Psicologia Histórico-Cultural: Contribuições para O Encontro Entre Subjetividade E A Educação
Psicologia Histórico-Cultural: Contribuições para O Encontro Entre Subjetividade E A Educação
Psicologia Histórico-Cultural: Contribuições para O Encontro Entre Subjetividade E A Educação
n04resenha36 256
Rev. Nufen: Phenom. Interd. | Belém, 10(1), 256-261, jan – abr., 2018.
DOI: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol10(1).n04resenha36 257
Rev. Nufen: Phenom. Interd. | Belém, 10(1), 256-261, jan – abr., 2018.
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nas sociedades capitalistas tem se dado a partir de relações de dominação de uma classe
por outra, de modo que, para Rossler, é preciso reconhecer que a educação e o trabalho
estão submetidos à lógica do capital, sendo o sistema econômico, político e social vigente
quem dita tal relação. Ao reproduzir a lógica capitalista, a educação passa a ser um
instrumento de alienação, de adaptação passiva do sujeito, física e psicologicamente, ao
mercado de trabalho, reverberando o discurso do pragmatismo.
É nesse contexto, que Rossler situa a psicologia frente à esfera do trabalho,
enfatizando a necessidade de uma transformação deste campo, através da construção de
uma psicologia para o trabalho, isto é, de uma psicologia voltada ao trabalhador.
Algumas reflexões sobre o desenvolvimento omnilateral dos educandos é o assunto
do capítulo quatro. Neste texto, Lígia Márcia Martins discorre acerca da concepção de
educação vigente na sociedade capitalista, que alimentada por teorias psicológicas e
pedagógicas acríticas, pouco contribuiu para o desenvolvimento do educando, priorizando
meramente os aspectos cognitivos. Martins alicerça sua análise em autores soviéticos,
argumentando que a educação é mediatizada, sendo o ensino desenvolvido de modo
organizado. Desta maneira, critica as ideias racionalistas de educação que intentam destituir
o sujeito de seus aspectos sociais e históricos. A autora reforça que é a educação que
imprime no sujeito suas características que são marcas da cultura, ou seja, do
conhecimento acumulado pela sociedade e transmitido pela educação escolar.
O capítulo cinco, escrito por Marilda Gonçalves Dias Facci, é construído a partir de
uma pergunta simples, porém provocativa, formulada por um aluno, que repetia pela
segunda vez a primeira série do ensino fundamental, à uma estagiária do curso de
psicologia da UEM: “Professora é verdade que ler e escreve é uma coisa fácil?” Essa
indagação, aparentemente ingênua, que também intitula o presente texto, “Professora, é
verdade que ler e escreve é uma coisa fácil?” – Reflexão em torno do processo ensino-
aprendizagem na perspectiva de Vigotskiana, transforma-se em um objeto de reflexão a
respeito da prática escolar, a partir do qual Facci discute o processo de ensino-
aprendizagem, retomando os pressupostos da psicologia sócio-histórica.
A autora defende a premissa de que a escola e o professor possuem a tarefa de
transmitir os conhecimentos acumulados pela sociedade. Nisso, enseja sua argumentação
na importância do professor no processo de ensino-aprendizagem, posicionando-o como um
ator educativo que protagoniza com o educando na construção do conhecimento. Tendo em
vista esse ponto, Facci apresenta algumas perspectivas teóricas da psicologia e pedagogia
que nortearam o processo de formação de professores, dentre elas a teoria do professor
reflexivo, a pedagogia das competências e a epistemologia genética de Piaget, servindo
para fundamentar os princípios da Escola Nova e do Construtivismo. A autora aponta que
essas tendências esvaziaram a práxis do professor, ora advogando um pragmatismo em
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sua tarefa profissional (destituindo-o dos aportes teóricos que possibilitam um olhar crítico
sobre sua própria atuação), ora reduzindo sua práxis a de um mero coadjuvante no
processo de ensino-aprendizagem.
Para contrapor essas concepções, Facci utiliza a psicologia sócio-histórica, que
segundo a autora, valoriza a escola e o professor, uma vez que defende a aprendizagem
que ocorre através da mediação, sendo o professor responsável por conduzir práticas
pedagógicas que possibilitem que o aluno se aproprie do conhecimento. No tocante à
alfabetização, a autora salienta que a aprendizagem da escrita e da gramática possui uma
complexidade, o que demanda uma ação conjunta para sua concretização.
O capítulo seis, escrito por Sonia Mari Shima Barroco, traz como título: Psicologia e
educação: da inclusão e da exclusão ou da exceção e da regra. Barroco desenvolve uma
reflexão a respeito da forma de ser do homem contemporâneo, dos seus conflitos e
contradições, da forma de educação que empreende, etc. Parte-se do princípio que para se
compreender o processo de inclusão e exclusão e superar esse estado de coisas, é
necessário se desvelar o movimento histórico-cultural de constituição desse ser. Assim, a
autora retoma alguns acontecimentos históricos, dentre eles a revolução industrial e a
conjuntura social capitalista.
