Litratura Yuri 10 77
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Introdução à
Teoria da Literatura
Teoria da Literatura I
Objetivos de aprendizagem
Introdução
Teoria da Literatura I 10
Capítulo 1
1.1.1 Literatura
Mas será que toda obra literária reivindica um estudo a seu respeito? O que
estamos tratando como literatura? Essas questões, inclusive, são propostas de
teorização da Teoria da Literatura enquanto área do conhecimento. Alguns pesqui-
sadores podem, então, querer determinar/caracterizar se um determinado traba-
lho artístico pode ou não ser considerado como uma obra literária. Discute-se
ainda se determinada produção possui “valor estético” e/ou “linguagem literária”
(critérios comumente utilizados por alguns críticos). Aliás, o termo literatura é
usado genericamente para se referir a vários grupos de textos que não possuem
linguagem literária: literatura acadêmica (ou especializada, que compreende a
literatura jurídica, a médica etc.), literatura de autoajuda etc. Nesse sentido, o
pesquisador britânico Terry Eagleton (1943-) acrescenta que:
Teoria da Literatura I 11
Capítulo 1
”
parece, o texto será literatura, a despeito do que o seu autor tenha
pensado. (EAGLETON, 2006, p. 13).
Teoria da Literatura I 12
Capítulo 1
”
considerado belo; ele pode ser um exemplo menor de um modo
geralmente considerado como valioso.
Teoria da Literatura I 13
Capítulo 1
Glossário
• Valor estético: fator a ser analisado pela academia e pela crítica literá-
ria especializada para julgar determinado trabalho artístico, situando-o
ou não como uma obra literária.
Teoria da Literatura I 14
Capítulo 1
1.2.1 O autor
Em uma discussão de cunho teórico dentro dos Estudos Literários, é impor-
tante pensar nas relações entre autor, obra literária e leitor. O autor é o respon-
sável pela criação artística da obra caracterizada como literária. Em uma análise
crítica de uma determinada obra literária (baseada em teorias diversas), é preciso
estudar o viés ideológico desse autor, seu engajamento em questões de seu
tempo, sua pretensão autobiográfica, suas preferências em termos de gêneros
literários, suas pautas, linguagens, dentre outros fatores. Fala-se em conhecer
a fortuna crítica de determinado escritor: pesquisar sobre o que já foi publicado
a seu respeito. Nesse ponto, o pesquisador deve procurar conhecer a produção
literária desse escritor e caracterizá-la para, em seguida, ver o que os críticos e
demais especialistas escreveram sobre ela. A trajetória de vida desse autor deve
ser levada em consideração, desde que traços dessa trajetória sejam percebidos
em suas obras. Queremos dizer com isso que os escritores devem ser valorizados
enquanto artistas, mas suas obras é que se imortalizam (ou não).
Portanto, deve-se pensar mais na produção de um trabalho artístico represen-
tativo para os Estudos Literários e na interpretação posterior desse trabalho. Um
autor não deve tentar prever as leituras possíveis para sua obra, deve deixar que
o texto produzido ganhe autonomia através de seus leitores e de suas respec-
tivas interpretações. Afinal, um escritor de uma obra de ficção voluntariamente
publicada sentiu em algum momento necessidade de contar uma história. Assim,
escolheu uma forma (que se configurou em um gênero literário) e concluiu seu
trabalho. Havia, portanto, um desejo de comunicar algo a um determinado público.
Essa vontade se concretizou com a produção da obra em si. As entrevistas que
alguns escritores dão sobre suas obras são, portanto, bastante tendenciosas,
Teoria da Literatura I 15
Capítulo 1
mas nem por isso são desinteressantes. O que queremos enfatizar é que essa
leitura que o escritor faz de sua própria obra não é a mais correta, muito menos
a leitura dos críticos ou dos fãs desse escritor.
