Watchman Nee - O Homem Espiritual
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Watchman Nee
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Índice
A C ARNE 70
1. A CARNE E A SALVAÇÃO ......................................................
2. O CRENTE CARNAL..........................................................
3. A CRUZ E O ESPÍRITO SANTO ..................................................
4. A JACTÂNCIA DA CARNE .......................................................
5. A ATITUDE DEFINITIVA DO CRENTE COM A CARNE ......................................
A A LMA 134
1. A LIBERTAÇÃO DO PECADO E A VIDA DA ALMA ........................................
2. A EXPERIÊNCIA DOS CRENTES ANÍMICOS............................................
3. OS PERIGOS DA VIDA ANÍMICA ...................................................
4. A CRUZ E A ALMA ............................................................
5. OS CRENTES ESPIRITUAIS E A ALMA ...............................................
O C ORPO 210
1. O CORPO DO CRENTE ........................................................
2. AS DOENÇAS...............................................................
3. DEUS, A VIDA DO CORPO ......................................................
4. VENCENDO A MORTE .........................................................
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Primeiro Prólogo
Dou graças de todo coração ao Senhor, ao qual sirvo, porque me deu
o privilégio de poder escrever este livro. Sempre tinha esperado que
alguém mais capacitado que eu se encarregaria de fazê-lo, mas o Senhor
se agradou em me chamar para que o fizesse. Se a escolha houvesse
dependido de mim, teria sido o último a escrevê-lo, porque tenho muito
poucos desejos de escrever um livro assim. Minha vacilação não depende
de que fuja de fazer meu dever, mas sim do fato de que um livro como
este, que trata do caminho da vida espiritual e da estratégia da guerra
espiritual, sem dúvida alguma está acima das possibilidades de uma
pessoa que tem menos de 10 anos de experiência de vida no Senhor.
Já sabemos que a Bíblia permite a um crente que testemunhe sua
experiência, e o Espírito Santo inclusive o guia a fazê-lo. Quão melhor é,
no entanto, se tais experiências como o «ser levado ao terceiro céu» são
contadas «quatorze anos depois»! Bem, eu não tenho nenhuma
experiência do «terceiro céu», nem tampouco recebi nenhuma grande
revelação, mas por Sua graça aprendi a seguir ao Senhor nas pequenas
coisas. Assim, minha intenção nesta obra só é comunicar aos filhos de
Deus o que recebi do Senhor durante estes anos.
Faz uns quatro anos que me senti chamado a escrever um livro
semelhante.
Naquele momento estava descansando, recuperando forças, em uma
pequena cabana junto ao rio, orando e lendo a Palavra. Senti a urgente
necessidade de um livro — apoiado na Palavra e na experiência — que
desse aos filhos de Deus uma clara compreensão da vida espiritual, a fim
de que o Espírito Santo pudesse usá-lo para guiar os santos em seu avanço
e para os libertar de ter que andar apalpando na escuridão.
Foi então que vi que o Senhor me tinha designado para realizar esta
tarefa.
Comecei a compor os capítulos que tratam da diferenciação do
espírito, da alma e do corpo, um capítulo sobre o corpo, e também a
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primeira parte do capítulo que fala da vida da alma. Mas logo deixei de
escrever. Havia muitas outras coisas para fazer além desta. Entretanto,
este não era o principal obstáculo, porque ainda podia encontrar
oportunidades de escrever. A principal razão foi que naquele tempo eu
não havia comprovado totalmente em minha experiência pessoal muitas
das verdades sobre o tema que desejava escrever. Eu sabia que isto
reduziria o valor e também a força do livro. Preferi aprender mais no
Senhor e provar suas verdades através de minha experiência. Deste modo
o que escreveria seriam realidades espirituais em lugar de meras teorias
espirituais. Assim, suspendi o trabalho durante três anos.
Posso afirmar que durante estes três anos, tive o livro em meu
coração diariamente. Embora alguns, possivelmente, considerassem que
este livro deveria ter sido publicado faz tempo, eu podia ver claramente a
mão do Senhor. Nestes anos, as verdades contidas neste livro,
especialmente as que estão no último volume, livraram muitos do poder
das trevas, demonstrando que havíamos tocado a realidade espiritual.
Pela graça extraordinária do Senhor pude compreender mais sobre o
propósito da redenção de Deus ao separar a criação nova e a velha. Louvo
ao Senhor por isso. O Senhor também me deu a oportunidade de conhecer
muitos de seus eleitos mais extraordinários durante minhas viagens. Isto
aumentou minha observação, meu conhecimento e minha experiência. Em
meus contatos com as pessoas, o Senhor não só me mostrou aquilo de que
carecem seriamente seus filhos, mas também qual é o remédio revelado
em sua Palavra. Assim, permitam dizer a meus leitores que este é um
manual sobre a vida espiritual e que se pode provar cada um de seus
pontos pela experiência.
Devido à minha particular experiência no corpo físico durante os
últimos anos, foi-me concedido saber mais da realidade da eternidade e
também da grande dívida que tenho com a igreja de Deus. Portanto,
esperei poder terminar este livro em pouco tempo. Graças a Deus Pai e a
alguns de meus amigos no Senhor tive um lugar tranqüilo para descansar
e escrever. Em poucos meses tinha terminado da Primeira até a Quarta
parte.
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Embora ainda não tenha começado as outras partes, estou certo que
Deus Pai me proverá da graça necessária no momento oportuno.
Agora que este volume será publicado em breve e que logo lhe
seguirão os outros volumes, me permitam que lhes fale com franqueza:
aprender as verdades deste livro não foi fácil, e escrever foi ainda mais
difícil. Posso dizer que durante dois meses vivi diariamente entre as
garras de Satanás. Que luta! Que oposição! Convoquei todas as forças de
meu espírito, de minha alma e de meu corpo para lutar contra o inferno.
Agora se suspenderam temporariamente as batalhas, mas ainda
terei que escrever mais partes.
Vocês que são Moisés na montanha, por favor, não se esqueçam de
Josué no vale.
Sei que o inimigo odeia profundamente esta obra. Tentará por todos
os meios impedir que chegue às mãos das pessoas e os impedirá que a
leiam. Oh, não permitam que o inimigo saia vencedor!
Este livro, que terá três volumes, não será escrito em forma de
sermão ou de exposição. Há grandes diferenças de tratamento dos
diferentes temas, e os leitores devem perceber isso. Embora todos os
volumes tratem da vida e da guerra espirituais, algumas seções
possivelmente tratam com mais insistência da vida espiritual, enquanto
que outras o fazem na guerra espiritual. O livro, em conjunto, é preparado
para servir como guia; daí que sua ênfase esteja principalmente em como
andar por este caminho, mais do que em persuadir às pessoas para que o
siga. Será escrito mais para ajudar os que procuram saber como andar no
caminho espiritual, do que para persuadir às pessoas que procuram
conhecer o caminho. Que possam achar ajuda em suas páginas todos os
que têm o coração disposto para o Senhor.
Percebo perfeitamente que a vida espiritual dos leitores pode variar
tremendamente. Por isso, se se depararem com pontos difíceis de
compreender, lhes rogo que nem os rejeitem nem tentem entendê-los
mentalmente. Essas verdades devem ser reservadas para uma vida mais
amadurecida. Mais adiante (por exemplo, duas semanas ou um mês), ao
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reler essa parte difícil, possivelmente a compreenderão melhor. Apesar de
tudo, este livro trata totalmente da vida espiritual como experiência.
Não se pode compreender de nenhuma outra forma. Verão isso
quando chegarem a essa etapa. Mas é mesmo preciso esperar até chegar a
essa etapa? Em caso de ser assim, que utilidade tem um livro? A
experiência espiritual de um crente está rodeada de um grande mistério.
O Senhor sempre lhe dá uma amostra do que é uma vida mais profunda,
antes de guiá-lo a uma experiência plena. Muitos crentes confundem a
amostra com o total e não se dão conta de que o Senhor apenas começa a
guiá-los para a plenitude. O ensino deste livro satisfará a necessidade dos
que provaram a amostra, mas que ainda não absorveram o completo.
Há uma coisa que devemos evitar: Não usemos jamais o
conhecimento que tiremos deste livro para nos analisar. Se à luz de Deus
vemos luz, nos conheceremos sem perder nossa liberdade no Senhor. Mas
se passarmos o dia nos analisando, dissecando nossos pensamentos e
sentimentos, isto nos impedirá de aprofundar em Cristo. A menos que o
crente seja ensinado profundamente pelo Senhor, não pode conhecer-se. A
introspecção e o ser conscientes de nós mesmos são prejudiciais para a
vida espiritual.
Seria bom refletir sobre o plano redentor de Deus. O propósito de
Deus é que, por meio da nova vida que nos dá ao nos regenerar, Ele possa
nos libertar de:
1) o pecado,
2) o natural, e
3) o sobrenatural, ou seja, o poder satânico do mal no reino invisível.
São necessários estes três passos de libertação; não podemos omitir
nenhum deles. Se um cristão limitar a obra redentora de Deus por se
contentar em simplesmente vencer o pecado, ficará longe do propósito de
Deus. Terá que vencer a vida natural (o eu) e também terá que vencer o
inimigo sobrenatural. É obvio, é bom vencer o pecado, mas a obra não
será completa se ficarem sem conquistar o eu natural e o mal sobrenatural.
A cruz pode nos conseguir esta vitória. Espero que pela graça de Deus
possa pôr ênfase sobre estes pontos no momento oportuno.
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Exceto a última parte do volume final, que falará do corpo, pode-se
considerar que este livro é psicologia bíblica. O baseamos todo na Bíblia e
o demonstramos com a experiência espiritual. O resultado de nossos
achados, tanto no estudo da Palavra como na experiência, diz-nos que,
com cada experiência espiritual (por exemplo, o novo nascimento),
realiza-se uma mudança especial em nosso homem interior. Chegamos à
conclusão de que a Bíblia divide o homem em três partes: o espírito, a
alma e o corpo.
Mais adiante veremos quão diferentes são as funções e a
esfera/território destas três partes, em especial as do espírito e da alma.
Com referência a isto, tenho que dizer umas palavras sobre a Primeira
parte deste primeiro volume. A diferenciação do espírito e da alma, assim
como a diferença em suas funções, são um conhecimento necessário para
os que tentam crescer na vida espiritual. Só depois de saber o que é o
espírito e o que é espiritual se poderá andar no espírito. Devido à grande
falta destes ensinos procurei explicá-los detalhadamente. Aos crentes com
certo preparo, esta Primeira parte não lhes será difícil de entender, mas os
que não estão familiarizados com estudos semelhantes, somente têm que
lembrar das conclusões e com isso podem prosseguir para a Segunda
parte. A Primeira parte, pois, não trata especificamente da vida espiritual,
só nos proporciona uns conhecimentos básicos necessários para a vida
espiritual. Esta parte poderá ser melhor entendida se a reler após ter
completado a leitura de todo o livro.
Não sou o primeiro a defender o ensino da divisão entre espírito e
alma. Em uma ocasião, Andrew Murray disse que o que as Igrejas e as
pessoas tinham de ter pânico é da atividade excessiva da alma, com seu
poder sobre a mente e a vontade.
F. B. Meyer afirmou que, se não tivesse conhecido a divisão do
espírito e a alma, não poderia imaginar como teria sido sua vida
espiritual. Muitos outros, como Otto Stockmayer, Jessie Penn-Lewis, Evan
Roberts, Madame Guyon, deram o mesmo testemunho.
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Utilizei livremente seus escritos, visto que todos recebemos a mesma
ordem do Senhor; assim, decidi não assinalar suas muitas citações.*
Este livro não só está escrito para os crentes como tais, mas também
para ajudar aos que são mais jovens que eu no serviço do Senhor. Nós que
somos responsáveis pela vida espiritual de outros, deveríamos saber do
que e a que os guiamos: de onde e para onde. Se nós ajudarmos às
pessoas, negativamente para que não pequem e positivamente para que
sejam zelosos, será isso tudo o que o Senhor quer que façamos? Ou
possivelmente há algo mais profundo? Pessoalmente creio que a Bíblia o
diz categoricamente. O propósito de Deus é que seus filhos têm que livrar-
se por completo da velha criatura e que têm que passar por completo à
nova criatura. Não importa o que a velha criatura possa parecer ao
homem, está totalmente condenada por Deus. Se nós, obreiros, sabemos o
que tem que ser destruído e o que tem que ser construído, então não
somos como cegos que guiam a outros cegos.
O novo nascimento — receber a própria vida de Deus — é o ponto
de partida de toda vida espiritual.
Que inútil é, se o resultado final de toda nossa exortação, persuasão,
argumentação, explicação e estudo, é unicamente produzir certo
entendimento na mente, certa determinação na vontade e certo sentimento
na emoção! Isto não serve às pessoas para receber a vida de Deus em seu
espírito.
Mas, se nós, que somos responsáveis por pregar o evangelho,
compreendemos de verdade que se as pessoas não receberem a vida de
Deus nas profundezas de seu ser, não teremos feito nada proveitoso,
então, que transformação tão radical haverá em nossa obra! É obvio que
este conhecimento nos levará a ver que muitos que professam acreditar no
Senhor Jesus nunca o fizeram realmente. Lágrimas, penitência,
transformação, zelo e trabalho; estas não são as marcas essenciais do
cristão. Bem-aventurados somos se sabemos que nossa responsabilidade é
levar a homem a receber a vida incriada de Deus.
*
Serão acrescentadas as entrevistas onde se possam encontrar. (N. do tradutor.)
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Quando recordo como o inimigo tentou me impedir de aprender as
verdades escritas no último volume, não posso evitar ter medo de que
alguns, embora tenham o livro, Satanás possa impedi-los de lê-lo. Ou, se o
lerem, fará que logo o esqueçam.
Assim, me permitam advertir meus leitores: deveriam pedir a Deus
que não deixe que Satanás os impeça de lê-lo. Orem enquanto lêem.
Convertam em oração o que lerem. Orem para que Deus os cubra com o
capacete da salvação, para que não se esqueçam do que lêem nem que
simplesmente lhes encham a cabeça de inumeráveis teorias.
Umas breves palavras para os que já possuem as verdades contidas
nas páginas seguintes. Se Deus, em sua misericórdia, os livrou da carne e
do poder das trevas, vocês, por sua parte, deveriam levar estas verdades a
outros. Assim, quando tiverem assimilado totalmente o livro e tenham
feito suas essas verdades, reunirão a uns quantos santos e lhes ensinarão
as verdades. Se for excessivo usar todo o livro, então poderiam aproveitar
uma ou duas partes. Minha esperança é que estas verdades não
permaneçam ignoradas. Inclusive seria proveitoso presentear o livro a
outros para que o leiam.
Agora que este pequeno tratado está nas mãos do Senhor, se for de
Seu agrado, que o abençoe para crescimento espiritual e vitória espiritual
em mim, assim como em muitos de meus irmãos e irmãs. Que se faça a
vontade de Deus. Que Seu inimigo seja derrotado. Que nosso Senhor Jesus
volte logo para reinar. Amém.
Shanghai, 4 de junho de 1 927
Watchman Nee
Segundo Prólogo
Estou muito contente porque terminei a última parte do livro.
Recordo que quando escrevi o primeiro prólogo tinha completado só as
quatro primeiras partes. Tendo já feitas estas seis últimas, vejo que ainda
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tenho muito que compartilhar com meus leitores. Daí este segundo
prólogo.
Passaram muitos meses desde que comecei a escrever esta parte
final do livro. Posso dizer,sem medo de mentir, que levei a carga desta
obra dia após dia. É natural que o inimigo odeie a propagação da verdade
de Deus. Em conseqüência, me tem atacado e assaltado sem cessar.
Graças a Deus que Sua graça me tem sustentado até agora. Muitas vezes
pensei que era impossível continuar escrevendo devido à pressão muito
forte que meu espírito tinha que suportar e que a resistência de meu corpo
era muito fraca. Sim, inclusive cheguei a me desesperar da vida. No
entanto, todas as vezes que me senti abatido, fortaleceu-me o Deus a
quem sirvo, segundo Sua promessa e por meio das orações de muitos.
Hoje terminei a tarefa e me livrei da carga. Que alívio sinto!
Hoje, reverentemente, ofereço este livro a nosso Deus. Posto que
levou a cabo o que Ele começou, minha oração diante dEle é que abençoe
estas páginas para que cumpram sua missão em sua igreja. Peço a Deus
que abençoe a todos os leitores para que possam encontrar o caminho reto
e aprendam a seguir ao Senhor totalmente. A partir de agora, meu
espírito, junto com minha oração, segue o curso posterior desta obra. Que
Deus a use segundo Sua perfeitíssima vontade.
Irmãos, considera-se prudente que um escritor não mostre muito
entusiasmo por sua própria obra, mas agora vou ignorar este precedente.
Faço-o não por ter escrito o livro, mas sim pelo depósito de verdade que
há nele. Se outro o tivesse escrito , creio que me sentiria mais livre para
atrair a atenção das pessoas para ele. Assim, devo lhes pedir perdão por
ter que falar como se não fosse meu. Conheço a importância das verdades
contidas neste livro, e pelo conhecimento que tenho da vontade de Deus,
creio que vão satisfazer as urgentes necessidades desta era.
De uma coisa estou certo, por mais que esteja equivocado em outras
coisas: não tinha a mínima intenção de realizar esta tarefa, e se a escrevi,
foi unicamente porque o Senhor me ordenou fazê-lo. As verdades destas
páginas não são minhas, Deus as deu a mim. Inclusive enquanto o
escrevia, Deus me abençoou com muitas bênçãos novas.
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Desejo que meus leitores entendam claramente que não têm que
considerar esta obra em absoluto como um tratado sobre a teoria da vida e
a campanha de guerra espirituais. Eu mesmo posso testemunhar que
aprendi estas verdades através de muito sofrimento, provas e fracassos.
Quase se pode dizer que cada um destes ensinamentos foram marcados
com fogo. E não digo estas palavras à toa: saem do profundo do coração.
Deus sabe bem de onde procedem estas verdades.
Ao compor os volumes, não tentei agrupar os princípios similares
ou relacionados entre si. Simplesmente os mencionava quando surgia a
necessidade. Em consideração à sua extrema importância possivelmente
tenha tocado uma ou mais verdades muitas vezes, esperando que deste
modo os filhos de Deus as recordem melhor. Só por meio da repetição se
reterão as verdades e só se aprenderão estudando-as.
«Assim pois a palavra do Senhor lhes será preceito sobre preceito,
preceito sobre preceito; regra sobre regra, regra sobre regra; um pouco
aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e fiquem
quebrantados, enlaçados, e presos. Porquanto dizeis: Fizemos pacto com a
morte, e com o Seol fizemos aliança; quando passar o flagelo trasbordante,
não chegará a nós; porque fizemos da mentira o nosso refúgio, e debaixo
da falsidade nos escondemos.» (Is. 28:13, 15).
Percebo que aparentemente há muitas contradições na obra, mas o
leitor deve lembrar que são só aparentes, e não reais. Como este livro trata
de assuntos do reino espiritual, está exposto a muitas aparentemente
contradições teóricas . Freqüentemente as coisas espirituais parecem
contraditórias (2Co. 4:8,9). Não obstante, todas encontram sua perfeita
harmonia na experiência. Por esta razão, embora haja coisas que parecem
impossíveis de compreender, lhes peço que ponham todo seu empenho
em compreendê-las. Se alguém deseja fazer uma interpretação errônea,
sem dúvida alguma que poderá tirar destas páginas coisas diferentes das
que eu quis comunicar.
Tenho a impressão de que só um tipo de pessoa compreenderá
seriamente este livro. Meu propósito original era prover às necessidades
de muitos crentes. Está claro que só os que tenham necessidade poderão
apreciar o livro. Esses encontrarão aqui uma direção. Outros considerarão
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que estas verdades são ideais, ou as criticarão por achá-las inadequadas. O
crente compreenderá o que está escrito aqui segundo a medida de sua
necessidade. Se o crente não tiver uma necessidade pessoal, não resolverá
nenhum problema com a leitura destas páginas. Isto é o que o leitor deve
evitar.
Quanto mais profunda é a verdade, mais fácil é acabar teorizando.
Sem a obra do Espírito Santo ninguém pode alcançar verdades profundas.
Deste modo alguns tratarão estes princípios como uma espécie de ideal.
Assim, tomemos cuidado de não aceitar novamente estes ensinamentos do
livro na mente e nos enganar pensando que já nos tínhamos apoderado
deles. Isto é muito perigoso, porque o engano que vem da carne e do
espírito maligno irá crescer dia a dia.
O leitor também deve vigiar para não usar o conhecimento que
obtenha destas páginas para criticar outros. É muito fácil dizer que isto é
do espírito e que aquilo é da carne, mas por acaso não sabemos que nós
mesmos não somos nenhuma exceção?
Recebemos a verdade para libertar as pessoas, não para encontrar
defeitos. Ao criticar, convencemos a nós mesmos que somos menos
anímicos ou carnais que os que criticamos. O perigo é muito sério, e em
conseqüência devemos ser muito prudentes.
Em meu primeiro prólogo mencionei um assunto que merece ser
repetido e ampliado aqui. É da maior importância que jamais tentemos
nos analisar. Ao ler um tratado como este, sem nos apercebermos,
podemos estar fazendo ativamente auto-análise. Ao observar o estado de
nossa vida interior, tendemos a analisar em excesso nossos pensamentos e
sentimentos e os movimentos do homem interior.
Isso pode resultar em muito progresso aparente, embora na
realidade só consegue que o tratamento da vida interior seja muito mais
difícil. Se persistimos em nos analisar, perderemos nossa paz por
completo, porque de repente descobrimos a discrepância existente entre o
que esperamos e nosso estado real.
Esperamos estar cheios de santidade, mas descobrimos que nos falta
santidade. Isto nos inquieta e nos preocupa. Deus não nos pede nunca que
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façamos este excesso de introspecção. Fazê-lo constitui uma das principais
causas do estancamento espiritual. Nosso descanso está em olhar para o
Senhor, não para nós mesmos. Seremos livres de nosso eu, na medida em
que olhemos para o Senhor. Descansemos na obra consumada do Senhor
Jesus Cristo, não em nossa experiência cambiante. A verdadeira vida
espiritual não depende de contínuos exames de sentimentos e
pensamentos, mas sim de olhar para o Salvador.
Que nenhum leitor se confunda e pense que deve se opor a todo
acontecimento sobrenatural. Minha intenção é simplesmente que fique
bem gravada a necessidade de comprovar se algo é ou não é de Deus.
Acredito muito sinceramente que muitas experiências sobrenaturais
vêm de Deus. Fui testemunha de grande número delas. Entretanto, devo
reconhecer que, na atualidade, muitos fenômenos sobrenaturais são falsos
e enganosos. Não tenho a mínima intenção de convencer ninguém de que
rejeite todo o sobrenatural.
Simplesmente assinalo neste livro as diferenças básicas de principio
entre estes dois tipo de manifestações.
Quando um crente se depara com qualquer fenômeno sobrenatural,
deveria examiná-lo cuidadosamente segundo os princípios revelados na
Bíblia, antes de decidir se o aceita ou o rejeita.
Quanto ao tema da alma, sinceramente creio que a maioria dos
cristãos oscilam de um extremo ao outro.
Por um lado costumamos considerar que a emoção é anímica, e em
conseqüência rapidamente catalogamos de anímicos aos que se
emocionam ou se entusiasmam com facilidade. Por outro lado
esquecemos que ser racional não faz absolutamente ninguém espiritual.
Este entendimento errôneo de espiritualizar uma vida racional deve ser
evitado, da mesma maneira que também terá que evitar o julgamento
errôneo de confundir uma vida predominantemente emocional com
espiritualidade.
E outra coisa mais: não devemos jamais reduzir a função de nossa
alma a uma inatividade mortal. Antes, possivelmente, nunca tínhamos
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contemplado nosso sentimento e nossa emoção anímica com um pouco de
interesse e vivemos de acordo com esse fato.
Entretanto, mais adiante percebemos nosso engano e então
suprimimos estas emoções por completo. Uma atitude semelhante pode
parecer-nos muito boa mas não nos fará mais espirituais. Se meu leitor
entender erroneamente este ponto — e pouco importa se pouco ou muito
—, sei que sua vida «se secará». Por que? Porque seu espírito, sem
nenhuma oportunidade de expressar-se, ficará aprisionado por uma
emoção amortecida. E depois disto há outro perigo: que ao suprimir em
excesso sua emoção, o crente terminará convertendo-se em um homem
racional, não espiritual, e desta maneira continuará sendo anímico,
embora de uma forma diferente. Entretanto, a emoção da alma, se
expressa o sentimento do espírito, é muito valioso, e, por sua vez, o
pensamento da alma, se revela o pensamento do espírito, pode ser muito
instrutivo.
Eu gostaria de dizer algo sobre a parte final do livro. Tendo em
conta a fragilidade de meu corpo, pareceria inadequado escrever sobre
este assunto, mas possivelmente esta mesma fragilidade me permite uma
maior penetração pois que sofro de mais fraqueza, enfermidade e dor que
a maioria das pessoas.
Em incontáveis ocasiões parecia que eu ia me desanimar, mas graças
a Deus pude terminar de escrever esta parte. Espero que os que tenham
tido experiências similares em seu caminho terrestre aceitarão o que tenho
escrito como um oferecimento da luz que consegui nas trevas em que
estive andando. Obviamente, são inúmeras as controvérsias que se
suscitaram por toda parte sobre a cura divina. Visto que este é um livro
que trata basicamente de princípios, recuso entrar em discussão com
outros crentes sobre detalhes. Tenho dito no livro o que me senti guiado a
dizer. O que agora peço ao leitor é que nos fenômenos de enfermidade
discirna e distingua o que é de Deus e o que é de si mesmo.
Confesso que há muitas coisas incompletas neste livro. Entretanto,
pus todo meu empenho nele e lhes ofereço isso.
Conhecendo a seriedade da mensagem contida, pedi a Deus com
temor e tremor que me guiasse em tudo. O que aqui tem escrito o
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apresento à consciência dos filhos de Deus; lhes corresponde meditar
sobre o que tenho dito.
Reconheço que uma obra que tenta revelar as estratagemas do
inimigo provocará, sem dúvida alguma, a hostilidade do poder das trevas
e a oposição de muitos. Não tenho escrito com a idéia de procurar a
aprovação dos homens. Em conseqüência, não me afeta esta oposição.
Também compreendo que se os filhos de Deus obtêm ajuda da leitura
deste livro pensarão em mim mais do que convêm. Me permitam dizer-
lhes sinceramente que sou só um homem, o mais fraco dos homens. Os
ensinamentos destas páginas revelam as experiências das minhas
fraquezas.
Hoje o livro está nas mãos dos leitores. Isto é devido totalmente à
misericórdia de Deus. Se tiverem o valor e a perseverança de ler a
Primeira parte e de continuar em seguida com as demais possivelmente
Deus os abençoará com Sua verdade. Se já terminou de ler toda a obra,
suplico-lhes que volte a ler daqui a um tempo.
Amados, voltemos uma vez mais nossos corações a nosso Pai, nos
aconcheguemos a seu seio por fé e dEle tiremos vida. Confessemos de
novo que somos pobres, mas que Ele é rico; que não temos nada, mas que
Ele tem tudo. Sem sua misericórdia somos pecadores indefesos.
Agradeçamos com gratidão em nossos corações porque o Senhor Jesus nos
deu graça.
Pai Santo, o que me confiaste agora está aqui neste livro. Se te
parecer bom, abençoa-o. Nestes últimos dias guarda a seus filhos da carne
corrupta e dos espíritos malignos! Pai, edifica o Corpo de Teu Filho,
destrói o inimigo de Teu Filho e apressa a vinda do Reino de Teu Filho!
Deus Pai, olho para Ti, me entrego a Ti e Te desejo!
Shanghai, 25 de junho de 1928
Watchman Nee
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Primeira Parte
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«Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante
do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a
divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta
para discernir os pensamentos e intenções do coração.»
(Hb. 4:12).
A CRIAÇÃO DO HOMEM
«E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e
soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-
se alma vivente.» (Gn. 2:7).
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diferença ao afirmar que «O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito
que somos filhos de Deus». O original da palavra «vida» em «fôlego de
vida» é chay e está no plural. Isto pode referir-se ao fato de que o sopro
realizado por Deus produziu uma vida dupla, anímica e espiritual.
Quando o fôlego de Deus entrou no corpo do homem, se converteu no
espírito do homem, mas quando o espírito reagiu com o corpo, se criou a
alma. Isto explica a origem de nossas vidas espiritual e anímica.
Devemos reconhecer, entretanto, que esse espírito não é a própria
vida de Deus, porque «O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-
Poderoso me dá vida» (Jó 33:4).
Não é a entrada no homem da vida incriada de Deus, como
tampouco é a vida de Deus que recebemos na regeneração. O que
recebemos no novo nascimento é a própria vida de Deus simbolizada pela
árvore da vida. Mas nosso espírito humano, embora exista
permanentemente, está vazio de «vida eterna».
«Formou o homem do pó da terra» se refere ao corpo do homem;
«soprou em seu nariz o fôlego de vida» se refere ao espírito do homem ao
vir de Deus; e «o homem se tornou uma alma vivente» se refere à alma do
homem quando o corpo foi avivado pelo espírito e convertido em um
homem vivo e consciente de si mesmo. Um homem completo é uma
trindade: composto de espírito, alma e corpo. Segundo Gênesis 2:7, o
homem foi feito de só dois elementos independentes, o corporal e o
espiritual. Mas quando Deus pôs o espírito dentro da armação de terra se
criou a alma. O espírito do homem, ao entrar em contato com o corpo
morto, produziu a alma. O corpo separado do espírito estava morto, mas
com o espírito, o homem recebeu a vida. O órgão assim vivificado foi
chamado alma.
«O homem se converteu em uma alma vivente» expressa, não
meramente o fato de que a combinação de espírito e corpo produziu a
alma, também sugere que o espírito e o corpo foram totalmente fundidos
nesta alma. Em outras palavras, a alma e o corpo se combinaram com o
espírito, e o espírito e o corpo se fundiram na alma.
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«Adão, antes da queda, não sabia nada desta incessante
luta do espírito e da carne, que são já algo cotidiano para
nós. Havia uma perfeita mistura de suas três naturezas em
uma, e a alma, como meio unificador, converteu-se na
causa de sua individualidade, de sua existência como ser
distinto»
(Earth's Earliest Age, do Pember).
O homem foi desenhado como alma vivente porque era ali onde o
espírito e o corpo se encontraram e é através dela que se conhece sua
individualidade.
Possivelmente poderíamos usar uma ilustração imperfeita: joguem
umas gotas de tintura em um copo de água. O tintura e a água se
combinarão produzindo uma terceira substância chamada tinta. De igual
maneira os dois elementos independentes do espírito e o corpo se
combinam para converter-se em uma alma humana. (A analogia falha em
que a alma produzida pela combinação do espírito e o corpo se converte
em um elemento independente e indissolúvel como o são o espírito e o
corpo.)
Deus considerou a alma humana como algo único. Como os anjos
foram criados como espíritos, o homem foi criado de maneira
predominante como alma vivente. O homem não só tinha um corpo, um
corpo com o fôlego de vida; também se converteu em uma alma vivente.
Por isso veremos mais adiante na Bíblia, que Deus freqüentemente se
refere aos homens como «almas». Por que? Porque o que o homem é
depende de como é sua alma. Sua alma o representa e expressa sua
individualidade. É o órgão da livre vontade do homem, o órgão no qual o
espírito e o corpo estão totalmente fundidos. Se a alma do homem quer
obedecer a Deus, permitirá que o espírito governe o homem conforme o
ordenado por Deus. A alma, se o decidir, também pode reprimir o espírito
e tomar algum prazer como senhor do homem.
Pode-se ilustrar em parte esta trindade de espírito, alma e corpo com
uma lâmpada elétrica. Dentro da lâmpada, que pode representar o
conjunto do homem, há eletricidade, luz e arame.
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O espírito é como a eletricidade, a alma é a luz e o corpo é o arame.
A eletricidade é a causa da luz, enquanto que a luz é o efeito da
eletricidade. O arame é a substância material para transportar a
eletricidade, para manifestar a luz. A combinação do espírito e do corpo
produz a alma, que é única do homem. De maneira que a eletricidade,
transportada pelo arame, é expressa na luz, assim também o espírito atua
sobre a alma, e a alma, por sua vez, se expressa por meio do corpo.
Entretanto, devemos lembrar bem que enquanto a alma é o ponto de
encontro dos elementos de nosso ser nesta vida presente, o espírito será o
poder dominante em nosso estado de ressurreição. Porque a Bíblia nos
diz: «semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Há um corpo
natural, e há um corpo espiritual» (1 Co. 15:44). Entretanto, aqui há um
ponto vital: nós que fomos unidos ao Senhor ressuscitado podemos
conseguir inclusive agora que nosso espírito governe todo nosso ser. Não
estamos unidos ao primeiro Adão, que foi feito uma alma vivente, mas
sim ao último Adão, que é um espírito vivificador («ou que dá vida») (v.
45).
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O poder da alma é o mais importante, posto que o espírito e o corpo
estão fundidos ali e a têm como sede da personalidade e influência do
homem. Antes de que o homem pecasse, o poder da alma estava
completamente sob o domínio do espírito. Em conseqüência, sua força era
a força do espírito. O espírito não pode atuar sobre o corpo por si mesmo,
só fazê-lo através e por intermédio da alma. Isto podemos ver em Lucas
1:46, 47:
«Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu
espírito exulta em Deus meu Salvador.»
2. O espírito e a alma
O ESPÍRITO
É imperativo que um crente saiba que tem um espírito, posto que,
como logo veremos, toda comunicação com Deus tem lugar ali. Se o crente
não discernir seu próprio espírito, sempre ignorará a maneira de
comunicar-se com Deus no espírito. Facilmente substitui as obras do
espírito com os pensamentos e emoções da alma. Dessa maneira se auto-
limita ao mundo exterior, incapaz para sempre de alcançar o mundo
espiritual.
1 Coríntios 2:11 fala do espírito do homem que está «nele».
2 Coríntios 5:4 menciona «meu espírito».
Romanos 8:16 diz «nosso espírito».
1 Coríntios 14:14 utiliza «meu espírito».
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1 Coríntios 14:32 fala dos «espíritos dos profetas».
Provérbios 25:28 se refere a «seu próprio espírito».
Hebreus 12:23 consigna «os espíritos dos justos».
Zacarias 12:1 afirma que «o Senhor... formou o espírito do homem
dentro dele».
Estes versículos demonstram claramente que os seres humanos
possuem, com efeito, um espírito humano. Este espírito não é sinônimo de
nossa alma nem é tampouco o Espírito Santo.
Adoramos a Deus neste espírito.
Segundo os ensinamentos da Bíblia e a experiência dos crentes,
pode-se dizer que o espírito humano compreende três partes. Ou,
expresso de outro modo, se pode dizer que tem três funções principais.
Estas são a consciência, a intuição e a comunhão.
A consciência é o órgão que discerne; distingue o bom e o mau.
Entretanto, não o faz por meio da influência do conhecimento
armazenado na mente, mas sim com um espontâneo julgamento direto.
Frequentemente nosso raciocínio justifica o que nossa consciência julga. O
trabalho da consciência é independente e direto, pois não se submete às
opiniões do exterior. Se a obra do homem for má, a consciência levantará
sua voz acusatória.
A intuição é o órgão sensitivo do espírito humano. É tão
diametralmente diferente do sentido físico e do sentido anímico que é
chamada intuição. A intuição suporta uma sensibilidade direta
independente de qualquer influência exterior. Esse conhecimento que nos
chega sem nenhuma ajuda do pensamento, da emoção ou da vontade é
intuitivo. «Sabemos» por meio de nossa intuição, e nossa mente nos ajuda
a «compreender». As revelações de Deus e todos os movimentos do
Espírito Santo são perceptíveis para o crente através da intuição. Em
conseqüência, um crente deve levar em consideração dois elementos: a
voz da consciência e o ensino da intuição.
A comunhão é a adoração a Deus. Os órgãos da alma são
incompetentes para adorar a Deus. Não podemos receber Deus com
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nossos pensamentos, sentimentos ou intenções, porque unicamente
podemos conhecê-Lo diretamente em nossos espíritos. Nossa adoração a
Deus e as comunicações de Deus conosco acontecem diretamente no
espírito. Têm lugar no homem interior», não na alma ou no homem
exterior.
Assim, podemos concluir que estes três elementos, consciência,
intuição e comunhão, estão profundamente inter-relacionados e
funcionam coordenados. A relação entre consciência e intuição é que a
consciência julga segundo a intuição; condenando toda conduta que não
siga as diretrizes dadas pela intuição. A intuição está relacionada com a
comunhão ou adoração em que Deus se dá a conhecer ao homem pela
intuição e lhe revela sua vontade também por meio da intuição. Nem a
expectativa nem a dedução nos dão o conhecimento de Deus.
Nos versículos seguintes, separados em três grupos, pode-se
observar rapidamente que nossos espíritos possuem a função da
consciência (note-se que não dissemos que o espírito é a consciência), a
função da intuição (ou sentido espiritual) e a função da comunhão (ou
adoração).
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«Ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já
julguei, como se estivesse presente» (1 Co. 5:3).
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C) A função da comunhão no espírito do homem.
Por estes versículos podemos saber que nosso espírito possui pelo
menos estas três funções. Apesar dos homens não regenerados ainda não
terem vida, mesmo assim possuem estas funções (mas sua adoração é
dirigida a espíritos malignos). Algumas pessoas manifestam mais que
estas funções, enquanto outras manifestam menos. Isto, entretanto, não
implica que não estejam mortos em pecados e transgressões. O Novo
Testamento não considera os possuidores de uma consciência sensível,
uma grande intuição ou uma tendência ou um interesse espirituais como
salvos. Estas pessoas só nos demonstram que, além do pensamento, a
emoção e a vontade de nossa alma, também temos um espírito. Antes da
regeneração o espírito está separado da vida de Deus. Só depois daquela
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viverá em nossos espíritos a vida de Deus e do Espírito Santo. E então
serão vivificados para ser instrumentos do Espírito Santo.
Nossa meta ao estudar a importância do espírito é nos capacitar
para compreender que, como seres humanos, possuímos um espírito
independente. Este espírito não é a mente do homem, sua vontade ou sua
emoção. Ao contrário, abrange as funções da consciência, da intuição e da
comunhão. É no espírito onde Deus nos regenera, nos ensina e nos guia a
seu repouso. Mas é triste ter que dizer que, devido aos longos anos de
domínio da alma, muitos cristãos sabem muito pouco de seu espírito.
Deveríamos tremer diante de Deus e lhe pedir que nos ensine através da
experiência o que é espiritual e o que é anímico.
Antes que o crente nasça de novo, seu espírito fica tão submerso e
envolto por sua alma que lhe é impossível distinguir se algo sai da alma
ou do espírito. As funções deste se misturaram com as daquela. Além
disso, o espírito perdeu sua função original — sua relação com Deus —
porque está morto para Deus. Poderia parecer que se converteu em um
acessório da alma. E ao crescer e fortalecer o pensamento, a emoção e a
vontade, as funções do espírito ficam tão eclipsadas que são quase
ignoradas. É por isto que terá que fazer a obra de separação entre alma e
espírito quando o crente tiver sido regenerado.
Ao investigar as Escrituras parece realmente que um espírito
regenerado funciona da mesma maneira que o faz a alma. Os seguintes
versículos o ilustram:
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«Seu espírito se endureceu» (Dn. 5:20).
A ALMA
Além de possuir um espírito que lhe permite ter uma comunicação
íntima com Deus, o homem também tem uma alma, a consciência de si
mesmo. A operação da alma o faz ser consciente de sua existência. É a
sede de nossa personalidade. Os elementos que nos fazem humanos
pertencem à alma. O intelecto, os ideais, o amor, a emoção, o
discernimento, a capacidade de escolher, a decisão, etc., não passam de
diferentes experiências da alma.
Já foi explicado que o espírito e o corpo estão fundidos na alma, a
qual, a sua vez, forma o órgão de nossa personalidade. É por isso que em
algumas ocasiões a Bíblia chama ao homem «alma», como se o homem só
possuísse este elemento. Por exemplo, Gênesis 12:5 fala das pessoas como
«almas».
E quando Jacó levou a toda sua família ao Egito, diz que «todas as
almas da casa do Jacó que entraram no Egito eram setenta» (Gn. 46:27).
No original da Bíblia há numerosos casos em que se usa «alma» em
lugar de «homem». Isto se deve a que a sede e a essência da personalidade
é a alma.
Compreender a personalidade de um homem é compreender sua
pessoa. A existência, as características e a vida de um homem se
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encontram todas na alma. Em conseqüência a Bíblia chama ao homem
«uma alma».
O que constitui a personalidade do homem são as três faculdades
principais de vontade, pensamento e emoção.
A vontade é o instrumento de nossas decisões e revela nosso poder
de escolha. Expressa nosso consentimento ou nossa negativa, nosso «sim»
ou nosso «não». Sem ele o homem fica reduzido a um autômato.
A mente, o instrumento de nossos pensamentos, manifesta nosso
poder intelectual. É a fonte da sabedoria, do conhecimento e do raciocínio.
Sua ausência faz que um homem seja tolo e inepto.
O instrumento de nossas simpatias e antipatias é a faculdade da
emoção. Por meio dela podemos expressar amor ou ódio e nos sentir
alegres, zangados, tristes ou felizes. Sua escassez fará o homem insensível
como a madeira ou a pedra.
Um cuidadoso estudo da Bíblia nos levará à conclusão de que estas
três faculdades básicas da personalidade pertencem à alma. Há muitas
passagens bíblicas, e não é possível citá-las todas. Daí que só podemos
enumerar uma breve seleção das mesmas.
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«Eia! cumpriu-se o nosso desejo! (original, "alma")» (Sl.
35:25).
«Eles desejam e elevam sua alma por voltar a viver ali» (Jr.
44:14).
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«O conhecimento será aprazível à tua alma» (Pv. 2:10).
1) EMOÇÕES DE AFETO
2) EMOÇÕES DE DESEJO
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«Quanto tempo atormentará minha alma» (Jó 19:2).
A vida da alma
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1) BIOS
2) psyche
3) zoe
Todas descrevem a vida, mas comunicam significados muito
diferentes.
BIOS faz referência ao meio de vida ou sustento. Nosso Senhor Jesus
usou esta palavra quando elogiou à mulher que atirou no tesouro do
templo todo seu sustento.
Zoe é a vida mais elevada, a vida do espírito. Sempre que a Bíblia
fala da vida eterna utiliza esta palavra.
Psyche se refere à vida animada do homem, a sua vida natural ou
vida da alma. A Bíblia emprega este termo quando descreve a vida
humana.
Observemos agora que as palavras «alma» e «vida da alma» na
Bíblia são uma e a mesma no original. No Antigo Testamento a palavra
hebréia para «alma» — nephesh — se utiliza também para «vida da
alma». Por conseguinte, o Novo Testamento usa a palavra grega psyche
para «alma» e «vida da alma». Por isso sabemos que «a alma» não só é um
dos três elementos do homem, mas sim também é a vida do homem, sua
vida natural. Em muitos lugares da Bíblia se traduz «alma» por «vida».
«Somente que não comam a carne com sua vida, quer dizer,
seu sangue» (Gn. 9:4,5).
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«Em nada tenho a minha vida como preciosa para mim» (At.
20:24).
A alma e o eu do homem
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«Me deixem (original, "deixem a minha alma") morrer a
morte dos justos» (Nm. 23:10).
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Ambos os escritores do Evangelho deixam perseverança do mesmo,
mas um usa «vida» (ou «alma») enquanto que o outro usa «ele mesmo».
Isto significa que o Espírito Santo está utilizando Mateus para explicar o
significado de «ele mesmo» em Lucas e a Lucas para explicar o significado
de «vida» em Mateus. A alma ou a vida do homem no próprio homem, e
vice-versa.
Este estudo nos permite deduzir que para sermos homem devemos
possuir o que há na alma do homem.
Todo homem natural possui este elemento e que o contém, porque a
alma é a vida comum compartilhada por todos os homens naturais. Antes
da regeneração, tudo o que forma parte da vida — seja o eu, a vida, a
força, o poder, a decisão, o pensamento, a opinião, o amor, o sentimento
— pertence à alma. Em outras palavras, a vida da alma é a vida que um
homem herda ao nascer. Tudo o que esta vida possui e tudo o que possa
chegar a ser se encontra no reino da alma. Se reconhecermos claramente o
que é anímico, então nos será mais fácil reconhecer mais adiante o que é
espiritual. Será possível separar o espiritual do anímico.
3. A queda do homem
O homem que Deus formou era notavelmente diferente de todos
outros seres criados. O homem possuía um espírito similar ao dos anjos e
ao mesmo tempo tinha uma alma parecida com a dos animais inferiores.
Quando Deus criou o homem, lhe deu uma liberdade total. Não fez
do homem um autômato, controlado automaticamente pela vontade de
Deus. Isto é evidente em Gênesis 2, quando Deus instruiu o homem
original sobre qual fruta podia comer e qual não. O homem que Deus
criou não era uma máquina dirigida por Deus, pelo contrário, tinha uma
total liberdade de escolha. Se escolhia obedecer a Deus, podia fazê-lo, e se
decidia rebelar-se contra Deus, também podia fazê-lo. O homem possuía
uma soberania pela qual podia exercer sua vontade ao escolher entre
obedecer ou desobedecer. Este ponto é muito importante, posto que
devemos ver claramente que, em nossa vida espiritual, Deus jamais nos
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priva de nossa liberdade. Deus não levará a termo nada sem nossa
colaboração ativa. Nem Deus, nem o demônio podem fazer nada através
de nós sem antes ter obtido nosso consentimento, porque a vontade do
homem é livre.
Originalmente, o espírito do homem era a parte mais nobre de todo
seu ser, e a alma e o corpo lhe estavam sujeitos. Em condições normais, o
espírito é como um amo, a alma é como um mordomo e o corpo é como
um criado. O amo encarrega assuntos ao mordomo, que, por sua vez,
ordena ao criado que os execute. O amo dá ordens ao mordomo em
particular. O mordomo parece ser o dono de tudo, mas, na realidade, o
dono de tudo é o amo.
Por desgraça, o homem caiu, foi derrotado e pecou, e em
conseqüência se tergiversículou a ordem correta do espírito, da alma e do
corpo.
Deus outorgou ao homem um poder soberano e concedeu
numerosos dons à alma humana. Os mais proeminentes são o pensamento
e a vontade, ou o intelecto e a intenção. O propósito original de Deus é
que a alma humana receba e assimile a verdade e a substância da vida
espiritual de Deus. Deus deu dons aos homens para que o homem
pudesse receber o conhecimento e a vontade de Deus como deles. Se o
espírito e a alma do homem tivessem mantido sua perfeição, sanidade e
vigor, seu corpo teria sido capaz de manter-se sem mudança para sempre.
Se tivesse decidido em sua vontade pegar e comer a fruta da vida, é
indubitável que a própria vida de Deus teria entrado em seu espírito, teria
impregnado sua alma, teria transformado todo seu homem interior e teria
passado seu corpo à incorruptibilidade. Então teria estado literalmente de
posse da vida eterna. Nestas circunstâncias, sua vida anímica se encheria
por completo de vida espiritual e todo seu ser se teria transformado em
algo espiritual. Contrariamente, se se inverter a ordem do espírito e da
alma, o homem submerge nas trevas e o corpo humano não pode durar
muito, mas sim logo se apodrece.
Sabemos que a alma do homem escolheu a árvore do conhecimento
do bem e do mal em lugar da árvore da vida. Não obstante, não está claro
que a vontade de Deus para Adão era que comesse a fruta da árvore da
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vida? Porque antes tinha proibido a Adão que comesse a fruta da árvore
do bem e do mal e o advertiu que no dia que a comesse morreria (Gen.
2:17). Primeiro ordenou ao homem que comesse livremente de toda árvore
do jardim, e propositalmente mencionou a árvore da vida no meio do
jardim. Quem pode dizer que não é assim?
«A fruta do conhecimento do bem e do mal» eleva a alma humana e
suprime o espírito. Deus não proibiu o homem que comesse desta fruta
simplesmente para prová-lo. O proibiu porque sabia que, comendo desta
fruta, a vida da alma do homem seria tão estimulada que a vida de seu
espírito ficaria submersa. Isto significa que o homem perderia o autêntico
conhecimento de Deus e em conseqüência estaria morto para Ele.
A proibição de Deus mostra o amor de Deus. O conhecimento do
bem e do mal neste mundo é mau em si mesmo. Este conhecimento surge
do intelecto da alma do homem. Incha a vida da alma e consequentemente
rebaixa a vida do espírito até o ponto em que esta perde todo
conhecimento de Deus, até o ponto que fica como morto.
Um grande número de servos de Deus vêem nesta árvore da vida,
Deus oferecendo vida ao mundo em seu Filho, o Senhor Jesus. Esta é a
vida eterna, a natureza de Deus, sua vida incriada. Por isso temos aqui
duas árvores: a que produz vida espiritual, enquanto que a outra gera
vida anímica.
Em seu estado original, o homem não é nem pecador nem santo e
justo. Encontra-se entre os dois. Pode aceitar a vida de Deus, convertendo-
se assim em um homem espiritual e participante da natureza divina, ou
pode encher sua vida criada até torná-la anímica, matando assim seu
espírito.
Deus deu um equilíbrio perfeito às três partes do homem. Sempre
que uma das partes se desenvolve muito, as outras sofrem.
Nossa experiência espiritual será muito beneficiada se
compreendermos a origem da alma e seu princípio de vida.
Nosso espírito vem diretamente de Deus, posto que é um dom de
Deus (Nm. 16:22). Nossa alma não tem esta procedência tão direta, foi
produzida depois que o espírito entrou no corpo. Por isso está vinculada
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ao ser criado, de uma maneira característica. É a vida criada, a vida
natural. O valor que tem a alma é realmente grande, se mantiver seu papel
de mordomo e permitir que o espírito seja o amo. O homem pode então
receber a vida de Deus e estar em conexão com o Deus da vida. Se, ao
contrário, este mundo anímico se encher, conseqüentemente o espírito
ficará reprimido. Todos os atos do homem ficarão limitados ao mundo
natural do criado, incapaz de unir-se à vida sobrenatural e incriada de
Deus. O homem original sucumbiu à morte porque comeu da fruta do
conhecimento do bem e do mal, desenvolvendo assim, de maneira
anormal, sua vida anímica.
Satanás tentou a Eva com uma pergunta. Sabia que sua pergunta
estimularia o pensamento da mulher. Se Eva tivesse estado sob o
completo controle do espírito teria rechaçado estas perguntas. Ao tentar
responder, utilizou sua mente, em desobediência ao espírito. É
indubitável que a pergunta de Satanás estava cheia de enganos, posto que
seu motivo principal era simplesmente incitar a atividade mental da Eva.
Seria de se esperar que Eva corrigisse a Satanás, mas, ai!, Eva se atreveu a
trocar a Palavra de Deus em sua conversa com Satanás. Em conseqüência,
o inimigo se encorajou e a tentou para que comesse, sugerindo-lhe que, ao
comer, se lhes abririam os olhos e seria como Deus, conhecendo o bem e o
mal. «Assim, quando a mulher viu que a árvore era boa para comer e que
era uma delícia para os olhos, e que a árvore era desejável para ter
sabedoria, tomou de seu fruto e comeu» (Gn. 3:6). Assim foi como Eva viu
o assunto. Satanás provocou primeiro seu pensamento anímico e em
seguida avançou até apoderar-se de sua vontade. O resultado: Eva caiu no
pecado.
Satanás sempre utiliza a necessidade física como primeiro objetivo a
atacar. Simplesmente fez menção a Eva do ato de comer a fruta, um
assunto totalmente físico. A seguir tentou seduzir sua alma, dando-lhe a
entender que, fazendo o que lhe dizia, se lhes abririam os olhos para
conhecer o bem e o mal. Embora esta busca do conhecimento fosse
totalmente legítima, sua consumação levou seu espírito a uma franca
rebeldia contra Deus, porque tergiversículou a proibição de Deus, lhe
atribuindo um propósito mau. A tentação de Satanás alcança primeiro o
corpo, em seguida a alma e finalmente o espírito.
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Depois de ter sido tentada, Eva deu sua opinião. Para começar, «a
árvore era boa para comer». Isto é «concupiscência da carne». A carne da
Eva foi a primeira a ser estimulada. Segundo, «era uma delícia para os Isto
olhos é «a concupiscência dos olhos». Agora já estavam estimulados seu
corpo e sua alma. Terceiro, «a árvore era desejável para dar sabedoria. Isto
é «o orgulho da vida». Este desejo revelava a vacilação entre sua emoção e
sua vontade. A agitação de sua alma era já incontrolável. Já não se
mantinha à margem, como um espectador, mas sim tinha sido cutucada a
desejar a fruta.
Que perigosa é uma emoção humana, quando é dona das
circunstâncias!
Por que Eva desejou a fruta? Não foi simplesmente pela
concupiscência da carne e a concupiscência dos olhos, mas sim também
por sua incontida curiosidade pela sabedoria. Na busca de sabedoria e de
conhecimento, inclusive do chamado «conhecimento espiritual», com
freqüência se podem incentivar as atividades da alma.
