SANTOS&CHAGAS. A Linguagem de Poder Dos Museus
SANTOS&CHAGAS. A Linguagem de Poder Dos Museus
SANTOS&CHAGAS. A Linguagem de Poder Dos Museus
Museu de Alexandria: pesquisa, estudo, ensino, biblioteca, de caráter religioso e dedicado às musas
- consolidação da hegemonia: conhecimento e poder
- centro de poder econômico, político e cultural da época
- destruição das formas de saber como mudança de paradigmas de conhecimento
“Os impérios são legitimados por determinadas formas do saber, e a sua destruição reque também a
mudança de paradigmas de conhecimento” (p.13)
Museus modernos, século XVIII: Britânico (1753), Louvre pós Revoluçao Francesa, Museu Nacional
(1818).
Nas américas representaram a tentativa de legitimação dos novos estados nacionais interna e externamente
Busca pela explicação do mundo após a religião “cair”[formuladora da ordem natural e humana] com o
Iluminismo.
Individualidade moderna conectada coletivamente através do sentimento de nação, da linguagem
“indivíduos cada vez mais independentes, autocentrados, traçando trajetórias de vida múltiplas e plurais,
passam a se sentir unidos por imaginários coletivos mais amplos” (p.14)
Abertura das coleções dos museus modernos para o público: democracia, participação popular, políticas
públicas
Objetos, independentemente do seu valor material, têm um valor sentimental para determinadas
comunidades e, à medida que estas comunidades ganham maior prestígio em relação a outras, se
valorizam. Museus têm como função organizar coleções de objetos: selecionam, preservam, ordenam
e expõem os objetos ao público. Uma questão que se coloca para os gestores destas instituições é a
relação de poder dos museus em relação ao “outro” que representam. Embora seu poder não seja
ilimitado, os museus oficiais são capazes de propor e consolidar novos significados a partir de uma
exposição de objetos. (...)
A tarefa dos museus está diretamente ligada à construção de linguagens, memorias coletivas,
símbolos para grupos e nações e, enquanto tal, torna-se contemporaneamente mais aberta ao debate
público. (p.19)
Museificação da cultura afro-brasileira em Salvador: incorporação, por parte das elites do candomblé
baiano, dos valores e instituições da cultura e dos museus.
“Essa elite religiosa aprendeu a se definir em termos de cultura e como instituição cultural, e a negociar seu
lugar na sociedade por intermédio das instituições da cultura” (p.96)
Museus como “zonas de contato” (Clifford): museólogos e ‘nativos’ negociam sua relação
Museus como espaços de produção de cultura
Museus como instituições de controle social e hegemônica
Museus como fóruns de discussão de valores culturais
Museus como ferramentas de construção da cultura como tal: cenários de negociação entre culturas,
mas também oficinas onde constrói-se os valores da própria “cultura”
Cultura como instituição pela qual definimos o calor do próprio e do alheio
Perspectiva etnocêntrica do curador: valor reduzível à imposição das relações de poder, valor de
troca alienado ou desejo projetado
Valor como resultado das trocas entre produtores, curadores e público
Possibilidade dos museus construírem certos valores sociais -> objetos são mais que representações
da cultura, mas modelos para a reprodução da cultura, modelos para a prática -> O QUE É A
CULTURA E O QUE DEVERIA SER
Apresentação museográfica do candomblé e a mudança na sua imagem pública: das coleções policiais aos
memoriais dos terreiros – imagem negociada
- coleções museográficas da cidade de Salvador sempre recolheu objetos do candomblé
IHGB-Bahia, 1894: “coletar para bem guardar. Guardar para bem servir”; “colecionar documentos e objetos,
construir arquivos e museus, era um dos objetivos principais dos institutos” (p.97)
- manter o registro do passado para legitimar direitos de propriedade das elites. Escrever uma historia local
da província
- gabinete de curiosidades: doações de objetos, acumulados progressivamente sem uma intenção didática
precisa. Entre eles, objetos de candomblé.