Pesquise
1.2.2 A obra
Há muitos fatores envolvidos na publicação de uma obra literária e que inte-
ressam à Teoria da Literatura. Entendemos que talvez o mais relevante seja o
contexto de publicação sócio-histórico-político. Em outras palavras, há uma
conjuntura de fatores que culminam na publicação de determinada obra literária
por uma editora.
Os processos editoriais foram se aperfeiçoando ao longo dos séculos.
Partiram da invenção da máquina de reprodução tipográfica no final do século XV
e chegaram ao modelo que encontramos hoje: alguém escreve algo (o autor, a que
nos referimos no tópico anterior) e alguém o publica, normalmente uma empresa.
Não há dúvidas de que o valor comercial dessa obra é levado em consideração.
Assim, os leitores escolhem os gêneros que mais gostam e esses passam a ser
mais comercializados. A obra, então, não é analisada apenas na questão do valor
estético, mas também pelo seu viés comercial.
Outro ponto importante é a figura do editor, um profissional acostumado com
produções literárias de vários tipos e que, portanto, deve ser ouvido. Ele opina
sobre a construção da obra e/ou sobre a manutenção ou alteração das partes
que a compõem. Essas observações têm por objetivo moldar a obra ao pretenso
público-leitor, com quem o editor costuma estar mais familiarizado que o autor.
Teoria da Literatura I 16
Capítulo 1
De toda forma, as visões sobre uma determinada obra literária são distintas entre
autor e editor e também entre autor e leitor, e a questão de agregar valor está
sempre em discussão.
Conforme dissemos antes, fatores sociais, históricos e políticos podem
interferir, favorecer ou desfavorecer a publicação de determinadas obras, o que
chamamos de contexto. Alguns temas abordados em obras literárias são consi-
derados mais relevantes que outros, o que pode gerar uma discussão favorável
ao lançamento de determinados romances, por exemplo.
De toda forma, as visões sobre as obras é que estão em discussão, por isso
abordamos a questão de teorizá-las. A academia, a crítica literária especializada
e o grande público são três importantes variáveis que devem ser levadas em
consideração para a conversa sobre teorização da literatura.
1.2.3 O leitor
É difícil mensurar o leitor de uma obra literária antecipadamente. Isso é quase
sempre uma incógnita. De toda forma, o leitor é o ponto chave de nossa discus-
são, visto que são os leitores (especializados) que discutem (a partir de suas leitu-
ras) uma determinada obra literária, teorizando-a. Os leitores mudam de tempos
em tempos, se interessam mais por determinada obra e deixam de lado tantas
outras. Seguem uma trajetória de busca por determinados assuntos de acordo
com uma série de variáveis.
Em suma, a conexão principal entre uma obra literária e a Teoria da Literatura
é o leitor e sua leitura crítica dessa obra.
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Capítulo 1
Assista
Revisando
Teoria da Literatura I 18
Capítulo 1
Saiba mais
Livro: SOUZA, Roberto Acízelo. Teoria da Literatura. São Paulo: Ática, 2007.
Teoria da Literatura I 19
Capítulo 1
Referências
ARISTÓTELES. Poética. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2011.
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São
Paulo: Martins Fontes, 2006.
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2
Teoria da Literatura I
Objetivos de aprendizagem
Introdução
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Capítulo 2
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Capítulo 2
”
cíficos ou flexíveis, como organização específica, não é menos
contraditória. (COMPAGNON, 1999, p. 42-43).
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Capítulo 2
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Capítulo 2
”
de contemplação, uma atenção amorosa para com qualidades e
estruturas qualitativas. (WELLEK; WARREN, 2003, p. 328)
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Capítulo 2
Você sabia?
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Capítulo 2
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Capítulo 2
”
o denominador comum de um tipo, os seus recursos literários
compartilhados e o objetivo literário.
