Revista 90
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Revista 90
PALAVRA DO PRESIDENTE
O descobrimento do Brasil
ANDRÉ GASPERIN
PRESIDENTE DA ABE
Sim, o Brasil vitivinícola vive sua melhor época. Digo isso porque o brasileiro
está descobrindo o vinho brasileiro, infelizmente, movido pelos reflexos de uma
pandemia que só aqui já subtraiu mais de meio milhão de pessoas. Não temos
como negar, ignorar ou maquiar o momento vivido. Vidas são vidas. E a vida
precisa seguir em frente, forte, renovada, desafiadora e aberta ao novo.
Mas isso tudo não acontece por acaso. Muito trabalho, tentativa e erro, acertos,
ousadia, investimento, estudo e, por que não dizer, teimosia, formam essa mistura
capaz de reposicionar nossos rótulos em um novo patamar. E a pesquisa, novos
estudos, diferentes olhares e mentes inquietas têm contribuído, e muito, para este
avançar. Uma prova deste grandioso trabalho que envolve uma gigantesca cadeia
produtiva é a Revista Brasileira de Viticultura e Enologia e tudo o que está por
trás dela. São quase 200 artigos inéditos publicados, 12 somente nesta edição.
É a diversidade de temas que não apenas chega para preencher uma lacuna,
como também abre novos horizontes. Afinal, o universo do vinho é um mundo de
descobertas.
Saúde!
Comissão Organizadora
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• Enól. Carlos E. Abarzúa
• Enól. Christian Bernardi
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Ano 13 | Nº 13 | Novembro | 2021 • Dr. Erasmo José Paioli Pires
Publicação da ABE - Associação Brasileira de Enologia • Dr. Jean Pierre Rosier
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ISSN 2176-2139
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responsabilidade do (s) autor (es).
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SUMÁRIO
Foto: Tatiana Cavagnoli
VITICULTURA
12 Avaliação de nutrientes em mudas ENOLOGIA
de videira cv. Cabernet Sauvignon
em diferentes porta-enxertos
54 Efeito sobre a cinética
fermentativa de carvões
22 Incidência de viroses em videiras enológicos adicionados em
no Vale do Rio do Peixe (Brasil) mostos para elaboração de
e parâmetros de amostragem espumante
para indexação viral em videiras
86 Composição físico-química de
vinhos elaborados a partir do
ENOTURISMO cultivar Ruby Cabernet produzido
na Campanha Gaúcha
CARTA DO EDITOR
Boa leitura!
HOMENAGEM
Emiliano Santarosa1
Autor correspondente:
emiliano.santarosa@embrapa.br
Abstract
The aim of this study was to evaluate the influence of rootstock on the early development
of young grapevines with emphasis on nutritional variables. The vegetative growth and
nutrient content in the leaves of Vitis vinifera cv. Cabernet Sauvignon grafted on different
rootstocks were evaluated: Paulsen 1103 (Vitis berlandieri x Vitis rupestris), Mgt 101-14
(Vitis riparia x V. rupestris) and SO4 (V. berlandieri x V. riparia). Variables were evaluated for
vegetative growth, macronutrients and micronutrients in leaf tissues. Cabernet Sauvignon
grafted on Paulsen 1103, Mgt 101-14 and SO4 show differences in the absorption of
nutrients. Cabernet Sauvignon grafted on Paulsen 1103 have higher absorption of P, Ca,
Mg, Zn, Mn and B. The plants grafted on Mgt 101-14 showed a high level of K, S, Zn and
Fe. SO4 showed higher levels of Cu and intermediate levels of other nutrients. There were
changes in the nutritional ratio indices, mainly involving the potassium (K) content. The
rootstocks altered the vegetative growth of the scion, and Paulsen 1103 induced more
vigor and demanded greater absorption of total nutrients, SO4 caused intermediary vigor
and Mgt 101-14 presented the lowest vegetative vigor. Rootstocks influence nutrient
absorption, nutrient content and nutritional balance in young grapevines cv. Cabernet
Sauvignon, resulting from the physiology interaction between rootstock-scion.
Keywords: viticulture, plant physiology, nutrition.
Tabela 1. Teor de macronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) no tecido foliar de mudas
de videiras Vitis vinifera cv. Cabernet Sauvignon, enxertadas em diferentes porta-enxertos (Paulsen 1103,
Mgt 101-14 e SO4).
Macronutrientes (g kg-1)
Tratamento
N P K Ca Mg S
Cabernet Sauvignon / P1103 28,9 ns 12,7 a 17,2 c 15,7 a 6,6 a 3,1 c
Cabernet Sauvignon / Mgt 101-14 29,0 3,9 c 19,4 a 14,0 b 5,0 c 3,6 a
Cabernet Sauvignon / SO4 29,7 8,3 b 18,4 b 14,3 b 5,7 b 3,4 b
C.V. (%) 3,54 3,56 3,98 6,71 3,31 4,32
Pr 0,1897 < 0,0001 < 0,0001 0,0014 < 0,0001 < 0,0001
Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na coluna não diferem significativamente pelo método de Tukey, a 5% de probabilidade de erro.
ns: não significativo.
maiores em relação a outros experimentos (DALBÓ genótipos, o que pode ser pesquisado para fins de
et al., 2011; MIELE et al., 2009), possivelmente adaptação ou tolerância às condições de excesso
devido às diferenças no estádio de avaliação da desse micronutriente, que ocorrem em alguns
cultura, metodologia e características físico- solos com histórico de viticultura, e que devem ser
químicas do substrato. Esses micronutrientes são verificados com experimentos complementares.
importantes, pois estão relacionados à formação
de diferentes compostos orgânicos na planta, Houve diferenças nos indicadores de relação
influenciando nos processos metabólicos (TAIZ; nutricional, principalmente para os nutrientes
ZEIGER, 2009). Nesse sentido, a absorção tanto potássio, magnésio e cálcio no tecido foliar de
de macro, como micronutrientes, é influenciada mudas do cultivar Cabernet Sauvignon sobre
pelos porta-enxertos, podendo afetar a formação diferentes porta-enxertos. As mudas sobre Mgt
dos diferentes compostos orgânicos. Também, 101-14 apresentaram maior relação K/Mg, K/Ca,
os maiores teores de cobre para o SO4 são K/Ca+Mg, Ca/Mg (Figuras 1 e 2) em comparação
indícios do comportamento diferenciado entre os com Paulsen 1103 e SO4, devido à maior absorção
3,5 3,5
b
Índice de Relação Nutricional
3,0 3,0
a
c b
2,5 2,5 b
a
2,0 2,0 b
b
b a
1,5
c 1,5
b a
c a
1,0 1,0 b
c
0,5 0,5
0 0
N/K K/Mg K/Ca K/Ca+Mg Ca/Mg Ca+Mg
Figura 1. Índice de relação entre nutrientes (nitrogênio, Figura 2. Índice de relação entre nutrientes (potássio,
potássio, magnésio e cálcio) no tecido foliar de magnésio e cálcio) no tecido foliar de mudas de
mudas de videiras Vitis vinifera cv. Cabernet videiras Vitis vinifera cv. Cabernet Sauvignon,
Sauvignon, enxertadas em diferentes enxertadas em diferentes porta-enxertos
porta-enxertos (SO4, Paulsen 1103, Mgt (SO4, Paulsen 1103, Mgt 101-14). Médias
101-14). Médias seguidas pelas mesmas seguidas pelas mesmas letras minúsculas na
letras minúsculas na coluna não diferem coluna não diferem significativamente pelo
significativamente pelo método de Tukey, a método de Tukey, a 5% de probabilidade de
5% de probabilidade de erro. erro.
16,0
Cabernet Sauvignon / Paulsen 1103
a Cabernet Sauvignon / Mgt. 101-14
14,0
Conteúdo médio de Matéria Fresca (g planta-1)
12,0
10,0
a
8,0
6,0
b
a
b
4,0
b b c
2,0 c
0
MF Folhas MF Ramos MF Estacas MF Raízes
Figura 3. Conteúdo médio de matéria fresca (MF, g planta-1) das folhas, ramos, estacas e raízes por planta, para mudas
de Vitis vinifera cv. Cabernet Sauvignon, enxertadas em diferentes genótipos de porta-enxertos (Paulsen
1103, Mgt 101-14 e SO4). Médias seguidas por letras minúsculas iguais na coluna não diferem entre si ao
nível de 5% (p<0,05) de probabilidade pelo teste de Tukey. ns = não significativo. CV % = 15,6 (folhas); 16,7
(ramos); 6,7 (estacas); 18,1 (raízes).
