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(Lição 5) O Culto de Shakti-Babalon

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Sociedade da Estrela & da Serpente

Colegiado da Luz Hermética


FUNDADO A SERVIÇO DA A∴A∴

O CULTO DE
ŚAKTI-BABALON
NA SOCIEDADE DA ESTRELA & SERPENTE
________________________________________________________________________________________________________

Fr. Set-Apehpeh, 246 ∵ 7°=4 A∴A∴

Q in 25° J, R in 4° J

Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Em Berlim todas as prostitutas se comportam como «mulheres de respeito»; Em Nova


Iorque todas as «mulheres de respeito» se comportam como prostitutas. Reflexo: to-
das são prostitutas, de qualquer maneira.1

O que caracteriza o trabalho das zonas de poder (⨂) da Sociedade da


Estrela & da Serpente é sua operação como uma expressão visível
de uma entidade coletiva praeter-humana conhecida pelo nome de
egrégora, cujas origens remontam aos assentamentos ou nomos
egípcios sob a autoridade de espíritos totêmicos.3 É a força da egrégora que
2

une a estrutura tetraédrica do Corpo de Luz dos participantes de uma Or-


dem Mágica a Alma Grupo do trabalho espiritual da Ordem. Todo trabalho
mágico-espiritual leva o Candidato a um limiar, uma passagem entre o pro-
fano e o sagrado. Essa passagem, no entanto, é guardada por sentinelas.
Quando o Candidato se alinha harmonicamente a estas sentinelas, ele tem
acesso nos planos internos a egrégora da tradição e seus impulsos remotos
do passado através de um processo de clarividência atávica.
Egrégora é um nome atribuído a uma entidade, na verdade, a uma es-
tirpe de criaturas espirituais que genericamente chamam-se gregori. A pala-
vra é de origem grega, egregorein, que significa velar, cuidar e não tem nada
a ver com o significado nova era do termo, que é agregar. Em outras pala-
vras, uma egregora não é um agregado psíquico de indivíduos que partici-
1 Aleister Crowley, Diário Mágico: 4 de janeiro de 1931.
2 Um nomo no antigo Egito trata-se de uma zona de poder, um templo ou espaço sagrado dedicado a uma dei-
dade.
3 Veja Lição 1.1: Magia Ritual & a Dedicação do Santuário a uma Deidade.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

pam de uma corrente espiritual. Essa descrição que tentam dar ao termo
egrégora é o que se tem chamado de Alma Grupo, quer dizer, a força coletiva
personalizada em um ente grupo, da mesma maneira que um enxame de
abelhas funciona em uníssono. A Alma Grupo, assim, revela o caráter gregá-
rio do modus vivendi, quer dizer, o estilo de vida dos assentamentos ou co-
munidades de culturas como as do Egito, Babilônia, Suméria etc. que sobre-
vive nos dias de hoje na forma de distintas tradições espirituais como holo-
gramas de uma época em que grupos operavam sob a égide de uma alma
coletiva de representação totêmica.
A Alma Grupo é criada de baixo para cima, quer dizer, de um corpo co-
letivo de pessoas para uma entidade praeter-humana que represente toda
coletividade. Isso ocorre através da interação psíquica dos Candidatos e dos
laços, compromissos e juramentos realizados durante as cerimônias de ini-
ciação e ritos de poder.
A egrégora, por outro lado, vem de cima para baixo e trata-se da influ-
ência suprassensível de Guardiões Espirituais que regem o destino da hu-
manidade de tempos em tempos. Esses guardiões impelem a humanidade a
evoluir. Eles ditam a lei, normas e fundamentos pelos quais a humanidade se
orienta em ciclos de eras – ou aeons – evolutivos na forma de um campo
magnético de influência mágico-espiritual. Um gregori é, portanto, um espí-
rito guardião ancestral cuja influência abrange uma ampla classe de criatu-
ras espirituais, consideradas guardiões menores, vigias celestiais que guar-
dam e testemunham o trabalho da egrégora e seus integrantes.
Uma egrégora é constituída, dessa maneira, de um conjunto de hierar-
quias espirituais, os Chefes Secretos, que atraem seres humanos em harmo-
nia com suas vibrações e impulso de desenvolvimento místico e mágico. Por
isso é dito que quando o estudante está pronto, o mestre aparece. Este mes-
tre é um servo e representante enviado da egrégora.
O gregori da Sociedade da Estrela & da Serpente é Aiwass, o ministro de
Hoor-paar-kraat que ditou a Aleister Crowley, através da mediunidade de
sua Mulher Escarlate, Rose Kelly (1884-1932), o LIBER AL VEL LEGIS. Como
demonstrei na Lição de Estudo 1: Em Busca das Raízes Greco-Egípcias do Li-
ber AL vel Legis, Aiwass é uma entidade praeter-humana identificada por
Aleister Crowley como seu Sagrado Anjo Guardião e atual guia espiritual e
guardião da consciência evolutiva planetária. Trata-se de Shaitan – Set, Set-
An ou Satã –, uma deidade sumeriana através da qual Crowley acreditava ter
restaurado a antiga tradição mágica da Suméria hoje conhecida como Shai-
tan-Aiwass ou Shaitan-Yezide.
A egregóra, quer dizer, o trabalho do gregori, atua por meio da subs-
tância sutil da Alma Grupo criada por uma Ordem Mágica ou comunidade
espiritual. Nós teremos a oportunidade de desenvolver mais o tema do gre-
gori ao abordarmos, em lições futuras, o Ritual de Pacto com Shaitan-Aiwass,
no Grau de Neófito. A partir dessa lição, nós iremos abordar o trabalho má-
gico-espiritual com as Guardiãs Celestiais da Sociedade da Estrela & da Ser-
pente que atuam dentro da egrégora tifoniana da Ordem.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

A Sociedade da Estrela & da Serpente trabalha com quatro guardiãs ce-


lestiais que estão presentes em todos os rituais oficiais da Ordem como o
Ritual da Abertura da Kiblah e o Ritual do Portal de Babalon. Cada associado
da Sociedade da Estrela & Serpente é assistido por essas quatro guardiãs ce-
lestiais e elas podem ser invocadas de maneiras diversas na prática que nós
denominados de Culto de Śakti-Babalon. Este culto envolve um entendimen-
to lúcido da Árvore da Vida e todo o seu simbolismo, que abrange as áreas
do Tarot, da Astrologia e da Alquimia. Muita atenção também é dada a práti-
ca da feitiçaria, que necessita de um conhecimento profundo da Espirituali-
dade Feminina e do Culto da Grande Mãe ou Deusa Primordial.
Acima eu mencionei duas palavras associadas ao trabalho dessas Guar-
diãs Celestiais: guardar e testemunhar. Alocadas na maṇḍala de deusas ou o
círculo mágico do ordálio de Homem da Terra, essas Deusas Celestiais guar-
dam, preservam ou conservam o poder gerado dentro do círculo mágico, o
contrabalanceando com a força da egrégora. Quando o magista invoca o po-
der dessas guardiãs celestiais nas quatro direções do espaço, ele estabelece
quatro Torres de Vigia Celestiais representadas pelas constelações de Alde-
baran (Leste-Touro), Regulus (Sul-Leão), Antares (Oeste-Escorpião) e For-
malhaut (Norte-Aquário). Estas Torres de Vigia representam a estrutura te-
traédrica do Corpo de Luz destas guardiãs e ao serem estabelecidas nos
quadrantes, o magista participa de sua totalidade. Elas são testemunhas ocu-
lares presentes que transmitem ao magista o testemunho de sua ancestrali-
dade, quer dizer, são elas que auxiliam o magista a se alinhar com a Corrente
Mágica da Ordem, pois elas infundem no círculo mágico as forças ancestrais
que o magista convoca e está afiliado. Através das invocações, sinais mágicos
e oferendas, a guardiãs celestiais da Sociedade da Estrela & da Serpente tor-
nam-se portais mágicos através dos quais é possível acessar os tesouros da
egrégora.
A cosmovisão da Sociedade da Estrela & da Serpente é tifoniana e equi-
libra em fases distintas do treinamento mágico-espiritual idealismo e ani-
mismo para a construção bem sucedida da Pirâmide Mágica ou Kiblah Espiri-
tual. O período de probação constitui uma oportunidade de treinamento e
cada Candidato através dele almeja ganhar admissão ao Grau de Neófito. Por
meio de exercícios teúrgicos e mágicos, os Candidatos executam uma série
de práticas que envolvem as quatro deusas celestiais da Ordem.
No Culto de Śakti-Babalon da Sociedade da Estrela & da Serpente, a Deu-
sa Babalon é reverenciada, adorada, invocada e conjurada no quadrante do
Sul na forma de um símbolo de natureza uraniana, uma mulher sobre um
leão, como demonstrado no Atu XI, Luxúria no Tarot de Thoth e ilustrado
pelo artista Nicolas Furlan Moraes na telesmática utilizada pelos Irmãos da
Sociedade da Estrela & da Serpente:
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Babalon & a Besta por Nicolas F. Moraes Atu XI, Luxúria no Tarot de Thoth

Na cultura arcaica da humanidade, pelo menos 7000 a.C. ou um período vas-


tamente anterior a essa datação, os Arcanos da iniciação envolviam a Deusa
Primordial como a Grande Creatrix que dá nascimento, vida e morte ao Uni-
verso e tudo o que se manifesta no tempo e no espaço. A Grande Deusa foi
celebrada em inúmeras comunidades agrícolas que desde o paleolítico de-
senvolveram uma espiritualidade alinhada aos mistérios do mundo vegetal.
Este culto foi preservado em inúmeras culturas, como a grega e a romana.
Neste tipo de culto muita atenção é dada ao apodrecimento, decomposição e
o nascimento de uma nova vida, quer dizer, a vida que surge através da mor-
te, um arcano que está presente no totem da serpente. A Deusa Qutesh,4 a
verdadeira deusa-protótipo de John Dee (1527-1608) e Aleister Crowley
(1875-1947) para Babalon moderna, segura em suas mãos duas serpentes.
Elas representam a presença do tempo e, portanto, da dualidade, vida e mor-
te. Os Arcanos de iniciação da Deusa Primordial envolvem, assim, vida e
morte. O que separa as duas serpentes, quer dizer, vida e morte, é o que
também as une, o corpo da Deusa. Ela é o conhecimento do limiar. Em LIBER
AL VEL LEGIS essa doutrina é exposta de maneira poética: Agora deixai isto ser
entendido: Se o corpo do Rei dissolve, ele deverá permanecer em puro êxtase
para sempre. Nuit! Hadit! Ra-Hoor-Khuit! O Sol, Vigor & Visão, Luz; estes são
para os servos da Estrela & da Serpente.5 Vibre com o prazer de vida & morte!
Ah! tua morte deverá ser bela: todo aquele que ver isto deverá estar satisfeito.
Tua morte deverá ser o selo da promessa do nosso amor de longas eras. Venha!
4 A única deusa cujo rosto foi completamente retratado pelos antigos tecedores de mitos. Ela é representada
como uma mulher nua de pé sobre um leão e um adorno em sua cabeça que simboliza a Lua Cheia apoiada
sobre a Lua Crescente. Ela segura flores em sua mão direita e na esquerda uma serpente (Nahesh), represen-
tando a fase lunar da Deusa. Em uma Estela egípcia, Qutesh ou Qatesh é chamada de Kent ou Kunt. Grant sus-
tenta que essa imagem da Deusa representa Amor sob vontade.
5 AL VEL LEGIS, II:21.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

erga completamente teu coração & regozije-se! Nós somos um; nós somos ne-
nhum!6 Em suas mãos, portanto, a Deusa tem tudo. Tudo faz parte de sua
totalidade. Sobre a Deusa Qutesh, Kenneth Grant (1924-2011) diz:

Ela é representada de pé sobre uma leoa, carregando em sua mão direita um laço
com flores, e em sua mão esquerda duas serpentes. A leoa é Sekhet, típica do calor
sexual, representada pelas letras Shin e Teth (ShT); o laço ou anel, as flores e serpen-
tes, são ideogramas da letra Qoph que significa literalmente «a parte de trás da cabe-
ça», que é a sede das energias sexuais no homem. Qoph é atribuída a Chave do Tarot
intitulada A Lua; é o aspecto lunar da energia sexual que é representada pelo QTSh
ou Qatesh, a Deusa cujo nome retoma sua natureza mística.7

