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Pacto Nacional
pela Alfabetização
na Idade Certa
Currículo na perspectiva da inclusão e
da diversidade: as Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica e o Ciclo de
Alfabetização
Caderno 01
Brasília 2015
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Secretaria de Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional – DAGE
ISBN
CDU
xxxxx
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70.047-900
Tel: (61) 2022-8318 / 2022-8320
CADERNO 1 | Currículo na perspectiva da inclusão e da diversidade:
as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e o Ciclo de
Alfabetização
Coordenação Geral:
Telma Ferraz Leal, Emerson Rolkouski, Ester Calland de Sousa Rosa, Carlos
Roberto Vianna
Organizadores:
Leila Britto de Amorim Lima, Rosane Aparecida Favoreto da Silva, Ester Calland
de Sousa Rosa, Telma Ferraz Leal
Revisora:
Ana Maria Costa de Araujo Lima
07 Iniciando a Conversa
09 Aprofundando o Tema
09. Currículo, Cotidiano Escolar e Conhecimentos em Redes – Carlos Eduardo
Ferraço
75 Compartilhando
75. “Majé Molé: conhecendo o Balé Afro de Peixinhos” – Severina Erika Morais Silva
Guerra
Iniciando a Conversa
7
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Aprofundando o Tema
De fato, o autor nos leva a concluir que, ao associarmos currículo à pista de corrida,
ficamos limitados a uma visão de currículo que o toma como trajetória, curso a ser
realizado, pressupondo etapas, sequências, estágios e comportamentos necessários
de serem garantidos no desenvolvimento das metodologias e conteúdos propostos.
1
Para Morin (1996, p.176), a ambição da complexidade é prestar contas das articulações despedaçadas pelos cortes
entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimentos. Isto é, tudo se entrecruza, se entrelaça
para formar a unidade da complexidade; porém a unidade do ‘complexus’ não destrói a variedade e diversidade das
complexidades que o teceram.
2
Pacheco (2005, p. 29 e 35) pondera que: “O termo currículo foi dicionarizado, pela primeira vez, em 1663, com o sen-
tido de um curso, em especial um curso regular de estudos numa escola ou numa universidade, sentido este que se
impõe no vocabulário educacional [...]. Embora se localize, por vezes, a origem do termo na Antiguidade clássica, o
certo é que a realidade escolar sempre coexistiu com a realidade curricular, principalmente quando a escola se insti-
tucionalizou numa construção cultural com fins socioeconômicos.”
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cade r no 1
Como observa Pacheco (2005, p. 35), “[...] o lexema currículo encerra duas ideias
principais: uma de sequência ordenada, outra de noção de totalidade de estudos”.
Mesmo sabendo que as prescrições oficiais, isto é, os textos escritos das propostas
dos órgãos oficiais constituem elementos importantes do currículo, queremos
problematizar essa visão com a intenção de tirar o foco da ideia de currículo como
documento oficial e colocá-lo na de currículo como conhecimentos em redes
(ALVES et al., 2002), tecidos nos cotidianos das escolas, tendo fios e nós que não se
limitam aos espaços físicos destas, mas se prolongam para além delas, enredando
os diferentes contextos vividos pelos sujeitos praticantes, isto é, por todos aqueles
que vivem e praticam esses cotidianos escolares.
Alves et al. (2002) defendem que, ao participarem da experiência curricular
cotidiana, mesmo que supostamente seguindo materiais curriculares preestabelecidos,
professores e alunos tecem alternativas práticas com os fios que as redes das quais
fazem parte, dentro e fora da escola, lhes fornecem. Sendo assim, podemos dizer que
existem muitos currículos em ação nas escolas, apesar dos diferentes mecanismos
homogeneizadores. Nas palavras dos autores,
infelizmente, boa parte de nossas propostas curriculares tem sido incapaz de incorporar
essas experiências, pretendendo pairar acima da atividade prática diária dos sujeitos que
constituem a escola. Inverter o eixo desse processo significa entender a tessitura curricular
como um processo de fazer aparecer as alternativas construídas cotidianamente e já em
curso (ALVES et al., 2002, p. 34).
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
currículo, incluindo as propostas prescritivas oficiais, entre tantos outros fatores que
são determinantes na tessitura dessas redes.
Macedo (2006, p.98) ajuda-nos nessa defesa ao dizer que, muito embora a distinção
entre “currículo formal” e “currículo vivido” tenha surgido para ampliar o sentido dado
ao currículo, trazendo para ele a cultura vivida na escola, a forma como a articulação
vem sendo feita tem implicações políticas que precisam ser consideradas. Como
problematiza a autora, dentre as consequências estão o fortalecimento da lógica do
currículo como prescrição e o privilégio de uma concepção linear de poder.
Nesse sentido, de acordo com uma abordagem alternativa, Macedo (2006, p.98)
propõe que “o currículo seja pensado como arena de produção cultural, para além
das distinções entre produção e implementação, entre formal e vivido, entre cultura
escolar e cultura da escola”. O argumento da autora, com o qual concordamos, é o
de que “o currículo é um espaço-tempo de fronteira, no qual as questões de poder
precisam ser tratadas de uma perspectiva de poder menos hierárquica e vertical.
Isso implica pensar outra forma de agência, capaz de dar conta de hegemonias
provisórias e da superação da lógica da prescrição nos estudos sobre política
curricular” (op. cit. p.98).
Outro aspecto que consideramos de fundamental importância nessa discussão
tem a ver com o que defende Oliveira (2003), a partir de Santos (1989, 2000, 2004). É
preciso que se assuma a dimensão político-epistemológica dos currículos em redes
tecidos nos cotidianos das escolas, entendendo que justiça global não é possível
sem justiça cognitiva. Segundo a autora,
isso significa que, se desejamos trabalhar por e reconhecer as experiências de emancipação
social, precisamos associá-las à crítica e à possível formulação de novas premissas
epistemológicas que incorporem a validade e a legitimidade de diferentes saberes, práticas
e modos de estar no mundo, superando a hierarquização hoje dominante entre uns e
outros e viabilizando processos interativos entre os diferentes que não os tornem desiguais
(OLIVEIRA, 2003, p. 68).
3
Estética da escrita que aprendemos com Alves et al. (2002), na tentativa de, ao unirmos determinadas palavras,
ampliar seus significados, inventando outros tantos, buscando romper com as marcas que carregamos da ciência
moderna, sobretudo a maneira dicotomizada de analisar a realidade.
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cade r no 1
[Entendo] que os seres humanos, em suas ações e para se comunicarem, estão carregados
de valores que reproduzem, transmitem, mas também criam [...]. Assim, em um mesmo
processo, vão aplicando o que lhes é imposto pela cultura dominante, com os produtos
técnicos colocados à disposição para consumo e, em contrapartida, vão criando modos de
usar e conhecer o invento técnico, fazendo surgir tecnologias e possibilidades de mudanças
tanto dos artefatos técnicos, como das técnicas de uso.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
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O destaque dado no texto do MEC aos princípios educacionais garantidos à
educação formal tem por objetivo fortalecer a ideia de que a escola de Educação
Básica precisa ser assumida como espaço potente e coletivo de inclusão, favorecendo
“o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento entre si
e com as demais pessoas”.
Nesse sentido, essa escola se constituiria como espaço-tempo de diferentes
aprendizagens coletivas, entre as quais a valorização da riqueza das raízes culturais
próprias das diferentes regiões do País que, juntas, formam a Nação, contribuindo,
assim, para a ressignificação e a recriação da cultura herdada e, ainda, “viabilizando
a reconstrução das identidades culturais, aprendendo a valorizar as raízes próprias
das diferentes regiões do País” (BRASIL, 2013, p.25). Toda essa argumentação diz
respeito, sobretudo, aos múltiplos processos de inclusão que precisam ser fomentados
e realizados nos cotidianos dessas escolas.
Cabe, pois, à escola, diante dessa sua natureza, assumir diferentes papéis, no exercício da
sua missão essencial, que é a de construir uma cultura de direitos humanos para preparar
cidadãos plenos. A educação destina-se a múltiplos sujeitos e tem como objetivo a troca
de saberes, a socialização e o confronto do conhecimento, segundo diferentes abordagens,
exercidas por pessoas de diferentes condições físicas, sensoriais, intelectuais e emocionais,
classes sociais, crenças, etnias, gêneros, origens, contextos socioculturais, e da cidade, do
campo e de aldeias. Por isso, é preciso fazer da escola a instituição acolhedora, inclusiva,
pois essa é uma opção ‘transgressora’, porque rompe com a ilusão da homogeneidade e
provoca, quase sempre, uma espécie de crise de identidade institucional (BRASIL, 2013,
p.25).
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digital apenas porque digitam e imprimem textos, têm e-mail, não percebendo que os
estudantes nasceram na era digital.
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imposição de seus significados à sociedade mais ampla. Cultura é, nessa concepção, um
campo contestado de significação.
Alves (2005) também nos ajuda nessa argumentação, ao ponderar sobre a relação
entre questões curriculares e questões da cultura. Para a autora, articular questões
entre currículo e cultura indica a necessidade de se interrogar: há diferenças entre o
que se produz nas escolas como conhecimento e o que é produzido fora dela como tal,
em especial nas ciências? Que possibilidades de interinfluências se colocam entre o
que é desenvolvido pelas escolas e o que é tecido nos espaços/tempos fora dela? No
sentido de buscar respostas, ainda que parciais, para as questões anteriores, Alves
(2005) recorre a Lopes (1999, p. 222-223), para quem
é questionável estabelecer uma hierarquia de saberes e culturas, tanto quanto conceber
uma unidade na pluralidade cultural. Admitir a pluralidade de culturas é admitir não só a
pluralidade e a descontinuidade da razão, mas também admitir a divisão do trabalho na
sociedade de classes. É conceber culturas dominante e dominada como mescla ambígua e
contraditória de repressão e libertação, reprodução e resistência.
Finalizando, por ora, nossa conversa, pensamos ser oportuno trazer a discussão
sobre o que temos chamado de “direito de aprendizagem”. Se estamos entendendo
o currículo como processo que se realiza nos cotidianos escolares e em meio às
multiplicidades das redes de saberesfazares que são tecidas nas relações entre
os sujeitos que lá estão, é preciso suspeitar da ideia de que existem alunos com
dificuldades ou problemas de aprendizagem.
De fato, se estamos assumindo as redes cotidianas de saberesfazeres como
referências das discussões do currículo, então, a questão das dificuldades ou
dos problemas em aprender não pode ser atribuída ao sujeito de forma isolada.
O conhecimento não é, nessa dimensão das redes, uma propriedade ou uma
característica do indivíduo no singular, mas condição de vida, de existência das
relações entre esses indivíduos, sujeitos cotidianos complexos e encarnados
(NAJMANOVICH, 2001). Partindo das discussões de Maturana e Varela (1995),
Assmann (1988, p. 22) observa que
as biociências descobriram que a vida é, basicamente, uma persistência de processos
de aprendizagem. Seres vivos são seres que conseguem manter-se de forma flexível e
adaptativa, a dinâmica de continuar aprendendo. Afirma-se até que processos vitais e
processos de conhecimento são no fundo a mesma coisa.
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
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cade r no 1
Ciclo de Alfabetização e os direitos de aprendizagem
Carolina Figueiredo de Sá
Leila Britto de Amorim Lima
Os resultados do último IDEB4 apontam que, assim como nas edições anteriores,
houve uma superação das metas estabelecidas para o ensino de Língua Portuguesa
nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Por outro lado, a tendência de estagnação
dos índices nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, que não
tiveram suas metas atingidas, provocou muitos debates no cenário educacional.
Diante desse quadro, resolvemos partir aqui dos seguintes questionamentos:
O cumprimento das metas do IDEB para os anos iniciais do Ciclo de Alfabetização
significa que os direitos de aprendizagem das crianças têm sido satisfatoriamente
assegurados? Que desafios se delineiam, a partir desses resultados, para o primeiro
ciclo de escolarização? Com base nessas indagações, pretendemos introduzir
algumas reflexões sobre o Ciclo de Alfabetização e os direitos de aprendizagem das
crianças.
Os resultados do IDEB são calculados com base em dois fatores: o desempenho
nas avaliações de Língua Portuguesa e Matemática5 e as taxas de aprovação,
repetência e evasão escolar. Desse modo, a qualidade educacional das redes,
bem como de cada escola, é estimada não apenas pelas notas dos alunos, mas
também pelos índices de progressão desses ao longo dos anos e ciclos, de maneira
conjugada.
Por exemplo, uma escola ou rede de ensino que apresente resultados elevados
nas avaliações dos estudantes, mas que possua, ao mesmo tempo, índices muito
altos de evasão e/ou reprovação, dificilmente apresentará crescimento da média
final. Por outro lado, é possível que escolas ou redes com resultados estagnados nas
avaliações dos estudantes, mas que tenham aumentado suas taxas de aprovação,
progridam nos índices finais do IDEB.
Chamamos a atenção para as variáveis que compõem esse índice, de forma
que possamos refletir um pouco sobre a primeira questão formulada anteriormente.