Quando uma pessoa tenta aumentar seu conhecimento praticando
ginástica mental com livros, sem esperar em Deus nem pedir a direção do
Espírito Santo, é evidente que sua alma se encontrará em plena oscilação.
Isso esgotará sua vida espiritual. Como a queda do homem foi ocasionada
pela busca de conhecimento, Deus utiliza a «insensatez da cruz» para
«destruir a sabedoria dos sábios». O intelecto foi a causa principal da
queda; por isso, para salvar-se, terá que acreditar na loucura da Palavra da
cruz, em lugar de depender do intelecto. A árvore do conhecimento fez
que o homem caísse, e por isso Deus emprega o «madeiro da loucura» (1
P. 2:24) para salvar almas. «Se algum entre vós se julga sábio neste tempo,
que se torne ignorante para poder ser sábio. Porque a sabedoria deste
mundo é insensatez para Deus» (1 Co. 3:18-20; ver também 1:18-25).
Tendo repassado cuidadosamente o relato da queda do homem,
podemos ver que, ao rebelar-se contra Deus, Adão e Eva desenvolveram
suas almas até o extremo de deslocar seus espíritos e submergir-se nas
trevas. As partes proeminentes da alma são a mente, a vontade e a emoção
do homem. A vontade é o órgão da decisão e em conseqüência o dono do
homem. A mente é o órgão do pensamento, enquanto que a emoção é o do
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afeto. O apóstolo Paulo nos diz que «Adão não foi enganado», indicando
que a mente de Adão não estava em confusão naquele dia fatídico. Quem
fraquejou em sua mente foi Eva: «a mulher foi enganada e pecou» (1 Tm.
2:14). Segundo o relato de Gênesis, está escrito que «a mulher disse: «A
serpente me enganou e comi» (Gn. 3:13). Mas «o homem disse: «A mulher
me deu (não me enganou) a fruta da árvore e comi» (Gn. 3:12). É evidente
que Adão não foi enganado. Sua mente estava limpa e sabia que a fruta
era da árvore proibida. Comeu por causa de seu efeito pela mulher. Adão
compreendeu que o que havia dito a serpente não era nada mais que o
engano do inimigo. Das palavras do apóstolo vemos que Adão pecou
deliberadamente. Amava a Eva mais que a si mesmo. Fê-la seu ídolo e por
ela foi capaz de rebelar-se contra a ordem de seu Criador. Que lástima que
sua emoção dominasse a sua mente! Seu efeito superou a sua razão.
Por que os homens «não acreditaram na verdade»? Porque
«sentiram prazer na injustiça» (2 Ts. 2:12). Não é que a verdade não seja
razoável mas sim que não a amam. Por isso quando alguém
verdadeiramente vai ao Senhor, crê com o coração (não com a mente) ele é
justificado» (Rm. 10:10).
Satanás levou Adão a pecar apoderando-se de sua vontade, através
de sua emoção, enquanto que tentou a Eva a que pecasse dominando sua
vontade pelo caminho de uma mente obscurecida. Quando a vontade e a
mente e a emoção do homem foram envenenadas pela serpente e o
homem seguiu a Satanás em lugar de seguir a Deus, seu espírito, que
podia ter comunhão íntima com Deus, recebeu um golpe mortal. Aqui
podemos ver a lei que governa a obra de Satanás. Usa as coisas da carne
(comer fruta) para atrair a alma do homem para o pecado. Assim que a
alma peca, o espírito fica consumido em uma escuridão absoluta. A ordem
de seu método sempre é o mesmo: de fora para dentro. Se não começar
pelo corpo, então começa trabalhando com a mente ou a emoção para
apoderar-se da vontade do homem. No momento em que o homem cede
diante de Satanás, este possui todo o ser do homem e mata o espírito.
Mas não é assim com a obra de Deus: Deus sempre trabalha de
dentro para fora. Deus começa trabalhando com o espírito do homem e
prossegue iluminando sua mente, estimulando sua emoção e o levando a
exercer sua vontade sobre seu corpo, para cumprir a vontade de Deus.
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Toda obra satânica se realiza de fora para dentro e toda obra divina
se realiza de dentro para fora. Nisto podemos distinguir o que vem de
Deus e o que vem de Satanás. Tudo isto nos ensina, além disso, que, uma
vez que Satanás se apodera da vontade do homem, controla esse homem.
Devemos ter em mente que a alma é onde o homem expressa sua
livre vontade e exerce sua autoridade. Por isso a Bíblia freqüentemente
deixa claro de que é a alma a que peca. Por exemplo, Miquéias 6:7 diz «o
pecado de minha alma». Ezequiel 18:4, 20 diz «a alma que peca». E nos
livros Levitico e Números se menciona freqüentemente que a alma peca.
Por que? Porque é a alma que decide pecar. Nossa descrição do pecado é:
«A vontade de seu consentimento na tentação.»
Pecar é coisa da vontade da alma e em conseqüência deve haver
uma expiação pela alma.
Como é a alma que peca, depreende-se que a alma é a que tem que
receber expiação. E além disso a expiação deve proceder de uma alma:
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Ao examinar a natureza do pecado do Adão, descobrimos que, além
da rebelião, também há um certo tipo de independência. Aqui não
devemos perder de vista o livre-arbítrio. Por um lado a árvore da vida
implica um sentido de dependência. Naquele tempo o homem não
possuía a natureza de Deus, mas se tivesse participado da fruta da árvore
da vida teria obtido a vida de Deus e o homem teria podido alcançar seu
ápice: possuir a mesma vida de Deus. Isto é dependência. Por outro lado,
a árvore do conhecimento do bem e do mal sugere independência, porque
o homem procurou por meio do exercício de sua vontade, obter o
conhecimento que não lhe tinha sido prometido, algo que Deus não lhe
tinha concedido. Sua rebelião declarava sua independência. Rebelando-se,
não tinha que depender de Deus. Além disso, sua busca do conhecimento
do bem e do mal também mostrava sua independência, porque não estava
satisfeito com o que Deus já lhe tinha concedido. A diferença entre o
espiritual e o anímico é clara como o cristal. O espiritual depende
totalmente de Deus, está plenamente satisfeito com o que Deus dá. O
anímico evita qualquer contato com Deus e ambiciona o que Deus não
concedeu, em especial «o conhecimento». A independência é uma marca
especial do anímico. Isto — não importa quão bom seja, inclusive quando
adora a Deus — é indubitavelmente costume da alma não requerer uma
confiança completa em Deus e, em troca, exige dependência da própria
força. A árvore da vida não pode crescer dentro de nós junto com a árvore
do conhecimento. A rebelião e a independência explicam todo pecado
cometido tanto pelos pecadores como pelos santos.
*
Aqui o espírito não é o Espírito Santo mas sim o espírito humano, porque vai precedido
da palavra «natural», que literalmente é «anímico». Como «anímico» corresponde ao
homem, então aqui «espírito» também corresponde ao homem.
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alma substituiu à autoridade do espírito. Tudo se faz independentemente
e segundo os ditados de sua mente. Inclusive em assuntos religiosos, na
mais apaixonada busca de Deus, tudo se leva a cabo com a força e a
vontade da alma do homem, carente da revelação do Espírito Santo. A
alma não é simplesmente independente do espírito, mas, além disso, está
sob o controle do corpo. Lhe pede que obedeça, que execute e que
satisfaça os desejos carnais, as paixões e as demandas do corpo. Assim,
todo filho de Adão não só está morto em seu espírito, mas sim também é
«da terra, um homem do pó» (1 Co. 15:47).
Os homens caídos estão sob o domínio total da carne, atuando em
resposta aos desejos de sua vida anímica e de suas paixões físicas. São
incapazes de ter comunhão íntima com Deus. Às vezes desenvolvem seu
intelecto, em outras ocasiões sua paixão, mas o mais freqüente é que
desenvolvam tanto seu intelecto como sua paixão. Sem empecilhos, a
carne controla firmemente o homem todo.
Isto é o que se expõe no Judas 18 e 19: «escarnecedores, andando
segundo as suas ímpias concupiscências.. Estes são os que causam
divisões; são sensuais, e não têm o Espírito.». Ser anímico é contrário a ser
espiritual. O espírito, nossa parte mais nobre, a parte que pode unir-se a
Deus e que deveria governar a alma e o corpo, agora está sob o domínio
da alma, essa parte de nós que é mundana em seus motivos e em suas
metas. O espírito foi destituído de sua posição original. A condição atual
do homem é anormal. Por isso é descrito como se não tivesse espírito. O
resultado de ser anímico é tornar-se escarnecedor, perseguir paixões
ímpias e criar divisões.
1 Coríntios 2:14 fala destas pessoas não regeneradas da seguinte
maneira: «O homem natural (anímico) não recebe os dons espirituais de
Deus porque para ele são loucura, e não pode compreendê-los porque se
discernem espiritualmente.» Estes homens se encontram sob o controle de
suas almas e com seus espíritos reprimidos contrastam totalmente com as
pessoas espirituais. Podem ser portentosamente inteligentes, capazes de
apresentar idéias e teorias com autoridade, mas não admitem as coisas do
Espírito de Deus. Não estão capacitados para receber a revelação do
Espírito Santo. Esta revelação é absolutamente diferente das idéias
humanas. Os homens podem pensar que o intelecto e o raciocínio
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humanos são todo-poderosos, que o cérebro pode compreender todas as
verdades do mundo, mas o veredicto da Palavra de Deus é: «vaidade de
vaidades».
Enquanto o homem está em seu estado anímico freqüentemente
percebe a insegurança desta vida e em conseqüência busca a vida eterna
do mundo vindouro. Mas, se o faz, continua sem poder desvelar a Palavra
de vida com seus muitos raciocínios e teorias. Quão pouco dignos de
confiança são os raciocínios humanos!
Com freqüência observamos como pessoas muito inteligentes se
chocam em suas diferentes opiniões. As teorias conduzem o homem
facilmente ao engano. São castelos no ar que o afundam na escuridão
eterna.
Quão certo é que, sem a direção do Espírito Santo, o intelecto não
somente é pouco confiável, mas também é extremamente perigoso,
porque freqüentemente confunde o bom e o mau. Um ligeiro descuido
pode provocar, não simplesmente uma perda temporária, mas inclusive
um dano eterno. A mente obscurecida do homem freqüentemente o leva à
morte eterna. Se as almas não regeneradas pudessem ver isso, que bom
seria!
No entanto o homem carnal pode controlar outra coisa além da
alma: também pode estar sob a direção do corpo, porque a alma e o corpo
estão fortemente entrelaçados. Como o corpo do pecado abunda em
desejos e paixões, o homem pode cometer os pecados mais espantosos. O
corpo vem do pó e por isso sua tendência natural é para a terra. A
introdução do veneno da serpente no corpo do homem converte todos
seus desejos legítimos em desejos carnais. Uma vez que a alma cedeu
diante do corpo, ao desobedecer a Deus, encontra-se obrigada a ceder
sempre. Os baixos desejos do corpo podem desse modo expressar-se
através da alma. O poder do corpo se torna tão entristecedor que a alma
não pode fazer outra coisa que converter-se em uma escrava obediente.
O plano de Deus para o espírito era que tivesse a preeminência, que
governasse nossa alma. Mas uma vez que o homem se torna carnal, seu
espírito fica escravizado à alma. A degradação aumenta quando o homem
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se torna «corporal» (do corpo), porque o corpo, que é mais baixo, sobe até
ser o soberano.
Então o homem desceu do «controle do espírito» ao «controle da
alma», e do «controle da alma» ao «controle do corpo». Cada vez se
afunda mais e mais. Que lamentável é quando a carne consegue o
domínio.
O pecado deu morte ao espírito: por isso a morte espiritual alcança a
todos, porque todos estão mortos em pecados e transgressões. O pecado
tornou a alma independente: em conseqüência a vida anímica não é mais
que uma vida egoísta e obstinada. Finalmente o pecado deu plenos
poderes ao corpo: por conseguinte, a natureza pecadora reina por meio do
corpo.
4. A salvação
O JULGAMENTO DO CALVÁRIO
A morte entrou no mundo por meio da queda do homem. Aqui se
faz referência à morte espiritual que separa o homem de Deus. Entrou por
meio do pecado no princípio e continuou fazendo-o desde então. A morte
sempre chega através do pecado. Notemos o que nos diz Romanos 5:12
sobre este assunto. Em primeiro lugar, que «o pecado entrou no mundo
por meio de um homem». Adão pecou e introduziu o pecado no mundo.
Segundo, que «a morte (entrou no mundo) através do pecado». A morte é
o resultado invariável do pecado. E, finalmente, que como conseqüência
«a morte se estendeu a todos os homens porque todos os homens
pecaram». A morte não «se estendeu a» ou «passou aos homens
simplesmente, mas sim literalmente «passou para todos os homens». A
morte impregnou o espírito, o alma e o corpo de todos os homens. Não há
nenhuma parte de um ser humano pela que não tenha passado.
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Por isso é indispensável que o homem receba a vida de Deus. A
salvação não pode chegar por uma reforma humana porque «a morte» é
irreparável. O pecado tem que ser julgado antes de que possa haver
resgate da morte para os homens. Isto é exatamente o que tem feito a
salvação do Senhor Jesus.
O homem que peca deve morrer. Isto está anunciado na Bíblia.
Nenhum animal nem nenhum anjo podem sofrer o castigo do pecado em
lugar do homem. É a natureza do homem a que peca, por isso é o homem
que deve morrer. Só o humano pode expiar pelo humano. Mas como o
pecado está em sua humanidade, a morte do homem não pode expiar por
seu próprio pecado. O Senhor Jesus veio e assumiu a natureza do homem,
para poder ser julgado em lugar da humanidade. Não corrompida pelo
pecado, sua santa natureza humana pôde deste modo expiar pela
humanidade pecadora por meio da morte. Morreu como substituto, sofreu
todo o castigo do pecado e ofereceu sua vida como resgate por muitos.
Como conseqüência, todo aquele que crê nEle já não será julgado (Jo.
5:24).
Quando o Verbo se fez carne, levava em si toda carne. Assim como a
ação de um homem, Adão, representa a ação de toda a humanidade, a
obra de um homem, Cristo, representa a obra de todos. Temos que ver
quão completa é a obra de Cristo antes de poder compreender o que é a
redenção. Por que o pecado de um homem, Adão, é julgado como o
pecado de todos os homens passados e presentes? Adão é o cabeça da
humanidade da qual vieram ao mundo todos os demais homens. De uma
forma similar, a obediência de um homem, Cristo, faz-se justiça de muitos,
passados e presentes, posto que Cristo constitui o cabeça de uma nova
humanidade, originada por um novo nascimento.
Hebreus 7 pode ilustrar este ponto. Para demonstrar que o
sacerdócio de Melquisedeque é maior que o sacerdócio do Levi, o escritor
recorda a seus leitores que uma vez Abraão ofereceu dízimo a
Melquisedeque e recebeu uma bênção dele e por isso se conclui que a
bênção e a oferenda do dízimo de Abraão eram de Levi. Como? Porque
ele (Levi) ainda estava nos lombos de seu antepassado (Abraão) quando
Melquisedeque o conheceu» (v. 10). Sabemos que Abraão engendrou a
Isaac, Isaac a Jacob e Jacob a Levi. Levi era o bisneto do Abraão. Quando
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Abraão ofereceu o dízimo e recebeu uma bênção, Levi ainda não tinha
nascido, nem sequer seu pai nem seu avô. Não obstante, a Bíblia considera
que o dízimo e a bênção são de Levi. Posto que Abraão é inferior o
Melquisedeque, Levi também é de menor importância que
Melquisedeque. Este fato pode ajudar-nos a compreender por que se
interpreta o pecado de Adão como pecado de todos os homens e por que
se considera a sentença feita sobre Cristo como sentença sobre todos. É
simplesmente porque, quando Adão pecou, todos os homens estavam em
seus lombos. Da mesma maneira, quando Cristo foi julgado, todos os que
serão regenerados estavam presentes em Cristo. Por isso se considera a
sentença de Cristo como a sentença deles, e todos os que creram em Cristo
já não serão julgados.
Como a humanidade tem que ser julgada, o Filho de Deus — o
homem Jesus Cristo — sofreu em seu espírito, alma e corpo sobre a cruz
pelos pecados do mundo.
Examinemos primeiro seus sofrimentos físicos. O homem peca por
meio de seu corpo, e neste desfruta do prazer temporário do pecado. Em
conseqüência, o corpo tem que ser o destinatário do castigo. Quem pode
sondar os sofrimentos físicos do Senhor Jesus na cruz? Acaso os
sofrimentos de Cristo no corpo não estão claramente preditos nos textos
messiânicos? «Transpassaram-me as mãos e os pés» (Sl. 22:16). O profeta
Zacarias chamou a atenção sobre «o que foi transpassado» (12:10). Suas
mãos, seus pés, sua testa, seu flanco, seu coração, todos foram
transpassados pelos homens, transpassados pela humanidade pecadora e
transpassados para a humanidade pecadora. Muitas foram suas feridas e
muito lhe subiu a febre, porque com o peso de todo seu corpo
pendurando na cruz sem nenhum apoio, seu sangue não podia circular
livremente. Passou muita sede e por isso gritou: «A língua se me pega ao
paladar.» «Como tinha sede me deram vinagre para beber» (Sl. 22:15;
69:21). As mãos têm que ser cravadas porque vão atrás do pecado. A boca
tem que sofrer porque sente prazer em pecar. Os pés têm que ser
transpassados porque pecam à vontade. A testa tem que ser coroada com
uma coroa de espinhos porque também quer pecar. Tudo o que o corpo
humano tinha que sofrer se cumpriu em Seu corpo. Desta maneira sofreu
fisicamente até a morte.
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Estava em sua mão livrar-se destes sofrimentos, mas
voluntariamente ofereceu seu corpo para suportar todas as insondáveis
provações e dores sem acovardar-se nem um momento até que soube que
«tudo estava consumado» (Jo. 19:28). Só então entregou seu espírito.
Não só seu corpo; sua alma também sofreu. A alma é o órgão da
própria consciência. Antes de ser crucificado, deram a Cristo vinho
misturado com mirra como calmante para mitigar a dor, mas Ele o rejeitou
porque não estava disposto a aceitar nenhum sedativo mas sim a estar
plenamente consciente do sofrimento. As almas humanas desfrutaram
plenamente do prazer dos pecados; por conseguinte, Jesus ia suportar em
sua alma a dor destes pecados. Preferiu beber a taça que Deus lhe deu do
que a taça que anestesiaria sua consciência.
Que vergonhoso era o castigo da cruz! utilizava-se para executar os
escravos fugidos. Um escravo não tinha propriedades nem direitos. Seu
corpo pertencia a seu dono, e por conseguinte podia ser castigado com a
cruz mais vergonhosa. O Senhor Jesus tomou o lugar de um escravo e foi
crucificado.
Isaías o chamou «o servo», e Paulo disse que tomou a forma de um
escravo. Sim, veio como um escravo para nos resgatar aos que estávamos
sob a escravidão perpétua do pecado e de Satanás. Fomos escravos da
paixão, do temperamento, dos costumes e do mundo. Estivemos a mercê
do pecado. No entanto, Ele morreu por nossa escravidão e carregou com
todo nosso opróbrio.
A Bíblia traz o relato de que os soldados ficaram a roupa do Senhor
Jesus (Jo. 19:23). Estava quase nu quando o crucificaram. Esta é uma das
vergonhas da cruz. O pecado nos tira nossa veste radiante e nos deixa nus.
Nosso Senhor foi despido diante de Pilatos e logo depois de novo no
Calvário. Como reagiu sua santa alma diante de semelhante mau trato?
Acaso não era um insulto à santidade de sua personalidade e uma
vergonha? Quem pode sondar seus sentimentos naquele trágico
momento? Como todos os homens tinham desfrutado da glória aparente
do pecado, o Salvador tinha que suportar a autêntica vergonha do pecado.
«Verdadeiramente (Deus) cobriste-o de vergonha.... com que os teus
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inimigos, ó Senhor, têm difamado os passos do teu ungido.»; e até
«suportou a cruz, desprezando a vergonha» (Sl. 89:45, 51; At. 12:2).
Ninguém poderá jamais constatar o muito que sofreu a alma do
Salvador na cruz. Contemplamos frequentemente seus sofrimentos físicos,
mas passamos por cima dos sentimentos de sua alma. Uma semana antes
da Páscoa o ouviram dizer: «Agora a minha alma está perturbada» (Jo.
12:27). Isto assinala a cruz. No Jardim do Getsêmani o ouviram de novo
dizer: «A minha alma está triste até a morte» (Mt. 26:38). Se não fosse por
estas palavras quase não poderíamos pensar que sua alma tinha sofrido.
Isaías 53 menciona três vezes que sua alma foi oferecida pelo
pecado, que sua alma sofreu e que derramou sua alma até a morte (vs. 10-
12). Pois que Jesus suportou a maldição e a vergonha da cruz, quem crê
nele já não será maldito nem envergonhado.
Seu espírito também sofreu terrivelmente. O espírito é a parte do
homem que o equipa para comunicar-se intimamente com Deus. O Filho
de Deus era santo, inocente, imaculado, separado do pecado. Seu espírito
estava unido ao Espírito Santo em perfeita unidade. Nunca teve seu
espírito um momento de perturbação nem de dúvida, porque sempre teve
a presença de Deus com Ele. Jesus disse: «Não sou eu só, mas eu e o Pai
que me enviou... E aquele que me enviou está comigo» (Jo. 8:16, 29). Por
isso pôde orar: «Pai, graças te dou, porque me ouviste. Eu sabia que
sempre me ouves» (Jo. 11:41,42).
Enquanto pendurado na cruz — e se houve algum dia que o Filho
de Deus necessitasse desesperadamente da presença de Deus deve ter sido
esse dia — gritou: «meu Deus, Meu Deus, por que me desamparaste?»
(Mt. 27:46). Seu espírito estava separado de Deus. Quão intensamente
sentiu a solidão, o abandono, a separação! O Filho ainda estava cedendo, o
Filho ainda estava obedecendo a vontade de Deus-Pai; sem dúvida, o
Filho tinha sido abandonado: não por causa dEle, mas sim por causa de
outros.
O pecado afeta muito profundamente o espírito e, por conseguinte,
embora o Filho de Deus fosse santo, tinha que ser separado do Pai porque
levava o pecado de outros. É certo que nos incontáveis dias da eternidade
«eu e o Pai somos um» (Jo. 10:30). Inclusive durante sua estada na Terra
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continuou sendo assim, porque sua humanidade não podia ser uma causa
de separação de Deus.
Só o pecado podia separá-los, embora esse pecado fosse de outros.
Jesus sofreu esta separação espiritual por nós para que nosso espírito
pudesse voltar para Deus.
Ao contemplar a morte de Lázaro, possivelmente Jesus estava
pensando em sua própria morte próxima e por isso «estava
profundamente comovido em espírito e preocupado» (Jo. 11:33). Ao
anunciar que seria traído e que morreria na cruz estava outra vez
«inquieto em espírito» (Jo. 13:21). Isto nos explica porque, quando recebeu
a sentença de Deus no Calvário, gritou: «meu Deus, meu Deus, por que
me abandonaste?» Porque: «Penso em Deus, e gemo; medito, e meu
espírito se deprime» (Mt. 27:46, citando os Sl. 22:1; Sl. 77:3). Foi privado do
poderoso fortalecimento do Espírito Santo em seu espírito (Ef. 3:16)
porque seu espírito havia sido arrancado do Espírito de Deus. Por isso
suspirou: «Como água me derramei, e todos os meus ossos se
desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das
minhas entranhas. A minha força secou-se como um caco e a língua se me
pega ao paladar; tu me puseste no pó da morte.» (Sl. 22:14,15).
Por um lado, o Espírito Santo de Deus o abandonou. Por outro, o
espírito diabólico de Satanás o ridicularizou. Parece que o Salmo 22:11-13
se refere a esta fase: «Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e
não há quem acuda. Muitos touros me cercam; fortes touros de Basã me
rodeiam. Abrem contra mim sua boca, como um leão que despedaça e que
ruge..»
Por um lado seu espírito suportou o abandono de Deus e por outro,
resistiu ao escárnio do espírito diabólico. O espírito do homem se separou
tanto de Deus, exaltando-se a si mesmo e seguindo o espírito diabólico,
que o espírito do homem tem que ser quebrantado de tudo para que não
possa continuar opondo-se a Deus e estando aliado com o inimigo. O
Senhor Jesus se fez pecado por nós na cruz. Sua santa humanidade
interior foi completamente aniquilada ao julgar Deus à humanidade
ímpia. Abandonado Por Deus, Cristo sofreu, pois, a mais amarga dor do
pecado, suportando na escuridão a ira castigadora de Deus sobre o pecado
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sem o apoio do amor de Deus ou a luz de seu rosto. Ser abandonado por
Deus é a conseqüência do pecado.
Agora nossa humanidade pecadora foi julgada totalmente porque
foi julgada na humanidade sem pecado do Senhor Jesus. Nele, a
humanidade santa conquistou sua vitória. Toda sentença sobre o corpo, a
alma e o espírito dos pecadores foi lançada sobre Ele. Ele é nosso
representante. Por fé estamos unidos a Ele. Sua morte é considerada como
nossa morte, e sua sentença como nossa sentença. Nosso espírito, alma e
corpo foram julgados e castigados nele. Seria o mesmo que se tivéssemos
sido castigados em pessoa.
Isto é o que Ele tem feito por nós e esta é agora nossa posição diante
de Deus.
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A REGENERAÇÃO
O conceito de regeneração conforme o encontramos na Bíblia fala do
processo de passar da morte para a vida. O espírito de um homem antes
da regeneração está afastado de Deus e é considerado morto, porque a
morte é a dissociação da vida e de Deus, que é a fonte da vida. Em
conseqüência, a morte é a separação de Deus. O espírito do homem está
morto e por conseguinte é incapaz de ter comunhão íntima com Ele. Ou
sua alma o controla e o submerge em uma vida de idéias e imaginações,
ou os desejos carnais e os costumes de seu corpo o estimulam e reduzem a
sua alma à escravidão.
O espírito do homem tem que ser avivado porque nasceu morto. O
novo nascimento de que falou o Senhor Jesus com Nicodemos é o novo
nascimento do espírito. É obvio que não é um nascimento físico como
acreditava Nicodemos, nem tampouco anímico. Devemos nos fixar
cuidadosamente em que o novo nascimento transmite a vida de Deus ao
espírito do homem. Posto que Cristo expiou por nossa alma e destruiu o
princípio da carne, os que estamos unidos a Ele participamos de sua vida
de ressurreição. Fomos unidos a Ele em sua morte; por conseguinte, é em
nosso espírito onde colhemos primeiro o cumprimento de sua vida de
ressurreição. O novo nascimento é algo que acontece totalmente no
espírito: não tem nenhuma relação com a alma ou o corpo.
O que faz que o homem seja único na criação de Deus não é que
possui uma alma, mas sim que tem um espírito que, unido à alma,
constitui o homem. Esta união faz do homem um ser extraordinário no
universículo. A alma do homem não está relacionada diretamente com
Deus. Segundo a Bíblia é seu espírito que tem relação com Deus. Deus é
Espírito, e em conseqüência todos os que o adoram devem adorá-lo em
espírito. Só o espírito pode ter comunicação íntima com Deus. Só o
espírito pode adorar ao Espírito. Por isso encontramos na Bíblia frases
como:
«servindo com meu espírito» (Rm. 1:9; 7:6; 12:11);
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«adorando em espírito» (Jo. 4:23, 24);
Em vista deste fato, recordemos que Deus decretou que tratará com
o homem unicamente por meio de seu espírito e que terá que levar a cabo
seus conselhos por meio do espírito do homem. Se assim tem que ser, que
necessário é para o espírito do homem continuar em constante e viva
união com Deus, sem cair nem por um momento na desobediência às leis
divinas, seguindo os sentimentos, desejos e ideais da alma externa. Do
contrário, se imporá a morte de modo imediato, e o espírito será privado
de sua união com a vida de Deus. Isto não significa que o homem já não
tenha um espírito. Simplesmente quer dizer, como já indicamos
anteriormente, que o espírito renuncia a sua elevada posição em favor da
alma. Sempre que o homem interior de uma pessoa presta atenção aos
ditados do homem exterior, perde contato com Deus e se torna
espiritualmente morto. «Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
nos quais outrora andastes» ao «fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos» (Ef. 2:1-3).
A vida de uma pessoa não regenerada está quase por inteira
governada pela alma. Pode estar vivendo com temor, curiosidade, alegria,
orgulho, piedade, prazer, delícia, estranheza, vergonha, amor,
arrependimento, gozo. Ou pode estar cheia de ideais, imaginações,
superstições, dúvidas, suposições, interrogações, induções, deduções,
análise, introspecções. Ou pode ser impulsionada — pelo desejo de poder,
reconhecimento social, riqueza, liberdade, posição, fama, glória,
conhecimento — a tomar decisões atrevidas, a entrar pessoalmente em
compromissos, a expressar opiniões obstinadas, ou inclusive a resistir a
testes pacientemente. Todas estas coisas e outras similares são
simplesmente manifestações das três principais funções da alma, que são a
emoção, a mente e a vontade. Acaso a vida não se compõe
predominantemente destas coisas? Mas nunca poderão levar à
regeneração. Fazer penitência, sentir-se aflito pelo pecado, derramar
lágrimas, inclusive fazer votos, não leva à salvação. A confissão, a decisão
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e muitos outros atos religiosos nunca podem nem têm que ser
interpretados como um novo nascimento. O julgamento racional, a
compreensão inteligente, a aceitação mental, ou a busca do bom, do belo e
do autêntico, são simplesmente atividades anímicas enquanto não se
alcança e se sacuda o espírito. Embora possam servir bem como criados,
as idéias, sentimentos e decisões do homem não podem servir como donos
e por isso são secundários neste assunto da salvação. Daí que a Bíblia
nunca considera que o novo nascimento seja tratar com severidade o
corpo, um sentimento impulsivo, a exigência da vontade ou uma reforma
através da compreensão mental. O novo nascimento bíblico acontece em
uma área muito mais profunda que o corpo ou a alma humana, sim, é no
espírito do homem onde recebe a vida de Deus por meio do Espírito
Santo.
O escritor de Provérbios nos diz que «o espírito do homem é a
candeia do Senhor» (20:27). No renascimento, o Espírito Santo entra no
espírito do homem e o aviva como se acendesse um abajur. Este é o
«espírito novo» mencionado em Ezequiel 36:26. O velho espírito morto é
avivado quando o Espírito Santo lhe transmite a vida incriada de Deus.
Antes da regeneração, a alma do homem controla a seu espírito,
enquanto seu próprio «eu» governa a sua alma e sua paixão governa a seu
corpo. A alma se converteu na vida do corpo. Na regeneração, o homem
recebe a própria vida de Deus em seu espírito e nasce de Deus. Em
conseqüência disso, agora o Espírito Santo governa o espírito do homem,
que, por sua vez, é equipado para recuperar o controle sobre sua alma e,
por meio da alma, governar seu corpo. Como o Espírito Santo se converte
na vida do espírito do homem, este se converte na vida de todo o ser do
homem. O espírito, a alma e o corpo são restaurados segundo o propósito
original de Deus para toda pessoa nascida de novo.
Então o que terá que fazer para nascer de novo em espírito?
Sabemos que o Senhor Jesus morreu em lugar do pecador. Sofreu em seu
corpo na cruz por todos os pecados do mundo. Deus considera a morte do
Senhor Jesus como a morte de todas as pessoas do mundo. Sua
humanidade santa sofreu a morte por toda a humanidade ímpia. Mas há
algo que o homem mesmo tem que fazer.
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Tem que usar sua fé para comprometer-se — seu espírito, alma e
corpo — na união com o Senhor Jesus. Quer dizer, tem que considerar a
morte do Senhor Jesus como sua própria morte e a ressurreição do Senhor
Jesus como sua própria ressurreição. Este é o significado de João 3:16:
«Todo aquele que nele (literalmente) crê, não pereça mas tenha vida
eterna.» O pecador deve ter fé e acreditar no Senhor Jesus. Ao fazê-lo, se
une a Ele em sua morte e ressurreição e recebe a vida eterna (Jo. 17:3) —
que é a vida espiritual — para sua regeneração.
Tomemos cuidado de não separar a morte do Senhor Jesus como
nosso substituto de nossa morte com Ele. Certamente que o farão os que
põem ênfase na compreensão mental, mas na vida espiritual estes dois
fatos são inseparáveis. A morte substitutiva e a morte com Ele se
distinguem mas não se podem separar. Quem acredita na morte do
Senhor Jesus como seu substituto foi unido a Ele em sua morte (Rm. 6:2).
Para mim, acreditar na obra substitutiva do Senhor Jesus é acreditar que já
fui castigado nEle. O castigo de meu pecado é a morte, mas o Senhor Jesus
sofreu a morte por mim; por conseguinte morri nele. Não pode haver
salvação de outro modo. Dizer que Ele morreu por mim quer dizer que eu
já fui castigado e morri nele. Todo o que acredita nesse fato experimentará
sua realidade.
Assim, devemos dizer que a fé pela qual um pecador crê na morte
do Senhor Jesus como substituto é «acreditar por dentro» em Cristo e
como conseqüência está unido com Ele. Embora uma pessoa possa estar
preocupada só pelo castigo do pecado e não pelo poder do pecado,
mesmo assim sua união com o Senhor é a posse comum que compartilha
com todos os que crêem em Cristo. Quem não está unido ao Senhor, ainda
não acreditou, e em conseqüência não tem parte com o Senhor.
Ao acreditar, o que crê é unido ao Senhor. Estar unido com Ele quer
dizer experimentar tudo o que Ele experimentou. Em João 3 nosso Senhor
nos explica como somos unidos a Ele. Somos unidos a Ele em sua
crucificação e morte (vs. 14,15). No mínimo, a posição de todo crente é de
que foi unido ao Senhor em sua morte, mas é evidente que «se temos sido
unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos
na semelhança da sua ressurreição» (Rm. 6:5). Por isso, para o que crê na
morte do Senhor Jesus como substituto, sua posição é igualmente a de ter
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ressuscitado com Cristo. Apesar de que possivelmente não experimente
ainda plenamente o significado da morte do Senhor Jesus, mesmo assim
Deus o tem feito viver junto com Cristo e ele obteve uma nova vida no
poder da ressurreição do Senhor Jesus. Este é o novo nascimento.
Devemos nos guardar de insistir em que um homem não nasceu de
novo se não teve a experiência da morte e da ressurreição com o Senhor. A
Bíblia declara já regenerado a todo o que crê no Senhor Jesus. «Todos os
que o receberam, os que acreditaram em seu nome... nasceram de Deus»
(Jo. 1:12, 13). Fique entendido que ser ressuscitado junto com o Senhor não
é uma experiência prévia ao novo nascimento. Nossa regeneração é nossa
união com o Senhor em sua ressurreição e também em sua morte. Sua
morte terminou com nossa vida pecaminosa, e sua ressurreição nos deu
uma vida nova e nos iniciou na vida de cristão. O apóstolo nos assegura
que «nascemos de novo a uma esperança viva por meio da ressurreição do
Jesus Cristo dos mortos» (1 Pe. 1:3). Indica que todo cristão nascido de
novo já foi ressuscitado no Senhor. Entretanto, o apóstolo Paulo em
Filipenses ainda insiste conosco a experimentarmos «o poder de sua
ressurreição» (3:10). Muitos cristãos nasceram de novo e em conseqüência
foram ressuscitados com o Senhor, embora fiquem longe da manifestação
do poder da ressurreição.
Assim, não confundam a posição com a experiência. No momento
em que uma pessoa acredita no Senhor Jesus, pode ser muito fraca e
ignorante, mas, mesmo assim, Deus a colocou na perfeita posição de ser
considerada morta, ressuscitada e levantada com o Senhor. Quem é aceito
em Cristo é tão aceitável como Cristo. Esta é a posição. E sua posição é:
tudo o que Cristo experimentou é seu. E a posição o faz experimentar o
novo nascimento, porque não depende do grau de seu conhecimento
experimental da morte, da ressurreição e da ascensão do Senhor Jesus,
mas sim de se ter crido nele ou não. Inclusive, se um crente é em sua
experiência totalmente ignorante do poder de ressurreição de Cristo (Fp.
3:10), Ele o tem feito viver junto com Cristo, o ressuscitou com Ele e o
assentou com Ele nos lugares celestiais (Ef. 2:5, 6).
Ainda há outro tema a respeito da regeneração a que devemos
prestar muita atenção: que temos muito mais do que tínhamos em Adão
antes da queda. Naquele dia Adão possuía um espírito, mas era criado
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por Deus. Não era a vida incriada simbolizada pela árvore da vida. Não
havia absolutamente nenhuma relação vital entre Adão e Deus. Foi
chamado «o filho de Deus» de forma similar à maneira em que o são os
anjos, porque foi criado diretamente por Deus. Quem crê no Senhor Jesus,
entretanto, «nasce de Deus» (Jo. 1:12,13). Conseqüentemente, há uma
relação vital. Um filho herda a vida de seu pai. Nós nascemos de Deus, e
por conseguinte temos sua vida (2 Pe. 1:4). Se Adão houvesse recebido a
vida que Deus oferecia na árvore da vida, imediatamente teria obtido a
vida eterna incriada de Deus. Seu espírito veio de Deus e por isso é eterno.
A maneira como este espírito eterno viverá depende de como a pessoa
considere a ordem de Deus e da escolha que faça. A vida que nós cristãos
obtemos na regeneração é a mesma que Adão poderia ter tido, mas que
nunca teve: a vida de Deus. A regeneração não somente resgata das trevas
a ordem do espírito e da alma do homem; também proporciona ao homem
a vida sobrenatural de Deus.
O espírito caído e escurecido do homem é avivado pelo
fortalecimento do Espírito Santo ao aceitar a vida de Deus. Isto é o novo
nascimento. A base sobre a qual o Espírito Santo pode regenerar o homem
é a cruz (Jo. 3:14, 15). A vida eterna anunciada em João 3:16 é a vida de
Deus que o Espírito Santo planta no espírito do homem. Posto que esta
vida é de Deus e não pode morrer, depreende-se que todo nascido de
novo que possui esta vida podemos dizer que possui a vida eterna. Como
a vida de Deus desconhece por completo a morte, a vida eterna no homem
não morre jamais.
Estabelece-se uma relação vital com Deus no novo nascimento. Se
parece com o antigo nascimento da carne, que é uma vez e para sempre.
Uma vez que o homem nasceu de Deus, Deus nunca poderá considerá-lo
como não nascido dEle. Por infinita que seja a eternidade, esta relação e
esta posição não podem ser anuladas. Isto é porque o que um crente
recebe no novo nascimento não depende de uma busca progressiva,
espiritual e santa, mas sim é puro dom de Deus. O que Deus outorga é a
vida eterna. Não há nenhuma possibilidade de que esta vida e esta
posição sejam anuladas.
Receber a vida de Deus no novo nascimento é o ponto de partida do
andar com Cristo, um mínimo absoluto para o crente. Os que ainda não
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creram na morte do Senhor Jesus nem tenham recebido a vida
sobrenatural (que não podem possuir de maneira natural) estão mortos
aos olhos de Deus, por muito religiosos, morais, eruditos ou zelosos que
possam ser. Os que não têm a vida de Deus estão mortos.
Para os que nasceram de novo há uma grande potencialidade para o
crescimento espiritual. A regeneração é o primeiro passo evidente em um
desenvolvimento espiritual. Embora a vida recebida seja perfeita, precisa
alcançar maturidade. No momento do novo nascimento, a vida não pode
estar já plenamente desenvolvida. É como uma fruta recém formada: a
vida é perfeita, mas ainda é imatura. Por isso há uma ilimitada
possibilidade de crescer. O Espírito Santo pode levar a pessoa a uma
vitória total sobre o corpo e a alma.
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providenciou uma salvação completa no calvário para a regeneração dos
pecadores, e uma vitória total sobre a velha criatura por parte dos crentes.
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Segunda Parte
A Carne
1. A carne e a salvação
A palavra «carne» é basar em hebreu e sarx em grego. É usada com
freqüência na Bíblia e de diversas maneiras. O sentido mais significativo,
observado e esclarecido nos escritos do Paulo, faz referência à pessoa não
regenerada. Falando de seu velho «eu» diz em Romanos 7: «sou carnal»
(v.14). Não simplesmente é carnal sua natureza ou uma determinada parte
de seu ser. O «eu» — todo o ser de Paulo — é carnal. Reforça este
pensamento no versículo 18 ao afirmar: «dentro de mim, quer dizer, em
minha carne». Se deduz claramente que «carne» na Bíblia assinala a tudo o
que é uma pessoa não regenerada. Em relação a este uso de «carne» temos
que recordar que no princípio o homem foi feito espírito, alma e corpo.
Como é a sede da personalidade e da consciência do homem, a alma está
relacionada com o mundo espiritual por meio do espírito do homem. A
alma deve decidir se tem que obedecer ao espírito, e por conseguinte estar
unido a Deus e à sua vontade, ou se tem que ceder diante do corpo e de
todas as tentações do mundo material. Na queda do homem, a alma se
opôs à autoridade do espírito e ficou escravizada ao corpo e suas paixões.
Deste modo o homem se converteu em um homem carnal, não em um
homem espiritual. O espírito do homem foi despojado de sua nobre
posição e foi rebaixado à de um prisioneiro.
Posto que agora a alma está sob o poder da carne, a Bíblia considera
que o homem é carnal. Tudo o que é anímico se tornou carnal.
Além de usar «carne» para designar a tudo o que é uma pessoa não
regenerada, às vezes também se usa para denotar a parte branda do corpo
humano como distinta do sangue e dos ossos. Também pode ser usada
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para referir-se ao corpo humano. Pode ser usada em outras ocasiões
significando a totalidade da humanidade. Estes quatro significados estão
estreitamente relacionados.
Assim, deveríamos destacar brevemente estas três outras maneiras
de usar «carne» na Bíblia.
Primeira, «carne» referindo-se à parte branda do corpo humano.
Sabemos que um corpo humano é composto de carne, ossos e sangue. A
carne é a parte do corpo por meio da qual percebemos o mundo que nos
rodeia. Por conseguinte uma pessoa carnal é uma que segue ao mundo.
Vai ter simplesmente carne, vai atrás da sensação de sua carne.
Segunda, «carne» referindo-se ao corpo humano. Em termos muito
amplos significa o corpo humano tanto vivo como morto. Segundo a
última parte de Romanos 7, o pecado da carne está relacionado com o
corpo humano: «vejo em meus membros outra lei em guerra com a lei de
minha mente que faz-me cativo da lei do pecado que vive em meus
membros» (v. 23). Em seguida, o apóstolo continua no capítulo 8
explicando que se queremos vencer a carne devemos «dar morte às ações
do corpo» por meio do Espírito (v. 13). Por isso a Bíblia usa a palavra sarx
para indicar não só a carne psíquica mas também a carne física.
Terceira, «carne» referindo-se à totalidade da humanidade. Todos os
homens deste mundo são nascidos da carne, e em conseqüência todos são
carnais. Sem nenhuma exceção, a Bíblia considera todos os homens carne.
Todo homem é controlado pela composição da alma e do corpo que
chamamos carne, e vai atrás dos pecados de seu corpo e do eu de sua
alma. Por isso sempre que a Bíblia fala de todos os homens, sua frase
característica é «toda carne». Em conseqüência, basar ou sarx se referem
aos seres humanos em sua totalidade.
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Há três perguntas que ficam respondidas com esta concisa
afirmação:
1) o que é a carne;
2) como o homem se torna carne; e
3) qual é sua categoria ou natureza.
1) O que é a carne?
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3) Qual é a natureza da carne?
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«carnais, ligados ao pecado». Por isso com nossa carne «servíamos à lei do
pecado» (Rm. 7:5,14, 25).
Embora a carne seja extremamente forte pecando e seguindo o
desejo egoísta, é extremamente fraca em relação à vontade de Deus. O
homem não regenerado é incapaz de cumprir a vontade de Deus, sendo
«debilitado pela carne». E a carne é «hostil a Deus; não é sujeita à lei de
Deus, nem em verdade o pode ser» (Rm. 8:3, 7).
Entretanto, isto não quer dizer que a carne é alheia por completo às
coisas de Deus. Ocasionalmente os carnais fazem todo o esforço possível
para observar a lei. Além disso, a Bíblia nunca fala dos carnais como
sinônimos de infratores da lei. Simplesmente determina que «pelas obras
da lei nenhuma carne será justificada» (Gl. 2:16). É obvio que para os
carnais o não observar a lei não é nada insólito. Simplesmente prova que
são da carne. Mas agora que Deus decretou que o homem não será
justificado pelas obras da lei mas sim pela fé no Senhor Jesus (Rm. 3:28),
os que tentam seguir a lei só revelam sua desobediência a Deus,
procurando estabelecer sua própria justiça em lugar da justiça de Deus
(Rm. 10:3). Além disso, isto revela que pertencem à carne. Para resumir,
«os que estão na carne não podem agradar a Deus» (Rm. 8:8), e este «não
podem» sela o destino dos carnais.
Deus considera a carne totalmente corrompida. Está tão
estreitamente ligada com as paixões, que a Bíblia freqüentemente se refere
às paixões da carne» (2:18). Embora Seu poder seja grande, mesmo assim
Deus não pode transformar a natureza da carne em algo que lhe agrade. O
próprio Deus afirma: «Meu Espírito não permanecerá para sempre no
homem, porquanto ele é carne» (Gn. 6:3).
A corrupção da carne é tal que inclusive o Espírito Santo de Deus
não pode, por muito que lute contra a carne, conseguir que deixe de ser
carnal. O que nasce da carne é carne. Desgraçadamente, o homem não
compreende a Palavra de Deus e por isso tenta continuamente melhorar e
reformar sua carne. Entretanto, a Palavra de Deus permanece para
sempre. Por causa da tremenda corrupção da carne, Deus adverte seus
santos que odeiem «inclusive a túnica manchada pela carne» (Jd. 23).
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Como Deus sabe avaliar a autêntica condição da carne, declara que é
imutável. Qualquer pessoa que tenta melhorá-la com atos de humilhação
pessoal ou tratamento severo ao corpo fracassará por completo. Deus
reconhece a impossibilidade de que a carne seja trocada ou melhorada.
Por isso, ao salvar ao mundo não tenta modificar a carne do homem. Em
lugar disso dá ao homem uma vida nova para ajudá-lo a dar morte à
carne. A carne tem que morrer. Esta é a salvação.
A SALVAÇÃO DE DEUS
O apóstolo afirma que «Deus tem feito o que a lei, debilitada pela
carne, não podia fazer: enviando o seu próprio Filho na semelhança da
carne de pecado, e no concernente ao pecado, condenou o pecado na
carne» (Rm. 8:3). Isto revela a situação real da classe moral de quão carnais
sejam, possivelmente estão muito resolvidos a observar a lei. É verdade
que podem estar observando alguns de seus pontos. No entanto,
debilitados pela carne, não podem observar toda a lei.* Porque a lei deixa
muito claro que «o que fizer estas coisas, por elas viverá» (Gl. 3:12
mencionando Lv. 18:5) ou senão será condenado à perdição.
Alguém pode perguntar: Quanto da lei, tem que se observar? Toda a
lei, porque «o que observa toda a lei, mas falha em um ponto, faz-se
culpado de toda» (Tg. 2:10). «Porque nenhum ser humano será justificado
a seus olhos pelas obras da lei, posto que da lei vem o conhecimento do
pecado» (Rm. 3:20). quanto mais se deseja observar a lei, mais se descobre
quão pecador é e quão impossível é observá-la.
A reação de Deus à pecaminosidade de todos os homens é ocupar-se
Ele mesmo da tarefa da salvação. Seu método é «enviar a seu próprio
Filho à semelhança da carne pecaminosa». Seu Filho é sem pecado, por
isso é o único qualificado para nos salvar. A expressão: «À semelhança da
*
É obvio que deveríamos observar que há outra classe, reconhecida em Romanos 8:7,
que não se preocupa absolutamente de observar a lei de Deus: «a mente que está
assentada na carne é hostil a Deus; não se submete à lei de Deus, seriamente não
pode»).
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carne pecaminosa» descreve sua encarnação: como toma um corpo
humano e se une com a humanidade. O único Filho de Deus é
mencionado em outro ponto como «o Verbo» que «se fez carne» (Jo. 1:14).
Sua vinda à semelhança da carne pecaminosa é o «se fez carne» desse
versículo. Por isso nosso versículo em Romanos 8:3 nos explica também de
que maneira a Palavra se fez carne. A ênfase, aqui, é que Ele é o Filho de
Deus, e portanto é sem pecado. Inclusive quando vem na carne, o Filho de
Deus não se faz «carne pecaminosa». Só vem à semelhança da carne
pecaminosa». Enquanto viveu na carne, permaneceu como Filho de Deus
e sem pecado. Entretanto, como possui a semelhança da carne
pecaminosa, está estreitamente unido aos pecadores do mundo que vivem
na carne.
Então qual é o propósito de sua encarnação? A explicação que nos
dá a Bíblia é «o sacrifício pelos pecados» (At. 10:12), e esta é a obra da
cruz. O Filho de Deus tem que expiar nossos pecados. Todos os carnais
pecam contra a lei, não podem estabelecer a justiça de Deus e estão
condenados à perdição e ao castigo. Mas o Senhor Jesus, ao vir ao mundo,
toma esta semelhança da carne pecaminosa e se une tão completamente
aos carnais, que estes são castigados por seu pecado na morte de Cristo na
cruz. Ele não tem que sofrer, porque é sem pecado, mas sofre porque tem
a semelhança da carne pecaminosa. Na posição de uma nova cabeça
corporativa, o Senhor Jesus inclui a todos os pecadores em seu sofrimento.
Isto explica o castigo pelo pecado.
Como sacrifício pelo pecado, Cristo sofre por todos os que estão na
carne. Mas e o poder do pecado que enche os carnais? «Condenou ao
pecado na carne.» O, que é sem pecado, é feito pecado por nós para que
morra pelo pecado. Ele é «morto na carne» (1 Pe. 3:18). Ao morrer na
carne leva à cruz o pecado na carne. Isto é o que quer dizer a frase
«condenou o pecado na carne». Condenar é julgar ou impor um castigo. O
julgamento e o castigo do pecado é a morte. Por isso o Senhor Jesus dá
morte ao pecado em sua carne. Por conseguinte, podemos ver em sua
morte que não só são julgados nossos pecados mas também inclusive é
julgado o próprio pecado. Assim, o pecado já não tem nenhum poder
sobre os que se uniram à morte do Senhor e em conseqüência têm o
pecado condenado em sua carne.
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A REGENERAÇÃO
A libertação do castigo e do poder do pecado, que Deus dá, se
realiza na cruz de seu Filho. Agora põe esta salvação diante de todos os
homens para que todo o que queira aceitá-la seja salvo.
Deus sabe que no homem não há nada bom. Nenhuma carne pode
lhe agradar. Está corrompida sem possibilidade de reparação. Posto que é
tão irremediável, como pode o homem agradar a Deus depois de ter
acreditado, se Ele mesmo não lhe dá algo novo? Graças a Deus que
outorgou uma vida nova, sua vida não criada, aos que acreditam na
salvação do Senhor Jesus e O recebem como seu Salvador pessoal. Isto se
chama «regeneração» ou «novo nascimento». Embora Deus não possa
modificar nossa carne, nos dá sua vida. A carne do homem permanece tão
corrupta nos que nasceram de novo como nos outros. A carne de um santo
é tal e qual a de um pecador. Na regeneração, a carne não se transforma. O
novo nascimento não exerce nenhuma influência sobre a carne. Permanece
tal como é.
Deus não nos transmite sua vida para educar ou adestrar à carne.
Ao contrário, a dá a nós para vencer a carne.
Na regeneração o homem passa a estar vinculado a Deus pelo novo
nascimento. A regeneração significa nascer de Deus. De maneira que,
nossa vida carnal nasce de nossos pais, nossa vida espiritual nasce de
Deus. O significado do nascimento é «transmitir vida». Quando dizemos
que nascemos de Deus, significa que recebemos uma nova vida dEle. O
que recebemos é uma vida autêntica.
Vimos anteriormente de que maneira nós, seres humanos, somos
carnais. Nosso espírito está morto e nossa alma dirige totalmente todo o
ser. Andamos segundo as paixões do corpo. Não há nada bom em nós. Ao
vir nos libertar, Deus deve primeiro restaurar a posição do espírito para
que possamos tornar a ter comunhão com Ele. Isto acontece quando
cremos no Senhor Jesus. Deus põe sua vida em nosso espírito, e deste
modo o ressuscita da morte. Agora o Senhor Jesus afirma que «o que
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nasce do Espírito é espírito» (Jo. 3:6). Nesse momento a vida de Deus, que
é o Espírito, entra em nosso espírito humano e o restaura à sua posição
original.
O Espírito Santo se instala no espírito humano e desta maneira o
homem é transferido ao mundo espiritual. Nosso espírito é avivado e
torna a prevalecer. O «espírito novo» mencionado em Ezequiel 36:26 é a
vida nova que recebemos na regeneração.
