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Petição Intercorrente

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Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

28/08/2023

Número: 0024321-62.2018.4.01.3700
Classe: RECURSO INOMINADO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 2ª Turma Recursal da SJMA
Órgão julgador: 1ª Relatoria da 2ª Turma Recursal da SJMA
Última distribuição : 31/01/2019
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0024321-62.2018.4.01.3700
Assuntos: Indenização por Dano Moral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
LIVIO MADEIRA CARVALHO (RECORRENTE) MYRELLA MENDES DE SOUSA SILVA (ADVOGADO)
BRUNO ROCIO ROCHA (ADVOGADO)
UNIÃO FEDERAL (RECORRIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
32741 17/07/2023 20:35 Petição intercorrente Petição intercorrente
6152
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-REGIONAL DA UNIÃO DA 1ª REGIÃO
NÚCLEO GESTOR (PRU1R/COREJEF/NUG)

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DO(A) 1ª RELATORIA DA 2ª TURMA RECURSAL DA SJMA

NÚMERO: 0024321-62.2018.4.01.3700
AGRAVANTE(S): UNIÃO
AGRAVADO(S): LIVIO MADEIRA CARVALHO

UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representado(a) pelo membro da Advocacia-


Geral da União infra assinado(a), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor
AGRAVO contra a decisão que inadmitiu o Incidente de Uniformização interposto, com fundamento no
artigo 84, IV, b, do Regimento Interno da TRU.

P. deferimento.

Brasília.

SAMUEL LAGES NEVES LOPES


ADVOGADO DA UNIÃO

EGRÉGIA TURMA

RAZÕES DO AGRAVO

EMINENTES JUÍZES(ÍZAS) FEDERAIS,

DO CABIMENTO DO AGRAVO INTERNO.

Assinado eletronicamente por: SAMUEL LAGES NEVES LOPES - 17/07/2023 20:34:37 Num. 327416152 - Pág. 1
https://pje2g.trf1.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23071720350460700000318216598
Número do documento: 23071720350460700000318216598
Trata-se de agravo interposto contra decisão que inadmitiu incidente de uniformização por
entender que a análise do pedido de uniformização estaria em conformidade com entendimento
consolidado em representativo de controvérsia da TNU, nos termos do art. 84, IV, b, do Regimento Interno
da TRU.

Em face de decisões que inadmitem o incidente de uniformização nestas circunstâncias, o


recurso cabível é a agravo interno dirigido à própria Turma Recursal prolatora do acórdão, nos termos do §
3º do mesmo artigo:

§ 3º Da decisão proferida com fundamento nos incisos II, III, IV e V deste artigo
caberá agravo interno, no prazo de 15 dias, a contar da intimação, o qual, após o
decurso de igual prazo para contrarrazões, será julgado pela turma recursal que
prolatou o acórdão impugnado, exercendo o juízo de admissibilidade dos pedidos de
uniformização mediante decisão irrecorrível.

2. PEDIDO DE SOBRESTAMENTO - AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO TEMA


212 - PUIL STJ ADMITIDO
Conforme relatado, o Pedido de Uniformização Nacional interposto pela União nos
presentes autos restou inadmitido pela e. Presidência da c. Turma Recursal, ao argumento de que esbarra
no entendimento da TNU - Tema 212, bem como que não há similitude fática com o tema 538 do STJ.

Com a devida vênia, merece ser admitido o Pedido de Uniformização e os autos


sobrestados.

Isso Porque, a tese fixada pela TNU, tema 212 (Processo n° 0507165-
55.2018.4.05.8400/RN), não transitou em julgado, uma vez que a União interpôs Pedido de Uniformização
de Jusrisprudência ao STJ e Recurso Extraordinário, ambos admitidos:

