece nas duas saudações das epístolas de Paulo
a Tessalônica, escritas em Corinto, e como ele pregou durante muito
tempo nessa cidade (2Co 1.19), fica bem claro que Timóteo trabalhou
presencialmente com Paulo durante algum tempo.
Nesse período, como não existe nenhum registro sobre seu
ministério em nenhuma outra passagem, é provável que Timóteo tenha
acompanhado Paulo de Corinto até Éfeso, e mais tarde, por navio na
viagem até Cesareia, na viagem para Jerusalém, como está registrado
em Atos 18.18-23. Após isso, a próxima menção a Timóteo no livro de
Atos está relacionada com seu ministério junto a Paulo, durante a longa
permanência do apóstolo em Éfeso em sua terceira viagem missionária
(At 19.22). Depois de estar em Éfeso, junto com Paulo, Timóteo foi enviado
em uma missão especial através do mar Egeu, levando a primeira epístola
de Paulo à igreja de Corinto (ICo 4.17; 16.10,11). Evidentemente, ele
realmente retornou a Éfeso conforme planejado (ICo 16.11), e em seguida
foi enviado à Macedônia, junto com Erasto, para preparar o caminho para
um novo estágio da terceira viagem de Paulo (At 19.22; ICo 16.5).
Timóteo estava com Paulo na Macedônia quando foi escrita a
segunda epístola aos Coríntios (2Co 1.1), e estava novamente com o apóstolo
em Corinto quando foi escrita a epístola aos Romanos (Rm 16.21). Depois,
juntamente com outros, Timóteo precedeu Paulo quando o apóstolo voltou
através da Macedônia para Jerusalém, aguardando-o em Trôade (At 20.4-
5). Nada está escrito sobre Timóteo entre a Prisão de Paulo em Jerusalém
e a chegada dele para sua primeira prisão em Roma, e nem se Timóteo
acompanhou o apóstolo em seu naufrágio na viagem até essa cidade,
mas é certo que ele estava com Paulo em Roma quando as epístolas aos
Colossenses, Filipenses e Filemon foram escritas (Cl 1.1; Fp 1.1; Fm 1).
Durante o período em que esteve livre, depois de sua primeira
prisão, Paulo deixou Timóteo em Éfeso para atender às necessidades
daquela igreja (lTm 1.3).
Durante sua última prisão em Roma, Paulo sentia uma carinhosa
necessidade de ver Timóteo e insistiu para que ele fosse lá “antes do
inverno”. Não sabemos onde Timóteo estava nesta ocasião, nem se
ele chegou antes do apóstolo ser martirizado (2Tm 4.6-9). Sabe-se, no
entanto, que Timóteo esteve preso em Roma e que havia sido posto em
liberdade (Hb 13.23).
Fica difícil precisarmos uma data para isso, haja visto que não se
pode precisar o ano em que foi escrita a epístola aos Hebreus. Clemente
de Roma diz que a epístola foi escrita por volta de 95 d.C. Por outro lado,
a aparente afinidade entre a teologia dessa carta e a das cartas da prisão
de Paulo (Efésio, Colossenses e Filemon), aponta para uma data próxima
ao martírio de Paulo, ocorrido no ano 67 d.C. Embora se acredita que
não tenha sido Paulo que escreveu essa epístola, é bem certo que tenha
sido um discípulo ou seguidor de Paulo devido a linguagem ali utilizada.
Uma vez que o autor se refere à liturgia do templo de Jerusalém como
uma realidade ainda atual, tudo parece convergir para que essa carta
tenha sido escrita nos últimos anos antes da destruição de Jerusalém e do
templo, ocorrida no ano 70 d.C., apontando assim para aproximadamente
67-68 d.C. para a data mais provável da sua composição.
Sendo assim, Timóteo chegou a Roma conforme solicitado por
Paulo em sua carta (2Tm 4.9), não sabemos, no entanto, se encontrou
Paulo antes do seu martírio, mas provavelmente, também esteve preso
em Roma nesse período.