O homem não é regenerado por fazer algo especial, mas sim por
acreditar no Senhor Jesus como seu Salvador: «a todos os que O
receberam, aos que acreditaram em Seu nome, deu-lhes poder de serem
feitos filhos de Deus; os que nasceram não de sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus» (Jo. 1:12, 13). Os que
acreditam no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, nascem de Deus e
como conseqüência são filhos dele.
A regeneração é um mínimo na vida espiritual. É a base sobre a qual
posteriormente se edificará.
Ninguém pode falar de vida espiritual nem esperar crescer
espiritualmente se não for regenerado, posto que não tem vida em seu
espírito. Da mesma maneira que ninguém pode construir um castelo no
ar, tampouco podemos edificar os que não estão regenerados. Se
tentarmos ensinar a um não regenerado a fazer o bem e adorar a Deus,
estaremos ensinando a um morto. Ao tentar reformar a carne, estamos
tentando fazer o que Deus não pode fazer. É vital que cada crente saiba
sem dúvidas que já foi regenerado e que recebeu uma vida nova. Deve ver
claramente que o novo nascimento não é tentar pôr remendos à velha
carne ou transformá-la em vida espiritual. Ao contrário, é receber uma
vida que nunca teve antes. Quem não nasce de novo não pode ver o reino
de Deus. Não pode perceber os mistérios espirituais, nem saborear a
doçura celestial do reino de Deus. Seu destino só é o de esperar a morte e
o julgamento. Para ele não há nada mais.
Como uma pessoa pode saber que foi regenerada? João nos diz que
o homem nasce de novo ao crer no nome do Filho de Deus e ao recebê-lo
(1:12). O Filho de Deus se chama «Jesus», que significa «salvará o povo de
seus pecados» (Mt. 1:21). Assim, crer no nome do Filho de Deus equivale a
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acreditar nele como Salvador, acreditar que morreu na cruz por nossos
pecados para nos libertar do castigo e do poder do pecado. Acreditar nisso
é recebê-lo como Salvador. Se alguém deseja saber se está regenerado ou
não, só tem que fazer uma pergunta: fui à cruz como um pecador
necessitado e recebi ao Senhor Jesus como Salvador? Se responder
afirmativamente, está regenerado. Todo o que crê no Senhor Jesus nasce
de novo.
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A Bíblia jamais nos diz que temos que ser crucificados pelo pecado,
é verdade. Entretanto, nos exorta sim, que levemos a cruz para negar o
eu. O Senhor Jesus em muitas ocasiões nos manda que neguemos a nós
mesmos e levemos a cruz e O sigamos. A explicação disto é que a forma
como o Senhor Jesus trata nossos pecados e trata a nós mesmos é muito
distinta Para conquistar o pecado por completo o crente só necessita um
instante. Para negar seu eu necessita toda a vida. Jesus só levou nossos
pecados na cruz, mas se negou a si mesmo durante toda sua vida. Nós
devemos fazer igual.
A carta de Paulo aos Gálatas descreve a relação entre a carne e o
crente. Por um lado nos diz que «os que pertencem a Cristo Jesus
crucificaram a carne com suas paixões e desejos» (5:24). No mesmo dia em
que uma pessoa se identifica com o Senhor Jesus, sua carne também é
crucificada.
Agora bem, alguém poderia pensar, sem a instrução do Espírito
Santo, que sua carne já não existe, pois acaso não foi crucificada? Mas, por
outro lado, a carta nos diz «andem no Espírito e não satisfaçam os desejos
da carne. Porque os desejos da carne se opõem ao Espírito, e os desejos do
Espírito se opõem à carne» (5:16, 17). Aqui nos diz claramente que o que
pertence a Cristo Jesus e que já tem o Espírito Santo vivendo nele, ainda
tem a carne nele. E não é somente que a carne existe; também nos diz que
é singularmente poderosa.
O que podemos dizer? São contraditórios estes dois textos bíblicos?
Não. O versículo 24 põe ênfase no pecado da carne, enquanto que o
versículo 17 o põe no eu da carne. A cruz de Cristo trata com o pecado, e o
Espírito Santo trata com o eu por meio da cruz. Cristo liberta por completo
o crente do poder do pecado por meio da cruz, para que o pecado não
torne a reinar, mas Cristo, por meio do Espírito Santo que vive no crente,
capacita-o para vencer o eu dia após dia e para que obedeça a Ele por
completo. A libertação do pecado é um fato consumado. A negação do eu
tem que ser uma experiência diária.
Se um crente pudesse compreender toda a transcendência da cruz
ao nascer de novo, se livraria totalmente do pecado e teria uma vida nova.
É realmente lamentável que muitos obreiros cristãos não apresentam essa
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salvação completa aos pecadores, e com isso, estes só acreditam na metade
da salvação de Deus. Isto os deixa nessa situação: seus pecados estão
perdoados, mas falta-lhes a força para deixar de pecar. Por outra parte,
mesmo nas ocasiões em que se lhes apresenta a salvação em sua
totalidade, os pecadores só desejam que seus pecados lhes sejam
perdoados, porque não esperam sinceramente ser libertados do poder do
pecado.
Se uma pessoa crê e recebe uma salvação plena desde o começo, terá
menos fracassos lutando com o pecado e mais êxito lutando com o eu. É
raro encontrar esse tipo de crentes. A maioria só têm a metade de sua
salvação. Por isso a maioria de seus conflitos são com o pecado. E alguns
nem sequer sabem o que é o eu. Quanto a isto, a condição pessoal do
crente até usa uma parte antes da regeneração. Muitos tendem a fazer o
bem inclusive antes de acreditar. É obvio que não possuem o poder para
fazer o bem nem tampouco podem ser bons. Mas sua consciência parece
estar relativamente iluminada, embora sua força para fazer o bem seja
débil. Têm o que se costuma chamar de conflito entre a razão e as paixões.
Quando se inteiram da salvação completa de Deus aceitam ofegantes a
graça para a libertação do pecado no mesmo momento em que recebem a
graça para o perdão do pecado.
Outros, entretanto, antes de acreditar, têm a consciência negra,
pecam terrivelmente e jamais tentam fazer o bem. Ao conhecer a salvação
completa de Deus se agarram à graça do perdão e descuidam (não
rejeitam) a graça para a libertação do pecado. No futuro enfrentarão
muitas lutas com o pecado da carne.
E por que será assim? Porque um homem assim nascido de novo
possui uma vida nova que lhe exige que vença o domínio da carne e
obedeça a ela em seu lugar. A vida de Deus é absoluta. Tem que obter o
domínio total sobre o homem. Assim que esta vida entra no espírito
humano exige do homem que abandone a seu antigo amo, o pecado, e se
submeta por completo ao Espírito Santo. Mesmo assim, o pecado está
muito enraizado neste homem em particular. Embora sua vontade seja
renovada em parte através da vida regenerada, ainda está apegado ao
pecado e ao eu. Em muitas ocasiões se inclina ao pecado.
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Inevitavelmente surgirá um grande conflito entre a vida nova e a
carne. Posto que são muitíssimas as pessoas que se encontram nesta
situação, lhes prestaremos uma atenção especial. Entretanto, permitam
que recorde a meus leitores quão desnecessário é ter lutas e fracassos
contínuos com o pecado (não com o eu, pois isto é diferente).
A carne exige soberania absoluta, igualmente a vida espiritual. A
carne deseja ter o homem sujeito para sempre a ela mesma, enquanto que
a vida espiritual quer ter o homem completamente sujeito ao Espírito
Santo. A carne e a vida espiritual diferem por completo. A natureza da
carne é a do primeiro Adão, enquanto que a natureza da vida espiritual
pertence ao último Adão. O mover da primeira é terrestre, mas o da
segunda é celestial. A carne centra todas as coisas no eu; a vida espiritual
centra tudo em Cristo. A carne deseja levar o homem ao pecado, mas a
vida espiritual deseja levá-lo à justiça. Posto que estas duas são tão
essencialmente opostas, como uma pessoa pode evitar se chocar
continuamente com a carne?
O crente estará em constante luta se não compreender toda a
salvação de Cristo.
Quando os crentes jovens entram nestes conflitos ficam estupefatos.
Alguns se desesperam em querer crescer espiritualmente, pensando que
são muito maus. Outros começam a duvidar de que estejam realmente
regenerados, sem ver que a própria regeneração suporta esta
confrontação. Antes, quando a carne governava sem interferências
(porque o espírito estava morto), podiam pecar terrivelmente sem ter
nenhum sentimento de culpa. Agora surgiu a nova vida, e com ela a
natureza, o desejo, a luz e o pensamento celestiais. Quando esta nova luz
penetra no homem põe a descoberto imediatamente a corrupção que há
dentro. O novo crente não quer permanecer em um estado semelhante e
deseja seguir a vontade de Deus. A carne começa a lutar com a vida
espiritual. Esta batalha dá a impressão ao crente de que em seu interior há
duas pessoas. Cada uma tem sua própria idéia e força. Cada uma busca a
vitória. Quando domina a vida espiritual, o crente se sente muito feliz,
mas quando começa a dominar a carne, se entristece. As experiências
deste tipo confirmam que essas pessoas foram regeneradas.
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O propósito de Deus não é, nem será jamais, reformar a carne mas
sim destruí-la. O eu na carne deve ser destruído com a vida de Deus que o
crente recebe na regeneração. Certamente, a vida que Deus transmite ao
homem é muito poderosa, mas a pessoa regenerada ainda é um bebê
recém-nascido e muito fraco. A carne teve as rédeas durante muito tempo
e seu poder é tremendo. Além disso, o regenerado ainda não aprendeu a
receber por fé a completa salvação de Deus. Embora esteja salvo, ainda
está na carne durante este período. Ser carnal significa estar sendo
governado pela carne. O mais lamentável é que um crente, iluminado pela
luz celestial para conhecer a maldade da carne e para desejar com todo o
coração vencê-la, encontre-se muito fraco para obtê-lo. É quando derrama
muitas lágrimas de tristeza. Como não vai estar zangado consigo mesmo
se, embora abrigue um novo desejo de destruir o pecado e agradar a Deus,
sua vontade não é bastante firme para dominar o corpo de pecado?
Poucas são as vitórias, e muitas as derrotas.
Em Romanos 7 Paulo expressa a angústia deste conflito:
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Qual é o significado desta confrontação? É uma das maneiras com
que o Espírito Santo nos disciplina. Deus proporcionou uma salvação total
para o homem. Quem não sabe que a tem não poderá desfrutar dela, nem
tampouco poderá experimentá-la se não a desejar. Deus só pode dar algo
aos que acreditam, recebem e pedem. Por isso quando o homem pede o
perdão e a regeneração Deus o concede, sem dúvida. E Deus usará o
conflito para levar o crente a procurar e a conseguir o triunfo total em
Cristo. O que antes era ignorante agora desejará saber, e então o Espírito
Santo terá uma oportunidade de lhe revelar o que Cristo fez com seu
velho homem na cruz para que agora possa acreditar e possuir este
triunfo. E o que não possuía porque não procurava, descobrirá por meio
desta luta que toda a verdade que ele tinha só era mental e, por
conseguinte, inútil. Isto lhe fará desejar experimentar a verdade que só
tinha conhecido mentalmente.
As lutas aumentam dia a dia. Se os crentes se mantiverem fiéis sem
se desesperar, passarão por conflitos mais duros até o momento em que
sejam libertados.
2. O crente carnal
Como Paulo, todos os crentes poderiam ser cheios com o Espírito
Santo no momento de acreditar e no batismo (comparar Atos 9:17, 18). Por
desgraça, muitos ainda estão controlados pela carne como se não tivessem
morrido e ressuscitado. Estes não acreditaram de verdade no fato
consumado da morte e a ressurreição de Cristo por eles, nem obraram
sinceramente segundo a chamada do Espírito Santo a seguir o princípio
da morte e da ressurreição. Segundo a obra consumada de Cristo já
morreram e foram ressuscitados, e segundo sua responsabilidade como
crentes deveriam morrer ao eu e viver para Deus, mas na prática não o
fazem. Estes crentes podem ser considerados anormais. Sem dúvida, não
devemos pensar que esta anormalidade é exclusiva de nosso tempo. Faz
muitíssimo tempo o apóstolo Paulo se encontrou em uma situação
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semelhante entre crentes. Os cristãos de Corinto eram um exemplo.
Ouçam o que lhes disse:
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nascem da carne? Por isso, considerando sua autêntica condição, os
cristãos que são crianças recém-nascidas são em geral da carne.
A Bíblia não espera que os novos cristãos sejam espirituais
instantaneamente, mas se depois de muitos anos continuam sendo
crianças, então sua situação é verdadeiramente muito lamentável. Paulo
mesmo diz aos coríntios que, no princípio, os tinha tratado como homens
da carne porque eram meninos recém-nascidos em Cristo e que agora —
quando lhes escrevia — deveriam ser já adultos. Em vez disso, tinham
esbanjado suas vidas, continuavam sendo meninos e por isso ainda eram
carnais.
Para ser transformado de carnal a espiritual não é necessário tanto
tempo como pensamos atualmente. Os crentes de Corinto procediam de
um ambiente pagão categoricamente pecaminoso. Ao fim de uns poucos
anos o apóstolo já via que tinham sido meninos muito tempo. Tinham
estado muito tempo na carne, porque então já tinham que ser espirituais.
O propósito da redenção de Cristo é eliminar tudo o que obstaculize o
controle do Espírito Santo sobre toda a pessoa para que desse modo possa
ser espiritual. Esta redenção não pode falhar jamais porque o poder do
Espírito Santo é superabundante. Da mesma maneira que um pecador
carnal pode converter-se em um crente regenerado, um crente regenerado
mas carnal pode ser transformado em um homem espiritual. O que é
lamentável é encontrar cristãos que não realizaram nenhum progresso em
sua vida espiritual ao longo de vários anos e até décadas! E estes mesmos
se assombram quando encontram alguém que, ao fim de uns anos,
empreende uma vida do espírito. Consideram isso como algo muito
estranho e não vêem que se trata simplesmente de algo normal, do normal
crescimento da vida.
Quanto tempo faz que crêem no Senhor? São espirituais?
Não devemos nos tornar meninos velhos, entristecendo o Espírito
Santo e prejudicando a nós mesmos. Todos os regenerados deveriam
ambicionar um desenvolvimento espiritual, permitindo que o Espírito
Santo governe sobre tudo, para que em um período de tempo
relativamente curto possa nos levar ao que Deus dispôs para nós. Não
devemos perder o tempo sem fazer progressos.
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Então, quais são as razões para não crescer? Possivelmente há duas.
Por um lado pode ser devido à negligência dos que, tendo a seu cargo as
almas dos jovens crentes, possivelmente só lhes falam da graça de Deus e
de sua posição em Cristo, mas se esquecem de animá-los a procurar
experiências espirituais. (Melhor dizendo, possivelmente os que têm
outros sob seu cuidado, também desconhecem a vida no Espírito. Como
podem semelhantes pessoas guiar outros a uma vida mais abundante?)
Por outro lado, pode ser porque aos próprios crentes não interessam os
assuntos espirituais. Supõem que basta estar salvo, ou não têm apetite
espiritual ou simplesmente não estão dispostos a pagar o preço para
poder avançar.
Como conseqüência deplorável disto, a igreja está repleta de
meninos grandes.
Quais são as características dos carnais? A mais destacada é que
continuam sendo meninos muito tempo. A duração da infância não
deveria passar de uns poucos anos. Quando uma pessoa nasce de novo ao
acreditar que o Filho de Deus expiou seus pecados na cruz,
simultaneamente deveria acreditar que foi crucificado com Cristo, para
que assim o Espírito Santo possa libertá-lo do poder que a carne exerce em
nós.
Naturalmente, se desconhecer este fato, permanecerá na carne
durante muitos anos.
A segunda característica dos carnais é que são incapazes de
assimilar o ensino espiritual. «Vos alimentei com leite, não com comida
sólida; porque não estavam preparados.» Os coríntios se orgulhavam
enormemente de seu conhecimento e de sua sabedoria. De todas as Igrejas
desse período, a de Corinto era provavelmente a mais instruída. Paulo, em
sua carta, dá graças a Deus por seu grande conhecimento (1:5). Se Paulo
lhes pregava um sermão espiritual podiam compreender cada palavra. No
entanto, toda sua compreensão estava na mente. Embora soubessem tudo,
estes coríntios não tinham o poder de expressar na vida o que sabiam.
Muito provavelmente hoje em dia há muitos crentes que sabem tanto e tão
bem, que até podem pregar a outros, mas que ainda não são espirituais. O
autêntico conhecimento espiritual não se encontra em pensamentos
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maravilhosos e misteriosos mas sim na experiência espiritual real através
da união da vida do crente com a verdade. Aqui a inteligência não serve,
e o anseio pela verdade também é insuficiente. O indispensável é um
caminho de total obediência ao Espírito Santo, que é o único que nos
ensina de verdade. Todo o resto é a simples transmissão de conhecimento
de uma mente a outra. Estes dados não tornam espiritual alguém que seja
carnal.
Pelo contrário, na realidade sua carnalidade transformará em carnal
todo seu conhecimento «espiritual». O que necessita não é mais ensino
espiritual, mas sim um coração obediente que esteja disposto a ceder sua
vida ao Espírito Santo e que ande pelo caminho da cruz segundo o
mandamento do Espírito. Um maior ensino espiritual só reforçará sua
carnalidade e servirá para que se engane e se considere espiritual.
Por acaso não diz a si mesmo: «De que maneira poderia saber tantas
coisas espirituais se não fosse espiritual?» No entanto, o autêntico
questionamento deveria ser: «Quanto sabe deveras da vida, e quanto do
que sabe é um produto da mente?» Que Deus tenha misericórdia de nós.
Paulo escreveu sobre mais outra evidência da carnalidade: que
«havendo ciúmes e rivalidades entre vós, não são da carne e se
comportam como os outros homens?» O pecado do ciúme e da rivalidade
é uma prova eminente de carnalidade. Na igreja de Corinto abundavam as
dissensões, coisa que fica confirmada com afirmações tais como «Eu sou
de Paulo; ou Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou Eu de Cristo.» (1 Co.
1:12). Inclusive os que diziam «sou de Cristo» também eram carnais,
porque o espírito da carne sempre e em todas partes é ciumento e
litigioso. Estes eram indefectivelmente carnais ao declarar-se cristãos com
essa atitude de espírito. Por muito bonita que soe a palavra, qualquer
jactância sectária não passa de balbucios de um bebê. As divisões na igreja
são devidas exclusivamente à falta de amor e à carnalidade.
Essas pessoas que aparentemente discutem pela verdade não fazem
mais que camuflar a verdadeira pessoa. Os pecadores do mundo são
homens da carne. Como tais, não estão regenerados, e em conseqüência
estão sob o domínio de sua alma e de seu corpo. Para um crente, ser carnal
significa que também se comporta como um homem comum. É
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perfeitamente natural que os mundanos sejam carnais, e é compreensível
que os crentes recém-nascidos sejam carnais, mas depois de anos em que
alguém esteja acreditando no Senhor já deveria ser espiritual; então como
pode continuar comportando-se como uma pessoa do mundo?
É evidente que uma pessoa pertence à carne se se comportar como
um homem comum e pecar com freqüência. Não importa quanta doutrina
espiritual saiba, ou quantas experiências espirituais pretenda haver tido,
ou quantos serviços eficazes tenha prestado. Nada disso o faz menos
carnal se continuar sem se livrar de seu peculiar temperamento, seu mau
gênio, seu egoísmo, sua vanglória e sua falta de perdão e de amor.
Ser carnal significa comportar-se «como homens comuns».
Deveríamos nos perguntar se nossa conduta difere radicalmente ou não
da dos homens comuns. Se têm mantido em suas vidas muitos costumes
mundanos, então são, sem dúvida alguma, da carne. Não discutamos
sobre se nos chamamos espirituais ou carnais. Se não estamos sendo
governados pelo Espírito Santo, que proveito tiraremos da simples
qualificação de espirituais? Afinal isto é um assunto de vida, e não de
títulos.
OS PECADOS DA CARNE
O que o apóstolo estava experimentando em Romanos 7 era uma
guerra contra o pecado que habita no corpo.
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Podemos classificar as necessidades do corpo humano em três
categorias: nutrição, reprodução e defesa.
Antes da queda do homem, estas eram necessidades legítimas,
alheias ao pecado. Só depois que o homem caiu no pecado, se
converteram em instrumentos do pecado.
No caso da nutrição, o mundo utiliza a comida para nos seduzir.
A primeira tentação do homem está neste campo da comida. Da
mesma maneira que a fruta do conhecimento do bem e do mal tentou a
Eva, hoje em dia o beber e os banquetes se converteram em um pecado da
carne. Não tratemos com leviandade este assunto da comida, porque
muitos cristãos carnais tropeçam nesse ponto. Os crentes carnais de
Corinto faziam tropeçar a seus irmãos precisamente nesse assunto da
comida. Por isso a todos os que tinham que ser anciões e diáconos naquele
tempo lhes era exigido que houvessem superado este ponto (1 Tm. 3:3, 8).
Só a pessoa espiritual compreende a inutilidade de dedicar-se a comer e a
beber.
AS COISAS DA CARNE
A carne tem muitas saídas. Aprendemos que é hostil a Deus e não
pode Lhe agradar de nenhum modo. Entretanto, nem o crente nem o
pecador podem avaliar genuinamente a absoluta inutilidade,
perversidade e contaminação da carne da maneira que o vê Deus, se não o
mostra o Espírito Santo. Só quando Deus, por seu Espírito, revela ao
homem a verdadeira condição da carne tal como Deus a vê, pode o
homem enfrentar-se com sua carne.
As manifestações da carne são bem conhecidas. Se um homem for
rigoroso consigo mesmo e se negar a seguir, como costumava, «os desejos
do corpo e da mente» (Ef. 2:3), se dará conta com facilidade de quão sujas
são estas manifestações. A carta do Paulo aos Gálatas dá uma lista destes
pecados da carne para que ninguém se possa confundir:
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«Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a
prostituição, a impureza, a lascívia, a idolatria, a feitiçaria,
as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções,
as dissensões, os partidos (literalmente, "seitas"), as
invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a
estas, contra as quais vos previno, como já antes vos
preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o
reino de Deus.» (5:19-21).
A NECESSIDADE DA MORTE
À medida em que um crente seja iluminado pelo Espírito Santo para
perceber algo da lamentável condição de ser carnal, nesse ponto se
intensificará sua luta com a carne, e seus fracassos se farão evidentes mais
freqüentemente. Na derrota se dará conta do pecado e da fraqueza da
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carne, para que desperte nele uma crescente indignação para si mesmo e
uma ardente determinação de lutar contra o pecado de sua carne.
Semelhante reação em cadeia se pode estender pó bastante tempo até que
finalmente, ao experimentar a profunda obra da cruz, seja libertado. Que o
Espírito Santo nos guie desta maneira é algo intencional.
Antes de que a cruz possa realizar uma obra profunda tem que
haver uma preparação adequada. A luta e o fracasso nos proporcionam
isso.
Quanto à experiência do crente, embora mentalmente possa estar de
acordo com a avaliação que Deus faz de que a carne está corrompida por
completo e é irredimível, mesmo assim pode carecer da clara percepção
espiritual que avalia com precisão a corrupção e a contaminação da carne.
Possivelmente aceita que o que Deus diz é certo. Mas embora o crente o
diga, ainda a sua carne tenta lhe impor justificativas.
Muitos crentes, ignorantes da salvação de Deus, tentam conquistar a
carne brigando com ela. Acreditam que a vitória depende da força que
possuem. Por conseguinte, contam seriamente com que Deus lhes
concederá um grande poder espiritual para que possam dominar a sua
carne. Normalmente esta batalha se estende por um longo período de
tempo, com mais derrota que vitórias, até que finalmente se vê que uma
vitória total sobre a carne é irrealizável.
Durante este tempo o crente continua por uma parte guerreando, e
pela outra tentando melhorar ou disciplinar sua carne. Ora,
esquadrinhando a Bíblia, estabelece muitas regras («não faça, não prove,
não toque»), na vã esperança de dominar e domar à carne.
Inconscientemente cai na armadilha de tratar o mal da carne como um
resultado da falta de regras, educação e civilidade. Acredita que se
pudesse dar a sua carne alguma preparação espiritual se livraria de seu
problema. Não vê que semelhante tratamento é inútil (Cl. 2:21-23).
Por causa da confusão em que se acha o cristão, desejando, na
aparência, a destruição da carne, mas ao mesmo tempo procurando
melhorá-la, o Espírito Santo deve lhe permitir que lute, que seja derrotado
e que sofra sob suas próprias acusações. Só depois de ter passado por esta
experiência repetidamente, o cristão compreenderá que a carne é
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irredimível e que seu método é vão. Então procurará outro tipo de
salvação. Deste modo conhecerá por experiência o que antes só conhecia
mentalmente.
Se um filho de Deus acredita no Deus fiel e sinceramente suplica ao
Espírito Santo que lhe revele a santidade de Deus para poder conhecer sua
carne debaixo dessa luz, o Espírito o fará, sem dúvida. Possivelmente
economizará muitos sofrimentos no futuro. Mas crentes assim há poucos.
A maioria confia em seu próprio método, pretendendo que não são tão
maus depois de tudo. Para corrigir esta presunção errônea, o Espírito leva
pacientemente aos crentes a que comprovem pouco a pouco a inutilidade
de seus próprios métodos.
Temos dito que não podemos ceder diante da carne, nem tampouco
podemos corrigi-la nem educá-la, posto que nenhum de nossos métodos
pode chegar jamais a minimamente modificar a natureza da carne. O que
podemos fazer, então? A carne deve morrer. É o método de Deus.
O único caminho é a morte, e não há outro. Preferiríamos domar a
carne com nosso esforço, com nossa vontade ou com outros inumeráveis
meios, mas a prescrição de Deus é a morte. Se a carne morre, não ficam
resolvidos todos os problemas de maneira automática? Não temos que
conquistar a carne: ela tem que morrer. É muito razoável, se
considerarmos a maneira com que passamos a ser carne já no princípio: «o
que nasce da carne é carne». Nos tornamos carne ao nascer dela. Agora
bem, a saída simplesmente segue a entrada. A maneira de possuir é a
maneira de perder. Como nos fizemos carne ao nascer da carne, se
depreende facilmente que nos liberaremos dela, se morrer. A crucificação
é o único caminho.
A LIBERTAÇÃO DA CRUZ
Em sua carta aos Gálatas, depois de enumerar muitos atos da carne,
o apóstolo Paulo adverte que «os que pertencem a Jesus Cristo
crucificaram a carne com suas paixões e desejos» (Gl. 5:24). Eis aqui a
libertação. Não é estranho que o que interessa ao crente difere muito do
que interessa a Deus? O crente está interessado nas «obras da carne» (Gl.
5:19), quer dizer, nos pecados variados da carne. Está ocupado com a
irritação de hoje, o ciúmes de amanhã ou a disputa de depois de amanhã.
O crente se lamenta por um pecado em particular e deseja conseguir a
vitória sobre ele. Entretanto, todos estes pecados só são frutos da mesma
árvore. Enquanto se agarra uma fruta (em realidade não se pode agarrar
nenhuma) aparece outra. Crescem uma atrás de outra e não dão nenhuma
possibilidade de vitória. Por outro lado, Deus não está interessado nas
obras da carne mas sim na crucificação da carne.
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O crente trabalha ativamente fazendo planos para controlar os
pecados, que são as frutas, enquanto se esquece de tratar a própria carne
— que é a raiz —. Não é estranho que antes de que possa resolver um só
pecado já surgiu outro. Por isso hoje devemos tratar a origem do pecado.
Os recém-nascidos em Cristo precisam se apropriar do profundo
significado da cruz porque ainda são carnais. O objetivo de Deus é
crucificar junto com Cristo o velho homem do crente, com o resultado de
que os que pertencem a Cristo «crucificaram a carne com suas paixões e
desejos».
Tenham presente que o que foi crucificado é a carne junto com suas
poderosas paixões e desejos.
Posto que o pecador foi regenerado e redimido de seus pecados por
meio da cruz, agora o menino carnal em Cristo deve ser libertado do
domínio da carne pela mesma cruz para que possa andar segundo o
espírito e já não segundo a carne. Depois disto não passará muito tempo
antes de que seja um cristão espiritual.
Aqui encontramos o contraste entre a queda do homem e a ação da
cruz. A salvação que proporciona esta é justamente o remédio para
aquela. Que adequação tão perfeita entre as duas!
Primeiro Cristo morreu na cruz pelo pecador para perdoar seu
pecado. Portanto, o Deus santo podia perdoá-lo com justiça. Mas a seguir
está o fato de que o pecador também morreu na cruz com Cristo para que
não possa ser controlado mais por sua carne. Só isto pode fazer que o
espírito do homem recupere seu próprio domínio, que o corpo seja seu
servidor externo e que a alma seja sua intermediária. Desta forma, o
espírito, a alma e o corpo são restaurados a sua posição original anterior à
queda. Se ignoramos o significado da morte que descrevemos, não
seremos libertados. Que o Espírito Santo seja nosso Revelador!
«Os que pertencem a Cristo Jesus» se refere a todo crente no Senhor.
Todos os que creram nEle e nasceram de novo lhe pertencem. O fator
decisivo é se se esteve unido a Ele na vida, não se se é espiritual ou se se
trabalhar para o Senhor, nem se se conseguiu libertação do pecado;
venceram-se as paixões e desejos da carne e agora se é plenamente
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santificado. Em outras palavras, a pergunta só pode ser: foi-se regenerado,
ou não? acreditou-se no Senhor Jesus como Salvador, ou não? Se for sim,
não importa o estado espiritual atual — em vitória ou em derrota —,
crucificou-se a carne».
O assunto que temos adiante não é moral, nem é coisa da vida,
conhecimento ou obras espirituais. Simplesmente é se se é do Senhor. Se
for assim, então já se crucificou a carne na cruz. Está claro que isto
significa, não que alguém vai crucificar, nem que está no processo de
crucificação, mas sim que já crucificou.
Convém ser mais explícito aqui. Assinalamos que a crucificação da
carne não depende das experiências, por muito diferentes que possam ser,
mas sim depende do fato da obra terminada de Deus.
«Os que pertencem a Cristo Jesus» — tanto os fracos como os fortes
— «crucificaram a carne com suas paixões e desejos».
Dizeis que ainda pecais, mas Deus diz que fostes crucificados na
cruz.
Dizeis que vosso mau gênio persiste, mas a resposta de Deus é que
fostes crucificados.
Dizeis que vossas paixões continuam sendo muito poderosas, mas
novamente Deus replica que vossa carne foi crucificada na cruz.
De momento, façam o favor de parar de olhar suas experiências e
ouçam o que Deus lhes diz. Se não escutarem sua Palavra e em lugar disso
observarem continuamente sua situação, jamais viverão a realidade de
que sua carne foi crucificada na cruz. Não façam caso de seus sentimentos
e de sua experiência. Deus declara crucificada sua carne, e
conseqüentemente, ela foi crucificada. Respondam simplesmente à
Palavra de Deus e terão experiência. Quando Deus lhes diz que «sua carne
foi crucificada», devem responder: «Amém, é verdade que minha carne
foi crucificada.» Atuando desta maneira, segundo sua Palavra,
comprovarão que sua carne está verdadeiramente morta.
Os crentes de Corinto se permitiram cometer os pecados de
fornicação, ciúmes, disputas, espírito partidarista, pleitos e muitos outros.
Eram claramente carnais. É certo que eram «meninos em Cristo», mas
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mesmo assim eram de Cristo. Pode-se dizer realmente que estes crentes
carnais haviam tido sua carne crucificada na cruz? A resposta é
indubitavelmente que sim. Inclusive estes haviam tido crucificada sua
carne. Como é isso? Devemos compreender que a Bíblia jamais nos diz
que nos crucifiquemos. Só nos informa que «fomos crucificados».
Devemos compreender que não temos que ser crucificados
individualmente, mas sim fomos crucificados junto com Cristo (Gl. 2:20;
Rm. 6:6). Se foi uma crucificação conjunta, então quando o Senhor Jesus
foi crucificado, nesse momento também foi crucificada nossa carne. Além
disso, a crucificação junto com a sua não a sofremos pessoalmente, posto
que foi o Senhor Jesus quem nos levou a cruz em sua crucificação. Em
conseqüência, Deus considera nossa carne já crucificada. Para Ele é um
fato consumado. Sejam quais forem nossas experiências pessoais, Deus
declara que «os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne». Para
possuir esta morte não devemos dedicar muita atenção a investigar ou
observar nossas experiências. Em vez disso devemos acreditar na Palavra
de Deus. «Deus diz que minha carne foi crucificada e por isso acredito que
está crucificada. Reconheço que o que diz Deus é verdade.» Respondendo
desta maneira logo nos encontraremos com a realidade disto. Se primeiro
olhamos o ato de Deus, nossa experiência virá a seguir.
Da perspectiva de Deus, esses coríntios já tinham crucificada sua
carne na cruz com o Senhor Jesus, mas do seu ponto de vista é evidente
que não tinham semelhante experiência. Possivelmente isto se devia a seu
desconhecimento de fato de Deus. Daí que o primeiro passo para a
libertação é tratar a carne segundo o ponto de vista de Deus. E o que é
isso? Não é tentar crucificar a carne, mas sim reconhecer que foi
crucificada; não é andar segundo nossa vista, mas sim segundo nossa fé
na Palavra de Deus. Se estivermos bem assentados neste ponto de
reconhecer que a carne já está crucificada, então poderemos tratar com a
carne em nossa experiência. Se titubearmos quanto a este fato perderemos
a possibilidade de possuí-lo definitivamente. Para experimentar a
crucificação junto com Jesus, primeiro devemos deixar de lado nossa
situação atual e simplesmente confiar na Palavra de Deus.
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O ESPÍRITO SANTO E A EXPERIÊNCIA
«Enquanto estávamos vivendo na carne, nossas paixões
pecaminosas... obravam em nossos membros para dar fruto
de morte. Mas agora estamos... mortos...» (Rm. 7:5, 6).
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experiência da morte. Por isso sua carne cresce mais forte com cada
tentativa! Outros reconheceram a verdade de que sua carne de fato foi
crucificada com Cristo na cruz, mas não procuram a realidade prática
disso. Nenhum destes pode jamais apropriar-se em sua experiência da
crucificação da carne.
Se desejamos fazer morrer nossos membros, devemos primeiro ter
uma base para semelhante ação, pois do contrário simplesmente
confiaríamos em nossas forças. Nenhum grau de entusiasmo pode nos
trazer jamais a experiência desejada. Além disso, se unicamente
soubermos que nossa carne foi crucificada com Cristo, mas não nos
preocupamos de que sua obra acabada trabalhe em nós, nosso
conhecimento também será inútil. Para fazer morrer nossos membros
devemos primeiro passar pela identificação de sua morte. Conhecendo
nossa identificação, devemos então proceder ao fazer morrer nossos
membros. Estes dois passos devem acontecer juntos. Enganamos a nós
mesmos se nos conformamos em simplesmente entender o fato da
identificação, achando que agora somos espirituais posto que a carne foi
destruída. Por outro lado, também nos enganamos se, ao fazer morrer as
más ações da carne colocamos nisso muita ênfase e falhamos em tomar a
atitude de que a carne morreu. Se esquecermos que a carne está morta,
nunca poderemos nos desprender de nada, enterrar nada. O «façam
morrer» depende do «morrestes». Aqui, o fazer morrer significa levar a
morte do Senhor Jesus a todas as ações da carne. A crucificação do Senhor
tem muita autoridade porque faz morrer aquilo com que se enfrenta.
Como estamos unidos a Ele em sua crucificação, podemos aplicar sua
morte a qualquer membro que seja tentado pelas paixões e fazê-lo morrer
imediatamente.
Nossa união com Cristo em sua morte significa que é um fato em
nossos espíritos. O que o crente deve fazer agora é tirar esta morte de seu
espírito e aplicá-la a seus membros cada vez que suas paixões despertem.
Esta morte espiritual não é coisa para uma vez e pronto. Se o crente não se
mantiver vigilante ou se perde a fé, é indubitável que a carne entrará em
um frenesi de atividade. Que deseje ser totalmente conformado à morte
do Senhor, deve fazer morrer sem cessar as ações de seus membros para
que o que é real no espírito se realize no corpo.
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Mas de onde vem o poder para aplicar a crucificação do Senhor a
nossos membros? Paulo insiste em que é «pelo Espírito que se fazem
morrer as ações do corpo» (Rm. 8:13). Para fazer morrer estas ações, o
crente deve confiar no Espírito Santo para converter sua crucificação
conjunta com Cristo em uma experiência pessoal. Deve acreditar que o
Espírito Santo aplicará a morte da cruz a tudo o que tenha que morrer. Em
vista do fato de que a carne do crente foi crucificada com Cristo na cruz,
não tem que ser crucificada de novo. Tudo o que se precisa é aplicar, por
meio do Espírito Santo, a morte consumada do Senhor Jesus em favor dele
sobre a cruz a qualquer ação má do corpo que tente elevar-se. As obras
más da carne podem surgir em qualquer momento e em qualquer lugar.
Como conseqüência, se o filho de Deus não faz valer constantemente pelo
Espírito Santo o poder da santa morte de nosso Senhor Jesus, não poderá
triunfar. Mas se enterrar as ações do corpo deste modo, o Espírito Santo
que habita nele realizará finalmente o propósito de Deus de deixar
inoperante o corpo do pecado (Rm. 6:6).
Apropriando-se da cruz deste modo, o menino em Cristo será
libertado do poder da carne e será unido ao Senhor Jesus na vida da
ressurreição.
Daí em diante o cristão deveria «andar pelo espírito, e não satisfazer
os desejos da carne» (Gl. 5:16). Deveríamos recordar sempre que por
muito profundamente que penetre em nossas vidas a cruz do Senhor, não
podemos esperar evitar mais perturbações das más ações de nossos
membros sem uma constante vigilância por nossa parte. Sempre que um
filho de Deus fracassa em seguir o Espírito Santo, isto tem como
conseqüência imediata seguir à carne. Deus nos descobre a realidade de
nossa carne por meio do perfil que o apóstolo Paulo faz do eu do cristão
em Romanos 7 a partir do versículo 5. No momento em que o cristão deixa
de fixar sua atenção no Espírito Santo, instantaneamente se encaixa no
modelo de vida carnal que descrevemos. Alguns dão por certo que, como
o capítulo de Romanos 7 está entre os capítulos 6 e 8, a atividade da carne
será coisa do passado assim que o crente a tenha passado e tenha entrado
na vida do Espírito em Romanos 8. Na realidade os capítulos 7 e 8 são
paralelos. Se um crente não andar pelo Espírito segundo Romanos 8, fica
submerso imediatamente na experiência de Romanos 7.
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«Assim, por mim mesmo sirvo à lei de Deus com minha
mente, mas com minha carne sirvo à lei do pecado» (7:25).
«Eu por mim mesmo sirvo à lei de Deus com minha mente.»
Aqui está nos dizendo que sua nova vida deseja o que Deus deseja.
Porém, essa não é toda a história, porque imediatamente Paulo declara:
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A EXISTÊNCIA DA CARNE
Notemos com atenção em que, embora possamos fazer morrer a
carne para que fique «inútil» (o significado real de «destruir» em Rm. 6:6),
a carne continua resistindo, apesar de tudo. É um tremendo engano
pensar que já eliminamos a carne e deduzir que a natureza do pecado está
completamente aniquilada. Este falso ensino engana às pessoas. A vida
regenerada não modifica a carne. A crucificação conjunta em Cristo não
suprime a carne. O fato de que o Espírito Santo habite em uma pessoa não
a impossibilita para andar segundo a carne. A carne, com sua natureza
carnal, vive perpetuamente no crente. Assim que tenha uma
oportunidade, passará à ação de modo imediato.
Vimos anteriormente o quão estreitamente relacionados estão o
corpo humano e a carne.
Enquanto não chegue o momento de nos libertar fisicamente deste
corpo não poderemos estar suficientemente libertados da carne, de modo
que esta não tenha nenhuma oportunidade de atuar.
Todo o que nasce da carne é carne. Não há maneira possível de
eliminá-la até que este corpo corrompido do Adão não seja transformado.
Nosso corpo ainda não está redimido (Rm. 8:23); espera o volta do Senhor
Jesus para sua redenção (1 Co. 15:22, 23,42-44,51-56; 1 Ts. 4:14-18; Fp.
3:20,21). Assim pois, enquanto estivermos no corpo devemos nos manter
continuamente alertas para que a carne não entre em ação com suas más
obras.
Nossa vida na terra se pode comparar, na melhor das hipóteses, com
a de Paulo, que dizia que «embora andemos na carne não militamos
segundo a carne» (2 Co. 10:3).
Como ainda possui um corpo, anda na carne. Entretanto, como a
natureza da carne é tão corrupta, não luta segundo a carne. Anda na
carne, sim, mas não anda pela carne (Rm. 8:4).
Enquanto o crente não é libertado do corpo físico, não está
totalmente livre da carne.
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Fisicamente falando, deve viver na carne (Gl. 2:20); espiritualmente
falando, não lhe é necessário e não deve lutar segundo a carne.
Vejamos bem, se Paulo, segundo a conclusão evidente de 2 Coríntios
10:3, estando no corpo, é suscetível de lutar segundo a carne (embora
deduzamos do v. 4 que não luta nesse sentido), então quem se atreve a
dizer que já não tem uma carne potencialmente ativa? A obra terminada
da cruz e sua contínua aplicação por parte do Espírito Santo são, por
conseguinte, inseparáveis.
Devemos prestar uma atenção especial a este ponto porque
apresenta sérias conseqüências.
Se um crente chega a acreditar que está totalmente santificado e que
já não tem carne, viverá uma vida de aparência, falsa, ou uma vida
indolente e relaxada. Aqui temos que destacar um fato. Os filhos nascidos
de pais regenerados e santificados ainda são da carne e precisam nascer de
novo como outros meninos.
Ninguém pode dizer que não são da carne e que não precisam
nascer de novo. O Senhor Jesus afirmou que «o que nasce da carne é
carne» (Jo. 3:6). Se o que nasce é carne, isto mostra que o que dá a luz
também deve ser carne, porque só a carne pode engendrar carne. O fato
de que os filhos são carnais testemunha de maneira concreta que os pais
não estão totalmente liberados da carne. Os santos transmitem a seus
filhos a natureza caída unicamente porque, originariamente era a sua. Não
podem transmitir a natureza divina recebida na regeneração, já que essa
natureza não é a sua original, a não ser a recebida individualmente como
um dom gratuito de Deus. O fato de que os crentes comuniquem sua
natureza pecadora a seus filhos indica que sempre está presente neles.
Considerada dessa perspectiva, vemos que uma nova criatura em
Cristo nunca recupera, nesta vida, a posição que Adão tinha antes da
queda, posto que pelo menos o corpo ainda está esperando a redenção
(Rm. 8:23). Uma pessoa que é uma nova criatura, continua conservando a
natureza pecaminosa em seu interior. Ainda está na carne. Seus
sentimentos e seus desejos são imperfeitos às vezes e são menos nobres
que os de Adão antes da queda. Se não eliminar a carne humana de seu
interior, não pode ter sentimentos, desejos ou amor perfeitos. O homem
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jamais pode chegar à posição de estar acima de toda possibilidade de
pecar, visto que a carne persiste. Se um crente não seguir o Espírito Santo
mas, em vez disso ceder para a carne, estará, certamente, sob o domino da
carne. Entretanto, apesar destas realidades, não devemos empobrecer a
salvação realizada por Cristo. A Bíblia nos diz em muitas passagens que
tudo o que foi engendrado de Deus e foi cheio com Deus não tem
nenhuma inclinação para o pecado. Não obstante, isto não significa que,
definitivamente, não haja possibilidade de ter um desejo pecaminoso.
Exemplificando: dizemos que as bóias de madeira não têm tendência de
afundar, mas é obvio que não são insubmergíveis. Se a madeira fica
encharcada o tempo suficiente, afundará por si só. Mesmo assim, a
natureza de uma tora de madeira é claramente de não afundar. De
maneira análoga, Deus nos salvou até o ponto de não termos inclinação
para pecar, mas não nos salvou até o ponto de sermos incapazes de pecar.
Se um crente permanecer totalmente inclinado a pecar, isto mostra
que é a carne e que não se apropriou da salvação total. O Senhor Jesus
pode nos desviar do pecado, mas além disso devemos estar alertas. Sob a
influência do mundo e a tentação de Satanás, a possibilidade de pecar se
mantém.
Naturalmente, um crente deve compreender que em Cristo é uma
nova criatura. Como tal, o Espírito Santo vive em seu espírito; e isto, junto
com a morte de Jesus trabalhando ativamente em seu corpo, pode equipar
o crente para viver uma vida santa. Isto só é possível porque o Espírito
Santo aplica a cruz na carne do crente, fazendo morrer as ações de seus
membros. E então fica inativa. Entretanto, isto não implica que já não
existe a carne. Porque um crente continua possuindo uma carne
pecaminosa e é consciente de sua presença e de sua contaminação. O
próprio fato de que a natureza pecaminosa seja transmitida aos filhos
deixa claramente estabelecido de que o que agora possuímos não é a
perfeição natural de Adão sem pecado.
O crente deve confessar que inclusive em suas horas mais santas
pode haver momentos de fraqueza: podem introduzir-se maus
pensamentos em sua mente inconscientemente; podem escapar palavras
impróprias sem querer; sua vontade pode, às vezes, encontrar dificuldade
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em ceder diante do Senhor; e secretamente pode, inclusive, aprovar a
idéia da auto-suficiência.
Tudo isso não é nada mais do que a obra da carne.
Por isso os crentes devem saber que a carne pode voltar a exercer
seu poder a qualquer momento. Não foi eliminada do corpo. Mas a
presença da carne tampouco significa que a santificação seja impossível
para um crente. Só quando entregamos nosso corpo ao Senhor (Rm. 6:13) é
possível libertar-nos do domínio da carne e estar sob o domínio do
Senhor. Se seguirmos o Espírito Santo e mantivermos uma atitude de não
deixar que o pecado reine sobre o corpo (Rm. 6:12), então nossos pés ficam
livres de tropeçar e experimentamos uma vitória constante. Havendo sido
libertado, nosso corpo se converte em templo do Espírito Santo e é livre
para fazer a obra de Deus. Assim, a maneira de preservar nossa liberdade
da carne tem que ser exatamente a maneira com que se obteve esta
liberdade no princípio, naquela conjuntura entre a vida e a morte, quando
o crente diz «sim» a Deus e «não» à carne. Longe de ser um fato único, de
uma vez para sempre, o crente deve manter durante toda sua vida uma
atitude afirmativa diante de Deus e uma resposta negativa para o pecado.
Nenhum crente consegue chegar ao ponto de estar acima da
tentação. Quão necessário é vigiar e orar, e inclusive jejuar, para poder
saber como andar segundo o Espírito Santo! Apesar de tudo, o crente não
deveria diluir nem o propósito de Deus nem sua própria esperança. Tem a
possibilidade de pecar, mas não deve pecar. O Senhor Jesus morreu por
nós e crucificou nossa carne com Ele na cruz. O Espírito Santo vive em nós
para tornar real para nós o que o Senhor Jesus fez. Temos a absoluta
possibilidade de não ser governados pela carne. A presença da carne não é
uma chamada à rendição, mas sim uma chamada a vigiar. A cruz
crucificou por completo à carne. Se estivermos dispostos a anular as más
obras do corpo no poder do Espírito Santo, experimentaremos seriamente
a obra consumada da cruz.
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o poder da morte de Cristo na cruz. O que nos falta não é outra coisa
senão a morte.
Deixemos isto bem claro antes de falar de vida, porque não pode
haver ressurreição se antes não houver morte.
Estamos dispostos a obedecer a vontade de Deus? Deixaremos que a
cruz de Cristo se manifeste de uma maneira prática em nossas vidas? Se
for assim, devemos fazer morrer com o Espírito Santo todas as ações más
do corpo.
4. A jactância da carne
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A Bíblia emprega a palavra «carne» para descrever a vida ou a
natureza corrupta do homem, que abrange a alma e o corpo. No ato
criador de Deus, a alma foi colocada entre o espírito e o corpo, ou seja,
entre o que é celestial ou espiritual e o que é terrestre ou físico. Seu dever é
administrá-los de acordo com a função de cada um, conforme a sua
adequação, mas mantendo-os intercomunicados, para que, por meio desta
perfeita harmonia, o homem possa finalmente alcançar a plena
espiritualidade. Desgraçadamente, a alma cedeu à tentação que surgiu dos
órgãos físicos, escapando assim da autoridade do espírito e aceitando o
controle do corpo. Em conseqüência, a alma e o corpo ficaram unidos para
ser a carne. A carne não só está «livre do espírito», mas também é
totalmente contrária ao espírito. Por isso a Bíblia afirma que «a carne luta
contra o espírito» (Gl. 5:17).
A oposição da carne contra o espírito e contra o Espírito Santo é
dupla:
1) pecando: se rebela contra Deus e infringe a lei de Deus, e
2) fazendo o bem: obedece a Deus e segue a vontade de Deus.
Naturalmente, o elemento corporal da carne, cheio de pecado e de
paixões, não pode fazer outra coisa senão expressar-se em muitos
pecados, entristecendo o Espírito Santo. A parte da carne que é a alma, no
entanto, não está tão poluída como o corpo. A alma é o princípio de vida
do homem; é seu eu próprio, e consta das faculdades da vontade, da
mente e da emoção.
Do ponto de vista humano, as obras da alma podem não ser todas
más. Simplesmente se centram no pensamento, na idéia, no sentimento e
nas preferências e aversões da pessoa.
Embora todos estes se concentrem no eu, não são necessariamente
pecados poluentes. A característica básica das obras da alma é a
independência ou auto-dependência: Embora a parte da alma não esteja
tão poluída como a parte corporal, mesmo assim é contrária ao Espírito
Santo. A carne põe o eu no centro e eleva a vontade própria acima da
vontade de Deus. Pode servir a Deus, mas sempre segundo sua idéia, não
segundo a idéia de Deus. Fará o que seja bom a seus olhos. O eu é o
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princípio que está detrás de cada ato. Pode ser que não cometa o que o
homem considera pecado; pode ser, inclusive, que tente cumprir os
mandamentos de Deus com todas suas forças; entretanto, o «eu» nunca
deixa de estar no coração da atividade.
Quem pode desentranhar a falsidade e a vitalidade deste eu? A
carne não só se opõe ao espírito, pecando contra Deus, mas também
tentando servi-Lo e agradá-Lo. Opõe-se ao Espírito Santo e o apaga,
apoiando-se em sua própria força, em vez de confiar por completo na
graça de Deus e deixar-se levar pelo Espírito.
Podemos encontrar muitos crentes ao nosso redor que, por natureza
são bons, pacientes e afetuosos. Agora bem, o que o crente odeia é o
pecado; em conseqüência, se pode livrar dele e das obras da carne
descritas em Gálatas 5, versículos 19 a 21, então se sente satisfeito.
Mas o que o crente admira é a justiça; em conseqüência, se esforçará
em agir corretamente, desejando possuir os frutos de Gálatas 5, versículos
22 e 23. Entretanto, o perigo se encontra aqui, porque o cristão não chegou
a aprender a aborrecer a sua carne em sua totalidade.
Deseja simplesmente livrar-se dos pecados que surgem dela. Sabe
como resistir um pouco às ações da carne, mas não vê que a própria carne,
em sua totalidade, deve ser destruída.
O que o engana é que a carne não somente pode produzir pecado
mas também pode fazer o bem. Se ainda fizer o bem é evidente que ainda
está viva. Se a carne tivesse morrido definitivamente, a capacidade do
crente de fazer o bem e de fazer o mal teria morrido com ela.
Uma capacidade para operar coisas boas mostra que a carne ainda
não morreu.
Sabemos que os homens originalmente pertencem à carne: A Bíblia
ensina claramente que não há ninguém no mundo que não seja da carne,
posto que todo pecador nasceu da carne.
Mas, além disso, reconhecemos que muitos, antes de nascer de novo,
e inclusive muitos que em toda sua vida nunca acreditaram no Senhor,
fizeram e continuam fazendo muitas coisas louváveis. Alguns parecem ter
nascido com o dom da amabilidade, da paciência ou da bondade.
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Observem o que o Senhor diz a Nicodemos (Jo. 3:6); apesar desse homem
ser bom por natureza, mesmo assim o considera da carne. Isto confirma
que a carne pode deveras fazer o bem.
Na carta de Paulo aos Gálatas vemos outra vez que a carne pode
fazer o bem.
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mínima necessidade de depender totalmente da instrução do Espírito
Santo.
Em conseqüência, muitos acreditam possuir toda a verdade, quando
simplesmente conseguiram o que têm escutando outros ou estudando a
Bíblia. O que é do homem ultrapassa em muito o que é de Deus. Não têm
o coração aberto para receber sua instrução ou para esperar no Senhor,
que Ele lhes revele sua verdade em sua luz.
