Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Grandes Líderes Da História - Adolf Hitler - Jan24

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 52

Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Grandes Líderes da História 1


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Um tema inesgotável
P
or mais que já tenham sido expostas, estudadas e questionadas, a vida e a “obra” de Adolf
Hitler constituem um tema intrigante, capaz de prender a atenção do leitor do começo
ao fim. E, geralmente, esse leitor parte em busca de mais informações para responder às
muitas perguntas que vão surgindo à medida que ele estabelece um contato mais deta-
lhado com os acontecimentos do passado. Assim, o assunto parece não ter fim.
Sem dúvida, o líder do Terceiro Reich é um dos personagens históricos mais polêmicos e
condenáveis de todos os tempos. Por ter provocado a Segunda Guerra Mundial, por ter promo-
vido um massacre com requintes de crueldade contra diversas minorias, entre elas notadamente
os judeus, e por ter inflamado toda uma nação em torno de seus ideais absurdos, Adolf Hitler
Nossa capa: AFP/ Roger Viollet continua a despertar interesse.
E tal interesse não foi gerado apenas depois de sua – também controversa, como tudo o que
o cerca – morte. Em vida, o Führer causava verdadeiro frisson no mundo todo. Seja pelo ódio
provocado em seus inimigos, pela devoção despertada no povo alemão ou pelas medidas arbitrá-
rias e cruéis que tomava, ele estava sempre em evidência. Tanto que, em edição de 1939, o ditador
aparece como entrevistado nas páginas amarelas da revista Veja. Acompanhe dois trechos que
revelam claramente do que Hitler seria capaz.
“Durante toda minha vida, tenho sido um verdadeiro profeta, e costumo ser ridicularizado
Presidente: Paulo Roberto Houch por isso. Na época de minha luta pelo poder, quando disse que um dia tomaria a liderança do
Vice-Presidente Editorial: Andrea Calmon
redacao@editoraonline.com.br estado e da nação e, entre outras coisas, resolveria a questão dos judeus, a raça judaica recebeu
REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Andrea Calmon – MTB 47714
minha profecia com risadas. Mas acho que, já há algum tempo, tais risadas cessaram.”
Editora-Executiva:
Editor:
Tatiana Arcolini
João Jacques “Armas nenhumas conquistarão a Alemanha. Nunca haverá outro Novembro de 1918 na
Colaboraram nesta edição: Thaise Rodrigues (edição e revisão),
história alemã. É um erro infantil desejar a desintegração de nosso povo. Mister Churchill pode
Claudio Blanc e Lucas Pires (textos) estar convencido da vitória da Grã-Bretanha. Eu não duvido por um só momento que a Alema-
PROGRAMAÇÃO VISUAL
Coordenador: Rubens Martim
nha sairá vitoriosa. O destino dirá quem está certo”.
Diagramador:
diagramacao@editoraonline.com.br
Rodrigo Lima Realmente, o destino mostrou quem estava certo, mas não em tempo de poupar milhões de
Ilustração: Michael Bráz
vidas humanas nem de evitar que Adolf Hitler e o regime nazista passassem para a história como
PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA um dos exemplos mais execráveis do que a loucura, a ganância e a crueldade juntas podem fazer
Coordenadora: Elaine Simoni
elainesimoni@editoraonline.com.br quando chegam ao poder.
PUBLICIDADE
Diretora Comercial: Arines Garbin
Diretora de Publicidade:
Executivos de Negócios:
Patrícia Massini
Daniel Giongo, José Mário Brito, Aproveite a leitura,
Lea Naftal e Rodrigo Cortona
agencia@editoraonline.com.br

MARKETING
Diretor de Marketing/ Assinaturas: Lúcio Flávio Baúte
Supervisora de Marketing: Jane Pinheiro
jane@editoraonline.com.br

CANAIS ALTERNATIVOS Luiz Carlos Sarra


DEP. VENDAS (11) 3687-0099 conhecerfantastico@editoraonline.com.br
vendaatacado@editoraonline.com.br www.revistaonline.com.br
LOGÍSTICA E ARMAZENAGEM Luiz Carlos Sarra www.editoraonline.com.br
luizcarlos@editoraonline.com.br

ADMINISTRAÇÃO
Diretora Administrativa: Jacy Regina Dalle Lucca
financeiro@editoraonline.com.br
Coordenadora de Suprimentos: Juliana Santos
SUMÁRIO
suprimentos@editoraonline.com.br

CRÉDITO E COBRANÇA cobranca@editoraonline.com.br

ASSINATURAS: Jessica Freitas


assinatura@editoraonline.com.br InfâncIa e juventude ........04 Holocausto ................... 28
Impresso por PROL Os primeiros passos do ditador A máquina de matar chamada de
Distribuição no Brasil por Dinap
Distribuição em Portugal Logistica Portugal “Solução Final”
Grandes Líderes da História Extra é uma publicação do IBC - Instituto Brasileiro PrImeIra Guerra .............08
de Cultura Ltda. – Caixa Postal 61085 – CEP 05001-970 – São Paulo – SP – Tel.:
(0**11) 3393-7777 A participação de Hitler no conflito PersonalIdade e doenças .. 36
A reprodução total ou parcial desta obra é proibida sem a prévia autorização do editor.
Perfil psicológico e médico do ditador
Números Atrasados com o IBC ou por intermédio do seu jornaleiro ao preço da última
edição acrescido das despesas de envio.
nazIsmo......................... 12
Para adquirir com o IBC – www.revistaonline.com.br, Tel.: (0**11) 3512-9477 ou Caixa
Postal 61085 - CEP 05001-970 - São Paulo - SP.
O nacional-socialismo e as ideias as mulHeres de HItler ......40
defendidas pelo movimento A conturbada vida amorosa do Führer
Compras pela internet:
www.revistaonline.com.br coautores...................... 17 entrevIsta ...................... 43
A Arte Antiga Editora tem a revista que você procura! Confira algumas das nossas
publicações e boa leitura.
Os teóricos em quem o Führer se O Brasil e os regimes fascistas
ARTESANATO LEVE: • Arte em EVA • Arte em Fuxico
ARTESANATO LINHA: • Ponto Russo
inspirou para criar a ideologia nazista
INTERESSE GERAL: • Conhecer Fantástico • Grandes Líderes da História
DECORAÇÃO: • Paisagismo & Decoração
curIosIdades................... 45
FEMININA TEEN: • Top Girl Especial Testes
GAMES: • Detonando • Play Games • Pro Games
seGunda Guerra mundIal..21 Lendas, mitos e todo tipo de
ESPORTE: • Guia de Fórmula 1 A tentativa do líder do Terceiro especulação sobre o nazismo e
Aviso importante: A Arte Antiga Editora não se responsabiliza pelo conteúdo e pela
procedência dos anúncios publicados nesta revista, de modo que não restará configurado
Reich de dominar o mundo seu líder
nenhum tipo de responsabilidade civil em decorrência de eventual não cumprimento de
pactos firmados entre anunciantes e leitores.
o PolêmIco suIcídIo ......... 25 Para saber maIs ..............48
Fatos e boatos sobre a morte de Hitler Livros, filmes e sites sobre o assunto

Grandes Líderes da História 3


Distribuição 100%
Infância e gratuita - Clube de Revistas
juventude

Os primeiros passos do

TIRANO
Reprodução

Foto de Adolf Hitler na infância

Nascido na pequena Braunau, Adolf Hitler teve uma infância conturbada. Depois, já em
Viena, viu desfeito seu sonho de ser pintor e começou a ter contato com ideias antissemitas.
Era o início da ideologia nazista

U
m homem intransigente que se mento de um líder, que, por sua vez, acaba por o povo alemão estava ao lado de Hitler, e o
julga predestinado. Um impé- moldá-la. Ele sempre reflete as vicissitudes do Führer deu voz às muitas tendências, às cren-
rio que perdeu a identidade. Um momento e incorpora os anseios das pessoas ças e aos pensamentos que grassavam na Ale-
país em colapso. Esses elementos do seu tempo e lugar. Assume a voz das mul- manha depois da Primeira Guerra.
seriam inflamáveis o bastante para incendiar tidões e as conduz pelas trilhas dos fatos. Hitler é mais uma criação da História do
o mundo? No caso de Adolf Hitler, a resposta Se não tivesse existido um Hitler, será que uma autoinvenção. Ele refletiu como nin-
é sim. A pergunta que sempre paira sobre os que a Alemanha, humilhada após a Primeira guém o desejo de um país rico e glorioso ato-
personagens históricos cabe como uma luva Guerra, se levantaria contra o resto da Euro- lado numa situação de humilhação e menos-
para ele: é a História que faz o líder? Ou, in- pa? Provavelmente, sim. Mas o conflito talvez valia. Como o próprio Winston Churchill −
versamente, é o líder que faz a História? Na possuísse um rosto diferente. Se seria menos provavelmente o mais implacável inimigo de
verdade, a História corrobora para o surgi- brutal ou fanático, nunca saberemos. Afinal, Adolf Hitler − afirmou, foi a “insensatez dos

4 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc e Lucas Pires

vencedores” da Primeira Guerra que causou a rior – de serviços prestados por ela tanto na
sede de vingança e de justiça de todo o povo casa quanto na cama. Franciska acabou mor-
alemão. E, para comandá-lo, ninguém melhor “Pela primeira rendo também e, enfim, os dois puderam ofi-
do que um fanático cheio de vingança, um se- cializar o casamento no começo de 1885. Mas,
milouco repleto de som e de fúria capaz de vez na vida fui, mal para isso, tiveram que redigir uma petição ao
lançar mão dos mais impensáveis meios para bispo local, pedindo permissão para realizar a
levar seu povo à sonhada vitória. Mas o sonho chegado aos onze união, pois havia um laço consanguíneo entre
de Hitler acabou se transformando no pesa- eles. O bispo, então, enviou o pedido a Roma,
delo da Alemanha – e do mundo.
anos, forçado a que concedeu a permissão.
Falar sobre Adolf Hitler é falar sobre o fazer oposição. Por
nazismo, e falar sobre ambos é mexer no que O PERFIL DOS PAIS
talvez seja a maior prova de crueldade da qual mais firmemente Alois Hitler era funcionário público e tra-
o ser humano foi capaz. A figura enigmática balhava como inspetor-chefe num escritório al-
e cativante do líder nazista, com seu bigodi- decidido que meu pai fandegário. Como seu emprego exigia viagens
nho ralo e curto e gestos firmes enquanto pro- costantes, mudanças de endereço tornaram-se
feria discursos coléricos, conquistou o pos- estivesse na execução rotina para a família. Na década de 1890, de
to de maior representação do Mal de que se Braunau, onde nascera o filho Adolf, a família
tem notícia. O século 20, o século de Hitler,
de seus planos e Hitler mudou-se para Passau, na Alemanha,
foi o mais sangrento e abominável da histó- propósitos que se passando por Halfeld, Fischlham, Lambach e
ria da humanidade. Portanto, buscar resgatar Leonding, todos pequenos vilarejos na região
a trajetória desse homem e de suas ações, que formara, não era da cidade de Linz, onde se estabeleceram em
culminaram no Holocausto e em seis anos definitivo com a aposentadoria de Alois. Adolf
de guerra, é delicado e exige responsabilida- menor a teimosia Hitler, em Minha Luta, relembra a trajetória
de. As feridas abertas pelo nazismo continu- do pai com admiração, apesar de não querer
am sem cicatrizar, tanto na Alemanha quanto e a obstinação de para si a mesma vida no funcionalismo públi-
em judeus ou qualquer ser humano conscien- co, algo que geraria enormes desavenças entre
te do que foi a Segunda Guerra Mundial. Tal- seu filho em repelir pai e filho. Confira o que Hitler escreveu sobre
vez elas nunca cheguem a fechar, talvez algum
dia cicatrizem, mas suas marcas não se apaga-
um pensamento o pai: “... o jovem de dezessete anos insistiu na
sua resolução e tornou-se funcionário públi-
rão. Eis o intuito de toda cicatriz: permane- que pouco ou co. Depois de vinte e três anos, creio eu, esta-
cer para sempre relembrar. Eis por que estu- va atingido o seu objetivo. Parecia assim estar
damos a História. nada lhe agradava. cumprida a promessa que o rapaz havia feito,
As atrocidades cometidas por Adolf Hi- isto é, de não voltar para a aldeia paterna sem
tler são o lado mais conhecido desse austría- Eu não queria que tivesse melhorado de situação”. Enquanto
co nascido em Braunau, próximo à divisa com isso, a mãe, Klara, estava “absorvida nos afaze-
a Alemanha, no dia 20 de abril de 1889. Era ser funcionário res domésticos e, sobretudo, sempre dedicada
filho da jovem Klara Pölzl, de 28 anos, com
Alois Hitler, que tinha mais de 50 e estava
público” aos cuidados da família”.

prestes a se aposentar. A história da união EDUCAÇÃO RÍGIDA


desse casal é curiosa. E MORTE DOS PAIS
Numa típica família alemã, a educação
O CASAMENTO
Alois era 23 anos mais velho que Klara, fi- A metamorfose de hitler
lha de um primo-irmão dele. No entanto, an-
tes de se casar com a mãe de Adolf, Alois fora Em Minha Luta, Adolf Hitler escreveu como seu sentimento frente aos judeus mudou
casado outras duas vezes e Klara trabalhava com a vivência em Viena:
como empregada em sua casa.
A primeira mulher de Alois, Anna Glasl- “A minha maior metamorfose foi, porém, a que experimentei em relação ao
Horer, era mais velha que ele 13 anos e já esta- movimento anti-semítico. (...) Eu já não errava pelas ruas da importante ci-
va doente quando eles se casaram. Quando ela dade como um cego que nada vê. Com os olhos bem abertos, observava não
morreu, Alois logo oficializou a união com a
mais somente os monumentos arquitetônicos mas também os homens.
copeira da casa, Franciska Matzelberger, com
quem já vinha tendo um caso. Alguns histo- Um dia em que passeava pelas ruas centrais da cidade, subitamente deparei
riadores apontam que, mesmo nessa época, a com um indivíduo vestido em longo caftan e tendo pendidos da cabeça lon-
bela e jovem Klara já teria um relacionamento gos cachos pretos. Meu primeiro pensamento foi: isso é um judeu? (...)
com o futuro marido. Só que, quando Alois
casou-se com Franciska, ela quis se livrar de Observei o homem, disfarçada mas cuidadosamente, e quanto mais eu
Klara, pois sabia o risco que corria. No entan- contemplava aquela estranha figura, examinando-a traço a traço, mais
to, Franciska contraiu tuberculose e foi se tra- me perguntava a mim mesmo: isso é também um alemão?” (Minha
tar em outra cidade, deixando a casa para que
Luta, pág. 46)
Alois e Klara pudessem voltar à rotina ante-

Grandes Líderes da História 5


Distribuição 100%
Infância e gratuita - Clube de Revistas
juventude

Ilustraçã
A autoridade paterna prevalecia sempre e rosa como a perda da mãe, quatro anos de-
as decisões de Alois eram incontestáveis. His-

o:
pois, em dezembro de 1907. O falecimento

Fábio M
toriadores reforçam a relação conflituosa de de Klara pegou Hitler de surpresa, que es-
Hitler com o pai, tido como um tirano, que tava restabelecido em Viena desde setem-

atos
impunha a lei e a ordem sob castigos físicos. bro do mesmo ano. Klara teve um câncer
Relatos de surras que Adolf, que mais tarde no seio. Desesperado, Adolf contratou os
assassinaria milhões de judeus, teria levado serviços de Edmund Bloch, médico judeu
do pai na infância foram frequentes e muitos famoso e que cobrava altos honorários.
usam esse trauma para explicar a psique ma- Diante do sofrimento da paciente, o médi-
ligna que Hitler viria a desenvolver. Estudos co sugeriu tratar as feridas com gazes em-
de psicologia sobre o efeito de quando adultos bebidas em iodo. Alertou que isso poderia,
dão surras em crianças trazem a história deo como efeito colateral, envenenar a pacien-
Führer como modelo, como o exemplo extre- te. Hitler aceitou o risco e Klara foi tra-
mo a que esta educação, chamada de “educa- tada, morrendo em seguida efetivamente
ção destrutiva”, pode chegar. por intoxicação de iodo. Sua morte era tida
Em contrapartida, o próprio Hitler não como certa, mas o tratamento a antecipou.
fala de ter apanhado do pai. Refere-se apenas O transtorno que tomou conta da mente
a brigas e discussões com ele, mas não rela- do filho órfão foi imenso. “A sua morte se
ta nenhum caso de castigo físico. Sua maior deu depois de uma longa e dolorosa enfer-
discussão com o pai aconteceu quando, aos 11 midade que, logo de começo, pouca espe-
anos e diante de um talento para o desenho, rança de cura oferecia. Não obstante, isso
Hitler decidiu que seria pintor. Um artista! atingiu-me atrozmente. Eu respeitava meu
Klara Hitler, a mãe Essa postura era demais para um rígido edu- pai, mas por minha mãe tinha verdadeiro
cador e conservador como Alois, para quem amor”, recorda Hitler no final do primeiro

Em Minha Luta, ele relembra que sua leitura favorita na infância era
composta pelos dois volumes de uma revista ilustrada que falava
da guerra franco-alemã, ocorrida em 1870-71 (conflito em que Bismarck,
então chanceler alemão, unificou a Alemanha e inaugurou o II Reich)

dada aos filhos era a mais rígida e dura possí- sua própria vida era o exemplo a ser seguido capítulo de Minha Luta . Sozinho na cidade
vel. Klara deu à luz outros dois filhos antes de pelo filho. A autoridade e a vontade do pai de grande, sem a mãe, ele, enfim, teria de enca-
Adolf, Gustav e Ida, que morreram com pou- que o filho fosse também funcionário público rar a vida com os próprios punhos.
cos meses de vida por causa de difteria. Quan- iriam se opor à rebeldia e ao sonho do meni-
do Adolf tinha cinco anos, nasceu Edmund, no de ser pintor. Conta Hitler: “Pela primei- VIENA E AS ARTES
que também não resistiu e morreu de saram- ra vez na vida fui, mal chegado aos onze anos, Outro golpe que marcou a decepção de
po, e, dois anos depois, Paula, que se tornou a forçado a fazer oposição. Por mais firmemen- Adolf Hitler com a vida foi sua reprovação na
única irmã por parte de pai e mãe viva de Hi- te decidido que meu pai estivesse na execução prova para ingressar na Academia de Belas-
tler (com Franciska, Alois havia tido dois fi- de seus planos e propósitos que se formara, Artes em Viena. Crendo que seria facilmente
lhos – Alois Jr. e Angela). não era menor a teimosia e a obstinação de admitido, pegou a herança deixada pelo pai,
O futuro ditador da Alemanha foi uma seu filho em repelir um pensamento que pou- retirada quando completara 18 anos, e ru-
criança solitária e independente, de poucos co ou nada lhe agradava. Eu não queria ser mou para a capital austríaca ao lado do úni-
amigos e diversões. Suas leituras baseavam-se funcionário público”. co amigo que tinha em Linz: August Kubi-
em histórias de guerras e aventuras militares, Segundo Hitler, essa decisão fez que seu zek. O deslumbramento inicial de Hitler com
coisas que o fascinaram desde pequeno. Em pai ficasse contra ele, tornando-se cada vez a cidade deve ter sido o oposto da miséria e da
Minha Luta, ele relembra que sua leitura fa- mais irritado. No entanto, Adolf não se re- fome com que passaria seus anos seguintes no
vorita na infância era composta pelos dois vo- fere nunca a agressões físicas. Contraria- local. Ele mesmo escreveu que Viena valia a
lumes de uma revista ilustrada que falava da do, acabou se desinteressando em definitivo ele “como uma viva lembrança dos mais tristes
guerra franco-alemã, ocorrida em 1870-71 pelos estudos que não estivessem ligados às tempos da minha vida. Cinco anos de misé-
(conflito em que Bismarck, então chanceler artes. Isso culminou no abandono da escola rias e de sofrimentos, eis o que significa a mi-
alemão, unificou a Alemanha e inaugurou o dois anos depois da morte do pai, aos 15 anos. nha estada nessa cidade de prazeres”.
II Reich). “Daí em diante, eu me entusiasma- Além do seu desinteresse, uma infecção pul- Viena vivia sua belle époque, com a efer-
va cada vez mais por tudo que, de qualquer monar o derrubou, e o médico receitou que vescência cultural e artística e cafés, óperas
modo, se relacionasse com a guerra ou com a ficasse um ano sem ir à escola. e concertos às margens do Danúbio. Era um
vida militar”. A morte do pai, em 1903, não foi dolo- centro cultural comparável a Paris, uma me-

6 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

A polêmica do avô judeu de Hitler


Parte da historiografia que estuda a personalidade de Hitler e o por certidão de nascimento de Alois e divulgado como sendo o verdadeiro
quê de seu ódio aos judeus levantou uma questão importante e que avô de Adolf. Essa foi a informação que Hitler e o partido nazista quise-
por muitos passou despercebida: a possibilidade de uma ascendência ram passar para a posteridade, mas é quase unanimidade entre os espe-
judaica, que viria de seu avô paterno. cialistas que ele não era de fato o avô do Führer.
As versões sobre quem seria o avô de Hitler são variadas, mas, den- Nas memórias de Hans Frank, a descoberta, quando noticiada a Hitler,
tro dessa possibilidade, exceto a oficialmente divulgada por Adolf, não o pegaram de surpresa. Ele teria dito que já sabia dessa possibilidade,
em todas o personagem do judeu está presente. mas afirmava que a história não era bem assim. Segundo Adolf Hitler te-
A história surgiu quando aconteceram os depoimentos de Hans Frank, ria dito a Frank, sua avó engravidou do moleiro Hiedler e, como os dois
advogado pessoal de Hitler, preso, condenado e executado por crimes não tinham dinheiro para sustentar uma criança, criaram essa chanta-
contra a humanidade após o fim da Segunda Guerra Mundial Ele fora gem contra a família judia, acusando o filho do casal de ser o pai. Assim,
advogado do partido e, graças à bajulação em torno do Führer, havia sido com a responsabilidade deles, conseguiriam dinheiro para criar a criança.
elevado a chefe jurídico do partido e homem de máxima confiança, o Pelo que se vê, Hitler nega sua ascendência judia, mas não o possível re-
único possível para resolver chantagens, como a de dois parentes de Hi- lacionamento sexual de sua avó com um jovem judeu.
tler que ameaçavam vender uma história sobre ele a jornais ingleses. Acima, está a versão publicada nas memórias de Hans Frank, em 1953.
Essa possibilidade levou Frank a fazer uma investigação sobre o pas- Dela, outras versões nasceram, como a de que Maria Shicklelgruber teria
sado de seu chefe, por ordem de Hitler mesmo, e as conclusões a que engravidado de um caixeiro-viajante judeu que havia passado pela Feira
chegou foram a de que o avô do Führer era judeu. de Saint Giles, realizada todo mês de setembro na década de 1830 em
Segundo a versão de Frank, a avó de Adolf, Maria Shiclelgruber, engravidou Graz (daí o nome da versão para “o judeu de Graz”). Ela teria dormido
do filho de um casal de judeus para quem trabalhava. Maria, com 42 anos, com o caixeiro e engravidado, tendo nascido, exatamente nove meses de-
teria tido um filho de um jovem de 19 anos. As provas disso seriam que a fa- pois, a criança que viria a ser o pai de Hitler.
mília do garoto, de sobrenome, Frankenberger, teria ajudado financeiramen- Essa versão da ascendência judia de Adolf Hitler torna-o com ¼ de san-
te a empregada por 15 anos e, memo após a saída de Maria do emprego, os gue judeu. Como o futuro Führer acabaria acreditando que estava enve-
Frankenberger mantinham correspondência em que ficava nítida a relação nenado por isso, teria criado em si um ódio ao espectro judeu que havia
de responsabilidade deles para com a criança. Essa criança seria Alois Shick- dentro dele e, assim, desencadeado o antissemitismo extremista que se
lelgruber, que 35 anos depois, mudaria legalmente seu nome para Alois Hi- viu com o Holocausto. Esta é uma das hipóteses surgidas na segunda
tler (Hitler seria derivado de Hiedler, nome de seu padrasto). metade do século 20 para tentar explicar as origens do Mal em Adolf Hi-
Cinco anos depois do nascimento de Alois, Maria casou-se com o mo- tler. Dando-lhe crédito ou não, fato é que não explica por completo seu
leiro Johann Georg Hiedler, nome que, posteriormente, seria inserido na sentimento antissemita ou sua decisão pela “Solução Final”.

