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Gestão Ambiental

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GESTÃO

AMBIENTAL
O problema
ambiental e as
atividades humanas
Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Reconhecer a questão ambiental atual.


> Conceituar meio ambiente e as diferentes relações entre seus componentes.
> Identificar as consequências das atividades humanas sobre o meio ambiente.

Introdução
Embora o progresso humano pautado no crescimento econômico tenha sido
observado ao longo das décadas, esse crescimento tem repousado na destruição
da diversidade biológica, no uso insustentável de recursos não renováveis e na
emissão de gases de efeito estufa. Com o aumento da população mundial, as
demandas e necessidades humanas mostram-se infinitas e ilimitadas, porém os
recursos naturais, ao contrário, são finitos e limitados, o que nos leva a graves
problemas sociais, ambientais e econômicos.
De fato, são muitos os desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas
no mundo. Nesse sentido, ações globais estão sendo realizadas na busca por pro-
teger o meio ambiente e o clima, acabar com a pobreza e garantir que as pessoas,
em todos os lugares do planeta, possam desfrutar de prosperidade. Entretanto,
para que essas ações se efetivem, tornam-se necessários o comprometimento e
o esforço conjuntos de países, organizações, instituições e sociedade civil.
2 O problema ambiental e as atividades humanas

Neste capítulo, você vai estudar e refletir sobre o conceito de meio ambiente,
a partir das discussões em eventos internacionais sobre a importância da ques-
tão ambiental e as consequências das atividades humanas, as quais vêm sendo
realizados ao longo das décadas. Além disso, será dada uma especial ênfase para
esses aspectos no Brasil.

A questão ambiental hoje


Sabe-se que, desde o período pré-industrial, a industrialização das economias
levou à queima de combustíveis fósseis (energia não renovável, como petróleo,
carvão mineral, gás natural) e ao aumento explosivo da população mundial, o
que demandou mais recursos naturais. Entre 1800 e 2020, a população mun-
dial disparou de 910 milhões de pessoas para mais de 7,7 bilhões. Segundo
projeções recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), a população
global deverá atingir 8 bilhões de pessoas em 2022, 9,7 bilhões em 2050 e 10,4
bilhões em 2080, devendo permanecer neste nível até 2100 (UNITED NATIONS,
2022b). Entretanto, desde 1950, a população global está crescendo em um
ritmo mais lento. Em muitos países, a fecundidade caiu acentuadamente ao
longo das últimas décadas, e, além disso, dois terços da população global
vivem em país ou região onde a fecundidade está abaixo de 2,1 nascimentos
por mulher (UNITED NATIONS, 2022b), podendo-se citar, por exemplo, o Brasil
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2016).
A partir dos anos 1950, a questão ambiental vem despertando mais preo-
cupações e crescente interesse social e político, e não por acaso as últimas
décadas têm testemunhado a problemática presente na relação entre a
sociedade e o meio ambiente. São diversas situações marcadas por esgota-
mento, conflito e destrutividade, que, segundo Martine e Alves (2015) e Lima
(1999), se expressam:

„ nos limites materiais ao crescimento econômico exponencial;


„ na perda da biodiversidade e na contaminação crescente dos ecos-
sistemas terrestres;
„ na tendência ao esgotamento de recursos naturais e energéticos não
renováveis;
„ na expansão urbana e demográfica;
„ no avanço do desemprego estrutural;
„ no crescimento acentuado das desigualdades socioeconômicas intra
e internacionais, os quais alimentam e tornam crônicos os processos
de exclusão social, entre outros.
O problema ambiental e as atividades humanas 3

