Significados, Percepção de Risco e Estratégias de Prevenção de Gestantes Após o Surgimento Do Zika Vírus No Brasil
Significados, Percepção de Risco e Estratégias de Prevenção de Gestantes Após o Surgimento Do Zika Vírus No Brasil
Significados, Percepção de Risco e Estratégias de Prevenção de Gestantes Após o Surgimento Do Zika Vírus No Brasil
ARTICLE
Significados, percepção de risco e estratégias
de prevenção de gestantes após o surgimento
do Zika vírus no Brasil
controle do mosquito é dificultado no Brasil pela não uniformidade no cumprimento das diretrizes
doi: 10.1590/0102-311X00145819
Resumo Correspondência
F. M. S. Lima
Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia.
Este estudo teve como objetivo compreender significados, percepção de risco e Rua Basílio da Gama s/n, Campus Universitário, Salvador, BA
estratégias de prevenção da infecção pelo Zika vírus desenvolvidas por gestan- 40110-040, Brasil.
tes com diferentes condições socioeconômicas, atendidas em serviços de saúde nanda_msl@hotmail.com
público e privado da cidade de Salvador, Bahia, Brasil, bem como a contribui-
1Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia,
ção de seus parceiros para lidar com o risco de infecção após o surgimento des-
Salvador, Brasil.
se vírus no país. Foi realizado um estudo qualitativo, a partir do desenvolvi-
mento de 18 entrevistas semiestruturadas, sendo nove com gestantes atendidas
pelo setor público de saúde e nove com gestantes atendidas pelo setor privado
de saúde. Os dados produzidos demonstraram insuficiências no conhecimento
das gestantes sobre aspectos importantes da infecção pelo Zika vírus. A situa-
ção socioambiental na qual as gestantes estão submetidas foi um fator impor-
tante para a percepção de risco e estratégias de prevenção. Gestantes entrevis-
tadas no setor público de saúde demonstraram se sentir mais vulneráveis ao
risco de infecção no ambiente em que vivem do que gestantes entrevistadas no
setor privado de saúde, com grande impacto sobre o seu bem-estar psicossocial.
Segundo as gestantes, os parceiros exerceram intensa cobrança para que elas
adotassem ações preventivas sem, no entanto, realizarem os mesmos cuidados,
desconsiderando o risco de transmissão do vírus por via sexual. Conclui-se
que, após aproximadamente três anos da epidemia no país, o Zika vírus ainda
possui um grande impacto sobre a vida das gestantes e é imprescindível for-
talecer as ações de comunicação em saúde para assegurar a disponibilização
de informações que respondam adequadamente às necessidades da população
sobre a doença.
Introdução
Em 2015, foi identificado o primeiro caso de infecção autóctone pelo Zika vírus (ZIKV) no Brasil. O
ZIKV é transmitido principalmente pela picada do mosquito Aedes aegypti, endêmico no país há mais
de três décadas 1. Além dessa via de infecção, o ZIKV pode ser transmitido por via transplacentária, o
que atraiu grande atenção global em decorrência das consequências da infecção durante a gestação 2,3.
A microcefalia em recém-nascidos foi a primeira alteração associada à infecção intrauterina
pelo ZIKV. Posteriormente, outras malformações congênitas também foram identificadas, condição
atualmente conhecida como síndrome congênita do Zika vírus (SCZ) 4,5. Entre 2015 e 2016, foram
notificados quase 10 mil casos suspeitos da SCZ no Brasil, desses, 2.018 foram confirmados. Esses
casos se concentraram principalmente na Região Nordeste do país, sendo que a Bahia foi o segundo
estado nordestino com o maior número de casos notificados 6. O Município de Salvador registrou
altos índices da SCZ, com 105 casos confirmados em 2015 e 130 casos confirmados em 2016 7. O
aumento do número de nascimentos de crianças com a SCZ fez com que o Ministério da Saúde e,
posteriormente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarassem a epidemia do ZIKV como uma
emergência de saúde pública 2,8.
A partir de 2016, observou-se importante declínio no número de casos de infecções pelo ZIKV
e da SCZ no país. Essa redução é sugestiva do desenvolvimento de imunidade por grupos que não
possuíam histórico de exposição anterior ao vírus 9,10. Apesar dessa redução, o ZIKV permanece como
um risco à saúde, visto que, mesmo em países altamente acometidos como o Brasil, ainda persistem
grupos populacionais que não foram expostos ao vírus e, consequentemente, não possuem imunidade
desenvolvida. Adicionalmente, uma série de questões sobre o ZIKV ainda não foram completamente
elucidadas, não podendo afastar o risco de novos surtos. Sendo assim, é fundamental manter a vigi-
lância constante e investir na produção de conhecimento científico para uma melhor compreensão
sobre a infecção pelo ZIKV e seus impactos 10,11.