Ilustração: Fábio Matos


trópole com cerca de 2 milhões de habitan- sem residência ou ocupação fixas, Hitler fez
tes. Mas o lado bom da cidade contrastava de tudo um pouco: foi ajudante de operário
com milhares de desempregados. E mesmo os e carregador de malas na estação, removeu
que tinham uma ocupação trabalhavam para a neve e pintou quadros. Ele e um conhecido
mera subsistência. Assim, uma massa de vaga- fizeram parceria num negócio: Adolf pinta-
bundos e delinquentes pairava pelas ruas vie- ria pequenos quadros e cartões-postais e Rei-
Alois, o pai
nenses, configurando uma mistura de raças nhold Hanish, o tal conhecido, os venderia
que possibilitaria a Hitler o estudo e a forma- em cafés, óperas e igrejas. Mas a parceria não
ção de sua personalidade e ideologia racistas. durou muito, pois Hanish sumiu com um
Depois da primeira recusa de admissão dos quadros, deixando Hitler furioso.
na Academia de Belas-Artes, aconteceu outro Nesse ínterim, Adolf foi tendo conta-
fracasso. Adolf Hitler foi até a escola questio- to maior com livros e ideias antissemitas,
nar os motivos e ouviu do diretor que sua vo- além de periódicos que ressaltavam a raça
cação era para a arquitetura, não para a pintu- ariana e colocavam a mistura racial como o
ra e o desenho. De fato, as pinturas de Hitler grande problema do Império Austro-Hún-
de edifícios eram primorosas, mas as que exi- garo. Tudo ajudou a moldar seu pensamen-
giam caracterização humana ficavam muito a to. Em Viena, o futuro Führer descobriu os
dever. “Estava tão convencido do êxito do meu dois perigos que tinham “horrível significa-
exame que a reprovação que me anunciaram ção para a existência do povo germânico”:
feriu-me como um raio que caísse de um céu o marxismo e o judaísmo. Seus cinco anos
sereno”, recordaria ele depois. Assim, aquele na cidade, até 1912, fariam que consolidas-
jovem desiludido estava livre e sem ocupação se seu ódio à democracia (“É mais fácil um
na capital do império. camelo passar pelo fundo de uma agulha do
Até os 21 anos, Hitler recebia uma pen- que ser descoberto um grande homem por
são de órfão, com a qual mal conseguia co- uma eleição”), ao governo imperial dos Ha-
mer. Quando chegou de Linz, ele e Kubizek bsburgo (“Se o Parlamento nada valia, me-
alugaram um quarto de pensão, mas, após a nos ainda valiam os Habsburgo”), aos pos-
morte da mãe e uma visita do amigo aos pais, teriores socialistas, sindicalistas e a todas as
Adolf deixou a pensão e desapareceu na massa raças que não fossem arianas. A ideologia
vienense, não dando mais notícias ao amigo. nazista estava formada. Era questão de tem-
Nesse tempo em que passou perambulando, po para ele a colocar em prática.

Grandes Líderes da História 7


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Primeira Guerra

A Primeira Guerra
MUNDIAL
Divulgação/ NNSP e NARA

A participação de Adolf Hitler no conflito reforçou sua ideia de que os judeus eram
os grandes “vilões” que impediam a glória da nação alemã

A
estada de Hitler em Viena aca- Mas nem mesmo a fuga foi capaz de evitar Os Protocolos dos Sábios de Sião, parece
bou em maio de 1912, quando ele a polícia austríaca. Oito meses depois de sair ter sido seu companheiro de cabeceira.
se mudou para Munique, a me- de Viena, Adolf foi localizado e preso como Hitler viveu assim até que chegou a notí-
trópole das artes alemã. Há dois desertor. Em vez de ser enviado a Linz, acabou cia de que o arquiduque Francisco Ferdinan-
motivos para sua partida: o ainda sonho de ser levado para Salzburgo, onde foi examinado e do, herdeiro do Império Austro-Húngaro, ti-
artista e a fuga do alistamento militar. Como liberado do serviço militar por ser considerado nha sido assassinado por terroristas sérvios
o montante de desempregados e desocupa- inapto. Devido à vida penosa dos últimos anos, em Sarajevo. Em julho de 1914, o Império
dos em Viena era enorme na época, o gover- seu físico não era avantajado nem forte e, por declarava guerra à Sérvia. Era o início da Pri-
no austríaco resolveu garimpar os pendentes isso, concluíram que era fraco demais para car- meira Guerra Mundial.
com o serviço militar, e Hitler era um dos que regar armamentos pesados. Assim, Hitler vol-
não havia se alistado. Com a polícia em seu tou para Munique livre de qualquer pendência O CABO HITLER
encalço, o futuro Führer foi para a Alemanha com o Império Austro-Húngaro. Os europeus já esperavam por uma
a fim de evitar servir um governo que odiava. Desse evento até o início da Primeira guerra, mas os alemães a desejavam, tanto
Em Minha Luta, ele escreveu que fora atraí- Guerra Mundial, passou-se menos de um que Hitler e toda uma multidão vibraram
do para Munique porque era uma cidade ale- ano, período em que ele viveu de quadros entusiasmados na Praça Odeon, em Muni-
mã, livre da mistura de raças que ele havia pre- vendidos nas ruas e de pequenos biscates. A que, quando a Alemanha declarou guerra
senciado em Viena, e que contava com uma rotina de quartos de pensão sujos e baratos à França. A nação germânica uniu-se aos
vida artística agitada. De fato, Hitler consi- era compensada pela leitura de jornais an- austríacos contra a Sérvia, que teve ao seu
derou o período em que viveu em Munique, tissemitas, livros sobre política e panf letos lado a Rússia e a Europa Ocidental. Logo o
até estourar a Primeira Guerra, o mais feliz que falavam da conspiração judaica contra o incidente original – Sérvia versus Império
de sua vida. mundo. Um deles, o mais famoso até hoje, Austro-Húngaro – ficou em segundo pla-

8 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Lucas Pires e Claudio Blanc

no. A luta era por território entre um poder sencadeada pela imprensa semita, que propa-
imperial alemão e o resto da Europa. gava um fim trágico à Alemanha. Desenvol-
A possibilidade de fazer parte de um mo- veu maior ódio aos judeus por crer que eles,
mento histórico alemão e, mais ainda, de uma dentro do esforço de guerra alemão, foram,
conquista grandiosa como a que pretendia a aos poucos, tomando conta de toda a produ-
Alemanha fez que Hitler logo se apresentas- ção e de todos os negócios do país. Isso foi in-
se como voluntário. Pela Áustria, ele fora dis- terpretado como traição por Hitler quando
pensado e nem tomaria a iniciativa de lutar 400 mil trabalhadores berlinenses entraram
por um governo que o causava ojeriza, mas, em greve pedindo o fim do conflito.
pelo país alemão, pela glória da pátria que ain- Os tratados de paz entre os países acon-
da não era sua (pois não era, na época, um ci- teceram ao longo de todo o ano de 1919, mas
dadão alemão), estava disposto a dar a vida se o mais importante foi o assinado no dia 28
necessário. “Começou então para mim, como de junho: o Tratado de Versalhes, acordo que
provavelmente para todos os outros alemães, foi fechado entre as potências ocidentais vi-
a mais inesquecível e a maior época da minha toriosas no conflito, França e Grã-Bretanha,
vida. Com orgulho e saudade, recordo-me das Quando estava na com respaldo dos Estados Unidos, que logo
primeiras semanas daquela luta heróica do saiu de cena. À Alemanha foram impostas
nosso povo, na qual graças à benevolência do
destino, me foi dado tomar parte”, escreveu
reserva no hospital punições que, sem dúvida, seriam o motivo
latente da Segunda Guerra Mundial. Sob o
Hitler sobre esse momento. próximo a Berlim, argumento de que aquela nação era a única
Logo depois de ter feito o requerimento responsável pela eclosão da guerra, as maio-
para ser soldado, o futuro Führer foi aceito e Adolf ficou cada vez res limitações recaíram à Alemanha, para
incorporado ao 16o Regimento de Infantaria não permitir que o país crescesse e se tornas-
da Reserva da Baviera. Alguns meses depois, mais convencido de se novamente forte. A nação alemã estava pri-
partiu junto a seus companheiros para o front
ocidental e lutou em diversas batalhas, como o
que tinha havido um vada de manter marinha e força aérea efeti-
vas; teria o exército limitado ao máximo de
desastre de Ypres (quando, de 3.500 soldados,
apenas 600 sobreviveram) e as batalhas em
boicote judeu 100 mil homens; teria parte de seu território
ocupado militarmente; e veria a extinção dos
Tourcoing e Neuve Chapelle. Foi tido como comunista dentro direitos sobre suas até então colônias ultra-
soldado valente e esforçado, chegando a ser marinas, que ficariam sob os domínios britâ-
promovido a cabo. Mas daí não passou devido da própria Alemanha. nico, francês e japonês. Além disso, a Alema-
à sua condição de austríaco (ou seja, não ale- nha perdeu territórios, como parte da região
mão) e por diversos ferimentos que havia so- Ele chamou o fato leste (que ficou com a Polônia), da Alsácia-
frido. Em 1916, no dia 7 de outubro, Adolf foi
ferido na perna e ficou na reserva por alguns
de propaganda Lorena, que voltou para a França, e teve de
pagar indenizações de guerra exorbitantes.
meses, até que voltou à frente de batalha no
ano seguinte. Trabalhando como mensagei-
inimiga, Sob instigação do então presidente nor-
te-americano, Woodrow Wilson, foi criada a
ro, isto é, levando e trazendo mensagens entre desencadeada pela Liga das Nações, com o objetivo de negociar
os diversos centros de batalha, Hitler esteve e solucionar pacificamente qualquer conflito
sempre exposto ao ataque inimigo, mas nunca imprensa semita, que que pudesse ocorrer no cenário internacional
deixou de cumprir seu dever, até mesmo sal- dali pra frente. Sediada em Genebra, a orga-
vando diversos companheiros que encontrava propagava um nização teve participação discreta no decor-
pelo caminho. Em 14 de outubro de 1918, em
uma de suas incursões, Adolf foi atingido por fim trágico rer da década de 1920, mas não foi muito efi-
ciente em razão da própria recusa dos Esta-
bombas de gás mostarda inglesas que o dei-
xaram cego temporariamente. Sofreu um co-
à Alemanha dos Unidos de se juntarem à Liga.
No começo de novembro, antes mesmo
lapso e acabou internado no hospital militar de ter sido assinada a paz com as potên-
de Pasewalk, de onde ouviu a informação, em cias ocidentais, o estado alemão ficou em
11 de novembro, de que a grande nação alemã convulsão com rebeliões e tentativas de re-
perdera a guerra e se rendera. volta. Diferentes facções políticas disputa-
vam o poder e, entre elas, havia comunistas
O COMEÇO DO ÓDIO que queriam um regime semelhante ao so-
Em 1918, Hitler recebeu por duas vezes viético e aqueles que desejavam a manuten-
a Cruz de Ferro, uma condecoração de reco- ção do governo imperial. Mas nenhum de-
nhecimento pelos valores em guerra. Mas seu les prevaleceu: Guilherme II, o kaiser, foi
esforço pessoal não se refletiu em avanço ale- obrigado a renunciar, deixando o cargo de
mão. Quando estava na reserva no hospital chanceler para Friedrich Ebert. A Repú-
próximo a Berlim, Adolf ficou cada vez mais blica foi proclamada e, em janeiro de 1919,
convencido de que teria havido um boicote ju- um complô comunista foi esmagado, cul-
deu comunista dentro da própria Alemanha. minando na morte de dois de seus líderes:
Ele chamou o fato de propaganda inimiga, de- Karl Lirbknecht e Rosa Luxemburgo. Ber-

Grandes Líderes da História 9


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Primeira Guerra

Adolf Hitler em
t
r_Violle

Landsberg, 1924
oge

Hitler foi tido como soldado


AFP/ R

valente e esforçado,
chegando a ser promovido
a cabo. Mas daí não passou
devido à sua condição de
austríaco (ou seja, não
alemão) e por diversos
ferimentos que havia sofrido

AFP/ Roger_Viollet
Adolf Hitler (primeiro
à direita, sentado) no
exército bávaro
durante a Primeira
Guerra Mundial

lim estava ainda um caos, com trabalhado- cionários e de esquerda. Muitas dos even- Minha Luta , o futuro Führer descreveu um
res armados pelas ruas, quando mudaram a tos investigados não passavam de grupos de cenário inteiramente favorável à Alemanha
capital da nova república para Weimar. O amigos que se juntavam para beber e desa- no fim da guerra, afirmando que a vitória
exército que sobrou da guerra passou a ser bafar em alguma das várias cervejarias de estaria muito próxima se não fosse a atu-
responsável pela contenção de revoltas. Munique. No entanto, foi num desses en- ação interna de judeus, que buscavam do-
contros que a vida de Adolf Hitler mudou mínio sobre o capital interno, e dos comu-
ENCONTRO COM radicalmente, deixando para trás uma tra- nistas. Rapidamente, difundiu-se a teoria
O PARTIDO NAZISTA jetória de soldado para se tornar um caris- da “punhalada nas costas”, que nada mais
Hitler voltou a Munique em março de mático político. era do que essa ideia fixa de Hitler de que
1919, depois de ter atuado como guarda em As humilhações impostas à Alemanha o exército alemão fora derrotado não pelos
um campo de concentração de presos rus- pelo Tratado de Versalhes marcariam toda inimigos de armas, mas pela traição de indi-
sos na cidade de Traunstein. Ainda perten- a carreira política de Hitler na década de víduos em seu próprio território, isto é, por
cente ao corpo militar, foi designado para 1920. Seus objetivos, a partir dali, eram re- judeus, socialistas e comunistas. Segundo
a comissão de inquérito do exército a fim verter o quadro, vingar os traidores da pá- ele, “a derrota foi o primeiro resultado ca-
de buscar suspeitos de ligação com o co- tria, que deixaram a Alemanha ser derrota- tastrófico visível, por parte do povo, de um
munismo. Fez um curso de instrução po- da, e recuperar a glória da nação de Bismar- envenenamento moral, que consistia no
lítica para se tornar oficial instrutor, cuja ck. Essa ideia era bastante forte em Hitler, enfraquecimento do instinto de conserva-
função era proferir palestras promovendo o que se negava a acreditar numa derrota mi- ção, resultante da propaganda de doutrinas
nacionalismo e condenando o comunismo. litar alemã sem a cooperação interna de ju- (oriundas de grupos judaicos e marxistas)
Em seguida, passou a integrar o corpo de deus e comunistas, que teriam minado a que, há muito, vinham minando os funda-
espionagem do exército, trabalhando como resistência civil e propagado uma paz que mentos da nação e do Império”.
espião em reuniões de movimentos revolu- desencadeou a humilhação da nação. Em Em 12 de setembro de 1919, Adolf Hi-

10 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
tler fora designado a espionar um grupo que dos povos germânicos (sob essa desculpa, to como sócio do Partido dos Trabalhadores
se chamava “Partido dos Trabalhadores Ale- Hitler iria anexar a Áustria em 1937 e invadir Alemães. Na carta, marcavam uma reunião
mães”. Era apenas a reunião de alguns ho- a Tchecoslováquia no ano seguinte). O ho- para a ratificação de sócio. Em dúvida quanto
mens na cervejaria Sternecker sob a lideran- mem a quem Adolf se dirigia foi embora an- a aceitar o convite ou não, Hitler acabou sen-
ça do fundador do partido, Anton Drexler. tes mesmo que terminasse sua fala. O futuro do o sétimo sócio do futuro Partido Nazista.
Hitler descreve que, no encontro, houve um Führer foi muito aplaudido e cumprimenta- “Eu não pensava em entrar para um partido
debate de ideias e que, como ele não aguen- do por todos (não mais que 20 pessoas). Uma organizado e sim em fundar o meu próprio
tou o discurso de um dos oradores, que pre- semana depois, Hitler recebeu, no quartel partido”, escreveu ele. De fato, Hitler entrou
gava a separação da Baviera da Alemanha, do 2 o Regimento de Infantaria, onde dormia para um partido organizado, mas logo tratou
pediu a palavra e falou sua opinião sobre num quarto na companhia de camundongos, de transformá-lo em seu partido. Em poucos
um dos temas que mais o fascinava: a união um cartão-postal anunciando que fora acei- meses, o partido seria ele.

A Primeira Grande Guerra

Em 1914, uma época em que o nacionalismo exacerbado era o leme se confraternizaram, decidindo suas diferenças políticas e ideológicas
que guiava as ações políticas em todo o continente europeu e, prin- numa amigável partida de futebol.
cipalmente, no Império Austro-Húngaro, a crise na Europa Central O ano de 1915 trouxe boas-novas para a Áustria-Hungria. A Sérvia
explodiu. A fragmentação do Império fez que o arquiduque da Áus- e Montenegro caíram no final do ano e os Aliados falharam ao tentar
tria, Francisco Ferdinando, sobrinho do imperador austro-húngaro tirar a Turquia da guerra. Só as campanhas na Itália não se concluí-
e herdeiro do trono, fosse a Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, am, estacionando um grande contingente de tropas austríacas.
tentar acalmar os ânimos dos que exigiam emancipação. A Sérvia es- Apesar disso, 1916 foi um ano difícil. O conflito exigiu recursos que
forçava-se para unificar os territórios ao sul de sua fronteira: Mace- a Áustria não conseguia gerar. O país baseava a economia na exten-
dônia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina. Nessa tentativa, acabou são do território, recebendo bens e valores dos reinos que forma-
batendo de frente com o Império Austro-Húngaro, cuja política ex- vam o império. As campanhas eram inconclusivas, principalmente
pansionista visava a chegar ao porto de Salônica, na Grécia. na frente Sul.
Francisco Ferdinando buscava uma via diplomática para resolver o Em 1917, as coisas começaram, finalmente, a pender a favor dos
conflito, mas acabou assassinado por um radical sérvio, em 28 de ju- Aliados. No Oriente Médio, o coronel Thomas Edward Lawrence,
nho de 1914. Então, o imperador Francisco José fez duras exigências o Lawrence da Arábia, incitava a revolta árabe contra os turcos, seus
à Sérvia, que as recusou. senhores. No mesmo ano, os Estados Unidos entraram na guerra de-
A Rússia, tradicional rival da Áustria, temia que o Império Otomano vido aos ataques dos submarinos alemães à sua frota, e enviaram uma
anexasse a parte muçulmana dos Bálcãs, e apoiou a Bósnia-Herzego- força expedicionária que desembarcou na França, comandada pelo
vina. Essa era a chance que a Alemanha esperava para resolver suas general Pershing, responsável por dois milhões de homens.
rivalidades com França, Grã-Bretanha e Rússia. Aliou-se à Turquia No decorrer do ano seguinte, a Liga dos Poderes Centrais não conse-
e ofereceu apoio à Áustria, que aceitou, e, juntos, formaram a Liga guiu resistir ao avanço dos Aliados. Damasco caiu nas mãos dos be-
dos Poderes Centrais. Assim, motivado pelo suporte recebido e para duínos de Lawrence da Arábia e, na Europa, a França foi libertada.
evitar uma guerra civil, no final de julho de 1914, o Império Austro- Em 11 de novembro de 1918, a Alemanha assinou o armistício. A
Húngaro declarou guerra à Sérvia. As outras potências europeias se Liga dos Poderes Centrais perdia a guerra.
lançaram no conflito, e, logo, todo o continente virou palco de ope- O Império Austro-Húngaro foi esfacelado pelo tratado de Saint-
rações militares. Germain, que reduziu a Áustria aos seus territórios germânicos, en-
Na frente oeste, os alemães avançaram sobre a Bélgica e Paris em tregando Trentino e Ístria à Itália. Ao reino dos sérvios, croatas e
direção ao Canal da Mancha. No leste, os Poderes Centrais foram eslovenos, que depois se chamou Iugoslávia, cedeu-se a Eslovênia, a
igualmente bem-sucedidos. Já nos primeiros meses da Guerra, os Dalmácia, a Croácia e a Bósnia-Herzegovina. À custa de seus domí-
alemães derrotaram os russos em Tannemberg e nos Lagos Masuria- nios tchecos, surgiu um novo Estado: a Tchecoslováquia. De um dos
nos. No entanto, depois das primeiras batalhas de Ypres, o exército maiores Estados europeus em extensão, a Áustria ficou reduzida a
do imperador alemão, Guilherme II (1888 – 1918), ficou impedido um território de apenas 83.850 km2. À Hungria foi imposto o Tra-
de avançar, e os Aliados não conseguiam fazê-lo recuar. tado de Trianon, que a obrigava a ceder a Croácia, a Eslováquia e a
Começou, então, a guerra de trincheiras: estacionária, lamacenta, Rutênia à Tchecoslováquia, e a Transilvânia à Romênia, fazendo que
cheia de batalhas de baioneta e de uso de gás venenoso, na qual doen- o país fosse reduzido a um terço do seu território de 1914.
ças, como o tifo e o tétano, matavam mais do que as balas e as bom- O moral em todo o antigo império estava baixo. Anos de luta e de sa-
bas. Era um conflito sanguinário, lutado por soldados que acabaram crifícios não impediram o inevitável: a fragmentação da colcha de re-
se tornando românticos no ideário da guerra. Guerreiros como o ás talhos étnicos, linguísticos, culturais e religiosos, que uma vez tinha
Barão Vermelho que, depois de abater 40 aviões inimigos com seu constituído o Império dos Habsburgo. Quanto à Alemanha, o resul-
biplano nos céus da França, foi pego e enterrado com honras de he- tado da guerra não foi menos catastrófico. Mas, diferentemente da
rói pelos ingleses que o derrubaram; ou como os soldados que parti- Áustria, o país não abaixaria a cabeça. Não com alguém como Adolf
ciparam de um episódio da luta nas trincheiras, em que duas tropas Hitler a instigar, nos alemães, a sede de vingança por toda a humilha-
inimigas, uma alemã e outra inglesa, de tanta convivência ali, para- ção que haviam sofrido com a derrota e por conta das condições do
das, vigiando uma à outra, resolveram estabelecer um cessar-fogo e Tratado de Versalhes.

Grandes Líderes da História 11


Distribuição
Ideologia 100% gratuita - Clube de Revistas
AFP/ Roger_Viollet

Propaganda nazista

12 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc

O NAZISMO
Misturando antissemitismo, anticomunismo, a necessidade de expansão da Alemanha
e a crença na superioridade da raça ariana, Adolf Hitler criou o seu
nacional-socialismo e inflamou todo um país

O
final da Primeira Guerra Mun- dial e criando até mesmo campos de extermí- forme revelam em particular sua organização
dial e o início da Segunda não nio para eliminar populações indesejadas. militar e a inclinação à violência, foram um fe-
constituíram uma época de paz, nômeno do pós-guerra, aparentemente inspi-
como se poderia imaginar. O TENDÊNCIA rado pelo cruel derramamento de sangue no
historiador inglês Eric Hobsbawm chama o Apesar da associação que sempre se faz en- conflito e pela dissolução dos valores morais”.
período que vai de 1914, início do maior con- tre o nazismo e a Alemanha, muitas característi- Curiosamente, esses sistemas autoritários
flito militar até então vivido, a 1945, quando o cas desse regime não são exclusivamente alemãs. foram predominantes entres os países que
Japão se rendeu pondo um fim a essa época, de No início, os nazistas eram chamados de “fascis- perderam a Primeira Guerra, como a Alema-
“Guerra dos 31 anos”. Para esse grande autor tas” e se inspiravam em Benito Mussolini. A ten- nha, a Rússia e a Hungria, e outros, como a
inglês, não houve um tempo de paz, mas um tativa frustrada de Hitler de tomar o poder em Itália, que se viram prejudicados pelo confli-
breve interlúdio, como o intervalo entre o pri- 1923, num golpe que ficou conhecido como o to. Entretanto, nem todos esses movimentos
meiro e o segundo tempo de um jogo. “Putsch da Cervejaria”, seguido de uma marcha chegaram ao poder, mas alguns receberam o
A tensão era provocada, principalmente, em Berlim, foi inspirado na bem-sucedida mar- apoio dos nazistas depois da ocupação de seus
pelas divisões étnicas e sociais resultantes da cha que Mussolini fizera em Roma em 1922. países e tiveram um importante papel como

A ideologia racista era de tamanha importância para


Hitler e para a elite nazista que é quase impossível dissociar o
nacional-socialismo dela

Primeira Guerra. O final das beligerâncias re- Na verdade, o fascismo italiano inspirou diver- satélites do nacional-socialismo. É o caso dos
desenhou as fronteiras europeias. As novas di- sos movimentos em toda a Europa – até mesmo fascistas húngaros e croatas, que lutaram ao
visões territoriais trouxeram descontentamento na França, na Bélgica e na Grã-Bretanha. lado dos alemães durante a Segunda Guerra.
e aumentaram a rivalidade. Em grande parte da O final da Primeira Guerra viu surgir di- Apesar das características comuns a es-
Europa, a crise econômica mundial iniciada em versas organizações fascistas ou nacionalistas ses movimentos, o racismo e o antissemitis-
1929 e o temor de uma revolução comunista – autoritárias. Todos esses movimentos tinham mo foram fenômenos exclusivamente nazis-
como a que tomou a Rússia – pintaram o qua- algumas características comuns, igualmente tas, não presentes no fascismo italiano. Os
dro com cores ainda mais pesadas. Como re- típicas do nacional-socialismo. Todas abra- nazistas acreditavam que os judeus preten-
sultado, parte do continente, com exceção das çavam um nacionalismo radical, tinham hie- diam dominar o mundo através dos contro-
monarquias do Norte e da Europa Ocidental, rarquias militares, pregavam e lançavam mão les financeiro, industrial e editorial, a chama-
foi tomado por regimes autoritários. Portu- da violência, cultuavam um líder carismático, da “subversão judaica” e, por isso, deviam ser
gal, Espanha, Itália, Rússia, Alemanha, entre desprezavam as liberdades individuais e os di- combatidos – um conceito que, ao longo do
outros, passaram a ser governados por ditadu- reitos civis, possuíam orientação antidemo- regime nazista, deu origem à “Solução Final”,
ras. Na Alemanha, porém, o regime de ultra- crática e antissocialista e se recusavam a so- o extermínio dos judeus. A ideologia racis-
direita que se impôs, o nazismo, ou nacional- cializar as indústrias. O historiador Raffael ta era de tamanha importância para Hitler
socialismo, se revelaria o mais arbitrário de Scheck, professor do Colby College, em Mai- e para a elite nazista que é quase impossível
todos, lançando o mundo numa guerra mun- ne, EUA, julga que esses movimentos, “con- dissociar o nacional-socialismo dela.

