TCC-telemedicina 2023.1 (Completo)
TCC-telemedicina 2023.1 (Completo)
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RESUMO
Este estudo dispõe sobre o ato de identificar as portarias e normas sobre telemedicina que
estão em vigor no Brasil até o mês de março de 2023. O objetivo geral da pesquisa é verificar
a aplicabilidade das leis do ordenamento jurídico brasileira na manutenção do direito
fundamental ao acesso à saúde, e entender a evolução normativa demonstrando a importância
da telemedicina em particular a teleconsulta, que se revela como recurso fundamental de
difusão à saúde. Deste modo, a normatização indica segurança jurídica aos seus beneficiários.
Este artigo circunscreve os benefícios e riscos da telemedicina, tratamento de dados e à
responsabilidade civil do médico diante dessa nova modalidade de prestação de serviço. Tal
estudo encontrou fulcro na Constituição Federal de 1988, nos artigos 1º, 6º e Artigos 196-200,
na Resolução CFM nº 1.643 de 2002, Lei nº 12.842/2013, Lei nº 13.989/2020 e na Resolução
n°2.314/2022. A metodologia usada foi a pesquisa bibliográfica e o método dedutivo. Tem-se
como resultado que após um amplo debate, foi publicada no Diário Oficial da união em 05 de
maio de 2022 a Resolução n°2.314/0222 que definiu e regulamentou a telemedicina no Brasil,
como forma de serviços médicos mediados por tecnologias de comunicação.
ABSTRACT
This study deals with the act of identifying the ordinances and norms on telemedicine that are
in force in Brazil until the month of March 2023. The general objective of the research is to
verify the applicability of the laws of the Brazilian legal system in the maintenance of the
fundamental right to access to health, and understand the normative evolution demonstrating
the importance of telemedicine, in particular teleconsultation, which is revealed as a
fundamental resource for the dissemination of health. In this way, standardization indicates
legal certainty to its beneficiaries. This article circumscribes the benefits and risks of
telemedicine, data processing and the physician's civil liability in the face of this new type of
service provision. This study was based on the 1988 Federal Constitution, Articles 1, 6 and
Articles 196-200, CFM Resolution No. 1,643 of 2002, Law No. 12,842/2013, Law No.
13,989/2020 and Resolution No. 2,314/2022. The methodology used was bibliographic
research and the deductive method. As a result, after a broad debate, Resolution No.
2.314/0222 was published in the Official Gazette of the Union on May 5, 2022, which defined
and regulated telemedicine in Brazil, as a form of medical services mediated by
communication Technologies.
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Graduando em Direito pelo Centro Universitário dos Guararapes (UniFG/PE).
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INTRODUÇÃO
O Projeto de Lei 696/2020, que dispõe sobre o uso da telemedicina durante a crise
causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2), foi aprovado pelo Senado Federal que fora então
sancionado pelo Presidente da República em 15 de abril de 2020. Inicialmente o parágrafo
único do art. 2º, bem como o art. 6º foi vetado. Contudo, o Senado Federal derrubou tais
vetos, promulgando no Diário Oficial da União no dia 20 de agosto de 2020. Porém, a
aprovação da lei ocorreu em caráter temporário e emergencial, enquanto durar a pandemia da
Covid-19 e sua utilização causou aplicações práticas na sociedade.
Publicada no Diário Oficial da união em 05 de maio de 2022, o Conselho Federal de
Medicina (CFM) divulgou a Resolução nº 2.314/2022 que definiu e regulamentou a
telemedicina no Brasil, como forma de serviços médicos mediados por tecnologias e de
comunicação. A norma é fruto de um amplo debate reaberto em 2018 com entidades médicas
e especialistas, e passa a regular a prática em substituição à Resolução CFM nº 1.643/2002. A
teleconsulta é citada e classificada no art.6º da lei, como uma das modalidades possíveis da
telemedicina.
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tendo em vista que o objeto de sua atuação profissional é o corpo humano segundo KFOURI
NETO (2018), que consiste em uma estrutura complexa altamente organizada com funções
especificas para a manutenção da vida.
A adoção da medicina à distância aparece como alternativa para a superação de
diversas limitações ocasionadas pelo atendimento presencial, sendo a principal delas a
democratização do acesso à saúde, esse que figura como um direito fundamental de todos os
cidadãos e dever do Estado (BRASIL,1988).