Desde então, a questão ambiental tem mostrado à sociedade contem-


porânea, no sistema capitalista e hiperconsumista, a universalidade dos
problemas socioambientais e alertado para a necessidade urgente de se
promover mudanças efetivas que garantam a qualidade e a continuidade da
vida do planeta no longo prazo. Sem ações globais de conscientização sobre
a demanda pelos recursos naturais, a tendência é que a pressão sobre tais
recursos seja superior à capacidade de regeneração dos ecossistemas natu-
rais. Frente ao contexto atual, a ONU propôs aos seus países-membros, em
2015, uma nova agenda mundial para guiar a elaboração e a implementação
de políticas públicas, esta composta por 17 objetivos globais para serem
cumpridos até o ano de 2030 (UNITED NATION, 2022a).
Relatórios publicados pelo Painel Internacional sobre Mudanças do
Clima (IPCC, iniciais em inglês) da ONU evidenciam que as mudanças cli-
máticas continuarão ocorrendo e serão irreversíveis, mesmo que o clima
se estabilize. Estima-se, com mais de 95% de chance, que as atividades
humanas tenham causado aproximadamente 1,0°C de aquecimento global
face aos níveis pré-industriais, com uma variação de 0,8°C a 1,2°C. Caso
o aquecimento global continue a aumentar, é provável que atinja 1,5°C
entre as décadas de 2030 e 2050, o que significa dias mais longos e noites
mais quentes em todo o planeta (PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE
MUDANÇA DO CLIMA, 2018).
Em outro estudo, o IPCC destaca que, conforme as camadas de gelo e
geleiras derreterem e os oceanos esquentarem, haverá um aumento do
nível do mar que pode afetar 1 bilhão de pessoas até 2050, sobretudo as
comunidades humanas em contato próximo com os ambientes costeiros,
pequenas ilhas (incluindo Pequenos Estados Insulares em Desenvolvi-
mento), áreas polares e altas montanhas. No século XX, o nível dos oceanos
subiu 15 centímetros, porém atualmente está subindo 3,6 milímetros por
ano. Estima-se que até o final do século XXI o nível dos oceanos suba entre
30 e 60 centímetros (PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇA DO
CLIMA, 2019). No caso do Brasil, onde há uma extensa faixa costeira, isso
gera consequências graves, visto que um quarto da população brasileira
reside em municípios da zona costeira (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO-
GRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011).
A poluição do ar tem efeitos de longo alcance em nosso clima, e os esfor-
ços para reduzir as emissões nocivas mostram-se difíceis e exigem tempo
e comprometimento político. O Greenpeace, a Ogilvy Hong Kong e a Ogilvy
Shanghai criaram uma campanha mundial para mostrar como a poluição em
um lugar pode causar danos em outros lugares distantes. Os visuais impres-
4 O problema ambiental e as atividades humanas

sos foram usados como pôsteres e colocados em áreas movimentadas das


principais cidades ao redor do mundo (Figura 1). A campanha mundial busca
incentivar as pessoas a participarem do movimento e a compartilharem
nas redes sociais (#CleanAirNow), pedindo soluções sustentáveis aos seus
governos, trazendo mudanças e responsabilizando as organizações poluidoras
(GREENPEACE, 2022).

Figura 1. Campanha mundial do GreenPeace junto com a Ogilvy Hong Kong e a Ogilvy Shanghai.
Fonte: GreenPeace (2021).

Uma das grandes preocupações ambientais é a predominante participação


dos combustíveis fósseis na matriz energética mundial. Enquanto o mundo
possui, em média, 86% de energia primária gerada por fontes não renováveis,
o Brasil tem 44,7% da sua matriz energética gerada por fontes renováveis (hi-
dráulica, lenha e carvão vegetal, etanol, biodiesel, solar, eólica, entre outras)
— esse percentual representa cerca de três vezes o índice médio do mundo
(BRASIL, 2022). Desde a década de 1970, o Brasil vem investindo em energias
renováveis, e tal esforço lhe assegurou uma das matrizes energéticas mais
limpas do mundo. Um exemplo disso é a participação de biocombustíveis,
etanol e biodiesel na matriz de transportes (BIDARTE; COSTA, 2017), que passou
de 1,0%, em 1973, para mais de 22%, em 2021 (BRASIL, 2022).
Como veremos a seguir, o meio ambiente tem, paulatinamente, conquistado
reconhecimento social e político ao promover debates intra e internacionais
e realizar ações globais para enfrentar os graves problemas do mundo. No
cenário brasileiro, por exemplo, a questão ambiental está presente na música
(“Asa-Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira – 1947; “Planeta Água”,
de Guilherme Arantes – 1982; “Xote Ecológico”, de Luiz Gonzaga – 1989), na
literatura (“Água”, de Mario Quintana – 2001), no cinema (“Xingu” – 2011), na
O problema ambiental e as atividades humanas 5

televisão e no streaming (“Aruanas” – 2019; “Pantanal” – 1990/2022; “Lixo


Extraordinário” – 2010; “A Lei da Água: Novo Código Florestal” – 2015) e em
curta-metragem (“Ilha das Flores”, dirigido por Jorge Furtado – 1989).

