Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Ebook A Nova Lei de Improbidade Administ

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 27

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 1

SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................................... 3

Antes de mais nada: o que é a improbidade administrativa?... 5

Competência e sujeitos ativo e passivo: como identificar? ......... 8

Quais as condutas consideradas improbidade administrativa


pela legislação brasileira? ....................................................................................... 12

Lei de Improbidade Administrativa e Procedimentos Admi-


nistrativo e Judicial ...................................................................................................... 18

Considerações Finais .................................................................................................. 22

Referências .......................................................................................................................... 24

Conheça o IDP Learning ........................................................................................... 25

Conheça as redes sociais do IDP ....................................................................... 26

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 2


INTRODUÇÃO

Sempre ressaltamos no Blog do IDP a importância do conhe-


cimento especializado para a atuação de sucesso do operador e da
operadora do Direito, seja no âmbito administrativo ou judicial.

No entanto, a especialização deve vir acompanhada da cons-


tante atualização sobre o campo em que você atua. É preciso estar
atento e atenta quanto às mudanças na legislação e na jurisprudên-
cia atinentes à área específica.

Na seara do Direito Administrativo, não é diferente.

Uma das alterações recentes que mais nos chamam à atenção


se refere à Lei de Improbidade Administrativa. A normativa, pro-
mulgada em 1992, passou por modificações significativas quase 30
anos depois, com o advento da Lei nº 14.230/2021.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 3


Anteriormente, já tivemos a oportunidade de abordar alguns
aspectos da nova Lei, mas é preciso que nos aprofundemos um
pouco mais.

Nesse e-book, vamos conversar primeiro sobre a competência


e sujeitos passivo e ativo previstos na legislação. Quem pode ser víti-
ma de atos ímprobos? Quem pode praticá-los?

Em seguida, precisamos examinar com mais detalhes quais


os tipos de improbidade que a Lei de Improbidade Administrativa
prevê. O maior foco aqui é comparar a mudança da legislação, e o
que isso representa para o operador e a operadora de Direito.

Depois, nosso diálogo vai se voltar para a parte processual que


envolve a improbidade administrativa. Como se dá o procedimento
administrativo? E o judicial? Existe um rito próprio a ser seguido?

Finalmente, traremos as percepções de Marilda Silveira, profes-


sora do Mestrado Profissional em Direito do IDP, a respeito das mu-
danças sofridas pela Lei de Improbidade Administrativa.

Vamos lá!

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 4


ANTES DE MAIS NADA: O QUE É A IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA?

Não podemos começar a explorar a Lei de Improbidade Ad-


ministrativa e sua nova redação sem entendermos o que vem a ser
propriamente improbidade administrativa.

José dos Santos Carvalho Filho, professor do IDP, entende que


a improbidade se relaciona diretamente à inobservância pelo indiví-
duo de valores éticos e morais.

Dentre as consequências, o professor cita comportamentos de-


sonestos, destituídos de integridade e por vezes ofensivos aos direi-
tos de outras pessoas.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 5


“Entre todos, um dos mais graves é a corrupção, em que o be-
neficiário se locupleta às custas dos agentes públicos e do Estado”,
completa. Quando o comportamento ímprobo atinge a Administra-
ção Pública, chamamos de improbidade administrativa.

A partir de 2021, a Lei de Improbidade Administrativa passou


a conceituar atos de improbidade administrativa: são as condutas
dolosas tipificadas nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei, ressalvados tipos pre-
vistos em leis especiais.

Também conceituou dolo: é a vontade livre e consciente de al-


cançar o resultado ilícito tipificado nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei, não
bastando a voluntariedade do agente.

De acordo com a legislação, existem graus diferentes dessa es-


pécie de imoralidade qualificada? Condutas que são mais graves que
outras?

Para o professor Carvalho Filho, não há propriamente graus de


improbidade: “a avaliação desta é feita mais em razão dos efeitos que
produz”.

No entanto, adverte para a gravidade da improbidade adminis-


trativa é indiscutível: “de um lado, atinge a sociedade, cujos interes-
ses são geridos pela Administração; de outro, sua execução é impu-
tada, na maioria das vezes, ao próprio administrador público”.

