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A Perdição Do Fuzileiro - Sea Wolf - Livro 3 - Nodrm

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Copyright © 2024

Título Original: A perdição do fuzileiro - Sea Wolf - Livro 3

Capa: Angel Dias

Diagramação: Angel Dias

Ilustração: Juh Ilustra

Imagens: Canva e Midjourney

Todos os direitos reservados. É expressamente proibida e

totalmente repudiável a venda, aluguel ou quaisquer usos comerciais do

presente conteúdo sem o consentimento escrito da autora. A violação dos

direitos autorais é um crime, estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo

artigo 184 do Código Penal.

Criado no Brasil.

Obra Registrada.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,
personagens, sobrenomes, lugares e acontecimentos reais, é mera
coincidência.
Sumário
Outras obras
Dedicatória
Sinopse
Notas da autora
Capítulo 1
Três anos antes da dispensa
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Dois anos antes da dispensa
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Ano da dispensa
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Epílogo
Sobre a autora
Agradecimentos
Sinopse:
Ele é um playboy libertino;
Ela é uma secretária virgem;
Ele é arrogante;
Ela não o suporta.
Eduardo Alencar, no auge dos seus 29 anos, não quer
responsabilidades, tudo que ele quer é farra, bebidas e mulheres.
Sua mãe é quem comanda todas as empresas da família, mas tudo
muda quando ela decide que é hora de seu filho amadurecer.
A punição de Eduardo é ir morar em outra cidade para trabalhar
como faxineiro.
Cecília Richards é uma menina esforçada, aos 21 anos está
terminando a faculdade e trabalha como secretária de um dos gerentes da
empresa Alencar, onde ela lida constantemente com suas investidas.
Cecília conhece um faxineiro para lá de arrogante e imediatamente
uma inimizade entre ambos surge, porém, junto com as faíscas trocadas
entre os dois, uma chama da atração é acesa.
A vida da secretária nunca mais foi a mesma após cruzar com o
playboy... agora ela está GRÁVIDA!
Acesso ao livro
Ele se decepcionou com o que julgou ser amor;
Ela tem medo de se entregar novamente;
Ele se fechou;
Ela é a chave para a sua felicidade.
Nenhum deles sabe o que é amor de verdade, até estarem
perdidamente apaixonados, até que o outro se torne mais vital para si do
que o próprio ar.
Lucas Jones trancou-se em seu mundo depois de ter seu coração
partido, focou em seu futuro como empresário, a meta é deixar de ser filial
e encerrar o contrato com a matriz para abrir uma empresa completamente
independente no mesmo local.
Conhecer alguém não está em seus planos, mas a vida sempre dá um
jeito de mostrar que não se pode estar no controle de tudo.
O destino tem o hábito de pregar peças, e Lucas vai perceber isso
quando em uma noite ele acabar na cama com uma belíssima ruiva e
descobrir que ela é noiva de um dos sócios de sua empresa.
Tessa Marshall filha do primeiro casamento de uma família muito
rígida, conta apenas com o carinho de seu noivo Cliff Livingston, rapaz de
boa família que diz amar Tessa desde o colegial.
Depois de muita insistência de Cliff, unida a vontade de seu pai que
ela se case logo, Tessa cede e os dois começam a namorar quando ela ainda
estava na faculdade, o tempo passa e eles ficam noivos.
Tudo parece estar perfeito, ela quer que seja assim, porque sabe
exatamente qual o melhor momento para se vingar de seu noivo e sua, até
então, melhor amiga.
O que Tessa não poderia prever é que será a partir daí que saberá o
significado do amor.
Acesso ao livro
Ela é fria e libertina;
Ele amargurado e arrependido;
Ela vive presa em seus traumas;
Ele está envolto na dor de ter perdido a mulher que amou.
Os dois se amaram perdidamente no passado, agora se
reencontraram, mas nenhum dos dois reconhece o que amava no outro.
Resta saber se Cedric pode salvá-la ou se Blair irá arrastá-lo de volta para a
escuridão.
Cedric Roux
Não há sequer um dia nesses últimos quatro anos que não tenha
pensado nela, Blair Lennox, a irmã mais nova de seu melhor amigo.
Desde muito jovem, Blair parou de esconder seu interesse por
Cedric, ele precisou de todo o seu autocontrole para não acabar caindo em
tentação.
A pequena diaba sabia bem como usar tudo a seu favor, e não era de
desistir facilmente.
Era impossível não dizer que Blair seria de uma beleza absurda.
Com dezessete anos, seus olhos eram como portas para o inferno e
faziam todo corpo de Cedric queimar cada vez que o encarava com desejo.
Mas seu tormento teve início no dia em que Blair simplesmente
desapareceu.
Blair Lennox
Sempre soube exatamente o que queria, e isso era válido para todos
os sentidos de sua vida, carreira, sonhos, objetivos, desejos, absolutamente
tudo era detalhadamente definido. E sempre que fechava os olhos e
imaginava um futuro Cedric Roux fazia parte dele.
Cedric era o melhor amigo de seu irmão, inseparáveis como unha e
carne, oito anos mais velho, mas isso nunca a importou, observava-o desde
sempre, queria-o mesmo antes de saber ao certo o que era o desejo.
Mas em uma noite cruel e fria, sua vida mudou completamente.
Foi arrancada de seus objetivos, desfez os planos e foi impedida de
sonhar novamente.
Quatro anos depois de ter partido, se vê obrigada a voltar para
a sua antiga cidade e seus demônios interiores nunca estiveram mais
presentes do que agora.
Acesso ao livro
Em um casamento que esconde segredos, Giulia e Vittorio Ricci
aparentam a perfeição, mesmo diante da desaprovação de suas famílias.
Vittorio é um empresário determinado a conquistar o sucesso, mas
em sua busca por riqueza, cruza o caminho de Damon Lucchese, um
mafioso impiedoso determinado a não conhecer a derrota.
Enquanto Giulia dedica seu tempo a um orfanato, Vittorio oculta sua
sombria conexão com Damon e seu verdadeiro eu.
Damon, fica obcecado por Giulia e, aproveitando um erro fatal de
Vittorio para oferecer um acordo: uma semana com a mulher que tanto
deseja.
Uma história de paixão, segredos revelados e sacrifício se desenrola,
onde os limites do amor e da lealdade são postos à prova em um jogo
perigoso. Será que Giulia se renderá a esse acordo sombrio?
Acesso ao livro
Diana casou-se muito jovem com Christopher Rockefeller, um
homem de beleza avassaladora que irradiava poder por todos os poros.
Quando Christopher colocou os olhos em Diana, uma jovem doce e bela,
decidiu que ela o pertenceria. Inicialmente, agiu como um verdadeiro
cavalheiro, mimando-a, trazendo flores e encantando Diana e todos ao seu
redor. O homem perfeito. Pelo menos, foi o que ela pensou
Anos depois, Diana toma uma decisão audaciosa. Ela não quer mais
continuar ao lado de seu marido, e está disposta a tudo para sair desse
relacionamento. É quando o destino a leva a cruzar caminhos com Pierre
Lucchese.
Pierre é o Consigliere da Ndrangheta, um homem de aparência
sedutora e descontraída, mas, ao mesmo tempo, aterrorizante. Aqueles que
conhecem seu nome sabem que há muito mais por baixo da superfície
tranquila. Uma viagem de negócios se transforma em um ponto de virada na
vida de Diana, mexe com o mundo do Lucchese e perturba o Rockefeller
quando ele descobre que sua esposa desapareceu.
Acesso ao livro
O que você faria se perdesse a pessoa que você ama pela segunda
vez?
Luigi Marino, um homem cujo coração foi dilacerado pela perda da
mulher que amava não uma, mas duas vezes. Fechou-se para o amor e
concentrou-se em sua vida na Camorra.
Depois de quase entrar uma guerra mortal contra o Don da
Ndrangheta, Luigi concorda com um frágil pacto de paz pelo bem da
mulher que ambos amam. Contudo, a paz não traz consigo a cura, e Luigi se
vê afundado em suas próprias cicatrizes.
Em um momento complicado, ele é surpreendido por um pedido de
Giulia, a mulher que o lembrava tanto de sua amada, e é nesse momento
que ele reencontra Nina.
Nina Romanov, a sobrinha do Pakhan da Bratva. Criada nos rígidos
costumes da máfia russa, anseia por libertar-se das correntes que a prendem
e buscar sua própria identidade. Entretanto, o destino, muitas vezes
implacável, tem outros planos para ela.
Quando o tio de Nina a promete em casamento a alguém que ela
odeia, Nina busca a ajuda de sua prima e reencontra o homem que viu
apenas uma vez e que fez seu coração acelerar. Mas Luigi está
completamente preso ao seu passado, e para ela, já não resta mais tanto
tempo.
Acesso ao livro
Ella, uma confeiteira talentosa, vê sua vida desmoronar quando
descobre a traição de seu marido. Desiludida e com o coração partido, ela
decide se libertar de seu passado e embarca em uma noite de redescoberta
em uma boate luxuosa de Nova York. Lá, seu destino se cruza com o de
Alexander, um empresário enigmático e poderoso, que a envolve com
apenas um olhar.
A química entre eles é inegável, e uma noite de paixão intensa e
desenfreada se segue, marcando-os de maneira profunda e indelével. O que
era para ser um encontro casual se transforma em algo muito mais
complicado quando Ella descobre estar grávida. Em meio à surpresa e
incertezas, ela e Alexander iniciam um romance turbulento.
Alexander, acostumado a controlar tudo ao seu redor, se vê confuso
diante dos sentimentos que Ella desperta nele. Enquanto luta para se adaptar
à ideia de ser pai e enfrenta as repercussões de seu relacionamento em seu
império corporativo, ele descobre em Ella uma força e uma paixão que
jamais imaginou encontrar.
Ella e Alexander devem aprender a confiar um no outro e lutar pelo
seu futuro, enquanto navegam pelas complexidades de um relacionamento
forjado em uma noite que mudou suas vidas para sempre.
Acesso ao livro
Ethan, um bem-sucedido e charmoso empresário, conhecido por seu
estilo de vida boêmio e relações passageiras, encontra-se cativado por
Heloísa, melhor amiga da esposa de seu melhor amigo, há mais de um ano.
Tudo se inicia quando Helô e Ethan acabam assumindo a
responsabilidade de cuidar de sua afilhada Louise por dois dias. Conforme
o tempo passa, eles se vêm cada vez mais envolvidos na vida de casal,
desafiando suas próprias convicções sobre relacionamentos e amor.
No entanto, o caminho para o amor verdadeiro nunca é fácil e uma
falsa amizade ameaça desestabilizar o delicado equilíbrio do novo casal.
É uma história sobre transformação, confiança e a força de um amor
inesperado. Uma trama que desafia os personagens a olharem além das
aparências e a enfrentarem os próprios medos e conceitos pré-formados um
sobre o outro. Com momentos de humor, ternura e profundas reflexões, esta
narrativa é um convite a acreditar que, mesmo os corações mais fechados,
podem se abrir para o amor mais puro e surpreendente.
Acesso ao livro
Valerie, uma jovem marcada por uma perda devastadora, vê sua vida
mudar drasticamente quando descobre que seu destino está nas mãos de
Connor, um homem que ela mal conhece e que carrega um peso obscuro de
seu passado.
Connor a odeia, e faz questão de deixar isso claro com cada palavra
que sai de sua boca. Valerie, por outro lado, também não se importa com o
bem-estar de seu tutor.
Enquanto tentam se adaptar a essa nova realidade, Valerie e Connor
se veem envolvidos em uma trama intricada de intrigas familiares e
segredos do passado que ameaçam vir à tona. Entre os confrontos
emocionais e uma atração irresistível, os dois são levados a questionar seus
próprios sentimentos e convicções.
À medida que se aproximam, são confrontados com escolhas
difíceis e dilemas morais. Será que eles conseguirão superar suas
diferenças? Ou serão arrastados pelos conflitos do passado?
Entre o amor e o ódio, a confiança e a desconfiança, “A tentação do tutor” é
uma história envolvente sobre perdão, redenção e a força dos laços que nos
unem, mesmo quando o destino parece conspirar contra nós.
Acesso ao livro
Sean, um ex-militar impulsivo e destemido, vê-se envolvido em uma
trama de interesses familiares quando aceita cuidar dos negócios do pai para
provocar seu irmão. Sem saber que o futuro da empresa depende de um
casamento arranjado, ele iria recusar, se não visse quem era a sua noiva
:Margot, a mulher intrigante que desperta nele um desejo intenso e o faz
questionar suas próprias convicções.
Margot, por sua vez, sempre lutou contra as imposições de sua
família e vê no casamento forçado uma prisão dourada. Ela acredita que seu
noivo é Richard o idiota que sempre tentou conquistá-la, sem ter ideia de
que é com o filho mais velho dos Walker, que está destinada a se casar, e
que esse homem é ninguém mais nem menos que Sean, o homem com
quem ela teve uma noite regada a prazer e luxúria.
Margot, em um ato desesperado, é ajudada por sua mãe a fugir após
contar uma grande mentira, sem imaginar que isso só aumentaria a obsessão
de seu noivo por ela, desencadeando uma série de eventos que os levarão a
um caminho de descobertas e confrontos inevitáveis.
Uma história de amor ardente, cheia de obstáculos, onde a entrega e
a luxúria se entrelaçam em meio às mentiras e ao desejo. Margot e Sean são
levados a um jogo que odeiam, entre a obrigação e a paixão, onde cada
escolha tem consequências imprevisíveis.
Acesso ao livro
É com imensa gratidão que dedico este livro a cada um de vocês que
acreditam em segundas chances e amores resilientes. Ao longo desta
narrativa, veremos juntos como o amor pode superar diversos obstáculos.
Que esta história tenha sido mais do que apenas uma mera fonte de
entretenimento, mas sim uma lembrança poderosa de que, mesmo diante
das adversidades, o amor verdadeiro persiste. Que vocês possam encontrar
inspiração na jornada de Brandon e Emma, lembrando-se de que nada é
impossível quando se tem fé no amor e na capacidade de recomeçar.
Que estas páginas sirvam como um lembrete de que, assim como Brandon e
Emma, cada um de nós merece uma segunda chance, uma oportunidade de
reconstruir, de amar novamente e de encontrar a felicidade,
independentemente das circunstâncias que nos cercam. Que possamos
celebrar a beleza dos recomeços e a força dos laços que nos unem, mesmo
além das fronteiras do tempo.
Agradeço por estarem embarcado nesta jornada comigo. Que o amor
continue a guiá-los em suas próprias histórias.
Com carinho,
Angel.
Brandon sempre viu Emma como a melhor amiga de sua irmã,
alguém que deveria proteger e cuidar como um irmão mais velho. Mas a
cada ano que passava, Emma se transformava diante de seus olhos,
tornando-se uma mulher irresistível, despertando nele sentimentos que vão
além do fraternal.
Ele retorna para casa despois de uma missão a qual foi designado
com seu esquadrão, ele faz parte da elite dos SEA WOLF, sua missão levou
um ano e meio e quando finalmente retorna para casa Emma não parece
mais a mesma. ela está com dezessete anos e Brandon se vê incapaz de
ignorar a atração que surge entre eles, especialmente quando percebe o
desejo ardente refletido nos olhos dela.
Apesar de se apaixonarem, nenhum dos dois está disposto a admitir
seus verdadeiros sentimentos. Assim, embarcam em uma amizade marcada
pela paixão proibida, ciúme e negação mútua.
Emma é levada aos extremos da paixão ao lado de Brandon,
experimentando sensações que nunca imaginara. Entretanto, tudo
desmorona quando ela descobre o segredo guardado pelo homem dos olhos
azuis por quem ela foi apaixonada a vida inteira.
Arrasada, Emma se lança em um caminho autodestrutivo, tentando
convencer a si mesma de que suas escolhas são por sua própria vontade,
não apenas uma reação à decepção amorosa.
Enquanto ambos se esforçam para negar o que sentem um pelo
outro, talvez percebam tarde demais que o amor que tentaram ocultar
sempre esteve presente, tornando impossível escapar do inevitável.
Alerta de Gatilho
Este conteúdo contém descrições de agressão verbal e física,
palavras de baixo calão, que podem ser angustiantes e perturbadoras ou
desencadear respostas emocionais negativas.
Por favor, esteja ciente desses temas sensíveis antes de prosseguir
com a leitura. Se você sentir que pode ser afetado por esses gatilhos,
recomendamos cautela ao continuar ou evitar este conteúdo. Se precisar de
apoio ou assistência, não hesite em buscar ajuda de um profissional de
saúde mental ou de recursos de apoio disponíveis em sua comunidade. Sua
saúde e bem-estar são importantes.
A autora não romantiza nenhum dos tópicos citados acima.
Este livro se inicia três anos antes da primeira história (a de Connor
e Valerie) lembrem-se disso para não se sentirem confusos durante a
narrativa.
Capítulo
1
Três anos antes da dispensa
Finalmente estava indo para casa. Não era uma coisa nova para
mim, mas desta vez, havia um peso extra em meus ombros.
Entre os membros do nosso grupo, eu era o que mais vezes voltava
para casa para visitar a família, meus pais e minha irmãzinha, Ester. Sempre
fomos muito unidos, algo que sempre me fazia querer voltar para casa o
mais rápido possível após cada missão.
No entanto, as últimas missões me mantiveram afastado da família
por um longo tempo, um ano e meio para ser exato. Um período que
pareceu uma eternidade.
Cheguei à Detroit louco para ver minha irmã, por mais que nos
falássemos sempre que possível, a vontade de abraçá-la, de observar as
estrelas no jardim, ou simplesmente assistir a alguns filmes, era grande
demais.
E então, lá estava ela, como sempre, esperando na varanda da casa
da frente. Emma. A melhor amiga de Ester. Conhecia-a desde que tinha
cinco anos, ela e minha irmã tinham a mesma idade. Mas agora, aos
dezessete anos, algo havia mudado. Emma não era mais aquela garotinha
inocente que eu lembrava. Ela havia se transformado em uma mulher
deslumbrante, como se em um ano e meio ela tivesse desenvolvido os
próximos cinco.
Quando a vi ali, esperando por minha chegada, meu coração deu um
salto. Eu engoli em seco, lutando para conter a reação irracional do meu
corpo. Ela sorriu para mim, um sorriso que iluminou seu rosto e fez meu
coração bater mais rápido. Eu a cumprimentei, tentando manter a calma,
mas por dentro, eu estava em turbilhão.
Era irritante, para dizer o mínimo. Irritante porque eu não deveria
estar tão afetado por sua presença. Emma era a melhor amiga da minha
irmã mais nova, alguém que eu sempre vi como uma figura familiar, uma
extensão da nossa própria família. Mas agora, diante dessa visão totalmente
nova dela, eu me sentia perdido.
Ela sinalizou para que eu esperasse, como sempre fazia, e eu
esperei. Emma caminhou em minha direção e notei que não era apenas sua
aparência que havia mudado. Havia algo diferente em sua maneira de andar,
uma confiança que ela não possuía antes. Emma tinha amadurecido de uma
maneira que eu não conseguia entender completamente. E isso me deixava
desconfortável, como se estivesse perdendo o controle sobre algo que
deveria ser familiar.
Eu estava irritado por ter passado tanto tempo longe da minha
família. Irritado por ter perdido momentos importantes na vida de Ester e,
aparentemente, também de Emma. Mas, acima de tudo, estava irritado
comigo mesmo por permitir que esses pensamentos tumultuados tomassem
conta de mim.
Emma se aproximou de mim com um sorriso radiante no rosto, seu
quadril se movendo de uma maneira hipnótica. Ela sempre teve esse jeito,
alegre e cheia de vida. Eu a observei se aproximando, incapaz de evitar a
sensação de expectativa que se instalava dentro de mim. Mas quando
finalmente chegou perto o suficiente e se jogou em meus braços, meu corpo
enrijeceu.
Seus seios roçaram contra meu abdômen, e uma onda de
desconforto me percorreu. Ela era quase a metade do meu tamanho, e o
gesto que sempre foi tão natural entre nós agora parecia estranho, fora de
lugar. Meu corpo ficou tenso involuntariamente, e eu lutei para esconder a
reação.
— Oi, fuzileiro! — Sua voz era animada, cheia de calor e doçura. —
Estava morrendo de saudade de você!
Pigarreei, tentando encontrar minha voz.
— Também senti sua falta, Emma — respondi finalmente, forçando
um sorriso nos lábios.
Ela me olhou com aqueles olhos brilhantes, tão cheios de vida, mas
havia algo mais... Era como se ela não percebesse a tensão que pairava
entre nós. Ou talvez ela simplesmente escolhesse ignorá-la. Não importava.
O fato era que eu estava lutando para manter as aparências, para agir como
se tudo estivesse normal quando claramente não estava.
— Como foram as missões? Demorou para voltar, nem acreditei
quando Ester me contou— disse com uma sombra de tristeza nos olhos.
— Intensas — respondi, evitando olhar diretamente para ela. —
Mas estamos todos bem.
Emma assentiu, parecendo satisfeita com a resposta. Ela sempre foi
uma pessoa preocupada com os outros, generosa e compassiva até o âmago.
Eu a admirava por isso, mesmo que agora, nesse momento tenso entre nós,
tivesse dificuldade em expressar isso.
— Que bom que você está de volta — ela disse, sorrindo
novamente. — Estávamos todos ansiosos pela sua chegada.
Eu forcei um sorriso em resposta, tentando parecer grato pelo
acolhimento dela. Mas por dentro, me sentia confuso e perturbado. Havia
algo errado entre nós agora, algo que eu deveria ignorar. E não tinha ideia
de como lidar com isso.
Entrei na casa dos meus pais e fui recebido com abraços calorosos e
beijos de toda a família. Era um ritual familiar que se repetia a cada retorno,
mas desta vez, a sensação estranha que me acompanhava desde o encontro
com Emma não desapareceu. A conversa animada e o ambiente acolhedor
não foram capazes de dissipar o desconforto que sentia.
— Brandon, que bom que você está de volta! — Minha irmã, Ester,
me abraçou com força. — Eu estava morrendo de saudade de você!
— Eu também senti sua falta, Ester — respondi, retribuindo o
abraço com carinho.
Ela recuou e me lançou um olhar animado.
— Já sei o que faremos hoje. Tem um filme que eu estava esperando
para assistir com você. Foi lançado meses atrás, mas prometi que esperaria
você voltar para vermos juntos.
Senti um aperto no peito ao ouvir suas palavras. Era difícil não me
sentir culpado por ter perdido momentos importantes como esse ao longo
dos anos.
— Claro, Ester. Assim que eu tomar um banho e descansar, a
viagem foi longa — prometi, tentando disfarçar minha ansiedade porque
imaginei que Emma estaria com a gente.
— Depois da aula — gritou quando eu já estava saindo.
Subi as escadas em direção ao meu quarto, precisando de um
momento de paz. Ao abrir a porta, me deparei com o ambiente que já não
era tão familiar para mim. Meu quarto estava exatamente como eu o deixei,
cada objeto em seu lugar.
Tirei minha camisa e estava prestes a me desfazer da calça quando a
porta se abriu abruptamente, me fazendo dar um salto de surpresa e virar
rapidamente.
— Emma? O que você está fazendo aqui? — Perguntei, olhando-a
atentamente.
Ela permaneceu parada na porta por um momento, seus olhos
vagando pelo meu corpo, centímetro por centímetro. Senti-me
desconfortável sob seu escrutínio e me apressei em cobrir meu torso sem
camisa.
— Eu... Eu vim buscar um livro que deixei aqui — ela respondeu,
finalmente encontrando sua voz. Seus olhos ainda fixos em mim, como se
estivessem gravando cada detalhe.
— Não tem outro lugar para ler? — Perguntei, tentando mascarar
minha própria perturbação com uma pitada de sarcasmo.
Ela não respondeu imediatamente, apenas se aproximou da estante
onde o livro estava e o pegou.
— Acho que gosto do silêncio aqui — foi tudo o que ela disse antes
de sair rapidamente do quarto, deixando-me sozinho com minha confusão e
os pensamentos insanos que a presença dela despertava em mim.
Capítulo
2
Estava no terceiro ano do ensino médio e, por algum motivo, me
envolvi com a turminha popular da escola. Aos quase dezoito anos, ainda
sou virgem, uma raridade nos dias de hoje. Acho que minha obsessão por
romances acabou me tornando excessivamente seletiva, pois nenhum dos
garotos ao meu redor se comparava aos homens dos meus livros.
Ou talvez a minha pequena obsessão pelo irmão da minha melhor
amiga tenha me estragado para o resto dos homens do mundo.
Meu aniversário estava se aproximando e, para minha frustração,
todas as pessoas que conheço estão muito interessados em fazer alguma
comemoração, mesmo sabendo que sou péssima com festas e que odeio
com todas as minhas forças o barulho que elas fazem.
— Pelo amor de tudo o que é mais sagrado, meninas, vocês sabem
que detesto bagunça! Não estou a fim de fazer nada disso. — Tentei fazer
minhas amigas entenderem.
— Ah, para de ser chata, Emma! Somos suas amigas e queremos
curtir sua data especial com você! — Ester, uma das minhas amigas mais
próximas, resmungou. — Além disso, seus pais estavam querendo que você
socializasse um pouco, a tia Sarah mesma me disse isso. — Acrescentou.
— Você nunca está disposta a fazer nada que a gente sugere! Uma
festinha de aniversário não vai te matar. — Alicia, a outra do nosso trio, fez
bico, parecendo chateada.
Minhas amigas eram extremamente belas e populares na escola.
Estudávamos juntas desde que me lembro, e ao longo dos anos, elas foram
se tornando cada vez mais influentes. Era quase uma regra na escola que os
mais novos nos venerassem, então, naturalmente, muitos se aproximavam
de mim por causa delas.
Ester e Alicia eram, talvez, os verdadeiros motivos pelos quais as
pessoas falavam comigo, pois minha reputação na escola era de antipática e
antissocial.
— Vocês sabem que detesto esse tipo de coisa. — Tentei mais uma
vez fazê-las entenderem.
— Na minha casa, final de semana. Se você não aparecer, eu vou
fazer um escândalo na sua porta! — Ameaçou Alicia.
— Tudo bem, mas saibam que vou odiar cada minuto disso! —
Olhei zangada para elas, jurando que um dia iria fazê-las lerem um livro
completo para ver como é fazer algo que não se gosta.
— ELA CONCORDOU!!! — Gritou Alicia, chamando a atenção de
todos ao nosso redor no intervalo.
— ALICIA!!! — Tentei repreendê-la, mas metade da escola já
estava aplaudindo como se estivesse esperando minha decisão. Olhei para
minhas amigas, perplexa.
— Me digam que vocês não convidaram todas essas pessoas... —
Pedi, com os olhos arregalados.
Elas apenas sorriram maliciosamente, o que não me deixou nada
confortável. Eu conhecia aqueles sorrisos; elas estavam aprontando alguma
coisa.
— Oh, céus, vendi minha alma aos demônios, não foi? — Indaguei
enquanto elas me arrastavam de volta para a sala, cada uma segurando um
dos meus braços.
Subimos para o próximo período, discutindo animadamente sobre os
planos para a minha "festinha", ideias que me deixavam arrepiada só de
pensar.
— Quem sabe até você perca de uma vez a virgindade. —
Comentou Ester, com um sorriso de orelha a orelha. — Sabe que só
convidamos os mais gatos entre os mais gatos, e todos eles babam por você!
— Você está maluca? O que anda cheirando ultimamente? —
Perguntei sem graça.
As duas sempre estavam fazendo piadinhas sobre minha virgindade.
Não que elas quisessem me forçar a nada, mas muitas vezes eu acabava
ficando envergonhada.
— Isso não é da conta de vocês, então parem de ser tão fofoqueiras.
É constrangedor. — Respondi, tentando cortar o assunto.
— Só queremos ajudar, amiga... E falando nos seus admiradores, lá
vem um deles. — Alicia apontou na direção de um dos nossos colegas que
se aproximava.
Jack era realmente um gato. Mais alto do que a maioria dos meninos
da escola, com um sorriso impecável e olhos profundos e marcantes. No
entanto, sua personalidade superficial e egocêntrica não me atraía.
— Oi, meninas. Ouvi dizer que está tudo certo para a festa no final
de semana. Que bom que você aceitou se divertir um pouquinho, Emma.
Quem sabe você possa ver que as pessoas reais podem ser tão interessantes
quanto os personagens dos seus livros... — Disse Jack com seu sorriso
sedutor.
— Duvido muito, Jack, mas sim, por livre e espontânea pressão, a
festa vai realmente acontecer. — Respondi, tentando parecer animada.
— Vai ser legal, eu com certeza estarei por lá, não perderia por
nada. — Ele respondeu, com um sorriso que abaixaria 99% das calcinhas
do colégio.
— Hum, que bom. Fico feliz que ao menos alguém vá se divertir. —
Disse, forçando um sorriso. — Precisamos entrar. Nos vemos depois. — Fui
para a sala, arrastando minhas amigas que me olhavam incrédulas.
— É sério, Emma, eu tenho muita vontade de te socar às vezes!
Cinco minutinhos sem perder a amizade? Vamos? Como você dá um fora
no cara mais gato da escola? — Alicia estava visivelmente irritada.
— Por favor, nem comece. Ele é insuportável e se acha demais. Eu
detesto isso. — Respondi, tentando justificar minha atitude.
Ester apenas me olhava, com uma expressão divertida. Era óbvio
que ela também achava graça na situação.
— Você não existe! — Ela disse, após um tempo.
A aula passou rapidamente. Juntei meu material, enquanto deixava
todo mundo ir na frente, como de costume. Eu sempre saía por último para
evitar a as pessoas.
— Se incomoda se eu for indo? — Ester perguntou. — Combinei de
ir ao cinema com meu irmão e ainda tenho que tomar um banho.
Meu coração deu um salto só pela simples menção ao irmão dela.
— Não, claro que não. Vai lá. — Respondi, tentando esconder como
me sentia, nem mesmo minhas duas melhores amigas sabem sobre minha
paixonite.
Alicia já tinha corrido para encontrar o boy da vez. Um cara um
pouco mais velho com quem ela andava saindo
Meu condomínio ficava perto da escola, e Samuel, um dos meus
vizinhos, sempre me acompanhava até lá. Ele não falava comigo na escola,
mas sempre me esperava no portão, já que sabia que eu sempre saía por
último.
— Oi, demorou mais do que o costume. Está tudo bem? — Samuel
perguntou quando me aproximei.
— Fiquei um pouco perdida nos meus pensamentos, rezando para
que o final de semana não chegue nunca. — Disse, já andando em direção
às nossas casas.
— Ah, sim, a festa. Eu soube.
— Você vai? — perguntei esperançosa.
— Não, eu não fui convidado. — Ele respondeu com um sorriso.
— Não seja por isso, eu estou te convidando. Afinal de contas, sou a
aniversariante, posso convidar alguém, e assim, pelo menos, terei alguém
que não é um babaca para conversar. — Brinquei. — Pode ir, viu? Te
mando o endereço por mensagem.
— Você não tem meu número.
— Resolvo isso agora mesmo, coloca seu número aí, por favor. —
Entreguei meu celular para ele.
— Não sei se vou conseguir ir. Meu primo voltou para a cidade
hoje, ele foi para a marinha na mesma época que o irmão da sua amiga, eles
devem se conhecer. — Ele disse, enquanto colocava seu número e me
devolvia o celular.
— Ah, que pena. Não que ele tenha voltado, mas que pena que você
não vai. Se quiser, pode levá-lo, eu não me importo.
— Hum, ele é bem mais velho que nós, duvido que vá querer ir, mas
posso tentar.
Nos aproximamos de casa, e havia uma certa comoção na casa de
Samuel.
— Ele chegou! — Samuel me informou sorrindo. — Vou lá
cumprimentá-lo. Nos vemos amanhã, Emma.
Então meus olhos cruzaram com os dele.
Nunca fui de prestar muita atenção nas pessoas, mas havia algo
hipnótico naqueles olhos azuis, eles sempre me tiravam o fôlego.
Nem eu, nem ele, desviamos o olhar. A profundidade de sua
perfeição me encantava. Era como se fossem ímãs me atraindo e impedindo
que eu me afastasse.
Caminhei até Brandon com um sorriso no rosto, sentindo-me
animada por vê-lo, pensei que teria ido ao cinema com Ester.
— E aí, fuzileiro… Como está sendo seus dias fora da marinha? —
Perguntei, tentando iniciar uma conversa.
Ele não sorriu de volta como de costume.
— Está tudo bem. Tenho ido todos os dias para as Forças Aéreas.
Não consigo ficar parado. — Seu tom frio me fez estremecer.
Assenti.
— E por quanto tempo você poderá ficar dessa vez? — Indaguei,
esperando que fosse mais do que das vezes anteriores.
— Acredito que dessa vez poderei ficar pelo menos dois meses. —
Ele respondeu, parecendo descontente com a perspectiva.
— Ah, Ester te contou sobre a festa que faremos para comemorar
meu aniversário, não é? Você está convidado, é claro.
Brandon fez uma pausa antes de responder.
— Obrigado pelo convite, Emma, mas acho que não irei. Não sou
muito fã de estar em meio a adolescentes. — Brandon nunca havia agido
daquela maneira comigo.
A resposta dele me deixou um pouco triste, mesmo que eu o
entendesse. Mas nós éramos, de certa forma, amigos há tanto tempo, e eu
gostaria que ele estivesse lá para comemorar comigo.
— Tudo bem, Brandon. Obrigada mesmo assim. — Disse, tentando
disfarçar a decepção. — Nos vemos por aí, então.
Deu um sorriso fraco a ele e virei-me para ir embora, mas senti sua
mão quente segurar meu pulso, um choque percorreu todo o meu corpo,
mesmo que o contato fosse tão simples e inocente.
Ele aparenta um certo nervosismo, e percebo uma expressão
sombria passar por seu rosto quando ele olha para Samuel e sua família.
Sinto-me desconfortável com a tensão repentina no ar.
— Quem é o seu amiguinho? — Sua voz faz meu estômago dar
cambalhotas.
— Ele é nosso vizinho. Nós nos conhecemos desde quase sempre.
— Respondo, tentando amenizar a situação. — Ele me acompanha todos os
dias na volta da escola.
No entanto, o semblante de Brandon não se suaviza. Em vez disso,
seus olhos parecem faiscar de raiva quando Samuel se aproxima, e um
arrepio de apreensão percorre minha espinha quando Brandon solta meu
pulso.
— Emma, acabei de falar com meu primo, e advinha só? Ele vai
comigo a sua festa! — Samuel diz, com um sorriso caloroso. — Oi — diz
olhando na direção de Brandon.
Brandon observa a cena com uma expressão sombria e um leve
rosnado escapa de seus lábios.
— Ah, isso é ótimo! — Respondo, tentando ignorar a sensação de
estar sendo queimada viva por aqueles olhos azuis gélidos. — Nos veremos
lá.
Samuel me deu um beijo no rosto e voltou para a família dele.
Brandon mantém o olhar fixo em Samuel, sem dizer uma palavra.
Sinto seu olhar queimar em minha direção quando o outro se afasta. Seus
lábios se apertam em uma linha fina, e sua mandíbula parece tensa enquanto
ele se esforça para controlar a raiva.
— Você permitiu que ele te beijasse? — Brandon pergunta, sua voz
soando mais áspera do que o habitual.
— Foi apenas um gesto amigável de despedida. Não foi nada
demais. — Tento explicar, mas meu coração começa a bater mais rápido
diante da intensidade de seu olhar.
— Eu não gosto disso, Emma. Não quero que ninguém se aproveite
de você. — Ele diz, sua voz soando firme e possessiva.
— Como? — pergunto atordoada.
— Sou como seu irmão mais velho, não é? Tenho que cuidar de
você
Sinto-me desconfortável com a maneira que ele fala, mas decido que
o melhor é ignorar, e como se fosse minha deixa, Ester aparece agarrando o
braço do irmão para irem ao cinema.
Capítulo
3
Ester olha para mim parecendo um pouco confusa com a minha
irritação, e isso só faz com que eu me sinta ainda mais desconfortável.
— Brandon, o que está acontecendo? Está com uma cara de quem
chupou limão. — Ela pergunta, franzindo a testa.
Tento disfarçar minha raiva com um sorriso, mesmo que por dentro
eu esteja lutando para entender o que aconteceu.
— Ah, não é nada, Ester. Só estava pensando em algumas coisas. —
Respondo, tentando soar o mais casual possível.
Ela me olha desconfiada por mais alguns segundos, mas logo depois
volta a se divertir como sempre. É impressionante como ela consegue
deixar as preocupações de lado com tanta facilidade.
Enquanto observo minha irmã, não consigo evitar que minha mente
volte para o momento em que vi Emma com seu amigo. A raiva
simplesmente tomou conta de mim, e agora me sinto como se estivesse à
beira da loucura.
O que há de errado comigo? Por que estou tão afetado por algo que
deveria ser natural?
Respiro fundo, tentando afastar os pensamentos tumultuados que me
assombram, mas é difícil ignorar a sensação de que algo mudou entre mim
e Emma. É como se uma corrente elétrica passasse entre nós toda vez que
nos aproximamos, e isso me deixa inquieto e confuso.
Talvez eu esteja lendo demais nas entrelinhas, deixando minha
imaginação correr solta.
Enquanto tento dissipar esses pensamentos incômodos, me forço a
dar atenção a minha irmã.

Saio de casa pela manhã, ainda pensando na interação estranha que


tive com Emma alguns dias atrás. Ao dobrar a esquina, a vejo parada em
frente ao condomínio, concentrada em seu celular. Ela não me nota
imediatamente, então me aproximo devagar.
— Bom dia, Emma. — Cumprimento, forçando um sorriso
enquanto meu olhar percorre cada curva de seu corpo.
Emma finalmente olha para cima, surpresa ao me ver ali. Seu sorriso
é caloroso, mas percebo um leve rubor em suas bochechas.
— Ah, bom dia, Brandon! Não te vi chegando. — Ela responde, um
tanto desconcertada.
Sinto um calor subir pelo pescoço quando percebo que estive
encarando-a por tempo demais. Tento disfarçar meu desconforto
perguntando:
— Para onde você está indo?
— Eu estava indo até a livraria buscar alguns livros que
encomendei. Estou esperando o carro de aplicativo chegar. — Ela explica.
— Eu posso te levar. Não há necessidade de esperar pelo carro —
ofereço.
Emma parece surpresa com minha oferta, mas aceita prontamente.
— Sério? Isso seria ótimo, Brandon. Obrigada! — Responde, com
um brilho de gratidão nos olhos.
Voltamos para o condomínio para pegar meu carro, me condeno por
saber que não deveria estar me aproximando tanto dela, mas é como se uma
força invisível estivesse me puxando para mais perto.
Tento afastar esses pensamentos enquanto abro a porta do carro para
Emma, mas é difícil ignorar a sensação de que estou ultrapassando limites
que não deveriam ser ultrapassados.
— Você não é muito sociável, então por que vai fazer uma festa? E
por que convidou o vizinho e o primo dele? — Perguntei curioso.
— Sendo bastante honesta, eu não fazia ideia de que estavam
fazendo essa festa. Como Samuel me disse que não poderia ir, e eu queria
muito que fosse, dentre os rapazes que as meninas chamaram, te garanto
que o Samuel seria a melhor companhia para mim naquela noite dos
horrores. Então, quando ele disse que não poderia ir porque o primo
chegou, disse para o levar. E foi isso — disse rápido demais, parecendo
constrangida.
— Espero que seja divertida, pelo menos, não quero ficar entediado.
— Você vai? — perguntou arregalando os olhos. — Pensei que...
— Está retirando o convite? — Minha pergunta foi acompanhada de
um sorriso, mas senti meu maxilar tenso.
— Não, se quiser ir, por mim tudo bem, mas duvido que alguém
como você vá se divertir em uma festa cheia de quase adultos embriagados.
— Alguém como eu? — Um sorriso surgiu em seus lábios, mas seus
olhos permaneceram sérios. — Quer dizer alguém mais velho? Tem algum
problema com a minha idade, Emma?
— Não, eu não... mas pensei que não fosse curtir, só isso.
— Na verdade, acho que vai estar muito mais interessante do que
qualquer lugar que eu pudesse estar. — Seus olhos escuros se fixaram nos
meus e suas pupilas dilataram. Um calor percorreu meu corpo diante da
intensidade.
— Bom, então espero que se divirta, o que para mim parece quase
impossível. — Desviou o olhar para a janela, e começou a brincar com as
mãos, algo que fazia quando estava nervosa. — Ainda se lembra o caminho
para a livraria? — Mudança de assunto sutil.
— Sim, é uma das poucas coisas que ainda me lembro. Te levava lá
sempre que vinha para casa, esqueceu? Por que não acha que vai se divertir
na sua festa?
— Não é bem a minha praia, você sabe, Alicia e Ester que insistiram
muito, mais do que eu poderia aguentar recusando. — respondeu com um
suspiro profundo, tentando disfarçar a ansiedade que sentia.
Continuamos conversando até chegarmos à livraria.
— Vamos entrar.
Ela nem deve ter notado que chegamos, já que o rosto assumiu um
tom de vermelho que fez meu pau acordar.
— Você tem algo para resolver aqui? Se quiser fazer e ir pra casa
tudo bem, eu costumo demorar bastante na livraria, posso voltar mais tarde
tranquilamente pra casa — me dirigiu um sorriso sem graça quando me
juntei a ela na calçada.
— Bom. Eu só tenho que comprar cordas novas para o meu violão,
nada que não possa esperar.
— Não, imagina. Já foi uma enorme gentileza me trazer até aqui, eu
não quero ficar tomando mais do seu tempo.
— Está tentando dispensar minha companhia educadamente? —
Perguntei olhando-a nos olhos.
— O que? Não eu não... bom, não foi assim que eu quis dizer, é só
que...— inspirou profundamente. — Para uma pessoa que lê tantos livros
quanto eu, não deveriam faltar tantas palavras no cérebro a ponto de não
conseguir formar uma única frase coerente. — disse ela me fazendo rir.
— Está corando... fica linda vermelha assim. — minha mente suja
me jogou imagens dela com o rosto vermelho gemendo e chamando meu
nome com meu pau enterrado em sua boceta. Me soquei mentalmente.
— Isso não deveria parecer tão engraçado, eu achei que tivesse te
ofendido — olhou para mim tentando parecer zangada. — Idiota.
— Bom, agora você ofendeu.
— É, mas agora foi intencional.
Sorri e a segui para dentro, já havia feito isso um milhão de vezes
com ela, mas nunca entrei e esperei.
— O que foi? Parece que está desconfortável com a minha presença,
estou te incomodando, Emma?
— Você é irritantemente observador, mas errou no motivo, eu só não
sei por que está sendo tão gentil, quer dizer, você sempre foi, mas está mais.
— Nada demais... Vai fazer dezoito anos — minha cabeça começa a
buscar uma forma de fazer o que eu quero dela não parecer tão errado. —
Ainda me lembro de você quando era só uma criancinha, com uns oito ou
nove anos, e agora... em pouco mais de um ano você mudou demais, ficou
ainda mais bonita.
— Eu...
— Preciso te fazer sentir vergonha mais vezes, você fica muito linda
assim, toda vermelhinha. — PRONTO! É oficial, eu a quero... exatamente
dessa cor, com a boca entreaberta, debaixo do meu corpo e gemendo meu
nome.
— Você está me deixando sem graça. — Virou o rosto.
Começou a pegar alguns livros nas prateleiras e foi me entregando
outros para carregar.
— Você só lê romances? — Perguntei encarando os títulos.
— Em sua grande maioria, sim, é meu gênero favorito.
— Isso diz muita coisa sobre você...— ela quer alguém que a ame,
não alguém que só a deseja. — Você tem namorado?
— O que? Não, eu não tenho namorado. — Respondeu sem jeito —
Você é bastante enxerido sabia disso? É pré-requisito para ser fuzileiro?
— Na verdade, eu costumo querer que o resto do mundo se foda,
exceto minha família, você é minha família, então faz sentido querer saber,
não faz? — Não tem nada a ver com isso, mas foi o melhor que arrumei.
Ela não soube me responder, então continuou pelas fileiras
intermináveis de livros, e quando terminou caminhou para o caixa.
— Bom dia Lee, tudo bem?
— Olha só se não é a melhor cliente daqui. — O tal Lee respondeu
com um sorriso enorme. — Senti falta de você a semana passada, por que
não veio? — meu sangue ferveu.
— Fiquei enrolada com algumas coisas, deixou meus novos bebês
separados? — Emma perguntou empolgada.
— É claro que sim! Achou mesmo que eu pudesse esquecer de
você?
Ela colocou os livros no balcão e eu me aproximei mais, ficando
próximo o bastante para sentir o calor do corpo dela e como ela enrijeceu
com a minha presença nas suas costas.
— Um momento senhor, eu já vou lhe atender. — O atendente falou
sem nem me olhar direito, sua atenção toda voltada a Emma.
Filho da puta!
— Estes também são dela, passe todos juntos por favor — tenho
certeza de que meu olhar já havia mudado, para o mesmo assustador que
costumo usar para intimidar e aterrorizar aqueles que preciso.
Lee deve ter percebido a onda de fúria que emanava de mim, porque
seus olhos se arregalaram e ele não soube o que responder.
Emma procurou na bolsa o cartão para pagar, mas antes que ela o
fizesse peguei um pequeno maço de dinheiro no bolso e coloquei no balcão.
— Pode ficar com o troco! — A boca de Emma se abriu em um “O”
lindo. —Presentinho para você amor. — Dei uma piscadinha para ela antes
de pegar as sacolas e sair arrastando-a da livraria.
Capítulo
4
— Ei! — Ele não parou, mesmo me vendo quase tropeçar enquanto
me arrastava. — Ei, minhas pernas são curtas, será que não dá para ir mais
devagar?
Ele apenas me olhou sorrindo, como se aquilo fosse de alguma
maneira engraçado, e continuou caminhando para o carro. Quando entrei,
ele ainda estava com um meio sorriso zombeteiro.
— Escuta, qual é o seu problema? Por favor, não faça mais nada
desse tipo, eu não gosto, e vou te pagar de volta. Se puder passar em algum
banco para que eu saque o dinheiro, eu ficaria feliz. — Disse num tom
amargo para deixar claro que não gostei de toda aquela situação.
— É só um presente, o que tem de mais nisso?
— Você foi muito rude, e eu não quero nenhum presente seu. Você
já me trouxe até aqui e está me levando de volta. Fico muito agradecida,
mas não faça nada desse tipo. Eu não sou uma pessoa que aceita muito bem
esse tipo de coisa, e você deveria saber, me conhece a vida inteira. E se me
pegar num dia ruim, eu posso ser realmente um pé no saco.
— Não que você já não esteja sendo, é só um presente, pelo seu
aniversário. Como eu não sei do que você gosta, fora seus livros, achei uma
boa oportunidade de te presentear. Não saberia o que comprar para levar na
festa, ao menos isso aí, eu sei que você vai gostar. Foi você mesma quem
escolheu.
Agora ele realmente me pegou, e eu não sei nem por onde começar
a me desculpar. Não estou habituada a esse tipo de situação, ele está
realmente muito estranho.
— O que foi? Te deixei sem palavras?
— Um pouco, talvez, mas ainda assim, é muita coisa. Eu não posso
aceitar...
— Ninguém nunca lhe disse que é falta de educação recusar um
presente?
— Mais mal-educado que você foi lá dentro é impossível.
— Ele parecia bastante interessado em você... tinha que ter mais
cuidado ao atender clientes, e se eu não estivesse com você? Outro cliente
poderia ter feito uma reclamação e ele acabar perdendo o emprego. E ele
também não estava sendo lá tão educado, ou profissional.
— Você sempre foi assim?
— Assim como?
— Tão irritantemente exagerado, e supõe coisas loucas assim o
tempo todo?
— Só às vezes.
Chegamos no condomínio, sem muito mais conversa, ele parecia
imerso em pensamentos, e eu estava um pouco incomodada com como ele
agiu e também como estou reagindo a sua presença.
Costumava ser mais fácil me conter, agora está quase impossível
não me levantar e me jogar no colo dele. Isso tudo me deixa inquieta, nunca
pensei que encontraria alguém que me deixa assim, do jeito que eu só vi em
livros.
— Chegamos.
— Muito obrigada por tudo, e pelo presente também, embora eu não
goste muito da ideia de ter me dado tanta coisa. Foi muito atencioso da sua
parte, obrigada.
— Você sempre consegue ser educada ao mesmo tempo que
demonstra sua opinião completamente contrária? — Ele sorriu, e mais uma
vez eu senti minhas pernas bambearem. — Não precisa agradecer por isso.
Ele seguiu para a garagem da família dele, enquanto eu buscava as
minhas chaves no meio da bagunça psicológica em que estava.
Estar de volta à minha casa nunca foi tão reconfortante. Ele me
sufocou com tamanha intensidade, mas talvez seja só eu mesma que tenha
ficado tão desejosa que estou vendo coisas onde não tem.
Levantei-me cedo, como de costume, fui para a cozinha e fiz café,
que é o meu único vício. Fiquei por lá apreciando o silêncio da casa. Meus
pais também não acordam tarde, mas desde pequena eu tenho distúrbios do
sono; muitas vezes não consigo dormir mais do que duas horas por dia, são
fases que vão e vêm, às vezes duram um mês, outras vezes uma semana.
Não importa se eu dormi cedo ou tarde, meu horário de acordar é sempre o
mesmo: às cinco da manhã. Então, faço o meu ritual matinal.
Peguei minha xícara e fui para o meu lugar favorito: A sacada. De
lá, eu via o sol nascer, subindo por detrás das casas, os poucos sons da
manhã me dando uma sensação boa de paz.
Mal sabia eu que, a partir do momento que meu vizinho voltou, esse
meu momento de serenidade plena seria alterado.
Meu olhar captou um movimento vindo da garagem da casa da
minha melhor amiga. Ali surgiu o meu mais novo vício, meu mais novo
desejo, minha necessidade, a loucura do meu primeiro fetiche. Brandon
nunca tinha usado farda aqui, mas agora estava numa maldita farda azul
marinho, cheia de frescuras. Foi a cena mais sexy que eu já tinha visto em
toda a minha vida. Ele estava lindo, minha boca chegou a salivar com a
visão.
Assim que saiu, ele também olhou para cima, como se o mesmo ímã
que me atraía para ele também o atraísse para mim. Abriu um sorriso que
baixa calcinhas e pudor, e acenou com a mão, gesto que eu,
involuntariamente, devolvi quase de imediato.
Sempre que ele estava aqui, ia até a sacada na esperança de poder
vê-lo, mas isso também era parte do meu ritual matinal, que girava em torno
da minha sanidade, e agora virou o maior motivo de loucura. Eu sabia que
iria imaginar Brandon fardado ali, todas as manhãs.
Chegando ao meu horário de aula, eu já estava pronta, e meus pais
estavam mais uma vez na cozinha, discutindo, como sempre. Os dois não
conseguiam ter nem alguns poucos minutos de tranquilidade; a casa já
virava um campo de guerra.
— Bom dia, meus amores — Disse entrando com um sorriso largo
— Como estão vocês nesta belíssima manhã?
Os dois se entreolharam assustados com o meu bom humor. Sim,
admito, eu não costumo estar assim todos os dias, mas hoje tive uma
surpresa realmente agradável, que alterou por completo o meu humor.
— Quem é você? — Meu pai perguntou boquiaberto.
— E o que fez com a nossa filha? — Dona Sarah completou.
— Ah, mas que isso? Eu não posso me levantar com o pé direito? —
Perguntei sorrindo. Meus pais eram umas figuras; estavam sempre
brigando, mas sempre juntos, mesmo quando não se suportavam.
— Muito bom dia então, querida. Como foi sua noite? — Meu pai
perguntou, parecendo interessado no motivo de eu estar tão radiante.
— Foi como sempre, nada demais. Só consegui dormir melhor.
— Ah, isso sim é uma boa notícia. Eu não aguento mais te ouvir
andando pela casa de madrugada como se fosse uma assombração.
Por incrível que pareça, mesmo eu e meu pai nos desentendendo
bem mais do que eu e minha mãe, ele é sempre mais carinhoso do que ela.
Dona Sarah sempre foi uma mulher tempestuosa e fria, e eu me pareço
muito com ela. Como meu pai sempre diz, todo o mau gênio vem do lado
dela da família.
— Estou indo, tenham um ótimo dia, e vou tomar um sorvete com
as meninas hoje. Não se preocupem caso cheguem mais cedo e eu não
esteja em casa. — Amo de paixão a minha família; são a minha base para
tudo, e também o meu exemplo. No dia que eu encontrar alguém, eu já sei
que não devo aceitar menos do que eu vejo todos os dias dentro da minha
casa.
Como de costume, Samuel me encontrou na frente de casa para
subirmos juntos.
— Meu primo estava perguntando um pouco a seu respeito. Você se
incomoda se eu falar? Acabei dizendo o que eu sabia sem a sua permissão,
isso não é legal. — Me contou parecendo realmente envergonhado
enquanto eu encostava a porta.
— Hum... Tudo bem, eu acho. Não sei o que ele pode querer saber
de mim, não tenho uma vida muito interessante, mas não esquenta, não
estou brava. Obrigada por me contar. — Abri o meu melhor sorriso para
tranquilizá-lo.
— Que bom, achei que iria se chatear. Sei que você é bastante
reservada, mas acabei soltando a língua. Sobre o seu aniversário... — Ele
parecia um pouco nervoso, receoso com algo, parecia que estava até
passando mal. — Eu trouxe uma coisa para você... — Completou de cabeça
baixa.
Ele era mesmo um fofo, parecia um gatinho assustado. Samuel
retirou uma pulseira do bolso; era dourada, tinha duas asas com pedrarias
como fecho. Era realmente linda, um encanto, a peça era de uma delicadeza
incrível.
— Posso? — Perguntou fazendo menção ao meu pulso.
— Claro... Nossa, ela é muito linda. Eu nunca mais vou tirar.
— Eu me lembrei de você, as asas me lembram um anjo. E toda vez
que olho para você, me lembro de um. — O rosto dele estava vermelho.
— Eu amei, de verdade, muito obrigada. — Falei enquanto
apreciava a pulseira que ele tinha acabado de pôr no meu pulso. — Ficou
perfeita.
— Ficou ótima em você. — Ele parecia até um pouco emocionado
ao ver a pulseira no meu braço.
— Espero que você vá mesmo na minha festa. Vai salvar a minha
noite.
— Vou estar lá.
Do outro lado da rua, um par de olhos frios nos encarava de uma
maneira que tenho certeza de que se fossem armas, estaríamos recolhendo
os pedaços de Samuel do chão.
— Vamos! — Não queria que Samuel visse Brandon. Eu mesma não
queria vê-lo; ele estava assustador.
E como sempre, uma coisa que eu realmente não consigo entender,
quando nos aproximamos da escola, Samuel acelerou o passo e seguiu na
minha frente, fazendo um leve aceno de cabeça a uma certa distância. Eu
sorri e segui meu caminho. Ele era um rapaz bastante diferente, para não
dizer estranho, mas era muito bacana.

