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O Líder Sábio

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Título original em espanhol:

El Líder Sabio: Principios Bíblicos de Liderazgo

Direitos de tradução e publicação


em língua portuguesa reservados à
Casa Publicadora Brasileira
Rodovia SP 127 – km 106
Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP
Tel.: (15) 3205-8800 – Fax: (15) 3205-8900
Atendimento ao cliente: (15) 3205-8888
www.cpb.com.br

1ª edição neste formato


Versão 1.0
2022

Coordenação Editorial: Diogo Cavalcanti


Editoração: Guilherme Silva
Revisão: Adriana Seratto e Anne Lizie Hirle
Editor de Arte: Thiago Lobo
Projeto Gráfico: Marcos Santos
Capa: Eduardo Olszewski
Adaptação Digital: Taffarel Toso
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia
autorização escrita do autor e da Editora.

40635 / 18615
1
QUEM É O LÍDER SÁBIO ?
“Não havendo direção sábia, a nação fracassa; com muitos
conselheiros há segurança” (Provérbios 11:14).
O mundo precisa de líderes sábios. “Não havendo direção sábia, a nação
fracassa”, declarou o mais sábio dos reis. É preciso que haja líderes
capazes de conquistar o coração dos liderados, líderes que sejam amados,
admirados e seguidos. Há necessidade de líderes que inspirem e se tornem
referência para os que vierem depois deles. Precisamos de líderes que
influenciem e transformem a vida dos que estão ao redor.
Neste livro, eu me dirijo à essência da alma humana, ao profundo do
coração. Faço isso por uma razão: dentro de todos nós existe o desejo de
liderar. De alguma forma, em diferentes contextos e situações, nós de fato
somos líderes: na família, no círculo de amigos, no trabalho, na escola, na
vizinhança, em algum momento exercemos liderança.
Apesar disso, há uma ideia geral bastante difundida, porém errada, sobre
o que a liderança é. Muitos creem que liderar é ser o primeiro, o chefe, o
que dá ordens. Talvez por isso a liderança fascine, atraia e cative tanto.
Quem não desejaria ser nomeado presidente, gerente, encarregado ou
diretor? Quem não gostaria de obter as vantagens de ficar em evidência e
de ter nas mãos o poder para decidir? Contudo, ao mesmo tempo, surgem
as dolorosas perguntas: Poderia um bom cristão desejar ser o primeiro?
Não seria esse um desejo puramente carnal e humano?
Vejamos um exemplo. Ernesto é o típico administrador que nega suas
aspirações e enterra seus desejos de ser um líder. Quando foi nomeado
presidente, ele chorou e disse que nunca tinha pensado em ocupar aquele
cargo. Lá no fundo, ele sempre havia sonhado com isso, porém seu
inconsciente lhe dizia que essa aspiração não era espiritual. Ainda assim,
ele aceitou o desafio, alegando que aquela era a vontade de Deus. No
entanto, quatro anos depois, ao não ser reeleito, tornou a chorar dizendo
que a comissão de nomeações tinha sido injusta com ele.
Nos tempos de Cristo não era diferente. Um dia, enquanto Jesus se
dirigia a Cafarnaum, Seus discípulos ficaram para trás, no caminho,
discutindo quem dentre eles deveria ser o líder. Marcos relata esse
incidente da seguinte maneira: “Chegaram, então, a Cafarnaum. Estando
em casa, Jesus perguntou aos discípulos: – Sobre o que vocês estavam
discutindo pelo caminho? Mas eles se calaram, porque, no caminho,
tinham discutido entre si sobre quem era o maior. E Jesus, assentando-Se,
chamou os doze e lhes disse: – Se alguém quiser ser o primeiro, será o
último e servo de todos” (Mc 9:33-35).
No relato, fica evidente quanta confusão havia na mente dos discípulos
em relação à liderança. Eles desejavam o cargo, mas pensavam que ser “o
primeiro”, “o maior”, “o mais importante” ou “o líder” não condizia com a
humildade de um cristão. Era incompatível. Por isso, deixaram que Jesus
fosse na frente. Intencionalmente, eles ficaram para trás. Sentiam-se
tentados a discutir algo que no fundo consideravam, digamos, “errado”.
No entanto, o Mestre percebeu a angústia e a perplexidade dos
discípulos. Ele conhecia a intenção oculta em seus corações. Ao chegar em
casa, Jesus os reuniu para tratar o assunto sem subterfúgios.
– O que vocês tanto discutiam pelo caminho? – perguntou-lhes. Mas os
discípulos ficaram em silêncio. Sabiam que a conversa tinha sido sobre
quem dentre eles deveria ser o líder, o primeiro. Sentiam-se
envergonhados e culpados. Não disseram uma palavra. Emudeceram.
Diante do silêncio dos discípulos, Jesus lhes explicou que o problema
não estava no desejo de liderar. O erro estava nas motivações relacionadas
à liderança. Eles, como muitos hoje, pensavam que ser líder era ocupar um
lugar privilegiado, dar ordens e obter vantagens às quais a maioria não
tinha acesso. Contudo, Jesus lhes disse que não havia nada de errado em
almejar a liderança, desde que tivessem a ideia correta do que isso
significava.
– Se alguém quiser ser o primeiro, deverá ser o último de todos, aquele
que serve aos demais – disse Jesus.
Nessa declaração, encontramos a teologia da liderança. Jesus não
ensinou aos discípulos que o desejo de ser líder era pecaminoso. Em vez
disso, mostrou a eles quais eram as motivações certas para liderar: o amor
e o serviço.
Liderar é amar e servir. Por isso, Jesus foi o maior líder da história.
Ninguém jamais amou nem serviu como Ele. Sua vida nos inspira. Ele
quebrou os parâmetros estabelecidos pela sociedade em que vivia e
conquistou o coração de incontáveis seguidores.
Nesse sentido, liderar não é compelir, mas inspirar. Não é ordenar nem
mandar. É fazer com que as pessoas tenham vontade de realizar as coisas.
O líder tem que ser capaz de amar e ser amado, de modo que as pessoas se
sintam motivadas a segui-lo até o fim.
Liderança e sabedoria
O modo de liderar ensinado por Jesus é típico de pessoas sábias. É
impossível falar de liderança sem falar de sabedoria. A teologia da
liderança está vinculada à questão da sabedoria. Quando Salomão foi
chamado para conduzir o povo de Israel, a primeira coisa que ele pediu a
Deus foi sabedoria. As Sagradas Escrituras narram o incidente da seguinte
maneira:
Em Gibeão, o Senhor apareceu a Salomão de noite, em sonhos. E
Deus lhe disse: – Peça o que você quiser que Eu lhe dê. Salomão
respondeu: – Foste muito bondoso com o Teu servo Davi, meu pai,
porque ele andou Contigo em fidelidade, em justiça e em retidão de
coração, diante da Tua face. Mantiveste para com ele esta grande
bondade e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como
hoje se vê. E agora, ó Senhor, meu Deus, Tu fizeste reinar Teu servo
em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de uma criança, não sei
como devo agir. Teu servo está no meio do Teu povo que escolheste,
povo grande, tão numeroso que não se pode contar. Dá, pois, ao Teu
servo coração compreensivo para governar o Teu povo, para que com
prudência, saiba discernir entre o bem e o mal. Pois quem seria capaz
de governar este grande povo? (1Rs 3:5-9).
A expressão “coração compreensivo” também pode ser traduzida como
“coração sábio”. A sabedoria bíblica engloba “bom senso”, “equilíbrio”,
“prudência” e “bom juízo”. Esses são atributos essenciais não só à
liderança, mas também à própria vida. Neste mundo há pessoas
fracassadas, frustradas e infelizes porque não sabem viver. Existir é
diferente de viver. Viver é uma arte que exige sabedoria. E a arte de liderar
requer ainda mais!
Sabedoria, segundo Salomão, não é somente o acúmulo de
conhecimento, mas a habilidade para usá-lo. Conhecimento tem a ver com
a teoria das coisas. Sabedoria, porém, é algo que sai do papel frio e entra
no domínio da vida. Existem pessoas que lidam muito bem com a teoria da
liderança, mas, lamentavelmente, não sabem aplicá-la.

O livro de Provérbios e a sabedoria


Qualquer pessoa chamada a liderar deveria estudar o livro de Provérbios.
Esse livro é um convite à sabedoria. A expressão “as palavras sábio” e o
termo “sabedoria” são nele mencionados pelo menos 120 vezes.
Provérbios integra um conjunto de escritos do Antigo Testamento que os
estudiosos da Bíblia chamam de “literatura sapiencial” ou “escritos de
sabedoria”, que inclui também Eclesiastes e Jó.
Esses livros ensinam como enfrentar as questões mais difíceis da vida e
como lidar com elas. Oferecem respostas do ponto de vista divino. Liderar
requer fé no sobrenatural, porque a vida do líder é cheia de interrogações e
incidentes que estão além da compreensão humana. Com frequência, você
se pergunta por que certas coisas acontecem. E, como líder, você precisa
conhecer as respostas.
Essa é a razão pela qual Salomão, quando chamado a conduzir o povo de
Israel, pediu sabedoria. A sabedoria é um dom que vem do Senhor e tem a
ver com a obediência aos ensinos divinos.
De acordo com os livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes, a sabedoria “é
mais preciosa do que as joias” (Pv 3:15). “Eis que o temor do Senhor é a
sabedoria, e afastar-se do mal é o entendimento” (Jó 28:28). A verdadeira
sapiência capacita o líder a enfrentar com equilíbrio os percalços da vida.
Somente contemplando a Deus e confiando Nele, o líder pode se relacionar
sabiamente com as frustrações e as dificuldades da existência.
A sabedoria é um dom indispensável para quem deseja liderar. O
verdadeiro líder buscará encontrá-la assim como um viajante no deserto
busca água. Vou ilustrar isso da seguinte maneira: Imagine que certa
manhã, enquanto se dirige ao trabalho, você vê na estrada uma senhora
idosa pedindo carona. A julgar pelas roupas dela, a mulher é pobre. Pela
expressão do rosto, está muito doente. Você está com pressa, mas seu
coração fala mais alto e você para o carro. Ela lhe pede que a leve ao
hospital mais próximo. Percebendo que ela está muito mal, você pisa com
força no acelerador. Durante o curto trajeto, sem você notar, ela coloca um
papelzinho em seu bolso. Pouco depois de chegar ao hospital, a senhora
morre.
De noite, em casa, você encontra aquele papel, com os seguintes dizeres:
“Sou uma mulher solitária. O único filho que tive me abandonou muitos
anos atrás. Ele não sabe que eu recebi uma herança. Tenho um milhão de
dólares guardados numa caixa forte no banco ‘tal’. O código de acesso é
PX402. Por ter me socorrido hoje, o dinheiro é seu.”
O que você faria? Jogaria o papelzinho fora? Pensaria ser pouco
provável que aquela mulher tivesse um milhão de dólares? Ou correria
para o banco, a fim de comprovar se era verdade? Ninguém seria louco de
fazer pouco caso de uma fortuna tão grande! Agora observe o que a Bíblia
diz da sabedoria: “Mais preciosa é do que as joias, e tudo o que você possa
desejar não se compara com ela” (Pv 3:15).
A sabedoria não é um produto humano
Existem alguns mitos relativos à sabedoria. Há gente que acredita que a
sabedoria é o resultado do passar dos anos, de um título acadêmico ou do
cargo que a pessoa ocupa. Creio que tudo isso ajuda a desenvolver e
cultivar a sabedoria, porém não são fatores determinantes. Quando uma
pessoa deposita sua confiança concernente à sabedoria na idade que tem,
em um título acadêmico ou no cargo que ocupa, corre o risco de se
frustrar. A sabedoria é um dom divino que o Senhor concede aos que O
buscam com sinceridade e coração humilde.
O mito do título acadêmico
Sabedoria não tem a ver com título acadêmico. Há quem queira acreditar
que, quanto mais elevado for seu grau de estudos, mais sabedoria possuirá.
Isso não é verdade. A pessoa que estudou muito tem mais condições de
desenvolver a sabedoria, porém uma coisa não tem necessariamente
relação com a outra. Há pessoas que têm vários títulos de pós-graduação,
porém não são sábias. Cometem erros terríveis por falta de sabedoria. O
orgulho e a soberba podem obscurecer seu entendimento a ponto de você
não assimilar a realidade. É constrangedor ver que alguns se escondem
atrás dos títulos que têm para dar vazão ao descontrole emocional. Por isso
a Sagrada Escritura diz: “Abominável é ao Senhor todo arrogante de
coração; é evidente que não ficará impune” (Pv 16:5, ARA).
A expressão que o autor de Provérbios usa nesse verso para se referir ao
arrogante de coração é bastante dura: “abominável”. Essa palavra, em
hebraico toebah, significa “repugnante”, “detestável”, “sinistro”,
“perigoso”.
A arrogância é o caminho certeiro para o infortúnio. O arrogante perde a
noção de quem é. Em seu delírio de grandeza, não percebe a imagem
grotesca e ridícula que projeta. Ele se esquece de que quem deseja ser
grande um dia, precisa antes ser pequeno para poder crescer. O arrogante,
porém, aos próprios olhos, já nasceu feito, sente ser grande por natureza,
superior, uma sumidade, muito maior que qualquer outro mortal.
Ironicamente, as pessoas em geral não o veem assim e não o tratam como
ele gostaria de ser tratado, por mais que ele exija, reclame e, se tiver poder,
tente até obrigá-las a submeter-se.
Essa sensação de “não ser aceito” pelas pessoas que o rodeiam mina
dolorosamente o mundo interior do indivíduo arrogante. No profundo da
alma, ele vaga de um lado para outro obcecado por suas conquistas e
esmagado pelo vazio que sente. O resultado, quase sempre, é a
prepotência, o autoritarismo e o radicalismo, algo que ele pretende chamar
de “liderança”.
O mito da idade
Outro mito popular é o de que a sabedoria teria a ver com a idade; ou
seja, uma pessoa que viveu mais tempo teria mais condições de
desenvolver a sabedoria. Contudo, há pessoas que passam pela vida sem
aprender nada. Envelhecem tristemente presas a suas reminiscências,
queixando-se da vida e dos demais, argumentando que o mundo não foi
justo com elas. Remoem mágoas, destilam amargura e descontentamento.
Conheço jovens sábios e idosos destituídos de sabedoria.
A essa altura de minha vida, aprendi vivenciando situações, sofrendo
perdas, cometendo erros. Aprendi observando e escutan- do. Aprendi com
as lágrimas e com os sorrisos. Aprendi que a vida pode ser alegre ou triste,
derrotada ou vitoriosa. Pode haver (re)nascimento ou morte. Tudo depende
da maneira como você reage diante das circunstâncias. Se seu coração se
afunda no pessimismo, não espere nada melhor da vida. Se você vive
dizendo que as coisas vão dar errado, pode ter certeza de que sua vida se
tornará o cumprimento de sua “profecia” de mau agouro. As coisas com
certeza darão errado para você.
Salomão afirma: “Para quem está aflito, todos os dias são maus, mas a
vida de quem tem o coração alegre é um banquete” (Pv 15:15). Tire
partido do tempo. Não tenha medo de envelhecer. Faça isso com
sabedoria. Olhe para o horizonte como se você fosse um jovem de 20 anos.
Desperte cada manhã cheio de sonhos e projetos. Faça de sua vida um
“banquete”. Lembre-se, porém, de que o tempo, por si só, não lhe dá
sabedoria. A verdadeira sabedoria vem do Senhor.

O mito do cargo
Um terceiro mito supõe que a sabedoria esteja relacionada ao cargo ou à
posição que a pessoa tem. Isso não é verdade. Quando se toma um voto
para nomear um presidente, diretor, supervisor ou o que quer que seja, esse
voto não atribui nem comunica sabedoria à pessoa escolhida. Ninguém
obtém sabedoria por voto nem por decreto. Ao contrário, um cargo, na
verdade, colocará a pessoa à prova e revelará quem ela realmente é.
Exporá suas falhas e virtudes. Não necessariamente vai torná-la melhor.
Há uma frase popular que diz: “Quer conhecer uma pessoa? Dê a ela
poder”. É no exercício do poder que o verdadeiro caráter se revela.
Certa vez, conheci um jovem nomeado para um cargo de liderança.
Éramos colegas de trabalho. No dia seguinte à nomeação, fui a seu
escritório. Como eu sempre fazia, bati à porta duas vezes e entrei. Ele
levantou os olhos, tirou os óculos e me disse em tom sério: “Vamos deixar
as coisas bem claras. Você não pode entrar em minha sala sem antes passar
por minha secretária para que ela o autorize.”
Pela primeira vez, meu amigo estava se revelando como era de fato. A
essência dele veio à tona. Sua administração foi um desastre. Não
terminou o segundo ano de seu mandato. De fato, nem cargo nem posição
dão sabedoria a ninguém.

Tudo começa com Deus


Ser um líder eficaz. Não andar errando o tempo todo. Tomar as decisões
certas. Isso seria grandioso! Na realidade, é algo simples quando se
entende que a sabedoria não é um produto fabricado pelo ser humano.
O livro de Provérbios apresenta a sabedoria como uma mulher distinta
que convida todos a segui-la. Ela faz isso erguendo a voz, das alturas da
terra, nas encruzilhadas dos caminhos e nas portas das cidades. “Por acaso,
não clama a Sabedoria? E o Entendimento não faz ouvir a sua voz? A
Sabedoria se coloca no topo dos lugares elevados, junto ao caminho, nas
encruzilhadas das veredas. Junto aos portões, à entrada da cidade, à
entrada dos portões ela está gritando” (Pv 8:1-3).
O líder que deseja ser sábio pode alcançar essa meta. Deus repete
continuamente e de muitas formas que, sem sabedoria, ninguém pode ser
feliz. Quando falta sabedoria também é impossível liderar. O líder carente
de sabedoria age como tolo e não percebe sua triste condição.
A verdadeira sabedoria não vem de dentro, e sim do alto. Por isso a
advertência de Salomão é: “Filhos, escutem a instrução do pai; estejam
atentos para que obtenham o entendimento. Porque eu lhes dou boa
instrução; não abandonem o meu ensino” (Pv 4:1, 2). Escute! Em hebraico,
essa expressão quer dizer “preste atenção”. Literalmente significa “ponha
o coração” nisso, “atenda”.
Muitas vezes, encontro pessoas em cargos de liderança que sofrem e
dizem: “Não queria ter cometido esse erro. Não devia ter feito isso ou
aquilo.” Mas note o que Salomão diz:
Porquanto a sabedoria entrará no seu coração, e o conhecimento
será agradável à tua alma. O discernimento o guardará, e o
entendimento o protegerá. A sabedoria o livrará do caminho do mal e
do homem que diz coisas perversas; dos que abandonam as veredas
da retidão, para andarem pelos caminhos das trevas; dos que têm
prazer em fazer o mal e se alegram com as perversidades dos maus
(Pv 2:10-14).
Será que eu estaria forçando o texto bíblico se dissesse que esses “maus”
podem também ser seus impulsos naturais que o levam a cometer erros
frequentes? Você deseja se ver livre dessa maldade que destrói a
liderança? Então deixe que a sabedoria habite em seu coração. Não tente
ser sábio sem Deus. Salomão aconselha: “Não seja sábio aos seus próprios
olhos; teme ao Senhor e afaste-se do mal. Isto será como um remédio para
o seu corpo e refrigério para os seus ossos” (Pv 3:7, 8).
Quando eu era estudante, conheci um jovem: um bom rapaz, humilde e
temente a Deus. Quando ele terminou o ensino médio, foi estudar na
universidade. Com o tempo, perdemos o contato. Um dia, eu o encontrei
na rua. Ele me reconheceu, e começamos a conversar. Ele me contou que
tinha se tornado ateu, e eu não devia mais falar de Deus com ele. Garantiu-
me que estava bem. Não lhe faltava nada: tinha uma casa bonita, um bom
carro, dinheiro suficiente e viajava para onde queria sempre que desejava.
Trabalhava como presidente de uma empresa de renome. “Para que
Deus?”, ele me questionou, com o coração cheio de soberba. No entanto,
quando perguntei se ele era casado, respondeu que estava no quarto
casamento e tinha cinco filhos, com diferentes mulheres. Eu não disse
nada. Calado, fiquei pensando no que ouvi.
Essa é a sabedoria do mundo. Dinheiro, poder, fama, holofotes, títulos,
mas o coração vazio e os relacionamentos despedaçados.
Em contrapartida, quem tem Deus é feliz. A sabedoria é “remédio para o
seu corpo e refrigério para os seus ossos!”
Aprenda a ser sábio!
Referências
1 Ver Jó 28:20, 23, 27 e Salmo 111:10.
2 Salmo 37:30, 31; Provérbios 2:1, 2.
2
O LÍDER SÁBIO BUSCA A
DEUS
“O temor do Senhor é o princípio do saber”
(Provérbios 1:7).
A sabedoria é a chave para a excelência. A Bíblia declara enfaticamente
que Deus é o Senhor da sabedoria. Se alguém deseja ser sábio, tem que
buscá-Lo e conviver com Ele. “O temor do SENHOR é o princípio do saber,
mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1:7).
Não existe nenhuma outra fonte onde o ser humano possa encontrar
sabedoria a não ser em Deus. Ele é o princípio, a origem, a fonte. Vários
escritores bíblicos apresentam esse mesmo conceito. Tiago, por exemplo,
aconselha: “Se, porém, algum de vocês necessita de sabedoria, peça a
Deus, que a todos dá com generosidade e sem reprovações, e ela lhe será
concedida” (Tg 1:5).

Onde buscar sabedoria


Não existe um líder, em sã consciência, que lidere sem buscar sabedoria
em algum lugar. A diferença está onde ele a busca. Uns creem que podem
achá-la somente nas universidades, nos centros de estudos, nos seminários,
nas palestras e nas conferências. Tentam encontrá-la nos livros, manuais e
tratados. Outros, mesmo reconhecendo que os estudos são necessários,
buscam sabedoria no temor do Senhor.
O temor do Senhor não é um sentimento doentio de medo que subjuga e
paralisa. É a consciência de que Deus é o Criador; e o ser humano, a
criatura. Ele é o Pai, e o homem e a mulher são Seus filhos. Por essa razão,
devem dar ouvidos aos conselhos divinos a fim de sair vitoriosos nas
situações difíceis. Esse senso de dependência leva o líder a buscar a Deus,
a Fonte da verdadeira sabedoria.
Existe um acentuado contraste entre a liderança dos que temem ao
Senhor e a dos que seguem os próprios conceitos. Salomão define o
primeiro grupo como o dos sábios; e o segundo, como o dos loucos. Os
sábios estão dispostos a aprender com Deus, enquanto “os loucos
desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1:7, ARA). Não apenas rejeitam,
mas também desprezam. Eles consideram os conselhos divinos obsoletos,
antiquados e ultrapassados. Estabelecem o próprio critério de sabedoria.
A sabedoria deste mundo
O ser humano moderno procura excluir Deus de sua vida. Atravessa os
dias como se Ele não existisse. Busca desesperadamente a excelência.
Porém, apesar de todos os esforços, acaba frustrado por suas derrotas.
Depois, na insana busca do sucesso, inverte os valores e chama de vitória o
que não passa de injustiça, considerando habilidade o que é engano e
mentira. Para aplacar a consciência, ele então “doura a pílula” e cria nomes
sofisticados para soluções fracassadas.
Cada dia surgem novos “ismos”. Como, por exemplo, o humanismo,
uma corrente filosófica que surgiu com o Renascimento, no século 15.
Essa forma de pensar rompeu as tradições escolásticas medievais e exaltou
fortemente as qualidades próprias do ser humano. Sua pretensão era
“(re)descobrir o homem” e dar um sentido racional à vida, espelhando-se
nos clássicos gregos e latinos.
Colocando de lado Deus e os valores bíblicos, o humanismo enfatiza o
pensamento crítico e valoriza as provas concretas acima dos conceitos
espirituais da fé. Isso dá origem ao racionalismo e ao empirismo, duas
formas de explicar a realidade com base nas quais a ciência moderna
surgiu.
Com o tempo, o termo “humanismo” adquiriu vários sentidos e
significados, sob a influência de sucessivos movimentos filosóficos. Em
nossos dias, permeia quase todas as formas de pensar, inserindo- se até
mesmo no cristianismo, de modo dissimulado e perigoso.
É claro que essa forma de pensar não é exclusiva de nossos dias. Ao
longo da história, com frequência o ser humano tem procurado exaltar a si
mesmo. No Jardim do Éden, um anjo caído do Céu se apresentou a Eva e
lhe disse que ela seria como Deus caso aprendesse a viver sem Ele.
Garantiu-lhe que, para se desenvolver como pessoa, ela precisava confiar
em si mesma e deixar de confiar no Senhor (Gn 3:1-4). Essa ideia pareceu
fascinante. Por um momento, Eva pensou que podia ser o Deus de si
mesma. Só precisava “redescobrir-se”.
Séculos mais tarde, o ser humano continua dominado pela sedutora ideia
de ser Deus. Nos dias de Paulo, o apóstolo se perguntava: “Onde está o
sábio? Onde está o escriba? Onde está o questionador deste mundo?
Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?” (1Co 1:20).
Com essas palavras, Paulo desafiou os intelectuais do tempo em que viveu.
O humanismo, o empirismo, o criticismo, as ferramentas filosóficas
criadas pelo egoísmo e pela independência rebelde do ser humano, tudo
isso fracassou.
Paulo descreve o ser humano sem Deus com um quadro deprimente:
Dizendo que eram sábios, se tornaram tolos e trocaram a glória do
Deus incorruptível por imagens semelhan- tes ao ser humano
corruptível, às aves, aos quadrúpedes e aos répteis. Por isso, Deus os
entregou à impureza, pelos desejos do coração deles, para
desonrarem o seu corpo entre si. Eles trocaram a verdade de Deus
pela mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o
qual é bendito para sempre. Amém! (Rm 1:22-25).

A inteligência emocional
As palavras de Paulo mostram que é impossível ser sábio sem Deus. A
verdadeira sabedoria não vem do conhecer, mas do ser. Durante décadas,
as empresas, as instituições e até as igrejas destacaram o quociente
intelectual de seus líderes como uma qualidade diferencial. O indivíduo
mais inteligente era considerado o candidato ideal para exercer um cargo
de liderança.
As coisas mudaram. A realidade levou muitos a se perguntar: “Por que
os alunos mais inteligentes na universidade nem sempre têm, na vida
profissional, o mesmo êxito obtido nos estudos?” Ou: “Por que pessoas
que não se sobressaem por sua capacidade intelectual ou títulos
profissionais têm melhores relacionamentos e prosperam na vida?” Em
outras palavras: Por que uns são mais capazes que outros para enfrentar as
dificuldades da vida e resolver situações complicadas?
Entre os anos 1920 e 1940, alguns pesquisadores do comportamento
humano começaram a reconhecer a importância de qualidades relativas ao
ser e não somente ligadas ao saber. Naquele tempo, já se usava a noção de
“inteligência emocional” em algumas teses, porém foi só em 1990 que os
psicólogos Peter Salovey, da Universidade de Yale,e John Mayer, da
Universidade de New Hampshire, tornaram esse termo amplamente
conhecido nos círculos de liderança.
Posteriormente, em 1995, Daniel Goleman, psicólogo e redator científico
do New York Times, declarou que a inteligência de uma pessoa é
importante, porém nunca é mais importante que o controle das emoções,
algo que ele chamou de caráter. Hoje se aceita que a combinação da
inteligência com a nobreza do caráter resultaria em um superlíder, o líder
ideal, aquele que todos gostariam de ter.
Daniel Goleman popularizou o conceito de “inteligência emocional” em
um livro com esse título, publicado por ele em 1995. No livro, Goleman
questiona a noção de “quociente intelectual”, que até então era considerada
a garantia do sucesso em qualquer área da vida. A tese ali defendida é a de
que as emoções desempenham um papel essencial no pensamento, nas
decisões e nos relacionamentos das pessoas.
Para Goleman, esse novo conceito de inteligência “real” – que ele define
como um conjunto de habilidades que incluem o controle dos impulsos, a
motivação, a empatia e a capacidade para relacionar-se com os demais –
tem muita importância no desempenho de um líder.
O correto exercício dessa atitude, que alguns consideram um instinto de
sobrevivência, permitiria às pessoas um maior autocontrole e um melhor
desenvolvimento da criatividade. Para Goleman, essa “consciência” talvez
seja a habilidade mais importante que um ser humano possa ter. Segundo o
escritor, não consiste em uma atitude meramente exterior, e sim interior.
Não se trata apenas de reprimir os sentimentos, mas de fazer o que dizia
Aristóteles no livro Ética a Nicômano, um dos primeiros tratados sobre
ética e moral: “Qualquer um é capaz de ficar irritado. Isso é fácil. Contudo,
irritar-se com a pessoa certa, na medida certa, no momento certo, com o
propósito certo e da forma certa, isso não é tão fácil.”
Em suma, a maioria dos especialistas em inteligência emocional
concorda que os conhecimentos e a capacidade intelectual de uma pessoa,
por si sós, não são suficientes para que ela se dê bem na vida. É preciso
canalizar e aplicar esses conhecimentos, como diz Aristóteles, da melhor
maneira possível. Essa capacidade depende da inteligência emocional de
cada pessoa, de seu modo de enfrentar qualquer situação e tomar a decisão
correta.