Doenças transmitidas por mosquitos não são definidas como enfermidades exclusivas da pobreza,
já que elas atingem regiões ricas e pobres da cidade. Entretanto, as consequências da infecção pelo
ZIKV apresentaram repercussões muito diferentes em termos de classe, raça/etnia e gênero, caracte-
rizando-se como um marcador contemporâneo de desigualdade no país ao aumentar a vulnerabili-
dade de grupos sociais já expostos a precárias condições de vida 12. Segundo dados do Ministério da
Saúde, os grupos mais atingidos pela epidemia foram mulheres em idade reprodutiva, pessoas que se
autodeclararam pardas e com menores índices de escolaridade 13.
Essa conjuntura apresentou grande impacto sobre a vida das mulheres em idade reprodutiva e
gestantes no país. De acordo com o estudo desenvolvido por Meireles et al. 14 em Juiz de Fora (Minas
Gerais), com 14 mulheres grávidas, o período gestacional se tornou um momento de intenso sofri-
mento psicológico marcado por sentimentos de preocupação, ansiedade e/ou medo frente ao risco
de infecção pelo ZIKV. Esse contexto também fez com que essas mulheres desenvolvessem novos
hábitos de proteção, como evitar locais de risco e o uso constante de repelentes. O trabalho realizado
por Linde & Siqueira 15 com 18 mulheres em idade reprodutiva no Brasil, Porto Rico e Estados Uni-
dos para avaliar o impacto social da epidemia em diferentes localidades também identificou que as
mulheres passaram a desenvolver medidas de proteção que repercutiram em suas rotinas familiares e
profissionais, com impactos sobre o bem-estar psicossocial.
Apesar dos avanços da literatura sobre o tema, ainda não existem investigações sobre significados,
percepção de risco e estratégias de prevenção desenvolvidas por gestantes de distintos estratos sociais.
A compreensão dos significados, percepções e práticas com relação ao risco de contrair o ZIKV deve
ser orientada por modelos teóricos que reconheçam que o comportamento humano é socialmente
construído, e que a tomada de decisão dessas mulheres é influenciada por normas e valores culturais
presentes no contexto social no qual elas se encontram inseridas, assim como por limitações de ordem
socioeconômicas.
A percepção de risco, portanto, não está relacionada apenas à consequência direta dos perigos em
sua dimensão biológica. De acordo com Douglas & Wildavsky 16 e Lupton 17, ela é uma construção
coletiva que sofre influências de crenças e valores compartilhados dentro de contextos socioculturais
específicos e pode apresentar compreensões distintas entre os diversos grupos sociais. Diante disso, o
risco é uma construção social sobre um perigo que existe em sua dimensão objetiva, porém o enten-
dimento desse fenômeno só pode ser alcançado mediante processos socioculturais.
Com base nessas premissas, este estudo teve como objetivo compreender significados, percepção
de risco e estratégias de prevenção da infecção pelo ZIKV desenvolvidas por gestantes com diferentes
condições socioeconômicas, atendidas em serviços de saúde público e privado da cidade de Salvador,
bem como a contribuição de seus parceiros para lidar com o risco de infecção após o surgimento desse
vírus no Brasil.
Metodologia
A idade das gestantes variou entre 19 e 41 anos. Entre as gestantes entrevistadas no setor privado de
saúde, quatro se autodeclararam brancas, quatro pardas, e uma não soube responder. Entre as gestan-
tes entrevistadas no SUS, seis se autodeclararam pretas, duas pardas e uma branca. Quanto à situação
conjugal, oito mulheres entrevistadas no setor privado de saúde estavam casadas e uma solteira; para
oito dessas gestantes, essa era a primeira gestação, enquanto apenas uma possuía um filho. Entre as
mulheres entrevistadas no SUS, seis declararam morar junto, duas casadas e uma solteira, enquanto,
para apenas três dessas mulheres, essa era a primeira gestação. Todas as gestantes entrevistadas no
setor privado de saúde possuíam vínculos empregatícios formais e ensino superior completo, com
exceção de uma gestante que estava afastada do seu trabalho no momento da entrevista e possuía
ensino superior incompleto. Entre as gestantes entrevistadas no SUS, apenas duas possuíam vínculos
formais de trabalho e ensino superior completo, enquanto as demais eram autônomas ou estavam
desempregadas, e o nível de escolaridade variou entre ensino médio incompleto e completo (Quadros
1 e 2).