6,0
b
b
5,0
4,0
3,0 a
a
2,0
a
b b
1,0 b b
c c
0
MS Folhas MS Ramos MS Estacas MS Raízes
Figura 4. Conteúdo médio de matéria seca (MS, g planta-1) das folhas, ramos, estaca e raiz por planta, para mudas de
Vitis vinifera cv. Cabernet Sauvignon, enxertadas em diferentes genótipos de porta-enxertos (Paulsen 1103,
Mgt 1014 e SO4). Médias seguidas por letras minúsculas iguais na coluna não diferem entre si ao nível de 5%
(p<0,05) de probabilidade pelo teste de Tukey. ns = não significativo. CV % = 13,2 (folhas); 14,7 (ramos); 7,0
(estacas); 12,7 (raízes).
Referências
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G.W.B; ZALAMENA, J.; BRUNETTO, G.; CERETTA,
C.A. Calagem, adubação e contaminação em
solos cultivados com videiras. Bento Gonçalves:
Embrapa Uva e Vinho, 2016a.
Osmar Nickel1
1
Embrapa Uva e Vinho
95701-008 Bento Gonçalves, RS
2
Epagri - Estação Experimental
de Videira
89564-506 Videira, SC
Autor correspondente:
thor.fajardo@embrapa.br
Abstract
Itália (Pirovano 65) e P8, cv. Prosecco, avaliados da planta e folhas assintomáticas (AS), localizadas
para GVA. no topo da planta (Figura 1, c1-c6).
Tabela 1. Incidência de vírus e viroide em amostras de videiras colhidas em vinhedos do Estado de Santa Catarina.
Variação no
Infecção por vírus e viroide (%)* número de
Vi- Combinação Município patógenos
nhe- cv. copa / de SC detectados
do porta-enxerto GLRaV-2 GLRaV-3 GLRaV-4 GVA GVB GRSPaV GFkV GYSVd-1
em cada
planta**
1 Isabel Precoce / Pinheiro 83,3 58,3 58,3 66,7 16,7 100,0 83,3 91,7 3a8
VR 043-43 Preto
2 Bordô / VR 043-43 Videira 91,7 83,3 33,3 83,3 58,3 91,7 100,0 100,0 4a8
3 Bordô / VR 043-43 Videira 91,7 100,0 16,7 8,3 25,0 58,3 58,3 91,7 3a6
4 Isabel / Paulsen 1103 Tangará 58,3 50,0 0,0 33,3 16,7 16,7 16,7 58,3 0a6
*Vírus/viroide: grapevine leafroll-associated virus 2, 3 e 4 (GLRaV-2, -3 e -4), grapevine virus A (GVA), grapevine virus B (GVB), grapevine fleck virus
(GFkV), grapevine rupestris stem pitting-associated virus (GRSPaV), grapevine yellow speckle viroid 1 (GYSVd-1).
**12 plantas avaliadas por vinhedo.
Referências
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MENEZES-NETTO, A.C; SOUZA, A.L.K.; ARIOLI,
C.J.; SOUZA, E.L.; HICKEL, E.R.; ANDRADE, E.R.;
SCHUCK, E.; ARAUJO FILHO, J.V.; GARDIN, J.P.P;
DALBÓ, M.A.; DAMBRÓS, R.N. Declínio e morte
de videiras no estado de Santa Catarina: causas
e alternativas de controle. Florianópolis: Epagri,
2016 (Epagri. Boletim Técnico, 175).
1
IFRS - Campus Bento Gonçalves
95700-206 Bento Gonçalves, RS
Autor correspondente:
marcus.almanca@bento.ifrs.edu.br
Abstract
The objective of this work was to evaluate the efficiency of alternative products based
on plant extracts and potassium phosphite in the control of downy mildew (Plasmopara
viticola) in Chardonnay grapevines cultivated in Serra Gaúcha subjected to vertical
shoot positioning trellis. The following substances were tested: Reynoutria sachalinensis
Extract (1.5 L ha-1); Melaleuca alternifolia Extract (1.5 L ha-1); Potassium Phosphite (2 mL
L-1); Eucalyptus Pyroligneous Extract (20 mL L-1); Acacia Pyroligneous Extract (20 mL L-1)
and a mixture of Eucalyptus Pyroligneous Extract (20 mL L-1) + Acacia Pyroligneous Extract
(20 mL L-1), applied weekly, from the beginning of flowering, totaling seven applications
of the products. Assessments of the incidence and severity of downy mildew on leaves
and bunches of the grapevine were carried out in four seasons, starting on the onset of
the first symptoms of the disease. Based on the severity data, the area under the disease
progress curve (AUDPC) was determined. All studied substances reduced the incidence
and severity of downy mildew on the leaves and bunches of the Chardonnay cv., with the
exception of the eucalyptus pyroligneous extract when used alone, which did not reduce
the disease incidence on bunches. The results of this study showed that the evaluated
substances can be an alternative for the integrated management of grapevine downy
mildew, thus improving the viticulture sustainability.
Keywords: downy mildew, Plasmopara viticola, plant extracts, phosphites.
Tabela 1. Efeito dos tratamentos na incidência de sintomas e na área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD),
utilizando dados de severidade de míldio nas folhas de videira cv. Chardonnay, em 06/01/2020, com os
respectivos índices de controle. Estação Experimental IFRS, Bento Gonçalves - Safra 2019/2020.
EPE (20 mL L-1) + EPA (20 mL L-1) 73,33 cd 25,84 274,96 b 67,03
EPE (20 mL L-1) + EPA (20 mL L-1) 73,33 bc 23,26 155,88 d 70,75
DAGOSTIN, S.; FORMOLO, T.; GIOVANNINI, O.; ISLAM, M.T. Bioactive Natural Products for
PERTOT, I.; SCHMITT, A. Salvia officinalis extract Managing Downy Mildew Disease in Grapevine.
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Plant Disease. Estados Unidos, v.94, n.5, p.575- of Major Grapevine Diseases: leading research.
580, mai. 2010. DOI: 10.1094/PDIS-94-5-0575 Boston: CABI, 2016.
Gustavo Schiedeck2
Autor correspondente:
priscilasilluc@gmail.com
produção orgânica tem seus princípios na agroecologia, que é uma ciência a qual
integra conhecimento de outras ciências naturais, pautada na busca de novos
pontos de equilíbrio. Para a viticultura, o sistema agroecológico de produção
consiste na aplicação de um conjunto de técnicas, dentre elas podemos citar o uso de
húmus líquido e cobertura verde. O objetivo deste trabalho foi avaliar a produtividade
da variedade de uva Bordô, submetida a diferentes concentrações de húmus líquido
e coberturas vegetais. As diferentes concentrações de húmus líquido aplicadas no
experimento foram 0%, 7,5%, 15% e 30%. Para a cobertura verde foram utilizadas aveia,
ervilhaca e o consórcio entre ambas. O delineamento experimental utilizado foi em
blocos, num arranjo fatorial 4 x 3, ajustado à análise de variância. As variáveis de produção
analisadas foram número de cachos por planta, produção por planta, produtividade por
hectare e massa média de bagas. A combinação de húmus líquido e cobertura vegetal
proporcionou efeito positivo para a produtividade da uva Bordô em sistema agroecológico,
assim como a concentração de húmus líquido a 15% mostrou-se mais eficaz.
Abstract
Organic production has its principles in agroecology, which is a science that integrates
knowledge of other natural sciences, based on the search for new points of balance. For
viticulture, the agroecological production system consists in the application of a set of
techniques, including the use of liquid humus and cover crops. The objective of this work
was to evaluate the yield of the Bordô grape variety submitted to different concentrations
of liquid humus and cover crops. The different concentrations of liquid humus applied in
the experiment were 0%, 7,5%, 15% and 30%. The cover crops consisted of oats, vetch
and a combination of both. Blocks were used in the experimental design in a 4 x 3 factorial
arrangement, adjusted for analysis of variance. The production variables analyzed were
number of bunches per plant, yield per plant, yield per hectare and average berry mass.
The combination of liquid humus and cover crops provided a positive effect for the yield
of Bordô grapes in an agroecological system, and the 15% liquid humus concentration was
more effective.
