RAVLT Manual
RAVLT Manual
RAVLT Manual
Teste de Aprendizagem
Auditivo-Verbal de Rey
RAVLT
Livro de Instruções
l ê edição
2018
Volume 1 - Colegão RAVLT
Ficha síntese 11
Prefácio 13
Apresentação 15
I. Memória: o que é e como mensurá-la?.. 17
2. O teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey 25
3. Aplicação do RAVLT 29
Referências . 61
Sobre os autores . 65
Ficha-síntese
RAVLT- Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey
Aplicação: Individual.
Normas: 1.458 brasileiros oriundos das cinco macrorregiões brasileiras (Sudeste, Sul, Nor-
deste, Norte e Centro-Oeste), com idade entre 6 e 92 anos.
11
1. Memória: o que é e como mensurá-la?
17
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
procedimentos neurocirúrgicos em
sobre a função hipocampal. Penfield já havia realizado alguns (Penfield, 1930). No
que removera o hipocampo e as estruturas subjacentes em alguns pacientes No caso H.M., Scoville
su-
unilateral.
entanto, esses procedimentos envolviam a remoção apenas intencionalmente,
produziu
não
bestimou a importância das estruturas que removeu e, mesmo que sobre memÓria (Hólscher, 2003).
uma das situações clínicas que mudou o curso do que sabemos hoje acirrado debate
século XX ainda era palco do influente
E importante lembrar que a primeira metade do publicado um
entre localizacionistas2 e holistas3. Nesse contexto, Karl Lashley (1950) havia que suge-
experimentos com modelo animal
artigo chamado Em busca do engrama, no qual relatava sobre
processos de memória• O zeitgeist
riam a ausência de sistemas neurais específicossubsidiando refinada de
H.M. e a observação
o tema foi transformado justamente por casos clínicos como o de foi a responsá-
Milner
neuropsicólogos (Ogeden, 2005). No caso H.M., a psicóloga canadense Brenda 1957).
pós-cirúrgicas (Scoville & Milner,
vel por boa parte da investigação sobre suas manifestações estudos sobre a especializa-
Em um relato autobiográfico, Milner descreveu a evolução de seus
Partindo de seus
çáo dos sistemas de memória incluindo suas experiências com o paciente H.M. diferenças na
estudos experimentais com primatas não humanos, seu interesse inicial era avaliar
submetidos à lo-
especialização hemisférica cerebral. Nesses estudos o autor comparava animais funcionais. Entre
bectomia temporal unilateral em cada hemisfério, verificando suas consequências
comprometimentos em
suas conclusões iniciais descreveu uma dupla dissociaçã04,sugerindo que
esquerdo, ao passo
conteúdos verbais seriam mais relacionados às lesões temporais no hemisfério
hemisfério
que déficits para conteúdo não verbal estaria mais relacionado às lesões temporais no
direito (Milner, 2014).
temporal
Milner também havia avaliado alguns pacientes com amnésia decorrente de lobectomia
de
esquerda. No entanto, o caso mais famoso avaliado por Milner foi o do paciente H.M. Ao longo
ante-
vários anos de diversos experimentos, a performance de H.M. a despeito da extensa amnésia
rógrada, apresentava alguns aspectos da memória preservados. Por exemplo, H.M. não se lembrava
de fatos e eventos vivenciados após a cirurgia, mesmo se fosse questionado apenas algumas horas
depois de tê-los vivenciado. No entanto, o armazenamento temporário de informações (memória
de curto prazo) e a manipulação de informaçõespara realização de operações mentais (memória
de trabalho) não estavam comprometidas. Além disso, H.M. aprendia novas habilidades motoras,
mediante múltiplas tentativas, comodesenhar entre duas estrelas (uma menor, dentro da maior)
sem esbarrar nas linhas que as contornavam, tendo comoreferência a imagem de sua mão refletida
no espelho, mesmo que não se recordasse de ter feito tal tarefa nos dias seguintes (Milner, 2014).
Outros pacientes descritos posteriormente auxiliaram na sustentação da hipótese de que conte-
údos evocados voluntariamente eram dissociadosdaqueles evocados de forma não consciente. Por
exemplo, o paciente E.E (Stefannacciet al., 2000) teve um profundo comprometimento cerebral
bilateral após um quadro de encefalite herpética. A lesão compreendia o lobo temporal medial,
incluindo a amígdala, hipocampo,formação para-hipocampal,córtex entorinal, giro fusiforme e
provavelmente redução do volume da insula, lobo temporal lateral e lobo parietal esquerdo. Dada
a extensão das lesões de E.P., seu comprometimento também foi mais pronunciado que o de H.M.
Déficits na capacidade de nomear e definir o significado de palavras também estavam presentes,
mesmo que sutilmente. Tal comprometimento foi associado pelos autores à lesão temporal lateral
e no giro fusiforme. No entanto, assim como H.M., o paciente E.P apresentava preservação da
capacidade de aprender e evocar hábitos mesmo que sem consciência de que estava evocando tais
informações.
2 Defendiam que sistemas cerebrais especializados subsidiavam funções específicas.
3 Defendiam a ausência de especialidade regional do cérebro e os princípios da equipotencialidade (todas as regiões cerebrais
apresen-
tam o mesmo potencial funcional) e açáo em massa (a quantidade de material lesionado determina a gravidade da perda
funcional).
4 Dupla dissociaçãoé o método clássico da neuropsicologia.Postula que, se uma lesão no Sistema neural x leva a uma
consequência
funcional y (preservando a função x) e uma lesão no Sistema neural y leva a uma consequência funcional x (preservando
a função y),
logo o sistema neural x é o substrato da função y e o Sistema neural y é o substrato da função x.
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RAVLT Testo de Aprendizagem Auditivo-Verbalde Rey
O acúmulo de evidências sobre os diferentes domínios da memória nos leva a uma taxonomia
especializada que deve considerar três eixos principais: o tempo, o conteúdo e o tipo de processo
envolvido (Cruz et al., 1996). Com relação ao tempo, considerando este exato momento como um
marco, temos conteúdosjá apreendidos e conteúdos que estão em processo de aprendizagem. A
organização temporal da memória envolve processos que vão do registro sensorial à consolidação
para evocação posterior. A memória de curto prazo consiste na manutenção de informações ime-
diatas por tempo limitado (alguns segundos ou minutos). As informações que preenchem esse sis-
tema temporário de armazenamento de informações podem vir do presente, via registro sensorial
e atribuição de significado via percepção e linguagem ou do passado quando resgatadas de nossa
memória já consolidada. Esse segundo sistema consiste na memória de longo prazo.