A primeira epístola de Paulo a Timóteo foi escrita por volta do ano
64 d.C. Nessa época Timóteo estava em Éfeso (lTm 1.3). Enquanto que, a
segunda epístola foi escrita por volta do ano 67 d.C., no entanto, embora
não se saiba onde Timóteo estava nessa época, pode ser que também
estivesse em Éfeso, já que o caminho para Roma passava por Trôade
(2Tm 4.13). A maneira como Paulo abre seu coração para Timóteo na
sua segunda epístola é emocionante, estas palavras devem ter gerado
uma convicção inegociável de segurança e fé a este jovem ministro e
deve ter sido uma inspiração duradoura a ele durante toda sua vida.
As numerosas exortações e determinações que Timóteo recebeu
levaram muitos a crer que ele era tímido e que precisava de muito
apoio de Paulo. Os tempos perigosos do reinado de Nero exigiam uma
exortação à constância, especialmente porque Timóteo, apesar de jovem,
não tinha uma saúde forte (lTm 4.12; 5.23). Por outro lado, nenhum dos
colaboradores de Paulo era mais ativo do que ele, e a nenhum deles o
apóstolo agraciou com mais confiança e amor (Fp 2.19-22). Timóteo é
mencionado em todas as epístolas de Paulo, exceto Gálatas.
A Tradição diz que Timóteo foi o primeiro bispo de Éfeso, e que
nessa cidade sofreu martírio em 97 d.C. Há algumas dúvidas quanto a essa
tradição, haja visto que o apóstolo João passou a residir permanentemente
nesta cidade, e Timóteo dificilmente teria sido o ancião ou o bispo
responsável por esta igreja com a presença do apóstolo João ali.
Tito Nome grego, significa “Louvável".

Tito foi um dos principais companheiros do apóstolo Paulo na


obra missionária. Era grego (G12.3) e talvez tenha sido o primeiro gentio
a trabalhar com Paulo, como companheiro e colaborador. Assim como
Timóteo, Tito foi porta-voz e representante de Paulo nas congregações
I
que ele não conseguia visitar, e parece ter substituído Timóteo como
porta-voz à igreja de Corinto.
Não se conhece nada sobre a origem e o passado de Tito.
Provavelmente ele se converteu a Cristo em Antioquia, através do
ministério do apóstolo Paulo, quando este auxiliava Barnabé no inicio
da igreja nessa cidade ou talvez até tenha se convertido na primeira
viagem missionária de Paulo e Barnabé. Infelizmente não há uma
conclusão exata sobre isso.
Tito é visto pela primeira vez em 49 d.C., quando Paulo e Barnabé
o levaram para Jerusalém para o primeiro concilio da igreja que
aconteceu lá. Houve uma séria discussão sobre se a lei da circuncisão
deveria ser guardada ou não por todos os cristãos, inclusive os gentios.
A igreja em Antioquia vinha aceitando gentios sem exigir que fossem
circuncidados. Muitos judeus cristãos, entretanto, insistiam que a não
ser que os gentios fossem circuncidados, eles não poderíam ser aceitos.
Evidentemente, Tito era o único gentio na reunião em Jerusalém
onde a questão seria decidida, e representava um grande número de
gentios convertidos cuja fé estava em risco. Paulo dizia que aqueles
que obrigavam a circuncisão dos gentios eram “falsos irmãos que se
infiltraram para espiar a liberdade que temos em Cristo, a fim de nos
reduzir à escravidão”. Paulo ainda declara que “o foco dos esforços deles
era forçar Tito a se circuncidar, mas Paulo e Tito não cederam sequer um
instante” (G12.4-5). Como resultado, a conferência de Jerusalém terminou
com a definição de que os cristãos gentios não precisavam se circuncidar.
As mensagens aos coríntios indicam que Paulo teve uma série de
experiências frustrantes com a igreja em Corinto. Estas aparentemente
ocorreram durante a estadia de Paulo de um ano e meio em Corinto,
antes dos dois anos que ele passou em Éfeso, durante a terceira viagem
missionária (At 18), embora não haja a menor alusão a estes problemas
no relato de Atos. A igreja em Corinto era uma igreja que possuía muitas
discórdias entre os irmãos e também uma grosseira imoralidade.
Após várias tentativas de lidar com estes problemas e uma visita
pessoal, Paulo provavelmente enviou instruções por meio de Timóteo,
mas eles não as seguiram (ICo 4.16-21). Diante disso, Paulo então enviou
Tito para ensinar o que eles precisavam aprender. Pouco se sabe sobre o
que Tito fez, mas ele foi bem-sucedido no combate a falsos ensinos e em
restabelecer o relacionamento entre Paulo e os coríntios.