6 AL VEL LEGIS, II:66.


7 Kenneth Grant, ALEISTER CROWLEY & O DEUS OCULTO.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Os Irmãos e Irmãs da Sociedade da Estrela & Serpente, em um primeiro mo-


mento do treinamento espiritual psiúrgico no Culto de Śakti-Babalon, ao se
dirigirem a zona de poder da coroa, o sahasrāra-cakra (Kether), invocam a
Deusa Suprema Asherah (AShRH), a Mulher Celestial da qual a fragrância,
florescência, emanação ou śakti são as árvores da eternidade. Tudo está em
seu corpo e Tudo vem da Deusa, a Fonte. Ela é Qutesh, Lilith-Inanna-Ishtar, a
forma primordial da Deusa Babalon da Torre de Vigia Celestial do Sul.
De acordo com as instruções de LIBER APEP, que norteia a estrutura ri-
tualística, cerimonial e mística da Sociedade da Estrela e da Serpente, nós o-
peramos com uma Árvore da Vida distinta da tradicional e hermética. Na
Qabalah Fenícia da Sociedade da Estrela & Serpente a Deusa Asherah é res-
taurada como o Eixo do Universo ou Fonte Creatrix Primordial.
Nesse caminho, nosso trabalho restaura o Culto da Estrela & Serpente
da ESTRELA PRATEADA (Astrum Argenteum), a A∴A∴. Para sua versão pessoal
da A∴A∴, Aleister Crowley não conseguiu se livrar completamente da influ-
ência judaico-cristã e, portanto, o sistema opera em desarmonia com a Cor-
rente Mágica que ele convocou e inaugurou no advento do Equinócio dos
Deuses durante a Operação do Cairo, realizada em 1904 E.V. Por exemplo, na
Instrução Oficial da Ordem conhecida como LIBER O VEL MANUS ET SAGITTAE,
aconselha-se que o magista, voltado ao Quadrante do Leste, invoque o demi-
urgo Yod-Heh-Vav-Heh (Jeová). No entanto, foi em nome deste demiurgo
que os gnósticos acusam de usurpador, que a Grande Mãe e os devotos da
Estrela & Serpente foram caçados, assassinados e massacrados: O que sacrifi-
car aos deuses, e não só ao Senhor, será morto.8 Mesmo que Crowley tenha
corrigido isso nos rituais thelêmicos que apareceram em O LIVRO DAS MENTI-
RAS e MAGIA EM TEORIA & PRÁTICA, inúmeras instruções derivadas da Ordem
Hermética da Aurora Dourada são praticadas pelos magistas da A∴A∴. O Cul-
to de Śakti-Babalon, cujas raízes estão nos cultos primordiais de Ishtar, I-
nanna, Ashtaroth, Qutesh, Asherah e outras deusas creatrix, convoca a Cor-
rente Mágica pagã que foi banida pelo demiurgo usurpador, Jeová. Por conta
desse desatino na cultura thelêmica, a Sociedade da Estrela & Serpente opera
com um complexo de deusas fenícias, acadianas, babilônicas, sumérias e gre-
co-egípcias, restaurando a Deusa em seu Trono quando adotamos o ShMATh
hermético.9 LIBER APEP diz:

Nossa Qabalah vem das terras da Fenícia. Com ela retifica o pentagrama, minha man-
dala de deusas, e a mim conceda sacrifícios: Fogo, Água, Ar e Terra. O Espírito veste a
Coroa de Sangue da Lua. Queime a mim o delicioso aroma da Lua e no eclipse mágico
da Sacerdotisa ofereça nas brasas a minha promessa.10

8 ÊXODO, 22:20.
9 O pentagrama retificado, AMShRTh (Amansherath) equipara-se ao urro grego Io Pã e soma 941. Este é o nú-
mero da palavra latina vespera, quer dizer, Vênus como a Estrela da Manhã, associada ao pentagrama. É inte-
ressante que AMShRTh seja a metatese de MShRATh, o nome do anjo do primeiro decanato de Capricórnio e
um totem ou imagem adequado ao Sagrado Anjo Guardião.
10 O LIVRO DOS FEITIÇOS, I:3.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Como observamos em lições anteriores, o ShMATh hermético é distribuído


dentro do Pentagrama Tifoniano Retificado, a maṇḍala de deusas que utili-
zamos como Círculo Mágico no estágio de Homem da Terra (Neófito) na So-
ciedade da Estrela & da Serpente. Neste Círculo Mágico, as guardiãs celestiais
são distribuídas nos quadrantes do espaço, representando as Torres de Vigia
Celestiais, como no quadro abaixo:

Torre de Vigia Direção Constelação Deusas Tempo de Poder


Aldebaran Leste Touro () Ashtaroth Equinócio de Primavera
Antares Oeste Escorpião () Isa Equinócio de Outono
Formalhaut Norte Aquário () Ishtar Solstício de Inverno
Regulus Sul Leão () Babalon Solstício de Verão

O pentagrama sempre foi um símbolo da Deusa. No antigo Egito, Nuit era


representada como uma estrela dentro de um círculo ou apenas uma estrela
brilhante. Nos TEXTOS DAS PIRÂMIDES, que datam das 5° e 6° dinastias, por vol-
ta de 2340-2200 a.C., Nuit foi personificada como o céu estrelado. Embora a
religião de Osíris e o culto solar estivessem suplantando as crenças espiritu-
ais do Antigo Reino, estes textos foram inspirados por extratos mitológicos
anteriores ao Novo Reino, quando os deuses das estrelas eram adorados ao
invés dos deuses solares. Acreditava-se que após a sua morte, a Alma do Rei
(o Faraó posterior das eras dinásticas) encontraria descanso entre as estre-
las em um reino celestial. Este reino celestial foi chamado de Duat e nos hie-
róglifos, ele é demonstrado como uma estrela de cinco pontas dentro de um
círculo: essa é a Estrela-Nuit ou a Nuit das estrelas do céu noturno.
Na arte egípcia Nuit é representada coberta por estrelas na figura de
um corpo feminino ou de um manto negro estrelado. Ela também foi repre-
sentada no interior dos sarcófagos sobre o corpo do defunto. Seus braços
abertos dão boas-vindas a Alma no reino dos mortos.
A Estrela-Nuit dentro de um círculo, portanto, representava o Duat, o
Mundo da Vida após a Morte. Outro nome dado ao Duat foi Amenta, que sig-
nifica terra oculta. O que os TEXTOS DAS PIRÂMIDES nos dizem é que, segundo
os extratos mitológicos mais arcaicos do Egito pré-dinástico, a Alma retorna
as estrelas após a morte do corpo físico. Essa era a crença draco-tifoniana
(estelar) anterior ao surgimento da religião de Osíris. Set como o filho desta
Nuit Estelar era o psicopompo da Alma nos reinos noturnos e abissais de sua
Mãe, a Escuridão. Neste período arcaico da história do Egito, quando Set gui-
ava as Almas dos mortos na Escuridão da Noite, o reino celestial após a mor-
te era conhecido como Setaue. Sua localização, no entanto, ficava atrás da
constelação da Ursa Maior. Foi somente em algum período entre a 5° e 6°
dinastias que o destino da Alma foi reconfigurado, quando ouve uma erup-
ção do culto solar e Osíris passou a ter um papel fundamental na vida após a
morte.
O Grande apelo do Culto de Osíris é que ele garantia salvação para to-
dos incondicionalmente e não apenas ao Rei. Por conta disso, rapidamente
ele se espalhou e ganhou proeminência. A influência dos sacerdotes do Culto
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

de Osíris na corte foi tanta que rapidamente foi fácil a eles inserirem Osíris
nos TEXTOS DAS PIRÂMIDES, nos TEXTOS SEPULCRAIS e finalmente em O LIVRO DOS
MORTOS. No período em que O LIVRO DOS MORTOS se tornou o guia oficial da
Alma após a morte, os mitos de Osíris estavam inquestionavelmente alinha-
dos aos cultos estelares pré-dinásticos, onde ele hora aparece como a vege-
tação, hora aparece com problemas no outro mundo (posteriormente, sub-
mundo) dependendo da ajuda de Set e Hórus. O que aproxima tanto Set
quanto Hórus da função de psicopompo da Alma do Rei. Mas quando o Culto
de Osíris de espalhou, o psicopompo Sut-Har (Set-Hórus) deixou de guiar a
Alma do Rei. Os sacerdotes do Culto de Osíris tinham outros planos para e-
les. Heru-Ur, o Hórus Antigo, tornou-se o Hórus Criança, filho de Osíris e Ísis.
Set tornou-se irmão e opositor de Osíris, que iria assassiná-lo. O tema dessa
trama, portanto, está centrado no fato de que Osíris deveria morrer e alguém
deveria ser culpado pelo assassinato. Como Set não poderia ser simplesmen-
te aleijado do complexo vastamente arcaico Set-Hórus, eles decidiram fazer
dele o inimigo e assassino de Osíris.

Maṇḍala de Deusas Selo de Ashtaroth

O pentagrama sempre foi um símbolo da deusa, assim como o


número 5, que trata da interação do 2 e do 3. Essa interação
oculta a fórmula da Mulher Escarlate, pois 3 menos 2 = 1; 2
mais 3 = 5; 2 vezes 3 = 6 (i.e. 156 = Babalon). Uma vez que 5 é
o número da mulher, 5x5, quer dizer, 25, é sua mais completa
expressão. 25 também é o número de ChIVA, A Besta, que a-
ponta mais uma vez para a fórmula de Therion conjugado
com a Mulher Escarlate no Atu XI, Luxúria. Em LIBER AL VEL
LEGIS há uma bela meditação sobre o modo do hiero-gamos: o
magista é banhado com a luz estelar de Nuit que se manifes-
ta como um perfume de doce-cheiro de suor. Mesmo em sua
forma corrompida como demonstrado no selo de Ashtaroth
acima, o pentagrama figura como o símbolo da Deusa.

A guardiã celestial do quadrante Norte é a Ishtar babilônia, identificada com


Lilith como a Dama ou Rainha da Noite demonizada na teologia dos cultos
semitas. Elas são protótipos posteriores da Deusa Asherah, considerada a
Deusa Primordial. A deusa Ishtar babilônica foi a personificação semita do
império babilônio e por conta disso, na primeira versão do RITUAL RUBI ES-
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

TRELA,também conhecido como o RITUAL DA ESTRELA DE SANGUE, de 1913,


Crowley atribuiu Babalon ao Norte. Em JEREMIAS (51:7), encontramos:
Babilônia era um copo de ouro na mão do Senhor, o qual embriagava a toda a terra; do
seu vinho beberam as nações; por isso as nações enlouqueceram.

E em Apocalipse (17:1-6) nós encontramos:


E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças, e falou comigo, dizendo-me: Vem,
mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas á-
guas; Com a qual fornicaram os reis da terra; e os que habitam na terra se embebeda-
ram com o vinho da sua fornicação. E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mu-
lher assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes de
blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres. E a mulher estava vestida de púrpura e de
escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um
cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua fornicação; E na sua testa
estava escrito o nome: Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições e abomi-
nações da terra. E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do san-
gue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração.

É interessante notar que no APÓCRIFO DE JOÃO é mencionada uma entidade de


nome Barbēlō, considerada a Mãe Eterna da Luz e consorte de Armodzel, o
Pai-Tudo. Ela é mencionada como o Poder Primordial, a Glória Perfeita de
todos os aeons:

Eu [sou] o pensamento do Pai, Protenóia, ou seja, Barbēlō, a perfeita Glória e o


incomensurável Um Invisível que está oculto. Eu sou a Imagem do Espírito Invisível e
é através de mim que o Todo se forma e [eu sou] a Mãe [assim como] a Luz que ela
designou como Virgem, ela cujo nome é «Meirothea», o Útero incompreensível, a Voz
sem limites e sem tamanho.11

As barbalites eram, naquele tempo, creditadas ao Culto de Barbēlō e elas são


descritas como mulheres sexualmente licenciosas e perversas. Existe um
poema conhecido como TROVÃO: A MENTE PERFEITA que foi encontrado entre
os manuscritos gnósticos-sethianos da Biblioteca de Nag Hammadi (Códice
VI) que convoca a voz de Śakti-Babalon como a conhecemos na cultura the-
lêmica:

Eu fui emitida do poder,


e eu vim para aqueles que refletem sobre mim,
e eu fui encontrada entre aqueles que me buscam.
Olhem-me, vocês que refletem sobre mim,
e vocês ouvintes, ouçam-me.
Vocês que estão me esperando, tomem-me para si próprios.
E não me expulse da sua visão.
E não faça a sua voz me odiar, nem a sua audição.
Não seja ignorante a meu respeito em qualquer lugar ou qualquer hora. Esteja em
guarda!
Não seja ignorante a meu respeito.
Pois eu sou a primeira e a última.
Eu sou a estimada e a rejeitada.
Eu sou a prostituta e a sagrada.

11 PROTENOIA TRIMÓRFICA, texto gnóstico-sethiano da Biblioteca de Nag Hammadi.


Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Eu sou a esposa e a virgem.


