Uso Da Escala de Desenvolvimento Motor: Uma Revisão Integrativa
Uso Da Escala de Desenvolvimento Motor: Uma Revisão Integrativa
Uso Da Escala de Desenvolvimento Motor: Uma Revisão Integrativa
1590/1982-0216/20192149918
Artigos de revisão
Karina Pereira3
https://orcid.org/0000-0001-7486-1004
1
Universidade Federal do Triângulo RESUMO
Mineiro, Uberaba, Minas Gerais, Brasil.
Objetivo: conhecer, compreender e analisar os estudos que utilizaram a Escala de Desenvolvimento
2
Universidade Federal do Triângulo
Mineiro, Departamento de Fisioterapia Motor como instrumento de avaliação motora.
Aplicada, Uberaba, Minas Gerais, Brasil. Métodos: foram utilizadas as bases de dados Scielo, Pubmed, Lilacs, Science Direct, Web of Science,
3
Universidade Federal do Triângulo Scopus e Cochrane para identificar os estudos, com as seguintes palavras-chave: crianças; destreza
Mineiro, Departamento de Fisioterapia motora; transtornos das habilidades motoras. A qualidade metodológica dos estudos transversais foi
Aplicada e Programa de Pós-graduação analisada pela Escala de Loney, dos estudos coorte e caso-controle pela Newcastle - Ottawa e dos
em Fisioterapia, Uberaba, Minas Gerais,
ensaios clínicos pela Physiotherapy Evidence Database.
Brasil.
Resultados: vinte estudos atenderam aos critérios de inclusão. A prevalência foi de estudos transversais,
que obtiveram como desfecho principal a análise do desenvolvimento motor de escolares, crianças com
Estudo desenvolvido na Universidade
Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, sobrepeso e obesidade, nascidas prematuras, com transtornos do déficit de atenção e hiperatividade,
Minas Gerais, Brasil. dificuldades de aprendizagem e síndrome de Down. Os estudos apresentaram critério objetivo para medir
o desfecho e interpretação e aplicabilidade dos resultados adequados, embora não tenham atingido pon-
Conflito de interesses: Inexistente
tuação mínima estabelecida pelas escalas de avaliação.
Conclusão: a Escala de Desenvolvimento Motor está sendo utilizada no Brasil, em diversos contextos,
apresentando resultados claros e estatisticamente consistentes, embora as metodologias dos estudos
não atendam plenamente padrões de qualidade metodológica.
Descritores: Crianças; Destreza Motora; Transtornos das Habilidades Motoras
ABSTRACT
Objective: to know, understand, and analyze studies that employed the Motor Development Scale as a
method for motor evaluation.
Methods: the study included the databases Scielo, Pubmed, Lilacs, Science Direct, Web of Science,
Scopus and Cochrane to identify the studies, using the following keywords: child; motor skills; motor
skills disorders. The methodological quality of cross-sectional studies was analyzed by the Loney scale,
cohort and case-control studies were assessed by the Newcastle-Ottawa scale, and clinical trials by the
Physiotherapy Evidence Database.
Results: twenty studies met the inclusion criteria. There was predominance of cross-sectional studies,
which had as main outcome the analysis of motor development of schoolchildren, children with obesity
Recebido em: 24/07/2018 and overweight, premature, with Attention Deficit Hyperactivity Disorder, learning disabilities and Down
Aprovado em: 05/04/2019 syndrome. The studies presented objective criteria to measure the outcome and for interpretation and
applicability of adequate results, although they did not reach the minimum score established by the asses-
Endereço para correspondência:
sment scales.
Maria Cecilia Souza Santos
Rua: Doutor Afrânio, nº 115, apto. 706 Conclusion: the Motor Development Scale is being used in Brazil in several contexts, presenting clear and
Centro statistically consistent results, although the methodologies of studies do not fully meet the standards of
CEP: 38440-072 – Araguari, Minas Gerais, methodological quality.
