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Movimento Antivacina Saiba o Que É e Como Surgiu

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SAÚDE

Movimento antivacina:
saiba o que é e como
surgiu
Por Maria Julia Guedes

Publicado em: Atualizado em:


24/03/2022 24/03/2022

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Imagem: 2020 Boston Herald, MediaNews, no site


Independent.co.uk

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Com o início da pandemia, cientistas do mundo


inteiro reuniram esforços para desenvolver uma
vacina e?caz contra a Covid-19. Foi uma das
vacinas mais rápidas a serem desenvolvidas e
muitas pessoas se mostraram céticas em relação
ao imunizante, muitas vezes se organizando no
movimento antivacina ou antivax.

Apesar de ter ganho mais espaço durante os


últimos anos após o início da pandemia de Covid-
19, a hesitação em relação às vacinas não é
recente.

Neste texto do Politize!, explicamos em detalhes o


que é este movimento, como ele surgiu e quais
são os seus possíveis riscos.

Como funcionam as
vacinas?
Antes de entendermos no que consiste e como o
movimento antivax se organiza, é importante
entender como funcionam as vacinas.

As vacinas introduzem no corpo humano


organismos que são capazes de causar doenças
– os chamados patógenos, porém enfraquecidos.
O sistema de imunidade do nosso corpo processa
essas células através dos antígenos. Assim, os
patógenos são fracos, mas su?cientes para que o
corpo gere uma resposta imunológica contra essa
doença.

Em resumo, uma vacina é uma preparação


biológica do corpo humano para prevenir
doenças. Para saber mais, acesse nosso texto
que explica mais sobre as vacinas: COVID-19:
Vacinas, Elevadores e Esperança.

Outros artigos nossos importantes sobre esta


temática são o do Programa Nacional de
Imunizações (PNI) e a história da vacinação no
Brasil.

O que é o movimento
antivacina?
O movimento antivacina é um grupo, que pode ou
não ser organizado, que reúne críticos das
vacinas contra programas de vacinação pública.

O movimento antivacina se tornou popular com a


globalização, já que o avanço dos meios de
comunicação possibilitou uma maior
disseminação dos seus ideais.

Nos dias atuais, vemos o movimento antivacina


muito presente em vários posicionamentos e
ideais políticos, com pessoas tanto da direita,
quanto da esquerda.

Vale ressaltar que o movimento antivacina pode


ser heterogêneo, abrangendo pessoas do
espectro político inteiro, bem como pessoas
contra as vacinas por questões religiosas ou
espirituais.

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS)


reconheceu a hesitação vacinal como uma das
dez ameaças à saúde global. Segundo a
organização, esse movimento de recusar a
vacinação, mesmo com os imunizantes
disponíveis, é uma ameaça, já que pode reverter o
progresso feito em doenças que são evitáveis
com as vacinas.

A OMS estima que a vacinação previne de 2 a 3


milhões de mortes por ano.

O QUE É O MOVIMENTO A…

Informações
sobre vacin…
• Vacinar é

Contexto histórico do
movimento antivacina
O movimento antivacina não é recente e
especialistas o associam às epidemias de varíola
na Idade Média. No Brasil, o primeiro surto da
varíola foi registrado em 1555.

Desde a Idade Média, a taxa de mortalidade era


de 20% a 30%, e com o passar dos anos, em
regiões da África e Ásia, as pessoas realizavam a
“variolação” ou “inoculação”, que consistia em
passar uma amostra de pus da ferida de algum
doente na pele de uma pessoa saudável.

Essa prática não era totalmente e?caz, já que


especialistas estimam que de 2% a 3% das
pessoas morriam após terem sintomas graves da
varíola. Também havia a possibilidade de uma
pessoa que realizou o processo de “variolação”
infectar outras pessoas saudáveis.

Apesar disso, considerando a taxa de mortalidade


entre a doença com e sem a inoculação, muitas
pessoas, em especial da aristocracia, preferiam
correr esse risco.

A primeira prática de
vacinação
No século XVIII, o britânico Edward Jenner
percebeu que as vacas tinham sintomas mais
leves do que a varíola humana e observou que as
pessoas que tinham contato com o gado não se
infectavam com a doença.

Após realizar a “variolação” com um rapaz de oito


anos que se chamava James Phipps, o médico
percebeu que o menino teve sintomas leves. Após
algumas semanas, o médico expôs o rapaz ao
vírus da varíola humana, que, por sua vez, não
desenvolveu nenhum sintoma por conta do
procedimento.