Quando voltou para perto de Paulo com as boas noticias,
ele claramente conseguiu acalmar o coração do apóstolo. Paulo
posteriormente escreveu aos coríntios: “nossa carne não teve repouso
algum, mas sofremos todo tipo de tribulação: por fora, lutas; por dentro,
temores. Mas aquele que consola os humildes, Deus, consolou-nos pela
chegada de Tito” (2Co 7.5-6). Sendo assim o contato de Tito com os
coríntios aconteceu entre a primeira e segunda carta de Paulo a eles.
Juntamente com outro irmão cristão, Tito foi o portador da segunda
epístola aos Coríntios (2Co 8.18).
Tito parece ter estabelecido uma boa harmonia com os coríntios, e
Paulo expressa sua gratidão pela feliz mudança dos acontecimentos, ele
é mencionado 8 vezes em 2 Coríntios. A oferta para as igrejas pobres da
Judeia ainda estava pendente em Corinto e na Macedônia, e Paulo então
enviou Tito até Corinto para completar esta expressão de fraternidade
para com as outras igrejas (2Co 8.6,16). Aparentemente, Tito foi bem-
sucedido nessa missão também (Rm 15.26) e na primavera seguinte
Paulo foi até Jerusalém com essa oferta (Rm 15.25).
Paulo o descreveu como “meu com panheiro e co la b o ra d or” (2Co
8.23) e “meu verdadeiro filh o na f é com um ” (Tt 1.4). Uma das epístolas
paulinas é endereçada a Tito. Esta epístola provavelmente foi escrita
depois que Paulo saiu de sua primeira prisão em Roma, e reassumiu
sua trajetória missionária, por volta de 65 ou 66 d.C. Nesta ocasião Tito
estava trabalhando em Creta, tinha a missão ali de organizar igrejas e
constituir presbíteros. Está claro que para eles os termos “presbítero”
e “bispo” correspondiam à mesma função, porque ao descrever as
qualificações exigidas de um presbítero, Paulo diz: “Porque convém que
o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus” (Tt 1.5-9).
Paulo havia anteriormente dito aos presbíteros de Éfeso: “Olhai, pois,
por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para apascentardes a igreja de Deus” (At 20.28).
Esta epístola contém algumas exortações a Tito, embora nenhuma
destas reflita negativamente sobre seu caráter ou habilidades. Parece
que Tito estava lidando com uma congregação difícil e um pouco rebelde
em Creta. Paulo lembra que foram as qualificações pastorais de Tito que
o levaram a ser escolhido para essa incumbência (Tt 1.5).
Tito é instruído a vir a Nicópolis, na costa oeste da Grécia (Tt 3.12),
para passar o inverno ali com Paulo, e este enviaria a Ártemas ou Tíquico
para cuidar da igreja em Creta nesse período. A última notícia que temos de
Tito no Novo Testamento encontra-se em 2 Timóteo 4.10, Tito tinha partido
para a Dalmácia, aparentemente de Roma. A tradição nos diz que Tito se
tornou Bispo de Creta ao envelhecer e provavelmente tenha morrido ali
em 107 d.C. com 95 anos.
Uzias Nome hebraico, significa "O Senhor é minha força".

Uzias foi rei em Judá. Infelizmente, ele viveu uma mistura trágica
em sua vida de retidão e pecado. Seu pai era o rei Amazias, e sua mãe
chamava-se Jecolia e era de Jerusalém.
Uzias tinha apenas 16 anos quando subiu ao trono de Judá, depois
da morte de seu pai (2Cr 26.1). Seu reinado durou aproximadamente 52
anos (794-742 a.C. - 2Cr 26.3).
Assim como seu pai Amazias, Uzias teve grande sucesso “enquanto
buscava ao Senhor” (2Cr 26.5). Durante esse tempo, Uzias foi ensinado
sobre a fé em Deus por um profeta chamado Zacarias (que não é o
profeta pós-exüio). A fama dele espalhou-se muito além das fronteiras
de Judá e chegou até o Egito (2Cr 26.8).