Brasil
E-mail: ceciliacarizzi@gmail.com Keywords: Child; Motor Skills; Motor Skills Disorders
1/9
2/9 | Santos MCS, Shimano SGN, Araújo LGO, Pereira K
INTRODUÇÃO MÉTODOS
A utilização de escalas padronizadas e instrumentos Esta revisão seguiu os passos da composição da
de avaliação do desenvolvimento motor na infância são revisão integrativa proposta por Mendes, Silveira e
Galvão12.
comuns na prática clínica e na pesquisa científica¹.
Foram utilizadas as bases de dados Scielo,
Estes instrumentos têm permitido aos profissionais
Pubmed, Lilacs, Science Direct e Web of Science,
detectar precocemente e compreender os mecanismos
Scopus e Cochrane, mais busca direta utilizando as
e as alterações do desenvolvimento psicomotor da
palavras chaves selecionadas para o estudo contem-
criança, além de auxiliar como ferramenta de triagem
pladas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)
diagnóstica no planejamento de intervenções preven- e no Medical Subject Headings (MeSH): “Children”,
tivas ou de reabilitação baseadas em evidências cientí- “Motor Skills”, “Motor Skills Disorders”. A partir destes
ficas da infância². descritores foi realizada a seguinte combinação com
A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) é um o auxílio dos indicadores booleanos AND e OR para
instrumento válido no Brasil e atualmente é uma das busca nas bases de dados: (“Child OR“Motor Skills”)
escalas mais abrangentes de avaliação motora para AND (“Child” OR Motor Skills Disorders”).
crianças, incluindo os principais domínios da psico- Para este estudo foram considerados como critérios
motricidade: motricidade fina, motricidade global, de inclusão: a) utilização da Escala de Desenvolvimento
Motor; b) estudo transversal, caso-controle, coorte,
equilíbrio, esquema corporal, organização espacial,
ensaio clínico randomizado ou quase experimental;
organização temporal e lateralidade3. O instrumento
c) publicações de 2008 a março de 2018; d) estudos
atende populações de crianças dos 2 aos 11 anos,
classificados em B1 ou superior segundo o Qualis
permitindo comparar quantitativamente a idade motora
na área de Educação Física e com fator de impacto
com a idade cronológica.
mínimo de 0,08; e) estudos publicados nas línguas
Na educação especial, a escala pode ser utilizada portuguesa, inglesa e espanhola.
para avaliar crianças com dificuldades de aprendi- Dois pesquisadores realizaram a busca nas bases
zagem escolar, transtornos do deficit de atenção de dados de maneira independente. As combinações
e hiperatividade (TDAH), ansiedade, ausência de das palavras-chave foram inseridas e os estudos
motivação, alterações neurológicas, mentais e senso- registrados em uma planilha. Os estudos duplicados
riais, atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor e e que não atenderam aos critérios de inclusão foram
problemas na fala, na escrita e no cálculo3,4. excluídos. Em seguida, iniciou-se a leitura na íntegra
das referências selecionadas. A organização das
Na área da saúde também foram identificadas
informações apresentadas ocorreu de acordo com os
pesquisas com diversas populações, como crianças
seguintes critérios: autores, ano de publicação, país
com desenvolvimento motor típico5-7 e atípico, cardio- de origem da pesquisa, idade, população, objetivo,
patia congênita8, síndrome de Williams9, autismo10 desenho do estudo e principais desfechos.
e crianças com síndrome de Down11. Esses autores Os critérios da qualidade metodológica dos estudos
observaram atrasos no desenvolvimento motor destas transversais foram analisados por meio da Escala de
crianças por meio da comparação da idade crono- Loney13, dos estudos longitudinais pela Newcastle
lógica com a motora. Ottawa quality assessment scale cohort studies (NOS)14
Neste contexto, observando a importância do e a análise da qualidade metodológica dos ensaios
uso da escala para atuar nas práticas baseadas em clínicos pela escala Physiotherapy Evidence Database
(PEDro, 2011)15. A pontuação dos estudos foi realizada
evidências, procurou-se responder a seguinte questão
por dois avaliadores independentes. Em caso de
norteadora: Em quais contextos a EDM vem sendo
discordância, os estudos foram reavaliados em
utilizada?
