Cartilha OcupacoesHumanasV4
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Organizadores:
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sultora do Grupo ASAS Health. Membro da REABILITO. Terapeuta Ocupacional do NASF/Recife-PE.
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ANCP - GESTÃO 2021/2022
Presidente Rodrigo Kappel Castilho
Vice-Presidente Carolina de Araújo Affonseca
Vice-Presidente Thaís Camille Alves Gonçalo
Tesoureira Ursula Bueno do Prado Guirro
Secretária Neulanio Francisco de Oliveira
Diretor Científico João Batista Santos Garcia
Diretora Científica Rudval Souza da Silva
Diretora de Comunicação Erika Aguiar Lara Pereira
Diretora de Comunicação Daniela Aceti
ESTADUAIS
Rio de Janeiro
Presidente Cristhiane Silva Pinto
Vice-Presidente Debora de Wylson F G de Mattos
Vice-Presidente Liana Amorin C Trotte
Tesoureira Livia Pereira Coelho
Secretária Ana Patricia N Oliveira
Diretor Científico Simone Garruth dos S M Sampaio
Diretora Científica Rodrigo Pena Soares da Silva
Diretora de Comunicação Elizabeth Cristina Alves Uh’
Diretora de Comunicação Andreia Pereira de Assis Ouverney
São Paulo
Presidente Rodrigo Alves dos Santos
Vice-Presidente Fabiana Sirolli Fernandes de Morais Carvalho
Tesoureira Marileise Roberta Antoneli Fonseca
Secretária Poliana Cristina Carmona Molinari
Diretoria Científica José Roberto Ortega Junior
Diretoria Científica Marysia Mara Rodrigues do Prado de Carlo
Diretoria de Comunicação Danielle Brito Rodrigues
Diretoria de Comunicação Helenice Alves Teixeira
Diretoria de Comunicação Juliana Nalin S Passarini
Colaborador Tiago Pugliese Branco
Colaborador Mariana Sarkis Braz
Colaborador Daniela Aceti
Colaborador Luis Fernando Rodrigues
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SUMÁRIO
Apresentação 8
Status funcional 14
Intervenções realizadas 15
Suporte prático 18
Referências 18
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Apresentação
Este é o primeiro volume da série “Ocupações Humanas e Cuidados Paliativos”, um conjunto de seis
publicações do Comitê de Terapia Ocupacional da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Abor-
daremos a perspectiva de atuação da Terapia Ocupacional com enfoque nas diversas ocupações im-
pactadas pelo processo de uma doença ameaçadora da vida. Considerando que somos indivíduos
complexos e multidimensionais, com desempenho em diversas ocupações cotidianas, configuramos
os volumes desta produção em:
4) Educação e Brincar
6) Trabalho
As ocupações são classificadas como Atividades de Vida Diária (AVD), Atividades Instrumentais de
Vida Diária (AIVD), descanso e sono, educação, trabalho, lazer, gestão em saúde e participação so-
cial, além das atividades significativas, que são aquelas que têm valor para pessoa e estão em conso-
nância com a sua história de vida e com seu repertório ocupacional (AOTA, 2020).
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ções são realizadas? Quais são as habilidades necessárias para você desempenhá-las? Quais os
significados e níveis de importância você atribui a elas?
Como um conjunto de atividades diárias são feitas muitas vezes automaticamente, não refletimos
sobre a sua complexidade e todos os aspectos envolvidos (CREPEAU; SCHELL, 2013). Se examinar-
mos a nossa rotina pela manhã, por exemplo, veremos que já cumprimos uma multiplicidade de ativi-
dades: levantar-se da cama, escovar os dentes, vestir-se e despir-se, escutar música, preparar o café,
assistir televisão, tomar banho, se alimentar, andar, usar o vaso sanitário, e realizar a higiene íntima.
Por mais que todos precisem desempenhar essas atividades, cada pessoa as desempenha de manei-
ra diferente, considerando os ambientes, as singularidades dos hábitos e rotinas e particularidades
de habilidades motoras, processuais e de interação social, o que torna cada indivíduo único nesse
processo do fazer.
