Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Esquizofrenia Hipótese Dopaminérgica e Capacidade Cognitiva

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

ESQUIZOFRENIA, HIPÓTESE DOPAMINÉRGICA E CAPACIDADE

COGNITIVA:ENTENDENDO OS DESAFIOS ATUAIS DO TRATAMENTO E OS


IMPACTOS DOSPREJUIZOS COGNITIVOS NA VIDA DOS PACIENTES

Lucineia Lima de Almeida1


Leandra Aurélia Baquião2

RESUMO

A Esquizofrenia é um transtorno mental grave que compromete o indivíduo a nível


funcional e social, com prevalência de 1% da população, os sintomas tendem a dar início
entre a adolescência e a fase adulta. Ela é considerada multifatorial, levando em conta
aspectos genéticos e ambientais. Porém, sua causa exata ainda é debatida. Uma das teorias
neuroquimicas mais aceitas na literatura é a hipótese dopaminergica, a qual fundamenta que
a esquizofrenia é desencadeada devido um excesso de dopamina no cérebro desses
pacientes. Essa disfunção dopaminergica é responsável pelos sintomas como Delírios,
alucinações, anedonia e déficits cognitivos. Através dela surgiram os principais
antipsicóticos para o tratamento dos sintomas positivos da doença, no entanto, os sintomas
negativos ainda precisa de avanços para uma melhora mais efetiva. Com isso, ainda
existem desafios no tratamento e isso traz impactos significativos sobre a qualidade de vida
dos indivíduos com a esquizofrenia. O presente estudo teórico, teve como objetivo realizar
uma revisão descritiva/exploratória da literatura para entender sobre os prejuízos cognitivos
específicos dos pacientes com esquizofrenia, além de compreender os impactos
subsequentes sobre a vida dos mesmos ,e , os desafios dos tratamentos atuais sobre a
melhora desse quadro.

Palavras-Chave: Esquizofrenia, Hipótese dopaminérgica, Funções cognitivas.

1
Discente do Curso de Psicologia do Centro Universitário do Vale do Ribeira, UNIVR- Registro - SP.
2
Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário do Vale do Ribeira, UNIVR- Registro - SP
ABSTRACT

Schizophrenia is a serious mental disorder that compromises the individual at a functional


and social level, with a prevalence of 1% of the population, symptoms tend to start between
adolescence and adulthood. It is considered multifactorial, taking into account genetic and
environmental aspects. However, its exact cause is still debated. One of the most accepted
neurochemical theories in the literature is the dopaminergic hypothesis, which argues that
schizophrenia is triggered by an excess of dopamine in the brain of these patients. This
dopaminergic dysfunction is responsible for symptoms such as delusions and hallucinations
and anhedonia and cognitive deficits. Through it emerged the main antipsychotics for the
treatment of the positive symptoms of the disease, however, the negative symptoms still
need advances for a more effective improvement.Thus, there are still challenges in treatment
and this has significant impacts on the quality of life of individuals with schizophrenia. The
present theoretical study aimed to carry out a descriptive/exploratory review of the
literature to understand the specific cognitive impairments of patients with schizophrenia,
in addition to understanding the subsequent impacts on their lives and the challenges of
current treatments onthe improvement of this condition.

Keywords: Schizophrenia, Dopaminergic hypothesis, Cognitive functions.

INTRODUÇÃO
A Esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico severo e incapacitante, que afeta os
âmbitos mais importantes da vida do indivíduo. Tanto a nível funcional como social (PINHO
et al., 2018). Sua prevalência na população está em torno de 1%, sendo que o início dos
sintomas tende a ocorrer no começo da adolescência até a fase adulta jovem (KANEKO,
2018). Em relação aos gêneros, parece acontecer mais cedo em homens do que mulheres
(KANEKO, 2018).

Ao longo das décadas, existe uma preocupação em compreender a doença, alguns estudos
evidenciaram os aspectos genéticos e ambientais como potenciais de risco para o seu
desenvolvimento (STEPNICK et al., 2018). Sendo ela então considerada multifatorial
(CARDOSO et al., 2020). No entanto, ainda não foi encontrada uma causa exata para a
sua origem (STEPNICK et al., 2018). Tornando a doença uma das mais complexas de serem
estudadas (STEPNICK et al., 2018).