Cristo crucificado também é o poder de Deus. Mas quanta confiança
em si mesmo há no serviço cristão! realizam-se mais esforços em planejar
e em preparar, do que em esperar no Senhor. Dedica-se o dobro de tempo
a preparar a exposição e a conclusão de um sermão do que a receber o
poder do alto. Mas todas estas obras são mortas aos olhos de Deus, não
pelo fato de que não se proclame a verdade, ou que não se confesse a
pessoa e a obra de Cristo, ou não se busque a glória de Deus, mas sim pela
confiança na carne. Quanta ênfase colocamos na sabedoria humana e nos
esforçamos por achar argumentos satisfatórios em nossas mensagens, e
como procuramos ilustrações apropriadas e outros meios variados para
comover, e empregamos sábias exortações para induzir os homens a que
tomem decisões!
Mas onde estão os resultados práticos? Até que ponto confiamos no
Espírito Santo e até que ponto confiamos na carne? Existe mesmo algum
poder na velha criatura que possa capacitar as pessoas a herdar algo na
nova criatura?
Como já dissemos, a segurança e a confiança em si mesmo são as
brechas das boas obras da carne. Para a carne é impossível descansar em
Deus. É muito impaciente para tolerar qualquer demora. Enquanto se
considerar forte nunca confiará em Deus.Mesmo nos momentos de
desespero, a carne continua fazendo planos e procurando uma saída.
Nunca tem a sensação de dependência total. Isso pode ser uma indicação
para o crente saber se uma obra é ou não é da carne. Tudo o que não for
resultado de esperar em Deus, de confiar no Espírito Santo, é da carne sem
dúvida alguma. Tudo o que uma pessoa decide segundo seu critério em
lugar de procurar a vontade de Deus, surge da carne. Sempre que há
ausência de uma confiança absoluta, isto é obra da carne. Agora
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entendam, as coisas que se façam podem não ser más ou equivocadas. De
fato podem ser boas e piedosas (como ler a Bíblia, orar, adorar, pregar),
mas se não são feitas num espírito de total confiança no Espírito Santo,
então tudo é obra da carne. A velha criatura está disposta a fazer qualquer
coisa — inclusive submeter-se a Deus — contanto que se lhe permita
viver e permanecer ativa! Por muito boas que possam parecer as ações da
carne, o «eu», oculto ou visível, sempre aparece no horizonte. A carne
jamais admite sua debilidade nem reconhece sua inutilidade; inclusive
embora se evidencie seu fracasso até o ridículo, a carne continua
acreditando firmemente em sua capacidade.
«Tendo começado com o Espírito, terminarão com a carne?» Isto põe
à vista uma grande verdade. Uma pessoa pode começar bem, no Espírito,
e mesmo assim não continuar por esse caminho. Nossa experiência
confirma o fato da relativa facilidade com que uma coisa pode começar no
Espírito mas terminar na carne. Freqüentemente ocorre que o Espírito
comunica uma verdade e que, apesar disso, em pouco tempo esta verdade
se converte em uma jactância da carne. Os judeus cometeram este mesmo
engano. Com que freqüência, quando se trata de obedecer ao Senhor, de
negar de novo o eu, de receber poder para salvar almas, uma pessoa pode
confiar seriamente no Espírito Santo no inicio, mas, em pouco tempo esta
mesma pessoa converte a graça de Deus em sua própria glória,
considerando o que é de Deus como se fosse dele.
Ocorre o mesmo com nossa conduta. Por meio da obra do Espírito
Santo há, no princípio, uma poderosa transformação na vida de uma
pessoa, que faz que ame o que antes odiava e que odeie o que antes
amava. Entretanto, pouco a pouco o «eu» começa a introduzir-se
sorrateiramente. A pessoa interpreta cada vez mais estas mudanças como
êxitos próprios e chega a admirar-se; ou se torna indiferente e
gradualmente atua segundo o eu em lugar de confiar no Espírito Santo.
Há milhares de coisas na experiência do crente que começam bem, no
Espírito, mas que desgraçadamente terminam na carne. Por que muitos
filhos queridos de Deus procuram desejosos uma consagração absoluta e
desejam impacientes mais vida abundante e apesar disso fracassam?
Freqüentemente, ao escutar as mensagens, ao conversar com
pessoas, ao ler livros espirituais ou ao orar em privado, o Senhor lhes dá a
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conhecer que é perfeitamente possível ter uma vida de plenitude no
Senhor. Os faz perceber a simplicidade e a beleza de uma vida semelhante
e não vêem nenhum obstáculo em seu caminho que os impeça de
consegui-la.
Verdadeiramente experimentam uma bênção, poder e glória como
nunca antes. Oh, que maravilhoso! Mas ai! Logo se desvanece. Por que?
Como? É devido a quê sua fé não é perfeita? Ou sua consagração não é
absoluta? Por certo sua fé e sua consagração ao Senhor são plenas. Então,
por que semelhante fracasso? Por que razão se perde a experiência e como
se pode recuperar?
A resposta é simples e precisa. Confiam na carne e tentam
aperfeiçoar por meio da carne o que começou no Espírito. Substituem o
Espírito pelo eu. O eu deseja ir à frente e ao mesmo tempo espera que o
Espírito esteja a seu lado para o ajudar. A posição e a obra do Espírito
foram substituídas pelas da carne.
Há ausência de uma dependência total da direção do Espírito.
Também há ausência de uma espera no Senhor.
Tentar segui-Lo sem negar o eu é a raiz de todos os fracassos.
OS PECADOS RESULTANTES
Se um crente estiver tão seguro de si próprio que se atreve a
completar a tarefa do Espírito Santo com a energia da carne, jamais
alcançará uma maturidade espiritual completa. Em lugar disso chegará
um momento em que os pecados que antes tinha superado voltarão a
aparecer nele com força.
Não se surpreendam com o que estão lendo. É coisa bem conhecida
que sempre e em qualquer lugar em que a carne sirva a Deus, ali e
naquele momento o poder do pecado se reforça.
Por que os orgulhosos fariseus se fizeram escravos do pecado?
Acaso não foi porque estavam muito convencidos de sua justiça e serviam
a Deus com muito zelo?
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Por que o apóstolo repreendeu os gálatas? Por que manifestavam as
ações da carne? Não era porque desejavam estabelecer sua própria justiça
pelas obras e para aperfeiçoar pela carne a obra que tinha começado o
Espírito Santo?
O maior descuido que os cristãos cometem na vitória sobre o pecado
se encontra no fato de não usar o meio adequado para prolongá-la. Em
vez disso tentam perpetuar a vitória com suas obras, sua decisão e sua
firmeza. Podem ter êxito momentaneamente. Entretanto, não passará
muito tempo sem que vejam que voltam para seus pecados de antes, que
possivelmente difiram na forma, mas não na essência. Então se afundam
no abatimento, ao chegar à conclusão de que o triunfo persistente é
impossível de alcançar, ou então tratam de ocultar seus pecados sem
confessar sinceramente que pecaram.
E então, o que é que causa este fracasso?
Da mesma maneira que a carne lhes dá força para operar
corretamente, também lhes dá o poder para pecar. Sejam bons ou maus,
todos seus atos são expressões da mesma carne. Se não damos à carne
oportunidade de pecar, ela está disposta a fazer o bem, e embora lhe dê
oportunidade de fazer o bem, logo voltará a pecar.
Aqui Satanás engana os filhos de Deus. Se os crentes mantivessem
normalmente a atitude de ter a carne crucificada, Satanás não teria
nenhuma oportunidade, porque «a carne é o ateliê ou oficina de Satanás».
Se toda a carne, não só uma parte, estiver realmente sob o poder da morte
do Senhor, Satanás ficará totalmente sem trabalho. Por isso ele está
disposto a permitir que levemos a parte pecaminosa de nossa carne à
morte, se puder nos enganar para que retenhamos a parte boa. Satanás
sabe perfeitamente que se a parte boa permanecer intacta, a vida da carne
ficará preservada. Ainda terá uma cabeça de ponte com a qual prosseguirá
sua campanha para recuperar o território que perdeu. Ele sabe muito bem
que a carne pode vencer e recuperar sua vitória no reino do pecado se a
carne conseguir excluir o Espírito Santo no que diz respeito ao serviço a
Deus.
Isto explica porque muitos cristãos tornam a servir ao pecado depois
de ter sido libertos.
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Se o espírito não mantiver realmente um controle total e constante
em questão de adoração, não poderá manter o domínio na vida diária. Se
eu não me neguei por completo diante de Deus, não posso me negar
diante dos homens, e por causa disto não posso vencer meu ódio, mau
gênio e egoísmo. Estas duas coisas são inseparáveis.
Por causa de sua ignorância desta verdade, os crentes da Galácia
chegaram a «morder-se e devorar-se uns aos outros» (Gl. 5:15). Tentaram
aperfeiçoar pela carne o que tinha começado no Espírito Santo, porque
desejavam «fazer um bom papel na carne», para «poder glorificar-se em
sua carne» (6:12,13). Evidentemente, seus êxitos em conseguir fazer o bem
com a carne eram muito escassos, enquanto que seus fracassos em vencer
o mal eram numerosos. Não percebiam que, enquanto servissem a Deus
com suas forças e suas idéias, indubitavelmente serviriam ao pecado na
carne. Se não proibiam à carne que fizesse o bem, não podiam impedi-la
de que fizesse o mal. A melhor maneira de não pecar é não fazer o bem
com o eu. Ao desconhecer a absoluta corrupção da carne, os crentes
gálatas, em sua necessidade, desejavam usá-la sem reconhecer que há a
mesma corrupção na carne ao gabar-se de fazer o bem que ao seguir as
más paixões. Não podiam fazer o que Deus queria que fizessem, porque
por um lado tentavam realizar o que o Espírito Santo tinha começado, e
pelo outro tentavam inutilmente livrar-se das paixões da carne.
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carne nas orações, a carne na consagração, a carne na leitura da Bíblia, a
carne no canto de hinos ou a carne na prática do bem, Deus afirma que
nada disso serve. Por muito que os crentes possam trabalhar
ardentemente na carne, aos olhos de Deus tudo é inútil; porque a carne
nem beneficia à vida espiritual nem pode levar a cabo a justiça de Deus.
Vamos ressaltar umas quantas observações sobre a carne que o
Senhor faz por meio do apóstolo Paulo na carta aos Romanos.
1) «Porque a inclinação da carne é morte» (8:6). Segundo Deus há
morte espiritual na carne. A única saída é levar a carne à cruz. Apesar dela
ter capacidade para fazer o bem ou planejar e maquinar para conseguir a
aprovação dos homens, Deus pronunciou contra a carne simplesmente
uma sentença: a morte.
2) «A inclinação da carne é inimizade contra Deus» (8:7). A carne se
opõe a Deus. Não existe a mínima possibilidade de uma coexistência
pacífica. Isto não só ocorre com os pecados que surgem da carne mas
também com seus pensamentos e ações mais nobres. É óbvio que os
pecados contaminantes são contrários a Deus, mas tenhamos presente que
também se podem fazer boas ações independentemente de Deus.
3) «Não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser» (8:7).
Quanto melhor trabalha a carne mais se afasta de Deus. Quantas pessoas
«boas» estão dispostas a acreditar no Senhor Jesus? A justiça própria não é
justiça absolutamente; em realidade é injustiça. Ninguém pode jamais
obedecer todas as doutrinas da santa Bíblia. Uma pessoa pode ser tanto
boa quanto má, mas uma coisa é certa: não se submete à lei de Deus. Se for
má, infringe a lei; se for boa, estabelece outra justiça fora de Cristo e deste
modo passa por cima do propósito da lei («pela lei vem o conhecimento
do pecado» [3:20]).
4) «Os que estão na carne não podem agradar a Deus» (8:8). Este é o
veredicto final. Apesar de quão bom um homem possa ser, se o que faz
sai dele, não pode agradar a Deus. Deus só se compraz com seu Filho.
Além dEle e de sua obra, ninguém pode agradar a Deus. O que se faz com
a carne pode parecer perfeitamente bom, mas como vem do eu e se faz
com a força natural não pode satisfazer a Deus. O homem pode planejar
muitas formas de fazer o bem, de melhorar e de avançar, mas isso é carnal
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e não pode agradá-Lo. Isto ocorre não só com os não regenerados; também
é o mesmo com os regenerados. Por muito louvável e efetivo que seja o
que o crente faça com suas próprias forças, não conseguirá a aprovação de
Deus. Agradar ou desagradar a Deus não depende do princípio do bom e
do mau. Pelo contrário, Deus procura a origem de todas as coisas. Uma
ação pode ser totalmente correta, mas entretanto Deus pergunta: «Qual é
sua origem?»
Por essas referências bíblicas podemos começar a compreender o
quanto são vãos e inúteis os esforços da carne. Um crente que veja
claramente a avaliação de Deus nesta questão dificilmente tropeçará.
Como seres humanos distinguimos entre boas obras e más obras. Deus vai
mais além e faz uma distinção apoiada na origem de cada obra. A melhor
das ações da carne desagrada a Deus tanto quanto a obra mais malvada,
porque as duas são da carne. Do mesmo modo que Deus aborrece a
injustiça, também aborrece a justiça própria. As boas ações que se fazem
de um modo natural, sem regeneração ou união com Cristo ou
dependência do Espírito Santo, não são menos carnais para Deus do que a
imoralidade, a impureza, a libertinagem, etc. Por muito formosas que
possam ser as atividades do homem, se não surgir de uma absoluta
confiança no Espírito Santo, são carnais e, por conseguinte, Deus as rejeita.
Deus odeia e rechaça tudo o que pertence à carne, sem ter em conta as
aparências externas, tanto se tratando de um pecador como de um santo.
Seu veredicto é: a carne deve morrer.
A EXPERIÊNCIA DO CRENTE
Mas como um crente pode ver o que Deus viu? Deus é inflexível
com a carne e todas as suas atividades, mas parece que o crente que só
rejeita seus aspectos maus e se mantém afetuosamente abraçado à própria
carne. Não a rechaça categoricamente em sua totalidade; em vez disso
continua fazendo muitas coisas na carne: toma uma atitude segura e
orgulhosa como se estivesse cheio da graça de Deus e capacitado para
atuar corretamente. Literalmente o crente se serve da carne. Por causa
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deste auto-engano, o Espírito de Deus deve levá-lo pelo caminho mais
vergonhoso, para que conheça sua carne e alcance a perspectiva de Deus.
Deus permite que essa carne caia, se debilite, e inclusive peque, para
que possa compreender se há ou não algo de bom na carne. Isso costuma
ocorrer ao que pensa que está progredindo espiritualmente. O Senhor o
põe à prova para que se conheça si mesmo. Freqüentemente o Senhor
revela sua santidade de tal modo, que o crente não pode fazer mais que
considerar contaminada sua carne. Às vezes, o Senhor consente que
Satanás o ataque, para que, através do sofrimento, perceba sua condição. É
uma lição extremamente difícil e que não se aprende da noite para o dia.
Só depois de muitos anos, chega gradualmente a compreender o quão
pouco confiável é sua carne. Há impureza inclusive no melhor de seus
esforços. Em conseqüência, Deus o deixa experimentar Romanos 7 até que
esteja disposto a reconhecer, como Paulo: «Porque eu sei que em mim, isto
é, em minha carne, não habita bem algum» (v. 18). Como é difícil aprender
a dizer isto de modo genuíno! Se não fosse pelas inumeráveis experiências
de derrota penosa, o crente continuaria confiando em si mesmo e
considerando-se capaz. As centenas e milhares de derrotas o levam a
admitir que é impossível confiar na justiça própria e considerar-se a si
mesmo capaz. Esse tratamento enérgico, no entanto, não termina aqui. O
auto-exame deve continuar. Porque quando um cristão cessa de julgar-se
a si mesmo e falha em tratar a carne como extremamente inútil e
detestável, mas assume, em vez disso, uma atitude levemente vã e
aduladora para si mesmo, então Deus se vê obrigado a fazê-lo passar pelo
fogo, a fim de consumir a escória. Poucos são os que se humilham e
reconhecem sua imundície! A menos que alguém se dê conta deste estado,
Deus não vai retirar seus toques de atenção. Como o crente não pode
livrar-se da influência da carne nem um momento, nunca deveria deixar
de exercitar o coração a julgar a si mesmo; de outra maneira logo vai
recomeçar nas jactâncias da carne.
Muitos supõem que só as pessoas do mundo precisam ser
convencidas do pecado pelo Espírito Santo, pensando assim: Pois o
Espírito Santo já não me convenceu de meus pecados para que eu cresse
no Senhor Jesus?
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Mas os cristãos devem saber que uma operação como essa do
Espírito Santo é tão importante nos santos como nos pecadores. Por
necessidade, o Espírito deve convencer os santos de seus pecados, não
somente uma vez ou duas, mas sim a cada dia e incessantemente. Oxalá
experimentássemos mais e mais a convicção do pecado produzida pelo
Espírito Santo, para que nossa carne pudesse ser posta sob julgamento de
modo incessante e nunca lhe permitíssemos reinar! Que não percamos,
nem mesmo por um momento, a idéia verdadeira do que é nossa carne e
da avaliação que Deus faz dela. Que nunca acreditemos em nós mesmos, e
nunca mais confiemos em nossa carne, sabendo que isso jamais pode
agradar a Deus.
Confiemos sempre no Espírito Santo, e em nenhum momento
cedamos o nem um mínimo espaço ao eu.
Se jamais houve no mundo alguém que pudesse se gabar de sua
carne, esta pessoa tinha que ser Paulo, porque quanto à justiça que é da lei
era irrepreensível. E se alguém podia se gabar de sua carne depois da
regeneração, certamente tinha que ser também Paulo, porque tinha
passado a ser um apóstolo, havia visto com seus próprios olhos ao Senhor
ressuscitado, e era usado grandemente pelo Senhor. Mas sua experiência
de Romanos 7 o capacitara a compreender plenamente quem é. Deus
abriu seus olhos para que visse, pela experiência, que em sua carne não
habitava o bem, só o pecado. A justiça própria de que se tinha orgulhado
no passado, soube que é só lixo e pecado. Aprendeu esta lição, e a
aprendeu bem; daí que não se atreveu a confiar mais na carne. Mas Paulo
não parou aí, de modo algum. Não. Paulo continuou aprendendo. E,
assim, o apóstolo declara que não «confiamos na carne. Se bem que eu
poderia até confiar na carne. Se algum outro julga poder confiar na carne,
ainda mais eu.» (Fp. 3:3,4). Apesar das muitas razões que pôde enumerar
para confiar em sua carne (vs. 5,6), Paulo se dá conta de como Deus a vê e
entende muito bem que é indigna de confiança e que não pode confiar-se
nela absolutamente. Se seguimos lendo Filipenses 3 descobriremos o
quanto Paulo é humilde em relação a confiar em si mesmo. «Não tendo
minha própria justiça» (v. 9); « para ver se de algum modo posso chegar à
ressurreição dentre os mortos. » (v. 11); « N , ou que seja perfeito; mas vou
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prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui também
alcançado por Cristo Jesus » (v. 12).
Se um crente aspirar alcançar a maturidade espiritual, deve
preservar sempre esta atitude que o apóstolo Paulo apresenta ao longo do
caminho espiritual; ou seja: «não que já a tenha alcançado». O cristão não
deve atrever-se a ter a menor confiança em si mesmo, satisfação e gozo em
si mesmo, pensando que pode confiar em sua carne.
Se os filhos de Deus se esforçarem sinceramente em alcançar a vida
mais abundante e estiverem dispostos a aceitar a avaliação que faz Deus
da carne, não terão a si mesmos em maior estima que aos demais, por
maior que seja seu progresso espiritual. Não vão dizer palavras como:
«Naturalmente, eu sou diferente dos outros.» Se esses crentes estiverem
dispostos a permitir que o Espírito Santo lhes revele a santidade de Deus,
e não temerem que claramente lhes exponha sua corrupção, então
chegarão a perceber, pelo Espírito, sua corrupção de um tempo prévio,
possivelmente com uma diminuição posterior nas experiências penosas de
derrota.
Entretanto, quão lamentável é que, mesmo quando a intenção da
pessoa seja de não confiar na carne, apareça por baixo da superfície
alguma pequena impureza porque essa pessoa ainda crê que tem alguma
força. Em vista disto, Deus tem que lhe permitir encontrar-se em várias
derrotas, a fim de eliminar até a mais leve confiança em si mesmo.
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Creiamos em seu dom e confiemos que o Espírito Santo habita em
nós. Tenhamos isto como o segredo da vida de Cristo em nós: seu Espírito
reside no mais profundo de nosso espírito.
Meditemos nisso, creiamos nisso, e recordemo-lo até que esta
verdade gloriosa produza em nós um temor e assombro santos de que o
Espírito Santo habita realmente em nós!
Agora aprendamos a seguir sua direção. Esta direção não surge da
mente ou dos pensamentos; é algo da vida. Temos que ceder diante de
Deus e deixar que seu
Espírito governe tudo. Ele vai manifestar o Senhor Jesus em nossa
vida, porque esta é sua missão e tarefa.
PALAVRAS DE EXORTAÇÃO
Se permitirmos ao Espírito de Deus que faça uma obra mais
profunda por meio da cruz, nossa circuncisão vai ser cada vez mais real.
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Não experimentem métodos diferentes, porque só são úteis para
ajudar a carne. Temos que desconfiar da carne inteiramente, por boa e
capaz que seja. Temos que confiar, em troca, no Espírito Santo e nos
submetermos somente a Ele. Com esse tipo de confiança e obediência, a
carne será conservada em humildade em seu próprio lugar de maldição e,
em conseqüência, perderá todo seu poder. Que Deus seja misericordioso
conosco para que não coloquemos nossa confiança na carne; sim, que
possamos olhar para nós mesmos e reconhecer quão pouco digna de
confiança e quão inútil e estéril é nossa carne. Esta é uma morte muito
real. Sem ela não pode haver vida.
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ocasião à carne para sua atividade? O Espírito Santo pode nos ajudar e nos
fortalecer, mas Ele mesmo não vai nos substituir na realização daquilo que
é nossa responsabilidade. Portanto, para cumprir esta responsabilidade,
nós, por um lado, temos que manter uma atitude que não dê ocasião
alguma à carne; mas por outro lado temos que pôr essa atitude realmente
em prática quando sejamos chamados a negar a carne em todas as
realidades de nosso afazer diário.
«Não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências», admoesta
Paulo (Rm. 13:14). Para que a carne possa operar, necessita uma
oportunidade ou ocasião. É por isso que não devemos proporcionar-lhe
essa oportunidade Se a carne tiver que ser mantida no lugar de maldição,
temos que estar sempre alerta. Temos que examinar nossos pensamentos
continuamente para ver se albergarmos presunção ou não, porque,
certamente, uma atitude assim dará uma grande oportunidade à carne.
Nossos pensamentos são muito importantes aqui, porque o que acontece
no segredo de nossa vida intelectual vai irromper ao exterior abertamente
em palavras e feitos. A carne não deve ter nenhuma oportunidade nem
base.
Inclusive quando conversamos com outros, temos que estar atentos
para que nas muitas palavras a carne não ache oportunidade para
executar sua obra. É possível que nós gostemos de dizer muitas coisas,
mas se estas coisas não são enviadas pelo Espírito Santo é melhor não
dizê-las. O mesmo se aplica a nossos atos. A carne pode elaborar muitos
planos e métodos e estar cheia de expectativas. Tem opiniões, poder e
habilidade. Aos outros, e inclusive a nós mesmos, todas elas podem
aparecer como dignas de elogio e aceitáveis. Mas sejamos bastante
ousados para as destruir, inclusive as melhores delas, por temor de
infringir o mandamento do Senhor. O melhor que a carne tem para
oferecer deve ser entregue de modo inexorável à morte, pela simples
razão de que pertence à carne. A justiça da carne é tão aborrecível como o
pecado. Seus atos bons deveriam ser objeto de arrependimento por nossa
parte com a mesma humildade que se fossem atos pecaminosos. Sempre
temos que ter em conta o ponto de vista que tem Deus da carne.
Em caso de falharmos, temos que nos auto-examinar.
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Terceira Parte
A Alma
O MODO DA LIBERTAÇÃO
Romanos 6 estabelece o fundamento da libertação do pecado para o
cristão.
Deus proporciona essa libertação a todo crente; todos podem entrar
nela. Além disso, deve ficar perfeitamente claro que essa libertação do
poder do pecado pode ser experimentada no exato momento em que um
pecador aceita ao Senhor Jesus como Salvador e nasce de novo. Não tem
que esperar ser um crente a muitos anos e ter sofrido uma multidão de
derrotas antes que possa receber esse evangelho. A demora em aceitar o
evangelho, segundo Romanos 6 é devida, ou a ter ouvido um evangelho
incompleto, ou à má vontade de aceitá-lo por completo e render-se a ele
de modo total. Na realidade, essa bênção deveria ser posse comum de
todos os cristãos nascidos de novo.
O capítulo 6 começa com uma chamada a recordar, não a antecipar.
Dirige nossa atenção ao passado, ao que já é nosso.
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Neste versículo achamos três elementos principais:
1) «pecado» (singular em número);
2) «velho homem»; e
3) «corpo» (o corpo do pecado).
Esses três elementos são de naturezas muito diferentes e
representam papéis únicos no ato de pecar. O pecado, aqui, é o que
usualmente é chamado a raiz do pecado. A Bíblia nos informa que antes
fomos escravos do pecado. O pecado era nosso amo. Primeiramente, pois,
temos que reconhecer que o pecado possui poder, porque nos faz
escravos. Emite este poder de modo incessante para nos arrastar a
obedecer a seu velho homem, de modo que possamos pecar.
O velho homem representa a soma total de tudo o que herdamos de
Adão. Podemos reconhecer o velho homem sabendo o que é o novo
homem, porque tudo o que não é do novo homem deve pertencer ao
velho. Nosso novo homem abrange tudo o que flui como novo do Senhor
quando tem lugar nossa regeneração. Daí que o velho homem dá
evidência de tudo o que em nossa personalidade está fora da nova
personalidade, ou seja, tudo o que pertence à velha natureza.
Pecamos porque esse velho homem ama o pecado e está sob seu
poder. Quanto ao corpo do pecado, refere-se a esse nosso corpo. Esta parte
corporal do homem passou a ser um ator ou boneco de todo nosso pecar.
É chamado o corpo do pecado porque está submetido desde modo ao
poder do pecado, carregado plenamente com os desejos carnais e de
pecado.
E é por meio deste corpo que o pecado consegue expressar-se, pois
de outro modo seria um poder invisível. Para recapitular, pois, o pecado é
o poder que nos arrasta a pecar. O velho homem é a parte não corporal
que herdamos de Adão. O corpo de pecado é o elemento corporal que
herdamos de Adão. O processo de pecar segue esta ordem: primeiro, o
pecado; em seguida, o velho homem; finalmente, o corpo.
O pecado exsuda seu poder para atrair o homem e induzi-lo a pecar.
Como o velho homem se deleita no pecado, comuta o pecado e se amolda
a ele, instiga o corpo a pecar. Pelo que o corpo serve como um boneco e na
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realidade pratica o pecado. É por meio do empreendimento conjunto
destes três elementos que se comete o pecado. Presentes em todo tempo
temos a compulsão do poder do pecado, a inclinação do velho homem, e a
prática do corpo.
E agora, como pode o homem ser liberto do pecado?
Alguns teorizam que como o pecado é a primeira causa, deve ser
aniquilado a fim de obter a vitória; em conseqüência advogam pela
«extirpação do pecado». Uma vez arrancada a raiz do pecado —
acreditam eles —, nunca mais vamos pecar e, evidentemente, seremos
santificados.
Outros dizem que devemos submeter o corpo se desejamos vencer o
pecado, pois não é nosso corpo — dizem — o que pratica o pecado?
Assim, surgiu na Cristandade um grupo de pessoas que fomentam o
ascetismo. Usam muitas técnicas para suprimir-se a si mesmos, porque
consideram que uma vez tenham vencido as demandas de seu corpo,
serão santos.
O método de Deus não é nem um nem o outro. Romanos 6:6 é
transparente quanto a seu método. Ele não arranca a raiz do pecado de
dentro, nem suprime o corpo de fora. Mas Deus trata com o velho homem
que está no meio.
O ATO DE DEUS
O Senhor Jesus, ao ir à cruz, levou sobre si não só nossos pecados
mas também nossos seres.
Paulo enunciou este fato ao proclamar «que nosso velho homem foi
crucificado com ele». O verbo «crucificado», no original, está em tempo
aoristo *, o qual denota que nosso velho homem foi uma vez e para sempre
*aoristo – grego — tempo verbal que exprime a ação pura e simples sem que dele, se
cogite duração ou acabamento. O aoristo indicativo exprime um fato passado, do qual a
duração breve ou longa não tem nenhum interesse para o sujeito falante. Em realidade, ao
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crucificado com Ele. Como a cruz de Cristo é um fato consumado, assim
também nosso ser crucificado com Ele é também um fato consumado.
Quem põe em dúvida a realidade da crucificação de Cristo? Por que,
pois, deveríamos duvidar da realidade da crucificação de nosso velho
homem?
Muitos santos, ao ouvir a verdade da morte com Ele, imediatamente
assumem que têm que morrer; assim fazem todo o possível para
crucificar-se a si proprios. Ou carecem da revelação de Deus, ou a falta de
fé é o que explica essa atitude. Não só eles mesmos fazem isso, mas
também ensinam outros a fazê-lo. Os resultados são muito evidentes: não
têm poder para serem libertados do pecado e, segundo eles mesmos se
dão conta, seu velho homem não vai morrer. Isto é um grave engano de
julgamento. A Bíblia nunca nos instrui a que crucifiquemos a nós mesmos.
Precisamente nos diz o oposto. Nos ensina que quando Cristo foi ao
Calvário, nos levou com ele e ali nos crucificou. Não instrui a nos
crucificarmos a nós mesmos; em vez disso as Escrituras nos asseguram
que nosso velho homem foi tratado no momento em que Cristo foi à cruz.
Romanos 6:6, sozinho, basta para prová-lo. Não há a mais remota idéia
transmitida ali do desejo de que crucifiquemos a nós mesmos, nem a
Palavra de Deus, no sentido mais remoto, implica que nossa crucificação
tenha que ser realizada.
O versículo em Romanos 6 não deixa lugar a dúvida quando
proclama categoricamente que fomos crucificados com Cristo, um fato que
já se realizou. Este é verdadeiramente o efeito da frase mais preciosa de
toda a Bíblia: «em Cristo».
E pelo fato de que estamos nEle e unidos a Ele é que podemos dizer
que quando Cristo foi à cruz nós estávamos com Ele, que quando Cristo
foi crucificado nós também fomos crucificados com Ele. Que maravilhosa
realidade estarmos em Cristo!
Entretanto, a mera assimilação mental destas verdades não nos
capacita a resistir a tentação. A revelação de Deus é positivamente
empregar o aoristo o sujeito falante objetiva apenas a ação em si mesma, sem lhe
importar o grau de acabamento.(Nota da tradutora)
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essencial. O Espírito de Deus deve revelar como estamos em Cristo e
como estamos unidos com Ele, sendo um. Ele tem que nos mostrar
também, de modo claro, como foi crucificado nosso velho homem com
Cristo, pela simples razão de que estamos em Cristo. Isto não pode ser
objeto de simples compreensão mental; tem que ser uma revelação do
Espírito Santo. Quando Deus mostra uma verdade, ela, de modo natural
passa a estar em poder do homem, que então se vê capacitado para
acreditar. A fé vem por revelação.
Sem essa última, a primeira é impossível. Isto explica por que
muitos não têm fé, porque embora mentalmente entendam, não têm a
revelação de Deus. Portanto, irmãos, orem até que Deus lhes conceda
revelação, de modo que, «sabendo isso» em nosso espírito, possamos
confessar verdadeiramente que «nosso velho homem foi crucificado com
ele».
Qual é a conseqüência da crucificação de nosso velho homem? De
novo a resposta nos vem de modo inequívoco: «para que o corpo de
pecado possa ser reduzido à impotência». Outra tradução é «murcho» ou
«sem ocupação».
Anteriormente, quando o pecado estimulava, nosso velho homem
respondia e, por conseguinte, o corpo cometia pecado. Com a crucificação
do velho homem e sua substituição pelo novo homem, o pecado pode
ainda tentar fazer pressão, mas só prospera se achar o consentimento do
velho homem
O pecado já não pode tentar o crente porque é um novo homem; o
velho morreu. A ocupação do corpo era antigamente a de pecar, mas este
corpo de pecado agora está sem ocupação, posto que o velho homem foi
posto de lado. Já não é capaz de pecar e por isso lhe nega sua ocupação.
Louvado seja o Senhor, isto é o que Ele nos proporcionou.
Por que Deus crucifica nosso velho homem com Cristo e deixa nosso
corpo sem ocupação? Seu propósito é que «já não sirvamos mais ao
pecado». O que Deus fez neste sentido faz possível que nós não cedamos,
a partir de então, à pressão do pecado nem estejamos atados por seu
poder. O pecado não vai exercer domínio sobre nós.
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Aleluia! Temos que louvar a Deus por esta libertação.
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justiça, para dizer e fazer o que Ele deseja e ir aonde nos dirige, não temos
por que nos surpreender se não formos libertados do pecado ainda.
Sempre que nos negamos a renunciar a algo ou oferecemos resistência a
Deus, o pecado vai voltar para seu antigo domínio. Debaixo dessas
circunstâncias, naturalmente, perdemos o poder de contar com a Palavra
de Deus, isto é, de acreditar nela. Em nosso falha de exercitar a fé e a
considerar, podemos dizer ainda que nossa posição segue ainda em
Cristo? Sim, mas já não vivemos nele conforme com o sentido do
«permaneçam em Mim» de João 15.
Portanto, não estamos qualificados para experimentar o que é um
fato em Cristo, ou seja, nossa crucificação.
Agora, então, podemos inferir que qualquer derrota que soframos é
devida ou à falta de fé ou à falha em obedecer. Não há outra razão que
possa ser suficiente. Podemos conceber uma derrota que flua de cada uma
destas razões; se não das duas, pelo menos de uma delas. Deveríamos
aprender a viver em Cristo pela fé, nunca nos considerando fora dEle.
Aprendamos a crer diariamente que estamos em Cristo e que tudo o que é
verdade Dele é verdade nossa.
Da mesma maneira, por meio do poder de Deus, devemos aprender
diariamente a manter nossa consagração imaculada. Consideremos todas
as coisas como lixo, porque não há nada no mundo que possamos
renunciar pelo Senhor e nada que queiramos conservar para nós mesmos.
Estejamos dispostos a responder de modo positivo às demandas de Deus,
por difíceis ou contrárias à carne que possam ser. Para Deus nenhum
custo é muito alto. Tudo pode ser sacrificado, contanto que O agrademos.
Aprendamos a ser filhos obedientes a cada dia.
Se tivéssemos contado com isso e cedido desta maneira, agora
estaríamos desfrutando do que a Palavra de Deus declarou de modo
manifesto: «O pecado não se apoderará mais de vós.»
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A RELAÇÃO ENTRE O PECADO E O CORPO
O cristão entra em um período de sua vida decididamente arriscado
ao chegar a conhecer a verdade da morte conjunta com Cristo e
experimentar um pouco de liberdade do pecado. Se nesse momento
recebe boas instruções e permite ao Espírito Santo que lhe aplique a cruz
de uma forma profunda, finalmente chegará à maturidade espiritual. Mas
se o crente se contente vendo sua experiência de vida vitoriosa sobre o
pecado como o apogeu de seus lucros e impede que a cruz transgrida a
vida de sua alma, então vai habitar em um reino anímico, e confundirá a
experiência anímica com uma experiência espiritual.
Apesar do fato de que seu velho homem foi já eliminado, a vida da
alma do crente permanece sem ter sido tocada pela cruz. A vontade, a
mente e a emoção, portanto, vão continuar funcionando sem nenhum
freio; e como resultado: sua experiência ficará confinada ao reino da alma.
O que precisamos saber é até que ponto esta libertação do pecado
afetou realmente nosso ser — o que é o que foi tocado, mas também o que
é o que não o foi e deveria ter sido —. De modo mais especial temos que
entender que esse pecado tem uma relação muito particular com nosso
corpo. Ao contrário de muitos filósofos, não consideramos o corpo
intrinsecamente mau, mas confessamos que o corpo é a província da
dominação do pecado. Em Romanos 6:6 achamos o Espírito Santo
descrevendo nosso corpo como «o corpo do pecado», porque não é nada
mais do que isso, antes que experimentemos o tratamento da cruz e
cedamos nossos membros a Deus como instrumentos de justiça.
O pecado se apoderou de nosso corpo e o forçou à servidão. Passou
a ser a fortaleza do pecado, seu instrumento e guarnição. Portanto, não há
designação mais apropriada que a de «corpo do pecado».
Uma leitura cuidadosa de Romanos 6 a 8, que nos fala da libertação
do pecado, vai nos revelar não só qual é a relação do corpo com o pecado,
mas também qual é a perfeita salvação de Deus, ao libertar por completo a
nosso corpo de servir ao pecado para que sirva a Ele.
Em Romanos 6 o apóstolo faz estas afirmações:
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«para que o corpo do pecado seja reduzido à impotência»
(v.6)
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«a redenção de nosso corpo» (v. 23)
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Mas embora as aparências externas possam diferir, estar
internamente ligado à alma é a característica de todos. Os que estão
inclinados para a vontade vão andar conforme o seu próprio deleite e
recusarão fazer a vontade de Deus. Os que são propensos para o intelecto
ou mente vão ordenar seu caminho de acordo com sua sabedoria e
prescindirão de receber com quietude a direção do Espírito Santo em sua
intuição. E, os que por aptidão se inclinam à emoção vão procurar
prazeres em seus sentimentos.
Qualquer que seja a inclinação, cada um verá sua tendência como a
vida suprema. Não importa a direção da inclinação, uma coisa há em
comum em todas essas pessoas: todas vivem para si mesmas, no que de
modo natural possuíam antes de acreditar no Senhor: seja talento,
destreza, eloqüência, sagacidade, atrativo, zelo ou o que seja. Em
princípio, a vida da alma é força natural; em manifestação, sua expressão é
ou uma rigidez obstinada ou uma presunção e uma busca de prazer.
Portanto, se um crente viver por meio de sua alma, vai tirar forças,
naturalmente, de seu reservatório, e exibirá uma força particular em uma
destas formas ou em mais de uma. A menos que o crente ofereça a vida da
sua alma à morte, cultivará sua vida, incorrerá no desagrado de Deus e
perderá o fruto do Espírito Santo.
A ALMA E O PECADO
A vida da alma proporciona a energia para executar tudo o que se
manda. Se reger o espírito, a alma será dirigida pelo espírito a exercer seus
atos de vontade, ou decidir, ou operar conforme o desejo do espírito;
entretanto, se reinar o pecado no corpo, a alma se verá arrastada pelo
pecado a usar sua volição para decidir ou fazer o que o pecado deseja. A
alma opera segundo seu amo, porque sua função é a execução de ordens.
Antes da queda do homem, ficava à disposição do espírito para ser
dirigida; mas depois da queda, respondeu completamente à coerção do
pecado. Como o homem se tornou um ser carnal, este pecado, que depois
reinou no corpo, passou a ser a natureza do homem, escravizando a alma
e a vida do homem e lhes obrigando a andar atrás do pecado. Desta forma
o pecado passou a ser a natureza do homem, enquanto que a alma passou
a ser a vida do homem.
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Com freqüência tratamos a vida e a natureza como sinônimos e com
significado equivalente.
Falando de modo estrito, são diferentes. A vida parece ser mais
ampla em sua natureza. Cada vida possui sua natureza especial que,
sendo o princípio natural da existência, inclui a disposição e o desejo da
vida. Enquanto somos ainda pecadores, nossa vida é a nossa alma e a
nossa natureza é o pecado. Vivemos por meio da alma e a disposição e
desejo de nossa vida estão em conformidade com o pecado. Podemos
dizê-lo de outra maneira: o que decide nosso andar é o pecado, mas o que
proporciona a força para andar desta maneira (em pecado) é a alma. A
natureza do pecado inicia, e a vida da alma dá a energia. O pecado
origina, a alma executa. Esta é a condição do não crente.
Quando um crente aceita a graça de nosso senhor Jesus como seu
substituto na cruz, embora possa permanecer, por desgraça, ignorante de
que é estar crucificado com Cristo, recebe a vida de Deus, apesar de tudo,
e seu espírito é avivado. Esta nova vida compartilhada leva consigo uma
nova natureza também. Daí que haja agora duas visões e duas naturezas
no crente: a vida da alma e a vida do espírito, por um lado, e a natureza
do pecado e a natureza de Deus pelo outro.
Estas duas naturezas — a velha e a nova, pecaminosa e piedosa —
são fundamentalmente díspares, irreconciliáveis e impossíveis de mesclar.
O novo e o velho brigam diariamente pela autoridade sobre o homem.
Durante este estágio inicial o cristão é um menino pequeno em Cristo
porque ainda é carnal. Suas experiências são muito variáveis e penosas,
pontuadas tanto por êxitos como por fracassos. Mais tarde chega a
conhecer a libertação da cruz e aprende a exercitar a fé ao considerar o
velho homem como crucificado com Cristo. Está, portanto, livre deste
pecado que paralisou seu corpo. Com seu velho homem crucificado, o
crente está capacitado para vencer e goza da promessa de que «o pecado
não dominará mais sobre vós».
Com o pecado a seus pés e as concupiscências e paixões da carne às
suas costas, o crente entra agora em um novo reino. Pode ver-se a si
mesmo como totalmente espiritual. Quando volta a olhar para os outros
que permanecem nas redes do pecado, sente-se aliviado e se maravilha de
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como pôde alcançar as alturas da vida espiritual. Não percebe que, longe
de ser completamente espiritual, ainda continua sendo parcialmente
carnal; ainda é um cristão anímico ou carnal.
Por que? Porque vemos que a vida da alma continua, embora a cruz
tenha tratado a natureza pecaminosa do crente. É verdade que cada
pecado irrompe dessa natureza pecaminosa, com a alma sendo
simplesmente uma serva disposta; entretanto, a alma como herdada de
Adão está infectada com a queda de Adão. Pode ser que não esteja
inteiramente poluída; entretanto, é natural e totalmente dessemelhante da
vida de Deus. O velho homem corrompido no crente morreu, mas sua
alma permanece como o poder por trás de sua conduta externa. Por um
lado a natureza pecaminosa foi radicalmente tocada, mas por outro lado a
vida do eu ainda persiste e portanto não pode escapar de ser anímica.
Embora o velho homem possa cessar de dirigir a alma, esta continua
dando a energia para a vida corrente diária do homem. Como a natureza
de Deus substituiu sua natureza pecaminosa, todas as inclinações e
desejos do homem são naturalmente bons, algo muito distinto de seu
estado impuro anterior. Entretanto, pode acontecer que o antigo poder da
alma continue executando esses novos desejos.
Depender da vida da alma para realizar o desejo do espírito é usar
força natural (ou humana) para realizar bondade sobrenatural (ou divina).
Isto é simplesmente tentar cumprir as exigências de Deus com as próprias
forças. Nesta condição, o crente é ainda fraco em fazer o bem de modo
positivo, embora negativamente tenha vencido o pecado. São poucos os
que sinceramente estão dispostos a reconhecer sua incapacidade e
fraqueza e apoiar-se totalmente em Deus. Quem vai confessar sua
inutilidade se não tiver sido humilhado pela graça de Deus?
O homem se orgulha de suas proezas. Por esta razão lhe é
virtualmente impossível albergar a idéia de confiar no Espírito Santo para
operar bem, mas com toda certeza, vai corrigir e melhorar seu antigo
comportamento por meio do poder de sua alma. O perigo para ele está em
tentar agradar a Deus com seu próprio poder em vez de aprender a ser
forte com o poder da vida do espírito procedente do Espírito Santo, de
modo que pode persistir em seguir os ditados de sua nova natureza. Na
verdade, sua vida espiritual está ainda na infância, não tendo chegado
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ainda à maturidade, em que possa manifestar cada uma das virtudes da
natureza de Deus.
Se o crente falha em esperar humildemente e em confiar
inteiramente em Deus, inevitavelmente emprega sua vitalidade natural
anímica para cobrir os requerimentos que Deus faz a seus filhos.
Não percebe que, por bons que sejam seus esforços sob a perspectiva
humana, nunca podem agradar a Deus. Devido ao fato de que, operando
dessa maneira, mescla o que é de Deus e o que é do homem e expressa
desejo celestial mediante poder da terra. E a conseqüência? Falha
miseravelmente em ser espiritual e continua radicado na alma.
O homem não sabe o que é a vida da alma. Colocado de modo
simples, é o que costumamos chamar de vida própria. É um equívoco
sério não distinguir entre o pecado e o eu. A maioria do povo do Senhor
vai a esses dois como a uma mesma entidade. O que não reconhecem é
que os dois, tanto em ensino bíblico como em experiência espiritual, são
distintos. O pecado é o que polui, é contra Deus e é totalmente mau; o eu
não é necessariamente mau e pode, às vezes, ser muito respeitável, útil e
amável. Por exemplo: a alma em relação à leitura da Bíblia, certamente
uma atividade muito digna de elogio. Tentar compreender a santa Bíblia
com o talento ou capacidade natural, é considerado pecaminoso; contudo,
o aproximar-se da Bíblia dessa maneira é indubitavelmente uma obra do
eu. O ganhar almas também, se vai acompanhado por métodos que estão
meramente baseados em idéias próprias, estará cheio do eu. E com que
freqüência o esforço para o crescimento espiritual se origina somente no
eu natural, possivelmente porque não podemos tolerar a idéia de ficar
atrás ou porque procuramos algum benefício pessoal. Falando claramente,
o fazer o bem não é pecado, mas a maneira, método ou motivo deste fazer
o bem podem estar saturados de nosso eu. Sua fonte é a bondade natural
do homem, não o tipo de bondade sobrenatural que o Espírito Santo dá
através da regeneração.
Muitos são inatamente compassivos, pacientes e ternos. Para esses,
mostrar compaixão, paciência ou ternura não é cometer um pecado; mas
devido a esses traços «bons» pertencerem à vida natural e serem obra do
eu, não podem ser aceitos por Deus como algo espiritual. Esses atos não
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são executados com uma dependência total no Espírito de Deus, mas sim
confiando na própria força.
Estes poucos exemplos ilustram como o pecado e o eu diferem um
do outro. À medida que vamos avançando em nosso caminho espiritual
descobriremos muitos mais exemplos da forma com que o pecado pode
estar ausente, mas o eu plenamente presente. Parece quase inevitável que
o eu se introduza na obra mais santa e no caminho espiritual mais nobre.
Tendo estado amarrado pelo pecado, o filho de Deus facilmente
interpreta que o ver-se livre de seu poder é a vida por excelência.
Precisamente aqui espreita o maior perigo nos dias vindouros para essa
pessoa que agora chega à conclusão de que todos os elementos perniciosos
dentro dele foram arrancados de vez. Não se dá conta que, estando o
velho homem morto para o pecado, «murcho», o pecado, entretanto, não
morreu. Meramente, passou a ser um soberano destronado que, se
conseguir uma oportunidade, vai fazer todo esforço possível para
recuperar o trono.
A experiência do crente de ser libertado do pecado pode inclusive
continuar, mas nem por isso vai ser feito perfeito. Não tratou ainda
inexoravelmente com seu «eu».
Que deplorável é que os cristãos se considerem completamente
santificados quando, tendo procurado a santificação, experimentaram a
libertação! Não se dão conta que esta libertação do pecado é só o primeiro
passo na vida vitoriosa. Não é mais que a vitória inicial dada por Deus
como uma segurança para eles das muitas vitórias que virão a seguir. O
triunfo sobre o pecado é como uma porta: dá-se um passo, e já se está
dentro; o triunfo sobre o eu é como um atalho: anda-se por ele, e se
continua andando pelo resto de seus dias. Uma vez derrotado o pecado,
somos chamados a vencer a nós mesmos — inclusive a melhor parte de
nós, o eu cheio de zelo e religioso —, e isto a cada dia. Se conhecer
somente a emancipação do pecado, mas não tiver a experiência do negar-
se a si mesmo ou de haver-se desprendido da vida da alma, coloca-se de
modo inevitável na posição de recorrer a sua força natural anímica para
realizar a vontade de Deus em sua vida. Não se apercebe de que, além do
pecado, há outros dois poderes que residem nele: o poder do espírito e o
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poder da alma. O poder do espírito é o poder de Deus recebido
espiritualmente na regeneração, enquanto que o poder da alma é o que foi
concedido de modo natural quando nasceu.
Ser um homem espiritual ou não, depende em grande parte de como
dirige estas duas forças que há dentro dele. O crente entra nas filas dos
espirituais ao usar os recursos do poder espiritual, excluindo o de sua
alma. Se usar o poder de sua alma, ou inclusive uma combinação dos dois,
o resultado inevitável será um cristão anímico ou carnal. O caminho de
Deus é claro. Temos que negar tudo o que se origina em nós — o que
somos, o que temos, o que podemos fazer — e sermos movidos
inteiramente pelo Espírito Santo, pelo qual captamos diariamente a vida
de Cristo.
A falha em entender ou em obedecer isso não nos deixa outra
alternativa do que viver segundo o poder da alma. Um cristão espiritual,
portanto, é aquele cujo espírito é guiado pelo Espírito de Deus; recebe o
poder para seu caminho diário de vida através do Santo Espírito que
reside em seu espírito; não permanece na terra procurando fazer sua
própria vontade, mas sim a vontade de Deus; não confia em sua
sagacidade para planejar e executar seu serviço a Deus. A regra de sua
conduta é permanecer quieto no espírito, sem ser influenciado ou
controlado pelo homem exterior.
O cristão anímico é diferente em alto grau. Embora esteja de posse
do poder do espírito, não tira recursos do mesmo para sua vida. Em sua
experiência diária persiste fazendo da alma sua vida e continua apoiando-
se em seu próprio poder. Segue os ditados de seu prazer e deleite, porque
falhou em aprender a obedecer a Deus. Contribui para a obra de Deus
com sua sabedoria natural, engenhando todo tipo de acertos, que podem
ser muito sagazes. Sua existência cotidiana é governada e afetada pelo
homem exterior.
Para recapitular o que venho dizendo, o problema das duas
naturezas foi respondido, mas o problema das duas visões continua não
resolvido. A vida do espírito e a vida da alma coexistem dentro de nós.
Enquanto que a primeira é em si extremamente forte, a segunda consegue
controlar todo o ser, porque se acha profundamente arraigada no homem.
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A menos que se esteja disposto a negar a vida da alma e permita que a
vida de seu espírito tome as rédeas na mão, esta última tem poucas
probabilidades de desenvolver-se. Isto é aborrecível ao Pai, porque o filho
de Deus priva a si mesmo de crescimento espiritual. Tem que ser ensinado
a vencer o pecado. Tem-se que fazê-lo compreender que vencer o pecado,
por mais que seja bendito, é só um mínimo absoluto da experiência do
crente. Não há nada assombroso nisso. O não vencê-lo é o que deveria nos
deixar assombrados. Não pergunta legitimamente a Escritura: «Os que
morremos ao pecado, como viveremos ainda nele?» (Rm. 6:2). Porque
acreditar que o Senhor Jesus morreu por nós como nosso substituto é
inseparável de acreditar que nós estamos mortos com Ele (Rm. 6:6). Pelo
que temos que nos assombrar, pois, não é do afastamento do pecado por
parte dos que morreram para o pecado, mas sim da continuidade deste
fenômeno neles, como se ainda estivesse vivo. A primeira condição é
completamente normal; a segunda, totalmente anormal.
O ser libertado do pecado não é uma tarefa difícil quando se olha à
luz da salvação de Deus consumada, perfeita e completa. O crente deve
continuar aprendendo as lições mais avançadas e possivelmente mais
formidáveis e profundas de aborrecer sua vida. Não só temos que
aborrecer a natureza do pecado que vem de Adão, mas também a
vitalidade natural na qual confiamos para nosso viver agora Temos que
estar dispostos a negar o bem que é produzido pela carne, assim como o
mal da carne.
Não meramente abandonar todos os pecados; além disso, entregar
esta vida de pecado à morte. O andar pelo Espírito Santo não é só não
cometer pecado mas também não permitir que continue o eu.
O Espírito Santo pode manifestar seu poder somente naqueles que
vivem por Ele.
Quem anda com sua força natural não pode esperar dar testemunho
das poderosas realidades do Espírito Santo.
Precisamos ser tirados de todo o natural tanto quanto de todo o
pecaminoso. Se insistirmos em andar conforme o homem, não já o
pecaminoso, mas sim o homem natural completo, rejeitamos a regra do
Espírito Santo em nossas vidas. Como pode Ele exibir seu poder se nós
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fomos libertos do pecado e, não obstante, continuamos pensando como os
«homens» pensam, como os «homens» desejam, vivem e trabalham, como
os «homens» fazem? Não nos apoiamos inteiramente no Espírito Santo de
Deus para que opere em nós. Se genuinamente desejamos sua plenitude,
primeiro temos que quebrantar a influência dominadora e avassaladora
da alma.
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2) o ponto que ele que cedeu à vida da alma. Pode viver
inteiramente em um mundo emocional, idealista ou ativista, ou pode até
viver alternando segundo sua alma e segundo seu espírito.
A menos que tenha sido instruído por Deus por meio da revelação
do Santo Espírito em seu espírito, será incapaz de detestar a vida anímica
e amar a vida do espírito. O tipo de vida que escolhe determina o caminho
que vai seguir.