O fracionamento da memória em termos temporais nos permite definir dois tipos de amnésia:
a anterógrada e a retrógrada (Cipolotti & Bird, 2006). O primeiro tipo consiste em déficits da
consolidação de novos conteúdos a partir de um marco temporal. O segundo consiste na perda de
conteúdo previamente apreendido. O paciente H.M., por exemplo, apresentava um prejuízo intenso
na capacidade de aprender novas informações sobre fatos, eventos e também novas palavras. Além
disso, não conseguia se lembrar de experiências vivenciadas cerca de dois anos antes da cirurgia.
Podemos dizer, então, que H.M. tinha uma amnésia anterógrada e uma amnésia retrógrada menos
pronunciada, com um gradiente temporal de cerca de dois anos.
A memória também está fracionada em termos de conteúdo. Sistemas neurais distintos estão
relacionados a diferentes conteúdos, como sintetizado por Larry Squire (2004, 2009). Em termos
gerais, os conteúdos podem ser agrupados em declarativos (podem ser organizados em proposi-
çóes verbais) e não declarativos (evocadosautomaticamente na forma de procedimentos, hábitos,
condicionamentos verbais ou não verbais). A memória declarativa pode ser dividida em episódica
(relacionada a fatos e eventos vivenciados pelo indivíduo) e semântica (que se refere a conheci-
mentos gerais e rótulos usados para definir e categorizar informações).
Por fim, em termos processuais, a aprendizagem, ou recuperação de conteúdos já apreendidos,
pode ocorrer de forma deliberada ou não deliberada. Os processos deliberados ou conscientes são
referidos na literatura como processos explícitos. Os processos não deliberados ou não conscien-
tes são referidos como implícitos. De acordo com Dew e Cabeza (2011), diferenças entre memória
explícita e implícita são bem delimitadas na literatura em diversos aspectos. A memória explícita
é associada ao sistema declarativo de memória. E consciente e depende do esforço voluntário para
recuperação da informação armazenada. A testagem da memória explícita envolve tarefas de
demanda direta, ou seja, são solicitadas informações armazenadas ao sujeito que deve buscá-las
voluntariamente. No entanto, a memória implícita se relaciona à memória não declarativa, é não
consciente e sua evocação não é voluntária. A testagem geralmente envolve medidas indiretas como
tarefas de priming positivo ou negativo.
A dissociação entre processos implícitos e explícitos pode ser compreendida a partir de situações
cotidianas. Por exemplo, quando estamos apendendo a dirigir um automóvel, inicialmente somos
apresentados a informações conceituais e sobre regras de condução e comportamento no trânsito.
Os processosdeclarativos de aprendizageme memória são particularmente úteis para registro
de informação e tomada de decisão deliberada. Quando estamos em uma prova de legislação de
trânsito, por exemplo, usamos processos deliberados para recuperar as informações relacionadas
às questões. Quando estamos em nossas primeiras experiências na condução de um automóvel,
aprendemos sobre as partes do carro, sua função e como operar. Nossos erros e acertos nos fazem
repetir comportamentos bem-sucedidos e extinguir os malsucedidos. A exposição repetida às expe-
riências de direção e às regras de trânsito faz tais processos serem evocados de forma cada vez mais
automática. Com a experiência, passamos a usar processos implícitos para evocar cada esquema
comportamental necessário à boa direção. Uma consequência desse processo de proceduralizaçáo
do conhecimento é o aumento da velocidade e a perícia. Em contrapartida, a evocação de conheci-
19
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
eficiência
termos temporais e sujeita á menor situaçáo
mento por processos explícitos é mais dispendiosa em uma
de problemas é mais intensa (p, ex.: como cm
quando a demanda de atenção e soluçáo
de trânsito).
de trânsito em um centro urbano em que náo se conhcce as vias composto por múltiplos
um sistema
Conformemencionadoanteriormente, sendo a memória paradigmas. Náo existe, portanto,
processos, a avaliação da memória deve envolver diferentes caracterizados de acordo com as-
avaliação global da memória, mas sim de domíniosespecíficos c tipos de paradigmas
apresenta definição
pectos temporais, de conteúdo e do tempo. O Quadro 1 sintetiza os principais componentes
e
usados para avaliação da memória. A Figura 1, por sua vez,
processos cognitivos envolvidos no sistema de memória.
do sistema de memória
Quadro 1. Referência rápida para as definiçõese métodos de avaliação
Avaliação (exemplos)
Componente da memória Exemplo de sintoma
20
RAVLT Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey
Controle Élexibilidade 3
inibitório Cognitiva
o Processamento
c im lícito
Memória Operacional o
o CONSOLIDAÇÃO
o
Processamento
AGORA PASSADO
O caso H.M. foi determinante para compreendermos a participação de estruturas como o Hipo-
campo em processos de aprendizagem e memória. Estudos posteriores foram fundamentais para
uma noção mais ampla dos sistemas neurais relacionadosa diferentes componentesda memória
(Squire, 2009; Henke, 2010; Dickerson & Eichenbaum, 2010).
Considerando a memória declarativa episódica,há evidênciasinequívocas da participação de um
complexo de estruturas que, em conjunto, recebem o nome de hipocampo expandido. Informações
específicas (p. ex.: sobre objetos e relações espaciais) são inicialmente encaminhadas a diferentes
regiões do córtex temporal medial como o giro para-hipocampal e o córtex peririnal. As projeçóes
dessas duas regiões para o córtex entorrinal permitem a integração de diferentes informações em
um episódio único a partir de um processo denominado binding (Dickerson & Eichenbaum, 2010).
O córtex entorrinal apresenta conexõesrecíprocas com o hipocampo, estrutura fundamental para
a consolidação de informações aprendidas. O hipocampo, por sua vez, apresenta subdivisões que,
com relativa especialidade funcional, processa diferentes aspectos da informação. Como o formato
do hipocampo também lembra um chifre como o do Deus egípcioAmon, uma parte dessa estrutura
recebe o nome de "Corno de Amon", ao qual referimos usando as iniciais CA.
O Corno de Amon é dividido em três regiões: CAI, CA2 e CA3. De acordo com Travis e colabo-
ra40res (2014), as regiões CA2 e CA3 parecem estar mais relacionadas à codificação e consolidação
de conhecimentos sobre itens (p. ex.: objetos) ao passo que a região CAI parece estar mais ativada
durante processos de evocaçãodo conteúdo aprendido. As outras regiões do hipocampo,o giro
dentado e o subiculum também aparentam especialidade funcional. Assim como CA2 e CA3, o giro
21
Jonas Jardim de Paula I Leandro
Fernandes Malloy-Diniz
22
RAVLT Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbalde Rey
são radicais. Por exemplo, o lobo temporal mesial tem sido amplamente associado aos processos
explícitos. No entanto, pacientes amnésicos com lesões nessa região do cérebro também podem
apresentar comprometimento na evocaçãoimplícita para relação entre itens e não para a lembrança
de itens em si.
