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Carta Da Terra para Crianças - Vivencias Educacionais - Miolo

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Texto: Berenice Gehlen Adams

Projeto Gráfico e Editoração: Paulo Vinicius Teixeira


Revisão do Texto: Vera Maria Adams

Apoema Produções Paradidáticas Ltda.


Rua São Luiz Gonzaga, 1152
93520-460 - Novo Hamburgo
Rio Grande do Sul - RS - Brasil
Contato:
Fone: (051) 3594.9094
apoema@apoema.com.br
site: www.apoema.com.br

Apoema Cultura Ambiental 1


A211v Adams, Berenice Gehlen
Vivências educacionais com a Carta da Terra/
Berenice Gehlen Adams – Novo Hamburgo:
Apoema, 2004.
44 p.

1. Carta da Terra – Atividades pedagógicas 2. Meio


ambiente I. título

CDU 574:37.061

Bibliotecária responsável: Maria Denise Mazzali Konarzewski


CRB 10/843

© Apoema Produções Paradidáticas Ltda - 2004

Todos os direitos de publicação são reservados à Apoema Cultura Ambiental. É


proibida a reprodução e veiculação total ou parcial em qualquer meio (gravação,
fotocópia, mecânica, eletrônica, web e outros) sem autorização da Apoema Cultura
Ambiental.

2 Apoema Cultura Ambiental


PREFÁCIO

O crescente interesse dos professores pela educação ambiental indica que


este tema está presente na escola e ocupa hoje a atenção dos profissionais da educação,
em especial dos professores e professoras das diferentes disciplinas do currículo, que
estejam comprometidos com as mudanças dos tempos atuais.

Nos últimos trinta anos, a evolução da educação ambiental formal tem sido
animadora. Cada vez mais escolas realizam projetos e ações de educação ambiental,
embora de desenvolvimento lento e de forma gradual, o tema vem despertando o interesse
dos alunos e professores.
Hoje está mais fácil falar sobre ambiente, ecologia, problemas ambientais e
educação ambiental para professores das diferentes disciplinas. Até recentemente os mais
interessados estavam entre os de Ciências, Biologia e Geografia. Mesmo com este
processo em marcha, ainda existe uma grande carência de materiais que auxiliem os
professores e professoras no trabalho de sala de aula.

Nas três últimas décadas, documentos importantes foram produzidos por


especialistas em educação ambiental, mas a distância entre sua elaboração, aprovação e
o conhecimento de seu público alvo, sempre foi grande e permanece até hoje.

A iniciativa da professora Berenice, educadora ambiental “de nascença” é


uma contribuição valiosa para o trabalho prático na escola e vai ajudar a preencher uma
lacuna da área no que tange a educação dos pequeninos.
Um dos grandes méritos do livro Vivências educacionais com a Carta da
Terra é justamente estabelecer pontes entre o que tem sido anunciado e preconizado nos
documentos e diretrizes (o conhecimento teórico) e os novos caminhos apontados para
que a humanidade possa se reconectar à Terra e assim se religar a teia da vida (a
experiência, a prática). O livro incentiva os professores a utilizar a Carta, a partir das
sugestões de atividades que envolvem tanto as crianças das séries iniciais da Educação
Básica como seus professores.
A Carta da Terra pode ser considerado o documento mais significativo para a
Educação Ambiental, e em especial para àquela que acontece na escola, pois representa
o esforço de oito anos de discussões em todos os continentes, que envolveram mais de
quarenta países e mais de cem mil pessoas de nacionalidades e culturas diferentes,
representantes de diversas áreas do conhecimento, atividades profissionais e econômicas
variadas, escolas e universidades, centros de pesquisa e tradições religiosas. Foi redigida
por uma comissão de líderes e pensadores que formam opinião e discutem as idéias da
nossa época, e a intenção da sua elaboração é que a Carta tenha o mesmo valor da
Declaração dos Direitos Humanos.
Para permitir que se adote na prática as orientações contidas na Carta da
Terra, a autora organizou sua proposta em dois momentos complementares. O primeiro
dirigido aos docentes, intitulado “A Carta da Terra comentada I - com sugestões para
trabalhos com docentes (módulos de atividades)” e o segundo “A Carta da Terra
comentada II - com sugestões para trabalhos com crianças (atividades indicadas para
quem trabalha com crianças das séries iniciais da educação básica). Ambos foram
organizados em módulos, representando cada um dos elementos do Documento, como
por exemplo: Módulo 1 o A Carta da Terra - Preâmbulo ; Módulo 2 - Terra, nosso lar;

Apoema Cultura Ambiental 3


Módulo 3 A situação global; Módulo 4 - Desafios para o futuro; Módulo 5 -
Responsabilidade universal; Módulo 6 – Princípios; Módulo 7 - O caminho adiante
A proposta da autora, está apresentada de forma a fazer com que os
docentes se sintam bastante confortáveis, que é um aspecto a ser destacado. As
metodologias sugeridas permitem trabalhar habilidades e atitudes essenciais ao fazer
pedagógico da educação ambiental, como por exemplo, ler e discutir, expressar-se através
da música, do canto, das artes plásticas, nos trabalhos em grupos, e nos momentos de
produção e reflexão individual.
Do ponto de vista teórico a autora segue uma das mais importantes
orientações do estatuto epistemológico da educação ambiental, que é a não adoção de
uma metodologia universal e uniformizada, o que revela que a proposta além de
inovadora, anuncia claramente, não a oferta de receitas e fórmulas acabadas, mas a
possibilidade de um trabalho criativo que respeita os espaços e as trajetórias percorridas
pelos sujeitos envolvidos na construção, criação e recriação da realidade, do
conhecimento e da percepção do ambiente.
Baseando-se nos fundamentos da Ecopedagogia com muita sensibilidade ela
incentiva e desafia os educadores e educadoras a integrar seus conteúdos específicos aos
da Carta da Terra, que será desta forma um poderoso recurso para que o trabalho
realizado na sala de aula e na escola seja inter e transdisciplinar.

De uma forma gentil mas firme, faz um chamamento aos docentes sobre a
necessidade de tomar consciência de que a hora é de mudanças, de ousadias e de se
buscar o novo, a partir das lições aprendidas com a velhas experiências.
A autora faz um ato de fé e reafirma sua crença no poder que a educação,
em especial a ambiental tem de oferecer alternativas éticas, filosóficas, políticas,
pedagógicas e espirituais que consigam de forma transitiva, abandonar “práticas
educacionais tradicionais e cartesianas, deixando penetrar, no ambiente escolar, a
valorização da vida, que nunca teve sua matrícula garantida nos bancos escolares”.
Sabemos que a mudança proposta pela autora é lenta e que segundo ela “
deverá ser introduzida aos poucos, com calma, com sutileza e com muita reflexão. Mas,
antes de buscar a mudança na educação, devemos buscar a mudança da nossa postura
frente à vida, frente à educação, e frente à própria mudança”.

Acredito, assim como a Berenice que é preciso e é urgente mudar e que esta
mudança pode oferecer riscos. Em nenhum aspecto será fácil, pois implica que cada um
faça uma auto-avaliação e passe por um processo de sensibilização e reflexão individual.
Acredito ainda, que se a proposta da vivência da Carta da Terra, focada na
mudança de atitude e comportamento for implementada na escola, pode contribuir para o
desenvolvimento da consciência ambiental, visto que para a ecopedagogia trata-se de
assumir um compromisso ético e um ato de cidadania planetária.

Finalmente quero reiterar que acredito na iniciativa da autora, de fazer da


Carta da Terra uma poderosa ferramenta de transformação sociambiental, tornando-a
acessível e possível dentro da práxis cotidiana dos educadores e educadoras.

Sinto-me honrada por ter sido escolhida por ela para, em primeira mão, me
sensibilizar e emocionar imaginando a aplicação de sua proposta no rico espaço de
criação e inovação, que configuram as nossas escolas, conduzidas pelas mãos de

4 Apoema Cultura Ambiental


docentes de inestimável valor, que estão hoje com a grande responsabilidade de formar os
cidadãos, que serão os tomadores de decisão de amanhã.
Quem sabe assim, o que está no Preâmbulo da Carta seja futuramente, uma
triste lembrança de um futuro anunciado que não se cumpriu, já que sabemos que nós
como autores escrevemos no presente de nossas vidas o futuro onde estaremos vivendo,
ou não. Berenice está contribuindo para mudar o rumo da história.
Cada de um de nós pode escrever uma nova página também, principalmente
inspirada pelos princípios da Carta da Terra.