Parece contraditório que estejamos superando metas que intencionam aferir a
qualidade da educação básica no país e que, ao mesmo tempo, muitas crianças
ainda estejam chegando ao final de diferentes etapas da escolarização obrigatória
com dificuldades em habilidades básicas de leitura, compreensão e produção de
4
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado pelo INEP/MEC em 2007. O IDEB é um indicador do SAEB,
Sistema de Avaliação da Educação Básica, que é composto, por sua vez, por um conjunto de avaliações externas em
larga escala.
5
Obtidos pelas avaliações da Prova Brasil e SAEB, que são aplicadas ao final do 5.o e 9.o anos do Ensino Fundamental
e ao final do Ensino Médio, respectivamente, a cada dois anos.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
textos6. Sob essa ótica, o crescimento dos índices do IDEB nos anos iniciais do Ensino
Fundamental não necessariamente implica aprendizagem significativa da leitura e
da escrita7. Como vimos, é possível ocorrer o aumento de tais índices mesmo sem
a correspondente aprendizagem, desde que as taxas de aprovação sejam elevadas
consideravelmente. E isso é o que tem acontecido em muitas redes de ensino nos
últimos anos, através da adoção dos ciclos de progressão continuada.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove)
anos (BRASIL, 2010) orientam que os esforços dos sistemas de ensino, escolas e
professores se devem dar no sentido de assegurar o “progresso contínuo dos alunos
no que se refere ao seu desenvolvimento pleno e à aquisição de aprendizagens
significativas” (Idem, Ibidem, p.8), evitando que suas trajetórias escolares sejam
retardadas ou indevidamente interrompidas. O referido documento adverte,
entretanto, ser preciso:
[...] adotar as providências necessárias para que a operacionalização do princípio de
continuidade não seja traduzida como “promoção automática” de alunos de um ano,
série ou ciclo para o seguinte, e para que o combate à repetência não se transforme em
descompromisso com o ensino e a aprendizagem (BRASIL, 2010, p.8).
Se, por um lado, a implantação dos ciclos nos primeiros anos do Ensino
Fundamental contrapõe, de modo geral, a lógica da seriação e do modelo escolar
clássico (FREITAS, 2003), por outro lado, a quantidade de crianças e pré-adolescentes
que têm concluído o Ensino Fundamental sem conseguir fazer uso efetivo da escrita
e da leitura em diferentes contextos sociais instiga o debate no cenário educacional
atual sobre a efetiva implantação dos ciclos e suas relações com os direitos de
aprendizagem das crianças. A ênfase na denominação dos anos iniciais como Ciclo
de Alfabetização sinaliza, a nosso ver, dois aspectos: a centralidade na tarefa de
alfabetizar todas as crianças no primeiro ciclo (BRASIL, 2012a) e a existência de
uma demanda (por direitos) ainda não resolvida a contento.
No que tange a alguns desafios dos ciclos e das práticas de professores nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, organizamos as reflexões em três subtópicos.
Inicialmente, enfocaremos princípios e fundamentos da organização escolar em
ciclos, problematizando alguns condicionantes para sua efetiva implantação. Em
seguida, faremos uma reflexão sobre os Direitos de Aprendizagem no Ciclo de
Alfabetização e, por fim, discutiremos sobre o princípio da interdisciplinaridade
para a organização da prática docente, o qual destaca algumas possibilidades de
integração curricular.
6
Por exemplo, dados do Censo 2010 indicam que 15,2% das crianças brasileiras não sabem ler nem escrever aos 8
anos. Na região Norte, o índice chega a 27,3%, e, no Nordeste, a 25,4%.
7
A partir dos resultados da ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização), instrumento construído no âmbito do Pacto
Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, poder-se-á ter uma ideia mais precisa das aprendizagens em Língua
Portuguesa ao final desse ciclo.
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cade r no 1
Ciclo de Formação: exclusão x inclusão nas escolas e redes de ensino
A organização escolar por ciclos surge em contraposição ao sistema de seriação
que, grosso modo, baseava-se na estruturação rígida de uma sequência de conteúdos,
distribuídos ao longo do tempo, em blocos estanques e cumulativos. O pressuposto da
homogeneidade de ritmos de aprendizagem no sistema seriado implicou formas de
avaliação que culpabilizavam individualmente o sujeito (ou seu meio social), por sua
suposta “falta de cultura” ou por “patologias” que tornariam determinadas pessoas
menos capazes de aprender (BRASIL, 2012b). Nesse sentido, a eliminação daqueles
considerados “não aptos” a passarem para a série seguinte era naturalizada como de
responsabilidade exclusiva do aprendiz. A avaliação como instrumento de punição
e controle na escola legitimava relações de poder que conferiam pouca ou nenhuma
autonomia aos estudantes no processo de aprendizagem. Assim, a finalidade do
processo avaliativo não consistia no (re)direcionamento da prática docente e/ou da
proposta curricular.
Por outro lado, a organização das redes de ensino por “ciclos de aprendizagem”
ou “ciclos de formação”, embora com algumas diferenças entre si, baseia-se em
outros pressupostos teórico-epistemológicos e metodológicos. De modo geral, a
partir de uma crítica à fragmentação e artificialização dos conhecimentos no modelo
escolar seriado, os ciclos concebem que os fenômenos sociais, naturais, biológicos,
etc. devam ser estudados integrando diferentes saberes e áreas do conhecimento.
Assim, a interdisciplinaridade é defendida como uma estratégia de organização do
ensino que favorece a “contextualização [curricular] e aproxima o processo educativo
das experiências dos alunos” (BRASIL, 2010, art. 24.o , parágrafo 2.o , p.07).
O debate sobre ciclos problematiza questões como a inclusão da diversidade de
culturas na escola e da heterogeneidade de conhecimentos dos sujeitos, a participação
da família e da comunidade nas definições escolares, a garantia da permanência
dos alunos com maiores dificuldades específicas na escola e o atendimento às suas
necessidades, avaliação contínua, diagnóstica e formativa, dentre outras, no intuito
tanto de atender aos aspectos da aprendizagem individual das crianças, como de
estar em correspondência com os sujeitos e os processos coletivos em que elas estão
inseridas.
A adoção dos ciclos implica, portanto, o repensar dos espaços e tempos
pedagógicos, tanto nas escolas localizadas no campo como nas escolas de zonas
urbanas, sejam elas centrais ou periféricas. Um importante tempo-espaço a ser (re)
organizado nas escolas e redes que se estruturam em ciclos diz respeito às estratégias
de acompanhamento das crianças e jovens com níveis distintos de conhecimentos,
de modo a assegurar-lhes o direito a aprendizagens significativas. O pressuposto
do trabalho coletivo na escola, incluindo a inserção da/na comunidade em que a
escola está inserida, exige momentos especialmente dedicados aos encontros
entre professores, equipe pedagógica, pais de alunos e membros da comunidade. O
desafio dessa nova forma de organização curricular, que integra distintos saberes e
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básica e o ciclo de alfabetização
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cade r no 1
professores e da comunidade. O fato de as políticas que implantaram os ciclos
em diferentes lugares se terem dado, em muitos casos, sem a participação das
comunidades e famílias, dos professores, estudantes e funcionários das escolas,
gerou uma série de contradições e dificuldades em sua efetivação8. Poucos parecem
ter sido os casos em que a adesão da escola aos ciclos foi voluntária, o que contraria
princípios democráticos como os de mobilização, definição coletiva e participação
social das propostas de ciclo.
Desse modo, a concepção de ciclo relaciona-se estreitamente à luta contra a
exclusão escolar. Sua efetivação, porém, só pode ocorrer, a nosso ver, se articulada
às mobilizações em defesa dos direitos educacionais e sociais das classes populares,
à luta pela valorização do magistério e melhores condições salariais e de trabalho,
à organização estudantil nas escolas, à construção de coletivos pedagógicos
comprometidos e integrados às comunidades, à construção de currículos
contextualizados e com definições claras de objetivos e perfis dos estudantes por
ano/ciclo, dentre várias outras questões. Nesse sentido, concordamos com Freitas
(2002), quando afirma que
os ciclos devem ser mecanismos de resistência à lógica seriada. Mas devem ser vistos
como oportunidade para se elevar a conscientização e a atuação dos professores, alunos e
pais, retirando-os do senso comum e revelando as reais travas para o desenvolvimento da
escola e da sociedade e não apenas serem vistos como uma “solução” técnico-pedagógica
para a repetência. (FREITAS, 2002, p.15)
8
Ver, por exemplo, o estudo de caso realizado na cidade de São Paulo, por Cunha (2009).
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
aprofundar suas práticas de letramento” (BRASIL, 2012a, p.07). Para isso, o currículo
deve abarcar “a compreensão e a produção de textos orais e escritos relativos a
temáticas variadas” (Idem, Ibidem, p.07) e de diferentes gêneros de circulação
social, integrando os componentes curriculares e saberes diversos das crianças e de
suas comunidades de referência.
Na perspectiva do PNAIC, a inserção das crianças em situações desafiadoras
e contextualizadas para o efetivo uso da linguagem escrita não pode prescindir
da compreensão, por elas, dos princípios do sistema de escrita alfabética (SEA).
Ao contrário, a autonomia na leitura e na escrita é tida como condição necessária
à ampliação de suas práticas de letramento e ao aprofundamento de seus
conhecimentos nas diversas áreas. Nesse sentido, o documento citado acentua
que “é prioritário o trabalho que garanta o domínio do sistema de escrita, de modo
articulado ao domínio de habilidades de compreensão e de produção de textos orais
e escritos”, nesse ciclo (Idem, Ibidem, p.20).
Para a concretização dessa prioridade, além do conjunto de desafios debatidos
anteriormente, consideramos necessária a clareza de objetivos e metas A respeito da
curriculares, para cada ano do ciclo, como instrumento de suporte à organização garantia desses
direitos às crianças
didática dos professores. A definição dos Direitos de Aprendizagem no primeiro com deficiência
e necessidades
ciclo, particularmente nos eixos de trabalho de Língua Portuguesa, é enfatizada específicas, ver
texto 5, que aborda
por Morais (2014) como uma das contribuições do PNAIC para o enfrentamento exemplo de trabalho
pedagógico inclusivo
do analfabetismo nas escolas brasileiras. e significativo.
23
cade r no 1
quanto para seu prosseguimento nos estudos, poderíamos perguntar: Como abordar
as diferentes áreas de conhecimento pensando na qualificação do ensino e na
alfabetização das crianças na perspectiva do letramento?
No sentido de
favorecer tal
Pensar na relação entre os conhecimentos, identificando as divergências e
integração de convergências entre eles, não é tarefa fácil. Como possibilidade de articulação
forma articulada
às experiências metodológica para a construção dos conhecimentos, destacamos que o trabalho
das crianças de
diferentes faixas com a leitura, por exemplo, pode configurar-se como um eixo integrador na
etárias e contextos
socioculturais, o tentativa de fortalecer a interação entre saberes diferentes.
PNAIC, desde sua
edição em 2013, tem
valorizado o trabalho Ao problematizar a escolha de conteúdos e metodologias, considerando a
com projetos e
sequências didáticas
inclusão das crianças de seis anos no Ensino Fundamental, Corsino (2007) chama
no âmbito do Ciclo
de Alfabetização
a atenção para a importância de se estabelecer diálogo entre as diversas áreas
(BRASIL, 2012b). de conhecimento como forma de não só garantir a ampliação da escolaridade,
mas, principalmente, ofertar o acesso aos conhecimentos que fazem parte de uma
construção sócio-histórica.
Nessa direção, a sequência didática desenvolvida pelas professoras Maria
Josivânia Galdino de Moura e Adeilma Miguel de Souza, da Escola Municipal Avelino
Alves, de Lagoa dos Gatos/PE, propiciou momentos significativos de integração e
aprendizagem para as crianças. Localizada numa comunidade rural e quilombola, a
escola funciona em dois turnos com uma turma multisseriada em cada turno (uma
que abrange da Educação Infantil ao 2.o ano do Ensino Fundamental, e a outra que
vai do 3.o ao 5.o ano).
A sequência didática da “Semana da Consciência Negra”, realizada no âmbito
do PNAIC/2013, teve por objetivo geral trabalhar a temática racial e a cultura
afro-brasileira. As atividades envolveram diferentes áreas do conhecimento, como
Geografia, História, Ciências e Língua Portuguesa, além de trabalhar com diferentes
linguagens através do teatro de fantoches, vídeos sobre o tema, leitura de livros
literários e apresentação musical de capoeira e mazurca (dança típica tradicional)
para a comunidade.
Ao tratar sobre o preconceito racial, especialmente numa comunidade
quilombola, a retomada e a valorização das raízes socioculturais das crianças foram
privilegiadas. Segundo as professoras, as crianças realizaram “pesquisas sobre os
lugares em que os escravos se refugiavam e achavam mais apropriados para formarem
os quilombos”, privilegiando os quilombos que se formaram naquela região, além
de pesquisarem sobre a culinária africana, as danças e os instrumentos musicais de
manifestações culturais de populações afrodescendentes.