DESPACHO/DECISÃO
Chamo o feito à ordem.
Na decisão constante do Evento 86 - DESPADEC1, apenas foi analisada a admissibilidade
do Recurso Extraordinário, tendo passado despercebido o Pedido de Uniformização dirigido ao STJ.
Sendo assim, passo à análise do incidente endereçado ao STJ, fazendo-a integrar ao
anterior decisum, nos seguintes:
Trata-se de pedido de uniformização de jurisprudência dirigido ao STJ e
recurso extraordinário, interpostos contra acórdão da TNU, o qual firmou o entendimento de que: "O
MILITAR PROMOVIDO TEM DIREITO AO RECEBIMENTO INTEGRAL DO AUXÍLIO-FARDAMENTO NO
VALOR DE UM SOLDO DO NOVO POSTO OU GRADUAÇÃO, MESMO QUE TENHA RECEBIDO A
MESMA VANTAGEM ANTERIORMENTE DENTRO DO PRAZO DE UM ANO, SENDO ILEGAL A
LIMITAÇÃO IMPOSTA PELO ART. 61 DO DECRETO N. 4.307/2002".
É, no essencial, o relatório.
Os recursos merecem seguimento.
Pedido de uniformização de jurisprudência ao STJ
A fim de demonstrar a divergência jurisprudencial justificadora do pedido de uniformização,
indica-se o paradigma do STJ: Recurso Especial repetitivo nº 1.257.665/CE (Tema 538).
Tenho por preenchidos os pressupostos de admissibilidade, motivo pelo qual, o pedido deve
ser analisado pela Corte Superior de Justiça (art. 31, caput, do RITNU).
Recurso Extraordinário
Sustenta-se, em síntese, violação ao "artigo 5o, inciso II e art. 37, caput ( Princípio da
Legalidade), artigo 2o (Princípio da Separação de Poderes), art. 5o ( Princípio da Isonomia) e art. 84, IV
(Poder Regulamentar)."
Em um primeiro juízo de admissibilidade, verifico que o recurso interposto atende aos
requisitos formais necessários, quais sejam: a) legitimidade e interesse recursal; b) recurso interposto

Assinado eletronicamente por: SAMUEL LAGES NEVES LOPES - 17/07/2023 20:34:37 Num. 327416152 - Pág. 2
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Número do documento: 23071720350460700000318216598
contra decisão de mérito exarada pelo colegiado desta TNU; c) demonstração de alegada ofensa a
dispositivo da Constituição Federal/1988; e d) demonstração de alegada existência de repercussão geral
da matéria discutida no feito.
Ante o exposto, com fundamento no art. 7º, X, do RITNU, admito o pedido uniformização
e, com base no art. 32, §2º, do mesmo regimento, admito o Recurso Extraordinário, determinando,
primeiramente, a remessa do feito ao Superior Tribunal de Justiça.
Intimem-se.

Nesse sentido, a decisão monocrática ora recorrida, ao negar seguimento ao Pedido de


Uniformização da União sob o fundamento do tema 212 da TNU, não se sustenta, uma vez que não houve
o trânsito em julgado do mesmo, estando o processo 0507165-55.2018.4.05.8400/RN em curso com PUIL
para o STJ e Recurso Extraordinário para o STF admitidos e em processamento.

Logo, há a necessidade de sobrestamento do presente até que seja proferido julgamento


final referente ao tema 212.

DA JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


CONSUBSTANCIADA NO TEMA 538 (RESp repetitivo 1.257.665/CE) /DEMONSTRAÇÃO DE
SIMILITUDE FÁTICO-JURÍDICA / COTEJO ANALÍTICO

No acórdão recorrido foi discutida a legalidade, ou não, da limitação temporal


imposta pelo art. 61 do Decreto n. 4.307/2002, no que concerne ao auxílio fardamento, que possui
natureza jurídica de indenização.

Veja-se que a MP n. 2.215-10, de 31 de agosto de 2001, que regulamenta o auxílio


fardamento, assim dispõe em seus artigos 2º e 3º, respectivamente:

Art. 2º Além da remuneração prevista no art. 1º desta Medida Provisória, os militares


têm os seguintes direitos remuneratórios:
I - observadas as definições do art. 3o desta Medida Provisória:
(….)
d) auxílio-fardamento;

Art.3º Para os efeitos desta Medida Provisória, entende-se como: (….)


XII - auxílio-fardamento - direito pecuniário devido ao militar para custear gastos
com fardamento, conforme regulamentação;
Parágrafo único. Os valores referentes aos direitos previstos neste artigo são
os estabelecidos em legislação específica ou constantes das tabelas do Anexo
IV.