Jenner teve muita resistência dos acadêmicos da


época, já que a prática era considerada repulsiva,
uma vez que era proveniente de amostras de
animais doentes. Com o tempo, a prática foi se
tornando popular e atualmente o britânico é
conhecido como o criador da vacina.

Os primeiros antivacinas
Alguns líderes religiosos eram contra a prática de
imunização, já que acreditavam que a doença era
uma punição divina e não deveria ser tratada nem
prevenida. Outros a consideravam repulsiva,
usando jornais e revistas para ironizar a
descoberta do médico.

Alguns dos principais representantes do


movimento na época eram Benjamin Moseley e
William Rowley. Moseley chegou a comparar a
vacinação à transmissão de doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs), considerando
a prática asquerosa e referindo que as pessoas
vacinadas poderiam desenvolver características
de touro. Além disso, havia a preocupação de que
a vacinação tornasse as pessoas impuras,
impossibilitando o seu desenvolvimento
espiritual.

A prática de vacinação foi se espalhando pelo


mundo e em 1813, nos Estados Unidos, foi criada
a Agência Nacional de Vacinas. Com o
desenvolvimento de estudos na área, foi
comprovado que a vacinação deveria ser
realizada periodicamente, a cada dez anos.

O impacto da vacinação foi enorme em Londres:


na década de 1790, foram registrados 18.447
óbitos causados pela varíola; em 1810, o número
baixou para 7.858.

A vacina se tornou obrigatória pela primeira vez


em 1853, com a Lei da Vacinação na Inglaterra. A
Lei de?niu que as crianças deveriam ser
vacinadas até os 3 meses de vida, ou os pais
poderiam levar multas ou até mesmo irem presos.

Deste modo, foram criadas organizações


antivacina que exigiam a abolição desta lei,
adotando medidas sanitárias como o isolamento
dos pacientes doentes.

A primeira organização
antivacina
A Sociedade de Londres para a Abolição da
Vacinação Obrigatória foi fundada em 1880, e
logo depois, em 1896, o seu nome foi mudado
para Liga Nacional Anti-Vacinação, que contava
com pelo menos 100 ?liais e mais de 10.000
membros.

Em 1898, outra Lei de Vacinação foi aprovada na


Inglaterra e previa que, de maneira a evitar que os
?lhos fossem vacinados, os pais deveriam tirar
uma espécie de certi?cado de isenção do
processo de imunização.

O cientista Louis Pasteur inventou as vacinas


contra a raiva, cólera aviária e antraz. Com o
avanço na medicina e ciência, outras vacinas
foram inventadas como a do tétano, da peste,
febre amarela, difteria, entre outros.

Em novembro de 1904, tivemos no Brasil, no Rio


de Janeiro, a Revolta da Vacina, onde houve um
movimento popular contra a obrigatoriedade da
vacinação contra a varíola. Nos protestos, cerca
de 30 pessoas morreram e 110 ?caram feridas.

O principal motivo da revolta foi uma lei aprovada


em 1904 que previa que as autoridades sanitárias
poderiam aplicar multas a quem não tomasse a
vacina, além de poder exigir uma certi?cação da
vacinação para realizar viagens e ir em
casamentos ou para os alunos matricularem-se
nas escolas.

Quais são os
argumentos do
movimento antivacina?
De acordo com a Revista Galileu, é possível
identi?car quatro estratégias/argumentos
principais utilizadas no movimento:

1. Minimizar a ameaça da doença: mesmo


com as altas taxas de letalidade da varíola,
era comum os simpatizantes do movimento
antivacina referirem que não era uma
ameaça tão grande à população, já que
haviam poucos casos.
2. Declarar que a vacinação causa doenças
e/ou é ine[caz: durante o período de
“variolação”, era possível que as pessoas
tivessem outras doenças secundárias por
conta da falta de práticas sanitárias na
época. Atualmente, esse argumento que a
vacina não funciona ou causa doenças não
possui base cientí?ca.
3. A[rmar que a vacinação faz parte de uma
conspiração: argumentos como violação
das liberdades individuais, abuso de poder
por parte do Estado, entre outros. Na
vacinação contra a Covid-19, temos diversas
teorias da conspiração também.
4. Referências às “autoridades” paralelas que
legitimam as estratégias acima: uso de
“especialistas” que possuem métodos
alternativos para poderem legitimar o
movimento.

