Tese 17380 Dissertacao Franciele 06.04 Rev Final
Tese 17380 Dissertacao Franciele 06.04 Rev Final
Tese 17380 Dissertacao Franciele 06.04 Rev Final
CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL
VITÓRIA
2023
FRANCIELE RIBEIRO CAVALCANTE
VITÓRIA
2023
AGRADECIMENTOS
Durante a minha jornada enquanto mestranda do PPGEA tive contato com diversas pessoas que
colaboraram de diferentes formas para a conclusão desse mestrado. Desse modo, abaixo
realizarei os devidos agradecimentos.
Aos meus professores orientadores: Prof ª Jane Meri Santos, Prof ª Milena Machado de Melo
e Prof. Valdério Anselmo Reisen. Gostaria de agradecer a paciência e todo o tempo dedicado
nas orientações para o desenvolvimento desse trabalho.
Aos professores do PPGEA, em especial ao Prof. Bruno Furieri por estar sempre à disposição
para sanar minhas dúvidas.
Ao Prof. Paulo Roberto Prezotti Filho, do IFES-Guarapari, pelo suporte na aplicação das
técnicas estatísticas.
À minha família por ser sempre presente e apoiar nas minhas decisões.
Ao meu namorado Leonardo pelo apoio, paciência e compreensão das minhas muitas ausências.
Também, para aqueles que não citei, mas que contribuíram de alguma forma, gostaria de
expressar minha sincera gratidão.
RESUMO
Este estudo tem o objetivo de identificar fatores qualitativos que interferem na percepção e no
incômodo causado por gases odorantes em ambiente urbano industrializado. Pesquisas de
opinião foram realizadas em dois períodos distintos que marcam a sazonalidade das condições
meteorológicas na região de estudo. As análises foram feitas por meio da aplicação do teste
qui-quadrado de homogeneidade, teste qui-quadrado de independência e a regressão logística
multivariada binária. Os resultados revelam que os respondentes se preocupam com a poluição
do ar. Os respondentes percebem diferentes formas de poluição do ar: poluição pela presença
de pó/poeira, perda de visibilidade e presença de odores. Dentre os respondentes incomodados
com odores, observou-se maior prevalência de muito ou extremamente incomodados. As
principais fontes de odores identificadas pelos respondentes foram a indústria siderúrgica e as
estações de tratamento de esgoto. O principal impacto causado na vida cotidiana dos
respondentes foi a necessidade de fechar as janelas para evitar o odor. O teste qui-quadrado
de homogeneidade identificou diferenças significativas nas respostas das duas pesquisas para
as variáveis relacionadas ao perfil dos respondentes, percepção de poluição do ar e percepção
da poluição odorífera. De modo geral, identificou-se as seguintes variáveis explicativas
associadas ao aumento de chances de se sentir altamente incomodado com odores: percepção
de outras formas de poluição do ar, como poeira e perda de visibilidade, gênero, frequência de
percepção de maus cheiros e ocorrência pregressa de problemas respiratórios. Os resultados do
estudo contribuem ao analisar fatores qualitativos que interferem nas reações dos indivíduos
expostos a poluição odorífera e permite que partes interessadas (empresas, órgãos ambientais)
possam planejar e implementar políticas direcionadas a essas particularidades de modo a reduzir
os efeitos na saúde e qualidade de vida da população.
This study aims to identify qualitative factors that interfere with the perception and annoyance
caused by odorous in an industrialized urban environment. Surveys were carried out in two
periods that differ in the seasonality of meteorological conditions in the study region. Analyzes
were performed using the chi-square test for homogeneity, the chi-square test for independence,
and binary multivariate logistic regression. The results show that respondents are concerned
about air pollution. Respondents perceive different forms of air pollution: pollution due to
amount of dust/dust, loss of visibility, and presence of odors. Among respondents who were
annoyed due to odors, there was a higher prevalence of being extremely annoyed. The primary
sources of odors identified by respondents were the steelmaking and sewage treatment plants.
The main impact caused on the respondents' daily lives was to close the windows to avoid the
odor. The chi-square test for homogeneity identified significant differences in the responses of
the two surveys for variables related to the respondents' profile, perception of air pollution, and
perception of odor pollution. The following variables associated with increased chances of
feeling highly annoyed with odors were: perception of other forms of air pollution, such as dust
and loss of visibility, gender, frequency of perception of male odor, and occurrence history of
respiratory problems. This study contributes by identifying qualitative factors that interfere with
the reactions of individuals exposed to odorous pollution and allow interested parties
(companies, environmental agencies) to plan and implement policies aimed at these
particularities to reduce the effects on health and quality of life.
Keywords: Air Pollution, Opinion Survey, Annoyance, Odor, Odorous Gases, Binary
Logistic Regression.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8
2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 12
2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 12
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 12
3 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 13
3.1 METODOS DE AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO ODOR .................................... 13
3.2 LEGISLAÇÃO SOBRE ODORES AO REDOR DO MUNDO ............................... 16
3.3 FATORES RELACIONADOS A PERCEPÇÃO E INCÔMODO CAUSADO
PELOS ODORES ................................................................................................................. 18
3.4 INTENSIDADE OU CONCENTRAÇÃO AMBIENTAL DE GASES
ODORANTES E SEUS IMPACTOS: INCÔMODO E EFEITOS DIRETOS À SAÚDE .. 29
3.5 CONSIDERAÇÕES PRINCIPAIS SOBRE A REVISÃO DA LITERATURA ....... 32
4 METODOLOGIA ........................................................................................................... 34
4.1 CARACTERISTICAS DA REGIÃO DE ESTUDO ................................................. 34
4.2 PERÍODO DE ESTUDO ........................................................................................... 36
4.3 PLANEJAMENTO AMOSTRAL E COLETA DE DADOS .................................... 37
4.4 TÉCNICAS ESTATÍSTICAS ................................................................................... 41
4.4.1 Qui-quadrado de homogeneidade ................................................................... 41
4.4.2 Qui -quadrado de independência .................................................................... 41
4.4.3 Regressão logística binária .............................................................................. 41
5 RESULTADOS ................................................................................................................ 44
5.1 ANÁLISE DESCRITIVA DAS PESQUISAS DE OPINIÃO .................................. 44
5.1.1 Perfil dos respondentes .................................................................................... 44
5.1.2 Aspectos socioambientais ................................................................................. 45
5.1.3 Percepção das fontes potencialmente emissoras e características dos gases
odorantes .......................................................................................................................... 47
5.1.4 Incômodo causado pelos gases odorantes ....................................................... 49
5.1.5 Impactos devidos à percepção do odor ........................................................... 51
5.1.6 Relação entre problemas de saúde pré-existentes e percepção do odor ...... 51
5.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA PERCEPÇÃO DA FONTE EMISSORA DE
GASES ODORANTES E DE SEUS IMPACTOS ............................................................... 52
5.3 ANÁLISES ESTATÍSTICAS.................................................................................... 54
5.3.1 Teste de homogeneidade para as duas pesquisas de opinião ........................ 55
5.3.2 Análise das variáveis qualitativas associadas ao incômodo .......................... 57
5.3.3 Avaliação da acurácia do modelo para predição do incômodo .................... 60
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........... 62
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64
APÊNDICE A – Rosa dos ventos para os anos de 2019 a 2022 .......................................... 71
APÊNDICE B - Questionário da pesquisa face a face ........................................................ 72
8
1 INTRODUÇÃO
Os seres humanos possuem cerca de 10 milhões de receptores olfativos que se comunicam com
o córtex olfativo no cérebro (AIHA, 2013). A interação de espécies químicas voláteis com o
epitélio olfatório nas cavidades nasais pode resultar na sensação de odor, e causar respostas
emocionais e comportamentais que variam em cada indivíduo (STUETZ; FRECHEN, 2001).
Uma das respostas a exposição a poluição odorífera é o incômodo (CONTI et al., 2020).
Lindvall e Radford (1973) definiram incômodo como um sentimento de desagrado que afeta o
bem-estar do indivíduo e gera desconforto. Berglund et al. (1987) relata que o incômodo
ambiental é um conceito complexo que envolve percepções, emoções e atitudes de um
indivíduo em relação à exposição a poluição do ar e aponta o incômodo como um fator
mediador entre a exposição e efeitos na saúde. O incômodo pode ser ainda considerado como
um problema de saúde, definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948 como
“um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças
ou enfermidade” (WHO, 1998).
Outros efeitos de saúde causados pela exposição a poluição odorífera são dores de cabeça,
irritação nos olhos, náuseas, falta de ar, estresse, alterações no humor, agravamento da asma e
bronquite (SCHIFFMAN et al., 2000; SCHIFFMAN; WILLIAMS, 2005; SUCKER et al.,
2010). Existem efeitos mais graves associados a altas concentrações ou exposições por longos
períodos como afetar o sistema imunológico, sistema nervoso e o desenvolvimento de câncer
(PICCARDO et al., 2022).
Métodos de avaliação dos impactos dos odores são apresentados em Conti et al. (2020).
Destacam-se os métodos sensoriais a partir de avaliadores treinados, análises físico-químicas
de amostras odoríferas, modelos matemáticos de simulação da dispersão dos poluentes e
estudos comunitários. Embora reconhecida a importância de quantificar os gases odorantes e
9
Desse modo, a seguir serão apresentados alguns resultados de estudos comunitários realizados
em diferentes países que tiveram como proposta avaliar o impacto do odor na saúde e qualidade
de vida dos residentes (LUGINAAH et al., 2002; PIERRETTE; MOCH, 2009; CLAESON et
al., 2013; ELTARKAWE; MILLER, 2018; WOJNAROWSKA et al., 2020;
WRONISZEWSKA; ZWOŹDZIAK, 2020; ZHANG et al., 2021).