6. A tabela II do Anexo IV da MP nº 2.215/2001, transcrita no voto do relator, traz o


valor representativo do auxílio-fardamento.

7. O Decreto 4.307/2002, que regulamentou o auxílio-fardamento, estipulou no art.


61:

“Art.61 - Se o militar for promovido, ou enquadrado nas alíneas "b" ou "c" da Tabela II
do Anexo IV da Medida Provisória no 2.215-10, de 2001, no período de até um ano
após fazer jus ao auxílio fardamento, ser-lhe-á devida a diferença entre o valor
do auxílio referente ao novo posto ou graduação, e o efetivamente recebido.”
(grifo nosso)

Assinado eletronicamente por: SAMUEL LAGES NEVES LOPES - 17/07/2023 20:34:37 Num. 327416152 - Pág. 3
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Número do documento: 23071720350460700000318216598
Consoante se observa, a MP 2.215/2001, ao estabelecer o auxílio-fardamento e fixar os
seus valores representativos, remeteu, expressamente, à regulamentação administrativa, as
condições para a sua percepção.

E, nessa esteira, sobre o estabelecimento de condições em atos normativos


secundários, como é o caso do presente feito, houve decisão desta Colenda Corte nos autos de
Recurso Especial Repetitivo, que também trata de regulamentação de parcela indenizatória.

Com efeito, a questão levada a julgamento no Resp repetitivo 1.257.665/CE (tema


538), cujo acórdão foi publicado em 17/09/2015 foi a seguinte: concessão de ajuda de custo a
servidores públicos, prevista no art. 51, I, da lei 8.112/90, e a legalidade da limitação temporal à sua
concessão quando fixada em norma regulamentadora (art. 7o, Resolução CJF 461/2005, art. 101 da
Resolução 4/2208 ou norma superveniente de igual conteúdo).

Como se observa, o ponto fulcral analisado nos presentes autos e que contraria
frontalmente a jurisprudência firmada por este C. Superior Tribunal de Justiça é a análise de
legalidade de limitação temporal por ato secundário ou norma infralegal.

E, nesse espectro, para deixar bem definida a adequação deste caso concreto ao tema 538
do Superior Tribunal de Justiça, cumpre transcrever o teor da tese firmada no julgamento do Resp
1257665/CE:

"A FIXAÇÃO DE LIMITAÇÃO TEMPORAL PARA O RECEBIMENTO DA


INDENIZAÇÃO PREVISTA NO ART. 53, I, DA LEI 8112/1990, POR MEIO DE
NORMAS INFRALEGAIS, NÃO OFENDE O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE".

A discrepância jurisprudencial é de simples demonstração: enquanto o acórdão


recorrido considera inválido o regulamento da matéria em debate, o acórdão repetitivo (Tema 538)
entende que é legal a fixação, por meio de normais infralegais, de limitação temporal para
recebimento de indenização prevista em lei.

Assim, observa-se que há perfeita adequação entre o tema tratado no acórdão recorrido e o
Tema 538 do Superior Tribunal de Justiça (Resp 1257665/CE), pois trata-se exatamente de questão
relativa à fixação de limitação temporal para o recebimento de indenização prevista em lei.

Desse modo, a similitude fático-jurídica entre os julgados está presente na análise de


fundo, que diz respeito à legalidade ou não de fixação de limitação temporal para o recebimento de
parcela indenizatória.

A tese fixada no tema 538 é clara no sentido que sua ratio decidendi trata da
possibilidade da norma regulamentadora prever limitação temporal, ou seja, sobre o
estabelecimento de condições relativas à limitação temporal em atos normativos secundários.

E no presente caso, trata-se exatamente disso: saber se a norma regulamentadora


pode prever limitação temporal em indenização fixada em lei.

Para corroborar a aplicação da tese fixada no tema 538 no caso em concreto, apresenta a
União o voto divergente, proferido pelo i. Juiz Federal Ivanir Cesar Ireno Júnior, nos autos do
processo 0507165-55.2018.4.05.8400 que afirma que não se vislumbra distinção que justifique a não
aplicação ao caso em questão da ratio decidendi do tema 538 do STJ, que confirmou a legalidade
de ato normativo secundário editado para impor restrição temporal semelhante e mais severa ao
gozo do direito que está em discussão nestes autos.