A agroecologia é uma ciência que integra O húmus líquido é uma infusão de húmus sólido de
conhecimento de outras ciências naturais, minhoca usando água como solvente (INGHAM,
sociais e econômicas, possibilitando análises 2005). Segundo Gómez (2006) e Arteaga et al.
e proposições técnico-científicas para (2007), o húmus líquido pode ser utilizado como
que a agricultura seja sustentável em sua biofertilizante, pois possui um grande aporte
multifuncionalidade (BIANCHINI; MEDAETS, nutricional (nitrogênio, fósforo potássio entre
2013). Tal conceito de sustentabilidade pauta- outros), microbiológico, bioquímico e compostos
se na busca permanente de novos pontos de que são importantes para a degradação. Sua
equilíbrio (SAMBUICHI et al., 2017). A adoção aplicação no solo aumenta a resistência da planta
de novas práticas (métodos) e tecnologias no a patógenos, incrementa a fixação biológica de
manejo da produção agrícola estão fortemente nitrogênio e nutrição, aumenta a quantidade de
relacionadas com a agricultura familiar, que carbono existente no solo e incrementa o número
é defendida por Castro Neto (2010), o qual a microrganismos existentes (PIZZEGHELLO et
considera a propriedade rural familiar o locus al., 2001; ZANDONADI et al., 2006; PIRES et al.,
ideal ao desenvolvimento de uma agricultura com 2009; ZHANG et al., 2015).
ações ambientalmente sustentáveis, em função de
suas características produtivas, que se baseiam na Dentro desse contexto, o objetivo desde trabalho
diversificação e pluriatividade, integrando, assim, foi avaliar o efeito de diferentes concentrações de
processos vegetais e animais. húmus líquido e diferentes coberturas verdes, em
um vinhedo agroecológico da variedade Bordô,
Para a viticultura, o sistema agroecológico para visando a sua produtividade.
a produção de uvas consiste na aplicação de um
conjunto de técnicas em que o produto final seja
resultado da interação simultânea de diversos
aspectos, que propiciem o equilíbrio nutricional, Material e Métodos
bioquímico e fisiológico da planta, químico, físico
e biológico do solo e do equilíbrio do ecossistema O experimento foi realizado em uma propriedade
e condições climáticas (NAVARRO, 2010). Outros agroecológica situada no distrito da Sesmaria,
aspectos importantes a serem considerados localizada na cidade de São Lourenço do Sul
são as variedades plantadas, como as uvas (RS), com coordenadas geográficas 31˚21’55’’S
americanas (Vitis labrusca), que se destacam pela e 51˚58’42’’W, em um vinhedo orgânico da
rusticidade. Dentre elas, a variedade Bordô tem variedade Bordô com 11 anos de idade, formado
uma alta resistência a doenças, boa adaptação às por plantas de pé franco, conduzidos em sistema
diversas condições edafoclimáticas e excelente espaldeira, com espaçamento 2,80 x 1,5 m, poda
adaptabilidade à baixa fertilidade (GIOVANNINI, mista, sem sistema de irrigação, sem cobertura
2014). plástica, de clima temperado e solo classificado
como argissolo vermelho amarelo.
As plantas de cobertura são uma alternativa
para a ciclagem de nutrientes, durante o período O delineamento experimental utilizado foi em
de entressafra, pois aprimora a capacidade blocos casualizados em arranjo fatorial 4 x 3,
produtiva do solo, favorecendo sua estruturação sendo quatro concentrações de húmus líquido 0,
e fornecendo nutrientes às culturas em sucessão, 7,5%, 15%, 30% e três tipos de coberturas verde
além de promover a manutenção ou até mesmo (aveia, ervilhaca e o aveia + ervilhaca), divididas
incrementar os teores de matéria orgânica e em quatro blocos com 5 plantas cada, totalizando
controlar plantas invasoras pelo efeito supressor/ 20 plantas por tratamento.
alelopático (HEINRICHS et al., 2001). Acentuam
a redução nas perdas de solo e de água e O experimento compreendeu duas safras,
reduzem a temperatura do solo durante o verão, 2016/2017 e 2017/2018, onde foram
decorrentes da presença de resíduos culturais na selecionadas seis linhas do vinhedo, sendo duas
superfície, após o manejo das espécies de inverno linhas para cada cobertura. No mês de maio de
O húmus líquido é a infusão do húmus sólido com Com a concentração de 30% de húmus líquido
água - onde o húmus sólido é proveniente da preparada, ocorreram, então, suas diluições:
vermicompostagem de esterco bovino, através de para preparar 15% de húmus líquido, utilizou-
minhocas da espécie Eisenia fetida, mais conhecida se 40 litros de húmus líquido preparado a 30%,
como Vermelha da Califórnia. misturado a 40 litros de água; após retirou-se 40
litros do líquido a 15% e se diluiu 40 litros de água,
A preparação do húmus líquido (Figura 1) ocorreu obtendo-se o húmus líquido a 7,5%. Por sorteio
da seguinte forma: para a concentração de 30%, das linhas, definiu-se onde seriam realizadas as
sendo a mais densa, utilizou-se 30 kg (massa aplicações de cada concentração de húmus líquido
seca) de húmus sólido e 100 litros de água. O 0%, 7,5% 15% e 30%, sendo que, por tratamento,
Húmus 30 Kg
Diluições
Solução pura
30% 100 L
Para fazer Húmus Líquido a 15%: retira-se 40 L do Húmus Líquido a 30% e acrescenta-se 40 L de água.
15% 40 L 40 L 80 L
Para fazer Húmus Líquido a 7,5%: retira-se 40 L do Húmus Líquido a 15% e acrescenta-se 40 L de água.
40 L 40 L 80 L
7,5%
Figura 2. Equações de regressão para número de cacho por planta (Cachos.planta-1) - NCP nas safras 2016/2017 e
2017/2018 da variedade Bordô.
(Kg.planta-1)
(Kg.planta-1)
Figura 3. Equações de regressão para produção por planta (Kg.planta-1) - PP nas safras 2016/2017 e 2017/2018 da
variedade Bordô.
(Kg.ha-1)
(Kg.ha-1)
Figura 4. Equações de regressão para produtividade por hectare (Kg.ha-1) - PH nas safras 2016/2017 e 2017/2018
da variedade Bordô.
Tabela 1. Médias para a variável Massa Média de Bagas (MMB) em relação à cobertura vegetal em vinhedo
agroecológico de Bordô nas safras 2016/2017 e 2017/2018, São Lourenço do Sul (RS).
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Angelo Gava1
Bruno Cisilotto2
Evandro Ficagna2
1
UFRGS - Instituto de Ciências
Básicas da Saúde
90050-170 Porto Alegre, RS
2
IFRS Campus Bento Gonçalves
95700-206 Bento Gonçalves, RS
Autor correspondente:
gava.angelogava@gmail.com
Abstract
The production of base wine is a factor closely related to the quality of sparkling wines.
The objective of this study was to investigate the effects of different oenological charcoals
on the fermentative activity during the production of sparkling wine. The musts used were
extracted from Chardonnay grapes and the alcoholic fermentation took place at 15 ˚C using
commercial Zymaflore X5 yeast (S. cerevisiae). A bifactorial experimental design was used
including 2 musts (cuvée and taille) and 4 treatments (3 different charcoals and a control
treatment). The 25 mg L-1 dose used was based on a literature review. Three products
were tested: Deobrett (deodorant), Deodal (deodorant) and Decoran XL (decolorant).
Fermentative kinetics response curves were constructed, representing the daily mass loss
due to the production of carbon dioxide (CO2) as a function of time. A two-way analysis of
variance (ANOVA) with a Tukey post hoc test (5%) was performed. All charcoals studied
in both musts improved the kinetic parameters evaluated, except for the maximum CO2
production. The behavior of the charcoals was different in each must fraction. The results
suggest that oenological charcoal products have the potential to be used, in low dosage, to
improve the fermentative activity.
1 0,0 0 ------
2 0,4 3 2,5
3 0,6 3 3,3
4 1,6 3 3,3
5 1,8 3 3,3
6 2,0 6 6,7
Ordem de
Pressão (bar) Volume Inicial (L) Volume Final (L) Rendimento (%)
prensagem
1º 0 0 10 2,5
2º 0,58 11 60 15,0
As fermentações foram conduzidas a uma O índice de cor amarela dos vinhos obtidos foi
temperatura de 15 ˚C em frascos contendo determinado por leitura de absorbância direta de
250 mL de mosto, sendo realizado um total de 420 nm em espectrofotômetro modelo T92+ (PG
8 ensaios experimentais, em triplicata, para Instruments, Lutterworth, Reino Unido), usando
cada fração de mosto estudada (Tabela 3). A uma cubeta de quartzo com percurso óptico de 10
cinética fermentativa foi avaliada e representada mm. As análises foram realizadas 72 horas após o
graficamente pela perda de massa diária, devido à término da fermentação alcoólica.
produção de dióxido de carbono (CO2) em função
do tempo (RENAULT, 2010; PELTIER et al., 2018; O delineamento experimental utilizado foi
NGUELA et al., 2019; GAVA et al., 2020), cada inteiramente casualizado, em esquema fatorial
ponto do tratamento foi monitorado em balança 2 x 4, sendo duas frações de mosto e quatro
eletrônica, em intervalos aproximados de 12 tratamentos, totalizando 24 ensaios, com 3
h durante 12 dias. Os dados foram analisados repetições em cada ponto. Os resultados foram
de acordo com o ajuste sigmoidal não linear da submetidos à análise de variância (ANOVA) e as
equação de Gompertz modificada (ZWIETERING comparações das médias foram realizadas pelo
et al., 1990), conforme Equação 1, cuja importância teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro,
em pesquisas enológicas tem sido relatada, por com auxílio do software Assistat 7.7 (SILVA;
Rinaldi et al. (2006) e O´Neill, Van Heeswijck e AZEVEDO, 2016).