A incapacidade humana
O problema é que, quanto mais o ser humano se esforça para
desenvolver as qualidades interiores da alma, quanto mais estuda o assunto
da inteligência emocional, mais confuso fica, porque não consegue viver,
na prática, as premissas da maravilhosa teoria que conhece.
Na verdade, sem Deus é possível acumular uma infinidade de conceitos,
mas o coração humano continuará vazio e desesperado como sempre. Ele
se esconde, disfarça, mantém as aparências, mas, na hora de maior
necessidade, as emoções nos traem, tornando-nos vítimas de nossas
paixões naturais.
Conheço pessoas brilhantes do ponto de vista intelectual, tituladas em
Relações Humanas, Qualidade Total, Liderança, Inteligência Emocional
ou no que quer que seja, porém, quando saem do mundo fascinante das
ideias e entram no terreno agreste da realidade, descobrem que conceitos
abstratos alimentam o intelecto, mas não transformam o coração.
Só Deus
Quando você vai a Deus em busca de sabedoria, Ele não lhe enche a
cabeça de conceitos, mas toma seu coração e o transforma. A promessa
divina é: “Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um
espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração
de carne. Porei dentro de vocês o Meu Espírito e farei com que andem nos
Meus estatutos, guardem e observem os Meus juízos” (Ez 36:26, 27).
O problema do ser humano é a natureza soberba e orgulhosa que ele tem.
Nela está a fonte dos pensamentos, sentimentos e atos egoístas. Se não
houvesse uma fonte suja, não existiria água contaminada. Sem uma
laranjeira no pomar, não haverá laranjas. A pior coisa que um líder pode
pensar em fazer é querer demonstrar em seu trabalho cotidiano as
qualidades da inteligência emocional enquanto conserva dentro de si a
natureza egoísta com a qual nasceu. Por mais que exerça o domínio
próprio, não vai conseguir. Pode se esforçar, lutar e prometer; levantar-se
às cinco da manhã e castigar o próprio corpo; jejuar ou chicotear as costas
até sangrar. Tudo isso será inútil. A natureza egoísta está viva dentro dele
e continuará produzindo frutos como “inimizades, rixas, ciúmes, iras,
discórdias, divisões” (Gl 5:19-21).

Há esperança?
Certo dia, um homem com uma personalidade difícil e um caráter falho
foi até Jesus. O Mestre o havia chamado para ser um dos líderes de Seu
Reino. Esse homem, porém, era impaciente, explosivo e tinha um
temperamento vingativo, razão pela qual lhe deram o apelido de “filho do
trovão”. O nome dele era João. Ele estava cansado de labutar contra as
tendências naturais do próprio coração. Prometia melhorar, tentava mudar,
lutava para deixar de ser como era, mas todos os esforços que ele fazia
eram em vão. A fera orgulhosa e soberba entocada dentro dele saltava
feroz diante do menor descuido.
Houve momentos em que João pensou jamais poder atingir a meta. Um
dia, porém, ele encontrou Jesus, foi até o Mestre e permaneceu ao lado
Dele.
O resultado? Veja o que uma renomada escritora diz sobre João:
Não somente era arrogante e ambicioso por honras, como também
era impetuoso e ressentido ao ser ofendido. Mas, ao se manifestar o
caráter do que é Divino, ele viu sua deficiência e, reconhecendo isso,
se humilhou. A força e a paciência, o poder e a ternura, a majestade e
a mansidão que contemplava na vida diária do Filho de Deus
enchiam seu coração de admiração e amor. Dia após dia, seu coração
era atraído para Cristo, até perder de vista a si próprio, por amor ao
Seu mestre. Seu temperamento ressentido e ambicioso deu lugar ao
poder modelador de Cristo. A influência regeneradora do Espírito
Santo renovou seu coração. O poder do amor de Cristo operou a
transformação de seu caráter.
Esse é o resultado da união com Jesus. Quando Cristo habita o
coração, toda a natureza é transformada. O Espírito de Cristo e Seu
amor abrandam o coração, subjugam a alma e elevam os
pensamentos e desejos para Deus e para o Céu.
Quero enfatizar a expressão “esse é o resultado da união com Jesus”. A
que se refere? À vitória sobre a natureza egoísta. Nesse caso, a única
solução é Jesus. Ele é a Sabedoria em pessoa. Longe Dele, não há como
ser um líder sábio.
Estando separado de Jesus, até ao fazer coisas boas o ser humano tropeça
em erros. “É verdade que pode haver uma aparência de retidão, mesmo
sem o poder regenerador de Cristo. O desejo de ter influência e de ser
estimado pelos outros pode levar a uma vida bem ordenada. O respeito
próprio pode nos levar a evitar a aparência do mal. Um coração egoísta
pode promover atos generosos.”
Todas essas conquistas são obra do esforço humano, da autodisciplina e
da força de vontade. Você não precisa de Deus para tentar demonstrar,
como líder, as qualidades da inteligência emocional. Você pode até
produzi-las de alguma forma, mas elas são enganosas. Essas boas obras
podem ajudar você a dar a impressão de ser um grande líder, porém na
solidão de seu quarto, consultando seu travesseiro, você sabe que isso não
é verdade. Diante do menor descuido, sua verdadeira natureza lhe passa
uma rasteira.
A principal preocupação do líder sábio não deveria ser administrar
corretamente as emoções, mas ser um indivíduo correto, uma pessoa de
bem. Isso só acontece quando você vai a Jesus e permanece com Ele.
Então a vida começa a produzir o fruto do Espírito, que é “amor, alegria,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio
próprio” (Gl 5:22).

Como permanecer em Jesus


Só existe uma maneira de você permanecer em Jesus: passando tempo
com Ele todos os dias. Como? Por meio da oração, do estudo da Palavra e
contando a outros o que Jesus fez em sua vida. Por meio da oração, você
fala com Deus. Por meio da Bíblia, Deus fala com você. E, juntos, você e
Deus contam a outros a respeito da maravilhosa experiência de amor e
comunhão que ambos vivem.
Jesus foi bem claro ao dizer que, se não permanecermos Nele, qualquer
tentativa de produzir bons frutos será inútil. “Permaneçam em Mim, e Eu
permanecerei em vocês. Como o ramo não pode produzir fruto de si
mesmo se não permanecer na videira, assim vocês não podem dar fruto se
não permanecerem em Mim. Eu sou a Videira, vocês são os ramos. Quem
permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim
vocês não podem fazer nada” (Jo 15:4, 5).
Há duas ideias claras nesse texto. A primeira tem a ver com “o fruto”. O
fruto multiforme do Espírito. Você lembra? Todas aquelas virtudes
maravilhosas que você gostaria de ter; todas as qualidades da inteligência
emocional. Por que elas, apesar de seus melhores esforços, não aparecem
em sua vida?
Aqui vem o segundo pensamento: “o ramo não pode produzir fruto de si
mesmo”. Você e eu somos ramos. Por mais títulos acadêmicos que
tenhamos, continuamos sendo ramos. Podemos tentar, querer
desesperadamente, fazer grandes esforços, mas o ramo não pode dar frutos
por si mesmo. Jesus afirma: “Sem Mim vocês não podem fazer nada.” A
única saída é permanecer em Jesus. Essa é a chave para uma liderança
sábia.
Se fizer isso, você perceberá que as coisas que antes tentava realizar com
muito esforço e não conseguia, começarão a ocorrer em sua vida como
resultado de sua decisão de aproximar-se de Deus. Os frutos não serão
artificiais, de plástico ou de cera; serão autênticos, provenientes de uma
relação viva com Jesus. Agora você é justo, enfim. É um líder
emocionalmente correto, mas não porque faz coisas boas. É o contrário:
você passa a fazer coisas boas porque é justo. E é justo porque está em
Jesus, permanece constantemente Nele, negando o próprio eu e seguindo
Sua liderança.

Como funciona
Existe muita confusão em relação à questão da inteligência emocional
em Cristo. Afinal, quem é que administra corretamente suas emoções?
Jesus ou você? É Jesus quem age, e você fica passivo, ou é você quem age
com a ajuda Dele? Qual é a participação humana nesse processo?
Relacionar-se com Jesus é apenas ficar de braços cruzados, esperando que
Ele controle sua vida e tome todas as decisões? Onde fica, então, a
participação humana? Qual é o papel de sua força de vontade nesse
processo?
O apóstolo Paulo explica isso de maneira simples. Quando você vai a
Jesus e convive com Ele, Jesus passa a ser parte de sua vida. Ele habita em
você por intermédio do Espírito Santo. “Será que vocês não sabem que o
corpo de vocês é santuário do Espírito Santo, que está em vocês e que
vocês receberam de Deus [...]?” (1Co 6:19).
O que é que acontece então? Mesmo que você não queira, o Espírito
Santo obriga você a fazer as coisas certas? É isso? Não. Você não se
transforma em uma máquina ou em um robô, obrigado a fazer algo contra
a própria vontade. O que acontece é algo maravilhoso. Quando você nega
a si mesmo e permite que Jesus seja parte de sua vida, que o Espírito Santo
habite em seu coração, então Deus e você passam a ser como uma só
pessoa. As suas vontades se unem. “Já não sou eu quem vive”, diz o
apóstolo Paulo, “mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).
E para onde você vai se agora é Cristo quem vive em você? “E esse viver
que agora tenho na carne”, diz ainda o apóstolo. Espere um pouco... Você
não estava dizendo: “Já não sou eu quem vive”? Como, então, acrescenta:
“E esse viver que agora tenho”? Afinal, você vive ou não vive? Continua
vivo ou morre?
Essa é a maravilhosa realidade do líder sábio. Quando você vive uma
vida de comunhão com Jesus, a vontade Dele e a sua se unem. São duas
vontades em uma. Os desejos Dele são os seus desejos. Então quem
decide? Cristo ou você? É Ele, mas também você. Quem administra as
emoções com sabedoria? Você, mas é Ele também.
A sua comunhão com Jesus é tão profunda e sua convivência com Ele é
tão íntima que as duas vontades se transformam em uma só. Você nega sua
vontade para cumprir a vontade Dele. Assim, a vida que você vive agora,
você a vive no Filho de Deus.
Observe esta declaração:
Ao nos sujeitarmos a Cristo, nosso coração se une ao Seu, nossa
vontade imerge em Sua vontade, nossa mentalidade torna-se uma
com a Dele, nossos pensamentos serão levados cativos a Ele;
vivemos Sua vida. [...]
Quando o próprio eu é submerso em Cristo, o verdadeiro amor brota
espontaneamente. Não é uma emoção ou impulso, mas sim a decisão
de uma vontade santificada.
As qualidades próprias da inteligência emocional não são
particularmente suas, nem um trabalho exclusivo de Jesus; também não é
algo um pouco seu ou um pouco Dele. É um esforço único. Uma só
atitude. Uma só decisão. Jesus e você unidos em uma só vontade, a
chamada “vontade santificada”.
Foi dessa maneira que os primeiros discípulos alcançaram a
semelhança com o amado Salvador. [...] Estavam com Jesus em casa,
à mesa, nos aposentos mais reservados e no campo. Estavam com Ele
como alunos e seu professor [...]. Olhavam para Ele, como servos
para seu senhor. [...]
Quando Cristo habita no coração, a pessoa se sente tão repleta de
Seu amor e da alegria da comunhão com Ele que se torna cada vez
mais apegada a Ele. Ao contemplá-Lo, o próprio eu é esquecido.

A Bíblia, fonte de sabedoria


As perguntas lógicas agora seriam: Essa é uma questão meramente de
coisas sobrenaturais? Como é que Deus trabalha no ser humano para torná-
lo sábio? É verdade que a vontade divina santifica a pobre vontade
humana; porém, além disso, é principalmente por meio da Palavra escrita
que Deus comunica sabedoria a Seus filhos.
Ninguém fabrica sabedoria. Salomão diz que os mandamentos de Deus
são luz e vida. Os autores dos livros sapienciais denominam
“mandamentos de Deus” não somente o Decálogo referido em Êxodo 20,
mas todos os ensinamentos do Senhor. Em outras palavras, toda a Torá, a
Bíblia hebraica, que, naquele tempo, era formada basicamente pelo
Pentateuco: os primeiros cinco livros das Escrituras Sagradas (Gênesis a
Deuteronômio).
Entretanto, Jesus também afirma ser Ele próprio a Luz e a Vida, e essas
palavras são usadas nos livros sapienciais para referir-se à sabedoria. Para
Salomão, seguir os ensinamentos do Senhor é andar na luz e desfrutar a
vida. Para Jesus, andar na luz e desfrutar a vida significa andar com Ele.
“Quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida”
(Jo 8:12).
O que significa isso? Existe alguma contradição entre o que Salomão diz
e o que Jesus declarou? Não. Andar em Jesus ou na companhia Dele é
seguir os Seus ensinos. Não é possível separar Jesus de Seus ensinos, pois
são o reflexo de Seu caráter. Você não pode separar uma pessoa do caráter
dela. Portanto, andar nos ensinos de Cristo é andar em Cristo, viver com
Cristo e caminhar com Ele.
E qual é o resultado? Salomão diz que, se você guardar os ensinamentos
divinos em seu coração, a sabedoria dessa decisão terá um efeito prático:
Ela “o exaltará; se você a abraçar, ela o honrará. Ela porá um diadema de
graça em sua cabeça e lhe entregará uma coroa de glória” (Pv 4:8,
9).Quem exaltará você então? Será Jesus ou a sabedoria de Seus ensinos?
Lembre-se de que não há distinção. São uma coisa só. Não existe Jesus
sem Seus ensinos: o que Ele ensinou é o reflexo de Seu caráter. Seria uma
incoerência tentar separá-los.
Por essa razão, mais do que perseguir uma sabedoria abstrata, o que o
líder sábio faz é buscar a Deus!
Referências
1
Mais informação sobre a evolução da palavra “humanismo”, na perspectiva da mente
secular moderna, pode ser encontrada no livro de Nicolás Walter Humanism: What’s in the
Word (Londres: Rationalist Press, 1997). O mesmo assunto é abordado de um modo um
pouco menos polêmico no livro de Richard Norman On Humanism: Thinking in Action
(Londres: Routledge, 2004). Para uma visão histórica e filosófica do tema, consulte o
artigo de Vito Giustiniani, “Homo, Humanus, and the Meaning of Humanism”, Journal of the
History of Ideas 46:2 (abril-junho, 1985).
2
V. J. D’Andrea e P. Salovey, Peer Counseling: Skills and Perspectives (Palo Alto, CA:
Science and Behavior Books, 1983).
3
Social Intelligence: The New Science of Social Relationships (Bantam Books, 2006).
4
Aristóteles, Ética a Nicómaco: Introdução, Tradução e Notas de José Luis Calvo Martínez
(Madri: Alianza Editorial, 2001).
5
Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017), p. 73.
6
Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 58.
7
Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2005), v. 1, p. 186, 206.
3
O LÍDER SÁBIO TEM
MOTIVAÇÕES SAUDÁVEIS
“Os reis detestam a prática da maldade, porque o trono se
estabelece pela justiça” (Provérbios 16:12).
A declaração de Salomão é drástica: “Os reis detestam a prática da
maldade”. Os líderes de hoje podem ser comparados aos reis do passado:
seres humanos como os outros, mas que, devido à sua função, ficam
sempre em evidência, expostos à opinião pública. Eles têm a “obrigação”
de ser exemplo para o povo.
Não é correto que uma pessoa seja má, porém, no caso de um líder, isso
é abominável, conforme Salomão. Como vimos no primeiro capítulo, essa
palavra originalmente significa “repugnante”, “nojento”, “detestável”.
Refere-se a pessoas e objetos que se mostram “perigosos”, “sinistros” e
“repulsivos”.
Nos tempos de Israel, havia reis com motivações obscuras. Não creio
que alguém em sã consciência queira ser considerado perigoso, sinistro ou
repulsivo. No entanto, com frequência você encontra líderes que, apesar de
especializados em relações humanas, liderança e inteligência emocional,
agem de maneira desastrosa.
A raiz do problema está no coração. Os impulsos naturais são mais fortes
que a razão. Não importa o que os conhecimentos teóricos digam, é o
coração que manda. É ele a fonte dos desejos, pensamentos e atos, tanto os
bons quanto os maus. Por isso, as Escrituras dizem: “De tudo o que se
deve guardar, guarde bem o seu coração, porque dele procedem as fontes
da vida” (Pv 4:23).Não há como produzir bons frutos se a árvore é má!

Motivações
Por que você deseja ser um líder? Quais são suas motivações? Imagine
uma jovem bela e promissora, que não suporta ver sangue, mas decide ir
para a faculdade estudar Enfermagem porque acha bonito usar uniforme
branco. Que futuro terá? Poderia até exercer a profissão, porém nunca
seria uma pessoa realizada e feliz.
O mesmo acontece com a decisão de tornar-se líder. A liderança fascina,
atrai e seduz. Todos, de alguma forma, desejam ser líderes; do contrário,
não existiria a intriga política, a inveja e a manipulação nas diferentes
áreas da vida. Em nossa cultura, liderança significa poder, notoriedade e
privilégios que a maioria não alcança. E existem alguns que, de modo
consciente ou inconsciente, assumem cargos de liderança motivados
meramente pela sensação de poder. Anelam ser aplaudidos e reconhecidos.
Deixam-se ofuscar pelo brilho das luzes e esquecem o essencial.
Paulo, líder por excelência, disse o seguinte aos filipenses:
Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar de Cristo Jesus, que,
mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a
Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, Ele
Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se semelhante
aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, Ele Se
humilhou, tornando-Se obediente até à morte, e morte de cruz. Por
isso também Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu o nome que
está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo
joelho, nos Céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse
que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2:5-11).
Questão de sentir, não de fazer
Paulo apresenta nesse texto a trajetória Daquele que poderíamos chamar
de “o maior Líder de todos os tempos”. Multidões O seguem pelos quatro
cantos do planeta. Milhões e milhões sentem-se inspirados por Sua vida e
Seus ensinos. Não se pode contar o número dos que O aclamam. Como Ele
Se tornou o mais grandioso líder que o mundo conheceu?
O apóstolo fala das motivações de Jesus. “Tenham entre vocês o mesmo
modo de pensar de Cristo Jesus”, ele diz. O termo “modo” é traduzido
como “sentimento” em outras versões (ARA, ARC). Sentimento não se vê;
instala-se no profundo da pessoa. Você pode fabricar ações, mas não
sentimentos. Quando alguém faz algo que desagrada você, é possível dar
um sorriso falso e dizer palavras gentis, mas é impossível pôr fim à raiva
escondida dentro do coração. Por isso, Paulo não diz: “Tenham em vocês o
mesmo procedimento”, e sim o “mesmo sentimento”. É no coração que
está a raiz de todos os males. Lá os conceitos teóricos não funcionam. Só
Jesus.

Qual foi o sentimento de Cristo?


“Mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus
algo que deveria ser retido a qualquer preço. Pelo contrário, Ele Se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se em semelhança aos
seres humanos.” Note a expressão traduzida como “existindo”. Jesus
Cristo não foi escolhido por Deus: Ele é o próprio Deus, um com o Pai (Jo
1:1-3). Pode haver maior cargo de liderança no Universo? Mesmo assim,
Ele não julgou como usurpação o ser igual a Deus.
O termo grego harpagmon, traduzido nesse texto como “considerou”, em
outras versões bíblicas ocorre com o sentido de “apegar-se”. Pode ser
exemplificado com o que faz um papagaio empoleirado em um galho: ele
se apega, agarra-se, não o solta, não o quer largar. Há líderes que se
agarram a um cargo diretivo. Não abrem mão dele, não o soltam nem
querem deixá-lo de modo algum.
Com Jesus foi diferente. Ele não Se apegou ao fato de ser Deus. Abriu
mão, despojou-Se. Fez-Se servo e veio a este mundo para servir. Sua
motivação, ao vir a esta Terra, não foi fundar uma religião nem ser
adorado ou aclamado por Seus seguidores. Também não foi o desejo de ser
admirado e aplaudido pelo Universo. Sua motivação foi servir. Os líderes
sábios têm como única motivação o serviço. Não buscam outra coisa. Não
esperam que alguém lhes lave os pés. Pegam a toalha e a água e lavam os
pés de outras pessoas. Os líderes sábios não esperam que as pessoas se
sacrifiquem por eles. Entregam-se. Dispõem-se a “morrer” por seus
colaboradores. Vivem o que Jesus ensinou: “E quem quiser ser o primeiro
entre vocês, que seja servo de vocês” (Mt 20:27).
Esse foi o “sentimento” de Cristo. Não foi só a “fala” ou a
“demonstração”. Foi a motivação da vida Dele. A razão de Sua missão.
Ele não buscou poder, procurou servir.

O que é servir?
O que motiva o líder sábio é o desejo de servir, não o de “ir na frente”
nem de comandar, como nós entendemos. No mundo dos negócios, na
política, no contexto institucional e até mesmo na igreja, a palavra “líder”
é usada para referir-se ao que dirige, não ao que serve. Esse conceito nos
causa problemas, porque a palavra “líder” não costuma englobar o sentido
de servir. A palavra “líder” provém do grego protostates, que significa
“aquele que está em pé diante de todos, o que dirige, o que dá as ordens, o
cabeça, o comandante”.
Na Bíblia, essa palavra aparece apenas uma vez. Foi usada por Tértulo
para acusar Paulo diante do governador Félix. “Este homem é uma peste e
promove desordens entre os judeus do mundo inteiro, sendo também o
principal agitador da seita dos nazarenos” (At 24:5).Tértulo usou a palavra
“líder” para referir-se àquele que era o “principal” na seita dos nazarenos.
Esse conceito de líder como “o que vai à frente” pouco a pouco foi
introduzido na igreja.
Entretanto, a motivação de Jesus nunca foi dirigir, mas servir. E a
palavra “servo” vem do grego doulos, que literalmente significa “escravo”.
O escravo não tem vontade própria; faz o que seu senhor lhe ordena. Não
se sobressai; dificilmente fica em evidência e só aparece quando seu amo o
chama. Esse conceito não guarda qualquer relação com o que nós
entendemos por liderança.
Creio que, em algum momento, precisamos parar e reconsiderar. Paulo
diz que Jesus Cristo “Se esvaziou” a fim de tornar-Se servo. Deixou Sua
glória, renunciou ao privilégio de ser servido pelos anjos e contemplou a
Terra cheia de pecadores caminhando em direção à morte. Sabia que o
resgate da humanidade rebelde significaria humilhação e sacrifício.
Mesmo assim, deixou tudo e veio para servir às pessoas e morrer por elas.
E nós, do que precisamos nos esvaziar? Do desejo de ser servidos. Do
desejo oculto de que alguém estenda o “tapete vermelho” por onde
passarmos. Da expectativa secreta de sermos cumprimentados com
admiração ou reverência e de que os outros se antecipem aos nossos
desejos. Necessitamos renunciar à vontade de que nossa foto apareça por
aí em tudo quanto é lugar, devido à nossa popularidade. Devemos nos
esvaziar do desejo de que nosso currículo completo seja lido cada vez que
somos apresentados em um evento. A lista é muito longa. De uma coisa
tenho certeza: o Espírito de Deus deve realizar uma mudança na fonte de
nosso “sentimento”, pois não basta a aparência de servo, é preciso a prática
de servir.
No Antigo Testamento, o preço de um servo ou escravo era 360 gramas
de prata (Êx 21:32), tudo o que ele valia. Jesus Se esvaziou do status de
Rei Soberano do Universo para valer o preço de um simples servo. Os
sacerdotes consideraram que não passava de um escravo, por isso pagaram
por Ele 30 moedas de prata. Jesus era o Senhor do Universo. Bastava um
desejo Seu, e a humanidade inteira pereceria. Contudo, foi levado ao
matadouro como um cordeiro e, como uma ovelha muda, diante de seus
tosquiadores, não reclamou, não exigiu nem pediu nada.
Precisamos que esse Servo maravilhoso entre em nosso coração e nos
motive a seguir Seu exemplo. Da mesma forma, devemos almejar que não
nos incomode o fato de o nosso nome não ser considerado para ocupar um
cargo e que não doa quando, depois de cinco anos, não formos reeleitos.
Precisamos desaparecer na terra, como o trigo, para poder renascer e brotar
na vida dos homens e das mulheres que ajudamos a formar.
Paulo abriu o coração para o Servo Jesus. E qual foi o resultado? Assim
como seu Mestre, ele se esvaziou de tudo o que era e tinha. Ele mesmo
declara:
É verdade que eu também poderia confiar na carne. Se alguém
pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: fui circuncidado ao
oitavo dia, sou da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu
de hebreus; quanto à lei, eu era fariseu, quanto ao zelo, perseguidor
da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que
para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Na
verdade, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa Dele perdi
todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo (Fp
3:4-8).
Essa é a atitude de um servo. Segue os passos do Mestre. Vive para
servir e para enaltecer o nome de Deus. As motivações que tem não são
obscuras. Não corre atrás do poder, da admiração nem do reconhecimento
dos homens. Trabalha para Deus e faz isso em tempo e fora de tempo;
sendo visto ou sem que ninguém o veja. Pouco importa. A motivação de
seu coração não é o aplauso humano, e sim a fidelidade a Deus. “Não
servindo apenas quando estão sendo vigiados, somente para agradar
pessoas, mas como servos de Cristo, fazendo de coração, a vontade de
Deus. Sirvam de boa vontade, como se estivessem trabalhando para o
Senhor e não para pessoas, sabendo que cada um, se fizer alguma coisa
boa, receberá isso outra vez do Senhor, seja servo, quer livre” (Ef 6:6-8).
Jesus foi além do serviço
Jesus foi além. Não apenas serviu, mas morreu servindo. E que morte
terrível! A de um delinquente! Naquele tempo, a crucifixão era destinada
aos párias da sociedade. Jesus a aceitou voluntariamente. “E, reconhecido
em figura humana, Ele Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte, e
morte de cruz” (Fp 2:7, 8).
Note as duas ações do servo Jesus: Ele Se humilhou e obedeceu. O termo
“humilhação”, do latim humiliatio, é ação e efeito de “humilhar-se”; de
“ferir o amor-próprio” ou a dignidade; de “abater o orgulho”. Quantos
líderes modernos estão dispostos a enfrentar humilhação? Quantos sofrem
em silêncio as ofensas dos críticos? Ou será que, em vez disso, estão
prontos a se defender “com unhas e dentes”? Você aceitaria que cuspissem
em seu rosto e rissem de você?
Outro aspecto da liderança exemplificada por Jesus Cristo é a
obediência. A quem? A Deus. De que modo hoje em dia Deus dirige Seus
servos? Quando Saulo de Tarso se encontrou com Jesus e O reconheceu, a
primeira pergunta que fez foi: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 9:6,
ARC). A resposta de Jesus foi esta: “Mas levante-se e entre na cidade,
onde lhe dirão o que você deve fazer” (At 9:6).
E quem foi a pessoa enviada para orientá-lo?
Jesus enviou o perplexo judeu à Sua igreja, para dela obter um
conhecimento de seu dever. Cristo realizou a obra de revelação e
convicção; agora, o arrependido estava em condições de aprender
daqueles que Deus comissionou para ensinar Sua verdade. Assim
Jesus aprovou a autoridade de Sua igreja organizada, e colocou Saulo
em contato com Seus representantes na Terra.
A luz da celestial iluminação havia impedido Saulo de ver, e Jesus,
o grande Médico, não o curou imediatamente. Todas as bênçãos
fluem de Cristo; entretanto, Ele havia estabelecido uma igreja como
Sua representante na Terra, e a ela pertencia a obra de guiar o
arrependido pecador no caminho da vida. Os mesmos homens que
Saulo tinha o propósito de destruir deviam ser seus instrutores na
religião que ele havia desprezado e perseguido.

