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Ciclos Literários

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Os Lusíadas- Episódio Velho do Restelo

94 96 98
“Mas um velho d’aspeito venerando, — “Dura inquietação d’alma e da vida, — “Mas ó tu, geração daquele insano,
Que ficava nas praias, entre a gente, Fonte de desamparos e adultérios, Cujo pecado e desobediência,
Postos em nós os olhos, meneando Não somente do reino soberano
Sagaz consumidora conhecida
Três vezes a cabeça, descontente,
De fazendas, de reinos e de impérios: Te pôs neste desterro e triste ausência,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente, Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Mas inda doutro estado mais que
C’um saber só de experiências feito, Sendo dina de infames vitupérios; humano
Tais palavras tirou do experto peito: Chamam-te Fama e Glória soberana, Da quieta e da simples inocência,
Nomes com quem se o povo néscio Idade d’ouro, tanto te privou,
95 Que na de ferro e d’armas te deitou:
engana!
— “Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça 97 99
C’uma aura popular, que honra se — “A que novos desastres determinas — “Já que nesta gostosa vaidade
chama! De levar estes reinos e esta gente? Tanto enlevas a leve fantasia,
Que castigo tamanho e que justiça Que perigos, que mortes lhe destinas Já que à bruta crueza e feridade
Fazes no peito vão que muito te ama! Puseste nome esforço e valentia,
Debaixo dalgum nome preminente?
Que mortes, que perigos, que tormentas, Já que prezas em tanta quantidades
Que crueldades neles experimentas! Que promessas de reinos, e de minas
D’ouro, que lhe farás tão facilmente? O desprezo da vida, que devia
Que famas lhe prometerás? que De ser sempre estimada, pois que já
histórias? Temeu tanto perdê-la quem a dá:
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Os Lusíadas- Episódio Velho do Restelo

102 104
100 — “Ó maldito o primeiro que no mundo — “Não cometera o moço miserando
— “Não tens junto contigo o Ismaelita, Nas ondas velas pôs em seco lenho, O carro alto do pai, nem o ar vazio
Com quem sempre terás guerras O grande Arquiteto co’o filho, dando
Dino da eterna pena do profundo,
Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.
sobejas? Se é justa a justa lei, que sigo e tenho! Nenhum cometimento alto e nefando,
Não segue ele do Arábio a lei maldita, Nunca juízo algum alto e profundo, Por fogo, ferro, água, calma e frio,
Se tu pela de Cristo só pelejas? Nem cítara sonora, ou vivo engenho, Deixa intentado a humana geração.
Não tem cidades mil, terra infinita, Te dê por isso fama nem memória, Mísera sorte, estranha condição!”
Se terras e riqueza mais desejas? Mas contigo se acabe o nome e glória.
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado? 103
— “Trouxe o filho de Jápeto do Céu
101 O fogo que ajuntou ao peito humano,
— “Deixas criar às portas o inimigo, Fogo que o mundo em armas acendeu
Por ires buscar outro de tão longe, Em mortes, em desonras (grande
Por quem se despovoe o Reino antigo, engano).
Se enfraqueça e se vá deitando a longe? Quanto melhor nos fora, Prometeu,
Buscas o incerto e incógnito perigo E quanto para o mundo menos dano,
Por que a fama te exalte e te lisonge, Que a tua estátua ilustre não tivera
Chamando-te senhor, com larga cópia, Fogo de altos desejos, que a movera!
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?
Lira XXIX - Marília de Dirceu

O tirano Amor risonho Eu lhe respondo: "Perjuro, Vou buscar as minhas armas;
Me aparece e me convida "Nada creio do que dizes; Cinjo primeiro que tudo
Para que seu jugo aceite; "Porque já te fui sujeito, O brilhante arnês, e à pressa
E quer que eu passe em deleite "Inda conservo no peito Ponho um elmo na cabeça,
O resto da triste vida. "Estas frescas cicatrizes. Tomo a lança, e o grosso escudo.