Eu sou a (mãe e) a filha.
Eu sou os membros da minha mãe.
Eu sou a estéril
e muitos são os filhos dela.
Eu sou aquela cujo casamento é grandioso,
e eu não tomei um marido.
Eu sou a parteira e aquela que não dá à luz.
Eu sou o consolo das minhas dores do parto.
Eu sou a noiva e o noivo,
e foi meu marido quem me gerou.
Eu sou a mãe do meu pai
e a irmã do meu marido
e ele é a minha prole.
Eu sou a escrava daquele que me preparou.
Eu sou a governanta da minha prole.
Mas ele é quem me gerou antes do tempo numa data de nascimento.
E ele é a minha prole no devido tempo,
e o meu poder vem dele.
Eu sou o bastão do poder dele na juventude dele,
e ele é o cajado da minha velhice.
O que quer que ele deseje, me acontece.
Eu sou o silêncio que é incompreensível
e a ideia cuja recordação é frequente.
Eu sou a voz cujo som é diversificado
e a palavra cuja aparência é múltipla.
Eu sou a declaração do meu nome.
Por que, você que me odeia, me ama,
e odeia aqueles que me amam?
Você que me nega, me admite,
e você que me admite, me nega.
Você que fala a verdade sobre mim, mente sobre mim,
e você que mentiu sobre mim, fala a verdade sobre mim.
Você que me conhece, seja ignorante sobre mim,
e aqueles que não me conheceram, deixem eles me conhecer.
Pois eu sou sabedoria e ignorância.
Eu sou timidez e coragem.
Eu sou impudente; eu sou envergonhada.
Eu sou força e eu sou medo.
Eu sou guerra e paz.
Atente para mim.
Eu sou aquela que é desonrada e a grandiosa.
Dê atenção à minha pobreza e à minha riqueza.
Não seja arrogante comigo quando eu estiver jogada na terra,
e você me encontrará naqueles que estão por vir.
E não me olhe no monte de esterco
nem vá e me deixe jogada,
e você me encontrará nos reinos.
E não me olhe quando eu estiver jogada entre aqueles que
estão desfavorecidos e nos lugares insignificantes,
nem ria de mim.
E nem me lance entre aqueles que são assassinados com violência.
Mas eu, eu sou compadecida e eu sou cruel.
Esteja em guarda!
Não odeie a minha obediência
e não ame meu autocontrole.
Na minha fraqueza, não me desampare,
e não tenha medo do meu poder.
Pois por que você menospreza o meu medo
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

e amaldiçoa a minha dignidade?


Mas eu sou aquela que existe em todos os medos
e força em vacilação.
Eu sou aquela que é fraca,
e eu estou bem em um lugar agradável.
Eu sou insensata e eu sou sábia.
Por que vocês me odiaram em suas deliberações?
Pois eu estarei silenciosa entre aqueles que são silenciosos,
e eu aparecerei e falarei,
Por que então vocês me odiaram, vocês Gregos?
Porque eu sou uma bárbara entre os bárbaros?
Pois eu sou a sabedoria dos Gregos
e o entendimento dos bárbaros.
Eu sou o julgamento dos Gregos e dos bárbaros.
Eu sou aquela cuja imagem é grande no Egito
e aquela que não tem imagem entre os bárbaros.
Eu sou aquela que foi odiada em todos os lugares
e que foi amada em todos os lugares.
Eu sou aquela a quem eles chamam de Vida,
e vocês chamaram de Morte.
Eu sou aquela a quem eles chamaram de Lei,
e vocês me chamaram Ilegalidade.
Eu sou aquela a quem vocês perseguiram,
e eu sou aquela a quem vocês renderam.
Eu sou aquela a quem vocês espalharam,
e vocês me juntaram.
Eu sou aquela diante da qual vocês ficaram envergonhados,
e vocês foram impudentes comigo.
Eu sou aquela que não celebra festival,
e eu sou aquela cujos festivais são muitos.
Eu, eu sou incrédula,
e eu sou aquela cujo Deus é grandioso.
Eu sou aquela na qual vocês refletiram,
e vocês me zombaram.
Eu sou inculta,
e eles aprendem através de mim.
Eu sou aquela que vocês desprezaram,
e vocês refletem sobre mim.
Eu sou aquela de quem vocês se esconderam,
e vocês aparecem para mim.
Mas quando quer que vocês se escondam,
eu mesma aparecerei.
Pois quando quer que vocês apareçam,
eu mesma me esconderei de vocês.
Aqueles que [...] para [...] sem razão [...].
Tomem-me [... compreensão] da tristeza.
e tomem-me para si próprios pela compreensão e pela tristeza.
E tomem-me para si próprios de lugares que estão feios e em ruína,
e desapossem daqueles que estão bons muito embora em feiúra.
Da vergonha, tomem-me para si próprios desavergonhadamente;
e do cinismo e da vergonha,
censurem meus membros em si próprios.
E venham adiante até mim, vocês que me conhecem
e vocês que conhecem meus membros,
e estabeleçam os grandiosos entre as primeiras pequenas criaturas.
Venham adiante para a infância,
e não despreze porque é pequena e é humilde.
E não rejeite magnificências em algumas partes por causa da insignificância,
porque as insignificâncias são reconhecidas pelas magnificências.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Por que você me difama e me reverencia?


Você me feriu e você teve piedade.
Não me separe dos primeiros que você conheceu.
E não expulse ninguém nem mande ninguém ir embora.
[...] mandar você ir embora e [...] não conhecê-lo.
[...].
Que é minha [...].
Eu conheço os primeiros e os sucessores deles me conhecem.
Mas eu sou a mente do [...] e o restante das [...].
Eu sou a sabedoria da minha averiguação,
e a descoberta daqueles que me buscam,
e a influência daqueles que me solicitam,
e o poder dos poderes na minha sabedoria
dos anjos que foram enviados pela minha palavra,
e dos deuses em suas estações pelo meu conselho,
e dos espíritos de cada homem que existe comigo,
e de mulheres que habitam dentro de mim.
Eu sou aquela que é reverenciada e que é glorificada,
e que é menosprezada com desprezo.
Eu sou paz,
e guerra veio por minha causa.
Eu sou uma alienígena e uma cidadã.
Eu sou a substância e aquela que não tem substância.
Aqueles que não estão associados a mim são ignorantes a meu respeito,
e aqueles que estão na minha substância são aqueles que me conhecem.
Aqueles que estão próximos a mim foram ignorantes a meu respeito,
e aqueles que estão longe de mim são aqueles que me conheceram.
No dia que eu estou perto de ti, você está longe de mim,
e no dia que eu estou longe de ti, eu estou perto de ti.
[Eu sou ...] internamente.
[Eu sou ...] das naturezas.
Eu sou [...] da criação dos espíritos.
[...] requisição das almas.
Eu sou controle e a incontrolável.
Eu sou a união e a desagregação.
Eu sou a permanência e eu sou a desagregação.
Eu sou aquela inferior,
e eles sobem até mim.
Eu sou o julgamento e a absolvição.
Eu, eu sou impecável,
e a raiz do pecado deriva de mim.
Eu sou lascívia na aparência externa,
e autocontrole interno existe em mim.
Eu sou a atenção que é conseguível por cada um
e o discurso que não pode ser agarrado.
Eu sou uma muda que não fala,
e grande é a quantidade das minhas palavras.
Ouça-me com bondade, e aprenda sobre mim com severidade.
Eu sou aquela que exclama,
e eu estou jogada sobre a face da terra.
Eu preparo o pão e a minha mente internamente.
Eu sou a sabedoria do meu nome.
Eu sou aquela que exclama,
e eu escuto.
Eu apareço e [...] caminho em [...] sinal da minha [...].
Eu sou [...] a defesa [...].
Eu sou aquela que é chamada Verdade
e injustiça [...].
Você me reverencia [...] e você murmura contra mim.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Você que está dominado, julgue-os (aqueles que te dominam)


antes que eles te julguem,
porque o juiz e a parcialidade existem em ti.
Se você for condenado por este, quem te absolverá?
Ou, se você for absolvido por ele, quem será capaz de te deter?
Pois o que está dentro de ti é o que está fora de ti,
e aquele que te elaborou por fora
é aquele que moldou o seu interior.
E o que você vê fora de ti, você vê dentro de ti;
é visível e é a sua vestimenta.
Escutem-me, seus ouvintes
e aprendam das minhas palavras, vocês que me conhecem.
Eu sou a audição que é conseguível por cada coisa;
Eu sou o discurso que não pode ser agarrado.
Eu sou o nome do som
e o som do nome.
Eu sou o símbolo da letra
e a designação da divisão.
E eu [...].
[...] luz [...].
[...] ouvintes [...] para vocês
[...] o grande poder.
E [...] não mudará o nome.
[...] aquele que me criou.
E eu falarei o nome dele.
Olhem então para as palavras dele
e todas as escrituras que foram concluídas.
Atentem para elas, seus ouvintes
e vocês também, os anjos e aqueles que foram enviados,
e vocês espíritos que se ergueram dos mortos.
Pois eu sou aquela que existe sozinha,
e eu não tenho ninguém que irá me julgar.
Porque muitas são as formas agradáveis que existem em numerosos pecados,
e incontinências,
e paixões vergonhosas,
e prazeres fugazes,
que os homens aderem até que eles fiquem sóbrios
e subam até o lugar de repouso deles.
E eles me encontrarão lá,
e eles viverão,
e eles não morrerão novamente.12

Este poema é utilizado como invocação pelos Irmãos e Irmãs da Sociedade


da Estrela & da Serpente no Culto de Śakti-Babalon ao invocar Babalon como
a guardiã celestial da Torre de Vigia do Sul. Como você pode notar, esse po-
ema ecoa a voz da Babalon contatada por Jack Parsons (1914-1952),13 a Ma-
dimi que apareceu para John Dee (1527-1608) e Edward Kelly (1555-1597),
a Nuit de LIBER AL VEL LEGIS e a Deusa negra de LIBER APEP. Mas é na tradição
enochiana da magia que Babalon é melhor compreendida aos thelemitas:
Eu sou a filha da Fortitude e ratifiquei todas as horas da minha juventude. Pois eis que
estou compreendendo e a ciência habita em mim; e os céus me oprimem. Eles me co-
brem e me desejam com infinito apetite; para nada disso os terrenos me abraçaram,
pois estou somado com o Círculo das Estrelas e coberta com as nuvens da manhã.

12 Tradução por: http://misteriosantigos.50webs.com.


13 Veja REVISTA SOTHIS, No. 11.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Meus pés são mais rápidos do que os ventos e minhas mãos são mais doces que o or-
valho da manhã. As minhas roupas são do início e minha morada está em mim mesma.
O Leão não conhece onde eu Caminho, nem a besta dos campos me entende. Eu sou
deflorada, ainda assim virgem; Eu santifico e não sou santificada. Feliz é aquele que
me envolve: na estação da noite eu sou doce e no dia cheia de prazer. Minha compa-
nhia é uma harmonia de muitos símbolos e meus lábios mais doces do que a própria
saúde. Eu sou uma prostituta e uma virgem com quem não me conhece. Pois eu, eu
Sou amada de muitos e eu sou uma amante para muitos; e quantos vêm para mim co-
mo deveriam fazer, ter prazer.

Purga as tuas ruas, ó filhos dos homens, e lava as tuas casas; faço vocês santos, e zelo-
sos na justiça. Transmita seus antigos obstáculos e queimem suas roupas; abstenham-
se da companhia de outras mulheres que são contaminadas e não são tão bonitas co-
mo eu, e então irei e morarei entre vós; e eis que irei criar filhos para vocês e eles se-
rão os filhos do conforto. Vou abrir minhas roupas e ficar nua diante de vocês, que seu
amor possa estar mais enfocado em direção a mim. Até agora, eu ando pelas nuvens;
ainda, eu sou carregada com os ventos, e não posso descer para vocês pela multidão
de suas abominações, e a repugnância imunda de seus lugares de habitação.

Essa mensagem foi escutada ou dada a Edward Kelly por uma entidade –
Madimi – e embora ela não tenha se identificado como Babalon, em sua fala
ela incorpora a interpretação da corrente semita da Ishtar babilônica. Em A
VISÃO & A VOZ, inúmeras referências são feitas a Babalon. Nós temos:
Eu reúno espíritos puros e os tranço em minha veste flamejante. Eu sugo a vida dos
homens e suas almas reluzem no meu olhar. Eu sou a poderosa feiticeira, a voluptuo-
sidade do espírito. Pelo meu bailar eu reúno, em nome da minha mãe Nuit, as cabeças
de todos batizados nas águas da vida. Eu sou a voluptuosidade do espírito devoradora
da alma do homem. Eu apresto a festa para os adeptos e aqueles que dela participam
verão Deus.14
Esse é o Mistério da Babilônia, a Mãe das abominações, e esse é o mistério dos seus
adultérios, pois ela se entregou a tudo que vive e assim tornou-se parte desse misté-
rio. E por ter feito a si mesma uma serva de cada um, tornou-se senhora de tudo. Tu
não podes compreender sua glória.
Bela és tu, Ó Babilônia e desejável, pois tu te entregaste a tudo que vive e tua fraque-
za sobrepujou tua força. Pois essa união tu «compreendeste». Por isso tu és chamada
Compreensão, Ó Babilônia Senhora da Noite!
Isso é o que está escrito: «Ó meu Deus, no último êxtase deixa-me alcançar a união
com os muitos. Pois ela é Amor e o seu amor é um e ela dividiu o único amor em infini-
tos amores e cada amor é um e igual ao Um e , por isso, ela passou da assembleia e da
lei e da iluminação a anarquia da solidão e trevas. Pois, deste modo, deve sempre ela
velar o brilho do Seu Eu». Ó Babilônia, Babilônia, tu, poderosa Mãe, que cavalga a besta
coroada deixa-me embriagar-me no vinho de tuas fornicações; deixe teus beijos levar-
me a morte, que até eu, teu portador da taça, possa compreender.15
Esta é a filha de BABALON a Bela aquela que nasceu do Pai de Tudo. E dela tudo nas-
ceu. Esta é a Filha do Rei. Esta é a Virgem da Eternidade. Esta é a Santa que corrompeu
o Gigante do Tempo e o prêmio daqueles que subjugaram o Espaço. Esta é aquela que
está sentada no Trono da Compreensão. Santa, Santa, Santa é seu nome que não deve
ser pronunciado entre os homens. Eles chamam-na de Malkuth e Betulah e Perséfone.
E os poetas fingem compor canções sobre ela e dela os profetas falam em vão e os
jovens garotos sonham sonhos vãos; porém é ela, a imaculada, o nome dos nomes que
não podem ser ditos. A imaginação não pode penetrar a glória que a cerca, pois su-
cumbe ante sua presença. A memória se apaga e nos mais antigos livros de Magia não
existem palavras para invocá-la nem adorações para louvá-la. A vontade curva-se co-
mo um canavial na tempestade que arrasa os limites do seu reino e a imaginação não

14 Aleister Crowley, A VISÃO & A VOZ, 15° Aethyr.


15 Aleister Crowley, A VISÃO & A VOZ, 12° Aethyr.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

pode conceber tanto quanto uma pétala de lírio em cima da qual ela permanece no la-
go de cristal no mar de vidro.
Está é aquela que enfeitou o seu cabelo com sete estrelas, os sete sopros de Deus que
movem e fazem tremer essa excelência. E ela penteou seu cabelo com sete pentes, on-
de estão escritos os sete nomes secretos de Deus, desconhecidos dos Anjos ou Arcan-
jos ou do Líder dos exércitos do Senhor. Santa, Santa, Santa és tu e santificado seja Teu
nome eternamente para aquele cujos Aeons não são nada mais do que pulsações de
seu sangue.16

Omari tessala marax,


tessala dodi phornepax.
amri radara poliax
armana piliu.
amri radara piliu son';
mari narya barbiton
madara anaphax sarpedon
andala hriliu.