O resultado do serviço
Qual foi o resultado da vida de serviço de Cristo? Paulo responde: “Por
isso também Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu o nome que está
acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos
Céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:9-11). Que ironia! Nós, seres
humanos, tentamos desesperadamente deixar nosso nome marcado na
História, porém morremos sem muita dificuldade nem glória.
Em contrapartida, Jesus Se despojou de tudo e veio a este mundo para
servir e morrer. Deus então enalteceu Seu nome acima de todo nome. Mais
ainda: diante Dele se dobra todo joelho “nos Céus”, as criaturas não
caídas; “na terra”, os seres humanos; e “debaixo da terra”, as forças
demoníacas. Significa que, finalmente, até os inimigos de Cristo O
reconhecerão como Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Uma história de motivações obscuras


Encontramos na Bíblia a história de um homem que exerceu a liderança
levado por motivações equivocadas. Seu nome era Joabe, general do
exército de Davi. Por contraste, a história de Joabe ensina lições valiosas.
A liderança de Joabe se desenvolveu em uma época de crise política em
Israel.
Depois da morte de Saul, os homens de Judá coroaram Davi como o
novo rei, porém o reino vizinho de Israel não aceitou a decisão de Judá.
Abner, que havia sido o homem de confiança de Saul, colocou Isbosete,
filho de Saul, como rei de Israel. Então começou a guerra pelo poder.
Certo dia, os homens de Davi, tendo Joabe como líder, encontraram-se
frente a frente com os homens de Isbosete, sob o comando de Abner, perto
do açude de Gibeão. Travou-se uma batalha. Os homens de Joabe estavam
vencendo, então Abner ordenou a retirada de suas tropas. Ao ver que o
exército inimigo retrocedia, o irmão caçula de Joabe, chamado Asael,
perseguiu Abner e o alcançou. Desafortunadamente, ele foi morto por
Abner.
Joabe foi atrás de Abner, mas não conseguiu matá-lo. Abner lhe propôs
um pacto de paz diante de muitas testemunhas. Nesse ponto do relato,
começamos a notar o caráter e as motivações questionáveis de Joabe como
líder. Ele agia como um político astuto. Saía de situações difíceis sem
comprometer a própria imagem. Não seria “politicamente correto”
assassinar um homem que lhe propunha paz diante de tanta gente, certo?
No fundo do coração, ele desejava vingar a morte do irmão. Esse era o
“sentimento” que o dominava, porém seus princípios de “inteligência
emocional” lhe diziam que devia aceitar o pacto de paz proposto por
Abner. Aos olhos de todos, ele foi nobre e perdoador. Suas ações foram
boas, porém o “sentimento” dele não coincidia com seu modo de agir.

Frio e calculista
O tempo passou. Davi teve filhos. Aparentemente, o incidente com
Abner havia caído no esquecimento. Joabe continuou avançando na
carreira profissional. De um simples capitão, tornou-se um general
poderoso. O homem de confiança do rei. Poucos sabiam que ele era um
líder movido por motivações erradas.
Certa ocasião, enquanto Joabe estava fora, em uma viagem, Abner foi ao
encontro de Davi, rei de Judá. Foi recebido com um banquete. Abner então
propôs paz ao rei, em nome de Isbosete. Em realidade, Isbosete não
passava de um rei de fachada. Quem realmente governava Israel era
Abner, outro líder com fome de poder e reconhecimento. Existem líderes
assim. Do ponto de vista profissional, parecem irrepreensíveis. O trabalho
que fazem é praticamente perfeito, mas o que ninguém sabe é o que se
esconde por trás desse “profissionalismo eficiente”.
O relato bíblico diz que Davi aceitou a proposta de Abner. Este
regressou feliz à sua terra. Quando Joabe chegou de viagem e tomou
conhecimento do ocorrido, o coração dele se encheu de ódio. Joabe temeu
ser considerado um general descartável. Ansiava continuar sendo o centro
das atenções, a estrela brilhante, o grande líder. Então foi atrás de Abner e
o matou. Havia alimentado o rancor e o desejo de vingança todo esse
tempo. Ao ver que Abner estava prestes a fazer as pazes com Davi, Joabe
o matou antes que fosse tarde. Não consultou o rei. Fez tudo na surdina,
sem que Davi soubesse.
Joabe não era o tipo de pessoa que simplesmente obedecia. Era um líder
“esperto”. Fazia apenas o que lhe convinha. Tempos atrás, quando lhe
pareceu conveniente fazer um tratado de paz com Abner, ele o fez. Quando
convinha obedecer ao rei, ele obedecia. Quando julgou conveniente agir
em silêncio, assim ele agiu.
O rei Davi, quando recebeu a notícia da morte de Abner, ficou arrasado.
No enterro, o rei chorou diante da tumba. Lamentou o que havia sucedido
e desaprovou publicamente a atitude insensata de Joabe. No entanto, não
fez nada além disso. Em outras circunstâncias, uma desobediência como
aquela teria sido punida com a morte. Aparentemente, Joabe não perdeu
tempo e foi em busca do rei para lhe dar explicações. Existe explicação
para tudo, porém nada justifica um erro cometido intencionalmente. Joabe
era bom em dar explicações, em “mostrar serviço” e utilidade. Finalmente,
o rei o perdoou.

Complô político
Joabe reaparece no relato algum tempo depois, por ocasião da morte do
soldado Urias. Foi com Bate-Seba, a mulher do soldado, que o rei cometeu
adultério. A morte de Urias foi fruto de um homicídio, embora
“tecnicamente” se diga que ele pereceu nas mãos dos inimigos, no campo
de batalha. A verdade é que Joabe, de modo premeditado, pôs Urias em
uma situação de risco, para que viesse a morrer.
Nessa ocasião, Joabe se prestou a um trabalho sujo. Afinal, não tinha ele
sido perdoado pelo assassinato de Abner? Havia chegado o momento de
pagar sua “dívida de gratidão” ao rei. Ele fez isso sem escrúpulo algum. O
lema de Joabe parecia ser: “Faça o que lhe convém. Por que se importar
com questões de consciência?”
Esse tipo de líder existe ainda hoje. Talvez nunca manche as mãos com
sangue, mas, para manter um cargo e continuar subindo na carreira, vende
a própria consciência. Não é capaz de dizer o que pensa. Limita-se a baixar
a cabeça e obedecer.
Para líderes assim, a única coisa que importa é se dar bem em todas as
circunstâncias. Contudo, a vida somente vale a pena quando você é capaz
de se deitar à noite e dormir em paz, com a consciência tranquila. Se você
faz algo que sua consciência não aprova apenas porque lhe convém, fica
dividido interiormente. Fragmenta-se por dentro, e isso prejudica sua
autoestima. Sente que a sua coluna vertebral se quebra. Um líder assim não
é sábio.
É possível fazer boas ações por motivos equivocados? Claro que sim.
Mesmo de maneira inconsciente. Já dizia o profeta: “Enganoso é o coração
[...] e desesperadamente corrupto. Quem poderá entendê-lo?” (Jr 17:9).
Obsessão pelo poder
Certa ocasião, Amnom, filho de Davi, estuprou Tamar, irmã dele e de
Absalão. Davi não foi capaz de fazer justiça. Talvez porque, ao ver a
tragédia da família, ele se lembrava do próprio pecado e se via sem
autoridade moral para agir.
O tempo passou. Aparentemente, tudo estava esquecido. No entanto,
quando teve oportunidade, Absalão matou Amnom como vingança pelo
estupro da irmã. Como resultado, teve que fugir. Ficou três anos longe de
Davi. O rei sofria por causa do filho fugitivo, porém não o perdoava.
Um líder não pode ser feliz guardando ressentimento no coração. O
perdão beneficia quem é perdoado e ainda mais a pessoa que perdoa. Se,
por algum motivo, você não pode perdoar alguém, entende o que estou
dizendo. Pode até negar, aparentar que é feliz, mas no fundo algo o
incomoda, isso não lhe permite desfrutar a vida plenamente.
Mesmo sofrendo, Davi não perdoava. Então surge outra vez a figura de
Joabe. Ele queria ajudar o rei, mas não fazia nada sem segundas intenções.
Sempre escondia alguma carta debaixo da manga. O que Joabe fez?
Mandou trazer uma mulher de Tecoa e a instruiu a dizer exatamente o que
ele queria. A mulher fez conforme o combinado. Apresentou-se diante do
rei e repetiu tudo o que Joabe lhe dissera, palavra por palavra. Disse ao rei
que ele deveria perdoar Absalão. Forjou uma situação. Apresentou um
aparente caso próprio.
Durante a conversa, o rei percebeu a mão de Joabe no assunto. Ao ser
interrogada, a mulher confirmou. Resultado? Outro ponto a favor de Joabe.
Ele era desse jeito. Não há nada bom que ele possa nos ensinar, mas
podemos tirar boas lições por contraste. É possível aprender com os bons
exemplos e imitá-los. Também podemos evitar os erros que outros
cometeram.
Mais farsas
Algum tempo depois, em uma batalha com Absalão, o rei pediu a Joabe
que derrotasse o jovem rebelde, mas que lhe preservasse a vida. Em vez
disso, ao saber que Absalão havia ficado preso pelos cabelos, pendurado
em um carvalho, Joabe ordenou ao soldado que havia lhe trazido a notícia
que matasse o príncipe. Então lhe ofereceu dez ciclos de prata.
O que o soldado respondeu? “Ainda que me pusessem nas mãos mil
moedas de prata, não estenderia a mão contra o filho do rei, pois ouvimos
muito bem que o rei deu uma ordem ao senhor, a Abisai e a Itai, dizendo:
‘Poupem o jovem Absalão’” (2Sm 18:12).
Que contraste! Um simples soldado, anônimo, não venderia sua
consciência nem por mil siclos de prata, enquanto Joabe, o líder de
“renome”, um dos principais do reino, cheio de medalhas e condecorações,
pisava a própria consciência a fim de continuar sua ambiciosa escalada
rumo ao poder.
Nessa ocasião, Joabe tornou a desobedecer ao rei. Conhecendo o caráter
dele, podemos deduzir que aquele ato traiçoeiro de alguma forma lhe
convinha. Que triste é a vida de alguém que só age ou deixa de agir porque
as circunstâncias lhe convêm!
A traição
Depois da morte de Absalão, levantou-se outro indivíduo rebelde no
reino de Davi. O nome dele era Seba, filho de Bicri. Para cuidar do
assunto, o rei enviou um homem de sua confiança, Amasa. Depois da
morte de Absalão, Davi não confiava muito em Joabe.
Observe o que o rei prometeu a Amasa: “Você não é da mesma família
que eu? Que Deus me castigue se você não vier a ser para sempre
comandante do meu exército, em lugar de Joabe” (2Sm 19:13).
Você acha que Joabe aceitaria isso de braços cruzados? Claro que não!
Amasa se demorou no cumprimento da missão. Davi, por medo de que o
poder do inimigo aumentasse, enviou Joabe, que era primo de Amasa. No
entanto, isso não deteve as intenções de Joabe. No caminho, ele encontrou
Amasa, fingiu que ia beijá-lo e lhe cravou o punhal no abdômen. Com a
morte de Amasa, Joabe se tornou o principal general no exército de Davi.
Há alguma semelhança entre a atitude de Joabe e a de Judas?

O poder acaba
Entretanto, o poder acaba. Qualquer coisa que um líder faça levado por
motivações erradas tem consequências tristes, mais cedo ou mais tarde.
Joabe ambicionava o poder. Aparentemente, ele “serviu”, porém no fundo
do coração o que ele buscava não era servir. O serviço que ele prestava era
somente o trampolim para chegar aonde desejava. Matou, traiu, silenciou a
própria consciência e deixou de lado princípios e valores. Enfim, chegou
ao lugar ambicionado.
Davi já era um homem idoso. Uma das jovens do palácio lhe aquecia os
pés porque ele não podia dormir de tanto frio. Não tomava mais
conhecimento do que acontecia no reino. Então Adonias, um dos filhos
dele, proclamou-se rei, sem que Davi soubesse. Quem estava apoiando
Adonias? Ninguém menos que Joabe! Dessa vez, porém, a manobra deu
errado. Visto que Davi declarou Salomão como novo rei, os que apoiaram
Adonias tiveram que fugir.
E Joabe, o que fez? Correu para o templo e ficou segurando nos dois
chifres do altar. Esse ato era permitido aos que tivessem cometido um
crime sem premeditação. Tinham sido acidentais os crimes de Joabe? Toda
a vida dele não passava de uma série de intrigas e de delitos premeditados.
Ele ambicionava o poder. Sabia que não podia ser rei, mas ansiava ser a
principal autoridade e desfrutar os privilégios do poder. Só que dessa vez
as coisas não deram certo. Foi morto por ordem de Salomão. Uma vida de
sangue termina com sangue. Tudo o que o ser humano semeia, colherá.
Como a trajetória do Senhor Jesus foi diferente! Ele era o Ser mais
exaltado do Universo. Mesmo assim, despojou-Se de Sua posição, veio à
Terra para servir, e o Pai Lhe deu um nome acima de todo nome, e todas as
criaturas do Universo O reconhecem como o Soberano Rei.
Joabe não era nada, porém desejava conquistar tudo. Lutou e “trabalhou”
por isso. Trilhou caminhos tortuosos de intriga e traição, mas acabou sem
nada.
Quais são suas motivações? O que o faz ambicionar a liderança? A
resposta a essas questões será determinante para sua vida como líder.
Referências
Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 72, 73, 44.
4
O LÍDER SÁBIO DECIDE
“O justo serve de guia para o seu companheiro, mas o caminho
dos perversos os leva a andar errantes” (Provérbios 12:26).
A liderança é a arte de decidir, quer para o bem, quer para mal. “O justo
serve de guia para seu próximo, mas o caminho dos perversos os leva a
andar errantes”, diz Salomão (Pv 12:26). O líder decide o tempo todo. É o
seu labor diário. Se você assumiu um cargo de liderança, parte de sua
responsabilidade consiste em tomar decisões, mesmo que você não esteja
consciente disso. Essa é a realidade. Você tem que escolher caminhos,
recrutar pessoas, estabelecer metas, elaborar programas, planejar ações e
outras mil coisas.
Nem todos esses itens têm a mesma importância, porém todos requerem
decisões. Não há como ficar “em cima do muro”. Vacilar é fatal na
liderança. Um líder indeciso confunde e desanima a equipe, podendo
provocar um clima de rebeldia e anarquia.

O valor da decisão
As decisões são um assunto de vida ou morte. Não existe terreno neutro:
quem não avança, retrocede. A vantagem do líder cristão é que ele
encontra na Bíblia diretrizes para tomar decisões sábias. A obediência aos
princípios bíblicos de liderança não é algo que se possa fazer de qualquer
jeito. Cedo ou tarde, virão as terríveis consequências de menosprezar os
conselhos divinos.
Em relação a esses princípios, Salomão diz: “Tenha-os sempre
amarrados ao seu coração, pendura-os no seu pescoço” (Pv 6:21).O
coração é o lugar em que as decisões nascem. Na verdade, nascem na
mente, mas muitos escritores usam o coração como metáfora. Assim, o
conselho do sábio Salomão é que os ensinos divinos estejam no coração,
guiando, iluminando e ajudando a tomar as decisões certas.
Não é apenas uma questão de atitude exterior. Não se trata de aparentar
ser um bom líder. É o que há dentro de você, sua essência. As atitudes
exteriores funcionam enquanto são vistas pelas pessoas. A obediência
interior, por sua vez, brota do amor a Cristo, não importando se os demais
veem o que você faz ou não. A liderança autêntica é fruto da vida interior,
na qual Cristo deve ocupar o primeiro lugar.
O conselho de Salomão é que os princípios de vida sejam “pendurados
no pescoço”. Nos tempos de Salomão, as pessoas costumavam pendurar no
pescoço aquilo que tinham de mais precioso. A lição aí é que os conselhos
sagrados são tão preciosos que deveríamos nos orgulhar de observá-los,
mesmo que digam que somos antiquados em nossa decisão de obedecer a
Deus.
Observar os conselhos divinos o conduzirá por caminhos de paz e
prosperidade. Por isso Salomão diz: “Quando você andar, essa instrução o
guiará; quando você se deitar, ela o guardará; quando acordar, falará com
você. Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução é luz; e as
repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Pv 6:22, 23).
Os ensinos divinos
Os líderes se perguntam com frequência: “Que devo fazer diante dessa
situação?”; “Será que essa é a medida certa a ser tomada?”; “Como lidar
com um colaborador que resiste ao crescimento?” A resposta comum a
todos esses dilemas parece ser: “Não sei como agir.”
Quando há sombras, a pessoa realmente não sabe o que fazer. Não
enxerga na escuridão, não vê nada; quer sair, mas não encontra a saída.
Então Salomão diz que os conselhos divinos são lâmpada e luz que
iluminam as decisões. Davi escreveu algo similar: “Lâmpada para meus
pés é a Tua Palavra, é luz para os meus caminhos” (Sl 119:105).
Tanto Davi quanto o filho, Salomão, usam várias expressões para referir-
se aos princípios divinos de uma liderança feliz. Essas expressões são:
ensino, palavra, estatuto, conselho, mandamento, preceito, caminho, juízo.
Nos escritos de ambos, cada vez que se encontram as expressões “Lei do
Senhor” ou “Mandamentos de Deus”, elas não se referem somente aos Dez
Mandamentos de Êxodo 20, mas à Torá inteira, ou seja, à Bíblia daqueles
tempos.
No entanto, todos os ensinos divinos poderiam se resumir em apenas um
nome: Jesus. Ele é a Palavra e o Caminho. Guardar os mandamentos de
Deus no coração significa abrir-se para receber Jesus na vida. É o que diz
Paulo: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim” (Gl 2:19, 20).
Quando Jesus é o centro da vida do líder, os mandamentos de Deus são a
luz, o caminho e o guia que o ajudam a sair das dificuldades que o dia a
dia lhe apresenta. Jesus dirige a vida. Torna-Se o centro das motivações. E
qual é o resultado? Vida! Os ensinos divinos são luz e vida. Vida plena,
exuberante. Vida que vale a pena ser vivida. Vida com sentido. As
tribulações podem trazer momentos dolorosos, pois vivemos em um
mundo de pecado. No entanto, quando você tem Cristo e Seus
ensinamentos no coração, nada o intimida. Jesus realiza em você Suas
obras de vitória. Por isso Ele declarou: “Eu sou a luz do mundo. Quem Me
segue não andará em trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8:12).
Dessa maneira, fará boas escolhas.

Decisões sábias
O segredo para tomar boas decisões é andar em Cristo. “Então você
entenderá a justiça, o juízo e a equidade” (Pv 2:9). O verbo “entender” é
bem significativo. Para tomar boas decisões é preciso entender em que
consistem o direito, a justiça e a equidade. Contudo, em nosso mundo, os
valores foram postos de cabeça para baixo. Na opinião das pessoas de
hoje, os eternos princípios de Deus são negociáveis e adaptáveis a cada
geração. O que antes era justo pode não ser mais. “Os tempos mudaram”,
alguns dizem. Como tomar decisões sábias diante dessa forma de pensar?
Todo líder gostaria de saber o que é correto e justo na hora de tomar
decisões. Todos gostariam de saber o que é bom e o que é melhor. Não
acho que alguém, em sã consciência, queira errar intencionalmente.
Porém, o fato é que vivemos errando e criando problemas para nós e para
aqueles que amamos. O que nos falta? Falta-nos entender o significado
prático de direito, justiça e equidade. E isso somente é possível quando
temos sabedoria. E o que é a sabedoria? O temor de Deus! E o que é o
temor de Deus? Reconhecer que Deus é Deus e buscáLo todos os dias em
oração e mediante o estudo da Bíblia.
Parece simples e de fato é simples. No entanto, nós complicamos tudo ao
nos afastarmos de Deus e ao ignorá-Lo; ao nos isolarmos, escolhendo os
próprios caminhos. Arrumamos confusão quando pensamos que, pelo fato
de possuirmos conhecimento das mais avançadas técnicas de liderança,
estamos capacitados para resolver os problemas sozinhos.
Saber viver. Não errar. Tomar as decisões certas. Isso nos levaria a uma
liderança de excelência. Isso ocorre quando se vive uma experiência de
comunhão diária com Cristo, fonte de sabedoria.
Somente Jesus é capaz de livrar o líder de tomar decisões equivocadas.
“Porque a sabedoria entrará no seu coração, e o conhecimento será
agradável à sua alma. O discernimento o guardará, e o entendimento o
protegerá. A sabedoria o livrará do caminho do mal e do homem que diz
coisas perversas; dos que abandonam as veredas da retidão, para andarem
pelos caminhos das trevas; dos que têm prazer em fazer o mal e se alegram
com as perversidades dos maus” (Pv 2:10-14).
Será que poderíamos afirmar que “dizer coisas perversas” e “andar pelos
caminhos das trevas” são tendências humanas do coração natural? Sim, é
bem possível. Porém, a Palavra de Deus promete que se você entregar seu
caminho ao Senhor, Ele guiará seus passos e o ajudará a tomar decisões
sábias.

Busca a Deus
Sendo assim, antes de tomar qualquer decisão, o líder sábio busca a
orientação de Deus. Pede sabedoria. Há circunstâncias complicadas que a
mente humana não consegue entender, muito menos solucionar. O impulso
natural do coração humano é tomar decisões movidas pela emoção. Uma
decisão meramente emocional pode ser fatídica, pois as emoções nos
traem. Quando as coisas vão mal, as emoções fazem você achar que está
tudo bem e vice-versa. Por isso Jeremias declara: “Enganoso é o coração,
mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Quem poderá
entendê-lo?” (Jr 17:9).
No entanto, quando você vai a Deus, Ele toma seu frágil ser nas mãos
Dele e o capacita a ver as pessoas, as circunstâncias e as coisas do jeito
que Ele as vê. Então você passa a enxergar a vida com os óculos de Deus.
Daí você não julga o que vê impelido por suas emoções, mas de acordo
com a Palavra de Deus. Os princípios bíblicos passam a orientar e definir
suas decisões.
Essa é a razão do conselho de Salomão: “Confie no SENHOR de todo o seu
coração e não se apoie no seu próprio entendimento. Reconheça o SENHOR
em todos os seus caminhos, e Ele endireitará as suas veredas. Não seja
sábio aos seus próprios olhos; tema ao SENHOR e afaste-se do mal” (Pv 3:5-
7).

Nem rápido nem devagar


“A pressa é inimiga da perfeição”, diz o ditado popular. Salomão
expressou isso de outro modo: “Os planos de quem é esforçado conduzem
à fartura, mas a pressa excessiva leva à pobreza” (Pv 21:5).Portanto, pense
antes de decidir.
É claro que muitas decisões do líder precisam ser imediatas, tomadas
quase que instintivamente. É nesse momento que entra em ação a
sabedoria, o bom juízo, o equilíbrio. Contudo, uma situação de emergência
não surge todos os dias. Você não pode tomar a exceção e transformá-la
em regra.
Ninguém perde nada se parar, observar as circunstâncias e, somente
então, decidir. Uma decisão bem pensada tem menos probabilidade de
resultar em fracasso. Não deixe que a pressão leve você a tomar decisões
apressadas. Antecipe-se ao problema e trabalhe nele. Como? Em que
coisas o líder deve pensar antes de decidir? Vejamos.
Defina objetivos e prioridades
As decisões de um líder sábio são orientadas a um objetivo. Aonde você
deseja conduzir sua equipe? As decisões são como os degraus que você
sobe, os passos que dá. Como pode você levar sua equipe para o sul,
tomando decisões que conduzem ao norte? Suponhamos que haja em sua
equipe um liderado que não apoie os planos feitos por você. Além disso,
ele tem uma personalidade difícil, mas é eficiente. Suas emoções lhe
dizem que você deve afastá-lo ou transferi-lo para um lugar ou função
difícil, a fim de que “aprenda a lição”. No entanto, o princípio norteador da
Palavra de Deus declara que toda instituição é como um corpo, com
diferentes órgãos, cada um deles importante. Na intenção de “dar um
castigo” a alguém ou apenas para agradar a si mesmo, você pediria aos
olhos que fizesse o trabalho dos pés? A pergunta que o líder precisa fazer
antes de tomar uma decisão é: “Aonde quero chegar?” A partir daí deve
avançar em direção ao objetivo estabelecido, aproveitando ao máximo o
rendimento de cada membro da equipe.

Avalie as consequências
O líder sábio está sempre um passo à frente. Primeiro, ele pede a Deus
sabedoria; depois estabelece objetivos; em terceiro lugar, analisa as
consequências da decisão que vai tomar, antes de colocá-la em prática.
Jesus ensinou: “Pois qual de vocês, pretendendo construir uma torre, não
se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para
a concluir? Para não acontecer que, tendo lançado os alicerces e não a
podendo terminar a construção, todos os que a virem zombem dele,
dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde acabar’” (Lc 14:28-
30).O homem da parábola não pensou antes de decidir. Não avaliou as
consequências, não analisou os recursos disponíveis. O resultado foi o
vexame público. Todos riram dele.
Na parábola, era apenas uma torre que estava sendo construída; uma
coisa sem vida; algo que não sofria, não chorava nem se alegrava. No
entanto, quem lidera pessoas constrói vidas, afeta seres humanos, realiza
sonhos. Essa é a diferença!
Às vezes, o que nos leva a tomar decisões sem refletir devidamente é a
pressão, especialmente no ambiente cristão. Espera-se que o líder cristão
seja um homem ou uma mulher de fé. Surge então a pressão do fervor: “Se
eu não me aventurar, dirão que não tenho fé.” Então tomamos uma decisão
sem avaliar as consequências. Jesus contou outra parábola a esse respeito:
“Qual é o rei que, indo combater outro rei, não se assenta primeiro para
calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele
com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma
embaixada, pedindo condições de paz” (Lc 14:31, 32).
O que mais impressiona é a maneira como Jesus termina o relato dessa
parábola: “Assim, pois, qualquer um de vocês que não renuncia a tudo
quanto tem não pode ser Meu discípulo” (Lc 14:33). O verbo “renunciar” é
eloquente. Não se trata de renunciar aos sonhos nem aos projetos, mas
renunciar ao eu. Você não pode enfrentar um inimigo que vem ao seu
encontro com vinte mil soldados, se não tiver os recursos necessários para
vencê-lo. A pergunta-chave que todo líder deveria fazer é: “Até que ponto
minha fé é realmente confiança em Deus e em que medida é presunção ou
confiança excessiva em minha capacidade?” Antes de decidir, pense nisso!