Resultados e discussão
Existem importantes variações na compreensão sobre o ZIKV entre as mulheres deste estudo. Ges-
tantes entrevistadas no setor privado de saúde relataram possuir poucas informações sobre o ZIKV,
restritas principalmente às formas de transmissão, aos sinais e sintomas da doença e aos riscos asso-
ciados à infecção durante a gestação:
Quadro 1
Perfil das mulheres atendidas pelo setor privado de saúde, segundo características sociodemográficas e reprodutivas. Salvador, Bahia, Brasil.
Quadro 2
Perfil das mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo características sociodemográficas e reprodutivas. Salvador, Bahia, Brasil.
Nome Raça/Cor Idade (anos) Trimestre Filhos Estado civil/Situação Ocupação Escolaridade
gestacional conjugal
Aurora Preta 30 3o 1 Mora junto Auxiliar de serviços Ensino Médio
gerais incompleto
Nadja Preta 39 3o 3 Casada Dona de casa Ensino Médio
completo
Tania Preta 19 3o 0 Solteira Desempregada Ensino Médio
incompleto
Teresa Branca 29 3o 1 Mora junto Autônoma Ensino Médio
completo
Rita Preta 39 2o 0 Mora junto Jornalista Ensino Superior
completo
Júlia Parda 30 2o 1 Mora junto Desempregada Ensino Médio
incompleto
Antônia Preta 41 2o 0 Mora junto Dentista Ensino Superior
completo
Isadora Preta 23 2o 1 Casada Desempregada Ensino Médio
completo
Angélica Parda 24 1o 1 Mora junto Vendedora de Ensino Médio
cosméticos completo
“O que eu conheço? É que é um vírus que há três ou quatro anos atrás foi descoberto na verdade em humanos,
acho que era circulado só entre animais, não vou lembrar qual... E que é transmitido pelo mesmo mosquito que
transmite a dengue e que, em contato com mulheres grávidas, aparentemente causa alterações na morfologia do
cérebro, né? Do crânio do bebê. É isso, basicamente isso. Têm pessoas que são picadas e que o bebê desenvolve
microcefalia e têm pessoas que são picadas e que não desenvolve, o bebê não desenvolve, talvez tenha a ver com
o tipo, com uma mutação, até onde eu sei é isso aí... E, que mais? Os sintomas são muitos parecidos com os da
dengue, mas se eu não me engano é um pouco mais brando...” (Ester, 30 anos, setor privado).
Enquanto, entre gestantes entrevistadas no SUS, o conhecimento sobre a doença dizia respeito
principalmente à experiência de mães de crianças com microcefalia evidenciadas pela mídia e o medo
associado a essa infecção durante a gestação:
“Eu conheço, tipo, pela televisão, que eu vejo aquelas mães passando com aquele bebê (...) tipo, que o mosquito
infectado te picando, seu bebê pode vim com essa doença, com problemas, é isso que eu acho que todo mundo ouve,
que vê passando na televisão, que vê aquela luta daquelas mães com os bebês subindo e descendo, mas, na verdade
eu nem entendo muito sabe, de Zika vírus...” ( Júlia, 30 anos, SUS).
Após aproximadamente três anos do início da epidemia do ZIKV no país, é possível perceber
que ainda persistem muitas dúvidas e poucas informações sobre a doença. Resultados semelhantes
também foram encontrados em outros estudos nacionais 20,21 e internacionais 22 ao constatarem
que existe uma fragilidade na compreensão sobre a doença entre mulheres em idade reprodutiva,
limitando-se à forma de transmissão do vírus, em especial pela picada dos mosquitos, e ao risco do
desenvolvimento da microcefalia em recém-nascidos. Apesar de todas as mulheres deste estudo esta-
rem vinculadas aos serviços de saúde para o acompanhamento pré-natal, isso pareceu não repercutir
no nível de conhecimento sobre a doença, o que sugere insuficiências nas orientações fornecidas
por profissionais de saúde sobre o ZIKV e suas consequências. Segundo as mulheres entrevistadas, a
orientação dos profissionais limitou-se à recomendação do uso do repelente:
“Não, não. Só mesmo passar o repelente pra mosquitos de uma maneira geral, só” (Alcione, 28 anos,
setor privado).
“Pra falar a verdade? Não. Assim, a única coisa que eu ouvi foi que eu tinha que usar o repelente pra preve-
nir. Mas... só isso. Eu não ouvi nada além disso...” ( Júlia, 30 anos, SUS).