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Naturalmente, essa tendência pode já ter existido neles antes da
conversão; mas acham muito difícil vencer esta propensão natural, depois.
Ao contrário dos cristãos espirituais, que procuram não tanto a explicação
como a experiência de ser um com Deus, esses crentes procuram
diligentemente uma compreensão na mente. Gostam de discutir e
raciocinar. O fracasso em fazer com que seus ideais se transformem em
realidade não é o que os preocupa; é sua incapacidade para compreender
esta falta de experiência espiritual que os perturba! Assumem que
conhecer mentalmente é possuir na experiência. Isto é um grande engano.
Muitos crentes anímicos adotam uma atitude de justiça própria,
embora freqüentemente seja difícil perceber. Aferram-se tenazmente às
mínimas opiniões. Sem dúvida, é correto manter as doutrinas básicas e
essenciais da Bíblia, mas certamente podemos nos permitir conceder certa
margem de tolerância em questões menores. Podemos ter a convicção de
que o que acreditamos é verdade absoluta; porém, se engolirmos o camelo
mas tentarmos peneirar o mosquito, isso absolutamente não agradará a
Deus. Deveríamos pôr de lado as diferenças pequenas e prosseguir para o
objetivo comum.
Às vezes, a mente dos cristãos anímicos é assaltada pelo espírito
maligno; daí seu pensamento se torna confuso, misturado e, às vezes,
poluído. Em suas conversas, freqüentemente respondem o que não lhes
foi perguntado; sua mente se embota; trocam o tópico da discussão com
freqüência, demonstrando o quanto seus pensamentos estão dispersos.
Mesmo que orem e leiam a Bíblia, sua mente se perde na lonjura. Embora
estes cristãos geralmente atuem de forma que raramente põem em ordem
seu pensamento sobre alguma coisa com antecipação, podem dizer aos
outros que sempre operam sobre princípios e que consideram
cuidadosamente cada ação, inclusive citando alguns incidentes de suas
vidas para corroborar suas pretensões. Embora pareça estranho, de vez
em quando pensam três e até dez vezes antes de executar um ato. Suas
ações são verdadeiramente imprevisíveis.
Os crentes carnais são facilmente mutáveis. Há ocasiões em que
estão extremamente entusiasmados e contentes; em outras, abatidos e
tristes. Nos momentos de felicidade podem julgar que o mundo é muito
pequeno para contê-los, por isso se elevam pelos ares, asas do vento, para
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os céus; mas nos momentos de tristeza chegam à conclusão de que o
mundo já está farto deles e de boa vontade se desembaraçariam de sua
pessoa. Há ocasiões de entusiasmo em que seus corações são agitados
como se fosse por um fogo ardendo dentro, ou como se tivessem
subitamente achado um tesouro. Igualmente há horas de depressão em
que seu coração não pode ser estimulado, mas sim cedem a um
sentimento de perda que os deixa extremamente deprimidos. Seu gozo e
sua pena igualmente dependem principalmente do sentimento. Suas vidas
são suscetíveis de mudanças constantes, porque são governados por suas
emoções.
A hipersensibilidade é outro traço que geralmente marca os
anímicos. É muito difícil viver com eles porque interpretam qualquer
movimento que acontece ao seu redor como dirigido a eles.
Quando alguém os trata com menos cuidados, se zangam. Quando
suspeitam que os outros mudaram de atitude a seu respeito, se magoam.
Exibem o sentimento da inseparabilidade. Uma leve mudança em tal
relação produz em sua alma uma dor inexprimível. E assim estas pessoas
se enganam pensando que sofrem pelo Senhor.
Deus conhece as fraquezas dos anímicos quando fazem do seu eu o
centro, e se consideram especiais quando conseguem um pequeno
progresso no reino espiritual. Deus lhes concede dons especiais e
experiências sobrenaturais que lhes possibilitam vivenciar momentos de
bem-aventurança inefável, assim como momentos de maior intimidade
com o Senhor, como se O tivessem visto e tocado. Mas Ele usa estas graças
especiais para que se humilhem e assim possa trazê-los para o Deus de
toda graça. Infelizmente, esses crentes não seguem os propósitos de Deus.
Em vez de glorificar a Deus e aproximar-se mais dEle, apoderam-se da
graça de Deus para sua própria jactância. Agora se consideram mais fortes
que outros; porque imaginam, em segredo, que são mais espirituais que
aqueles que não tiveram estes encontros. Além disso, os crentes anímicos
têm numerosas experiências sentimentais que os induzem a considerar-se
mais espirituais, sem se dar conta que não passam de evidências de que
são carnais. Quem é espiritual não vive pelo sentimento, mas sim pela fé.
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Com freqüência o cristão carnal é perturbado pelas coisas de fora.
As pessoas ou os assuntos ou as coisas no mundo que os rodeia facilmente
invadem seu homem interior e perturbam a paz de seu espírito. Se
colocarem um cristão anímico em um ambiente feliz, se sentirá feliz.
Ponha-o em um ambiente penoso e se sentirá de causar pena. Carece de
poder criador. Em vez de possuí-lo, adota a compleição peculiar daqueles
com os quais está em contato. Os que são anímicos geralmente prosperam
na sensação. O Senhor lhes concede o sentido de Sua presença antes de
alcançarem a espiritualidade. Tratam esta sensação como um gozo
supremo. Quando lhes concede um sentimento assim, imaginam que
fazem grandes progressos para o auge da maturidade espiritual. Contudo,
o Senhor alternadamente concede e retira esses toques, para poder treiná-
los gradualmente a prescindir da sensação e a andar por fé. Eles, porém,
não entendem o método do Senhor, e chegam à conclusão de que sua
condição espiritual é mais elevada quando sentem a presença do Senhor e
mais baixa quando deixam de senti-la.
Os cristãos carnais têm uma marca comum: a verbosidade. Suas
palavras deveriam ser poucas, sabem muito bem, mas se vêem
impulsionados a discussões intermináveis, com a emoção mais entusiasta.
Carecem de controle de si mesmos na fala; uma vez que tenham aberto a
boca, a mente parece não ter rédeas para freá-la. As palavras saem como
uma avalanche.
Em certo momento, o cristão anímico percebe que não deveria falar
sem parar, mas por alguma razão lhe é impossível inibir-se uma vez que a
conversa tenha iniciado. Então há pensamentos de todos os tipos que
rapidamente invadem a conversação, precipitando-se em uma contínua
mudança de assuntos infalivelmente cheio de palavras. E «quando as
palavras são muitas, não falta a transgressão», diz Provérbios 10:19.
Porque o resultado será ou uma perda de controle devido ao muito falar, a
perda da paz por causa das discussões, ou até a perda de amor por causa
das críticas, porque de modo secreto e hipócrita ajuízam a outros dizendo
que são loquazes e consideram que não deveriam sê-lo. Percebam que esta
volubilidade não é adequada ao santo
A pessoa carnal não consegue parar de falar frivolamente, e
prossegue falando e escutando brincadeiras pobres. Ou pode haver
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conversações alegres e vivazes, que acredita que não pode perder, custe o
que custar. Embora às vezes se aborreça desse falar sem proveito e ímpio,
não é durante muito tempo; quando a emoção é de novo estimulada,
automaticamente volta ao seu passatempo favorito.
Os cristãos anímicos se permitem também o «desejo dos olhos». O
que com freqüência governa suas atitudes é o ponto de vista particular,
artístico ou estético, que prevalece momentaneamente no mundo corrente.
Não assumiram ainda a atitude de morte quanto aos conceitos artísticos
humanos. Em vez disso se orgulham de possuir a visão penetrante do
artista. Caso que não sejam admiradores ardentes da arte, podem saltar ao
outro extremo e ser totalmente indiferentes à beleza. Esses vão vestir
farrapos como demonstração do que sofrem pelo Senhor.
Os intelectuais entre os que vivem segundo a alma tendem a ver-se a
si mesmos como «boêmios». Em uma manhã ventosa, ou uma noite de
lua, por exemplo, é provável achá-los derramando suas almas em canções
sentimentais.
Com freqüência lamentam suas vidas, vertendo muitas lágrimas de
auto-compaixão. Esses indivíduos adoram a literatura, estão famintos dela
e devoram sua formosura. Também recitam poemas líricos, porque isto
lhes dá um sentimento transcendental. Vão ver as montanhas, os lagos e
as correntezas, posto que isto os leva para mais perto da natureza. Ao ver
que o curso do mundo declina, começam a pensar em viver uma
existência isolada dos demais. Que elevados e que puros são! Não como os
outros crentes, que lhes parecem materialistas, vulgares, metidos em mil
assuntos. Esses cristãos se consideram muito espirituais, não
reconhecendo o incrivelmente anímicos que são na realidade. Uma
carnalidade assim representa o maior dos obstáculos para que possam
entrar em um reino totalmente espiritual, porque são governados
completamente por sua emoção. O que constitui o maior risco para eles é
que não conseguem perceber sua posição perigosa e o seu total
contentamento próprio.
Os crentes carnais podem abundar em conhecimento chamado
espiritual, mas ficam curtos na experiência. Daí que condenam os outros
mas não se corrigem a si mesmos. Quando ouvem o ensino de dividir a
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alma e o espírito, sua mente natural o assimila rapidamente e sem
dificuldade. Mas o que acontece então? Ficam a discernir e ordenar os
pensamentos e atos anímicos, não de suas vidas, mas sim das dos demais.
Sua aquisição de conhecimento meramente os impulsiona a julgar a outros
mas não a ajudar-se a si mesmos.
Esta propensão a criticar é uma prática comum entre os anímicos.
Têm a capacidade da alma de receber o conhecimento, mas carecem da
capacidade espiritual para ser humildes. No relacionamento com as
pessoas dão a impressão de serem frios e duros. Seus entendimentos com
outros possuem certa rigidez. Ao contrário dos crentes espirituais, seu
homem exterior não foi quebrantado e portanto não é fácil aproximar-se
deles ou acompanhá-los.
Os cristãos que prosperam na vida da alma são muito orgulhosos.
Isso é devido a fazerem do eu o seu centro. Por muito que tratem de dar a
glória a Deus e reconhecer todo mérito como a graça de Deus, os crentes
carnais têm a mente posta em si mesmos. Tanto se considerarem suas
vidas boas ou más, seus pensamentos giram ao redor de si mesmos. Não
se perderam ainda em Deus. Ficam muito magoados se forem postos de
lado, seja na obra ou no julgamento dos outros. Não podem tolerar os
mal-entendidos ou as críticas, porque — ao contrário de seus irmãos mais
espirituais — ainda não aprenderam a aceitar alegremente as disposições
de Deus, quer estas resultem em elevação ou em rejeição.
Resistem em parecerem inferiores, ou serem desprezados. Mesmo
depois de terem recebido a graça de conhecer o estado real de sua vida
natural como muito corrupta, e até depois de haver-se humilhado diante
de Deus — considerando que suas vidas são as piores do mundo—, essas
pessoas, apesar disso e ironicamente, terminam considerando-se mais
humildes que os outros. Se envaidecem de sua humildade! O orgulho está
encravado neles até a medula dos ossos.
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AS OBRAS DOS CRENTES ANÍMICOS
Os anímicos não cedem a ninguém em questão de obras. São os mais
ativos, zelosos e dispostos. Mas não trabalham porque tenham recebido a
ordem de Deus; trabalham, em troca, porque têm o zelo e a capacidade de
fazê-lo. Acreditam que fazer a obra de Deus é muito bom, sem perceber
que só o fazer a obra que Deus ordenou é verdadeiramente elogioso. Estes
indivíduos nem têm o ânimo para confiar nem o tempo para esperar.
Nunca procuram sinceramente fazer a vontade de Deus. Ao contrário,
operam conforme suas idéias, com a mente cheia de planos e esquemas.
Devido a que trabalham com diligência, estes cristãos caem no engano de
ver-se como mais adiantados que outros irmãos deles que vão mais
pausadamente. Quem pode negar, não obstante, que com a graça de Deus
estes últimos podem ser facilmente mais espirituais que os primeiros?
O trabalho dos crentes anímicos depende principalmente dos
sentimentos. Ficam a trabalhar só quando os emprega; e se estes
sentimentos apropriados cessam enquanto estão trabalhando, deixam de
fazê-lo imediatamente. Podem dar testemunho a outros durante horas
sem cessar e sem cansaço se experimentam em seus corações um desejo
ardente e um sentimento de contentamento inexprimível. Mas se tiverem
que suportar um desprezo ou uma insipidez logo que vão falar, ou não
falarão em absoluto, inclusive frente à maior necessidade, nem mesmo
diante de uma situação no leito de morte. Com calor estimulante podem
correr milhares de milhas; sem ele não vão dar um passo. Não podem
prescindir de seus sentimentos até o ponto de falar com o estômago vazio
a uma mulher samaritana ou com os olhos sonolentos a um Nicodemos.
Os cristãos carnais trabalham com gosto; contudo, entre os muitos
trabalhos são incapazes de manter a calma de seu espírito. Não podem
cumprir as ordens de Deus quietamente como seus irmãos espirituais. O
muito trabalho os transtorna. A confusão exterior lhes causa uma
inquietação interna. Seus corações são governados por questões externas.
«As muitas coisas os angustiam» (Lc. 10:40). Isso é característico da obra
do cristão anímico. Os cristãos carnais se desanimam facilmente por causa
de MEUS esforços. Falta-lhes a tranqüila confiança que se apóia em Deus
para fazer a obra. Estando regidos por suas sensações internas e o
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ambiente externo, não podem apreciar a «lei da fé». Diante do sentimento
de que falharam, por mais que não seja verdade, estão dispostos a
renunciar. Se deprimem quando o ambiente se nubla e fica desanimado.
Não entraram ainda no repouso de Deus.
Como lhes falta poder ver ao longe, estes crentes que confiam na
alma se desanimam facilmente. Só podem ver o que têm imediatamente
diante de si. As vitórias momentâneas injetam-lhes gozo; as derrotas
temporárias os entristecem. Não descobriram a maneira de ver o fim da
obra através dos olhos da fé. Desejam um êxito imediato como consolo e
distração para seu coração; a falha em consegui-lo os faz incapazes de
seguir adiante, imperturbáveis, e confiar em Deus em meio às trevas
circundantes.
Os crentes anímicos são peritos em descobrir faltas, embora eles não
sejam por necessidade fortes. São prontos a criticar e lentos em perdoar.
Quando investigam e corrigem as deficiências de outros exsudam uma
espécie de auto-suficiência e uma atitude de superioridade. Sua maneira
de ajudar às pessoas gente é correta e legal, mas sua motivação nem
sempre é reta.
A tendência a apressar-se marca com freqüência aos que partem ao
ritmo de sua alma. Não esperam a Deus. Tudo o que fazem é precipitado,
impetuoso, com pressa. Operam, mais por impulso que por princípios.
Inclusive na obra de Deus, estes cristãos são impulsionados por seu zelo e
paixão, até o ponto que não podem esperar que Deus deixe clara sua
vontade e seu caminho.
A mente do carnal está ocupada completamente em seus
empreendimentos. Consideram e planejam, fazem esquemas e predizem.
Algumas vezes pressagiam um futuro esplêndido, por isso estão fora de si
de gozo; outras vezes captam só olhadas de trevas e imediatamente são
presa de um estado de miséria inexprimível.
Dessa forma, estão pensando em seu Senhor? Não, pensam mais em
seus trabalhos. Para eles, o fazer a obra do Senhor é de importância
suprema, mas com freqüência se esquecem de que o Senhor é o que dá a
obra. A obra do Senhor ocupa o centro, mas o Senhor da obra retrocede ao
fundo.
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As pessoas anímicas carecem de penetração espiritual, por isso são
guiadas por pensamentos súbitos que, como brilhos, cruzam velozes sua
mente; suas palavras e obras, portanto, são com freqüência inapropriadas.
Falam, em primeiro lugar, não porque se sentem chamados a fazê-lo, mas
sim simplesmente porque supõem que é necessário fazê-lo. E, então,
podem fazer recriminações, quando deveriam mostrar simpatia ou
consolação. Tudo isto é devido a sua deficiência em discernimento
espiritual. Confiam muito em seus pensamentos limitados e limitantes. E
até depois que se viu que suas palavras são improcedentes, negam-se a
aceitar o veredicto dos feitos. Devido a que possuem oceanos de planos e
montanhas de opiniões é muito penoso trabalhar com os cristãos carnais.
Tudo o que lhes parece bom deve ser aceito como bom pelos outros. A
condição essencial para operar com eles é estar perfeitamente de acordo
com suas idéias ou interpretações. Não podem tolerar qualquer opinião
diferente que alguém possa manifestar. Embora o crente anímico saiba
que não deveria aferrar-se a opiniões, assegura-se de que sempre que
alguma opinião tenha que ser descartada, que não seja a sua! O sectarismo
— admite — não é espiritual; mas nunca é sua seita particular a que deve
desaparecer. Tudo o que ele não aceita, o considera como uma heresia.
(Não é de se estranhar que outros cristãos — anímicos como ele — lhe
paguem com a mesma moeda, negando a autenticidade de sua fé.) Sente
grande apego a sua obra. Ama a seu pequeno círculo, digamos íntimo, e é
por isso incapaz de trabalhar conjuntamente com outros filhos de Deus. E
insiste em denominar somente filhos de Deus aos que são de sua própria
filiação. Quando chegamos ao sermão, o anímico não pode depender
inteiramente em Deus. Ou põe sua confiança em algumas histórias
ilustrativas boas, ou em palavras engenhosas ou em sua personalidade.
Há alguns pregadores notáveis que possivelmente dependam
completamente de si mesmos: como eu disse, todos tem que escutar!
Podem depender de Deus, mas também, ao mesmo tempo, dependem
deles mesmos. Daí sua cuidadosa preparação. Passam mais tempo
analisando e recolhendo os materiais, e pensando com esforço, que orando
e procurando a mentalidade de Deus e esperando o poder de cima.
Memorizam suas mensagens e logo as pregam literalmente. Seus
pensamentos ocupam um lugar primário nesta obra. Com um enfoque
assim, estes crentes, naturalmente, vão pôr mais confiança na mensagem
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que no Senhor. Em vez de confiar no Espírito Santo para que lhes revele a
necessidade do homem, e a provisão de Deus para seus ouvintes,
dependem de modo exclusivo das palavras que pronunciam para
comover os corações dos homens. Aquilo em que esses crentes carnais
fazem insistência e no que confiam é só em suas palavras. Possivelmente
suas mensagens transmitam a verdade, mas sem ser avivada pelo Espírito
Santo, até a verdade é uma vantagem pequena. Haverá muito pouco fruto
espiritual se alguém se apoiar nas palavras mais que no Espírito Santo.
Por muito que essas mensagens sejam aclamadas, só fazem impacto na
mente dos ouvintes, não em seus corações.
Os crentes anímicos desfrutam empregando palavras altissonantes e
frases destiladas. Pelo menos a esse respeito estão tratando de imitar ao
que é genuinamente espiritual, que, tendo recebido muita experiência, é
capaz de ensinar com precisão, superior a de todos seus predecessores. O
carnal considera isto altamente atrativo, por isso se deleita em empregar
maravilhosa imaginação na mensagem. Sempre que lhe ocorre uma idéia
que acredite superior — seja andando, conversando, comendo ou
dormindo — a anota para uso futuro. Nunca se pergunta se essa idéia foi
revelada pelo Espírito Santo ou é meramente um pensamento que
irrompeu em sua mente.
Alguns cristãos que são verdadeiramente anímicos acham um
deleite especial em ajudar a outros. Isto não significa que não tenham
conhecimento; na realidade têm muito. Ao descobrir algum elemento
impróprio ou quando lhes falam de alguma dificuldade, imediatamente
adotam a atitude do crente veterano, ávidos de ajudar com a visão
limitada que têm. Esbanjam ensinos escriturais e prodigalizam em
abundância as experiências de santos. Inclinam-se a dizer tudo o que
sabem, quer dizer, mais do que sabem, chegando com isso ao reino da
hipótese. Estes crentes «veteranos» exibem uma atrás da outra, todas as
verdades que se armazenaram em suas mentes, sem se inquirir se aqueles
a quem falam têm realmente a necessidade delas ou podem absorver tanto
ensino em uma sessão. São como Ezequias, que abriu as portas do
tesouraria e exibiu todos seus tesouros.
Algumas vezes sem nenhum estímulo externo, mas porque
simplesmente foram movidos por uma emoção interna, derramam ensinos
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espirituais sobre outros, muitos dos quais meramente teorias. Desejam,
além disso, desdobrar seu conhecimento.
Entretanto, nem todas as peculiaridades antes mencionadas existem
em cada um dos filhos de Deus de caráter anímico. Varia com as
diferentes personalidades. Alguns ficam quietos, sem dizer nem uma
sílaba. Até em meio de uma necessidade desesperam-se, e quando
deveriam falar, mantêm a boca fechada. Não alcançaram ainda a
libertação do acanhamento e do temor natural. Podem estar sentados
junto a aqueles crentes faladores e criticá-los no coração, mas seu silêncio
não os faz menos anímicos.
Devido a que não estão enraizados em Deus e, portanto, não
aprenderam a esconder-se nele, as pessoas carnais desejam ser vistas.
Procuram posições proeminentes na obra espiritual. Se assistem a
reuniões esperam serem ouvidos, embora eles não escutem a outros.
Experimentam um gozo inexprimível quando são reconhecidos,
respeitados e recebem homenagem.
O anímico ama usar fraseologia espiritual. Aprendem de memória
um copioso vocabulário espiritual que empregam invariavelmente em
qualquer oportunidade conveniente. Usam-no tanto ao pregar como ao
orar, mas não de coração.
Os que vivem no reino da alma possuem uma voraz ambição. Seu
desejo ocupa com freqüência o primeiro lugar. Se vangloriam da obra do
Senhor. Aspiram a ser operários poderosos, usados grandemente pelo
Senhor. Por que? Para que possam obter um lugar, conseguir um pouco
de glória. Gostam de comparar-se a si mesmos com outros: provavelmente
nem tanto com aqueles a quem eles não conhecem como com aqueles com
quem colaboram. Este disputar e contender pode ser muito intenso.
Desprezam os que espiritualmente buscam a Deus, considerando-os como
ociosos; rebaixam os que são espiritualmente grandes, visualizando-os
como quase seus iguais. Sua firmeza se aplica a ser grandes, a estar na
cabeça. Esperam a prosperidade de sua obra, com o objetivo de que se fale
deles. Esses desejos, naturalmente, estão profundamente escondidos em
seus corações e podem ser apenas perceptíveis aos outros. Embora esses
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desejos possam estar muito bem escondidos e mesclados com motivos
mais puros, a presença desses desejos inferiores é um fato irrefutável.
Os crentes anímicos são muito satisfeitos de si mesmos. Se o Senhor
os usar para salvar uma alma, se enchem de júbilo e se consideram
espiritualmente vitoriosos. Se alcançam algum triunfo, enchem-se de
orgulho. Um pouco de conhecimento, um pouco de experiência, um
pequeno êxito facilmente os faz sentir como se houvessem conseguido
muito. Este traço comum entre os cristãos anímicos pode ser comparado
ao copo pequeno que se enche facilmente. Não enxergam o vasto e
profundo oceano de água que fica de fora. Conquanto seu balde esteja
transbordando já estão satisfeitos. Não se perderam em Deus, pois senão
encarariam todas estas coisas como sem valor, porém seus olhos estão
sempre enfocados em seu eu insignificante e por isso se sentem muito
afetados por qualquer simples e pequeno ganho ou perda.
Essa capacidade limitada é a razão pela qual Deus não pode usá-los
mais. Se essa jactância tiver como resultado ganhar só dez almas para o
Senhor, o que aconteceria se tivessem ganhado mil?
Depois de terem experimentado algum êxito na pregação, uma idéia
permanece nesses crentes anímicos: foram verdadeiramente magníficos!
Insistir em sua superioridade lhes rende grande gozo. Que diferentes são
dos outros, inclusive «maiores que o maior dos apóstolos!» Pois bem,
algumas vezes se sentem magoados em seus corações se os outros não os
estimam conforme acreditam merecer. Lamentam a cegueira dos que não
reconhecem que um profeta pode proceder de Nazaré e que está ali
presente. Às vezes, quando esses crentes anímicos pensam que suas
mensagens contêm revelações que ninguém tenha descoberto antes,
sentem apreensão de que sua audiência possa não apreciar a maravilha
das mesmas. Depois de cada êxito vão passar horas, senão dias,
felicitando-se a si mesmos. Debaixo desse engano, não é de se estranhar
que frequentemente se convençam de que a igreja de Deus deveria
perceber que grande evangelistas ou pregadores de avivamentos ou
escritores eles são. Que desgosto sentem se as pessoas não percebem isso!
Os crentes carnais carecem de princípios fixos. Suas palavras e feitos
não seguem máximas determinadas. Vivem em conformidade com sua
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emoção e sua mente. Operam conforme sentem ou pensam, algumas
vezes de modo diferente e até oposto à sua pauta usual. Essa mudança
pode ser vista de modo muito vívido depois da pregação. Mudam de
acordo com o que pregaram recentemente. Se, por exemplo, falaram sobre
paciência, durante os dois dias seguintes se mostram extremamente
pacientes. Se exortaram a louvar a Deus, começam a louvar sem cessar.
No entanto, isso não vai durar. Como obram segundo o que sentem, suas
próprias palavras vão ativar suas emoções e assim se comportarão de uma
maneira determinada. Mas, uma vez passada a emoção, tudo termina e
voltam a ser como antes.
Outro ponto especial com referência aos cristãos anímicos é que
parecem ser superdotados. Os crentes envolvidos no pecado não mostram
tantos talentos; nem tampouco os que são espirituais. Aparentemente,
Deus concede dons abundantes aos anímicos a fim de que estes possam
voluntariamente entregar seus dons à morte, e, uma vez renovados e
glorificados na ressurreição, recebê-los de volta. Contudo, esses santos de
Deus resistem a consignar estes dons à morte, e em vez disso os usam ao
máximo. As habilidades concedidas por Deus deveriam ser usadas por
Deus e para Sua glória, mas os crentes carnais com freqüência as
consideram como suas próprias. Enquanto sirvam a Deus nesse estado
mental vão continuar usando-as em conformidade com suas idéias, sem
permitir que o Espírito Santo os guie. E quando têm êxito, atribuem a si
próprios toda a glória. Naturalmente, uma autoglorificação e
autoadmiração assim, são muito veladas; entretanto, por muito que
tentem parecer humildes e oferecer a glória a Deus, não podem evitar de
estarem centrados em si mesmos. A glória pode ser de Deus, sim; mas é
para Deus e para mim!
Pelo fato dos carnais terem muitos talentos — ativos no pensamento
e ricos na emoção —, facilmente estimulam o interesse das pessoas e
comovem seus corações. Em conseqüência, os cristãos anímicos possuem
personalidades magnéticas. Podem rapidamente ganhar a aclamação do
povo comum. Contudo, persiste o fato de que realmente carecem de poder
espiritual. Não têm o fluxo vivo do poder do Espírito Santo. O que têm é o
seu próprio. As pessoas notam que possuem algo, mas esse algo não dá
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vitalidade espiritual aos outros. Os vêem muito ricos; mas na realidade
são muito pobres.
Concluindo: um crente pode ter alguma ou todas as experiências já
mencionadas, antes de ser libertado inteiramente do jugo do pecado. A
Bíblia e a experiência real juntas dão prova do fato de que muitos crentes
são controlados simultaneamente, por um lado, por seu corpo para
incorrer em pecado, e influenciados, por outro, por sua alma para viver
conforme si mesmos. Na Bíblia os dois são rotulados como «da carne».
Algumas vezes, em suas vidas, os cristãos seguem o pecado do
corpo e outras a vontade própria da alma. Pois bem, se um crente pode
encontrar muitos dos deleites da alma permitindo-se não menor
indulgência nos desejos do corpo, não é igualmente possível ter muitas
sensações da alma associadas com muitas experiências do espírito?
(Naturalmente, não podemos ignorar que alguns concluem uma fase antes
de entrar nas outras fases.) A experiência de um cristão, por conseguinte, é
algo bem mais complexo. É imperativo que determinemos por nós
mesmos se fomos libertos do baixo e ignóbil. O fato de termos
experiências espirituais não nos faz espirituais. Só depois de libertos do
pecado e do eu, podemos ser considerados espirituais.
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- busca de sensações emocionais nas experiências espirituais.
Essas manifestações se devem ao fato de que a vida da alma é o eu,
que, por sua vez, é força natural, e que as faculdades da alma são a
vontade, a mente e a emoção.
Devido à existência dessas diversas faculdades na alma, as
experiências dos cristãos anímicos serão bastante diferentes de um para
outro. Alguns se inclinam mais à mente, enquanto que outros à emoção ou
à vontade. Portanto, embora as posturas, sejam altamente diferentes, todas
elas são, não obstante, posturas anímicas. Os que tendem à mente podem
discernir a carnalidade daqueles que operam pela emoção, e vice-versa.
Entretanto, ambos pertencem à alma.
O que é absolutamente vital para os crentes é ver que têm que
conseguir que sua verdadeira condição seja exposta pela luz de Deus, para
que eles mesmos possam ser libertados pela verdade, em vez deles
julgarem aos outros com novo conhecimento. Se os filhos de Deus não
tivessem desejado usar sua luz para sua própria iluminação, seu estado
espiritual não seria tão baixo hoje.
A indicação mais proeminente de ser anímico é uma busca,
aceitação e propagação mental da verdade. Para os cristãos desse tipo, a
experiência espiritual mais elevada e a verdade mais profunda servem só
para cultivar sua mente. Isso não significa, necessariamente, que o andar
espiritual do crente não seja, de certa forma, afetado positivamente; mas
denota, certamente, que o motivo primário é a gratificação da mente.
Apesar dos crentes dominados pela faculdade mental verdadeiramente
terem um grande apetite pelas coisas espirituais, contudo, para a
satisfação desta fome, dependem mais de seus pensamentos que da
revelação de Deus.
Gastam mais tempo e energia calculando do que orando.
A emoção é o que os crentes mais confundem com a espiritualidade.
Os cristãos carnais, cuja tendência é de caráter emocional, habitualmente
desejam ter sensações. Desejam sentir a presença de Deus em seus
corações e em seus órgãos sensoriais; desejam sentir o fogo ardente do
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amor. Querem sentir-se elevados em sua vida espiritual, ser prósperos na
obra.
É verdade que os crentes espirituais às vezes têm estas sensações,
mas seu progresso e gozo não é contingente delas.
Os anímicos são muito diferentes a esse respeito; com tais sensações
podem servir ao Senhor; sem elas, conseguem apenas dar um passo.
Uma expressão muito comum do andar anímico se manifesta na
vontade: o poder da auto-afirmação. Por meio dela, os crentes que vivem
na alma fazem do eu o centro de todo pensamento, palavra e ação.
Querem conhecer para sua satisfação, sentir para seu deleite, trabalhar
conforme o seu plano. O eixo de sua vida é o eu, e o objetivo último e
definitivo é glorificar a si mesmos.
Previamente vimos que o termo «alma» na Bíblia é traduzido
também por «criatura vivente» ou «animal». Simplemente conota «vida
animal». Isso deveria nos ajudar a ver como se expressa o poder da alma.
A frase mais apropriada que poderíamos selecionar para descrever a vida
e obra dos crentes anímicos é «atividades animais» ou «vivacidade
animal»: muitos planos, muitas atividades, pensamento confuso e
emoções misturadas; todo o ser, tanto por dentro como por fora, é
agitação e tumulto. Quando a emoção é ativada, o resto do ser a segue de
modo natural. Mas se a emoção está deprimida ou a sensação se esfriou, a
mente permanece agitada ou estimulada por sua própria conta. O andar
do cristão carnal se caracteriza pelo movimento perpétuo, se não de
atividade física, pelo menos da vivacidade mental ou emocional.
Esse modo de andar manifesta «vivacidade animal»; está muito
longe de comunicar a vida do espírito.
Podemos resumir isso dizendo que a tendência da alma caída é a de
fazer os crentes andarem segundo seu poder natural, servirem a Deus com
sua força e conforme a suas idéias, desejar sensações físicas no
conhecimento do Senhor ou no experimentar da Sua presença, e
compreender a Palavra de Deus com o poder de sua mente.
A menos que um cristão tenha recebido de Deus uma visão clara de
seu eu natural, indubitavelmente vai servir a Deus com a energia de sua
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vida criada. Isso inflige grande dano à sua vida espiritual e resulta em dar
poucos frutos verdadeiramente espirituais. Os crentes têm que ver, por
meio do Espírito Santo, a ignomínia de efetuar trabalho espiritual com o
poder da criatura. Da mesma maneira que consideramos reprovável que
um filho ambicioso se adule a si mesmo, similarmente, Deus considera
nossa «atividade animal» no serviço espiritual como uma insolência. Que
possamos ser ricos na experiência de nos arrependermos até o pó, em vez
de esforçar-nos por obter o primeiro lugar diante dos homens.
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Seu raciocínio segue por outro caminho: nós, naturalmente, faríamos
mal se descuidássemos da Palavra de Deus, mas será que é errado que nós
esquadrinhemos diligentemente o significado das Escrituras com nossa
mente? Pode haver algum pecado em ler a Bíblia? Há muitas virtudes que
nós presentemente desconhecemos; mas seria pouco razoável que
pretendêssemos entendê-las sem usar nosso entendimento! Não é nossa
mente uma criação de Deus para que a usemos? Como o estamos fazendo
para Deus e não com fins pecaminosos, por que não podemos usar nosso
entendimento para planejar e organizar a obra de Deus?
Vão ainda um passo além. Insistem em que a busca da consciência
da presença de Deus procede de um coração sincero e franco. Quando nos
sentimos secos e por baixo em nossa vida e trabalho, não é verdade que
Deus com freqüência nos levanta nos fazendo perceber o amor do Senhor
Jesus, como se Ele acendesse uma fogueira em nossos corações, e nos dá
tal gozo e tal sentido de sua presença que é quase como se o estivéssemos
tocando? Pode alguém negar que isto é o auge da espiritualidade? por
que, pois, considerar errado que nós sinceramente procuremos e oremos
em favor da restauração de um sentimento desses depois de tê-lo perdido
e nossas vidas passarem a ser frias e comuns?
Essas considerações resumem, simplesmente, o que muitos santos
estão alimentando em seus corações. Não distinguem a forma espiritual
da anímica. Não receberam ainda a revelação pessoal do Espírito Santo
que lhes mostre o mal de seu andar de modo natural. Têm que estar
dispostos a esperar a instrução de Deus, pedindo ao Espírito Santo
revelação sobre os variados males de sua boa vida natural.
Isto deve ser feito com sinceridade e humildade, acompanhado de
boa vontade para abandonar tudo o que o Espírito Santo possa revelar. No
momento apropriado Ele vai mostrar a corrupção essencial de sua vida
natural.
O Espírito Santo os capacitará para que compreendam que toda sua
obra e progresso estão centrados no eu e não no Senhor. Suas boas obras
são feitas não só por meio de seus próprios esforços mas também, de
modo primário, para sua própria glória. Não procuraram a vontade de
Deus em seus esforços. Não se dispuseram a obedecer a Deus, nem de
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empreender tudo segundo sua direção e por meio de sua força.
Simplesmente fazem o que desejam fazer. Todas as suas orações e seus
esforços em relação à vontade de Deus são puramente ostentação externa;
são totalmente falsos. Embora estes crentes usem os talentos concedidos
por Deus, pensam só nos grandes dons que possuem, esquecendo-se
inteiramente do Doador desses dons. Com afã admiram a Palavra de
Deus, mas procuram conhecimento somente para satisfazer a aspiração de
sua mente; resistem a esperar que Deus lhes dê sua revelação no seu
devido tempo. Sua busca da presença de Deus, o ser conscientes de sua
misericórdia e proximidade, não é por amor a Deus, mas sim para sua
própria felicidade. Fazendo isso, não estão amando ao Senhor, mas ao
sentimento que os renova e lhes permite a glória do terceiro céu. Toda sua
vida e seu trabalho elevam o eu como seu centro. O que querem é ter o
gozo de si mesmos.
Só depois de terem sido iluminados pelo Espírito Santo sobre o
caráter aborrecível dessa vida, é que os filhos de Deus se tornam alertas e
despertos à loucura de aferrar-se à vida da alma. Essa iluminação não
chega subitamente; progride gradualmente, não de uma vez por todas,
mas sim em muitas ocasiões. Quando os crentes são iluminados pelo
Espírito pela primeira vez, se arrependem sob a Luz e voluntariamente
entregam a vida do eu à morte. Mas os corações humanos são altamente
enganosos. Após um tempo, possivelmente alguns dias depois, a
confiança própria, o amor ao eu e o prazer pessoal são restaurados. A
partir de então, a iluminação periódica deve continuar para que os crentes
possam estar dispostos a negar sua vida natural. O lamentável é achar
poucos crentes tão possuídos da mentalidade do Senhor que estejam
dispostos a ceder voluntariamente a Ele nessas coisas. As derrotas
multiplicadas e ver-se submetidos à vergonha são requisitos sempre
necessários para fazer que esses crentes estejam dispostos a abandonar
suas propensões naturais. Que imperfeita é nossa vontade e que volúvel é
nossa condição!
Os cristãos deveriam eliminar esta loucura. Deveriam adotar o
ponto de vista de Deus da absoluta impossibilidade de que seu andar
natural possa agradar a Ele. Têm que atrever-se a permitir ao Espírito
Santo que lhes indique toda corrupção da vida da alma. Têm que exercitar
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a fé em acreditar nesta avaliação de Deus de sua vida natural, e têm que
esperar pacientemente que o Espírito Santo lhes revele o que a Bíblia diz
deles. Só desta maneira vão ser guiados ao caminho da libertação.
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Enquanto os cristãos permanecem na alma, se movem segundo os
pensamentos, imaginações, planos e visões da mente. Ambicionam
possuir sensações de gozo e são dominados por seus sentimentos. Quando
têm experiências sensoriais, se entusiasmam, mas quando se vêem
privados delas, já não podem levantar um dedo. Portanto, são impotentes
para viver no reino do espírito. Seus sentimentos passam a ser sua vida, e
quando seus sentimentos mudam, mudam eles também.
Isso tem como resultado nada mais que um andar segundo as
sensações externas da alma e do corpo, em vez de viver a partir do centro
de seu ser que é o espírito. A sensibilidade espiritual, afligida pelo corpo e
a alma, fica embotada. Esses crentes só podem sentir as coisas da alma ou
do corpo; perderam seu sentido espiritual. Seu espírito está incapacitado
para cooperar com Deus e seu crescimento espiritual fica detido. Já não
são capazes de adquirir poder e direção no Espírito para a campanha de
guerra que têm que travar. Se uma pessoa nega que seu espírito tenha o
domínio completo sobre seu ser ou falha em utilizar seu poder na vida,
nunca vai amadurecer. O sentido espiritual é extremamente delicado. Não
é fácil reconhecê-lo, inclusive para os que aprenderam a conhecê-lo e
segui-lo. E mais difícil ainda será discernir a vivência espiritual se estiver
submetida a perturbações constantes da sensação áspera anímica que
procede do exterior! Não só pode confundir esta sensação anímica, mas
também pode suprimir ao sentido espiritual.
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3. O perigo de que o poder das trevas tire vantagem. A carta de
Tiago, escrita aos crentes, delineia de modo claro a relação entre a vida da
alma e a obra satânica:
«Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom
procedimento as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes
amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis,
nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto,
mas é terrena, natural (literalmente anímica) e diabólica.» (Tg. 3:13-15).
Há uma sabedoria que vem de Satanás e é a mesma que pode surgir
às vezes da alma humana. A «carne» é o ateliê ou oficina do diabo; sua
operação na parte anímica da carne é tão ativa como na parte corporal.
Estes versículos explicam de que forma brotam os zelos amargos de
procurar a sabedoria anímica. É por meio da atividade do diabo na alma
humana. Os cristãos sabem que o adversário pode nos seduzir ao pecado,
mas não compreendem que também pode inserir pensamentos na mente
do homem. A queda do homem foi devida ao amor, ao conhecimento e à
sabedoria. Satanás está empregando a mesma tática hoje para reter a alma
do crente em seu centro operativo. O plano de Satanás é preservar para si
tanto como possa de nossa antiga criação. Se falhar em fazer os crentes
caírem em suas redes de pecado, vai tentar induzi-los a conservar sua vida
natural, tirando vantagem de que desconhecem suas estratégias e
artimanhas, ou do fato de que resistem a ceder totalmente ao Espírito.
Porque, se não tiver êxito, todos seus exércitos do inferno vão ficar sem
ocupação. Quanto mais os crentes se unam ao Senhor em espírito, mais
vai fluir a vida do Espírito Santo em seu espírito e mais a cruz vai operar
neles a cada dia. Como resultado vão ser libertados de modo progressivo
da velha criação e vão ceder menos terreno para Satanás poder operar.
Temos que saber que todos os esforços de Satanás, seja por meio de
sedução ou por ataque, são perpetrados em nossa velha criação. Não se
atreve a esbanjar sua energia em nossa «nova criação», a própria vida de
Deus. Esta é a razão por que tenta de modo incessante persuadir os filhos
de Deus a que retenham algo da velha criação — seja pecado ou uma
formosa vida natural — de modo que possa continuar operando. E como
conspira contra os crentes e os confunde para que amem sua própria vida,
apesar do fato de que aborrecem o pecado.
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Quando nós, os cristãos, éramos ainda pecadores, «antes
andávamos nos desejos da nossa carne (referindo-se aos pecados
relacionados de modo particular com o corpo), fazendo a vontade da
carne e dos pensamentos (referindo-se à vida anímica)» (Ef. 2:3).
O versículo nos informa que os dois são trabalhados pelo espírito
maligno. Nosso objetivo ao discutir isto é ajudar os filhos de Deus a
compreender que o corpo não é a única esfera de operações perniciosas de
Satanás, mas que a alma é também campo de operações do adversário.
Desejamos reiterar que os crentes devem ser libertados não só do pecado,
mas também de seu reino natural. Que o Espírito Santo abra nossos olhos
para ver a importância desse passo. Se os santos fossem libertados passo a
passo da vida da alma assim como do poder do pecado, Satanás seria
derrotado em toda parte.
Por causa dos crentes, que sendo carnais, não sabem como preservar
sua mente, os espíritos malignos podem facilmente utilizar a sabedoria
natural do homem com o objetivo de realizar seus planos. Com suavidade
e sutileza introduzem mal-entendidos e prejuízos na mente do homem, a
fim de fazer surgir perguntas referentes à verdade de Deus e dúvidas
sobre a veracidade de outros. É impossível explicar e fazer ver a extensão
da obstrução causada na obra do Espírito Santo no homem por causa das
mentalidades obcecadas. Ainda que não haja intenção iníqua, sua vontade
o traí. Mesmo os mais belos ideais tornam-se obstáculos ao agir do
Espírito Santo, assim como a insensatez humana, do que se aproveitam os
espíritos malignos, dando visões que os seduzem, e como são visões
sobrenaturais, ficam encantados por elas.
E assim os santos se enredam em mais um engano triste e profundo.
Antes que a vida do eu seja libertada pela morte, a mente do crente
tende a ser curiosa, deseja averiguar, quer possuir: e como muitos desejam
ter a sensação de ter o Espírito Santo e sentir a presença de Deus, os
espíritos malignos vão se aproveitar disso, proporcionando a seus
sentidos muitas experiências estranhas e emocionais, com o objetivo de
que suas capacidades naturais possam ser estimuladas e que seja
suprimida a voz suave e sossegada do Espírito Santo, que só se pode
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seguir por meio da delicada faculdade intuitiva de seu espírito. Se Deus o
permitir, vamos discutir estes problemas em detalhe.
Os cristãos vão incorrer em grandes perdas na sua capacidade para
a guerra espiritual se não tiverem sido tratados em relação ao seu eu.
Apocalipse 12:11 apresenta uma das condições para vencer o diabo,
ou seja: o povo de Deus não deve amar a sua vida da alma até o ponto da
morte. A menos que seja levado a entregar o seu eu à morte, vão ser
certamente derrotados pelo adversário.
O adversário vai vencer a todo aquele cujo coração estiver sob o
domínio do eu.
Todo apego às coisas revela sua fraqueza ao inimigo. A única
possibilidade de vencê-lo é ceder a vida natural à morte. Satanás pode
operar por meio das almas indisciplinadas; também pode atacar
diretamente aqueles que não sabem nada da cruz. Nossa vida da alma
constitui a quinta coluna do adversário dentro de nós. Dá pé ao inimigo. À
margem do que saibamos da verdade e do sinceramente que lutemos por
ela, a alma continua sendo nosso ponto vulnerável.
O que é penoso reconhecer é o fato de que à medida em que os
crentes se tornam espirituais, até esse grau acaba dificultando
desmascarar a vida da alma! Quanto menor é o elemento anímico, mais
difícil é tratá-lo. É possível que até a mais leve sombra de carnalidade se
misture com a vida espiritual, e isso é o que precisamente torna mais
difícil distinguir entre o que é anímico e o que é espiritual. A menos que
os cristãos estejam perfeitamente alertas resistindo ao diabo, vão encontrar
grandes derrotas por causa da vida do seu eu.
Que a vida da alma do cristão possa ser enganada e usada pelo
diabo é realmente algo que se pode esperar usualmente.
O alarme tem que ser soado, pois. O desejo de Deus é que neguemos
tudo o que herdamos de Adão, inclusive nossa vida e natureza. O
desobedecer a Deus implica perigo de modo invariável.
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4. A cruz e a alma
A CHAMADA DA CRUZ
Em pelo menos quatro ocasiões separadas, registradas nos
Evangelhos, o Senhor Jesus chama a seus discípulos a negar a vida da
alma, a entregá-la à morte, e todo crente que quer seguir ao O Senhor e ser
perfeito reconhece plenamente que isto é o que deve ser feito para
obedecer a Deus. O Senhor Jesus menciona a vida da alma em todas essas
chamadas, embora com ênfase diferente em cada uma. Como a vida da
alma apresenta-se de várias formas, o Senhor dá ênfase a uma diferente a
cada vez. Todo aquele que queira ser um seguidor do Senhor deve prestar
atenção ao que Ele diz. Está instando os homens a que entreguem sua
vida natural na cruz.
«E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é
digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem
perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.» (Mt. 10:38,
39).
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Sendo esta nova relação de amor a que se impõe, a vida da alma
deve ser negada. Isto é uma cruz. Ao obedecer dessa maneira a Cristo,
chegando a prescindir de nosso afeto natural, o amor natural do crente
sofre intensamente. Esse tipo de pena e de dor passam a ser virtualmente
uma cruz para ele. As feridas do coração são profundas e são muitas as
lágrimas derramadas quando se tem que abandonar ao que se ama. Isto
inflige intenso sofrimento a nossas vidas. Para a alma é terrivelmente
repulsivo renunciar aos próprios amados por amor ao Senhor! Mas, por
meio deste mesmo ato, a alma é libertada da morte; sim, inclusive chega a
desejar morrer; e assim o crente é libertado do poder da alma. Ao perder
seu afeto natural na cruz, a alma cede o terreno ao Espírito Santo, para
que possa derramar no coração do crente o amor de Deus e capacitá-lo
para amar em Deus e com o amor de Deus.
Observemos que, humanamente falando, esta expressão da alma é
completamente legítima, porque é totalmente natural e não é
contaminada, como o pecado. Esse amor que mencionamos não é o
mesmo que compartilhamos com todos os homens? O que tem que de
ilegítimo em amar aos da própria família? Por isso sabemos que nosso
Senhor está nos chamando a vencer aquilo a que naturalmente e até
legalmente temos direito... por amor a Deus. Deus quer que O amemos
mais que ao nosso Isaac. É claro esta vida da alma é dada pelo Criador;
entretanto, Ele deseja que nós sejamos governados por este princípio de
vida. As pessoas do mundo não podem compreender por que; só o crente
que está perdendo-se gradualmente na vida de Deus pode compreender
seu significado. Quem pode imaginar que Deus pedisse a Abraão que
sacrificasse a Isaque, quando Deus mesmo o havia dado? Os que captam o
coração de Deus não tentam se agarrar aos dons ministrados por Deus;
mas sim desejam descansar em Deus, o Doador de todos os dons. Deus
não quer que nos sintamos apegados a nada, exceto a Ele, mesmo que seja
homem, coisa ou algo que Ele mesmo nos tenha dado. Muitos cristãos
estão bem dispostos a abandonar a Ur dos Caldeus, mas são poucos os
que conseguem ver a necessidade de sacrificar no monte Moriá o que
Deus lhes deu. Esta é uma das lições penetrantes da fé e se refere a nossa
união com Deus. Ele requer de seus filhos que abandonem tudo para que
possam ser totalmente dEle. Seus filhos têm que desprender-se não só do
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que sabem que é prejudicial, mas também entregar à cruz tudo o que é
humanamente legítimo — como o afeto —, a fim de que possamos estar
inteiramente sob a autoridade do Espírito Santo.
A exigência de nosso Senhor é em extremamente significativa, pois
não é verdade que o afeto humano é tremendamente incontrolável? Se não
o consignarmos à cruz e o perdermos, o afeto pode passar a ser um
obstáculo formidável para a vida espiritual.
Os sentimentos humanos mudam como muda o mundo. São
facilmente estimulados, por isso podem dar ocasião para que o santo
perca seu equilíbrio espiritual, afetando sua paz de espírito.
Temos, pois, que aborrecer nossa vida da alma e recusar seus afetos,
para nos vermos livres de toda rédea. A demanda do Senhor difere
completamente de nosso desejo natural. O que era amado previamente
deve ser agora aborrecido; e até o órgão que gera o amor, a vida da alma,
deve ser aborrecido também. Este é o caminho espiritual. Se
verdadeiramente levamos a cruz, não seremos controlados nem
influenciados pelos afetos anímicos, mas sim seremos aptos para amar no
poder do Espírito Santo. Foi assim que o Senhor Jesus amou a sua família
quando esteve na terra.
A CRUZ E O EU
«Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir
após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-
me; pois, quem quiser salvar a sua vida por amor de mim
perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim,
achá-la-á.» (Mt. 16:24, 25).
Uma vez mais nosso Senhor está chamando seus discípulos a que
tomem a cruz, apresentando sua vida da alma à morte. Enquanto em
Mateus 10 a ênfase era no afeto da alma, aqui em Mateus 16, é o eu da
alma que é destacado. Pelos versículos precedentes, vemos que o Senhor
Jesus estava naquele momento revelando a seus discípulos o seu futuro
encontro com a cruz. Movido por seu intenso amor ao Senhor, Pedro
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balbuciou: «Senhor, tenha compaixão de ti mesmo.» Pedro pensava no
homem, insistindo para que seu Mestre evitasse a dor da cruz na carne.
Pedro não tinha chegado a compreender que o homem deve centrar-se nas
coisas de Deus, mesmo numa questão como a morte em uma cruz. Falhou
em compreender que o interesse em fazer a vontade de Deus deve
suplantar qualquer interesse próprio.
Sua atitude foi mais ou menos esta: «Embora ao morrer na cruz
esteja obedecendo à vontade de Deus e cumprindo Seu propósito,
entretanto, não é necessário pensar em si próprio? O Senhor não percebe
a dor que terá que sofrer? Senhor, se compadeça de si mesmo!»
Qual foi a resposta do Senhor a Pedro? Repreendeu-o severamente e
declarou que uma idéia tal como o compadecer-se de si mesmo só podia
ter se originado em Satanás. Em seguido, continuou dizendo a seus
discípulos: «Não sou eu só o que irá à cruz, mas sim todos vocês que
querem me seguir e ser meus discípulos terão que ir a ela também. Seu
caminho será igual ao meu. Não imaginem erroneamente que só eu é que
tenho que fazer a vontade de Deus; todos vocês farão sua vontade. Dessa
maneira, tal como eu não penso em mim mesmo e obedeço a Deus de
modo incondicional, inclusive até a morte na cruz, assim vocês negarão
sua vida do eu e estarão dispostos a perdê-la para obedecer a Deus.»
Pedro disse ao Senhor: «Tenha compaixão de si mesmo!»
O Senhor lhe respondeu: «Têm que negar a vocês mesmos.»
Terá que pagar um preço para seguir a vontade de Deus. A carne
treme diante de tal perspectiva. Enquanto a vida da alma reinar suprema
dentro de nós, seremos incapazes de aceitar as ordens de Deus, porque
quer ela quer seguir a sua vontade e não a de Deus. Quando Ele nos
chama a negarmos a nós mesmos, por meio da cruz, e a renunciarmos a
tudo por amor a Ele, nossa vida natural responde de modo instintivo com
auto-compaixão. Isso nos faz pouco dispostos a pagar qualquer preço por
Deus.
Daí que sempre que escolhemos o caminho estreito da cruz e
sofremos por amor a Cristo nossa vida da alma sofrerá perda. É assim que
perdemos essa vida. Só dessa maneira pode a vida espiritual de Cristo ser
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entronizada pura e suprema, empreendendo dentro de nós tudo o que é
agradável a Deus e benéfico para os homens.
Agora bem, se tomarmos nota deste incidente entre Pedro e o
Senhor, podemos perceber facilmente o mal que pode haver no modo de
funcionar dessa vida da alma.
