Estudos Surdos II
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Estudos Surdos II
Cenas do atendimento
especial numa escola bilíngüe:
os discursos sobre a surdez e a
produção de redes de
saber-poder
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Psicóloga pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Mestre em
Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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Em 1998, Skliar falava dos avanços em relação a esse conjunto novo de dis-
cursos e de práticas educacionais que se acentuara nas três décadas anteriores.
Dez anos mais tarde, esse campo continua se desenvolvendo.
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A esse respeito, ver MANTOAN (1997) e NUNES et al. (1998), GOMES
e BARBOSA (2006).
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1. Um pouco de teoria
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Veiga-Neto (2003) lembra que a palavra arqueologia é usada para descrever
esse processo de “escavar verticalmente as camadas descontínuas de discursos
já pronunciados muitas vezes de discursos do passado, a fim de trazer à luz
fragmentos de idéias, conceitos, discursos talvez já esquecidos” (p.54).
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Quando Foucault fala em morte, em tirar a vida, não entende apenas “o
assassínio direto, mas também tudo o que pode ser assassínio indireto: o fato
de expor à morte, de multiplicar para alguns o risco de morte ou, pura e sim-
plesmente, a morte política, a expulsão, a rejeição, etc.” (2005c, p.306).
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2. Conhecendo a instituição
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Fonoaudiólogo argentino que, por muitos anos, esteve ligado a universidades
brasileiras estudando a surdez com base em uma perspectiva cultural. Atual-
mente, como investigador da área de educação na Facultad Latinoamericana
de Ciências Sociales LACSO, tem se voltado para a questão das diferenças e
da tolerância ao outro/ outrem dentro de um referencial filosófico deleuziano
e derridiano.
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Hall (1997, apud PERLIN, 1998) explicita também os modelos iluminista e socio-
lógico de identidade. O primeiro refere-se à identidade enquanto ideal, perfeição
do ser humano; e o segundo como estruturada pelas representações sociais.
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O ouvintismo é “um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do
qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte.
Além disso, é nesse olhar-se, e nesse narrar-se que acontecem as percepções
do ser deficiente, do não ser ouvinte, percepções que legitimam as práticas
terapêuticas habituais” (SKLIAR, 1998, p.15).
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Tanto os Estudos Culturais quanto Foucault usam a teoria não só para descre-
ver as práticas e configurações sociais, mas para propor outras possibilidades
de arranjo. “Em ambos os casos, está presente uma clara inconformidade,
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As autoras defendem que a língua de sinais não pode mais funcionar como
única expressão da cultura surda sob pena de fossilizar o que se entende como
surdez: “Entender as culturas surdas é percebê-las enquanto elementos que se
deslocam, se fragilizam, hibridizam no contato com o outro, seja ele surdo
ou ouvinte” (p.17, grifo meu).
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Personagem importante na historia da escolarização dos surdos em escolas
bilíngües. Ver Wrigley (1996) para maiores detalhes.
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Lembro que a “área” é o espaço em que todos os alunos (do atendimento
especial e das séries regulares) se reúnem com os instrutores surdos para
trabalharem questões ligadas à cultura surda.
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Na mesma linha de raciocínio de Veiga-Neto (2001), Skliar (2001), ao discutir
os termos deficiência, diversidade e diferença numa perspectiva dos Estudos
Culturais, chega à conclusão de que a diversidade não pode ser lida como a
aceitação democrática da pluralidade, já que são aqueles que “hospedam” os
que acabam criando essa falsa noção de igualdade. Não se deve, conseqüente-
mente, pensar a diversidade enquanto “condição da existência humana [mas]
como efeito de um enunciado da diferença que constitui as hierarquias e as
assimetrias de poder” (SCOTT, 1995, apud SKLIAR, 2001, p. 98).
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Wrigley (1996) lembra que a surdez é um país sem lugar próprio; é uma cida-
dania sem origem geográfica, e que é justamente essa falta de “nacionalidade
própria” que, muitas vezes, acaba funcionando para a concepção da surdez
como uma condição e não como um nação.
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Aluno de um grupo do atendimento especial que foi “promovido” para a
sala da sexta série. Todos os alunos citados tiveram seus nomes abreviados
de modo a manter sua identidade preservada.
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Na verdade, para Foucault (2005a), a arqueologia não se ocupa em resgatar
coerências internas do discurso; visto de outra forma, a contradição pode ser
um dos efeitos das redes formadas pelos enunciados. Ao falar sobre a mate-
rialidade da função enunciativa, tem-se que “o enunciado, ao mesmo tempo
que surge em sua materialidade, aparece com um status, entra em redes, se
coloca em campo de utilização, se oferece a transferências e a modificações
possíveis, se integra em operações e em estratégias onde sua identidade se
mantém ou se apaga. Assim, o enunciado circula, serve, se esquiva, permite
ou impede a realização de um desejo, é dócil ou rebelde a interesses, entra
na ordem das contestações e das lutas, torna-se tema de apropriação ou de
rivalidade” (p.119).
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Ao colocar o discurso em prática, as docentes acabam colocando em movi-
mento a produção de (novos) saberes.
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Referências bibliográficas