Ele juntou um poderoso e enorme exército, muito bem equipado,
e até mesmo desenvolveu novos tipos de armas para serem usadas
na defesa dos muros da cidade de Jerusalém (2Cr 26.9-15). Isso foi
necessário, pois ele herdou um reino praticamente falido de seu pai,
fraco por várias derrotas e quase destruído por causa de uma guerra
contra o Reino do Norte. Entretanto, ele conseguiu reconstruir Judá e
recuperar a independência do povo e levá-los a lealdade a Deus.
Uma de suas grandes conquistas foi restabelecer uma aliança de
paz com Israel (Reino do Norte), governado pelo rei Jeroboão II. Por
causa disso, naquele período tanto Israel quanto Judá desfrutaram de
grande prosperidade. Por causa de sua retidão naquela época, a Bíblia
diz que Uzias “fe z o que o Senhor ap rov a” (2Rs 15.3).
Uzias também foi capaz de manter o controle sobre Edom,
além de consolidar sua posição ao longo das rotas comerciais através
de operações contra os amonitas e contra as tribos árabes situadas a
noroeste (2Cr 26.7-8). Além de abrir, novamente, os portos e as indústrias
de Eziom-Geber (atual Eilat - 2Rs 14.22).
Entretanto, apesar do quadro de paz exterior, poder e prosperidade,
as profecias de Amós, Isaías e Oseias deixavam bem claro que as coisas
não estavam assim tão bem quanto pareciam, pois internamente estava
acontecendo uma decadência moral, social e espiritual. A preocupação
deles com a riqueza e o orgulho era evidente em todas as profecias feitas
naquele período (Is 1.1; 7.1; Os 1.1; Am 1.1).
Como, porém, acontece com muitas pessoas que se tornaram
poderosas e famosas, Uzias ficou orgulhoso e desobedeceu ao
Senhor. Como Provérbios 26.15 diz, “o orgulho precede a qu eda”. Em
aproximadamente 750 a.C., ele entrou no templo para oferecer sacrifícios
- algo que somente os sacerdotes podiam fazer de acordo com a lei de
Deus - mas o sumo sacerdote Azarias e cerca de 80 sacerdotes mandaram
que parasse, mas ele os desafiou. Por causa disso, naquele mesmo
instante Uzias ficou leproso “visto que o Senhor o fe r ir a ” (2Cr 26.16-20).
Flavio Josefo acrescenta que isso aconteceu durante um grande festival
e que a lepra veio através do brilho do sol por uma das frestas do templo.
J. Morgenstern, aceita esses detalhes como “essenciais e importantes”
para apoiar sua teoria de que se tratava de uma cerimônia de inicio de
Ano Novo que o rei queria oficializar.
O que sabemos, no entanto, é que pela lei judaica, isso significava
que ele nunca mais poderia entrar no templo - ou seja, um castigo
apropriado para o crime que ele cometeu - nem em qualquer outro lugar
público. Uzias então se retirou para um casa isolada - fora da cidade (2Rs
15.5) - e assumiu o nome de Azarias. Entregou o governo a seu filho Jotão,
e continuou leproso até a sua morte, por volta de 742 a.C. (2Cr 26.21). O
ano da morte do rei Uzias, ficou conhecido na Bíblia devido uma visão
que Isaías teve naquele ano de Deus em seu trono (Is 6.1). Aparentemente,
embora Uzias foi sepultado no cemitério dos reis, não foi sepultado perto
de nenhum outro rei, porque era leproso (2Cr 26.23).
Como parte do juízo de Deus, o Senhor enviou também um
terremoto sobre a nação. Esse tremor de terra oi tão forte que Amos o
usou como referência para identificar uma data particular e o profeta
Zacarias tempos depois o mencionou para ilustrar o que Deus faria no
final para julgar a terra (Am 1.1; Zc 14.5).
Zacarias Nome hebraico, significa "O Senhor se lembra".

Zacarias é o décimo primeiro dos doze profetas menores. Ele exerceu


seu ministério após o exílio da Babilônia e é identificado como filho de
Baraquias e neto de Ido (Zc 1.1). Evidências cronológicas e genealógicas
sugerem que este Ido é o sacerdote que retornou do exílio sob a liderança
de Zorobabel e Jesua, em 538 a.C. quando 42.360 judeus retornaram para
Jerusalém (Ne 12.4,16). Isso indica que Zacarias, além de profeta, também
era sacerdote, assim como Samuel, Ezequiel e Jeremias. Supõe-se que o pai
de Zacarias, Baraquias, tenha morrido ainda jovem, devido Zacarias ser
identificado em algumas passagens como “filho de Ido”, que era seu avô (Ed
5.1; 6.12; Ne 12.4,6; Z c l.ll).
