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Direitos Humanos - 01 CGS 2023

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CADERNO DE ESTUDOS

DIREITOS HUMANOS
2

SUMÁRIO

Unidade I – Teoria Geral dos Direitos Humanos. ...........................................................04

1.1 – Conceito de Direitos Humanos ..................................................................................04

1.1.1 – Terminologia ...........................................................................................................07

1.1.2 – Diferença entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais .................................08

1.1.3 – Características dos Direitos Humanos....................................................................08

1.1.4 – Dimensões/ Gerações dos Direitos Humanos.........................................................09

1.2 – Principais Instrumentos de Defesa dos Direitos Humanos....................................... 09

1.2.1 – Declaração Universal dos Direitos Humanos 1948 (DUDH)................................. 12

1.2.2 – Convenção Americana de Direitos Humanos – 1969 (CADH/PACTO DE SÃO


JOSÉ DA COSTA RICA)..................................................................................................... 14

1.2.3 – Os Direitos Humanos na Constituição Federal e sua lógica estrutural ................. 15

Unidade II – A Atividade Policial e Uso da Força: Instrumentos Internacionais e


Locais..................................................................................................................................16

2.1 – Princípios Básicos sobre o uso da força e armas de fogo pelos funcionários
responsáveis pela aplicação da Lei (1990).........................................................................16

Disposições Gerais..............................................................................................................16

Disposições Especiais.........................................................................................................18

Manutenção da ordem em caso de reuniões ilegais........................................................... 19

Manutenção da ordem entre pessoas detidas ou presas ....................................................19

Habilitações, formação e aconselhamento..........................................................................20

Procedimentos de comunicação hierárquica e de inquérito ................................................21

2.2 – Código de Conduta para os funcionários responsáveis (encarregados) pela


aplicação da Lei – CCEAL (ONU,1979).............................................................................. 22

2.3 – Portaria Interministerial 4.226 de 2010.......................................................................23

ANEXO I – Diretrizes sobre o uso da força e armas de fogo pelos agentes de segurança
pública..................................................................................................................................23

ANEXO II – Glossário........................................................................................................ 29
3

Unidade III – Direitos Sociais e Políticas Públicas: Audiência de Custódia, proteção


de Direitos Humanos de grupos vulneráveis..................................................................30

3.1 – Audiência de Custódia................................................................................................ 30

3.2 – Grupos Vulneráveis e Direitos Humanos ...................................................................31

Unidade IV – Atividade Policial e Direitos Humanos: Plano Estratégico Institucional


..............................................................................................................................................33

4. – O Plano Estratégico da Polícia Militar do Pará - 2015/2025 ..........................33

4.1 – Identidade Institucional ...................................................................................... 33

4.2 – Valores ...................................................................................................................34

Bibliografia..........................................................................................................................35
4

UNIDADE I
TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS

1.1. CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS:

Os Direitos Humanos “são resultados de uma evolução histórica da humanidade,


passando, assim, por inúmeras modificações, no que se refere a sua titularidade,
implementação e efetividade. Constituem-se como conjunto de direitos que são
inerentes aos seres humanos, sendo uma de suas características primordiais: a
indivisibilidade, em que pese terem se externado e ou se firmado em uma determinada
fase histórica”. (TEREZO, 2011, p.26)

Para a Professora Doutora Rúbia Alvarenga, Direitos Humanos fundamentais são


“direitos inerentes à condição humana e anteriores ao reconhecimento do direito positivo.
São direitos oriundos de consequências ou de reivindicações geradas por situações de
injustiça ou de agressão a bens fundamentais do ser humano.” (ALVARENGA, 2019,
p.22) .
A mesma professora citando Enoque dos Santos apresenta que a expressão
“Direitos Humanos” é atribuída aos “valores ou direitos inatos e imanentes ao ser humano,
pelo simples fato de ter ela nascido com esta qualificação jurídica. São direitos que
pertencem à essência ou à natureza intrínseca do ser humano e que não são acidentais
ou suscetíveis de aparecerem e de desapareceram em determinadas circunstâncias. São
direitos eternos, inalienáveis, imprescritíveis que se agregam à natureza do ser humano
pelo simples fato de ela existir no mundo do direito”.
Outro conceito descreve os Direitos Humanos como um conjunto de faculdades e
instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da
liberdade e da igualdade humana, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos
ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional”. (LUÑO, 1995, p.48).
Diante de tais conceitos podemos definir Direitos Humanos como sendo como tudo
aquilo que se relaciona à dignidade do ser humano, sem os quais uma pessoa não
conseguiria se desenvolver plenamente em várias de suas dimensões de vida, como no
campo moral, no campo da integridade física e no campo psicológico.
É importante guardar algumas observações sobre o que vimos até aqui:
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1. Os direitos humanos são uma construção histórica ao longo da própria formação


da humanidade, eles não surgiram de uma vez;
2. Direitos Humanos é tudo aquilo que protege ou oferece dignidade às pessoas:
faculdades e instituições, além do direito positivo (escrito);
3. Os DDHH protegem e atendem ao indivíduo e limitam o poder do Estado sobre
as pessoas;
4. Sem alguns desses direitos, que são indivisíveis, qualquer pessoa terá
dificuldade em alguma área de sua vida;
5. A base e fundamento principal dos direitos humanos é a dignidade da pessoa
humana;
Mesmo diante de tais observações preliminares, percebemos resistência por parte
da tropa quanto ao tema Direitos Humanos.
Umas das explicações é a formação histórica das instituições policiais em nosso
país. Em pesquisa recente, publicada pela então Secretaria Nacional de Segurança
Pública - SENASP, verificou-se a importância de o trabalho policial ser orientado por
princípios que se harmonizem com os valores da democracia.
O Estado Democrático vigente, exige que o agente de segurança pública oriente a
sua conduta por princípios, os quais respeitem os direitos do cidadão em qualquer
circunstância. Para isso, é fundamental o conhecimento e a valorização desses princípios
pelo policial militar, com a capacidade de compreender o valor desses direitos para a
manutenção do pacto social (SENASP, p. 156).
A modernização das polícias no Brasil e todo seu conjunto de teorias e treinamento,
acompanhando ao que diz a Constituição Federal de 1988, remonta aos anos 1990,
quando surgiram os Programas Nacionais de Direitos Humanos, instituindo a segurança
pública efetivamente como um direito social, devidamente escrito na Constituição Federal,
em seu art. 6º.
Como sabemos, é muito difícil mudar a cultura de qualquer organização,
permanecendo muitos hábitos e costumes anteriores e que somente um trabalho intenso
de mudança é capaz de ir modificando lentamente.
Deste ponto de vista, pode-se afirmar que, apesar do texto moderno da
Constituição e de algumas leis atuais, o cotidiano dos profissionais de segurança pública
está repleto de referências anteriores a ela e, portanto, ainda se curvam aos costumes
antigos. O receio de mudar os hábitos está presente no cotidiano das instituições e, em
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alguns casos, este hábito é muito mais forte do que o compromisso com a ética, com a
moral e com o respeito aos direitos humanos.
Na obra de Balestreri, Direitos Humanos – Coisa de Polícia, é apresentada essa
separação entre Polícia e Sociedade, e muito mais, entre Polícia e Direitos Humanos. Um
afastamento que só trouxe atrasos e prejuízos, e que tem explicação no contexto histórico
de construção de imagens negativas de ambos os lados como “minas ideológicas” que
destroem tudo. Balestreri passa então a fazer considerações importantes sobre Direitos
Humanos e Segurança Pública, as quais trouxemos apenas algumas (1998, p.7-13):
• O policial é, antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve nutrir sua razão de
ser. Irmana-se, assim, a todos os membros da comunidade em direitos e deveres. Sua
condição de cidadania é, portanto, condição primeira, tornando-se bizarra qualquer
reflexão fundada sobre suposta dualidade ou antagonismo entre uma “sociedade civil” e
outra “sociedade policial”;
• O agente de Segurança Pública é, contudo, um cidadão qualificado: emblematiza
o Estado, em seu contato mais imediato com a população. Sendo a autoridade mais
comumente encontrada tem, portanto, a missão de ser uma espécie de “porta voz”
popular [...];
Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, como em outras
profissões de suporte público, antecede as próprias especificidades de sua
especialidade. [...] O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais
abrangentes, é um pleno e legítimo educador. [...]
• [...] Em nível pessoal, é fundamental que o cidadão policial sinta-se motivado e
orgulhoso de sua profissão. Isso só é alcançável a partir de um patamar de “sentido
existencial”. Se a função policial for esvaziada desse sentido, transformando o homem e a
mulher que a exercem em meros cumpridores de ordens sem um significado
pessoalmente assumido como ideário, o resultado será uma autoimagem denegrida e
uma baixa autoestima.
• Na relação entre Rigor e Violência: o uso legítimo da força não se confunde,
contudo, com truculência;
• Ética Corporativa: ter identidade com a polícia, amar a corporação da qual
participa, coisas essas desejáveis, não se podem confundir, em momento algum, com
acobertar práticas abomináveis. Ao contrário, a verdadeira identidade policial exige do
sujeito um permanente zelo pela “limpeza” da instituição da qual participa.
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Assim, conclui que a polícia, como instituição a serviço da cidadania em uma de