Diante de uma vivência de adoecimento, especialmente com quadros clínicos potencialmente amea-
çadores da vida, o indivíduo pode vir a apresentar alterações em componentes motores, processuais
e de interação social, culminando em prejuízos no desempenho ocupacional. Além disso, do diag-
nóstico à finitude da vida, a rotina habitual sofre alterações com impactos ocupacionais tanto para o
paciente como para seu núcleo familiar.
Por isso, a atuação terapêutica ocupacional é focada nos objetivos, nos desejos e nas necessidades
que cada pessoa apresenta, tendo em vista suas capacidades, dificuldades, o contexto de seu am-
biente e o suporte existente (PONTES; POLATAJKO, 2016). Ou seja, para as demandas ocupacionais.
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Terapia Ocupacional e Cuidados Paliativos: elementos
norteadores da prática
A definição do próprio nome “Terapia Ocupacional” ratifica o foco vital da profissão: favorecer a par-
ticipação em ocupações que as pessoas desejam, precisam e das quais devem participar, seja no
ambiente da casa, da escola, do trabalho, da comunidade, do hospital, entre outros (AOTA, 2020),
mesmo diante das limitações impostas pelo adoecimento, tratamento e hospitalização.
A restrição nas ocupações é fonte de grande sofrimento para o paciente e seus familiares em Cuida-
dos Paliativos (WANG et al., 2018). É preciso compreender que a participação ocupacional expressa
elementos sobre quem esta pessoa é, ou seja, o repertório ocupacional de cada um demarca uma
identidade. Sendo assim, diante de um adoecimento, o indivíduo pode vir a manifestar sofrimento
associados a descaracterização, às privações, e ao senso de perda de controle do gerenciamento de
sua vida, em virtude de rupturas ocupacionais e modificação da rotina.
Em Cuidados Paliativos, os sintomas e as consequências ocasionadas pela doença e/ou pelos trata-
mentos podem resultar em períodos prolongados de inatividade, em um repertório empobrecido, com
enfoque somente no tratamento, em uma rotina ocupacional disfuncional, e em dificuldades para
desempenhar os papéis ocupacionais e as atividades que são importantes.
Nesse sentido, terapeutas ocupacionais intervêm por meio de estratégias reabilitativas, adaptativas e
ou de reconstrução de significados para que tais ocupações sejam possíveis e satisfatórias. Mesmo que
haja prejuízos expressivos na execução das atividades, os terapeutas ocupacionais são capacitados
para viabilizar esse desempenho a partir da adaptação e da modificação dos modos de realizá-las, ação
desenvolvida dentro de um planejamento de cuidado que considera o prognóstico clínico, os ajustes de
expectativas e das metas ocupacionais envolvidas nos diferentes estágios do adoecimento.
O terapeuta ocupacional buscará por meio de uma atuação baseada na ocupação e centrada no ser
humano, avaliar a história de vida, os papéis ocupacionais (por exemplo, pai, filho, cônjuge, traba-
lhador, amigo), as habilidades de desempenho atuais (motoras, processuais e de interação social), a
volição (ou motivação), a história da doença atual e o seu prognóstico. A compreensão do terapeuta
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ocupacional sobre a doença e o prognóstico permite o planejamento para necessidades futuras do
paciente e da família.
O processo de avaliação do paciente é essencial para que sejam estabelecidas metas que conside-
rem a condição física, psicossocial e espiritual do paciente (QUEIROZ, SOUZA, 2022). No contexto
dos Cuidados Paliativos, a avaliação precisa considerar o sofrimento e o desconforto do paciente
ocasionado pelo processo de adoecimento (QUEIROZ, SOUZA, 2022). Durante a avaliação, deve-se
considerar queixas do paciente, aspectos sensório-motores e cognitivos e o nível de independência
no desempenho ocupacional (QUEIROZ, 2012). Além disso, é preciso identificar a presença de sinto-
mas incapacitantes e perdas físicas e psíquicas (QUEIROZ, 2012).
Ademais, o terapeuta ocupacional realiza a análise da ocupação. Mas o que seria isso? Terapeutas
ocupacionais buscam analisar as ocupações quando elas estão acontecendo, a fim de compreender
as potencialidades e as dificuldades da pessoa durante o desempenho (CREPEAU; SCHELL, 2013).