Muhlack (2011).
(1)
Resultados e Discussão
Dose
Ensaio Fração de Mosto Produto Comercial Marca Comercial Atividade Específica
(mg L-1)
A integridade das prensagens pode ser medida De acordo com Zoecklein (1998), a primeira
comparando as diferenças na acidez total titulável fração da prensagem contém poeira e resíduos
entre as frações (DUNSFORD; SNEYD, 1989). e é frequentemente oxidada como resultado de
Nas frações de mosto obtidas, o comportamento impactos durante a colheita e transporte. Uma
da acidez e do pH (Figura 1) é semelhante ao menor acidez e um maior pH na primeira parcela
encontrado na literatura, na qual também há um de mosto foram encontrados neste trabalho,
decréscimo da acidez após a segunda prensagem podendo ser explicados também pela ausência
Tabela 4. Características físico-químicas das 6 diferentes frações de mosto obtidas na prensagem de uva Chardonnay.
Figura 1. Alteração do pH e da concentração de acidez total (g L-1 expressa em ácido tartárico) do mosto obtido
durante a prensagem de uvas Chardonnay para produção de espumante. Acidez Total (g L-1 expressa em
ácido tartárico). As cores foram obtidas através de fotografia, sendo as frações fotografadas logo após a
prensagem, sem adição de SO2.
Letras iguais, maiúsculas para coluna (Tratamento) e minúsculas para linha (Mosto), não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
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¹Unipampa Daniel Pazzini Eckhardt¹
96450-000 Dom Pedrito, RS
2
UFPel Pedro Kaltbach2
96010-610 Pelotas, RS
Ângela Rossi Marcon¹
Autor correspondente:
barbaramendes.aluno@unipampa.edu.br
Abstract
The legal definitions of sparkling wines are quite restrictive, varying from country to
country, according to their appellations of origin and geographical indications of origin. Pét-
Nat is an abbreviation of the name given to wines produced in the Pétillant naturel style, a
French term that means “natural sparkling wine”. This study aimed to evaluate the stability
of quality parameters of Chardonnay sparkling wine, made using the Pétillant naturel (Pét-
Nat) style, at 3, 6 and 9 months after bottling. Analyses of physicochemical parameters
were performed with Wine-Scan SO2 Foss. Sensory analysis was performed by a panel of
12 trained tasters. The alcoholic fermentation progressed slowly, due to the spontaneous
nature of the process. The alcohol content varied between 11.10 and 10.84% v/v. The total
acidity was equal to or higher than 80 meq.L-1. Regarding residual sugars, the sparkling
wines were classified as extra-brut (Brazilian legislation). After 3 months of autolysis,
there was no significant difference in taste analysis. After 9 months, there was a reduction
in the intensity of perlage and in the quality of the foam, as well as some changes in aroma,
however there was no decrease in the overall quality during the evaluated period.
A fermentação do espumante ancestral é Tendo em vista que o tema ainda é pouco discutido
espontânea. Segundo Simões (2014), as no meio científico e o método pouco utilizado nas
fermentações espontâneas são aquelas regiões produtoras de vinho no Brasil, o presente
produzidas de maneira natural, ou seja, realizadas trabalho teve o objetivo de avaliar a estabilidade
pelas leveduras provenientes das cascas das uvas, de parâmetros de qualidade do espumante
o que o difere da maioria dos vinhos produzidos Chardonnay, elaborado a partir do estilo Pétillant
atualmente, elaborados com a inoculação de Naturel durante 3 períodos de autólise (3, 6 e 9
leveduras selecionadas que permitem um melhor meses).
controle dos processos fermentativos, através
de suas características metabólicas conhecidas e
sua capacidade de suprimir o desenvolvimento de
outros microrganismos selvagens. A fermentação Material e Métodos
espontânea - que depende do desempenho das
leveduras autóctones - demanda, portanto, uvas Os espumantes deste experimento foram
em perfeito estado de maturação e sanidade elaborados com uvas da variedade Chardonnay,
(SIMÕES, 2014). colhidas em janeiro de 2019, em Bento Gonçalves.
As uvas foram acondicionadas e transportadas em
Segundo o cadastro vitícola de 2013 a 2015, caixas plásticas e armazenadas sob temperatura
entre todas as variedades de uva, a Chardonnay controlada (16 ˚C), para o seu resfriamento por 24
é a segunda uva Vitis vinifera com maior extensão horas. O experimento constou de três tratamentos
de plantio no Rio Grande do Sul, com uma área (3, 6 e 9 meses de autólise) com três repetições.
de plantio de 1.011,40 ha, tendo à frente apenas
Potássio (mg.L ) -1
957,5 21,92 - -
pH 3,35 0 3,29 0
Resultados obtidos através da média das análises do mosto e pré-envase e desvio padrão (DP). As amostras com (-) não foram realizadas.
Glicerol (g.L )
-1
8,35 a 8,20 a 8,20 a 1,10
Densidade (g.L ) -1
0,99 a 0,99 a 0,99 a 0,0
Resultados obtidos através das médias das análises físico-químicas realizadas após a autólise nos três períodos de tempo. Letras diferentes entre os
períodos de tempo demonstram diferenças estatísticas, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
A acidez total apresentou o maior teor no Todos os teores de acidez volátil obtidos no
período de três meses. Durante o 6° e 9° mês, presente trabalho estão abaixo do limite máximo
houve estabilidade da acidez total. O vinho base estabelecido pela legislação brasileira, de 20,0
de qualidade deve apresentar acidez total mais meq.L-1 (BRASIL, 2018).
acentuada do que os vinhos tranquilos, ou seja,
entre 80 meq.L-1 e 90 meq.L-1 (RIZZON et al.,
2000), pois isso proporciona maior frescor ao Análise sensorial do
espumante. Todas as amostras encontram-se espumante Chardonnay ancestral
dentro dos valores estabelecidos pela legislação
brasileira para acidez total: 40,0 - 130,0 meq.L-1 Os resultados das análises sensoriais estão
(BRASIL, 2018). A acidez dos vinhos influencia dispostos na Figura 1 e na Tabela 3.
sua estabilidade microbiológica e coloração,
sendo uma das características gustativas mais A intensidade de perlage e qualidade da espuma
importantes (REZENDE et al., 2019). foram significativamente menores aos 9 meses. No
período do 9º mês, no momento do dégorgement,
O espumante Chardonnay apresentou maior as garrafas apresentaram grande quantidade
acidez volátil (0,40 meq.L-1) no período de nove de sedimentação no bidule, o que, juntamente
meses de autólise. Cabe ressaltar que esse nível com a temperatura alta, pode ter influenciado
é considerado baixo e não prejudicial à qualidade na perda do gás carbônico. Segundo Cardozo
do produto. Segundo Silva (2019), que realizou (2019), a geração de borra de um espumante
um experimento com fermentação espontânea ancestral é maior dentro da garrafa, dificultando
sem adição inicial de SO2 em vinhos Bordô, a o dégorgement, fazendo com que, muitas vezes, os
qualidade final foi afetada pela formação de ácido produtores desistam de degorjar. Acredita-se que,
acético. Esse tipo de vinificação, com leveduras nesses casos, a pressão gerada pelo espumante não
autóctones e ausência de dióxido de enxofre, seja suficiente para expulsar toda a sedimentação,
pode produzir aromas e gostos peculiares, além deixando-o assim turvo.
do aparecimento de defeitos. Assim sendo, trata-
se de uma fermentação imprevisível e de difícil Maiores intensidades na qualidade do aroma
Figura 1. Características sensoriais da evolução do espumante Chardonnay Pét-Nat nos três períodos de
autólise. Fonte: autora, 2019.
Tabela 3. Características sensoriais da evolução do espumante Chardonnay Pét-Nat em três períodos de autólise.
Olfativa
Gustativa
Referências
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Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2019. agricultura.gov.br. Acesso em: 17 mai. 2021.
Monitoramento de Ocratoxina A
em vinhos e sucos de uva
comerciais brasileiros
Plinio Manosso1,2
1
LAREN / SEAPDR
Fabíola Boscaini Lopes1,2
95084-470 Caxias do Sul, RS
2
SEAPDR
90150-004 Porto Alegre, RS
Autor correspondente:
fernanda-spinelli@agricultura.rs.gov.br
Abstract
Mycotoxins are secondary metabolites produced by filamentous fungi that can be formed
naturally in food and beverages. Among the mycotoxins, Ochratoxin A (OTA) stands out
because of its carcinogenic, nephrotoxic, immunotoxic and teratogenic characteristics.
