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Cartas Paulinas Gerais - Aula 2

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CARTAS PAULINAS E GERAIS

AULA 2

Prof. Marlon Ronald Fluck


CONVERSA INICIAL

Estimado e estimada estudante, dando sequência ao nosso estudo,


convido você para juntos abordarmos três epístolas: Gálatas, 1 e 2
Tessalonicenses. A ênfase desta aula será nos objetivos gerais, a ocasião em
que as cartas foram escritas, os problemas enfrentados pelas igrejas e uma
análise geral do conteúdo.

TEMA 1 – A EPÍSTOLA AOS GÁLATAS

Iniciamos nossa aula com a Epístola de Paulo aos Gálatas, e


pretendemos explicar quem eram os Gálatas que receberam essa epístola, a
importância dela para a Igreja de nossos dias, a data provável em que foi escrita,
os seus objetivos, a explicação do que foi o Primeiro Concílio Eclesiástico de
Jerusalém e o motivo por que este ocorreu.

Figura 1 – Mapa da Primeira Viagem de Paulo

Fonte: Arquivo/João Moreira

No mapa, vemos a localização da região da Galácia, bem como a


localização de Jerusalém, onde ocorreu o Concílio.

1.1 A importância dessa epístola

Quando o Cristianismo começou a se estabelecer nas cidades em que o


Judaísmo estava presente, a pergunta que frequentemente se fazia era: quem é
a maior autoridade religiosa: Moisés “ou” Cristo? Ou seria Moisés “e” Cristo? A

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supremacia de Cristo sobre Moisés e a fé cristã como mais elevada que a fé
judaica foi a resposta dada pelo apóstolo Paulo.
Logo após a epístola aos Romanos, a epístola aos Gálatas é considerada
a carta magna da fé cristã. Ela é um documento revolucionário com relação à
forma dos cristãos abordarem o antigo Judaísmo. Por este motivo, a epístola aos
Gálatas tem sido chamada de “Declaração de Independência Cristã” (Carrez,
1997, p. 117).
A epístola aos Gálatas foi escrita para uma comunidade de gentios
convertidos e perturbados por indivíduos judaizantes e legalistas, que queriam
impor a prática de rituais judaicos aos gentios. Seu objetivo era, principalmente,
o de servir como um documento que assegurasse a liberdade cristã que os fiéis
podem desfrutar em Jesus Cristo (Carrez, 1997, p. 118-122). Gálatas tem sido
conhecida como Escritura da Liberdade Cristã.
Sabemos que a primeira visita de Paulo à essa comunidade foi motivada
por uma doença física (Bíblia, Gálatas, 2009, 4:13). Paulo não pretendia pregar
na Galácia, mas ficou enfermo (4:14). Mesmo que Paulo se apresentasse um
tanto abatido fisicamente, os gálatas o receberam com calor e compreensão (Gl
4:14-15). O fervor do apóstolo e a receptividade calorosa dos ouvintes
superaram os desânimos físicos, a ponto de Paulo permanecer ali por muitos
meses.
A segunda visita foi menos animadora para o apóstolo, visto que a
situação entre os cristãos da Galácia fez com que ele se sentisse desconfortável.
As referências a esta segunda visita não são difíceis de ser notadas na epístola
que você está estudando.
Na opinião de Halley (2001, p. 252), a data mais aceita para redação desta
carta foi por volta de 57 d.C., no final da terceira viagem missionária de Paulo,
quando ele estava em Éfeso, na Macedônia, ou em Corinto, pouco antes de
também escrever a Epístola aos Romanos. Contudo, diversos estudiosos
acreditam que a epístola aos Gálatas foi escrita em Antioquia, próximo de 49
d.C., antes do retorno de Paulo da Galácia e antes do Concílio de Jerusalém em
49-50 d.C., o que implica que esta epístola teria sido a primeira a ser escrita.
Existiam duas regiões conhecidas na época como Galácia. No decorrer
do século III antes de Cristo, alguns gauleses (celtas) migraram para o interior
da Ásia Menor e fundaram um reino. Debaixo do reinado de Amintas (séc. I a.C.),
o reino fundado pelos gauleses estendeu-se até a Pisídia, Licaônia e outros