Dew e Cabeza (2011) sugerem que a classificação tradicional dos sistemas de memória pode-
ria envolver novas associaçõesanátomo-funcionaisúteis para compreensãode comoa memória
é organizada. Essas classificaçõesenvolveriamnovos eixos como as dicotomiasentre processos
controlados-automáticos, perceptivos-conceituais, memória para relações/memória para itens. Por
exemplo, processos mais deliberados de evocação estariam na dependência de regiões envolvendo
o córtex pré-frontal ventrolateral do hemisfério esquerdo e o hipocampo, ao passo que processos
mais automáticos envolveriam o córtex para-hipocampal, rinal e regiões sensoriais como o córtex
visual primário. Aspectos sensório-perceptivos da memória envolveriam em maior grau o córtex
para-hipocampal e regiões sensoriais como o córtex visual primário, ao passo que aspectos mais
conceituais envolveriam o hipocampo, o córtex rinal e o córtex pré-frontal ventrolateral do he-
misfério esquerdo. Por fim, aspectos da memória envolvendoa relação entre informações/itens
estariam relacionados ao hipocampo e córtex para-hipocampal, ao passo que a memória de itens
em si estaria mais relacionada ao córtex rinal.
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2. O Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey
Figura 2. AndréRey.
25
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
o
substantivos. A cada exposição,
1. a exposição sucessiva de uma lista de palavras contendo 15
26
RAVLT Teste de Aprendizagem Auditivo-VerbaI de Rey
27
3. Aplicação do RAVLT
Na versão brasileira do RAVLT,uma lista de 15 substantivos (lista A) é lida em voz alta para
o sujeito com um intervalo de 1 segundo entre as palavras, por 5 vezes consecutivas —tentativas
AI a A5. Cada uma das leituras é sempre seguida por um teste de evocaçãoespontânea. Nessas
tentativas o sujeito deverá falar o máximo de palavras que se lembrar. Não importa se o sujeito
repetir palavras, mas cada palavra corretamente evocadasó será pontuada uma vez.
Importante: O teste deverá ser aplicado neste mesmo formato, seguindo todas as tentativas e
orientações, mesmo que o sujeito se lembre de todas as palavras na tentativa Al.
Na primeira tentativa (AI) dá-se a instrução:
"Vou ler uma lista depalavras. Preste bastanteatenção,pois quando eu terminar, vocêdeverá
repetir tantas palavras quantas puder se lembrar. Não tem importância a ordem em que você
vai repeti-las. Procure apenas se lembrar do máximo de palavras que puder. "
Deve-se marcar um X na folha de aplicação ao lado de cada palavra lembrada. O aplicador pre-
cisa ficar atento às colunas que indicam as tentativas. Embora a anotação da ordem das palavras
ditas não seja um requisito, o registro poderá ser útil para a avaliação qualitativa das estratégias
usadas pelo sujeito para guardar as informações. Uma outra informação relevante para a análise
qualitativa é a anotação das palavras ditas e que não foram lidas pelos sujeitos. Os falsos positivos
são informações relevantes para identificar parafasias semânticas e literais. Além disso, em quadros
demenciais é comum que o sujeito fale palavras que não foram lidas pelo examinador. Tais palavras
poderão ser anotadas no quadro de intrusões na folha de aplicação.
Importante: Não deve ser dada qualquer pista em relação ao número de respostas corretas,
repetições ou erros.
Quando o sujeito informar que não consegue se lembrar de mais palavras ou ficar 10 segundos
sem dizer uma nova palavra da lista, o examinador deverá informar que vai ler novamente a mes-
ma lista de palavras.
A instrução para a segunda tentativa (A2) é a seguinte:
"Agora vou ler as mesmas palavras novamente. De novo, quando eu terminar, quero que você
repita para mim todas as palavras quepuder se lembrar, inclusive as quejá foram ditas da vez
passada. Não tem importância a ordem das palavras, procure apenas dizer todas as palavras
"
que você se lembrar, incluindo aquelas que foram lembradas na vez anterior.
"Novamente eu vou ler as mesmas palavras. De novo, quando eu terminar, quero que você
repita para mim todas as palavras que puder se lembrar, inclusive as quejá foram ditas da vez
passada. Não tem importância a ordem das palavras, procure apenas dizer todas as palavras
"
que você se lembrar, incluindo aquelas que foram lembradas na vez anterior.
A ordem de apresentação das palavras é fixa em todas as tentativas. O examinador deverá ler
todas as palavras, na mesma ordem, em todas as apresentações da lista.
Importante: O examinador passará para a próxima tentativa sempre que o sujeito informar que
não consegue se lembrar de mais palavras ou ficar IO segundos sem dizer uma nova palavra da lista.
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Jonas Jardim de Paula I Leandro
Fernandes Malloy-Diniz
por 15 substantivos
também composta
A instrução para esta
Depois da quinta tentativa, uma lista de interferência, (tentativa BI).
evocação
(lista B) é lida para o sujeito, sendo seguida de sua
etapa do teste é a seguinte:
atenção, pois, quando eu terminar
bastante ordem
"Agora vou ler urna nova lista de palavras. Preste lembrar. Não tem importância a '
você deverá repetir tantas palavras quantas puder se máximo de palavras que puder.
do
em que você vai dizê-las. Procure apenas se lembrar
seja,
palavras da lista A, sem que ela
as
Logo após a tentativa BI, pede-se ao sujeito que recorde
nesse momento, reapresentada (tentativa A6).
lista
conseguir se lembrar da primeira
que se
"Agora eu quero que vocême fale todas as palavras
você vai repeti-las. Procure apenas
que li para você. Não tem importância a ordem em que
lembrar do máximo de palavras que puder. "
Após a tentativa A7 é aplicado o teste de memória de reconhecimento no qual uma lista con-
tendo as 15 palavras da lista A, as 15 palavras da lista B e 20 distratores (semelhantes às palavras
de lista A e B em termos fonológicosou semânticos)é lida para o sujeito. A cada palavra lida, o
sujeito deverá indicar se ela pertence (ou não) à lista A. A instrução dada ao sujeito é a seguinte:
"Agora vou ler para você uma lista com diversas palavras. Todas as vezes que eu falar para
você uma palavra que estava na primeira lista que vocêaprendeu, você deverá dizer sim.
Todas as vezes em que eu ler para vocêuma palavra que não estava nesta primeira lista, você
deverá me dizer não.