Since OTA has been reported in various studies as a contaminant of grape, wine and
grape juice, regulatory agencies have undertaken risk assessments to determine the
effect of the consumption of this mycotoxin on human health. Its continuous control
allows to reduce the risk of ingestion. A total of 210 Brazilian commercial samples (107
grape juices and 103 wines), were collected for monitoring analyzes. The samples were
prepared through immunoaffinity clean-up columns and analyzed by High Performance
Liquid Chromatography with Fluorescence Detection (HPLC-FLD). All samples showed
concentrations below the limit established by the legislation (2 μg L-1) and, the majority of
the samples (99 %) presented values even lower than the limit of detection (0.12 μg L-1).
These results indicate a low risk of exposure to OTA through the consumption of Brazilian
wines and grape juices.
Estados Unidos VT 2010-2015 1,0 0,3 - 2,1 26 (28) De Jesus et al. (2017)
Itália VT 2009-2013 0,02 - 0,73 0,02 - 0,73 41 (57) Di Stefano et al. (2015)
Espu- Espanha Cava - 0,44 0,14 - 0,71 4 (10) Bellí et al. (2004)
mante
ND: não detectado; SU: suco de uva; VT: vinho tinto; VTM: vinho tinto de mesa; VB: vinho branco; VBM: vinho branco de mesa.
Tabela 2. Sucos de uva e vinhos comerciais brasileiros usados neste estudo e seus Estados de proveniência.
Estado
Amostras
RS SC PR SP ES CE
Branco 10 - - - - -
Suco
Rosé 1 - - - - -
Tinto 83 9 - 2 1 1
Branco de mesa 7 - - - - -
Tinto de mesa 37 1 1 - - -
Espumante 6 - - - - -
Tabela 3. Desempenho do método analítico para determinação de OTA nas matrizes suco de uva e vinho.
Linearidade (R ) 2
0,9999 0,9999
Incerteza (μg L ) -1
0,16 0,16
Em relação aos vinhos espumantes, Bellí et al. 3. Embora a OTA não tenha sido detectada em
(2004), relataram a presença de OTA nas amostras 99% das amostras, é fundamental a realização
analisadas, com média de 0,44 µg L-1 (variação 0,14- de análises de monitoramento em vinhos e sucos
0,71 µg L-1). Na literatura, são escassos os estudos de uva comerciais, uma vez que a contaminação
sobre a presença de OTA em vinhos espumantes. das uvas pode variar entre as diferentes safras.
Referências
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DOI: 10.1080/02652039609374451
1
Unipampa
96450-000 Dom Pedrito, RS
Autor correspondente:
marianelangbecker@hotmail.com
Ruby Cabernet da Campanha Gaúcha. Foram vinificados 4700 kg e 2870 kg de uvas Ruby
de Maçambará (RS). A vinificação foi realizada em uma vinícola localizada em Itaqui (RS),
Pampa (Unipampa), campus Dom Pedrito. O cultivar Ruby Cabernet possui bom potencial
enológico, uma vez que o vinho elaborado apresenta boa intensidade e tonalidade de cor.
Abstract
Tabela 1. Análises físico-químicas do mosto do cultivar Ruby Cabernet nas safras 2019 e 2020.
pH 3,55 4,10
Na Campanha, tende-se a obter mostos e vinhos A acidez total, ao final do processo de vinificação,
de menor acidez devido às condições climáticas foi de 94,93 meq.L-1 e 83 meq.L-1, para as safras
(na maioria das safras), aliada ao relevo da região, de 2019 e 2020, respectivamente. Esses valores
que permite uma maior insolação (BELMIRO et já eram esperados, uma vez que se optou pela
al., 2017). Essa tendência pode ser observada na realização da fermentação malolática. A acidez
safra 2020, quando a maturação tecnológica foi total do vinho do cultivar Ruby Cabernet na
possibilitada, uma vez que a baixa precipitação região do Vale do São Francisco foi de 84,91
possibilitou um maior acúmulo de radiação sobre meq.L-1 na safra de 2018 (RODRIGUES, 2019).
as bagas, resultando em mosto com acidez total Os resultados indicam que o cultivar apresenta
de 86 meq.L-1. Em relação ao pH, foi encontrado o um bom potencial para acúmulo de acidez, o
valor de 3,55 no mosto na safra 2019 e 4,1 na safra que pode ser interessante, principalmente por
2020 (Tabela 1). contribuir na manutenção da coloração vermelha
por mais tempo (JACKSON, 2008). Os valores
O vinho da safra 2019 apresentou graduação de pH encontrados neste estudo foram de 3,76
alcoólica de 11,2% v/v, enquanto que o vinho e 3,61 (Tabela 2), para as safras de 2019 e 2020,
da safra 2020 apresentou graduação alcoólica respectivamente. Esses valores são inferiores
de 14,3% v/v (Tabela 2). Esses valores são ao encontrado por Rodrigues (2019), mas ainda
consequência dos teores de açúcares presentes elevados. Vinhos com pH próximos a 4,0 são
nos mostos e indicam que a fermentação alcoólica mais suscetíveis a contaminações bacterianas,
Tabela 2. Análises físico-químicas do vinho do cultivar Ruby Cabernet nas safras de 2019 e 2020.
pH 3,76 3,61
Referências
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Meteorologische Zeitschrift. Berlin, v.22, n.6,
p.711-728, dez. 2013. DOI: 10.1127/0941-
2948/2013/0507
Susiane Leonardelli1,2
Regina Vanderlinde1
1
UCS - Instituto de Biotecnologia
95070-560 Caxias do Sul, RS
2
LAREN/SEAPDR
95084-470 Caxias do Sul, RS
Autor correspondente:
susileonardelli@gmail.com
Abstract
Several historical facts have impacted on wine adulteration for many years, including the
economic viability of certain raw materials, the overproduction of some crops, or even the
low concentration of fermentable sugar in grapes in a specific harvest resulting in wines
with low alcohol content. These factors may encourage the production of alcohol in wine
by using cheaper materials in relation to grapes, or the use of waste and by-products from
such crops. However, adding alcohol to wine is not allowed by law. For this reason, stable
isotopes are an important tool applied to control wine authenticity. Several methods
have been developed to control the addition of alcohol or sugar to wine, nonetheless,
different raw materials have become viable to produce alcohol which can be used in the
adulteration of wine, making it necessary to reassess these control measures. Therefore,
this review aims to present historical facts that relate the wine authenticity to the wine
legislation, and to approach the use of exogenous alcohol in order to adulterate wines and
the application of stable isotopes as an efficient method to control adulteration.
Figura 1. Principais fatos da cronologia da legislação do vinho no Brasil e no mundo. Fonte: Leonardelli (2020).
e Camin (2013) investigaram o (D/H)I, (D/H)II, entre eles. Os valores das propriedades
δ13C e δ18O de diferentes frutas e cereais e ainda como densidade, ponto de fusão e ebulição e
relacionaram o δ18O da água e do etanol. No viscosidade, dos compostos com isótopos mais
estudo demonstraram que é possível diferenciar pesados são mais altos quando comparados
o vinho de outras frutas e de alguns cereais. Além aos isótopos mais leves. As diferenças são mais
desse estudo, Smajlovic et al. (2019) trabalharam significativas para compostos com massa atômica
no desenvolvimento de um novo método, inferior a 50, como por exemplo, o carbono (C),
utilizando o δ2H, δ13C e o δ18O na molécula de hidrogênio (H), oxigênio (O) e nitrogênio (N). Além
etanol, através de um sistema de destilação disso, compostos com isótopos leves apresentam
automático de amostras. Os pesquisadores maior movimento vibracional e necessitam de
também demonstraram que é possível diferenciar menos energia para quebrar as ligações químicas
o álcool do vinho de outras matérias-primas. (TIWARI et al., 2015).
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Deise Demori¹
Fernanda Stoffel2
Autor correspondente:
ltpbarre@ucs.br
setor vitivinícola brasileiro vem ganhando cada vez mais espaço no mercado
mundial. No Rio Grande do Sul, as regiões da Serra Gaúcha e Campanha destacam-
se na produção de vinhos espumantes. Estes contêm compostos bioativos, como
os compostos fenólicos que, além de contribuírem nos aspectos sensoriais dos vinhos,
possuem propriedades antioxidantes que são benéficas à saúde. Nesse sentido, o
objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antioxidante e a composição fenólica de
vinhos espumantes comerciais rosés e tintos das regiões da Serra Gaúcha e Campanha,
analisando as concentrações de conteúdo fenólico total, antocianinas totais, trans-
resveratrol, catequina, epicatequina, tirosol, ácido cafeico, ácido ferúlico e ácido
cumárico. Os resultados demonstram que o vinho espumante tinto produzido na região
da Campanha contém os maiores teores de antocianinas totais, catequina, ácido cumárico
e trans-resveratrol, enquanto no vinho espumante tinto produzido na Serra Gaúcha foram
observadas as maiores quantidades de epicatequina, ácido ferúlico e conteúdo fenólico
total, sendo que as duas amostras apresentaram capacidade antioxidante similar. De
maneira geral, esses compostos têm influência de diversos fatores ligados ao cultivo e à
variedade da uva, bem como das técnicas de vinificação utilizadas.
