O Líder Sábio
O Líder Sábio
O Líder Sábio
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QUEM É O LÍDER SÁBIO ?
“Não havendo direção sábia, a nação fracassa; com muitos
conselheiros há segurança” (Provérbios 11:14).
O mundo precisa de líderes sábios. “Não havendo direção sábia, a nação
fracassa”, declarou o mais sábio dos reis. É preciso que haja líderes
capazes de conquistar o coração dos liderados, líderes que sejam amados,
admirados e seguidos. Há necessidade de líderes que inspirem e se tornem
referência para os que vierem depois deles. Precisamos de líderes que
influenciem e transformem a vida dos que estão ao redor.
Neste livro, eu me dirijo à essência da alma humana, ao profundo do
coração. Faço isso por uma razão: dentro de todos nós existe o desejo de
liderar. De alguma forma, em diferentes contextos e situações, nós de fato
somos líderes: na família, no círculo de amigos, no trabalho, na escola, na
vizinhança, em algum momento exercemos liderança.
Apesar disso, há uma ideia geral bastante difundida, porém errada, sobre
o que a liderança é. Muitos creem que liderar é ser o primeiro, o chefe, o
que dá ordens. Talvez por isso a liderança fascine, atraia e cative tanto.
Quem não desejaria ser nomeado presidente, gerente, encarregado ou
diretor? Quem não gostaria de obter as vantagens de ficar em evidência e
de ter nas mãos o poder para decidir? Contudo, ao mesmo tempo, surgem
as dolorosas perguntas: Poderia um bom cristão desejar ser o primeiro?
Não seria esse um desejo puramente carnal e humano?
Vejamos um exemplo. Ernesto é o típico administrador que nega suas
aspirações e enterra seus desejos de ser um líder. Quando foi nomeado
presidente, ele chorou e disse que nunca tinha pensado em ocupar aquele
cargo. Lá no fundo, ele sempre havia sonhado com isso, porém seu
inconsciente lhe dizia que essa aspiração não era espiritual. Ainda assim,
ele aceitou o desafio, alegando que aquela era a vontade de Deus. No
entanto, quatro anos depois, ao não ser reeleito, tornou a chorar dizendo
que a comissão de nomeações tinha sido injusta com ele.
Nos tempos de Cristo não era diferente. Um dia, enquanto Jesus se
dirigia a Cafarnaum, Seus discípulos ficaram para trás, no caminho,
discutindo quem dentre eles deveria ser o líder. Marcos relata esse
incidente da seguinte maneira: “Chegaram, então, a Cafarnaum. Estando
em casa, Jesus perguntou aos discípulos: – Sobre o que vocês estavam
discutindo pelo caminho? Mas eles se calaram, porque, no caminho,
tinham discutido entre si sobre quem era o maior. E Jesus, assentando-Se,
chamou os doze e lhes disse: – Se alguém quiser ser o primeiro, será o
último e servo de todos” (Mc 9:33-35).
No relato, fica evidente quanta confusão havia na mente dos discípulos
em relação à liderança. Eles desejavam o cargo, mas pensavam que ser “o
primeiro”, “o maior”, “o mais importante” ou “o líder” não condizia com a
humildade de um cristão. Era incompatível. Por isso, deixaram que Jesus
fosse na frente. Intencionalmente, eles ficaram para trás. Sentiam-se
tentados a discutir algo que no fundo consideravam, digamos, “errado”.
No entanto, o Mestre percebeu a angústia e a perplexidade dos
discípulos. Ele conhecia a intenção oculta em seus corações. Ao chegar em
casa, Jesus os reuniu para tratar o assunto sem subterfúgios.
– O que vocês tanto discutiam pelo caminho? – perguntou-lhes. Mas os
discípulos ficaram em silêncio. Sabiam que a conversa tinha sido sobre
quem dentre eles deveria ser o líder, o primeiro. Sentiam-se
envergonhados e culpados. Não disseram uma palavra. Emudeceram.
Diante do silêncio dos discípulos, Jesus lhes explicou que o problema
não estava no desejo de liderar. O erro estava nas motivações relacionadas
à liderança. Eles, como muitos hoje, pensavam que ser líder era ocupar um
lugar privilegiado, dar ordens e obter vantagens às quais a maioria não
tinha acesso. Contudo, Jesus lhes disse que não havia nada de errado em
almejar a liderança, desde que tivessem a ideia correta do que isso
significava.
– Se alguém quiser ser o primeiro, deverá ser o último de todos, aquele
que serve aos demais – disse Jesus.
Nessa declaração, encontramos a teologia da liderança. Jesus não
ensinou aos discípulos que o desejo de ser líder era pecaminoso. Em vez
disso, mostrou a eles quais eram as motivações certas para liderar: o amor
e o serviço.
Liderar é amar e servir. Por isso, Jesus foi o maior líder da história.
Ninguém jamais amou nem serviu como Ele. Sua vida nos inspira. Ele
quebrou os parâmetros estabelecidos pela sociedade em que vivia e
conquistou o coração de incontáveis seguidores.
Nesse sentido, liderar não é compelir, mas inspirar. Não é ordenar nem
mandar. É fazer com que as pessoas tenham vontade de realizar as coisas.
O líder tem que ser capaz de amar e ser amado, de modo que as pessoas se
sintam motivadas a segui-lo até o fim.
Liderança e sabedoria
O modo de liderar ensinado por Jesus é típico de pessoas sábias. É
impossível falar de liderança sem falar de sabedoria. A teologia da
liderança está vinculada à questão da sabedoria. Quando Salomão foi
chamado para conduzir o povo de Israel, a primeira coisa que ele pediu a
Deus foi sabedoria. As Sagradas Escrituras narram o incidente da seguinte
maneira:
Em Gibeão, o Senhor apareceu a Salomão de noite, em sonhos. E
Deus lhe disse: – Peça o que você quiser que Eu lhe dê. Salomão
respondeu: – Foste muito bondoso com o Teu servo Davi, meu pai,
porque ele andou Contigo em fidelidade, em justiça e em retidão de
coração, diante da Tua face. Mantiveste para com ele esta grande
bondade e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como
hoje se vê. E agora, ó Senhor, meu Deus, Tu fizeste reinar Teu servo
em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de uma criança, não sei
como devo agir. Teu servo está no meio do Teu povo que escolheste,
povo grande, tão numeroso que não se pode contar. Dá, pois, ao Teu
servo coração compreensivo para governar o Teu povo, para que com
prudência, saiba discernir entre o bem e o mal. Pois quem seria capaz
de governar este grande povo? (1Rs 3:5-9).
A expressão “coração compreensivo” também pode ser traduzida como
“coração sábio”. A sabedoria bíblica engloba “bom senso”, “equilíbrio”,
“prudência” e “bom juízo”. Esses são atributos essenciais não só à
liderança, mas também à própria vida. Neste mundo há pessoas
fracassadas, frustradas e infelizes porque não sabem viver. Existir é
diferente de viver. Viver é uma arte que exige sabedoria. E a arte de liderar
requer ainda mais!
Sabedoria, segundo Salomão, não é somente o acúmulo de
conhecimento, mas a habilidade para usá-lo. Conhecimento tem a ver com
a teoria das coisas. Sabedoria, porém, é algo que sai do papel frio e entra
no domínio da vida. Existem pessoas que lidam muito bem com a teoria da
liderança, mas, lamentavelmente, não sabem aplicá-la.
O mito do cargo
Um terceiro mito supõe que a sabedoria esteja relacionada ao cargo ou à
posição que a pessoa tem. Isso não é verdade. Quando se toma um voto
para nomear um presidente, diretor, supervisor ou o que quer que seja, esse
voto não atribui nem comunica sabedoria à pessoa escolhida. Ninguém
obtém sabedoria por voto nem por decreto. Ao contrário, um cargo, na
verdade, colocará a pessoa à prova e revelará quem ela realmente é.
Exporá suas falhas e virtudes. Não necessariamente vai torná-la melhor.
Há uma frase popular que diz: “Quer conhecer uma pessoa? Dê a ela
poder”. É no exercício do poder que o verdadeiro caráter se revela.
Certa vez, conheci um jovem nomeado para um cargo de liderança.
Éramos colegas de trabalho. No dia seguinte à nomeação, fui a seu
escritório. Como eu sempre fazia, bati à porta duas vezes e entrei. Ele
levantou os olhos, tirou os óculos e me disse em tom sério: “Vamos deixar
as coisas bem claras. Você não pode entrar em minha sala sem antes passar
por minha secretária para que ela o autorize.”
Pela primeira vez, meu amigo estava se revelando como era de fato. A
essência dele veio à tona. Sua administração foi um desastre. Não
terminou o segundo ano de seu mandato. De fato, nem cargo nem posição
dão sabedoria a ninguém.
A inteligência emocional
As palavras de Paulo mostram que é impossível ser sábio sem Deus. A
verdadeira sabedoria não vem do conhecer, mas do ser. Durante décadas,
as empresas, as instituições e até as igrejas destacaram o quociente
intelectual de seus líderes como uma qualidade diferencial. O indivíduo
mais inteligente era considerado o candidato ideal para exercer um cargo
de liderança.
As coisas mudaram. A realidade levou muitos a se perguntar: “Por que
os alunos mais inteligentes na universidade nem sempre têm, na vida
profissional, o mesmo êxito obtido nos estudos?” Ou: “Por que pessoas
que não se sobressaem por sua capacidade intelectual ou títulos
profissionais têm melhores relacionamentos e prosperam na vida?” Em
outras palavras: Por que uns são mais capazes que outros para enfrentar as
dificuldades da vida e resolver situações complicadas?
Entre os anos 1920 e 1940, alguns pesquisadores do comportamento
humano começaram a reconhecer a importância de qualidades relativas ao
ser e não somente ligadas ao saber. Naquele tempo, já se usava a noção de
“inteligência emocional” em algumas teses, porém foi só em 1990 que os
psicólogos Peter Salovey, da Universidade de Yale,e John Mayer, da
Universidade de New Hampshire, tornaram esse termo amplamente
conhecido nos círculos de liderança.
Posteriormente, em 1995, Daniel Goleman, psicólogo e redator científico
do New York Times, declarou que a inteligência de uma pessoa é
importante, porém nunca é mais importante que o controle das emoções,
algo que ele chamou de caráter. Hoje se aceita que a combinação da
inteligência com a nobreza do caráter resultaria em um superlíder, o líder
ideal, aquele que todos gostariam de ter.
Daniel Goleman popularizou o conceito de “inteligência emocional” em
um livro com esse título, publicado por ele em 1995. No livro, Goleman
questiona a noção de “quociente intelectual”, que até então era considerada
a garantia do sucesso em qualquer área da vida. A tese ali defendida é a de
que as emoções desempenham um papel essencial no pensamento, nas
decisões e nos relacionamentos das pessoas.
Para Goleman, esse novo conceito de inteligência “real” – que ele define
como um conjunto de habilidades que incluem o controle dos impulsos, a
motivação, a empatia e a capacidade para relacionar-se com os demais –
tem muita importância no desempenho de um líder.
O correto exercício dessa atitude, que alguns consideram um instinto de
sobrevivência, permitiria às pessoas um maior autocontrole e um melhor
desenvolvimento da criatividade. Para Goleman, essa “consciência” talvez
seja a habilidade mais importante que um ser humano possa ter. Segundo o
escritor, não consiste em uma atitude meramente exterior, e sim interior.
Não se trata apenas de reprimir os sentimentos, mas de fazer o que dizia
Aristóteles no livro Ética a Nicômano, um dos primeiros tratados sobre
ética e moral: “Qualquer um é capaz de ficar irritado. Isso é fácil. Contudo,
irritar-se com a pessoa certa, na medida certa, no momento certo, com o
propósito certo e da forma certa, isso não é tão fácil.”
Em suma, a maioria dos especialistas em inteligência emocional
concorda que os conhecimentos e a capacidade intelectual de uma pessoa,
por si sós, não são suficientes para que ela se dê bem na vida. É preciso
canalizar e aplicar esses conhecimentos, como diz Aristóteles, da melhor
maneira possível. Essa capacidade depende da inteligência emocional de
cada pessoa, de seu modo de enfrentar qualquer situação e tomar a decisão
correta.
A incapacidade humana
O problema é que, quanto mais o ser humano se esforça para
desenvolver as qualidades interiores da alma, quanto mais estuda o assunto
da inteligência emocional, mais confuso fica, porque não consegue viver,
na prática, as premissas da maravilhosa teoria que conhece.
Na verdade, sem Deus é possível acumular uma infinidade de conceitos,
mas o coração humano continuará vazio e desesperado como sempre. Ele
se esconde, disfarça, mantém as aparências, mas, na hora de maior
necessidade, as emoções nos traem, tornando-nos vítimas de nossas
paixões naturais.
