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Conchas Ostras Transformadas em Cal

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Universidade Federal de Santa Catarina

Centro Tecnológico
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental

Fernanda Almeida da Silva Petrielli

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA UTILIZAÇÃO


COMERCIAL DAS CONCHAS DE OSTRAS DESCARTADAS NA
LOCALIDADE DO RIBEIRÃO DA ILHA, FLORIANÓPOLIS,
SANTA CATARINA.

Dissertação
Florianópolis, 2008.
i

Universidade Federal de Santa Catarina


Centro Tecnológico
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental

Fernanda Almeida da Silva Petrielli

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA


UTILIZAÇÃO COMERCIAL DAS CONCHAS DE OSTRAS
DESCARTADAS NA LOCALIDADE DO RIBEIRÃO DA
ILHA, FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA.

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Engenharia Ambiental
da Universidade Federal de Santa Catarina
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Engenharia Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Fernando S. P. Sant’Anna

FLORIANÓPOLIS, 2008.
ii

TERMO DE APROVAÇÃO

“Viabilidade técnica e econômica da utilização comercial das conchas de


ostras descartadas na localidade do Ribeirão da Ilha, Florianópolis, Santa
Catarina”
Linha 14

FERNANDA ALMEIDA DA SILVA PETRIELLI

Dissertação submetida ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia


Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos
necessários para obtenção do grau de

MESTRE EM ENGENHARIA AMBIENTAL


Linha 28
Aprovado por:

___________________________
Prof. Armando Borges de Castilhos Jr., Dr.

Linha 28
___________________________
Prof. William Gerson Matias, Dr.
Linha 31

Linha 32
___________________________
Profa. Ana Regina Aguiar Dutra, Dra.
Linha 35

Linha
__________________________ ___________________________________
Prof. Sebastião Roberto Soares, Dr. Prof. Fernando Soares Pinto Sant’Anna, Dr.
(Coordenador) (Orientador)

FLORIANÓPOLIS, SC - BRASIL
Abril/2008
iii

"A natureza é sábia e justa. O vento


sacode as árvores, move os galhos,
para que todas as folhas tenham o seu
momento de ver o sol"
(Humberto de Campos)
iv

AGRADECIMENTOS

Ao prof. Fernando Sant’Anna pela orientação deste trabalho.


À Capes pela bolsa concedida durante o mestrado.
A equipe do LAGA, Sheila, Sofia, Francisco e, especialmente, Carol pela dedicação a
este trabalho.
Aos professores e funcionários do ENS, especialmente Arlete e Eliane, pela ajuda
prestada.
Ao Prof. Henry e ao colega Alexandre, pela ajuda nos trâmites burocráticos deste
trabalho.
Aos maricultores da região do Ribeirão da Ilha, especialmente a Rita de Cássia, por
colaborarem com esta pesquisa.
Aos membros da AMASI, Cooperilha e AMANI, pela colaboração nesta pesquisa.
A todos os proprietários e funcionários dos restaurantes da região do Ribeirão da Ilha,
especialmente ao André, pela colaboração com este trabalho.
Ao Setor de transporte da UFSC, especialmente Sr. Paulo e Sr. Asselon, pelo apoio nas
viagens realizadas ao Ribeirão da Ilha.
Ao Prof. Orestes e Rafael do Departamento de Engenharia Mecânica, pela colaboração
no início deste projeto.
À Fapeu, especialmente Sr. Rudinei pela ajuda nos tramites burocráticos.
À EPAGRI, especialmente Sr. Francisco e Alex Alves pela concessão de dados
importantes à esta pesquisa.
Aos colegas do ENS: Mariele, Flávia, Zé, Marcos e André, pelo companheirismo
durante as aulas. E à Antônio Pedro eVanessa, pelos grandes amigos que se tornaram.
Aos amigos Larissa, Lara, Carolina, Ana Paula, Vanessa, Cristina e Maria Fernanda, por
todo carinho e apoio que sempre me deram.
E, finalmente, aos meus familiares: meus pais, meu irmão, minhas cunhadas, meus
sogros, especialmente meu marido, meu agradecimento especial pelo amor, pela
compreensão nos momentos de ausência e por todo apoio que me deram durante a
realização deste trabalho.
v

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................ VI

LISTA DE FIGURAS..........................................................................................................VII

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................... XI

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................XIII

RESUMO......................................................................................................................... XIV

ABSTRACT ....................................................................................................................... XV

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................16

1.1 Objetivos.................................................................................................................. 18

1.1.1 Objetivos Específicos........................................................................................... 18

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................................19

2.1 Maricultura............................................................................................................. 19
2.1.1 Maricultura em Santa Catarina......................................................................... 20
2.1.2 Conchas de Ostras e Mariscos – Uso e valorização .......................................... 26
2.2 Estudo de viabilidade econômica.......................................................................... 31

3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................ 33

3.1. Estudo de campo................................................................................................... 33


3.1.1 Localização da área de estudo ............................................................................ 33
3.1.2 Identificação dos Impactos Ambientais............................................................. 33
3.1.3 Quantidade de conchas descartadas pelos cultivos e restaurantes ................. 38
3.2 Estudos experimentais para o aproveitamento das conchas.............................. 40
3.2.1 Preparação das amostras .................................................................................... 41
3.2.2 Caracterização físico-química das conchas....................................................... 41
3.3 Estudo de viabilidade econômica do beneficiamento das conchas..................... 44

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................49

4.1 Impactos Ambientais relacionados ao descarte inadequado das conchas........ 49


4.1.1 Descarte em terrenos – questão dos odores...................................................... 58
4.2 Quantidade de conchas descartadas pelos cultivos e restaurantes ................... 60
vi

4.2.1 Quantificação nos cultivos..................................................................................60


4.2.2 Quantificação nos restaurantes ........................................................................ 69
4.2.3 Cultivos e restaurantes....................................................................................... 71
4.3 Análise da composição e estrutura das conchas.................................................. 72
4.3.1 Caracterização do resíduo.................................................................................. 72
4.3.2 Caracterização morfológica, química e física................................................... 75
4.4 Processamento das conchas para transformação em cal.................................... 80
4.4.1 Avaliação da qualidade de cal produzida a partir das conchas...................... 82
4.5 Estudo de viabilidade econômica-financeira do uso das conchas...................... 85
4.5.1 Análise Estratégica de entrada do novo negócio no mercado......................... 86
4.5.2 Sistema de produção a ser implementado........................................................ 89
4.5.3 Análise financeira do negócio............................................................................ 96
4.5.4 Análise de Decisão............................................................................................ 109

5 CONCLUSÃO............................................................................................................ 111

5.1 Sugestões para futuros trabalhos....................................................................... 113

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 114

ANEXO 1 – PLANILHA PARA ENTREVISTA DE AVALIAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL COM


PROPRIETÁRIOS DE CULTIVOS NA REGIÃO DO RIBEIRÃO DA ILHA............................ 118

ANEXO 2 - PLANILHA PARA AVALIAÇÃO DE ODORES GERADOS PELO ARMAZENAMENTO


DE CONCHAS BRUTAS....................................................................................................122

ANEXO 3 – PLANILHA DE LEVANTAMENTO DE DADOS DOS CULTIVOS..................... 124

ANEXO 4 – PLANILHA DE LEVANTAMENTO DE DADOS DOS RESTAURANTES............. 126


vii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AMANI Associação dos Maricultores do Norte da Ilha
AMASI Associação dos Maricultores do Sul da Ilha
Ca(OH)2 – Hidróxido de cálcio
CaO – Óxido de cálcio
CTC – Centro Tecnológico
CTCMat – Centro de Tecnologia em Materiais
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO Demanda Química de Oxigênio
ENS – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental
EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária
EPAGRI Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina
ETA – Estação de Tratamento de Água
Mg(OH) – Hidróxido de magnésio
MgO – Óxido de Magnésio
NBR – Norma Brasileira
ND Não Detectado
pH - Potencial Hidrogeniônico
PVC - Cloreto de Polivinila
SIF - Serviço de Inspeção Federal
SINDUSCOM - Sindicato da Indústria da Construção Civil
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas Empresas
TG - Termogravimética
TGA - Análise Termogravimétrica
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UNISUL – Universidade do Sul do Estado de Santa Catarina
viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Evolução da produção de ostras em Santa Catarina........................................ 21


Figura 2. Produção de ostras por município no Estado de Santa Catarina em 2006.. ... 22
Figura 3. Esquema do cultivo suspenso-flutuante do tipo long-line. ............................. 23
Figura 4. Lanterna com seis andares utilizada para o cultivo de ostras.......................... 24
Figura 5: Concha de ostra para ração de aves vendida por um empresa espanhola.. ..... 29
Figura 6. Localização da área de estudo......................................................................... 33
Figura 7 - Experimento montado com o resíduo gerado nos cultivos (conchas mais
sedimento marinho agregado). A) Recipiente para recolhimento do líquido
percolado. B) Pilha de resíduos. C) Superfície impermeabilizante........................ 35
Figura 8 Áreas de avaliação do odor. ............................................................................. 36
Figura 9 Fluxograma das etapas para a obtenção dos produtos a partir das conchas..... 42
Figura 10 Fluxograma das etapas para estudo de viabilidade econômico das conchas. 45
Figura 11 Visualização geral da criação de ostras e os impactos ambientais gerados no
processo. ................................................................................................................. 49
Figura 12 Origem da água utilizada para o manejo nas fazendas marinhas do Ribeirão
da Ilha. .................................................................................................................... 50
Figura 13 Destino dos efluentes líquidos das fazendas marinhas no Ribeirão da Ilha... 51
Figura 14 Local de descarte das conchas pelas fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha.51
Figura 15 Local de descarte dos resíduos orgânicos retirados das lanternas e das conchas
das ostras nas fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha............................................ 52
Figura 16 1 - Conchas de ostras na praia; 2 - Ostreicultor depositando seu resíduo no
mar; 3 - Efluente de cultivo de ostras lançado no mar. .......................................... 53
Figura 17. 1 - Resíduo fresco de conchas de cultivo de ostras; 2 e 3 - Locais de descarte
das conchas. ............................................................................................................ 54
Figura 18. Possibilidade de doação das conchas para aproveitamento pelos
ostreicultores do Ribeirão da Ilha........................................................................... 54
Figura 19. Possibilidade de doação das conchas para uma empresa terceira que obteria
lucro com a venda das conchas beneficiadas.......................................................... 55
Figura 20. Opinião dos ostreicultores do Ribeirão da Ilha a respeito da interferência da
atividade sobre o meio ambiente. ........................................................................... 55
Figura 21. Experimento para avaliação dos odores........................................................ 58
ix

Figura 22. Intensidade Média do Odor percebido no resíduo de conchas proveniente de


cultivos do Ribeirão da Ilha.................................................................................... 59
Figura 23. Etapa de pesagem das conchas nas fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha. 61
Figura 24. Conchas de tamanhos variados descartadas pelas fazendas marinhas no
Ribeirão da Ilha. ..................................................................................................... 62
Figura 25. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas, no cultivo 1. ........................... 62
Figura 26. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 2. ............................ 63
Figura 27. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 3 ............................. 63
Figura 28. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 4. ............................ 64
Figura 29 Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 5. ............................. 64
Figura 30. Quantidade mensal da de conchas (kg) descartada pelos cinco tipos de
fazendas marinhas monitoradas no Ribeirão da Ilha de julho a dezembro de
2006.........................................................................................................................65
Figura 31. Quantidade mensal da de conchas (kg) descartada pelos cinco tipos de
fazendas marinhas monitoradas no Ribeirão da Ilha de janeiro a junho de 2007. . 65
Figura 32.Quantidade mensal de conchas descartadas pelos cinco cultivos do Ribeirão
da Ilha. .................................................................................................................... 66
Figura 33. Relação entre o número de sementes adquiridas e a geração de resíduos de
conchas em um ano de monitoramento, para os quatro cultivos selecionados....... 67
Figura 34. Massa (kg) mensal da dúzia do resíduo de conchas dos restaurante do
Ribeirão da Ilha. ..................................................................................................... 69
Figura 35. Geração mensal de resíduos de conchas – restaurantes grandes................... 70
Figura 36. Geração mensal de resíduos de conchas – restaurantes pequenos. ............... 70
Figura 37. Variação mensal de conchas descartadas pelos restaurantes. ....................... 71
Figura 38. Comparação entre os totais de resíduos (Kg) de conchas descartados pelos
restaurantes e cultivos do Ribeirão da Ilha............................................................. 72
Figura 39: Resíduo de conchas de restaurante da região do Ribeirão da Ilha. ............... 73
Figura 40: Exemplos de resíduos com conchas provenientes de fazendas marinhas..... 73
Figura 41. Análise termogravimétrica de amostras de conchas do Ribeirão de Ilha. .... 78
Figura 42. Análise térmica diferencial de amostras de conchas do Ribeirão de Ilha. .... 79
Figura 43. Resíduo das conchas durante a etapa de secagem em estufa (a) e após a
retirada da matéria orgânica (b).............................................................................. 80
x

Figura 44. Óxido de cálcio obtido a partir das conchas, após moagem manual............. 81
Figura 45. Processo de hidratação do óxido de cálcio obtido a partir das conchas........ 82
Figura 46. Fluxograma do beneficiamento das conchas para produção de Carbonato de
cálcio (CaCO3), Óxido de cálcio (CaO) e Hidróxido de cálcio (Ca(OH)2)............ 90
Figura 47. Esquema do arranjo espacial da usina de beneficiamento de conchas de
ostras....................................................................................................................... 95
xi

LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Medicamentos a base de cálcio de ostras. ...................................................... 27
Tabela 2 - Levantamento e avaliação de impactos ambientais provocados pelo descarte
atual de conchas de ostras com matéria orgânica agregada.................................... 57
Tabela 3. Percentual de umidade de matéria orgânica encontrado em amostras do
resíduo de conchas após um período de 34 dias exposto às intempéries. .............. 60
Tabela 4. Características gerais dos cinco cultivos onde foram acompanhadas a
quantidade de conchas descartadas......................................................................... 60
Tabela 5 . Número de sementes adquiridas em 2006 e resíduo de concha anual estimado
em 42 cultivos do Ribeirão da Ilha......................................................................... 68
Tabela 6. Análise do percentual de umidade e matéria orgânica presente nas amostras de
resíduos das conchas dos cultivos no Ribeirão da Ilha........................................... 74
Tabela 7. Análise do percentual de umidade e matéria orgânica presente nas amostras de
resíduos das conchas dos restaurantes no Ribeirão da Ilha. ................................... 75
Tabela 8. Análise do percentual de carbonato de cálcio (CaCO3) presente nas amostras
das conchas no Ribeirão da Ilha. ............................................................................ 76
Tabela 9. Análise do percentual dos elementos químicos presentes nas amostras de
conchas do Ribeirão da Ilha.................................................................................... 77
Tabela 10. Determinação de óxido de cálcio e substâncias reativas ao HCl (CaCO3) para
cal virgem produzido a partir de conchas............................................................... 83
Tabela 11. Determinação de hidróxido de cálcio e substâncias reativas ao HCl (CaCO3)
cal hidratada produzida a partir de conchas............................................................ 83
Tabela 12. Determinação de hidróxido de magnésio (MgO) e hidróxido de magnésio
(Mg(OH)) para concha calcinada e hidratada......................................................... 84
Tabela 13. Recomendação para conteúdo máximo de impureza segundo norma NBR. 84
Tabela 14. Resultados encontrados para conteúdo de impurezas nas conchas. ............ 85
Tabela 15. Pesquisa do mercado consumidor em Santa Catarina. ................................ 87
Tabela 16. Quadro de investimentos inicial (físico e financeiro) para usina de
beneficiamento das conchas. .................................................................................. 97
Tabela 17. Custo fixo mensal e anual para o beneficiamento das conchas. .................. 99
Tabela 18. Custos com mão-de-obra para a usina de beneficiamento das conchas. ... 101
Tabela 19. Encargos sociais relativo ao contrato celetista. .......................................... 101
xii

Tabela 20. Custos de proteção dos investimentos anual para o beneficiamento das
conchas. ................................................................................................................ 102
Tabela 21. Comparação da massa de resíduo de conchas descartadas e massa dos três
diferentes produtos finais de beneficiamento, valor anual. .................................. 104
Tabela 22. Cálculo dos custos de matéria-prima e materiais diretos por unidade
produzida (kg) por ano. ........................................................................................ 104
Tabela 23. Cálculo dos custos variáveis por unidade de produto produzido por ano. . 105
Tabela 24. Cálculo do custo unitário de produção para o carbonato de cálcio, óxido de
cálcio e hidróxido de cálcio. ................................................................................. 105
Tabela 25. Cálculo de preço de venda para o carbonato de cálcio, óxido de cálcio e
hidróxido de cálcio. .............................................................................................. 106
Tabela 26. Receita anual referente à empresa de beneficiamento de conchas. ............ 106
Tabela 27. Demonstrativo de resultados referente à empresa de beneficiamento de
conchas. ................................................................................................................ 107
Tabela 28. Lucratividade referente à empresa de beneficiamento de conchas............. 107
Tabela 29. Rentabilidade mensal referente à empresa de beneficiamento de conchas. 108
Tabela 30. Prazo de retorno de investimento referente à empresa de beneficiamento de
conchas. ................................................................................................................ 108
Tabela 31. Ponto de equilíbrio referente à empresa de beneficiamento de conchas. ... 109
xiii

LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Vida útil de equipamentos e outros utensílios utilizados para o cultivo de
ostras. ...................................................................................................................... 17
Quadro 2 – Adoções para avaliação dos dados obtidos durante a aplicação do
questionário de odor do experimento.. ................................................................... 37
Quadro 3. Descrição geral do negócio para beneficiamento de conchas de ostras. ....... 86
Quadro 4. Mercado concorrente: empresas que comercializam carbonato de cálcio e cal.
................................................................................................................................ 89
Quadro 5. Detalhamento dos procedimentos e profissionais envolvidos do fluxograma
do processo de beneficiamento das conchas........................................................... 91
Quadro 6. Detalhamento de máquinas, equipamentos e instrumentos do Fluxograma do
processo de beneficiamento das conchas. .............................................................. 92
Quadro 7. Detalhamento de móveis e utensílios do fluxograma do processo de
beneficiamento das conchas. .................................................................................. 93
Quadro 8. Detalhamento dos materiais utilizados no processo de beneficiamento das
conchas. .................................................................................................................. 94
xiv

RESUMO

A atividade da maricultura tem se destacado no Brasil devido ao seu potencial


comercial, gerando empregos diretos e indiretos e contribuindo para o desenvolvimento
social das comunidades produtoras. Os moluscos encontraram nas baías da Ilha de Santa
Catarina o ambiente ideal para se desenvolver e transformaram a cidade de
Florianópolis na Capital Nacional da Ostra. O aumento da atividade vem levantando a
questão do descarte dos resíduos gerados pela maricultura, principalmente as conchas..
Em alguns países, as conchas têm um destino mais adequado.Tem-se pesquisado o uso
das conchas para materiais de construção, como matéria-prima na produção de ração
para aves, para reconstituição do solo e, também, para remover o fosfato das águas
residuárias. O objetivo do presente trabalho é estudar a viabilidade técnica e econômica
da utilização comercial das conchas de ostras descartadas na localidade do Ribeirão da
Ilha, Florianópolis, Santa Catarina. Foi levantada a quantidade de conchas de ostras que
são descartadas pelos cultivos e restaurantes da localidade de Ribeirão da Ilha, que é a
região de maior produção de ostras de Florianópolis. A quantidade de conchas
descartadas por cultivo e restaurantes em um ano de estudo no Ribeirão da Ilha foi de
1.158.189 kg. Cerca de 25% dos maricultores afirmam que lançam seus resíduos no mar
e 10% lançam em terrenos da região. As conchas, quando jogadas no mar, podem
influenciar negativamente o cultivo de ostra por causa do assoreamento da baía. Nos
terrenos baldios e em áreas onde há acúmulo de conchas, há o problema do mau cheiro,
além da poluição visual. Tecnicamente é possível transformar as conchas em produtos
comercializáveis. O estudo de viabilidade econômica apontou que a implantação de uma
usina para o beneficiamento das conchas é um negócio pouco atrativo. Apesar desta
alternativa de utilização do resíduos não ser muito atrativa financeiramente, do ponto de
vista ambiental ela é muito positiva, pois o resíduo aproveitado, deixaria de provocar
problemas ambientais na região.

PALAVRAS-CHAVES: Maricultura, conchas de ostras, valorização de resíduos


sólidos, estudo de viabilidade técnica e econômica.
xv

ABSTRACT

The activity of the mariculture has been increasing in Brazil due the commercial
potential, generating direct and indirect jobs and contribute to the social development of
the producing communities. The clams have found in the bays of the Santa Catarina
Island the ideal environment to their development and transformed the city of
Florianópolis into the National Capital of the Oyster. The increase of the activity comes
raising the question of the disposed of the waste generated for the mariculture, mainly
the shells. In some countries, the shells have a correct destination. The use of the shells
for construction materials was investigated, as raw material in the production of ration
for birds, reconstitution of the ground and, also, to remove the phosphate of wastewater.
The purpose of this study is to analyze the economic and technical feasibility of the
commercial use of the oyster shell disposed in the area of Ribeirão da Ilha,
Florianópolis, Santa Catarina. The amount of disposed shells from the shellfish farms
and restaurants was 1.158.189 kg in one year of study. Around of 25% of the shellfish
farms affirmed that were dumped their wastes into the sea and 10% were dumped at the
public lands. The shells, when disposed into the sea, can cause negative influence at the
shellfish farms due the silting. When dumped into the land the accumulation of shells
can be a source of nasty smell, besides the visual pollution. Technically, it is possible to
transform the shells into commercial products. The economic feasibility study showed
that the implantation of the shells recycling plant is not an attractive business. Although
the use of the waste products - oyster shells - are not very attractive financially, from the
environmental point of view is very important, because the reuse of the waste products
could avoid environmental problems.