Esse trabalho abordou aspectos relevantes voltados para “o desenvolvimento da
reflexão crítica sobre os grupos humanos, suas relações, suas histórias, suas formas
de se organizar, de resolver problemas e de viver em diferentes épocas e locais”
(CORSINO, 2007, p.60).
Ao discutirem a respeito do Quilombo dos Palmares e o localizarem em mapas e
no globo terrestre – o que ampliou os conhecimentos dos alunos sobre a história e as
24
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
25
cade r no 1
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
números e quantidades de objetos quando esses forem significativos para [ela], operando
com quantidades e registrando as situações-problema (inicialmente de forma espontânea
e, posteriormente, usando a linguagem matemática).
Tal discussão não está distante do que muitos professores realizam em sala O caderno 3, no texto
sobre “Os diferentes
de aula e do que foi discutido na formação do Pacto Nacional pela Alfabetização enfoques no Ensino
de número”, faz
na Idade Certa, em 2014, ocasião em que foram abordadas não só questões uma discussão
sobre o ensino da
conceituais da área de Matemática, mas reflexões metodológicas e de conteúdos, Matemática, com
foco no papel do
que podem ser estendidas às práticas de ensino como um todo. Dentre elas, aluno e professor,
destacando as
destacamos a concepção acerca do ensino linear e mecânico da matemática perspectivas:
tradicional,
que, tradicionalmente, estava voltada tão somente à gradação de definições e à empírico-ativista
e alfabetização
prática de exercícios que priorizavam a repetição e memorização dos conteúdos matemática na
perspectiva do
matemáticos. numeramento.
Considerações finais
O debate sobre os diferentes objetivos para as áreas do currículo no Ciclo de
Alfabetização, na perspectiva de oportunizar ampliação de conhecimentos e práticas
culturais, nos instiga a problematizar uma dupla exigência: de um lado, a necessidade
de integrar vários saberes para compreensão da realidade e ampliação da inserção
nos mais diversos espaços da sociedade; de outro, a importância de aprofundar o
conhecimento nas áreas específicas, sem recorrer a modelos estanques e uniformes.
Para pensar sobre como trabalhar com saberes de forma mais diversificada e
articulada, concordamos com Arroyo (2006), quando nos alerta que é preciso repensar
27
cade r no 1
e reinventar um currículo a partir das sensibilidades para com os educandos e na
concepção de sujeitos de direito ao conhecimento. Sendo assim, precisamos provocar
a discussão sobre as concepções mercantilizadas do currículo, do conhecimento e
dos sujeitos do processo educativo.
Por fim, integrar os saberes e conhecimentos de forma a atender às expectativas
e especificidades das crianças no Ciclo se articula a uma visão ampla, que
considera os diferentes tempos e espaços de aprendizagem. Trata-se de valorizar as
experiências e os conhecimentos das crianças sobre si e sobre o mundo, no processo
de elaboração das habilidades, saberes e reflexões a serem contemplados na sala
de aula, como Direitos de Aprendizagem, que não podem mais ser negligenciados
pelos sistemas, pelas redes de ensino e pelas escolas.
Referências
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damental de nove anos orientações para a ção e Linguagem. Olinda: mar/ 2014.
28
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
29
cade r no 1
Para avaliar o sistema de ensino, esse Programa faz menção aos mecanismos
já conhecidos: O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e a Prova
Brasil, e aos elaborados pelos próprios estados brasileiros. Esses mecanismos de
avaliação dão visibilidade aos aspectos macros, os quais possibilitam orientar
políticas públicas na área de educação.
Em relação à avaliação do currículo, o Programa destaca a necessidade, em
primeiro lugar, de discutir o que está presente nos documentos oficiais, ou seja, a
lacuna que há entre o currículo pretendido e o vivenciado nas escolas. Em segundo
lugar, enfatiza a importância da avaliação do currículo, para que seja realizada pelos
vários sujeitos que participam do processo educativo no espaço escolar: equipes
pedagógicas das Secretarias e das escolas, professores, os próprios estudantes e a
comunidade a que a escola pertence.
É importante que a escola seja também avaliada. E, nesse sentido, são
enfatizados dois aspectos: primeiro, a organização interna da unidade educacional;
segundo, o monitoramento das ações. Em relação ao primeiro aspecto, destaca-se a
unidade educacional. A escola é uma unidade composta por diretores, professores,
especialistas, pedagogos, merendeiros, todos integrados por um objetivo comum:
construir um espaço de aprendizagem. Assim, todos são responsáveis pela escola.
Por isso, a sala de aula não deve ser um ambiente de responsabilidade apenas
do professor, mas de todos. A disposição das cadeiras, o cantinho da leitura, os
espaços dos jogos, o apoio dos especialistas, as diretrizes pedagógicas, tudo deve
ser discutido e avaliado coletivamente.
Em relação ao segundo, são priorizadas as avaliações sobre as reais necessidades
dos aprendizes, especificamente daqueles que não consolidaram os conhecimentos,
capacidades e habilidades previstos para uma determinada etapa de escolarização.
Lembramos a necessidade da elaboração de um parecer, de um registro pelo professor,
sobre seus alunos, contendo suas potencialidades e avanços, para que o professor
do ano seguinte possa ter uma base para desenvolver seu trabalho. Esse mecanismo
mostra uma integração entre as etapas escolares e aponta para que o professor do
ano seguinte já pense nas estratégias pedagógicas para acolher essa nova demanda.
Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico pode encaminhar propostas concretas
como a do registro para a potencialização da aprendizagem dos aprendizes.
Outro ponto essencial é a avaliação do docente, de sua didática e de seu
relacionamento com os alunos. Muitos detalhes às vezes escapam; por isso, saber
escutar os alunos para discernir o que pode motivá-los é fundamental para o professor
redefinir suas estratégias de ensino.
E, finalmente, há a avaliação da aprendizagem dos alunos, que perpassa
todas essas outras avaliações. Para tanto, é essencial que sejam planejadas boas
estratégias para avaliar os alunos, como também boas intervenções, para que eles
avancem no seu processo de aprendizagem. O Programa recomenda duas ações
importantíssimas: 1) estabelecer o que as crianças precisam aprender em um
30
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
inclusão, que surge como um desafio para garantir o direito de alfabetização PNAIC 2012.
plena aos alunos até o 3.o ano do Ciclo de Alfabetização. Nessa perspectiva, a
avaliação é considerada como um processo inclusivo e fundamental para a lógica
do ciclo, que apresenta uma proposta de maior flexibilidade com o tempo e mais
continuidade do processo de ensino e aprendizagem da alfabetização.
Para ilustrar como tais princípios podem ser concretizados nas práticas
avaliativas, esboçaremos a apresentação de uma proposta de avaliação. Escolhemos,
para tal, tratar da avaliação do texto escrito, que tem sido uma dificuldade no campo
da avaliação.
Avaliando a escrita
No sentido de ver a avaliação como um meio para garantir o direito à alfabetização
até o 3.o ano, trazemos uma proposta de avaliação apresentada por Bezerra e
Reinaldo9 (2014) e trabalhada na formação em linguagem do PNAIC Paraíba no
ano de 2014. Essa proposta encontra-se no texto “Avaliando a escrita e trabalhando
com a escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental”. No texto, com foco na
reescrita de gêneros textuais na escola, uma das lacunas do ensino na atualidade,
são discutidos elementos avaliativos, em torno de uma produção textual do gênero
convite, escrito por um aluno do 3.o ano, de uma escola pública de João Pessoa. As
autoras chamam a atenção para a necessidade de
um encaminhamento adequado de escrita situada de texto, envolvendo três instâncias
de operação da linguagem: a construção da base de orientação, o gerenciamento textual
e a textualização (SCHNEUWLY, 2004; MARCUSCHI, 2008 e LEAL, 2006). A base de
orientação corresponde ao conjunto de procedimentos que guia o produtor no processo
de gerenciamento textual. Esse gerenciamento remete ao planejamento global do texto,
momento em que o produtor toma decisões relativas a: a) o que será dito, resgatando da
memória e selecionando seus conhecimentos sobre o tema; b) qual modelo textual escrito
será adotado na situação, mobilizando conhecimentos sobre a estrutura geral do texto
e sobre as estratégias mais adequadas para o seu objetivo. Essas operações envolvem
também as decisões mais gerais do produtor sobre a organização sequencial do texto,
que podem ser alteradas no decorrer da atividade, a textualização, que envolve a tessitura
do texto e a escrita das unidades linguísticas, em vista do que está sendo planejado.
Nesse percurso, o processo de escrita se caracteriza pela recursividade das ações nele
implicadas: o planejamento do que será dito, a escrita da sequência linguística em função
9
As referidas autoras são professoras da UFCG e compõem a equipe de formadores de Linguagem do PNAIC Paraíba.
31
cade r no 1
desse planejamento, a revisão do que foi escrito; o planejamento do próximo trecho do
texto, a escrita, a revisão e assim por diante. (BEZERRA; REINALDO, 2014, p. 01).
10
O relato foi produzido como atividade do PNAIC Paraíba realizada em sala de aula.
32
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Uma vez escrito o convite, verificando que ele não atende, totalmente, ao que
se espera desse gênero, é preciso dar ao aluno condições de revisar seu texto, para
replanejá-lo e reescrevê-lo. Nesse sentido, algumas ações devem ser realizadas para
encaminhá-lo no processo de reescrita, em relação à (ao):
• Explicitação das informações: de que exposição se trata? Então, vamos
reescrever completando a informação? [...]
• Domínio das convenções ortográficas:
• pontuação, uso de letras maiúsculas e ortografia: Leiam a parte do convite
que já foi reescrita antes:
“Venha ver nossa exposição de livros infantis com contos de fadas que
escrevemos”. Depois dessa parte, que informação vem? “isperovose”. Essa informação
significa a mesma coisa que foi dita antes? Como separar uma informação da outra?
Levando em conta que são duas informações diferentes, vamos separá-las com um
sinal gráfico, que se chama “ponto”. Então, vamos reescrever a segunda frase do
convite: “ispero você”. Como essa frase vem depois de um ponto, deve iniciar-se com
letra maiúscula, e como ela encerra o convite, deve terminar com um ponto. Em
seguida, encontramos novas informações? Quais são elas? Então, as palavras “data”,
“hora” e “local” são escritas com que tipo de letras? Vamos reescrevê-las? Como o
autor do convite se dirigiu à turma do 2º ano B? Quando ele usou a palavra “você”,
ele estava se referindo a quem? E como escreveu? Você já viu essa palavra escrita em
outro lugar? (Sugerimos que o professor traga alguma propaganda ou frases em que
essa palavra esteja presente) Como se escreve? Que alteração vamos fazer agora?”
(BEZERRA; REINALDO, 2014, p. 02)
33
cade r no 1
Nessa proposta de avaliação, Bezerra e Reinaldo (2014) iniciam chamando a
atenção para o trabalho anterior ao momento da escrita, que é essencial. Para a
avaliação, elas partem da complementação do conteúdo do convite chamando
a atenção para a tessitura textual, ao solicitarem a explicitação das informações
presentes no convite produzido e depois centram a análise no domínio das
convenções ortográficas, com o olhar para a pontuação, o uso de letras maiúsculas
e a ortografia. Por fim, recordam os aspectos discursivos e textuais, perguntando a
quem se dirige o convite, fazendo menção à estrutura composicional desse gênero.
Elas concluem salientando que o tempo de aplicação das atividades de reescrita é
definido pelo professor, considerando a realidade de cada turma, e que um princípio
de reescrita que deve ser observado é o de isolar um problema de cada vez. No texto,
foram elencados vários direitos de aprendizagem a serem observados na avaliação
da produção escrita, para termos ideia da abrangência do processo.
Mais uma vez lembramos que a criança está em fase de consolidação das
correspondências grafofônicas e que o processo de avaliação do texto escrito deve
ser rotineiro na sala de aula, colocando em relevo tanto a situação discursiva como
o domínio do sistema de escrita.
Vejamos outro convite, o de Mariana, da mesma sala, e a subsequente análise
das autoras:
Convite de Mariana
34
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
35
cade r no 1
Reflexão sobre práticas avaliativas inclusivas
Veja o Caderno
de Linguagem:
“Integrar” é diferente de “incluir”, na medida em que na integração há a
Alfabetização
de crianças com
inserção parcial do sujeito aprendiz, e na inclusão a inserção deve ser total. Sendo
deficiências: uma
proposta inclusiva
assim, numa perspectiva de educação inclusiva, é preciso assegurar condições
PNAIC 2013). para que as diferenças não sejam vistas como obstáculos a serem vencidos
ou superados, e sim como uma dimensão constitutiva da prática pedagógica, que
precisa ser considerada em todos os momentos: no planejamento, na realização das
intervenções pedagógicas, nos processos avaliativos.
Para Staimback e Staimback (1999), o educador pode desempenhar um
importante papel na percepção de que os alunos têm potencialidades e necessidades
diferentes. E aqui chamamos a atenção para a palavra educador. Todos na escola
são educadores. As diretrizes do Pacto Nacional pela Alfabetização lembram sempre
que todos são responsáveis. Assim, todos precisam entender e vivenciar uma escola
inclusiva. Inclusão é um sistema em funcionamento. Se uma parte desse sistema
não operacionaliza ações, todo o sistema não funciona, portanto não existe.