Grandes Líderes da História 13


Distribuição
Ideologia 100% gratuita - Clube de Revistas

AFP/ Roger_Viollet

Hitler é saudado por nazistas (1932)

14 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
IMPÉRIO ALEMÃO cialista. A teoria de Rosenberg coloca os an- mereciam. Acreditava que, ao contrário das
O nazismo se desenvolveu ao redor das tigos arianos no Irã. De lá, eles teriam invadi- “raças líderes”, as “raças escravas”, como os es-
crenças políticas de Adolf Hitler. Embora as do a civilização do Vale do Rio Indo, na atu- lavos, não mereciam existir. Se uma raça su-
inclinações do Führer quase sempre tenham al Índia, para onde levaram conhecimentos perior precisasse de mais território para viver,
surgido das circunstâncias e das necessidades científicos que haviam preservado de Thule, era seu direito tomar as terras das ditas infe-
do momento, os principais bordões do criador uma civilização ariana antediluviana ligada à riores. Não só isso: a doutrina nazista pregava
do nazismo eram o antissemitismo, o antico- perdida Atlântida. Na verdade, a maioria dos que era preciso eliminar as “raças parasíticas”
munismo, o antiparlamentarismo, a expansão fundadores e líderes do Partido Nazista fazia de seu território.
da Alemanha e a crença na superioridade da parte da Sociedade Thule, que promovia ritu- A crença na necessidade de se purificar
raça ariana. Hitler misturou esses elementos e ais baseados nessas crenças. a raça germânica levou à Eugenia, uma cor-
determinou o conceito fundamental do nazis- De uma maneira que faz lembrar a divi- rente que estuda as condições mais propícias
mo, uma paranoia que se tornou coletiva, sus- são de castas que os arianos impuseram na so- à reprodução e ao melhoramento da raça hu-
tentando que o povo alemão estava ameaçado ciedade hindu, quando invadiram a Índia, Hi- mana. Isso incluía a eutanásia involuntária
pela conspiração judaico-bolchevique e, por tler sustentava que uma nação é a maior cria- dos deficientes físicos e mentais e a esterili-
isso, precisava se unir, se disciplinar (sob a lide- ção de uma “raça”. Para ele, as grandes nações zação compulsória daqueles que sofriam de
rança nazista, claro) e se sacrificar para vencer. foram desenvolvidas pelas raças “com boa saú- algum mal hereditário.
Grande parte da ideologia nazista está des- de natural e traços agressivos, corajosos e inte- As experiências que Hitler viveu duran-
crita em Minha Luta (Mein Kampf), a biogra- ligentes”. As nações fracas, afirmava o Führer, te a Primeira Guerra Mundial e a Revolução
fia que Hitler escreveu quando esteve preso du- eram compostas de “raças mestiças” ou “impu- Bolchevique na Rússia afetaram igualmente
rante um ano, depois do malfadado Golpe da ras”. Os piores de todos, porém, eram os “su- seu ponto de vista político. A derrota da Ale-
Cervejaria. No entanto, o escopo de sua orien- bumanos”, considerados “parasitas” ou “vida manha, país pelo qual o Führer combateu, e a
tação política já tinha sido desenvolvido quan- que não merece a vida”. Entre eles, estavam os consequente queda da monarquia foram uma
do vivera em Viena, entre 1907 e 1913. Ele povos sem nação, como os judeus e os ciganos, humilhação que ele tomou como algo pesso-
concluiu que existia uma hierarquia racial, reli- e também testemunhas de Jeová, homossexu- al. A chegada dos comunistas ao poder na
giosa e cultural. No topo, segundo Hitler, esta- ais e deficientes físicos. Rússia, por sua vez, teve um efeito dominó
riam os arianos e, no grau mais baixo, os judeus Os judeus – e os eslavos – foram o prin- sobre o proletariado europeu de forma geral.
e os ciganos. Sendo austríaco e tendo vivido os cipal foco da perseguição nazista. O antisse- A reação veio na forma de regimes de ultradi-
momentos de agonia do Império Austro-Hún- mitismo partia da crença de que os judeus fo- reita, entre eles o nazismo.
garo, o futuro Führer julgou que as diversida- mentavam, em geral, a divisão das nações e, em O nacionalismo exacerbado preconizado
des étnicas e linguísticas haviam enfraquecido particular, dos alemães. Esse preconceito se ba- pelo nacional-socialismo buscava atingir a su-
o império. E também entendeu que a democra- seava não só em premissas raciais, mas igual- premacia ilimitada. O objetivo era construir
cia era uma força desestabilizadora, uma vez mente na propaganda nazista, que sustentava um império mundial dominado pelos povos
que esse regime concede poder às minorias. que os judeus pregavam a plutocracia – o sis- alemães. Essa ideia é um dos conceitos cen-
A principal instância do nazismo é a su- tema político em que o poder é exercido pelos trais de Minha Luta, traduzido no lema “um
perioridade ariana. Todas as ações nazistas mais ricos – e exploravam os trabalhadores. povo, um império, um líder”. O povo devia es-
eram no sentido de promover a supremacia Os nazistas também acreditavam que tar a serviço do império, ou reich. Na verda-
dos germânicos em detrimento de outros po- as grandes nações se destacam por conta do de, o termo “nacional-socialismo” deriva desse
vos. Os mais fracos deveriam ser aniquila- seu poder militar e da manutenção da or- relacionamento entre o cidadão e a nação. O
dos, submetidos pelos mais fortes, isto é, os dem interna. Para cativar o povo alemão, “socialismo” dos nazistas se referia às obriga-
germânicos, donos do suposto direito natu- eles exploraram o revanchismo que domi- ções dos indivíduos para com o reich. Todas as
ral de dominar as outras etnias. Para tanto, nou aquele país depois da derrota na Pri- ações – até mesmo a maternidade – deviam
os nazistas defendiam um governo centrali- meira Guerra Mundial. Grande parte da ser realizadas a serviço do império nazista.
zado num führer, ou “líder”, em alemão, que população foi seduzida pela ideia – e se
defenderia os povos germânicos do comunis- comprometeu com ela – de criar uma Gran- COM O PODER NAS MÃOS
mo e da subversão judaica. de Alemanha, que incluiria a Áustria. Os Adolf Hitler assumiu o poder em 1933 e
Entre outras obras, a filosofia racial na- nazistas, por sua vez, pregavam que, para logo transformou a Alemanha num Estado to-
zista foi influenciada principalmente pela Te- atingir essa meta, era necessário o uso de talitário. Todos os direitos civis foram suspen-
oria da Invasão Ariana, de Alfred Rosenberg força militar. sos, os partidos políticos, dissolvidos, as gre-
(1893 – 1946), um dos primeiros membros e Hitler afirmava que os países que não ves, proibidas e os sindicatos, fechados. Com
mentor intelectual do Partido Nacional So- conseguiam defender seus territórios não o plenos poderes, o Führer partiu para erradi-

O “socialismo” dos nazistas se referia às obrigações dos indivíduos


para com o reich. Todas as ações – até mesmo a maternidade –
deviam ser realizadas a serviço do império nazista

Grandes Líderes da História 15


Distribuição
Ideologia 100% gratuita - Clube de Revistas

Divulgação/ Discovery Networks


Neonazismo
Mesmo com o fim do regime nazista de-
Multidão de nazistas no Festival da Colheita em Buckeberg, 1937 pois da Segunda Guerra, os ideais do na-
cional-socialismo continuam vivos. Em
todo o mundo, há grupos neonazistas
car tudo que não fosse alemão da cultura, das viam sido reprimidos ou estavam mais ou buscando reviver o regime que dominou
instituições e da economia do novo Estado. E menos satisfeitos. A economia havia retoma- a Alemanha de 1933 a 1945. Apesar da
sua ira foi dirigida aos judeus, que, juntamen- do o crescimento já no final do ano anterior distância cultural e geográfica que os se-
te a outras minorias, tiveram seus bens confis- e a mordaça colocada nos sindicatos possibi- para, os neonazistas de hoje têm em co-
cados e foram declarados inimigos do Estado, litou que os industriais retomassem seus lu- mum o culto a Hitler, o antissemitismo,
perseguidos e expulsos do país. cros – ao custo dos trabalhadores. Apesar de o nacionalismo, a crença na superiorida-
Mas, ao mesmo tempo em que esmagava o os nazistas receberem o crédito pela retoma- de dos brancos e, consequentemente, o
operariado e os judeus, Adolf Hitler não dei- da da expansão econômica, isso se devia me- racismo, a xenofobia, o militarismo e a
xou de agradar os principais setores da socie- nos à sua política do que à tendência mun- violência. Eles, claro, também adotaram
dade alemã. A indústria pesada e os grandes dial e às medidas tomadas nos governos an- os símbolos do Partido Nacional Socia-
negócios permaneceram intocados, a não ser teriores. O desemprego havia diminuído e o lista. A suástica continua sendo seu prin-
pela remoção dos administradores e proprie- terror que assolara a Alemanha na década de cipal estandarte e eles se unem em torno
tários judeus. O líder nazista chegou mesmo 1920 recrudescia. De certa forma, os eleito- da perseguição dos estrangeiros. Na Eu-
a nomear industriais proeminentes para posi- res que votaram em Hitler esperando lei, or- ropa, grupos com essa orientação políti-
ções de poder dentro de seu governo. Na ver- dem e a retomada do crescimento econômico ca, como o Movimento Social Fascista, na
dade, o setor industrial ficou plenamente sa- sentiam que tinham feito a escolha certa. Os Itália, ou a Frente Nacional, na França,
tisfeito com os nazistas, uma vez que haviam alemães que não eram nem judeus nem so- valem-se da via parlamentar para dar for-
colocado o Partido Socialista na ilegalidade e cialistas puderam voltar a viver como antes ça às suas reivindicações.
restringido os sindicatos. da Primeira Guerra. E nem mesmo o Brasil, país mestiço por
O exército também apoiou a ditadura na- Em suma, o objetivo do nazismo era ba- natureza, está livre dos neonazistas. Em
zista. Além da promessa de intensificar o re- sicamente reestruturar a sociedade alemã de São Paulo e na região Sul do País, os ski-
armamento, Hitler pôs um fim à ameaça co- acordo com categorias raciais. Tratava-se de nheads e white powers, grupos que ado-
munista que pairava sobre a Alemanha desde uma ideologia assassina e egoísta criada por tam essa ideologia, promovem ataques fí-
o fim da Primeira Guerra. uma raça que se dizia “escolhida” e que se sicos e verbais contra migrantes nordesti-
Por volta da metade de 1933, quase to- sustentaria em detrimento de todos os ou- nos e judeus.
dos os grupos da sociedade alemã ou ha- tros seres humanos.

16 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Por Claudio Blanc Bases ideológicas
AFP/ Roger_Viollet

Coautores Conheça os teóricos em quem Hitler se inspirou para criar a ideologia nazista

Hitler e a insígnia do Partido Nacional Socialista sobre o mapa da Alemanha e os dizeres: “um povo, um império, um Füher”

Grandes Líderes da História 17


Distribuição
Ideologia 100% gratuita - Clube de Revistas
Retrato de Rudolf Hess em 29 de abril de 1935

Haushofer afirmava que o espaço geográfico


tem influência decisiva sobre os Estados e suas
políticas. Em outras palavras, a geografia
determina a sociedade. Óbvio como parece,
esse conceito foi usado, porém, para defender a
ideia de que o Estado e o povo alemão haviam
atingido um grau evolutivo superior às
outras nações e etnias e, por isso, precisavam
ampliar suas fronteiras para poder se
desenvolver de acordo com seu potencial
AFP

E
mbora o nazismo tenha sido sis- Stauf, que pôs em prática as teorias de List na Adolf Hitler era grande fã das ideias de
tematizado, defendido e propaga- sociedade secreta que fundou, a Ordem Ger- Liebenfels. Consta que, em 1909, o futuro
do por Adolf Hitler, ele não esta- mânica. Foi Stauf quem radicalizou o con- Führer visitou o autor para comprar alguns nú-
va sozinho na concepção das ideias ceito de raça superior, levando-o ao extremo. meros atrasados da Ostara. Não à toa, empre-
do movimento. Na verdade, o futuro Führer Para entrar na ordem, por exemplo, o candi- gou criteriosamente as recomendações do ex-
amalgamou uma série de conceitos, cuja fusão dato tinha de demonstrar sua pureza racial, monge nos campos de concentração nazistas.
resultou no nazismo. São teses, crenças e ten- isto é, deveria possuir sangue germânico até
dências criadas por diferentes teóricos e que a terceira geração, sem nenhuma mistura ra- KARL HAUSHOFER
acabaram se tornando muito populares na cial. Além disso, o aspirante tinha de deixar Depois da Primeira Guerra Mundial, em
Alemanha depois da Primeira Guerra. que medissem seu ângulo facial, para asse- que serviu como um dos mais jovens generais
Os pensadores que criaram essas teorias gurar que sua estrutura craniana era ariana. do exército alemão, Karl Haushofer (1869 –
são, portanto, coautores do ideal que veio a Depois de aprovado, passava por uma verda- 1945) tornou-se diretor do Instituto de Geo-
dominar a nação alemã (e a Áustria, depois da deira lavagem cerebral. Hitler buscou fazer a política, onde desenvolveu uma tese que viria a
sua anexação) sob Adolf Hitler. Eles eram an- mesma coisa através do nazismo. As Escolas ser nevrálgica na política expansionista nazis-
teriores ao líder nazista e à sua teoria de mun- Adolf Hitler, a rede de ensino instituída em ta. Haushofer afirmava que o espaço geográfi-
do. Foram eles, portanto, que inspiraram o toda a Alemanha após a ascensão do Führer, co tem influência decisiva sobre os Estados e
ditador, fornecendo a base teórica necessária onde as crianças, o futuro do Terceiro Reich, suas políticas. Em outras palavras, a geogra-
à configuração do ideal nazista. Visionários, eram educadas, funcionavam como verdadei- fia determina a sociedade. Óbvio como pare-
ressentidos, místicos, frustrados, esses pen- ras máquinas de “fazer a cabeça”. ce, esse conceito foi usado, porém, para defen-
sadores conseguiram encontrar voz para suas der a ideia de que o Estado e o povo alemão
crenças – por mais absurdas que pudessem ser JÖRG LANZ VON LIEBENFELS haviam atingido um grau evolutivo superior às
– num líder fanático e obcecado que conduzi- Provavelmente, Jörg Lanz von Liebenfels outras nações e etnias e, por isso, precisavam
ria inexoravelmente seu país adotivo à ruína. foi uma das personalidades que mais influen- ampliar suas fronteiras para poder se desen-
ciaram Hitler. Ele pertencera a uma ordem volver de acordo com seu potencial.
GUIDO VON LIST monástica cristã, mas havia sido expulso por Haushofer foi conselheiro dos nazistas até
A figura do austríaco Guido von List conta dos seus “pensamentos impuros”. Lie- 1938 e influenciou pessoalmente Hitler a ado-
(1848 – 1919) corresponde incrivelmente ao benfels fundou, então, sua própria sociedade tar uma política de expansão territorial como
seu caráter: excêntrico como sua longa barba iniciática, a Ordem do Novo Templo, e elabo- algo intrinsecamente ligado à sobrevivência da
e misterioso como os boatos que o envolviam. rou a revista Ostara, através da qual divulgava Alemanha. Mas não era só como militar e ge-
Fanático pela ascensão germânica, estava cer- sua doutrina. ógrafo que Haushofer se destacava. Ele afir-
to da superioridade ariana sobre os outros po- Hitler era um entusiasmado leitor da Os- mava ter estudado zen budismo e sustentava
vos. Aos 14 anos, jurou que iria construir um tara quando vivia em Viena. A revista era car- ter contato com sociedades secretas tibetanas
templo a Odin (ou Wotan), o deus nórdico da regada de antissemitismo e de ideias sobre a que possuíam o segredo do “super-homem” –
guerra, da sabedoria e, paradoxalmente, da superioridade germânica. Liebenfels publica- uma ideia que acabou se tornando central no
poesia, em Viena. Acabou cumprindo a pro- va no periódico ideias como a de que Cristo nazismo. Haushofer era, também, membro de
messa, erguendo, realmente, uma estátua de fora um iniciado ariano que havia se posicio- uma sociedade secreta japonesa, a Ordem do
Odin naquela cidade. List acreditava – pior nado contra as forças obscuras representadas Dragão Verde.
que isso, divulgava – que havia uma primei- pelos sacerdotes judeus. Para o ex-monge, os Ele foi apresentado a Hitler por Rudolf
ra raça, os “armanos”, da qual os povos germâ- judeus eram uma raça demoníaca que preten- Hess – um dos mais ortodoxos seguidores do
nicos descendiam, extremamente inteligente dia destruir a pureza racial do ariano pelos misticismo nazista –, e logo se tornou mentor
e desenvolvida, cujas capacidades intelectuais mais diversos meios – até a caridade. O autor do futuro ditador, chegando a ensinar ocultis-
eram mais aguçadas que as dos outros povos. bradava que esse movimento deveria ser im- mo a Hitler e a secretariá-lo quando estava es-
Ele pode ser considerado um dos primei- pedido. A forma de conseguir isso, segundo a crevendo Minha Luta. De acordo com Pablo
ros pensadores da corrente místico-racista. Ostara, era esterilizando os judeus e fazendo- Jiménez Cores, autor de A Estratégia de Hi-
Seu pensamento se alastrou através de Phillip os trabalhar até a morte – literalmente. tler (Madras Editora, tradução de Silvia Mas-

18 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
simini), numa das vezes em que Haushofer vi- da Guerra. Na verdade, de acordo com o que tudos das técnicas usadas pelos médiuns, e
sitou Hitler na prisão, ele mostrou ao líder um William L. Shirer escreveu em The Rise and procurou ensiná-las a Hitler, para aumentar
documento peculiar, o Protocolo dos Sábios Fall of the Third Reich (Ascensão e Queda do o poder de persuasão do líder do nazismo.
do Sião. O texto revelava discussões manti- Terceiro Reich), o terceiro homem na linha de
das durante os encontros dos 62 homens mais sucessão do Reich buscava obter uma estrondo- RUDOLF STEINER
poderosos do Congresso Sionista Mundial, sa vitória diplomática. Acabou preso. Parece incrível incluir o pensador aus-
com o objetivo de impor o domínio dos ju- Numa louca tentativa de selar a paz com tríaco Rudolf Steiner (1861 – 1925) entre
deus sobre os outros povos. Não bastasse isso a Grã-Bretanha, em maio de 1941, Hess pilo- as mentes que influenciaram Hitler, mas, de
tudo, Haushofer exerceu uma influência fun- tou um Messerschmitt Bf 110 sobre a Escócia, fato, o futuro Führer chegou a nutrir grande
damental sobre o Führer, convencendo-o de onde saltou de paraquedas. Ele pretendia se admiração pelo fundador da Antroposofia.
que a União Soviética, e não a França, era a encontrar com o duque de Hamilton, a quem Steiner, porém, jamais compactuaria com o
grande inimiga da Alemanha. Como se sabe, iria propor um armistício para que os dois pa- ideal nazista e suas ações.
a decisão de Hitler de invadir a União Sovié- íses pudessem, juntos, combater os soviéti- Os conceitos de Steiner, filósofo e pedago-
tica foi desastrosa e custou-lhe a possibilida- cos. Mas Hess não tinha qualquer credencial go, reunidos na doutrina que chamou de “An-
de de vitória. No final da guerra, como era de para negociar. Quando soube da história, Hi- troposofia”, buscavam atingir o verdadeiro co-
se esperar de um adepto da cultura samurai, tler declarou que seu ajudante estava “insano”. nhecimento da natureza humana. Escritor e
Haushofer cometeu suicídio ritual. Seja como for, a Grã-Bretanha, certamente, palestrante eloquente, Steiner fundou a Socie-
não aceitaria as condições simplórias propos- dade Antroposófica, o teatro Goetheanum, em
RUDOLF HESS tas pelo ajudante de Hitler, isto é, as de que o homenagem ao grande escritor alemão Goethe
Chamado por alguns historiadores de Reich não atacaria nenhum território do im- (1749 – 1832), a escola Waldorf, que até hoje
neurótico, Rudolf Hess foi uma das pessoas pério britânico e este não se oporia à Alema- continua a ser pioneira em termos de pedago-
de maior confiança de Hitler, exercendo sobre nha. A resposta foi a detenção de Hess como gia, e um instituto clínico e terapêutico.
ele grande ascendência no começo de carreira. prisioneiro de guerra. Depois do final do con- Hitler ficou muito impressionado com a vi-
Hess estava sempre ao lado de Adolf. Foi seu flito, ele foi condenado à prisão perpétua pelo são de Steiner. Mas, na verdade, o nazista dis-
secretário particular quando editou o livro tribunal de Nuremberg. Morreu na prisão de torceu a proposta do filósofo. A obra de Steiner
Minha Luta. Depois, com a chegada dos na- Spandau, em 1987, aos 93 anos. foi tão descontextualizada pelos nazistas que
zistas ao poder, em 1933, tornou-se ajudante alguns chegaram a dizer que ele era antissemi-
pessoal do Führer e, finalmente, em 1939, o se- DIETRICH ECKART ta. Na verdade, o filósofo participava de uma
gundo na linha de sucessão, depois de Göring. As últimas palavras de Dietrich Eckart, liga contra o antissemitismo. Provavelmente, a
Foi Hess quem apresentou Karl Haushofer a ao morrer em 1923, foram um conselho para confusão tenha vindo de um livro publicado em
Hitler, estabelecendo uma conexão que abala- os que o cercavam. “Sigam Hitler”, disse ele. 1920 pelo antroposofista Karl Heise, chamado
ria a história. Haushofer havia sido professor “Vocês o verão dançar, mas eu fui o compo- Entente-Freimaurerei und Weltkrieg (Maço-
do secretário do ditador na Universidade de sitor da música; dei a ele os meios para se co- naria-entente e a Primeira Guerra). O livro era
Munique, onde lecionava geopolítica. municar com eles ... Minha influência na his- resultado de palestras de Steiner sobre histó-
Hess era um dos mais entusiasmados segui- tória será maior do que a de qualquer outro ria contemporânea e caracterizava a Primeira
dores da corrente esotérica que ficou conhecida alemão”. De fato, Eckart, pleno conhecedor Guerra como “tempestade punitiva” e declara-
como “Misticismo Nazista”. Não há dúvida de da estratégia da oratória, foi o responsável va que o presidente norteamericano, Wilson, e
que o interesse dele pelo ocultismo contagiou por treinar Hitler e melhorar sua natural ca- Lênin eram imbuídos de poderes místicos que
Hitler, conduzindo-o através de um mundo pacidade de comunicação. Mas a influência se opunham à missão espiritual da Alemanha.
povoado por místicos, médiuns e magos. Mas, de Eckart, jornalista, escritor e tradutor al- O livro fala também de uma conspiração maçô-
com a ascendência de outras figuras sobre Adolf, coólatra e viciado em morfina, sobre o dita- nica britânica contra a Alemanha e cita Guido
Hess foi ficando marginalizado, a ponto de re- dor também envolveu o ocultismo. Ele havia von List. Foi o que bastou para alguns nazistas
alizar um dos feitos mais patéticos da Segun- dedicado grande parte do seu tempo aos es- adotarem seu argumento.

