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Como Investir

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Como

investir
POR QUEM MAIS ENTENDE
D O A S S U NTO

David M.
Rubenstein
Cofundador do Carlyle Group

Tradução de Alexandre Raposo


e Cláudia Mello Belhassof

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Copyright © 2022 by David M. Rubenstein. Todos os direitos reservados.
Copyright da tradução © 2023 by Editora Intrínseca
Publicado mediante acordo com a editora Simon & Schuster, Inc.

TÍTULO ORIGINAL
How to Invest: Masters on the Craft

PREPARAÇÃO
Ilana Goldfeld

REVISÃO TÉCNICA
Guido Luiz Percú

REVISÃO
Anna Beatriz Seilhe
Ana Grillo

DIAGRAMAÇÃO
Victor Gerhardt |CALLIOPE

DESIGN DE CAPA
Michael Nagin

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

R83c

Rubenstein, David M., 1949-


Como investir : por quem mais entende do assunto / David M. Rubenstein ;
tradução Alexandre Raposo, Cláudia Mello Belhassof. - 1. ed. - Rio de Janeiro :
Intrínseca, 2023.
432 p. ; 23 cm.

Tradução de: How to invest: masters on the craft


Inclui índice
ISBN 978-65-5560-697-3

I. Investimentos. 2. Bolsa de valores. 3.Ações (Finanças). I. Raposo, Alexandre.


II. Belhassof, Cláudia Mello. III. Título

23-83324 CDD: 332.6


CDU: 330.322

Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecária - CRB-7/6643

[2023]
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Intrínseca Ltda.
Rua Marquês de São Vicente, 99, 6º andar
22451-041 – Gávea
Rio de Janeiro – RJ
Tel./Fax: (21) 3206-7400
www.intrinseca.com.br

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Para Warren Buffett, mestre supremo do ofício de investidor,
e para Bill Conway e Dan D’Aniello, que pacientemente
me mostraram em primeira mão e por trinta e cinco anos,
o ofício de investir e a arte da parceria.

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Introdução

G rande parte da vida gira em torno de prever o futuro e, em seguida,


agir conforme nossas visões. Assim como todo mundo, fiz previsões
boas e ruins sobre o futuro e tomei decisões — algumas inteligentes, ou-
tras nem tanto — com base nelas.
Achei que Jimmy Carter venceria Gerald Ford em 1976 na eleição
presidencial dos Estados Unidos e, também acreditando que ele era
o melhor candidato, decidi trabalhar em sua campanha eleitoral. Boa
previsão.
Eu achava que Ronald Reagan era velho demais (69 anos), conserva-
dor demais e carente demais de habilidades políticas para vencer Carter
na eleição presidencial de 1980, e não me preparei para uma vida de
retorno forçado ao setor privado após 20 de janeiro de 1981. Previsão
ruim. (Hoje, sou mais velho que Reagan era naquela época. Agora, ele me
parece um adolescente.)
Achei que minhas habilidades como jogador de beisebol na infância
tinham grandes chances de não resultar em uma carreira de atleta profis-
sional e decidi me concentrar em aprimorar minhas habilidades acadêmi-
cas em vez das atléticas. Boa previsão.
Achei que não havia a possibilidade de o Baltimore Colts, de minha
cidade natal, perder para Joe Namath, do presunçoso New York Jets, no
Super Bowl III em 1969, e fiz uma aposta muito alta (para meus padrões)
nos Colts. Previsão ruim (e minha última aposta esportiva da vida).
Achei que o mundo da private equity se tornaria mais atrativo e que
era possível, com a ajuda dos talentosos profissionais de investimento
que consegui recrutar, construir uma empresa internacional focada nisso
com sede em Washington. Boa previsão (talvez a melhor de todas).
Achei que a empresa de Mark Zuckerberg, criada enquanto ele estava
na faculdade, não cresceria além de suas raízes universitárias e, portanto,
não me pareceu um investimento interessante quando meu futuro genro
a apresentou para mim. Previsão ruim.

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Achei que a empresa de livros pela internet de Jeff Bezos não poderia
superar a Barnes & Noble (e disse isso a ele em nossa reunião em seu pri-
meiro e bagunçado escritório em Seattle), motivo pelo qual acabei decidin-
do vender as minhas ações da Amazon assim que possível. Previsão ruim.
Se uma pessoa fez boas ou más previsões ao longo da vida é algo que
pode ser avaliado de maneiras diferentes de acordo com a opinião de
pessoas diferentes. Na verdade, não existe um padrão único e universal-
mente aceito para julgar o sucesso de alguém em prever o futuro e agir
com base nisso.
Ao menos quanto a esse aspecto, o mundo dos investimentos é to-
talmente distinto. A habilidade de prever o futuro e tomar medidas pre-
paratórias é bastante mensurável. No mundo dos investimentos, obter
lucro (em menor ou maior grau, dependendo do tipo de investimento) é
a essência dessa atividade.
Ao trabalhar para obter lucro, um investidor está, na verdade, fazendo
uma previsão sobre o futuro: a conveniência de possuir um determinado
ativo (ações, títulos, imóveis, moeda etc.) no futuro, com base no prová-
vel desempenho positivo desse ativo. A empresa atrairá novos clientes?
Inventará um produto desejado? No momento em que o investimento for
liquidado a economia estará forte ou fraca? As taxas de juros estarão mais
altas? As mudanças climáticas afetarão o valor dos ativos? A concorrência
será menor que o esperado?
Em outras palavras: é possível de que surjam riscos capazes de per-
turbar a crença do investidor de que um investimento funcionará e,
portanto, produzirá o resultado desejado? E quão grandes são esses
riscos?
Na vida, sempre há riscos a serem avaliados, mas nem sempre as con-
sequências podem ser medidas com precisão. No entanto, nos investi-
mentos, isso é possível, e com bastante precisão.
Embora investir seja uma atividade com séculos de existência, anti-
gamente o processo não era tão sofisticado quando confrontado com os
padrões de hoje. Desde que existe o dinheiro ou algo equivalente, as pes-
soas tentam dar um jeito de receber mais do que investiram. Os Estados
Unidos são um país que basicamente começou como um investimento.
Os colonos em Jamestown, Virgínia, chegaram em 1607 porque patro-
cinadores na Inglaterra esperavam que o acordo lhes rendesse muitas
vezes as somas que investiram na ida dos colonos até lá. Mas isso acabou
não sendo um bom investimento para esses primeiros patrocinadores.

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Introdução 11

No último meio século, Warren Buffett foi o investidor padrão-ouro


e, portanto, quem melhor deu um prognóstico do futuro. Primeiro, ele
comprou ações da Berkshire Hathaway a 7,50 dólares por ação e, nos últi-
mos sessenta anos, o preço dessas ações aumentou a uma taxa de 20% ao
ano. Outras pessoas ganharam mais dinheiro que isso fora do mundo dos
investimentos. Outros tiveram melhores taxas de retorno de investimento
em intervalos de tempo mais curtos. E houve ainda quem obteve retornos
mais visíveis e espetaculares em investimentos específicos. Porém, ne-
nhum outro investidor conseguiu ganhar mais durante um período mais
longo. Em 1º de junho de 2022, a Berkshire Hathaway tinha um valor de
mercado de 690 bilhões de dólares. Assim, Warren Buffett pode ser consi-
derado quem melhor deu um prognóstico do futuro em longo prazo. Pois
isso é, em suma, o que ele tem feito ao longo de todos esses anos.
Fui um dentre os muitos que o entrevistaram diversas vezes, e sempre
aprendi algo novo com ele ao entrevistá-lo ou lendo suas demais entrevis-
tas. Esses textos me fizeram pensar sobre as opiniões de outros grandes
investidores: como foram capazes de prever o futuro em sua própria área
de investimento e como foram capazes de agir bem ou nem tão bem a
partir dessas previsões?
Isso me levou a entrevistar alguns dos melhores investidores dos Es-
tados Unidos a fim de avaliar como eles se prepararam para prever o fu-
turo e em sua área de especialidade. O resultado é este livro, que é uma
depuração dessas entrevistas, com algumas das minhas reflexões sobre
cada um dos investidores e seus tipos de investimento, bem como pers-
pectivas minhas sobre alguns investimentos. Assim como em meus livros
anteriores, as entrevistas foram editadas por motivos de espaço e clareza,
com a permissão dos entrevistados.
Como abordarei a seguir, grandes investidores têm uma série de habi-
lidades e atributos em comum. Mas possuem também habilidades e atri-
butos exclusivos pertinentes a sua área específica de atuação. Um grande
investidor de risco pode não ter tudo o que é necessário para agir como
um grande investidor de distressed assets, ou como um grande investidor
imobiliário, ou ainda como um grande investidor de criptomoedas.
Sendo assim, pensei que, para fornecer ao leitor uma noção signi-
ficativa das diversas habilidades e atributos necessários para diferentes
tipos de áreas de investimento, seria útil consultar líderes em muitos dos
diferentes setores básicos de investimento. Entrevistei pessoas como
Jon Gray, que construiu o maior negócio de investimento imobiliário do