"O sonoro Anacreonte "Se o mundo conhece males, Mal no campo me apresento,
(Astuto o moço dizia) "Tu os maiores fizeste, Marília (oh Céus!) me aparece:
"Já perto da morte estava, "Sim, tu a Tróia queimaste, Logo que os olhos me fita,
"Inda de amores cantava; "Tu a Cartago abrasaste, O meu coração palpita,
"Por isso alegre vivia. "E tu a Antônio perdeste." A minha mão desfalece.

"Aos negros, duros pesares Amor, vendo que da oferta Então me diz o tirano:
"Não resiste um peito fraco Algum apreço não faço, "Confessa, louco, o teu erro;
"Se o amor o não fortalece: Me diz afoito que trate "Contra as armas da beleza
"O mesmo Jove carece De ir com ele a combate "Não vale a externa defesa
"De Cupido, e mais de Baco." Peito a peito, braço a braço. "Dessa armadura de ferro."
ROMANTISMO
1ª Geração - Fase Nacionalista / Indianista
Canção do Exílio - Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras Minha terra tem primores,


Onde canta o Sabiá, Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar – sozinho, à noite –
Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas, Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite, Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá; Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Onde canta o Sabiá.
2ª Geração - Fase Ultrarromântica / Mal do Século
BERTRAM
Um outro conviva se levantou.
Era uma cabeça ruiva, uma tez branca, uma daquelas criaturas fleumáticas que não hesitarão
ao tropeçar num cadáver para ter mão de um fim.
Esvaziou o copo cheio de vinho, e com a barba nas mãos alvas, com os olhos de verde-mar
fixos, falou:
— Sabeis, uma mulher levou-me a perdição. Foi ela quem me queimou a fronte nas orgias, e
desbotou-me os lábios no ardor dos vinhos e na moleza de seus beijos: quem me fez devassar pálido
as longas noites de insônia nas mesas do jogo, e na doidice dos abraços convulsos com que ela me
apertava o seio! Foi ela, vós o sabeis, quem fez-me num dia ter três duelos com meus três melhores
amigos, abrir três túmulos àqueles que mais me amavam na vida — e depois, depois sentir-me só e
abandonado no mundo, como a infanticida que matou o seu filho, ou aquele Mouro infeliz junto a sua
Desdêmona pálida!
Pois bem, vou contar-vos uma história que começa pela lembrança desta mulher...
Havia em Cadiz uma donzela... linda daquele moreno das Andaluzas que não há vê-las sob as
franjas da mantilha acetinada, com as plantas mimosas, as mãos de alabastro, os olhos que brilham
e os lábios de rosa d’Alexandria sem delirar sonhos delas por longas noites ardentes!
Andaluzas! sois muito belas! se o vinho, se as noites de vossa terra, o luar de vossas noites,
vossas flores, vossos perfumes são doces, são puros, são embriagadores, vos ainda o sois mais! Oh!
por esse eivar a eito de gozos de uma existência fogosa nunca pude esquecer-vos!
Senhores! aí temos vinho de Espanha, enchei os copos: — à saúde das Espanholas!
Amei muito essa moça, chamava-se Ângela. Quando eu estava decidido a casar-me com ela,
quando após das longas noites perdidas ao relento a espreitar-lhe da sombra um aceno, um adeus, uma
flor, quando após tanto desejo e tanta esperança eu sorvi-lhe o primeiro beijo, tive de partir da Espanha
para Dinamarca onde me chamava meu pai.
Foi uma noite de soluços e lágrimas, de choros e de esperanças, de beijos e promessas, de amor,
de voluptuosidade no presente e de sonhos no futuro... Parti. Dois anos depois foi que voltei. Quando
entrei na casa de meu pai, ele estava moribundo; ajoelhou-se no seu leito e agradeceu a Deus ainda
ver-me, pôs as mãos na minha cabeça, banhou-me a fronte de lágrimas — eram as últimas — depois
deixou-se cair, pôs as mãos no peito, e com os olhos em mim murmurou: Deus!
A voz sufocou-se-lhe na garganta: todos choravam.
Eu também chorava, mas era de saudades de Ângela...
Logo que pude reduzir minha fortuna a dinheiro pus-la no banco de Hamburgo, e parti para a
Espanha.
Quando voltei. Ângela estava casada e tinha um filho...
Contudo meu amor não morreu! Nem o dela!
Muito ardentes foram aquelas horas de amor e de lágrimas, de saudades e beijos, de sonhos e
maldições pare nos esqueceremos um do outro.
Uma noite, dois vultos alvejavam nas sombras de um jardim, as folhas tremiam ao ondear de um
vestido, as brisas soluçavam aos soluços de dois amantes, e o perfume das violetas que eles pisavam,
das rosas e madressilvas que abriam em torno deles era ainda mais doce perdido no perfume dos
cabelos soltos de uma mulher...
Essa noite — foi uma loucura! foram poucas horas de sonhos de fogo! e quão breve passaram!
Depois a essa noite seguiu-se outra, outra... e muitas noites as folhas sussurraram ao roçar de um
passo misterioso, e o vento se embriagou de deleite nas nossas frontes pálidas...
Mas um dia o marido soube tudo: quis representar de Otelo com ela. Doido!...
Era alta noite: eu esperava ver passar nas cortinas brancas a sombra do anjo. Quando passei,
uma voz chamou-me. Entrei. — Ângela com os pés nus, o vestido solto, o cabelo desgrenhado e os
olhos ardentes tomou-me pela mão... Senti-lhe a mão úmida.... Era escura a escada que subimos:
passei a minha mão molhada pela dela por meus lábios . Tinha saibo de sangue.
— Sangue, Ângela! De quem é esse sangue?
A Espanhola sacudiu seus longos cabelos negros e riu-se.
Entramos numa sala. Ela foi buscar uma luz, e deixou-me no escuro.
Procurei, tateando, um lugar para assentar-me: toquei numa mesa. Mas ao
passar-lhe a mão senti-a banhada de umidade: além senti uma cabeça fria como neve e
molhada de um líquido espesso e meio coagulado. Era sangue...
Quando Ângela veio com a luz, eu vi... Era horrível!... O marido estava degolado.
Era uma estátua de gesso lavada em sangue... Sobre o peito do assassinado estava
uma criança de bruços. Ela ergueu-a pelos cabelos... Estava morta também: o sangue que
corria das veias rotas de seu peito se misturava com o do pai!
— Vês, Bertram, esse era o meu presente: agora será, negro embora, um sonho do
meu passado. Sou tua e tua só. Foi por ti que tive força bastante para tanto crime... Vem,
tudo esta pronto, fujamos. A nós o futuro!
3º Geração - Fase Condoreira / Social
Navio Negreiro - Castro Alves