Deve-se marcar a resposta (S para sim e N para não) na folha de aplicação ao lado de cada pa-
lavra da lista para o reconhecimento.
Todo o processo de aplicação do teste dura cerca de 30 a 45 minutos.
30
4, Correção e interpretação dos
resultados
para as tentativas de AI a A7
e para
ditas corretamente. Não são contadas a tentativa BI, o total de pontos é o número de palavras
as repetições. Além desses dados são computados alguns
índices da tarefa, que representam
componentes ou processos mais específicosda memória. O uso
desses índices é opcional, embora alguns
do teste. Cabe
ao profissional definir quais os índices como o escore total sejam comuns ao uso
serão utilizados em sua avaliação clínica mediante as hipó-
teses a serem testadas pelo teste. Os
valores obtidos deverão ser incluídos na coluna Pontuação do
Quadro de resultados que consta na folha de aplicação.
Memória de reconhecimento
A pontuação do teste de memória de reconhecimento é calculada somando todos os acertos (palavras
da lista A e palavras não pertencentes à lista A identificadascorretamente —35 (total de distratores).
Procedimento semelhante a este tem sido utilizado em testes de memória de reconhecimento como o
da bateria CERAD permitindo avaliar não apenas a identificação dos alvos (palavras da lista A), como
para também avaliar o efeito de falsos negativos (distratores) e falsos positivos (palavras da lista A não
identificadas).
Indices de aprendizagem
Utilizamos dois métodos para a avaliação do processo de aprendizagem: Escore Total e Apren-
dizagem ao Longo das Tentativas (ALT).Nesses dois índices quanto maior o resultado encontrado
melhor se deram os processos de aprendizagem ao longo da tarefa.
O primeiro e mais simples é o cálculo do Escore Total, feito pela soma das cinco tentativas
de aprendizagem. Ele representa de forma geral a capacidadedo sujeito em reter e recuperar o
conteúdo-alvo mediante múltiplas apresentações. E dado pela fórmula:
Escore Total = AI +A2+A3+A4+A5
O segundo cálculo, ALT (ou, em inglês, LOT —Learning Over Trials), representa o quanto o
participante conseguiu aprender ao longo do teste (Escore Total) controlando-se o efeito da tentativa
AI (capacidade de repetição independentemente de estímulos sucessivos). Seu cálculo é realizado
pela seguinte fórmula:
ALT = Escore Total -
Indice de retenção
O RAVLTfornece não apenas informações sobre os processos de aprendizagem como também
permite estimar como a retenção das informações aprendidas ocorre em cada etapa da tarefa. O
31
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
índice mais tradicional para esse cálculo é o Indice de Velocidadede Esquecimento, que estima
quanto conteúdo se mantém entre as evocaçõesde curto e longo prazo.
O Indice de Velocidade de Esquecimento é um cálculo que representa a vulnerabilidade do conteúdo
evocado em curto prazo à passagem do tempo. Quanto menor o valor desse índice mais conteúdo se
perdeu entre as etapas A6 e A7 do RAVLT.Ele é dado pela fórmula: Velocidade de Esquecimento 7/A6.
Indices de interferências
Ao longo da tarefa são calculados dois escores de interferência: o índice de interferência proativa
e o índice de interferência retroativa.
O Indice de Interferência Proativa representa o quanto o conteúdo aprendido anteriormente
influencia a aprendizagem de um novo conteúdo. Escores mais elevados de interferência proativa
indicam que o conteúdo aprendido ao longo da tarefa facilita a aquisição de novas informações.
Ele é dado pela fórmula: Interferência Proativa=B1/A1.
O Indice de Interferência Retroativa representa o quanto o contato com novas informações inter-
fere na recuperação de um conteúdo previamente aprendido. Escores mais elevados em Interferência
Retroativa sugerem que a presença de um novo conteúdo afeta significativamente a recuperação de
informações previamente aprendidas. É dado pela seguinte fórmula: Interferência Retroativa = A6/A5.
O Quadro 2 sintetiza o cálculo das diferentes medidas do RAVLT.
32
RAVLT Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey
Após realizar o cálculo para todas as medidas, o profissional deverá buscar o percentil, de acordo
com a tabela mais indicada.
33
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
o teste mede a memória episódica verbal de curto prazo a qual é aferida pela evocação imediata
nas tentativas AI e BI, bem como na evocaçãopós-interferência de A6. Também mede a memória
episódicaverbal de longo prazo, já que o indivíduo deve se lembrar das palavras aprendidas da
lista A, após um intervalo de tempo de cerca de 20 minutos sem que a mesma lhe seja novamente
apresentada. Além disso, o sujeito deve identificar entre 50 palavras, aquelas 15 pertencentes à lista
A, também após um longo intervalo de tempo o que pode fornecer informações importantes para
avaliar a memória de longo prazo. O índice de memória de reconhecimento é particularmente útil
na identificação de déficits de memória em quadros como a demência de Alzheimer (Thierney et
al., 2001) ou em lesões adquiridas em que ocorre uma Amnésia anterógrada (Baldivia et al., 2008).
Ainda nesse aspecto, o índice de velocidade de reconhecimento fornece um parâmetro importante
sobre a perda de um conteúdo entre a evocação de curto prazo e a evocação de longo prazo. Medidas
de velocidade de esquecimento em testes de aprendizagem auditivo verbal são indicadores úteis
no seguimento de pacientes com risco para desenvolverquadros demenciais, como a demência de
Alzheimer (Silva, 2012; Archer et al., 2007).
O teste RAVLTtambém é bastante útil para aferir comoa relação entre dois conteúdosque
estão sendo aprendidos pode, de algum modo, prejudicar a eficiência de aprendizagem deles. A
identificação de elevação da suscetibilidade à interferência de distratores proativos e retroativos
pode ser muito útil na definição de alvos terapêuticos. Por exemplo, Jaccoby
e colaboradores, (2011)
mostram que o treino de aprendizagem para diminuir o efeito da interferência proativa em adultos
e idosos pode ser útil na redução da formação de "falsas memórias".
O quanto um determinado conteúdo que está sendo aprendido pode ser prejudicado pela apren-
dizagem prévia de um conteúdo semelhante é referido na literatura comointerferência proativa.