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mundo com a Blackstone; Seth Klarman, que há muito tempo é, como


líder do Baupost, um dos value investors mais respeitados dos Estados
Unidos; Michael Moritz, que ajudou a transformar a Sequoia no talvez
mais bem-sucedido dentre os grandes fundos de venture capital das últi-
mas cinco décadas; Mary Erdoes, que levou o negócio de gestão de patri-
mônio do J.P. Morgan a uma posição de liderança mundial; John Paulson,
cuja aposta contra as hipotecas subprime entre 2007-09 ficou conhecida
como a “maior negociação” da história de Wall Street; John Rogers Jr.,
cujo compromisso com a análise cuidadosa de ações o levou a construir
uma das maiores empresas de investimento cuja liderança e propriedade
é de afro-americanos; e Jim Simons, cujo gênio matemático lhe permitiu
ser pioneiro no uso de estratégias de investimento “quantitativas”.
Todos esses indivíduos, além de outros grandes investidores entrevis-
tados neste livro, têm histórias de vida e abordagens de investimento in-
teressantes, que tentei trazer à tona. Também procurei mostrar, em várias
das entrevistas, que o setor de investimentos, há muito um reduto de ho-
mens brancos, está mudando, e que há, de maneira muito merecida, maior
diversidade entre seus líderes. Contudo, assim como em meus livros an-
teriores, as entrevistas são apenas aperitivos, neste caso com o objetivo de
despertar no leitor a vontade de aprender mais sobre algum investidor,
assim como sobre algum tipo de investimento específico.
Para simplificar as coisas, classifiquei todos os investidores com os
quais conversei em uma de três categorias de investimento: tradicional,
alternativo e de ponta.
Investidores tradicionais incluem indivíduos que se especializaram
em áreas relativamente tradicionais, ou seja, que fazem parte do horizon-
te de investimentos há, pelo menos, cinquenta anos: títulos, ações, imó-
veis e tipos tradicionais de gestão de patrimônio e fundos patrimoniais.
Investidores alternativos incluem os que buscam investimentos em
áreas que já foram consideradas (ao menos algumas décadas atrás) muito
novas ou arriscadas, embora hoje não sejam vistas como tão incertas as-
sim. Essas áreas, conhecidas no mundo dos investimentos como “alterna-
tivas”, incluem hedge funds, buyouts, venture capital e distressed assets.
Investidores de ponta focam em investimentos considerados novos
demais até para os padrões do que já foi considerado “alternativo”. Isso
inclui áreas como criptomoedas, SPACs (companhias com propósito es-
pecífico de aquisição), infraestrutura e empresas focadas em ESG [fatores
ambientais, sociais e de governança].

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Introdução 13

Espero que esta obra sobre grandes investidores forneça ao leitor


percepções, perspectivas e inspiração. Porém, verdade seja dita, um livro
por si só não fará do leitor um grande investidor, assim como ler sobre os
segredos de Tiger Woods não tornará alguém um grande jogador de golfe
(como vim a descobrir).
O objetivo deste livro é fornecer um vislumbre de pensamentos e prá-
ticas de investimento de muitos dos principais investidores dos Estados
Unidos. Com isso, espero ajudar três tipos diferentes de leitores: 1) aqueles
interessados em aprender mais sobre investimentos por conta própria; 2)
os interessados em aprender mais sobre como investir por meio de fundos
administrados por investidores profissionais; e 3) estudantes ou jovens pro-
fissionais interessados em explorar uma carreira em investimentos.
É claro que livro algum poderia satisfazer de modo integral os in-
teresses, ou responder a todas as perguntas, de leitores tão diferentes,
mas espero que o conteúdo aqui disponível lhes permita, ao menos
modestamente, melhorar seus conhecimentos e habilidades de inves-
timento — isso se não vier a seduzi-los a se tornarem investidores
profissionais.
Devo acrescentar que é provável que o mundo dos investimentos te-
nha mudado mais nas últimas três décadas, talvez até nos últimos três
anos, do que nos três séculos anteriores.
Tradicionalmente, investir era uma atividade exercida por profissionais,
pessoas que faziam isso para viver. Hoje, vem sendo praticada por indivíduos
cujas obrigações profissionais estão em áreas muitas vezes não relacionadas.
Antes, o acesso a informações atualizadas sobre ações de empresas
de capital aberto não era amplamente disponível. Agora, todos podem
ter acesso instantâneo, por celular, a informações sobre preços de ações
e títulos, oportunidades de investimento em empresas de capital fe-
chado e atividades de investimento em todo o mundo.
Com algumas exceções óbvias, investir era uma atividade praticada
por indivíduos de meia-idade. Hoje, os jovens, seja na adolescência ou na
faixa dos 20 anos, parecem muito mais focados em investimentos, de uma
maneira jamais testemunhada em sua faixa etária.
Talvez não seja surpreendente o fato de eu ter escrito um livro sobre
investimentos, pois passei os últimos trinta e cinco anos nesse mundo, em
especial no universo dos investimentos em private equity.
Após deixar a Casa Branca do mandato de Carter em janeiro de 1981,
voltei-me para a única profissão que conhecia: a advocacia, embora não

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em Nova York e, sim, em Washington, onde havia exercido aquela ativi-


dade após me formar na faculdade de Direito.
Porém, logo percebi que não gostava de fato da advocacia (em grande
parte porque eu não era muito bom naquilo). Decidi tentar algo que pa-
recia mais empolgante, e provavelmente mais lucrativo. (Nunca fui muito
motivado por dinheiro, mas senti que a advocacia se tornara mais um negó-
cio que uma profissão. Então, se era para ser um negócio, eu poderia tentar
algo que garantisse maiores retornos financeiros, senão também psíquicos.)
Inspirado pela aquisição extraordinariamente lucrativa da Gibson
Greeting Cards pelo ex-secretário do Tesouro Bill Simon (em cerca de dezes-
seis meses, seu investimento de 330 mil dólares se transformou em um lucro
de 66 milhões de dólares), decidi que a advocacia poderia sobreviver sem
mim e que eu tentaria construir a primeira empresa de buyout em Washing-
ton. Como não tinha experiência profissional em investimentos (quando jo-
vem, eu comprara, a preços muitíssimo altos, algumas ações), concentrei-
-me em recrutar alguns indivíduos na área de Washington que tivessem uma
sólida experiência financeira, quando não em investimentos em específico.
Por sorte, embora Washington não fosse Nova York, consegui reunir
vários profissionais que sabiam o que estavam fazendo no que dizia res-
peito a finanças e investimentos. Em 1987, a experiência deles me ajudou
a angariar 5 milhões de dólares de quatro investidores institucionais para
dar início ao recém-nomeado The Carlyle Group. Pegamos essa quantia
e construímos uma empresa que, em 1º de junho de 2022, administrava
375 bilhões de dólares.
Mas isso não aconteceu da noite para o dia. Durante muitos e muitos
anos, poucos em Washington (para não mencionar Nova York) nos leva-
ram a sério.
O crescimento contínuo do Carlyle ocorreu porque nosso histórico
em algumas áreas era pelo menos tão bom, se não melhor, que o dos
concorrentes de Nova York. Mas também desenvolvemos um conceito
até então único: construir uma empresa diversificada e de multifundos
(ou seja, investindo através de fundos separados em outras áreas de in-
vestimento em empresas de capital fechado: fundos imobiliários, growth
capital, infraestrutura, crédito, fundos de fundos etc.) e, assim, construir
talentos operacionais e de investimento suficientes para criar uma em-
presa com qualidade institucional. E decidimos, algo também muito ino-
vador na época, globalizar a empresa com equipes de investimento na
Europa, Ásia, América Latina, África, no Japão e Oriente Médio, usando