Em relação à percepção do ZIKV como um problema de saúde, essa é bem difundida entre todas
as gestantes. Apesar de muitas mulheres deste estudo mencionarem que o país não vive mais uma epi-
demia, há a compreensão de que a gestação é um período vulnerável, tendo em vista as consequências
que uma infecção durante esse momento pode acarretar, o que demanda maiores cuidados. Todavia,
para essas mulheres, fora da gestação, a infecção não oferece grandes preocupações:
“...O problema do Zika é porque, é justamente em relação à grávida, não é? Porque as consequências são
muito mais graves, pelo menos isso é o que é passado pela mídia, porque eu não estudei sobre isso, então o que foi
passado pela mídia é que as consequências do Zika são as piores de todos, de todas essas doenças da atualidade,
é, o fato da grávida, da mulher ter um bebê que não vai se desenvolver, né? (...) A única questão que me dá medo
em relação ao Zika é por causa do bebê, a questão da microcefalia e tal, mas assim, se eu não tivesse grávida, eu
não teria medo de pegar Zika...” (Francisca, 33 anos, setor privado).
Os veículos de comunicação em massa desempenharam um papel fundamental em divulgar a epi-
demia do ZIKV e suas consequências sobre o desenvolvimento infantil. Sendo assim, jornais, televisão
e Internet exerceram grande influência sobre a maneira como a população compreendeu esse novo
problema de saúde 3,23, com significativas repercussões sobre mulheres grávidas ou que planejavam
engravidar após esse período. Estudos realizados com mulheres em idade reprodutiva e gestantes
demonstraram que a epidemia do ZIKV teve grande impacto sobre o seu bem-estar psicossocial,
ocasionando sentimentos constantes de medo, angústias e incertezas 14,15.
Nosso estudo corrobora com esses achados, mas sugere que os significados atribuídos ao vírus
podem variar entre mulheres de diferentes estratos sociais, visto que elas também possuem distintos
graus de exposição ao risco de infecção. Embora todas as mulheres deste estudo reconheçam que uma
infecção pelo ZIKV possui graves consequências, com influência sobre o seu bem-estar psicossocial,
gestantes entrevistadas no setor privado de saúde retratam o ZIKV como uma “apreensão” ou “uma
preocupação a mais durante a gravidez”. Algumas até consideram o ZIKV como “um problema que foi
sanado”, dada a redução do número de crianças nascendo com alterações. Em contrapartida, gestantes
entrevistadas no SUS construíram significados sobre o ZIKV como uma “doença muito grave” e que
desenvolve sentimentos de “medo” e “pânico”, fazendo com que elas passem a “gravidez inteira insegura”.
A percepção de maior gravidade associada à epidemia do ZIKV e suas consequências pelas mulhe-
res das camadas populares atendidas no SUS está associada a sua percepção de maior vulnerabilidade
à infecção pelo mosquito por conta das condições socioeconômicas e sobretudo ambientais que elas
enfrentam nos bairros populares, ponto que será aprofundado na próxima seção.
A epidemia do ZIKV no Brasil acometeu milhares de pessoas. No entanto, suas consequências foram
mais acentuadas entre indivíduos de menores condições socioeconômicas 12,24. Neste estudo, gestan-
tes entrevistadas no SUS relataram intensa preocupação com o ambiente em que vivem. Apesar de
desenvolverem ações de cuidado em suas residências, essas são insuficientes, visto que o bairro em
que residem oferece riscos constantes que fogem do controle individual:
“Um risco, eu fico pensando no risco que pode causar... que pode causar não, né? Que ele causa. (...) Princi-
palmente assim, a gente que mora em bairro pequeno, bairro que tem essas dificuldades, né? Sempre tem esses
negócios aí como eu falei, esse risco aí dessa senhora [a senhora que mora na frente da casa dela trabalha
com reciclagem e acumula objetos que contribuem para a proliferação do vetor], aí que eu fico mesmo
pensando, eu nem saio aí, apesar que pra ser mordida não... Mas eu evito o máximo de ficar aí fora. (...) Os vizi-
nhos aqui não ajudam, água empoçada, e assim, a sujeira dela tudo ela bota ali. Então, tudo isso fica exposto, né?
Lixo, rato... Aí eu tenho medo. (...) Não adianta aqui fazer e na rua... Porque, quando é uma coisa que é distante
de você, agora uma coisa perto, é complicado...” (Isadora, 23 anos, SUS).
Por outro lado, gestantes entrevistadas no setor privado de saúde relataram se sentir protegidas
no ambiente que residem. Essas mulheres afirmam que esporadicamente visitam locais com maior
circulação de mosquitos e, por isso, possuem algum grau de exposição ao risco de infecção. Porém,
esses ambientes não fazem parte da sua rotina e podem ser facilmente evitados durante a gestação:
“Não, diariamente não. Final de semana sim, a casa dos meus pais sim. Eles moram em casa, lá eu sei que
tem mosquitos e eu já sei que é um mosquitinho rajadinho, então eu me sinto mais exposta aos finais de semana
quando eu vou pra lá, mas no meu dia a dia, durante a minha semana, é raro, pouquíssimo, porque aqui não
tem, é muito alto e no trabalho também eu nunca percebi” (Ester, 30 anos, setor privado).