As epopeias costumam ser mais conhecidas, por isso são traduzidas, adap-
tadas e lidas pelo mundo todo. São longas narrativas em versos, cheias de refe-
rências mitológicas, e que tratam das aventuras de um herói. O tom é nacionalista
e solene e a linguagem costuma ser elaborada. Algumas são universais, como a
Odisseia, de Homero, e Os Lusíadas, de Camões.
É importante dizer que, a partir do Romantismo, as narrativas épicas passa-
ram a ser escritas em prosa, como a obra A metamorfose (1915), de Franz Kafka
(1883-1924). De toda forma, podemos incluir as epopeias e os romances no
grupo dos gêneros narrativos, em que percebemos a presença de um (ou mais)
narrador(es), do tempo, do espaço, dos personagens e do enredo.
Desde seu advento entre os séculos XVIII e XIX, o romance foi bastante prati-
cado no mundo todo, e no Brasil não foi diferente. Os primeiros romances apre-
sentavam uma narrativa em prosa com caráter mais realista que as epopeias,
visto que as personagens não incluíam mais reis, heróis fantásticos, seres mito-
lógicos e acontecimentos surreais. Os personagens agora eram pessoas comuns,
ainda que muitas vezes abastadas. No entanto, podemos dizer que o romance
se flexibilizou na contemporaneidade (romance histórico, pós-colonialista, vito-
riano, policial, realista, gótico, etc.) a ponto de incluir narrativas diversas (que não
excluem a fantasia, por exemplo).
Em suma, temos o romance como uma obra narrativa mais longa e o conto
como uma proposta de narração mais concisa. No grupo das narrativas em prosa
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Capítulo 2
Reflita
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Capítulo 2
Teoria da Literatura I 31
Capítulo 2
leu (e as que ainda vai ler) e as leituras teóricas que lhe forem apresentadas na
academia, bem como ser capaz de pesquisar referências teóricas que dialoguem
com essas obras. Atuará como crítico, como pesquisador e como investigador.
Trata-se, portanto, de um leitor profissional e especializado em formação. Esse
leitor precisa das teorias para refletir cientificamente sobre determinadas obras
literárias e, a partir dessas reflexões, elaborar trabalhos e gerar produtos.
Assista
Revisando
Teoria da Literatura I 32
Capítulo 2
Saiba mais
Teoria da Literatura I 33
Capítulo 2
Referências
ARISTÓTELES. Poética. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2011.
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São
Paulo: Martins Fontes, 2006.
PLATÃO. A república. Trad. Leonel Vallandro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. São Paulo: Ática, 2007.
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3
Principais correntes
teórico-críticas da Literatura
(Parte I)
Teoria da Literatura I
Objetivos de aprendizagem
Introdução
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
”
que essas questões dizem respeito ao universo ficcional ou imagi-
nário inerente às produções literárias. (SOUZA, 2007, p. 54).
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Capítulo 3
3.2.2 Estruturalismo
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Capítulo 3
”
si, cujos valores funcionais se instauram justamente na medida
em que se estabelece a própria rede. (SOUZA, 2007, p. 60).
Na passagem anterior, para explicar essa corrente crítica, Souza fala das
áreas que influenciaram a criação do pensamento estruturalista (a Linguística
e o Gestaltismo) e também do conceito de estrutura, o que nos leva a imaginar
um poema, por exemplo, formado por pequenas unidades interligadas estrutural-
mente (e que deve ser analisado sob essa ótica).
Os principais trabalhos de natureza estruturalista têm origem no Círculo
Linguístico de Praga, grupo formado em 1926 a partir das reuniões dos forma-
listas russos do chamado Círculo Linguístico de Moscou (ativo durante o ano de
1915). Jakobson havia se mudado para a Checoslováquia e fundado esse grupo
juntamente com outros críticos literários e linguistas para continuar suas pesqui-
sas e discussões sobre a poética, desenvolvendo, assim, o que Castle (2007, p.
184) chama de estruturalismo funcional. Eagleton (2006, p. 141) nos lembra que
a proposta do grupo de Praga “representou uma espécie de transição do forma-
lismo para o estruturalismo moderno”.
