Rodrigues e Costa 2012
Rodrigues e Costa 2012
Rodrigues e Costa 2012
RESUMO
Os riscos de deslizamentos de terra e alagações na comunidade do Lago Azul assim como em outras
localidades na cidade de Manaus, são consequências dos problemas de ordem social, política e
econômica de acesso à moradia e a perturbação nos sistemas naturais, na ocupação de encostas e
margens de canais de drenagem, assim como do valor do solo urbano. O trabalho tem por objetivo
identificar os riscos de deslizamentos e alagações na comunidade do Lago Azul. Foram utilizados os
procedimentos teórico-metodológicos de formação socioespacial de SANTOS (1977) e a abordagem
dos geossistemas em BERTRAND (2004), além de trabalhos de campo para análise da paisagem e
entrevistas com os sujeitos envolvidos. Foram observados problemas de ordem infraestrutural na
circulação de águas pluviais e de esgotos, identificados na falta de calçamentos, canaletas e
pavimentação em grande parte das vias e também na baixa qualidade estrutural das moradias,
problemas ligados a pobreza que deflagraram processos erosivos como sulcos e ravinamentos devido a
falta de infraestrutura, além da atuação contraditória do poder público na prestação de serviços
básicos. De modo geral os riscos de deslizamento de terra e alagações estão vinculados ao próprio
modo de produção capitalista do espaço urbano exemplificados no grande número de moradias á
venda onde grupos sociais de menor renda ocupam áreas para a constituição de moradias de maneira
irregular. Os problemas envolvendo os riscos de deslizamentos e alagações na comunidade do Lago
Azul assim como em vários bairros da cidade também é reflexo da fragilidade do poder público na
fiscalização e controle e na falta de políticas públicas de uso e ocupação da terra, no espaço urbano.
PALAVRAS CHAVES
Risco, Geossistemas, Socioespacialidade.
ABSTRACT
The landslides and flashfloods risk in the Lago Azul Community as well other locations in the city of
the Manaus, are consequences of the social problems of housing affordability and the disruption of
natural systems, in the occupation of hillsides and banks of drainage channels. This study aimed to
identify the risks of landslides and flashfloods within the socio-spatial problems and his intercession
with the Geosystems in the Lago Azul community. Were used the following theoretical and
methodological training of SANTOS (1977) and the approach based on Geosystems BERTRAND
(2004), and field work for landscape analysis and interviews with those involved.Were observed
infrastructural problems in the movement of stormwater and sewage, identified on the lack of
sidewalks gutters and paving in several parts of the way and also the low structural quality of housing
problems such as erosion that sparked ridges and ravines, and the contradictory role of government in
providing basic services. In general the risks of landslides and floodings are connected to own
capitalist mode of production of urban space exemplified by the large number of villas for sale where
the lower income social groups occupy areas housing to form in irregular manner.The problems
involving the risk of landslides and flooding’s in the community of Lago Azul as well as in several
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neighborhoods of the city is also a reflection of the weakness of government in the supervision and
control and lack of public policies for use and occupation of land in urban space.
KEYWORDS
INTRODUÇÃO
Quanto à dimensão dos sistemas naturais que envolvem as situações de risco de deslizamentos
e alagações, estão os Geossistemas, onde estão presentes os ambientes geológicos, geomorfológicos,
hidrogeomorfológicos, ecossistêmicos, climatológicos e também os grupos sociais e as interações
nesses diversos ambientes de energia e matéria nos diferentes lugares conforme TRICART (1977). A
cidade de Manaus está assentada sobre a formação Alter do Chão de idade Cretácea segundo SILVA
(2005). A morfologia do relevo da cidade é composta por baixos planaltos argiloso-arenosos bastante
dissecados pela extensa rede de canais de drenagem, conhecidos localmente por “igarapés”, da qual
foram originadas as colinas tabulares presentes na paisagem da cidade, onde segundo AB’SÁBER
(2004, p.203):
O terraceamento regional nada tem haver com a calha do Rio Negro, mas
sim com trechos curtos dos flancos dos pequenos vales constituídos pelos
igarapés que seccionam o tabuleiro.
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OBJETIVOS
METODOLOGIA
A comunidade do Lago azul localiza-se na zona norte de Manaus (Mapa) sendo efetivado
como Bairro com o decreto de Lei Municipal N. 1.401, de 14 de Janeiro de 2010, sua área abrange
uma superfície de 2961,87 ha (Diário Oficial do Município). O Bairro encontra-se na área de expansão
urbana da cidade e surgiu de um loteamento seguido de ocupação irregular conforme os moradores do
local.
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Mapa: Localização da comunidade do Lago Azul na zona urbana de Manaus, Denise Cruz.
Nesse processo grupos de menor renda economica, na falta de espaços para moradia acabam
estabelecendo-se em áreas inadequadas como encostas e em margens alagáveis de canais fluviais
(Figura 1). Portanto a especulação imobiliária pelo monopólio da terra, se configura como um dos
principais processos que contribuem para a formação de áreas de risco além de gerar áreas exclusão
socioespacial, onde segundo LOJKINE (1981,p.166)
A B
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Figura 01: Exemplos de auto-construção e do conteúdo de paisagens que compõem áreas e risco
devido a falta de infra-estrutura. Ocupação em fundo de vale (A), e casa construída sobre aterro
instável (B).