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Introdução 15

a nossa marca e contatos em desenvolvimento para recrutar profissionais


de investimento e levantar fundos em todo o mundo.
Em 1º de junho de 2022, o Carlyle já havia investido 133 bilhões de
dólares em patrimônio na área de private equity corporativo e gerado 256
bilhões de dólares em ganhos para os investidores. Ao longo de mais de
trinta anos, a taxa interna bruta anual de retorno do Carlyle em private
equity corporativo foi de cerca de 26%.
Não fui o indivíduo responsável pelo sucesso de muitas décadas do
Carlyle na área de investimentos. Na verdade, o crédito por essa conquista
é de Bill Conway e Dan D’Aniello, meus principais cofundadores, além dos
muitos talentosos profissionais de investimento que recrutamos e treinamos
no estilo do Carlyle (ou seja, cauteloso, conservador, sem extravagância).
Minha contribuição para a empresa foi mais na área de estratégia, captação
de recursos, recrutamento, assuntos governamentais e relações públicas.
Assim, ofereço minhas reflexões sobre investimentos com muita modéstia.
Dito isso, participei de milhares de reuniões de comitês de investi-
mento durante esses trinta e cinco anos, compartilhei meus pontos de
vista, absorvi o que as equipes de investimento tinham a dizer e aprendi
muito. Durante esse intervalo de mais de três décadas, o mundo dos in-
vestimentos mudou de forma drástica. O nível de competição (de investi-
dores nacionais e estrangeiros) aumentou muito, a soma de dinheiro a ser
aplicada em investimentos pareceu crescer exponencialmente, os preços
cresceram a níveis antes considerados inimagináveis, o envolvimento de
especialistas e consultores externos proporcionou análises muito mais
completas, e o interesse de investidores institucionais e individuais em
investimentos privados parecia não ter limites.
Ao longo desse período, passei a admirar muito não apenas o conjun-
to de habilidades e outras qualidades dos investidores que lideravam os
investimentos do Carlyle, como também as competências daqueles que
lideravam os esforços de nossos concorrentes. Com o tempo, isso me le-
vou a pensar mais sobre as qualidades que de fato separam os grandes dos
médios investidores.
E foi esse processo que me levou a usar as entrevistas que tenho feito
nos últimos anos de modo a ouvir em primeira mão alguns dos maiores
investidores do mundo.
O que aprendi com essas entrevistas?
Grandes investidores têm uma série de características em comum.
Possuir tais características não é garantia de que alguém será um grande

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investidor, mas, se as histórias de vida e as habilidades deles forem um


indicador do que realmente é necessário para ser um grande investi-
dor, possuí-las com certeza aumenta as suas chances. Deixe-me resumir
quais parecem ser as características e habilidades gerais dos grandes
investidores:
Passado. Em geral, eles foram criados em ambientes proletários ou
de classe média. São raros os casos provenientes de famílias fabulosa-
mente ricas ou em que houvesse um histórico de investimento profissio-
nal. Dos investidores entrevistados neste livro, nenhum veio de famílias
muito ricas, mas muitos vieram de famílias de trabalhadores.
Primeiros empregos. Embora alguns investidores tenham monta-
do pequenos negócios no começo de suas carreiras e outros tenham se
interessado um pouco por investimento quando jovens, a maioria veio
a investir depois de tentar outros empreendimentos profissionais, nem
sempre com o mesmo sucesso extraordinário que mais tarde alcançaram
no mundo dos capitais. Dito isso, é preciso observar: Jim Simons era um
matemático; Marc Andreessen, um grande empresário; Michael Moritz,
um jornalista de muito sucesso; e Paula Volent, um talento da conserva-
ção e preservação de obras de arte.
Fracassos. Muitos dos grandes investidores tiveram reveses em suas
carreiras ou grandes perdas em investimentos ao longo do caminho. Isso
pode lhes ter dado o estímulo para persistir e, por fim, aperfeiçoar o seu
ofício.
Inteligência. Os grandes investidores são dotados de um alto grau de
inteligência e tendem a se sair bem academicamente. Embora nem todos
sejam especialistas em matemática como Jim Simons, não há dúvida de
que a facilidade com números e com essa ciência é comum aos grandes
investidores, mesmo que estudem ciências sociais ou disciplinas menos
orientadas para a matemática.
Responsabilidade final. Parece evidente que os melhores investido-
res querem ter a decisão final sobre investimentos de qualquer importân-
cia. Eles tendem a ser autoconfiantes em relação a sua perspicácia e que-
rem ter a última palavra a respeito de qualquer investimento importante,
em vez de delegar a decisão a seus representantes de confiança. E ficam
muito satisfeitos ao assumirem a responsabilidade por essa decisão final.
Foco. A capacidade de se concentrar nos fatores mais importantes de
uma decisão é algo que os grandes investidores tendem a ter em comum.
Eles não se distraem com facilidade por fatores sem importância e têm

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Introdução 17

uma capacidade de foco excepcionalmente alta. A aptidão para descobrir


os elementos-chave de um investimento é algo que os grandes da área
parecem ser capazes de fazer muito bem.
Leitura. Grandes investidores parecem sentir que não há limite para
o conhecimento, e que parte dele pode ajudar com visões sobre quais-
quer questões que possam surgir. Grandes investidores tendem a ser lei-
tores incansáveis de livros, revistas, jornais e materiais selecionados que
atendam aos seus interesses. Alguns podem ter ou ter tido dislexia, mas
são indivíduos que tendem a reunir grandes quantidades de informações
por outros meios, em geral ligações telefônicas frequentes ou contatos de
vídeo com especialistas do setor ou outros profissionais de investimento.
Em outras palavras, os grandes investidores têm uma enorme curiosida-
de intelectual e querem aprender o máximo que puderem sobre qualquer
assunto que possa estar remotamente relacionado com as atividades de
seus investimentos. Eles parecem ter a opinião de que, com o tempo,
qualquer informação pode ajudar a moldar uma melhor decisão de inves-
timento ou inspirar maior criatividade ou percepção.
Jogo de inteligência. Mesmo quando se tornam extremamente ricos,
os grandes investidores ainda gostam do jogo de investir — não porque
precisem de mais dinheiro, mas porque veem o investimento como um
jogo de inteligência. Gostam de fazer algo que os outros achavam que não
poderia ser feito ou correr riscos que poderiam ser considerados grandes
demais para serem assumidos. O desafio intelectual de ser mais esperto
que os demais, ou ao menos demonstrar a própria inteligência, astúcia e
sabedoria, é uma força gravitacional que os mantém ligados às suas ativi-
dades de investimento muito acima de qualquer necessidade de ganhar
mais dinheiro.
Senso comum. Um dos caminhos mais fáceis na vida, assim como
nos investimentos, é aceitar e seguir o senso comum. Por que chamar a
atenção para si mesmo indo contra o senso comum? Por que correr o risco
de estar errado ao rejeitar o senso comum? Sem dúvida, a vida pode ser
mais fácil ao seguir esse caminho. Se a pessoa estiver errada, estará no
mesmo barco com muitos outros, e é menos provável que atraia atenção
de maneira desfavorável ou seja criticada.
Contudo, os grandes investidores não aceitam o senso comum, eles
veem o que os outros não veem e estão dispostos a correr o risco de aca-
barem errados ao irem contra o senso comum. Nenhuma outra caracterís-
tica dos grandes investidores é tão importante para o seu sucesso quanto

