Grandes Líderes Da História - Adolf Hitler - Jan24
Grandes Líderes Da História - Adolf Hitler - Jan24
Grandes Líderes Da História - Adolf Hitler - Jan24
Um tema inesgotável
P
or mais que já tenham sido expostas, estudadas e questionadas, a vida e a “obra” de Adolf
Hitler constituem um tema intrigante, capaz de prender a atenção do leitor do começo
ao fim. E, geralmente, esse leitor parte em busca de mais informações para responder às
muitas perguntas que vão surgindo à medida que ele estabelece um contato mais deta-
lhado com os acontecimentos do passado. Assim, o assunto parece não ter fim.
Sem dúvida, o líder do Terceiro Reich é um dos personagens históricos mais polêmicos e
condenáveis de todos os tempos. Por ter provocado a Segunda Guerra Mundial, por ter promo-
vido um massacre com requintes de crueldade contra diversas minorias, entre elas notadamente
os judeus, e por ter inflamado toda uma nação em torno de seus ideais absurdos, Adolf Hitler
Nossa capa: AFP/ Roger Viollet continua a despertar interesse.
E tal interesse não foi gerado apenas depois de sua – também controversa, como tudo o que
o cerca – morte. Em vida, o Führer causava verdadeiro frisson no mundo todo. Seja pelo ódio
provocado em seus inimigos, pela devoção despertada no povo alemão ou pelas medidas arbitrá-
rias e cruéis que tomava, ele estava sempre em evidência. Tanto que, em edição de 1939, o ditador
aparece como entrevistado nas páginas amarelas da revista Veja. Acompanhe dois trechos que
revelam claramente do que Hitler seria capaz.
“Durante toda minha vida, tenho sido um verdadeiro profeta, e costumo ser ridicularizado
Presidente: Paulo Roberto Houch por isso. Na época de minha luta pelo poder, quando disse que um dia tomaria a liderança do
Vice-Presidente Editorial: Andrea Calmon
redacao@editoraonline.com.br estado e da nação e, entre outras coisas, resolveria a questão dos judeus, a raça judaica recebeu
REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Andrea Calmon – MTB 47714
minha profecia com risadas. Mas acho que, já há algum tempo, tais risadas cessaram.”
Editora-Executiva:
Editor:
Tatiana Arcolini
João Jacques “Armas nenhumas conquistarão a Alemanha. Nunca haverá outro Novembro de 1918 na
Colaboraram nesta edição: Thaise Rodrigues (edição e revisão),
história alemã. É um erro infantil desejar a desintegração de nosso povo. Mister Churchill pode
Claudio Blanc e Lucas Pires (textos) estar convencido da vitória da Grã-Bretanha. Eu não duvido por um só momento que a Alema-
PROGRAMAÇÃO VISUAL
Coordenador: Rubens Martim
nha sairá vitoriosa. O destino dirá quem está certo”.
Diagramador:
diagramacao@editoraonline.com.br
Rodrigo Lima Realmente, o destino mostrou quem estava certo, mas não em tempo de poupar milhões de
Ilustração: Michael Bráz
vidas humanas nem de evitar que Adolf Hitler e o regime nazista passassem para a história como
PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA um dos exemplos mais execráveis do que a loucura, a ganância e a crueldade juntas podem fazer
Coordenadora: Elaine Simoni
elainesimoni@editoraonline.com.br quando chegam ao poder.
PUBLICIDADE
Diretora Comercial: Arines Garbin
Diretora de Publicidade:
Executivos de Negócios:
Patrícia Massini
Daniel Giongo, José Mário Brito, Aproveite a leitura,
Lea Naftal e Rodrigo Cortona
agencia@editoraonline.com.br
MARKETING
Diretor de Marketing/ Assinaturas: Lúcio Flávio Baúte
Supervisora de Marketing: Jane Pinheiro
jane@editoraonline.com.br
ADMINISTRAÇÃO
Diretora Administrativa: Jacy Regina Dalle Lucca
financeiro@editoraonline.com.br
Coordenadora de Suprimentos: Juliana Santos
SUMÁRIO
suprimentos@editoraonline.com.br
Os primeiros passos do
TIRANO
Reprodução
Nascido na pequena Braunau, Adolf Hitler teve uma infância conturbada. Depois, já em
Viena, viu desfeito seu sonho de ser pintor e começou a ter contato com ideias antissemitas.
Era o início da ideologia nazista
U
m homem intransigente que se mento de um líder, que, por sua vez, acaba por o povo alemão estava ao lado de Hitler, e o
julga predestinado. Um impé- moldá-la. Ele sempre reflete as vicissitudes do Führer deu voz às muitas tendências, às cren-
rio que perdeu a identidade. Um momento e incorpora os anseios das pessoas ças e aos pensamentos que grassavam na Ale-
país em colapso. Esses elementos do seu tempo e lugar. Assume a voz das mul- manha depois da Primeira Guerra.
seriam inflamáveis o bastante para incendiar tidões e as conduz pelas trilhas dos fatos. Hitler é mais uma criação da História do
o mundo? No caso de Adolf Hitler, a resposta Se não tivesse existido um Hitler, será que uma autoinvenção. Ele refletiu como nin-
é sim. A pergunta que sempre paira sobre os que a Alemanha, humilhada após a Primeira guém o desejo de um país rico e glorioso ato-
personagens históricos cabe como uma luva Guerra, se levantaria contra o resto da Euro- lado numa situação de humilhação e menos-
para ele: é a História que faz o líder? Ou, in- pa? Provavelmente, sim. Mas o conflito talvez valia. Como o próprio Winston Churchill −
versamente, é o líder que faz a História? Na possuísse um rosto diferente. Se seria menos provavelmente o mais implacável inimigo de
verdade, a História corrobora para o surgi- brutal ou fanático, nunca saberemos. Afinal, Adolf Hitler − afirmou, foi a “insensatez dos
vencedores” da Primeira Guerra que causou a rior – de serviços prestados por ela tanto na
sede de vingança e de justiça de todo o povo casa quanto na cama. Franciska acabou mor-
alemão. E, para comandá-lo, ninguém melhor “Pela primeira rendo também e, enfim, os dois puderam ofi-
do que um fanático cheio de vingança, um se- cializar o casamento no começo de 1885. Mas,
milouco repleto de som e de fúria capaz de vez na vida fui, mal para isso, tiveram que redigir uma petição ao
lançar mão dos mais impensáveis meios para bispo local, pedindo permissão para realizar a
levar seu povo à sonhada vitória. Mas o sonho chegado aos onze união, pois havia um laço consanguíneo entre
de Hitler acabou se transformando no pesa- eles. O bispo, então, enviou o pedido a Roma,
delo da Alemanha – e do mundo.
anos, forçado a que concedeu a permissão.
Falar sobre Adolf Hitler é falar sobre o fazer oposição. Por
nazismo, e falar sobre ambos é mexer no que O PERFIL DOS PAIS
talvez seja a maior prova de crueldade da qual mais firmemente Alois Hitler era funcionário público e tra-
o ser humano foi capaz. A figura enigmática balhava como inspetor-chefe num escritório al-
e cativante do líder nazista, com seu bigodi- decidido que meu pai fandegário. Como seu emprego exigia viagens
nho ralo e curto e gestos firmes enquanto pro- costantes, mudanças de endereço tornaram-se
feria discursos coléricos, conquistou o pos- estivesse na execução rotina para a família. Na década de 1890, de
to de maior representação do Mal de que se Braunau, onde nascera o filho Adolf, a família
tem notícia. O século 20, o século de Hitler,
de seus planos e Hitler mudou-se para Passau, na Alemanha,
foi o mais sangrento e abominável da histó- propósitos que se passando por Halfeld, Fischlham, Lambach e
ria da humanidade. Portanto, buscar resgatar Leonding, todos pequenos vilarejos na região
a trajetória desse homem e de suas ações, que formara, não era da cidade de Linz, onde se estabeleceram em
culminaram no Holocausto e em seis anos definitivo com a aposentadoria de Alois. Adolf
de guerra, é delicado e exige responsabilida- menor a teimosia Hitler, em Minha Luta, relembra a trajetória
de. As feridas abertas pelo nazismo continu- do pai com admiração, apesar de não querer
am sem cicatrizar, tanto na Alemanha quanto e a obstinação de para si a mesma vida no funcionalismo públi-
em judeus ou qualquer ser humano conscien- co, algo que geraria enormes desavenças entre
te do que foi a Segunda Guerra Mundial. Tal- seu filho em repelir pai e filho. Confira o que Hitler escreveu sobre
vez elas nunca cheguem a fechar, talvez algum
dia cicatrizem, mas suas marcas não se apaga-
um pensamento o pai: “... o jovem de dezessete anos insistiu na
sua resolução e tornou-se funcionário públi-
rão. Eis o intuito de toda cicatriz: permane- que pouco ou co. Depois de vinte e três anos, creio eu, esta-
cer para sempre relembrar. Eis por que estu- va atingido o seu objetivo. Parecia assim estar
damos a História. nada lhe agradava. cumprida a promessa que o rapaz havia feito,
As atrocidades cometidas por Adolf Hi- isto é, de não voltar para a aldeia paterna sem
tler são o lado mais conhecido desse austría- Eu não queria que tivesse melhorado de situação”. Enquanto
co nascido em Braunau, próximo à divisa com isso, a mãe, Klara, estava “absorvida nos afaze-
a Alemanha, no dia 20 de abril de 1889. Era ser funcionário res domésticos e, sobretudo, sempre dedicada
filho da jovem Klara Pölzl, de 28 anos, com
Alois Hitler, que tinha mais de 50 e estava
público” aos cuidados da família”.
Ilustraçã
A autoridade paterna prevalecia sempre e rosa como a perda da mãe, quatro anos de-
as decisões de Alois eram incontestáveis. His-
o:
pois, em dezembro de 1907. O falecimento
Fábio M
toriadores reforçam a relação conflituosa de de Klara pegou Hitler de surpresa, que es-
Hitler com o pai, tido como um tirano, que tava restabelecido em Viena desde setem-
atos
impunha a lei e a ordem sob castigos físicos. bro do mesmo ano. Klara teve um câncer
Relatos de surras que Adolf, que mais tarde no seio. Desesperado, Adolf contratou os
assassinaria milhões de judeus, teria levado serviços de Edmund Bloch, médico judeu
do pai na infância foram frequentes e muitos famoso e que cobrava altos honorários.
usam esse trauma para explicar a psique ma- Diante do sofrimento da paciente, o médi-
ligna que Hitler viria a desenvolver. Estudos co sugeriu tratar as feridas com gazes em-
de psicologia sobre o efeito de quando adultos bebidas em iodo. Alertou que isso poderia,
dão surras em crianças trazem a história deo como efeito colateral, envenenar a pacien-
Führer como modelo, como o exemplo extre- te. Hitler aceitou o risco e Klara foi tra-
mo a que esta educação, chamada de “educa- tada, morrendo em seguida efetivamente
ção destrutiva”, pode chegar. por intoxicação de iodo. Sua morte era tida
Em contrapartida, o próprio Hitler não como certa, mas o tratamento a antecipou.
fala de ter apanhado do pai. Refere-se apenas O transtorno que tomou conta da mente
a brigas e discussões com ele, mas não rela- do filho órfão foi imenso. “A sua morte se
ta nenhum caso de castigo físico. Sua maior deu depois de uma longa e dolorosa enfer-
discussão com o pai aconteceu quando, aos 11 midade que, logo de começo, pouca espe-
anos e diante de um talento para o desenho, rança de cura oferecia. Não obstante, isso
Hitler decidiu que seria pintor. Um artista! atingiu-me atrozmente. Eu respeitava meu
Klara Hitler, a mãe Essa postura era demais para um rígido edu- pai, mas por minha mãe tinha verdadeiro
cador e conservador como Alois, para quem amor”, recorda Hitler no final do primeiro
Em Minha Luta, ele relembra que sua leitura favorita na infância era
composta pelos dois volumes de uma revista ilustrada que falava
da guerra franco-alemã, ocorrida em 1870-71 (conflito em que Bismarck,
então chanceler alemão, unificou a Alemanha e inaugurou o II Reich)
dada aos filhos era a mais rígida e dura possí- sua própria vida era o exemplo a ser seguido capítulo de Minha Luta . Sozinho na cidade
vel. Klara deu à luz outros dois filhos antes de pelo filho. A autoridade e a vontade do pai de grande, sem a mãe, ele, enfim, teria de enca-
Adolf, Gustav e Ida, que morreram com pou- que o filho fosse também funcionário público rar a vida com os próprios punhos.
cos meses de vida por causa de difteria. Quan- iriam se opor à rebeldia e ao sonho do meni-
do Adolf tinha cinco anos, nasceu Edmund, no de ser pintor. Conta Hitler: “Pela primei- VIENA E AS ARTES
que também não resistiu e morreu de saram- ra vez na vida fui, mal chegado aos onze anos, Outro golpe que marcou a decepção de
po, e, dois anos depois, Paula, que se tornou a forçado a fazer oposição. Por mais firmemen- Adolf Hitler com a vida foi sua reprovação na
única irmã por parte de pai e mãe viva de Hi- te decidido que meu pai estivesse na execução prova para ingressar na Academia de Belas-
tler (com Franciska, Alois havia tido dois fi- de seus planos e propósitos que se formara, Artes em Viena. Crendo que seria facilmente
lhos – Alois Jr. e Angela). não era menor a teimosia e a obstinação de admitido, pegou a herança deixada pelo pai,
O futuro ditador da Alemanha foi uma seu filho em repelir um pensamento que pou- retirada quando completara 18 anos, e ru-
criança solitária e independente, de poucos co ou nada lhe agradava. Eu não queria ser mou para a capital austríaca ao lado do úni-
amigos e diversões. Suas leituras baseavam-se funcionário público”. co amigo que tinha em Linz: August Kubi-
em histórias de guerras e aventuras militares, Segundo Hitler, essa decisão fez que seu zek. O deslumbramento inicial de Hitler com
coisas que o fascinaram desde pequeno. Em pai ficasse contra ele, tornando-se cada vez a cidade deve ter sido o oposto da miséria e da
Minha Luta, ele relembra que sua leitura fa- mais irritado. No entanto, Adolf não se re- fome com que passaria seus anos seguintes no
vorita na infância era composta pelos dois vo- fere nunca a agressões físicas. Contraria- local. Ele mesmo escreveu que Viena valia a
lumes de uma revista ilustrada que falava da do, acabou se desinteressando em definitivo ele “como uma viva lembrança dos mais tristes
guerra franco-alemã, ocorrida em 1870-71 pelos estudos que não estivessem ligados às tempos da minha vida. Cinco anos de misé-
(conflito em que Bismarck, então chanceler artes. Isso culminou no abandono da escola rias e de sofrimentos, eis o que significa a mi-
alemão, unificou a Alemanha e inaugurou o dois anos depois da morte do pai, aos 15 anos. nha estada nessa cidade de prazeres”.