KEY WORDS: Mariculture, oyster shell, solids waste valorization, economic and
technical feasibility.
16

1 INTRODUÇÃO
A maricultura é uma forma de produção de alimento encontrada como uma
alternativa para a escassez de recursos pesqueiros. Esta atividade possui importâncias
sociais e econômicas, pois muitas comunidades tradicionais afetadas pelo declínio da
produção da pesca extrativa, atualmente sobrevivem do cultivo de organismos
marinhos. Assim, a maricultura proporcionou o desenvolvimento uma nova atividade
em várias comunidades, permitindo a fixação dos pescadores em suas comunidades de
origem, através da geração de emprego e renda.
Entretanto, por ser uma atividade relativamente nova, alguns problemas estão
associados a essa forma de produção, principalmente devido a escassez de legislação e
regulamentação da atividade. Do ponto de vista ambiental, pode-se dizer que existem
problemas relacionados à disposição de resíduos sólidos e efluentes líquidos gerados
nos locais de cultivo e alterações nos padrões de circulação de água e poluição visual
provocadas pelo uso de estruturas para fixação dos cultivos na água.
A instrução normativa n0 105 de 20 de julho de 2006 publicada pelo IBAMA
apresenta diretrizes quanto à destinação dos resíduos e define regras para ocupação das
águas. O documento proíbe a deposição no mar dos resíduos oriundos da atividade de
malacocultura (cultivo de moluscos bivalves), como conchas, restos de cordas, cabos,
panos de redes e etc. Neste documento está claramente escrito que o empreendedor é
responsável pela destinação dos resíduos oriundo de suas áreas de produção e pela
retirada das estruturas de cultivo abandonadas. Para cumprimento da determinação da
destinação dos resíduos, a instrução normativa estabelece um prazo máximo de seis
meses, sendo assim o prazo para o cumprimento seria a partir de 20 de janeiro de 2007.
O descumprimento das condicionantes estabelecidas pela instrução normativa acarretará
no cancelamento da licença ambiental concedida através do TAC (termo de ajuste de
conduta), além de outras penalidades previstas no decreto n0 3.179 de 21 de setembro de
1999 e demais legislações.
A justificativa legal deste trabalho vem da responsabilidade que os maricultores
possuem sobre o resíduo produzido nas suas áreas de cultivo e da prática habitual de
descartar as conchas no mar. Desta forma, este trabalho se propõe a apresentar soluções
para um problema ambiental que vem crescendo nas áreas de cultivo, que é a deposição
17

inadequada e acumulação de resíduos. E se justifica, também, pela escassez de trabalhos


que auxiliem os maricultores a encontrar solução para o tratamento dos resíduos.
A temática para a pesquisa surgiu como fruto da demanda dos próprios
maricultores, pressionados pelas novas exigências dos órgãos ambientais, cada vez mais
empenhados em fazer cumprir a legislação pertinente a maricultura.
Apesar da malacocultura gerar resíduos como os itens listados no Quadro 1,
confere-se neste trabalho atenção especial apenas para o resíduo composto pelas
conchas das ostras. A justificativa para a escolha das ostras se deve ao destaque de
Santa Catarina como o maior produtor nacional deste fruto do mar e que resíduos de
conchas são gerados em grande quantidade ao longo de todo o ano. Pode-se perceber
pelo Quadro 1 que os itens utilizados nos cultivos apresentam um período de vida útil
de no mínimo dois anos. Estes itens têm, assim, uma significância menor que as
conchas em termos de quantidade de resíduos gerados.

Quadro 1. Vida útil de equipamentos e outros utensílios utilizados para o cultivo de ostras.
Itens Vida útil
Cabos do long-line 10 anos
Poitas para fixação do long-line 10 anos
Flutuadores 4 anos
Lanterna berçário 2 anos
Lanterna intermediária 5 anos
Lanterna definitiva 3 anos
Motor para embarcação 15 HP 8 anos
Bomba hidrolavadora 5 anos
Embarcação 10 anos
Caixa plástica 5 anos
Fonte: SOUZA FILHO, 2003.

As conchas descartadas diariamente pelos restaurantes da região onde estão


concentrados os cultivos também fazem parte do escopo deste trabalho.
Pelo exposto, este trabalho procurou avaliar a viabilidade de um
empreendimento para o aproveitamento das conchas capaz de gerar produtos
18

comercializáveis e de alto valor agregado. Assim, os danos ambientais do lançamento


inadequado de conchas no meio ambiente seriam reduzidos, proporcionando um
aproveitamento integral da produção de ostras, com conseqüente aumento da renda dos
maricultores.
As comunidades da grande Florianópolis e a atividade turística na região serão
beneficiadas com pesquisas que proponham um aproveitamento ou destinação adequada
dos resíduos. Isso porque, direcionando e aproveitando os resíduos gerados, os impactos
causados pela destinação inadequada serão evitados, novos postos de empregos poderão
ser criados e a renda local poderá ser aumentada, melhorando assim as condições de
vida da sociedade.

1.1 Objetivos

O objetivo deste trabalho é estudar a viabilidade técnica e econômica da utilização


comercial das conchas de ostras descartadas na localidade do Ribeirão da Ilha,
Florianópolis, Santa Catarina.

1.1.1. Objetivos Específicos

− Diagnosticar a quantidade de conchas de ostras que são descartadas pelos


cultivos e restaurantes da localidade de Ribeirão da Ilha.

− Apontar os impactos ambientais provocados pelo descarte inadequado das


conchas de ostras.

− Identificar alternativas tecnológicas de utilização das conchas de ostras.

− Analisar a viabilidade econômica do processamento das conchas, visando a sua


utilização comercial.
19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Maricultura

A maricultura, ramo específico da aqüicultura, está relacionada a produção de


organismos aquáticos em águas marinhas, envolve o cultivo de peixes, de moluscos,
camarões e algas. Atualmente a maricultura representa um dos setores que mais cresce
no cenário global de produção de alimentos (VALENTI et al, 2000).
A produção de moluscos, que envolve o cultivo de moluscos bivalves é conhecido
como malacocultura. O cultivo de mexilhões e sururus é conhecido pelo termo
mitilicultura, já o termo ostreicultura é utilizado para cultivo de ostras (NOMURA,
1978).
O interesse pelo cultivo de ostras no Brasil data dos anos 30-40, quando
pesquisadores em São Paulo e no Rio de Janeiro avaliaram o potencial da ostreicultura e
estabeleceram os fundamentos básicos, práticos e técnicos para o cultivo (VALENTI et
al, op.Cit.). A primeira produção comercial de ostra foi registrada em 1991, no
município de Florianópolis, Estado de Santa Catarina. A ostra cultivada comercialmente
no Estado é a Crassostrea gigas uma espécie exótica conhecida como ostra japonesa ou
ostra do Pacífico. Essa espécie, introduzida pela primeira vez no Brasil em 1974, foi re-
introduzida várias vezes nestes últimos 30 anos. Mesmo não sendo nativa da costa
brasileira, esta espécie apresenta uma taxa de crescimento elevada no Estado devido às
características das águas e das baias Catarinenses. Com um bom manejo, a partir do
quinto mês de cultivo parte das ostras já atinge o tamanho para comercialização de 8 a
10 cm (OLIVEIRA NETO, 2005).
As sementes de ostras são produzidas pelo LMM/UFSC (Laboratório de Moluscos
Marinhos), que é o único laboratório no Brasil a produzir regularmente sementes de
ostra do Pacífico, constituindo-se, portanto, no principal pilar de sustentação da
atividade, atendendo tanto a comunidade catarinense quanto a outros estados brasileiros
como São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Piauí, Pernambuco, Bahia, Rio
Grande do Norte e Ceará (OLIVEIRA NETO, op. Cit.).
20

A ostra, como a maioria dos moluscos, apresenta corpo mole, protegido


externamente por uma concha. Esta concha apresenta duas valvas: a valva superior ou
direita, que é plana; e a valva inferior ou esquerda, que é levemente côncava ou
abaulada. A concha é constituída basicamente por carbonato de cálcio, que é retirado
diretamente da água do mar com auxílio de glândulas localizadas no manto, que é a
camada que envolve as conchas internamente. A junção entre as duas valvas é feita com
auxilio do músculo adutor e também através de um ligamento situado na região
posterior. As ostras ingerem seu alimento, que é constituído principalmente de
microalgas e matéria orgânica particulada, através de filtração do mar (MANZONI,
2001). Para se garantir a qualidade do produto para consumo humano é extremamente
importante que as ostras sejam cultivadas em águas limpas.

2.1.1 Maricultura em Santa Catarina

No Estado de Santa Catarina, a maricultura envolve o cultivo de ostras


nativas (Crassostrea rhizophorae) e introduzidas (Crassostrea gigas), de vieiras
(Nodipecten nodosus), de camarão branco (Litopenaeus vannamei), de mexilhões
(Perna perna) e de peixes marinhos. Segundo a EPAGRI no Estado de Santa Catarina
existem 767 maricultores, sendo que somente a cadeia produtiva da malacocultura
(cultivo de molusco) envolve direta e indiretamente cerca de 8.000 pessoas, desde a
produção, colheita e beneficiamento, até a comercialização. A malacocultura no Estado
está distribuída por 12 municípios, inseridos na faixa costeira que se estende de São
Francisco do Sul, no norte do estado, a Palhoça, na região centro-leste.
Em 2006, a produção total de moluscos foi de 14.756,9 toneladas, houve um
pequeno crescimento da ordem de 3,94 % em relação ao ano de 2005. Esse pequeno
saldo positivo deve-se ao crescimento na produção de ostras, que mesmo participando
com apenas 22,23% da produção total de moluscos, teve um crescimento de 62,36% da
safra de 2005 para a safra de 2006. A EPAGRI considera que a safra anual inicia em
março, assim, o período da safra 2006 foi de março de 2006 a março de 2007.
Em 2006, além da produção de mexilhões e ostras, Santa Catarina registrou pela
primeira vez a produção comercial de vieiras, embora os números registrados sejam
modestos (23.738 unidades).
21

A produção de ostras na safra de 2006 apresentou um crescimento de 62,36%,


passando das 1.941,6 toneladas registradas em 2005, para 3.152,4 toneladas na última
safra. Com este desempenho, a produção de ostras retoma a taxa de crescimento médio
de 25%, verificada em 2003 e 2004 (Figura 1).

3.500,0
3.152,4

3.000,0

2.512,7
2.500,0

2.031,3
1.941,6
Toneladas

2.000,0
1.592,2 1.597,5

1.500,0

1.000,0
762,4
605,9

500,0
201,1 219,0
122,4
42,9 48,0 25,5 58,3 64,7
0,0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ano

Figura 1. Evolução da produção de ostras em Santa Catarina. Fonte: EPAGRI, 2006.

Os municípios que mais contribuíram para esse crescimento foram: Florianópolis,


com um volume de 559,61 toneladas a mais que o do ano passado, seguido por Palhoça
e São José, com aumento nos volumes de produção da ordem de 550 e 85 toneladas,
respectivamente. Os municípios de Florianópolis e Palhoça apresentaram os maiores
volumes de produção de ostras, em relação aos demais municípios produtores. Juntos
eles produziram 90,91% da produção estadual, sendo que, em Florianópolis, a região do
Ribeirão da Ilha foi responsável por 77% da produção do município (Figura 2).
22

Florianópolis 1.615,99

Palhoça 1.250

São José 150

Gov.C.Ramos 60
Município

B. Barra do Sul 20

Bombinhas 18,85

São Fco. do Sul 12,3

Biguaçu 10,31

P.Belo 8

Penha 7

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800

Toneladas

Figura 2. Produção de ostras por município no Estado de Santa Catarina em 2006. Fonte:
EPAGRI, 2006.

A ostreicultura precisa de maior conscientização e incentivos ao ostreicultor para o


seu controle administrativo. No Ribeirão da Ilha, grande parte dos ostreicultores não
gerencia a sua produção, não conhece dados sobre o seu manejo diário, não faz controle
da produção, não calcula os custos reais de produção e conseqüentemente, não sabe se o
negocio é economicamente viável. Isto reflete negativamente na atividade, pois há
desconhecimento quanto aos investimentos realizados na produção das ostras e
incerteza do retorno dos lucros. O preço de venda da ostra em Florianópolis é bastante
baixo, e segundo relatos dos maricultores, está estável há quatro anos. Alguns
ostreicultores acabam vendendo as ostras a um preço abaixo do mercado, para escoar a
produção, o que prejudica a atividade em geral.
Existem basicamente três tipos de cultivo de ostras: o cultivo em balsas, o cultivo
em mesa, tabuleiros, varal ou rack e o cultivo em log-line ou em linha. O cultivo em
log-line ou em linha é o mais utilizado no Estado de Santa Catarina. Este tipo de cultivo,
23

segundo Manzoni (op. Cit.), é recomendado para locais mais profundos e mais exposto,
sujeitos à ação de ventos e correntes, sendo também o mais utilizado em diversas
regiões do mundo. Este sistema consiste em um cabo principal com comprimento
mínimo de 100m, que é mantido junto à superfície com auxilio de flutuadores, neste
cabo as lanternas com as ostras são fixadas (Figura 3 e Figura 4).
Em Florianópolis, o sistema de cultivo de ostras mais comum é do tipo long-line,
(Figura 3). Nesse sistema, as lanternas são amarradas numa linha principal denominada
long que flutua por meio de bóias, dispostas a cada 100 cm, ou 80 cm, de acordo com o
produtor. Existem estruturas no fundo do mar que prendem todo o sistema de cultivo,
fixando-o de modo que não sejam levados pelas correntes e demais movimentos
marinhos. As lanternas de ostras possuem andares variados de acordo com a
profundidade do cultivo e preferências do ostreicultor. Quanto mais andares, mais
pesadas ficam as lanternas, pois mais ostras são colocadas nelas. Na região do Ribeirão
da Ilha a maior parte dos maricultores utiliza lanternas com 4, 5 ou 6 andares.

Figura 3. Esquema do cultivo suspenso-flutuante do tipo long-line.


24

Figura 4. Lanterna com seis andares utilizada para o cultivo de ostras.

O trabalho do ostreicultor no Ribeirão da Ilha é de ciclo anual, as sementes de


ostras são colocadas no mar, principalmente, entre os meses de março a outubro. A
“colheita” tende a começar após seis meses, pois as ostras atingem o tamanho comercial
entre o sexto e oitavo mês. Durante todo o ano os ostreicultores fazem o manejo
constante das sementes e das ostras nas diversas etapas de desenvolvimento.
O manejo das ostras em crescimento consiste na retirada das lanternas do mar,
para limpeza das lanternas e seleção das ostras. A limpeza da lanterna é feita lavando-a
com água sob pressão em abundância para remover o sedimento marinho, algas,
incrustações, ostras mortas, bem como parasitas. As ostras são limpas, normalmente,
com uma raspagem manual e redistribuídas nas lanternas limpas para retornar ao mar ou
serem encaminhadas para comercialização. Alguns cultivos colocam as ostras em
imersão na água doce, ou simplesmente deixam-nas fora da água por 24 horas para
auxiliar na remoção de animais incrustantes. Esta técnica é conhecida como castigo.
No manejo, as ostras são separados por tamanhos para serem redestribuidos nas
lanternas ou comercializados. As conchas das ostras mortas, juntamente com os animais
predadores e incrustantes são retirados e é feita uma limpeza na lanterna. O manejo
periódico das lanternas de cultivo durante as diferentes fases, separando indivíduos
conforme o seu tamanho, evita problemas de densidade que influenciam no crescimento
dos indivíduos cultivados (MANZONI, op. Cit.).
O cultivo de ostras pode ser dividido em 3 fases: cultivo inicial, cultivo
intermediário e cultivo final ou engorda.
25

No cultivo inicial as sementes de ostras produzidas em laboratório com um tamanho


entre 0,5 a 1,5 cm são acondicionadas no interior de lanternas especiais para esta fase.
Dependendo do tamanho das sementes, as ostras podem ser acondicionadas com uma
densidade de até 100 indivíduos por andar. Em locais com muito material em suspensão
na água, realiza-se uma limpeza semanal nas lanternas, para evitar o fechamento da
malha por acumulação de lodo e animais incrustantes, através de lavagem com jato de
água. Devido ao rápido crescimento das ostras nesta etapa, os manejos devem ser
realizados a cada 15 dias, ou no máximo, a cada 3 semanas.
No cultivo intermediário as ostras com tamanho de 2 a 3 cm são transferidas para as
lanternas maiores. Após 20 a 30 dias, realiza-se novo peneiramento, realizando uma
nova separação por tamanho.
A partir de 4 cm, as ostras já se encontram no período final de cultivo ou de
engorda. Após 30 dias, realiza-se um novo manejo para uma nova separação por
tamanho. A etapa de engorda dura de 4 a 6 meses.
O tempo médio de cultivo para as ostras atingirem o tamanho comercial de 8 cm é
de 8 meses, entretanto, como as ostras não apresentam um crescimento uniforme,
algumas (cerca de 20%) já podem ser comercializadas com cerca de 5 a 6 meses
(MANZONI, op. Cit.).
O principal problema observado nos cultivos das C. gigas em diversas regiões do
mundo é a mortalidade massiva de verão. Este fenômeno já foi verificado em Santa
Catarina, quando a mortalidade das ostras na Baía Norte da Ilha de Sana Catarina,
durante os verões de 89/90, 90/91 e 91/92 foi de 89,5%, 33,3% e 52,9%,
respectivamente. O fenômeno está associado a regiões de cultivo com elevada
produtividade, altos níveis de nutrientes, fundos lodosos, temperatura ambiente superior
a 280C e, principalmente, quando as ostras atingem a máxima maturação gonadal. A
mortalidade das ostras está relacionada a dois fatores, o primeiro diz respeito ao estresse
provocado pela eliminação intensa de gametas, após excessivo desenvolvimento da
gônada nesse período, aliado a temperaturas elevadas da água do mar. O segundo está
relacionado à presença de organismos patogênicos oportunistas, pois as condições
estressantes poderiam aumentar a suscetibilidade das ostras a fatores adversos, como as
infecções por bactérias (MANZONI, op. Cit.).
26

Nos últimos anos não existem trabalhos publicados que relatem a taxa de
mortalidade das ostras, mas os maricultores afirmam que a perda de ostras no período
de verão gira em torno de 50%. No período de inverno a mortalidade também acontece,
embora em menor proporção.
Em decorrência desta mortalidade, ao final de um dia de manejo no local de cultivo,
há uma grande quantidade de conchas retirada das lanternas. Atualmente estas conchas
não são aproveitadas, sendo descartadas em locais inapropriados ou misturadas ao lixo
comum. No Brasil ainda não existem iniciativas de uso das conchas, com exceção às
pequenas quantidade que são utilizadas na confecção de artesanatos.

2.1.2 Conchas de Ostras e Mariscos – Uso e valorização

Pesquisas abordando o uso das conchas de ostra ainda são poucas, principalmente
no Brasil, onde a atividade de cultivos destes moluscos é muito recente. Na Coréia,
desde o início dos anos 80 pesquisadores procuram uma solução para a utilização das
conchas de ostras. Devido à grande quantidade produzida no país o problema é
realmente grave e o governo coreano incentiva os pesquisadores a buscarem soluções
viáveis.
A costa sudeste da Coréia é uma das áreas de cultivos de ostras mais produtivas do
mundo, a produção de ostras é responsável por grande parte da economia regional. Em
1993, quando o Brasil ainda estava iniciando os cultivos de ostras, a quantidade de
conchas de ostras acumulada na Província de Kyungsang do Sul, na Coréia foi de
327.528 toneladas, destas, mais de 70% foram descartadas e somente 30% foram
reutilizadas (Yonn, G. et al, 2003).
Os pesquisadores coreanos Yoon et al (op. Cit.) pesquisaram a eficiência do uso de
conchas de ostras para a construção civil. Estes autores avaliaram a possibilidade da
substituição de agregados na fabricação de cimento por conchas de ostras moídas,
fazendo uma mistura de areia e concha de ostra moída. Esta mistura foi considerada
uma boa alternativa em casos de pouca disponibilidade de areia (YOON et al, op. Cit;
YANG et al, 2005).
Ainda na Coréia do Sul estudos revelam que as conchas de ostras, após serem
pirolisadas a uma temperatura de 750ºC durante 1 hora numa atmosfera de nitrogênio,
27

transformam-se num produto para remoção de fosfatos em águas residuárias, com


eficiência superior a 98%, sendo esta uma importante estratégia para o controle da
eutrofização de águas (KWON, 2004).
Jung et al (2006) também pesquisaram o uso das conchas para remoção do fosfato.
A combinação de um bioreator de membrana microfiltrante com um leito de adsorção
composto de conchas de ostras moídas e zeólitos, como tratamento terciário, resultou
numa remoção de 90% de fosfato total e 53% de fósforo total.
Um material plástico, feito de polietileno reciclado e pó de casca de ostra, foi
desenvolvido na Coréia do Sul para retardar as chamas de fogo na incineração. O uso da
concha de ostra mostrou ser eficiente na transformação de carbonato de cálcio em óxido
de cálcio e dióxido de carbono em temperaturas superiores a 800ºC, o que faz diminuir
o acesso do fogo ao oxigênio. Este mecanismo diminui a geração de compostos tóxicos
durante a incineração (CHONG et al, 2005).
O carbonato de cálcio extraído das conchas de ostras vem sendo muito utilizado
como suplemento alimentar para reposição de cálcio no organismo. Estudos feitos com
pessoas idosas, no Japão, confirmam que o carbonato extraído das conchas é mais bem
absorvido com maior eficiência pelo intestino e aumenta a densidade mineral dos ossos,
principalmente na região lombar em pessoas com deficiência em cálcio,
hisperparatireoidismo secundário (FUJITA, 1990). No Brasil já existem alguns
medicamentos a base de cálcio de ostras para prevenir e combater a osteoporose, como
mostrado na Tabela 1.

Tabela 1: Medicamentos a base de cálcio de ostras.

NOME DO
FABRICANTE INFORMAÇÕES NO SITE
PRODUTO

Vitalnatus Cálcio de ostras www.vitalnatus.com


Salto (SP)

Fontovit Cálcio de ostras www.fontovit.com.br


São Paulo (SP)

Tiaraju. Cálcio de ostras www.tiaraju.com.br


Santo Ângelo (RS)

Bionatus Cálcio fort www.bionatus.com.br


28

NOME DO
FABRICANTE INFORMAÇÕES NO SITE
PRODUTO
São José do Rio Preto (SP)

Vitamed Fixa-cal www.vitamed.com.br


Caxias do Sul (RS)

Catarinense Spa Suplemento de cálcio www.catarinensespa.com.br


a base de ostra
Joinville (SC)

Herbarium Cálcio de ostras www.herbarium.net


Colombo (PR)

Phytomare Cálcio de ostras e www.phytomare.com.br


cálcio de ostras
Governador Celso Ramos (SC) enriquecido

Na Espanha, em 2004, foi inaugurada uma fábrica para reciclar até 80.000 toneladas
conchas de mexilhões. O processo industrial consiste em triturar o resíduo, seguido de
aquecimento a 500ºC para eliminação da matéria orgânica. O resultado do processo é a
obtenção de carbonato de cálcio com 90% de pureza, que, segundo a empresa, pode ser
utilizado como matéria-prima na indústria cimenteira, em base de rodovias, como
componente para rações de aves, como corretor de solos, na elaboração de tintas e na
fabricação de papel ou de plástico, ou ainda na indústria farmacológica, como
componente de dentifrícios e maquiagem, quando o produto é mais purificado (GREMI
DE RECUPERACIÓ DE CATALUNYA, 2007).
Também na Espanha, foi criada em 1989, na Galicia, uma indústria de reciclagem
de conchas marinhas de ostras e mexilhões. Na figura 1 pode ser visto a concha já
processada e embalada que é vendida como farinha para ração de aves por esta empresa.
A farinha de ostra é utilizada como suprimento de cálcio para evitar a ocorrência de
doenças ligadas à má conformação óssea de aves, eqüinos e suínos (ABONOMAR,
2007).
Silva e Santos (2000), em seus estudos realizados na Universidade Federal da
Paraíba, indicaram que os níveis de cálcio recomendados para as rações de poedeiras
leves no período de repouso, após a muda forçada, e no período de produção do
segundo ciclo de postura são, respectivamente, 2,0% e 3,5% de cálcio.
29

Figura 5: Concha de ostra para ração de aves vendida por um empresa espanhola. Fonte:
ABOMAR, 2007.

