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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS


EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS GENÉTICOS VEGETAIS
CURSO DE MESTRADO

CULTIVO IN VITRO EM AUXÍLIO À OBTENÇÃO DE


TANGERINEIRAS TRIPLOIDES E PROPAGAÇÃO DE
PORTA-ENXERTOS DE CITROS

Reisane Teles Santiago

CRUZ DAS ALMAS-BAHIA


2017
CULTIVO IN VITRO EM AUXÍLIO À OBTENÇÃO DE
TANGERINEIRAS TRIPLOIDES E PROPAGAÇÃO DE PORTA-
ENXERTOS DE CITROS

Reisane Teles Santiago


Bacharel em Biologia
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2015

Dissertação apresentada ao Colegiado do


Programa de Pós-Graduação em Recursos
Genéticos Vegetais da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre em Recursos
Genéticos Vegetais.

Orientador: Prof. Dr. Walter dos Santos Soares Filho


Coorientador: Dr. Abelmon da Silva Gesteira
Coorientador: Dr. Carlos Alberto da Silva Ledo

CRUZ DAS ALMAS-BAHIA


2017
FICHA CATALOGRÁFICA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS
EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS GENÉTICOS VEGETAIS
CURSO DE MESTRADO

CULTIVO IN VITRO EM AUXÍLIO À OBTENÇÃO DE


TANGERINEIRAS TRIPLOIDES E PROPAGAÇÃO DE PORTA-
ENXERTOS DE CITROS

Comissão Examinadora da Defesa de Dissertação de


Reisane Teles Santiago

Aprovada em 25 de abril de 2017

Prof. Dr. Walter Dos Santos Soares Filho


Embrapa Mandioca e Fruticultura - CNPMF
(Orientador)

Profa. Dra. Maria Angélica Pereira de Carvalho


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB
(Examinador Interno)

Profa. Dra. Mariane de Jesus da Silva de Carvalho


Faculdade Maria Milza - FAMAM
(Examinador Externo)
AGRADECIMENTOS

A Deus, eterno protetor, pelo dom da vida.


Ao meu orientador Dr. Walter dos Santos Soares Filho, pela oportunidade,
ensinamentos, confiança, presteza, orientação e apoio.
Ao pesquisador Dr. Antônio da Silva Souza por toda orientação, paciência e
conhecimentos a mim transmitidos durante o desenvolvimento deste trabalho.
Aos coorientadores Dr. Carlos Alberto da Silva Ledo e Dr. Abelmon da Silva
Gesteira pelas contribuições.
A toda equipe do Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa Mandioca e
Fruticultura pelas colaborações, aprendizado e amizade.
Ao Edson Souza e Senhor Getúlio Vieira, pela ajuda no campo, e com as
polinizações controladas.
Ao Senhor Shizuo Hayashi e funcionários da Agropecuária Hayashi Ltda, pelas
colaborações com as coletas dos frutos e polinizações realizadas em Mucugê.
Ao Senhor Paulo Cavalcanti e funcionários da Lavoura e Pecuária Igarashi Ltda,
pelas contribuições para a execução deste trabalho.
Ao Lucas Almeida e os estagiários de iniciação científica pela ajuda com as
análises de citometria de fluxo.
Ao Prof. Rogério Ferreira Ribas pela amizade, pelos conselhos, paciência com
minhas idas frequentes ao Laboratório para usar o espaço e a internet, por ser
gentil e estar sempre disposto a me ajudar todas as vezes que precisei.
A toda minha família pelo apoio incondicional e incentivo, especialmente, aos
meus pais e irmãos, por todo amor e carinho que me dedicam.
A todos os colegas, por todos os bons momentos compartilhados ao longo dessa
trajetória.
À Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e Embrapa Mandioca e
Fruticultura, pela oportunidade de realização deste trabalho.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
base financeira.
SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................... VI
ABSTRACT .......................................................................................................... VII
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1
Importância econômica da citricultura no Brasil ..................................................... 1
Melhoramento genético de citros ........................................................................... 2
Poliploides .............................................................................................................. 4
Triploides em citros ................................................................................................ 6
Cultivo in vitro em citros ......................................................................................... 8
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1 ........................................................................................................ 14
RESUMO.............................................................................................................. 15
ABSTRACT: ......................................................................................................... 16
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 17
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 18
RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................ 23
Ploidia das plantas de citros obtidas de polinizações abertas, por meio da
citometria de fluxo ................................................................................................ 23
Ploidia das plantas de citros obtidas de cruzamentos controlados, por meio da
citometria de fluxo ................................................................................................ 27
CONCLUSÕES .................................................................................................... 37
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 38
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................ 42
RESUMO.............................................................................................................. 43
ABSTRACT .......................................................................................................... 44
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 45
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 46
RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................ 48
CONCLUSÕES .................................................................................................... 51
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 55
CULTIVO IN VITRO EM AUXÍLIO À OBTENÇÃO DE TANGERINEIRAS
TRIPLOIDES E PROPAGAÇÃO DE PORTA-ENXERTOS DE CITROS

RESUMO: Técnicas de cultivo in vitro constituem importantes ferramentas de


apoio à obtenção e propagação de variedades de citros, copa e porta-enxertos. O
objetivo deste trabalho foi obter variedades triploides de tangerineiras e propagar
porta-enxertos de interesse agronômico por meio do cultivo in vitro, empregando
meio de cultura Wood Plant Medium - WPM. Relativamente à obtenção de
triploides, foram realizados dois experimentos, nos municípios baianos de Cruz
das Almas e de Mucugê, um baseado em frutos de polinizações abertas das
variedades Ortanique, Clemenules, Montenegrina, Nova, Piemonte, Page, Dancy,
Fremont, Ellendale, Fortune, Span Americana, Murcott, Kincy, Swatow e África do
Sul, e outro considerando frutos de cruzamentos controlados tendo como
parentais femininos ‘Nova’, ‘Fortune’ e ‘Ortanique’ e como parentais masculinos
‘Page’, ‘Montenegrina’, ‘Swatow’, ‘Fremont’ e ‘Kincy’. Os frutos provenientes tanto
das polinizações naturais como dos cruzamentos controlados foram levados ao
Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa Mandioca e Fruticultura, onde as
sementes foram removidas, estas foram inoculadas em tubos de ensaio contendo
aproximadamente 10 mL de meio de cultivo WPM e levadas à sala de
crescimento. Quando as plantas atingiram cerca de 60 dias, amostras de folhas
foram retiradas para quantificação do DNA por meio da técnica de citometria de
fluxo, de acordo com a metodologia descrita por Dolezel et al. (2007), com
modificações. A maior frequência de triploides foi obtida em Mucugê, num total de
12 indivíduos: sete provenientes de polinizações controladas e cinco de
polinizações abertas. Em Cruz das Almas obteve-se apenas um triploide, oriundo
de polinização aberta da variedade Kincy. A ‘Ortanique’ destacou-se pelo seu
maior potencial de produção de triploides. Sementes de menor tamanho e pouco
desenvolvidas apresentaram maior capacidade de geração de triploides que as
sementes normais. O ambiente de Mucugê, que tem maior altitude e temperaturas
mais baixas, favoreceu a formação de triploides. Em relação à propagação de
porta-enxertos mediante cultivo in vitro, foi realizado experimento com dez
híbridos introduzidos ou obtidos pelo Programa de Melhoramento Genético de
Citros da Embrapa Mandioca e Fruticultura: citrandarins ‘San Diego’, ‘Indio’ e
‘Riverside’, tangerineira ‘Sunki Tropical’, LRF x (LCR x TR) - 005, HTR - 051, HTR
- 069, TSKC x (LCR x TR) - 059, LCR x TR - 001 e TSK x TRBK - Colômbia.
Segmentos nodais de plantas matrizes dos dez genótipos, com aproximadamente
1 cm de comprimento, foram inoculados em frascos de vidro contendo 50 mL do
meio WPM. Aos 150 dias de cultivo, procedeu-se ao subcultivo dos explantes em
novo meio de cultura. O número de plantas formadas por explante foi avaliado
aos 180 dias após a inoculação. Os dados obtidos foram submetidos ao teste F
da análise de variância e as médias agrupadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de
probabilidade. O meio WPM mostrou-se adequado à micropropagação dos
genótipos estudados, particularmente do citrandarin ‘Indio’ e dos híbridos TSKC x
(LCR x TR) - 059 e TSK x TRBK - Colômbia. Ajustes no meio WPM são
necessários para melhorar a eficiência da micropropagação da tangerineira ‘Sunki
Tropical’ e dos híbridos LRF x (LCR x TR) - 005 e LCR x TR - 001.

Palavras-chave: Citrus spp.; híbridos de Poncirus; hibridação; melhoramento


genético
IN VITRO CULTURE IN AID THE OBTAINMENT OF TRIPLOID MANDARIN
AND PROPAGATION OF IN CITRUS ROOTSTOCK

ABSTRACT: In vitro cultivation techniques are important tools to support the


production and propagation of citrus varieties, crowns and rootstocks. The
objective of this work was to obtain triploid varieties of mandarins and to propagate
rootstocks of agronomic interest by means of in vitro cultivation, using Wood Plant
Medium - WPM. In order to obtain triploids, two experiments were carried out in
the municipalities of Cruz das Almas and Mucugê, one based on fruits of open
pollinations of the variety Ortanique, Clemenules, Montenegrina, Nova, Piemonte,
Page, Dancy, Fremont, Ellendale, Fortune, Span Americana, Murcott, Kincy,
Swatow and África do Sul, and another considering fruits of controlled crosses
having as female parents ‘Nova’, ‘Fortune’ and ‘Ortanique’ and as male parents
‘Page’, ‘Montenegrina’, ‘Swatow’, ‘Fremont’ and ‘Kincy’. Fruits from both the
natural pollination of controlled crossings were taken to the Laboratory for Tissue
Culture of Embrapa Cassava and Fruticulture, and its seeds removed, these were
inoculated into test tubes containing approximately 10 mL of WPM culture medium
and brought into the growth room. When the plants reached about 60 days, leaf
samples were taken for quantification of the DNA by means of the flow cytometry
technique, according to the methodology described by Dolezel et al. (2007), with
modifications. The highest frequency of triploids was obtained in Mucugê, in a total
of 12 individuals: seven from controlled pollinations and five from open
pollinations. In Cruz das Almas, only a triploid was obtained, from open pollination
of the Kincy variety. The 'Ortanique' stands out for its greater potential for triploid
production. Seeds of smaller size and undeveloped showed greater ability to
generate triploids than normal seeds. Mucugê environment that has higher altitude
and lower temperatures favored the formation of triploids. In relation to the
propagation of rootstocks by in vitro culture, experiment was carried out with ten
hybrids introduced or obtained by the Citrus Breeding Program of Embrapa
Cassava and Fruticulture: ‘San Diego’, ‘Indio’ and ‘Riverside’ citrandarins, ‘Sunki
Tropical’ mandarin, LRF x (LCR x TR) - 005, HTR - 051, HTR - 069, TSKC x (LCR
x TR) - 059, LCR x TR - 001 and TSK x TRBK - Colômbia. Host nodal segments of
the ten genotypes, approximately 1 cm long, were inoculated into glass vials
containing 50 mL of the WPM medium. After 150 days of cultivation, the explants
were subcultured in a new culture medium. The number of plants formed per
explant was evaluated at 180 days after inoculation. The data were submitted to
the F test of the analysis of variance and the means grouped by the Scott-Knott
test at 5% probability. The WPM medium was suitable for the micropropagation of
the genotypes studied, particularly 'Indio' citrandarin and TSKC x (LCR x TR) - 059
and TSK x TRBK - Colombia hybrids. Adjustments in the WPM medium are
necessary to improve the micropropagation efficiency of 'Sunki Tropical' and LRF
x (LCR x TR) - 005 and LCR x TR - 001 hybrids.