Por oportuno, transcreve-se o seguinte trecho do retrocitado voto:

Assinado eletronicamente por: SAMUEL LAGES NEVES LOPES - 17/07/2023 20:34:37 Num. 327416152 - Pág. 4
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Número do documento: 23071720350460700000318216598
9. Sobre o estabelecimento de condições em atos normativos secundários, em
situações como a presente, registrou o ministro Herman Benjamin, relator do tema
538 do STJ:
7. Ao estabelecer "condições" (que o vernáculo entende, entre outros sentidos,
como antecedente necessário), a Lei permite restrições/limitações que nada
mais são que requisitos que qualificam o servidor para o recebimento da
indenização – e tal regulamentação não é de competência exclusiva do
Presidente da República (Precedentes do STF).
10. E o Decreto 4.307/2002 nada mais fez do que estabelecer, como condição da
percepção integral da parcela, uma limitação temporal para evitar a dupla e
desnecessária percepção do valor total do auxílio em período inferior a um ano
, que preza pela razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, economicidade
do patrimônio público, impessoalidade e eficiência.
11. Digo desnecessária porque os fardamentos adquiridos com o primeiro auxílio -
percebido recentemente - ainda estão novos e não precisando de substituição. A
própria MP, no seu anexo, prevê periodicidade da troca em três anos, com
percepção de auxílio-fardamento (anexo IV, tabela II, item 'j'). E razoável porque a
limitação é curtíssima e garante a percepção do valor referente à diferença
remuneratória entre o novo posto ou graduação e o efetivamente recebido, para
aquisição de divisas e outros detalhes secundários que mudam no fardamento com a
promoção.
12. Nesse contexto, é certo que o decreto regulamentar, emitido por
determinação expressa da MP, não violou ato normativo primário ou
estabeleceu condição de acesso que deveria estar presente na lei.
Simplesmente, adequou a lei e o benefício aos já citados princípios constitucionais
anteriormente invocados.
13. Por fim, redobrando as vênias, não consigo alcançar a distinção feita pelo
relator para não aplicar ao caso a mesma ratio decidendi do tema 538 do STJ,
que confirmou a legalidade de ato normativo secundário editado para impor
restrição temporal semelhante e muito mais severa a gozo do direito do que a
que está em discussão nestes autos. E aqui esclareço que, na essência, é de
restrição temporal que se trata, com reflexos secundários no valor do benefício,
motivo pelo qual a fixação de valor do auxílio-fardamento na MP não tem o condão
de afastar a plena compatibilidade vertical do decreto regulamentador com a MP.
14. Eis o teor do tema 538 do STJ:
A fixação de limitação temporal para o recebimento da indenização prevista no
art. 53, I, da Lei 8112/1990, por meio de normas infralegais, não ofende o
princípio da legalidade.
15. No citado tema, estava em discussão a legalidade de resolução do CJF que
vedou a nova percepção de ajuda de custo para custear mudança de servidor
em periodicidade inferior a 01 ano.
16. A Lei 8.112/91, como a MP 2.215-10/2001, não trouxe limitação temporal para a
percepção da verba. Simplesmente estabeleceu que os valores e as condições para
a sua concessão serão estabelecidos em regulamento (art. 52). Sobre o valor,
inclusive, também trouxe parâmetros a serem observados pela
regulamentação, ou seja, de que seria calculada sobre a remuneração do servidor,
não podendo exceder a importância correspondente a 3 (três) meses (art. 54).
17. Como se vê, o STJ chancelou a legalidade do ato normativo regulamentador
do CJF, que impôs limitação temporal não prevista em lei para a percepção de uma
segunda ou terceira ajuda de custo. E como já referido, a regra chancelada pelo STJ
era mais restrititva que a presente, uma vez que vedou totalmente a percepção de
nova ajuda de custo, ainda que o fato gerador mudança tenha ocorrido, sem
garantir parcela mínima para cobrir despesas extras decorrentes da nova mudança.
18. Extraio, de importante, do acórdão e do voto do relator:
ADMINISTRATIVO. AJUDA DE CUSTO. CARGO EM COMISSÃO.
DESLOCAMENTO. LEGITIMIDADE DA LIMITAÇÃO TEMPORAL. LEI QUE
AUTORIZA FIXAÇÃO DE "CONDIÇÕES" EM REGULAMENTOS. PRINCÍPIOS DA
MORALIDADE ADMINISTRATIVA, DA RAZOABILIDADE, DA IMPESSOALIDADE,
DA EFICIÊNCIA E DA ECONOMICIDADE DA GESTÃO PÚBLICA. PRECEDENTES
EM OUTROS SISTEMAS. INAPLICABILIDADE DOS PRECEDENTES REFERIDOS