B
No Brasil, pesquisadores do CEFET/PR analisaram a eficiência uma estação de
esgoto por meio de Zona de Raízes. A alternativa utiliza conchas de ostras em camadas
onde, geralmente, utiliza-se seixo rolado ou cascalho. Segundo os autores, a presença
das conchas aumentou em 56,24% a presença de cálcio no efluente. O íons de cálcio
ligam-se facilmente ao fosfato formando fosfatos de cálcio que são rapidamente
lixiviados (PRESZNHUK et al, 2003).
Aqui em Santa Catarina, há uma empresa de blocos de concreto investigando nos
laboratórios a resistência de blocos com mistura de conchas de ostras e viabilizando a
produção em larga escala destes blocos diferenciados.
Aqui no Estado existem indústrias que fabricam corretor de solos ácidos e farinha
de ostra para ração animal a partir das conchas, porém estas conchas são provenientes
de concheiros naturais, que por serem jazidas constituem uma matéria-prima não
renovável. Os compostos mais utilizados para correção de pH de solos ácidos são o
carbonato de cálcio ou de magnésio. Este último torna-se inviável quando o solo
acumula grande concentração de magnésio. Fabricantes de carbonato de cálcio a partir
de conchas naturais afirmam que este oferece resultados mais rápidos que o carbonato
de cálcio de origem mineral, por ser mais solúvel e reagir mais rapidamente com o solo,
(CYSY, 2006).
Na Universidade Federal de Santa Catarina ao menos três pesquisas foram
desenvolvidas nos últimos anos relacionados à utilização das conchas de moluscos:
30

1 - Utilização de conchas da ostra Crassostrea gigas como carga para produtos de


policloreto de vinila (PVC), trabalho de conclusão do curso de Engenharia de Materiais,
(BOIKO, 2004).

2 - Resíduo sólido da malacocultura: caracterização e potencialidade de utilização


de conchas de ostras e mexilhão, dissertação do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Ambiental, (SILVA, 2007).

3 - Estudo de pozolana autoclavada baseada em óxido de cálcio derivado da concha


da ostra Crassostrea gigas, dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Ciência e Engenharia de Materiais, em andamento.

Na dissertação de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Silva (2007)


demonstrou que quando ativadas em condições específicas, as conchas podem
transformar-se em um produto efetivo para remoção de metais, como o cobre e o
fosfato. Para o tratamento de lixiviados (chorume) o autor encontrou redução de 22%
nas taxas de DBO e ligeiro acréscimo (7%) nos níveis de DQO.
O estudo em desenvolvimento no Laboratório de Materiais, do Departamento de
Engenharia Mecânica, UFSC, indica a possibilidade de obtenção de um novo material
de revestimento utilizando as conchas das ostras, com cerca de 40% de porosidade,
capaz de contribuir para manter a umidade de um ambiente entre 40 e 60%, considerado
ideal para o conforto humano. Esse material conhecido como “cerâmica de terra” está
sendo produzido a partir de conchas calcinadas (CaO), caulinita calcinada (MK) e óxido
de silício (SiO2).
Além destes, ainda estão sendo desenvolvidos pesquisas pelo Laboratório de Gestão
Ambiental na Indústria (LAGA), do qual faz parte este trabalho. A linha de pesquisa
deste laboratório já gerou duas publicações completas em anais de congressos
abordando a perspectiva do aproveitamento de conchas (KUSTERCO et al, 2007) e a
questão dos impactos ambientais da criação de ostras (SANTOS et al, 2007).
31

2.2 Estudo de viabilidade econômica

Ao se iniciar qualquer tipo de negócio, é necessário o conhecimento de várias


questões que o envolvem para avaliar a sua viabilidade. Deve-se levar em conta que o
sucesso depende, sobretudo, de um bom planejamento do que vai ser colocado em
prática, estabelecendo os objetivos que se pretende atingir. Assim, antes de começar o
negócio é fundamental conhecer o ramo de atividade onde vai atuar, o mercado
consumidor e possíveis concorrentes.
Plano de negócio é uma ferramenta de planejamento para abertura ou ampliação
de uma atividade, aplicável em qualquer ramo de negócio. O plano de negócio é um
documento escrito que tem o objetivo de estruturar as principais idéias e opções que o
empreendedor analisará para decidir quanto à viabilidade da empresa a ser criada ou
expandida. Este plano também é útil para a solicitação de empréstimos e financiamento
junto a instituições financeiras.
Há uma variedade de conceitos e de definições que dizem respeito ao
planejamento para abertura ou expansão de um negócio. Casarotto (2002), por exemplo,
utiliza o termo Anteprojeto. Segundo este autor, anteprojeto ou estudo de viabilidade
são denominações de uma ferramenta potencial para a utilização por empresários na
tomada de decisão sobre implantações, expansões ou realizações empresariais. Este
autor explica que apesar do uso da expressão estudo de viabilidade ser comumente
empregado como antecessora de projetos de engenharia, ele opta pelo termo
Anteprojeto, visto que é um termo mais genérico.
Holanda (1977) utiliza simplesmente o termo projeto e coloca que este termo
corresponde ao conjunto de informações, apresentadas de maneira sistemática e
racionalmente ordenadas, que nos permite estimar os custos e benefícios de um
determinado investimento. O autor divide o projeto em etapas chamadas de: estudos
preliminares, anteprojeto e projeto final. Assim, estudos preliminares seriam as
investigações exploratórias de caráter superficial em torno da idéia inicial. Anteprojeto
corresponderia a um estudo mais sistemático de todos os aspectos que deverão integrar
o projeto final. O projeto final deveria apresentar os aspectos de engenharia e outros
estudos complementares detalhadamente.
32

Woiler e Mathias (1996) utilizam o termo projeto de viabilidade, e o define


como um conjunto de informações internas e/ou externas à empresa, coletadas e
processadas com o objetivo de analisar (e, eventualmente implantar) uma decisão de
investimento. Do ponto de vista microeconômico (ou seja, de impacto dentro da
empresa), estes autores discutem que o projeto pode ser classificado como: de
implantação, de expansão, de modernização, de relocalização e de diversificação. E,
ainda segundo estes autores, em função do uso, o projeto pode ser classificado como: de
viabilidade, final e de financiamento.
Diante de uma variedade de termos e definições, no presente trabalho optou-se
por utilizar o termo estudo de viabilidade. Será, então, apresentado neste trabalho um
estudo de viabilidade para implantação de uma usina de beneficiamento para uso das
conchas de ostras descartadas nos cultivos e nos restaurantes da região do Ribeirão da
Ilha, abordando os aspectos técnicos e econômicos, visto que, não existem trabalhos
publicados envolvendo ambos aspectos no Brasil.
33

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Estudo de campo

3.1.1 Localização da área de estudo

A área escolhida para o estudo de campo é a região de maior produção de ostras


do Estado de Santa Catarina, o distrito de Ribeirão da Ilha, localizado no município de
Florianópolis, ao sul da Ilha de Santa Catarina (Figura 6). A área de estudo se concentra
entre as coordenadas: latitude de 48°33,4781’ leste e longitude 27°42,05998’ sul e
latitude de 48°34,0015’ leste e longitude 27°49,36258’ sul.

Região Sul

Brasil Florianópolis/SC

a
Ribeirão da Ilha

Figura 6. Localização da área de estudo. (Fonte: Google Earth, 2006).

No Ribeirão da Ilha foram realizados os estudos de quantificação das conchas


descartadas pelas fazendas marinhas e pelos restaurantes, assim como observações para
identificação dos impactos ambientais do descarte inadequado das conchas.

3.1.2 Identificação dos Impactos Ambientais

A metodologia utilizada neste trabalho para a avaliação dos impactos ambientais


é conhecida como Ad Hoc.
34

Para avaliação dos impactos no método Ad Hoc, são realizadas reuniões com a
participação de técnicos e cientistas especializados. Nestas reuniões podem ser
utilizados questionários previamente respondidos por pessoas com interesse no
problema, de modo a subsidiar os pareceres dos especialistas. Desta forma são obtidas
informações quanto aos prováveis impactos (BRAGA et al, 2002).
Para levantamento dos impactos ambientais provocados pelo descarte
inadequado das conchas, a equipe de pesquisadores do LAGA realizou visitas técnicas à
área de estudo. Os 54 proprietários de cultivos na área de estudo foram visitados e
entrevistados pela equipe de pesquisadores. O objetivo da entrevista foi de conhecer a
relação dos maricultores com o meio ambiente, levantar a destinação dos resíduos da
atividade, entender as condições de coleta e as possibilidades de reutilização/reciclagem
das conchas e do resíduo orgânico (incrustações, lama e pequenos organismos). A ficha
de campo com lista de perguntas está apresentada no anexo 1. As respostas foram
contabilizadas e estão apresentadas em forma de gráficos.
Baseados nos resultado das visitas e das entrevistas foram promovidas reuniões
para montar o quadro onde estão listados os principais impactos ambientais. Estes
impactos estão classificados quanto ao efeito causado ao meio ambiente, ao tempo do
efeito e ao estado (reversível ou irreversível).
Para verificação dos impactos ambientais resultante da acumulação de conchas
em terrenos da região, foi realizado um experimento com resíduos das conchas coletado
nas fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha. O experimento procurou responder qual o
grau de incômodos ambientais, como maus odores e atração de vetores, provocado pelo
descarte e acúmulos das conchas em locais inadequados. A metodologia foi baseada na
experiência adquirida por meio de análise dos estudos de odores de Belli Filho e Lisboa
(1998), Belli Filho et al (2007), Carmo (2005) e Santos (2004), sendo esta última autora
integrante da equipe deste trabalho. Foi desenvolvido especialmente para esta pesquisa
um questionário (anexo 2) englobando a avaliação do odor por meio de três das suas
características odorantes: hedonicidade, intensidade e caráter do odor.
O experimento consistiu na montagem e observação de uma pilha experimental
com as conchas descartadas no Campus Universitário para facilitar o acesso e
observação dos jurados. O resíduo gerado nos dias 13/11 e 14/11/2006 pelo manejo de
dois cultivos de ostras da região do Ribeirão da Ilha foi trazido ao Campus Universitário
35

em torno das 17 horas do dia 14/11/2006 (terça-feira). O resíduo apresentou uma massa
total inicial de 35,74Kg e não passou por nenhum tipo de limpeza.
As conchas descartadas foram colocadas sob o solo impermeabilizado e com um
sistema de drenagem para que os líquidos percolados escoassem livremente para um
recipiente de coleta. Uma pequena cobertura removível de PVC foi posta sob o
recipiente de coleta para mantê-lo à sombra, evitando a evaporação demasiada do
líquido percolado armazenado (Figura 7). O local do experimento foi monitorado
diariamente sob os aspectos de produção de odores. Foi observado a variação da sua
aparência em termos capacidade de atração de vetores. O líquido percolado produzido
pelo resíduo foi coletado diariamente. Ao final do período de observação, após o
período de 34 dias de exposição do resíduo a intempéries, avaliou-se a perda de massa
total do resíduo, o percentual de umidade restante na massa e a quantidade de matéria
orgânica. Fatores meteorológicos da região onde foi montado o experimento foram
considerados nas avaliações, principalmente na avaliação de odores e de carga de
líquido percolado gerada.

B
C

Figura 7 - Experimento montado com o resíduo gerado nos cultivos (conchas mais sedimento
marinho agregado). A) Recipiente para recolhimento do líquido percolado. B) Pilha de resíduos. C)
Superfície impermeabilizante.

Visitas diárias foram feitas ao experimento, por voluntários e pela própria


equipe. No local era verificada a condição do tempo naquele momento. Verificava-se se
o resíduo estava mais úmido, ou mais seco e como a matéria orgânica estava se
apresentando entre as conchas. Para complementar a observação foi verificado a
presença vetores, ou animais, e se o ambiente estava agradável, ou não, conforme o
questionário presente no Anexo 2. Dados meteorológicos foram considerados para a
análise de odores.
36

A perda de massa foi obtida pela subtração da massa inicial na data de


14/11/2006 pela massa final na data de 18/12/2006. Foi avaliada a quantidade de
matéria orgânica e umidade presentes no resíduo após o término do experimento.
Neste trabalho o líquido percolado estudado considerou a precipitação
acumulada no período, sendo originado a partir do próprio resíduo, ou por meio da
passagem da água da chuva em meio ao resíduo. O líquido foi monitorado diariamente
até o momento em que a sua aparência tornou-se cristalina. O volume foi identificado
diariamente e quatro amostras foram coletadas para avaliação do pH das amostras.
Dessas quatro amostras analisadas, apenas a primeira foi formada em período sem
precipitação.
Para obter o pH do líquido percolado foi usado um pHmetro digital de bancada
da marca ORION, modelo 210A que usa o método potenciométrico.
O odor foi avaliado por meio de questionários aplicados na área de entorno ao
experimento com as conchas. Foram três áreas de avaliação, conforme a Figura 8.

ÁREA 1: Área circular ao redor da fonte de odor com até 3 metros de


distância da fonte odorante.

x
FONTE ÁREA 2: Área circular ao redor distância entre 3 e 5 metros da fonte
odorante.

ÁREA 3: Área circular ao redor distância maior que 5 metros da fonte


odorante.

Figura 8: Áreas de avaliação do odor.

Durante a avaliação do odor o jurado caminhava ao redor do experimento dentro


de cada área circular para evitar que o odor não fosse percebido, pois algumas
características atmosféricas poderiam dispersar os odores numa direção diferente
daquela em que o jurado se encontrava, devido a diração do vento, por exemplo. Além
disso, tomou-se o cuidado de afastar dessas áreas os jurados, levando-os uma, ou duas
vezes durante cada teste, ao “descanso” em áreas neutras mais afastadas. Essa medida
foi tomada devido ao fenômeno de saturação (redução da percepção odorante do
indivíduo após a permanência por certo tempo ao odor).
37

O questionário para avaliação do odor envolveu três características odorantes:


caráter ou qualidade 1 , hedonicidade 2
e intensidade odorante 3
. A sensação de
insalubridade no ambiente causada pelo odor também foi avaliada no questionário,
sendo registrado também os diversos relatos pessoais das sensações psicológicas
causadas aos jurados quando submetidos ao odor do experimento.
O questionário foi aplicado com jurados, que passassem no teste do n-butanol. O
teste era realizado no mesmo dia, de preferência pouco antes do preenchimento do
questionário. O jurado era considerado apto quando passava no teste do n-butanol
acertando todos os frascos, ou quando não errasse mais que o frasco “fraco”, ou o
“muito fraco”, invertendo-os.
Em caso de chuva no momento dos testes, o mesmo era cancelado, pois os
compostos odorantes migram para a água.
Ao fim dos testes foi feita a conferência e a replicação dos dados, traduzindo-os
em forma numérica, quando possível, conforme o Quadro 2.

Quadro 2 – Adoções para avaliação dos dados obtidos durante a aplicação do questionário de odor
do experimento. Adaptado de McGinley et al (2000 apud Santos, 2004).

PERCEPÇÃO DO ODOR

Respostas Valor adotado Observações

Sim, percebe o odor. 1 Com esses valores foi possível


detectar a porcentagem de percepção
Não, não percebe odor. 0 do odor encontrada.
A partir daí, o grupo amostral considerado para avaliar o odor foi relacionado apenas àqueles que
perceberam o odor.

HEDONICIDADE

Respostas Valor adotado Observações

O jurado escolhia também a nota


Considera o odor desagradável Notas de +1 a +10
sabendo que uma nota -10 para odor

1
CARÁTER OU QUALIDADE DO ODOR: associação do odor em avaliação a odores, ou grupos de odores conhecidos, como ovo,
frutas, peixe, hortelã, flores, etc.
2
HEDONICIDADE: Agradabilidade, ou desagradabilidade proporcionada pelo odor ao avaliador.
3
INTENSIDADE DO ODOR: Classificação da “força” do odor mediante padrão pessoal de cada indivíduo comparado às
intensidades percebidas nos padrões das soluções de concentração do n-butanol. As escalas usadas são:1 - Muito fraco; 2 - Fraco; 3
- Médio; 4 - Forte e 5 - Muito Forte.
38

PERCEPÇÃO DO ODOR

Considera o odor neutro Nota 0

Considera o odor agradável Notas entre -1 e -10

INTENSIDADE DO ODOR

Respostas Valor adotado Observações

Odor muito fraco 1


O teste do n-butanol, primeiramente
Odor fraco 2
realizado ajudou os jurados a
relacionarem e criarem a sua própria
Odor médio 3
escala individual de cada indivíduo
para avaliar essa característica do
Odor forte 4
odor.
Odor muito forte 5

O odor foi caracterizado pela freqüência de aparecimento de cada caráter de


odor selecionado nos testes. Finalmente foi perguntado aos jurados se era possível
permanecer ao lado do experimento sem haver “incomodo” e se isso poderia afetar a sua
saúde de acordo com o tempo de exposição no local do experimento. Essa pergunta
também teve adoção do valor 0 (zero), quando poderia permanecer e do valor 1, caso
não pudesse permanecer.
Houve monitoramento do odor praticamente diário durante os 34 dias de
experimento, entretanto um período foi de mais intensa pesquisa, referente aos
primeiros 11 dias, quando o odor era percebido pelos jurados. Num dos dias de mais
intenso odor houve uma avaliação realizada buscando o período mais crítico do dia
considerando: primeiro período (manhã - entre 08:00 e 11:00 horas), o segundo (meio
do dia, entre 11:00 e 14:00 horas) e o último período (da tarde, entre às 14:00 e 18:00
horas).

3.1.3 Quantidade de conchas descartadas pelos restaurantes e cultivos

A quantificação das conchas descartadas na região do Ribeirão da Ilha é de


fundamental importância, visto que ainda não existe nenhum trabalho que indique qual
é a quantidade de conchas produzidas na região e descartadas no meio ambiente ou
39

coletadas pela COMCAP. Esta quantificação é fundamental para definição de uma


estratégia de ação visando a utilização das conchas.
O trabalho de quantificação levou em conta dois pontos de geração: os cultivos e
os restaurantes. Nos cultivos procurou-se saber qual a quantidade conchas que são
descartadas em função da mortalidade das ostras durante o manejo. Nos restaurantes da
região, levantou-se a quantidade de concha descartada após o consumo da ostra.
Em julho de 2006 uma Instrução Normativa do IBAMA n° 107, apresenta uma
relação nominal de empreendedores que tiveram o Termo de ajuste de conduta
prorrogado por mais dois anos, e para o Ribeirão da Ilha estão listados 69
empreendimentos. Neste trabalho foi realizada uma pesquisa com a finalidade de saber
a quantidade real de maricultores na região, foram encontrados 54 cultivos de ostras em
atividade atualmente.
Dos 54 cultivos de ostras encontrados na região, foram escolhidos
aleatoriamente cinco cultivos para serem monitorados diretamente por meio da
determinação da massa de resíduo gerada diariamente, durante um ano. O período de
acompanhamento foi de 01 de julho de 2006 até 30 de junho de 2007. Foram
investigados parâmetros comparativos para a previsão da massa de conchas no restante
dos cultivos, como:
o Área de cultivo;
o Número de sementes colocadas na água;
o Número de lanternas na água num mesmo momento;
o Número de lanternas máximo da safra;
o Produção de ostras e dúzias vendidas.
Os cinco cultivos escolhidos separavam diariamente os resíduos de conchas a
serem descartados. Duas vezes por semana esses cultivos foram visitados pela equipe
para realizar a pesagem dos resíduos de conchas, para isto utilizou-se uma balança
digital marca C&F com capacidade para 30 kg. Uma ficha de campo padrão (Anexo 3)
foi elaborada para coletar os dados dos cultivos, contendo informações de produção
necessárias à pesquisa.
Com a finalidade de estimar a quantidade de conchas descartadas pelos 54
cultivos da região do Ribeirão da Ilha, foi feito uma extrapolação a partir dos dados
gerados nos cinco cultivos acompanhados. Procurou-se relacionar os resíduos gerados
40

com características da produção, como o número de lanternas, o número de andares por


lanternas e o número de longs, porém essas relações não foram possíveis devido à
desorganização nos cultivos, visto que a maioria dos proprietários não sabia exatamente
a quantidade de lanternas que havia colocado na água. Finalmente, conseguiu-se
relacionar a produção de resíduos com a quantidade de sementes compradas para a safra
em cada cultivo, pois este era o único dado que todos os ostreicultores tinham controle
exato. Para construir a relação entre quantidade de sementes compradas e quantidade de
conchas descartadas foi usada uma curva de tendência. A curva foi obtida através da
relação entre o número de sementes compradas para a safra 2006 e a quantidade de
resíduos gerados nos cultivos monitorados. A equação gerada pela curva de tendência
foi utilizada para extrapolar a quantidade de conchas descartadas na região de estudo, ou
seja, para os outros 49 cultivos.
A quantidade de conchas descartadas pelos restaurantes foi feita pela
determinação da massa diária (kg) das conchas de ostras descartadas nos nove
estabelecimentos da área de estudo, entretanto três deles deixaram de contribuir com
dados ao longo da pesquisa. Nos restaurantes, procedeu-se da seguinte forma: os
proprietários dos estabelecimentos preenchiam planilhas com a quantidade de dúzias de
ostras vendidas diariamente. Uma vez por mês, uma amostra com 2 a 4 dúzias de
conchas de ostras de cada restaurante era coletada para o cálculo da relação
massa/dúzia, pois a massa das conchas varia muito de acordo com o tamanho das ostras
comercializadas. Assim, ao final de cada mês pela quantia de ostras consumidas, era
possível saber a massa de conchas que era descartada em cada estabelecimento.

3.2 Estudos experimentais para o aproveitamento das conchas de ostras

Inicialmente foram realizados estudos em laboratório com a finalidade de


caracterizar o resíduo descartado pelos cultivos. Estes estudos foram fundamentais para
definir o processo produtivo no qual se baseou o estudo de viabilidade econômica para o
aproveitamento das conchas.
41

3.2.1 Preparação das amostras

No momento de manejo das lanternas, as ostras mortas são retiradas e


descartadas juntamente com lodo marinho, animais predadores e animais incrustados
nas conchas. Para processamento em laboratório, as conchas passaram por um processo
de retirada de umidade e de matéria orgânica.
O resíduo foi colocado em estufa a uma temperatura de 105°C durante 24 horas
para retirada da umidade. Após a retirada da umidade, o resíduo foi colocado na mufla a
600°C, por uma hora, para sublimação da matéria orgânica.