Keywords: Citrus spp.; genetical improvement; hybrids of Poncirus; hybridization


INTRODUÇÃO

Importância econômica da citricultura no Brasil


O Brasil tem papel de destaque na produção mundial de citros, ocupa a
posição de maior produtor de laranjas doces e maior produtor e exportador de
suco concentrado de laranja. Entretanto, participa pouco do mercado global de
frutas de mesa, principalmente por não atender aos critérios de qualidade
exigidos para a comercialização dos frutos. O mercado mundial de frutas para
consumo in natura é extremamente exigente no que diz respeito à qualidade dos
frutos, estando entre as características de maior importância a ausência ou
reduzido número de sementes, em média uma por fruto, cascas de fácil remoção
e com coloração escura, variando desde o vermelho ao alaranjado intenso, polpa
com cores fortes, teor elevado de açúcares e acidez equilibrada (AGRIANUAL,
2008).
Porém, apesar do elevado rigor exigido pelo mercado de frutas frescas, a
cadeia citrícola contribui significativamente para o agronegócio brasileiro, com a
maior parte de sua produção voltada para o mercado externo, respondendo
anualmente por US$ 1,5-2,0 bilhões em divisas para o país (FERRARO et al.,
2006; NEVES et al., 2010). A citricultura tem grande importância na economia
brasileira, contribui com milhões em impostos para o país, além disso, gera entre
empregos diretos e indiretos, um contingente de 230 mil posições, e uma massa
salarial anual de R$ 676 milhões (NEVES et al., 2010; POVEDANO et al., 2012).
A ampliação da citricultura brasileira ocorreu principalmente devido à
instalação das indústrias de suco concentrado de laranja nos anos 60,
especialmente no Estado de São Paulo, por ser a principal região produtora. Já
no final dos anos 90, a produção de citros no Brasil destinava-se 70% à produção
do suco concentrado e congelado voltado para o mercado internacional; 28% para
comercialização da fruta ou suco no mercado doméstico; e o restante destinado à
exportação da fruta in natura. Nota-se ainda, que há alguns anos o Brasil se
mantém como o maior produtor mundial de laranja, seguido pelos Estados
Unidos, China, Índia, México, Egito e Espanha (MOLIN; MASCARIN, 2007;
LOHBAUER, 2011; MICHIELIN, 2016).
2

Além de deter liderança mundial no mercado, a citricultura brasileira vem


se destacando ao longo dos anos, por promover o crescimento socioeconômico
do país, contribuindo significativamente com a balança comercial nacional,
especialmente por promover de forma direta ou indireta a ampliação de empregos
em áreas rurais. Dentre os principais tipos de frutas cítricas produzidas no Brasil
destacam-se as laranjas doces, tangerinas, as limas ácidas e limões verdadeiros,
sendo as laranjas doces as de maior importância econômica (NEVES et al.,
2001).
A maior produção de citros concentra-se principalmente no Estado de São
Paulo, local onde ocorre em torno de 80% da produção brasileira de laranjas (14,
8 milhões toneladas, 700 mil hectares), destacando-se também a produção de
lima ácida ‘Tahiti’ e de tangerinas, como a ‘Ponkan’ e o tangor ‘Murcott’ (1,5
milhão de toneladas aproximadamente). A Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul e outros estados, também contribuem com o agronegócio do citros,
principalmente por meio da produção de laranjas, tangerinas e a limeira ácida
‘Tahiti’, sendo que as laranjas são as representantes mais expressivas das
espécies cítricas cultivadas no país, especialmente devido ao grande mercado
mundial de exportação de suco (NEVES et al., 2001; BOTEON; PAGLIUCA, 2010;
LOPES et al., 2011; AGRIANUAL, 2015).
Apesar da participação expressiva do país na produção mundial de suco de
laranja, as exportações globais de laranja e tangerina in natura ainda são baixas.
Entre os fatores que contribuem para essa pequena participação no mercado de
frutas frescas, estão questões de ordem fitossanitária, porém o fator mais
limitante é a inexistência de cultivares que atendam aos requisitos de qualidade
exigidos pelo mercado externo de frutas de mesa. Sendo assim, uma alternativa
para o aumento da participação do Brasil no mercado externo de frutas frescas
seria a produção de frutos sem sementes, por meio da utilização de variedades
triploides (INSTITUTO FNP, 2006; LATADO et al., 2007).

Melhoramento genético de citros


O melhoramento de plantas é uma estratégia importante para aumentar a
produtividade vegetal e tentar solucionar problemas inerentes à cultura. Nesse
aspecto, é extremamente importante a atuação de programas de melhoramento
genético na citricultura brasileira, pois existe uma enorme vulnerabilidade genética
3

da cultura, principalmente devido às poucas variedades que constituem a base


dos pomares para os cultivos comerciais, causando uma fragilidade frente a
fatores adversos como pragas e doenças (BASTOS et al., 2014).
O melhoramento genético de citros vem sendo utilizado como uma
ferramenta importante para buscar soluções e reduzir ou resolver problemas
agronômicos e fitossanitários da cultura. Geralmente espera-se obter variedades
com as características desejadas pelos consumidores e que também beneficiem
os produtores, por exemplo: plantas que sejam mais tolerantes e/ ou resistentes
às pragas e doenças; que apresentem uma maior produção e/ ou produtividade;
plantas com pequeno porte para facilitar a colheita; características morfológicas
favoráveis e que propiciem melhor qualidade nutricional dos frutos, entre outras
características de interesse (MACHADO et al., 2005).
As plantas de citros possuem longo período vegetativo, são perenes e
demoram muitos anos para começarem a produzir, essas características acabam
tornando o melhoramento genético das espécies um processo demorado e
trabalhoso (PIO, 2003). Além disso, as espécies possuem barreiras biológicas
que dificultam os cruzamentos, uma delas é a ocorrência de apomixia, que é um
processo de reprodução assexuada, em que os embriões são gerados do tecido
do óvulo, sem que ocorra a fecundação, sendo que os embriões nucelares
resultantes apresentam material genético idêntico ao da planta-mãe, e a outra é o
longo período juvenil das plantas obtidas da germinação de sementes, que a
depender da espécie, das condições ambientais e do método de cultivo
empregado, pode variar de dois a 13 anos (SOUZA, 2010; OLIVEIRA et al.,
2014).
O melhoramento genético tradicional possui algumas limitações para a
obtenção de novas variedades porta-enxertos e copas, principalmente devido às
características biológicas da espécie, tais como, poliembrionia nucelar, elevada
heterozigosidade, incompatibilidade sexual, poliploidia, esterilidade gametofítica,
entre outras (GROSSER; GMITTER JUNIOR, 1990; CALIXTO, 2003).
Devido à utilização de diferentes ferramentas de biotecnologia têm-se
conseguido avanços nas técnicas de melhoramento, contribuindo, dessa forma,
com os programas convencionais de melhoramento genético dos citros e
auxiliando no desenvolvimento de variedades com características superiores.
4

Entretanto, ainda existe a necessidade de progressos no aprimoramento de


variedades copa e porta-enxerto, especialmente em relação à resistência a
doenças, produtividade e qualidade dos frutos, o que contribuirá para a ampliação
da base dos pomares brasileiros (BALDASSARI et al., 2003).
A utilização de técnicas de biotecnologia em programas de melhoramento
de citros, por exemplo, a cultura de tecidos, genética molecular, fusão de
protoplastos e transformação genética, tem facilitado e permitido um avanço na
utilização da variabilidade disponível, possibilitando a criação de novas
combinações que podem ser utilizadas nos programas de melhoramento
convencional ou até mesmo dar origem a novas variedades (GMITTER JUNIOR
et al., 1992; GROSSER et al., 1996; BENEDITO et al., 2000).
Geralmente os programas de melhoramento de citros que buscam a
produção de variedades que possuam um número reduzido ou ausência de
sementes, contam principalmente com duas importantes estratégias: obtenção de
plantas com baixa viabilidade de pólen ou triploides. Embora tenham ocorrido
grandes avanços em biotecnologia que contribuíram para a transformação
genética e a hibridação somática, os métodos convencionais de melhoramento,
como as hibridações naturais, ainda desempenham papel importante na
recombinação e introgressão de genes (SILVA et al., 2005a; BRUGNARA et al.,
2008).
A utilização de algumas ferramentas, como as técnicas de cultura de
tecidos, são alternativas importantes para o auxílio ao melhoramento genético
convencional dos citros, principalmente por buscarem contornar os problemas que
são inerentes à cultura (MOURA et al., 2001).

Poliploides
A poliploidia, isto é, a ocorrência de indivíduos ou espécies com números
cromossômicos múltiplos do comum na espécie ou no gênero é um fenômeno
muito importante em duas áreas da genética de plantas: na evolução e no
melhoramento genético (SCHIFINO-WITTMANN; DALL’AGNOL, 2001).
Poliploides podem surgir pela duplicação de cromossomos em células
somáticas ou por via sexual, pela união de gametas não reduzidos. Células
poliploides ocorrem com frequência entre células diploides nos tecidos
vegetativos da maioria das plantas. A indução artificial de poliploidia pode ser feita
5

com colchicina ou outros agentes poliploidizantes, como o acido nitroso, podendo


originar partes poliploides ou uma planta inteira poliploide, a depender do estágio
de desenvolvimento em que o produto for aplicado. Sendo assim, a poliploidia
induzida pode ser uma importante ferramenta para o melhoramento genético (DE
WET, 1971).
No melhoramento de plantas, a indução de poliploidia pode ser manipulada
de três modos principais: para elevar o número de cromossomos das espécies
(induzir autopoliploides), como um meio de tentar conseguir plantas maiores e
melhores, já que poliploides em geral são maiores e mais robustos que os seus
parentais diploides, apresentando o chamado efeito "gigas"; para aumentar o
número de cromossomos de espécies híbridas (induzir alopoliploides), como
tentativa de recuperar a fertilidade do híbrido estéril, sintetizar uma nova espécie
ou ressintetizar uma já existente; ou como uma ponte para transferir genes de
interesse entre níveis de ploidia diferentes, intraespecíficos ou interespecíficos
(DEWEY, 1980).
A teoria amplamente aceita entre os pesquisadores para a origem dos
poliploides na natureza, é que eles ocorrem por meio da união de gametas não
reduzidos. Gametas não reduzidos são o mesmo que: gametas 2n, gametas com
número cromossômico somático, ou ainda gametas com número cromossômico
esporofítico, e são chamados dessa forma, porque não são haploides, eles
apresentam o mesmo número de cromossomos que as células somáticas do
indivíduo (SCHIFINO-WITTMANN; DALL’AGNOL, 2001). Esses tipos de gametas
são provenientes de um processo meiótico anormal, onde a redução do número
de cromossomos não acontece. Esse erro na redução pode ocorrer basicamente
de dois modos: Na meiose I, pela restituição na primeira divisão (RPD), em que
os cromossomos não se dirigem para os polos na anáfase e, em vez de duas
células com número haploide de cromossomos na telófase I, há formação de uma
célula com número diploide, a meiose II, neste caso, ocorre normalmente, mas
resulta em uma díade ao contrário da tétrade esperada; A outra forma de origem
dos gametas 2n ocorre na meiose II, pela restituição na segunda divisão (RSD)
em que há falha da citocinese e restituição de núcleos diploides, com formação de
díades ou tríades (SCHIFINO-WITTMANN; DALL’AGNOL, 2001).
6

Sabe-se que ocasionalmente, indivíduos poliploides surgem de progênies


diploides. Os poliploides são classificados, basicamente, em dois tipos:
autopoliploides, originam-se da duplicação de um mesmo genoma, e espera-se a
ocorrência de herança polissômica; e alopoliploides ou poliploides genômicos, são
formados pela duplicação de genomas diferentes em híbridos, o pareamento
cromossômico ocorre apenas entre os cromossomos do mesmo genoma, e se
espera herança dissômica (SCHIFINO-WITTMANN; DALL’AGNOL, 2001;
SCHIFINO-WITTMANN, 2004).
Estima-se que mais de um terço das espécies de plantas com flores sejam
poliploides. Em populações de plantas naturais, a poliploidia geralmente resulta
de uma mutação durante a divisão celular, essas mutações podem ser
espontâneas ou devido a danos causados por bactérias ou outros fatores
externos. Uma mutação ocorre como uma interrupção da meiose, quando as
células vegetais estão se dividindo e dando origem aos gametas ou ao zigoto.
Outra mutação pode ocorrer devido à meiose incompleta, e gametas não
reduzidos são produzidos com o mesmo número de cromossomos de uma célula
somática (SCHIFINO-WITTMANN; DALL’AGNOL, 2001; SCHIFINO-WITTMANN;
DALL’AGNOL, 2003; SCHIFINO-WITTMANN, 2004).
A manipulação do nível de ploidia é uma importante ferramenta que pode
ser explorada no melhoramento genético de plantas.