Incorporado no contexto do acesso universal à saúde, uma das vantagens do uso da
telemedicina é a expansão do atendimento médico, uma vez que promove a diminuição de
barreiras geográficas e econômicas, permitindo atendimento a pacientes que possuem
dificuldades de locomoção físicas, que residem em locais isolados ou de difícil acesso, assim
como possibilita o atendimento especializado em regiões que não possuem corpo clínico
adequado, segundo o Portal Telemedicina (2017, p.2). Esta vantagem destaca a amplitude de
serviços médicos para pacientes em áreas geográficas de difícil acesso ou com problemas de
mobilidade, bem como a precisão dos diagnósticos.
Outra vantagem é a permissão de consulta imediata e troca de informações, tanto entre
médicos e pacientes, quanto entre profissionais da saúde, acerca de diagnósticos, laudos e
resultados de exames, tendo em vista o armazenamento digital de todas as informações
referentes à saúde dos pacientes, permitindo ao médico responsável acessar rapidamente o
histórico do paciente, de forma segura e respeitando a privacidade do paciente e seus dados
Portal Telemedicina (2018).
Embora existam muitas vantagens na prática da telemedicina, o emprego de tal
atividade também apresenta alguns aspectos negativos que não podem ser desconsiderados.
De maneira geral, os riscos estão relacionados à segurança dos dados, sigilo e aos próprios
meios de comunicação utilizados, que estão diretamente vinculados aqueles que se fazem
presentes no atendimento médico, com reflexos no campo da responsabilidade civil por
danos, além do problema ético da despersonificação da relação médico-paciente e a
massificação da prática médica.
Preliminarmente, as noções referentes à privacidade e à confidencialidade são
inerentes à atividade médica e estão alicerçados no dever de sigilo, que é característico do
exercício da medicina e está previsto pelo Código de Ética Médica Brasileira, Lei Orgânica de
Saúde (Lei n° 8.080/90), a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n° 13.709/2018), entre outros
diplomas legais como a Emenda Constitucional nº 107 de 02/07/2020. Tal questão exige um
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diálogo participativo entre o médico e o paciente, a partir da coleta de dados, tanto pessoais
quanto clínicos, envoltos em sigilo, com o intuito de prestar adequadamente o serviço à saúde.
Tais noções, ainda que bastante consideradas em geral na prática médica, se tornam
ainda mais relevantes quando inseridas em um contexto de saúde digital. Enquanto o
armazenamento dos prontuários físicos com informações dos pacientes detinha um acesso
mais restrito de pessoas, uma vez que se encontravam em consultórios médicos ou hospitais
(locais onde somente pessoas autorizadas podem manusear tais informações), a transferência
desses registros a um ambiente virtual, em rede, aumenta consideravelmente a exposição dos
dados, de forma que exige que precauções e adequações em relação aos protocolos de
segurança no tratamento de dados sensíveis e segurança do sistema sejam tomadas como
afirma PEREIRA(2016).
A proteção dos dados pessoais, assim como a privacidade, são direitos resguardados
pela Constituição Federal Brasileira como fundamentais, BRASIL (1988). De forma
semelhante disciplina o artigo n°17 da Lei Geral de Proteção de Dados, ao assegurar a todas
as pessoas a titularidade de seus dados pessoais e a garantia do direito de liberdade,
intimidade e privacidade. Tal cuidado se mostra necessário em razão de o emprego da
telemedicina estar diretamente vinculado a coleta, tratamento e armazenamento de dados de
pacientes identificados ou identificáveis, Portal Telemedicina (2022).
Fica evidenciado, portanto, que a prática adequada da telemedicina está diretamente
relacionada às proteções acerca do tratamento e armazenamento dos dados sensíveis
relacionados a saúde.
A segunda desvantagem é o grande desafio imposto à difusão da telemedicina é a
vulnerabilidade socioeconômica do país que demonstra a existência de um abismo digital,
visto que 33,9 milhões de pessoas estão desconectadas da internet e outras 86,6 milhões não
conseguem se conectar todos os dias, segundo estudo do Instituto Locomotiva e da
consultoria PwC (2022).
A realidade é que, o grupo social mais impactado negativamente é a população mais
vulnerável economicamente, isto porque as regiões mais periféricas recebem atendimento
mais tardio, e, para sanar essa problemática, seriam necessários recursos monetários dos
cofres públicos, ampliando, assim, os gastos em saúde (Bodenheimer, 2008; Schoen et al.,
2011).
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A Medicina e a arte de cuidar emergiram da mesma raiz que a dor e a piedade humana.