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lugares ao sul e, quando os romanos assumiram o controle, logo após a morte
de Amintas (25 a.C.), esse reino foi transformado na província da Galácia. Por
gauleses se designava, portanto, um conjunto de populações celtas que habitava
a Gália, isto é, o território que corresponde hoje, grosso modo, à França, à
Bélgica e à Itália setentrional proto-históricas, provavelmente a partir da Primeira
Idade do Ferro (cerca de 800 a.C.).
O problema consiste em definir se os “gálatas”, a quem Paulo dirige sua
primeira epístola, são os gálatas étnicos, que viviam ao norte, na província, ou
os gálatas que viviam ao sul, habitado por diversas raças que foram incluídas na
província romana (Carson, 1997, p. 320).
Alguns estudiosos sugerem que a epístola foi dirigida à Galácia do norte.
Porém havia pouca ou nenhuma população judaica ao norte, o que tornaria
extremamente difícil que tivessem problemas com o legalismo judaico nessas
regiões. Há apenas três alusões possíveis ao trabalho missionário de Paulo ali,
que encontramos em Atos 16.6; 18.23 e 19.1.
Outros afirmam que a carta foi enviada às igrejas da Galácia do sul, de
Listra, Derbe, Icônio e Antioquia da Pisídia, cujo relato da evangelização
encontramos em Atos 13 e 14. Portanto, a carta teria sido endereçada aos
conversos de Paulo na província romana da Galácia, convertidos na primeira
viagem missionária (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 13:5-14:28); visitados na
segunda (At 16:6) e na terceira (At 18:23) (Unger, 2006, p. 525).
Um dos maiores problemas nas igrejas da Galácia é que eles estavam
lutando entre si e contra o apóstolo Paulo. Contudo, em Cristo não pode haver
divisões e conflitos, pois estar em Cristo é desfrutar da harmonia divina, evitando
a destruição mútua (Bíblia, Gálatas, 2009, 5:15).
Paulo argumentou que Cristo removeu os antigos preconceitos e as
barreiras peculiares ao Judaísmo; assim, em Cristo, todos se tornam um só, sem
distinção alguma. Isto é algo absoluto, e aceito pelos cristãos de hoje sem
questionamentos. Contudo, na época, tratava-se de uma doutrina revolucionária
(Fee, 2013, p. 401).
A universalidade da mensagem cristã era um tema habitual na igreja
primitiva. Em Cristo, os israelitas não desfrutavam de uma posição privilegiada,
pois o Espírito Santo agia entre os gentios da mesma forma que entre os
israelitas (At 11:1-8). Prever privilégios para os israelitas em detrimento dos

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gentios era o argumento do legalismo que havia afetado até mesmo os apóstolos
(Gl 2).
Podemos observar em Gálatas 3:26-28 que o ideal seria a total eliminação
das diferenças instituídas pelo Judaísmo, ficando implantada exclusivamente a
graça divina, em Cristo Jesus. Assim, a epístola aos Gálatas tornou-se um tipo
de defesa de toda a suficiência e universalidade de Cristo, bem como da nova
fé, que liberta tanto gentios como judeus; escravos ou livres, homens e mulheres
(Carrez, 1997, p. 117).