Triploides em citros
No gênero Citrus o número básico de cromossomos é (n = x = 9), sendo
que a condição mais frequente de se encontrar são os diploides (2n = 2x = 18),
mas também podem ocorrer cromossomos triploides (2n = 3x = 27) e tetraploides
(2n = 4x = 36) em menor proporção na natureza (WEILER et al., 2011).
Uma alternativa importante para o desenvolvimento de variedades com
potencial para produzir frutos sem sementes é a obtenção de híbridos triploides.
As plantas triploides são normalmente inférteis, devido a um desbalanceamento
no número de cromossomos durante a meiose, onde os gametas recebem
números distintos de cromossomos, o que causa esterilidade, e
consequentemente não produzem sementes ou estas abortam em sua maioria,
embora eles possam ocasionalmente produzir frutos com muito poucas sementes
(NAVARRO et al., 2005; ALEZA et al., 2010).
7

A frequência de ocorrência natural de triploides geralmente é muito baixa, e


eles são naturalmente de origem zigótica. As plantas podem produzir um número
variável de frutos, e esses frutos habitualmente não apresentam sementes.
Normalmente as variedades triploides apresentam frutos com um maior tamanho
do que os diploides normais (BRUGNARA et al., 2008).
Os triploides espontâneos podem ser obtidos por meio da fusão de
gametas femininos não reduzidos com gametas masculinos reduzidos. Portanto,
acredita-se que o parental feminino é o principal responsável pela taxa de indução
de triploides naturais. Ao que tudo indica o mecanismo provável para a produção
de megásporos não reduzidos, é devido à ausência da segunda divisão meiótica,
onde o gameta feminino retém o mesmo genótipo, ou ainda, pode ocorrer uma
duplicação cromossômica apenas após a meiose, neste caso o gameta feminino
será homozigoto (HANDAJI et al., 2008).
Uma das formas utilizadas para a obtenção de triploides são as
hibridizações sexuais por meio de diferentes combinações de parentais femininos
e masculinos. Os híbridos triploides podem ser obtidos a partir de cruzamentos
entre parentais masculinos e femininos diploides (2n x 2n), parentais masculinos
tetraploides e femininos diploides (2n x 4n), parentais masculinos diploides e
femininos tetraploides (4n x 2n) (NAVARRO et al., 2005; ZHU et al., 2009), e
espontaneamente de hibridações convencionais entre diploides
monoembriônicos. Além dessas, outra forma de produção de triploides é o cultivo
in vitro do endosperma, o tecido nutritivo da semente, que apresenta estrutura
triploide (GROSSER; GMITTER, 1990; MACHADO et al., 2005).
Os triploides são encontrados em sementes que possuem em torno de 1/3
a 1/6 do tamanho das sementes que contém embriões diploides e em sementes
pouco desenvolvidas. Acredita-se que o tamanho reduzido das sementes que
contém cromossomos triploides está relacionado com o endosperma pentaploide,
que cresce mais lentamente e tem o desenvolvimento encerrado prematuramente
(ROCHA, 2014).
Dentre as características importantes que precisam ser levadas em
consideração nos programas de melhoramento genético para a obtenção de
novas variedades, uma é a produção de frutos sem sementes para consumo in
natura, especialmente em países desenvolvidos, onde o consumidor não aceita a
8

presença de sementes. No caso específico dos citros, o melhoramento genético


de variedades copa tem enfatizado a produção de triploides, que produzem frutos
sem sementes, com foco no mercado de frutas frescas (SOUZA et al., 2013).

Cultivo in vitro em citros


A propagação in vitro de vegetais é uma ferramenta de biotecnologia que
conjuntamente com outras áreas pode ser utilizada para auxiliar o melhoramento
genético de plantas (SOUZA; PEREIRA, 2007; CARRER et al., 2010). O cultivo in
vitro, é uma técnica utilizada para multiplicar plantas no interior de tubos de
ensaio ou em recipientes similares de vidro, em condições assépticas (CID,
2001). A técnica apresenta vantagens importantes como: propagar material livre
de doenças; tornar os métodos de propagação vegetativa tradicionais mais
rápidos; produzir material vegetal em pouco espaço e em larga escala, com
qualidade e quantidade superiores aos métodos convencionais, e,
consequentemente, com custos de produção reduzidos; além de promover a
manutenção de bancos de germoplasma (FIGUEIREDO; TAKITA, 2004;
COLOMBO, et al., 2010).
O melhoramento genético convencional de citros apresenta algumas
limitações impostas pela cultura tais como longo período juvenil; elevada
heterozigosidade, que favorece a formação de híbridos com características
variadas; e sementes poliembriônicas, que dificulta a identificação de híbridos,
entre outros problemas enfrentados pelos melhoristas (SILVA et al., 2005b).
Do ponto de vista do melhoramento de citros, a ocorrência da
poliembrionia, que é a presença de dois ou mais embriões na mesma semente,
pode dificultar ou impossibilitar avanços no trabalho de melhoramento,
especialmente quanto à hibridação, onde o embrião nucelar obtido por via
assexuada compete com o embrião zigótico obtido por via sexuada, prejudicando
ou inviabilizando o desenvolvimento do mesmo, e consequentemente a obtenção
de híbridos (PASQUAL et al., 2003).
As técnicas biotecnológicas são utilizadas para tentar superar as barreiras
da biologia reprodutiva dos citros, contribuindo no estabelecimento e
aprimoramento de programas de melhoramento genético. Assim, a biotecnologia
é uma importante aliada na busca de superar as dificuldades enfrentadas pelo
melhoramento genético tradicional, disponibilizando ferramentas como a cultura
9

de tecidos vegetais, que vem sendo utilizada pelos programas de melhoramento


de citros, com o intuito de aprimorar e desenvolver novas variedades copa e
porta-enxerto (OLIVEIRA et al., 2012; SORIANO, 2015).
Com a busca de métodos para tentar contornar os problemas enfrentados
pelo melhoramento genético convencional, a utilização das técnicas de cultivo in
vitro, constitui-se numa estratégia importante, por possibilitar a solução de
algumas barreiras impostas pela biologia reprodutiva dos citros (SILVA et al.,
2005a; MORAIS et al., 2012). Nesse contexto, a cultura de tecidos vegetais se
torna uma ferramenta imprescindível, pois, por meio do cultivo in vitro ela
possibilita o estudo das necessidades físicas e nutricionais dos embriões
(CHAGAS et al., 2003; DUARTE et al., 2013).

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14

CAPÍTULO 1

OBTENÇÃO DE HÍBRIDOS TRIPLOIDES PRODUTORES DE FRUTOS TIPO


TANGERINA

______________________________
Artigo será submetido ao comitê editorial do periódico científico Revista Brasileira de Ciências
Agrárias.
15

OBTENÇÃO DE HÍBRIDOS TRIPLOIDES PRODUTORES DE FRUTOS TIPO


TANGERINA

RESUMO: A criação de híbridos triploides é uma importante estratégia de


melhoramento genético para o desenvolvimento de novas variedades copa
comerciais de citros. O objetivo do trabalho foi quantificar a frequência de
triploides obtidos a partir de cruzamentos naturais e controlados, em diferentes
variedades de tangerineiras e condições ambientais do Estado da Bahia. Os
experimentos foram conduzidos em Cruz das Almas (Recôncavo Baiano) e
Mucugê (Chapada Diamantina), um experimento foi baseado em frutos de
polinizações abertas das variedades Page, Ortanique, Ellendale, Clemenules,
Swatow, Piemonte, Fortune, África do Sul, Montenegrina, Kincy, Span Americana,
Fremont, Nova, Dancy e Murcott, e outro considerando frutos de cruzamentos
controlados tendo como parentais femininos ‘Nova’, ‘Fortune’ e ‘Ortanique’ e
como parentais masculinos ‘Page’, ‘Montenegrina’, ‘Swatow’, ‘Fremont’ e ‘Kincy’.
Utilizaram-se todas as sementes pequenas e pouco desenvolvidas, e 20
sementes normais. Estas foram inoculadas em tubos de ensaio contendo
aproximadamente 10 mL de meio de cultivo Wood Plant Medium - WPM e levadas
à sala de crescimento, à temperatura de 27 ± 1 ºC, com densidade de fluxo de
fótons de 30 μmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas. Quando as plantas atingiram
cerca de 60 dias, amostras de folhas foram retiradas para quantificação do DNA
por meio da técnica de citometria de fluxo, de acordo com a metodologia descrita
por Dolezel et al. (2007), com as seguintes modificações: foram realizados testes
com a espécie Crotalária breviflora DC., comparando-a com um padrão de citros
(Tangerineira ‘Sunki Tropical’) para definição do conteúdo de DNA. A análise foi
realizada utilizando pequenos fragmentos de folhas de citros (2C = 0,70 pg de
DNA) comparando-as com o conteúdo da Crotalaria breviflora (2C = 2,02 pg de
DNA). As amostras foram maceradas em placa de petri sobre gelo na presença
de 1 ml de tampão de isolamento de núcleos (LB01, Galbraith’s buffer, Tris.MgCl2
buffer) e depois acrescentado 0,20μL de iodeto de propídeo usado para corar o
DNA. Relativamente às polinizações abertas, as condições ambientais de Mucugê
foram favoráveis, obtendo-se em relação a essa localidade um total de cinco
triploides: ‘Clemenules’ (um), ‘África do Sul’ (um) e ‘Ortanique’ (três). Já em Cruz
das Almas, obteve-se apenas um triploide da variedade kincy. Nos cruzamentos
controlados, em Mucugê, foram obtidos sete triploides: ‘Ortanique’ x
‘Montenegrina’ (sete), ‘Ortanique’ x ‘Kincy’ (um) e ‘Ortanique’ x ‘Swatow’ (dois).
Em Cruz das Almas não foram obtidos triploides dos cruzamentos. A frequência
de obtenção de triploides variou em função do genótipo, do tamanho das
sementes e do ambiente. A ‘Ortanique’ destacou-se pelo seu maior potencial de
produção de triploides. Sementes de menor tamanho e pouco desenvolvidas
apresentaram maior capacidade de geração de triploides que as sementes
normais. O ambiente de Mucugê, que apresenta maior altitude e temperaturas
mais baixas, favoreceu a formação de triploides.

Palavras-chave: Citrus spp.; cultivo in vitro; hibridação; melhoramento genético


16

OBTAINING TRIPLOIDES HYBRIDS FRUIT PRODUCING MANDARIN TYPE

ABSTRACT: The creation of triploid hybrids is an important genetic improvement


strategy for the development of new commercial citrus varieties. The objective of
this work was to quantify the frequency of triploids obtained from natural crosses
(open pollinations) and controlled, in different varieties of mandarin and
environmental conditions of the State of Bahia. The experiments were conducted
in Cruz das Almas (Recôncavo Baiano) and Mucugê (Chapada Diamantina), an
experiment was based on fruits of open pollinations of the varieties Page,
Ortanique, Ellendale, Clemenules, Swatow, Piemonte, Fortune, África do Sul,
Montenegrina, Kincy, Span Americana, Fremont, Nova, Dancy and Murcott, and
another considering fruits of controlled crosses having as female parent ‘Nova’,
‘Fortune’ and ‘Ortanique’ and as male parents ‘Page’, ‘Montenegrina’, ‘Swatow’,
‘Fremont’ and ‘Kincy’. Were used all the small seeds and undeveloped, and of 20
normal seeds. These were inoculated into test tubes containing approximately 10
mL of Wood Plant Medium - WPM culture medium and brought to the growth room
at 27 ± 1 ° C with a photon flux density of 30 μmol.m-2s -1 and photoperiod of 16
hours. When the plants reached about 60 days, leaf samples were taken for
quantification of the DNA by means of the flow cytometry technique, according to
the methodology described by Dolezel et al. (2007), with the following
modifications: were tested with the species Crotalaria breviflora DC., comparing it
with a citrus ('Sunki Tropical' mandarin) to define the DNA content. The analysis
was performed using small fragments of citrus leaves (2C = 0.70 pg DNA)
comparing them with the content of Crotalaria breviflora (2C = 2.02 pg DNA).
Samples were macerated on petri dish on ice in the presence of 1 ml of core
isolation buffer (LB01, Galbraith's buffer, Tris.MgCl2 buffer) and then added 0.20
μl of propidium iodide used to stain the DNA. Relatively to the open pollinations,
the environmental conditions of Mucugê were favorable, obtaining in relation to
this locality a total of five triploids: ‘Clemenules’ (one), ‘Africa do Sul’ (one) and
‘Ortanique’ (three). Already in Cruz das Almas, only a triploid of the kincy variety
was obtained. In the controlled crossings, in Mucugê, seven triploids were
obtained: 'Ortanique' x 'Montenegrina' (four), 'Ortanique' x 'Kincy' (one) and
'Ortanique' x 'Swatow' (two). In Cruz das Almas, triploids of the crosses were not
obtained. The frequency of triploids varied according to genotype, seed size and
environment. 'Ortanique' stands out for its greater potential for triploid production.
Seeds of smaller size and undeveloped presented greater capacity of generate
triploids than normal seeds. Mucugê environment, that lodge higher altitude and
lower temperatures, favored the formation of triploids.

Keywords: Citrus spp.; genetical improvement; hybridization; in vitro cultivation


17

INTRODUÇÃO
Os citros estão entre o grupo de fruteiras mais importantes para o Brasil,
devido ao valor nutritivo dos frutos e ao papel socioeconômico que desempenham
na exportação (COELHO et al., 2006). E a ampliação da base genética dos
pomares brasileiros, especialmente relacionada às variedades utilizadas para
copas e porta-enxertos, incluindo aquelas com capacidade de adaptação a
estresses abióticos, contribuirá significativamente para que se alcancem
rendimentos economicamente superiores no país (BRITO et al., 2008).
Apesar dos citros apresentarem grande importância na economia do país,
o Brasil apresenta participação pouco expressiva nas exportações mundiais de
laranja e tangerina in natura. Além de questões de ordem fitossanitária, uma das
razões para a baixa participação brasileira neste mercado é a inexistência de
cultivares que atendam aos requisitos de qualidade exigidos pelo mercado
externo de fruta fresca, sendo um dos principais, a exigência de frutos sem
sementes (LATADO et al., 2007).
Uma das estratégias utilizadas para a obtenção de frutos sem sementes é
a utilização de cultivares triploides, como a limeira ácida 'Tahiti' (Citrus latifolia
Tanaka), que apresenta alto valor comercial e é altamente produtiva,
provavelmente originada de hibridação natural (LUCHETTI et al., 2003).
Os híbridos triploides em citros podem ser obtidos a partir de cruzamentos
de parentais diploides (2x) com tetraploides (4x) e diploides (2x) com diploides
(2x) neste último caso, os embriões triploides originam-se da fertilização de
gametas femininos não reduzidos (diploides), com gametas masculinos reduzidos
(haploides), sendo a frequência natural de obtenção de triploides muito baixa
(próxima de 5 %), neste último caso, variando em função do genótipo materno
(ESEN; SOOST, 1971; ESEN; SOOST, 1973a).
Programas de melhoramento genético de citros baseados em
hibridizações dirigidas a obtenção de variedades produtoras de frutos triploides,
necessitam de metodologias que permitam o resgate e cultivo de embriões e a
análise do nível de ploidia dos indivíduos obtidos. Nesse aspecto, as técnicas de
biotecnologia são aliadas essenciais para contornar as dificuldades encontradas
no melhoramento de variedades copas, disponibilizando ferramentas como a
18

cultura de tecidos vegetais, que por meio do cultivo in vitro possibilita o estudo
das necessidades físicas e nutricionais dos embriões (CHAGAS et al., 2003).
Frutos sem sementes é uma das características mais importantes para a
produção de tangerinas voltadas para o mercado de frutas frescas, pois os
consumidores, principalmente os europeus, não aceitam a presença de sementes
nos frutos (ALEZA et al., 2010b). A partenocarpia é uma peculiaridade
fundamental para a produção de frutos sem sementes, e é uma característica que
está presente no germoplasma de citros (ALEZA et al., 2010a). Com isso, a
criação de híbridos triploides é uma importante estratégia de melhoramento
genético para o desenvolvimento de novas variedades copas comerciais de citros
(OLLITRAULT et al., 2008).
Neste sentido, o objetivo do trabalho foi quantificar a frequência de
triploides obtidos a partir de cruzamentos naturais (polinizações abertas) e
controlados, em diferentes variedades de tangerineiras e condições ambientais do
Estado da Bahia.

MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos em dois municípios do Estado da
Bahia. Cruz das Almas, Recôncavo Baiano, coordenadas geográficas 12°40´19”
de latitude sul, 39°06’23” de longitude oeste com altitude de 226 m. O clima é
tropical quente e úmido, com pluviosidade média anual de 1170 mm, com
variações entre 900 e 1300 mm, sendo os meses de março a agosto os mais
chuvosos e de setembro a fevereiro os mais secos. A temperatura média anual é
de 24,5°C e umidade relativa de 80% (REZENDE, 2004). Mucugê, Chapada
Diamantina, coordenadas geográficas 13º 00’19” de latitude sul, 41º 22’ 15” de
longitude oeste com altitude de 983 m. O clima é caracterizado como semiúmido,
com estação chuvosa (outubro a março) e seca (abril a setembro). A pluviosidade
média anual é de cerca de 1100 mm, com média de 600 mm na estação seca e
1500 mm na estação chuvosa; a temperatura média anual é de 20°C
(STRADMANN, 1998).
Foram realizados dois experimentos: um envolvendo frutos obtidos a partir
de polinizações abertas e outro utilizando frutos provenientes de polinizações
19

controladas. Os frutos de polinizações abertas foram coletados em meses


diferentes do ano de 2015, sendo que as coletas foram realizadas em locais
distintos: no Banco Ativo de Germoplasma de citros (BAG Citros) da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, localizado em Cruz das Almas; na Fazenda Alpercata e
na Lavoura e Pecuária Igarashi Ltda, ambas situadas no município de Mucugê.
A primeira coleta foi realizada nos meses de abril, maio e junho de 2015,
coletaram-se 30 frutos oriundos de polinizações naturais de 15 variedades:
Ortanique tangor natural [Citrus reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osbeck];
Clemenules (C. clementina hort. ex Tanaka); Montenegrina (C. deliciosa Ten.);
tangerineira-tangelo Nova [tangerineira ‘Clementina’ x tangelo ‘Orlando’ (C.
paradisi Macfad. x C. reticulata)]; Piemonte [tangerineira ‘Clemenules’ x (C.
reticulata x C. sinensis]; tangerineira-tangelo Page (tangerineira ‘Clementina’ x
tangelo ‘Minneola’ C. paradisi Macfad. x C. tangerina Hort. ex Tanaka);
tangerineira Dancy (C. tangerina); Fremont (tangerineira ‘Clementina’ x
tangerineira ‘Ponkan’ C. reticulata); Ellendale (C. reticulata x C. sinensis); Fortune
(tangerineira ‘Clementina’ x C. tangerina); tangerineira Span Americana (C.
reticulata); tangor Murcott (C. reticulata x C. sinensis); Kincy (tangerineira ‘King’ C.
nobilis Lour. x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina); tangerineira Swatow (C.
reticulata) e África do Sul (C. reticulata).
Por sua vez, a segunda coleta foi realizada em setembro de 2015, nos
respectivos locais citados anteriormente. Foram coletados 30 frutos das
variedades Ortanique, Kincy, Ellendale e Dancy, pois, na ocasião em que a
segunda coleta foi realizada apenas estas quatro variedades possuiam frutos.
As polinizações controladas foram iniciadas no mês de setembro de 2015,
envolvendo os seguintes parentais femininos: ‘Nova’, ‘Fortune’ e ‘Ortanique’, e
como parentais masculinos foram utilizadas as variedades Page, Montenegrina,
Swatow, Fremont e Kincy, sendo que as polinizações controladas foram
realizadas nos mesmos locais em que ocorreram as coletas dos frutos das
polinizações abertas (Mucugê e Cruz das Almas).
O número de polinizações controladas variou em função da disponibilidade
de flores no momento de suas realizações. Deram-se no período de maior
20

intensidade solar e temperatura, em dias não chuvosos, entre as 10h e 16h, para
facilitar a liberação e uso do pólen.
O pólen colhido de flores recém-abertas dos parentais masculinos foi
utilizado na polinização de flores dos parentais femininos: estas últimas foram
emasculadas antes da antese. A emasculação foi realizada no estádio de balão
(próxima da abertura floral), eliminando-se cuidadosamente as pétalas e anteras
com auxílio de pinça e bisturi, evitando-se o contato com o estigma. A polinização
foi realizada imediatamente após a emasculação, estando o estigma receptivo
(úmido).
Em torno de quatro a cinco meses após as polinizações serem realizadas,
os frutos que vingaram foram coletados. Sendo que os frutos provenientes tanto
das polinizações naturais como dos cruzamentos controlados, foram levados ao
Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa Mandioca e Fruticultura, onde
suas sementes foram removidas mediante a um corte transversal incompleto feito
no fruto, garantindo assim a integridade das mesmas (Figura 1A e 1B), as
sementes foram lavadas com detergente neutro e água corrente (Figura 1C),
contadas individualmente por fruto, e classificadas de acordo com o estágio de
desenvolvimento e o tamanho, em normal (sementes com o tegumento bem
formado), pouco desenvolvida (sementes com o tegumento enrugado) e pequena
(sementes com 1/3 a 1/6 do tamanho normal), Figura1D.
Selecionaram-se, prioritariamente, sementes que são de 3 a 6 vezes
menores que as sementes contendo embriões diploides por elas apresentarem
expressivo potencial de produção de indivíduos triploides (ALEZA et al., 2010b).
21

A B

C D

Figura 1. Frutos da variedade Page (A); frutos cortados para retirada das
sementes (B); sementes lavadas com detergente neutro depois de extraídas dos
frutos (C); sementes com tamanho normal, indicadas pela seta vermelha,
semente pouco desenvolvida, indicada pela seta azul e sementes pequenas,
indicadas pela seta verde (D).

Retirou-se o tegumento de todas as sementes pequenas, das sementes


pouco desenvolvidas, e de 20 sementes normais, sendo que o número de
sementes inoculadas variou em função da quantidade de sementes disponíveis.
Em condições assépticas, em câmara de fluxo laminar, as sementes foram
desinfestadas com solução de etanol 70% por 5 minutos, e posteriormente, em
solução de hipoclorito de sódio a 0,5% contendo duas gotas de Tween 20 ®, por
20 minutos, seguidas de três lavagens em água destilada autoclavada. Estas
foram inoculadas em tubos de ensaio contendo aproximadamente 10 mL de meio
de cultivo Wood Plant Medium - WPM (LLOYD; MCCOWN, 1980) e levadas à
sala de crescimento, à temperatura de 27 ± 1 ºC, com densidade de fluxo de
fótons de 30 μmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas.
22

Quando as plantas atingiram cerca de 60 dias, amostras de folhas foram


retiradas para quantificação do DNA por meio da técnica de citometria de fluxo, de
acordo com a metodologia descrita por Dolezel et al. (2007), com as seguintes
modificações: foram realizados testes com a espécie Crotalaria breviflora DC.,
comparando-a com um padrão de citros [tangerineira ‘Sunki Tropical’ (Citrus sunki
hort. ex Tanaka)] para definição do conteúdo de DNA. A análise foi realizada
utilizando pequenos fragmentos de folhas de citros (2C = 0,70 pg de DNA)
comparando-as com o conteúdo da Crotalaria breviflora (2C = 2,02 pg de DNA).
As amostras foram maceradas em placa de petri sobre gelo na presença de 1 ml
de tampão de isolamento de núcleos (LB01, Galbraith’s buffer, Tris.MgCl2 buffer)
e depois acrescentado 0,20μL de iodeto de propídeo usado para corar o DNA. O
cálculo para determinar o conteúdo de DNA (pg) das amostras desconhecidas foi
realizado segundo Dolezel et al. (2007), utilizando a fórmula: Valor da amostra 2C
(pg de DNA) = posição média do pico da amostra x valor da referência 2C
referência 2C da posição média do pico
As Figuras 2 e 3 mostram os histogramas gerados pelas análises de
citometria de fluxo, utilizando amostras de folhas de citros, indivíduo diploide e
triploide e o controle diploide Crotalaria breviflora.

Figura 2. Histograma obtido por análise de citometria de fluxo de amostra de


folha de tangerineira ‘Cravo’(Citrus reticulata Blanco) diploide (pico 1) com
amostra de folha do controle diploide Crotalaria breviflora DC., (pico 2).
23

Figura 3. Histograma obtido por análise de citometria de fluxo de amostra de


folha de tangerineira ‘Fortune’(Citrus clementina hort. ex Tanaka) triploide (pico 1)
com amostra de folha do controle diploide Crotalaria breviflora DC., (pico 2).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ploidia das plantas de citros obtidas de polinizações abertas, por meio da


citometria de fluxo
Os dados relativos às 15 variedades de tangerineiras coletadas em
Mucugê e em Cruz das Almas, nos meses de abril, maio e junho de 2015, são
mostrados na Tabela 1; Figura 4. Em Mucugê, a frequência de obtenção de
triploides entre as variedades variou de 50% (‘África do Sul’) a 100% (‘Ortanique’
e ‘Clemenules’). As variações na frequência de triploides ocorreram em função da
porcentagem de sementes germinadas, do tipo de semente, do ambiente e do
genótipo.
De acordo com Esen e Soost (1971) híbridos triploides de citros podem ser
obtidos por meio de hibridizações 2x × 2x mediante a produção de gametas não
reduzidos pelo parental feminino. A frequência de gametas não reduzidos
depende do genótipo (ESEN; SOOST, 1971; LURO et al., 2004). Embriões
triploides são preferencialmente encontrados em sementes entre 1/3 e 1/6
menores que as sementes do tamanho normal, e geralmente essas sementes não
germinam em condições normais em casa de vegetação. Normalmente é
necessário o resgate e cultivo in vitro de embriões destas sementes pequenas
para atingir altas taxas de germinação (NAVARRO et al., 2002; ALEZA et al.,
2010b).
24

Tabela 1. Frequência de obtenção de híbridos triploides em 15 variedades de


tangerineira, em função do genótipo, tipo de semente (semente normal - N e
semente pouco desenvolvida - PD) e do ambiente (Cruz das Almas - CZA e
Mucugê - MCG). Frutos coletados nos meses de abril, maio e junho de 2015.
Plantas obtidas Germinadas (%) Triploides (%)
Semente Variedade1
CZA MCG CZA MCG CZA MCG
África do Sul 1 2 20 40 0 1 (50%)
Clemenules 2 1 40 20 0 0
Dancy 2 2 40 40 0 0
Ellendale 0 0 0 0 0 0
Fortune 0 4 0 80 0 0
Fremont 1 2 20 40 0 0
Kincy 5 1 100 20 1 (20%) 0
N Montenegrina 0 0 0 0 0 0
Murcott 0 0 0 0 0 0
Nova 5 2 100 40 0 0
Ortanique 0 5 0 100 0 0
Page 0 0 0 0 0 0
Piemonte 0 0 0 0 0 0
Span Americana 2 1 40 20 0 0
Swatow 0 0 0 0 0 0
África do Sul 0 1 0 20 0 0
Clemenules 0 1 0 20 0 1 (100%)
Dancy 1 2 20 40 0 0
Ellendale 1 0 20 0 0 0
Fortune 0 0 0 0 0 0
Fremont 0 0 0 0 0 0
Kincy 0 0 0 0 0 0
PD Montenegrina 0 1 0 20 0 0
Murcott 0 3 0 60 0 0
Nova 2 4 40 80 0 0
Ortanique 0 2 0 40 0 2 (100%)
Page 0 1 0 20 0 0
Piemonte 1 0 20 0 0 0
Span Americana 0 2 0 40 0 0
Swatow 0 0 0 0 0 0
1’
Ortanique’ tangor natural [Citrus reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osbeck]; ‘Clemenules’
(C. clementina hort. ex Tanaka); ‘Montenegrina’ (C. deliciosa Ten.); tangerineira-tangelo
‘Nova’[tangerineira ‘Clementina’ x tangelo ‘Orlando’ (C. paradisi Macfad. x C. reticulata)];
‘Piemonte’ [tangerineira ‘Clemenules’C. clementina x (C. reticulata x C. sinensis];
tangerineira-tangelo ‘Page’ (tangerineira ‘Clementina’ C. clementina hort. ex Tanaka x
tangelo ‘Minneola’ C. paradisi Macfad. x C. tangerina); tangerineira ‘Dancy’ (C. tangerina
hort. ex Tanaka); ‘Fremont’ (tangerineira ‘Clementina’ C. clementina x tangerineira ‘Ponkan’
C. reticulata); ‘Ellendale’ (C. reticulata x C. sinensis); ‘Fortune’ (tangerineira ‘Clementina’ C.
clementina x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina); ‘Span Americana’ (C. reticulata); ‘Murcott’
(C. reticulata x C. sinensis); ‘Kincy’ (tangerineira ‘King’ C. nobilis Lour. x tangerineira ‘Dancy’
C. tangerina); tangerineira ‘Swatow’ (C. reticulata); ‘África do Sul’ (C. reticulata).
25

Figura 4. Plantas triploides oriundas do cultivo in vitro de sementes de


polinizações abertas das variedades: ‘Clemenules’ (Citrus clementina hort. ex
Tanaka); ‘Ortanique’ tangor natural [C. reticulata Blanco x C. sinensis (L.)
Osbeck]; ‘África do Sul’ (C. reticulata Blanco) e ‘Kincy’ [tangerineira King (C.
nobilis Lour.) x tangerineira Dancy (C. tangerina hort. ex Tanaka)], identificadas
pela técnica de citometria de fluxo.