conjunto até que apresentasse um consenso relativo à
Portanto, o objetivo da pesquisa foi realizar pontuação final.
uma revisão integrativa com o intuito de conhecer, A Tabela 1 apresenta a análise da qualidade
compreender e analisar os estudos que utilizaram a metodológica dos estudos transversais por meio da
Escala de Desenvolvimento Motor como instrumento Escala de Loney13. Os itens não pontuados em todos
de avaliação motora. os estudos referem-se à ausência do cálculo amostral
(item 3) e do cegamento dos avaliadores (item 5), o que de qualidade metodológica preconizada pelo instru-
fez com que os estudos não atingissem a pontuação mento (sete pontos).
Qual é a Qual é a
Os métodos do estudo são válidos? interpretação aplicabilidade
Referências Pontuação Total
dos resultados? dos resultados?
1 2 3 4 5 6 7 8
Fonseca, Beltrame, Tkac16 (2008) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Rocha, Rocha, Bertolasce17 (2010) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Rosa Neto, Santos, Xavier, Amaro18 (2010) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Rosa Neto, Santos, Weiss, Amaro19 (2010) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Medina e Marques20 (2010) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Goulardins, Marques, Casella21 (2011) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Okuda et al.22, (2011) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Camargos et al.23, (2011) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Goulardins et al.24, (2012) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Rosa Neto et al.25, (2013) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Santos, Neto, Pimenta26 (2013) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Torquato et al.27, (2013) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Bucco-Santos e González28 (2013) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Silva; Dounis29 (2014) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Santos et al.30, (2015) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Rosa Neto et al.31, (2015) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Silva et al.32, (2016) 1 1 0 1 0 1 1 1 6
Legenda: 1- O delineamento do estudo e a amostragem são apropriados para responder a pergunta da pesquisa? 2- A base amostral é adequada? 3- O tamanho da
amostra é adequado? 4- São usados critérios objetivos adequados e padronizados para medir o desenvolvimento motor? 5- A EDM foi aplicada de uma forma não
enviesada? 6- A taxa de resposta é adequada? 7- Os resultados da EDM foram apresentados de uma forma detalhada? 8- Os participantes e o contexto são descritos
em detalhes e podem ser generalizados para outras situações?
Na Tabela 2 verifica-se a qualidade metodológica não cegamento dos sujeitos (item 5), terapeutas (item
dos estudos quase experimental, analisado pela 6) e avaliadores (item 7). Os estudos, portanto, não
PEDro15. Os estudos não pontuaram itens relacio- atingiram a pontuação de qualidade metodológica
nados à distribuição aleatória dos grupos (item 2), ao preconizada pelo instrumento (sete pontos).
SCIELO = 115
LILACS = 12
SCIENCE DIRECT = 0
WEB OF SCIENCE = 0
SCOPUS = 1
76 artigos duplicados COCHRANE = 2
Seleção
DESENHO
AUTORES ANO PAÍS IDADE AMOSTRA OBJETIVO DESFECHOS
DO ESTUDO
40 crianças Quociente motor classificado em
Fonseca Verificar o desenvolvimento
2008 Brasil 6 a 9 anos do ensino Transversal “normal baixo” a “muito superior”
et al.16 motor.
fundamental. pela EDM.
GI: 40 iniciantes no
Crianças com mais de 06 meses de
futsal. Investigar as contribuições
Rocha treinamento apresentaram médias
2010 Brasil 6 a 9 anos GII: 40 com seis da iniciação esportiva para o Transversal
et al.17 da idade motora geral superiores às
meses de treino no desenvolvimento motor.
da idade cronológica.
futsal.