TEMA 2 - DEFESA DO APOSTOLADO DE PAULO

Essa carta nos apresenta os motivos pelos quais Paulo vinha sendo
atacado: a base da aceitação perante Deus (Bíblia, Gálatas, 2009, 2:16-17; 4:3-
6; 5:2-4); a supremacia e exclusiva suficiência de Cristo (Gl 2:21; 3:18; 4:8-9); a
validade do evangelho e do apostolado de Paulo (Gl 1:10-24). Portanto, a maior
parte do texto de Gálatas compõe-se de uma defesa do seu apostolado (Bull,
2009, p. 88).
Os Gálatas não receberam de forma agradável os escritos de Paulo, tanto
interna quanto externamente à igreja, gerada por indivíduos legalistas que não
compreenderam o propósito do Evangelho. Essa situação provocou a ida de
Paulo até Jerusalém, a fim de procurar solução para este conflito; por não ter
condições de ir pessoalmente à Galácia, teve de enviar esta epístola (Gl 4:20).
Paulo demonstrou que o ensino divulgado não era fruto de sua mente,
mas que o recebera por revelação do próprio Cristo (Carson, 1997, p. 319).
O apóstolo Paulo defendeu a legitimidade do seu apostolado, a autoridade
divina do evangelho pregado por ele, a doutrina da justificação pela fé sem
qualquer combinação de obras ou rituais legalistas e a eficiência dos princípios
cristãos como base para a vida de liberdade em Cristo (Bull, 2009, p. 88).
Sabemos que pouco tempo depois da sua primeira visita a Galácia
recebeu a visita de mestres cristãos de origem judaica. Eles insistiam que os
gentios não podiam ser cristãos, a não ser que também observassem as leis de
Moisés (Halley, 2001, p. 633).
Eles eram chamados de “judaizantes” e faziam parte de uma seita que
não aceitava a decisão dos apóstolos a respeito da circuncisão (Bíblia, Atos dos
Apóstolos, 2009, 15) e continuavam a insistir que os cristãos só poderiam chegar
a Deus por intermédio do Judaísmo. Assim, os gentios convertidos eram
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primeiramente circuncidados e orientados a observar a lei judaica (Unger, 2006,
p. 525).
Formavam um partido cujos representantes perseguiam o apóstolo Paulo
em suas viagens missionárias e tentavam destruir seu trabalho missionário. Eles
foram chamados pelo apóstolo de “ministros de Satanás”.
Em Atos 15, você pode ver os problemas que esses cristãos causaram
em Antioquia. O mesmo ocorreu em Gálatas (2:12; 2:4). Eles também foram
chamados de “falsos apóstolos” (Bíblia, 2 Coríntios, 2009, 11:13). Alguns tinham
até “cartas de recomendação” (2 Co 3:1). Em Gálatas 6:13, o versículo é escrito
“no tempo presente”, dando a ideia de que ainda estavam se submetendo ao
ritual judaico de circuncisão.
Paulo deixa bem claro que a verdadeira intenção dos perturbadores era
corromper o evangelho de Cristo. Mas eles não estavam dando a eles outro
evangelho melhor, mas sim distorcendo o único evangelho, modificando-o a
partir de sua essência (Fee, 2013, p. 406).
Algo que você pode perceber facilmente na literatura paulina é que esses
perturbadores promoveram por conta própria visitas, desequilíbrios e agitação
nas igrejas gentílicas. Eles despertaram periodicamente intensa indignação do
apóstolo. No caso de Corinto, o ataque foi diretamente contra o apostolado
paulino. Na Galácia, eles não só se opuseram à sua doutrina, mas também
procuravam depreciá-lo (Carson, 1997, p. 319).
Logo depois da saudação inicial encontramos as seguintes palavras:
“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na
graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns
que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Bíblia, Gálatas,
2009, 1:6-7).
Aquele grupo se distanciou da doutrina absolutamente distintiva do
verdadeiro evangelho, que é a salvação eterna inteiramente dependente da
graça divina em Cristo, em separado dos rituais e observâncias religiosas e
obras advindas do mérito humano de qualquer tipo. Desejavam aprimorar a obra
do Espírito Santo mediante a Lei (Gl 3:3) (Brown, 2004, p. 627).
Os gálatas aceitaram a doutrina deles com a mesma sinceridade que
aceitaram a mensagem de Paulo. Ocorreu uma série de circuncisões entre os
gentios recém-convertidos ao Cristianismo. Paulo chamou isto de outro

