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O Encontro Analítico - Mario Jacoby

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O encontro analitico Apri soas se encontrando para tentar compreender 0 que se passa no inconsciente de uma delas. 0 paciente ou analisando nor- ‘malmente tem sintomas, conflitos ou outrasinsatisfagSes pro- fundas com as quais vem lutando sozinho em vio, pois eles parecem ser mais poderosos do que qualquer forga de vontade consciente que estejaa seu dispor. Ele precisa, portanto, de aju- «a, ¢ busca um psicoterapenta. A fonte de sua meurose, desor- lem de personalidade narcisista, estado dorderline, etc., esta «scondida de ambos, paciente e analista; juntos eles exploram ‘causas inconscientes, metas esignificados. [Nesse trabalho, o analista tende a colocar muita énvase nos sonhos, tentando compreend mecticlos A historia de vida do paciente e especialmente ao seu ponto de vista cons: da psicoterapia junguiana consiste em duas pes- ‘iente, Mas como o paciente vivencia essa assisténciaZ Quem ¢, analista para o paciente? Se quisermos explorar o inconsciente, néo ¢ importante investiga somente o que ocorre entre a situagéo conscien- te do paciente e as respostas inconscientes ou compensaciies ilustradas nos sonhos. Cedo ou tarde também se tornacéim- portante considerar o que esté ocorrendo entre as duas soas envolvidas nesse processo. A chamada relagio analitica 2 Colegio Reeds Junguianas centre parceiros € absolutamente necessiria para o processo Lerapéutico, porém alguns de seus aspectos impulsionam o processo enguanto outros tendem a atrasé-lo, 0 encontro) analitico pode torar-se to complexo quanto uma relagic intima. Fantasias inconscientes provindas de necessidades vi- tas ene aaparecerentreospareios, Algumas wezes no da atengéo, tanto do ans {o, elas podem influenciar o analista causand ‘tendendo a sexualizar a relagio, “Isso tudo jé € hastante conhecido atualmente, ¢ 0 termo {écnico para essas projegoes inconscientes é transferéncia ou contratransferéncia, dependendo da diregdo das projegbes. A relagio analtica, entretanto, nio éidéntica a0 que cha ‘mamos de transferéncia e contratransferéncia, Embora exis- tam aqueles que encaram dessa forma todas as interagées dos parceiros analiticos, na verdad encontramos também 0 verda- relacionamento humano na situacio terapéatica. Conforme, mencionado, existem varios pontos nos escritos de Jung ave _mostram que ele via a diferenga entre tvansferéncia e relacio- znamento humano na situagao analitica, Eu considero da maior importancia aumentarmos nossa sensibilidade em relagio 20 que esté acontecendo entre os parceiros na andlise. A tran feréncia pode se esconder atrés do_relacionamento ara Quais sao as “Quais sio as implicagées lesses fendmenos menos para as as sutilezas da situaglo analitica? (© enconio anata a 0 propdsito deste livro é oferecer algumas respostas a es- sas perguntas, mas primeiramente vamos considerar 0 que os Lois pioneitos da psicologia profunda entendiam por transfe- réncia, A.visio de Freud sobre a transferdncia O crédito pela descoberta do fentmeno da transferéneia na psicandlise deve ser dado a Sigmund Freud. Juntamente com Joseph Breuer, sua primeira tentativa de chegar ao material inconsciente fi feta através da hipnose. No estado de hipnose, »paciente era capaz de se recordar de memérias do comego da infncia que ele havia esquecido ou reprimido, Inicialmente, a hupnose parecia ser o método perfeito para se chegarao trauma vsiguicos o recordar do evento traumatico tinha eomumente © efsito de curar 0 paciente histéico. Preud nunca usou st «wstdo hipnética. Ble nao sugeria uma atitude mais positiva 10 paciente em estado hipndtico porque ele no queria que a vuntade do mécico influenciasse o paciente. Ble considerava «que tal influéncia nfo fosse gemuina e tivesse pouca duragio, Ele usava a hipnose, portanto, com 0 tnico intuito de chegar as memrias esquecidas da infinca, Embora parecesse inicialmente para Freud e Breuer que esse método fosse ideal, eles descobriram rapidamente que snuitos pacientes no conseguiam responder a ee, resistindo is lentativas do terapeuta de hipnotiza-los. Assim, Freud fo levado & descoberta de que a resistencia fazia parte da estru- lua geral da neurose ¢ estava conectada