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Irrigação Da Mangueira

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· Editores Técnicos

Pedra Jaime de Carvalho Genú


Alberto Carlos de Queiroz Pinto
Capítulo 9

Irrigação
Eugênio Ferreira Coelho
Áureo Silva de Oliveira
Antenor de Oliveira A. Netto
Antônio Heriberto de Castro Teixeira
Eugênio Celso Emérito Araújo
Luís Henrique Bassoi
Irrigação

Introdução
A produção de manga (Mangifera indica, L.) no Brasil vem crescendo continuamente
em virtude da incorporação de novas áreas ao processo produtivo. A reqião'semi-árida do
Nordeste brasileiro, onde a irrigação desempenha papel fundamental para o sucesso da
mangicultura, é a que tem mais contribuído para o aumento da produtividade nacional e
melhoria da qualidade dos frutos. No vale do Rio São Francisco, na microrregião de Juazeiro, BA
e Petrolina, PE, a área plantada era de 3.200 ha em 1991 e em 1997 alcançou 10.200 ha
(Lopes, 1999) - um crescimento de 219%. No entanto, por despreparo ou falta de orientação,
mangicultores daquela e de outras regiões produtoras do País têm problemas em conduzir
adequadamente a irrigação, ora aplicando água em excesso ora submetendo as plantas ao
estresse hídrico. Nessas condições, a cultura pode não expressar o seu potencial máximo
de produção e os custos com a irrigação podem se tornar muito altos. Pelo seu alto custo de
implantação e manutenção, os produtores devem procurar otimizar o sistema de irrigação,
explorando todas as suas possíveis vantagens, como, por exemplo, a fertirrigação, que, por
meio dos sistemas pressurizados, faculta a aplicação de fertilizantes com mais eficiência.

A intensificação da fruticultura irrigada, no que pese o agravamento de conflitos pelo


uso da água em algumas regiões, tem efeito positivo em dois aspectos dos mais importantes
na moderna e globalizada economia atual, quais sejam: o aumento da produtividade das culturas
e a melhoria da qualidade dos frutos, tornando-os mais competitivos. Tem-se verificado, no
caso da manga, que o simples uso da irrigação, sem o emprego necessariamente de técnicas
de manejo, garante produtividades médias em torno de 25 t/ha", ao passo que, em áreas de
sequeiro, a produtividade média gira em torno de 12 tlha-1.

Por se tratar a irrigação de um suplemento tecnológico de alto custo e capaz de


proporcionar incrementos significativos na produção agrícola, pelo aumento da produtividade,
a aplicação adequada de água, na quantidade certa e no momento exato, é o objetivo principal
a ser perseguido. A aplicação indiscriminada de água, sem bases técnicas, leva comumente
ao desperdício também de energia, significando gastos desnecessários e comprometimento
do meio ambiente.

A atual posição de destaque da manga no cenário frutícoia nacional e internacional


vem requerendo, por parte dos técnicos e produtores, constante atualização e melhor
compreensão das relações entre essa cultura e a tecnologia de irrigação.

Métodos de Irrigação
Os métodos de irrigação por superfície (sulcos, bacias em nível, faixas), bem como
a aspersão subcopa fixa ou móvel e a irrigação localizada (gotejamento e microaspersão),
podem ser usados com a cultura da manga. A seleção do método e do sistema de irrigação
mais adequado a uma dada situação depende de avaliação dos recursos físicos existentes,

I 167
A Cultura da Mangueira

tais como suprimento de água (quantidade, qualidade e localização), características dos


solos (textura, estrutura, profundidade, salinidade, drenagem, topografia, erosibilidade)
e o sistema planta-clima, em que se deve levar em conta a adaptabilidade da cultura
às condições climáticas de cada local. Além do levantamento desses recursos físicos,
deve-se fambém considerar a disponibilidade de capital para investimento,
disponibilidade de mão-de-obra para condução da irrigação, disponibilidade e consumo
de energia, viabilidade econômica e implicações para o meio ambiente.

A cultura da manga, sob condições irrigadas, vem sendo cultivada principalmente


no Semi-Árido, onde os recursos hídricos são escassos e a racionalidade no uso da
água é um imperativo, isto é, a eficiência da irrigação deve ser a maior possível. Com
relação a esse aspecto, o método de irrigação por superfície tem sido o menos adotado,
sendo, em geral, considerado de eficiência menor que os métodos pressurizados.

A irrigação por aspersão, além do maior consumo de energia, apresenta eficiência


de aplicação entre 50% e 75%, o que indica perdas significativas de água (Allen, 1992).
Valores baixos do coeficiente de uniformidade de Christiansen - CUC devem-se à
interceptação do jato d'água pela copa das plantas e ao umedecimento das entrelinhas
(100% de área molhada), favorecendo o desenvolvimento de ervas daninhas. Tais
desvantagens se agravam na floração, quando os jatos podem causar redução no número
de panículas e afugentar os insetos polinizadores (Silva et aI., 1996).

o sistema de irrigação mais usado com a mangueira é a microaspersão,


principalmente pela maior área molhada que ele proporciona em relação ao gotejamento
em solos de textura média a arenosa (Allen, 1992). Os sistemas de microaspersão
geram eficiência de aplicação entre 70% e 95%. Os microaspersores apresentam
vazões entre 15 e 200 L.h- , operando com pressões na faixa de 80 a 350 kPa.
1

Atualmente, há vários tipos de microaspersores no mercado, com variados padrões


de molhamento, que vão desde um círculo completo (360°) até um quarto de circulo
(90°). Há também microaspersores com dispositivos que permitem aumentar o raio de
ação de acordo com o desenvolvimento da planta.

O sistema de gotejamento é também de alta eficiência (70% a 95%) e de menor


demanda de energia, embora o custo inicial seja alto. Para mangueiras com
espaçamento de 8 x 5 m, 5 a 6 gotejadores por planta têm sido suficientes, embora,
teoricamente, essa quantidade resulte em uma área molhada de 14% a 16% da área
de ocupação da planta (solo homogêneo de textura média, diâmetro molhado de 1,2
m). Pode-se usar apenas uma linha de gotejadores por fileira disposta em anel ao
redor da planta com os gotejadores igualmente espaçados, ou uma ramificação por
planta (rabo de porco). Em certos casos, são necessárias até 2 linhas de gotejadores
por fileira de plantas. Em solos de textura arenosa, sem gradientes texturais que
retenham a infiltração no perfil, a microaspersão é aconselhável, entretanto, apesar
da diferença de área molhada nos dois sistemas de irrigação localizada, não se pode
generalizar a microaspersão como mais adequada à cultura da manga. O uso do
gotejamento, em alguns casos, tem propiciado produtividades similares às obtidas com
o emprego da microaspersão.