Antes de passarmos propriamente à legislação específica, pre-


cisamos destacar que o combate à improbidade administrativa é de
índole constitucional.

O artigo 37, § 4º, da Constituição Federal de 1988 delineia al-


gumas sanções que administradoras e administradores públicos po-
dem sofrer caso condenados ou condenadas por ato de improbida-
de administrativa:

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 6


“Os atos de improbidade administrativa importarão a suspen-
são dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibi-
lidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação
previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

O artigo 37 do texto constitucional elenca os princípios nortea-


dores da Administração Pública, dentre eles o da moralidade – esse
diretamente violado em casos de improbidade administrativa.

Outro exemplo é o artigo 85, V, da Constituição. Ali está previsto


que os atos do Presidente da República que atentem contra a Cons-
tituição Federal e especialmente contra a probidade administrativa
são crimes de responsabilidade.

Mais à frente, vamos nos deter sobre os elementos processuais


que envolvem a improbidade administrativa.

Entretanto, apontamos desde já que é a Constituição, no artigo


129, III, quem incumbe ao Ministério Público a proteção do patrimô-
nio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos
e coletivos.

Agora que temos uma visão geral sobre o que é improbidade


administrativa e as suas ligações diretas com a Constituição Federal,
passaremos a detalhar melhor a Lei de Improbidade Administrativa
conforme as recentes modificações pela Lei nº 14.230/2021.

BAIXAR O GUIA DO CURSO


MESTRADO PROFISSIONAL EM DIREITO

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 7


COMPETÊNCIA E SUJEITOS ATIVO E PASSIVO:
COMO IDENTIFICAR?

De acordo com o artigo 1º, § 5º, da Lei de Improbidade Admi-


nistrativa, os atos de improbidade violam a integridade do patrimô-
nio público e social da administração direta e indireta, no âmbito da
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.

A Lei de Improbidade Administrativa é, portanto, nacional.

Isso quer dizer que apenas pode ser modificada pelo Congres-
so Nacional, e não por assembléias ou câmaras legislativas estadu-
ais, municipais ou distrital.

Pela mesma razão, a Lei deve ser aplicada por todos os entes da
Federação.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 8


Também no artigo 1º e parágrafos estão estabelecidos os sujei-
tos passivos da Lei de Improbidade Administrativa, ou seja, quem
pode ser vítima de atos ímprobos:

Poder Executivo;
Poder Legislativo;
Poder Judiciário;
Administrações Diretas e Indiretas no âmbito da União, dos
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal;
Entidade privada que receba subvenção, benefício ou incenti-
vo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais; e
Entidade privada para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual.

Entretanto, nesse último caso, a Lei impõe limitação ao ressar-


cimento de prejuízos à repercussão do ilícito sobre a contribuição
dos cofres públicos.

O sujeito ativo, por outro lado, é o que pratica o ato de improbida-


de administrativa, que concorre para sua prática ou dele se beneficia.

Vejamos que o artigo 2º da Lei de Improbidade Administrativa


traz um conceito amplo de agente público:

“Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente


público o agente político, o servidor público e todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remune-
ração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função nas entidades referidas no art.
1º desta Lei”.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 9


O parágrafo único, logo na sequência, trata especificamente
de recursos de origem pública. Nesses casos, o particular, pessoa fí-
sica ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio,
contrato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo
de cooperação ou ajuste administrativo equivalente, também está
sujeito às sanções previstas na Lei.

Mas não para por aí: o particular pode responder por atos de
improbidade administrativa, conforme prevê o artigo 3º: “As dispo-
sições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo
não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a
prática do ato de improbidade”.

Todavia, o parágrafo primeiro dispõe que sócios, cotistas, diretores


e colaboradores de pessoa jurídica de direito privado não respondem
pelo ato de improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica.

A única exceção é se, comprovadamente, houver participação e


benefícios diretos, caso em que responderão nos limites da sua atuação.

As sanções da Lei de Improbidade Administrativa também


não serão aplicadas à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade
seja também sancionado como ato lesivo à administração pública
de que trata a Lei Anticorrupção.