II Reich). “Daí em diante, eu me entusiasma- Além do seu desinteresse, uma infecção pul- Viena vivia sua belle époque, com a efer-
va cada vez mais por tudo que, de qualquer monar o derrubou, e o médico receitou que vescência cultural e artística e cafés, óperas
modo, se relacionasse com a guerra ou com a ficasse um ano sem ir à escola. e concertos às margens do Danúbio. Era um
vida militar”. A morte do pai, em 1903, não foi dolo- centro cultural comparável a Paris, uma me-
A Primeira Guerra
MUNDIAL
Divulgação/ NNSP e NARA
A participação de Adolf Hitler no conflito reforçou sua ideia de que os judeus eram
os grandes “vilões” que impediam a glória da nação alemã
A
estada de Hitler em Viena aca- Mas nem mesmo a fuga foi capaz de evitar Os Protocolos dos Sábios de Sião, parece
bou em maio de 1912, quando ele a polícia austríaca. Oito meses depois de sair ter sido seu companheiro de cabeceira.
se mudou para Munique, a me- de Viena, Adolf foi localizado e preso como Hitler viveu assim até que chegou a notí-
trópole das artes alemã. Há dois desertor. Em vez de ser enviado a Linz, acabou cia de que o arquiduque Francisco Ferdinan-
motivos para sua partida: o ainda sonho de ser levado para Salzburgo, onde foi examinado e do, herdeiro do Império Austro-Húngaro, ti-
artista e a fuga do alistamento militar. Como liberado do serviço militar por ser considerado nha sido assassinado por terroristas sérvios
o montante de desempregados e desocupa- inapto. Devido à vida penosa dos últimos anos, em Sarajevo. Em julho de 1914, o Império
dos em Viena era enorme na época, o gover- seu físico não era avantajado nem forte e, por declarava guerra à Sérvia. Era o início da Pri-
no austríaco resolveu garimpar os pendentes isso, concluíram que era fraco demais para car- meira Guerra Mundial.
com o serviço militar, e Hitler era um dos que regar armamentos pesados. Assim, Hitler vol-
não havia se alistado. Com a polícia em seu tou para Munique livre de qualquer pendência O CABO HITLER
encalço, o futuro Führer foi para a Alemanha com o Império Austro-Húngaro. Os europeus já esperavam por uma
a fim de evitar servir um governo que odiava. Desse evento até o início da Primeira guerra, mas os alemães a desejavam, tanto
Em Minha Luta, ele escreveu que fora atraí- Guerra Mundial, passou-se menos de um que Hitler e toda uma multidão vibraram
do para Munique porque era uma cidade ale- ano, período em que ele viveu de quadros entusiasmados na Praça Odeon, em Muni-
mã, livre da mistura de raças que ele havia pre- vendidos nas ruas e de pequenos biscates. A que, quando a Alemanha declarou guerra
senciado em Viena, e que contava com uma rotina de quartos de pensão sujos e baratos à França. A nação germânica uniu-se aos
vida artística agitada. De fato, Hitler consi- era compensada pela leitura de jornais an- austríacos contra a Sérvia, que teve ao seu
derou o período em que viveu em Munique, tissemitas, livros sobre política e panf letos lado a Rússia e a Europa Ocidental. Logo o
até estourar a Primeira Guerra, o mais feliz que falavam da conspiração judaica contra o incidente original – Sérvia versus Império
de sua vida. mundo. Um deles, o mais famoso até hoje, Austro-Húngaro – ficou em segundo pla-
no. A luta era por território entre um poder sencadeada pela imprensa semita, que propa-
imperial alemão e o resto da Europa. gava um fim trágico à Alemanha. Desenvol-
A possibilidade de fazer parte de um mo- veu maior ódio aos judeus por crer que eles,
mento histórico alemão e, mais ainda, de uma dentro do esforço de guerra alemão, foram,
conquista grandiosa como a que pretendia a aos poucos, tomando conta de toda a produ-
Alemanha fez que Hitler logo se apresentas- ção e de todos os negócios do país. Isso foi in-
se como voluntário. Pela Áustria, ele fora dis- terpretado como traição por Hitler quando
pensado e nem tomaria a iniciativa de lutar 400 mil trabalhadores berlinenses entraram
por um governo que o causava ojeriza, mas, em greve pedindo o fim do conflito.
pelo país alemão, pela glória da pátria que ain- Os tratados de paz entre os países acon-
da não era sua (pois não era, na época, um ci- teceram ao longo de todo o ano de 1919, mas
dadão alemão), estava disposto a dar a vida se o mais importante foi o assinado no dia 28
necessário. “Começou então para mim, como de junho: o Tratado de Versalhes, acordo que
provavelmente para todos os outros alemães, foi fechado entre as potências ocidentais vi-
a mais inesquecível e a maior época da minha toriosas no conflito, França e Grã-Bretanha,
vida. Com orgulho e saudade, recordo-me das Quando estava na com respaldo dos Estados Unidos, que logo
primeiras semanas daquela luta heróica do saiu de cena. À Alemanha foram impostas
nosso povo, na qual graças à benevolência do
destino, me foi dado tomar parte”, escreveu
reserva no hospital punições que, sem dúvida, seriam o motivo
latente da Segunda Guerra Mundial. Sob o
Hitler sobre esse momento. próximo a Berlim, argumento de que aquela nação era a única
Logo depois de ter feito o requerimento responsável pela eclosão da guerra, as maio-
para ser soldado, o futuro Führer foi aceito e Adolf ficou cada vez res limitações recaíram à Alemanha, para
incorporado ao 16o Regimento de Infantaria não permitir que o país crescesse e se tornas-
da Reserva da Baviera. Alguns meses depois, mais convencido de se novamente forte. A nação alemã estava pri-
partiu junto a seus companheiros para o front
ocidental e lutou em diversas batalhas, como o
que tinha havido um vada de manter marinha e força aérea efeti-
vas; teria o exército limitado ao máximo de
desastre de Ypres (quando, de 3.500 soldados,
apenas 600 sobreviveram) e as batalhas em
boicote judeu 100 mil homens; teria parte de seu território
ocupado militarmente; e veria a extinção dos
Tourcoing e Neuve Chapelle. Foi tido como comunista dentro direitos sobre suas até então colônias ultra-
soldado valente e esforçado, chegando a ser marinas, que ficariam sob os domínios britâ-
promovido a cabo. Mas daí não passou devido da própria Alemanha. nico, francês e japonês. Além disso, a Alema-
à sua condição de austríaco (ou seja, não ale- nha perdeu territórios, como parte da região
mão) e por diversos ferimentos que havia so- Ele chamou o fato leste (que ficou com a Polônia), da Alsácia-
frido. Em 1916, no dia 7 de outubro, Adolf foi
ferido na perna e ficou na reserva por alguns
de propaganda Lorena, que voltou para a França, e teve de
pagar indenizações de guerra exorbitantes.
meses, até que voltou à frente de batalha no
ano seguinte. Trabalhando como mensagei-
inimiga, Sob instigação do então presidente nor-
te-americano, Woodrow Wilson, foi criada a
ro, isto é, levando e trazendo mensagens entre desencadeada pela Liga das Nações, com o objetivo de negociar
os diversos centros de batalha, Hitler esteve e solucionar pacificamente qualquer conflito
sempre exposto ao ataque inimigo, mas nunca imprensa semita, que que pudesse ocorrer no cenário internacional
deixou de cumprir seu dever, até mesmo sal- dali pra frente. Sediada em Genebra, a orga-
vando diversos companheiros que encontrava propagava um nização teve participação discreta no decor-
pelo caminho. Em 14 de outubro de 1918, em
uma de suas incursões, Adolf foi atingido por fim trágico rer da década de 1920, mas não foi muito efi-
ciente em razão da própria recusa dos Esta-
bombas de gás mostarda inglesas que o dei-
xaram cego temporariamente. Sofreu um co-
à Alemanha dos Unidos de se juntarem à Liga.
No começo de novembro, antes mesmo
lapso e acabou internado no hospital militar de ter sido assinada a paz com as potên-
de Pasewalk, de onde ouviu a informação, em cias ocidentais, o estado alemão ficou em
11 de novembro, de que a grande nação alemã convulsão com rebeliões e tentativas de re-
perdera a guerra e se rendera. volta. Diferentes facções políticas disputa-
vam o poder e, entre elas, havia comunistas
O COMEÇO DO ÓDIO que queriam um regime semelhante ao so-
Em 1918, Hitler recebeu por duas vezes viético e aqueles que desejavam a manuten-
a Cruz de Ferro, uma condecoração de reco- ção do governo imperial. Mas nenhum de-
nhecimento pelos valores em guerra. Mas seu les prevaleceu: Guilherme II, o kaiser, foi
esforço pessoal não se refletiu em avanço ale- obrigado a renunciar, deixando o cargo de
mão. Quando estava na reserva no hospital chanceler para Friedrich Ebert. A Repú-
próximo a Berlim, Adolf ficou cada vez mais blica foi proclamada e, em janeiro de 1919,
convencido de que teria havido um boicote ju- um complô comunista foi esmagado, cul-
deu comunista dentro da própria Alemanha. minando na morte de dois de seus líderes:
Ele chamou o fato de propaganda inimiga, de- Karl Lirbknecht e Rosa Luxemburgo. Ber-
Adolf Hitler em
t
r_Violle
Landsberg, 1924
oge
valente e esforçado,
chegando a ser promovido
a cabo. Mas daí não passou
devido à sua condição de
austríaco (ou seja, não
alemão) e por diversos
ferimentos que havia sofrido
AFP/ Roger_Viollet
Adolf Hitler (primeiro
à direita, sentado) no
exército bávaro
durante a Primeira
Guerra Mundial
lim estava ainda um caos, com trabalhado- cionários e de esquerda. Muitas dos even- Minha Luta , o futuro Führer descreveu um
res armados pelas ruas, quando mudaram a tos investigados não passavam de grupos de cenário inteiramente favorável à Alemanha
capital da nova república para Weimar. O amigos que se juntavam para beber e desa- no fim da guerra, afirmando que a vitória
exército que sobrou da guerra passou a ser bafar em alguma das várias cervejarias de estaria muito próxima se não fosse a atu-
responsável pela contenção de revoltas. Munique. No entanto, foi num desses en- ação interna de judeus, que buscavam do-
contros que a vida de Adolf Hitler mudou mínio sobre o capital interno, e dos comu-
ENCONTRO COM radicalmente, deixando para trás uma tra- nistas. Rapidamente, difundiu-se a teoria
O PARTIDO NAZISTA jetória de soldado para se tornar um caris- da “punhalada nas costas”, que nada mais
Hitler voltou a Munique em março de mático político. era do que essa ideia fixa de Hitler de que
1919, depois de ter atuado como guarda em As humilhações impostas à Alemanha o exército alemão fora derrotado não pelos
um campo de concentração de presos rus- pelo Tratado de Versalhes marcariam toda inimigos de armas, mas pela traição de indi-
sos na cidade de Traunstein. Ainda perten- a carreira política de Hitler na década de víduos em seu próprio território, isto é, por
cente ao corpo militar, foi designado para 1920. Seus objetivos, a partir dali, eram re- judeus, socialistas e comunistas. Segundo
a comissão de inquérito do exército a fim verter o quadro, vingar os traidores da pá- ele, “a derrota foi o primeiro resultado ca-
de buscar suspeitos de ligação com o co- tria, que deixaram a Alemanha ser derrota- tastrófico visível, por parte do povo, de um
munismo. Fez um curso de instrução po- da, e recuperar a glória da nação de Bismar- envenenamento moral, que consistia no
lítica para se tornar oficial instrutor, cuja ck. Essa ideia era bastante forte em Hitler, enfraquecimento do instinto de conserva-
função era proferir palestras promovendo o que se negava a acreditar numa derrota mi- ção, resultante da propaganda de doutrinas
nacionalismo e condenando o comunismo. litar alemã sem a cooperação interna de ju- (oriundas de grupos judaicos e marxistas)
Em seguida, passou a integrar o corpo de deus e comunistas, que teriam minado a que, há muito, vinham minando os funda-
espionagem do exército, trabalhando como resistência civil e propagado uma paz que mentos da nação e do Império”.
espião em reuniões de movimentos revolu- desencadeou a humilhação da nação. Em Em 12 de setembro de 1919, Adolf Hi-
Em 1914, uma época em que o nacionalismo exacerbado era o leme se confraternizaram, decidindo suas diferenças políticas e ideológicas
que guiava as ações políticas em todo o continente europeu e, prin- numa amigável partida de futebol.
cipalmente, no Império Austro-Húngaro, a crise na Europa Central O ano de 1915 trouxe boas-novas para a Áustria-Hungria. A Sérvia
explodiu. A fragmentação do Império fez que o arquiduque da Áus- e Montenegro caíram no final do ano e os Aliados falharam ao tentar
tria, Francisco Ferdinando, sobrinho do imperador austro-húngaro tirar a Turquia da guerra. Só as campanhas na Itália não se concluí-
e herdeiro do trono, fosse a Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, am, estacionando um grande contingente de tropas austríacas.
tentar acalmar os ânimos dos que exigiam emancipação. A Sérvia es- Apesar disso, 1916 foi um ano difícil. O conflito exigiu recursos que
forçava-se para unificar os territórios ao sul de sua fronteira: Mace- a Áustria não conseguia gerar. O país baseava a economia na exten-
dônia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina. Nessa tentativa, acabou são do território, recebendo bens e valores dos reinos que forma-
batendo de frente com o Império Austro-Húngaro, cuja política ex- vam o império. As campanhas eram inconclusivas, principalmente
pansionista visava a chegar ao porto de Salônica, na Grécia. na frente Sul.