Essa análise os ajuda a identificar quaisquer déficits e implicações para a segurança e independência
do paciente. Por exemplo, quando um paciente não está seguro por exacerbação dos sintomas ou
por não apresentar habilidades motoras para se vestir e se despir e tomar banho sozinho, o terapeuta
ocupacional pode abordar essas questões a fim de minimizá-las (COOPER; KITE, 2015).
Na análise da atividade do banho, por exemplo, o terapeuta ocupacional buscará verificar questões
como: a pessoa consegue fazer o planejamento organizacional necessário? A pessoa consegue lavar
todas as partes do corpo? Quais os fatores que a limitam? Ela precisa de supervisão ou assistência?
Em qual etapa? A pessoa apresenta exacerbação dos sintomas durante o banho (como, fadiga e disp-
neia)? Quanto tempo ela necessita para realizar esta atividade? A pessoa apresenta risco de quedas
durante o banho? O ambiente do banheiro é seguro e funcional? (CREPEAU; SCHELL, 2013).
A análise da atividade realizada pelo terapeuta ocupacional é uma ação efetuada em consonância
com a avaliação de possíveis perdas de habilidades de desempenho e funções corpóreas. Em espe-
cífico, acerca da presença de níveis cognitivos flutuantes ou prejudicados, o terapeuta ocupacional
pode vir a avaliar e desenvolver estratégias para ajudar paciente e família a gerenciar as mudanças
cognitivas que afetam a participação nas ocupações. Estratégias práticas, como a simplificação de
atividades e planejamento de rotinas, exploração do uso de auxiliares de memória, orientações em
relação ao nível de supervisão e auxílio que o paciente pode exigir em cada atividade (COOPER; KITE,
2015) são algumas ações efetivadas pelo terapeuta ocupacional em prol de melhorias ou da manu-
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tenção do status funcional do paciente.
A partir dessas informações, é possível construir um plano de cuidado individualizado, que deve ser
dinâmico e que pode sofrer alterações no decorrer do acompanhamento do paciente (QUEIROZ;
SOUZA, 2022).
Em Cuidados Paliativos, o nível de independência nas AVD tem especial relevância, porque configu-
ra um dos critérios de prognóstico da doença, e norteará a viabilidade de alguns tratamentos, tanto
medicamentosos como as intervenções reabilitadoras, como a quimioterapia e cirurgias em doenças
oncológicas, por exemplo (HUI et al., 2019).
É importante considerar que, ao analisar diferentes grupos de pacientes em Cuidados Paliativos, têm
sido identificadas trajetórias do nível de dependência nas AVD distintas para cada doença (FETTES et
al., 2020). No caso do câncer, a maioria dos indivíduos terá uma trajetória de dificuldades progressivas
nas AVD, enquanto em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica observamos perdas iniciais
nessas atividades, seguidas de períodos de platô — em que o indivíduo mantém o nível de independên-
cia — com novas perdas eventualmente (FETTES et al., 2020). Para pessoas elegíveis para Cuidados
Paliativos após uma lesão neurológica grave, a trajetória se configura uma linha, já que o nível de de-
pendência é alto, e se mantém sem alterações significativas até a morte (MARESOVA et al., 2020).
O que as trajetórias têm em comum é a dependência nas AVD como indicador de terminalidade
(MORGAN et al., 2019). Por isso, essas atividades indicam o momento clínico do paciente. Por outro
lado, é importante considerar que dependência nas AVD não significa, necessariamente, proximidade
da morte (FETTES et al., 2020). Conforme mencionado, o desempenho é influenciado por fatores
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como distúrbios eletrolíticos, internação hospitalar, déficit cognitivo (FETTES et al., 2020), barreiras
ambientais, sobrecarga do cuidador (GAYOSO et al., 2018), nível de mobilidade e frequência de reabi-
litação (SHIMODA et al., 2019). Muitos desses fatores são modificáveis por terapeutas ocupacionais
e demais membros da equipe.
João (nome fictício) tem 61 anos, tem diagnóstico de adenocarcinoma metastático, em sítio primário
colorretal pouco diferenciado, em estágio III, com grande infiltração do fígado. Fez vários ciclos de
radioterapia e quimioterapia desde o diagnóstico, sem regressão do câncer. Não há proposta curativa.