Bom trabalho!
Ellen Regina Mayhé Nunes (Professora da PUCRS)

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6 Apoema Cultura Ambiental
A CARTA DA TERRA COMENTADA I - COM SUGESTÕES PARA
TRABALHOS COM DOCENTES
(Módulos de atividades)

Introdução

A Carta da Terra é um dos documentos mais significativos utilizados nas


atividades que constituem a Educação Ambiental/EA:

A idéia da Carta da Terra surgiu a partir da Eco 92, onde a ONU


criou um órgão que posteriormente foi transformado na ONG
Earth Council, com sede na Costa Rica. Uma de suas missões é
elaborar e manter atualizada a Carta da Terra, uma declaração
universal para orientar a humanidade a caminhar com o
desenvolvimento sustentável e criar uma ética globalizada, um
código de conduta para pessoas e nações rumo à
sustentabilidade, capaz de refrear o consumismo predatório dos
países ricos e eliminar a escassez extrema, não só de
alimentos, como de educação, oportunidades, informação e
meios de sobrevivência básicos 1 .

Por sua beleza e importância, propomos integrar esta carta ao trabalho de


educadores e educadoras, a fim de incentivar o seu uso como recurso para o
desenvolvimento de uma nova consciência, propiciando-lhes a vivência de valores que
serão repassados para alunos e alunas.
A principal finalidade desta proposta é proporcionar ao corpo docente uma
vivência significativa deste importante documento de referência sobre a Educação
Ambiental. Nós, educadores/as, devemos ter consciência de que é chegada a hora de
MUDAR, de ousar, de buscar alternativas pedagógicas, derrubando os muros das práticas
educacionais tradicionais e cartesianas, deixando penetrar, no ambiente escolar, a
valorização da vida, que nunca teve sua matrícula garantida nos bancos escolares. É claro
que esta mudança deverá ser introduzida aos poucos, com calma, com sutileza e com
muita reflexão. Mas, antes de buscar a mudança na educação, devemos buscar a
mudança da nossa postura frente à vida, frente à educação, frente à mudança. Sabemos,
então, que é preciso mudar, e mudar significa arriscar, ousar, acreditando nos propósitos
que objetivam esta mudança. Cada um de nós precisará fazer uma avaliação da maneira
como estamos vivendo. É desta forma que iniciaremos este trabalho de sensibilização:
propondo uma reflexão individual, reflexão esta que será discutida em grupos através de
atividades específicas. Esperamos que este trabalho possa colaborar com a inserção da
EA nas escolas.

A Carta da Terra foi aqui dividida em sete módulos que podem ser trabalhados
em um curso específico ou em espaços de reuniões pedagógicas. O texto original da Carta
da Terra é apresentado com a fonte em itálico para se destacar dos comentários e
sugestões.
Berenice Gehlen Adams

1
Histórico da Carta da Terra extraído do site http://www.geocities.com/Heartland/Valley/5990/carta.html

Apoema Cultura Ambiental 7


Módulo 1
A CARTA DA TERRA
UNESCO (*)
PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa
época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo
torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo
tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos
reconhecer que no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de
vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino
comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global
baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça
econômica e na cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que
nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os
outros, com a grande comunidade da vida e com as futuras gerações.
COMENTÁRIO: Em seu preâmbulo, a Carta da Terra apresenta o retrato do
caos que se instalou no processo do desenvolvimento da humanidade. Por incrível que
pareça, para muitas pessoas ainda é difícil acreditar que estejamos vivendo momentos
cruciais e decisivos na vida do planeta. Não é o caso de se utilizar idéias catastróficas, que
mais imobilizam do que sensibilizam. Trata-se de enxergar com clareza que a coisa está
feia mesmo e que é nosso dever fazermos algo para mudar este quadro sócio-ambiental.
SUGESTÃO: Sugerimos destinar um momento das reuniões pedagógicas para
o estudo da Carta da Terra ou iniciar os módulos programáticos partindo da leitura do
preâmbulo – especificamente do primeiro parágrafo. A partir da leitura, realizar uma
dinâmica que leve a uma auto reflexão das posturas de cada um em relação ao ambiente,
propondo as seguintes reflexões: Como eu conduzo minha vida? Quais são meus
objetivos? Sou uma pessoa muito consumista? Tenho interesse nas questões ambientais?
Como é minha alimentação? Sou muito influenciado pela mídia? Tenho contatos
periódicos com a Natureza? Estas e outras questões não deverão ser respondidas, a não
ser internamente. Para realizar esta atividade podemos utilizar cartazes com as frases ou
escrever a frase no quadro e dar um minuto para refletir sobre ela, até que todas as frases
sejam apresentadas. Uma música de fundo é bem-vinda. A coordenação poderá fazer uma
conclusão da reflexão dizendo que sabemos que nosso sistema educacional vigente (com
raras exceções) não leva em conta as questões ambientais e que somos frutos desta
educação. Portanto, não podemos, nem devemos nos sentir culpados pela atual situação
ambiental, mas sim, estar abertos/as às mudanças necessárias que devem ocorrer para
que nos tornemos seres conscientes e integrados ao ambiente. Também é indicado utilizar
recursos poéticos e/ou musicais para atividades de sensibilização como o poema a seguir:

8 Apoema Cultura Ambiental


Compromisso Terra
Berenice Gehlen Adams

Grande ser do universo: Terra


De infinitas faces
De infinitas formas de vida
De infinitas histórias e aventuras
Hoje
Com teu corpo doído e sofrido
Com teu sangue corrompido e manchado
Com tua pele machucada e queimada
Ainda persistes em acolher bem
O teu filho predador
Que é também predador de si próprio.
Hoje é nosso dever
Assumirmos contigo
O compromisso de te cuidar
De te recuperar, de te regenerar
A começar pela própria regeneração humana.

Por que a humanidade está cega


Pelas promessas
Das modernas ciências do saber
Que reconhecem, timidamente, a sua pequenez
Por não encontrarem alternativas
Para curar o mal causado a ti
E a todas as formas de vida que tu abrigas.

E é por teu amor incondicional


Que transcende a compreensão humana,
Que assumimos o compromisso
De gritar por ti clamando alteridade,
caridade, amorosidade, respeito.

Terra
Grande ser do universo
A ti pedimos perdão
Pela nossa insensatez.
Assumimos hoje
De forma individual e global
O compromisso de resgatar
A consciência integral
Para que cada ação nossa colabore
Para o nascimento de uma nova humanidade
Que te respeite, que te honre
Que te ame verdadeiramente.

Salve, Terra!

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades, destacando pontos de


dúvidas que ficaram em aberto.

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Módulo 2
Terra, Nosso Lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra,
nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da Natureza
fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou
as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação
da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da
preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma
rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O
meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de
todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um
dever sagrado.
COMENTÁRIO: Neste ponto do preâmbulo da Carta da Terra são ressaltados
os valores mais preciosos relacionados à vida do planeta, que são os sistemas ecológicos
da biosfera. Os ecossistemas são encarregados de manter o equilíbrio da vida no planeta.
Até pouco tempo atrás, não tínhamos a noção da finitude dos recursos extraídos da
biosfera, utilizados em larga escala para a produção de objetos que se destinam a dar
comodidades para a humanidade. A prática da industrialização somente leva em conta as
vantagens econômicas da exploração dos recursos naturais. Hoje sabemos que se este
processo continuar neste ritmo, estaremos pondo em risco a vida das atuais e futuras
gerações, bem como a vida do planeta. Faz-se necessário refletirmos sobre o quanto
estamos contribuindo para a extinção destes recursos e o que é possível fazer para
colaborar com a proteção da vida.
SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas ou
módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra para o grupo de educadores/as e
propor uma reflexão sobre os hábitos de consumo. Utilizar uma técnica artística, sugerindo
que cada um crie um desenho ou pintura, cujo tema possa ser Integração,
Sustentabilidade, Ambiente ou simplesmente Terra. Acrescentar ao trabalho uma frase
que simbolize a aproximação do ser humano com a vida em seu amplo contexto, que será
lida para todos como forma de concluir esta etapa. Se houver oportunidade, trabalhar a
música “Terra, Planeta Água” de Guilherme Arantes. Também sugerimos o trabalho com o
seguinte texto:

O NOSSO MEIO AMBIENTE


Berenice Gehlen Adams
Quando falamos em nosso meio ambiente é importante perceber o sentido da
palavra nosso dentro de um diferente contexto. O sentido da palavra nosso não se refere a
algo que nos pertence, como propriedade, como algum objeto sobre o qual temos posse.
Falar em nosso ambiente diz respeito à nossa forma de vida como um todo.
Quando falamos em nosso meio ambiente estamos falando da nossa vida em
seu amplo contexto e em tudo o que a ela se relaciona. Estamos incluídos neste meio
ambiente, pois ele nos perpassa e somos parte dele.

10 Apoema Cultura Ambiental


Quando falamos que no meio ambiente encontramos tudo o que precisamos
para viver, estamos falando de nossas necessidades vitais, pois sem ambiente não é
possível existir vida.

