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Relatorio de Conclusão Gabriella Iolanda Da Silva. Revisado

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RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: Um relato de experiência

Gabriella I. DASILVA1
Licenciatura em Matemática/ IFG – Campus Valparáso de Goiás
gabriellaiolanda@gmail.com

RESUMO

Em setembro de 2023, estive no Colégio Estadual Delfino Oclécio Machado (CEDOM) com o objetivo de
ministrar uma aula para a turma do 8º ano do ensino fundamental II, abordando o estudo de tabelas e gráficos
estatísticos. Planejei a aula como uma introdução ao tema, utilizando o relatório da Pesquisa Metropolitana
por Amostra de Domicílios - PMAD - 2013 da Codeplan-DF (2014) e o videoclipe "A Vida é Desafio"
(RACIONAIS MC'S, 2015). A intenção era estabelecer uma conexão entre o uso de tabelas e gráficos na
pesquisa com a realidade retratada no videoclipe, que aborda questões sociais relevantes, especialmente
ligadas à vida na periferia e à evidente desigualdade social enfrentada por pessoas pretas e pardas. Utilizei
um saco com balinhas em quantidade superior a de aluno da turma. A dinâmica proposta era que um aluno
retirasse as balinhas conforme sua vontade e passasse para o próximo, mantendo o mesmo procedimento até
chegar ao último. Esperava-se que essa distribuição desigual favorecesse os primeiros, enquanto os últimos
teriam poucas balinhas ou até mesmo nenhuma para receber. Durante a aula, apresentei o videoclipe e
discutimos os gráficos referentes à distribuição da população de Luziânia - PMAD - 2013. Analisamos
especificamente o Gráfico 4 - População por cor/raça (CODEPLAN-DF, 2014, p. 37), o Gráfico 6 -
População segundo a naturalidade (CODEPLAN-DF, 2014, p. 39) e o Gráfico 8 - População segundo o nível
de escolaridade (CODEPLAN-DF, 2014, p. 42). O objetivo geral da aula era relacionar a compreensão por
meio dos dados estatísticos, da análise do videoclipe e da distribuição desigual das balinhas com aspectos
sociais do Jardim Ingá, distrito de Luziânia onde o CEDOM está localizado. A aula progrediu com sucesso.
Fiquei surpreendida com o alto nível de atenção e a participação expressiva da turma, mesmo com mais de
cinquenta alunos na sala.
Palavras-chave: Educação; Tabelas; Desigualdade social; Representatividade racial.

1. INTRODUÇÃO

A condução de aulas efetivas e produtivas demanda estratégias que envolvam e motivem


os alunos em seu processo de aprendizagem. Segundo Werneck (1987), a contextualização
dos conteúdos é essencial para despertar o interesse dos estudantes, tornando-se necessário
conectar os conhecimentos teóricos com situações do cotidiano. Nesse sentido, ao
enfrentar o desafio de transmitir conteúdos em um período reduzido de tempo, buscou-se
a simplificação e a objetividade como estratégias-chave para o processo de ensino. Como
salientado por Tanenbaum (2016), a aplicação de métodos práticos e dinâmicos tem o
potencial de engajar os alunos, tornando o ensino mais atrativo e acessível. Para garantir
essa dinâmica, foram utilizados materiais audiovisuais que se aproximavam da realidade
vivida pelos alunos. Esta narrativa visa enfatizar o sucesso alcançado ao empregar uma
abordagem que não apenas simplifica o ensino, mas também o torna relevante para a
1
Bolsista Residência Pedagógica/Capes, IFG – Campus Valparaíso de Goiás. E-mail:
gabriellaiolanda@gmail.com.

realidade dos alunos, incluindo uma atividade reflexiva que traz a matemática como aliada
do indivíduo, levando-o a refletir sobre as circunstâncias que os levaram ao ponto em que
se encontram, resultando em uma participação ativa e engajada dos alunos (Almeida,
2016).

