Ensaio - Macroeconomia
Ensaio - Macroeconomia
Ensaio - Macroeconomia
Resumo
Nas últimas décadas assistiu-se ao surgimento de um número apreciável de trabalhos teóricos sobre os
défices orçamentais. Isto ocorre num contexto em que a inflação tem sido colocada como uma variável de
elevado interesse na condução de políticas macroeconómicas em muitos países. Por esta razão, aborda-
se neste ensaio o facto dos défices públicos serem ou não inflacionários. Assim, no estudo procura se
estabelecer a relação dos défices públicos e a inflação sob a perspectiva de financiamento, na visão das
escolas de pensamento económico (Clássica, Keynesiana e Ricardina) – olhando para cenário
moçambicano. Em última análise, avalia-se a relação do Défice Público em Percentagem do PIB e a
Inflação. Portanto, para a materialização destes objectivos, recorre-se a uma abordagem metodológica
qualitativa, com uso do método hermenêutico, focando-se na analise vertical e horizontal, baseada em
dados secundários. Conclui-se que os défices públicos financiados por emissão monetária geralmente são
inflacionários e que o efeito do défice sobre a procura agregada será maior no caso keynesiano e nulo no
caso ricardiano. Sendo que o modelo neoclássico constitui o caso intermédio.
Abstract
Recent decades have seen the emergence of a considerable number of theoretical works on budget
deficits. This occurs in a context in which inflation has been considered a variable of high interest in the
conduct of macroeconomic policies in many countries. For this reason, this essay addresses whether or
not public deficits are inflationary. Thus, the study seeks to establish the relationship between public
deficits and inflation from a financing perspective, in the view of schools of economic thought (Classical,
Keynesian and Ricardina) – looking at the Mozambican scenario. Ultimately, the relationship between the
Public Deficit as a Percentage of GDP and Inflation is assessed. Therefore, to materialize these objectives,
a qualitative methodological approach is used, using the hermeneutic method, focusing on vertical and
horizontal analysis, based on secondary data. It is concluded that public deficits financed by monetary
issuance are generally inflationary and that the effect of the deficit on aggregate demand will be greater
in the Keynesian case and null in the Ricardian case. The neoclassical model constitutes the intermediate
case.
-400000
-657175
-600000
-777591 -800684
-859465
-800000
-961947
-1000000
-1200000
Fonte: Autores (adaptado) – Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, indicador de inflação CPI da
OCDE e Oçamento Geral do Estado.
Pelo gráfico acima se estabelece a ideia de ausência de correlação entre o défice público
e a inflação entre os anos 2015 e 2016. Isto porque, a diminuição do défice público em
percentagem do Produto Interno Bruto de 38.1% para 24.1% não resulta igualmente em
uma diminuição da inflação no mesmo período, pelo contrário, houve um incremento da
inflação, passando de 3.55% em 2015, para 17.42% em 2016. Entretanto, nota-se uma
“relação casual” nos períodos seguintes. Pois, à medida que o défice orçamental em
percentagem do Produto diminui de 24.1% para 23.2%, a inflação também diminuiu,
passando de 17.42% para 15.11% entre 2016 a 2017. Já entre os anos de 2018 e 2019,
percebe-se também, um comportamento similar para as duas variáveis, visto que o défice
orçamental começa a elevar-se e a inflação regista o mesmo comportamento.
De acordo com estas variações dos défices públicos em percentagem do PIB não
resultarem igualmente é uma variação – causa efeito – na inflação, é coerente afirmar que
a evidência empírica da relação entre défices fiscais e a inflação está longe de ser
conclusiva.
O efeito da inflação esperada sobre os juros da dívida pública vem directamente implícito
na definição de défice orçamental convencional, dado por:
𝐷𝑡 = 𝐺𝑡 − 𝑇𝑡 + 𝑖𝐵𝑡−1
Blanchard, O. (1985). Debt, deficits and Finite Horizons. Journal of Political Economy,
93, 203-247.
Blanchard, O. (1990). Suggestions for a New Set of Fiscal Indicators. OECD Economics
Department Working Papers, 79, 1-37.
Liviatan, N. (1984). Tight Money and Inflation. Journal of Monetary Economics, 18, 5-
15.
Mankiw, N. G. (2010). Macroeconomia. (7ª. ed.). Rio de Janeiro, Brasil: LTC Editora.
Nayab, H. (2015). The Relatioship Between Budget Deficit and Economic Growth of
Pakistan. Institute of Management Sciences Peshawar, 2, 137-150.
Reis, H. (1998). Casualidade entre défice orçamental e inflação: alguma evidência
empírica para Portugal. Texto inédito. Dissertação de mestrado. Universidade
Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Economia e Gestão, Lisboa, Portugal.
Tanzi, V., Blejer, M., & Teijeiro, M. (1987). Inflation and measurement of fiscal deficits.
WA, Seattle: IMF working papers.