Como Investir
Como Investir
Como Investir
investir
POR QUEM MAIS ENTENDE
D O A S S U NTO
David M.
Rubenstein
Cofundador do Carlyle Group
TÍTULO ORIGINAL
How to Invest: Masters on the Craft
PREPARAÇÃO
Ilana Goldfeld
REVISÃO TÉCNICA
Guido Luiz Percú
REVISÃO
Anna Beatriz Seilhe
Ana Grillo
DIAGRAMAÇÃO
Victor Gerhardt |CALLIOPE
DESIGN DE CAPA
Michael Nagin
R83c
[2023]
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Intrínseca Ltda.
Rua Marquês de São Vicente, 99, 6º andar
22451-041 – Gávea
Rio de Janeiro – RJ
Tel./Fax: (21) 3206-7400
www.intrinseca.com.br
Achei que a empresa de livros pela internet de Jeff Bezos não poderia
superar a Barnes & Noble (e disse isso a ele em nossa reunião em seu pri-
meiro e bagunçado escritório em Seattle), motivo pelo qual acabei decidin-
do vender as minhas ações da Amazon assim que possível. Previsão ruim.
Se uma pessoa fez boas ou más previsões ao longo da vida é algo que
pode ser avaliado de maneiras diferentes de acordo com a opinião de
pessoas diferentes. Na verdade, não existe um padrão único e universal-
mente aceito para julgar o sucesso de alguém em prever o futuro e agir
com base nisso.
Ao menos quanto a esse aspecto, o mundo dos investimentos é to-
talmente distinto. A habilidade de prever o futuro e tomar medidas pre-
paratórias é bastante mensurável. No mundo dos investimentos, obter
lucro (em menor ou maior grau, dependendo do tipo de investimento) é
a essência dessa atividade.
Ao trabalhar para obter lucro, um investidor está, na verdade, fazendo
uma previsão sobre o futuro: a conveniência de possuir um determinado
ativo (ações, títulos, imóveis, moeda etc.) no futuro, com base no prová-
vel desempenho positivo desse ativo. A empresa atrairá novos clientes?
Inventará um produto desejado? No momento em que o investimento for
liquidado a economia estará forte ou fraca? As taxas de juros estarão mais
altas? As mudanças climáticas afetarão o valor dos ativos? A concorrência
será menor que o esperado?
Em outras palavras: é possível de que surjam riscos capazes de per-
turbar a crença do investidor de que um investimento funcionará e,
portanto, produzirá o resultado desejado? E quão grandes são esses
riscos?
Na vida, sempre há riscos a serem avaliados, mas nem sempre as con-
sequências podem ser medidas com precisão. No entanto, nos investi-
mentos, isso é possível, e com bastante precisão.
Embora investir seja uma atividade com séculos de existência, anti-
gamente o processo não era tão sofisticado quando confrontado com os
padrões de hoje. Desde que existe o dinheiro ou algo equivalente, as pes-
soas tentam dar um jeito de receber mais do que investiram. Os Estados
Unidos são um país que basicamente começou como um investimento.
Os colonos em Jamestown, Virgínia, chegaram em 1607 porque patro-
cinadores na Inglaterra esperavam que o acordo lhes rendesse muitas
vezes as somas que investiram na ida dos colonos até lá. Mas isso acabou
não sendo um bom investimento para esses primeiros patrocinadores.
sua disposição de ignorar o senso comum e fazer algo que os outros têm
medo de tentar.
No mundo dos buyouts, o senso comum nas décadas de 1980 e 1990
era que os buyouts não funcionavam em relação à tecnologia. Acreditava-
-se que essa indústria mudava tão rapidamente que uma empresa adqui-
rida não conseguiria pagar a própria dívida antes de seu produto tecnoló-
gico se tornar obsoleto.
Entretanto, um de meus atuais parceiros de investimentos, um espe-
cialista na área que trabalhou na Oracle e na Lotus, David Roux, discor-
dava disso. Em 1999, ele fundou a Silver Lake com a intenção de fazer
buyouts de empresas de tecnologia. Embora eu não acreditasse que aqui-
lo daria certo, a Silver Lake obteve retornos extraordinários em pouco
tempo. Hoje, quase qualquer buyout sem um foco em melhorias tecnoló-
gicas é considerado um provável fracasso.
Atenção aos detalhes. Sem dúvida, muitos excelentes investidores
se concentram em uma visão mais panorâmica: para onde está indo a
economia? Os juros vão aumentar? A inflação pode aumentar? Contu-
do, como regra geral, os grandes investidores prestam muita atenção
aos detalhes de um investimento. Querem saber tudo o que há para
saber e acreditam que a falta de cuidado com os detalhes é uma receita
para o fracasso. Assim, são esponjas de informação sobre oportunidades
de investimento.
Reconhecimento dos erros. Grandes investidores podem ter grandes
egos, mas são capazes de admitir erros, reduzir perdas e partir para a
oportunidade seguinte, na maioria das vezes sem ficar olhando para trás.
Com certeza, essa é uma característica que eu não tenho. Sempre trago
à tona o passado, relembro os erros que cometi ao não visar um deter-
minado investimento ou ao buscar um investimento que não funcionou.
Mas estou melhorando, e agora só olho para uma década atrás, em vez de
duas ou três.
