Aula 7
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Texto da aula
O ARTIGO DEFINIDO
Costumava achar a crase um tema menor para quem usa a língua portuguesa profissionalmente. Para mim, ela
estava no nível da acentuação. Porém, diante de tantos erros cometidos por jornalistas e redatores publicitários, mas
principalmente diante de tantos erros impressos em livros que passaram por preparação e revisão, concluí que o assunto
merece esclarecimentos. Parte da resolução do problema está no conhecimento de regência verbal e nominal. A outra
parte está aqui, no conhecimento do uso dos artigos definidos.
Colocado diante de um substantivo, o artigo definido (o/a/os/as) indica que aquele é um ser conhecido do leitor
ou do ouvinte, seja porque foi mencionado antes, seja porque toda a comunidade o conhece.
O artigo definido tem também a função de isolar um substantivo do grupo ao qual pertence, delimitando-o entre
os de uma mesma classe.
1. Emprego genérico:
Quando usado diante de um substantivo singular, o artigo definido pode exprimir a ideia de totalidade de um
gênero, uma categoria ou uma espécie. Quando dizemos que “O brasileiro é cordial por natureza”, embora o sujeito
esteja no singular, estamos falando de todos os brasileiros. Outros exemplos:
2. No lugar de um possessivo:
Obs.: Conforme estudamos na aula anterior, o preparador de texto deve promover uma limpeza dos pronomes
possessivos. Os três casos acima devem ser o ponto focal desse trabalho de limpeza. O que sobrar na prova de revisão
deve ser atacado pelo revisor.
3. Diante de um possessivo:
Ø Na maioria dos casos, é facultativo o emprego do artigo diante dos pronomes possessivos.
Diante de expressões feitas como em minha opinião, em meu entender, a seu bel-prazer, omita o artigo diante
do possessivo.
Ø Omite-se o artigo quando a palavra casa tiver o sentido de residência, lar da própria pessoa.
Ø Usa-se o artigo quando o sentido for de edifício ou quando a palavra estiver particularizada.
Ø Omite-se o artigo quando a palavra terra for usada em oposição a bordo ou mar.
Ia de bordo a terra
Não encontraram terra durante dois meses.
Ø Em geral, omite-se o artigo diante do nome de pessoas, em especial quando são personagens históricos.
Ø Usamos o artigo definido diante do nome de pessoas quando desejamos indicar familiaridade.
Obs.: Em uma obra de ficção traduzida, procure entender qual o critério – se critério houve – adotado pelo
tradutor. Muitas vezes os preparadores padronizam tudo sem prestar atenção a algumas sutilezas. Por exemplo, o
tradutor pode ter usado o artigo definido diante dos nomes próprios em todas as situações de fala em que há
familiaridade entre os personagens. Numa narrativa em primeira pessoa, ele pode ter variado esse emprego do artigo
também segundo o grau de familiaridade do narrador com cada personagem. Enfim, é preciso entender as sutilezas do
texto para não corrigir o que está certo e para não deixar de corrigir o que não tem sentido.
Formas de tratamento
Não se usa artigo diante de Sua Alteza, Vossa Senhoria, Vossa Majestade, etc.
Ø Em geral, emprega-se o artigo diante dos nomes de países, regiões, rios, montanhas, ilhas, oceanos.
Obs.: Há diversas exceções, como Portugal, Guiné-Bissau, Luxemburgo, Taiwan, Omã, Israel, Serra Leoa,
Angola, Moçambique, Cabo Verde, Botsuana, Madagascar, Uganda, etc.
Os estados brasileiros
Usamos o artigo:
o Acre, o Amapá, o Amazonas, a Bahia, o Ceará, o Distrito Federal, o Espírito Santo, o Maranhão, o Pará, a
Paraíba, o Paraná, o Piauí, o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Norte, o Rio Grande do Sul e o Tocantins.
Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Rondônia, Roraima, Santa
Catarina, São Paulo e Sergipe.