Abstract
The brazilian wine industry is gaining more and more space in the worldwide market. In
Rio Grande do Sul, the Serra Gaúcha and Campanha regions stand out in the production of
sparkling wines. These wines contain bioactive compounds, such as phenolic compounds,
which in addition to contributing to the sensory aspects of wines, have antioxidant
properties that are beneficial to health. In this sense, the objective of this study was
to evaluate the antioxidant activity and phenolic composition of commercial rosé
and red sparkling wines from the Serra Gaúcha and Campanha regions, analyzing the
concentrations of total phenolic content, total anthocyanins, trans-resveratrol, catechin,
epicatechin, tyrosol, caffeic, ferulic and coumaric acids. The results show the red sparkling
wines produced in the Campanha region contains the highest levels of total anthocyanins,
catechin, coumaric acid and trans-resveratrol, while the red sparkling wines produced in
Serra Gaúcha contain the highest amounts of epicatechin, ferulic acid and total phenolic
content, and the two analyzed samples showed similar antioxidant capacity. In general,
these compounds are influenced by various factors related to grape cultivation and
variety, as well as the vinification techniques used.
1BR
Champenoise
1BR 387,97 ± 13,16 cd 0,78 ± 0,12 i 1,17 ± 0,00 ij 0,81 ± 0,01 h 5,17 ± 0,01 c
Campanha Gaúcha
2BR
2BR 264,75 ± 17,47 fg 0,54 ± 0,06 j 0,87 ± 0,02 j 1,14 ± 0,00 ef 1,74 ± 0,30 ghi
3BT
3BT 643,14 ± 36,49 b 16,29 ± 0,00 a 8,64 ± 0,23 a 2,41 ± 0,10 b 2,11 ± 0,02 fg
Charmat
4BR 277,17 ± 18,00 f 0,81 ± 0,18 i 2,85 ± 0,21 f 1,96 ± 0,01 c 1,22 ± 0,00 ij
5MR 307,51 ± 4,84 ef 2,85 ± 0,00 d 1,56 ± 0,00 hi 0,96 ± 0,05 fgh 1,60 ± 0,05 ghi
6BR 211,88 ± 9,69 g 1,05 ± 0,12 h 4,91 ± 0,52 c 0,88 ± 0,03 gh 2,91 ± 0,12 e
7BR 351,19 ± 17,24 de 1,39 ± 0,06 g 2,13 ± 0,15 gh 0,96 ± 0,03 fgh 1,86 ± 0,04 gh
Champenoise
8NR 386,59 ± 17,23 cd 1,63 ± 0,00 f 1,05 ± 0,01 ij 0,48 ± 0,01 i 3,74 ± 0,20 d
9NR 396,25 ± 33,70 cd 1,63 ± 0,00 f 1,34 ± 0,01 ij 1,14 ± 0,06 ef 4,83 ± 0,01 c
10EBT 799,47 ± 31,85 a 11,20 ± 0,00 b 5,64 ± 0,06 b 3,32 ± 0,03 a 3,72 ± 0,11 d
11BR 425,67 ± 13,89 c 1,32 ± 0,00 g 2,63 ± 0,09 fg 1,48 ± 0,04 d 3,01 ± 0,11e
Serra Gaúcha
12BR 422,92 ± 3,47 c 4,82 ± 0,06 c 2,58 ± 0,09 fg 2,34 ± 0,04 b 2,69 ± 0,01 ef
13BR 272,57 ± 11,73 f 1,66 ± 0,06 f 2,02 ± 0,11 h 1,36 ± 0,01 de 0,73 ± 0,01 j
14BR 223,37 ± 13,89 g 0,51 ± 0,00 j 0,65 ± 0,04 j 0,47 ± 0,01 i 0,65 ± 0,01 j
Charmat
15BR 402,69 ± 12,44 cd 0,48 ± 0,12 j 3,66 ± 0,01 de 1,74 ± 0,18 c 1,43 ± 0,02 hi
16BR 253,72 ± 5,75 fg 0,71 ± 0,00 i 0,88 ± 0,02 j 1,08 ± 0,01 fg 0,96 ± 0,00 j
17MR 386,13± 7,08 cd 1,39 ± 0,06 g 5,74 ± 0,04 b 1,88 ± 0,10 c 6,73 ± 0,05 b
18MR 311,19 ± 6,22 ef 2,14 ± 0,00 e 4,14 ± 0,04 d 1,33 ± 0,00 de 8,52 ± 0,54 a
19MR 324,53 ± 21,54 ef 0,61 ± 0,00 ij 3,53 ± 0,01 e 0,74 ± 0,00 h 3,09 ± 0,02 e
BR: Brut Rosé; BT: Brut Tinto; MR: Moscatel Rosé; NR: Nature Rosé; EBT: Extra-brut Tinto; CFT: Conteúdo fenólico total (*miligramas de equivalentes de ácido gálico.L-1); ANT:
Antocianinas; CA: Capacidade Antioxidante (**TE: Trolox equivalente). Os resultados estão expressos na forma de média ± desvio padrão. Letras iguais na análise (coluna)
indicam que não há diferença significativa a 5% (p<0,05) no parâmetro avaliado.
1,44 ± 0,00 c 0,45 ± 0,01 a 17,66 ± 0,42 i 0,37 ± 0,00 e 431,8 ± 6,3 e
0,26 ± 0,02 hi 0,43 ± 0,06 a 4,39 ± 0,13 k 0,36 ± 0,01 e 196,6 ± 17,9 i
4,47 ± 0,01 a 0,29 ± 0,01 b 93,84 ± 0,69 b 1,24 ± 0,01 a 6404,1 ± 41,2 b
0,44 ± 0,02 fgh 0,13 ± 0,01 f 51,24 ± 0,01 f 0,37 ± 0,01 e 219,5 ± 17,6 i
0,50 ± 0,06 f 0,16 ± 0,01 ef 65,19 ± 1,00 e 0,37 ± 0,00 e 357,1 ± 15,2 f
0,50 ± 0,12 f 0,31 ± 0,01 b 67,34 ± 3,86 e 0,41 ± 0,00 d 308,6 ± 51,7 g
0,90 ± 0,01 e 0,20 ± 0,01 de 71,19 ± 1,24 de 0,39 ± 0,01 de 273,0 ± 12,5 h
1,50 ± 0,01 c 0,23 ± 0,01 cd 22,26 ± 0,96 hi 0,41 ± 0,01 cd 276,3 ± 12,2 h
1,90 ± 0,01 b 0,25 ± 0,01 c 7,95 ± 0,13 k 0,44 ± 0,01 c 303,6 ± 1,0 g
2,01 ± 0,02 b 0,44 ± 0,04 a 8,86 ± 0,03 jk 0,60 ± 0,01 b 6891,3 ± 17,5 a
0,48 ± 0,03 fg 0,18 ± 0,01 de 67,96 ± 3,96 e 0,37 ± 0,00 e 367,8 ± 65,5 f
1,10 ± 0,04 d 0,15 ± 0,01 ef 86,17 ± 1,15 bc 0,44 ± 0,00 c 422,3 ± 16,2 e
0,27 ± 0,03 hi 0,16 ± 0,02 ef 32,71 ± 0,65 g 0,40 ± 0,00 de 327,1 ± 35,7 g
0,50 ± 0,05 f 0,13 ± 0,01 f 16,89 ± 1,74 ij 0,37 ± 0,01 e 134,4 ± 7,03 j
0,81 ± 0,05 e 0,22 ± 0,01 cd 108,26 ± 1,40 a 0,36 ± 0,00 e 640,4 ± 12,0 c
0,32 ± 0,01 gh 0,22 ± 0,01 cd 19,82 ± 0,29 hi 0,37 ± 0,00 e 395,1 ± 46,0 ef
0,12 ± 0,00 i 0,16 ± 0,01 ef 79,24 ± 6,22 cd 0,38 ± 0,01 e 585,5 ± 23,8 d
0,58 ± 0,05 f 0,20 ± 0,00 de 48,26 ± 1,49 f 0,36 ± 0,01 e 362,8 ± 6,2 f
0,53 ± 0,06 f 0,31 ± 0,03 b 27,76 ± 0,11 gh 0,37 ± 0,00 e 294,2 ± 3,5 gh
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Enoturismo: vantagens e
desvantagens na Campanha Gaúcha
¹Unipampa
96450-000 Dom Pedrito, RS
Autor correspondente:
p.kaufmann2011@gmail.com
Abstract
Activities related to wine tourism are expanding and may represent, for some regions,
a real possibility of development, as well as a promotional tool for wine products. This
article addresses the theme of wine tourism in the Campanha Gaúcha Region. The aim is to
broaden the discussion about advantages and disadvantages of wine tourism in Campanha
Gaúcha, in view of the consolidation of the region as a producer of excellent quality
wine. This article will survey the opportunities for development of wine tourism in the
microregion of Bagé. This is a bibliographic descriptive research through a bibliographic
review in physical and digital publications on tourism, economic and social development.