Minhas amigas estavam próximas à porta da nossa sala, me


esperando, com os sorrisos mais diabólicos que já vi. Alguma coisa estavam
aprontando, isso era um fato, e eu sabia que detestaria saber o motivo.
— O que estão planejando? Seja lá o que for, minha resposta é não.
Vocês não estão com uma cara que está me agradando. — As duas se
entreolharam, já com os maiores bicos do mundo se formando.
— Ah, qual é Emma, você nem nos ouviu. — Ester disse com um
biquinho triste. — Nem é algo tão terrível assim. Estávamos apenas
pensando em ir ao shopping comprar algumas coisas.
— Você precisa de uma roupa nova para sua festa amanhã, e eu me
recuso a deixar você ir com algum desses seus trapos velhos. — Alicia
completou.
— Ah, não, não, não, não, não. — Olhei de uma para outra, sabia
que não iria gostar do que estava por vir. Elas acabariam escolhendo a
roupa por mim, e provavelmente eu pareceria uma garota de programa. —
Nem pensem que conseguirão me convencer a essa barbaridade. Eu as
conheço bem demais para isso.
— Não me desafie Emma, eu posso ser um verdadeiro diabinho. —
Alicia começou — E além do mais, como eu já sabia que você se recusaria,
já estou te avisando com antecedência que isso é um sequestro. — As duas
me grudaram, uma por cada lado do braço, e me arrastaram em direção à
saída.
— Isso é um absurdo, me soltem as duas. Eu vou começar a gritar e
a diretora não vai gostar nada disso! — Protestei prontamente.
— Sua mãe conversou com ela e nos deu carta branca, sinto muito,
não teria outro jeito, foi necessário. — Ester disse sorrindo. As duas
estavam se divertindo muito com a minha situação.
— Eu odeio vocês. — Disse desistindo de lutar contra o caminho
que estávamos fazendo. — Um dia eu vou devolver tudo o que já fizeram
para mim.
— Eu agradeceria muito, porque tudo o que já fizemos para você
foram coisas boas. Então eu adoraria tudo.
As duas eram impossíveis, e não poderiam ser mais diferentes de
mim, mas eram pessoas maravilhosas, e eu as amava demais.
Seguimos para o shopping. Eu detestava aquele lugar, mas elas
faziam tudo ficar melhor e mais engraçado. Experimentamos diversas
roupas, brincamos, sorrimos, elas compraram vários looks que eu vesti.
— Quero saber quanto deu tudo isso para que eu possa devolver.
— Sua mãe que nos deu dinheiro para isso, então nem se preocupe,
isso tudo é seu mesmo. — Elas sorriram e eu balancei a cabeça em
negativa. Minha mãe adoraria que eu fosse como elas.
Entramos em uma loja elegante de vestidos. Um mais bonito do que
o outro. Sabia que provavelmente elas me fariam experimentar a maioria
das peças daquele lugar, mas me enganei. O vestido que elas escolheram
para eu provar primeiro foi o que elas já me mandaram ficar.
Era um vestido vermelho deslumbrante, justo ao corpo, realçando
minhas curvas de forma elegante e sensual. O tecido macio acariciava
minha pele enquanto eu o vestia, e o corte impecável destacava cada detalhe
do meu corpo. O decote em V profundo adicionava um toque de ousadia,
equilibrado pela elegância das mangas longas e justas. Ao olhar no espelho,
vi uma imagem diferente de mim mesma, uma versão mais confiante e
poderosa. Era como se o vestido tivesse o poder de transformar não só
minha aparência, mas também minha postura e atitude.
— Nada vai te vestir melhor do que esse vestido, é impossível. Será
esse! — Ester disse com os olhos vidrados em meu corpo.
— Você está linda Emma, deveria ser proibida de se vestir dessa
maneira. Vai matar metade dos homens de infarto. — Alicia completou.
Capítulo
5
Desde que pus os olhos em Emma no dia em que cheguei, ela parece
ter invadido completamente meu sistema. Não passo um segundo do meu
dia sem pensar nela.
A vi no dia anterior pela manhã, quando estava com o “amiguinho”,
mas no dia seguinte não pude sair da USAF para ir para casa. Mesmo que
não estivesse em minha função real, existiam regras a serem cumpridas, e
fui eu quem os procurou para não ficar sem fazer nada enquanto estou em
casa.
Fiquei irritado, impaciente, como se precisasse vê-la mais do que
precisava do ar para respirar. Estou aqui desde ontem, como um animal
engaiolado, mas hoje eu vou ao aniversário dela. Nem sei por que diabos
decidi que iria, mas não consigo não sentir o impulso de estar lá, só por ela.
Passei o dia inteiro ansioso, fazendo tudo distraidamente.
— Qual é cara? O que você tem? Parece que está em outro mundo.
Não deixa o coronel te ver assim. — Um dos homens comentou. Assim que
olhei para ele, seu rosto mudou a expressão. Minha cara não deve estar das
melhores para ele ter tentado se corrigir tão rapidamente. — Não quis ser
desrespeitoso eu só... — sua voz foi morrendo.
— Não se preocupe, não foi desrespeitoso, e sim, estou um pouco
distraído hoje. Obrigado por chamar a minha atenção a isso, mas quando
estivermos de serviço, tente não ser tão informal, isso costuma ser uma das
coisas que os superiores prezam aqui dentro.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, estar aqui não é sempre
treinamento intenso em batalha. Temos trabalhos muito comuns também.
Eu faço de tudo um pouco. Não gosto de corpo mole apenas por ter
um posto um pouco... talvez muito maior, então como não tenho assuntos
mais importantes a tratar — porque deveria estar aproveitando meus dias de
folga — ajudo os soldados a desempenharem as tarefas mais simples.
Hoje tivemos que organizar os suprimentos, estava tudo um caos.
Poderia ter dispensado? Sim, mas ficar enfurnado na sala que designaram
para mim só pioraria as coisas.
Se eu não tratasse de esquecer essa garota e a minha fixação por ela,
acabaria enlouquecendo, e nada melhor do que estar ocupado, mas nem
mesmo isso foi capaz de mudar meu foco.
— É difícil um dos superiores ficar assim com a gente. Acho que é a
primeira vez na verdade, então acaba que não lembramos como agir e nos
portar.
Entendi o que ele queria dizer. Alguns, quando chegam um degrau
que seja acima de outros, já se acham no direito de não estar mais presentes
em atividades como essa.
— É bom que se acostumem, pois costumo fiscalizar tudo bem de
perto. Enquanto eu estiver aqui, estarei entre vocês.
Eu não estava para amigos. Devem estar me odiando agora.
Primeiro contato com eles e já estou sendo um insuportável.
Terminamos tudo o que tinha para ser feito. Ajudei em cada um dos
detalhes. A maioria não falou mais nada comigo, apenas um dos rapazes
ainda continuou me perguntando coisas e tirando suas dúvidas.
Estava indo para a minha sala, que já tem um pequeno quarto, para
me trocar, quando o comandante me convocou a sua sala.
A paciência que já era quase nula agora foi abaixo de zero. Tenho
certeza de que não chegarei no horário da festa.

Passei mais algumas horas dando uma olhada em alguns projetos


que ele pediu, coisas que eram importantes para o crescimento da USAF
como um todo. Como o comandante sabia que eu tinha contato direto com o
Presidente e a Casa Branca, era óbvio seu interesse em falar comigo. E foi
justamente para isso que voltei, a oportunidade de ajudá-los a crescer ainda
mais. Mas a porra daquela coisinha miúda e linda não saía da minha cabeça
de jeito nenhum.
Estava praguejando por dentro e tentando manter a postura por fora.
— O que acha de tudo isso? Sei que seu esquadrão é o melhor nesse
tipo de análise — Ele me perguntou.
Sim, minhas habilidades eram muitas, principalmente na área que
ele estava interessado, mas no momento só conseguia pensar em Emma e
seus olhos pretos, na maneira como me encarava de volta e transpirava
desafio, no jeito como ficava com as bochechas vermelhas com facilidade
quando eu a olhava. Em como era muito nervosa a ponto de qualquer coisa
a tirar do sério.
— Se o senhor me permite, fiz uma viagem bem longa após uma
missão que levou meses. Minha família não me deu sossego, não dormi
bem desde que cheguei e passei as últimas quase 38 horas aqui sem poder
descansar. Minha cabeça não está das melhores para este tipo de análise,
mas voltarei aqui para lhe passar um relatório sobre o que penso.
— Claro, eu não deveria tê-lo prendido por mais tanto tempo.
Obrigado por vir de qualquer maneira.
Me despedi dele e corri de volta à minha sala.
Tomei um banho rápido, mas não tinha roupas comigo, apenas
fardas. Havia uma troca no carro, só não estava disposto a ir até lá e depois
voltar para me trocar, então teria que ir fardado mesmo. Saí como um
tornado da base.
Levei mais alguns minutos para chegar, não reparei no horário.
Já vi muitas mulheres bonitas em minha vida, principalmente nas
muitas vezes em minhas missões. Só não esperava que a mais bela que já
conheci seria alguém que vi crescer.
Nada que eu já tenha visto na vida foi suficiente para me preparar
para ver aquela garota quando pus meus olhos nela.
Tenho certeza de que o impacto daquela imagem irá repercutir em
minha mente e me perturbar pelos próximos anos. Talvez até o fim da
minha vida. Sinto como se tivesse levado um soco no estômago.
Há uma enxurrada de sentimentos se apossando de mim, mas o que
mais se destaca entre eles é o deslumbramento e a fúria por vê-la vestida
daquela maneira.
Emma está enfiada em um vestido vermelho intenso, colado ao seu
corpo maravilhoso. O vestido tem uma espécie de véu que vai até o chão,
mas transparente e deixa suas coxas grossas à mostra, fazendo-me ter os
pensamentos mais luxuriosos e indecentes sobre o que eu poderia fazer com
a garota que, nesse momento, não tem nada de garota e sim de uma mulher
completamente sexy.
Eu a estou vendo a uma certa distância e de perfil. Quando me
aproximo, sinto mais uma vez o ar faltar. Ela se vira para mim, seus cabelos
pretos feito breu estão meio presos e com ondas bem definidas até a base de
suas costas. Seus lábios estão com um batom vermelho como o vestido, que
para mim é como um convite ao pecado.
Essa mulher vai acabar por me fazer perder completamente a razão.
Meu coração disparou ao vê-la, envolta nesse vestido ardente e
pecaminoso, é como se uma chama me consumisse por dentro. Mas o fogo
em mim não é apenas de desejo, é também de possessividade, ciúme, raiva.
Sentimentos com os quais não estou acostumado e isso pode ser muito
perigoso.
Caminho lentamente em direção a Emma, meus olhos fixos nela,
mas quando percebo um moleque próximo a ela, o resto de sanidade vai
embora e a ira se apodera de mim. Sinto minha mandíbula retesar, meus
punhos se cerram involuntariamente. A imagem da mão dele na cintura dela
é como uma faca sendo cravada em meu peito.
Um sentimento possessivo e selvagem se apodera de mim. É como
se Emma fosse minha e apenas minha, e qualquer outra pessoa que se
atreva a tocá-la está desafiando minha autoridade sobre ela. A raiva queima
dentro de mim, borbulhando como lava em um vulcão prestes a explodir.
Pergunto-me se ela ficaria triste se eu quebrasse todos os dedos
daquele que ousou tocá-la. A ideia me traz um certo alívio momentâneo,
mas também sei que seria um gesto extremo, irracional. Mesmo assim, é
difícil conter a vontade de protegê-la, de afastar qualquer um de seu
caminho.
Quando seus olhos encontram os meus e ela percebe para onde estou
olhando, vejo a agonia em seu rosto. Ela retira as mãos do homem de seu
corpo de imediato, como se a estivesse queimando com seu toque. E é nesse
momento que eu me sinto um pouco mais calmo, ao menos por enquanto.
Mas o ciúme continua queimando dentro de mim, alimentando-se da minha
recém-descoberta obsessão por ela.
— Ninguém me avisou que seria festa a fantasia, eu teria vindo de
pirata! — O defunto que ainda não sabe que morreu, diz colado as costas de
Emma. — Sou Jack — Estendeu a outra mão para mim, que eu recusei.
Senti a minha tentativa de sorriso sumindo completamente e dando
lugar a uma cara distorcida e provavelmente perturbadora.
— Que bom que pôde vir, Fuzileiro. Achei que não viria, você não
costuma chegar atrasado — mencionou Emma com o rosto corando.
Jack se colocou diante dela, suas feições eram de total desagrado.
— Então dessa pessoa que ninguém aqui conhece, você reparou o
atraso, e eu, que você vê todos os dias, diz que nem percebeu? Legal da sua
parte Emma — Isso não poderia ter sido mais vergonhoso, ele estava
mesmo chamando a atenção dela?
— Parece que a doce Emma tem suas prioridades amigo... E sobre a
minha “fantasia” — disse num tom de sarcasmo. — Sou um Sea Wolf e
estou ajudando na USAF enquanto estou por aqui, não tive um tempo
adequado para me trocar, e como você notou, a aniversariante estava a
minha espera, e eu não podia fazê-la esperar mais, seria deselegante da
minha parte deixar uma mulher tão bela me esperando. — O sorriso que
abri para Emma fez sua pele se arrepiar, tenho certeza de que eu sorria
como um predador ao ver sua presa.
— E ele não é um estranho — minha irmã, que eu ainda não tinha
notado que estava ali, falou. — É meu irmão. Não sabia que viria Brandon.
— Emma me convidou — respondi rapidamente.
— Ah, sinto muito por brincar com a sua fantasia, senhor... — Jack
respondeu com seu ar de desdém.
— Farda! O nome correto é farda, não é uma fantasia, mas eu não
posso te culpar por não saber, duvido que você queira seguir carreira no
exército, garotos frágeis como você costumam ser desmembrados no café
da manhã. — Disparei no mesmo tom de desdém.
— Esta é Alicia. — Emma se meteu. — A amiga que ajudou Ester a
fazer tudo isso!
— É um prazer conhecê-la, e obrigada por isso, sem a sua ajuda eu
jamais teria visto Emma tão bela.
Já não estava mais preocupado com a presença da minha irmã, tudo
o que queria era mostrar para aquele garoto insuportável que estava
sobrando aqui.
— Sim, ao menos alguém concorda com a gente, seria um
desperdício desse vestido maravilhoso. Ela nem queria vestir, acredita?
— Ainda bem que ela conta com amigas bastante persuasivas —
respondi.
— Sim. — Foi a única coisa que Alicia, a amiga que eu não
conhecia, conseguiu pronunciar, ela puxou Jack pelo braço, dizendo algo
como: Você vai pegar uma bebida para mim.
— Também preciso beber alguma coisa — Ester disse me enviando
um olhar estranho antes de se mandar atrás dos outros dois.
— Você não gosta disso tudo — mostrei tudo ao nosso redor. —
Mas elas fazem porque gostam muito de você. — Olhei dentro dos olhos
dela. — E quanto ao rapaz? Vocês têm alguma coisa? Ele parece bastante
territorialista em relação a você.
A risada alta dela me deixa confuso.
— Não aguentaria passar mais do que alguns minutos conversando
com o Sr. Centro do Universo, imagina só namorar com ele, eu teria uma
sincope.
Sorri.
— Você está mesmo linda... — meus olhos passearam pelo seu
corpo novamente, se demorando um pouco mais do que deveria em suas
pernas. Meu pau reagiu assim que as imaginei passadas em torno da minha
cintura.
Ela pigarreou chamando minha atenção.
— Meus olhos estão bem aqui, Fuzileiro — comentou com um tom
de brincadeira.
— Você só pode culpar a si mesma pela minha distração, a festa
parece bem interessante, mas eu queria mesmo não ter vindo vestido assim.
Estão todos olhando — suspirei. — Trouxe uma troca de roupa, tem algum
lugar que eu possa me trocar?
— Para mim está perfeito assim! — deixou escapar e tapou a boca
envergonhada.
Dei um sorriso predatório.
— Pelo visto você gosta de farda. — Ela nem deve imaginar o
quanto me excita vê-la corar.
Capítulo
6
Levei Brandon a um dos quartos para que pudesse se trocar. Ele
parecia seguir-me com os olhos enquanto me dirigia para fora, mas eu não
ousei olhar para confirmar.
Deixei-o com a desculpa de que iria conversar um pouco com os
outros convidados, mas na verdade, precisava de ar fresco. Caminhei até
um canto do jardim, bem afastado, onde mal era possível ser vista pelos
outros convidados.
Ali, fiquei por alguns instantes, inspirando o ar com força, sentindo-
me inebriada com a presença de Brandon. Era uma sensação estranha, quase
sufocante. Não gostava das sensações conflitantes que ele despertava em
mim, mas ao mesmo tempo, gostava muito.
Comecei a me questionar o que ele poderia querer comigo. Um
homem como Brandon, com certeza, devia ter várias mulheres à sua
disposição. Por que ele iria se interessar por alguém como eu?
Provavelmente, estava apenas sendo educado, e eu estava confundindo as
coisas.
Fui tirada dos meus devaneios por um pigarro ao meu lado. Olhei e
vi Jack, que eu não tinha notado ali antes.
— Oh, Jack! Não tinha te visto! — disse, tentando disfarçar meu
desconforto.
— É, me parece que você tem esse dom... — Ele respondeu com
sarcasmo, e eu pude sentir o peso das suas palavras carregadas de
ressentimento.
Claro que entendi o que ele quis dizer. Quando chegou na festa,
mais cedo, ele se desculpou pelo atraso, dizer que eu nem tinha notado
como resposta aparentemente não foi bem aceito por ele. No entanto, não
estava com disposição para começar uma discussão.
— Está tudo um pouco cheio demais para mim, não gosto disso,
nem sei por que deixei que elas fizessem essa festa. — Desabafei,
procurando uma desculpa para o desconforto que sentia na presença dele.
Ele se aproximou ainda mais, invadindo meu espaço pessoal de uma
maneira que me fez recuar instintivamente. Era um hábito ruim dele, esse
excesso de proximidade que me incomodava profundamente.
— Mas me parece que com o seu amiguinho aqui as coisas ficaram
aceitáveis para você. — Seu tom de voz estava alterado, e pude notar os
sinais de embriaguez em sua fala arrastada. Eu realmente detestava quando
alguém usava esse tom comigo, especialmente bêbado. Não suportava fala
enrolada de quem não conseguia se controlar com o álcool.
— Como eu não tenho muitos amigos, quando um deles está por
perto realmente fica melhor, não tenho por que mentir, não é mesmo? Será
que você pode se afastar um pouco? Eu não gosto que invadam meu espaço
pessoal, dois corpos não ocupam o mesmo espaço! — Minha paciência
estava se esgotando rapidamente. Ele era irritante, e seu comportamento
invasivo só aumentava minha aversão.
— Ah, qual é Emma, a escola inteira sabe que gosto muito de você,
eu tento sempre me aproximar, mas você nunca colabora — ele queria
insistir em uma conversa que eu não tinha interesse em continuar.
— E eu acho que a escola inteira também sabe que não tenho
interesse em você! Eu não sou obrigada a nutrir nenhum tipo de sentimento
por você, e esse pequeno momento só me mostra que eu tenho razão. Se
afasta, por favor! — Minhas palavras saíram em um tom firme e decidido,
mas ele não queria aceitar o meu não como resposta.
— Por que você se faz de difícil assim? Qualquer garota da escola
adoraria estar no seu lugar. Então por que não simplesmente deixa as coisas
rolarem? — Sua insistência beirava o insuportável, e eu lutava para manter
a compostura diante de sua atitude.
— Olha que ótimo, já que a maioria das garotas quer, por que você
não vai atrás de uma delas? Eu não tenho o mínimo interesse em você. E
não estou me fazendo, eu realmente não quero! Você é completamente
desnecessário, garoto. — Minha paciência atingiu o limite, e eu me
preparava para dar um basta naquela situação quando ele se aproximou
perigosamente, quase colando a boca na minha.
Mantive-me firme, encarando-o com determinação, pronta para agir
se ele ousasse ultrapassar ainda mais meus limites.
— Você não entende muita coisa de leitura corporal, não é, garoto?
— Brandon estava parado a poucos passos de nós. Eu nem sei há quanto
tempo ele estava ali, mas lá estava ele. — Saiba que ela está bem preparada
para te acertar um soco pela direita!
— Ah não, cara! Você de novo? Qual o seu problema? Não dá para
ver que estamos um pouco ocupados aqui? — Jack disse, virando apenas o
rosto na direção de Brandon.
— Não me parece que ela está gostando da sua companhia. — Ele
disse sorrindo. — Ela parece bem incomodada na verdade, mas talvez o
álcool não esteja te deixando ver com clareza, então seria bom que a
deixasse em paz, para evitar maiores desconfortos, o que acha?
— Pode deixar que eu resolvo isso, Brandon. Não precisa se
preocupar, ele já estava de saída, não é mesmo, Jack? — Mas como já era
de se esperar, nenhum dos dois me deu atenção.
Homens podem ser muito idiotas quando querem mostrar quem
manda mais, o dono do pedaço. Eles nem parecem mais notar a minha
presença. Aposto que se eu saísse de fininho eles nem iriam perceber e
continuariam brigando como idiotas que são.
Fiquei observando os dois se encararem como galos de briga,
enquanto o centro da discussão, no caso eu, estava prestes a avançar nos
dois.
— Você não está cansado de passar vergonha, garoto? Não vê que a
está incomodando? — Brandon perguntou, chegando um pouco mais perto.
— Vocês estão falando sério ou estão tentando testar a minha
paciência? É melhor os dois pararem de gracinha antes que eu os arranque
daqui a força! Não me preocupo nem um pouco em descer do salto para
isso! — Mais uma vez ignorada com sucesso!
— E vai fazer o que se eu decidir não sair, soldadinho? Acha que eu
tenho medo de você? Você não me conhece, não sabe quem eu sou. Então é
melhor baixar a bolinha aí, antes que as coisas fiquem estreitas para o seu
lado. Ela só faz isso porque sabe que me chama atenção!
Chega! Essa foi a gota d’água que faltava. Cansada da discussão
idiota dos dois babacas infantis na minha frente, peguei Jack pela gola da
camiseta e o fiz me encarar bem de pertinho.
— Saia da minha vista agora mesmo! Eu não estou com paciência
para aguentar a sua idiotice. Melhor ir embora da festa antes que eu mande
alguém te tirar daqui, e garanto que essa vergonha vai se alastrar como fogo
na palha na escola. Se eu fosse você, eu não iria me testar. — Disse com
toda a raiva que eu tinha dentro de mim, com os dentes quase trincando.
Ele retirou a minha mão de sua roupa sem nenhuma delicadeza,
quase levando as minhas unhas com ele, e saiu esbarrando em Brandon, que
apenas sorriu e balançou a cabeça.
— Nossa, achei mesmo que ele não fosse sair. Você está bem,
pequena? Ele parecia um pouco fora de si. — Deu mais alguns passos na
minha direção, cortando de vez a distância.
Pequena? É sério que ele está me chamando assim depois de
simplesmente fingir que não me ouviu?
— Escuta aqui, Brandon. — Apontei o dedo bem no meio da cara
dele, o que o fez arregalar os olhos. Isso quase me distraiu. Olhar
diretamente dentro daqueles olhos azuis encantadores. Mas recobrei o foco
rapidamente. — Da próxima vez que eu não te pedir ajuda, se mantenha de
fora dos meus assuntos. Enquanto você não o visse me agredir, já que eu
não tenho força para competir com um homem. Coisa que acredito que ele
não faria, era bem mais provável que eu o agredisse. Não se meta, a menos
que eu peça! Não sou uma donzela em perigo. Não preciso de um príncipe
em um cavalo branco para me salvar. Sei me cuidar muito bem! Estamos
entendidos? — Nós estávamos tão perto um do outro que eu podia sentir
seu hálito quente e mentolado no meu rosto.
Eu já estava respirando com força, e ele também estava puxando o
ar pesadamente. Seus olhos iam dos meus para a minha boca
constantemente, e passou um bom tempo apenas fazendo isso, sem me
responder.
Nos encaramos pelo que me pareceram horas, as pupilas dele
dilatadas, a respiração tão pesada e ofegante quanto a minha. Nenhum de
nós dois estava disposto a desviar o olhar. Eu estava furiosa. Não suporto
quando me acham fraca. Eu não sou. Posso resolver meus problemas
sozinha. Não preciso de um homem para isso. Mas aquele olhar estava
tirando completamente o rumo dos meus pensamentos.
Meus olhos passaram a ir até os lábios dele, assim como os dele
vinham aos meus, e sem mais nem menos, ele me puxou pela nuca,
esmagando minha boca na dele ferozmente, como se nossas vidas
dependessem daquilo.
O beijo era bruto, cheio de necessidade, fome, desejo. Tudo o que eu
também estava sentindo. Tudo era um reflexo meu. E depois da surpresa
inicial, devolvi com a mesma intensidade, a mesma brutalidade.
Nossos corpos se colaram e se moldaram um no outro tanto quanto
era humanamente possível. Ele me empurrou contra a parede lateral, onde
era mais difícil alguém conseguir nos ver, e aprofundou ainda mais o nosso
beijo, coisa que eu nem pensava ser possível. Ergui meu corpo, obrigando-
me a passar as pernas em torno de sua cintura. Ouvi meu vestido protestar,
mas no momento eu não estava nem aí.
Senti seu membro rijo tocando o ponto mais sensível do meu corpo,
a sensação e a fricção me fazendo arfar. Sua língua explorava cada canto de
minha boca, e a minha a dele com igual necessidade.
Se antes eu pensava que dois corpos não poderiam ocupar o mesmo
espaço, nesse momento eu estava quase desistindo desta ideia.
Suas mãos ágeis passeavam pelo meu corpo, fazendo meu desejo
aumentar ainda mais, a níveis alarmantes e descontrolados.
De repente, lembrei-me de um fato que foi jogado em minha cara na
velocidade de um soco: eu estava sem calcinha. Agora, muito
provavelmente, o terno que ele colocou estava molhado com o meu desejo.
Capítulo
7
Afastei-me de Emma assim que percebi a tensão em seu corpo.
— O que houve? — perguntei, um pouco aturdido pela intensidade
do momento. Balançando a cabeça, tentei me livrar da névoa de desejo que
obscurecia meus pensamentos.
— Eu... eu... — Ela gaguejou, incapaz de encontrar palavras para
explicar o que estava acontecendo.
Sua respiração estava rápida e superficial, e senti seu coração
martelando contra o meu peito, como se estivesse prestes a saltar para fora.
Com cuidado, a segurei enquanto a abaixava lentamente, temendo que ela
desabasse no chão a qualquer momento.
Enquanto a observava, hipnotizado pelo movimento de seus seios
impulsionados pela respiração acelerada, percebi o estrago em seu vestido.
— Droga! Rasguei o seu vestido. — Minha voz saiu quase em um
sussurro, enquanto meus olhos percorriam o caminho rasgado do tecido,
explorando cada centímetro de pele revelada. — Basta me dizer onde
comprou e eu buscarei outro. — Ofereci, ainda sem conseguir desviar o
olhar.
— Não tem problema, não pretendia usá-lo novamente. — Sua
resposta veio com uma pitada de tristeza, mas havia algo mais em seu olhar,
algo que me deixou intrigado.
— Está sem calcinha? — Senti um rosnado se formar em meu peito,
um desejo primitivo que ameaçava consumir todos os meus sentidos.
Olhei para minha calça e vi que estava molhada com a excitação
dela. Minha vontade naquele momento era terminar de rasgar aquela porra
de vestido e meter até as bolas naquela boceta molhada, mas aquele não era
o lugar para isso.
— Acha que mais alguma coisa poderia ser posta entre o meu corpo
e o vestido? — Ela retrucou com sarcasmo, mas havia um brilho desafiador
em seu olhar.
— Nesse momento eu posso pensar no que se encaixaria
perfeitamente entre você e o vestido. — Minha voz saiu estranha, sufocada
pelo desejo que queimava dentro de mim. — Mas, por ora, preciso dar um
jeito de te tirar daqui sem que todos vejam seu corpo.
— Minhas roupas estão todas no quarto, é impossível chegar lá sem
ter que passar no meio de todas as pessoas do hall. — Ela soou em pânico, e
a besta enciumada dentro de mim rugiu.
— Vou te levar no colo. Basta manter seu corpo no meu, que é
impossível que alguém note.
— Eu não vou ser carregada no colo estando sã, isso está fora de
cogitação, vá buscar minhas roupas! — Ela retrucou com firmeza.
— O caralho que eu vou te deixar aqui, praticamente nua, com um
Jack solto por aí, finja um desmaio se quiser, mas eu vou te levar para o
quarto.
Ignorando seus protestos, ergui seu corpo com facilidade, surpreso
com o quão leve ela parecia. Mesmo enquanto protestava, ela se
aconchegou em meu peito, como se quisesse se esconder do mundo ao
nosso redor.
Quando finalmente chegamos ao quarto, garanti que estivéssemos
em um lugar seguro antes de soltá-la.
— Vou arrancar seus ossos e dar para os cachorros! — Ela
exclamou, mas seu tom estava mais carregado de alívio do que de raiva.
— De nada por não ter permitido que te vissem nua. — Respondi,
tentando aliviar a tensão do momento.
— Vire-se! — Sua voz estava firme, e eu não me lembrava de
Emma ser tão mandona.
— Não acredito que vou perder a melhor parte...
— Vire-se! — Falou com mais firmeza.
Resignei-me, erguendo as mãos em rendição e me virei de costas
para ela, concedendo-lhe algum espaço para se recompor.
— Obrigada por me trazer aqui. — Sua voz soou suave, carregada
de uma mistura de sentimentos.
Ia me virar para encará-la, mas Emma gritou, ordenando que eu não
o fizesse.
— Você vai acabar me enlouquecendo, Emma... — Minha voz
escapou em um sussurro carregado.
— O sentimento é recíproco.
Ficamos os dois em meio a um silêncio carregado de tensão,
enquanto ela se livrava do resto do vestido.
— Posso me virar agora? — Perguntei, esperando ansioso pela
resposta. — Não há muito que eu não tenha visto, tudo ficou bem exposto
lá embaixo. — Completei, tentando fazer com que ela entendesse que não
havia nada demais naquela situação.
— Não seja tão rude! E sim, pode se virar. — Ela estava vestida de
forma simples, mas ainda assim charmosa. Um short preto com fios de
prata e um top solto que revelava parte de sua barriga, destacando sua boa
forma.
— Está linda! — Comentei quando encarei seu corpo.
— Prefiro meus moletons — respondeu um pouco envergonhada.
Era compreensível, depois do que aconteceu lá embaixo.
— Você não aceita muito bem elogios não é mesmo? — Brinquei,
tentando aliviar a tensão do momento.
— Na verdade, não, eu não gosto, e também não estou habituada —
ela respondeu com sinceridade.
— Parece até brincadeira. Como uma pessoa tão bonita pode não
estar habituada a receber elogios? Quer dizer, o resto do mundo está cego?
Ou sou eu que enxergo bem demais? — Me aproximei um pouco mais dela
tocando seu rosto com leveza. — Você é linda.
Emma ficou envergonhada com meu comentário.
— Brandon, vamos deixar o papo furado de lado, olha, o que
aconteceu lá embaixo não irá se repetir. Não sei o que deu em você, e muito
menos o que deu em mim, mas nada vai acontecer novamente! Eu não sou
assim... não sou essa mulher sedutora, o tipo de mulher de uma noite que
você está acostumado. Então, seja lá o tenha em mente, esquece, porque
está fora de cogitação.
Parei para considerar suas palavras antes de responder.
— Eu também, para ser honesto, não sei o que me atrai tanto em
você, não que eu esteja mentindo nem nada assim, você é bonita, é
interessante, é engraçada, mas é jovem demais. Eu nunca tinha olhado para
alguém mais nova dessa maneira, e acredite em mim, estou me culpando
por isso todos os dias, mas ainda assim eu não consigo deixar de pensar em
você! O tempo inteiro.... é perturbador, é enlouquecedor. Isso também
nunca tinha acontecido comigo
Ela pareceu desconcertada por um momento, antes de voltar a falar,
mas sabia que não era exatamente isso que queria dizer, não era distância de
mim que Emma queria.
— Que bom que concordamos que isso é realmente louco, porque é,
e pode acarretar muitos problemas, para você e para mim também. Meus
pais enlouqueceriam se soubessem algo desse tipo, e muito provavelmente
você seria processado, meu pai é um ótimo advogado, acabei de completar
dezoito, ele poderia não acreditar que você e eu nunca...
— Mas, isso não significa que não podemos ser ao menos amigos,
certo? — Olhei para ela, esperando por sua resposta.
— Claro, é claro que podemos, posso ter pouca idade, mas consigo
separar bem as coisas, não se preocupe. Sempre adorei sua companhia, sabe
disso.
Mas mesmo enquanto concordávamos em ser apenas amigos, uma
parte de mim sabia que seria difícil resistir à atração que sentíamos um pelo
outro.
— Vamos descer? Acho que devem estar estranhando a minha
ausência, afinal de contas essa festa é minha.
— Ah, tem mais uma coisa que eu queria pedir... não dê falsas
esperanças ao seu amigo, Samuel, não é?
— O que te faz pensar que ele pode gostar de mim? Samuel é tão
reservado, ele nem conversa comigo na frente de outras pessoas.
— Essa pulseira, foi ele que te deu não foi? — Ela olhou para o
pulso e balançou a cabeça positivamente. — Bem, na verdade é uma peça
de família, ele ganhou da avó para dar a alguém especial, acho que ele não
te daria isso à toa. Foi o primo dele que me contou.
— Oh...
— Se soubesse que você ficaria assim, eu não teria te contado.
— Preciso devolver, eu não posso, não posso aceitar isso, é demais.
— Ela parecia desesperada, e eu não sabia como ajudá-la.
— Vai ofendê-lo, e você pode ser alguém especial para ele. Não
precisa ser a futura esposa para ser valiosa! Só deixe claro que é seu amigo.
Eu sabia que não era preocupado com os sentimentos do garoto que
eu estava, era com a minha sanidade e os pensamentos assassinos que
invadiam a minha mente quando eu pensava em qualquer um próximo a ela.
— Okay, eu não vou devolver, mas se um dia ele encontrar alguém,
eu irei perguntar se ele quer de volta, vou apenas guardar para a pessoa
certa então. É isso, farei dessa maneira.
Enquanto ela saía do quarto, eu fiquei por mais alguns instantes,
observando-a pelas costas. Estávamos em uma situação complicada, e não
tinha ideia de como resolver. Mas uma coisa era certa: Emma estava
mexendo comigo de uma maneira que eu nunca havia experimentado antes.
Capítulo
8
Brandon e eu descemos, e eu sentia os olhares curiosos e
especulativos que eram lançados em nossa direção. Não era preciso ser um
gênio para perceber que as pessoas estavam comentando sobre o que
aconteceu lá em cima. O constrangimento era quase palpável, só queria
desaparecer dali.
— Vou falar com a minha irmã depois, apenas negue, nos vemos em
breve, tudo bem? — Brandon falou, e eu senti um misto de alívio e
decepção. Alívio porque ele estava sendo compreensivo, mas decepção
porque isso significava que nossa breve interação tinha chegado ao fim.
Mas meu coração bobo ainda deu um pequeno pulinho com a ideia de vê-lo
novamente.
Assim que ele se afastou, minhas amigas vieram em minha direção,
seus olhos carregados de expectativa e curiosidade.
— O que foi aquilo? — Ester perguntou, com os olhos arregalados
de incredulidade.
— Vocês... — Alicia começou, mas eu a interrompi rapidamente.
— É claro que não, estão malucas? Meu vestido rasgou, ele só me
ajudou a subir. Eu estava com vergonha. — Minha explicação soou um
pouco forçada até para mim, mas era o melhor que eu podia fazer naquele
momento.
Pela expressão delas, ficou claro que não acreditaram em uma
palavra do que eu disse. Sabia que ainda haveria um interrogatório mais
tarde, mas estava decidida a manter minha versão dos fatos. Não queria que
elas soubessem a verdade, porque eu mesma ainda estava tentando
processar tudo o que aconteceu.
Felizmente, consegui sobreviver à festa sem grandes incidentes. Me
despedi de Brandon com um beijinho no rosto, tentando ignorar as faíscas
que ainda pareciam voar entre nós. Mas era impossível esquecer o beijo que
ele me deu mais cedo. Aquilo estava gravado na minha mente de uma
maneira ao ponto de me deixar desnorteada.
Ao me aproximar dele para me despedir, senti um arrepio percorrer
minha espinha quando nossos rostos se aproximaram. Seus lábios macios
roçaram minha pele suavemente, enviando uma onda de calor por todo o
meu corpo. Meu coração disparou e minhas bochechas coraram
involuntariamente. Era como se cada célula do meu corpo estivesse
acordando para a sensação inebriante daquele contato.
Enquanto me afastava, pude ver um brilho misterioso em seus olhos,
como se ele também estivesse afetado pela proximidade. Então, em um
sussurro apenas audível para os nossos ouvidos, ele disse:
— Você é um perigo para a minha sanidade, Emma — disse com um
sorriso sacana brincando nos lábios.
— E você é um cretino irresistível. — Respondi, desafiadora.
A troca de olhares intensos que se seguiu foi interrompida pelo som
de vozes se aproximando, não nos afastamos e a eletricidade entre nós
permaneceu, pairando no ar como uma promessa de algo mais.
— O que aconteceu esta noite, não deveria ter acontecido —
murmurei, meus olhos buscando os dele novamente.
— Eu sei. Mas não consigo evitar sentir que deveria ter acontecido.
— Admitiu, e eu precisei lutar contra a vontade de me aproximar dele
novamente.
— Talvez seja melhor nos mantermos afastados — sugeri, com uma
pontada de hesitação em minha voz.
— Talvez. Mas algo me diz que não será tão fácil assim — retrucou
com suas duas piscinas cristalinas focadas em mim.
Nossas palavras foram interrompidas pelo som de alguém se
aproximando, e nos afastamos rapidamente, mas o olhar que trocamos
deixou claro que aquilo estava longe de ser o fim entre nós.
Nas duas semanas que se seguiram, Brandon ocupou todos os meus
pensamentos, meus sonhos e minhas manhãs tranquilas na varanda. Era
como se eu estivesse viciada nele, como se seus olhos azuis fossem alguma
espécie de droga. Como uma leitora assídua, sabia que essa fixação não era
saudável, então decidi mudar completamente a minha rotina.
Na semana seguinte, fiz de tudo para evitar encontrá-lo. Não o vi
nem de manhã, quando fazia meu ritual do café, nem quando sabia que ele
retornava para casa. Era uma tentativa desesperada de tirá-lo do meu
sistema, de me libertar desse sentimento que estava me consumindo.
Na sexta-feira, quando fui para a escola, encontrei Samuel me
esperando como de costume. Seu olhar se fixou na pulseira que ele me deu,
e notei um leve rubor em suas bochechas.
— Estou feliz que esteja usando meu presente, pensei que depois de
um tempo você tiraria. — Ele comentou, seu tom um pouco tímido.
— Tá brincando? Eu morro de medo de perder, aí eu não tiro nem
para tomar banho. — Respondi, tentando disfarçar o desconforto. Desde
que soube que ele tinha uma queda por mim, comecei a notar mais o seu
comportamento, e era claro que havia algum interesse. Mas enquanto ele
não dissesse nada, eu preferia fingir que não sabia.
— Fico feliz que tenha gostado tanto assim. — Ele disse, mas seu
tom parecia um pouco mais distante do que o habitual.
Como sempre, ao chegarmos à frente da escola, ele apenas me
deixou lá, acelerando o passo para se manter o mais longe possível de mim.
Era como se estivesse evitando uma conversa que sabia que nunca
aconteceria. E eu não podia culpá-lo por isso. Afinal, eu estava fazendo o
mesmo com Brandon.
Era quase impossível não pensar nele sempre que via Ester, mas,
para minha surpresa, durante a primeira semana da minha "desintoxicação"
dele, consegui me sair bem. No entanto, essa ilusão logo se dissipou.
— E aí gatona, como estamos? — Ester perguntou animada,
interrompendo meus pensamentos.
— Bem, Ester. Preciso fazer meu trabalho, vocês vão fazer quando?
— Nossos trabalhos escolares em equipe eram uma tradição entre nós.
Minhas amigas não apenas eram maravilhosas, mas também muito
inteligentes.
Um dia elas dominariam o mundo.
— Dessa vez, vai ser na Alicia! Desde que ela começou a sair com
aquele carinha mais velho, ela tem fugido, agora já chega. — Ester
respondeu com um sorriso travesso.
— Okay. — Eu concordei, pensando em como seria bom ter um
pouco de normalidade em meio ao caos emocional que estava vivendo.
Uma das coisas boas dessas últimas semanas era que, desde o meu
aniversário, Jack não vinha mais me incomodar. Pelo menos até hoje.
Na hora de ir embora, lá estava ele. O modo como se posicionava
ali, esperando por mim, era um tanto perturbador.
— Vai continuar me ignorando, Emma? — Ele se aproximou, e senti
uma mistura de irritação e ansiedade.
— Oi, Jack. Como vai? — Minha tentativa de manter a compostura
provavelmente falhou, considerando o olhar de desgosto que devia estar
estampado em meu rosto.
— Eu estou bem. Posso te acompanhar até o portão? — Ele
perguntou, esperançoso.
— Eu tenho uma escolha de verdade? Quer dizer, você também vai
ter que tomar a mesma direção de qualquer maneira, então... — Respondi
com uma ponta de sarcasmo.
— Você sabe ser bem desagradável quando quer. — Ele comentou,
parecendo um pouco chateado.
— É um dom... Mas sabe, foi você quem foi um babaca, idiota e
desagradável. Vou deixar esses títulos para você! — Minha resposta foi
mais afiada do que pretendia, mas era difícil ser gentil com alguém que me
deixava tão desconfortável.
— Eu sei, e estou aqui justamente para me desculpar. Me excedi, fui
muito desrespeitoso, e não queria deixar essa imagem ruim. Eu realmente
gosto de você, Emma. — Jack parecia genuinamente arrependido, mas suas
palavras não tocaram meu coração da mesma maneira que as de Brandon.
— Sinto muito, mas não é recíproco. Te desculpo, mas não vou
corresponder às suas expectativas. — Fui direta, deixando claro que não
queria alimentar falsas esperanças.
— Sem problemas. Eu já não vou esperar por nada. Posso te
acompanhar? — Ele perguntou, resignado.
— Claro. — Aceitei, decidida a pelo menos tentar manter uma
convivência civilizada com ele.
Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Jack e eu tivemos
uma conversa decente, sem a irritação habitual que ele sempre me fazia
sentir.
Chegamos ao portão da escola e nos despedimos como se fôssemos
velhos amigos, o que foi um alívio. Não gostava de ter inimizade com
ninguém, mas também não estava interessada em construir uma amizade
verdadeira com Jack.
Depois que ele se foi, olhei ao redor e não vi Samuel em lugar
algum. Imaginei que ele devia ter se cansado de esperar por mim e ido
embora. Mas para minha surpresa, quem estava do lado de fora me
esperando era Brandon. Meu coração deu um salto quando o vi, e toda a
calma que tentei manter se esvaiu instantaneamente.
Ele estava sério, muito sério, como se estivesse ali para prender
algum criminoso. Seus olhos se fixaram nos meus assim que me avistou,
mas ele não sorriu, nem fez menção de se aproximar. Parecia muito irritado.
Meus pés pareciam ter sido chumbados ao chão, mas eu tinha
certeza de que estava tentando andar em sua direção.
— Não vai vir até aqui, Emma? — Sua voz gélida cortou o silêncio,
congelando meu sangue e fazendo meu coração bater ainda mais rápido.
Capítulo
9
Os dias que se seguiram depois da festa de Emma foram um
verdadeiro inferno pessoal para mim. Se antes eu pensava que estava louco
por ela, depois de provar do sabor daquela boca esperta, estava entregue
completamente àquela mulher.
O que eu senti quando a beijei só confirmou que estou realmente
com muito tesão naquela baixinha, não pode ser nada mais do que isso.
Aquela pequena tem alguma coisa que me faz esquecer tudo e todos, até
mesmo do que não devo esquecer.
Durante duas semanas, eu a vi um dia sim e outro não antes de ir
para a base. Ela estava sempre com uma xícara de café na mão, o olhar
perdido no horizonte. Quando me via, ela abria um sorriso lindo que
automaticamente melhorava meu humor.
Já estava me acostumando com aquilo, era bom ter um anjo me
observando logo cedo. Mas então, nesta semana, ela desapareceu, como
fumaça no ar. Não a vi mais. Fiquei perdido, irritado, mais uma vez tive
dificuldades para me concentrar no que deveria fazer. Ela estava querendo
me enlouquecer, muito embora o verdadeiro perturbado seja eu, achando
que posso obrigar alguém a estar onde eu quero que esteja.
Perguntei a Ester se ela tinha alguma notícia sobre ela. Minha irmã,
como sempre, não caiu no meu papo.
— O que é que está acontecendo entre vocês dois? — Ester
perguntou, fixando seus olhos nos meus com uma expressão inquisitiva.
— Nada, apenas nos aproximamos mais dessa vez. — Respondi,
tentando parecer indiferente.
Ester arqueou uma sobrancelha, não parecendo convencida com
minha resposta.
— Emma desapareceu, e eu estou ficando louco sem saber onde ela
está. — Confessei, deixando escapar minha frustração.
— Ela tem ido todos os dias para a escola. Estamos nas provas
finais e não podemos faltar. — Ester disse, suavizando seu tom.
Fiquei tão irritado quanto perplexo com a informação.
— Como assim? Eu não a vi nem uma vez.
Ester suspirou, parecendo um pouco exasperada.
— Emma é minha melhor amiga, e se você machucar os
sentimentos dela, mesmo sendo meu irmão, eu jamais o perdoaria —
declarou, com um olhar sério.
— Eu não machucaria Emma. A vi crescer, ela significa muito para
mim também. Só fiquei preocupado, nada demais. — Respondi, tentando
acalmar sua preocupação.