Conheço pessoas brilhantes do ponto de vista intelectual, tituladas em
Relações Humanas, Qualidade Total, Liderança, Inteligência Emocional
ou no que quer que seja, porém, quando saem do mundo fascinante das
ideias e entram no terreno agreste da realidade, descobrem que conceitos
abstratos alimentam o intelecto, mas não transformam o coração.
Só Deus
Quando você vai a Deus em busca de sabedoria, Ele não lhe enche a
cabeça de conceitos, mas toma seu coração e o transforma. A promessa
divina é: “Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um
espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração
de carne. Porei dentro de vocês o Meu Espírito e farei com que andem nos
Meus estatutos, guardem e observem os Meus juízos” (Ez 36:26, 27).
O problema do ser humano é a natureza soberba e orgulhosa que ele tem.
Nela está a fonte dos pensamentos, sentimentos e atos egoístas. Se não
houvesse uma fonte suja, não existiria água contaminada. Sem uma
laranjeira no pomar, não haverá laranjas. A pior coisa que um líder pode
pensar em fazer é querer demonstrar em seu trabalho cotidiano as
qualidades da inteligência emocional enquanto conserva dentro de si a
natureza egoísta com a qual nasceu. Por mais que exerça o domínio
próprio, não vai conseguir. Pode se esforçar, lutar e prometer; levantar-se
às cinco da manhã e castigar o próprio corpo; jejuar ou chicotear as costas
até sangrar. Tudo isso será inútil. A natureza egoísta está viva dentro dele
e continuará produzindo frutos como “inimizades, rixas, ciúmes, iras,
discórdias, divisões” (Gl 5:19-21).
Há esperança?
Certo dia, um homem com uma personalidade difícil e um caráter falho
foi até Jesus. O Mestre o havia chamado para ser um dos líderes de Seu
Reino. Esse homem, porém, era impaciente, explosivo e tinha um
temperamento vingativo, razão pela qual lhe deram o apelido de “filho do
trovão”. O nome dele era João. Ele estava cansado de labutar contra as
tendências naturais do próprio coração. Prometia melhorar, tentava mudar,
lutava para deixar de ser como era, mas todos os esforços que ele fazia
eram em vão. A fera orgulhosa e soberba entocada dentro dele saltava
feroz diante do menor descuido.
Houve momentos em que João pensou jamais poder atingir a meta. Um
dia, porém, ele encontrou Jesus, foi até o Mestre e permaneceu ao lado
Dele.
O resultado? Veja o que uma renomada escritora diz sobre João:
Não somente era arrogante e ambicioso por honras, como também
era impetuoso e ressentido ao ser ofendido. Mas, ao se manifestar o
caráter do que é Divino, ele viu sua deficiência e, reconhecendo isso,
se humilhou. A força e a paciência, o poder e a ternura, a majestade e
a mansidão que contemplava na vida diária do Filho de Deus
enchiam seu coração de admiração e amor. Dia após dia, seu coração
era atraído para Cristo, até perder de vista a si próprio, por amor ao
Seu mestre. Seu temperamento ressentido e ambicioso deu lugar ao
poder modelador de Cristo. A influência regeneradora do Espírito
Santo renovou seu coração. O poder do amor de Cristo operou a
transformação de seu caráter.
Esse é o resultado da união com Jesus. Quando Cristo habita o
coração, toda a natureza é transformada. O Espírito de Cristo e Seu
amor abrandam o coração, subjugam a alma e elevam os
pensamentos e desejos para Deus e para o Céu.
Quero enfatizar a expressão “esse é o resultado da união com Jesus”. A
que se refere? À vitória sobre a natureza egoísta. Nesse caso, a única
solução é Jesus. Ele é a Sabedoria em pessoa. Longe Dele, não há como
ser um líder sábio.
Estando separado de Jesus, até ao fazer coisas boas o ser humano tropeça
em erros. “É verdade que pode haver uma aparência de retidão, mesmo
sem o poder regenerador de Cristo. O desejo de ter influência e de ser
estimado pelos outros pode levar a uma vida bem ordenada. O respeito
próprio pode nos levar a evitar a aparência do mal. Um coração egoísta
pode promover atos generosos.”
Todas essas conquistas são obra do esforço humano, da autodisciplina e
da força de vontade. Você não precisa de Deus para tentar demonstrar,
como líder, as qualidades da inteligência emocional. Você pode até
produzi-las de alguma forma, mas elas são enganosas. Essas boas obras
podem ajudar você a dar a impressão de ser um grande líder, porém na
solidão de seu quarto, consultando seu travesseiro, você sabe que isso não
é verdade. Diante do menor descuido, sua verdadeira natureza lhe passa
uma rasteira.
A principal preocupação do líder sábio não deveria ser administrar
corretamente as emoções, mas ser um indivíduo correto, uma pessoa de
bem. Isso só acontece quando você vai a Jesus e permanece com Ele.
Então a vida começa a produzir o fruto do Espírito, que é “amor, alegria,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio
próprio” (Gl 5:22).
Como funciona
Existe muita confusão em relação à questão da inteligência emocional
em Cristo. Afinal, quem é que administra corretamente suas emoções?
Jesus ou você? É Jesus quem age, e você fica passivo, ou é você quem age
com a ajuda Dele? Qual é a participação humana nesse processo?
Relacionar-se com Jesus é apenas ficar de braços cruzados, esperando que
Ele controle sua vida e tome todas as decisões? Onde fica, então, a
participação humana? Qual é o papel de sua força de vontade nesse
processo?
O apóstolo Paulo explica isso de maneira simples. Quando você vai a
Jesus e convive com Ele, Jesus passa a ser parte de sua vida. Ele habita em
você por intermédio do Espírito Santo. “Será que vocês não sabem que o
corpo de vocês é santuário do Espírito Santo, que está em vocês e que
vocês receberam de Deus [...]?” (1Co 6:19).
O que é que acontece então? Mesmo que você não queira, o Espírito
Santo obriga você a fazer as coisas certas? É isso? Não. Você não se
transforma em uma máquina ou em um robô, obrigado a fazer algo contra
a própria vontade. O que acontece é algo maravilhoso. Quando você nega
a si mesmo e permite que Jesus seja parte de sua vida, que o Espírito Santo
habite em seu coração, então Deus e você passam a ser como uma só
pessoa. As suas vontades se unem. “Já não sou eu quem vive”, diz o
apóstolo Paulo, “mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).
E para onde você vai se agora é Cristo quem vive em você? “E esse viver
que agora tenho na carne”, diz ainda o apóstolo. Espere um pouco... Você
não estava dizendo: “Já não sou eu quem vive”? Como, então, acrescenta:
“E esse viver que agora tenho”? Afinal, você vive ou não vive? Continua
vivo ou morre?
Essa é a maravilhosa realidade do líder sábio. Quando você vive uma
vida de comunhão com Jesus, a vontade Dele e a sua se unem. São duas
vontades em uma. Os desejos Dele são os seus desejos. Então quem
decide? Cristo ou você? É Ele, mas também você. Quem administra as
emoções com sabedoria? Você, mas é Ele também.
A sua comunhão com Jesus é tão profunda e sua convivência com Ele é
tão íntima que as duas vontades se transformam em uma só. Você nega sua
vontade para cumprir a vontade Dele. Assim, a vida que você vive agora,
você a vive no Filho de Deus.
Observe esta declaração:
Ao nos sujeitarmos a Cristo, nosso coração se une ao Seu, nossa
vontade imerge em Sua vontade, nossa mentalidade torna-se uma
com a Dele, nossos pensamentos serão levados cativos a Ele;
vivemos Sua vida. [...]
Quando o próprio eu é submerso em Cristo, o verdadeiro amor brota
espontaneamente. Não é uma emoção ou impulso, mas sim a decisão
de uma vontade santificada.
As qualidades próprias da inteligência emocional não são
particularmente suas, nem um trabalho exclusivo de Jesus; também não é
algo um pouco seu ou um pouco Dele. É um esforço único. Uma só
atitude. Uma só decisão. Jesus e você unidos em uma só vontade, a
chamada “vontade santificada”.
Foi dessa maneira que os primeiros discípulos alcançaram a
semelhança com o amado Salvador. [...] Estavam com Jesus em casa,
à mesa, nos aposentos mais reservados e no campo. Estavam com Ele
como alunos e seu professor [...]. Olhavam para Ele, como servos
para seu senhor. [...]
Quando Cristo habita no coração, a pessoa se sente tão repleta de
Seu amor e da alegria da comunhão com Ele que se torna cada vez
mais apegada a Ele. Ao contemplá-Lo, o próprio eu é esquecido.
Motivações
Por que você deseja ser um líder? Quais são suas motivações? Imagine
uma jovem bela e promissora, que não suporta ver sangue, mas decide ir
para a faculdade estudar Enfermagem porque acha bonito usar uniforme
branco. Que futuro terá? Poderia até exercer a profissão, porém nunca
seria uma pessoa realizada e feliz.
O mesmo acontece com a decisão de tornar-se líder. A liderança fascina,
atrai e seduz. Todos, de alguma forma, desejam ser líderes; do contrário,
não existiria a intriga política, a inveja e a manipulação nas diferentes
áreas da vida. Em nossa cultura, liderança significa poder, notoriedade e
privilégios que a maioria não alcança. E existem alguns que, de modo
consciente ou inconsciente, assumem cargos de liderança motivados
meramente pela sensação de poder. Anelam ser aplaudidos e reconhecidos.
Deixam-se ofuscar pelo brilho das luzes e esquecem o essencial.
Paulo, líder por excelência, disse o seguinte aos filipenses:
Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar de Cristo Jesus, que,
mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a
Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, Ele
Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se semelhante
aos seres humanos. E, reconhecido em figura humana, Ele Se
humilhou, tornando-Se obediente até à morte, e morte de cruz. Por
isso também Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu o nome que
está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo
joelho, nos Céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse
que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2:5-11).
Questão de sentir, não de fazer
Paulo apresenta nesse texto a trajetória Daquele que poderíamos chamar
de “o maior Líder de todos os tempos”. Multidões O seguem pelos quatro
cantos do planeta. Milhões e milhões sentem-se inspirados por Sua vida e
Seus ensinos. Não se pode contar o número dos que O aclamam. Como Ele
Se tornou o mais grandioso líder que o mundo conheceu?
O apóstolo fala das motivações de Jesus. “Tenham entre vocês o mesmo
modo de pensar de Cristo Jesus”, ele diz. O termo “modo” é traduzido
como “sentimento” em outras versões (ARA, ARC). Sentimento não se vê;
instala-se no profundo da pessoa. Você pode fabricar ações, mas não
sentimentos. Quando alguém faz algo que desagrada você, é possível dar
um sorriso falso e dizer palavras gentis, mas é impossível pôr fim à raiva
escondida dentro do coração. Por isso, Paulo não diz: “Tenham em vocês o
mesmo procedimento”, e sim o “mesmo sentimento”. É no coração que
está a raiz de todos os males. Lá os conceitos teóricos não funcionam. Só
Jesus.
O que é servir?
O que motiva o líder sábio é o desejo de servir, não o de “ir na frente”
nem de comandar, como nós entendemos. No mundo dos negócios, na
política, no contexto institucional e até mesmo na igreja, a palavra “líder”
é usada para referir-se ao que dirige, não ao que serve. Esse conceito nos
causa problemas, porque a palavra “líder” não costuma englobar o sentido
de servir. A palavra “líder” provém do grego protostates, que significa
“aquele que está em pé diante de todos, o que dirige, o que dá as ordens, o
cabeça, o comandante”.
Na Bíblia, essa palavra aparece apenas uma vez. Foi usada por Tértulo
para acusar Paulo diante do governador Félix. “Este homem é uma peste e
promove desordens entre os judeus do mundo inteiro, sendo também o
principal agitador da seita dos nazarenos” (At 24:5).Tértulo usou a palavra
“líder” para referir-se àquele que era o “principal” na seita dos nazarenos.
Esse conceito de líder como “o que vai à frente” pouco a pouco foi
introduzido na igreja.
Entretanto, a motivação de Jesus nunca foi dirigir, mas servir. E a
palavra “servo” vem do grego doulos, que literalmente significa “escravo”.
O escravo não tem vontade própria; faz o que seu senhor lhe ordena. Não
se sobressai; dificilmente fica em evidência e só aparece quando seu amo o
chama. Esse conceito não guarda qualquer relação com o que nós
entendemos por liderança.
Creio que, em algum momento, precisamos parar e reconsiderar. Paulo
diz que Jesus Cristo “Se esvaziou” a fim de tornar-Se servo. Deixou Sua
glória, renunciou ao privilégio de ser servido pelos anjos e contemplou a
Terra cheia de pecadores caminhando em direção à morte. Sabia que o
resgate da humanidade rebelde significaria humilhação e sacrifício.
Mesmo assim, deixou tudo e veio para servir às pessoas e morrer por elas.