Dedicação. Grandes investidores parecem ter uma obsessão com
o que fazem profissionalmente e, portanto, são, o que não surpreende
ninguém, trabalhadores dispostos a dedicar as horas necessárias para
dominar o conjunto de habilidades de que precisam para o seu tipo de
investimento. Talvez seja possível ser um grande investidor trabalhando
algumas horas por dia, contando com outros para fazer o trabalho essen-
cial para identificar uma oportunidade de investimento. Mas isso é raro.
Grandes investidores tendem a ser workaholics, embora não considerem
aplicações que duram mais tempo são muitas vezes aquelas que tiveram
dificuldades para obter os retornos nos níveis desejados, e, muitas vezes,
há a inevitável esperança de que as coisas melhorem em caso de mais es-
forço nos dois ou três anos seguintes. Em alguns casos, as vendas atrasam
porque os vendedores têm expectativas grandiosas de retorno e se tor-
nam gananciosos quando não vendem em níveis considerados aceitáveis.
Como regra geral, bons investidores sabem quando comprar e quando
vender, não se apaixonam por seus investimentos e reconhecem não ape-
nas o valor de comprar pelo preço certo, como também, e mais importan-
te, de vender na hora certa.
Tais conclusões, vindas de alguém que passou grande parte da
vida profissional trabalhando com investimentos privados, podem não
fornecer o tipo de aconselhamento genérico de investimento que no-
vos ou potenciais investidores estão procurando. Então, pensei que
também poderia ser útil fornecer os meus conselhos básicos para tais
indivíduos. E fiz isso a partir de dois pontos de vista: investimentos
feitos diretamente por um indivíduo e investimentos feitos indireta-
mente por um indivíduo (ou seja, através de um fundo administrado
por terceiros).
Investir diretamente
Para investidores não profissionais que desejam o prazer e a emoção (em-
bora às vezes o risco e a dor) de investir o seu capital diretamente, ou
seja, escolher ações ou títulos ou fazer buyouts, ou investir diretamente
em empreendimentos ou imóveis, ofereço as seguintes ponderações:
deseja mesmo ter sucesso, trabalhar nessa área deve ser um ver-
dadeiro prazer e não apenas um trabalho.
3. Procure mentores, indivíduos que o guiarão através dos desafios
de reunir conhecimento especializado. Invariavelmente, o cami-
nho para o sucesso é facilitado com a orientação e o apoio de
mentores, indivíduos que estão na sua área de atuação ou mesmo
fora dela. Conselhos sábios e apresentações úteis a outras pessoas
nunca fazem mal. (Com o tempo, adquirir o hábito de orientar a
geração seguinte também pode ser muito recompensador e útil
para a própria carreira.)
4. Procure uma ou duas pessoas com quem possa fazer parceria à
medida que você ganha experiência e se desenvolve. Às vezes, in-
vestir pode ser um negócio solitário, mas investidores talentosos
costumam ter parceiros para preencher lacunas em suas próprias
áreas de especialização e conhecimento. Não acredite que você
é um gênio do investimento que não precisa de ninguém para
ajudá-lo com frequência.
5. Busque construir uma rede de contatos em sua área geral de in-
teresse, mas também fora dela. Uma rede pode ajudá-lo a obter
informações melhores quando você precisar, além de fornecer
oportunidades, ideias, investidores, colegas e exposição a um
mundo mais abrangente. Os melhores investidores têm ao seu
alcance uma ampla e variada rede de contatos.
6. Esteja preparado quando tiver reuniões (pessoais ou virtuais)
com colegas, parceiros e, de fato, com todo mundo. Às vezes, im-
provisar pode parecer divertido ou revigorante, mas a verdade é
que os melhores investidores — e profissionais — se preparam
para as muitas reuniões e conversas que realizam inevitável e re-
gularmente. Eles sabem o que querem de uma reunião e invaria-
velmente o conseguem.
7. Mantenha seus compromissos e promessas. Fazer isso melhorará
a sua reputação, além de aumentar a probabilidade de seus inves-
tidores, colegas e mentores quererem trabalhar com você mais de
perto. Faltar com seus compromissos é um dos pecados mais co-
muns no mundo profissional, inclusive no mundo dos investi-
mentos.
8. Concentre-se em construir uma reputação de humildade, coo-
peração e comportamento ético. É fácil se tornar arrogante com
Talvez todos os itens acima sejam óbvios. Mas, às vezes, o óbvio pode
passar despercebido. Penso muitas vezes que gostaria de ter dado todos
esses passos quando estava me preparando, no início da carreira de in-
vestidor. Eu teria evitado muitos erros.
Repito: realizar todas as etapas acima não garantirá o sucesso de um
jovem ou potencial investidor, mas isso não lhe trará problemas nem pre-
judicará a sua carreira. É quase certo que o ajudará.
Uma última observação: sua carreira como investidor será muito mais
recompensadora se acreditar que esse tipo de atividade é benéfico não
apenas para você, como também para a sua sociedade, a sua economia e o
seu país. Se você vê o investimento apenas como uma maneira de ganhar
mais dinheiro do que é possível ganhar em outra profissão, nunca terá a
intensidade, a motivação e a alegria necessárias para ter sucesso nessa
linha de trabalho. E perderá muito da alegria de investir (e de viver). No
fim das contas, dinheiro não é tudo.
SAIBA MAIS:
https://www.intrinseca.com.br/livro/1283/