Já quanto aos agentes políticos, exceto o Presidente da Repú-


blica, eles estão sujeitos tanto à responsabilização civil pelos atos de
improbidade administrativa quanto à responsabilização político-ad-
ministrativa por crimes de responsabilidade.

Não nos esqueçamos ainda dos herdeiros ou sucessores da-


quele que causar dano ao erário ou que se enriquecer ilicitamente.
Eles podem responder pela obrigação de reparação até o limite do
valor da herança ou do patrimônio transferido, conforme o artigo 8º
da Lei de Improbidade.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 10


Em vista do que lemos acima, é possível propor ação de impro-
bidade administrativa exclusivamente em face do particular, sem a
presença de agente público no polo passivo da demanda?

O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que não em reiteradas


vezes (REsp n. 1.980.604/PE, relator Ministro Herman Benjamin, Se-
gunda Turma, julgado em 21/6/2022, DJe de 30/6/2022).

Então, sempre é necessário o litisconsórcio entre o agente pú-


blico e o particular?

Também não.

O STJ entende que “em ação civil de improbidade administra-


tiva, não se exige a formação de litisconsórcio necessário entre o
agente público e os eventuais terceiros beneficiados ou participan-
tes, por falta de previsão legal e de relação jurídica entre as partes
que se obrigue a decidir de modo uniforme a demanda” (AgInt no
AREsp n. 1.450.600/SP, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, julgado em 31/5/2021, DJe de 2/6/2021).

Agora que sabemos um pouco mais sobre o que é improbida-


de, quais os sujeitos ativo e passivo, vamos conversar sobre a tipolo-
gia trazida pela Lei de Improbidade Administrativa.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 11


QUAIS AS CONDUTAS CONSIDERADAS
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PELA
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA?

Entender bem os tipos de improbidade previstos na Lei é es-


sencial para o operador ou operadora de Direito que atua na área.

Os tipos de improbidade administrativa estão previstos nas


condutas descritas nos artigos 9º (enriquecimento ilícito), 10 (lesão
ao erário) e 11 (violação a princípios) da Lei de Improbidade Adminis-
trativa, ressalvados quaisquer outros previstos em leis especiais.

Nesse momento ressaltamos uma das maiores alterações da


legislação: não se admite mais a figura da culpa.

Antes das modificações perpetradas pela Lei nº 14.230/2021,


havia a possibilidade de uma modalidade culposa de improbidade
administrativa, como a lesão ao erário.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 12


Agora, não basta a simples voluntariedade do agente, mas sim
a vontade consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado na le-
gislação.

No mesmo sentido, o artigo 1º, § 3º, prevê que o mero exercício


da função ou desempenho de competências públicas, sem compro-
vação de ato doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato
de improbidade administrativa.

Outra previsão importante: de acordo com o artigo 1º, § 8º, não


configura improbidade a ação ou omissão decorrente de divergên-
cia interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ainda que não
pacificadas, mesmo que não venha a ser posteriormente prevale-
cente nas decisões dos órgãos de controle ou dos Tribunais do Po-
der Judiciário.

Dito isto, vamos à primeira modalidade: o enriquecimento ilícito.

O caput do artigo 9º diz assim: “Constitui ato de improbidade


administrativa importando em enriquecimento ilícito auferir, me-
diante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimo-
nial indevida em razão do exercício de cargo, de mandato, de fun-
ção, de emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º
desta Lei, e notadamente”.

Na sequência, o artigo traz 12 incisos retratando condutas es-


pecíficas, mas que constituem rol meramente exemplificativo.

As condutas são descritas com verbos como receber, perceber,


adquirir, usar, incorporar, que sugerem o enriquecimento. Esse enri-
quecimento, contudo, deve ser ilícito e doloso, para ser considerado
improbidade administrativa.

A próxima modalidade é o dano ao erário.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 13


De acordo com o artigo 10, caput, “Constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão
dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou ha-
veres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente”.

As ações específicas seguem em 22 incisos, também em rol


exemplificativo. A ideia das condutas listadas é que o agente pú-
blico não está ganhando algum benefício, mas sim o terceiro – ou
apenas o dano ao erário.