De acordo com a American Psychiatric Association (APA, 2014), através do Manual


Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), a Esquizofrenia pode ser
avaliada clinicamente considerando o contexto histórico e sintomatológico do paciente,
analisando os seguintes critérios: Dois ou mais sintomas como; Delírios, Alucinações,
Discurso ou comportamento desorganizado, no período de pelo menos um mês. (APA,
2014). Sendo obrigatório ainda, a apresentação de pelo menos um dos três primeiros citados
(APA, 2014). É categorizado ainda os sintomas negativos (Anedonia, isolamento social e
comprometimento cognitivo) (APA, 2014). Considerando os Delírios e Alucinações como
sintomas positivos (APA, 2014). Tem sido notado, uma dificuldade maior no manejo clinico
dos sintomas negativos que dos sintomas positivos (SILVA, 2018). Enfatizando os sintomas
psicóticos como principais marcadores da busca por avaliação psicológica (SILVA, 2018).
Mas ao mesmo tempo, um dos fatores mais ligados a resistência do paciente por tratamento
(SILVA, 2018). Visto que o indivíduo acredita de forma convicta na vivencia de seus delírios
(SILVA, 2018).

A Hipótese Dopaminérgica tem sido uma das teorias mais bem aceitas na literatura
para compreender a doença mental (JÚNIOR, 2007; TOSCANO & FREITAS, 2019;
TOSTES et al., 2020; PINHEIRO & MENDES, 2020). Esse modelo neuroquímico, explica
que a Esquizofrenia se daria por um aumento de dopamina na fenda sináptica, que resultaria
em um excesso (hiperfunção) de dopamina na via mesolimbica (responsável pelos sintomas de
Delírios e positivos da doença) e uma disfunção dopaminérgica também que levaria a um
quadro de baixa atividade de dopamina na via mesocortical que liga o núcleo accumbens ao
córtex pré- frontal e destacaria os déficits cognitivos (RANG et al., 2011; TOSTES et al.,
2020; FIGUEIREDO et al., 2021). Estudos tem associado ainda, essa baixa atividade no
córtex pré- frontal e consequente perda cognitiva dos pacientes esquizofrênicos, com
impactos consideravelmente negativos na qualidade de vida dos pacientes (MACHADO et
al., 2021).

Atualmente, os antipsicóticos em geral são mais efetivos no controle dos sintomas


positivos. Aos quais agem como bloqueadores de dopamina e serotonina
(VASCONCELLOS, 2014; ALLEN et al., 2017; PINHEIRO & MENDES, 2020). Sendo eles
de primeira geração (típicos) como fenotiazina e clorpromazina, e os de segunda geração,
conhecidos como atípicos (risperidona e clozapina) (AGOSTINHO et al., 2015a;
AGOSTINHO et al., 2015b; PINHEIRO & MENDES, 2020). Necessitando de avanços nos
tratamentos para buscar uma melhora nos sintomas negativos (PINHEIRO & MENDES,
2020).
Portanto, o presente estudo, buscou realizar uma revisão descritiva/exploratória da literatura
para entender de forma mais aprofundada sobre os prejuízos cognitivos presentes na
esquizofrenia, além de compreender os impactos negativos subsequentes na qualidade de
vida dos pacientes, e além disso, os desafios atuais no controle sobre os sintomas negativos
da doença. Dada a complexidade na compreensão da psicopatologia, estudos teóricos como
esse podem contribuir positivamente para futuros direcionamentos e avanços na área.

DISCUSSÃO
1. PREJUÍZOS COGNITIVOS E IMPACTOS NEGATIVPS SOBRE A VIDA DE
PACIENTES ESQUIZOFRÊNICOS
De acordo com a literatura, existem algumas alterações cognitivas em pacientes com
esquizofrenia (LIEBERMAN, 2013; ELKIS, 2011). Alguns estudos, corroboram com
prejuízos especificamente em funções sensoperceptivas visuais, auditivas e olfativas (LIGHT
& BRAFF, 2005; DICKISON & HARVEY, 2009). Se estendendo principalmente a memória
de trabalho, fluência verbal, atenção, tomada de decisões e velocidade de processamento
(LIGHT & BRAFF, 2005; DICKISON & HARVEY, 2009).

