Mito 6
Mito 6
Mito 6
Trata-se de uma tentativa de descrição do português atual na sua forma culta, isto
é, da língua como a têm utilizado os escritores portugueses, brasileiros e africanos
do Romantismo para cá. [grifo meu]
Trotou, trotou e, depois de muito trotar, deu com eles numa região onde o ar
chiava de modo estranho.
— Que zumbido será este? — indagou a menina [Narizinho]. — Parece que
andam voando por aqui milhões de vespas invisíveis.
— É que já entramos em terras do País da Gramática — explicou o
rinoceronte. — Estes zumbidos são os Sons Orais, que voam soltos no espaço.
— Não comece a falar difícil que nós ficamos na mesma — observou
Emília. — Sons Orais, que pedantismo é esse?
— Som Oral quer dizer som produzido pela boca. A, E, I, O, U são Sons
Orais, como dizem os senhores gramáticos.
— Pois diga logo que são letras! — gritou Emília.
— Mas não são letras! — protestou o rinoceronte. — Quando você diz A ou
O, você está produzindo um som, não está escrevendo uma letra. Letras são
sinaizinhos que os homens usam para representar esses sons. Primeiro há os Sons
Orais; depois é que aparecem as letras, para marcar esses sons orais. Entendeu?
O ar continuava num zunzum cada vez maior. Os meninos pararam, muito
atentos, a ouvir.
— Estou percebendo muitos sons que conheço — disse Pedrinho, com a mão
em concha ao ouvido.
— Todos os sons que andam zumbindo por aqui são velhos conhecidos seus,
Pedrinho.
— Querem ver que é o tal alfabeto? — lembrou Narizinho. — E é mesmo!...
Estou distinguindo todas as letras do alfabeto...
— Não, menina; você está apenas distinguindo todos os sons das letras do
alfabeto — corrigiu o rinoceronte com uma pachorra igual à de dona Benta. — Se
você escrever cada um desses sons, então, sim; então surgem as letras do alfabeto.
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