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CAAcustica 3

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Conforto Ambiental:

Acústica
Material Teórico
Tratamento Acústico

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Vanderlei Rotelli

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Tratamento Acústico

• Introdução;
• Absorção Sonora.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer materiais e usos para a execução dos projetos de tratamento acústico.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Tratamento Acústico

Introdução
Quando tratamos de conforto ambiental acústico, mesmo que este conceito seja
subjetivo, como já estudamos, deve estar balizado por alguns parâmetros, e no caso
brasileiro esses parâmetros estão estabelecidos em nossas normas e regras.

A Norma Brasileira de Regulamentação (NBR) 10151, por exemplo, trata da


medição do nível sonoro em áreas habitadas. Essa norma indica as formas de me-
dição desses níveis, e facilita e agiliza os processos em caso de excesso de ruído
provocado por indústrias ou comércios em áreas que tenham residências.

A NBR 10151 indica os níveis sonoros para cada tipo de uso de um ambiente,
preservando o conforto sonoro dos espaços, em função da utilização, ou seja, os
níveis sonoros que são admitidos em um teatro, por exemplo, são diferentes dos
níveis sonoros que são admitidos em uma biblioteca, e é necessário que esses níveis
sejam definidos e seguidos – e é disso que trata essa norma.

No caso de arquitetos e engenheiros em geral, não apenas os especializados em


acústica, temos ainda a NBR 10575, que fixa o desempenho das vedações usadas
em edificações, ou seja, o quanto essas vedações, sejam paredes, sejam caixilhos,
ou sejam lajes entre unidades, podem deixar passar de som; caso os índices dentro
de uma unidade habitacional superem o que foi fixado na NBR, os projetistas e
construtores podem ser processados judicialmente.

Outra norma que deve ser utilizada em nossos projetos é a NBR 12179, que
aborda o tratamento acústico de ambientes, listando os níveis de absorção sonora
de vários materiais, e que deve ser utilizada nos cálculos dos tempos de reverbera-
ção dos espaços, de acordo com o seu uso e a sua finalidade, além, é claro, de suas
dimensões e de seu volume.

Você consegue perceber que, devido a todas essas normas e regulamentações,


a poluição sonora e o ruído urbano nas grandes cidades são problemas sérios e,
como arquitetos e cidadãos, precisamos fazer o possível para ajudar a resolver tal
situação. Certamente, um bom projeto de arquitetura ou de urbanismo é um grande
passo para essa resolução. De modo que para entender as características do som,
precisamos compreender tais aspectos para podermos utilizá-las em nossos proje-
tos de tratamento acústico.

O som se propaga a partir de um emissor, em todas as direções, de forma


esférica, ou seja, o som é um fenômeno tridimensional. O que acontece quando
essa onda encontra uma barreira fixa e resistente? Nesse caso ocorre o fenômeno
chamado de reflexão, ou seja, as ondas retornam para o emissor. Quando essa
barreira tem uma abertura, ocorre o fenômeno da difração, em que o som passa
pela mencionada abertura e se espalha, como se viesse de uma outra fonte – com
menos intensidade.

Utilizaremos essas características e algumas outras que veremos agora em nos-


sos projetos de tratamento acústico.

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A próxima característica do som a ser estudada é a ressonância, que pode ser en-
tendida como a vibração de um corpo que é influenciada pela vibração de outro cor-
po. Você já deve ter visto a cena clássica de um copo de cristal sendo quebrado por
uma pessoa que se utiliza apenas da voz, certo? Isso acontece pela ressonância, ou
seja, a voz da pessoa emite vibrações, caso a frequência dessas vibrações coincida
com a frequência das vibrações da taça, o aumento na amplitude da onda, devido ao
aumento de potência, fará com que a estrutura da taça acabe por colapsar e quebrar.

Assista a este vídeo, do programa da “Eliana”, onde um participante consegue quebrar a taça
Explor

com a voz. Disponível em: https://youtu.be/7QxER6Db5f4

Mas a ressonância tem um papel importante em nossos estudos sonoros, para


que possamos entender o funcionamento dos instrumentos musicais – e como pro-
duzem cada som característico.

Um instrumento de corda funciona por ressonância, ou seja, quando o músico


aperta a corda de um violão, esta é dividida em duas partes, que vibram em frequ-
ências próximas e aumentam a sua potência, associando-se à caixa ressonante que
é o corpo do instrumento, amplificando o som.