Em se tratando do efeito do ambiente na formação de sementes com


potencial de geração de plantas triploides, as condições ambientais de Mucugê
foram favoráveis, obtendo-se em relação a essa localidade um total de quatro
triploides, um da variedade Clemenules, um da África do Sul e dois da Ortanique
(Tabela 1). Já em Cruz das Almas, obteve-se apenas um triploide da variedade
Kincy (Tabela 1). Relativamente ao tipo de semente (Tabela 2), em Mucugê a
frequência de triploides foi de 5% para plantas oriundas de sementes normais e
de 17,6% para plantas provenientes de sementes pouco desenvolvidas,
evidenciando, que o tipo de semente tem influência na taxa de obtenção de
triploides. Por sua vez, em Cruz das Almas, a frequência de triploides em plantas
oriundas de sementes normais foi de 5,6% e em plantas de sementes pouco
desenvolvidas foi de 0,0%.
26

Tabela 2. Frequência de obtenção de triploides em Cruz das Almas e em


Mucugê, em função do tipo de semente (semente normal - N e semente pouco
desenvolvida - PD). Frutos coletados nos meses de abril, maio e junho de 2015.

Local Tipo de semente Plantas obtidas Triploides (%)


N 18 1 (5,6%)
Cruz das Almas
PD 5 0 (0,0%)
N 20 1 (5,0%)
Mucugê
PD 17 3 (17,6 %)

Cameron e Frost (1968) chegaram à conclusão que a frequência de


obtenção natural de plantas triploides em progênies interespecíficas ou
intraespecíficas de Citrus, provenientes de polinizações entre parentais diploides,
é geralmente baixa (próxima de 5%), variando em função do genótipo materno
(Esen e Soost, 1971). Entretanto, Aleza et al. (2010b) em hibridações controladas
2x × 2x envolvendo parentais femininos monoembriônicos e não apomíticos,
utilizando as técnicas de resgate de embriões e cultivo in vitro, conseguiram uma
taxa de 91, 6% de plantas triploides.
Quanto à coleta realizada em setembro de 2015, foram colhidas apenas
quatro variedades: Dancy, Ellendale, Kincy e Ortanique. Obteve-se em Mucugê,
apenas uma planta triploide da ‘Ortanique’, proveniente de semente pouco
desenvolvida, com uma frequência de obtenção de triploides de 50% para esta
variedade (Tabela 3). Já em Cruz das Almas não foram obtidos triploides (Tabela
3). Nota-se que em ambas as coletas, em geral, o ambiente de Mucugê favoreceu
uma maior formação de plantas triploides em relação ao ambiente de Cruz das
Almas. Entretanto, deve-se levar em consideração a baixa taxa de germinação
das sementes em ambos os ambientes, e consequentemente o reduzido número
de plantas obtidas, sendo que todas as plantas provenientes do cultivo in vitro,
independente do tipo de semente, foram avaliadas por citometria de fluxo.
27

Tabela 3. Frequência de obtenção de híbridos triploides em quatro variedades de


tangerineira, em função do genótipo, tipo de semente (semente normal - N e
semente pouco desenvolvida - PD) e do ambiente (Cruz das Almas - CZA e
Mucugê - MCG). Frutos coletados no mês de setembro de 2015.
Plantas obtidas Germinação (%) Triploides (%)
Semente Variedade1
CZA MCG CZA MCG CZA MCG
Dancy 0 0 0 0 0 0
Ellendale 2 2 100 100 0 0
N
Kincy 2 2 100 100 0 0
Ortanique 2 1 100 50 0 0
Dancy 1 0 5 0 0 0
Ellendale 2 12 10 60 0 0
PD
Kincy 3 1 15 5 0 0
Ortanique 2 2 10 10 0 1 (50%)
1
Ortanique’ tangor natural [Citrus reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osbeck];
‘Kincy’ (tangerineira ‘King’ C. nobilis Lour. x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina hort.
ex Tanaka); tangerineira ‘Dancy’ (C. tangerina); ‘Ellendale’ (C. reticulata x C.
sinensis).

Segundo Handaji et al. (2008), pesquisas realizadas com híbridos triploides


espontâneos resultantes de cruzamentos entre parentais diploides têm sua
formação relacionada a duas hipóteses: ou os descendentes triploides são
originados da união do gameta feminino não reduzido com o gameta masculino
reduzido (18n +9n) ou da fusão do gameta feminino reduzido com o gameta
masculino não reduzido (9n +18n). Entretanto, Esen e Soost (1971) rejeitaram
essa hipótese. No caso das hibridizações 2x × 2x híbridos triploides são obtidos a
partir da união do megagametófito 2n com o pólen haploide (ESEN & SOOST,
1971; ESEN & SOOST, 1973a; GERACI et al., 1975). Luro et al. (2008)
propuseram que a restituição da segunda divisão meiótica é o mecanismo
controle para o desenvolvimento do megagametófito diploide em ‘Clementina’,
enquanto que Chen et al. (2008) propuseram a restituição da primeira divisão
meiótica em laranjas doces.

Ploidia das plantas de citros obtidas de cruzamentos controlados, por meio


da citometria de fluxo
Foram realizadas 197 polinizações em Cruz das Almas: ‘Ortanique’ x
‘Kincy’ (5); ‘Ortanique’ x ‘Fremont’ (19); ‘Nova’ x ‘Kincy’ (43); ‘Nova’ x ‘Page’ (71);
‘Fortune’ x ‘Kincy’ (10); ‘Fortune’ x ‘Page’ (49). As taxas de vingamento dos frutos
variaram entre 4,2% ‘Nova’ x ‘Page’ e 40% ‘Ortanique’ x ‘Kincy’ (Tabela 4).
28

Tabela 4. Cruzamentos controlados realizados em Cruz das Almas, Ba. Número


de flores polinizadas (NP), número de frutos obtidos após as polinizações (NF) e
taxa de vingamento dos frutos (TV).
Cruzamentos1 NP NF TV (%)
‘Ortanique’ x ‘Kincy’ 5 2 40,0
‘Ortanique’ x ‘Fremont’ 19 - -
‘Nova’ x ‘Kincy’ 43 15 34,9
‘Nova’ x ‘Page’ 71 3 4,2
‘Fortune’ x ‘Kincy’ 10 - -
‘Fortune’ x ‘Page’ 49 - -
Total 197 20
1
‘Ortanique’ tangor natural [Citrus reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osbeck];
‘Kincy’ (tangerineira ‘King’ C. nobilis Lour. x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina hort.
ex Tanaka); tangerineira-tangelo‘Nova’ [tangerineira ‘Clementina’ x tangelo
‘Orlando’ (C. paradisi x C. reticulata)]; tangerineira-tangelo ‘Page’ (tangerineira
‘Clementina’ C. clementina hort. ex Tanaka x tangelo ‘Minneola’ C. paradisi
Macfad. x C. tangerina); ‘Fremont’ (tangerineira ‘Clementina’ C. clementina x
tangerineira ‘Ponkan’ C. reticulata); ‘Fortune’(tangerineira ‘Clementina’C.
clementina x tangerineira ‘Dancy’C. tangerina).

Por sua vez, em Mucugê foram realizadas 734 polinizações: ‘Ortanique’ x


‘Kincy’ (66); ‘Ortanique’ x ‘Montenegrina’ (86); ‘Ortanique’ x ‘Page’ (67);
‘Ortanique’ x ‘Fremont’ (17); ‘Ortanique’ x ‘Swatow’ (61); ‘Nova’ x ‘Kincy’ (28);
‘Nova’ x ‘Montenegrina’ (75); ‘Nova’ x ‘Page’ (81); ‘Nova’ x ‘Fremont’ (52); ‘Nova’ x
‘Swatow’ (122); ‘Fortune’ x ‘Kincy’ (16); ‘Fortune’ x ‘Montenegrina’ (11); ‘Fortune’ x
‘Page’ (22); ‘Fortune’ x ‘Fremont’ (12); ‘Fortune’ x ‘Swatow’ (18). As taxas de
vingamento de frutos variaram entre 7,4% ‘Nova ’x‘ Page’ e 39,3% ’Ortanique’ x
‘Swatow’ (Tabela 5).
29

Tabela 5. Cruzamentos controlados realizados em Mucugê, Ba. Número de flores


polinizadas (NP), número de frutos obtidos após as polinizações (NF) e taxa de
vingamento dos frutos (TV).
Cruzamentos1 NP NF TV (%)
‘Ortanique’ x ‘Kincy’ 66 15 22,7
‘Ortanique’ x ‘Montenegrina’ 86 33 38,4
‘Ortanique’ x ‘Page’ 67 22 32,8
‘Ortanique’ x ‘Fremont’ 17 4 23,5
‘Ortanique’ x ‘Swatow’ 61 24 39,3
‘Nova’ x ‘Kincy’ 28 6 21,4
‘Nova’ x ‘Montenegrina’ 75 18 24,0
‘Nova’ x ‘Page’ 81 6 7,4
‘Nova’ x ‘Fremont’ 52 14 26,9
‘Nova’ x ‘Swatow’ 122 39 31,9
‘Fortune’ x ‘Kincy’ 16 - -
‘Fortune’ x ‘Montenegrina’ 11 - -
‘Fortune’ x ‘Page’ 22 - -
‘Fortune’ x ‘Fremont’ 12 - -
‘Fortune’ x ‘Swatow’ 18 - -
Total 734 181
1
‘Ortanique’ tangor natural [Citrus reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osbeck];
‘Kincy’ (tangerineira ‘King’ C. nobilis Lour. x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina hort.
ex Tanaka); ‘Montenegrina’ (C. deliciosa Ten.); tangerineira-tangelo ‘Page’
(tangerineira ‘Clementina’ C. clementina hort. ex Tanaka x tangelo ‘Minneola’ C.
paradisi Macfad. x C. tangerina); ‘Fremont’ (tangerineira ‘Clementina’ C.
clementina x tangerineira ‘Ponkan’ C. reticulata); tangerineira-tangelo‘Nova’
[tangerineira ‘Clementina’ x tangelo ‘Orlando’ (C. paradisi x C. reticulata)];
tangerineira ‘Swatow’ (C. reticulata); ‘Fortune’(tangerineira ‘Clementina’C.
clementina x tangerineira ‘Dancy’C. tangerina).

Nos cruzamentos controlados realizados em Mucugê e em Cruz das


Almas, utilizaram-se como parentais femininos as variedades Nova, Ortanique e
Fortune, e como parentais masculinos Page, Swatow, Montenegrina, Fremont e
Kincy. Entretanto, os frutos resultantes dos cruzamentos utilizando a variedade
Fortune como parental feminino não vingaram, em ambos os ambientes, não
sendo possível avaliar a influência dessa variedade na formação de triploides.
Relativamente ao ambiente, em Mucugê, foram obtidos sete triploides,
quatro do cruzamento ‘Ortanique’ x ‘Montenegrina’, um ‘Ortanique’ x ‘Kincy’ e dois
‘Ortanique’ x ‘Swatow’ (Figura 5; Tabela 6). Nota-se que a variedade Ortanique se
destacou entre os demais parentais femininos, e a ‘Montenegrina’ entre os
30

parentais masculinos. A frequência de obtenção de triploides entre os


cruzamentos variou entre 100% (‘Ortanique’ x ‘Montenegrina’) e (‘Ortanique’ x
‘Swatow’), e 50% (‘Ortanique’ x ‘Kincy’).