This study shows that, just like other tourism activities, to introduce/establish wine tourism
in any region, the route must have at its disposal an adequate infrastructure in order to
meet the needs of visitors, which is currently a disadvantage for the wineries surveyed.
Conforme disposto pela Organização Mundial do O questionário foi enviado por meio de formulário
Turismo (OMT, 2014, p. 3), “O turismo compreende eletrônico para e-mails de clientes cadastrados
as atividades que realizam as pessoas durante ou potenciais clientes das vinícolas que fazem
suas viagens e estadias em lugares diferentes ao parte da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha
seu entorno habitual, por um período consecutivo e consumidores de vinhos em geral. A coleta dos
inferior a um ano, com a finalidade de lazer, dados foi realizada no período de outubro de
negócio ou outras”. 2019 a março de 2020 e obteve-se 70 respostas.
As questões encaminhadas aos entrevistados
Conforme Fávero (2012), competitividade no foram: você conhece a Campanha Gaúcha no
ramo turístico é a soma de medidas estratégicas que se refere ao enoturismo? Teria interesse em
que levam à qualificação de um destino turístico conhecer? Caso já conheça, como ficou sabendo
com inovação. da possibilidade de fazer enoturismo na região?
Qual o motivo da viagem? Pontos fortes e pontos
Recentemente a Campanha Gaúcha obteve fracos? Você voltaria?
o reconhecimento da Indicação Geográfica,
auxiliando ainda mais na valorização dos produtos O formulário para as empresas vitivinícolas
foi enviado através da Associação Vinhos da
O enoturista percorre longas distâncias pela Em relação aos turistas entrevistados, a maioria
oportunidade e prazer de degustar os produtos (42,9%) possui entre 30 e 40 anos. No que diz
no local onde são produzidos. Esse é o principal respeito à renda familiar, os entrevistados
motivo que leva o enoturista a decidir por um possuem renda familiar entre 2 a 4 salários e
roteiro, mas não é o único. Podem também decidir de 6 a 8 salários-mínimos, sendo que os dois
por um roteiro a partir de indicações, que podem grupos somam 77,1% das respostas. Com base
deixar de ocorrer caso a prestação de serviços não nas informações acima, podemos observar que o
atenda à expectativa do turista, principalmente maior público visitante das empresas vitivinícolas
em tempos em que as redes sociais servem para da região são jovens com bom poder aquisitivo
divulgar, promovendo ou mesmo criticando uma e que investem em turismo de experiência e,
localidade. provavelmente, não estão muito preocupados
com o valor gasto durante a viagem. Quando
Somente com o planejamento de ações integradas, questionados sobre o trabalho de enoturismo
que envolva todos os elos do setor enoturístico desenvolvido na região, 60% dizem já saber da
regional, será possível conseguir que o turismo existência de empresas vitivinícolas com foco
ligado à vitivinicultura se consolide como roteiro no desenvolvimento do enoturismo e 85,7% têm
Os dois pontos fortes que mais se destacaram Como vantagens Hall (2002) indica: o aumento
foram as belas paisagens e a boa gastronomia/ da exposição do consumidor ao produto e da
vinhos, tendo cada um deles mais de 30% das oportunidade de mostrar o produto; a construção
respostas. Com relação à alternativa outros, de maior ligação do consumidor à marca com o
tivemos quatro respostas referindo-se ao estabelecimento e maior ligação entre o produtor
agronegócio da região. Com relação aos pontos e o consumidor; o aumento das margens de
fracos, as alternativas de respostas foram as retorno com a venda direta ao consumidor e a
seguintes: hotéis, restaurantes, infraestrutura, eliminação dos custos com intermediários; uma
segurança e outros. A infraestrutura obteve 57,1% nova possibilidade de vendas para pequenos
das respostas, seguido pela opção “outros”, que produtores - que não podem garantir grandes
obteve 28,6%, sendo destacada a desinformação volumes aos fornecedores; a construção de
como aspecto. O que chama atenção nessa um banco de dados com contatos diretos aos
questão é o fato de segurança e restaurantes não consumidores e, finalmente, o conhecimento
terem sido considerados como ponto fraco, o que acerca dos tipos de vinhos e da sua produção.
demonstra que a gastronomia regional é uma
excelente opção aliada ao desenvolvimento do Nos aspectos negativos, os pontos relatados
enoturismo. Em relação ao retorno para a região foram: distanciamento entre localidades, poucas
da Campanha, 70% dos questionados afirmaram opções de locomoção, infraestrutura de transporte
que voltariam. (estradas, aviões e malha rodoviária precária),
hotéis e restaurantes, falta de informações,
Com base nos dados obtidos através dos divulgação e de operadores de turismo, falta de
questionários respondidos pelas empresas, pontos de apoio ao enoturista e precariedade na
verificamos que cinco delas trabalham com o identificação de locais a serem visitados ou rotas
enoturismo e três ainda não. Das empresas que enoturísticas específicas. Alguns desses aspectos,
trabalham com receptivo, a média de tempo que como custos para instalação de infraestrutura de
estão atendendo varia de 3 a 20 anos. A respeito hospitalidade, já foram apontados por Hall (2002).
da quantidade de turistas atendidos por essas
empresas, fica em torno de 300 ao ano para a Conforme Hall (2000), o trade turístico vê no vinho
que menos recebe e 5.000 ao ano para a que mais uma oportunidade de promover positivamente a
recebe. Em relação à cobrança para realização de imagem do destino de maneira mais ampla para
visitas, três empresas o fazem. consumidores de alto rendimento.
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Reescrevendo a história da
vitivinicultura no Brasil, antes
da imigração italiana: 1532-1875
1
Universidade Candido Mendes
20011-901 Rio de Janeiro, RJ
Autor correspondente:
fgama.geo@gmail.com
Abstract
The purpose of this study was to rewrite the historical narrative of the evolution of wine-
growing activity in Brazil between the period of 1532 and 1875, when Italian immigration
began, thus expanding and modernizing this activity in the 19th century. However,
the current level of the wine quality that Brazil has reached possess their precedents
and precursors that must be acknowledged and recognized. The methodology used
included a specialized literature bibliography, maps and records of historical research. An
iconographic study was also introduced based on the coat of arms of the Dutch domain
with representation of grapes. New data was found, such as the pioneering role of the
Captaincy of Pernambuco to the detriment of São Vicente’s, besides the recognition of
the importance of the productive force of African slave labor, when the production of
grapes and wines was, simultaneously registered, introduced by Portuguese immigrants
– Azoreans, Madeirans – Dutchmen, always with employment of slave labor. German
settlers did not follow this pattern. The Italians were free laborers, whose immigration
was linked to the coffee growing expansion in São Paulo and to the decadence of slavery, in
addition to being the main driving force behind the only consolidated wine-growing region
in Brazil: Serra Gaúcha.
Keywords: viticulture/wine production, history, slavery, European immigration.
Figura 2. Mapa histórico da Ilha de Itamaracá (PE) por João Teixeira Albernaz, 1640. Localizada próximo das
cidades de Igarassu e Olinda, onde foi fundada uma feitoria em 1526. Em 1534, a Capitania de Itamaracá
foi doada a Pero Lopes de Sousa.