Em termos práticos, se você está aprendendo uma música por alguns minutos e passa a aprender
uma nova música semelhante, o aprendizado da musica anterior pode minimizar o aprendizado da
música nova. No teste RAVLT,isso se dá analisando o efeito da lista A (que tem 15 palavras de alta
frequência no idioma português falado no Brasil) sobre a lista B (que também tem 15 palavras de
alta frequência no português brasileiro; BI/AI). Conformerecente revisão publicada por Saury e
Emanuelson (2017), a interferência proativa é uma importante medida da integridade hipocampal,
estando na dependência de sub-regiões como o CA3 e o Giro Dentado. Em populações clínicas, a
suscetibilidade à interferência proativa tem sido evidenciada em diferentes idades como em uni-
versitários que apresentam comportamento de binge drinking (Parada et al., 2011). O -aumento
do efeito de interferência proativa no RAVLTtambém tem sido demonstrado em pacientes depen-
dentes de outras drogas como as metanfetaminas (Hoffman et al., 2006) e adolescentes usuários
de Cannabis e de inalantes (Takagi et al., 2010).
No entanto, um conteúdo que vinha sendo aprendido pode ser prejudicado com o aprendizado de
um novo conteúdo e isso é referido como interferência retroativa (Eakin & Smith, 2012), estando
esta função também relacionada à atividade hipocampal, em particular da região CAI e CA3 (Saury
e Emanuelson (2017). No RAVLT,a interferência retroativa pode ser aferida comparando o total
de palavras evocadas na tentativa A6 com a quantidade de palavras evocadas em A5 (A6/A5).Do
ponto de vista clínico, as medidas de interferência retroativa são muito úteis na identificação de
déficits de memória em pacientes com demência de Alzheimer inicial (Ricci et al., 2012). Além disso,
a interferência retroativa parece ser também relacionada à atividade de circuitos frontoestriatais
do cérebro, o que explicaria o desempenho prejudicado em pacientes acometidos por esquizofrenia
(Torres et al., 2001).
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RAVLT Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbalde Rey
Quadro 3. Medidas de avaliação
Etapa do teste Item do teste Definição do construto
Aprendizagem auditivo Memória de Curto Prazo Verbal —capacidade de manter
verbal temporariamente um
conteúdo verbal apresentado ao sujeito.
Curva de Aprendizagem auditivo-verbal —capacidade de aumentar a quanti-
dade de material aprendido após a exposição sucessiva ao mesmo conteúdo.
Essa medida só é útil para a composição dos índices de aprendizagem.
Curva de Aprendizagem auditivo-verbal —capacidade de aumentar a quanti-
dade de material aprendido após a exposição sucessiva ao mesmo conteúdo.
Essa medida só é útil para a composição dos índices de aprendizagem.
Curva de Aprendizagem auditivo-verbal —capacidade de aumentar a quanti-
dade de material aprendido após a exposição sucessiva ao mesmo conteúdo.
Essa medida só é útil para a composição dos índices de aprendizagem.
Curva de Aprendizagem auditivo-verbal —capacidade de aumentar a quanti-
dade de material aprendido após a exposição sucessiva ao mesmo conteúdo.
Essa medida só é útil para a composição dos índices de aprendizagem.
Distrator BI Memória de Curto Prazo Verbal —Capacidade de manter temporariamente
um conteúdo verbal apresentado ao sujeito.
Evocação Imediata Memória de curto prazo episódica verbal —capacidade de se lembrar de um
evento (aprendizagem da lista de palavras) que ocorreu há pouco tempo e
que foi sucedido à exposição de um novo conteúdo.
Evocação Tardia Memória de longo prazo episódica verbal —capacidade de se lembrar de um
evento (aprendizagem da lista de palavras) ocorrido anteriormente e que foi
sucedido à exposição de um novo conteúdo.
Reconhecimento Reconhecimento Memória episódica verbal relacionada à identificação das palavras aprendidas
anteriormente. Este item da avaliação é particularmente afetado por questões
relacionadas à motivação ou pela capacidade de organização da resposta ver-
bal. Nos dois casos, espera-se que no teste de memória de reconhecimento o
desempenho do sujeito seja melhor indicando que o conteúdo foi aprendido,
mas não foi devidamente relatado a partir da evocação espontânea.
índices de Escore Total Medida global de aprendizagem auditivo-verbal —capacidade de aprender um
Aprendizagem conteúdo exposto por repetidas vezes. Representa a quantidade de conteúdo
que uma pessoa consegue aprender durante sua exposição a ele.
Aprendizagem ao Medida global de aprendizagem auditivo-verbal, fornece uma informação
longo das tentativas diferente já que compara a aprendizagem na primeira exposição ao conteúdo
(ALT) (lista de palavras) com seu ganho total de aprendizado ao longo das 5 ten-
tativas. Essa medida é particularmente útil naqueles casos em que o sujeito
começa com um desempenho ruim na primeira leitura da lista (tentativa AI),
mas melhora substancialmente ao longo das exposições. Do mesmo modo,
pode ser bastante útil nos casos em que o sujeito começa, retendo uma
grande quantidade de palavras na primeira leitura da lista, mas não aumenta
substancialmente a quantidade de itens relembrados nas próximas tentativas.
Velocidade de A7/A6 Efeito da passagem do tempo, incluindo a exposição a novos conteúdos e
Esquecimento distratores sobre a capacidade de reter novas informações.
Interferência Proativa BI/AI Suscetibilidade à interferência proativa —capacidade de aprender um deter-
minado conteúdo após a exposição sucessiva a um conteúdo anterior. Reflete
a dificuldade em aprender algo novo (no caso, a lista BI) após a automatiza-
ção de um conteúdo prévio (5 exposições à lista A).
Interferência Retroativa A6/A5 Suscetibilidade à interferência retroativa —capacidade de manter uma infor-
mação anteriormente aprendida (lista A) após um novo conteúdo (lista B) ser
apresentado.
35
7. Confecção
das normas
brasileiras do RAVLT
Amostra
De forma a caracterizar
normativo com participantes 0 desempenho típico de brasileiros no RAVLTrealizamos um
Sul, Nordeste, Norte de 6 a 92 anos, estudo
e Centro-Oeste). oriundos das cinco macrorregiões brasileiras (Sudeste,
foi ministrado pelos Ao todo, 1.458 participantes realizaram o RAVLT.O teste
autores deste volume,
doutorado em diferentes estudantes de graduação, especialização,mestrado e
por este Livro de áreas de conhecimento,
instruções. Uma breve após devido treinamento e nos moldes propostos
descrição da amostra é apresentada na Tabela 11.