Portanto, quando falamos em nosso ambiente, devemos perceber que dele


fazemos parte e que o que acontece com o meio ambiente acontece conosco. É como
falar em nosso grupo, nosso trabalho, nosso corpo, nosso universo, como algo do qual
fazemos parte e não de algo do qual somos donos ou temos domínio.
Vivemos em um contexto social, político, econômico, geográfico e cultural que
nos coloca em uma posição privilegiada e separada do ambiente natural. Alguns discursos
apresentam, em sua essência, que os recursos naturais existem exclusivamente para nos
servir e que deles podemos fazer uso para o nosso próprio benefício, sem levar em conta
a sua finitude. Esta cultura consumista, progressista, dissocia e distancia o ser humano da
natureza e do meio ambiente, colocando-o sempre no topo, em um pedestal. Somos
endeusados por nós mesmos. É chegada a hora de perceber que tudo está relacionado
como uma grande teia. É preciso destronar o ser humano como rei do universo. Somos
nada, absolutamente nada, sem o nosso meio ambiente.

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades, destacando pontos de


dúvidas que ficaram em aberto.

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Módulo 3
A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando
devastação ambiental, redução dos recursos e uma maciça extinção de espécies.
Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não
estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está
aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm
aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes
da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As
bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas,
mas não inevitáveis.
COMENTÁRIO: Este ponto do preâmbulo aponta o problema sócio-ambiental
proveniente dos modelos de produção e consumo. Além de provocarem a degradação
ambiental e a extinção das espécies, provocam também a disparidade entre as classes
sociais, responsável por inúmeras formas de exclusão. Os seres humanos não têm as
mesmas possibilidades de vida digna.
SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas ou
módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra para o grupo de educadores/as e
propor uma reflexão sobre os hábitos sociais. Utilizar uma técnica de redação, sugerindo
que cada um crie um texto (pequeno) cujo tema possa ser Solidariedade, Consumo ou
simplesmente Degradação do Ambiente. Após a realização da tarefa, dividir os
participantes em grupos de cinco e cada grupo fará uma síntese dos trabalhos, reunindo
as idéias mais importantes para serem apresentadas ao grande grupo. Também proponho
o trabalho com a música O Sal da Terra, de Beto Guedes, como recurso de
sensibilização:

O Sal da Terra

Anda, quero te dizer nenhum segredo


Falo nesse chão da nossa casa, vem que tá na hora de arrumar
Tempo, quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado e quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor
O pé na Terra
A paz na Terra, amor
O sal da Terra... És o mais bonito dos planetas
Estão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave, nossa irmã
Canta, leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com teus frutos
Tu que és do homem, a maçã

12 Apoema Cultura Ambiental


Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças é só repartir melhor o pão
É criar o paraíso agora para merecer quem vem depois
Deixa nascer o amor... Deixa fluir o amor
Deixa crescer o amor... Deixa viver o amor
O sal da Terra!!!

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades, destacando pontos de


dúvidas que ficaram em aberto.

Apoema Cultura Ambiental 13


Módulo 4
Desafios Para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e
uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São
necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de
vida. Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o
desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o
conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir
nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global
está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e
humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais
estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes.
COMENTÁRIO: Este ponto do preâmbulo aponta o grande desafio que se
apresenta no contexto vigente: formar uma nova consciência, provocando mudanças de
atitudes que colaborem para minimizar os impactos sócio-ambientais já destacados.
Estamos vivendo uma época de grandes transformações: sociais, econômicas, políticas,
ambientais. Estas mudanças que estão acontecendo nem sempre são positivas, como
quando o pobre fica cada vez mais pobre, o político fica cada vez mais corrupto, a
economia mais decadente com o desemprego e com a falta de recursos para atender as
necessidades da população, e o meio ambiente cada vez mais poluído e devastado. Desta
forma, cai a qualidade de vida urbana e ocorre um descaso com o meio ambiente,
tornando-o cada vez mais danificado. Encarar os problemas ambientais é essencial, pois é
do ambiente que depende a qualidade de vida da população. É preciso que as pessoas se
conscientizem para a conservação e preservação do meio ambiente, pois isto trará
melhorias em nossa qualidade de vida. A sociedade pode se unir e exigir dos órgãos
governamentais a fiscalização das empresas que geram poluição, lixo tóxico, que
ocasionam a falta de saúde da população em geral. A economia pode se voltar para o
incentivo à reciclagem, ao reflorestamento, à preservação, investindo em ações sócio-
ambientais, dando oportunidade às empresas que estão inseridas no contexto do meio
ambiente, gerando mais empregos. Os políticos deveriam apresentar projetos de
preservação e de conservação do meio ambiente visando a melhoria da qualidade de vida.
Se hoje não tivermos uma postura e uma consciência ambiental, reparando os danos
causados ao meio ambiente e evitando novos desastres ecológicos, a continuidade e a
qualidade de vida estará comprometida. Este seria o maior erro que a humanidade poderia
cometer contra ela própria.
SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas ou
módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra e os comentários apresentados
para o grupo de educadores/as a fim de proporcionar uma reflexão sobre a importância de
atitudes conscientes conectadas com o ambiente. Utilizar uma técnica de dramatização
sugerindo que, em grupos, os participantes interpretem algo com os seguintes conceitos,
relacionando-os com situações ambientais: Respeito, Preservação, Reciclagem, Pobreza,
Água, Poluição, Extinção, Colaboração. Cada grupo receberá uma palavra e em poucos
minutos combinarão algo para representar. Ao final da apresentação, dizer o tema
específico da apresentação.

Também sugerimos o texto abaixo, que poderá ser lido para o fechamento do
módulo:

14 Apoema Cultura Ambiental


Bons tempos aqueles...
Berenice Gehlen Adams
Era um dia quente, de verão, daqueles insuportáveis. A avó, sentada em sua
cadeira de balanço, abanava seu leque, sem parar. Não mais suportando o calor, pede
para Max, seu neto, abrir a janela. Com um suspiro aliviado, sente uma suave brisa tocar
sua face enrugada. Já estava entardecendo. A avó, saudosa, olha para o velho aparelho
de ar condicionado. Bons tempos aqueles, pensa a avó.

O sol já ia se pondo no horizonte, e o neto, como de costume, começa a


acender algumas velas distribuídas, estrategicamente, pela casa. Volta a sentar perto da
avó e pede a ela que lhe conte como eram os tempos em que não havia o racionamento
de energia elétrica. Com ares de tristeza, ela começa seu relato:
- Há muitos anos atrás, sempre havia energia elétrica disponível, dia e noite!
Era tão prático que as pessoas nem se davam conta de sua importância. Raramente
faltava luz e quando isto acontecia, a companhia recebia centenas de ligações com
reclamações. Nas casas, quanto mais luzes acesas, aparelhos ligados, melhor. Era um
desperdício total. Os aparelhos de ar condicionado ficavam permanentemente ligados. Até
que começaram a ocorrer os primeiros black outs. A população foi avisada quanto aos
riscos de racionamento se não ocorresse uma mudança em relação ao consumo de
energia. Muitas campanhas foram feitas, mas de nada adiantou. Aqueles que não podiam
pagar eram os que mais poupavam, mas, em compensação, muitos diziam: Eu pago,
então, uso à vontade. Ninguém acreditava que um dia chegaríamos a este ponto.
- Puxa, vovó! Então isso tudo é por causa da falta de consciência das
pessoas? Será que elas não pensaram nas futuras gerações? – perguntou o neto.

- É, Max, – disse a avó – infelizmente as pessoas não deram ouvidos às


campanhas e avisos. Agora, estamos sofrendo as conseqüências.
E o neto perguntou:
- E a senhora, vovó, poupava energia elétrica?
Inquieta e levantando-se da cadeira, a avó responde:

- Estou cansada, meu neto, tenho que me recolher. Por favor, apague as velas
pois temos poucas, ainda. Boa noite!
Max fez o que a avó solicitou e ambos foram dormir.
A avó, naquela noite, custou para pegar no sono. Aquela pergunta do neto
ficou ecoando em seus pensamentos durante muito tempo: “E a senhora, vovó, poupava
energia elétrica?”.
Redação premiada no concurso Ação e Redação AES Sul – julho/2000 – Tema
- Conscientização do bom uso da energia elétrica

Apoema Cultura Ambiental 15


Comentários sobre a redação:

Esta redação apresenta uma visão futurista a respeito dos riscos do


racionamento de energia elétrica se não houver um consumo moderado no momento
presente. Apresenta uma visão do senso comum que justifica o problema com a falta de
conscientização da população em não poupar energia. Com um olhar fora deste contexto,
tão declarado e conhecido (a população sempre tem a "culpa", eximindo toda e qualquer
responsabilidade dos poderes econômicos e/ou governamentais), podemos refletir que de
vítimas acabamos sendo condenados a carregar uma culpa que é, na verdade, deste
estrondoso processo de industrialização, de modernização, de consumismo, que passa
por cima de tudo e de todos em busca de lucratividade e acúmulo de bens.
Devemos poupar energia porque somente desperdiça quem não reconhece a
importância dela dentro do contexto global e universal.
Devemos poupar energia elétrica, não para não sermos "castigados" com o
racionamento, mas pelo amor que temos pela natureza, pelo ambiente, pela vida.
Devemos poupar energia por sabermos que este é um bem precioso, que é
gerado por outro bem, bem maior, que é a natureza.
Devemos poupar energia por Amor ao Planeta!