A memória de trabalho é uma função importante para o armazenamento temporário e


processamento de informações durante a execução de tarefas complexas, como de raciocínio
e aprendizado (BADDELEY, 2010). Então, tarefas cotidianas que necessitem da manutenção
e processamento de informações visuais e verbais, por exemplo, demonstram estar
prejudicadas (NUECHTERLEIN et al., 2004; LIGHT & BRAFF, 2005; DICKISON &
HARVEY, 2009).
Assim como de atenção seletiva e sustentada (NUECHTERLEIN et al., 2004; LIGHT
& BRAFF, 2005) e raciocínio lógico na tomada de decisões (NUECHTERLEIN et al., 2004;
LIGHT & BRAFF, 2005). Essas dificuldades em determinadas tarefas corroboram com os
sintomas negativos da doença, como de dificuldade de interação social, baixa iniciativa e
principalmente os déficits negativos (APA, 2014).

Esses dados demonstram porque a esquizofrenia é um transtorno mental tão


incapacitante tanto a nível funcional como no contexto social do individuo (PINHO et al.,
2018). A partir do momento, que os pacientes possuem uma dificuldade séria de diferenciar o
que é real e o que é imaginário (PINHO et al., 2018). Juntamente com essa incapacidade de
racionalizar apresentada nesses quadros (NUECHTERLEIN et al., 2004; LIGHT & BRAFF,
2005; DICKISON & HARVEY, 2009).
Os impactos subsequentes provenientes disso são expressivos diante a qualidade de
vida dos pacientes (MACHADO et al., 2021). Impossibilitando os mesmos na execução tanto
de atividades cotidianas relativamente simples como complexas, dependendo do
comprometimento cognitivo dos mesmos (MACHADO et al., 2021).

2. DESAFIOS NO TRATAMENTO DOS SINTOMAS NEGATIVOS DA DOENÇA


O tratamento com antipsicóticos típicos (que atuam como bloqueadores de receptores
dopaminergicos D2). São o principal fármaco disponível no momento para o controle específico
dos sintomas positivos (Delírios e alucinações), mas sem efetividade significativa sobre os
sintomas negativos (comprometimento cognitivo) (ELKIS, 2011). Entretanto, antipsicóticos
que atuam como bloqueadores de receptores tanto de dopamina quanto serotonina, demonstram
ter uma ação maior em ambos os casos (ELKIS, 2011). Mas ainda há a necessidade de mais
avanços para que de fato os fármacos tragam o equilíbrio entre as duas vertentes (ELKIS, 2011).
Essa dificuldade se dá justamente pela baixa atividade dopaminergica já existente no cortex
pré-frontal dos pacientes (TOSTES et al., 2020; FIGUEIREDO et al., 2021). A ação dos
antipsicóticos típicos está localizada mais na região mesolimbica como um inibidor do excesso
dopaminergico (TOSTES et al., 2020; FIGUEIREDO et al., 2021). E hiperatividade dessa
região (TOSTES et al., 2020; FIGUEIREDO et al., 2021).

CONCLUSÃO

Esses resultados demonstram que existem diferenças na efetividade do tratamento


com os antipsicóticos existente no mercado atual sobre os sintomas positivos e negativos da
esquizofrenia. Indicam que existem alterações cognitivas específicas, como principalmente
de memória de trabalho nos quadros diagnósticos. Além disso, esses dados corroboram com
os impactos negativos que a doença tem sobre a qualidade de vida dos pacientes, sendo eles
tanto em nível funcional como social. Contudo, ficou claro que há uma necessidade de mais
avanços e estudos sobre os fármacos utilizados para o tratamento do transtorno, para que assim
haja uma queda no impacto funcional e social que os sintomas geram na vida geral do
indivíduo com esquizofrenia.

REFERÊNCIAS

ASSOCIATION, A. P. (2014). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,


5.ed. Porto Alegre: Artmed.
ALLEN, J. A., et al. (2011). Descoberta de ligantes D2 de dopamina polarizados por β-
arrestina para sondar as vias de transdução de sinal essenciais para a eficácia antipsicótica.
Proc. Natl. Acad. Sci., 108 (8), 18488–18493

AGOSTINHO, F. R. et al. Tratamento farmacológico da esquizofrenia: antipsicóticos de


primeira geração. In: NARDI, A. E; QUEVEDO, J; SILVA, A. G. da. Esquizofrenia: Teoria
e clínica. Porto Alegre: Artmed, 2015a. p. 129-146.

AGOSTINHO, F. R. et al. Tratamento farmacológico da esquizofrenia: antipsicóticos de


segunda geração. In: NARDI, A. E; QUEVEDO, J; SILVA, A. G. da. Esquizofrenia: Teoria
e clínica. Porto Alegre: Artmed, 2015b. p. 147-163.