De toda forma, um importante marco para o estruturalismo foi o lançamento
de Anatomy of Criticism (em português, Anatomia da Crítica) em 1957, pelo crítico
literário canadense Northrop Frye (1912-1991). Essa obra (2014) tratava da ques-
tão recorrente dos gêneros literários, mas também dos modos, mitos e arquéti-
pos a partir dos quais as obras literárias se estruturavam. Essas categorias eram,
na verdade, leis objetivas que regiam o funcionamento da literatura, mas que, para
Frye, precisavam ser revistas (pois não eram objetivas), o que tornaria a crítica
literária mais sistemática (EAGLETON, 2006, p. 138).
A teoria dos mitos foi o foco de outro importante trabalho publicado também
em 1957 e intitulado Mythologies (no Brasil foi editado como Mitologias), dessa
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Capítulo 3
vez elaborado pelo crítico literário francês Roland Barthes (1915-1980). Trata-se
de uma análise que revela tanto os determinantes históricos dos mitos em impor-
tantes narrativas literárias, quanto os significados gerados por eles (CASTLE,
2007, p. 188). Essa e outras obras da chamada Linguística Estruturalista tiveram
importante papel nos desenvolvimentos da Semiologia e da Semiótica.
Cabe informar que, alguns anos depois da formação do Círculo Linguístico de
Praga, Jakobson mudou-se mais uma vez, agora para os Estados Unidos, onde
conheceu o antropólogo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009), reconhecido
estruturalista (considerado um dos maiores intelectuais do século XX). Dessa
parceria, nasceu o que Eagleton chama de estruturalismo moderno (2006, p.
147), com destaque para o lançamento de Anthropologie structurale em 1958,
publicado no Brasil como Antropologia estrutural (2017). Essa obra trouxe nova-
mente a teoria dos mitos para a análise de narrativas literárias e influenciou forte-
mente os trabalhos de outro reconhecido estruturalista, o psicanalista francês
Jacques Lacan (1901-1981), autor de trabalhos que congregavam Psicanálise e
estruturalismo.
”
cado de cada imagem só existe em relação às outras imagens.
(EAGLETON, 2006, p. 142).
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Capítulo 3
Atenção
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Capítulo 3
Você sabia?
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
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Capítulo 3
1920, com os trabalhos dos formalistas russos Roman Jakobson, Yuri Tynianov
(1894-1943) e Viktor Shklovsky (1893-1984), que, por sua vez, foram fortemente
influenciados por conceitos saussureanos. Nesse sentido, Propp, Greimas e
Todorov criaram importantes conceitos e modelos de análise de obras literárias
(inclusive em prosa) a partir de estudos da Linguística e da Antropologia estrutu-
ralistas, certamente influenciados pelo trabalho de Lévi-Strauss.
”
textos concerne à semântica, à mimesis, à representação do real,
e, sobretudo à descrição. (COMPAGNON, 1999, p. 101).
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Capítulo 3
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subordinados aos processos e problemas da narração. (CASTLE,
2007, p. 117, tradução nossa).
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Capítulo 3
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Capítulo 3
”
de um autor, mas o que deviam ter sido ou devem ser. (WELLEK;
WARREN, 2003, p. 114).
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Capítulo 3
Glossário
Revisando
Saiba mais
Teoria da Literatura I 54
Capítulo 3
Referências
BONNICI, Thomas. Teorias estruturalistas e pós-estruturalistas. In: BONNICI,
Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (orgs.). Teoria literária: abordagens históricas e
tendências contemporâneas. 3. ed. rev. e amp. Maringá: EDUEM, 2009. p. 131-157.
CASTLE, Gregory. The Blackwell guide to literary theory. Malden, MA, USA:
Blackwell Publishing, 2007.
Teoria da Literatura I 55
Capítulo 3
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São
Paulo: Martins Fontes, 2006.