- Berenice Gehlen Adams –

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades, destacando pontos de


dúvidas que ficaram em aberto.

16 Apoema Cultura Ambiental


Módulo 5
Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido
de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade
terrestre, bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo
cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e
global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo
futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O
espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido
quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo
presente da vida, e com humildade, considerando o lugar que ocupa o ser
humano na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para
proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. Portanto,
juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes,
visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a
conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de negócios, governos
e instituições transnacionais será guiada e avaliada.
COMENTÁRIO: Este ponto do preâmbulo aponta a importância da união e do
respeito para com todas as formas de vida e entre as diferentes culturas das raças
humanas. Para tanto, são formulados princípios que nortearão atitudes que proporcionem
o desenvolvimento de uma nova ética de vida que priorize o respeito às diferenças e ao
ambiente.
SUGESTÃO: Dando continuidade ao tema nas reuniões pedagógicas ou
módulo programático, ler este ponto da Carta da Terra para o grupo de educadores/as e
propor uma reflexão sobre a importância de aplicar princípios éticos tanto em nossa vida
social como familiar. Em todos os lugares: no trabalho, em casa, na igreja, no comércio, na
produção. Mas nada disto será possível se não tivermos claros, dentro de nós, quais os
princípios que queremos e devemos seguir para alcançar um mundo justo e sustentável.
Pode ser utilizada uma técnica de redação, sugerindo que cada um crie um princípio ou
um objetivo que possibilite uma mudança de atitude, partindo da idéia O que eu posso
fazer para colaborar com a mudança? Ao final, cada um relata o princípio ou objetivo que
acha importante ser alcançado para possibilitar a mudança de atitudes nos cidadãos e nas
cidadãs. Distribuir o texto abaixo e pedir para um colega fazer a leitura oral. Comentar a
atividade, destacando pontos de dúvidas que ficaram em aberto.

Se a Terra falasse...
Berenice Gehlen Adams
Eu me chamo Terra. Tenho 4,6 bilhões de anos e abrigo centenas de milhares
de seres vivos. Possuo muitas riquezas e inúmeros ecossistemas. Os oceanos cobrem
cerca de dois terços de minha superfície. Sou envolvida pela atmosfera que chega a
algumas centenas de quilômetros acima da minha crosta. Estou mudando

Apoema Cultura Ambiental 17


constantemente, desde que nasci. Por exemplo, na Era Glacial estive coberta por uma
grossa camada de gelo. Houve o tempo dos dinossauros que dominavam grande parte de
meu ambiente, e que devido a mudanças naturais bruscas, não resistiram e acabaram
morrendo. Apesar de todas estas mudanças, sentia-me bem, pois sabia que tudo fazia
parte de um ciclo natural.

Muito tempo se passou e hoje em dia sinto-me fraca, muito fraca... Minhas
florestas estão sendo destruídas por queimadas e desmatamentos, provocando inúmeras
perdas de espécies animais e vegetais. Meus rios e oceanos estão sendo poluídos com
lixo, dejetos e rejeitos de indústrias, e minha atmosfera está sendo danificada. O lixo
acumulado demora a se decompor provocando feridas em minha crosta. Tudo está sendo
destruído e só porque sou muito grande, apenas poucos acreditam que estou correndo
perigo de vida, assim como todos os seres vivos que abrigo. Os próprios humanos
(responsáveis por todo esse caos) sofrem de inúmeras enfermidades causadas pelo
desequilíbrio ecológico, contaminação das águas, poluição, e nem por isso tomam as
providências necessárias para reverter esta situação.
Eu sou o seu Planeta, o seu paraíso, presente de Deus, que lhes oferece tudo
o que é necessário. Preciso da sua ajuda e peço que cuidem bem de mim plantando,
reciclando, despoluindo, para que possamos viver em harmonia novamente, para que
muitos animais e plantas continuem vivendo e para que as condições de vida humana
melhorem, antes que seja tarde demais...

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades, destacando pontos de


dúvidas que ficaram em aberto.

18 Apoema Cultura Ambiental


Módulo 6
PRINCÍPIOS

COMENTÁRIO: Este ponto da Carta da Terra apresenta os Princípios que


nortearão atitudes para a efetiva mudança. Esta sessão pode ser mais extensa que a dos
módulos anteriores, pois trata dos específicos princípios norteadores da Carta da Terra.
Estes princípios estão divididos em quatro temas:
I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA


III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ
SUGESTÃO: A sugestão para trabalhar estes princípios é a de que o corpo
docente seja dividido em quatro grupos e cada grupo seja responsável por uma das
temáticas. Em grupo, serão discutidos todos os princípios de cada tema. Após a leitura e
discussão destes princípios, o grupo montará um painel para apresentar de forma criativa,
ao findar do trabalho, os princípios discutidos.

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.


a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem
valor, independentemente do uso humano.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial
intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão,


compaixão e amor.
a. Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais
vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger o direito das
pessoas.
b. Afirmar que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta
responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas,


participativas, sustentáveis e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos
e as liberdades fundamentais e dar a cada uma a oportunidade de realizar seu pleno
potencial.

Apoema Cultura Ambiental 19


b. Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma
subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as


atuais e as futuras gerações.
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas
necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem, a
longo termo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro extensos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA


5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos
da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos
processos naturais que sustentam a vida.
a. Adotar planos e regulações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis
que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as
iniciativas de desenvolvimento.
b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera,
incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da
Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas em perigo.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente
que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses
organismos daninhos.
e. Manejar o uso de recursos renováveis como a água, solo, produtos florestais e
a vida marinha com maneiras que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a
sanidade dos ecossistemas.
f. Manejar a extração e uso de recursos não renováveis como minerais e
combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão e não cause sério dano ambiental.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de


proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o
caminho da prudência.
a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos
ambientais mesmo quando a informação científica seja incompleta ou não conclusiva.
b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmam que a atividade proposta não
causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano
ambiental.

20 Apoema Cultura Ambiental


c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas
globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e de longa distância.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o
aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que


protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos
e o bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e
consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos
recursos energéticos renováveis como a energia solar e a do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de
tecnologias ambientais saudáveis.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de
venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas
sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que fomente a saúde
reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e o suficiente material
num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e


promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento
adquirido.
a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à
sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual
em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a
proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA


9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social,
econômico e ambiental.
a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos
não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e
internacionais requeridos.

Apoema Cultura Ambiental 21


b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma
subsistência sustentável, e dar seguro social [médico] e segurança coletiva a todos aqueles
que não são capazes de manter-se a si mesmos.
c. Reconhecer o ignorado, proteger o vulnerável, servir àqueles que sofrem,
permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades econômicas e instituições em


todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma
eqüitativa e sustentável.
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro e entre nações.
b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações
em desenvolvimento e aliviar as dívidas internacionais onerosas.
c. Garantir que todas as transações comerciais apoiem o uso de recursos
sustentáveis, a proteção ambiental e normas laborais progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais
atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas
conseqüências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-


requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso
universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades
econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda
violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida
econômica, política, civil, social e cultural como parceiros plenos e paritários, tomadores de
decisão, líderes e beneficiários.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a criação amorosa de todos os
membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as


pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a
dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando
especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor,
gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos,
terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os para cumprir
seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

22 Apoema Cultura Ambiental


d. Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado cultural e espiritual.

IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ


13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis
e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício
do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no
acesso à justiça.
a. Defender o direito de todas as pessoas a receber informação clara e oportuna
sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam
afetá-las ou nos quais tivessem interesse.
b. Apoiar sociedades locais, regionais e globais e promover a participação
significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia
pacífica, de associação e de oposição [ou discordância].
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais
independentes, incluindo mediação e retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais
danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios
ambientes e designar responsabilidades ambientais a nível governamental onde possam ser
cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar na educação formal e aprendizagem ao longo da


vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um
modo de vida sustentável.
a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas
que os habilite a contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades assim como das ciências na
educação sustentável.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massas no sentido de
aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência
sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.


a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e diminuir
seus sofrimentos.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que
causem sofrimento externo, prolongado ou evitável.

Apoema Cultura Ambiental 23


c. Evitar ou eliminar ao máximo possível, a captura ou destruição de espécies que
não são o alvo [ou objetivo].

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.


a. Estimular e apoiar os entendimentos mútuos, a solidariedade e a cooperação
entre todas as pessoas, dentro e entre nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a
colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras
disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma
postura não provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos,
incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição de
massa.
e. Assegurar que o uso de espaços orbitais e exteriores mantenham a proteção
ambiental e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a integridade criada por relações corretas consigo
mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com o grande Todo
do qual somos parte.
* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades, destacando pontos de
dúvidas que ficaram em aberto.