Na sexta-feira, assim que se aproximou o horário da saída dela,


decidi ir até a escola. Samuel estava no portão esperando por ela, como de
costume. Ao me aproximar, ele disparou:
— Então… veio buscar sua irmã?
— Estou apenas de passagem, mas seu primo me pediu que eu te
avisasse que sua mãe precisa de você, então passei aqui para dizer.
Eu sabia que essa desculpa seria desmascarada assim que ele
chegasse em casa, mas no momento, estava desesperado e não pensei em
nada melhor para dizer.
— Que estranho… O que ela pode querer? — murmurou para si
mesmo.
— Não sei, mas ele pediu que descesse imediatamente. Já faz um
bom tempo que você saiu e ainda não foi para casa.
— Será que pode ficar e dizer a Emma que já desci?
— Claro.
Idiota…
Esperei mais alguns minutos antes de avistá-la. Para o meu total
desgosto e para alimentar esse sentimento irracional de posse que eu tinha
por ela, a bendita veio acompanhada pelo filho da puta que quase a beijou à
força.
Meu alívio por vê-la foi rapidamente substituído pela raiva. Todos
os músculos do meu corpo ficaram tensos. Se eu não fosse treinado para
controlar minhas emoções, principalmente as que tendem a sair do controle
rapidamente, eu provavelmente já estaria arrancando os dentes daquele
imbecil no soco.
Ela correu os olhos pela rua, e seu corpo parou os movimentos
assim que seus olhos se chocaram com os meus. Ela é linda até mesmo com
essa cara de surpresa. Não deu nenhum passo, sua boca se abriu um
pouquinho. Imaginei que devia estar se perguntando o que eu estava
fazendo ali.
Minha expressão não deve estar das melhores. Ela parece estar um
pouco assustada, talvez. Não dá para ter certeza.
— Não vai vir até aqui, Emma? — Tentei não parecer tão duro, mas
falhei miseravelmente. O fato de vê-la próxima àquele imbecil acabou com
meu humor, que já não estava dos melhores.
— Ah, é claro. — Ela andou um pouco e parou diante de mim. —
Como vai, Fuzileiro? Estou surpresa com sua presença aqui. Veio procurar
pela Ester? Acho que ela já foi.
Ela sorriu, mas dava para ver que não era um riso autêntico. Ela
estava nervosa, o corpo dela dizia tudo.
— Não, eu não estou procurando por ela. Vim ver você! Parece que
está tentando fugir de mim, queria saber o motivo, mas parece que me
precipitei um pouco, você já tinha uma companhia… — Maneei a cabeça
na direção por onde Jack tinha seguido.
Era óbvio que eu não tinha direito nenhum de reclamar, mas esse
sentimento irracional crescendo dentro de mim não parecia se importar com
isso.
Pelo visto, meu pequeno anjo não gostou nem um pouco do que
acabei de falar. Sua surpresa inicial foi completamente substituída por uma
raiva mal contida, como se estivesse lutando para não me dar um belo soco.
Ela sorriu mais uma vez, mas de incredulidade.
— Desculpa, o que foi que você disse? Eu realmente acho que
escutei errado. Devo ter tido algum tipo de alucinação, o tempo sem comer
somado ao calor, talvez…
Claro que ela iria dar uma de desentendida, ou realmente não tenha
entendido, nem eu mesmo estou entendendo, mas ainda assim, fiquei mais
irritado quando ela terminou de falar.
— O que estava conversando com ele? Esqueceu que quase te
agarrou à força? O que teria acontecido se eu não tivesse aparecido naquele
dia? E agora você fica aí, dando esperanças para ele. — Ela estava
vermelha de raiva, os lábios cerrados em uma linha fina. Até nervosa, ela
era atraente.
Eu vou acabar perdendo o juízo.
— Brandon, eu realmente acredito esteja me confundindo com
alguém, porque isso não é possível. Você é o que? Meu pai? Meu
namorado? Marido? E mesmo se fosse, nada disso te daria nenhum direito
de vir até aqui para me cobrar nada! — Retrucou, pude sentir a irritação
borbulhar dentro dela.
— Só estou preocupado. E se Jack pensar que, por você ter falado
com ele, está aceitando o que fez? — Menti descaradamente para tentar
diminuir o peso daquela fúria que estava me consumindo.
— Olha... não sei em que século você vive, mas está ciente de que
aquele beijo não te dá direito nenhum sobre mim, minha vida e minhas
escolhas, não está? — Ela disparou, seus olhos faiscando de indignação.
Cada uma das palavras dela me deixava ainda mais furioso. Olhei
para cima, tentando manter minhas emoções abaixo da superfície.
— E quem está falando sobre beijo? Eu nem me lembrava mais. Só
fiquei preocupado. Você é minha amiga, ou estou errado? Foi o que eu te
disse depois de tudo aquilo. — Tentei buscar uma desculpa para meu
comportamento vergonhoso, e parece que deu certo, pelo menos eu achava.
— Amigo? — Ela bufou, incrédula. — Um amigo não fica seguindo
e vigiando o outro como se fosse a polícia. Um amigo não age como se
fosse dono da vida do outro. E um amigo não aparece do nada para bancar o
ciumento possessivo!
— Não estou agindo como um ciumento possessivo! Só estou
preocupado com você. Amigos não se preocupam? Posso ser um idiota, mas
isso não significa que eu não deva me importar com o que acontece com
você.
— E quem disse que preciso que você se importe? Você logo vai
embora novamente, e se já era difícil antes... — suspirou cansada.
Agora consigo entender o distanciamento, ela está com medo da
minha partida.
— Não quero que doa mais do que o necessário — concluiu.
Eu me senti perdido, incapaz de encontrar uma resposta que não
fosse um amontoado de desculpas e justificativas.
— Emma, eu... — Comecei, mas ela não me deu chance de
continuar.
— Olha, acho melhor você ir embora antes que eu perca
completamente a paciência! — Ela declarou, apontando na direção oposta.
Eu queria argumentar, queria tentar consertar as coisas, mas as
palavras morreram em minha garganta enquanto olhava para ela, meu
coração apertado de raiva e frustração.
— Emma, por favor, me escuta... — Tentei, mas ela já estava se
afastando, determinada a não me ouvir mais.
Respirei fundo, tentando acalmar os sentimentos corrosivos que se
agitavam dentro de mim. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu estivesse
agindo de forma possessiva e controladora, tentando de alguma maneira
guardá-la apenas para mim, mas e quando eu partisse? Partiria o coração
dela.
Eu não tinha o direito de agir assim. Sacudi a cabeça para afastar os
pensamentos turbulentos e comecei a caminhar de volta para casa.
Capítulo
10
Os meses que se seguiram à formatura foram como uma jornada
solitária através de um túnel escuro e interminável. Cada dia parecia uma
batalha contra a saudade, uma luta constante para preencher o vazio
deixado pela partida de Brandon. Depois da cerimônia de formatura, ele
partiu, deixando para trás apenas lembranças e a promessa incerta de um
reencontro.
Nos três meses em que ele esteve ao meu lado, tantas coisas
aconteceram, tantos momentos compartilhados que se tornaram preciosos
para mim. Apesar da tensão sexual constante quando estávamos juntos; ele
se tornou um verdadeiro amigo, um confidente em quem eu podia confiar
plenamente.
Passamos horas rindo juntos, compartilhando histórias de suas
viagens, ele me ensinou a tocar violão, pacientemente, nota por nota, como
se estivesse gravando músicas em minha alma.
Mesmo com o desejo que era explicito em nossos olhares, Brandon
sempre foi respeitoso, nunca mais ultrapassou nenhum limite que nos
impomos. Sua presença era um conforto para minha alma, um refúgio
seguro nos momentos de turbulência. Cada olhar, cada sorriso que fazia
meu coração disparar, cada toque que arrepiava minha pele, nos aproximava
ainda mais.
Agora, com ele tão distante, eu sentia um vazio imenso, como se
parte de mim estivesse perdida em algum lugar do mundo, junto ao meu
Fuzileiro. A dor da sua ausência ecoava dentro de mim, relembrando-me
constantemente da sua falta.
E assim eu esperava, contando os dias, as horas, os minutos, até o
tão aguardado reencontro. Porque eu sabia, no fundo do meu coração, que
quando esse dia finalmente chegasse, eu teria a chance de dizer a ele todas
as palavras que ficaram presas dentro de mim, todas as emoções que fui
covarde e não pude expressar antes de ele partir.
Ester irrompeu no quarto de Brandon com a energia de um furacão,
sua voz ressoando pelas paredes enquanto gritava:
— Achei você!
Surpresa, eu levantei os olhos do livro que estava lendo, vendo-a
parada na porta com um sorriso brilhante no rosto.
— Ester, quase me matou do coração. O que foi?
— Brandon fez uma chamada de vídeo e queria falar com você.
Imaginei que você estaria aqui — ela respondeu rapidamente, seus olhos
brilhando com excitação.
Sem hesitar, nos apressamos para descer as escadas e nos juntamos
aos pais deles na sala. Brandon estava lá, sua imagem piscando na tela do
laptop, e meu coração deu um salto ao vê-lo. Seus olhos estavam fixos nos
meus.
— Oi, Fuzileiro... — minha voz falhou.
Seus olhos estavam cansados, mas ainda assim brilhavam com a
familiaridade reconfortante que eu tanto sentia falta.
— Emma — ele disse suavemente quando me viu, sua voz, mesmo
do outro lado daquela tela, fazendo-me arrepiar. — Está tudo bem, você não
precisa se preocupar.
As lágrimas começaram a encher meus olhos enquanto lutava para
conter a emoção.
— Sinto tanto sua falta — murmurei, minha voz falhando
novamente.
— Eu também sinto sua falta, pequena — ele respondeu, sua
expressão suavizando com ternura. — Mas estou trabalhando para reparar
isso. Estamos a algumas semanas fora, mas logo estarei de volta.
Suspirei, sentindo um alívio temporário ao ouvir suas palavras.
— Mal posso esperar para que você volte — respondi sinceramente.
Seus olhos se fixaram em uma das minhas mãos, e uma sombra de
raiva passou por eles antes de desviar.
Os pais de Brandon observavam silenciosamente nossa estranha
interação, suas expressões curiosas e atentas. Eu me senti um pouco
desconfortável sob seus olhares penetrantes, mas sabia que eles estavam
mais preocupados com o bem-estar de Brandon do que com a nossa
amizade melosa.
Ele ignorou meu comentário e falou de forma brusca:
— Vou ter que desligar, vejo vocês em breve — sua voz estava tão
gélida quanto seu olhar.
Assenti, engolindo o nó na minha garganta.
— Estarei esperando — murmurei, desejando que pudesse tocá-lo
através da tela.
Com um último olhar, Brandon simplesmente encerrou a chamada
sem se despedir de ninguém. Fiquei lá, sentindo-me vazia com sua
ausência, mas também confusa com sua reação fria.
Ester olhou para mim com uma expressão estranha, seus olhos
misturando curiosidade e preocupação. Ela percebeu imediatamente que
algo estava errado.
— O que foi aquilo? — perguntou suavemente, mas havia um pouco
de incerteza em sua voz.
Meus olhos caíram sobre minhas mãos, e ali estava um anel,
brilhando em minha pele. Era um anel simples em meu dedo anelar, mas
para alguém que vê, talvez possa parecer de compromisso. E agora, olhando
para minha mão, tudo o que eu conseguia pensar era no que Brandon
poderia ter pensado ao vê-lo.
— Será que ele pensa que eu estou...— comecei a dizer, mas minhas
palavras morreram em minha garganta. Eu não conseguia nem completar a
pergunta, a incerteza me consumindo por dentro.
O olhar de Ester se intensificou, seu rosto mostrando preocupação.
— Não, ele não deve ter notado isso — ela tentou me tranquilizar,
mas suas palavras não tiveram o efeito desejado.
Eu sabia. Vi a expressão gélida nos olhos de Brandon quando seu
olhar se fixou no anel, e a tensão de sua mandíbula mesmo através da tela
do computador. Ele definitivamente pensava que eu estava envolvida com
alguém, e isso me deixou ainda mais confusa sobre seus verdadeiros
sentimentos.
Ester olhou para mim com um brilho de animação nos olhos, como
se estivesse prestes a revelar um grande segredo.
— Hey, você se importa se eu te acompanhar até a faculdade mais
tarde? Alicia também vai, e estamos pensando em ir para um barzinho
depois das aulas.
Eu hesitei por um momento, não muito animada com a ideia de sair,
mas então lembrei que ficar em casa significaria enfrentar mais um dia de
silêncio opressor e tensão familiar.
— Não sei, Ester... Eu não estou realmente a fim de sair hoje.
Ester franziu o cenho, claramente não satisfeita com minha resposta.
— Por que não? Você parece precisar de um tempo longe daqui.
Como estão as coisas em casa, aliás?
Suspirei, sentindo o peso das preocupações familiares pesarem em
meus ombros.
— Não muito bem. Meu pai mal está falando comigo ultimamente.
Desde que falei que não sabia se queria ser advogada as coisas entre nós
ficaram estranhas.
Ester assentiu compreensivamente, mas sua expressão era
determinada.
— Entendo. Mas talvez seja ainda mais um motivo para você sair
um pouco, sabe? Ficar longe de casa por um tempo pode te ajudar a clarear
as ideias e a relaxar. E além do mais, você precisa se divertir, Emma. Você
merece.
Eu balancei a cabeça, ainda incerta.
— Eu sei, mas...
Ester não me deixou terminar, interrompendo com sua insistência.
— Sem “mas”. Vai ser divertido, prometo. E você vai sentir falta de
sair com suas amigas quando estivermos em época de provas, então por que
não aproveitar agora?
Eu me vi quase cedendo à persuasão de Ester, sabendo que ela só
queria o melhor para mim.
— Ester... você sabe que eu não sou muito fã desse tipo de lugar.
— Você não vai se arrepender, eu prometo.
A incerteza se misturou com a frustração, e eu me perguntei se
deveria ter tirado o anel antes da chamada de vídeo. Mas agora era tarde
demais para mudar isso.
— Emma, por favor, pense nisso — insistiu ela, com um olhar
preocupado. — Alicia também vai, desde a formatura não nos vemos as
três, poderíamos nos divertir juntas. Além disso, um tempo fora de casa
pode te fazer bem.
Balancei a cabeça, relutante.
— Eu realmente não estou no clima para sair, Ester. Acho que
prefiro ficar em casa hoje.
Seu olhar se tornou mais penetrante, como se ela estivesse buscando
algo em minha expressão. Então, ela perguntou hesitante:
— Emma, isso tem a ver com Brandon, não tem?
Aquelas simples palavras foram como uma faca, cortando direto ao
coração da minha angústia. As lágrimas vieram imediatamente, e eu mal
conseguia articular uma resposta.
— Sim — admiti, deixando a dor transparecer em minha voz. —
Não consigo... não consigo parar de pensar nele.
Ester me envolveu em um abraço reconfortante, e sua compreensão
foi como um bálsamo para minha alma ferida.
— Eu sempre soube, Emma — ela disse suavemente. — Sempre
soube que você amava meu irmão. Só estava esperando até que estivesse
pronta para me contar. — Sorriu. — Você é como um livro aberto, não sabe
disfarçar.
Aquelas palavras me atingiram com uma mistura de alívio e tristeza.
— Eu sei que ele ama o que faz — murmurei entre soluços. — Mas
dói tanto não o ter por perto.
Ester segurou minhas mãos com firmeza, seus olhos cheios de
compaixão.
— Você não pode deixar de viver por causa dele, Emma — ela disse
com determinação. — Brandon ama o que faz, e você precisa encontrar sua
própria felicidade, mesmo que ele não esteja por perto. Eu estarei aqui para
te apoiar, sempre.
Aquilo foi um lembrete reconfortante de que eu não estava sozinha,
mesmo nos momentos em que a dor parecia quase sufocante.
Respirei fundo e, com um suspiro resignado, concordei com Ester.
— Tudo bem, eu vou ao bar com vocês — murmurei, embora
deixasse claro em minha expressão que não estava totalmente feliz com a
ideia.
Ester sorriu amplamente e me abraçou com carinho.
— Você não vai se arrepender, Emma. Vai ser divertido, prometo —
disse ela, tentando me animar.
Retribuí o abraço, forçando um sorriso sincero. Apesar das minhas
preocupações e dores, sabia que tinha sorte por ter uma amiga tão
compreensiva e solidária como Ester ao meu lado.
Capítulo
11
Dois anos antes da dispensa
Faz muitos meses que não posso voltar para casa, a saudade de
Emma me consumia todos os dias, mesmo sabendo que ela havia seguido
em frente e que não era nela que eu deveria pensar.
A quem estávamos querendo enganar? Era mais do que óbvio que
não era apenas a amizade que queríamos um do outro.
E agora ela me deixou para trás.
Minha família era tudo para mim, mas era por Emma que eu quase
enlouquecia para terminar aquela missão e voltar para casa
Sean, olhou para mim com aquele ar idiota de sempre, enquanto
estávamos em nosso alojamento temporário no meio de uma operação.
— Você parece um caco, cara. Está tudo bem? — perguntou ele, sua
voz com aquele tom de brincadeira de sempre. — Quer dizer, está ainda
pior do que de costume, todos sabem que o bonito do squad sou eu.
— Idiota.
Tentei forçar um sorriso, mas a verdade era que estava lutando para
manter minha sanidade em meio à saudade que sentia de Emma.
— Nem parece que está com as bolas vazias. Parece cara de quem
comeu a noite toda e não gozou. —Sorriu.
— Precisamos encerrar tudo isso de uma vez — respondi
evasivamente, tentando desviar o assunto para o trabalho, enquanto a
imagem de Emma continuava a assombrar meus pensamentos.
Sean franziu o cenho, percebendo que algo mais estava
acontecendo. Ele conhecia minha obsessão com Emma e sabia o quão
difícil era para mim estar tão longe dela por tanto tempo.
— Você realmente acha que deveríamos estar nos concentrando
nisso agora? — perguntou ele com sinceridade.
Eu baixei o olhar bufando frustrado.
— Não, eu só... Preciso estar em casa. Preciso estar lá no aniversário
dela — admiti, deixando escapar um suspiro pesado.
Connor, o líder do nosso esquadrão, interveio, sua voz firme soando
cansada, tanto quanto as nossas.
— Se querem voltar para casa, é bom se concentrarem. Temos um
trabalho a fazer aqui — olhou para o céu. — Essa porra parece que não
acaba nunca.
Eu assenti em concordância, sabendo que ele estava certo. Mas,
mesmo assim, meu coração aguardava ansioso pelo momento em que
finalmente estaria de volta.
Enquanto isso, minha equipe e eu continuávamos nossa missão,
enfrentando perigos em um ambiente hostil. Sean, Brandon e eu éramos
muito próximos, compartilhando não apenas o fardo da operação, mas
também nossas preocupações pessoais.
Eles também eram minha família.
— Essa garota virou mesmo sua cabeça, não é? — Connor
perguntou quando nos deitamos. — Não consigo entender como alguém
como você criou laços...
— Ele é o mais fácil de nós para criar laços, Connor. — Sean
pontuou. — Pense bem, Brandon é apaixonado pela família, tem pais que o
apoiam... eu tenho apenas a minha mãe e você...
— Eu não tenho ninguém. — Connor concluiu. — Tem razão.
— Não sei bem que tipo de laço criei com ela, mas é algo obsessivo,
um pouco doente para ser honesto... não sei se é saldável para ela —
suspirei. — E você deveria falar com seu pai — eu tentei, novamente.
— Não tenho pai, Brandon — suspirou. — Ele e a amante podem ir
para o inferno, não me importo, assim como ele não se importou em ser o
prego que faltava no caixão da minha mãe.
Família sempre foi um assunto delicado para os meus amigos, mas
não para mim.
— Como quiser... só não diz que não tentei.
— Faremos o possível para que você esteja lá antes do aniversário
dela. — Connor deu um tapinha em meu ombro antes de se virar para
dormir.
Mesmo com o apoio dos meus colegas de equipe, a saudade de
Emma continuava a me consumir. Eu pensava nela constantemente,
imaginando como estaria lidando com minha ausência, se ela estava
namorando apenas para tentar me esquecer...

Finalmente, o dia da nossa infiltração se aproximava, e eu mal podia


conter a ansiedade. Sean, Connor e eu nos preparamos para a última fase da
operação, determinados a completá-la com sucesso para que pudéssemos
finalmente voltar para casa.
Nove meses fora... não sei por quanto tempo mais conseguirei viver
assim.
Durante o voo de volta, minha mente estava cheia de pensamentos
sobre Emma. Eu mal podia esperar para vê-la novamente, para abraçá-la e
dizer-lhe o quanto senti sua falta durante todos esses meses. Mesmo que
apenas como amigo.
Quando finalmente pisamos em solo familiar, meu coração batia
forte de antecipação. Sean me deu um tapa amigável no ombro, um sorriso
de incentivo em seu rosto.
— Você está prestes a ver sua garota, cara. Boa sorte — disse ele,
seus olhos brilhando com emoção compartilhada.
— Minha melhor amiga...
— Sei — gargalhou. — Mas não era dela que eu estava falando.
Senti como se tivesse levado um soco.
Enquanto eu me preparava para partir em direção à cidade vizinha,
onde algo mais urgente me aguardava, meu coração estava dividido entre o
dever e o desejo de estar em casa no dia do aniversário de Emma. Era uma
batalha interna constante entre a responsabilidade e o anseio de estar ao
lado dela em um momento tão especial.
Por mais que minha mente racional sussurrasse que eu não deveria
abandonar meus compromissos, meu coração insistia em clamar por Emma.
No entanto, sabia que não podia simplesmente largar tudo e ir em
direção ao meu desejo insano. Havia algo que precisava fazer,
responsabilidades que não podiam ser ignoradas. Eu era um soldado antes
de ser um amante, manter minha mente focada era algo que deveria
dominar com facilidade.
Mas não tem sido assim.
Apesar da dor que sentia ao deixar Emma para trás mais uma vez,
eu me consolei com a esperança de que poderia estar ao seu lado em breve.
Afinal, ela entenderia que eu estava apenas cumprindo meu dever e que
minha ausência não significava muita coisa, afinal... ela seguiu em frente
também.
Enquanto dirigia em direção à cidade vizinha, mantive meu olhar
firme na estrada à minha frente, tentando afastar os pensamentos sobre
Emma que teimavam em invadir minha mente. Sabia que não seria fácil,
mas eu precisava ser forte, não apenas por mim, mas também por ela.
O tempo passou lentamente enquanto eu me aproximava do meu
destino, e com cada quilômetro que percorria, a ansiedade crescia dentro de
mim.
Mas havia aquela voz, aquele doce canto de sereia no fundo da
minha mente que dizia que eu deveria estar lá no dia do aniversário dela,
que ela amaria me ver. E no fundo eu sabia que já havia decidido que seria
assim, mas mentia para mim mesmo dizendo que não.
E foi isso que eu fiz. Assim que pude, larguei tudo para trás e corri
para casa, ansioso para finalmente vê-la novamente depois de tanto tempo.
Do meio do caminho decidi organizar uma surpresa para ela, queria tornar
tudo o mais especial possível.
Ao entrar na casa, fui recebido pelo caloroso abraço dos meus pais e
da minha irmã. Mas meus olhos procuravam ansiosamente por Emma, ela
costumava estar sempre com Ester.
— Ela não está aqui... — Ester entendeu logo quem estava
procurando. — Crescemos Brandon, ela faz faculdade, tem mais
obrigações, mas não significa que não nos vemos mais. Ela comentou que
iria sair daqui a pouco, vai me mandar uma mensagem para que eu possa ir
dar um beijo nela. Terei que ir em uma viagem com a galera da faculdade,
então só poderei comemorar com ela quando chegar.
Aquilo foi como um balde de água fria sobre mim. Eu havia corrido
tanto para chegar até ali, alimentando a esperança de revê-la e agora me via
diante da realidade de que teria que esperar um pouco mais.
No entanto, a compreensão de Ester sobre a situação trouxe um
certo conforto. Ela sempre foi uma irmã carinhosa e compreensiva, capaz
de entender muito bem as pessoas ao seu redor.
Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade que ameaçava
consumir-me. Sabia que não adiantaria ficar inquieto e que precisava
manter a calma até que pudesse vê-la.
— Vou esperar com você então — respondi, forçando um sorriso
que não refletia o estado que estava por dentro.
Com isso, Ester assentiu com um sorriso reconfortante e retornou às
suas atividades. Enquanto ela se afastava, me vi sozinho na sala, perdido em
meus pensamentos.
O tempo parecia se arrastar lentamente enquanto eu aguardava, cada
minuto parecendo uma eternidade. Mas Emma valia cada segundo de
espera.
— Ela está saindo, vamos? — Ester perguntou cerca de uma hora
depois.
Ao me dirigir para a porta, no entanto, uma sensação familiar de
raiva começou a se acumular dentro de mim. Era como se uma fera
adormecida despertasse em minhas entranhas, pronta para se lançar contra
qualquer ameaça que se interpusesse em meu caminho
Ela estava lá, na frente de sua casa, parada diante de Samuel, e
assim que seus olhos cruzaram com os meus vi seu rosto expressando uma
mistura de surpresa e angústia.
Os olhos de Samuel, por sua vez, faiscavam com uma intensidade
quase ameaçadora. Era evidente que ele sabia o que eu significava para ela,
mas meu foco estava inteiramente em Emma, que parecia estar prestes a
desabar a qualquer momento.
Emma estava deslumbrante, vestida com elegância e sofisticação, e
uma pontada de inveja perpassou meu peito ao pensar que ela poderia estar
indo encontrar seu namorado. A ideia de que outro homem pudesse ocupar
o espaço que eu tanto almejava em seu coração era como um punhal em
minha alma, corroendo-me por dentro como um veneno letal.
Talvez seja Samuel o namorado dela. — A voz da besta em meu
interior fez questão de injetar mais ira ao meu sangue.
Enquanto eu lutava para manter minha expressão impassível,
disfarçando a tempestade que rugia dentro de mim. Não podia deixar que
Emma percebesse o quanto aquela cena me afetava, mas ao mesmo tempo,
eu não conseguia evitar a sensação de ciúme e frustração que ameaçava me
consumir por completo.
Ela continuou a me olhar, sem desviar a atenção nem por um
instante e eu sorri por dentro, era bom saber que ainda causava o mesmo
efeito nela.
Capítulo
12
Eu estava pronta. Minha mãe havia me deixado como uma deusa, e
o horário do combinado estava se aproximando.
Era meu primeiro encontro, deixei dezenove anos da minha vida
passar. Então decidi sair com Samuel, depois de tanto tempo colocando
minha vida em segundo plano, era hora de nos dar uma chance. Ele vinha se
esforçando para me conquistar nos últimos meses.
Mas o destino é um grande filho da puta quando quer, e ele parecia
disposto a me enlouquecer naquele dia.
Quando desci para encontrar Samuel, lá estava ele… Brandon.
Lindo como sempre.
Por que ele tinha que estar ali naquele momento? O que mais o
destino poderia fazer para confundir meu pobre coração?
Parecia que o universo estava tentando me dizer algo, talvez me
lembrar de não o esquecer...
Era óbvio que eu estava pensando demais, mas era difícil ignorar a
presença de Brandon. Ele era como uma doença em meu sistema.
Brandon caminhou em minha direção junto com Ester, e eu sabia
que aquilo não ia acabar bem. Tanto eu quanto ele éramos péssimos em
separar nossos sentimentos quando uma terceira pessoa se colocava entre
nós.
— O que está acontecendo aqui? — Brandon perguntou, ignorando
completamente Samuel e dirigindo-se a mim com um olhar penetrante. Ele
encarou o carro de Samuel como se quisesse explodi-lo com os olhos. —
Para onde está indo com ele? — Sua pergunta soou com um tom de
grosseria.
— Oi, Fuzileiro. Como vai? Já faz um tempo que não nos vemos,
senti sua falta... — Tentei manter um tom amigável, mas ele não me deixou
terminar.
— Você sabe muito bem que quando eu sumo assim é porque estou
em missão. Não posso entrar em contato durante esse tempo, já te expliquei,
e isso não é desculpa... — Ele estava visivelmente irritado.
Brandon estava respirando fundo, como se estivesse lutando para
conter a raiva com todas as suas forças.
Se eu não soubesse exatamente quem ele é, poderia jurar que ele
estava considerando as consequências de matar Samuel ali mesmo.
— Desculpa de que, Brandon? Eu não estou te entendendo... O que
está acontecendo? Por que está tão nervoso? Eu e Samuel combinamos de
sair, só isso.
— Brandon, se acalma, por favor. — Ester tentou intervir, mas
parecia ser em vão.
— Então você prefere passar o seu aniversário com ele em vez de
estar com sua família e seus amigos? — Ele apontou o dedo na direção de
Samuel.
— Brandon, por favor, você está se comportando como um idiota!
Ester é minha melhor amiga há muito mais tempo e está feliz por mim. Por
que está agindo assim? — Respirei fundo e o encarei. — Preciso ir antes
que isso fique ainda mais constrangedor. Nos vemos mais tarde, eu aviso
quando estiver voltando.
Ele estava como uma fera enjaulada, suas pupilas dilatadas e suas
mãos fechadas com força, uma delas em torno de onde eu sabia que
carregava sua arma. Imaginei que ele estava pensando em usá-la naquele
momento.
Minha mente girava, tentando entender o que havia acontecido.
Sentia-me perdida, confusa e com o coração partido.
Eu queria tê-lo abraçado, ter sentido seu calor junto a mim, ter dito o
quanto a saudade que sinto dele tem me matado aos poucos, mas meu
estado de choque com as suas ações me impediu de pensar em qualquer
coisa.
E o destino parecia estar brincando comigo mais uma vez, me
lembrando de que não era fácil escapar dos sentimentos que Brandon
despertava em mim.
Me aproximei de Ester com um misto de frustração e indignação
visíveis em meu rosto.
— Por favor, conversa com ele. Eu não sei o que diabos deu nele,
mas não posso simplesmente dizer ao Samuel que não vou porque Brandon
é louco! — Desabafei, sentindo o peso da situação.
Ela assentiu compreensivamente, suspirou e me abraçou antes de
voltar para sua casa, sem dizer mais nada.
O clima estava pesado e eu me sentia completamente deslocada.
Minha mente estava em tumulto, e a vontade de desistir de tudo e correr
para os braços do meu fuzileiro era grande demais. Mas até quando
viveríamos assim, presos em um ciclo de sentimentos não resolvidos?
— Eu acho que ele não gostou muito... — Samuel comentou,
interrompendo meus pensamentos assim que me sentei ao seu lado.
Não pude evitar uma risada irônica.
— Não se preocupe com isso. Brandon não é muito fã de nada, mas
quem decide as coisas aqui sou eu. É só porque é meu aniversário, mas ele
não deveria ter agido dessa maneira. Sinto muito, eu não sabia que ele iria
voltar.
Era constrangedor ter que me explicar dessa forma, mas era
necessário. Samuel parecia desconfortável com a situação, e eu me sentia
cada vez mais embaraçada.
— Você quer marcar para outro dia? — Ele perguntou, parecendo
genuinamente preocupado.
A ideia de abandonar aquele encontro já era tentadora e com ele
oferecendo dessa maneira soava ainda mais atraente.
— Não se preocupe com isso. Brandon tem o costume de exagerar.
Assim que eu chegar em casa, vou falar com ele. Ele vai sobreviver até lá.
— Tentei soar confiante, mesmo que por dentro estivesse me corroendo de
ansiedade.
Ele me olhou de forma estranha por um momento, mas logo abriu
um sorriso.
— Bom, sendo assim, vamos lá. Fiz uma reserva em um ótimo
restaurante. Você gosta de comida oriental? — perguntou, mudando de
assunto.
A pergunta me fez sorrir em resposta.
— Eu amo. — Respondi, tentando me animar para o restante do dia.