ao medoxde reavivar snemérias vergonhosas e dolorosas. A partir desse insight ele \lesenvolveu suas teoras das neuroses. Coos Releseslunguanas Contudo, Freud descobriu também uma outra causa para a resisténcia is tentativas de hipnose do terapeuta—isto€, quais- quer distirbios no relacionamento entre paciente e médico. Em seu Estudos sobre a histeria (1895), Freud menciona trés, ives para o distiirbio dessa relagao™. Primeiramen= sentir que 0 médico no 0 leva sufiien= es segcedos ais intimos. Pode ser também que 0 paciente tenha ouvido julgamentos negatives sobre seu médico ou sua forma de tra- ‘tamento. Em segundo lugar, pode ser 0 caso, especialmente | com mulheres, em que uma paciente sinta a perda de sua in- dlependéncis ao criar uma dependéncia psiquica ou até sexual. velagio ao terapeuita. Uma terceira causa para o disttrbio na relagio paciente-médico, de acordo com Freud, ¢ofatode que_| pacientes tendem a.se sentir chocados quando se dio conta da “transferéncia” de fantasias vergonhosas para omédico. Baqui que o termo transferéncia aparece pela primeira vez, ¢ Freud dé 0 seguinte exemplo ~ hoje em dia famoso ~ para ‘mostrar o que ele quer dizer com isso. Apés 0 término de uma sessio analitica, uma paciente sua sentiu, de repente, umn dese~ jo intenso de que Freud a beijasse. F claro que ela nao mencio- rou seu desejo na hora; ela se sentiu enojada consigo mesma por ter tal pensamento e passou aquela noite em claro. Durante a sessio seguinte, ela estava muito perturbada e bloqueou suas associagSes até mencionar essa fantasia. Freud tentout encon- trara causa dessa fantasia-desejo echegou a conclusdo de que a fonte fora uma experiéncia que ocorrera com a paciente muitos anos antes, Naquela ocasio, ela tivera uma conversa com. um 18. FREUD, S. “Studies on Hysteria’ Collected Works. Vol. 2 sa.t homem durante a qual ela perceeu —¢.reprimiu — um desejo repentine de que este homer The desse um bejo 3 forea,Ago- va, esse desejo reaparecera ¢ fora “transferido” de seu objeto verdadero para oterapeuta!, Desa forma Freud descobriu.que_ dlesejos do passado, reprimidos ou nao realizados, tendema ser lransferidos para um novo objeto, ou seja, para o analista, Iniciaimente, esa descoberta 0 perturbou, pois ele viu que seu método de psicandlise ia se tornando cada vez mais compli- apés algum tempo, ele chegou a concluséa de que a a transferéncia tinha muitas vantagens para 0 pro- cesso de cura Ela reativava experiéncias e desejas reprimidos «a infanca e, dessa maneira, Ievava ao cere da neurose. Essa slescoberta do amor transferencial foi um choque menor para Freud do que foi para seu colaborador, Brewer, que, logo em seguida, abandonou de vez a psicandlise, pois encarou 0 amor lo ponto de vista pessoal, o que no pode suportar®, eud continuou a estudar 0 fendmeno da transferéncia e ‘cada vez mais passou a acreditar que ela era, de (ato, necessdria pra 0 sticesso de qualquer cura psicanalitica, que era como ‘le chamava sua terapia, Pacientes que no conseguiam entrar na transferéncia néio_podiam ser tratados pela formas de neurose com tendéncia a mostrar formas de reagbes de transferéncia eram a histeria de conversio, {obi se de compulsio. Essas trés formas eram, portanto, passiveis, sie tratamento pela psicandlise clissica, ¢ Freud as chamou de neuroses de transferéncia, 19, tid, p. 307%. 20. ONBS, 8. Sigmund Frau ie and Work. Vl 1 andres: Hogarth Pres, 158, p 2a a Colegso Retexoesunguanas A transferéncia de expectativas amorosas infantis, assim como de agressio e édio reprimido para o terapeuta, eram consideradas por Freud como condigao para um tratamento bem.sucedida. Por outro lado, era a propria transferéncia que parecia, de acordo com Freud, sabotar a cura répidas durante a anilise, a neurose original se transformava em uma nova forma de neurose que ele chamou novamente de neurose de transfe- réncia, Em outras palavras, 0 paciente se vincula ao analista € essa dependéncia pode eximi-lo de toda responsabilidade pes- soal. Ele pode sentir-se 0 bebé amadio do pai ou mae-analista e inconscientemente nao querer abrir mao dessa dependéncia. A cura para sua neurose significaria, ao mesmo tempo, abrir m0, dda dependéncia em relagdo ao analista e, assim send, ele in- cconscientemente se nega a melhorar Portanto, a transferéncia também pode causar resistencia an processo de cura. Que conselho Freud dé ao analista para lidar com es __questao? Como 6 analista pode ajudar seu paciente a superar essa assim chamada transferéncia de vesisténcia? Aqui, a fa- mosa “regra de abstinéncia” entra em jogo, Isto significa que analista no deve dar nenhuma resposta emocional para as demancas impostas a ele pelo paciemte, com excecio preiacio de motivs. 