A maioria das gestantes entrevistadas no setor privado de saúde deste estudo relataram viver em
altos edifícios onde o acesso do mosquito é menor, o que resulta em uma baixa percepção de risco
ambiental entre essas mulheres.
Dessa maneira, a epidemia do ZIKV evidenciou a influência da estratificação social e do contexto
ambiental na situação de saúde da população. Esse vírus afetou principalmente mulheres que dispõem
de menor condição socioeconômica e possuem piores condições de moradia, abastecimento hídrico
e saneamento básico, o que resulta em altos índices de exposição ao risco e infecção 12,24,25. Em con-
trapartida, o estudo realizado por Marteleto et al. 26 sugere que mulheres com melhores condições
socioeconômicas tendem a se sentir mais protegidas por residir em altos edifícios ou em melhores
regiões da cidade, além de poderem contar com adequadas condições de infraestrutura, achados con-
sonantes com nosso estudo.
A esse respeito, o conceito de vulnerabilidade socioambiental de Spink 27 é importante para
compreender como os riscos sociais e ambientais resultam em impactos especialmente sobre grupos
populacionais mais pobres. Esses residem em locais com piores condições de vida e estão mais sus-
ceptíveis às consequências das alterações ambientais. Nesse sentido, o estudo de Nawrotzki et al. 28
realizado em uma região metropolitana do Brasil, reforça que a precariedade das condições ambien-
tais locais está associada a um aumento da preocupação ambiental em grupos com menores níveis
socioeconômicos. Assim, os contextos social, cultural e ambiental influenciam a maneira como os
indivíduos percebem as situações de risco relacionadas à saúde, bem como os métodos de prevenção
utilizados para lidar com eles 19.
As gestantes deste estudo desenvolveram novos hábitos diários para reduzir o risco de infecção
pelo ZIKV. Dentre as ações, estão a supervisão do domicílio, cuidados corporais para evitar a picada
dos mosquitos e restrição de visitas às áreas de risco, condutas fortemente recomendadas durante
a epidemia. As ações ambientais de controle dos mosquitos foram mais evidentes entre gestantes
entrevistadas no SUS que relataram dedetizar o ambiente e supervisionar os possíveis criadouros de
mosquitos. Essas práticas foram menos constantes entre gestantes entrevistadas no setor privado de
saúde por demonstrarem se sentir mais seguras no ambiente em que vivem.
O uso do repelente para proteção corporal foi uma prática muito adotada entre gestantes, orienta-
da por profissionais da saúde e recomendada por instituições oficiais 2,14,29. Neste estudo, o repelente
passou a fazer parte da rotina diária de muitas mulheres:
“...E eu uso agora o repelente todos os dias, acordou, tomou banho, não é mais hidratante, é repelente. O
cheiro é horrível, eu fico enjoada, todo mundo fala que o cheiro é bom, mas eu não gosto, fico enjoada, mas eu
uso. É meu hidratante” (Rita, 39 anos, SUS).
“E inclui muito também por pressão do meu marido, o uso do repelente, né? (...) Então assim, tem repelente
aqui, tem repelente no carro dele, tem repelente no meu carro, em todos os lugares tem repelente...” (Andréa, 36
anos, setor privado).
No entanto, o uso do repelente não foi uma prática unânime, e algumas mulheres relataram difi-
culdades em usar o produto pelo seu forte cheiro ou por acharem não ser uma prática totalmente
eficiente. Houve ainda relatos de que o uso do repelente seria fundamental apenas nos momentos
iniciais da gestação e que poderia ser dispensado à medida que a gravidez avança, o que contraria
a literatura científica que afirma que a infecção pelo ZIKV, em qualquer período gestacional, pode
causar repercussões sobre o desenvolvimento fetal 5.
A necessidade do uso do repelente foi mais evidente entre gestantes entrevistadas no SUS, prova-
velmente por se sentirem mais expostas ao vetor no ambiente em que vivem. Porém, o acesso a esse
produto nem sempre era facilitado. Gestantes que realizam o pré-natal no SUS têm direito de retirar
o repelente nas USF sem nenhum custo 30. Entretanto, em alguns momentos, esse produto esteve
indisponível, e as gestantes relataram a necessidade de realizar esforços adicionais para adquiri-lo ou
contar com o auxílio financeiro de amigas e até mesmo utilizar outros cremes corporais na tentativa
de evitar as picadas, pois não possuíam condições financeiras para comprar. Em contrapartida, ges-
tantes entrevistadas no setor privado de saúde que utilizavam o repelente diariamente não relatavam
dificuldades para adquiri-lo e afirmavam possuir mais de uma unidade do produto.