O conceito de meio ambiente


Ecologia, ambiente e meio ambiente são conceitos distintos, porém, até hoje,
são confundidos, fazendo com que os vocábulos “ecologistas” e “ambienta-
listas” pareçam sinônimos. Das contribuições teóricas de Ernst Haeckel e
Charles Krebs, tem-se a definição contemporânea de ecologia como o estudo
científico da distribuição e abundância dos organismos e das interações que
as determinam (CAIN; BOWMAN; HACKER; 2018). Em suma, a ecologia busca
integrar abordagens focadas em níveis de organização diferentes, estudando
indivíduos, populações, comunidades e ecossistemas; é uma ciência que
estuda o ambiente por meio de atividades científicas.
Por outro lado, há, na literatura, diversas interpretações sobre os concei-
tos de ambiente e meio ambiente. Por exemplo, Art (1998) citado por Dulley
(2004, p. 18), entende ambiente como o “conjunto de condições que envolvem
e sustentam os seres vivos na biosfera, como um todo ou em parte desta,
abrangendo elementos do clima, solo, água e de organismos”, e por meio
ambiente entende a “soma total das condições externas circundantes no
interior das quais um organismo, uma condição, uma comunidade ou um objeto
existe”. Ele ainda afirma que “o meio ambiente não é um termo exclusivo; os
organismos podem ser parte do ambiente de outro organismo”.
Entretanto, há outras contribuições teóricas que consideram que o meio
ambiente não tem apenas um sentido estático, visto ser constituído por
relações dinâmicas entre seus elementos componentes, tanto não vivos
como vivos (DULLEY, 2004). De forma geral, meio ambiente foi — e continua
sendo — um conceito bastante utilizado, sobretudo nos diversos eventos
ambientais internacionais que vêm sendo realizados ao longo das décadas,
como veremos a seguir.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (CNU-
MAH), também conhecida como Conferência de Estocolmo, organizada pela
ONU em 1972, na capital da Suécia, Estocolmo, foi a primeira grande reunião
mundial de chefes de Estado para tratar das relações da sociedade com o
meio ambiente. Nessa conferência, o meio ambiente foi definido como sendo
o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes
de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre
os seres vivos e as atividades humanas (UNITED NATIONS, 1973). A referida
6 O problema ambiental e as atividades humanas

Conferência é considerada um marco por ter introduzido, na agenda política


internacional, a busca por equilíbrio entre redução da degradação ambiental
e desenvolvimento econômico, que mais tarde contribuiria para a noção de
desenvolvimento sustentável.
Após sua apresentação na Conferência de Estocolmo, o conceito de meio
ambiente passou a ser utilizado por políticos e pesquisadores para definir
a sua abrangência e importância. Na legislação do Brasil, a Política Nacio-
nal do Meio Ambiente (PNMA) foi estabelecida pela Lei nº 6.938, de 1981 e
regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 1990. A PNMA, em seu art. 3º, I,
conceituou meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências
e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege
a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Como se observa, o conceito
de meio ambiente é amplo, visto que abarca vida humana, vegetal e mineral.
Ele engloba tudo o que nos cerca, desde as águas dos lagos até as cadeias de
montanhas; desde a atmosfera até o subsolo; desde as formações florestais
até os núcleos urbanos ou rurais; desde elementos da natureza até objetos
de uso cotidiano. Dada sua amplitude, o conceito legal não ficou isento de
críticas. Frente a isso, outros conceitos surgiram, buscando delimitar e apro-
fundar a definição de meio ambiente (SILVA, 2011).
A partir da definição legal de meio ambiente da PNMA (BRASIL, 1981), esta
tomou dimensões maiores com a Constituição Federal (BRASIL, 1988), que
trata do meio ambiente em diversos dispositivos, sendo possível identificar
as classificações a seguir.