Pedro pronunciou aquelas palavras carnais imediatamente depois
de haver recebido a revelação de Deus para que entendesse o mistério até
então desconhecido pelos homens: que aquele Jesus solitário a quem eles
estavam seguindo era verdadeiramente o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Imediatamente depois desta revelação tão prodigiosa, Pedro foi feito
prisioneiro de sua vida da alma, tentando persuadir seu Mestre a se
compadecer de si mesmo. Que impressão deveria fazer em nós o fato de
que não existir revelação espiritual, por intensa e elevada que seja, nem
conhecimento que possa nos garantir a liberdade do domínio da alma! Ao
contrário, quanto mais elevado nosso conhecimento e mais profunda
nossa experiência, mais escondida será nossa vida da alma e mais difícil,
conseqüentemente, descobri-la e expulsá-la.
A menos que o reino natural seja tratado de modo radical pela cruz,
continuará preservado dentro do homem.
Outra lição que podemos aprender deste exemplo de Pedro é a
inutilidade da vida natural. Nessa ocasião em particular, a vida da alma
do Pedro foi ativada não em favor de si mesmo, mas sim do Senhor Jesus.
Ele ama ao Senhor; tem compaixão Dele; deseja que o Senhor seja feliz;
resiste a que o Senhor sofra estas coisas.
Seu coração é reto e sua intenção é boa, mas está fundamentada na
consideração humana derivada da vida da alma. E o Senhor rejeita todas
essas considerações. Até mesmo o desejar em favor do Senhor não deve
ser permitido se se fizer conforme a carne. Isso não demonstra, sem
sombra de dúvida, que podemos ser anímicos ao servir ao Senhor e
desejá-lo? Se o próprio Senhor Jesus nega sua própria vida da alma para
servir a Deus, certamente não quer que nós O sirvamos com essa vida da
alma. Ele chama os crentes a entregar seu eu natural à morte, não
simplesmente porque ama ao mundo, mas também porque pode inclusive
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desejar em favor do Senhor. Nosso Senhor nunca nos cobra pelo quanto
fazemos; Ele só inquire de onde procede o fazer.
Ao mesmo tempo em que Pedro expressa seu afeto pelo Senhor, está
inconscientemente revelando sua atitude para si mesmo.
Estima o corpo físico do Senhor em mais que a vontade de Deus.
Tenta persuadir ao Senhor Jesus para que seja cuidadoso consigo
mesmo. A personalidade de Pedro, portanto, é plenamente revelada. O eu
sempre opera de modo independente da vontade de Deus, porque quer
servi-Lo segundo o que parece bom a si mesmo. Atender aos desejos de
Deus significa despojar-se da própria alma. Sempre que se obedece Sua
mentalidade, a idéia da alma fica esmagada.
Por Pedro ter deixado sua alma falar, nessa ocasião de Mateus 16, o
Senhor Jesus chamou a seus discípulos a que abandonassem sua vida
natural. Mas o Senhor indica, além disso, que o que Pedro falara procedia
de Satanás. Por isso podemos compreender até que ponto Satanás pode
empregar a vida do eu do homem.
Enquanto ela não é entregue à morte, Satanás possui um
instrumento operativo. Pedro fala porque quer bem ao Senhor; contudo, é
manipulado por Satanás. Pedro roga ao Senhor que se tenha
considerações, não sabendo que esta petição é inspirada pelo inimigo.
Satanás insiste com as pessoas para que amem ao Senhor, inclusive as
ensina a orar. Satanás não sente apreensão pelas pessoas orarem ou
amarem ao Senhor; o que o faz tremer é que ao amar ao Senhor ou orar a
Ele não o façam com sua energia natural.
Enquanto continua a vida da alma, seu negócio prospera. Que Deus
nos mostre quão perigosa é esta vida, porque os crentes podem chegar
muito rapidamente à conclusão de que são espirituais meramente porque
amam ao Senhor ou admiram as coisas celestiais. O propósito de Deus não
pode ser realizado enquanto Satanás continua achando oportunidade para
trabalhar por meio da vida da alma que se mantém sem ter sido entregue
à morte da cruz.
A auto-compaixão, o amor-próprio, o temor do sofrimento, o retrair-
se da cruz, são todas manifestações da vida da alma, porque sua
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motivação primária é a preservação do eu. Resiste bravamente a sofrer
qualquer perda. É precisamente por isso que o Senhor nos chama a que
neguemos ao eu e tomemos nossa cruz a fim de esmagar nossa vida
natural. Cada cruz que nos é apresentada, nos chama a abandonarmos
nosso eu. Não deveríamos abrigar amor ao eu, mas sim depor nossas
vidas pelo poder de Deus. O Senhor nos diz que esta cruz é nossa, porque
cada um recebe de Deus sua cruz particular. Esta é a que temos que levar.
Embora seja nossa cruz, entretanto está intimamente relacionada com a
cruz do Senhor. Se na disposição que Cristo mostrou em relação à sua
cruz estivermos dispostos a tomar a nossa, então acharemos que o poder
de sua cruz permanece em nós e nos capacita para perder nossa vida
natural. Cada vez que tomamos a cruz, sofremos a perda da vida da alma.
Cada vez que fugimos da cruz, a vida da alma é alimentada e preservada.
O Senhor Jesus não nos afirma que o tratar de nossas inclinações
naturais seja algo que possa ser feito de uma vez e fique permanentemente
resolvido.
Achamos em Lucas a palavra «diariamente» acrescentada à
chamada de nosso Senhor para que tomemos a cruz. O levar a cruz é
contínuo. A cruz que condenou o pecado à morte é um fato consumado:
tudo o que nos resta é que a reconheçamos e a percebamos. Mas a cruz
por meio da qual nos desprendemos de nossa vida da alma é diferente. O
negar-se a si mesmo não é uma questão já feita e completamente
terminada; temos que experimentá-lo diariamente.
Bem, isso não significa que não se chegue a perder nunca a vida da
alma, ou que só será perdida lentamente. Simplesmente fala do fato de
que a cruz que trata da vida da alma opera de modo diferente da que trata
do pecado. E qual é a razão? É que a morte para o pecado foi realizada em
nosso favor por Cristo; quando Ele morreu, nós morremos com Ele. Mas o
negar a vida da alma não é uma coisa já consumada. Requer que tomemos
nossa cruz diariamente por meio do poder da cruz de Cristo e decidamos
diariamente negar-nos a nós mesmos até que seja eliminada.
A renúncia à nossa vida natural não é algo que se faça de uma vez
para sempre. Quanto ao pecado, só temos que tomar a base da cruz (Rm.
6:6) e imediatamente somos libertados de seu poder e de nossa servidão
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ao mesmo. Isso é experimentado em um momento com uma vitória plena
e perfeita.
Mas a vida do eu tem que ser vencida passo a passo. Quanto mais
profundamente penetra a palavra de Deus (Hb. 4:12), mais
profundamente opera a cruz e mais intensamente o Espírito Santo
completa a união da vida de nosso espírito com o Senhor Jesus. Como
podem os crentes negar o eu quando até agora lhe era desconhecido? Só
podem negar aquela parte da vida do eu que reconhecem. A Palavra de
Deus tem que ir pondo a descoberto mais e mais de nossa vida natural de
modo que a obra da cruz possa investigar mais e mais profundamente. É
por isso que a cruz deve ser levada diariamente. Conhecer mais da boa
vontade de Deus e conhecer mais do eu proporciona à cruz mais terreno
em que operar.
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Em seguida, dá a explicação destas palavras: «E eu, quando for
levantado da terra, todos atrairei a mim.» (V. 32).
João 12 registra o momento mais favorável da vida de nosso Senhor.
Lázaro foi levantado dos mortos e muitos judeus acreditaram nele. Entrou
triunfalmente em Jerusalém e foi aclamado pelo povo. Até os gentios o
procuravam para vê-Lo. Do ponto de vista humano o Calvário parecia
agora totalmente desnecessário; ele não poderia facilmente atrair os
homens a si sem necessidade de ir à cruz?
Mas Ele tinha outro entendimento. Embora sua obra parecesse
próspera, sabia que não podia conceder vida aos homens sem ir à morte.
O Calvário era só um caminho de salvação. Se ele morresse, iria atrair
todos os homens para si e poderia verdadeiramente dar vida a todos.
Em João 12 o Senhor explicitamente descreve a operação da cruz. Se
compara a um grão de trigo. Se não cair na terra e morrer, permanece
sozinho. Mas se Ele é crucificado e morre, Ele distribuirá vida a muitos. A
condição é a morte. Sem morte não há fruto. Não há outro caminho para
gerar fruto que não seja através da morte.
Nosso propósito, entretanto, não é simplesmente aprender sobre o
Senhor Jesus. Desejamos ir além, e chamar particularmente a atenção para
sua relação com nossa vida da alma. O Senhor aplica a si mesmo a
imagem do grão de trigo no versículo 24, mas no versículo 25 revela que
cada um de seus discípulos tem que seguir suas pegadas. Apresenta o
grão como representação de Sua vida do eu. Tal como um grão é incapaz
de gerar fruto a menos que morra, assim também não pode haver fruto
espiritual até que a vida natural tenha sido quebrantada por meio da
morte. Aqui põe ênfase na questão do dar fruto. Embora a vida da alma
possua um poder tremendo, apesar disso não pode realizar a obra de dar
fruto. Todas as energias geradas na alma, incluindo o talento, os dons, o
conhecimento e a sabedoria, não podem capacitar os crentes para gerar
fruto espiritual. Se o Senhor Jesus teve que morrer para dar fruto, também
nós, seus discípulos, temos que morrer para poder produzi-lo. O Senhor
considera o poder anímico como inútil para Deus em sua obra de dar
fruto.
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O maior perigo para nós no serviço cristão é nos apoiarmos em nós
mesmos e buscarmos os recursos de nosso poder da alma: de nosso
talento, dons, conhecimento, magnetismo, eloqüência ou sagacidade. A
experiência de inumeráveis crentes espirituais confirma que a menos que
nossa qualidade de crentes anímicos seja entregue definitivamente à
morte e sua vida inibida em todo tempo, para que não possa operar, se
mostrará muito ativa no serviço. Se isso for a verdade deles, como vão
poder impedir a intromissão dessa vida da alma aqueles que não estão
dispostos a renunciar a ela ou se descuidam em negá-la? Tudo o que
pertence a nossa vida natural deve ser entregue à morte para que de modo
algum possamos depender disso, mas sim estejamos dispostos, em troca, a
ser guiados através da escuridão de uma morte em que carecemos de
ponto de apoio, sem ter sensação, carecendo de visão, sem dispor de
compreensão e confiando silenciosamente no operar do próprio Deus, até
que emerjamos no outro lado da ressurreição para possuir uma vida mais
gloriosa. «o que aborrece sua vida neste mundo a guardará para a vida
eterna.» Nossa alma não é aniquilada, mas ao passar pela morte
proporciona a Deus a oportunidade de nos comunicar sua vida . Não
perder a vida da alma na morte significa uma grande perda para o crente;
mas o perdê-la significará guardá-la para a eternidade.
Não compreendamos mal esse versículo como se significasse a
inatividade de nossa mente e talento. O Senhor claramente afirma que ao
perder nossa vida, a guardamos para a vida eterna. Tal como o «o corpo
pecaminoso deve ser destruído» (Rm. 6:6) não significa a destruição das
mãos, dos pés, dos ouvidos e dos olhos do corpo humano, assim
tampouco a entrega da vida da alma à morte não se deve entender como
negação ou destruição de nenhuma de suas funções. Até que o corpo do
pecado tenha sido destruído, ainda teremos de ceder nossos «membros a
Deus como instrumentos de justiça» (Rm. 6:13); igualmente, quando a
vida natural seja sacrificada à morte, acharemos renovação, avivamento e
restrição do Espírito Santo em todas as faculdades de nossa alma.
Portanto, não se pode implicar que a partir de então vamos ser de madeira
ou de pedra, sem sentimento, pensamento ou vontade, e que não
poderemos usar nenhuma das partes da alma. Cada parte do corpo, assim
como cada órgão da alma, existe ainda, e temos que empregá-la
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plenamente; só que agora foram renovadas, avivadas e moderadas pelo
Espírito Santo. O ponto em questão é se as faculdades da alma têm que ser
reguladas por nossa vida natural ou pela vida sobrenatural que reveste
nosso espírito. Estas faculdades persistem como de costume. O que é
excepcional agora é que o poder que as ativava antigamente foi posto à
morte; o Espírito Santo tem feito do poder sobrenatural de Deus sua vida.
Ampliemos esse ponto um pouco mais. Os distintos órgãos de nossa
alma continuam depois que nossa vida natural foi cedida à morte. O
cravar a vida da alma na cruz não implica absolutamente que depois
vamos carecer totalmente de pensamento, emoção e vontade. De modo
claro lemos na Bíblia sobre o pensamento, intenção, desejo, satisfação,
amor e gozo de Deus. Além disso, as Escrituras com freqüência registram
que nosso Senhor Jesus «amou», «regozijou-se», «estava triste»; inclusive
diz que «Jesus chorou», e que «ofereceu rogos e súplicas com grande
clamor e lágrimas» no Jardim do Getsêmani.
Tinham sido aniquiladas estas faculdades da alma? E passamos a ser
pessoas frite e mortas? A alma do homem é o próprio homem. É onde
reside sua personalidade e de onde se expressa. Se a alma não aceitar o
poder da vida do espírito, então vai tirar seu poder para viver de sua vida
natural ou anímica. A alma como uma composição de órgãos continua,
mas a alma como um princípio de vida é negada. Esse poder tem que ser
consignado à morte para que unicamente o poder do Espírito Santo possa
pôr em movimento todas as partes da alma, sem interferência da vida
natural.
É aqui que vemos a vida de ressurreição. Sem a vida sobrenatural de
Deus não pode haver ressurreição depois da morte. O Senhor Jesus pôde
passar pela morte e, ser ressuscitado, porque residia nele a vida incriada
de Deus. Esta vida não pode ser destruída; pelo contrário, sempre
ressurgirá na plenitude e glória da ressurreição. Jesus derramou sua alma
até a morte e entregou seu espírito (no qual havia a vida de Deus) de novo
às mãos de Deus. Sua morte O deixou livre da vida da alma, e deixou livre
a vida espiritual de Deus para um maior esplendor.
É realmente difícil entender por que Deus, ao nos transmitir sua
vida, requer depois que experimentemos a morte juntamente com Cristo a
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fim de que sua vida possa ser ressuscitada em nós. Essa é, entretanto, a lei
da vida de Deus. E uma vez de posse da vida de Deus, estamos
capacitados para passar periodicamente pela morte e continuar saindo
vivos. Ao ir perdendo continuamente nossa vida da alma na morte,
podemos continuamente ganhar de modo mais abundante e glorioso a
vida de Deus na ressurreição.
O propósito de Deus é fazer passar nossa vida da alma pela morte
em companhia da Sua própria vida em nós; sempre que Sua vida em nós é
ressuscitada, em nossa experiência diária, nossa alma também é levantada
com Ele e produz fruto para a eternidade. Essa é uma das lições mais
profundas na vida espiritual. O Espírito Santo unicamente pode nos
revelar a necessidade da morte assim como a da ressurreição.
Que o Espírito da revelação nos faça entender quanto nossa
experiência espiritual poderá ser sofrida, se não aborrecermos nossa vida
natural e a entregamos à morte. Só quando nossa vida, acompanhada pela
vida de Deus que nos reveste, passa pela morte e pela ressurreição,
podemos gerar fruto espiritual e guardá-la para a vida eterna.
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Nossa vida natural é um obstáculo formidável à vida espiritual.
Nunca satisfeito somente com Deus, invariavelmente acrescenta algo extra
a Deus. Daí que nunca esteja em paz.
Antes que o eu seja tocado, os filhos de Deus vivem sob estímulos e
sensações muito mutáveis. É por isso que exibem uma existência em
vaivém, em desigualdades.
Devido a permitirem que suas energias anímicas se misturem com
as experiências espirituais, seu caminhar é muito instável. Em
conseqüência, não estão qualificados para guiar a outros. O poder da
alma, a que não tenham renunciado, continuamente os desvia de
permitir que o espírito seja centralizado. No alvoroço da emoção anímica,
o espírito sofre grandes perdas na liberdade e na impressão. A mente, se
estiver em atividade excessiva, pode afetar e perturbar a quietude do
espírito. É bom admirar o conhecimento espiritual, mas se exceder os
limites espirituais, o resultado será meramente letra, não espírito. Isto
explica por que muitos obreiros, embora preguem a verdade mais
excelente, são tão frios e mortos. Muitos santos que procuram um modo
de andar espiritual compartilham uma experiência comum: uma
experiência de gemidos porque sua alma e espírito não são uma só coisa.
O pensamento, a vontade e a emoção de sua alma com freqüência
rebelam-se contra o espírito, recusando ser dirigidos por ele e recorrem a
ações independentes que o contradizem. A vida de seu espírito tem que
acabar sofrendo em uma situação assim.
Considerando o crente nesta condição, o ensino de Hebreus 4:12
adquire um significado especial.
Porque o Espírito Santo nos ensina ali a experimentar a divisão do
espírito e da alma. A divisão destes dois não é uma mera doutrina; é de
modo preeminente uma vida, uma necessidade para o andar do crente.
Mas qual é seu significado essencial?
Significa, em primeiro lugar, que, por meio de sua Palavra e por
meio de seu Espírito que nos reveste, Deus capacita o cristão a diferenciar
na prática as operações e expressões do espírito como distintas das da
alma. Assim pode perceber o que é do espírito e o que é da alma.
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A divisão destes dois elementos denota adicionalmente que, através
da cooperação voluntária do filho de Deus, podemos seguir um caminho
espiritual puro não impedido pela alma. O Espírito Santo apresenta em
Hebreus 4 o ministério de Sumo Sacerdote do Senhor Jesus e também
explica sua relação conosco. O versículo 12 declara que «a palavra de
Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois
gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e
é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração». E o
versículo 13 segue nos informando que «não há criatura alguma encoberta
diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a
quem havemos de prestar contas». Estes versículos, pois, nos dizem até
que ponto o Senhor Jesus cumpre sua obra como Sumo Sacerdote com
respeito a nosso espírito e alma. O Espírito Santo compara o crente a um
sacrifício sobre o altar.
Durante o período do Antigo Testamento, quando se apresentava
uma oferenda, atavam seu sacrifício ao altar. O sacerdote vinha e a matava
com uma faca afiada, partindo-a em duas e separando até a divisão das
juntas e dos tutanos, pondo assim à vista tudo o que antes tinha estado
escondido da vista humana. Depois era queimada com fogo como uma
oferenda a Deus. O Espírito Santo usa esse ato para ilustrar a obra do
Senhor Jesus para os crentes e a experiência dos crentes no Senhor. Tal
como o sacrifício antigo era partido em dois pela faca, de modo que as
juntas e os tutanos ficassem expostos e separados, também o crente hoje
vê sua alma e seu espírito separados pela Palavra de Deus, como ocorreu
com nosso Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus. Isto é para que a alma não
possa afetar o espírito e o espírito não fique sob a autoridade da alma; mas
cada um achará seu lugar de descanso, sem que haja confusão ou mistura.
Assim como no princípio a Palavra de Deus tinha operado sobre a
criação, separando a luz das trevas, assim também agora opera dentro de
nós como a espada do Espírito, penetrando até a separação do espírito e a
alma. Daí que a mais nobre habitação de Deus — nosso espírito — esteja
totalmente separada dos desejos baixos de nossas almas. Portanto,
devemos apreciar de que forma nosso espírito é o lugar em que reside
Deus e o Espírito Santo, e que nossa alma, com toda sua energia, fará
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verdadeiramente a vontade de Deus, conforme é revelada ao espírito
humano pelo Espírito Santo.
Não pode haver lugar, pois, para nenhuma ação independente.
Como o sacerdote antigo dividia em dois o sacrifício, assim também nosso
Sumo Sacerdote hoje divide nossa alma e espírito. Como a faca sacerdotal
era tão aguda que o sacrifício ficava partido em dois, penetrando até a
separação das juntas e os tutanos, assim também a Palavra de Deus, que o
Senhor Jesus usa correntemente, é mais viva que uma espada de dois
gumes, e é capaz de partir limpamente o espírito e a alma mais
intimamente relacionadas.
A Palavra de Deus é «viva» porque tem poder vivo; «ativa», porque
sabe como trabalhar; «mais aguda que uma espada de dois gumes», posto
que pode penetrar até a alma: alcança ao mais íntimo do espírito. A
Palavra de Deus guia seu povo a um reino mais profundo que o da mera
sensação: os leva ao reino do espírito eterno. Os que querem ser
estabelecidos em Deus devem conhecer o significado desta penetração no
espírito. Só o Espírito Santo pode nos ensinar o que é a vida da alma e o
que é a vida do espírito. Só depois de ter aprendido a diferenciar na
prática essas duas classes de vida e chegar a captar seus respectivos
valores somos tirados de um modo de andar superficial. Só então
chegamos ao descanso. A vida da alma nunca pode nos proporcionar
descanso. Mas notemos que isto tem que ser conhecido pela experiência;
simplesmente compreender na mente nos fará meramente mais anímicos.
Temos que prestar atenção especial a esse penetrar e dividir. A
Palavra de Deus penetra dentro da alma assim como dentro do espírito a
fim de efetuar a divisão dos dois. As mãos e os pés do Senhor Jesus e seu
flanco foram atravessados em sua crucificação. Estamos dispostos a deixar
que a cruz opere em nossa alma e em nosso espírito? Uma espada
penetrou a alma de Maria (Lc. 2:35). Embora seu «Filho» lhe tenha sido
dado por Deus, foi exigido dela que se desprendesse Dele e renunciasse a
toda sua autoridade e exigências sobre Ele. E mesmo que sua alma
desejasse agarrar-se tenazmente a Ele, Maria teve que negar seu afeto
natural.
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Separar a alma e o espírito não só significa separação, mas também
abrir bem a mesma alma. Como o espírito está envolvido pela alma, não
pode ser alcançado pela Palavra de vida, exceto através de um envoltório
rachado. A Palavra da cruz se aprofunda e abre espaço através da alma,
de modo que a vida de Deus pode alcançar o espírito dentro e libertá-lo da
servidão de sua casca anímica. Tendo recebido a marca da cruz, a alma
agora pode assumir sua posição própria de sujeição ao espírito. Mas se a
alma falha em passar a ser a «avenida» do espírito, então, sem dúvida,
passará a ser sua cadeia. Esses dois nunca estão de acordo em nada. Antes
que o espírito consiga seu lugar correto de preeminência, é desafiado de
modo persistente pela alma. Enquanto que o espírito se esforça por ganhar
sabedoria e domínio, o forte poder da alma exerce sua força máxima para
suprimir o espírito. Só depois que a cruz tenha feito sua obra sobre a vida
anímica é liberado o espírito. Se seguirmos ignorando o dano que esta
discórdia entre o espírito e a alma pode causar, ou seguimos mal
dispostos para abandonar o prazer de um modo de andar pelos sentidos,
raramente faremos algum progresso espiritual. Enquanto o bloqueio feito
pela alma ao espírito não é levantado, o espírito não pode ser libertado.
Ao estudar cuidadosamente o ensinamento deste fragmento da
Escritura, podemos chegar à conclusão de que o dividir do espírito e da
alma depende de dois fatores: a cruz e a Palavra de Deus. Antes que o
sacerdote possa usar sua faca, a vítima tem que ser colocada sobre o altar.
O altar no Antigo Testamento fala da cruz no Novo Testamento. Os
crentes não podem esperar que seu Sumo Sacerdote empunhe a espada
aguda de Deus, sua Palavra, que penetra até a separação da alma e do
espírito, a menos que primeiro estejam dispostos a ir à cruz e aceitar sua
morte. Estar prostrado sobre o altar sempre precede a penetração da
espada. Daí que aquele que deseje experimentar a divisão da alma e o
espírito deve responder à chamada do Senhor ao Calvário e apresentar-se
sem reservas diante o altar, confiando que o Sumo Sacerdote opere com
sua espada aguda para dividir seu espírito de sua alma. Que nós
estejamos colocados sobre o altar é nossa oferenda voluntária agradável a
Deus; usar a espada para dividir é a obra do sacerdote. Devemos cumprir
nossa parte com toda fidelidade e encomendar o resto a nosso Sumo
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Sacerdote misericordioso e fiel. E no momento apropriado Ele guiará a sua
completa experiência espiritual.
Temos que seguir as pisadas de nosso Senhor. Quando estava
morrendo, «Jesus derramou sua alma até a morte" (Is. 53:12), mas
«entregou seu espírito a Deus" (Lc. 23:46). Nós temos que fazer o que Ele
fez antes. Se verdadeiramente derramarmos a vida da alma e entregamos
nosso espírito a Deus, também conheceremos o poder da ressurreição e
gozaremos de um caminho espiritual perfeito na glória da ressurreição.
A PRÁTICA
Acabamos de ver de que forma Sumo Sacerdote opera se aceitamos
a cruz. Consideremos agora o lado prático; isto é, como chegarmos à
experiência em que o Senhor Jesus divide nossa alma e espírito.
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consignar-se no altar da cruz de uma forma específica. Têm que estar
dispostos a aceitar totalmente todas as conseqüências da operação da cruz
e de serem conformados à morte do Senhor. Antes que encontrem a
separação da alma e do espírito, os crentes devem subjugar sua vontade
de modo contínuo e incessante para Deus, e escolher ativamente que se
faça esta separação. E quando o Sumo Sacerdote realiza esta divisão neles,
a atitude de seu coração deve ser que Ele não tenha que deter Sua mão.
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7) Viver conforme com o espírito. Esta é uma condição não só para
nossa preservação mas também para uma clara separação entre o espírito
e a alma. Temos que procurar andar pelo espírito em todos os aspectos,
distinguindo o que é do espírito e o que é da alma, e fazendo a resolução,
também, de seguir o primeiro e rechaçar a segunda.
Estas são as condições que por nossa parte temos que cumprir. O
Espírito Santo requer nossa cooperação. O Senhor não poderá fazer Sua
parte a menos que nós façamos a nossa. Mas se nós cumprirmos nossa
responsabilidade, nosso Sumo Sacerdote vai separar nosso espírito de
nossa alma com a espada aguda de seu Espírito no poder de sua cruz.
Tudo o que pertence à emoção, à sensação, à mente e à .energia natural
será separado, uma coisa atrás de outra, do espírito a fim de não deixar
rastro de fusão. O estar sobre o altar é o que nós temos que fazer, mas o
dividir a alma do espírito com a faca aguçada é o que faz o Sumo
Sacerdote. Se nos entregarmos verdadeiramente à cruz de nosso Sumo
Sacerdote, Ele não falhará em executar seu ministério separando nosso
espírito e alma. Não temos por que nos preocupar pela Sua parte. Ao ver
que nós cumprimos os requisitos para poder operar, Ele vai separar nosso
espírito e nossa alma no momento apropriado.
Os que perceberam o perigo de uma mistura destes dois órgãos, não
podem fazer menos do que procurar libertação.
Embora o caminho para a libertação esteja aberto, entretanto não
deixa de apresentar suas dificuldades. Os crentes têm que perseverar na
oração para que possam ver seu próprio estado lamentável e entender o
revestimento, obra e exigências do Espírito Santo. Devem conhecer o
mistério e realidade do Espírito Santo que mora neles. Que honrem sua
Santa presença e que não O entristeçam; que saibam que, além do pecado,
o que O entristece mais, assim como o que os prejudica mais
profundamente é o andar e operar conforme com sua própria vida. O
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pecado primeiro e original do homem foi procurar o que era bom, sábio e
intelectual segundo sua própria idéia. Hoje, os filhos de Deus cometem
freqüentemente o mesmo equívoco. Deveriam compreender que, como
creram no Senhor e têm o Espírito Santo que os reveste, é necessário dar
ao Espírito autoridade completa sobre suas almas. Pensamos que, como
oramos e pedimos ao Espírito Santo que revele sua mentalidade e opere
em nós, tudo será feito conforme a nossos desejos? Esta hipótese não é
correta; porque, a menos que diariamente entreguemos nossa vida natural
à morte, junto com seu poder, sabedoria, "eu" e sensação, e a menos que
igualmente desejemos sinceramente em nossa mente e vontade obedecer e
confiar no Espírito Santo, não O veremos verdadeiramente realizar a obra.
O povo do Senhor deveria entender que é a Palavra de Deus a que
divide a alma e o espírito. O Senhor Jesus é Ele mesmo o Verbo ou Palavra
de Deus, de modo que Ele mesmo efetua a divisão. Estamos dispostos a
permitir que Sua vida e obra consumada separem nossa alma e espírito?
Estamos dispostos a que sua vida encha de tal modo nosso espírito, que a
vida da alma fique imobilizada? A Bíblia é a Palavra escrita de Deus. O
Senhor Jesus usa o ensino da Bíblia para separar nossa alma do espírito.
Estamos dispostos a seguir esta verdade? Estamos dispostos a fazer o que
ensinam as Escrituras, sem introduzir nossa opinião? Consideramos a
autoridade da Bíblia suficiente sem procurar ajuda humana em nossa
obediência?
Temos que obedecer ao Senhor e tudo o que Ele nos ensina em sua
Palavra, se queremos entrar em um caminho verdadeiramente espiritual.
Esta é a espada que opera na separação de nossa alma e espírito.
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Esse véu parecia encerrar a glória e presença de Deus dentro do
Lugar Santíssimo, excluindo-a do Lugar Santo. Os homens daqueles
tempos, pois, só podiam conhecer as coisas situadas fora do véu no Lugar
Santo. Além da fé, em sua vida externa, não podiam captar a presença de
Deus.
Esse véu, entretanto, só existia temporalmente. No momento
designado, quando a carne de nosso Senhor Jesus (que é a realidade do
véu, Hb. 10:20) foi crucificada na cruz, o véu foi rasgado de cima abaixo. O
que separava o Lugar Santíssimo do Lugar Santo foi eliminado. A
intenção de Deus não era de residir permanentemente só no Lugar
Santíssimo. Muito pelo contrário. Desejava estender sua presença ao
Lugar Santo também. Estava meramente esperando que a cruz
completasse sua obra, porque foi só a cruz que rasgou o véu e permitiu
que a glória de Deus brilhasse fora do Lugar Santíssimo.
Hoje Deus quer que os seus gozem uma experiência como a do
templo em seu espírito e alma: sempre e quando se permitir à cruz que
aperfeiçoe sua obra neles. Quando os crentes obedecem de boa vontade ao
Santo Espírito, a comunhão entre o Santo e o Santíssimo se vai
aprofundando dia após dia, até que experimentam uma grande mudança.
É a cruz a que efetua o rasgo do véu; isto é, a cruz funciona de tal forma
na vida do crente, que este tem uma experiência como a do véu rasgado
entre seu espírito e sua alma. Sua vida natural renuncia a sua
independência e espera a vida do espírito para receber direção e provisão.
Isto tem que ser obra de Deus, não do homem. Quando a obra da
cruz terminou, Deus rasgou o véu. Isto não pode ser realizado nem por
meio de nosso trabalho, nem por nossa força, nem por nossos rogos. O
momento em que a cruz cumpriu sua tarefa é o momento em que se rasga
o véu. Portanto, renovemos nossa consagração e nos ofereçamos nós
mesmos a Deus sem reservas. Estejamos dispostos a que nossa vida da
alma seja entregue à morte a fim de que o Senhor, que mora no Lugar
Santíssimo, possa terminar sua obra. Se Ele observar que a cruz realizou
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sua obra completa em nós, o Senhor, indubitavelmente, integrará o
Santíssimo e o Santo dentro de nós, do mesmo modo que em séculos
passados rasgou o véu com seu poder, para que seu Santo Espírito
pudesse fluir de seu glorioso corpo.
Assim a glória, no esconderijo do Altíssimo, constrangerá nossa vida
cotidiana dos sentidos. Todo nosso andar e nosso afazer no Lugar Santo
serão santificados na glória do Santíssimo. Tal como é o nosso espírito,
assim também nossa alma será revestida e regulada pelo Espírito Santo de
Deus.
Nossa mente, emoção e vontade serão cheias dEle. O que
mantivemos pela fé no espírito, agora o conhecemos e experimentamos
também na alma, sem faltar nada e sem ter perdido nada. Que vida bem-
aventurada é essa!
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«Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus
confiem as suas almas ao fiel Criador» (1 Pe. 4:19).
Muitas pessoas conhecem Deus como o Criador, mas não como Pai;
os crentes, entretanto, deveriam experimentá-Lo não só como Pai mas
também como Criador. Como tal, Deus nos revela seu poder. Por isso
entenderemos e reconheceremos que todo o universículo está
verdadeiramente em Sua mão. Antes nos era difícil aceitar a idéia de que
as coisas no mundo não podiam mover-se contra Sua vontade; mas agora
sabemos que cada elemento do universículo — seja humano, natural ou
sobrenatural — está sob Seu cuidadoso escrutínio e sábia ordenação.
Reconhecemos agora que todas as coisas nos chegam, seja por ordem dele
ou por sua permissão. Uma alma governada pelo Espírito Santo é uma
alma que confia.
Nossa alma deveria desejar o Senhor, assim como confiar nEle.
«A minha alma se apega a ti» (Sl. 63:8). Já não nos atrevemos a ser
independentes de Deus nem a servir a Deus segundo a idéia de nossa
alma. Mas hoje O seguimos com temor e tremor, e o seguimos de perto.
Nossa alma está seriamente apegada ao Senhor.
Já não há ações independentes, mas sim plena entrega a Ele. E isto
não é por compulsão; o fazemos alegremente.
Estas pessoas não podem fazer menos do que repetir a exclamação
de Maria: «Minha alma engrandece ao Senhor» (Lc. 1:46). Já não há
importância própria, seja em público ou em privado. Esses crentes
reconhecem e admitem sua incompetência e só desejam exaltar ao Senhor
com humildade de coração. Já não vão mais roubar a glória de Deus, e sim
O engrandecerão em suas almas. Porque se o Senhor não é engrandecido
na alma, não o é em nenhuma outra parte.
Só esses «não estimam sua vida preciosa para si mesmos» (At. 20:24)
e podem dar a vida pelos irmãos» (1 Jo. 3:16).
A menos que deixe de amar a si próprio, o crente nunca poderá
deixar de retrair-se quando for chamado a tomar sua cruz por Cristo. O
que vive a vida de um mártir e está disposto a ser semelhante em sua
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cruz, é capaz também de morrer a morte de mártir, se chegar o momento
em que isso seja necessário.
Pode dar sua vida por seu irmão se a ocasião o exigir, porque se
negou a si mesmo continuamente e não procurou seus próprios direitos
ou bem-estar, mas sim derramou sua alma pelos irmãos. O amor
verdadeiro ao Senhor e aos irmãos não surgiu do amor-próprio.
Ele «me amou» e «se entregou a si mesmo por mim» (Gl. 2:20). O
amor flui da negação da própria vida. O derramamento de sangue é a
fonte de bênção.
Uma vida assim é, na realidade, uma vida de prosperidade, como
está escrito: «sua alma prospere» (3 Jo. 2). Essa prosperidade não se
origina do que o eu ganhou, mas sim, do que negou. Uma alma perdida
não é uma vida perdida, porque a alma se perde em Deus. A vida da alma
é egoísta, e portanto nos prende.
Mas a alma que renunciou a si mesmo, habitará na infinitude da
vida de Deus. Isto é liberdade, isto é prosperidade. Quanto mais
perdemos, mais ganhamos. Nossas posses não se medem por quanto
recebemos, mas sim por quanto damos. Que frutífera é essa vida!
O abandonar a vida da alma, entretanto, não é uma libertação tão
fácil quanto a do pecado. Como é nossa vida, temos que tomar a cada dia
a decisão de vivê-la por meio da vida de Deus. A cruz deve ser levada
fielmente, e isso de modo progressivamente mais fiel. Elevemos os olhos a
nosso Senhor, o qual «sofreu a cruz, menosprezando o opróbrio...
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Quarta Parte
O Corpo
1. O Corpo do Crente
Precisamos saber o lugar que Deus reservou para o nosso corpo
físico, em seu plano e em seu propósito. É impossível negar que existe
uma relação entre o corpo e a espiritualidade. Além do espírito e da alma,
temos também um corpo. Não importa que a intuição, a comunhão e a
consciência do nosso espírito estejam perfeitamente saudáveis, ou que a
emoção, a mente e a vontade da nossa alma estejam totalmente renovadas.
Nosso corpo também precisa estar são e restaurado, do mesmo modo que
o espírito e a alma. Se isso não acontecer, nunca alcançaremos a condição
de cristãos espirituais, nem seremos aperfeiçoados. Pelo contrário,
estaremos continuamente incorrendo em algum erro. Devemos atender
aos impulsos interiores, mas sem negligenciar nosso lado físico. Se
cometêssemos tal disparate, sofreríamos muito.
O corpo é necessário e importante; do contrário, Deus não teria
criado o homem com um corpo. Examinando atentamente as Escrituras,
vemos que a Bíblia fala muito sobre ele. Isso mostra o valor que Deus dá
ao nosso corpo. O mais extraordinário de tudo é que o Verbo se fez carne.
O Filho de Deus assumiu um corpo de carne e sangue e, embora tenha
morrido, continua a ter "essa vestimenta" para sempre.
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O ESPÍRITO SANTO E O CORPO
Em Romanos 8.10-13, vemos qual ê a condição do corpo, como o
Espírito Santo o ajuda, e qual deve ser nossa atitude para com ele. Se
aplicarmos esses versículos à nossa vida, teremos um entendimento
correto do lugar que o nosso corpo ocupa no plano redentor de Deus.
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trabalhar para ele. li isso exige força física. Se o corpo está espiritualmente
morto, e sua vida na verdade é morte, não podemos utilizá-lo para
atender às exigências da vida espiritual sem fazer uso de sua morte-vida.
E óbvio que nosso corpo não pode fazer e não fará a vontade do Espírito
de vida que há em nosso interior. Pelo contrário, fará oposição e lutará
contra o Espírito. Como pode o Espírito Santo induzir nosso corpo a
responder à chamada divina? Dando ele mesmo vida ao nosso corpo de
morte.
Aquele que "ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos" é Deus. Por
que então Paulo não o menciona claramente? Para dar mais ênfase ao que
ele fez, isto é, ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos. O objetivo aqui
é chamar nossa atenção para a possibilidade de Deus ressuscitar também
nosso corpo mortal, uma vez que ele ressuscitou o corpo morto de Jesus. De
modo indireto, o apóstolo diz que esse Espírito de Deus é o Espírito Santo,
que é também o Espírito da ressurreição. Novamente, ele emprega a
palavra "se": "Se habita em vós o Espírito daquele... vivificará também o
vosso corpo mortal." Ele não está pondo em dúvida que o Espírito Santo
habite no crente, pois no versículo 9 ele diz que qualquer um que pertence
a Cristo tem o Espírito de Cristo. O que ele quer dizer é o seguinte:
"O Espírito Santo habita em vocês. Portanto seu corpo mortal deve
experimentar a vida dele. Todos aqueles que possuem o Espírito
habitando neles gozam desse privilégio.Ele não quer que, por ignorância,
nenhum crente desconheça essa bênção."
Na realidade, esse versículo ensina que, se o Espírito de Deus habita
em nós, Deus, através desse poder presente em nós, dá vida também ao
nosso corpo mortal. Ele não se refere a uma ressurreição futura, pois não é
disso que ele fala aqui. Simplesmente se faz uma comparação entre a
ressurreição do Senhor Jesus e a questão de recebermos vida em nosso
corpo hoje. Se a questão fosse a ressurreição, ele empregaria o termo
"corpo de morte". Contudo aqui ele diz apenas "corpo mortal", isto é, o
corpo que está sujeito à morte, embora ainda não esteja morto. O corpo do
crente acha-se espiritualmente morto, pois caminha para a sepultura e
deve morrer. Isso é muito diferente de um cadáver no sentido literal.
Assim como o fato de o Espírito Santo habitar em nós é algo do presente,
do mesmo modo ele dar vida ao nosso corpo mortal deve ser uma
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experiência atual também. Mais ainda. Devemos reconhecer que ele não
está se referindo aqui à nossa regeneração, pois não fala de o Espírito
Santo comunicar vida ao nosso espírito, e sim ao nosso corpo.
Nesse versículo, Deus revela um privilégio físico que temos, ou seja,
a vida do nosso corpo mortal através do seu Espírito que em nós habita. O
que ele afirma aí não é que o "corpo do pecado" se tornou santo, ou que
nosso "corpo de humilhação" foi transformado num corpo glorioso.
Também não diz que este corpo mortal se revestiu de imortalidade. Isso
não poderá se realizar nesta vida. A redenção do nosso vaso de barro deve
aguardar até que o Senhor venha e nos receba para si mesmo. E
impossível ocorrer a mudança da natureza do nosso corpo ainda neste
mundo. Por isso, a expressão "o Espírito Santo dá vida ao nosso corpo"
significa na verdade que ele nos restaurará quando estivermos doentes e
nos preservará se não estivermos doentes. O Espírito Santo fortalecerá
nosso tabernáculo terreno, para que possamos cumprir as exigências da
vida com o Senhor e da realização de sua obra, sem que nossa vida e o
reino de Deus venham a sofrer por causa da fraqueza do nosso corpo.
É isso que Deus preparou para todos os seus filhos. Contudo poucos
cristãos experimentam genuinamente, todos os dias, essa vida dada pelo
Espírito ao seu corpo mortal. A vida espiritual de muitos é ameaçada por
suas condições físicas. Muitos caem por causa da fraqueza física, e não
podem trabalhar ativamente para Deus por causa da escravidão da
doença. A experiência dos cristãos hoje não corresponde à provisão
divina. Existem várias razões para essa discrepância. Alguns rejeitam a
provisão de Deus, pois afirmam que ela nada tem a ver com eles. Outros
conhecem essa provisão, crêem nela e a desejam, mas não apresentam seu
corpo ao Senhor como um sacrifício vivo. Afirmam que Deus lhes
concedeu força para viverem por si mesmos. No entanto aqueles que
realmente desejam viver para Deus, e pela fé se apropriam dessa
promessa e dessa provisão, experimentam a realidade da plenitude da
vida no corpo, conforme o Espírito Santo lhes concede.
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Esse versículo dá uma descrição perfeita da relação correta entre o
crente e seu corpo. Muitos irmãos são escravos do seu corpo. Sua vida
espiritual acha-se completamente aprisionada em seu corpo! Eles existem
como duas pessoas diferentes. Quando se voltam para o seu interior,
sentem-se espirituais, vêem-se próximos de Deus e com vida abundante.
Quando estão na carne, sentem-se caídos, carnais e afastados do Senhor,
por estarem obedecendo a seu corpo. Este, então, se torna uma carga
pesada para eles. Um pequeno incômodo físico pode alterar sua vida.
Uma pequena enfermidade ou dor os perturba e enche seu coração de
amor próprio e autopiedade. Sob tais circunstâncias, é impossível crescer
espiritualmente.O apóstolo usa as palavras "assim, pois" simplesmente
por estar completando o que havia dito nos versículos anteriores. Cremos
que o versículo 12 é uma continuação direta do 10 e do 11. No 10, ele
declara que o corpo está morto; no 11, afirma que o Espírito Santo dá vida
ao corpo. Com base nessas duas declarações sobre o corpo, o apóstolo
conclui, dizendo: "Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne
como se constrangidos a viver segundo a carne". Primeiro, visto que o cor-
po está morto por causa do pecado, não podemos viver segundo o corpo.
Agir assim seria pecar. Segundo, uma vez que o Espírito Santo deu vida
ao nosso corpo mortal, não precisamos viver segundo a carne, pois ela já
não tem autoridade para amarrar nossa vida espiritual. Essa provisão do
Espírito de Deus capacita nosso interior para comandar diretamente o
corpo sem sofrer interferência deste. Antes, tínhamos a impressão de que
éramos devedores à carne, incapazes de negar-lhe aquilo que ela exigia,
desejava e cobiçava. Vivíamos debaixo do domínio dela, cometendo
inúmeros pecados. Agora, porém, temos a provisão do Espírito Santo.
Não apenas as cobiças da carne deixaram de ter controle sobre nós, mas
suas fraquezas, doenças e sofrimentos também perderam a força.
Muitos argumentam que devemos cumprir as exigências e os
desejos legítimos da carne. Contudo o apóstolo assevera que nada
devemos a ela. E não devemos mesmo, a não ser preservar nosso
tabernáculo terreno numa condição adequada como vaso de Deus.
Naturalmente, a Bíblia não nos proíbe de cuidar do corpo, caso contrário,
teríamos muitas doenças desnecessárias e assim seríamos obrigados a
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dedicar-lhe muito mais tempo e cuidado. A vestimenta, o alimento, o
abrigo e o descanso são necessidades. Todavia o que queremos ressaltar é
que essas preocupações não deveriam ter prioridade em nossa vida. Sem
dúvida, devemos comer quando tivermos fome, beber quando tivermos
sede, descansar quando cansados e vestir-nos quando estivermos com
frio. Contudo não devemos permitir que tais cuidados penetrem tanto em
nosso coração que se tornem nossa principal meta de vida, nem total nem
parcialmente. Não devemos amar essas necessidades. Elas deveriam
manifestar-se e ser atendidas naturalmente. Jamais devem permanecer em
nós, tornando-se desejos interiores. Algumas vezes, por causa da obra de
Deus ou de alguma outra necessidade extrema, devemos esmurrar nosso
corpo e subjugá-lo, negando-lhe aquilo que ele exige. No jardim do
Getsêmani, os discípulos demonstraram amor ao sono. O Senhor Jesus
suportou fome ao lado do poço de Sicar. Esses dois episódios apresentam
um quadro contrastante da derrota (dos discípulos) e da vitória (de Cristo)
sobre exigências legítimas do corpo. Não sendo mais devedores à carne,
não devemos pecar seguindo as cobiças dela, nem ser relaxados na obra
espiritual devido a uma fraqueza física.
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cruz, mas não permitirmos que o Espírito a aplique cm nossa vida, nosso co-
nhecimento não passa de uma teoria, de um ideal
É muito bom reconhecer que "nosso velho homem foi crucificado
com ele para que o corpo pecaminoso seja anulado" (Rm 6.6 - Darby).
Contudo, se "pelo Espírito", não "mortificamos os feitos do corpo",
permanecemos escravizados a esses feitos. Temos visto muitos crentes que
compreenderam claramente a verdade da cruz e a aceitaram, todavia ela
não se aplica na vida deles. Então começam a duvidar de que podem
experimentar a realidade da salvação prática da cruz. No entanto eles não
deveriam ficar surpresos com isso. É que se esqueceram de que somente o
Espírito Santo pode aplicar à sua volta a experiência da cruz. Só ele pode
confirmar a salvação, e mesmo assim eles se esqueceram dele. Se os
crentes não se entregarem ao Espírito Santo, confiando plenamente no
poder dele para mortificar os feitos do corpo, a verdade que professam
conhecer será uma simples teoria. Só pela mortificação desses feitos,
efetuada pelo Espírito Santo, teremos vida hoje em nosso corpo mortal.
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4. O Senhor é também para a glorificação do corpo. Isso acontecerá
no futuro. E verdade que hoje podemos alcançar um elevado nível de vida
se vivermos por meio dele. Isso, porém, não muda a natureza do nosso
corpo. Contudo virá o dia em que o Senhor há de redimir nosso corpo de
humilhação, transformando-o na semelhança do seu corpo glorioso.
Devemos ressaltar o significado da expressão "o corpo é para o
Senhor". Se desejamos vivenciar a realidade de que "o Senhor é para o
corpo", precisamos antes viver o lato de que "o corpo é para o Senhor". Se
usarmos nosso corpo segundo nosso próprio desejo, para o nosso prazer,
em voz de dedicá-lo inteiramente ao Senhor, será impossível conhecera
experiência de que "o Senhor é para o corpo". Todavia, se nos entregarmos
totalmente a Deus, rendendo nossos membros como Instrumentos de
justiça, e conduzindo-nos em tudo segundo os preceitos divinos, com toda
certeza ele nos concederá sua vida e seu poder.
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e também através da sua graça manifestada no "Senhor é para o corpo".
Sejamos sóbrios e vigilantes, a fim de não usarmos nosso corpo para nós
mesmos, nem permitirmos que ele chegue a um estado em que pareça que
o Senhor não é para o corpo. Desse modo, glorificaremos a Deus e
permitiremos que ele demonstre seu poder livremente, libertando-nos das
fraquezas, das doenças e dos sofrimentos, bem como do interesse próprio,
do amor próprio e do pecado.
2. As Doenças
As doenças são um acontecimento comum na vida. Para
entendermos como devemos manter nosso corpo em condições de
glorificar a Deus, precisamos primeiro saber que atitude vamos tomar
com respeito às doenças, como poderemos tirar proveito delas, e também
como obter a cura. Se não soubermos lidar com as doenças, certamente
estaremos incorrendo em grave erro, tal a relevância delas.
AS DOENÇAS E O PECADO
A Bíblia revela que existe uma relação muito estreita entre a doença
e o pecado. A conseqüência final do pecado é a morte. As doenças
encontram-se no meio dos dois, entre o pecado e a morte. Elas são o efeito
do pecado e o prelúdio da morte. Se no mundo não houvesse pecado, não
haveria nem doenças nem morte. Se Adão não tivesse pecado, não haveria
doença na Terra. Disso podemos ter certeza absoluta. As doenças, assim
como outros males, surgiram por causa do pecado.
Os seres humanos possuem duas naturezas: a física e a não física.
Ambas sofreram com a queda do homem. O espírito e a alma foram
prejudicados pelo pecado, e o corpo foi invadido por doenças. O pecado
do espírito e da alma, juntamente com as doenças do corpo, comprovam
que o homem tem de morrer.
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Quando o Senhor Jesus veio ao mundo para nos salvar, ele não
apenas perdoou o pecado do homem, mas também curou o corpo deste.
Ele salvou tanto o corpo como a alma. No início do seu ministério, ele
curou as enfermidades. Ao completar sua obra na cruz, ele se tornou
propiciação para os nossos pecados. Atentemos para o número de pessoas
doentes que ele curou quando estava aqui na Terra! Mostrava-se sempre
pronto para tocar os doentes e levantá-los. A julgar pelo que ele mesmo
realizou e pelo que mandou que seus discípulos fizessem, temos de
reconhecer que a salvação que ele provê inclui a cura das enfermidades.
Seu evangelho é de perdão e de cura. Os dois andam sempre juntos. O
Senhor Jesus salva as pessoas dos pecados e das doenças, para que assim
conheçam o amor do Pai. Lendo os evangelhos, os Atos dos Apóstolos, as
epístolas ou o Antigo Testamento, verificamos que perdão e cura andam
sempre lado a lado.
Todos sabemos que Isaías 53 é o texto do Antigo Testamento que
apresenta o evangelho com maior clareza. Existem várias passagens do
Novo Testamento que fazem referência a esse capítulo, mostrando o
cumprimento das profecias dele na obra redentora do Senhor Jesus. "O
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados." (V 5.) Esse texto afirma, de modo inequívoco, que Deus nos
concedeu tanto a cura do corpo como a paz da alma. Isso se torna mais
claro ainda quando vemos o verbo "levar" empregado de duas maneiras
diversas. Ele "levou sobre si o pecado de muitos" (v. 12) e "as nossas dores
(doenças) levou sobre si" (v. 4). O Senhor Jesus leva nossos pecados e
nossas doenças. Já que ele levou nossos pecados, não precisamos carregá-
los; da mesma forma, já que ele levou nossas doenças, já não precisamos
levá-las 1. O pecado prejudicou tanto nossa alma quanto nosso corpo, por
isso o Senhor Jesus salva ambos. Ele nos livra das doenças e também dos
pecados. Os crentes hoje podem louvar a Deus como fez Davi: "Bendize, ó
A DISCIPLINA DE DEUS
Tendo visto o que o Senhor pensa com respeito à enfermidade,
voltemos, agora, nossa atenção para as causas das doenças dos crentes.
Paulo explica aqui que a doença é uma forma pela qual Deus nos
corrige. Os crentes sofrem essa disciplina por terem errado diante do
Senhor. O objetivo é levá-los a julgarem a si mesmos, e a eliminarem seus
erros. Ao castigar seus filhos, Deus usa de misericórdia para com eles,
para que não sejam condenados com o mundo. Quando nos arrepende-
mos de nossos erros, o Senhor afasta sua disciplina. Portanto podemos
então evitar a doença efetuando um auto-julgamento.
Na maioria dos casos, achamos que a doença é apenas um problema
físico, sem nenhuma relação com a retidão, a santidade e o castigo divino.
Nessa passagem, porém, o apóstolo diz claramente que a doença é o
resultado do pecado e também uma punição que Deus aplica. Os cristãos
costumam citar o caso do homem cego de João 9, para sustentar a opinião
de que as enfermidades não constituem um castigo de Deus por causa do
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pecado. Todavia o Senhor Jesus não afirmou ali que a doença não tem
relação com o pecado. Ele apenas adverte seus discípulos a não
condenarem todos os doentes. Se Adão não tivesse pecado, aquele homem
de João 9 não teria nascido cego. Além do mais, o homem em questão
nasceu cego, de modo que a natureza da sua doença é bastante diferente da
natureza das enfermidades dos crentes. As causas das moléstias de quem
nasce doente talvez não sejam seus próprios pecados. De acordo com as
Escrituras, porém, quando adoecemos depois que cremos no Senhor, essa
enfermidade geralmente tem relação com o pecado. "Confessai, pois, os
vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes
curados." (Tg 5.16.) A cura só ocorrerá depois que o enfermo confessar seu
pecado, que é a raiz da doença.