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evangelho (Gl 1:6-7). Deveria ser considerado anátema (amaldiçoado) quem
modificasse o evangelho pregado por ele (Gl 1:9).
O assunto era extremamente importante e absolutamente vital para o
cristianismo nascente – a própria cruz de Cristo estava em perigo, em vista deste
aceitável legalismo dos judaizantes pois “se a justiça é mediante a Lei, segue-se
que morreu Cristo em vão” (Gl 2:21).
Paulo avisa que eles estavam sendo desviados para um evangelho
completamente distinto e não para uma forma superior do mesmo evangelho
como inocentemente julgavam. Substituíram a simplicidade e a espiritualidade
do evangelho pelas observâncias judaizantes, ou seja, a observância absoluta à
Lei Mosaica estava se tornando algo essencial para eles. Não havia rejeição ao
evangelho, mas conceitos legalistas e ritualistas começaram a destruir doutrinas
fundamentais (Bull, 2009, p. 90).
O apóstolo procura defender o evangelho da graça gratuita que ele
proclamara aos gentios (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 14:27). Enfatiza a
verdade essencial de que o indivíduo é justificado pela fé em Jesus Cristo, e
nada mais.
Paulo procura mostrar que a liberação da lei mosaica é resultado de um
relacionamento com Cristo, através do Espírito Santo, que produz no fiel uma
nova regra de vida e de fé. Assim, as pessoas que foram regeneradas estão
libertas do legalismo. Desta forma, o fiel está sendo formado por Cristo, sendo
seu objetivo compartilhar de todas as suas perfeições morais e espirituais. Isto
se opõe radicalmente ao legalismo mosaico e seu código de cerimônias, bem
como a exigência à obediência perfeita aos mandamentos.
O apóstolo defendeu vigorosamente a doutrina da justificação em Cristo,
sem a necessidade de qualquer complemento. Gálatas é “a carta magna da
emancipação espiritual” (Farrar, citado por Tenney, 1967, p.13).

TEMA 3 – O CONCÍLIO EM JERUSALÉM

Houve uma controvérsia legalista que provocou o primeiro Concílio na


Igreja Cristã, realizado em Jerusalém e registrado historicamente em Atos 15.
Esse Concílio foi a favor de Paulo e de suas ideias de liberdade cristã; mas a
história eclesiástica posterior mostra que isso não deu solução à controvérsia,
pois os legalistas continuaram a perseguir Paulo em suas viagens missionárias,
lhe causando muitos transtornos e aborrecimentos (Quesnel, 2008, p. 27).
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Depois disso, Paulo visitou pessoalmente a Galácia levando as decisões
do Concílio de Jerusalém e declarando que a circuncisão não era necessária (At
15:1 - 16:4) (Carson, 1997, p. 325).

Tabela 1 – Esboço da epístola aos Gálatas

Saudação e os temas 1.1-10


Abordagem autobiográfica: a independência e a origem divina 1.11-2.21
do evangelho anunciado por Paulo
Abordagem de argumentação teológica: a justificação pela fé 3.1-5.12
Abordagem pastoral: a vida no Espírito e a liberdade da lei 5.13-6.10
Conclusão da carta 6.11-18
Fonte: Fluck, 2021.

No quadro podemos ver uma estrutura básica da Epístola aos Gálatas.


Sempre existem outras possibilidades. Elaboramos essa para auxiliar-nos
didaticamente.
A principal questão teológica abordada na epístola aos Gálatas diz
respeito à salvação.
Cabe então uma pergunta: o que produz a salvação? Ela foi conseguida
através do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo somente. É
importante destacarmos o “somente”, pois a igreja de Gálatas queria acrescentar
algo mais à salvação, as obras bem-intencionadas; e os judaizantes
acrescentaram até a circuncisão realizada nas sinagogas.
O apóstolo Paulo adverte-os que os que acrescentarem algo à salvação
seriam considerados amaldiçoados, por que somente Cristo salva. A salvação
somente pela fé e confiança na obra realizada por Cristo foi o centro da
argumentação teológica de Paulo e a base para o ensinamento ético das
consequências práticas para a vida do cristão (Frey, 2012, p. 234).
Juntamente com a ênfase nesta justificação pela fé em Jesus Cristo,
encontramos a liberdade cristã (Bíblia, Gálatas, 2009, 5:1); os crentes devem
“andar no Espírito” (Gl 5.16). Curiosamente, até mesmo aqueles que são
justificados pela fé em Cristo, por vezes, “acham mais fácil submeter-se à
escravidão de um sistema” (Carson, 1997, p. 334).
Chegamos ao final de nosso estudo da Epístola de Gálatas e aprendemos
elementos essenciais para a fé e a vida cristã. Convido você a continuarmos
nessa jornada de descobertas.