Necessidades Hídricas
As necessidades de irrigação da mangueira devem ser determinadas com base em
avaliações do solo e clima. Entretanto, devem ser feitas correções em função do estádio de
vida e da fenofase da planta.
Irrigação

Demanda Hídrica e Fenologia

Soares & Costa (1995) recomendaram, para as condições do Semi-Árido, diferenciar


o manejo de aplicação da água à mangueira em seis períodos distintos: pré-plantio, plantio
e desenvolvimento inicial, desenvolvimento, repouso fenológico, estresse hídrico e reinício
da irrigação. Para as regiões subúmidas, onde se registram índices pluviométricos de 1.200
a 1.600 mm por ano, apesar de concentrados em 6 meses, deve-se considerar os seguintes
períodos e subperíodos: período não-produtivo, que vai desde o preparo das covas e plantio
até antes da primeira indução floral para produção, e período produtivo, que envolve a
floração e frutificação.

Preparo de Covas, Plantio e Pegamento

Apesar desse processo poder ser efetuado fora do período chuvoso, com irrigação,
é mais viável executá-Io no período das chuvas, visto que, além das necessidades hídricas
serem satisfeitas, a temperatura do ar mais baixa e a umidade relativa mais alta proporcionam
índices mais favoráveis de pegamento. Esse subperíodo se prolonga até 6 meses, época
em que termina o período chuvoso.

Desenvolvimento Vegetativo

É a fase de formação da arquitetura de copa a qual vai suportar o futuro crescimento


produtivo. Inicia-se após o pegamento da muda, terminando antes da primeira indução, a
qual é feita no terceiro ano pós-plantio.

Período Produtivo

Nesse período, deve-se considerar as diversas fenofases da planta, bem como o


cronograma de produção da propriedade.

Emissão foliar

Nas condições subúmidas, os surtos vegetativos se prolongam por um longo período


do ano, com maior intensidade de emissão nos meses mais chuvosos.

Pré-floração

Em regiões subúmidas, onde o crescimento vegetativo é intenso, somente a aplicação


de retardantes de crescimento, como o paclobutrazol, não é suficiente para a paralisação do
crescimento, a qual é o pré-requisito básico para a iniciação floral. É imprescindível a aplicação
de estresse hídrico, o qual, ao reduzir a turgescência celular, paralisa o crescimento como
primeiro efeito. Nas condições subúmidas do Meio-Norte do Brasil, após o período chuvoso,
as plantas devem permanecer sem irrigação por 60 a 70 dias, sendo irrigadas novamente
apenas no início da floração.

Floração

Nessa fase, as irrigações devem ser reiniciadas tão logo haja a emergência das
primeiras panículas. A mangueira necessita de água durante a formação floral, todavia essa
necessidade não chega a ser crítica. Na índia, recomenda-se irrigar em intervalos mensais
no final do inverno para retardar a floração, tendo em vista a maior ocorrência de malformação
floral naquele período. Tem sido verificado, experimentalmente, que a irrigação não é

I 169
A Cultura da Mangueira

recomendável durante a fase de diferenciação do broto floral, devendo ser iniciada somente
na emergência da panícula. Nunez-Elisea & Davenport (1994), avaliando o efeito da
temperatura do ar e do estresse hídrico sobre a floração da mangueira, concluíram que o
fator principal na diferenciação floral é a temperatura. A deficiência hídrica no solo retarda o
crescimento das gemas vegetativas e colabora para o crescimento das gemas florais.

Crescimento dos Frutos

A tase de crescimento de frutos é a fase de maior demanda hídrica do ciclo produtivo,


onde a ocorrência de deficiências hídricas pode afetar seriamente a produção. A fase da
planta mais crítica à falta de água está compreendida entre a quarta e a sexta semana
após o estabelecimento dos frutos, quando um período de 30 dias sem irrigação é suficiente
para reduzir o tamanho dos frutos em 20% em comparação com a cultura sob irrigação
(Schaffer et aI., 1994). -

Evapotranspiração

A necessidade de água da mangueira, assim como de outras culturas, está relacionada


com a evapotranspiração (E7). A ET é um fenômeno de transferência de água na forma de
vapor a partir da superfície do solo (evaporação) e da superfície das folhas através dos
estômatos (transpiração), envolvendo fluxo de massa e de energia na camada atmosférica
próxima à superfície. Assim, ao se quantificar a evapotranspiração da cultura (ETc) , num
.determinado intervalo de tempo, quantifica-se sua necessidade hídrica naquele intervalo.
A definição de ETc, como apresentada neste texto, implica que a água não é fator limitante
ao pleno desenvolvimento da cultura.

A equação de Penman-Monteith é uma das mais completas como modelo


simulador do fenômeno natural da ET, pois leva em conta a influência de elementos
meteorológicos (radiação solar, temperatura, vento) e os parâmetros fisiológicos da planta
(resistência estomática) ou indiretamente ligados à planta e à atmosfera em redor da
planta (resistência aerodinâmica). A equação de Penman-Monteith pode ser escrita da
seguinte forma (Allen, 1992):

~ . (Rn - G) + P . cp(ea - ed)


ET = ra (1) r

~+)'.(1+~) ra
em que:

ET = evapotranspiração da área cultivada (Md.rrrs.dia').

Rn = radiação líquida na superfície da cultura (Md.rrrs.dia"),


G = fluxo de calor sensível no solo (Md.rns.dia').
p = densidade do ar (kq.m').
cp= calor específico do ar = 0,242; MJ.kg- -C. 1

(ea - ed) = déficit de pressão de vapor (kPa).

Ll= inclinação da curva de pressão de vapor versus temperatura do ar (kPa. °C·1).

)' = constante psicrométrica (kPa. °C-1).


Irrigação

ra =resistência aerodinâmica à transferência de calor da superfície da folha para a


atmosfera (dia.m').

rs = resistência à difusão do vapor do interior dos estômatos para o ar (dia.rn').

o uso de modelos matemáticos, como o de Penman-Monteith, para estimativa prática


e direta da ETc tem ainda encontrado obstáculos (Jensen et aI., 1990), em razão,
principalmente, das dificuldades de obtenção das resistências aerodinâmica e estomática.
Experimentalmente, a ETc pode ser obtida por diferentes métodos, sendo os mais estudados,
para a mangueira, o do balanço hídrico em lisímetros ou em parcelas no campo e o da razão
de Bowen (Silva, 2000). O uso desses métodos requer equipamentos, muitas vezes
indisponíveis, limitando a obtenção experimental da ETc.

Portanto, a estimativa de ETc para fins de irrigação ainda requer um procedimento


em duas etapas. Esse procedimento envolve a ET de uma cultura de referência ETo, como
definida por Doorenbos & Pruitt (1977), e um fator de conversão conhecido como coeficiente
de cultura Kc. No Brasil, tem-se adotado a grama-batatais (Paspalum notatum, L.) como
cultura de referência (Reichardt, 1990). Assim, a ETc é dada por:

ETc = «c . ETo (2)

em que:

ETo (mrn.dia') e Kc (decimal).

Assim, como a ETc, a ETo pode ser medida ou estimada. Para fins práticos de
irrigação, estima-se a ETo. Isso pode ser feito por meio de equações, como a de Penman-
Monteith (Equação 1), ou tanques de evaporação. Uma equação simples e que tem mostrado
bons resultados é a de Hargreaves (Hargreaves & Samani, 1985), pois requer apenas a
temperatura do ar como dado meteorológico. A equação é a seguinte:

ETo = 0,0023 . Ra . [Ta + 17,8] . [TO]O,S (3)

em que:

Ra = radiação solar extraterrestre.