Francisco Ferdinando buscava uma via diplomática para resolver o Em 1917, as coisas começaram, finalmente, a pender a favor dos
conflito, mas acabou assassinado por um radical sérvio, em 28 de ju- Aliados. No Oriente Médio, o coronel Thomas Edward Lawrence,
nho de 1914. Então, o imperador Francisco José fez duras exigências o Lawrence da Arábia, incitava a revolta árabe contra os turcos, seus
à Sérvia, que as recusou. senhores. No mesmo ano, os Estados Unidos entraram na guerra de-
A Rússia, tradicional rival da Áustria, temia que o Império Otomano vido aos ataques dos submarinos alemães à sua frota, e enviaram uma
anexasse a parte muçulmana dos Bálcãs, e apoiou a Bósnia-Herzego- força expedicionária que desembarcou na França, comandada pelo
vina. Essa era a chance que a Alemanha esperava para resolver suas general Pershing, responsável por dois milhões de homens.
rivalidades com França, Grã-Bretanha e Rússia. Aliou-se à Turquia No decorrer do ano seguinte, a Liga dos Poderes Centrais não conse-
e ofereceu apoio à Áustria, que aceitou, e, juntos, formaram a Liga guiu resistir ao avanço dos Aliados. Damasco caiu nas mãos dos be-
dos Poderes Centrais. Assim, motivado pelo suporte recebido e para duínos de Lawrence da Arábia e, na Europa, a França foi libertada.
evitar uma guerra civil, no final de julho de 1914, o Império Austro- Em 11 de novembro de 1918, a Alemanha assinou o armistício. A
Húngaro declarou guerra à Sérvia. As outras potências europeias se Liga dos Poderes Centrais perdia a guerra.
lançaram no conflito, e, logo, todo o continente virou palco de ope- O Império Austro-Húngaro foi esfacelado pelo tratado de Saint-
rações militares. Germain, que reduziu a Áustria aos seus territórios germânicos, en-
Na frente oeste, os alemães avançaram sobre a Bélgica e Paris em tregando Trentino e Ístria à Itália. Ao reino dos sérvios, croatas e
direção ao Canal da Mancha. No leste, os Poderes Centrais foram eslovenos, que depois se chamou Iugoslávia, cedeu-se a Eslovênia, a
igualmente bem-sucedidos. Já nos primeiros meses da Guerra, os Dalmácia, a Croácia e a Bósnia-Herzegovina. À custa de seus domí-
alemães derrotaram os russos em Tannemberg e nos Lagos Masuria- nios tchecos, surgiu um novo Estado: a Tchecoslováquia. De um dos
nos. No entanto, depois das primeiras batalhas de Ypres, o exército maiores Estados europeus em extensão, a Áustria ficou reduzida a
do imperador alemão, Guilherme II (1888 – 1918), ficou impedido um território de apenas 83.850 km2. À Hungria foi imposto o Tra-
de avançar, e os Aliados não conseguiam fazê-lo recuar. tado de Trianon, que a obrigava a ceder a Croácia, a Eslováquia e a
Começou, então, a guerra de trincheiras: estacionária, lamacenta, Rutênia à Tchecoslováquia, e a Transilvânia à Romênia, fazendo que
cheia de batalhas de baioneta e de uso de gás venenoso, na qual doen- o país fosse reduzido a um terço do seu território de 1914.
ças, como o tifo e o tétano, matavam mais do que as balas e as bom- O moral em todo o antigo império estava baixo. Anos de luta e de sa-
bas. Era um conflito sanguinário, lutado por soldados que acabaram crifícios não impediram o inevitável: a fragmentação da colcha de re-
se tornando românticos no ideário da guerra. Guerreiros como o ás talhos étnicos, linguísticos, culturais e religiosos, que uma vez tinha
Barão Vermelho que, depois de abater 40 aviões inimigos com seu constituído o Império dos Habsburgo. Quanto à Alemanha, o resul-
biplano nos céus da França, foi pego e enterrado com honras de he- tado da guerra não foi menos catastrófico. Mas, diferentemente da
rói pelos ingleses que o derrubaram; ou como os soldados que parti- Áustria, o país não abaixaria a cabeça. Não com alguém como Adolf
ciparam de um episódio da luta nas trincheiras, em que duas tropas Hitler a instigar, nos alemães, a sede de vingança por toda a humilha-
inimigas, uma alemã e outra inglesa, de tanta convivência ali, para- ção que haviam sofrido com a derrota e por conta das condições do
das, vigiando uma à outra, resolveram estabelecer um cessar-fogo e Tratado de Versalhes.
Propaganda nazista
O NAZISMO
Misturando antissemitismo, anticomunismo, a necessidade de expansão da Alemanha
e a crença na superioridade da raça ariana, Adolf Hitler criou o seu
nacional-socialismo e inflamou todo um país
O
final da Primeira Guerra Mun- dial e criando até mesmo campos de extermí- forme revelam em particular sua organização
dial e o início da Segunda não nio para eliminar populações indesejadas. militar e a inclinação à violência, foram um fe-
constituíram uma época de paz, nômeno do pós-guerra, aparentemente inspi-
como se poderia imaginar. O TENDÊNCIA rado pelo cruel derramamento de sangue no
historiador inglês Eric Hobsbawm chama o Apesar da associação que sempre se faz en- conflito e pela dissolução dos valores morais”.
período que vai de 1914, início do maior con- tre o nazismo e a Alemanha, muitas característi- Curiosamente, esses sistemas autoritários
flito militar até então vivido, a 1945, quando o cas desse regime não são exclusivamente alemãs. foram predominantes entres os países que
Japão se rendeu pondo um fim a essa época, de No início, os nazistas eram chamados de “fascis- perderam a Primeira Guerra, como a Alema-
“Guerra dos 31 anos”. Para esse grande autor tas” e se inspiravam em Benito Mussolini. A ten- nha, a Rússia e a Hungria, e outros, como a
inglês, não houve um tempo de paz, mas um tativa frustrada de Hitler de tomar o poder em Itália, que se viram prejudicados pelo confli-
breve interlúdio, como o intervalo entre o pri- 1923, num golpe que ficou conhecido como o to. Entretanto, nem todos esses movimentos
meiro e o segundo tempo de um jogo. “Putsch da Cervejaria”, seguido de uma marcha chegaram ao poder, mas alguns receberam o
A tensão era provocada, principalmente, em Berlim, foi inspirado na bem-sucedida mar- apoio dos nazistas depois da ocupação de seus
pelas divisões étnicas e sociais resultantes da cha que Mussolini fizera em Roma em 1922. países e tiveram um importante papel como
Primeira Guerra. O final das beligerâncias re- Na verdade, o fascismo italiano inspirou diver- satélites do nacional-socialismo. É o caso dos
desenhou as fronteiras europeias. As novas di- sos movimentos em toda a Europa – até mesmo fascistas húngaros e croatas, que lutaram ao
visões territoriais trouxeram descontentamento na França, na Bélgica e na Grã-Bretanha. lado dos alemães durante a Segunda Guerra.
e aumentaram a rivalidade. Em grande parte da O final da Primeira Guerra viu surgir di- Apesar das características comuns a es-
Europa, a crise econômica mundial iniciada em versas organizações fascistas ou nacionalistas ses movimentos, o racismo e o antissemitis-
1929 e o temor de uma revolução comunista – autoritárias. Todos esses movimentos tinham mo foram fenômenos exclusivamente nazis-
como a que tomou a Rússia – pintaram o qua- algumas características comuns, igualmente tas, não presentes no fascismo italiano. Os
dro com cores ainda mais pesadas. Como re- típicas do nacional-socialismo. Todas abra- nazistas acreditavam que os judeus preten-
sultado, parte do continente, com exceção das çavam um nacionalismo radical, tinham hie- diam dominar o mundo através dos contro-
monarquias do Norte e da Europa Ocidental, rarquias militares, pregavam e lançavam mão les financeiro, industrial e editorial, a chama-
foi tomado por regimes autoritários. Portu- da violência, cultuavam um líder carismático, da “subversão judaica” e, por isso, deviam ser
gal, Espanha, Itália, Rússia, Alemanha, entre desprezavam as liberdades individuais e os di- combatidos – um conceito que, ao longo do
outros, passaram a ser governados por ditadu- reitos civis, possuíam orientação antidemo- regime nazista, deu origem à “Solução Final”,
ras. Na Alemanha, porém, o regime de ultra- crática e antissocialista e se recusavam a so- o extermínio dos judeus. A ideologia racis-
direita que se impôs, o nazismo, ou nacional- cializar as indústrias. O historiador Raffael ta era de tamanha importância para Hitler
socialismo, se revelaria o mais arbitrário de Scheck, professor do Colby College, em Mai- e para a elite nazista que é quase impossível
todos, lançando o mundo numa guerra mun- ne, EUA, julga que esses movimentos, “con- dissociar o nacional-socialismo dela.
AFP/ Roger_Viollet
Coautores Conheça os teóricos em quem Hitler se inspirou para criar a ideologia nazista
Hitler e a insígnia do Partido Nacional Socialista sobre o mapa da Alemanha e os dizeres: “um povo, um império, um Füher”
E
mbora o nazismo tenha sido sis- Stauf, que pôs em prática as teorias de List na Adolf Hitler era grande fã das ideias de
tematizado, defendido e propaga- sociedade secreta que fundou, a Ordem Ger- Liebenfels. Consta que, em 1909, o futuro
do por Adolf Hitler, ele não esta- mânica. Foi Stauf quem radicalizou o con- Führer visitou o autor para comprar alguns nú-
va sozinho na concepção das ideias ceito de raça superior, levando-o ao extremo. meros atrasados da Ostara. Não à toa, empre-
do movimento. Na verdade, o futuro Führer Para entrar na ordem, por exemplo, o candi- gou criteriosamente as recomendações do ex-
amalgamou uma série de conceitos, cuja fusão dato tinha de demonstrar sua pureza racial, monge nos campos de concentração nazistas.
resultou no nazismo. São teses, crenças e ten- isto é, deveria possuir sangue germânico até
dências criadas por diferentes teóricos e que a terceira geração, sem nenhuma mistura ra- KARL HAUSHOFER
acabaram se tornando muito populares na cial. Além disso, o aspirante tinha de deixar Depois da Primeira Guerra Mundial, em
Alemanha depois da Primeira Guerra. que medissem seu ângulo facial, para asse- que serviu como um dos mais jovens generais
Os pensadores que criaram essas teorias gurar que sua estrutura craniana era ariana. do exército alemão, Karl Haushofer (1869 –
são, portanto, coautores do ideal que veio a Depois de aprovado, passava por uma verda- 1945) tornou-se diretor do Instituto de Geo-
dominar a nação alemã (e a Áustria, depois da deira lavagem cerebral. Hitler buscou fazer a política, onde desenvolveu uma tese que viria a
sua anexação) sob Adolf Hitler. Eles eram an- mesma coisa através do nazismo. As Escolas ser nevrálgica na política expansionista nazis-
teriores ao líder nazista e à sua teoria de mun- Adolf Hitler, a rede de ensino instituída em ta. Haushofer afirmava que o espaço geográfi-
do. Foram eles, portanto, que inspiraram o toda a Alemanha após a ascensão do Führer, co tem influência decisiva sobre os Estados e
ditador, fornecendo a base teórica necessária onde as crianças, o futuro do Terceiro Reich, suas políticas. Em outras palavras, a geogra-
à configuração do ideal nazista. Visionários, eram educadas, funcionavam como verdadei- fia determina a sociedade. Óbvio como pare-
ressentidos, místicos, frustrados, esses pen- ras máquinas de “fazer a cabeça”. ce, esse conceito foi usado, porém, para defen-
sadores conseguiram encontrar voz para suas der a ideia de que o Estado e o povo alemão
crenças – por mais absurdas que pudessem ser JÖRG LANZ VON LIEBENFELS haviam atingido um grau evolutivo superior às
– num líder fanático e obcecado que conduzi- Provavelmente, Jörg Lanz von Liebenfels outras nações e etnias e, por isso, precisavam
ria inexoravelmente seu país adotivo à ruína. foi uma das personalidades que mais influen- ampliar suas fronteiras para poder se desen-
ciaram Hitler. Ele pertencera a uma ordem volver de acordo com seu potencial.
GUIDO VON LIST monástica cristã, mas havia sido expulso por Haushofer foi conselheiro dos nazistas até
A figura do austríaco Guido von List conta dos seus “pensamentos impuros”. Lie- 1938 e influenciou pessoalmente Hitler a ado-
(1848 – 1919) corresponde incrivelmente ao benfels fundou, então, sua própria sociedade tar uma política de expansão territorial como
seu caráter: excêntrico como sua longa barba iniciática, a Ordem do Novo Templo, e elabo- algo intrinsecamente ligado à sobrevivência da
e misterioso como os boatos que o envolviam. rou a revista Ostara, através da qual divulgava Alemanha. Mas não era só como militar e ge-
Fanático pela ascensão germânica, estava cer- sua doutrina. ógrafo que Haushofer se destacava. Ele afir-
to da superioridade ariana sobre os outros po- Hitler era um entusiasmado leitor da Os- mava ter estudado zen budismo e sustentava
vos. Aos 14 anos, jurou que iria construir um tara quando vivia em Viena. A revista era car- ter contato com sociedades secretas tibetanas
templo a Odin (ou Wotan), o deus nórdico da regada de antissemitismo e de ideias sobre a que possuíam o segredo do “super-homem” –
guerra, da sabedoria e, paradoxalmente, da superioridade germânica. Liebenfels publica- uma ideia que acabou se tornando central no
poesia, em Viena. Acabou cumprindo a pro- va no periódico ideias como a de que Cristo nazismo. Haushofer era, também, membro de
messa, erguendo, realmente, uma estátua de fora um iniciado ariano que havia se posicio- uma sociedade secreta japonesa, a Ordem do
Odin naquela cidade. List acreditava – pior nado contra as forças obscuras representadas Dragão Verde.
que isso, divulgava – que havia uma primei- pelos sacerdotes judeus. Para o ex-monge, os Ele foi apresentado a Hitler por Rudolf
ra raça, os “armanos”, da qual os povos germâ- judeus eram uma raça demoníaca que preten- Hess – um dos mais ortodoxos seguidores do
nicos descendiam, extremamente inteligente dia destruir a pureza racial do ariano pelos misticismo nazista –, e logo se tornou mentor
e desenvolvida, cujas capacidades intelectuais mais diversos meios – até a caridade. O autor do futuro ditador, chegando a ensinar ocultis-
eram mais aguçadas que as dos outros povos. bradava que esse movimento deveria ser im- mo a Hitler e a secretariá-lo quando estava es-
Ele pode ser considerado um dos primei- pedido. A forma de conseguir isso, segundo a crevendo Minha Luta. De acordo com Pablo
ros pensadores da corrente místico-racista. Ostara, era esterilizando os judeus e fazendo- Jiménez Cores, autor de A Estratégia de Hi-
Seu pensamento se alastrou através de Phillip os trabalhar até a morte – literalmente. tler (Madras Editora, tradução de Silvia Mas-
Tentativa de dominar o
Oficiais nazistas
marcham e soldados
alemães observam
atentamente
tworks
Discovery Ne
Divulgação/
Como o líder nazista começou um dos mais sangrentos conflitos da história, a Segunda
Guerra Mundial, e viu seus planos e seu império serem destruídos
união de forças inimigas poderia dar aos ale- guerra civil que destroçara o país (guerra na
mães a dificuldade que seus desejos queriam Em 14 de junho, qual armamentos alemães e italianos foram
evitar. Assim, em 1940, um a um, os países testados ao lado das forças franquistas), consi-
europeus foram se rendendo a Hitler e à força
os alemães entraram derou inoportuna uma participação espanho-
de seus Panzer (tanques blindados alemães) em Paris e, no dia la e “declinou” o convite de Hitler.