Em muitos casos, a doença é uma disciplina divina, no sentido de
nos alertar para pecados aos quais não damos atenção. Ele quer que os
deixemos. Deus permite que tenhamos enfermidades para que ele possa
nos disciplinar e nos purificar das faltas. Ele pesa sua mão sobre nós para
chamar nossa atenção para algum erro que estejamos abrigando, alguma
injustiça ou dívida, o orgulho ou amor a este mundo, autoconfiança ou
cobiça na obra, ou para algum ato de desobediência ao Senhor. A doença
é, portanto, uma disciplina manifesta de Deus sobre o pecado. Disso,
porém, não devemos inferir que quem está doente é necessariamente mais
pecaminoso que os outros. (Ver Lucas 13.2.) Pelo contrário, geralmente o
Senhor disciplina os mais santos. Jó é um ótimo exemplo disso.
Toda vez que Deus corrige um crente e este adoece, ele pode receber
grandes bênçãos, porque o Pai dos espíritos "nos disciplina para
aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade" (Hb
12.10). A doença faz com que nos lembremos do passado e o examinemos,
para ver se há algum pecado oculto, alguma desobediência a Deus ou
vontade própria. Desse modo, podemos ficar sabendo se existe alguma
barreira entre nós e Deus. Quando examinamos o coração, enxergamos
como nossa vida tem sido dominada pelo ego, e se acha muito distante da
santidade do Senhor. Esses exercícios espirituais nos capacitam a crescer
espiritualmente e a obter a cura de Deus.
Portanto a primeira atitude a tomar quando estamos doentes não é
correr de um lado para outro em busca da cura ou dos meios para isso.
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Tampouco devemos ficar ansiosos ou temerosos. O que temos de fazer é
nos abrir inteiramente à luz de Deus, e nos submetermos a um exame,
com o desejo sincero de saber se o castigo se deve a algum erro que
praticamos. Devemos julgar a nós mesmos. Assim o Espírito Santo nos
mostrará em que temos falhado. Depois, teremos de confessar e
abandonar imediatamente tudo aquilo que o Espírito Santo nos indicar. Se
cometemos algum pecado que prejudicou outras pessoas, devemos fazer o
máximo para repará-lo, crendo também que Deus nos aceitou. Precisamos
oferecer-nos novamente a ele, dispostos a obedecer plenamente à sua
vontade.
Deus "não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos
homens" (Lm 3.33). Quando o Senhor vê que já atingimos o objetivo do
autojulgamento, ele cessa a disciplina. Deus tem prazer em afastar sua
disciplina, depois que ela cumpriu seus objetivos. A Bíblia afirma que, se
julgarmos a nós mesmos, não seremos julgados. Deus quer que fiquemos
livres do pecado e do ego. Quando alcançamos esse objetivo, a doença
desaparece, porque esta já realizou sua missão. O que precisamos
compreender hoje é que Deus nos castiga com um propósito específico.
Por isso, devemos permitir sempre que o Espírito Santo nos revele nossos
pecados, a fim de atingirmos o alvo divino, e não precisemos mais de
disciplina. Aí então Deus nos cura.
Quando confessamos nossos pecados e os abandonamos, crendo
também no perdão de Deus, podemos confiar nas promessas divinas,
acreditando, sem nenhum temor, que ele vai nos curar. Com a consciência
livre de acusação, temos ousadia para nos aproximar de Deus e receber
sua graça. Quando nos achamos separados dele, temos dificuldade para
crer, ou então nem temos coragem para isso. Contudo, depois que
abandonamos o pecado e recebemos o perdão, temos livre acesso à
presença de Deus, através da iluminação do Espírito Santo e da obediência
a ele. Removida a causa da doença, ela desaparecerá. Agora o crente
enfermo já não tem dificuldade em crer que "o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele (Cristo); e pelas suas pisaduras fomos sarados". Nesse
momento, a presença do Senhor se manifesta abundantemente, e sua vida
entra em nosso corpo para torná-lo vivo.
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Será que temos nítida consciência de que nosso Pai celeste não está
satisfeito conosco em muitas áreas? Ele se utiliza das enfermidades como
forma de ajudar-nos a perceber nossas fraquezas. Se não abafarmos a voz
da consciência, o Espírito Santo certamente nos mostrará o motivo do
castigo. Deus se deleita em perdoar nossos pecados e curar nossas
doenças. A grande obra redentora do Senhor Jesus contém tanto o perdão
quanto a cura. Ele não vai permitir que nada se interponha entre nós e ele.
Deus quer que vivamos por ele melhor do que vivíamos antes. É hora de
confiarmos nele e de lhe obedecermos inteiramente. O Pai celeste não
deseja nos castigar. Ele está muito desejoso de curar-nos, para podermos
manter uma comunhão mais íntima com ele, ao contemplar seu amor e
seu poder.
A DOENÇA E O EGO
As circunstâncias adversas e negativas servem para expor nossa
verdadeira condição. Em si, elas não são pecado. Apenas revelam o que
existe em nós. A doença é uma dessas circunstâncias que nos permitem
enxergar o real estado de nossa alma.
Só temos consciência do quanto estamos vivendo para o ego, e como
vivemos pouco para Deus, quando ficamos doentes, principalmente se a
doença for prolongada. Em situações normais, podemos declarar com
profunda convicção que estamos dispostos a obedecer a Deus de todo o
coração, aceitando de bom grado qualquer tratamento que ele venha a nos
dispensar. No entanto é só por ocasião da doença que descobrimos se isso
é verdade. O que Deus deseja infundir em nós é uma atitude de satisfação
para com sua vontade e seu modo de agir. Ele não quer que um filho seu,
por causa dos seus sentimentos imaturos, venha a murmurar contra essa
vontade e esse modo de agir. Por isso, Deus permite que seus filhos mais
queridos adoeçam repetidas vezes. Ele quer que enxerguemos claramente
nossa atitude para com o plano que ele preparou especialmente para nós.
Como é triste ver um cristão que, por causa dos seus próprios
desejos, murmura contra o Senhor na hora da provação! Ele não entende
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que o que Deus lhe dá é o melhor para ele. Pelo contrário, seu coração fica
dominado pelo desejo de obter cura imediata. (O que queremos dizer
quando nos referimos a uma doença dada por Deus, na realidade, é que o
Senhor permite a doença, pois ela procede diretamente de Satanás. Então,
qualquer enfermidade que acomete um cristão acontece com a permissão
de Deus e também com um propósito definido. A experiência de Jó é um
exemplo perfeito dessa verdade.) Por causa disso, o Senhor prolonga a
doença. Ele só retira esse seu instrumento de disciplina depois de atingir
seu objetivo. A meta de Deus em seu relacionamento com o crente é levar
este a uma condição de total submissão a ele, de modo a receber com
alegria tudo que ele fizer em sua vida. Deus não se agrada daquele que o
louva na prosperidade, mas reclama dele na adversidade. Ele não quer
que seus filhos duvidem do seu amor, nem que interpretem mal os seus
atos com tanta facilidade. Quer que eles o obedeçam até à morte.
Deus deseja que seus filhos entendam que tudo o que lhes sobrevêm
provém dele. Por mais perigosas que sejam as circunstâncias físicas ou
ambientais, elas passam pela medida de sua mão. Até mesmo a queda de
um fio de cabelo depende da vontade dele. Se alguém resiste ao que lhe
sobrevêm, está resistindo ao próprio Deus, que permite esse
acontecimento. E se ele, depois de um doloroso período de enfermidade,
deixar que o ódio domine seu coração, essa revolta na verdade é contra o
Senhor, que permitiu que tal provação lhe sobreviesse. A questão em foco
não é se o crente deve ficar doente, mas sim se ele está se opondo a Deus.
Este quer que os seus, quando doentes, esqueçam-se da doença. Sim,
temos de nos esquecer da enfermidade e buscar resolutamente o Senhor.
Suponhamos que a vontade divina seja que eu fique doente e permaneça
assim. Será que estou preparado para aceitar isso? Será que sou capaz de
me humilhar sob a potente mão de Deus sem resistir a ela? Ou será que,
em meio ao sofrimento, estou querendo uma cura que não se encontra
dentro do atual propósito do Senhor para mim? Será que saberei esperar
até que seu propósito para essa enfermidade se cumpra, para depois
pedir-lhe a cura? Ou será que vou buscar outros meios de cura enquanto
ele está me disciplinando? Será que, nas horas de profundo sofrimento,
costumo batalhar por algo que ele não vai conceder de imediato?
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Precisamos examinar profundamente essas questões quando nos
encontramos doentes.
Deus não tem prazer na doença de seus filhos. Pelo contrário, por
causa do seu amor, deseja que gozemos uma vida amena e cheia de paz.
Contudo ele sabe também que existe um perigo. Em tempos de bonança,
nosso amor para com ele, nossas palavras de louvor, e o serviço que lhe
prestamos estão condicionados a um viver tranqüilo. Ele sabe com que
facilidade nosso coração pode afastar-se dele e da sua vontade, buscando
apenas suas bênçãos. Deus permite que nos sobrevenham enfermidades e
outros instrumentos de aflição para que possamos descobrir se queremos
a ele mesmo ou apenas suas dádivas. Se, nos dias de adversidade, não
buscarmos a nada mais, é porque genuinamente queremos a Deus. A
doença revela prontamente se estamos buscando nossos próprios desejos
ou os desígnios divinos.
Ainda abrigamos nossos desejos pessoais. Essas aspirações provam
o quanto o viver diário é dominado por nossos próprios pensamentos.
Tanto na obra de Deus quanto no relacionamento com outros, agarramo-
nos tenazmente a nossos pensamentos e opiniões. Assim, o Senhor tem de
levar-nos até perto das portas da morte, a fim de ensinar-nos como é
insensato de nossa parte resistir-lhe. Ele permite que passemos por águas
profundas, para que sejamos quebrados e nos esqueçamos da nossa
vontade própria, ou seja, aquela conduta que tanto lhe desagrada. Parece
que um grande número de cristãos não segue nada do que o Senhor diz.
Só se dispõem a obedecer após sofrerem aflições físicas. Por isso, depois
que a persuasão por meio do amor perde a eficácia, o Senhor emprega o
método da disciplina. O propósito do castigo é quebrar a vontade do
homem. Todo cristão doente deve pensar seriamente nisso.
Além do desejo e da vontade próprios, Deus também abomina um
coração cheio de amor-próprio. Esse sentimento ameaça a vida espiritual,
destruindo as obras espirituais. Se Deus não remover nosso amor-próprio,
não teremos condições de correr com rapidez nossa carreira espiritual. O
amor-próprio tem muito a ver com o corpo. Dizer que amamos a nós mes-
mos significa que estimamos nosso corpo e nossa vida. Por isso, é para
destruir essa característica odiosa que Deus, muitas vezes, permite
enfermidades. Por causa do nosso amor ao ego, tememos o
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enfraquecimento do nosso corpo. Entretanto é isso que Deus faz,
permitindo que experimentemos a dor. E quando pensamos que vamos
melhorar, a doença se agrava. Queremos continuar vivendo, mas tal
esperança parece extinguir-se. Naturalmente, Deus trata de modo diverso
com cada pessoa. Com algumas, ele age de forma drástica. Com outras,
opera levemente. O propósito divino, porém, é sempre transformar o
coração cheio de amor-próprio. Muitas pessoas fortes precisam ser
levadas até perto das portas da morte para que seu amor-próprio se
desfaça. Que é que lhe resta para amar agora com o corpo enfraquecido, a
vida em perigo, a doença devorando progressivamente a saúde, e a dor
minando-lhe as forças? A essa altura a pessoa está realmente desejando
morrer, desesperada e também sem amor-próprio. Seria o ápice da
tragédia não se voltar para Deus nesse momento, invocando dele sua
promessa de cura.
C) coração do crente está longe do coração divino. Deus permite que
ele fique doente para que se esqueça de si mesmo. Contudo, quanto mais
doente ele fica, maior é o seu amor próprio. Na ansiedade de obter a cura,
ele vive em função de sua doença. Quase todos os pensamentos giram em
torno dele mesmo! Quanta atenção ele agora devota à alimentação,
procurando ver o que deve e o que não deve comer! Como fica
preocupado quando algo sai errado! Ele tem muito cuidado com seu
conforto e com seu repouso. Se sua temperatura oscila, ou se passou uma
noite ruim, fica agoniado, como se isso fosse fatal para sua vida. Como ele
se torna sensível à maneira como outros o tratam! Será que pensam bas-
tante nele? que cuidam bem dele? que o visitam com a freqüência devida?
Passa horas incontáveis, pensando em seu corpo. E assim não tem tempo
para meditar no Senhor ou naquilo que ele pode estar querendo realizar
em sua vida. Em verdade, muitos simplesmente são "enfeitiçados" por
suas próprias doenças! Só sabemos realmente como é excessivo o amor
que temos por nós mesmos quando ficamos doentes.
Deus não tem prazer em nosso amor-próprio. Ele quer que
compreendamos o enorme prejuízo que isso nos causa. O Senhor quer
também que, nas horas de enfermidade, aprendamos a não nos absorver
com nossos sintomas, mas a atentarmos exclusivamente para ele. E seu
desejo que lhe entreguemos nosso corpo por inteiro, aceitando seus
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cuidados. Toda vez que sentirmos um sintoma adverso, devemos nos
voltar para o Senhor, e não para o nosso corpo.
Devido a esse amor ao ego, assim que o crente adoece, busca logo a
cura. Ele não percebe que, antes de suplicar a Deus que o cure, deve
limpar seu coração, abandonando o pecado. Contudo ele está com os
olhos fixos na cura. Não se preocupa em perguntar a Deus por que ele
permitiu essa doença, do que é que ele deve arrepender-se, ou como pode
deixar o Senhor aperfeiçoar sua obra nele. Ele só consegue contemplar a
própria fraqueza. Anseia ficar bom novamente, buscando por toda parte
os meios para a cura. Então, querendo ser curado rapidamente, ele suplica
isso a Deus, e busca informação com o homem. Quando o crente se acha
nessa situação, o Senhor não pode realizar seu propósito na vida dele. E
por essa razão que alguns se curam apenas temporariamente. Depois de
algum tempo, a antiga enfermidade volta. Como pode haver uma cura
duradoura se ele não removeu a raiz da doença?
A enfermidade é um dos métodos que Deus utiliza para falar
conosco. O Senhor não quer que fiquemos ansiosos, buscando a cura
imediatamente. Pelo contrário, ele nos pede para orarmos com atitude de
obediência a ele. Como é triste ver uma pessoa esperando ansiosamente a
cura, e sem poder dizer ao Senhor: "Fala, Senhor, porque teu servo ouve."
Nossa única preocupação é livrar-nos da dor e da fraqueza. Apressamo-
nos em procurar o melhor remédio. A doença nos leva a inventar muitas
formas de cura. Cada sintoma nos atemoriza, e logo nosso cérebro se põe a
trabalhar. Deus parece estar longe de nós. Negligenciamos nossa condição
espiritual. Todos os nossos pensamentos se centralizam no sofrimento e
nas formas pelas quais poderemos obter a cura. Se o remédio faz efeito,
damos graças a Deus. Se o restabelecimento, porém, demora, começamos
a entender mal o amor do nosso Pai. Será que nessa ânsia de nos livrar da
dor, estamos sendo guiados pelo Espírito Santo? Será que achamos que
podemos glorificar a Deus pela força da carne?
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O REMÉDIO
O amor-próprio, naturalmente, cria os seus recursos particulares.
Em vez de os cristãos recorrerem a Deus, objetivando eliminar a raiz da
doença, eles anseiam pela cura, indo buscá-la nos remédios. Não
pretendemos analisar extensamente essa questão, se um crente pode ou
não tomar medicamentos. Todavia queremos dizer que, quando o Senhor
Jesus nos salvou, fez também provisão para nossa cura física. Assim,
parece ignorância, se não incredulidade, recorrer a invenções humanas.
Muitos crentes questionam se os filhos de Deus devem ou não tomar
remédio. Dão a entender assim que, solucionando essa questão, todas as
demais estarão resolvidas. Será que eles estão cientes de que o viver
espiritual não se pauta pelo "poder ou não poder", e sim pela direção
divina? Perguntamos, então: um crente que, levado pelo amor-próprio,
recorre a remédios e busca ansiosamente a cura, está sendo guiado pelo
Espírito Santo? Ou será que está agindo por sua própria decisão? Quando
o homem age segundo sua natureza, geralmente busca a salvação pelas
obras. Só após muita relutância, depois de haver passado por várias
circunstâncias adversas, é que aceita a salvação pela fé. Será que isso
também não acontece em relação à cura do corpo? Com respeito à cura
divina, a luta talvez seja muito mais intensa do que no tocante ao perdão
dos pecados. Os crentes sempre acabam reconhecendo que só poderão
entrar no céu se confiarem no Senhor Jesus para sua salvação. No entanto,
quando se trata da cura física, eles se perguntam por que é que teriam de
depender da salvação do Senhor Jesus, quando existem à sua disposição
tantos recursos médicos. A questão, então, não é saber se podemos ou não
tomar remédios, mas, se o uso deles, por decisão própria do crente, não
limita a salvação de Deus. O mundo já não inventou muitas teorias para
salvar o homem do pecado? Não oferece tantas escolas de filosofia, de
psicologia, de ética e de educação, além de um grande número de rituais,
regras e práticas para ajudar as pessoas a serem boas? Será que nós, os
crentes, podemos aceitar tais recursos como sendo perfeitos e eficazes?
Somos salvos pela obra que o Senhor Jesus consumou na cruz, ou por
esses enganos engenhosos criados pelo homem? De modo semelhante, o
mundo inventou remédios dos mais variados tipos para aliviar o homem
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de suas doenças.Todavia a obra de salvação que o Senhor realizou na cruz
tem relação com o corpo também. Devemos buscar a cura segundo os
métodos humanos ou vamos depender do Senhor Jesus?
Reconhecemos que às vezes Deus utiliza intermediários para
manifestar seu poder e sua glória. Contudo, pelo relato das Escrituras, e
pela experiência dos cristãos, percebemos que, depois da queda do
homem, parece que nossos sentimentos passaram a controlar nossa vida.
Isso produziu em nós uma inclinação natural para buscar esses
intermediários em vez de recorrer a Deus. É por isso que, nas horas de
enfermidade, os crentes têm mais interesse por remédios do que pelo
poder do Senhor. Embora possam proclamar que confiam nesse poder, no
coração estão quase que totalmente confiantes no medicamento, como se
Deus não pudesse exercitar seu poder sem o uso do remédio. Não é de
espantar que eles estejam sempre revelando intranqüilidade, ansiedade e
temor, buscando com afinco e por toda parte os melhores meios de cura.
Não gozam da paz que brota de uma confiança plena em Deus. Como seu
coração se acha tão dominado pela idéia de usar medicamentos, voltam-se
para o mundo e sacrificam a presença de Deus. O plano do Senhor era
trazê-los para mais perto de si, por meio da doença. E no entanto,
exatamente o oposto é que parece estar acontecendo. É possível que alguns
sejam realmente capazes de usar remédios sem prejudicar sua vida
espiritual, mas são poucos. Muitos crentes tendem a confiar mais nos
recursos intermediários do que em Deus. Por conseguinte, sua vida
espiritual passa a sofrer em razão do uso de medicamentos.
Existe uma grande diferença entre a cura através do remédio e a
cura que vem de Deus. O poder do medicamento é natural, enquanto o do
Senhor é sobrenatural. A maneira de obter a cura também é diferente.
Quando usamos o remédio, estamos confiando na inteligência humana.
Quando dependemos de Deus, confiamos na obra e na vida do Senhor
Jesus. Mesmo que o médico seja um crente que suplica a Deus sabedoria e
bênção no emprego do remédio, ele não tom poder para comunicar
bênção espiritual ao enfermo. É que este, inconscientemente, dirigiu sua
esperança de cura para o medicamento, e não para o poder do Senhor.
Embora receba a cura física, sua vida espiritual vai sofrer alguma perda.
Quem realmente confia em Deus entrega-se ao seu amor e ao seu poder.
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Procura investigar a causa de sua doença, isto é, busca saber em que ele
desagradou ao Senhor. Desse modo, quando for curado, será abençoado
espiritual e fisicamente.
Muitos argumentam que já que os remédios vêm de Deus,
certamente podemos tomá-los. Contudo o que queremos enfatizar é isto:
será que o Senhor nos orienta a tomar medicamentos? Não desejamos
discutir se o remédio vem ou não de Deus. Queremos é verificar se Deus
deu o Senhor Jesus aos seus filhos como Salvador dos seus males físicos.
Devemos buscar a cura através do poder natural dos medicamentos, como
fazem os não-crentes e os crentes fracos, ou devemos aceitar o Senhor
Jesus, a quem Deus preparou para nós, confiando totalmente em seu
nome?
Confiar em medicamentos é uma atitude diametralmente oposta a
aceitar a vida do Senhor Jesus. Concordamos que os remédios e outros
recursos médicos possuem eficácia. Entretanto não passam de agentes de
cura naturais, e ficam muito aquém da provisão de Deus para os seus, que
é o melhor para eles. Podemos pedir ao Senhor para abençoar os remédios
e sermos curados. Podemos também dar graças a Deus por eles, depois de
curados, reconhecendo que a cura foi uma operação divina. Entretanto tal
cura não é a mesma que ocorreria se aceitássemos a vida do Senhor Jesus.
Quem age assim está enveredando pelo caminho mais fácil, abandonando
o campo de batalha da fé. As doenças se encaixam no contexto do nosso
conflito com Satanás. Se o único propósito almejado fosse a cura,
poderíamos empregar quaisquer meios. Contudo, como estão em jogo
objetivos mais elevados, será que não deveríamos ficar quietos diante de
Deus, aguardando por sua operação?
Não queremos declarar dogmaticamente que o Senhor nunca
abençoa os remédios. Sabemos que Deus já abençoou muitas vezes, pois
ele é extremamente bom e generoso. Entretanto os cristãos que confiam
unicamente nos medicamentos não estão permanecendo na base da
redenção. Assumem a mesma posição que os homens do mundo. Nessa
questão, não podem dar testemunho de Deus. Tomar comprimidos,
aplicar pomadas e injeções são práticas que não podem nos comunicar a
vida do Senhor Jesus. Quando confiamos em Deus, colocamo-nos numa
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posição acima do natural. A cura pelos medicamentos é sempre lenta e
dolorosa; a cura divina é rápida e abençoada.
O restabelecimento pelos remédios jamais poderá nos conceder o
mesmo proveito espiritual da cura que obtemos quando confiamos em
Deus. Essa é uma verdade irrefutável. Quando alguém está de cama,
doente, arrepende-se profundamente de seus pecados. No entanto, se é
curado pelo uso de medicamentos, afasta-se ainda mais de Deus. Se,
porém, se curasse, esperando e confiando em Deus, não sofreria esse
"efeito colateral". Quem recebe a cura divina confessa seus pecados, nega a
si mesmo, confia no amor de Deus e depende do poder dele. Aceita a vida
e a santidade do Senhor, estabelecendo com ele um relacionamento novo,
que nunca se desfará.
Através da doença, Deus quer nos ensinar a cessar toda atividade
própria, para que passemos a confiar inteiramente nele. Muitas vezes,
quando buscamos a cura ansiosamente, estamos sendo dominados pelo
amor-próprio. Esquecemo-nos de Deus e da lição que ele quer nos ensinar.
Será que, se os crentes se esvaziassem do amor-próprio, buscariam a cura
com tanta ansiedade? Se realmente cessassem suas atividades, buscariam
o auxílio da medicina humana? De modo nenhum. Fariam um auto-exame
cuidadoso diante de Deus, buscando primeiro entender a razão de ser da
doença. Depois, então, pediriam a cura, com base no amor do Pai. Quando
uma pessoa recorre à medicina, busca ansiosamente a cura. Quando se
volta para o poder de Deus, aspira calmamente descobrir qual é a vontade
dele. Os crentes buscam a cura com ansiedade porque estão cheios de
amor-próprio, de desejos impetuosos e de sua própria força. Se
aprendessem a depender do poder divino, reagiriam de forma diferente.
Ao confiar em Deus para a cura, é necessário que confessemos os pecados
e os abandonemos e nos dediquemos totalmente ao Senhor.
Hoje em dia há muitos enfermos. E Deus tem um propósito
específico para cada uma dessas enfermidades. Sempre que abrimos mão
de dominar por meio do "ego", o Senhor cura. Quando os cristãos não
recebem a doença de bom grado, não a vendo como o melhor que Deus
tem para nós, quando eles buscam outros meios de cura que não o Senhor,
recusando-se a submeter-se a ele, adoecem novamente, mesmo depois de
terem sido curados. Se se apegarem ao amor-próprio, e ficarem o tempo
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todo preocupados consigo mesmos, Deus lhes dará mais motivos para
sentirem autopiedade. Ele vai lhes mostrar que a medicina terrena não
pode curar permanentemente. O Senhor quer que seus filhos saibam que
um corpo forte e saudável não é para a satisfação própria, nem para ser usado
segundo os próprios desejos, mas somente para Deus. O espírito de cura é um
espírito de santidade. Carecemos é de santidade; não de cura. Precisamos
ser libertos primeiro é do ego; não da doença.
Quando renunciamos à medicina e a outros meios humanos,
confiando no Pai de coração sincero, verificamos que nossa fé se torna
mais robusta. Iniciamos um novo relacionamento com Deus, e passamos a
viver por uma vida em que antes não confiávamos. Entregamos nosso
corpo, alma e espírito ao Pai celestial. Descobrimos que a vontade de Deus
é manifestar o poder do Senhor Jesus e o amor do Pai. Assim aprendemos
a exercitar fé no sentido de provar que o Senhor redime o corpo e também
o espírito e a alma.
"Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida..."
(Mt 6.25.)
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proveitosa do que a doença? Reconhecemos que é durante a enfermidade
que muitos crentes abandonam seus pecados e passam a gozar de uma
comunhão mais profunda com Deus. Admitimos que muitos inválidos e
enfermos são extremamente santos e espirituais. Contudo precisamos
dizer também que muitos cristãos se encontram bastante confusos em
várias questões.
Um doente pode ser santo, mas tal santidade é um tanto anormal.
Quem sabe se depois de restabelecido e, tendo liberdade de escolha, ele
não voltará ao mundo e ao amor a si mesmo? Doente, ele é santo. Com
saúde, torna-se mundano. Então ele crê que o Senhor precisa mantê-lo
enfermo prolongadamente, a fim de conservá-lo santo. Para ser santo, ele
depende da doença! Entendamos, porém, que, para termos uma vida com
o Senhor, de modo nenhum precisamos estar restritos à enfermidade.
Jamais abriguemos o pensamento de que, se um indivíduo não estiver sob
o jugo da doença, não terá forças para glorificar a Deus em suas
obrigações diárias. Pelo contrário, ele deve ser capaz de manifestar a vida
do Senhor normalmente no seu viver diário. É muito bom sermos capazes
de suportar o sofrimento, mas não será muito melhor podermos obedecer
a Deus quando cheios de saúde?
Devemos reconhecer que a cura — a cura divina — é algo que
pertence a Deus. Na ânsia de buscar a cura por meio da medicina,
naturalmente nos afastamos dele. Por outro lado, quando aspiramos ser
curados pelo Senhor, nos aproximamos dele. Quem é curado por Deus
glorifica-o mais do que quem está sempre enfermo. A doença pode
glorificar a Deus, pois lhe oferece uma oportunidade de manifestar seu
poder de curar (Jo 9.3). Contudo, como é que alguém que permanece
doente por um período muito longo pode glorificá-lo? Quando Deus nos
cura, testemunhamos do seu poder e também da sua glória.
O Senhor Jesus nunca ensinou que a doença é uma bênção que seus
seguidores devem suportar até à morte. Em nenhum momento ele deu a
entender que ela fosse uma expressão do amor do Pai. Ele conclama seus
discípulos a tomarem a cruz, mas não permite que o doente permaneça
enfermo por muito tempo. O Senhor afirma que devemos sofrer por ele,
mas nunca que devemos ficar doentes por ele. O Senhor prediz que neste
mundo teremos tribulações, mas não inclui a doença entre elas. Ele
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suportou profundo sofrimento aqui na Terra, mas nunca ficou doente.
Além do mais, toda vez que encontrou alguém enfermo, ele curou. Ele
ensina que a doença vem do pecado e do diabo.
Precisamos fazer distinção entre sofrimento e doença. "Muitas são as
aflições do justo", observa o salmista, "mas o Senhor de todas o livra.
Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado." (Sl
34.19,20.) "Está alguém entre vós sofrendo?", pergunta Tiago. Então "faça
oração" para obter graça e força. O apóstolo continua: "Está alguém entre
vós doente? Chame os presbíteros da igreja" para que seja curado
(5.13,14).
Em 1 Coríntios 11.30-32, Paulo analisa essa questão das
enfermidades do crente de forma bastante abrangente. A doença é a
disciplina de Deus. Se o cristão se dispuser a julgar a si mesmo, Deus
afastará a enfermidade. Ele não deseja que os seus fiquem doentes por
muito tempo. Nenhuma disciplina é permanente. Removida a causa,
desaparece o castigo. "Toda disciplina, com efeito, no momento não parece
ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, (os crentes
tendem a se esquecer dos "depois" de Deus) produz fruto pacífico aos que
têm sido por ela exercitados, fruto de justiça" (Hb 12.11). Vemos, então,
que a disciplina é apenas momentânea. Depois, vem o excelente fruto de
justiça. Não devemos interpretar a disciplina de Deus como punição.
Estritamente falando, os crentes não são mais julgados. Em 1 Coríntios
11.31, Paulo confirma essa ideia. Não devemos mais pensar de acordo com
o conceito de lei, como se para cada pecado houvesse uma punição
correspondente. O que temos aqui não é um problema judicial, mas
familiar.
Voltemos ao proveitoso ensino bíblico a respeito do nosso corpo. O
ensinamento de 3 João 2 pode derrubar completamente o conceito errado
de alguns: "Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e
saúde, assim como é próspera a tua alma." Essa é a oração do apóstolo
João, conforme a revelação do Espírito Santo, expressando o pensamento
eterno de Deus a respeito do corpo do crente. Deus não quer que seus
filhos passem a vida toda doentes, incapazes de servi-lo com diligência.
Ele os quer fisicamente saudáveis, assim como a alma deles está saudável.
Por isso, podemos concluir, sem sombra de dúvida, que a doença
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prolongada não é da vontade de Deus. Ele pode nos disciplinar
temporariamente, através da doença, mas não tem prazer na enfermidade
demorada.
Em 1 Tessalonicenses 5.23, Paulo reafirma que a doença ex-
cessivamente prolongada não é da vontade de Deus. Nosso corpo deve
estar como o espírito e a alma. O Senhor não se compraz em ver nosso
corpo fraco, doente e atormentado pela dor, ao passo que nosso espírito e
alma se acham sãos e inculpáveis. Seu propósito é salvar o homem todo, e
não apenas parte dele.
A obra do Senhor Jesus revela também a vontade de Deus com
respeito à doença, pois ele só fez a vontade do Pai. Na cura do leproso,
por exemplo, ele descortina para nós, de modo especial, o coração de Deus
para com o doente. O leproso suplicou: "Senhor, se quiseres, podes
purificar-me". Vemos aqui um homem batendo à porta do céu,
perguntando se é a vontade de Deus curar. O Senhor estendeu a mão,
tocou-o, e disse: "Quero, fica limpo!" (Mt. 8.2,3.) Com freqüência, a cura re-
vela a mente de Deus. Aquele que pensa que Deus está relutante em curar,
não conhece a vontade divina. Em seu ministério terreno, o Senhor Jesus
"curou iodos os que estavam doentes" (v. 16 - grifo do autor). Como é que
podemos declarar arbitrariamente que ele agora mudou de atitude?
O interesse de Deus para nós hoje é que a vontade divina seja feita
na terra assim como é feita no céu (Mt 6.10). A vontade de Deus é
realizada no céu, onde não existe enfermidade. Ela é absolutamente
incompatível com a doença. Às vezes, os cristãos pedem a cura divina,
mas logo perdem a esperança, dizendo em seguida:"Seja feita a vontade
do Senhor."
Parece que para eles a vontade do Senhor é sinônimo de doença e
morte. Essa atitude é um erro muito grave. Deus não deseja que seus
filhos fiquem doentes, embora algumas vezes permita que isso aconteça,
para o benefício deles. Seu plano eterno é que seu povo tenha saúde. O
fato de não haver doença no céu mostra de maneira absoluta qual é a
vontade de Deus.
Se analisarmos bem a fonte das enfermidades, teremos mais um
motivo para buscar a cura. Todos os doentes eram "oprimidos do diabo"
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(At 10.38). Acerca da mulher que estava encurvada, e não podia
endireitar-se, o Senhor Jesus disse que Satanás a "trazia presa" (Lc 13.16).
Ao curar a sogra de Pedro, ele "repreendeu a febre" (Lc 4.39), da mesma
forma que repreendeu os demônios (veja versículos 31 a 41). Lendo o
Livro de Jó, vemos que quem causou a doença dele foi o diabo (capítulo 1
e 2). E quem o curou foi Deus (capítulo 42). O espinho que importunava e
enfraquecia Paulo era um "mensageiro de Satanás" (2 Co 12.7); mas quem
o fortaleceu foi Deus. Quem tem o poder da morte é o diabo (Hb 2.14).
Sabemos que a doença culmina com a morte, pois é uma de suas facetas.
Assim como Satanás tem o poder da morte, tem também o das doenças,
pois aquela nada mais é que o auge do processo de enfermidade.
Essas passagens deixam claro que a doença tem sua origem no
diabo. Deus permite que Satanás ataque seus filhos, porque existem
pecados na vida deles. Quem se recusa a abandonar o pecado que o
Senhor requer que ele deixe, permitindo assim que a enfermidade
continue em sua vida, está agindo como se tivesse virado as costas a uma
ordenança divina, dando as boas-vindas à doença. Com isso, esse
indivíduo se coloca voluntariamente sob a opressão de Satanás. Quem
seria tão obtuso a ponto de querer retornar à escravidão, depois de ter
obedecido à vontade revelada de Deus? Reconhecendo que a doença
procede do diabo, devemos resistir-lhe. Temos de estar cientes de que ela
provém do inimigo, por isso não devemos acolhê-la. O Filho de Deus veio
para nos libertar, não para nos prender.
Por que Deus não remove nossas enfermidades quando elas já não
são necessárias? Essa é uma pergunta que muitos crentes fazem.
Atentemos para o princípio pelo qual o Senhor lida conosco, e que é
sempre este: "Seja feito conforme a tua fé" (Mt 8.13). Deus deseja que seus
filhos sejam sempre saudáveis, mas permite que continuem doentes por
causa da incredulidade e da falta de oração. Se os servos de Deus
consentem em ter a doença — ou pior ainda — se a acolhem, como se ela
fosse livrá-los do mundo e torná-los mais santos, o Senhor não pode fazer
nada a não ser conceder-lhes o que pedem. Muitas vezes, Deus lida com
seus filhos de acordo com o que eles podem receber. Ele pode ter grande
prazer em curá-los, mas, pelo fato de não orarem com fé, perdem essa
dádiva preciosa.
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Será que somos mais sábios do que Deus? Devemos ir além daquilo
que a Bíblia revela? Embora o quarto do doente possa, muitas vezes, ser
como um santuário onde o homem interior se move poderosamente, a
enfermidade não é a vontade expressa de Deus, nem o melhor que ele tem
para nós. Se seguirmos nossos caprichos emocionais, desprezando a
vontade revelada do Senhor, ele nos dará aquilo que desejamos. Muitos
crentes, crendo estar sendo muito espirituais, dizem o seguinte:
"Coloco-me nas mãos do Senhor para que ele me cure ou não.
Permito-lhe fazer sua vontade."
São essas pessoas que geralmente tomam remédios. Será que isso
significa entregar tudo a Deus? Como essa atitude é contraditória! A
submissão, nesse caso, é apenas um sinal de letargia espiritual. No íntimo,
esses crentes anseiam por ter saúde. Entretanto o simples desejo não basta
para que Deus opere. Aceitaram a doença passivamente por tanto tempo
que terminam sucumbindo a ela, perdendo toda a coragem de buscar a
liberdade. Para eles, o melhor seria que outro cristão cresse em seu lugar,
ou então que Deus lhes concedesse a fé necessária para crer. No entanto,
se eles não ativarem sua vontade, resistindo ao diabo e apegando-se ao
Senhor Jesus, a fé dada por Deus não virá. Muitos estão enfermos sem ne-
nhuma necessidade, simplesmente por não terem forças para lançar mão
das promessas divinas.
Então, devemos entender que a bênção espiritual que recebemos
pela doença é muito inferior à que obtemos pelo restabelecimento. Se
confiarmos em Deus, buscando nele a cura, com certeza continuaremos a
andar em santidade depois de curados, a fim de preservar nossa saúde.
Quando o Senhor nos torna saudáveis, passa a possuir nosso corpo. A
alegria de um novo relacionamento e de uma nova experiência com ele é
indescritível, não tanto por causa da cura, mas por causa do novo toque
de vida que recebemos. Nessas ocasiões, os crentes glorificam ao Senhor
muito mais do que na hora da enfermidade.
Portanto os servos de Deus devem levantar-se e lutar pela cura.
Antes, porém, precisamos ouvir o que o Senhor tem a nos dizer através da
doença. Depois, com sinceridade de coração, cumpramos tudo aquilo que
ele nos revelou. Além disso, entreguemos novamente o corpo ao Senhor.
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Se pudermos recorrer aos anciãos da igreja que possam nos ungir com
óleo (Tg 5.14,15), vamos chamá-los e cumprir a ordem das Santas
Escrituras. Ou então exercitemos a fé com serenidade, tomando posse da
promessa de Deus (Êx 15.26). Deus há de curar-nos. 2
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completo e ilimitado, enquanto que, com a doença, ele o faz apenas em
parte.
Na redenção, Deus trata a enfermidade de modo diferente do
pecado. A destruição do pecado é absolutamente ilimitada; já a da doença,
não. Timóteo, por exemplo, continuou com o estômago fraco. O Senhor
permitiu que seu servo continuasse com essa enfermidade. Portanto, na
salvação, Deus erradica o pecado de modo completo, mas não a doença.
Alguns cristãos afirmam que o Senhor Jesus trata com o pecado, mas não
com a doença. Outros acreditam que o tratamento da doença é tão amplo
e abrangente quanto o do pecado. Contudo as Escrituras mostram com
toda clareza que o Senhor Jesus trata tanto com o pecado quanto com a
doença. Enquanto o tratamento com o pecado é ilimitado; com a doença, é
limitado. Devemos contemplar o Cordeiro de Deus tirando todo o pecado
do mundo. Ele carregou o pecado de todas as pessoas. O problema do
pecado, portanto, já está resolvido. Já a doença ainda acomete os servos de
Deus.
Nós, porém, afirmamos que entre os filhos de Deus não deveria
haver tanta enfermidade, pois o Senhor Jesus já levou sobre si nossas
doenças. Sem sombra de dúvida, enquanto Jesus esteve neste mundo, ele
se empenhou em curar os enfermos. A cura foi um dos aspectos de seu
ministério. A profecia de Isaías 53.4 cumpriu-se em Mateus 8 e não em
Mateus 27. Realizou-se antes do Calvário. Se tivesse sido realizada na cruz,
ela seria ilimitada. Mas, não. O Senhor Jesus levou sobre si as nossas
doenças antes da crucificação. Isso significa que, nesse aspecto, sua obra
não apresenta resultados ilimitados, como acontece com nossos pecados,
que ele levou até à cruz.
Mesmo assim, inúmeros crentes permanecem doentes porque
perderam a oportunidade de serem curados. Não conseguem ver que o
Senhor já levou sobre si as nossas enfermidades. E com relação a isso,
vamos acrescentar algumas palavras mais. Sempre devemos orar pedindo
a cura, a não ser que tenhamos a mesma convicção de Paulo. Ele orou três
vezes, mas depois teve certeza de que sua fraqueza permaneceria por ser-
lhe útil. Somente depois que ele orou pela terceira vez, quando então o
Senhor lhe mostrou claramente que sua graça lhe bastava, e que sua força
seria aperfeiçoada, na fraqueza, foi que Paulo a aceitou. Enquanto não
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tivermos certeza de que Deus quer que levemos nossas fraquezas, de-
vemos pedir com ousadia que ele mesmo as leve, e remova a enfermidade.
Não é para ficar doentes que os servos de Deus estão aqui na Terra, mas
para glorificar ao Senhor. Se pela doença trouxerem glória a Deus, será
ótimo. Contudo nem todas as enfermidades o glorificam.
Consequentemente, devemos aprender a confiar no Senhor enquanto
doentes, reconhecendo que ele carrega sobre si também a nossa enfer-
midade. Enquanto ele estava aqui no mundo, curou um grande número
de pessoas, e ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Entreguemos
nossa enfermidade a ele, pedindo-lhe a cura
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O cristão deve entender que a ansiedade de nada adianta. Ele
pertence a Deus, por isso sua cura não é tão simples. Ainda que ele seja
curado agora, adoecerá de novo. Primeiro precisa resolver seu problema
com o Senhor; o problema do corpo poderá ser resolvido depois.
Devemos nos dispor para aceitar qualquer lição que nos venha pela
doença. A razão é que, colocando-nos diante de Deus, resolveremos
muitos dos nossos problemas. Descobriremos, por exemplo, que muitas
vezes a doença se deve a algum pecado. Depois de confessá-lo, pedindo o
perdão, podemos esperar que Deus nos cure. E quem tiver avançado um
pouco mais na comunhão com o Senhor, talvez possa descobrir que o
problema é fruto de um ataque do inimigo. Ou então que nossa falta de
saúde se deve a uma disciplina de Deus. O Senhor nos corrige por meio da
doença para tornar-nos mais santos, mais brandos ou mais maleáveis.
Quando colocamos essas questões diante de Deus, podemos descobrir a
causa exata de nossa enfermidade. Algumas vezes, o Senhor poderá per-
mitir que recebamos alguma ajuda médica; de outras, porém, ele poderá
curar-nos instantaneamente, sem essa ajuda.
Precisamos entender que a cura está nas mãos de Deus. Devemos
aprender a confiar naquele que cura. No Antigo Testamento, Deus tem
um nome especial: "Eu sou o Senhor, que te sara" (Êx.15.26). Devemos
buscá-lo, pois ele será misericordioso para conosco nisso também.
Assim, o primeiro passo do crente ao adoecer é procurar descobrir a
causa da enfermidade. Depois, ele pode recorrer aos diversos meios de
cura, um dos quais é chamar os presbíteros da igreja para orar e ungi-lo
com óleo. Essa é a única ordem na Bíblia a respeito da doença.
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"presbíteros" da igreja para ungir-nos com óleo. Isso representa o óleo da
Cabeça que flui para nós, membros do corpo. O óleo que a Cabeça recebe
desce pelo corpo inteiro. Como membros do corpo de Cristo, podemos
esperar que o óleo derramado sobre a Cabeça venha até nós. E onde a vida
flui, a doença desaparece. Portanto o propósito da unção é trazer a nós o
óleo da Cabeça. É possível que, por causa de alguma desobediência, de
pecado ou outra razão, o crente tenha se desligado da circulação do corpo,
perdendo a proteção que vem dele. Por isso, precisa chamar os presbíteros
da igreja para reintegrá-lo à circulação e ao fluxo da vida do corpo de
Cristo. Quando algum membro do nosso corpo físico está enfermo, a vida
não pode fluir livremente para ele. O mesmo acontece no corpo de Cristo.
Desse modo, a unção com óleo tem por objetivo restaurar esse fluxo. Os
presbíteros representam a igreja. Eles ungem o crente em nome do corpo
de Cristo, a fim de que o óleo da Cabeça possa voltar a fluir para ele.
Então, que o óleo da Cabeça venha sobre aquele membro no qual a vida
foi obstruída! Nossa experiência mostra que tal unção pode levantar
instantaneamente até alguém que se acha gravemente enfermo.
Alguns já reconheceram que a causa de sua doença é o
individualismo. E isso, de fato, pode ser a causa principal. Existem
cristãos fortemente individualistas. Fazem tudo por si mesmos, conforme
sua própria vontade. Se Deus pesa a mão sobre eles, adoecem, porque não
recebem as forças que vêm do corpo de Cristo. Não podemos, de forma
nenhuma, achar que tal assunto é simples. As causas das doenças podem
ser muitas e variadas. Um crente pode ter uma enfermidade por estar
desobedecendo a um mandamento do Senhor, recusando-se a realizar a
vontade dele. Outros podem adoecer em conseqüência de algum pecado
em particular. Outros, ainda, sofrem os efeitos do individualismo. Há
alguns casos de atitude independente, que Deus ignora e não disciplina.
Em outros, porém, ele envia uma doença com o objetivo de corrigir o
crente, principalmente se quem toma essa atitude conhece a igreja. Esses,
o Senhor não deixa sem a disciplina devida.
É possível também que a enfermidade seja a conseqüência de um
físico enfraquecido. Se alguém profanar o próprio corpo, Deus destruirá
esse "templo". Muitos se acham enfermos porque adotam práticas que
prejudicam o corpo.
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Resumindo, podemos dizer que toda doença tem uma causa.
Quando um crente contrai uma enfermidade, deve logo procurar
identificar as causas dela. Depois de confessá-las, uma por uma, a Deus,
deve chamar os presbíteros da igreja para cumprir a ordenança de
confessar os pecados uns aos outros, e orar uns pelos outros. Em seguida,
os presbíteros devem ungir o doente com óleo, para que a vida do corpo
de Cristo lhe seja restaurada. O influxo da vida nele fará desaparecer a
doença. Cremos nas causas naturais, mas temos de afirmar, também, que
as espirituais têm maior peso que as naturais. Se cuidarmos das
espirituais, a doença desaparecerá por completo.
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cheios de desespero, ansiosos para sermos curados, e temos tanto medo de
morrer?
É sempre bom ter em mente que as doenças estão nas mãos de Deus.
Ele as controla e limita. No caso de Jó, depois que se encerrou seu período
de provação, a doença desapareceu, pois já tinha realizado seu propósito
nele. "Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu;
porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo." (Tg.5.11.) É
uma pena que tantos crentes estejam doentes, mas não reconheçam o
propósito da doença, nem aprendam sua lição! Todas as enfermidades
estão nas mãos do Senhor e vêm a cada um de nós na medida exata de
nossa necessidade, para que possamos aprender as lições. Quanto mais
cedo aprendermos, mais rápido ficaremos livres delas.Vamos ser francos.
Muitos estão doentes porque amam demais a si mesmos. Se o Senhor não
remover esse amor-próprio do coração deles, não poderá usá-los em seu
reino. Portanto temos de abandonar o amor-próprio. Alguns não pensam
em mais nada, a não ser em si mesmos. O cosmo inteiro parece girar ao
redor deles. Eles são o centro da Terra e também do Universo. Dia e noite,
estão voltados para si mesmos. Todos existem em função deles. Tudo gira
ao seu redor. Até mesmo Deus, nos céus, é para eles; Cristo é para eles; a
igreja, também. Como é que o Senhor pode destruir tal egocentrismo? Por
que é que algumas doenças são difíceis de curar? Observemos que tais
doentes buscam intensamente a compaixão dos outros. Se parassem de
desejar essa piedade, sua doença logo desapareceria.
Um fato impressionante é que muitos estão doentes simplesmente
porque gostam de tal situação. Quando enfermos, recebem muita atenção
e amor de que comumente não desfrutam quando estão com saúde. É
muito comum essas pessoas adoecerem só para poder ser amadas. Tais
indivíduos precisam de uma repreensão severa. Se estivessem dispostos a
receber a correção de Deus nessa questão em particular, logo ficariam
curados.
Conheço um irmão que procurava receber amor e atenção de outros
o tempo todo. Sempre que lhe perguntavam como estava passando,
normalmente respondia queixando-se de seus problemas de saúde. Dava
um relatório detalhado de quantos minutos estivera com febre, quanto
tempo durara a dor de cabeça, quantas vezes por minuto respirava, e
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como a batida do seu coração estava irregular. Vivia em constante
desconforto. Gostava de falar aos outros sobre seus problemas, para que
pudessem se compadecer dele. Não conversava sobre outro assunto a não
ser a interminável história de suas doenças. E às vezes ainda queria saber
por que Deus nunca o curava.
Reconheço que é difícil falar a verdade, o que às vezes pode nos
custar caro. Certo dia, senti-me impulsionado a dizer-lhe, com todo
carinho, que sua doença prolongada se devia ao amor que ele tinha por
ela. Ele naturalmente negou. No entanto insisti, dizendo que ele tinha
medo de que sua enfermidade desaparecesse. Disse-lhe que desejava a
compaixão, o amor e o cuidado dos outros, e como não podia obter essas
coisas de outra forma, conseguia-as por meio da doença. Disse-lhe tam-
bém que ele devia livrar-se desse desejo egoísta, para que Deus pudesse
curá-lo. Falei-lhe que, quando alguém lhe perguntasse como estava, devia
dizer: "Está tudo bem". Será que estaria mentindo se disesse isso quando
não tivesse passado bem a noite? Nesse caso, ele devia lembrar-se da
mulher de Suném. Ela deitou o filho morto na cama do homem de Deus e
foi em busca de Eliseu. Quando lhe perguntaram: "Vai tudo bem contigo,
com teu marido, com o menino? Ela respondeu: Tudo bem" (2 Reis 4.26).
Como podia ela dizer isso, sabendo que a criança já estava morta e deitada
sobre a cama de Eliseu? Porque tinha fé. Ela cria que Deus ia ressuscitar
seu filho. Assim também o irmão devia crer hoje.
Seja qual for a causa de uma enfermidade, venha ela de dentro ou de
fora, ela terminará quando Deus tiver realizado seus propósitos nesse
indivíduo. Os casos de Paulo, Timóteo e Trófimo são exceções. Embora
eles tivessem experimentado doenças prolongadas, reconheciam que isso
era útil para sua obra. Aprenderam a cuidar de si mesmos para a glória de
Deus. Paulo persuadiu Timóteo a tomar um pouco de vinho e a ter mais
cuidado com o que comia e bebia. A despeito da fragilidade da saúde
deles, não negligenciaram a obra de Deus. O Senhor lhes deu graça
suficiente para vencer as dificuldades. Paulo trabalhou apesar de sua
fraqueza. Lendo seus escritos, podemos facilmente concluir que ele
realizou o trabalho de dez homens. Deus usou esse indivíduo fraco para
fazer o serviço de mais de dez pessoas sãs. Embora seu corpo fosse frágil,
o Senhor lhe deu força e vida. Esses homens, porém, são exceções na
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Bíblia. Hoje também alguns servos de Deus, em condições especiais,
podem receber o mesmo tratamento. Entretanto os crentes em geral,
principalmente os iniciantes, devem se examinar para ver se pecaram.
Depois de confessar seus pecados, verão suas doenças curadas
imediatamente.
Finalmente, precisamos entender, perante o Senhor, que algumas
vezes Satanás pode desfechar ataques repentinos contra nós. Ou então nós
mesmos, inadvertidamente, podemos violar alguma lei natural. Mesmo
que seja esse o caso, podemos levar isso diante do Senhor. Se for um
ataque do inimigo, vamos repreendê-lo em nome do Senhor. Certa vez,
uma irmã teve uma febre prolongada. Afinal descobriu que se tratava de
um ataque satânico. Ela a repreendeu em nome do Senhor. E a febre
desapareceu. Se alguém violar uma lei natural, colocando a mão no fogo,
por exemplo, ela certamente ficará queimada. Vamos cuidar bem de nós
mesmos. Não esperemos adoecer para depois confessar nossa negligência.
E importante cuidar bem do corpo constantemente.
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Não é verdade que o primeiro problema que temos com uma doença
é a dúvida quanto ao poder divino? Olhando a bactéria através de um
microscópio, o poder dela parece maior que o poder de Deus. Raramente
Jesus interrompia alguém quando a pessoa ainda estava falando. Aqui,
porém, ele parece irado (que o Senhor me perdoe por falar assim).
Quando ele ouviu o pai da criança dizer: "Se tu podes alguma coisa, tem
compaixão de nós e ajuda-nos", ele bruscamente reagiu dizendo: "Por que
dizes se podes? Todas as coisas são possíveis ao que crê. Na doença, a
questão não é se eu posso, mas se você crê"
Portanto a primeira providência que temos de tomar na doença é
levantar a cabeça e dizer:
"Senhor, tu podes!"
Vamos recordar o primeiro estágio da cura do paralítico. O Senhor
perguntou aos fariseus: "Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão
perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?"