E nós, do que precisamos nos esvaziar? Do desejo de ser servidos. Do
desejo oculto de que alguém estenda o “tapete vermelho” por onde
passarmos. Da expectativa secreta de sermos cumprimentados com
admiração ou reverência e de que os outros se antecipem aos nossos
desejos. Necessitamos renunciar à vontade de que nossa foto apareça por
aí em tudo quanto é lugar, devido à nossa popularidade. Devemos nos
esvaziar do desejo de que nosso currículo completo seja lido cada vez que
somos apresentados em um evento. A lista é muito longa. De uma coisa
tenho certeza: o Espírito de Deus deve realizar uma mudança na fonte de
nosso “sentimento”, pois não basta a aparência de servo, é preciso a prática
de servir.
No Antigo Testamento, o preço de um servo ou escravo era 360 gramas
de prata (Êx 21:32), tudo o que ele valia. Jesus Se esvaziou do status de
Rei Soberano do Universo para valer o preço de um simples servo. Os
sacerdotes consideraram que não passava de um escravo, por isso pagaram
por Ele 30 moedas de prata. Jesus era o Senhor do Universo. Bastava um
desejo Seu, e a humanidade inteira pereceria. Contudo, foi levado ao
matadouro como um cordeiro e, como uma ovelha muda, diante de seus
tosquiadores, não reclamou, não exigiu nem pediu nada.
Precisamos que esse Servo maravilhoso entre em nosso coração e nos
motive a seguir Seu exemplo. Da mesma forma, devemos almejar que não
nos incomode o fato de o nosso nome não ser considerado para ocupar um
cargo e que não doa quando, depois de cinco anos, não formos reeleitos.
Precisamos desaparecer na terra, como o trigo, para poder renascer e brotar
na vida dos homens e das mulheres que ajudamos a formar.
Paulo abriu o coração para o Servo Jesus. E qual foi o resultado? Assim
como seu Mestre, ele se esvaziou de tudo o que era e tinha. Ele mesmo
declara:
É verdade que eu também poderia confiar na carne. Se alguém
pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: fui circuncidado ao
oitavo dia, sou da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu
de hebreus; quanto à lei, eu era fariseu, quanto ao zelo, perseguidor
da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que
para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Na
verdade, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa Dele perdi
todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar a Cristo (Fp
3:4-8).
Essa é a atitude de um servo. Segue os passos do Mestre. Vive para
servir e para enaltecer o nome de Deus. As motivações que tem não são
obscuras. Não corre atrás do poder, da admiração nem do reconhecimento
dos homens. Trabalha para Deus e faz isso em tempo e fora de tempo;
sendo visto ou sem que ninguém o veja. Pouco importa. A motivação de
seu coração não é o aplauso humano, e sim a fidelidade a Deus. “Não
servindo apenas quando estão sendo vigiados, somente para agradar
pessoas, mas como servos de Cristo, fazendo de coração, a vontade de
Deus. Sirvam de boa vontade, como se estivessem trabalhando para o
Senhor e não para pessoas, sabendo que cada um, se fizer alguma coisa
boa, receberá isso outra vez do Senhor, seja servo, quer livre” (Ef 6:6-8).
Jesus foi além do serviço
Jesus foi além. Não apenas serviu, mas morreu servindo. E que morte
terrível! A de um delinquente! Naquele tempo, a crucifixão era destinada
aos párias da sociedade. Jesus a aceitou voluntariamente. “E, reconhecido
em figura humana, Ele Se humilhou, tornando-Se obediente até à morte, e
morte de cruz” (Fp 2:7, 8).
Note as duas ações do servo Jesus: Ele Se humilhou e obedeceu. O termo
“humilhação”, do latim humiliatio, é ação e efeito de “humilhar-se”; de
“ferir o amor-próprio” ou a dignidade; de “abater o orgulho”. Quantos
líderes modernos estão dispostos a enfrentar humilhação? Quantos sofrem
em silêncio as ofensas dos críticos? Ou será que, em vez disso, estão
prontos a se defender “com unhas e dentes”? Você aceitaria que cuspissem
em seu rosto e rissem de você?
Outro aspecto da liderança exemplificada por Jesus Cristo é a
obediência. A quem? A Deus. De que modo hoje em dia Deus dirige Seus
servos? Quando Saulo de Tarso se encontrou com Jesus e O reconheceu, a
primeira pergunta que fez foi: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 9:6,
ARC). A resposta de Jesus foi esta: “Mas levante-se e entre na cidade,
onde lhe dirão o que você deve fazer” (At 9:6).
E quem foi a pessoa enviada para orientá-lo?
Jesus enviou o perplexo judeu à Sua igreja, para dela obter um
conhecimento de seu dever. Cristo realizou a obra de revelação e
convicção; agora, o arrependido estava em condições de aprender
daqueles que Deus comissionou para ensinar Sua verdade. Assim
Jesus aprovou a autoridade de Sua igreja organizada, e colocou Saulo
em contato com Seus representantes na Terra.
A luz da celestial iluminação havia impedido Saulo de ver, e Jesus,
o grande Médico, não o curou imediatamente. Todas as bênçãos
fluem de Cristo; entretanto, Ele havia estabelecido uma igreja como
Sua representante na Terra, e a ela pertencia a obra de guiar o
arrependido pecador no caminho da vida. Os mesmos homens que
Saulo tinha o propósito de destruir deviam ser seus instrutores na
religião que ele havia desprezado e perseguido.
O resultado do serviço
Qual foi o resultado da vida de serviço de Cristo? Paulo responde: “Por
isso também Deus O exaltou sobremaneira e Lhe deu o nome que está
acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos
Céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:9-11). Que ironia! Nós, seres
humanos, tentamos desesperadamente deixar nosso nome marcado na
História, porém morremos sem muita dificuldade nem glória.
Em contrapartida, Jesus Se despojou de tudo e veio a este mundo para
servir e morrer. Deus então enalteceu Seu nome acima de todo nome. Mais
ainda: diante Dele se dobra todo joelho “nos Céus”, as criaturas não
caídas; “na terra”, os seres humanos; e “debaixo da terra”, as forças
demoníacas. Significa que, finalmente, até os inimigos de Cristo O
reconhecerão como Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Frio e calculista
O tempo passou. Davi teve filhos. Aparentemente, o incidente com
Abner havia caído no esquecimento. Joabe continuou avançando na
carreira profissional. De um simples capitão, tornou-se um general
poderoso. O homem de confiança do rei. Poucos sabiam que ele era um
líder movido por motivações erradas.
Certa ocasião, enquanto Joabe estava fora, em uma viagem, Abner foi ao
encontro de Davi, rei de Judá. Foi recebido com um banquete. Abner então
propôs paz ao rei, em nome de Isbosete. Em realidade, Isbosete não
passava de um rei de fachada. Quem realmente governava Israel era
Abner, outro líder com fome de poder e reconhecimento. Existem líderes
assim. Do ponto de vista profissional, parecem irrepreensíveis. O trabalho
que fazem é praticamente perfeito, mas o que ninguém sabe é o que se
esconde por trás desse “profissionalismo eficiente”.
O relato bíblico diz que Davi aceitou a proposta de Abner. Este
regressou feliz à sua terra. Quando Joabe chegou de viagem e tomou
conhecimento do ocorrido, o coração dele se encheu de ódio. Joabe temeu
ser considerado um general descartável. Ansiava continuar sendo o centro
das atenções, a estrela brilhante, o grande líder. Então foi atrás de Abner e
o matou. Havia alimentado o rancor e o desejo de vingança todo esse
tempo. Ao ver que Abner estava prestes a fazer as pazes com Davi, Joabe
o matou antes que fosse tarde. Não consultou o rei. Fez tudo na surdina,
sem que Davi soubesse.
Joabe não era o tipo de pessoa que simplesmente obedecia. Era um líder
“esperto”. Fazia apenas o que lhe convinha. Tempos atrás, quando lhe
pareceu conveniente fazer um tratado de paz com Abner, ele o fez. Quando
convinha obedecer ao rei, ele obedecia. Quando julgou conveniente agir
em silêncio, assim ele agiu.
O rei Davi, quando recebeu a notícia da morte de Abner, ficou arrasado.
No enterro, o rei chorou diante da tumba. Lamentou o que havia sucedido
e desaprovou publicamente a atitude insensata de Joabe. No entanto, não
fez nada além disso. Em outras circunstâncias, uma desobediência como
aquela teria sido punida com a morte. Aparentemente, Joabe não perdeu
tempo e foi em busca do rei para lhe dar explicações. Existe explicação
para tudo, porém nada justifica um erro cometido intencionalmente. Joabe
era bom em dar explicações, em “mostrar serviço” e utilidade. Finalmente,
o rei o perdoou.
Complô político
Joabe reaparece no relato algum tempo depois, por ocasião da morte do
soldado Urias. Foi com Bate-Seba, a mulher do soldado, que o rei cometeu
adultério. A morte de Urias foi fruto de um homicídio, embora
“tecnicamente” se diga que ele pereceu nas mãos dos inimigos, no campo
de batalha. A verdade é que Joabe, de modo premeditado, pôs Urias em
uma situação de risco, para que viesse a morrer.
Nessa ocasião, Joabe se prestou a um trabalho sujo. Afinal, não tinha ele
sido perdoado pelo assassinato de Abner? Havia chegado o momento de
pagar sua “dívida de gratidão” ao rei. Ele fez isso sem escrúpulo algum. O
lema de Joabe parecia ser: “Faça o que lhe convém. Por que se importar
com questões de consciência?”
Esse tipo de líder existe ainda hoje. Talvez nunca manche as mãos com
sangue, mas, para manter um cargo e continuar subindo na carreira, vende
a própria consciência. Não é capaz de dizer o que pensa. Limita-se a baixar
a cabeça e obedecer.
Para líderes assim, a única coisa que importa é se dar bem em todas as
circunstâncias. Contudo, a vida somente vale a pena quando você é capaz
de se deitar à noite e dormir em paz, com a consciência tranquila. Se você
faz algo que sua consciência não aprova apenas porque lhe convém, fica
dividido interiormente. Fragmenta-se por dentro, e isso prejudica sua
autoestima. Sente que a sua coluna vertebral se quebra. Um líder assim não
é sábio.
É possível fazer boas ações por motivos equivocados? Claro que sim.
Mesmo de maneira inconsciente. Já dizia o profeta: “Enganoso é o coração
[...] e desesperadamente corrupto. Quem poderá entendê-lo?” (Jr 17:9).
Obsessão pelo poder
Certa ocasião, Amnom, filho de Davi, estuprou Tamar, irmã dele e de
Absalão. Davi não foi capaz de fazer justiça. Talvez porque, ao ver a
tragédia da família, ele se lembrava do próprio pecado e se via sem
autoridade moral para agir.
O tempo passou. Aparentemente, tudo estava esquecido. No entanto,
quando teve oportunidade, Absalão matou Amnom como vingança pelo
estupro da irmã. Como resultado, teve que fugir. Ficou três anos longe de
Davi. O rei sofria por causa do filho fugitivo, porém não o perdoava.
Um líder não pode ser feliz guardando ressentimento no coração. O
perdão beneficia quem é perdoado e ainda mais a pessoa que perdoa. Se,
por algum motivo, você não pode perdoar alguém, entende o que estou
dizendo. Pode até negar, aparentar que é feliz, mas no fundo algo o
incomoda, isso não lhe permite desfrutar a vida plenamente.
Mesmo sofrendo, Davi não perdoava. Então surge outra vez a figura de
Joabe. Ele queria ajudar o rei, mas não fazia nada sem segundas intenções.
Sempre escondia alguma carta debaixo da manga. O que Joabe fez?
Mandou trazer uma mulher de Tecoa e a instruiu a dizer exatamente o que
ele queria. A mulher fez conforme o combinado. Apresentou-se diante do
rei e repetiu tudo o que Joabe lhe dissera, palavra por palavra. Disse ao rei
que ele deveria perdoar Absalão. Forjou uma situação. Apresentou um
aparente caso próprio.
Durante a conversa, o rei percebeu a mão de Joabe no assunto. Ao ser
interrogada, a mulher confirmou. Resultado? Outro ponto a favor de Joabe.
Ele era desse jeito. Não há nada bom que ele possa nos ensinar, mas
podemos tirar boas lições por contraste. É possível aprender com os bons
exemplos e imitá-los. Também podemos evitar os erros que outros
cometeram.
Mais farsas
Algum tempo depois, em uma batalha com Absalão, o rei pediu a Joabe
que derrotasse o jovem rebelde, mas que lhe preservasse a vida. Em vez
disso, ao saber que Absalão havia ficado preso pelos cabelos, pendurado
em um carvalho, Joabe ordenou ao soldado que havia lhe trazido a notícia
que matasse o príncipe. Então lhe ofereceu dez ciclos de prata.
O que o soldado respondeu? “Ainda que me pusessem nas mãos mil
moedas de prata, não estenderia a mão contra o filho do rei, pois ouvimos
muito bem que o rei deu uma ordem ao senhor, a Abisai e a Itai, dizendo:
‘Poupem o jovem Absalão’” (2Sm 18:12).