Os estudos de Luginaah et al. (2002), Pierrette e Moch (2009), Claeson et al. (2013),
Wroniszewska e Zwoździak (2020) e Zhang et al. (2021) utilizaram diferentes técnicas
estatísticas para análise dos dados das pesquisas de opinião para identificar fatores associados
ao incômodo e percepção de odores. Luginaah et al. (2002) identificaram que acreditar que a
indústria (refinaria de petróleo) causa problemas de saúde e relato de sintomas de saúde (como
por exemplo tosse, chiado/problemas respiratórios e náuseas) estavam associados ao incômodo
e percepção de odores. Pierrette e Moch (2009) encontraram, a partir do teste de correlação de
Pearson, que o incômodo com odores parece aumentar com a sensibilidade olfativa e diminuir
com o nível de informação que o respondente acredita ter sobre fonte (no caso uma estação de
tratamento de dejetos animais). Claeson et al. (2013) testaram um modelo analítico de caminho
(Path analysis) e concluíram que o nível de exposição não influencia diretamente o incômodo
causado por odores e os sintomas de saúde, e que essas relações são mediadas pela poluição
percebida e pela percepção do risco à saúde. Wroniszewska e Zwoździak (2020) identificaram
que o incômodo com odores estava associado ao que o respondente faz quando os cheiros se
tornam irritantes (por exemplo registrar uma reclamação), autoavaliação da saúde (em que a
descrição da saúde como ruim aumenta a chance do incômodo), e incômodo com outro tipo de
poluição (poluição sonora). Zhang et al. (2021) utilizaram modelos logísticos univariados para
relacionar a concentração de odores (em unidades odorantes) com as respostas de incômodo
10
com odores. As séries temporais das concentrações de odor foram divididas em três períodos:
um ano completo, verão e noite de verão. Os autores mostraram que os resultados do modelo
de regressão podem representar melhor a realidade das comunidades se as respostas de
incômodo obtidas por meio de questionários forem avaliadas separadamente em diferentes
períodos do ano, pois o modelo apresentou melhor desempenho preditivo ao associar as
respostas de incômodo com as séries temporais de concentração de odores do verão, período
que foi relatado maior incômodo.
Luginaah et al. (2002), Axelsson et al. (2013) e Wojnarowska et al. (2020) identificaram o
gênero feminino como o mais sensível para o incômodo com odores. No estudo de
Wojnarowska et al. (2020), em que participaram 1992 respondentes com idades entre 18 a 90
anos, foi identificada correlação negativa entre o incômodo causado pelos odores e a idade do
indivíduo, que indica que quanto maior é a idade, menor é o incômodo sentido. Os estudos de
Pierrette e Moch (2009) e Wroniszewska e Zwoździak (2020) não encontraram diferenças
significativas na estimativa de incômodo em relação a gênero, idade e escolaridade.
Os resultados dos estudos anteriores mostram que a identificação de fatores que interferem nas
respostas de incômodo pode diferir em cada região de estudo. Por esse motivo não é possível
11
Desse modo, o objetivo deste estudo consiste em identificar fatores qualitativos que interferem
na percepção e no incômodo causado por gases odorantes. Este trabalho está organizado em 7
capítulos, conforme sumário apresentado. O capítulo 1 refere-se à introdução, que justifica a
realização deste estudo. O capítulo 2 apresenta os objetivos geral e específicos. O capítulo 3
refere-se a revisão de literatura sobre métodos de avaliação do impacto do odor; a legislação
sobre odores ao redor do mundo; os fatores qualitativos relacionados ao incômodo causado
pelos odores e, finalmente, o incômodo e impactos diretos à saúde associados a diferentes
concentrações ou intensidades dos gases odorantes. O capítulo 4 detalha a metodologia utilizada
para alcance dos objetivos da pesquisa: pesquisa de opinião e técnicas estatísticas para análise
dos dados. O capítulo 5 apresenta os resultados obtidos com as análises das pesquisas de opinião
avaliando os aspectos socioambientais considerados preocupantes pelos respondentes, as
formas de percepção da poluição do ar, a percepção das fontes identificadas como responsáveis
pela emissão dos gases odorantes, as características dos gases odorantes e o incômodo causado,
o impacto nas atividades diárias, a influência da sazonalidade e da distância das principais
fontes percebidas no incômodo reportado e, finalmente, as variáveis qualitativas que
influenciam a percepção do incômodo com a apresentação de um modelo para previsão do
incômodo. O capítulo 6 apresenta as conclusões e sugestões para trabalhos futuros. Por último
são listadas as referências bibliográficas.
12
2 OBJETIVOS
Identificar fatores qualitativos que interferem na percepção e no incômodo causado por gases
odorantes em região urbana industrializada.
3 REVISÃO DA LITERATURA
Conti et al. (2020) realizaram uma revisão de métodos sensoriais, analíticos e modelos de
dispersão para avaliação do impacto causado por gases odorantes, incluindo vantagens e
desvantagens de cada método. Entre as técnicas sensoriais (avaliação feita por examinadores
humanos) foram citadas a olfatometria dinâmica, inspeção de campo e registro de residentes,
enquanto para as metodologias analíticas (avaliação realizado por instrumentos) foram citadas
a cromatografia gasosa associada a espectrometria de massas (CG-EM), identificação de
compostos específicos e nariz eletrônico. Maiores detalhes a respeitos dos métodos
apresentados no estudo de Conti et al. (2020) são apresentados a seguir.
A olfatometria é um método no qual pessoas são treinadas para detectar odores por meio de um
olfatômetro, em que as concentrações são avaliadas em unidades de odor europeias (𝑂𝑈𝐸 ), em
conformidade com o padrão europeu (CEN EN 13725), que é a unidade de medida de
concentração de odores amplamente considerada em legislações ao redor do mundo. Os autores
mencionaram como um ponto positivo da adoção da olfatometria a consideração da percepção
humana. Entretanto, nesse método há possibilidade de subestimação do impacto do odor em
razão da seleção de painelistas que possuem sensibilidade olfativa média a um odorante de
referência, o que diferencia da experiência de uma comunidade, em que são encontradas
sensibilidades olfativas variadas. De forma resumida, a inspeção de campo trata-se de uma
análise de campo para avaliar diretamente a presença ou ausência de um odor no ar. Esse
método é padronizado por uma norma europeia (EN 16841:2016) e assim como na olfatometria,
participam da avaliação painelistas treinados. O método chamado de registros de odores trata-
se do monitoramento de episódios de odores feito por moradores, para isso é necessário recrutar
um grupo de residentes, o que possibilita uma participação ativa dos membros da comunidade
na avaliação do impacto de odores na região por meio do preenchimento de fichas que incluem
informações a respeito do tipo de odor percebido, intensidade, data e duração dos episódios de
odores. Os autores mencionam que esse é um método de baixo custo, apesar de ser necessário
um certo treinamento para instruir os participantes na realização dos registros de odores, e é
vantajoso ao promover o engajamento de residentes expostos aos poluentes. Entretanto os
autores ressaltam que as respostas irão sofrer a influência das características dos respondentes,
que é um ponto também evidenciado por Hayes et al. (2014) em outro estudo de revisão de
métodos de avaliação de impacto de odores. Neste estudo, os fatores que influenciam as
14
variações de reações aos odorantes incluem aspectos demográficos, como idade, ocupação,
gênero e estado civil, além de hábitos, como o tabagismo, e outras variáveis como a percepção
de risco e questões ambientais. Hayes et al. (2014) também mencionam outros métodos de
coleta de dados juntos às comunidades além dos registros de odores, como pesquisas
envolvendo questionários estruturados aplicados a uma amostra estatística representativa da
população impactada por gases odorantes e pesquisas qualitativas, que envolvem entrevistas
feitas com uma pequena parcela de pessoas que residem na comunidade e permite maior
detalhamento das percepções dos indivíduos. Em relação as técnicas analíticas, Conti et al.
(2020) citam que a análise físico-química dos gases odorantes por meio da cromatografia gasosa
associada a espectrometria de massa (CG-EM) permite identificar e quantificar os componentes
químicos odoríferos. Nessa técnica, o CG separa os componentes químicos da amostra e a EM
mede as quantidades de cada um dos componentes. Como vantagem é apontada a precisão dos
dados obtidos, entretanto como desvantagens encontrou-se o alto custo e a falta da análise da
percepção humana do odor, devido a concentração estar abaixo do nível de detecção dos
equipamentos de medição. Por esse motivo, os autores sugeriram, ainda, que a avaliação do
odor seja complementada por um método sensorial. Já a identificação de compostos específicos
utilizada para a análise de gases traçadores de uma fonte específica, em que um único gás, por
exemplo, NH3 ou H2S, é identificado. Entretanto ao considerar um composto químico
individualmente esse método não é satisfatório para avaliar a percepção efetiva do odor. O nariz
eletrônico simula o sistema olfativo humano ao classificar amostras odorantes a partir de
sensores que transmitirão a resposta para computadores. Entretanto, antes da avaliação, o nariz
eletrônico precisa ser treinado para ser capaz de identificar os odores característicos na região
onde será instalado, sendo possível realizar monitoramento contínuo, contanto que o
equipamento seja revisado constantemente. Um dos pontos negativos citados pelos autores em
relação a utilização do nariz eletrônico na avaliação de odores é a falta de regulamentação
específica que padronize o método e a complexidade do instrumento. Por último, os autores
mencionam diferentes abordagens de modelos de dispersão que possuem como objetivo realizar
simulações computacionais do transporte de poluentes na atmosfera a partir da inclusão de
dados meteorológicos, orográficos e taxas de emissão desses poluentes. Como vantagem tem-
se a estimativa dos níveis exposição à gases odorantes por meio da concentração desses gases
calculadas em diferentes pontos receptores, e como desvantagem são citadas as variações que
podem ser encontradas nos resultados a depender do modelo de dispersão escolhido para
utilização.
15
Hayes et al. (2017a) realizaram um estudo que aplicou de forma combinada alguns dos métodos
citados anteriormente. O estudo teve como objetivo avaliar as variações de sensibilidade
olfativa, a fim de representar o impacto percebido por uma comunidade sobre odores
ambientais. A metodologia adotada se dividiu em três etapas. Primeiro, as amostras de odor
foram coletadas em três estações de tratamento de esgoto localizadas em Sydney, na Austrália,
seguindo padrões australianos (AS/NZS 4323.4:2009) e foram analisadas pelo método CG-
EM/O (cromatografia gasosa-espectrometria de massa associada a olfatometria) com a
participação de avaliadores de média e alta sensibilidade olfativa. Na segunda etapa foram
construídas duas rodas de odores, uma roda de processamento de biossólidos e uma roda de
odor comunitária. A roda de odores de processamento de biossólidos foi construída a partir de
descritores evidenciados na literatura e análises de amostras de odor de mais 5 ETEs, com os
mesmos métodos da etapa 1, e o painel foi composto de avaliadores com sensibilidade olfativa
média. Foi adotada linguagem simples e comum para todos os stakeholders, e que facilitasse a
utilização por pessoas não treinadas, como membros da comunidade e operadores das ETEs.