Ouça seus colaboradores


O líder sábio ouve seus colaboradores. Na multidão de ideias há
sabedoria. Um líder que consulta os demais não perde autoridade. Ao
contrário, é apreciado e admirado pelos liderados. A possibilidade de que o
projeto tenha êxito aumenta quando as pessoas sabem o que estão fazendo
e por que seguem aquele caminho. Assim, o ser humano fica mais
motivado. E, quando os colaboradores consideram o projeto como algo
seu, e não apenas do líder, eles se entregam completamente à realização do
plano. Portanto, não deixe de demonstrar que as opiniões dadas foram de
alguma forma levadas em conta.
Certa ocasião, eu estava fazendo os preparativos para um acampamento
que reuniria milhares de jovens. Eu precisava encontrar uma pessoa que
cuidasse da estrutura do acampamento. Seria a pessoa- chave! Eu tinha
muitos nomes na lista, gente bem preparada e capaz de realizar um
trabalho excelente. Eu havia orado, pedindo a Deus que me ajudasse a
encontrar a pessoa certa.
Nesse momento, alguém bateu à porta de meu escritório. Era o homem
da limpeza. Ele pediu desculpas por não ter retirado o lixo antes, pegou o
cesto e, estava saindo, quando eu tive uma ideia. Tirei da gaveta minhas
anotações, olhei bem nos olhos dele e disse:
– Espere, por favor. Preciso de sua ajuda. Você conhece alguém com
essas características?
Ele me ouviu em silêncio, leu o papel e, alguns instantes depois,
perguntou:
– Para que o senhor precisa dessa pessoa?
Eu expliquei. O homem então sorriu e me disse:
– É fulano. A pessoa que o senhor está procurando é fulano de tal. E me
explicou o porquê.
Depois de alguns arranjos, aquela pessoa se tornou o homem que
administrou de modo extraordinário o acampamento e me poupou muito
trabalho, evitando e resolvendo inúmeros problemas. A ideia foi do
funcionário que tirava o lixo do escritório.
O líder sábio consulta, pergunta e aceita a participação de seus
colaboradores; mas, evidentemente, é ele o responsável pela decisão final.

Consulte os superiores
O líder sábio nunca faz as coisas na surdina, de modo solitário ou
aconselhando-se apenas com os membros da equipe. É necessário também
consultar os superiores. Geralmente, eles estão onde estão porque
trilharam o caminho que estamos percorrendo agora. A experiência é algo
que não se compra. Adquire-se ao longo da vida. Por que não aproveitar o
conselho daqueles que passaram por circunstâncias semelhantes? É sábio
submeter nossos planos ao escrutínio dos colegas superiores cuja opinião e
experiência nos inspiram confiança.
Mesmo quando a aprovação deles não for necessária, eles estarão mais
dispostos a apoiar o projeto se estiverem informados de tudo ao longo do
processo decisório.
Que Deus lhe conceda sabedoria para tomar as decisões certas!
5
O LÍDER SÁBIO CONHECE
SEU VALOR
“Muitos proclamam a própria bondade, mas alguém que é digno de
confiança, quem o achará?” (Provérbios 20:6).
Depois de algumas horas tentando ver algo na superfície da água, o rei
voltou frustrado ao palácio e questionou seu velho e sábio conselheiro:
– Não pude ver nada no lago. Deixe de fazer suspense e me diga de uma
vez quem é meu pior inimigo.
– É incrível que Vossa Majestade não tenha percebido! – respondeu o
sábio. – Estava bem diante de seus olhos, refletido nas águas. O próprio
rei, meu senhor, é seu pior inimigo. Quando exerce autoridade, Vossa
Majestade não quer entender a situação, mas apenas dirigir, controlar.
Porém, nem mesmo sabe o que fazer ou para onde deseja conduzir o povo.
Tem um enorme exército, mas de nada lhe serve. As tropas assim como
Vossa Majestade estão tomados por uma soberba tão grande que não
conseguem ver as próprias necessidades. Meu rei está prejudicando a si
mesmo, bem como ao povo. Está perdido. Neste momento, Vossa
Majestade é seu pior inimigo.
Pode parecer engraçado, mas há líderes como esse rei. Querem saber
quem são seus inimigos. Procuram em todo lugar a fim de descobrir algum
complô imaginário, mas ignoram que o maior inimigo está dentro deles.
Um líder que não conhece a si mesmo, sendo incapaz de reconhecer as
próprias qualidades e limitações, dificilmente poderá liderar. Corre o risco
de pensar que é águia pelo simples fato de ter asas.

A pergunta de todo líder


Quando foi chamado por Deus para guiar o povo hebreu, Moisés
perguntou: “Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de
Israel?” (Êx 3:11). Moisés reconheceu a própria incapacidade diante da
missão e fez a pergunta-chave que todo líder deveria responder para si
mesmo antes de aceitar o desafio de liderar: “Quem sou eu?”
O rei Davi, um dos grandes líderes de Israel, fez a mesma coisa.
Examinando a si mesmo, escreveu: “Quando contemplo os Teus céus, obra
dos Teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem,
para que dele Te lembres? E o filho do homem, para que o visites? Fizeste-
o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o
coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da Tua mão e sob seus pés tudo
lhe puseste” (Sl 8:3-6).
O que é o ser humano? Quem é você? Não há uma tragédia pior que um
líder incapaz de olhar para dentro de si e se conhecer. O indivíduo anda
por aí achando que é o máximo, sem perceber que, pelas costas, seus
liderados riem dele. Falta-lhe autocrítica. Uma pessoa incapaz de fazer
uma boa análise de si mesma não está em condições de liderar.
Você se assustaria com a quantidade de pessoas que passam anos
ocupando cargos de liderança sem conhecer a si mesmas. Nos corredores,
todos comentam em voz baixa os deslizes do líder. Só ele não nota isso, ou
faz de conta que não percebe. Vive no alto da montanha de sua soberba,
contemplando lá de cima os “reles mortais” que seguem suas ordens. A
visão que ele tem da vida, das coisas e dos acontecimentos é pouco ou
nada realista. Ele olha para os liderados como se fossem objetos sem alma
nem personalidade.
Outros pendem para o extremo oposto. Imaginam que sua liderança é
fraca, que ninguém os valoriza nem aprecia seu trabalho. Sentem-se
vítimas de injustiças ou reféns das circunstâncias. Por isso vivem
ressentidos, complexados, afundando-se na autopiedade e alimentando
uma baixa autoestima. Então tentam compensar tudo isso por meio de
atitudes radicais e intransigentes.

A consciência do próprio ser


O líder sábio tem consciência do verdadeiro eu, porque vive em
comunhão com a Fonte da sabedoria. Ninguém é capaz de aceitar a própria
realidade a não ser que Deus opere em sua vida o milagre da conversão.
No campo da psicologia moderna, usa-se com frequência o termo
insight,uma palavra inglesa que descreve o despertar para a consciência e o
entendimento do próprio ser. Ter um insight seria “captar” ou apreender a
própria realidade: ser capaz de “juntar as peças”, relacionando uma
vivência, uma atitude, uma forma de ser à sua origem. Essa percepção
súbita permitiria ampliar a consciência da realidade e ter um melhor
conhecimento de si mesmo.
O fato de o insight ocorrer de forma súbita leva muitos psicólogos a
associá-lo à intuição. Argumentam que, por meio dela, entra-se em contato
com uma verdade ou realidade que até aquele momento havia permanecido
inconsciente. É como se o cérebro reorganizasse a informação que possui,
para alcançar a compreensão do próprio ser.
O insight é de suma importância em psicologia, pois determina até que
ponto uma pessoa tem capacidade de compreender bem a si mesma e de
fazer conexões entre sua vida interior, o próprio corpo e as circunstâncias
que a rodeiam.
O que a psicologia moderna chama de insight, a Bíblia denomina
“conversão”. Uma das primeiras coisas que Deus faz com o líder que vai a
Ele em busca de sabedoria é dar-lhe uma consciência adequada de si
mesmo. O Senhor trabalha nos corredores escuros do coração humano até
que este se conscientize de que precisa de Deus. Você vale muito, porém
seu valor é sempre relativo. Você é como o zero: se for posto à esquerda
da vírgula ou antes do número 1, então você não vale nada. Contudo, se
reconhecer sua dependência e se puser depois do 1 ou à direita da vírgula,
seu valor é imensurável.

O que determina seu valor


Não são seus diplomas, nem sua posição, nem seu nome ou sobrenome
que determinam seu valor. Não é o que você pensa de si mesmo, tampouco
o que outros pensam de você. É o que Deus pensa de você.
O sábio Salomão diz: “Muitos proclamam a sua própria bondade, mas
alguém que é digno, de confiança, quem o achará?” (Pv 20:6). Ser benigno
ou bondoso não é meramente uma questão de palavras. Ser bom e humilde
não significa ser servil. Firmeza não é radicalismo. Não basta dizer: “Sou
bondoso.” É preciso ser de verdade. Isso, porém, somente acontecerá
quando você conseguir responder às perguntas: Quem sou eu? Qual é meu
valor?
Saiba que seu valor é Deus quem mede e determina. Ninguém mais.
Como Ele faz isso? O profeta Jeremias apresenta a resposta divina: “Assim
diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua
força, nem o rico, nas suas riquezas. Mas aquele que se gloria glorie-se
nisto: em Me conhecer e saber que Eu sou o SENHOR e faço misericórdia,
juízo e justiça na terra; porque destas coisas Me agrado, diz o SENHOR” (Jr
9:23, 24).
Conhecer a si mesmo mergulhando na meditação transcendental ou
mediante autoanálise o leva a se extraviar nos meandros perigosos do
ocultismo ou do humanismo. Incentiva você a encontrar no fundo de seu
ser algo que não existe. Você fecha os olhos, concentra- se e repete
“mantras” para quê? Para encontrar nas galerias sombrias de seu
inconsciente um pobre ser humano derrotado, que se esforça para
dissimular sua triste realidade.
Deus trabalha de outra maneira. Ele o leva a erguer os olhos e ver a
grandeza de Seu ser divino. Nele, apenas, você finalmente entende o
infinito valor que tem.
Você não é o que acredita ser
Deus diz: “Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua
força, nem o rico, nas suas riquezas.” Você não é o que acredita ser! Tire
de seu coração o desejo de ser louvado ou aplaudido. Se você fica
incomodado com o fato de que, ao lado de suas realizações e conquistas,
não fizeram constar seu nome, seu título ou sua foto, algo está errado
dentro de você. É preciso rever seu conceito de liderança.
Você não é um líder tão bom quanto pensa que é nem tão deficiente
como se imagina. É melhor do que às vezes pensa ser. Outras vezes, é pior
do que seu coração supõe. O líder sábio assume esses dois aspectos de seu
ser. Sabe de seu potencial para a excelência e reconhece os perigos da
mediocridade dentro de si. Ele identifica a batalha interior entre o egoísmo
e a abnegação altruísta.
Reconheça-se como você é! Você tem muitas qualidades, mas também
inúmeros defeitos. Peça a Deus que o ajude a descobrir seus defeitos e
deixe que as pessoas lideradas por você descubram suas qualidades. Não
exagere em seu autoconceito. Também não amplifique seus defeitos nem
menospreze suas virtudes. Você não é um diamante, mas também não é
uma pedra vil, sem valor.
Não se compare com ninguém! Não há nenhuma pessoa neste mundo
igual a você. Em você há um universo de possibilidades. Vá a Jesus e
permita que Ele realize em você o que você não pode fazer por suas forças.

Seu valor depende de Deus


“Mas aquele que se gloria glorie-se nisto: em Me conhecer e saber que
Eu sou o SENHOR”. Em vez de ostentar títulos ou qualidades, a primeira
preocupação do líder sábio deve ser entender e conhecer quem é Deus.
Esse é o segredo do valor que o ser humano tem: viver em comunhão com
Cristo; permitir que o caráter de Jesus seja refletido em sua vida. Sem
Cristo é impossível ter consciência de quem você é. Sem essa consciência,
é impossível ser um bom líder.
É uma pena que, algumas vezes, certos conceitos populares do mundo
atual, como “autoconhecimento”, tentem infiltrar-se no meio cristão. Vi
líderes da igreja pulando e gritando a fim de “liberar a energia interior” tal
como fazem os gurus não cristãos de liderança. Vi líderes cristãos
fascinados por esse tipo de ensinamento, como se o que ouvem dos gurus
da autoajuda fosse a descoberta do século. Esquecem-se de que, se a
abordagem for correta, encontrarão tudo o que importa na Palavra de
Deus!

A mulher samaritana
Pense na mulher samaritana. Ela ia todos os dias ao poço, ao meio-dia,
para buscar água. Fazia isso de caso pensado. Achava que os samaritanos
eram homens e mulheres cheios de preconceitos e não desejava vê-los nem
ser vista por eles. Escolheu a hora mais quente do dia para pegar água, pois
sabia que era o momento em que a rua estaria deserta, sem ninguém.
Contudo, naquele dia encontrou Jesus, e Ele fez a diferença na vida
daquela mulher. O Mestre lhe pediu água, e ela lhe respondeu:
– Mas como é que um homem judeu vem pedir água a mim, que sou
samaritana?
Até aquele momento, ela havia pensado que os preconceituosos eram os
samaritanos. Somente diante da presença de Jesus descobriu que a campeã
do preconceito era ela mesma. Só Jesus é capaz de despertar a consciência
do próprio ser. Sem Ele, é impossível ter uma ideia correta do valor que
você tem.
No texto do profeta Jeremias, citado anteriormente, há outro pensamento
muito interessante. “Eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça
na terra; porque destas coisas me agrado.” Misericórdia, juízo e justiça não
seriam exatamente as qualidades de um líder sábio? De fato, são as
qualidades próprias das pessoas que têm a chamada inteligência
emocional. Você deseja ser um líder misericordioso e justo? Então procure
entender e conhecer melhor quem é Deus. Ele é o Autor da sabedoria.
Energia desperdiçada
O líder sábio deve fazer o que é correto do modo certo. Por isso o
apóstolo Paulo diz: “Portanto, tenham cuidado com a maneira como vocês
vivem, e vivam não como tolos, mas como sábios, aproveitando bem o
tempo, porque os dias são maus” (Ef 5:15, 16).
O apóstolo relaciona a falta de sabedoria ao desperdício de tempo e
energia. Por quê? Porque a liderança de alguém que não tem consciência
do próprio valor é, literalmente, uma perda de tempo, trabalho jogado fora.
Ele luta contra inimigos imaginários. Ignora que seu pior inimigo é ele
mesmo. Torna-se um líder frio, calculista. Persegue as pessoas capazes e
dificulta a vida delas. Teme trabalhar com indivíduos que sabem pensar,
pois os vê como possíveis rivais. Escolhe colaboradores que dizem “sim” a
tudo e que não teriam coragem para levá-lo a ver os erros que comete.
As empresas, as instituições em geral e até as igrejas estão sujeitas ao
risco de recorrer a líderes assim.

Você não é melhor nem pior que ninguém


Salomão afirma que todos somos iguais diante de Deus. O fato de
sermos líderes não nos coloca em um nível superior a ninguém. “O ouvido
que ouve e o olho que vê, o SENHOR os fez, tanto um como o outro” (Pv
20:12)
Aqui o sábio trata a questão da igualdade entre os seres humanos. O
primeiro fator de igualdade é a criação. O Senhor nos fez, diz Salomão.
Todos fomos criados pelo mesmo Deus. Somos Seus filhos, e isso nos
torna irmãos. Deus é a fonte de tudo o que temos e do que somos. No
entanto, o fato de todos termos sido criados iguais, com o mesmo valor,
não quer dizer que sejamos idênticos. Deus nos fez diferentes. Os ouvidos
são para ouvir; e os olhos, para ver.
Paulo expressa melhor essa ideia ao dizer que, embora sejamos parte do
mesmo corpo, cada um é diferente do outro devido à função
desempenhada. Essa diferença não existe para que cada um siga o próprio
caminho, mas para criar um senso de interdependência. Precisamos uns
dos outros. Ninguém é superior a ninguém. Cada um tem seu valor e é
necessário no corpo de Cristo. O líder sábio distinguirá a diversidade, mas
trabalhará em unidade a fim de construir, não de destruir.
O outro fator de igualdade é o pecado. “Quem pode dizer: ‘Purifiquei o
meu coração; estou limpo do meu pecado’?” (Pv 20:9).Não há justo, nem
sequer um. Quando Adão e Eva pecaram, todos nos tornamos pecadores.
Desde então, todos os seres humanos são maus e carecem da graça de
Cristo para ser transformados. Não somos culpados por termos nascido
assim, pecadores. No entanto, seremos considerados culpados se não nos
apoderarmos da solução provida por Jesus.
Dessa maneira, todos somos iguais por causa da criação e do pecado em
nossa natureza humana caída. Você não vale mais que os outros. E
também não vale menos! Não pode acolher em seu coração o sentimento
de superioridade nem o de inferioridade. Precisa ter consciência de quem
você é, do contrário corre o risco de se frustrar.
Conta o filósofo Esopo, da Grécia antiga, que uma águia-real, lançando-
se do topo de um alto monte, agarrou um cordeirinho e o levou como
presa. Um corvo observava a cena, fascinado. Na tentativa de imitar a
águia, lançou-se lá do alto sobre um carneiro. Porém, como era corvo e
não águia, suas garras ficaram presas na lã. Por mais que se esforçasse
para soltá-las, não conseguiu.
O pastor do rebanho, vendo o corvo naquela situação, pegou-o, cortou-
lhe as asas e o levou para casa. Ao chegar, os filhos do pastor de ovelhas
lhe perguntaram:
– Que ave é essa?
– Para mim, é apenas um corvo – respondeu o pastor –, mas ele acha que
é águia!
É isso o que acontece: O desconhecimento de seu verdadeiro ser pode
levar você por caminhos trágicos. Da mesma forma, quando as
circunstâncias forem cruéis e você se sentir triste e solitário; quando, em
sua missão de líder, você sentir que as forças se esvaem, lembre- se deste
conselho:
Levantem os olhos para o alto e vejam. Quem criou estas coisas?
Aquele que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem-contadas,
as quais Ele chama pelo nome; por ser Ele grande em força e forte
em poder, nem uma só vem a faltar. Por que, então, você diz, ó Jacó,
e você fala, ó Israel: “O meu caminho está encoberto ao SENHOR, e o
meu direito passa despercebido ao meu Deus”? Será que você não
sabe, nem ouviu que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da
terra, nem Se cansa, nem Se fatiga? A sabedoria Dele é insondável.
Ele fortalece o cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum
vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos
caem, mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem
com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se
fatigam (Is 40:26-31).
O líder que confia em Deus nunca está sozinho. Ele pode tirar o máximo
proveito dos próprios erros, transformando-os em aprendizado. Para ele,
cada dia pode ser uma nova oportunidade. O passado se foi. Cada novo
amanhecer traz a esperança de um recomeço promissor.
Referências
1 Ellen G. White, História da Redenção (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p.
189 [271].
1 Insight é um conceito amplamente utilizado pelos psicólogos para explicar fenômenos
como a aprendizagem, a resolução de problemas, melhoras em terapias, etc. No entanto,
a comunidade científica julgou conveniente manter o termo original sem tradução devido
às dificuldades que implica, pois não possui um equivalente apropriado em nossa língua.
Ver Macarena Blázquez Alonso, Juan Manuel Moreno Manso, María Elena García
Baamonde Sánchez, “Inteligencia emocional como alternativa para la prevención del
maltrato psicológico en la pareja”, em Anales de Psicología, Psicología clínica y de la Salud,
2009, 25(2), p. 250-260.
6
O LÍDER SÁBIO É SONHADOR
“Erga os olhos e olhe de onde você está para o norte, para o sul,
para o leste e para o oeste; porque toda essa terra que você está
vendo, Eu a darei a você e à sua descendência” (Gênesis 13:14,
15).
A Bíblia nos ensina que o líder sábio é visionário. Ele é capaz de erguer os
olhos e, de onde está, vislumbrar aspirações e sonhos transformados em
realidade. Por não se contentar com as circunstâncias, ele estuda uma
forma de tirar os seus da mediocridade e levá-los a apoderar- se de um
futuro distante, mas desejável, pelo qual ele está disposto a lutar até o
alcançar.
No entanto, a visão do líder precisa ser assimilada pelos demais, de
modo que cada um a considere como sua. A qualidade do líder sonhador,
portanto, não é apenas ser um grande visionário, mas fazer com que cada
liderado sonhe tanto ou mais que ele. Para alcançar esse tipo de liderança,
é indispensável haver uma boa comunicação entre o líder e seus
colaboradores. Não é fácil compartilhar a visão de maneira que cada
indivíduo do grupo a sinta como parte dos próprios sonhos.
Robert Fritz argumenta que as organizações avançam quando uma visão
clara e compreensível se difunde e provoca uma tensão entre o real e o
ideal, inspirando as pessoas a trabalhar unidas, com o objetivo de reduzir a
distância entre uma coisa e outra.
Calebe foi um líder com essa capacidade. Ele era um visionário. Não
buscou glória, fama ou reconhecimento para si. Trabalhando nos
bastidores, ele ajudou primeiramente Moisés e depois Josué. Contudo, a
vida e o caráter dele ensinam lições de uma liderança impossível de
esquecer. A seguir, vamos analisar sua história.

A um passo do sonho
O povo de Israel tinha chegado à fronteira de Canaã. O sonho estava
prestes a se realizar. A peregrinação quase havia terminado. Um pouco
mais, e entrariam na terra tão sonhada. Teria valido a pena a dor e o
sofrimento que enfrentaram no deserto? Claro que sim! Mas o que
realmente importava não eram as penúrias sofridas, e sim os milagres e a
demonstração do amor e do poder de Deus ao longo da jornada.
O Senhor havia libertado Seu povo da escravidão. As pragas que caíram
sobre o Egito foram uma demonstração irrefutável do poder do Deus de
Israel. Também a maneira extraordinária como o Mar Vermelho se abriu, o
maná diário, a água fluindo da rocha, enfim. Seria impossível mencionar
todos os detalhes de Seu amor e cuidado.
A vida dos líderes sábios, sonhadores e visionários é permeada por
milagres. As grandes conquistas que alcançam não são resultado da
habilidade humana, e sim do que Deus faz por intermédio deles. Por isso
são sonhadores! Seus sonhos não são fantasias fabricadas na usina dos
desejos corriqueiros, mas visões otimistas bem alicerçadas na sólida Rocha
da história testemunhada. Parafraseando uma grande escritora, eu diria: O
líder nada tem a temer em relação ao futuro, a menos que se esqueça da
maneira prodigiosa como Deus o guiou no passado.

Doze líderes
No caso de Israel, as agruras do deserto eram coisa do passado. Estavam
a um passo do cumprimento da promessa. Então Moisés escolheu doze
homens para inspecionar a Terra Prometida. Um líder sábio jamais faz as
coisas sem um plano preestabelecido. A improvisação não é própria de
líderes que bebem na Fonte da sabedoria divina.
Deus havia ordenado a Moisés: “Envie alguns homens que espiem a terra
de Canaã, que Eu vou dar aos filhos de Israel. Enviem um homem de cada
tribo de seus pais, sendo cada qual chefe entre eles” (Nm 13:2). Esses doze
homens eram líderes. A Bíblia os descreve como “chefes”, ou seja, eram
os mais altos representantes de cada tribo. Eles foram lá e contemplaram
as maravilhas do lugar, uma terra pródiga, de abundância, da qual
manavam leite e mel. Terra produtiva e fértil! Terra que, “em se plantando,
tudo dá”.
Os doze líderes voltaram trazendo uma mostra dos frutos. Foram
necessários dois homens para carregar um só cacho de uvas. Que
maravilha! Quem não deseja o melhor do melhor? Quem não sonha em
chegar ao topo, realizando seus ideais? Seria fascinante se as coisas boas
da vida pudessem ser alcançadas com o simples desejo.
Contudo, na vida real é diferente. Sonhos vãos ou fantasiosos cedo ou
tarde se transformam em terríveis pesadelos. É preciso ir além do sonho. O
líder visionário vai além. No caso dos espias enviados por Moisés, nem
todos tinham sonhos e visões. Muitos dentre eles eram calculistas, frios.
Avançavam somente quando sentiam que havia terra firme sob os pés.

Falta de sonhos
Dez líderes trouxeram a Moisés um relatório negativo, pessimista,
carente de sonhos e visões. Eles provavelmente se considerassem
“realistas”. Embora não negassem as maravilhas da terra, ficaram mais
impressionados com as dificuldades. Foram incapazes de ver além daquilo
que os olhos físicos enxergaram. A realidade cruel da terra habitada por
inimigos poderosos lhes arrebatou a coisa mais preciosa que um líder pode
ter: a capacidade de sonhar.
O resultado foi uma calamidade. O povo se desesperou e começou a
murmurar. Dez líderes sem sonhos alvoraçaram as pessoas e as
desanimaram. Que tragédia! As dificuldades para conquistar aquela terra
eram reais. As campinas de Canaã pertenciam a um povo guerreiro, forte e
combativo. Os cananeus não entregariam a terra deles com facilidade. Essa
era a realidade. Contudo, o líder precisa ser capaz de enxergar além dos
simples fatos da realidade.
A vida é assim. Os problemas e as dificuldades são o pão de cada dia na
vida de todo líder. Deus nunca prometeu a ninguém uma vida fácil.
Quando o pecado entrou no mundo, surgiram os problemas. Eles são parte
de nossa experiência diária. No entanto, Deus prometeu que, se você
confiar Nele, será capaz de enfrentar os problemas e solucioná-los. O
Senhor jamais lhe prometeu que, se confiar Nele, não terá problemas. A
promessa divina é que, em meio às dificuldades, Ele estará com você e não
o abandonará. “Quando você passar pelas águas, Eu estarei com você;
quando passar pelos rios, eles não o submergirão; quando passar pelo fogo,
você não se queimará; as chamas não o atingirão” (Is 43:2).
Deus conduziu Seu povo pelo deserto, não foi? Por que então o deixaria
abandonado nas mãos do inimigo? Aqueles dez líderes careciam de
sonhos, confiança e fé. Estavam dominados pelo medo, e o medo tem o
poder de distorcer a realidade. Faz você enxergar fantasmas onde não
existem.
Eles disseram que aquela terra “devorava” os inimigos. Não era verdade!
Estavam exagerando! Do contrário, eles não teriam conseguido voltar de lá
com vida, certo? Disseram também que, em comparação com os cananeus,
os israelitas eram como gafanhotos.
O medo distorce a realidade. Faz-nos ver as coisas como piores do que
realmente são. Leva o indivíduo temeroso a afogar-se em um copo d’água.
Rouba-lhe a capacidade de sonhar. Afunda-o na areia movediça da
mediocridade contagiosa.

Líderes sonhadores
Observe a reação de Josué e Calebe, líderes sonhadores e de visão. Eles
também não negaram a realidade. De fato, reconheceram que o problema
existia, mas eram homens de fé, e a fé faz a diferença.
“Vamos subir agora e tomar posse da terra”, afirmou Calebe, “porque
somos perfeitamente capazes de fazer isso” (Nm 13:30). Essa atitude
visionária de Calebe era resultado da comunhão pessoal com Deus. Ele
conhecia o Senhor. Lembrava-se da promessa feita tempos atrás não só a
Moisés, mas também a Abraão: “Erga os olhos e olhe de onde você está
para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste; porque toda essa terra
que você está vendo, Eu a darei, a você e à sua descendência, para sempre”
(Gn 13:14, 15). A ordem divina não era: “Erga os olhos e veja os
problemas.” Deus disse: “Erga os olhos e olhe [...] porque toda essa terra
que você está vendo, Eu a darei, a você e à sua descendência”.
Isto é ter visão: olhar além da realidade presente, confiando no poder de
Deus. Apoderar-se da terra significava luta, guerra e sofrimento, mas
Calebe sabia que o mesmo Deus que os havia conduzido no passado os
levaria até o final com êxito. Ele olhou o que existia para além dos
problemas. A noite estava envolta em trevas, mas os sonhadores
conseguem vislumbrar o sol de um novo dia mesmo antes do amanhecer.

Líderes sonhadores enfrentam pressão


Todo líder sonhador é incompreendido e, com frequência, perseguido.
Entretanto, o mais importante é não ter medo de sonhar. Os seres humanos
podem destruir o sonhador, mas nunca o sonho. É preciso enfrentar a
pressão exterior. Muitas vezes, a pressão é fruto da inveja. Todo líder
sonhador é, de alguma forma, vítima da inveja. Você sonha, e eles não. É
doloroso. É preciso vencer a inveja e ficar atento para não cair nas
armadilhas do caminho. Em sua trajetória como líder, você encontrará
pessoas que não suportarão sua presença e que não vão se interessar pelos
seus sonhos.
Teria sido mais fácil para Calebe adaptar-se ao pensamento da maioria.
Por que inovar e criar problemas para si mesmo? Entretanto, a questão não
era apenas a diferença pela diferença nem o desejo de se sobressair ou
parecer superior aos demais. Tratava-se de uma pulsão interior, motivada
por princípios de vida. Calebe desejava dormir em paz com a própria
consciência, e a melhor maneira de fazer isso era procurando ser fiel a
Deus e coerente consigo mesmo.
Quando você tiver que revelar seus sonhos e suas convicções, não se
deixe influenciar por aquilo que é mais conveniente, que parece ser
politicamente correto ou que coincide com o pensamento da maioria. Em
casos assim, os fatores determinantes são a Palavra de Deus e a própria
consciência. É com elas que você terá que lidar na solidão da noite. É a
elas que você prestará contas.

