RBN 571 4 Perfil Epidemiologico Do Traumatismo Cranioencefalic - OJNZXk4
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RESUMO ABSTRACT
O traumatismo cranioencefálico (TCE) se apresenta Traumatic brain injury (TBI) appears in the Brazilian
na realidade brasileira como importante causa de reality as an important cause of disabilities and deaths,
incapacitações e óbitos, sendo de especial interesse da being of special interest to public health, also, due to the
saúde pública, também, devido à alta demanda de recursos high demand for resources for the treatment of its victims.
para o tratamento de suas vítimas. Nesse contexto, análises Based on this, systematic analyzes on the topic are of
sistemáticas sobre o tema são de grande relevância para great relevance for the direction of preventive policies.
o direcionamento de políticas preventivas. O presente The present work aims to analyze the profile of the TBI in
trabalho tem por objetivo analisar o perfil do TCE na Northeastern Brazil, through an exploratory, descriptive,
região Nordeste do Brasil, através de estudo exploratório, epidemiological, time series study, from January 2009 to
descritivo, epidemiológico, de série temporal, de janeiro December 2019, with secondary data from DATASUS -
de 2009 a dezembro de 2019, com dados secundários do Ministry of Health of Brazil. There was an increase in the
DATASUS - Ministério da Saúde do Brasil. Foi constatado number of hospitalizations and deaths in the period, with
um aumento no número de internações e óbitos no período, the majority of male victims, of brown race, aged between
sendo a maioria das vítimas do sexo masculino, da raça 20 and 39 years. Hospitalization costs are high and on the
parda, com idade entre 20 e 39 anos. Os custos com rise.
internações são elevados e se encontram em ascensão.
1.Estudante de Medicina, Universidade Federal do Maranhão, Pinheiro, Maranhão, Brasil; 2.Professora, PhD, Universidade Federal do Maranhão,
Pinheiro, Maranhão, Brasil.
Autora correspondente: Consuelo P. C. Marques – Estrada Nova Pacas, S/N, UFMA - Campus Pinheiro, Maranhão, CEP: 65200-000 –
consuelopenha@hotmail.com.
Conflitos de interesse: Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Financiamento: Universidade Federal do Maranhão com infraestrutura e recursos humanos; recursos financeiros privados dos próprios autores.
com média geral de 6,3 dias (tabela 3). No tocante ao valor Figura 04. Total de internações e de óbitos por TCE no
gasto em internações hospitalares, entretanto, houve um Nordeste do Brasil, por sexo, de 2009 a 2019.
aumento considerável, de 94,7% em onze anos, atingindo
a cifra de 42.8 milhões de reais no ano de 2019 e um total
de mais de 389 milhões de reais gastos entre 2009 e 2019
(tabela 4).
Tabela 1. Internações por cor/raça e ano. Tabela 4. Valor gasto em internações, em reais, por ano.
Cor/raça Branca Preta Parda Amarela Indígena Total Ano R$
2009 1458 546 5112 503 6 7625 2009 22.016.425
2010 1272 576 5225 551 6 7630 2010 26.582.842
2011 1361 280 5387 551 5 7584 2011 29.311.526
2012 1209 267 6098 177 12 7763 2012 31.662.162
2013 593 159 9938 24 8 10722 2013 34.683.402
2014 597 170 12844 56 4 13671 2014 37.274.836
2015 534 215 12323 324 5 13401 2015 39.128.186
2016 871 345 13976 1187 10 16389 2016 42.448.674
2017 795 309 14684 1039 9 16836 2017 41.454.619
2018 894 424 15189 1157 19 17683 2018 41.937.221
2019 898 379 16100 1321 16 18714 2019 42.875.004
Total 10482 3670 116876 6890 100 138018 Total 389.374.897
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do
SUS (SIH/SUS). SUS (SIH/SUS).
maior vulnerabilidade à violência2,3,5, fator preponderante os dois anos. A média de gasto hospitalar por paciente
ao óbito por TCE. internado subiu de R$ 1.026,93 em 2009 para R$ 1.562,95
A análise dos dados revelou que os adultos jovens, em 2019; a média de dispêndio geral, referente aos onze
entre 20 e 39 anos, foram os mais acometidos por TCE anos analisados, foi de R$ 1.302,25 por paciente. Ainda
no Nordeste, respondendo por 40% das internações e que, como mencionado, tenha havido três momentos em
37,5% dos óbitos no período avaliado. Os jovens entre 20 que a quantidade de internações diminuiu, em nenhum ano
e 29 anos foram os mais atingidos. Como já constatado foi registrado queda de despesas com TCE na região.