O que se pretende proteger aqui é o patrimônio público, seja


por conduta comissiva (ação), ou omissiva (omissão).

Devemos notar ainda que, para a condenação por improbida-


de administrativa, deve ser comprovada a perda patrimonial do ente
público, inclusive nos casos de fraude à licitação.

E mais: nos casos em que a inobservância de formalidades le-


gais ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento
sem causa das entidades referidas no art. 1º da Lei de Improbidade
Administrativa.

Também por força da Lei, a mera perda patrimonial decorrente


da atividade econômica não acarretará improbidade administrativa.
A exceção é se comprovar ato doloso praticado com essa finalidade,
conforme regulamenta o § 2º do artigo 10 da Lei de Improbidade
Administrativa.

Violação de princípios: essa é a terceira modalidade.

O artigo 11, caput, da Lei de Improbidade Administrativa, prevê


que “Constitui ato de improbidade administrativa que atenta con-
tra os princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 14


que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legali-
dade, caracterizada por uma das seguintes condutas”.

Embora haja 12 incisos, 4 deles foram revogados, restando ape-


nas 8 vigentes, indicando condutas comissivas e omissivas.

Ao contrário dos anteriores, aqui o rol é taxativo – e essa é outra


grande mudança que a Lei nº 14.230/2021 instituiu.

Importante observar também que os atos de improbidade nes-


ta modalidade exigem lesividade relevante ao bem jurídico tutelado
para serem passíveis de sancionamento. No entanto, independem
do reconhecimento da produção de danos ao erário e de enrique-
cimento ilícito dos agentes públicos, diz o § 4º do artigo 11 da Lei de
Improbidade Administrativa.

Também só haverá improbidade administrativa por violação


de princípios quando for comprovado que o agente público agiu
funcionalmente com o fim de obter proveito ou benefício indevido
para si ou para outra pessoa ou entidade, conforme o § 1º do mesmo
artigo da Lei de Improbidade Administrativa.

Caso determinado indivíduo incorra em um ou mais tipos de


improbidade administrativa previstas nos artigos 9º, 10 e 11, estará
sujeito ou sujeita a cominações contidas no artigo 12 da Lei de Im-
probidade Administrativa.

Elas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acor-


do com a gravidade do fato. Além disso, são independentes de res-
sarcimento integral do dano patrimonial, se efetivo, e das sanções
penais comuns e de responsabilidade, civis e administrativas previs-
tas na legislação específica.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 15


Vamos conhecer algumas delas:

perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao pa-


trimônio;
perda da função pública;
suspensão dos direitos políticos (exceto em casos de vio-
lação de princípios);
pagamento de multa civil (equivalente ao valor do acrés-
cimo patrimonial, equivalente ao dano ou de até 24 vezes o
valor da remuneração percebida pelo agente); e
proibição de contratar com o poder público ou de receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou in-
diretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
da qual seja sócio majoritário, por prazo definido.

Quando da responsabilização da pessoa jurídica, a Lei de Im-


probidade Administrativa impõe que deverão ser considerados os
efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a viabilizar a ma-
nutenção de suas atividades.

Por outro lado, quando perpetrados atos de menor ofensa aos


bens jurídicos tutelados pela Lei, a sanção será limitada à aplicação
de multa, sem prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos
valores obtidos, quando for o caso.

Algumas observações devem ser apontadas.

BAIXAR O GUIA DO CURSO


MESTRADO PROFISSIONAL EM DIREITO

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 16


A primeira: as sanções previstas na Lei de Improbidade Ad-
ministrativa possuem caráter extrapenal.

A segunda: as sanções só podem ser executadas com o trân-


sito em julgado da sentença condenatória, nos termos do artigo 12,
§ 9º, da Lei de Improbidade Administrativa.

Essa é outra alteração importante trazida pela Lei nº 14.230/2021.


Na redação anterior, apenas a perda da função e a suspensão dos di-
reitos políticos se efetivaram com trânsito em julgado da decisão.