Os líderes visionários não se rendem


Calebe acreditou que, em nome do Senhor, os obstáculos seriam
vencidos. Compartilhou os sonhos dele com os demais, bem como a visão
futura, da herança prometida. Ele os desafiou. Procurou contagiá-los com
otimismo, mas as coisas não saíram como deveriam. É que nem sempre a
multidão é capaz de chegar aonde os visionários chegam. Preferem as
areias secas do deserto da “realidade”. Contentam-se em escavar o chão,
em vez de destemidamente atravessar o rio. E alcançam apenas aquilo que
buscam. Suas realizações nunca serão maiores que seus sonhos. Ninguém
vai além daquilo que anseia. O povo destinado a ter um futuro glorioso
peregrinou durante 40 anos pelo deserto da própria mediocridade.
O tempo passou, e o sonho que poderia ter se realizado em dois anos
demorou quatro décadas para se tornar realidade por falta de visão. Ainda
assim chegaram, finalmente, e conquistaram a Terra Prometida.
Moisés havia morrido. Josué era o novo líder, e o momento de repartir e
distribuir a terra tinha chegado. A distribuição foi realizada por sorteio.
Talvez a maioria desejasse receber a terra mais fácil de cultivar e que
ficasse na melhor localização; os vales e as planícies.
Então Calebe se aproximou de Josué e disse:
– Dá-me as montanhas!
– Como assim? É sério?
– Sim, eu quero as montanhas! Aquela terra que ninguém quer, as
montanhas onde ainda habitam os gigantes, descendentes de Anaque.
Quero ir para lá.
Calebe estava perto dos 80 anos. Não era um jovem interessado em
aventuras, mas continuava cheio de sonhos e sem medo de enfrentar
desafios. Aqui se aplica o que escreveu o profeta Isaías: “Os jovens se
cansam e se fatigam, e os moços, de exaustos, caem, mas os que esperam
no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e
não se cansam, caminham e não se fatigam” (Is 40:30, 31).

O segredo de um líder visionário


O segredo é confiar em Deus. Uma velhice saudável e gratificante não
depende apenas de cuidar bem da saúde, embora isso seja indispensável.
No caso de Calebe, o segredo consistia em confiar em Deus. Quando uma
pessoa aprende a viver em comunhão com Jesus, não teme o que virá. A
vida não acaba. Os desafios não terminam. Cada dia é uma nova
oportunidade para continuar servindo e realizando grandes coisas para
Deus.
Calebe foi além do mero serviço. Havia chegado o momento de se
retirar. Era necessário preparar outro líder que confiasse em Deus para
enfrentar os novos desafios. E o que ele fez? A história está registrada
deste modo: “Então Calebe disse: – Darei a minha filha Acsa por mulher
ao homem que atacar e conquistar Quiriate-Sefer. Quem conquistou a
cidade foi Otniel, filho de Quenaz, o irmão de Calebe, mais novo do que
ele. E Calebe lhe deu a sua filha Acsa por mulher” (Jz 1:12, 13).
Buscar jovens promissores é o desafio de todo grande líder. É intrigante
e curiosa a maneira como Calebe fez isso, porém deu resultado. Mais
tarde, a história se encarregaria de provar a utilidade de Otniel como um
líder na causa de Deus.

O líder visionário é generoso


Na história bíblica, há outro detalhe interessante relativo ao caráter de
Calebe. A filha dele, Acsa, ao casar-se com Otniel, pediu uma parte das
terras e duas fontes de água. Nesses lugares, a água era escassa. Deixar
duas fontes de água para a filha, sabendo que, daquele momento em
diante, por lei, a propriedade passaria a pertencer ao genro, demonstra a
generosidade daquele homem de Deus.
Essa é outra das características de alguém que aprende a viver em
comunhão com Deus. Não tenha receio de compartilhar. Deus concedeu ao
mundo Seu Filho unigênito. Foi perda? Não! O líder generoso jamais
perde. Ao fazer esse sacrifício por nós, Deus não apenas derrotou o
inimigo para sempre, como também ganhou o amor e a gratidão de Seus
filhos por toda a eternidade. O ser humano foi beneficiado, porém Deus
será louvado pelos séculos dos séculos.
Salomão afirma: “A pessoa generosa prosperará, e quem dá de beber terá
a sua sede saciada” (Pv 11:25).Ninguém perde por ser generoso. Olhando
superficialmente, as pessoas podem pensar que você é ingênuo, mas não é
nada disso. Quem dá, recebe multiplicado. A generosidade é uma via de
mão dupla e tem efeito bumerangue: vai e volta. Quem recebe é
beneficiado, mas a bênção volta para quem a deu.
Deus e Sua igreja precisam hoje de líderes visionários. Lembre-se,
porém, de que um líder visionário é aquele que deposita a confiança no
Senhor. É Dele que provêm os sonhos do líder e a capacidade para realizá-
los. É Deus, e somente Deus, quem dá forças ao cansado.
Erga os olhos para as montanhas, para os picos mais altos, para os
desafios mais difíceis. Caminhe na direção deles, certo de que, em nome
do Senhor, seus pés pisarão a Terra Prometida.
Referências
1 Robert Fritz, Path of Least Resistance: Learning to Become the Creative Force in Your Own Life
(Nova York: Ballantine Books, 1989).
2 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), v. 3,
p. 162.
3 Essa expressão tem origem na carta escrita por Pero Vaz de Caminha para descrever
ao rei Dom Manuel
(1o de maio de 1500) as terras recém-descobertas: “dar-se-á nela tudo”.
7
O LÍDER SÁBIO É HONESTO
“Porque a Minha boca proclamará a verdade; os Meus lábios
detestam a maldade. Todas as palavras da Minha boca são justas;
não há nelas nenhuma coisa torta, nem perversa” (Provérbios 8:7,
8).
A honestidade é outra qualidade do líder sábio. A palavra “honestidade”
provém do termo latino honestitas. É a qualidade de ser transparente e
sincero. Essa palavra abrange o conceito de decência, decoro, recato,
pudor, justiça, probidade, retidão e honra.
Um líder sábio possui a qualidade de comportar-se e expressar-se com
sinceridade e coerência, respeitando os valores da verdade. O resultado é a
confiança de seus liderados. Todos gostam de trabalhar ao lado de pessoas
confiáveis. A confiabilidade de um líder é consequência da sinceridade e
transparência dele, entrelaçadas à sua honestidade.
O próprio Deus declara que Seus lábios proclamam somente “a
verdade”. A verdade é o fundamento da honestidade. Salomão, por sua
vez, relaciona a mentira com a perversidade. O perverso não só pratica o
mal como tem prazer em fazer isso. De certo modo, o mentiroso crê que
leva vantagem ao enganar as pessoas. Esse tipo de atitude não tem lugar na
vida de um líder sábio.
O verdadeiro sentido da honestidade
Nenhum curso moderno de liderança passa por alto o tema da
honestidade. Esse aspecto do caráter do líder não se limita às boas ações. É
um princípio que nasce de um coração transformado. Ser honesto requer
convivência com a verdade. Vai além das simples ações, porque a verdade
bíblica não é um conceito, é uma Pessoa. Jesus disse: “Eu sou o caminho,
a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo 14:6).
Conviver com a verdade é conviver com Cristo. Essa é a diferença entre
um simples curso de liderança e a liderança bíblica. Qualquer seminário de
inteligência emocional ensina que você deve ser honesto. A Bíblia, porém,
é categórica ao afirmar que o ser humano sozinho é incapaz de tirar a
mancha de sua maldade. “‘Mesmo que você se lave com salitre e use
muito sabão, a mancha da sua iniquidade continua diante de Mim’, diz o
SENHOR Deus” (Jr 2:22).
E diz mais: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto. Quem poderá entendê-lo?” (Jr 17:9). Por essa
razão, os líderes que se esforçam para colocar em prática o que ouviram
nas aulas não conseguem viver à altura dos conceitos aprendidos
teoricamente. Não depende deles. Se a fonte estiver contaminada, a água
não será pura: “Pelos seus frutos vocês os conhecerão. Por acaso se
colhem uvas de espinheiros ou figos de ervas daninhas? Assim, toda
árvore boa produz frutos bons, porém a árvore má produz frutos maus. A
árvore boa não pode produzir frutos maus, e a árvore má não pode
produzir frutos bons” (Mt 7:16-18).
Honestidade e integridade
Salomão também vincula a honestidade à integridade. “A integridade dos
retos os guia, mas a falsidade dos infiéis os destruirá” (Pv 11:3). A palavra
integridade vem do termo “íntegro”. Significa inteiro, completo, pleno.
Uma coisa é íntegra somente quando está completa. A vida do líder íntegro
não tem meias verdades, meias mentiras, meia pontualidade nem meia
honestidade. Ele faz tudo de forma inteira. E o resultado é que a
personalidade dele também se mantém inteira, sem divisões. Existe
harmonia entre seus valores, suas emoções e ideias. A vida física e
espiritual dele está de acordo. Isso gera um sentido de dever cumprido, paz
e felicidade.
Quando, porém, o líder fragmenta a si mesmo deixando de ser íntegro,
sucumbe a confusões existenciais, perde a paz interior e, muitas vezes, cai
no poço profundo da amargura. A integridade do líder justo e sábio é um
guia seguro. Os princípios dele são firmes. Não ficam à mercê das
circunstâncias. O caminho que ele toma o conduz às alturas desejadas. Ele
não negocia valores. Seus princípios não entram em leilão.
Conheci um líder que não conseguia dormir. Passava noites inteiras
acordado. Os comprimidos não surtiam efeito. Ninguém diagnosticava o
problema dele. Estava à beira de um ataque de nervos, a ponto de
enlouquecer. Aparentemente, tinha tudo para ser feliz, mas não era. Até
que, um dia, descobriu-se que ele tinha outra família. A falta de
integridade o havia levado àquele caos. Sim, “a integridade dos retos os
guia, mas a falsidade dos infiéis os destruirá”.
Saímos completos das mãos de Deus. Por isso, seremos felizes somente
se agirmos como seres inteiros, com integridade. Por essa razão, Salomão
afirma: “O SENHOR detesta balanças desonestas, mas o peso justo é o Seu
prazer” (Pv 11:1).Por que as coisas falsas causam repulsa a Deus? Porque
Ele nos ama e sabe que a falta de integridade destrói o ser humano e o faz
sofrer. A falta de integridade pode dar uma vantagem aparente e
momentânea, mas o fim é triste.
A desonestidade não compensa
Salomão escreve: “O pão que se ganha com fraude pode ser gostoso, mas
depois a sua boca se encherá de areia” (Pv 20:17). A declaração bíblica
não se refere apenas ao alimento obtido por meios desonestos. Diz respeito
a qualquer vantagem trazida pela desonestidade. Quando o engano for
descoberto, será difícil de digerir.
Certa ocasião, pedimos ao chefe de um setor que nos recomendasse o
nome de alguém para um cargo de liderança em outro país. Ele nos falou
maravilhas de um membro da equipe dele. Lançou flores e rasgou seda. Na
opinião dele, era o melhor homem que se poderia encontrar para a função.
Por um motivo ou outro, a pessoa não foi escolhida. O tempo passou.
Um dia, aquele chefe entrou em meu escritório e disse:
– Preciso que me ajude, por favor. Necessito transferir um membro de
minha equipe. Não sei mais o que fazer com ele. Em todos os projetos, ele
é uma pedra no caminho. Não colabora, só critica, vive descontente.
– Quem é a pessoa?
– Fulano de tal.
A princípio não pude entender. Era o homem que ele nos havia
recomendado há algum tempo. Então lhe perguntei.
– E quando mudou?
Meu interlocutor se acomodou na cadeira, pôs a mão na cabeça e me
respondeu:
– Nunca mudou. Sempre foi assim. Um peso morto!
O homem diante de mim era considerado um líder hábil e inteligente. No
entanto, confundia capacidade administrativa com desonestidade.
Não é difícil encontrar líderes assim. Vivemos em um mundo cujos
valores estão de cabeça para baixo. A desonestidade passou a ser
considerada um talento. A mentira pode ser circunstancial. A verdade
tornou-se relativa e subjetiva.
Como sobreviver em um mundo assim? Fazendo das virtudes princípios,
e não somente usando-as como um meio de obter vantagens profissionais.
Indo a Jesus e recebendo sabedoria.

A honestidade traz recompensas


A honestidade, por sua vez, sempre traz recompensas. Além de paz de
espírito e uma sensação interior de bem-estar, o líder honesto sempre sai
ganhando. Segundo uma fábula, um pobre lenhador estava voltando para
casa depois de uma cansativa jornada de trabalho. Ao cruzar a ponte, seu
machado caiu na água, e ele se pôs a lamentar.
– E agora?! Como ganharei meu sustento?
Então apareceu um rapaz que lhe disse:
– Não chore. Eu me lançarei ao rio e lhe trarei de volta o machado.
O rapaz mergulhou na corrente e pouco tempo depois apareceu com um
machado de ouro.
– Esse não é meu machado – reconheceu o lenhador.
Pela segunda vez, o rapaz mergulhou na água e reapareceu, dessa vez
com um machado de prata.
– Também não é o meu – disse o aflito lenhador.
Pela terceira vez, o jovem procurou o machado submerso. Finalmente,
reapareceu com um machado de ferro.
– Oh, obrigado, obrigado! Esse é o meu!
– Mas, por ter sido tão honrado, eu lhe dou os outros dois também –
disse-lhe o jovem. – Você foi honesto, e a honestidade sempre tem
recompensa.
Essa fábula expressa uma realidade prometida na Palavra de Deus e
comprovada pelas circunstâncias da vida.
A necessidade de líderes honestos
O profeta Isaías escreveu há muitos séculos: “Eis aí um rei que irá reinar
com justiça, e príncipes que irão governar com retidão. Cada um deles
servirá de esconderijo contra o vento, de refúgio contra a tempestade, de
torrentes de águas em lugares secos e de sombra de uma grande rocha em
terra sedenta” (Is 32:1, 2). As figuras que o profeta usa para ilustrar o valor
dos líderes honestos são bastante eloquentes: “esconderijo contra o vento”,
“refúgio contra a tempestade”, “águas em lugares secos” e “sombra de
uma grande rocha em terra sedenta”.
Vento e tempestade. A desonestidade se popularizou a ponto de arrasar
os princípios. É semelhante a ventos e tempestades incontroláveis. Nessas
circunstâncias, a maior necessidade do mundo é a de homens – homens
que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu
coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o
pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao
dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo
que é reto, ainda que caiam os céus.
Em meio a um deserto tórrido onde a honestidade parece chuva escassa e
passageira, os líderes sábios são como “torrentes de águas em lugares
secos”, e “sombra de uma grande rocha em terra sedenta”.

Sabedoria, justiça e verdade


Salomão afirma que a sabedoria convida os seres humanos. Em
realidade, quem os chama é Jesus, a fonte de toda a sabedoria: “Escutem,
pois falarei coisas excelentes; os Meus lábios dirão o que é reto. Porque a
Minha boca proclamará a verdade; os Meus lábios detestam a maldade.
Todas as palavras da Minha boca são justas; não há nelas nenhuma coisa
torta, nem perversa” (Pv 8:6-8).
Deus chama os seres humanos para que ouçam coisas justas e
importantes. E essas coisas estão relacionadas à verdade. Os lábios do
Senhor “aborrecem a mentira”. Os líderes que buscam Jesus vivem na
verdade. Não apenas dizem a verdade, eles também vivem nela.
Muitos, porém, preferem viver na mentira porque a verdade tem um
preço, e não estão dispostos a pagá-lo. Optam pelo caminho da mentira,
das meias verdades, ou como se queira chamar aquilo que não é
absolutamente transparente e cristalino.
Na maioria das vezes, dizer e praticar a verdade envolve dor. Esse é o
seu alto preço. Como o ser humano detesta a dor, é lógico que escolha
outro caminho, ainda que seu fim seja a morte.
É estranho que a senda da dor conduza à vida, porém, desde a entrada do
pecado no mundo, a solução para o problema da morte está na dor. Jesus
teve que provar a dor para salvar o ser humano. Os líderes néscios fogem
da dor da verdade, caem na mentira, trilham o caminho de destruição. Essa
atitude é incoerente. A verdade faz parte da sabedoria. Por dolorosa que
seja, vale muito mais que as pedras preciosas. Ainda que envolva dor,
conduz à paz de coração e à felicidade.
Um administrador que não sabe o que fazer com um membro
improdutivo de sua equipe, e então lhe oferece uma bolsa de estudos para
ver se consegue se livrar dele, está procedendo com honestidade? Um líder
que, desejando pôr uma pessoa de sua preferência em determinada
comissão, argumenta que se trata de uma recomendação das instâncias
superiores, está dizendo a verdade?
A vida é tecida de detalhes nos quais pode parecer mais confortável
contar “uma mentira branca” que enfrentar a dor da verdade. O líder sábio,
porém, não se esconde da verdade nem foge à responsabilidade.

O preço da mentira
Um dos temas do capítulo 6 de Provérbios é a honestidade. A estrutura
desse capítulo é interessante. Começa falando do valor dos mandamentos;
trazem luz e vida. Portanto, é necessário guardá-los no coração e atá-los ao
pescoço, uma referência ao valor interior e exterior dos ensinamentos
divinos.
Depois, o rei sábio introduz o tema do adultério, enfatizando que os
mandamentos serão uma espécie de escudo protetor tanto contra a mulher
quanto o homem estranhos. O tema do adultério vai até o fim do capítulo,
que termina no verso 35. No entanto, nos versos 30 e 31, o sábio introduz
um tema curto: “Não se despreza o ladrão, quando, faminto, rouba para
matar a fome. Pois este, ao ser apanhado, pagará sete vezes tanto;
entregará todos os bens de sua casa.”
Por que Salomão coloca esses dois versos sobre roubar entre os que
falam sobre o tema do adultério? Por duas razões: primeira, não há
diferença entre os pecados: pecado é pecado. Não vale a pena racionalizar,
nem justificar, nem explicar. Não vale a pena comparar um pecado com
outro e dizer que um é mais leve que o outro. E também não cabe dizer
que, no caso do ladrão, foi por causa da fome, devido à necessidade ou às
circunstâncias. Pecado é pecado, e a única coisa que se pode fazer diante
dele é arrepender-se, pedir perdão, abandoná- lo e reparar o que for
possível.
A segunda razão é que, tal como o roubo, o adultério é um ato de
desonestidade. No furto, coisas são subtraídas. No adultério, são vidas.
Talvez por isso, do ponto de vista humano, o adultério nos pareça um
pecado mais horrível e escandaloso. Contudo, quer seja um, quer outro, a
reflexão de Salomão a esse respeito é: “Poderá alguém carregar fogo no
colo, sem que as suas roupas se incendeiem? Ou andará alguém sobre
brasas, sem que os seus pés se queimem?” (Pv 6:27, 28).Cedo ou tarde, o
pecado trará consequências tristes e dolorosas. Esse é o recado.

A mentira
Salomão diz: “A falsa testemunha não ficará impune, e o que profere
mentiras perecerá” (Pv 19:9). Duas consequências tristes há para o
mentiroso: será castigado e destruído. Como? A mentira é a caverna escura
onde nos escondemos por medo de que os demais nos conheçam como
realmente somos. No entanto, o ser humano procede das mãos de um Deus
verdadeiro. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6).
Portanto, o ser humano foi criado para a verdade. O homem e a mulher se
esconderam como consequência do pecado. Antes da queda, a vida deles
era transparente e cristalina. Eles eram plenamente felizes.
Hoje, embora a mentira esteja inscrita nas células mais íntimas do ser
humano, o homem e a mulher não podem ser felizes vivendo na falsidade,
contando mentiras. Este é o pior castigo do mentiroso: seu mundo interior
é destruído pelas fantasias que ele próprio inventa. Um exemplo disso é
pensar uma coisa e fazer outra bem diferente. É mostrar a imagem de algo
que não somos. Ocultação deliberada. A pessoa dizer que sabe, quando
não sabe.
Se é errado mentir para os outros, pior ainda é mentir para si mesmo. A
verdade é que há pessoas que gostam de mentir. Vivem em um mundo
inventado. Movidas pela insegurança e incapacidade de confiar, afundam
no pântano da irrealidade.
A única solução para a mentira é Cristo. O líder sábio não mente. Quanto
mais perto estiver da Pessoa Verdade, que é Cristo, mais transparente e
cristalina sua vida se mostrará. Assim, será mais feliz e fará mais felizes as
pessoas com quem vier a se relacionar.

Cuidado! Perigo!
Como saber se você está deslizando pelo caminho sutil da falta de
verdade? Simples: Quando você começa a inventar desculpas no afã de
“explicar” sua falta de responsabilidade. Você sai de casa tarde e diz que
se atrasou porque havia muito trânsito. Você precisa levar o filho ao
dentista, mas sai dizendo que tem um compromisso de trabalho. Isso
acontece quando você toma uma situação real e lhe dá dimensões irreais.
As crises existem, mas não são fantasmas invencíveis. O exagero não
gera na alma de sua equipe o desejo de lutar com força. Ao contrário, gera
desconfiança no líder.
Você mente quando, como dirigente, promete algo – que sabe que não
vai cumprir –, mas faz isso somente para sair da situação difícil na qual
está. Por exemplo, sabe que não tem uma vaga na instituição, mas diz à
pessoa necessitada do trabalho que vai pensar no assunto com carinho.
Fuja da mentira. Busque a Jesus, a Verdade eterna, e permita que o
caráter puro e honesto do Salvador seja refletido em sua vida.
Referências
1
Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 40 [57].
8
O LÍDER SÁBIO É HUMILDE
“Quando vem a soberba, a desgraça não tarda, mas com os
humildes está a sabedoria” (Provérbios 11:2).
A humildade é a qualidade natural dos que chegam a conhecer a si
mesmos. “Com os humildes está a sabedoria.” Que verdade extraordinária!
Salomão disse isso há mais de 25 séculos. Contudo, os gurus mais
destacados na área de liderança hoje se entusiasmam com essa qualidade
como se tivessem acabado de fazer uma descoberta revolucionária.
O livro O Monge e o Executivo, de James Hunter, tornou-se da noite para
o dia no livro mais lido entre pessoas que ocupam cargos de liderança.
Nesse livro, conta-se a história de John Daily, um brilhante homem de
negócios que, de repente, percebe seu fracasso como chefe e como ser
humano.
Em busca de uma solução para sua lamentável realidade, Daily participa
de um retiro sobre liderança em um mosteiro beneditino, dirigido pelo
frade Leonard Hoffman, renomado empresário estadunidense que havia
abandonado tudo em busca de um novo sentido para a existência. No
mosteiro, Daily descobre que o líder precisa ser um homem disposto a
servir, e não a ser servido. Deve ser humilde e reconhecer que o poder não
é um instrumento de opressão, e sim uma ferramenta para construir a
felicidade dos demais. Aprende que um ser humano feliz será um
funcionário produtivo.
O que surpreende é que o conselho do monge ao empresário ecoa
ensinamentos bíblicos de 25 séculos antes. Que ironia, especialmente para
os líderes cristãos que, durante algum tempo, fizeram dessa leitura seu
livro de cabeceira!
Hoje não existe um seminário de liderança no mundo dos negócios que
não dedique tempo para falar dos benefícios de reconhecer que uma pessoa
jamais terá todas as respostas. Portanto, necessita aceitar suas limitações.
Lazlo Bock, por exemplo, autor do livro Work Rules [Regras de
Trabalho], indica que a humildade é uma das características que as
empresas buscam nas pessoas ao contratá-las. Bock não se refere apenas à
criação de espaços e meios destinados a acolher a contribuição dos
liderados, mas também à humildade intelectual que leva o líder a aprender.
Ele argumenta que, em um mercado globalizado, os problemas são cada
vez mais complexos, e uma pessoa só jamais consegue ter todas as
respostas.
A humildade é, sem dúvida, uma das qualidades de todo líder sábio. A
palavra “humildade” provém da raiz latina humus, que significa “terra”.
Dessa raiz também deriva a palavra “humano”. A humildade, portanto, é a
capacidade de reconhecer que somos humanos. Tudo o que somos e temos
provém de Deus.

Agur, um líder humilde


O capítulo 30 do livro de Provérbios menciona a humildade como fator
de êxito na vida. Esse capítulo não é da autoria de Salomão. É um
apêndice escrito por alguém que leva o nome de Agur, filho de Jaque.
Na primeira parte desse capítulo, encontramos o seguinte: “Palavras de
Agur, filho de Jaque, de Massá. O homem disse: ‘Estou cansado, ó Deus;
estou cansado, ó Deus, e exausto porque sou demasiadamente estúpido
para ser homem. Não tenho inteligência de um ser humano, não aprendi a
sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo’” (Pv 30:1-3).
Agur tinha uma ideia correta das próprias limitações e da necessidade de
Deus. Isso é um dom. O dom da humildade. Não é fraqueza. É a
capacidade de aceitar que fomos criados por Deus e que dependemos Dele.
O orgulhoso pensa que não precisa de ninguém e que pode fazer tudo
sozinho. O humilde sabe que, se pode realizar algo, é unicamente pelo
poder de Deus.
O líder orgulhoso acredita que, por exercer um cargo importante, sabe
mais que todos e é superior aos liderados. Sente-se mal ao descobrir que o
mundo não o vê como ele gostaria de ser visto. Então se sente frustrado e
incompreendido. Agur, porém, era diferente. Ele reconhecia que precisava
aprender com Deus. “Não tenho inteligência de um ser humano, não
aprendi a sabedoria, nem tenho o conhecimento do Santo”, diz.
Alguém está em condições de aprender somente quando reconhece a
própria ignorância. O mundo, porém, está cheio de pessoas que creem
saber tudo. A sabedoria deste mundo enche o coração de orgulho. Não
deixa espaço para Deus. Então a pessoa se torna néscia e caminha pela
vida como se fosse o próprio Deus.

Não me faças vaidoso


Agur registra, no livro dos Provérbios, a única oração do livro. “Duas
coisas te peço, ó Deus; não recuse o meu pedido, antes que eu morra:
afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a
riqueza; dá-me o pão que me for necessário, para não acontecer que,
estando eu farto, te negue e diga: ‘Quem é o SENHOR?’ Ou que,
empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus” (Pv 30:7-9).
Agur teme que a vaidade se apodere de seu coração. A vaidade é a
necessidade de esconder o que você realmente é. O desejo de aparentar,
com uma capa deslumbrante, algo que não existe. Essa atitude acaba
alimentando uma mentira. Por isso a pessoa vaidosa se engana e ilude os
demais. Falta-lhe algo, mas se esforça para mostrar o contrário. Luta
desesperadamente para demonstrar ser o que, na verdade, ela não é.
A palavra “vaidade” provém do latim vanitas. Refere-se à qualidade do
que é vão, vazio, oco, uma realidade ausente, carência de conteúdo,
substância ou solidez. Esse adjetivo se aplica ao que é irrelevante, à
arrogância, à presunção e ao envaidecimento. Define-se como a confiança
excessiva nas habilidades próprias ou no poder de atração que a pessoa crê
que exerce sobre os demais. É soberba e presunção.
Quanto mais longe o líder estiver de Deus, mais se deixará levar pela
vaidade. Somente em Cristo podemos ter um autoconceito equilibrado e
realista, manifestando gratidão a Deus pelo que somos, sem dar
importância exagerada à opinião alheia.

Que eu não me esqueça de Ti!