O almoço foi agradável, conversamos sobre meus escritores


favoritos e Samuel se mostrou uma ótima companhia, mesmo que minha
cabeça tentasse jogar Brandon em meus pensamentos constantemente.
Mas minha tranquilidade foi interrompida pelo incessante vibrar do
meu celular.
— Quer verificar? Eu sei que quer. Não tem problema. — Ele disse,
percebendo minha agonia.
Estava tentada a recusar, mas a curiosidade foi mais forte.
— Me desculpe, vou dar uma olhada. Pode ser algo importante. —
Falei.
Peguei o celular nas mãos e me deparei com uma sequência de
mensagens de Ester, todas elas pedindo que eu ligasse para ela. Uma após a
outra, o tom de urgência aumentava, e uma sensação de apreensão cresceu
dentro de mim.
— Hum, eu preciso fazer uma ligação, se importa se eu me retirar
um minutinho? — Perguntei a Samuel, que prontamente concordou, sem
parecer muito preocupado.
Saí da mesa e fui para um canto mais reservado para retornar as
ligações. Encontrei Alicia e Ester juntas, ambas parecendo alvoroçadas.
— Uma de cada vez, por favor! — Pedi, tentando entender a
confusão.
— Brandon havia preparado uma surpresa para o seu aniversário.
Algo que pareceu especial e importante, não nos deu muitos detalhes sobre
o que ou onde era…
A ironia da situação me atingiu em cheio. Ele some por meses, volta
causando um escândalo, e agora descubro que tinha algo planejado para
mim. Era lindo e ao mesmo tempo confuso.
Depois da revelação, o restante do almoço se arrastou sem graça.
Samuel, apesar de tentar manter o clima leve, não conseguiu prender minha
atenção. Cerca de quarenta minutos depois, ele me deixou em casa.
— Sinto muito...
— Não se preocupe, sempre soube que não poderia competir com
ele — sorriu levemente.
Retirei a pulseira do meu pulso, observando a tristeza passar em
suas feições.
— Sei o que ela significa para você, não posso continuar usando
como se pertencesse a mim.
— Ela sempre vai pertencer — disse ele, mas aceitou a pulseira de
volta. — Nos vemos por aí, Emma.
Ao entrar em casa, fui recebida pelo interrogatório de minha mãe,
ansiosa por detalhes sobre meu primeiro encontro.
— Mãe, por favor, foi apenas um almoço. Ele é um cara legal,
almoçamos e ele me trouxe de volta. — Tentei minimizar a situação, mas
ela estava determinada a saber mais.
— Sobre o que conversaram? — Insistiu ela, enquanto meu pai
permanecia em silêncio, como de costume nessas situações.
— Sobre livros, mãe. Temos a mesma paixão pela leitura, e foi
nosso principal assunto. É bom ter alguém que me entenda, que consiga
conversar comigo sobre meus personagens favoritos. — Respondi,
percebendo sua expressão de descontentamento.
Ela revirou os olhos e saiu da sala, murmurando algo sobre eu não
ser nada parecida com ela. Ri baixinho da reação dela, mas por dentro, a
confusão causada por Brandon ainda me consumia.
Mandei uma mensagem para as meninas avisando que estava em
casa e que precisava de um tempo sozinha com meus livros, provavelmente
até o próximo aniversário.
Estava chateada com Brandon, comigo mesma, com o mundo.
Como poderia adivinhar que ele tinha algo planejado para mim?
Ele sempre conseguia complicar até mesmo as coisas mais simples,
como um almoço. Sabíamos que não poderíamos dar certo, que eu não era o
tipo dele, que aquela loucura tinha que parar, mas ele continuava agindo
como um namorado ciumento. Era frustrante e ao mesmo tempo cativante,
como se estivéssemos presos em um ciclo sem fim. O famoso "não fode
nem sai de cima".
Tranquei-me no quarto, perdida em meus pensamentos, de pijama e
segurando uma xícara de café que já estava frio. Perdi a noção do tempo
enquanto refletia sobre os acontecimentos do dia. Quando finalmente saí, a
casa estava envolta em silêncio e a noite já havia caído. Imagino que meus
pais tenham saído para jantar fora.
A campainha tocou várias vezes, e ao me aproximar da varanda,
deparei-me com ele, meu amigo, meu objeto de desejo mais intenso e
também a fonte de minha maior confusão emocional.
— Pode ir comigo a um lugar? — Ele pediu, e por mais que minha
vontade fosse recusar, eu simplesmente não consegui. Vesti um robe de seda
sobre o pijama e desci até a garagem.
— Preciso trocar de roupa? — Indaguei, observando-o com
curiosidade enquanto ele permanecia vestido em sua farda, a camuflada, ao
invés do azul marinho que eu tanto amo.
— Você está perfeita assim. — Ele respondeu, percorrendo-me com
os olhos de uma maneira que fez meu coração acelerar.
— Mas e você? Por que está de farda? — Questionei, tentando
compreender a situação.
— Pode ser que seja melhor você apenas vir comigo, sem tantas
perguntas. — Ele respondeu, parecendo ainda carregar uma grande dose de
raiva. — Vamos?
Entrei no carro, sem mais delongas. Os minutos seguintes se
passaram em um silêncio desconfortável, enquanto minhas pernas
começavam a se agitar nervosamente e ele mantinha os olhos fixos à frente,
evitando meu olhar.
— Para onde estamos indo? — Finalmente quebrei o silêncio,
incapaz de suportar mais a tensão.
— É surpresa. — Ele respondeu, ainda sem me encarar.
— Eu não gosto de surpresas, você sabe disso. — Deixei escapar
minha frustração, à beira de pedir que ele me levasse de volta para casa.
— Você está estranho, Brandon. Você me deixa confusa, e não sei
mais como lidar com isso. Sempre que alguém entra na minha vida, é a
mesma coisa, desde o primeiro dia que nos vimos. — Desabafei, deixando
transparecer minha angústia.
— Não há nada de confuso, Emma. Somos apenas amigos, e nada
mais. Pensei que você preferiria passar esse dia especial com seus amigos, e
não com qualquer cara, e foi por isso que fiquei bravo. Não tem nada além
disso. — Ele explicou, parecendo convicto de suas palavras.
A sensação de ter levado um soco no estômago foi avassaladora.
Parecia que tudo o que eu sentia era unilateral, uma ilusão criada por minha
própria mente.
— Entendi, está tudo bem. — Forcei um sorriso, mas no fundo,
sabia que precisava urgentemente afastá-lo de meus pensamentos. —
Samuel também é um grande amigo, e talvez até mais que isso no futuro,
então por favor, não faça mais nada daquele tipo.
Um som rouco emergiu do fundo de sua garganta assim que fechei a
boca, quase um rosnado, mas ignorei.
Desconforto e confusão dominavam meus pensamentos enquanto
seguíamos em silêncio para a bendita surpresa.
Capítulo
13
Parei um pouco mais afastado dos portões da entrada da USAF,
precisava me identificar antes de poder prosseguir.
— Me espera aqui só um pouquinho. — Disse a ela, abrindo a porta
e descendo para falar com os soldados que estavam na entrada.
Para me identificar levou alguns instantes, mas logo liberaram a
nossa entrada. Mesmo que estivéssemos ali, meu humor não estava muito
melhor do que quando a vi com Samuel.
Voltei para o carro e entrei. Emma parecia encantada com a
quantidade de árvores e jardins iluminados ao redor. Ela olhou para tudo,
incluindo a vila onde alguns dos soldados moravam com suas famílias.
— Está tudo pronto? — Perguntei aos soldados que estavam me
esperando.
— Sim, senhor, colocamos onde nos pediu. — Respondeu um deles
prontamente.
Eram cinco homens e, mesmo conhecendo minha fama, um deles
desviou os olhos algumas vezes na direção de Emma, que estava com o
rosto vermelho e os olhos pregados ao chão.
— Acho bom que olhe para mim — Notei que Emma ergueu os
olhos, provavelmente pensando que estava falando com ela, e com cara de
quem estava pronta para me mandar ir para o inferno, mas viu que eu cobri
seu corpo com o meu e estava falando com o soldado à minha frente.
— Podem ir. Nós nos vemos mais tarde. — Esta última frase soou
mais como uma ameaça do que como um lembrete.
Virei-me para ela enquanto os homens se distanciavam.
— Vem comigo. — Disse, pegando sua mão quase a fazendo
tropeçar para acompanhar meu ritmo, estava ainda mais furioso, mesmo que
não fosse culpa dela. Por que essa coisinha miúda tinha que ser tão linda
assim?
— Será que dá para ir mais devagar? Eu não consigo te acompanhar
— gritou para mim depois de alguns muitos passos, ela estava praticamente
correndo. — Se aqui não fosse tão bem monitorado, eu juro que iria pensar
que com toda essa raiva, está me levando para me matar.
— Eu não estou com raiva! — Gritei, parando bruscamente e
virando para ela. Emma deu de cara com meu peito.
Sem deixá-la reclamar, a ergui em meus braços e a joguei sobre meu
ombro, era tão leve para mim que parecia que eu estava carregando um saco
de arroz.
O grito surpreso logo foi substituído pelos gritos de protesto.
— Me põe agora no chão, Brandon! AGORA! — Se debatia feito
uma louca, muitos soldados passavam por nós sorrindo e cada vez que ela
os via ficava ainda mais irritada. — Eu vou matar você, está ouvindo? Eu
vou te estrangular!
Não respondi, apenas continuei andando com seu peso pena nos
ombros.
— Brandon, me põe no chão, isso não tem a menor graça, você está
agindo como um babaca!
— O que está acontecendo aqui? — Parei diante de um sargento. —
Quem é essa?
— Não se preocupe, eu deixei tudo avisado, se me der licença... —
Respondi com grosseria.
— Me parece que você esqueceu somente de avisar a garota, os
gritos dela podem ser ouvidos lá da torre de vigia. — Erik retrucou com
sarcasmo, seu tom de voz carregado de ironia ecoando pelo ambiente.
— Brandon, pelo amor de tudo o que é mais sagrado, me põe no
chão, seja lá quem for que está aí, está quase podendo enxergar meu útero,
me põe no chão agora seu babaca, idiota! — A voz de Emma transbordava
irritação e desconforto.
Erik sorriu, enquanto eu, sentindo a raiva pulsar em minhas veias,
observei que o pijama mal cobria metade da bunda que estava exposta após
meu gesto impulsivo. Rapidamente, coloquei-a no chão, quase fazendo-a
cair.
— Pra que diabos tem que usar um pijama assim tão curto? E esse
roupão não cobre nada! — Minhas palavras saíram carregadas de
frustração.
— Eu não esperava que você fosse um ogro infantil e que iria me
jogar no ombro feito um neandertal! — A voz de Emma era uma mistura de
indignação e raiva, enquanto apontava o dedo em minha direção.
— Nossa, a baixinha é invocada em, parece que alguém está com
problemas. Ela é maior de idade? Não parece. — A risada de Erik ecoou
pelo ambiente, exacerbando a tensão.
Emma virou-se para encará-lo, sua expressão deslumbrada para ele
despertou o monstro ciumento dentro de mim.
— Isso não é engraçado, idiota — ela o encarou e vi o sorriso de
Erik desaparecer pouco a pouco.
— O que aconteceu com seu nariz? Você machucou a garota? —
Erik questionou, enquanto Emma passava a mão em seu nariz. — Quer vir
comigo moça, te garanto que se está aqui contra a sua vontade eu te levo de
volta para sua casa. E você. — Ele apontou o dedo para mim. — Tudo o
que estou vendo aqui será reportado, não pense que por ter patente mais alta
pode fazer o que quer!
Virei-me para encará-la.
— O que aconteceu com seu nariz?
— Eu esbarrei no seu peito quando você virou do nada, bonitão.
Bati o nariz, mas não sabia que estava sangrando, parede de músculos.
— Melhor ir até a enfermaria. — Erik sugeriu, interferindo
novamente. — Posso te acompanhar.
— Pode deixar que dela eu cuido. Volte para o seu serviço, já se
meteu demais aqui. — Minha resposta foi carregada de hostilidade contida.
— Seu namorado é bem estressado moça, se eu fosse você teria
cuidado com esse mau gênio.
— Ele não é meu namorado, e concordo com a parte do mau gênio.
— Ela se virou para mim novamente. — Então? Ficaremos aqui?
Enfermaria? Estou um pouco confusa.
Já estava com raiva por ela ter olhado para Erik como se fosse seu
personagem favorito dos livros, e agora ainda concordava com ele.
— Vai concordar com ele? — Perguntei, lutando para manter meu
temperamento sob controle.
— Se você tiver o descaramento de ficar bravo com isso, eu juro por
todos os céus que eu vou pegar a arma dele e brincar de tiro ao alvo usando
a sua cabeça com centímetros de distância!!! — A resposta dela me
surpreendeu, mas seu olhar me dizia que ela não estava brincando.
Olhei para Erik, que ainda mantinha o sorriso nos lábios, mas minha
expressão serviu como um aviso claro para que ele saísse dali, e assim o
fez.
— Sabe de uma coisa? Já deu, quero ir para casa. Me leva de volta!
— Ela me encarou com mágoa nos olhos. — Esse morde e assopra é
cansativo, Brandon.
— O que? Mas você ainda não...
— Chega! Eu não quero mais nada disso, estou cansada, quero ir
para a minha casa. — Ela me cortou, seus olhos marejados denunciando sua
mágoa. — Se continuarmos nessa montanha russa eu vou acabar sozinha e
virgem para sempre! — A revelação de sua virgindade fez meu corpo reagir
instantaneamente e o sangue correr para o meu pau.
— Vou te levar à enfermaria. — Foi o que consegui responder,
tentando desesperadamente acalmar a situação.
A conduzi até a enfermaria, com Emma reclamando que estava bem
o tempo inteiro e que aquele era o dia mais vergonhoso de sua vida, seguido
pelo incidente do vestido rasgado na festa. E os dois ela estava comigo.
Depois que o médico a examinou e constatou que estava tudo bem,
saímos da enfermaria.
— Olha, me desculpa tá bom? — Minha tentativa de desculpas saiu
trôpega. — Será que pode me acompanhar? Sem mais surpresas
desagradáveis, eu prometo.
Ela assentiu após alguns instantes de ponderação, e concordou em
me seguir. Caminhamos por mais alguns minutos, deixando para trás o
ponto onde encontramos Erik, até chegarmos à minha surpresa para ela.
Estávamos bem no finalzinho da USAF, na divisa com o aeroporto,
com todas as luzes das pistas de pouso e decolagem acesas. Era uma vista
espetacular.
No pequeno monte onde nos encontrávamos, mandei que
montassem um piquenique com tudo o que ela gostava. O encantamento em
seus olhos era evidente.
Meu violão estava ali também, e pretendia tocar até que ela parasse
de me olhar como se fosse arrancar meus olhos.
— Você gostou? — perguntei, ansioso por sua reação.
Emma abriu um sorriso que aqueceu meu coração.
— É claro que sim, eu amei. Tudo isso é lindo, parece que estou em
outro mundo, mesmo morando tão perto daqui.
— Sempre adorei este lugar, é muito especial para mim, assim como
você! — Deixei transparecer toda a ternura que sentia por ela, refletida em
meus olhos. — Sinto muito por tudo o que aconteceu até agora, não era
minha intenção te deixar irritada, só queria compartilhar isso com a minha
pessoa especial.
Peguei o violão e comecei a tocar todas as músicas que sabia que ela
amava, perdendo-me na melodia por horas a fio. Apenas quando percebi
que ela tremia como uma vara verde, lembrei-me de que estávamos em
meio à noite, comigo vestindo meu uniforme e ela com um pijama leve e
curto de seda.
— Nossa, eu devia ter te pedido para trocar de roupa — ela
comentou, lançando-me um olhar irônico.
— Vou te levar até minha sala, tenho roupas minhas lá. Vem
comigo.
Mantive-me próximo a ela, sentindo o calor de seu corpo
contrastando com o frescor da noite. Ao chegarmos, indiquei que ela se
sentasse em uma poltrona confortável enquanto eu buscava algumas roupas
minhas no armário. Entrei rapidamente no banheiro para dar-lhe
privacidade, mas não pude evitar um sorriso ao imaginá-la tentando se
ajeitar em minhas roupas.
Quando saí do banheiro, encontrei Emma vestindo uma de minhas
camisetas, o tecido grande demais para seu corpo pequeno, o que a fazia
parecer ainda mais adorável. Ela se virou para mim com um sorriso tímido,
seus cabelos desalinhados emoldurando seu rosto delicado.
— Fica bem em você — comentei, tentando não parecer tão afetado
quanto estava.
Ela corou levemente, mas agradeceu com um aceno de cabeça antes
de se sentar em minha cama, tê-la ali provavelmente me enlouqueceria.
Capítulo
14
Do pequeno frigobar no quarto, Brandon retirou um bolo delicado.
Após os parabéns, ele pediu que eu fizesse um desejo antes de soprar a vela.
Fechei os olhos e formulei meu desejo: seguir meus sonhos sem a
interferência excessiva da minha família.
Quando os abri, Brandon estava bem próximo, seu hálito quente
acariciando meu rosto. Seus olhos azuis, como safiras reluzentes,
capturavam minha atenção intensamente, refletindo uma mistura de
emoções tão complexa quanto a minha própria.
Conhecia Brandon o suficiente para decifrar suas emoções:
confusão, medo, desejo. Era como se nossos sentimentos estivessem em
sintonia. Ficamos em silêncio, imersos um no olhar do outro, até sermos
abruptamente despertados pelo estrondo de uma aeronave.
— Ainda com frio? — ele perguntou, seu olhar perscrutador.
Na verdade, já não sentia tanto frio. Seu olhar, por si só, tinha o
poder de aquecer-me instantaneamente. O quarto era bonito e muito
confortável, com uma cama de casal e uma porta que conduzia a outro
quarto, equipado com duas camas de solteiro, uma TV imponente e um
banheiro espaçoso com um box de vidro transparente.
— Realmente tratam bem as pessoas aqui — comentei admirada. —
Que lugar incrível.
Brandon sorriu.
— Se visse um treinamento em ação, mudaria de ideia rapidamente.
Vou deixar meu celular carregando e, em seguida, te levo para casa.
Podemos assistir a algo, se quiser.
— Por que suas coisas estão aqui? Você é uma figura importante? —
perguntei, com um tom de desdém.
— Mais ou menos, eles gostam de usar meus talentos então me
ofereceram um lugar para a minha estadia sempre que estivesse aqui, mas
como tenho a casa dos meus pais…
Não gostei dessa informação, não o ver sempre na casa de Ester não
parecia bom para mim.
— Ficou brava? — Questionou se aproximando de mim devagar e
se sentando ao meu lado na cama.
— Não, claro que não, por que eu ficaria? — Fingi desinteresse
tentando desviar o foco dos meus pensamentos para não surtar.
A situação era desconcertante. Brandon e eu nos comportávamos
como um casal, e a simples ideia de que ele não fosse para casa dos pais já
me inquietava. Seus olhos perspicazes pareciam penetrar meus
pensamentos.
Para mudar o foco, voltei-me para a televisão, zapeando pelos
canais.
— Me dá esse controle aqui! — ele brincou, lançando-se sobre mim
em uma tentativa de alcançá-lo após eu tê-lo jogado para longe.
Ele me segurou pela cintura, tentando alcançar o controle que eu
mantinha fora de seu alcance. Ambos sorriamos, até percebermos nossa
posição: eu debaixo dele, nossos rostos a poucos centímetros de distância,
sua mão firmemente apoiada em minha cintura.
Assim que nossos olhos se encontraram, toda a leveza do momento
se dissipou, o riso desapareceu, e nossas respirações se tornaram
simultaneamente mais rápidas.
Minha mente sussurrava incessantemente para que eu fugisse,
enquanto meu coração batia descompassadamente — beije-o logo — e eu
me via dividida entre dois impulsos.
Ele permanecia imóvel, em silêncio, e eu também não sabia como
reagir. Fiquei ali, sem saber por quanto tempo, até ouvir um suspiro vindo
dele, seguido de um:
— Foda-se.
E seus lábios se uniram aos meus.
Sua intensidade me surpreendeu novamente; sua boca experiente era
ávida, exigente. Sua língua explorava cada centímetro, arrancando suspiros
e gemidos involuntários de mim. Seu corpo se pressionava contra o meu,
suas pernas afastavam as minhas, encontrando espaço para se encaixar entre
elas, enquanto seus lábios não deixavam os meus.
Suas mãos percorriam meu corpo, provocando arrepios por onde
passavam. Sua ereção roçando na área sensível entre as minhas pernas me
levava à beira da loucura. Parecia que a qualquer momento eu alcançaria o
orgasmo sem sequer ser tocada.
Ele arrancou a camisa dele que eu vesti e meu robe, deslizando a
mão por baixo da minha blusa de seda até alcançar meus seios, sua carícia
era um verdadeiro paraíso de calor. Pensar em formular palavras estava
além do meu alcance; eu era apenas uma bola quente de desejo,
expressando-me em gemidos e suspiros.
Ele se movia contra mim com uma intensidade que eu imaginava
poder fazer estragos em meu interior. Minhas mãos buscaram sua blusa,
desabotoando os primeiros botões de sua farda; eu ansiava sentir sua pele
contra a minha mais do que necessitava do próprio ar.
Após muito esforço, seu peito musculoso e suas tatuagens, estavam
finalmente expostos, com a blusa pendurada em sua cintura. Enquanto
tentava me livrar dela, estendi a mão em direção à fivela de seu cinto, mas
senti seu corpo tensionar e se retesar.
Ele interrompeu abruptamente nosso beijo, sacudindo a cabeça em
negação.
— Não, eu não posso, está errado, não posso — murmurou ele,
levantando-se bruscamente e me deixando perplexa, ardente de desejo e
profundamente envergonhada.
Minha autoestima foi brutalmente ferida. O que há de tão errado
comigo para que ele se negue tão veementemente a ceder à nossa atração?
Ele andava de um lado para o outro, passando as mãos pelos
cabelos, enquanto eu lutava para controlar minha respiração e conter as
lágrimas que ameaçavam escapar.
Brandon se sentou o na beirada da cama, de costas para mim,
enquanto eu permanecia encostada na cabeceira, abraçada aos meus joelhos,
sentindo-me vazia por dentro.
Você já experimentou uma tristeza tão avassaladora que parece
sufocar todas as outras sensações?
Fiquei mergulhada em um estado de completa inércia,
questionando-me o motivo... Mas desisti de buscar respostas e decidi falar
primeiro.
— Preciso que me leve de volta para casa.
Ele nem se moveu, como se não tivesse me ouvido, ou talvez
estivesse fingindo. Tentei novamente:
— Brandon, por favor, preciso ir embora. Não quero mais ficar aqui.
Mais uma vez, silêncio absoluto. Levantei-me, comecei a arrumar
meu pijama e peguei meu robe para vestir. Se ele não fosse me levar,
encontraria um jeito de partir sozinha.
Estava prestes a sair do quarto quando ele segurou meu pulso. Seu
toque parecia uma afronta, puxei minha mão rapidamente e me virei,
deparando-me com um homem transtornado, irreconhecível em comparação
ao que conhecia minha vida inteira. Seus olhos vermelhos não denotavam
lágrimas, suas feições eram rígidas, gélidas, destituídas do calor que me
envolvera momentos atrás.
Já não desejava mais entender o que o perturbava; naquele instante,
só queria distância, desligar-me dele.
— Emma, eu... eu sinto muito... — sua voz soava trêmula, distante
de um verdadeiro pedido de desculpas, como se estivesse sufocado, à beira
de uma crise. Sabia que havia algo mais por vir.
— Diz de uma vez, acabemos logo com isso e possamos voltar para
casa de vez.
Ele inspirou profundamente algumas vezes antes de continuar.
— Nós não podemos mais nos ver. — Boom, lá estava a verdadeira
razão para todo aquele teatro. Ele já havia tirado muito de mim, deixando-
me envergonhada e insegura, mas não permitiria que ele visse minha ferida
exposta. Salvaria minhas lágrimas para o recolhimento do meu quarto, mas
diante dele, proibi-me de fraquejar.
— Sem problemas, eu concordo. — Não sei de onde tirei forças
para permanecer tão imperturbável, mas consegui. Minha voz não carregava
emoção alguma, nenhum resquício de sentimento ou dúvida.
Virei-me de costas mais uma vez, pronta para sair daquele inferno
antes que ele me despedaçasse ainda mais.
Mas novamente ele me impediu.
— Brandon, só quero ir para casa. Estou exausta, de verdade...
Ele parecia à beira da insanidade, mas não me deixaria embarcar
nessa loucura com ele. Meu limite havia sido alcançado, e talvez até
ultrapassado.
— Emma, por favor, não me odeie. Eu não queria que as coisas
fossem assim. Não sei o que deu em mim, mas não posso continuar.
— Não te odeio, Brandon. Na verdade, neste momento, não sinto
nada por você. Para odiar, é preciso se importar, e cansei de me importar
com sua covardia!
Seus olhos se abriram e logo se estreitaram, a loucura
transformando-se em raiva. Eu já conhecia bem essas mudanças de humor.
Havia me acostumado.
— Covardia? — Ele repetiu, como se aquilo fosse o insulto mais
grave que já ouvira. — Eu não sou covarde. Só não quero que as coisas
terminem mal por falta de controle! Covarde seria se eu... se... se fosse
adiante e depois de foder você dissesse que não poderia te oferecer nada
além disso!
Um tapa teria doído menos. Ele falou como se eu fosse uma
qualquer, uma mulher fácil. Foi assim que me senti.
— Você é um covarde sim. Não sei do que tem tanto medo, mas
estou cansada de tentar entender, Brandon, cansada!
— Eu não posso, Emma. Você acabaria se apaixonando por mim.
Sei que a primeira vez é importante para uma mulher, e não posso assumir
essa responsabilidade, porque não posso ficar com você. — Suas palavras
cortaram como navalha, abrindo feridas que sei que levariam uma vida para
cicatrizar.
Dezenove anos para me abrir para alguém, e quando finalmente o
faço, é um idiota completo!
— Eu acho que você está me confundindo com essas garotas que
esperam viver um romance de conto de fadas, Brandon. Jamais me
apaixonaria por alguém apenas por ter tido minha primeira vez. — Acorda,
idiota, eu já estava apaixonada. Como pode ser tão cego?
E o pior de tudo: como pude me apaixonar por um completo
imbecil? Sério mesmo, depois de anos lendo romances nos quais sempre
afirmava que não aceitaria menos que aquilo, ou que jamais me apaixonaria
por um desses cretinos, acabei pagando a língua?
— Eu duvido, Emma. Você tem esperado até agora, é importante
para você!
— Ah, claro. Deveria ser uma dessas mulheres que se entregam a
qualquer um, para provar que não me importo com quem me "FODE",
como você mesmo disse de forma tão vulgar.
Ele jogou as mãos para o alto, passando-as pelos cabelos.
— Não foi isso que quis dizer, por favor, entenda. — Ele suplicou.
— Quer saber? Esqueça. Não tenho motivo para discutir minha
virgindade, que muito em breve nem mesmo existirá, com você! — Cuspi
as palavras com raiva.
— O que você disse? — Ele se aproximou, com uma expressão que
poderia matar, como se estivesse prestes a enterrar meu corpo na USAF,
debaixo da toalha xadrez onde fizemos o piquenique.
— Exatamente o que ouviu. — Estávamos a centímetros um do
outro, encarando-nos com a respiração acelerada.
Isso está longe de ter sido uma boa ideia.
Capítulo
15
Meu peito ardia com uma mistura incandescente de frustração e
desejo. As palavras de Emma cortavam o ar como facas afiadas, cada uma
delas despertando e alimentando a fúria do monstro dentro de mim, a besta
que acreditava que ela o pertencia.
— Não faça isso apenas por estar com raiva de mim, Emma, você
vai se arrepender — minha voz saiu mais áspera do que pretendia, uma
tentativa falha de conter a tempestade que rugia dentro de mim.
Mas ela não recuou, seus olhos faiscavam com determinação,
desafiando-me a tentar domá-la.
— Não farei isso por você, nem por raiva. Farei porque quero,
porque chegou a hora para mim e estou com vontade. Não pense que tem
tanto poder assim sobre mim, Brandon. Você não tem! — Ela quer que eu
sinta, quer me ver queimar vivo por tê-la rejeitado.
— Eu deveria ter dado a Samuel a chance que ele merecia, ainda
bem que não é tarde demais.
Um rugido incontrolável ecoou em minha mente, a fúria se
transformando em um redemoinho de emoções indomáveis. Sem conseguir
conter o impulso, meu punho encontrou a parede atrás da cabeça dela com
um estrondo, a dor latejante na mão servindo como combustível para a ira
que crescia dentro de mim. Mas Emma permaneceu firme, seus olhos fixos
nos meus, desafiando-me.
— Você quer me enlouquecer, não quer? Isso é divertido para você?
— Minha voz tremia com a intensidade da emoção, a linha tênue entre
sanidade e loucura se desfazendo diante de mim.
Mas ela não recuou, apenas ergueu o queixo e me encarou.
— Você não viu nada! — Suas palavras eram um desafio, uma
promessa velada de que ela faria muito pior.
Emma se virou novamente para sair, mas não consegui mais conter
o impulso que me dominou, um frenesi de emoções que me levou a puxá-la
para mim, minhas mãos ávidas encontrando sua face delicada. Meus lábios
encontraram os dela com uma urgência quase desesperada, a fúria
queimando entre nós como uma chama voraz, consumindo tudo em seu
caminho.
Perdidos no desejo incontrolável, nossos corpos se fundiam em uma
dança frenética, alimentados pela paixão que há muito tempo tentávamos
reprimir.
Pressionei-a contra a parede, meu corpo imenso e forte dominando o
delicado dela. Minha língua explorava vorazmente cada centímetro de sua
boca, devorando seus gemidos com avidez insaciável.
Ao erguê-la, envolvi suas pernas em torno da minha cintura, senti o
calor abrasador do atrito do meu pau entre suas pernas, o prazer fazendo
com que seus olhos revirassem em êxtase.
Não havia mais retorno, estávamos mergulhados em uma luxúria
irrefreável, uma entrega total ao desejo que nos consumia. Eu estava louco
por ela, por liberar todo aquele tesão que pulsava dentro de mim, e sabia
que ela compartilhava do mesmo desejo.
— Você me enlouquece — murmurei entre beijos ardentes.
Nos afastei da parede, e a levei de volta para a cama. Com mãos
ágeis, desfiz o robe que envolvia seu corpo, levando com ele a pequena
regata de seda e renda, revelando a beleza nua de sua pele, os contornos
suaves e convidativos de seus seios.
Meus lábios abandonaram os dela, trilhando um caminho de carícias
pelo seu pescoço, descendo lentamente até encontrar os seios mais lindos
que já vi. Abocanhei seu mamilo rosado, sugando avidamente cada um
deles, era como se uma corrente elétrica percorresse meu corpo, dar prazer
a ela só aumentava a intensidade do meu desejo.
Eu sabia que o prazer que Emma estava sentindo por si só poderia
fazê-la gozar. Sua voz era apenas um gemido baixo, nada coerente, apenas
suspiros e palavras que se perdiam antes de serem completadas.
Minha mão deslizou por seu corpo, até alcançar o limite do
shortinho que cobria sua pele macia. Puxei o tecido para baixo, encontrando
seu clitóris inchado e sensível.
Um gemido rouco escapou de seus lábios, preenchendo o quarto
com sua entrega inebriante. Seus olhos negros, brilhando com a intensidade
do prazer, buscavam os meus em uma súplica muda, cada vez que se
fechavam involuntariamente, eu mandava que ela abrisse novamente, queria
observar cada nuance de seu prazer
Meus dedos se moviam com precisão, traçando círculos alternando
entre leves e mais firmes, enquanto ela se entregava ao êxtase que se
aproximava rapidamente. Cada tremor de seu corpo indicando que ela
estava quase lá, e bastou uma simples ordem minha para que ela se rendesse
ao clímax.
— Goza pra mim — minha voz saiu rouca, carregada, e ela
prontamente obedeceu.
Seus olhos, vidrados nos meus, refletiam a intensidade do prazer
que a envolvia, seus gemidos ecoando no quarto como uma melodia
envolvente. A cada chamado do meu nome, eu sentia meu próprio desejo
aumentar, alimentado pela entrega dela.
Continuei a acariciá-la mesmo após seu ápice, observando cada
detalhe de sua nudez revelada diante de mim. Cada curva, cada traço, era
uma obra de arte única, uma tentação irresistível que me levava à beira da
loucura.
— Como pode ser tão linda? Como pode me enlouquecer dessa
maneira? — era mais um desabafo do que uma questão.
Enquanto sua respiração retornava ao ritmo normal, senti a
necessidade de levá-la novamente ao limite.
— Preciso saber qual é o seu gosto — me posicionei entre suas
pernas e Emma tentou me impedir. — Nem pense nisso — rosnei, firmando
meu domínio sobre ela.
Afastei suas pernas, e tomei sua boceta com minha boca, chupando,
lambendo, fazendo-a derreter diante do meu ataque voraz. Minha língua
explorava cada recanto, provocando gemidos incontroláveis que ecoavam
pelo quarto. O sabor doce de seu prazer inundava minha boca, alimentando
minha própria luxúria enquanto ela se derretia sob meu toque.
Não demorou para que outra onda de prazer a consumisse. O líquido
doce que fluía da boceta quente alimentando o fogo que ardia dentro de
mim.
— Seu gosto deveria ser um pecado de tão viciante! — murmurei
enquanto observava-a lutar para recuperar o fôlego após o clímax. Ajoelhei-
me entre suas pernas, peguei o preservativo na gaveta da mesa de cabeceira
e fiquei de pé para me livrar da minha roupa.
Desenrolei o preservativo em meu pau, olhando fixamente para
Emma.
Ela engoliu em seco ao contemplar meu membro, que certamente
não poderia ser descrito como pequeno. Seus olhos arregalados
denunciavam sua apreensão, e eu entendia perfeitamente seu receio.
— Estudei anatomia na escola, e tenho certeza de que isso aí não é
normal. Sei que deve caber, mas vai machucar, não vai? — Seus olhos
transmitiam uma mistura de preocupação e incredulidade, mas ela sabia que
podia expressar seus medos sem julgamentos.
— Nós iremos com calma, não vamos forçar além do seu limite —
assegurei, retornando ao seu lado com o preservativo já posto. Aproximei-
me dela, esfregando suavemente a glande em sua entrada úmida. — Relaxa,
Emma. Se ficar nervosa, vai ser pior.
Comecei a penetrar seu corpo devagar, acompanhando cada reação
em seu rosto. Logo no início, pude perceber o desconforto em suas feições.
— Isso arde — ela murmurou entre dentes, cerrando os olhos.
— Abra os olhos! Quero que olhe para mim quando eu estiver
completamente socado dentro de você — rosnei, travando a mandíbula. —
Quer parar?
Beijei levemente sua boca, distribuindo beijos leves por todo seu
rosto, buscando acalmá-la enquanto aguardava sua resposta.
— Quero que acabe com isso de uma vez, assim está me
machucando muito — ela respondeu, inspirando profundamente.
Com um impulso rápido, estoquei de uma vez, sentindo seu interior
me esmagar. Emma soltou um pequeno grito de dor e se agarrou a mim,
escondendo o rosto em meu ombro. Mas a puxei de volta fazendo-a me
encarar, seus olhos estavam marejados.
— Tudo bem? — perguntei, mantendo-me imóvel por um momento
enquanto avaliava sua reação. Ela assentiu, e eu decidi continuar.
Iniciei os movimentos lentamente, atento aos sinais de seu corpo.
Conforme o desconforto cedia espaço ao prazer, aumentei o ritmo das
estocadas, guiado pelos gemidos de prazer dela.
— Estou perdido. Como posso não me viciar em você? Não há outro
lugar no mundo que eu deseje estar mais do que entre suas pernas, para
sempre! — minha voz soou rouca, carregada do desejo incontrolável que
sinto por ela.
Com uma voracidade quase agressiva, comecei a me mover dentro
dela, respondendo aos gemidos que se transformavam em gritos de prazer.
Cada estocada era uma explosão de sensações que me consumiam por
completo, levando-me a um êxtase indescritível.
Nunca antes havia sentido um prazer tão intenso, tão avassalador
como o que experimentava naquele momento. Era como se cada célula do
meu corpo estivesse vibrando em sintonia com a dela, como se
estivéssemos conectados em um nível mais profundo do que eu jamais
poderia imaginar.
Os sons de nossos corpos se chocando ecoavam no quarto,
misturados aos gemidos que escapavam de nossos lábios. Eu estava perdido
em uma névoa de luxúria, completamente dominado pelo desejo de fazê-la
sentir-se plena, completa.
E então, o clímax chegou, nos atingindo com intensidade. Ondas de
prazer varriam nossos corpos, fazendo-nos perder completamente a noção
do tempo e do espaço.
Por um momento, desejei tirar o preservativo e encher seu interior
com a minha porra para vê-la escorrendo de sua boceta gostosa, marcando-a
como minha de uma maneira mais profunda. Mas resisti à tentação,
lembrando-me que não deveria passar desse limite.
Então, permanecemos ali, abraçados e entrelaçados, com a
respiração errática e difícil, ainda tremendo com os resquícios do prazer que
acabamos de compartilhar.
Apesar de reconhecer que havia cometido um erro irreparável ao
ceder ao desejo de forma tão impulsiva, não pude deixar de sentir a alegria
de saber que ela me deseja e confia em mim ao ponto de querer que eu
fosse o primeiro homem a tocá-la.
Os conflitos em minha mente eram muitos, mas decidi deixar para
pensar neles depois de escutá-la gritar meu nome até o amanhecer.
Capítulo
16
Acordei deitada e agarrada ao peito de Brandon, minha perna jogada
em torno da cintura dele, minha cabeça repousava próximo ao seu pescoço.
A julgar por sua respiração, ele já estava acordado, eu olhei para ele
e notei algo estranho em suas feições, Brandon olhava para o teto,
pensativo, o meio das sobrancelhas formando um vinco. Algo não estava
certo.
Assim que me movi para o observar mais de perto e lhe dar bom dia,
ele se levantou, tirando gentilmente minha perna de cima, e também meu
braço que estava em seu abdômen.
— Bom dia, Fuzileiro...— Disse um pouco sem graça, esperava que
ele ao menos fosse um pouco mais agradável pela manhã.
— Bom dia, eu... É... preciso te levar, já estou atrasado, deveria estar
com o comandante bem mais cedo, mas estava esperando você acordar. —
Ele disse tudo sem nem ao menos olhar para mim.
— Tudo bem, você tem alguma coisa que eu possa vestir? Acho que
o pijama vai ficar vergonhoso para ir para casa. — Tentei sorrir para ele,
mas nem mesmo dando atenção ao que eu o dizia estava, seu rosto estava
sério, um semblante cansado e carregado. — Brandon? Está tudo bem?
Você está evitando olhar na minha direção.
A esta altura eu já tinha me levantado, cobrindo o que pude do meu
corpo com o lençol branco que tinha na cama, as manchas vermelhas
presentes nele comprovando tudo o que tinha acontecido na noite anterior.
Brandon olhou para o lençol assim como eu, mas ele parecia estar
com raiva, seu rosto endureceu, olhou-me nos olhos com o que me pareceu
ser culpa, talvez...
— Será que você pode falar comigo? Eu não estou conseguindo te
entender! — Insisti enquanto ele continuava a olhar de mim para o lençol
que eu segurava junto ao corpo.
— Eu não posso Emma, eu... cometi um erro... isso tudo foi um
enorme erro. — Aquilo doeu, em níveis que eu nem consigo colocar em
palavras.
Quase pude ouvir o som do meu coração se partindo em milhares de
pedacinhos.
— Tudo bem, eu já entendi. — Procurei pelo meu pijaminha que iria
para o lixo assim que eu pudesse arrancar do corpo, e me vesti de costas
para ele.
Não fiz questão de pedir novamente uma roupa para vestir, só queria
sair dali o mais rápido possível.
— Sei que você vai esperar coisas de mim Emma, coisas que eu não
vou poder te dar...
— Eu disse que já entendi Brandon, você não precisa ficar me
explicando nada, está tudo bem, o que está feito está feito, e é algo que não
posso recuperar. Eu realmente esperava algo de você, mas era apenas que
agisse de uma maneira diferente agora pela manhã. — Inspirei. — Não
esperava flores, nem um pedido de casamento, apenas que não se
comportasse como um moleque! Não estou apaixonada por você, não vou
me apaixonar por você, e depois dessa sua atitude ridícula espero que
também não torne a precisar falar com você. — Menti, é claro que eu sabia
que já estava apaixonada, mas eu preferia morrer a admitir que aquilo
estava me machucando.
— Vou te levar até o portão, não posso ir com você porque me
ofereci para ajudar aqui, vou chamar um taxi. — Ele nem se deu ao trabalho
de tentar apagar a péssima visão que eu tinha dele naquele momento.
— Só me aponte a direção que devo seguir e eu vou, não precisa me
levar, não quero que vejam que estava aqui com você. E você já está
atrasado.
E assim ele fez, quando chegamos no andar de baixo tudo parecia
bem diferente do que estava durante a noite. Ele me apontou a direção por
onde devia seguir e eu fui, apenas nos despedindo com um aceno de cabeça,
de modo tão impessoal e frio, que nem mesmo dava para notar que nos
conhecíamos.
Caminhei entre os olhares curiosos, sentindo-me exposta e
vulnerável sob os holofotes dos julgamentos alheios. Assobios ecoavam ao
meu redor, mas eu me recusava a dar atenção a qualquer um deles. Tudo o
que desejava naquele momento era apagar aquela noite e fingir que jamais
aconteceu. Não merecia ser tratada com tamanha frieza; não havíamos feito
nada de errado, afinal. Os problemas eram dele.
— Ei — uma voz me chamou, interrompendo meu lento caminho da
vergonha. Uma mão envolveu meu pulso, forçando-me a encarar o dono
daquela voz.
Era o mesmo rapaz da noite anterior, aquele que aparentemente não
se dava bem com Brandon.
— O que está fazendo aqui sozinha? Onde está aquele idiota? —
perguntou, sua expressão preocupada contrastando com a hostilidade de
antes.
— Estou indo pegar um táxi — respondi, notando os olhares dos
soldados ao nosso redor, observando-me atentamente.
Ele retirou a blusa de frio azul marinho que vestia e a colocou sobre
meus ombros.
— Te levo até em casa. Não vou deixar você pegar um táxi vestida
assim, e aquele seu amigo retardado também não deveria permitir isso.
Você precisa escolher melhor suas amizades.
— Tenho um péssimo gosto para amigos. Obrigada, mas prefiro
pegar um táxi. E não preciso da sua ajuda — respondi, retomando meu
caminho.
— Sou Erick. E agora para de ser teimosa. Meu carro está logo ali
na frente.
— Emma — respondi de forma monótona, sem vontade de
prolongar o diálogo.
Resisti à oferta por um instante, mas no fundo sabia que precisava
daquela gentileza. Já tinha sido humilhada o suficiente por um dia. Entrar
no carro de Erick era admitir minha vulnerabilidade, mas naquele momento
eu só queria chegar em casa e esquecer tudo aquilo.
— Preciso do seu endereço — ele disse, tentando puxar conversa
durante o trajeto.
Erick insistiu com algumas perguntas, mas percebeu minha
relutância em conversar e se manteve em silêncio. Chegamos em casa em
um constrangedor, porém reconfortante, silêncio. E isso foi bom, já que
minha mente era uma bagunça de pensamentos barulhentos.
— Está entregue — Erick sorriu para mim ao chegarmos, e eu
retribuí o gesto com um aceno de cabeça, agradecendo por sua gentileza em
meio ao caos.
— Muito obrigada. Estou realmente grata por evitar algumas
vergonhas. — Dei um sorriso fraco, que não alcançou meus olhos.
— Não deixe que ninguém te faça sentir triste. Você é muito bonita
para não estar sorrindo. — Erick se despediu e partiu.
Que noite, Emma, que noite. Você é tão idiota. Mas pense pelo lado
positivo, não é mais virgem, e suas amigas vão parar de te incomodar.
E provavelmente arrancarão os olhos de Brandon.

Entrei em casa, torcendo para que ninguém me perguntasse o que


aconteceu. Agradeci ao ver que meus pais já haviam saído para o trabalho.
Dirigi-me diretamente ao meu quarto, onde me encolhi em uma bolha de
tristeza e permiti que as lágrimas fluíssem livremente.
Depois de me acalmar, peguei meu livro e uma tigela de sorvete,
sentando-me no meu lugar habitual. Decidi deixar tudo aquilo para trás.
Não pediria nada a ele, e não permitiria que me machucasse novamente.
Brandon tinha seus próprios problemas, suas emoções eram uma bagunça, e
eu não seria mais arrastada por suas idas e vindas.
Na verdade, a culpa era minha. Ele sempre deixou claro que éramos
apenas amigos, mas eu continuava alimentando esperanças de que ele
mudaria de ideia. Permiti que isso acontecesse.
Passei o resto do dia ali, imersa na leitura e no sorvete. Minha
família sabia que não deveria me interromper quando eu me recolhia assim
para lidar com minhas emoções.
Alicia e Ester mandaram várias mensagens, mas eu disse que
contaria a elas tudo o que havia acontecido quando estivesse pronta. Elas
entendiam minha reserva.
Devorei o livro e o sorvete, e, no fim, me sentia um pouco melhor.
Sou especialista em reprimir minhas emoções.
No final do dia, Brandon havia bombardeado meu celular de
mensagens e ligação, e eu ignorei cada uma delas.
“Emma, chegou bem em casa?”
“Pode me atender por favor?”
“Precisamos conversar.”
“Sei que você deve estar muito nervosa comigo, mas por favor, ao
menos diga se você está bem, se chegou em casa. Estou quase saindo daqui
para ir verificar.”
“Está tentando me deixar louco?”
“Por que porra você aceitou a carona de um estranho? Você me
disse que pegaria um taxi!”
Lá estava ele, com suas mudanças de humor repentinas, sempre
iniciando em um extremo e terminando em outro, seja do amor ao ódio ou
do ódio ao amor, tudo em um ritmo frenético, difícil de acompanhar.
Respondi apenas com um "Estou bem".
Sabia que deveria fazê-lo sofrer um pouco, que não deveria mais
falar com ele, mas era difícil ignorá-lo. Era como um vício do qual não
conseguia e nem queria me livrar, especialmente agora que tivemos aquela
experiência tão intensa. Isso só piorou as coisas.
Assim que enviei minha resposta, meu celular começou a tocar
novamente. Tive certeza de que era ele, ligando de outro número. Recusei a
ligação.
Eu só precisava de um pouco de espaço. Ele precisava me dar um
tempo para que eu pudesse deixar tudo isso para trás e seguir em frente,
voltando a falar com ele como antes, como amigos.
Mas eu precisava de alguém, precisava que ocupassem parte do meu
tempo para que ele não fosse mais o centro das minhas atenções. Não era
justo, mas era necessário.
Permaneci na varanda por mais algumas horas e observei uma
pessoa se mudando para a casa ao lado da de Brandon. Era uma senhora
acompanhada por uma moça muito bonita. Vi a moça entrar na casa deles
mais tarde; talvez fosse alguém da família. Pensei em perguntar a minha
amiga sobre isso, mas decidi deixar para depois.
Ester tinha ido fazer uma viagem curta com algumas pessoas da
faculdade e voltaria a tempo para comemorar meu aniversário direito no
final de semana.
Quando entrei em casa e me deitei, desejei fervorosamente que
Brandon não me procurasse tão cedo. Precisava de uma pausa na loucura.
E, para a minha surpresa, ele fez exatamente isso... ele sumiu.
Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum contato. Uma completa
ausência.
Não sei dizer se aquilo foi um alívio ou se doeu ainda mais, mas
segui em frente.
Será que fui apenas um caso de uma noite depois de tentarmos tanto
ser amigos?
Tudo bem. Sou adulta. Controlo minhas emoções melhor que meus
pais. Vou superar. Já superei.
Eu tento me enganar, mas quem não tentaria em situações como
essa?
Capítulo
17
Fiquei bem nos dias seguintes, me recuperei. Se há algo que sei ser,
é forte quando necessário, aprendi isso com minha mãe.
Minhas amigas desistiram de perguntar o que aconteceu depois de
eu ter dito várias vezes que não queria tocar no assunto. Sabiam que estava
triste, mas respeitaram meu espaço.
— Ei, você não vai ficar trancada em casa para sempre, eu te
proíbo! — Ester gritava ao telefone enquanto eu o afastava do meu ouvido.
Ela estava voltando para casa e eu disse que não queria comemorar
meu aniversário.
— Por favor, não quero sair. Só quero me concentrar nos meus
livros, por favor. — Implorei para que me deixassem em paz.
— Levanta e se troca! Vou falar com Alicia, passarei lá para buscá-
la. Mataremos meu irmão e vamos passar aí logo em seguida.
Fiz o que ela me pediu, tomei um banho demorado e me troquei.
Não queria sair, mas elas tinham razão. Precisava me distrair de outra
maneira que não fosse trancada com meus romances fantasiosos.
Antes que elas viessem, resolvi ir até a padaria para pegar algumas
carolinas com creme de avelã, que adoro, e fui ao mercado buscar sorvete
de creme para acompanhar. Era a minha combinação perfeita.
Meu dia estava indo bem até aquele momento. No corredor dos
sorvetes, vi Brandon olhando algo. Não sabia como deveria agir, então optei
por ignorar, da mesma maneira como ele tem feito.
Passei por ele indo até o freezer. Ele abriu a boca para falar comigo,
mas a fechou novamente. Andei tranquilamente e peguei o pote de sorvete.
Quando me virei, uma mulher muito bonita estava caminhando na direção
dele.
— Amor, não encontrei o arroz que eu gosto. Talvez, em um
mercado de bairro não tenha. Preciso ir a um grande. — Eu fiquei
paralisada no lugar, e ele tinha o maxilar travado, seu corpo rígido. Aí
estava ele, o motivo pelo qual ele insistentemente não podia.
Recobrei meus sentidos rapidamente. Brandon olhava na minha
direção, seus olhos transmitiam uma tristeza grande, mas os meus devem ter
dado o recado que eu queria passar: "Fique longe de mim".
A mulher olhou na minha direção, graças ao olhar insistente dele.
Eu abri o freezer novamente, peguei mais um pote de sorvete, fechei e ia
sair dali o mais rápido que podia.
— Ah, você é a vizinha da casa da frente, não é? Acho que te vi
uma vez lendo na varanda. — Droga, droga, droga.
— Sim, sou sim. — Respondi.
— Desde que cheguei, não te vejo fora de casa, nem consegui me
apresentar. Me mudei para a casa ao lado da família dele. — Ela apontou
para Brandon, que estava tão duro quanto uma estaca fincada no lugar. —
Eu sou Amber, sou a noiva dele. Muito prazer. — Ela estendeu a mão para
mim, e eu a peguei sorrindo.
— Eu sou Emma. Bem-vinda, espero que goste daqui.
— Obrigada! Seria bom se eu conseguisse conhecer a cidade. Ele
ainda não me levou a canto nenhum. Seria ótimo se pudesse me indicar um
lugar legal. Brandon insiste em dizer que não conhece nada, que tudo
mudou.
— Na verdade, como você pode ter notado, eu sou muito caseira,
vivo presa nos meus livros, mas tenho duas amigas que são da noitada.
Quando as vir, pergunto onde elas costumam ir, e passo para você se nos
encontrarmos novamente.
— Perfeito! Isso seria ótimo! Agora quero ver que desculpa ele vai
arrumar.
— Bom, preciso ir, tenho que sair daqui a pouco, foi um prazer,
tenham um bom fim de tarde!
Ele finalmente resolveu falar, e ainda se achando no direito de me
questionar. Minha vontade foi de fazê-lo engolir todos os seus dentes
perfeitos.
— Aonde você vai? — Perguntou, estreitando os olhos. Parece que
se arrependeu assim que abriu a boca, mas já tinha deixado a pergunta
escapar.
— Hum, eu... eu ainda não sei, na verdade... Mas se for bom, eu
aviso. Até mais. — Me despedi novamente com um aceno de mão, tentando
me livrar daquela situação embaraçosa.
Era isso. Esse era o motivo dele, a razão para se negar tanto. Está
explicado, e eu fui uma idiota. O amei por tanto tempo, esperei por ele,
mesmo que não assumisse isso, e todo esse tempo esperei por um cafajeste,
um mentiroso!
Escolhi, escolhi, escolhi, e por fim acabei escolhida! Escolhida por
alguém que não vale absolutamente nada.
Saí do mercado completamente tomada pela fúria. Nem sequer
consegui sentir a tristeza toda que deveria. Isso eu já tinha sentido quando
ele me tratou como uma qualquer no dia seguinte após eu me entregar
completamente para ele. Agora tudo que conseguia sentir era raiva.
Assim que entrei em casa, a primeira coisa que fiz foi trocar mais
uma vez minhas roupas e fazer uma maquiagem. Não queria mais ser o
retrato da mulher rejeitada. Era assim que eu estava me sentindo desde
aquele dia.
Nunca pensei que permitiria que alguém afetasse tanto a minha vida,
mas ele conseguiu, e eu preciso deixar isso para trás de uma vez.
Fiquei perfeita. Era impossível alguém dizer que eu era uma pessoa
ferida por dentro, e era exatamente assim que queria parecer dali em diante.
Minhas amigas chegaram já no início da noite.
— O que é isso? Você tá incrível, Emma! — Alicia gritou assim que
me viu.
Ester estava igualmente admirada. E do outro lado da rua, um par de
safiras gélidas me mediu de cima abaixo, a fúria mal contida exalando por
cada um de seus poros.
— Vamos logo.
Quando caminhei em direção ao táxi, escutei a voz de Brandon me
chamando. Olhei em sua direção e ele rapidamente olhou para a casa de sua
noiva, provavelmente com medo de que ela o tivesse visto.
Balancei minha cabeça em negativa sorrindo, não para ele, rindo de
mim e da minha burrice de não ter percebido nada antes, e continuei, dessa
vez sem olhar para trás quando ele me chamou novamente.
— O que foi isso? Vocês não estão mais se falando? — Ester
perguntou, parecendo bastante desconfiada.
— Não estamos, e vai ser melhor assim, garanto. — Baixei os olhos
para as mãos.
Tudo o que eu queria era apagar toda aquela merda. Ele tinha me
feito sentir raiva, nojo. Era bom, assim não seria tão doloroso esquecê-lo.
— O que foi que ele fez naquele dia? — Ester perguntou receosa, e
Alicia ficou me encarando, aguardando uma resposta.
— Não quero falar disso, vai estragar a minha noite. Vou deixar
Brandon no passado, onde ele deve estar. — As duas concordaram, mas
sabia bem que não entender o que tinha acontecido as estava matando.
— Sabia que seu irmão estava noivo? — Perguntei olhando para
Ester, e pela cara que ela fez, ela não tinha a menor ideia daquilo.
— O que?
— Falamos disso depois, você provavelmente vai conhecê-la
quando voltar para casa.
— Vou castrar Brandon!