Por fim, algumas gestantes também mencionaram que se privam de visitar locais com maior cir-
culação de mosquitos a fim de evitar a exposição ao risco de infecção:
“Ah, sim. Demais. Porque imagine, você tá, assim ó, pelo menos o que eu penso, você tá grávida, você quer
curtir a gravidez... Não que você não tenha que se prevenir, não que você tenha o cuidado, mas tipo, você quer
curtir mais o seu bebê, você quer ir num parque, você quer ir despreocupada, aí de repente você ouve tanta coisa
e você fica com medo, eu no meu caso mesmo, eu ir no parque da cidade? Nem no sonho, porque tem muito mato,
muita coisa, então tipo, você fica com medo, você fica, sabe, apreensiva. (...) É como eu falei, eu acho que até eu
ter o bebê, eu vou ficar nesse pânico, sabia? Até eu saber assim, que meu filho nasceu saudável, perfeito, meu
Deus... Parque da cidade, nem no sonho!...” ( Júlia, 30 anos, SUS).
Dessa maneira, todas essas modificações nos hábitos e rotinas das gestantes têm produzido impac-
tos sobre seu bem-estar psicossocial. Nesse contexto, essas mulheres passaram a ter que administrar
a felicidade de estar grávida com a insegurança e a responsabilidade de gestar após o surgimento do
ZIKV no país, tendo em vista os riscos que esse novo cenário proporciona.
Contribuição dos parceiros para lidar com o risco de infecção pelo ZIKV
As gestantes deste estudo relataram a participação ativa dos parceiros nos cuidados ambientais para
eliminar possíveis focos de proliferação do vetor. No entanto, os cuidados corporais para evitar a
picada dos mosquitos não eram um comportamento habitual entre os homens. A participação dos
parceiros se restringia em lembrar ou cobrar as mulheres quanto ao uso do repelente:
“Ele é super atento com esse negócio de vasilha, lugar com água e tal, ele só não usa o repelente, mas com o
ambiente ele é preocupado...” (Rita, 39 anos, SUS).
“Ele é bem participativo, é, ele é preocupado, ele me lembra do repelente, me lembra da roupa comprida, ele
é atento a isso, se a gente tá em um lugar e ele sente mosquitos, ele já me pergunta ‘trouxe o repelente?’ (...) Meu
marido foi pra o treinamento, nesse processo seletivo que ele passou, que era no mato, eu falei pra ele várias
vezes ‘olha, leva o repelente, tu não pode pegar, leva o repelente, leva o repelente...’, mas ele sabe, mas ele tem
mais cuidado comigo do que com ele, entendeu? Apesar dele saber, mas ele pensa mais em mim, ‘passa repelente,
cuidado com o mosquito’, do que nele...” (Francisca, 33 anos, setor privado).
Resultados semelhantes foram encontrados por Meireles et al. 14 ao demonstrar que os parceiros
exercem intensa cobrança quanto ao uso de repelentes pelas gestantes, mas não há registros neste
estudo de cuidados por parte dos homens para evitar uma infecção. O estímulo para a adoção de
cuidados corporais foi direcionado principalmente às mulheres e fortemente incentivado durante a
epidemia, mas essas recomendações pouco destacavam a importância da participação dos parceiros,
apesar da possibilidade de transmissão sexual do ZIKV 12,31.
A esse respeito, o conhecimento sobre a transmissão sexual do vírus era bem difundido entre
gestantes entrevistadas no setor privado de saúde, entretanto essa informação causou surpresa em
muitas das gestantes entrevistadas no SUS. Nesse sentido, ao serem questionadas sobre a disponibi-
lidade de o parceiro utilizar o preservativo durante a gravidez frente aos riscos da transmissão sexual
do vírus, algumas mulheres mencionaram essa possibilidade apenas em casos de sinais e sintomas ou
diagnóstico de infecção:
“Eu acho que sim, para proteger o bebê, eu acho que a gente faria qualquer coisa. Não só ele como eu tam-
bém. (...) Ele não gosta de usar o preservativo não, vou ser bem sincera com você, mas, no caso, para proteger o
nosso filho, eu acho que sim. Acho, tenho certeza que sim. (...) Acho que só se ele fizesse o exame ou tivesse algum
sintoma, detectasse alguma coisa” (Aurora, 30 anos, SUS).