Outra característica fundamental e que precisamos conhecer é a difusão, a qual


faz com que uma sala tenha uma qualidade de som mais homogênea.

Figura 1 – Difusão das ondas sonoras

Na Figura 1 é possível ver como as ondas sonoras se chocam com uma su-
perfície que é rígida, mas que não é lisa – podemos ver como as ondas mudam
de direção. O que acontece é que a difusão causa um espalhamento no som, de
forma geral, distribuindo-o de modo mais uniforme no ambiente. Essa é uma das
características que mais utilizamos no tratamento acústico, pois com determinada
intensidade sonora conseguimos preencher um ambiente de maneira regular.

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UNIDADE Tratamento Acústico

Figura 2 – Difusores de som


Fonte: Reprodução

Utilizamos o princípio da difusão para a redução do ruído e tempo de reverbera-


ção – ainda estudaremos o que é o tempo de reverberação – e também para o dire-
cionamento do som, melhorando a inteligibilidade e sua qualidade em um ambiente.

A Figura 2 mostra um modelo de difusor acústico, que é colocado para que o


som se espalhe de forma semelhante por todo o ambiente, direcionando as ondas,
ou os raios sonoros, para lugares que tenham pouca intensidade sonora.

Outra preocupação deve ser a estética final, ou seja, o aspecto que o projeto
terá, devendo ser um dos fatores a serem considerados na execução de um projeto
acústico, já que existe grande variedade de difusores no mercado – e a escolha de
qual será utilizado é feita pelo projetista responsável.

Outra característica do som que devemos entender é a reverberação, que tem


relação direta com outro aspecto que já estudamos – a reflexão. A reverberação
pode ser entendida como um prolongamento do som, isto é, quando as ondas so-
noras são refletidas várias vezes dentro de um ambiente, fazendo com que um som
se prolongue por muito tempo. Um tempo muito longo de reverberação faz com
que o som fique ininteligível, ou seja, impossível de ser entendido.
Explor

Exemplo de Reverberação: http://bit.ly/2LolpRd

Como é possível no link acima, existem vários raios sonoros que chegam ao re-
ceptor a partir do emissor, cada um desses raios faz um percurso diferente, alguns
mais diretos e, portanto, mais rápidos; alguns com mais desvios e, portanto, mais
lentos. Mas o que isto significa?

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Isso quer dizer que teremos vários raios sonoros chegando ao mesmo receptor
em tempos diferentes, ou seja, esse receptor ouvirá o mesmo som várias vezes, em
momentos específicos. Dessa forma, será muito difícil conseguir entender o que é
dito, já que a mesma letra e as mesmas palavras chegarão aos ouvidos do recep-
tor em vários momentos. É claro que a intensidade sonora vai diminuindo com o
tempo, ou seja, quanto mais tempo os raios sonoros ficarem no ambiente, menos
potência terão, e com o tempo o som desaparecerá, mas até que isto aconteça, o
entendimento da fala será quase impossível.

O tempo de reverberação tem uma relação direta com o tamanho do ambiente,


ou mais precisamente com o volume do ambiente, isto é, ambientes com grandes
volumes possuem maior tempo de reverberação, logo, o som ficará mais tempo
circulando nesse espaço.

É claro que existem lugares e momentos em que pode ser interessante que o
tempo de reverberação seja alto: imagine uma catedral gótica, com um grupo de
padres rezando uma missa com o auxílio do canto gregoriano, ou uma récita de
um órgão! O tempo de reverberação dentro de uma dessas igrejas é muito alto,
chegando a vários segundos. Tal tempo de reverberação faz parte dos efeitos ca-
racterísticos desse tipo de música – do contrário, as composições feitas para serem
executadas nesses espaços não teriam a mesma sonoridade.

A reverberação e reflexão nos ajudam a entender outro fenômeno característico


do som, o eco, que pode ser considerado como um tipo específico de reverberação.
O eco é a repetição inteligível de uma palavra que acaba de ser dita. Como o ouvi-
do humano tem a capacidade de distinguir sons com um intervalo mínimo de 0,1s
entre os quais, é necessário que o tempo mínimo entre a produção de um som e o
seu retorno para os nossos ouvidos seja de 0,1s.