3.2.2 Caracterização físico-química das conchas

Com a finalidade de caracterizar as conchas, foram realizadas análises para


identificação dos elementos químicos, análise termogravimétrica e análise térmica
diferencial. As duas últimas tiveram como objetivo identificar em quais temperaturas
ocorrem mudanças significativas na estrutura química do material.

a) Composição química

A análise de composição química das conchas foi realizada no Centro de


Tecnologia em Materiais (CTC/Mat) em Criciúma-SC. A metodologia utilizada foi
análise química quantitativa por espectrometria de fluorescência de raios x.

b) Análise Termogravimétrica e Análise térmica diferencial

Análise Termogravimétrica (TG) é um ensaio onde se analisa a mudança da


massa de uma substância em função da temperatura. A análise TG das conchas foi
realizada no Laboratório de Materiais (CTC/UFSC). A temperatura máxima aplicada na
amostra foi de aproximadamente 900°C e a duração do ensaio foi de 90 minutos.
A análise térmica diferencial (DTA) também foi realizada no Laboratório de
Materiais (CTC/UFSC). O principal objetivo da DTA é detectar a temperatura inicial
dos processos térmicos e caracterizá-los qualitativamente como endotérmico ou
exotérmico. A análise consistiu em medir a diferença de temperatura entre uma amostra
de concha e um material de referência em função da temperatura, enquanto ambos
42

foram submetidos a uma programação controlada de temperatura. Dois cadinhos, um


com a amostra de conchas e outro vazio, e dois sensores de temperatura (um sensor em
cada cadinho), foram colocados em um sistema aquecido por apenas uma fonte de calor.
Ambos foram submetidos à mesma programação de aquecimento monitorada pelos
sensores de temperatura. Ao longo do programa de aquecimento as temperaturas da
amostra e da referência se mantiveram iguais até que ocorreu alguma alteração física ou
química na amostra. Quando ocorre uma reação exotérmica, a amostra de concha libera
calor, ficando por um curto período de tempo com uma temperatura maior que a
referência. Do mesmo modo, quando ocorre uma reação endotérmica, a temperatura da
amostra de concha é temporariamente menor que a referência.

c) Processamento das conchas em laboratório

O resíduo das conchas descartados pelos cultivos e restaurantes da área de


estudo foram trazido para processamento no Laboratório Integrado de Meio Ambiente
(LIMA) da UFSC. A sequência das etapas para o processamento está apresentado na
Figura 8.

Figura 9: Fluxograma das etapas para a obtenção dos produtos a partir das conchas.
43

As etapas de retirada da umidade e retirada da metéria orgânica seguiram a


metodologia descrita anteriormente para preparação das amostras. A calcinação das
conchas seguiu a metodologia contida na obra de Guimarães (1997) para a calcinação
do carbonato de cálcio (CaCO3). Segundo o autor, a decomposição térmica dos calcários
ocorre a 898°C de temperatura, resultando na formação de dois produtos: cal e dióxido
de carbono, conforme a representação química da reação:

CaCO3 + calor → CaO + CO2 Equação 1

A calcinação foi realizada em mufla no Laboratório Integrado de Meio


Ambiente (ENS/CTC/UFSC). As conchas foram submetidas a uma temperatura de
aproximadamente 1.000°C, por um período de uma hora. Com a finalidade de avaliar a
perda de massa pela calcinação, as conchas foram pesadas antes e após a queima.
Quando calcinado, como representado Equação 1, CaCO3 se dissocia em óxido de cálcio
(CaO) e dióxido de carbono (CO2). Uma amostra composta inicialmente de 100% de
CaCO3 perderá 44% de sua massa após calcinação, uma vez que, por exemplo, 100g de
CaCO3 se transforma em 56g de CaO quando calcinado. Esta relação possibilitou o
calculo do teor de CaCO3 contido nas conchas.

d) Avaliação da qualidade da cal produzida a partir das conchas

Para avaliar a qualidade da cal virgem e hidratada produzida a partir das conchas
descartadas no Ribeirão da Ilha, utilizou-se dos parâmetros e metodologias contidas nas
normas ABNT que ditam condições exigíveis da cal virgem e hidratada utilizados em
tratamento de água para fins de abastecimento público.
A NBR 10790 apresenta recomendações para o conteúdo máximo de impurezas
para os seguinte elementos: arsênio, cádmio, cromo, flúor, chumbo, selênio e prata. A
determinação destes elementos foi realizada pelo Laboratório de espectrometria atômica
e massa da UFSC através da metodologia de absorção atômica.
A NBR 13293 prescreve o método para determinação da concentração de óxido
de cálcio disponível, hidróxido de cálcio e substâncias reativas ao HCl contidas no
produto. A NBR 13294 prescreve o método para determinação da concentração de
44

óxido e hidróxido magnésio. Os ensaios com as metodologias prescritas nestas normas


foram realizados no Laboratório Integrado de Meio Ambiente (LIMA) da UFSC.

3.3 Estudo de viabilidade econômica do beneficiamento das conchas

Foi elaborado um estudo de viabilidade econômica com a finalidade de levantar os


custos envolvidos no beneficiamento das conchas, e desta maneira avaliar a viabilidade
do negócio. O estudo de viabilidade está focado em três produtos que podem ser
produzidos a partir das conchas: 1) o carbonato de cálcio (CaCO3), conhecido também
como calcário ou, ainda, quando de origem animal é chamado comercialmente de
farinha de concha; 2) o óxido de cálcio (CaO), conhecido comercialmente por cal
virgem; 3) o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), conhecido como cal hidratado. Estes três
produtos foram escolhidos por necessitarem apenas das conchas como matéria-prima e
por possuírem um processo de fabricação relativamente simples.
O estudo de viabilidade econômica-financeira seguiu a metodologia do curso
“Iniciando um Pequeno Grande Negócio” oferecido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às
Pequenas Empresas - SEBRAE. O curso a distância está disponível no site da
instituição. Na Figura 8 está apresentado o fluxograma com as etapas do estudo.
45

Figura 10: Fluxograma das etapas para estudo de viabilidade econômico das conchas.

Inicialmente, na análise econômica, foi feita uma pesquisa de mercado


(consumidor e concorrente) e uma análise estratégica, onde se supôs quais seriam os
processos e as necessidades para atingir os objetivos esperados pelo negócio. A análise
financeira englobou a previsão de investimentos iniciais (físico e financeiro), cálculo
dos custos fixos mensais, cálculo dos custos variáveis de produção, cálculo de venda do
produto e cálculo dos indicadores de desempenho. Por fim, foi feita uma análise de
decisão.
Para fazer a pesquisa de mercado consumidor, foi feita uma consulta ao banco
de dados da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina - FIESC. Obteve-se
uma lista de cinco empresas que utilizam o carbonato de cálcio e/ou cal como matéria-
prima. Entrou-se em contato telefônico ou via e-mail com todas essas empresas, e desta
46

maneira obteve-se dados da quantidade requerida por cada uma delas. Além destas,
ainda foram consultadas outras empresas da região que não estavam na banco de dados,
mas que seriam possíveis consumidores, como empresas que trabalham com tratamento
de água, indústrias farmacêuticas e agroindústrias.
Para fazer a pesquisa de mercado concorrente, que, no caso, seriam empresas
que comercializam carbonato de cálcio e/ou cal, fez-se contato via e-mail com as
empresas participantes da Associação Brasileira dos Produtores de Cal (ABPC), o foco
do contato era saber o preço praticado e a especificação do produto oferecido.
Dentro da análise estratégica, nas etapas que envolviam o sistema de produção a
ser adotado, listou-se as atividades necessárias ao beneficiamento. Montou-se o
fluxograma de produção e avaliou-se a necessidade de matéria-prima e equipamentos.
Foi elaborado uma planta esquemática para avaliar o espaço requerido para montagem
da estrutura da empresa.
Na análise financeira do negócio, foi elaborado um quadro de investimento
inicial que é composto pelo investimento físico e financeiro. O investimento físico
considera o capital que será necessário para a aquisição de equipamentos, móveis e
utensílios, para a construção do galpão da usina e aquisição do veículo. O investimento
financeiro considera as necessidades de capital de giro e os custos com habilitações e
registros iniciais. O cálculo do capital de giro envolve uma estimativa do capital
necessário (custos fixos e variáveis) para manter o negócio inicialmente, sendo que foi
considerado o período de 30 dias.
Os custos fixos são as despesas cuja variação não é afetada pelo volume total de
produção ou de vendas da empresa. O custo fixo é calculado a partir do somatório dos
gastos com salários dos funcionários, encargos sociais, outros impostos como o Imposto
sobre a Propriedade de Veículos Automotores - IPVA e Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana – IPTU, honorários do contador da empresa, conservação e
limpeza, equipamentos de proteção individual (EPI), materiais de escritório e proteção
dos investimentos físicos (depreciação, seguro e manutenção).
Os custos variáveis de produção variam com o volume de produtos
comercializados, e foram calculados por unidade de produto, no caso, o quilograma.
Para calculá-los foram considerados a produção total estimada para cada mês. O cálculo
dos custos variáveis levou em consideração os gastos com embalagem do produto,
47

energia para os equipamentos, combustível para o recolhimento das conchas e água para
limpeza das conchas.
O preço de venda unitário (por quilograma) foi calculado conforme Equação 2 :

⎛ CUP ⎞
PVU = ⎜⎜ ⎟⎟ × 100 Equação 2
⎝ 100% − (CC % + ML%) ⎠

Onde, PVU é o preço de venda unitário, CUP é custo unitário de produção


(somatório dos custos fixos unitários e custos variáveis unitários), CC é o custo de
comercialização (impostos) e ML é a margem de lucro.
Na análise dos indicadores de desempenho foram realizados cálculos para se
saber a lucratividade e a rentabilidade do negócio e chegar ao cálculo do prazo de
retorno do investimento que precisará ser feito para abertura do negócio. As fórmulas
utilizadas para obter os indicadores de desempenho estão apresentadas na Equação 3,
Equação 4 e Equação 5.

⎛ LucroLíquido ⎞
Lucratividade = ⎜ ⎟ × 100 Equação 3
⎝ Re ceitaTotal ⎠
A lucratividade é um indicador que demonstra a eficiência operacional de uma
empresa, é expressa como um valor percentual, que indica a proporção de ganhos da
empresa com relação ao trabalho que desenvolve.

⎛ LucroLiquido ⎞
Re ntabilidade = ⎜ ⎟ × 100 Equação 4
⎝ InvestimentoTotal ⎠

Rentabilidade é um indicador de atratividade do negócio, pois mostra a


velocidade com que o capital investido no negócio retornará. É obtida sob a forma de
um valor percentual por unidade de tempo, e indica a taxa de retorno do capital
investido.

InvestimentoTotal
Pr azo Re tornoInvestimento = Equação 5
LucroLíquido
48

O prazo de retorno do investimento mostra o tempo necessário para recuperar


tudo o que foi investido no negócio. Quanto mais rapidamente o capital investido
retornar, mais atrativo é o negócio.
Por fim, foi feita uma análise de decisão, onde se examinou, baseado nos
resultados de todo o estudo, principalmente nos indicadores de desempenho, se o
aproveitamento das conchas é um negócio economicamente viável.
49

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Impactos Ambientais relacionados ao descarte inadequado das conchas

No processo do cultivo das ostras são gerados, diariamente, os resíduos líquidos,


que são provenientes da lavagem das ostras e lanternas e os resíduos sólidos compostos
por ostras mortas descartadas, outros animais marinhos e lodo retirado na limpeza das
lanternas. Na Figura 11, é apresentada uma visão do cultivo de ostras, do ponto de vista
das necessidades e dos efeitos causados pelo processo produtivo.

O MANEJO DAS O CULTIVO DAS OSTRAS


OSTRAS NECESSITA NECESSITA DE:
DE:
- Ocupação de áreas marinhas;
- Mão-de-obra; ÁREA DE
TRABALHO - Temperatura da água adequada;
- Água; (MANEJO DAS - Biota da região equilibrada;
- Energia (elétrica e OSTRAS) - Água com qualidade adequada
combustível); (ausência de poluentes,
disponibilidade de nutrientes,
- Equipamentos. oxigênio dissolvido, correntes
marinhas, luminosidade).

O MANEJO DAS OSTRAS


LIBERA: INTERFERENCIAS NO
AMBIENTE:
- Resíduos líquidos da lavagem das - Liberação de pseudofezes
ostras; de ostras;
- Lodo marinho (finos e argilas); ÁREAS DE - Acúmulo de ostras
- Resíduos de ostras mortas, CRIAÇÃO mortas;
conchas e outros animais DAS OSTRAS - Alteração de correntes
marinhos; marinhas locais;
TERRA
MAR
- Alteração na biota da
região.

Figura 11 Visualização geral da criação de ostras e os impactos ambientais gerados no processo.

A observação em campo mostrou que para lavagem de uma lanterna usando


equipamento hidrojato, gasta-se de 3 a 4 minutos, supondo-se que num único dia 7
lanternas são manejadas, o equipamento será utilizado por 28 minutos. Para o caso de
um hidrojato com vazão média de 50 litros/min, seria usado um volume de 1.400 litros
de água por dia, ou 35.000 litros por mês. Considerando que todos os 54 cultivos da
50

região trabalhem nas mesmas condições, seriam gastos 75.600 litros por dia e 1.890.000
litros ao mês, somente para limpeza das lanternas.
De acordo com as entrevista realizada com os ostreicultores do Ribeirão da Ilha,
sobre a origem da água utilizada e seu destino: 66% disseram que utilizam somente
água doce, somente 16% utilizam somente a água do mar e 18% utilizam ambas (Figura
12).

6%
16% Mar
12%
CASAN
2%
Cachoeira
6%
Nascente
27% Poço

Mar e CASAN

31% Mar e cachoeira

Figura 12 Origem da água utilizada para o manejo nas fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha.

A grande maioria, 96% dos ostreicultores descartam seus efluentes sem


tratamento, sendo que 82% deste efluente é lançado diretamente no mar, sem nenhum
tratamento prévio (Figura 13). Isto ocasiona aumento de carga orgânica no mar,
favorecendo a redução de disponibilidade de oxigênio dissolvido na água, importante
para a vida marinha. Este é mais um processo que contribui para a aceleração da
eutrofização natural da baía.
51

14%

2% Mar
2%

Areia

Fossa séptica e
infiltração

Decantação e mar
82%

Figura 13 Destino dos efluentes líquidos das fazendas marinhas no Ribeirão da Ilha.

Nos grandes cultivos, que são minoria, segundo levantamento realizado no


trabalho de Dellatore (2003) o efluente líquido proveniente do castigo, segue para uma
caixa de inspeção e para o sistema de tratamento (fossa séptica, filtro anaeróbio e vala
de infiltração). A água, utilizada na limpeza do local onde é feito a limpeza das ostras,
segue para uma caixa de retenção de sólidos (pedaços conchas, organismos marinhos e
lama) e volta para o mar.
As informações levantadas apontam que 25% descartam os resíduos das conchas
no mar, 37% descartam juntamente com o lixo comum que é recolhido pela empresa de
limpeza urbana da cidade, COMCAP, e 12% dos ostreicultores descartam suas conchas
em terrenos da região (Figura 14).

10%
25%
Lançam no mar
12%

Recolhido pela
COMCAP
Utilizam para
aterro
16%
Lançam em terreno

Vendem

37%

Figura 14 Local de descarte das conchas pelas fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha.
52

Os resíduos orgânicos e conchas são reutilizados apenas por uma minoria: 4%


utilizam os resíduos orgânicos para compostagem e 10% vendem as conchas. Os
resíduos orgânicos são lançados ao mar por 78% dos ostreicultores (Figura 15).

Lançam no mar

12%
Recolhido pela
COMCAP
78% 4%
Utilizam em composto
10%

Lançam em terrenos

Figura 15 Local de descarte dos resíduos orgânicos retirados das lanternas e das conchas das ostras
nas fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha.

Machado (2002), em sua pesquisa com maricultores da região fez o mesmo


questionamento e obteve o seguinte resultado: 39% informaram que as conchas são
coletadas e colocadas junto com o lixo comum, 39% informaram que são jogadas no
mar e 22% ou jogam em terreno baldio, enterram ou jogam diretamente na praia.
Quando a autora abordou a possibilidade do assoreamento provocar danos futuros à área
de produção, os maricultores responderam: “... o que é do mar, ao mar volta...”.
Percebe-se que não houve uma mudança significativa do ano de 2002 para hoje quanto
ao destino dado às conchas na região do Ribeirão da Ilha, houve apenas uma pequena
redução daqueles que descartam no mar e, conseqüentemente, um pequeno aumento
daqueles que descartam junto com lixo comum.
Os grandes cultivos são os maiores responsáveis por este lançamento nas águas
da baía, visto que não há um gerenciamento adequado do resíduo. O resíduo das
conchas é um resíduo industrial e não um resíduo sólido urbano que deve ser coletado
pela COMCAP, mas mesmo assim a prática de coleta pela empresa é comum. Segundo
entrevista com a COMCAP, a empresa coleta quantias entre de 240 a 280 kg de resíduo
por cultivo, três vezes na semana na baixa temporada (inverno) e de quatro vezes por
semana na alta temporada (verão). Vale a pena ressaltar que o gerenciamento dos
53

resíduos industriais são de responsabilidade da empresa geradora, no caso das conchas,


dos cultivos.
Os resíduos descartados diretamente no mar podem trazer problemas
relacionados à redução da profundidade do local, visto que, por se tratar de uma baía, há
pouca circulação de água, e a tendência é do resíduo ficar acumulado no fundo. A
diminuição da profundidade pode trazer problemas aos cultivos, pois as lanternas ao
tocarem o sedimento ficam mais vulneráveis aos predadores. Esta prática também pode
diminuir ainda mais a circulação de água no local, prejudicando o cultivo, a pesca e a
recreação. Nas entrevistas, os maricultores relataram a existência de locais na baía onde
existe dificuldade de passagem das baleeiras, devido ao assoreamento provocado pelo
acúmulo de resíduos ali lançados. Outros problemas indicados pelos entrevistados
foram: desgastes e incrustações nos próprios materiais dos cultivos e o ferimento de
banhistas, este último associado ao acúmulo de conchas que aparecem nas praias devido
à ação das correntes e das ondas (Figura 16).

1 2 3

Figura 16 1 - Conchas de ostras na praia; 2 - Ostreicultor depositando seu resíduo no mar; 3 -


Efluente de cultivo de ostras lançado no mar.

A prática de acumular os resíduos das conchas em terrenos da comunidade traz


problemas como a atração de vetores e odores desagradáveis (Figura 16). Estes
problemas podem ser eliminado, caso esta prática seja substituída por uma destinação
mais adequada.
54

1
2 3

Figura 17. 1 - Resíduo fresco de conchas de cultivo de ostras; 2 e 3 - Locais de descarte das conchas.

Na pesquisa realizada, 86% dos ostreicultores se disseram favoráveis a repassar


gratuitamente os resíduos de conchas para interessados em utilizá-las (Figura 18).

10% 2%
Sim
2%

Já utiliza

Já vende

Não
86%

Figura 18. Possibilidade de doação das conchas para aproveitamento pelos ostreicultores do
Ribeirão da Ilha.

A quantidade de maricultores dispostos a doar as conchas descartadas diminuiu


para 65%, quando colocada a possibilidade de repassar as conchas à uma empresa que
obteria lucro com a venda das conchas beneficiadas (Figura 19).
55

Sim
25%

Já vende

10%
65%

Não

Figura 19. Possibilidade de doação das conchas para uma empresa terceira que obteria lucro com a
venda das conchas beneficiadas.

Quando questionados sobre a intervenção da atividade sobre o meio ambiente,


25% dos ostreicultores afirmaram que a atividade é positiva. Para 25% deles a atividade
interfere negativamente, 20% acreditam que é tanto positiva quanto negativa e 30%
acham que é indiferente: “nem ajuda nem prejudica” (Figura 20).

Ajuda
25%
30%

Prejudica

Ajuda e prejudica

Não ajuda nem


20% 25%
prejudica

Figura 20. Opinião dos ostreicultores do Ribeirão da Ilha a respeito da interferência da atividade
sobre o meio ambiente.

Quando o maricultor desiste da atividade, normalmente as estruturas de cultivo


são abandonadas no mar gerando outro impacto ambiental. Bóias e longs inteiros e, em
alguns casos, até mesmo lanternas com ostras são deixadas no ambiente marinho. As
bóias utilizadas nos cultivos podem ser embalagens de produtos químicos reutilizadas,
56

como embalagens de óleo e de xarope concentrado de refrigerantes. Relatos de


maricultores e técnicos da área mostram que essas embalagens não são
sistematicamente lavadas, são pouco resistentes e duráveis, podendo romper facilmente
e liberar para o meio compostos poluentes.
Outro impacto associado às estruturas de cultivo se refere ao aspecto visual e ao
espaço ocupado de áreas marinhas. O aspecto visual pode desagradar ao turista e
moradores, sendo interessante uma padronização das estruturas de cultivo, que leve em
conta aspectos estéticos, como bóias de apenas um formato, cor e tamanho. Já o espaço
ocupado acaba por inibir banhistas e a passagem de embarcações. Diversas ações para
reorganização das atividades da maricultura vêm sendo desenvolvidas pela SEAP –
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, principalmente através dos PLDM – Planos
Locais de Desenvolvimento da Maricultura, para amenizar estes problemas, mas até o
momento não foram colocados em prática.
Os impactos ambientais negativos da ostreicultura foram identificados por meio
de reuniões do grupo de pesquisa. A Tabela 2 apresenta os principais impactos
ambientais que foram levantados baseado nas entrevistas com os maricultores e em
visitas ao Ribeirão da Ilha. Os impactos ambientais foram classificados quanto ao efeito
causado ao meio ambiente (reversível ou irreversível) e ao tempo do efeito (curto prazo
ou longo prazo).
Grande parte dos impactos relacionados ao descarte inadequado das conchas é
de curto prazo e reversível, o que é positivo, pois com a mudança de atitude,
principalmente no sentido de aproveitamento desses resíduos, os impactos ambientais
relacionados a esta prática serão amenizados ou desaparecerão.
57

Tabela 2 - Levantamento e avaliação de impactos ambientais provocados pelo descarte atual de


conchas de ostras com matéria orgânica agregada.