„ Meio ambiente natural: é aquele constituído por elementos bióticos


ou abióticos da natureza e pelas formas de vida, como água, solo, ar,
fauna, flora, homem.
„ Meio ambiente artificial: é aquele constituído pelo espaço urbano
fechado (casas, prédios) e aberto (ruas, praças, vias públicas, áreas
verdes) construído pelo homem, consubstanciado no conjunto de
edificações e dos equipamentos públicos.
„ Meio ambiente cultural: é aquele constituído por elementos criados ou
utilizados pelo homem e que tenham significado para a espécie humana
em razão de seus valores históricos, arqueológicos, paisagísticos,
turísticos, artísticos, estéticos.
„ Meio ambiente laboral: é aquele constituído por bens materiais e
imateriais que permitem o exercício seguro da atividade laboral pelo
trabalhador que o frequenta.
O problema ambiental e as atividades humanas 7

Como observado em diversos países, o processo de desenvolvimento


industrial e econômico explorou muito os recursos naturais, o que gerou
degradação da qualidade dos solos, das águas e da atmosfera. O impasse,
no entanto, era encontrar uma solução que permitisse a exploração dos
recursos naturais sem esgotá-los. Assim, surgiu o tema do desenvolvimento
sustentável, palco de discussões mundiais a partir de 1987, ano que marca os
esforços voltados a uma nova consciência mundial. A publicação do Relató-
rio “Nosso Futuro Comum”, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), sob a coordenação de Gro Harlem
Brundtland, Primeira-Ministra da Noruega, trouxe ao mundo o conceito de
desenvolvimento sustentável, sendo apresentado como “aquele que atende
às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem as suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE
O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 46).
Em 1992, o discurso em torno do desenvolvimento sustentável foi reforçado
a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvol-
vimento (CNUMED), popularmente conhecida como Rio-92, realizada no Rio de
Janeiro. A referida Conferência tornou evidente a necessidade de atenção da
humanidade para com o meio ambiente, de protegê-lo e defendê-lo, para as
presentes e futuras gerações. Apesar de já terem sido tentados anteriormente,
foi na Rio-92 que os esforços em prol da promoção de um desenvolvimento
sustentável foram oficializados e ganharam força, sobretudo devido ao clima
de cooperação entre os países nela reunidos (UNITED NATIONS, 1993).
Em um consenso a favor do meio ambiente, líderes mundiais assinaram
importantes acordos, os quais revelam a concretude dos compromissos
assumidos:

„ a Declaração do Rio, composta de 27 princípios para promover o de-


senvolvimento sustentável;
„ a Convenção sobre Mudança do Clima, que visa estabilizar as con-
centrações de gases de efeito estufa na atmosfera resultantes das
ações humanas;
„ a Convenção sobre Biodiversidade Biológica, que trata da proteção e
do uso da diversidade biológica em cada país signatário;
„ a Declaração sobre Florestas, que trata da gestão, conservação e
desenvolvimento sustentável de florestas de todos os tipos;
„ a Agenda 21, que contém recomendações destinadas a orientar a for-
mulação e execução de políticas públicas com vistas a diminuir os
problemas socioambientais existentes.
8 O problema ambiental e as atividades humanas

É importante destacar que a Convenção sobre Mudança do Clima abriu


caminhos para as negociações que buscam reduzir as emissões de gases de
efeito estufa, em que metas e prazos vieram mais tarde, com o Protocolo
de Quioto, em 1997, e, mais recentemente, com o Acordo de Paris, em 2015.
Entretanto, após três décadas, boa parte das expectativas criadas na Rio-92
ainda não se confirmou, sobretudo em razão de comprometimento político.
No meio empresarial, Elkington (2012) criou o termo triple bottom line, em
que a sustentabilidade é o equilíbrio entre os três pilares: ambiental, econô-
mico e social. Com esses fundamentos aliados às mudanças de paradigmas
e habilidades tecnológicas, financeiras e de gerenciamento, as empresas
passaram a contemplar o desenvolvimento sustentável de forma progressiva.
Deste modo, mudanças foram observadas, desde inovações para melhoria
dos processos produtivos, gerenciamento de resíduos, geração de valor na
cadeia produtiva, até uma gestão mais sustentável com o objetivo de reduzir
os impactos sociais e ambientais.
De fato, tais eventos ambientais internacionais demonstram importantes
avanços, mas também limitações. O termo desenvolvimento sustentável,
segundo Martine e Alves (2015), passou a ser um oximoro. O sistema capi-
talista de produção e consumo, tal como o conhecemos, não consegue ser,
ao mesmo tempo, ambientalmente sustentável e socialmente justo. Assim,
o tripé da sustentabilidade passou a ser um trilema, pois está cada vez mais
difícil conciliar bem-estar social, crescimento econômico e sustentabilidade
ambiental. É preciso uma mudança de rumo, e a humanidade precisa esta-
belecer o equilíbrio.