Que contraste! Um simples soldado, anônimo, não venderia sua
consciência nem por mil siclos de prata, enquanto Joabe, o líder de
“renome”, um dos principais do reino, cheio de medalhas e condecorações,
pisava a própria consciência a fim de continuar sua ambiciosa escalada
rumo ao poder.
Nessa ocasião, Joabe tornou a desobedecer ao rei. Conhecendo o caráter
dele, podemos deduzir que aquele ato traiçoeiro de alguma forma lhe
convinha. Que triste é a vida de alguém que só age ou deixa de agir porque
as circunstâncias lhe convêm!
A traição
Depois da morte de Absalão, levantou-se outro indivíduo rebelde no
reino de Davi. O nome dele era Seba, filho de Bicri. Para cuidar do
assunto, o rei enviou um homem de sua confiança, Amasa. Depois da
morte de Absalão, Davi não confiava muito em Joabe.
Observe o que o rei prometeu a Amasa: “Você não é da mesma família
que eu? Que Deus me castigue se você não vier a ser para sempre
comandante do meu exército, em lugar de Joabe” (2Sm 19:13).
Você acha que Joabe aceitaria isso de braços cruzados? Claro que não!
Amasa se demorou no cumprimento da missão. Davi, por medo de que o
poder do inimigo aumentasse, enviou Joabe, que era primo de Amasa. No
entanto, isso não deteve as intenções de Joabe. No caminho, ele encontrou
Amasa, fingiu que ia beijá-lo e lhe cravou o punhal no abdômen. Com a
morte de Amasa, Joabe se tornou o principal general no exército de Davi.
Há alguma semelhança entre a atitude de Joabe e a de Judas?
O poder acaba
Entretanto, o poder acaba. Qualquer coisa que um líder faça levado por
motivações erradas tem consequências tristes, mais cedo ou mais tarde.
Joabe ambicionava o poder. Aparentemente, ele “serviu”, porém no fundo
do coração o que ele buscava não era servir. O serviço que ele prestava era
somente o trampolim para chegar aonde desejava. Matou, traiu, silenciou a
própria consciência e deixou de lado princípios e valores. Enfim, chegou
ao lugar ambicionado.
Davi já era um homem idoso. Uma das jovens do palácio lhe aquecia os
pés porque ele não podia dormir de tanto frio. Não tomava mais
conhecimento do que acontecia no reino. Então Adonias, um dos filhos
dele, proclamou-se rei, sem que Davi soubesse. Quem estava apoiando
Adonias? Ninguém menos que Joabe! Dessa vez, porém, a manobra deu
errado. Visto que Davi declarou Salomão como novo rei, os que apoiaram
Adonias tiveram que fugir.
E Joabe, o que fez? Correu para o templo e ficou segurando nos dois
chifres do altar. Esse ato era permitido aos que tivessem cometido um
crime sem premeditação. Tinham sido acidentais os crimes de Joabe? Toda
a vida dele não passava de uma série de intrigas e de delitos premeditados.
Ele ambicionava o poder. Sabia que não podia ser rei, mas ansiava ser a
principal autoridade e desfrutar os privilégios do poder. Só que dessa vez
as coisas não deram certo. Foi morto por ordem de Salomão. Uma vida de
sangue termina com sangue. Tudo o que o ser humano semeia, colherá.
Como a trajetória do Senhor Jesus foi diferente! Ele era o Ser mais
exaltado do Universo. Mesmo assim, despojou-Se de Sua posição, veio à
Terra para servir, e o Pai Lhe deu um nome acima de todo nome, e todas as
criaturas do Universo O reconhecem como o Soberano Rei.
Joabe não era nada, porém desejava conquistar tudo. Lutou e “trabalhou”
por isso. Trilhou caminhos tortuosos de intriga e traição, mas acabou sem
nada.
Quais são suas motivações? O que o faz ambicionar a liderança? A
resposta a essas questões será determinante para sua vida como líder.
Referências
Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 72, 73, 44.
4
O LÍDER SÁBIO DECIDE
“O justo serve de guia para o seu companheiro, mas o caminho
dos perversos os leva a andar errantes” (Provérbios 12:26).
A liderança é a arte de decidir, quer para o bem, quer para mal. “O justo
serve de guia para seu próximo, mas o caminho dos perversos os leva a
andar errantes”, diz Salomão (Pv 12:26). O líder decide o tempo todo. É o
seu labor diário. Se você assumiu um cargo de liderança, parte de sua
responsabilidade consiste em tomar decisões, mesmo que você não esteja
consciente disso. Essa é a realidade. Você tem que escolher caminhos,
recrutar pessoas, estabelecer metas, elaborar programas, planejar ações e
outras mil coisas.
Nem todos esses itens têm a mesma importância, porém todos requerem
decisões. Não há como ficar “em cima do muro”. Vacilar é fatal na
liderança. Um líder indeciso confunde e desanima a equipe, podendo
provocar um clima de rebeldia e anarquia.
O valor da decisão
As decisões são um assunto de vida ou morte. Não existe terreno neutro:
quem não avança, retrocede. A vantagem do líder cristão é que ele
encontra na Bíblia diretrizes para tomar decisões sábias. A obediência aos
princípios bíblicos de liderança não é algo que se possa fazer de qualquer
jeito. Cedo ou tarde, virão as terríveis consequências de menosprezar os
conselhos divinos.
Em relação a esses princípios, Salomão diz: “Tenha-os sempre
amarrados ao seu coração, pendura-os no seu pescoço” (Pv 6:21).O
coração é o lugar em que as decisões nascem. Na verdade, nascem na
mente, mas muitos escritores usam o coração como metáfora. Assim, o
conselho do sábio Salomão é que os ensinos divinos estejam no coração,
guiando, iluminando e ajudando a tomar as decisões certas.
Não é apenas uma questão de atitude exterior. Não se trata de aparentar
ser um bom líder. É o que há dentro de você, sua essência. As atitudes
exteriores funcionam enquanto são vistas pelas pessoas. A obediência
interior, por sua vez, brota do amor a Cristo, não importando se os demais
veem o que você faz ou não. A liderança autêntica é fruto da vida interior,
na qual Cristo deve ocupar o primeiro lugar.
O conselho de Salomão é que os princípios de vida sejam “pendurados
no pescoço”. Nos tempos de Salomão, as pessoas costumavam pendurar no
pescoço aquilo que tinham de mais precioso. A lição aí é que os conselhos
sagrados são tão preciosos que deveríamos nos orgulhar de observá-los,
mesmo que digam que somos antiquados em nossa decisão de obedecer a
Deus.
Observar os conselhos divinos o conduzirá por caminhos de paz e
prosperidade. Por isso Salomão diz: “Quando você andar, essa instrução o
guiará; quando você se deitar, ela o guardará; quando acordar, falará com
você. Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução é luz; e as
repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Pv 6:22, 23).
Os ensinos divinos
Os líderes se perguntam com frequência: “Que devo fazer diante dessa
situação?”; “Será que essa é a medida certa a ser tomada?”; “Como lidar
com um colaborador que resiste ao crescimento?” A resposta comum a
todos esses dilemas parece ser: “Não sei como agir.”
Quando há sombras, a pessoa realmente não sabe o que fazer. Não
enxerga na escuridão, não vê nada; quer sair, mas não encontra a saída.
Então Salomão diz que os conselhos divinos são lâmpada e luz que
iluminam as decisões. Davi escreveu algo similar: “Lâmpada para meus
pés é a Tua Palavra, é luz para os meus caminhos” (Sl 119:105).
Tanto Davi quanto o filho, Salomão, usam várias expressões para referir-
se aos princípios divinos de uma liderança feliz. Essas expressões são:
ensino, palavra, estatuto, conselho, mandamento, preceito, caminho, juízo.
Nos escritos de ambos, cada vez que se encontram as expressões “Lei do
Senhor” ou “Mandamentos de Deus”, elas não se referem somente aos Dez
Mandamentos de Êxodo 20, mas à Torá inteira, ou seja, à Bíblia daqueles
tempos.
No entanto, todos os ensinos divinos poderiam se resumir em apenas um
nome: Jesus. Ele é a Palavra e o Caminho. Guardar os mandamentos de
Deus no coração significa abrir-se para receber Jesus na vida. É o que diz
Paulo: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim” (Gl 2:19, 20).
Quando Jesus é o centro da vida do líder, os mandamentos de Deus são a
luz, o caminho e o guia que o ajudam a sair das dificuldades que o dia a
dia lhe apresenta. Jesus dirige a vida. Torna-Se o centro das motivações. E
qual é o resultado? Vida! Os ensinos divinos são luz e vida. Vida plena,
exuberante. Vida que vale a pena ser vivida. Vida com sentido. As
tribulações podem trazer momentos dolorosos, pois vivemos em um
mundo de pecado. No entanto, quando você tem Cristo e Seus
ensinamentos no coração, nada o intimida. Jesus realiza em você Suas
obras de vitória. Por isso Ele declarou: “Eu sou a luz do mundo. Quem Me
segue não andará em trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8:12).
Dessa maneira, fará boas escolhas.
Decisões sábias
O segredo para tomar boas decisões é andar em Cristo. “Então você
entenderá a justiça, o juízo e a equidade” (Pv 2:9). O verbo “entender” é
bem significativo. Para tomar boas decisões é preciso entender em que
consistem o direito, a justiça e a equidade. Contudo, em nosso mundo, os
valores foram postos de cabeça para baixo. Na opinião das pessoas de
hoje, os eternos princípios de Deus são negociáveis e adaptáveis a cada
geração. O que antes era justo pode não ser mais. “Os tempos mudaram”,
alguns dizem. Como tomar decisões sábias diante dessa forma de pensar?
Todo líder gostaria de saber o que é correto e justo na hora de tomar
decisões. Todos gostariam de saber o que é bom e o que é melhor. Não
acho que alguém, em sã consciência, queira errar intencionalmente.
Porém, o fato é que vivemos errando e criando problemas para nós e para
aqueles que amamos. O que nos falta? Falta-nos entender o significado
prático de direito, justiça e equidade. E isso somente é possível quando
temos sabedoria. E o que é a sabedoria? O temor de Deus! E o que é o
temor de Deus? Reconhecer que Deus é Deus e buscáLo todos os dias em
oração e mediante o estudo da Bíblia.
Parece simples e de fato é simples. No entanto, nós complicamos tudo ao
nos afastarmos de Deus e ao ignorá-Lo; ao nos isolarmos, escolhendo os
próprios caminhos. Arrumamos confusão quando pensamos que, pelo fato
de possuirmos conhecimento das mais avançadas técnicas de liderança,
estamos capacitados para resolver os problemas sozinhos.
Saber viver. Não errar. Tomar as decisões certas. Isso nos levaria a uma
liderança de excelência. Isso ocorre quando se vive uma experiência de
comunhão diária com Cristo, fonte de sabedoria.
Somente Jesus é capaz de livrar o líder de tomar decisões equivocadas.
“Porque a sabedoria entrará no seu coração, e o conhecimento será
agradável à sua alma. O discernimento o guardará, e o entendimento o
protegerá. A sabedoria o livrará do caminho do mal e do homem que diz
coisas perversas; dos que abandonam as veredas da retidão, para andarem
pelos caminhos das trevas; dos que têm prazer em fazer o mal e se alegram
com as perversidades dos maus” (Pv 2:10-14).
Será que poderíamos afirmar que “dizer coisas perversas” e “andar pelos
caminhos das trevas” são tendências humanas do coração natural? Sim, é
bem possível. Porém, a Palavra de Deus promete que se você entregar seu
caminho ao Senhor, Ele guiará seus passos e o ajudará a tomar decisões
sábias.
Busca a Deus
Sendo assim, antes de tomar qualquer decisão, o líder sábio busca a
orientação de Deus. Pede sabedoria. Há circunstâncias complicadas que a
mente humana não consegue entender, muito menos solucionar. O impulso
natural do coração humano é tomar decisões movidas pela emoção. Uma
decisão meramente emocional pode ser fatídica, pois as emoções nos
traem. Quando as coisas vão mal, as emoções fazem você achar que está
tudo bem e vice-versa. Por isso Jeremias declara: “Enganoso é o coração,
mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Quem poderá
entendê-lo?” (Jr 17:9).
No entanto, quando você vai a Deus, Ele toma seu frágil ser nas mãos
Dele e o capacita a ver as pessoas, as circunstâncias e as coisas do jeito
que Ele as vê. Então você passa a enxergar a vida com os óculos de Deus.
Daí você não julga o que vê impelido por suas emoções, mas de acordo
com a Palavra de Deus. Os princípios bíblicos passam a orientar e definir
suas decisões.
Essa é a razão do conselho de Salomão: “Confie no SENHOR de todo o seu
coração e não se apoie no seu próprio entendimento. Reconheça o SENHOR
em todos os seus caminhos, e Ele endireitará as suas veredas. Não seja
sábio aos seus próprios olhos; tema ao SENHOR e afaste-se do mal” (Pv 3:5-
7).