Liebenfels publicava ideias como a de que AFP/ Roger_Viollet

Cristo fora um iniciado ariano que havia


se posicionado contra as forças obscuras
representadas pelos sacerdotes judeus. Para o
ex-monge, os judeus eram uma raça demoníaca
que pretendia destruir a pureza racial do ariano.
O autor bradava que esse movimento deveria ser
impedido a qualquer custo. A forma de conseguir
isso era esterilizando os judeus e fazendo-os
trabalhar até a morte – literalmente
Rudolf Steiner (1861-1925)

Grandes Líderes da História 19


Distribuição 100%Mundial
Segunda Guerra gratuita - Clube de Revistas

Tentativa de dominar o
Oficiais nazistas
marcham e soldados
alemães observam
atentamente

tworks
Discovery Ne
Divulgação/
Como o líder nazista começou um dos mais sangrentos conflitos da história, a Segunda
Guerra Mundial, e viu seus planos e seu império serem destruídos

“E m termos mais simples, a pergun-


ta sobre quem ou o que causou a
Segunda Guerra Mundial pode
ser respondida em duas palavras:
Adolf Hitler”, afirma Hobsbawm em Era dos
Extremos. De fato, é quase um consenso que
Primeira Guerra Mundial e com a partilha de
territórios e de influências – a Alemanha pela
humilhação da derrota e pelo excessivo rigor
do Tratado de Versalhes; a Itália e o Japão por
insatisfação pela pouca parte que lhes coube
e desejos imperiais não recompensados pela
de uma região anexa à Alemanha. Parte des-
se território foi ocupada pela então URSS em
decorrência do tratado de não agressão entre
os países. Com o pacto, foi possível à URSS
também ocupar os países bálticos (Letônia,
Estônia e Lituânia), além de fornecer matéria-
as maiores potências europeias não queriam participação na Primeira Guerra. prima para a Alemanha.
o conflito, mas acabaram arrastadas a ele pela Hitler tinha noção de seu poderio militar
agressão ultrajante dos países que formavam e da competência de seus exércitos quando, em A BLITZKRIEG ALEMÃ
o Eixo: Alemanha, Itália e Japão. Estas nações apenas três semanas, subjugou a Polônia. No Uma ofensiva rápida e eficiente era a in-
estavam descontentes com as resoluções pós- fim de setembro, o país polonês não passava tenção de Hitler na frente ocidental, pois a

20 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc e Lucas Pires

união de forças inimigas poderia dar aos ale- guerra civil que destroçara o país (guerra na
mães a dificuldade que seus desejos queriam Em 14 de junho, qual armamentos alemães e italianos foram
evitar. Assim, em 1940, um a um, os países testados ao lado das forças franquistas), consi-
europeus foram se rendendo a Hitler e à força
os alemães entraram derou inoportuna uma participação espanho-
de seus Panzer (tanques blindados alemães) em Paris e, no dia la e “declinou” o convite de Hitler.
mediante à guerra-relâmpago (os estrategistas Winston Churchill, primeiro-ministro
alemães chamaram-na de Blitzkrieg). Em 22, foi assinado inglês nomeado em maio de 1940 e que pro-
abril, Dinamarca e Noruega; em maio, Bélgi- meteu ao povo “sangue, cansaço, suor e lágri-
ca, Holanda e França. Em junho, quase toda a o armistício mas”, viu-se isolado e em inferioridade mili-
Europa estava sob domínio nazista: em 14 de tar. A frente de batalha em terra, que avan-
junho, os alemães entravam em Paris e, no dia com a França. Para çou para conter as forças nazistas em conjunto
22, era assinado o armistício com a França. com as francesas, foi rapidamente repelida e
Para mostrar que era de fato a vingança con- mostrar que era de só se salvou pela retirada de Dunquerque, o
tra a derrota na Primeira Guerra, Hitler fez
que o armistício fosse assinado no mesmo va-
fato a vingança da que evitou o massacre e a perda de conside-
ráveis contingentes humano e bélico ingleses.
gão de trem em que, em 1918, foram ditadas derrota na Primeira Um ano depois de iniciada a guerra, as for-
aos alemães as cláusulas da rendição. Pouco ças antagônicas resumiam-se ao novo impé-
mais de 20 anos depois do fim do horror da Guerra, Hitler fez rio alemão, que havia tomado quase todo o
Primeira Guerra Mundial, um outro muito continente europeu, contra a pequena ilha
maior atingiu o mundo, pois veio como uma que o documento britânica ao norte do continente. Recua-
tentativa ideológica de dominação por parte do em seu território, Churchill poderia fa-
de uma raça considerada superior. fosse assinado no cilmente chegar a um acordo de paz com
Com essas resoluções, a Grã-Bretanha
permaneceu praticamente sozinha na luta
mesmo vagão de Hitler, o que foi proposto, pois o líder alemão
queria formar uma frente contra a União So-
contra os nazistas na Europa. A Itália entra- trem em que, em viética, mas o ímpeto foi exclusivamente o de
ra na guerra em 10 de junho de 1940; Por- resistir, incitando o povo ao esforço de guer-
tugal e Espanha, governados por líderes fas- 1918, foram ditadas ra e ao sacrifício. Ciente de uma derrota caso
cistas (Salazar e Franco), permaneceram neu- tentasse um ataque aos nazistas por terra,
tros. Hitler até que tentou negociar a presença aos alemães as Churchill condensou seus esforços de guerra
espanhola ao lado das forças alemãs, mas o ge- em desenvolver uma força aérea considerável
neral Francisco Franco, após três anos de uma cláusulas da rendição e manter o poderio naval que, historicamen-

A idealização de um terceiro império


Adolf Hitler tinha um grande desejo: unir os povos germânicos sob diversos principados da região sob o poder da Prússia. O maior feito, e
seu poder no que chamou de III Reich. Em 1933, quando chegou a inaugural do II Reich, foi a guerra franco-prussiana, contra os france-
chanceler, mais precisamente quando o Parlamento foi incendiado em ses, que rendeu à Prússia a anexação dos territórios da Alsácia-Lorena.
fins de setembro e as liberdades individuais foram cessadas, foi funda- Bismarck deixou o poder em 1890, quando entrou em desavenças com
do o III Reich, um novo império alemão. o jovem imperador Guilherme II, mas o reich durou até o fim da Pri-
Antes de Hitler, outros dois impérios germânicos existiram. O primei- meira Guerra Mundial, com a Alemanha vencida e o fim da monarquia
ro deles, o I Reich, foi o mais duradouro – de 962 a 1806, isto é, existiu imperial. Com a derrota, através do Tratado de Versalhes, a Alsácia-
desde meados da Idade Média, passando pela Idade Moderna e dissol- Lorena voltava à França. Hitler almejava um império alemão em toda
vendo-se no início da Idade Contemporânea – e era chamado de Sacro a Europa e sem judeus. Dentro de sua política insana de extermínio e
Império Romano-Germânico. O II Reich foi inaugurado em 1871 por ocupação militar, apoiado nas ideias de “espaço vital” alemão e da raça
Otto von Bismarck, com a unificação alemã. O imperador Guilherme I superior, não poupou esforços para ver seu ideário cumprido. Para seu
nomeou Bismarck como chanceler, e este ficou conhecido como “Chan- infortúnio, os Aliados venceram a guerra e puseram fim ao denominado
celer de Ferro” após ter exercido um governo autoritário e dominado III Reich, o mais sangrento, cruel e abominável de todos.

Grandes Líderes da História 21


Distribuição 100%Mundial
Segunda Guerra gratuita - Clube de Revistas
te, marcou a Grã-Bretanha. Nisso consistiam falhar na conquista da Rússia soviética rapi-
suas esperanças de resistência até que algo Depois da Batalha damente, o ditador declarou guerra aos Es-
novo surgisse no horizonte. tados Unidos no dia 11, quatro dias depois
De fato, a resistência inglesa aos ataques de Stalingrado, de os japoneses atacarem a base norte-ame-
de Hitler foi heroica. O ditador alemão pre-
tendia uma invasão à Inglaterra, numa ope-
as forças soviéticas ricana de Pearl Harbor. Hitler lutava, então,
contra uma coalizão formada pelo maior im-
ração apelidada de “Leão-Marinho”. Os ata-
ques aéreos da Luftwaffe, a Força Aérea Ale-
forçaram o exército pério da época (o britânico), o maior poder
industrial e financeiro do mundo (os Estados
mã, intensificaram-se em julho contra navios alemão a bater Unidos), e o maior exército (o soviético).
ingleses no Canal da Mancha e, posterior-
mente, a diversas cidades, incluindo Londres.
em retirada da Com os eventos se voltando contra o
Terceiro Reich, o Führer começou a cair. Em
A Real Força Aérea Britânica (RAF) era re- frente oriental. Do 1942, seus planos de tomar o Canal de Suez
lativamente recente e inexperiente, contan- ruíram com a derrota na segunda batalha de
do com a maioria de pilotos na base dos 20 outro lado do mapa, El Alamein. No ano seguinte, o 6º Exército
anos, mas a tecnologia dos equipamentos,
com radares eficazes, possibilitou uma guer-
enfraquecidos, Alemão foi destruído na titânica Batalha de
Stalingrado. Ainda em 1943, seu aliado ita-
ra defensiva e de desgaste. O combate mos- os nazistas foram liano, Benito Mussolini, foi deposto por Pie-
trou-se decisivo para o desenrolar do confli- tro Badoglio, que se rendeu aos Aliados. Para
to, pois Hitler teve de abandonar a Operação incapazes de defender piorar, a lógica militar de Hitler se deterio-
Leão-Marinho depois que viu, em agosto, o front ocidental. Em rou tremendamente e ele começou a apresen-
aviões britânicos furarem o espaço aéreo ale- tar sinais de que sua saúde ia mal. O biógrafo
mão e bombardearem Berlim. Foi o primeiro junho de 1944, os Ian Kershaw supõe que o governante estava
grande golpe sofrido por Hitler em uma sé-
rie de triunfos.
norte-americanos sofrendo de Mal de Parkinson. Outros pes-
quisadores acreditam que tinha sífilis.
e os britânicos Depois da Batalha de Stalingrado, as
PRÓXIMO PASSO: A URSS forças soviéticas forçaram o exército alemão
Até 1941, Hitler não sofria ameaças de entraram no norte da a bater em retirada da frente oriental. Do ou-
inimigos. Apesar de os britânicos continua- tro lado do mapa, enfraquecidos, os nazistas
rem o esforço de guerra, pouco podiam fazer
França, executando a foram incapazes de defender o front ociden-
sozinhos. Mas o Führer cometeu um erro gra- maior operação tal. Em junho de 1944, os norte-americanos
ve, que acabou custando a possibilidade de vi- e os britânicos entraram no norte da Fran-
tória. Em junho, deu início à Operação Barba- militar da história, ça, executando a maior operação militar da
rossa, a invasão da União Soviética. Três mi-
lhões de soldados nazistas atacaram a URSS,
a Overlord. No história, a Overlord. No final daquele ano,
os Aliados já haviam penetrado em território
quebrando o pacto de não agressão firmado final daquele ano, os alemão. O Terceiro Reich agonizava.
entre o chanceler alemão e Stalin dois anos
antes. Apesar do sucesso inicial, os alemães Aliados já haviam ATENTADO CONTRA HITLER
foram detidos próximos a Moscou em dezem- penetrado em A guerra já estava perdida em quase to-
bro de 1941. A feroz resistência soviética e o das as frentes de batalha. Os russos haviam
inverno russo começavam a reverter o futuro território alemão. tomado, aos poucos, todos os territórios ocu-
da guerra. pados pelos alemães nos dois primeiros anos
O mês de dezembro de 1941 pode ser con-
O Terceiro Reich de guerra. Caminhavam para Berlim en-
siderado o começo do fim de Hitler. Depois de agonizava quanto a frente ocidental, no dia 6 de junho

Divulgação/ Discovery Networks

Invasão alemã na URSS em


22 de junho de 1941

22 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Guerra em casa
Diferentemente do que aconteceu durante a Primeira Guerra Mun- preso em campos de prisioneiros mesmo depois do fim da guerra, mui-
dial, a partir de 1943, os principais centros da Alemanha se tornaram to dos quais morreram na Sibéria sem nunca voltar em casa. Os últimos
palcos do conflito. As consequências foram terríveis. Em quase todas sobreviventes da Batalha de Stalingrado só retornaram em 1955, dez
as cidades, cerca de metade das casas estava completamente destruída. anos após o fim do conflito e 12 depois de terem sido mandados para
Milhões de alemães tinham se tornado refugiados. A grande maioria campos de prisioneiros na Sibéria.
padecia de fome e não tinha roupas. Doenças e epidemias grassavam Embora Hitler tenha admitido, em 1944, que a Alemanha havia per-
por todo o país. Não havia dinheiro, e a população, extremamente dido a guerra, ele não permitiu que suas tropas batessem em retirada.
empobrecida, apelou para o escambo. Em troca de umas poucas bata- O ditador também ordenou que o Holocausto prosseguisse. Além dis-
tas ou de um maço de cigarros, podia-se conseguir um piano de cau- so, em sua insanidade, mandou que toda infraestrutura industrial fosse
da ou qualquer tesouro familiar que tivesse sobrevivido às agruras de destruída antes de cair nas mãos dos Aliados. Fiel à ideologia nazista, a
seus donos. Os cães e gatos desapareceram da paisagem alemã, devo- qual pregava que os povos que não conseguem defender seu território
rados pela população faminta. O quadro tenebroso era agravado pelo não têm o direito de existir, o Führer afirmava que, ao perder a guerra, a
luto por causa dos parentes mortos ou pela falta de notícias dos entes Alemanha perdera também o direito de sobreviver. O país inteiro deve-
queridos. No total, entre civis e militares, seis milhões e meio de ale- ria sucumbir com ele. Por isso, ordenou a seu ministro de armamento,
mães morreram durante o conflito. Albert Speer, executar esse plano. Felizmente, para as futuras gerações
No leste europeu, um grande número de soldados nazistas continuou de alemães, Speer desobedeceu Hitler.

de 1944, via o desembarque na Normandia,


Divulgação/ Discovery Networks

fato chamado de o “Dia D”. Dali, os Aliados


libertariam a França e os demais países do
oeste europeu. Mas nada fazia Hitler perder
as esperanças. Ele demonstrava que era a vi-
tória total ou a derrota total. Assim, ordenou
que todos continuassem a luta, até a morte, se
necessário. Por mais incrível que pareça, qua-
se nenhum alemão contestava as decisões do
Führer. Confiavam cegamente em suas pala-
vras, tanto que não houve baixa no ímpeto da
população.
Mas alguns conselheiros e homens do
partido tinham exata noção de que o caminho
para o qual o Führer os levava era o da com-
pleta destruição. Queriam um acordo de paz
com as potências ocidentais, mas também sa-
biam que, com Hitler no poder, isso seria im-
possível. Assim, planejaram um atentado, que
se desenvolveu em 20 de julho de 1944. O co-
ronel Klaus von Stauffenberg foi até o quar-
tel-general do Führer com uma bomba dentro
de uma pasta de couro. No gabinete de Hi-
tler, depositou-a junto ao pé da mesa, a menos
de dois metros de seu alvo, e saiu da sala me-
diante uma desculpa qualquer. Ouviu-se a ex-
plosão e alguns minutos se passaram até que
Adolf Hitler saísse, de entre a fumaça e des-
troços, ferido e tonto. O atentado fracassou e
o que se viu em seguida foi o banho de sangue
de quase 5 mil pessoas consideradas oposicio- mais, pois a cada dia suas atitudes atrozes assassinado por rebeldes, que penduraram
nistas ao regime. aumentavam. seu corpo como troféu e o espancaram bru-
A saúde de Hitler piorava dia após dia. A guerra ia chegando ao fim. Num mo- talmente. Hitler, no final de abril, enfim sen-
Sedentário, o Führer tinha correntes do- vimento contrário ao expansionismo alemão tiu que a derrota estava próxima quando os
res de cabeça, cãibras e dores pelo corpo. E de 1939 até 1941, os territórios conquista- russos tomaram Berlim. No dia 30 de abril,
o atentado serviu para acentuar um tremor dos eram reconquistados e iam espremen- cometeu suicídio ao lado de Eva Braun, sua
nervoso no braço e na perna esquerdos. Cada do o exército alemão. Em 1945, nada mais fiel amante por 16 anos. No dia 7 de maio
vez mais, ele permanecia trancado na Chan- poderia salvar a Alemanha, nem a morte de de 1945, a Alemanha assinava a rendição in-
celaria de Berlim. A insanidade parecia es- Roosevelt conseguiu dar forças para resistir. condicional. Era o fim do nazismo, o fim de
tar tomando conta de Adolf Hitler cada vez Em abril daquele ano, Mussolini foi preso e Adolf Hitler.

Grandes Líderes da História 23


Distribuição
Morte 100% gratuita - Clube de Revistas
Divulgação/ Discovery Networks

Adolf Hitler na Frente Leste, em 1941

24 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc

A polêmica
MORTE Como o suicídio de Adolf Hitler tornou-se tema de discussões e desconfianças

A
morte do líder nazista ainda duas fases – a primeira em 1936, apenas Em 20 de abril de 1945, Hitler com-
hoje causa polêmica. Diversas três anos depois de Hitler ter chegado ao pletou 56 anos. Naquele mesmo dia, de-
versões surgiram a cada nova poder, e a segunda em 1943, quando já se pois de ser cumprimentado por todos
possibilidade – suicídio, enve- sabia que a Alemanha perderia a Guerra aqueles que permaneciam no bunker da
nenamento – e houve mesmo quem disses- – pela construtora Hochtief, uma multi- Chancelaria, para onde haviam ido de-
se que o Führer fugira de Berlim e que sua nacional que atua também no Brasil. Era pois que Berlim passou a ser atacada, ele
morte fora criada para enganar os Aliados. parte de um grande programa de constru- se reuniu com seus principais homens –
Mas fato é que, hoje, tem-se certeza da ções subterrâneas iniciado em 1940 em Martin Boorman, Goebbels, Himmler,
morte dele, mais precisamente de seu sui- Berlim. A ideia era proteger a capital ale- Göring, Speer e Ribbentrop – para de-
cídio, no dia 30 de abril de 1945. mã dos inevitáveis bombardeios. liberar sobre os andamentos da guerra.
O Führerbunker, literalmente “abrigo Os aposentos de Hitler ficavam na se- Conscientes da derrota, propuseram ao
do líder”, era um complexo subterrâneo ção mais nova – e mais profunda –, de- Führer que deixasse a cidade e fosse para

Goebbels enviou uma mensagem a Dönitz informando da morte do


Führer. Depois, como indicou que faria, envenenou seus seis filhos
e ordenou a um soldado que executasse a ele e sua esposa.
O mais fiel dos seguidores de Hitler seguiu-o até na morte

de apartamentos, escritórios e outras ins- corados com móveis raros e pinturas a outro refúgio mais seguro, o de Berchtes-
talações localizado em Berlim. Na verda- óleo. O ditador se mudou definitivamen- gaden. Hitler teria se recusado a deixar a
de, tratava-se de dois bunkers conectados, te para lá em janeiro de 1945, quando os capital. Entre todos ali, apenas ele manti-
construídos em níveis diferentes, a uma Aliados pressionavam na frente ocidental nha a ideia de ainda vencer a guerra.
profundidade de 8,2 metros debaixo dos e os soviéticos, na oriental. Desde então, A morte do presidente Roosevelt soou-
jardins da Chancelaria do Reich. O com- o Führerbunker se tornou seu quartel- lhe como um sinal de esperança. Depois
plexo era protegido por cerca de quatro general, de onde governou um Terceiro disso, acreditou que dois exércitos alemães
metros de concreto e tinha algo em tor- Reich que se desmoronava rápida e ine- pudessem libertar Berlim e isso significa-
no de 30 quartos distribuídos por dois ní- vitavelmente. Foi no Führerbunker que ria à guerra o que tinha sido a batalha de
veis, com acesso aos prédios principais da Adolf Hitler e sua esposa, Eva Braun, co- Stalingrado para os russos – o ponto de
Chancelaria e uma saída de emergência meteram suicídio, quando os soviéticos virada. Mas suas ordens para os tais dois
para o jardim. O bunker foi erguido em romperam as defesas de Berlim. exércitos nunca foram cumpridas, pois eles

Grandes Líderes da História 25


Distribuição
Morte 100% gratuita - Clube de Revistas
delinquente, e não querendo ser exibido
Divulgação/ Discovery Networks

em nenhum museu de cera (como Lênin,


o líder da revolução russa de 1917) como
troféu, ordenou a seus homens que, após
morto, fosse queimado.
Depois de tais resoluções, falou a to-
dos que estavam no bunker que quem
quisesse poderia partir a qualquer mo-
mento. Não mais precisariam ficar.
Goebbels e alguns outros decidiram
continuar com ele até o fim. Então, Hi-
tler distribuiu ampolas de cianureto (um
veneno poderoso que matava em instantes
depois de tomado) a todos que permane-
ceram e tratou de providenciar seu casa-
mento com Eva Braun. Num ato que pou-
cos compreenderam, ele desposava a mu-
lher que lhe dedicara mais de 16 anos de
vida. Goebbels e Boorman foram as tes-
temunhas, e houve champanhe para a co-
memoração. Era 29 de abril e, logo em se-
guida ao casamento, Hitler se recolheu ao
seu gabinete com a secretária Frau Lange
para ditar seus testamentos – um pesso-
al e outro político. Foram feitas três có-
pias dos documentos, enviadas uma para
a sede do partido e as demais para os ge-
nerais Dönitz e Schörner. Neles, Hitler
nomeou Dönitz como presidente, Goeb-
bels o novo chanceler e Boorman, minis-
tro do partido. Antes de dormir, o Führer
testou, com sucesso, o cianureto em seu
cão Blondi.
Hitler e Eva Braun recolheram-se
para o quarto logo depois do almoço do
dia 30 de abril e de terem cumprimenta-
do as pessoas presentes. Minutos depois,
às 15h30, os criados ouviram um disparo
e correram em direção ao quarto do ca-
sal, encontrando o Führer sobre o sofá
com a cabeça estourada. A seu lado, es-
tava Eva Braun, morta e com uma pisto-
la na mão. Ela havia tomado o cianureto.
Publicação da época afirmava que Hitler e Eva Braun teriam fugido de Berlim Hitler manteve uma cápsula do veneno
na boca, mas preferiu morrer com a hon-
ra dos militares. Imediatamente após vi-
não mais existiam. Mesmo assim, Hitler de que Himmler abria negociações de paz rem que seu líder havia de fato se matado,
permaneceu incólume, proibindo que a pa- com o conde sueco Bernadotte. Informou o criado de quarto, de nome Linge, Bo-
lavra “derrota” fosse sequer pronunciada. que morreria em Berlim quando a cidade orman e o Dr. Stumpefegger cobriram os
No entanto, sua saúde estava demasia- estivesse próxima de ser totalmente toma- corpos com um cobertor e trataram de le-
damente afetada, ainda mais após o aten- da pelo exército vermelho. Himmler foi vá-los para fora do bunker. As ordens fi-
tado de julho de 1944. Seu corpo já não logo declarado traidor e condenado à mor- nais de Hitler eram de que fossem quei-
andava ereto e tinha tumores no braço e te, mas foi o auxiliar do chefe da Gestapo, mados e, para tanto, encomendara uma
nas pernas que aparentavam Mal de Pa- de nome Fegelein, casado com uma irmã de remessa de 200 litros de gasolina para o
rkinson. Escondido há semanas no bunker Eva Braun, que foi morto. motorista Kempka, que conseguiu reunir
sem mesmo ver a luz do sol, empalidecera A ideia do suicídio veio a Hitler por apenas 170 litros de veículos abandona-
muito e o olhar, antes brilhante, perdera duas razões: a primeira era não ser cap- dos nas ruas. Os corpos de Hitler e Eva
sua força. Tornara-se uma figura abatida, turado vivo pelos Aliados e a outra era o Braun foram depositados numa vala no
que constantemente recorria a injeções de medo de que acontecesse a ele o mesmo que jardim da Chancelaria, cobertos por ga-
estimulantes. Num de seus surtos pós-es- haviam feito com seu colega Mussolini. O solina e ateados fogo. Quando acabaram
timulantes, anunciou a todos sua decisão líder italiano fora preso e assassinado. Re- as chamas, os restos foram enterrados.
de cometer suicídio, acentuada pela notícia ceoso de morrer como um traidor ou um Goebbels enviou, então, uma mensagem