Para implementação foi selecionada uma ETE (com sistema de monitoramento online), e
utilizou-se como critério ela estar localizada em uma região costeira onde recentemente havia
sido construído um conjunto habitacional. Os operadores da referida ETE participaram de
workshops, e nessas ações eles realizaram testes com amostras de odores para que se
familiarizarem com os diferentes cheiros e aprendessem a operar a plataforma desenvolvida.
Membros da comunidade que já tinham históricos de reclamações com odores foram recrutados
para terem acesso a plataforma online. Como resultados são apresentadas diferenças
consideráveis no número de registros de eventos de odor e descritores dos odores entre
participantes de diferentes sensibilidades olfativas. Os autores argumentam que métodos
padronizados de avaliação de impacto de odores que consideram somente a sensibilidade
olfativa média não refletem o impacto dos odores nas comunidades, e que painelistas de
sensibilidade alta deveriam ser incluídos por serem os que mais sofrem os impactos do odor.
Sobre a plataforma online de monitoramento de odores, no período de junho de 2016 a
dezembro de 2016 foram feitos 2 registros por membros da comunidade, sendo um deles
relacionado a ruído e outro a odor, e 19 registros de odor por operadores da ETE. A baixa
participação de membros da comunidade indica que a planta está operando bem o suficiente
para não causar reclamações, pois nesse período também não houve nenhum registro de
reclamação em outros canais. Quantos aos registros realizados pelos operadores da ETE, a
participação efetiva dos funcionários contribuiu no sentido de trazer informações mais refinadas
atreladas aos registros de odores, pois com os conhecimentos técnicos e dos processos
16
realizados, puderam, na maioria das vezes, associar a qual processo específico a origem do odor
poderia ser atribuída. Dessa forma, as ferramentas aplicadas permitiram tornar mais próxima a
relação entre a comunidade e fonte odorífera, com uma plataforma de registro de odores em
tempo real, e que foi simplificada por meio da utilização da roda de odores comunitária.
Brancher et al. (2017) resumiram as principais abordagens para avaliação de impactos de odores
em diferentes jurisdições ao redor do mundo. Entre elas, destaca-se a abordagem de impacto
máximo estipuladas por percentis (nível de conformidade), limites de concentrações de odores
nos receptores, distâncias de separação das fontes e receptores e níveis de incômodo. Os
autores apontaram a abordagem do padrão de impacto máximo com a aplicação de limites de
concentração de odor como a mais comum, sendo utilizada em países como EUA, Alemanha,
China, Japão, Chile, França, Dinamarca, entre outros. Entretanto, Brancher et al. (2017)
ressaltaram que os limites de concentrações de odor, percentis e fatores de razão entre pico e
média da concentração de odor ou de um gás odorante recomendados pelas diferentes
jurisdições são altamente variáveis, e demonstram falta de harmonização. Também é destacado
que as diretrizes para avaliação de impacto de odores não têm como objetivo eliminar a poluição
por odores, mas minimizar os impactos nas comunidades expostas. A abordagem de níveis de
incômodo adotada na Nova Zelândia, inclui a participação da comunidade utilizando pesquisas
de opinião que avaliam o impacto do odor por meio do percentual de pessoas incomodadas em
uma região. Algumas regiões do Brasil utilizam a abordagem de estabelecimento de critérios
de impacto de odor restritos a compostos químicos individuais relacionados ao odor, e não a
mistura de odores em si, o que é também observado em algumas províncias e territórios
canadenses. Relativamente a legislação federal, somente são encontradas referências a gases
odorantes para a emissão gás odorante específico emitido por indústrias de celulose.
Bokowa et al. (2021) também realizaram uma revisão das abordagens regulatórias de odor em
diferentes países ao redor do mundo. Os autores identificaram que as políticas de odores são
altamente variáveis não somente entre os países, mas também entre os estados, cidades ou
províncias. De forma geral, observa-se que existem jurisdições que não possuem nenhuma
referência na legislação ambiental relacionada a odores, outros que possuem padrões somente
para compostos químicos individuais relacionados ao odor (odorantes específicos como por
exemplo amônia e sulfeto de hidrogênio) e países que avaliam odores em aspectos múltiplos,
que contemplam a avaliação dos fatores FIDOL, relacionados a frequência (nível de
17
No mesmo estudo os autores citam que na Europa, os países que constituem a União Europeia
regulamentam os odores pela Diretiva de Emissões Industriais (DEI), que determinam a
utilização das melhores tecnologias disponíveis (MTD) com o objetivo de reduzir as emissões
industriais, e incluem limites de emissão de odores para diferentes setores industriais, tais como
gestão de resíduos, indústria química, mineral e pecuária. Os autores mencionam alguns países
da Europa, que além de seguir os preceitos da DEI, também implementaram políticas
específicas de odor, como por exemplo a Alemanha, França, Itália e Espanha. Os autores
relataram que na Austrália e Nova Zelândia o odor é a principal causa de reclamação de
poluição ambiental. Desse modo, existem critérios de avaliação de odores nesses países, que
comparam resultados de modelos de dispersão com diretrizes específicas do país, sendo
possível determinar se as concentrações máximas permitidas ultrapassaram o nível máximo de
excedência permitido (percentil de conformidade).
afetava sua saúde relataram muito incômodo com o odor. Os homens que também estavam
insatisfeitos com a refinaria na comunidade eram mais propensos a expressar um grande
incômodo. As mulheres que viviam na comunidade por mais tempo também eram mais
propensas a relatar serem altamente irritadas. No geral, os resultados mostram a reavaliação
positiva da refinaria pela comunidade.
Pierrette e Moch (2009) realizaram um estudo na França com o objetivo de definir fatores
ligados ao nível de incômodo olfativo sentido por residentes que vivem próximos a um local
industrial. A região de estudo possui uma estação de tratamento de dejetos animais, que opera
uma planta de beneficiamento e processamento de subprodutos animais e uma planta de abate
sanitário para bovinos, ovinos e caprinos. No mesmo local também está instalada uma estação
de tratamento coletivo de águas residuais industriais. Como métodos foram aplicados
questionários a 199 moradores, que incluía aspectos relacionados a qualidade de vida, diversos
incômodos encontrados no local de moradia, bem como sobre a fábrica e seus odores. Os dados
foram analisados utilizando testes de correlação de pearson, ANOVA e regressão logística para
predição do incômodo. Correlações de pearson foram calculadas entre o nível de incômodo e
as variáveis contínuas que medem as características dos odores (frequência de percepção,
hedonismo, intensidade de periculosidade, imprevisibilidade), bem como fatores individuais
(sensibilidade percebida, nível de informação sobre a fábrica) e contextual (imagem da fábrica).
ANOVAs foram realizadas para as variáveis sexo, idade e tempo de residência. Foram
identificadas correlações significativas positivas do incômodo com as variáveis “frequência de
percepção”, “intensidade dos odores”, “imprevisibilidade do odor”, "periculosidade do odor
para a saúde”, “sensibilidade olfativa”, e negativa com a variável “nível de informação que
sentem ter sobre a fábrica”. O incômodo parece aumentar com a sensibilidade olfativa e
diminuir com o nível de informação que sentem ter sobre a indústria. Nos testes de ANOVA
não foram encontradas diferenças significativas na estimativa de incômodo em relação a
gênero, idade e se reside há mais ou menos tempo em seu local de residência. O modelo de
regressão logística mostra quatro fatores preditivos do incômodo do odor que são: sensibilidade
olfativa percebida, imprevisibilidade e intensidade dos odores e acreditar que a indústria é
poluidora.
Axelsson et al. (2013) estimaram a ocorrência de longo prazo e a mudança potencial ao longo
do tempo do incômodo devido ao odor industrial e ruído industrial e de preocupação com os
efeitos à saúde. O estudo foi realizado em comunidades próximas a maior indústria
petroquímica da Suécia. Três pesquisas de opinião foram realizadas em períodos distintos
20
(1992, 1998 e 2006) na região de interesse e uma área de controle, sem indústrias petroquímicas.
Os questionários postais foram enviados às pessoas selecionadas. Na área de exposição
participaram 764, 855 e 554 respondentes nas pesquisas realizadas em 1992, 1998 e 2006,
respectivamente. Na área de controle participaram 854, 976 e 198 respondentes no mesmo
período. Os autores aplicaram regressão logística múltipla cujos resultados revelaram uma
prevalência significativamente menor de incômodo na primeira pesquisa (1992), enquanto o
incômodo por ruído industrial aumentou significativamente ao longo do tempo. O risco de
incômodo por odor aumentou com o sexo feminino, preocupação com efeitos na saúde,
incômodo por escapamentos de veículos motorizados e ruído industrial. Os empregados da
indústria petroquímica mostraram-se menos preocupados com efeitos à saúde e acidentes,
provavelmente devido a uma atitude mais positiva em relação a esta indústria.
Claeson et al. (2013) realizaram um estudo com o objetivo de descrever as inter-relações entre
poluição do ar odorífera em níveis de exposição não tóxica, poluição percebida, percepção de
risco à saúde, incômodo e sintomas a saúde. O estudo foi realizado em uma comunidade na
Suíça com queixas frequentes de poluição do ar odorífera emitida por uma instalação de
biocombustível. O número de respondentes foi igual a 722. Análises de caminho (Path
Analysis) foram realizadas para testar a validade do modelo hipotético, que é uma forma de
modelagem de equação estrutural para testar e estimar relações causais usando uma combinação
de dados estatísticos e suposições causais qualitativas. Os autores concluem que a poluição
percebida e a percepção do risco à saúde desempenham papéis importantes, e talvez mais do
que o nível de exposição à poluição, na compreensão e previsão de incômodo e sintomas à
saúde em ambientes com poluição do ar.