(Mc.2.9.) Os fariseus naturalmente pensaram que era mais fácil dizer que
os pecados estavam perdoados, pois quem poderia provar se estavam ou
não? Entretanto as palavras que o Senhor disse e os efeitos delas
mostraram-lhes que, além de curar as doenças, ele podia perdoar os
pecados. Ele não perguntou o que era mais difícil, mas o que era mais
fácil. Para ele, ambos eram igualmente fáceis. Para o Senhor, era tão fácil
ordenar ao paralítico que se levantasse e andasse, como perdoar os seus
pecados. Para os fariseus, ambos eram difíceis.
(b) A vontade do Senhor: Deus quer. Sim, ele realmente pode, mas
como posso saber se ele quer? Não conheço a vontade dele. Talvez ele não
queira me curar. Vejamos mais uma história encontrada em Marcos.
"Aproximou-se dele um leproso rogando-lhe, de joelhos: Se quiseres,
podes purificar-me. Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão,
tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo!" (Mc 1.40,41.)
Por maior que seja o poder de Deus, se ele não quiser curar, seu
poder não vai me valer. O primeiro problema a ser resolvido é: Deus
pode? E o segundo é: Deus quer? Não existe doença mais impura do que a
lepra. Ela é tão impura que a lei estabelecia que qualquer um que tocasse
num leproso tornava-se impuro também. E no entanto o Senhor Jesus
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tocou no leproso e disse-lhe: "Quero". Se ele quis curar o leproso, com
mais razão ainda quer curar-nos de nossas doenças. Podemos proclamar
com ousadia: "Deus pode" e "Deus quer".
(c) A ação do Senhor: Deus faz. Há algo mais para Deus fazer. "Em
verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te
no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz,
assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração
pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco." (Mc 11.23,24.)
Como é que a fé age? A fé crê que Deus pode, que ele quer e que já o fez.
Se crermos que recebemos, certamente receberemos. Se Deus nos der sua
Palavra, poderemos agradecer-lhe, dizendo:
"Deus me curou; ele já operou a cura!"
Muitos crentes apenas esperam ser curados. A esperança vê os fatos
no futuro; já a fé as considera no passado. Se realmente crermos, não
vamos esperar vinte anos, nem cem anos. Levantamo-nos imediatamente,
dizendo:
"Graças a Deus, ele me curou! Graças a Deus, já recebi! Graças a
Deus, estou limpo! Graças a Deus, estou bem!"
Uma fé perfeita pode proclamar que Deus pode, que Deus quer e
que Deus já realizou o ato.
A fé opera com o que "é", e não com o que "se deseja". Permita-me
uma ilustração simples. Suponhamos que pregamos o evangelho para
alguém e ele confessa que creu. Perguntamos-lhe, então, se ele está salvo.
Se essa pessoa responder que deseja ser salva, sua resposta é inadequada.
Se ela disser: "Serei salva", a resposta ainda está incorreta. Mesmo que ela
diga: "Tenho certeza de que serei salva", ainda está faltando algo. Se ela
responder: "Estou salva", aí sim, está certa. Quem crê está salvo. A fé
sempre vê os fatos no passado, isto é, já acontecidos. A fé verdadeira não
diz: "Creio que serei curado". Quem crê agradece a Deus e diz: "Recebi a
cura".
Guardemos estas três verdades: Deus pode, Deus quer, Deus faz.
Quando nossa fé atinge o terceiro estágio, a doença se vai.
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3. Deus, a Vida do Corpo
Dissemos anteriormente que nosso corpo é o templo do Espírito
Santo. O que mais chama nossa atenção com relação a esse assunto é a
ênfase especial que o apóstolo Paulo confere ao corpo. A idéia corrente é
que a vida de Cristo é para o nosso espírito, mas não para o corpo. Poucos
entendem que a salvação do Senhor dá vida ao primeiro (o espírito), e de-
pois alcança o segundo (o corpo). Se fosse da vontade de Deus que seu
Espírito vivesse somente em nosso espírito, de modo que só este fosse
beneficiado, o apóstolo teria dito apenas que "vosso espírito é o templo de
Deus", sem fazer nenhuma menção ao corpo. No entanto precisamos
entender que o fato de o nosso corpo ser templo do Espírito Santo
significa que ele não é apenas um recipiente de um privilégio especial.
Tem também o sentido de que o corpo é um canal de poder eficaz. O
Espírito Santo, que habita em nós, fortalece nosso homem interior, ilumina
os olhos do nosso coração e torna nosso corpo sadio.
Já observamos também que o Espírito Santo vivifica este nosso
corpo mortal. Não é necessário esperar até à morte para ele nos
ressuscitar, pois agora mesmo ele confere vida ao nosso corpo. No futuro,
ele ressuscitará esse corpo corruptível. Hoje mesmo, porém, ele vivifica o
corpo mortal. O poder da sua vida penetra em cada uma de nossas células,
a fim de que possamos experimentar seu poder e sua vida em nosso cor-
po.
Não precisamos considerar este nosso invólucro como uma triste
prisão, pois podemos ver a vida de Deus manifesta nele. Podemos
experimentar, no presente, de maneira mais profunda, esta declaração:
"Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.20). Cristo
tornou-se agora nossa fonte de vida. Hoje ele vive em nós da mesma
maneira que antes viveu na carne. Assim podemos compreender de ma-
neira plena o alcance de suas palavras: "Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância" (Jo 10.10). Essa vida mais abundante é suficiente
para suprir todas as necessidades do nosso corpo. Paulo exorta a Timóteo
a tomar "posse da vida eterna" (1 Tm 6.12). Certamente, Timóteo aí não
está necessitando da vida eterna para sua salvação. Não é essa vida que
Paulo, nesse capítulo, chama de a "verdadeira vida" (v.19)? Ele não está
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instando com Timóteo para experimentar a vida eterna no presente, no
sentido de vencer cada manifestação da morte?
Desde já queremos dizer aos nossos leitores que não perdemos de
vista o fato de que nosso corpo é realmente mortal. Mesmo assim nós, que
somos do Senhor, podemos em verdade possuir o poder daquela vida que
"devora" a morte. Em nosso corpo, existem duas forças em ação: a morte e
a vida. De um lado, está o desgaste natural que nos conduz para a morte.
Do outro, está o reabastecimento que fazemos através do alimento e do
descanso, que sustentam a vida. Ora, o desgaste excessivo enfraquece o
corpo, porque a força da morte é muito grande. Contudo um suprimento
excessivo também dá sinais de congestão, pois a força da vida é forte
demais. A melhor atitude é manter essas duas forças em equilíbrio. Além
disso, precisamos compreender que o cansaço físico que os crentes muitas
vezes experimentam é, em diversos aspectos, bem distinto do das pessoas
comuns. O desgaste dos cristãos não é apenas físico. Como eles andam
com o Senhor, levam as cargas uns dos outros, têm compaixão dos irmãos,
trabalham para Deus, intercedem diante dele, combatem as potestades das
trevas e esmurram seu corpo para subjugá-lo, o alimento e o descanso não
são suficientes para operar a reposição das energias perdidas. Em parte,
isso explica por que muitos crentes, que antes de serem chamados para
servir a Deus eram saudáveis, pouco depois tornaram-se fisicamente
débeis. Nossas forças físicas não se acham à altura das exigências da vida,
da obra e da batalha espiritual. O combate contra o pecado, contra os
pecadores e contra os espíritos malignos minam nossa vitalidade. Os
recursos naturais apenas não bastam para suprir nossas necessidades fí-
sicas. Precisamos depender da vida de Cristo, pois somente ela pode
sustentar-nos. Se confiarmos no alimento material, na nutrição e nos
remédios, estaremos cometendo um erro grave. Somente a vida do Senhor
Jesus satisfaz mais do que suficientemente todas as necessidades físicas da
nossa vida, do serviço cristão e da batalha espiritual. Só ele nos concede a
vitalidade necessária para atacarmos o pecado e Satanás. Assim que o
crente entende o que é a batalha espiritual, e aprende a lutar em espírito
com o inimigo, começa a reconhecer o grande valor do Senhor Jesus como
vida para seu corpo.
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Todo crente precisa enxergar com clareza que está unido com o
Senhor. Ele é a videira, e nós, os ramos. Assim como os ramos estão
unidos ao tronco, assim também estamos unidos com o Senhor. Unidos ao
tronco, os ramos recebem o fluxo da vida da planta. Nossa união com o
Senhor produz os mesmos resultados. Entretanto, se acharmos que essa
união se limita ao espírito, a fé se levantará para protestar. Como Deus
nos chama para mostrar ao mundo a realidade da nossa união com Cristo,
ele quer que creiamos nesses fatos e recebamos o fluxo de sua vida para o
nosso espírito, alma e corpo. Se nossa comunhão for cortada, nosso
espírito certamente perderá a paz, e o corpo não terá saúde. Se
permanecermos em Cristo, a vida dele estará continuamente enchendo
nosso espírito e fluindo para o nosso corpo. Se não participarmos da vida
do Senhor Jesus, não poderemos receber cura nem saúde. Deus deseja que
seus filhos hoje experimentem uma união mais profunda com o Senhor
Jesus.
Devemos reconhecer, então, que os fenômenos que ocorrem em
nosso corpo são de natureza espiritual. A cura divina e o aumento de
nossas forças são experiências espirituais, e não apenas físicas, embora
aconteçam no corpo. Na verdade, tais experiências são a manifestação da
vida do Senhor Jesus em nosso corpo mortal. Primeiro, a vida do Senhor
ressuscitou nosso espírito que estava morto. Agora ela vivifica nosso
corpo mortal. Deus quer que deixemos a vida ressurreta, gloriosa e
vitoriosa de Cristo manifestar-se em cada parte do nosso ser. Ele nos
conclama a renovar nosso vigor por intermédio de Cristo, diariamente e a
cada hora. Isso é que é a verdadeira vida. Nosso corpo ainda está animado
pela vida da alma natural. Apesar disso, já não vivemos por ela. Isso se dá
porque confiamos na vida do Filho de Deus, que infunde energia em
nossos membros de forma muito mais abundante do que a alma poderia
comunicar. Damos grande ênfase a essa "vida". Em todas as nossas
experiências espirituais, essa "vida" misteriosa, mas maravilhosa, entra em
nós abundantemente. Deus quer que a vida de Cristo venha a ser nossa
força.A Palavra de Deus é a vida do nosso corpo: "Não só de pão viverá o
homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4). Isso
prova que a Palavra de Deus é capaz de sustentar nosso corpo. Falando
naturalmente, o homem vive de pão, mas quando a Palavra de Deus emite
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seu poder, podemos viver por ela também. Contemplamos, aqui, as duas
maneiras de viver: a natural e a sobrenatural. Deus não diz que de agora
em diante não precisamos comer. Ele simplesmente revela que sua
Palavra pode conceder-nos uma vida que não provém do alimento.
Quando o alimento não consegue produzir o efeito desejado em nosso
corpo, sua Palavra pode dar-nos aquilo de que precisamos. Alguns vivem
só de pão; outros, pelo pão e pela Palavra de Deus. O pão às vezes falha; a
Palavra de Deus, nunca.
Deus coloca sua vida na Palavra. Como ele é vida, assim também é a
sua Palavra. Se considerarmos a Palavra de Deus como um ensinamento,
credo ou padrão moral, ela não terá muita eficácia em nós. Não. Temos de
"digerir" a Palavra de Deus, para que se incorpore ao nosso ser da mesma
forma que o alimento. O cristão que tem fome, recebe-a como a um
alimento. Se a recebermos com fé, ela se torna nossa vida. Deus declara
que sua Palavra pode suster nossa vida. Quando não temos o alimento
natural, podemos crer no que Deus diz acerca de sua Palavra. Assim, nós
o conheceremos, não apenas como vida para o nosso espírito, mas
também para o corpo. Os cristãos de hoje perdem muito, por não reconhe-
cerem a abundância de provisões que Deus tem para o nosso
"tabernáculo" terreno. Achamos que as promessas de Deus se limitam ao
espírito (interior), ignorando o fato de que elas se aplicam também à carne
(exterior). Será que ainda não compreendemos que nossas necessidades
físicas não são inferiores às espirituais?
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Precisamos entender que o Senhor cuida do nosso corpo ainda hoje.
Ele não é força apenas para nosso espírito, mas também para o corpo.
Mesmo nos tempos do Antigo Testamento, quando a graça ainda não se
tinha manifestado como hoje, os homens de Deus conheceram que o
Senhor era a força de sua carne. Será que nossa bênção hoje deve ser me-
nor que a deles? Devemos experimentar, no mínimo, o mesmo vigor do
poder divino que eles conheceram. Quem não estiver bem informado a
respeito das riquezas de Deus, talvez possa limitar suas bênçãos ao
espírito. Os que têm fé, porém, não limitarão a vida e o poder divinos ao
espírito, negligenciando o fato de que eles se aplicam também ao corpo.
Queremos ressaltar que a vida de Deus é poderosa não apenas para
curar enfermidades, mas também para nos preservar com força e saúde.
Como Deus é nossa força, ele nos capacita a vencer tanto as doenças
quanto as fraquezas. Quando ele cura alguém, não é para depois essa
pessoa continuar vivendo por sua energia natural. Deus deve ser a energia
do nosso corpo, para que possamos viver por meio dele, buscando nele
forças para realizarmos sua obra. Quando os israelitas deixaram o Egito,
Deus lhes fez a seguinte promessa: "Se ouvires atento a voz do Senhor, teu
Deus, e fizeres o que é reto diante dos seus olhos, e deres ouvido aos seus
mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma enfermidade
virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios; pois eu sou o Senhor, que te
sara" (Êx 15.26). Mais tarde, no Salmo 105, encontramos essa promessa
totalmente cumprida. Diz ali: "... e entre as suas tribos não havia um só
inválido" (v. 37). Portanto precisamos entender que a cura divina
compreende a cura das enfermidades e também sua prevenção, para que
possamos permanecer vigorosos. Se nos entregarmos totalmente a Deus,
não resistindo em nada à sua vontade, e recebendo pela fé sua vida e seu
poder para nosso corpo, também nós provaremos a realidade da cura
divina.
A EXPERIÊNCIA DE PAULO
Se aceitarmos o ensinamento bíblico de que nosso corpo é membro
de Cristo, teremos de reconhecer que a vida de Cristo flui nele. A vida de
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Cristo flui da Cabeça para o corpo, comunicando-lhe energia e vitalidade.
Nosso corpo é membro de Cristo, por isso a vida do corpo dele flui
naturalmente para o nosso. Todavia precisamos nos apropriar disso pela
fé. Iremos experimentar essa vida na medida da fé que exercitarmos para
recebê-la. As Escrituras ensinam que podemos tomar posse da vida do
Senhor Jesus para benefício do nosso corpo, mas isso requer fé. Muitos
cristãos, ao receber tal ensino, inicialmente ficam muito surpresos.
Entretanto não podemos diluir algo que a Palavra ensina claramente.
Estudando a experiência de Paulo, verificamos o quanto esse ensinamento
é precioso e real.
Paulo falou de um espinho na carne, referindo-se à sua condição
física. Três vezes, ele rogou ao Senhor que o removesse. Mas Deus lhe
respondeu: "A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na
fraqueza". E o apóstolo, respondendo, disse: "De boa vontade, pois, mais
me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de
Cristo... Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte" (2 Col2.9,10).
Não precisamos procurar saber o que era esse espinho. A Bíblia não
explica. Um fato, porém, é certo: esse espinho causou o enfraquecimento
do corpo de Paulo. A "fraqueza" aqui mencionada é de natureza física. O
mesmo termo é usado em Mateus 8.17. Os coríntios estavam bem
familiarizados com a fragilidade física de Paulo (2 Co 10.10). O próprio
apóstolo reconhece que, quando esteve com eles a primeira vez, achava-se
fisicamente fraco (1 Co 2.3). E de modo algum podemos atribuir essa
debilidade a uma falta de poder espiritual, pois as duas cartas aos
coríntios revelam que o apóstolo possuía um extraordinário vigor
espiritual.
Essas poucas passagens são suficientes para revelar a condição física
de Paulo. Seu corpo era muito fraco, mas será que ele permaneceu assim
muito tempo? Não, pois ele afirma que o poder de Cristo repousou sobre
ele e o fortaleceu. Observamos aqui uma "lei de contrastes". Tanto o
espinho como a fraqueza resultante dele continuaram em Paulo. Todavia
o poder de Cristo inundou seu corpo frágil e lhe deu forças para enfrentar
cada uma de suas necessidades. O poder de Cristo contrastava com a
fraqueza de Paulo. Esse poder não afastou o espinho, nem eliminou a
fraqueza, mas permaneceu em Paulo, habilitando-o a enfrentar qualquer
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situação que estivesse acima da capacidade do seu corpo enfraquecido.
Podemos comparar essa experiência a um pavio que, embora em chamas,
não se consome por estar saturado de óleo. O pavio continua frágil, mas o
óleo lhe comunica tudo o que o fogo tira dele.
Desse modo, compreendemos o princípio segundo o qual a vida de
Deus deve dar-nos capacitação física. A vida divina não transforma a
natureza do nosso corpo fraco e mortal: ela simplesmente lhe comunica
tudo de que ele precisa. No que dizia respeito à condição física de Paulo,
ele era, sem sombra de dúvida, o mais fraco. Contudo, devido ao poder de
Cristo que ele possuía, era o mais forte de todos. Sabemos que ele
trabalhou dia e noite, "gastando" sua vida e energia no serviço cristão,
realizando uma obra que muitos homens fisicamente fortes não poderiam
realizar. Como é então que um homem fraco como Paulo podia levar
avante tal obra? Se seu corpo mortal não fosse vivificado pelo Espírito
Santo, isso não poderia acontecer. Não há dúvida de que Deus comunicou
força ao corpo de Paulo.
E como foi que Deus fez isso? Em 2 Coríntios 4, Paulo estava falando
sobre seu corpo, quando disse que ele e os que com ele estavam traziam
"sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se
manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre
entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se
manifeste em nossa carne mortal" (vv. 10,11). Quando comparamos os
versículos 10 e 11, observamos algo que chama nossa atenção. Temos aí
uma redundância, mas não uma repetição. O versículo 10 fala sobre a vida
de Jesus manifestando-se em nosso corpo. Já o 11 fala sobre essa vida
manifestando-se em nossa carne mortal. Muitos crentes são capazes de
expressar a vida de Cristo em seu corpo, mas não chegam ao ponto de
expressá-la também em sua carne mortal. Existe aí uma profunda
diferença. Muitos cristãos, quando adoecem, mostram-se obedientes e
dotados de paciência, sem reclamar nem demonstrar ansiedade. Sentem a
presença do Senhor e revelam as virtudes dele em seu rosto, em seus atos
e na sua linguagem. Através do Espírito Santo, manifestam genuinamente
a vida de Cristo em seu corpo. Entretanto não tomam conhecimento do
poder curador do Senhor Jesus. Parece que não sabem que a vida de
Cristo aplica-se também ao corpo. Não exercitam a fé para receber a cura
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do corpo, como o fizeram anteriormente para receber o perdão dos seus
pecados e a vivificação do seu espírito morto. Por isso, acham-se
impotentes para manifestar a vida de Jesus em sua carne mortal. Recebem
graça para suportar a dor, mas não para receber a cura. Experimentaram o
versículo 10, porém continuam sem provar o 11.
Como é que Deus nos cura e nos fortalece? Pela vida de Jesus. Isso é
muito importante. Quando nossa carne mortal é revitalizada, a natureza
do nosso corpo não muda, isto é, não se reveste de imortalidade;
permanece a mesma. Contudo a vida que comunica vitalidade ao corpo
muda. Antes, vivíamos pelo poder da nossa vida natural. Agora, vivemos
pela energia da vida sobrenatural de Cristo. O poder da sua ressurreição
sustenta nosso corpo, por isso recebemos a capacidade de realizar as
tarefas que nos foram atribuídas.
O apóstolo não dá a entender que, como passou a viver pela vida do
Senhor, jamais voltaria a ser fraco. De modo nenhum! Toda vez que ele
deixasse de experimentar a cura pelo poder de Cristo, iria enfraquecer.
Podemos perder a manifestação da vida do Senhor Jesus em nosso corpo
por causa do pecado, da negligência ou de uma atitude de independência.
Algumas vezes, podemos nos tornar fracos pelo ataque das potestades das
trevas, contra as quais avançamos com ousadia. Podemos, ainda, sofrer
aflições por causa do corpo de Cristo, se estivermos profundamente
envolvidos com ele. Contudo tais coisas acontecem somente a pessoas
profundamente espirituais. De qualquer forma, temos certeza de que, por
mais que estejamos fracos, a vontade de Deus não é que sejamos inválidos
nem incapacitados para o seu trabalho. O apóstolo Paulo estava sempre
fraco, mas a obra de Deus nunca sofreu por causa da sua fraqueza.
Reconhecemos a soberania absoluta do Senhor, mas os cristãos não podem
usar isso como desculpa para serem fracos.
Trazendo "sempre no corpo o morrer de Jesus" constitui a base para
que "também a sua vida se manifeste em nosso corpo". Em outras
palavras, devemos renunciar totalmente à nossa própria vida, para que a
vida de Jesus se manifeste em nosso corpo. Isso revela que existe uma
relação íntima entre um viver espiritual não egocêntrico e um corpo sadio.
O poder divino é usado exclusivamente para o Senhor. Quando Deus
manifesta sua vida em nosso corpo, ele o faz por causa da sua própria
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obra. O Senhor nos concede sua vida e força, mas não para que as
gastemos egoisticamente. Ele não nos dá sua energia para que a
desperdicemos, nem tampouco para que realizemos nossos propósitos.
Como Deus irá conceder-nos esse poder, se não vivermos inteiramente
para ele? É exatamente essa a razão pela qual não obtemos a resposta de
muitas das nossas orações. Muitas vezes, os crentes almejam ter saúde e
vitalidade apenas para o seu bem-estar. Buscam a força de Deus para seu
corpo, mas somente para desfrutar de uma vida mais confortável, alegre e
aprazível. Desejam a capacitação para se moverem livremente, sem qual-
quer impedimento. E por isso que ainda estão fracos. Deus não vai nos
conceder sua vida para que a usemos segundo nossos próprios desejos. A
realidade é que assim viveríamos ainda mais para nós mesmos, com um
prejuízo maior para a vontade de Deus. O Senhor espera hoje que seus
filhos renunciem ao seu eu, para depois conceder-lhes o que estão
buscando.
Que é que significa a expressão "o morrer de Jesus"? E a vida do
Senhor que está sempre entregando seu eu à morte. O viver do nosso
Senhor sempre foi caracterizado pela auto-negação. O Senhor Jesus,
durante toda a sua vida, e até à sua morte, não fez nada por si mesmo,
apenas realizou a obra do seu Pai. Agora o apóstolo ensina que, assim que
ele permitiu essa operação do morrer de Jesus em seu corpo, a vida de
Cristo também se manifestou em sua carne mortal. Será que estamos aptos
a receber esse ensinamento? Deus está agora esperando aqueles que estão
dispostos a aceitar "o morrer de Jesus", para que ele possa viver no corpo
deles. Quem hoje está disposto a seguir inteiramente a vontade de Deus? e
a deixar de viver segundo seu próprio entendimento? Quem se dispõe a
atacar corajosa e incessantemente as potestades das trevas por amor ao
Senhor? Quem se recusa usar o próprio corpo como meio de alcançar o
sucesso? A vida do Senhor Jesus vai se manifestar no corpo dos cristãos
que responderem afirmativamente a essas perguntas. Se assumirmos essa
"morte", Deus se encarregará do resto. Se lhe oferecermos nossa fraqueza,
ele nos dará sua força.
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O PODER NATURAL E O PODER DE JESUS
Quem já se ofereceu totalmente a Deus pode crer que ele lhe
preparou um corpo. Sempre imaginamos como seria bom se pudéssemos
decidir a respeito do modo como fomos feitos. Nosso maior desejo é que
nosso corpo não tivesse tantos problemas inatos, mas que possuísse maior
resistência, para que pudéssemos viver mais tempo, sem dor e sem
doença. Contudo Deus não nos consultou a respeito disso. Ele sabe
melhor do que nós o que devemos ter. Também não devemos julgar
nossos antepassados pelas faltas e pecados que eles cometeram. Nem
devemos duvidar do amor e da sabedoria de Deus. Tudo o que concerne a
nós foi determinado antes da fundação do mundo. Deus realiza sua boa
vontade mesmo neste nosso corpo de dor e morte. E o propósito dele não
é que abandonemos este corpo, como se ele fosse uma carga pesada. Pelo
contrário, ele nos aconselha a tomar posse de um novo corpo, através do
Espírito Santo que em nós habita. Seja qual for o corpo que Deus nos
tenha dado, o certo é que ele possui limitações e perigos, dos quais o
Senhor tem plena ciência. Através das experiências dolorosas, porém, ele
quer que venhamos a desejar um novo corpo, para que não mais vivamos
pelo poder natural que possuímos, mas pelo poder de Deus. Assim podemos
trocar nossa fraqueza pela força divina. Embora nosso corpo não tenha
sido ainda transformado, a vida pela qual ele vive já é uma nova vida.
O Senhor tem prazer em encher do seu poder cada nervo, cada vaso
capilar e cada célula do nosso corpo. Ele não transforma nossa natureza
debilitada numa natureza vigorosa. Tampouco nos dispensa uma grande
quantidade de força para que a estoquemos. Ele quer ser vida para nossa
carne mortal, a fim de que vivamos por meio dele cada momento de nossa
vida. Talvez alguns pensem que ter o Senhor Jesus como a vida do nosso
corpo signifique que Deus nos concede poder físico em abundância, de
modo que não venhamos jamais a sofrer nem a ficar doentes. Contudo não
foi essa, evidentemente, a experiência do apóstolo, pois ele declara de
modo categórico que "nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte
por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em
nossa carne mortal". O corpo de Paulo era habitualmente fraco, mas a
força do Senhor Jesus fluía para ele de maneira contínua. Ele vivia cada
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instante pela vida do Senhor. Aceitá-lo como a vida do nosso corpo exige
um permanente exercício de confiança. Por nós mesmos, não podemos
enfrentar situação nenhuma, em tempo nenhum. Entretanto, confiando
permanentemente no Senhor, recebemos a cada momento toda a força de
que precisamos.
É esse o sentido do que Deus diz através de Jeremias: "A ti, porém,
eu te darei a tua vida como despojo, em todo lugar para onde fores" (45.5).
Não devemos nos considerar salvos e seguros por causa da nossa própria
força. Pelo contrário, temos de entregar todo nosso fôlego à vida do
Senhor. Só assim encontraremos segurança, porque somente ele vive para
sempre. Não possuímos nenhuma reserva de poder que nos capacite a nos
mover segundo nossa própria vontade. A cada momento estamos
precisando da força que vem do Senhor. O que recebemos num
determinado momento é bom para essa ocasião. Não existe a
possibilidade de guardarmos um pouquinho para depois. Assim é a vida
completamente unida ao Senhor, que vive na dependência exclusiva dele.
"Eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá." (Jo
6.57.) É exatamente nisso que reside o segredo dessa vida. Se pudéssemos
viver sem a vida que o Senhor nos concede, renegaríamos esse espírito de
dependência total e viveríamos segundo nossa própria vontade! Desse
modo, estaríamos agindo conforme as pessoas do mundo, e desper-
diçando nossas forças. Deus quer que a nossa confiança nele e nosso senso
de dependência dele sejam constantes. Da mesma maneira que o povo de
Israel tinha de colher o maná diariamente, nosso corpo também deve viver
por meio da força de Deus a cada momento.
Vivendo assim, não estaremos limitando nossa obra, pois não a
estaremos realizando em nossa própria força. Tampouco jamais ficaremos
ansiosos por causa do corpo. Como essa é a vontade de Deus, devemos
encher-nos de coragem e vi ver dessa maneira, mesmo que a sabedoria
humana ache isso arriscado. O Senhor é a nossa força, e estamos apenas
esperando que ele nos envie. Em nós mesmos não temos poder para
realizar nenhuma tarefa. Todavia nossos olhos estão voltados para o
Senhor. Em nós mesmos, achamo-nos totalmente incapazes. Contudo,
através dele, sairemos e venceremos. Ah, quantos de nós nos consideramos
por demais poderosos em nós mesmos! Não aprendemos a não confiar em
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nossa força, para passarmos a confiar nele. A força do Senhor se
aperfeiçoa em nossa fraqueza. Quanto mais reconhecermos que somos
incapazes, mais o seu poder se manifestará. Nossa própria força jamais
pode cooperar com o Senhor. Se tentarmos empregar nossas forças para
reforçar a dele, nada colheremos, senão derrota e vergonha.
O Senhor exige total confiança nele. Por isso, não devemos aplicar
esse tipo de atitude apenas às nossas fraquezas naturais, mas também aos
nossos pontos positivos. E claro que alguns cristãos estão gozando de
saúde e robustez física. Talvez estes estejam pensando que só precisam
buscar essa experiência de dependência do Senhor quando estiverem fra-
cos. Isso é um engano. O fato é que tanto aquele que naturalmente é fraco
como o que é forte necessitam da vida de Deus. Ao Senhor não interessa nada
que tenhamos recebido na velha criação. Se os crentes se dispusessem a
receber toda a instrução do Senhor, abririam mão de sua própria força
para aceitar a de Deus, mesmo que o corpo deles fosse forte e não
aparentasse precisar da vida divina. Isso não significa fazer uma opção
voluntária pela fraqueza. Pelo contrário, trata-se de descrer de nossa
própria força, como descremos de nossos próprios talentos. Tal
consagração nos livra de nos exaltarmos a nós mesmos, o que fazemos
quando nosso serviço se baseia na energia natural (o que é um mal de
muitos servos do Senhor). Atuando pela força de Deus, eles não terão
coragem de ir além daquilo que ele ordena. Já sem a força que vem do
Senhor, eles vão agir como os fracos, não ousando dar nem um passo
sequer. Agirão como se fossem naturalmente fracos, isto é, evitarão
trabalhar demais, e viver descuidadosamente.
Nessa vida consagrada, é imperativo que o "eu" fique sob o controle
do Espírito Santo; caso contrário, certamente seremos derrotados. Alguns
crentes de fato admiram uma vida de autonegação, mas não conseguem
desistir completamente de agir por suas próprias forças. Desse modo, não
levam em conta os propósitos de Deus, atuando de acordo com seus
próprios desejos. Podem granjear temporariamente a admiração dos
homens, mas, por fim, seu corpo entrará em colapso. A vida de Deus
jamais se torna escrava da vontade do homem. Uma obra, que não
provenha da vontade divina, nunca terá a força do Senhor para sua
realização. Se começarmos a agir fora dos propósitos de Deus,
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descobriremos que a vida divina irá nos faltar, e que nosso corpo frágil é
que terá de realizar as tarefas. Para vivermos por meio do Senhor, não
podemos agir com presunção. Só devemos começar a atuar depois que
tivermos certeza de que realmente se trata da vontade de Deus. Somente
através da obediência é que poderemos experimentar a vida de Deus
operando por nós. Será que o Senhor nos daria de sua força sabendo que
iríamos nos rebelar contra ele?
4. Vencendo a Morte
A vitória sobre a morte não é uma experiência incomum para os
filhos de Deus. O sangue do cordeiro protegeu os israelitas das mãos do
anjo da morte, que matou os primogênitos do Egito. Pelo nome do Senhor,
Davi foi salvo das garras do leão e do urso, e também das mãos de Golias.
Lançando farinha dentro de uma panela, Eliseu retirou a morte que nela
havia (2 Rs 4.38-41). Sadraque, Mesaque e AbedeNego não sofreram
nenhum dano na fornalha ardente (Dn 3.16-27). Daniel, quando foi
lançado na cova dos leões, deu testemunho de que Deus fechara a boca
desses animais. Paulo foi picado por uma víbora venenosa, mas atirou-a
dentro do fogo, e não sofreu dano (At 28.3-5). Enoque e Elias foram ambos
arrebatados para o céu, sem provar a morte. Todos esses são exemplos
perfeitos de vitória sobre esse inimigo.
O objetivo de Deus é levar seus filhos a vencer a morte ainda nesta
vida. É fato que precisamos triunfar sobre o pecado, sobre o "eu", o
mundo e Satanás. Contudo nossa vitória não estará completa sem
vencermos a morte. Se quisermos um triunfo completo, devemos destruir
esse último inimigo (1 Co 15.26). Se não vencermos a morte, estaremos dei-
xando invicto um inimigo.
Existe morte na natureza, em nós, e a morte que vem de Satanás. A
Terra jaz sob maldição; e é governada por esta. Se quisermos ter uma vida
vitoriosa na Terra, teremos de vencer a morte que está no mundo. A morte
está em nosso corpo. Assim que nascemos, ela começa a operar em nós,
pois todos iniciam a caminhada em direção à sepultura já no dia em que
nascem. Não devemos encarar a morte simplesmente como uma "crise".
Antes de mais nada, ela é um processo. Já se encontra em nós, devorando-
nos gradativa e implacavelmente. Nossa libertação dessa tenda terrena
nada mais é que o momento em que se consuma a prolongada operação
da morte. Ela pode atacar nosso espírito, privando-o de vida e poder.
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Ataca nossa alma, mutilando seus sentimentos, pensamentos e vontade.
Agride nosso corpo, tornando-o fraco e doente.
Lendo Romanos 5, vemos que "reinou a morte" (v. 17). Ela não
apenas existe, reina também. Reina no espírito, na alma e no corpo do
homem. Embora nosso corpo ainda esteja vivo, a morte já está reinando
sobre ele. A influência dela ainda não alcançou seu apogeu, mas ela está
reinando e vai se expandindo mais e mais, visando a absorver todo o
corpo. Vários sintomas que descobrimos em nosso corpo demonstram
como é amplo o poder da morte sobre nós. Tudo isso conduz as pessoas
para aquele final — a morte física.
Da mesma maneira que existe o reino da morte, existe também o
reino da vida (Rm 5.17). O apóstolo Paulo afirma que todos os que
recebem a abundância da graça e o livre dom da justiça "reinarão em
vida", uma força que excede em muito o poder que opera na morte.
Contudo, hoje, os cristãos têm estado tão ocupados com o problema do
pecado que praticamente se esquecem do da morte. Tão importante
quanto vencer o pecado é derrotar a morte, um problema paralelo que não
deveríamos negligenciar. Embora nos capítulos 5 a 8 de Romanos Paulo
analise a questão da vitória sobre o pecado de forma bem distinta, dá
igual atenção ao problema da morte: "O salário do pecado é a morte" (Rm
6.23). Ele aborda tanto a questão do pecado como a da conseqüência dele.
Além de apresentar o contraste entre a justiça e a transgressão, também
compara a vida e a morte. Muitos cristãos dão bastante valor à idéia de
vencer as várias manifestações do pecado em seu caráter e em sua vida
diária. Contudo deixam de dar a devida ênfase à maneira pela qual se
pode vencer o resultado dele, que é a morte. O apóstolo, porém, inspirado
por Deus, nesses poucos capítulos, analisa não só as manifestações do
pecado na vida diária, mas também a conseqüência dele, que é a morte.
Precisamos entender com clareza a relação que há entre esses dois
elementos. Cristo morreu para nos salvar não apenas dos nossos pecados,
mas também da morte. Deus hoje nos conclama a derrotar ambos. Antes
de nos convertermos, estávamos mortos em pecados, pois o pecado e a
morte reinavam sobre nós. Todavia o Senhor Jesus, morrendo em nosso
lugar, tragou nosso pecado e nossa morte. Anteriormente, a morte reinava
em nosso corpo. Quando nos identificamos com a morte de Cristo,
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morremos para o pecado e nos tornamos vivos para Deus (Rm 6.11). Por
causa da nossa união com Cristo, "a morte já não tem domínio sobre ele
(nós)" e não pode mais nos escravizar (Rm 6.9,11). A salvação de Cristo
substitui o pecado pela justiça, e a morte, pela vida. Como o principal
objetivo do apóstolo nesse trecho da Escritura é analisar o pecado e a
morte, se absorvermos apenas uma parte do tema, não estaremos
aceitando sua mensagem completa. Paulo descreve a plena salvação do
Senhor Jesus nestes termos:
Paulo não tinha medo de morrer. Pela fé em Deus, porém, sabia que
não morreria antes de concluir sua obra. Foi essa sua vitória sobre a morte.
E, bem no fim, quando disse "Combati o bom combate, completei a
carreira, guardei a fé", sabia também que "o tempo da minha (sua) partida
é (era) chegado" (2 Tm 4.7,6). Não devemos morrer antes de "completar"
nossa carreira.
Pedro também teve conhecimento do momento da sua partida:
"Certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como
efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou" (2 Pe 1.14). É um erro
de nossa parte afirmar — com base numa avaliação pessoal das
circunstâncias, condições físicas e sentimentos — que nossa hora chegou.
Devemos esperar uma revelação clara do Senhor. Vivemos para ele, por
isso devemos também morrer para ele. Temos de resistir a qualquer
impulso para partir que não seja um chamado do Senhor.
Lendo o Antigo Testamento, vemos que todos os patriarcas
morreram "avançados em anos". Que quer dizer essa frase? Significa que
viveram até ao fim do tempo que Deus lhes designou. O Senhor
determinou para cada um de nós uma certa idade (Jo 21). Se não a
alcançarmos, não teremos vencido a morte. Como podemos conhecer o
tempo que Deus designa para cada um de nós? A Bíblia apresenta um
padrão: "Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo
vigor, a oitenta..." (Sl 90.10.) Não estamos querendo dizer que todos
devem viver pelo menos setenta anos, pois assim estaríamos usurpando a
soberania de Deus. Entretanto, caso não recebamos registro de um
período mais curto, devemos aceitar esse número como sendo o padrão, e
rejeitar uma partida anterior a ele. Permanecendo na Palavra de Deus,
alcançaremos a vitória.
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NÃO TER MEDO DA MORTE
Quando falamos em vencer a morte, não queremos dizer que nosso
corpo nunca morrerá. Embora creiamos que "nem todos dormiremos" (1
Co 15.51), seria errado afirmar que nós não morreremos. Como a Bíblia
indica que a duração comum da vida deve ser de setenta anos, devemos
esperar viver esse período, caso tenhamos fé. Entretanto não podemos
esperar viver para sempre, porque Jesus é a nossa vida. Sabemos que, com
freqüência, Deus abre exceções. Alguns morrem antes de setenta anos.
Pela fé, podemos pedir a Deus apenas para não partirmos antes de
concluirmos nossa tarefa. Seja nossa vida longa ou curta, não podemos
perecer como os pecadores, isto é, antes que se cumpra a metade dos dias
que Deus designou para nós. O tempo que ele nos dá aqui neste mundo
deve ser suficiente para realizarmos nossa missão na vida. Aí então,
quando chegar o fim, poderemos partir em paz, tendo sobre nós a graça
de Deus, e ir de forma tão natural como a queda de uma fruta plenamente
madura. O livro de Jó descreve tal partida assim: "Em robusta velhice
entrarás para a sepultura, como se recolhe o feixe de trigo a seu tempo" (Jó
5.26).
Vencer a morte não significa necessariamente não passar pela
sepultura, pois Deus pode desejar que alguns a vençam através da
ressurreição, como aconteceu ao Senhor Jesus. Contudo os crentes, ao
passar pela morte, como o Senhor, não precisam temê-la. Se buscarmos
vencer as garras da morte por estarmos com medo, ou relutando em
morrer, já estaremos derrotados. Pode ser que o Senhor nos salve da
morte, arrebatando-nos vivos para o céu. Contudo não devemos pedir que
ele volte rapidamente, movidos pelo temor da morte. Tal preocupação
mostra que ela já nos venceu. Devemos entender que, mesmo passando
pela sepultura, estamos simplesmente indo de um cômodo para outro.
Não há justificativa para termos angústias, temores e tremores
insuportáveis.
Antes, éramos "todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à
escravidão por toda a vida" (Hb 2.15). O Senhor Jesus, porém, nos
libertou, por isso já perdemos o temor. A dor, as trevas e a solidão que
acompanham a morte não podem nos amedrontar. O apóstolo Paulo, que
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experimentou a vitória sobre a morte, testificou: "... o morrer é lucro...
tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente
melhor" (Fp 1.21,23 - grifo do autor). Não vemos aí a menor sombra de
temor. Sua vitória sobre a morte foi real e completa.
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Senhor está ensinando é que, entre os que crêem nele, alguns morrerão e
ressuscitarão, enquanto outros de modo nenhum passarão pela morte.
Por ocasião da morte de Lázaro, o Senhor Jesus expressou o
seguinte:
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O tempo do arrebatamento se aproxima. Se alguém deseja ser
arrebatado, deve aprender a vencer a morte no presente. Antes do
arrebatamento, o último inimigo deve ser derrotado. Na cruz, o Senhor
Jesus venceu totalmente esse inimigo. Hoje Deus quer que sua igreja
experimente essa vitória de Cristo. Todos nós sentimos que estamos
vivendo no tempo do fim. O Espírito Santo atualmente está nos
inspirando a travar a última batalha com a morte, antes que venha o arre-
batamento.
Satanás reconhece que seus dias estão contados, e por isso emprega
toda a sua força para impedir que os cristãos sejam arrebatados. Isso
explica, em parte, por que os filhos de Deus hoje estão sendo atacados no
corpo de forma tão feroz. Como esses ataques físicos são muito sérios, os
crentes parecem perceber em si mesmos o odor da morte. Com isso,
abandonam qualquer esperança de serem arrebatados. Não têm idéia de
que isso nada mais é que um desafio do inimigo, visando a impedir sua
ascensão. Se no entanto, perceberem que estão a caminho do
arrebatamento, naturalmente terão um espírito combativo contra a morte.
E que sentirão no espírito que a morte é um obstáculo ao arrebatamento, e
que eles devem derrotá-la.
O diabo é assassino (Jo 8.44). O propósito da obra de Satanás contra
os crentes é matá-los. Ele tem uma tática especial para os últimos dias:
magoar os cristãos (Dn 7.25). Se ele puder comunicar-nos mais ansiedade
ao espírito, produzir qualquer intranqüilidade em nossa mente, levar-nos
a perder o sono por uma noite, ou a comer menos num dia e trabalhar
excessivamente em outro, isso mostra que ele já penetrou em nós com seu
poder de morte. Um pingo d'água só não pode fazer nada, mas o gotejar
contínuo com certeza pode abrir um buraco numa pedra. Satanás acha-se
familiarizado com essa verdade, e por isso provoca uma preocupação
pequena aqui, um pouco de ansiedade ali, uma negligência acolá, sempre
com o propósito de literalmente "magoar" ou destruir os cristãos.
Algumas vezes, o diabo ataca os crentes, causando-lhes a morte.
Muitas mortes são resultado de ataques desse tipo, embora poucos
reconheçam esse fato. Às vezes os vêem apenas como um resfriado, uma
insolação, insônia, exaustão ou perda de apetite. Às vezes, pensam que é a
impureza, a ira, o ciúme ou a licenciosidade. Quando os cristãos não
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percebem que o que está por trás desses acontecimentos é o poder da
morte, ficam com sua vitória plena ameaçada. Se os reconhecessem como
ataques da morte e aprendessem a resistir, triunfariam. Muitas vezes eles
atribuem tais problemas à idade ou a outros fatores, deixando de entender
o real significado de tudo que está acontecendo.
O Senhor Jesus voltará em breve. Por isso, devemos empreender
uma guerra total contra a morte. Da mesma maneira que lutamos contra o
pecado, o mundo e Satanás, precisamos resistir à morte. Não nos
limitemos a pedir a vitória; vamos também nos apropriar dela. Temos de
tomar posse do triunfo de Cristo sobre a morte, em toda a sua plenitude.
Se fizéssemos uma revisão da nossa vida até aqui, examinando-a com o
conhecimento que Deus tem dela, descobriríamos que muitas vezes fomos
assaltados pela morte sem que o soubéssemos. Inúmeras vezes atribuímos
os eventos de nossa vida a outras causas, perdendo, assim, a
oportunidade de exercitar a capacidade de resistir à morte. Se tivéssemos
reconhecido que certos acontecimentos eram ataques desta, Deus nos teria
fortalecido para que hoje experimentássemos a vitória sobre esse inimigo.
Nesse caso, nossa experiência teria sidocomo passar sobre pontes
quebradas e estradas interrompidas. É que todas as circunstâncias
pareciam exigir nossa morte, e ainda assim não podemos morrer. Mais de
uma vez, chegamos a desesperar da vida, contudo não podemos morrer. Per-
guntamos então a nós mesmos por que temos de morrer agora, pois
embora a batalha se torne renhida, não é nossa vontade partir. Em vez
disso, parece que clamamos:
"Não quero morrer!"
Qual é o significado dessa experiência? Simplesmente que Deus está
nos levando a travar uma última batalha contra a morte, antes de sermos
arrebatados. Tais ataques têm apenas um propósito: frustrar nosso
arrebatamento.
Armados da vitória de Cristo, devemos fechar com toda firmeza as
portas do Hades, que se acham escancaradas. Temos de resistir à morte,
proibindo qualquer incursão dela em nosso corpo. Precisamos resistir a
tudo que possa significar uma tendência para a morte. Devemos encarar a
doença, as fraquezas e o sofrimento com essa atitude. Às vezes, a morte já
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está operando no corpo, embora ele possa não estar consciente disso. A
ansiedade de espírito ou a tristeza de alma também podem produzir a
morte. No momento, Deus está nos chamando ao arrebatamento. Então,
devemos subjugar qualquer evento que possa impedir que ele aconteça.
Deus submete seus filhos a várias situações que os impelem a
entregar a vida totalmente na mão do Senhor, como que por um fio de fé.
Deixá-la na mão dele é sua única esperança de sobrevivência. E durante
todo o tempo é como se esses cristãos estivessem clamando:
"Senhor, deixa-me viver!"
Nossa batalha hoje é a batalha pela vida.
Em toda parte, há espíritos malignos e assassinos agindo. Se os
crentes não resistirem e orarem, serão derrotados. Se continuarem
passivos, inevitavelmente morrerão. Alguém talvez ore assim:
"Senhor, permite-me vencer a morte."
E Deus responderá:
"Se você resistir à morte, permitirei que a vença!"
Se nossa vontade estiver passiva, tal oração será inútil. Devemos
dizer:
"Senhor, por causa da tua vitória sobre a morte, agora resisto a todos
os ataques dela. Estou determinado a vencer a morte agora. Senhor, torna-
me vitorioso."
O Senhor nos capacitará a vencer a morte. Portanto devemos nos
apossar das promessas de Deus, pedindo-lhe a vida, e confiando que nada
nos poderá causar dano. Não devemos nos render ante o poder da morte,
senão ela nos atingirá. E possível até que nos encontremos num lugar
altamente contaminado, mas poderemos resistir a essas enfermidades, não
permitindo que nenhuma delas nos ataque. Não devemos permitir que a
morte nos atinja por meio da enfermidade.
Não podemos mais aguardar a volta do Senhor passivamente,
conformando-nos com a idéia de que, de qualquer maneira, seremos todos
arrebatados. Precisamos estar preparados. Como em tudo mais, é preciso
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que a igreja opere em harmonia com Deus também na questão do ar-
rebatamento. A fé nunca deixa os acontecimentos ocorrerem de acordo
com a lei do menor esforço. Cada um de nós deve resistir à morte
individualmente. Devemos também ansiar pelo arrebatamento, de todo o
coração. É necessário exercitar a fé, mas isso não significa que podemos
abandonar passivamente nossas responsabilidades. De que nos adiantará
crer, apenas com o intelecto, que podemos escapar da morte se
continuarmos a submeter-nos passivamente ao poder dela?
O PECADO MORTAL
A Bíblia menciona um tipo de pecado mortal ou pecado "para
morte" (1 Jo 5.16). Não se trata aqui da morte espiritual, pois a vida eterna
que Deus dá jamais se pode extinguir. Isso também não pode ser uma
alusão à "segunda morte", já que as ovelhas do Senhor não podem perecer.
Portanto o termo "morte" aqui significa necessariamente a morte do corpo.
Vejamos, então, qual é, especificamente, a essência do pecado
mortal. Sabendo isso, poderemos evitá-lo, a fim de que (1) nossa carne não
sofra corrupção, (2) não venhamos a perder a bênção de ser arrebatados
antes da morte, ou (3) possamos ainda terminar a obra que o Senhor
determinou para nós. Assim, a concluiremos antes que nosso tempo
termine e morramos, caso ele demore e tenhamos de passar pela
sepultura. Podemos dizer que, pelo fato de muitos filhos de Deus ignora-
rem essa questão, eles morreram prematuramente e perderam sua coroa.
Muitos obreiros ainda poderiam estar servindo ao Senhor, caso tivessem
levado isso em consideração.
A Palavra não define claramente em que consiste esse pecado. Ela só
nos assegura que ele existe e podemos cometê-lo. Pelos registros das
Escrituras, entendemos que esse pecado varia de uma pessoa para outra.
O que para uns é mortal, para outros pode não ser, e vice-versa. Isso se
deve às variações na graça que cada crente recebe, no conhecimento que
cada um tem e na posição que cada um alcança.
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Embora a Bíblia, em nenhum lugar, dê nome a esse pecado,
podemos no entanto observar que qualquer pecado que resulte em morte
constituiu-se em pecado mortal. O povo de Israel cometeu tal pecado em
Cades (Nm 13.25 a 14.12). Embora tivessem tentado o Senhor muitas vezes
antes (14.22), em todas elas ele simplesmente lhes perdoou. E mesmo nes-
sa vez, quando se recusaram a entrar em Canaã, apesar de lhes ter
perdoado, ele também determinou que o cadáver deles caísse no deserto
(14.32).
Nas águas de Meribá, Moisés foi tentado a falar "irrefletidamente"
(Sl 106.33). Esse foi seu "pecado mortal", por isso morreu fora de Canaã.
Arão cometeu a mesma ofensa que Moisés, e foi também proibido de
entrar na terra santa (Nm 20.24). O homem de Deus que viajava de Judá
para Betel desobedeceu à ordem do Senhor com respeito a comer e beber.
Com isso, cometeu seu pecado mortal (1 Rs 13.21,22). No Novo
Testamento, vemos Ananias e Safira sendo punidos com a morte por
terem cometido o que para eles foi seu pecado mortal. Tentaram mentir ao
Espírito Santo, guardando parte do produto da venda de sua propriedade
(At 5). O homem de Corinto, que viveu com a esposa do pai, também foi
culpado desse pecado, forçando o apóstolo Paulo a pronunciar julgamento
sobre ele, dizendo que fosse "entregue a Satanás para a destruição da
carne" (1 Co 5.5). Em Corinto, muitos irmãos morreram por não terem
discernido o corpo e o sangue do Senhor (1 Co 11.27-30). Esses também
cometeram o pecado para a morte.
Para vencer a mortalidade, temos de lutar com persistência contra o
pecado, porque é ele que traz a morte. Quem deseja viver até ao fim do
tempo que Deus designou para ele, ou até a volta do Senhor, precisa ser
cuidadoso para não pecar. Por negligenciar essa questão, muitos têm sido
levados para a sepultura prematuramente. O pecado mortal não é
nenhuma transgressão particular e terrível, pois a Bíblia não o define em
nenhum lugar. O pecado de fornicação, cometido pelos coríntios, pode ser
considerado como mortal. Contudo palavras irrefletidas, como as que
Moisés pronunciou, também podem tornar-se um pecado para morte. Ob-
servemos como as Escrituras caracterizam Moisés: "Era o varão Moisés
mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra" (Nm
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12.3). Por isso, Deus não poderia tolerar nenhum pecado na vida desse
homem.
Vivemos no tempo da graça. Deus é cheio de graça para conosco.
Que nosso coração esteja confortado! Não permitamos que Satanás nos
acuse, insinuando que cometemos o pecado mortal, e que por isso
devemos morrer. Embora a Bíblia não ordene que oremos pelos que
cometeram o pecado mortal, Deus nos perdoará se julgarmos a nós
mesmos e genuinamente nos arrependermos. Na opinião de muitos estu-
diosos da Bíblia, o homem de 2 Coríntios 2.6,7 é o mesmo que viveu com a
esposa do pai. Em 1 Coríntios 11.30-32, Paulo ensina que, mesmo que
tenhamos cometido o pecado para morte, podemos escapar se
verdadeiramente nos julgarmos. Desse modo, não devemos permitir que
nenhum pecado reine em nosso corpo, para que não se torne um pecado
mortal. Nossa carne pode estar enfraquecida, todavia jamais devemos
perder a atitude de julgar a nós mesmos. Temos de julgar nosso pecado
sem misericórdia. É verdade que nunca podemos alcançar uma perfeição
total, isto é, viver sem pecados nesta vida, mas é indispensável que os
confessemos sempre, confiando na graça de Deus. O Senhor nos perdoará.
Aqueles que buscam a vitória sobre a morte precisam lembrar-se disso.
OS ENSINAMENTOS DE PROVÉRBIOS
O livro de Provérbios focaliza o viver diário do crente aqui neste
mundo. Nele podemos aprender bastante sobre como conseguimos nos
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manter vivos. Aqui vamos examinar principalmente as instruções dele
relacionadas com o modo de vencermos a morte.
"O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo
quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa." (6.32.)
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"Na vereda da justiça, está a vida, e no caminho da sua
carreira não há morte." (12.28.)
"Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte." (Hb
11.5.)
F I M
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