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sua disposição de ignorar o senso comum e fazer algo que os outros têm
medo de tentar.
No mundo dos buyouts, o senso comum nas décadas de 1980 e 1990
era que os buyouts não funcionavam em relação à tecnologia. Acreditava-
-se que essa indústria mudava tão rapidamente que uma empresa adqui-
rida não conseguiria pagar a própria dívida antes de seu produto tecnoló-
gico se tornar obsoleto.
Entretanto, um de meus atuais parceiros de investimentos, um espe-
cialista na área que trabalhou na Oracle e na Lotus, David Roux, discor-
dava disso. Em 1999, ele fundou a Silver Lake com a intenção de fazer
buyouts de empresas de tecnologia. Embora eu não acreditasse que aqui-
lo daria certo, a Silver Lake obteve retornos extraordinários em pouco
tempo. Hoje, quase qualquer buyout sem um foco em melhorias tecnoló-
gicas é considerado um provável fracasso.
Atenção aos detalhes. Sem dúvida, muitos excelentes investidores
se concentram em uma visão mais panorâmica: para onde está indo a
economia? Os juros vão aumentar? A inflação pode aumentar? Contu-
do, como regra geral, os grandes investidores prestam muita atenção
aos detalhes de um investimento. Querem saber tudo o que há para
saber e acreditam que a falta de cuidado com os detalhes é uma receita
para o fracasso. Assim, são esponjas de informação sobre oportunidades
de investimento.
Reconhecimento dos erros. Grandes investidores podem ter grandes
egos, mas são capazes de admitir erros, reduzir perdas e partir para a
oportunidade seguinte, na maioria das vezes sem ficar olhando para trás.
Com certeza, essa é uma característica que eu não tenho. Sempre trago
à tona o passado, relembro os erros que cometi ao não visar um deter-
minado investimento ou ao buscar um investimento que não funcionou.
Mas estou melhorando, e agora só olho para uma década atrás, em vez de
duas ou três.
Dedicação. Grandes investidores parecem ter uma obsessão com
o que fazem profissionalmente e, portanto, são, o que não surpreende
ninguém, trabalhadores dispostos a dedicar as horas necessárias para
dominar o conjunto de habilidades de que precisam para o seu tipo de
investimento. Talvez seja possível ser um grande investidor trabalhando
algumas horas por dia, contando com outros para fazer o trabalho essen-
cial para identificar uma oportunidade de investimento. Mas isso é raro.
Grandes investidores tendem a ser workaholics, embora não considerem

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Introdução 19

o que estão fazendo como trabalho. Isso é fundamental, e o mesmo acon-


tece com ganhadores do Prêmio Nobel. Eles veem o trabalho como algo
prazeroso e, portanto, não sentem necessidade de relaxar à medida que
envelhecem. Consideram o investimento uma forma de prazer e não
veem motivo para diminuí-lo porque já têm muito dinheiro.
Filantropia. Como observado, grandes investidores ganham quantias
consideráveis e podem decidir, em idades mais precoces que em décadas
passadas, que querem impressionar a sociedade não tanto com o nível
de sua riqueza e, sim, com o nível de sua filantropia, e o impacto desta.
O instinto filantrópico é, em parte, estimulado pela aprovação social que
acompanha esse tipo de prática. Grandes investidores não são diferentes
de outros que buscam aprovação social. E, embora nos últimos anos te-
nha havido críticas sobre a maneira como alguns indivíduos ricos — e,
portanto, alguns investidores ricos — fazem escolhas filantrópicas, em
geral essa é uma atividade que traz aprovação social, e grandes investido-
res desfrutam disso (como qualquer ser humano) e tendem a ser bastante
filantrópicos. (Claro, eles também acreditam que seu dinheiro ajudará a
atender, se não resolver, algumas necessidades sociais, e isso pode ser um
grande motivador.)

O fato de que grandes investidores têm muitas características em comum


pode não ser uma surpresa. Sem dúvida, é provável que isso ocorra com
os expoentes de qualquer outra profissão.
No entanto, afora a profissão de investidor, quase todas as outras pa-
recem possuir um atrativo aparente — além de ganhar dinheiro — que
leva as pessoas para determinadas carreiras. Embora arquitetos, advoga-
dos, médicos e executivos corporativos sejam bem remunerados, raras
são as vezes em que ganhar dinheiro é o objetivo principal dessas profis-
sões (ou o único atrativo para aquele que a escolhe).
Ao contrário, nos investimentos, a razão de ser quase sempre está
voltada para aumentar a quantidade de dinheiro investido. Esse é um
objetivo socialmente louvável? Por que tantas pessoas talentosas querem
essa profissão? O mundo estaria melhor caso os investidores fossem re-
munerados como professores, supondo-se a partir disso que os muitos
indivíduos talentosos, motivados e bem-educados que se tornam inves-
tidores teriam optado por outra profissão? O mundo estaria melhor se
aqueles com talento para serem grandes investidores escolhessem seguir

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uma profissão de diplomacia internacional (talvez resultando em menos


guerras) ou ambientalismo (quem sabe resultando em ar e água mais lim-
pos)?
Não há uma resposta óbvia e universalmente aceita para essas per-
guntas. É impossível saber se, caso alguém com os talentos de Warren
Buffett escolhesse a diplomacia como profissão, haveria menos guerras
ou maior harmonia global. (Warren Buffett modestamente diria que não:
ele acredita que suas habilidades são mais bem aplicadas no mundo dos
investimentos. Outros podem discordar.)
Minha opinião é que o investimento hábil e, portanto, os investidores
hábeis desempenham um papel importante na alocação de capital para
empresas ou projetos que visam propósitos sociais valiosos.
Embora o mundo da tecnologia e suas empresas não sejam isentos
de falhas, é difícil negar que o mundo está melhor por causa de investi-
dores que forneceram fundos para que a Microsoft, a Apple, o Google, a
Amazon e tantas outras grandes empresas capazes de mudar a vida das
pessoas (e empregar muita gente) decolassem. Ou pense nos investidores
que alocaram dinheiro para a Moderna. É evidente que eles ajudaram
uma empresa a desenvolver uma vacina extraordinária contra a Covid-19
em tempo recorde.
O capitalismo tem as suas falhas, sem dúvida. É uma infelicidade que,
cada vez mais, esteja deixando gente para trás à medida que avança. Mas
a riqueza geral e os empregos gerados pelo capitalismo, incluindo as ha-
bilidosas decisões dos investidores sobre onde, quando e como aplicar o
capital, não podem ser subestimados. Nos Estados Unidos, as decisões
de investidores habilidosos ao longo de muitas gerações (na verdade, ao
longo de séculos) desempenharam um papel importante para possibilitar
que o país se tornasse uma economia tão grande, dinâmica e vibrante.
É claro que Alfred Nobel não reconheceu que o investimento era
uma atividade digna de um de seus prêmios. Talvez ele achasse que os
investidores não se importavam com o impacto social de suas decisões.
De fato, até relativamente pouco tempo atrás, os investidores não
estavam focados de maneira obsessiva nos impactos sociais de suas ati-
vidades. Obter a maior taxa de retorno ou nível de lucro era o objetivo
invariável. Mas isso não deve diminuir a realidade de que a prática de
investir carrega em si mesma um propósito social valioso: empregos são
criados, empresas se tornam mais eficientes, uma economia se torna
mais produtiva e, em geral, resulta em benefícios sociais generalizados.