GOTO, Tommy Akira; HOLANDA, Adriano Furtado; COSTA, Ileno Izídio da.
Fenomenologia transcendental e a psicologia fenomenológica de Edmund
Husserl. Rev. NUFEN, Belém, v. 10, n. 3, p. 38-54, dez. 2018. Disponível em: http://
pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v10n3/a04.pdf. Acesso em: 22 nov. 2020.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Trad. Antônio Chelini, José
Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 1973.
SILVA, Marisa Corrêa. Crítica sociológica. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia
Osana (orgs.). Teoria literária: abordagens históricas e tendências contemporâ-
neas. 3. ed. rev. e amp. Maringá: EDUEM, 2009. p. 179.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. Rio de Janeiro: Ática, 2007.
Teoria da Literatura I 56
4
Principais correntes
teórico-críticas da Literatura
(Parte II)
Teoria da Literatura I
Objetivos de aprendizagem
3 Ampliar para além das correntes críticas a visão sobre a busca do arca-
bouço teórico em pesquisas
Introdução
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Capítulo 4
4.1.1 O pós-estruturalismo
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Capítulo 4
Atenção
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Capítulo 4
4.1.2 O desconstrutivismo
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Capítulo 4
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Capítulo 4
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Capítulo 4
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Capítulo 4
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Capítulo 4
uma abordagem inclusiva, visto que pretende estender o campo de atuação dos
pesquisadores nos estudos literários para além de seus interesses tradicionais,
incluindo questões do mundo contemporâneo que não podem ser mais ignora-
das e que estão presentes em várias obras literárias, tais como “o consumismo,
os meios de comunicação de massa, a política estetizada, a diferença sexual.”
(EAGLETON, 2006, p. 355).
Assista
Teoria da Literatura I 66
Capítulo 4
Teoria da Literatura I 67
Capítulo 4
e de suas diferenças. Com foco nos estudos literários, podemos afirmar que
essas teorias problematizam as “culturas conflitantes” (CULLER, 1999) em obras
literárias diversas, focando em personagens que são oprimidos e que sofrem pela
obrigação de ser ver como o outro. Mais ainda: esses personagens se sentem
perdidos, com problemas de reconhecimento e pertencimento, uma vez que não
se sentem confortáveis em lugar algum. (SCHILB; CLIFFORD, 2017).
Os chamados estudos étnicos seguem o mesmo caminho: dedicam-se ao
estudo das literaturas que, por vezes, denunciam problemas de opressão causa-
dos por algumas tradições culturais. Assim, focam no chamado discurso das
minorias (como os povos indígenas), bem como nas questões raciais, dentre
outras situações. Essas obras confrontam o discurso das maiorias, mostrando
como é possível fortalecer a identidade cultural de grupos específicos, como
se vê na escrita negra, latina, asiático-americana e nativo-americana. (CULLER,
1999).
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Capítulo 4
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Capítulo 4
Esse debate também tem avançado no Brasil, especialmente após o início dos
trabalhos do GT Mulher e Literatura na Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL) em 1984. A partir daí, vários pesquisa-
dores em diferentes universidades brasileiras se dedicam às principais questões
e temas de interesse da crítica literária feminista e dos estudos de gênero, quais
sejam: presença e ausência da mulher no universo literário (alteridade da litera-
tura de autoria feminina e, portanto, do discurso feminino), estereótipo feminino
negativo, relações entre sexo e poder, diferenças sexuais e culturais (construções
de gênero), logocentrismo, falocentrismo, opressão feminina a partir do patriar-
cado, mulher-sujeito e mulher-objeto, construção da identidade, dentre outros.