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço 'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Brinca o luar — dourada borboleta; Ao quente arfar das virações marinhas,
E as vagas após ele correm... cansam Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como turba de infantes inquieta. Como roçam na vaga as andorinhas...

'Stamos em pleno mar... Do firmamento Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Os astros saltam como espumas de ouro... Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
O mar em troca acende as ardentias, Neste saara os corcéis o pó levantam,
— Constelações do líquido tesouro... Galopam, voam, mas não deixam traço.

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos Bem feliz quem ali pode nest'hora
Ali se estreitam num abraço insano, Sentir deste painel a majestade!
Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?... E no mar e no céu — a imensidade!
Navio Negreiro - Castro Alves

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa! Por que foges assim, barco ligeiro?
Que música suave ao longe soa! Por que foges do pávido poeta?
Meu Deus! como é sublime um canto ardente Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Pelas vagas sem fim boiando à toa! Que semelha no mar — doudo cometa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros, Albatroz! Albatroz! águia do oceano,


Tostados pelo sol dos quatro mundos! Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Crianças que a procela acalentara Sacode as penas, Leviathan do espaço,
No berço destes pélagos profundos! Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

Esperai! esperai! deixai que eu beba


Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
REALISMO
MACHADO DE ASSIS
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo Primeiro / Óbito do autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo


princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu
nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar
pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar
diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um
autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro
berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais
novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no
intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o
Pentateuco
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo XXXI / A Borboleta Preta