0 analista deve se manter to fro quanto um cinurgio fazendo-umma oneragic Esse evtar resposta emocional é, na visio de Freud, para o beneficio do paciente; ao mesmo tempo gle menciona que essa _atitude de atengao objetiva e livre é também uma protecao para a vida emocional do analista, Por que essa atte fria ‘21, PREUD, 6 “Recommendations to Phisclns Practising Psychoanalysis” Collected Works, Vl. 12 {5.8 p. 11. © encontsanates s reativa do analista beneficia 0 paciente? Porque a transferéncia © uma forma de neurose, um desejo de se manter dependente em relago ao médico e no se tomar independente. Dessa for ‘ma, quaisauer demandas do paciente que sejam atendidas pelo analista mantém o paciente em estado de dependéneia mais longa. 0 trabalho do analista consiste, portanto, na pura e sim- ples interpretacéo dos motives por tris dessa depend chamada transferéncia, F os motivos por tras da transferéncia «stavam elaros para Freud. Demandas e desejos do paciente citia gratificagao é buscada no analista slo, na realidaderene- ligbes de necessidades e conflitos da inféncia, Em sua relago ‘como analista, o paciente repete ¢ revive o amor, dilio, agres- istracio que ele vivenciou durante a infancia com seus pais. A interpretacio do comportamento de transferéncia ¢ \s fantasias consist, portanto, em mostrar ao paciente que seu amor ou 6dio pelo analista ndo é algo teal e bisico, que ‘seus sentimentos nao provém da situagao presente, mas so repetigées de experiéneias passadas, vindas, principalmente, \lo inicio da infancia Essasinterpretagdes visam a um processo terap@utico im- portante que é a transformagio de repetigdes em memérias®. evar o paciente & compreen: dei serve ao proplsito curador de culdades de maneiti via, on dependéncia em rel: ta, Dessa forma, transferén- 20 analista pode ser superada. FREUD, 8. “Cenerl Theory ofthe Neurosis’, Collected Works. Vol. 16. Jot] 4, 22. dst no orignal [NT ° Coes RelextesJunguianas Se ouvirmos Freud, teremos uma teoria clara sobre o fe- nnomeno da transferéncia: experiéncias do infcio da infancia sho transferidas para o andlista, ¢ as emogdes e sentimentos envolv apenas repetigdes dos originais. Obtemos tam- ‘bém uma téeniea para lidar com a transferéncias interpretacd rmotivos com o propésito de transformar as repetiges em _imernrias A regra de abstingncia que protbe qualquer envol- jea de tratamento €a consequéncia l6gica de toda a teoria freudiana sobre a psique e ocorréncia da transferéncia. Acho que ¢ imporiante manter em mente essas primeiras| ‘observagies sobre o fendmeno da transferéncia. Elas formam um contexto hist6rico dentro do qual se pode entender melhor 6 ponto de partida de Jung. B, afinal de contas, ha muita vere dade nelas, que também fornecem um ponto de vista valioso e bastante necessério em qualquer andlise, A contribuigao de C.G. Jung Ateoria direta e puramente causalista de Freud era limita- dae unilateral para Jung, Para ee, dois fatores principais pare- iam estar sendo negligenciados na visio freudiana, Em primeiro lugar, Freud estava preocupado unicamente coma cause da transferéncia~ ele perguntava o que causava essa tana dependnes, a neuose de transferénea, Jung pense ‘quentemente ~ mas nao sempre —na an ter ndo somente uma causa, mas um. interessar pelo.significado que a trans ito. Ble passou a se éncia poderia ter ‘enconto nation a Em segundo lugar, Freud acreditava que a transferéncia ra uma repeticdo de experiéncias reprimidas da infancia, Isto ificaria que a a de vida pessoal, inconseiente pessoal, estaria envolvido nela. Entretanto, em wm fendmeno tio profundo, frequente e importante, & de se. ‘esperar que contetidos at sos do inconsciente coletivo também tivessem um papel. Em Dois ensaios sobre psicolo. wie analitica ( (1928), Jung descreve um caso de uma paciente «ue tinha uma infensa transferéncia em relagio a ele, ecujos