Ta = temperatura média do ar (0C),
sendo a média aritmética entre a temperatura
máxima Tx e a temperatura mínima Tn do ar.

TO = diferença entre Tx e Tn, ou seja, TO é a amplitude térmica diária (0C).

A unidade de ETo depende da unidade de Ra podendo ser rnrn.dia'.

A lâmina d'água evaporada num tanque, cuja superfície líquida está exposta à
atmosfera, pode ser usada para estimativa da ETo. O tanque Classe A, desenvolvido pelo
United States Weather Service - USWS -, tem tido grande aceitação mundial, em virtude,
principalmente, da sua simplicidade de operação e do custo relativamente baixo.

Com o tanque Classe A, a ETo é determinada por intermédio de um fator de conversão


denominado coeficiente do tanque Kp, como se segue:

ETo = Kp· ECA (4)

em que:

Elo (mm.dia"), Kp (decimal) e ECA = lámina d'água evaporada do tanque (rrm.diar).


A Cultura da Mangueira

Valores tabelados de Kp (Tabela 1) foram apresentados por Doorenbos & Pruitt (1977)
em função da velocidade do vento, da umidade relativa média do ar e do tipo e extensão da
bordadura (área que envolve o tanque). O tamanho da bordadura é medido a partir do
centro do tanque em sentido oposto à direção média predominante do vento.

Como se deduz da Tabela 1, Kp é sempre menor do que a unidade e, portanto, ETo


será sempre menor que ECA.

Tabela 1. Valores de Kp em função dos dados meteorológicos da região e do meio em que


o tanque Classe A se encontra instalado.

Posição Exposição A Posição Exposição B


do Tanque circundado por do Tanque circundado
Tanque grama Tanque por solo nu
R (m)* UR média (%) R (m)* UR média (%)

Vento Baixa Média Alta Baixa Média Alta


(km/dia) <40 40-70 >70 <40 40-70 >70
1 0,55 0,65 0,75 1 0,70 0,80 0,85
Leve 10 0,65 0,75 0,85 10 0,60 0,70 0,80
<175 100 0,70 0,80 0,85 100 0,55 0,65 0,75
1000 0,75 0,85 0,85 1000 0,50 0,60 0,70
1 0,50 0,60 0,65 1 0,65 0,75 0,80
Moderado 10 0,60 0,70 0,75 10 0,55 0,65 0,70
175-425 100 0,65 0,75 0,80 100 0,50 0,60 0,65
1000 0,70 0,80 0,80 1000 0,45 0,55 0,60
1 0,45 0,50 0,60 1 0,60 0,65 0,70
Forte 10 0,55 0,60 0,65 10 0,50 0,55 0,65
425-700 100 0,60 0,65 0,70 100 0,45 0,50 0,60
1000 0,65 0,70 0,75 1000 0,40 0,45 0,55
1 0,40 0,45 0,50 1 0,50 0,60 0,65
Muito 10 0,45 0,55 0,60 10 0,45 0,50 0,55
forte 100 0,50 0,60 0,65 100 0,40 0,45 0,50
>700 1000 0,55 0,60 0,65 1000 0,35 0,40 0,45
Fonte: Doorenbos & Pruitt, 1977.

A Equação 2 fornece uma definição para Kc, como sendo a razão entre ETc e ETo.
A determinação de Kc é, portanto, resultado da obtenção da ETc e da ETo. Para uma
determinada cultura, esses fatores incluem o estádio de desenvolvimento da planta, o teor
de água no solo e as variáveis meteorológicas, como a radiação solar, a umidade relativa, a
velocidade dos ventos e a temperatura do ar (Doorenbos & Kassam, 1984; Allen, 1992).
Assim, os fatores que afetam a ETc e a ETo afetam também o Kc da cultura.

Os estudos sobre evapotranspiração da cultura da manga são escassos, tanto no


Brasil como no mundo. Experimentos na África do Sul mostraram que o total anual de água
exigida por uma cultura adulta (12 anos) foi de 1.197 mm, com demanda média variando de
2,2 rnrn.día' no inverno a 4,4 rnm.dla' no verão (Mostert & Wantenaar, 1994).

No Brasil, as pesquisas sobre evapotranspiração da mangueira são recentes e se


limitam a poucas regiões produtoras. A mangueira no Sem i-Árido do Nordeste brasileiro
requer aproximadamente 1.370 mm de água por ano (Silva et aI., 1996), ou seja, 13.700
m-.hat.ano'. Lopes (1999) avaliou a ET de mangueiras de 6 anos de idade na região do
Submédio São Francisco por meio do balanço de massa (balanço hídrico) e do balanço
de energia (razão de Bowen). O estudo cobriu o período de julho a dezembro de 1998.
Segundo o autor, o método da razão de Bowen subestimou a ET da cultura (3,4 rnrn.dia'
a 6,1 mrn.dia' ) em relação ao balanço hídrico (3,6 rnrn.dia' a 10,1 rnm.dta').

17? I
Irrigação

Em Petrolina, PE, Silva (2000)empregou os métodos do balanço de energia e balanço


hídrico no solo na determinação da evapotranspiração do pomar de mangueiras cv. Tommy
Atkins, espaçadas em 8 x 5 m e com 6 anos de idade. Para o cálculo da evapotranspiração
de referência (ETo), foi utilizado o método de Penman-Monteith. As fases fenológicas durante
o ciclo produtivo de 1999 foram: floração: 10 a 30/6; queda de frutos: 1/7 a 9/8; formação de
frutos: 10/8 a 30/9; maturação: 1/10 a 9/11. Para esses períodos fenológicos, os valores
médios de ETC foram, respectivamente, 3,5; 3,8; 4,5; 4,9 mm/dia pelo método do balanço
de energia; e 2,3; 3,2; 4,0; 4,6 mm/dia pelo método do balanço hídrico.

No entanto, a evapotranspiração diária obtida pelo método do balanço de energia


variou de 3,0 mm/dia, no início da floração, a 5,5 mm/dia durante a formação de frutos;
decresceu para 3,7 mm/dia no início do estádio fenológico de maturação, em virtude do total
pluviométrico registrado no período e, em seguida, apresentou tendência crescente
acentuada, chegando a superar a taxa de 5,0 mm/dia no final desse estádio fenológico. O
consumo total foi de 642,9 mm, com uma média diária de 4,3 mm.

Com relação ao balanço hídrico no solo, a evapotranspiração aumentou de 2,4 mm/dia


(início da floração e ainda sem irrigação) para 7,9 mm/dia, no final da formação dos frutos,
decrescendo em seguida para 3,5 mm/dia na maturação dos frutos. Durante o ciclo produtivo
(início da floração à maturação), a ETc totalizou 612,4 mm, com uma média de 4,1 mm/dia.