24 Apoema Cultura Ambiental


Módulo 7
O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar
um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra.
Para cumprir esta promessa, temos que comprometer-nos a adotar e promover
os valores e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo
sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos
desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável
a nível local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma
herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas
formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global
gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender da continuada
busca de verdade e de sabedoria.
A vida, muitas vezes, envolve tensões entre valores importantes. Isto
pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para
harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem
comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo,
família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes,
as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as
empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos
chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade
civil e empresa é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do
mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com
suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a
implementação dos princípios da Carta da Terra junto com um instrumento
internacional legalmente vinculante com referência ao ambiente e ao
desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova
reverência face à vida, por um compromisso firme de alcançar a
sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre
celebração da vida.

COMENTÁRIO: O fechamento da Carta da Terra nos sensibiliza e nos


comove, ao mesmo tempo em que nos incentiva a buscar a mudança que não só é
necessária como também possível, se acreditarmos que temos capacidade para isto.
Neste sentido, a Educação Ambiental torna-se uma importante aliada da Carta da Terra
porque é através da educação, propriamente dita, que alcançamos mudanças:

Apoema Cultura Ambiental 25


A educação ambiental fomenta novas atitudes nos
sujeitos sociais, e novos critérios de tomada de decisões
dos governos, guiados pelos princípios de
sustentabilidade ecológica e diversidade cultural,
internalizando-os na racionalidade econômica e no
planejamento do desenvolvimento. Isto implica em educar
para formar um pensamento crítico, criativo e prospectivo,
capaz de analisar as complexas relações entre processos
naturais e sociais, para atuar no ambiente com uma
perspectiva global, mas diferenciada pelas diversas
condições naturais e culturais que o definem. (LEFF,
2001:256).

SUGESTÃO: Refletir sobre o texto de fechamento da Carta da Terra e, para


encerrar, fazer a leitura do conto a seguir:

A Alma da Escola

Berenice Gehlen Adams


Era uma vez uma Escola. Uma Escola que nasceu de um sonho: o sonho de
tornar as pessoas capazes de viver em sociedade com amor, respeito, alegria, de forma
organizada, onde cada um aprenderia a desenvolver seu potencial criativo para bem viver
com todos os seres, em um ambiente saudável e feliz. Era uma Escola que educava para
a vida. Nesta Escola havia muitos professores e alunos que viviam alegres e em harmonia.
Uns aprendiam com os outros; todos ensinavam a todos. Aprendiam que tudo na Terra
tem valor. Havia respeito por tudo e por todos, principalmente pelos mais velhos. Eram
solidários, amigos e demonstravam uma grande integração ao ambiente.
Com o passar dos anos, a Escola foi crescendo e aos poucos foi mudando. Só
que não foi uma boa mudança: os professores começaram a ficar severos, punitivos,
exigentes, e tudo o que tinha valor eram notas altas, letra bonita, bom comportamento,
conhecimento - quanto mais, melhor. Com isto as crianças deixaram de ser alegres e
curiosas. Estudavam para tirar boas notas, escreviam bonito para agradar ao professor,
decoravam a matéria para provas e comportavam-se bem para evitar que chamassem os
pais para reclamações. Aqueles que não se enquadravam, passaram a ser considerados
incapazes e improdutivos.
Pouco a pouco, a Escola foi ficando cada vez mais triste. Até que um dia, a
alma da Escola começou a chorar muito. Pois é, Escola tem alma, vocês sabem... Vendo
aquela triste mudança a Escola pensou: Tenho que fazer alguma coisa! Isto não pode
continuar assim!. Foi então que ela se lembrou do velho Sábio que morava numa
montanha próxima. O Sábio conhecia a Escola desde pequenina. A Escola chamou o
passarinho bem-te-vi, que voava por ali, e pediu que mandasse um recado ao Sábio. O
pássaro, sem demora, voou até o alto da montanha, e com um belo, mas triste trinado,
passou ao sábio, o recado.

Antes de descer a montanha, o Sábio entrou na caverna, pegou algumas


sementes, enrolou-as numa folha de bananeira e seguiu em direção à Escola.

26 Apoema Cultura Ambiental


Chegando lá, o Sábio logo viu que as coisas não andavam bem. Percebeu que,
naquela Escola, estava faltando o principal: o amor pela vida. Ficou observando como as
crianças brincavam/brigavam e como os professores davam suas aulas. Como era um
sábio, logo entendeu o porquê da Escola estar pedindo socorro. Esperou o sinal do final da
aula e depois que todos haviam partido para suas casas, sentou-se no pátio e, de olhos
fechados, pôs-se a conversar com a Escola.
- Querida Escola, vejo que as coisas não vão bem, mas não fique triste. Estou
aqui para ajudá-la!
A Escola, então, falou:
- Sabe o que é, Sábio, não estou me sentindo bem. Sinto muito frio e muita
tristeza, pois ninguém mais sorri como outrora. As crianças estão ficando adultas cedo
demais. Brigam, competem, não lêem mais histórias e falam como se fossem “gente
grande”, e o que é pior, os professores valorizam mais as crianças que se portam assim.
Não estão mais preocupados em educar para a vida e sim educar para o trabalho, para o
vestibular, e para melhor competir com o seu semelhante. Isto está gerando muita
discórdia e ressentimento. Os professores e alunos estão distanciando-se cada vez mais
do ambiente e dos seres que também têm direito à vida. O que devo fazer, Sábio? Estou
muito fraca e acabarei morrendo. De mim, restará apenas um prédio frio, sem vida, sem
alma, será um depósito de pessoas grandes e pequenas...

O Sábio, após pensar um pouco, falou:


- Este é um sério problema, Escola, mas todo problema tem solução. Trouxe
comigo algumas sementes de conscientização que colhi de uma linda árvore. Elas serão
espalhadas antes do início das aulas. Logo, começará a sentir alguns efeitos. Quando as
sementes começarem a brotar, professores e crianças ficarão mais sensíveis e começarão
a sentir falta do contato com a natureza, do respeito, da amizade, do amor. Aos poucos,
passarão a perceber o que é realmente importante para a vida, e tudo começará a
modificar.
- Mas, Sábio, como farei isto? Como poderei espalhar as sementes?
O Sábio riu e disse:
- Não se preocupe! Deixarei as sementes no canto do telhado e pedirei ao
amigo Vento para fazer isto. Durante sete dias ele soprará estas minúsculas sementes que
se espalharão pelo ar e entrarão no coração de cada um. Aos poucos, as sementes
germinarão e frutificarão. Porém, é preciso ter paciência.
A Escola respondeu que era difícil ter paciência, mas que iria fazer um esforço,
pois sabia que valeria a pena. Falou, então, ao Sábio:

- Sábio, sei que não deveria ter deixado chegar a este ponto tão crítico. Mantive
meus olhos fechados por muito tempo e não estava conseguindo ver esta realidade, até
que a tristeza passou a ser insuportável. Estas sementes são a esperança de que vamos
conseguir trazer de volta a VIDA e o AMOR que estão faltando.
O Sábio responde:
- Escola, tenha fé e confiança. Logo, logo, perceberá as mudanças. Na medida
em que conhecerem melhor a si próprios, tanto professores como alunos passarão a ver e
viver com respeito por tudo e por todos. E isto sairá pelos portões afora, chegará aos lares

Apoema Cultura Ambiental 27


e por fim, estará em todos os lugares: fábricas, indústrias, igrejas, hospitais, parques,
florestas... Agora, tenho que ir!
A Escola despede-se do Sábio com palavras de agradecimento e, de repente,
chama-o de volta:
- Senhor Sábio, tenho uma pergunta! Onde conseguiu tais sementes? Que
árvore tão maravilhosa é esta?

O Sábio retorna alguns passos e responde serenamente:


- Foi numa árvore especial, muito grande, muito linda, mas pouco conhecida e
compreendida. É chamada Árvore da Educação Ambiental.
Daquele dia em diante, a alma da Escola voltou a sorrir...

* Para finalizar o módulo, comentar sobre as atividades, destacando pontos de


dúvidas que ficaram em aberto.

Considerações finais

Este trabalho possibilita, aos educadores e educadoras, uma vivência da Carta


da Terra, incentivando mudanças de atitude e contribuindo para uma assimilação deste
importante documento de referência para a prática da Educação Ambiental. A Carta da
Terra é um compromisso ético com a integridade da vida em seu amplo contexto.