Mas o que isso quer dizer na prática? Como você se lembra, a velocidade do
som é de 340 m/s. Como conseguimos distinguir sons com intervalos de 0,1s, isso
significa que o som precisa percorrer, pelo menos, 34 metros antes de retornar aos
ouvidos da fonte emissora para que seja entendido como um eco, de modo que o
som que acabou de ser emitido deve encontrar uma barreira rígida a, pelo menos,
17 metros de distância para que seja captado corretamente pelo emissor.
Explor

Eco: http://bit.ly/2ZwZnFX

Você consegue entender a diferença entre o eco e a reverberação? Para um eco,


além de uma distância mínima, o ideal é que tenhamos apenas um obstáculo. Caso
tenhamos uma distância menor do que essa, e mais obstáculos, como paredes, por
exemplo, teremos a reverberação. A principal diferença entre esses dois fenômenos
é a inteligibilidade – ou a sua falta – do som.

Finalizando os conceitos que devemos entender, trataremos da absorção e


transmissão sonora.

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UNIDADE Tratamento Acústico

A absorção e transmissão são características de todos os materiais, isto é, em


alguma medida todos os materiais absorvem certa quantidade do som que chega
até os quais e, parcialmente, transmitem o som que lhes alcança.

A transmissão sonora, como o próprio nome diz, é a transmissão das ondas


sonoras através de um material, dando-se de duas maneiras: aérea e por impacto.

É a transmissão aérea que faz com que os moradores de unidades residenciais


contíguas ouçam os ruídos uns dos outros, ou seja, as ondas sonoras chegam até as
paredes, onde uma parte do som é refletida de volta para o emissor, enquanto outra
parte é transmitida através destas, fazendo com que um morador ouça a televisão
do outro quando está com o volume alto, ou ouça uma conversa mais acalorada.

A transmissão por impacto é mais comum em lajes, isto é, quando o seu vizinho
do andar de cima pisa com muita força ou quando um objeto pesado cai no chão,
de modo que o som é transmitido pelo impacto – e não pelo ar.

A NBR 10575 impõe limites a esses tipos de transmissão, o que significa que o
material que será utilizado para a vedação entre as unidades deverá ser escolhido
em função da sua absorção sonora, ou deverá ser combinado com algum tipo de
isolante acústico. A mesma coisa acontece com as lajes que deverão receber uma
camada de isolante acústico, evitando a transmissão por impacto.

Figura 3 – Transmissão sonora


Fonte: Acervo do conteudista

Absorção Sonora
A absorção ocorre quando o som que chega até determinado material é “absor-
vido” pelo qual, ou seja, esse som para de se propagar e não é refletido de volta ao
ambiente ou à fonte. Como a absorção sonora está diretamente ligada à dissipação
sonora, já que o som penetra nesses materiais e perde a sua potência, os materiais
que são considerados bons absorvedores de sons são os porosos, leves e moles.

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Se pensarmos em uma escala pequena, os raios sonoros penetram nesses ma-
teriais macios através dos poros ou das aberturas que apresentam, e vão perdendo
a sua potência, ficando “presos” nessas fibras, ou nesses pequenos espaços. Por tal
motivo, os materiais que são considerados bons absorvedores sonoros incluem as
espumas, lãs de vidro, de rocha ou de Polietileno Tereftalato (PET), os tecidos, des-
de que tenham uma espessura relativamente grande e os feltros – você já deve ter
reparado que as paredes dos cinemas e de alguns teatros são revestidas de carpete,
certo? Agora você entendeu a razão disso.

Essa é a característica do material que é a mais utilizada no tratamento acústico de


ambientes, controlando os ruídos e a reverberação, isto é, a distribuição de materiais
absorventes sobre as superfícies de um espaço, tais como paredes, pisos, tetos e até
mesmo em mobiliário, diminuindo o tempo de reverberação e os ruídos no ambiente.

A capacidade de absorção do som de cada material é chamada de coeficiente


de absorção sonora e ocorre quando parte da energia incidente sobre esse mate-
rial é dissipada, transformando-se em energia térmica.

O coeficiente de absorção sonora varia de 0 a 1, onde 0 significa que toda a


potência sonora que chega a esse material é refletida de volta ou transmitida através
do qual, e 1 diz que toda a potência sonora que chega à superfície desse material
é absorvida. Geralmente, tal coeficiente é dado em frações decimais como, por
exemplo, 0,1 ou 0,35, mas também pode ser fornecido em porcentagem: 0,1 cor-
responde a 10%; 0,35 corresponde a 35% etc.