26 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
a Dönitz informando da morte do Führer. Os soviéticos invadiram o complexo manha Oriental. Mas, temendo que o local
Depois, como indicou que faria, envenenou cerca de sete horas e meia após a morte de fosse descoberto e se tornasse um centro de
seus seis filhos e ordenou a um soldado que Hitler, mas foi apenas em 2 de maio que culto por parte dos neonazistas, o diretor da
executasse a ele e sua esposa. O mais fiel dos os corpos carbonizados foram descobertos KGB, Yuri Andropov, ordenou que os des-
seguidores de Hitler seguiu-o até na morte. na cratera. Junto deles, estavam enterrados pojos fossem destruídos. No dia 4 de abril,
Os demais presentes no bunker tentaram fu- dois cães – provavelmente Blondi, a pasto- uma equipe da KGB exumou os restos de
gir de alguma forma, mas quase todos foram ra do Führer, e o filhote Wulf. A autóp- Hitler e dos outros e os cremou completa-
capturados pelos russos, que estavam a duas sia revelou o tiro na têmpora do ditador e mente. Em seguida, as cinzas foram jogadas
quadras do local quando ocorreu o suicídio. mostrou que sua mandíbula continha ca- no Rio Elba, o lugar definitivo de repouso do
O único de que não se soube mais foi Martin cos de vidro. Os corpos foram enterrados homem que promoveu a destruição da Ale-
Boorman, fato que alimentou diversas lendas e exumados repetidas vezes pela Smersh manha e de grande parte da Europa.
em torno de sua fuga. durante o trânsito da unidade de Berlim Mesmo após a divulgação da autópsia e
O exército russo chegou ao bunker nos para Magdeburg, onde os cadáveres foram do destino dos restos mortais de Hitler, os
dias seguintes e, em 4 de maio, um solda- enterrados permanentemente num túmulo boatos continuaram. Em 2000, o FSB expôs
do, Ivan Curakov, encontrou os corpos de sem marcas. No mesmo local, foram enter- um fragmento de crânio mantido em seus ar-
Hitler e Eva queimados. Os soviéticos ti- rados os corpos de Goebbels – o qual ma- quivos. O pedaço de osso seria tudo que res-
nham em mãos a verdade sobre a morte de cabramente resistiu à cremação –, de sua tara do corpo de Adolf. Muitos historiadores
Hitler – os restos humanos e as principais esposa Magda e de seus seis filhos. A lo- e pesquisadores, no entanto, duvidam da au-
testemunhas que estavam com ele até o calização foi mantida em segredo por or- tenticidade do fragmento.
fim. Em 23 de maio, um médico informou dens de Stalin. A dúvida sobre o destino dos despojos
o resultado da autópsia. Era de fato o cadá- Na década de 1970, a instalação onde os do ditador nazista permanece. A memória de
ver de Hitler, pois a arcada dentária e uma corpos jaziam, até então controlada pelos so- Hitler, porém, continua tão viva como nunca
ponte identificavam-no, além de uma cáp- viéticos, foi devolvida para o governo da Ale- deixou de estar.
sula de cianureto, que foi apontada como
a causa da morte. Prontamente, os russos
propagaram a ideia de que Hitler morrera
envenenado e não com um tiro, o que pro- O mito da sobrevivência
varia uma morte covarde. Mas a verdade
parece ter vindo à tona com uma investiga-
ção realizada por autoridades anglo-ame- A trajetória de Hitler foi tão conturbada que nem mesmo as evidências de sua
ricanas no decorrer daquele ano. A conclu- morte foram totalmente aceitas. As diversas versões que os russos propagaram
são foi de que Adolf Hitler havia morrido após 1945, os testemunhos que surgiram de pessoas que viram-no morto, ou en-
com um tiro na cabeça disparado por ele tão das que não o viram morto, criaram em torno da figura de Hitler um mito de
mesmo. Essa investigação virou um livro, que ele poderia ter sobrevivido e fugido da Alemanha antes do fim da guerra.
escrito pelo próprio responsável pelo caso, Jornais sensacionalistas e historiadores aproveitadores surgiram com diversas
H.R. Trevor-Roper. Os Últimos Dias de “verdades” sobre o Führer. Logo elas se tornaram histórias populares, alimentadas
Hitler tornou-se um best-seller desde en- pela necessidade de imaginar que um mal como aquele não poderia ser simples-
tão e até virou filme, mas foi muito critica- mente apagado com um tiro. Na década de 1980, jornais norte-americanos publi-
do na época. Já hoje, é quase um consenso. caram em manchete “Hitler está vivo!” e trouxeram reportagens afirmando que
No testamento de Hitler, uma última ele vivia na Argentina e já tinha, inclusive, um rol de seguidores propensos a dar
ordem à nação: “Continuem a combater os a vida por ele novamente. Ainda colocavam que Josef Menguele, médico de Aus-
judeus”. Morreu convicto de seus ideais, ad- chwitz que se refugiou na Argentina e posteriormente no Brasil, havia mantido
mirável se não fosse tendente ao mal. Hitler vivo e bem de saúde até quase 100 anos e que, com uma variedade de dro-
gas, faria-o viver até 150 anos.
RESTOS MORTAIS Não demorou muito para outra versão aparecer, desta vez colocando Adolf Hitler
Durante décadas, o destino dos des- vivendo entre índios de montanhas chilenas que o tratavam como um deus. Era
pojos de Hitler foi uma incógnita. Em chamado de Adolfo e teria chegado à aldeia com uma mulher em junho de 1945.
1969, o jornalista soviético Lev Bezy- Sua fuga da Europa até o Chile teria acontecido por meio de um submarino.
mensky publicou um livro baseado numa A versão de que um falso Hitler morreu no bunker de Berlim também ganhou
autopsia realizada pela Smersh, o serviço crédito popular. Segundo tal teoria, o ditador alemão teria voado para a Espanha
de contrainteligência do exército soviéti- com a ajuda de Heinrich Müller, o último dos chefes da Gestapo, que teria coloca-
co que antecedeu a KGB. Poucos, porém, do em seu lugar um sósia, que morrera conforme a versão aceita por quase todos.
acreditaram nos dados fornecidos por ele. No fim das contas, percebe-se que tais histórias nasceram como lendas diante da
Foi só em 1993, depois da queda do co- não confirmação do corpo encontrado ser de Hitler. Há muitas provas que evi-
munismo no leste europeu, que a verda- denciam sua veracidade, mas, diante do tanto que se falou e do que não se falou,
de veio à tona. A FSB, a agência gover- as dúvidas ainda permanecem no imaginário popular, que é onde as lendas se per-
namental de inteligência que substituiu a petuam. Historicamente, Adolf Hitler morreu em 30 de abril de 1945. Seu cor-
KGB, divulgou os laudos das autópsias de po foi encontrado queimado e levado pelos soviéticos. Morreu seu corpo, mas seu
Hitler e Eva juntamente com depoimen- espírito continua à solta, como mostra a proliferação das lendas e de movimentos
tos de testemunhas, revelando o que acon- que tentam negar o Holocausto e reviver o nazismo. Faltou matar esse espírito.
tecera com os despojos depois que o Exér-
cito Vermelho tomou o Führerbunker.

Grandes Líderes da História 27


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Holocausto

Prisioneiros de
Auschwitz, Polônia

CAMPOS DO HORR
28 Grandes Líderes da História
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc e Lucas Pires

N
ada é mais errôneo do que
acreditar que o preconceito

AFP/ Ria Novosti


e a perseguição aos judeus
começaram com o nazismo.
Não foi Hitler que criou o antissemitis-
mo, ele apenas levou tal doutrina ao seu
grau extremo – o do extermínio. Quando
estava no poder, elevou o antissemitismo
a uma política de Estado que visava, num
primeiro momento, a expulsar todos os ju-
deus dos territórios ocupados pelo Reich
e construir uma Alemanha “limpa”, com
apenas a população ariana.
É possível afirmar que Hitler não con-
seguiria provocar o Holocausto sem o con-
sentimento da população. A teoria corren-
te é de que a população alemã nada sabia
Transformados sobre os campos de extermínio e o massa-
cre de judeus, mas uma história revisionis-
em verdadeiras ta provou que, de fato, o povo alemão não
só sabia como apoiava o genocídio. Claro
máquinas de que a interiorização de um comportamen-
to terrorista, capaz de aceitar a morte do
matar, os campos outro como natural, só poderia acontecer
com um incessante bombardeio de propa-
de concentração ganda antissemita. Os nazistas foram es-
pecialistas em criar e espalhar cartazes,
nazistas foram filmes, livros e panf letos denegrindo a
imagem dos judeus, muitas vezes retrata-
dos como insetos, cobras e outras pragas
palcos de uma dos pestilentas. À imagem do homem de pele,
olhos e cabelos claros do ariano, contras-
maiores atrocidades tavam as vestes sujas, o nariz encorpado, a
barba longa e a feição diabólica do judeu.
da história da “Enquanto as imagens dos arianos expres-
savam beleza, docilidade, pureza e inocên-
humanidade cia, aquelas que se referiam aos judeus re-
presentavam a falsidade, a mesquinharia,
a luxúria e a agressividade”, confirma a
historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro.
Mesmo antes da propaganda nazis-
ta, o espírito contra judeus já existia e era
muito forte não só na Alemanha. Panf le-
tos e livros antissemitas foram lançados
aos montes no decorrer do século 19, tan-
to que, em 1893, o Partido Antissemita do
Povo conquistou 16 cadeiras no Parlamen-
to alemão.
Entretanto, o mais divulgado libelo
antissemita surgiu na Rússia em 1905. Os
Protocolos dos Sábios de Sião é um docu-
mento que descreve uma conspiração ju-
daica para conquistar o mundo. Esse li-
vro inspirou muito Hitler em suas ideias

ROR
e era levado a sério pela população. Assim,
quando o nazismo iniciou sua política de
perseguição e, posteriormente, de elimi-
nação, já havia enraizado na mentalidade
popular um sentimento de repulsa aos ju-
deus. Em outras palavras, havia uma pre-
disposição a aceitar a perseguição, acentu-

Grandes Líderes da História 29


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Holocausto
AFP/ Roger_Viollet

Os alemães
ordenaram a
construção de
fábricas e oficinas
onde os judeus
foram obrigados
a trabalhar em
troca de ração
de 200 calorias
por dia. Para viver,
um ser humano
necessita de 2.400
calorias diárias.
Calcula-se que, com
uma dieta dessas,
uma pessoa consiga
viver no máximo
oito meses. Mas
houve quem
sobrevivesse
durante toda
a guerra

Campo de concentração não identificado

ada pela debilidade econômica e moral tre judeus e arianos, boicotes econômi- 1938, com a “Noite dos Cristais”, quando
pela qual passava a população. cos, prisões e espancamentos. Exemplos mais de 7,5 mil lojas e quase 200 sinagogas
de ações nessa direção: demissão de fun- foram pilhadas e incendiadas, 300 judeus
TRÊS ESTÁGIOS DA cionários públicos judeus em 7 de abril foram assassinados e outros 30 mil, leva-
PERSEGUIÇÃO de 1933; programa de confisco de bens dos a campos de concentração. Durou até
A partir de 1933, todo um aparato pertencentes a judeus em 1934; médicos 1941, com a decisão pela “Solução Final”.
institucional de violência e terror tomou judeus proibidos de exercer sua profissão Nesse período, aumentaram as prisões e
conta da Alemanha. O pensamento an- em hospitais públicos a partir de março os judeus dos países invadidos eram envia-
tissemita no período do III Reich pode de 1936 e o expurgo de toda arte e lite- dos para os campos de trabalho forçado e
ser dividido em três estágios de crescente ratura não alemãs, que culminou com a de concentração. Um programa de eutaná-
recrudescimento da violência. Num pri- queima de livros proibidos pelo regime sia, conhecido como “Aktion 4”, foi implan-
meiro momento, que vai de 1933 a 1938, na Praça da Ópera de Berlim. O resul- tado para matar doentes mentais crônicos.
percebeu-se a tentativa de banir os ju- tado dessa primeira ofensiva foi que 150 No final de 1941, cerca de um milhão de
deus de todos os campos sociais – eco- mil judeus deixaram a Alemanha no pe- judeus haviam morrido por diversos moti-
nômico e político essencialmente – atra- ríodo de 1933 a 1938, sendo dois mil de- vos sob domínio nazista.
vés de leis, como as de Nuremberg, que les jornalistas e intelectuais. O terceiro estágio foi marcado pela ra-
impunham a proibição do casamento en- Um segundo estágio teve início em dicalidade da perseguição, que foi exata-

30 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
mente o momento em que o regime ado- guetos. A vida nesses lugares era impensá- rias. Calcula-se que, com uma dieta dessas,
tou o extermínio como solução para a ques- vel – cheia de promiscuidade e incerteza. uma pessoa consiga viver no máximo oito
tão judaica. A ideia era matar cerca de 11 O espaço, mínimo. Na cidade polonesa de meses. Mas houve quem sobrevivesse du-
milhões de judeus de toda a Europa. A Lodz, por exemplo, numa área onde cabiam rante toda a guerra. E o sofrimento impos-
execução em massa começou com a inva- de 20 a 30 mil pessoas, foram postas 160 to a seres humanos por seus semelhantes
são da então URSS e a deportação dos ju- mil. O resultado imediato foram, claro, do- não parava por aí. Nos guetos, era proibido
deus para os guetos e campos da Europa enças, morte e, pior, a fome. Não havia, pra- às mulheres engravidarem. As crianças de
oriental. Antes das câmaras de gás, o fu- ticamente, comida, e as pessoas morriam até 12 anos, os idosos e os doentes também
zilamento era uma das formas de extermí- como ratos pelos guetos. Os cadáveres, na eram retirados dos guetos. O destino de-
nio. No entanto, era considerado lento e maior parte das vezes, eram levados para a les? A morte sumária em lugares especial-
prejudicial à moral dos atiradores. Então, rua para ser recolhidos pelo “comando dos mente criados para esse fim.
as câmaras de gás foram aprimoradas (pri- mortos”, um grupo especialmente formado A humanidade acabava de inven-
meiramente funcionando com monóxido para esse fim. Os corpos eram postos numa tar instalações para assassinatos em mas-
de carbono, depois com o gás Cyclon B, um vala comum e cobertos com cal virgem. sa: os campos de extermínio. Em 18 de
ácido prussiano fabricado originalmente Os que sobreviviam eram explorados maio de 1940, o campo de concentração de
para combater vermes e com efeito mais até o fim. Os alemães ordenaram a constru- Aucshwitz foi aberto e, em seguida, con-
acelerado) e enormes fornos crematórios ção de fábricas e oficinas onde os judeus fo- vertido em campo de extermínio. Em 22 de
foram construídos para dar fim aos corpos. ram obrigados a trabalhar em troca de ra- junho de 1941, a Alemanha nazista invadiu
Em muitos campos, os corpos eram usados ção de 200 calorias por dia. Para viver, um a União Soviética comunista. Simultanea-
na fabricação de sabão, e dos cabelos con- ser humano necessita de 2.400 calorias diá- mente, o Reich esboçou o plano da “Solu-
feccionavam-se chinelos para os tripulan-
tes dos submarinos.
No julgamento de Nuremberg, em O antissemitismo como ideologia
abril de 1946, Rudolph Hess, um dos di-
retores de Auschwitz, o campo de concen- Antissemitismo é a hostilidade ideologicamente motivada contra o povo judeu e
tração que mais matou judeus – entre 1,5 sua cultura. Ele é antigo e pode ser remetido à consolidação do cristianismo como
e 2,5 milhões – descreveu alguns proce-
religião dominante no Ocidente. Desde que o cristianismo assumiu essa postura,
dimentos: “... o bafo e o fedor nauseabun-
o tratamento dado aos judeus varia em três formas: conversão, expulsão ou eli-
dos, produto da perpétua combustão dos
corpos, invadiram a região toda, de modo minação. Há os fatores econômicos, sociais, políticos e raciais, mas foi o religio-
que os habitantes das comunidades das re- so que marcou o antissemitismo até o século 19. Historicamente, o povo judeu foi
dondezas sabiam muito bem que em Aus- tido como culpado pela morte de Jesus Cristo.
chwitz processavam-se extermínios (...) Es- Esse movimento antissemita pode ser dividido em três momentos distin-
perávamos habitualmente meia hora antes tos: o pensamento teológico (tradicional), o científico (moderno) e o neo-
de reabrir as portas para retirar os cadá- nazista (contemporâneo). O primeiro foi corrente desde a Idade Média até
veres. Depois de transportados, nosso co- o início do século 19. Com conotação econômico-religiosa , esse anti-
mando especial apoderava-se dos anéis e semitismo baseava-se nas doutrinas pregadas pela Igreja Católica, princi-
dos dentes de ouro dos cadáveres”. palmente na Península Ibérica. Na Espanha do século 15, leis proibiam os
cristãos-novos ( judeus convertidos ao catolicismo) de exercerem função
O HOLOCAUSTO
pública ou ingressarem em corporações profissionais. Frequentemente, na
O termo Holocausto, que, em grego,
significa “uma oferenda sacrifical”, desig- Idade Média, os judeus eram responsabilizados por terremotos, pela peste
na, em sua forma capitalizada, a tentati- negra ou pelo envenenamento de poços d ’água .
va de exterminação de grupos considera- Já o científico, que apareceu no final do século 19, não seguiu mais a fundamenta-
dos indesejados pelos nazistas alemães, ção teológica, nascendo, assim, um novo antissemitismo, fundamentado em argu-
durante o Terceiro Reich. As vítimas mentos científicos. Surgiram, principalmente, na França e na Alemanha e apoia-
foram, principalmente, os judeus, mas vam-se em teorias racistas, por sua vez baseadas numa pseudociência ligada à
também comunistas, homossexuais, ci- biologia e à antropologia social. Foram publicados estudos de Gobineau e Cham-
ganos, deficientes motores, atrasados berlain, por exemplo, que “provavam” serem os judeus pertencentes a uma raça in-
mentais, prisioneiros de guerra soviéti- ferior e os consideravam agentes nocivos à humanidade.
cos, membros das elites intelectuais po-
Por último, a terceira fase do antissemitismo ressurgiu a partir dos anos de 1980,
lonesa, russa e de outros grupos eslavos,
após uma hibernação de praticamente 30 anos, devido à divulgação dos crimes
ativistas políticos, testemunhas de Jeová,
alguns sacerdotes católicos e protestan- praticados contra os judeus pelos nazistas. Essa retomada do movimento antis-
tes, sindicalistas, pacientes psiquiátricos semita não é mais baseada em argumentos teológicos nem científicos. Ganha o
e criminosos de delito comum. Todos nome de neonazismo, pois é um antissemitismo mascarado pelo antissionismo,
eles pereceram lado a lado nos campos de que é negar ao judeu a sua liberdade e independência nacional, ser contra Israel.
concentração e de extermínio. Muitos de seus seguidores chegam a negar o Holocausto ou mesmo a inverter a
Imediatamente depois da conquista ordem carrasco-vítima, colocando os nazistas como as vítimas em questão.
da Polônia, os judeus foram isolados em

Grandes Líderes da História 31


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Holocausto
AFP/ Ria Novosti

Orquestra composta por


prisioneiros no Campos
de Yanovsky (Ucrânia)
tocando O Tango da Morte.
Nazistas torturavam as pessoas
com esta música. Todos os
músicos foram mortos

ção Final”. Em dezembro de 1941, Adolf tinham suas cabeças raspadas antes de
Hitler tinha, finalmente, decidido exter- entrar nas câmaras de gás, e os cabelos
minar literalmente os judeus, as minorias eram reciclados e aproveitados em pro-
e os soviéticos da Europa. Em janeiro de dutos como tapetes e meias.
1942, durante a Conferência de Wannsee, Além disso, os nazistas realizaram
vários líderes nazistas discutiram os deta- As autoridades experiências pseudocientíficas com os ju-
lhes da “Solução Final da questão judaica”.
E os massacres em massa começaram na
aliadas deus, usando-os como cobaias. O médico
Josef Mengele, por exemplo, ficou famoso
Europa Oriental. ordenaram que pelo seu sadismo. Ele, que se refugiou no
Os nazistas iniciaram a deportação Brasil depois da guerra, era chamado de
sistemática das populações de judeus, a realidade das “Anjo da Morte” pelos prisioneiros de Aus-
tanto dos guetos, quanto de todos os ter- atrocidades fosse chwitz por causa dos seus experimentos
ritórios ocupados, para os sete campos cruéis e bizarros.
designados como Vernichtungslager, ou documentada
campos de extermínio: Auschwitz, Bel- ACORDAR DO PESADELO
zec, Chelmno, Majdanek, Maly Troste-
no próprio Em 6 de junho de 1944, o Dia D,
nets, Sobibor e Treblinka II. O Holo- local. Tais as forças aliadas invadiram a Norman-
causto foi levado a cabo metodicamen- dia, na França, e iniciaram a libertação
te em, virtualmente, cada centímetro do documentos foram da Europa. Em 24 de junho, as tropas
território ocupado pelos nazistas. Os ju-
deus e outras vítimas foram persegui-
essenciais para russas libertaram o campo de extermí-
nio de Majdanek, na Polônia. No dia 23
dos e assassinados num espaço onde hoje a condenação de agosto, aconteceu a última sessão de
existem 35 nações europeias. asfixia por gás em Auschwitz. Dia 26,
Nos campos de extermínio, os aptos de nazistas no Himmler ordenou a destruição dos cre-
fisicamente eram selecionados para tra-
balhar nas fábricas. Os outros prisionei-
Julgamento de matórios em Auschwitz para esconder
evidências do campo de extermínio.
ros eram mortos ora em furgões de gás, Nuremberg Em 11 de janeiro, as tropas russas li-
ora através de envenenamento por mo- bertaram Varsóvia, onde não encontra-
nóxido de carbono. Depois dos assassi- ram mais judeus – todos tinham sido
natos, as obturações em ouro eram reti- deportados. Entre 17 e 26 de janeiro, os
radas dos cadáveres. Até os cabelos das soviéticos libertaram 80 mil judeus em
vítimas eram aproveitados para uso in- Budapeste. Em seguida, tomaram Aus-
dustrial. As mulheres, principalmente, chwitz, onde havia perto de mil sobre-

32 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

A suástica
A suástica evoca inevitavelmente imagens de guerra, caos, destruição, Holocausto, in-
“... o bafo e o tolerância. No entanto, ela foi, durante milhares de anos até Hitler, um símbolo de
boa sorte, conhecido em toda a Europa, a Ásia, e até pelos índios norte-americanos.
fedor nauseabundos, Costumava-se dizer que as pegadas do Buda eram suásticas. Cobertores dos índios
produtos da navajos eram tecidos com suásticas e, pasme, sinagogas no Norte da África e na Pales-
tina foram decoradas com mosaicos de suásticas.
perpétua As mais antigas suásticas conhecidas datam de 2.500 ou 3.000 a.C. na Índia e na
combustão dos Ásia Central. No norte da Europa, ela apareceu no primeiro milênio a.C. O nome
suástica vem da palavra sânscrita svastika , que significa “bem-estar” e “boa fortu-
corpos, invadiram a na”. No entanto, vários autores atribuem a ela diferentes significados: da imagem
região toda, de modo do deus supremo ao símbolo solar; da representação do raio e da água ao símbolo
que os habitantes do fogo; e da união do princípio masculino e feminino. De fato, o significado da
suástica parece variar com o tempo e o lugar, as associações com outros elementos
das comunidades das e os diferentes objetos em que surge representada. Em uma antiga lápide cristã,
redondezas sabiam por exemplo, o símbolo aparece em destaque e com maiores dimensões que o crís-
mon – o monograma de Cristo –, sugerindo uma importância maior. Talvez isso
muito bem que em tenha a ver com o fato de a suástica já ter sido usada como símbolo do coração do
Auschwitz próprio Jesus, o que, neste caso, estaria representando.
Mas como foi que um símbolo de tão bons desígnios tornou-se sinônimo da cega bar-
processavam-se bárie de um regime intransigente? Segundo Steven Heller, diretor de arte do The
extermínios (...) New York Times Book Review e autor de The Swastika: Symbol Beyond Redemption
Esperávamos (A Suástica: Símbolo além da Redenção) tudo começou em 1914, quando o Wander-
vogel, um movimento juvenil alemão, a transformou em seu emblema nacionalista.
habitualmente meia Em 1920, o Partido Nazista a adotou. Em Minha Luta, Hitler descreveu seu “esforço
hora antes de reabrir para encontrar o símbolo perfeito para o partido”, foi quando teve a ideia de usar as
suásticas. Mas foi o dentista Friedrich Krohn quem desenhou a bandeira com a suás-
as portas para retirar tica no centro. “A maior contribuição de Hitler”, pensa Heller, “foi inverter a direção da
os cadáveres”, suástica” para que ela parecesse girar no sentido horário. Isso levou muitos a afirma-
rem que Adolf era um “feiticeiro negro”, uma vez que estes costumam usar símbolos
Rudolf Hess
religiosos invertidos em suas práticas mágicas. Em 1946, a exibição pública da suásti-
ca nazista foi proibida constitucionalmente na Alemanha.