suas demandas mais básicas — Segurança Pública — tem tudo para ser altamente
respeitada e valorizada. Para isso, é necessário resgatar a consciência da importância
de seu papel social, afastando “a crença de que a competência se alcança pela
truculência e não pela técnica, maus-tratos internos a policiais de escalões inferiores,
corporativismo no acobertamento de práticas incompatíveis com a nobreza da missão
policial”

A proteção dos Direitos Humanos passa, então, a ser umas das principais funções
das polícias, uma mudança que ainda está em processo de conscientização e efetividade.
Este processo começa reconhecendo o conceito de DDHH e identificando o policial como
um sujeito de direitos humanos.

1.1.1 – TERMINOLOGIA
A expressão “Direitos Humanos” é ainda tema de grande debate em áreas não
jurídicas, assim como nas áreas jurídicas, tanto no Brasil como no exterior, não sendo um
termo usado da mesma forma em todas as áreas, tendo muitas outras formas que são
usadas como sinônimos.
Vamos apresentar algumas expressões:
Direitos do homem e do cidadão: a expressão “do homem” faz referência à
Revolução Francesa, de 1789, abrangendo direitos civis (direitos do homem) e direitos
políticos (direitos dos cidadãos).
• Direitos naturais e civis: expressão que procura abranger direitos inerentes ao ser
humano (que nascem com a pessoa) independentemente de ter ou não normas escritas,
antes de qualquer norma ser positivada (escrita pelo Estado), os direitos civis são àqueles
normatizados nas Constituições e normas infraconstitucionais. Entre os direitos civis
temos a categoria dos direitos políticos, por exemplo.
• Direitos e liberdades públicas: referência aos direitos dos indivíduos contra a
intervenção estatal, que conferem ao indivíduo um status ativo frente ao Estado (que deve
ter uma posição negativa, “de não fazer”). Ao se falar em “liberdades públicas” estamos
falando dos direitos de 1ª dimensão e não dos direitos de 2ª Dimensão ou Geração
(sociais, econômicos e culturais).
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1.1.2 – DIFERENÇA ENTRE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS


FUNDAMENTAIS
Os direitos humanos são aqueles previstos em tratados internacionais e
considerados indispensáveis para uma existência humana digna, como, por exemplo, a
saúde, a liberdade, a igualdade, a moradia, a educação, a intimidade.

Autores como Samuel Sales Fonteles conceituam os direitos fundamentais como


sendo os “direitos relativos a uma existência humana digna, reconhecidos por uma
Constituição (de qualquer país), que impõem deveres ao Estado, salvaguardando o
indivíduo ou a coletividade”. (Fonteles, 2014, p.27)
Por implicarem, portanto, “deveres jurídicos ao Estado, os direitos fundamentais
são classificados como elementos limitativos das Constituições”, por limitarem o poder do
Estado sobre as pessoas.
Os direitos fundamentais, assim, são os direitos humanos incorporados (inscritos),
positivados, escritos, em regra, na ordem constitucional de um Estado.
1.1.3 – CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A doutrina aponta as seguintes características para os direitos humanos
fundamentais, os quais se relacionam com a não interferência estatal na esfera de
individualidade, respeitando-se o valor ético da dignidade humana. Essas características
se vinculam aos princípios internacionais que a Constituição Federal Brasileira de 1988
concorda.
I) Historicidade - os direitos fundamentais apresentam natureza histórica, advindo
do Cristianismo, superando diversas revoluções até chegarem aos dias atuais;
II) Universalidade – alcançam a todos os seres humanos indistintamente; nesse
sentido fala-se em “Sistema Global de Proteção de Direitos Humanos”;
III) Inexauribilidade – são inesgotáveis no sentido de que podem ser expandidos,
ampliados e a qualquer tempo podem surgir novos direitos.
IV) Essencialidade – os direitos humanos são inerentes ao ser humano, tendo por
base os valores supremos do homem e sua dignidade (aspecto material), assumindo nas
constituições locais posição de destaque (aspecto formal).
V) Imprescritibilidade – tais direitos não se perdem com o passar do tempo;
VI) Inalienabilidade – não existe possibilidade de transferência, a qualquer título,
desses direitos;
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VII) Irrenunciabilidade – deles não pode haver renúncia, pois ninguém pode abrir
mão da própria natureza;
VIII) Inviolabilidade – não podem ser violados por leis infraconstitucionais, nem por
atos administrativos de agente do Poder Público, sob pena de responsabilidade civil,
penal e administrativa;
IX) Efetividade – A Administração Pública deve criar mecanismos coercitivos aptos
a efetivação dos direitos fundamentais;
X) Limitabilidade - os direitos não são absolutos, sofrendo restrições nos
momentos constitucionais de crise (Estado de Sítio) e também frente a interesses ou
direitos que, acaso confrontados, sejam mais importantes (Princípio da Ponderação);
XI) Complementaridade – os direitos fundamentais devem ser observados não
isoladamente, mas de forma conjunta e interativa com as demais normas, princípios e
objetivos estatuídos pelo constituinte;
XII) Concorrência – os direitos fundamentais podem ser exercidos de forma
acumulada, quando, por exemplo, um jornalista transmite uma notícia e expõe sua opinião
(liberdade de informação, comunicação e opinião).
XIII) Vedação do retrocesso (Effet Cliquet***) – os direitos humanos jamais podem
ser diminuídos ou reduzidos no seu aspecto de proteção (O Estado não pode proteger
menos do que já vem protegendo).
***A expressão “effet cliquet”, de origem Francesa, significa “garra”, referindo-se
aos instrumentos utilizados pelos alpinistas para escalar montanhas, e que denota que a
partir de determinado ponto “não é possível retroceder”, mas somente avançar, ou seja,
permitindo-se somente o movimento de subida na escalada.
XIV) Indivisibilidade: os direitos humanos não podem ser divididos ou oferecidos
isoladamente, eles fazem parte de um sistema e bloco dinâmico de direitos que se
ajudam e complementam.
Entender os Direitos Humanos e suas características é importante para que se
possa dialogar com o tema dos Direitos Humanos, evitando-se erros conceituais.
1.1.4 – DIMENSÕES/GERAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS
A 1ª dimensão/geração dos direitos humanos tem na liberdade o seu elemento
principal. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em 1789, é o
seu marco histórico. Nessa categoria, encontram-se as liberdades públicas e os direitos
políticos.
10