Esse coeficiente depende de vários fatores como, por exemplo, da densidade e


estrutura desse material. Como já vimos, materiais porosos são melhores absor-
vedores de som do que os lisos e rígidos. As condições de montagem do material
também influenciam em sua capacidade de absorção, isto é, existe uma diferença
de absorção – por exemplo, se o material for montado encostado em uma superfí-
cie, ou se for montado distante dessa superfície. No primeiro caso, o material não
poderá se movimentar, o que diminui a sua capacidade de absorção, enquanto o
material montado a uma certa distância de uma superfície pode se movimentar
mais livremente. Outros fatores, tais como ângulo de incidência da onda sonora e
a frequência desta onda também alteram esses coeficientes de absorção, alterando
as qualidades acústicas dos materiais.

Você deve estar se perguntando como é medido o coeficiente de absorção sono-


ra, certo? Qual é a unidade desse coeficiente, não é mesmo? Muito bem, entendere-
mos como é realizada essa medição. Começaremos compreendendo um pouco da
história da acústica arquitetônica. Essa área começou com um físico estadunidense
chamado Wallace Clement Sabine. Tal físico começou a estudar vários auditórios e
percebeu que, em alguns, o entendimento das palavras era melhor que em outros,
e começou a se questionar sobre o que mudava de um para o outro.

Sabine percebeu, então, que as diferenças entre esses espaços era o material,
e iniciou alguns testes, fazendo mudanças nos materiais de acabamento desses
espaços, e alterando, assim, a acústica dos ambientes. Dessa maneira, Sabine
percebeu que alguns materiais deixavam o ambiente com uma sonoridade mais

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UNIDADE Tratamento Acústico

inteligível, ou seja, em função do que era empregado, o tempo em que o som ficava
reverberando no espaço era alterado, o que facilitava o entendimento.

A partir de tais estudos, Sabine começou a perceber o coeficiente de absorção


de cada material e como poderiam ser utilizados para o “tratamento” acústico dos
ambientes, ou seja, como esses materiais deveriam ser empregados em cada espa-
ço para aumentar ou diminuir o tempo de reverberação, facilitando o entendimento
do que era dito, melhorando a inteligibilidade.

Como Sabine foi o precursor desses estudos e percebeu a característica de cada


um dos materiais, a unidade de medida da absorção sonora é o Sabine, nomeada,
obviamente, em sua homenagem.

Atualmente a aferição do coeficiente de absorção de um material é feita de uma


forma normatizada, ou seja, diferentemente do que era realizado por Sabine, que
se utilizava da própria audição e de um cronômetro para determinar quanto tempo
um som ficava no ambiente – atualmente são empregadas câmaras ressonantes.

Em tais câmaras ressonantes existe um rígido controle sonoro, definido em nor-


mas como, por exemplo, a ISO 354, com uma medição exata da reverberação
dentro do ambiente. Para conseguir essa precisão, tal ambiente é totalmente iso-
lado dos ruídos externos e sons, em diferentes frequências, são emitidos por um
alto-falante, e é medido o tempo necessário para que esses sons parem de circular
nesse espaço, com a ajuda de microfones extremamente sensíveis. Dessa forma é
determinado o tempo de reverberação nessa sala.

Quando um fabricante quer levantar o coeficiente de absorção sonora de um ma-


terial, é colocada uma amostra de 1 m² dentro de um ambiente, em um local pré-
-determinado. Com o material em posição, um alto-falante emite a mesma série de
sons em várias frequências. Os microfones também captam quanto tempo o som
fica reverberando no ambiente. Com a diferença de tempo entre as duas medições
é possível determinar o coeficiente de absorção sonora da amostra fornecida.

Figura 4 – Câmara ressonante


Fonte: usp.br

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Essas medições são realizadas em instituições certificadas, pois os níveis de ru-
ído produzidos pelas máquinas e aparelhos são definidos por normas que devem
ser observadas. Na Figura 4, por exemplo, a câmara apresentada é do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT), ligado à Universidade de São Paulo (USP). Na Figura
é possível ver uma grande porta, a qual permite a passagem de veículos, máquinas
e equipamentos que necessitam de aferição de suas qualidades sonoras que, por
sua vez, devem também atender às normas. Isso mostra como é séria a questão
acústica para a nossa sociedade, de modo que a medição e aferição desses dados
deve, portanto, ser encarada de maneira séria por todos, inclusive por arquitetos,
engenheiros e designers.