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Introdução 21

O foco atual no mundo dos investimentos de fazer com que os investi-


dores também dediquem a sua atenção ao impacto nas questões ESG de
seus investimentos só pode tornar o processo de investimento, e, com
isso, os investidores, mais úteis para a sociedade como um todo.
Assim, quando você ler as entrevistas dos grandes investidores nes-
te livro, espero que os veja não apenas como capitalistas talentosos que
fazem o que podem para ajudar ou sustentar a si mesmos e suas orga-
nizações, mas também como indivíduos cujas decisões de investimento
qualificadas foram forças vitais no crescimento social e econômico dos
Estados Unidos.
Tão importante quanto isso, espero que perceba que as entrevistas
ilustram um tipo de indivíduo: empreendedores e patriotas que, além de
servir como modelos, ajudaram a construir o país ao se dedicarem para
desenvolver uma habilidade única e complexa (ou seja, investir), para
aperfeiçoá-la, transmiti-la a seus colegas e, por fim, retribuir à sociedade
com esforços filantrópicos e educacionais.

David M. Rubenstein, junho de 2022

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Notas sobre investimentos
de David M. Rubenstein

A o longo de muitos anos, ao participar dos diversos comitês de inves-


timento do Carlyle (cada fundo tem um comitê separado), observei
alguns investidores de talento extraordinário apresentarem suas reco-
mendações. (No mundo do investimento em empresas de capital fechado,
quase todas as decisões de alocação de capital são tomadas por meio de
comitês. É muito raro que um indivíduo tome uma decisão de investi-
mento sem a revisão e aprovação dos demais.)
Mais recentemente, também estive envolvido em várias outras ativi-
dades de investimento. Em 2018, criei um family office, o Declaration
Capital, para investir parte do meu capital em áreas não visadas pelo
Carlyle (com a aprovação deste de modo a evitar conflitos). Nos últimos
anos, também participei dos comitês de investimento da Smithsonian
Institution, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, do Institute for
Advanced Study e da National Gallery of Art. Também atuei nos conse-
lhos administrativos da Duke University e da Universidade de Chicago
e no conselho da Harvard Corporation. Nessas funções, pude observar
as atividades de fundos patrimoniais dessas organizações (embora eu não
estivesse em seus comitês de investimento).
Como resultado de todas essas atividades, desenvolvi minhas pró-
prias regras e opiniões sobre investimentos, e as forneço aqui. Embora ao
longo dos anos meu foco tenha sido na área de investimento em empresas
de capital fechado, creio que tais perspectivas provavelmente têm aplica-
bilidade um tanto mais ampla.
Entre as ideias mais notáveis, estão:
Sorte. Todo mundo tem sorte e azar na vida, e investir faz parte disso.
Mas contar com a sorte é uma receita para perder dinheiro. Os deuses
dos investimentos não recompensam quem espera que o acaso forneça
com regularidade grandes retornos de investimento. E, como acontece

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com jogos de azar, boa sorte no início de um processo de investimento ou


carreira pode ser na verdade um revés. Alguém pode pensar que aquilo
se deve à sua genialidade (e não à sorte) e que se repetirá, de modo que
provavelmente apostará em dobro no investimento seguinte — o que cos-
tuma resultar em perdas maiores do que os ganhos iniciais. A dedicação e
a análise rigorosa de fato podem fornecer alguma sorte de vez em quando
(me surpreende que isso muitas vezes aconteça), mas o simples fato de
pensar que alguém tem sorte por natureza é, sem dúvida, uma receita
para perdas regulares.
Preço. Não é de surpreender que, na maioria dos investimentos, a
melhor maneira de garantir uma transação seja pagar o preço mais alto. O
setor de vendas pode dizer que quer um proprietário responsável, alguém
que se preocupe com fatores ESG (ambientais, sociais e de governança);
alguém que tratará bem seus funcionários; alguém que possa se dar bem
com a administração etc. Mas, em 99% dos casos, o preço mais alto (e a
certeza de fechar a esse preço) é o que importa de fato a quem vende
toda a sua participação em uma empresa. Invariavelmente, ouvi dizer
que a equipe de gestão (em vez do proprietário) preferiria que a minha
empresa fosse a investidora, mas, de acordo com a minha experiência,
se o controle total está sendo vendido por um proprietário, são raras as
vezes em que a preferência da equipe de gestão é um fator determinante.
Quando uma participação minoritária está sendo vendida, a situação
é um pouco diferente, e um investidor descobrirá que outros fatores (em
geral a adição de serviços ou benefícios de valor agregado) podem mesmo
desempenhar um papel. Porém, ainda assim, tais fatores costumam não
ser suficientes para superar um preço muito mais elevado. Perto das mar-
gens, com o preço sendo relativamente igual, esses outros fatores podem
muito bem fazer a diferença para o vendedor, e devem ser enfatizados
pelo comprador/investidor.
Mas como saber qual é o preço certo a pagar para garantir uma transa-
ção e, mais adiante, obter lucro? Os setores de buyout, de venture capital
e de growth capital possuem normas a respeito de qual múltiplo de fluxo
de caixa, ou múltiplo de receita no caso de alguns negócios de venture
capital e de growth capital, é o preço certo a ser pago. Mas um “preço
certo” depende, na verdade, de fatores futuros: como a administração
se sairá, o que os concorrentes farão, como a economia se desenvolverá,
como a política do governo afetará o negócio... Todos fatores dos quais
não se há total ciência no início de um investimento. Mas é essencial que

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o investidor chegue a uma avaliação do valor certo de um ativo e faça o


máximo possível para ficar dentro desse intervalo, em vez de deixar que
o valor do vendedor dite o preço final. Pagar demais por um ativo ou em-
presa raramente resulta em algo positivo para o comprador.
Diligência prévia. Em relação à maioria das coisas na vida, preparar-
-se é uma vantagem. O pai de meu ex-sócio no Carlyle, o outrora secre-
tário de Estado James A. Baker III, incutiu no filho a máxima que prega
que “a preparação previne contra um desempenho ruim”. No contexto
de investimentos, essa preparação é em geral chamada de “diligência
prévia”, ou seja, a análise detalhada de um investimento potencial. Com
buyouts, esse esforço pode levar cerca de seis meses, pois há uma empre-
sa existente e uma enorme quantidade de dados financeiros e indicadores
de desempenho a serem analisados. Com o venture capital, há menos
dados a serem analisados, e, em geral, a diligência prévia se concentra na
qualidade do empreendedor que lidera a empresa, na singularidade do
produto ou serviço subjacente à empresa e no tamanho da oportunidade
de mercado.
Para qualquer tipo de investimento em empresas de capital fechado,
o processo de diligência prévia é projetado a fim de permitir que o in-
vestidor tome uma decisão embasada sobre o provável retorno que será
alcançado pelo preço pago. Uma boa diligência prévia também pode aju-
dar um investidor a se preparar melhor para prováveis riscos futuros (ou
fornecer motivos para não fazer o investimento).
Minha observação, porém, é que a análise mais detalhada, embora
útil, nem sempre leva aos melhores investimentos. A diligência prévia
nem sempre pode prever adequadamente futuros erros ou afastamentos
de gestão, recessões econômicas, nova concorrência, desenvolvimentos
tecnológicos, mudanças regulatórias ou mudanças sociais emergentes.
Dito isso, esses esforços são e devem ser abrangentes, embora eu tenha
descoberto que um memorando aprofundado e abrangente de um comitê
de investimento (que hoje pode ter de 200 a 300 páginas) não garante
o melhor resultado de investimento. Quem prepara esses memorandos
muitas vezes parece pensar que o peso do documento pressagia um bom
investimento.
Instinto. Os melhores investidores invariavelmente confiam em seus
instintos ou intuição, que em geral são a soma das experiências e dos
sentimentos “instintivos” de um investidor, e não nos memorandos exaus-
tivos do comitê de investimentos. Raras vezes, ou mesmo nunca, Warren

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N o t a s s o b r e i nv e s t i m e n t o s d e D av i d M . R u b e n s t e i n 25