Os valores do coeficiente de cultura (Kc) obtidos para o pomar de mangueiras pelo


método do balanço hídrico no solo, em função do número de dias após a floração (DAF), é
apresentada na Fig. 1. A Equação 5, ajustada aos dados, permite a estimativa do Kc
conhecendo-se DAF, como se segue:

Kc = 0,36 + 0,009· DAF - 4.10-5• (DAF)2 r2= 0,79 (5)

Com o método do balanço hídrico no solo, o Kc observado do pomar de mangueiras


aumentou de 0,39, no estádio fenológico de floração, para 0,85, no meio do estádio fenológico
de formação de frutos, quando a planta se encontrava em seu desenvolvimento vegetativo
máximo, decrescendo em seguida, para atingir o valor de 0,58 durante a maturação de
frutos. A média do coeficiente de cultura do pomar de mangueiras foi de 0,71.

I Floração I Queda de frutos I Formação de frutos I Maturação


1,2.-------------------------------------------------~

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O 20 40 60 80 100 120 140 160
Dias após floração (DAF)

Fig. 1. Comportamento do coeficiente de cultura ao longo do ciclo produtivo do pomar de mangueiras,


cv. Tommy Atkins, em Petrolina, PE, obtido pelo método do balanço hídrico no solo, em 1999.
Fonte: Silva (2000).
A Cultura da Mangueira

Tolerância ao Déficit e ao Excesso de Água no Solo

A mangueira é uma planta capaz de tolerar a deficiência de água no solo por um


período de até 8 meses. Essa habilidade em resistir a períodos prolongados de estresse
hídrico tem sido verificada em diversos plantios sob diferentes condições edafoclimáticas,
do clima subúmido ao semi-árido.

o
excesso de água no solo, por sua vez, causa redução das atividades vegetativas
da planta após 2 a 3 dias, quando os níveis de 02 no solo caem de 20% para 5%. Entretanto,
a deficiência de aeração do solo pode ser suportável por meses, uma vez que a manga é
considerada moderadamente tolerante ao encharcamento do solo.

o efeito do encharcamento nas trocas gasosas na folha, no crescimento vegetativo


e no desenvolvimento de lenticelas hipertrofiadas no tronco foi observado para ~ cultivar
Tommy Atkins. O encharcamento causou redução da assimilação líquida de C02 e da
condutância estomatal e aumentou a concentração subestomatal após 2 a 3 dias. Houve
redução no crescimento de raízes. O desenvolvimento de lenticelas hipertrofiadas no tronco
foi influenciado pela temperatura, sendo mais eficiente para temperaturas mais elevadas.
Foi influenciado, também, pela concentração de oxigênio na água, sendo mais acentuado
para mais baixas concentrações de 02 na água. Dessa forma, concluiu-se que a cultura da
manga mostra certa adaptação às condições de encharcamento do solo, mas não é
completamente tolerante ao encharcamento (Larson et aI., 1993).

Distribuição de Raízes sob Irrigação

Os padrões de distribuição do sistema radicular da manga ou de qualquer cultura


são conseqüência das interações entre fatores genéticos inerentes à cultura e à
disponibilidade de água e de nutrientes no solo (Clausnitzer & Hopmans, 1994). A distribuição
de água no solo, por sua vez, depende principalmente do método e do sistema de irrigação
em uso, queé responsável pela geometria de escoamento no meio poroso, do manejo da
irrigação, do volume de água aplicado, das propriedades físicas do solo e de sua distribuição
espacial e da atividade das raízes no solo.

A distribuição de raízes pela manga tem sido mais abordada em condições não-
irrigadas que irrigadas. De certa forma, tem havido concordância entre os autores quanto à
definição dos padrões de distribuição das raízes da cultura. A distribuição de raízes de três
cultivares de manga (Haden, Kent e Diplomático) em solo arenoso e irrigado por gotejamento,
avaliada por Medina (1983), mostrou maior densidade de raízes para a cultivar Haden na
camada de 0,2 a 0,4 m. As cultivares Kent e Diplomático apresentaram maior densidade de
°
raízes na camada de a 0,2 m.

A avaliação do sistema radicular de mangueiras de 11 anos de idade na Venezuela


mostrou que a região de maior concentração de raízes correspondeu àquela limitada pelo
raio de 1,5 m a partir do tronco e pela profundidade entre 0,3 m e 0,5 m (Avilan Rovira et aI.,
1978). Em mangueiras de 8 anos de idade na região de Bangalore, na índia, as raízes ativas
se localizaram a distâncias radiais do tronco de 1,0 m a 1,5 m e até 0,6 m de profundidade
a partir da superfície (Kotur et aI., 1997).

Estudo sobre o sistema radicular da variedade Tommy Atkins, sob irrigação por
aspersão subcopa em solo arenoso no Submédio São Francisco, indicou que 68% das
raízes de absorção e 86% das de sustentação localizaram-se horizontalmente na faixa de
0,9 a 2,6 m, em relação ao caule, e verticalmente, na profundidade de até 1,0 rn. Na
distribuição vertical, 65% das raízes de absorção e 56% das de sustentação ocorreram na
Irrigação

°
profundidade do solo de a 0,6 m. Os autores recomendaram a localização dos fertilizantes
na faixa de 0,9 a 2,6 m de distância do caule, e o monitoramento da água do solo foi
recomendado baseando-se na distância de 2,6 m do caule e nas profundidades de 0,3 a 0,6 m
(Choudhury & Soares, 1992).

Na mesma região, a cv. Tommy Atkins, aos 6 anos de idade, plantada em


espaçamento de 8 x 5 m em um Latossolo Vermelho-Amarelo textura média, e irrigada por
gotejamento com fila dupla de emissores, apresentou um sistema radicular atingindo a
profundidade de 2 m. A Fig. 2 é a representação do comprimento das raízes a 0,20 m de
distância do caule e ao longo de um perfil de 5 m, onde se pode observar a presença de
raízes em praticamente todo o perfil, com maiores concentrações abaixo de 0,30 m de
profundidade. Na Fig. 3, observa-se que as raízes atingem a distância de 2 m, com maior
presença entre 0,3 e 0,9 m de profundidade e entre 0,3 e 1,6 m de distância do tronco.

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(J1 Distância radial do tronco (m) _40 _ 100em
(J1

Fig. 2. Distribuição do comprimento de raízes no perfil de solo a 20 cm de distância longitudinal do


tronco da cv. Tommy Atkins.

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6: 0,4_=== --- -- _~

I::::1 ~
1,0, ~ ~ ~ ~

0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0
DO 600
Distância horizontal e ortogonal (m) 200 800
400 _ 1000 em

Fig. 3. Distribuição do comprimento das raízes ao longo dos perfis de solo na direção horizontal e
ortogonal ao tronco da cv. Tommy Atkins.
A Cultura da Mangueira

Coelho et aI. (2001) avaliaram a distribuição de raízes de mangueiras sob irrigação


localizada (gotejamento e microaspersão) em solo arenoso de tabuleiros costeiros. Em geral,
no sistema de gotejamento, a distribuição de raízes da planta limitou-se a uma distância
horizontal de 3,5 m do tronco e a uma profundidade de 1,4 m. Os máximos valores de densidade
de comprimento de raízes foram observados a profundidades de até 0,7 m e a distâncias
horizontais médias do tronco de 2,1 m (Fig. 4). A distribuição das raízes no perfil ortogonal e
longitudinal à direção das fileiras de plantas quanto ao diâmetro foi avaliada (Fig. 5), e as
raízes de diâmetro entre 0,5 e 5 mm ocuparam todo o perfil limitado pela distância horizontal
do tronco de 3 m até a profundidade de 1,4 m, embora as maiores porcentagens de raízes
desses diâmetros tenham sido verificadas, principalmente, entre 1,0 e 2,0 m de distância do
tronco e a profundidades entre °
e 1,0 m. As raízes de maior diâmetro (acima de 5 mm)
tenderam a se concentrar a menores distâncias horizontais do tronco.