mediante à guerra-relâmpago (os estrategistas Winston Churchill, primeiro-ministro
alemães chamaram-na de Blitzkrieg). Em 22, foi assinado inglês nomeado em maio de 1940 e que pro-
abril, Dinamarca e Noruega; em maio, Bélgi- meteu ao povo “sangue, cansaço, suor e lágri-
ca, Holanda e França. Em junho, quase toda a o armistício mas”, viu-se isolado e em inferioridade mili-
Europa estava sob domínio nazista: em 14 de tar. A frente de batalha em terra, que avan-
junho, os alemães entravam em Paris e, no dia com a França. Para çou para conter as forças nazistas em conjunto
22, era assinado o armistício com a França. com as francesas, foi rapidamente repelida e
Para mostrar que era de fato a vingança con- mostrar que era de só se salvou pela retirada de Dunquerque, o
tra a derrota na Primeira Guerra, Hitler fez
que o armistício fosse assinado no mesmo va-
fato a vingança da que evitou o massacre e a perda de conside-
ráveis contingentes humano e bélico ingleses.
gão de trem em que, em 1918, foram ditadas derrota na Primeira Um ano depois de iniciada a guerra, as for-
aos alemães as cláusulas da rendição. Pouco ças antagônicas resumiam-se ao novo impé-
mais de 20 anos depois do fim do horror da Guerra, Hitler fez rio alemão, que havia tomado quase todo o
Primeira Guerra Mundial, um outro muito continente europeu, contra a pequena ilha
maior atingiu o mundo, pois veio como uma que o documento britânica ao norte do continente. Recua-
tentativa ideológica de dominação por parte do em seu território, Churchill poderia fa-
de uma raça considerada superior. fosse assinado no cilmente chegar a um acordo de paz com
Com essas resoluções, a Grã-Bretanha
permaneceu praticamente sozinha na luta
mesmo vagão de Hitler, o que foi proposto, pois o líder alemão
queria formar uma frente contra a União So-
contra os nazistas na Europa. A Itália entra- trem em que, em viética, mas o ímpeto foi exclusivamente o de
ra na guerra em 10 de junho de 1940; Por- resistir, incitando o povo ao esforço de guer-
tugal e Espanha, governados por líderes fas- 1918, foram ditadas ra e ao sacrifício. Ciente de uma derrota caso
cistas (Salazar e Franco), permaneceram neu- tentasse um ataque aos nazistas por terra,
tros. Hitler até que tentou negociar a presença aos alemães as Churchill condensou seus esforços de guerra
espanhola ao lado das forças alemãs, mas o ge- em desenvolver uma força aérea considerável
neral Francisco Franco, após três anos de uma cláusulas da rendição e manter o poderio naval que, historicamen-
Guerra em casa
Diferentemente do que aconteceu durante a Primeira Guerra Mun- preso em campos de prisioneiros mesmo depois do fim da guerra, mui-
dial, a partir de 1943, os principais centros da Alemanha se tornaram to dos quais morreram na Sibéria sem nunca voltar em casa. Os últimos
palcos do conflito. As consequências foram terríveis. Em quase todas sobreviventes da Batalha de Stalingrado só retornaram em 1955, dez
as cidades, cerca de metade das casas estava completamente destruída. anos após o fim do conflito e 12 depois de terem sido mandados para
Milhões de alemães tinham se tornado refugiados. A grande maioria campos de prisioneiros na Sibéria.
padecia de fome e não tinha roupas. Doenças e epidemias grassavam Embora Hitler tenha admitido, em 1944, que a Alemanha havia per-
por todo o país. Não havia dinheiro, e a população, extremamente dido a guerra, ele não permitiu que suas tropas batessem em retirada.
empobrecida, apelou para o escambo. Em troca de umas poucas bata- O ditador também ordenou que o Holocausto prosseguisse. Além dis-
tas ou de um maço de cigarros, podia-se conseguir um piano de cau- so, em sua insanidade, mandou que toda infraestrutura industrial fosse
da ou qualquer tesouro familiar que tivesse sobrevivido às agruras de destruída antes de cair nas mãos dos Aliados. Fiel à ideologia nazista, a
seus donos. Os cães e gatos desapareceram da paisagem alemã, devo- qual pregava que os povos que não conseguem defender seu território
rados pela população faminta. O quadro tenebroso era agravado pelo não têm o direito de existir, o Führer afirmava que, ao perder a guerra, a
luto por causa dos parentes mortos ou pela falta de notícias dos entes Alemanha perdera também o direito de sobreviver. O país inteiro deve-
queridos. No total, entre civis e militares, seis milhões e meio de ale- ria sucumbir com ele. Por isso, ordenou a seu ministro de armamento,
mães morreram durante o conflito. Albert Speer, executar esse plano. Felizmente, para as futuras gerações
No leste europeu, um grande número de soldados nazistas continuou de alemães, Speer desobedeceu Hitler.
A polêmica
MORTE Como o suicídio de Adolf Hitler tornou-se tema de discussões e desconfianças
A
morte do líder nazista ainda duas fases – a primeira em 1936, apenas Em 20 de abril de 1945, Hitler com-
hoje causa polêmica. Diversas três anos depois de Hitler ter chegado ao pletou 56 anos. Naquele mesmo dia, de-
versões surgiram a cada nova poder, e a segunda em 1943, quando já se pois de ser cumprimentado por todos
possibilidade – suicídio, enve- sabia que a Alemanha perderia a Guerra aqueles que permaneciam no bunker da
nenamento – e houve mesmo quem disses- – pela construtora Hochtief, uma multi- Chancelaria, para onde haviam ido de-
se que o Führer fugira de Berlim e que sua nacional que atua também no Brasil. Era pois que Berlim passou a ser atacada, ele
morte fora criada para enganar os Aliados. parte de um grande programa de constru- se reuniu com seus principais homens –
Mas fato é que, hoje, tem-se certeza da ções subterrâneas iniciado em 1940 em Martin Boorman, Goebbels, Himmler,
morte dele, mais precisamente de seu sui- Berlim. A ideia era proteger a capital ale- Göring, Speer e Ribbentrop – para de-
cídio, no dia 30 de abril de 1945. mã dos inevitáveis bombardeios. liberar sobre os andamentos da guerra.
O Führerbunker, literalmente “abrigo Os aposentos de Hitler ficavam na se- Conscientes da derrota, propuseram ao
do líder”, era um complexo subterrâneo ção mais nova – e mais profunda –, de- Führer que deixasse a cidade e fosse para
de apartamentos, escritórios e outras ins- corados com móveis raros e pinturas a outro refúgio mais seguro, o de Berchtes-
talações localizado em Berlim. Na verda- óleo. O ditador se mudou definitivamen- gaden. Hitler teria se recusado a deixar a
de, tratava-se de dois bunkers conectados, te para lá em janeiro de 1945, quando os capital. Entre todos ali, apenas ele manti-
construídos em níveis diferentes, a uma Aliados pressionavam na frente ocidental nha a ideia de ainda vencer a guerra.
profundidade de 8,2 metros debaixo dos e os soviéticos, na oriental. Desde então, A morte do presidente Roosevelt soou-
jardins da Chancelaria do Reich. O com- o Führerbunker se tornou seu quartel- lhe como um sinal de esperança. Depois
plexo era protegido por cerca de quatro general, de onde governou um Terceiro disso, acreditou que dois exércitos alemães
metros de concreto e tinha algo em tor- Reich que se desmoronava rápida e ine- pudessem libertar Berlim e isso significa-
no de 30 quartos distribuídos por dois ní- vitavelmente. Foi no Führerbunker que ria à guerra o que tinha sido a batalha de
veis, com acesso aos prédios principais da Adolf Hitler e sua esposa, Eva Braun, co- Stalingrado para os russos – o ponto de
Chancelaria e uma saída de emergência meteram suicídio, quando os soviéticos virada. Mas suas ordens para os tais dois
para o jardim. O bunker foi erguido em romperam as defesas de Berlim. exércitos nunca foram cumpridas, pois eles
Prisioneiros de
Auschwitz, Polônia
CAMPOS DO HORR
28 Grandes Líderes da História
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc e Lucas Pires
N
ada é mais errôneo do que
acreditar que o preconceito
ROR
e era levado a sério pela população. Assim,
quando o nazismo iniciou sua política de
perseguição e, posteriormente, de elimi-
nação, já havia enraizado na mentalidade
popular um sentimento de repulsa aos ju-
deus. Em outras palavras, havia uma pre-
disposição a aceitar a perseguição, acentu-
Os alemães
ordenaram a
construção de
fábricas e oficinas
onde os judeus
foram obrigados
a trabalhar em
troca de ração
de 200 calorias
por dia. Para viver,
um ser humano
necessita de 2.400
calorias diárias.
Calcula-se que, com
uma dieta dessas,
uma pessoa consiga
viver no máximo
oito meses. Mas
houve quem
sobrevivesse
durante toda
a guerra
ada pela debilidade econômica e moral tre judeus e arianos, boicotes econômi- 1938, com a “Noite dos Cristais”, quando
pela qual passava a população. cos, prisões e espancamentos. Exemplos mais de 7,5 mil lojas e quase 200 sinagogas
de ações nessa direção: demissão de fun- foram pilhadas e incendiadas, 300 judeus
TRÊS ESTÁGIOS DA cionários públicos judeus em 7 de abril foram assassinados e outros 30 mil, leva-
PERSEGUIÇÃO de 1933; programa de confisco de bens dos a campos de concentração. Durou até
A partir de 1933, todo um aparato pertencentes a judeus em 1934; médicos 1941, com a decisão pela “Solução Final”.
institucional de violência e terror tomou judeus proibidos de exercer sua profissão Nesse período, aumentaram as prisões e
conta da Alemanha. O pensamento an- em hospitais públicos a partir de março os judeus dos países invadidos eram envia-
tissemita no período do III Reich pode de 1936 e o expurgo de toda arte e lite- dos para os campos de trabalho forçado e
ser dividido em três estágios de crescente ratura não alemãs, que culminou com a de concentração. Um programa de eutaná-
recrudescimento da violência. Num pri- queima de livros proibidos pelo regime sia, conhecido como “Aktion 4”, foi implan-
meiro momento, que vai de 1933 a 1938, na Praça da Ópera de Berlim. O resul- tado para matar doentes mentais crônicos.
percebeu-se a tentativa de banir os ju- tado dessa primeira ofensiva foi que 150 No final de 1941, cerca de um milhão de
deus de todos os campos sociais – eco- mil judeus deixaram a Alemanha no pe- judeus haviam morrido por diversos moti-
nômico e político essencialmente – atra- ríodo de 1933 a 1938, sendo dois mil de- vos sob domínio nazista.
vés de leis, como as de Nuremberg, que les jornalistas e intelectuais. O terceiro estágio foi marcado pela ra-
impunham a proibição do casamento en- Um segundo estágio teve início em dicalidade da perseguição, que foi exata-
ção Final”. Em dezembro de 1941, Adolf tinham suas cabeças raspadas antes de
Hitler tinha, finalmente, decidido exter- entrar nas câmaras de gás, e os cabelos
minar literalmente os judeus, as minorias eram reciclados e aproveitados em pro-
e os soviéticos da Europa. Em janeiro de dutos como tapetes e meias.
1942, durante a Conferência de Wannsee, Além disso, os nazistas realizaram
vários líderes nazistas discutiram os deta- As autoridades experiências pseudocientíficas com os ju-
lhes da “Solução Final da questão judaica”.
E os massacres em massa começaram na
aliadas deus, usando-os como cobaias. O médico
Josef Mengele, por exemplo, ficou famoso
Europa Oriental. ordenaram que pelo seu sadismo. Ele, que se refugiou no
Os nazistas iniciaram a deportação Brasil depois da guerra, era chamado de
sistemática das populações de judeus, a realidade das “Anjo da Morte” pelos prisioneiros de Aus-
tanto dos guetos, quanto de todos os ter- atrocidades fosse chwitz por causa dos seus experimentos
ritórios ocupados, para os sete campos cruéis e bizarros.
designados como Vernichtungslager, ou documentada
campos de extermínio: Auschwitz, Bel- ACORDAR DO PESADELO
zec, Chelmno, Majdanek, Maly Troste-
no próprio Em 6 de junho de 1944, o Dia D,
nets, Sobibor e Treblinka II. O Holo- local. Tais as forças aliadas invadiram a Norman-
causto foi levado a cabo metodicamen- dia, na França, e iniciaram a libertação
te em, virtualmente, cada centímetro do documentos foram da Europa. Em 24 de junho, as tropas
território ocupado pelos nazistas. Os ju-
deus e outras vítimas foram persegui-
essenciais para russas libertaram o campo de extermí-
nio de Majdanek, na Polônia. No dia 23
dos e assassinados num espaço onde hoje a condenação de agosto, aconteceu a última sessão de
existem 35 nações europeias. asfixia por gás em Auschwitz. Dia 26,
Nos campos de extermínio, os aptos de nazistas no Himmler ordenou a destruição dos cre-
fisicamente eram selecionados para tra-
balhar nas fábricas. Os outros prisionei-
Julgamento de matórios em Auschwitz para esconder
evidências do campo de extermínio.
ros eram mortos ora em furgões de gás, Nuremberg Em 11 de janeiro, as tropas russas li-
ora através de envenenamento por mo- bertaram Varsóvia, onde não encontra-
nóxido de carbono. Depois dos assassi- ram mais judeus – todos tinham sido
natos, as obturações em ouro eram reti- deportados. Entre 17 e 26 de janeiro, os
radas dos cadáveres. Até os cabelos das soviéticos libertaram 80 mil judeus em
vítimas eram aproveitados para uso in- Budapeste. Em seguida, tomaram Aus-
dustrial. As mulheres, principalmente, chwitz, onde havia perto de mil sobre-
A suástica
A suástica evoca inevitavelmente imagens de guerra, caos, destruição, Holocausto, in-
“... o bafo e o tolerância. No entanto, ela foi, durante milhares de anos até Hitler, um símbolo de
boa sorte, conhecido em toda a Europa, a Ásia, e até pelos índios norte-americanos.
fedor nauseabundos, Costumava-se dizer que as pegadas do Buda eram suásticas. Cobertores dos índios
produtos da navajos eram tecidos com suásticas e, pasme, sinagogas no Norte da África e na Pales-
tina foram decoradas com mosaicos de suásticas.
perpétua As mais antigas suásticas conhecidas datam de 2.500 ou 3.000 a.C. na Índia e na
combustão dos Ásia Central. No norte da Europa, ela apareceu no primeiro milênio a.C. O nome
suástica vem da palavra sânscrita svastika , que significa “bem-estar” e “boa fortu-
corpos, invadiram a na”. No entanto, vários autores atribuem a ela diferentes significados: da imagem
região toda, de modo do deus supremo ao símbolo solar; da representação do raio e da água ao símbolo
que os habitantes do fogo; e da união do princípio masculino e feminino. De fato, o significado da
suástica parece variar com o tempo e o lugar, as associações com outros elementos
das comunidades das e os diferentes objetos em que surge representada. Em uma antiga lápide cristã,
redondezas sabiam por exemplo, o símbolo aparece em destaque e com maiores dimensões que o crís-
mon – o monograma de Cristo –, sugerindo uma importância maior. Talvez isso
muito bem que em tenha a ver com o fato de a suástica já ter sido usada como símbolo do coração do
Auschwitz próprio Jesus, o que, neste caso, estaria representando.