Provavelmente Zacarias nasceu na Babilônia. Alguns intérpretes
o consideram ainda muito jovem no início do seu ministério (Zc 2.4). A
tradição judaica ensina que ele foi um membro da Grande Sinagoga, que
era um grupo que supostamente teria colhido e preservado os escritos
sagrados e as tradições dos judeus após o exílio.
Os judeus começaram a trabalhar na reconstrução do templo,
no segundo mês de 535 a.C., quando lançaram os alicerces do templo
(Ed 3.8-13). Os samaritanos - que ofereceram ajuda para trabalharem
mas não foram aceitos - passaram a ser opor ao trabalho de uma forma
incansável. Eles conseguiram convencer o rei Artaxerxes, a proibir a
continuação da obra (Ed 4.23-24). Durante aproximadamente 14 anos
nada foi feito na construção. Até que o rei Dario, o Persa assumiu o
trono em 521 a.C., e os judeus conseguiram a revogação do edito real e o
trabalho da reconstrução foi reiniciado (Ed 6.12-13).
Nessa época Zacarias iniciou o seu ministério - dois meses depois
de Ageu ter iniciado o dele (Ag 1.1; Zc 1.1). Isto aconteceu no início do
segundo ano do reinado de Dário. Calcula-se que Zacarias tenha exercido
seu ministério profético de outubro de 520 a.C. a dezembro de 518 a.C., ou
seja, durou apenas dois anos. Entretanto, seu trabalho - bem como o de
Ageu - foi bem sucedido e ele conseguiu encorajar a obra da restauração
do templo e despertar a nação para um futuro de esperança.
Depois que Zacarias e Ageu, souberam que os decretos proibitórios
do antigo monarca não era mais válidos, eles exortaram o povo a
reiniciar o trabalho. O trabalho foi então reiniciado sob a liderança de
Zorobabel e Jesua, e em 515 a.C., o trabalho foi concluído, e os judeus
tinham novamente um templo para praticarem sua fé.
Zacarias é o livro do Antigo Testamento que é mais citado no Novo
Testamento, e especialmente em alusões messiânicas (Zc 9.9 - Mt 21.5; Jo
12.15 /Zc 9.11 - Mt 26.28; Mc 14,24; Lc 22.20; ICo 11.25; Hb 13.20 /Zc 11.12
- Mt 26.15; 27.9 / Zc 12.10 - Jo 19.37 /Zc 13.7 - Mt 26.31; Mc 14.27, etc).
Entre as várias citações de Zacarias nos evangelhos está a celebre entrada
de Jesus em Jerusalém antes da páscoa que é semelhante a profecia de
Zacarias: “Exultai muito, filh a de Sião! Grita de alegria, filh a de Jerusalém !
Eis que o teu rei vem a ti, ele é justo e vitorioso, humildemente, vem
m ontado sobre um jumento, sobre um jum entinho” (Zc 9.9). No relato de
Mateus é dito que Jesus fez sua entrada num jumentinho “para se cumprir
o que havia sido dito pelo p rofeta” (Mt 21.4). Isso indica sua importância
comunidade cristã do primeiro século. Seu lugar quase no término do
Cânon dos profetas do Antigo Testamento dá a esse livro um senso de
antecipação, como se ele já enxergasse a obra salvadora de Cristo.
O profeta Zacarias não deve ser confundido com o “Zacarias”
mencionado por Jesus em Mateus 23.35, que foi morto entre “o santuário e o
altar”. Jesus ah estava falando sobre Zacarias, filho de Joiada (2Cr 24.20-22).
A tradição judaica conta que o profeta Zacarias viveu até uma
idade extremamente avançada, morreu na Judeia e foi sepultado perto
de Ageu, próximo a Eleuterópolis, a sudoeste de Jerusalém.

Zaqueu Nome hebraico, significa 'Justo".

Apenas Lucas registra a história de Zaqueu nos evangelhos (Lc


19.1-10). É surpreendente que essa história não esteja incluída no
evangelho escrito por Mateus (um ex-publicano que escreveu para
judeus). Porém, ela se encaixa muito bem no evangelho de Lucas que é
escrito para gentios. Era uma forma de mostrar que o evangelho é para
todos que estão afastados de Deus.