Assumir este compromisso é um ato de cidadania planetária, conceito que está


presente na Ecopedagogia apresentada por Moacir Gadotti. Para este autor, “A
ecopedagogia implica numa reorganização dos currículos para que incorporem certos
princípios defendidos por ela. Esses princípios deveriam, por exemplo, orientar a
concepção dos conteúdos e a elaboração de livros didáticos. Piaget nos ensinou que os
currículos devem complementar o que é significativo para o aluno. Sabemos que isto é
correto, mas incompleto. Os conteúdos curriculares têm de ser significativos para o aluno,
e só serão significativos para ele se esses conteúdos forem significativos também para a
saúde do planeta, para o contexto mais amplo (...) A ecopedagogia defende ainda a
valorização da diversidade cultural, a garantia para manifestações ético-política e cultural
das minorias étnicas, religiosas, políticas, sexuais, a democratização da informação e a
redução do tempo de trabalho, para que todas as pessoas possam participar dos bens
culturais da humanidade. A ecopedagogia, portanto, é também uma pedagogia da
educação multicultural (...) Ela não se dirige apenas aos educadores, mas aos habitantes
da Terra em geral (...) a ecopedagogia pretende ir além da escola: ela pretende impregnar
toda a sociedade” (GADOTTI, 2000 : 92;93).

NOTA
(*) No dia 14 de março de 2000, na Unesco em Paris, foi aprovada a Carta da
Terra depois de 8 anos de discussões em todos os continentes, envolvendo 46 países e
mais de cem mil pessoas - desde esquimós, indígenas da Austrália, do Canadá e do
Brasil, entidades da sociedade civil, escolas primárias, até grandes centros de pesquisa,
universidades, empresas e religiões. Ela deverá ser apresentada e assumida pela ONU no
ano 2002 com o mesmo valor da Declaração dos Direitos Humanos. Por ela, será possível

28 Apoema Cultura Ambiental


denunciar os agressores da dignidade da Terra, os Pinochets anti-ecológicos em qualquer
parte do mundo e levá-los aos tribunais. Na Comissão de Redação estavam Mikhail
Gorbachev, Maurice Strong, Steven Rockfeller, Mercedes Sosa, Leonardo Boff e outros.
Aqui segue a Carta para ser discutida em todos os âmbitos.

Referências

ADAMS, Berenice Gehlen. Projeto Apoema – Educação Ambiental:


http://www.apoema.com.br
CARTA DA TERRA - http://www.geocities.com/Heartland/Valley/5990/carta.html
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2000.
LEFF, Enrique. Saber Ambiental Sustentabilidade Racionalidade Complexidade Poder.
Petrópolis: Vozes, 2001

Apoema Cultura Ambiental 29


30 Apoema Cultura Ambiental
A CARTA DA TERRA COMENTADA II - COM SUGESTÕES
PARA TRABALHOS COM CRIANÇAS
(Atividades indicadas para quem trabalha com crianças das séries iniciais
da educação básica)

Apresentação

A Carta da Terra, documento elaborado por centenas de pessoas de


diferentes segmentos e de diferentes países, é um forte referencial para o trabalho da
Educação Ambiental/EA. A Ecopedagogia, um novo conceito de pedagogia trazido por
Gadotti (2000), ressalta a importância de trabalhar a educação dentro dos contextos
ecológicos e ambientais, e para isto incentiva a utilização deste documento.

Um trabalho com A Carta da Terra foi anteriormente sugerido para ser utilizado
com os docentes, proporcionando-lhes a oportunidade de vivenciar e experimentar sua
força sensibilizadora, possibilitando e favorecendo uma mudança de postura frente à
realidade e ao cotidiano.
Agora, este trabalho pretende levar a sensibilização da Carta da Terra às
crianças, através dos professores. Para utilizar a Carta da Terra com os alunos, o
documento foi dividido em sete módulos que podem ser trabalhados com as crianças
(cabendo adaptá-los para cada faixa etária, se necessário). Cada módulo inicia sempre
com o texto original seguido de uma adaptação do trecho, tornando-o acessível à
compreensão infantil. Depois, são apresentadas sugestões de atividades que poderão ser
desenvolvidas ao longo do ano letivo, e que servem como ponto de partida, pois cada
professor/a pode ampliar o leque de atividades de cada módulo. O trabalho torna-se mais
rico se for feito um estudo dos vocábulos apresentados no texto.
Espera-se que este trabalho possa colaborar com a inserção da EA nas
escolas.

Berenice Gehlen Adams

Apoema Cultura Ambiental 31


Módulo 1
A CARTA DA TERRA
UNESCO
PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa
época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo
torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo
tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos
reconhecer que no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de
vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino
comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global
baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça
econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo
que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os
outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações .
ADAPTAÇÃO DO TEXTO: A Terra é o planeta onde moramos. Ela tem muitos
e muitos anos de vida. Com o tempo, os humanos começaram a transformá-la para
viverem melhor. Mas não perceberam que estavam deixando a Terra machucada. Muitos
problemas estão acontecendo porque os humanos tiraram muita coisa da natureza e
produzem muito lixo. Se as pessoas mudarem a forma como tratam a natureza, será
possível melhorar o ambiente. Cada um é responsável pelo que acontece com a Terra.
Vamos cuidar do ambiente protegendo os animais, separando o lixo, plantando,
consumindo menos. Todos os povos da Terra devem assumir este compromisso com a
mudança.
SUGESTÃO: A partir da leitura do texto adaptado, realizar uma dinâmica que
leve a uma reflexão das posturas de cada um em relação ao ambiente, propondo as
seguintes questões: Como é a Terra, nosso planeta? Como é a vida na Terra, quem mora
nela? “Quais são os tipos de vida que existem na Terra? Como era antigamente o nosso
planeta e como ele está hoje? Porque nosso planeta está assim, tão poluído? Estas e
outras questões serão levantadas pelo/a professor/a para uma reflexão em grande grupo.
Uma música de fundo pode ser utilizada para facilitar a reflexão e envolver o sentido da
audição. Um cartaz com gravuras contendo imagens que representem os problemas
ambientais: poluição, lixo, guerra, desmatamento, queimadas, etc, enriquece a atividade.
Outras sugestões: realizar atividades em grande grupo como a criação de
frases ou texto sobre a Terra; pesquisa sobre os problemas ambientais do bairro da
escola; atividades artísticas envolvendo o tema: Terra; leitura do poema O ABC da vida.

O ABC da vida...

Berenice Gehlen Adams

Devemos amar e respeitar:

32 Apoema Cultura Ambiental


A ÁRVORE que dá sombra, que dá frutos.
A BALEIA que vive a nadar pelo mar.
A CACHOEIRA que vive a vida a correr.
O DINOSSAURO que viveu há milhões de anos atrás...
A ECOLOGIA que é a ciência que estuda a vida.
A FIGUEIRA que é uma árvore frondosa e faceira.
A GIRAFA que é pescoçuda como uma garrafa.
O HIPOPÓTAMO que é pesado e gosta de água.
O ÍNDIO que vive em aldeias na mata.
O JACARÉ que rasteja devagar e sabe nadar.
A LARANJA que guarda um suco saboroso.
O MAR que é imenso e tem água salgada.
A NATUREZA que nos encanta com sua beleza.
O OZÔNIO que protege a Terra.
O PLANETA que vive a vida a girar.
O QUATI que tem a cauda comprida com anéis de pêlos pretos.
O RIO que corre para o mar como quem vai se atrasar.
A SELVA que é um lugar habitado por animais selvagens.
A TERRA que é o planeta em que vivemos.
O UNIVERSO que é onde existem planetas, estrelas, asteróides.
O VENTO que é o ar em movimento.
O XAXIM que é planta que tem o tronco formado por raízes.
E ZELAR pelo nosso amado Planeta Terra.

Apoema Cultura Ambiental 33


Módulo 2
Terra, Nosso Lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra,
nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da Natureza
fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou
as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação
da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da
preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma
rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O
meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de
todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um
dever sagrado.
ADAPTAÇÃO: A humanidade evoluiu muito. Descobriu o fogo, passou a criar
objetos, roupas, ferramentas e, ao longo de muitos anos, chegou ao que estamos vendo
hoje: muitas cidades, muitos mercados, muitas escolas, fábricas com produtos de todos os
tipos. Nada disso existia na Terra. A população humana também cresceu. Com tudo isso,
muitas espécies de plantas e animais perderam seu espaço, pois não conseguiram
sobreviver com o progresso dos humanos. Para que a situação não piore, precisamos agir
para proteger o nosso ambiente.
SUGESTÃO: Ler este ponto da Carta da Terra (adaptação) para as crianças e
propor uma reflexão sobre os hábitos de consumo. Utilizar uma técnica artística sugerindo
que cada um crie um desenho ou pintura, cujo tema possa ser: Objetos Criados pelos
Humanos, ou Como era a Terra Bem Antigamente? Enquanto as crianças realizam a
atividade, a professora ou o professor vai conversando sobre o assunto, fazendo
questionamentos que possibilitem a ampliação da reflexão. O texto abaixo também poderá
ser utilizado para finalizar esta atividade.

É hora de agir!

Berenice Gehlen Adams


A Terra é o meio ambiente natural, formado por um conjunto de rios, lagos,
montanhas, planícies, plantas, animais, seres humanos.
Apesar de os seres humanos pertencerem ao reino animal, apresentam uma
diferença muito grande das demais espécies: o raciocínio.