As consequências das atividades humanas


sobre o meio ambiente
Ao longo da história, diversos desastres ambientais ocorreram no mundo,
afetando diretamente o meio ambiente e a população, cuja recuperação pode
levar décadas ou séculos. Diferentemente dos desastres naturais, causados
por fenômenos da natureza (furacões, terremotos, tsunamis, erupções vul-
cânicas), os desastres ambientais ocorrem devido às atividades humanas,
podendo ser de cunho nuclear, químico, derramamento de poluentes, entre
outros. No mundo, pode-se citar os seguintes desastres ambientais: bombas
de Hiroshima e Nagasaki, Japão, em 1945; aparecimento da Doença de Mina-
mata, em 1954, causada pelo lançamento de dejetos com carga mercúrio na
baía de Minamata, Japão; nuvem de dioxina, Itália, em 1976; lançamento de
O problema ambiental e as atividades humanas 9

gases radioativos da Three Mile Island, Estados Unidos, em 1979; vazamento


de gases tóxicos em Bhopal, Índia, em 1984; lançamento de radiação após a
explosão de um dos quatro reatores de Chernobyl, Ucrânia, em 1986; derra-
mamento de petróleo pelo navio Exxon Valdez, em 1989; queima de petróleo
no Golfo Pérsico, em 1999; explosão na plataforma da British Petroleum, em
2010. No Brasil, pode-se citar, por exemplo: liberação de gases tóxicos no
polo petroquímico de Cubatão, São Paulo, em 1980; exposição ao material
radioativo Césio-137 em Goiânia, Goiás, em 1987; vazamento de óleo na Baía
de Guanabara, Rio de Janeiro, em 2000; rompimento da barragem de Mariana,
em 2015, e de Brumadinho, em 2019, ambas em Minas Gerais.
Quando o assunto é medir os impactos da ação humana sobre o meio am-
biente, a pegada ecológica é a metodologia de contabilidade ambiental mais
conhecida. Ela foi criada nos anos 1990, quando os cientistas Wackernagel e
Rees (1996) publicaram seu livro, apresentando ao mundo um novo conceito
de sustentabilidade. Entretanto, a pegada ecológica não está sozinha e,
juntamente com a pegada de carbono e a pegada hídrica, forma a chamada
família de pegadas.
Suas definições, segundo a World Wide Fund for Nature (2022), são a seguir
apresentadas.

„ Pegada ecológica: mede os impactos da ação humana sobre a natureza,


analisando a quantidade de área bioprodutiva necessária para suprir
a demanda das pessoas por recursos naturais e para a absorção do
carbono. Ela é expressada em hectares globais (um hectare global sig-
nifica um hectare de produtividade média mundial para terras e águas
produtivas em um ano), o que permite comparar diferentes padrões
de consumo das populações humanas e verificar se estão dentro da
biocapacidade planetária (capacidade dos ecossistemas em absorver os
resíduos gerados pelas atividades humanas e produzir recursos naturais
renováveis para o consumo humano). Deste modo, a referida pegada
compara a biocapacidade de vários recursos ecológicos (pastagens,
áreas de cultivo, florestas, estoques pesqueiros, áreas construídas,
e carbono) com diferentes classes de consumo (alimentos, moradia,
mobilidade e transporte, bens e serviços, governo e infraestrutura).
„ Pegada de carbono: mede os impactos da humanidade sobre a biosfera,
quantificando os efeitos da utilização de recursos sobre o clima.
„ Pegada hídrica: mede os impactos que as atividades humanas causam
na hidrosfera, monitorando os fluxos de água reais e ocultos.
10 O problema ambiental e as atividades humanas

Os três indicadores supramencionados buscam capturar de diferentes


formas a pressão humana no planeta. Eles se complementam mutuamente
e permitem analisar os diversos aspectos das consequências das atividades
humanas sobre os recursos naturais (Figura 2). O cálculo da pegada ecológica
pode ser feito por pessoa, cidade ou país e não objetiva oferecer um retrato
negativo (WORLD WIDE FUND FOR NATURE, 2012a, 2012b), mas mobilizar a
população para rever seus hábitos de consumo e escolher produtos mais
sustentáveis (PINTO et al., 2016). Com base nos dados gerados por esses indi-
cadores, é possível subsidiar, por exemplo, políticas de desenvolvimento e de
gestão ambiental urbana e endossar conceitos como contração e convergência,
justiça ambiental e partilha justa (WORLD WIDE FUND FOR NATURE, 2022).