A distribuição das raízes, no caso da microaspersão, foi limitada pela distância de


3,0 m do tronco, onde as maiores densidades de comprimento ocorreram às profundidades

° °
entre e 1,4 m, para distâncias radiais do tronco inferiores a 1,5 m, e a profundidades entre
e 0,6 m, para distâncias radiais do tronco entre 1,5 m e 3,0 m (Fig. 6). A distribuição das
raízes quanto ao diâmetro (Fig. 7) seguiu o mesmo padrão ocorrido sob gotejamento, ou
seja, com as raizes de menores diâmetros (O a 2 mm) abrangendo maior volume de solo
que as raízes mais grossas (acima de 2 mm).

Oliveira (2001) estudou a distribuição de raízes de mangueira na região de Teresina,


PI, em perfis de solos radiais da planta, sob diferentes regimes hídricos, onde a irrigação foi
calculada com base em frações (44%, 86% e 137%) da evapotranspiração potencial obtida
pelo método do tanque Classe A.

Para o regime de 44% de reposição da ETo, de acordo com a Fig. 8, 82,9% das raízes
estavam até 1,75 m do tronco da planta, e, em profundidade, 72,02% estavam até 0,8 m.

No regime de reposição de 86% da ETo, 74,8 % do sistema radicular localizou-se até


1,2 m do tronco, enquanto, em profundidade, 74,3% das raizes alcançaram até 0,8 m (Fig. 9).

O comportamento do sistema radicular para o regime de 137% de reposição da ETo


apresentou cerca de 71,5% das raízes até 1,2 m do tronco da planta, na direção radial, e
75,8% em profundidade até 0,9 m (Fig. 10). Nesse regime, o sistema radicular ocupou uma
maior área de solo, permitindo que houvesse uma maior exploração pelas raízes.

0,0
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E
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o: -1,5
-3,5 -3,0 -2,5 -=-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Distância radial do tronco (m)
Fig. 4. Distribuiçãoda densidade de comprimento de raízes (cm.cm-3) no perfil do solo sob gotejamento
em manga 'Tommy Atkins'.
Fonte: Coelho et aI. (2001).

176 I
Irrigação

Ortogonal à fileira de plantas Longitudinal à fileira de plantas

2 -5 mm
~

5 -10 mm ,

,~
10 - 20 mm
I

Fig. 5. Distribuição das raízes da manga 'Tommy Atkins' de acordo com o diâmetro das mesmas, no
perfil de solo sob gotejamento.
Fonte: Coelho et aI. (200t).
A Cultura da Mangueira

-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Distância radial do tronco (m)
Fig. 6. Distribuição da densidade de comprimento de raízes (cm.cm-3) no perfil do solo sob
microaspersão.
Fonte: Coelho et aI. (2001).

Ortogonal à fileira de plantas Longitudinal à fileira de plantas

0,5 -2 mm

5 -10 mm

/
l

10 -20 mm

Fig. 7. Distribuição das raízes da manga 'Tommy Atkins' de acordo com os diâmetros das mesmas,
no perfil do solo sob microaspersão.
Fonte: Coelho et aI. (2001).

17A
Irrigação

25,0-
o
19,1%
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Ol
200-
,
E C/J 15,7%
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Ol 15 ,0- 14,4% 14,4%

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o Ol , 7,9%
Ol"O
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cf.
0,0
0-20 20-40 40-60 I 60-120 I 120-180 I 180-240 I 240-300 I
Distância do tronco (cm)

0-30
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2-
30-60
Ol
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~ 120-150-1~~~~~9:,7~3~% ~ ~ ,- -,

10,0 40,0 50,0


° 20,0
% de comprimento
30,0
de raízes

Fig. 8. Distribuição de raízes de manga para o regime de reposição de 44% da ETo: A) em função
da distância da planta; B) em função da profundidade.
Fonte: Oliveira (2001). .

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-
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18,6%

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I I I I
0-20 20-40 -
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Distância do tronco (cm)

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2-
Ol
30-60
~----------------------------------~ 28,7%
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I I I I
o 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
% de comprimento de raízes

Fig. 9. Distribuição de raízes de manga para o regime de reposição de 86% da ETo: A) em função
da distância da planta; B) em função da profundidade. '
Fonte: Oliveira (2001).

I 170
A Cultura da Mangueira

25,0
o 23,3%

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19,1%

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14,4%
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Distância do tronco (cm)
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120-150 9,8%

I I I I I

o 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0


% de comprimento de raízes
Fig. 10, Distribuição de raízes de manga para o regime de reposição de 137% da ETo:
A) em função da distância da planta; B) em função da profundidade.
Fonte: Oliveira (2001).

Extração de Água pelo Sistema Radicular


A distribuição de água no volume molhado do solo resultante de irrigação por
microaspersão foi avaliada por Coelho et aI. (2001) para diferentes regimes de irrigação
.aplicados à manga cultivar Tommy Atkins, nas condições de Teresina, PI.

Durante o período de frutificação da cultura, foram utilizados quatro tratamentos de


níveis de irrigação na produtividade da manga, em que a quantidade de água de irrigação
foi calculada com base em porcentagens da evapotranspiração potencial obtida pelo método
do tanque Classe A, isto é, T1- 60% ETo, T2 - 80% ETo, T3 - 100% ETo e T4 - 137% ETo.
A extração foi determinada em perfis do solo radiais à planta, passando pelo rnicroaspersor.

As isolinhas de extração de umidade nos planos verticais e radiais à planta avaliados


mostraram que a região limitada pela distância radial de 0,80 m da planta e entre as
profundidades 0,20 e 0,70 m concentrou em todos os casos maior atividade do sistema
radicular, sendo o centro da atividade localizado à distância de 0,50 m da planta. Outras
posições de alta atividade do sistema radicular foram observadas entre 1,40 e 2,00 m de
distância da planta, com maior atividade à distância de 1,50 m, na camada de solo entre
0,20 e 0,50 m de profundidade (Fig. 11).

Os totais da extração de água em todas as profundidades tomados a cada distância


radial monitorada mostraram, para todos os tratamentos, que 60% a 70% da água é extraída
pelas plantas até a distância radial de 1,50 m, e que 80% a 85% é extraída até a distância de
2,00 m da planta. (Fig. 12). Os totais da extração de água em todas as distâncias radiais a
cada profundidade monitorada mostraram, para todos os tratamentos, que 40% a 50% da
água é extraída pelas plantas até a profundidade de 0,50 m, e que 60% a 80% é extraída até
a profundidade de 0,75 m do solo (Fiq. 13). O efeito dos níveis de água foi mais aparente
considerando a profundidade do solo, uma vez que, para os tratamentos em que a quantidade
de água aplicada foi de 433 mm (T1) e 592 mm (T2), 80% da água extraída ocorreu até 0,75
m de profundidade, enquanto os tratamentos que receberam 766 mm (T3) e 867 mm (T4)
retiveram 65% da água extraída até àquela profundidade, indicando maior profundidade das
raízes e da extração de água. O mesmo ocorreu no sentido radial, isto é, os tratamentos 1.'2e
T3 apresentaram maiores porcentagens do total extraído mais próximo do microaspersor que
os tratamentos T4 e T5, Isso foi devido ao maior umedecimento do solo nas maiores distâncias
Irrigação

da planta ou do microaspersor no caso de T4 e T5, que representaram maiores níveis de água


comparados a T1 e T2.