sonhos mostram, claramente, que inconscientemente para ela » analista significava deus, um ser divin ital, Jung. vin, \ss0 como uma projegio do si-mesmo— o arquetipo da totalida~ «le e centro regulador da psique — no analista. ‘A paciente estaria ligada ao analista e dependente dele en- ‘iuanto ndéo percebesse dentro de si mesma o contetdo projeta- lo, ou seja, seu préprio centro™. Penso também em um caso meu. 0 paciente chegou para a «sso analitica de mau humor, pois as coisas haviam dado er- rao para ele na semana anterior: a moga que ele parecia amar ty deixara, Ele estava bravo comigo, set analista, por sentir que ce the negara o prazer de ter eamar uma moga e que, portanto, destino era mau para ele. De outro lado, ee sabia muito bem \ue eu no tinha nada a ver com o rompimento de seu relacio- hhamento coma moga. Independente disso, uma ideia irracio- nal de que eu deveria ter intervindo na forma de Venus ~ ou vo menos de seu filho Eros ~ ¢ langado algumas flechadas de unor na moga no dltimo instante tomou conta dele. No intcio, 2A, JUNG, C.6. 0 eu e oinconsciente. Plripolis Vores, 2011, § 206-208 oc 72 ¢ 28 Colegd RetexoesJungutanas 6 paciente no defxou que essa ideta viesse até a consciéncia por ser absurda demais e apenas sentiu uma raiva intensa. Ele sabia que eu no tinha nada a ver com 0 rompimento, e aue eu estava apenas tentando, junto com ele, entender por que as _mogas sempre 0 deixavam apés algum tempo. No entanto ele se enfureceu com o seu destino e descontou em mim; ele dis- putou comigo como quem disputa com um deus, Nesse periodo,o paciente era to dependente de mim que cle sempre queria conselhos em relagio a tudo, ou ao menos uma consideragao posterior, quando tivesse feito algo. Havia, nessa transferénc e uma simples projegio pater- na, pois ele, inconscientemente, outorgava-me poderes sobre~ Jumanas, Fle tamiém achava que eu era cruel, pois acreditava que eu sabia o resultado de tudo e nfo Ihe contava ja que cestava Claro para ele que eu era o mestre de seu destino e, sendo assim, deveria saber de tudo antecipadamente, Este & apenas ‘um exemplo de como contetidos arquetipieos podem ser ativa- dos em uma sityacio de transferéncia, Ora, se 0s contetidos arquetipicos inconscientes esto en- volvidos na transferéneia, segue-se que 0s temas por tris da transferéncia nfo podem ser apenas repetigbes de situagbes da vida pessoal. No inconsciente encontrarios também as se- mentes do desenvolvimento futuro que podem ser levadas & tengo da consciencia e serem gradualmente integradas a la, A transferéncia é na verdade, uma forma de project; de {ato,o termo fransference € apenas a traducao do termo projec- tio em Iatim, ou “projecao”, Utilizamos a palavra transferénck ‘como um termo téenico para as projegbes que ocorrem na re- ‘Tagio paciente-analista. De acordo com Jung, falamos de pro- ‘esi quando contetidos pafquicos pertencentes a experiéncias | Cencentreanetico 3 suubjtivas e intransiquicas sto vivenciados no mundo externo_ relagio a outras pessoas ou objeto. Isto significa que no estamos conscientes de que esses contetdos fagam realmente, parte de nossa prépria estrutura psfauica, [Alguns pacientes, por exemplo, dizem-me frequentemen- sim: “Sei exatamente 0 que voce pensa agora, posso é pensa que meu comportamento ¢ incrivelmente moral, vocé pensa que eu ndo presto”, quando eu realmente niio estou consciente de fais pensamentos. Esse tipo de critica é um problema hésico para esses pacientes. Eles mio estao cientes de «que esses julgamentos ocorrem dentro dels, e que a autocrtica nefativa € projetada no mundo exterior e, € claro, no analista Bles ereem que o analista tem certamente maus pensamentos tem relagio a eles, embora no possa admiti-lo ~ 0 tratamento requer muitos traques psicoligicos e outras coisas afins. E certo quea observagio de guais contetidos sto projetados \ dicas importantes ao analista, mostrando em que éreas um aumento de consciéneia 6 de necessidade vital para 0 paciente ‘ds contetidos projetados nao sio apenas repetigies que revelam_ ‘material reprimido, Novos contetidos da psique eriativa podem, surgie e sho vivenciados sendo, © processo interno de autorrealizagéo, 0 processo que Jung chamou de individuacdo, esta frequentemente ativado Gidos e formas especificns