Afora tudo isso, há algo mais na oração de Agur. Ele diz: “Dá-me o pão
que me for necessário, para não acontecer que, estando eu farto, Te negue
e diga: ‘Quem é o SENHOR?’” Agur se conhecia muito bem. Como
dissemos, conhecer a si mesmo é um privilégio do líder sábio. Agur
conhecia seus conflitos interiores. Era consciente das próprias debilidades.
Sabia da tendência natural do coração humano para se esquecer de Deus
quando as coisas vão bem. Então ele pede a Deus que lhe dê apenas o
necessário para manter sempre em mente o quanto ele é dependente do
Pai. Que sabedoria!
O soberbo, geralmente, não tem uma ideia correta de quem ele é. A
vaidade e a mentira embaçam a visão. Ele vê a si mesmo como um gigante
e enxerga os outros como gafanhotos. Só ele é grande. Só ele é capaz.

Características dos soberbos


Conheci um jovem que, quando era criança, ia à igreja com os pais. Na
universidade, encheu a cabeça de teorias humanistas e começou a zombar
da fé mantida pelos pais. Dizia que a experiência religiosa era uma etapa
superada em sua vida. É assim que o soberbo age. Acha que, por possuir
um conhecimento superior, sabe tudo.
Agur é bastante duro com os soberbos que não respeitam os pais. “Os
olhos de quem zomba do pai ou de quem nega obediência à sua mãe,
corvos do vale os arrancarão e pelos filhotes da águia serão comidos” (Pv
30:17). Talvez nem os corvos nem filhotes da águia venham literalmente
atacá-los, porém as circunstâncias difíceis que o orgulho lhe traz serão
mais cruéis que essas aves de rapina.

O soberbo se acha justo demais


Outra característica dos soberbos é que se consideram muito justos.
Acham-se sempre no direito de apontar os erros de todo mundo, usando
sua experiência como padrão para a vida dos outros. “Há pessoas que são
puras aos próprios olhos e que jamais foram lavadas da sua imundícia” (Pv
30:12). Somente Jesus purifica o coração. Então, como resultado, a pessoa
passa a produzir o fruto do espírito: bondade, paz, mansidão, humildade,
ou seja, as características de Cristo. Contudo, há líderes que não conhecem
a Jesus. Causam dor e sofrimento a seus liderados sob o pretexto de estar
preocupados com o desempenho da equipe.

O soberbo é altivo
A terceira característica dos soberbos é a altivez. “Há pessoas cujos
olhos são arrogantes e que olham para os outros com desdém! Há pessoas
cujos dentes são espadas, e cujas mandíbulas são facas, para consumirem
os aflitos da terra e os necessitados deste mundo” (Pv 30:13, 14).
O orgulhoso olha de cima para baixo. O altivo ou prepotente deseja que
todos façam o que ele diz. Vale-se da força da posição que ocupa com o
propósito de exercer a própria vontade. Chega a ponto de consumir “os
aflitos da terra e os necessitados deste mundo”.

Características dos humildes


Reconhecer os próprios erros não é fraqueza, mas grandeza e humildade.
Quando um líder se mostra humano, reconhecendo suas imperfeições,
estimula os liderados a continuar crescendo. Os liderados passam a
admirá-lo mais. Passam a vê-lo como alguém semelhante a eles,
valorizam-no e desejam ser como ele. Ninguém perde nada por pedir
desculpas.
Em certa ocasião, uma secretária que tive fez um trabalho imperfeito,
aquém do esperado. Pacientemente, eu lhe expliquei o que eu queria e lhe
pedi que o fizesse de novo. Duas horas depois, ela me trouxe o trabalho
com as mesmas imperfeições. Tornei a explicar. Na terceira vez, ao ver
que as coisas não tinham mudado, eu lhe disse:
– Muito obrigado, eu mesmo vou fazer.
Naquela mesma tarde, antes de voltar para casa, eu pedi a ela que viesse
a meu escritório. Ela sentou-se à minha frente, envergonhada.
– Desculpe-me, por favor – eu disse.
Ela se surpreendeu. Lágrimas começaram a rolar por seu rosto.
– Eu é que me desculpo. Estou passando por problemas em minha vida
pessoal...
Eu a ouvi durante um bom tempo. Disse-lhe que nada do que ela fizesse
me dava o direito de ser impaciente. Oramos juntos.
Alguns meses depois, ela foi submetida a uma cirurgia. Eu estava no
aeroporto. O celular tocou. Era ela.
– Pastor, – ela disse – vão me levar para a sala de cirurgia agora, mas
antes quero lhe pedir que o senhor ore comigo pelo celular.
Eu sabia por que ela estava me pedindo aquilo. Apesar de eu ser um
simples ser humano, ela confiava em minha oração. Eu me pergunto: Isso
teria acontecido se eu não tivesse pedido desculpas a ela naquele dia?

Não imponha, converse


O modelo de liderança em que o chefe sempre tem a razão é antiquado,
conforme dizem os especialistas. Isso, porém, não é novidade para os que
conhecem a Bíblia. A Palavra de Deus sempre ensinou que “melhor é o
jovem pobre e sábio do que o rei velho e tolo, que já não se deixa
admoestar. Porque ele saiu da prisão para reinar, embora tenha nascido
pobre em seu reino. Vi todos os viventes que andam debaixo do sol com o
jovem sucessor, que ficará em lugar do rei. Era sem conta todo o povo que
ele dominava” (Ec 4:13-16).Essa é a realidade. Os jovens humildes,
capazes de aceitar o conselho dos liderados, sucederão os líderes mais
antigos que se neguem a mudar.
Não tenha medo de ouvir diferentes pontos de vista. Os líderes
empenhados em impor as próprias ideias geralmente entram em discussões
improdutivas. Quando as pessoas estão concentradas em defender a
validade de seu ponto de vista, perdem a oportunidade de aprender com a
perspectiva dos demais. O líder humilde está disposto, muitas vezes, a pôr
de lado a própria agenda. Ao fazer isso, aprende com os liderados e os
estimula a continuar crescendo. E qual é o resultado? Agur responde: “Vi
todos os viventes que andam debaixo do sol com o jovem sucessor, que
ficará em lugar do rei. Era sem conta todo o povo que ele dominava”.
Aceite que você não sabe tudo
Agur é um profundo observador da natureza e do comportamento
humano. Ele reconhece que não tem condições de entender muitos
mistérios aparentes. Isso o leva a ser mais humilde e a confiar em Deus.
Há líderes que acreditam que, se pudessem entender tudo, confiariam
mais em Deus. Isso não é verdade. A fé leva você a confiar mesmo sem
entender. Quando você entende as circunstâncias, não está fazendo uso da
fé, e sim da lógica. Fé significa confiar, mesmo não entendendo tudo o que
está ocorrendo.
A observação da natureza fazia de Agur um homem de fé. “Há três
coisas que são maravilhosas demais para mim; na verdade, há quatro que
eu não entendo: o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na rocha,
o caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma
moça” (Pv 30:18, 19).
Dentre as coisas que Agur não entende, duas pertencem à natureza; as
outras duas têm que ver com o ser humano. Em todo caso, são um
mistério. A lição que precisamos aprender aqui é que a atitude dos líderes
sábios é sempre uma atitude de observação. O líder sábio está atento aos
eventos, às circunstâncias e aos liderados. Não sai correndo tentando
explicar tudo. Há muitas coisas que, por mais que tentemos entender,
nunca conseguiremos decifrar.
A sabedoria não está no entendimento, e sim na confiança. É preciso
observar, estudar e pensar. Deus deseja que você desenvolva ao máximo
suas capacidades, mas especialmente que exercite a faculdade espiritual de
aprender a confiar Nele e que encontre ajuda em uma atitude de
humildade.
Desde a entrada do pecado no mundo, a incerteza faz parte desta vida.
Por que então não aceitá-la como uma realidade? Ao fazer isso, o líder dá
espaço aos liderados para que possam opinar e contribuir de alguma forma.
Isso gera um senso de interdependência. Eles entendem que o melhor é
confiar um no outro para resolver os problemas que surgirem. Como
resultado, aprendem a trabalhar em equipe.

Forme novos líderes


Um líder sábio é aquele que está disposto a desaparecer como o trigo na
terra para renascer em muitos novos grãos. Para tanto, é preciso ter
humildade. Observe o que Jesus disse: “É chegada a hora de ser
glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade lhes digo: se o
grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer,
produz muito fruto” (Jo 12:23, 24).
Ao dizer que seria glorificado, o Mestre estava referindo-Se à morte
Dele. Que maneira estranha de ser glorificado! Os seres humanos buscam
a glória em meio às luzes, aos holofotes e aos aplausos. Jesus a busca na
morte. E explica o porquê: Ele, o líder mais extraordinário que a História
conheceu, sofreu a morte de um delinquente e foi levado à profundeza da
terra, porque “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só;
mas, se morrer, produz muito fruto”.
Então não tema que líderes mais jovens ocupem seu lugar. Não tema que
superem você, que alcancem as alturas às quais você não pôde chegar.
Esse é o único jeito de concluir sua liderança com sucesso. Mesmo depois
de morto, sua influência continuará inspirando outros. “E Eu, quando for
levantado da terra, atrairei todos a Mim. Ele dizia isto, significando com
que tipo de morte estava para morrer” (Jo 12:32, 33).
Alguns anos depois da morte de Jesus, Paulo escreveu:
[...] não tendo em vista somente os próprios interesses, mas também
os dos outros. Tenham entre vocês o mesmo modelo de pensar de
Cristo Jesus, que, mesmo existindo na forma de Deus, não
considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer
custo. Pelo contrário, Ele Se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-Se semelhante aos seres humanos. E, reconhecido em
figura humana, Ele Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte,
e morte de cruz. Por isso também Deus O exaltou sobremaneira e
Lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na Terra e debaixo da terra (Fp
2:4-10).
Jesus Se humilhou. E o Pai O exaltou. Que enorme diferença entre Cristo
e os líderes humanos como nós, que às vezes nos exaltamos... Logo a vida
se encarrega de humilhar-nos!
Referências
1 Twelve, 7 de abril de 2015.
9
O LÍDER SÁBIO E RELACIONA
BEM
“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”
(Provérbios 15:1).
A vida é feita de relacionamentos: com gente da família, vizinhos, amigos,
colegas de trabalho, entre tantos outros. Se uma pessoa não se relaciona
bem, surgem dificuldades o tempo todo. Se os problemas de
relacionamento fossem resolvidos, ficaria pavimentado o caminho para
horizontes nunca antes imaginados. As empresas e as instituições
valorizam o líder que se relaciona de modo eficaz com os outros. Por essa
razão, o tema da inteligência emocional está na moda.
Há séculos, porém, a Bíblia apresenta a regra de ouro dos
relacionamentos. “Portanto, tudo o que vocês querem que os outros façam
a vocês, façam também a eles” (Mt 7:12). Salomão declarou: “A resposta
branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15:1).
Em geral, as pessoas são o espelho de nossas atitudes. Elas nos devolvem
a imagem que projetamos nelas. Se você as trata com cortesia, elas serão
corteses com você. Um gesto de amabilidade é retribuído da mesma forma.
Faça o teste. Cumprimente com um sorriso um desconhecido. A pessoa
responderá com o mesmo gesto cordial. É possível que, a princípio, fique
meio sem jeito, mas logo reagirá, devolvendo-lhe a saudação.
Entretanto, se você for descortês, terá descortesia como resposta. É uma
lei do comportamento humano. Não há como fugir dessa esfera de ação. E
o líder, mais que ninguém, precisa relacionar-se bem com as pessoas.
Afinal, não lideramos coisas nem objetos, mas seres humanos, com
sentimentos, traumas, complexos, defeitos e virtudes.
Muitos líderes jovens, aparentemente brilhantes e com um futuro
promissor, desapareceram na poeira do esquecimento por não saber se
relacionar com os demais. Não basta conhecer técnicas de relacionamento.
É preciso conhecer o ser humano, viajar pelos meandros misteriosos do
comportamento e descobrir por que razão as pessoas são como são e fazem
o que fazem.

Aceitar as pessoas como elas são


Este é o primeiro desafio do líder: amar e aceitar as pessoas como são.
Não é fácil. Por situações da vida, há pessoas que têm dificuldade em se
deixar amar. São como gatinhos bravos de quem você tenta cuidar, mas
que só o arranham. Ainda assim, você deve amá-las!
Se é amado, ouvido e seguido, você é um líder sábio. Se é apenas ouvido
e obedecido, mas não amado, você é um ditador. O fato de as pessoas
cumprirem suas ordens não significa necessariamente que você seja um
verdadeiro líder. A capacidade de inspirar é a alma da liderança.
Se não veem você como um líder, farão as coisas somente enquanto você
as observa. O grupo então caminhará como uma tartaruga: não avançará
porque não tem sonhos, não tem um líder, mas apenas um chefe. O líder
faz sonhar. Quando conduzidos por um líder, os homens e as mulheres
fazem as coisas porque querem fazê- las, e não só para cumprir um dever.
Ame seus liderados como eles são. Ame os brilhantes, talentosos e bem-
dispostos. Ame os apagados, indiferentes, que vivem com um pé atrás.
Ame os lentos, negligentes e desmotivados. Todos eles têm virtudes e
defeitos. O desafio do líder é extrair de cada pessoa o que ela tem de
melhor; ajudá-la a corrigir seus defeitos e a crescer.

Cada um tem seu jeito


Não espere que todos sejam como você gostaria que fossem. Conheça
seus liderados. Aproveite os talentos deles e o que cada um sabe fazer.
Coloque-os no lugar adequado. Os que gostam de futebol se perguntam
por que alguns jogadores fazem maravilhas em seus times de origem,
porém não têm o mesmo rendimento quando convocados para jogar na
seleção do país. A razão é simples: nos times de onde vêm, eles ocupam o
lugar ou a posição que desempenham melhor. Na seleção, são colocados
no lugar que o treinador deseja.
O líder necessita, às vezes, renunciar à própria opinião com relação a
alguns colaboradores, observá-los e colocá-los onde consigam render
melhor. Isso é sabedoria. Nem todas as pessoas servem para tudo. Quem é
bom em uma área de trabalho, pode não ser, necessariamente, em outra.
Então aceite as pessoas como são. Em vez de criar conflitos para que
façam as coisas como você deseja, coloque-as no lugar em que elas se
realizem como seres humanos e profissionais.

O valor do apreço
Os seres humanos não avançam sem motivação. A necessidade de
reconhecimento é vital para nós. Uns precisam disso mais do que outros,
porém uma palavra de apreço e de valorização fortalece os ideais, os
sonhos e a vontade de servir de quem quer que seja. Você encontrará
pessoas que, com uma palavra de apreço, ficarão felizes instantaneamente.
É fácil notar. Outros escondem a emoção, agradecem, e é como se nada
tivesse acontecido. No entanto, se você as observar com atenção, verá que
a palavra dita teve o efeito desejado.
O capítulo 18 de Provérbios fala do poder das palavras. Elas são a
expressão dos pensamentos e dos sentimentos. Têm poder para construir
ou destruir. Na maioria das vezes não medimos o impacto de uma palavra.
Dizemos coisas sem pensar. Não percebemos o que dizemos e muito
menos as consequências. Ou, simplesmente, não dizemos nada. Este é um
“luxo” ao qual o líder não pode se dar jamais. Com palavras é possível
ferir e ofender ou entusiasmar e motivar as pessoas, afetando os
relacionamentos, o bem-estar e a convivência do grupo que lideramos.

Saber dizer
Naturalmente, usar as palavras com sabedoria não significa reprimir
sentimentos, ocultar opiniões ou deixar de corrigir uma situação
equivocada. Pode-se dizer tudo respeitando o ser humano, valorizando-o,
ou seja, de maneira amável, amorosa e cortês. O que faz a observação do
líder ser construtiva ou destrutiva não é o que ele diz, e sim “como” diz. O
tom de voz e os gestos que acompanham as palavras são chave para que o
efeito delas seja positivo ou negativo.
Salomão declarou: “As palavras de uma pessoa são águas profundas, e a
fonte da sabedoria é um ribeiro que transborda” (Pv 18:4). A expressão
“águas profundas” ilustra o quanto é delicado dizer algo. O poder das
palavras é misterioso, porém real. Se você não tem a capacidade de
guardar ar nos pulmões por muito tempo, não se aventure a mergulhar em
águas profundas. De igual modo, se não consegue usar as palavras com
sabedoria, não se aventure a liderar!
Conheço pessoas magoadas por uma palavra dita em um momento
inoportuno, de maneira imprópria. Conheço também pessoas cuja vida foi
transformada por uma palavra acertada, dita no momento exato. As coisas
que dizemos e o modo como dizemos afetam nossos relacionamentos. São
capazes de nos aproximar ou nos distanciar de nossos colaboradores. Uma
frase pode ser uma carícia memorável ou uma cicatriz deixada pelo resto
da vida. As palavras podem ser janelas abertas ou muros inquebrantáveis!
Somente Deus é capaz de conceder sabedoria para o bom uso das
palavras. Contudo, cabe a nós aprender a dizer as coisas com propriedade,
pois assim nossas relações serão evidentemente mais saudáveis e
edificantes. Observe o que diz Ellen White:
Jesus não suprimia sequer uma palavra da verdade, mas falava
sempre com amor. Ele tinha tato e prestava bondosa atenção ao
interagir com as pessoas. Nunca Se mostrava rude, jamais
pronunciava uma palavra severa sem necessidade e evitava causar
dor desnecessária a uma pessoa sensível. Ele não censurava a
fraqueza humana. Falava a verdade, mas sempre com amor.
Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a iniquidade, mas Suas
repreensões rigorosas eram sempre proferidas com lágrimas e
tristeza. Chorou por Jerusalém, a cidade que Ele amava, a qual se
recusou a receber Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Os
líderes rejeitaram o Salvador, mas Ele os considerava com
compassiva ternura. Sua vida foi de abnegação e repleta de cuidado
pelos outros. Cada pessoa era preciosa a Seus olhos. Embora sempre
Se apresentasse com divina dignidade, inclinava-Se com amorosa
compaixão para atender a cada membro da família de Deus. Ele via
as pessoas como seres perdidos, cuja salvação era objeto de Sua
missão.
Assim é o caráter de Cristo, como foi revelado em Sua vida. Esse
também é o caráter de Deus. Do coração do Pai é que brotam as
torrentes da divina compaixão manifestada em Cristo, fluindo até
alcançar os filhos dos homens.

Dar uma segunda chance


Outra virtude que aumenta os bons relacionamentos do líder sábio é a
capacidade de ajudar os colaboradores a crescer. Salomão aconselha:
“Quem encobre a transgressão fortalece a amizade, mas o que insiste no
assunto separa os maiores amigos” (Pv 17:9).De acordo com essas
palavras, a melhor maneira de cultivar relacionamentos saudáveis é
perdoando, dando uma segunda chance e ajudando os liderados a
reconhecer os próprios erros e a repará-los.
Os líderes sábios são formadores de outros líderes. Ninguém aprende a
andar sem escorregar e cair. Na Bíblia encontramos a história de João
Marcos, um jovem que acompanhou Paulo e Barnabé na primeira viagem
missionária relatada no livro de Atos. João Marcos não estava preparado
para a missão. Os dissabores do trabalho e as dificuldades do caminho o
desanimaram, e ele voltou para casa antes de a missão ser concluída.
Algum tempo depois, João Marcos quis acompanhar os apóstolos outra
vez. Barnabé aceitou, mas Paulo se negou a recebê-lo. Paulo e Barnabé
discutiram a ponto de se separarem, e cada um seguiu um caminho
diferente. O tempo demonstrou que Barnabé tinha razão. João Marcos não
era um caso perdido. Só precisava de uma segunda chance.
Ninguém pode negar que Paulo fosse um líder extraordinário. Entretanto,
mesmo os líderes extraordinários precisam se aperfeiçoar. Eles são
extraordinários justamente porque estão dispostos a crescer. Paulo
precisava aprender que nenhum líder se faz de uma hora para outra. Esse é
um processo que requer tempo. João Marcos precisava de uma segunda
oportunidade. E ele a aproveitou. Anos mais tarde, Paulo, prisioneiro em
Roma, escrevendo sua última carta a Timóteo, pede-lhe: “Encontre Marcos
e traga-o junto com você, pois me é útil para o ministério” (2Tm 4:11).
Não tenha medo de dar uma segunda chance. Você verá que, na maioria
dos casos, todos ganham: a instituição, o colaborador e o líder.

Guardar silêncio
Devido à sua função, o líder normalmente toma conhecimento de muitas
coisas. Às vezes, são questões delicadas e pessoais. A ética requer dele que
guarde silêncio e seja discreto. Comentários levianos destroem mais vidas
do que você possa imaginar. Se existe alguém que precisa ser cuidadoso
com o uso do que sabe é o líder.
As pessoas têm o direito de dizer o que quiserem: podem acusar, agredir,
comentar, difundir intrigas e muito mais. Veja em que as redes sociais se
transformaram: no campo de cultivo da irresponsabilidade. O líder, porém,
precisa estar acima da mediocridade humana.
Em certa ocasião, entrei na sala de meu presidente. Ele estava lendo uma
carta. Os olhos dele, úmidos, brilhavam além do normal. Era evidente que
aquela carta havia tocado suas emoções. Ele me estendeu a folha de papel
e perguntou:
– O que podemos fazer?
Eu conhecia bem o caso. Tinha participado da decisão. Era uma história
delicada e triste, porém a pessoa implicada havia contado uma versão
irreal da história aos familiares dela, e um deles havia escrito uma carta
cheia de agressões ao presidente.
– O que fazer? – respondi, consternado. – Devemos abrir o jogo e contar-
lhe a verdade?
– Não – continuou o presidente. – Nós somos líderes. Esse é o preço da
liderança.
– Mas vão espalhar a mentira, e as pessoas vão acreditar no que
disserem!
– Pode ser, mas esse é o preço da liderança. Eles podem fazer isso, nós
não.
Assim são as coisas no mundo real. A mentira pode dar a impressão de
que saiu vitoriosa. Mas por pouco tempo. A verdade, porém, é
indestrutível. Não precisa de ajuda. Emerge soberana das turbulências. O
tempo é um juiz implacável. Por isso, jamais perca tempo tentando
“esclarecer” as coisas. A verdade não precisa ser esclarecida. Nunca
permita que uma minoria barulhenta governe suas decisões. A maioria das
pessoas não está interessada no que uns poucos dirão e escreverão. Está
comprometida com os sonhos que você é capaz de inspirar.
Pagar o mal com o bem
Essa é outra maneira de cultivar relacionamentos saudáveis. Salomão
diz: “O bom senso leva a pessoa a controlar a sua ira; a sua glória é
perdoar as ofensas” (Pv 19:11).Ninguém é tão louco a ponto de reagir mal
quando tratado bem. O amor e a generosidade despertam nos outros esses
mesmos sentimentos. A honra do homem sábio é passar por alto a ofensa
dos demais.
Costumamos dizer: “Quando um não quer, dois não brigam.” A vida é
assim. Para que existam problemas de relacionamento, duas pessoas têm
que estar dispostas a entrar em conflito. Geralmente o líder, por ter o
controle do poder, corre o risco de acreditar que, se não responder à outra
pessoa, é porque lhe falta autoridade. Na verdade, é a sabedoria que o faz
evitar os embates desnecessários.

Relacionar-se bem não significa ignorar os erros


cometidos
Você é líder para levar seus colaboradores a pastos verdejantes e a águas
tranquilas. Para tornar o sonho real, por vezes você terá que passar pelo
vale da sombra da morte. E precisará de uma vara e um cajado. Terá que
aprender a viver o amor e a justiça.
Amor e justiça, para os seres humanos, são duas coisas diferentes. No
conceito bíblico, porém, o amor e a justiça vêm de Deus. Ele é amor e é
justiça. Não pode haver separação entre ambos. Ser amoroso com uma
pessoa é, ao mesmo tempo, ser justo. O verdadeiro amor não é cego diante
dos erros alheios. “Uma repreensão cala mais fundo em quem tem juízo do
que cem chicotadas no insensato”, reflete Salomão (Pv 17:10).
“Uma repreensão” significa uma advertência, uma palavra de
admoestação. É um gesto de amor. É fácil confundir amor com
permissividade ou com demagogia. As consequências disso são fatais. A
atitude demagógica pode trazer aparentes aplausos daqueles que sabem se
aproveitar da vaidade do chefe. No entanto, mais cedo ou mais tarde, as
mesmas pessoas que o aplaudem serão seus carrascos.
Outro dia conversei com um casal que estava se separando. Durante
anos, ela havia guardado silêncio diante dos erros do marido. Até que um
dia não suportou mais e disse tudo a ele de um modo inapropriado.
Quando eu perguntei a ela por que não havia dito nada durante anos, ela
me respondeu que não queria estragar o casamento. Contudo, o casamento
estava destruído! Você percebe o que acontece? O conselho de Salomão é
que, se você tem algo a dizer, diga: mesmo que seja desagradável. Diga
com amor, mas não deixe de dizer.
A Bíblia registra a história do encontro de Jesus com a mulher flagrada
em pecado. Jesus disse a ela: “Eu não a condeno” (Jo 8:22). Essas palavras
expressavam amor. “Vai e não peque mais.” Essas palavras expressavam
justiça. Amor e justiça se combinam de maneira impressionante na vida e
no ministério de Cristo.

O controle das emoções


O que os “gurus” da inteligência emocional chamam de “controle das
emoções”, a Bíblia chama de santificação. É um processo de crescimento
espiritual. Quanto mais perto de Jesus você viver, tanto melhor refletirá o
caráter Dele, e, assim, suas emoções estarão sujeitas ao controle do
Espírito Santo.
Ouça o conselho de Salomão: “O tolo não tem prazer no entendimento,
mas apenas em externar o que pensa” (Pv 18:2).Em outras palavras, o
imprudente fala e faz coisas sem pensar. Não controla os próprios
impulsos.
Entretanto, o êxito nas relações humanas depende do uso apropriado não
somente das palavras, mas também das emoções. Requer fazer as coisas
controlando as emoções e orientando-as ao bem-estar da equipe de
trabalho. Se o líder não controla as emoções e se comporta de modo
irrefletido, criará dificuldades banais e desnecessárias.
O líder que não crescer no processo da santificação e não aprender a
dominar as emoções está condenado a erros frequentes e a conflitos
permanentes.

A ingenuidade dos ciúmes


Por incrível que pareça, o ciúme prejudica o trabalho de muitos líderes.
Ciúme é sinal de insegurança. Um líder sente-se escanteado somente
quando acredita que o outro é superior. Se isso for verdade, qual o
problema? Valorize as pessoas e extraia o melhor delas. Um líder seguro
de si gosta de trabalhar ao lado de pessoas inteligentes e capazes. São elas
que trazem eficiência e brilho para a equipe.
O famoso escritor grego Esopo conta em uma de suas fábulas que, certo
dia, um fazendeiro foi ao estábulo para cuidar dos animais de carga. Entre
eles, estava seu burro favorito, que o carregava e era sempre bem
alimentado. Junto do fazendeiro, vinha também a cadelinha fiel. Sempre
que via o dono, ela lambia a mão dele e saltava alegremente à sua volta.
Ao ver o gesto gracioso da cadelinha, o fazendeiro colocou a mão na
sacola, tirou um biscoito e o deu ao animalzinho. Ela então pulou nos
braços do dono e ficou lá, “piscando”, enquanto o fazendeiro acariciava-
lhe as orelhas.
O burro, ao ver aquilo, enciumado, começou a imitar a dança da
cadelinha, ficando em pé nas patas traseiras. O homem não pôde conter o
riso, daí o burro, aproximando-se, pôs as patas sobre o ombros do
fazendeiro, tentando subir em seu colo. Os empregados correram
sobressaltados e o lançaram ao chão a pauladas. Essa história é apenas
uma fábula, mas ensina que, em lugar de ter ciúme, cada um deve fazer o
melhor que sabe. Assim a equipe inteira sairá ganhando.