O resultado paradoxal, é que, perseguindo as práticas de feitiçaria, os policiais reconhecem seu valor;
não o negam – não vêem feitiçaria como uma forma de falsa consciência, mas como uma técnica
efetiva. (p.99)
Armas místicas de feitiçaria, não provas de falsa medicina: “dificilmente seriam identificadas como ‘armas’
por pessoas que não estivessem familiarizadas com o culto”
Museu de Medicina Legal, Nina Rodrigues: “combatia as repressões policiais ao candomblé, argumentando
que os negros, como uma raça inferior, não podiam ser sujeitos ao código pena como os brancos. Nina
Rodrigues defendia que o candomblé era uma expressão de doença mental, e por isso cabia aos médicos
controla-lo” (p.100)
- candomblé como objeto de pesquisa científica, sintoma de doença e degeneração racial
- religião como subsistência africana, traçando as origens do candomblé desde África
1926: coleção de objetos de origem criminal, armas, drogas, fetos, cabeças
Mobilização a partir dos anos 1990 (1996) por parte de movimentos religiosos: “obras de arte sacra negra
não deveriam ser mostradas como objetos de interesse criminológico e patológico, num discurso racista e
perverso” (p.101)
- grupo não pede a devolução das peças (que não possuem informação de origem), mas sua apresentação
respeitosa
“os valores do museu, a arte e a cultura, valores perfeitamente modernos, ocidentais, foram assumidos pelos
membros do candomblé como legítimos”
Museu Afro-Brasileiro:
novo discurso modernista percebe na herança africana parte essencial da cultura brasileira
- origens africanas apresentadas como um passado arqueológico, distante e misterioso, sem reconhecer o
processo histórico de lutas e resistência à escravidão
- fotografias, esculturas e objetos doados para o museu
- mediação entre o que é e não é mostrado: mediação entre o valor secreto dos assentos e o valor público da
cultura afro-brasileira
Museus:
- Patrimônio como história objetificada, objetos museográficos como “fetiches”, caráter educativo
- lugares que guardam valores essenciais, valores “de origem”, possessões inalienáveis, guardar tesouros
- aura dos objetos: “o valor [dos objetos] resulta de um evento que faz desses objetos coisas especiais,
famosas.”
Inicialmente os objetos de candomblé eram mostrados como armas de crime em coleções policiais. Já
nesse momento não era muito evidente se a polícia reconhecia ou não o poder mágico desses objetos.
A missão de cientistas racistas como Nina Rodrigues era precisamente eliminar essa ambiguidade e
mostrar os objetos como claro sintoma de doença. Com o passar o tempo, uma nova visão da cultura
afro-brasileira emerge em Salvador e no Brasil, passando a ver esse objetos como obras de arte.
Mas esses símbolos públicos da cultura afro-brasileira não são os objetos centrais do culto. (...) Os
fundamentos do culto não são mostrados em público. Quando o foram, em museus como resultado de
perseguição policial, os representantes do novo candomblé cultural pediram, e conseguiram, que fosse
retirado da visão pública (p.110)
COUTO, Ione. A tradução do objeto do “outro”. In: ABREU, CHAGAS & SANTOS (orgs.) Museus,
coleções e patrimônios: narrativas polifônicas. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
Práticas de recolhimento de coleções etnográficas – caso das peças que viriam a compor o Museu do Índio
coletadas por Darcy Ribeiro, que ajudaram a sustentar os discursos de surgimento da instituição
Década de 1950: Institucionalização da antropologia no Brasil e a utilização de conceitos como cultura, arte
e patrimônio para sustentar práticas de colecionamento
Escola Livre de Sociologia e Política e a formação de etnólogos, motivados a pensar metodologias e técinas
de pesquisa. Década de 1950: e a separação da Antropologia da Sociologia
- estudo do homem, área cultural e diversidade cultural: etnologia indígena como principal campo de
pesquisa
Os objetos do “outro”
Museologia: rotular e descrever objetos em listas, “tentativa de regular a existência do objeto que foi
subtraído de seu contexto original. Nessa transferência o objeto perde sua presença, desloca sua
temporalidade para a espacialidade de um repertório fixo, imposto pela classificação, em que um dos
resultados é a perda de parte da sua história” (p.183)
O objeto é descontextualizado e reordenado sob novas lógicas e critérios no deslocamento para o museu.
Século XIX – objetos coletados por viajantes e encaminhados aos museus eram classificados como
“primitivos” ou “exóticos”. “Serviam como elemento de erudição e consolidação de conhecimentos
enciclopédicos”
Para a ciência evolucionista, reconhecer apenas uma espécie humana com diferenciações culturais de
adaptação ao meio é necessário construir um vocabulário cultural (artístico) para diferenciar/identificar os
artefatos do Outro -> objetos etnográficos ~ arte naif
Inseridos nessa nova ordem científica (...) estratégias epistemológicas foram adotadas (...) a fim de
formalizar a transvalorização de cada objeto. Categorias de pensamento incorporadas aos objetos que os
transformaram, que adquirissem novos valores (p.185)
- colecionar: ideia de acumular
Sistema de arte e cultura (Clifford):
- relação de poder que permite “apresentar o outro”
transformação do objeto etnográfico, possuidor de forte conteúdo cultural e grande poder artístico, “isto é,
sistema constituído pelas relações de poder e de subjetividade que envolvem colecionador e objeto, baseado
em elementos culturais, históricos, estéticos e políticos que, reunidos subjetivamente, permitem apresentar o
‘outro’” (p.185)
- sistema de permanente possibilidades e rearranjos
Antropologia brasileira, anos 50: revelar o modo de viver do homem a partir de comparações e
recolhimentos (coleta de artefatos)
Darcy Ribeiro: objetos carregados de autenticidade cultural, portadores de memória e identidade grupal,
com forte apelo visual
- transformar objetos funcionais em portadores de conteúdo cultural e artístico, que transmitissem o
conhecimento de uma realidade singular diante do olhar do espectador
- objetos da cultura material se tornarem fonte de pesquisa e fruição, suporte material para futuros projetos
museográficos, perdem sua função: semióforos
“deixam de exercer, como elemento de intermediação, a comunicação entre seu povo e as entidades míticas.
