Cartas Paulinas Gerais - Aula 2
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AULA 2
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supremacia de Cristo sobre Moisés e a fé cristã como mais elevada que a fé
judaica foi a resposta dada pelo apóstolo Paulo.
Logo após a epístola aos Romanos, a epístola aos Gálatas é considerada
a carta magna da fé cristã. Ela é um documento revolucionário com relação à
forma dos cristãos abordarem o antigo Judaísmo. Por este motivo, a epístola aos
Gálatas tem sido chamada de “Declaração de Independência Cristã” (Carrez,
1997, p. 117).
A epístola aos Gálatas foi escrita para uma comunidade de gentios
convertidos e perturbados por indivíduos judaizantes e legalistas, que queriam
impor a prática de rituais judaicos aos gentios. Seu objetivo era, principalmente,
o de servir como um documento que assegurasse a liberdade cristã que os fiéis
podem desfrutar em Jesus Cristo (Carrez, 1997, p. 118-122). Gálatas tem sido
conhecida como Escritura da Liberdade Cristã.
Sabemos que a primeira visita de Paulo à essa comunidade foi motivada
por uma doença física (Bíblia, Gálatas, 2009, 4:13). Paulo não pretendia pregar
na Galácia, mas ficou enfermo (4:14). Mesmo que Paulo se apresentasse um
tanto abatido fisicamente, os gálatas o receberam com calor e compreensão (Gl
4:14-15). O fervor do apóstolo e a receptividade calorosa dos ouvintes
superaram os desânimos físicos, a ponto de Paulo permanecer ali por muitos
meses.
A segunda visita foi menos animadora para o apóstolo, visto que a
situação entre os cristãos da Galácia fez com que ele se sentisse desconfortável.
As referências a esta segunda visita não são difíceis de ser notadas na epístola
que você está estudando.
Na opinião de Halley (2001, p. 252), a data mais aceita para redação desta
carta foi por volta de 57 d.C., no final da terceira viagem missionária de Paulo,
quando ele estava em Éfeso, na Macedônia, ou em Corinto, pouco antes de
também escrever a Epístola aos Romanos. Contudo, diversos estudiosos
acreditam que a epístola aos Gálatas foi escrita em Antioquia, próximo de 49
d.C., antes do retorno de Paulo da Galácia e antes do Concílio de Jerusalém em
49-50 d.C., o que implica que esta epístola teria sido a primeira a ser escrita.
Existiam duas regiões conhecidas na época como Galácia. No decorrer
do século III antes de Cristo, alguns gauleses (celtas) migraram para o interior
da Ásia Menor e fundaram um reino. Debaixo do reinado de Amintas (séc. I a.C.),
o reino fundado pelos gauleses estendeu-se até a Pisídia, Licaônia e outros
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lugares ao sul e, quando os romanos assumiram o controle, logo após a morte
de Amintas (25 a.C.), esse reino foi transformado na província da Galácia. Por
gauleses se designava, portanto, um conjunto de populações celtas que habitava
a Gália, isto é, o território que corresponde hoje, grosso modo, à França, à
Bélgica e à Itália setentrional proto-históricas, provavelmente a partir da Primeira
Idade do Ferro (cerca de 800 a.C.).
O problema consiste em definir se os “gálatas”, a quem Paulo dirige sua
primeira epístola, são os gálatas étnicos, que viviam ao norte, na província, ou
os gálatas que viviam ao sul, habitado por diversas raças que foram incluídas na
província romana (Carson, 1997, p. 320).
Alguns estudiosos sugerem que a epístola foi dirigida à Galácia do norte.
Porém havia pouca ou nenhuma população judaica ao norte, o que tornaria
extremamente difícil que tivessem problemas com o legalismo judaico nessas
regiões. Há apenas três alusões possíveis ao trabalho missionário de Paulo ali,
que encontramos em Atos 16.6; 18.23 e 19.1.
Outros afirmam que a carta foi enviada às igrejas da Galácia do sul, de
Listra, Derbe, Icônio e Antioquia da Pisídia, cujo relato da evangelização
encontramos em Atos 13 e 14. Portanto, a carta teria sido endereçada aos
conversos de Paulo na província romana da Galácia, convertidos na primeira
viagem missionária (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 13:5-14:28); visitados na
segunda (At 16:6) e na terceira (At 18:23) (Unger, 2006, p. 525).