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TEMA 4 – PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES

Estimado e estimada estudante, na segunda parte desta aula iremos


estudar as duas epístolas que Paulo escreveu à Igreja dos Tessalonicenses.
Apresentaremos a você como era a cidade de Tessalônica, de que modo ocorreu
a fundação da Igreja nessa cidade e os problemas surgidos entre os discípulos
de Cristo após a saída de Paulo de lá. Ao final, explicaremos quais foram os
propósitos das epístolas.
Saiba que esta carta é um dos mais antigos documentos do Novo
Testamento e, provavelmente, a segunda epístola paulina. Ele a escreveu logo
após sua chegada a Corinto, na primavera de 50. Os inícios promissores da
comunidade cristã ainda eram bastante recentes, e Paulo relembra isso com
muita gratidão (Bíblia, 1 Tessalonicenses, 2009 1:2-2:14). Por causa da
hostilidade por parte dos gentios, o apóstolo teve de fugir rapidamente daquela
cidade (1Ts 2:2; At 17:5s) (Bornkamm, 2003, p. 105).
Vamos conhecer o lugar, a data provável e a ocasião em que a epístola
foi redigida.
Depois de fugir de Tessalônica, Paulo foi para a cidade de Beréia e, em
seguida, seguiu para Atenas (Bíblia, Atos dos Apóstolos, 2009, 17). Como o
apóstolo Paulo sentiu muita saudade da comunidade tessalonicense, de Atenas
enviou Timóteo e Silas para lá (1Ts 3:1-2). Quando Timóteo voltou, encontrou
Paulo em Corinto. Impossibilitado de ir à Tessalônica (1Ts 2:18), ainda de
Corinto, Paulo escreveu a presente epístola.
A narrativa de Atos nos informa que Paulo permaneceu em Corinto
durante um ano e seis meses (At 18.11). A perseguição contra Paulo ocorreu
enquanto Gálio (irmão do filósofo Sêneca) era procônsul da Acaia. Este cargo
durava um ano, podendo ser renovado. Conforme a inscrição de Delfos, Gálio
governou como procônsul da primavera de 51 até 52 d.C.
Portanto, a primeira carta foi escrita nos últimos meses do ano 50 e nos
primeiros de 51, poucos meses depois da fundação da comunidade de
Tessalônica e depois do envio de sua epístola aos Gálatas. Na primeira carta
aos tessalonicenses ele demonstra realmente que era um apocalíptico e,
portanto, não podia negar a sua própria mensagem (1Ts 5:2-4) (Heyer, 2009, p.
85).

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Podemos perceber a posição geográfica de Tessalônica no norte do
mapa:

Figura 2 – Mapa da Segunda Viagem de Paulo

Crédito: Arquivo/João Moreira

Como vimos, Paulo havia enviado de volta de Atenas Timóteo e Silas (At
18.5) a fim de consolar os tessalonicenses, dos quais recebeu boas notícias de
seus colaboradores em seu retorno a Corinto, mas também relatos sobre alguns
problemas. Vários convertidos haviam morrido e isso levantou a questão: será
que aqueles que morreram antes da volta de Cristo ficariam excluídos da
salvação final? O apóstolo escreveu a fim de consolar e confirmar a salvação de
todos aqueles que creram (Carson, 1997, p. 388).
Os missionários Paulo, Silas e Timóteo alcançaram a cidade de
Tessalônica durante a “Segunda Viagem Missionária”. A moderna cidade de
Salônica ostenta a abreviação do nome conhecido no Novo Testamento. Sob o
domínio dos romanos, a cidade foi feita capital da província romana da
Macedônia em 146 a.C. Era a maior cidade da província, com uma população
aproximada de 200.000 habitantes no primeiro século; importante rota comercial,
militar e com influência política.