1,2

1,0
Coeficiente de Absorção ()

0,8
equivalente m2

0,6

0,4
Espaçamento - 15 cm entre painéis
0,2
Espaçamento - 15 cm entre painéis
0,0
125Hz 250Hz 500Hz 1000Hz 2000Hz 4000Hz NRC
Espessura

35 0,15 0,48 0,76 0,86 1,08 1,03 0,80


(mm)

50 0,19 0,53 0,85 0,99 1,10 1,05 0,90


Frequência (Hz)
Ensaio realizado conforme norma ISO: 354

Figura 5 – Tabela de absorção


Fonte: Adaptado de owa.com.br

A Figura 5 mostra uma tabela de absorção de um forro acústico, na qual é


possível ver várias frequências sonoras e o coeficiente de absorção desse material
para cada uma das quais. Para a frequência de 500 Hz, por exemplo, esse material
absorve 0,76 Sabine, ou 0,85 Sabine, dependendo do espaçamento definido para
a instalação das placas. Você deve ter notado, também, que as frequências mais
baixas têm uma absorção muito menor do que as frequências altas. Isso acontece
com todos os materiais de absorção acústica. Os sons de baixa frequência, ou mais
graves são mais difíceis de serem bloqueados ou absorvidos.

Quando os seus projetos precisarem de tratamento acústico, você consultará


tais tabelas antes de definir os materiais que serão utilizados, além de estabelecer a
forma como serão usados e as superfícies onde serão aplicados.

Uma das descobertas mais importantes desse físico – e utilizada até hoje – é a
fórmula para o cálculo dos tempos de reverberação de um ambiente. Um tempo de
reverberação muito alto deixa o som ininteligível, como já estudamos, mas um tem-
po de reverberação muito baixo pode deixar o som seco, isto é, embora inteligível,
o som parece uma fala brusca e violenta, algo que não é agradável aos ouvidos.

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UNIDADE Tratamento Acústico

O tempo de reverberação correto é fundamental, principalmente em ambientes


onde a inteligibilidade do som é essencial. Em um auditório com um projeto de
acústica, por exemplo, um bom tempo de reverberação pode fazer com que seja
desnecessário o uso de amplificação elétrica como, por exemplo, o uso de micro-
fones e alto-falantes; enquanto que em uma sala de jantar dificilmente teremos
problemas com um tempo de reverberação.

Em suas experiências, Sabine descobriu que além dos materiais de acabamento


utilizados em um ambiente, as dimensões do espaço também deveriam ser levadas
em conta e, principalmente, o seu volume.

A fórmula de Sabine para o cálculo do tempo de reverberação diz o seguinte:


• TR = 0,161 x (V ÷ ΣS);
• TR = Tempo de Reverberação;
• 0,161 = constante de Sabine;
• V = Volume do ambiente;
• ΣS – Somatória das áreas de absorção.

Parece confuso? Não se preocupe, entenderemos cada um desses itens e você


perceberá que tal cálculo é simples de ser executado.

O Tempo de Reverberação (TR) do ambiente é o valor que queremos encontrar,


de modo a verificar se esse tempo é o ideal, de acordo com a NBR 12179 e com
o uso do espaço.

O Volume (V) é aquele calculado do espaço, obtido quando multiplicamos as


medidas das paredes pela altura do pé-direito da sala.

Finalmente, temos a somatória das superfícies de absorção (ΣS). Mas o que são
as superfícies de absorção? Quando mencionamos um ambiente construído para o
cálculo do tempo de reverberação, tratamos do espaço formado por paredes, piso
e teto. Cada um desses elementos tem determinada área, isto é, cada uma das pa-
redes, o teto e piso têm áreas diferentes e, além disso, tais elementos também são
construídos ou revestidos com um ou mais materiais – mesmo que esses elementos
ainda não tenham nenhum tipo de revestimento.