AFP

Crianças
sobreviventes
de Auschwitz
mostram suas
tatuagens

Grandes Líderes da História 33


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Holocausto

viventes. Entre 11 e 28 de abril, as tropas

AFP/ Ria Novosti


norte-americanas libertaram Buchenwald
e Dachau. Tropas britânicas também li-
bertaram o campo Bergen-Belsen. Com a
chegada dos soviéticos nas imediações de
Berlim, os nazistas evacuaram prisionei-
ros de Sachsenhausen e Ravensbruck. A
SS perpetrou, então, o último massacre de
judeus. No dia 30, Hitler se suicidou em
seu bunker. Em 2 de maio, Berlim capitu-
lou e, em 8 de maio, a Guerra, finalmente,
terminou. Prisioneira morta encontrada pelas tropas soviéticas

O LEGADO
A matança generalizada contra os ju-
O resultado da pelos soviéticos em um estado tal de mi-
séria que, dificilmente, diria-se que eram
deus nos campos de extermínio foi consi- primeira ofensiva seres humanos. Até maio, quando desco-
derada segredo de Estado pelo regime na- briram o campo de Mauthausen, prisionei-
zista, que não queria que tais informações foi que 150 mil ros de outros cinco campos haviam sido li-
vazassem para o mundo, pois isso só acar- judeus deixaram bertados. As autoridades aliadas ordena-
retaria um recrudescimento no combate ram que a realidade das atrocidades fosse
aos alemães. Mas, conforme os exércitos a Alemanha no documentada no próprio local. Tais docu-
russos iam libertando os países invadidos mentos foram essenciais para a condenação
e ocupados, deparavam com a realidade da
período de 1933 a de nazistas no Julgamento de Nuremberg.
crueldade destinada aos judeus. Os qua- 1938, sendo dois mil O resultado final da guerra para os ju-
se oito mil sobreviventes presos em Aus- deus chegou à casa dos seis milhões de mor-
chwitz só encontraram a liberdade em ja- deles jornalistas tos. Livres das garras nazistas, não tinham
neiro de 1945, quando foram libertados e intelectuais para onde ir e nem em quem se apoiar. O

O Levante de Treblinka
Enquanto o impensável aconte- para os comandantes, a adminis- to para as câmaras de gás. Nesse tros prisioneiros judeus retiravam
cia nos campos de extermínio, os tração, as marcenarias e um espa- momento, os guardas incentiva- das câmaras de gás. Nessa tortura
partizans judeus começaram a se ço para os prisioneiros recém-che- vam as pessoas a escreverem para psicológica, muitas vezes, reconhe-
organizar e a oferecer resistência. gados e seus pertences. A outra seus familiares. A correspondência ciam entre os pertences, ou entre
Em 18 de janeiro de 1943, du- área era o setor de exterminação seria posteriormente enviada, re- os corpos, parentes, filhos, amigos
rante quatro dias, a Organização propriamente dito, com câmaras afirmando ao mundo a impressão e vizinhos.
de Resistência Judaica combateu de gás, covas abertas e cremató- de que a transferência judaica não O campo de extermínio come-
os alemães em escaramuças nas rios, além de barracões para os passava de um reassentamento. çou a operar com três câmaras de
ruas do gueto de Varsóvia. prisioneiros. Cercas separavam os Treblinka era uma verdadeira “li- gás, chegando em pouco tempo a
Em 19 de abril, começava o dois setores, e o campo era pro- nha de produção” da morte, efi- seis. De julho de 1942 a abril de
levante do gueto de Varsóvia. tegido por duas cercas de arame ciente, rápida, sem falhas. Aos que 1943, aproximadamente 870 mil
Nos campos de extermínio, farpado. Algo em torno de cinco a sobreviviam às seleções para as pessoas morreram no local. Com
também houve levantes. sete mil pessoas chegavam a cada câmaras de gás, era imposta uma a aproximação das forças aliadas,
Treblinka II foi projetado para comboio, em vagões lacrados, su- rotina desumana de trabalhos for- no outono de 1943, os alemães
ser um campo de extermínio. perlotados, sem água, alimento ou çados. Os trabalhadores de Tre- começaram a evacuar o campo.
Localizado a quase 2 km de qualquer tipo de atendimento às blinka II eram alemães e ucrania- Berlim deu ordens para que Tre-
Treblinka I, o anexo foi cons- necessidades básicas. No desem- nos, havendo entre eles, também, blinka, assim como outros locais,
truído por empresas alemãs que barque, deparavam-se com a estrela prisioneiros judeus. Enquanto os fosse totalmente destruído. Os
usavam, como mão-de-obra a de Davi e ouviam um discurso de dois primeiros grupos eram res- nazistas não queriam deixar pro-
custo zero, prisioneiros polo- um oficial da SS explicando-lhes ponsáveis pela vigilância, pela bru- vas da existência ou das atividades
neses e judeus. Inaugurado em que haviam chegado a um campo tal disciplina e pela operação das do local. A desativação foi sendo
23 de julho de 1942, Treblinka de trânsito. Em seguida, as mu- câmaras de gás, os judeus realiza- percebida pelos prisioneiros ju-
II abrigou a máquina assassina lheres e as crianças eram separa- vam as tarefas mais pesadas. Entre deus, à medida que o número de
que exterminou os 265 mil ju- das dos homens; os doentes eram elas, estava a de separar as roupas transportes diários diminuía e
deus da capital polonesa. também separados, e os mortos, e os objetos de valor dos mortos. aumentava o volume das crema-
O campo era dividido em duas jogados em local afastado. Come- Eles também eram obrigados a jo- ções dos corpos jogados nas valas.
áreas. Uma delas incluía a pla- çava, então, o humilhante ritual de gar nos fornos crematórios, ou em As covas coletivas eram fechadas
taforma dos trens, as moradias raspar o cabelo e o encaminhamen- valas abertas, os cadáveres que ou- como se jamais tivessem existido.

34 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
retorno à vida, como o despertar após um Nos campos de
longo inverno, contrastava duas realidades:
a felicidade da libertação e a incógnita do extermínio, os Os números
futuro, que era ainda mais desanimador do Holocausto
quando detectado que eles não podiam se
aptos fisicamente
dirigir a lugar algum e tinham de perma- eram selecionados O número exato de pessoas mortas
necer em campos organizados pelos Aliados
esperando alguma resolução. Desprovidos
para trabalhar nas pelo regime nazista continua a ser ob-
jeto de pesquisa, mas as seguintes es-
de qualquer bem material ou lar, além do fábricas. Os outros timativas são consideradas próximas
trauma da perda de parentes e do sofrimen- prisioneiros eram mortos
to vivido, acabaram buscando abrigo em ou- da realidade:
tros países (medidas que exigiam pedidos de ora em furgões de
visto e certa burocracia) ou migrando para
a Palestina (legalmente ou não). Um navio
gás, ora através de Entre 5,6 e 6,1 milhões de judeus
(dos quais 3 – 3,5 milhões de judeus
repleto de sobreviventes judeus da guerra envenenamento por poloneses); de 2,5 a 3,5 milhões de
rumava ilegalmente para a Palestina quan- monóxido de carbono. poloneses não-judeus; entre 3,5 a 6
do foi capturado pela marinha britânica em
1947. Do lado de fora do Exodus, nome do Depois dos assassinatos, milhões de civis eslavos; de 2,5 a 4
navio, uma faixa dizia: “Os alemães destruí- as obturações de milhões de prisioneiros de guerra
ram nossas famílias e nossos lares. Não des- soviéticos; de 1 a 1,5 milhão de dis-
truam nossa esperança”. ouro eram retiradas sidentes políticos; de 200 mil a 300
Logo um movimento pró-criação de dos cadáveres. Até os mil deficientes; de 10 mil a 25 mil
um estado judaico nasceu, que culminou na
partilha da Palestina e a criação do estado cabelos das vítimas homossexuais; cerca de 2 mil teste-
de Israel em 1948. Os judeus, considerados eram aproveitados para munhas de Jeová
apátridas até então, tinham um território
para chamar de lar. uso industrial

Foi nesse contexto que o levan- participou do movimento. Mesmo blinka, eclodiu o levante. O sinal rombadas pelos revoltosos, que
te começou a ser planejado. O tendo operado Farfi, o médico foi foi dado quando o prisioneiro distribuíram os armamentos aos
objetivo era permitir a fuga do mandado às câmaras de gás logo judeu Josef Gross lançou uma companheiros. Centenas de pes-
maior número possível de prisio- depois da cirurgia. granada sobre os guardas de uma soas tentaram destruir a cerca
neiros, além de tentar destruir as Em 2 de agosto de 1943, às das torres de vigilância. Simul- e fugir, mas a maioria foi morta
instalações mortíferas e eliminar 15h35, começou o levante em taneamente à explosão, Gross pelos guardas, que começaram a
tantos guardas quanto fosse pos- Treblinka. A data coincidia com atirou num oficial da SS, o vice- atirar para todos os lados, e pe-
sível. Os idealizadores da revolta a chegada do trem que traria -comandante do campo Kurt los cães que dilaceravam
apostaram que, quando o levante quatro mil judeus. O plano foi Hubert Franz, que escapou e or- os fugitivos.
eclodisse, centenas de judeus se colocado em prática na noite an- denou ao seu cão que atacasse o Às 15h46, o levante terminou.
uniriam ao movimento e luta- terior, quando Eliahu Grinsbach prisioneiro. O esquálido Gross Durou apenas 11 minutos e dei-
riam contra seus carrascos. Os roubou do depósito três pistolas foi estraçalhado. Antes mesmo xou um saldo de 1.100 judeus
preparativos incluíam a obtenção e dez granadas. Eram poucas ar- que Franz pudesse perceber o mortos. Entre os membros da SS
de algumas armas – inicialmente, mas para enfrentar os nazistas, que estava acontecendo e dar o e os guardas ucranianos, houve
subornando guardas ucranianos mas, se um número maior desa- alarme para os guardas ucrania- 117 vítimas. Somente 180 pri-
e, posteriormente, roubando-as. parecesse do depósito, poderia nos, os judeus começaram a ati- sioneiros conseguiram fugir, mas
Para isso, os prisioneiros conse- chamar a atenção dos guardas. rar e incendiaram algumas cons- foram impiedosamente caçados
guiram as chaves do depósito de Foi combinado, então, que, assim truções. A desproporção entre as pelos nazistas e brutalmente as-
munições. Em julho de 1943, o que a ação começasse, um grupo partes era gritante – de um lado, sassinados quando encontrados.
comandante de trabalho do cam- de rebelados conseguiria mais ar- homens pobremente armados, Dezoito, porém, foram resgata-
po, Carl Gustav Farfi, precisou mamentos. Os responsáveis pela subnutridos e psicologicamente dos por um grupo da resistên-
de uma cirurgia que acabou sen- revolta dividiram-se em grupos, abalados, e, do outro, soldados do cia judaica que havia sobrevivido
do feita pelo médico judeu Julian cada um encarregado de uma Terceiro Reich, bem-alimentados, à revolta do gueto de Varsóvia
Choransky. Durante a cirurgia, a missão específica. Todos tenta- treinados e armados. O portão e que se escondera na floresta.
chave do depósito de munições do riam envolver o maior número principal foi derrubado por uma Esses sobreviventes acabaram
campo foi roubada e copiada. Mas, de judeus na luta. explosão. Outras atingiram as sendo a memória viva dos fatos
apesar de ter sido uma figura- No dia seguinte, com a chegada torres de observação. As portas ocorridos no dia 2 de agosto de
-chave no levante, Choransky não do trem à plataforma de Tre- do depósito de armas foram ar- 1943 em Treblinka II.

Grandes Líderes da História 35


Distribuição 100%e gratuita
Personalidade doenças - Clube de Revistas

Adolf Hitler é saudado nas ruas da Alemanha


AFP/ Roger_Viollet

As raízes do Efeminado,
esquizofrênico, paranoico

MAL
e portador de sífilis, Mal
de Parkinson e Síndrome
de Asperger. São muitas
as hipóteses sobre os
traços da personalidade
e da saúde do líder do
Terceiro Reich
36 Grandes Líderes da História
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc

U
m raro documento, uma análise ocidental, para morrer arrastando para o abis-
psicológica de Adolf Hitler que mo junto consigo toda a Europa”. O psicólo-
antecipou, entre outras coisas, go especulou que o Führer poderia pedir que
seu suicídio, foi disponibilizada um dos seus assessores o executasse ou que
recentemente para o público. O estudo, inti- Dois anos antes iria se retirar para o bunker e se suicidar – o
tulado Análise da Personalidade de Adolf Hi- que de fato aconteceu. Em seu relatório, Mur-
tler com Previsões sobre seu Comportamento do suicídio do ray também afirma que o povo alemão era tão
Futuro e sugestões sobre como Lidar com ele culpado pelos horrores da Segunda Guerra e
após a Rendição da Alemanha, foi elaborado ditador, Murray pelas execuções em massa quanto seu líder.
por Henry Murray, um psicólogo norte-ame- “Esse semideus satisfazia quase que comple-
ricano que, antes da Segunda Guerra, foi dire- concluiu que tamente as necessidades, os desejos e os sen-
tor da Clínica Psicológica da Universidade de timentos da maioria dos alemães”, escreveu.
Harvard e, durante o conflito, serviu no Es-
“nele há grande
critório de Serviços Estratégicos dos Estados
Unidos, que foi um precursor da CIA, e Mur-
compulsão O EXEMPLO DO PAI
Durante a infância, Hitler era um garoto
ray, um dos primeiros a trabalhar nele. de sacrificar romântico que nutria “profunda admiração e
Em busca de prever o comportamento do inveja pelo pai, de quem buscava imitar o po-
Führer, em 1943, Murray ficou encarregado a si e a toda a der masculino, ao mesmo tempo em que de-
de ajudar as forças aliadas a entender a psico- senvolveu um desprezo pela submissão e fra-
logia de Adolf Hitler. O psicólogo, que ficou Alemanha para queza da mãe”, relata o psicólogo. “Dessa for-
famoso em sua área profissional por desenvol-
ver uma técnica de análise de personalidade, vingativamente ma, tanto o pai como a mãe são ambivalentes
para ele: seu pai era odiado e respeitado, e a
escreveu que o ditador nazista tinha um tipo mãe era adorada e depreciada. As ações extre-
de personalidade estimulada por insultos con-
aniquilar toda a mas de Hitler foram todas feitas no sentido
tra ele, fossem reais ou imaginados. De acor- cultura ocidental, de imitar o pai, não a mãe”, sentencia Murray.
do com Murray, o Führer guardava rancor e O pai do futuro Führer, Alois, era filho
tinha baixíssima tolerância a críticas, além de para morrer bastardo de Maria Schicklgruber. Embora
exigir atenção de maneira excessiva e de ter fosse casada com o homem que criou Alois,
tendência de diminuir, intimidar e culpar os arrastando para Anna nunca “deixava passar um rapaz boni-
outros. Pior: não descansava até conseguir se to”, conforme ela mesma teria dito. Alois era
vingar de quem o ofendera – real ou supos- o abismo junto um homem de muita energia e, como funcio-
tamente. Por outro lado, além de grande for- nário da alfândega, alcançou o posto máximo
ça de vontade e de autoconfiança, o criador
consigo toda para seu nível de educação.
do nazismo possuía uma persistência incrível
diante da derrota. No entanto, Adolf Hitler
a Europa” Aos 47 anos, casou-se pela terceira vez
com Klara Pölzl. A mulher, provavelmen-
não tinha “as qualidades que contrabalancea- te sua sobrinha, já que um dos “candidatos” a
riam esses traços (positivos) e lhe confeririam pai natural de Alois era avô de Klara, tinha 25
uma personalidade equilibrada”, escreveu o anos e ficou grávida antes do casamento. Na
pesquisador norte-americano. verdade, Klara engravidou quando a segun-
O ditador nazista era um narcisista vin-
gativo, maltratado pelo pai dominante e neu-
rótico com relação às mulheres. Na verdade, “Análise da Personalidade de Adolf Hitler com Previsões sobre
sentia-se confortável apenas na presença de seu Comportamento Futuro e Sugestões sobre como Lidar com
dois tipos de mulheres: figuras maternais e
crianças. O Führer sofria igualmente de his-
Ele após a Rendição da Alemanha” – Trecho do relatório
teria, paranoia e esquizofrenia e apresentava Embora ele seja apresentado ao público alemão como homem de grande coragem, seus as-
tendências edipianas. Para Murray, o temor sociados mais próximos têm frequentemente motivos para questionar isso. Isso parece ser
que Adolf Hitler tinha de se contaminar pelas verdadeiro especialmente com relação aos seus Gauleiters (líderes provinciais). Ele parece
mulheres veio de traumas de infância. temer particularmente essas pessoas e, em lugar de confrontá-los, normalmente procura
Baseando-se numa coleção de fontes da descobrir de que lado eles estão antes de encontrá-los. Quando a reunião acontece, propõe
época da Segunda Guerra Mundial, o rela- um plano ou uma ação que irá ao encontro dos sentimentos da maioria.
tório de Murray retrata Hitler como um ga- De acordo com Hohenlohe, ele também recuou frente aos generais do exército quando
roto efeminado, sempre obsequioso com os eles protestaram sobre o rápido desenvolvimento da questão de Danzig e que, antes de
superiores e com claras tendências homosse- Munique, ele decidiu adiar a guerra porque descobriu que a multidão que assistia aos sol-
xuais. Seu senso exagerado de injustiça pesso- dados marcharem sob as janelas da Chancelaria não estava entusiasmada.
al quando sofria humilhações seria a origem Além disso, eles (os alemães) devem se perguntar sobre a necessidade de precauções extre-
de sua crueldade, a qual, para Murray, levou à mas com relação à sua segurança. Quase todas são ocultadas do povo alemão. Quando Hi-
política de extermínio em massa. tler aparece em público, parece ser um homem extremamente corajoso, saudando o povo
Dois anos antes do suicídio do ditador, de pé no banco da frente de seu carro aberto. A multidão não sabe do grande número de
Murray concluiu que “nele há grande com- seguranças que se misturam ao povo, além dos guardas que se alinham nas ruas por onde
pulsão de sacrificar a si e a toda a Alemanha ele passa. Nem sabem das detalhadas precauções que são tomadas na Chancelaria.
para vingativamente aniquilar toda a cultura

Grandes Líderes da História 37


Distribuição 100%e gratuita
Personalidade doenças - Clube de Revistas

da mulher de Alois, Franzisca Matzelberger, as multidões queriam ouvir. Deu confiança


estava em estado terminal. Alois tinha feito o aos alemães, humilhados depois da Primeira
mesmo com relação à primeira mulher, Anna Guerra com os exageros a eles impostos pelo
Glassl. Alguns historiadores especulam que, Tratado de Versalhes.
em dado momento, ele se relacionava com as Entre seus traços contraditórios, está o
três simultaneamente. vegetarianismo. É difícil imaginar que alguém
Adolf nasceu em 1889, o terceiro filho que mandou executar mais de seis milhões de
que Klara teve com Alois, mas o primeiro a judeus e cerca de cinco milhões de civis po-
sobreviver. O pai de Hitler era violento com A crueldade loneses não comesse carne. Alguns colocam
a mulher e o filho – especialmente depois que o vegetarianismo do Führer no reino das len-
voltava da taverna. Certa vez, espancou Adolf
do menino das e boatos sobre ele. Hitler também adorava
com tanta brutalidade que temeu ter matado
o menino. A mãe, por outro lado, mimava o
começou a animais e crianças – desde que fossem aria-
nas, é claro.
garoto o mais que podia, a ponto de não con- se manifestar
seguir discipliná-lo. Hitler cresceu no seio de ANTISSEMITISMO
uma família desajustada. ainda na infância. Uma das marcas principais – e mais do-
A crueldade do menino começou a se ma- entias – de Adolf Hitler era o antissemitis-
nifestar ainda na infância. Adolf, que tinha Adolf, que tinha mo. Em seu livro Explaining Hitler, Ron Ro-
frequentes acessos de raiva, se divertia ma- senbaum enumera as muitas teorias que fo-
tando ratos. Ao que tudo indica, ele não ti-
frequentes ram desenvolvidas para explicar os extremos
nha boas recordações da infância. Durante
a Guerra, Döllersheim, a cidade natal de seu
acessos de do Führer, principalmente o Holocausto: psi-
copatia, vítima de abusos, sangue judeu, ter-
pai e o local onde sua mãe estava enterrada, foi raiva, se divertia ríveis dores de cabeça, ausência de um testí-
transformada em área de treinamento militar culo e tantas outras teses, boatos e mitos que
e destruída por ordens do Führer. Muitos es- matando ratos procuram explicar o porquê das ações do lí-
peculam que o ditador agiu dessa forma para der nazista. Rosenbaum detecta duas grandes
encobrir seu passado. correntes no discurso sobre Hitler: uma apre-
Adolf era mau aluno. Não completou a senta-o como um ícone do Mal absoluto, a ou-
escola secundária, que corresponderia ao nos- tra acentua os fatores históricos, ideológicos
so ensino médio. O futuro líder da Alemanha e sociais que teriam moldado e determinado
fez apenas três anos letivos e ainda repetiu alguém como ele.
duas vezes. Em seguida, foi expulso da escola Rosenbaum reconhece que nunca se che-
e abandonou os estudos aos 16 anos. Depois gará a um consenso sobre o motivo de Hitler
da morte do pai, foi para Viena, onde tencio- ter promovido o Holocausto porque as evi-
nava estudar Belas Artes. Lá, mergulhou no dências históricas essenciais se perderam, fo-
AFP/ Roger_Viollet

misticismo e na vida cultural. Apreciava espe- Hitler na montanha ram destruídas ou simplesmente nunca existi-
cialmente a ópera. Tentou entrar duas vezes ram. Alguns pesquisadores, como Hugh Tre-
na Academia de Artes de Viena, mas foi re- vor-Roper, argumentam que o Führer estava
provado em ambas. Sem educação formal, ex- convencido da missão de exterminar os ju-
periência ou conhecimentos técnicos, sem in- deus. Outros ainda, como Alan Bullock, sus-
clinação para o trabalho e sem dinheiro e con- tentam que o ditador era um ótimo ator, um
tatos, Adolf Hitler decaiu e chegou à beira da manipulador, que respondia ao antissemitis-
mendicância. mo latente na Áustria e na Alemanha para ob-
Quando a Primeira Guerra Mundial se ter dividendos políticos. Nesse sentido, teria
aproximava, ele foi convocado para servir no agido apenas como uma parteira que ajudou
exército austríaco, mas fugiu para a Alema- a nascer o antissemitismo que há muito gesta-
nha, indo viver em Berlim. Quando a Guerra va na sociedade germânica em geral, e alemã,
estourou, o jovem se alistou no exército ale- em particular.
mão como voluntário. Além desses dois fatores, que não preci-
Apesar da falta de estudos e da pobreza sam necessariamente ser isolados, existe uma
em que se viu, o futuro Führer foi um auto- razão prática para a perseguição. Ao se apro-
didata extremamente inteligente. Contraditó- priar dos bens dos judeus perseguidos, os na-
rio, trazia em si todas as fraquezas dos que fo- zistas financiavam a máquina de guerra. Nes-
ram maltratados quando criança e, ao mesmo se sentido, a Solução Final foi apenas uma
tempo, os traços dos pequeno-burgueses cria- desculpa para explorar a riqueza de uma parte
dos com mimo e boa educação. da sociedade alemã excluída por motivos reli-
Com relação ao poder, Adolf Hitler foi es- giosos e raciais.
sencialmente um oportunista. Não apresenta- Sejam quais tenham sido seus motivos,
va uma filosofia política coerente. Seu enfoque hoje, o nome de Hitler desperta tanto curio-
era a conquista do poder. Grande orador, ti- sidade como desprezo. O líder nazista passou
nha uma presença cênica digna dos melhores para a história como uma das personalidades
atores. Manipulador nato, falava aquilo que mais instigantes e cruéis do nosso tempo.

38 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
cional e os historiadores tendem a suspeitar
AFP/ Roger_Viollet

Adolf Hitler e nazistas de suas opiniões. Quanto a Schenk, ele aten-


da SA (1932-33) deu o Führer em apenas duas ocasiões e, em
ambas, admitiu estar muito cansado, após
operar durante dias seguidos sem muito tem-
po para dormir.
Mas, se as informações sobre a possível
sífilis de Hitler e as especulações sobre seu
Parkinson estão encobertas por dúvidas, as
hipóteses sobre a saúde mental do Führer são
um labirinto de teorias ainda mais inconclu-
sivo. Se ele apresentasse alguma desordem
mental, então seria mais fácil explicar suas
ações radicais. Transtorno de personalida-
de limítrofe, ou bipolaridade, esquizofrenia
e Síndrome de Asperger (de aspecto autis-
ta) são alguns dos diagnósticos sugeridos por
especialistas que estudaram os sintomas e o
comportamento do ditador.
Michael Fitzgerald, um especialista em
autismo, afirmou que a insônia de Hitler, os
hábitos alimentares, o fato de não gostar de
contato físico, a inabilidade de firmar ami-
zades e a ausência de humanitarismo são ca-
racterísticas dos portadores da Síndrome de
Asperger. Para Fitzgerald, o Führer não so-
fria de esquizofrenia, como muitos propõem,
mas de um tipo de autismo descrito pelo pe-
diatra austríaco Hans Asperger.