Figura 5. Plantas triploides oriundas do cultivo in vitro de sementes de


cruzamentos controlados entre os parentais: ‘Ortanique’ tangor natural [Citrus
reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osbeck] x ‘Montenegrina’ (C. deliciosa Ten.) e
‘Ortanique’ x ‘Swatow’ (C. reticulata).
31

Tabela 6. Cruzamentos controlados realizados em Mucugê, BA. Número de plantas obtidas a partir de sementes normais (SN),
número de plantas obtidas a partir de sementes pouco desenvolvidas (SPD), número de plantas obtidas a partir de sementes
pequenas (SP), porcentagem de plantas obtidas (PO%) e porcentagem de plantas triploides.
Parental feminino Parental masculino SN PO% Triploides% SPD PO% Triploides% SP PO% Triploides%
‘Kincy’ 3 7,9 0,0 0 0,0 0,0 2 40,0 1 (50,0%)
‘Montenegrina’ 9 9,3 0,0 0 0,0 0,0 4 50,0 4 (100%)
‘Ortanique’ ‘Page’ 10 17,2 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0 (0,0%)
‘Swatow’ 5 13,5 0,0 0 0,0 0,0 2 50,0 2 (100%)
‘Fremont’ 2 10,0 0,0 1 20,0 0,0 0 0,0 0 (0,0%)
‘Swatow’ 6 5,0 0,0 0 0,0 0,0 5 33,3 0 (0,0%)
‘Kincy’ 1 5,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0 (0,0%)
‘Nova’
‘Fremont’ 5 25,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0 (0,0%)
‘Montenegrina’ 2 10,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0 (0,0%)
1
‘Ortanique’ tangor natural [Citrus reticulata Blanco x C. sinensis (L.) Osbeck]; ‘Kincy’ (tangerineira ‘King’ C. nobilis Lour. x
tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina hort. ex Tanaka); ‘Montenegrina’ (C. deliciosa Ten.); tangerineira-tangelo ‘Page’ (tangerineira
‘Clementina’ C. clementina hort. ex Tanaka x tangelo ‘Minneola’ C. paradisi Macfad. x C. tangerina); ‘Fremont’ (tangerineira
‘Clementina’ C. clementina x tangerineira ‘Ponkan’ C. reticulata); tangerineira ‘Swatow’ (C. reticulata); tangerineira-tangelo ‘Nova’
[tangerineira ‘Clementina’ x tangelo ‘Orlando’ (C. paradisi x C. reticulata)].
32

Quanto ao tipo de semente, verificou-se que todos os triploides foram


obtidos de sementes pequenas, sendo que das 13 plantas originadas de
sementes pequenas, sete foram triploides, com uma frequência de 53,8% de
triploides produzidos a partir de sementes pequenas. Já em relação ao ambiente
de Cruz das Almas, não foram obtidas plantas triploides (Tabela 7). Esen e Soost
(1971, 1973a, 1973b) concluíram que plantas triploides são formadas a partir de
sementes pequenas e podem ser obtidas de cruzamentos 2x × 2x, e que essas
sementes se formam a partir da união de gametas femininos não reduzidos com
gametas masculinos reduzidos, contudo, a frequência de tais eventos é
geralmente baixa, e propuseram a hipótese que a taxa de 3:5 de embriões
formados a partir de endosperma poliploide foi o fator responsável pelo tamanho
reduzido das sementes. Pois, em citros o endosperma das sementes que contém
embriões diploides é naturalmente triploide, entretanto, estudos histológicos feitos
por Esen e Soost (1971, 1973a) demonstrou que sementes pequenas contêm
embriões com endosperma pentaploide, que por sua vez, cresce mais lentamente
e para o desenvolvimento prematuramente, sendo provavelmente, este o fator
responsável pelo tamanho reduzido das sementes que contém embriões
triploides.
33

Tabela 7. Cruzamentos controlados realizados em Cruz das Almas, BA. Número de plantas obtidas a partir de sementes normais
(SN), número de plantas obtidas a partir de sementes pouco desenvolvidas (SPD), número de plantas obtidas a partir de sementes
pequenas (SP), porcentagem de plantas obtidas (PO%) e porcentagem de triploides.

Parental feminino Parental masculino SN PO% Triploides% SPD PO% Triploides% SP PO% Triploides%
‘Kincy’ 26 30,6 0,0 5 31,3 0,0 0 0,0% 0,0
‘Nova’
‘Page’ 4 40,0 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
‘Ortanique’ ‘Kincy’ 28 75,7 0,0 0 0,0 0,0 0 0,0 0,0
1
Tangerineira-tangelo ‘Nova’ [tangerineira ‘Clementina’ C. clementina hort. ex Tanaka x tangelo ‘Orlando’ (C. paradisi Macfad x C.
reticulata Blanco); ‘Kincy’(tangerineira ‘King’ C. nobilis Lour. x tangerineira ‘Dancy’ C. tangerina hort. ex Tanaka); ‘Ortanique’ tangor
natural [Citrus reticulata x C. sinensis (L.) Osbeck]; tangerineira-tangelo ‘Page’ (tangerineira ‘Clementina’ C. clementina hort. ex
Tanaka x tangelo ‘Minneola’ C. paradisi Macfad. x C. tangerina).
34

De modo geral, apesar do ambiente de Mucugê ter propiciado uma maior


frequência de triploides em relação a Cruz das Almas, onde não foram obtidas
plantas triploides dos cruzamentos controlados, deve-se levar em consideração o
reduzido número de plantas obtidas em ambos os ambientes, sendo que esse
número foi diretamente proporcional à taxa de germinação das sementes, que foi
baixa na maioria das variedades, principalmente em Cruz das Almas.
A Figura 6 ilustra a pluviosidade e a temperatura dos municípios de Cruz
das Almas e Mucugê no período de condução deste trabalho (ano 2015).
Observa-se que Mucugê apresentou menor temperatura e menor pluviosidade
(médias mensais) ao longo do ano em comparação a Cruz das Almas. Nota-se,
que a temperatura mais baixa em Mucugê pode ter influenciado a maior formação
de triploides nesse ambiente, uma vez que, alguns autores relatam o efeito de
baixas temperaturas na formação de poliploides.

Climograma de Cruz das Almas e Mucugê, 2015


35.00 Pluviosidade em Cruz das Almas (mm) 35.00
Pluviosidade em Mucugê (mm)
Temperatura em Cruz das Almas (C°)
30.00 30.00
Temperatura em Mucugê (C°)

25.00 25.00

Temperatura (C°)
Pluviosidade (mm)

20.00 20.00

15.00 15.00

10.00 10.00

5.00 5.00

0.00 0.00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses

Figura 6. Pluviosidade e temperatura (médias mensais) de Cruz das Almas e


Mucugê no ano de 2015.
Alguns estudos realizados mostram que o parental masculino e as
condições ambientais influenciam a produção de plantas triploides em citros
(LURO et al., 2004; VILORIA; GROSSER, 2005; ALEZA et al., 2010b). A
influência das condições ambientais no sucesso reprodutivo das plantas está bem
35

documentada. As condições ambientais podem afetar a produção de pólen, o


tamanho do pólen e a taxa de crescimento do tubo polínico (YOUNG; STANTON
1990). A temperatura durante a fase progâmica representa um dos fatores
ambientais mais importantes que afetam o desempenho do pólen. Assim, a
resposta à temperatura durante a fase reprodutiva é dependente do genótipo
(HEDHLY et al., 2005).
Otto e Whitton (2000), Saleh et al. (2008), Aleza et al. (2011), e Hussain et
al. (2011), propuseram a hipótese de que diferentes condições ambientais, como
a temperatura, podem ter um efeito nos eventos de duplicação cromossômica.
Barret e Hutchison (1978) identificaram 0,75% e 0,90% de plantas poliploides em
frutos colhidos na Flórida e Califórnia, respectivamente, e associaram essa
diferença à temperatura.
O efeito de baixas temperaturas em eventos de poliploidização parece ser
uma regra geral, tanto em plantas quanto em animais (RAMSEY; SCHEMSKE,
1998; OTTO; WHITTON, 2000). Além da vantagem adaptativa dos poliploides, a
maior taxa de eventos de poliploidização em um ambiente mais frio poderia ser
um dos fatores relacionados ao aumento da frequência de espécies poliploides
com latitude no Hemisfério Norte (ASKER; JERLING, 1992).
Aleza et al. (2011) verificaram que a frequência global de mudas
tetraploides entre 30 genótipos analisados de Citrus cultivados em Valência e na
Córsega foi de 1 a 8% (variando de 0 a 9,7% de acordo com a cultivar e as
condições ambientais). Além disso, confirmaram a importância das condições
ambientais nas taxas de tetraploides, estudando sementes do mesmo genótipo
(citrange 'Carrizo') colhidas em diferentes países. Foram observadas taxas mais
elevadas para o Mediterrâneo do que para as áreas tropicais e observaram-se
correlações negativas significativas entre as taxas de tetraploides e as
temperaturas médias durante a indução floral e o período de floração. E eles
sugeriram que condições mais frias favorecem eventos de tetraploidização em
células nucelares cítricas.
Aleza et al. (2012a) Estudaram o efeito dos parentais e das condições
ambientais sobre a produção de híbridos triploides em todas as hibridações
sexuais de 4x × 2x feitas ao longo de 5 anos. Os resultados das hibridizações
36

sugeriram uma interação entre parentais masculinos e as condições ambientais


na produção de triploides.
Luro et al. (2004) mostraram que as condições ambientais afetam a
produção de híbridos triploides em hibridizações 2x × 2x. Viloria e Grosser (2005)
observaram um efeito da temperatura na eficiência de produção de híbridos de
citros com base em hibridizações 2x × 4x. A produção de híbridos triploides será
Influenciada pela capacidade do pólen para realizar fecundação bem-sucedida.
Esta capacidade é dependente da qualidade do pólen, que é determinada pelo
genótipo masculino, mas também por condições ambientais, o nível de
compatibilidade entre o parental feminino e masculino, e efeitos ambientais na
germinação e crescimento do tubo polínico (YOUNG; STANTON 1990; VILORIA;
GROSSER, 2005).
Esen e Soost (1971) chegaram à conclusão que quando diferentes
parentais femininos eram polinizados pelo mesmo parental masculino, a progênie
resultante apresentava diferentes frequências de triploides inesperados.
Entretanto, quando ocorria a polinização de um mesmo genótipo feminino com
diferentes parentais masculinos ocorria à mesma frequência de triploides
inesperados, além disso, todas as sementes que possuíam embriões triploides
apresentavam endosperma pentaploide, indicando que a formação do gameta
não reduzido ocorria no genótipo feminino.
Estudos citogenéticos realizados por Aleza et al. (2015) mostraram
que embriões triploides são associados com endospermas pentaploides, e há
uma forte indicação que eles resultam da fertilização de óvulos não reduzidos
pelo pólen haploide normal. Dependendo do genótipo, a frequência de duplicação
entre os gametas femininos variaram de menos de 1% a mais de 20%.
Bosco et al. (1992) demonstraram que o aborto na megasporogênese
durante o período entre as primeiras divisões celulares e a formação da célula
ovo é comum. Por esta razão, plantas triploides de citros são geralmente estéreis,
embora elas possam ocasionalmente produzir frutos com poucas sementes, e são
capazes de induzir a formação de sementes em frutos de outras cultivares,
indicando que os embriões são formados a partir de megagametófitos não
reduzidos.
37

Aleza et al. (2012b) em hibridações 2x × 4x obteve 1061 plantas de


sementes normais, das quais, 279 plantas foram triploides (26%), constatando
que em hibridizações utilizando parentais femininos 2n com parentais masculinos
4n, é possível recuperar plantas triploides de ambos os tipos de sementes,
normais e pouco desenvolvidas.
Aleza et al. (2010b) em hibridizações utilizando parentais 2x × 2x,
realizadas durante um período de dez anos (1996 a 2006) pelo programa de
melhoramento de híbridos triploides de citros do Instituto Valenciano de
Investigaciones Agrarias (IVIA), constatou que híbridos triploides são encontrados
em sementes desenvolvidas que possuem entre 52 e 62% do tamanho das
sementes normais; o resgate de embriões e a citometria de fluxo são duas
técnicas indispensáveis para extensivos programas de melhoramento de triploides
em citros baseados em hibridações 2x × 2x; a frequência de produção de
gametas não reduzidos depende do genótipo materno, e essa frequência pode
ser quantificada por meio de uma triagem no genótipo, antes de iniciar os
cruzamentos controlados visando a obtenção de triploides; a tangerineira 'Fortune'
apresenta uma maior frequência deste fenômeno do que as clementinas; e
observou-se um efeito claro do progenitor masculino na produção de híbridos
triploides, bem como efeito das condições ambientais.