As liberdades públicas, também denominadas direitos civis ou direitos individuais,


são prerrogativas que protegem a integridade física, psíquica e moral das ações ilegais ou
abusos de poder que o Estado ou outra pessoa possa fazer. Os direitos humanos de 1ª
dimensão atuam na dimensão individual e protegem a autonomia do ser humano.
São, portanto, faculdades de agir do indivíduo que implicam o dever de abstenção
(de não agir), sobretudo do Estado. Entre os direitos dessa categoria estão a liberdade de
expressão, a presunção de inocência, a inviolabilidade de domicílio, a proteção à vida
privada, a liberdade de locomoção, os direitos da pessoa privada de liberdade, o devido
processo legal etc. Todos possuem um ponto em comum: a tutela (defesa) do ser humano
em sua dimensão individual.
Os direitos políticos, por sua vez, asseguram a participação popular através do voto
e outras manifestações na administração do Estado. O núcleo dos direitos políticos e seu
exemplo é composto pelo direito de votar e pelo direito de ser votado, pelo direito de
ocupar cargos, empregos ou funções públicas e pelo direito de neles permanecer OS
DIREITOS DE 1ª DIMENSÃO Caracterizam-se por exigir conduta não interventiva do
Estado (PRESTAÇÕES SOCIAIS NEGATIVAS) e valorizam o ser humano em sua
individualidade.
Os direitos de 2ª dimensão/geração se relacionam a ideia do Estado do Bem-Estar
Social, que começou a ganhar corpo após o término da 1ª Guerra Mundial. Caracterizam-
se por serem poderes de exigir prestações estatais positivas que assegurem a todos
igualdade de oportunidades.
Nas Constituições contemporâneas, eles se subdividem nas seguintes categorias:
existem capítulos inteiros na constituição sobre direitos sociais, direitos econômicos e
direitos culturais.
A 2ª dimensão produziu direitos que obrigam a intervenção do poder público para
assegurar condições básicas de saúde, educação, habitação, transporte, trabalho, lazer
etc., através de políticas públicas e ações afirmativas eficientes e inclusivas.
a) Direitos Sociais: educação, saúde, trabalho, moradia, lazer segurança,
previdência social, assistência aos desamparados, proteção à maternidade e à infância
(CF, art. 6º).
b) Direitos Econômicos: valorização do trabalho, livre iniciativa, função social da
propriedade, livre concorrência, defesa do consumidor, redução das desigualdades
regionais e sociais etc. (CF, art. 170).
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c) Direitos Culturais: acesso às fontes da cultura nacional, valorização e difusão das


manifestações culturais, proteção às culturas populares, indígenas e afro-brasileiras;
proteção ao patrimônio cultural brasileiro, que são os bens de natureza material e
imaterial portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira (CF, art. 215 e 216).
Os direitos de 3ª dimensão/geração, também conhecidos como direitos de
fraternidade, como foram batizados por Karel Vasak, ou direitos de solidariedade,
passaram a ser adotados nos textos constitucionais a partir da década de 60.
A defesa desses direitos depende sempre da atuação pro populo do Ministério
Público ou de representantes da sociedade civil, sobretudo as organizações não-
governamentais. Também pode ser exercida pelo cidadão nas ações populares.
Eles também são chamados de direitos difusos (atingem a todos) e coletivos, sendo
assim, a principal manifestação do princípio da solidariedade. É responsabilidade do
Estado e da sociedade, juntos.

Possuem dois pontos em comum, seus princípios: a transindividualidade e a


indivisibilidade.
São transindividuais porque só podem ser exigidos em ações coletivas e não
individuais, pois o seu exercício está condicionado à existência de um grupo determinado
ou indeterminado de pessoas; são indivisíveis porque não podem ser fracionados entre os
titulares. Não há como apartar a fatia de cada um. Destinar os direitos para um e não para
o outro. Todos ficam satisfeitos juntos. A satisfação de seus mandamentos e resultados
beneficia a todos. A violação e o seu desrespeito é igualmente prejudicial à todo o grupo
humano.
A 4ª dimensão/geração dos direitos humanos ainda não está plenamente
configurada. As opiniões dos doutrinadores são divergentes em relação ao seu conteúdo.
Muitos até discordam de sua existência.
Mas devemos falar que ela se desenvolve em dois eixos: os direitos da bioética e
os direitos da informática.
O discurso jurídico incorpora temas como o suicídio, a eutanásia, o aborto, o
transexualismo, o comércio de órgãos humanos, a procriação artificial, a manipulação do
código genético e a clonagem de seres humanos.
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Podemos observar a preocupação com a manipulação da vida, quando nos


perguntamos sobre o perigo de manipular ou criar vírus que podem ser tão letais quanto o
COVID19, que foi classificado como PANDEMIA pela Organização Mundial de Saúde.
Podemos esquematizar as dimensões de direitos humanos da seguinte
forma:
a) 1ª dimensão /geração – liberdades públicas e direitos políticos (ações negativas
do Estado);
b) 2ª dimensão/geração – direitos sociais, econômicos e culturais (ações positivas
do Estado);
c) 3ª dimensão/geração – direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (de
responsabilidade tanto do Estado quanto da sociedade);
d) 4ª dimensão/geração – direitos da bioética e direito da informática (ainda em
formação)
Obs.: Importante saber que alguns autores apresentam até nove dimensões de Direitos
Humanos.

1.2. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS

Neste ponto do conteúdo vamos apresentar alguns documentos que se relacionam


aos Direitos Humanos no Plano Internacional.
1.2.1 – DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS – 1948 (DUDH)
Foi em sessão de 16 de fevereiro de 1946 que o Conselho Econômico e Social das
Nações Unidas – ONU – concordou que uma comissão de Direitos Humanos deveria ser
criada e que seus trabalhos deveriam ter três etapas:
01) elaborar uma declaração de Direitos Humanos;
02) criar um documento que vinculasse juridicamente os países-membros, como
um tratado ou convenção internacional; e
03) por último, criar um sistema e uma maquinaria estatal que assegurasse o
respeito aos Direitos Humanos e que tratasse os casos de violação.
A primeira etapa foi concluída com a criação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos em 10 de dezembro de 1948 com 30 artigos. A segunda etapa só ocorreu em
1966 com a criação de dois Pactos Internacionais: Pacto Internacional pelos Direitos Civis
e Políticos e Pacto Internacional dos Direitos Sociais, econômicos e culturais.
13