Veja o Caderno
de Matemática:
Vimos que a escola é, dentre outras coisas, o espaço onde a norma se torna
Educação Inclusiva institucional. É sobre isto que estamos falando: institucionalizar a prática de
PNAIC 2014.
aprender a ver as diferenças como contribuição; institucionalizar metodologias
que atendam às especificidades de cada um e, assim, aproximem todos os alunos,
independente da sua necessidade; institucionalizar práticas de professores (temos
exemplos de todo o país) que se lançam na descoberta de novos caminhos para
contemplar a aprendizagem de todos os alunos; institucionalizar flexibilizações
curriculares que se propõem a alterar as práticas pedagógicas não apenas com o
todo, mas com cada aluno; institucionalizar as boas iniciativas já existentes, para
dar outra visão de escola. Por fim, é importante destacar que, quando falamos de
“inclusão educacional”, o público-alvo da inclusão não se restringe a alunos com
deficiência, mas abrange pelo menos três grandes públicos-alvo caracterizados como
pessoas com necessidades especiais (NEE): Transtornos Gerais do Desenvolvimento
(TGDs), Pessoas com Deficiência e Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação.
Para exemplificar essa mudança na escola, relatamos duas experiências, que
relatam a importância da avaliação na identificação de caminhos a seguir. Diana
Maria Marinho de Souza é professora da Sala de Recursos Multifuncionais do CEAI
João Pereira de Assis de Campina Grande – PB e diz que há quatro anos convive
com crianças com necessidades específicas. Eis o seu comentário:
Tenho aplicado vários recursos que estão disponibilizados na sala, entre eles:
jogos educativos, pranchas, lupas, livros em Braille, livros em áudio, softwares
educativos, várias ferramentas de informática e, quando necessário, confecciono
36
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Em seu depoimento, vemos que a professora Diana compreendeu o objetivo Veja o Caderno
de Matemática:
das Salas de Recursos Multifuncionais. Em sua escola, a sala desempenha um Educação Inclusiva
PNAIC 2014.
papel importantíssimo: oportunizar que a criança com necessidades especiais
aprenda em condições de igualdade em relação às demais crianças. A partir de
avaliações que mostraram o não conhecimento das letras pelo aluno de baixa visão,
a professora utilizou um recurso pedagógico, uma sequência didática, que produziu
o efeito esperado: o desenvolvimento da habilidade da leitura e da escrita. Outro
ponto importante a destacar é a sua visão das necessidades dos alunos, pois ela
afirma que, além do material disponível na escola, ainda confecciona recursos para
garantir a todos o direito à aprendizagem. Essa é uma atitude de quem conhece
as necessidades e as aprendizagens consolidadas. E esse conhecer é construído
através de um processo de avaliação contínua. Essa é a finalidade da avaliação: um
caminho para garantir a aprendizagem.
O exemplo da professora Diana evidencia que é possível um trabalho realmente
inclusivo, que vai além da socialização ou da permanência do aluno na escola, pois
37
cade r no 1
está comprometido com o desenvolvimento integral, considerando, também, os
aspectos cognitivos e os direitos de aprendizagem. A professora Diana, naturalmente,
com o apoio da comunidade escolar, conseguiu fazer a criança com deficiência
participar de atividades, aprender e interagir com a turma. E, em relação a si mesma,
a docente descobriu-se, enquanto profissional, protagonista nessa situação.
A outra experiência é a de Maria Suely A. Ferreira, professora e pedagoga da
Escola Municipal Centenário/SEDUC-Campina Grande, PB, que atende a 13 (treze)
crianças de uma turma multietapa. Uma delas possui dificuldade na articulação
da fala, outra apresenta a Síndrome de Wolf-Hirschhorn11 e as demais são
diagnosticadas com deficiência mental. Esses alunos apresentam dificuldades para
resolver problemas, compreender ideias abstratas (como as metáforas, a noção de
tempo e os valores monetários), ou para estabelecer relações sociais, compreender
regras, obedecer a elas e realizar atividades cotidianas.
Eis o relato da professora Maria Suely:
11
Síndrome de Wolf-Hirschhorn, também conhecida como síndrome 4p-, é uma mutação genética causada pela deleção
de parte do braço curto do cromossomo 4. Os portadores da síndrome possuem um atraso mental grave, microcefalia,
hipotonia (baixa musculatura), palato (céu da boca) profundo em consequência de fissuras congênitas do lábio
superior.
38
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Sinto-me muito gratificada ao ver o crescimento dos alunos. Melhor, eles também
ficam felizes quando conseguem progredir. Passei a acreditar que a construção não
é um ato pronto, mas um processo no qual cada verbalização, cada expressão, as
tentativas e descobertas são sinalizadores de que, a seu modo e em seu ritmo e
tempo, as crianças, com deficiência intelectual de diversas ordens, podem aprender,
porque vi que está havendo aprendizagem.
Conclusões
Vimos, ao longo deste texto, a avaliação formativa ser retomada, sendo
evidenciada sua ênfase em seu aspecto processual, contínuo, que tem como
finalidade compreender o que os alunos já sabem e o que precisam aprender. E
percebemos, nas práticas avaliativas apresentadas, exemplos de relações humanas
que incluem e garantem aprendizagem.
Para concluir, queremos trazer ao diálogo Silva (2005, p 38.), que admite “não
acreditar em fórmulas mágicas, em metodologias universais ou em avanços
tecnológicos que funcionam como milagres para a questão educacional. Por outro
lado, acreditar nas relações humanas, que acontecem dentro dos muros escolares.”
39
cade r no 1
Não só dentro dos muros escolares como também fora deles. Mais uma vez
ressaltamos que a escola é feita por todos nós. Serão nossas práticas avaliativas que
imprimirão um novo parâmetro de garantia de aprendizagem. Serão nossas relações
humanas que darão vida a uma nova escola.
Referências
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dizagem. Ano 02. Unidade 01. Brasília: MEC/ al, análise de gêneros e compreensão. São
SEB, 2012b. Paulo: Parábola editorial, 2008
40
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
41
cade r no 1
As especificidades da educação e dos sujeitos do campo estão incluídas não
só no debate geral sobre educação, mas também no âmbito das políticas públicas.
A própria legislação educacional vigente, tal como a “Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), lei n.o 9394/96” e as “Diretrizes Operacionais Diretrizes
para a Educação Básica das Escolas do Campo” (Parecer nº 36/2001 e Resolução
01/2002 do Conselho Nacional da Educação) representam alternativas à busca de
direitos que historicamente tinham sido renegados.
A LDB 9394/96, em seu artigo 28, já aponta direcionamentos para a educação
do campo, destacando a necessidade de os sistemas de ensino realizarem as
devidas adequações às peculiaridades da vida rural e de cada região em relação
aos conteúdos curriculares, metodologias e organização escolar. A menção à oferta
da educação básica para a população rural na referida lei retrata a necessidade
de implementar uma educação que resgate as identidades dos sujeitos do campo,
bem como um olhar diferenciado para a escolha de conteúdos e metodologias que
dialoguem com as vivências políticas e experiências culturais que valorizem as
singularidades do campo.
Considerando as dificuldades que os estudantes das áreas rurais possuem para
permanecerem na escola nas diversas modalidades de ensino, um dos limites da
prescrição sobre a oferta da educação básica para a população rural na referida lei
remete à ausência de orientações sobre a necessidade de garantir a continuidade
aos estudos, bem como a ausência de políticas públicas que impulsionem o acesso
à educação básica12. Não podemos esquecer que os sujeitos imersos em diversas
comunidades já possuem muitos saberes acerca do funcionamento da sociedade e
interagem em vários eventos que demandam atuação política e engajamento social.
Nesse sentido, as políticas públicas devem pensar em leis que garantam não só
acesso e permanência, mas, principalmente, uma formação pautada na própria
emancipação dos sujeitos do campo. Historicamente, as políticas educacionais
brasileiras para o meio rural:
Além de não reconhecer o povo do campo como sujeito da política e da pedagogia,
sucessivos governos tentaram sujeitá-lo a um tipo de educação domesticadora e atrelada
a modelos econômicos. (CALDART, 2002,p.19)
12
A Resolução n.o 2 (CNE/CEB, 2008) estabelece algumas diretrizes complementares, normas e princípios para o de-
senvolvimento de políticas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo. O parágrafo 1.o do artigo 1.o des-
taca que a educação do campo terá como objetivos a universalização do acesso, da permanência e do sucesso escolar,
com qualidade, em todo o nível da Educação Básica.
42
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
13
Tal aspecto não anula as dificuldades do poder público em implementar um sistema educacional que atenda às
necessidades das populações do campo. (Cf. Hage, 2011)
43
cade r no 1
emancipação social e política que fortaleça a cultura e os valores das comunidades
campesinas.
Dessa forma, compreendemos que a ideia de educação do/no “campo” é
constituída num espaço de lutas e forças que se entrecruzam na sociedade. Não
podemos deixar de destacar que a possibilidade de acesso aos conhecimentos
sistematizados construídos pela humanidade também faz parte das lutas por
melhorias na educação e na vida no campo. Com isso, muitas escolas buscam
ações para (re)criar as práticas pedagógicas nos mais diversos espaços formativos
que se comprometem com as mudanças de paradigmas e com a necessidade de
uma reflexão político-pedagógica da educação do campo; uma educação que não
só valorize a luta pela ampliação de direitos à educação e à escolarização, mas,
principalmente, que fortaleça o engajamento político em prol de uma escola que,
além de se situar no campo, também seja do campo.
A preocupação em situar aspectos normativos e legais tem a intenção de
problematizar os avanços e limites da construção da educação básica do campo, bem
como refletir acerca dos desafios para a implementação de políticas educacionais
na construção curricular do Ciclo de Alfabetização nas escolas do campo, aspectos
que trataremos no tópico seguinte.
14
Porcentagem/quantidade de escolas multisseriadas do campo em relação ao total.
44
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
indígenas devem ter assegurado o direito aos processos, à forma de organização preservar sua língua
materna e têm o
e aos objetivos escolares com os quais se identifiquem. A falta de definição português como
segunda língua.
45
cade r no 1
clara de tais direitos contribui para naturalizar o fato de que crianças das classes
populares têm chegado ao final do Ciclo de Alfabetização, ou até mais adiante, sem
se alfabetizarem.
Em se tratando do aprendizado da língua escrita, a heterogeneidade de níveis
de leitura e escrita das crianças é comum em grande parte das turmas dos anos
iniciais do Ciclo e em turmas nas escolas das cidades. Pesquisas recentes (CRUZ,
2012; OLIVEIRA, 2010) têm evidenciado a dificuldade de professores(as) e redes
de ensino em tratar dessas diferenças e garantir estratégias de acompanhamento
e melhoria da aprendizagem, em escolas de grandes centros urbanos. Nas turmas
multisseriadas do campo, professores(as) experientes em encontros de formação
relatam que costumam agrupar seus alunos (e planejar as atividades) em função
dos diferentes níveis de aprendizagem do sistema alfabético de escrita em que eles
se encontram, não seguindo, estritamente, os anos escolares. Ou seja, uma criança
que esteja formalmente matriculada no primeiro ano do Ciclo de Alfabetização, mas
que já escreve e lê com autonomia, pode realizar tarefas juntamente com outras que
também já dominam esse conhecimento. Da mesma forma, uma criança que chegou
ao segundo ano do Ciclo sem compreender como o Sistema de Escrita Alfabética
(SEA) funciona poderá ser agrupada, em algumas atividades, com outras mais novas
que ela ou que estejam em processo de apropriação da escrita.
Destacamos que, embora esta forma de agrupamento seja indicada como
facilitadora da organização didática da turma por diversos(as) professores(as),
o agrupamento de crianças de níveis de aprendizagem distintos também pode
ajudar a promover trocas de conhecimento importantes entre as crianças. Pensar os
agrupamentos em termos de processos de aprendizagem e, ao mesmo tempo, levar
em conta a integração de diferentes conhecimentos e saberes na escola é o que têm
apontado alguns professores(as) e pesquisas em turmas multisseriadas. Nesses casos,
pesquisas têm destacado a heterogeneidade de idades e níveis de conhecimento
como elemento de potencial pedagógico dessas classes, ao propiciarem “relações/
interações autônomas e cooperativas” entre as crianças (FERRI, 1994, p. 09). Pinho
(2004) e Silva (2007), investigando escolas multisseriadas no interior da Bahia e de
Santa Catarina, respectivamente, também chegaram a conclusões semelhantes,
enfocando a heterogeneidade como “fator de enriquecimento para os sujeitos
aprendentes” (SILVA, 2007, p.115).