últimos dois anos. A concentração de amônia foi estimada a partir de dados resultantes de
modelos de emissão-dispersão (modelo de transporte de longo alcance euleriano, DEHM, e o
modelo de deposição de transporte em escala local, OML-DEP). Os dados de emissão foram
obtidos por meio de inventários de emissões dos anos de 2005 a 2010. As associações entre
exposição, incômodo e sintomas foram analisadas por meio de análise de regressão logística
binomial multivariada. Como resultados tem-se que cerca de 45% dos respondentes se sentem
pelo menos um pouco incomodados com a poluição por odores nas suas residências. Todos os
entrevistados indicaram que o odor percebido era odor de resíduos agrícolas ou de gado. A
prevalência de incômodo devido à poluição por odor ambiental foi maior com o aumento das
exposições. Em relação aos sintomas, observou-se uma prevalência ligeiramente maior de
aumento da frequência de tontura, dificuldade de concentração e fadiga não natural entre os
moradores expostos a níveis mais elevados de concentrações de amônia em seus domicílios. A
exposição residencial à concentração de amônia foi significativamente associada ao incômodo
com o odor. O modelo de regressão mostrou que o incômodo com odores estava positivamente
associado ao aumento da frequência de quatro sintomas: tontura, dificuldade de concentração,
dor de cabeça e fadiga.
Hayes et al. (2017b) realizaram um estudo em um munícipio da costa leste da Austrália com o
objetivo de identificar os fatores que predispõem um membro da comunidade a sentir o impacto
do odor. A região de interesse da pesquisa se dividiu em 3 locais com ETEs, um deles com um
considerável histórico de reclamações de odores (mais de 200 reclamações entre os anos de
2004 e 2014), o segundo com um baixo histórico de reclamações (2 reclamações para o mesmo
período) e uma região de controle (sem ETEs e sem reclamações de odor). Foi realizada
pesquisa de opinião para moradores de uma distância máxima de 3 km da ETE, utilizando
amostragem aleatória estratificada. Foram distribuídos 720 questionários e obteve-se um total
de 140 respostas. O questionário contemplou questões relacionadas à saúde, controle percebido,
percepção do impacto do odor e demografia. A análise dos dados se deu, inicialmente, por testes
de qui-quadrado ou ANOVA, que estabeleceram as relações significativas entre a variável
resposta e outros itens do questionário. Considerou-se como variável resposta à pergunta:
“Existem cheiros e odores perceptíveis na sua comunidade que afetam você de alguma
forma?”. Os itens significativamente relacionados ao impacto do odor foram compilados em
um grupo de regressão logística binária. Os autores concluíram que a maior parte dos
respondentes identificaram as ETEs como fonte dos odores percebidos e que os participantes
da pesquisa que relataram uma associação negativa com a ETE tinham mais chances de registrar
22
e sexo). O teste qui-quadrado foi utilizado para explorar as relações entre as variáveis
dependentes e independentes. Um modelo de regressão logística ordinal também foi aplicado
para quantificar as associações entre as variáveis. Análise de Componentes Principais (ACP)
foi aplicada para justificar a seleção das principais perguntas relacionadas ao bem-estar a serem
analisadas, dado que o questionário é composto de 24 questões que poderiam medir diretamente
o bem-estar. Nos testes de qui-quadrado de independência, tanto o odor percebido quanto a
aceitabilidade do odor apresentaram associação com a todas as medidas de sentimento geral
BEA (o participante está feliz em geral e está satisfeito com seu padrão de vida) e uma medida
de sentimento positivo recente +BEH (o participante está satisfeito com a vida atualmente). A
regressão logística ordinal mostrou que os participantes que estavam empregados e as
participantes do sexo feminino apresentaram níveis mais elevados de BES. Em relação a
exposição ao odor, foi verificado que os participantes que relataram que o ar é agradável ou o
odor é altamente aceitável apresentaram níveis mais altos de felicidade geral e satisfação
recente, enquanto os participantes que relataram que o ar tinha odor forte tiveram níveis mais
baixos de satisfação. Em relação a aceitabilidade do odor, participantes que relataram que o
odor era altamente aceitável apresentaram níveis mais altos de bem-estar avaliativo. Como
potencial variáveis de confusão, os autores verificaram que o gênero parece estar associado ao
odor percebido (p = 0,04). Na análise dos dados longitudinais para verificação do impacto da
sazonalidade, foi obtido um baixo número de respostas, em que somente 55 pessoas
responderam ao questionário pelo menos duas vezes. De todo modo, os dados mostraram que
os níveis de satisfação estiveram ligeiramente associados à sazonalidade. As satisfações com
os padrões de vida aumentaram ligeiramente durante o quarto trimestre do ano (outubro a
dezembro).
alemã) com o objetivo de analisar os fatores que constituem a origem do odor desagradável e a
avaliação do grau de incômodo dos residentes. Os questionários foram aplicados a 2.000
respondentes. Para a análise dos dados quantitativos foram feitas comparação dentro de dois
grupos usando o teste U de Mann-Whitney (respostas do gênero masculino e feminino),
correlação analisada por meio do coeficiente de correlação de spearman, análise de
correspondência múltipla (ACM) utilizada para obter um bi-plot apresentando a correlação
entre as variáveis categóricas, e path analysis (análise de caminho) para definir a correlação
entre intensidade do odor, fatores de saúde, conforto de vida e arrependimento decorrente da
necessidade de se mudar. Como resultados da parte qualitativa tem-se que as fontes de emissão
de odores mais citadas foram a estação de tratamento de esgoto, seguida da usina de
compostagem. Segundo relatos dos moradores, os odores desagradáveis ocorrem com maior
frequência à noite e que o maior incômodo de odor é observado no verão, em dias quentes,
antes de uma tempestade. Alguns moradores também sinalizaram que os cheiros são tão
incômodos que os impedem de abrir as janelas e causam problemas para dormir ou permanecer
dormindo. De forma resumida, os resultados da parte quantitativa mostram que quanto mais
intenso e desagradável o odor, menor é a resistência do respondente em se mudar de sua casa
atual. Quanto mais tempo as pessoas vivem na área, menos negativos são seus sentimentos em
relação a odores, o que pode significar que se acostumam com o ambiente em que vivem. Os
odores desagradáveis têm maior impacto nos fatores de saúde, que por sua vez determina a
sensação de conforto de vida. A idade do respondente apresentou correlação positiva com os
fatores “problemas respiratórios” e “acordar à noite”, e correlação negativa com a “irritação e
mau humor”, “incapacidade de abrir a janela”, “pendurar a roupa suja” e “dificuldades de
descanso e recreação”. A correlação positiva indica que quanto maior a faixa etária, mais grave
são esses inconvenientes, enquanto a correlação negativa indica o contrário. Por meio da ACM
verificou-se que fatores psicológicos (irritação) tiveram um impacto mais forte na falta de
conforto e falta de vontade de voltar para casa. Em relação ao conforto da vida, os odores
desagradáveis apresentaram um impacto mais forte na incapacidade de abrir a janela, pendurar
a roupa e constituem um obstáculo à recreação e ao descanso. No que diz respeito aos fatores
de saúde, a intensidade do odor está mais fortemente correlacionada com dores de cabeça,
irritação nos olhos e dificuldades respiratórias. Na Path Analysis foi identificado que a
intensidade do odor tem uma correlação significativa e forte com irritação e resistência em
voltar para casa. Os problemas de saúde também afetam o conforto e a falta de vontade de voltar
para casa.
25
Goshin et al. (2020) analisaram o impacto da poluição do ar por odor na saúde, estado
emocional e qualidade de vida de adultos residentes a diferentes distâncias de fontes industriais
de odor. Foi selecionada para o estudo uma cidade da Rússia com cerca de 50.000 moradores e
que possui diversas fontes de odores, tais como: uma fábrica de café, uma fábrica de farinha de
ossos, uma fábrica de açúcar e um aterro de resíduos sólidos. O estudo com a participação de
214 respondentes residentes na faixa de distância de 1500 m a 5 km das fontes de odores. O
questionário consistia em um cartão de entrevista contendo 46 questões que incluem uma
avaliação abrangente da percepção da situação ambiental, análise dos principais sintomas de
doenças e os resultados da autoavaliação dos entrevistados sobre seu estado de saúde, qualidade
de vida e gravidade do estresse emocional. As entrevistas foram feitas pessoalmente. Foi
aplicado análise de agrupamento utilizando o método de k-médias a fim de identificar
categorias (clusters) de respondentes com características semelhantes em função da avaliação
subjetiva das causas dos problemas de saúde. A pergunta base para essa análise foi a seguinte:
“O que você acha que poderia ser a causa dos seus sintomas? ”. As comparações intergrupos
foram realizadas de acordo com o teste de Mann-Whitney e qui-quadrado. A partir da análise
das respostas dos moradores verificou-se que o grau de incômodo dos moradores pelos odores
diminuiu com o aumento da distância entre as residências e as fontes, apenas 7% dos
entrevistados não estavam preocupados com cheiros externos e mais de 30% dos respondentes
se preocupam com o impacto dos odores na saúde. Como resultado da análise de agrupamento,
foram identificados dois grupos. O primeiro grupo (grupo 1) liga as causas de seus sintomas
com o estado do meio ambiente, incluindo a qualidade da água potável, alimentos, poeira, mas
principalmente com a poluição do ar e a presença de odores estranhos. Outro grupo (grupo 2)
vê as causas dos problemas de saúde principalmente em fatores como estresse cotidiano,
problemas no trabalho, problemas na família e doenças em geral. A proporção de respondentes
do primeiro grupo é de 34,2% da amostra, e do cluster 2 - 65,8% do total de respondentes. Os
representantes da primeira categoria notaram a presença de odores com maior intensidade e
frequência. Diferenças significativas na frequência de várias doenças também foram reveladas
entre os dois grupos: pessoas que estavam preocupadas com o possível impacto da poluição
ambiental na saúde (grupo 1) notaram mais frequentemente a presença de doenças do ouvido,
nariz e garganta, órgãos respiratórios , doenças alérgicas, doenças do aparelho circulatório,
doenças oculares e doenças do sistema endócrino, enquanto o grupo de moradores que associa
mais seus sintomas ao estresse cotidiano, problemas na família e no trabalho (grupo 2) é mais
provável ter doenças do sistema nervoso e dos órgãos digestivos. Entre os dois grupos não
26
odor. Além disso, para as pessoas que estão focadas em tentar resolver o problema de odores
incômodos e para aquelas que descrevem sua saúde como “ruim”, essa chance aumenta duas
vezes. A exposição mais prolongada a odores de baixa intensidade minimiza a chance de
sensação de incômodo, o que pode ocorrer devido ao cheiro se tornar habitual ao indivíduo. O
modelo final não incluiu variáveis como idade, sexo e escolaridade.