Hipócrates e o seu juramento contam com mais de 2.500 anos e serviram como base para o
desenvolvimento dessa ciência (FRANÇA, 2021). O exercício da medicina tem como foco
principal o cuidar da saúde e bem-estar das pessoas, sendo essa relação pautada na ética
médica, valores, princípios e balizada por direitos e deveres por ambas as partes.
A relação de consumo médico-paciente, seja contratual ou extracontratual, escrita ou
verbal, implícita ou explícita é permeada por direitos, deveres e obrigações adquiridas, as
quais em caso de descumprimento, podem vir a ser de responsabilidade civil, ou seja, a
obrigação de reparar prejuízo (VILAS BOAS, 2022). Dentre os deveres de conduta dos
médicos podemos listar os de: informação, atualização, abstenção de abuso, vigilância e
cuidados (FRANÇA, 2021).
A responsabilidade civil médica pode ser ocasionada por conduta contrária ao dever de
profissional legalmente habilitado a exercer a medicina, seja por negligência, imprudência ou
imperícia, sem que haja dolo ou ato ilícito (FRANÇA, 2021). Por indução, a prestação da
telemedicina se equipara ao ato médico convencional no quesito da relação consumerista,
após informação e termo de consentimento livre e esclarecido quanto às limitações e
peculiaridades da modalidade a ser exercida (VILAS BOAS, 2022). Assim como os papéis
deste ecossistema da relação médico-paciente contratual, os fundamentos éticos médicos
visando melhor ao paciente, seguem inalterados (KAPLAN,2020).
As discussões ao longo da história sobre a responsabilidade, riscos, política, ética,
privacidade, qualidade no atendimento, acesso, consentimento e legalização da telemedicina
mundial vêm de longa data, inicialmente nos países desenvolvidos da União Europeia e
Estados Unidos da América. (KAPLAN, 2020; PARIMBELLI, 2018). Apesar do antigo
paradigma de que as responsabilidades advindas da telemedicina seriam exatamente as
mesmas da relação médico-paciente presencial, novas responsabilidades e riscos clínicos
surgiram com a utilização da telemedicina na prática médica cotidiana, ocasionando a
necessidade de múltiplas adequações, entre elas, novas técnicas de ensino médico e liderança
para afrontar as novas possibilidades decorrentes da coesão medicina e tecnologia
(PARIMBELLI, 2018).
Novas responsabilidades civis emergiram decorrentes da prática da telemedicina,
exemplificando, ao prestar informações e orientações médicas, contidas em websites e os
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
preposto faz-se necessário que o dano advenha de ação ou omissão do profissional vinculado
ou que estejam relacionados à sua atividade. Em relação à telemedicina, a adoção dessa
prática não altera a forma da responsabilização médica, permanecendo subjetiva a
responsabilidade do médico e objetiva da instituição de saúde.
Cabe aos profissionais da medicina, portanto, atentarem-se a tudo que regulamenta a
telemedicina, a fim de que sua prática seja segura e benéfica, tanto para o médico quanto para
o paciente, pois, como visto, é possível que os riscos decorrentes da prática da medicina à
distância sejam minimizados. Deve-se atentar, todavia, que existem riscos inerentes à prática
da medicina, o que vale também para essa modalidade.
O estudo realizado no presente trabalho não teve o propósito de exaurir o tema, mas
sim, de abordar alguns pontos importantes acerca da telemedicina, seus benefícios e riscos e
sobre a responsabilidade que envolve o profissional da medicina quando se utiliza dessa
modalidade, condensando os tópicos mais relevantes para facilitar o entendimento acerca da
temática, restando a necessidade de realização de mais estudos quanto ao tema.
A teleconsulta não deve ser um substitutivo da consulta médica tradicional, mas sim,
um mecanismo, de acesso efetivo de prestação segura de assistência especializada, que
permita o cumprimento dos preceitos constitucionais, de promoção de saúde, à todos!
REFERÊNCIAS
FARIA, Flávio. A telesaúde chegou para ficar. In:Revista Visão saúde, v.24, p.15-21,
setembro,2022. ISSN 2448-0630.
FRANÇA, Genival Veloso de. Direito Médico. 17 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. 9ª Edição. São Paulo. Revista
dos Tribunais,2018.
KAPLAN, Bonnie. Revisiting health information technology ethical, legal, and social issues
and evaluation: telehealth/telemedicine and COVID-19. International journal of medical
informatics, v. 143, p. 104239, 2020