Cada um desses materiais de construção ou de revestimento tem um coeficiente


de absorção específico – conforme acabamos de entender. A área de absorção, por-
tanto, é a área da superfície multiplicada pelo coeficiente de absorção do material.
Veja um exemplo:

16
Figura 6 – Sala
Fonte: Acervo do conteudista

Na Figura 6 temos uma sala de aula ou um auditório. Calcularemos a área de


absorção dessa sala. Assim, você entenderá, na prática, como funciona a fórmula
de Sabine para calcular o tempo de reverberação.

Começaremos com a parede que está à frente no desenho e que tem a porta.
Vamos chamá-la de parede 1. É interessante que você sempre organize o seu pen-
samento desse modo, racionalizando o seu trabalho, ou seja, teremos as paredes 1,
2, 3 etc. Na Figura 7 é possível ver que a área dessa parede é de 15,00 m², ou seja,
5,00 m de largura, multiplicado por 3,00 m de altura. Lembre-se que na figura 6,
estamos vendo as medidas externas da sala, enquanto que, para nossos cálculos,
devemos utilizar as medidas internas, conforme a figura 7.

Figura 7 – Parede 1
Fonte: Acervo do conteudista

É igualmente possível notar que temos uma porta nessa parede. Tal porta é
de madeira maciça, que tem um coeficiente de absorção sonora de 0,06 Sabine,
a parede de alvenaria tem um acabamento em reboco liso com pintura, com um
coeficiente de absorção sonora de 0,03 Sabine. Como vimos, esse coeficiente de
absorção variará de acordo com a frequência sonora, portanto, quando fazemos
esse tipo de cálculo, utilizamos uma frequência de 500 Hz, considerada média.

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UNIDADE Tratamento Acústico

Como cada um desses materiais tem um coeficiente diferente, o nosso próximo


passo será calcular a área de cada um desses elementos para depois encontrarmos
as áreas de absorção dos quais.

Nossa porta tem 1,00 m de largura por 2,10 m de altura, bastando fazer a mul-
tiplicação, conforme a seguir:
• Área porta = 1,00 m × 2,10 m = 2,10 m²

Para encontrar a área de alvenaria, basta subtrair a área que acabamos de cal-
cular da porta, da área que já conhecemos da parede, conforme mostrado a seguir:
• Área alvenaria = 15,00 m² - 2,10 m² = 12,90 m²

Depois de descobrir a área de cada material, encontraremos a área de absorção


de cada um desses elementos. Começaremos pela porta, já que foi o primeiro ele-
mento com o qual trabalhamos. Para calcular a área de absorção, multiplicaremos
a área da porta pelo seu coeficiente de absorção sonora, vejamos:
• S porta = 2,10 m² × 0,06 Sabine = 0,126 Sabine/m²

Significa que, das ondas sonoras que chegarem à porta, 12,6% serão absor-
vidas. Uma parte do restante dessas ondas será refletida de volta para dentro do
ambiente, e uma outra parcela será transmitida para outro ambiente através desse
material. Simples de entender estes conceitos, certo?

Calcularemos a área de absorção sonora da parede, tal como mostra a se-


guinte equação:
• S alvenaria = 12,90 m² × 0,03 Sabine = 0,387 Sabine/m²

Simples até aqui, certo? Até agora conseguimos a área de absorção de cada um
dos elementos que compõem a parede. Para que possamos obter a área de absor-
ção da parede, devemos, finalmente, somar os dois resultados:
• S parede1 = 0,126 m²/Sabine + 0,387 m²/Sabine = 0,513 m²/Sabine

Significa que a área de absorção dessa parede é de 0,513 m²/Sabine.

Voltando à fórmula do tempo de reverberação, devemos fazer os mesmos cálcu-


los para as demais paredes, encontrando a área de absorção de cada uma das quais,
utilizando as suas áreas e os coeficientes de absorção de cada um dos elementos
que compõem as paredes; ou seja, caso tenhamos janelas, cortinas, revestimentos
cerâmicos, enfim, cada tipo de material utilizado nos acabamentos de cada uma
das paredes deve ser contabilizado. Suponhamos que as outras paredes também
não tenham nenhum tipo de revestimento, apenas a pintura, tal como na parede 1.
Consideraremos a parede 2 com uma das paredes com o comprimento de 10 m,
ou seja, conforme dito anteriormente, usaremos as medidas internas da sala; a área
dessa parede será de 30 m², e o cálculo da área de absorção será como se segue:
• S parede2 = 30,00 m² × 0,03 Sabine = 0,9 m²/Sabine

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Para a parede 3, que é a outra parede com 5 m de comprimento e que tem uma
área de 15 m², o cálculo ficará da seguinte maneira:
• S parede3 = 15 m² × 0,03 Sabine = 0,45 m²/Sabine

Finalmente, a parede 4, que é igual à parede 2, já sabemos que a sua área de


absorção é de 0,9 m²/Sabine.