Mas como foi que um símbolo de tão bons desígnios tornou-se sinônimo da cega bar-
processavam-se bárie de um regime intransigente? Segundo Steven Heller, diretor de arte do The
extermínios (...) New York Times Book Review e autor de The Swastika: Symbol Beyond Redemption
Esperávamos (A Suástica: Símbolo além da Redenção) tudo começou em 1914, quando o Wander-
vogel, um movimento juvenil alemão, a transformou em seu emblema nacionalista.
habitualmente meia Em 1920, o Partido Nazista a adotou. Em Minha Luta, Hitler descreveu seu “esforço
hora antes de reabrir para encontrar o símbolo perfeito para o partido”, foi quando teve a ideia de usar as
suásticas. Mas foi o dentista Friedrich Krohn quem desenhou a bandeira com a suás-
as portas para retirar tica no centro. “A maior contribuição de Hitler”, pensa Heller, “foi inverter a direção da
os cadáveres”, suástica” para que ela parecesse girar no sentido horário. Isso levou muitos a afirma-
rem que Adolf era um “feiticeiro negro”, uma vez que estes costumam usar símbolos
Rudolf Hess
religiosos invertidos em suas práticas mágicas. Em 1946, a exibição pública da suásti-
ca nazista foi proibida constitucionalmente na Alemanha.
AFP
Crianças
sobreviventes
de Auschwitz
mostram suas
tatuagens
O LEGADO
A matança generalizada contra os ju-
O resultado da pelos soviéticos em um estado tal de mi-
séria que, dificilmente, diria-se que eram
deus nos campos de extermínio foi consi- primeira ofensiva seres humanos. Até maio, quando desco-
derada segredo de Estado pelo regime na- briram o campo de Mauthausen, prisionei-
zista, que não queria que tais informações foi que 150 mil ros de outros cinco campos haviam sido li-
vazassem para o mundo, pois isso só acar- judeus deixaram bertados. As autoridades aliadas ordena-
retaria um recrudescimento no combate ram que a realidade das atrocidades fosse
aos alemães. Mas, conforme os exércitos a Alemanha no documentada no próprio local. Tais docu-
russos iam libertando os países invadidos mentos foram essenciais para a condenação
e ocupados, deparavam com a realidade da
período de 1933 a de nazistas no Julgamento de Nuremberg.
crueldade destinada aos judeus. Os qua- 1938, sendo dois mil O resultado final da guerra para os ju-
se oito mil sobreviventes presos em Aus- deus chegou à casa dos seis milhões de mor-
chwitz só encontraram a liberdade em ja- deles jornalistas tos. Livres das garras nazistas, não tinham
neiro de 1945, quando foram libertados e intelectuais para onde ir e nem em quem se apoiar. O
O Levante de Treblinka
Enquanto o impensável aconte- para os comandantes, a adminis- to para as câmaras de gás. Nesse tros prisioneiros judeus retiravam
cia nos campos de extermínio, os tração, as marcenarias e um espa- momento, os guardas incentiva- das câmaras de gás. Nessa tortura
partizans judeus começaram a se ço para os prisioneiros recém-che- vam as pessoas a escreverem para psicológica, muitas vezes, reconhe-
organizar e a oferecer resistência. gados e seus pertences. A outra seus familiares. A correspondência ciam entre os pertences, ou entre
Em 18 de janeiro de 1943, du- área era o setor de exterminação seria posteriormente enviada, re- os corpos, parentes, filhos, amigos
rante quatro dias, a Organização propriamente dito, com câmaras afirmando ao mundo a impressão e vizinhos.
de Resistência Judaica combateu de gás, covas abertas e cremató- de que a transferência judaica não O campo de extermínio come-
os alemães em escaramuças nas rios, além de barracões para os passava de um reassentamento. çou a operar com três câmaras de
ruas do gueto de Varsóvia. prisioneiros. Cercas separavam os Treblinka era uma verdadeira “li- gás, chegando em pouco tempo a
Em 19 de abril, começava o dois setores, e o campo era pro- nha de produção” da morte, efi- seis. De julho de 1942 a abril de
levante do gueto de Varsóvia. tegido por duas cercas de arame ciente, rápida, sem falhas. Aos que 1943, aproximadamente 870 mil
Nos campos de extermínio, farpado. Algo em torno de cinco a sobreviviam às seleções para as pessoas morreram no local. Com
também houve levantes. sete mil pessoas chegavam a cada câmaras de gás, era imposta uma a aproximação das forças aliadas,
Treblinka II foi projetado para comboio, em vagões lacrados, su- rotina desumana de trabalhos for- no outono de 1943, os alemães
ser um campo de extermínio. perlotados, sem água, alimento ou çados. Os trabalhadores de Tre- começaram a evacuar o campo.
Localizado a quase 2 km de qualquer tipo de atendimento às blinka II eram alemães e ucrania- Berlim deu ordens para que Tre-
Treblinka I, o anexo foi cons- necessidades básicas. No desem- nos, havendo entre eles, também, blinka, assim como outros locais,
truído por empresas alemãs que barque, deparavam-se com a estrela prisioneiros judeus. Enquanto os fosse totalmente destruído. Os
usavam, como mão-de-obra a de Davi e ouviam um discurso de dois primeiros grupos eram res- nazistas não queriam deixar pro-
custo zero, prisioneiros polo- um oficial da SS explicando-lhes ponsáveis pela vigilância, pela bru- vas da existência ou das atividades
neses e judeus. Inaugurado em que haviam chegado a um campo tal disciplina e pela operação das do local. A desativação foi sendo
23 de julho de 1942, Treblinka de trânsito. Em seguida, as mu- câmaras de gás, os judeus realiza- percebida pelos prisioneiros ju-
II abrigou a máquina assassina lheres e as crianças eram separa- vam as tarefas mais pesadas. Entre deus, à medida que o número de
que exterminou os 265 mil ju- das dos homens; os doentes eram elas, estava a de separar as roupas transportes diários diminuía e
deus da capital polonesa. também separados, e os mortos, e os objetos de valor dos mortos. aumentava o volume das crema-
O campo era dividido em duas jogados em local afastado. Come- Eles também eram obrigados a jo- ções dos corpos jogados nas valas.
áreas. Uma delas incluía a pla- çava, então, o humilhante ritual de gar nos fornos crematórios, ou em As covas coletivas eram fechadas
taforma dos trens, as moradias raspar o cabelo e o encaminhamen- valas abertas, os cadáveres que ou- como se jamais tivessem existido.
Foi nesse contexto que o levan- participou do movimento. Mesmo blinka, eclodiu o levante. O sinal rombadas pelos revoltosos, que
te começou a ser planejado. O tendo operado Farfi, o médico foi foi dado quando o prisioneiro distribuíram os armamentos aos
objetivo era permitir a fuga do mandado às câmaras de gás logo judeu Josef Gross lançou uma companheiros. Centenas de pes-
maior número possível de prisio- depois da cirurgia. granada sobre os guardas de uma soas tentaram destruir a cerca
neiros, além de tentar destruir as Em 2 de agosto de 1943, às das torres de vigilância. Simul- e fugir, mas a maioria foi morta
instalações mortíferas e eliminar 15h35, começou o levante em taneamente à explosão, Gross pelos guardas, que começaram a
tantos guardas quanto fosse pos- Treblinka. A data coincidia com atirou num oficial da SS, o vice- atirar para todos os lados, e pe-
sível. Os idealizadores da revolta a chegada do trem que traria -comandante do campo Kurt los cães que dilaceravam
apostaram que, quando o levante quatro mil judeus. O plano foi Hubert Franz, que escapou e or- os fugitivos.
eclodisse, centenas de judeus se colocado em prática na noite an- denou ao seu cão que atacasse o Às 15h46, o levante terminou.
uniriam ao movimento e luta- terior, quando Eliahu Grinsbach prisioneiro. O esquálido Gross Durou apenas 11 minutos e dei-
riam contra seus carrascos. Os roubou do depósito três pistolas foi estraçalhado. Antes mesmo xou um saldo de 1.100 judeus
preparativos incluíam a obtenção e dez granadas. Eram poucas ar- que Franz pudesse perceber o mortos. Entre os membros da SS
de algumas armas – inicialmente, mas para enfrentar os nazistas, que estava acontecendo e dar o e os guardas ucranianos, houve
subornando guardas ucranianos mas, se um número maior desa- alarme para os guardas ucrania- 117 vítimas. Somente 180 pri-
e, posteriormente, roubando-as. parecesse do depósito, poderia nos, os judeus começaram a ati- sioneiros conseguiram fugir, mas
Para isso, os prisioneiros conse- chamar a atenção dos guardas. rar e incendiaram algumas cons- foram impiedosamente caçados
guiram as chaves do depósito de Foi combinado, então, que, assim truções. A desproporção entre as pelos nazistas e brutalmente as-
munições. Em julho de 1943, o que a ação começasse, um grupo partes era gritante – de um lado, sassinados quando encontrados.
comandante de trabalho do cam- de rebelados conseguiria mais ar- homens pobremente armados, Dezoito, porém, foram resgata-
po, Carl Gustav Farfi, precisou mamentos. Os responsáveis pela subnutridos e psicologicamente dos por um grupo da resistên-
de uma cirurgia que acabou sen- revolta dividiram-se em grupos, abalados, e, do outro, soldados do cia judaica que havia sobrevivido
do feita pelo médico judeu Julian cada um encarregado de uma Terceiro Reich, bem-alimentados, à revolta do gueto de Varsóvia
Choransky. Durante a cirurgia, a missão específica. Todos tenta- treinados e armados. O portão e que se escondera na floresta.
chave do depósito de munições do riam envolver o maior número principal foi derrubado por uma Esses sobreviventes acabaram
campo foi roubada e copiada. Mas, de judeus na luta. explosão. Outras atingiram as sendo a memória viva dos fatos
apesar de ter sido uma figura- No dia seguinte, com a chegada torres de observação. As portas ocorridos no dia 2 de agosto de
-chave no levante, Choransky não do trem à plataforma de Tre- do depósito de armas foram ar- 1943 em Treblinka II.
As raízes do Efeminado,
esquizofrênico, paranoico
MAL
e portador de sífilis, Mal
de Parkinson e Síndrome
de Asperger. São muitas
as hipóteses sobre os
traços da personalidade
e da saúde do líder do
Terceiro Reich
36 Grandes Líderes da História
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas Por Claudio Blanc
U
m raro documento, uma análise ocidental, para morrer arrastando para o abis-
psicológica de Adolf Hitler que mo junto consigo toda a Europa”. O psicólo-
antecipou, entre outras coisas, go especulou que o Führer poderia pedir que
seu suicídio, foi disponibilizada um dos seus assessores o executasse ou que
recentemente para o público. O estudo, inti- Dois anos antes iria se retirar para o bunker e se suicidar – o
tulado Análise da Personalidade de Adolf Hi- que de fato aconteceu. Em seu relatório, Mur-
tler com Previsões sobre seu Comportamento do suicídio do ray também afirma que o povo alemão era tão
Futuro e sugestões sobre como Lidar com ele culpado pelos horrores da Segunda Guerra e
após a Rendição da Alemanha, foi elaborado ditador, Murray pelas execuções em massa quanto seu líder.
por Henry Murray, um psicólogo norte-ame- “Esse semideus satisfazia quase que comple-
ricano que, antes da Segunda Guerra, foi dire- concluiu que tamente as necessidades, os desejos e os sen-
tor da Clínica Psicológica da Universidade de timentos da maioria dos alemães”, escreveu.