Zhang et al. (2021) realizaram um estudo na China com o objetivo de explorar a relação dose-
resposta entre a exposição modelada e o incômodo com odores. O estudo foi realizado na
região de Tianjin, em uma ETE. O odor da ETE foi mensurado utilizando o método do saco de
odor triangular (conforme a regulamentação chinesa) e as concentrações de odor nos receptores
(moradores da comunidade) foram estimados utilizando o modelo de dispersão
CALPUFF. Questionários comunitários foram aplicados em doze regiões urbanas no entorno
da ETE para avaliar o incômodo causado pelo odor. A pesquisa foi realizada pessoalmente em
junho de 2018 e no total participaram 126 respondentes. O questionário foi desenvolvido com
base na norma alemã VDI3883 e estudos anteriores (HAYES et al., 2017b; MIEDEMA; HAM,
1988) e consistia em duas seções principais. A primeira parte incluiu dados sociodemográficos
e a segunda parte se referiu a estressores ambientais, incluindo satisfação do ambiente de vida
e origem da poluição. Em relação aos cheiros desagradáveis de esgoto, as questões incluíam:
grau de intensidade do odor percebido (escala de 6 pontos) e grau de incômodo (escala de 5
pontos). A relação entre a exposição ao odor e o incômodo foi investigado usando modelos
logísticos univariados binomiais. Para que fosse possível comparar os resultados da exposição
com a percepção dos respondentes, a concentração do odor foi ponderada pelos fatores de
confusão: fator de pico à média (transformação da concentração média de 1h para períodos de
tempo menores) e avaliação no questionário do período do ano (estação do ano relacionada) e
do dia que os respondentes se sentem incomodados, para enfatizar os horários que os moradores
são mais sensíveis ao odor. Para os modelos binomiais, as variáveis de desfecho dos graus de
incômodo do odor foram dicotomizadas em dois escores (escore = 0, derivado de “não
incomodado”, “ligeiramente incomodado”; e pontuação = 1, derivado de “moderadamente
incomodado”, “muito incomodado”, e “extremamente irritado”). Os resultados mostraram que
cerca de 40% dos respondentes se incomodam com o odor de esgoto em seus domicílios. O
verão foi a estação em que foi relatado maior incômodo pelo cheiro de esgoto, e o período do
dia de maior incômodo foi o noturno. Todas as variáveis de exposição ao odor foram
positivamente associadas ao incômodo com odor. No geral, a qualidade do ajuste e capacidade
preditiva mostraram que os valores obtidos pelas séries temporais de concentração para os
28
Axelsson et al. Regressão logística múltipla para estimar o O risco de incômodo por odor aumentou com
(2013) risco de incômodo com odores. o sexo feminino, preocupação com efeitos na
saúde, incômodo por escapamentos de
veículos motorizados e ruído industrial.
Claeson et al. Path Analysis para descrever as inter- O nível de exposição não influencia
(2013) relações entre poluição do ar odorífera em diretamente o incômodo e os sintomas, e que
níveis de exposição não tóxica, poluição essas relações são mediadas pela poluição
percebida, percepção de risco à saúde, percebida e pela percepção do risco à saúde.
incômodo e sintomas de saúde.
Blanes-Vidal Regressão logística binária multivariada O incômodo com odor estava positivamente
(2015) para associar a exposição, incômodo e associado ao aumento da frequência de
sintomas. quatro sintomas: tontura, dificuldade de
concentração, dor de cabeça e fadiga não
natural.
Hayes et al. Regressão logística binária para predição do Variáveis explicativas da percepção de que o
(2017b) impacto do odor. odor causa algum impacto: Avaliação do
incômodo com odor, e fatores relacionados a
preocupação com a industrial local e
percepção de ela causa impacto ambiental.
Eltarkawe e Regressão logística ordinal para estabelecer Os participantes que relataram que o ar é
Miller (2018) a relação entre o bem-estar com o odor agradável ou o odor é altamente aceitável
percebido, aceitabilidade do odor e apresentaram níveis mais altos de felicidade
variáveis demográficas. geral e satisfação recente, enquanto os
participantes que relataram que o ar tinha
odor forte tiveram níveis mais baixos de
satisfação.
Wojnarowska et ACM para apresentar a correlação entre as Os odores desagradáveis apresentaram um
al. (2020) variáveis categóricas e Path analysis para impacto mais forte em impactos nas
definir a correlação entre intensidade do atividades cotidianas (fechar janelas,
odor, fatores de saúde, conforto de vida e
29
Zhang et al. Regressão logística univariada binomial Todas as variáveis de exposição ao odor
(2021) para investigar a relação dose-resposta entre foram positivamente associadas ao incômodo
a exposição ao odor e o incômodo. com odor. A qualidade do ajuste e habilidade
preditiva dos modelos mostraram que os
valores obtidos pelas séries temporais de
concentração para os períodos de “verão” e
“noite de verão” tiveram melhor desempenho
preditivo de respostas de incômodo do que
“um ano inteiro”, principalmente por “noite
de verão”.
Sazakli e Leotsinidis (2021) avaliaram o risco de câncer os possíveis efeitos tóxicos ao longo
da vida para a população em geral devido à exposição a emissões de COVs (Compostos
Orgânicos Voláteis). O estudo foi realizado no sudoeste da Grécia, onde há uma unidade
integrada de processamento de animais em conjunto com um matadouro e uma fazenda que cria
mais de 500 bezerros, cordeiros e ovelhas em estruturas protegidas. Ao redor e em um raio de
cerca de 3 km das instalações, existem cinco pequenos povoados, com população variando de
60 a 300 habitantes. As emissões de odor no ar criam desconforto e medo de possíveis efeitos
à saúde e desencadeiam protestos e fortes reclamações dos vizinhos do entorno. Como métodos
foram utilizados: 1 – coleta de nove amostras de ar na fonte e arredores durante um período de
9 meses; 2- Os COVs foram absorvidos em solventes sólidos contendo Tenax TA/Sulficarb por
amostragem ativa e analisados por dessorção térmica-cromatografia gasosa-espectrometria de
31
Piccardo et al (2022) realizaram uma revisão sobre poluentes odoríferos e efeitos na saúde. Os
autores apresentam uma tabela contendo a descrição do caráter de odor e valores de limiar de
odor de diferentes compostos odoríferos que podem ser originários de diferentes fontes,
incluindo resíduos, agricultura e fontes industriais. Entre os compostos de sulfeto, foram
apresentados o sulfeto de hidrogênio que possui cheiro de ovo podre, e o dióxido de enxofre,
que possui odor metálico. Compostos de nitrogênio foram citadas a amônia, com cheiro
pungente/irritante e a dimetilamina que possui odor de peixe podre. Nos compostos aromáticos
foram citados o benzeno e xileno, que possuem cheiro doce, tolueno com odor azedo ou
queimado e etil benzeno que possui odor oleoso (solvente). Os autores discorrem que a
exposição aos compostos voláteis seja por meio das vias respiratórias ou cutâneas podem causar
diversas patologias, incluindo asma, dermatite atópica e danos neurológicos, e que esses efeitos
estão relacionados a concentração e duração dessa exposição, bem como por sua potência
irritante e/ou biotransformação em metabólitos perigosos. Segundo os autores, compostos de
nitrogênio e compostos de sulfeto são os produtos químicos com o menor limiar de odor e com
odor mais incômodo. Por outro lado, os aromáticos e, em particular, os compostos benzenoides
apresentam um limiar de odor mais baixo, mas a sua exposição por inalação representa um claro
risco para a saúde pública devido às suas propriedades mutagênicas e cancerígenas. Para alguns
compostos odorantes, os efeitos a saúde relacionados à exposição são apresentados. Para a
amônia, o limiar de percepção está no intervalo de 0,04 a 60 ppm. A partir de 50 ppm e 2h de
32
exposição, a amônia pode causar irritação imediata nos olhos, nariz e garganta. Acima de 1500
ppm, ela pode causar edema pulmonar, tosse e laringoespasmo, e acima de 2500 pode ser fatal
em um tempo de exposição superior a 30 min. Para o sulfeto de hidrogênio, o limiar varia de
0,024 a 23 ppm. A exposição entre 2 a 5 ppm pode causar, a partir de uma exposição
prolongada, lacrimejamento, dores de cabeça, perda de sono e náuseas, além de constrição
brônquica para pacientes asmáticos. Acima de 20 ppm, ele pode causar fadiga, perda de apetite,
irritabilidade, falta de memória e tontura. Acima de 500 ppm, o sulfeto de hidrogênio pode
causar colapso em 5 min de exposição, e morte no intervalo de 30 minutos a 1 hora de
exposição. Os autores também mencionam efeitos a saúde causados por outros odorantes, como
o benzeno que afeta o sistema imunológico, pois a contagem de linfócitos diminui, e o tolueno
que pode afetar o sistema nervoso. É possível observar que há casos em que os efeitos de
toxicidade antecedem o limiar de percepção de odor. Além dos sintomas de saúde apontados
também existe o problema do incômodo, que é agravado por meio da percepção negativa do
odor e pode também enfatizar queixas de saúde. Os autores enfatizam que os efeitos de
compostos químicos individuais são mais conhecidos do que os efeitos combinados de
diferentes odorantes, e que esforços devem ser feitos para avaliar os impactos dessa mistura
odorante na saúde humana.