O bar onde as meninas me levaram era o melhor e mais bem


frequentado da nossa cidade. Tudo era incrível, a vibe perfeita. Eu amei
cada detalhe: a música, as pessoas. Pela primeira vez, eu me senti bem
estando no meio de tanta gente.
Bebi, dancei, brinquei. Estava me sentindo ótima e levemente
embriagada. Dei uns beijinhos em alguns homens que pretendo nunca mais
ver na vida. Não era muito meu estilo. Não sei o que estou tentando provar
a mim mesma, mas eu fiz.
Meu celular tocou incansavelmente, e eu sabia quem era. Então,
nem mesmo quis olhar para não me sentir tentada a atender.
— O que há com você, Emma? Não faça nada que vá se arrepender
amanhã! — Ester me alertou.
— Só me arrependo de não ter feito antes! — E estava mesmo
falando a verdade. Eu me arrependia de não ter curtido mais.
Estava tudo indo muito bem, até que senti mãos quentes na minha
cintura. Me virei imediatamente com o intuito de acertar um soco no infeliz,
mas me contive assim que vi o sorriso zombeteiro de Erick.
— Pensei que não te veria mais. É bom saber que você está bem! —
Comentou sorrindo.
— Você sabe que ia levar um soco na sua carinha linda, não sabe?
— Respondi no mesmo tom de brincadeira.
— Você me acha lindo? — E teria como não achar? Acho que a
USAF prende em cativeiro os homens mais bonitos da cidade. — Nossa, eu
realmente ganhei minha noite!
Senti meu rosto enrubescer, mas não tinha motivos para isso. Ele é
mesmo um gato.
— Então, nunca te vi por aqui. Primeira vez?
— Sim, vim com minhas amigas. Elas finalmente conseguiram me
arrastar para fora de casa.
— Depois me apresente a elas. Eu realmente quero agradecer. Não é
todos os dias que meus olhos podem apreciar uma mulher tão linda.
Mais uma vez senti meu rosto esquentar. Devo estar bem vermelha.
— É muito bonitinha a maneira como você fica corada com
qualquer coisa.
Dei nele um tapinha no ombro e nos sentamos junto com as
meninas. Eu o apresentei a elas, que também ficaram de queixo caído.
— Como vocês se conheceram? Emma nunca sai de casa. — Alicia
e sua boca grande.
— Em nenhum lugar especial, só nos trombamos por aí, e agora nos
vimos de novo. — Respondi antes dele, e seu olhar para mim demonstrava
estar intrigado com a minha mentira. Mas ele não me entregou, e eu
agradeci muito por isso internamente.
— Eu realmente preciso voltar para os meus amigos, antes que eles
venham me buscar pelo colarinho. Tenham uma ótima noite. — Ele se
despediu das meninas e se virou para mim. — Dessa vez não vou cometer o
erro de não pedir seu número. Pode me passar por gentileza? — Eu passei,
e ele se despediu de mim com um beijo um pouco mais demorado do que se
julgaria preciso e depois voltou para sua mesa.
— Conta. Tudo. Agora! — Ester estava com um sorriso diabólico
no rosto, que combinava perfeitamente com o de Alicia.
— Onde diabos você encontra uns caras desses sem nem mesmo sair
de casa? — Alicia perguntou, ainda incrédula.
Dei uma explicação superficial de tê-lo visto por acaso e que ele era
conhecido de Brandon.
— Eu preciso do segredo de atrair tantos gatos. Pelos céus, amiga,
você nasceu com o bumbum virado para a lua.
Pela primeira vez em anos, eu estava aproveitando a minha vida.
Fui até o bar buscar mais algumas bebidas, e lá estava Erick
novamente, pedindo bebida para ele e seus amigos.
— Agora estou começando a pensar que é coisa do destino.
— Estamos no mesmo bar, o destino não tem culpa por estarmos no
mesmo ambiente. — Sorri para ele de maneira ampla e verdadeira.
— Alguém já te disse que você é impressionante quando sorri? —
tentei não ficar sem graça, mas não sou boa com elogios. — Mas você fica
ainda mais perfeita quando está nervosa. Sem dúvida, eu a faria passar
muita raiva só para te beijar até que sorrisse para mim.
Senti que estava tão vermelha quanto um farol. Ele se aproximou do
meu ouvido e sussurrou para mim.
— Mas creio que nenhuma das anteriores me deixa tão excitado
quanto te ver enrubescer. Isso sim é de levar qualquer homem são à loucura.
Pronto, agora tenho certeza de que podem me ver até da lua.
— Ei! Não seja tão descarado! — Disse, empurrando-o levemente.
— Desculpe, mas não consigo não pensar em como você deve ficar
vermelha quando... — Ele deixou a última parte para bons entendedores, e
eu entendi bem sobre o que ele estava insinuando.
Peguei minhas bebidas no balcão e quando estava saindo, soltei um
“abusado” por cima do ombro, mas em tom de brincadeira, e notei que ele
me acompanhou com os olhos até eu chegar na minha mesa antes de se
mover de volta para a dele.
Respirei fundo, sentindo o peso de seu olhar em minhas costas.
Olhei na direção da mesa onde ele estava, apenas para ver que não tirava os
olhos de mim. Esta noite vai ser longa.
A noite estava indo muito bem, eu me divertia bastante, mesmo
ciente de que meu celular tocava incessantemente, e sabia que era ele, o
homem em quem mais confiei e também o que mais me decepcionou. Optei
por não atender. Não queria me sentir mal, triste, então deixei nossa
conversa para outro momento.
As bebidas, sem dúvida, ajudavam a me deixar mais solta. Eu sorria
à toa, dançava com minhas amigas, pulava, brincava, me divertia de
verdade.
Após algumas músicas, alguns homens ficaram um pouco
assanhados demais. Por “sorte”, Erick estava lá, como um cavalheiro de
armadura reluzente.
— Se quiser sair daqui inteiro, seria bom que não colocasse a mão
onde não lhe pertence... — Ouvi-o dizer, com um tom rude.
O homem se afastou com as mãos erguidas e pedindo desculpas, e
eu me virei para Erick.
— O que não o pertence? Me diga a quem eu pertenço? Então agora
sou reduzida a alguma mercadoria? — Comentei com ar zombeteiro, mas
no fundo estava realmente incomodada.
— Não foi assim que eu quis que soasse, mas sem dúvida nada aí
pertence àquele idiota. — Sorriu para mim abertamente. — Eu preciso que
você pare de precisar de ajuda, da última vez seu nariz estava sangrando. —
Por que ele tinha que mencionar aquele dia?
— Mas eu me viro muito bem sozinha, você mesmo viu.
— Você fica assustadoramente fofa quando fica nervosa. — Nós
dois rimos, e com certeza ele queria me beijar, não parava de encarar minha
boca, mas estava hesitando. Por quê?
— Bom, para mim já deu, preciso voltar para casa, tenha um bom
fim de noite. — Virei de costas para ele, mas sua mão se prendeu no meu
pulso e me puxou de volta para seu corpo, seus lábios se esmagando contra
os meus num beijo voraz e necessitado. Suas mãos exploravam meu corpo
quase obscenamente. Segurei sua mão na minha cintura e ele sorriu contra a
minha boca, e isso foi realmente muito bom.
— Você é uma perdição, sabia?
— Por isso eu me mantenho mais tempo dentro de casa, é perigoso
estar solta por aí. — Respondi brincando.
— Quer sair daqui comigo? — É claro que ele queria mais alguma
coisa, eles sempre querem, não é? Mas eu não sou assim. Levei tanto tempo
para confiar em alguém o bastante, e acabei quebrando a minha belíssima
cara.
— Não, hoje é a noite das meninas, tenho certeza de que elas não se
importam, mas eu sim, vou para casa com elas. — Respondi sem nem
pensar duas vezes.
— Entendo... — Tinha alguma coisa que ele não estava me dizendo.
— Você quer me perguntar alguma coisa? Parece um pouco
incomodado, um pouco estranho... não sei, mas dá para notar.
Ele me olhou profundamente e deu um suspiro.
— Você é bem observadora... E sim, tem uma coisa me
incomodando, você me disse naquele dia que eram amigos — claro que ele
não precisava nem dizer de quem estava falando. — Mas você saiu só no
outro dia de manhã... você é muito interessante, mas se ele for seu
namorado...
— Ele não é meu namorado, e sinceramente falando nem mesmo sei
te dizer se éramos amigos de verdade, mas eu com certeza quero distância
dele. — Ao menos me parece ter um pouquinho de caráter, mas mesmo
assim me beijou e queria sair daqui antes de me perguntar. — E eu preciso
ir, mesmo, está na minha hora.
Ele depositou um beijinho leve nos meus lábios e sorriu. Eu sorri
para ele e voltei para chamar as meninas.
Brandon me atrapalhando mesmo sem estar presente, mas não quero
nada que seja da noite para o dia, mesmo que esperar tanto para me
entregar, também não tenha resultado em coisa boa. Voltei para casa de táxi,
minhas amigas decidiram ficar lá mais um pouco, já tinham alguns rolinhos
e muito provavelmente sairiam com eles de lá. Meu celular ainda apitava e
vibrava, então quando estava tranquila no meu quarto, eu o atendi.
— O que você quer, Brandon? — Perguntei sem rodeios, não queria
falar com ele, mas sabia que estava tardando para dizer umas verdades.
— Emma, por favor, me escuta, me deixa te explicar... — Isso é
sério?
— Não há nada que tenha restado para explicar, eu já entendi, não
precisa se dar ao trabalho de me dizer qualquer coisa. Sua noiva foi bem
clara. E por favor, diga a ela que o Imperial é um bom bar, vocês podem ir.
— Onde você foi? Imperial?
— Está surdo? Olha Brandon, está tarde, eu quero dormir. Tenha
uma boa noite.
— Quem estava lá? — Ham?
— Como assim quem estava? Você bebeu? Está passando mal? Qual
o seu problema? — Ele só pode ser perturbado, isso não é normal. — Não
tenho tempo para isso.
Encerrei a chamada e virei para dormir, embora soubesse bem que
não seria possível.
Brandon tem sido a lembrança constante do quanto posso ser uma
boba ingênua, e isso tem acabado com a minha cabeça com muita
frequência. Passei o restante da madrugada olhando para o teto e pensando
no que tinha acontecido...
Eu tive a chance de ficar com alguém legal como Samuel.
Provavelmente não teria me arrependido tanto se tivesse me concentrado
nele, e não no babaca noivo que nunca mencionou esse detalhe. Até mesmo
Erick, poderíamos nos esbarrar de uma maneira diferente, nos conhecer de
um jeito melhor, e não pendurada nas costas de outro homem com a bunda
quase de fora.
Brandon tem me feito de boba, me impedido de conhecer alguém
que goste de mim. Sei que parte dessa culpa é minha, mas ele tinha perfeita
consciência dos motivos que ele tinha, eu não...
Por que diabos ainda fico tão fixada nele? Eu já deveria ter
desconsiderado a existência daquele idiota, mas não, ainda fico me
remoendo, sentindo a dor do que ele fez...
Só espero que ele me deixe em paz.
Capítulo
18
Ficar longe dela tem sido a maior tortura que já me impus. Depois
de tê-la em meus braços, as coisas ficaram ainda piores. O desejo cresceu
de uma maneira dolorosa, eu não conseguia mais me reprimir. Depois que
tivemos aquela noite, tive medo, não era para ter sido daquela forma.
Sempre tive um caso com Amber, nos conhecemos em uma das
minhas missões e a trouxe para morar na cidade próxima aos meus pais
porque a vida dela não era muito fácil onde vivia.
Quando pensei que Emma havia seguido em frente, depois de vê-la
com uma aliança, pedi Amber em casamento. Ela conhecia a minha vida,
sabia que eu não seria presente, mas me amava e aceitou.
Eu ficava meses sem ver Amber e por mim estava tudo bem, mas
enlouquecia por Emma assim que descobria que não poderia vê-la. Era
errado, completamente, e eu sabia bem disso, mas não conseguia me sentir
como antes. Amber era a mulher perfeita para mim, até reencontrar o
pecado encarnado que se tornou a minha pequena vizinha.
Na manhã após ela se entregar a mim, fui um idiota covarde, estava
com tanta raiva de mim que acabei fazendo ela se sentir mal, mas não era a
minha intenção, nunca foi, era a culpa me corroendo. Ela se foi e logo em
seguida, soube que Amber viria para cá, não pude nem ao menos me
desculpar, ela deve pensar coisas terríveis, e boa parte delas mereço.
Tentei de todas as maneiras humanamente possíveis não ceder ao
que sentia por ela, mas fui fraco. Só de pensar em outro homem com ela
perco completamente o juízo, me torno um animal irracional.
E como se toda desgraça ainda fosse pouca para uma idiota como
eu, minha noiva se apresentou para ela. E podia piorar? Claro que podia,
sempre podia... ela foi para o Imperial, o maldito bar onde toda a droga da
USAF vai parar nos dias de folga!
Depois da minha conversa com ela, eu mal podia esperar para voltar
para casa, estava evitando por causa de Amber, mas iria na manhã seguinte.
Porém, Erick iria chegar, então não me importei de esperar mais um pouco,
queria saber se ele a viu. Fiquei na frente do seu alojamento esperando, ele
não demorou muito.
— O que faz aqui, Brandon? Esqueceu o caminho de casa? — Ele
perguntou com ironia.
— Onde esteve ontem à noite? — Fui direto ao ponto, sabia que não
mentiria, ele não tem medo de mim, nem eu dele, então os dois éramos uma
catástrofe anunciada juntos.
— E desde quando sou obrigado a te dar satisfação de onde vou ou
não? Ah, deixa eu ver... você já falou com ela, não é mesmo? O que foi que
Emma te disse? — Então é isso, eles estavam mesmo juntos ontem.
Minhas mãos ganharam vida e vontade própria, e eu o segurei pelo
colarinho.
— É melhor que você fique longe dela, Erick, ou eu vou deformar
essa sua carinha de modelo de cueca!
— E o que você é dela? O que te faz pensar que pode decidir quem
pode ou não se aproximar dela? É uma mulher solteira, eu sou um homem
solteiro, e se ela me quiser, quem sou eu para negar — o soltei antes que
perdesse a calma.
— Estou te avisando, eu não quero ter que voltar a ter essa conversa
com você. — Eu me virei para sair, mas ele abriu a boca mais uma vez.
— O beijo dela é uma coisa de louco! — Foi o suficiente para que
eu voltasse, mas um pouco perto demais, um superior passava, fui obrigado
a engolir toda a raiva que estava sentindo enquanto ele sorria vitorioso
entrando no seu quarto.
Não consigo acreditar que ele a beijou... Sinto todos os meus
músculos se contorcendo, meu sangue se transformando em ódio líquido.
Estou enlouquecendo aos poucos. De um lado, a mulher que parecia
certa, minha noiva, aguardando nosso momento de ir para o altar, e do
outro, a mulher que mais desejo na vida. Uma mulher que pode parecer
apenas uma menina aos olhos dos outros, alguém com quem eu não deveria
me envolver, mas não consegui evitar.
E agora eu não sei o que fazer. Não posso simplesmente terminar
um noivado por uma pessoa que pode ser apenas uma aventura, uma paixão
passageira. E depois? E se nunca desse certo? E se eu ferisse mais Amber a
troco de nada?
Já estou com Amber há tantos anos, tentei desesperadamente não a
desrespeitar e consegui, até encontrar a baixinha mais invocada que já vi na
vida e me apaixonar por ela, e agora estava perdendo-a. Não deveria doer
tanto assim, não deveria estar tão completamente desesperado dessa
maneira, mas estou, e não consigo me controlar.
Cheguei em casa sem me importar com quem quer que me visse,
sem dar a mínima para minha sogra ou minha noiva que moravam bem ali
ao lado. Corri para o portão dela e toquei a campainha, rezando para que ela
viesse rápido. Emma colocou a cabeça para fora na varanda, e assim que me
viu, seu rosto se contorceu de raiva. Ótimo, estamos os dois com raiva, e
muito provavelmente iríamos destruir a casa em cima um do outro.
Ela desceu pisando duro, dava para ouvir o barulho dos seus pés
acima da garagem. Seus olhos brilhavam de pura ira.
— O que pensa que está fazendo aqui? — Vi quando seus olhos
correram para o portão da minha noiva, um lembrete a mim sobre o quão
perigoso era aquilo.
— Abre o portão! — Ela hesitou, mas o fez, e assim que ela abriu o
portão, eu a puxei pelo braço e a enfiei dentro do carro, sem dar a ela tempo
nem mesmo de processar o que eu estava fazendo. Eu precisava falar com
ela, mas não poderia ser ali, não quando muito provavelmente nós dois
acabaríamos gritando um com o outro a plenos pulmões.
Eu não tive nem mesmo tempo suficiente para raciocinar um pouco.
Em questão de segundos, já estava dentro do carro dando partida com ela ao
meu lado.
— Eu vou matar você! Só não vou descer desse carro porque não
quero ser o pivô da separação de ninguém.
— Pode fazer o que bem entender, Emma, mas primeiro você
precisa me ouvir. — Digo isso como se minhas palavras fossem mudar
qualquer coisa, mas no fundo sabia que não mudariam nada.
— Como você ainda tem coragem de querer exigir algo? Como você
pode ser assim, Brandon? — Ela parecia estar se esforçando muito para não
parecer quebrada, mas sua tentativa não era das melhores.
Durante o caminho, ela se manteve calada, não olhava em minha
direção e nem prestava atenção em nada. A levei até um parque, não muito
longe da nossa casa, mas não tão perto também. Ainda estava de farda, e
não queria que nenhum conhecido nos visse. Minhas mãos apertavam o
volante com força, meus nervos estavam me matando.
Ela se sentou ao meu lado no banco de má vontade.
— Então, vamos lá, me diga o que pensa que pode ser tão
importante que possa acabar com a minha raiva.
— Você e Erick se viram no bar? — Ela sorriu, não acreditando que
a pergunta era séria.
— O que? E o que isso importa a você? Ah mais é claro, você é o
cara com noiva, que não suporta a ideia de que eu possa ter outros homens
na minha vida! Escuta aqui, Brandon, eu acho melhor você não brincar com
a minha paciência, porque eu posso sair com a cidade inteira se me der
vontade...
— E ser a mais nova vagabunda daqui? — Me arrependi assim que
falei.
— Vagabunda não... o nome disso é solteira, fico com quem quiser
na hora que eu bem entender, o contrário do que você é e pode!
— Me desculpa, Emma, me desculpa, eu não consegui te dizer a
verdade... eu não pude, sabia que ia te perder assim que eu dissesse —
Fiquei de pé parado na frente dela.
— Perai, deixa eu ver se eu entendi... você não queria me perder,
mas tem uma noiva, então você tem alguém e não queria que eu tivesse
ninguém. Isso não deveria nem mesmo ter começado... você consegue
entender isso? Ou é burro demais para enxergar? — Deixou toda a sua raiva
escorrer pelas palavras.
— Mas eu tentei, eu te disse que não poderíamos ter nada, eu te
avisei inúmeras vezes...
— Você está noivo! Se tivesse me dito abertamente eu teria
entendido, Brandon! Eu jamais te deixaria me tocar se soubesse de uma
coisa dessas. Quer dizer você fala que não pode, mas só você está ciente do
seu motivo, ainda assim você transa comigo e ainda tem a coragem de me
dizer ‘Eu avisei’? Isso é sério? Está me culpando pela merda que você
mesmo fez!
Ela se levantou pronta para ir embora, mas a segurei pelo pulso
fazendo-a me encarar, meus olhos transbordando de desespero e culpa.
— Eu nunca te culparia por isso, foi tudo culpa minha... — Afirmei
buscando seus olhos, sequer consegui notar quando sua mão se ergueu,
apenas a senti quando seus dedos arderam em meu rosto.
— NUNCA MAIS ME PROCURE! NUNCA! — Se virou
novamente e começou a caminhar para longe de mim, mas dessa vez não a
impedi, ela estava furiosa, mas triste também, quem poderia culpá-la?
A segui de uma distância que lhe dava alguma privacidade. Vi
quando seus ombros tremiam pelo choro quase convulsivo e cada vez que
se sacudiam meu coração se apertava.
Ela parou na sorveteria próxima à nossa casa e eu passei direto.
Entrei em casa e assim que vi minha irmã soube que estava perdido.
Ester está sentada no sofá, com uma expressão que poderia fazer qualquer
um tremer de medo. Seus olhos estão faiscando de raiva, e tenho certeza de
que a fonte desse ódio todo sou eu.
— O que está acontecendo? — pergunto, tentando manter a calma,
mesmo sabendo que minha irmãzinha pode me estrangular.
Ela se levantou abruptamente, encarando-me com fúria contida. Sua
voz sai num tom baixo, mas cortante como uma lâmina afiada.
— O que você fez com Emma para deixá-la daquele jeito? Que
história é essa de noiva, Brandon? E de onde porra surgiu essa mulher do
nada?
Engulo em seco, tentando encontrar as palavras certas para explicar
tudo. Mas antes que eu possa dizer alguma coisa, Ester continua:
— Você precisa ficar longe da Emma. Você não a merece. Eu não
vou deixar que você acabe com o coração dela!
— Ester, eu sei que Emma é sua melhor amiga, mas...
— Mas é o cacete, não tem nenhum “mas” aqui! Eu disse que não te
perdoaria, não acredito que teve coragem de magoá-la sabendo o que ela
significa para mim... Você me decepcionou muito, Brandon.
Tento acalmar minha irmã, tento explicar a situação, mas ela não
quer ouvir. Ela está tão cega pela sua preocupação com Emma que não quer
entender nada do que eu digo.
— Eu a amo, Ester.
— Deveria ter pensado nisso antes!
A discussão se estende, cada palavra como uma faca cortante
perfurando meu peito. Não há como escapar do olhar acusador de Ester,
nem da culpa que pesa em meu coração. Eu sei que errei, que machuquei
Emma, e agora estou enfrentando as consequências. Mas ver minha irmã
tão magoada só piora as coisas. Eu só queria poder consertar tudo, mas
parece que só estou cavando um buraco mais fundo para mim mesmo.
Alguns dias se passaram antes de eu vê-la novamente. Sua vida
parecia estar voltando ao normal, voltando à sua rotina na varanda com seus
livros e de manhã com o café, talvez não querendo deixar que minha
interferência afetasse seu cotidiano.
Após mais alguns dias, passei a cumprimentá-la com um aceno de
cabeça e um sorriso fraco, e ela devolvia. Assim, passamos a ser estranhos,
vizinhos que não se falavam, mas se cumprimentavam por educação.
Erick fazia questão de contar sempre que a encontrava, esfregando
aquilo na minha cara como se tivesse ganhado uma medalha de bravura. Eu
sabia que aquilo iria acabar de um jeito ruim. Ele queria ver até onde eu
suportaria, e estava bem perto de descobrir.
Capítulo
19
Finalmente cedi às insistentes investidas de Erick e aceitei sair com
ele. Estava ansiosa, afinal, era nosso primeiro encontro de verdade. Sempre
nos encontrávamos "por acaso" no mesmo bar, mas nunca tínhamos
marcado algo oficialmente, como é o caso da comemoração de hoje.
Escolhi um vestido branco elegante que minha mãe havia comprado
para mim, mas que eu nunca tinha usado. Deixei meus cabelos pretos
soltos, destacando ainda mais o contraste com o vestido, e fiz uma
maquiagem leve, destacando apenas meus lábios vermelhos.
Minha mãe entrou no quarto enquanto eu me arrumava, e apesar de
ter elogiado minha aparência, havia algo em sua expressão que não condizia
com suas palavras.
— Está tudo bem, mãe? Você parece preocupada — comentei,
observando-a atentamente.
— Na verdade, queria te deixar ciente de uma coisa, sabe que por
mim, você pode fazer o que quiser com a sua vida, mas seu pai... bem, ele
foi até a faculdade e viu que você não está cursando direito, está uma fera.
Farei o que posso, mas nesse caso acredito que não seja de muita ajuda. —
Dona Sarah é sempre muito direta.
Sabia que enfrentaria uma verdadeira batalha em casa, mas estava
determinada a seguir meu próprio caminho.
— Não se preocupe, mãe. Vou conversar com ele e tentar fazê-lo
entender meu ponto de vista. É minha vida, afinal — respondi, tentando
tranquilizá-la.
— Fico feliz que esteja decidida, mas espero que esteja pronta para
as consequências...
— Sim, vamos conversar sobre isso, mas agora estou atrasada! —
Concluí, apressando-me para sair e encontrar Erick.
Após me despedir dela, passei pelo quarto do meu irmão para avisar
que traria algo gostoso para ele de sobremesa e então desci para encontrar
Erick, que já me aguardava lá embaixo.
— Uau, que princesa, se eu soubesse que você estaria tão bem-
vestida eu teria caprichado um pouco mais — Erick disse assim que me viu,
com um sorriso divertido nos lábios.
— Você também não está tão ruim — Erick era realmente atraente, e
a química entre nós era evidente.

A festa organizada pela USAF estava impecável, com decorações


deslumbrantes que realmente impressionavam. O jantar foi delicioso,
embora eu tenha comido mais do que deveria, estava tentando parecer mais
elegante, mas as sobremesas estavam boas demais para não querer comer
novamente.
Em uma área mais afastada, havia uma atividade de tiro ao alvo
valendo brindes. Tentei ao máximo acertar os alvos em movimento, mas
sem sucesso. Para minha surpresa, Erick teve mais “sorte” e ganhou um
ursinho de pelúcia, que fez questão de me mostrar, provocando-me com seu
sorriso travesso.
— Parece que os anos de leitura deixaram suas vistas péssimas.
— Pela lei do cavalheirismo, você deveria me dar o urso, já que este
é quase nosso primeiro encontro — retruquei, divertida com sua expressão
brincalhona.
Erick se aproximou perigosamente, sua pergunta pairando entre nós.
— E se eu disser que não sou nem um pouco cavalheiro? O que
você me daria em troca desse lindo ursinho? — Ele provocou, seus olhos
brilhando com uma intensidade divertida.
— Hum, que tal um beijo? Seria suficiente? — Entrei no jogo,
deixando-me levar pela brincadeira.
— Muito fraca essa proposta... Levei bastante tempo para ganhar o
urso. Ele vale pelo menos dois beijos, demorados... e com língua. — Ele fez
uma careta engraçada. Caímos na gargalhada juntos, aproveitando o
momento descontraído.
— Isso foi a coisa mais engraçada e menos sensual que já ouvi. —
Revirei os olhos
Erick se aproximou de mim lentamente, seu olhar cheio de
intensidade. Antes que eu pudesse reagir, sua mão segurou gentilmente meu
rosto, inclinando-o suavemente para perto dele. Seus lábios encontraram os
meus num beijo que começou suave, mas logo se tornou mais profundo e
ardente. Foi um beijo cheio de paixão e desejo, que deixou minha mente
turva.
Mas a diversão logo deu lugar ao caos quando Brandon surgiu do
nada, arrancando Erick de perto de mim e desferindo socos, um após o
outro, em seu rosto.
Fiquei paralisada de choque, incapaz de me mover diante da
violência repentina.
Erick pareceu demorar um pouco para entender e reagir à agressão,
assim como eu. Assim que me dei conta de tudo o que estava acontecendo,
comecei a gritar para que Brandon parasse, ouvi outra voz se juntar a
minha: Amber, a noiva de Brandon.
Os rostos de Brandon e Erick logo estavam ensanguentados, e os
espectadores que tentavam intervir também acabavam sendo atingidos. O
caos só cessou quando um disparo ecoou pelo ar, vindo de um homem mais
velho que apareceu com uma arma em mãos, visivelmente nervoso.
— O que está acontecendo aqui? — Sua voz ressoou pelo ambiente,
forçando Brandon e Erick a se soltarem.
O homem ordenou que fossem levados à enfermaria, com Amber e
eu os acompanhando. Mas deixou claro que eles seriam presos depois, sem
direito a voltar para casa pelo mês seguinte. A tensão só aumentou na
enfermaria, com Amber me encarando com raiva, Brandon parecendo
arrependido e Erick lançando punhais.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?
Brandon? Você pode ser muitas coisas, mas violento sem motivo nunca foi
uma delas — Amber dirigiu-se a Brandon, alternando o olhar entre ele e
mim, enquanto Erick encarava Brandon com uma expressão de pura
indignação.
— Quer explicar, Brandon? Ou prefere que eu explique? — Erick,
mesmo ferido, ainda tinha um sorriso irônico nos lábios, provocando
Brandon.
— Não importa quem, mas alguém precisa me dizer o que está
acontecendo! — Amber estava visivelmente irritada, olhando na minha
direção. Eu me contorcia de vergonha, sem saber como explicar a briga
entre aqueles dois idiotas que pareciam ter saído de um filme adolescente.
— Isso é melhor que você pergunte ao seu noivo, eu e meu
namorado não temos nada a ver com esse acesso de raiva que ele teve,
estávamos apenas curtindo a noite, assim como suponho que vocês também
vieram para isso.
Erick quebrou o contato visual com Brandon pela primeira vez
desde que chegamos ali, seu nariz, provavelmente quebrado, já estava
ficando roxo e um dos olhos praticamente fechado, mas ele tinha um
sorrisinho nos lábios, sabia que ele tinha pegado a deixa, mas o sorriso me
dizia que sua atuação custaria para mim.
— Seu futuro marido é doido moça, já disse a ele que não leve as
brincadeiras daqui para o coração. — Vi que ela não parecia acreditar no
que estávamos dizendo.
— Bom, ninguém melhor para te explicar isso do que seu noivo, eu
só quero cuidar de Erick e sair daqui! — Completei, tentando não
demonstrar nenhum tipo de preocupação ou cuidado com Brandon, e
rezando para que ele não estragasse tudo.
— Seu namorado Emma? — Ouvimos a voz dele pela primeira
vez... e eu pedi a todos os deuses que me ajudassem naquele momento. —
Achei que você tivesse um gosto melhor.
— E quem poderia ser melhor do que eu? — Erick o provocou, e eu
apertei suas mãos implorando para que ele parasse, um apelo silencioso,
aflito. Não queria ser a amante, aquela que estragaria o casamento de
alguém, só queria ir para casa e esquecer que aquela noite aconteceu.
— Qualquer um é melhor do que você, Erick! Ainda é um menino
que pensa que é grande coisa. Eu tenho certeza de que os pais dela não vão
gostar nada quando ficarem sabendo... — Brandon estava me dando nos
nervos, estávamos tentando salvar o pescoço dele enquanto ele continuava a
se colocar na forca.
Erick começou a rir e interrompeu Brandon antes de ele terminar o
que estava dizendo.
— Não sou grande coisa? Grande deve ser... ou eu não faria Emma
gemer tão alto chamando meu nome! — Foi como se uma granada tivesse
explodido na enfermaria, bem na nossa cara.
Mais uma vez tudo foi por água abaixo! Brandon se levantou da
maca, derrubando tudo o que estava em seu caminho, inclusive sua noiva
que estava ao lado dele. Erick levantou tão rápido quanto ele, e os dois
chocaram seus corpos mais uma vez.
Observei a cena aterrorizada, enquanto a noiva dele estava tentando
gritar para que eles parassem. Os dois estavam quebrando tudo, tenho
certeza de que o prejuízo seria muito grande, para o nosso azar estávamos
sozinhas com aqueles dois brutamontes.
Recobrei meus sentidos após alguns instantes observando a cena, e
me joguei em cima dos dois, claro que com meu meio metro de
comprimento eu não faria nenhuma diferença, mas o fato de ter sido
arremessada contra um carrinho auxiliar que estava com uma bandeja cheia
de instrumentos utilizados para a sutura dos dois e seus ferimentos, chamou
a atenção dos trogloditas, que automaticamente me olharam e correram na
minha direção.
Acabei ganhando cortes com o bisturi que estava no mesmo
pacotinho de esterilização. Que ótimo, saio para aproveitar a noite e acabo
voltando com um corte no braço e outros machucados um pouco mais leves.
— Emma eu sinto muito...— Brandon estava abaixado ao meu lado
tentando me ajudar a levantar. Meu sangue terminou de ferver.
— NÃO PONHA A PORRA DAS SUAS MÃOS EM MIM! —
Meu grito fez com que ele recuasse, seus olhos me passando toda a dor que
sentiu ao ser proibido de me tocar.
Erick me ajudou a levantar, e quando o médico entrou mais uma vez
na sala acabou precisando ir chamar um superior mais uma vez. Levei
alguns pontos no braço, a noiva de Brandon não parava de chorar, obvio
que ela já tinha percebido o que tinha acontecido entre nós, até um cego
veria que a raiva dele era por eu estar com alguém.
Toda a minha noite foi completamente arruinada, Erick estava me
parecendo um enorme babaca depois do que disse, ele sabia que ia irritar
Brandon e fez única e exclusivamente para aquilo, já que nós nunca
tínhamos ido para a cama. Eu só queria a minha casa, meu quarto, meus
livros e minha cama, nada no mundo me parecia ser mais atrativo do que
aquilo.
— Então você é amante dele? — Amber perguntou a mim enquanto
o médico suturava meu braço.
— Amber...— Brandon a repreendeu
— Pergunte ao seu noivo o que ele fez, nós duas fomos enganadas e
eu não me orgulho disso. — Respondi tão fria e dura quanto podia.
Aquilo ainda me machucava, eu não estava disposta a me passar
como errada e tampouco como vítima, não estava a fim de ter que dar
nenhuma explicação, esse não deveria ser o meu papel. Ela ainda me olhava
como se eu fosse a culpada e ele o santo, enquanto Erick estava do meu
lado segurando minha mão e Brandon ainda fuzilava aquele toque como se
fosse algum pecado mortal.
— Será que podemos ficar em outro lugar, eu não quero acabar
tendo que tentar separar outra briga desses dois idiotas. — Perguntei ao
médico, ele sorriu sem jeito e balançou a cabeça negativamente.
Acabou que eles ficariam presos por dois meses, um por cada uma
das brigas, não que Brandon vá cumprir se o esquadrão dele o chamar.
Amber e eu fomos levadas em carros separados para casa depois que o
superior deles deu a sentença, e agora muito provavelmente eu seria a
vagabunda da vizinhança...
Minha noite não poderia ter terminado de maneira pior.
Capítulo
20
Passei os dois meses seguintes em um estado de constante agonia. Cada dia era uma
batalha para ter a chance de falar com ela, enviar uma mensagem que fosse, apenas para que
soubesse que eu a procuraria assim que saísse daqui.
“Sinto muito por tudo o que fiz.”
“Sinto sua falta.”
“Me perdoe, por favor.”
“Nos dê uma única chance de conversar.”
Eram mensagens parecidas, todos os dias, enquanto isso, Erick estava em uma missão
própria para alcançá-la. Eu via o brilho constante da tela do celular à noite, enquanto ele digitava
mensagens e deixava recados para Emma. Ele tinha mais contatos aqui, eu era apenas um visitante,
mas conseguia ajuda de alguns conhecidos.
O castigo que me foi imposto chegava a ser engraçado, já que eles jamais poderiam me
proibir de sair se eu precisasse atender ao chamado de uma missão dos SEA Wolf, mas aqui estava,
preso dentro das paredes da USAF, desejando apenas um vislumbre de liberdade para reparar meus
erros. Mas as regras eram claras, e mesmo sendo apenas um visitante, preferia acatar.
Aproveitando as regras rígidas, decidi ter alguma vantagem. Movi alguns pauzinhos para
expor Erick, mostrando que ele passou por cima de uma ordem, garantindo que ele ficasse mais um
mês na detenção. Era uma pequena vitória, e me daria algum tempo para falar com ela.
Quando pude voltar para casa, fiquei aguardando. Vi Emma se aproximando de sua casa,
meu coração deu um salto. Era minha chance, minha única oportunidade de fazer as coisas certas.
Desci do carro e me aproximei dela, ignorando os olhares dos vizinhos e o aperto no meu
peito.
— Emma, por favor, me dê alguns minutos. Precisamos conversar. — Minha voz saiu
trêmula, implorando.
Ela me olhou com descrença, seus olhos buscando a casa de Amber como se temesse sua
aparição a qualquer momento.
— Brandon, você está louco? Deixe-me ir, por favor! — Ela tentou se soltar, mas segurei
seu braço com firmeza, determinado a não a deixar escapar.
— Eu só preciso falar com você, Emma. Por favor, se quiser posso falar aqui mesmo, mas
não vou a lugar nenhum sem conversarmos primeiro. — Minha voz soava estranha, mas estava
decidido e nada iria me parar agora. Eu não podia deixá-la partir sem uma chance de me explicar.
A puxei para dentro do carro, e ela não resistiu dessa vez, talvez por medo de chamar mais
atenção. Dirigi até a praça, o silêncio pesado entre nós enquanto lutávamos com nossas emoções.
— O que você quer, Brandon? Por que está fazendo isso? — Ela parecia exausta, seus
olhos refletindo toda a angústia que estava sentindo.
— Eu sei que errei, Emma. Sinto muito por tudo. Mas não quero te perder. — Minha voz
saiu rouca, carregada de sinceridade, enquanto eu tentava desesperadamente expressar meus
verdadeiros sentimentos.
Ela me encarou com uma mistura de incredulidade e tristeza, suas palavras cortando como
facas afiadas.
— E o que quer? Que eu seja sua amante? Não, Brandon, isso não vai acontecer. — A dor
em sua voz ecoou em mim, me lembrando de todas as consequências do meu egoísmo. Eu sabia que
tinha que consertar isso, antes que fosse tarde demais. — Existem muitos homens solteiros no
mundo, jamais me sujeitarei a isso e você não pode sair no murro com todos.
Ah, por você eu posso sim, Emma!
— Sinto muito por isso, Emma. Nunca mais vai se repetir. Mas é essa loucura que você
desperta em mim. Ver outro homem te tocar acabou comigo em muitos níveis. Eu nem sei descrever
o que senti naquele momento... E o que ele disse... Vocês dois estão mesmo juntos? — Minhas
palavras saíam em um misto de desespero e receio, meu estômago retorcendo-se com a mera ideia de
que ela poderia estar apaixonada por ele.
— Não desse jeito, mas sim, estamos juntos. Se ele não tiver desistido depois de tudo o que
aconteceu... — A verdade, mesmo que ainda dolorosa, trouxe um certo alívio. Mas não o suficiente
para acalmar a tempestade dentro de mim.
— Mas ele disse... — iniciei, mas ela logo me cortou.
— Ele mentiu, mas isso nem mesmo é da sua conta. Eu não lhe devo nenhum tipo de
satisfação. E se você pensa que eu posso um dia na vida te perdoar, se engana. Não farei isso... Você
me escondeu uma noiva, Brandon. Entende isso? Enganou a nós duas, e eu não sou uma pessoa que
gosta de ser enganada. Acho que ninguém no mundo gosta. — A firmeza de suas palavras cortou-me
como uma lâmina afiada. Preferia que ela tivesse me dado um tapa.
— Vou terminar com ela, Emma. Não consigo mais imaginar uma vida onde você não
esteja... Não dá... Eu... Eu preciso de você da mesma maneira que preciso do ar para respirar... Sem
você, não dá mais. — Minha voz saía em um sussurro desesperado.
Os olhos dela pareciam prestes a saltar das órbitas, uma mistura de choque e incredulidade
estampados em seu rosto. Emma começou a hiperventilar, sua mão no peito como se estivesse com
alguma dor, olhando ao redor quase sufocando.
— Você está bem? — Perguntei ficando preocupado, embora minhas próprias emoções
estivessem à beira do colapso.
— Não... Não, não, não, eu não serei responsável por isso. Não vou entrar na vida de um
casal. Eu não vou ser uma pessoa assim tão horrível, Brandon. Não jogue isso nas minhas costas. —
Ela estava entrando em pânico, sua respiração difícil e pesada a entregando.
— Você não será responsável por nada disso, Emma. É uma escolha minha, inteiramente
minha, e eu a escolhi, porque já não sei mais viver sem você. — Tentei acalmá-la, embora uma parte
de mim também estivesse à beira do desespero.
Emma estava com cara de quem poderia desmaiar a qualquer momento.
— Brandon... Eu não estou bem, acho que minha pressão baixou, eu não... — Emma
tropeçava nas palavras, sua voz trêmula com toda a angústia que sentia.
— Sei que é repentino, mas te peço perdão por todos os erros que cometi com você. Eu sei
que você nunca mereceu isso, nada disso, e estou disposto a me redimir. — Confesso, sentindo o
peso de cada palavra. Sou um idiota, não tenho problema em admitir isso para mim mesmo. Mas sou
o filho da puta mais sortudo que conheço, ela não era indiferente a mim, nem tudo estava perdido.
— Não! Eu não vou ser a responsável por isso, você não vai desistir da sua noiva por mim,
e você pode estar mentindo... Quantos homens não enganam mulheres com esse papo furado?
Muitos... Não... Não e não! Você só está tentando fazer com que eu fique porque você só não suporta
me ver com alguém, é só isso. — Emma estava firme, e pela primeira vez senti medo de que a tivesse
quebrado demais para consertar.
Mas se ela pensa que vou desistir, está enganada, muito enganada.
— Emma, eu te amo. — Minha confissão irrompeu do peito como um desabafo
desesperado.
— O que? Você não pode estar falando sério! Depois de tudo o que me fez sofrer, de tudo o
que me fez sentir, acha que basta dizer que me ama e está tudo certo? — Seus olhos brilhavam com
uma mistura de incredulidade e mágoa.
— Não, eu não acho, mas admitir o que estou sentindo pode ser um bom começo. — Tentei
manter a calma, mesmo com meu coração implorando por uma resposta positiva.
— Não, não é bem assim que as coisas funcionam, não comigo, não sou uma idiota
manipulável, não vai me enganar, está fazendo isso apenas porque sabe que está me perdendo, isso se
chama ciúme, não amor. — Ela rebateu com ferocidade, suas palavras cortando fundo.
— Em...
— Olha, eu não sei de que mundo você veio, não sei como você pode acreditar que apenas
falar “eu te amo” conserta tudo. Você mentiu para mim, me tratou feito uma prostituta depois que
tivemos a nossa primeira noite juntos! Acha que eu sou estúpida? Amor não se prova com palavras,
Brandon. Sabemos que é amor pelas atitudes, e as suas não demonstram um pingo de amor. Loucura?
Talvez... Sentimento de posse? Provavelmente! Mas amor? Não, amor não, amor não é isso. —
Emma desabafou, suas emoções transbordando em cada palavra.
Os olhos dela estavam marejados, e a visão partiu meu coração. Odeio vê-la chorar. Odeio
ser eu o motivo.
— Sei que você não acredita no que estou dizendo, Emma. E que tem todo o direito de me
achar um idiota, mas tudo o que eu quero é a chance de mudar, de consertar tudo. Por favor... Só
preciso que me deixe te provar. — Supliquei, o desespero ameaçando me engolir.
Consegui ver em seus olhos o tamanho da sua dor, era nítido que ela sentia o mesmo por
mim, mas também estava claro que não queria me perdoar, eu a estava perdendo.
— Brandon, você teve sua chance e tudo o que me mostrou foi o quanto pode ser cruel. Eu
não merecia aquilo! Não posso, sinto muito, mas não consigo. Perdoar nunca foi o meu forte. Eu dei
tudo de mim a você, deixei se aproximar como nenhum outro conseguiu, e você... Você me fez sentir
a pior dor que eu já tinha sentido.
— Emma... — Ela estava ferida, as palavras saíam como uma armadura contra a dor que eu
causava, e era completamente natural.
— Brandon, eu só quero que você me deixe em paz, não é pedir tanto assim. Fique com a
sua noiva, ela te ama, e muito provavelmente você também a ama. Está confuso porque sentiu desejo,
mas desejo não é amor. — Seus olhos buscavam os meus com uma mistura de resignação e firmeza.
Era impressionante como ela conseguia ser tão sábia e firme em suas convicções, mesmo
diante da minha confusão.
Emma parecia velha demais para ser tão nova, esperta demais, linda demais. Tudo nela me
atraía, principalmente sua inteligência e maturidade.
— Não é apenas isso... Eu te amo. Sei o que estou sentindo e nunca foi tão forte. Amber e
eu dávamos certo, realmente pensei que poderia amá-la, mas isso foi até o dia em que eu te vi
novamente. Foi naquele dia que entendi o que era amar alguém... Eu não... não sabia o que era amor
até estar com você, Emma. — Cada uma das minhas palavras parecia fazê-la sentir mais dor.
— Só vamos deixar o passado no passado. Não quero ficar entre você e sua noiva. — Seu
tom era firme, mas havia uma nota de tristeza e cansaço nele. Ela estava tentando se convencer tanto
quanto a mim.
Assenti com um nó na garganta, engolindo em seco.
— Eu entendo... — Mentir nunca foi tão difícil.
— Que bom... — Ela se levantou para ir embora. — Ah, e por favor, evite bater em alguém
sem motivos e sem direitos. Não quero ter uma coleção de péssimas experiências graças a você.
Não a respondi, deixando-a entender que aquilo era uma aceitação. Ela se foi sem olhar
para trás, e por um momento, senti-me completamente perdido.
Ela deve pensar que eu não vou atrás dela, mas não iria desistir. Não depois de sentir que
ainda tenho uma chance, de saber que ela ainda tem sentimentos por mim. Fui idiota, como sempre
quase estraguei tudo, mas não vou deixar que isso aconteça novamente.
Capítulo
21
No dia que conversei com Brandon, voltei para casa com a mente
borbulhando, uma mistura confusa de sentimentos fervilhava dentro de
mim. Ele, Erick, cada pensamento uma ferida recém-aberta. Precisava de
um refúgio, uma distração daquele caos emocional.
Liguei para as únicas pessoas que poderiam me ajudar naquele
momento, minhas amigas. Fiz uma vídeo chamada com as duas.
— Ester, Alícia, o que acham de a gente sair? Estou um pouco
chateada, e não quero ficar sozinha. — Disse, tentando mascarar minha
agitação.
— É claro que sim, que espécie de amigas seríamos se não fossemos
te ajudar? Hum? — Ester respondeu prontamente, seu tom caloroso e
reconfortante me acalmou um pouco.
— Saio de casa em alguns minutos! — Alicia completou.
Nossas vidas haviam mudado desde que começamos a faculdade,
mas nossa amizade permanecia inabalável, um porto seguro em meio às
tempestades da vida, mas mesmo na companhia delas, não conseguia
silenciar os pensamentos sobre Brandon. Suas palavras ainda se debatiam
em minha mente incessantemente.
— Ei, e o que aconteceu com Erick? Nunca mais o vimos no bar.
Ainda estão saindo? — Ester perguntou com o canudo de sua bebida na
boca.
— Na verdade, ele ficou preso na USAF, e eu nem sei se ainda
vamos sair, não falei mais com ele. — Respondi, sentindo um aperto no
peito ao mencioná-lo.
— E onde é que você está com a cabeça? — Alícia questionou, seu
olhar perspicaz fixo em mim. — Deixe-me adivinhar... um certo fuzileiro
dos olhos azuis, irmão da nossa querida Ester?
— Sim... — Suspirei, reunindo coragem para contar a elas tudo o
que vinha acontecendo. Desde o meu aniversário, nossa primeira vez juntos,
até o que aconteceu depois. O peso das palavras era quase físico, mas já
havia passado da hora de dividir aquilo.
Elas ficaram chocadas, indignadas com o comportamento de
Brandon, principalmente Ester, que parecia pronta para assassinar seu
próprio irmão. Mas eu as pedi que não dissessem nada, meu coração ainda
estava em conflito.
— Ele disse que te ama? — Ester indagou, seu olhar penetrante
buscando respostas em minha expressão.
— Sim... — Admiti, sentindo-me vulnerável diante delas.
— Não estou querendo defender meu irmão, pelo contrário, quero
matá-lo, mas e se você se arrepender de não ter dado a ele a chance que
pediu? Sei que ele fez muita merda, mas você também o ama, isso é nítido
para nós... — Ester parecia preocupada, seus olhos transmitiam uma
mistura de compaixão e incerteza.
— Não, eu não vou dar a chance de me machucar de novo, eu
preciso, eu... — Minha voz falhou, as palavras morrendo antes de
completarem seu significado.
Será que eu me arrependeria? A dúvida pairava no ar, sufocante,
como uma nuvem escura sobre minha cabeça.
Nos dias seguintes, fiquei remoendo aquela conversa, os conselhos
de minhas amigas, pelo menos enquanto estávamos todas sóbrias,
reverberavam em minha mente. Elas estavam certas? Eu o amava, mas seria
suficiente para perdoar tudo o que passei, tudo o que ele me fez sentir?
Meu pai finalmente se cansou de esperar que eu o procurasse para
falar, e me chamou para uma conversa, aquilo prometia ser longo e
cansativo.
Entrei na sala e lá estava ele, sério e imponente, como se estivesse
em um tribunal, pronto para me julgar.
— Sente-se — disse ele, seu tom autoritário ecoando pela sala. —
Pode me explicar por que diabos eu fui até a faculdade para procurar a
matrícula de direito e descobri uma de enfermagem?
— Tomei essa decisão quando me formei no colegial, vou fazer
enfermagem e me voltar para a área da estética assim como a mamãe. —
Minha voz tremia enquanto enfrentava a fúria no olhar de meu pai.
— O que? — A incredulidade na voz dele era explícita. — Eu não
paguei as melhores escolas, cursos e tudo o mais para você brincar de
trabalhar. — Sua reação foi como uma punhalada no peito.
O timing de dona Sarah era sempre perfeito, e sua chegada logo se
transformou em mais conflito.
— O que? Acha que eu brinco de trabalhar? — Mamãe retrucou,
seus olhos faiscando de raiva.
A tensão na sala aumentou a níveis alarmantes, cada palavra como
uma flecha lançada em um campo de batalha.
— Pai, essa decisão é minha, e não há nada que possa fazer para
mudar isso. — Minha voz soava firme, mas por dentro eu estava
despedaçada.
— É claro que há, pensa que terá alguma ajuda da minha parte? Eu
não vou apoiar uma palhaçada dessas, se quiser fazer isso, trabalhe e se vire
sozinha! — Seus ataques eram como punhais perfurando minha alma.
— Ela não precisa apenas de você, meu trabalho de "brincadeira"
me dá muito, eu a ajudarei já que você se recusa. — Embora fosse bom vê-
la me defender, meu pai estava certo.
— Não mãe, ele tem razão, eu me viro, não precisa esquentar a
cabeça comigo. — Levantei-me, lutando contra as lágrimas que ameaçavam
transbordar. Não daria a ele a satisfação de me ver fraquejar.
— Eu ainda não terminei! — Ele disse...
— Mas eu já. — Saí da sala, deixando-os para enfrentar suas
próprias crises. Eu precisava de ar, de espaço, de tempo para processar tudo
o que tinha acabado de acontecer.
Peguei as chaves e desci, tentando afastar a nuvem de emoções que
pairava sobre mim. Caminhar pela rua trouxe um breve alívio, mas quando
vi o carro dele se aproximando outro tipo de angústia assumiu.
Ele parou o carro ao meu lado, sua expressão preocupada diante da
confusão e a dor que eu carregava.
— Emma, o que aconteceu? Você está bem? — Sua voz era suave,
mas eu não tinha energia para explicar.
— Estou. — A resposta escapou de meus lábios, minha voz
embargada pelas lágrimas que se recusavam a cair.
Ele segurou meu braço suavemente, a inquietação estampada em
seus olhos azuis.
— Isso não parece verdade, o que é que você tem? O que aconteceu
para você estar chorando? Eu raramente te vi chorar... — Seus olhos
buscavam os meus, implorando por uma explicação que eu não conseguia
dar.
O peso das últimas horas parecia demais para suportar sozinha. Ele
me conduziu para o carro, sua presença reconfortante em meio a bagunça
que me consumia.
Rodamos em silêncio, suas mãos firmes no volante, seu olhar atento
enquanto eu deixava as lágrimas fluírem livremente. Não havia necessidade
de palavras, sua simples presença era suficiente para acalmar minha alma
turbulenta.
Quando finalmente encontrei uma calmaria dentro de mim, ele
parou o carro no acostamento. O sol já começava a se pôr, tingindo o céu
com tons de laranja e rosa.
— Brandon? Onde está me levando? Já era para estarmos em casa.
— A ansiedade se infiltrou em minha voz, o medo de estar sozinha com ele
sussurrando em minha mente.
— Fica calma, sabe que eu não sou nenhum assassino. — Ele tentou
fazer graça, mas minha preocupação só aumentou.
Seguimos por estradas desertas, cada curva alimentando minha
apreensão. Já não tinha mais certeza de que ele não era mesmo um
assassino.
Mais alguns minutos de estrada e paramos diante de um portão
ornamentado por árvores majestosas. Brandon desceu para abrir, revelando
um cenário de conto de fadas. Uma casa de madeira, estilo chalé, surgiu à
minha frente, cercada por um jardim exuberante. Era como se o tempo
tivesse parado naquele lugar.
— Nossa... é lindo, parece coisa de filme. — Comentei, maravilhada
com a beleza rústica do lugar.
Brandon sorriu, seus olhos azuis brilhando com uma intensidade que
me intrigava.
— Comprei há alguns anos. É meu refúgio quando preciso fugir um
pouco da loucura da cidade. — Ele explicou enquanto caminhávamos em
direção à casa. — Vamos entrar.
Entrei na casa, e fiquei surpresa com a sensação de amplitude e
conforto que ela proporcionava. Era como se por dentro fosse muito maior
do que parecia ser por fora.
— Sabe que me sequestrou, não sabe? — Brinquei, tentando
dissipar o nervosismo que me consumia.
Brandon riu, seu sorriso travesso iluminando o ambiente.
— Em nenhum momento te vi tentando me impedir. — Ele
respondeu, provocando-me com seu olhar magnético.
Conforme subíamos as escadas de madeira, percebi que o piso
superior abrigava apenas um quarto aconchegante, iluminado pela luz suave
que atravessava as janelas.
— Não tenho nada para vestir.
— Pode colocar uma roupa minha. Não tenho roupas femininas
aqui, você é a primeira pessoa que eu trago para este lugar. — Brandon
anunciou, abrindo as portas do guarda-roupa. — Vou acender a lareira,
fique à vontade.
Aproveitei para tomar um banho, deixando que a água quente
aliviasse a tensão que se acumulava em meus ombros. No entanto, a
tranquilidade do momento foi interrompida pelos pensamentos tumultuados
que invadiam minha mente.
Saí do banheiro, envolta na toalha, perdida em um mar de dúvidas e
conflitos internos. O que eu estava fazendo ali? Com um homem
comprometido, o mesmo com quem perdi minha virgindade e deixei que me
destruísse.
Brandon surgiu no quarto, e sua presença me pegou desprevenida.
Seus olhos fixos em mim, uma tensão densa se instalando entre nós que
poderia ser cortada com uma faca.
— Ah, eu... sinto muito, eu... — Ele gaguejava, incapaz de desviar o
olhar.
Seus olhos se arrastavam por minha pele, queimando-a
completamente no processo. Um arrepio percorreu minha espinha, seu olhar
penetrante parecia desnudar minha alma.
— Vou me trocar no banheiro. — Falei rapidamente, pegando as
roupas na cama e seguindo em direção à pequena porta.
Antes que eu pudesse me afastar, ele se desculpou e desapareceu
escada abaixo. Sozinha no quarto, uma sensação de vulnerabilidade me
invadiu. Estar com Brandon era um jogo perigoso, uma tentação que eu
precisava resistir, mas não tinha certeza se era capaz.
Depois de me trocar, desci as escadas do chalé. O ambiente era tão
pacífico que não havia sequer uma televisão ou rádio, apenas a serenidade
que emanava das paredes de madeira e do campo ao redor. Brandon
explicou que este lugar era seu refúgio, onde buscava escapar da loucura do
mundo cotidiano. Seu sorriso parecia pedir desculpas por não ter os
confortos modernos.
— É tudo perfeito. O silêncio e a paz deste lugar são exatamente o
que eu precisava. — Comentei, me aproximando da lareira, onde um
pequeno sofá parecia tão convidativo. — Meu único arrependimento agora
é não ter trazido um livro.
Brandon se sentou ao meu lado.
— O que aconteceu? Você não parece bem. Se precisar conversar,
estou aqui. — Ele estava realmente preocupado, e eu estava grata por isso,
mesmo que não estivesse pronta para abrir meu coração naquele momento.
— Na verdade, eu só precisava colocar para fora o que estava
sentindo. Não quero falar sobre isso agora. — Respondi, tentando manter a
compostura.
Brandon respeitou minha decisão, indo mexer na lareira e
permitindo que o crepitar das chamas preenchesse o espaço entre nós.
Passamos o restante da noite em um silêncio reconfortante, eu me sentindo
mais leve na presença dele, apesar de tudo.
No entanto, a serenidade do momento foi quebrada quando Brandon
voltou a tocar em um assunto delicado: nós.
— Você já pensou sobre o que eu disse? Eu sei que acha que tudo
isso é culpa sua, mas a verdade é que percebi que Amber e eu não somos
tão compatíveis quanto pensei. Me apaixonei por você, Emma. — Seus
olhos azuis buscaram os meus, transmitindo uma intensidade avassaladora.
As palavras de Brandon acertaram um ponto dentro de mim que me
fez suspirar, sua declaração agitando a menina apaixonada que o amava
desde sempre. Seu corpo imponente se aproximava do meu, e eu sentia o
calor irradiando dele, envolvendo-me por completo.
— Brandon, por favor... não agora... — Murmurei, lutando para
resistir à tentação que ele representava.
Ele ignorou meu pedido, aproximando-se ainda mais, sua respiração
quente roçando minha pele. Cada palavra sussurrada ao meu ouvido
enviava arrepios pelo meu corpo, um misto de desejo e medo se
entrelaçando dentro de mim.
Eu já estava perdida, entregue àquele momento e à intensidade dos
beijos que ele distribuía em meu pescoço. Meus instintos tomaram o
controle, e eu me entreguei ao calor, sabendo que não havia mais volta.
— Eu senti tanto a falta disso. — Ele sussurrou enquanto eu deixava
escapar um gemido involuntário quando sua boca tomou a minha.
Sem interromper o contato entre nossos lábios, ele me ergueu em
seus braços, carregando-me com firmeza pelas escadas até me colocar
gentilmente na cama.
— Emma, não sei explicar o que você tem, mas sei que não quero
mais passar um dia sequer longe de você. — Ele falava com serenidade,
seus olhos fixos nos meus enquanto despiu-se lentamente, revelando o
pecado que é seu corpo.
Minha respiração estava descontrolada, parecia que meus pulmões
estavam prestes a explodir devido à intensidade daquele momento.
— Esta noite, eu vou dar a você e seu corpo o tratamento que
mereciam desde a primeira vez... — Ele se aproximou como um predador,
mantendo seus olhos fixos em mim a cada passo.
No percurso até meus lábios, ele foi removendo minhas roupas
delicadamente, deixando-me apenas de lingerie. Seus lábios exploravam
cada centímetro da minha pele, causando arrepios quase dolorosos.
Quando finalmente removeu minha calcinha, sua respiração pesada
enviou ondas de excitação por todo o meu corpo. Sua boca traçou um
caminho de beijos e carícias por minha pele, fazendo-me morder minha
própria mão para conter os gemidos de prazer.
— Você é minha, Emma. Sempre será. Nesta noite e em todas as que
virão. — Sua voz ecoou em minha mente, levando-me a borda do precipício
de onde eu saltaria com prazer.
Capítulo
22
Sentir o calor do corpo dela contra o meu, incendeia meu ser, é
como uma chama que queima dentro de mim, consumindo-me com um
desejo incontrolável.
Nossos lábios se encontram em um beijo voraz, faminto, devorando
um ao outro. Cada movimento é impulsionado pela urgência, pela
necessidade desesperada de nos fundirmos em um só.
O toque dos seus lábios contra os meus, libera uma descarga elétrica
que percorre todo o meu corpo. Cada beijo é uma tormenta de emoções,
uma tempestade que nos consome como fogo na palha.
Enquanto nos beijamos, perco-me no momento, e exijo de Emma a
mesma entrega à intensidade do nosso desejo. É como se estivéssemos em
uma dimensão à parte, onde apenas nós dois existimos.
E quando finalmente nos separamos, estou sem fôlego, meu coração
batendo descompassadamente no peito. Olho nos seus olhos e vejo o
reflexo da minha própria loucura, uma loucura que me consome e me
liberta ao mesmo tempo.
É neste momento que sei, sem sombra de dúvida, que ela é a única,
a única capaz de incendiar minha alma. E prometo a mim mesmo nunca a
deixar escapar novamente.
— Brandon, não podemos fazer isso. Isso é errado. Você vai perder
a sua noiva — ela murmura entre beijos, tentando recuperar o controle de
seus pensamentos.
— A única coisa que não posso perder é você, Emma. — Minha voz
é rouca, carregada de uma determinação feroz enquanto sussurro as
palavras contra a sua pele.
Desço lentamente dos seus lábios, seguindo o caminho pelo seu
pescoço. Sinto-a tremer sob o meu toque, uma mistura de medo e desejo
que me deixa ainda mais faminto por ela.
— Brandon, por favor... — ela geme, lutando contra as sensações
que a consomem.
Ignoro seus apelos, incapaz de resistir à tentação de explorar cada
centímetro do seu corpo. Minha boca encontra seus seios, e não consigo
conter um gemido de prazer ao sentir o sabor dela em meus lábios.
Com uma mistura de ternura e desejo selvagem, lambo, chupo e
mordo cada um dos seus seios, provocando arrepios de prazer que
percorrem todo a sua pele. Sinto-a contorcer-se debaixo de mim, seus
suspiros entrecortados ecoando no ar carregado de luxúria.
— Brandon... — ela murmura, sua voz um sussurro rouco de
rendição.
Não consigo cogitar a ideia de parar. Estou perdido em um frenesi
de paixão, consumido pelo desejo que ela desperta em mim. E nada, nem
mesmo os protestos dela, pode me impedir de saciar a loucura que ela me
causa.
Desço ainda mais pelo corpo de Emma, minha língua traçando um
caminho de fogo sobre sua pele macia. Cada gemido que escapa de seus
lábios é como música para os meus ouvidos, alimentando a chama que arde
dentro de mim.
Ao encontrar a carne quente e molhada de desejo entre suas pernas,
não consigo conter um gemido de prazer. O gosto dela na ponta da minha
língua é como êxtase, uma droga viciante que me faz perder completamente
o controle.
Faço movimentos circulares no clitóris inchado de Emma,
provocando ondas de prazer que a fazem arquear-se sob o meu toque. Seus
gemidos se tornam mais intensos, mais desesperados, e eu me sinto
enlouquecer com a visão do prazer que a estou proporcionando.
— Você é tão gostosa, Emma — sussurro contra sua boceta.
Ela se contorce debaixo de mim, as unhas cravadas nas minhas
costas, enquanto eu a levo cada vez mais perto do limite. Estou
completamente consumido pelo desejo de fazê-la sentir prazer como nunca
antes.
Cada movimento da minha língua sobre ela é calculado para levá-la
ao ápice. Eu a provoco, a estimulo, mergulhando fundo em seu interior.
Sinto seu corpo se contorcer de prazer sob o meu toque, suas pernas
tremendo ligeiramente enquanto ela se entrega completamente à luxúria que
a domina.
Seus gemidos se tornam mais altos, mais urgentes, e eu sei que ela
está próxima do clímax. Acelero meus movimentos, intensificando a
pressão sobre seu clitóris, enquanto a assisto se perder ainda mais.
E então, ela explode em um orgasmo violento, seu corpo se
arqueando enquanto ondas de prazer a percorrem de cima a baixo. Eu a
seguro firme, continuando a acariciá-la suavemente enquanto ela se
recupera do intenso prazer que acabou de experimentar.
Quando finalmente se acalma, seus olhos encontram os meus, e
posso ver neles o desejo ainda brilhando intensamente.
— Brandon... — ela sussurra, sua voz rouca.
Eu sorrio para ela, me sentindo completamente realizado por tê-la
levado ao orgasmo. Não há nada que eu queira mais do que estar ao seu
lado, explorando cada centímetro de seu corpo e desvendando cada segredo
de sua alma.
— Eu faria tudo por você, Emma — murmuro, me aproximando
para capturar seus lábios em um beijo suave e apaixonado.
Emma me olha com desejo, e sinto meu corpo todo se incendiar com
a intensidade do seu olhar. Antes que eu possa pegar o preservativo, ela se
coloca de joelhos, sua expressão cheia de luxúria enquanto lambe os lábios
provocativamente. Eu a observo, incapaz de desviar o olhar, meu coração
batendo descontroladamente no peito.
Ela desce lentamente pelo meu abdômen, sua língua deixando um
rastro de fogo em minha pele.
Quando ela pega meu pau entre os dedos e começa a movê-los
lentamente, sinto uma onda de desejo me consumir por completo.
Então, ela leva a boca até meu pau e começa a me chupar, seus
lábios quentes e macios envolvendo-me causam sensações indescritíveis.
Eu seguro seus cabelos, os dedos se embaraçando neles enquanto me deixo
levar pelo prazer que ela me proporciona.
Emma se engasga algumas vezes, mas não para, sua determinação
me deixando ainda mais excitado. Eu a observo, maravilhado com a visão
dela me dando prazer dessa maneira.
Mas então, eu não consigo mais resistir. Assumo o controle, guiando
seus movimentos enquanto a estoco até o fundo da garganta dela. Ela geme
em resposta, e eu me sinto inundado de prazer enquanto me perco no êxtase
do momento.
— Preciso estar dentro de você, antes que enlouqueça! — rosno
entre os dentes, controlando-me o máximo que posso para não gozar em sua
boca.
A deito novamente, meu corpo pulsando com a necessidade de estar
dentro dela, de sentir sua pele contra a minha, seus gemidos de prazer
ecoando em meus ouvidos como uma sinfonia celestial. Preciso dela mais
do que nunca, e não posso mais esperar.
Desenrolo preservativo em minha extensão, minha respiração
pesada e irregular ecoando no quarto. Então, sem mais hesitação, a invado
com uma estocada rápida e intensa que a faz gritar de prazer.
Emma é apertada e quente ao redor de mim, seu corpo se
contorcendo sob o meu enquanto nos movemos em perfeita harmonia. Seus
gemidos são música para os meus ouvidos, cada som que ela emite
enviando ondas de prazer através de mim.
Eu me movo mais rápido, meu ritmo quase insano, necessitado.
Cada nova investida arrepiando minha pele, meu corpo todo queimando
com o desejo que arde dentro de mim.
Dentro dela, é o meu paraíso. Eu a agarro com força, me entregando
ao frenesi do momento enquanto nos perdemos um no outro.
Seu corpo se move em contraponto às minhas investidas, seus
quadris ondulando em perfeita sincronia com os meus. Ela geme e suspira,
palavras desconexas escapando de seus lábios entre os gemidos de prazer
que ela emite.
Ela fecha os olhos, mas sou tomado pela necessidade de vê-la
completamente entregue ao prazer. Com uma voz rouca de desejo, ordeno
que ela os abra.
— Emma, olhe para mim — eu sussurro, meu tom urgente. —
Quero ver em seus olhos quando você gozar
Ela obedece, abrindo os olhos para mim, e o que vejo neles é pura
luxúria, um fogo ardente que só aumenta minha própria paixão. É uma
visão de tirar o fôlego, e me enche de uma excitação ainda maior.
Vejo seus olhos se revirarem de prazer quando ela atinge o clímax,
um gemido gutural escapando de seus lábios entre suspiros de êxtase.
Com movimentos precisos e controlados, continuo a estocar mais
algumas vezes, empurrando-a ainda mais fundo no abismo do prazer. Sinto
cada contração de seu corpo ao redor do meu pau, cada gemido de êxtase
que escapa de seus lábios, e não posso mais resistir.
Finalmente, sinto a onda de prazer me atingir com força total. Com
um último gemido rouco, libero-me dentro dela.
Eu a beijo apaixonadamente, sentindo a doçura de seus lábios. Em
um movimento suave, puxo seu corpo para cima do meu, sabendo que esse
é o lugar onde ela pertence, onde eu pertenço.
É uma sensação indescritível, ter Emma tão perto de mim, sentir seu
calor irradiando contra minha pele, suas mãos acariciando meu rosto com
ternura.
Palavras não são necessárias, não agora.
Nossos corpos se encaixam perfeitamente, como se fossem feitos
um para o outro. Sinto-me completo, inteiro, finalmente encontrei o meu
lugar no mundo, não há outro lugar onde eu preferiria estar. Com Emma em
meus braços, sei que encontrei minha felicidade.
Capítulo
23
A luz do amanhecer inundava o quarto, criando uma aura suave ao
redor de nós enquanto eu me sentia completamente saciada em seus braços.
Havia uma parte de mim que nem queria me mover, com medo de que
qualquer movimento pudesse dissipar esse momento mágico e me fazer
perceber que tudo não passava de um sonho.
— Eu já estou acordado. Bom dia — ele disse, seu olhar penetrante
encontrando o meu. — Não consigo acreditar que você está aqui. Com o
quanto você é teimosa, pensei que seria muito mais difícil te fazer me
perdoar, não que tenha sido fácil.
— Sabe que precisamos conversar. Não serei sua amante, fuzileiro,
você terá que resolver as coisas — suspirei. — Mesmo que não pareça
nesse momento, tenho muito respeito pela sua noiva e por mim.
A palavra "noiva" feriu a minha mente, trazendo um amargo a
minha boca. E Brandon continuava a me olhar como se eu fosse a coisa
mais preciosa em sua vida.
— Eu jamais faria isso com você — ele continuou, sua voz repleta
de sinceridade. — Eu fui um idiota, admito o quanto errei. Quero passar o
resto da minha vida te pedindo perdão todas as manhãs e te mostrando o
quanto te amo.
Meu coração estava em conflito. Como poderia confiar nele
novamente? Ele estava certo sobre sua noiva, sobre nós? Eu queria
acreditar, mas havia uma parte de mim que temia ser magoada novamente.
— Eu quero acreditar em você, de verdade — eu disse com
sinceridade, — mas não estou cem por cento convencida. Sua noiva é linda,
vocês têm história juntos... Não sei se isso é certo.
Ele assentiu compreensivo.
— Não te julgo. Não tenho esse direito. Só peço que me dê alguns
dias. Preciso falar com a mãe dela também. Ela é uma mulher muito
conservadora.
Concordei com um aceno.
— E isso que aconteceu ontem... Só vai acontecer de novo quando
você estiver solteiro. Não quero fazer isso antes.
Ele riu.
— Bom... agora eu tenho um motivo imenso para resolver isso o
mais rápido possível. — Ele parou e ergueu meu rosto com um dedo sob
meu queixo. — Então, é válido para esse tempo que estamos aqui?
Assenti, sentindo-me cativada por ele mais uma vez.
— Então é melhor que eu aproveite o dia de hoje para ter a memória
bem fresca — ele disse, colando seus lábios nos meus, arrancando um
gemido involuntário.