Transformando-se em semióforos, destituídos de valor de uso, apenas dotados de singularidade” (p.187)
Objetos etnográficos:
Tratados como objetos etnográficos, devidamente protegidos, conservados, documentados, retirados
do circuito econômico e, quando necessário, expostos ao olhar do público. Passam a ‘representar’ os
urubu [povo], que se tornam, por sua vez ‘eternizados’ por meio dos objetos e assim saem da história
e entram para a memória. (p.187)
Revelam a existência de uma sociedade distante, não revelam sua significação por estarem
descontextualizados; perdem sua aura; “não conseguem promover nos olhos dos observadores o mesmo
êxtase experimentado pelo povo que os elaborou”
Oposição visível-invisível: objetos portadores de elementos invisíveis que vivem além das fronteiras que
separam o concreto do não concreto
“a linguagem engendra então o invisível, (....) impõe a convicção de o que se vê é apenas parte do que
existe, é a oposição entre o universo do discurso e o mundo da visão” (POMIAN)
- objetos permitem essa comunicação, possuem valor. Exemplo: Patuás indígenas urubu, amuletos, armas
Colecionar objetos
recolher objetos para resgatá-los do desaparecimento; colecionar é impedir que os objetos naopossam mais
ser confeccionados; implica na seleção do que é mais significativo
“recolher era promover um saque”, nas palavras de Darcy Ribeiro
“saqueadas da esfera privada, os objetos eram lançados em um domínio público, impondo-lhes uma morte
funcional e um renascimento de significados, tornando-se patrimônio cultural” (p.191)
- retirada das peças implicava um baque severo para a comunidade, fora que as trocas representavam
desigualdades e assimetrias (por “bobagens”)
No momento em que um objeto é trocado, no posto de mercadoria, e entra para uma coleção, ele deixa de
ser mercadoria para se singularizar, adquire um novo status (p.192) – torna-se um “objeto terminal”
Preservação dos objetos: transferência os tornará patrimônio, objetos reservados ao olhar
Objeto saqueado para protege-lo de novos saques: incorporação legitima como parte de uma pesquisa,
construindo uma tradição cultural, preservando-o como patrimônio. A autora considera essa uma atitude
unilateral “pela qual preservar e conservar não equivalia a mantê-los em seu meio original, já que a nocao
ocidental de patrimônio necessariamente se associa à posse” (p.194)
Museus contam a história de apropriação praticada pelo ocidente
PAIVA, Andrea. Museu dos escravos, museu da abolição: o Museu do Negro e a arte de colecionar para
patrimoniar. In: ABREU, CHAGAS & SANTOS (orgs.) Museus, coleções e patrimônios: narrativas
polifônicas. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
Discussão sobre coleções: colecionamento e patrimônio envolvem memória, propriedade e apropriação
Idealização do museu partiu de um desejo das irmandades negras de preservar a cultura e a história por meio
de exposições de instrumentos que revelam maus-tratos e torturas aos quais os escravos eram submetidos
- instrumentos deixados na igreja pelos escravos que fugiam e iam buscar auxilio nas confrarias
Museu do Negro: tese universalista sobre a origem social e cultural brasileira na Mãe África, valorizada
como berço da origem da nação brasileira
- “retrata memorias que teriam função de articular o passado e o presente, tornando-as seletivas nas
narrativas dos indivíduos”, manter objetos de uma ‘memória escrava’ ligada à exploração do negro e sua
devoção ao catolicismo
- manter viva a história dos ancestrais (...) para a preservação da história do negro
Coleções e patrimônio
“Quando o colecionamento é exposto ao olhar interpretativo é porque existe uma finalidade de mediação
entre ele e o expositor. Certo ajustamento em torno do eu e do grupo para quem a memória é ressignificada”
(p.215, grifos originais)
Por que se coleciona: Colecionar objetos para exercer uma subjetividade em oposição a um outro =>
formação do patrimônio
Museus surgem para colecionar, preservar, exibir, estudar e interpretar objetos do outro
Representações dos negros em museus é parte da construção da memória nacional
Memória e história
Passado e presente como “via de mão dupla”: passado é construído pelo presente, que também o
constrói
Historia como resultado das relações de poder, memória é o registro dos “vencedores”
Relações múltiplas e complexas, resultantes de diferentes narrativas
Museu como campo de tensão entre narrativas, zona de contato, exercício de classificação
Objetos que passam a desempenhar funções, se uns são mais importantes que outros é pelas mediações de
ordem social e simbólica