2. MATERIAL E MÉTODOS

No dia 26 de setembro de 2023, às 15:00, na Escola Colégio Estadual Delfino


Oclécio Machado, dei início à experiência de regência relatada aqui na turma do 8º ano
F. A preceptora entrou na sala, fez a chamada e explicou aos alunos o objetivo da aula,
passando-me a palavra. Ela limitou-se a observar, interferindo o mínimo possível.
Comecei projetando no data show a tela com o aplicativo de vídeos do YouTube
aberto no videoclipe 'A Vida é Desafio' (RACIONAIS MC'S, 2015). Primeiramente,
comuniquei aos alunos que assistiríamos ao vídeo e, em seguida, iniciaríamos a discussão
do tema. Após algumas falhas técnicas e problemas com o áudio, consegui iniciar a
projeção. Enquanto tentava resolver os problemas com o áudio, alguns alunos
observavam as primeiras imagens do clipe, o que, de certa forma, estimulou o interesse
na aula sobre 'tabelas e gráficos'. Para facilitar a compreensão, aqui estão algumas das
imagens mencionadas:
Fonte: RACIONAIS MC'S. (2015). A Vida é Desafio [Vídeo]. Recuperado de
https://www.youtube.com/watch?v=6LaFWvC0tTw

Iniciamos a reprodução do clipe e muitos alunos até sugeriram outras músicas do


mesmo grupo para serem reproduzidas, o que confirmou para mim a assertividade na
escolha desta. Estimo que esse primeiro momento tenha durado cerca de 15 minutos. Em
seguida, comecei uma breve explicação sobre o que é estatística e seus instrumentos.
Entreguei o saco com balinhas ao primeiro aluno mais próximo da mesa da professora, e
ele logo perguntou: ‘São quantas para cada um?' A turma também ficou impaciente para
saber a resposta. Expliquei que eles determinariam a quantidade que se serviriam e
passariam para o próximo aluno mais próximo, enfatizando que o objetivo era que todos
pudessem ganhar.
Seguimos com a apresentação do Gráfico 4 - 'População por cor/raça'
(CODEPLAN-DF, 2014, p. 37), que apresento a seguir:

Mostrando a imagem, expliquei os componentes do gráfico de pizza e como ele


representava os dados. Em seguida, perguntei aos alunos se concordavam com esses
dados, mesmo que fossem coletados há 10 anos. Alguns expressaram que era improvável
que esses dados refletissem a realidade daquela época, afirmando que a população negra
deveria ser consideravelmente maior.
Então, questionei qual seria a provável característica do tom de pele de uma
pessoa que se autodeclara 'parda/mulata'. Entre as várias respostas, algumas chamaram
minha atenção, especialmente aquelas relacionadas à falta de aceitação da cor/raça por
parte do entrevistado. Esse diálogo perdurou por cerca de 10 minutos. Em seguida,
apresentei o gráfico 6 - População segundo a naturalidade (CODEPLAN-DF, 2014, p.
39) que segue.

Pedi que identificassem o significado dos números na vertical e das palavras na


horizontal, orientando-os na interpretação do gráfico e na compreensão da origem da
população de Luziânia naquela época. Ao confirmar que entenderam, questionei se a maioria
da população da região provinha dos estados mais desenvolvidos, social e economicamente,
do Brasil. Alguns imediatamente discordaram, mencionando apenas o Distrito Federal como
exceção.
Enquanto a distribuição das balinhas estava temporariamente interrompida devido a
uma pequena discussão entre os alunos sobre a igualdade na quantidade, a professora
regente, não ciente do propósito da dinâmica, pegou as balinhas e iniciou a distribuição,
dando uma para cada aluno. Eu optei por não intervir no processo, apenas observei aqueles
que já haviam pego mais, notando expressões de contentamento. Após a dispersão e quando
os ânimos se acalmaram, retomei a aula. Nesse momento, exibi o Gráfico 8 - 'População
segundo o nível de escolaridade' (CODEPLAN-DF, 2014, p. 42), conforme segue:"

Analisamos de forma análoga à anterior a interpretação dos dados. Quando percebi


que a maioria compreendeu, questionei qual era o nível de escolaridade predominante na
cidade de Luziânia, conforme indicado no gráfico. Eles responderam prontamente que era o
item 'fundamental incompleto'.
Para finalizar, perguntei à turma qual a conexão entre os gráficos e o vídeo 'A Vida
é Desafio' (RACIONAIS MC'S, 2015). Em seguida, compartilhei o trecho inicial da letra:

“Sempre fui sonhador, é isso que me mantém vivo


Quando pivete, meu sonho era ser jogador de futebol
Vai vendo!
Mas o sistema limita nossa vida de tal forma
E tive que fazer minha escolha, sonhar ou sobreviver
Os anos se passaram e eu fui me esquivando do círculo vicioso
Porém o capitalismo me obrigou a ser bem sucedido
Acredito que o sonho de todo pobre, é ser rico
Em busca do meu sonho de consumo
Procurei dar uma solução rápida e fácil pros meus problemas
O crime
Mas é um dinheiro amaldiçoado
Quanto mais eu ganhava, mais eu gastava
Logo fui cobrado pela lei da natureza
Vish, catorze anos de reclusão
O barato é louco, ó”

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6LaFWvC0tTw.


Acesso em: set. 2023.

Devido à ansiedade para serem os primeiros a responder, várias falas surgiram, abordando a
desigualdade social resultante da exclusão por cor/raça, a falta de oportunidades, a
insegurança na saúde, na educação e na própria segurança. Para finalizar, uni as percepções
expressas pelos estudantes, relacionando-as com a dinâmica da distribuição das balinhas.
Mencionei que os primeiros alunos foram privilegiados por receberem mais, enquanto
todos os outros receberam apenas uma balinha. Nesse momento, houve uma comoção por
parte da turma que recebeu menos, expressando indignação pela falta de justiça. Encerrei
enfatizando que muitas balinhas voltaram ao ponto de origem, fazendo referência às políticas
públicas e seus representantes.
Assim, concluí a aula, que teve duração aproximada de 50 minutos, deixando-os com a
reflexão sobre o quão produtiva foi a aula em seus objetivos, considerando os aspectos que
favoreceram esse cenário.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As aulas foram planejadas para se tornarem mais interessantes aos alunos, trazendo o
conteúdo para a realidade que vivem, mesmo que não a notem. Os alunos que mais
participaram do processo foram aqueles que mais têm o costume de interferir na aula com
conversas paralelas e indisciplina; a aproximação com o tema surtiu efeito neste aspecto.
Outro ponto notável foi o critério de justiça empregado pelos presentes para a distribuição
das balinhas e a relação que estabeleceram com a administração de nosso governo.

4. CONCLUSÕES

A aula, composta pela dinâmica das balinhas, análise de gráficos e debate sobre
questões sociais, revelou-se um espaço de reflexão profunda. Minha percepção, como
professora, foi positiva e completa em relação ao processo de ensino-aprendizagem. O
engajamento dos alunos na interpretação dos dados estatísticos e na conexão com a realidade
social, evidenciada no vídeo "A Vida é Desafio" dos RACIONAIS MC'S (2015), permitiu
não apenas abordar conceitos de estatística, mas também discutir desigualdades,
representatividade e acesso a direitos básicos. A intersecção entre os gráficos e a vivência
dos alunos gerou debates sobre as complexidades sociais. O contexto lúdico e participativo
estimulou uma aprendizagem ampla, promovendo não só a compreensão estatística, mas
também a conscientização social e a reflexão crítica sobre as disparidades existentes na
sociedade contemporânea.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio do Programa Institucional de


Residência Pedagógica - RP, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – CAPES – Brasil.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria Amelia; MENDES, Enicéia Gonçalves. (Orgs.). Educação


Especial e seus diferentes recortes. 1. ed. Marília, SP: ABPEE. 2016. 340 p.

Codeplan-DF. Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílios - PMAD -


2013. Brasília: Codeplan-DF, janeiro de 2014. Disponível em:
<https://www.codeplan.df.gov.br/wp-content/uploads/2018/03/Luzi%C3%A2nia-
2013.pdf>. Acesso em: 09 set. 2023.

TANENBAUM, Andrew S. Sistemas operacionais modernos / Andrew S.


Tanenbaum, Herbert Bos; tradução Jorge Ritter; revisão técnica Raphael Y. de
Camargo. – 4. ed. – São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016.

RACIONAIS MC'S. A Vida é Desafio [Vídeo]. 08 set. 2015. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=6LaFWvC0tTw. Acesso em: set. 2023.

WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva. Rio de


Janeiro: WVA, 1997.

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