Horas depois, quando eu já não conseguia erguer mais o corpo da


cama, completamente exausta, minha mente estava em tumulto. Não sabia o
que o futuro nos reservava, mas por enquanto, ali, naquela cabana, tudo
parecia perfeito.
— Você e Erick...
— Nós dois nem nos falamos mais desde aquele dia, e eu nem sei o
que aconteceu, talvez ele simplesmente não queira mais e...
— Ele estendeu sua estadia na prisão, pegaram ele com um celular.
Pode ser que eu tenha tido algo com isso, pode ser que não... — Ele me
interrompeu, preocupado. — Mas vocês estavam juntos, certo?
— Apenas nos conhecendo...
— Mas então o que ele disse...
— Já falei que é mentira. Não sei por que ele teria dito aquilo
daquela maneira. Homens... São sempre tão idiotas. Estávamos apenas
saindo. — Sinto uma onda de frustração ao relembrar o dia traumático em
que tudo aconteceu. A cicatriz no meu braço é uma lembrança daquela
confusão.
— Eu vou matá-lo! — Ele parece à beira de um colapso.
— Não, não vai. Eu sou solteira, esqueceu?
— Você não tem ideia do quanto sofri imaginando que ele te tocou,
Emma. Quase não consegui dormir desde que soube disso. Por isso fiz com
que ele ficasse preso até que pudéssemos conversar. — Brandon sempre
encontra uma maneira de controlar as situações, e isso me assusta às vezes.
Ele sempre consegue o que quer.
— Brandon, creio que essa decisão deveria ser minha, não sua. Por
favor, não pense que serei submissa. Não sou assim. Se espera que eu mude
meu modo de agir, teremos problemas. Você não deveria tê-lo mantido lá
por mais tempo. É errado. Eu preciso falar com ele, encerrar isso de uma
vez por todas. Nós estávamos juntos, de alguma forma. — Chamo sua
atenção, preocupada com as consequências de suas ações impulsivas.
— Eu sei, te conheço. Somos amigos antes de tudo, e amo seu jeito.
Só que eu estava tão cego de ciúmes...
— Espero que não aconteça de novo.
O celular dele começou a tocar freneticamente, indicando várias
ligações e mensagens. Não precisamos nem olhar para saber quem era.
— Você vai ter trabalho com ela. — Observo a tela agitada do
celular. — Se quiser, posso ficar em silêncio enquanto atende...
— Não. Agora só quero pensar em nós dois. Depois, lidarei com o
resto. Temos até amanhã para ficar aqui. Avise seus pais, eles também
devem estar preocupados.
Eu sabia que enfrentaríamos muitos obstáculos, e que os
julgamentos seriam incessantes. Como mulher, seria a mais apontada, mas
estava disposta a tentar. Eu sabia o que sentia por ele e acreditava que valia
a pena lutar.
Honestamente, não tinha certeza de como seriam as coisas dali para
frente. O medo de ser enganada novamente me assombrava. Já havia
sofrido demais com suas ações. Não sabia se essa era a escolha certa, mas,
por ora, meu coração implorava para que ficássemos juntos.
— Você acha que ela vai aceitar numa boa? Vocês estão noivos... —
Meu tom carregava preocupação.
— Emma, vamos deixar isso um pouco de lado e aproveitar nosso
tempo juntos aqui... Eu prometo que cuidarei de tudo. Estaremos juntos em
breve. Mas agora quero focar em nós dois e na nossa pequena bolha de
felicidade. — Seu sorriso era tão cativante que meu coração quase parou.
— Vou dizer aos meus pais onde estou, já volto. — Dirigi-me ao
quarto para pegar o celular e enviar uma mensagem rápida para acalmá-los.
Sabia que minha mãe surtaria, mas já era maior de idade e havia
tomado minhas decisões. Se meu pai não gostasse, não podia fazer muito.
Quando desci, Brandon já não estava mais lá, e o carro não estava
mais estacionado. Fiquei perto da lareira, o frio do dia tornava-se mais
intenso com a chuva lá fora. Ele podia ter me avisado que sairia, onde ele
poderia estar?
Sem nada para fazer, acabei adormecendo. Quando acordei, já era
noite e o fogo havia se apagado, deixando-me gelada. Olhei pela janela,
mas não havia sinal de Brandon.
Subi para pegar um cobertor, tremendo de frio. Se não houvesse
uma boa razão para ele me deixar ali sozinha, eu o mataria. Enrolei-me no
cobertor e me sentei no sofá, virando-me para encarar a estrada. Observava
atentamente, mas não via nada além da escuridão.
De repente, um barulho me fez saltar. A maçaneta começou a girar.
A chuva caía forte lá fora, mas não vi a luz dos faróis do carro.
Peguei o atiçador de brasas ao lado da lareira e me aproximei
silenciosamente da porta. Quem quer que fosse, parecia ter dificuldades
devido à chuva.
Quando a porta se abriu, desferi um golpe com o atiçador, mas
reconheci a voz assim que ele falou. Brandon. Apenas um abajur iluminava
a sala, e ele usava uma capa de chuva que o tornava irreconhecível de
costas.
— Você é doida? Me alegra que saiba se defender, mas isso dói! —
ele havia caído de joelhos no chão.
Remorso? Não, nem um pouco. O que senti assim que percebi que
era ele foi raiva.
— Onde é que você foi? Olha, a vontade que eu tenho agora é de
continuar te batendo! — Despejei minha frustração, finalmente sentindo o
medo que me consumira.
— Você subiu para falar com seus pais. Eu escutei que iria chover
pela rádio do meu celular. Pensei que seria melhor comprar algo. Você não
viu o bilhete que te deixei? — Sua voz soava cansada, mas havia uma
pitada de nervosismo.
— Não, não tinha bilhete nenhum! E por que não subiu para me
chamar? Eu estava bem ali em cima. Não precisava ter ido sozinho! Seu
idiota! — Brandon já estava de pé, carregando várias sacolas molhadas. —
Por que demorou tanto? Onde está o carro?
— Uma árvore caiu e bloqueou a estrada. Foi por isso que demorei a
chegar aqui. O carro está bem longe, e com as sacolas e a chuva, ficou bem
difícil chegar. — Ele colocou as sacolas na mesa, tentando alcançar as
costas. — Isso aqui vai me deixar uma bela marca...
Deixei o atiçador de brasas cair no chão ao caminhar na direção
dele.
— Ninguém mandou me assustar. Sinto muito, mas fiquei com
medo.
Ele sorriu enquanto abria os braços para me abraçar.
— Você não está errada. Poderia ser eu, assim como poderia ser
outra pessoa. Não esperava demorar tanto, mas a chuva complicou tudo.
Preciso de um banho quente. Estou congelando até os ossos. Pode me
ajudar? — Seu olhar malicioso voltou. — Eu mereço depois de ter
apanhado com aquilo. — Ele apontou para o ferro.
Nossos lábios se encontraram, reacendendo a chama da paixão. Fui
erguida por ele, minhas pernas envolvendo seu quadril enquanto éramos
consumidos pelo desejo.
Subimos as escadas sem interromper o beijo, indo diretamente para
o banheiro.
— Você é tão gostosa... não consigo me cansar de sentir seu corpo.
— A voz rouca de Brandon preencheu o ambiente.
Rapidamente, nossas roupas foram arrancadas sem cerimônia.
— Já estava com saudades... no chuveiro vai ser uma novidade! —
Sua empolgação era evidente.
Em pouco tempo, estávamos nus, nossos desejos expostos. Ele era
perfeito em cada detalhe. Não conseguia me cansar de admirá-lo.
O chuveiro não era o lugar mais confortável, nem o mais prático
para nós dois, dada a diferença de tamanho, mas ainda assim foi incrível.
Nossos corpos se encaixavam perfeitamente.
— Agora a senhorita está perdoada. — Brandon murmurou, com a
testa colada à minha debaixo do chuveiro, após alcançarmos o clímax
juntos. — Eu te amo... — Seus olhos azuis transbordavam intensidade.
Percebi que, até agora, só ele havia dito essas palavras. Eu ainda não
conseguia dizer a ele que o amava.
Capítulo
24
Nosso tempo juntos estava chegando ao fim, e eu sentia o peso disso
como uma âncora amarrada em minha alma. Estávamos envoltos em uma
pequena bolha de felicidade, e aquele lugar, com ela ali, tornou-se meu
refúgio no mundo.
No entardecer do terceiro dia, enquanto retornávamos para casa, a
tensão pairava entre nós. Sabíamos que o que viria a seguir não seria fácil.
— Você está tensa. Não se preocupe tanto, eu não quero que se sinta
assim. Tudo vai ficar bem. — Tentei tranquilizá-la, embora não soubesse se
minhas palavras também serviam para me acalmar.
— Estava aqui pensando o quanto estava bom... agora não sei
quando teremos essa paz. — Sua voz soou pensativa, carregada de
preocupação.
Nossa comunicação era uma área que nós dois precisávamos
melhorar. Eu, principalmente, não era muito adepto a falar sobre o que
estou sentindo.
Passei todo o último dia reclamando, embora soubesse que já tinha
enfrentado situações piores. Mas queria que ela me consolasse, que
cuidasse de mim.
— Me lembre de nunca mais assustar você na vida. — Fiz uma
careta teatral, tentando arrancar um sorriso dela.
— Ao menos aprendeu a lição. — Ela retrucou.
Tentamos nos distrair com outros assuntos durante o trajeto de volta,
mas a maior parte do tempo ficamos em silêncio, perdidos em nossos
próprios pensamentos.
Na semana seguinte, ela começaria as provas na faculdade, o que
significaria menos tempo para estarmos juntos. Eu não sabia quando teria
uma próxima missão, mas estava determinado a fazer tudo se encaixar,
mesmo que fosse aos poucos.
Nos encontramos mais algumas vezes naquela semana, e fiz o
possível para estar ao seu lado, acompanhando-a em tudo o que fosse
possível.
Em uma dessas ocasiões, enquanto a levava para algum
compromisso, o telefone dela tocou. Era Erick.
— Preciso falar com ele, fique quieto! — Ela me advertiu antes de
atender, e eu engoli em seco, sentindo uma pontada de ciúmes.
— Esse idiota! — Resmunguei entre dentes, sem conseguir evitar o
desconforto que sentia ao vê-la atender a ligação. — Mantenha no alto
falante.
— Oi Erick, como está? — Ela falou com uma leve hesitação na
voz, e meu sangue ferveu só de ouvi-la mencionar o nome dele.
— Oi Emma, senti sua falta. Foi difícil falar com você, insistiu tanto
em não me responder. — A voz dele soava carregada de mágoa, e eu apertei
o volante com força, lutando contra a vontade de arrancar o telefone das
mãos de Emma.
— Eu sei, estava com raiva, não queria falar.
— Você o perdoou, não foi? — Fiquei surpreso, pensei que ele
tentaria evitar o assunto.
— Não vou fazer rodeios, nem mentir para você. Sim, o perdoei e
vamos nos dar uma chance — ela suspirou, e eu segurei a respiração, meu
coração se encheu de orgulho ao ouvi-la falar sobre nós daquele jeito.
— Ele é noivo, Emma, isso não é certo — eu ia intervir, mas o olhar
dela me fez ficar calado.
— Ele vai resolver tudo isso primeiro, antes de ficarmos juntos de
vez. — Ela fez uma pausa, e meu coração se apertou ao ouvir suas palavras.
— Desejo muito que encontre alguém tão bom quanto você.
— Espero poder te encontrar em algum momento, quem sabe.
— Espera sentado, imbecil!
Quando ela desligou, eu suspirei e olhei para ela.
— Eu disse para você não falar. — Ela balançou a cabeça,
visivelmente chateada. — Já conversou com Amber?
— Ela tem me evitado. Não fica perto de mim se meus pais não
estiverem por perto, mas hoje não vai escapar. A mãe dela tinha médico,
mas depois ela voltaria para casa.
Deixei Emma na rua ao lado do condomínio, sabia que isso a
entristecia, mas era uma decisão necessária, pelo menos por enquanto.
Amber estava na varanda de sua casa quando cheguei, seus olhos se
estreitaram ao ver Emma chegando pouco depois, estava clara a sua
desconfiança.
Fui em direção à porta e ela desceu assim que cheguei.
— Estava com ela, não estava? — A voz de Amber cortou o ar.
Engoli em seco, antecipando toda a merda que estava prestes a
enfrentar.
— Sim, estava. Precisávamos conversar.
Sua expressão se transformou em uma mistura de raiva e dor, os
olhos cintilando com uma intensidade devastadora.
— Conversar? Brandon, você está me traindo com ela, não está?
Era difícil dizer aquilo para ela, não porque a amava, mas porque
nunca foi minha intenção magoá-la. Amber já tinha passado por coisa
demais, não merecia que eu fosse um idiota com ela.
— Amber, não era assim que eu queria que fossem as coisas. Eu me
apaixonei por Emma.
A revelação atingiu Amber como um raio, sua expressão passando
de surpresa para uma angústia dolorosa em questão de segundos.
— Você o quê?! Como você pôde fazer isso comigo? Você me
prometeu que seria para sempre! Prometeu que cuidaria de mim! — A voz
dela ecoou pela sala, carregada de uma mistura de dor e traição.
Tentei me aproximar para acalmá-la, mas ela recuou, o olhar
injetado de raiva e incredulidade.
— Não me toque! Você é um mentiroso, um traidor!
Queria poder dizer que sentia qualquer coisa por ela, mas estaria
mentindo, não sinto nada, e sabia que precisava enfrentar as consequências
de minhas escolhas.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, sua mãe apareceu na
porta, os olhos arregalados de preocupação.
— O que está acontecendo aqui? — Sua voz era firme e autoritária.
Amber apontou para mim, os olhos inundados de lágrimas e
desespero.
— Ele está me traindo, mãe! Ele se apaixonou por outra mulher!
O coração apertou-se dentro do meu peito enquanto eu encarava a
devastação que causei, incapaz de articular as palavras para explicar a
bagunça que havia criado.
Amber, tomada pela dor e pela angústia, correu escada acima,
soluçando em desespero, suas palavras ecoando pelo corredor enquanto eu
permanecia ali, imóvel, afogado em culpa.
— Eu não aceito, Brandon! Nunca vou aceitar!
Encarei a mãe de Amber, tentando encontrar as palavras certas para
explicar.
— Eu... Eu não esperava que as coisas chegassem a esse ponto. Não
era minha intenção machucá-la. — Minha voz soava firme, apesar do
arrependimento.
A senhora colocou as mãos gentilmente em meus ombros, seus
olhos transbordando de compaixão.
— Brandon, se não fosse por você, minha filha já estaria morta há
muito tempo. Ela encontrou conforto em você, em sua gentileza, em seu
coração. Não posso reclamar, sei que você é um bom homem.
Suas palavras me atingiram em cheio, um lembrete doloroso do
impacto que minhas escolhas haviam tido na vida de Amber.
— Eu só quero que ela fique bem, que encontre paz novamente.
Mas eu não sei como ajudá-la.
A senhora sorriu gentilmente, um raio de esperança brilhando em
seus olhos.
— Ela irá aceitar, Brandon, eu sei disso. Mas o tempo é o melhor
remédio. Você a acolheu quando ela mais precisava, mostrou-lhe gentileza e
compaixão. Ela é apegada a você, apegada a vida que planejou para vocês
dois. Seja paciente, deixe o tempo curá-la.
— Obrigado. Farei o que for preciso para ajudá-la a se recuperar.
Mas antes que pudéssemos continuar nossa conversa, o som de
coisas se quebrando soou pela casa, seguido por gritos de Amber.
Corremos escada acima em pânico, e quando chegamos ao topo, a
visão que se desdobrou diante de nós foi como um soco no estômago.
Amber estava com os pulsos cortados, os olhos cheios de desespero
e dor. Assim que me viu, ela correu e tentou se jogar da varanda, seus gritos
de angústia ferindo meus ouvidos.
— Amber, não! — Minha voz saiu rouca, impregnada de pânico e
desespero. Eu me aproximei dela com passos rápidos, estendendo os braços
para segurá-la, para impedir que ela caísse.
Ela virou-se para mim com raiva e desespero estampado em seu
rosto.
— Você... você fez isso comigo! — Ela gritou, sua voz carregada de
dor. — Eu te amo, Brandon. Eu te amo mais do que tudo, e você... você me
traiu! Como pôde fazer isso comigo?
Cada palavra era como uma faca perfurando meu coração, cada
acusação uma punhalada na alma. Eu queria me explicar, queria dizer a ela
que nunca foi minha intenção machucá-la, mas minhas palavras pareciam se
perder no ar.
— Amber, por favor, eu sinto muito... — Minha voz falhou. Eu a
segurei com mais força, lutando contra suas tentativas frenéticas de se
libertar. — Eu nunca quis te magoar, você precisa acreditar em mim.
— Eu prefiro morrer a viver sabendo que te perdi, Brandon! — Ela
gritou. — Eu a odeio! Não vou te perder por causa dela! Eu a odeio!
Cada palavra era um lembrete doloroso do estrago que eu havia feito
em sua vida. Eu a segurei com mais força, impedindo-a de se machucar
ainda mais.
Enquanto seguro Amber nos braços, uma sensação de angústia se
espalha por mim. Eu sei, no fundo do meu ser, que ela nunca vai me deixar
partir. Ela fará de tudo para me prender a si.
Fui até lá com um propósito claro: romper o noivado. Eu queria
dizer a ela que amo Emma, que quero ficar com ela. Mas como posso fazer
isso agora, quando ela está tão vulnerável, tão frágil?
Mas sei que isso não é justo com Emma. Ela não vai aguentar muito
mais.
Eu estou dividido entre duas realidades que se chocam e se
contradizem. E no meio desse caos, me pergunto se Emma terá paciência
para me esperar.
Capítulo
25
Brandon me contou tudo o que aconteceu semanas atrás, sobre a
tentativa de suicídio de Amber. No fundo, não posso culpá-la. Sou eu a
errada aqui, ou melhor, ele está errado aqui. Eu não fazia ideia da existência
dela até vê-la no mercado. Me apaixonei sem saber de nada, e desde então
tentei esquecê-lo de todas as maneiras possíveis, mas não consegui.
Amber ficou internada e não deixou Brandon sair nem por um
momento. Ester foi quem me contou tudo o que sabia, e foi assim que soube
que Brandon havia sido chamado para outra missão. Ele partiu, sem sequer
me dizer que estava indo.
Cheguei em casa da faculdade, encontrei Amber me esperando. Eu
não queria discutir, não queria causar outro surto, mas pela expressão dela,
tínhamos ideias diferentes.
— Oi, Emma. Como foram seus últimos dias com meu noivo? —
Ela já sabia de mim, assim como o bairro inteiro, já que os boatos se
espalharam bastante nas últimas semanas.
— Olha, não quero confusão. Se você quer conversar com alguém,
acho melhor falar com Brandon. Afinal, ele é quem era seu noivo. — Não
foi minha intenção provocá-la, mas as palavras saíram.
— Ele não era, ele é, e continuará sendo. Você não é a primeira
vagabunda que tenta tirá-lo de mim, e não será a última! Ele é lindo, tem
uma carreira militar grandiosa para a pouca idade, garotinhas como você e
tantas outras mulheres já tentaram, mas todas falharam. Você chegou longe,
mas Brandon vai cair na real. Ele não vai me deixar por você. A mulher
para ele sou eu, você é apenas uma aventura. — Suas palavras cortavam
como uma lâmina afiada, minando ainda mais minha confiança.
— Eu entendo sua raiva, mas eu não procurei por isso. Ele veio até
mim. Então, como já disse, fale com ele. — Respondi sem grosseria,
imaginando a dor que ela estava sentindo. Saber que eu estava ajudando a
provocar aquilo não era bom para mim também.
— Acho melhor você se afastar dele antes que ele parta seu
coraçãozinho. Porque ele não vai me deixar... eu te garanto. — Ela
atravessou a rua e voltou para casa, enquanto eu entrei, com a cabeça cheia.

Os dias se passaram, tornaram-se semanas, e as semanas se


tornaram meses. Brandon e eu mal tínhamos tempo de nos falar entre uma
missão e outra, e a cada vez que nos encontrávamos, brigávamos porque ele
não tinha resolvido nada em quase um ano.
— Eu sei que já faz muito tempo, Emma. Sei que as coisas não
foram simples como eu imaginei, mas não quero ser responsável por outro
surto de Amber. — Ele ligou para me dizer que estava bem e que voltaria
em alguns dias.
Os médicos chamaram o que Amber fez de surto psicótico, mas eu
chamo de desespero. Ela o amava e estava disposta a passar por tudo para
estar com ele, assim como eu esperava por ele por amor.
Enquanto isso, eu me encontrava na posição de amante. Por quase
um ano, aguentei, fui forte, na esperança de que ela se cansasse de saber
que era traída, que ele já não a amava. Mas o tempo passou rápido demais,
e tudo aquilo já estava me fazendo muito mal.
Ele não podia ir a lugar nenhum comigo como meu namorado. Não
usávamos uma aliança, mas ele sempre insistia para que eu usasse, para que
os “lobos” da faculdade não dessem em cima de mim. Claro que me
recusei. Se ele não podia, eu também não. Nenhuma data comemorativa
estava comigo, tanto pelas missões quanto por Amber. Nunca podíamos
estar juntos, e eu aceitei tudo aquilo por tempo demais... porque eu o amava
demais para deixá-lo partir. Mas me esgotei.
Nos víamos tão pouco, passávamos meses sem nos encontrar, e isso
se tornou uma rotina que eu aceitei sem perceber. Tudo estava ficando
cômodo demais. Nos encontrávamos às vezes, enquanto Amber ele
acompanhava nos tratamentos com psicólogos, mas ela nunca melhorava.
Amber me venceu pelo cansaço. Um ano depois, desisti de esperar
um milagre e esperei-o voltar da última missão para a qual foi enviado.
Estava na hora.
Sempre que ele vinha para cá, ela inventava alguma coisa: uma
recaída, um ataque de pânico. Eu estava cansada, precisava de paz. Era hora
de virar a página daquele amor que estava apenas me ferindo. Então, ele
finalmente chegou, e saímos. Eu saí da faculdade e fui para a biblioteca,
onde ele costumava me encontrar.
Assim que me viu, seu abraço foi forte, muito apertado. Meus olhos
se encheram de lágrimas. Ele já sabia... aquele abraço era de “eu sei o que
você vai fazer”.
— Podemos ir até a cabana? Antes de falar o que precisa?
Conversamos lá? — Seus olhos refletiam a mesma dor que os meus,
suplicando para que eu aceitasse. Assenti. Nosso adeus merecia ser decente,
onde aquele “namoro” começou.
Tentei ser forte, mas durante todo o caminho ele ouviu meus soluços
baixos e viu meu corpo se sacudir levemente com o choro silencioso que
não cessava. Eu nem sabia que poderia chorar por tanto tempo, mas pude. E
o ouvi fungar algumas vezes, mas não tive coragem de olhar para ver se
estava chorando.
Horas depois, chegamos ao nosso destino. Minha mente estava um
turbilhão e as palavras estavam entaladas na minha garganta. Ficamos em
silêncio enquanto ele colocava lenha na lareira. Brandon tinha mudado
muitas coisas ali para nos deixar mais confortáveis. Eu ainda era a única
que colocava os pés ali, e sempre que podíamos, era o nosso refúgio. O sofá
era mais confortável, o colchão era novo, e até uma televisão ele colocou
para nós assistirmos filmes. Ver aquele lugar doía mais do que eu podia
imaginar. Tornou-se o nosso lugar. Eu sentiria falta.
Nos sentamos abraçados no sofá. Seu aperto doía tanto quanto o
meu o machucava.
— Eu sei por que está aqui hoje... sei que depois de tudo eu não
posso te pedir mais nada. Não tenho esse direito. Mas podemos conversar
amanhã? Não posso ouvir isso agora...
Sua voz estava embargada, chorosa. O olhei nos olhos e lá estava a
mesma dor que estava em mim. Eu sabia que também não estava pronta.
Nenhuma palavra saía, nem mesmo as simples como sim ou não. Apenas
balançava a cabeça como se de repente tivesse perdido o dom da fala.
Ele me beijou. O sabor de seus lábios se misturava ao salgado de
nossas lágrimas, ambos cientes de que aquilo era uma despedida. A partir
do dia seguinte, não pertenceríamos mais um ao outro, mesmo que de uma
maneira completamente torta como vinha sendo.
O beijo se aprofundou, as carícias se tornaram mais quentes, nossos
corpos buscando desesperadamente por mais contato. E ali, no nosso lugar,
nosso refúgio do mundo, seríamos inteiramente um do outro pela última
vez...