“Se ele tivesse infectado, sim. Com certeza. Com certeza. Ou outros métodos até suspensão, com certeza, se
precisasse para a nossa segurança e da bebê, com certeza. (...) Em uma prevenção, eu já acho que... Não sei, não
tenho certeza. No caso diagnosticado, certamente” ( Jaqueline, 30 anos, setor privado).
A utilização do preservativo apenas em casos de sintomas evidentes ou diagnóstico clínico se carac-
teriza como um comportamento equivocado, pois grande parte dos casos de infecção pelo ZIKV são
assintomáticos, sendo recomendado o uso de métodos contraceptivos de barreira durante toda a ges-
tação 2,29,32. No entanto, a adoção desse comportamento para mitigar o risco não é uma prática comum
entre os homens. O estudo desenvolvido por Marteleto et al. 26 evidenciou acentuada resistência por
parte dos parceiros quanto ao uso do preservativo e reduzido poder de negociação das mulheres sobre
práticas sexuais mais seguras, em especial entre as de menores estratos socioeconômicos.
A forma como se estruturam as relações de gênero determina a situação de vulnerabilidade impos-
ta a essas mulheres. Essas relações são permeadas por assimetrias de poder e disparidades em esferas
sociais, econômicas e culturais que influenciam a experiência feminina e dificultam a possibilidade de
negociação do preservativo com seus parceiros 33. Na tentativa de reduzir essas desigualdades, uma
gestante desse estudo sugeriu o investimento em ações de prevenção que estimulem a autonomia
feminina. Para ela, a submissão das mulheres a relações sexuais desprotegidas e de risco é uma conse-
quência da dificuldade de acesso a métodos que garantam sua liberdade de escolha:
“Até porque eu acho que hoje em dia os homens têm mais acesso à camisinha masculina do que as mulheres.
Que eu não vejo, se você vai no posto, eu vejo mais entregando camisinha masculina, feminina muito difícil, eu
nunca vi. É tanto que eu nem conhecia, eu vim conhecer deve ter uns três ou quatro anos, foi em um trabalho no
colégio e aí uma colega da gente conseguiu no posto, que eu acho que a tia dela trabalhava lá e aí conseguiu uma
camisinha feminina e aí a gente veio conhecer como é que se usava e tudo mais. Fora isso, eu acho que deveria
ter...as mulheres deveriam ter mais acesso à camisinha feminina porque a maioria das mulheres querem usar, e
o homem não quer usar...” (Tania, 19 anos, SUS).
Estudos demonstram, no entanto, que a simples disponibilização de métodos contraceptivos
femininos não garante sua ampla utilização, tendo em vista as assimetrias de poder existentes entre
os gêneros 34. Assim, para que haja um maior engajamento masculino nas ações de prevenção, é
necessário tornar os parceiros corresponsáveis pela gestação e segurança do desenvolvimento fetal.
A inclusão dos homens no acompanhamento pré-natal é uma importante estratégia para estimular
a paternidade ativa e consciente, pois esse espaço permite disponibilizar orientações e métodos que
diminuam os riscos de infecção e reforçar a importância do envolvimento do parceiro em toda a gra-
videz, parto, puerpério e cuidados com a criança 2.
Nesse sentido, torna-se imprescindível o investimento em políticas públicas que ampliem a dispo-
nibilização de informações e insumos para a prevenção da infecção em gestantes. Além disso, o Estado
deve assegurar o exercício dos diretos reprodutivos a todas as mulheres, preservando sua autonomia e
direito de escolha em casos de suspeita ou confirmação da infecção intrauterina pelo ZIKV, seguida do
desejo, ou não, de interrupção da gravidez. Essa decisão está relacionada com o bem-estar psicossocial
dessas mulheres. No entanto, caso desejem prosseguir com a gravidez, cabe ao Estado prestar total
assistência à mãe e à criança 1,35.
Considerações finais
O presente estudo sugere a existência de variações nos conhecimentos, percepção de risco e estraté-
gias de prevenção desenvolvidas por gestantes após o surgimento do ZIKV no país. Aproximadamente
três anos depois da epidemia, é possível perceber que persistem insuficiências na orientação fornecida
às mulheres durante o pré-natal e no conhecimento dessas mulheres sobre aspectos importantes da
infecção pelo ZIKV. Dada a incerteza sobre novos surtos de ZIKV em cenários futuros 9, seria impor-
tante que os serviços estivessem preparados para disponibilizar informações que respondam adequa-
damente às necessidades da população sobre a doença. Para isso, é necessário fortalecer as ações de
comunicação em saúde e desenvolver programas para a qualificação dos profissionais de saúde.