Buffett se baseia nos extensos memorandos de seu comitê de investimen-


tos para tomar decisões. É óbvio que alguns investidores superestimam
ou supervalorizam a própria “intuição”, e isso também pode ser um pro-
blema. Mas não há dúvida de que colocar muita fé em taxas de retorno
para dali a sete anos projetadas até a décima casa decimal é um problema.
Em minha empresa, e suspeito que em outras semelhantes, as projeções
detalhadas das taxas de retorno para sete anos depois (e esse tipo de aná-
lise costuma ocorrer em um memorando do comitê de investimentos)
quase sempre estão erradas, e muitas vezes de forma significativa, tanto
para mais quanto para menos. Ninguém pode prever bem com um prazo
tão longe no futuro. Pode ser autoengano confiar indevidamente em tais
projeções de modelos de computador (muitas vezes elaboradas por ana-
listas bem-intencionados, mas jovens demais e recém-formados em seus
MBAs).
Gestão. Na diligência prévia, a qualidade da equipe de gestão, em es-
pecial do CEO, costuma ser uma consideração primordial. Para que uma
empresa de private equity invista em uma empresa, o CEO dela precisa
não apenas ter os atributos normais de um bom CEO (inteligência, em-
penho, concentração, boa comunicação, habilidades para formar uma boa
equipe, possuir uma visão para a empresa, estar disposto a admitir erros e
estar equipado para compartilhar o crédito quando merecido). No mundo
do investimento em empresas de capital fechado, bons CEOs também
precisam lidar com seus investidores de private equity, que em geral são
bastante práticos e obstinados. (A private equity não atrai gente acanhada
nem com papas na língua.)
Um CEO de destaque pode fazer uma diferença gigantesca em uma
compra, mas mesmo ele não é milagreiro. E, embora no início possa pa-
recer notável, é provável que ele em algum momento seja substituído.
Em mais de 50% das aquisições, haverá uma mudança de CEO antes de
a aquisição ser realizada. Essa rotatividade em transações de risco pode
ser ainda maior. Porém, é nelas que um grande CEO pode ser ainda mais
valioso, embora também muito mais difícil de encontrar. Os CEOs de
empreendimentos têm a difícil tarefa de desenvolver uma organização
jovem e, muitas vezes, frágil. Mais negócios de risco falham do que são
bem-sucedidos, o oposto do que ocorre nas transações de buyouts.
Expectativas realistas. Um memorando do comitê de investimento
sempre aborda as mudanças que precisam ser feitas no investimento-
-alvo e, embora em geral precisem ser feitas para aumentar o valor dele,

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às vezes o nível e a amplitude das mudanças sugeridas podem ser irreais,


ao menos no prazo e com os recursos financeiros e humanos disponíveis.
Uma consideração fundamental para um resultado de investimento acei-
tável é ter objetivos realistas e, portanto, taxas de retorno realistas. Al-
guns investimentos no mundo dos buyouts produzirão de cinco a dez ve-
zes o capital investido. Porém, isso é raro, por mais que nos últimos dois
ou três anos alguns grandes investimentos de venture capital e de growth
capital feitos pelas principais empresas nessas áreas tenham excedido e
muito esses múltiplos em seus melhores negócios. Para a Union Square,
uma das principais empresas de venture fund, um investimento inicial
na Coinbase passou a valer quase duas mil vezes o seu custo quando a
empresa abriu o capital em 2021. (Os retornos pós-IPO caíram de forma
considerável em 2022, pois o mercado de criptomoedas baixou diante de
muitos investidores.) Mas essa avaliação pré-IPO foi uma taxa de retor-
no inusitada, presumir que retornos dessa monta possam ser alcançados
rápida ou regularmente é um grande erro (embora a esperança pareça
brotar ad aeternum no mundo dos investimentos de risco).
Em outras palavras: com poucas exceções, quando os retornos pro-
jetados parecem bons demais para serem verdade, em geral são. Se um
investimento proposto for tão atraente assim, outras pessoas também irão
atrás dele, o preço subirá e os retornos devem cair.
Taxa de retorno. Em um buyout típico, o investidor busca uma taxa
de retorno, descontadas todas as despesas e demais taxas, de cerca de 15
a 20% ao ano, sendo o buyout médio um investimento de cinco anos. Al-
gumas empresas menores e especializadas com frequência buscam, e às
vezes obtêm, retornos líquidos de 20 a 25% ao ano em seus buyouts me-
nores. Cerca de 75% dos buyouts geram receitas antecipadas superiores
ao que foi investido. No venture capital, os investidores muitas vezes pro-
curam obter taxas líquidas de retorno de 30% ou mais. As transações de
risco, contudo, têm uma taxa de insucesso mais alta que os investimentos
dos buyouts, e apenas 40% dos investimentos geram receitas antecipadas
além daquilo que foi investido.
Nos últimos anos, devido ao aumento geral dos valores, em especial
na área de tecnologia, os investimentos de risco têm sido mais lucrativos
que a norma histórica, mas, como acabamos de observar, há mais investi-
mentos de risco não lucrativos que o contrário. Os casos que se destacam
nas manchetes por seu alto retorno são poucos e dispersos no longo prazo
para empresas que fazem investimentos de risco. Dito isso, os últimos

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anos foram um período histórico de criação de riqueza para um pequeno


punhado de empresas de risco líderes de mercado.
Investidores com expectativas de taxas de retorno realistas tendem a
ser mais bem-sucedidos. Uma análise histórica revela que investidores
que buscam taxas de retorno não realistas em geral acabam frustrados.
Isso ficou mais evidente com o declínio do mercado de tecnologia em
2022. A grande queda nos valores nessa área imprimiu maior realidade às
expectativas de retornos em grande parte do mundo do venture capital e
do growth capital.
Compromisso. Não há dúvida de que quem trabalha em um inves-
timento potencial e se empolga com ele pode perder a objetividade e
insistir no projeto para não ter de reconhecer que o esforço por trás
da diligência prévia foi desperdiçado. Isso pode ser um problema. No
entanto, o forte compromisso de um profissional de investimentos com
determinada transação (alguém muito empolgado com um investimento
e que está batendo na mesa para aprová-lo) pode ser um fator importante
para decidir se o investimento deve ser levado adiante. Um investimen-
to precisa de um forte defensor, alguém que sinta a obrigação pessoal
de fazê-lo dar certo. Alguém cuja reputação e futuro estejam em jogo
desempenhará um papel determinante para que um investimento seja
bem-sucedido.
Valor agregado. As empresas que recebem investimentos de investi-
dores profissionais estão buscando seus serviços de valor agregado: apre-
sentações a clientes em potencial, assistência com possíveis aquisições,
ajuda para conseguir pessoas influentes para trabalhar como membros do
conselho da empresa que está recebendo investimento, acesso a servi-
ços operacionais etc. Na medida em que uma empresa de investimentos
possa fornecer tais serviços, o valor do investimento pode ser melhora-
do. Mas é importante não prometer demais a uma empresa na qual está
sendo feito um investimento; fazer isso muitas vezes leva a decepções na
prática.
Momento da venda. Nos últimos anos, alguns investidores que não
precisam de retorno de capital em curto prazo têm se contentado em
manter um investimento por oito, dez anos ou mais. (Warren Buffett de-
tém alguns de seus ativos para sempre.) Em geral, porém, a retirada de
um investimento de private equity ocorre após cerca de cinco anos. A
essa altura, o aumento de valor já deve ter ocorrido, de modo que os
investidores gostam de recuperar o capital investido nesse período. As

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aplicações que duram mais tempo são muitas vezes aquelas que tiveram
dificuldades para obter os retornos nos níveis desejados, e, muitas vezes,
há a inevitável esperança de que as coisas melhorem em caso de mais es-
forço nos dois ou três anos seguintes. Em alguns casos, as vendas atrasam
porque os vendedores têm expectativas grandiosas de retorno e se tor-
nam gananciosos quando não vendem em níveis considerados aceitáveis.
Como regra geral, bons investidores sabem quando comprar e quando
vender, não se apaixonam por seus investimentos e reconhecem não ape-
nas o valor de comprar pelo preço certo, como também, e mais importan-
te, de vender na hora certa.
Tais conclusões, vindas de alguém que passou grande parte da
vida profissional trabalhando com investimentos privados, podem não
fornecer o tipo de aconselhamento genérico de investimento que no-
vos ou potenciais investidores estão procurando. Então, pensei que
também poderia ser útil fornecer os meus conselhos básicos para tais
indivíduos. E fiz isso a partir de dois pontos de vista: investimentos
feitos diretamente por um indivíduo e investimentos feitos indireta-
mente por um indivíduo (ou seja, através de um fundo administrado
por terceiros).