A terceira: o artigo 17, § 10-F, I, da Lei de Improbidade Adminis-


trativa, determina que será nula a decisão de mérito total ou parcial
da ação de improbidade administrativa que condenar o requerido
ou requerida por tipo diverso daquele definido na petição inicial.

Assim, é importante observar bem na petição inicial qual o tipo


que está sendo utilizado e se a pena declinada é a adequada, já que
o magistrado ou magistrada não poderá modificá-los.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 17


LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
E PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVO E
JUDICIAL

Vamos nos voltar nesse momento para os aspectos procedi-


mentais da improbidade administrativa – eles estão regulados entre
os artigos 14 e 18 da Lei de Improbidade Administrativa.

O procedimento se inicia com uma representação oferecida por


qualquer pessoa e endereçada à autoridade administrativa compe-
tente para que instaure investigação destinada a apurar a prática de
ato de improbidade.

A representação contém alguns requisitos, sob pena de rejei-


ção: deve ser escrita ou reduzida a termo e assinada, contendo a
qualificação do ou da representante, as informações sobre o fato e
sua autoria e a indicação das provas de que tenha conhecimento.

Caso atendidos os requisitos, a autoridade determinará a ime-

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 18


diata apuração dos fatos, observando a legislação que regula o pro-
cesso administrativo disciplinar aplicável ao ou à agente.

A comissão processante, por sua vez, dará conhecimento ao Minis-


tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de pro-
cedimento administrativo para apurar a prática de ato de improbidade.

Na esfera judicial, a ação de procedimento comum deve ser


proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou de domicílio
da pessoa jurídica prejudicada.

A Lei de Improbidade Administrativa incumbiu ao Ministério


Público ajuizar essa espécie de ação.

No entanto, em 2022, durante o julgamento das Ações Diretas de


Inconstitucionalidade (ADIs) 7042 e 7043, o Supremo Tribunal Federal
conferiu legitimidade ativa concorrente à Fazenda Pública que tenha
sofrido prejuízos em razão de atos de improbidade administrativa.

De toda sorte, a Lei de Improbidade Administrativa determina


a intimação da pessoa jurídica interessada para, querendo, intervir
no processo.

A petição inicial deve observar alguns requisitos, constantes no


artigo 17, § 6º, I e II, para que não seja considerada inepta e, por con-
sequência, rejeitada.

Caso a petição inicial esteja apta, o magistrado ou magistrada


mandará autuá-la e ordenará a citação do polo passivo para que a
conteste no prazo comum de 30 dias.

Aqui é importante ressaltar mais uma mudança em relação ao


rito anterior. Na redação passada, era prevista a figura da defesa pré-
via, a ser oferecida antes mesmo do recebimento da petição inicial.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 19


Com a Lei nº 14.230/2021, ela foi extinta e o rito peculiar que
envolvia a improbidade administrativa passou a se amoldar mais ao
procedimento ordinário regulado pelo Código de Processo Civil.

Havendo a possibilidade de solução consensual, as partes po-


dem requerer ao juízo a interrupção do prazo para a contestação,
por tempo não superior a 90 dias. Também é possível que o Minis-
tério Público celebre acordo de não persecução civil, nos termos do
artigo 17-B da Lei de Improbidade Administrativa.

Após a contestação, o juízo poderá:

julgar conforme o estado do processo, observada a eventual


inexistência manifesta do ato de improbidade;
desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a instru-
ção processual.

Depois de oferecida a réplica pelo Ministério Público ou pela


Fazenda Pública, será proferida decisão indicando com precisão a
tipificação do ato de improbidade administrativa imputável ao réu
ou aos réus.

É preciso ter em mente outras particularidades da ação de im-


probidade administrativa.

Aqui não se aplica:

a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo polo ativo


em caso de revelia;
a imposição de ônus da prova ao réu ou aos réus, nos moldes
do Código de Processo Civil;
o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade adminis-
trativa pelo mesmo fato (o Conselho Nacional do Ministério Público
deve dirimir conflitos de atribuições entre membros de Ministérios
Públicos distintos); e

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 20


o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de
extinção sem resolução de mérito.