Tabela 11. Descrição dos
participantes do estudo normativo
desse manual (N= 1458)
Sexo
Masculino 638 43,80
Feminino 820 56,20
Idade 6a 8 anos 96 6,60
9a 11 anos 119 8,20
12 a 14 anos 55 3,80
15 a 17 anos 40 2,70
18 a 20 anos 157 10,80
21 a 30 anos 252 17,30
31 a 40 anos 158 10,80
41 a 50 anos 116 8,00
51 a 60 anos 106 7,30
61 a 70 anos 180 12,30
71 a 79 anos 110 7,50
80 anos ou mais 69 4,70
Escolaridade Analfabeto 15 1,00
Ensino fundamental 599 41,10
Ensino médio 398 27,30
Ensino superior 446 30,60
49
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
> 12
Staeo
Grupo Etário
10
atupo et&do
50
RAVLT Teste de Aprendizagem Auditivo-VerbaI de Rey
R2 0189
00 0 g o
000
10
100
Idade (anos)
Figura 8. Diagrama de dispersão entre a idade dos participantes e o desempenho no Escore Total do RAVLT.
Combase nos dados anteriores, dividimosa amostra total em dois grupos, um com idade infe-
rior a 18 anos (n=310) e o outro com 18 anos ou mais (n=1148). Após essa divisão analisamos a
associaçãoda idade com as diferentes medidas no RAVLTpor meio de correlações de Pearson e
calculamoso coeficiente de determinação dessas variáveis. Os dados são expostos na Tabela 12.
Pode-se observar que nas variáveis do RAVLTa variância explicada pela idade oscila de negligen-
ciável (R2<1%) a moderada (R2=20%),segundo os critérios da literatura (Nakagawa & Cuthill,
2007).Nota-se ainda que a proporção da variância explicada pela idade é relativamente semelhante
entre os participantes mais jovens e os mais velhos, sendo a maior diferença observada na etapa
BI (8%).Os componentes do teste mais influenciadospela idade foram as evocações (13% a 18%)
e 0 Escore Total (20%). Dessa forma, as normas do teste foram estratificadas em função da idade
dosparticipantes.
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
idade
RAVLT estratificadas pela
Tabela 12. Correlações entre a idade e as diferentes medidas do
dos participantes 218 anos
Medida do RAVLT <18 anos p
-0,377 14
AI 0,349 12
15
-0,388
0,353 12
-0,428 18
0,354 13
-0,383 15
0,379 14
9
-0,301
0,408
9 -0,423 18
BI 0,299
-0,360 13
0,420 18
-0,373 14
0,357 13
0,005 -0,215 5
Reconhecimento 0,158 2
Escore total 20 -0,445 20
0,442
ALT 4 0,001 -0,137 2
0,190
-0,046 0,116
Velocidade de esquecimento -0,087 1 0,128
Interferência proativa 0,028 -0,091 1 0,002
-0,125 2
Interferênciaretroativa 0,045 0,429 -0,113 1
RAVLT: Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey
Verificou-seo efeito da variável sexo no desempenho do teste por meio de análises de regressão
linear simples, contendo sexo (codificadocomo masculino = 1 e feminino =2) como variável inde-
pendente e os escores do RAVLTcomo variáveis dependentes. Os resultados com base na análise
da amostra comoum todo são apresentadosna Tabela 13. Os resultados sugerem que a variável
sexo apresenta um efeito muito pequeno nos resultados do RAVLT,com maior magnitude de 1%
variância explicada.Dessa forma, optamos por não subdividir a amostra geral com base no sexo
dos participantes.
Tabela 13. Influência da variável sexo em diferentes variáveis do RAVLT (n= 1458)
Beta p
AI 0,075 1 0,004
0,057 0,031
0,072 1 0,006
0,075 1 0,004
0,08 1 0,002
BI 0,059 0,025
0,025 0,332
0,068 0,009
Reconhecimento 0,025 0,341
Escore total 0,085 1 0,001
0,026 0,33
Velocidade de esquecimento 0,083 1 0,001
Interferência proativa -0,025 0,337
Interferência retroativa -0,042
RAVLT: Teste de Aprendizagem 0,107
Auditivo-Verbal de Rey.
Por fim, na amostra de adultos, analisamos o efeito da
teste. Optamos por realizar o procedimento apenas na escolarização formal no
desempenh0 do
correlaçãoentre idade e escolarizaçãoem crianças e amostra de adultos em decorrência da forte
quatro grupos de escolaridade com base no maior adolescentes (r=0,904, p<0,001).
nível educacional Criamos
(analfabeto, ensino médio, ensino fundamental e alcançando pelo participante
ensino superior). A
escolaridade apresent0U um
52
Rey
RAVLT Teste de AprendizagemAuditivo-Verbalde
efeitomenos intenso que a idade nas variáveis foram
encontradas em algumas etapas da Contudo,correlaçõesmoderadas
do teste.
aprendizagem verbal, na evocaçãoda lista distratora e no total
de palavras aprendidas no teste. Dessa forma,
uma segunda correçáo (idade ><escolaridade) foi
realizada em algumas faixas etárias em específico.
Os dados normativos serão apresentados nas tabelas 15 a 26, em função da variável idade. Nelas
há informações sobre as pontuações, percentil equivalente, média e DP.
Tabela 15. Dados normativos para participantes comidade entre 6 e 8 anos (n=96)
Escore Velocidade de Interferência Interferência
Percentil AI BI A7 Reconhecimento ALT
proativa retroativa
total esquecimento
5 2 3 4 4 4 2 3 3 -2 19 -4 0,67 0,50 0,50
7,9 4,3 7,2 7,6 10,3 33,7 11,2 1,09 1,09 0,87
Média 4,5
6,9 8,2 0,37 0,55 0,24
1,9 2,1 2,5 2,8 2,8 1,6 2,7 2,7
Tabela 16. Dados normativos para participantes com idade entre 9 e 11 anos (n =119)
Escore Velocidadede Interferência Interferência
Percentil AI BI A7 Reconhecimento
total
ALT
esquecimento proativa retroativa
53
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
e 14 anos (n=55)
Tabela 17. Dados normativos para participantes com idade entre 12
Velocidadede Interferência Interferência
Escore ALT esquecimento proativa retroativa
Percentil AI A3 BI A6 A7 Reconhecimento total
0,60 0,50 0,60
4 4 4 3 6 3 5 5 28
0,89 0,73 0,80
25 5 6 7 9 10 4 9 7 12 39
1,00 0,88 0,90
50 46 13
6 8 10 10 11 6 10 10 15
1,11 1,13 1,00
75 51 20
8 10 12 12 13 7 11 12 15
1,40 1,50 1,22
95 9 12 14 14 14 15 59 25
15 9 13
1,01 0,92 0,91
Média 6,3 9,5 10,0 10,9 5,6 9,6 96 12,5 44,8 13,3
0,29 0,28 0,29
1,7 2,6 2,9 2,7 2,5 1,7 2,2 30 9,6 7,8
Tabela 18. Dados normativos para participantes com idade entre 15 e 17 anos (n=40)
Escore de Interferência
Velocidade Interferência
Percentil AI A3 A5 BI A7 Reconhecimento ALT esquecimento proativa retroativa
total
Média 6,1 9,6 11,111,6 5,4 10,610,5 12,6 46,4 16,1 1,01 0,91 0,93
1,4 2,2 2,4 2,4 2,3 1,7 2,5 2,9 3,1 8,6 7,3 0,25 0,27 0,17
Tabela 19. Dados normativos para participantes com idade entre 18 e 20 anos (n=157)
Velocidadede Interferência Interferência
Percentil AI A3 BI A7 ReconhecimentoEscore
total
ALT
esquecimento proativa retroativa
Tabela 20. Dados normativos para participantes com idade entre 21 e 30 anos (n—
-252)
Percentil AI A3 BI A6 A7 Reconhecimento Escore Velocidadede Interferência Interferência
ALT
total esquecimento proativa retroativa
4 5 6 7 8 3 6 6 34
0,75 0,50 0,63
25 5 7 9 10 11 4 9 9 11 44 13 0,91 0,68 0,80
50 7 9 11 12 13 6 11 11 13 50 17 1,00 0,86 0,91
75 8 10 12 14 7 13 13 14 56 21 1,09 1,00 1,00
95 9 12 14 15 15 9 15 15 15 63 27 1,33 1,50 1,10
Média 6,5 8,9 10,4 11,4 12,2 5,7 10,9 10,7 11,4 49,3 16,8 1,00 0,92 0,89
1,7 2,2 2,4 2,4 2,2 1,8 2,6 2,7 8,6 6,5 0,27 0,17
0,37
RAVLT Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal
de Rey
Tabela 21. Dados normativos
para participantes
com idade entre
percentilAI A2 A3 A4 A5 BI 31 e 40 anos 158)
A6 A?