TÓPICO Efeito

Impactos do descarte de resíduos sólidos em terrenos CP LP R I

Geração de odores ofensivos x x

Veiculação de doenças infecto-contagiosas x x

Geração de efluentes (líquidos percolados) x x

Perda da qualidade estética local x x

Impactos do descarte de resíduos sólidos (objetos do trabalho, conchas, lodo marinho


CP LP R I
e outros organismos agregados) no mar

Redução da profundidade na baía x x

Prejuízos ao crescimento das ostras x x

Redução de circulação de água na baía x x

Redução da pesca e da qualidade de recreação x x


Legenda: CP: Curto Prazo; LP: Longo Prazo; R: Reversível; I: Irreversível.

O principal impacto no mar está relacionados a possível eutrofização da baía,


devido à perda de profundidade provocado pelo acúmulo de resíduos no fundo do mar.
Este acúmulo é resultado do descarte das conchas no mar pelos maricultotes, dos
resíduos orgânicos (pseudofeses) gerados pelos animais cultivados e lançamento de
efluentes líquidos com partículas sólidas gerados nos locais de cultivo. Estes problemas
se agravam devido à baixa circulação de águas que existe na baía sul, haja vista as
observações de Martins et al. (1997). Estes autores constataram que a entrada das ondas
de maré pelas embocaduras norte (baía Norte) e sul (baía Sul) dá origem a uma onda
estacionária, assim, na Região Sul, as correntes são sempre muito fracas, já que os
gradientes do nível da água, responsáveis pela movimentação desta, são igualmente
fracos.
Alguns maricultores relatam que, por causa da alta turbidez da água, os
moluscos levam mais tempo para atingir o peso comercial. Esta deficiência pode ser
explicada pela diminuição de oxigênio dissolvido na água e pela redução das microalgas
presentes na coluna da água, que são responsáveis pela alimentação dos moluscos,
causados pela excessiva deposição de sedimentos orgânicos.
58

4.1.1 Descarte em terrenos – questão dos odores

A pilha contendo o resíduo das conchas trazida dos cultivos da área de estudo
para o Campus Universitário (Figura 21), no primeiro dia de experimento foi possível
observar além das conchas e matéria orgânica, animais marinhos agregados ainda vivos.
Desde o início, a presença de moscas foi constante.

LEGENDA:
C
A - Recipiente para coleta de
B líquido percolado com
cobertura removível.
A B – Pilha de conchas com
matéria orgânica agregada.
C – Lona plástica para
impermeabilização de fundo.

Figura 21. Experimento para avaliação dos odores.

O resíduo gerou líquidos de cor amarelo-escuro e somente em torno do 20º dia


de experimento o aspecto do efluente se mostrou visualmente límpido. A carga em dias
sem chuva foi de até 15,4 litros. O pH de todas as amostras se mostrou entre 6 e 7,
praticamente neutro.
Os odores percebidos pelos jurados nos testes realizados na área do experimento,
durante os 11 primeiros dias de exposição do resíduo, foram associados a uma
composição envolvendo: peixe (41%), putrefação (28%) e mar (30%). Outros odores
associados foram: lixo e algas.
A tendência em se afastar do resíduo foi unânime, 100% dos jurados que
perceberam odor no local não permaneceriam lá espontaneamente e relataram
incômodos ligados à presença dos odores e vetores. Após 11 dias de avaliação, os
percentuais variaram até que, o odor deixou de ser considerado desagradável e os
vetores foram percebidos com pouca freqüência.
A Figura 22 mostra que houve um pico da intensidade média do odor (nível 4 –
forte) nas áreas em torno do experimento, entre o segundo e terceiro dia (15 e
16/11/2006). Entre os dias 18 e 20 de novembro (dias 5 a 7 do gráfico), não houve
avaliação do odor devido as chuvas no local. A partir do 11o dia, o odor passou a não ser
59

mais percebido, ou então, percebido apenas quando muito próximo à fonte de odor,
sendo considerado de características neutras, ou agradáveis, associado ao mar e/ou sal.
A partir do 13º, não mais foi percebida presença de vetores.

5 Área 1: na fonte de odor


Intensidade média do odor

4 Área 2: entre 3 à 5 metros


da fonte de odor
3 Área 3: 5 metros, ou mais
da fonte
2 NÍVEIS DE
INTENSIDADE
1 ODORANTE:
1 - Muito fraco;
0 2 - Fraco;
3 - Médio;
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 4 - Forte;
5 - Muito Forte.
Dias de avaliação

Figura 22. Intensidade Média do Odor percebido no resíduo de conchas proveniente de cultivos do
Ribeirão da Ilha.

Estudos de dispersão de odores possuem variáveis bastante complexas e


requerem experimentos mais aprofundados. Mesmo assim, de forma preliminar, outro
aspecto a ser observado na Figura 22 é a dispersão dos odores percebidos pelos jurados
nas três áreas de avaliação. Como as condições meteorológicas nos dois primeiros dias
de experimento não apresentavam chuvas, nem ventos fortes, é possível considerar a
dispersão do odor nas primeiras 24 horas somente nas áreas 1 e 2, mais próximas ao
resíduo. Apenas, após o segundo dia o odor foi percebido na terceira área de estudo.
O experimento confirmou que o resíduo de conchas e matéria orgânica, quando
depositado em terrenos secos, entra em decomposição, gerando odores desagradáveis e
um efluente líquido, com grande carga orgânica e potencial poluidor. Este efluente
precisa de tratamento e de destinação final adequada. As conchas oferecem abrigo para
vetores de doenças e tornam o local esteticamente ofensivo.
A massa de resíduo foi deixada no local por um período total de 34 dias, ao final
deste período a massa de resíduo restante foi pesada e apresentava 21,89 kg. Houve uma
redução de 38,29% de massa, possivelmente relativa à perda de matéria orgânica e
umidade. Para avaliar qual a percentagem de matéria orgânica que a massa de resíduo
ainda apresentava, foi retirada uma amostra e avaliada em laboratório. O percentual de
matéria orgânica ainda presente na amostra foi em média de 6% (Tabela 3).
60

Tabela 3. Percentual de umidade de matéria orgânica encontrado em amostras do resíduo de


conchas após um período de 34 dias exposto às intempéries.

Amostra % Umidade % Matéria orgânica


A 12 6
B 14 3
C 14 8
Média 13 ± 0,89 6 ± 2,53

4.2 Quantidade de conchas descartadas pelos cultivos e restaurantes

4.2.1 Quantificação nos cultivos

O acompanhamento da quantidade de conchas descartadas foi realizado em


cinco cultivos da região de estudo. Algumas características gerais destes cultivos estão
apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4. Características gerais dos cinco cultivos onde foram acompanhadas a quantidade de
conchas descartadas.

CULTIVOS DA REGIÃO DE ESTUDO


DADOS BÁSICOS - QUESTIONÁRIOS
1 2 3 4 5

Tamanho da área de cultivo (m²) 180.000,00 9.000,00 18.000,00 3.750,00 15.000,00


Número de lanternas c/ ostras atualmente na
1.580 200 1.000 90 100
água
Número de andares nas lanternas 6 5 4 4 5
Dúzias de ostras adultas que costuma colocar
30 60 20 20 25
por lanterna
Sementes adquiridas em 2006 7.000.000 400.000 1.500.000 450.000 300.000

Sementes adquiridas em 2005 6.000.000 600.000 620.000 300.000 1.000.000

Produção de ostras em 2005 (dúzias) 250.000 25.000 10.000 90.000 130.000

Mês de colocação de sementes na água jun-06 abr-06 abr-06 jul-06 abr-06

Freqüência semanal de manejo no inverno 5 5 5 3 5

Freqüência semanal de manejo no verão 6 5 6 5 5


61

CULTIVOS DA REGIÃO DE ESTUDO


DADOS BÁSICOS - QUESTIONÁRIOS
1 2 3 4 5

Número de trabalhadores no cultivo 24 2 5 2 2

Local de descarte do resíduo de conchas 1e3 4 1 3 4

Relação entre resíduo gerado no verão e no


3 3 5 2 5
inverno.

LEGENDA: Local de descarte do resíduo de conchas: 1 - no mar, 2 - terreno baldio, 3 - terreno próprio 4, - Junto
com o lixo da COMCAP e 5 – Outro.

Na região de estudo estão intaladas atualmente 54 fazendas marinhas dos mais


variados tamanhos, todas estas fazendas ainda são consideradas micro empresas. Cada
cultivo apresenta sua peculiaridade, e por este motivo acompanhamos cinco cultivos
diferentes durante o ano de pesquisa.
A Figura 23 apresenta uma fotografia do momento da pesagem do resíduo num
cultivo da região.

Figura 23. Etapa de pesagem das conchas nas fazendas marinhas do Ribeirão da
Ilha.

As conchas encontradas no montante dos resíduos descartados são dos mais


variados tamanhos (Figura 24), pois as ostras morrem em diversas fases do cultivo.
62

Figura 24. Conchas de tamanhos variados descartadas pelas fazendas marinhas no


Ribeirão da Ilha.

Nas Figura 25, 26, 27, 28 e 29 estão apresentadas as variações mensais de


resíduo em cada um dos cinco cultivos monitorados.

10000
9000
Massa de Resíduos (Kg)

8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
Jul-06 Aug- Sep- Oct- Nov- Dec- Jan- Feb- Mar- Apr- May- Jun-
06 06 06 06 06 07 07 07 07 07 07
Mês/ano

Figura 25. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas, no cultivo 1.


63

500
450
Massa de Resíduos (Kg) 400
350
300
250
200
150
100
50
0
Jul-06 Aug- Sep- Oct- Nov- Dec- Jan- Feb- Mar- Apr- May- Jun-
06 06 06 06 06 07 07 07 07 07 07

Mês/ano

Figura 26. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 2.

2400

2100
Massa de Resíduos (Kg)

1800

1500

1200

900

600

300

0
Jul-06 Aug-06 Sep-06 Oct-06 Nov-06 Dec-06 Jan-07 Feb-07 Mar-07 Apr-07 May-07 Jun-07

Mês/ano

Figura 27. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 3


64

400

Massa de Resíduos (Kg) 350

300

250

200

150

100

50

0
Jul-06 Aug-06 Sep-06 Oct-06 Nov-06 Dec-06 Jan-07 Feb-07 Mar-07 Apr-07 May-07 Jun-07

Mês/ano

Figura 28. Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 4.

500
450
Massa de Resíduos (Kg)

400
350
300
250
200
150
100
50
0
Jul-06 Aug-06 Sep-06 Oct-06 Nov-06 Dec-06 Jan-07 Feb-07 Mar-07 Apr-07 May-07 Jun-07

Mês/ano

Figura 29 Geração mensal de resíduo (kg) de conchas no cultivo 5.

Nota-se que há uma similaridade no comportamento da geração do resíduo entre


os cultivos, há uma tendência sazonal bem expressiva. O período de janeiro a junho é de
alta geração de resíduos e o de julho a dezembro, de baixa geração de resíduos. Somente
as cinco fazendas marinhas acompanhadas descartaram, em um ano, mais de 53
toneladas. O cultivo 1, que está entre os maiores produtores da região, foi o que se
destacou na produção de resíduo, com valores muito superiores aos demais. Esta
diferença fica mais evidente quando colocamos os dados dos cinco cultivos
65

acompanhados num único gráfico, sendo assim na Figura 30 e na Figura 31 estão


apresentados os dados dos gráficos anteriores em conjunto para facilitar a comparação
dos resultados obtidos.

1.400
Massa de resíduos (Kg)

1.200

1.000

800

600

400

200

0
jul/06 ago/06 set/06 out/06 nov/06 dez/06
Mês-ano
Cultivo 1 Cultivo 2 Cultivo 3 Cultivo 4 Cultivo 5

Figura 30. Quantidade mensal da de conchas (kg) descartada pelos cinco tipos de
fazendas marinhas monitoradas no Ribeirão da Ilha de julho a dezembro de 2006.

8.000
Massa de resíduos (Kg)

7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
jan/07 fev/07 mar/07 abr/07 mai/07 jun/07
Mês-ano

Cultivo 1 Cultivo 2 Cultivo 3 Cultivo 4 Cultivo 5

Figura 31. Quantidade mensal da de conchas (kg) descartada pelos cinco tipos de
fazendas marinhas monitoradas no Ribeirão da Ilha de janeiro a junho de 2007.
66

Percebe-se pela Figura 32 que houve um aumento significativo a partir de


janeiro de 2007. Este aumento é provocado pelo aumento da comercialização devido ao
grande número de turistas que visita Florianópolis na temporada de verão. Nestas
épocas, como aumenta a comercialização, aumenta a freqüência do manejo e,
conseqüentemente, a quantidade de resíduo gerado.
Resíduo total de conchas (Kg)

10,000
9,000
8,000
7,000
6,000
5,000
4,000
3,000
2,000
1,000
0
Jul-06 Aug-06 Sep-06 Oct-06 Nov-06 Dec-06 Jan-07 Feb-07 Mar-07 Apr-07 May- Jun-07
07

Mês-ano

Figura 32.Quantidade mensal de conchas descartadas pelos cinco cultivos do


Ribeirão da Ilha.

A reta e a equação gerada pela relação entre quantidade de resíduo gerado e


quantidade de sementes compradas estão apresentadas na Figura 33.
O acompanhamento sistemático da produção de resíduos em cinco diferentes
cultivos do Ribeirão da Ilha permitiu avaliar a produção total em toda a região. Para
extrapolar a quantidade de conchas produzidas nos cinco cultivos para os demais,
procurou-se relacionar a produção de resíduos com área de cultivo, número e
comprimento de longs, número de lanternas na água, número total de andares de
lanternas, número máximo de lanternas e número de sementes adquiridas para a safra.
De todos esses elementos, o número de sementes adquiridas para a safra foi a
informação mais confiável, visto que foi a única informação segura repassada pelos
maricultores, pois para os outros elementos não existe registro. O gráfico que apresenta
os dados para os locais monitorados relacionando o número de sementes e a produção
de resíduo considerou apenas os dados de quatro fazendas marinhas, pois os dados do
cultivo 4 foram discrepantes (Figura 33).
67

45.000
40.000
y = 0,006x
Massa de conchas (kg)

35.000
R 2 = 0,9997
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000 7.000.000 8.000.000

Número de sementes colocadas na água de cada cultivo

Figura 33. Relação entre o número de sementes adquiridas e a geração de resíduos


de conchas em um ano de monitoramento, para os quatro cultivos selecionados.

Foi encontrado a equação y = 0,006x, onde y representa a massa de resíduo


gerado durante o período de um ano e x representa o número de sementes compradas
para a safra 2006.
Utilizando-se o gráfico da Figura 33, foi possível estimar a geração de resíduos
em cada cultivo para doze meses. Das ciquenta e quatro fazendas marinhas de ostras C.
gigas existentes no Ribeirão da Ilha, quarenta e nove foram contatados. Foi possível
saber o número de sementes adquiridas por quarenta e duas. Para as sete restantes
adotou-se, então, o comportamento do menor cultivo, 6.000 sementes para a safra.
Estimou-se então que os 51 cultivos somados descartam um total de 1.081.920
kg de resíduos de conchas (Tabela 5). Somou-se ainda a este valor, o total obtido nos
cinco monitorados, 54.013kg. Assim, as 54 fazendas marinhas do Ribeirão da Ilha
produziram um total de 1.138.453kg de resíduo de conchas no período de julho de 2006
a junho de 2007.
68

Tabela 5 . Número de sementes adquiridas em 2006 e resíduo de concha anual


estimado em 42 cultivos do Ribeirão da Ilha.
N° DE N° DE
RESÍDUO DE RESÍDUO DE
SEMENTES SEMENTES
CULTIVO CONCHAS EM CULTIVO CONCHAS EM
ADQUIRIDAS EM ADQUIRIDAS EM
12 MESES (Kg) 12 MESES (Kg)
2006 2006
1 450.000 27.000 22 380.000 22.800

2 10.000 600 23 1.200.000 72.000

3 650.000 39.000 24 20.000 1.200

4 400.000 24.000 25 100.000 6.000

5 50.000 3.000 26 200.000 12.000

6 1.400.000 84.000 27 100.000 6.000

7 300.000 18.000 28 1.200.000 72.000

8 600.000 36.000 29 350.000 21.000

9 150.000 9.000 30 200.000 12.000

10 100.000 6.000 31 200.000 12.000

11 160.000 9.600 32 100.000 6.000

12 700.000 42.000 33 35.000 2.100

13 6.000 360 34 700.000 42.000

14 50.000 3.000 35 50.000 3.000

15 1.150.000 69.000 36 1.150.000 69.000

16 15.000 900 37 6.000 360

17 700.000 42.000 38 1.200.000 72.000

18 50.000 3.000 39 350.000 21.000

19 200.000 12.000 40 500.000 30.000

20 2.000.000 120.000 41 400.000 24.000

21 150.000 9.000 42 300.000 18.000


69

4.2.2 Quantificação nos restaurantes

Inicialmente todos os restaurantes da região do Ribeirão da Ilha foram


monitorados, totalizando nove restaurantes. Durante a pesquisa um destes fechou, e em
outros três tivemos problemas para o acompanhamento de dados.
As conchas encontradas no resíduo dos restaurantes são de tamanhos mais
homogêneos se comparados aos cultivos, pois são apresentadas aos clientes e devem ter
tamanho grande e boa aparência, mesmo assim existem variações que dependem dos
fornecedores e da idade das ostras servidas. Considerando todos os restaurantes, em um
ano, a relação massa/dúzia variou de 200g/dúzia até aproximadamente 880g/dúzia. Em
um mesmo restaurante, a diferença de massa por cada dúzia chegou a 510 gramas
(Figura 34).

0,90
0,80
0,70
M as sa d ú z ia( k

0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
7
06

07

07
7
6
06

6
6

06

06

7
07
07

/0
/0
t/0
l/0

l/0
t/0
n/

n/

n/
v/
o/

z/

r/
v/

ai
ar
ju

se

ou

ju
ab
ag

no

de
ju

ja

ju
fe

m
m

Restaurante 1 Restaurante 2 Restaurante 3 Restaurante 4 Restaurante 5

Figura 34. Massa (kg) mensal da dúzia do resíduo de conchas dos restaurante do
Ribeirão da Ilha.

A quantidade total de conchas variou bastante para cada estabelecimento. A


diferença anual entre o de maior movimento e o de menor, chegou a 7.239,75 kg de
conchas descartadas. Devido a esta variação, para facilitar a visualização, os
restaurantes foram separados em dois grupos: de grande porte e de pequeno porte. A
Figura 35 apresenta os dados anuais para os restaurantes de grande porte e a Figura 36,
para os de pequeno porte.
70

1400
Resíduo de conchas (kg) 1200

1000

800

600

400

200

0
jul ago set out nov dez jan fev mar abri maio jun
Mês
restaurante 1 restaurante 2 restaurante 3

Figura 35. Geração mensal de resíduos de conchas – restaurantes grandes.

Devido a problemas com a coleta de dados, adotou-se o menor valor mensal de


conchas dos meses anteriores para os dados de maio dos três restaurantes grandes
(restaurantes 1, 2 e 3) e para os dados de junho do restaurante pequeno 5, visando a uma
avaliação cautelosa da massa de resíduos.

225
200
Resíduo de conchas (kg)

175
150
125
100
75
50
25
0
jul ago set out nov dez jan fev mar abri maio jun
Mês
restaurante 4 restaurante 5

Figura 36. Geração mensal de resíduos de conchas – restaurantes pequenos.


71

Na Figura 35 e Figura 36 fica evidente que existe um aumento na quantidade


descartada no período do verão, e também no mês de julho, que são meses de férias
escolares e de maior fluxo de turistas na região. Todos os restaurantes seguem esta
tendência.
Em três restaurantes pequenos, os dados obtidos não foram consistentes, a estes
foram atribuídos os dados do restaurante 4, um restaurante igualmente pequeno. Este
problema ocorreu, pois os próprios responsáveis pelos restaurantes foram os
responsáveis pela coleta primária dos dados (Anexo 3). Percebeu-se que, nesses
estabelecimentos, os dados não foram preenchidos corretamente. Os valores mensais
para estes restaurantes não estão apresentados na Figura 36, porém estão somados na
quantidade total de resíduos descartadas pelos restaurante.
Os restaurantes da região de estudo descartaram em um ano, 19.376 kg de
conchas de ostras, sendo que a maior parte deste descarte ocorreu no período do verão,
entre os meses de dezembro e fevereiro (Figura 36).

3500

3000

2500

2000

1500

1000

500

0
jul/06 ago/06 set/06 out/06 nov/06 dez/06 jan/07 fev/07 mar/07 abr/07 mai/07 jun/07
Mês

Figura 37. Variação mensal de conchas descartadas pelos restaurantes.

4.2.3 Cultivos e restaurantes

O distrito do Ribeirão da Ilha produz, somando cultivos e restaurantes,


aproximadamente, 22,3 toneladas de conchas por mês nos meses de baixa geração de
72

resíduos e 170,7 toneladas por mês nos meses de alta geração de resíduos, totalizando
1.158.189 kg por ano de resíduo bruto de conchas. Essa massa corresponde a um
volume aproximado de 2.205,86 m3.
Comparando-se a quantidade descartada pelos cultivos e restaurantes (Figura
38), nota-se que a contribuição dos cultivos foi muito superior à dos restaurantes. No
período de alta produção de resíduo a quantidade descartada pelo cultivos chega a ser 90
vezes maior que a dos restaurantes.

1.200.000
M a ss a d e R e sí d u o s d e C o n c h

1.100.000
1.000.000
900.000
800.000
700.000
600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
0
ALTA GERAÇÃO (kg) BAIXA GERAÇÃO (kg) ANUAL (kg)
Restaurantes 11.133 8.603 19.736
Cultivos 1.013.223 125.230 1.138.453

Figura 38. Comparação entre os totais de resíduos (Kg) de conchas descartados pelos restaurantes
e cultivos do Ribeirão da Ilha.

4.3 Análise da composição e estrutura das conchas

4.3.1 Caracterização do resíduo

Os resíduos de conchas das fazendas marinhas e dos restaurantes apresentam


características diferenciadas. As conchas descartadas pelas fazendas marinhas são
resultantes da mortalidade das ostras durante as diversas fases do cultivo, como
crescimento e engorda. Estas conchas são descartadas juntamente com sedimentos (lodo
73

marinho), organismos incrustados nas conchas e organismos invasores das lanternas.


Nos restaurantes, as conchas descartadas provêm de pratos servidos aos clientes e,
embora sejam mais limpas, podem conter resíduos de alimentos (Figura 39).

Figura 39: Resíduo de conchas de restaurante da região do Ribeirão da Ilha.

A Figura 40 mostra conchas provenientes de cultivos. Na primeira imagem (A)


pode-se observar o resíduo de uma lanterna de ostra que se desprendeu do long por
acidente, apresentando grande quantidade de sedimento. Na imagem central (B) são
mostradas conchas lavadas com água sob pressão (hidrojato) e na última imagem (C)
pode-se observar o “resíduo bruto”: ostras mortas cobertas por sedimentos e organismos
marinhos.

Figura 40: Exemplos de resíduos com conchas provenientes de fazendas marinhas.