Investir diretamente
Para investidores não profissionais que desejam o prazer e a emoção (em-
bora às vezes o risco e a dor) de investir o seu capital diretamente, ou
seja, escolher ações ou títulos ou fazer buyouts, ou investir diretamente
em empreendimentos ou imóveis, ofereço as seguintes ponderações:

1. Não arrisque mais do que você pode perder. Em outras palavras,


para investimentos nos quais há uma chance real de se perder
todo o capital investido ou parte dele, certifique-se de ter cal-
culado esse risco em seu processo de decisão e verifique se sua
situação financeira pode de fato arcar com essa perda.
2. Diversifique os investimentos. Esse é um dos princípios-chave
quando se trata de investir: não coloque todos os ovos na mesma
cesta. E, ainda nesse espírito, tente fazer aplicações que não se-
jam completamente correlatas, ou seja: com tendência a subir ou
descer ao mesmo tempo.
3. Não pense que você é um especialista ou um gênio dos inves-
timentos por ser um especialista ou um gênio em alguma outra

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área. Fazer fortuna como industrial, artista ou atleta não o tornará


um especialista ou gênio em investimentos, como muitos especia-
listas ou gênios em outras áreas percebem com relativa rapidez ao
tentar investir.
4. Tenha expectativas de retorno realistas. Ter expectativas irrealis-
tas inevitavelmente levará a investimentos demasiado arriscados
e a verdadeiras decepções. Para retornos gerais de investimento
(presumindo uma combinação de diferentes tipos de investimen-
tos públicos e privados), tentar obter retornos anuais contínuos
acima de 10% é muito difícil, ainda mais para um não profissional.
5. Leia tudo disponível sobre o investimento que está sendo feito.
Certifique-se de que os riscos potenciais sejam compreendidos
e considerados na íntegra, tanto quanto as vantagens potenciais.
Aprender, ler ou fazer muitas perguntas sobre o investimento
nunca é demais.
6. Converse com outras pessoas que conhecem a área de investi-
mentos ou um investimento específico. Mais de um par de olhos e
ouvidos pode ser de extrema utilidade. Também consulte aqueles
que perderam ou ganharam dinheiro na área.
7. Compreenda os riscos na esfera pública do investimento e tente
reduzir ao máximo, senão eliminar, muitos deles. Por exemplo,
investir em um fabricante de armas ou em uma empresa que é
grande emissora de carbono pode trazer consequências públicas
adversas para uma reputação pessoal ou profissional caso o inves-
timento venha a público (e considere que virá).
8. Conheça bem os seus parceiros. Se o investimento envolver ou-
tros, certifique-se de que tudo o que é relevante sobre eles seja
de seu conhecimento. Um bom investimento pode ser arruinado
caso o histórico de um parceiro de investimento não seja de com-
petência, firmeza, honestidade e confiabilidade. Parceiros não
confiáveis, desonestos ou pouco competentes raras vezes melho-
ram. Cuidado também com a parceria com “mestres do universo”
que parecem egocêntricos em demasia ou não propensos a ouvir
conselhos nem a aceitar a realidade.
9. Compreenda as consequências fiscais e as restrições regulamen-
tais. Alguns investimentos, de outra forma atraentes, podem perder
muito de seu apelo caso os impactos fiscais ou desafios regulatórios
sejam desfavoráveis. Certifique-se de que uma boa consultoria e

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planejamento tributário e regulatório façam parte do processo de


decisão de investimento.
10. Certifique-se de que informações frequentes, confiáveis e com-
preensíveis sobre o investimento sejam fornecidas, ao menos uma
vez por trimestre, e que haja um mecanismo regular para pergun-
tas a serem feitas e respondidas.
11. Não tenha medo de admitir um erro quando um investimento der
errado (e, portanto, esteja pronto para diminuir suas perdas) nem
de lucrar (devido a uma crença de que os lucros só podem vir a
aumentar).

Investir indiretamente ou por meio de fundos


Atualmente, muitos dos investimentos são realizados indiretamente, em
fundos nos quais outras pessoas tomam as decisões de aplicações. Esse
é o caso de fundos de índices de títulos e ações, ETFs, fundos mútuos,
fundos de previdência privada e toda a variedade de fundos relacionados
a investimentos privados.
Com esse tipo de investimento, no qual outra pessoa investe o dinhei-
ro (uma vez que a aplicação básica tenha sido feita), meus conselhos são
os seguintes:

1. Certifique-se de compreender na íntegra o histórico desse fundo


(supondo que não seja um fundo novo) e, de preferência, que es-
teja entre os quatro maiores fundos da área de acordo com dados
disponíveis para o intervalo de tempo mais recente.
2. Certifique-se de que os principais indivíduos do fundo responsá-
veis por esse histórico ainda estejam na instituição e que tenham
uma probabilidade razoável de permanecer ali (ou seja, que es-
tejam profissionalmente satisfeitos e sejam bem recompensados
por seus esforços). Além disso, determine se eles, caso possam
fazê-lo por meios legais, também estão investindo de maneira sig-
nificativa no fundo.
3. Verifique se os profissionais mais jovens da organização, aqueles
que costumam fazer o trabalho do dia a dia, também são incenti-
vados a permanecer ao serem remunerados de forma adequada.
4. Determine se o histórico do fundo foi alcançado em uma área
com probabilidades de continuar crescendo e de ser atraente du-
rante o período do investimento.

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5. Determine se os termos do fundo são justos e razoáveis para os


padrões da área, em especial as taxas (e certifique-se de que as
taxas cobradas sejam compreensíveis com facilidade).
6. Determine se a organização patrocinadora do fundo tem alta ro-
tatividade de funcionários ou fama de ser processada com fre-
quência por investidores devido a mau desempenho ou práticas
antiéticas.
7. Descubra quem foram ou provavelmente serão os demais inves-
tidores do fundo. Em geral, investidores bem-sucedidos sabem
como encontrar os melhores fundos.
8. Certifique-se de que os profissionais de investimento relevantes
estejam disponíveis com frequência, se necessário, para responder
a perguntas, e também de que as informações sobre o desempe-
nho do investimento do fundo sejam fornecidas com regularidade,
precisas e compreensíveis e, quando apropriado, verificadas por
terceiros independentes.
9. Se o fundo for novo e, portanto, não tiver histórico relevante, cer-
tifique-se de que os líderes de investimento tenham um histórico
atraente em qualquer fundo com qualquer empregador pregresso
(e que os líderes de investimento tenham algum histórico de tra-
balho em conjunto e estejam também comprometendo uma quan-
tidade significativa do próprio capital naquele fundo). Certifique-
-se também de que a área na qual o novo fundo está investindo
tenha uma chance realista de sucesso.
10. Certifique-se da existência de oportunidades realistas, justas e
atraentes para sair do fundo (talvez através de uma venda “secun-
dária” do investimento), caso haja uma necessidade pessoal de
liquidez antes que o fundo conclua por completo a sua missão de
investimento.

As regras acima não são garantia para um ótimo histórico de investimen-


tos, mas devem servir como um breve guia de como alguém pode tomar
decisões razoáveis sem precisar alcançar o status de “grande investidor”.

Investir como uma futura carreira


Alguns leitores deste livro podem ainda não estar prontos para ser in-
vestidores, seja direta ou indiretamente. Podem ser estudantes ou jovens
profissionais ainda tentando se decidir quanto a uma carreira.