Alta correlação entre a idade
101 escolares
Rosa Neto 6 a 10 Análise da confiabilidade da cronológica e a idade motora geral
2010 Brasil do ensino Transversal
et al.18 anos EDM. indicaram boa consistência interna
fundamental.
(0,889) e confiabilidade da EDM.
Alta correlação entre a idade
101 escolares Análise da consistência
Rosa Neto 6 a 10 motora fina e a idade motora geral
2010 Brasil do ensino interna da bateria de testes de Transversal
et al.19 anos indicaram boa consistência interna
fundamental. motricidade fina da EDM.
(0,834) da bateria de testes.
30 crianças com A idade motora foi inferior à idade
Medina 8 a 10 Avaliar o comprometimento
2010 Brasil dificuldade de Transversal cronológica em todos os testes
et al.20 anos motor.
aprendizagem. avaliados.
A idade motora foi inferior à idade
Goulardins 7 a 10 14 crianças com Avaliar o perfil psicomotor de
2011 Brasil Transversal cronológica em todos os testes
et al.21 anos TDAH. crianças com TDAH.
avaliados.
GI: 11 escolares
Comparar o desempenho da
Okuda 6 a 11 com TDAH. Idade motora fina foi inferior à idade
2011 Brasil coordenação motora fina em Transversal
et al.22 anos GII: 11 escolares cronológica para ambos os grupos.
escolares utilizando a EDM.
com dislexia.
13 crianças pré- Grupo pré-termo: desempenho
Comparar o desenvolvimento
Camargos termo. inferior na idade motora e quociente
2011 Brasil 7 e 8 anos motor de crianças prematuras Transversal
et a.l23 13 crianças a motor (motricidade fina) em relação
com crianças a termo.
termo. às crianças a termo.
GI: 34 crianças Crianças com TDAH obtiveram uma
com TDAH. idade média de -12,8 meses.
Goulardins 7 a 11 Avaliar o perfil motor de
2012 Brasil Transversal Crianças com desenvolvimento
et al.24 anos GII: 32 crianças crianças com TDAH.
motor típico, idade média de - 3,9
típicas.
meses.
57,8% das crianças apresentaram
166 escolares Analisar a lateralidade
Rosa Neto lateralidade destra completa,
2013 Brasil 8 a 9 anos do ensino cruzada dos escolares com a Transversal
et al.25 33,1% lateralidade “cruzada”, 7%
fundamental. utilização da EDM.
“indefinida” e 2% “sinistra”.
GI: crianças não
participantes de
projetos. O GIII apresentou quociente motor
Avaliar e comparar as
Santos GII: participantes classificado pela EDM como normal
2013 Brasil 8 a 9 anos habilidades motoras de Transversal
et al.26 de projetos sociais. médio em relação ao GII (normal
escolares.
GIII: participantes baixo) e o GI (inferior).
de projetos
esportivos.
Grupo equoterapia: quociente motor
Verificar o desenvolvimento
normal baixo no equilíbrio e muito
33 crianças com motor de crianças com
Torquato 4 a 13 inferior na motricidade global.
2013 Brasil de síndrome de síndrome de Down que Transversal
et al.27 anos Grupo fisioterapia: quociente motor
Down. realizaram equoterapia e
normal médio no equilíbrio e na
fisioterapia convencional.
motricidade global.
GI: 100 (peso
normal). O GIII apresentou idade motora
Bucco-dos Analisar o perfil motor de
6 a 10 GII: 90 (negativa) em todas as habilidades
Santos 2013 Espanha crianças com sobrepeso / Transversal
anos (sobrepeso). testadas pela EDM em relação à
et al.28 obesidade
GIII: 94 sua idade cronológica.
(obesidade).