C D
Figura 02: Exemplos das formas em que a erosão é um elemento da vida cotidiana na comunidade.
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Erosão em encosta que recebe lixo doméstico (C), erosão por voçorocamento na Rua Travessa 13(D).
Foto: Denise Cruz (Julho/2011) (C) e (D).
A comunidade possui deficiencias quanto aos serviços básicos de água, energia elétrica e
coleta de lixo. Não há na comunidade serviço de distribuição de água, sendo a água utilizada é
proveniente de poços ou cacimbas e de bicas instaladas pelos moradores. A energia elétrica cobre
apenas parte da comunidade, principalmente a área onde há ruas pavimentadas, ficando a outra área,
não urbanizada, dependendo desvios clandestinos de energia elétrica. O serviço de coleta de lixo é
feito irregularmente segundo os moradores, havendo dias em que os serviços são realizados e em
outros não sendo realizados. A prestação, mesmo que ineficiente, de serviços básicos em áreas de risco
é exemplo da atuação contraditória do poder público que não resolve os problemas que envolvem os
riscos, processos erosivos e ocupação de margens alagáveis, mas atua na prestação de serviços como a
energia elétrica, e na cobrança de impostos.
E F
Figura 03: Exemplos da infra-estrutura de acesso a água para consumo doméstico e de descartes de
águas servidas. Cacimba utilizada por moradores na comunidade (E) e igarapé canalizado
Foto: Tiago F. Rodrigues (Julho/2011) (E) e (F).
Foi realizada a identificação dos riscos em uma pré-setorização (Figura 4), onde foram
delimitadas as áreas de ocorrências de deslizamentos (vermelho) e alagações (azul) na comunidade do
Lago Azul. A delimitação das áreas vulneráveis aos riscos de deslizamentos e inundações foi baseada
na metodologia utilizada pelo IPT (2007), onde foram levantadas características das encostas como: o
padrão construtivo das casas (madeira ou alvenaria); tipo de encostas (natural ou aterro); presença de
vegetação (árvores, capim, etc.); distância das moradias ao topo ou a base dos taludes; origem e
destino das águas servidas, água das chuvas, condições do sistema de drenagem (rede de esgoto) ou
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presença de exfiltração de água na encosta e sinais de feições (trincas, degraus, fraturas, entre outros).
Para a delimitação da vulnerabilidade de riscos de inundação/alagação foram levantadas as
características das margens dos igarapés como a distancia das moradias ao eixo de drenagem e
vulnerabilidade da ocupação ribeirinha.
Com base nos trabalhos de campo e na observação dos processos envolvidos, além de dados
do histórico de ocorrências fornecidos pela Secretaria Municipal de Defesa Civil (SEMDEC) foi
possível fazer o mapeamento de riscos da área em estudo. A comunidade tem um histórico de quatro
ocorrências registradas pela Defesa Civil, sendo três ocorrências de alagações registradas em 2008 nas
ruas Alameda B, Travessa Onze e Travessa Quatorze e uma ocorrência de deslizamento registrado na
Rua Doze em Fevereiro de 2010.
Figura 04: Carta-imagem da plotagem e setorização feita a partir das ocorrências de alagação (em
azul) e deslizamentos (em vermelho).
CONCLUSÃO
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Contudo há também carências em estudos mais detalhados, como mapeamentos que visem
mostrar qual a situação real das áreas de risco na cidade para que possa servir de base á futuras
políticas públicas para a resolução ou minimização dos riscos de deslizamento e alagações. Esses
processos são resultantes das ações da natureza (chuvas, erosões, inundações entre outros) e
principalmente da sociedade (alterações nas paisagens naturais e em seus sistemas), e das instituições
(poder público estadual e municipal) e as desigualdades e injustiças espaciais.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB’SÁBER, Aziz Nacib. A cidade de Manaus In: A Amazônia do Discurso á práxis. 2ed. São
Paulo: EDUSP, 2004.
BERTRAND, Georges. Paisagem Geografia Física Global: Esboço Metodológico. Revista Ra’EGa,
n:08. Curitiba: Editora UFPR, 2004.
COSTA, Reinaldo Corrêa; CASSIANO, Karla Regina Mendes & CRUZ, Denise Rodrigues. Áreas de
risco em Manaus – Inventário preliminar. Manaus, 2009.
LOJKINE, Jean. O estado capitalista e a questão urbana. Martins Fontes. São Paulo: Editora
Ltda,1981.
HARVEY, David. A Justiça Social e a Cidade. Tradução: Armando Corrêa da Silva, São Paulo:
Hucitec, 1980.
IPT. Mapeamento de riscos em encostas e margens de rio. Ministério das Cidades. Brasília, 2007.
SANTOS, Milton. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. Boletim
Paulista de Geografia, n: 54, São Paulo, 1977.
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SUGUIO, Kenitiro. Geologia Sedimentar, São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 2003.
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