ReconhecimentoEscore
total ALT Velocidadede Interferência Interferência
esquecimento proativa retroativa
25 35 0,75 0,50 0,58
50 6 9 10 11 12 5 10 43 14 0,86
11 11 0,67 0,80
75 7 10 12 13 14 13 49
6 12 12
18 0,93 0,86 0,91
95 9 12 14 15 15 14 54
8 14 23 1,08 1,00 0,93
14 15
Média 6,1 8,7 10,3 11,4 12,2 60 29 1,29 1,50 1,18
5,3 10,8 10,3
1,6 2,0 2,1 2,1 2,2 1,6 11,1 48,6 17,9
2,4 2,4 0,97 0,91 0,94
4,7
0,19 0,33 0,74
Tabela 22. Dados normativos
para participantes
com idade entre 41 e 50 anos (n= 116)
percentil AI A2 A3 A4 A5 BI
A6 A7 ReconhecimentoEscore
ALT Velocidade de Interferência Interferência
total esquecimento proativa retroativa
Tabela 24. Dados normativos para participantes com idade entre 61 e 70 anos (n= 180)
Escore Velocidade de Interferência Interferência
Percentil AI BI A7 Reconhecimento ALT
total esquecimento proativa retroativa
6 7 8 2 4 5 30 0,78 0,50 0,55
25 5 6 8 9 10 4 8 8 40 13 0,90 0,67 0,74
50 5 8 9 10 II 5 10 10 11 44 17 1,00 0,83 0,86
12 13 5 11 11 13 49 20 1,10 1,00
75 6 9 10 0,93
95 8 11 12 7 13 14 15 58 27 1,38 1,40 1,04
Média 5,5 9,1 10,3 11,3 4,7 10,4 44,0 16,4 1,01 0,92 0,84
1,6 1,9 2,0 1,9 1,4 2,6 2,6 3,8 7,6 6,1 0,24 0,61 0,16
55
(n -110)
com idade entre 71 e 79 anos
Tabela 25. Dados normativos para participantes
Velocidadede Interferência Interferência
Escore ALT proativa
esquecimento retroativa
PercentilAI A2 A3 A4 A5 BI A6 A7 Reconhecimento
Total
0,25 0,46 0,73
25
0,60 0,73 0,88
35 10
25
0,80 0,80 1,00
50 10 39
1,00 0,91 1,11
44 18
75 9 11 12 10 9 10
1,75 1,11 1,50
95 8 10 11 13 14 7 12 12 14 55 24
0,84 0,81 1,00
Média 5,09 6,96 7,98 9,19 10,27 4,05 8,29 8,05 7,72 39,48 14,04
0,39 0,19 0,29
DP 1,46 1,74 1,99 2,30 2,16 1,75 2,37 2,39 3,99 8,23 5,70
Tabela 26. Dados normativos para participantes com idade de 80 anos ou mais (n=69)
Escore Velocidade de Interferência Interferência
Percentil AI A3 BI A7 Reconhecimento ALT
esquecimento proativa retroativa
total
2 4 5 7 4 4 24 0,64 0,00 0,45
25 5 6 7 31 11 0,75 0,57 0,67
50 7 8 10 3 34 13 0,89 0,80 0,78
75 5 7 7 9 11 4 9 8 36 17 1,00 1,00 0,89
95 9 10 11 13 6 11 10 14 47 22 1,20 1,50 1,13
Média 4,1 6,9 9,6 3,2 7,5 6,7 5,8 34,5 13,9 0,91 0,81 0,79
1,4 1,5 1,7 1,6 2,1 1,7 2,2 2,0 6,3 5,5 0,23 0,41 0,22
8.Casos clínicos
Transtorno neurocognitivo
maior
L.T.M., sexo masculino,
69 anos, nível
neuropsicológica por seu escolar médio. O paciente foi encaminhado para avaliação
nitivo, possivelmente neurologista. No
decorrente da Doençaencaminhamento suspeita-se de transtorno neurocog-
e alteraçÓes discretas nos de Alzheimer,dado o histórico familiar para a doença
exames de imagem
Essas queixas envolvem, somados a queixas pontuais de memória.
vezes a mesma coisa e, por sobretudo, perder objetos,esquecer-sede compromissos,dizer repetidas
vezes, realizar a mesma
seus compridos para doenças tarefa mais de uma vez (por exemplo, tomava
cognitivas subjetivas, embora cardiovasculares mais de uma vez ao dia). L.T.M.apresenta queixas
relate dificuldadesmais brandas do
nhante. As queixas, contudo, são que as percebidas pelo acompa-
convergentes: ambos concordam que houve mudança importante
da memória no dia a dia. As
dificuldades
sobretudo em aspectos mais complexos, cognitivas geram algum prejuízo em sua funcionalidade,
em que o paciente requer ajuda parcial para sua realização.
Seus sintomas tiveram início insidioso
(há aproximadamentedois anos) e progressão lenta,
embora perceptível. As queixas mais
proeminentes são de memória, mas nota-se, ainda, alguma
dificuldade no funcionamento executivo e alguns
erros de linguagem no dia a dia.