DESENHO
AUTORES ANO PAÍS IDADE AMOSTRA OBJETIVO DESFECHOS
DO ESTUDO
Traçar o perfil do Os resultados mostraram média de
43 crianças
Silva 9 a 11 desenvolvimento motor 25,4 meses de atraso motor em
2014 Brasil do ensino Transversal
et al.29 anos de crianças com baixo relação à idade cronológica (idade
fundamental.
rendimento escolar. negativa).
Grupo controle:
40 meninos e 40
meninas. O quociente motor geral foi
Verificar o impacto da
Santos 7 a 10 Grupo de prática classificado como superior no
2015 Brasil atividade esportiva em Transversal
et al.30 anos sistematizada: 40 grupo de prática sistematizada em
escolares.
meninas do balé relação ao grupo de escolares.
40 meninos do
futsal.
GI: 50 crianças
com diagnóstico Comparar o desenvolvimento Crianças com TDAH: idade motora
Rosa Neto 5 a 10
2015 Brasil clínico TDHA. motor de crianças com TDAH Transversal negativa de quase 24 meses em
et al.31 anos
GII: 150 crianças com crianças típicas. relação às crianças típicas.
típicas.
GI: 10 crianças O grupo de crianças termo
nascidas pré- apresentou diferenças significativas
Comparar o desenvolvimento
Silva termo. em relação ao grupo de crianças
2016 Brasil 3 anos motor de crianças nascidas Transversal
et al.32 pré-termo nas habilidades motoras
GII: 10 crianças a pré-termo e a termo.
finas, grossas, na organização
termo.
espacial e temporal.
28 crianças
Avaliar o desenvolvimento
com atraso no O quociente motor geral modificou
Fernani 6 a 11 motor antes e após a Quase
2013 Brasil desenvolvimento de normal baixo para normal médio
et al.33 anos aplicação de intervenção experimental
motor e dificuldade na maioria das crianças.
motora.
de aprendizagem.
GC: 27 crianças
Avaliar os efeitos de um
(educação física). GE: avanços na motricidade fina e
Silva 8 a 10 programa de intervenção em Quase
2017 Brasil GE: 27 crianças no equilíbrio em relação ao grupo
et al.34 anos escolares de oito a 10 anos experimental
(intervenção controle.
da rede pública.
psicomotora).
O quociente motor geral (QMG)
Crianças com mostrou atraso no desenvolvimento
atraso no Analisar o perfil motor ao longo do tempo, no
6 a 24
Santos desenvolvimento biopsicossocial de período lactente as crianças
2016 Brasil meses/ 8 Longitudinal
et al.35 motor avaliadas crianças com atraso no foram classificadas em «normal
a 9 anos
entre 6 e 24 desenvolvimento motor médio» (QMG=95,48) e no
meses. decorrer dos anos como «inferior»
(QMG=75,23).
Legenda: GI: grupo I; GII: grupo II; GIII: grupo III; EDM: escala de desenvolvimento motor; TDAH: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade; GC: grupo controle;
GE: grupo experimental.
Em relação à categorização, no que se refere Dois estudos em escolares foram de validação das
ao idioma, 65% dos estudos foram publicados em provas motoras do instrumento e mostraram alta corre-
português, 30% em inglês e 5% em espanhol. Em lação entre a idade cronológica e a idade motora geral
indicando boa consistência interna da EDM18,19 sendo
relação ao país-sede, todos foram desenvolvidos no
que as crianças não apresentaram atraso no desenvol-
Brasil. Quanto ao periódico de publicação, 90% dos
vimento motor.
estudos foram publicados em revistas nacionais e 10%
Nos escolares participantes de projetos sociais
em internacionais. Dos estudos selecionados, 85% esportivos, os desfechos mostraram vantagens no
foram transversais, apresentando resultados claros desempenho em todas as habilidades testadas pela
quanto ao objetivo. EDM em relação às crianças não participantes26.