Nada de vingança
O líder tem constantemente a oportunidade de “cobrar com juros” os
aparentes agravos de um colaborador. O conselho bíblico, porém, é: “Não
diga: ‘Vou me vingar do mal’; espere no SENHOR, e Ele o livrará” (Pv
20:22).
A vingança é uma reação humana. E o conselho de Salomão dá a
impressão de que Deus deseja que você aceite passivamente as ofensas que
as pessoas cometam contra você.
Por que razão o líder sábio deveria suportar em silêncio as atitudes
malcriadas de um colaborador indisciplinado? A vingança causa mais dano
em quem a executa do que naquele que é alvo dela. Qualquer tipo de
vingança, antes de se tornar realidade, é um coquetel de emoções
negativas: ódio, raiva, rancor e ira: sentimentos próprios do coração
natural. Mas o fato de serem naturais não significa que sejam corretas. Ao
contrário, é veneno que destrói o coração; ácido que corrói valores,
princípios e, além de tudo, a paz do coração.
Quando você alimenta o desejo de vingança, será escravo desse
sentimento, dia e noite. Não será feliz. A melhor opção é entregar a
vingança a Deus. Ele sabe de tudo o que lhe fizeram e porá as coisas em
ordem no devido tempo.

Não aceite insubordinação


– É vingança pôr as coisas em ordem? – perguntou-me certa vez um líder
que estava transferindo um colaborador para um lugar difícil.
Na opinião do subordinado, a atitude do líder era vingativa, porque ele
havia dito ao chefe “certas verdades”.
Dizer verdades não é ofensivo em si, porém fazer isso com soberba e
agressividade é insubordinação. Um colaborador pode ser eficiente e ter
muita força em sua opinião, mas pode também ser um indivíduo
negligente, desobediente e insubordinado. Essas duas situações são
completamente diferentes. O conselho bíblico é: “O rei sábio peneira os
maus e faz passar sobre eles a roda” (Pv 20:26).
Um líder que não é capaz de separar o joio do trigo não é líder. Por mais
dolorosa que pareça uma medida disciplinar, às vezes é preciso “girar a
roda do moinho”. Isso significa que, por mais que você deseje ajudar uma
pessoa, se ela não se deixa ajudar, é necessário tirá-la da equipe. Se as
coisas ficarem como estão, o fermento, por mínimo que seja, pode levedar
a massa inteira.

Trabalhar em equipe implica dor


Há uma velha história de que, em determinado lugar, muitos animais
estavam morrendo por causa do frio. Os porcos-espinhos, quando
perceberam a situação, decidiram unir-se em grupos e trabalhar em equipe,
a fim de aquecer-se, abrigar-se e proteger-se mutuamente. Contudo, os
espinhos tocavam e feriam os companheiros próximos. Por isso decidiram
se afastar, mas aí começaram a morrer congelados.
Aquela situação extrema os fez pensar: ou aceitavam os espinhos uns dos
outros, ou desapareciam da Terra. Com sabedoria, decidiram aproximar-se
mais uma vez e trabalhar em equipe. Aprenderam a conviver com as
pequenas feridas que a relação de proximidade com o outro pode
ocasionar. Tiveram êxito. Conseguiram sobreviver.
Essa é a realidade da vida. Enquanto caminharmos neste mundo de
pecado, com seres humanos em processo de crescimento, é impossível
encontrar uma equipe ou um ambiente de trabalho em que não haja
diferenças e problemas de relacionamento. Apesar disso, o líder sábio
consegue, com a ajuda de Deus, o mínimo de oposição e o máximo de
colaboração.
Referências
1 Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017), p. 11
[12].
10
O LÍDER SÁBIO É JUSTO
“Os reis detestam a prática da maldade, porque o trono se
estabelece pela justiça” (Provérbios 16:12).
Justiça é outra das qualidades do líder sábio. As pessoas procuram o líder
quando estão em busca de justiça. No caso de uma sociedade, dirigem-se
ao governo. No ambiente de uma empresa, ao gerente. Em uma instituição
ou organização, ao diretor ou presidente. O líder precisa ser capaz de fazer
justiça. Do contrário, surge o mal-estar individual ou coletivo.
Há grupos insatisfeitos com o líder. Consideram-no injusto, pois ele
favorece uns em detrimento de outros. Trabalha com uma “panelinha” de
favoritos aos quais concede todos os privilégios. Os liderados meneiam a
cabeça e repetem: “Não é justo, não é justo.”
Justiça é saber decidir a quem algo pertence por direito. Ser justo
significa praticar a ética, a equidade e a honestidade. É a vontade constante
de dar a cada um o que lhe corresponde. É a norma de retidão que governa
a conduta e nos compele a respeitar os direitos dos demais.

O que é justiça
A palavra justiça, segundo o dicionário, expressa o conceito de equidade,
igualdade e correção. Ainda assim, os seres humanos discutem muito o
conceito de justiça. Isso ocorre desde antes de Cristo até os nossos dias.
Na opinião de Platão, por exemplo, o indivíduo deveria sair da escuridão,
da caverna do desconhecimento, em direção à luz, para ser justo. De
acordo com essa maneira de ver, a pessoa se tornaria mais justa à medida
que crescesse em conhecimento.
Para Aristóteles, justiça é dar a cada cidadão a parte que lhe cabe
conforme suas necessidades e de acordo com a contribuição que tenha
dado à sociedade. Ao mencionar a contribuição de cada indivíduo à
sociedade, Aristóteles se complica. Hoje, ninguém aceitaria uma ideia de
justiça preferencial baseada nesse padrão. Até os delinquentes devem ser
julgados com equidade.
Kant dizia que a justiça, para ter esse nome, deveria observar três
princípios fundamentais: a liberdade, a igualdade e a independência de
cada membro do grupo. Kant afirma que, para haver justiça, não é
necessário um acordo coletivo; basta que cada indivíduo tenha esses
conceitos em mente e aja como um ser moral. Ele contempla a ideia de
justiça como algo inerente a cada pessoa.
Para Kelsen, a justiça é um direito natural que todo ser humano tem e
contra o qual ninguém pode se opor. Ele distingue o direito natural do
direito positivo, afirmando que o primeiro nasce do coração, dos valores
interiores, enquanto o segundo nasce das leis estabelecidas.
A justiça humana é insuficiente
Todos esses conceitos são humanos e servem de fundamento para o que
nós entendemos por justiça. O conceito tem a ver, basicamente, com leis e
determinações sociais. Alguns filósofos, como Kant e Kelsen, veem as leis
como insuficientes. Daí eles teorizam sobre o mundo interior de cada
pessoa, mas não sabem definir com exatidão do que se trata.
É evidente que o ser humano, na busca por justiça, não está satisfeito
com os padrões praticados atualmente. Muitos desses padrões são bons,
mas não bastam para prover uma justiça satisfatória.
O ideal de justiça dos seres humanos parece maravilhoso. Observe, por
exemplo, o símbolo da justiça: uma mulher de olhos vendados com uma
balança na mão. Por meio dessa imagem, tenta- se representar uma justiça
que não “olha” para quem será julgado, ou seja, que não age de modo
parcial, mas de forma equitativa. Uma justiça que trata a todos com
igualdade, independentemente de etnia, gênero, nacionalidade ou nível
social, econômico ou cultural. É a ideia de que todos são iguais perante a
lei.
Na teoria, isso é extraordinário. Na prática, o que ocorre é que muitos
líderes tiram a venda dos olhos para fazer as coisas como lhes convêm ou
para ver se há alguém de sua preferência na disputa pela justiça.
O ser humano natural é incapaz de aplicar a justiça, pois seu coração
manchado de egoísmo o incapacita. Pode filosofar, escrever livros
definindo o que é justo, especializar-se no ramo do direito, mas, se não
tiver Deus, por melhores que sejam suas intenções, sua forma de proceder
será injusta.

O que diz a Bíblia?


A Bíblia sai do mundo fascinante das ideias e entra na realidade da vida
diária. O profeta Jeremias, anunciando a chegada do maior Líder de todos
os tempos, disse: “Nos Seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro.
E este será o Seu nome pelo qual será chamado: ‘SENHOR, Justiça Nossa’”
(Jr 23:6).
Esse Rei é Jesus. O conceito bíblico de justiça é concreto. Não se trata de
uma filosofia, não é uma ideia nem um conceito teórico. É uma Pessoa:
Jesus Cristo. O líder que desejar ser justo, tem que buscá-Lo e viver uma
vida de comunhão e companheirismo com Ele. Por isso, Davi canta ao
Senhor: “Justiça e direito são o fundamento do Teu trono; graça e verdade
Te precedem. Bem-aventurado o povo que conhece os gritos de alegria,
que anda, ó SENHOR, na luz da Tua presença. Em Teu nome se alegra o dia
todo e na Tua justiça se exalta” (Sl 89:14-16).
Observe como o salmista combina as palavras “justiça”, “direito”,
“graça”, “verdade”, “bem-aventurado” e “alegria”. Todos esses atributos
são a base do trono divino. Deus é justo. Somente Nele os seres humanos
são capazes de entender o que é a verdadeira justiça e andar em Suas
veredas.
A história bíblica registra um incidente na vida de Salomão, que mostra a
forma como Deus concede sabedoria para praticar a justiça. O relato é
feito da seguinte maneira:
Então duas prostitutas foram falar com o rei Salomão.
Apresentaram-se diante dele e uma das mulheres disse: – Ah! Meu
senhor, eu e esta mulher moramos na mesma casa, onde dei à luz um
filho. No terceiro dia, depois do meu parto, também esta mulher teve
um filho. Estávamos juntas. Não havia nenhuma outra pessoa
conosco na casa; somente nós duas estávamos ali. De noite, o filho
desta mulher morreu, porque ela se deitou sobre ele. Ela levantou-se
no meio da noite e, enquanto esta sua serva dormia, tirou o meu filho,
que estava do meu lado, e o pôs na cama dela; depois colocou o filho
dela, morto, nos meus braços. Quando eu me levantei de madrugada
para dar de mamar ao meu filho, eis que ele estava morto. Porém,
quando reparei nele pela manhã, eis que não era o filho que eu tinha
dado à luz. Então a outra mulher disse: – Não! O que está vivo é o
meu filho; o seu é o que está morto. Porém a primeira mulher
respondeu: – Não! O que está morto é o seu filho; o meu é o que está
vivo. E assim elas falaram diante do rei. Então o rei Salomão disse: –
Esta diz: “O que está vivo é o meu filho, e o seu filho é o que está
morto”; e a outra responde: “Não, o que está morto é o seu filho, e o
meu filho é o que está vivo.” E o rei continuou: – Tragam-me uma
espada. E trouxeram uma espada diante do rei. Então o rei disse: –
Cortem o menino que está vivo em duas partes e deem metade a uma
e metade a outra. Então se aguçou o amor materno da mulher cujo
filho estava vivo e ela disse ao rei: – Ah! Meu senhor, deem a ela o
menino vivo! Não o matem de jeito nenhum!
Porém a outra dizia: – Ele não será nem meu nem seu. Podem cortá-
lo ao meio! Então o rei disse: – Entreguem o menino vivo à primeira
mulher. Não o matem. Ela é a mãe do menino. Todo o Israel ouviu a
sentença que o rei havia proferido. E todos tiveram profundo respeito
ao rei, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer
justiça (1Rs 3:16-28).
Como o jovem Salomão teve essa estranha ideia? Lembre-se de que esse
incidente ocorreu pouco depois de Salomão ter pedido a Deus sabedoria
para governar o povo. Deus o atendeu. Salomão passou a ser um dos
líderes mais sábios que o mundo já conheceu. “Assim, o rei Salomão
excedeu a todos os reis do mundo, tanto em riqueza como em sabedoria.
Todos os reis do mundo queriam ver Salomão para ouvir a sabedoria que
Deus tinha posto no coração dele” (2Cr 9:22, 23).
Quem dera toda pessoa chamada a liderar entendesse que só Deus
concede sabedoria para prover verdadeira justiça! A Bíblia diz isso
repetidas vezes. “Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo
para os que andam com integridade, guardando as veredas da justiça e
conservando o caminho dos Seus santos. Então você entenderá a justiça, o
juízo e a equidade – todas as boas veredas” (Pv 2:7-9).
Existe uma estreita relação entre a sabedoria e a justiça. Deus concede
sabedoria por meio de Seus ensinamentos. O líder que não se afasta da
instrução divina será um líder justo e cometerá menos deslizes.

Não prive o aflito de um juízo justo


Observe este conselho de Salomão: “Não roube o pobre, porque é pobre,
nem oprima o necessitado no tribunal, porque o SENHOR defenderá a causa
deles e tirará a vida daqueles que os exploram” (Pv 22:22, 23). Nos tempos
de Salomão, como em nossos dias, havia gente que se apossava do que
pertencia a outros por meio de manobras judiciais e políticas. A lei da
causa e efeito é terrível para quem se aproveita do poder que,
circunstancialmente, a vida lhe concede. Infelizmente, o néscio, que não
conhece a Deus, busca o poder com a intenção de oprimir. Não me refiro
somente à opressão física, mas também à opressão moral, emocional e até
espiritual.
Espiritual? Sim, pois o que dizer de alguém que, em vez de inspirá- lo a
ter confiança em Deus e a amá-Lo e servi-Lo por amor, rouba- lhe a paz do
coração ensinando você a ter medo Dele? O poder, em qualquer área da
vida, deve ser usado com responsabilidade. Um dia, Deus nos pedirá
contas quanto ao modo de usar o poder que tivemos nas mãos, as
oportunidades de decidir situações ou de influenciar os outros. O néscio,
porém, parece ignorar isso. Faz as coisas movido unicamente por seus
interesses. É como se as pessoas fossem apenas um degrau no qual pisar na
escalada rumo a suas ambições de poder.

Não se contamine com a injustiça


Às vezes, as injustiças da vida e o fato de que líderes injustos parecem
prosperar podem levá-lo a pensar que o melhor é se render ou unir-se a
eles. Se todo mundo faz e se dá bem, por que eu não tento também? Mas
Salomão aconselha: “Não tenha inveja dos pecadores; pelo contrário,
persevere no temor do SENHOR todo tempo” (Pv 23:17).
Os juízos de Deus muitas vezes não são imediatos. A julgar pelas
aparências, você pode ter a impressão de que os líderes injustos são os que
têm maior sucesso, mas você nunca os viu à noite, quando eles, a sós, não
conseguem dormir. As injustiças que cometem são um pesadelo que os
atormenta. Não tenha inveja deles. Isso não seria sábio. Salomão insiste
neste conselho: “Não tenha inveja dos maus nem queira estar com eles,
porque o coração deles planeja a violência, e os seus lábios falam para
ferir” (Pv 24:1, 2). Eles enganam, oprimem, expropriam, roubam.
Esse roubo não se refere apenas à subtração de objetos materiais, mas de
sonhos, esperanças e oportunidades. Eu sei que a cultura é envolvente. Ela
tem um poder avassalador. Quando você menos percebe, está nadando
para o mesmo lado. Sua única segurança é Cristo. Busque-O todos os dias!
Viva em comunhão diária com Ele e permita que o caráter Dele se reflita
em sua vida!
As injustiças dos outros
Tudo bem. Você entrega a sua vida a Deus e procura ser um instrumento
de justiça nas mãos do Senhor, mas aí você vê que outros cometem
injustiças. Então surge a pergunta: Diante de uma injustiça que você não
cometeu, mas que está ciente de que alguém a está praticando, até que
ponto você é culpado se guardar silêncio? A Bíblia menciona que há
crimes e pecados tanto por ação quanto por omissão.
Salomão disse que o líder sábio não fica em silêncio diante das
injustiças. “Liberte os que estão sendo levados para a morte e salve os que
cambaleiam ao ser levados para a matança. Você poderá dizer: “Não
sabíamos de nada!” Mas será que Aquele que pesa os corações não o
perceberá? Aquele que atenta para a sua alma não ficará sabendo? E não
pagará Ele a cada um segundo as suas obras?” (Pv 24:11, 12).
Um cristão não pode fazer vista grossa diante das injustiças. Ver a
injustiça sendo praticada e fazer de conta que nada aconteceu não é próprio
de líderes sábios. Calar-se diante da injustiça é colocar- se ao lado do erro.
Portanto, o líder sábio usa todos os canais legítimos à sua disposição para
corrigir as injustiças e opressões que ocorrem em sua esfera de influência.

O segredo do líder justo


O capítulo 10 de Provérbios contém frases curtas e declarações solenes.
Para os estudiosos, a maioria desses provérbios são “dísticos”. Os
chamados dísticos constam de duas frases em um só verso: uma frase
explica a outra. Um verso, porém, não complementa o sentido do seguinte,
pois não há entre eles um fio condutor central, de modo que não se pode
determinar um tema. Muda-se o tópico constantemente, e isso dificulta o
estudo do livro de forma global.
Por exemplo, nos versos de 1 a 7 são encontrados diferentes tópicos que
mostram como age o líder sábio, alguém que é justo, em contraste com o
insensato, que é também chamado de perverso. “Sobre a cabeça do justo
há bênçãos, mas na boca dos ímpios mora a violência. A memória do justo
é abençoada, mas o nome dos ímpios irá apodrecer” (Pv 10:6, 7).
Salomão relaciona o homem sábio e justo à palavra bênção. A bênção é
o resultado de viver uma vida sábia ou justa. “Sabedoria” e “justiça”, para
Salomão, são a mesma coisa. E se você lembrar que Jeremias afirmou que
a justiça é o Senhor (Jr 23:6) e que Paulo também disse que Jesus é nossa
sabedoria (1Co 1:24), chegará à conclusão lógica de que, para ser um
homem sábio ou uma mulher sábia, você precisa viver uma experiência de
comunhão com Cristo. Esse é o segredo do líder justo.
A recompensa do líder justo
O líder justo não age movido pela recompensa. Ele vive um estilo de
vida diferente porque decide renovar sua experiência com Cristo cada dia e
afastar-se do mal. Dessa maneira, a recompensa surge como consequência
de sua entrega diária a Jesus.
No capítulo 13 de Provérbios, encontramos um acentuado contraste entre
os sábios e os insensatos. Essa disparidade não surge apenas no fim da
existência terrestre, quando os primeiros recebem a vida eterna, e os
últimos recebem a morte eterna. Os que escolhem a sabedoria seguem
Jesus e passam a ser pessoas justas. Eles têm um diferencial e certas
vantagens que podem ser vistas aqui e agora.
“A luz dos justos brilha intensamente, mas a lâmpada dos ímpios se
apagará” (Pv 13:9). É eloquente a expressão: “A lâmpada dos ímpios se
apagará.” Trata-se de uma referência à luz que vai definhando, apagando-
se pouco a pouco. A morte dos ímpios não é instantânea. Ao separar-se de
Jesus e entrar no território da morte, a vida começa a enfraquecer. A morte
acontece todos os dias. Invade todas as áreas da vida, até que finalmente se
consuma. Por isso, Jesus disse que Ele é a Videira; e nós, os ramos. Se
você arrancar o ramo da videira, ele pode permanecer verde por um curto
período de tempo, mas depois murcha, seca e é lançado ao fogo.
O mesmo acontece com o líder injusto. Quando se separa de Jesus,
aparentemente, não acontece nada. Pelo menos a princípio. O tempo,
porém, encarrega-se de fazê-lo definhar... lentamente. “A lâmpada dos
ímpios se apagará.” Esse é o triste destino dos que não vivem em Cristo.
Contudo, os justos são como estrelas que brilharão pela eternidade. Não
porque neles haja luz própria, mas porque permanecem em Jesus, a Luz do
mundo.

A justiça e os pobres
Os pobres aos quais nos referimos aqui não são apenas os carentes do
ponto de vista material, mas também nos aspectos emocional e espiritual.
Salomão disse: “Quem tapa os ouvidos ao clamor do pobre também
clamará e não será ouvido” (Pv 21:13). Sempre existirão pobres neste
mundo. Isso por dois motivos. Primeiro, a injustiça social. Os ricos
tornam-se cada vez mais ricos, asfixiando a oportunidade dos pobres.
Segundo, o pecado trouxe consigo a ociosidade, a irresponsabilidade e a
negligência.
Há pobres que vivem na miséria por causa das circunstâncias. Também
há aqueles que enfrentam situações adversas devido às próprias escolhas.
Qualquer que seja o caso, a responsabilidade do líder sábio é ajudá-los a
sair da situação em que estão.
Dar aos pobres um prato de comida ou algum outro tipo de ajuda
material é insuficiente. Há um ditado que diz: “Ensine alguém a pescar, e
não precisará dar-lhe peixe todos os dias.” O objetivo do líder justo é
ensinar, mas o ensino é um processo que demanda tempo. Dar um prato de
comida é um ato que se realiza em poucos minutos. Talvez por isso seja
mais fácil dar somente esse primeiro passo e deixar de lado o processo
educativo, que é, na verdade, a parte mais importante da solução.

O abuso de poder
Quer queira, quer não, a injustiça de um líder tem sempre a ver com o
abuso do poder. O poder fascina, seduz e vicia. As pessoas sem Jesus são
capazes de fazer qualquer coisa para ter poder. Mentem, enganam e até
matam. Os cristãos se veem tentados a isso. Alguns chegam a sucumbir ao
brilho do poder. Usam-no mal e, fazendo isso, desonram o nome de Deus.
Entretanto, Salomão disse: “Quem despreza o seu vizinho peca, mas o
que se compadece dos pobres é feliz. [...] Quem oprime o pobre insulta
Aquele que o criou, mas o se compadece do necessitado honra a Deus” (Pv
14:21, 31). Nesse texto, Salomão apresenta a humilhação ao próximo
como outra característica dos líderes néscios. O líder injusto se considera
superior aos demais. Não vê as pessoas como Deus as vê. Não faz com que
seus liderados cresçam. Ele os explora e os descarta quando não pode tirar
mais proveito deles.
Conselhos práticos de justiça
1. Estabeleça regras claras. Não existe nada pior que a ambiguidade.
Comunicar-se é crucial. Se você estabelecer objetivos e metas para a
equipe, explique quais são o propósito e o sentido dos alvos propostos. Os
números, por si só, não dizem nada e geram incômodo. Afinal, o que há
por trás desses números? Aonde mesmo você quer chegar? Quando o
Senhor Jesus Cristo deu a Seu grupo a meta de fazer discípulos de todas as
nações, tribos, línguas e povos, explicou primeiramente a razão e lhes deu
os recursos necessários. “Toda a autoridade Me foi dada no céu e na terra”
(Mt 28:18), disse-lhes. Se você simplesmente apresentar objetivos, mas
não explicar a razão, os liderados pensarão que você é injusto e que deseja
apenas ficar bem com os seus superiores.
2. Aplique as normas sem ser parcial. Todo grupo tem normas; cumpri-
las é dever de cada membro do grupo, começando pelo líder. É humano
simpatizar mais com uns que com outros, porém não é justo afrouxar as
regras para uns e ser exigente com outros. Não há nada que crie tanto mal-
estar no grupo quanto essa atitude de favoritismo.
Conheci um líder que dizia: “Aos que trabalham bem, tudo. Aos que não
trabalham, as regras, nada mais.” Isso não é sábio. Se perceber que uns
trabalham muito e outros não, então converse com os que não trabalham,
explicando-lhes de maneira clara o que se espera deles. Não os faça
sentirem-se como vítimas.
3. Lidere com o exemplo. Se a instituição atravessa uma situação
financeira difícil, é necessário tomar medidas drásticas para sair da crise.
Nesse caso, os cortes devem começar com o líder. Você pode até achar
que ninguém percebe seu sacrifício, mas todos o observam e comentam
nos corredores.
Vá a Jesus. Abra-Lhe o coração. Peça-Lhe sabedoria. Seja um líder sábio
e justo!
Referências
1 Zdravko Planinc, Plato’s Political Philosophy: Prudence in the “Republic” and the “Laws”
(Duckworth: London, 1991).
2
Aristóteles busca qualificar a tese tradicional de que a lei é, em si mesma, justa. Trata-se
de uma variante da linha de pensamento que defendia a preponderância do nomos, nesse
caso, fazendo corresponder a lei positiva com a justiça, a retidão ou o bem. Para
conhecer as fontes que apoiam essa correspondência, confira: Guthrie, W. K. C., “Historia
de la filosofía griega”, v. 6: Introducción a Aristóteles (Madrid: Gredos, 1999), p. 365, 231.
3
Arthur Kauffman, Filosofía del Derecho. Tradução de Luis Villar e Ana María Montoya
(Colombia: Universidad Externado de Colombia, 2002) p. 39.
4
Hans Kelsen, “La Doctrina del Derecho Natural ante el Tribunal de la Ciencia”, em ¿Qué
es la Justicia? Citado por Eusebio Fernández na obra coletiva “El Derecho y la Justicia”,
Ernesto Garzón Valdez e Francisco Laporta (Madrid: Editorial Trotta, 1966), p. 57.
11
O LÍDER SÁBIO RESOLVE
PROBLEMAS
“Por causa da transgressão da terra, mudam-se frequentemente os
príncipes, mas por um, sábio e prudente, a ordem é mantida”
(Provérbios 28:2).
iver é resolver problemas, do nascimento até a morte. Problemas pessoais,
profissionais, familiares, em todas as áreas da vida. Um problema pode ser
definido como um obstáculo encontrado no caminho que o leva aonde
você deseja chegar. Pode ser uma circunstância, uma pessoa ou o próprio
líder. Os problemas não existem para destruir ninguém, mas para fortalecer
sua atitude diante da vida e fazê-lo crescer como pessoa.
O texto inicial do capítulo, segundo a tradução Reina-Valera
Contemporânea, em espanhol, diz o seguinte: “Se o país vai mal, abundam
os caudilhos; porém o homem sábio e prudente lhe dá estabilidade” (Pv
28:2, RVC). Um país está em maus lençóis quando há problemas a
resolver, e o líder não tem capacidade para isso. Surgem então os
“caudilhos”.
“Caudilho” vem do latim capitellum, cabeça. É um termo empregado
para referir-se ao chefe militar ou ideológico; a um comandante ou
indivíduo de influência. Em sentido amplo, utiliza-se para falar da pessoa
que guia outras em qualquer área, contra a ordem estabelecida.
Quando aparecem mandachuvas ou “generais” é porque existe uma
liderança fraca, incapaz de lidar com os conflitos de maneira sábia. Por
outro lado, um líder que segue os conselhos divinos inspirará sonhos e
gerará estabilidade no lugar em que vier a trabalhar.
Neste capítulo, veremos as atitudes equivocadas que alguns dirigentes
correm o risco de adotar perante os problemas. São atitudes inconscientes,
mecanismos de defesa que, geralmente, o líder usa para proteger-se das
dificuldades que o dia a dia lhe traz. Quais são esses mecanismos?
Vejamos.

Ignorar o problema
“O pior cego é o que não quer ver.” Os problemas não existem para ser
ignorados, mas para ser resolvidos. Em certa ocasião, estava em meu
escritório quando um beija-flor, atraído pelo globo de vidro colorido que
estava sobre a mesa, entrou pela janela. A pequena ave se assustou com
minha presença e tentou fugir. Porém, chocou-se contra o vidro e caiu.
Levantou-se e tentou sair de novo pelo mesmo lado. A triste cena se
repetiu várias vezes. Do lado esquerdo, a janela por onde ele havia entrado
estava aberta, mas o beija-flor parecia não perceber que havia um
obstáculo diante dele e procurava ignorar o problema. Depois de várias
tentativas frustradas, caiu exausto em um canto, indefeso, derrotado e à
beira do colapso.
Naquela noite, em casa, contei isso ao meu neto de três anos, e ele, com
santa inocência, disse:
– Vovô, esse beija-flor era mesmo burro!
Por incrível que pareça, a realidade é que existem pessoas como aquele
beija-flor. Fazem de conta que não há problemas na forma como lideram,
mas as pessoas percebem que o líder não tem a capacidade necessária para
enfrentar as dificuldades. No entanto, ele se comporta como se tudo
estivesse em condições normais. Acha que, se não enxergar o problema,
ele deixa de existir.
Se você deseja resolver um problema, aceite o fato de que ele existe. Não
há remédio para o enfermo que não aceita sua realidade. Jesus disse certa
vez: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8:32). Aceite
que as dificuldades são reais. Enfrente-as sem medo.

Esconder o problema
Existem líderes que aceitam que o problema existe e é real, mas o
escondem. Essa é outra forma de negá-lo. Todo problema ocultado, cedo
ou tarde aparece causando transtornos psíquicos, emocionais e físicos.
Não pense que ter fé é fazer de conta que o problema não está lá. De
nada vale fugir do problema, alegando que você não é o culpado e que o
assunto não é seu. Você é o líder e precisa reconhecer que não existe um
problema que tenha apenas um culpado ou responsável. O importante não
é descobrir o culpado, mas buscar a solução.