Espaços de celebração que tende à ritualização que visam “parar o tempo e evitar o esquecimento, fixar um
estado de coisas, imortalizar a morte e materializar o imaterial para guardar o máximo de sentidos num
mínimo de sinais” (p.220)
Fragmentos dos objetos selecionados por uma coleção: mosaico de memórias que percorre rotas dos tempos
presente e passado
Fragmentos etnográficos : objetos se tornam fragmentos pelo detalhamento da descrição, ao serem
reclassificados em sua exibição
- possibilidade de revelar conjunto de práticas sociais e culturais que a constituíram
Coleção > reunião de objetos: relação entre colecionador, indivíduos e sefmentos sociais, produto de trocas e
negociações, dinâmica de seleções (o que é recebido como objeto, a narrativa de quem o entrega e quem
recebe, a narrativa que é exposta ao olhar de quem visita o museu)
Coleçoes são sistemas classificatórios: observar contexto em que foram produzidas a partir das nocoes de
cultura e autenticidade, transformações do objeto a partir de sucessivas reclassificações
- não apenas criam novas taxonomias, mas o fazem em diálogo com sistemas classificatórios nos quais estão
imersas
- coleção é um processo contínuo
VELOSO, Mariza. O fetiche do patrimônio. In: ABREU, CHAGAS & SANTOS (orgs.) Museus, coleções e
patrimônios: narrativas polifônicas. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
Risco de transformar o patrimônio cultural em uma mercadoria “como outra qualquer”
- mercantilização da cultura
Patrimônio cultural
“campo de lutas onde diversos atores comparecem, construindo um discurso que seleciona, apropria – e
expropria – práticas e objetos” (p.229), representações coletivas, interesses coletivos que não são fixos nem
mutáveis
expressa marcas de distinção, situações especificas vividas por uma comunidade
(1) constitui formação discursiva
(2) ampliação da ideia de patrimônio: bens imateriais e expressão da diversidade cultural
singularidade do bem patrimonial => densidade histórica específica
fruto de relações sociais definidas, historicamente situadas e corporificado em manifestações concretas, e
corre o risco de se tornar um fetiche. Ou seja, de ser considerado apenas como um produto objetivado, um
objeto de consumo
“como fica estabelecido o lugar do patrimônio no mercado de bens simbólicos existente na sociedade
contemporânea brasileira?” (p.231)
- ameaça de privilegiar o produto, transforma-lo num objeto de consumo como qualquer outa mercadoria
que circula na sociedade atual
Espera-se que os próprios produtores culturais sejam capazes de construir suas próprias narrativas a respeito
dos bens patrimoniais
“Manifestações do patrimônio imaterial (...) corporificam sentidos e valores coletivos que ensejam
sentimentos de pertencimento dos indivíduos a um determinado grupo” e a importância de “se pautar acoes
de valorização do patrimônio cultural a partir do conceito de ‘referencia cultural’(...), que remete ao
processo de produção, às relações sociais entre produtores e igualmente ao repertorio simbólico de um
determinado grupo social” (p.234)
Referência cultural como antídoto à fetichização: “foco recai sobre os produtores dos bens culturais e não
sobre o produto, (...) para a dinâmica de atribuição de valores e sentidos”, privilegiando grupos sociais que
podem ser reconhecidos como representações legitimas da cultura brasileira. Isso reforça a possibilidade de
formação de grupos, exaltando o “processo de produção e reprodução de determinado grupo social, e aponta
para a existência de um universo simbólico compartilhado”
Relação visceral com a vida social e cotidiana
Desafio do fetiche:
tornar o patrimônio apenas sua forma objetificada
espetacularização
colecionismo: reter objetos e transforma-lo em “coisa sagrada” e provada, sem a possibilidade de acesso e
fruição do publico
fetiche da ideia de comunidade, de aparecer como uma realidade abstrata, neutra, que não se conhece ou
discute sua dinâmica singular
saídas:
Reconhecer os processos de transmissão e tradição, os saberes-fazeres, rezas, danças, práticas alimentares:
processo é maior que o produto
Manifestações de patrimônio cultural só fazem sentido quando evidenciam seu próprio sentido e estão
associadas às referencias culturais concretas advindas de um universo simbólico compartilhado
coletivamente
“produção social do patrimônio incide sobre a reprodução social dos grupos produtores de tais
manifestações”
Densidade simbólica do patrimônio está ancorada na profundidade das relações sociais que constroem as
manifestações patrimoniais, enraizadas em um repertorio social vivenciado coletivamente