O diagnóstico de transtorno neurocognitivomaior
ou leve, segundo o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais —5 ed. (DSM-5)envolve evidência declínio
de cognitivo a par-
tir de nível anterior de desempenho em um ou mais domínios cognitivos, com base
na queixa ou
preocupação do indivíduo, de um informante com conhecimento do caso ou do clínico e prejuízo
substancial no desempenho cognitivo,de preferência documentadopor teste neuropsicológico
padronizado. Somam-se a isso déficit proeminente (transtorno neurocognitivo maior) ou discreto
(transtorno neurocognitivo leve) nas atividades de vida diária instrumentais complexas, déficits
não explicados por delirium ou outro transtorno mental.
Diante da hipótese diagnóstica de transtorno neurocognitivo maior —dado o prejuízo funcional
evidente —,elabora-se um protocolo de avaliação cognitiva com objetivo em documentar possíveis
dificuldades em relação à memória, linguagem, processamento espacial, atenção, funções executi-
vas e cognição social. Escolhe-se o Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbalde Rey (RAVLT)como
uma das ferramentas para avaliação da memória. No transtorno neurocognitivo maior decorrente
da Doença de Alzheimer esperam-se dificuldades ao longo de quase todo o RAVLT.A doença com-
promete estruturas dos lobos temporais mesiais e posteriormente o neocórtex, prejudicando os
mecanismos de codificação, armazenamento e recuperação da memória episódica.
NO teste, L.T.M. apresenta prejuízo importante na maior parte das medidas avaliadas, como
demonstrado na tabela a seguir.
57
Jonas Jardim de Paula I Leandro Fernandes Malloy-Diniz
6 11,3
BI 5 4,7 Entre 50 e 75
4 2,6 5
2
Reconhecimento 1 10,4
Escore total 30 44,0 7,6 5
ALT 5 16,4
Envelhecimento típico
B.M., sexo feminino, 64 anos, curso superior em
para avaliação neuropsicológica por apresentar pedagogia foi encaminhada
queixas de esquecimento. por seu psiquiatra
de depressão em remissão atual. Seus exames Paciente com históriC0
clínicos não apresentam
Os esquecimentos começaram durante a crise
depressiva, mas mesmo alterações dignas de nota•
ainda persistem. Digno de nota, a paciente não com a remissão dos sintomas
episódio atual coincide com sua aposentadoria e apresentou qualquer episódio depressivo prévio e o
necessidade de adaptação
à nova rotina. A entrevista
58
com seus filhos não RAVLTTestedeAprendizagemAuditivo-Verbal
deRey
sugere qualquer
contrário, notam que a dificuldade perceptível por eles no
dia a dia da paciente. Pelo
período não perceberam paciente estava muito desmotivada há cerca de seis
qualquer sinal patológico meses. Mesmo nesse
Atualmente, sabe-se que relacionado a esquecimentos.
cionadas à memória
os quadros de
episódica, funções Depressão Maior cursam com alterações cognitivas rela-
Tais déficits são executivas, atenção executiva e velocidade de processamento.
geralmente potencializados
de episódios e duração pela gravidade da doença ao longo da vida, número
das crises. Há
tendem a persistir com evidências ainda de que mesmo fora das crises, os pacientes
sintomas depressivos.
memÓria, é particularmente A avaliação cognitiva e, em particular de déficits de
pacientes deprimidos devem importante nesses casos, já que as alterações neuropsicológicas em
A avaliação de B.M. ser alvo terapêutico.
incluiu todos os passos
sendo o RAVLTum dos sugeridos por Malloy-Diniz e colaboradores (2()16),
procedimentos adotados para avaliação da
pode ver agora, o desempenho memória episódica. Como se
de BM esteve dentro da média populacional
para a faixa etária.
Tabela 28. Desempenho do paciente
BM no RAVLT
RAVLT
Pontuação Média Percentil
7 5,5 1,6 Entre 75 e 95
8 7,8 1,9 50
8 9,1 2,0 25
10 10,3 1,9 50
12 11,3 Entre 50 e 75
BI 7 1,4 95
12 2,6 Entre 75 e 95
12 2,6 Entre 75 e 95
Reconhecimento 13 10,4 3,8 75
Escore total 45 44,0 7,6 Entre 50 e 75
ALT 10 16,4 6,1 Entre 5 e 25
PC., 10 anos e seis meses, aluna do 42. ano do ensino fundamental tem histórico de atraso no
desenvolvimento motor e da linguagem. Apresentou atraso no processo de alfabetização e, em ava-
liações anteriores foram levantadas as hipóteses de deficiência intelectual leve e, posteriormente,
de Transtorno Específico de Aprendizagem da Linguagem. A aluna estuda em uma escola regular,
mas, amparada pela lei de diretrizes e bases, realiza suas atividades em regime de inclusão. Re-
centemente, o neuropediatra levanta a hipótese de Transtorno Específicoda Linguagem, já que a
aluna apresenta dificuldades para compreender e usar adequadamente linguagem oral e escrita.
59
Jonas Jardirn do Paula I Loandro Fernandes Malloy-Diniz
Nesses casos é fundamental a comparação entre aspectos verbais e não verbais das mesmas funções
cognitivas. No caso da memória episódica a comparação foi realizada comparando o desempenho
nos testes RAVLTe na figura complexa de Rey.
O desempenho no toste da figura complexa de Rey, na evocação após três minutos, foi de 20
pontos (percentil 75), estando, portanto, na média superior da população de mesma idade. No en-
tanto como se pode observar na Tabela 29, seu desempenho se mostra oscilando entre limítrofe e
médio inferior nos indicadores de aprendizagem, memória de curto e longo prazo. A interferência
retroativa apresentou desempenho médio superior.
I lá evidências na literatura de que indivíduos que apresentam dificuldades no desenvolvimento
da linguagem escrita (Silva et al., 2015) e oral (Records et al., 1995) podem apresentar desempenho
menos eficiente em indicadores de aprendizagem do RAVLT.No caso específico de crianças com
Transtorno Específico da Linguagem, a dissociaçãoentre processos visuais e verbais de aprendi-
zagem e memória tem sido sustentada por estudos como a de Ricio e colaboradores (2007) . Esses
dados sustentam a hipótese da existência de uma menor competência para decodificar,armazenar,
organizar e evocar material verbal nesse grupo clínico. Tal fato é evidenciado no caso de J. C. já
que verificamos um desempenho discrepante e mais eficiente nas medidas de aprendizagem visual
(evocação da Figura Complexa de Rey com percentil 75).
60