No dia seguinte, acordei nos braços dele, o melhor lugar do meu


mundo, mas seria a última vez que isso aconteceria. Ele estava com os
olhos abertos, me observando, mas parecia não ter dormido.
— Bom dia, fuzileiro. — Disse a ele, saindo de cima do seu corpo.
— Bom dia. — Sua voz era calma, mas apenas um sussurro. — Está
com fome?
Balancei a cabeça negativamente.
— Precisamos voltar. Mandei mensagem avisando que chegaria
atrasada no trabalho, mas que estaria lá depois do almoço. Não posso faltar.
— Ele assentiu, seu olhar perdido para além de mim, olhando para todos os
lados, menos para os meus olhos.
— Eu não vou tentar fazer com que você fique... — Suas palavras
não tinham nada a ver com o meu trabalho ou tomar café com ele. — Eu sei
que você já não aguenta mais e que estou te fazendo sofrer. Quando o que
mais queria era estar te fazendo feliz. Mas quero que saiba que eu te amo, e
que se um dia eu merecer, se um dia for digno de ter você de volta,
continuarei te esperando. — Ele me puxou para um abraço, enterrando seu
rosto no meu pescoço e inalando profundamente meu perfume. — Eu te
amo, Emma. Nunca pensei que pudesse amar tanto alguém assim. Amo o
suficiente para te deixar ir e ser feliz, coisa que eu não tenho conseguido
fazer.
Mas não ama o bastante para lutar por mim... Suas palavras não
feriram apenas meu coração... minha alma estará para sempre marcada por
esse amor que não era para ser.
— Nós dois nadamos contra a maré. O famoso remou e morreu na
praia. Eu tentei, fui paciente, sacrifiquei muito da minha vida nesse
relacionamento que não estava me fazendo bem. Não deixei de te amar,
Brandon. Nem sei se um dia vou conseguir fazer isso, mas cansei de dar
murro em ponta de faca, cansei de me ferir, de ser a outra, de não ter você
para mim por completo... Não deixei de te amar, mas também me lembrei
que preciso me amar.
Nada daquilo estava sendo fácil para mim. Não sei se ele sentia
tanto quanto eu, mas sei que eu estava um caos. Estava quebrada
novamente e precisaria de muito para me reerguer, para juntar meus cacos e
ser inteira novamente. Mas estava disposta a isso, precisava estar. Não
havia amor no mundo que resistisse àquelas provações. O amor não deveria
machucar. O amor não deveria doer. Era para ser lindo, mas se tornou um
pesadelo do qual eu não conseguia me livrar.
Estava na hora de me retirar. Eu não era páreo para a loucura de
Amber. Estava cansada demais de lutar. Ela me venceu, mas isso não
deveria ser motivo de orgulho para ela. Brandon me mostrou agora que o
amor liberta. Ela não o ama, ela o quer. Mesmo que ele esteja em pedaços.
Mesmo que não queira ficar. Ela o quer, e para estar ao lado dele, com ou
sem o seu amor, basta.
Nos levantamos, tomamos banho juntos, brincamos debaixo do
chuveiro, como se tudo aquilo fosse durar para sempre. Mas bastava olhar
nos olhos um do outro para que a dor estivesse presente, a angústia que eu
sentia era intensa, mas já não podia mais.
Escutamos música no caminho de volta, cantamos desafinadamente,
e quando chegamos na frente do meu trabalho, foi ali que a nossa ficha caiu
realmente, ali que sentimos que o mundo inteiro ia desabar.
Ele me puxou para seus lábios, sua língua invadindo minha boca
com uma súplica silenciosa.
Eu já não conseguia mais segurar o choro, me fazer de forte e
decidida. Tudo o que mais queria era gritar para ele que não queria mais
nada daquilo. Mas sabia que era quase uma doença, que eu precisava dele,
que necessitava estar com ele mesmo que não fosse por inteiro. E isso não
era bom.
Aquele era um beijo de adeus, amargo, salgado, sem alegria, apenas
a dor da perda.
Saber que ele queria estar comigo era o que mais me matava. Sentir
que ele me ama, mesmo que de uma forma torta, e não podermos ficar
juntos pelas ameaças de uma mulher psicologicamente afetada.
Separei nossas bocas, mas deixei nossas testas coladas ainda com os
olhos fechados. Não queria mergulhar naquele par de safiras. Não queria
me perder no azul daquele oceano. Eu poderia fraquejar, poderia desistir.
Não era justo comigo continuar naquela situação.
— Eu preciso ir... — Sussurrei para ele, inalando seu cheiro
embriagante.
— Emma, por favor... — Suas palavras pareciam engasgadas,
chorosas, mas eu não abri os olhos para vê-lo.
— Por favor, não me peça para ficar. Qualquer palavra sua me faria
desistir, mas eu continuaria sofrendo e sei que não é isso que você quer. —
Brandon colocou a mão na minha nuca e me beijou novamente.
Desci do carro rapidamente, sem olhar para trás. Parei na porta,
senti minhas pernas amolecendo, não conseguia mais me mover, não tinha
mais forças.
Brandon tinha sido o primeiro homem que eu amei, o primeiro a
quem me entreguei, o primeiro a quem abri as portas do meu coração e o
primeiro a me quebrar.
Então percebi que os romances de final feliz que eu lia em cada um
dos meus livros não se aplicavam ali.
Eu não tinha sido forte, ele não lutou por mim, nós desistimos do
nosso amor e não haveria um feliz para sempre, pelo menos não comigo.
Amber conseguiu o que queria. Ela o teria. Ela seria feliz para sempre. Eu
não...
Capítulo
26
Ano da dispensa
Mais de um ano se passou desde que me despedi da mulher que
amava. Deixá-la partiu meu coração, mas sabia que era o melhor. Agora,
após uma década servindo ao Sea Wolf, e após a morte do pai de Connor,
finalmente entendemos que não deveríamos nos resumir a apenas isso.
Estamos todos juntos no avião, Sean e Connor tão absortos em seus
próprios pensamentos quanto eu.
— Vai ser estranho, não é? — Sean diz depois do silencio ficar
quase insuportável.
— Estranho é pouco — concordo olhando para os meus dois
melhores amigos. — Parece que estamos indo para um planeta diferente,
não apenas para nossas cidades natais.
Não sei dizer o que era mais estranho, estar indo para casa
definitivamente, ou saber que vou chegar e ela não estará lá esperando por
mim. É a primeira vez que volto desde a última vez que nos vimos.
— Dez anos juntos, rapazes. — Connor diz com um sorriso triste.
— Vocês são mais do que irmãos para mim. Nosso elo vai além do sangue.
— Concordo. — Sean olha para o vazio. — Nossas famílias... eles
não entendem o que passamos, o que vivemos. Eles não fazem mais parte
do nosso mundo.
— E agora? — pergunto me sentindo perdido. — Como voltamos
para uma vida que não sentimos mais como nossa?
O peso dessa pergunta parece querer me esmagar.
— Vamos ter que descobrir, um dia de cada vez. Talvez precisemos
encontrar um novo sentido para “lar”. Talvez ele não esteja mais em um
lugar específico... — Connor diz.
— Vamos manter contato, certo? — Continua depois de algum
tempo.
— Sem dúvida. — Sean responde com firmeza. — Não importa
onde estejamos, somos uma equipe. Sempre seremos.
— Podemos nos encontrar assim que resolvermos nossas
pendencias, escolher um lugar para nos estabilizar, o que acham? — A ideia
de Connor é boa. — Acho que ficarei em Chicago, comprei uma casa lá
anos atrás.
— Acho que vai demorar para que eu possa sair da cidade, as
empresas da minha família estão me aguardando. — Inspiro com força. —
Eu já disse que não sirvo para isso... assim que eu estiver tranquilo,
compraremos uma casa perto um do outro.
— Parece que nossas famílias combinaram nisso — Sean
acrescenta. — Mas também vou com vocês, continuaremos sendo nós três
contra o mundo.
— Eu sequer sei como estão as coisas de John, para quem ele
deixou... — Connor bufa. — Espero que não tenha que lidar com
advogados por muito tempo.
Ficamos os três em silencio novamente.
Durante o último ano, minha vida mudou radicalmente. Casei-me
com Amber, tentei fazer tudo o que pude por ela, apenas para descobrir que
fui traído. A revelação não me abalou, o que me deixou furioso foi ter
deixado Emma para ajudar alguém que não valia a pena.
Consequentemente, meu casamento chegou ao fim.
Durante todo esse tempo, lutei contra o impulso de procurá-la. Ester,
me contou que Emma havia se tornado alguém diferente, mas que meses
após minha partida ela simplesmente disse que iria embora e sumiu. O
simples pensamento de ir atrás dela era tentador, mas eu sabia que precisava
resistir. Emma merecia a chance de ser feliz, mesmo que isso significasse
seguir em frente sem mim. Eu havia roubado o brilho de seus olhos uma
vez, e nunca me perdoei por isso.
No entanto, mesmo com a distância física, Emma permanecia
presente em meus pensamentos. Suas palavras, seu sorriso, sua essência
ainda ecoavam em minha mente, como uma melodia nostálgica que não me
deixava em paz. Eu me questionava se ela estava bem, se havia encontrado
a paz ou o amor que merecia.
O voo pareceu durar uma eternidade, durante todo o tempo pensei
sobre o que ficou para trás e sobre o que está por vir. O futuro se estendia
diante de mim completamente incerto. Não sabia o que faria a partir
daquele momento, mas precisava me distrair antes de ir atrás dela.

Assim que cheguei, fui recebido por minha irmã, cujo sorriso
radiante contrastava com a inquietação que sentia. Seus braços envolveram-
me em um abraço caloroso, mas meus olhos foram atraídos instintivamente
para a varanda da casa da frente, como se um ímã invisível me puxasse
naquela direção.
— Ei, Brandon! Que saudades! — exclamou Ester, sua voz cheia de
entusiasmo, mas percebi uma sombra de preocupação em seus olhos.
Minha atenção continuava fixa na varanda, e Ester, seguindo meu
olhar, soltou um suspiro antes de falar.
— Brandon, Emma não mora mais aqui. Ela se mudou há algum
tempo. Ainda nos falamos sempre, mas sinto falta dela — explicou,
tentando suavizar a notícia.
Eu me virei para encará-la, buscando respostas que eu não sabia se
estava pronto para ouvir.
— O que aconteceu com Emma? — perguntei, minha voz soando
mais áspera do que eu pretendia.
— Vamos entrar — sugeriu, guiando-me para dentro da casa. — Te
conto tudo.
Sentamo-nos na sala, e ela começou a contar o que aconteceu depois
que eu fui embora. Sua voz estava carregada de preocupação e tristeza,
refletindo a dor que ela também sentia pela amiga.
— Emma mudou. Começou a sair mais, a beber demais — começou
Ester, seus olhos baixando momentaneamente antes de encontrar os meus.
— Estava transtornada, Brandon. Nunca a vimos assim antes.
Eu me sentia cada vez mais tenso, a culpa de tudo aquilo era minha.
— E então? — instiguei, segurando o fôlego enquanto aguardava a
continuação da história.
— E então, de repente, ela simplesmente decidiu ir embora —
continuou Ester, sua voz tremendo ligeiramente. — Disse que precisava
partir, e desde então, só nos falamos por chamada de vídeo.
Uma onda de preocupação e culpa me inundou. O que teria
acontecido com Emma para fazê-la tomar uma decisão tão drástica?
Minha mente estava cheia de perguntas sem resposta, e uma
sensação de angústia se instalou em meu peito. Eu precisava encontrar
Emma, precisava saber se ela estava bem.
— Ester, você sabe onde ela está? Preciso falar com ela, saber se
está tudo bem — perguntei, minha voz carregada de urgência e
preocupação.
Ela me encarou por um momento, seus olhos faiscando com uma
mistura de tristeza e acusação.
— Mesmo que soubesse, Brandon, não te diria. — Sua voz era
firme, mas também carregada de dor. — Você e Amber foram os
responsáveis por Emma ter mudado tanto. Eu perdi minha melhor amiga
por causa de vocês.
As palavras de Ester me atingiram em cheio, como flechas afiadas
perfurando meu coração já machucado. Eu sabia que havia causado dor a
Emma, mas ouvir aquelas acusações diretas tornava tudo ainda mais real e
doloroso.
— Ester, eu só quero falar com ela, saber se está bem. Por favor,
diga a ela que eu gostaria de conversar — implorei, sentindo-me impotente
diante da situação.
Ela suspirou, seus olhos ainda fixos em mim com uma intensidade
que me fez estremecer.
— Vou dizer a Emma que você quer falar com ela. Mas você precisa
entender, Brandon, que ela pode não querer. E você precisa respeitar isso —
advertiu com a voz firme.
— Ester, ligue agora. Ficarei fora do campo de visão dela, mas eu
preciso vê-la. Já faz mais de um ano desde que a vi, e isso está me
enlouquecendo — implorei, sentindo a urgência pulsar em minhas veias.
Ester assentiu, compreendendo minha angústia, e rapidamente
iniciou a chamada. Enquanto esperávamos, senti meu coração bater
descompassado, ansioso para ver o rosto dela novamente.
Quando Emma finalmente apareceu do outro lado da linha, minha
respiração prendeu em minha garganta. Ela estava ainda mais bonita do que
eu me lembrava, e meu coração parecia querer saltar do peito ao vê-la.
— Emma, como você está? — perguntou Ester, transbordando de
felicidade.
— Não muito bem, Ester. Estou voltando porque meu pai passou
mal em um julgamento, e eu não posso ficar longe da minha mãe neste
momento — explicou, sua voz embargada.
Ester sorriu, aliviada por vê-la, mas meu coração estava acelerado,
ansioso para ter Emma novamente ao meu lado. No entanto, minha
esperança foi rapidamente substituída por uma dor aguda quando outra
pessoa apareceu na tela.
Um homem com um sorriso largo e olhos verdes, beijou suavemente
os lábios de Emma e dirigiu-se a Ester com um cumprimento amigável.
Minha visão turvou enquanto observava-os juntos, a realidade me atingindo
como um soco no estômago.
— Eu gostaria de ter conhecido você em melhores condições, Ester.
Emma fala muito de você — disse o homem, sua voz soando distante aos
meus ouvidos.
Eu não podia acreditar no que via. Como eu poderia imaginar que
alguém tão bela quanto Emma ainda estaria solteira? A dor dilacerou meu
peito enquanto eu enfrentava a realidade de que eu tinha perdido a
oportunidade de tê-la.
Não prestei mais atenção no que Ester dizia. Meu olhar estava fixo
no rosto abatido de Emma e no homem ao seu lado. Ela havia seguido em
frente, me esquecido, e eu teria que respeitar isso. Nem mesmo percebi
quando minha irmã encerrou a chamada, até sentir uma mão reconfortante
em meu ombro.
Olhei para cima e vi Ester me encarando com tristeza.
— Você está bem?
— Não, Ester. Nunca estarei bem sabendo que a perdi — murmurei,
sentindo um nó na garganta. — Mas vou sobreviver.
Sentia como se meu corpo pesasse uma tonelada. O vazio em meu
peito parecia insuportável, mas eu sabia que teria que encontrar uma
maneira de lidar com isso, suportar o fato de ter perdido o amor de Emma
para sempre.
Capítulo
27
As memórias do passado invadiram minha mente como uma
enxurrada assim que finalizei a chamada de vídeo com Ester, trazendo à
tona lembranças dolorosas e vívidas. Os olhos azuis de minha amiga me
lembravam os de seu irmão, Brandon, e uma angústia familiar se instalou
em meu peito.
Pensei, ingenuamente, que ficaria bem, que conseguiria seguir
adiante com minha vida. Mas como poderia estar bem após deixar para trás
o amor da minha vida? Como poderia superar o fato de que Brandon havia
seguido em frente sem mim?
Um ano inteiro de luta, tentando manter um relacionamento que
nunca deveria ter existido, lutando por alguém que já pertencia a outra
pessoa. As garras de Amber estavam tão profundamente cravadas nele que
era impossível para mim fazê-la soltar.
Após o término, um ano e meio atrás, mergulhei em um abismo de
autodestruição, transformando-me em uma versão sombria e amarga de
mim mesma. Uma tentativa desesperada de mascarar a dor que me
consumia por dentro. Porém, testemunhar Brandon se casando foi o golpe
final, a confirmação de que eu estava perdendo o homem que amava para
sempre.
Lá estava ele, lindo em sua farda de gala, um vislumbre do homem
que um dia foi meu tudo. Se não tivesse me escondido a tempo, seus olhos
azuis teriam encontrado os meus, e o que ele teria visto ali teria sido a
devastação de uma alma quebrada. Amber devia ter me convidado para o
casamento, só podia ter sido ela; Brandon jamais faria isso comigo.
Imaginei que ir até lá seria o fim, o fechamento de um capítulo doloroso da
minha vida. Mas não foi o que aconteceu.
Entreguei-me ao desespero, permitindo-me afundar na desolação.
Deixei de lado a mulher forte que sempre fui, permitindo que a dor e a
tristeza me consumissem.
Brandon se casou, e eu assisti impotente, sentindo cada fibra do meu
ser se despedaçar ao ver o homem que amava prometer sua vida a outra
pessoa. Mesmo assim, sorri, desejando do fundo do meu coração que ele
encontrasse a felicidade, enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo meu
rosto.
Precisava fugir, escapar daquela dor insuportável que me rasgava
por dentro. Precisava de ar fresco, de um novo começo, mesmo que isso
significasse abandonar tudo o que conhecia.
Corri para o escritório do meu pai. Meu corpo tremia
incontrolavelmente, e eu mal conseguia articular minhas palavras.
— Pai, preciso que me faça um favor... — Minha voz vacilou.
Meu pai me olhou estreitando os olhos.
— O que houve, querida? Está tudo bem?
Engoli em seco, reunindo toda a coragem que me restava.
— Pai, quero que fale com seus contatos. Quero estudar direito. —
Minha voz soava frágil e trêmula, mas minhas palavras eram determinadas.
Meu pai franziu a testa, claramente surpreso com minha súbita
mudança. Ele sacudiu a cabeça, incapaz de compreender o que realmente se
passava dentro de mim.
— Querida, o que está acontecendo? Você lutou tanto para ficar
aqui, disse que não queria partir... O que mudou?
— Preciso de um recomeço, pai. Quero estudar, mas não aqui.
Quero ir para longe, ter uma chance de ser tão boa quanto você! — Meus
olhos ardiam com as lágrimas não derramadas, minha voz embargada pelo
caos que estava meu interior.
Meu pai sorriu, sem perceber a profundidade da minha angústia.
— Isso é maravilhoso, querida! Fico feliz que queira seguir esse
caminho. Não sei o que mudou sua mente, mas estarei ao seu lado para
ajudar no que precisar. Para onde quer ir?
— Harvard. Logo estaremos trabalhando juntos. — Minha voz
soava confiante, mas por dentro, estava uma bagunça.
Uma mão apareceu em frente ao meu rosto, trazendo-me de volta à
realidade. Era Antony, com seu sorriso gentil iluminando seus olhos.
— Está tudo bem? — Ele perguntou com uma expressão
preocupada.
— Sim, só estou pensando no meu pai. — Respondi, tentando
esconder a ansiedade que me consumia.
Antony sempre esteve ao meu lado desde que cheguei aqui. Sempre
disposto a ajudar, mesmo que eu tenha causado alguns problemas no início,
ele nunca me abandonou.
Os primeiros dias foram difíceis. Enjoos constantes e a angústia
crescente. Cada refeição parecia uma batalha contra meu próprio corpo.
— Preciso ver um médico. Pode ser estresse, ou talvez a mudança.
— Murmurei para mim mesma, enquanto a mão involuntariamente se
dirigia à minha barriga, como se meu corpo estivesse tentando me dizer
algo.
A ideia de estar grávida parecia absurda. Brandon acabara de se
casar. Eu não queria ser aquela ex ressentida que aparece do nada para
arruinar um casamento. Decidi, naquele momento, que, existindo ou não
um bebê, Brandon nunca saberia.
Os testes de gravidez confirmaram meus temores. Todos positivos.
Eu estava grávida, seria mãe solo enquanto cursava a faculdade de direito.
As aulas começaram, e minha condição logo chamou a atenção dos
meus colegas e professores.
— Emma, você não tem parecido bem ultimamente. Já foi ao
médico? Fez algum exame? — Meu professor de direito penal, entre outras
matérias, expressou sua preocupação.
— Na verdade, não há nada de errado comigo, professor. Estou
grávida. — Respondi, percebendo seu olhar em direção ao meu dedo sem
aliança. — Não sou casada, professor.
Ele ficou sem jeito, e eu não pude deixar de sorrir com a situação.
— Desculpe, não quis ofender. — Ele disse, visivelmente
constrangido.
— Não se preocupe, professor. — Tentei amenizar o clima. — Estou
sozinha aqui, minha família ainda não sabe sobre a gravidez. Não quero
preocupá-los.
Foi assim que Antony entrou em minha vida, sempre atento e
prestativo. Encontrar conforto em sua amizade tornou tudo mais suportável.
Enquanto os meses passavam, adiava o momento de contar aos
meus pais sobre a gravidez. Antony sempre estava ao meu lado, oferecendo
apoio e carinho.
— No que está pensando? — Antony perguntou, quebrando o
silêncio.
— Em como virei sua vida de cabeça para baixo desde que cheguei.
— Sorri, lembrando dos altos e baixos que compartilhamos.
— Encontrar você naquela padaria foi a melhor coisa que me
aconteceu. — Ele disse, e meu coração se encheu de gratidão.
Foi no dia que descobri que seria mãe de um menino. Antony estava
lá comigo, e não nos separamos desde então. A amizade cresceu para algo
mais, mas nunca consegui me entregar completamente a ele.
Ele depositou um beijo leve nos meus lábios que logo foi
interrompido pelo resmungo de Brian, meu precioso garotinho.
— Ele sempre aparece na hora certa. — Comentei, sorrindo para
Antony.
— Um garotinho ciumento — acrescentou Antony, com ternura,
enquanto se levantava para pegar Brian. — Você conseguiu arrumar todo o
necessário?
Eu observei Brian nos braços de Antony, seus pequenos olhos azuis
brilhando com curiosidade inocente. Cada vez que eu olhava para ele, uma
onda de emoções me invadia. Seus olhos, idênticos aos do pai, lembravam-
me constantemente do homem que amei e perdi.
— Não quero te atrapalhar, você não precisa ir. — Sugeri,
preocupada com os compromissos e responsabilidades de Antony.
Ele sorriu gentilmente, deslizando a mão por meu pescoço.
— Eu já pedi uma licença. Não vou deixar você sozinha — me
tranquilizou, e eu me senti grata por tê-lo ao meu lado.
Brian, estava com três meses de idade, olhava para mim como se
pudesse sentir a tensão no ar. Mesmo tão jovem era uma cópia perfeita de
Brandon, e cada vez que eu olhava para meu filho, sentia meu coração
apertar.
Antony entregou Brian para mim.
— Tudo está pronto. Mal posso esperar para estar com meus pais.
— Disse, tentando afastar os pensamentos sombrios.
Meus pais estiveram presentes durante os últimos meses da minha
gestação, oferecendo apoio e amor incondicional. Eu sabia que precisava
estar com eles agora, mais do que nunca.
Evitar que Ester descobrisse a verdade sobre Brian seria uma tarefa
difícil. Eu nunca contei a ela sobre minha gravidez, e agora teria que fazer
de tudo para esconder a verdade.
Antony se senta ao meu lado, sua preocupação refletida nos seus
olhos verdes.
— O que está acontecendo, Emma? Você parece distante.
Respiro fundo, sentindo-me horrível por ter um bom homem ao meu
lado ainda continuar pensando naquele que não lutou por mim. Mas sempre
fui sincera com ele.
— Você sabe que eu nunca menti para você, Antony. Não seria
agora que eu começaria. — Meu tom era firme, apesar de não me sentir
assim. — O pai de Brian, foi na minha antiga cidade que o conheci, me traz
lembranças que gostaria de esquecer.
Mas omito o verdadeiro motivo do meu medo: o temor de vê-lo
novamente, de encarar o homem que ainda habita meus pensamentos e meu
coração.
Ele nunca escondeu seu incomodo pelo fato de eu não ter deixado
de amar Brandon, e essa tensão entre nós sempre foi uma sombra silenciosa
em nosso relacionamento.
— Sei que é difícil lidar com o passado, especialmente quando ele
está tão presente. Mas você não está sozinha. — Sua voz é suave,
reconfortante, e eu me sinto grata por tê-lo ao meu lado.
Capítulo
28
O ar gelado da manhã cortava meu rosto enquanto eu corria pelas
ruas familiares da cidade que um dia chamei de lar. Cada passo batia em
sincronia com o ritmo acelerado do meu coração, uma tentativa de dissipar
a agonia que se acumulava dentro de mim desde que deixei o Sea Wolf e
retornei à vida civil.
Mas agora, mesmo enquanto meus músculos trabalhavam sendo
levados até o limite, minha mente continuava a girar em torno da minha
dispensa, meus irmãos e ela.
Emma. Seu nome ecoava em minha mente como uma melodia
familiar, mas carregada de tristeza. Desde que nos separamos, ela ocupava
meus pensamentos mais do que eu gostaria de admitir. O amor que uma vez
floresceu entre nós agora era um fantasma, uma presença silenciosa que me
atormentava mesmo nos momentos mais solitários.
Ao retornar de minha corrida matinal, meus olhos captaram um
vislumbre dela. Emma. Ela estava lá, em pé ao lado de um carro, com um
bebê nos braços. O sol da manhã fazia seus cabelos parecerem quase
cintilantes, e apesar de sua beleza inegável, seus olhos pareciam carregar o
peso do mundo.
Um nó se formou em minha garganta ao vê-la com um bebê, e
próximo a ela, o homem que vi na chamada. Era como se o tempo
congelasse, e por um breve instante, tudo ao meu redor desaparecesse,
exceto ela e aquele pequeno ser em seus braços.
Me aproximei antes mesmo que minha mente se desse conta do que
estava fazendo. Assim que Emma me viu, seu rosto se contraiu em uma
mistura de surpresa e apreensão. Instintivamente, ela moveu o bebê para
mais perto de si, escondendo seu rosto dos meus olhos curiosos.
— Emma... — minha voz saiu mais rouca do que o esperado, uma
mistura de saudade e incerteza.
Ela hesitou por um momento, seus olhos pretos capturando os meus
por um instante fugaz, antes de desviar o olhar para o bebê em seus braços.
Um silêncio tenso pairou entre nós, carregado com o peso de tudo o que não
dissemos.
— Antony... — ela quebrou o silencio chamando o homem que
estava nos olhando mais próximo do portão. — Leve Brian para dentro, por
favor. Ele está um pouco cansado.
Ele se aproximou rapidamente, e Emma entregou o bebê nos braços
dele com um olhar significativo. Observei enquanto Antony pegava o bebê
e se afastava, levando-o para dentro da casa.
Eu me vi parado ali, com um tumulto enorme dentro de mim.
A visão de Emma com aquela criança mexeu com algo profundo
dentro de mim, despertando desejos que eu tinha tentado enterrar há muito
tempo.
Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Emma desviou o
olhar, desviando a atenção para qualquer coisa que não fosse eu. Era como
se um muro invisível tivesse se erguido entre nós, separando-nos mais uma
vez.
Meu coração parecia querer escapar do peito enquanto eu a
observava. Emma estava ali, diante de mim, tão próxima e tão distante ao
mesmo tempo. Seu corpo tenso, abraçado a si mesmo, como se estivesse se
protegendo de mim. Havia um abismo entre nós, um abismo que eu mesmo
tinha cavado.
— Emma? Podemos conversar — minha voz saiu trêmula,
carregada de todas as emoções que eu tentava conter.
Um movimento no portão capturou minha atenção e eu vi Antony
caminhando para dentro com o bebê nos braços.
— Não estou em um bom dia Brandon.
— É só por um momento, Emma. Eu prometo — insisti,
desesperado para romper a barreira que se erguia entre nós. — Quem é o
bebê? E aquele homem?
— É isso? Quer apenas se meter na minha vida?
Sua resposta veio carregada de dor e ressentimento, e eu me vi
sendo atingido em cheio por suas palavras.
— Não Emma, não, eu... Céus eu estava morrendo de saudade! —
minhas palavras saíram num desabafo, o peso da culpa se fazendo presente
em cada sílaba. — Por quê? Por que foi embora?
Antes que ela pudesse responder, me vi envolvendo-a em meus
braços, buscando desesperadamente o conforto de sua presença. Sentir seu
cheiro, sua pele contra a minha, era como um bálsamo para minha alma
atormentada.
Mas sua reação imediata foi como um choque de realidade,
trazendo-me de volta à cruel verdade de nossa situação.
— Não faz isso, por favor! — sua voz soou firme, mas cheia do
ressentimento que eu reconhecia muito bem. — Eu não te devo explicações
Brandon, não te devo nada, foi você quem escolheu, foi você quem optou
por ela, fiz o que foi melhor para mim e segui em frente, assim como você.
— Seguiu em frente... então...
— Antony é meu marido e Brian meu filho. São a minha família.
A confirmação de sua nova vida foi como um golpe direto no peito,
arrancando-me o fôlego e fazendo-me encarar o que eu havia tentado
ignorar.
— Emma, por favor, fala comigo, só um pouco... — implorei,
desesperado para encontrar uma brecha em sua armadura de ferro.
Mas suas palavras seguintes foram como uma faca em meu coração,
perfurando-o sem piedade.
— Onde está sua esposa? Não deveria estar com ela como sempre?
Qual o seu problema? Você pode ser feliz e eu não é isso?
A mágoa em seus olhos era palpável, refletindo o que eu sentia
dentro de mim. Eu merecia cada palavra dela, cada acusação, cada
punhalada em minha consciência. Eu a havia perdido, por minha própria
culpa, e agora estava pagando o preço por minhas escolhas.
— Só me deixe em paz Brandon, por favor — aquele era seu
veredicto final, um último golpe em minha esperança frágil.
O impulso de segurá-la pelo braço foi tão súbito quanto irresistível.
Emma virou-se para mim, seus olhos faiscando de raiva e mágoa. Eu podia
sentir a tensão se instalando entre nós, um silêncio carregado de palavras
não ditas, de sentimentos não expressos.
— Faz quanto tempo que você está casada, Emma? — minha voz
estava áspera.
Ela me encarou por um momento, seu olhar cortante como uma
lâmina.
— Não é da sua conta, Brandon — respondeu em um sussurro
gelado.
— Você me esqueceu, Emma? — perguntei, minha voz quase um
rosnado, implorando por uma resposta que eu temia ouvir.
Ela ergueu o queixo, seus olhos fixos nos meus.
— Sim, Brandon, eu esqueci. — Suas palavras atingiram como um
soco, mas eu a conhecia bem o bastante para saber que estava mentindo.
— Eu te amo, Emma. — As palavras saíram de mim como um
lamento.
Ela apenas sacudiu a cabeça, seus olhos endurecidos pela dor.
— Solta, Brandon. — Sua voz era baixa, mas firme, como um
ultimato.
Eu a segurei com mais força, desesperado e com a raiva
borbulhando dentro de mim, não dela, mas de mim mesmo por tê-la
perdido.
— Você não tem o direito de fazer isso. Você não pode apenas entrar
na minha vida, e querer virar tudo de cabeça para baixo e esperar que fique
tudo bem.
Ela tentou se soltar, sua expressão uma mistura de fúria e tristeza.
—Você fez sua escolha, agora lide com as suas merdas!
A discussão estava atingindo um nível catastrófico, as palavras
voando entre nós como flechas afiadas, cada uma encontrando seu alvo com
precisão cruel. Eu queria gritar, queria chorar, queria implorar por perdão.
Mas tudo o que restava era o vazio, a sensação agonizante de ter perdido a
única coisa que realmente importava para mim.
Se continuasse segurando-a, a discussão só iria piorar, e eu não
queria causar mais dor do que já havia causado. Conhecia bem o
temperamento dela, sabia que, se empurrada até o limite, acabaria
explodindo, e não queria ser o motivo disso.
Assim que cheguei em casa, deparei-me com Ester no sofá, com um
pote de sorvete nas mãos. Seu olhar perspicaz captou meu estado de espírito
assim que passei pela porta.
— O que houve? Você parece perturbado.
— Emma... Ela voltou. — As palavras saíram num sussurro. — Ela
está casada, Ester. Tem um filho, uma família agora. Eu a perdi para
sempre.
Ester deixou o sorvete de lado e se aproximou, envolvendo-me num
abraço reconfortante. Foi a primeira vez que permiti que alguém da minha
família visse minha vulnerabilidade, minha fraqueza diante da situação.
— Vai ficar tudo bem, Brandon. — Sua voz era suave e acolhedora.
— Mas você precisa respeitar a família que ela construiu.
Emma havia seguido em frente, construído uma vida para si mesma,
e eu precisava aceitar isso. A dor de vê-la com outro era insuportável, mas
eu não podia deixar minha amargura e ressentimento atrapalharem o
caminho dela.
Deixei-me afundar no abraço reconfortante de Ester, permitindo-me
sentir.
Capítulo
29
Ao me aproximar de Antony, pude sentir sua mágoa. Seus olhos
expressavam tristeza, e isso só aumentou o peso em meu peito.
— É ele, não é? — Sua voz era suave, mas carregava uma dor
palpável.
— Sim... — Minha voz falhou por um momento, incapaz de negar.
Não havia como esconder a verdade de Antony, especialmente
quando Brian era a cópia de Brandon.
— Você o ama? — Eu estava prestes a explicar, mas ele ergueu as
mãos em um gesto silencioso. — Não sei se quero ouvir agora. E, pelo que
vejo em seus olhos, talvez seja melhor deixarmos essa conversa para outro
momento.
Senti um nó na garganta ao perceber o quanto havia magoado
Antony. Ele não merecia passar por isso, não merecia a incerteza que eu
trazia comigo.
— Obrigada por entender... Eu não mereço você. — As palavras
saíram num sussurro carregado de arrependimento.
— Eu te aceitei com todas as suas limitações, Emma. Seria injusto
da minha parte julgá-la agora.
A compreensão só aumentava a intensidade da minha culpa. Antony
era bom demais para mim, e eu sabia disso. Era tolerante além do
necessário, e perfeito demais para uma alma atormentada como a minha.
Enquanto tomava um banho para tentar aliviar a tensão, fechei os
olhos e vi os profundos olhos azuis de Brandon mais uma vez, encarando-
me com toda a tristeza que eu estava tentando evitar. Era como se ele
estivesse bem ali, diante de mim, provocando um turbilhão de emoções que
eu preferiria não sentir.
— Céus... — Murmurei para mim mesma, sentindo minha cabeça
latejar de angústia. — Eu deveria odiá-lo... Ou pelo menos não sentir mais
nada.
Antes que pudesse afundar ainda mais em meus pensamentos, uma
ligação de minha mãe sobre o estado do meu pai, interrompeu meu
momento. Rapidamente nos dirigimos ao hospital, com Brian nos braços,
embora eu soubesse que o ambiente não era ideal para ele.
Ao entrar no quarto do meu pai, vi seu rosto pálido e frágil, e as
lágrimas encheram meus olhos.
— Oi, pai... Que susto nos deu. — Minha voz saiu embargada,
enquanto eu lutava para conter as emoções. — Como está se sentindo?
Seus olhos se iluminaram ao me ver, mas a fraqueza em sua voz me
fez sentir ainda mais culpada por ter estado longe. Tive tanto medo de
perdê-lo...
Um sorriso suave se formou nos lábios cansados dele.
— Deixe-me segurar meu neto um pouco, e com certeza me sentirei
melhor.
Entreguei Brian ao meu pai e nos sentamos juntos por um tempo.
Falei sobre tudo o que estava aprendendo na faculdade, sobre como Antony
tinha sido um grande professor, e como havia sido fácil adaptar-me, apesar
das mudanças repentinas em minha vida. Meu pai sempre foi meu maior
apoiador, acreditando em mim mais do que eu mesma. Talvez ele estivesse
certo sobre o meu futuro como advogada, afinal.
Percebi que Brian estava começando a ficar inquieto. Era hora de
irmos para casa, mas a última coisa que eu queria era deixar meu pai.
— Se quiser, pode ficar um pouco mais com ele. Eu levo Brian para
casa e cuido dele. — A gentileza de Antony me surpreendeu, aquecendo
meu coração.
— Faria isso por mim? — perguntei, sentindo a gratidão tomar
conta de mim.
— Não há nada que eu não fosse capaz de fazer por você, sabe
disso, não sabe? — Sabia o que ele estava fazendo, e isso doeu. Antony
estava reafirmando o que sentia por mim porque estava se sentindo
ameaçado.
Entreguei Brian a Antony com um sorriso. De volta ao quarto com
meu pai, percebi que ele me observava atentamente.
— Você é estudante de Direito, sabe muito bem no que esconder
Brian pode acarretar. — Seus olhos transmitiam preocupação.
Suspirei pesadamente, desejando evitar essa conversa.
— Brian é meu, pai. Meu e de mais ninguém.
Ele estreitou os olhos.
— Se Brandon descobrir que esse menino é dele, você terá um
problema, um grande problema. Ele jamais vai deixar que você tire Brian
de perto dele novamente e pode te processar por esconder a paternidade.
Engoli em seco, sentindo o peso da verdade em suas palavras. Era
por isso que precisava garantir que Brandon nunca visse Brian.
— Como sabe que ele é o pai? Nunca mencionei isso.
— Soube do seu envolvimento com ele há muito tempo, Emma. Sei
que só aceitou ir para longe porque estava com o coração ferido.
Senti uma pontada de tristeza ao ouvir suas palavras. Ele sempre
soube, mesmo quando eu tentei esconder.
— Vamos mudar de assunto, pai. Nada disso vai acontecer.
Apesar das palavras tranquilizadoras, a imagem de Brandon pairava
sobre mim como uma sombra constante, lembrando-me da dor que ele
causou e do peso das minhas escolhas. Mas eu precisava manter Brian
protegido, custasse o que custasse.

Ester apareceu de repente no quarto do hospital, seu sorriso


substituído por uma expressão fechada e tensa. Ela se aproximou do meu
pai e eu senti um aperto no coração ao vê-la ali, sabendo que algo não
estava certo.
— Oi tio, como está?
— Bem, querida. Obrigado por perguntar — meu pai respondeu,
tentando manter o tom positivo, apesar da situação.
Então, Ester virou seu olhar para mim, seu rosto sério e inquisitivo.
— Emma, podemos conversar um momento? — Ela parecia um
pouco zangada.
Meu coração começou a acelerar enquanto a acompanhava até a sala
de espera do hospital. O silêncio tenso entre nós era quase palpável
enquanto nos sentávamos.
— Ainda somos amigas, Emma? — Ester começou.
Engoli em seco antes de responder, sentindo-me frágil diante da sua
raiva.
— Sim, claro que somos, Ester. Você é uma das pessoas mais
importantes da minha vida.
Ela balançou a cabeça lentamente, sua expressão endurecendo ainda
mais.
— Então por que eu tive que descobrir pelo meu irmão chorando
que você se casou e teve um bebê? Por que você não me contou, Emma?
As palavras dela me atingiram como um soco no estômago, e as
lágrimas começaram a embaçar minha visão.
— Ester, eu... eu não queria te magoar. As coisas estão complicadas,
e...
Ela me interrompeu com um gesto impaciente.
— Não há desculpas, Emma. Você está me mantendo de fora da sua
vida, me excluindo. Eu pensei que éramos melhores amigas, que podíamos
contar uma com a outra para tudo.
As lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto eu lutava para
encontrar as palavras certas para explicar.
— Ester, você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, é
verdade. Mas... tudo é tão complicado agora. Eu não sabia como te contar,
não queria te magoar...
Minha voz falhou enquanto eu tentava explicar, mas sabia que nada
que eu dissesse seria suficiente para acalmá-la.
Ester parecia desmoronar diante de mim, suas palavras carregadas
de mágoa. Eu me sentia totalmente desamparada, incapaz de consertar o
estrago que havia feito em nossa amizade.
— Ester, por favor, eu não queria te machucar... — minha voz saiu
em um sussurro, carregada de tristeza e arrependimento.
Ela me olhou com uma mistura de incredulidade e dor.
— Não é suficiente, Emma. Você escondeu coisas que eram
importantes para mim, para nós duas. Sonhávamos em compartilhar cada
passo juntas, e você guardou tudo isso só para você.
As lágrimas escorriam sem controle pelo meu rosto enquanto eu
tentava encontrar uma maneira de consertar as coisas, de recuperar a
confiança que havia perdido.
— Eu sei, Ester, eu sei... — minha voz falhava entre soluços. — Eu
sinto muito, eu... eu deveria ter te contado, mas as coisas estavam tão
confusas, não sabia como...
Ela me interrompeu com um olhar de desespero.
— Você não sabia como? Emma, nós éramos melhores amigas,
deveria ter sido a primeira a saber.
Eu tinha falhado miseravelmente como amiga, como pessoa.
— Eu... eu não sei o que dizer, Ester. Eu estraguei tudo...
Ela suspirou, parecendo resignada.
— Eu só... eu só queria ter sido importante o suficiente para você
para que confiasse em mim com algo tão grande, Emma. Mas vejo que não
sou.
Ester era mais do que importante para mim, ela era minha irmã de
coração, minha confidente. E eu a estava perdendo por causa da minha
própria covardia.
— Ester, por favor... — minha voz saiu em um sussurro, implorando
por perdão, por uma segunda chance.
Ela me olhou por um momento, seus olhos cheios de tristeza e dor,
antes de finalmente suspirar e se levantar.
— Eu quero ver o bebê, Emma. Eu quero conhecer meu sobrinho.
— O jeito que ela falou fez meu peito gelar, mas imaginei que fosse apenas
por se considerar parte da minha família, como uma irmã.
Mas um calafrio percorreu minha espinha, e uma onda de pânico se
espalhou por mim. Eu sabia o que isso significava. Ester descobriria a
verdade. Ela veria Brian e, com um olhar, saberia que ele era filho de
Brandon.
O que eu faria? Como poderia explicar? Mil cenários se
desenrolaram em minha cabeça, cada um mais desastroso que o outro. Eu
me sentia presa, sem saída.
— Ester, eu... — Minha voz saiu em um sussurro trêmulo, incapaz
de formular uma frase coerente.
Ela me olhou, esperando uma resposta, sem perceber a tempestade
que se desencadeava dentro de mim. Eu queria contar a verdade, mas não
sabia como.
— Emma, você está bem?
Minha mente começou a trabalhar em uma velocidade vertiginosa,
procurando desesperadamente por uma saída. Não podia permitir que Ester
visse Brian. Não agora. Não quando eu ainda não estava pronta para
enfrentar as consequências.
— Ester, eu... Eu adoraria que você o conhecesse, mas ele... Ele está
em casa agora, provavelmente dormindo. — Minha voz saiu apressada, e eu
me esforçava para manter a calma. — Ele esteve agitado hoje, acho que
pela viagem...
Ester me olhou com uma expressão desconfiada.
— Ah, entendo... — Sua voz soou um pouco abatida, e eu senti um
aperto no coração ao vê-la assim.
Sabia que mentir não era a melhor solução, mas eu não tinha
escolha. Não podia permitir que ela descobrisse a verdade. Não agora. Não
assim.
Forcei um sorriso, tentando transmitir tranquilidade.
— Por que não voltamos para o quarto do meu pai?
Ester assentiu, embora parecesse um pouco desconfiada. Agora teria
que ser cuidadosa. Tinha que proteger Brian a todo custo enquanto estivesse
aqui.
— Na verdade, eu já vou indo. Brandon está precisando de mim,
mas foi bom te ver Emma — era como se ela estivesse falando com uma
estranha.
Assim que Ester saiu do meu campo de visão, liguei para Antony e
pedi que ele pegasse nossas coisas e fosse para um hotel, não poderíamos
continuar na casa dos meus pais correndo o risco de alguém ver Brian.
Capítulo
30
Enquanto eu observava pela vidraça da casa, vi minha irmã Ester
chegando. Seu rosto tenso mesmo a distância. Então a vi indo em direção a
casa da frente.
Meu coração deu um salto quando percebi o homem que estava ali.
O mesmo homem que eu vi anteriormente e que agora eu sei que é o marido
de Emma.
Sem pensar duas vezes, eu me levantei do sofá e saí de casa como
um furacão. Ao passar por meus pais na sala, pude sentir o olhar confuso
deles sobre mim.
Quando cheguei mais perto, vi Ester congelada no lugar, as mãos
cobrindo a boca, os olhos arregalados de surpresa. Ela parecia estar em
choque, incapaz de se mover ou falar.
— Ester, o que está acontecendo aqui? — Minha voz saiu áspera.
Minha irmã me arrastou para longe da casa com uma expressão séria
e determinada. Eu a segui em silêncio, tentando entender o que estava
acontecendo, mas ela não parecia disposta a compartilhar.
O que estaria se passando na cabeça dela?
Enquanto isso, vi que Antony aproveitou o momento para colocar
Brian na cadeirinha do carro e entrar no veículo.
Enquanto nos afastávamos, Ester começou a falar rapidamente sobre
a visita ao hospital para ver Emma e seu pai doente. Seu discurso era
confuso e evasivo, como se estivesse tentando esconder algo por trás de
suas palavras. Eu sabia que ela não era boa em disfarçar quando algo a
preocupava.
A sensação de que algo estava errado só crescia em mim. O
comportamento agitado de Ester e a falta de informações claras só
aumentavam minha desconfiança.
Ao entrarmos, Ester seguiu diretamente para o quarto dela, e
momentos depois eu a segui. A encontrei falando com alguém no celular,
sua voz tensa e nervosa. Ela estava tão concentrada na ligação que nem
percebeu minha presença.
— Ou você conta a ele, ou eu vou contar. Das duas formas, vai ser
ruim, mas acredito que depois de tudo você deva isso a ele — ouvi Ester
dizer.
— Tudo bem, eu espero seu tempo, desde que não demore muito. —
Respondeu depois de ouvir por alguns instantes.
Meu coração começou a bater mais rápido enquanto tentava
entender o significado por trás daquelas palavras.
Quando ela finalmente percebeu minha presença na porta, sua
expressão mudou rapidamente, como se ela tivesse sido pega em flagrante.
Desligou o celular abruptamente e tentou disfarçar sua preocupação, mas
era tarde demais. Eu sabia que algo importante estava acontecendo.
— Você está estranha.
— Impressão sua, são coisas da faculdade. Estou prestes a ficar
louca.

As semanas se arrastavam como uma sombra densa sobre mim.