Umas das grandes questões sobre a DUDH é saber se ela tem força de lei (força
vinculante) sobre os países.
Podemos responder com o que afirma o próprio site Direitos Humanos
Internacional: a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um padrão ideal
sustentado em comum acordo por nações no mundo inteiro, mas não possui nenhuma
força de lei. Assim, desde 1948 até 1966 a tarefa principal da Comissão de Direitos
Humanos das Nações Unidas foi criar um corpo de leis e direitos humanos no plano
internacional (DIP) baseado na Declaração, para estabelecer os mecanismos necessários
para fazer cumprir a sua implementação e uso.
A Comissão de Direitos Humanos elaborou dois documentos principais: o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Ambos se tornaram lei internacional em 1976 ao se
associar a Declaração Universal dos Direitos Humanos com estes dois Pactos: ficando
conhecido como a “Lei Internacional de Direitos Humanos ou Carta Internacional de
Direitos Humanos”.
Assim a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 não têm na sua
origem força de lei, mas tornou-se a referência para a criação de todos os tratados e
documentos subsequentes e servindo de base para as Constituições Nacionais.
Assim, a Declaração Universal não surgiu em 1948 com o propósito de possuir
força de lei, na medida em que não constitui um tratado (um acordo internacional), mas
nasceu para promover o reconhecimento universal dos direitos do homem e a
concretização de ações nesse sentido. Os Estados-membros da ONU têm a obrigação de
respeitar os direitos proclamados por essa Declaração.
Entretanto, para alguns autores, a Declaração Universal dos Direitos Humanos
possui força jurídica vinculante, somente pelo fato de ela já integrar o costume
internacional e os princípios gerais do Direito Internacional, como também pelo fato de
que todo ou parte do conteúdo da Declaração já fora incorporado aos textos
constitucionais de vários Estados. Eles também afirmam que várias resoluções da ONU
adotadas em âmbito internacional têm por base o conteúdo da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, assim como várias decisões proferidas por Cortes Nacionais têm a
Declaração Universal como fonte de direito.
(leitura individual e integral do texto da DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE
DIREITOS HUMANOS)
14

1.2.2 – CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS – 1969 (CADH /


PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
A Convenção Americana de Direitos Humanos - CADH é um documento mais
moderno que tem o objetivo de atender as características mais locais de todo o continente
americano. Ela tem um nome oficial e um popular, Pacto de São José da Costa Rica, por
ter sido assinada na cidade de São José na Costa Rica.
Como foi criada em 1969, 21 anos após a DUDH, ela apresenta novidades que não
aparecem no documento de 1948.
A grande novidade desse documento é a presença dos “Meios de Proteção”, 02
(dois) grandes órgãos internos no documento: A Comissão interamericana de Direitos
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, sendo o primeiro um órgão é
administrativo e fiscalizador e o segundo é órgão contencioso, que julga casos de
violação que chegam até ele.
Outro ponto muito importante é que a CADH é um documento vinculante
(obrigatório; com força legal) sobre os países que assinam, fato visto logo na primeira
parte do convenção.
O documento segue, então, com vários pontos bem característicos:
• A vida é protegida desde a concepção;
• Criam-se regras para aplicação da pena de morte;
• Aborda-se a questão do tráfico de mulheres; proibição da expulsão coletiva de
estrangeiros; garantias processuais mínimas, detalha-se o que é e o que não é trabalho
forçado; proíbe-se a prisão civil por dívidas e se estabelece a apresentação do preso à
presença do juiz, o que no Brasil só vem a ser conhecido nos anos 2000 como audiência
de Custódia.
• As datas de abertura de assinatura (1969), do ano que passa a vigorar (1978) e a
data que o Brasil assina tendo efeitos jurídicos no país (1992) são importantes;
• A CADH também apresenta características quanto as dimensões de Direitos
Humanos que ela contém: deve ficar claro que o documento original (1969) contém
direitos humanos de 1ª Dimensão, e que a 2ª Dimensão só veio a ser devidamente
explorada ou detalhada em 1988, com assinatura de um Pacto Adicional Chamado
Protocolo de São Salvador.
15

(leitura individual e integral do texto da CONVENÇÃO AMERICANA DE


DIREITOS HUMANOS)

1.2.3 – OS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SUA


LÓGICA ESTRUTURAL.
A Constituição Federal de 1988 é conhecida como constituição cidadã por valorar e
posicionar os direitos fundamentais no início do corpo de seu texto.
Um erro comum é afirmar que todos os direitos humanos ou direitos fundamentais
se encontram
exclusivamente no art. 5º, pois os direitos fundamentais estão por todo o texto
constitucional começando no preâmbulo, fundamentos, objetivos e princípios que regem
as relações internacionais do Brasil com outros Estados e se distribuindo até os últimos
artigos da Carta Constitucional.
O artigo 5º, porém, apresenta uma densidade desses direitos devido a sua
importância. Na organização desses direitos, a Constituição de 1988 adotou alguns
princípios estruturais.
O primeiro princípio estrutural é o de que as normas definidoras de direitos e
garantias fundamentais têm aplicação imediata (art. 5º, § 1º). Sem dúvida, a própria
Constituição criou o remédio judicial do mandado de injunção (art. 5º, inciso LXXI:
“sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”).
O segundo princípio estrutural do sistema de direitos humanos, na Constituição de
1988, é o de que os direitos e garantias fundamentais, nela expressos, “não excluem
outros, decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados” (art. 5º, § 2º). Afirma-se
aqui a importância dos princípios igualando-o ao valor dos direitos e garantias expressos
no texto constitucional. Ao se reconhecer os princípios e os valores da Declaração
Universal de 1948 teremos uma forte influência na Constituição Cidadã de 1988.
Os princípios fundamentais da nossa organização constitucional e o regime político
adotado são declarados nos quatro primeiros artigos da Constituição. Os princípios
aparecem sob a forma de fundamentos (art. 1º) e de objetivos (art. 3º).
O terceiro princípio estrutural do nosso sistema de direitos humanos é o da
equiparação entre as normas de direito internacional e as de direito interno. O art. 5º da
16

Constituição prevê a inclusão no sistema constitucional “dos tratados internacionais em


que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Contudo, não é verdadeiro dizer que basta a assinatura de um tratado internacional
para que ele se torna parte da Constituição brasileira. Para se efetivar no país, há um rito
especial previsto no Art. 5º, § 3º da CF 1988.

UNIDADE II
ATIVIDADE POLICIAL E USO DA FORÇA: INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS E
LOCAIS

O objetivo desta unidade é apresentar apenas alguns documentos internacionais


que regulam o uso da força. Estes documentos foram assinados pelo Brasil gerando
direitos e obrigações internas, como último documento, podemos observar um documento
feito no Brasil (Portaria de 2010) que regula o uso da força em nosso país.

2.1 – PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO


PELOS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI (1990)

Este documento foi produzido por ocasião do Oitavo Congresso das Nações Unidas
para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes.
Após fazer diversas recomendações à própria instituição e aos Estados signatários,
o texto traz disposições gerais e específicas que devem ser de conhecimento dos agentes
de segurança de modo a evitar condutas inadequadas e também para que respaldem
suas ações quando questionados.

Disposições gerais

1. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem adotar e aplicar regras


sobre a utilização da força e de armas de fogo contra as pessoas, por parte dos
funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Ao elaborarem essas regras, os
Governos e os organismos de aplicação da lei devem manter sob permanente avaliação
as questões éticas ligadas à utilização da força e de armas de fogo.
17

2. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem desenvolver um leque


de meios tão amplo quanto possível e habilitar os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei com diversos tipos de armas e de munições, que permitam uma utilização
diferenciada da força e das armas de fogo. Para o efeito, deveriam ser desenvolvidas
armas neutralizadoras não letais, para uso nas situações apropriadas, tendo em vista
limitar de modo crescente o recurso a meios que possam causar a morte ou lesões
corporais. Para o mesmo efeito, deveria também ser possível dotar os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei de equipamentos defensivos, tais como escudos,
viseiras, coletes balísticos e veículos blindados, a fim de se reduzir a necessidade de
utilização de qualquer tipo de armas.

3. O desenvolvimento e utilização de armas neutralizadoras não letais deveria ser


objeto de uma avaliação cuidadosa, a fim de reduzir ao mínimo os riscos com relação a
terceiros, e a utilização dessas armas deveria ser submetida a um controlo estrito.

4. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, no exercício das suas


funções, devem, na medida do possível, recorrer a meios não violentos antes de
utilizarem a força ou armas de fogo. Só poderão recorrer à força ou a armas de fogo se
outros meios se mostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o resultado desejado.

5. Sempre que o uso legítimo da força ou de armas de fogo seja indispensável, os


funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem:

a) Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à gravidade da


infracção e ao objectivo legítimo a alcançar;

b) Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e lesões e respeitarem e


preservarem a vida humana;

c) Assegurar a prestação de assistência e socorros médicos às pessoas feridas ou


afetadas, tão rapidamente quanto possível;

d) Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas próximas da


pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível.

6. Sempre que da utilização da força ou de armas de fogo pelos funcionários


responsáveis pela aplicação da lei resultem lesões ou a morte, os responsáveis farão um
relatório da ocorrência aos seus superiores, de acordo com o princípio 22.
18

7. Os Governos devem garantir que a utilização arbitrária ou abusiva da força ou de


armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei seja punida como
infracção penal, nos termos da legislação nacional.

8. Nenhuma circunstância excepcional, tal como a instabilidade política interna ou o


estado de emergência, pode ser invocada para justificar uma derrogação dos presentes
Princípios Básicos.

Disposições especiais

9. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem fazer uso de


armas de fogo contra pessoas, salvo em caso de legítima defesa, defesa de terceiros
contra perigo iminente de morte ou lesão grave, para prevenir um crime particularmente
grave que ameace vidas humanas, para proceder à detenção de pessoa que represente
essa ameaça e que resista à autoridade, ou impedir a sua fuga, e somente quando
medidas menos extremas se mostrem insuficientes para alcançarem aqueles objetivos.

Em qualquer caso, só devem recorrer intencionalmente à utilização letal de armas


de fogo quando isso seja estritamente indispensável para proteger vidas humanas.

10. Nas circunstâncias referidas no princípio 9, os funcionários responsáveis pela


aplicação da lei devem identificar-se como tal e fazer uma advertência clara da sua
intenção de utilizarem armas de fogo, deixando um prazo suficiente para que o aviso
possa ser respeitado, excepto se esse modo de proceder colocar indevidamente em risco
a segurança daqueles responsáveis, implicar um perigo de morte ou lesão grave para
outras pessoas ou se se mostrar manifestamente inadequado ou inútil, tendo em conta as
circunstâncias do caso.

11. As normas e regulamentações relativas à utilização de armas de fogo pelos


funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem incluir diretrizes que:

a) Especifiquem as circunstâncias nas quais os funcionários responsáveis pela


aplicação da lei sejam autorizados a transportar armas de fogo e prescrevam os tipos de
armas de fogo e munições autorizados;

b) Garantam que as armas de fogo sejam utilizadas apenas nas circunstâncias


adequadas e de modo a reduzir ao mínimo o risco de danos inúteis;
19

c) Proíbam a utilização de armas de fogo e de munições que provoquem lesões


desnecessárias ou representem um risco injustificado;

d) Regulamentem o controlo, armazenamento e distribuição de armas de fogo e


prevejam nomeadamente procedimentos de acordo com os quais os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei devam prestar contas de todas as armas e munições
que lhes sejam distribuídas;

e) Prevejam as advertências a efetuar, sendo caso disso, se houver utilização de


armas de fogo;

f) Prevejam um sistema de relatórios de ocorrência, sempre que os funcionários


responsáveis pela aplicação da lei utilizem armas de fogo no exercício das suas funções.

Manutenção da ordem em caso de reuniões ilegais

12. Dado que a todos é garantido o direito de participação em reuniões lícitas e


pacíficas, de acordo com os princípios enunciados na Declaração Universal dos Direitos
do Homem e no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, os Governos e os
serviços e funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem reconhecer que a força
e as armas de fogo só podem ser utilizadas de acordo com os princípios 13 e 14.

13. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem esforçar-se por


dispersar as reuniões ilegais mas não violentas sem recurso à força e, quando isso não
for possível, limitar a utilização da força ao estritamente necessário.

14. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem utilizar armas de


fogo para dispersarem reuniões violentas se não for possível recorrer a meios menos
perigosos, e somente nos limites do estritamente necessário. Os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar armas de fogo nesses casos, salvo
nas condições estipuladas no princípio 9.

Manutenção da ordem entre pessoas detidas ou presas

15. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar a força na
relação com pessoas detidas ou presas, excepto se isso for indispensável para a
manutenção da segurança e da ordem nos estabelecimentos penitenciários, ou quando a
segurança das pessoas esteja ameaçada.
20

16. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar armas de
fogo na relação com pessoas detidas ou presas, excepto em caso de legítima defesa ou
para defesa de terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave, ou quando essa
utilização for indispensável para impedir a evasão de pessoa detida ou presa
representando o risco referido no princípio 9.

17. Os princípios precedentes entendem-se sem prejuízo dos direitos, deveres e


responsabilidades dos funcionários dos estabelecimentos penitenciários, tal como são
enunciados nas Regras Mínimas para o Tratamento de Presos, em particular as regras
33, 34 e 54.

Habilitações, formação e aconselhamento

18. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir que todos os


funcionários responsáveis pela aplicação da lei sejam selecionados de acordo com
procedimentos adequados, possuam as qualidades morais e aptidões psicológicas e
físicas exigidas para o bom desempenho das suas funções e recebam uma formação
profissional contínua e completa. Deve ser submetida a reapreciação periódica a sua
capacidade para continuarem a desempenhar essas funções.

19. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir que todos os


funcionários responsáveis pela aplicação da lei recebam formação e sejam submetidos a
testes de acordo com normas de avaliação adequadas sobre a utilização da força. Os
funcionários responsáveis pela aplicação da lei que devam transportar armas de fogo
deveriam ser apenas autorizados a fazê-lo após recebimento de formação especial para a
sua utilização.

20. Na formação dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, os Governos


e os organismos de aplicação da lei devem conceder uma atenção particular às questões
de ética policial e de direitos do homem, em particular no âmbito da investigação, aos
meios de evitar a utilização da força ou de armas de fogo, incluindo a resolução pacífica
de conflitos, ao conhecimento do comportamento de multidões e aos métodos de
persuasão, de negociação e mediação, bem como aos meios técnicos, tendo em vista
limitar a utilização da força ou de armas de fogo. Os organismos de aplicação da lei
deveriam rever o seu programa de formação e procedimentos operacionais, em função de
incidentes concretos.
21

21. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir


aconselhamento psicológico aos funcionários responsáveis pela aplicação da lei
envolvidos em situações em que sejam utilizadas a força e armas de fogo.

Procedimentos de comunicação hierárquica e de inquérito

22. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem estabelecer


procedimentos adequados de comunicação hierárquica e de inquérito para os incidentes
referidos nos princípios 6 e 11).

Para os incidentes que sejam objeto de relatório por força dos presentes Princípios,
os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir a possibilidade de um
efetivo procedimento de controlo e que autoridades independentes (administrativas ou do
Ministério Público), possam exercer a sua jurisdição nas condições adequadas. Em caso
de morte, lesão grave, ou outra consequência grave, deve ser enviado de imediato um
relatório detalhado às autoridades competentes encarregadas do inquérito administrativo
ou do controlo judiciário.

23. As pessoas contra as quais sejam utilizadas a força ou armas de fogo ou os


seus representantes autorizados devem ter acesso a um processo independente, em
particular um processo judicial. Em caso de morte dessas pessoas, a presente disposição
aplica-se às pessoas a seu cargo.

24. Os Governos e organismos de aplicação da lei devem garantir que os


funcionários superiores sejam responsabilizados se, sabendo ou devendo saber que os
funcionários sob as suas ordens utilizam ou utilizaram ilicitamente a força ou armas de
fogo, não tomaram as medidas ao seu alcance para impedirem, fazerem cessar ou
comunicarem este abuso.