Avalie as consequências
O líder sábio está sempre um passo à frente. Primeiro, ele pede a Deus
sabedoria; depois estabelece objetivos; em terceiro lugar, analisa as
consequências da decisão que vai tomar, antes de colocá-la em prática.
Jesus ensinou: “Pois qual de vocês, pretendendo construir uma torre, não
se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para
a concluir? Para não acontecer que, tendo lançado os alicerces e não a
podendo terminar a construção, todos os que a virem zombem dele,
dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde acabar’” (Lc 14:28-
30).O homem da parábola não pensou antes de decidir. Não avaliou as
consequências, não analisou os recursos disponíveis. O resultado foi o
vexame público. Todos riram dele.
Na parábola, era apenas uma torre que estava sendo construída; uma
coisa sem vida; algo que não sofria, não chorava nem se alegrava. No
entanto, quem lidera pessoas constrói vidas, afeta seres humanos, realiza
sonhos. Essa é a diferença!
Às vezes, o que nos leva a tomar decisões sem refletir devidamente é a
pressão, especialmente no ambiente cristão. Espera-se que o líder cristão
seja um homem ou uma mulher de fé. Surge então a pressão do fervor: “Se
eu não me aventurar, dirão que não tenho fé.” Então tomamos uma decisão
sem avaliar as consequências. Jesus contou outra parábola a esse respeito:
“Qual é o rei que, indo combater outro rei, não se assenta primeiro para
calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele
com vinte mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma
embaixada, pedindo condições de paz” (Lc 14:31, 32).
O que mais impressiona é a maneira como Jesus termina o relato dessa
parábola: “Assim, pois, qualquer um de vocês que não renuncia a tudo
quanto tem não pode ser Meu discípulo” (Lc 14:33). O verbo “renunciar” é
eloquente. Não se trata de renunciar aos sonhos nem aos projetos, mas
renunciar ao eu. Você não pode enfrentar um inimigo que vem ao seu
encontro com vinte mil soldados, se não tiver os recursos necessários para
vencê-lo. A pergunta-chave que todo líder deveria fazer é: “Até que ponto
minha fé é realmente confiança em Deus e em que medida é presunção ou
confiança excessiva em minha capacidade?” Antes de decidir, pense nisso!
Consulte os superiores
O líder sábio nunca faz as coisas na surdina, de modo solitário ou
aconselhando-se apenas com os membros da equipe. É necessário também
consultar os superiores. Geralmente, eles estão onde estão porque
trilharam o caminho que estamos percorrendo agora. A experiência é algo
que não se compra. Adquire-se ao longo da vida. Por que não aproveitar o
conselho daqueles que passaram por circunstâncias semelhantes? É sábio
submeter nossos planos ao escrutínio dos colegas superiores cuja opinião e
experiência nos inspiram confiança.
Mesmo quando a aprovação deles não for necessária, eles estarão mais
dispostos a apoiar o projeto se estiverem informados de tudo ao longo do
processo decisório.
Que Deus lhe conceda sabedoria para tomar as decisões certas!
5
O LÍDER SÁBIO CONHECE
SEU VALOR
“Muitos proclamam a própria bondade, mas alguém que é digno de
confiança, quem o achará?” (Provérbios 20:6).
Depois de algumas horas tentando ver algo na superfície da água, o rei
voltou frustrado ao palácio e questionou seu velho e sábio conselheiro:
– Não pude ver nada no lago. Deixe de fazer suspense e me diga de uma
vez quem é meu pior inimigo.
– É incrível que Vossa Majestade não tenha percebido! – respondeu o
sábio. – Estava bem diante de seus olhos, refletido nas águas. O próprio
rei, meu senhor, é seu pior inimigo. Quando exerce autoridade, Vossa
Majestade não quer entender a situação, mas apenas dirigir, controlar.
Porém, nem mesmo sabe o que fazer ou para onde deseja conduzir o povo.
Tem um enorme exército, mas de nada lhe serve. As tropas assim como
Vossa Majestade estão tomados por uma soberba tão grande que não
conseguem ver as próprias necessidades. Meu rei está prejudicando a si
mesmo, bem como ao povo. Está perdido. Neste momento, Vossa
Majestade é seu pior inimigo.
Pode parecer engraçado, mas há líderes como esse rei. Querem saber
quem são seus inimigos. Procuram em todo lugar a fim de descobrir algum
complô imaginário, mas ignoram que o maior inimigo está dentro deles.
Um líder que não conhece a si mesmo, sendo incapaz de reconhecer as
próprias qualidades e limitações, dificilmente poderá liderar. Corre o risco
de pensar que é águia pelo simples fato de ter asas.
A mulher samaritana
Pense na mulher samaritana. Ela ia todos os dias ao poço, ao meio-dia,
para buscar água. Fazia isso de caso pensado. Achava que os samaritanos
eram homens e mulheres cheios de preconceitos e não desejava vê-los nem
ser vista por eles. Escolheu a hora mais quente do dia para pegar água, pois
sabia que era o momento em que a rua estaria deserta, sem ninguém.
Contudo, naquele dia encontrou Jesus, e Ele fez a diferença na vida
daquela mulher. O Mestre lhe pediu água, e ela lhe respondeu:
– Mas como é que um homem judeu vem pedir água a mim, que sou
samaritana?
Até aquele momento, ela havia pensado que os preconceituosos eram os
samaritanos. Somente diante da presença de Jesus descobriu que a campeã
do preconceito era ela mesma. Só Jesus é capaz de despertar a consciência
do próprio ser. Sem Ele, é impossível ter uma ideia correta do valor que
você tem.
No texto do profeta Jeremias, citado anteriormente, há outro pensamento
muito interessante. “Eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça
na terra; porque destas coisas me agrado.” Misericórdia, juízo e justiça não
seriam exatamente as qualidades de um líder sábio? De fato, são as
qualidades próprias das pessoas que têm a chamada inteligência
emocional. Você deseja ser um líder misericordioso e justo? Então procure
entender e conhecer melhor quem é Deus. Ele é o Autor da sabedoria.
Energia desperdiçada
O líder sábio deve fazer o que é correto do modo certo. Por isso o
apóstolo Paulo diz: “Portanto, tenham cuidado com a maneira como vocês
vivem, e vivam não como tolos, mas como sábios, aproveitando bem o
tempo, porque os dias são maus” (Ef 5:15, 16).
O apóstolo relaciona a falta de sabedoria ao desperdício de tempo e
energia. Por quê? Porque a liderança de alguém que não tem consciência
do próprio valor é, literalmente, uma perda de tempo, trabalho jogado fora.
Ele luta contra inimigos imaginários. Ignora que seu pior inimigo é ele
mesmo. Torna-se um líder frio, calculista. Persegue as pessoas capazes e
dificulta a vida delas. Teme trabalhar com indivíduos que sabem pensar,
pois os vê como possíveis rivais. Escolhe colaboradores que dizem “sim” a
tudo e que não teriam coragem para levá-lo a ver os erros que comete.
As empresas, as instituições em geral e até as igrejas estão sujeitas ao
risco de recorrer a líderes assim.
A um passo do sonho
O povo de Israel tinha chegado à fronteira de Canaã. O sonho estava
prestes a se realizar. A peregrinação quase havia terminado. Um pouco
mais, e entrariam na terra tão sonhada. Teria valido a pena a dor e o
sofrimento que enfrentaram no deserto? Claro que sim! Mas o que
realmente importava não eram as penúrias sofridas, e sim os milagres e a
demonstração do amor e do poder de Deus ao longo da jornada.
O Senhor havia libertado Seu povo da escravidão. As pragas que caíram
sobre o Egito foram uma demonstração irrefutável do poder do Deus de
Israel. Também a maneira extraordinária como o Mar Vermelho se abriu, o
maná diário, a água fluindo da rocha, enfim. Seria impossível mencionar
todos os detalhes de Seu amor e cuidado.
A vida dos líderes sábios, sonhadores e visionários é permeada por
milagres. As grandes conquistas que alcançam não são resultado da
habilidade humana, e sim do que Deus faz por intermédio deles. Por isso
são sonhadores! Seus sonhos não são fantasias fabricadas na usina dos
desejos corriqueiros, mas visões otimistas bem alicerçadas na sólida Rocha
da história testemunhada. Parafraseando uma grande escritora, eu diria: O
líder nada tem a temer em relação ao futuro, a menos que se esqueça da
maneira prodigiosa como Deus o guiou no passado.
Doze líderes
No caso de Israel, as agruras do deserto eram coisa do passado. Estavam
a um passo do cumprimento da promessa. Então Moisés escolheu doze
homens para inspecionar a Terra Prometida. Um líder sábio jamais faz as
coisas sem um plano preestabelecido. A improvisação não é própria de
líderes que bebem na Fonte da sabedoria divina.
Deus havia ordenado a Moisés: “Envie alguns homens que espiem a terra
de Canaã, que Eu vou dar aos filhos de Israel. Enviem um homem de cada
tribo de seus pais, sendo cada qual chefe entre eles” (Nm 13:2). Esses doze
homens eram líderes. A Bíblia os descreve como “chefes”, ou seja, eram
os mais altos representantes de cada tribo. Eles foram lá e contemplaram
as maravilhas do lugar, uma terra pródiga, de abundância, da qual
manavam leite e mel. Terra produtiva e fértil! Terra que, “em se plantando,
tudo dá”.
Os doze líderes voltaram trazendo uma mostra dos frutos. Foram
necessários dois homens para carregar um só cacho de uvas. Que
maravilha! Quem não deseja o melhor do melhor? Quem não sonha em
chegar ao topo, realizando seus ideais? Seria fascinante se as coisas boas
da vida pudessem ser alcançadas com o simples desejo.
Contudo, na vida real é diferente. Sonhos vãos ou fantasiosos cedo ou
tarde se transformam em terríveis pesadelos. É preciso ir além do sonho. O
líder visionário vai além. No caso dos espias enviados por Moisés, nem
todos tinham sonhos e visões. Muitos dentre eles eram calculistas, frios.
Avançavam somente quando sentiam que havia terra firme sob os pés.
Falta de sonhos
Dez líderes trouxeram a Moisés um relatório negativo, pessimista,
carente de sonhos e visões. Eles provavelmente se considerassem
“realistas”. Embora não negassem as maravilhas da terra, ficaram mais
impressionados com as dificuldades. Foram incapazes de ver além daquilo
que os olhos físicos enxergaram. A realidade cruel da terra habitada por
inimigos poderosos lhes arrebatou a coisa mais preciosa que um líder pode
ter: a capacidade de sonhar.
O resultado foi uma calamidade. O povo se desesperou e começou a
murmurar. Dez líderes sem sonhos alvoraçaram as pessoas e as
desanimaram. Que tragédia! As dificuldades para conquistar aquela terra
eram reais. As campinas de Canaã pertenciam a um povo guerreiro, forte e
combativo. Os cananeus não entregariam a terra deles com facilidade. Essa
era a realidade. Contudo, o líder precisa ser capaz de enxergar além dos
simples fatos da realidade.
A vida é assim. Os problemas e as dificuldades são o pão de cada dia na
vida de todo líder. Deus nunca prometeu a ninguém uma vida fácil.
Quando o pecado entrou no mundo, surgiram os problemas. Eles são parte
de nossa experiência diária. No entanto, Deus prometeu que, se você
confiar Nele, será capaz de enfrentar os problemas e solucioná-los. O
Senhor jamais lhe prometeu que, se confiar Nele, não terá problemas. A
promessa divina é que, em meio às dificuldades, Ele estará com você e não
o abandonará. “Quando você passar pelas águas, Eu estarei com você;
quando passar pelos rios, eles não o submergirão; quando passar pelo fogo,
você não se queimará; as chamas não o atingirão” (Is 43:2).
Deus conduziu Seu povo pelo deserto, não foi? Por que então o deixaria
abandonado nas mãos do inimigo? Aqueles dez líderes careciam de
sonhos, confiança e fé. Estavam dominados pelo medo, e o medo tem o
poder de distorcer a realidade. Faz você enxergar fantasmas onde não
existem.
Eles disseram que aquela terra “devorava” os inimigos. Não era verdade!
Estavam exagerando! Do contrário, eles não teriam conseguido voltar de lá
com vida, certo? Disseram também que, em comparação com os cananeus,
os israelitas eram como gafanhotos.
O medo distorce a realidade. Faz-nos ver as coisas como piores do que
realmente são. Leva o indivíduo temeroso a afogar-se em um copo d’água.
Rouba-lhe a capacidade de sonhar. Afunda-o na areia movediça da
mediocridade contagiosa.
Líderes sonhadores
Observe a reação de Josué e Calebe, líderes sonhadores e de visão. Eles
também não negaram a realidade. De fato, reconheceram que o problema
existia, mas eram homens de fé, e a fé faz a diferença.