Fácil até aqui, certo? Devemos, agora, calcular as áreas de absorção do piso e
teto de maneira semelhante ao que fizemos com as paredes. Ao começar pelo piso,
sabemos que a sua área é de 50 m²; o material em que o piso se apresenta neste
momento é o concreto aparente, ou seja, ainda não foi aplicado nenhum tipo de
revestimento; o coeficiente de absorção do concreto é de 0,03 Sabine, portanto, o
cálculo ficará desta forma:
• S piso = 50 m² × 0,03 Sabine = 1,5 m²/Sabine

Suponhamos que o teto tenha o mesmo acabamento do piso, portanto, temos


que a área de absorção do teto é igual à do piso, ou seja, 1,5 m²/Sabine.

Em projetos mais específicos, feitos por escritórios especializados em acústica


arquitetônica, os técnicos chegam a calcular as áreas dos mobiliários, e até mesmo
as das pessoas que utilizarão o espaço, a fim de obterem resultados mais precisos
e exatos. Em nossos projetos cotidianos, no entanto, não chegaremos a esse nível
de precisão.

De qualquer modo, com essas áreas de absorção calculadas, faremos a soma-


tória de todas para que utilizemos a fórmula de Sabine. Assim ficará a somatória:
• ΣS = S parede 1 + S parede 2 + S parede 3 + S parede 4 + S Piso + S Teto;
• ΣS = 0,513 m²/Sabine + 0,9 m²/Sabine + 0,45 m²/Sabine + 0,9 m²/Sabine +
1,5 m²/Sabine + 1,5 m²/Sabine = 5,763 m²/Sabine.

Para que utilizemos a equação de Sabine, falta um último dado que necessita ser
calculado: o volume da sala. Como você já sabe, o volume é lado × lado × altura,
ou seja:
• V = L × L × H;
• V = 5,00 m × 10,00 m × 3,00 m = 150 m³.

Com esses resultados podemos voltar à equação de Sabine, a fim de encontrar-


mos o tempo de reverberação dessa sala. Para tanto, basta colocar os valores em
seus lugares, vejamos:
• TR = 0,161 × (V ÷ ΣS);
• TR = 0,161 × (150,00 m³ ÷ 5,763 m²/Sabine);
• TR = 0,161 × 26,03 s;
• TR = 4,19 s.

19
19
UNIDADE Tratamento Acústico

Obtemos, então, que o tempo de reverberação em tal sala será de 4,19 segun-
dos, ou seja, um som ali emitido demorará 4,19 segundos para parar de circular
em tal ambiente.

Fácil de entender esses cálculos com este passo a passo, certo?

Todas as vezes encontraremos o tempo de reverberação dessa mesma maneira.


A nossa próxima etapa será fazer os ajustes desses tempos de reverberação em
função do uso da sala, o que estudaremos na próxima Unidade.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Cálculo do Tempo de Reverberação
Este site mostra o mesmo som com diferentes tempos de reverberação.
http://bit.ly/2ZvMfRt
Absorção sonora (ISO 10534-2 e ISO 354)
Este site mostra como é realizada a medição da absorção sonora.
http://bit.ly/2ZxdURH

Vídeos
Ensaio de Absorção Sonora da Lã de Rocha
https://youtu.be/uPVNS9YU0ys
Episódio 11: Tratamento Acústico: Tempo de Reverberação
https://youtu.be/3RZiDqgEmG4

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UNIDADE Tratamento Acústico

Referências
BISTAFA, S. R. Acústica aplicada ao controle de ruído. São Paulo: Blucher, 2018.

SOUZA, L. C. L.; ALMEIDA, M. G.; BRAGANÇA, L. Bê-á-bá da acústica


arquitetônica: ouvindo a arquitetura. São Carlos, SP: UFSCar, 2006.

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