Eu sou a meretriz que sacudiu a Morte.


Esta sacudida dá Paz a Luxúria Saciada.
Imortalidade jorra de meu crânio
E música da minha vulva.
Imortalidade jorra também da minha vulva
Pois a minha Prostituição é um doce odor como um instrumento afinado sete vezes.
Jogado a Deus o Invisível, aquele que tudo governa.
Que percorre dando o penetrante grito do orgasmo.

E aquilo que tu ouviste não era nada mais do que orvalho brotando de meus membros
pois eu danço na noite, nu sobre a grama, em lugares escuros pelo curso dos jorros.17

Nos seus comentários acerca de O LIVRO DA LEI, Crowley menciona que Baba-
lon é o nome secreto de Nuit. Nas orientações de Crowley sobre a pronúncia
do nome Babalon no curso do ritual, que deve ser sussurrada, uma associa-
ção é estabelecida com o Querubin da Águia. No entanto é necessário levar
em consideração o que Crowley diz ao avaliar o 24° Aethyr de NIA:
A Besta e a Mulher Escarlate, {o Leão } e a Água {Escorpião }. Eles são os Oficiais
Principais do Templo do Novo Aeon, o de Heru-Ra-Ha. (Nota: o Querubin-Águia no 23°
[Aethyr] Ar é Aquário. Escorpião é a Mulher-Serpente. Isso é importante para a antiga
atribuição da Águia para Escorpião).18

O que isso significa é que a águia, que uma vez representou um dos animais
da constelação de Escorpião, agora foi atribuída a constelação de Aquário e,
portanto, ao elemento Air. Por outro lado, o Anjo de Aquário agora se trans-
formou em uma Mulher-Serpente escorpiônica. Esse simbolismo aparece
completamente nos Atus V (O Hierofante) e XXI (O Universo). Posteriormente
Crowley modificou o ritual e atribuiu ao Norte a deusa Nuit – tanto para o
RITUAL RUBI ESTRELA quanto para o RITUAL REGULI. O grande problema aqui é
que essa mudança dos quadrantes elementais torna todo o simbolismo, se
aplicado a uma ritualística teúrgica, um trabalho de psicurgia apenas, pois

16 Aleister Crowley, A VISÃO & A VOZ, 9° Aethyr.


17 Aleister Crowley, A VISÃO & A VOZ, 2° Aethyr.
18 Aleister Crowley, A VISÃO & A VOZ, 24° Aethyr.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

essa atribuição opera em desarmonia ao telurismo do planeta Terra. Como é


que nós corrigimos esse problema na Sociedade da Estrela & da Serpente?
Nós atribuímos a cada quadrante no espaço duas regências zodiacais ele-
mentais, a espacial (relacionada ao telurismo do planeta) e a sideral (rela-
cionada a constelação regente ou Torre de Vigia). No Norte, portanto, temos
o Elemento Terra (orientação espacial) e o Elemento Ar (orientação sideral).
No Leste temos o Elemento Ar (orientação espacial) e o Elemento Terra (o-
rientação sideral). Nos outros dois quadrantes, Sul e Oeste, no entanto, os
elementos são os mesmos tanto para orientação espacial quanto para orien-
tação sideral.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

BABALON NA TRADICIONAL CULTURA THELÊMICA

B abalon não é um arquétipo difícil de se compreender quando


manipulamos bem os símbolos. A Deusa Primordial tem sido
adorada desde à alvorada das eras sob inúmeros nomes, aspectos e
representações religiosas. No atual período evolutivo da
humanidade, o Aeon de Aquário, a Deusa Primordial tem sido chamada de
Babalon e deriva seu nome do LIVRO DAS REVELAÇÕES, de onde o Mago inglês
Dr. John Dee o tirou e o modificou em acordo com a língua enochiana.
Posteriormente, o nome Babalon foi popularizado nas obras de Aleister
Crowley. No entanto, embora Babalon seja uma peça fundamental na
cosmologia e mitologia thelêmica, seu papel tem sido mal compreendido.
Este conjunto de lições sobre o Culto de Śakti-Babalon é uma tentativa de
elucidar o papel de Babalon e apontar caminhos para que uma maior
atenção seja dada a Espiritualidade Feminina dentro da Filosofia de
Thelema.
Na mitologia thelêmica, os arquétipos de Babalon & Therion são mais
palpáveis ou tangíveis que suas contra-partes mais sutis, a Deusa Mãe Nuit e
o Pai Unidade Hadit, associados as ideias qabalísticas de Binah e Chokmah.
Babalon, assim, sintetiza todas as ideias místicas do Sagrado Feminino,
principalmente os símbolos da Lua, do útero e da vagina. Therion, por outro
lado, sintetiza as ideias místicas do Sagrado Masculino nas imagens da Besta
fálico-solar como encarnação do Caos, o Falo Celestial ou Logos.
Babalon não é citada em LIBER AL VEL LEGIS, embora Crowley diga ser ele o
nome secreto de Nuit. Quando fazemos uma comparação com o sistema
tântrico, encontramos Babalon no arquétipo de Śakti que, quando
relacionada ao glifo da Árvore da Vida, abrange as ideias que envolvem a
mística de Vênus e os atributos da esfera de Binah como uma expressão do
Sagrado Feminino e da Grande Deusa em particular.
Em LIBER AL VEL LEGIS (I:22) Nuit diz: Eu sou conhecida por vós pelo meu
nome Nuit, e por ele, por um secreto nome o qual Eu lhe darei quando, afinal
ele conhecer-me. O secreto nome de Nuit é Babalon, uma descoberta de Cro-
wley enquanto jornava no 12° Aethyr, como registrado em LIBER 418: A VI-
SÃO & A VOZ.
O tema central que envolve a visão do 12° Aethyr é o Atu VII do Tarot de
Thoth, O Carro. A letra hebraica atribuída a esse atu é Cheth-H e o signo zo-
diacal é Câncer. No curso de progresso na A∴A∴, Cheth representa a tarefa
central do Adepto Exempto 7°=4 a Magister Templi 8°=3 . Toda doutrina
que envolve essa tarefa se encontra em LIBER CHETH, considerado um relato
acurado de um Adepto.
Uma analise bem acurada da visão do 12° Aethyr provê uma clara com-
preensão dos Mistérios de Babalon. A tradução do nome Babalon é O Portal
do Sol. No cânone thelêmico, o Sol também é conhecido como o Deus ON.
Portanto, Babalon é o Portal do Deus ON. As letras O & N referem-se aos Ca-
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

minhos de Ayin-O e Nun-N na Árvore da Vida, ambos abrindo os Portais de


Tiphereth. Crowley deixou instruções claras em LIBER ALEPH: O LIVRO DA SA-
BEDORIA OU DA LOUCURA, que estes Caminhos contêm fórmulas distintas de
iniciação. O Caminho do Homem-ON é distinto do Caminho da Mulher-NO.
Nossa intenção no progresso desse estudo é explorar o Caminho de Babalon
ou o Caminho de NO, equilibrando os trabalhos de homem e mulher na Ár-
vore da Vida.
Babalon aparece em LIBER AL VEL LEGIS velada sob a imagem da Mulher
Escarlate, um arquétipo lunar-vaginal que complementa o arquétipo solar-
fálico da Besta. Na prática tāntrika thelêmica a Mulher Escarlate e a Besta
assumem os papeis de Sacerdotisa e Sacerdote no curso do trabalho mágico
ou Missa. O que se segue, é uma exploração da Mulher Escarlate em O LIVRO
DA LEI.

[AL I:15]: Agora vós deveis saber que o sacerdote escolhido & apóstolo do infinito es-
paço é o príncipe-sacerdote a Besta; e para sua mulher chamada a Mulher Escarlate é
dado todo o poder. Eles deverão reunir minhas crianças no interior dos seus envoltó-
rios: eles deverão trazer a glória das estrelas para o interior dos corações dos homens.

Este verso define os dois Oficiantes da Missa, Homem e Mulher encarnando


os arquétipos de Therion e Babalon. Na Árvore da Vida estes arquétipos se
associam a Chokmah e Binah como as raízes fundamentais da polaridade
Macho-Fêmea. Esses arquétipos são forças espirituais de tremenda
expressão. Isso significa que no curso da Missa o Sacerdote incorpora o
princípio divino de Chiah (Vontade Divina) e a Sacerdotisa o princípio divino
de Neshamah (Entendimento Divino), os agentes ou forças por trás desses
arquétipos, considerados os vetores que colocam a iniciação em movimento.
[AL III:43]: Deixe a Mulher Escarlate acautelar-se! Se piedade e compaixão e escrúpulo
visitarem seu coração; se ela renunciar à minha obra para divertir-se com antigas do-
çuras; então deverá minha vingança ser conhecida. Eu imolarei, a mim, sua criança: Eu
alienarei seu coração: Eu a expulsarei por causa dos homens: como uma sucumbida e
desprezada meretriz ela deverá arrastar-se por entre ruas sombrias e molhadas, e
morrerá indiferente, fria e faminta.

Até aqui tem ficado claro que a Mulher Escarlate é um arquetipo invocado e
encarnado na Sacerdotisa. Quando falamos que se trata do nome de ofício da
Sacerdotisa, é porque ela encarna o papel divino como Mãe e Alta
Sacerdotisa no seus ritos de adoração. Este é um arquétipo profundo de
Binah (funcionando de forma reflexa em Geburah). Dessa maneira,
Neshamah, que representa esse princípio arquetipal no microcosmo, é um
estado de consciência acessado e que corresponde ao Grau de Mestre do
Templo: NEMO.
Deixe a Mulher Escarlate acautelar-se, nesse caminho, não seria uma cha-
mada de atenção para nossa faculdade de Binah, acessando ou despertando
o Neshamah no interior de cada um? Piedade e compaixão e escrúpulo não
estão associados a Binah. Essas são características do Ruach e do Nephesh.
Binah ama incondicionalmente, sem julgar, abraçando a todos sem distinção.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

E essa não é a fórmula da Mulher Escarlate, a de receber todas as coisas em


si mesma? Esses três comportamentos do Ruach/Nephesh não devem visitar
seu coração, quer dizer, Tiphereth, seu Filho, o centro-ego-consciência que
Neshamah emprega a seus serviços. Esse é um aviso que marca uma linha
clara entre Nephesh e Neshamah, os aspectos inferior e superior do incons-
ciente, entre a instintividade dos desejos e apegos e a consciência sacramen-
tada.
Renunciar à minha obra é uma referência clara a Ra-Hoor-Khuit, quer di-
zer, a Obra do Sagrado Anjo Guardião. A ideia, portanto, reside na transmu-
tação dos aspectos inferiores ou instintivos do Nephesh nos aspectos supe-
riores e sutis da Neshamah. Uma vez que a Filha é entronada no lugar da
Mãe, ela deve manter-se como a Rainha (em Binah), não a Princesa (em Mal-
kuth). As antigas doçuras, portanto, é uma clara alusão aos apegos, comple-
xos e desejos que seduziam a Filha antes dela ser redimida pelo Filho ou Sa-
grado Anjo Guardião através da fórmula mágica contida na palavra ON. Aqui,
Ra-Hoor-Khuit não é apenas o Sagrado Anjo Guardião em Tiphereth, mas um
aspecto do Absoluto representado por Kether, cuja a aspiração deve ser fi-
nal. A vingança, assim, se trata de um ajustamento kármico pela perda de
foco de Neshamah. LIBER CHETH (13-15) explora esse tema de forma bem
simbólica: A ti serão concedidos alegria, e saúde, e riqueza e sabedoria quando
tu não fores mais tu. Então todo ganho será um novo sacramento, e ele não te
corromperá; tu comerás e beberás com os libertinos no mercado, e as virgens
jogarão rosas sobre ti, e os mercadores se ajoelharão e trarão para ti ouro e
especiarias. Também, jovens derramarão maravilhosos vinhos para ti, e os
cantores e as dançarinas cantarão e dançarão para ti. Contudo tu não estarás
ali, pois tu serás esquecido, poeira perdida na poeira.
[AL III:44]: Mas deixe-a elevar, a si mesma, em orgulho! Deixe-a seguir-me em meu
caminho! Deixe-a laborar a obra de maldade! Deixe-a neutralizar seu coração! Deixe-a
ser escandalosa e adúltera! Deixe-a ser revestida com jóias, e ricos trajes, e deixe-a ser
despudorada perante todos os homens!