A mente de
Hitler por ele
nação da sífilis, o que levou alguns pesquisa- mesmo: frases
DOENÇAS dores a sugerirem que ele teria contraído a in-
A saúde do ditador é outro tema contro- fecção de uma prostituta, por volta de 1908. “Estou pronto a fazer seis juramentos
verso, usada muitas vezes na tentativa de ex- Isso seria também o motivo pelo qual evitava falsos todos os dias”
plicar seu comportamento bizarro. Alguns ter relacionamentos sexuais.
biógrafos afirmam que o líder do Tercei- Tem-se sugerido que o antissemitismo “As massas são como um animal
ro Reich tinha sífilis; outros veem em certos cego do líder nazista pode ter origem no seu que obedece apenas seus próprios
relatos e depoimentos sintomas do Mal de contágio. Os que sustentam essa tese acre- instintos”
Parkinson e muitos sustentam que o inventor ditam que o Führer teria sido contaminado
do Nazismo sofria de alguma psicopatologia. por uma judia (ou judeu) e, por conta disso, “A docilidade de carneiro do nosso
Nos últimos anos de sua vida, Adolf apre- passou a nutrir ódio por esse povo, desejando povo corresponde ao seu desejo
por inteligência”
sentava tremores e batimento cardíaco irregu- vingar-se em toda a comunidade semita eu-
lar, o que poderia sugerir que tinha os sinto- ropeia. Essa, porém, é uma das teses menos “Somente as massas fanatizadas
mas da fase final da sífilis. Se assim fosse, teria embasadas sobre o motivo do antissemitis- podem ser guiadas”
contraído a doença muitos anos antes. Theo- mo de Hitler. Na verdade, desde a década de
dor Morell, médico pessoal do ditador, teria 1870, por conta do preconceito contra os is- “Uma vez que eu tiver tomado o
diagnosticado a patologia em seu paciente raelitas em toda a Europa, era comum asso- poder, nunca deixarei que ele seja
mais ilustre no início de 1945. Alguns histo- ciar a doença aos judeus. tirado de mim”
riadores confirmam o diagnóstico de Morell
citando as 14 páginas de Minha Luta em que PARKINSON “Vamos testar a força da lei contra
o ditador expõe suas preocupações com a sífi- Os tremores nas mãos e o andar arras- minha baioneta”
lis, chamando-a de “doença de judeus”. É nes- tado de Adolf sugerem, além da sífilis, que o
“A moral ou é estupidez ou decadência”
se ponto que começam as especulações. ditador pode ter padecido do Mal de Parkin-
Na primeira metade do século passado, a son. Os sinais começaram antes da Guerra “A paz eterna só virá quando o último
sífilis era uma doença séria que atingia uma e só pioraram ao longo do conflito. Morell homem matar o penúltimo”
proporção considerável da população da Eu- tratou seu paciente como se sofresse de Pa-
ropa e dos Estados Unidos. Em Minha Luta, rkinson e outro médico, Ernst Schenck, con- “Sou o maior ator da Europa”
Hitler também escreve sobre as tentações da firmou o diagnóstico. No entanto, Morell é
prostituição, relacionando a prática à dissemi- considerado um profissional pouco conven-

Grandes Líderes da História 39


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Vida amorosa
AFP/ Roger_Viollet

Eva Braun em foto


de seu álbum

40 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc e Lucas Pires

AS MULHERES DO
Führer
Como tudo o que cerca a figura de Aldof Hitler, sua sexualidade é
terreno fértil para especulações de todo tipo

N
o campo da sexualidade de Hi- entanto, ela não queria ser sua amante (Hitler ela o chutasse. Renate recusou, mas ele conti-
tler, as versões e teorias compro- já vivia com sua sobrinha), o que desencadeou nuou pedindo, dizendo que era seu escravo e que
batórias caem no subjetivismo de a separação definitiva. A relação sexual en- não merecia estar na mesma sala que ela. Renate
cada intérprete, pois tantas pes- tre eles nada teria de anormal, pelo contrário. não resistiu mais e se pôs a espancá-lo e a chutá-
soas foram ouvidas e falaram coisas díspares que Paula, a irmã de Hitler, diria bem depois, nos -lo, o que teria deixado o chanceler alemão incri-
se torna difícil um consenso. A tese de uma su- anos de 1950, que Mimi fora “talvez a única velmente excitado. Quando o jogo acabou, o di-
posta homossexualidade não se sustenta, mes- mulher que meu irmão um dia amou.” tador beijou a mão de Renate, agradeceu-a pela
mo havendo entre as autoridades nazistas diver- “agradável noite”, soou a campainha e pediu que
sos homossexuais de destaque, como o chefe da GELI RAUBAL: PROVA DA um criado acompanhasse a atriz até a saída.
SA Ernst Röhm. Adolf Hitler, apesar de não ter PERVERSÃO? A tese de que Adolf Hitler teria uma pa-
se casado até o penúltimo dia de sua vida ou tido Por conta de ter trucidado judeus, polone- tologia sexual também está ligada à morte de
filhos, teve relacionamentos com mulheres. ses, soviéticos e certas minorias, como ciganos e Geli Raubal, a bela sobrinha com quem, acre-
No entanto, nem mesmo a vida amorosa testemunhas de Jeová, muitos analistas afirmam dita-se, ele manteve uma relação íntima. Geli
dele conseguiu se afastar da morte. Três mu- que Hitler era um sádico, isto é, obtinha pra- e sua mãe, Angela (meia-irmã de Hitler), fo-

Segundo Renate (que acabou assassinada), uma noite, após jantar com
Hitler na Chancelaria, ele começou a descrever em detalhes os métodos
de tortura da Gestapo. Em seguida, ambos se despiram e o ditador
deitou-se no chão e implorou que ela o chutasse
lheres com que o Führer se envolveu tentaram zer sexual ao provocar sofrimento nos outros. ram morar na casa de Adolf em Munique em
o suicídio, sendo que sua sobrinha Geli Raubal No relatório Uma Análise Psicológica de Adolf 1928. Logo uma admiração mútua cresceu
conseguiu mesmo se matar. As teorias sobre sua Hitler, produzido ainda durante a Guerra, em entre os dois, mas a presença da mãe e a li-
sexualidade, então, passaram a ter três vertentes: 1943, por um time de psicólogos do Escritório gação de parentesco impediam que algo mais
normalidade, perversão e assexualidade. de Serviços Estratégicos, os autores afirmam ca- concreto acontecesse.
A teoria de que nada de errado havia com tegoricamente que o líder nazista era sádico. O Quando Angela deixou Munique, os dois
a sexualidade de Hitler tem respaldo em de- documento descreve que Adolf sentia prazer ao teriam começado um romance. A versão ofi-
poimentos de Mimi Reiter, uma jovem que ti- urinar ou evacuar no rosto de homens ajoelha- cial da morte de Geli fala que ela se matou por-
nha 16 anos quando o conheceu (ele tinha 38). dos diante dele. Outros pesquisadores afirmam que Hitler não a deixou ir a Viena estudar can-
Ela narrou uma história de amor convencio- que o desejo sexual de Hitler pode ser definido to. Atormentada, teria pegado a pistola dele e se
nal, cheia de flertes e romantismo. Eles teriam como sádico-voyeurista, com relação às mulhe- dado um tiro no peito. Essa história ganha con-
se apaixonado e Hitler queria se casar, mas sua res socialmente inferiores, e masoquista com as tornos passionais com a informação de que ela
posição acabou prejudicando o relacionamen- mulheres por quem nutria admiração. tinha um professor em Viena por quem se apai-
to, quando ele recebeu ameaças de expor à im- O testemunho da atriz Renate Müller xonara e com quem queria se casar. Hitler, mor-
prensa o caso do político com uma menor de (1906 – 1937) respalda essa definição. Segun- to de ciúmes, teria negado o pedido da sobrinha,
idade. Adolf Hitler, então, teria deixado de do Renate (que acabou assassinada), uma noite, desencadeando o suicídio.
lado Mimi, que, desesperada, tentou o suicídio. após jantar com o Führer na Chancelaria, ele co- A perversão entra em cena em outra ver-
Anos depois, ela já estava casada, mas meçou a descrever em detalhes os métodos de são da morte de Geli, na qual ela teria se ma-
prestes a se divorciar, e eles teriam se reencon- tortura da Gestapo. Em seguida, ambos se des- tado por não suportar mais as perversões se-
trado e, enfim, consumado o amor carnal. No piram, Hitler deitou-se no chão e implorou que xuais a que se submetia para que Adolf se

Grandes Líderes da História 41


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Vida amorosa

Heinrich Hoffmann, o fotógrafo oficial do


Ilustração: Michael Bráz

Renate Müller
Partido Nazista. Eva era 23 anos mais jo-
vem que o Führer. Em seus diários, ela re-
clama da desatenção do amante. Frustrada,
tentou se suicidar duas vezes. Na primeira,
em 1932, quando tinha 20 anos, deu-se um
tiro no pescoço. Três anos depois, tentou
se matar com uma overdose de pílulas para
dormir. Se não conseguiu dar cabo da pró-
pria vida, ao menos passou a receber mais
atenção do Führer. Mesmo assim, isso não
veio na forma de calor humano, mas de bens
e dinheiro. Hitler deu a ela uma casa em
Wasserburgerstrasse, subúrbio de Muni-
que. O dinheiro que recebia do amante ga-
rantia a ela luxos como ter uma Mercedes e
um motorista a seu dispor. Alguns historia-
dores especulam que a atenção do ditador
depois da tentativa de suicídio de Eva e das
mortes de Geli e de Renate tinha, simples-
mente, a intenção de evitar mais escândalos.
Apesar da aparente proximidade, Eva nun-
ca podia ficar na presença do amante quando
outros dignitários do Terceiro Reich estavam
com ele. Além de só terem se casado às véspe-
ras do suicídio de ambos, Hitler e Eva nunca
apareciam juntos em público. Ao que parece, o
Führer temia perder popularidade entre as ale-
mãs. Na verdade, o povo alemão só ficou saben-
do do relacionamento dos dois depois da Guer-
ra. De acordo com Albert Speer, ministro de
satisfizesse. Segundo testemunhas e uma su- ela contasse sobre suas perversões – surgiram, armamentos do Reich, o casal nunca dormia no
posta carta do ditador a ela, Geli teria confi- mas o caso foi encerrado como suicídio. mesmo quarto. “Hitler considerava Eva Braun
denciado que o tio a obrigava a práticas de un- Sobre a perversão sexual do Führer, há socialmente aceitável apenas dentro de limites
dinismo (desejo de que lhe urinem em cima indícios de sua tendência também em Mu- rígidos”, escreveu Speer em suas memórias. “Às
para obter prazer sexual) e até de coprofilia nique, onde, nos anos de 1920, comentava-se vezes, eu fazia companhia a ela em seu exílio,
(o mesmo do undinismo, só que com fezes). que ele era uma espécie de pervertido sexual. um quarto ao lado do dele. Eva se sentia tão in-
Otto Strasser, um dos diretores do par- Além disso, um tesoureiro do partido e ex-co- timidada por Hitler que não se atrevia a sair da
tido posteriormente perseguido por Hitler, lega dele, Franz Schwarz, teria confidenciado casa para dar um simples passeio. Por simpa-
teria tido um encontro com Geli, que, aos um caso que resolvera para o chefe. Este so- tia à sua situação nada invejável, logo comecei a
prantos, desabafara. Eis o que Strasser te- fria chantagem de um homem que se apossa- gostar dessa mulher infeliz, a que era tão ligada
ria dito sobre aquele momento: “... disse-me ra de um caderno de desenhos pornográficos ao Führer”, confessou Speer.
que Hitler a amava, mas que não podia mais que Hitler fizera de Geli Raubal. E, segundo
agüentar. E os ciúmes dele não eram a par- Schwarz contou, eram esboços depravados, Geli Raubal
te pior. Ele exigia dela coisas que eram sim- com detalhes das partes íntimas anatômicas
plesmente repulsivas. Quando lhe pedi que da sobrinha.
explicasse isso, contou-me coisas que eu só
conhecia das minhas leituras da Psychopa- SER ASSEXUADO?
thia Sexualis, (Psicopatologia Sexuais) nos A terceira vertente aponta que Adolf Hi-
tempos da faculdade”. tler era assexuado, com paixões idealizadas,
Os jornais oposicionistas adoravam es- mas não consumadas. Para corroborar essa
pecular sobre a natureza da relação de Hitler ideia, há a questão da obsessão dele pela pu-
com Geli e, quando esta apareceu morta em reza racial, que também era a pureza do orga-
seu quarto na casa dele, não deixaram de le- nismo. Adolf Hitler era um vegetariano con-
vantar suspeitas quanto à autoria do crime. victo e nunca ingeria bebidas alcoólicas. As-
Para eles, como para vários outros, era mui- sim, essa abstinência teria atingido também o
to estranho que uma jovem de 23 anos, após campo sexual.
Ilustração: Michael Bráz

uma briga com o tio, tenha tomado a iniciati-


va de se dar um tiro. As especulações quanto a EVA BRAUN
uma suposta participação de Adolf Hitler na Depois do aparente suicídio da sobri-
morte – por vingança de que Geli o deixaria nha, Adolf Hitler começou a se relacio-
ou como queima de arquivo por medo de que nar com Eva Braun, modelo fotográfica de

42 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Por Lucas Pires Entrevista

A relação Brasil-Alemanha
Divulgação/ Discovery Networks

Com uma “política de


bastidores”, nos dizeres da
historiadora Maria Luiza
Tucci Carneiro, o governo
brasileiro adotou uma
postura antissemita, antes e
depois da Guerra, além de
receber nazistas refugiados
após o fim do conflito

N
a entrevista a seguir, a pesquisa-
dora e professora da USP, que
há anos desenvolve pesquisa so-
bre o período Vargas no Arqui-
vo do Estado de São Paulo, fala sobre as rela-
ções Brasil-Alemanha e expõe as descobertas
que encontrou nessa documentação.

Grandes Líderes da História - Em meados


da década de 1930, temos Hitler na Ale-
manha e Vargas no Brasil, dois ditadores.
Como se deu a relação entre os países?
Maria Luiza Tucci Carneiro - Naquele mo-
mento, o Brasil estava identificado com a pos-
tura ideológica da Alemanha nazista e Vargas
estava admirado com o progresso conquista-
do pelos alemães. Houve uma identificação
do próprio Vargas com a figura do Hitler en-
quanto estadista. Ao mesmo tempo, o gover-
no não pode, pela pressão que sofria dos EUA
e da Liga das Nações, pronunciar-se publica-
mente a favor da Alemanha nazista. Então,
manteve uma política de bastidores.

GLH - Isso mesmo antes da Guerra?


MLTC - Sim. Em 1935, temos um telegrama
de Oswaldo Aranha, então embaixador brasilei-
ro nos EUA, para Vargas em que ele o alertava
para que contivesse, nos discursos públicos, ex-
pressões de admiração pela Alemanha nazista,
pois não estavam sendo bem-vistas nos EUA. A
postura de Vargas chegou a ser criticada nos jor-
nais norte-americanos, sob alegação de que es-
taria pendendo para o lado alemão e não para a
democracia. Nos bastidores, o Brasil negociava

Grandes Líderes da História 43


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Entrevista

com a Alemanha, tomava uma postura antisse- tos norte-americano e inglês, com detalhes so- Alemanha, assim como haviam policiais sen-
mita, impedia a entrada de judeus, editava circu- bre quem eram essas pessoas e com fotografias do treinados nos EUA. Percebe-se uma postu-
lares secretas, fechava as portas para os judeus, da família. Há também as listas dos navios que ra dúbia de Vargas perante a opinião pública,
mas tudo isso secretamente. Publicamente, nas vieram entre 1946 e 1947, todos subsidiados mas até o Brasil entrar na guerra era uma pos-
reuniões da Liga das Nações, ele se posicionava pelo governo brasileiro. tura de simpatia pela Alemanha nazista.
como um país que queria ajudar os judeus e que
era contrário aos nazistas. GLH - Como e quando aconteceu a imigra- GLH - Voltando aos judeus, como o Brasil
ção de judeus ao Brasil? recebia a imigração judaica?
GLH - Essa postura ambígua e de fachada MLTC - Judeus vindos para o Brasil há desde a MLTC - Ao contrário do que fez com os ale-
não ficava clara publicamente? ascensão de Hitler, em 1933, e as primeiras perse- mães, o governo brasileiro não deu abrigo nem
MLTC - A ideia que passava era que o Bra- guições antissemitas na Alemanha. Com as Leis apoio aos refugiados judeus. Quem dava suporte
sil estava acompanhando toda a mobilização de Nuremberg, em 1935, quando o antissemitis- a eles era a própria comunidade. Quando chega-
da Grã-Bretanha e da França em prol dos ju- mo foi se transformando em política de Estado, vam, eram recebidos no porto pelas associações
deus refugiados perseguidos. Internamente, a viu-se incursões violentas contra os judeus – pri- judaicas, principalmente no Rio de Janeiro, Re-
imagem que ele passava era a de um Vargas sões, envio deles já para os primeiros campos de cife e São Paulo. Em São Paulo, tiveram o su-
simpatizante da Alemanha e da Itália, mas concentração. A partir daí, percebe-se que o fluxo porte oferecido pela CIP (Congregação Israeli-
que via nesses modelos apenas um paradig- de judeus em direção, não apenas ao Brasil, mas à ta Paulista), onde havia toda uma estrutura pra
ma para alcançar uma imagem de moderni- América, foi cada vez maior. Com o avanço nazis- receber essas famílias. A CIP colocava o pessoal
dade. Só que essa postura causou grande nú- ta ao leste – ocupação da Tchecoslováquia e Po- em pensões, oferecia creche para as crianças, ar-
mero de mortes entre os judeus, pessoas que lônia –, houve como consequência um fluxo mi- rumava trabalho, acertava a documentação, re-
não conseguiram vir e acabaram nos cam- gratório de judeus em direção a oeste. O principal cebia essas pessoas de novo na comunidade e, a
pos de concentração. Sabemos disso através ponto de atração eram os Estados Unidos, pois partir daí, elas recomeçavam. O governo brasilei-
de familiares erradicados aqui que não con- ro, em nenhum momento, deu apoio. Ao contrá-
Divulgação/ Discovery Networks

seguiram trazer seus pais, tios, e que soube- rio, aumentou a repressão e o controle nos portos.
ram depois que eles acabaram em campos de Quando se percebia que um navio trazia refugia-
extermínio. Essa é uma responsabilidade que dos judeus, a ordem era de que a polícia confe-
o Brasil deve responder perante as próprias risse a documentação pra ver exatamente como
vítimas do Holocausto; o País tem essa res- é que esses judeus estavam entrando e com que
ponsabilidade. Outra responsabilidade é pelo tipo de visto. Muitos deles vinham com docu-
fato de ele ter recebido nazistas perseguidos mentos falsos ou, então, como católicos. Assim,
como criminosos de guerra depois de 1945. muitos foram proibidos de desembarcar. Passa-
vam pelo Brasil e a ordem era para que voltassem
GLH - O Brasil, então, acobertou e rece- ao lugar de onde tinham vindo. Há casos de na-
beu alemães depois do final da guerra? vios que chegaram e os judeus foram impedidos
MLTC - No Arquivo Histórico do Itamara- de desembarcar. Aí, iam para a Argentina, que
ty, há documentos importantíssimos para es- também não os aceitava, e dali para outros países.
tudar a entrada de espiões e representantes do Alguns chegavam até Cuba. Houve casos horrí-
III Reich no Brasil nos anos de 1930 e 1940. veis acontecidos entre 1944 e 1945. Num deles, o
Filhos de alemães ou mesmo alemães radicados Brasil levou meses para responder positivamente
no Brasil que foram lutar na Segunda Guer- à aceitação de 500 crianças órfãs judias que esta-
ra Mundial ao lado do exército alemão abriram uma grande população judaica estava concen- vam em perigo na França ocupada. Quando hou-
mão da ideologia nazista, retornaram ao Bra- trada em Nova York. Como havia um proble- ve a resposta, Hitler já havia se suicidado e a guer-
sil a partir de 1946 e ficaram escondidos aqui. ma de cotas de nacionalidade, adotada pelos Es- ra, acabado.
tados Unidos já desde a década de 1920, eles te-
GLH - Eles foram lutar pelo nazismo e, de- riam que ficar aguardando três ou quatro anos. GLH - Mas o Brasil votou a favor de um es-
pois, voltaram ilesos para o Brasil? Por isso, procuraram outros países, como Argen- tado judeu na Palestina em 1948. Isso não
MLTC - Alguns foram lutar e ingressaram tina e Brasil. mostra uma postura positiva?
no exército alemão, outros prestavam ser- MLTC - A presença do Brasil na assembleia
viço na estrutura burocrática do III Reich. GLH - Como lidaram com isso, já que Var- da ONU que ia resolver a partilha da Pales-
Na hora em que estourou a guerra, eles fo- gas e Hitler tinham um regime similar, tina não ocorreu porque o País era favorável
ram para a Alemanha e levaram os filhos, que principalmente a partir de 1937, com a ins- aos judeus. Aconteceu simplesmente porque
eram brasileiros. Ia a família inteira. Quan- talação do Estado Novo? havia uma postura brasileira de seguir o voto
do acabou a guerra, com o perigo de serem MLTC - Justamente a partir de 1937, o Brasil, dos EUA e interessava para esses países que se
rotulados como criminosos de guerra, pedi- nos bastidores, assumiu uma política antisse- resolvesse por um lar judaico. Com isso, a imi-
ram o retorno ao Brasil através da Missão Mi- mita, fechou as portas aos judeus e manteve re- gração, até então direcionada para esses pa-
litar Brasileira, em Berlim e em Hamburgo. lações confidenciais com a Alemanha. O filho íses, estaria voltada para outro lugar. A par-
de Vargas foi estudar na Alemanha e se casou tilha da Palestina atendeu explicitamente aos
GLH - Dos brasileiros que foram para lá, com uma alemã. Houve vários acordos comer- governos antissemitas porque se viram com
há como saber o número aproximado de ciais com aquele país, ao mesmo tempo em que a questão judaica resolvida. Quando saíram
pessoas que voltaram? foram assinados tratados comerciais também meus trabalhos a esse respeito, foi uma reação
MLTC - Não temos um número exato, mas com os EUA. Isso ocorreu de 1935 a 1939, e muito grande da própria comunidade judaica,
existe material suficiente para saber, pois te- nesse tempo, policiais do DEOPS, a polí- que venerava Oswaldo Aranha e se chocou ao
mos as fichas oferecidas pelos serviços secre- cia política, foram treinados pela Gestapo na saber que ele era um ministro que sustentava
a circular secreta contra os judeus.

44 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Por Claudio Blanc
Divulgação/ Discovery Networks
Curiosidades

Hitler, desfilando
em carro aberto,
saúda o povo em
Nuremberg (1938)

UM POÇO DE ABSURDOS
Lendas, boatos e outras histórias duvidosas sobre o fundador do Terceiro Reich

H
itler tinha apenas um testículo, era judeu e homossexu- a sua loucura e a insanidade das suas ações provocam na mente das
al, teve filhos e, depois da Guerra, conseguiu fugir e vi- gerações subsequentes à Guerra acabou gerando os mais fantasio-
rou monge. Hoje, lidera uma frota de discos voadores, sos boatos e rumores .
cuja base subterrânea se localiza na Antártica.
Poucas personalidades modernas deram margem à criação de MISTICISMO NAZISTA
tantos mitos a seu respeito como Adolf Hitler. A curiosidade que Parece incrível pensar que os radicais nazistas se preocupassem

Grandes Líderes da História 45


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
Curiosidades

com os mistérios ocultos, mas o fato é que a figura de Hitler, suas Golden Ribbon-Esoteric Hitlerism e Adolf Hitler, the Last Avatar
ideias e intenções acabaram gerando uma corrente ocultista que colo- (A Faixa Dourada – Hitlerismo Esotérico e Adolf Hitler, o Último
cava o Führer numa posição semidivina. O Misticismo Nazista, como Avatar) ele desenvolve as ideias de Devi e as leva a um outro patamar.
a corrente espiritualista acabou sendo conhecida, funcionou durante a Segundo Serrano, Hitler não teria morrido após a Segunda Guer-
guerra e contou com importantes figuras do nazismo em suas fileiras. ra, mas ido para Shambala, um lugar paradisíaco da mitologia tibe-
Mesmo tendo sido proibido em 1945, rendeu frutos também depois tana. Shambala, que já foi localizada no Pólo Norte e no Tibete, seria,
do fim do conflito, ressurgindo com teorias mirabolantes. Uma de- hoje, um centro subterrâneo na Antártica, que conta, inclusive, com
las até mesmo coloca Adolf Hitler como comandante de uma frota de uma cidade de cerca de dois milhões de habitantes, Nova Berlim. Lá,
UFOs tripulada por répteis semi-humanos. o Führer estaria em permanente contato com os deuses hiperbóreos –
As principais influências do Misticismo Nazista, moldado pelas um povo obscuro mencionado na mitologia grega e identificado por al-
autoridades do partido próximas do Führer, eram certas tendências fi- guns como os celtas. Não bastasse isso, Serrano afirma que Adolf Hi-
losóficas que corroboravam o futuro brilhante da Alemanha e da raça tler reaparecerá algum dia comandando uma frota de discos voadores
ariana conforme profetizado por Hitler. As mais proeminentes entre e conduzirá as forças da luz, isto é, os hiperbóreos, contra as forças da
essas ideias são a teozoologia, a ariosofia e o armanismo. escuridão – comandadas, é claro, pelos judeus. A vitória de Hitler de-
terminará a fundação do Quarto Reich e um período de prosperidade
TEOZOOLOGIA para todos... os arianos.
Em 1905, Lanz von Liebenfels surgiu com uma ideia no míni-
mo estranha, mesmo entre as diversas teorias que grassavam na época SOCIEDADES SECRETAS
para confirmar a superioridade da raça branca. A tese de Von Lieben- Importantes membros da cúpula nazista adotaram e divulgaram
fels, publicada num livro pomposamente intitulado Teozoologia ou ativamente as teses pró-arianas, chegando até mesmo a realizar ex-
a História dos Descendentes dos Macacos-Sodom e os Elétrons dos pedições arqueológicas e experiências científicas para comprová-las.
Deuses, afirma que os povos arianos descendem de divindades estela- Muitos desses homens participavam de sociedades secretas que vie-
res que se alimentavam de eletricidade, enquanto as raças “inferiores” ram a ter um impacto direto sobre o nazismo e suas ações. Talvez o
resultam do cruzamento entre macacos e humanos. Para manter a pu- próprio Adolf Hitler fosse membro de alguma delas.
reza dos arianos, Von Liebenfels antecipa Hitler em quase quatro dé-
cadas, defendendo a esterilização dos homens de raça “inferior”. SOCIEDADE VRIL
Há bastante névoa em torno da Sociedade Vril. Muitos dizem que
HITLERISMO ESOTÉRICO a organização não existiu. No entanto, diversos historiadores afirmam
Se as teorias que se amalgamaram para formar o Misticismo Na- não só ter demonstrado a existência da Sociedade Vril, como sua in-

Um artigo publicado em 2002, no jornal russo Pravda, sustenta que


a Ahnenerbe foi o serviço mais secreto do Terceiro Reich e que a
sociedade se dedicou a ações macabras. Túmulos descobertos por acaso
no sul da Ucrânia revelaram esqueletos de soldados alemães, alguns
com os crânios trepanados, outros com as colunas vertebrais serradas, e
outros, ainda, com as frontes cheias de buracos como se estivessem,
de acordo com o jornal, “procurando um terceiro olho”

zista – baseado na superioridade da raça ariana “extraterrestre” so- fluência sobre o jovem Hitler. De acordo com o historiador Michael
bre as demais – puderam encontrar respaldo para crescer e aparecer Fitzgerald, o Führer foi membro dessa sociedade, fundada pelo gene-
numa Alemanha derrotada e humilhada, nada justificaria a continui- ral Karl Haushofer, professor e diretor do Instituto de Geopolítica de
dade dessas ideias depois da Segunda Guerra. De fato, não só o uso Munique e estudioso do místico armênio George Gurdjieff. Mais que
dos símbolos nazistas, mas suas ideologias e as teorias que a sustenta- isso, Fitzgerald sustenta que o papel que a Sociedade Vril represen-
vam foram proibidas na Alemanha já em 1945. Mas, por incrível que tou na concepção das ideias de Adolf Hitler foi fundamental.
possa parecer, elas ressurgiram depois com as novas – e delirantes –
roupagens do que veio a se chamar Hitlerismo Esotérico. SOCIEDADE THULE
A primeira grande expoente do Hitlerismo Esotérico depois da A Sociedade Thule contava com diversos dos seus membros no
guerra foi a indiana Savitri Devi. Em seu livro Hitlerian Esotericism partido nazista. Embora o ditador alemão nunca tenha sido um de-
and the Tradition (Hitlerismo Esotérico e a Tradição), ela faz uma les, a Sociedade teve grande ascensão sobre ele. Seu fundador, Rudolf
ponte entre a ideologia ariana de Hitler e a dos indianos que lutavam Glauer, também conhecido como Rudolf Freiherr von Sebottendorf,
pela sua independência. A suástica seria o símbolo de união entre os era um homem misterioso. Voltara à Alemanha em 1915, depois de
hindus (cuja sociedade foi, de fato, fundada pelos arianos) e os ale- uma temporada no Oriente, onde aprendera meditação sufista e as-
mães. Para Devi, Hitler era um avatar, isto é, uma encarnação do deus trologia, com um passaporte turco. Homem rico, nunca ninguém
Vishnu que buscava levar o povo ariano – o que incluía os hindus – de soube a fonte da sua fortuna. Em 1918, fundou a Sociedade Thule.
volta à glória do passado. Foi um membro da Sociedade, o dentista Friedrich Krohn, quem
Mas se as ideias de Devi soam um tanto exageradas, elas foram colaborou com Adolf Hitler na escolha da suástica como símbolo do
superadas de longe pelas do diplomata chileno Miguel Serrano, ou- partido nazista. Outro membro que exerceu forte influência sobre o
tra figura proeminente do Hitlerismo Esotérico. Em seus livros The Führer foi Dietrich Eckart.