bibliograficamente, isso se deve primordialmente às Tais números impressionantes dimensionam a
características socioculturais e comportamentais4,5 sobrecarga de dinheiro público usado na endemia
dessa faixa etária, tais como baixo nível de instrução, de TCE pela qual o país tem passado. Esses valores
consumo exacerbado de álcool e substâncias ilícitas e aumentam consideravelmente quando se leva em conta
maior exposição à violência, condições que predispõem os procedimentos cirúrgicos, as terapias de reabilitação
a alto risco de trauma. Embora em menor grau, pacientes pós-internação dos casos mais graves de TCE, além
da quinta década de vida também somaram números da seguridade social demandada pelos pacientes que
elevados, equivalendo a terceira maior porção das vítimas apresentam sequelas graves e inaptidão às atividades
que evoluíram em óbito. Ao contrário do que se observa profissionais de outrora.
na Europa, onde os números de internações por TCE são
igualmente notáveis nos extremos etários1, os resultados CONCLUSÃO
mostraram que no Nordeste brasileiro ocorre exatamente
o oposto. Como a análise mostrou, o TCE é uma importante causa
Foi observado que a taxa de mortalidade, por sua vez, de internações e óbitos no Nordeste, constituindo grave
aumentou em concomitância à idade das vítimas, sendo problema de saúde pública. Embora se tenha notado um
a maior delas referente aos pacientes de oitenta anos ou agravamento geral da situação na região, a melhora dos
mais, de 21,5%. Nesses indivíduos, há forte associação indicadores no estado da Paraíba demonstra que há a
entre o TCE e as quedas de própria altura5, tal como possibilidade de retrocesso da preocupante conjuntura
ocorre nas crianças4, embora nestas a mortalidade tenha atual e, assim, se poupar a maior parte da sociedade dos
se mostrado bastante baixa no estudo (entre 1,9% e 3,7%, danos devastadores desta condição.
dependendo da idade). Na criança, as quedas se justificam
REFERÊNCIAS
sobretudo pelos aspectos de conduta pueris – como a falta
de discernimento em situações de risco; já no idoso, elas 1.Majdan, M., Plancikova, D., Brazinova, A., et al. Epidemiology
se devem mais ao processo de atrofia senil de estruturas of traumatic brain injuries in Europe: a cross-sectional analysis.
encefálicas e à própria fragilidade anatômica progressiva The Lancet Public Health. 2016; 1(2):76-83.
de ossos e músculos, que afeta drasticamente seu equilíbrio. 2.da Cruz Passos, M. S., Gomes, K. E. P., Pinheiro, F. G. D.
O estudo também mostrou que, em relação à raça M. S., et al. Perfil clínico e sociodemográfico de vítimas de
declarada pelas vítimas, houve grande superioridade traumatismo cranioencefálico atendidas na área vermelha da
numérica da parda, como ressaltado nos resultados. A taxa emergência de um hospital de referência em trauma em Sergipe.
de mortalidade desse grupo, entretanto, foi de 8,6%, inferior Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia. 2015; 34(4):274-279.
3.Monteiro, L. F., Frasson, M. Z., Wrsesinski, A., et al.
à da raça amarela, que registrou uma mortalidade de 8,8%.
Caracterização dos pacientes com traumatismo cranioencefálico
A raça branca foi a segunda mais afetada em números de
grave admitidos em um hospital terciário. Arquivos Catarinenses
internações e de óbitos, e atingiu a terceira maior taxa de Medicina. 2016; 45(3):2-16.
de mortalidade, de 7,7%, percentual semelhante ao dos 4.Magalhães, A. L. G., Souza, L. C. D., Faleiro, R. M., Teixeira,
pretos (7,5%), embora os indicadores destes tenham sido A. L., Miranda, A. S. D. Epidemiologia do traumatismo
notadamente inferiores (2,6% das internações e 2,3% dos cranioencefálico no Brasil. Rev Bras Neurol. 2017; 53(2):15-22.
óbitos). Os indígenas somaram quantidades inexpressivas 5.Silva, L. O. B. D. V., Nogueira, T. A., Cunha, R. L. L. S. D.
quando comparados às demais raças, porém a mortalidade et al. Análise das características de indivíduos com sequelas de
ainda foi relativamente alta, de 6%. traumatismo cranioencefálico (TCE) em um centro de referência
A média de permanência hospitalar por pacientes com em reabilitação (características de TCE). Rev Bras Neurol. 2018;
54(2):28-33.
TCE pouco variou ao longo dos onze anos analisados,
6.Badke, G. L., Araujo, J. L. V., Miura, F. K., et al. Analysis
sendo a maior mudança ocorrida no ano de 2016, que
of direct costs of decompressive craniectomy in victims of
registrou uma média de 6,7 dias, um aumento de pouco traumatic brain injury. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. 2018;
mais de 6% comparado ao ano anterior. 76(4):257-264.
Quanto aos custos em internações por TCE – o que
não inclui gastos com procedimentos hospitalares e
ambulatoriais – houve volumosa alteração ao longo do
período estudado: enquanto em 2009 foram despendidos
por volta de 22 milhões de reais, no ano de 2019 esses
valores chegaram a quase 42,9 milhões de reais. O
aumento de 28% no número de internações nesse período
resultou em 94,7% de despesa a mais, comparando-se
Revista Brasileira de Neurologia » Volume 57 » Nº 1» JAN/FEV/MAR 2021 21