Esse verso reflete a redenção da Filha que antes abitava o Palácio da


Perdição em Malkuth e que agora é entronizada no lugar de sua Mãe,
tornando-se a Rainha no Castelo do Santo Graal. Uma vez coroada a Filha
como Mãe, é possível resgatar ou empoderar a Grande Deusa, harmonizando
o feminine interior.
Seguir-me em meu caminho é o Caminho de Binah em direção a Kether. O
Livro da Lei contém cifras qabalísticas profundas. Em inglês, a frase deixe-a
laborar a obra de maldade [work the work of wickedness] tem três Ws [W + W
+ W = 666]. A palavra maldade [wickedness] vem da raíz wisdom [sabedoria].
Ou seja, que Ela realize a Obra do Sol e não permaneça apenas como seu re-
flexo (Luna-Yesod-Nephesh). Em outras palavras, trata-se de uma injunção
para que a Consciência-Binah assuma o trabalho de Chokmah, abraçando e
nutrindo a Palavra ou Vontade. Pois se tu não fizeres isto com a tua vontade,
então Nós o faremos não importando a tua vontade. Então que tu realizes o
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Sacramento do Graal na Capela de Abominações.19 Quando a alma (Mulher


Escarlate) realiza a Obra do Sol (WWW = 666), seu próximo passo é a Tra-
vessia do Abismo.
Deixe-a ser escandalosa e adúltera é uma referência a liberdade ou liberta-
ção das correntes do Velho Aeon que aprisionam a consciência feminina. A
Mulher não é de posse de ninguém. Ela é Ela Mesma.
Deixe-a ser revestida com jóias, e ricos trajes. Compare com LIBER AL VEL
LEGIS (I:61): vós devereis exibir ricas jóias. Estas são as vestes de uma Rainha
(Binah).
Deixe-a ser despudorada perante todos os homens. Essa é uma injução para
que a alma se liberte do puritanismo estabelecido no Velho Aeon, que vela
de maneira perniciosa os símbolos da imortalidade. É uma injunção para que
a Mulher Escarlate seja Ela Mesma, sem vergonha, livre do pecado, livre da
restrição diabólica que poda e torna casta/fechada a alma.
[AL III:45]: Em seguida Eu determino alçá-la a pináculos de poder: então Eu determi-
no gerar dela uma criança mais poderosa que todos os reis da terra. Eu a encherei com
prazer: com minha força ela deverá perceber & arremeter à veneração de Nu: ela ob-
terá Hadit.

Nesse caminho, a Filha em Malkuth é redimida e entronada em Binah. Uma


vez como Rainha, ela se une ao Pai (Chohmah) para produzir uma nova
Criança Mágica. Uma vez que Binah está além de Geburah, os pináculos de
poder são uma referência a Chokmah. A Criança dessa união não é pálida
como o Ego, cuja coroa é de papel. Trata-se da Nova Criança Dourada de
Tiphereth. Nesse processo éla é coroada como a Mãe Triunfante. Ela não
precisa mais procurar pelo Falo ou Lança Sagrada. Ela é completa e seu
caminho é Kether.

19 LIBER CHETH, 11.


Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

ATU XI: A LUXÚRIA DE THETH

O décimo nono Caminho é a Inteligência de todas as atividades e se-


res espirituais, sendo assim chamado por causa da abundância di-
fundida por ele a partir da mais elevada bênção e da mais sublime
glória.
Neste avanço pela Árvore da Vida, o Caminho da Luxúria leva-nos à bei-
ra do Abismo, tal como O Eremita. Embora talvez pareça paradoxal, à medi-
da que nos aproximamos da origem de Tudo, da Simplicidade Última, o sim-
bolismo torna-se cada vez mais complexo. Nas cartas inferiores, as energias
e experiências podem ser descritas como precisão através de palavras. Neste
nível da Árvore e nos níveis superiores, aprendemos basicamente através da
meditação sobre o inter-relacionamento de símbolos, que contém segredos
muito profundos. Poucas pessoas, por exemplo, chegariam a suspeitar que
este desenho de uma mulher com um leão poderia ter um significado tão
amplo.
Em termos de evolução, o décimo nono Caminho é o primeiro Caminho
de Microprosopus, a Fisionomia Menor. Ele é o jorro de energia de Chesed
para Geburah, no processo de manifestação; é o Caminho no qual o Fogo
torna-se Luz, pois a manifestação é Luz, ao passo que as Supernas são a Es-
curidão ígnea. Assim, no seu BOOK OF TOKENS, Paul Foster Case fala da radian-
te escuridão da Luz Infinita.
Para o Caminho da Luxúria é atribuída a letra hebraica Teth e o mais
poderoso signo do zodíaco, Leão. Teth significa sepente, e a permutabilidade
entre o simbolismo do leão e da serpente é importante para o significado
desta carta. Como os símbolos se alternam, compreendemos que as realida-
des que eles representam também podem ser permutadas. O Espírito Unitá-
rio assume qualquer forma que Ele queira, o que é uma importante lição
deste Caminho. A ideia é claramente expressa no Zohar: os três princípios
elementares da natureza são o fogo, o ar e a água. Na verdade, eles são uma só
função e uma só substância, podendo se transformar um no outro. O mesmo
acontece com o Pensamento, a Fala e o Logos: eles são todos uma única e a
mesma coisa.
Quando a Serpente segura a própria cauda com a boca, ela representa a
sabedoria e o Universo (observe aqui que o paladar é atribuído a Teth no
SEPHER YETZIRAH), ao passo que a mesma Serpente é descrita no Gênesis co-
mo a Tentadora. Além disso, na medida em que ela é ígnea e fundamental
Força da Vida, ela é também a Redentora. Esta é a mesma ideia aparente-
mente contraditória encontrada na principal carta da matéria, O Diabo, o
qual também é Tentador e Redentor. Curiosamente, o leão às vezes é rela-
cionado com Saturno, a suposta morada do Diabo. A Qabalah felizmente nos
permite colocar estes símbolos numa perspectiva muito clara, pois Binah-
Saturno é a causa última do diabólico aprisionamento da matéria.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Precisamos admitir que o leão tem sido usado em tantas culturas e pan-
teões simbólicos diferentes que passou a ter significados mutuamente exclu-
sivos. Em geral, porém, as referências ao leão estão relacionadas com sua
força física. (Esta, de qualquer forma, não é uma carta do intelecto). A força
mais poderosa que o homem pode conceber é a Luz do Sol, o regente de Le-
ão. E, como iremos ver, ao leão é permitido abrir o Pergaminho Sagrado do
Apocalipse. Isto significa que o Poder Solar, representado por esta carta, po-
de abrir os níveis superiores da consciência além do próprio Sol (Tiphereth).
No simbolismo, isto é mostrado sobretudo graficamente por representações
do Deus Solar Mitra, que tem corpo de homem e cabeça de leão.
O simbolismo do leão sempre implica uma força bruta que pode ser u-
sada de forma construtiva ou destrutiva. Este é o Caminho no qual a Espada
de Geburah é formada, indicando que está sempre presente a possibilidade
de o filósofo ser esmagado pelo poder que invoca. Esse perigo é enfatizado,
por exemplo, na história de Daniel no Covil do Leão, a qual está estreitamen-
te relacionada com o simbolismo desta carta. Daniel, assim como Moisés, é
um Mago (taumaturgo) que detém o poder destrutivo dos leões por meio da
pura força de vontade.
No simbolismo da Alquimia, o leão assume três formas diferentes. Pri-
meiro, existe o Leão Verde, a energia da natureza antes de ser purificada e
submetida à vontade. Em seguida, vem o Leão Vermelho, representado na
carta Luxúria. Esta é a força da natureza sob perfeito controle, aquilo que os
alquimistas descreveriam como o Enxofre (Energia Solar) combinado com
Mercúrio (Vontade). Em sua descrição dessa carta Waite dá ênfase a esse
significado representando o símbolo do infinito de O Mago acima da cabeça
da mulher; esta é a força de vontade diretora do décimo segundo Caminho,
aquele que Mathers chama de Mercúrio Filosófico. Por fim, existe o Leão Ve-
lho, significando a consciência completamente purificada, a ligação de todos
os componentes da Alma com o Sagrado Anjo Guardião, que é mais velho do
que o próprio tempo.
A Luxúria representa a mais importante fórmula iniciatória que lida
com o Poder da Serpente. Esse poder é utilizado para estimular os diversos
cakras ou centros de energia do corpo. Os princípios encerrados no número
(tal com são definidos acima) nos ensinam como utilizar este poder, o que
não significa sugerir que o processo é frio e distante. Ao contrário, o título de
Crowley, Luxúria, é bastante apropriado. O que está envolvido é o desenvol-
vimento de um frenesi divino sugerido pelas instruções frequentemente re-
petidas: inflama-te a ti mesmo através da Oração. Ou então, com diziam os
alquimistas, o calor do forno faz a Pedra. O calor é uma grande paixão dentro
dos limites de um exercício tal como o Pilar do Meio.
No Apocalipse de São João, um dos grandes documentos qabalísticos,
está escrito que o Leão, símbolo da Tribo de Judá (os descendentes de Davi),
havia conquistado o direito de abrir o pergaminho e romper os sete selos.
Quando os selos estão prestes a ser rompidos, porém, descobrimos que o
Cordeiro tomou o lugar do Leão. O Leão, de fato, transformou-se no Cordeiro
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

dos Sete Olhos. Estes são os sete cakras ativados pelo poder da Serpente-
Leão. Em termos qabalísticos, isto significa que controlar perfeitamente as
energias simbolizadas pelo Leão equivale a romper os selos do Livro da Rea-
lidade acima do Abismo. Tal como O Eremita, A Luxúria também é uma pas-
sagem para Daath.
O conceito ou a forma dessa letra hebraica, Teth, evoluiu para o símbolo
da Serpente, embora a Antiga Serpente permaneça nahesh, a letra banida do
Caminho da Morte. As formas semita e cretã da letra Teth formam uma cruz
envolta em um círculo, que confere com a Marca da Besta thelêmica, um
símbolo egípcio e hermético que simboliza a Terra (Malkuth): T. Esse sím-
bolo foi usado pelos egípcios também como um amuleto de proteção e como
tal foi associado a Sekhet, a deusa-leoa do furor sexual e Taurt, a mantene-
dora da malha estelar ou matrix. A Serpente e a Cruz sempre tiveram um
bom relacionamento, embora o simbolismo tenha sido batizado por sangue
com o advento da cristandade.
O cruzamento entre os Caminho de Teth e Gimel forma a sombra ou o re-
flexo inverso abaixo do Abismo da Cruz do Calvário. Na linguagem simbólica
da cultura thelêmica, este cruzamento entre a Lua – Sacerdotisa da Estrela de
Prata – Gimel e o Fogo – Leão-Serpente – Teth produz a Marca da Besta no
centro do Hexagrama Unicursal, a Rosa Cruz:20

A Lua foi um dos primeiros dispositivos primitivos através do qual era pos-
sível mensurar o tempo. Como um símbolo do fluxo ou períodos de tempo ou
periodicidade, a Lua foi atribuída a Thoth ou Tahuti. Thoth proveu Ísis com
conhecimentos acerca da magia após ela seguir os conselhos de sua irmã
sinistra, Neftis, interrompendo o fluxo temporal por seus apelos a Rá, o deus
Sol. Quando a Mulher Escarlate (Lua) e a Besta (Sol) se unem no entrecru-