Dentre as dificuldades enfrentadas pelas escolas multisseriadas, Ferri (1994)
sintetizou, basicamente, aquelas relacionadas à formação docente, à relação com o
conhecimento e conteúdos a serem ensinados e ao obstáculo decorrente da tentativa
de transposição do modelo seriado às turmas multisseriadas. Interessante observar
que esses dois últimos aspectos dizem respeito à construção curricular das escolas do
campo, que está, também, relacionado ao primeiro (formação docente). A ausência
de propostas curriculares específicas e de acompanhamento pedagógico efetivo,
por parte de muitas Secretarias municipais; as precárias condições estruturais das
46
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
47
cade r no 1
A organização curricular, tal como orientam as Diretrizes Operacionais para
a Educação Básica nas Escolas do Campo, no artigo 4.o e 5.o , indica-nos alguns
pressupostos que nos ajudam a pensar sobre o currículo, tais como:
• abordar temas relacionados ao mundo do trabalho e ao desenvolvimento do
campo;
• adotar abordagens metodológicas que estejam atreladas às realidades,
identidades e experiências dos homens, mulheres e crianças do campo.
15
Participou como orientadora de estudos no PNAIC/PB e apresentou o relato no VI Seminário de Educação e Lingua-
gem, promovido pelo CEEL/UFPE, em março de 2014.
16
O Projeto também foi vivenciado no município de Taperoá-PB.
48
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
49
cade r no 1
50
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Referências
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FERREIRO, Emília. A representação da lin- de do Planalto Catarinense, 2007.
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51
cade r no 1
Educação inclusiva e práticas pedagógicas
no Ciclo de Alfabetização
Rosane Aparecida Favoreto da Silva
Alguns conceitos e
temas tratados neste
Neste texto buscamos abordar questões relacionadas à heterogeneidade e à
texto fazem parte
de uma retomada
diferença na sala de aula, destacando práticas pedagógicas realizadas com um
dos Cadernos do aluno público-alvo da Educação Especial, em turma do Ciclo de Alfabetização.
Pacto Nacional
pela Alfabetização As práticas contemplam o trabalho em sala de aula comum do ensino regular,
na Idade Certa,
referentes aos anos relatando atividades desenvolvidas pela professora e o trabalho articulado com
de 2013 e 2014. Por
isso, sugerimos que o Atendimento Educacional Especializado (AEE), no contexto da Educação
os professores façam
leituras dos Cadernos Inclusiva.
indicados17.
“O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política,
cultural, social e pedagógica, em defesa do direito de todos os alunos de estarem
juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação”, conforme
o documento Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008, p. 1). Esse documento considera como público-alvo da
Educação Especial os alunos com: deficiência (surdez, deficiência visual, deficiência
intelectual e deficiência física), transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação.
Neste texto, abordaremos o trabalho pedagógico feito com um aluno que tem
transtornos globais do desenvolvimento (TGD), especificamente o transtorno do
Veja o texto
“Os direitos e a espectro autista. As crianças autistas, assim como os demais alunos que fazem
aprendizagem”
do Caderno de parte da Educação Especial, têm o direito de serem matriculadas na escola
Educação Inclusiva
na Alfabetização
comum do ensino regular e de frequentarem o AEE no contraturno, para
Matemática – PNAIC
2014.
complementação de sua escolaridade.
Este texto está organizado em duas partes: Na primeira, Modos de ver o Outro,
buscamos refletir sobre os modos de olhar o aluno em sala de aula, fazendo uma
analogia com o livro Pato! Coelho!. Na segunda, Práticas inclusivas no Ciclo de
Alfabetização, são apresentadas práticas e ações realizadas por uma professora
alfabetizadora que possui um aluno autista em sua turma do ensino regular.
Reprodução
Os Cadernos de Formação do PACTO referentes aos anos de 2013 e 2014 estão disponibilizados no site: http://pacto.
17
mec.gov.br/2012-09-19-19-09-11.
52
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
objetivo de instigar a reflexão dos professores, fazendo uma analogia com possíveis
“modos de olhar” os alunos de sua sala de aula.
Afinal, o desenho representa um pato ou um coelho? Vamos fazer duas
considerações sobre essa imagem: (a) é possível dizer que, se uma pessoa nunca viu
um coelho jamais poderá dizer que a imagem é de um coelho, pois ela não conhece
o que é; (b) quando uma pessoa vê o pato e vê o coelho, ela pode decidir se considera
apenas o coelho ou o pato; ou, também, pode considerar que os dois existem, que
devem ser vistos e tratados como seres distintos, e assim vivenciar e explorar a
“brincadeira” do livro.
É possível estabelecer uma analogia entre o fazer pedagógico dos professores e
essa imagem quando, por exemplo, o professor tem contato pela primeira vez com
um aluno público-alvo da Educação Especial – por exemplo, uma criança cega. Confira o texto
Neste caso, faz-se necessário estabelecer uma aproximação, conhecer a criança “Os direitos e a
aprendizagem” do
e, também, buscar formar-se para atender à demanda que essa inclusão cria, e Caderno Educação
Inclusiva na
garantir o acesso, a participação e a aprendizagem desse e dos demais alunos, Alfabetização
Matemática PNAIC
conforme lhes garante a Constituição Federal. 2014.
18
Optamos por utilizar a palavra Outro com inicial maiúscula com a mesma intenção de Sacks (2010, p. 136), para a
palavra Surdez: “Algumas pessoas da comunidade surda indicam essa distinção por meio de uma convenção na qual
a surdez auditiva é escrita com ‘s’ minúsculo, distinguindo-a da Surdez com ‘s’ maiúsculo, uma entidade linguística
e cultural.”
53
cade r no 1
nossas ações sejam destinadas a cada aluno ou grupos de alunos considerando os
diferentes modos de aprender presentes numa turma heterogênea.
Impor um modo de ser e não reconhecer
Reprodução
a identidade do Outro é uma das questões
que pode dificultar a inclusão na escola: na
imagem abaixo, o animal está saltitando
ou voando? Dependendo da opção adotada,
impedimos outro modo de ser.
Até o momento refletimos sobre quem são os nossos alunos, destacando que a
forma como os percebemos interfere nas nossas ações pedagógicas e na experiência
que vivemos na escola. Um currículo que atenda tais especificidades contempla a
diversidade da sala de aula e cada aluno no seu jeito de ser, na sua subjetividade,
na sua identidade.
Para Cortesão e Stoer (2012), é comum que professores “daltônicos culturais”,
num viés normalizador, tentem “afastar a diferença”, pois possuem dificuldades em
lidar com ela, e – equivocadamente –, a diferença passa a ser algo negativo, levando
a escola a tentar erradicá-la. O professor daltônico cultural é aquele que não valoriza
o arco-íris de culturas na sua sala de aula, não levando em conta suas várias cores,
ou seja, a heterogeneidade de alunos.
O planejamento e as estratégias diferenciadas em sala de aula, além de serem
direitos dos alunos, podem levar a resultados significativos na aprendizagem e no
desenvolvimento das atividades com toda a turma. Planejar e colocar em prática
estratégias diferenciadas possibilitam o acesso – aos conteúdos, às atividades
escolares, aos jogos, entre outros – e à aprendizagem. Porém, de acordo com Rodrigues
e Lima-Rodrigues (2011), o objetivo da educação inclusiva não se resume a uma
mudança curricular ou a permitir o acesso de alunos em condições de deficiência
à escola regular. Trata-se de uma transformação profunda que abrange os valores e
práticas tais como estão postos no sistema educativo. Entre as transformações está
a mudança de olhar sobre quem são os sujeitos que estão na sala de aula. O modo
como os professores percebem os alunos interfere fortemente no planejamento das
aulas e nos encaminhamentos a serem realizados.
A diversidade cultural é parte da sociedade em que vivemos – não há dúvidas em
relação a isso. Desta forma, é imprescindível a elaboração e a promoção de currículos
que tenham, como ponto de partida, a diferença. Pensar um currículo multicultural
é compreender e colocar em prática um currículo que valorize os alunos em suas
especificidades, contemplando as diferenças de ordem cultural, linguística, étnica,
Ver Cadernos de
de gênero, bem como de alunos que fazem parte da Educação Especial;
Linguagem, Unidade
01, Ano 01, PNAIC
ampliando o acesso ao conhecimento, a participação de todos os alunos, e
2013. considerando os seus direitos de aprendizagem.
54
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
há um aluno autista, chamado Pedro Henrique, com 6 anos de idade. Pedro estuda
no primeiro ano e, no contraturno, frequenta a Sala de Recursos Multifuncional
para complementação da sua escolaridade. Vejamos como a professora nos relata a
maneira que conduziu sua prática visando integrar essa criança à sua turma:
Quando fiquei sabendo que daria aulas para um aluno autista fiquei um tanto
preocupada, com uma ruguinha na testa, e pensando: o que fazer? Como fazer? Será
que vou conseguir?
Estava ansiosa e com muita expectativa, mas acredito que na minha profissão de
professora é importante que eu me dedique e esteja disposta a enfrentar desafios.
No primeiro dia não preparei nada diferente, seria meu primeiro contato
com o Pedro Henrique e eu deveria procurar saber como ele era, saber quais suas
potencialidades, dificuldades, enfim, conhecê-lo.
Este primeiro contato foi marcante. O aluno era esperto e seu olhar distante
me chamou a atenção. Mas Pedro cativou a todos na sala com seu jeito de ser e os
demais colegas também gostaram muito dele, buscando uma aproximação.
Fiquei pensando: fiz magistério, sou licenciada em Filosofia e especialista em
Gestão de Trabalho Pedagógico; de autismo só tinha ouvido falar!
Mas, como sempre estamos em formação, isso faz parte de minha profissão e
neste mundo tudo se aprende. Então, fui ler, pesquisar, e corri atrás de conhecimentos,
pois tinha uma tarefa pela frente, que era ensinar a todos os meus alunos. Eu ia ensinar
ao Pedro Henrique.
Se eu já gostava de ler, li muito mais, comecei a preparar seu material com
muito afinco, colocando em cada dobra feita, em cada papel colado uma pitada de
dedicação e entusiasmo. Tudo isso com a contribuição da equipe da escola. Juntos
iríamos conseguir.
Arquivo dos autores
55
cade r no 1
Assim como muitos professores, a professora Lucimar ficou apreensiva ao saber
que teria um aluno que faz parte do público-alvo da Educação Especial na sua turma.
Uma grande preocupação dos professores se dá pelo motivo do desconhecimento
sobre o Outro. As perguntas “o que fazer?” e “como fazer?”, geralmente, estão nos
relatos dos professores que, muitas vezes, não sabem como proceder diante desse
Outro desconhecido. Os alunos são “desconhecidos” porque estamos acostumados
com a homogeneização, com o padrão, e idealizamos um modelo de aluno. O que é
diferente nos incomoda, e isso precisa mudar.
É fundamental conhecer o aluno e ter uma aproximação com a experiência que
ele vivencia. A professora Lucimar buscou novas leituras e auxílio de outros colegas
de trabalho, pois constatou que precisava adquirir mais conhecimentos, tanto sobre
como era o seu aluno, quanto sobre como proceder, no nível educacional – e não no
clínico –, quando se tem um aluno autista. Buscar conhecimentos é fundamental,
pois contribui com a prática do professor frente aos desafios da Educação Especial.
Sabemos da importância da implementação de políticas de inclusão educacional
por parte dos municípios; mas, por outro lado, a falta de formação do professor não
pode ser o argumento para que os direitos de aprendizagem dos alunos não sejam
cumpridos. Cabe a todos os profissionais – neste caso, os professores – a busca pela
formação continuada, pelos estudos e leituras, para que possam exercer a profissão
que escolheram contribuindo para a promoção do ensino e da aprendizagem de
todos os alunos como um direito constitucional que lhes é garantido.
Continuemos acompanhando o depoimento da professora e suas reflexões sobre
como foi aprendendo a lidar com seu aluno, assegurando melhores condições para
sua inclusão na turma:
56
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
57
cade r no 1
alunos para o desenvolvimento da atividade. Assim, pedi a ajuda dos demais alunos
para que contássemos juntos em voz alta. Desse modo, todos contribuíram para a
aprendizagem dele.
Durante o jogo, depois de várias jogadas, um aluno atingiu as dez unidades e
precisava trocar pela “barrinha” de dezena, então pedi para que todos contássemos
sempre juntos em voz alta. Desta forma, o meu aluno que precisa de auxílio para
contar e trocar pela “barrinha” de dezena consegue participar realizando a atividade
com os demais. Sei que assim todos os alunos aprendem juntos.
Jogo do fantasma
58
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Ao propor atividades aos alunos, Lucimar constatou que Pedro gosta muito de
matemática. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, crianças que fazem parte
da Educação Especial também gostam e aprendem matemática.
Para que o aluno possa participar, a professora trabalha utilizando materiais
manipuláveis de vários tipos, conforme a necessidade do aluno. Além de utilizar os
materiais disponíveis na escola, a professora Lucimar também os confecciona para
uso de Pedro e dos demais alunos da turma. No Caderno de Educação Inclusiva
Alfabetização Matemática – PNAIC, há sugestões de materiais para a realização de
atividades com as crianças que fazem parte da Educação Especial.