Harvard e, durante o conflito, serviu no Es-
“nele há grande
critório de Serviços Estratégicos dos Estados
Unidos, que foi um precursor da CIA, e Mur-
compulsão O EXEMPLO DO PAI
Durante a infância, Hitler era um garoto
ray, um dos primeiros a trabalhar nele. de sacrificar romântico que nutria “profunda admiração e
Em busca de prever o comportamento do inveja pelo pai, de quem buscava imitar o po-
Führer, em 1943, Murray ficou encarregado a si e a toda a der masculino, ao mesmo tempo em que de-
de ajudar as forças aliadas a entender a psico- senvolveu um desprezo pela submissão e fra-
logia de Adolf Hitler. O psicólogo, que ficou Alemanha para queza da mãe”, relata o psicólogo. “Dessa for-
famoso em sua área profissional por desenvol-
ver uma técnica de análise de personalidade, vingativamente ma, tanto o pai como a mãe são ambivalentes
para ele: seu pai era odiado e respeitado, e a
escreveu que o ditador nazista tinha um tipo mãe era adorada e depreciada. As ações extre-
de personalidade estimulada por insultos con-
aniquilar toda a mas de Hitler foram todas feitas no sentido
tra ele, fossem reais ou imaginados. De acor- cultura ocidental, de imitar o pai, não a mãe”, sentencia Murray.
do com Murray, o Führer guardava rancor e O pai do futuro Führer, Alois, era filho
tinha baixíssima tolerância a críticas, além de para morrer bastardo de Maria Schicklgruber. Embora
exigir atenção de maneira excessiva e de ter fosse casada com o homem que criou Alois,
tendência de diminuir, intimidar e culpar os arrastando para Anna nunca “deixava passar um rapaz boni-
outros. Pior: não descansava até conseguir se to”, conforme ela mesma teria dito. Alois era
vingar de quem o ofendera – real ou supos- o abismo junto um homem de muita energia e, como funcio-
tamente. Por outro lado, além de grande for- nário da alfândega, alcançou o posto máximo
ça de vontade e de autoconfiança, o criador
consigo toda para seu nível de educação.
do nazismo possuía uma persistência incrível
diante da derrota. No entanto, Adolf Hitler
a Europa” Aos 47 anos, casou-se pela terceira vez
com Klara Pölzl. A mulher, provavelmen-
não tinha “as qualidades que contrabalancea- te sua sobrinha, já que um dos “candidatos” a
riam esses traços (positivos) e lhe confeririam pai natural de Alois era avô de Klara, tinha 25
uma personalidade equilibrada”, escreveu o anos e ficou grávida antes do casamento. Na
pesquisador norte-americano. verdade, Klara engravidou quando a segun-
O ditador nazista era um narcisista vin-
gativo, maltratado pelo pai dominante e neu-
rótico com relação às mulheres. Na verdade, “Análise da Personalidade de Adolf Hitler com Previsões sobre
sentia-se confortável apenas na presença de seu Comportamento Futuro e Sugestões sobre como Lidar com
dois tipos de mulheres: figuras maternais e
crianças. O Führer sofria igualmente de his-
Ele após a Rendição da Alemanha” – Trecho do relatório
teria, paranoia e esquizofrenia e apresentava Embora ele seja apresentado ao público alemão como homem de grande coragem, seus as-
tendências edipianas. Para Murray, o temor sociados mais próximos têm frequentemente motivos para questionar isso. Isso parece ser
que Adolf Hitler tinha de se contaminar pelas verdadeiro especialmente com relação aos seus Gauleiters (líderes provinciais). Ele parece
mulheres veio de traumas de infância. temer particularmente essas pessoas e, em lugar de confrontá-los, normalmente procura
Baseando-se numa coleção de fontes da descobrir de que lado eles estão antes de encontrá-los. Quando a reunião acontece, propõe
época da Segunda Guerra Mundial, o rela- um plano ou uma ação que irá ao encontro dos sentimentos da maioria.
tório de Murray retrata Hitler como um ga- De acordo com Hohenlohe, ele também recuou frente aos generais do exército quando
roto efeminado, sempre obsequioso com os eles protestaram sobre o rápido desenvolvimento da questão de Danzig e que, antes de
superiores e com claras tendências homosse- Munique, ele decidiu adiar a guerra porque descobriu que a multidão que assistia aos sol-
xuais. Seu senso exagerado de injustiça pesso- dados marcharem sob as janelas da Chancelaria não estava entusiasmada.
al quando sofria humilhações seria a origem Além disso, eles (os alemães) devem se perguntar sobre a necessidade de precauções extre-
de sua crueldade, a qual, para Murray, levou à mas com relação à sua segurança. Quase todas são ocultadas do povo alemão. Quando Hi-
política de extermínio em massa. tler aparece em público, parece ser um homem extremamente corajoso, saudando o povo
Dois anos antes do suicídio do ditador, de pé no banco da frente de seu carro aberto. A multidão não sabe do grande número de
Murray concluiu que “nele há grande com- seguranças que se misturam ao povo, além dos guardas que se alinham nas ruas por onde
pulsão de sacrificar a si e a toda a Alemanha ele passa. Nem sabem das detalhadas precauções que são tomadas na Chancelaria.
para vingativamente aniquilar toda a cultura
misticismo e na vida cultural. Apreciava espe- Hitler na montanha ram destruídas ou simplesmente nunca existi-
cialmente a ópera. Tentou entrar duas vezes ram. Alguns pesquisadores, como Hugh Tre-
na Academia de Artes de Viena, mas foi re- vor-Roper, argumentam que o Führer estava
provado em ambas. Sem educação formal, ex- convencido da missão de exterminar os ju-
periência ou conhecimentos técnicos, sem in- deus. Outros ainda, como Alan Bullock, sus-
clinação para o trabalho e sem dinheiro e con- tentam que o ditador era um ótimo ator, um
tatos, Adolf Hitler decaiu e chegou à beira da manipulador, que respondia ao antissemitis-
mendicância. mo latente na Áustria e na Alemanha para ob-
Quando a Primeira Guerra Mundial se ter dividendos políticos. Nesse sentido, teria
aproximava, ele foi convocado para servir no agido apenas como uma parteira que ajudou
exército austríaco, mas fugiu para a Alema- a nascer o antissemitismo que há muito gesta-
nha, indo viver em Berlim. Quando a Guerra va na sociedade germânica em geral, e alemã,
estourou, o jovem se alistou no exército ale- em particular.
mão como voluntário. Além desses dois fatores, que não preci-
Apesar da falta de estudos e da pobreza sam necessariamente ser isolados, existe uma
em que se viu, o futuro Führer foi um auto- razão prática para a perseguição. Ao se apro-
didata extremamente inteligente. Contraditó- priar dos bens dos judeus perseguidos, os na-
rio, trazia em si todas as fraquezas dos que fo- zistas financiavam a máquina de guerra. Nes-
ram maltratados quando criança e, ao mesmo se sentido, a Solução Final foi apenas uma
tempo, os traços dos pequeno-burgueses cria- desculpa para explorar a riqueza de uma parte
dos com mimo e boa educação. da sociedade alemã excluída por motivos reli-
Com relação ao poder, Adolf Hitler foi es- giosos e raciais.
sencialmente um oportunista. Não apresenta- Sejam quais tenham sido seus motivos,
va uma filosofia política coerente. Seu enfoque hoje, o nome de Hitler desperta tanto curio-
era a conquista do poder. Grande orador, ti- sidade como desprezo. O líder nazista passou
nha uma presença cênica digna dos melhores para a história como uma das personalidades
atores. Manipulador nato, falava aquilo que mais instigantes e cruéis do nosso tempo.
A mente de
Hitler por ele
nação da sífilis, o que levou alguns pesquisa- mesmo: frases
DOENÇAS dores a sugerirem que ele teria contraído a in-
A saúde do ditador é outro tema contro- fecção de uma prostituta, por volta de 1908. “Estou pronto a fazer seis juramentos
verso, usada muitas vezes na tentativa de ex- Isso seria também o motivo pelo qual evitava falsos todos os dias”
plicar seu comportamento bizarro. Alguns ter relacionamentos sexuais.
biógrafos afirmam que o líder do Tercei- Tem-se sugerido que o antissemitismo “As massas são como um animal
ro Reich tinha sífilis; outros veem em certos cego do líder nazista pode ter origem no seu que obedece apenas seus próprios
relatos e depoimentos sintomas do Mal de contágio. Os que sustentam essa tese acre- instintos”
Parkinson e muitos sustentam que o inventor ditam que o Führer teria sido contaminado
do Nazismo sofria de alguma psicopatologia. por uma judia (ou judeu) e, por conta disso, “A docilidade de carneiro do nosso
Nos últimos anos de sua vida, Adolf apre- passou a nutrir ódio por esse povo, desejando povo corresponde ao seu desejo
por inteligência”
sentava tremores e batimento cardíaco irregu- vingar-se em toda a comunidade semita eu-
lar, o que poderia sugerir que tinha os sinto- ropeia. Essa, porém, é uma das teses menos “Somente as massas fanatizadas
mas da fase final da sífilis. Se assim fosse, teria embasadas sobre o motivo do antissemitis- podem ser guiadas”
contraído a doença muitos anos antes. Theo- mo de Hitler. Na verdade, desde a década de
dor Morell, médico pessoal do ditador, teria 1870, por conta do preconceito contra os is- “Uma vez que eu tiver tomado o
diagnosticado a patologia em seu paciente raelitas em toda a Europa, era comum asso- poder, nunca deixarei que ele seja
mais ilustre no início de 1945. Alguns histo- ciar a doença aos judeus. tirado de mim”
riadores confirmam o diagnóstico de Morell
citando as 14 páginas de Minha Luta em que PARKINSON “Vamos testar a força da lei contra
o ditador expõe suas preocupações com a sífi- Os tremores nas mãos e o andar arras- minha baioneta”
lis, chamando-a de “doença de judeus”. É nes- tado de Adolf sugerem, além da sífilis, que o
“A moral ou é estupidez ou decadência”
se ponto que começam as especulações. ditador pode ter padecido do Mal de Parkin-
Na primeira metade do século passado, a son. Os sinais começaram antes da Guerra “A paz eterna só virá quando o último
sífilis era uma doença séria que atingia uma e só pioraram ao longo do conflito. Morell homem matar o penúltimo”
proporção considerável da população da Eu- tratou seu paciente como se sofresse de Pa-
ropa e dos Estados Unidos. Em Minha Luta, rkinson e outro médico, Ernst Schenck, con- “Sou o maior ator da Europa”
Hitler também escreve sobre as tentações da firmou o diagnóstico. No entanto, Morell é
prostituição, relacionando a prática à dissemi- considerado um profissional pouco conven-
AS MULHERES DO
Führer
Como tudo o que cerca a figura de Aldof Hitler, sua sexualidade é
terreno fértil para especulações de todo tipo
N
o campo da sexualidade de Hi- entanto, ela não queria ser sua amante (Hitler ela o chutasse. Renate recusou, mas ele conti-
tler, as versões e teorias compro- já vivia com sua sobrinha), o que desencadeou nuou pedindo, dizendo que era seu escravo e que
batórias caem no subjetivismo de a separação definitiva. A relação sexual en- não merecia estar na mesma sala que ela. Renate
cada intérprete, pois tantas pes- tre eles nada teria de anormal, pelo contrário. não resistiu mais e se pôs a espancá-lo e a chutá-
soas foram ouvidas e falaram coisas díspares que Paula, a irmã de Hitler, diria bem depois, nos -lo, o que teria deixado o chanceler alemão incri-
se torna difícil um consenso. A tese de uma su- anos de 1950, que Mimi fora “talvez a única velmente excitado. Quando o jogo acabou, o di-
posta homossexualidade não se sustenta, mes- mulher que meu irmão um dia amou.” tador beijou a mão de Renate, agradeceu-a pela
mo havendo entre as autoridades nazistas diver- “agradável noite”, soou a campainha e pediu que
sos homossexuais de destaque, como o chefe da GELI RAUBAL: PROVA DA um criado acompanhasse a atriz até a saída.
SA Ernst Röhm. Adolf Hitler, apesar de não ter PERVERSÃO? A tese de que Adolf Hitler teria uma pa-
se casado até o penúltimo dia de sua vida ou tido Por conta de ter trucidado judeus, polone- tologia sexual também está ligada à morte de
filhos, teve relacionamentos com mulheres. ses, soviéticos e certas minorias, como ciganos e Geli Raubal, a bela sobrinha com quem, acre-
No entanto, nem mesmo a vida amorosa testemunhas de Jeová, muitos analistas afirmam dita-se, ele manteve uma relação íntima. Geli
dele conseguiu se afastar da morte. Três mu- que Hitler era um sádico, isto é, obtinha pra- e sua mãe, Angela (meia-irmã de Hitler), fo-
Segundo Renate (que acabou assassinada), uma noite, após jantar com
Hitler na Chancelaria, ele começou a descrever em detalhes os métodos
de tortura da Gestapo. Em seguida, ambos se despiram e o ditador
deitou-se no chão e implorou que ela o chutasse
lheres com que o Führer se envolveu tentaram zer sexual ao provocar sofrimento nos outros. ram morar na casa de Adolf em Munique em
o suicídio, sendo que sua sobrinha Geli Raubal No relatório Uma Análise Psicológica de Adolf 1928. Logo uma admiração mútua cresceu
conseguiu mesmo se matar. As teorias sobre sua Hitler, produzido ainda durante a Guerra, em entre os dois, mas a presença da mãe e a li-
sexualidade, então, passaram a ter três vertentes: 1943, por um time de psicólogos do Escritório gação de parentesco impediam que algo mais
normalidade, perversão e assexualidade. de Serviços Estratégicos, os autores afirmam ca- concreto acontecesse.
A teoria de que nada de errado havia com tegoricamente que o líder nazista era sádico. O Quando Angela deixou Munique, os dois
a sexualidade de Hitler tem respaldo em de- documento descreve que Adolf sentia prazer ao teriam começado um romance. A versão ofi-
poimentos de Mimi Reiter, uma jovem que ti- urinar ou evacuar no rosto de homens ajoelha- cial da morte de Geli fala que ela se matou por-
nha 16 anos quando o conheceu (ele tinha 38). dos diante dele. Outros pesquisadores afirmam que Hitler não a deixou ir a Viena estudar can-
Ela narrou uma história de amor convencio- que o desejo sexual de Hitler pode ser definido to. Atormentada, teria pegado a pistola dele e se
nal, cheia de flertes e romantismo. Eles teriam como sádico-voyeurista, com relação às mulhe- dado um tiro no peito. Essa história ganha con-
se apaixonado e Hitler queria se casar, mas sua res socialmente inferiores, e masoquista com as tornos passionais com a informação de que ela
posição acabou prejudicando o relacionamen- mulheres por quem nutria admiração. tinha um professor em Viena por quem se apai-
to, quando ele recebeu ameaças de expor à im- O testemunho da atriz Renate Müller xonara e com quem queria se casar. Hitler, mor-
prensa o caso do político com uma menor de (1906 – 1937) respalda essa definição. Segun- to de ciúmes, teria negado o pedido da sobrinha,
idade. Adolf Hitler, então, teria deixado de do Renate (que acabou assassinada), uma noite, desencadeando o suicídio.
lado Mimi, que, desesperada, tentou o suicídio. após jantar com o Führer na Chancelaria, ele co- A perversão entra em cena em outra ver-
Anos depois, ela já estava casada, mas meçou a descrever em detalhes os métodos de são da morte de Geli, na qual ela teria se ma-
prestes a se divorciar, e eles teriam se reencon- tortura da Gestapo. Em seguida, ambos se des- tado por não suportar mais as perversões se-
trado e, enfim, consumado o amor carnal. No piram, Hitler deitou-se no chão e implorou que xuais a que se submetia para que Adolf se
Renate Müller
Partido Nazista. Eva era 23 anos mais jo-
vem que o Führer. Em seus diários, ela re-
clama da desatenção do amante. Frustrada,
tentou se suicidar duas vezes. Na primeira,
em 1932, quando tinha 20 anos, deu-se um
tiro no pescoço. Três anos depois, tentou
se matar com uma overdose de pílulas para
dormir. Se não conseguiu dar cabo da pró-
pria vida, ao menos passou a receber mais
atenção do Führer. Mesmo assim, isso não
veio na forma de calor humano, mas de bens
e dinheiro. Hitler deu a ela uma casa em
Wasserburgerstrasse, subúrbio de Muni-
que. O dinheiro que recebia do amante ga-
rantia a ela luxos como ter uma Mercedes e
um motorista a seu dispor. Alguns historia-
dores especulam que a atenção do ditador
depois da tentativa de suicídio de Eva e das
mortes de Geli e de Renate tinha, simples-
mente, a intenção de evitar mais escândalos.