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0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5
Distância radial da planta (m)

Fig. 11. Distribuição dos teores equivalentes à extração de água do solo num plano
bidimensional radial à planta e ao microaspersor, 216 horas após a irrigação.
Fonte: Coelho et aI. (2001).

100-
T1 - 433 mm
Cll Cll 80-
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0,5 1,5 2 2,5

Distância da planta (rn)

Fig. 12. Porcentagens da extração total de água do solo em função da distância radial da planta,
incluindo para cada distância todas as profundidades monitoradas.

100
T1 - 433 mm
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O
0,5 0,75 0,9

Profundidade (m)

Fig. 13. Porcentagens da extração total de água do solo em função da profundidade do solo,
incluindo para cada profundidade todas as distâncias radiais monitoradas.

As camadas de solo mais profundas também podem contribuir para o processo de


evapotranspiração da mangueira, em conseqüência da presença de raízes em grande
profundidade (2 m). Silva et aI. (2001) observaram que houve a ascensão de água de 1,2 e
1,4 m de profundidade durante a maturação dos frutos, quando ocorreu um grande consumo
de água pela variedade Tommy Atkins, em um Latossolo Vermelho-Amarelo, textura média,
no Perímetro Irrigado de Bebedouro, em Petrolina, PE. A distribuição radicular da mangueira
nessa área está apresentada nas Fig. 2 e 3.

I 1 Q1
A Cultura da Mangueira

Manejo da Irrigação

o manejo ou programação da irrigação envolve técnicas que auxiliam o mangicultor


a definir o momento de irrigar e a quantidade de água a aplicar. O emprego de um ou mais
métodos de manejo na propriedade é parte da agricultura moderna que busca garantir altas
produtividades reduzindo o desperdício de água e energia, ao mesmo tempo melhorando a
qualidade dos frutos produzidos. Diferentes níveis de água no solo não afetam a coloração
dos frutos nem a incidência de colapso interno (Farre et aI., 1995). O manejo da irrigação,
mantendo o solo a tensões maiores, implica maiores intervalos de irrigação e maior déficit
hídrico no solo, o que promove frutos menores e em maior quantidade (Mostert & Wantenaar,
1994).

As técnicas de manejo de irrigação atualmente disponíveis são de diferentes custos


e graus de complexidade e vão desde o método do "bico da bota" até os aparelhos mais
sofisticados, como a reflectometria no domínio do tempo (TDR). -

A seguir, serão discutidos os métodos baseados em:

a) Turno de rega calculado.

b) Medidas do teor ou estado energético da água do solo.

c) Balanço hídrico diário na zona radicular.

d) Instrumentos de evaporação.

Turno de Rega Calculado

O turno de rega ou freqüência de irrigação TR (dias) é dado pela razão entre a


lâmina de irrigação real necessária e a ETc (Equação 6), como se segue:

TR = LRN (6)
ETc

em que:

LRN = lâmina real necessária ou lâmina líquida (mm) a ser reposta a cada irrigação,
cujo valor pode ser dado por:

(7)

em que:

8cc e 8pM = correspondem ao teor de água no solo (cm-.crn=) na capacidade de


campo e no ponto de murcha permanente, respectivamente.

z = profundidade efetiva do sistema radicular (mm).


f = fator de reposição (decimal).

A diferença na Equação 7 (8cc - 8pM) é conhecida como disponibilidade total de água


no solo, ou seja, água entre a capacidade de campo (limite superior de disponibilidade) e o
ponto de murcha permanente (limite inferior de disponibilidade). O limite superior de
disponibilidade de água 8cc corresponde ao potencial matricial -3 a -6 kPa para solos
arenosos, -10 kPa para solos de textura média e -33 kPa para solos argilosos na curva de
retenção de água do solo.

1 A? I
Irrigação

o
TR na fase de elaboração do projeto de irrigação é calculado pela Equação 6,
levando-se em conta o pico da ETc dentro do ciclo da cultura. No entanto, para fins de
manejo, usa-se um valor de ETc a partir de um valor médio de ETo para períodos, por
exemplo, de 15 dias, 30 dias, ou mais, levando portanto a um TRfixo dentro do correspondente
período. Deve-se lembrar, no entanto, que a fixação de TR dentro de um período quinzenal,
mensal, anual ou durante todo o ciclo da cultura pode levar à aplicação excessiva de água
em época de menor demanda ou aplicação deficitária em época de maior demanda. Isso
ocorre porque z e especialmente a ETc variam continuamente com o tempo. Portanto, o
irrigante deve estar ciente das limitações da fixação do TR, apesar da sua praticidade para
fins de manejo da irrigação.

O fator de reposição f corresponde à variação máxima permitida da disponibilidade


total de água no solo, sem afetar significativamente o desenvolvimento da cultura em qualquer
uma de suas fases fenológicas. O valor de f a ser adotado depende da importância econômica
da cultura, do estádio fenológico (vegetativo, floração, etc.), da profundidade e distribuição
das raízes e da sensibilidade ao estresse. Soares & Costa (1995) sugerem parà a mangueira,
como no caso de outras fruteiras, um valor de f igual a 50%. Azzouz et aI. (1977) estudaram
a produtividade de mangueiras para uma redução máxima de 33% durante o período crítico
(floração à colheita) e 66% da disponibilidade total de água no restante do ano.

Medidas da Água no Solo

O momento da irrigação pode ser determinado de forma mais flexível, sem estar
amarrado a um valor fixo da lâmina real necessária, isto é, pode ser determinado por intermédio
de medidas do estado da água do solo, em que se monitora o teor de água ou o potencial
matricial do mesmo verificando-se se a variação da água disponível às plantas está dentro da
fração de manejo recomendada, representada pelo fator de reposição de água f.

Medida do Conteúdo de Umidade do Solo

O conteúdo de umidade do solo, para definição do momento de irrigar, pode ser


obtido por métodos diretos e indiretos. O método gravimétrico, o TDR (Reflectometria no
Domínio do Tempo), as sondas de capacitância e a sonda de nêutrons permitem a obtenção
direta do teor de água no solo. Por sua vez, os blocos de resistência elétrica e o tensiômetro
permitem a obtenção indireta da umidade do solo. No caso do tensiômetro, precisa-se da
curva de retenção da água no solo.