Estratégias diferenciadas para possibilitar o acesso e a participação dos Ver texto “Quem
são eles? Os alunos
alunos são fundamentais para o desenvolvimento das atividades. As crianças de minha sala de
aula?” do Caderno de
autistas, assim como Pedro, possuem algumas características, como alterações Educação Inclusiva
Alfabetização
das funções comunicativas, dificuldades na interação e reciprocidade social, Matemática PNAIC
2014.
movimentos estereotipados e apego a rotinas. Conhecendo o seu aluno, a
professora Lucimar percebeu que ele precisava de auxílio para contar durante a
atividade do jogo Nunca Dez. Então, como estratégia solicitou a ajuda dos colegas
da turma para que contassem juntos em voz alta. Desta forma, com a mediação da
professora, Pedro Henrique teve acesso e participou da aula juntamente com seus
colegas. Ações como essa contribuem para a aprendizagem não só do aluno autista,
mas para a de todos os alunos da turma.
Além de buscar conhecimento, utilizar estratégias e materiais diferenciados, há
outros dois elementos que se destacam no relato da professora Lucimar: a mediação
da professora e a participação e acolhimento dos demais alunos da turma junto ao
aluno Pedro.
A mediação é essencial para o desenvolvimento das atividades, pois os jogos
e materiais utilizados por si sós, sem uma intervenção, não são suficientes para
atingir os objetivos pedagógicos traçados para a aula. A ludicidade, com o uso de
jogos, pode ser um forte disparador para criar situações de aprendizagem em Confira Caderno de
Linguagem /PNAIC
sala de aula, contando com a mediação do professor, na esteira de Vygosty 2013, Unidade
04, que aborda a
(1994), conforme estudos sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal. ludicidade.
59
cade r no 1
As ações destinadas à Educação Inclusiva não acontecem somente em sala
de aula, na relação professor/aluno, mas é um projeto de toda a escola, envolvendo
os alunos, a comunidade escolar de modo geral e toda a equipe de profissionais
(direção, equipe pedagógica, professores, funcionários que atuam na merenda e nos
serviços gerais, entre outros).
O trabalho em equipe é realizado entre os professores do aluno. No relato
abaixo, vamos conhecer um pouco do trabalho desenvolvido articuladamente entre
a professora da sala de aula comum e a do AEE:
60
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
A professora nos mostra que a inclusão passou a fazer sentido quando ela
constatou que seu aluno autista estava participando das atividades e se apropriando
dos conhecimentos, ou seja, estava aprendendo juntamente com os demais alunos.
Os alunos aprendem de maneiras diferentes, mas aprendem! As mudanças de
valores foram fundamentais para uma mudança de cultura e de práticas na sua
19
“Tecnologia Assistiva” é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recur-
sos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade
e participação de pessoas com deficiência, a incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, inde-
pendência, qualidade de vida e inclusão, de acordo com CORDE/Comitê de Ajudas Técnicas/Secretaria Especial de
Direitos Humanos – SEDH, ATA VII (BRASIL, 2009).
61
cade r no 1
escola, envolvendo todos os profissionais e garantindo o direito de aprendizagem
de todos os alunos, não só de Pedro. Todos ganharam com o trabalho realizado pela
professora Lucimar.
Neste texto, buscamos mostrar que é possível desenvolver práticas inclusivas
com resultados importantes na educação de crianças que fazem parte da Educação
Especial. No caso do relato descrito, as atividades foram as mesmas realizadas com
os demais alunos, mas com algumas estratégias que atendiam as especificidades
de cada um. Neste espaço, ao abordarmos práticas realizadas com o aluno autista,
o foco não foi discutir o autismo, mas sim mostrar possibilidades de trabalho que
podem ser utilizadas em sala de aula, contemplando a diferença como simples
diferença, e não como algo que classifica e exclui.
Essas possibilidades podem ser estendidas aos alunos surdos, quando
contemplamos, também, a sua diferença linguística; aos alunos com deficiência
intelectual, que têm um tempo de aprendizagem diferente; aos deficientes físicos,
que são privados da fala e da condição motora, ou do acesso à comunicação; aos
alunos com deficiência visual, quando os instrumentalizamos para a escrita e leitura,
entre outros. Por exemplo, os materiais que compõem a Caixa de Aprendizagem20
podem ser utilizados por todos os alunos, desde que as suas especificidades sejam
Ver Caderno de
Educação Inclusiva
consideradas. É claro que as condições acima citadas não são as únicas
Alfabetização
Matemática PNAIC
intervenções possíveis, mas são fundamentais para se pensar no processo
2014. educacional dos alunos.
Referências
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CIA, Regina Leite; MOREIRA, Antonio Flávio ROSENTHAL, Amy Krouse; LICHTENHELD,
(Orgs.). Currículo na contemporaneidade: in- Tom. Pato! Coelho! Tradução Cassiano Elek
certezas e desafios. 4. Ed. São Paulo: Cortez, Machado, 2. ed. São Paulo: Editora Cosac Nai-
2012. fy, 2011.
MANTOAN, Maria Teresa Egler. Inclusão es- SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma viagem ao
colar: caminhos, descaminhos, desafios, pers- mundo dos surdos. Tradução Laura Teixeira
Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
pectivas. In: MANTOAN, Maria Teresa Egler.
(Org.). O desafio das diferenças nas escolas. VYGOSTY, Lev Semenovitch. A formação social
5. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
20
Caixa de Aprendizagem faz parte dos materiais do MEC que serão distribuídos às escolas municipais. Essa caixa é
composta por vários itens para serem utilizados em atividades em sala de aula.
62
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
63
cade r no 1
de uma língua a coloca numa relação de dominação sobre as não oficiais. No caso da
variação, a elevação de uma variedade à condição de padrão gera uma dissimetria
em termos de prestígio e valor, entre ela e as demais variedades.
Outra inter-relação reside no fato de a variação poder vir a ser uma causa da
diversidade linguística. Com efeito, quando uma variedade de determinada língua
sofre forte dialetização, a ponto de não poder ser mais entendida pelos falantes de
outras variedades da mesma língua, é provável que tenha se tornado uma nova
língua. Esse fenômeno pode ser notado em algumas línguas indígenas brasileiras.
Em virtude da dispersão territorial de seus falantes e da perda de contato entre eles,
apareceram variedades regionais das línguas que falavam, e estas acabaram por se
tornar novas línguas.
Tocamos aqui num ponto importante: as causas da diversidade linguística do
Brasil. Além da que acabamos de mencionar – a transformação de uma variedade
dialetal que, com o tempo, se transforma em nova língua – existem outras talvez até
mais decisivas.
A primeira causa reside no fato de o Estado brasileiro ter sido criado por
conquistas e anexações de territórios que já continham grupos linguísticos diferentes.
Realmente, as línguas indígenas brasileiras já eram faladas aqui antes mesmo da
edificação do Estado brasileiro. Por essa razão, essas línguas são chamadas de
“autóctones”.
Outra causa é o fato de, desde a chegada dos portugueses em 1500, o território
onde se edificou o Estado Brasileiro ter recebido diversos grupos de imigrantes,
que falavam línguas diferentes das autóctones, o que também contribuiu
para a diversidade de nossa realidade linguística. Essas línguas surgidas do
resultado histórico de imigração são chamadas de “alóctones” ou “de imigração”.
Frequentemente, quando se fala dessas línguas, a referência recai sobre as línguas de
origem europeia ou asiática. Entretanto, não se pode esquecer que o português, que
é nossa língua oficial, e as línguas africanas são também línguas de imigrantes.
64
C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
65
cade r no 1
Outro fator que pode concorrer para a extinção das línguas minoritárias é a ação
das escolas situadas em contextos multilíngues. Vejamos como isso se dá. Para a
perpetuação de uma língua minoritária é fundamental a disposição de seus falantes
de mantê-la viva, seja empregando-a nas mais diferentes situações e para os mais
diferentes fins, seja transmitindo-a às gerações futuras. Entretanto, eles podem ser a
tal ponto discriminados e estigmatizados por falarem uma língua de pouco prestígio
social que podem chegar a querer abandoná-la em favor da língua majoritária. A
escola contribui para esse abandono: a) quando discrimina e estigmatiza o uso das
línguas minoritárias, apresentando-as como línguas inferiores, “gírias”, “dialetos”; e
b) quando apresenta a língua majoritária como a “língua boa”, a “correta”, que deve
ser usada por todos em qualquer situação e para todas as funções.
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
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cade r no 1
a) As línguas maternas minoritárias
Primeiramente devemos considerar aqueles casos em que os alunos de uma
escola falam uma língua materna minoritária. Nesse grupo, podemos incluir os
seguintes casos: aqueles dos alunos que são monolíngues em língua materna (falam
exclusivamente a língua materna e não compreendem a língua portuguesa); aqueles
dos alunos que são bilíngues incipientes (falam a língua materna, mas compreendem
a língua majoritária); aqueles dos alunos que são bilíngues ativos (isto é, falam tanto
a língua recebida dos seus antepassados quanto a língua portuguesa).
Nos três casos mencionados, temos em comum o fato de os alunos chegarem
à escola portando uma competência no uso da língua de seus antepassados. Se
estiver realmente comprometida com a preservação da diversidade linguística, essa
escola não só deverá impedir que tal competência se perca, mas também irá ampliá-
la. Para isso haverá de adotar algumas medidas:
Em primeiro lugar, fazer da língua materna dos alunos a língua de instrução oral e
escrita (se houver). Por “língua de instrução” entendemos aquela que é usada na sala
de aula para explicar, dar esclarecimentos, apresentar conceitos etc. Essa medida
apresenta três grandes vantagens: torna mais fácil o acesso a novos conhecimentos
para as crianças que não falam o português; amplia a competência delas no uso
da língua materna; e, por fim, permite o desenvolvimento de novos usos para essas
línguas.
Em segundo lugar, destinar à função de professor uma pessoa que tenha a
mesma língua materna que seus alunos. Essa medida complementa a anterior e sua
vantagem é evidente.
Em terceiro lugar, introduzir a língua materna no currículo como primeira língua,
ou seja, ela será não só o instrumento da comunicação pedagógica, mas também
objeto de estudo e reflexão. Essa medida tem duas vantagens: permite ao aluno um
conhecimento mais aprofundado de sua língua materna e confere a esta o status de
língua plena, contribuindo para que seus falantes desenvolvam atitudes positivas
em relação a ela.
Por último, mas nem por isso menos importante, alfabetizar os alunos na língua
materna deles. Essa medida tem as seguintes vantagens: aumenta a autoestima e
a autoconfiança das crianças; contribui para o desenvolvimento da competência da
criança em sua primeira língua; e, por fim, facilita a aprendizagem futura de outras
línguas.
Como o que está em questão aqui é a diversidade linguística no Ciclo de
Alfabetização, nós vamos deter-nos um pouco mais nesse ponto, tratando
inicialmente de algumas iniciativas que devem ser evitadas.
D’Angelis (2012), ao enfocar o caso específico da alfabetização em comunidades
indígenas, faz algumas advertências que podem ser estendidas para a alfabetização
dos falantes de outras línguas minoritárias.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
A primeira que gostaríamos de destacar é que constitui “um grave erro tentar
alfabetizar em uma determinada língua uma pessoa que não fala aquela língua”
(D’ANGELIS, 2012, p. 166). É até admissível não alfabetizar em língua materna,
quando os alfabetizandos não são crianças monolíngues, mas jovens e adultos
bilíngues ativos. No entanto,
não se justifica forçar a alfabetização em língua portuguesa de crianças monolíngues em
língua indígena (ou bilíngues incipientes), só porque são em número pequeno diante de
uma maioria de alunos falantes de Português. Se o critério fosse válido, de que a maioria
pode impor sua língua, as línguas indígenas já deveriam ter desaparecido. (D’ANGELIS,
2012, p. 167)
A segunda advertência que queremos destacar diz respeito aos esforços pouco
frutíferos de alfabetização em duas línguas ao mesmo tempo. Segundo D’Angelis
(2012),
não se conhecem programas bem-sucedidos que tenham feito isso. Mas, além de não ser
viável, efetivamente não é interessante tentar fazer isso por nenhum motivo. Jamais isso
representará “ganho de tempo”, e é mais do que provado que, emocional e cognitivamente,
é muito mais fácil e produtivo alfabetizar em uma só língua (a língua materna) do que
tentar uma miscelânea (D’ANGELIS, 2012, p. 165).
69
cade r no 1
Curricular Nacional para Educação Indígena- RCNEI diz a respeito das línguas
indígenas vale também para as demais línguas minoritárias:
[...] limitar essas línguas a usos exclusivamente orais significa mantê-las em posições de
pouco prestígio e de baixa funcionalidade, diminuindo suas chances de sobrevivência
em situações contemporâneas. Utilizá-las por escrito, por outro lado, significa que essas
línguas estarão fazendo frente às invasões da língua portuguesa. Estarão, elas mesmas,
invadindo um domínio da língua majoritária e conquistando um de seus mais importantes
territórios. (BRASIL, 2005, p. 125-126)
b) A língua portuguesa
O cuidado especial que a escola deve dar, nos contextos multilinguísticos, às
línguas minoritárias não significa uma desconsideração da Língua Portuguesa. Com
efeito, essa é a língua oficial do País e nela estão escritos todos os documentos que
regem a sociedade brasileira. Desse modo, todos os habitantes do país, enquanto
cidadãos brasileiros, têm o direito de apropriar-se dela para estar em condições de
intervir plenamente na vida econômica, política, jurídica e cultural do país. Além
disso, ela pode servir como um instrumento por meio do qual as comunidades
indígenas e de imigrantes podem dar-se a conhecer e, assim, ser valorizadas pela
sociedade na qual estão inseridas.