Obs.: As exceções são apenas o Porto, a Beira, o Havre, o Cairo, a Guarda, o Recife, o Rio de Janeiro
Ø Emprega-se o artigo definido. Se o artigo fizer parte do nome, deve vir em letra maiúscula.
Ø Em geral, emprega-se o artigo depois da palavra todo quando o sentido for de totalidade, inteireza. Mas isso
acontece apenas com os substantivos que admitem o artigo.
Ø O nome dos meses não admite artigo, a menos que venha acompanhado de um determinante.
Ø Usa-se o artigo diante do nome dos dias da semana, principalmente se estiverem no plural.
Porém, se o dia da semana estiver empregado como adjunto adverbial, deve-se omitir o artigo.
Ø Diante das horas do dia, só se emprega o artigo quando elas estiverem antecedidas de preposição.
Atenção:
A repetição do artigo
Se empregado diante do primeiro substantivo de uma série, o artigo deve ser empregado diante de todos os
substantivos seguintes, ainda que sejam todos de mesmo gênero e número.
Repete-se o artigo antes de dois adjetivos unidos pelas conjunções e e ou quando são atribuídas qualidades
opostas a um mesmo substantivo.
Mas, com as conjunções e e ou não se repete o artigo quando os adjetivos qualificam um substantivo que forma
um conceito único.
Se os adjetivos não estiverem unidos pelas conjunções e e ou, o artigo deve ser repetido.
Foi a angustiante, a dilacerante, a inevitável busca por respostas que a deixou assim.
A CRASE
Crase é uma palavra de origem grega que significa mistura, fusão. Em gramática, designa a fusão de duas
vogais. No que diz respeito ao que nos interessa aqui, a palavra é normalmente usada para fazer referência à fusão do
artigo a com a preposição a, ocasião em que entra em cena o acento grave (à).
É imperdoável que preparadores e revisores errem o uso do acento indicativo de crase. É como errar ortografia
ou acentuação. Mas o fato é que erram. Não são poucos os livros que saem com erro de crase apesar de terem passado
por duas provas de revisão.
Para ter um bom domínio do assunto, é preciso conhecer o uso dos artigos definidos e regência verbal e nominal.
Já discutimos regência verbal na Aula 5 e acabamos de falar sobre o uso dos artigos definidos.
A regra básica é: devemos usar o acento indicativo de crase quando existe a fusão do artigo a com a preposição
a. Veja estes exemplos:
Fui a + a = Fui à
Fui a + o = Fui ao
Tire a prova substituindo o termo regido feminino por um termo regido masculino.
(idêntica a + a [aquela] = à)
Obs.: Não se usa o acento indicativo de crase diante dos pronomes demonstrativos este, esta, isto
Refiro-me a isto.
Identifiquei-me a este senhor.
Não se usa o acento indicativo de crase diante de nomes (substantivos) masculinos, exceto quando estão
subentendidas as expressões à maneira de, à moda de. Isso acontece porque esta crase à qual nos referimos é a fusão
do artigo definido a com a preposição a. Diante de palavras masculinas não podemos empregar o artigo feminino,
portanto não há crase.
No entanto, quando diante do nome masculino pudermos subentender as expressões à moda de e à maneira de,
usamos o acento indicativo de crase.
Escrevia à Machado.
(à maneira de Machado [de Assis])
Já vimos que é facultativo o emprego do artigo definido diante dos pronomes possessivos. Tanto podemos dizer
“Gosto do meu pai” como “Gosto de meu pai”. Por essa razão, o emprego do acento indicativo de crase diante dos
possessivos também é facultativo.
Pessoalmente, prefiro usar o acento grave, pois acho que ele elimina as possíveis ambiguidades. Pense no
primeiro exemplo da lista acima. Fora de contexto, a frase é completamente ambígua. Podemos entender que o sujeito é
eu (eu disse) ou podemos concluir que o sujeito é a minha mãe (a minha mãe disse). Por essa razão, em traduções e
em textos de não ficção de autores nacionais eu costumo padronizar com o acento – a menos que o editor recomende
que eu não mexa nesse tipo de opção.