4 METODOLOGIA
Segundo dados do INCAPER (2020), o município possui um clima tropical úmido, com
temperaturas médias que podem variar de 30,7° C a 34° C e precipitação média anual que varia
de 900 a 1200 milímetros. A direção dos ventos predominantes na região apresenta
comportamento sazonal, em que no período de outono/inverno há maior frequência de ventos
na direção sul e sudoeste, e na primavera/verão predominam os ventos de direção norte e
nordeste com maiores velocidades (Santos et al., 2017). As rosas dos ventos para as quatro
estações do ano do período de 2019 a 2022 são apresentadas no Apêndice A.
A fonte indústria siderúrgica foram as mais citadas na pesquisa de opinião e, portanto, foi
escolhida como ponto geográfico de referência para delimitação das áreas residenciais
localizadas nas proximidades, também representado na Figura 1. As delimitações das áreas
residenciais contribuíram nas análises dos resultados. A região marcada em vermelho foi
dividida em 3 distâncias da siderurgia. A primeira representa a distância de até 2 km da planta
industrial, a segunda de 2 a 4 km e a terceira acima de 4km. Os bairros do município da Serra
que contemplam a região demarcada são: Balneário de Carapebus, Bicanga, Cidade
Continental, Jardim Limoeiro, Lagoa de Carapebus, Manguinhos, Novo Horizonte, Praia de
Carapebus, São Diogo I, São Diogo II e São Geraldo.
36
As pesquisas de opinião foram realizadas em dois momentos distintos, a primeira entre os dias
1 e 6 de maio de 2019, e a segunda entre os dias 29 de novembro de 2021 e 25 de fevereiro de
2022. A primeira representa o período do outono e a segunda do verão. A segunda pesquisa foi
conduzida após o período de isolamento adotado como medida de prevenção ao contágio e
propagação do vírus SARS-CoV-2, responsável por causar a Covid-19.
As rosas dos ventos mostram as direções e velocidades dos ventos predominantes nos meses
em que foram aplicados os questionários junto às comunidades nas proximidades do complexo
siderúrgico (Figura 2). Os dados utilizados são da estação meteorológica localizada no
Aeroporto de Vitória-ES.
ABRIL/2019 DEZEMBRO/2021
NORTH NORTH
23% 23%
18,4% 18,4%
13,8% 13,8%
9,2% 9,2%
4,6% 4,6%
WIND SPEED
WIND SPEED
(m/s)
(m/s)
>= 11,10
>= 11,10
8,80 - 11,10
8,80 - 11,10
5,70 - 8,80
5,70 - 8,80
NORTH SOUTH 3,60 - 5,70
SOUTH 3,60 - 5,70
2,10 - 3,60
2,10 - 3,60
0,50 - 2,10
0,50 - 2,10
Calms: 0,00%
Calms: 0,55%
MAIO/2019 JANEIRO/2022
15% NORTH
NORTH
18,4% 18,4%
13,8%
9% 13,8%
9,2%
9,2%
4,6%
4,6%
6% WEST EAST
WEST EAST
3% WIND SPEED
WIND SPEED
(m/s)
(m/s)
>= 11,10
>= 11,10 8,80 - 11,10
EAST 8,80 - 11,10 5,70 - 8,80
5,70 - 8,80 SOUTH 3,60 - 5,70
SOUTH 3,60 - 5,70 2,10 - 3,60
2,10 - 3,60 0,50 - 2,10
0,50 - 2,10 Calms: 0,13%
Calms: 1,60%
FEVEREIRO/2022
NORTH
WIND SPEED
23%
(m/s) 18,4%
13,8%
4,6%
8,80 - 11,10 WEST EAST
5,70 - 8,80
WIND SPEED
SOUTH 3,60 - 5,70 (m/s)
>= 11,10
(a) (b)
Figura 2 - Rosa dos ventos dos períodos que foram aplicadas as pesquisas (a) abril a maio 2019
e (b) dezembro 2021 a fevereiro 2022
37
A Figura 3 mostra os histogramas com a frequência das velocidades do vento para o período de
estudo. É possível observar que nos meses de abril e maio de 2019 há maior frequência de
ventos mais fracos de até 3,6 m/s, desfavoráveis a dispersão dos poluentes atmosféricos
(BRANCHER et al., 2020), enquanto nos meses de verão os ventos são mais fortes, com
destaque para a faixa de 5,7 a 8,8 m/s.
40%
Frequência da velocidade do vento
35%
30%
25%
<2,10 m/s
20%
2,1 - 3,6 m/s
15% 3,6 - 5,7 m/s
10% 5,7 - 8,8 m/s
>8,8 m/s
5%
0%
abril - 2019 maio - 2019 dezembro - janeiro - fevereiro -
2021 2022 2022
Meses em que foram realizadas as pesquisas
Total da amostra
−1
(𝑁 − 1) 𝑑 2
𝑛 ≥ 𝑁 [1 + ( ) ] (1)
𝑃(1 − 𝑃) 𝑧𝛼
38
A regressão logística permite que sejam avaliadas as relações entre uma variável dependente
(qualitativa) e uma ou mais variáveis explicativas independentes (qualitativas ou quantitativas)
(HOSMER JR et al., 2013), conforme apresentado na Equação (3). No presente estudo a
variável dependente (ou variável resposta) é o grau de incômodo causado pelo odor, uma
42
𝑒 𝛽0 +𝛽1 𝑋1 +....+𝛽𝑝 𝑋𝑝
𝑃(𝑌 = 1) = 𝜋(𝑿) = (1)
1+𝑒 𝛽0 +𝛽1 𝑋1 +....+𝛽𝑝 𝑋𝑝
Previamente os dados foram tratados a fim de excluir valores faltantes (missing data) que
poderiam interferir nas análises. Além disso, decidiu-se por realizar uma validação das
respostas de incômodo a partir da pergunta sobre percepção de odores (Pergunta 5.3), a fim de
selecionar os respondentes que disseram que percebem odores na comunidade e se sentem
incomodados. Após o tratamento dos dados, o número de respondentes incomodados das
pesquisas de 2019 e 2022 foi igual a 175 e 92, respectivamente.
̂ = exp(𝛽̂ )
𝑂𝑅 (3)
43
Observado Predição
Grau de incômodo
Pouco (0) Muito (1)
Grau de incômodo Pouco (0) VN FP
Muito (1) FN VP
VN=verdadeiros negativos; FN=falsos negativos; FP=falsos positivos; VP=verdadeiros positivos.
44
5 RESULTADOS
% em 2019 % em 2022
Variável (𝒏=505) (𝒏=400)
Gênero
Masculino 47% 48%
Feminino 53% 52%
Faixa etária
16-34 35% 36%
35-54 35% 36%
54+ 29% 28%
NS/NR 2% 0%
Escolaridade
Ensino fundamental incompleto 17% 17%
Ensino fundamental completo 23% 25%
Ensino médio completo 49% 43%
Ensino superior completo 10% 15%
NS/NR 2% 1%
Ocupação
Empregado 39% 31%
Desempregado 7% 13%
Aposentado 16% 14%
Estudante 4% 9%
Autônomo 27% 25%
Dona de casa 8% 8%
NS/NR 0,4% 1%
Fumante
Sim 13% 16%
Nunca fumou 73% 83%
Parou de fumar 12% 0%
NS/NR 1% 1%
45
Dados do IJSN (2022) revelam que na RMGV, onde está localizada a região de interesse desse
estudo, são encontrados os maiores percentuais de crimes por roubo a pessoa do Estado. Em
2020, 83,6% dos roubos a pessoa do Estado ocorreram na RMGV, enquanto em 2019, esse
percentual foi de 82,3%. O município da Serra, em particular, possui maior concentração de
roubos de veículos. Desse modo, a percepção da população relacionada ao problema da falta de
segurança retrata a realidade da região.
Por outro lado, a poluição do ar também ficou em uma posição de destaque por ser o segundo
aspecto negativo mais citado pelos respondentes, mesmo após o período pandêmico. Outros
estudos em regiões impactadas pela poluição do ar mostram que a população identifica a
poluição do ar como um dos principais problemas socioambientais na região
(WRONISZEWSKA; ZWOŹDZIAK, 2020; MACHADO et al., 2022).
50%
45% 43%
Percentual de respondentes
40% 36%
35% 30%
30%
25% 23%
20% 17% 15%
15% 11% 10%
10% 4% 6%
5% 3% 4%
0%
Falta de Falta de Dificuldade Distância do Poluição do ar NS/NR
segurança limpeza e de acesso local de
saneamento trabalho
Aspectos negativos
2019 2022
50% 45,1%
45%
Percentual de respondentes
38,4%
40% 35,4%
35%
30%
24,2%
25%
20% 17,8%
16,3%
15%
8,9%
10%
4,5% 3,8% 4,0%
5% 1,5%
0%
Lixo Poluição do Poluição das Poluição Saneamento NS/NR
ar águas sonora básico
Aspectos mais preocupantes relacionados ao meio ambiente
2019 2022
que 90% dos respondentes se sentiam pelo menos um pouco incomodados pela presença de
poeira, principalmente a quantidade de poeira depositada em suas casas.
100%
90% 13% 15%
Percneutual de respondentes
80%
70% 53% 59% 57% 58%
60%
50%
40% 86% 86%
30%
20% 44% 38% 42% 42%
10%
0%
2019 2022 2019 2022 2019 2022
Poeira Perda de visibilidade Odores
Na Figura 9 são apresentadas as principais fontes responsáveis pelos odores apontadas pelos
participantes das pesquisas. Em 2019 a principal fonte do odor citada foi a siderurgia (40%),
seguida da estação de tratamento de esgoto (37%), indústria química (12%), pelotização (4%),
atividade portuária (3%) postos de gasolina (2%). Enquanto em 2022, a principal fonte do odor
passou a ser a estação de tratamento de esgoto (37%), seguida da siderurgia (30%), indústria
química (11%), pelotização (9%) e postos de gasolina (3%). Na pesquisa realizada em 2022, os
ventos predominam na direção norte-nordeste, o que reduz o impacto da fonte siderurgia, além
de maior frequência de ventos mais fortes, que contribuem para a dispersão dos gases odorantes.