20 Para um estudo profundo sobre este simbolismo veja a obra SAFIRA ESTRELA: A MAGIA SEXUAL DE ALEISTER CRO-
WLEY.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

zamento vibracional dos Caminhos de Gimel e Teth, o tempo é interrompido,


então Thoth pode descer dos céus a terra na intenção de sussurrar seus fei-
tiços e palavras de poder nos ouvidos de Ísis.
Este Arcano de Mistério foi replicado, de forma corrupta, em O LIVRO DE
ENOCH, que descreve como os filhos dos Elohim desceram a terra para copu-
lar com as filhas de Eva. Os filhos dos Elohim permaneceram entre as mulhe-
res e ensinaram a elas magia, alquimia e ciências. O resultado da cópula en-
tre as filhas e Eva e os filhos dos Elohim produziram uma raça de gigantes,
os Nephelins.
Os Caminhos de Teth, Yod e Kaph são explorados com profundidade pelo
Adepto Maior. Tendo ele conquistado a iniciação do Eu Solar, tornou-se o
cinco igual a seis e agora ele deve reverter o processo, tornando-se o seis i-
gual a cinco. Isso ele faz através da evocação e da transmutação alquímica
nas fórmulas ARARITA e VITRIOL.
O Hexagrama Unicursal acima demonstra a fórmula alquímica com os
Quatro Elementos coroados pelo Espírito sob o governo do Sol e da Lua. Ara-
rita é um notariqon para Um é seu Início. Um é seu Espírito. Um é sua Trans-
mutação. E Vitriol é um termo latino que significa Visitae Interiora Terrae
Rectificando Invenies Occultum Lapidum.
Ao Adepto é dito: Visita o interior da terra e retificando-te encontrará a
Pedra Filosofal. A Pedra Filosofal é encontrada nas profundezas da Terra
(Malkuth), perdida entre as raízes da Árvore da Vida. A retificação que essa
fórmula oculta é a capacidade de extrair o sutil do grosseiro, o ouro do metal
base ou o elixir da vida do veneno da mente, manifestado através das secre-
ções corporais.
A quintessência de tudo, resumida na fórmula ARARITA, também é co-
nhecida como o AZOTH mágico, o Alfa & Ômega, o início e o fim. O fim do
tempo também é seu início. O Azoth contém o Alfa e o Ômega, o Aleph e o
Tav, o A e o Z: AZt.
O Sol abraçado pela Lua é o Santo Graal de Nossa Senhora Babalon. No
Caminho de Teth, Luxúria, portanto, Nuit e Hadit, o Espaço e a Consciência,
têm sua total expressão na imagem de Babalon montada sobre o Leão, a Mu-
lher Escarlate e a Besta, um Arcano de Mistério transfigurada na BÍBLIA como
Eva e a Serpente no Jardim do Éden.
Na cerimônia egípcia da Abertura da Boca do defunto, o Rei (ou Iniciado)
jornava pelo submundo (Duat), atravessando os odoríferos caminhos de luz
que levam aos jardins de Nuit. Alguns consideram que a imagem que mais
expressa a ideia deste Caminho é àquela da Mulher (Escarlate) fechando a
boca do leão. É dessa imagem que vem a ideia ou poder de domar bestas sel-
vagens. Você lê entre linhas?
A habilidade para se comunicar e compreender a linguagem bestial das
criaturas é listada entre os poderes dos anjos caídos ou espíritos (daimones)
da goécia. Estas criaturas espirituais são conjuradas a obedecer o mago a-
través de uma tecnologia da magia conhecida como evocação, um glamoroso
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

procedimento de feitiçaria cerimonial. Trata-se de uma operação considera-


da perigosa por muitos magista.21
Mas aqui uma reflexão:
Não é necessário para ninguém com faculdades elevadas desenvolvidas
convocar nenhum espírito goético para aprender a se comunicar com a lin-
guagem bestial, ecos do abismo, gritos no escuro. O método que envolve um
entendimento sensível e a execução mágica da Lei de Thelema não pode ser
empregado, ensinado ou aprendido através do construto ordinário da mente.
Àqueles que têm a imagem romântica – ou profana – de Nuit arqueada sobre
o homem em magia sexual para fins estritamente pessoais, mesquinhos ou
egoístas, estão muito longe do que a Lei de Thelema de verdade é. Como to-
do Colegiado de Mistérios, a Corrente Set-Tifon compreende dois Arcanos de
Mistério: os Maiores e os Menores.
ARARITA e VITRIOL são fórmulas mágicas impressas em O LIVRO DA LEI na
injunção que revela a gnose de Thelema: Amor é a lei, amor sob vontade.22

O que segue é uma prática preliminar do Culto de Śakti-Babalon para


Probacionistas da Sociedade da Estrela & Serpente. Em níveis avançados, uti-
lize-se a magia sexual da O.T.O. cujas técnicas não devem ser executadas por
Probacionistas de modo algum ou por Neófitos sem a instrução direta de seu
Superior na Ordem.
É indicada a leitura do Atu XI: Tesão de Fernando Liguori em RITUAIS,
DOCUMENTOS & A MAGIA SEXUAL DA O.T.O. (Vol. II).

21 O LEMEGETON: A CHAVE MENOR DE SALOMÃO, trata da goécia, feitiçaria cerimonial que opera com as forças inver-
sas ou sombras dos 72 Anjos (Shem ha-Menphorasch). Como tal, são consideradas forças demoníacas controla-
das através do poder da evocação mágica.
22 AL VEL LEGIS, I:57.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

O CULTO DE ŚAKTI-BABALON
RITUAL DO PORTAL DE BABALON

Elemento Espacial: Fogo


Elemento Sideral: Fogo
Querubin: Leão
Direção: Sul
Deusa: Babalon
Horário: ao meio dia do Sol
Associação zodiacal do Tarot: Atu XI, Luxúria
Sinal de Tifon:
Ela ativa os cakras da coroa (Kether), coração
(Tiphereth) e pés (Malkuth). Ela também invoca
e coloca em operação cakras fora do corpo, o
circuito cósmico de força. Essa mudrā é utilizada
para estabelecer maestria sobre os três mundos
ou três estados de consciência e eliminar as con-
tradições interiores que limitam a expressão da
Verdadeira Vontade. É utilizada também para
defesa e proteção psíquica. A execução dessa
mudrā abre e estabiliza o canal de comunicação
com entidades praeter-humanas.

Estágio 1: Preparação
Prepare seu Templum Babalonis. O altar de Babalon no Sul. No centro do
altar, coloque a maṇḍala de deusas. Distribua nas pontas do Pentagrama
Tifoniano Retificado os quatro elementos e o espírito nas letras do Nome
Mágico: AMShRTh.
No centro, coloque um Cristal de Sacrifício e nele apoie o Atu XI do Ta-
rot de Thoth.23 Esse será o altar do Atu XI do Tarot, que deve ser invocado
na forma de uma criatura espiritual objetiva, a qual você deverá, a partir
de então, cultivar uma relação íntima.
Na Sociedade da Estrela & da Serpente, os Arcanos do Tarot são arqué-
tipos do inconsciente da humanidade convocados na forma de entidades
objetivas, criaturas viventes do Corpo da Deusa. Nesse trabalho, nós com-
preendemos que um tarólogo é aquele que completou o ciclo de conjura-
ções e estreitou os laços em uma relação íntima com essas criaturas atra-
vés de pactos e sacrifícios.24 Por meio dessa relação próxima com os dai-
mones do Tarot, o magista torna-se um mestre oracular das cartas. Trata-
se de um percurso iniciático que envolve magia, estudo e meditação.25
Coloque também sobre o altar a telesmática Babalon & a Besta.26 Você
pode colocá-la na parede a sua frente, caso queira. O importante é que ela

23 Três versões podem ser usadas: a versão de Crowley, pintada por Harris; a versão de DuQuette ou a versão
de Liguori, pintada por Nicolas Furlan Moraes.
24 Esse trabalho é realizado através da Maṇḍala Mágica do Tarot, disponível a partir do Grau de Neófito, e se

estende por toda a jornada de iniciação na Sociedade da Estrela & da Serpente.


25 Vela Lição 1.1: Magia Ritual & a Dedicação do Santuário a uma Deidade e Lição 1.2.: Procedimentos Teúrgicos.
26 Veja abaixo: Meditação na Telesma de Babalon.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

esteja na altura dos olhos quando você se sentar para meditar na frente
do altar
A meditação27 na deidade, neste caso, Babalon no Sul, envolve a assun-
ção de forma divina da Deusa (para mulheres) ou da Besta (para ho-
mens).28 Babalon & a Besta convocam uma energia libidinosa, essencial-
mente explosiva, marcial e sexual.29 Portanto, a vestimenta adequada para
este trabalho mágico-espiritual é o corpo nu adornado de totens animais
como pele, ossos e dentes (para o homem) e joias, pedras e colares (para
mulheres).30
Que todos os elementos utilizados na cerimônia estejam devidamente
consagrados.
Estágio 2: Meditação na Telesma de Babalon & a Besta (estágio 1)31
Bata o sino: 1-3-3-3-1.32
Vestido apropriadamente, sente-se frente o altar de Babalon no Sul.
Passo 1: Execute o Ritual do Relaxamento.33
Passos 2: Abra os olhos. Escaneie a telesma de baixo para cima. Comece do
canto direito e lentamente, em um linha reta, dirija o olhar até o canto es-
querdo. Um pouco mais acima, novamente no canto direito, dirija o olhar
em uma linha reta até o canto esquerdo. Continue lentamente até chegar
no alta da telesma. (Pausa).
Passo 3: Repita o passo 2, mas dessa vez, de cima para baixo e do canto es-
querdo para o canto direito da telesma. (pausa).
Passo 4: repita os passos 2 e 3, mas com os olhos fechados dessa vez. Con-
voque das profundezas de sua memória cada detalhe observado nos pas-
sos 2 e 3. (pausa).
Passo 5: Observe sua mente ainda com os olhos fechados. Sem julgar, con-
denar ou se envolver com as imagens que aparecem na tela de sua mente,
mantenha-se como uma testemunha ocular de tudo o que é projetado nela
a partir dos recessos profundos da mente inconsciente. (pausa).
Levante-se e realize o próximo estágio.
Estágio 3: Abertura da Kiblah e Invocação da Corrente Set-Tifon
Estágio 4: Invocação da Deusa34
Dirija-se ao Sul.
Acenda uma vela vermelha no altar (representando as qualidades le-
oninas do quadrante).

27 Vela Lição Lição 4: Meditação Qabalística.


28 Sobre assunção de formas divinas, veja Lição 1.2: procedimentos Teúrgicos.
29 Veja descrição acima sobre o Atu XI. Veja também O LIVRO DE THOTH (Crowley) e RITUAIS, DOCUMENTOS & A MA-

GIA SEXUAL DA O.T.O. (Vol. II), por Fernando Liguori, para uma descrição do Atu XI nos mistérios da O.T.O.
30 Mas o robe da arte pode ser utilizado caso o magista não esteja a vontade ou ainda não se sinta preparado

para realizar todo o procedimento nu.


31 Essa técnica é apropriada para meditações nos Atus do tarot.
32 Em LIBER AL VEL LEGIS (I:60) temos: Meu número é 11, conforme todos seus números que são nossos. As 11

(onze) batidas no sino [1 + (3x3) + 1] registram o impulso inicial do tesão – mudança crepitante em movimen-
to – no início do ritual. Note que 3x3 = 9, o número da letra Teth (T), a serpente do Atu XI, Luxúria ou Tesão.
33 Veja Lição 4: meditação Qabalística.
34 Vela Lição 1.1: Magia Ritual & a Dedicação do Santuário a uma Deidade.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Assuma a forma divina da Deusa Babalon com o Sinal de Tifon e pro-


clame:
Babalon, Rainha das Abominações, Senhora do Templo da Prostitu-
ta Sagrada e do Furor Sexual. Feiticeira Vermelha das Tumbas do
Submundo, Eu invoco sua presença, Prostituta Sagrada. Que o por-
tal Sul do Fogo, Morada de Hadit, faça com que a luz divina penetre
em mim e me lembre de quem eu sou para que eu possa lembrar a
todos quem são. Eu sou a chama que arde eternamente.
Eu sou a meretriz que sacudiu a Morte.
Esta sacudida dá Paz a Luxúria Saciada.
Imortalidade jorra de meu crânio
E música da minha vulva.
Imortalidade jorra também da minha vulva
Pois a minha Prostituição é um doce odor como um instrumen-
to afinado sete vezes.
Jogado a Deus o Invisível, aquele que tudo governa.
Que percorre dando o penetrante grito do orgasmo.
Trace o Pentagrama de Invocação de Leão:

Traçando o pentagrama, vibre: III OOO UUU ÔÔÔ.


Traçando o sigilo de Leão, vibre: AAA EEE ÊÊÊ.
Execute o Sinal do Entrante e retorne no Sinal do Hierofante Invicto
e proclame:
E após todos os fantasmas e assombros terem sido banidos, tu será
digno de ver a sagrada flama sem forma, o Fogo oculto nas profun-
dezas da Escuridão, o Relâmpago de Luz que fende a Noite.
A Deusa Babalon é percebida como uma mulher sentada sobre um
leão movendo-se pelo quadrante Sul.
Estágio 5: Exercício Respiratório
Estágio 6: Tantra Yoga Qabalístico
Estágio 7: Invocação do Daimon do Atu XI do Tarot
Passo 1:
Acenda a vela do altar de Babalon e ao fazê-lo, recite a invocação do Fogo
Sagrado no Sinal de Hierofante Invicto:
O Sol é o jorro e a fonte do Fogo.
O Fogo é o símbolo da Pira Incandescente e Furiosa do Cosmos.
O Fogo é a fonte da Mente que engendra tudo o que existe.
Eu contemplo o Fogo reluzente no escuro.
Fogo! Fogo! Fogo! Eu escuto tua voz crepitante.
Do Fogo vem a Luz que irrompe a Escuridão.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

O Fogo no Escuro, a Besta em chamas.