Assinado eletronicamente por: SAMUEL LAGES NEVES LOPES - 17/07/2023 20:34:37 Num. 327416152 - Pág. 5
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Número do documento: 23071720350460700000318216598
NO APELO. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. RECURSO EXAMINADO PELO
REGIME DO ART. 543-C DO CPC.
[...]
7. Ao estabelecer "condições" (que o vernáculo entende, entre outros sentidos,
como antecedente necessário), a Lei permite restrições/limitações que nada
mais são que requisitos que qualificam o servidor para o recebimento da
indenização – e tal regulamentação não é de competência exclusiva do
Presidente da República (Precedentes do STF).
8. Os princípios não se exaurem em escopos obtusos, inserem-se num
sistema vasocomunicante, permeável por uma interpretação evolutiva, voltada
a proporcionar decisão justa e ponderada, na qual prevalecem valores maiores
e consentâneos com a coesão sistêmica. Nessa linha, a medida limitadora tem
seu espectro inserido nos princípios da moralidade administrativa, da
razoabilidade, da impessoalidade, da eficiência e da economicidade da gestão
pública.
[...]
10. O Conselho Nacional de Justiça – CNJ já tratou do tema, porque relacionado
com pedido de ajuda de custo deduzido por magistrado, no paradigma constante dos
Pedidos de Providência 2007.10000007809 e 2007.10000011825. Afirmou-se:
"Observo ainda que os decretos regulamentadores da ajuda de custo, no plano
federal, limitam a concessão da ajuda de custo a um ano, ou seja, o magistrado não
pode receber em período inferior a um ano mais de uma ajuda de custo. Esta regra
deve ser seguida nas concessões de ajuda de custo, sob pena de conversão dos
magistrados em peregrinos, contrariando inclusive a própria natureza da ajuda de
custo, com o que a ajuda de custo somente é devida em remoções que ocorrerem
em prazo superior a um ano" (grifo acrescentado).
11. A Resolução 382/2008 do STF, por sua vez, dispõe sobre a concessão de ajuda
de custo no âmbito daquele Tribunal e assevera que "não será concedida ajuda de
custo ao Ministro ou ao servidor que: I - tiver recebido indenização dessa espécie no
período correspondente aos doze meses imediatamente anteriores, ressalvada a
hipótese de retorno de ofício, de que trata o § 6º do art. 3º" (grifo acrescentado).

19. Em resumo, não vejo motivo para, no caso dos autos, dar tratamento diverso e
privilegiado ao auxílio-fardamento dos militares, em homenagem aos princípios
constitucionais já invocados, que forem bem observados pelo decreto
regulamentador, que em momento algum amesquinhou ou desvirtuou o a parcela
indenizatória prevista em lei.

Como muito bem destacado, a restrição de que trata o Decreto 4.307/2002 é de natureza
temporal, com consequentes reflexos secundários no valor do benefício, razão pela qual jamais a fixação
do valor, que decorre diretamente da limitação temporal, pode afastar a plena compatibilidade de decreto
regulamentador com a MP 2.215/2001.

E, dentre os argumentos esposados, cumpre destacar o trecho em que coerentemente o


Juiz Federal prolator do voto divergente assim acentua: "Em resumo, não vejo motivo para, no caso
dos autos, dar tratamento diverso e privilegiado ao auxílio-fardamento dos militares, em
homenagem aos princípios constitucionais já invocados, que foram bem observados pelo decreto
regulamentador, que em momento algum amesquinhou ou desvirtuou o a parcela indenizatória
prevista em lei".

Por pertinência, ainda para configuração do cotejo analítico, cumpre trazer agora os
seguintes trechos do voto do Relator do Repetitivo 1.257.665 (Tema 538) , Ministro Herman Benjamin:

A despeito das reformas legislativas, o tratamento dado pela norma a situações


como a dos autos jamais se alterou. (...)