Proteger-se do problema
Essa é outra maneira equivocada de enfrentar as dificuldades. Como
você se protege do problema? Ficando na defensiva. Ao fazer isso, você
não assume a responsabilidade, sente-se atacado e parte para a briga.
Não se defenda! Não se esquive! Resolver problemas é a razão de
existirmos. “Proteger-se” dos problemas é proteger-se da própria vida.
Toda profissão existe para solucionar problemas. Trabalhar não é outra
coisa senão buscar a resolução dos problemas.
Uma forma sutil de proteger-se dos problemas é racionalizando- os. A
racionalização é a arte de inventar desculpas para não solucionar os
problemas. Racionalizar não resolve nada. Com o tempo, o problema
cresce e se complica.
Algumas frases usadas para proteger-se dos problemas poderiam ser:
“Eu tinha coisas mais importantes a fazer”; “Não é tão urgente quanto
parece”; “Eu me senti mal”; “Não posso gastar todas as balas do
cartucho”; “Ninguém morre por esperar”; “Um dia a mais, um dia menos,
não faz muita diferença.”
Fugir do problema
Há líderes que fogem do problema fantasiando a realidade. Fantasiar é
mergulhar na ilusão em vez de resolver o inconveniente. Por exemplo, há
pessoas que o criticam. Em vez de analisar as críticas e ver em quais
aspectos é possível melhorar, você vive imaginando como seria se o
transferissem para outro lugar.
Você foi enviado para um trabalho no qual tem que lidar mais de perto
com as pessoas, porém vive pensando em como seria se estivesse em um
nível superior e não precisasse estar em contato direto com o público.
Está em um lugar difícil do interior, mas vive imaginando como seria se
trabalhasse na capital. Isso é fantasiar. O risco é acabar esquizofrênico. A
esquizofrenia é a fuga da realidade. O esquizofrênico resolve problemas
que não existem, em um mundo imaginário, inventado.
Por exemplo, se você estiver no vigésimo andar de um prédio, haverá
somente duas maneiras sensatas de descer: pelas escadas ou pelo elevador.
O esquizofrênico crê que é o super-homem e pode descer em um piscar de
olhos. A fantasia não equivale à fé. A fé leva você a agir. A fantasia o leva
a viver sonhando. Até que um dia você acorda com terríveis pesadelos.

Retrocedendo
Outra forma ingênua de fugir dos problemas é recuando. Retroceder é
esconder-se nos anos da infância, adotando atitudes infantis. A criança
chora, joga-se no chão e grita, esperando que alguém diga: “Coitadinho,
deixe-me fazer isso por você.” O líder que retrocede se queixa: “Não
aguento mais”; “Não me adaptei ao clima”; “Aqui é muito difícil”;
“Ninguém colabora”; “Estou estressado”. O propósito dele é despertar
compaixão, pena.
Pedir ajuda é a maneira correta de resolver problemas, porém manipular
os demais emocionalmente é um jeito infantil de lidar com os conflitos.
Paulo disse: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das
coisas próprias de menino” (1Co 13:11).

Esquivar-se da responsabilidade
O exemplo típico do líder omisso é Pilatos. Ele lavou as mãos diante de
um problema sério. Foi omisso. Quando você se esquivar do problema,
pelo menos admita que ele existe. Quando você se esconde, ao menos está
fazendo algo: escondendo-se. Mas a omissão nega a responsabilidade.
Quando existe um problema na área da comunicação, o problema não é
somente do encarregado desse departamento, mas seu também. Não tema
assumir a responsabilidade pelos problemas que surgirem. Enfrente-os em
nome do Senhor!
O trágico de tudo isso é que, quando se desvia dos problemas, você se
priva também das bênçãos. Você nunca saberá o que é a paz da
reconciliação se não enfrentar a dor de buscar a pessoa melindrada e
resolver a desavença com ela. Nunca saberá o que é a esperança se antes
não passou pelo vale escuro do desespero. Nunca saberá o que é a fé se
não lutar contra o temor até derrotá-lo. A vida é digna de ser vivida
quando você é capaz de tirar as pedras do caminho, e não devido à
ausência de pedras.
Há uma divertida fábula que ensina uma lição valiosa sobre o hábito de
ignorar os problemas ou crer que não lhe dizem respeito.
Um rato viu, aterrorizado, o dono da fazenda armar uma ratoeira.
Sabendo o que isso significava, saiu correndo para advertir os outros
animais:
– Há uma ratoeira na casa! Uma ratoeira na casa!
A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a cabeça e disse
egoisticamente:
– Desculpe-me, Sr. Rato, esse é um grande problema para o senhor, mas
não para mim.
O rato procurou o carneiro e lhe disse:
– Há uma ratoeira na casa! Uma ra-to-ei-ra!
– Desculpe-me, Sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser
orar. Fique tranquilo, eu me lembrarei do senhor em minhas preces.
O rato se dirigiu, então, à vaca:
– O quê? Uma ratoeira? E daí, qual é o problema? Eu sou uma vaca! –
respondeu com indiferença.
O pobre rato voltou para casa, triste, cabisbaixo e abatido, para encarar a
ratoeira do fazendeiro.
Naquela noite, ouviu-se um barulho tremendo. A esposa do fazendeiro
saiu para ver o que havia acontecido. Na escuridão, não percebeu que a
ratoeira tinha pegado uma cobra venenosa. A cobra picou a mulher. E o
fazendeiro a levou imediatamente ao hospital.
No dia seguinte, a mulher adoeceu. Para fortalecê-la, o fazendeiro pediu
à empregada que preparasse uma canja de galinha. A pobre galinha foi
então sacrificada.
Como a doença da mulher persistia, os amigos e os vizinhos foram
visitá-la. Para alimentá-los, o fazendeiro mandou matar o carneiro.
Infelizmente, a mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente
foi ao funeral. O fazendeiro, então, mandou abater a vaca para dar de
comer a toda aquela gente.
Você percebe que não existe problema alheio?

Buscar um culpado
Existem líderes que tentam resolver os problemas buscando culpados. E,
às vezes, chegam à conclusão de que os culpados são eles mesmos. Nesse
caso, em vez de atacar o problema, você ataca e culpa a si mesmo.
Não é assim que se resolvem os problemas. Uma coisa é aceitar a
responsabilidade; outra coisa é culpar-se e castigar a si mesmo. Se não vai
resolver o problema, saber quem é ou quem foi o culpado pouco vai
ajudar. Culpar alguém é pura perda de tempo. Exemplo: Se você não
alcança seu alvo, reconhecer que a responsabilidade é sua demonstra uma
atitude saudável, mas pensar que você não presta para esse trabalho seria
doentio.
Um exemplo bíblico: “Então [Saul] disse a Davi: – Você é mais justo do
que eu, pois me recompensou com o bem, enquanto eu o recompensei com
o mal” (1Sm 24:17). Qual era o problema de Saul? Ciúme, inveja. Ele
reconheceu a própria culpa, porém não fez nada para resolver o problema.
Então de que serve saber quem é o culpado?
Pior ainda é quando, em vez de culpar a si mesmo, você começa a culpar
os demais. Descobrir quem é o culpado significa realizar o diagnóstico,
porém o diagnóstico não cura. As pessoas que seguem esse mecanismo se
detêm no diagnóstico, mas o problema permanece.
Imagine uma pessoa passando por problemas financeiros. Suponha que
ela culpe os altos preços, o banco e o salário baixo por sua situação. Na
verdade, o problema é que ela se esquece de que gasta mais do que ganha.
Quando você insiste em buscar culpados, muitas vezes pode chegar à
conclusão de que a culpa é das circunstâncias ao redor. Há líderes que, em
vez de resolver o problema, ficam irritados com a causa. Concentram toda
a ira no problema em vez de buscar uma solução para ele. Se o carro
quebra, esse líder chuta o veículo. A raiva o desvia do caminho, mas,
quando a chateação passa, o problema continua lá. Com esse mecanismo,
nada se resolve. Você se prejudica ou machuca as pessoas que estão por
perto. A adrenalina, quando dirigida ao problema, pode ser destrutiva,
porém, quando canalizada à solução, torna-se positiva. Problemas se
resolvem com ação consciente, não com reação.

Transferir o problema negativamente


Há muitas maneiras de fazer isso. Por exemplo: Em vez de resolver o
problema, o líder adoece e então não precisa encará-lo. Isso não é resolver
o problema. É somente adiá-lo. Existem doenças psicossomáticas que não
são outra coisa senão enfermidades originadas mentalmente. Com o
tempo, você vira especialista em trazer enfermidades para o próprio corpo.
Entretanto, a pior mentira é a que você conta a si mesmo. Esse foi o caso
de Saul: em lugar de resolver seu problema de orgulho, entrou em
depressão.

Criticando
A crítica é outra forma de transferência negativa do problema. Você tem
problemas graves, porém, em vez de resolvê-los, critica os demais. Você
se torna um líder negativo, amargo. Inconscientemente, crê que, enquanto
estiverem ocupadas com as críticas que você faz, as pessoas não
descobrirão seu problema.
Todos os seus colaboradores têm virtudes e defeitos. A sabedoria do
líder consiste em aproveitar as virtudes e corrigir os defeitos deles. Criticá-
los certamente não é a melhor maneira de fazer isso.

Enfatizando o lado oposto do problema


A mente humana é extraordinária para as coisas boas, mas,
desafortunadamente, também para as coisas ruins. Ela sabe disfarçar.
Exemplo: Para esconder ideias racistas, você fala bastante sobre tolerância.
Para esconder sentimentos de rejeição para com o filho, a mãe é indulgente
com o menino. Para esconder o hábito de ver pornografia, a pessoa ataca a
imoralidade. É como se crêssemos que, enfatizando o lado oposto do
problema, ninguém perceberá que o problema existe.
Jesus contou, certa vez, a parábola da figueira infrutífera, cujas muitas
folhas serviam justamente para esconder a falta de figos (Mt 21:19). A
experiência demonstra que pessoas que enfatizam com veemência
determinado assunto, geralmente estão sob a influência desse mecanismo
psicológico de autoproteção.
Transferir positivamente
Essa é outra forma equivocada de resolver os problemas. Na
transferência positiva, você se desvia da solução do verdadeiro problema e
procura solucionar outros. Você sente-se fracassado diante de um
problema, daí compensa aquela derrota tentando alcançar vitórias de outro
tipo ou em outras áreas e assuntos.
Por exemplo: Você é transferido para uma instituição escolar na qual há
um problema de indisciplina por parte dos professores, e sua missão como
líder é fazer a equipe ficar unida. Você não faz nada para unir a equipe,
mas constrói uma nova biblioteca. Então pensa: “Não consegui a união do
grupo, mas construí a melhor biblioteca de toda a região.”
O detalhe é que a compensação não soluciona o problema que você
deveria resolver. A tática da compensação não é ruim em si mesma, porém
é preciso reconhecer que o verdadeiro problema continua lá. Um líder
sábio jamais foge do problema; ele o enfrenta, por mais difícil que seja.

O maior problema do Universo


Sem dúvida o maior problema de todos os tempos e lugares é o pecado.
O mundo que havia saído perfeito das mãos de Deus foi deformado pelo
pecado. Para Deus, teria sido fácil criar outros mundos. O que era este
planeta diante da imensidão infinita do Universo? Por que Se preocupar
tanto com uma raça rebelde como a nossa?
Deus não deixou o problema sem solução. Enviou o Senhor Jesus para
tomar o lugar do pecador e morrer por ele. Não Se esquivou, não Se
escondeu, não procurou o culpado simplesmente para culpá-lo nem
transferiu o problema. Ele o enfrentou, embora isso significasse um
sacrifício absoluto e finalmente a morte.
Esse Deus maravilhoso é o seu Deus. Desde que você estava no ventre
materno, Ele tinha um plano para sua vida. Você não é líder apenas porque
desejou isso: está onde está porque Deus quis assim.
O Senhor disse isso a Jeremias ao chamá-lo para liderar um movimento
profético de revolução espiritual. Jeremias quis se esconder. O relato
bíblico diz o seguinte:
A palavra do SENHOR veio a mim, dizendo: “Antes de formá-lo no
ventre materno, Eu já o conhecia; e, antes de você nascer, Eu o
consagrei e constituí profeta às nações.” Então, eu disse: – Ah!
SENHOR Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma
criança. Mas o SENHOR me disse: “Não diga: ‘Não passo de uma
criança.’ Porque a todos a quem Eu o enviar irá; e tudo o que Eu lhe
ordenar, você falará. Não tenha medo de ninguém, porque Eu estou
com você para livrá-lo”, diz o SENHOR (Jr 1:4-8).
É com você que o Senhor está falando. Se você reconhecer a sua
insuficiência humana e sua dependência divina, Deus lhe dará a sabedoria
necessária para enfrentar as dificuldades e sair vitorioso.
12
O LÍDER SÁBIO NÃO JULGA
PELAS APARÊNCIAS
“Se o governador dá atenção a palavras mentirosas, todos os seus
servos virão a ser perversos” (Provérbios 29:12).
A vida está cheia de surpresas. Miragens, eu diria. Caminhos, pessoas ou
situações que à primeira vista causam uma boa impressão, mais cedo ou
mais tarde, podem frustrar você. Se você não tem a sabedoria que vem de
Deus, corre o risco de se equivocar; de encontrar o que não busca, de
chegar aonde não quer. Por isso, Salomão diz que há caminho que ao
homem parece direito, porém seu fim é a morte. Nem tudo o que lhe
parece bom é bom. As aparências enganam. O líder sábio não julga pelas
aparências.

Não julgue o livro pela capa


Frank era preceptor de um internato para garotos; um homem honesto e
cumpridor de sua missão. Consciente de seu dever como líder, ele se
esforçava para ajudar aqueles adolescentes. Havia entre eles um rapazinho
encapsulado em seu próprio mundo, caladão, introvertido. Nunca erguia os
olhos quando conversava com as pessoas.
– Não gosto desse tipo de gente – Frank comentou certo dia com a
esposa, na hora do almoço.
– Por quê?
– Esse pessoal que não olha você nos olhos é gente traiçoeira. Nunca se
sabe o que estão pensando.
– Frank, Frank, não julgue pelas aparências – respondeu-lhe a mulher,
com sabedoria.
Os dias passaram. Aproximava-se o verão. Faltavam dois dias para o
encerramento das atividades escolares. Era mais de meia- noite quando o
vigilante o despertou:
– Destruíram a biblioteca! Alguém entrou lá às escondidas e acabou com
tudo!
Havia chovido naquela noite. Frank pensou que, se revistasse os sapatos
dos alunos, descobriria o culpado. Não foi difícil. Os sapatos de Luís
estavam cheios de barro.
– Você saiu na noite passada?
– Sim, senhor. Ouvi um ruído estranho e saí. Alguém estava destruindo a
biblioteca.
– Quem?
– Não consegui ver.
– Foi você.
– Eu não, senhor!
Em vão, Luís tentou se defender. Ele foi responsabilizado pelo ocorrido.
Não participou da cerimônia de encerramento, e a matrícula dele no ano
letivo seguinte foi rejeitada, a pedido de Frank.
As aulas recomeçaram meses depois. Durante uma Semana de Oração,
Roberto, um garoto de confiança do preceptor, tocado pelo Espírito Santo,
entrou na sala de Frank e confessou que ele – não Luís – havia destruído a
biblioteca.
Frank era um líder honesto, mas tinha cometido um erro. Ele telefonou
várias vezes, mas Luís nunca atendeu a ligação. Então Frank viajou até a
cidade do rapaz. Foi a experiência mais dolorosa da vida dele. Luís tinha
afundado por completo no mundo das drogas. O erro de Frank foi pensar
que toda pessoa introvertida é indigna de confiança.
Nem tudo o que reluz é ouro
Os seres humanos se impressionam facilmente com o que veem. Mesmo
aqueles que vivem em comunhão com Deus correm o risco de julgar pelas
aparências. Pense, por exemplo, no modo como Davi foi escolhido rei.
“O SENHOR disse a Samuel: – Até quando você terá pena de Saul, se eu o
rejeitei como rei de Israel? Encha um chifre de azeite e ponha-se a
caminho; vou enviar você a Jessé, o belemita, porque escolhi um dos filhos
dele para ser rei” (1Sm 16:1).
Quando todos se reuniram, Samuel viu Eliabe e pensou: “Certamente
Deus escolheu este.”
Porém o SENHOR disse a Samuel: – Não olhe para a sua aparência
nem para a sua altura, porque Eu o rejeitei. Porque o SENHOR não vê
como o ser humano vê. O ser humano vê o exterior, porém o SENHOR
vê o coração. Então Jessé chamou Abinadabe e o fez passar diante de
Samuel, que disse: – Nem a este o SENHOR escolheu. Então Jessé fez
passar Samá. Porém Samuel disse: – Tampouco a este o SENHOR
escolheu. Assim Jessé fez passar os seus sete filhos diante de
Samuel. Porém Samuel disse a Jessé: – O S ENHOR não escolheu
nenhum destes. E perguntou a Jessé: – Esses são todos os seus
filhos? Jessé respondeu: – Ainda falta um, o mais moço; ele está
apascentando as ovelhas. Então Samuel disse a Jessé: – Mande
chamá-lo, pois não nos sentaremos à mesa sem que ele venha. Então
mandou chamá-lo e o fez entrar. Davi era ruivo, de belos olhos e boa
aparência. E o SENHOR disse a Samuel: – Levante-se e unja-o, pois
este é ele (1Sm 16:7-12).
O escolhido de Deus não era nenhum dos que causavam as melhores
impressões. Seus irmãos aparentavam ser homens forjados na luta,
guerreiros valentes. Eram formosos e de admirável presença. Davi era
apenas um pastorzinho de ovelhas, mas Deus via as coisas de um prisma
diferente. Este é o desafio de todo líder sábio: ver as coisas na perspectiva
divina. Para isso é necessário viver uma experiência de comunhão diária
com o Senhor.

Nem tudo o que parece mau é mau


Nem tudo o que reluz é ouro. Ao mesmo tempo, nem tudo o que parece
mau é mau de fato. Você deve conhecer seus liderados pessoalmente antes
de julgá-los. Uma pessoa aparentemente simples, calada e humilde não é
um trabalhador ineficiente por ter essas características. Alguém que
supostamente pareça errado nem sempre está fazendo algo prejudicial.
Primeiro você deve ouvir os motivos de cada um, escutar o que dizem e
somente então julgar.
Marta, por exemplo, era uma menina inquieta, que não gostava de
dormir. Brincava, pulava, cantava, perturbando o sono dos demais
membros da família.
A mãe sempre a repreendia:
– Marta, vá dormir, menina! Você tem que descansar para ter energia
amanhã!
Entretanto, de nada adiantava. Marta ficava acordada até tarde da noite.
Parecia uma coruja, com os olhos arregalados.
Certa noite, a mãe de Marta entrou no quarto e inventou uma história que
deixou a garota assustada:
– Há uma mulher idosa que todos chamam de “a velha do saco”. Quando
as crianças se portam mal e não dormem, ela vem e as leva embora!
A menina ficou apreensiva, pensando que o melhor era tentar dormir
para evitar que aquela figura aparecesse.
Uma noite, porém, quando menos esperava, viu uma sombra pela janela.
– O que é isso? – perguntou.
Levantou-se, olhou pela janela e viu uma mulher idosa, usando uma capa
e carregando um saco enorme nas costas.
“Mamãe tinha razão! ‘A velha do saco’ veio me buscar”, assustou-se.
Correu para a cama e dormiu. Não queria ser levada por aquela mulher.
No dia seguinte, quando chegou a hora de ir para a cama, Marta tornou a
ver a mulher. Apesar do medo, a menina se aproximou da janela e
percebeu que aquela senhora não colocava nenhuma criança dentro do
saco.
Então foi falar com a mulher.
– Olá! A senhora é “a mulher do saco”?
A mulher olhou para Marta e começou a rir:
– Sim, acho que sim, eu sou!
Marta notou que aquela senhora não era má. Então se aproximou um
pouco mais:
– Minha mãe me disse que a senhora põe no saco as crianças que se
comportam mal e não dormem à noite. É verdade?
A senhora tornou a rir. Aproximando-se de Marta, mostrou-lhe o saco e
disse:
– O que ponho no saco são apenas coisas usadas que as pessoas jogam
fora, mas ainda servem.
– E o que a senhora faz com elas?
– Eu limpo e conserto. Depois entrego nas casas de pessoas pobres.
Aquela mulher idosa não era o que parecia. Pelo contrário, era uma
senhora bondosa, que prestava ajuda aos pobres. Apesar disso, aparentava
praticar o mal. Era o que diziam dela...
Essa é uma história para crianças, porém quão instrutiva é para líderes
adultos! Não julgue ninguém pela aparência! Observe as pessoas e
pergunte-se: Por que fazem o que fazem?

Não acredite em tudo o que lhe dizem


Salomão também aconselha o líder sábio a não crer em tudo o que ouve:
“O ingênuo dá crédito a tudo o que se diz, mas o prudente reflete antes de
dar um passo” (Pv 14:15). O escritor bíblico chama o homem ou a mulher
carente de sabedoria de “ingênuo”, ou seja, aquele indivíduo que acredita
em tudo o que lhe dizem. O líder sábio ouve mais e fala menos, pensa
muito, analisa bem as coisas e ora a Deus antes de fazer um julgamento.
Lugares em que trabalha muita gente são terra fértil para a fofoca e o
“disse me disse”. Um fato verdadeiro, passado de boca em boca, chega ao
fim da linha completamente distorcido ou alterado. No caminho, passa
também pelos ouvidos do líder. E o conselho bíblico é: “Não dê crédito a
tudo o que se diz.”
Aqui, cabe também o seguinte provérbio árabe: “Não creia em tudo o
que ouve, porque quem crê em tudo o que ouve, muitas vezes julga o que
não vê.”
O melhor caminho é chamar a pessoa envolvida e conversar com ela
abertamente. Nada substitui a franqueza entre os membros de uma equipe.
Essa virtude começa com o líder.
Veja nas pedras brutas os diamantes polidos
Uma das habilidades do líder sábio é enxergar as pessoas não como são,
mas como podem se tornar. Procure vê-las não como pedras brutas, mas
como diamantes extraordinários em que se tornarão com a ajuda do líder.
Em vez de julgá-las pelo que aparentam, vislumbre nas pessoas as
possibilidades futuras.
Ninguém cresce na solidão. Todos nós precisamos de ajuda. Ellen White
escreveu:
Como ocorre com a vida, assim acontece com o crescimento. É
Deus quem faz o botão virar uma flor e a flor, fruto. É por Seu poder
que a semente se desenvolve, “primeiro, a erva, depois, a espiga e,
por fim, o grão cheio na espiga” (Mc 4:28). O profeta Oseias disse
que Israel “florescerá como o lírio”. Eles “serão vivificados como o
cereal e florescerão como a vide” (Os 14:5, 7). E Jesus nos convida a
observar os lírios (Lc 12:27). As plantas e flores não crescem pelo
próprio esmero, esforço ou pela ansiedade, mas por receberem aquilo
que Deus fornece para lhes dar vida.
A criança não pode, por um desejo ou poder próprio, aumentar sua
estatura. Nem você tem como garantir seu crescimento espiritual por
meio da sua vontade ou poder.
Embora Jesus faça as pessoas crescerem, o líder tem participação
importante no desenvolvimento dos seres humanos com quem ele trabalha.
É um instrumento nas mãos divinas para realizar o potencial oculto que
cada ser humano tem. Um líder sábio está ciente dessa responsabilidade.

Não se deixe influenciar pelo ambiente


Ao trabalhar para que os colaboradores possam crescer, o líder sábio não
se deixa influenciar pela maneira de pensar de sua geração, mas pelos
valores e princípios eternos da Palavra de Deus. Paulo aconselha: “E não
vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixei que Deus os
transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2).
O desafio é grande: renovar-se sem adaptar-se aos “padrões deste
mundo”. Como fazer isso? Em nosso mundo, os valores estão de cabeça
para baixo. O que antes era considerado correto hoje parece adaptar-se ao
ambiente e à vontade subjetiva. O líder sábio deve ter um conceito correto
sobre os valores e princípios eternos.
Salomão diz: “Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os
maus e os bons” (Pv 15:3). Esse é um assunto teológico profundo. Não se
refere apenas ao fato de Deus conhecer tudo e todos, mas também ao fato
de que somente Ele determina o que é bom ou mau.
O ser humano pode escolher o caminho do mal. É livre para isso, mas
não pode determinar o que é o bem ou o mal. Essa é uma prerrogativa de
Deus. Por isso, a Bíblia diz: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem
chamam mal; que fazem das trevas luz e da luz fazem trevas; que mudam
o amargo em doce e o doce mudam em amargo!” (Is 5:20). Essa é uma
descrição dos néscios, aqueles que invertem o valor moral das coisas.
Aqueles “que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal”. Esse é o limite
da depravação. Inverter os valores estabelecidos por Deus é a forma mais
eficaz de ofender o Senhor, endurecer a própria consciência e fazer grande
dano a si mesmo, bem como aos demais.
De fato, essa foi a primeira tentação do ser humano no Jardim do Éden.
Ali Deus disse a Adão: “De toda árvore do jardim você pode comer
livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não
deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá”
(Gn 2:16, 17).
Entretanto, ocorreu o seguinte:
Mas a serpente, mais astuta que todos os animais selvagens que o
SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: – É verdade que Deus disse:
“Não comam do fruto de nenhuma árvore do jardim”? A mulher
respondeu à serpente: – Do fruto das árvores do jardim podemos
comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus
disse: “Vocês não devem comer dele, nem tocar nele, para que não
venham a morrer.” Então a serpente disse à mulher: – É certo que
vocês não morrerão. Porque Deus sabe que, no dia em que dele
comerem, os olhos de vocês se abrirão e, como Deus, vocês serão
conhecedores do bem e do mal. Vendo a mulher que a árvore era boa
para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou do seu fruto e comeu; e deu também ao marido,
e ele comeu (Gn 3:1-6).
Pense na frase diabólica: “os olhos de vocês se abrirão e, como Deus,
vocês serão conhecedores do bem e do mal.” Naquela mesma tarde, Pai,
Filho e Espírito Santo Se reuniram em conselho e disseram: “Eis que o
homem se tornou como um de Nós, conhecedor do bem e do mal” (Gn
3:22).
Em que sentido era ruim conhecer o bem e o mal? O verbo “conhecer”
aqui não se refere somente a tomar consciência do que é mau ou bom, mas
ao fato de alguém ousar determinar o que é bom ou mau. Lembre-se da
insinuação enganosa de Satanás: “e, como Deus, vocês serão conhecedores
do bem e do mal.”
Determinar o que é bom ou mau é uma atribuição divina e de ninguém
mais. A mãe do profeta Samuel disse em uma oração: “Não multipliquem
palavras de orgulho, que não saiam palavras arrogantes da boca de vocês.
Porque o SENHOR é o Deus da sabedoria e pesa na Sua balança todos os
feitos das pessoas” (1Sm 2:3).
A jactância e a altivez humanas consistem em tomar o lugar de Deus
para “pesar” as ações. Isso não compete ao ser humano. “Porque o SENHOR
é o Deus da sabedoria e pesa na Sua balança todos os feitos das pessoas.”
O “conhecer” bíblico, tanto nesse verso quanto no relato do Gênesis, não
é sinônimo de saber, mas de ponderar, pesar, determinar, ou seja, dizer o
que é bom ou mau. Esse direito pertence exclusivamente a Deus. O ser
humano pode escolher o mal ou o bem, mas não tem o direito de escolher
o mal e chamá-lo de bem.
Infelizmente vivemos em um tempo no qual os seres humanos creem ter
o direito de determinar o que é bom ou mau para si. O líder sábio precisa
renovar-se constantemente. Mas, quando se trata de acompanhar as
tendências da humanidade rebelde que se atreve a desafiar a Deus, o líder
sábio decide manter-se firme no terreno sólido da Palavra de Deus.
Referências
1 Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017), p. 68
[67, 68].

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