Movimento antivacina
na era da informação
Após o esforço global e coletivo da vacinação da
varíola, a OMS declarou a varíola uma doença
erradicada em 1980. Com o avanço da internet e a
globalização, existe uma maior facilidade para a
propagação de informação errônea.

As redes sociais permitem a difusão de


informações falsas e sem embasamento
cientí[co, podendo atrair mais pessoas ao
movimento e amedrontar as pessoas focando nos
efeitos colaterais das vacinas.

Em 1998, o britânico Andrew Wake[eld publicou


um artigo já desacreditado pela comunidade
cientí?ca no qual associava a vacina tríplice viral
(MMR) ao desenvolvimento do autismo em
crianças. Com dados falsos e contito de
interesses por parte do autor, atualmente
sabemos que o estudo foi manipulado.

Em 2010, Wake?eld teve a sua permissão médica


suspensa e foi proibido de praticar medicina no
Reino Unido. Apesar disso, por ter tido muita
atenção da mídia quando o artigo foi publicado,
esse mito permaneceu no imaginário das
pessoas, o que acabou por retetir nas taxas de
vacinação.

Por exemplo, até os anos 2000, o sarampo era


considerado uma doença erradicada nos Estados
Unidos, mas os casos começaram a ressurgir a
partir de 2005.

Mesmo com os dados cientí?cos a comprovar a


e?cácia das vacinas, o movimento antivacina se
foca nas questões de liberdade individual, nos
efeitos colaterais das vacinas, numa “resposta
natural” do corpo e nas pesquisas paralelas de
médicos que desa?am a e?cácia dos
imunizantes.

As vacinas contra a
Covid-19
O principal desa?o para combater o movimento
antivacina é a desinformação que circula na
internet.

Desde o início da pandemia de Covid-19, houve


muita esperança no desenvolvimento de uma
vacina e?caz contra a doença. Mesmo com doses
disponíveis para os seus habitantes, países como
Estados Unidos, França e Alemanha sofrem com a
hesitação da população e a falta de con?ança nas
vacinas.

O movimento antivacina representa um risco à


saúde pública já que doenças erradicadas em
diversos países como o sarampo e poliomielite
podem voltar a ter surtos recorrentes.

Com a pandemia de Covid-19, ?cou claro que


questões de saúde não apenas abrangem a
dimensão sanitária, mas também as dimensões
sociais e culturais, sendo importantes para a
sociedade como um todo.

E aí, entendeu o que representa o movimento


antivacina? Deixe sua dúvida ou opinião nos
comentários!

Referências:
Anti-vaccine movement is one of the ten
threats to global health – Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical (2019)
Anti-vacinação, um movimento com várias
faces e consequências – Vitor Laerte Pinto
Junior (Cadernos Ibero-Americanos de
Direito Sanitário – 2019)
Bolsonaro cria divisões e distrai população
com ‘populismo sanitário’ na pandemia, diz
cientista político – BBC News Brasil (2021)
Coletivismo e populismo na era dos
antivacinas – Le Monde Diplomatique
(2020)
Da varíola à covid-19, a história dos
movimentos antivacina pelo mundo – BBC
News Brasil (2022)
Dentro da mente de um antivacina: o que faz
alguém descon?ar da ciência? – UOL
VivaBem (2020)
History of the Anti-Vaccine Movement –
VeryWell Health (2021)
How the Anti-Vax Movement Is Taking Over
the Right – Time (2022)
Movimento antivacina é grave ameaça ao
controle da Covid-19 no mundo – VEJA
(2021)
Movimento antivacina no Brasil: entenda
esse fenômeno e seu fortalecimento
durante a pandemia – Lamparina (2021)
Movimento antivacina no mundo: um sinal
de alerta – Nexo Jornal (2021)
Movimento antivacina usa os mesmos
argumentos há 135 anos, aponta cientista –
Revista Galileu (2020)
Quem foi Edward Jenner? – Instituto Jenner
Portugal (n.d.)
The danger of the anti-vaccination
movement’s social media intuence – Texas
A&M Galveston (2020)
Você já conhece o nosso canal do YouTube?

VACINA OBRIGATÓR…

Vacina contra
a COVID-19 …
Saiba das

Quem escreveu este conteúdo?

MARIA JULIA GUEDES


Licencidada em Relações Internacionais pela
Universidade de Lisboa e acredita que a
educação política deve ser acessível à todas
as pessoas.

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