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32 CO M O I N V E ST I R

Fora das finanças, há um enorme número de carreiras atraentes; den-


tro, de forma similar, há um enorme número de carreiras atraentes sem
relação com os investimentos. Mas, para quem está interessado e deseja
se preparar para uma carreira nos investimentos, com este livro pretendo
demonstrar que, embora grandes investidores tenham várias caracterís-
ticas em comum, elas não são necessariamente um pré-requisito para o
sucesso como investidor. Além disso, não é preciso ser um grande in-
vestidor, tornar-se uma figura lendária, para desfrutar do mundo dos in-
vestimentos. Ao longo dos anos, conheci inúmeros investidores que não
seriam considerados grandes, mas que são bem-sucedidos e levam vidas
plenas e gratificantes.
E, talvez o mais importante: estar no topo de qualquer profissão, in-
cluindo aquela que provavelmente renderá recompensas financeiras con-
sideráveis, não garante a felicidade, que, na teoria, é um dos principais
objetivos da vida. Alguns dos indivíduos mais ricos que conheci não são
pessoas felizes de verdade. E alguns indivíduos com sucesso profissional
e financeiro comparativamente modesto estão muitíssimo satisfeitos com
suas vidas. Portanto, não é necessário ser um investidor excelente para
levar uma vida excelente.
Também é preciso ressaltar que, para quem está de fato interessado
na carreira de investidor, não existe um plano de dez passos para o suces-
so garantido. Eu gostaria de ter compreendido essa realidade quando en-
trei para o mundo dos investimentos em 1987. Poderia ter evitado muitos
erros. Mas há alguns fortes princípios que desde então reconheço como
dignos de serem lembrados, e os transmito a seguir:

1. Leia o máximo que puder sobre a sua área de investimento e ou-


tros assuntos relevantes. Leia mais do que newsletters ou maté-
rias. Opte por livros, pois sua atenção fica mais concentrada du-
rante a leitura, e eles podem ter um impacto mais duradouro. Não
há limite para o que se pode ler ou saber a respeito do mundo, e
não apenas sobre a sua área de investimento.
2. Encontre uma área que seja de seu real interesse (não necessaria-
mente uma área onde você possa ganhar mais dinheiro no início)
e aprenda tudo o que for possível sobre ela. O ideal seria que fos-
se uma área nova, emergente, onde a concorrência ainda não seria
tão forte. Uma área na qual você, em última análise, e espero que
em um futuro próximo, desenvolveria uma paixão para seguir. Se

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deseja mesmo ter sucesso, trabalhar nessa área deve ser um ver-
dadeiro prazer e não apenas um trabalho.
3. Procure mentores, indivíduos que o guiarão através dos desafios
de reunir conhecimento especializado. Invariavelmente, o cami-
nho para o sucesso é facilitado com a orientação e o apoio de
mentores, indivíduos que estão na sua área de atuação ou mesmo
fora dela. Conselhos sábios e apresentações úteis a outras pessoas
nunca fazem mal. (Com o tempo, adquirir o hábito de orientar a
geração seguinte também pode ser muito recompensador e útil
para a própria carreira.)
4. Procure uma ou duas pessoas com quem possa fazer parceria à
medida que você ganha experiência e se desenvolve. Às vezes, in-
vestir pode ser um negócio solitário, mas investidores talentosos
costumam ter parceiros para preencher lacunas em suas próprias
áreas de especialização e conhecimento. Não acredite que você
é um gênio do investimento que não precisa de ninguém para
ajudá-lo com frequência.
5. Busque construir uma rede de contatos em sua área geral de in-
teresse, mas também fora dela. Uma rede pode ajudá-lo a obter
informações melhores quando você precisar, além de fornecer
oportunidades, ideias, investidores, colegas e exposição a um
mundo mais abrangente. Os melhores investidores têm ao seu
alcance uma ampla e variada rede de contatos.
6. Esteja preparado quando tiver reuniões (pessoais ou virtuais)
com colegas, parceiros e, de fato, com todo mundo. Às vezes, im-
provisar pode parecer divertido ou revigorante, mas a verdade é
que os melhores investidores — e profissionais — se preparam
para as muitas reuniões e conversas que realizam inevitável e re-
gularmente. Eles sabem o que querem de uma reunião e invaria-
velmente o conseguem.
7. Mantenha seus compromissos e promessas. Fazer isso melhorará
a sua reputação, além de aumentar a probabilidade de seus inves-
tidores, colegas e mentores quererem trabalhar com você mais de
perto. Faltar com seus compromissos é um dos pecados mais co-
muns no mundo profissional, inclusive no mundo dos investi-
mentos.
8. Concentre-se em construir uma reputação de humildade, coo-
peração e comportamento ético. É fácil se tornar arrogante com

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o sucesso profissional, e isso pode ser ainda mais verdadeiro no


mundo dos investimentos. Mas ter a reputação de estar disposto
a ouvir os demais, aceitar conselhos, não se vangloriar e apoiar
o próximo ajudará muito a desenvolver uma carreira admirável
e bem-sucedida. E não fique tentado a cruzar os limites éticos:
sua reputação é a coisa mais importante que você tem e pode ser
destruída para sempre caso os desrespeite.
9. Aprenda a admitir um erro e corrigi-lo o mais rápido possível,
com o menor dano possível. Os investidores sempre cometerão
erros, mas, para os que são realmente bons, a chave é aprender
quando admiti-los, cessar as perdas e seguir para a oportunidade
seguinte. E aceite a culpa, em vez de culpar os outros (em espe-
cial os colegas).
10. Encontre áreas fora do setor de investimentos que lhe permitam
ampliar seu escopo como ser humano e experimente outras coisas
além da busca por dinheiro e sucesso profissional. Sinceramente,
no mundo dos investimentos, trabalhar sem parar apenas nisso
não é uma receita de sucesso a longo prazo.

Talvez todos os itens acima sejam óbvios. Mas, às vezes, o óbvio pode
passar despercebido. Penso muitas vezes que gostaria de ter dado todos
esses passos quando estava me preparando, no início da carreira de in-
vestidor. Eu teria evitado muitos erros.
Repito: realizar todas as etapas acima não garantirá o sucesso de um
jovem ou potencial investidor, mas isso não lhe trará problemas nem pre-
judicará a sua carreira. É quase certo que o ajudará.
Uma última observação: sua carreira como investidor será muito mais
recompensadora se acreditar que esse tipo de atividade é benéfico não
apenas para você, como também para a sua sociedade, a sua economia e o
seu país. Se você vê o investimento apenas como uma maneira de ganhar
mais dinheiro do que é possível ganhar em outra profissão, nunca terá a
intensidade, a motivação e a alegria necessárias para ter sucesso nessa
linha de trabalho. E perderá muito da alegria de investir (e de viver). No
fim das contas, dinheiro não é tudo.

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Depois de três décadas no topo de uma das
áreas mais competitivas do mercado financeiro,
David M. Rubenstein vem agora ensinar tudo o
que aprendeu de mais valioso a respeito da arte
de investir — desde ações e fundos mútuos e
imobiliários até venture capital, private equity,
criptomoedas e muito mais.

Considerado um dos mais importantes inves-


tidores e filantropos da atualidade, em Como
investir o autor reúne as melhores entrevistas
realizadas em seu programa de TV — Ray Dalio,
Larry Fink, Mike Novogratz e Mary Callahan
Erdoes, entre outros —, consolidando os prin-
cípios, experiências e estratégias que foram
indispensáveis para os casos de maior sucesso
em todo o mundo das finanças.

Com acesso sem precedentes a essas lideran-


ças — muitas das quais raramente falam em
público —, Rubenstein criou uma obra de peso.
Profundos e reveladores, os testemunhos que
reuniu são um norte para quem deseja uma
prática vencedora em um ambiente altamente
dinâmico e desafiador. Seja você um novato ou
um veterano, este livro certamente transforma-
rá sua forma de investir.

SAIBA MAIS:
https://www.intrinseca.com.br/livro/1283/

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