Os animais, com exceção dos humanos, são irracionais (não pensam), agem
por instinto. Com a capacidade do raciocínio, os humanos interferem mais intensamente
no meio ambiente, transformando-o.

A evolução da humanidade chegou a tal ponto que perdeu o controle da


situação ambiental. Os homens incendeiam as matas para abrir estradas e construir
prédios, envenenam as plantas que comem, poluem rios, mares, o ar, e têm uma
tendência muito grande ao consumismo e ao acúmulo de riquezas. Consideram-se donos
da Terra.

34 Apoema Cultura Ambiental


Não! A Terra não tem dono, e se tem, é ela mesma sua dona.
Se não fosse pelos animais racionais que somos nós, humanos ditos
civilizados, a Terra, com certeza, teria o ar puro, seus rios seriam limpos e o verde estaria
predominando na crosta terrestre.
Com a interferência do homem, o ambiente terrestre foi modificado e
danificado brutalmente. Foram muitos anos de exploração da Terra e hoje, novos rumos
devem ser tomados para que possamos restabelecer o equilíbrio do planeta. Para ajudar,
precisamos agir localmente.

É hora de agir.
Vamos começar?
Veja o que você pode fazer:
- Separe seu lixo. Com esta atitude, você passará a perceber que é uma ação
simples e de grande valia para a questão do lixo. Pode simplesmente separar o lixo Seco
do lixo Molhado, ou Orgânico e Inorgânico.
- Não deposite seu lixo na rua, em parques ou locais variados. Se você não
encontrar uma lixeira, guarde o seu lixo até que encontre um local adequado para
depositá-lo.
- Incentive a separação do lixo em ambientes de trabalho e educacionais.

- Torne-se criterioso ao adquirir produtos. Dê preferência aos produtos com


embalagens recicláveis, produtos que já estejam inseridos no contexto ambientalista.
- Não desperdice energia elétrica ou água. A água é um recurso escasso que
compromete a vida das novas gerações.
- Evite criticar os outros que não têm uma consciência ambientalista. Dê o
exemplo, que tem muito mais valor do que as críticas.

- Antes de comprar alguma coisa, reflita se você necessita realmente do


produto ou está sendo induzido a comprá-lo.
- Plante flores, árvores, temperos, folhagens. Se você não tiver um espaço,
procure algum, sempre encontrará um lugar.
- Recicle e reutilize materiais que vão para o lixo.
Estas são algumas dicas que você pode incorporar no seu dia-a-dia.
A Terra precisa ser respeitada, valorizada e amada. É ela que nos dá
condições de usufruir desta maravilhosa experiência que é a VIDA. Vamos cuidar bem
dela!
São pequenas ações que podem trazer grandes benefícios para o nosso meio
ambiente e para as futuras gerações. Hoje, temos um grande compromisso com a Terra
que é restabelecer o equilíbrio dos ecossistemas e melhorar a qualidade de vida.

Apoema Cultura Ambiental 35


Módulo 3
A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando
devastação ambiental, redução dos recursos e uma maciça extinção de espécies.
Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não
estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está
aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm
aumentado e é causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da
população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases
da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas
não inevitáveis.
ADAPTAÇÃO: Muitas empresas e indústrias produzem muita poluição e tiram
várias coisas da natureza para fabricarem produtos que são comercializados. As pessoas
compram estes produtos e, sem perceber, acabam comprando muitas coisas que nem
precisam. Alguns produtos das fábricas de alimentos são prejudiciais à saúde porque têm
tintas, conservantes, sabores artificiais para ficarem bonitos e gostosos. Muitas pessoas
chamam a industrialização de desenvolvimento. Este tipo de desenvolvimento tem trazido
problemas para muitas pessoas, principalmente para as pessoas pobres. Há muitas
empresas que geram lucro para os donos, que enriquecem às custas dos baixos salários
que pagam para os empregados. Como há muito desemprego, o salário é bem baixo
porque sempre terá gente para trabalhar aceitando o salário que a empresa oferece. E isto
precisa mudar, pois é uma injustiça muito grande.
SUGESTÃO: Após a leitura da adaptação desta parte do preâmbulo da Carta
da Terra, propor uma reflexão sobre as formas de produção e industrialização dos
alimentos e objetos, e também sobre como ocorre o consumo destes produtos, através de
perguntas lançadas à turma: Quais as indústrias que vocês conhecem? O que elas
produzem? O que acontece com as embalagens dos produtos consumidos? Qual é o
produto industrializado que vocês mais utilizam? etc. Após esta conversação, propor uma
pesquisa sobre as empresas existentes no bairro da escola: o que produzem, como é a
embalagem, para que serve o produto, etc. Discutir este levantamento com o grande grupo
e fazer um painel (em grande grupo) sobre as empresas pesquisadas. Também pode ser
feita uma visita ao super-mercado para ver como estes produtos são comercializados (ou
em lojas). Poema para incentivo à pesquisa: Pesquisar.

Pesquisar

Berenice Gehlen Adams

Pesquisar é entrar
Na vida dos livros,
Em vidas vividas
Por reis e rainhas,
Em vidas vividas
Por bichos e plantas...

36 Apoema Cultura Ambiental


Pesquisar é entrar
Na vida real,
Na vida vivida
Por todos nós.
E quanto mais pesquisamos,
Mais curiosos ficamos,
Porque a pesquisa
Nos encanta e nos fascina,
Porque é da vida real
Que se criam os sonhos.

Pesquisar é entrar
Na vida dos bichos,
Na vida das plantas,
Na vida de rios e mares,
Procurando em cada canto
Um pequeno encanto.

E quanto mais pesquisamos


Mais percebemos que a vida
É cheia de cantos
E encantos secretos.

Na verdade, é pesquisando
Que aprendemos
O quão imenso é
O nosso universo.

Apoema Cultura Ambiental 37


Módulo 4
Desafios Para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e
uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São
necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de
vida. Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o
desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o
conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir
nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global
está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e
humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais
estão interligados e juntos podemos forjar soluções includentes.
ADAPTAÇÃO: Através da união das pessoas, será possível criar soluções
para melhorar o ambiente e melhorar a vida do planeta Terra. Podemos nos unir na
escola, na comunidade, na igreja, nas empresas, ou em casa mesmo, para formar grupos
que pensem em soluções para problemas como o lixo, o desperdício, a fome, a
conscientização de comprar somente aquilo que realmente é necessário. Estes grupos
podem realizar campanhas, festas, informativos para distribuir para a população. São
iniciativas que colaborarão para a melhoria da qualidade de vida. Quando as pessoas se
tornam menos consumistas, elas também se tornam mais humanas e mais solidárias. A
solidariedade é fundamental para a criação de uma nova sociedade mais justa que
valoriza a pessoa pelo que ela é e não pelo que ela tem. Devemos nos unir para cuidar da
Terra.
SUGESTÃO: Após a leitura da adaptação deste módulo, propor uma reflexão
sobre a importância da solidariedade e da justiça. Trabalhar os conceitos: Solidariedade,
Cooperação, União, Consumo Consciente, Respeito, Caridade. Perguntar o que as
crianças pensam sobre cada conceito e a partir do conhecimento prévio exposto,
acrescentar para cada conceito o que não estava claro, ampliando o significado de cada
um. Também utilizar o dicionário para contextualização do significado da palavra. Após a
pesquisa no dicionário, propor a criação de um texto (em grande grupo) utilizando os
conceitos estudados. Pode ser em forma de história, poesia ou texto descritivo. Reproduzir
o texto e distribuir para as turmas da escola (um por turma). Uma história para
complementar a atividade e ampliar a reflexão:

A aventura de Pitinha
Berenice Gehlen Adams

Era uma vez uma sementinha de pinhão que morava grudada com muitas
outras sementes. Elas eram suas irmãs. O nome da casa delas era pinha. Elas moravam
num galho de um enorme pinheiro. Um dia, uma sementinha, a Pitinha, caiu da pinha e
ficou no chão, sozinha e triste. Porém, logo, logo começaram a cair mais e mais sementes,
então Pitinha já não estava mais sozinha. Certo dia, chegou uma gralha e começou a levar
cada uma das sementes embora. Pitinha via e não entendia o que estava acontecendo,
até que um dia a gralha a pegou com seu bico e saiu voando. Pitinha ficou com medo, mas
aos poucos já estava adorando o vôo. A gralha pousou em um galho de um enorme

38 Apoema Cultura Ambiental


eucalipto para descansar e largou Pitinha. Pitinha aproveitou para perguntar: "Para onde
está me levando?". E a gralha respondeu: "Algumas sementes eu como, outras, eu
planto". Pitinha não entendeu e perguntou: "Como assim?"A gralha lhe disse: "Eu vôo para
o alto e a solto. Assim a semente que cai com a ponta para baixo entra para a terra e
germina". Pitinha começou a entender e disse: "Quero me tornar um grande pinheiro e
você vai me ajudar!". Sem nada mais a dizer, a gralha tomou Pitinha em seu bico e pôs-se
a voar. Voou alto, muito alto até que, de repente, Pitinha começou a cair, cair, cair. Caiu
certinho, com a ponta para a terra e ficou ali, quietinha, faceira, esperando pela hora de
tornar-se um lindo pinheiro.
* Conclusão da história: Assim como os animais precisam das plantas e das
sementes, as sementes também precisam dos animais.