Passo 2: Consagração da Água Lustral
Acenda uma pedra de carvão vegetal no fogo da vela. Quando o carvão já
estiver incandescente, coloque-o no pote preparado para Água Lustral e
diga:
Eu inflamo a Água da Alma com a Luz da Mente na intenção de purifi-
car a matéria e expulsar todos profanos.
Consague o altar com Água Lustral.
Passo 3: Contemplação da Deidade
Sente-se na frente do altar de Babalon.
Execute 11 ciclos de sūrya-bedhana-prāṇāyāma.
Mapeie a imagem do Atu XI vagarosamente como fez na meditação ini-
cial com a telerma de Babalon & a Besta. Nesse processo, observe todas
as características do Atu XI, suas cores e traços. (Pausa).
Com os olhos fechados, traga na tela da mente a imagem do Atu XI en-
quanto mentalmente pronuncia o encantamento:
Babalon, tesão, furor sexual.
Babalon, poderosa Casa do Sol.
Fogo, paixão, volúpia e êxtase.
Mãe libertadora, força, luxúria e tesão.
A imagem de Babalon deve crescer na tela de sua mente até que seu
tamanho se expanda por todo o santuário. Quando isso ocorrer, você
deve se ver dentro do corpo de Babalon.
Enquando visualiza a imagem da deidade crescendo, entoe o encanta-
mento:
RU-ABRA-IAF MRIODOM BABALON-BAL-BIN-ABAFT ASAL-ON-AI A-
PhEN-IAF I PhOTETh ABRASAX AEOOU ISChURE.
Passo 4: Invocação de Deidade
De pé, na postura do Devoto da Estrela & Serpente #1, invoque:
Parte 1 - Babalon:
Oh Babalon, tu que és a Casa do Sol. Tu que recebe em Ti o Leão-Serpente.
Tu Prostituta da Babilônia, o tesão que me impele, a fúria poderosa do
calor sexual, impulso divino.
Mãe das Abominações, a primeira, a fonte. De Ti tudo vem e para Ti tudo
retorna.
Brada alto! Brada alto! Gira a Roda, Ó minha Mãe, Ó Casa do Sol!
RU-ABRA-IAF MRIODOM BABALON-BAL-BIN-ABAFT ASAL-ON-AI A-
PhEN-IAF I PhOTETh ABRASAX AEOOU ISChURE.
Coloque incenso de mirra (Lua) no braseiro e diga:
Babalon, a ti ofereço esse incenso e aroma para que tu faças daqui a sua
morada.
Fumigue o Atu XI com o braseiro, fazendo o sinal ⨂.
Parte 2 – Leão-Serpente:
Leão-Serpente, Sol, ON. Tu, Sol Espiritual! Shaitan, Tu Olho, Tu Volúpia!
Leão-Serpente, Sol, ON. Tu, Sol Espiritual! Shaitan, Tu Olho, Tu Volúpia!
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Leão-Serpente, Sol, ON. Tu, Sol Espiritual! Shaitan, Tu Olho, Tu Volúpia!


Tu, auto-causado, auto-determinado, exaltado, Mais Alto!
Brada alto! Brada alto! Gira a Roda, Ó meu Pai, Ó Shaitan! Ó Sol, ON!
AR-O-GO-GO-RU-ABRAO SOTOU MUDORIO PhALARThAO OOO AEPE.
Coloque incenso de olíbano (Sol) no braseiro e diga:
Tu Sol, ON, Leão-Serpente, a ti ofereço esse incenso e aroma para que tu
faças daqui a sua morada.
Fumigue o Atu XI com o braseiro, fazendo o sinal ⨂.
Parte 3 - Babalon:
Tu, a Roda, tu, o Útero! Tu, o Mar, a Habitação!
Babalon! Tu, Mulher da Prostituição! Tu, Portão do Grande Deus ON!
Tu, Senhora do Entendimento dos Caminhos!
Salve Tu, a impassível! Salve, irmã e noiva de ON, do Deus que é tudo e
nada, pelo Poder dos Onze!
Tu, Virgem andrógina, Tu Secreta Semente! Tu Sabedoria inviolada!
Poderosa és Tu:
RU-ABRA-IAF MRIODOM BABALON-BAL-BIN-ABAFT ASAL-ON-AI A-
PhEN-IAF I PhOTETh ABRASAX AEOOU ISChURE.
Coloque incenso de mirra (Lua) no braseiro e diga:
Babalon, a ti ofereço esse incenso e aroma para que tu faças daqui a sua
morada.
Fumigue o Atu XI com o braseiro, fazendo o sinal ⨂.
Parte 4 – Leão-Serpente:
Tu Fogo Poderoso que Arde.
Besta, Urro das Profundezas.
Tua língua é incompreensível aos homens pois seus ouvidos não compre-
endem o teu Urro.
Cospe Fogo Dragão! Salta crepitante do Útero da Mãe!
Brada alto! Brada alto! Gira a Roda, Ó meu Pai, Ó Shaitan! Ó Sol, ON!
AR-O-GO-GO-RU-ABRAO SOTOU MUDORIO PhALARThAO OOO AEPE.
Coloque incenso de olíbano (Sol) no braseiro e diga:
Tu Sol, ON, Leão-Serpente, a ti ofereço esse incenso e aroma para que tu
faças daqui a sua morada. Eu consagrarei a Ti sacrifícios diversos e ofe-
recerei a ti minhas preces e orações.
Estágio 8: Meditação na Telesma de Babalon & a Besta (estágio 1)35
Estágio 9: Tantra Yoga Qabalístico
Estágio 10: Fechamento
Agradeça a deidade:
Oh Babalon, agora que Tu se estabeleceu neste Santuário da Magia de
Luz, graças eu dou a Ti. Que nossa união e compromisso possam ser
verdadeiros e que ambos possamos nos auxiliar.
Bata o sino: 3-5-3. Diga:

35O Estágio 2 é uma técnica de magia sexual apropriada apenas a Adeptos e Grão-Neófitos. Neófitos devem
pedir instruções diretas de seu Superior na Ordem.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

Santificado seja nossa união. Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
Amor é a lei, amor sob vontade.

Amor é a lei, amor sob vontade.


Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

IMAGESN & ORÁCULOS


BABALON & A BESTA
Frater DaimonOZ
Probacionista da A∴A∴

Sob Orientação de
Fr. Set-Apehpeh, 246 ∵
Adeptus Exemtus da A∴A∴

Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

E sta ilustração chama-se Babalon & A Besta e ela é a exata represen-


tação da máxima da Magia Thelêmica: Amor sob Vontade. Na imagem,
vemos a Deusa Babalon sobre a Besta, cavalgando imperiosa despu-
dorada com toda Glória e Poder. Ela porta em seus braços o Bastão
de Duplo Poder – a Vara de Heru-Ra-Ha, as correntes ativas de Ra-hoor-
Khuit unidas as correntes negativas de Hoor-paar-Krat. Heru-Ra-Ha é a
Consciência Divina manifesta na Matéria, a Incorporação do Magista Thelê-
mico na mais elevada Iniciação em Vida. A Baqueta com a Mulher Escarlate
simboliza a Filha da Fortitude com seu Falo Espiritual, a centelha interior
flamejante em todo ser, Hadit. A região atribuída ao anāhata-cakra é chama-
da de Berço da Deusa, onde a Graça divina habita o devoto.
A Baqueta ascende da região do Terceiro Olho, o ājñā-cakra da Besta (o
Homem) onde crepita a Marca da Besta entre seus chifres e representa a
manifestação mais elevada do Falo, o Sol (666) entre os Sete Planetas (uma
manifestação da Deusa Babalon, nomeada como o Portal do Sol), o Sêmen
adentrando e fertilizando a Vulva de Babalon como Set, o Leão-Serpente.
Desse encontro entre Besta e Babalon, Falo e Vulva, nasce o Bebê do Abismo,
o Elixir-ARARITA, sendo a união das Essências masculinas e femininas nas
Zonas de Poder (cakras) energizadas pela Serpente de Fogo, a kuṇḍalinī-
śakti.
Esse Elixir (Set/Mezla/Shin+Teth) é produzido e magnetizado no corpo
da e pela Alta Sacerdotisa entronada como Nu-Isis (a Oráculo da Palavra
vinda da Zona Malva do Silêncio das Supernas e das regiões Transplutonia-
nas, da Antena Kether para a Casa Malkuth – funcionando como Hexagrama
Sagrado). Crowley e Grant sustentavam que o Hexagrama Unicursal nada
mais era que um Selo de Set, como a Flor que nasce das essências dos plane-
tas, encontrando completude no Heptagrama de Babalon. A influência da
Mãe como Nuit, Heh (Binah), da Fórmula IHVH, e Filha, Heh final (Malkuth),
Ísis, depois das Bodas com o Filho, Vav (Tiphereth), Therion, que se trans-
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

forma no Pai, Yod (Chokmah), Hadit - o Amor sob Vontade em Perfeição, co-
mo está no LIBER AL VEL LEGIS: Perfeito e Perfeito são unidade Perfeita e não
dois; não, são nenhum!36 Esse simbolismo é tratado minuciosamente no livro
SAFIRA ESTRELA de Fernando Liguori e aplicado no Liber XXXVI, o Ritual Safira
Estrela.
Na ponta inferior da Baqueta vemos o Magista executando o Sinal Má-
gico de Tifon em chamas. Esse Sinal indicado deve ser executado quando o
magista está no Quadrante Sul (Elemento Fogo) nos Rituais da Sociedade da
Estrela & Serpente. Do lugar de sua cabeça dispara Hadit no centro de Baba-
lon/Nuit, a Senhora do Infinito Espaço. O magista é arrebatado e tomado pe-
lo êxtase ao invocar a presença de Babalon. Não há mais separação entre
eles produzida pela natureza dual da Mente, pois ela foi dissolvida– o Cálice
preenchido com todo seu Sangue. Seu crânio serve como Taça para os lábios
de Babalon encarnando Kālī sobre o corpo moribundo de seu consorte, Śiva,
deitado em meio ao crematório, o Santuário do Fogo, da Vida e, portanto, da
Morte, o Sacrifício. Nesse momento, neste «Espaço» não há início, meio ou
fim. Este simbolismo possui raízes também nos mitos e representações ar-
tísticas, por exemplo, de São João Batista e Salomé onde a Sacerdoti-
sa/Prostituta carrega a cabeça decapitada do homem sobre um prato de pra-
ta, sobre isso existem tantas implicações místicas, além das implicações prá-
ticas da Magia Thelêmica.
O Elemento representado na ilustração é o Fogo, as vibrações vulcâni-
cas do Espírito, a Vontade vibrante como uma lava de enorme Potência e
Força surgindo da cabeça da Besta, uma imagem do Vulcão/Falo que dispara
as essências do interior mais profundo da Terra. A região do ājñā-
cakra/Chokmah influenciando a o mūlādhāra-cakra/Terra/Malkuth, o local
das reificações bestiais. A Besta, portanto é um símbolo cognato e cambiável.
O fluído escorre como secreções mágicas das coxas de Babalon, por outras
palavras, o Inconsciente inunda e invade o Consciente, dos campos Sutis pa-
ra o Material. As vibrações fluídicas afloram possuindo Força e Poder de ta-
manho imensurável, devido a isso existe um grande perigo ao se trabalhar
com seus aspectos vulcânicos, por exemplo, na Volúpia, a Energia Sexual em
estado mais denso – representado no undécimo Arcano Maior do Tarot de
Thoth. O magnetismo e poder provém da passagem da kuṇḍalinī-śakti des-
perta através dos Cakras principais, as Zonas de Poder, encontrando suas
contrapartes físicas nas glândulas endócrinas, porém seus lugares mais pre-
cisos se encontram na espinha dorsal.
O Caminho é feito com a Intenção formulada primeiramente no ājñā-
cakra e depois direcionada através de mudrās, entoações e visualizações (i-
maginação) em práticas místicas ou mágicas. Para isso é necessário um
grande controle sobre a Mente como um todo, aí reside o perigo anterior-
mente mencionado, pois qualquer pensamento estranho (influência qliphó-
tica presente nas partes cinzentas de Malkuth e dos corpos bestiais de Ne-
phesh e Guph) que invadir durante a prática escolhida poderá influir com-