Um dos maiores problemas nas igrejas da Galácia é que eles estavam
lutando entre si e contra o apóstolo Paulo. Contudo, em Cristo não pode haver
divisões e conflitos, pois estar em Cristo é desfrutar da harmonia divina, evitando
a destruição mútua (Bíblia, Gálatas, 2009, 5:15).
Paulo argumentou que Cristo removeu os antigos preconceitos e as
barreiras peculiares ao Judaísmo; assim, em Cristo, todos se tornam um só, sem
distinção alguma. Isto é algo absoluto, e aceito pelos cristãos de hoje sem
questionamentos. Contudo, na época, tratava-se de uma doutrina revolucionária
(Fee, 2013, p. 401).
A universalidade da mensagem cristã era um tema habitual na igreja
primitiva. Em Cristo, os israelitas não desfrutavam de uma posição privilegiada,
pois o Espírito Santo agia entre os gentios da mesma forma que entre os
israelitas (At 11:1-8). Prever privilégios para os israelitas em detrimento dos
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gentios era o argumento do legalismo que havia afetado até mesmo os apóstolos
(Gl 2).
Podemos observar em Gálatas 3:26-28 que o ideal seria a total eliminação
das diferenças instituídas pelo Judaísmo, ficando implantada exclusivamente a
graça divina, em Cristo Jesus. Assim, a epístola aos Gálatas tornou-se um tipo
de defesa de toda a suficiência e universalidade de Cristo, bem como da nova
fé, que liberta tanto gentios como judeus; escravos ou livres, homens e mulheres
(Carrez, 1997, p. 117).
Essa carta nos apresenta os motivos pelos quais Paulo vinha sendo
atacado: a base da aceitação perante Deus (Bíblia, Gálatas, 2009, 2:16-17; 4:3-
6; 5:2-4); a supremacia e exclusiva suficiência de Cristo (Gl 2:21; 3:18; 4:8-9); a
validade do evangelho e do apostolado de Paulo (Gl 1:10-24). Portanto, a maior
parte do texto de Gálatas compõe-se de uma defesa do seu apostolado (Bull,
2009, p. 88).
Os Gálatas não receberam de forma agradável os escritos de Paulo, tanto
interna quanto externamente à igreja, gerada por indivíduos legalistas que não
compreenderam o propósito do Evangelho. Essa situação provocou a ida de
Paulo até Jerusalém, a fim de procurar solução para este conflito; por não ter
condições de ir pessoalmente à Galácia, teve de enviar esta epístola (Gl 4:20).
Paulo demonstrou que o ensino divulgado não era fruto de sua mente,
mas que o recebera por revelação do próprio Cristo (Carson, 1997, p. 319).
O apóstolo Paulo defendeu a legitimidade do seu apostolado, a autoridade
divina do evangelho pregado por ele, a doutrina da justificação pela fé sem
qualquer combinação de obras ou rituais legalistas e a eficiência dos princípios
cristãos como base para a vida de liberdade em Cristo (Bull, 2009, p. 88).
Sabemos que pouco tempo depois da sua primeira visita a Galácia
recebeu a visita de mestres cristãos de origem judaica. Eles insistiam que os
gentios não podiam ser cristãos, a não ser que também observassem as leis de
Moisés (Halley, 2001, p. 633).
Eles eram chamados de “judaizantes” e faziam parte de uma seita que
não aceitava a decisão dos apóstolos a respeito da circuncisão (Bíblia, Atos dos
Apóstolos, 2009, 15) e continuavam a insistir que os cristãos só poderiam chegar
a Deus por intermédio do Judaísmo. Assim, os gentios convertidos eram
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primeiramente circuncidados e orientados a observar a lei judaica (Unger, 2006,
p. 525).
Formavam um partido cujos representantes perseguiam o apóstolo Paulo
em suas viagens missionárias e tentavam destruir seu trabalho missionário. Eles
foram chamados pelo apóstolo de “ministros de Satanás”.