Barroco identifica nesse modelo social, estruturado em torno das relações de
classes, a emergência do processo de exclusão, sendo este reforçado e mantido pelas
classes mais abastadas. A autora menciona que, ao mesmo tempo que o capitalismo exclui
o homem das condições que o elevam e põem em risco a ordem vigente previamente
estabelecida, ele também o inclui, mas de forma subjugada, como forma de perpetuação do
ideário da sociedade burguesa.
Contrapondo a visão de homem presente nas sociedades da exclusão, a autora
apresenta as experiências de Makarenko (exceção) com a educação social de jovens
marginalizados, utilizada como uma forma de superar a exclusão. Apesar de apresentar um
modelo incompatível de educação com os dias atuais, pois Makarenko valia-se de métodos
autoritários no trabalho com jovens marginalizados, Barroco salienta a importância da
pedagogia desse professor, no sentido de que possuía uma visão de homem a ser formado
e de sociedade que buscava. Por fim, a autora assinala que a reflexão acerca do
desenvolvimento histórico do psiquismo humano e do declínio de propostas societais
pautadas na coletividade contribui para uma prática psicológica e educacional diferenciada.
Buscando compreender as políticas públicas em educação: contribuições da
psicologia escolar e da psicologia histórico-cultural é o título do capítulo sete. Produzido por
Flávia da Silva Ferreira Asbahr e Marilene Proença Rebello de Souza, tem como objetivo
analisar a proposta do projeto político pedagógico (PPP), tomando como base a teoria
histórico-cultural, sobremaneira o pensamento de Leontiev. São utilizadas duas categorias
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de análises desse autor: o significado social e o sentido pessoal que os professores dão a
tal projeto. O texto se divide em dois momentos. O primeiro consiste na apresentação das
principais contribuições teóricas da psicologia histórico-cultural. O segundo detalha os
procedimentos de pesquisa e as reflexões obtidas no estudo com um professor a respeito
do papel e organização do PPP.
O livro encerra com o instigante capítulo oito, Discutindo a medicalização brutal em
uma sociedade hiperativa, de Nadia Mara Eidt e Silvana Calvo Tuleski. Como pondo de
partida da análise, as autoras chamam a atenção para o fato de que o transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade (TDAH) representa a principal causa de encaminhamentos de
crianças para os centros especializados em diagnósticos infantis, movimentando a indústria
farmacêutica. Alertam também sobre as dificuldades e falta de clareza em relação aos
critérios de diagnósticos, sobretudo de diferenciação do TDAH de outros transtornos, da
falta de estudos robustos acerca das consequências do uso da medicalização em crianças e
do fato dos estudos de transtornos mentais focalizarem o sujeito, descolando-o do social,
corroborando, no âmbito escolar, para responsabilização do aluno pelo fracasso escolar, o
que exime a escola e outras esferas sociais de qualquer tipo de análise.
Face a isso, as autoras salientam a importância de se compreender o homem como
um ser sociocultural, que se constitui na relação com os demais, evidenciando as
contribuições da psicologia sócio-histórica para essa percepção. Elas destacam ainda que o
transtorno mental deve ser analisado para além do estrato biológico ou individual, uma vez
que é multifacetado, sendo o psiquismo socialmente construído.
Não obstante, Eidt e Tuleski demonstram que as transformações sociais decorrentes
do capitalismo provocaram mudanças na forma de existir dos homens, no âmbito social,
familiar, escolar, etc. O entendimento dessas modificações, no decurso da humanidade,
permite a observância de que estas não são naturais, mas construídas. Nesse sentido, a
autoras reposicionam o olhar para a própria psicologia, que enquanto conhecimento
científico ainda tem partido de concepções individualizantes na busca pelas causas dos
problemas escolares, desconsiderando a sala de aula, os professores, as relações
familiares e demais determinantes psicossociais. Por esta forma, enfatizam o valor da
psicologia sócio-histórica para a psicologia e a educação, por permitir a analisa dos
fenômenos psicológicos, que surgem no espaço escolar, sob um novo ângulo. Contudo,
reiteram que a utilização desse referencial teórico-crítico não pode ser tomada como formula
mágica de solução dos problemas sociais, mas como um compromisso ético, político e
social, que permita ir às raízes das questões, descortinando suas aparências, o que é
realizado por meio de uma postura científica crítica e cuidadosa.
A leitura deste manuscrito contribui para uma concepção crítica referente a
construção da subjetividade e de sua relação com o processo escolar. Em um cenário
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REFERÊNCIA
Meira, M. E. M., & Facci, M. G. D. (Orgs.). (2014). Psicologia histórico-cultural: contribuições
para o encontro entre subjetividade e a educação (2ª ed.). São Paulo, Casa do
Psicólogo.
Recebido: 30/03/2018.
Aprovado: 24/04/2018.
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