Resultados semelhantes foram obtidos na prática A maioria dos estudos encontrados nesta revisão
sistematizada de atividade física30. No futsal, os parti- foi em crianças com desenvolvimento motor típico
cipantes que praticavam a atividade há mais de seis e, no que diz respeito à amostragem o “n” foi maior
meses apresentaram inclusive idade motora superior à nesta população16-20. Em estudos para diagnósticos
idade cronológica17. situacionais, como os realizados com esta escala em
Os desfechos principais nesta população escolares, espera-se, como ocorrido, uma amostra
mostraram a importância do acesso à atividade física mais expressiva. Já em crianças com desenvolvimento
para o desenvolvimento motor. As evidências cientí- motor atípico27, pela própria dificuldade do diagnóstico
ficas embasam estes desfechos28,29,36, visto que a clínico prévio, a amostragem foi menor.
prática esportiva influencia de forma positiva o desen- Apenas um estudo foi realizado em crianças com
volvimento da criança. Os pesquisadores mostraram síndrome de Down menor de 7 anos27. Em faixa etárias
que crianças com desempenho inferior nas habilidades maiores destacam-se os estudos em crianças com
locomotoras são fisicamente menos ativas e motivadas desenvolvimento motor típico, no qual o ambiente
do que crianças com habilidades motoras superiores28. escolar foi o foco dos estudos, tendo em vista a
A oportunidade de acesso à atividade física, não facilidade de se obter uma amostra maior e mais
necessariamente o exercício físico monitorado, é uma homogênea.
forma de promover melhora no desenvolvimento e nos A EDM mostrou nos estudos ser uma ferramenta
aspectos sociais. Programas de intervenção motora que permite identificar e analisar o desenvolvimento
também auxiliam na aquisição destas habilidades33,34. motor na infância abrangendo todos os aspectos
relevantes da psicomotricidade.
O estudo proposto por Fernani et al.33 demostrou
que crianças com dificuldade de aprendizagem
obtiveram melhora nos resultados das provas de CONCLUSÃO
esquema corporal, na organização espacial e temporal. A revisão integrativa permitiu identificar que a EDM
Crianças escolares submetidas a um programa de está sendo utilizada no Brasil, em diversos contextos,
intervenção motora apresentaram melhora na motri- sendo a maioria estudos transversais, com prevalência
cidade fina e no equilíbrio34. acima dos 6 anos de idade e desenvolvidos tanto na
O instrumento vem sendo utilizado principalmente população de escolares com desenvolvimento motor
em crianças com dificuldades de aprendizagem20,33,36,37 típico quanto atípico. Os desfechos apontaram para
e TDAH21,22,24,31,38, e os autores mostram uma correlação evidências científicas detalhadas quanto ao desenvol-
intrínseca entre o desenvolvimento motor e a aprendi- vimento motor destas populações, embora os estudos
zagem25,29,33. Nos estudos em crianças com transtorno não tenham atendido aos padrões de qualidade
do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)21,22,24,31, a metodológica, preconizados pelos instrumentos de
idade motora foi inferior à idade cronológica em todos avaliação utilizados.
os estudos, semelhante aos estudos encontrados
em crianças com dificuldades de aprendizagem29,33 e REFERÊNCIAS
nascidas prematuras23,32. 1. Madaschi V, Paula CS. Medidas de avaliação do
No estudo selecionado relativo à criança com desenvolvimento infantil: uma revisão da literatura
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desenvolvimento motor dos participantes com impacto 3. Rosa Neto F. Manual de Avaliação Motora.1ª ed.
negativo nos obesos28. Porto Alegre: ArtMed; 2002.
Crianças escolares com dificuldades de aprendi- 4. Rosa Neto F. Manual de Avaliação Motora:
zagem e baixo nível socioeconômico apresentaram intervenção na educação infantil, ensino
atraso no desenvolvimento motor na fase escolar fundamental e educação especial. 3ª ed. revisada.
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