A situação socioambiental na qual as gestantes estão submetidas foi um fator importante para
a percepção de risco e estratégias de prevenção. Gestantes entrevistadas no SUS demonstraram se
sentir mais vulneráveis ao risco de infecção no ambiente em que vivem do que gestantes entrevistadas
no setor privado de saúde. De maneira geral, esse contexto demandou dessas mulheres novos hábitos
de vida na tentativa de evitar a infecção pelo ZIKV. Apesar de importantes na prevenção da infecção,
as ações dos parceiros se restringiam ao ambiente, desconsiderando os cuidados corporais. Assim, é
imprescindível investir em ações de saúde que incluam os homens como sujeitos igualmente respon-
sáveis pela prevenção da infecção pelo ZIKV.
Uma limitação deste estudo foi o fato de a produção de dados ter ocorrido entre agosto e outubro,
meses que apresentam baixas taxas de infestação pelo A. aegypti, o que pode ter influenciado a percep-
ção de risco das gestantes. Seria importante também a realização de pesquisas incluindo a visão dos
profissionais de saúde sobre as orientações fornecidas às gestantes pelos serviços de saúde sobre o
ZIKV. A consolidação de conhecimentos nessa área poderá fornecer subsídios para o desenvolvimen-
to de políticas públicas visando à capacitação dos profissionais de saúde e à adequada informação da
população para o enfrentamento da doença.
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Abstract Resumen
This study aimed to understand the meanings, Este estudio tuvo como objetivo comprender los
risk perceptions, and strategies to prevent infec- significados, percepción de riesgo y estrategias de
tion with the Zika virus developed by pregnant prevención frente a la infección por el virus Zika,
women with different socioeconomic conditions desarrolladas por gestantes con diferentes condi-
seen at public and private health services in the ciones socioeconómicas, atendidas en servicios de
city of Salvador, Bahia State, Brazil, as well the salud públicos y privados de la ciudad de Salva-
contribution by their male partners in dealing dor, Bahía, Brasil, así como la contribución de sus
with the risk of infection since the emergence of parejas para lidiar con el riesgo de infección tras
this virus in Brazil. A qualitative study was per- el surgimiento de este virus en Brasil. Se realizó
formed with 18 semi-structured interviews, nine un estudio cualitativo, a partir del desarrollo de 18
each with pregnant women seen in the public and entrevistas semiestructuradas, siendo nueve con
private health systems, respectively. The resulting gestantes atendidas en el sector público de salud
data revealed insufficient knowledge in pregnant y nueve con gestantes atendidas en el sector pri-
women concerning important aspects of Zika vi- vado de salud. Los datos producidos demostraron
rus infection. The pregnant women’s socioenvi- insuficiencias en el conocimiento de las gestantes
ronmental situation was an important factor for sobre aspectos importantes de la infección por el
risk perception and preventive strategies. Women virus Zika. La situación socioambiental en la que
interviewed in the public health system felt more las gestantes están sometidas fue un factor impor-
vulnerable to the risk of infection than women tante para la percepción de riesgo y estrategias de
interviewed in the private health system, with a prevención. Gestantes entrevistadas en el sector
major impact on their psychosocial well-being. Ac- público de salud demostraron sentirse más vulne-
cording to the women, their partners placed huge rables frente al riesgo de infección en el ambiente
demands on them to adopt preventive measures, donde viven, que las gestantes entrevistadas en el
but the male partners themselves failed to take the sector privado de salud, con un gran impacto so-
same precautions, e.g., ignoring the risk of sexu- bre su bienestar psicosocial. Según las gestantes,
al transmission of the Zika virus. In conclusion, las parejas ejercieron una intensa presión para
three years since the outbreak reached Brazil, the que adoptaran acciones preventivas sin que, sin
Zika virus still has a major impact on the lives of embargo, tuvieran los mismos cuidados, desconsi-
pregnant women. It is crucial to strengthen health derando el riesgo de transmisión del virus por vía
communications activities to guarantee the avail- sexual. Se concluye que, tras aproximadamente
ability of information on the disease that responds tres años de la epidemia en el país, el virus Zika
adequately to the population’s needs. todavía posee un gran impacto sobre la vida de
las gestantes y es imprescindible fortalecer las ac-
Zika Virus; Pregnancy; Microcephaly; Risk ciones de comunicación en salud para asegurar la
Management; Gender and Health puesta a disposición de información que responda
adecuadamente a las necesidades de la población
sobre la enfermedad.
Recebido em 29/Jul/2019
Versão final reapresentada em 25/Fev/2020
Aprovado em 06/Jul/2020