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4.1 Problemas da igreja

Vejamos alguns problemas que a Igreja de Tessalônica enfrentou. Pelo


texto, você pode facilmente perceber que a comunidade cristã parece ter
problemas ou talvez dúvidas quanto à pureza sexual (Bíblia, 1 Tessalonicenses,
2009, 4:1-8). Paulo trata da questão do amor recíproco e da necessidade de que
cada um trabalhe com as próprias mãos (1Ts 4:9-12), para, em seguida, entrar
naquilo que podemos chamar de propósito da epístola: o futuro dos cristãos que
morreram e a vinda de Cristo (1Ts 4:13-5:11).
A abordagem sobre os cristãos que morreram (1Ts 4:13-18) nos faz
recordar de que o tempo em que Paulo esteve com eles deve mesmo ter sido
bastante breve e, neste intervalo alguns haviam morrido, e a comunidade cristã
não sabia o que aconteceria com eles. Dessa forma, Paulo respondeu com
convicção: os mortos serão ressuscitados; os vivos serão levados à presença de
Cristo em sua vinda.
Ainda que a pregação missionária em Tessalônica tivesse, em boa parte,
abordado a questão da volta de Cristo, algumas questões, evidentemente,
tinham ficado sem resposta. Particularmente, a Igreja estava tentando saber se
as glórias do “grande dia” estavam reservadas para os vivos. Paulo explica que
os cristãos mortos vão compartilhar tanto do triunfo quanto da ressurreição do
Senhor Jesus Cristo.
O versículo 17 menciona simplesmente a realidade de “estarmos com o
Senhor para sempre”, mas não especifica se os santos retornam à Terra com
ele imediatamente, ou depois de um intervalo, ou se o “novo céu e a nova terra”
seguem imediatamente (Bruce, 2009, p. 2035-2036).

Esta situação parece ter causado bastante ansiedade, o que leva Paulo a
encorajá-los tratando da vinda de Cristo. A epístola era lida frequentemente
como advertência, mas devemos ler a passagem como um encorajamento a uma
comunidade de cristãos que estão sofrendo (1Ts 4:.11). Uma vez que eles são
filhos da luz, não tomam parte em atividades noturnas, nem devem ser pegos de
surpresa na vida de Cristo (Fee, 2013, p. 434, 435).

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Tabela 2 – Esboço de 1 Tessalonicenses:

Saudação e introdução da carta 1:1-10


Agradecimentos 2:1-3.13
Exortações éticas 4:1-5.24
Encerramento da carta 5:25-28
Fonte: Fluck, 2021.

Esse é um esboço bastante resumido, mas que nos apresenta o esquema


e a estrutura da carta. Através dele podemos ter uma visão sintética de seu
conteúdo.

4.2 Questões teológicas

A ênfase teológica da Primeira Carta aos Tessalonicenses é a volta de


Cristo e a santificação.
Paulo quer ajudar os cristãos da igreja de Tessalônica a entenderem como
será a segunda vinda de Jesus Cristo, além de fazer com que eles tenham
esperança e se preparem para a volta de Jesus.

TEMA 5 – SEGUNDA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES

Vamos começar agora a aprender sobre a Segunda Epístola aos


Tessalonicenses, que sem dúvida foi a carta mais apocalíptica de Paulo, tanto
no sentido de destacar os castigos divinos quanto no de anunciar uma série de
acontecimentos. Embora este conteúdo tenha contribuído para que muitos
estudiosos considerassem essa carta como não sendo de autoria paulina, até o
dia de hoje não se pode afirmar que a questão esteja resolvida (Bosch, 1998, p.
155).
Como na epístola anterior, você também aprenderá sobre o lugar em que
a epístola foi escrita, a data e a ocasião.
Não resta dúvida que a segunda epístola foi escrita principalmente para
apresentar o cenário apocalíptico (Bíblia, 2 Tessalonicenses, 2009, 2: 1-12).
Paulo quis responder às interrogações dos cristãos que estranhavam que o dia
do Senhor não chegasse tão depressa como pensavam.

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5.1 O aparecimento do anticristo como precondição