25. Os Governos e organismos responsáveis pela aplicação da lei devem garantir


que nenhuma sanção penal ou disciplinar seja tomada contra funcionários responsáveis
pela aplicação da lei que, de acordo como o Código de Conduta para os Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei e com os presentes Princípios Básicos, recusem
cumprir uma ordem de utilização da força ou armas de fogo ou denunciem essa utilização
por outros funcionários.

26. A obediência a ordens superiores não pode ser invocada como meio de defesa
se os responsáveis pela aplicação da lei sabiam que a ordem de utilização da força ou de
22

armas de fogo de que resultaram a morte ou lesões graves era manifestamente ilegal e se
tinham uma possibilidade razoável de recusar cumpri-la. Em qualquer caso, também
existe responsabilidade da parte do superior que proferiu a ordem ilegal.

2.2 – CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS


(ENCARREGADOS) PELA APLICAÇÃO DA LEI – CCEAL (ONU, 1979)

ARTIGO 1º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o dever


que a lei Ihes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos
ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão
requer.

ARTIGO 2º

No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei


devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de
todas as pessoas.

ARTIGO 3º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força


quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.

ARTIGO 4º

Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela


aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever
ou necessidade de justiça estritamente exijam outro comportamento.

ARTIGO 5º

Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou


tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel, desumano ou
degradante, nem nenhum destes funcionários pode invocar ordens superiores ou
circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça de guerra,
uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra
emergência pública como justificação para torturas ou outros tratamentos ou penas
cruéis, desumanos ou degradantes.
23

ARTIGO 6º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a proteção da


saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar as medidas imediatas para
assegurar tais cuidados médicos sempre que necessário.

ARTIGO 7º

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer qualquer


ato de corrupção.

Também se devem opor rigorosamente e combater todos estes atos.

ARTIGO 8º

Os funcionários responsáveis peta aplicação da lei devem respeitar a lei e este


Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se
rigorosamente a qualquer violação da lei e do Código. Os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que houve ou que está para haver
uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus superiores e, se
necessário, as outras autoridades adequadas ou organismos com poderes de revisão e
reparação.

2.3 – PORTARIA INTERMINISTERIAL 4.226 DE 2010

A portaria interministerial nº 4.226/2010 teve assinatura conjunta do ministro da


Justiça e do ministro-chefe da secretaria de direitos humanos. Por força da Portaria
4.226/2010 a SEGUP/PA criou a resolução 204 de 2012, que regula o uso da força por
todos os agentes de segurança do Estado e segue as diretrizes desta portaria
interministerial

ANEXO I

DIRETRIZES SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO PELOS


AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA

1. O uso da força pelos agentes de segurança pública deverá se pautar nos


documentos internacionais de proteção aos direitos humanos e deverá considerar,
primordialmente:
24

a) ao Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da


Lei, adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas na sua Resolução 34/169, de 17
de dezembro de 1979;

b) os Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para


os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conselho Econômico
e Social das Nações Unidas na sua Resolução 1.989/61, de 24 de maio de 1989;

c) os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários


Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas
para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Havana,
Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1999;

d) a Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis,


Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua
XL Sessão, realizada em Nova York em 10 de dezembro de 1984 e promulgada pelo
Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991.

2. O uso da força por agentes de segurança pública deverá obedecer aos princípios
da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência.

3. Os agentes de segurança pública não deverão disparar armas de fogo contra


pessoas, exceto em casos de legítima defesa própria ou de terceiro contra perigo
iminente de morte ou lesão grave.

4. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra pessoa em fuga que esteja
desarmada ou que, mesmo na posse de algum tipo de arma, não represente risco
imediato de morte ou de lesão grave aos agentes de segurança pública ou terceiros.

5. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra veículo que desrespeite bloqueio
policial em via pública, a não ser que o ato represente um risco imediato de morte ou
lesão grave aos agentes de segurança pública ou terceiros.

6. Os chamados “disparos de advertência” não são considerados prática aceitável,


por não atenderem aos princípios elencados na Diretriz nº 2 e em razão da
imprevisibilidade de seus efeitos.

7. O ato de apontar arma de fogo contra pessoas durante os procedimentos de


abordagem não deverá ser uma prática rotineira e indiscriminada.
25

8. Todo agente de segurança pública que, em razão da sua função, possa vir a se
envolver em situações de uso da força, deverá portar no mínimo 2 (dois) instrumentos de
menor potencial ofensivo e equipamentos de proteção necessários à atuação específica,
independentemente de portar ou não arma de fogo.

9. Os órgãos de segurança pública deverão editar atos normativos disciplinando o


uso da força por seus agentes, definindo objetivamente:

a) os tipos de instrumentos e técnicas autorizadas;

b) as circunstâncias técnicas adequadas à sua utilização, ao ambiente/entorno e ao


risco potencial a terceiros não envolvidos no evento;

c) o conteúdo e a carga horária mínima para habilitação e atualização periódica ao


uso de cada tipo de instrumento;

d) a proibição de uso de armas de fogo e munições que provoquem lesões


desnecessárias e risco injustificado; e

e) o controle sobre a guarda e utilização de armas e munições pelo agente de


segurança pública.

10. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pessoa(s), o agente de


segurança pública envolvido deverá realizar as seguintes ações:

a) facilitar a prestação de socorro ou assistência médica aos feridos;

b) promover a correta preservação do local da ocorrência;

c) comunicar o fato ao seu superior imediato e à autoridade competente; e

d) preencher o relatório individual correspondente sobre o uso da força, disciplinado


na Diretriz nº 22.

11. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pessoa(s), o órgão de


segurança pública deverá realizar as seguintes ações:

a) facilitar a assistência e/ou auxílio médico dos feridos;

b) recolher e identificar as armas e munições de todos os envolvidos, vinculando-as


aos seus respectivos portadores no momento da ocorrência;
26

c) solicitar perícia criminalística para o exame de local e objetos bem como exames
médico-legais;

d) comunicar os fatos aos familiares ou amigos da(s) pessoa(s) ferida(s) ou


morta(s);

e) iniciar, por meio da Corregedoria da instituição, ou órgão equivalente,


investigação imediata dos fatos e circunstâncias do emprego da força;

f) promover a assistência médica às pessoas feridas em decorrência da


intervenção, incluindo atenção às possíveis sequelas;

g) promover o devido acompanhamento psicológico aos agentes de segurança


pública envolvidos, permitindo-lhes superar ou minimizar os efeitos decorrentes do fato
ocorrido; e

h) afastar temporariamente do serviço operacional, para avaliação psicológica e


redução do estresse, os agentes de segurança pública envolvidos diretamente em
ocorrências com resultado letal.

12. Os critérios de recrutamento e seleção para os agentes de segurança pública


deverão levar em consideração o perfil psicológico necessário para lidar com situações de
estresse e uso da força e arma de fogo.

13. Os processos seletivos para ingresso nas instituições de segurança pública e


os cursos de formação e especialização dos agentes de segurança pública devem incluir
conteúdos relativos a direitos humanos.

14. As atividades de treinamento fazem parte do trabalho rotineiro do agente de


segurança pública e não deverão ser realizadas em seu horário de folga, de maneira a
serem preservados os períodos de descanso, lazer e convivência sociofamiliar.