48
Outra diferença identificada em 2022 está no percentual de respondentes que não sabiam ou
não quiseram indicar a fonte (NS/NR), que representou 11% das respostas, ou seja, foi 9%
superior ao da pesquisa anterior.
50%
45% 40%
40% 37% 37%
Percentual de respondentes
35% 30%
30%
25%
20%
15% 12% 11% 11%
9%
10% 4%
5%
3% 2% 3% 2%
0%
Siderurgia Tratamento Indústria Pelotização Atividade Postos NS/NR
de esgoto prod. portuária gasolina
químicos
Fontes de odores
2019 2022
Além do incômodo, a frequência que os odores são sentidos também pode afetar a condição de
saúde do respondente. A relação entre o estado do meio ambiente e a saúde dos indivíduos foi
explorada por Goshin et al. (2020). Os autores identificaram que respondentes que percebiam
odores com frequência relataram sintomas de doenças alérgicas, doenças respiratórias e do
sintoma endócrino.
49
50% 44,5%
45%
Percentual de respondentes
40%
35%
29,1%
30% 24,3%
25%
18,1%
20% 14,6% 15,4%
15% 12,1% 12,6%
6,8% 8,7%
10% 6,6%
3,9% 2,7%
5% 0,5%
0%
Solvente Urina Esgoto Plástico ou Agressivo Outro NS/NR
asfalto
queimado
Característica do odor
2019 2022
100%
8% 12%
90% 18% 9%
Percentual de respondentes
100%
90%
74%
Percentual de respondentes
80%
70% 64%
60%
50%
40% 36%
30% 26%
20%
10%
0%
Sim Não
Incômodo pela presença de odores
2019 2022
100%
Percentual de respondentes
90% 81%
80% 76%
70%
60%
50%
40%
30% 24%
19%
20%
10%
0%
Pouco Muito
Grau de incômodo
2019 2022
Na Tabela 5 são apresentados alguns impactos causados aos moradores na presença de odores
que incomodam. É possível observar que a resposta predominante é a de fechar as janelas, que
corresponde a 53% das respostas na pesquisa de 2019 e 45% em 2022. Diferente de 2019, em
que 18% dos respondentes disseram que o incômodo com odores não afeta a rotina, em 2022 o
percentual para essa mesma opção de resposta foi igual a 42%. Em 2019, a resposta “outros”,
que corresponde a 9%, está relacionada, em sua maioria, a respostas como ligar o ventilador,
limpar a casa e usar produtos de limpeza. Problemas ao abrirem as janelas por causa do mau
cheiro também é o principal inconveniente relatado por residentes no estudo de Wojnarowska
et al. (2020). Nesse estudo, problemas ao abrir as janelas corresponde a 83% das respostas,
seguido de dificuldades para passar o tempo na varanda (76%), atividades de recreação (74%)
e pendurar roupas fora de casa (73%). Machado et al. (2022) também identificaram como
consequências da poluição por poeira na qualidade de vida: manter as janelas fechadas e evitar
frequentar locais públicos.
Luginnah et al. (2002) indicam que há associação entre frequência de sintomas de saúde e a
percepção e/ou incômodo com gases odorantes. Os autores sugerem que a condição de saúde
pode tornar os indivíduos mais sensíveis aos odores. A Figura 14 mostra a relação da ocorrência
de problemas de saúde nos últimos 6 meses de acordo com as respostas dadas pelos
participantes das pesquisas. O principal problema de saúde citado é a rinite, que corresponde a
20% em 2019 e 30% em 2022. Outros problemas de saúde citados foram tosses e espirro,
sinusite, irritação no ouvido ou garganta, falta de ar e pele seca.
52
50%
45%
Percentual de respondentes
38%
40% 35%
35% 30%
30%
25% 20%
20% 14% 16%
15% 13%
10% 8%
10% 4% 5% 4%
5% 2% 1%
0%
Rinite Sinisute Tosse e Irritação na Falta de ar Pele seca NS/NR ou
espirros garganta e não teve
ouvido nenhum
Problemas de saúde problema de
saúde
2019 2022
80% 74%
70% 58%
57%
60%
50% 43% 42%
40%
30% 26%
18% 20%
20% 8%
10%
0%
até 2 km 2-4 km Acima de 4 km até 2 km 2-4 km Acima de 4 km
2019 2022
Distâncias da indústria siderúrgica
Siderurgia Outras fontes
A Figura 16 apresenta os valores médios para a escala de incômodo para cada zona de distância
da siderurgia. É possível observar que o maior valor médio é igual 8,6 na área mais próxima da
siderurgia na primeira pesquisa, e a menor média foi igual a 5 na área mais distante na segunda
pesquisa. Em ambas as pesquisas as maiores médias se encontram nas faixas de distâncias de
“até 2 km” e “2-4 km”, entretanto na última faixa de distância a barra do desvio padrão indica
uma maior variabilidade nas respostas do grau de incômodo. Em conformidade com os achados
da presente pesquisa, nos estudos de Luginnah et al. (2002), Goshin et al. (2020) e Zarra et al.
(2021) foram constados níveis mais altos de incômodo nas proximidades da fonte de odor
(fontes variadas: refinaria de petróleo, fábrica alimentícia, aterro e ETE). Machado et al. (2022)
também encontraram maiores índices de incômodo com a poluição do ar (poeira) próximo às
fontes (pelotização e siderurgia). Por outro lado, Wroniszewska e Zwoździak (2020) não
encontraram diferenças nos graus de incômodo com odores em relação as distâncias da fonte
(ETE).
10
Média da escala de
9
8
incômodo
7
6
5
4
3
2 8,6 8,0 8,1 8,2 7,7 5,0
1
até 2 km 2-4 km Acima de 4 km
Distâncias da siderurgia
2019 2022
A Figura 17 mostra o impacto do odor nas atividades diárias dos respondentes em relação as
distâncias do ponto geográfico de referência. É possível observar uma possível relação entre as
respostas e as faixas de distância da siderurgia. Nas duas primeiras faixas, o impacto de fechar
as janelas é o mais representativo em ambas as pesquisas. Na pesquisa de 2022 a resposta “não
altera a rotina” está presente em maior proporção em todas as faixas de distância,
principalmente na faixa mais distante “Acima de 4km”. Os resultados mostram que poluição
do ar gera inconvenientes a saúde e ao bem estar dos indivíduos, principalmente nas
proximidades das fontes. Resultados semelhantes foram encontrados em Machado et al. (2022),
em que os efeitos da poluição do ar na qualidade de vida relatado pelos respondentes também
variaram com as distâncias de fontes industriais de material particulado.
54
100%
Percentual de respondentes 80%
60%
40%
20%
0%
0-2 km 2-4 km Acima de 4 0-2 km 2-4 km Acima de 4
km km
2019 2022
Distâncias da indústria siderúrgica
Fecha as janelas
Deixa de fazer atividades no quintal ou vizinhança
Outro
Não altera a rotina
Nesta sessão serão apresentados os resultados das análises estatísticas. Vale mencionar que para
o teste de homogeneidade foram consideradas todas as respostas obtidas nas duas pesquisas.
Enquanto no qui-quadrado de independência e regressão logística binária foram selecionadas
somente as respostas dos participantes que relataram que percebem e se sentem incomodados
com o odor. Em atendimento aos pressupostos de tamanho n mínimo necessário para as análises
estatísticos fez-se alguns agrupamentos e ajustes nas variáveis. Lembrando que o incômodo
causado por odores é a variável principal de interesse, portanto a questão sobre grau de
incômodo foi selecionada, pergunta originalmente de escala numérica (1 a 10) que foi
transformada em variável binária. Assim como nos estudos de Rotko et al., (2002) e
Wroniszewska e Zwoździak (2020) que aplicaram a mesma técnica, as respostas da escala de 1
a 6 foram classificadas como “pouco incomodado” e codificadas como 0, e respostas de 7 a 10
representam “muito incomodado” foram codificadas como 1.
Na tabela 6 são apresentadas todas as variáveis, classificadas quanto ao tipo (respostas binárias,
de escala ordinal ou categóricas com mais de 2 opções de respostas) e suas respectivas
codificações. As opções de respostas que foram agrupadas em função do tamanho de 𝑛 ter sido
insuficiente foram as questões 7 e 8. Na questão 7, o agrupamento foi feito em fontes industriais
(siderurgia, pelotização e indústria química) e outras (postos de gasolina e atividades
portuárias). Na questão 8, o agrupamento se deu em função da similaridade e possíveis fontes
dos maus cheiros (1=solvente, plástico ou asfalto queimado e agressivo; 2=urina e esgoto;
3=outros, por exemplo: amônia, enxofre, etc).
55
distribuição das respostas diferiu nas duas pesquisas para: “ocupação”, “fumante” e “se reside
há mais de 2 anos”.
Já Machado et al. (2021) identificaram que a ocupação do indivíduo pode afetar o nível de
incômodo com a poluição do ar, e isso pode variar de acordo com o contexto social, cultural e
econômico no qual as pessoas estão inseridas. De modo geral, o estudo de Machado et al. (2021)
analisou variáveis associadas ao incômodo causado pela poluição do ar (poeira) em duas áreas
urbanas industrializadas (Vitória no Brasil e Dunquerque na França). Os autores identificaram
que aposentados e desempregados residentes na região de Vitória apresentaram níveis mais
altos de incômodo com a poluição do ar, enquanto estudantes e desempregados residentes em
Dunquerque apresentaram pouco ou nenhum incômodo.
Nas questões sobre percepção da poluição do ar as diferenças nas respostas foram significativas
em “A poluição do ar é um aspecto negativo na região”, “Estou preocupado com a poluição do
ar” e “Percebe a poluição do ar pela perda de visibilidade”. No grupo de questões específicas
sobre poluição odorífera as diferenças nas respostas foram significativas nas variáveis
“Incômodo”, “Característica do odor”, “Frequência de cheiro de esgoto” e “Se o odor causa
algum impacto na rotina”. Desse modo, o teste validou as diferenças observadas na seção 5.1,
principalmente relacionado ao incômodo e relatar que o odor causa impacto na rotina, que de
fato foi menor em 2022. Por outro lado, não houve alterações na prevalência de respondentes
que se sentem muito incomodados com os odores.