Isso porque a lei atribuiu benefícios, mas nunca a possibilidade de abuso


desses benefícios, sobretudo contra o patrimônio público.

Assinado eletronicamente por: SAMUEL LAGES NEVES LOPES - 17/07/2023 20:34:37 Num. 327416152 - Pág. 6
https://pje2g.trf1.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23071720350460700000318216598
Número do documento: 23071720350460700000318216598
À luz da boa hermenêutica, não é imperativo que essa regulamentação seja feita por
meio de norma hierárquica imediatamente inferior (decreto), consoante interpretação
açodada do art. 84, VI, da CF pode sugerir. Conforme decidido no RE 570.680/RS
(Relator Min. Ricardo Lewandowski, Pleno, j. 28.10.2009 – repercussão geral), a
competência regulamentadora não é exclusiva do Presidente da República. É o que
se extrai da ementa quando afirma que "é compatível com a Carta Magna a norma
infraconstitucional que atribui a órgão integrante do Poder Executivo da União a
faculdade de estabelecer alíquotas do Imposto de Importação. Competência que não
é privativa do Presidente da República".
No voto do relator, foi dito:
A competência excepcional conferida ao poder Executivo da União para alterar as
alíquotas do tributo em questão, dentro das condições e dos limites estabelecidos
nas leis e regulamentos pertinentes, decorre, exatamente, de seu caráter regulatório,
cuja conformação deve amoldar-se, com maior presteza possível, às vicissitudes dos
mercados nacional e internacional.
No mesmo sentido, cfr.: RE 225.655/PB, Relator Min. Ilmar Galvão, j. 21.3.2000).

Conforme será demonstrado adiante, as vicissitudes do caso concreto estão


atreladas à capacidade normativa de conjuntura relacionada com a preservação da
moralidade administrativa pelos órgãos de gestão.
(...)
Nem se diga que a regulamentação desborda dos limites fixados pela norma
hierarquicamente superior, porquanto, ao autorizar fixação de "condições"
(que o vernáculo entende, entre outros sentidos, como antecedente
necessário), a Lei permite restrições/limitações que nada mais são que os
requisitos que qualificam o servidor para o recebimento da indenização.
(...)

Os princípios não se exaurem em escopos obtusos; eles se inserem num sistema


vasocomunicante, permeável por uma interpretação evolutiva, voltada a proporcionar
decisão justa e ponderada, na qual prevalecem valores maiores e consentâneos com
a coesão sistêmica.

Daí decorre a razoável afirmação do acórdão recorrido, no sentido de que "é de ser
rejeitada a alegação de violação ao princípio da legalidade, uma vez que a
vedação constante da Resolução CJF nº 461, de 15 de agosto de 2005 (e
Resolução CJF 4/2008), e do Ato do TRF nº 801, de 14 de setembro de 2005,
decorre do princípio da moralidade administrativa, tendo por fim evitar os
pedidos de remoção com o propósito específico de obtenção da vantagem
pecuniária". De fato, a medida limitadora tem seu espectro inserido nos
princípios da moralidade administrativa, da razoabilidade, da impessoalidade,
da eficiência e da economicidade da gestão pública
O fator tempo não pode ser desconsiderado por ocasião da fixação de limites
para a concessão de ajuda de custo, que, diante dos fundamentos atrelados à
ratio do benefício, aos impactos financeiros da presente decisão, à
conveniência e oportunidade da concessão, ao histórico do tratamento da
matéria e, especialmente, ao paradigma dado pelo STF e CNJ, recomenda seja
mantida a limitação temporal.¿
Ir além e questionar os termos em que estabelecido o limite temporal exigiria a
invasão do mérito do ato administrativo e da Resolução em comento, o que é
permitido apenas em hipótese excepcional de flagrante ilegalidade (cfr. AgRg
no Ag 1.298.842/RJ, Segunda Turma, Relator Ministro Castro Meira, DJe
29/6/2010 e AgRg nos EDcl no REsp 902.419/RS, Segunda Turma, Relator
Ministro Humberto Martins, DJe 15/2/2008 ), ausente no caso concreto.
(...)