“Vamos subir agora e tomar posse da terra”, afirmou Calebe, “porque
somos perfeitamente capazes de fazer isso” (Nm 13:30). Essa atitude
visionária de Calebe era resultado da comunhão pessoal com Deus. Ele
conhecia o Senhor. Lembrava-se da promessa feita tempos atrás não só a
Moisés, mas também a Abraão: “Erga os olhos e olhe de onde você está
para o norte, para o sul, para o leste e para o oeste; porque toda essa terra
que você está vendo, Eu a darei, a você e à sua descendência, para sempre”
(Gn 13:14, 15). A ordem divina não era: “Erga os olhos e veja os
problemas.” Deus disse: “Erga os olhos e olhe [...] porque toda essa terra
que você está vendo, Eu a darei, a você e à sua descendência”.
Isto é ter visão: olhar além da realidade presente, confiando no poder de
Deus. Apoderar-se da terra significava luta, guerra e sofrimento, mas
Calebe sabia que o mesmo Deus que os havia conduzido no passado os
levaria até o final com êxito. Ele olhou o que existia para além dos
problemas. A noite estava envolta em trevas, mas os sonhadores
conseguem vislumbrar o sol de um novo dia mesmo antes do amanhecer.
O preço da mentira
Um dos temas do capítulo 6 de Provérbios é a honestidade. A estrutura
desse capítulo é interessante. Começa falando do valor dos mandamentos;
trazem luz e vida. Portanto, é necessário guardá-los no coração e atá-los ao
pescoço, uma referência ao valor interior e exterior dos ensinamentos
divinos.
Depois, o rei sábio introduz o tema do adultério, enfatizando que os
mandamentos serão uma espécie de escudo protetor tanto contra a mulher
quanto o homem estranhos. O tema do adultério vai até o fim do capítulo,
que termina no verso 35. No entanto, nos versos 30 e 31, o sábio introduz
um tema curto: “Não se despreza o ladrão, quando, faminto, rouba para
matar a fome. Pois este, ao ser apanhado, pagará sete vezes tanto;
entregará todos os bens de sua casa.”
Por que Salomão coloca esses dois versos sobre roubar entre os que
falam sobre o tema do adultério? Por duas razões: primeira, não há
diferença entre os pecados: pecado é pecado. Não vale a pena racionalizar,
nem justificar, nem explicar. Não vale a pena comparar um pecado com
outro e dizer que um é mais leve que o outro. E também não cabe dizer
que, no caso do ladrão, foi por causa da fome, devido à necessidade ou às
circunstâncias. Pecado é pecado, e a única coisa que se pode fazer diante
dele é arrepender-se, pedir perdão, abandoná- lo e reparar o que for
possível.
A segunda razão é que, tal como o roubo, o adultério é um ato de
desonestidade. No furto, coisas são subtraídas. No adultério, são vidas.
Talvez por isso, do ponto de vista humano, o adultério nos pareça um
pecado mais horrível e escandaloso. Contudo, quer seja um, quer outro, a
reflexão de Salomão a esse respeito é: “Poderá alguém carregar fogo no
colo, sem que as suas roupas se incendeiem? Ou andará alguém sobre
brasas, sem que os seus pés se queimem?” (Pv 6:27, 28).Cedo ou tarde, o
pecado trará consequências tristes e dolorosas. Esse é o recado.
A mentira
Salomão diz: “A falsa testemunha não ficará impune, e o que profere
mentiras perecerá” (Pv 19:9). Duas consequências tristes há para o
mentiroso: será castigado e destruído. Como? A mentira é a caverna escura
onde nos escondemos por medo de que os demais nos conheçam como
realmente somos. No entanto, o ser humano procede das mãos de um Deus
verdadeiro. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6).
Portanto, o ser humano foi criado para a verdade. O homem e a mulher se
esconderam como consequência do pecado. Antes da queda, a vida deles
era transparente e cristalina. Eles eram plenamente felizes.
Hoje, embora a mentira esteja inscrita nas células mais íntimas do ser
humano, o homem e a mulher não podem ser felizes vivendo na falsidade,
contando mentiras. Este é o pior castigo do mentiroso: seu mundo interior
é destruído pelas fantasias que ele próprio inventa. Um exemplo disso é
pensar uma coisa e fazer outra bem diferente. É mostrar a imagem de algo
que não somos. Ocultação deliberada. A pessoa dizer que sabe, quando
não sabe.
Se é errado mentir para os outros, pior ainda é mentir para si mesmo. A
verdade é que há pessoas que gostam de mentir. Vivem em um mundo
inventado. Movidas pela insegurança e incapacidade de confiar, afundam
no pântano da irrealidade.
A única solução para a mentira é Cristo. O líder sábio não mente. Quanto
mais perto estiver da Pessoa Verdade, que é Cristo, mais transparente e
cristalina sua vida se mostrará. Assim, será mais feliz e fará mais felizes as
pessoas com quem vier a se relacionar.
Cuidado! Perigo!
Como saber se você está deslizando pelo caminho sutil da falta de
verdade? Simples: Quando você começa a inventar desculpas no afã de
“explicar” sua falta de responsabilidade. Você sai de casa tarde e diz que
se atrasou porque havia muito trânsito. Você precisa levar o filho ao
dentista, mas sai dizendo que tem um compromisso de trabalho. Isso
acontece quando você toma uma situação real e lhe dá dimensões irreais.
As crises existem, mas não são fantasmas invencíveis. O exagero não
gera na alma de sua equipe o desejo de lutar com força. Ao contrário, gera
desconfiança no líder.
Você mente quando, como dirigente, promete algo – que sabe que não
vai cumprir –, mas faz isso somente para sair da situação difícil na qual
está. Por exemplo, sabe que não tem uma vaga na instituição, mas diz à
pessoa necessitada do trabalho que vai pensar no assunto com carinho.
Fuja da mentira. Busque a Jesus, a Verdade eterna, e permita que o
caráter puro e honesto do Salvador seja refletido em sua vida.
Referências
1
Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 40 [57].
8
O LÍDER SÁBIO É HUMILDE
“Quando vem a soberba, a desgraça não tarda, mas com os
humildes está a sabedoria” (Provérbios 11:2).
A humildade é a qualidade natural dos que chegam a conhecer a si
mesmos. “Com os humildes está a sabedoria.” Que verdade extraordinária!
Salomão disse isso há mais de 25 séculos. Contudo, os gurus mais
destacados na área de liderança hoje se entusiasmam com essa qualidade
como se tivessem acabado de fazer uma descoberta revolucionária.
O livro O Monge e o Executivo, de James Hunter, tornou-se da noite para
o dia no livro mais lido entre pessoas que ocupam cargos de liderança.
Nesse livro, conta-se a história de John Daily, um brilhante homem de
negócios que, de repente, percebe seu fracasso como chefe e como ser
humano.
Em busca de uma solução para sua lamentável realidade, Daily participa
de um retiro sobre liderança em um mosteiro beneditino, dirigido pelo
frade Leonard Hoffman, renomado empresário estadunidense que havia
abandonado tudo em busca de um novo sentido para a existência. No
mosteiro, Daily descobre que o líder precisa ser um homem disposto a
servir, e não a ser servido. Deve ser humilde e reconhecer que o poder não
é um instrumento de opressão, e sim uma ferramenta para construir a
felicidade dos demais. Aprende que um ser humano feliz será um
funcionário produtivo.
O que surpreende é que o conselho do monge ao empresário ecoa
ensinamentos bíblicos de 25 séculos antes. Que ironia, especialmente para
os líderes cristãos que, durante algum tempo, fizeram dessa leitura seu
livro de cabeceira!
Hoje não existe um seminário de liderança no mundo dos negócios que
não dedique tempo para falar dos benefícios de reconhecer que uma pessoa
jamais terá todas as respostas. Portanto, necessita aceitar suas limitações.
Lazlo Bock, por exemplo, autor do livro Work Rules [Regras de
Trabalho], indica que a humildade é uma das características que as
empresas buscam nas pessoas ao contratá-las. Bock não se refere apenas à
criação de espaços e meios destinados a acolher a contribuição dos
liderados, mas também à humildade intelectual que leva o líder a aprender.
Ele argumenta que, em um mercado globalizado, os problemas são cada
vez mais complexos, e uma pessoa só jamais consegue ter todas as
respostas.
A humildade é, sem dúvida, uma das qualidades de todo líder sábio. A
palavra “humildade” provém da raiz latina humus, que significa “terra”.
Dessa raiz também deriva a palavra “humano”. A humildade, portanto, é a
capacidade de reconhecer que somos humanos. Tudo o que somos e temos
provém de Deus.
O soberbo é altivo
A terceira característica dos soberbos é a altivez. “Há pessoas cujos
olhos são arrogantes e que olham para os outros com desdém! Há pessoas
cujos dentes são espadas, e cujas mandíbulas são facas, para consumirem
os aflitos da terra e os necessitados deste mundo” (Pv 30:13, 14).
O orgulhoso olha de cima para baixo. O altivo ou prepotente deseja que
todos façam o que ele diz. Vale-se da força da posição que ocupa com o
propósito de exercer a própria vontade. Chega a ponto de consumir “os
aflitos da terra e os necessitados deste mundo”.
O valor do apreço
Os seres humanos não avançam sem motivação. A necessidade de
reconhecimento é vital para nós. Uns precisam disso mais do que outros,
porém uma palavra de apreço e de valorização fortalece os ideais, os
sonhos e a vontade de servir de quem quer que seja. Você encontrará
pessoas que, com uma palavra de apreço, ficarão felizes instantaneamente.
É fácil notar. Outros escondem a emoção, agradecem, e é como se nada
tivesse acontecido. No entanto, se você as observar com atenção, verá que
a palavra dita teve o efeito desejado.
O capítulo 18 de Provérbios fala do poder das palavras. Elas são a
expressão dos pensamentos e dos sentimentos. Têm poder para construir
ou destruir. Na maioria das vezes não medimos o impacto de uma palavra.
Dizemos coisas sem pensar. Não percebemos o que dizemos e muito
menos as consequências. Ou, simplesmente, não dizemos nada. Este é um
“luxo” ao qual o líder não pode se dar jamais. Com palavras é possível
ferir e ofender ou entusiasmar e motivar as pessoas, afetando os
relacionamentos, o bem-estar e a convivência do grupo que lideramos.
Saber dizer
Naturalmente, usar as palavras com sabedoria não significa reprimir
sentimentos, ocultar opiniões ou deixar de corrigir uma situação
equivocada. Pode-se dizer tudo respeitando o ser humano, valorizando-o,
ou seja, de maneira amável, amorosa e cortês. O que faz a observação do
líder ser construtiva ou destrutiva não é o que ele diz, e sim “como” diz. O
tom de voz e os gestos que acompanham as palavras são chave para que o
efeito delas seja positivo ou negativo.
Salomão declarou: “As palavras de uma pessoa são águas profundas, e a
fonte da sabedoria é um ribeiro que transborda” (Pv 18:4). A expressão
“águas profundas” ilustra o quanto é delicado dizer algo. O poder das
palavras é misterioso, porém real. Se você não tem a capacidade de
guardar ar nos pulmões por muito tempo, não se aventure a mergulhar em
águas profundas. De igual modo, se não consegue usar as palavras com
sabedoria, não se aventure a liderar!
Conheço pessoas magoadas por uma palavra dita em um momento
inoportuno, de maneira imprópria. Conheço também pessoas cuja vida foi
transformada por uma palavra acertada, dita no momento exato. As coisas
que dizemos e o modo como dizemos afetam nossos relacionamentos. São
capazes de nos aproximar ou nos distanciar de nossos colaboradores. Uma
frase pode ser uma carícia memorável ou uma cicatriz deixada pelo resto
da vida. As palavras podem ser janelas abertas ou muros inquebrantáveis!
Somente Deus é capaz de conceder sabedoria para o bom uso das
palavras. Contudo, cabe a nós aprender a dizer as coisas com propriedade,
pois assim nossas relações serão evidentemente mais saudáveis e
edificantes. Observe o que diz Ellen White:
Jesus não suprimia sequer uma palavra da verdade, mas falava
sempre com amor. Ele tinha tato e prestava bondosa atenção ao
interagir com as pessoas. Nunca Se mostrava rude, jamais
pronunciava uma palavra severa sem necessidade e evitava causar
dor desnecessária a uma pessoa sensível. Ele não censurava a
fraqueza humana. Falava a verdade, mas sempre com amor.
Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a iniquidade, mas Suas
repreensões rigorosas eram sempre proferidas com lágrimas e
tristeza. Chorou por Jerusalém, a cidade que Ele amava, a qual se
recusou a receber Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Os
líderes rejeitaram o Salvador, mas Ele os considerava com
compassiva ternura. Sua vida foi de abnegação e repleta de cuidado
pelos outros. Cada pessoa era preciosa a Seus olhos. Embora sempre
Se apresentasse com divina dignidade, inclinava-Se com amorosa
compaixão para atender a cada membro da família de Deus. Ele via
as pessoas como seres perdidos, cuja salvação era objeto de Sua
missão.