Do ponto de vista curricular, a Língua Portuguesa poderá aparecer de duas
maneiras nos contextos escolares multilinguísticos: como segunda ou como primeira
língua.
Ela deverá entrar no currículo como segunda língua sempre que os alunos forem
monolíngues em uma das línguas maternas minoritárias brasileiras e/ou falantes
incipientes do português. Por outro lado, quando os alunos forem monolíngues em
língua portuguesa, esta deverá ser introduzida como primeira língua, sendo língua
de instrução e disciplina curricular.
Devemos estar atentos para o fato de que, nesse grupo, podemos encontrar
crianças que, mesmo sem falar a língua materna de seus ancestrais, são capazes
de entendê-la, por conviver com pessoas que a falam. Quando isso ocorrer, é
imprescindível que a escola tente, na medida do possível, criar condições para a
retomada dessa língua materna minoritária.
Quanto às modalidades do português a serem trabalhadas pela escola, isso
depende dos seus usos na sociedade maior. O uso da modalidade oral dá-se em um
número muito grande de situações, que nem sempre são familiares para os falantes
das línguas minoritárias. São situações que ocorrem, por exemplo, em rodoviárias,
hospitais, escolas, repartições públicas, locais de emprego etc. A tarefa da escola
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
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cade r no 1
Daí a complexidade do letramento em português escrito do aluno surdo, visto
que ele tem como língua materna uma língua de base visuoespacial – a LIBRAS –
e vai materializar a escrita numa outra língua de base oral/auditiva – o português
brasileiro. Decorre disso que as estratégias de letramento em português escrito não
poderão tomar como referência a consciência fonológica, visto que a língua de sinais
é visuoespacial. As pistas não serão fonológicas, mas visuais.
Como destacam Quadros e Schmiedt (2006, p. 23):
A aquisição do português escrito por crianças surdas ainda é baseada no ensino do
português para crianças ouvintes que adquirem o português falado. A criança surda
é colocada em contato com a escrita do português para ser alfabetizada em português
seguindo os mesmos passos e materiais utilizados nas escolas com as crianças falantes
de português. Várias tentativas de alfabetizar a criança surda por meio do português já
foram realizadas, desde a utilização de métodos artificiais de estruturação de linguagem
até o uso do português sinalizado.
Wilma Souza (CEEL/UFPE); Adriana Di Donato (CEEL/UFPE); Marie Goreth Dantas (UFPB); Kátia Conserva (IFPB);
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
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Este material foi produzido em nossa formação do PNAIC, no Município de Frei Martinho-PB.
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cade r no 1
Sabendo dessas particularidades do aluno surdo, o professor pode viabilizar
sua prática construindo materiais didáticos como os sugeridos acima. Além disso,
explorar a literatura visual (livros visuais) e as ilustrações presentes nas narrativas
infantis como via de acesso do aluno surdo ao letramento no português escrito,
tanto na leitura quanto na escrita, é uma estratégia extremamente produtiva, para
promover um ensino que leve em consideração o aluno e sua língua materna.
Como se vê, explorar a diversidade linguística na escola é um desafio que
precisamos enfrentar, e já estamos enfrentando. Propostas de letramento bilíngue
(escolas indígenas e de imigração), bidialetal (as variedades linguísticas presentes
na sala de aula) e bilíngue bimodal (português brasileiro escrito e língua de sinais)
precisam ser socializadas para a promoção da melhoria da educação básica nos
anos iniciais.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria OLIVEIRA, Gilvan Müller de (Org.) Decla-
de Educação Continuada, Alfabetização e Di- ração universal dos direitos linguísticos:
versidade. Referencial Curricular Nacional novas perspectivas em política linguística.
para as Escolas Indígenas. Brasília: MEC/ Campinas: Mercado das Letras, Associa-
SECAD, 2005. ção de Leitura do Brasil; Florianópolis: Ipol,
BRASIL. Senado Federal. Constituição da Re- 2003.
pública Federativa do Brasil. Brasília: Centro QUADROS, Ronice Müller; SCHMIEDT, Maga-
Gráfico, 1988. li. Ideias para ensinar português para alu-
D’ANGELIS, Wilmar da Rocha. Alfabetizan- nos surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
do em comunidade indígena. In: D’ANGELIS, RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Sobre as lín-
Wilmar da Rocha. Aprisionando sonhos: a guas indígenas e sua pesquisa no Brasil. Ciên-
educação escolar indígena do Brasil. Campi- cia e Cultura, São Paulo, v. 57, n. 2, p. 35-38,
nas, SP: Curt Nimendaju, 2012, p. 164-168. abr-jun/2005.
FERRAZ, Aderlande Pereira. O panorama RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. A originalidade
linguístico brasileiro: a coexistência de lín- das línguas indígenas brasileiras. ComCiên-
guas minoritárias com o português. Filolo- cia: revista Eletrônica de Jornalismo Científi-
gia e Linguística Portuguesa, n. 9, p. 43-73, co, SBPC, Linguagem: cultura e transformação,
jun./2007.
n. 23, agosto de 2001. Disponível em: <http://
MATTELART, Armand. Diversidade cultural www.comciencia.br/reportagens/linguagem/
e mundialização. Parábola: São Paulo, 2005. ling13.htm>. Acesso em março de 2015.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Compartilhando
Objetivos didáticos:
Na sequência didática trabalhamos com os objetivos didáticos das disciplinas
de Língua Portuguesa, Arte e História, listados a seguir:
História
– Identificar as práticas sociais e culturais específicas dos seus grupos e dos
demais grupos de convívio locais, regionais e nacionais, na atualidade.
– Identificar a si e às demais pessoas como membros de vários grupos de convívio
étnico-cultural.
Língua Portuguesa
– Compreender textos de diferentes gêneros e com diferentes propósitos, lidos por
outras pessoas.
– Antecipar sentidos e ativar os conhecimentos prévios relativos aos textos a serem
lidos pelo professor ou pelas crianças.
– Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêneros, lidos pelo
professor ou por outro leitor experiente.
– Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo a diferentes finalidades, por
meio da atividade de um escriba.
– Planejar e realizar entrevista, refletindo sobre suas funções e características.
– Participar de interações orais em sala de aula, questionando, sugerindo,
argumentando e respeitando os turnos de fala.
– Segmentar oralmente as sílabas de palavras e compará-las quanto ao tamanho.
– Perceber que as palavras diferentes variam quanto ao número, repertório e ordem
de letras.
Arte
– Vivenciar experiências educativas nas linguagens da dança.
– Conviver e acessar fontes vivas de produção da arte.
– Identificar no cotidiano a produção artística em diferentes ambientes.
– Respeitar, conviver, valorizar e dialogar com as diferentes produções artísticas de
circulação social.
75
cade r no 1
Caracterização da turma
Sou professora da Escola Municipal Monteiro Lobato, localizada no bairro de
Peixinhos, em Olinda – PE. Para essa sequência, escolhemos conhecer “O Balé
Majê Molê”, por se tratar de uma atuação baseada na cultura de matriz africana e
por sua sede ficar localizada no Centro Cultural Nascedouro, antigo Matadouro de
Peixinhos. A ideia foi promover na escola uma discussão sobre cultura afro, a partir
da identidade local.
Minha turma era composta por 18 alunos, dos quais 12 são meninos e 6 são
meninas. Os alunos apresentavam hipóteses de escrita bastante variadas, sendo
nove alunos alfabéticos, três alfabéticos iniciais, dois silábico-alfabéticos, dois
silábicos de quantidade, um silábico e dois pré-silábicos.
23
Esse livro faz parte do acervo 3.1 das Obras Complementares do PNLD.
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
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cade r no 1
escultura de Abelardo da Hora (estávamos trabalhando na disciplina de Artes sobre
as obras desse artista plástico). Comecei explicando para as crianças que cultura
tinha a ver com os conhecimentos, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes
e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem em sociedade24. Continuei a
aula perguntando o que entendiam sobre cultura afro. Uma aluna respondeu que
“afro” queria dizer “africano”. Esclareci aos alunos que afro é tudo que remete à
descendência do negro. Continuei: “E o que significa então ‘cultura afro’?” Os alunos
não se posicionaram sobre o significado dessa expressão. Então, expliquei que a
cultura afro é um conjunto de manifestações culturais relacionadas aos costumes
africanos que influenciaram e influenciam o nosso país. Também falei que vivemos
a cultura afro no dia a dia e, às vezes, nem percebemos nossas origens. Continuei
indagando os alunos se tinham conhecimento sobre a importância da cultura afro
para os brasileiros e em que locais ou atividades a cultura afro influenciou e ainda
influencia os brasileiros. Os alunos lembraram as músicas que havíamos trabalhado
e os conteúdos abordados na aula anterior.
Nesse mesmo dia, fiz um trabalho voltado para a apropriação do sistema de
escrita alfabética. Retomei os ritmos trabalhados em sala e fui listando cada um, junto
com os alunos; em seguida, fui escrevendo, ao lado de cada palavra, a quantidade
de sílabas, letras, vogais e quantas e quais consoantes estavam presentes em cada
palavra. Comparei ainda as palavras iniciadas com a mesma sílaba. Depois, comecei
a brincadeira de adivinhação das palavras dos ritmos trabalhados. Para realizar a
brincadeira, preparei fichas com os nomes dos ritmos e levei um envelope aberto.
Inicialmente, dei umas dicas sobre os ritmos e, em seguida, apresentei a primeira
letra da palavra escondida. Caso a criança pedisse, apresentava a última letra e se,
ainda assim, o aluno não acertasse, mostrava a primeira e a última sílaba. Os alunos
ficaram bem empolgados com a atividade e participaram ativamente, querendo
adivinhar a palavra que era do seu colega.
Na etapa seguinte da sequência, apresentei um pouco da história da dança
afro para as crianças, realizei a leitura de um pequeno texto informativo retirado da
internet que apresenta a sua história, significação e a representação dos seus passos.
Depois, contei aos alunos a história do Balé Majê Molê, a partir do livro “Peixinhos,
um rio por onde navegam um povo e suas histórias”, escrito por Zuleide de Paula
(Paula, 2009). Antes de realizar a leitura, solicitei que os alunos comparassem as
informações sobre a origem do Balé e ficassem atentos para registrar nos cadernos
informações que considerassem importantes. A seguir, segue um fragmento do
livro:
Em 1997, um grupo de pessoas liderado por Glória Maria e Gilson, seu marido, na época
integrante do grupo Arte Negra de Pernambuco, promovia festas em diversos lugares
para crianças carentes no dia 12 de outubro. Glória pensou e falou para o marido: “Gilson!
Este ano, como a festinha vai ser no bairro de Água Fria, vamos fazê-la o dia todo, vamos
inventar outra coisa além do quebra-panela e as corridas de saco e ovo na colher?” Ele
24
Site: <http://www.significados.com.br/cultura>. Acessado em 08/09/2014.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
responde e pergunta: Vamos, mas o quê? E Glória sugere: um balé. A dança foi agradando
os pais e as próprias crianças, daí teve início o Grupo Majê Molê, dirigido por Gilson e
sua esposa Glória. Segundo os fundadores, o nome MAJÊ MOLÊ é de origem Africana,
Yourubá, e significa “Crianças que Brilham.” (Paula, 2009 p.67-69).
79
cade r no 1
• Quanto tempo vocês levam para se arrumar antes das apresentações?
• Por que você faz parte do Balé Majê Molê?
• Como você conheceu o Balé? Alguém levou você ou você descobriu sozinha?
• O que você aprendeu no Balé, além da dança?
• Como você se sente fazendo parte do Balé?
• Qual foi o lugar onde você se apresentou que mais gostou?
Referências
Paula, Zuleide. Peixinhos, um rio por onde navegam um povo e suas histórias. Recife: Ba-
gaço, 2009.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Objetivos do trabalho
1. Reconhecer e valorizar os textos da tradição oral, percebendo-os como
manifestações culturais.
2. Conhecer os processos de produção da farinha, assim como sua origem.
3. Compreender o Sistema de Escrita Alfabética.
Relatando as aulas...
Inicialmente organizei os alunos em um grande círculo. Expliquei a eles que
cada um iria ser vendado e, em seguida, posicionado em um lugar específico na
sala de aula. Elucidei para a turma que ninguém poderia sair do lugar e nem
falar. Foi discutido cada detalhe e foram esclarecidas todas as dúvidas. Os alunos
demonstraram entusiasmo e sentiram-se motivados a participarem. Com as crianças
81
cade r no 1
vendadas, solicitei que cada uma adivinhasse o que estava sendo degustado. Todas
as crianças vivenciaram a experiência e, em roda, compartilhamos as sensações
dessa atividade.
FAROFA FEITA
COM FARINHA FOFA
FAZ A FOFOCA FEIA
Conhecendo o trava-língua.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Explorando o texto.