Chegou à emergência hipotenso, caquético, desidratado, usando cadeira de rodas e com dor abdomi-
nal. Foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva, onde permaneceu por duas semanas. Quan-
do a equipe de Terapia Ocupacional chegou para a primeira visita, João já estava na enfermaria, no
leito, em decúbito dorsal, com as sobrancelhas franzidas e deitado em posição fetal. Acompanhado
de sua irmã. Ele está usando uma sonda nasoenteral ligada a uma bolsa com sua dieta, pois não to-
lera ingerir nada por via oral, devido à êmese intensa. Nesse momento, o objetivo clínico era controlar
a náusea e os vômitos, dor e mal-estar, e manter nutrição. Durante toda a internação, recebeu cuidado
interdisciplinar.
A terapeuta ocupacional aplicou a Edmonton Symptom Assessment System (ESAS-r), que estra-
tifica a intensidade de sintomas em uma escala de 1 a 10, de forma crescente. Foram identificados
os seguintes sintomas: Dor: 9 em quadrante superior direito do abdômen/ Náusea: 9/ Fadiga: 8/
Depressão: 9/ Mal-estar: 10
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Perfil e histórico ocupacional
João mora em uma área rural com sua irmã, também idosa. Não tem filhos. Sempre foi agricultor,
mas hoje é aposentado. É evangélico, gosta de ouvir louvores e cuidar de seus animais de estimação:
um gato, um cachorro, dois passarinhos e um pato. Aprecia contemplar a natureza, pois diz que essa
atividade o aproxima de Deus. Quando se sente bem, participa das atividades de manutenção do lar,
e vai à igreja. Relata que gosta “de fazer as coisas sozinho, se sentir útil”. Há alguns meses, sua igreja
fechou para reforma. A reabertura ocorrerá em alguns dias, e um grande desejo de João é estar pre-
sente nessa ocasião. Muito ansioso pela alta.
Status funcional
O terapeuta ocupacional utilizou dois instrumentos padronizados para verificar informações sobre a
funcionalidade do paciente: a Performance Palliative Scale (PPS) e a Medida de Independência Fun-
cional (MIF). No momento da avaliação, João tinha uma pontuação na PPS de 40%. Adicionalmente,
teve pontuação de 56, de um total de 126, na MIF.
Foi identificado que João consegue realizar trocas de decúbito sem assistência e que se alimenta com
independência desde que os utensílios estejam próximos ao leito. Apresenta limitação das habilidades
motoras de desempenho por fraqueza muscular, por não persistir e concluir a atividade sem evidência
de fadiga e por exacerbação de dor abdominal. Paciente não suporta permanecer sentado na cadeira hi-
giênica durante o banho, pois está muito emagrecido e o atrito com as proeminências ósseas dos ísquios
lhe causa dor. Não apresenta alterações nas habilidades de interação social e processuais.
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nas Atividades de Vida Diária, por meio da facilitação e do treino dessas, considerando as capacida-
des presentes. O profissional também pressupõe que, conforme a doença avançasse, seria possível
manter o desempenho em atividades prioritárias por meio de adaptação das etapas e do ambiente.
Orientar estratégias não farmacológicas sobre o manejo de sintomas (fadiga, dor, cuidados com a pres-
são ocasionada pelas proeminências ósseas) durante o desempenho das Atividades de Vida Diária.
Orientar familiares quanto a cuidados que visem à manutenção de capacidades, ao conforto e à pre-
venção de agravos nas Atividades de Vida Diária.
Intervenções realizadas
• As facilitações perpassaram pela eliminação de etapas das atividades, mudanças na frequência ou
ritmo das atividades e no modo de realização. Houve adaptação de atividades para serem feitas no
leito ou em posição sentada, quando o desempenho de maneira típica causou sintomas, ou não foi
possível por limitações nas habilidades.
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• Treino de Atividades de Vida Diária:
2. Higiene pessoal: iniciou-se o treino adaptando a atividade de escovar os dentes. A princípio, foi
realizada no leito, com a cabeceira da cama elevada em 90º, com pausas sempre que o paciente
necessitava, eliminando etapas (a terapeuta ocupacional colocava creme dental na escova e a
entregava para o paciente, bem como o copo com água para o bochecho) e os braços apoiados
na mesa. Com a aquisição de habilidades, como tolerância ao esforço e controle de tronco, João
passou a realizar todas as etapas da atividade sentado à beira do leito, sem apoio no tronco ou
membros superiores.