15. A seleção de instrutores para ministrarem aula em qualquer assunto que


englobe o uso da força deverá levar em conta análise rigorosa de seu currículo formal e
tempo de serviço, áreas de atuação, experiências anteriores em atividade-fim, registros
funcionais, formação em direitos humanos e nivelamento em ensino. Os instrutores
deverão ser submetidos à aferição de conhecimentos teóricos e práticos e sua atuação
deve ser avaliada.
27

16. Deverão ser elaborados procedimentos de habilitação para o uso de cada tipo
de arma de fogo e instrumento de menor potencial ofensivo que incluam avaliação
técnica, psicológica, física e treinamento específico, com previsão de revisão periódica
mínima.

17. Nenhum agente de segurança pública deverá portar armas de fogo ou


instrumento de menor potencial ofensivo para o qual não esteja devidamente habilitado e
sempre que um novo tipo de arma ou instrumento de menor potencial ofensivo for
introduzido na instituição deverá ser estabelecido um módulo de treinamento específico
com vistas à habilitação do agente.

18. A renovação da habilitação para uso de armas de fogo em serviço deve ser
feita com periodicidade mínima de 1 (um) ano.

19. Deverá ser estimulado e priorizado, sempre que possível, o uso de técnicas e
instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, de acordo
com a especificidade da função operacional e sem se restringir às unidades
especializadas.

20. Deverão ser incluídos nos currículos dos cursos de formação e programas de
educação continuada conteúdos sobre técnicas e instrumentos de menor potencial
ofensivo.

21. As armas de menor potencial ofensivo deverão ser separadas e identificadas de


forma diferenciada, conforme a necessidade operacional.

22. O uso de técnicas de menor potencial ofensivo deve ser constantemente


avaliado.

23. Os órgãos de segurança pública deverão criar comissões internas de controle e

acompanhamento da letalidade, com o objetivo de monitorar o uso efetivo da força pelos


seus agentes.

24. Os agentes de segurança pública deverão preencher um relatório individual


todas as vezes que dispararem arma de fogo e/ou fizerem uso de instrumentos de menor
potencial ofensivo, ocasionando lesões ou mortes. O relatório deverá ser encaminhado à
comissão interna mencionada na Diretriz nº 23 e deverá conter no mínimo as seguintes
informações:
28

a) circunstâncias e justificativa que levaram o uso da força ou de arma de fogo por


parte do agente de segurança pública;

b) medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar instrumentos de menor


potencial ofensivo, ou as razões pelas quais elas não puderam ser contempladas;

c) tipo de arma e de munição, quantidade de disparos efetuados, distância e


pessoa contra a qual foi disparada a arma;

d) instrumento(s) de menor potencial ofensivo utilizado(s), especificando a


frequência, a distância e a pessoa contra a qual foi utilizado o instrumento;

e) quantidade de agentes de segurança pública feridos ou mortos na ocorrência,


meio e natureza da lesão;

f) quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos disparos efetuados pelo(s)


agente(s) de segurança pública;

g) número de feridos e/ou mortos atingidos pelos instrumentos de menor potencial


ofensivo, utilizados pelo(s) agente(s) de segurança pública;

h) número total de feridos e/ou mortos durante a missão;

i) quantidade de projéteis disparados que atingiram pessoas e as respectivas


regiões corporais atingidas;

j) quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos de menor potencial ofensivo


e as respectivas regiões corporais atingidas;

k) ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio médico, quando for o
caso; e

l) se houve preservação do local e, em caso negativo, apresentar justificativa.

25. Os órgãos de segurança pública deverão, observada a legislação pertinente,


oferecer possibilidades de reabilitação e reintegração ao trabalho aos agentes de
segurança pública que adquirirem deficiência física em decorrência do desempenho de
suas atividades.
29

ANEXO II

Glossário

Armas de menor potencial ofensivo: Armas projetadas e/ou empregadas,


especificamente, com a finalidade de conter, debilitar ou incapacitar temporariamente
pessoas, preservando vidas e minimizando danos à sua integridade.

Equipamentos de menor potencial ofensivo: Todos os artefatos, excluindo


armas e munições, desenvolvidos e empregados com a finalidade de conter, debilitar ou
incapacitar temporariamente pessoas, para preservar vidas e minimizar danos à sua
integridade.

Equipamentos de proteção: Todo dispositivo ou produto, de uso individual (EPI)


ou coletivo (EPC) destinado a redução de riscos à integridade física ou à vida dos agentes
de segurança pública.

Força: Intervenção coercitiva imposta à pessoa ou grupo de pessoas por parte do


agente de segurança pública com a finalidade de preservar a ordem pública e a lei.

Instrumentos de menor potencial ofensivo: Conjunto de armas, munições e


equipamentos desenvolvidos com a finalidade de preservar vidas e minimizar danos à
integridade das pessoas.

Munições de menor potencial ofensivo: Munições projetadas e empregadas,


especificamente, para conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas,
preservando vidas e minimizando danos a integridade das pessoas envolvidas.

Nível do Uso da Força: Intensidade da força escolhida pelo agente de segurança


pública em resposta a uma ameaça real ou potencial.

Princípio da Conveniência: A força não poderá ser empregada quando, em


função do contexto, possa ocasionar danos de maior relevância do que os objetivos legais
pretendidos.

Princípio da Legalidade: Os agentes de segurança pública só poderão utilizar a


força para a consecução de um objetivo legal e nos estritos limites da lei.

Princípio da Moderação: O emprego da força pelos agentes de segurança pública


deve sempre que possível, além de proporcional, ser moderado, visando sempre reduzir o
emprego da força.
30

Princípio da Necessidade: Determinado nível de força só pode ser empregado


quando níveis de menor intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos legais
pretendidos.

Princípio da Proporcionalidade: O nível da força utilizado deve sempre ser


compatível com a gravidade da ameaça representada pela ação do opositor e com os
objetivos pretendidos pelo agente de segurança pública.

Técnicas de menor potencial ofensivo: Conjunto de procedimentos empregados


em intervenções que demandem o uso da força, através do uso de instrumentos de
menor potencial ofensivo, com intenção de preservar vidas e minimizar danos à
integridade das pessoas.

Uso Diferenciado da Força: Seleção apropriada do nível de uso da força em


resposta a uma ameaça real ou potencial visando limitar o recurso a meios que possam
causar ferimentos ou mortes.

UNIDADE III: DIREITOS SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS: AUDIÊNCIA DE


CUSTÓDIA; PROTEÇÃO DE DIREITOS HUMANOS DE GRUPOS VULNERÁVEIS.

3.1 – AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

O sistema prisional brasileiro, marcado por graves violações aos direitos


fundamentais dos indivíduos presos ou detidos, por muito tempo dificultou a apresentação
do preso ou detido ao Juiz, nos termos do item 7.5 da Convenção Americana dos Direitos
Humanos.

Uma vez encarcerado, criava-se um distanciamento entre este apenado e as


autoridades responsáveis por seu julgamento e, muitas vezes, o apenado só via a
autoridade julgadora meses ou anos depois de sua prisão. Entre o primeiro dia na prisão
e o dia do contato com qualquer autoridade julgadora, poderiam ocorrer várias situações
de violência e degradação de sua integridade física e psicológica.

Agora destacamos a Convenção Americana de Direitos Humanos, que prevê a


apresentação de qualquer pessoa presa, sem demora, a um juiz ou a autoridade
31

competente a exercer as funções judiciais, sendo, assim, a Audiência de Custódia um


desses elementos que tardaram a vigorar no Brasil.

Mesmo sendo previsto deste 1969 na CADH, foi lançado somente em fevereiro de
2015 como fruto de uma parceria entre o Conselho Nacional de Justiça, o Ministério da
Justiça e o Tribunal de Justiça de São Paulo, consistindo em um instrumento viabilizador
deste processo lento e gradual de entrada de alguns Direitos Humanos em ambientes
prisionais.