No dia seguinte, como eu estivesse a preparar-me para descer,


entrou no meu quarto uma borboleta, tão negra como a outra, e
muito maior do que ela. Lembrou-me o caso da véspera, e ri-me;
entrei logo a pensar na filha de D. Eusébia, no susto que tivera, e
na dignidade que, apesar dele, soube conservar. A borboleta,
depois de esvoaçar muito em torno de mim, pousou-me na testa.
Sacudi-a, ela foi pousar na vidraça; e, porque eu a sacudisse de
novo, saiu dali e veio parar em cima de um velho retrato de meu
pai.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo XXXI / A Borboleta Preta

Era negra como a noite. O gesto brando com que, uma vez
posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho,
que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas
tornando lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmo lugar,
senti um repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e
ela caiu.
Não caiu morta; ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da
cabeça. Apiedei-me; tomei-a na palma da mão e fui depô-la no
peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou dentro de alguns
segundos. Fiquei um pouco aborrecido, incomodado.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo XXXI / A Borboleta Preta

— Também por que diabo não era ela azul? disse comigo.
E esta reflexão, — uma das mais profundas que se tem feito,
desde a invenção das borboletas, — me consolou do malefício, e
me reconciliou comigo mesmo. Deixei-me estar a contemplar o
cadáver, com alguma simpatia, confesso. Imaginei que ela saíra do
mato, almoçada e feliz. A manhã era linda. Veio por ali fora,
modesta e negra, espairecendo as suas borboletices, sob a vasta
cúpula de um céu azul, que é sempre azul, para todas as asas.
Passa pela minha janela, entra e dá comigo.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo XXXI / A Borboleta Preta
Suponho que nunca teria visto um homem; não sabia, portanto,
o que era o homem; descreveu infinitas voltas em torno do meu
corpo, e viu que me movia, que tinha olhos, braços, pernas, um ar
divino, uma estatura colossal. Então disse consigo: “Este é
provavelmente o inventor das borboletas.” A idéia subjugou-a,
aterrou-a; mas o medo, que é também sugestivo, insinuou-lhe que
o melhor modo de agradar ao seu criador era beijá- lo na testa, e
beijou-me na testa. Quando enxotada por mim, foi pousar na
vidraça, viu dali o retrato de meu pai, e não é impossível que
descobrisse meia verdade, a saber, que estava ali o pai do
inventor das borboletas, e voou a pedir-lhe misericórdia.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo XXXI / A Borboleta Preta
Pois um golpe de toalha rematou a aventura. Não lhe valeu a
imensidade azul, nem a alegria das flores, nem a pompa das
folhas verdes, contra uma toalha de rosto, dois palmos de linho
cru. Vejam como é bom ser superior às borboletas! Porque, é justo
dizê-lo, se ela fosse azul, ou cor de laranja, não teria mais segura
a vida; não era impossível que eu a atravessasse com um alfinete,
para recreio dos olhos. Não era. Esta última idéia restituiu-me a
consolação; uni o dedo grande ao polegar, despedi um piparote e
o cadáver caiu no jardim. Era tempo; aí vinham já as próvidas
formigas... Não, volto à primeira idéia; creio que para ela era
melhor ter nascido azul.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo LV / O velho diálogo de Adão e Eva

Brás Cubas...........................?
Virgília................................................
Brás Cubas..................................................
.............................................................
Virgília..............................!
Brás Cubas...............
Virgília..................................................
......................................... ? ...................................................
...............................................................................................
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Capítulo LV / O velho diálogo de Adão e Eva

Brás Cubas.....................
Virgília.......
Brás Cubas............................................................................
.....................................!...........................!........................!
Virgília.......................................?
Brás Cubas.....................!
Virgília.....................!
Quincas Borba - Capítulo 1
Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse,
com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma
grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço
de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra
coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano?
Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas
(umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha),
para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o
céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma
sensação de propriedade. — Vejam como Deus escreve direito por
linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas
Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos
morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma
desgraça...
Humanitismo - Ao vencedor as batatas
NATURALISMO

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