Em Atos 15, você pode ver os problemas que esses cristãos causaram
em Antioquia. O mesmo ocorreu em Gálatas (2:12; 2:4). Eles também foram
chamados de “falsos apóstolos” (Bíblia, 2 Coríntios, 2009, 11:13). Alguns tinham
até “cartas de recomendação” (2 Co 3:1). Em Gálatas 6:13, o versículo é escrito
“no tempo presente”, dando a ideia de que ainda estavam se submetendo ao
ritual judaico de circuncisão.
Paulo deixa bem claro que a verdadeira intenção dos perturbadores era
corromper o evangelho de Cristo. Mas eles não estavam dando a eles outro
evangelho melhor, mas sim distorcendo o único evangelho, modificando-o a
partir de sua essência (Fee, 2013, p. 406).
Algo que você pode perceber facilmente na literatura paulina é que esses
perturbadores promoveram por conta própria visitas, desequilíbrios e agitação
nas igrejas gentílicas. Eles despertaram periodicamente intensa indignação do
apóstolo. No caso de Corinto, o ataque foi diretamente contra o apostolado
paulino. Na Galácia, eles não só se opuseram à sua doutrina, mas também
procuravam depreciá-lo (Carson, 1997, p. 319).
Logo depois da saudação inicial encontramos as seguintes palavras:
“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na
graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns
que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Bíblia, Gálatas,
2009, 1:6-7).
Aquele grupo se distanciou da doutrina absolutamente distintiva do
verdadeiro evangelho, que é a salvação eterna inteiramente dependente da
graça divina em Cristo, em separado dos rituais e observâncias religiosas e
obras advindas do mérito humano de qualquer tipo. Desejavam aprimorar a obra
do Espírito Santo mediante a Lei (Gl 3:3) (Brown, 2004, p. 627).
Os gálatas aceitaram a doutrina deles com a mesma sinceridade que
aceitaram a mensagem de Paulo. Ocorreu uma série de circuncisões entre os
gentios recém-convertidos ao Cristianismo. Paulo chamou isto de outro
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evangelho (Gl 1:6-7). Deveria ser considerado anátema (amaldiçoado) quem
modificasse o evangelho pregado por ele (Gl 1:9).
O assunto era extremamente importante e absolutamente vital para o
cristianismo nascente – a própria cruz de Cristo estava em perigo, em vista deste
aceitável legalismo dos judaizantes pois “se a justiça é mediante a Lei, segue-se
que morreu Cristo em vão” (Gl 2:21).
Paulo avisa que eles estavam sendo desviados para um evangelho
completamente distinto e não para uma forma superior do mesmo evangelho
como inocentemente julgavam. Substituíram a simplicidade e a espiritualidade
do evangelho pelas observâncias judaizantes, ou seja, a observância absoluta à
Lei Mosaica estava se tornando algo essencial para eles. Não havia rejeição ao
evangelho, mas conceitos legalistas e ritualistas começaram a destruir doutrinas
fundamentais (Bull, 2009, p. 90).
O apóstolo procura defender o evangelho da graça gratuita que ele
proclamara aos gentios (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 14:27). Enfatiza a
verdade essencial de que o indivíduo é justificado pela fé em Jesus Cristo, e
nada mais.
Paulo procura mostrar que a liberação da lei mosaica é resultado de um
relacionamento com Cristo, através do Espírito Santo, que produz no fiel uma
nova regra de vida e de fé. Assim, as pessoas que foram regeneradas estão
libertas do legalismo. Desta forma, o fiel está sendo formado por Cristo, sendo
seu objetivo compartilhar de todas as suas perfeições morais e espirituais. Isto
se opõe radicalmente ao legalismo mosaico e seu código de cerimônias, bem
como a exigência à obediência perfeita aos mandamentos.
O apóstolo defendeu vigorosamente a doutrina da justificação em Cristo,
sem a necessidade de qualquer complemento. Gálatas é “a carta magna da
emancipação espiritual” (Farrar, citado por Tenney, 1967, p.13).