Estas conchas são descartadas juntamente com outros resíduos que se encontram
dentro da lanterna de cultivo, como lodo marinho, animais incrustados nas conchas e
74

outros predadores. Sendo assim, as conchas descartadas estão em meio a uma grande
quantidade de matéria orgânica.
Amostras de resíduo descartado pelos cultivos foram analisadas com o objetivo
de quantificar o percentual de matéria orgânica e umidade. Na Tabela 6 estão
apresentados o percentual de umidade e de matéria orgânica encontrados no resíduo das
conchas.

Tabela 6. Análise do percentual de umidade e matéria orgânica presente


nas amostras de resíduos das conchas dos cultivos no Ribeirão da Ilha.

Amostra % Umidade % Matéria orgânica

A (junh/06) 43,79 4,64

B (junh/06) 42,85 4,54

D(out/06) 44,17 11,03

E (out/06) 57,01 5,32

F (out/06) 56,76 8,85

G (out/06) 54,19 12,07

H (out/06) 53,70 11,42

I (Dez/06) 19,84 8,44

J (Dez/06) 20,76 19,48

K (Dez/06) 18,19 15,28

Média 41,13 10,11

Desvio 15,77 4,82

Foi encontrado um valor médio de 41% de umidade e 10% de matéria orgânica


relativo à massa do resíduo, ou seja, aproximadamente apenas 49% do resíduo é
constituído de conchas. Estes valores dependem muito da fase que está a lanterna que
foi aberta para o manejo. A tendência é que, se as lanternas passam por algum “castigo”,
apresentem menos animais incrustados e predadores, que é o caso das amostras A e B.
Estas amostras foram retiradas de uma lanterna que estava sendo manejada para
comercialização, e as ostras haviam passado recentemente por um período de “castigo”,
75

um período em que as lanternas são retiradas do mar, justamente para que uma parcela
dos animais incrustantes e predadores sejam eliminados.
As conchas descartadas pelos restaurantes são parte do resíduo das ostras
consumidas pelos clientes. As conchas são praticamente limpas, apresentam apenas
alguns restos de alimento, como partes da ostra não consumida, ou restos de molhos
usados no preparo dos pratos. Na Tabela 7 mostra o teor de umidade e de matéria
orgânica relativa à massa do resíduo descartado pelos restaurantes.

Tabela 7. Análise do percentual de umidade e matéria orgânica presente


nas amostras de resíduos das conchas dos restaurantes no Ribeirão da Ilha.

Amostra % Umidade % Matéria orgânica

A 30,37 2,78

B 25,57 4,23

C 28,90 0,19

Média 28,28 2,40

Desvio 2,46 2,05

Em média, o resíduo apresenta, aproximadamente, 28% de umidade e 2% de


matéria orgânica. No resíduo dos restaurantes, aproximadamente 70% da massa do
resíduo é composta por conchas.

a) Caracterização química das conchas de ostra

Amostras conchas descartadas no Ribeirão da Ilha foram analisadas com o


objetivo de quantificar o percentual de carbonato de cálcio. A análise segundo o método
de calcímetro de Bernard, apontou uma concentração de 85,5%. Os resultados das
análises realizadas seguindo a metodologia de perda de massa ao fogo estão
apresentados na Tabela 8. Foi encontrado o valor médio de 87% de CaCO3.
76

Tabela 8. Análise do percentual de carbonato de cálcio (CaCO3) presente


nas amostras das conchas no Ribeirão da Ilha.

Amostra %CaCO3 Procedência


A 93,37 Cultivo
B 70,35 Cultivo
C 87,75 Cultivo
D 87,02 Cultivo
E 92,29 Cultivo
G 96,26 Cultivo
H 88,71 Cultivo
I 96,41 Cultivo
J 73,74 Restaurante
K 95,12 Restaurante
L 78,59 Restaurante
Média 87,24
Desvio 9,14

Pesquisadores coreanos encontraram aproximadamente 96% de CaCO3 e outros


minerais em quantidades insignificantes (Yoon et al, 2003).
A análise química quantitativa relativa a alguns elementos químicos está
apresentada na Tabela 9. Nesta tabela, para facilitar a comparação de resultados
encontrados por outro autores, também estão apresentados os resultados obtidos por
Silva (2007), em análises realizadas em conchas de ostras da Baía Norte de
Florianópolis, e por pesquisadores coreanos. As conchas coletadas no Ribeirão da Ilha
foram analisadas em dois locais diferentes. Uma análise foi realizada pelo Laboratório
do Centro de Tecnologia em Materiais (CTC/Mat) e a outra análise foi realizada por um
empresa privada da região, que durante esta pesquisa se mostrou interessada em utilizar
as conchas.
77

Tabela 9. Análise do percentual dos elementos químicos presentes nas amostras de


conchas do Ribeirão da Ilha.

Ribeirão da Ilha (Baía Sul) Baía norte


Yoon et al, Yoon et al,
Elementos 2003 2004
Empresa
CTC/Mat Silva, 2007
privada
SiO2 <0,01 - 0,91 0,70 0,62
Al2O3 0,20 0,115 0,42 0,42 -
Fe2O3 0,01* 0,18 0,05 - 0,32
CaO 54,24 50,19 48,3 - 52,94
Na2O 0,74 - 0,98 0,98 -
K2 O <0,01 - 0,07 - 0,03
MnO <0,01 0,004 N.D - -
TiO2 0,01 - 0,03 - 0,01
MgO 0,37 2,24 0,68 0,65 0,78
P2O5 0,13 0,09 0,15 0,20 0,17
NiO N.D**. - - - -
PbO N.D.** - - - -
CdO N.D. ** - - - -
SnO N.D. ** - - - -
ZnO N.D. ** 0,0017 - - -
V2 O5 N.D. ** - - - -
Hg 0,01*** - - - -
SrO - - 0,13 - -
N.D.: Não detectado.
* Quantificado via Espectrometria de Absorção Atômica.
** Óxidos quantificados via Espectrometria de Absorção Atômica. Limites de detecção: Cd, Ni, Zn = 0,01 mg/L; Pb = 0,05
mg/L; Sn, V = 0,1 mg/L.
*** Expresso em mg/kg

Nas análises realizadas pela UFSC todos os elementos foram encontrados com
valores abaixo de 1%, com exceção do óxido de cálcio. Resultados semelhantes foram
encontrados nas análises realizadas pela empresa privada, a principal diferença
encontrada foi com relação ao óxido de magnésio. Os resultados de Silva (2007)
diferem bastante para os óxidos de sílica, alumínio, potássio, sódio e magnésio.
78

Comparando os resultados obtidos com o resultado dos pesquisadores coreanos, a


principal diferença está na concentração de óxidos de sílica e ferro.

b) Análise Termogravimétrica e Análise térmica diferencial

Análise termogravimétrica é a técnica na qual a mudança da massa de uma


substância é medida em função da temperatura, pode-se, por exemplo, observar
decomposição térmica ou pirólise de materiais orgânicos, inorgânicos e biológicos.
O gráfico que representa a análise termogravimétrica realizada nas conchas está
apresentado na Figura 41.

TG concha
Perda de Massa (%) ______

-5

-10 TG Conchas

-15

-20

-25
0 200 400 600 800 1000
Temperatura (°C)

Figura 41. Análise termogravimétrica de amostras de conchas do Ribeirão de Ilha.

Percebe-se uma perda de massa gradativa até aproximadamente 800°C, onde se


inicia uma perda mais acentuada. Esta perda mais acentuada está relacionada à
decomposição química do carbonato de cálcio da concha. Este fenômeno é conhecido
como calcinação, resulta na formação de dois produtos, óxido de cálcio e dióxido de
carbono (CO2). Segundo Guimarães (1997), a temperatura de dissociação do carbonato
de cálcio é 898°C. Nesta reação é esperado que o carbonato de cálcio perca 44% de
massa, que é relativo ao CO2 dissociado. Na Figura 41 observa-se uma perda de apenas
22%, que se deve ao tempo de exposição da amostra à temperatura necessária para a
reação acontecer. O ensaio por completo foi realizado num período de 90 minutos,
79

sendo que, quando temperatura atingiu 800°C, já haviam decorrido 80 minutos. A


amostra foi submetida a uma temperatura acima de 8000C por um período muito curto,
por este motivo não pode ser visto neste gráfico a perda de massa esperada de
aproximadamente 44%.
Silva (2007) encontrou resultados semelhantes para conchas de ostras da baía
norte de Florianópolis. A primeira perda de massa encontrada foi de 1% a 3%,
ocorrendo entre 250°C a 500°C, e a segunda perda ocorreu entre 700°C e 800°C com
perda em torno de 40% a 42%, que continuou um pouco mais acima de 800°C.
Amostras de conchas foram submetidas à análise térmica diferencial, com
objetivo de detectar a temperatura inicial dos processos térmicos e caracterizá-los
qualitativamente como endotérmico e exotérmico. Na Figura 42 está apresentado o
resultado da análise.

DTA Conchas
(mW/mV)_______________

0,1

0,05
Energia

-0,05 DTA Conchas

-0,1

-0,15

-0,2
0 200 400 600 800 1000
Temperatura (°C)

Figura 42. Análise térmica diferencial de amostras de conchas do Ribeirão de Ilha.

A amostra começou absorvendo calor, ou seja, iniciou com uma reação


endotérmica. Esta primeira reação pode ser explicada em função da perda de água da
amostra, pois não houve secagem prévia. O pico da reação endotérmica aconteceu a
117°C. Em seguida, aos 250°C, a amostra começou a liberar calor, ou seja, iniciou uma
reação exotérmica, que teve o pico a 330 °C e continuou até os 834°C. Esta reação
exotérmica se deve à queima da matéria orgânica da amostra. Aos 834°C, ponto onde a
80

amostra inicia novamente a absorver calor, pode ser explicado pela calcinação do
carbonato de cálcio.

c) Processamento das conchas para transformação em cal – calcinação

As conchas de ostras recolhidas no Ribeirão da Ilha forma submetidas à processos


de queima e hidratação para avaliar a viabilidade técnica da transformação das conchas
em óxido de cálcio (CaO) e hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), conhecidos popularmente
como cal virgem e cal hidratada, respectivamente. Avaliou-se a qualidade da cal
produzida utilizando-se da metodologia para utilização da cal como corretor de pH em
Estações de tratamento de água (ETA). Isto porque é uma das aplicações que apresenta
normas de qualidade para avaliar o produto.
Primeiramente foram realizados estudos para a transformação da concha em óxido
de cálcio. As conchas recolhidas nas fazendas marinhas e restaurantes da região do
Ribeirão da Ilha passaram, inicialmente por uma secagem, para retirar a umidade e
foram levadas à mufla para retirada da matéria orgânica (Figura 43).

b
Figura 43. Resíduo das conchas durante a etapa de secagem em estufa (a) e após a retirada da
matéria orgânica (b).
81

Depois de realizada esta etapa de limpeza, as conchas foram calcinadas na mufla,


a uma temperatura de 1.000°C por uma hora. Obteve-se, assim, o óxido de cálcio,
conhecido popularmente por cal virgem.
Segundo Guimarães (op.Cit.) a cal virgem é um produto inorgânico branco,
quando apresenta colorações creme, amarelada e levemente cinza, é sinal de que detém
impurezas. As conchas após transformadas em cal virgem e submetidas à moagem
manual apresentavam-se como um pó de coloração totalmente branca, como pode ser
observado na Figura 44, um indicativo visual da ausência de impurezas.

Figura 44. Óxido de cálcio obtido a partir das conchas, após moagem manual.

O óxido de cálcio foi submetido ao processo de hidratação (Figura 45). O


processo de hidratação seguiu metodologia descrita em Guimarães (op.Cit). Para
hidratar o óxido de cálcio, são necessários, estequiométricamente, 32,1% de água.
Segundo o autor deve-se considerar as perdas por umidade e por evaporação provocada
pelo calor da hidratação, somente a experiência indica a valor adequado de água. Optou-
se por colocar apenas 10% a mais do que o valor indicado de 32,1%, pois segundo o
mesmo autor, quando o volume de água não é adequado e a adição de água é feita
rapidamente, pode-se provocar a “requeima” ou “afogamento” da cal.
A temperatura no momento de hidratação atingiu os 100°C, uma temperatura
normalmente esperada para a reação.
82

Figura 45. Processo de hidratação do óxido de cálcio obtido a partir das conchas.

Finalizadas as etapas de produção da cal a partir das conchas, foram realizados


ensaios para avaliar a qualidade desta cal.

d) Avaliação da qualidade de cal produzida a partir das conchas

Um das aplicações para a utilização da cal é como regulador de pH nas estações


de tratamento de água. É uma aplicação que exige um produto de qualidade, visto que
será adicionado à água que será distribuída à população.
Com o objetivo de avaliar a qualidade da cal produzida a partir das conchas,
realizaram-se alguns ensaios seguindo as normas da ABNT, que fixa condições
exigíveis para o fornecimento dos produtos cal virgem e cal hidratada para uso em
estações de tratamento de água para abastecimento público.
A norma NBR 13293 Cal virgem e cal hidratada para tratamento de água de
abastecimento foi utilizada para determinação de óxido de cálcio disponível, hidróxido
de cálcio e substâncias reativas ao HCl. Os ensaios foram realizados com as conchas
calcinadas, que seria o equivalente à cal virgem (óxido de cálcio), e com as conchas
calcinadas e hidratadas (hidróxido de cálcio), que seria a cal hidratada.
As Tabelas 10 e 11 apresentam os resultados encontrados para o ensaio da norma
NBR 13293.
83

Tabela 10. Determinação de óxido de cálcio e substâncias reativas ao HCl


(CaCO3) para cal virgem produzido a partir de conchas.

Amostra %CaO %CaCO3

A 90,68 13,98
B 85,33 18,174
C 83,72 20,504
Média 86,58 17,55
Desvio 3,64 3,31

Na Tabela 10 pode-se observar que a média de óxido de cálcio (CaO) encontrado


nas conchas calcinadas é de mais de 86%, a norma exige que este valor seja superior ou
igual a 89%. Sendo assim, as conchas calcinadas apresentam uma quantidade de CaO
um pouco abaixo do valor exigido pela norma. Considerando que o ensaio apontou uma
porcentagem de carbonato de cálcio (CaCO3) elevada, é possível que as conchas não
tenham sido calcinadas totalmente.

Tabela 11. Determinação de hidróxido de cálcio e substâncias reativas ao


HCl (CaCO3) cal hidratada produzida a partir de conchas.

Amostra %Ca(OH)2 %CaCO3

A 61,82 20,04
B 61,49 15,38
C 59,53 25,16
Média 60,95 20,19
Desvio 1,24 4,89

Os resultados da Tabela 13 indicam que há uma média de 60,95% de Ca(OH)2


nas conchas hidratadas. Este valor está abaixo do valor exigido pela norma NBR 13293
para a cal hidrata, que seria igual ou superior a 90%, o valor encontrado abaixo revela a
problemas com a hidratação da cal.
84

A norma NBR 10790/1995 cal virgem e cal hidratada para tratamento de água de
abastecimento também estipula um valor mínimo para a quantidade de óxido de
hidróxido de magnésio. A metodologia encontrada na norma NBR 13294 Cal virgem e
cal hidratada para tratamento de água de abastecimento foi utilizada para determinação
de óxido e hidróxido de magnésio. Os valores encontrados para as conchas estão
apresentados na Tabela 12.

Tabela 12. Determinação de hidróxido de magnésio (MgO) e hidróxido de


magnésio (Mg(OH)) para concha calcinada e hidratada.

Concha Concha
Amostra calcinada hidratada
%MgO %Mg(OH)
A 0,25 2,12
B 0 0
C 0 0
Média 0,08 0,71
Desvio 0,14 1,22

A norma exige que a concentração de MgO e Mg(OH) não ultrapasse 2,2%.


Segundo os resultados médios apresentados na Tabela 12, as conchas apresentam um
valor abaixo do exigido pela norma.
A norma NBR 10790/1995 também tem exigência quanto a concentração de
metais na cal, os valores exigidos para conteúdo máximo de impurezas estão
apresentados na Tabela 13, que indica o valor máximo com base em uma dosagem
máxima de 650 mg Ca(OH)2 por litro de água.

Tabela 13. Recomendação para conteúdo máximo de impureza segundo norma NBR.
Impurezas As Cd Cr Pb Se Ag
Mg/kg de Ca(OH)2 10 2 10 10 2 10
85

Na Tabela 14 estão apresentados os resultados encontrados nas análises de


impurezas para as conchas, na forma de CaCO3, visto que o CaCO3 é a base para a
produção do Ca(OH)2.

Tabela 14. Resultados encontrados para conteúdo de impurezas nas conchas.


Impurezas As Cd Cr Pb Se Ag
µg/g de CaCO3 N.D.* < 0,01 < 0,05 1,83 ± 0,14 N.D.** < 0,01
N.D.*: abaixo do limite de detecção de 0,1 µg g-1.
N.D. **: abaixo do limite de detecção de 0,05 µg g-1.

Os resultados demonstram que o valor das impurezas encontradas nas conchas


está de acordo com a norma, as concentração estão bem abaixo da concentração máxima
permitida.
Fazendo uma análise geral dos resultados encontrados, pode-se dizer que as
conchas beneficiadas na forma de cal podem ser utilizadas em ETA, mesmo mostrando
problemas nas análises de concentração de CaO e Ca(OH)2, pois estes problemas se
podem ser solucionados com pequenas alterações no procedimento de transformação
das conchas, como maior controle na calcinação e na hidratação.

4.5 Estudo de viabilidade econômica-financeira do uso das conchas

O estudo de viabilidade econômica-financeira do uso das conchas foi realizado


com o objetivo de analisar se o aproveitamento das conchas será uma atividade
econômica viável. O estudo de viabilidade abrangeu a produção de carbonato de cálcio
e de cal (virgem e hidratado), visto que são produtos que podem ser elaborados a partir
da mesma matéria-prima, no caso as conchas, e apresentam processos de produção
simples e semelhantes.
O carbonato de cálcio e a cal são usados na construção de estrada (como filler
para misturas betuminosas), na pasta de papel (substituindo em parte a matéria-prima
vegetal), no mármore compacto para pavimentos e revestimentos, em adubos e
pesticidas, em rações (alimentos compostos para animais), na indústria da cerâmica
86

(matéria-prima para cerâmica de pasta calcária), na indústria de tijolos, na indústria de


tintas, em espumas de polietileno, na produção de talco, na produção de vidros, na
indústria de cimento, na produção de vernizes e borrachas, na correção de solos
(calagem), em medicamentos e como carga em polímeros.

4.5.1 Análise Estratégica de entrada do novo negócio no mercado

O Quadro 3 apresenta a descrição geral do novo negócio a ser implementado,


estabelecendo o que a empresa pretende fazer e quais as oportunidades e tendências que
foram identificadas para a implantação do negócio.

Quadro 3. Descrição geral do negócio para beneficiamento de conchas de ostras.

A empresa pretende produzir carbonato de cálcio e /ou


O que a empresa cal aproveitando como matéria-prima as conchas de
pretende fazer ostra que são descartadas na região do Ribeirão da Ilha,
região de maior produção de ostras de Santa Catarina.

Baseada na quantidade de matéria-prima disponível e na


Baseada em quais
necessidade de destinar corretamente o resíduo
oportunidades
(conchas), que atualmente é depositado em locais
identificadas
inadequados.

Estimulada por Na tendência cada vez maior de preocupação ambiental


quais tendências da população e das indústrias por ser um produto que
de mercado tem um apelo ambiental.

A pesquisa de mercado consumidor foi realizada com empresas catarinenses


cadastradas na FIESC como empresas que utilizam o carbonato de cálcio ou a cal como
insumo ou matéria-prima (Tabela 15). Algumas empresas de Florianópolis que atuam na
área de tratamento de água e na agroindústria, apesar de não aparecerem na listagem da
FIESC, também foram incluídas na pesquisa.
87

Tabela 15. Pesquisa do mercado consumidor em Santa Catarina.


Interesse em
utilizar o
Quantidade insumo
Preço de
Empresa Insumo consumida Fornecedor produzido a
aquisição atual
(kg/mês) partir das
conchas de
ostras.
Informou
Comprovada a
Argamassa, R$ 0,17/kg apenas que o
Cal virgem 150.000 qualidade do
Florianópolis (com frete) produto vem
produto, sim.
do PR.

Tintas e Comprovada a
Carbonato de R$ 0,92/kg
revistimentos, 3.000 Não informou qualidade do
cálcio (com frete)
São José produto, sim.

Tubos e Comprovada a
Carbonato de
conexões, 550.000 Não informou Não informou qualidade do
cálcio
Joinville produto, sim.

Comprovado um
padrão uniforme
Indústria
Carbonatos R$ 0,37/kg na tonalidade e
plástica, 120.000 Não informou
de cálcio (com frete) um nível de
Siderópolis
sílica aceitável
no produto, sim.

É necessário
Companhia de concorrer ao
água e R$ 0,35/kg pregão
Cal hidratada 125.000 Cobrascal
saneamento, (com frete) eletrônico, pois
Florianópolis esta é uma
empresa pública.

Adm. de Comprovada a
Estação de qualidade e
R$ 0,63/kg
Tratamento de Cal hidratada 400/ano B&L preço
(com frete)
Água, competitivo,
Florianópolis sim.

Produtora de Informou
ração animal, Carbonato de apenas que a
7.000.000 Não informou Sim
cálcio matéria-prima
Imaruí vem de SP.

Indústria de
papel e
R$ 0,18/kg
embalagens, Cal virgem 1.200.000 Não informou Sim
(com frete)
Três Barras e
Blumenau
88

Interesse em
utilizar o
Quantidade insumo
Preço de
Empresa Insumo consumida Fornecedor produzido a
aquisição atual
(kg/mês) partir das
conchas de
ostras.
Comprovada a
qualidade e
Agroindústria, Farinha de R$ 1,15/kg CAO do
75.000 preço
São José ostra (com frete) Brasil
competitivo,
sim.

Agroindústria, Carbonato de Não R$ 0,0385/kg


Icil e Skal Sim
Nova Veneza cálcio informou (sem frete)

Agroindústria, Carbonato de R$ 0,10/kg


3.000.000 Não informou Sim
Videira cálcio (com frete)

Indústria de
suplemento
Farinha de R$ 2,00/kg Produtores de
alimentar, 250 Sim
ostra (com frete) ostras
Governador
Celso Ramos

Todas as empresas consultadas mostraram-se favoráveis à compra do produto,


desde que o valor seja competitivo e que a qualidade do produto seja comprovada.
Apenas cinco empresas informaram quem eram seus fornecedores, destas, apenas uma
adquire o produto de uma empresa catarinense, as demais compram de empresas
localizadas no Paraná, Minas Gerais ou São Paulo, o que aumenta muito o custo do
produto, devido aos gastos com transporte.
A pesquisa de mercado concorrente foi realizada com as empresas citadas como
fornecedoras na pesquisa de mercado consumidor. Foram, também, pesquisadas as
empresas que fazem parte da Associação Brasileira de Produtores de Cal, mas destas,
poucas responderam à pesquisa. O Quadro 4 apresenta as principais empresas
concorrentes, detalhando seus pontos fortes e fracos.
89

Quadro 4. Mercado concorrente: empresas que comercializam carbonato de cálcio e cal.