CONCLUSÕES
A frequência de obtenção de triploides variou em função do genótipo, do
tamanho das sementes e do ambiente.
A ‘Ortanique’ destacou-se pelo seu maior potencial de produção de
triploides.
Sementes de menor tamanho e pouco desenvolvidas apresentaram maior
capacidade de geração de triploides que as sementes normais.
O ambiente de Mucugê, que apresenta maior altitude e temperaturas mais
baixas, favoreceu a formação de triploides.
38

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42

CAPÍTULO 2

MICROPROPAGAÇÃO DE PORTA-ENXERTOS DE CITROS

______________________________
Artigo será submetido ao comitê editorial do periódico científico Revista Brasileira de Ciências
Agrárias.
43

MICROPROPAGAÇÃO DE PORTA-ENXERTOS DE CITROS

RESUMO: As técnicas de biotecnologia, como o cultivo in vitro, constituem-se em


alternativas importantes para aprimorar os métodos de propagação existentes. O
objetivo do trabalho foi propagar porta-enxertos de interesse agronômico por meio
do cultivo in vitro, empregando meio de cultura Wood Plant Medium - WPM. O
experimento foi desenvolvido na biofábrica da Campo Biotecnologia Vegetal Ltda.,
localizada na Embrapa Mandioca e Fruticultura. Selecionaram-se dez híbridos
introduzidos ou obtidos pelo Programa de Melhoramento Genético de Citros da
Embrapa Mandioca e Fruticultura: citrandarins ‘San Diego’, ‘Indio’ e ‘Riverside’;
tangerineira ‘Sunki Tropical’; híbridos LRF x (LCR x TR) - 005, HTR - 051, HTR -
069, TSKC x (LCR x TR) - 059, LCR x TR - 001 e TSK x TRBK – Colômbia.
Segmentos nodais obtidos de plantas matrizes, com aproximadamente 1cm de
comprimento, foram inoculados em frascos de vidro (250 mL) contendo 50 mL do
meio WPM na sua constituição basal, sendo em seguida os frascos levados a sala
de crescimento, à temperatura de 27 ± 1 ºC, com densidade de fluxo de fótons de 30
μmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas. Aos 150 dias de cultivo, procedeu-se ao
subcultivo dos explantes em novo meio de cultura. O número de plantas formadas
por explante foi avaliado aos 180 dias após a inoculação. Os dados obtidos foram
submetidos ao teste F da análise de variância e as médias agrupadas pelo teste de
Scott-Knott a 5% de probabilidade. Para determinação da taxa de poliembrionia nos
genótipos estudados, utilizou-se 23 sementes a partir do total coletado,
considerando poliembriônicos aqueles com mais de um embrião por semente. O
cultivo in vitro de explantes dos dez genótipos estudados, apresentou respostas
positivas à micropropagação em WPM. O número médio de explantes produzidos
por planta apresentaram diferenças significativas pelo teste de Scott-Knott. O
citrandarin ‘Indio’ destacou-se com a maior média de explantes por planta (4,20),
seguido pelos híbridos TSKC x (LCR x TR) - 059 e TSK x TRBK - Colômbia, ambos
com média (3,55), citrandarins ‘San Diego’ com média (3,00) e ‘Riverside’ com
média (2,82). Por sua vez, os genótipos que apresentaram as menores médias de
explantes por planta foram: tangerineira ‘Sunki Tropical’, os híbridos LRF x (LCR x
TR) - 005 e LCR x TR - 001, todos com média (1,00), HTR - 069 (média1,40) e HTR
- 051 (média 2,00). O meio WPM mostrou-se adequado à micropropagação dos
genótipos estudados, particularmente do citrandarin ‘Indio’ e dos híbridos TSKC x
(LCR x TR) - 059 e TSK x TRBK - Colômbia. Ajustes no meio WPM são necessários
para melhorar a eficiência da micropropagação da tangerineira ‘Sunki Tropical’ e dos
híbridos LRF x (LCR x TR) - 005 e LCR x TR - 001.

Palavras-chave: Citrus spp.; explantes; híbridos de Poncirus; Wood Plant Medium


44

MICROPROPAGATION OF VARIETIES IN CITRUS ROOTSTOCK

ABSTRACT: Biotechnology techniques, such as in vitro culture, are important


alternatives for improving existing propagation methods. The objective of the work
was to propagate rootstocks of agronomic interest by in vitro culture, using Wood
Plant Medium - WPM. The experiment was developed out at biofactory the Field
Plant Biotechnology localized at Embrapa Cassava and Fruticulture. Selected ten
hybrids introduced or obtained by the Citrus Breeding Program of Embrapa Cassava
and Fruticulture: ‘San Diego’, ‘Indio’ and ‘Riverside’ citrandarins; ‘Sunki Tropical’
mandarin; LRF x (LCR x TR) - 005, HTR - 051, HTR - 069, TSKC x (LCR x TR) - 059,
LCR x TR - 001 and TSK x TRBK – Colombia hybrids. Nodal segments obtained
from matrix plants, approximately 1 cm long, were inoculated in glass vials (250 mL)
containing 50 mL of the WPM medium in its basal constitution, the flasks were then
brought to the growth room, at a temperature of 27 ± 1 ° C, with a photon flux density
of 30 μmol.m-2.s-1 and photoperiod of 16 hours. At 150 days of culture, the explants
were subcultured in a new culture medium. The number of plants formed per explant
was evaluated at 180 days after inoculation. The data were submitted to the F test of
the analysis of variance and the means grouped by the Scott-Knott test at 5% of
probability. To determine the polyembryony rate in the studied genotypes, 23 seeds
were used from the total collected, considering polyembryonic ones with more than
one embryo per seed. In vitro culture of explants of the ten genotypes studied,
presented positive responses to micropropagation in WPM. The average number of
explants produced per plant showed significant differences by the Scott-Knott test.
The 'Indio' citrandarin showed the highest average of explants per plant (4.20),
followed by TSKC x (LCR x TR) - 059 and TSK x TRBK - Colombia hybrids, both with
a mean (3.55), 'San Diego' with mean (3.00) and 'Riverside' with mean (2.82)
citrandarins. The genotypes with the lowest explants averages were: ‘Sunki Tropical’
mandarin, LRF x (LCR x TR) - 005 and LCR x TR - 001 hybrids, all with mean (1.00),
HTR-069 (mean: 1.40) and HTR-051 (mean 2.00). The WPM medium was suitable
for the micropropagation of the genotypes studied, particularly 'Indio' citrandarin and
TSKC x (LCR x TR) - 059 and TSK x TRBK - Colombia hybrids. Adjustments in the
WPM medium are necessary to improve the micropropagation efficiency of 'Sunki
Tropical' mandarin and LRF x (LCR x TR) - 005 and LCR x TR - 001 hybrids.

Keywords: Citrus spp.; explants; hybrids of Poncirus; Wood Plant Medium


45

INTRODUÇÃO
O porta-enxerto é de extrema importância na formação das mudas cítricas,
pois, pode influenciar muitas características da copa, tais como a qualidade,
quantidade e precocidade da produção, desenvolvimento, vigor, período de
maturação dos frutos, resistência a pragas e doenças, capacidade de adaptação das
plantas às condições ambientais desfavoráveis, mantendo as características
essenciais das copas desejadas (ANDRADE; MARTINS, 2003).
A produção in vitro de porta-enxertos de frutas de caroço vem sendo realizada
de forma comercial em vários países da Europa, principalmente na Itália (LORETI;
MASSAI, 1995), não sendo utilizada no Brasil em função da inexistência de um
método economicamente viável (SILVA et al., 2003; TEIXEIRA, et al., 2004). A
ferramenta do cultivo in vitro é uma técnica que tem permitido propagar espécies
que possuem difícil multiplicação, e apresenta as vantagens de possibilitar a
produção em larga escala de mudas livres de patógenos e com uniformidade
genética, em pequeno espaço físico e curto período de tempo, de forma a atender
às exigências das entidades fiscalizadoras e às necessidades dos produtores de
mudas de qualidade (OLIVEIRA et al., 2001; CARRER et al., 2010).
Apesar de a citricultura ser extremamente importante para a economia do
país, no Brasil ocorre a concentração do porta-enxerto limoeiro ‘Cravo’ (Citrus
limonia Osbeck) sustentando a base dos pomares, principalmente nas regiões Norte
e Nordeste. O que acaba contribuindo para deixar a citricultura brasileira em estado
de vulnerabilidade, em virtude do surgimento de doenças, às quais o limoeiro ‘Cravo’
pode apresentar suscetibilidade (SOUZA et al., 2002; POMPEU JUNIOR; BLUMER,
2009; CARVALHO et al., 2016).
Normalmente a produção de porta-enxertos de citros ocorre por meio de
semeadura em viveiros, e a depender da taxa de poliembrionia das sementes essa
via de propagação pode comprometer a fidelidade genética e uniformidade dos
pomares, pois os embriões zigóticos não preservam as características do porta-
enxerto de interesse (SHARMA et al., 2009). Na germinação das sementes ocorre a
produção de 1% a 40% de plântulas zigóticas. Além disso, têm porta-enxertos que
não produz ou apresenta uma quantidade muito pouca de sementes; são
monoembriônicos; possuem baixa taxa de germinação; dificultando a produção de
mudas por esse método (SHARMA et al., 2009).
46

Porta-enxertos obtidos pelo Programa de Melhoramento Genético de Citros


da Embrapa Mandioca e Fruticultura exemplifica o exposto acima: o HTR - 051
produz poucas sementes, o LCR x TR - 001 possui sementes inviáveis, que abrem
ao serem manipuladas, e o TSKC x (LCR x TR) - 059 apresenta baixa taxa de
poliembrionia, o que prejudica a formação de nucelares, e nesses casos, a
propagação por meio da utilização apenas de sementes acaba dificultando a
multiplicação de novas plantas (BORDÓN et al., 2000; MOREIRA et al., 2010;
NAKANO et al., 2013).
Nesse contexto, surge a necessidade de buscar métodos econômicos e
eficazes para produzir mudas de porta-enxertos com qualidade sanitária e genética,
que são características fundamentais na implantação de um pomar comercial. Desse
modo, as técnicas de biotecnologia, tais como o cultivo in vitro, constituem-se em
possibilidades importantes, por promover auxílio às vias de propagação existentes
(FELZENER et al., 2007; ROCHA et al., 2009).
A micropropagação é uma ferramenta alternativa de grande importância para
a multiplicação de porta-enxertos, pois nesse caso, o número de plantas produzidas
não é limitado pela disponibilidade de sementes, as plantas são mais uniformes,
livres de doenças, e consequentemente apresentam maior qualidade para
comercialização (SILVA et al., 2005; SHARMA et al., 2009; SCHMILTD et al., 2015).
No presente trabalho, objetivou-se propagar porta-enxertos de interesse
agronômico por meio do cultivo in vitro, empregando o meio de cultura WPM
(LLOYD; MCCOWN, 1980).

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido na biofábrica da Campo Biotecnologia
Vegetal Ltda., localizada na Embrapa Mandioca e Fruticultura. Selecionaram-se dez
híbridos introduzidos ou obtidos pelo Programa de Melhoramento Genético de Citros
da Embrapa Mandioca e Fruticultura: citrandarins [Citrus sunki (Hayata) hort. ex
Tanaka x Poncirus trifoliata (L.) Raf.] ‘Indio’, ‘San Diego’ e ‘Riverside’; LRF x ( LCR x
TR ) - 005, híbrido de limoeiro ‘Rugoso da Flórida’(C. jambhiri Lush.) x limoeiro
‘Cravo’ C. limonia Osbeck x P. trifoliata; HTR - 051, HTR -069, híbridos de trifoliata;
TSKC x (LCR x TR) - 059, híbrido de tangerineira ‘Sunki’ (C. sunki Hort. ex Tanaka)
seleção comum x (C. limonia x P. trifoliata); TSK x TRBK - Colômbia, híbrido de
tangerineira ‘Sunki’ C. sunki x P. trifoliata seleções ‘Beneke’; tangerineira ‘Sunki
47

Tropical’ (C. sunki); e LCR x TR - 001, híbrido de limoeiro ‘Cravo’ (C. limonia) x
híbridos de (P. trifoliata).
Para a obtenção dos explantes, foram coletados cinco frutos maduros dos dez
genótipos, previamente selecionados, localizados no Campo Experimental da
Embrapa Mandioca e Fruticultura. Foram removidas todas as sementes, as mesmas
foram lavadas para a retirada da mucilagem e secas em temperatura ambiente.
Posteriormente, foi retirado o tegumento externo (testa) das sementes e realizou-se
a desinfestação em câmara de fluxo laminar, imergindo-as em etanol 70% por cinco
minutos e em solução de hipoclorito de sódio 0,5 %, contendo duas gotas de
Tween® por 20 minutos, seguindo-se três lavagens em água destilada autoclavada.
As sementes foram inoculadas em tubos de ensaio contendo aproximadamente 10
mL do meio de cultura WPM na sua constituição basal (LLOYD; MCCOWN, 1980).
Os tubos foram mantidos em sala de crescimento, incubados à temperatura de 27 ±
1 ºC, com densidade de fluxo de fótons de 30 μmol.m-2.s-1 e fotoperíodo de 16 horas.
Após 120 dias de cultivo, quando as plantas alcançaram altura de
aproximadamente 10 cm a 12 cm, foram utilizadas como fontes de explantes para o
estabelecimento do experimento.
Segmentos nodais das plantas cultivadas in vitro, com aproximadamente 1cm
de comprimento, foram inoculados em frascos de vidro (250 mL) contendo 50 mL do
meio de cultura WPM, em seguida os frascos foram levados a sala de crescimento,
à temperatura de 27 ± 1 ºC, com densidade de fluxo de fótons de 30 μmol.m -2.s-1 e
fotoperíodo de 16 horas.
Aos 150 dias de cultivo procedeu-se ao subcultivo dos explantes em novo
meio de cultura. O número de plantas formadas por explante foi avaliado aos 180
dias após a inoculação dos segmentos nodais.
Os dados obtidos foram submetidos ao teste F da análise de variância e as
médias agrupadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade, as análises
estatísticas foram realizadas com o programa estatístico Statistical Analysis System -
SAS (SAS, 2004).
Para determinação da taxa de poliembrionia nos genótipos estudados,
utilizou-se 23 sementes a partir do total coletado, considerando poliembriônicos
aqueles com mais de um embrião por semente, conforme metodologia descrita por
Santos et al. (2015).
48