Avaliações práticas têm mostrado que a sonda de nêutrons, apesar dos


inconvenientes da radiação e da necessidade de calibração criteriosa, apresenta maior
estabilidade nas leituras e requer menor trabalho de manutenção comparada aos
tensiômetros; apresenta maior vida útil, principalmente se comparada aos blocos de gesso.
No entanto, o uso da sonda de nêutrons tem sido limitado à pesquisa e consultores
particulares, com poucas chances de uso a nível de produtor.

Assim, conhecendo-se a umidade atual do solo 8a, através de qualquer um dos


métodos acima, e comparando-a com a umidade crítica do solo para a cultura 8c' decide-se
irrigar quando 8a s 8c' Quando se dispõe de 8a, o fator de reposição f torna-se desnecessário
e LRN pode ser dado pela Equação 8 com um pequeno ajuste, ou seja:

LRN =(ecc - e) . z (8)


em que:

ecc e ea estão em em", em= e z (mm).


Segundo a Equação 8, a máxima LRN admissível antes de se irrigar ocorre quando
ea = ec' e
mas teoricamente nada impede que o mangicultor irrigue o pomar para valores de a> eco

I 183
A Cultura da Mangueira

Medida do Potencial Matricial da Água no Solo

Informação sobre o estado energético da água no solo pode auxiliar o mangicultor a


decidir quando irrigar. Dos componentes do estado energético, o potencial matricial é o mais
importante no manejo da irrigação. Nesse caso, utiliza-se o tensiômetro de mercúrio, o
tensímetro ou o tensiômetro a vácuo, este também chamado de vacuômetro. Os tensiômetros
de mercúrio são muito comuns e mais baratos. O tensímetro e o vacuômetro são práticos e
precisos, porém de custo mais elevado.

O tensiômetro tem sido utilizado para o manejo de irrigação da mangueira. Ele indica
o potencial matricial da água do solo "'m
(negativo) a uma dada profundidade em função do
seu conteúdo de umidade. Portanto, se existe para a manga uma umidade crítica de irrigação 8e,
existe também um potencial matricial crítico "'me
correspondente. Valores de "'me
capazes de
garantir adequado desenvolvimento e produtividade da cultura situam-se entre -15 e -25 kPa,
em solos arenosos, e entre -30 e -60 kPa, em solos argilosos. Conhece-se 8e a partir'de "'me
e vice-versa com o uso da curva de retenção de água no solo.

Neste momento cabe então a pergunta: quando o tensiômetro indica o momento


de irrigar?

Uma vez conhecido o "'me


da cultura em questão, procede-se à irrigação toda vez
que a altura H da coluna de mercúrio, no caso do tensiômetro de mercúrio, for igual a um
valor Hc previamente calculado. A expressão que fornece o valor de Hc é:

Hc = 10,33 . \jf me + hl + h2 (9)


12,6

em que:

Hc é expresso em em.

ti, = altura do nível de mercúrio na cuba em relação à superfície do solo (em).

h2 = profundidade de instalação do tensiômetro no solo (em).

Na Equação 9, "'me
deve ser um valor positivo e expresso em kPa. Assim, à medida
que H se aproxima de Hc, em razão do secamento do solo, aproxima-se o momento de
irrigar. Não se deve permitir que H ultrapasse o valor de Hc para proceder à irrigação.

O tensímetro permite leituras rápidas e seguras do potencial matricial da água do


solo. Um mostrador digital é conectado a um pequeno cilindro-guia contento uma agulha
oca. Quando a agulha é inserida no "cap" de borracha que veda o tensiômetro na sua parte
superior, a pressão negativa dentro do tensiômetro sensibiliza o sensor cujo valor em centibar
ou milibar é mostrado no visor digital. Quando se usa o tensímetro ou o tensiômetro com
manômetro metálico (vacuômetro), compara-se o valor de'" m do visor digital ou do manômetro
metálico com o valor crítico "'me
da cultura e decide-se irrigar quando V m s "'me'
Um ponto importante a ser observado com relação aos sensores em geral é quanto
à localização dos mesmos em relação às plantas e quanto às profundidades de leitura no
perfil do solo. Como regra geral, deve-se instalar os sensores no centro de atividade do
sistema radicular ou numa região do sistema radicular representativa do cenário geral de
extração de água. As posições mais adequadas de instalação de sensores de água do solo
para irrigação localizada (microaspersão e gotejamento) devem se situar entre O e 2 m do
tronco e nas profundidades entre O e 0,6 m (Coelho et aI., 2000). No caso da irrigação
subcopa, recomenda-se a instalação dos sensores à distância da planta entre 0,9 e 2,6 m,
e a profundidades iguais ou inferiores a 0,6 m (Soares & Costa, 1995).
Irrigação

o número de posições para instalação de tensiômetros depende da variabilidade


espacial do solo, sendo necessária pelo menos uma bateria para cada mancha de solo da
área. Stegman (1983) sugere 2 a 4 baterias para cada 65 ha. Cada bateria de tensiômetros
deve ser composta de dois instrumentos, cujas profundidades de instalação variam conforme
a profundidade do sistema radicular. Stegman (1983) recomenda que o mais profundo seja
instalado a uma profundidade duas vezes maior que a do menos profundo, sendo o mais
profundo o que determina o momento final da irrigação. Entretanto, esse procedimento pode
implicar excesso de água de irrigação, se for considerado o processo de infiltração de água
no solo.

Balanço de Água na Zona Radicular

Esse método baseia-se na contabilização diária da variação do armazenamento de


água no solo (DA) até uma profundidade z, por meio do controle sobre a entrada e a saída
de água. Os principais componentes de entrada no sistema são a precipitação efetiva, a
irrigação e a ascensão capilar. A ascensão capilar ocorre quando o lençol freático está próximo
do volume de solo sob controle. Os componentes de saída do balanço são a evapotranspi-
ração, a percolação profunda e o escoamento superficial.

Para fins de manejo da irrigação de um pomar de mangueiras, o balanço hídrico


num volume de solo controlado pode ser escrito como se segue:

Di = Di -1 + ETc + Dr - I - Pe (10)

em que:

Dj= déficit atual de água no perfil do solo na profundidade z até o dia í (mm).

Dj_l= déficit de água no perfil do solo até o dia anterior (í-1).

ETc = evapotranspiração da cultura (mm).

Dr = drenagem (mm) além da profundidade z.

1 = lâmina líquida de irrigação (mm).

Pe = precipitação efetiva (mm). Precipitação efetiva é a fração da precipitação total P


que contribui para atender as necessidades hídricas das plantas.

O objetivo do balanço é acompanhar diariamente a variação do conteúdo de umidade


do solo, partindo por exemplo do solo na capacidade de campo. Portanto, D, é a lâmina
acumulada até o dia i, pois soma-se à lâmina acumulada até o dia anterior o que se extraiu
(ETc e Dr) e o que se acrescentou ao perfil do solo (/ e Pe). Como o balanço é diário, todos
os componentes da equação devem também ser diários, ou seja, o mangicultor deve ter à
mão os valores diários de ETc, Dr, I, e Pe.

Assim, com base na Equação 10, decide-se irrigar de acordo com as seguintes
condições:

1) Se D, 2: LRN, então irrigar.