A sentença de mérito também deve trazer algumas informa-


ções objetivas.

Algumas delas são:

indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram


os elementos a que se referem os artigos. 9º, 10 e 11 da Lei de Impro-
bidade Administrativa, que não podem ser presumidos;
considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as
exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos
dos administrados e das circunstâncias práticas que houverem im-
posto, limitado ou condicionado a ação do agente; e
considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro,
a sua atuação específica, não admitida a sua responsabilização por
ações ou omissões para as quais não tiver concorrido ou das quais
não tenha obtido vantagens patrimoniais indevidas.

Quando da aplicação de sanções, de forma isolada ou cumula-


tiva, a sentença deve considerar:

os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade;


a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida;
a extensão do dano causado;
o proveito patrimonial obtido pelo agente;
as circunstâncias agravantes ou atenuantes;
a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequên-
cias advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; e
os antecedentes do agente.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 21


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das tantas modificações instituídas pela Lei nº


14.230/2021, Marilda Silveira, professora do Programa de Mestrado
Profissional em Direito no IDP, nos traz a seguinte reflexão: “A refor-
ma da Lei de Improbidade Administrativa modifica o paradigma de
responsabilização dos atores e dos beneficiários de atos ímprobos”.

E continua a professora:

“As alterações buscam alinhar o marco legal à perspectiva cons-


titucional de responsabilização por desonestidade, distanciando-a
de eventuais danos causados por erro do gestor.

A nova lei trouxe relevantes modificações que, em si, impõe


três grandes desafios para aqueles que trabalham com a matéria: i)
garantir que o elemento subjetivo nas condenações seja exclusiva-
mente o dolo específico; ii) implementar a supressão do tipo aberto
relacionado à violação de princípios e iii) imprimir efetividade aos
novos prazos prescricionais e à prescrição intercorrente”.

A respeito de desafios práticos que o advogado ou advogada


pode encontrar na sua prática e que tangenciam a Lei de Improbi-
dade Administrativa, a professora Marilda Silveira orienta:

“Sobretudo nesse momento, impõe estar atento aos impactos


que as modificações da Lei de Improbidade causam nas inelegibi-
lidades - sobretudo no artigo 1, I, alínea L da LC 64/90, nos tipos de
improbidade previstos em leis extravagantes - como na Lei de Con-
flito de Interesses - e nas diversas ações de controle concentrado

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 22


que tramitam no STF e vão definir a constitucionalidade de muitos
dispositivos da lei”.

No Mestrado Profissional em Direito do IDP, você encontra


uma linha de pesquisa sobre Direito do Estado, com área de interes-
se específica nos novos caminhos do Direito Administrativo.

A título de ilustração, entre 2021 e 2022, o Programa produziu


duas dissertações que discutem o dolo na Lei de Improbidade Ad-
ministrativa após a Lei nº 14.230/2021:

O dolo na improbidade administrativa: modernas teorias e


nova legislação, escrita por Paulo Roberto da Costa Castilho; e
Aplicação do dolo específico em ato de improbidade admi-
nistrativa na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Mato Grosso
do Sul, de autoria de Wellison Muchiutti Hernandes.

Venha para a instituição que conta com o mais qualificado cor-


po docente do país!

BAIXAR O GUIA DO CURSO


MESTRADO PROFISSIONAL EM DIREITO

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 23


REFERÊNCIAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Improbidade administrativa: prescrição e


outros prazos extintivos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Comentários à reforma da Lei de Improbi-


dade administrativa: Lei 14.230, de 25.10.2021 comentada artigo por artigo. Rio de
Janeiro: Forense, 2021.

POR DANIEL ALBUQUERQUE DE ABREU:


Doutorando e mestre em Direitos Humanos pela Univer-
sidade Federal de Goiás; pós-graduando em Direito Le-
gislativo pelo IDP; especialista em Direito e Processo do
Trabalho, Direito Público e Direito do Consumidor.

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 24


A Nova Lei de Improbidade Administrativa 25
A Nova Lei de Improbidade Administrativa 26
idp.edu.br

A Nova Lei de Improbidade Administrativa 27

Você também pode gostar