Pelas razões acima expostas, estabeleço a seguinte tese para o Recurso Repetitivo:
"A fixação de limitação temporal para o recebimento da indenização prevista
no art. 53, I, da Lei 8112/1990, por meio de normas infralegais, não ofende o
princípio da legalidade"

Assinado eletronicamente por: SAMUEL LAGES NEVES LOPES - 17/07/2023 20:34:37 Num. 327416152 - Pág. 7
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Por fim, cabe destacar os acórdãos confrontados demonstram claramente a disparidade de
entendimento sobre o mesmo tema.

Acórdão:

ADMINISTRATIVO. MILITAR. AUXÍLIO-FARDAMENTO. PAGAMENTO INTEGRAL


NO VALOR CORRESPONDENTE AO SOLDO DA NOVA GRADUAÇÃO.
APLICAÇÃO DA TESE FIXADA PELA TNU EM JULGAMENTO DE
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA(TEMA 212). PUIL (TURMA) 0507165-
55.2018.4.05.8400. COSECTÁRIOS LEGAIS CONFORME JULGADO NO RE
870.947. ART. 1.039, CPC. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
(...)
4.3. Insta observar que a Administração, por meio de ato infralegal, no legítimo
exercício do Poder Normativo Regulamentar, pode estabelecer regras
pertinentes a matéria que já fora objeto de ato normativo primário, derivado do
Poder Legiferante típico, contudo, sem que se incorra em violação a princípios
constitucionais basilares, da repartição de poderes, reserva legal e segurança
jurídica, por exemplo.

Ementa do Repetitivo REsp n. 1.257.665 (Tema 538):

ADMINISTRATIVO. AJUDA DE CUSTO. CARGO EM COMISSÃO.


DESLOCAMENTO. LEGITIMIDADE DA LIMITAÇÃO TEMPORAL. LEI QUE
AUTORIZA FIXAÇÃO DE "CONDIÇÕES" EM REGULAMENTOS. PRINCÍPIOS DA
MORALIDADE ADMINISTRATIVA, DA RAZOABILIDADE, DA IMPESSOALIDADE,
DA EFICIÊNCIA E DA ECONOMICIDADE DA GESTÃO PÚBLICA. PRECEDENTES
EM OUTROS SISTEMAS. INAPLICABILIDADE DOS PRECEDENTES REFERIDOS
NO APELO. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. RECURSO EXAMINADO
PELO REGIME DO ART. 543-C DO CPC.
(....)
13. Estabelecida a seguinte tese para efeito do art. 543-C do CPC: "A fixação de
limitação temporal para o recebimento da indenização prevista no art. 53, I, da
Lei 8112/1990, por meio de normas infralegais, não ofende o princípio da
legalidade".
14. Recurso Especial não provido.

Destaca-se que assim que, no julgamento quanto à legalidade da fixação de limitação


temporal para o recebimento da indenização:
a) a Turma Recursal entendeu ser ilegal a limitação temporal fixada pelo Decreto
regulamentador, enquanto que:

b) o STJ firmou a tese no sentido diametralmente oposto, qual seja, reconhecendo que a
fixação da limitação temporal para o recebimento da indenização, por meio de normas infralegais, não
ofende o princípio da Legalidade.

Assim, observa-se claramente que a Turma Recursal adotou, em julgado semelhante,


quanto à análise da legalidade de imposição da limitação temporal para o recebimento de
indenização, posicionamento totalmente divergente do entendimento firmado por este Eg. STJ no
Tema 538, restando evidenciada, quanto ao tema, a similitude fático-jurídica entre os arestos.

E, tendo o Col. STJ decidido de forma diametralmente oposta em um Resp repetitivo-


Tema 538, cuja decisão apresenta reflexos amplos, entende a União que merece ser conhecido e provido

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Número do documento: 23071720350460700000318216598
o PUJ interposto.

DOS REQUERIMENTOS.

Diante do exposto, a União requer o acolhimento do presente Agravo, para que seja
reformada a decisão recorrida, com a consequente admissão do incidente de uniformização interposto.

Pede deferimento.

Brasília, 17 de julho de 2023.

SAMUEL LAGES NEVES LOPES


ADVOGADO DA UNIÃO

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