Zaqueu era um judeu rico que foi identificado como “chefe dos
cobradores de impostos” (no grego, architelones - o que sugere que ele
era o cabeça de todos os cobradores de impostos daquele distrito). Sem
dúvidas ele era um tipo de comissário distrital de impostos, que tinha
comprado a franquia dos impostos de Jerico dos romanos ou do governo
provincial. Esta cidade era um grande centro comercial que ficava ao
longo de uma importante rota de comércio, que ügava Jerusalém e seus
arredores às cidades a lesta do Jordão. Jerico era um famoso centro
de produção de palmeiras e bosques de bálsamo. Ah também havia
um palácio herodiano. Portanto, Jerico era uma abundante fonte de
impostos.
Quando Jesus, seus discipulos, uma multidão de seguidores
e outra de curiosos, passaram por Jerico à caminho da páscoa em
Jerusalém, certamente provocou muita agitação. Talvez naquele dia,
Zaqueu estivesse andando na rua, ou seu lugar de trabalho estivesse
nas proximidades, e ele quis saber quem estava atraindo uma multidão
daquela no meio dia. Certamente também ele imaginou que aquela
multidão de pessoas lhe daria algum proveito na arrecadação de algum
imposto. Não há nenhuma indicação de que ele tivesse encontrado Jesus
pessoalmente antes, porque “procurava ver quem era Jesus” (Lc 19.3).
Zaqueu, que era de baixa estatura, subiu em um sicômoro (figueira
brava) para ver Jesus passando por Jerico. Para sua surpresa, Jesus
parou debaixo da árvore e o chamou pelo seu nome, dizendo: “Zaqueu,
desce depressa. Hoje me convém pousar em sua casa” (Lc 19.5). Tal
atitude enfureceu a multidão, que consideravam os publicanos como
pecadores. O modo como os cobradores de impostos conquistavam
sua riqueza fazia com que a população os visse como ladrões. Muitos
pubücanos enriqueciam por meios fraudulentos, pois cobravam as
taxas de maneira abusiva com valores superiores aos que os romanos
cobravam. Os judeus, com toda razão, desprezavam os publicanos. Seus
únicos amigos eram pessoas tão corruptas e pecadoras quanto eles.
Para Zaqueu, entretanto, essa visita de Jesus mudou a sua vida.
Interessantemente, em momento algum Jesus acusou Zaqueu do seu
pecado. Foi a presença de Jesus que constrangeu Zaqueu a não continuar
sendo a mesma pessoa. Não estão registradas as milhares de conversões
durante o ministério de Jesus, mas a de Zaqueu sempre será lembrada.
Aqui se encontravam grandes opostos: o chefe de pecadores e o “chefe
do perdão”. Ao demonstrar arrependimento, ele disse: “Senhor, olha, eu
dou aos pobres metade dos meus bens, e se em alguma coisa defraudei
alguém, o restituo quatro vezes mais” (Lc 19.8). Devolver dinheiro era
uma pena prescrita no Antigo Testamento pelo crime de roubo (Lv 6.1-
5), e havia um costume judeu que 1/5 (um quinto) da renda anual de um
homem era usado em caridade aos pobres, mas Zaqueu foi muito, além
disso, ele decidiu dar metade de sua riqueza.
A reação de Zaqueu contrasta dramaticamente com o que
acontecera apenas alguns dias antes, quando Jesus se encontrara com
o “jovem rico” (Lc 18. 18-25). Naquela ocasião, a riqueza do jovem lhe
fora uma pedra de tropeço entre ele e sua decisão por Cristo. Jesus havia
comentado sobre ele: “Quão dificilmente entrarão no reino dos céus
aqueles que têm riquezas” (Lc 18.24).
Por causa desse encontro com Zaqueu, Jesus contou então
a parábola dos talentos (Lc 19.11 em diante). Essa parábola, como
muitas outras, mostra que Jesus dava mais valor aos pecadores que
se arrependem do que as pessoas que se auto-intitulam piedosas e se
orgulham de sua “santidade”. Essa é a mensagem central do evangelho:
“O Filho do Homem veio buscar e salvar quem se havia perdido” (Lc
19.10).