Apenas dez anos após o registro de Brás Cubas, a Enquanto a vitivinicultura prosperava na
Ilha de Itamaracá já cultivava a uva por iniciativa Capitania de Pernambuco, no século seguinte,
de João Gonçalo, que construiu, em Vila sob mais precisamente em 1626, o jesuíta Roque
o nome de Conceição de Itamaracá, a antiga Gonzáles da Santa Cruz, vindo do porto de Santa
povoação. Quanto às dúvidas concernentes à Maria de Los Buenos Aires, fundou a primeira
exata origem da viticultura de Itamaracá, a tese Missão no Brasil, mais precisamente no Rio
mais condizente com a verdade histórica é “tomá- Grande do Sul. Como a prática da catequese
la como descendente direta da viticultura lusitana pressupunha a fixação da população, coube aos
por iniciativa de João Gonçalo em 1542 [...] [ele] jesuítas introduzirem as primeiras videiras para
fomentou a lavoura, importou mudas e sementes, produzir o vinho sagrado com a colaboração do
fundou engenhos, iniciou o cultivo da cana, da trabalho livre dos indígenas locais. É importante
vinha, do tabaco e do algodão” (grifos meus) ressaltar que as condições ambientais do terroir
(POMBO, 1959, p.73). Destaca-se que, à época, o eram favoráveis ao cultivo e, por vezes, eram
trabalho escravo já era explorado em Pernambuco. obtidas duas colheitas. “A viticultura pioneira em
Isso é ratificado pelos depoimentos prestados, território gaúcho estava baseada exclusivamente
em 31 de março de 1888, pela Sociedade de em variedades europeias, sendo indiscutível que
Agricultura de Pernambuco, cujo texto já aponta, as primeiras videiras foram trazidas pelas Missões
inclusive, para o emprego do sistema de condução Jesuítas, certamente de Buenos Aires” (DAL
tipo latada e a possibilidade de haver duas colheitas PIZZOL; SOUZA, 2014).
de uva anualmente, no qual se lê que, desde
tempos memoriais, “nos terrenos de aluviões A Reforma Pombalina em 1759, no Reinado de D.
antigos e modernos do litoral da província, sob a José I, levou centenas de jesuítas a serem expulsos
forma de parreiras provenientes de cepas vindas do Brasil, vide registro das ruínas de São Miguel
de Portugal e das ilhas, e dispostas em sistema das Missões (Figura 4), cabendo aos bandeirantes
de condução latada, como na Ilha da Madeira” paulistas destruir as vilas jesuítas e, com violência,
(ALBUQUERQUE et al., 1987, p. 2). A presença de expulsar os padres dos Sete Povos das Missões,
parreiras, sendo cultivadas enroscadas a árvores comprometendo aquela incipiente vitivinicultura.
frutíferas, indica a descendência da Ilha da Madeira
e do Minho. “Os parreirais da Ilha de Itamaracá Em 1640, em São Paulo, os vinhedos alcançaram
e do Abreu de Una (ao Sul de Recife) eram os as áreas de Tamanduateí (818 m) de altitude e
Figura 4. Ruínas de São Miguel das Missões (RS). Foto de César Grossmann.
Em 1789, apenas quatro anos depois, a Corte áreas do litoral Sul Brasil, porém, isso não se
proibiu expressamente a produção de uvas e, constituía novidade no corpo das autoridades da
consequentemente, a de vinhos, a fim de proteger Coroa Portuguesa, inclusive já se havia aventado
a indústria portuguesa. A exceção fica por conta esse procedimento para dar apoio à fundação
de São Roque que, localizada no interior e longe do forte e fixação de famílias - açorianas e
do poder, manteve sua produção vitivinícola. madeirenses - no vilarejo da barra do Rio Grande,
RS (DAL PIZZOL; SOUZA, 2014).
“Apesar da proibição, em 11 de março de 1803, Dom
João VI reconheceu, por decreto, ter sido o açoriano Os portugueses açorianos trouxeram mudas lusas
Manoel de Macedo Bruma Silveira o primeiro a - do Arquipélago dos Açores, da Ilha da Madeira e
plantar a videira e a elaborar vinho na Capitania de do continente - implantando vinhedos em Porto
Rio Grande” (ALZER; BRAGA, 2014). Dessa forma, dos Casais (1772, atual Porto Alegre) e Gravataí
ele admitiu, indiretamente, existir a agroindústria (1763), repetindo assim, aquela viticultura
vitivinícola local. praticada nas Capitanias de Pernambuco e Bahia,
que se expandiu para o Vale do Submédio São
A presença desses imigrantes se explica pelo Francisco. Os cultivares trazidos da Bahia e do
fato de o arquipélago dos açorianos ter sofrido Recife eram todos Vitis viniferas, as mesmas que
dois terremotos com alto teor de destruição. os primeiros colonizadores seiscentistas fizeram
Assim, a imigração para o Brasil surgiu como uma vir da Ilha da Madeira e enumeradas pelo Padre
alternativa. D. João V foi sensível, acatando essa Fernão Cardim, em 1583 em suas narrativas
demanda dos seus súditos ilhéus. A alternativa foi epistolares, como sejam Ferraes, Boaes, Bastardo,
trazer casais açorianos e madeirenses para iniciar Verdelho, Galego, as quais cumprem acrescentar
um processo de povoamento português naquelas as Malvasias, as Moscatéis e a Dedo de Dama
A história, muitas vezes, é escrita como verdade não foi uma atividade central da colônia, daí as
absoluta, para atender aos interesses ou a serviço análises sistêmicas terem como foco a presença
de uma elite dominante, acabando por distorcer dos escravizados apenas nas atividades base da
ou omitir fatos reais relevantes. Assim, o resgate exportação: canavieira e mineração. A inclusão
histórico do pioneirismo da atividade vitivinícola e reconhecimento do trabalho escravo traz uma
completa ter ocorrido em Pernambuco, com mudança na narrativa histórica.
portugueses da Ilha da Madeira, traz uma
importante contribuição histórica. A Capitania de Fatores relacionados ao poder econômico,
São Vicente, atual São Paulo, embora com papel marítimo e industrial da Inglaterra e sua
de destaque, perde essa proeminência, ficando, influência mundial solaparam o desenvolvimento
apenas, com o mérito de ter iniciado o cultivo da da incipiente vitivinicultura no Brasil-Colônia.
uva. Portugal, por sua vez, não desejava ter nos seus
domínios coloniais novos concorrentes aos seus
Dada a relevância da vitivinicultura vinhos da metrópole, criando obstáculos legais.
pernambucana, Frans Post, sob o poder e ordens
do Conde Maurício de Nassau, registrou em suas No caso dos portugueses açorianos e alemães
pinturas vários cachos de uvas nos brasões de que migraram para o Rio Grande do Sul, onde as
Itamaracá e no das Armas, durante o domínio condições ambientais para o cultivo de uvas são
holandês, no litoral do Nordeste, revelando a mais apropriadas do que as áreas de clima tropical,
manutenção da atividade vitivinicultora iniciada constatou-se que houve um impulso na produção
com êxito por portugueses madeirenses desde vitivinícola local, porém, de maneira geral, sem
o início do processo de colonização do Brasil. grande sucesso quanto sua continuidade e
As chuvas concentradas no outono/inverno expansão. Apesar disso, eles forneceram cepas
criam condições ambientais no terroir local mais e apoio material aos imigrantes italianos que
favoráveis do que as do litoral úmido paulista, chegaram no último quarto do século XIX para
concentradas no verão. ocupar a Serra Gaúcha, onde constituíram o
principal vetor de expansão: o desenvolvimento
No Rio Grande do Sul, as primeiras videiras foram da vitivinicultura moderna brasileira, elaborando
trazidas pelas missões jesuítas, certamente de 90% dos vinhos finos, obtendo o reconhecimento
Buenos Aires, para onde os espanhóis enviavam de sua alta qualidade nos mercados nacional e
vinhas com o intuito de estimular e fixar a internacional.
colonização hispânica no Prata. Apesar do terroir
favorável, com a expulsão desses religiosos, a
prática da vitivinícola gaúcha foi abortada.
Agradecimento
Os portugueses, culturalmente, são grandes
produtores e consumidores de vinho, buscando O autor agradece à Enóloga e Mestre Josi
cultivar uvas e produzir vinhos em seus domínios Cardoso, UFRGS, à Historiadora Mestre Maria
coloniais no mundo. A América Portuguesa não Eulália do Carmo, PUC RJ, Dr. e Mestre Eduardo
constituiu uma exceção, porém, sempre com o Mello, UFRJ e ao Dr. e Mestre Carlos Eduardo
emprego da mão de obra escrava. A vitivinicultura Oliva, Ciência Política UFF.
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Foto: Jeferson Soldi
CURSOS, PALESTRAS
E MISSÕES TÉCNICAS DEGUSTAÇÕES
Eventos técnicos também fazem parte da agenda
da entidade. Mesmo em tempos de pandemia, a
TEMÁTICAS
ABE tem dado continuidade a este tipo de ação Já é tradição a realização de degustações
por meio de ferramentas digitais. temáticas de vinhos e espumantes. Com
a pandemia do Coronavírus, a ABE se
reinventou, dando continuidade ao
ENVIO DE AMOSTRAS projeto, agora em formato on-line, com o
A divulgação, coordenação e envio de amostras envio das amostras em pequenas garrafas.
para concursos realizados no mundo inteiro é Assim, o acesso a rótulos de diferentes
um trabalho liderado pela ABE, que mantém procedências e novas tendências tem
parcerias com Associações de Enólogos e outras continuado, fazendo o longe virar perto.
entidades do mundo do vinho. O ranking oficial
de medalhas alcançadas pelos rótulos brasileiros
é atualizado pela entidade.