23-Texto Do Artigo-43-1-10-20170620
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Resumo
Este texto tem por tema um estudo da constituição da interdis-
cursividade e da intertextualidade, levando-se em conta as noções de
polifonia (BAKHTIN, 1982), intertextualidade (KRISTEVA, 1981),
heterogeneidade constitutiva e a heterogeneidade mostrada (AU-
THIER-REVUZ, 1982). Para o desenvolvimento da pesquisa foram
selecionados textos em que ocorre a interdiscursividade, por meio da
heterogeneidade constitutiva (Tragédia brasileira de Manuel Bandeira e
Juca de Chico Buarque de Holanda); e a intertextualidade, por meio da
heterogeneidade mostrada marcada (Bom conselho de Chico Buarque
de Holanda e Provérbios) e da heterogeneidade mostrada não marcada
(Queixa de Caetano Veloso e Cantiga de amor de Afonso Fernandes).
Palavras-chave
Interdiscursividade; Intertextualidade; Heterogeneidade consti-
tutiva; Heterogeneidade mostrada.
Abstract
This text is a study of the issue of the constitution interdiscursivity
and intertextuality, taking into account the notions of polyphony (Bakhtin,
1982), intertextuality (Kristeva, 1981), constitutive heterogeneity and
heterogeneity shown (AUTHIER-Revuz, 1982) . To develop the research
texts that interdiscursivity occurs through constitutive heterogeneity (Tra-
gédia brasileira of Manuel Bandeira and Juca of Chico Buarque de Holan-
da) were selected; and intertextuality, shown by the marked heterogeneity
(Bom conselho of Chico Buarque de Holanda and Proverbs) and shown no
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Professor Doutor, Titular do Programa de Estudos Pós-graduados em Língua
Portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Dire-
tor da Faculdade Alfa, Praia Grande, SP.
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Revista Técnico-Científica das Faculdades Atibaia
Key Words
Interdiscursivity; Intertextuality; Constitutive heterogeneity; Hete-
rogeneity shown.
Introdução
Este texto tem por tema um estudo da interdiscursivida-
de e da intertextualidade, considerando-se as noções de polifonia
(BAKHTIN, 1982), de intertextualidade (KRISTEVA, 1981), de
heterogeneidade constitutiva e heterogeneidade mostrada (AU-
THIER-REVUZ, 1982).
Objetiva-se examinar como a interdiscursividade e a inter-
textualidade se presentificam em textos escritos em língua portu-
guesa a partir de marcas implícitas e explícitas, tendo por critério
de análise fatores que envolvem a heterogeneidade constitutiva e
a heterogeneidade mostrada.
Entende-se por heterogeneidade constitutiva as expressões
linguísticas e seus meios: realizações de processos, tipologias tex-
tuais, regras retóricas, trabalhos de estilo e de época; e por he-
terogeneidade mostrada, o controle e a regulagem do processo,
evidenciados, no discurso, pela presença explícita do outro.
A tentativa de verificar a maneira como a interdiscursivida-
de e a intertextualidade são manifestadas justifica-se na medida
em que o texto enunciado apresenta diferentes dimensões de lei-
tura e de interpretação, respectivamente associadas ao procedi-
mento adotado e aos sentidos construídos. Para Lajolo (1985:59):
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cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia
e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se
contra ela, propondo outra não prevista.
l. Estabelecimento do tema.
2. Levantamento bibliográfico direcionado para o estudo da
interdiscursividade e da intertextualidade.
3. Seleção de textos para análise.
4. Análise dos textos selecionados.
5. Apresentação dos resultados obtidos.
Considerações Teóricas
A primeira noção de diálogos entre discursos (e textos)
aparece, implicitamente, em Bakhtin (1982:192), quando este tra-
ta do romance polifônico de Dostoievski, caracterizado pela plu-
ralidade de vozes redutíveis a uma “mediação unitária”. Bakhtin
mostra como a palavra tende a ser bivocal (ou mesmo plurivocal),
estabelecendo múltiplos contatos no interior do mesmo discurso
ou com outros discursos (discurso dialógico).
Em outras palavras, na base de sua análise do romance,
encontra-se a convicção de que todo texto tem internamente,
imanentemente, um caráter sociológico. Nele se cruzam as forças
sociais vivas e cada elemento está impregnado de valores sociais
vivos. Diz Bakhtin (id. Ibid.):
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Análises
1. A interdiscursividade:
Para a interdiscursividade, implicitamente, será considera-
da a heterogeneidade constitutiva presente na tipologia textual da
narrativa. Segundo Van Dijk (l989:53):
TRAGÉDIA BRASILEIRA
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,
conheceu Maria Elvira na Lapa - prostituída, com sífilis,
dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em
petição de miséria.
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JUCA
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BOM CONSELHO
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QUEIXA
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Senhora
Serpente
Princesa
Um amor assim delicado
Nem um homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria
Você pensa que tem tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa
Princesa
Surpresa
Você me arrasou
Serpente
Nem sente que me envenenou
Senhora e agora
Me diga onde eu vou
Senhora
Serpente
Princesa
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CANTIGA DE AMOR
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Considerações Finais
Um estudo sobre a interdiscursividade e a intertextualidade
possibilita, mais claramente, a visualização de como o escritor/lei-
tor se apropria de textos armazenados, em sua memória, ao longo
de sua existência, como ser sócio-historicamente situado, e esta-
belece com eles um jogo interacional.
A produção textual, aqui entendida tanto como escritura
quanto como leitura, é construída a partir da relação com muitos
outros textos, seja explícita ou implicitamente. Seu caráter é inter-
discursivo e intertextual, uma vez que todo discurso decorre de
discursos anteriores e o texto sempre está inserido num conjunto
textual por fatores que lhe determinam, pelo menos, a tipologia.
Produzir um texto implica a recorrência ampla ou estrita a
outros textos, a fim de absorvê-los, confirmá-los, transformá-los
ou recusá-los, numa tensão dinâmica, processada por movimen-
tos contínuos de escritura/leitura.
Sob esse ponto de vista, embasado por estudos de represen-
tantes do grupo Tel Quel (apud Perrone-Moisés, 1978), pode-se
conceber o texto como duplo escritura-leitura: ler aparece como
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Bibliografia
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