EMPRESAS
PONTOS FORTES PONTOS FRACOS
CONCORRENTES
• Matéria-prima tem origem em concheiros
• Atuante no mercado há muito naturais, ou seja, é um bem não renovável,
tempo. estimado para acabar em 20 anos.
• É uma das poucas empresas • Muitos gastos com recuperação ambiental das
Empresa 1 localizadas no Estado de SC. áreas devastadas pela exploração dos
concheiros.
• Oferece diversos produtos, como o
calcário de conchas e a farinha de • É comum a ocorrência de sambaquis
concha de ostra. inviabilizando a exploração comercial dos
concheiros.

• Atuante no mercado há muito


tempo.
• Valor do produto acima do mercado, se
• É uma das poucas empresas que
comparado com as demais empresas, pois
Empresa 2 atua em SC.
oferecem um produto com propriedade
• Oferece produtos diversificados químicas diferenciadas.
(produtos químicos e produtos para
construção).

• Preço competitivo. • Localizada em MG, quando comercializa para


Empresa 3 • Fornecedor da maior empresa de SC, a maior parte do valor do produto se deve
tratamento de água da região de SC. ao transporte.

• Preço competitivo. • Localizada em MG, quando comercializa para


Empresa 4 • Fornecedor de uma grande SC, a maior parte do valor do produto se deve
agroindústria da região de SC. ao transporte.

• Especializada em produtos de linha


• Produtos mais puros, para fins laboratorial, portanto preços mais altos do que a
Empresa 5 específicos. concorrência.
• Pratica valores altos para produto “comum”.

De foram geral, o ponto forte dessas empresas é que são empresas de grande
porte, fabricam uma quantidade muito grande do produto e por isso o custo de produção
é baixo. O ponto fraco é que a maioria delas está localizada fora do Estado de Santa
Catarina, assim o custo do transporte aumenta o valor do produto.

4.5.2 Sistema de produção a ser implementado.

O fluxograma de produção de carbonato de cálcio, cal virgem e cal hidratado a


partir das conchas de ostras está apresentado na Figura 46. O processo de produção
destes três produtos é muito semelhante, sendo praticamente processos complementares.
90

A matéria-prima para a produção são as conchas das ostras descartadas pelas fazendas
marinhas e restaurantes da região do Ribeirão da Ilha. Os insumos utilizados são água,
para limpeza inicial das conchas recolhidas, e energia elétrica para operar os
equipamentos. A água também é utilizada no processo do hidratação, para o caso de
produção de cal hidratada.

Recolhimento da matéria-prima

Controle de entrada

Armazenamento e limpeza

Retirada da matéria Calcinação


orgânica

Moagem

Embalagem Embalagem Hidratação


CaCO3 CaO

Embalagem
Ca(OH)2

Estocagem

Comercialização

Figura 46. Fluxograma do beneficiamento das conchas para produção de Carbonato de cálcio
(CaCO3), Óxido de cálcio (CaO) e Hidróxido de cálcio (Ca(OH)2).

O procedimento de cada etapa apresentada no fluxograma está descrito no


Quadro 5, assim como os profissionais necessários para executá-los.
91

Quadro 5. Detalhamento dos procedimentos e profissionais envolvidos do fluxograma do processo


de beneficiamento das conchas.

Profissionais
Etapas Procedimentos
envolvidos

Recolhimento da
Recolhimento da matéria-prima no veículo da empresa. Operador
matéria-prima

Controle da entrada. Controle da entrada de matéria-prima. Operador

Armazenamento da matéria-prima de acordo com o dia de


Armazenamento e
entrada para separação dos lotes de entrada. Limpeza da Operador
limpeza
matéria-prima com hidrojatos.

Retirada da matéria
Queima do produto a 600°C no forno. Operador
orgânica.

Calcinação Queima das conchas a 1.000°C por 1 hora. Operador

Moagem do produto Moagem do produto. Operador

Hidratação Adição de água nos tanques de hidratação. Operador

Embalagem Processo de embalagem. Operador

Estocagem do
Estocagem para distribuição e comercialização. Vendedor
produto

Comercialização Comercialização do produto na loja de fábrica. Vendedor

Empresa de
Transporte do produto para os compradores de grandes
Entrega transporte
quantidades.
terceirizada.

O detalhamento dos equipamentos necessários em cada etapa está descrito no


Quadro 6. Os móveis e outros utensílios necessários estão listados no Quadro 7. No
Quadro 8 estão apresentados os materiais utilizados nos processos, com matéria-prima e
materiais secundários.
92

Quadro 6. Detalhamento de máquinas, equipamentos e instrumentos do Fluxograma do processo de


beneficiamento das conchas.

ETAPAS MÁQUINAS EQUIPAMENTOS INSTRUMENTOS

Recolhimento da
- - Veículo -
matéria-prima

- Computador
Controle da entrada - - Balança -
- Calculadora

Tanques de armazenagem
do lado de fora do galpão,
Limpeza - - Bomba hidrolavadora
com sistema de
escoamento da água.

- Equipamentos proteção
Retirada da matéria individual (luvas, óculos de
- Forno -
orgânica. segurança, guarda-pó, touca,
etc.)

Calcinação - Forno - -

- Moinho martelo
Moagem do produto - -
- Exaustor

Espaço preparado
Hidratação - - especialmente (etapa da
construção civil)

Embalagem - Ensacadeira - -

Estocagem do produto - - -

- Telefone/fax
Comercialização - - Impressora -
- Computador

Entrega - - Veículo -
93

Quadro 7. Detalhamento de móveis e utensílios do fluxograma do processo de


beneficiamento das conchas.
ETAPAS MÓVEIS UTENSÍLIOS

Recolhimento da
- - Luvas protetoras
matéria-prima

Controle da entrada Balcão de recebimento -

Limpeza - - Luvas protetoras

Retirada da matéria
- -
orgânica

- Luvas protetoras resistentes ao calor


Calcinação - - Óculos de proteção
- Pá

Moagem do produto - -

- Máscara de proteção
Hidratação Tanque de hidratação
- Pá para mistura

Embalagem - -

Estocagem do produto Prateleiras -

Entrega - -

Comercialização Mesa escritório - Materiais de escritório


94

Quadro 8. Detalhamento dos materiais utilizados no processo de beneficiamento das


conchas.

MATERIAIS MATERIAL DE
ETAPAS MATÉRIAS-PRIMAS
SECUNDÁRIOS EMBALAGEM

Recolhimento da matéria-prima Conchas de ostras Gasolina -

Controle da entrada - Material de escritório -

Armazenamento - - -

Limpeza Água Energia -

Retirada da matéria orgânica - Energia -

Calcinação - Energia -

Moagem do produto - Energia -

Hidratação Água - -

Papel ou sacos para


Embalagem - Energia
embalagem

Estocagem do produto - - -

Entrega - - -

Comercialização - - -

Para escolha dos equipamentos necessários no processo de beneficiamento das


conchas, foram contatadas empresas fornecedoras especializadas nos equipamentos
necessários. Com o auxílio dos profissionais de cada empresa, foi escolhido o
equipamento mais apropriado para a finalidade.
Tendo em mãos a relação dos equipamentos necessários para o processo, com as
devidas dimensões de cada um deles, foi elaborado o arranjo espacial da usina (Figura
47).
95

Figura 47. Esquema do arranjo espacial da usina de beneficiamento de conchas de ostras.


96

A área total necessária para abrigar todos os equipamentos e demais espaços


requeridos para o funcionamento da usina (sanitários, vestiário para os funcionários e
escritório) é um galpão de 80 m2. O terreno necessário para abrigar o galpão deve ter
uma área de 285 m2, visto que é necessário espaço para o armazenamento das conchas
na parte externa, assim como espaço para o estacionamento.

4.5.3 Análise financeira do negócio.

Os resultados da análise financeira para implantação da usina de beneficiamento


de conchas de ostras estão apresentados na forma de tabelas. A análise envolveu os
investimentos demandados para suprir as necessidades do processo de produção, desde
a montagem da fábrica, passando pelos gastos com processo de produção e de
comercialização. A análise engloba também o cálculo dos valores que poderão ser
praticados para a comercialização do produto, ou seja, o preço de venda e o retorno
financeiro do negócio.

INVESTIMENTOS INICIAS

Os investimentos iniciais podem ser divididos em investimentos físicos e


investimentos financeiros. Investimentos físicos são aqueles destinados à compra de
bens físicos como máquinas, equipamentos, instalações, veículos, móveis, utensílios,
equipamentos de informática e obras civis. Os investimentos físicos destinam-se à
aquisição de ativos para o negócio, eles constituem o patrimônio do negócio, pois não
são consumidos no processo operacional da empresa, como acontece com os estoques
de matéria-prima, por exemplo. Investimentos financeiros são aqueles necessários ao
pagamento de algum serviço inicial essencial para a abertura do negócio, como no caso
da legalização e registros da empresa e da marca, ou de outros serviços como
habilitações de telefone e internet. No investimento financeiro está também incluso o
capital de giro necessário para o funcionamento inicial da empresa.
Os valores de investimentos iniciais para implantação da usina de beneficiamento
das conchas está apresentado na Tabela 16.
97

Tabela 16. Quadro de investimentos inicial (físico e financeiro) para usina de beneficiamento das
conchas.

CUSTO
VALOR
QUANTIDADE UNIDADE UNITÁRIO
TOTAL (R$)
(R$)

INVESTIMENTO FÍSICO

Obras e instalações

Mão de obra e material 80 m2 430,00 34.400,00

Móveis

Mesa escritório 1 unidade 275,00 275,00

Armário dos funcionários (vestiário) 1 unidade 470,00 470,00

Cadeiras 4 unidade 80,00 320,00

Utensílios

Extintor de incêndio (tipo A e BC) 2 unidade 80,00 160,00

Dispositivo de transporte (Carrinho de


2 unidade 214,00 428,00
mão)

Dispositivo manual de transporte (Pá) 4 unidade 50,00 200,00

Equipamentos

Forno 1 unidade 67.510,00 67.510,00

Bomba hidrolavadora 1 unidade 974,00 974,00

Moinho martelo 1 unidade 11.669,00 11.669,00

Balança digital 1 unidade 663,20 663,20

Ensacadeira 1 unidade 24.400,00 24.400,00

Exaustor axial 1 unidade 2.500,00 2.500,00

Equipamentos de informática

Microcomputador, Impressora e fax. 1 unidade 2.690,00 2.690,00

Aparelhos de telefone 2 unidade 139,00 278,00


98

CUSTO
VALOR
QUANTIDADE UNIDADE UNITÁRIO
TOTAL (R$)
(R$)

Veículos

Veículo pequeno para transporte de


1 unidade 33.720,00 33.720,00
carga

Registro do veículo 1 unidade 71,00 71,00

INVESTIMENTO FINANCEIRO

Telefone (habilitação) 1 Unidade 40,74 40,74

Internet (habilitação) 1 Unidade 60,00 60,00

Registros iniciais 1 Unidade 412,50 412,50

Capital de giro (30 dias) 1 Unidade 15.998,39 15.998,39

TOTAL 197.239,83

Para custos com obras civis, foi considerada a área total de 80 m2, como
apresentado na Figura 47. Segundo o SINDUSCON, o valor médio em março de 2008
para construção civil de um galpão industrial, para a região de Florianópolis é de R$
430,90 por m2. Este valor foi adotado no cálculo do investimento físico, nele estão
incluídas mãos de obra, materiais e instalações elétricas e hidráulicas.
O item “registros iniciais” da Tabela 16 refere-se aos gastos para a consulta prévia
do nome empresarial na Junta Comercial ou no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, para Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ, para o alvará de licença do
Corpo de Bombeiros e para a retirada do Alvará de Funcionamento.
Capital de giro é o montante de recursos em dinheiro que a empresa deve ter à
disposição para movimentar o dia-a-dia do negócio: pagamento de salários dos
colaboradores, aquisição de matéria-prima, impostos e demais despesas fixas. Nesta
análise foi considerado um prazo de 30 dias.
O custo de investimento inicial total para a usina de beneficiamento é de R$
197.239,83. Cabe ressaltar que não foram considerados gastos com a compra do terreno,
pois se espera que os maricultores, através da cooperativa existente no Sul da Ilha,
possam implementar e gerir a usina, e assim, conseguir junto à prefeitura de
99

Florianópolis a concessão de um terreno para a construção do galpão. Atualmente, a


cooperativa já dispõe de um terreno concedido pela prefeitura onde se encontra a sede e
a unidade processadora das ostras que serão comercializadas com o SIF (Serviço de
Inspeção Federal) da cooperativa.

CUSTOS FIXOS

É preciso calcular quanto é necessário gastar mensalmente para manter a empresa


em funcionamento, independente da produção e da comercialização, este cálculo é
chamado de custo fixo mensal. Nos custos fixos considerou-se os salários dos
funcionários, os encargos sociais, os impostos, custos de proteção dos equipamentos e
outras despesas que ocorrem mensalmente. Estes custos estão apresentados na Tabela
17.

Tabela 17. Custo fixo mensal e anual para o beneficiamento das conchas.

CUSTO
VALOR TOTAL
RUBRICA MENSAL ANUAL (R$)
(R$)

Telefone 54,77 657,24

Internet 79,90 958,80

IPTU 0,00 0,00

IPVA e seguro obrigatório 118,86 1.426,32

Honorários contador 600,00 7.200,00

Conservação e limpeza 60,00 720,00

Salários
2.905,00 34.860,00
(3 funcionários/8 h semanais)

Encargos 1.812,72 21.752,64

Equipamentos de proteção individual


300,00 3.600,00
(EPI) e materiais de escritório

Manutenção 604,43 7.253,22


100

CUSTO
VALOR TOTAL
RUBRICA MENSAL ANUAL (R$)
(R$)

Seguros 466,52 5.598,24

Depreciação 1.945,56 23.346,73

TOTAL 8.947,77 107.373,18

O valor total para o custo fixo mensal calculado foi de R$ 8.947,77. O custo mais
significativo é o dos salários, este custo está apresentado em detalhes a seguir na Tabela
18.
Os gastos com IPTU não foram considerados, pois, como colocado anteriormente,
caso o terreno seja arrendado pela prefeitura, a usina terá isenção de impostos.
O custo com IPVA é relativo a alíquota de 4% sobre o valor do automóvel
adquirido, sendo assim o valor anual do seguro obrigatório para o veículo seria de R$
77,60.
O valor relativo ao telefone é referente ao custo da assinatura básica para pessoa
jurídica. O valor da internet é relativo à assinatura do plano de internet banda larga. O
valor atribuído à conservação e limpeza é o preço médio praticado por diária em
Florianópolis. O custo com honorário profissional é relativo ao valor pago para um
profissional para fazer a contabilidade da usina.
Na Tabela 18 está apresentado os custos detalhados com o pagamento dos
funcionários, valores referentes ao salários e encargos sociais. Considerou-se o salário
mínimo vigente a partir de 01 de março de 2008 de R$ 415,00 como cálculo base,
assim, os operadores receberiam dois salários mínimos, R$ 830,00, e o atendente e/ou
vendedor receberia três salários mínimos, R$ 1.245,00, todos com carga de trabalho de
oito horas diárias.
101

Tabela 18. Custos com mão-de-obra para a usina de beneficiamento das conchas.
VALOR
SALÁRIO ENCARGOS VALOR ANUAL
FUNÇÃO MENSAL
(R$) (R$) (R$)
(R$)
Operador 1 830,00 517,92 1.347,92 16.175,04

Operador 2 830,00 517,92 1.347,92 16.175,04

Atendente/vendedor 1.245,00 776,88 2.021,88 24.262,56

TOTAL 2.905,00 1.812,72 4.717,72 56.612,64

O detalhamento dos encargos sociais relativos ao regime de contrato de trabalho


celetista está apresentado na Tabela 19. A porcentagem total utilizada foi de 62,41%
sobre o salário base de cada funcionário.

Tabela 19. Encargos sociais relativo ao contrato celetista.

OBRIGAÇÕES SOCIAIS PERCENTUAL (%)


INSS 20,00
SESI 1,50
SENAI 1,00
SENAI adicional 0,20
SEBRAE 0,60
Salário educação 2,50
INCRA 0,20
Seg.acidente trabalho 2,00
FGTS 8,00
Tempo não trabalhado
Férias remuneradas parcela mensal 8,33
1/3 férias parcela mensal 2,78
INSS sobre férias 2,89
Seguro trabalho sobre férias 0,22
FGTS sobre férias 0,89
13o. Salário
13o. Salário _ Mensal 8,33
INSS sobre 13o. Salário 2,17
Seguro trabalho sobre 13o. Salário 0,17
FGTS sobre 13o. Salário 0,63
TOTAL (%) 62,41
102

Os custos referentes à proteção do investimento físico estão apresentados na


Tabela 20. Estes custos podem ser vistos como um fundo de reserva para despesas com
manutenção, seguro e depreciação do patrimônio físico da empresa. O fundo
relacionado à manutenção tem função de prevenir ou recuperar o desgaste natural
sofrido devido ao uso. Também é necessário prever um seguro dos equipamentos contra
possíveis acidentes que possam inutilizá-los. O fundo de depreciação é necessário
porque à medida que o tempo passa, o investimento vai perdendo gradativamente o seu
valor devido ao envelhecimento dos bens (máquinas, equipamentos, instrumentos e
utensílios), e devido ao próprio desgaste no processo produtivo da empresa. Este fundo
seria utilizado, então, para substituição de bens, quando estes não tiverem mais
condições de uso ou, se tornarem obsoletos. As alíquotas utilizadas para depreciação,
seguro e manutenção, são valores sugeridos pelo SEBRAE.

Tabela 20. Custos de proteção dos investimentos anual para o beneficiamento das conchas.

DEPRECIAÇÃO MANUTENÇÃO SEGURO


Valor total
Item
investido
% Valor % Valor % Valor

Obras civis 34.400,00 3,5% 1.204,00 1,5% 516,00 1,0% 344,00

Móveis e
1.853,00 10,0% 185,30 3,0% 55,59 2,5% 46,33
utensílios

Máquinas e
107.716,20 15,0% 16.157,43 4,5% 4.847,23 3,5% 3.770,07
equipamentos

Equipamentos
2.968,00 25,0% 742,00 5,0% 148,40 3,0% 89,04
de informática

Veículos 33.720,00 15,0% 5.058,00 5,0% 1.686,00 4,0% 1.348,80

Total parcial 180.657,20 23.346,73 7.253,22 5.598,24

TOTAL 36.198,19

O valor total encontrado para a proteção dos investimentos é de R$ 36.198,19


por ano. O valor mensal seria de R$ 3.016,52, é um valor alto considerando os demais
gastos, mas é um capital que precisa ser reservado para a continuação do negócio, pois
são recursos que devem ser guardados para proteção de todo investimento realizado,
103

muitas empresas quebram por não dispor de recursos para a troca e manutenção dos
equipamentos, quando necessitam fazê-lo.

CUSTOS VARIÁVEIS DE PRODUÇÃO

Os custos variáveis, ao contrário dos custos fixos, variam com o volume de


produção e comercialização. Para calculá-los deve-se considerar a produção total
estimada para cada mês de atividade da empresa.
A produção total estimada foi baseada no acompanhamento realizado em campo,
onde foi levantada a quantidade de conchas de ostras descartadas no Ribeirão da Ilha.
Os custos variáveis foram calculados para três produtos diferentes que podem
ser obtidos a partir das conchas. O cálculo de produção de cada um destes produtos será
apresentado separadamente, pois o custo variável de produção e a quantidade de
produto final serão diferentes para cada um.
As conchas recolhidas na região do Ribeirão da Ilha, provenientes dos cultivos,
perdem em torno de 51% de sua massa total ao passarem pelo processo de retirada de
umidade e matéria-orgânica. As conchas provenientes dos restaurantes perdem em torno
de 31% de massa. Esta será a única perda de massa no caso do processo estar voltado a
produção do carbonato de cálcio. Caso a escolha seja produzir óxido de cálcio (cal
virgem), haverá ainda uma perda de cerca de 44% da massa resultante após a retirada da
matéria orgânica. Já no caso do hidróxido de cálcio (cal hidratada), também haverá esta
perda de 44% relativa a calcinação, mas durante o processo de hidratação, o produto
incorporará aproximadamente 32% de massa, sendo, portanto, a perda total de 12% da
massa restante após a retirada da matéria orgânica. A quantidade de conchas encontrada
antes e após o beneficiamento para cada um dos três produtos, baseados nos dados de
campo estão apresentados na Tabela 21. A partir destes dados foi realizado o cálculo
dos custos varáveis para cada produto.
104

Tabela 21. Comparação da massa de resíduo de conchas descartadas e massa dos três diferentes
produtos finais de beneficiamento, valor anual.

Massa de resíduo Massa de


Massa de CaCO3 Massa de CaO
de conchas bruto Ca(OH)2
produzido (kg) produzido (kg)
(kg) produzido (kg)

1.158.189,00 571.459,81 320.017,49 502.884,63

Na Tabela 25 estão apresentados os custos envolvidos com o transporte da


matéria-prima e materiais utilizados na produção dos três produtos finais
separadamente. Os custos apresentados são: (1) combustível para recolhimento das
conchas nos restaurantes e cultivos, (2) energia consumida pelos equipamentos, (3) água
utilizada para limpeza das conchas e (4) embalagem para os produtos finais. A diferença
entre cada um desses produtos está, principalmente, na quantidade de energia requerida
em cada processo para a queima das conchas. E, no caso da produção de hidróxido de
cálcio, há, ainda, um pequeno acréscimo devido ao gasto com a água para hidratação.

Tabela 22. Cálculo dos custos de matéria-prima e materiais diretos por unidade produzida (kg) por
ano.
Preço
Carbonato de cálcio Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio
Unitário
Custo Custo Custo
Item Qtdade Qtdade Qtdade
Total Total Total

Embalagem 0,90 11.429 10.286,28 6.400 5.760,31 10.058 9.051,92


(R$/unid) (unid.) (R$) (unid.) (R$) (unid.) (R$)
Energia 0,30 87.676,30 26.302,89 84.613,18 25.383,95 86.840,91 26.052,27
(R$/KW.h) (KW.h) (R$) (KW.h) (R$) (KW.h) (R$)
Combustível 2,59 48 124,32 48 124,32 48 124,32
(R$/L) (Litros) (R$) (Litros) (R$) (Litros) (R$)
Água 4,49 10 44,93 10 44,93 144 646,56
(R$/m³) (m³) (R$) (m³) (R$) (m³) (R$)
Total R$ 36.758,42 R$ 31.313,52 R$ 35.875,07

A Tabela 23 apresenta os custos variáveis de produção. Como pode ser visto


nesta tabela, o produto que apresenta menor custo variável de produção por quilograma
é o carbonato de cálcio, seguido pelo hidróxido de cálcio. O óxido de cálcio apresentou
o maior custo por quilograma.
105

Tabela 23. Cálculo dos custos variáveis por unidade de produto produzido por ano.