A leitura do trecho de 2Ts 2:1-12 nos faz descobrir que surgiram profetas
cristãos primitivos na comunidade que se reportaram a uma pretensa carta de
Paulo e pregaram a volta de Cristo como uma realidade presente.
O apóstolo aconselha a comunidade de Tessalônica a respeito do ensino
atribuído a ele segundo o qual o dia do Senhor já começou. É interessante
percebermos que esses versículos associam “nossa reunião com ele” com “o dia
do Senhor”. Duas palavras são utilizadas para descrever o efeito perturbador
desse ensino.
O apóstolo, que não sabe exatamente o que aconteceu, se refere de três
formas possíveis em que o falso ensino pode ter chegado a Tessalônica. Essas
três formas são regidas por “supostamente vinda de nós”: elas são uma
revelação alegadamente divina, um ensino falado atribuído ao apóstolo e uma
carta, ou forjada ou atribuída erroneamente a ele. Dizia-se que a série de eventos
concernentes ao dia do Senhor tinha começado a se desenrolar (Bruce, 2009, p.
2041).
Essa doutrina parece ter sido motivo de confusão entre os destinatários.
Assim, Paulo recorda seu ensino, já repassado anteriormente à comunidade,
segundo o qual antes da volta de Cristo é necessário que venham primeiramente
o afastamento da fé e da prática em relação a Deus e ao anticristo. Atualmente
existe alguma grandeza que retém o anticristo; quando esta tiver sido afastada,
ocorrerá a revelação do “homem da iniquidade” (Bíblia, 2 Tessalonicenses, 2009,
2:8), que hoje atua de “forma secreta” (Bull, 2009, p. 109, 110).
O aparecimento e destruição dele se dará por ocasião da volta do Senhor
Jesus, e implicará que aqueles que se deixam tentar por ele serão tragados
juntos na destruição.
No trecho de 2Ts 3:6-12 Paulo os exorta como quem ameaça com uma
sentença “em nome do Senhor Jesus Cristo”. Alguns dentro da comunidade
andam preocupados e ociosos; é preciso seguir o exemplo de Paulo que
trabalhou noite e dia para que não fosse pesado à comunidade, mesmo tendo o
direito de ser sustentado por ela (2Ts 9). Daí ele passa à exortação mais geral,
orientando-os à prática incansável do bem (2Ts 13) e para que possam atrair
para o bom caminho aqueles que se desviaram (2Ts 14s).

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Quadro 1.2 – Esboço de 2 Tessalonicenses:

Introdução da carta 1:1-12


Ensinamento escatológico 2:1-12
Gratidão e chamada à permanência na fé 2:13-17
Chamada à intercessão 3:1-5
Orientações sobre como agir com os desorientados 3:6-13
Conselhos finais 3:14-16
Pós-escrito 3:17-18
Fonte: Fluck, 2021.

Este esboço sucinto e esclarecedor oferece uma visão inicial bastante


clara. Na Segunda Carta aos Tessalonicenses, Paulo os adverte ainda sobre a
volta de Cristo.
Paulo os alerta que não precisariam andar ansiosos e nem ociosos quanto
à vinda de Cristo e que deveriam trabalhar para seu próprio sustento de cada
dia.
A carta ainda ressalta a expectativa do apóstolo quanto à volta de Cristo
e incentiva a igreja à vida sóbria que provém da fé.

NA PRÁTICA

A epístola aos Gálatas se relaciona ao tema do primeiro concílio de


Jerusalém, a pergunta sobre qual é a maior autoridade, se é Moisés ou Cristo.
Gálatas mostra a declaração de independência cristã, bem como a suficiência e
universalidade de Cristo. São apresentados também os elementos essenciais da
fé e da vida cristã.

FINALIZANDO

Estimado e estimada estudante, chegamos ao fim desta aula.


Estudamos a Epístola aos Gálatas, identificamos quem eram os gálatas que
receberam essa epístola, a sua importância, a data provável de sua escrita, seus
objetivos e a necessidade da convocação do Primeiro Concílio Eclesiástico em
Jerusalém.
Aprendemos também sobre a Primeira e a Segunda Epístola aos
Tessalonicenses; vimos como era a cidade de Tessalônica, como ocorreu a
fundação da igreja, os problemas surgidos com a saída de Paulo para outras
cidades e os propósitos dessas duas epístolas. Até mais!

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REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: Almeida revista e atualizada, 2ª ed. Barueri:


Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

BORNKAMM, G. Bíblia, Novo Testamento: introdução aos seus escritos no


quadro da história do cristianismo primitivo. São Paulo: Editora Teológica,
2003.

BROWN, R. E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004.

BRUCE, F.F. (org.). Comentário bíblico NVI. São Paulo: Vida, 2009.

BULL, K.M. Panorama do Novo Testamento: história, contexto e teologia.


São Leopoldo: Editora Sinodal/EST, 2009.

CARREZ, M. P.; DORNIER, M.; DUMAIS, M. TRIMAILLE, M. As Cartas de


Paulo, Tiago, Pedro e Judas. São Paulo: Paulinas, 1987.

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