Figura 2. As diferentes pegadas e sua relação com o uso de recursos naturais.


Fonte: Adaptada de World Wide Fund for Nature (2022).

Cabe sublinhar que nem tudo pode ser capturado por esses indicadores;
apenas uma parte de todos os valores representados pelos recursos naturais
é possível de ser capturada. Por meio deles é possível mapear somente a
utilização direta dos recursos naturais; já sua utilização indireta, como os
serviços de ecossistemas ou os valores de opção de usos futuros dos recursos
naturais, não pode ser mapeada. Conforme a apresentação gráfica (Figura 2),
nota-se diferenças entre os indicadores de sustentabilidade. Por exemplo:
a pegada hídrica e a pegada de carbono estão muito mais relacionadas
com a análise de ciclo de vida de produtos ou processos do que a pegada
ecológica. Além disso, a pegada hídrica e a pegada ecológica são capazes de
contabilizar as capacidades do planeta como fonte (produção de recursos) e
O problema ambiental e as atividades humanas 11

como sumidouros (assimilação de resíduos); e a pegada de carbono trata-se


apenas de uma análise da emissão de gases de efeito estufa que gera impactos
sobre a biosfera. Entretanto, a família das pegadas constitui ferramentas de
leitura e interpretação da realidade por meio das quais pode-se enxergar,
simultaneamente, problemas conhecidos e a construção de novos caminhos
para solucioná-los (WORLD WIDE FUND FOR NATURE, 2022).

No Brasil, em 2010, foi realizado o estudo da Pegada Ecológica de


Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, sendo a
primeira cidade brasileira a ter esse cálculo (WORLD WIDE FUND FOR NATURE,
2012a). O estudo revelou que a pegada ecológica média do campo-grandense
é de 3,14 hectares globais; isso significa que, se todas as pessoas do planeta
consumissem de forma similar à população campo-grandense, seriam neces-
sários quase dois planetas para sustentar esse estilo de vida. Em relação aos
recursos ecológicos, observou-se maior pressão principalmente em áreas de
pastagem, agricultura e florestas, as quais representam 75% da pegada ecológica
campo-grandense — em classes de consumo, o maior impacto foi na alimentação
(45%), com destaque para o consumo de carne —; e menor pressão por absorção
de dióxido de carbono.
Depois, o estudo foi realizado para a cidade e o estado de São Paulo, com
ajustes metodológicos (WORLD WIDE FUND FOR NATURE, 2012b). O estudo foi
publicado durante a Rio+20 e revelou que a pegada ecológica média da cidade
de São Paulo é de 4,38 hectares globais por pessoa; e do estado, de 3,52. Isso
significa que se todas as pessoas do planeta consumissem de forma semelhante
aos paulistanos, seriam necessários quase 2,5 planetas para sustentar esse estilo
de vida; se vivessem como os paulistas, seriam necessários quase dois planetas.
Em relação aos recursos ecológicos, observou-se maior pressão principalmente
em áreas de agricultura e pastagem, que representam mais da metade da
pegada ecológica dos paulistas e dos paulistanos, e, além disso, considerando
as classes de consumo, o maior impacto está associado à alimentação, a bens e
transporte. De forma inédita, o estudo buscou entender como se dá o consumo
dos recursos naturais dentre as diferentes faixas de rendimento domiciliar da
sociedade paulista e paulistana. Os resultados mostraram que a pegada dos
paulistanos é, em todas as faixas de rendimento, superior em comparação a dos
paulistas. Entretanto, essa diferença é menor nas faixas entre 3 e 10 salários
mínimos e mais acentuada nas faixas superiores a 10 salários mínimos.
Considerando os resultados de tais estudos, ambos indicam que os consumos
médios de recursos ecológicos pelo campo-grandense (3,14 gha/cap) e pelos
paulistanos (4,38 gha/cap) e paulistas (3,52 gha/cap) estão além da pegada
ecológica brasileira (2,9 gha/cap) e da pegada ecológica mundial (2,7 gha/cap).
De forma geral, considerando que a biocapacidade disponível é de 1,8 gha/cap,
há um déficit ecológico de 0,90 gha/cap. Tal situação aponta para a necessidade
urgente de um esforço para que passemos a viver dentro da biocapacidade
planetária.
12 O problema ambiental e as atividades humanas