De acordo com Clemente de Alexandria, Zaqueu tornou-se mais
tarde o bispo de Cesareia.

Zorobabel Nome babilônico, significa"Semente (filho) da Babilônia''.

Zorobabel era neto de Joaquim (o penúltimo rei de Judá que governou


por apenas 3 meses em 597 a.C.). O seu nome sugere o lugar do seu
nascimento. Ele era filho de Sealtiel (Ed.2,8; Ag 1.1; Mt 1.12) ou de Pedalas
(lCr 3.19). Curiosamente, existem duas referências diferentes sobre quem
seria o pai de Zorobabel. Uma provável explicação é que Sealtiel tenha
morrido antes de ter filhos, e seu irmão Pedalas, de acordo com a lei do
levirato, tenha se casado com a viúva e se tornado o pai de Zorobabel.
Por causa disso, Sealtiel teria sido considerado o pai (mesmo
não o tendo gerado). De acordo com as leis e os costumes judaicos, no
casamento por levirato, o primeiro filho era considerado descendente
do irmão mais velho que havia morrido. Ou seja, Zorobabel poderia ser
considerado filho de Sealtiel, ainda que seu verdadeiro pai fosse Pedaías.
Para entender melhor a lei do levirato lei Deuteronômio 25.5-10.
Zorobabel foi o primeiro governador de Judá depois do exílio na
Babilônia, nomeado pelo rei Dario, o Persa. Junto com o profeta Josua,
Zorobabel liderou 42.360 judeus de volta a Jerusalém em 538 a.C. -
através de um decreto do rei Ciro - e iniciou as obras de reconstrução do
templo três anos depois do retorno a Palestina.
Aparentemente Zorobabel também era chamado de Sesbazar
(Ed 1.8,11; Ed 5.14,16). Nessas passagens, a liderança dos exilados que
estavam voltando para Jerusalém é entregue por Ciro a Sesbazar, o
príncipe de Judá. Provavelmente, Zorobabel e Sesbazar são dois nomes
para uma pessoa só. Zorobabel é um nome babilônico e Sesbazar é um
nome aramaico. Essa explicação é possível, pois vários judeus possuíam
um nome persa e outro nome judeu, como por exemplo: Daniel, que
também se chamava Beltessazar.
Os judeus começaram a trabalhar na reconstrução do templo,
no segundo mês de 535 a.C., quando lançaram os alicerces do templo
(Ed 3.8-13). Os samaritanos - que ofereceram ajuda para trabalharem
mas não foram aceitos - passaram a ser opor ao trabalho de uma forma
incansável. Eles conseguiram proibir a continuação da obra (Ed 4.23-24).
Durante aproximadamente 14 anos nada foi feito na construção. Até que
o rei Dario, o Persa assumiu o trono em 521 a.C., e os judeus conseguiram
a revogação do edito real para que o trabalho da reconstrução fosse
reiniciado (Ed 6.12-13).
Os judeus, que não se preocupavam mais com a reconstrução
do templo, haviam a edificar casas para si mesmos, e seu interesse
pelas coisas do Senhor havia se esfriado (Ag 1.1-6). As exortações e o
encorajamento dos profetas Ageu e Zacarias , no entanto, reavivaram o
espírito do povo e o trabalho foi retomado.
O templo finalmente foi concluído em 515 a.C., cumprindo a
promessa de Deus de que Zorobabel, que havia iniciado o trabalho,
também o terminaria (Zc 4.9). Embora o templo que Zorobabel construiu
não chegasse aos pés do esplendor do de Salomão, no entanto, durou
muito mais que ele, tendo sido restaurado nos dias de Herodes, o Grande
(aproximadamente 19 a.C.) e sido destruído apenas em 70 d.C. pelo
general romano Tito. Ao todo, esse templo de Zorobabel permaneceu
por 585 anos.
Curiosamente, Esdras não menciona Zorobabel na lista dos que
estavam presentes da dedicação do templo (Ed 6.14). Alguns eruditos
pensam que ele pudesse ter retornado a Babilônia, não ter sido mais
governador de Judá na época ou ter morrido precocemente por alguma
fatalidade.
Embora não saibamos sobre como foi o fim de sua vida, sabemos
que o seu legado foi de um grande herói do judaísmo por reconstruir o
templo enquanto o sacerdote Esdras ajudava a reconstruir a fé dos judeus.
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