3. Banho: assim que o controle de tronco foi recuperado, o terapeuta ocupacional prescreveu
uma almofada higienizável para ser utilizada durante o banho na cadeira higiênica. Com essa
medida, João sustentou o banho de chuveiro, sentado, e participou de todas as etapas dessa
atividade. Em seguida, tendo em vista o gasto de energia, orientou-se que João respeitasse um
período de descanso antes de iniciar outra atividade ou atendimento.
4. Vestir parte inferior: treinou-se essa atividade evitando a inclinação anterior do tronco, que
causava dor. Para tanto, o paciente foi orientado a “cruzar” uma perna sobre a outra a fim de
colocar a roupa íntima e a bermuda. Após algumas repetições, ele incluiu esta forma de realizar
a atividade na rotina.
• Identificação de prioridades quanto às AVD: João relatou que considerava o banho sua atividade
mais íntima, e que gostaria de continuar realizando-a no chuveiro, pelo maior tempo possível. Quando
não fosse viável cumprir sozinho todas as etapas, gostaria de, pelo menos, fazer a higiene das partes
íntimas sem ajuda. Nos dias em que a fadiga estivesse exacerbada, relatou que outras atividades
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como barbear-se e escovar os dentes poderiam ser desempenhadas com assistência total, com o
propósito de priorizar o banho. Essas informações foram registradas no prontuário.
SIM
A intervenção da Terapia
A pessoa tem Ocupacional é necessária
dificuldades nas
atividades de vida
diária? Não tenho
certeza SIM
SIM
O paciente reporta
O PPS é igual dificuldades ou
ou menor do que insegurança nas
70%? AVD, ou um declínio
é esperado?
NÃO
NÃO
A intervenção da Terapia
Ocupacional não é
imediatamente necessária para
as AVD. Uma avaliação deve ser
conduzida para identificar outras
necessidades
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Suporte prático
Informações úteis sobre Cuidados Paliativos e a atuação da Terapia Ocupacional no treino de Ativida-
des de Vida Diária estão disponíveis nos links a seguir.
1. Cartilha The Role of Occupational Therapy in Palliative and Hospice Care (O papel da Terapia Ocu-
pacional em Cuidados Paliativos e na Finitude da Vida, tradução nossa), da Associação Americana
de Terapia Ocupacional. Disponível em: https://www.aota.org/~/media/Corporate/Files/AboutOT/
Professionals/WhatIsOT/PA/Facts/FactSheet_PalliativeCare.pdf.
3. Cartilha The route to success in end of life care – achieving quality for occupational therapy (A rota
para o sucesso nos cuidados na finitude da vida – alcançando qualidade para a Terapia Ocupacional,
tradução nossa), do Royal College of Occupational Therapists, do Reino Unido. Disponível em: https://
www.england.nhs.uk/improvement-hub/wp-content/uploads/sites/44/2017/11/End-of-Life-Care-
-Route-to-Success-Occupational-Therapy.pdf.
Referências
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Diária e Tecnologia Assistiva. Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais, 2015. Disponível
em: https://atividart.files.wordpress.com/2015/11/estudo-abrato-sobre-atividades-da-vida-dic3a-
1ria-atividades-instrumentais-da-vida-dic3a1ria-e-uso-da-tecnologia-asssitiva.pdf.
4. WANG, T. et al. Unmet care needs of advanced cancer patients and their informal caregivers: a sys-
tematic review. BMC Palliative Care, v. 17, n. 1, p. 96, dez. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1186/
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5. QUEIROZ, M. E. G. Atenção em Cuidados Paliativos. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar,
São Carlos, v. 20, n. 2, p. 203-205, 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.4322/cto.2012.021.
7. QUEIROZ, M. E. G. Terapia Ocupacional. In: CASTILHO, R. K.; SILVA, V. C. S.; PINTO, C. S (Orgs.).
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Athene, 2021, p. 192-195.
8. CREPEAU, E. B.; SCHELL, B. A. B. Analisando ocupações e atividades. In: CREPEAU, E. B.; GUI-
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