Quando há a elipse do substantivo, o acento indicativo de crase é obrigatório.
Nomes de receitas
Tenha cuidado ao usar o acento indicativo de crase no nome das receitas. Bife à rolê? Lula à dorê? Frango à
passarinho? Bife à milanesa? É preciso pesquisar um pouco e prestar atenção no significado das palavras.
Quando está subentendido à moda de, ou seja, quando o que está em questão é a maneira de preparar o
prato, empregamos o acento grave. É esse o caso do bife à milanesa (à moda de Milão), do espaguete à calabresa (à
moda da Calábria), do bife à parmegiana (à moda de Parma), do camarão à tailandesa (à moda da Tailândia), etc.
Porém, há situações em que não se pode subentender a expressão à moda de, como no caso do leitão
pururuca. Pururuca é um adjetivo que significa de pele torrada, crocante como torresmo. O mesmo acontece com a
lula dorée. Dorée é um adjetivo feminino francês que significa dourada. Nossos dicionários ainda não registram dorê,
ao contrário de rolê, forma aportuguesada do francês roulé, que significa enrolado. Portanto, dizemos bife rolê. O
frango a passarinho e o bife a cavalo também não levam acento indicativo de crase.
Fica aqui uma lista resumida dos principais erros de crase que as pessoas costumam cometer.
Alerta final
Leia tudo com muita atenção para não tomar decisões precipitadas. Procure entender completamente a
estrutura de cada frase do texto. No exemplo abaixo, uma leitura apressada poderia indicar a necessidade de eliminar
o acento indicativo de crase, visto que ele está diante do pronome masculino dele. Porém, lendo cuidadosamente,
percebemos que há um substantivo feminino em elipse que justifica a presença do acento.
Ou seja, prefiro minha casa à casa dele. Outros exemplos de acento indicativo de crase que se justifica pela
elipse de um substantivo feminino:
DE OLHO NO TEXTO
Aquele e aquilo dizem respeito a algo que se encontra distante tanto de quem fala quanto da pessoa com quem
se fala.
No segundo caso (tempo), este refere-se ao momento em que se fala, ao passo que esse se aplica a um tempo
passado.
No terceiro caso (termos do discurso), os demonstrativos são usados para fazer alusão a termos que já foram ou
ainda serão mencionados no próprio texto. Usa-se esse e isso para remeter àquilo que já foi dito e este e isto para fazer
referência ao que será dito posteriormente.
Por fim, as formas este e aquele são empregadas em frases como esta:
O professor e o aluno começaram a discutir. Este dizia que o mestre estava sendo injusto; aquele, que o garoto
se comportava com imaturidade.
Este retoma o termo imediatamente anterior, enquanto aquele retoma o termo mais distante. Aliás, este recupera
sempre o último elemento, mesmo quando não há oposição entre dois termos.
O diretor de vendas e o diretor de marketing vivem às turras, mas, em minha opinião, este sempre tem razão.
Terminamos a nossa aula por aqui. Leia agora o texto complementar – uma entrevista com a tradutora Maria
Luiza Borges – e depois faça os exercícios. Na próxima semana vamos conversar sobre a vírgula.
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INÍCIO - Utilização do Ambiente Virtual de Aprendi...
AULA 01 - Texto, contexto e trabalho editorial
AULA 02 - Gramática, coesão e colocação
AULA 03 - No princípio era o verbo
AULA 04 - Concordância verbal e concordância nominal
AULA 05 - Regência verbal
AULA 06 - Eu, tu, eles e a colocação dos pronomes ...
AULA 07 - Do artigo à crase
Sobre a aula
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Leitura(s) complementar(es)
Exercício 1: Aula 07
AULA 08 - A vírgula
AULA 09 - Outras questões de linguagem
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