Consiste na rápida apresentação da pessoa que foi presa a um juiz, em até 24


horas após a prisão, até mesmo por videoconferência, se for o caso, em uma audiência
onde também são ouvidos Ministério Público, Defensoria Pública ou advogado do preso.
O juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade e a regularidade do flagrante, da
necessidade e da adequação da continuidade da prisão, de se aplicar alguma medida
cautelar e qual seria cabível, ou da eventual concessão de liberdade, com ou sem a
imposição de outras medidas cautelares. A análise avalia, ainda, eventuais ocorrências de
tortura ou de maus-tratos, entre outras irregularidades.

Concluímos, que a Audiência de Custódia é uma medida que busca trazer o que já
está legalmente estabelecido em Tratados Internacionais de Proteção aos Direitos
Humanos à efetiva aplicação no âmbito penal e processual penal brasileiros, nos moldes
do que já foi apresentado: garantir a apresentação das pessoas detidas em audiência
perante o juiz, na presença do Ministério Público, Defensoria ou advogado, para que seja
decidida sobre a necessidade de prisão ou cabimento da concessão de sua liberdade.

Um erro comum é os agentes de segurança pública criticarem a audiência de


Custódia como um instrumento para prejudicar o policial, quando na verdade é uma
ferramenta de Direitos Humanos que serve a todos.

3.2 – GRUPOS VULNERÁVEIS E DIREITOS HUMANOS

Grupos vulneráveis ou minorias sociais são caracterizados como os grupos que se


encontram em situação de desvantagem social, sofrendo preconceito e discriminação em
variadas medidas tendo diminuídas, por diferentes razões, suas capacidades de enfrentar
as eventuais violações de direitos básicos, de direitos humanos.

É importante refletir que todos nós já passamos, estamos passando ou poderemos


passar por algumas fases de “vulnerabilidade”. Todos fomos crianças, alguns são
32

mulheres, alguns são negros, alguns moram em periferia, a maior parte de nós será
idoso; em circunstancias excepcionais, podermos ser pessoas em situação de rua,
exilado, refugiado ou apátrida.

Ou seja, todos somos vulneráveis, dependendo da capacidade que temos de


resistir perante os desafios que enfrentamos. Por isso, a noção de vulnerabilidade leva-
nos rapidamente a falar de igualdade e direitos humanos, porque nem todos temos a
mesma capacidade de resistência e resiliência, e nem todos somos igualmente
vulneráveis, porque podemos identificar facilmente características que tornam algumas
pessoas grupos mais vulneráveis do que outros.

Assim, ao se falar de proteção dos direitos humanos, as noções de igualdade e de


vulnerabilidade estão unidas.

Essa diminuição de capacidades, essa vulnerabilidade, está associada a


determinada condição que permite identificar o indivíduo como membro de um grupo
específico que, como regra geral, está em condições de clara desigualdade material em
relação ao grupo majoritário.

O conceito de minoria ou grupos vulneráveis é sempre muito discutido, cabendo, ao


que parece, uma lista nunca exaustiva de quem faz parte destes grupos: mulheres,
crianças e adolescentes, idosos, população em situação de rua, pessoas com deficiência
ou sofrimento mental e comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais), população carcerária dentre muitas outras.

Importante dizer o termo “minoria” refere-se não à quantidade de integrantes de um


grupo considerado vulnerável e sim ao fato de vermos neste grupo um histórico de
excluídos do processo de garantia dos direitos básicos por questões étnicas, de origem,
por questões financeiras e por questões de gênero e sexualidade. Neste sentido, em que
pese as mulheres sejam uma maioria numérica, são classificadas como minoria, já que
ainda buscam igualdade em diversos campos de nossa sociedade.

Exemplos históricos de vulnerabilidade social podem ser vistos, na Alemanha


nazista, que sob o comando de Adolf Hitler, foi responsável por perseguir e exterminar
milhões de judeus, comunistas, ciganos, testemunhas de Jeová, deficientes físicos,
homossexuais, dentre outros grupos, com a ideologia de que eles não se encaixavam na
superioridade biológica da raça ariana.
33

No Brasil, o reflexo das minorias sociais se deu por meio dos extensos anos de
escravidão. Em síntese com a retirada dos direitos desse povo, mesmo após a abolição
da escravatura, em 1888, a história da população negra ficou marcada fazendo com que
os efeitos reflitam, inclusive, na sociedade atual.

Neste contexto, importante reconhecer os movimentos sociais como motivadores


do alcance de direitos às minorias. Mediante a pressão popular, vemos a criação de leis
que visam garantir melhor acesso a direitos básicos para pessoas que por muito tempo
foram alijadas das garantias e igualdade. É garantir cidadania a todos.

Cabe ao agente público, em todo o seu percurso profissional, enquanto


representante do Estado, garantir os direitos do cidadão, ainda que seja um cidadão
pertencente a grupo vulnerável.

UNIDADE IV: ATIVIDADE POLICIAL E DIREITOS HUMANOS: PLANO


ESTRATÉGICO INSTITUCIONAL.

4. O PLANO ESTRATÉGICO DA POLÍCIA MILITAR DO PARÁ – 2015/2025

Nas palavras do CEL PM ROBERTO LUIZ DE FREITAS CAMPOS, então


Comandante-Geral da nossa corporação, “um plano não é outra coisa senão um caminho.
(...)”.

O objetivo do documento, que o teve início em abril de 2012, quando o governo do


Estado do Pará, reuniu os seis órgãos que compõem o Sistema de Segurança Pública,
sob a coordenação da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social - SEGUP, é a
melhoria dos serviços prestados pela Polícia Militar do Pará à sociedade paraense e a
valorização do policial militar.

4.1 – IDENTIDADE INSTITUCIONAL

a) Negócio

Qual o negócio da PMPA? Se trata do policiamento ostensivo e da preservação da


ordem pública.
34

A polícia ostensiva segue por todas as fases do poder de polícia (ordem,


consentimento, fiscalização e a sanção), caracterizando de fato a polícia administrativa,
empregando farda, equipamento e viaturas identificadas.

Já a preservação da ordem pública pode ser entendida como a prevenção especial,


a repressão qualificada e a mobilização comunitária.

b) Missão

Nossa missão é servir e proteger as pessoas e o patrimônio no território paraense,


preservando a ordem pública, prevenindo e reprimindo as ações delituosas e integrando-
se com a sociedade, através da polícia ostensiva e da promoção dos direitos humanos
para garantir a paz social.

c) Visão

A visão institucional é ser reconhecida como patrimônio da sociedade paraense e


instituição essencial à proteção e promoção dos direitos humanos, em razão de sua
excelência no cumprimento da missão.

4.2 – VALORES

Dentre os valores institucionais temos: hierarquia e disciplina, preservação do


interesse público, ética e moral, responsabilidade social e o respeito aos direitos humanos
e ao meio ambiente.

A PMPA esforça-se para dar aos seus servidores condições (estabilidade,


benefícios, saúde, recursos, formação, capacitação) para que expressem o seu potencial
de inteligência e as suas capacidades na garantia dos direitos fundamentais das pessoas.

Tais valores são norteadores permanentes das ações com foco na preservação da
vida e da dignidade, observância aos direitos humanos e às liberdades, dentro dos
ditames instituídos na Constituição Federal.

Na PMPA, os comportamentos devem ser marcados pelo pleno respeito à


dignidade humana. A Instituição não permite discriminação de qualquer natureza e busca
uma gestão igualitária, e reconhece no mérito, na prestação de serviço e nas
potencialidades profissionais os critérios determinantes para as recompensas e para as
promoções de carreira.
35

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