46 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
AHNENERBE o que ele precisou foi de “uma refeição decente, algumas bebidas, um
A Sociedade Ahnenerbe (“herança ancestral”) era um braço da bom cigarro e um pêndulo balançando sobre o mapa da Itália”, ob-
SS dedicado a realizar pesquisas que comprovassem a superioridade serva Levenda em sua obra. O autor não revela, porém, a identidade
ariana. Também aqui a ideia do oculto e do misterioso estava conti- desse “mestre”.
da. Fundada em 1933 por Friedrich Gilscher, a sociedade promoveu
expedições para encontrar a Atlântida, a Lança do Destino e o Santo SÃO HITLER
Graal. Uma dessas expedições, liderada por Ernst Schäfer, foi envia- É difícil imaginar Adolf Hitler como um santo, um homem bom
da ao Tibete em busca das origens da raça ariana; outra foi enviada e preocupado com o bem-estar das pessoas. No entanto, era assim
aos Andes com a mesma finalidade. A procura do Santo Graal e da que ele era visto na Alemanha até o começo da Segunda Guerra. O
Lança do Destino visava a amealhar poder sobrenatural para o Ter- ditador nazista era comparado a Jesus pelos alemães, um enviado de
ceiro Reich, tornando os alemães invencíveis. Deus que vinha “salvar” a Alemanha e guiá-la ao seu verdadeiro lugar
As expedições declinaram com o início da guerra, mas a Ahne- na hierarquia global – o de líder.
nerbe estava longe de diminuir suas ações. Um artigo publicado em
2002 no jornal russo Pravda sustenta que a Ahnenerbe foi o serviço APENAS UM TESTÍCULO
mais secreto do Terceiro Reich e que a sociedade se dedicou a ações O espectro das lendas e boatos sobre o líder do Terceiro Reich
mais macabras do que simplesmente organizar expedições em bus- vai do esdrúxulo à leve distorção da realidade. Um deles é o de que o
ca da origem dos arianos. Túmulos descobertos por acaso no sul da Füher tinha apenas um testículo. Até mesmo os legistas soviéticos
Ucrânia revelaram esqueletos de soldados alemães, alguns com os que examinaram o cadáver semicarbonizado buscaram comprovar se
crânios trepanados, outros com as colunas vertebrais serradas, e ou- isso era verdade. De fato, esse mito teve origem numa canção ofensi-
tros, ainda, com as frontes cheias de buracos como se estivessem, de va composta na Grã-Bretanha durante a Guerra. Tratava-se de uma
acordo com o jornal, “procurando um ter- paródia cantada com uma melodia popu-
AFP

ceiro olho”. Segundo especialistas, o tú- Retrato não datado lar nas ilhas britânicas no início do século
mulo coletivo continha vestígios das ati- de Adolf Hitler passado, a Colonel Bogey March. A letra
vidades da Sociedade Ahnenerbe, expe- depreciava o tamanho e a potência da geni-
riências feitas pelos médicos nazistas com tália de diversos líderes nazistas, principal-
membros da raça ariana para tentar pro- mente, claro, da de Hitler.
duzir uma nova raça de super-homens.
As atividades macabras aumenta- XENOFOBIA
ram durante a guerra, especialmente por A xenofobia de Hitler também ge-
conta do material humano disponível nos rou histórias curiosas, algumas até mes-
campos de concentração, principalmente mo divertidas. É o caso da invenção da
Dachau e Auschwitz, onde o médico Jo- Fanta, a popular soda de laranja. Essa
seph Mengele impunha seu reino de ter- lenda urbana dá conta de que, odiando
ror. Em Dachau, Wolfram Sievers criou o tudo que não fosse de origem ariana, o
infame Instituto de Medicina Aeronáuti- Führer proibiu a importação e a venda de
ca, onde foram realizadas experiências de Coca-Cola na Alemanha. Afinal, o re-
uma crueldade difícil de se imaginar. Para frigerante era um símbolo dos Estados
se determinar a tolerância de um ser hu- Unidos, e o Terceiro Reich combatia o
mano com relação à altitude, matava-se capitalismo com unhas e dentes. Temen-
prisioneiros de diferentes pesos e alturas, do que os alemães ficassem desconten-
submetendo-os a lentas e constantes que- tes com a proibição, o ditador ordenou
das de temperatura e colocando-os em câ- que seu ministro da propaganda, Joseph
maras de descompressão. Siever também se especializou em técnicas Göebbels, contratasse uma equipe de especialistas e criasse uma
de reanimação dos infelizes que tinham sobrevivido ao congelamen- bebida para substituir a Coca. O novo refri recebeu o nome de
to nas suas experiências. Normalmente, tinha sucesso com banhos Fanta e era anunciado com o slogan “é uma coisa do Reich”. Fo-
quentes, mas, a pedido de Himmler, o poderoso diretor da Sociedade ram feitos filmes promocionais da Fanta, nos quais judeus estere-
Ahnenerbe, ele testou outras técnicas. Uma delas consistia em fazer otipados eram exibidos bebendo Coca e os arianos, Fanta. Depois
a cobaia humana, à beira da morte por conta de ter sido submetida ao da Guerra, reza a lenda, a Coca comprou a marca.
frio intenso, ser abraçada por duas prisioneiras nuas, na tentativa de
se evitar o congelamento. Outro objetivo da Sociedade era descobrir FILHOS?
uma droga psicotrópica que permitisse aos nazistas controlar a men- A tese de que Hitler deixou descendentes acabou gerando o best-
te humana. Ao que parece, a ideia é “boa” em termos militares, tanto seller Meninos do Brasil, do escritor norte-americano Ira Levin. Em
que o exército norte-americano buscou desenvolver o mesmo conceito seu livro, Levin explora dois ícones do imaginário da Segunda Guer-
para usar como arma e acabou descobrindo, acidentalmente, o LSD. ra: Hitler e Josef Mengele, o médico conhecido como “Anjo da Mor-
te”, por conta das bizarras e cruéis experiências com os prisioneiros
MESTRES DO PÊNDULO SIDERAL de Aushwitz. Dessa vez, Mengele, que fugiu para a América do Sul
Os métodos empregados pela inteligência nazista incluíam prá- – como de fato aconteceu, apesar de Levin e o mundo ignorarem isso
ticas pouco ortodoxas – e repletas de mistérios. Um episódio bem na época em que o livro foi escrito – tentava reproduzir clones do
conhecido da Segunda Guerra foi o dramático resgate de Mussolini Führer. Para se tornarem psicologicamente idênticos ao seu origi-
pelos alemães, quando este foi preso, depois de ser tirado do poder nador, os clones tinham de ter uma vida familiar igual à do ditador.
em 1943. Para descobrir o local da prisão, os nazistas empregaram O mundo testemunharia, então, não apenas um Hitler, mas vários.
um “mestre do pêndulo sideral”, conforme descreve o escritor Peter Rumores, lendas e boatos à parte, uma aura de mistério parece
Levenda em seu livro Unholy Alliance (Aliança Ímpia). Ninguém sa- sempre circundar Adolf Hitler. E o mistério atrai a curiosidade hu-
bia onde o “Duce” estava, mas o tal “mestre do pêndulo sideral” o lo- mana como um imã. Conforme colocou certa vez o semanário ale-
calizou corretamente na ilha de Ponza, próxima de Nápoles. E tudo mão Die Zeit, “o enigma de Hitler está além da compreensão hu-
mana”.
Grandes Líderes da História 47
Distribuição 100%e gratuita
Livros, filmes sites - Clube de Revistas

PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO


As fontes de consulta a respeito de Hitler, do nazismo e da Segunda Guerra Mundial são das mais
abundantes da história contemporânea. Em pouco mais de 60 anos após o fim da guerra, o número de
livros, filmes e estudos históricos e interpretativos ligados a ela é de impressionar. A bibliografia em
português, como de costume, fica muito a dever ao que há disponível em inglês e francês, por exemplo,
mas, mesmo assim, é possível ter acesso a trabalhos muito bons de historiadores sérios e outros mais
sensacionalistas. A seguir, a seleção de algumas obras sobre o assunto.

LIVROS
MINHA LUTA HITLER POR ELE MESMO
Adolf Hitler Martin Claret
Centauro Editora
Considerado um livro-clipping, é uma obra
Este é o livro que mais ódio e paixão gerou que traz textos de diversos especialistas
no mundo desde seu lançamento, na já publicados. É a reprodução de parte de
década de 1920. Paixão dos alemães, que obras, como as biografias de Adolf Hitler
viam em Hitler a figura que os livraria feitas por Joachim Fest e John Tolland. Além
de todos os males; ódio dos judeus e disso, traz trechos de “Minha Luta” e um perfil
comunistas, que viam nele um manual biográfico. Uma boa indicação bibliográfica,
de perseguição. Certo é que o que Hitler estando a maioria dos livros citados esgotados.
fez desde quando chegou a chanceler
alemão e, posteriormente, a Führer
estava descrito em seu livro, escrito da
prisão em 1924. Nele, Hitler fala de sua
infância, sua vida em Viena e Munique e HOLOCAUSTO: CRIME CONTRA A
sua experiência na Primeira Guerra, tudo isso HUMANIDADE
entremeado por seus argumentos de ódio ao governo Maria Luiza Tucci Carneiro
austríaco pré-guerra, pela sua descoberta do antissemitismo que o Editora Ática
marcaria pra sempre, pelo combate aos comunistas, pela superioridade A historiadora e pesquisadora, em linguagem
alemã, pela unicidade dos povos germânicos e pela legitimidade da simples e acessível a colegiais, faz um panorama
guerra por conquista aos povos considerados mais fracos e inferiores. do que foi o Holocausto e qual sua dimensão
A edição atual, da Centauro Editora, tem mais de 500 páginas e vem para o século 20. Fala sobre o crescimento do
com diversas fotos. É uma edição de luxo que qualquer leitor dificilmente antissemitismo na Alemanha, como se deu a
encontrará em livrarias. Isso porque há um forte lobby judeu contra a perseguição aos judeus desde a tomada de poder
venda do livro. Muitos donos de livrarias são judeus e proíbem que o livro pelos nazistas e como a indústria da morte nazista
esteja em suas prateleiras; outras, que se aventuram em pô-lo à venda, se desenvolveu.
sofrem com ameaças judiciais. Tal história pode ser confirmada, pois,
para este trabalho, a busca pelo livro em livrarias foi fracassada e este só
foi encontrado diretamente na editora, que busca meios alternativos de
vender a obra, como pela internet. É importante frisar que Minha Luta, ERA DOS EXTREMOS: O BREVE SÉCULO XX
Eric Hobsbawm
apesar de todo seu conteúdo racista e da apologia da raça ariana e do Cia das Letras
militarismo, é uma obra de interesse não só histórico como geral.
Obra do famoso historiador inglês que aborda o século 20, o século das
guerras. Num texto pessoal e cativante, Hobsbawm aborda os principais
PARA ENTENDER HITLER: A BUSCA DAS ORIGENS DO MAL temas do século, entre os quais as duas guerras mundiais. E o período
Ron Rosenbaum entre elas têm destaque.
Editora Record
O autor escreveu mais de 600 páginas em que faz uma investigação OS CARRASCOS VOLUNTÁRIOS DE HITLER
e uma pesquisa ampla com historiadores e especialistas para tentar Daniel Goldhagen
entender por que Hitler fez o que fez. Suas buscas remetem aos avós de Cia das Letras
Adolf, passando por situações polêmicas sobre a vida do Führer, como
o suicídio (ou não) de sua sobrinha-amante Geli Raubal, interpretações Uma das questões que mais martelaram a História após a guerra foi
folclóricas e outras com certa credibilidade. Cheio de referências a outras saber até que ponto a população alemã tinha conhecimento do que
obras de importância histórica para o estudo sério sobre Adolf Hitler e o os nazistas faziam aos judeus e até que ponto foram coniventes com
antissemitismo no decorrer do século, é uma ótima fonte para conhecer o Holocausto. Aqui, o autor busca demonstrar exatamente a idéia
o mundo da historiografia. de que a população foi cúmplice de todo aquele horror, participando
ativamente, inclusive em programas de extermínio.

O PAPA DE HITLER NO BUNKER DE HITLER - OS ÚLTIMOS DIAS


John Cornwell DO TERCEIRO REICH
Editora Imago Joachim C. Fest
Editora Objetiva
Um livro polêmico que estuda as relações do
papa Pio XII (Eugenio Pacelli) com a Alemanha O livro expõe o cotidiano do ditador naqueles
nazista. Em suas pesquisas, o autor encontra dias dramáticos, mostrando os surtos de euforia
farto material que mostra que Pacelli, quando era irreal, seguidos por momentos de depressão
núncio papal em Berlim, ajudou Hitler a chegar ao profunda diante da derrota inevitável. O livro
poder em 1933 e, diante do massacre de judeus traz, ainda, perfis dos principais membros do
no decorrer da Segunda Guerra, silenciou. círculo pessoal do ditador, dominado pela

48 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc e Lucas Pires

detalhado da personalidade de Adolf Hitler, que serviu de


inspiração para o filme A Queda! - As últimas Horas de
Hitler, de Oliver Hirschbiegel.

EU FUI GUARDA-COSTAS DE HITLER


Rochus Misch
Editora Objetiva
Rochus Misch foi guarda-costas de Adolf Hitler.
Durante cinco anos, de 1940 a 1945, passou dia e
noite ao lado do ditador nazista. Da chancelaria em
Berlim aos aposentos privados, do ninho da águia
de Berchtesgaden à “Toca do Lobo” na Prússia
oriental e ao QG ucraniano, Misch acompanhou o
Führer até o fim do III Reich. Assistiu a momentos
banais e importantes dos dirigentes nazistas e de
suas companheiras, entre elas, Eva Braun. Agora, com cerca de 90
competição e pela intriga até os instantes anos, é o último sobrevivente dos que conviveram com Adolf Hitler, e
finais do Führer. a última testemunha do que aconteceu no bunker após o suicídio do
ditador e a queda do regime.
HITLER, VOLS. 1 E 2
Joachim C. Fest
Editora Nova Fronteira A ALEMANHA DE HITLER: ORIGENS, INTERPRETAÇÕES, LEGADOS
Roderick Stackelberg
A biografia em dois volumes do ditador alemão, por Joachim Fest, seu mais Editora Imago
renomado biógrafo, abrange o período que vai da ascensão em 1933 até a
queda da Alemanha nazista, em 1945, numa obra de pesquisa extensa. No A Alemanha de Hitler apresenta uma história narrativa do nazismo,
livro, Fest mostra uma Europa apanhada pelas contradições e pelas intensas projetada no contexto mais amplo da História alemã nos séculos 19 e 20.
lutas ideológicas do período entre as guerras, e faz um estudo O livro proporciona uma visão acurada do período de domínio nazista e
dos acontecimentos que levaram a isso, bem como propõe uma estrutura
de interpretação que permite encontrar algum sentido nesse episódio
histórico. Roderick Stackelberg analisa como foi possível que
FILMES uma cultura de tanta criatividade e realizações
pudesse gerar barbarismo e destruição.

A LISTA DE SCHINDLER, DE STEVEN O GRANDE DITADOR,


SPIELBERG (1993) DE CHARLES CHAPLIN (1940)
Este filme foi aclamado pela crítica e deu a Spielberg O primeiro filme falado de Charles Chaplin
o Oscar de melhor diretor. Conta a história de Oskar tornou-se também uma das obras mais
Schindler, um industrial membro do Partido Nazista significativas contra o nazismo e o
que ajudou a salvar milhares de judeus. Essa história é o autoritarismo em geral. Aqui, Chaplin
pano de fundo para Spielberg revisar seus antepassados interpreta dois papéis opostos – o de um
e acertar contas com o judaísmo. Ele retrata, em branco e preto, o horror barbeiro judeu perseguido por tropas de
dos campos de concentração, sem camuflar a crueldade do tratamento aos choque e o de um ditador chamado de
judeus e nem a perversidade com que eram mortos. Hynkel. Uma sátira a Adolf Hitler, tem
cenas marcantes, como a de Hynkel
(Chaplin) dançando com o globo como
O PIANISTA, DE ROMAN POLANSKI (2002) se fosse um balão e o discurso final de
Filme que retrata a vida de judeus no gueto de Varsóvia diante da perseguição redenção do personagem.
nazista. Pelo olhar de um pianista, Wladyslaw Szpilman (o filme é baseado em
livro de memórias desse pianista), o diretor retoma uma narrativa realista, mostra
um retrato cru e fiel do massacre da população judia na Polônia. Polanski ganhou
o Oscar de melhor diretor e a Palma de Ouro em Cannes por este filme.
CÍRCULO DE FOGO, DE JEAN-JACQUES
ANNAUD (2001)
O TRIUNFO DA VONTADE, DE LENI RIEFENTAHL (1935) A trama se passa em Stalingrado, quando
A cineasta de Hitler, como ficou conhecida, filmou esse documentário para os alemães estão atacando a cidade e
o Partido Nazista quando da realização do Congresso Nacional-Socialista de impingem artilharia pesada contra os russos.
1934. A estética empregada tem como finalidade a grandiosidade, captando Estes, por sua vez, estão numa guerra de
a cena de um ângulo que dê a dimensão da grandeza do que era o nazismo, resistência que terminaria com a expulsão
para o qual a aparência importava muito, pois seu regime era baseado no dos alemães e posterior contraofensiva
visual e no impacto. Antes de Hitler fazer seus discursos, um monumental que levaria os Aliados à vitória. Dentro da
desfile acontecia com gigantescas bandeiras nazistas. Tudo era grandioso resistência, há um exímio soldado atirador,
e essa sensação foi muito bem captada por essa cineasta que, acusada de Vassili Zaitsev, tido como grande herói
propaganda nazista depois da guerra, acabou inocentada. russo. Sua fama estava mantendo vivas as
esperanças da população e, diante disso,
os nazistas resolvem enviar seu melhor
atirador para acabar com Vassili. A partir
daí, uma perseguição de gato e rato se
O LONGO CAMINHO PARA CASA, faz entre os destroços da cidade.
DE MARK JONATHAN HARRIS (1997)
Vencedor do Oscar de melhor
documentário de 1997, aborda o pós-
guerra pela ótica dos judeus. O que
aconteceu a eles? Para onde foram? O O RESGATE DO SOLDADO RYAN,
que os países vencedores – os Aliados DE STEVEN SPIELBERG (1997)
– destinaram a eles? São questões que O início, com o desembarque na Normandia no
pouco conhecemos e o que o diretor dia que ficou conhecido como o “Dia D”, é um
Mark Harris mostra não é nada gratificante dos retratos mais cruéis da Segunda Guerra
aos países aliados, especialmente Estados Mundial. A mutilação de corpos, o sangue
Unidos e Inglaterra. Pelo contrário, relatos jorrando e o mar de sangue que literalmente
de sobreviventes indicam que a vida pós- se vê chocaram muitos e abriram os olhos
nazismo não se modificou com a libertação. daqueles que desconheciam ou ignoravam
Os judeus eram alvo de racismo mesmo por o horror que foi o combate ao nazismo.

Grandes Líderes da História 49


Distribuição 100%e gratuita
Livros, filmes sites - Clube de Revistas
Dentro do espírito patriótico americano, Spielberg coloca uma questão SENTA A PUA!,
de humanidade – resgatar um soldado que perdera seus três irmãos DE ERIK DE CASTRO (2000)
na mesma guerra e enviá-lo de volta à sua mãe – como contraponto Documentário brasileiro que reúne
à brutalidade da guerra. A resistência heroica aos tanques alemães e a depoimentos de pilotos brasileiros que
satanização do inimigo (não poderia ser diferente) elevam a participação foram combater o Eixo na Itália em
dos homens norte-americanos no combate, que não deixa de passar a 1944. Estiveram na Europa 49 pilotos
ideia de que um americano vale o sacrifício de até um exército. e 417 homens de apoio. No filme, eles
contam histórias e dramas que viveram
desde os treinamentos nos Estados
Unidos até a volta para o Brasil.
CONCORRÊNCIA DESLEAL,
DE ETTORE SCOLA (2001)
Na Itália fascista de 1930, às vésperas de estourar a
guerra, dois comerciantes vizinhos – um católico e O PLANO SECRETO PARA
outro judeu – brigam pelos clientes em divertidas MATAR HITLER, DISCOVERY
concorrências. Mas tudo vai se transformando e O documentário com mais de
ambos vão criando uma forte amizade quando duas horas de duração mostra
o regime de Mussolini aperta cerco contra os os acontecimentos de 20 de julho
judeus até sua expurgação final. Um filme de 1944, um dia que poderia
excepcional para ver como a perseguição aos ter mudado o curso da Segunda
judeus acontecia no cotidiano e não apenas Guerra Mundial e da História. Adolf
Hitler havia transferido uma reunião
com seus generais por ocasião de
uma visita de Mussolini. O Coronel
Claus von Stauffenberg planejava
PEARL HARBOR, DE MICHAEL BAY (2001) matar o Füher com um explosivo
Uma superprodução que, como o nome indica, escondido em sua pasta. O ditador
retrata o ataque aéreo japonês à base naval sobreviveu e, então, acreditava que
americana de Pearl Harbor. O ataque foi o estopim seu destino era salvar a Alemanha.
para a entrada na Segunda Guerra Mundial da Através do uso da computação gráfica
maior potência até então, fato que foi decisivo e de recriações históricas fiéis, o filme
para a vitória aliada contra o Eixo. Produção reconstitui os passos de Hitler, Roosevelt
ufanista norte-americana, talvez traga o retrato e Churchill durante esse fatídico dia,
mais fiel do que deve ter sido o bombardeio a revelando detalhes só conhecidos por
Pearl Harbor. As cenas são incrivelmente realistas. meio de livros e documentos secretos.

SITES
http://www.
Hitler Historical Museum (em inglês) segundaguerramundial.
http://www.hitler.org/ com.br/sgm/
O museu se dedica a preservar os fatos Site elaborado a partir de
históricos relacionados a Adolf Hitler e ao pesquisas na internet sobre
Partido Nacional-Socialista. a Segunda Guerra Mundial.
Traz informações sobre fatos

históricos, personalidades,
• armas, artigos e vídeos sobre
• o assunto. Em português.
Em http://www.hitler.org/writings/
Mein_Kampf/ •
O livro Mein Kampf (Minha Luta) pode http://veja.abril.
ser baixado na íntegra. (em inglês) com.br/especiais_
online/segunda_
guerra/edicao001/
The History Place www.historyplace. entrevista.shtml
com/worldwar2/riseofhitler/ Entrevista na íntegra
O site contém uma abrangente biografia de Adolf Hitler na
ilustrada em 24 capítulos. (em inglês) edição de Veja de setembro de 1939. Há ainda
um vídeo do discurso de Hitler no Reichstag, em
abril de 1939, e outros com pronunciamentos do
• líder no início do governo. Em português.


• http://www.ushmm.org/
Site do Museu do
Adolf Hitler.ws www.adolfhitler.ws Holocausto nos EUA. Há
O site oferece biografia e arquivos informações históricas,
com discursos, trabalhos artísticos de de sobreviventes, fotos,
Hitler e informações gerais sobre o eventos promovidos pelo
período. (em inglês) museu. Há conteúdo
traduzido para o português.

50 Grandes Líderes da História


Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas

Grandes Líderes da História 51

Você também pode gostar