Apoema Cultura Ambiental 39


Módulo 5
Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido
de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade
terrestre, bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo
cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e
global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo
futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O
espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido
quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo
presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser
humano na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para
proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. Portanto,
juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes,
visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a
conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de negócios, governos
e instituições transnacionais será guiada e avaliada.
ADAPTAÇÃO: A Terra é muito grande e nela vivem diferentes povos. Cada
povo tem suas comunidades e sua cultura, que é a forma de vida das pessoas: como se
vestem, o que comem, o que plantam, como convivem umas com as outras. Somos todos
de diferentes lugares, mas temos necessidades iguais: alimento, moradia, trabalho e
qualidade de vida. Se não temos qualidade de vida, as outras necessidades ficarão
comprometidas. Se todos temos as mesmas necessidades, devemos lutar para melhorar a
vida de todo o planeta. Se cada um cuidar bem do seu ambiente, haverá uma melhora em
todo o mundo. Estamos todos unidos por um mesmo ideal: conscientização ambiental.
Desenvolvendo a consciência planetária, estaremos desenvolvendo novos valores de vida
que melhoram a convivência com todos os seres do planeta Terra. Para conseguirmos
fazer isto é importante seguirmos alguns princípios. Mas o que são princípios? É preciso
definir claramente os princípios que queremos e devemos seguir, para alcançar um mundo
justo e sustentável.
SUGESTÃO: Propor uma reflexão sobre a importância da mudança, da
cooperação, do respeito, da união. Pedir que as crianças citem palavras que envolvam as
idéias de solidariedade, e o/a professor/a escreverá as palavras no quadro, por exemplo:
Amor, Amizade, Caridade, Esperança... O/a professor/a faz uma divisão no quadro e pede:
”Digam palavras que são exatamente o contrário das que vocês me disseram”, e lista-as
no quadro também. “Agora, vamos pensar sobre isto e em grupos (de até 4 crianças)
vamos criar histórias e inventar uma cena onde apareçam dois conceitos, um bom e um
ruim. Por exemplo: Maria juntou o lixo do chão e levou até a lata. Ela cooperou com a
limpeza. Juca foi lá e virou a lata do lixo. Ele foi irresponsável”. A professora ou o professor
vai auxiliando as crianças na construção das suas cenas. No final, todos apresentam e
debatem sobre as cenas.

40 Apoema Cultura Ambiental


Módulo 6
PRINCÍPIOS

SUGESTÃO: Este ponto da Carta da Terra apresenta os Princípios que


nortearão atitudes para a efetiva mudança (Os princípios também foram adaptados para
uma linguagem mais acessível à compreensão da criança). Propor uma reflexão sobre a
importância dos princípios. Dividir a sala em grupos e cada grupo recebe as seguintes
tarefas: 1. Procurar no dicionário o que significa Princípio. 2. Criar um princípio para dentro
da sala de aula. Após esta atividade, verificar o que cada grupo fez, falar sobre a
importância de termos princípios em nossas atitudes. Propor uma técnica artística
(desenho, pintura, montagem, recorte-colagem, etc) com o tema: “Somos todos amigos da
Terra”. Ao terminarem a construção do conceito de “princípio”, a professora lê os princípios
abaixo e abre para o debate após a leitura de cada um deles – podendo utilizar vários dias
para a realização desta atividade a fim de que não se torne cansativa para a criança.

PRINCÍPIOS DA CARTA DA TERRA


(Para o texto não ficar muito extenso, foram suprimidos os princípios originais que podem
ser lidos na primeira parte deste livro.)
1. Respeitar a Terra e todos os tipos de vida. Todos os seres são
interligados e cada forma de vida tem valor; acreditar na dignidade de todos os seres
humanos, no seu potencial intelectual, artístico, ético e espiritual.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor,
aceitando o direito de ter e usar os recursos naturais, bem como o dever de impedir danos
ao meio ambiente e proteger o direito das pessoas. Aqueles que mais sabem e mais
estudam, têm a responsabilidade de colaborar e dividir este saber com todas as pessoas.
3. Criar sociedades justas, participativas, sustentáveis e pacíficas,
garantindo os direitos humanos e as liberdades básicas para todas as pessoas,
independente da classe social, dando a cada um a oportunidade de desenvolver seu
potencial. Sociedades onde as pessoas tenham condições de vida - alimentação, casa,
roupa, educação, saúde - e que sejam ecologicamente responsáveis.
4. Garantir a qualidade de vida na Terra para as atuais e as futuras
gerações, reconhecendo a importância do cuidado com a Terra para que as atuais e
próximas gerações tenham as mesmas condições e acesso à vida saudável.
5. Proteger a diversidade da vida na Terra. Proteger é uma ação de respeito.
Devemos impedir todo tipo de desrespeito, como maus tratos em geral a pessoas, animais
e plantas.
6. Prevenir problemas ao ambiente e ter muito cuidado. Evitar fazer as
coisas que sabemos que estão erradas como poluir, queimar, consumir demais, gastar
muita energia, fabricar produtos prejudiciais. Assim estaremos prevenindo problemas.
7. Criar formas de produção, consumo e reprodução que protejam a vida
na Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário. Produzir de forma
moderada, consumir de forma moderada, informar as pessoas sobre o problema de ter
muitos filhos e filhas.

Apoema Cultura Ambiental 41


8. Estudar sobre a vida na Terra e trocar experiências. Valorizar todos os
tipos de conhecimento que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
9. Acabar com a pobreza e resgatar os direitos humanos. Colaborar com o
combate à fome e valorizar os alimentos, evitando o desperdício.
10. Promover o desenvolvimento humano nas empresas e instituições.
Que os empresários e as instituições se posicionem em favor dos seus funcionários,
colaborando com a melhoria da qualidade de vida em todos os níveis.
11. Acabar com a discriminação contra as mulheres. Valorizar as mulheres
evitando o desrespeito, pois elas são tão importantes quanto os homens.
12. Defender os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e
social. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor,
gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
13. Fortalecer a democracia em todos os níveis. Que as políticas públicas
façam valer os direitos e as necessidades dos cidadãos e cidadãs.
14. Incluir na educação formal (escola) e aprendizagem ao longo da vida
(em casa, na igreja, na comunidade, no trabalho) os conhecimentos para um modo
de vida que não prejudique o ambiente.

15. Tratar todos os seres com respeito e consideração. Amar todos os


seres, pois todos são importantes e dignos.
16. Promover uma cultura do respeito, da não violência e da paz.
Respeitar diferentes culturas, diferentes religiões, diferentes idéias, de forma que todos
possam viver em harmonia mesmo que pensem de formas diferentes. Isto não é fácil, mas
será possível se seguirmos estes princípios.

42 Apoema Cultura Ambiental


Módulo 7
O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar
um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra.
Para cumprir esta promessa, temos que comprometer-nos a adotar e promover
os valores e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo
sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos
desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável a
nível local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança
preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de
realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado
pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender da continuada busca de
verdade e de sabedoria.
A vida, muitas vezes, envolve tensões entre valores importantes. Isto
pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para
harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem
comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo,
família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes,
as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as
empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos
chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade
civil e empresa é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do
mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com
suas obrigações, respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a
implementação dos princípios da Carta da Terra junto com um instrumento
internacional legalmente vinculante com referência ao ambiente e ao
desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova
reverência face à vida, por um compromisso firme de alcançar a
sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre
celebração da vida.

ADAPTAÇÃO: Cumprindo os princípios da Carta da Terra estaremos


colaborando para diminuir os problemas do meio ambiente. Mas para isto, precisamos
mudar nossas atitudes e nossa forma de viver. Juntos, (indivíduo, família, escola,
empresa, igreja, instituição) devemos procurar um caminho que leve a esta necessária
mudança de padrões de vida.

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SUGESTÃO: Propor um debate sobre o estudo da Carta da Terra. O que
concluíram: foi bom, foi ruim, por que... Após o debate, pedir que elaborem um cartaz com
o título: A CARTA DA TERRA contendo gravuras, frases com mensagens de
conscientização para expor na escola. Sempre que possível, no decorrer do ano letivo,
associar os conteúdos trabalhados ao trabalho desenvolvido.

______________________________________________________

Conclusão
Este trabalho possibilitará às crianças uma vivência da Carta da Terra,
incentivando mudanças de atitude e contribuindo para uma assimilação deste importante
documento de referência para a prática da Educação Ambiental. A Carta da Terra é um
compromisso ético com a integridade da vida em seu amplo contexto.

44 Apoema Cultura Ambiental

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