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O cultivo in vitro de explantes dos citrandarins ‘Indio’, ‘San Diego’e ‘Riverside’,
da tangerineira ‘Sunki Tropical’, dos híbridos TSKC x (LCR x TR) - 059, LRF x (LCR
x TR) - 005, TSK x TRBK - Colômbia, HTR - 051, HTR - 069 e LCR x TR - 001,
apresentou respostas positivas à micropropagação em WPM.
Conforme pode ser observado na Tabela 1, os citrandarins ‘Indio’ e
‘Riverside’, os híbridos HTR - 051, LRF x (LCR x TR) - 005, LCR x TR - 001 e a
tangerineira ‘Sunki Tropical’ apresentaram elevada taxa de poliembrionia em suas
sementes, já o TSKC x (LCR x TR) - 059, HTR - 069 e TSK x TRBK - Colômbia
apresentaram baixa taxa de poliembrionia, evidenciando que o meio de cultivo WPM
na sua constituição basal, é eficiente na propagação tanto de indivíduos de origem
nucelar quanto de híbridos. O que permitirá, após serem feitas análises moleculares
de todas as plantas obtidas, a identificação e seleção apenas dos genótipos
nucelares, que serão multiplicados in vitro, e o descarte dos híbridos.

Tabela 1. Diferentes genótipos de citros cultivados no meio de cultivo Wood Plant


Medium - WPM, com suas respectivas taxas de poliembrionia.
Genótipos1 Poliembrionia (%)
Citrandarin ‘Indio’ 91,30
Citrandarin ‘Riverside’ 95,65
TSKC x (LCR x TR) - 059 57,97
Citrandarin ‘San Diego’ 78,26
TSK x TRBK - Colômbia 55,07
HTR - 051 86,96
HTR - 069 65,22
LRF x (LCR x TR) - 005 84,05
LCR x TR - 001 95,65
Tangerineira ‘Sunki Tropical’ 86,96
1
Citrandarins [Citrus sunki (Hayata) hort. ex Tanaka x Poncirus trifoliata (L.) Raf.]
‘Indio’, ‘San Diego’ e ‘Riverside’; LRF: limoeiro ‘Rugoso da Flórida’ (C. jambhiri
Lush.); LCR: limoeiro ‘Cravo’ (C. limonia Osbeck); TR: P. trifoliata; HTR: híbrido
trifoliado; TSKC: tangerineira ‘Sunki’ (C. sunki) seleção comum.

Na Tabela 2, nota-se que os genótipos que produziram maior número de


plantas a partir dos explantes cultivados in vitro no meio de cultivo WPM na sua
constituição basal foram os citrandarins ‘Indio’ (279), ‘Riverside’ (203) e ‘San Diego’
(118), os híbridos TSKC x (LCR x TR) - 059 (128), e TSK x TRBK - Colômbia (110),
evidenciando que o meio WPM foi adequado ao desenvolvimento dos mesmos in
vitro, fator importante para que eles possam ser multiplicados em larga escala.
49

Tabela 2. Número de plantas matrizes, número de explantes, média de explantes


produzidos por planta e número total de plantas obtidas após 180 dias de cultivo in
vitro no meio de cultura Wood Plant Medium - WPM, de diferentes genótipos.

Plantas Nº de Média de explantes Plantas totais


Genótipos1
matrizes explantes por planta2 obtidas
Citrandarin ‘Indio’ 10 42 4,20 a 279
TSKC x (LCR x TR) - 059 11 39 3,55 a 203
TSK x TRBK - Colômbia 11 39 3,55 a 128
Citrandarin ‘San Diego’ 10 30 3,00 a 118
Citrandarin ‘Riverside’ 11 31 2,82 a 110
HTR - 051 8 16 2,00 b 71
HTR - 069 10 14 1,40 b 67
LRF x (LCR x TR) - 005 11 11 1,00 b 66
LCR x TR - 001 8 8 1,00 b 62
Tangerineira ‘Sunki Tropical’ 6 6 1,00 b 25
1
Citrandarins [Citrus sunki (Hayata) hort. ex Tanaka x Poncirus trifoliata (L.) Raf.]
‘Indio’, ‘San Diego’ e ‘Riverside’; LRF: limoeiro ‘Rugoso da Flórida’ (C. jambhiri
Lush.); LCR: limoeiro ‘Cravo’ (C. limonia Osbeck); TR: P. trifoliata; HTR: híbrido
trifoliado; TSKC: tangerineira ‘Sunki’ (C. sunki) seleção comum. 2Médias seguidas de
letras iguais, nas colunas, pertencem ao mesmo grupo, pelo teste de Scott-Knott a
5% de probabilidade.

Já os genótipos que produziram menor número de plantas foram o HTR - 051


(71), HTR 069 (67), LRF x (LCR x TR) - 005 (66), LCR x TR - 001 (62) e a
tangerineira ‘Sunki Tropical’(25), indicando a necessidade de ajustes no meio para
que eles possam se desenvolver melhor. Rodrigues et al. (2015) avaliaram porta-
enxertos híbridos de citros introduzidos ou obtidos pelo Programa de Melhoramento
Genético de Citros da Embrapa Mandioca e Fruticultura, e perceberam que os
híbridos HTR - 051 e LCR x TR - 001 apresentaram, em média, 2,1 e 3,3 sementes
totais por fruto. Nesse aspecto, para esses genótipos, a disponibilidade de mais
plantas matrizes visando à maior obtenção de frutos é necessária para um
adequado fornecimento de sementes.
O número médio de explantes produzidos por planta, obtidos a partir dos 10
genótipos estudados apresentaram diferenças significativas pelo teste de Scott-Knott
(Tabela 2). O citrandarin ‘Indio’ destacou-se com a maior média de explantes por
planta (4,20), seguido pelos híbridos TSKC x (LCR x TR) - 059 e TSK x TRBK -
Colômbia, ambos com média (3,55), citrandarins ‘San Diego’ (média 3,00) e
‘Riverside’ (média 2,82). Por sua vez, os genótipos que apresentaram as menores
50

médias de explantes por planta foram: tangerineira ‘Sunki Tropical’, os híbridos LRF
x (LCR x TR) - 005 e LCR x TR - 001, todos com média (1,00), HTR - 069
(média1,40) e HTR - 051 (média 2,00).
Sabe-se que o WPM é um meio de cultivo básico, que vem sendo utilizado
para o estabelecimento in vitro do Banco Ativo de Germoplasma de Citros da
Embrapa Mandioca e Fruticultura, por proporcionar resultados muito promissores na
multiplicação de vários genótipos de citros (SOUZA et al., 2011).
O número de segmentos nodais ou de brotos é uma característica de grande
importância quando se objetiva a micropropagação. Neste estudo, foi possível a
obtenção de um número satisfatório de segmentos nodais da maioria dos genótipos
cultivados no meio WPM em sua concentração basal, mesmo quando comparado ao
número de brotos, obtidos em outros estudos. Esmaeilnia e Dehestani (2015)
obtiveram uma média de 1,2 brotos cultivando in vitro seguimentos apicais de Citrus
sinensis L. Osbeck., também em meio WPM. Oliveira et al. (2010), obtiveram a
mesma média de brotos no cultivo in vitro de laranjeiras 'Pêra', 'Valência' e 'Bahia'
em meio WPM.
Em estudo realizado por Rodrigues et al. (2015) eles constataram que os
genótipos LCR x TR - 001, citrandarins ‘Indio’ e ‘Riverside’, e tangerineira ‘Sunki
Tropical’ apresentaram 100% de poliembrionia em suas sementes, já os híbridos
HTR - 051 e TSKC x (LCR x TR) - 059 apresentaram taxa de poliembrionia variando
de 87,5% a 58,53%. De acordo com Passos et al. (2006) quanto mais elevada a taxa
de poliembrionia nas sementes, maiores serão as chances de o porta-enxerto
quando propagado produzir plantas de origem nucelar, pois, em sementes
poliembriônicas a maioria dos embriões é de origem nucelar, ou seja, são
geneticamente idênticos a planta mãe, garantindo desse modo, a integridade
genética e a homogeneidade dos pomares.
Em se tratando de porta-enxertos de citros, uma elevada produção de
sementes é uma característica muito importante, pois é diretamente proporcional a
quantidade de novas plantas que serão multiplicadas nos viveiros. Sabe-se que são
os fatores genéticos e ambientais que irão determinar o número de sementes por
fruto, sendo esse número variável a depender do genótipo (SANTOS et al., 2015).
Segundo Oliveira et al. (2014) em ensaios conduzidos no norte do estado de
São Paulo, os híbridos LCR x TR - 001, HTR - 051, HTR 069 e TSKC x (LCR x TR) -
51

059 em combinações com copa de laranjeira ‘Valência’ (C. sinensis), têm se


destacado por apresentar características importantes, como redução no porte da
copa, associada à alta eficiência de produção de frutos e à alta qualidade destes
(teores elevados de sólidos solúveis).
De acordo com Passos et al. (2006) dentre as variedades de porta-enxertos
existentes, destacam-se aquelas provenientes de Poncirus trifoliata (L.) Raf., porta-
enxerto que confere características importantes como: baixo porte, resistência a
doenças e produção de frutas com alta qualidade nas combinações copa/porta-
enxerto de que participa.
A micropropagação em com junto com outras técnicas da cultura de tecidos
vegetais, permite a obtenção em curto espaço de tempo e em qualquer época do
ano, de grande número de plantas com boa qualidade fitossanitária (NAGAO et al.,
1994), além de preservar a autenticidade genética da planta, especialmente se não
ocorrer à adição de reguladores de crescimento no meio de cultivo empregado.
Assim, neste estudo constatou-se que a utilização do cultivo in vitro
empregando meio de cultivo WPM na sua constituição basal, mostrou ser uma
estratégia importante para propagar porta-enxertos cítricos de interesse comercial.
No caso dos citros, essa técnica é uma alternativa para a propagação de porta-
enxertos, principalmente daqueles com características importantes, como o P.
trifoliata, que apresenta entre outras características de interesse, tolerância a baixas
temperaturas (HEARN et al., 1974).

CONCLUSÕES
O meio WPM mostrou-se adequado à micropropagação dos genótipos
estudados, particularmente do citrandarin ‘Indio’ e dos híbridos TSKC x (LCR x TR) -
059 e TSK x TRBK - Colômbia.
Ajustes no meio WPM são necessários para melhorar a eficiência da
micropropagação da tangerineira ‘Sunki Tropical’ e dos híbridos LRF x (LCR x TR) -
005 e LCR x TR - 001.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cultivo in vitro é uma técnica de biotecnologia que tem sido utilizada na
tentativa de superar as barreiras da biologia reprodutiva das plantas cítricas. É uma
importante aliada na busca de tentar superar os obstáculos enfrentados pelo
melhoramento genético convencional, e tem contribuído com avanços no
aprimoramento e desenvolvimento de variedades copa e porta-enxertos.
A obtenção de plantas triploides em citros visa à produção de frutos sem
sementes. Característica que vem sendo explorada em programas de melhoramento
genético, objetivando desenvolver novas variedades copa, cujos frutos atendem as
exigências do mercado global de frutas de mesa.
Normalmente, a criação de híbridos triploides por meio de hibridações
utilizando parentais diploides, baseia-se na utilização de sementes pequenas e
pouco desenvolvidas, e apontam para a influência das condições ambientais e do
parental feminino na formação desses indivíduos. No entanto, neste trabalho
utilizaram-se sementes pequenas, pouco desenvolvidas e normais, notando-se que
a frequência de obtenção de triploides em sementes normais foi muito baixa, não
sendo viável a utilização das mesmas. Estes resultados corroboram com o
encontrado por outros autores.
Porta-enxertos com bom potencial de uso horticultural podem apresentar
restrições à sua propagação, destacando-se o reduzido número de sementes e a
baixa poliembrionia. Em auxílio ao contorno dessa situação, o cultivo in vitro é uma
ferramenta de grande utilidade, além de promover a obtenção de propágulos livres
de doenças, em larga escala e em pequena área. Nesse sentido, o meio de cultura
WPM mostrou-se eficiente na micropropagação de diferentes genótipos de citros.

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