BADDELEY, A. D. (2010).Working Memory.York, UK: University of York, Department of


Psychology.

DICKINSON, D.; HARVEY, P. D. Systemic Hypotheses for Generalized Cognitive Deficits


in Schizophrenia: A New Take on An Old Problem. Schizophrenia Bulletin, v. 35, n. 2, p.
403–414, 9 ago. 2008.

DE JESUS CARDOSO, Adinea Oliveira; DE CARVALHO, Gilseane Torres; DE MATOS,


Tainara Santos. A prática de enfermagem frente aos pacientes portadores de
esquizofrenia. Revista Eletrônica Acervo Enfermagem, v. 5, p. e5118-e5118, 2020.

DE FIGUEIREDO, Bárbara Queiroz et al. Hipótese glutamatérgica da esquizofrenia: uma


revisão integrativa de literatura. Research, Society and Development, v. 10, n. 12, p.
e207101220343-e207101220343, 2021.

ELKIS, H. (2011) Os conceitos de esquizofrenia e seus efeitos sobre os critérios


diagnósticos modernos. J Bras Psiquiatr 1990;39:221-7.

JÚNIOR, Q. C. Estudo de associação entre genes do sistema dopaminérgico e esquizofrenia.


Tese (Doutorado em Psiquiatria) - Faculdade de Medicina. Xf. Universidade de São Paulo,
SãoPaulo, 2007.

KANEKO, k. (2018). Negative Symptoms and Cognitive Impairments in Schizophrenia:


Two Key Symptoms Negatively Influencing Social Functioning. Yonago Acta Medica,
61(2), 91102. https://doi.org/10.33160/yam.2018.06.001

LINDENMAYER, J. P; KHAN, A. Psicopatologia. In: LIEBERMAN, J. A; STROUP, T. S;


PERKINS, D. O. Fundamentos da esquizofrenia. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 27- 71.

LIGHT, G. A.; BRAFF, D. L. Stability of mismatch negativity deficits and their relationship
to functional impairments in chronic schizophrenia. American Journal of Psychiatry, v. 162,
n. 9,p. 1741–1743, 2005.
MACHADO, Fernanda Pâmela et al. Fatores relacionados ao comprometimento psíquico e
qualidade de vida de portadores de esquizofrenia. Revista Brasileira de Enfermagem, v.
74, 2021.
NUECHTERLEIN, K. H., Barch, D. M., Gold, J. M., Goldberg, T. E., Green, M. F., &
Heaton,
R. K. (2004). Identification of separable cognitive factors in schizophrenia.
Schizophreniaresearch, 72(1), 29-39.
PINHO, Lara Guedes de; PEREIRA, Anabela; CHAVES, Cláudia. Adaptação portuguesa da
escala de qualidade de vida para pessoas com esquizofrenia. Revista Iberoamericana de
Diagnóstico y Evaluación–e Avaliação Psicológica, v. 1, n. 46, p. 189-199, 2018.

PINHEIRO, Thaís Mendes. Hipótese glutamatérgica e hipofunção dos receptores NMDA


no tratamento da esquizofrenia. REVISTA SANARMED N. 03, p. 11, 2020.
RANG, H. P. et al. Farmacologia. 7ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

STEPNICK, P., Kondej, M., & Kaczor, AA (2018). Current concepts and treatments of
schizophrenia. Molecules, 23(8), 2087. https://doi.org/10.3390/molecules23082087
SILVA, Tatiana Caldas Neves da. Sintomas negativos e capacidade funcional na
esquizofrenia. 2018. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.

TOSCANO, Luís Felipe; FREITAS, Thalma Ariani. INFLUÊNCIA DO ESTRESSE NO


DESENVOLVIMENTO DA ESQUIZOFRENIA. In: Saúde. 2019.

TOSTES, Jorge Gelvane et al. Esquizofrenia e Cognição: Entendendo as Dimensões


Atentivas, Perceptuais e Mnemônicas da Esquizofrenia. Revista Psicologia em Pesquisa, v.
14, n. 4, p. 102-119, 2020.

VASCONCELLOS, P. C. (2014). A relação entre sintomas negativos e cognição social na


esquizofrenia(Especialização em Neurociências do Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Minas Gerais). Recuperado dehttps://repo

Você também pode gostar