Em termos de pesquisa acadêmica, Colin (2009) resume didaticamente o
que pode ser feito para trabalhar com a crítica literária feminista e/ou com os
estudos de gênero na análise de objetos de estudo literários. Ela diz que seria
interessante, por exemplo, organizar e visibilizar a produção de literatura de auto-
ria feminina desconhecida (revisão do cânone), realizar a análise de uma obra
literária com base no discurso feminista e nos conceitos de identidade e dife-
rença, bem como investigar representações de gênero na literatura tradicional
e/ou em outras linguagens através da perspectiva feminista. Podemos concluir
anunciando algumas pretensões da crítica literária feminista e dos estudos de
gênero segundo Colin (2009):
• Despertar o senso crítico das pessoas, evidenciando as posturas críti-
cas de alguns escritores (que poderão repercutir em uma mudança da
mentalidade);
• Denunciar e desconstruir o caráter discriminatório das ideologias de
gênero presentes na chamada tradição literária masculina.
Teoria da Literatura I 70
Capítulo 4
2018.
• CIXOUS, Hélène. La risa de la Medusa: ensayos sobre la escritura. Trad.
Ana María Moix. Barcelona: Anthropos, 1995.
• KRISTEVA, Julia. La révolution du langage poétique. Paris: Seuil, 1974.
• SHOWALTER, Elaine. A literature of their own. New Jersey, USA: Princeton
University Press, 1985.
Reflita
Teoria da Literatura I 71
Capítulo 4
avançar os conhecimentos da área, sendo ela uma das pioneiras a debater ques-
tões de gênero e identidade sexual. Culler (1999) explica que Butler trabalha com
a chamada “teoria performativa do gênero e da sexualidade”, que trata da forma-
ção da identidade de gênero e da identificação do desejo sexual por homens,
mulheres ou por ambos a partir de atos repetidos e/ou por convenções sociais
(normas de gênero). Relembra ainda que, a força performativa da linguagem (algo
facilmente identificável na literatura) também é resultado de atos anteriores. Já
Pilcher e Whelehan (2004) ressaltam que a pesquisa sobre sexualidade cresceu a
partir dos anos 1960, quando tivemos a chamada revolução sexual, momento em
que as mulheres passaram a reivindicar seu direito ao desejo e ao prazer sexual,
repudiando, ao mesmo tempo, a objetificação do corpo feminino. Dessa forma,
estudos acadêmicos sobre a sexualidade passaram a analisar o sexo heteros-
sexual (e a influência das relações patriarcais de poder sobre ele), fomentando
debates sobre heterossexualidade, homossexualidade e desejo.
Por fim, diante do interesse em torno do homoerotismo (impulsionado pelos
estudos de gênero), tivemos o lançamento de importantes obras nos anos 1990
que, definitivamente, inauguram a chamada teoria queer, inicialmente conhecida
como gay and lesbian studies. Os trabalhos pioneiros dessa teoria são dos pesqui-
sadores norte-americanos Eve Sedgwick (1950-2009) e Jonathan Dollimore
(1948-) e tratam dos problemas envolvendo a homossexualidade masculina,
como explica Castle (2007). O próprio termo queer está vinculado a movimentos
políticos de liberação social e sexual, além da proposta de mudança de para-
digma, visto que adota uma postura política e teórica provocativa de indefini-
ção das fronteiras entre o sexo heterossexual e o sexo homossexual. Isso ocorre
porque esse termo antes era usado pejorativamente, o que reforça a ideia de força
performativa da linguagem. Assim, um projeto político procurou transformar um
insulto em um campo do conhecimento, colocando em primeiro plano a identi-
dade sexual e o desejo dos homens. (PILCHER; WHELEHAN, 2004).
Teoria da Literatura I 72
Capítulo 4
Teoria da Literatura I 73
Capítulo 4
• SEDGWICK, Eve Kosofsky. Between men: english literature and male homo-
social desire. New York: Columbia University Press, 1985.
• SEDGWICK, Eve Kosofsky. Epistemology of the closet. Berkeley: University
of California Press, 1990.
Teoria da Literatura I 74
Capítulo 4
Teoria da Literatura I 75
Capítulo 4
Revisando
Teoria da Literatura I 76