Carbonato de cálcio Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio

Custo Variável
36.758,42 31.313,52 35.875,07
(R$)

Produção (kg) 571.459,81 320.017,49 502.884,63

Valor por kg (R$) 0,06 0,10 0,07

CUSTOS TOTAIS

Na Tabela 24 está apresentado o cálculo de custo unitário de produção de cada


um dos três produtos finais analisados. O Custo Unitário de Produção (CUP) é o valor
gasto para produzir cada unidade de produto ou serviço, ele é calculado dividindo-se os
custos fixos pela quantidade produzida, acrescido do custo unitário variável (Tabela 23).

Tabela 24. Cálculo do custo unitário de produção para o carbonato de cálcio, óxido de cálcio e
hidróxido de cálcio.

Hidróxido de
Carbonato de cálcio Óxido de cálcio
cálcio

Custo fixo unitário (R$/kg) 0,19 0,34 0,21

Custo variável unitário


(R$/kg) 0,06 0,10 0,07

Custo total unitário de


produção (R$/kg) 0,25 0,43 0,28

O produto que apresenta menor custo unitário de produção por quilograma é o


carbonato de cálcio, seguido pelo hidróxido de cálcio. O óxido de cálcio apresentou o
maior custo por quilograma.
Considerando-se uma margem de lucro (ML) de 8% e custos de comercialização
(CC) de 23%, calculou-se o preço de venda dos produtos sobre o custo unitário de
produção (CUP), como mostra a Tabela 25. Não estão considerados os custos com
transporte do produto até a empresa compradora.
106

Tabela 25. Cálculo de preço de venda para o carbonato de cálcio, óxido de cálcio e hidróxido de
cálcio.

Carbonato de cálcio Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio

CUP (R$) 0,25 0,43 0,28

CC % 23,00 23,00 23,00

ML % 8,00 8,00 8,00

PVU (R$/kg) R$ 0,37 R$ 0,63 R$ 0,41

O preço de venda unitário para o óxido de cálcio está acima do preço praticado
pelo mercado. O carbonato de cálcio e o hidróxido de cálcio estão com preços
compatíveis com o valor que as empresas catarinenses pagam pelos produtos.
Na Tabela 26 está apresentado a receita anual da empresa de beneficiamento de
conchas, supondo que toda a matéria-prima beneficiada seja comercializada.

Tabela 26. Receita anual referente à empresa de beneficiamento de conchas.

Hidróxido de
Carbonato de cálcio Óxido de cálcio
cálcio

Preço de Venda
0,37 0,63 0,41
Unitário (R$)

Quantidade de
unidades vendidas no 571.459,81 320.017,49 502.884,63
ano (kg)

Receita Anual Total


208.674,68 200.791,52 207.395,77
(R$)

A receita anual total seria superior a R$ 200.000,00 para os três produtos.


A Tabela 27 apresenta o demonstrativo de resultados referente à empresa de
beneficiamento de conchas, supondo que toda a matéria-prima beneficiada seja
comercializada.
107

Tabela 27. Demonstrativo de resultados referente à empresa de beneficiamento de conchas.

Hidróxido de
Descriminação Carbonato de cálcio Óxido de cálcio
cálcio

1. Receita operacional mensal 17.389,56 16.732,63 17.282,98

2. Custos variáveis
2.1 Mercadoria vendida ou matéria-
3.063,20 2.609,46 2.989,59
prima utilizada
2.2 Custo de comercialização 3.987,43 3.836,79 3.962,99

3. Soma (2.1 + 2.2) 7.050,63 6.446,25 6.952,58

4. Margem de contribuição (1 - 3) 10.338,93 10.286,38 10.330,40

5. Gastos fixos 8.947,77 8.947,77 8.947,77

6. Lucro líquido (4 - 5) 1.391,16 1.338,61 1.382,64

O lucro líquido para os três produtos seria de aproximadamente R$ 1.300,00.


A Tabela 28 apresenta a lucratividade referente à empresa de beneficiamento de
conchas, supondo que toda a matéria-prima beneficiada seja comercializada.

Tabela 28. Lucratividade referente à empresa de beneficiamento de conchas

Carbonato de cálcio Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio

Lucro Líquido (R$) 1.391,16 1.338,61 1.382,64

Receita Total (R$) 17.389,56 16.732,63 17.282,98

Lucratividade % (a.m.) 8,00 8,00 8,00

A lucratividade é um indicador que demonstra a eficiência operacional da


empresa. Observa-se que o valor percentual indica que a proporção dos ganhos de é de
8% com relação à receita total.
A Tabela 29 apresenta a rentabilidade referente à empresa de beneficiamento de
conchas, supondo que toda a matéria-prima beneficiada seja comercializada.
108

Tabela 29. Rentabilidade mensal referente à empresa de beneficiamento de conchas.

Carbonato de cálcio Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio

Lucro Líquido (R$) 1.391,16 1.338,61 1.382,64

Investimento Total (R$) 197.239,83 197.239,83 197.239,83

Rentabilidade % (a.m.) 0,71 0,68 0,70

A Rentabilidade é um indicador de atratividade do negócio, pois mostra a


velocidade com que o capital investido no negócio retornará. É obtida sob a forma de
um valor percentual por unidade de tempo, e indica a taxa de retorno do capital
investido. A rentabilidade de 0,71% a.m.(ao mês), significa que 0,71% de tudo o que foi
investido no negócio retornará por mês sob a forma de lucro.
A Tabela 30 apresenta o prazo de retorno de investimento referente à empresa de
beneficiamento de conchas, supondo que toda a matéria-prima beneficiada seja
comercializada.

Tabela 30. Prazo de retorno de investimento referente à empresa de beneficiamento de conchas.

Carbonato de cálcio Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio

Lucro Líquido (R$) 1.391,16 1.338,61 1.382,64

Investimento Total (R$) 197.239,83 197.239,83 197.239,83


Prazo de Retorno do
142 147 143
Investimento (meses)

O prazo de retorno do investimento mostra o tempo necessário para que seja


recuperado tudo o que foi investido no negócio. Quanto mais rapidamente o capital
investido retornar, mais atrativo é o negócio. No caso empresa de beneficiamento de
conchas, o prazo de retorno do investimento é de no mínimo 142 meses, ou seja, mais
de 11 anos.
A Tabela 31 apresenta o ponto de equilíbrio de investimento referente à empresa
de beneficiamento de conchas, supondo que toda a matéria-prima beneficiada seja
comercializada.
109

Tabela 31. Ponto de equilíbrio referente à empresa de beneficiamento de conchas.

Carbonato de cálcio Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio


Preço de venda unitário
0,37 0,63 0,41
(R$)
Custo variável unitário
0,06 0,10 0,07
(R$)
Margem de contribuição
0,30 0,53 0,34
unitária (R$)
Custos Fixos (R$) 8.947,77 8.947,77 8.947,77

Ponto de equilíbrio (kg) 29.742,90 16.895,65 26.234,11

O ponto de equilíbrio representa o ponto em que a empresa não terá prejuízo,


mas também não terá lucro. Ou seja, as receitas da empresa cobrem todos os gastos, não
sobrando nada de lucro. Toda a unidade que for vendida acima do ponto de equilíbrio
irá trazer lucro para a empresa. Para cobrir as despesas, a empresa de beneficiamento de
conchas terá que vender no mínimo 62% da produção para não ter prejuízo, ou seja,
deverá vender no mínimo 29.742,90 kg de carbonato de cálcio, 16.895,65 kg de óxido
de cálcio ou 26.234,11 kg de hidróxido de cálcio.

4.5.4 Análise de Decisão.

O estudo de viabilidade para a implantação de uma pequena usina para o


beneficiamento das conchas descartadas na região do Ribeirão da Ilha, nas condições
estudadas, mostrou que o preço de venda que poderá ser praticado será compatível com
o preço do mercado, apenas no caso do carbonato de cálcio. Algumas empresas pagam
um valor superior que o do mercado para aquisição do produto, quando ele é
comercialmente chamado de farinha de ostra, porém estas empresas adquirem uma
quantidade muito pequena, que não seria suficiente para cobrir os custos de produção.
O lucro que se poderá obter neste tipo de negócio será baixo, inferior a R$
1.400,00 mensais, comparado com o investimento e os custo de produção. Apenas
0,71% de tudo o que foi investido no negócio, retornará sob a forma de lucro
mensal(rentabilidade). O prazo de retorno do capital investido para a abertura do
negócio será grande, somente após 142 meses o capital investido será recuperado, o que
torna o negócio pouco atrativo.
Segundo o SEBRAE, a rentabilidade esperada para uma micro ou pequena
empresa deve ser de 2% a 4% ao mês, percentual que asseguraria o retorno do capital
110

investido no prazo de 25 a 40 meses. Além disso, para se cobrir os custos mensais


gerados pelo beneficiamento das conchas, será preciso comercializar no mínimo 62% da
produção, ou seja, o negócio possui um ponto de equilíbrio alto.
Diante desta análise final, do ponto de vista econômico, a implantação da pequena
usina não é um negócio atrativo.
111

5 CONCLUSÃO

A quantidade de conchas descartadas por ano no Ribeirão da Ilha é 1.158.189,00


kg, sendo que 84,45% é gerado entre os meses de janeiro a junho. Do montante total
descartado, 98,3% é proveniente dos cultivos e somente 1,7% dos restaurantes. A
grande quantidade de conchas descartadas pelos cultivo se deve ao fato de que existe
um grande percentual de mortalidade das ostras durante as diversas fases do cultivo.
Grande parte deste resíduo tem uma destinação incorreta, 25% dos maricultores
afirmam que lançam seus resíduos no mar, 10% lançam em terrenos da região, 22% dão
outras finalidades, como venda para artesanato e aterro de terreno, e 37% misturam
junto ao lixo comum que é recolhido pela COMCAP.
A destinação inadequado deste resíduo gera problemas ambientais. O descarte
no mar pode gerar perda de profundidade e problemas com circulação de água, levando
ao assoreamento da baía, que dependendo da quantidade já acumulada no fundo do mar
ao longo dos anos, pode ser irreversível. O depósito em terrenos provoca problemas
com odores, que é um problema reversível e pode ser eliminado apenas com a mudança
da hábito dos maricultores.
O resíduo descartado pelos cultivos contém em média 41% de umidade e 10%
de matéria orgânica, os 49% restantes são constituídos por conchas de ostras. A matéria
orgânica presente no resíduo é composta por lodo marinho e animais livres e
incrustantes que são descartadas junto com as conchas no momento de limpeza da
lanterna. O resíduo descartado pelos restaurantes apresenta em média 28% de umidade e
2% de matéria orgânica, que normalmente são restos de alimentos.
As conchas apresentam em média 87% de carbonato de cálcio, os outros
compostos são encontrados em concentrações inferiores a 1%.
Tecnicamente, conclui-se que as conchas descartadas podem ser beneficiadas e
transformadas através de um processo relativamente simples. Para produzir carbonato
de cálcio é necessário retirar a matéria orgânica e moer a concha na granulometria
desejada. Para a produção do óxido de cálcio é necessário calcinar as conchas a uma
temperatura de 1.000°C e através da hidratação deste, pode-se chegar ao hidróxido de
cálcio.
112

Baseado nos dados coletados em campo, as conchas descartadas no Ribeirão da


Ilha depois de beneficiadas, podem ser transformadas em 571.459 kg de carbonato de
cálcio, 320.017 kg de óxido de cálcio ou 502.884 kg de hidróxido de cálcio.
O estudo de viabilidade econômica demonstra que o investimento inicial (físico
e financeiro) total para a abertura da usina de beneficiamento de conchas é de R$
197.239,83. O custo fixo anual para manter a empresa em funcionamento é de R$
107.373,18. O custo variável anual, considerando que todas as conchas descartadas
sejam processadas é de R$ 36.758,42 para o carbonato de cálcio, R$ 31.313,52 para o
óxido de cálcio e R$ 35.875,07 para o hidróxido de cálcio.
O preço de venda calculado para o quilograma do carbonato de cálcio é de R$
0,37, para o quilograma do óxido de cálcio é de R$ 0,63 e para o quilograma do
hidróxido de cálcio é de R$ 0,41.
O lucro que se poderá obter neste tipo de negócio será baixo, inferior a R$
1.400,00 mensais, quando comparado com o investimento e os custo de produção.
Apenas 0,71% de tudo o que foi investido no negócio, retornará sob a forma de lucro
mensal (rentabilidade). O prazo de retorno do capital investido para a abertura do
negócio será grande, somente após 142 meses o capital investido será recuperado.
Segundo o SEBRAE, a rentabilidade esperada para uma micro ou pequena
empresa deve ser de 2% a 4% ao mês, percentual que asseguraria o retorno do capital
investido no prazo de 25 a 40 meses.
Para se cobrir os custos mensais gerados pelo beneficiamento das conchas, a
empresa precisará comercializar no mínimo 62% da produção, ou seja, o negócio possui
um ponto de equilíbrio alto.
Apesar desta alternativa de utilização do resíduos não ser muito atrativa
financeiramente, do ponto de vista ambiental ela é muito positiva, pois o resíduo
aproveitado, deixaria de provocar problemas ambientais na região.
Portanto, o estudo de viabilidade para implantação de uma pequena usina para o
beneficiamento das conchas na região de estudo apontou que o negócio é pouco atrativo
economicamente.
113

5.1 Sugestões para futuros trabalhos

• Pesquisar alternativas para o utilização dos resíduos orgânicos que são descartados
juntamente com as conchas de ostras.

• Realizar estudos para o aproveitamento das conchas de mariscos, que são


descartados em grande quantidade em algumas regiões do Estado de Santa Catarina,
pois os mariscos são comercializados desconchados.

• Pesquisar alternativas para o aproveitamento das conchas de ostra como matéria-


prima em outros produtos de maior valor agregado.
114

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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estoques naturais e os procedimentos para a instalacao de empreendimentos de
malacocultura em Águas do Domínio da União no Litoral Sudeste e Sul do Brasil.

BRASIL. Instrução Normativa do IBAMA n° 107 de 25 de julho de 2006. Prorroga


pelo período de 2 anos os Termos de Ajustes de Conduta – TAC, para aqueles
empreendedores do litoral de Estado de Santa Catarina, conforme relação nominal
anexa.

CARMO JR.; G. N. R . Otimização e Aplicação de Metodologias para Análises


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118

Anexo 1 – Planilha para entrevista de avaliação sócio-ambiental com proprietários


de cultivos na região do Ribeirão da Ilha
119

U F S C – U n i ve rs i d a d e Fe d e ra l d e S a n ta Ca ta r i n a .
Departamento de Engenharia Sani tária e Ambiental.
P r o j e to d e P e sq u isa “ V a lo ri za ç ã o d o s R e s ídu o s d a Ma r i cu l tu ra ”.

FICHA CAMPO PARA ENTREVISTA COM OSTREICULTORES DO RIBEIRÃO DA ILHA

Nome do entrevi stador: Da ta:

N o me d o o str e i cu l t o r e n t re vi sta d o :

1) O que faz com a sujeira que vem junto com a lanterna de cultivo das ostras? (lodo
marinhos e outros aminais – carangueijos, mijões e outros moluscos)

2) O que faz com as conchas das ostras mortas?

3) Qual a água usada para manejo das ostras e limpeza das lanternas? (mar, CASAN,
rio, cachoeira, nascente). Esta água vai para onde?

4) As ações como o manejo, limpeza das ostras e os restos do cultivo ajudam ou


atrapalham o meio ambiente do Ribeirão da Ilha?

5) Você doaria os seus resíduos se houvesse uma coleta?

6) Se alguém utilizasse os restos que sobram do manejo para obter lucros você doaria?

7) Se houvesse coleta, qual seria o melhor dia de coleta da semana?


120

Anexo 2 – Planilha para avaliação de odores gerados pelo armazenamento de


conchas brutas.
121

U F S C – U n i ve rs i d a d e Fe d e ra l d e S a n ta Ca ta r i n a .
Departamento de Engenharia Sani tária e Ambiental.
P r o j e to d e P e sq u isa “ V a lo ri za ç ã o d o s R e s ídu o s d a Ma r i cu l tu ra ”.

FICHA C A MP O PAR A AVA LIAÇ ÃO DE ODO RES DO AR MA ZEN A ME NTO DE R ESÍD UO DE


CONCHAS D E OSTRAS E M AMBIENTE ABERTO.
Detecçã o do dia e perío do do dia ma is crítico em termos da geração d e odores.

Nome do a valiad or: Da ta:

Idade: Ho r á r i o d e i n í ci o d a o b se r va çã o :

Nome do orientad or : Te mp o d e o b se r va çã o n o l o ca l :

Caso a pessoa que irá avaliar o odor esteja gripada, ou com algum problema respiratório, stress
demasiado, dor de cabeça, ou muito sono, ela não deve participar da avaliação. Caso seja fumante com
freqüência diária, também não devemos realizar a avaliação. Fazer uma chance apenas no teste do
butanol, no máximo, caso o jurado erre as 2 concentrações mais baixas.
1 . C O ND IÇÃ O DO T EM PO NO L OCA L

Sol Sol com nuvens Nublado Chuva

Ob se r va çõ e s:

2 . T EST E DO B UTAN OL – Se le c iona r os a c e rtos no te s te .

4 – Forte
1 – Muito fraco
5 – Muito forte
2 - Fraco
Obs.:
3 – Razoável (médio)

3 . A VA L I AÇÃO D O OD OR N O ENT O RN O DA OR I G EM D E ODOR

Caso o jurado não detecte odor em alguma das áreas 1, 2, ou 3, as demais perguntas sobre a área não
devem ser feitas.

3.1. Avaliação da área 3 (região circular com distância em torno de 5 metros do circulo, ou mais,
contendo a fonte no seu centro).
122

3.1.1. Você constata a


Sim Não
presença de odor nessa área?

Agradável, nota_________(menos 10 - 0)
Neutro (nem agradável, nem desagradável, nota zero)
3.1.2. Você considera o odor Desagradável, nota_________(0 - 10)
nessa área agradável, neutro,
ou desagradável? Se
-10 0 10
agradável, ou desagradável,
observe a escala e dê uma
nota.

3.1.3. Selecione qual a


intensidade de odor que você Muito fraco
Forte
constata neste local? Fraco
Muito forte
Ps. Caso ajude, relacione com Médio (nem forte, nem fraco)
o padrão do n-butanol
3.2. Avaliação da área 2 (região circular com distância em torno de 3- 5 metros do circulo).

3.2.1. Você constata a


Sim Não
presença de odor nessa área?
Agradável, nota_________(menos 10 - 0)
Neutro (nem agradável, nem desagradável, nota zero)
3.2.2. Você considera o odor Desagradável, nota_________(0 - 10)
nessa área agradável, neutro,
ou desagradável? Se
-10 0 10
agradável, ou desagradável,
observe a escala e dê uma
nota.

3.3. Avaliação da área 1 (na origem do odor, na fonte).

3.3.1. Você constata a


Sim Não
presença de odor nessa área?
Agradável, nota_________(menos 10 - 0)
Neutro (nem agradável, nem desagradável, nota zero)
3.3.2. Você considera o odor Desagradável, nota_________(0 - 10)
nessa área agradável, neutro,
ou desagradável? Se -10 0 10
agradável, ou desagradável,
observe a escala e dê uma
nota.

3.3.3. Selecione qual a


Muito fraco
intensidade de odor que você
Fraco Forte
constata neste local?
Médio (nem forte, nem Muito forte
Ps. Caso ajude, relacione com
o padrão do n-butanol fraco)
As perguntas seguintes devem ser respondidas se o jurado detectar odor em pelo menos 1 dos pontos,
1, 2, ou 3.
123

3.4. Avaliação do caráter do odor e sensações que o odor no local passa ao indivíduo.
Algum outro? Qual?
frutas esgoto lixo

3.4.1. Desconsidere que estás


vendo o resíduo e marque qual peixe flores campo
(is) os odores seguintes você
relaciona o cheiro que sente,
mesmo que você veja a fonte
verdadeira? montanha ovo podre urina

verdes putrefação mar

3.4.2. Você acha que é


possível permanecer o dia todo
próximo a essa fonte de odor Não. Sim.
sem haver incômodo da sua
parte?
3.4.3. Você acha que a Não.
presença desse odor indique a Sim, mas somente se as exposições forem longas e freqüentes.
possibilidade de danos a sua Sim, mas tanto se as exposições forem curtas, ou longas, desde que
saúde, ou a saúde de alguém freqüentes.
que permaneça nesse local? Sim e facilmente, bastam alguns poucos contatos com esse odor.
124

Anexo 3 – Planilha de levantamento de dados dos cultivos


monitorados.
125

FICHA DE COLETA DE DADOS NOS C ULTIVOS

Local: Semana:

Equipe:

Datas: Horários início: Horários fim:

DADOS FORNECIDOS PELO MARICULTOR

Data do manejo e "produção" das conchas

Tipo de manejo

Nº de lanternas trazidas (puxadas) para manejo

Nº de lanternas que retornaram para o mar

Dúzias de ostras por andar nas lanternas

Nº de andares por lanterna

Ostras vendidas, ou guardadas para venda (dz)

Idade das ostras manejadas (meses)

TEMPERATURA DA ÁGUA
De acordo com o maricultor (ºC)

DADOS MEDIDOS NO LOCAL


Conchas pesadas (lavadas, ou sujas)

P1

P2

P3

P4
Pesos das conchas (Kg)
P5

P6

P7

P8

Peso total com caixas (Kg)

Peso sujo de conchas diário sem caixa (Kg)

Peso da caixa (Kg)

Observações:
126

Anexo 4 – Planilha de levantamento de dados dos


restaurantes.
127

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


CENTRO TECNOLÓGICO DE ENSINO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL

FICHA DE COLETA DE DADOS/RESTAURANTES


Prezado(as) senhore (as),
A equipe do projeto Valorização dos Resíduos da Maricultura solicita o seu apoio para
etapa de levantamento de dados. Para isso, pedimos a sua colaboração no
preenchimento dos dados abaixo.
Qualquer dúvida entre em contato com a equipe no telefone (48) 3721-7737, ou pelo
e-mail projetoconchas@yahoo.com.br
Nome do estabelecimento: Telefone p/ contato:
HISTÓRICO DE VENDAS
Mês/Ano:
Quantidade de ostras (dúzias) vendidas durante os dias:

DOMINGO SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO


01 02 03 04 05 06

07 08 09 10 11 12 13

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