Assim é o caráter de Cristo, como foi revelado em Sua vida. Esse
também é o caráter de Deus. Do coração do Pai é que brotam as
torrentes da divina compaixão manifestada em Cristo, fluindo até
alcançar os filhos dos homens.
Guardar silêncio
Devido à sua função, o líder normalmente toma conhecimento de muitas
coisas. Às vezes, são questões delicadas e pessoais. A ética requer dele que
guarde silêncio e seja discreto. Comentários levianos destroem mais vidas
do que você possa imaginar. Se existe alguém que precisa ser cuidadoso
com o uso do que sabe é o líder.
As pessoas têm o direito de dizer o que quiserem: podem acusar, agredir,
comentar, difundir intrigas e muito mais. Veja em que as redes sociais se
transformaram: no campo de cultivo da irresponsabilidade. O líder, porém,
precisa estar acima da mediocridade humana.
Em certa ocasião, entrei na sala de meu presidente. Ele estava lendo uma
carta. Os olhos dele, úmidos, brilhavam além do normal. Era evidente que
aquela carta havia tocado suas emoções. Ele me estendeu a folha de papel
e perguntou:
– O que podemos fazer?
Eu conhecia bem o caso. Tinha participado da decisão. Era uma história
delicada e triste, porém a pessoa implicada havia contado uma versão
irreal da história aos familiares dela, e um deles havia escrito uma carta
cheia de agressões ao presidente.
– O que fazer? – respondi, consternado. – Devemos abrir o jogo e contar-
lhe a verdade?
– Não – continuou o presidente. – Nós somos líderes. Esse é o preço da
liderança.
– Mas vão espalhar a mentira, e as pessoas vão acreditar no que
disserem!
– Pode ser, mas esse é o preço da liderança. Eles podem fazer isso, nós
não.
Assim são as coisas no mundo real. A mentira pode dar a impressão de
que saiu vitoriosa. Mas por pouco tempo. A verdade, porém, é
indestrutível. Não precisa de ajuda. Emerge soberana das turbulências. O
tempo é um juiz implacável. Por isso, jamais perca tempo tentando
“esclarecer” as coisas. A verdade não precisa ser esclarecida. Nunca
permita que uma minoria barulhenta governe suas decisões. A maioria das
pessoas não está interessada no que uns poucos dirão e escreverão. Está
comprometida com os sonhos que você é capaz de inspirar.
Pagar o mal com o bem
Essa é outra maneira de cultivar relacionamentos saudáveis. Salomão
diz: “O bom senso leva a pessoa a controlar a sua ira; a sua glória é
perdoar as ofensas” (Pv 19:11).Ninguém é tão louco a ponto de reagir mal
quando tratado bem. O amor e a generosidade despertam nos outros esses
mesmos sentimentos. A honra do homem sábio é passar por alto a ofensa
dos demais.
Costumamos dizer: “Quando um não quer, dois não brigam.” A vida é
assim. Para que existam problemas de relacionamento, duas pessoas têm
que estar dispostas a entrar em conflito. Geralmente o líder, por ter o
controle do poder, corre o risco de acreditar que, se não responder à outra
pessoa, é porque lhe falta autoridade. Na verdade, é a sabedoria que o faz
evitar os embates desnecessários.
Nada de vingança
O líder tem constantemente a oportunidade de “cobrar com juros” os
aparentes agravos de um colaborador. O conselho bíblico, porém, é: “Não
diga: ‘Vou me vingar do mal’; espere no SENHOR, e Ele o livrará” (Pv
20:22).
A vingança é uma reação humana. E o conselho de Salomão dá a
impressão de que Deus deseja que você aceite passivamente as ofensas que
as pessoas cometam contra você.
Por que razão o líder sábio deveria suportar em silêncio as atitudes
malcriadas de um colaborador indisciplinado? A vingança causa mais dano
em quem a executa do que naquele que é alvo dela. Qualquer tipo de
vingança, antes de se tornar realidade, é um coquetel de emoções
negativas: ódio, raiva, rancor e ira: sentimentos próprios do coração
natural. Mas o fato de serem naturais não significa que sejam corretas. Ao
contrário, é veneno que destrói o coração; ácido que corrói valores,
princípios e, além de tudo, a paz do coração.
Quando você alimenta o desejo de vingança, será escravo desse
sentimento, dia e noite. Não será feliz. A melhor opção é entregar a
vingança a Deus. Ele sabe de tudo o que lhe fizeram e porá as coisas em
ordem no devido tempo.
O que é justiça
A palavra justiça, segundo o dicionário, expressa o conceito de equidade,
igualdade e correção. Ainda assim, os seres humanos discutem muito o
conceito de justiça. Isso ocorre desde antes de Cristo até os nossos dias.
Na opinião de Platão, por exemplo, o indivíduo deveria sair da escuridão,
da caverna do desconhecimento, em direção à luz, para ser justo. De
acordo com essa maneira de ver, a pessoa se tornaria mais justa à medida
que crescesse em conhecimento.
Para Aristóteles, justiça é dar a cada cidadão a parte que lhe cabe
conforme suas necessidades e de acordo com a contribuição que tenha
dado à sociedade. Ao mencionar a contribuição de cada indivíduo à
sociedade, Aristóteles se complica. Hoje, ninguém aceitaria uma ideia de
justiça preferencial baseada nesse padrão. Até os delinquentes devem ser
julgados com equidade.
Kant dizia que a justiça, para ter esse nome, deveria observar três
princípios fundamentais: a liberdade, a igualdade e a independência de
cada membro do grupo. Kant afirma que, para haver justiça, não é
necessário um acordo coletivo; basta que cada indivíduo tenha esses
conceitos em mente e aja como um ser moral. Ele contempla a ideia de
justiça como algo inerente a cada pessoa.
Para Kelsen, a justiça é um direito natural que todo ser humano tem e
contra o qual ninguém pode se opor. Ele distingue o direito natural do
direito positivo, afirmando que o primeiro nasce do coração, dos valores
interiores, enquanto o segundo nasce das leis estabelecidas.
A justiça humana é insuficiente
Todos esses conceitos são humanos e servem de fundamento para o que
nós entendemos por justiça. O conceito tem a ver, basicamente, com leis e
determinações sociais. Alguns filósofos, como Kant e Kelsen, veem as leis
como insuficientes. Daí eles teorizam sobre o mundo interior de cada
pessoa, mas não sabem definir com exatidão do que se trata.
É evidente que o ser humano, na busca por justiça, não está satisfeito
com os padrões praticados atualmente. Muitos desses padrões são bons,
mas não bastam para prover uma justiça satisfatória.
O ideal de justiça dos seres humanos parece maravilhoso. Observe, por
exemplo, o símbolo da justiça: uma mulher de olhos vendados com uma
balança na mão. Por meio dessa imagem, tenta- se representar uma justiça
que não “olha” para quem será julgado, ou seja, que não age de modo
parcial, mas de forma equitativa. Uma justiça que trata a todos com
igualdade, independentemente de etnia, gênero, nacionalidade ou nível
social, econômico ou cultural. É a ideia de que todos são iguais perante a
lei.
Na teoria, isso é extraordinário. Na prática, o que ocorre é que muitos
líderes tiram a venda dos olhos para fazer as coisas como lhes convêm ou
para ver se há alguém de sua preferência na disputa pela justiça.
O ser humano natural é incapaz de aplicar a justiça, pois seu coração
manchado de egoísmo o incapacita. Pode filosofar, escrever livros
definindo o que é justo, especializar-se no ramo do direito, mas, se não
tiver Deus, por melhores que sejam suas intenções, sua forma de proceder
será injusta.
A justiça e os pobres
Os pobres aos quais nos referimos aqui não são apenas os carentes do
ponto de vista material, mas também nos aspectos emocional e espiritual.
Salomão disse: “Quem tapa os ouvidos ao clamor do pobre também
clamará e não será ouvido” (Pv 21:13). Sempre existirão pobres neste
mundo. Isso por dois motivos. Primeiro, a injustiça social. Os ricos
tornam-se cada vez mais ricos, asfixiando a oportunidade dos pobres.
Segundo, o pecado trouxe consigo a ociosidade, a irresponsabilidade e a
negligência.
Há pobres que vivem na miséria por causa das circunstâncias. Também
há aqueles que enfrentam situações adversas devido às próprias escolhas.
Qualquer que seja o caso, a responsabilidade do líder sábio é ajudá-los a
sair da situação em que estão.
Dar aos pobres um prato de comida ou algum outro tipo de ajuda
material é insuficiente. Há um ditado que diz: “Ensine alguém a pescar, e
não precisará dar-lhe peixe todos os dias.” O objetivo do líder justo é
ensinar, mas o ensino é um processo que demanda tempo. Dar um prato de
comida é um ato que se realiza em poucos minutos. Talvez por isso seja
mais fácil dar somente esse primeiro passo e deixar de lado o processo
educativo, que é, na verdade, a parte mais importante da solução.
O abuso de poder
Quer queira, quer não, a injustiça de um líder tem sempre a ver com o
abuso do poder. O poder fascina, seduz e vicia. As pessoas sem Jesus são
capazes de fazer qualquer coisa para ter poder. Mentem, enganam e até
matam. Os cristãos se veem tentados a isso. Alguns chegam a sucumbir ao
brilho do poder. Usam-no mal e, fazendo isso, desonram o nome de Deus.
Entretanto, Salomão disse: “Quem despreza o seu vizinho peca, mas o
que se compadece dos pobres é feliz. [...] Quem oprime o pobre insulta
Aquele que o criou, mas o se compadece do necessitado honra a Deus” (Pv
14:21, 31). Nesse texto, Salomão apresenta a humilhação ao próximo
como outra característica dos líderes néscios. O líder injusto se considera
superior aos demais. Não vê as pessoas como Deus as vê. Não faz com que
seus liderados cresçam. Ele os explora e os descarta quando não pode tirar
mais proveito deles.
Conselhos práticos de justiça
1. Estabeleça regras claras. Não existe nada pior que a ambiguidade.
Comunicar-se é crucial. Se você estabelecer objetivos e metas para a
equipe, explique quais são o propósito e o sentido dos alvos propostos. Os
números, por si só, não dizem nada e geram incômodo. Afinal, o que há
por trás desses números? Aonde mesmo você quer chegar? Quando o
Senhor Jesus Cristo deu a Seu grupo a meta de fazer discípulos de todas as
nações, tribos, línguas e povos, explicou primeiramente a razão e lhes deu
os recursos necessários. “Toda a autoridade Me foi dada no céu e na terra”
(Mt 28:18), disse-lhes. Se você simplesmente apresentar objetivos, mas
não explicar a razão, os liderados pensarão que você é injusto e que deseja
apenas ficar bem com os seus superiores.
2. Aplique as normas sem ser parcial. Todo grupo tem normas; cumpri-
las é dever de cada membro do grupo, começando pelo líder. É humano
simpatizar mais com uns que com outros, porém não é justo afrouxar as
regras para uns e ser exigente com outros. Não há nada que crie tanto mal-
estar no grupo quanto essa atitude de favoritismo.
Conheci um líder que dizia: “Aos que trabalham bem, tudo. Aos que não
trabalham, as regras, nada mais.” Isso não é sábio. Se perceber que uns
trabalham muito e outros não, então converse com os que não trabalham,
explicando-lhes de maneira clara o que se espera deles. Não os faça
sentirem-se como vítimas.
3. Lidere com o exemplo. Se a instituição atravessa uma situação
financeira difícil, é necessário tomar medidas drásticas para sair da crise.
Nesse caso, os cortes devem começar com o líder. Você pode até achar
que ninguém percebe seu sacrifício, mas todos o observam e comentam
nos corredores.
Vá a Jesus. Abra-Lhe o coração. Peça-Lhe sabedoria. Seja um líder sábio
e justo!
Referências
1 Zdravko Planinc, Plato’s Political Philosophy: Prudence in the “Republic” and the “Laws”
(Duckworth: London, 1991).
2
Aristóteles busca qualificar a tese tradicional de que a lei é, em si mesma, justa. Trata-se
de uma variante da linha de pensamento que defendia a preponderância do nomos, nesse
caso, fazendo corresponder a lei positiva com a justiça, a retidão ou o bem. Para
conhecer as fontes que apoiam essa correspondência, confira: Guthrie, W. K. C., “Historia
de la filosofía griega”, v. 6: Introducción a Aristóteles (Madrid: Gredos, 1999), p. 365, 231.
3
Arthur Kauffman, Filosofía del Derecho. Tradução de Luis Villar e Ana María Montoya
(Colombia: Universidad Externado de Colombia, 2002) p. 39.