evidenciados ransferéncia®, Este é um dos insights mais importantes de Jung com relagao a esse estranho fendmeno. E, é claro que, lidar com ele a partir deste ponto de vista, torna-se muito complexo. Regras ¢ técnicas para lidar com a transferéncia, rimetramente, nas projecbes. Assim 25, JUNG, €.G."A pscologia da transerenca™. Op. cit, $3588, 2 Colesio Roexdesunguinnas perderam terreno, O analista junguiano defronta-se, frequente- mente, com situagéies de transferencia dificls e delicadas, mas, ‘20 mesmo tempo, muitas vezes, recompensadoras. Um exemplo de caso Uma mulher de inte etrés anos, extremamente inibida, trou- ‘xe 0 seguinte sonho inicial, apds a primeira sesso analitica: Estou em uma casa, Hi um homem velho que quer me matare ele eorta as minhas akérias. Bu grito por socorro ce tentoenfanaras feridas eu mesma, Entlo consigoesta- pare procuro tm médica, O homer me segue No fra, estou com um médico que enfalxa os ferimentos A partir de suas associagdes, ficou claro que esse persegui- dorassassino representava umaatitude que ea havia vivenciado de sua mae, e que se tornou destrutivamente eficaz e poderosa dentro dela mesma. De acordo com sua descrigao, sua mae era uma mulher dominadora e uma catélica fervorosa que tentaa desde cedo transmitir aos seus flhos que uma vida corretasig- nificava rezar e cumprir as obrigagDes. Ela sofria de uma con- dicao cardiaca de origem nervosa e usava essa condiga0 coma fonte de poder. Caso seus filhos ou seu marido resistissem, cla adoecia e sentimentas de culpa se constelavam neles. ‘Minha paciente, que era bastante sensivel, estava deprimida € apresentava muito destes sintomas que usualmente surgem_ dde uma relagio priméria conturbada e da falta de confianca pri- ‘méria, Seu comportamento em relagio a sua mie foi, desde 26, Cl. NEUMANN, E, The Child [sa.t. * ERIKSON, ELH. Childiond end ‘Society. Nova York: WAW. Norton, 1990. cedo, rebelde, essencialmente saudével. Mas sua rebeldia era, invariavelmente, seguida de sentimentos de culpa e remorso., Ela tinha, entao, que se desculpar para a mie que a perdoava sgenerosamente, Rebeldia era um pecado que tinha que ser per loado pela mae e depois pelo padre confessor na igreja. Minha yaciente nao consegtua ver a suma importancia de seus impul- sos rebeldes, € claro, e, assim, no conseguia confiar em seus sentimentos. Bla foi se tornando cada vez mais desconectada de sua propria natureza e ada vex mais dependente da mae. Jiirg Willi, un psicanalista sug, diz que a erianga de uma inde que sofre de um disttirbio narcfsica tem de viver desde cedo com 0 seguinte paradoxo: Eu sou et mesmo apenas se curpro_ ss expectativas que minha mae tem de mim, Se, caso contro, sou como eu sinto, entao mia sou eu. mesmo. O sentimento inconsciente de minha analisanda de que ela nfo tinha o direi- lo de viver sua vida de acordo com sua propria natureza, fora expresso em seu sonho inicial através do corte nas artérias, Nas \ermos do modelo junguiano, o velho assassino repvesentaria a. unimus negativo da mae, agora internalizado. Com esse problema, ela veio ao médico, presumivelmente uma reago saudéve sua incapacidade de ajudara si mesma ‘pis a primeira sesso, parecia que cla achava. que cu havia (valado sua “frida” de maneira adequada, Logo se desenvolvet um transferéncia muito i plea, caracterizada por um incidente particularmente importante: um dia ela trouxe tum sono no qual eu havia dado a ela o livro de Jung sobre a crianga divina, Depois que ela me contou o sono, fui até m nn estante e deo livro para ela ler. Aquela foi a minha reagaa 27, WILL J Die Zewierbeciohng.Reinbecb. Hamburg: Reb 1973p. 7. 2 Cole RelerdesIunguianas spontines, um impulso ao qual eu cedi ¢ que pareceu certo no momento, Certamente essa reagdo pode ser questionada. Alguns analstas poderiam ter preferide adentrar suas fantasias relacionadas & crianga dvina e também ao fato de ter sido eu, © analista, que Ihe dewro livro no sono. Bu escolhi esponta- rneamente a concretizagéo ~ a atuacio, por assim dizer ~ da_ fantasia do sonho, Bu fiquel imaginando, naturalmente, como la iria reagir Aquilo e pensei que haveria tempo de entrar em ‘suas fanlasias na sessio seguinte 'Na vez seuinte em que ela veio ela se desculpou anygustia-

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