36 AL VEL LEGIS, I:45.


Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

pletamente no resultado, podendo levar ao fracasso, entre outras conse-


quências indesejáveis, como uma inflação do Ego que levará ao descontrole
total diante de seus atos e pensamentos, obsessões ou possessões de criatu-
ras espirituais. A energia produzida será magnetizada, nutrindo e incorpo-
rando a qualidade de qualquer pensamento projetado no campo da Mente e,
por fim, manifesto pelo mūlādhāra-cakra em Malkuth. O meio de escapar
destes problemas é elevando a kuṇḍalinī acima dos cakras inferiores (mūlā-
dhāra-swāḍhiṣṭāna-maṇipūra) para a região do anāhata e além, onde não há
mais volta. No caso da elevação somente até as regiões dos cakras inferiores,
qualquer deslize a Serpente pode voltar ao seu estado adormecido, se enros-
cando novamente no mūlādhāra, precisando de um trabalho para que ela
possa ascender novamente. É necessário dedicar todo o trabalho a Deusa
assentada no Santuário do anāhata-cakra, tornando possível o auxílio do
daimon pessoal durante o trabalho espiritual.
De acordo com a Tradição Esotérica Ocidental, o Elemento Fogo, assim
como os outros, pode ser encontrado entre as correntes energéticas telúricas
ao se voltar ao Quadrante do Sul e para os outros elementos volta-se para
seus respectivos quadrantes. A invocação dos elementos telúricos deve ser
feito, por exemplo, no Ritual de Abertura da Kiblah da Sociedade da Estrela &
da Serpente, assim como no Ritual Menor e Maior do Pentagrama da Aurora
Dourada e, posteriormente, o Ritual da Estrela de Sangue, ou Rubi Estrela
elaborado por Aleister Crowley para a Astrum Argentum. No seu LIBER REGU-
LI, e também no Rubi Estrela, Crowley atribui o Sul à deidade Hadit, região do
calor infernal do Verão para o Antigo Egito, local que foi identificado por
Crowley e por Kenneth Grant como o lócus onde se encontraria a presença
do terrível Deus Set, ou Shaitan.
Durante a produção desta ilustração e dos últimos tempos que venho
estudando, me debrucei sobre O LIVRO DE THOTH, escrito por Aleister Crowley
no fim de sua vida. Através dele, pude conscientemente e também inconsci-
entemente, fazer conexões com suas ideias e também as representações ar-
tísticas de Frieda Harris, a artista do Tarot de Thoth, unificando tudo para
uma impressão precisa na minha Arte. Dentre elas, uma conexão inconscien-
te que só depois pude perceber foi o número de Raios acima, na Coroa de
Babalon. Seu número é 11, conforme todos seus números que são nossos. O
número da Magia, da Mudança, das Qliphoth e, principalmente, da Grande
Obra – Abrahadabra. Notei que no toldo azulado de O Carro, Atu VII do Tarot
de Thoth, está escrito a Palavra da Grande Obra, Abrahadabra, sutilmente
em letras também azuis. Isso sugere a Imagem da Grande Obra em perfeita
execução, a partir do recebimento do Conhecimento surge o Entendimento.
A Sephira com o nome Entendimento é Binah na Qabalah, a Casa de Babalon,
seu Trono, que levanta a Taça no derradeiro Juramento e na Travessia do
Abismo dos Adeptos para se transformarem em Eremitas, em Nemo.
A ilustração reflete o Êxtase do Amor (com sua Natureza Trina, con-
forme seus animais: a Águia, a Serpente e o Escorpião), portanto, a Suprema
Morte. Porém, a natureza do Escorpião, o seu amor introvertido ao Ego, co-
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

mo diz Crowley, a natureza dos Irmãos Negros não é apresentada aqui, a i-


lustração vai pelo caminho contrário. O Magista não grita Eu sou Eu, pois ele
não tem mais boca, ele não tem mais cabeça, ele não é mais ele. A sua voz é a
Voz do Silêncio. A putrefação do Escorpião ocorre em Amor sob Vontade, não
no desespero do Ego encontrando-se ao redor do Fogo. Nuit nos diz no LIBER
AL VEL LEGIS: Sê tu Hadit, meu centro secreto, meu coração & minha língua!37
Aliás, para uma compreensão íntegra e fiel do simbolismo da pintura, o Livro
da Lei é mais que indicado à leitura.
Em A VISÃO & A VOZ, Crowley escreve em um comentário do Aethyr
chamado NIA descrevendo escorpião: Amor como instrumento de mudança
através da putrefação. Não temos mais neste Aeon a visão trágica e aterrori-
zante da Morte, como existia nos povos completamente dominados pela vi-
são Osiriana e, posteriormente, Cristã da Morte. O processo de putrefação é
visto com alegria, pois a existência é pura alegria. Não há o que se lamentar
nessa aniquilação, abandonemos os apegos e aversões, essas pedras pontu-
das que machucam nossas mãos sempre que apertamos com força.
A ilustração busca retratar, assim como o Atu XI, a Luxúria, a Serpente
em transição entre a Vida e a Morte, seu poder de regeneração, outro aspec-
to da Natureza Tripla do Amor. A última característica é a Ascensão, o Voo
da Águia, elevando a Alma do plano terreno para o plano divino – a Chave da
Magia.

É por Virtude desta que a Esfinge contempla o Sol sem piscar, e confronta a Pirâmide
sem Vergonha. Nosso Dragão, portanto combinando as Naturezas da Águia e da Ser-
pente, é o Nosso Amor, o Instrumento da nossa Vontade, por cuja Virtude nós execu-
tamos a Obra e o Milagre da Substância Única, como diz teu Antepassado Hermes Tri-
megistus. E este Dragão é chamado o teu Silêncio, porque na Hora da Operação dele
aquilo dentro de ti que diz «Eu» é abolido em sua Conjunção com o Bem Amado.38

Mudando o ponto de vista, podemos perceber que os chifres da Besta for-


mam um Arco, o Arco de Artêmis, presente no Arcano II do Tarot de Thoth.
Este é o Arcano da Alta Sacerdotisa, ou a Sacerdotisa da Estrela de Prata. Es-
te Atu atravessa o Abismo, ligando Kether, acima do Abismo, a Tiphereth,
abaixo do Abismo, na Árvore da Vida. O Arco reflete a flecha do Espírito par-
tindo do Nada, a região acima das Supernas, em direção à manifestação co-
mo a Luz do menstruo de Nuit, a possibilidade das Formas e, por outro lado,
em direção contrária, a Aspiração pura ao Sagrado, uma flecha para cima, a
Baqueta, o Falo ejaculando – Hadit em união com Nuit. Na descrição de Cro-
wley, o Atu II é a representação da forma mais espiritual de Ísis, a Eterna
Virgem, a Ártemis grega, a mais elevada fertilidade. Para os Adeptos, este
Atu leva em direção a Kether, em ascensão, elevando-os assim no Conheci-
mento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, símbolo da mais elevada
Iniciação.
O Magista é a ponta da Flecha, a mesma flecha que Eros está disparan-
do no Atu VI, os Amantes, do Tarot de Thoth. A Flecha é a Vontade direcio-
37 AL VEL LEGIS, I:6.
38 Aleister Crowley, LIBER ALEPH, cap. 157.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

nada a Terra, o Elemento atribuído a Therion no Reguli e no Rubi Estrela. Os


Olhos brilhantes de Therion simbolizam o Brilho Puro do Divino preenchen-
do e revitalizando a Terra que antes era vista como um local amaldiçoado
pelas religiões osirianas e, posteriormente, influenciadas pela religião cristã.
Os dois olhos são a representação da dualidade sendo direcionada pela Von-
tade e o Amor, a Lei deste Aeon. A Mudança recebendo a direção do Magista.
A Vontade vem do Êxtase, vem dos recônditos sutis mais elevados que são
acessados quando nos dissolvemos nos seios e nos beijos de Babalon, rece-
bendo seu Amor – onde tudo é transformado e arrebatado em Amor, trans-
mutado por Ela, a Sagrada Alquimia. A Flecha é disparada por Suas mãos. O
magista, portanto, é a encarnação da Vontade Divina, pois ele descobriu a
sua Vontade e sabe que essa é a Vontade do Todo. Somente assim ele poderá
ser o sacerdote e apóstolo do Infinito Espaço.
A cabeça da Besta é a carcaça de onde nasce a Rosa, da cabeça se ergue
a Sagrada Prostituta que dança sobre seu Corpo em Êxtase, bailando a Dança
da Destruição, o pralāya, a Transformação e o findar de um Ciclo, ou a anun-
ciação de um novo, assemelhando-se com a deusa hindu Kālī com Śiva. A
Dissolução do Universo para ele novamente recomeçar. Essa dissolução ex-
perimentada por Sacerdote e Sacerdotisa é apontada por Nuit: Isto deverá
regenerar o mundo, o pequeno mundo minha irmã, meu coração & minha lín-
gua, para quem Eu enviei este beijo. Também, ó escriba e profeta, ainda que tu
sejas dos príncipes, isto não deverá aliviar a ti e absolver-te. Mas seja teu êxta-
se e prazer da terra: sempre Para mim! Para mim!39 Nuit declara aqui que
mesmo sendo escolhido, provavelmente para Crowley, o trabalho espiritual
e a dedicação/aspiração a Nuit é imprescindível para a coroação da Grande
Obra. O mundo é o próprio corpo do magista, o pequeno mundo, o micro-
cosmo.
A cor da Mulher Escarlate é azul, Nuit diz no LIBER AL VEL LEGIS: Minha
cor é negro para o cego, mas azul & ouro são vistos do observador.40 A Mulher
Escarlate, sendo o avatar de Nuit, tem seus cabelos vermelhos representan-
do o sangue menstrual, a real fonte do significado da Mulher Escarlate, con-
forme Kenneth Grant escreve em seu O RENASCER DA MAGIA. O sangue é usado
pelas Bruxas em seus feitiços, pois é um veículo de muito poder, principal-
mente quando alinhado aos fluxos lunares. É o veículo do Espírito, da Vida
prestes a se solidificar na Carne, o Corpo. Sua cor azulada também arremete
a Feiticeira Azul, do Santuário de Babalon, aquela que possui a influência
solar de Tiphereth a partir do Caminho da Morte, Atu XIII, que leva a Netza-
ch, a Zona de Poder da Mulher Escarlate. Babalon possui a cor de Kālī, muito
representada pelo azul ou em cores negras. Ela segura tanto a Taça, como
também a Espada. Essa postura, ou sinal, remete ao Sinal de Baphomet, con-
forme Eliphas Lévi ilustrou, a posição de Solve et Coagula. Implicando na a-
nálise da matéria e o espírito, tratando seus complexos para no final serem
unidos e dissolvidos sob vontade na Taça.

39 AL VEL LEGIS, I:53.


40 AL VEL LEGIS, I:60.
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

O Magista adentrou os Portais do Abismo, os Cinquenta Portais da


Compreensão em Binah. Ele está no seu Círculo Mágico inflamado em ora-
ção. O Círculo Mágico tem a função de representar o Universo onde o Magis-
ta irá atuar, contendo a sua visão própria, o seu entendimento acerca da
constituição do universo e seus aspectos em que ele se encontra. O Círculo
Mágico também representa todos os compartimentos da Alma dele, sendo
assim, uma representação da Totalidade do Microcosmo até o Limiar com o
Macrocosmo que é o corpo da Deusa, até o ponto onde um e o outro se unem
e não resta mais Nada. Na imagem, o Abismo é localizado na Vulva de Baba-
lon, o Grande Portal, onde entramos e saímos. Somente no Abismo é que po-
demos ver a grandeza Dela, pois no Abismo Tudo é Ela. O corpo físico do
magista é queimado ao adentrar nessa região, simbolizando a Iniciação Final
de Ipsissimus, onde cada elemento é dissolvido no Reino do Fogo, consumi-
do até o Final, sobrando somente a Pureza do Espírito – nesse evento ocorre
a Suprema Morte, onde Babalon nos envolve completamente, onde nenhum
outro evento é necessário, conforme Grant discorre no seu texto O Culto da
Besta Aleister Crowley (parte 1), presente no livro CULTO DAS SOMBRAS onde
expõe um relato de Crowley na sua Iniciação de Ipsissimus no dia 23 de
Maio de 1921 e consumado em 1924 (nota: este conteúdo se encontra no
JORNAL CORRENTE 93, Vol II, No. 5).
Estando o Magista no centro do seu círculo, sua existência é desdobra-
da ao elevar a Serpente, kuṇḍalinī/Hadit, além dos limites do estado de vigí-
lia, a consciência terrestre. A cabeça da Grande Besta se dissolve, o Mundo, a
Terra, está em chamas, as Chamas do Fogo da Mudança.
Em LIBER LIBERI VEL LAPIDIS LAZULI, um dos LIVROS SAGRADOS DE THELEMA
vemos:

Foi um terrível ordálio, mas -


Disparo-me verticalmente como uma flecha e chego lá no Alto
Mas é a morte a chama do Fogo,
Ascende na chama do Fogo, Ó minha Alma!

Babalon porta as Armas Mágicas da Arte, a Baqueta (o Elemento Fogo), a


Taça (Elemento Água), a Espada (Elemento Ar) e o Pantáculo (Elemento
Terra) – que é o próprio Magista encarnado na manifestação, na matéria,
mais precisamente, o seu corpo. O Pantáculo possui a função de representar
o ponto de vista pessoal do magista e geralmente o Círculo Mágico acaba por
receber a mesma configuração contida no pantáculo confeccionado pelo ma-
gista. Na ilustração o pantáculo – e o Círculo Mágico - é a Marca da Besta. As
Sete pontas simbolizam os Sete Planetas, as Sete Zonas de Poder Macrocós-
micas, assim como Microcósmicas, os principais cakras da tradição tântrica,
o número Sete corresponde a Sétima Sephira, Netzach na Árvore da Vida. Os
Planetas nada mais são que os corpos solidificados originados pelo próprio
menstruo de Nuit. Esse menstruo é Set, o filho bastardo Dela, assim como seu
Consorte - Hadit. A Serpente, ou a Espada Flamejante que desce ligando cada
Sephirah da Qabalah Hermética. Portanto, a Marca da Besta é a representa-
Instrução de Probacionista Lição 5: O Culto de Śakti-Babalon

ção da manifestação Dela e seu Coração está no centro do Heptagrama, como


o Selo de Babalon, também o Selo da Astrum Argentum. Carregar a Marca da
Besta aqui é estar cônscio da sua própria Casa, sua Origem e sua linhagem.
As cores da Besta e do Magista são tons do Sangue, e são explicadas por
Kenneth Grant: [...] O vermelho e o dourado, ou simplesmente, o vermelho dou-
rado, é o emblema da Matéria e do Espírito no qual os antigos Alquimistas
mesclavam sua Grande Obra. É a Matéria vivificada pelo Espírito que – a me-
nos que esteja guiada pela fórmula amor sob vontade – é meramente a expres-
são do princípio reprodutivo. É também Kenneth Grant que nos diz que a có-
pula sexual sem uma direção mágica é apenas reprodução, enquanto que
uma prática magicamente dirigida chama-se de criação.

Amor é a lei, amor sob vontade.

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