Apesar da aparente proximidade, Eva nun-
ca podia ficar na presença do amante quando
outros dignitários do Terceiro Reich estavam
com ele. Além de só terem se casado às véspe-
ras do suicídio de ambos, Hitler e Eva nunca
apareciam juntos em público. Ao que parece, o
Führer temia perder popularidade entre as ale-
mãs. Na verdade, o povo alemão só ficou saben-
do do relacionamento dos dois depois da Guer-
ra. De acordo com Albert Speer, ministro de
satisfizesse. Segundo testemunhas e uma su- ela contasse sobre suas perversões – surgiram, armamentos do Reich, o casal nunca dormia no
posta carta do ditador a ela, Geli teria confi- mas o caso foi encerrado como suicídio. mesmo quarto. “Hitler considerava Eva Braun
denciado que o tio a obrigava a práticas de un- Sobre a perversão sexual do Führer, há socialmente aceitável apenas dentro de limites
dinismo (desejo de que lhe urinem em cima indícios de sua tendência também em Mu- rígidos”, escreveu Speer em suas memórias. “Às
para obter prazer sexual) e até de coprofilia nique, onde, nos anos de 1920, comentava-se vezes, eu fazia companhia a ela em seu exílio,
(o mesmo do undinismo, só que com fezes). que ele era uma espécie de pervertido sexual. um quarto ao lado do dele. Eva se sentia tão in-
Otto Strasser, um dos diretores do par- Além disso, um tesoureiro do partido e ex-co- timidada por Hitler que não se atrevia a sair da
tido posteriormente perseguido por Hitler, lega dele, Franz Schwarz, teria confidenciado casa para dar um simples passeio. Por simpa-
teria tido um encontro com Geli, que, aos um caso que resolvera para o chefe. Este so- tia à sua situação nada invejável, logo comecei a
prantos, desabafara. Eis o que Strasser te- fria chantagem de um homem que se apossa- gostar dessa mulher infeliz, a que era tão ligada
ria dito sobre aquele momento: “... disse-me ra de um caderno de desenhos pornográficos ao Führer”, confessou Speer.
que Hitler a amava, mas que não podia mais que Hitler fizera de Geli Raubal. E, segundo
agüentar. E os ciúmes dele não eram a par- Schwarz contou, eram esboços depravados, Geli Raubal
te pior. Ele exigia dela coisas que eram sim- com detalhes das partes íntimas anatômicas
plesmente repulsivas. Quando lhe pedi que da sobrinha.
explicasse isso, contou-me coisas que eu só
conhecia das minhas leituras da Psychopa- SER ASSEXUADO?
thia Sexualis, (Psicopatologia Sexuais) nos A terceira vertente aponta que Adolf Hi-
tempos da faculdade”. tler era assexuado, com paixões idealizadas,
Os jornais oposicionistas adoravam es- mas não consumadas. Para corroborar essa
pecular sobre a natureza da relação de Hitler ideia, há a questão da obsessão dele pela pu-
com Geli e, quando esta apareceu morta em reza racial, que também era a pureza do orga-
seu quarto na casa dele, não deixaram de le- nismo. Adolf Hitler era um vegetariano con-
vantar suspeitas quanto à autoria do crime. victo e nunca ingeria bebidas alcoólicas. As-
Para eles, como para vários outros, era mui- sim, essa abstinência teria atingido também o
to estranho que uma jovem de 23 anos, após campo sexual.
Ilustração: Michael Bráz
A relação Brasil-Alemanha
Divulgação/ Discovery Networks
N
a entrevista a seguir, a pesquisa-
dora e professora da USP, que
há anos desenvolve pesquisa so-
bre o período Vargas no Arqui-
vo do Estado de São Paulo, fala sobre as rela-
ções Brasil-Alemanha e expõe as descobertas
que encontrou nessa documentação.
com a Alemanha, tomava uma postura antisse- tos norte-americano e inglês, com detalhes so- Alemanha, assim como haviam policiais sen-
mita, impedia a entrada de judeus, editava circu- bre quem eram essas pessoas e com fotografias do treinados nos EUA. Percebe-se uma postu-
lares secretas, fechava as portas para os judeus, da família. Há também as listas dos navios que ra dúbia de Vargas perante a opinião pública,
mas tudo isso secretamente. Publicamente, nas vieram entre 1946 e 1947, todos subsidiados mas até o Brasil entrar na guerra era uma pos-
reuniões da Liga das Nações, ele se posicionava pelo governo brasileiro. tura de simpatia pela Alemanha nazista.
como um país que queria ajudar os judeus e que
era contrário aos nazistas. GLH - Como e quando aconteceu a imigra- GLH - Voltando aos judeus, como o Brasil
ção de judeus ao Brasil? recebia a imigração judaica?
GLH - Essa postura ambígua e de fachada MLTC - Judeus vindos para o Brasil há desde a MLTC - Ao contrário do que fez com os ale-
não ficava clara publicamente? ascensão de Hitler, em 1933, e as primeiras perse- mães, o governo brasileiro não deu abrigo nem
MLTC - A ideia que passava era que o Bra- guições antissemitas na Alemanha. Com as Leis apoio aos refugiados judeus. Quem dava suporte
sil estava acompanhando toda a mobilização de Nuremberg, em 1935, quando o antissemitis- a eles era a própria comunidade. Quando chega-
da Grã-Bretanha e da França em prol dos ju- mo foi se transformando em política de Estado, vam, eram recebidos no porto pelas associações
deus refugiados perseguidos. Internamente, a viu-se incursões violentas contra os judeus – pri- judaicas, principalmente no Rio de Janeiro, Re-
imagem que ele passava era a de um Vargas sões, envio deles já para os primeiros campos de cife e São Paulo. Em São Paulo, tiveram o su-
simpatizante da Alemanha e da Itália, mas concentração. A partir daí, percebe-se que o fluxo porte oferecido pela CIP (Congregação Israeli-
que via nesses modelos apenas um paradig- de judeus em direção, não apenas ao Brasil, mas à ta Paulista), onde havia toda uma estrutura pra
ma para alcançar uma imagem de moderni- América, foi cada vez maior. Com o avanço nazis- receber essas famílias. A CIP colocava o pessoal
dade. Só que essa postura causou grande nú- ta ao leste – ocupação da Tchecoslováquia e Po- em pensões, oferecia creche para as crianças, ar-
mero de mortes entre os judeus, pessoas que lônia –, houve como consequência um fluxo mi- rumava trabalho, acertava a documentação, re-
não conseguiram vir e acabaram nos cam- gratório de judeus em direção a oeste. O principal cebia essas pessoas de novo na comunidade e, a
pos de concentração. Sabemos disso através ponto de atração eram os Estados Unidos, pois partir daí, elas recomeçavam. O governo brasilei-
de familiares erradicados aqui que não con- ro, em nenhum momento, deu apoio. Ao contrá-
Divulgação/ Discovery Networks
seguiram trazer seus pais, tios, e que soube- rio, aumentou a repressão e o controle nos portos.
ram depois que eles acabaram em campos de Quando se percebia que um navio trazia refugia-
extermínio. Essa é uma responsabilidade que dos judeus, a ordem era de que a polícia confe-
o Brasil deve responder perante as próprias risse a documentação pra ver exatamente como
vítimas do Holocausto; o País tem essa res- é que esses judeus estavam entrando e com que
ponsabilidade. Outra responsabilidade é pelo tipo de visto. Muitos deles vinham com docu-
fato de ele ter recebido nazistas perseguidos mentos falsos ou, então, como católicos. Assim,
como criminosos de guerra depois de 1945. muitos foram proibidos de desembarcar. Passa-
vam pelo Brasil e a ordem era para que voltassem
GLH - O Brasil, então, acobertou e rece- ao lugar de onde tinham vindo. Há casos de na-
beu alemães depois do final da guerra? vios que chegaram e os judeus foram impedidos
MLTC - No Arquivo Histórico do Itamara- de desembarcar. Aí, iam para a Argentina, que
ty, há documentos importantíssimos para es- também não os aceitava, e dali para outros países.
tudar a entrada de espiões e representantes do Alguns chegavam até Cuba. Houve casos horrí-
III Reich no Brasil nos anos de 1930 e 1940. veis acontecidos entre 1944 e 1945. Num deles, o
Filhos de alemães ou mesmo alemães radicados Brasil levou meses para responder positivamente
no Brasil que foram lutar na Segunda Guer- à aceitação de 500 crianças órfãs judias que esta-
ra Mundial ao lado do exército alemão abriram uma grande população judaica estava concen- vam em perigo na França ocupada. Quando hou-
mão da ideologia nazista, retornaram ao Bra- trada em Nova York. Como havia um proble- ve a resposta, Hitler já havia se suicidado e a guer-
sil a partir de 1946 e ficaram escondidos aqui. ma de cotas de nacionalidade, adotada pelos Es- ra, acabado.
tados Unidos já desde a década de 1920, eles te-
GLH - Eles foram lutar pelo nazismo e, de- riam que ficar aguardando três ou quatro anos. GLH - Mas o Brasil votou a favor de um es-
pois, voltaram ilesos para o Brasil? Por isso, procuraram outros países, como Argen- tado judeu na Palestina em 1948. Isso não
MLTC - Alguns foram lutar e ingressaram tina e Brasil. mostra uma postura positiva?
no exército alemão, outros prestavam ser- MLTC - A presença do Brasil na assembleia
viço na estrutura burocrática do III Reich. GLH - Como lidaram com isso, já que Var- da ONU que ia resolver a partilha da Pales-
Na hora em que estourou a guerra, eles fo- gas e Hitler tinham um regime similar, tina não ocorreu porque o País era favorável
ram para a Alemanha e levaram os filhos, que principalmente a partir de 1937, com a ins- aos judeus. Aconteceu simplesmente porque
eram brasileiros. Ia a família inteira. Quan- talação do Estado Novo? havia uma postura brasileira de seguir o voto
do acabou a guerra, com o perigo de serem MLTC - Justamente a partir de 1937, o Brasil, dos EUA e interessava para esses países que se
rotulados como criminosos de guerra, pedi- nos bastidores, assumiu uma política antisse- resolvesse por um lar judaico. Com isso, a imi-
ram o retorno ao Brasil através da Missão Mi- mita, fechou as portas aos judeus e manteve re- gração, até então direcionada para esses pa-
litar Brasileira, em Berlim e em Hamburgo. lações confidenciais com a Alemanha. O filho íses, estaria voltada para outro lugar. A par-
de Vargas foi estudar na Alemanha e se casou tilha da Palestina atendeu explicitamente aos
GLH - Dos brasileiros que foram para lá, com uma alemã. Houve vários acordos comer- governos antissemitas porque se viram com
há como saber o número aproximado de ciais com aquele país, ao mesmo tempo em que a questão judaica resolvida. Quando saíram
pessoas que voltaram? foram assinados tratados comerciais também meus trabalhos a esse respeito, foi uma reação
MLTC - Não temos um número exato, mas com os EUA. Isso ocorreu de 1935 a 1939, e muito grande da própria comunidade judaica,
existe material suficiente para saber, pois te- nesse tempo, policiais do DEOPS, a polí- que venerava Oswaldo Aranha e se chocou ao
mos as fichas oferecidas pelos serviços secre- cia política, foram treinados pela Gestapo na saber que ele era um ministro que sustentava
a circular secreta contra os judeus.
Hitler, desfilando
em carro aberto,
saúda o povo em
Nuremberg (1938)
UM POÇO DE ABSURDOS
Lendas, boatos e outras histórias duvidosas sobre o fundador do Terceiro Reich
H
itler tinha apenas um testículo, era judeu e homossexu- a sua loucura e a insanidade das suas ações provocam na mente das
al, teve filhos e, depois da Guerra, conseguiu fugir e vi- gerações subsequentes à Guerra acabou gerando os mais fantasio-
rou monge. Hoje, lidera uma frota de discos voadores, sos boatos e rumores .
cuja base subterrânea se localiza na Antártica.
Poucas personalidades modernas deram margem à criação de MISTICISMO NAZISTA
tantos mitos a seu respeito como Adolf Hitler. A curiosidade que Parece incrível pensar que os radicais nazistas se preocupassem
com os mistérios ocultos, mas o fato é que a figura de Hitler, suas Golden Ribbon-Esoteric Hitlerism e Adolf Hitler, the Last Avatar
ideias e intenções acabaram gerando uma corrente ocultista que colo- (A Faixa Dourada – Hitlerismo Esotérico e Adolf Hitler, o Último
cava o Führer numa posição semidivina. O Misticismo Nazista, como Avatar) ele desenvolve as ideias de Devi e as leva a um outro patamar.
a corrente espiritualista acabou sendo conhecida, funcionou durante a Segundo Serrano, Hitler não teria morrido após a Segunda Guer-
guerra e contou com importantes figuras do nazismo em suas fileiras. ra, mas ido para Shambala, um lugar paradisíaco da mitologia tibe-
Mesmo tendo sido proibido em 1945, rendeu frutos também depois tana. Shambala, que já foi localizada no Pólo Norte e no Tibete, seria,
do fim do conflito, ressurgindo com teorias mirabolantes. Uma de- hoje, um centro subterrâneo na Antártica, que conta, inclusive, com
las até mesmo coloca Adolf Hitler como comandante de uma frota de uma cidade de cerca de dois milhões de habitantes, Nova Berlim. Lá,
UFOs tripulada por répteis semi-humanos. o Führer estaria em permanente contato com os deuses hiperbóreos –
As principais influências do Misticismo Nazista, moldado pelas um povo obscuro mencionado na mitologia grega e identificado por al-
autoridades do partido próximas do Führer, eram certas tendências fi- guns como os celtas. Não bastasse isso, Serrano afirma que Adolf Hi-
losóficas que corroboravam o futuro brilhante da Alemanha e da raça tler reaparecerá algum dia comandando uma frota de discos voadores
ariana conforme profetizado por Hitler. As mais proeminentes entre e conduzirá as forças da luz, isto é, os hiperbóreos, contra as forças da
essas ideias são a teozoologia, a ariosofia e o armanismo. escuridão – comandadas, é claro, pelos judeus. A vitória de Hitler de-
terminará a fundação do Quarto Reich e um período de prosperidade
TEOZOOLOGIA para todos... os arianos.