2) Se D, < LRN, então não irrigar.


em que:

LRN é dado pela Equação 7 ou 8 e representa o déficit máximo permissível na zona


radicular. Se a irrigação não ocorre no momento certo, Di vai se tornando maior que LRN e

I 1 RI';
A Cultura da Mangueira

as plantas passarão a sofrer deficiência hídrica com todas as conseqüências ao crescimento,


desenvolvimento e produção de frutos.

Na Equação 10, I representa genericamente qualquer lâmina de irrigação que poderá


ser aplicada antes que Di se torne igualou maior que LRN (condição 1). Nesse caso, I será
igual ao D, acumulado até aquele dia. A lâmina genérica I e a lâmina limite LRN visam elevar
a umidade do solo à capacidade de campo. Na Equação 10, ETce ortêm sinais positivos,
pois esses componentes do balanço hídrico contribuem para o déficit de água no solo. Os
componentes I e Pe acrescentam água e portanto são negativos, pois reduzem o déficit.

A drenagem profunda ocorre e, na maioria das vezes, não se tem controle sobre
esse componente. Para fins práticos, no entanto, considera-se desprezível a drenagem da
água após uma irrigação, pois entende-se que a lâmina de irrigação é suficiente unicamente
para elevar a umidade do solo à capacidade de campo. Após uma chuva (P), num dia i
qualquer, usa-se o seguinte critério:

3) Se P> 0., então Pe =


I
o. I
e or= P - O..
I

4) Se P ~ 0., I
então Pe = P e Dr = O.

Na Equação 10 do balanço hídrico não aparece a contribuição da ascensão capilar


e do escoamento superficial. Esses dois componentes podem ser desprezados na prática.
A importância do escoamento superficial aumenta com a intensidade da chuva, tipo de solo,
grau de cobertura do solo e declividade da área. Para áreas relativamente planas e chuvas
de baixa a média intensidade, o escoamento superficial pode ser considerado desprezível.

O método do balanço hídrico pode ser empregado independentemente do método


de irrigação usado para irrigar o pomar. No caso da microirrigação, Keller & Bliesner (1990)
sugerem um fator de correção envolvendo os componentes ETc e Pe da Equação 10,
conforme a Equação 11 :

U = 0,1 . (PS)O,S . (ETc - pe) (11)

em que:

PS = porcentagem de área sombreada, tomada como sendo a razão entre a projeção


da copa da árvore no chão ao meio-dia e a área ocupada pela planta.

Instrumentos de Evaporação

Entre os instrumentos de evaporação usados em manejo da irrigação, destaca-se o


tanque Classe A. O tanque é prático e de fácil aplicação, podendo portanto ser usado para
definir o momento da irrigação, como alternativa para outros métodos.

De posse da lâmina d'água evaporada e acumulada ECAjaté o dia i, e do déficit de


água permissível na zona radicular LRN, decide-se quando irrigar de acordo com as seguintes
condições:

1) Se ECAj;::: LRN, então irrigar.

2) Se ECAj < LRN, então não-irrigar.

Nesse método, não se considera nem a ETcda cultura nem a drenagem Dr, pois não
se constitui num balanço como aquele preconizado pela Equação 10. Por sua vez, a Pe não
é desprezada, uma vez que a lâminaevaporada no tanque ECAjá inclui o efeito da chuva na
variação do nível d'água no tanque.
Irrigação

o USO do tanque Classe A para manejo da irrigação, como sugerido anteriormente,


em geral leva à aplicação de uma lâmina maior que a necessária. Isso porque, sob as
mesmas condições meteorológicas, a quantidade de água evaporada a partir de uma
superfície livre é maior que a evapotranspirada. Assim, muitos autores em estudos de campo
procuram estabelecer uma relação direta entre ECA e ETc por intermédio de um fator de
conversão K, como se segue: !

ETc = K· ECA (12)

em que:

todos os componentes já foram definidos anteriormente. A Equação 12 representa


uma outra maneira de se usar o tanque Classe A para fins de manejo da irrigação. O coeficiente
K deve ser determinado experimentalmente para as condições locais. Ele substitui os valores
do coeficiente do tanque Kp e os valores de coeficiente de cultura Kc. Pode-se estimá-Io para
cada fase fenológica da mangueira utilizando-se os valores de Kp da Tabela 1 e os valores de
Kc determinados por Silva (2000). O uso de um valor constante durante todo o ciclo produtivo
pode levar ao excesso ou déficit de irrigação em determinadas fases.

Nos métodos de manejo considerados, a LRN não inclui as perdas inevitáveis de


água inerentes a todo sistema de irrigação. Determina-se então a lâmina total necessária,
como se segue:

LTN = LRN
Ea
(13)

em que:

LTN = lâmina total necessária ou lâmina bruta de irrigação a ser aplicada (mm).

Ea = eficiência de aplicação (decimal) do sistema de irrigação usado para irrigar o


pomar.

Em caso de microirrigação (gotejamento e rnícroaspersão), pode-se substituir Ea


pela uniformidade de emissão de água UE na Equação 13.

Na Equação 13, LTNtambém deve incluir uma fração extra de água para controle da
salinidade. A importância da lixiviação dos sais aumenta das regiões úmidas para as regiões
semi-áridas e áridas, onde a evaporação é maior que a precipitação. A necessidade de
lixiviação é maior quando se usa o método de irrigação localizada em relação aos métodos
por superfície e por aspersão. Isso se deve basicamente a duas razões: maior eficiência de
aplicação de água para os sistemas de irrigação localizada (percolação profunda é menor);
maior tendência de os sais se concentrarem na zona radicular quando se irriga por métodos
localizados.

Em microirrigação, a necessidade de lixiviação NL, segundo Keller & Bliesner (1990),


pode ser dada por:

CEi
NL (14)
2 . (maxCEe)

em que:

NL (decimal).

= condutividade elétrica da água de irrigação


CEi (dS/m).

maxCEe = condutividade elétrica máxima (dS/m) do extrato de saturação do solo


que reduziria a zero a produtividade da cultura.
A Cultura da Mangueira

Assim, dependendo do valor de NL, deve-se acrescentar ao denominador da Equação


13 a diferença (1 - NL) que adiciona lâmina d'água extra para controle da salinidade. Portanto,
se NL s 0,10, então LTN não é corrigido, mas se NL > 0,10, então LTN é corrigido. Na
Equação 14, CEi pode ser obtido em laboratório ou no campo usando-se um condutivímetro.

Além dos quatro métodos discutidos, medidas relacionadas diretamente à planta


para determinar o estado da água, tais como condutância difusiva da folha, potencial de
água da planta e temperatura da planta, têm sido avaliadas como instrumentos para manejo
da irrigação. Dessas alternativas, a medida do potencial de água da planta por meio da
bomba de Scholander ou pelo uso do psicrômetro de folha tem sido a mais empregada.

Os potenciais de água da mangueira sem deficiência hídrica situam-se acima de


-1.200 kPa. Em folhas maduras, a perda de turgor ocorre para potencial de -1.750 kPa, e
valores próximos a -3.200 kPa indicam necessidade de reposição de água (Schaffer et
aI., 1994). As medidas com base no estado de água da planta não têm sido usadas pelo
produtor em razão do custo dos aparelhos envolvidos e da variabilidade temporal e espacial
a que estão sujeitas.

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