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TEMA 4 – PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES
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Podemos perceber a posição geográfica de Tessalônica no norte do
mapa:
Como vimos, Paulo havia enviado de volta de Atenas Timóteo e Silas (At
18.5) a fim de consolar os tessalonicenses, dos quais recebeu boas notícias de
seus colaboradores em seu retorno a Corinto, mas também relatos sobre alguns
problemas. Vários convertidos haviam morrido e isso levantou a questão: será
que aqueles que morreram antes da volta de Cristo ficariam excluídos da
salvação final? O apóstolo escreveu a fim de consolar e confirmar a salvação de
todos aqueles que creram (Carson, 1997, p. 388).
Os missionários Paulo, Silas e Timóteo alcançaram a cidade de
Tessalônica durante a “Segunda Viagem Missionária”. A moderna cidade de
Salônica ostenta a abreviação do nome conhecido no Novo Testamento. Sob o
domínio dos romanos, a cidade foi feita capital da província romana da
Macedônia em 146 a.C. Era a maior cidade da província, com uma população
aproximada de 200.000 habitantes no primeiro século; importante rota comercial,
militar e com influência política.
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4.1 Problemas da igreja
Esta situação parece ter causado bastante ansiedade, o que leva Paulo a
encorajá-los tratando da vinda de Cristo. A epístola era lida frequentemente
como advertência, mas devemos ler a passagem como um encorajamento a uma
comunidade de cristãos que estão sofrendo (1Ts 4:.11). Uma vez que eles são
filhos da luz, não tomam parte em atividades noturnas, nem devem ser pegos de
surpresa na vida de Cristo (Fee, 2013, p. 434, 435).
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Tabela 2 – Esboço de 1 Tessalonicenses:
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5.1 O aparecimento do anticristo como precondição
A leitura do trecho de 2Ts 2:1-12 nos faz descobrir que surgiram profetas
cristãos primitivos na comunidade que se reportaram a uma pretensa carta de
Paulo e pregaram a volta de Cristo como uma realidade presente.
O apóstolo aconselha a comunidade de Tessalônica a respeito do ensino
atribuído a ele segundo o qual o dia do Senhor já começou. É interessante
percebermos que esses versículos associam “nossa reunião com ele” com “o dia
do Senhor”. Duas palavras são utilizadas para descrever o efeito perturbador
desse ensino.
O apóstolo, que não sabe exatamente o que aconteceu, se refere de três
formas possíveis em que o falso ensino pode ter chegado a Tessalônica. Essas
três formas são regidas por “supostamente vinda de nós”: elas são uma
revelação alegadamente divina, um ensino falado atribuído ao apóstolo e uma
carta, ou forjada ou atribuída erroneamente a ele. Dizia-se que a série de eventos
concernentes ao dia do Senhor tinha começado a se desenrolar (Bruce, 2009, p.
2041).
Essa doutrina parece ter sido motivo de confusão entre os destinatários.
Assim, Paulo recorda seu ensino, já repassado anteriormente à comunidade,
segundo o qual antes da volta de Cristo é necessário que venham primeiramente
o afastamento da fé e da prática em relação a Deus e ao anticristo. Atualmente
existe alguma grandeza que retém o anticristo; quando esta tiver sido afastada,
ocorrerá a revelação do “homem da iniquidade” (Bíblia, 2 Tessalonicenses, 2009,
2:8), que hoje atua de “forma secreta” (Bull, 2009, p. 109, 110).
O aparecimento e destruição dele se dará por ocasião da volta do Senhor
Jesus, e implicará que aqueles que se deixam tentar por ele serão tragados
juntos na destruição.
No trecho de 2Ts 3:6-12 Paulo os exorta como quem ameaça com uma
sentença “em nome do Senhor Jesus Cristo”. Alguns dentro da comunidade
andam preocupados e ociosos; é preciso seguir o exemplo de Paulo que
trabalhou noite e dia para que não fosse pesado à comunidade, mesmo tendo o
direito de ser sustentado por ela (2Ts 9). Daí ele passa à exortação mais geral,
orientando-os à prática incansável do bem (2Ts 13) e para que possam atrair
para o bom caminho aqueles que se desviaram (2Ts 14s).
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Quadro 1.2 – Esboço de 2 Tessalonicenses:
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
BRUCE, F.F. (org.). Comentário bíblico NVI. São Paulo: Vida, 2009.
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