83
cade r no 1
das crianças. A pesquisa pode ser um grande instrumento na construção do
conhecimento do aluno, por isso se faz necessário que o professor, no cotidiano
escolar, oriente os alunos a buscarem informações, não só possibilitando uma
aprendizagem significativa, mas estimulando a postura investigativa.
Com as informações trazidas pelas crianças, seguimos para o laboratório de
informática, com a finalidade de assistirmos a um documentário sobre o alimento
farinha, sua origem, produção e benefícios. O vídeo possibilitou o confronto do
conhecimento trazido pelos alunos com o conhecimento científico. Após assistirmos
ao vídeo, organizei as crianças em duplas e solicitei que digitassem o trava-língua
da farinha. Para toda criança, confrontar suas idéias com as dos colegas e oferecer e
receber informações é essencial. Essa troca, que leva ao avanço na aprendizagem,
precisa ser bem planejada. É essencial conhecer quanto os alunos já sabem sobre
o desafio que será proposto, já que a organização da turma não pode ser aleatória.
Se o objetivo é que eles decidam conjuntamente sobre a escrita de um texto, é
importante juntar os que apresentam níveis de escritas diferentes, mas próximos
entre si, para que haja uma verdadeira troca de informações, e, assim, avancem no
sistema de aquisição da leitura e da escrita alfabética.
Para finalizarmos, escolhemos uma das receitas realizadas no meio familiar dos
alunos, para vivenciarmos na escola. A receita eleita foi a farofa de ovo cozido. As
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Referências
MELO, Veríssimo de. Folclore Infantil. Belo Horizonte: Editora Italiana Ltda., 1985.
LIMA, Maria Sonaly Machado de. A tradição oral no processo de aquisição da leitura e da
escrita: parlenda. 108 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal da Pa-
raíba. João Pessoa, 2008.
85
cade r no 1
Dança da língua e linguagem da dança:
aspectos de diferenças culturais e semelhanças sociais
Samuel Rocha de Oliveira
Introdução
As professoras Érika Guerra e Sonaly de Lima desenvolveram atividades com
turmas de pouco menos do que 20 crianças de escolas municipais de Olinda – PE
e João Pessoa – PB, respectivamente. A turma da professora Érika aproveitou o
contexto sociocultural de dança do Balé Afro Majê Molê, e a da professora Sonaly
trabalhou com atividades da tradição oral.
Ambas as atividades valorizam, na prática escolar, manifestações culturais
próximas às vivências das crianças: O grupo Majê Molê ensaia em local próximo ao
da escola, e as atividades de trava-língua utilizam, de maneira lúdica, um ingrediente
dos costumes culinários da região, a farinha de mandioca (ou aipim).
É interessante observar a relação dessas atividades com os chamados “universais
humanos”, isto é, aquelas características de pensamento, comportamento,
linguagem, relações sociais e culturais humanos que aparecem em todos os
grupos sociais até hoje estudados. Danças, músicas e brincadeiras para aperfeiçoar
habilidades são três exemplos de universais humanos. Nos anos 1990, os etnógrafos
compilaram uma lista de universais humanos com cerca de 300 itens para entender
a natureza humana. A lista e o próprio conceito de universais humanos provocaram
grandes discussões (PINKER, 2004). Sem entrar na polêmica de validação ou não
dos universais humanos, listo abaixo alguns itens daquela lista: brincadeira (para
aperfeiçoar habilidades); brincar de fingir; brinquedos (objetos lúdicos); comunicação
facial; contrastes de vogais; contrates vocálicos/não vocálicos em fonemas; cultura,
danças, emoções, expressão facial (de alegria, medo, raiva, surpresa, tristeza);
fala figurativa; fala infantilizada; folclore; fonema; identidades coletivas; mágica;
medos; música (de criança); períodos críticos de aprendizagem; poesia/retórica;
preferências alimentares; preparo de alimentos; provérbios/ditados; redundância
linguística; socialização. Vejo grande potencial na apropriação do conceito de
universais humanos como guias ou sugestões para se desenvolver atividades com
as crianças no Ensino Fundamental porque serão atividades que fazem ou farão
parte das construções culturais nas quais as crianças estão ou estarão envolvidas.
Vamos então comentar alguns aspectos dos relatos das professoras Érica e
Sonaly tendo como referencial teórico os universais humanos.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
significa que todas as pessoas dancem, mas todos os grupos sociais desenvolvem
algum tipo de dança. Convém observar a grande variedade de ritmos, coreografias e
significados dessa manifestação cultural, tendo diferenças regionais e temporais, e
sendo parte da identidade coletiva. Cada grupo social desenvolve as danças com as
características pertinentes à sua época, localização, às demandas de sobrevivência,
expectativas, visões de mundo e à composição. Em outras palavras, é uma
manifestação cultural muito complexa, mas aparece em todas as sociedades.
Assim, antes de sabermos “por que somos [...] diferentes”, poderíamos perguntar
a nós mesmos e às crianças: “Por que somos tão parecidos, do ponto de vista físico,
comportamental e cultural?”
Vejamos as semelhanças do ponto de vista físico, com algumas comparações
com o cão doméstico. Há cerca de 300 raças de cães que têm pelos ou cabelos, de
muitas cores e texturas distintas, de tamanhos que variam de 7 cm a 110 cm de
altura, em postura normal, isto é, o maior cão tem mais do que 15 vezes a altura do
menor (ALDERTON, 2002). Conhecem-se raças caninas com feições bem variadas,
tais como os tamanhos relativos e as geometrias do tronco, cabeça e rabo. E é
provável, mas não é garantido, que o comportamento dos cães tenha relações com
as raças, sendo algumas mais mansas do que outras.
Já para os seres humanos o conceito de raça é controverso, pois as diferenças
genéticas entre os seres humanos são mínimas e por isso não se admite atualmente
que a humanidade é constituída por raças.
E para efeitos de comparações externas, em relação aos cães, por exemplo, os
homens têm: pequena variação na altura; poucas cores e texturas diferentes de pele,
cabelo e olhos; e geometrias muito parecidas. Além disso, o comportamento humano,
em geral, é similar em qualquer lugar do planeta desde os tempos mais remotos da
história, tendo assim os universais humanos mencionados na Introdução.
Assim, acho importante percebermos que os seres humanos são muito
semelhantes entre si em um sentido bem amplo e que muitas características pessoais
são herdadas. Somos muito parecidos, pois somos da mesma espécie animal, e somos
diferentes “porque temos mães diferentes”. Essa observação da aluna da professora
Érika está de acordo com os pesquisadores da Biologia e Antropologia. Isto é, temos
muitas características comuns e outras diferentes, que são parte de nosso código
genético, de nossa herança. No entanto, desenvolvemos algumas características
sociais ou pessoais diferentes umas das outras, a depender do nosso meio ambiente,
tanto biológico quanto social.
Ao entendermos as origens das semelhanças e das diferenças, podemos ter
atitudes proativas de inclusão e valorização dos diferentes, não apenas tolerância
com a diversidade.
Dessa forma, a atividade da professora Érika permitiu aos seus alunos o
conhecimento com uma manifestação cultural que, por um lado, é local, do bairro,
e por outro lado evoca tradições históricas da cultura africana manifestada pela
87
cade r no 1
dança e ritmo em terras brasileiras, onde adquiriu outras características na forma
de cultura afro-brasileira. E como a professora Érika conclui, é importante “conhecer
outras manifestações”, não apenas do bairro, mas também da cidade, do estado
etc.
Cabe realçar que o trabalho de apropriação do sistema de escrita alfabética
aproveitou algumas palavras do ritmo e do texto informativo do Balé Majê Molê.
Isto é, a atividade cultural não foi separada do programa pedagógico regular – ela
foi parte integrada à alfabetização.
Senti falta, no entanto, de uma integração com o letramento matemático. Nas
considerações finais, proponho uma atividade lúdica inspirada em aspectos culturais
de estética, mágica e matemática – o quadrado mágico.
Considerações finais
A manifestação cultural da dança, música e ritmo, assim como o malabarismo da
língua para vocalizar rapidamente os trava-línguas, podem ser considerados como
parte dos universais humanos e, por essa razão, todos temos essas “tendências” desde
que nascemos. Dessa forma, a apropriação de atividades que valorizam e integram
esses universais humanos pode propiciar um transcurso natural para a criança partir
do que ela já tem, como natureza humana, para a educação fundamental formal e
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as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
Assim, uma atividade com o quadrado mágico pode conter elementos culturais
diversos, alguns mitos transcendentais e outras crenças localizadas (OLIVEIRA,
2011). O conhecimento de manifestações socioculturais diversas é um passo
fundamental para a alteridade e a inclusão da diversidade.
Referências
ALDERTON, David. Cães: um guia ilustrado com mais de 300 raças de cães de todo o mundo.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
BARICHELO, Leonardo, FERRAZ, Mariana. Quadrado mágico aditivo – experimento, in Cole-
ção M3 Matemática Multimídia. Disponível em: <http://m3.ime.unicamp.br/recursos/1028>,
2012 Acesso em março 2015.
OLIVEIRA, Samuel. Amuleto mágico – vídeo, in Coleção M3 Matemática Multimídia. Disponí-
vel em: <http://m3.ime.unicamp.br/recursos/1049>, 2011 Acesso em março 2015.
PINKER, Steven. Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2004.
25
Karin Kagi era aluna da disciplina Produção de Recursos e Materiais Didáticos para o Ensino de Ciências e Mate-
mática do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Unicamp em Setembro de 2014. A
ilustração foi feita como atividade desse componente curricular.
89
cade r no 1
Sugestões de Leituras
• ALVES et al. (Orgs.). Criar currículo no cotidiano. São Paulo: Cortez, 2002.
Partindo das inúmeras lembranças das conversas que tiveram com diferentes
educadores do Brasil, os autores do livro buscam contribuir para o debate no/do
campo do currículo a partir da criação de personagens-tipo que caracterizam as
escolas e as cidades nas quais estão localizadas. Os textos foram organizados
pelas datas dos encontros, permitindo aos leitores acompanhar os movimentos
das “conversas sobre lembranças de outras conversas”, ao mesmo tempo em que
vão sendo tecidas redes com os referenciais teórico-metodológicos usados. O
livro também se constitui em uma homenagem aos educadores brasileiros que,
apesar da situação difícil que, com muita frequência, vivenciam nos cotidianos
escolares, estão criando as artes do currículo, todo o tempo, em trajetórias
solidárias, muitas vezes, mas em outras, bastante solitárias.
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
as diretrizes curriculares nacionais da educação
básica e o ciclo de alfabetização
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Sugestões de Vídeos
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C urrículo na perspectiva da inclusão e da diversidade :
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básica e o ciclo de alfabetização
Reprodução
do mundo e do homem
Texto e Imagem: Raul Lody
Conhecer como o mundo foi criado e como o homem
passou a existir são dúvidas presentes no imaginário
de todos os povos. E cada um cria uma explicação
para isso. A leitura de Seis pequenos contos africanos
sobre a criação do mundo e do homem nos permite
conhecer como diferentes nações africanas explicam
a criação do mundo. Quem nos conta as histórias são
africanos que vieram para o Brasil. Por meio deles,
podemos entender que a África nos deixou um legado
muito maior do que imaginamos.
Kabá Darebu
Reprodução
Texto: Daniel Munduruku
Imagem: Marie Therese Kowalczyk
O livro Kabá Darebu descreve o modo de vida do
povo Munduruku, que mora nos estados do Pará e do
Amazonas. Kaká Darebu, uma criança que habita em
uma aldeia, na Floresta Amazônica, relata o modo
de vida de sua comunidade, os rituais religiosos, a
moradia, as relações materiais e simbólicas com a
natureza, as lendas, vestimentas, brincadeiras, a arte, alimentação, organização
das famílias, divisão dos trabalhos... e muito mais!
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Sugestões de Atividades
Momento 1 (4 horas)
1. Recepção e dinâmica de apresentação do grupo.
2. Avaliação do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa vivenciado em 2013 e
2014, com base em questões como:
– Quais foram as principais contribuições do Pacto pela Alfabetização para a
formação docente?
– Quais as mudanças que ficaram mais evidentes na relação ensino-
aprendizagem e no interesse/engajamento dos estudantes?
Reprodução
Acervo PBE, 2009. Livro Didático ou A vida em sociedade.
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Momento 2 (4 horas)
1. Leitura para deleite: Minha Escola (Ascenso Ferreira)
2. Exibição do vídeo “O currículo no ciclo de alfabetização” (disponível em: <http://
tvescola.mec.gov.br/tve/video;jsessionid=5C92C71CE13C9243872F9C09BF89
DFCD?idItem=5969>), para estabelecimento de relações entre os conteúdos
abordados.
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5. Conversa sobre avaliação, com base em questões como:
– Como você faz para diagnosticar as aprendizagens e dificuldades dos
estudantes de sua turma?
– Como você acompanha o desenvolvimento das aprendizagens dos estudantes
ao longo do ano?
– O que você faz para reorientar as atividades propostas em sala mediante as
necessidades de aprendizagens da turma?
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