Em 1905, Lanz von Liebenfels surgiu com uma ideia no míni-
mo estranha, mesmo entre as diversas teorias que grassavam na época SOCIEDADES SECRETAS
para confirmar a superioridade da raça branca. A tese de Von Lieben- Importantes membros da cúpula nazista adotaram e divulgaram
fels, publicada num livro pomposamente intitulado Teozoologia ou ativamente as teses pró-arianas, chegando até mesmo a realizar ex-
a História dos Descendentes dos Macacos-Sodom e os Elétrons dos pedições arqueológicas e experiências científicas para comprová-las.
Deuses, afirma que os povos arianos descendem de divindades estela- Muitos desses homens participavam de sociedades secretas que vie-
res que se alimentavam de eletricidade, enquanto as raças “inferiores” ram a ter um impacto direto sobre o nazismo e suas ações. Talvez o
resultam do cruzamento entre macacos e humanos. Para manter a pu- próprio Adolf Hitler fosse membro de alguma delas.
reza dos arianos, Von Liebenfels antecipa Hitler em quase quatro dé-
cadas, defendendo a esterilização dos homens de raça “inferior”. SOCIEDADE VRIL
Há bastante névoa em torno da Sociedade Vril. Muitos dizem que
HITLERISMO ESOTÉRICO a organização não existiu. No entanto, diversos historiadores afirmam
Se as teorias que se amalgamaram para formar o Misticismo Na- não só ter demonstrado a existência da Sociedade Vril, como sua in-
zista – baseado na superioridade da raça ariana “extraterrestre” so- fluência sobre o jovem Hitler. De acordo com o historiador Michael
bre as demais – puderam encontrar respaldo para crescer e aparecer Fitzgerald, o Führer foi membro dessa sociedade, fundada pelo gene-
numa Alemanha derrotada e humilhada, nada justificaria a continui- ral Karl Haushofer, professor e diretor do Instituto de Geopolítica de
dade dessas ideias depois da Segunda Guerra. De fato, não só o uso Munique e estudioso do místico armênio George Gurdjieff. Mais que
dos símbolos nazistas, mas suas ideologias e as teorias que a sustenta- isso, Fitzgerald sustenta que o papel que a Sociedade Vril represen-
vam foram proibidas na Alemanha já em 1945. Mas, por incrível que tou na concepção das ideias de Adolf Hitler foi fundamental.
possa parecer, elas ressurgiram depois com as novas – e delirantes –
roupagens do que veio a se chamar Hitlerismo Esotérico. SOCIEDADE THULE
A primeira grande expoente do Hitlerismo Esotérico depois da A Sociedade Thule contava com diversos dos seus membros no
guerra foi a indiana Savitri Devi. Em seu livro Hitlerian Esotericism partido nazista. Embora o ditador alemão nunca tenha sido um de-
and the Tradition (Hitlerismo Esotérico e a Tradição), ela faz uma les, a Sociedade teve grande ascensão sobre ele. Seu fundador, Rudolf
ponte entre a ideologia ariana de Hitler e a dos indianos que lutavam Glauer, também conhecido como Rudolf Freiherr von Sebottendorf,
pela sua independência. A suástica seria o símbolo de união entre os era um homem misterioso. Voltara à Alemanha em 1915, depois de
hindus (cuja sociedade foi, de fato, fundada pelos arianos) e os ale- uma temporada no Oriente, onde aprendera meditação sufista e as-
mães. Para Devi, Hitler era um avatar, isto é, uma encarnação do deus trologia, com um passaporte turco. Homem rico, nunca ninguém
Vishnu que buscava levar o povo ariano – o que incluía os hindus – de soube a fonte da sua fortuna. Em 1918, fundou a Sociedade Thule.
volta à glória do passado. Foi um membro da Sociedade, o dentista Friedrich Krohn, quem
Mas se as ideias de Devi soam um tanto exageradas, elas foram colaborou com Adolf Hitler na escolha da suástica como símbolo do
superadas de longe pelas do diplomata chileno Miguel Serrano, ou- partido nazista. Outro membro que exerceu forte influência sobre o
tra figura proeminente do Hitlerismo Esotérico. Em seus livros The Führer foi Dietrich Eckart.
ceiro olho”. Segundo especialistas, o tú- Retrato não datado lar nas ilhas britânicas no início do século
mulo coletivo continha vestígios das ati- de Adolf Hitler passado, a Colonel Bogey March. A letra
vidades da Sociedade Ahnenerbe, expe- depreciava o tamanho e a potência da geni-
riências feitas pelos médicos nazistas com tália de diversos líderes nazistas, principal-
membros da raça ariana para tentar pro- mente, claro, da de Hitler.
duzir uma nova raça de super-homens.
As atividades macabras aumenta- XENOFOBIA
ram durante a guerra, especialmente por A xenofobia de Hitler também ge-
conta do material humano disponível nos rou histórias curiosas, algumas até mes-
campos de concentração, principalmente mo divertidas. É o caso da invenção da
Dachau e Auschwitz, onde o médico Jo- Fanta, a popular soda de laranja. Essa
seph Mengele impunha seu reino de ter- lenda urbana dá conta de que, odiando
ror. Em Dachau, Wolfram Sievers criou o tudo que não fosse de origem ariana, o
infame Instituto de Medicina Aeronáuti- Führer proibiu a importação e a venda de
ca, onde foram realizadas experiências de Coca-Cola na Alemanha. Afinal, o re-
uma crueldade difícil de se imaginar. Para frigerante era um símbolo dos Estados
se determinar a tolerância de um ser hu- Unidos, e o Terceiro Reich combatia o
mano com relação à altitude, matava-se capitalismo com unhas e dentes. Temen-
prisioneiros de diferentes pesos e alturas, do que os alemães ficassem desconten-
submetendo-os a lentas e constantes que- tes com a proibição, o ditador ordenou
das de temperatura e colocando-os em câ- que seu ministro da propaganda, Joseph
maras de descompressão. Siever também se especializou em técnicas Göebbels, contratasse uma equipe de especialistas e criasse uma
de reanimação dos infelizes que tinham sobrevivido ao congelamen- bebida para substituir a Coca. O novo refri recebeu o nome de
to nas suas experiências. Normalmente, tinha sucesso com banhos Fanta e era anunciado com o slogan “é uma coisa do Reich”. Fo-
quentes, mas, a pedido de Himmler, o poderoso diretor da Sociedade ram feitos filmes promocionais da Fanta, nos quais judeus estere-
Ahnenerbe, ele testou outras técnicas. Uma delas consistia em fazer otipados eram exibidos bebendo Coca e os arianos, Fanta. Depois
a cobaia humana, à beira da morte por conta de ter sido submetida ao da Guerra, reza a lenda, a Coca comprou a marca.
frio intenso, ser abraçada por duas prisioneiras nuas, na tentativa de
se evitar o congelamento. Outro objetivo da Sociedade era descobrir FILHOS?
uma droga psicotrópica que permitisse aos nazistas controlar a men- A tese de que Hitler deixou descendentes acabou gerando o best-
te humana. Ao que parece, a ideia é “boa” em termos militares, tanto seller Meninos do Brasil, do escritor norte-americano Ira Levin. Em
que o exército norte-americano buscou desenvolver o mesmo conceito seu livro, Levin explora dois ícones do imaginário da Segunda Guer-
para usar como arma e acabou descobrindo, acidentalmente, o LSD. ra: Hitler e Josef Mengele, o médico conhecido como “Anjo da Mor-
te”, por conta das bizarras e cruéis experiências com os prisioneiros
MESTRES DO PÊNDULO SIDERAL de Aushwitz. Dessa vez, Mengele, que fugiu para a América do Sul
Os métodos empregados pela inteligência nazista incluíam prá- – como de fato aconteceu, apesar de Levin e o mundo ignorarem isso
ticas pouco ortodoxas – e repletas de mistérios. Um episódio bem na época em que o livro foi escrito – tentava reproduzir clones do
conhecido da Segunda Guerra foi o dramático resgate de Mussolini Führer. Para se tornarem psicologicamente idênticos ao seu origi-
pelos alemães, quando este foi preso, depois de ser tirado do poder nador, os clones tinham de ter uma vida familiar igual à do ditador.
em 1943. Para descobrir o local da prisão, os nazistas empregaram O mundo testemunharia, então, não apenas um Hitler, mas vários.
um “mestre do pêndulo sideral”, conforme descreve o escritor Peter Rumores, lendas e boatos à parte, uma aura de mistério parece
Levenda em seu livro Unholy Alliance (Aliança Ímpia). Ninguém sa- sempre circundar Adolf Hitler. E o mistério atrai a curiosidade hu-
bia onde o “Duce” estava, mas o tal “mestre do pêndulo sideral” o lo- mana como um imã. Conforme colocou certa vez o semanário ale-
calizou corretamente na ilha de Ponza, próxima de Nápoles. E tudo mão Die Zeit, “o enigma de Hitler está além da compreensão hu-
mana”.
Grandes Líderes da História 47
Distribuição 100%e gratuita
Livros, filmes sites - Clube de Revistas
LIVROS
MINHA LUTA HITLER POR ELE MESMO
Adolf Hitler Martin Claret
Centauro Editora
Considerado um livro-clipping, é uma obra
Este é o livro que mais ódio e paixão gerou que traz textos de diversos especialistas
no mundo desde seu lançamento, na já publicados. É a reprodução de parte de
década de 1920. Paixão dos alemães, que obras, como as biografias de Adolf Hitler
viam em Hitler a figura que os livraria feitas por Joachim Fest e John Tolland. Além
de todos os males; ódio dos judeus e disso, traz trechos de “Minha Luta” e um perfil
comunistas, que viam nele um manual biográfico. Uma boa indicação bibliográfica,
de perseguição. Certo é que o que Hitler estando a maioria dos livros citados esgotados.
fez desde quando chegou a chanceler
alemão e, posteriormente, a Führer
estava descrito em seu livro, escrito da
prisão em 1924. Nele, Hitler fala de sua
infância, sua vida em Viena e Munique e HOLOCAUSTO: CRIME CONTRA A
sua experiência na Primeira Guerra, tudo isso HUMANIDADE
entremeado por seus argumentos de ódio ao governo Maria Luiza Tucci Carneiro
austríaco pré-guerra, pela sua descoberta do antissemitismo que o Editora Ática
marcaria pra sempre, pelo combate aos comunistas, pela superioridade A historiadora e pesquisadora, em linguagem
alemã, pela unicidade dos povos germânicos e pela legitimidade da simples e acessível a colegiais, faz um panorama
guerra por conquista aos povos considerados mais fracos e inferiores. do que foi o Holocausto e qual sua dimensão
A edição atual, da Centauro Editora, tem mais de 500 páginas e vem para o século 20. Fala sobre o crescimento do
com diversas fotos. É uma edição de luxo que qualquer leitor dificilmente antissemitismo na Alemanha, como se deu a
encontrará em livrarias. Isso porque há um forte lobby judeu contra a perseguição aos judeus desde a tomada de poder
venda do livro. Muitos donos de livrarias são judeus e proíbem que o livro pelos nazistas e como a indústria da morte nazista
esteja em suas prateleiras; outras, que se aventuram em pô-lo à venda, se desenvolveu.
sofrem com ameaças judiciais. Tal história pode ser confirmada, pois,
para este trabalho, a busca pelo livro em livrarias foi fracassada e este só
foi encontrado diretamente na editora, que busca meios alternativos de
vender a obra, como pela internet. É importante frisar que Minha Luta, ERA DOS EXTREMOS: O BREVE SÉCULO XX
Eric Hobsbawm
apesar de todo seu conteúdo racista e da apologia da raça ariana e do Cia das Letras
militarismo, é uma obra de interesse não só histórico como geral.
Obra do famoso historiador inglês que aborda o século 20, o século das
guerras. Num texto pessoal e cativante, Hobsbawm aborda os principais
PARA ENTENDER HITLER: A BUSCA DAS ORIGENS DO MAL temas do século, entre os quais as duas guerras mundiais. E o período
Ron Rosenbaum entre elas têm destaque.
Editora Record
O autor escreveu mais de 600 páginas em que faz uma investigação OS CARRASCOS VOLUNTÁRIOS DE HITLER
e uma pesquisa ampla com historiadores e especialistas para tentar Daniel Goldhagen
entender por que Hitler fez o que fez. Suas buscas remetem aos avós de Cia das Letras
Adolf, passando por situações polêmicas sobre a vida do Führer, como
o suicídio (ou não) de sua sobrinha-amante Geli Raubal, interpretações Uma das questões que mais martelaram a História após a guerra foi
folclóricas e outras com certa credibilidade. Cheio de referências a outras saber até que ponto a população alemã tinha conhecimento do que
obras de importância histórica para o estudo sério sobre Adolf Hitler e o os nazistas faziam aos judeus e até que ponto foram coniventes com
antissemitismo no decorrer do século, é uma ótima fonte para conhecer o Holocausto. Aqui, o autor busca demonstrar exatamente a idéia
o mundo da historiografia. de que a população foi cúmplice de todo aquele horror, participando
ativamente, inclusive em programas de extermínio.
SITES
http://www.
Hitler Historical Museum (em inglês) segundaguerramundial.
http://www.hitler.org/ com.br/sgm/
O museu se dedica a preservar os fatos Site elaborado a partir de
históricos relacionados a Adolf Hitler e ao pesquisas na internet sobre
Partido Nacional-Socialista. a Segunda Guerra Mundial.
Traz informações sobre fatos
•
históricos, personalidades,
• armas, artigos e vídeos sobre
• o assunto. Em português.
Em http://www.hitler.org/writings/
Mein_Kampf/ •
O livro Mein Kampf (Minha Luta) pode http://veja.abril.
ser baixado na íntegra. (em inglês) com.br/especiais_
online/segunda_
guerra/edicao001/
The History Place www.historyplace. entrevista.shtml
com/worldwar2/riseofhitler/ Entrevista na íntegra
O site contém uma abrangente biografia de Adolf Hitler na
ilustrada em 24 capítulos. (em inglês) edição de Veja de setembro de 1939. Há ainda
um vídeo do discurso de Hitler no Reichstag, em
abril de 1939, e outros com pronunciamentos do
• líder no início do governo. Em português.
•
• http://www.ushmm.org/
Site do Museu do
Adolf Hitler.ws www.adolfhitler.ws Holocausto nos EUA. Há
O site oferece biografia e arquivos informações históricas,
com discursos, trabalhos artísticos de de sobreviventes, fotos,
Hitler e informações gerais sobre o eventos promovidos pelo
período. (em inglês) museu. Há conteúdo
traduzido para o português.