Na Tabela 8 são apresentadas as variáveis associadas ao incômodo causado por gases odorantes
a partir do teste qui-quadrado de independência. Na primeira pesquisa, as variáveis
significativas foram: percepção da poluição do ar na região pela presença de pó/poeira,
percepção da poluição do ar pela perda de visibilidade/esfumaçamento do ar, gênero feminino
e se o respondente teve algum problema respiratório nos últimos 6 meses. Na segunda pesquisa,
as variáveis que apresentaram associação com o incômodo por odor foram: frequência que sente
cheiro de esgoto dentro de casa, idade e se o respondente teve algum problema respiratório nos
últimos 6 meses.
Os resultados apontam para uma relação entre o incômodo com odores e a percepção de outras
formas de poluição do ar, que são a presença de pó/poeira e perda de visibilidade. Claeson et
al. (2013) também identificaram a percepção da poluição do ar como um fator relevante para o
incômodo com odores.
Algumas fontes industriais de gases odorantes identificadas no presente estudo também foram
avaliadas em relação a poluição por material particulado por Machado et al. (2018). Os autores
identificaram altos níveis de incômodo com a poluição do ar em regiões próximas ao complexo
industrial (pelotização e siderurgia). Esse resultado justifica a associação entre as variáveis
relacionadas a poeira e perda de visibilidade com o incômodo causado pelo odor em 2019. Por
outro lado, na pesquisa de 2022, conduzida após o período pandêmico, não foram encontradas
essas associações. Durante a pandemia, as fontes industriais tiverem suas operações afetadas, e
por consequência, reduziram as emissões de material particulado (VIEIRA et al., 2020;
RUDKE et al. 2021; DO ESPÍRITO SANTO et al., 2022; PINTO et al., 2022), o que pode ter
influenciado os resultados obtidos.
Machado et al. (2021, 2022) também encontraram associações entre gênero feminino e maiores
níveis de incômodo com a poluição por poeira. Os autores fundamentam que por viver em uma
sociedade patriarcal, as mulheres ficam mais tempo em casa e são responsáveis pela limpeza e
retirada da poeira. Para o odor, os impactos podem diferir, entretanto o tempo de permanência
em casa também pode intensificar o incômodo sentido.
A variação na sensibilidade olfativa de acordo com a idade do indivíduo também foi avaliada
por Hummel et al. (2003) e Larsson et al. (2000). Hummel et al. (2003) identificaram que a
sensibilidade olfativa é menor em indivíduos com mais de 35 anos. Enquanto Larsson et al.
(2000). constataram menor capacidade para detecção e identificação de odores em pessoas com
mais de 65 anos. Apesar de faixa etária do respondente apresentar associação com o incômodo
na pesquisa realizada em 2022, o OR não foi significativo. O OR encontrado, inferior a 1,
indica, na verdade, uma relação entre o aumento da faixa etária do indivíduo e redução das
chances de se sentir muito incomodado. Entretanto, esse resultado não foi significativo para a
variável idade, pois essa relação foi encontrada somente para uma faixa etária especifica (maior
proporção de pouco incomodados na faixa etária de 45-54 anos). Relacionado a poeira,
Machado et al. (2021) encontraram associações significativas entre o incômodo com a poluição
do ar e idade do respondente, em que respondentes com mais de 34 anos se sentiam mais
incomodados do que indivíduos mais jovens.
Perceber cheiro de esgoto com frequência está relacionada ao aumento das chances de se sentir
altamente incomodado com odores em 2022. Ao analisar os dados, foi constatado que os
respondentes que reportaram que o cheiro de esgoto era muito frequente relataram maiores
níveis de incômodo do que respondentes que disserem que sentem o cheiro de esgoto às vezes
e raramente. Esse mesmo resultado não foi encontrado em 2019, o que pode ser explicado pela
principal fonte de odores identificada na primeira pesquisa ter sido a siderurgia. Machado et al.
(2022) identificaram que as fontes de emissão percebidas na Grande Vitória estavam associadas
ao incômodo causado pela poluição do ar (material particulado).
60
Na Tabela 10 são apresentados os resultados de predição e acurácia dos modelos por meio de
tabelas de classificação. Ambos os modelos classificaram corretamente as respostas de
incômodo em mais de 90% dos casos.
estimada foi de 87%, com 96% de previsões corretas para a resposta “não” e 56,7% para
respostas “sim”.
62
Este estudo teve como objetivo geral identificar fatores qualitativos que interferem na
percepção e no incômodo causado por gases odorantes em ambiente urbano industrializado.
Pesquisas de opinião foram realizadas em dois períodos distintos que marcam o comportamento
sazonal da direção e velocidade dos ventos predominantes e do índice pluviométrico na região
de estudo. Os participantes da pesquisa foram distribuídos de forma equivalente entre homens
e mulheres, compreendendo todas as faixas etárias acima de 16 anos, em que a maior parte
possui o ensino médio, estão empregados ou são autônomos, e que não possuem o hábito de
fumar.
Esta pesquisa mostrou que a poluição do ar é um problema ambiental relevante na região, e que
é percebida pelos residentes nas formas de poeira, perda de visibilidade e odor. Sobre as
características dos maus cheiros percebidos e com maior frequência, destacam-se os cheiros de
esgoto (ovo podre) e agressivo.
Embora, a distância da fonte influencie a intensidade do incômodo causado por odor, a grande
maioria reporta sentir-se muito ou extremamente incomodado com o odor, o que foi também
constatado pelo teste qui-quadrado de homogeneidade. A principal consequência do incomodo
por odor na vida cotidiana dos respondentes é a necessidade de fechar as janelas.
A partir do modelo de regressão e pelo cálculo do odds ratio OR, a chance de se sentir altamente
incomodado pelo odor é aumentada por todas as outras variáveis qualitativas anteriormente
mencionadas. A qualidade do ajuste dos modelos, avaliada pela acurácia, mostrou que os
modelos foram capazes de classificar corretamente as respostas de muito e pouco incômodo na
maior parte dos casos.
Conclui-se que as pesquisas comunitárias podem ser utilizadas como uma ferramenta de
avaliação de qualidade ambiental percebida e também auxiliar a gestão do impacto da poluição
do ar percebido pela população como forma de implementação de regulamentações pelos
órgãos ambientais bem como o investimento em tecnologias pelas indústrias potencialmente
emissoras.
Para pesquisas futuras sugere-se estudar a relação entre os impactos causados por odores e a
frequência de ocorrência de diferentes problemas de saúde relacionados às propriedades
irritantes do odor.
64
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4. Sobre o meio ambiente, qual opção o(a) Sr.(a) 9.2. Cheiro de urina
considera ser mais preocupante? Nunca Raramente Ás vezes Frequentemente Sempre
1. ( ) Lixo |__________|___________|___________|__________|
2. ( ) Poluição do ar
1 2 3 4 5
3. ( ) Poluição das águas (mar e rios)
4. ( ) Poluição sonora
9.3. Cheiro de esgoto (ovo podre)
5. ( ) Saneamento básico (água e esgoto)
Nunca Raramente Ás vezes Frequentemente Sempre
99. NS/NR
|__________|___________|___________|__________|
5. O(A) Sr. (a) percebe a poluição do ar em sua região por 1 2 3 4 5
alguma dessas situações:
5.1. Depósitos de pó, poeira, partículas, flocos, etc. 9.4. Cheiro de plástico ou asfalto queimado
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 99. ( ) NS/NR Nunca Raramente Ás vezes Frequentemente Sempre
|__________|___________|___________|__________|
5.2. Perda de visibilidade, esfumaçamento do ar. 1 2 3 4 5
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 99. ( ) NS/NR
9.5. Cheiro agressivo (ardente/irritante)
5.3. Presença de odores / mau cheiro. Nunca Raramente Ás vezes Frequentemente Sempre
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 99. ( ) NS/NR |__________|___________|___________|__________|
1 2 3 4 5
6. O(A) Sr. (a) percebe algum tipo de mau cheiro/odor em
sua comunidade vindo do ar externo que o (a) incomoda? 10. O que o(a) Sr. (a) faz quando os odores/mau cheiro te
1. ( ) Sim 2. ( ) Não 99. ( ) NS/SR incomodam dentro de sua casa?
1. ( ) Não deixo as crianças brincarem do lado de fora de
Obs. Se selecionou ‘Não’ à pergunta 6, por favor, pule casa
para a pergunta E1. Caso contrário, continue. 2. ( ) Fecho as janelas
3. ( ) Deixo de fazer atividades sociais fora de casa, como
6.1. Em relação a pergunta anterior, numa escala de 1
a 10, o quanto o (a) Sr. (a) se sente incomodado com churrascos
o mau cheiro/odor? 4. ( ) Não caminho pela vizinhança
5. ( ) Não vou até a padaria
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 6. ( ) Não faço atividades no quintal, como jardinagem
99.NS/NR 7. (. ) Não altero minha rotina. Não deixo de fazer algo.
8. ( ) Outro. _______________
7. O(A) Sr. (a) consegue identificar a fonte do mau
cheiro/odor? E1. Qual a sua ocupação?
1. ( ) Empregado 2. ( ) Desempregado
1. ( ) Postos de gasolina 3. ( ) Aposentado 4. ( ) Estudante
2. ( ) Tratamento de esgoto 5. ( ) Autônomo 6. ( ) Dona de Casa 99. ( ) NS/NR.
3. ( ) Pelotização
4. ( ) Siderurgia
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E6. Nos últimos 6 meses, o(a) Sr.(a) teve algum dos problemas abaixo relacionados:
1. ( ) Rinite
2. ( ) Sinusite
3. ( ) Tosse e espirros
4. ( ) Irritação na Garganta e ouvido
5. ( ) Falta de ar, dificuldade respiratória
6. ( ) Descamação da pele, pele ressecada
7. ( ) Outro (s), Qual(s)___________________
Dados do entrevistado:
Endereço: _________________________________________
Entrevistador: _________________________________________