4
Hans Kelsen, “La Doctrina del Derecho Natural ante el Tribunal de la Ciencia”, em ¿Qué
es la Justicia? Citado por Eusebio Fernández na obra coletiva “El Derecho y la Justicia”,
Ernesto Garzón Valdez e Francisco Laporta (Madrid: Editorial Trotta, 1966), p. 57.
11
O LÍDER SÁBIO RESOLVE
PROBLEMAS
“Por causa da transgressão da terra, mudam-se frequentemente os
príncipes, mas por um, sábio e prudente, a ordem é mantida”
(Provérbios 28:2).
iver é resolver problemas, do nascimento até a morte. Problemas pessoais,
profissionais, familiares, em todas as áreas da vida. Um problema pode ser
definido como um obstáculo encontrado no caminho que o leva aonde
você deseja chegar. Pode ser uma circunstância, uma pessoa ou o próprio
líder. Os problemas não existem para destruir ninguém, mas para fortalecer
sua atitude diante da vida e fazê-lo crescer como pessoa.
O texto inicial do capítulo, segundo a tradução Reina-Valera
Contemporânea, em espanhol, diz o seguinte: “Se o país vai mal, abundam
os caudilhos; porém o homem sábio e prudente lhe dá estabilidade” (Pv
28:2, RVC). Um país está em maus lençóis quando há problemas a
resolver, e o líder não tem capacidade para isso. Surgem então os
“caudilhos”.
“Caudilho” vem do latim capitellum, cabeça. É um termo empregado
para referir-se ao chefe militar ou ideológico; a um comandante ou
indivíduo de influência. Em sentido amplo, utiliza-se para falar da pessoa
que guia outras em qualquer área, contra a ordem estabelecida.
Quando aparecem mandachuvas ou “generais” é porque existe uma
liderança fraca, incapaz de lidar com os conflitos de maneira sábia. Por
outro lado, um líder que segue os conselhos divinos inspirará sonhos e
gerará estabilidade no lugar em que vier a trabalhar.
Neste capítulo, veremos as atitudes equivocadas que alguns dirigentes
correm o risco de adotar perante os problemas. São atitudes inconscientes,
mecanismos de defesa que, geralmente, o líder usa para proteger-se das
dificuldades que o dia a dia lhe traz. Quais são esses mecanismos?
Vejamos.
Ignorar o problema
“O pior cego é o que não quer ver.” Os problemas não existem para ser
ignorados, mas para ser resolvidos. Em certa ocasião, estava em meu
escritório quando um beija-flor, atraído pelo globo de vidro colorido que
estava sobre a mesa, entrou pela janela. A pequena ave se assustou com
minha presença e tentou fugir. Porém, chocou-se contra o vidro e caiu.
Levantou-se e tentou sair de novo pelo mesmo lado. A triste cena se
repetiu várias vezes. Do lado esquerdo, a janela por onde ele havia entrado
estava aberta, mas o beija-flor parecia não perceber que havia um
obstáculo diante dele e procurava ignorar o problema. Depois de várias
tentativas frustradas, caiu exausto em um canto, indefeso, derrotado e à
beira do colapso.
Naquela noite, em casa, contei isso ao meu neto de três anos, e ele, com
santa inocência, disse:
– Vovô, esse beija-flor era mesmo burro!
Por incrível que pareça, a realidade é que existem pessoas como aquele
beija-flor. Fazem de conta que não há problemas na forma como lideram,
mas as pessoas percebem que o líder não tem a capacidade necessária para
enfrentar as dificuldades. No entanto, ele se comporta como se tudo
estivesse em condições normais. Acha que, se não enxergar o problema,
ele deixa de existir.
Se você deseja resolver um problema, aceite o fato de que ele existe. Não
há remédio para o enfermo que não aceita sua realidade. Jesus disse certa
vez: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8:32). Aceite
que as dificuldades são reais. Enfrente-as sem medo.
Esconder o problema
Existem líderes que aceitam que o problema existe e é real, mas o
escondem. Essa é outra forma de negá-lo. Todo problema ocultado, cedo
ou tarde aparece causando transtornos psíquicos, emocionais e físicos.
Não pense que ter fé é fazer de conta que o problema não está lá. De
nada vale fugir do problema, alegando que você não é o culpado e que o
assunto não é seu. Você é o líder e precisa reconhecer que não existe um
problema que tenha apenas um culpado ou responsável. O importante não
é descobrir o culpado, mas buscar a solução.
Proteger-se do problema
Essa é outra maneira equivocada de enfrentar as dificuldades. Como
você se protege do problema? Ficando na defensiva. Ao fazer isso, você
não assume a responsabilidade, sente-se atacado e parte para a briga.
Não se defenda! Não se esquive! Resolver problemas é a razão de
existirmos. “Proteger-se” dos problemas é proteger-se da própria vida.
Toda profissão existe para solucionar problemas. Trabalhar não é outra
coisa senão buscar a resolução dos problemas.
Uma forma sutil de proteger-se dos problemas é racionalizando- os. A
racionalização é a arte de inventar desculpas para não solucionar os
problemas. Racionalizar não resolve nada. Com o tempo, o problema
cresce e se complica.
Algumas frases usadas para proteger-se dos problemas poderiam ser:
“Eu tinha coisas mais importantes a fazer”; “Não é tão urgente quanto
parece”; “Eu me senti mal”; “Não posso gastar todas as balas do
cartucho”; “Ninguém morre por esperar”; “Um dia a mais, um dia menos,
não faz muita diferença.”
Fugir do problema
Há líderes que fogem do problema fantasiando a realidade. Fantasiar é
mergulhar na ilusão em vez de resolver o inconveniente. Por exemplo, há
pessoas que o criticam. Em vez de analisar as críticas e ver em quais
aspectos é possível melhorar, você vive imaginando como seria se o
transferissem para outro lugar.
Você foi enviado para um trabalho no qual tem que lidar mais de perto
com as pessoas, porém vive pensando em como seria se estivesse em um
nível superior e não precisasse estar em contato direto com o público.
Está em um lugar difícil do interior, mas vive imaginando como seria se
trabalhasse na capital. Isso é fantasiar. O risco é acabar esquizofrênico. A
esquizofrenia é a fuga da realidade. O esquizofrênico resolve problemas
que não existem, em um mundo imaginário, inventado.
Por exemplo, se você estiver no vigésimo andar de um prédio, haverá
somente duas maneiras sensatas de descer: pelas escadas ou pelo elevador.
O esquizofrênico crê que é o super-homem e pode descer em um piscar de
olhos. A fantasia não equivale à fé. A fé leva você a agir. A fantasia o leva
a viver sonhando. Até que um dia você acorda com terríveis pesadelos.
Retrocedendo
Outra forma ingênua de fugir dos problemas é recuando. Retroceder é
esconder-se nos anos da infância, adotando atitudes infantis. A criança
chora, joga-se no chão e grita, esperando que alguém diga: “Coitadinho,
deixe-me fazer isso por você.” O líder que retrocede se queixa: “Não
aguento mais”; “Não me adaptei ao clima”; “Aqui é muito difícil”;
“Ninguém colabora”; “Estou estressado”. O propósito dele é despertar
compaixão, pena.
Pedir ajuda é a maneira correta de resolver problemas, porém manipular
os demais emocionalmente é um jeito infantil de lidar com os conflitos.
Paulo disse: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das
coisas próprias de menino” (1Co 13:11).
Esquivar-se da responsabilidade
O exemplo típico do líder omisso é Pilatos. Ele lavou as mãos diante de
um problema sério. Foi omisso. Quando você se esquivar do problema,
pelo menos admita que ele existe. Quando você se esconde, ao menos está
fazendo algo: escondendo-se. Mas a omissão nega a responsabilidade.
Quando existe um problema na área da comunicação, o problema não é
somente do encarregado desse departamento, mas seu também. Não tema
assumir a responsabilidade pelos problemas que surgirem. Enfrente-os em
nome do Senhor!
O trágico de tudo isso é que, quando se desvia dos problemas, você se
priva também das bênçãos. Você nunca saberá o que é a paz da
reconciliação se não enfrentar a dor de buscar a pessoa melindrada e
resolver a desavença com ela. Nunca saberá o que é a esperança se antes
não passou pelo vale escuro do desespero. Nunca saberá o que é a fé se
não lutar contra o temor até derrotá-lo. A vida é digna de ser vivida
quando você é capaz de tirar as pedras do caminho, e não devido à
ausência de pedras.
Há uma divertida fábula que ensina uma lição valiosa sobre o hábito de
ignorar os problemas ou crer que não lhe dizem respeito.
Um rato viu, aterrorizado, o dono da fazenda armar uma ratoeira.
Sabendo o que isso significava, saiu correndo para advertir os outros
animais:
– Há uma ratoeira na casa! Uma ratoeira na casa!
A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a cabeça e disse
egoisticamente:
– Desculpe-me, Sr. Rato, esse é um grande problema para o senhor, mas
não para mim.
O rato procurou o carneiro e lhe disse:
– Há uma ratoeira na casa! Uma ra-to-ei-ra!
– Desculpe-me, Sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser
orar. Fique tranquilo, eu me lembrarei do senhor em minhas preces.
O rato se dirigiu, então, à vaca:
– O quê? Uma ratoeira? E daí, qual é o problema? Eu sou uma vaca! –
respondeu com indiferença.
O pobre rato voltou para casa, triste, cabisbaixo e abatido, para encarar a
ratoeira do fazendeiro.
Naquela noite, ouviu-se um barulho tremendo. A esposa do fazendeiro
saiu para ver o que havia acontecido. Na escuridão, não percebeu que a
ratoeira tinha pegado uma cobra venenosa. A cobra picou a mulher. E o
fazendeiro a levou imediatamente ao hospital.
No dia seguinte, a mulher adoeceu. Para fortalecê-la, o fazendeiro pediu
à empregada que preparasse uma canja de galinha. A pobre galinha foi
então sacrificada.
Como a doença da mulher persistia, os amigos e os vizinhos foram
visitá-la. Para alimentá-los, o fazendeiro mandou matar o carneiro.
Infelizmente, a mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente
foi ao funeral. O fazendeiro, então, mandou abater a vaca para dar de
comer a toda aquela gente.
Você percebe que não existe problema alheio?
Buscar um culpado
Existem líderes que tentam resolver os problemas buscando culpados. E,
às vezes, chegam à conclusão de que os culpados são eles mesmos. Nesse
caso, em vez de atacar o problema, você ataca e culpa a si mesmo.
Não é assim que se resolvem os problemas. Uma coisa é aceitar a
responsabilidade; outra coisa é culpar-se e castigar a si mesmo. Se não vai
resolver o problema, saber quem é ou quem foi o culpado pouco vai
ajudar. Culpar alguém é pura perda de tempo. Exemplo: Se você não
alcança seu alvo, reconhecer que a responsabilidade é sua demonstra uma
atitude saudável, mas pensar que você não presta para esse trabalho seria
doentio.
Um exemplo bíblico: “Então [Saul] disse a Davi: – Você é mais justo do
que eu, pois me recompensou com o bem, enquanto eu o recompensei com
o mal” (1Sm 24:17). Qual era o problema de Saul? Ciúme, inveja. Ele
reconheceu a própria culpa, porém não fez nada para resolver o problema.
Então de que serve saber quem é o culpado?
Pior ainda é quando, em vez de culpar a si mesmo, você começa a culpar
os demais. Descobrir quem é o culpado significa realizar o diagnóstico,
porém o diagnóstico não cura. As pessoas que seguem esse mecanismo se
detêm no diagnóstico, mas o problema permanece.
Imagine uma pessoa passando por problemas financeiros. Suponha que
ela culpe os altos preços, o banco e o salário baixo por sua situação. Na
verdade, o problema é que ela se esquece de que gasta mais do que ganha.
Quando você insiste em buscar culpados, muitas vezes pode chegar à
conclusão de que a culpa é das circunstâncias ao redor. Há líderes que, em
vez de resolver o problema, ficam irritados com a causa. Concentram toda
a ira no problema em vez de buscar uma solução para ele. Se o carro
quebra, esse líder chuta o veículo. A raiva o desvia do caminho, mas,
quando a chateação passa, o problema continua lá. Com esse mecanismo,
nada se resolve. Você se prejudica ou machuca as pessoas que estão por
perto. A adrenalina, quando dirigida ao problema, pode ser destrutiva,
porém, quando canalizada à solução, torna-se positiva. Problemas se
resolvem com ação consciente, não com reação.
Criticando
A crítica é outra forma de transferência negativa do problema. Você tem
problemas graves, porém, em vez de resolvê-los, critica os demais. Você
se torna um líder negativo, amargo. Inconscientemente, crê que, enquanto
estiverem ocupadas com as críticas que você faz, as pessoas não
descobrirão seu problema.
Todos os seus colaboradores têm virtudes e defeitos. A sabedoria do
líder consiste em aproveitar as virtudes e corrigir os defeitos deles. Criticá-
los certamente não é a melhor maneira de fazer isso.