O Brasil é o país que concentra quase metade das áreas de floresta desma-
tadas no mundo em 2021. Os dados da plataforma de monitoramento Global
Forest Watch (2022), iniciativa do World Resources Institute (WRI), organização
ligada a pautas ambientais, mostram que o Brasil perdeu, aproximadamente,
1,5 milhão de hectares de florestas tropicais primárias, o que representa 15 mil
km². As principais causas do desmatamento estão relacionadas às queimadas
e à expansão agrícola, principalmente em áreas adjacentes a centros urbanos,
estradas e rios, na Amazônia e no Pantanal. Tais dados mostram que o Brasil
está cada vez mais distante de cumprir as metas assumidas no Acordo de
Paris de 2015, inclusive na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima de 2021 (COP26), de conservar as matas visando à interrupção da
perda florestal até 2030.
Mesmo com diversas convenções e acordos internacionais existentes que
fornecem apoio para reduzir a poluição marinha, combater as alterações
climáticas global e utilizar os oceanos, mares e recursos marinhos de forma
sustentável, o volume de lixo que vai parar nas águas do mundo tem crescido
rapidamente. O recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) revela o impacto do lixo marinho e da poluição plástica no
meio ambiente e seus efeitos na saúde dos ecossistemas, da vida selvagem
e dos seres humanos, além dos custos sociais e econômicos. Os plásticos
representam pelo menos 85% de todo o lixo encontrado nos oceanos e, sem
ações urgentes, as 11 milhões de toneladas de plástico que chegam ao oceano
anualmente poderão triplicar nos próximos 20 anos, o que significaria entre
23 e 37 milhões de toneladas de plástico escoando para o oceano anualmente
até 2040. O relatório ressalta a necessidade de uma ação global, de vontade
política e de ações urgentes para enfrentar esse grave problema crescente
(UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2021).
Um dos esforços por um planeta livre de resíduos é o “Dia Mundial de
Limpeza de Rios e Praias”, uma campanha anual de ação social global co-
ordenada pela organização Let's Do It! World, com sede localizada na Es-
tônia. Os parceiros e voluntários atuam sob coordenação de ONGs no mês
de setembro com o objetivo de sensibilizar a população para a proteção
dos recursos hídricos, engajando-a para o cuidado com o meio ambiente.
De acordo com seu último relatório publicado, em 2021, a campanha uniu
mais de 8,5 milhões de pessoas em 191 países, apesar de estar em período
de pandemia de Covid-19 (LET’S DO IT WORLD, 2021). Em consonância com a
referida campanha, no Brasil diversas cidades, escolas, universidades, ONGs
e organizações privadas trabalham em parceria para realizar atividades de
educação ambiental e mutirões de limpeza.
O problema ambiental e as atividades humanas 13

Como visto ao longo do capítulo, a ciência já comprovou, de forma incontes-


tável, que diversas fronteiras ambientais globais estão sendo ultrapassadas
pela ação humana, e que se não houver mudanças globais urgentes e signi-
ficativas, as crises sociais e ambientais se intensificarão. O atual momento
que a humanidade vive exige ações para responder a tais crises, podendo-se
citar, por exemplo, maior conscientização pública, comprometimento político,
consumo de maneira consciente e sustentável, desenvolvimento de materiais
mais ecológicos e tecnologias para a gestão de resíduos, investimento em
fontes renováveis. A solução dos problemas sociais e ambientais depende
da busca de novos valores e atitudes no relacionamento que se estabelece
entre sociedade e natureza, tanto na dimensão individual quanto na coletiva.

Referências
BIDARTE, M. V. D.; COSTA, A. M. Desenvolvimento sustentável e a produção de biocom-
bustíveis: uma alternativa à produção de fumo? Revista Brasileira de Desenvolvimento
Regional, v. 5, n. 3, p. 111‑138, 2017.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
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