Desde que retornei, minha vida parecia uma série de tentativas frustradas de
encontrar uma rotina, algo que pudesse preencher o vazio deixado pela
ausência do serviço militar.
Emma raramente aparecia na casa dos pais, e quando o fazia,
sempre estava acompanhada de Antony. A mera presença dele ao lado dela
era como um espinho cravado em meu peito, um lembrete constante de tudo
o que eu havia perdido. Como eu desejava que as coisas fossem diferentes,
que pudesse ser eu ali ao lado dela, vivendo a vida que tantas vezes
sonhamos naquela cabana.
Minha tentativa de retornar à USAF também foi um fracasso.
Depois dos problemas que causei por lá, o comandante decidiu que era
melhor que eu não ficasse. Um último elo que eu tinha com minha antiga
vida foi cortado ali. Sentia-me perdido, sem rumo, sem propósito.
A agonia crescia dentro de mim a cada dia que passava. O vazio
deixado pela adrenalina das missões era desesperador. Era como se uma
parte de mim estivesse faltando, e eu não conseguia encontrar uma maneira
de preenchê-la.
E saber que Emma estava tão perto, mas ao mesmo tempo tão
distante, só tornava tudo ainda pior. Eu a via ocasionalmente, à distância,
mas nunca tínhamos a chance de conversar. Aquela lacuna entre nós só
crescia.
Às vezes, eu me pegava imaginando como seria se as coisas
tivessem sido diferentes. Se eu não tivesse partido seu coração, se não
tivéssemos nos afastado.
Será que ainda estaríamos juntos? Será que teríamos construído
uma vida juntos, como sempre sonhamos?
Essas perguntas ecoavam na minha mente, me atormentando dia e
noite.
Durante uma chamada de vídeo com Connor e Sean, senti um aperto
no peito. Era como olhar para um espelho que refletia minha própria luta
para encontrar um lugar neste mundo civil que parecia tão estranho e
desconcertante para mim. Ainda assim, era muito pior para Connor, que era
o único que sequer tinha uma família para quem voltar.
Sean parecia particularmente aflito quando nos pediu ajuda para
encontrar sua noiva, apesar de enfrentar meus próprios problemas no
momento, aquele seria um bom escape para mim.
A sensação de propósito que isso me deu foi como uma lufada de ar
fresco em meio à minha agonia. Eu precisava fazer algo, qualquer coisa,
para sair desse estado de letargia e inquietação que vinha me consumindo
desde que deixei o Sea Wolf.
Demorei um pouco demais para encontrá-la, bem mais do que de
costume já que minha cabeça estava uma merda, mas assim que consegui,
segui para Denver.
— Então, você realmente quer encontrar essa garota? — Perguntei
analisando-o.
Sean assentiu inspirando profundamente antes de falar.
— Sim, eu preciso encontrá-la. Há algo que preciso resolver com
ela.
— E qual seria o motivo, Sean? Por que tanta urgência em encontrar
essa moça? — o conhecia bem o bastante para saber que aquilo não iria
acabar bem. — Sabe, ela parece bem... por que diabos quer forçá-la a se
casar com você?
Ele hesitou, o que me deixou ainda mais desconfiado.
— Descobri algumas coisas sobre ela. Parece que ela fugiu por uma
razão que não esperávamos — respondeu evasivo e inquieto.
— O que você descobriu?
— A mãe dela a ajudou... consegui descobrir isso, e quando ameacei
contar ao marido ela me disse que Margot está grávida. E se o bebê for
meu... preciso saber. Preciso saber o que fazer.
Aquiesci e entreguei a pasta que estava em minhas mãos para ele.
— Aqui estão todas as informações que consegui reunir até agora.
Endereço, local de trabalho, tudo o que você precisa para encontrá-la. Mas,
Sean, prometa-me que vai lidar com isso da maneira certa.
— Prometo, Brandon. Vou lidar com isso da melhor maneira
possível.
Perguntei a Sean se ele queria que eu o acompanhasse, estava mais
do que na cara que ele era capaz de fazer alguma merda irreparável, não
podia deixá-lo só.
— Você sempre foi o mais explosivo, Sean. Age primeiro e pensa
depois. Mas é parte de quem você é. — Pontuei o olhando. — Vou com
você para garantir que não faça nada estúpido.
— O único estupido aqui é você, já salvei mais vezes essa sua bunda
branca do que posso me lembrar.
Sorri.
— Obrigado, Brandon. Ter uma babá vai, talvez, me manter na
linha.
— Estamos nessa juntos, irmão. Vamos encontrar Margot e lidar
com essa porra logo porque eu preciso voltar para os meus próprios
assuntos.

Depois de ajudar Sean com sua busca por Margot, voltei para casa
com um peso nos ombros. Sean sempre foi impulsivo e problemático, e eu
sabia que me envolver em seus assuntos poderia trazer mais problemas do
que soluções. Mas ele era meu amigo, e eu não podia deixá-lo lidar com
tudo sozinho.
Enquanto dirigia de volta para casa, minha mente não conseguia
parar de pensar em Emma. A ideia de sequestrá-la para ter um momento a
sós com ela parecia cada vez mais tentadora, mesmo sabendo que ela
provavelmente me odiaria por isso. Mas eu precisava desesperadamente
conversar com ela, resolver as coisas de uma vez por todas.
A casa estava quieta, meus pais provavelmente já estavam
dormindo. Subi as escadas em silêncio, tentando não fazer barulho para não
os acordar.
No meu quarto, me joguei na cama e fiquei encarando o teto,
perdido em meus pensamentos. A imagem de Emma não saía da minha
mente, seu rosto, seu sorriso, tudo parecia tão distante e ao mesmo tempo
tão presente.
Finalmente decidi que precisava fazer algo. Peguei meu celular e
olhei para a foto dela, sentindo um aperto no peito. Era hora de resolver as
coisas de uma vez por todas.
Mandei uma mensagem para Emma, dizendo que precisava falar
com ela e pedindo para nos encontrarmos no dia seguinte. Não sabia como
ela reagiria, mas precisava arriscar.
Depois de enviar a mensagem, senti um misto de alívio e ansiedade.
Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos tumultuados que tomavam
minha mente. Sabia que ficaria inquieto pelas próximas horas, e eu
precisava estar preparado para enfrentar Emma e tudo o que viria quando
nos víssemos.
Capítulo
31
Meu coração parecia estar em uma montanha-russa, alternando entre
batimentos acelerados e um aperto sufocante. A mensagem de Brandon
piscava na tela do meu celular, como se estivesse me desafiando a
responder, a enfrentar tudo aquilo que eu vinha evitando.
Desde que Ester me deu o ultimato para contar a Brandon sobre
Brian, minha vida virou de cabeça para baixo. Eu estava em um limbo
constante, tentando equilibrar a necessidade de proteger meu filho com o
medo do que aconteceria se Brandon soubesse a verdade.
E agora, essa mensagem de Brandon só intensificava meus dilemas
internos. Será que ele já sabia? Será que Ester havia quebrado sua promessa
e contado a ele? Ou será que era apenas uma coincidência?
Respirei fundo, tentando acalmar os nervos que pareciam estar à flor
da pele. Eu sabia que não podia continuar evitando Brandon para sempre,
mas a ideia de enfrentá-lo me enchia de um medo que gelava meus ossos.
Decidi que precisava de um tempo para pensar, para organizar meus
pensamentos e decidir como proceder. Saí do quarto do hotel e fui para o
saguão, onde me sentei em uma das poltronas e encarei o vazio por um
tempo, perdida em meus próprios pensamentos.
A voz de Ester ondulava em minha mente. Ela tinha razão, eu sabia
disso. Mas a ideia de enfrentar Brandon e lidar com as consequências da
revelação me deixava paralisada de medo.
O peso da decisão que eu estava prestes a tomar parecia esmagador,
como se estivesse carregando o mundo inteiro nos ombros. Antony
apareceu e se sentou ao meu lado, brincando com Brian que estava em
meus braços.
— O que aconteceu, Emma? Você está com uma expressão tão
séria... — A preocupação na voz de Antony era palpável.
Eu engoli em seco, tentando reunir coragem para contar o que me
fez perder o sono nas últimas semanas.
— É a Ester... Ela está me pressionando para contar a verdade ao
Brandon. Sobre Brian. — Minha voz tremia ligeiramente enquanto eu
pronunciava as palavras que vinham pesando em minha mente.
Antony parou de brincar com Brian e colocou sua mão sobre a
minha, transmitindo conforto com seu toque.
— Emma, você sabe que não precisa fazer nada por pressão, não é?
Podemos ir embora, voltar para casa. — Sua sugestão era tentadora, mas eu
sabia que não era a solução.
— Eu sei... Mas não posso fugir disso. Não posso fugir da verdade.
E... E Brian... Ele merece crescer sabendo quem é seu pai. — As palavras
saíam com dificuldade, pesadas de emoção.
Antony assentiu, compreensivo, mas havia uma sombra em seus
olhos.
— E nós, Emma? Como fica o nosso relacionamento depois que
Brandon souber sobre Brian? Eu sei que ele não vai querer ficar longe do
filho, e eu... eu não sei se consigo competir com isso.
As palavras de Antony perfuraram meu coração, pois eu sabia que
ele estava certo. Brandon jamais aceitaria ficar longe de Brian depois de
saber da existência dele, e isso colocaria um fardo imenso em nosso
relacionamento.
Eu encarei Brian, observando-o brincar inocentemente em meus
braços. Ele era a prova viva do meu passado com Brandon, uma parte de
mim que eu jamais poderia negar. Mas também era um lembrete constante
das consequências de minhas escolhas, das feridas que causamos um no
outro.
— Eu não sei, Antony... Eu não sei o que vai acontecer — minha
voz falhou por toda a incerteza que ainda persistia em meu coração.
— Não quero te perder, mas sinto que a partir do momento em que
vocês voltarem a ter contato, é exatamente o que acontecerá.
Antony me abraçou, envolvendo-me em seu calor reconfortante.
— Eu não...
— Emma, conheço o seu coração, você nunca me enganou... não
posso ficar aqui e assistir enquanto a mulher que amo parte meu coração.
O coração de Antony batia contra o meu, transmitindo uma sensação
de segurança que eu tanto ansiava naquele momento de incerteza. Seus
braços ao redor de mim eram um refúgio contra as tempestades emocionais
que se agitavam dentro de mim.
— Antony... — minha voz saiu em um sussurro, interrompida pelo
nó que se formava em minha garganta. Ele me conhecia tão bem, talvez até
melhor do que eu mesma. Como eu poderia esconder meus verdadeiros
sentimentos dele?
Ele segurou meu rosto gentilmente entre suas mãos, obrigando-me a
encará-lo.
— Emma, eu sei que você está lutando com isso... com tudo isso. E
eu não posso simplesmente ficar aqui e assistir enquanto você sofre em
silêncio. — Sua expressão era uma mistura de tristeza e determinação.
Engoli em seco, incapaz de encontrar as palavras certas para
expressar a confusão que tomava conta de mim. Sentia como se estivesse
em um beco sem saída, incapaz de decidir qual caminho seguir.
— Antony, eu... eu não sei o que fazer. Não sei se posso... — minha
voz falhou, as lágrimas ameaçando transbordar.
Ele acariciou minha bochecha suavemente, afastando uma lágrima
solitária que escorria pelo meu rosto.
— Você não precisa ter todas as respostas agora, Emma. Eu entendo
que isso é difícil. Mas você precisa ser honesta consigo mesma, seguir o
que seu coração diz.
Eu me sentia dividida entre dois mundos, entre o amor que ainda
sentia por Brandon e a segurança que Antony me proporcionava. Mas no
fundo, eu sabia que não podia continuar adiando meu encontro com ele.
— Está terminando comigo? — perguntei, minha voz mal acima de
um sussurro.
Antony suspirou, seus olhos buscando os meus em uma intensa
troca de olhares.
— Eu preciso voltar para Harvard. Dar espaço para você fazer suas
próprias escolhas, Emma. Eu... Eu não posso mais ficar aqui e assistir o
nosso fim — sua confissão foi como um golpe no peito, dilacerando ainda
mais o meu coração já quebrado.
Eu sabia que Antony estava certo. Ele merecia mais do que eu podia
oferecer, mais do que tenho dado a ele durante todo o tempo em que
estivemos juntos. Mas a ideia de perdê-lo era dolorosa.
— Antony, por favor... — minha voz tremeu, implorando por uma
solução que parecia escapar entre meus dedos.
— Estarei sempre esperando você, Emma. Sempre. Mas agora, você
precisa encontrar seu próprio caminho. Eu... eu espero que seu caminho te
traga de volta para mim. — Seus olhos encontraram os meus em uma
despedida silenciosa antes de ele se levantar e seguir para o elevador,
deixando-me com um vazio que ameaçava consumir-me por inteira.
Eu me vi sozinha, cercada pela incerteza de um futuro
desconhecido. Mas uma coisa era certa: eu precisava encontrar coragem
para enfrentar a verdade, para falar com Brandon e revelar a ele a existência
de Brian. E, no meio de tudo isso, eu precisava encontrar uma maneira de
reconciliar meus sentimentos confusos e decidir qual era o caminho a
seguir.

A luz do sol invadiu o quarto quando finalmente tomei coragem


para encarar o dia que se estendia diante de mim. O celular parecia queimar
em minhas mãos enquanto eu o observava, perdida em pensamentos sobre o
que deveria fazer. As palavras certas pareciam fugir de mim.
Finalmente, respirei fundo e disquei o número que conhecia de cor.
Cada toque do telefone parecia aumentar minha ansiedade. E então, ele
atendeu.
— Alô? — Sua voz enviou um arrepio pela minha espinha,
despertando memórias enterradas e emoções que eu havia tentado manter
trancadas.
— Brandon... — minha voz saiu em um sussurro, mal audível até
mesmo para mim mesma. — Eu... Eu preciso falar com você.
Houve uma pausa do outro lado da linha, e eu pude sentir a tensão
pairando no ar.
— Emma? — Ele parecia surpreso, incrédulo até.
— Sim, sou eu. — Minha voz tremia um pouco, mas eu forcei-me a
manter a calma. — Eu... Eu gostaria de conversar.
— Claro, claro. Onde você quer se encontrar? Eu posso ir até você.
Senti um nó se formar em minha garganta enquanto eu tentava
encontrar as palavras certas. O hospital parecia ser o lugar mais apropriado,
onde eu poderia ter o apoio de minha família, caso precisasse.
— Você pode me encontrar no hospital. Eu estarei lá.
Ele concordou, sua voz soando um pouco menos firme do que o
habitual.
— Certo. Chegarei em breve.
Desligamos, e eu me vi encarando o telefone por mais alguns
momentos antes de finalmente me levantar.
Precisei ir até o hospital para poder deixar Brian com a minha mãe
antes de encontrá-lo.
Enquanto eu aguardava do lado de fora, o coração batia
descompassado, ansiedade e apreensão tomando conta de mim. Quando
finalmente vi o carro de Brandon se aproximando, meu estômago deu um
nó.
Brandon estacionou o carro e saiu, sua presença imponente
enchendo o espaço ao redor dele. Eu me aproximei com passos hesitantes,
sentindo-me como uma prisioneira prestes a enfrentar seu julgamento. Ele
me olhou intensamente, como se tentasse decifrar todos os segredos que eu
guardava dentro de mim.
— Emma... — sua voz era suave, mas carregada de emoção contida.
— Brandon... — murmurei, lutando para encontrar as palavras
certas.
Ele abriu a porta do carro para mim, seu gesto gentil contrastando
com a tensão que pairava entre nós. Entrei no carro, meu coração
martelando no peito enquanto Brandon assumia o volante. O silêncio entre
nós era ensurdecedor, cada segundo parecendo uma eternidade.
— Para onde estamos indo? — perguntei, minha voz um sussurro
que mal conseguia atravessar o espaço entre nós.
Brandon apenas olhou para frente, suas mãos firmemente segurando
o volante.
— Para um lugar onde possamos ficar à vontade e tranquilos — foi
tudo o que ele disse.
Eu sabia exatamente para onde estávamos indo, mesmo que ele não
tivesse dito em palavras. A cabana. O lugar onde compartilhamos tantos
momentos no passado, onde minha maior riqueza foi concebida.
O resto do caminho passou em um nevoeiro de pensamentos
tumultuados, minha mente uma confusão de medo e esperança. Quando
finalmente chegamos à cabana, meu coração estava batendo tão forte que eu
mal conseguia respirar. Ele desligou o carro e saiu, abrindo a porta para
mim mais uma vez.
Respirei fundo e desci, enfrentando o olhar penetrante de Brandon.
Entramos naquele nosso pequeno mundinho, dois corações batendo em
uníssono, mas cada um carregando o peso de seus próprios segredos e
arrependimentos. Estava certa de que aquele encontro poderia nos libertar
ou nos destruir.
Capítulo
32
Estar ao lado de Emma novamente, especialmente naquele nosso
lugar, era uma oportunidade que eu não podia deixar escapar. Eu queria que
ela se lembrasse dos momentos felizes que tivemos juntos, apesar de todas
as dificuldades que enfrentamos.
Enquanto nos aproximávamos da cabana, minhas mãos ficaram
tensas no volante, os pensamentos girando em minha mente. Eu me
perguntava se ela ainda se lembrava dos momentos que compartilhamos
aqui, das risadas, de toda a felicidade que ficaram registradas pelas paredes
de madeira.
Quando finalmente chegamos à cabana, a sensação de familiaridade
e nostalgia me envolveu. O cheiro da madeira, o som dos pássaros lá fora,
tudo parecia tão familiar e ao mesmo tempo tão diferente. Olhei para
Emma, vendo as mesmas emoções refletidas em seus olhos.
— Bem-vinda de volta à cabana — murmurei, quando estávamos na
pequena sala.
Ela sorriu timidamente, seus olhos encontrando os meus em um
momento de silêncio carregado de significado. Havia tanta coisa que queria
dizer a ela, tanto que queria expressar.
— Não precisava ser aqui... — disse ela em um sussurro.
Senti um nó se formar em minha garganta, a intensidade de tudo que
sentia quase me sufocando. Eu queria dizer a ela o quanto a amava, o
quanto sentia sua falta, mas as palavras pareciam inadequadas.
— Ainda se lembra? — murmurei.
Emma assentiu, seus olhos se desviando por um momento antes de
encontrar os meus novamente.
— Eu me lembro, Brandon. Eu me lembro de tudo — respondeu
depois de limpar a garganta.
Enquanto observava Emma, parada à minha frente na cabana, pude
ver a sombra da dúvida pairando sobre ela. Seus olhos expressavam toda a
sua apreensão, como se ela estivesse se preparando para uma guerra. Eu
sabia que havia machucado seu coração profundamente, mas eu precisava
contar a ela a verdade, precisava compartilhar um pedaço da minha história
que mantive enterrado por muito tempo.
— Por favor, sente-se — convidei, tentando manter minha voz
firme.
Ela obedeceu, seus olhos fixos em mim enquanto eu lutava para
encontrar as palavras para começar. Eu queria que ela entendesse, queria
que visse além da superfície e compreendesse o que fez com que
tomássemos caminhos tão diferentes.
— Brandon...
— Eu gostaria que você apenas me ouvisse, sem interrupções —
pedi, olhando-a nos olhos.
Emma assentiu, aguardando que eu começasse a falar.
Respirei fundo, tentando encontrar coragem para reviver memórias
que havia enterrado.
— Há muitos anos, em uma missão que me levou a uma cidade
remota, conheci Amber — comecei, minhas palavras saindo em um
sussurro rouco.
Emma inclinou-se para frente, seus olhos grudados em mim
enquanto ela absorvia cada palavra que eu dizia.
— Amber vivia em um lugar onde o tempo parecia ter parado, onde
as pessoas seguiam tradições antigas e antiquadas. Eu fui até lá em uma de
minhas missões e acabei me envolvendo com ela.
Um suspiro escapou dos meus lábios enquanto eu lutava para
encontrar a coragem para continuar.
— O pai de Amber... ele não era um homem bom. Ele a machucava,
a torturava, sempre que eu ia vê-la. Eu não sabia, não fazia ideia do inferno
que ela estava passando até que vi com meus próprios olhos.
As imagens daquela noite vieram à minha mente, vívidas e cruéis
como se tivessem acontecido ontem. Eu podia sentir o cheiro do sangue, o
som dos gritos ecoando pela casa...
— Eu cheguei de surpresa um dia e... e vi o que ele estava fazendo
com elas. Não pude suportar, Emma. Não pude ficar parado enquanto ele as
machucava.
Minha voz falhou, a dor daquele momento ainda fresca em minha
mente. Eu podia sentir a raiva borbulhando dentro de mim enquanto revivia
aquelas memórias.
— Eu matei aquele monstro. Matei para proteger as duas mulheres
que vinham sofrendo por minha culpa, para proteger Amber. — Suspirei
pesadamente. — O matei bem diante dos olhos delas e não pensei nem um
instante nas consequências.
O silêncio pairou entre nós, pesado. Não sabia como Emma reagiria,
não sabia se ela seria capaz de entender a profundidade de tudo que
aconteceu.
— Depois... depois daquilo, eu cuidei delas. Cuidei de Amber e de
sua mãe, assumi a responsabilidade de protegê-las, afinal de contas eu tinha
me livrado de quem colocava a comida na mesa. E quando pensei que você
havia seguido sua vida, eu... eu pedi Amber em casamento.
— Eu queria... queria que você soubesse, Emma. Queria que
entendesse o que me o motivo de eu não a ter deixado, o que me fez agir da
maneira como agi — inspirei. — Ela se tornou dependente de mim, não
poderia virar as costas depois de tudo. Eu não sou perfeito, Emma. Eu
cometi erros, erros terríveis, mas nunca deixei de te amar, nunca deixei de
pensar em você.
Ela me encarava, seus olhos cheios de lágrimas, e eu podia ver a dor
refletida neles. Sabia que cada palavra que eu dizia a machucava ainda
mais, mas precisava que ela entendesse, precisava que ela soubesse a
verdade.
— Como... como isso pode mudar alguma coisa, Brandon? — sua
voz tremia, carregada de emoção. — Tudo o que passamos, todo o tempo
que sofri esperando pelo momento em que finalmente estaríamos juntos...
como posso simplesmente esquecer tudo isso?
— Emma... — minha voz saiu num fio, carregada de toda a angústia
que eu estava sentindo. — Eu não espero que isso mude tudo, mas espero
que possa pelo menos fazer você entender... entender por que não consegui
lutar mais por nós.
Engoli em seco. Não esperava que fosse fácil, mas estava disposto a
fazer qualquer coisa para mostrar a ela o quanto ainda a amava.
— Sei que não posso apagar o passado, Emma. Magoei você, te
deixei sem explicações concretas, sem motivos. Mas preciso que saiba... eu
fui forçado a deixá-la, eu me sentia culpado por tudo o que aconteceu com
Amber, me sentia responsável por elas. Não podia simplesmente virar as
costas depois de tudo — minha voz falhou.
Vi as lágrimas nos olhos dela, o conflito estampado em seu rosto.
Ela queria acreditar em mim, eu podia ver isso, mas a dor do passado ainda
estava fresca demais em sua mente.
— Eu te amava, Brandon. Mais do que tudo no mundo. Eu esperei
por você, suportei a dor da sua ausência, acreditando que um dia estaríamos
juntos — ela murmurou com a voz embargada.
Aproximei-me dela, querendo desesperadamente poder enxugar suas
lágrimas, querendo poder consolá-la, mostrar a ela que eu ainda estava aqui,
que nunca a esqueci.
— Eu sei, Emma. Eu sei o quanto te machuquei, o quanto te
decepcionei. Mas eu prometo a você, farei o que for preciso para
reconquistar sua confiança, para te fazer acreditar em nós novamente —
minha voz saiu firme, apesar da incerteza que ainda pairava no ar.
Ela olhou para mim, seus olhos buscando respostas. Mas só o tempo
diria se poderíamos realmente encontrar nosso caminho de volta um para o
outro.
— Não é a minha intensão te pressionar, mas senti tanto a sua falta
— minha voz saiu com dificuldade. — Mas... eu preciso saber... você ainda
me ama?
Seu olhar encontrou com o meu, cheio de conflito, cheio de dor e
desejo. Ela hesitou por um momento, como se estivesse tentando encontrar
as palavras certas, como se estivesse lutando contra seus próprios
sentimentos.
— Brandon, eu... eu tenho o Antony. Eu não posso simplesmente
mudar minha vida inteira apenas porque você acha que pode chegar e dizer
que me ama — sua voz tremia, carregada de incerteza, mas eu podia ver o
fogo faiscando em seus olhos.
Aproximei-me dela lentamente, acariciando seu rosto, sentindo a
atmosfera mudar ao nosso redor. Meu coração batia descompassado no
peito, cada célula do meu corpo queimando de desejo por ela.
— Emma... — murmurei, minha voz rouca com emoção. — Eu
preciso saber... você não me ama mais?
Ela vacilou por um momento, sua respiração acelerando, seu corpo
tremendo sob o meu toque suave. Eu podia sentir o calor emanando dela, o
desejo queimando como uma chama entre nós.
— Brandon, por favor... não faça isso — ela sussurrou, seus lábios
roçando nos meus, sua voz carregada de súplica e desejo reprimido.
Eu ignorei suas palavras, incapaz de resistir à atração que nos
consumia. Minhas mãos deslizaram delicadamente por seu pescoço,
acariciando sua pele macia com reverência. Eu podia sentir seu corpo se
rendendo ao meu toque, suas mãos agarrando-se desesperadamente em
minha camisa.
— Emma... — murmurei, minha voz rouca de desejo, meus lábios
roçando nos dela. — Eu ainda te amo. Mais do que tudo no mundo.
E então não havia mais palavras, só nós dois, perdidos na
intensidade do momento, consumidos pelo fogo que nos queimava.
Nossos lábios se encontraram em um beijo fervoroso, ansioso,
repleto de saudade após uma eternidade de separação. Eu a puxei para mais
perto, desesperado para sentir sua pele contra a minha, para provar que ela
ainda me pertencia, que éramos feitos um para o outro.
O beijo era feroz, quase agressivo, uma batalha de vontades e
desejos. Minhas mãos percorreram seu corpo, explorando cada curva, cada
centímetro de sua pele macia e quente. Eu a segurei com firmeza, como se
temesse que ela pudesse escapar a qualquer momento, porque eu sabia que
precisava dela para sobreviver.
Sua língua encontrou a minha, dançando em um ritmo frenético.
Cada movimento carregado de urgência, de uma necessidade avassaladora
de nos fundirmos em um só.
Eu a beijava como se não houvesse amanhã, como se cada momento
fosse o último, tentando gravar na memória a sensação.
Ela correspondeu ao meu beijo com a mesma intensidade,
entregando-se completamente ao momento, ao furacão de sentimentos que
nos consumia. Seus lábios eram doces e ardentes ao mesmo tempo.
— Eu preciso de você, Emma.
Capítulo
33
A urgência queimava em minhas veias enquanto minhas mãos
buscavam desesperadamente o calor da pele dela, ansiosas para explorar
cada centímetro dela. Eu a desejava com uma intensidade avassaladora,
como se não houvesse amanhã, como se cada toque fosse uma promessa de
eternidade.
Com mãos trêmulas, comecei a despir Emma, sentindo-me um
adolescente novamente. Cada peça de roupa que caía ao chão revelava mais
da sua beleza, mais da sua essência, deixando-a completamente exposta aos
meus olhos famintos.
— Brandon, meu corpo... não é como antes. As mudanças... eu não
sei se...
Ela tentou cobrir-se, suas mãos buscando esconder as marcas que a
maternidade deixara em seu corpo. Afastei suas mãos suavemente,
segurando-as com firmeza enquanto olhava diretamente em seus olhos.
— Nunca esconda a sua nudez dos meus olhos, Emma. Você é
perfeita. Cada curva do seu corpo é uma obra-prima, você é minha tentação,
minha perdição e salvação.
Eu a veneraria, a adoraria como a deusa encarnada que ela era. E
então, mergulhei em seu corpo como se estivesse explorando um território
sagrado, beijando cada pedaço de pele exposta com reverência e devoção.
— Eu...
— Não há necessidade de palavras, Emma. Deixe-me mostrar a
você o quanto é amada, o quanto é desejada, o quanto me enlouquece.
Ela gemeu sob os meus lábios, um som que ecoou em minha alma
como uma melodia celestial. Eu quase enlouqueci com aquele som, com a
sensação de tê-la tão perto, tão entregue a mim.
Senti-me embriagado pelo aroma de sua pele, pelo sabor de seus
lábios, perdido em um êxtase que só ela podia me proporcionar. Éramos
dois corpos em chamas.
O calor dos nossos corpos se misturava em uma dança frenética de
desejo e luxúria. A visão de Emma diante de mim era hipnotizante, sua pele
suave iluminada pela luz que se infiltrava pelas cortinas. Eu ansiava por
sentir cada parte dela, por explorar seus limites e levá-la ao êxtase.
Sem mais hesitação, posicionei-me entre suas pernas, louco para
tocá-la, para saboreá-la. Meu desejo por ela era insaciável, uma fome que só
poderia ser saciada por sua presença.
Afundei-me entre suas coxas, chupando sua boceta como se
precisasse disso para viver — o que acredito que realmente preciso —
explorando cada centímetro dela como se fosse a primeira vez. Ela gemeu
alto, seus dedos apertando a borda do sofá enquanto eu a provocava.
Senti o calor do seu corpo aumentar sob minha língua, seu aroma
doce e intoxicante preenchendo minhas narinas. Tracei círculos delicados
ao redor de seu clitóris inchado e sensível. Cada movimento era calculado
para provocá-la, para despertar seus sentidos e levá-la à beira do prazer.
Suas mãos encontraram o caminho até meus cabelos, segurando-me
com firmeza enquanto eu a levava cada vez mais perto do precipício. Seus
gemidos ecoavam pela cabana, uma sinfonia de prazer que só aumentava
meu tesão.
— Brandon... — suspirou, cada vez mais perdida, mais entregue.
Deslizei minha língua ao longo de sua fenda úmida, sentindo seu
sabor doce e intoxicante me envolver. Brinquei com sua entrada,
mergulhando profundamente em seu calor enquanto ela arqueava os
quadris, implorando por mais.
Meus lábios se fecharam ao redor de seu clitóris inchado, sugando-o
suavemente enquanto minha língua dançava sobre ele em um ritmo
frenético.
Com cada movimento, eu a provocava, levando-a ao limite. Seu
corpo se contorcia sob mim, seu desejo evidente em cada toque e suspiro.
Eu a devorava com paixão, meu único objetivo sendo levá-la às alturas do
prazer.
E então, quando senti seu corpo se contrair sob minha língua, soube
que ela estava prestes a ter um orgasmo. Aumentei a intensidade de meus
movimentos, levando-a cada vez mais perto do orgasmo.
— Goza para mim, Emma! — Minha ordem foi o estopim para seu
corpo começar a tremer.
E então, finalmente, ela chegou ao clímax, um gemido de êxtase
escapando de seus lábios enquanto eu a envolvia em um abraço de prazer
intenso. Seu corpo convulsionava sob o domínio do prazer que ecoava
através de mim como música.
Não dei a ela tempo para se recuperar, peguei o preservativo no
bolso da calça, desenrolei no meu pau e deslizei para dentro dela,
preenchendo-a lentamente. Seu corpo rígido sob o meu, suas mãos
agarrando meus ombros com uma intensidade que combinava com a minha
própria.
Cada centímetro de seu calor envolvendo meu membro, cada
gemido abafado que escapava de seus lábios, era uma prova irrefutável de
que ela me pertencia tanto quanto eu a pertencia. Era como se todo o
universo estivesse se alinhando naquele momento. Meu corpo todo vibrava
com a sensação de tê-la novamente, de sentir sua boceta me envolvendo.
Cada célula do meu corpo estava vibrando por estar dentro dela outra vez.
— Você é meu inferno e meu paraíso, Emma — sussurrei, meu
maxilar travado de puro prazer enquanto começava a me mover dentro dela.
— Estar dentro de você é como estar em casa, é onde eu pertenço.
Inicialmente me movi lentamente, saboreando cada centímetro de
seu calor, cada gemido que escapava de seus lábios enquanto eu a possuía.
Mas logo a necessidade se tornou insuportável, e aumentei o ritmo das
estocadas, incapaz de me conter diante do fogo que queimava entre nós.
Cada estocada despertava um frenesi de prazer, um êxtase
enlouquecedor. Eu não podia me conter, não podia segurar o desejo que me
impelia a me mover cada vez mais rápido, cada vez mais fundo dentro dela.
Seus olhos se fecharam enquanto ela se perdia completamente no
prazer.
— Abra os olhos, Emma — ordenei com voz rouca, querendo estar
olhando nos olhos dela, ver cada nuance de luxúria que passava por eles. —
Quero ver o prazer refletido neles enquanto meto até o fundo de você.
Ela obedeceu, seus olhos encontrando os meus em um olhar cheio
de desejo e paixão. Era como se estivéssemos nos comunicando apenas com
os olhos, nossas almas se conectando em um nível profundo e primal
enquanto nos entregávamos ao prazer avassalador que nos consumia.
Eu me movia dentro dela com uma fome voraz, buscando saciar o
tesão que queimava dentro de mim como uma chama inextinguível.
E então, quando finalmente chegamos juntos ao clímax, foi como se
o mundo inteiro desaparecesse ao nosso redor. Nosso prazer se fundiu em
uma explosão de sensações, uma cascata de êxtase que nos deixou sem
fôlego e sem palavras.
Eu a segurei com firmeza enquanto caíamos juntos no abismo do
prazer, nossos corpos se unindo em uma dança frenética de paixão e
luxúria. E quando finalmente nos recuperamos, era como se o mundo
inteiro tivesse sido transformado pela intensidade do que aconteceu.
Sem dar a ela a chance de recuperar o fôlego, eu a virei com
urgência, posicionando-a de quatro no sofá. A visão de sua pele nua e suas
curvas tentadoras à minha frente só aumentava minha ânsia por ela. Sem
hesitar, me afundei nela novamente, sentindo-a se contorcer sob meu toque,
seus gemidos preenchendo o ar.
Puxei seus cabelos, obrigando Emma se empinar para mim,
oferecendo-se totalmente, arqueando-se ainda mais para me receber. Soquei
seu interior feito um lunático.
Seus gritos descontrolados preenchiam o ar, chamando meu nome
como uma prece enquanto eu a penetrava com uma voracidade insaciável.
Estapeei sua bunda, vendo a marca vermelha de meus dedos pintar sua pele
imaculada.
Queria que esse momento durasse pela eternidade, uma fuga infinita
dos limites da realidade para um mundo de pura luxúria. Eu a sentia se
contorcendo sob mim, seu corpo respondendo ao meu em uma dança
enlouquecedora de prazer e desejo. Nossos gemidos se misturavam em uma
sinfonia de êxtase enquanto nos entregávamos um ao outro, completamente
envolvidos na intensidade de nosso amor.
Eu a amava mais do que nunca naquele momento, mais do que
palavras poderiam expressar. Estava completamente perdido nela,
consumido por ela, e nunca quis que aquele momento acabasse.
Nós nos entregamos um ao outro até gozarmos juntos novamente,
nossos corpos se unindo em uma explosão. E naquele momento, enquanto
estávamos entrelaçados, eu soube que nunca poderia me afastar dela
novamente.
Segurei Emma com ternura, trazendo-a para meus braços enquanto
nossas respirações se acalmavam. Senti uma mistura de emoções inundar
meu peito quando nossos lábios se encontraram em um beijo suave, cheio
de promessas.
— Eu te amo, Emma — sussurrei, deixando as palavras escaparem
de meus lábios.
— Eu também te amo, Brandon.
Aquelas palavras, tão simples e tão poderosas, tocaram meu coração
de uma maneira que eu nunca poderia ter imaginado. Ela me amava, apesar
de tudo, apesar de toda a merda que eu a fiz passar. Era como se um fardo
tivesse sido retirado de meus ombros, deixando apenas a sensação de alívio.
Eu a beijei com uma intensidade renovada, deixando que todo o
amor e desejo que sentia por ela transbordassem. Ela era minha redenção,
minha salvação.
— Eu sou um filho da puta de sorte por ter você — murmurei entre
os beijos, minha voz rouca.
Ela sorriu contra meus lábios, seus olhos brilhando com uma ternura
que fez meu coração acelerar. Nós estávamos juntos novamente, unidos
pelo amor que compartilhávamos, e nada poderia nos separar. Eu estava
determinado a fazer tudo em meu poder para torná-la feliz, para compensar
cada momento de dor que causei a ela no passado.
Envolvi-a em meus braços, segurando-a com força como se ela
fosse minha âncora neste mundo tumultuado. Enquanto estávamos juntos,
perdidos em nosso próprio pequeno universo de amor e paixão, eu soube
que nunca mais deixaria que nada nos separasse novamente. Emma era
minha, e eu era dela, para sempre.
Ela era minha perdição e minha salvação, meu inferno e meu
paraíso, e eu nunca a deixaria escapar novamente.
Capítulo
34
— O que aconteceu com Amber? — perguntei deitada no peito dele
depois de tomarmos banho. — Não quero voltar a situação que estávamos
antes.
— Um amigo estava de serviço na cidade para onde mandei Amber
e acabou esbarrando com ela me traindo. Me divorciei assim que consegui
voltar.
Senti meu coração bater mais forte enquanto Brandon me contava
sobre Amber. Era difícil processar tantas emoções conflitantes: alívio por
saber que ele estava disponível novamente, medo de ser magoada outra vez
e esperança por um futuro juntos.
— Mas por que você não me procurou? — questionei.
Brandon suspirou, parecendo pesaroso.
— Foi uma época tumultuada, Emma. Entre missões e
responsabilidades, não consegui voltar para casa antes de agora. — Ele
falava com sinceridade, mas ainda assim a incerteza pairava no ar. — Pedi a
dispensa, voltei para ficar.
— O que?
Eu me sentia atordoada com a revelação. Tantas perguntas
inundavam minha mente, mas uma em particular ecoava mais alto: será que
ele voltou por mim? Brandon parecia genuinamente arrependido, mas havia
uma cautela em seus olhos que me deixava hesitante.
— Você está falando sério? — perguntei, buscando confirmar suas
palavras.
Ele assentiu com seriedade.
— Estou, Emma. Estou aqui e não tenho planos de partir novamente
tão cedo. Mas o presidente pode nos chamar se algo urgente acontecer.
Uma faísca de esperança brilhou em meu peito, mas eu sabia que
precisava ser cautelosa. Tantas vezes antes eu me entreguei completamente
a ele, apenas para ser deixada de lado. Eu não seria magoada novamente.
— Brandon, eu... Eu preciso que as coisas sejam mais devagar —
murmurei, lutando para encontrar as palavras certas. — Tenho medo de me
machucar de novo.
Ele pareceu entender minha hesitação, sua expressão suavizando
com compreensão.
— Eu entendo, Emma. Não quero te pressionar. Vamos seguir no
seu ritmo, está bem? — Ele tentou me tranquilizar, mas ainda havia uma
ansiedade latente em seus olhos.
Assenti lentamente, sentindo um misto de alívio e apreensão.
Estávamos dando um passo em direção a algo novo, mas ainda havia tanto a
ser resolvido entre nós. Eu precisava aprender a confiar nele novamente, a
acreditar que desta vez seria diferente.
Brandon me envolveu em um abraço reconfortante, e por um
momento eu me permiti afundar em seu calor, buscando conforto em seus
braços. Mas a voz da razão sussurrava em minha mente, lembrando-me de
ser cautelosa, de proteger meu coração
Nós tínhamos um longo caminho pela frente, e era completamente
incerto. Mas, por enquanto, eu estava disposta a dar uma chance. Só
esperava que, desta vez, as estrelas estivessem finalmente alinhadas a nosso
favor.
A ideia de falar sobre Brian ainda me assombrava. Eu me sentia
dividida entre a necessidade de compartilhar essa parte importante da nossa
vida com Brandon, mas estava com medo das consequências. Afinal, tudo
estava acontecendo tão rápido, e eu não sabia ao certo o que esperar.
Eu precisava de mais tempo para processar tudo, para entender
minhas próprias emoções antes de compartilhá-las com Brandon. Afinal, ele
tinha o direito de saber, mas eu também tinha o direito de decidir quando e
como contar.
Brandon estava ali, na minha frente, com aquele par de safiras
intensos que sempre souberam como me desarmar.
— O que quer de tudo isso, Brandon? Por que insistir em nós
novamente?
— Se fosse fazer o que eu quero, estaríamos saindo por aquela porta
agora para nos casarmos. Emma, eu faria qualquer coisa para estar com
você. A amarraria ao meu lado e te levaria até o altar se fosse preciso.
Quero que você saiba que estou disposto a lutar por nós.
Não consegui conter o riso.
— Creio que o padre não aceitaria bem o fato de eu estar amarrada.
— Eu daria um jeito, acredite.
— Brandon, preciso falar com Antony. Vou ir até ele assim que meu
pai sair do hospital — expliquei, vendo a expressão de ira e tristeza nos
olhos dele.
Ele se levantou abruptamente, a simples menção do nome de
Antony o irritou profundamente.
— Mande uma mensagem para ele. Eu posso arrumar tudo do
divórcio para você — Brandon disse, com uma nota de amargura em sua
voz.
Abri a boca e fechei várias vezes antes de decidir o que dizer.
— Brandon, eu não sou casada. Eu só... Eu disse aquilo para tentar
fazer com que você me deixasse em paz. Antony e eu apenas moramos
juntos.
A resposta pareceu deixá-lo ainda mais irritado.
— Isso facilita ainda mais. Eu não gosto da ideia de você se
aproximar dele — ele disse, com uma dureza em sua voz que me fez
estremecer.
Ali estava ele novamente, o fuzileiro tóxico por quem me apaixonei
anos atrás. Mas dessa vez ele não vai ditar as regras aqui. As coisas serão
do meu jeito.
— Brandon, eu entendo suas preocupações. Mas Antony é
importante para mim. Ele esteve ao meu lado nos piores momentos que
enfrentei, e nos melhores também. Eu preciso conversar com ele —
expliquei, tentando manter a calma e não explodir.
Ele parecia cada vez mais tenso.
— Você precisa mesmo falar com ele? — Brandon perguntou, já não
existia mais aquele carinho, estava no modo mandão e intolerante de
sempre.
Senti um nó se formar em minha garganta, sabendo que essa
conversa não seria fácil.
— Sim, Brandon. Antony e eu temos uma ligação. Eu preciso
esclarecer algumas coisas com ele — respondi, tentando manter a calma.
Ele respirou fundo, parecendo se esforçar para controlar sua
irritação.
— Ah, uma ligação... é claro. Isso é muito tranquilizador. E por que
exatamente você precisa ir até lá? Posso ir com você? — sua voz soou
áspera.
Meus olhos se estreitaram em resposta ao tom desafiador dele.
— Porque ele esteve ao meu lado nos momentos em que você não
estava. Ele me apoiou, me confortou... Ele foi meu amigo, Brandon. E eu
não posso simplesmente ignorá-lo agora.
O ar ficou denso, como se estivéssemos em lados opostos de uma
batalha que nenhum de nós queria travar.
— Ele esteve ao seu lado nos momentos em que eu não estava? —
Brandon repetiu minhas palavras, seu tom carregado de incredulidade. — E
o que exatamente aconteceu nos momentos em que eu não estava?
Senti o calor subir ao meu rosto enquanto Brandon me encarava,
seus olhos buscando os meus em busca de respostas que eu não sabia como
dar.
— Brandon, não seja um babaca! Estávamos juntos, moramos
juntos, não posso simplesmente deixar tudo para trás como se não existisse!
— se ele queria começar com briga, não seria eu a recuar.
— Não ser um babaca? — Ele cuspiu as palavras, sua voz carregada
de desconfiança. — Você acha que ele é idiota, Emma? Que não vai tentar
voltar para o meio das suas pernas na primeira oportunidade?
A raiva borbulhava dentro de mim enquanto eu lutava para manter o
controle da situação.
— Você não o conhece, Brandon. Não julgue Antony baseado no
seu próprio caráter! — minha voz elevou-se involuntariamente, minha
frustração transbordando.
Ele avançou em minha direção, seus olhos faiscando com uma
intensidade que me deixou arrepiada.
— Posso não o conhecer, mas acha mesmo que ele vai aceitar te
perder, Emma? — sua voz era um rosnado baixo, sua presença dominante
preenchendo o espaço entre nós.
Respirei fundo, tentando controlar minha própria raiva antes de
responder.
— Estamos começando maravilhosamente bem, não consegue
deixar de ser tão louco e tóxico? — Minhas palavras saíram em um sussurro
rouco, minha voz embargada pela frustração.
Ele pareceu ponderar minhas palavras por um momento antes de
responder, sua expressão suavizando ligeiramente.
— Não consigo quando se trata de você — inspirou com força. —
Eu não quero você perto dele, Emma. — Sua voz era mais suave agora, mas
ainda havia uma nota de firmeza em suas palavras.
Eu me senti desafiada por sua exigência, minha própria teimosia se
inflamando em resposta.
— E quem você pensa que é para me dizer com quem eu posso ou
não falar? — minha voz soou mais alta do que eu pretendia, mas eu não
podia recuar agora.
Brandon se aproximou ainda mais, seus olhos fixos nos meus com
uma intensidade que me fez estremecer.
— Eu sou o louco e tóxico que te ama, Emma. Também sou das
forças especiais, alguém que não pensa antes de matar. Alguém que caçaria
aquele desgraçado se sequer sonhasse em te tocar novamente. — Sua voz
era um sussurro rouco que me causou um frio na espinha.
Eu queria resistir, queria lutar contra suas exigências, mas uma parte
de mim ficou temerosa por Antony. Ele sempre esteve lá por mim, mesmo
quando eu não merecia.
— Não o ameace! — Rosnei. — Eu preciso fazer o que é certo, e
você não vai me impedir, se não for nos meus termos, Brandon, nós
paramos por aqui — consegui falar com mais firmeza do que achei que
pudesse.
Brandon encarou-me com uma expressão séria, seus olhos azuis
faiscando com uma mistura de determinação e preocupação. Sua mandíbula
estava tensa, as linhas de seu rosto esculpidas em uma expressão firme.
— Okay — ergueu os braços. — Mas não pense por um segundo,
Emma, que eu vou permitir que esse cara se aproveite da situação. Se ele
tentar qualquer gracinha, eu vou acabar com ele — sua voz era firme,
carregada de uma promessa sombria.
Senti meu sangue congelar ao ver a intensidade em seu olhar.
— Brandon, eu... — Comecei, mas ele me interrompeu com um
aceno de cabeça.
— Não precisa dizer nada, Emma. Você não vai mudar de ideia.
Mas eu também espero que entenda que não vou simplesmente ficar de
braços cruzados se ele fizer qualquer coisa. — Seu tom era grave, mas
havia uma suavidade subjacente.
Assenti lentamente.
— Não se preocupe, nada vai acontecer.
Ele olhou para mim por um momento, seus olhos azuis buscando os
meus com uma intensidade que me fez tremer.
— Só prometa-me uma coisa: seja cuidadosa — finalmente estava
mais calmo.
Eu sorri fracamente, sentindo que essa não seria a última discussão,
as coisas seriam ainda piores quando ele soubesse que Brian é filho dele.
Capítulo
35
Estava sentado em meu quarto, absorto em alguns documentos da
empresa, que desde que cheguei meus pais tem atribui responsabilidades a
mim, quando Ester entrou, interrompendo meus pensamentos.
— Nossos pais estão indo — levantei os olhos dos papéis, um tanto
surpreso com a informação.
— Já? — indaguei, enquanto organizava os documentos sobre a
mesa.
Ester assentiu, um leve sorriso nos lábios.
— Sim, eles estão parecendo adolescentes desde que você chegou,
não param mais em casa. Disseram que voltam em breve.
Concordei com a cabeça, mas ainda me sentia um tanto
sobrecarregado com a responsabilidade que recaía sobre mim e Ester na
gestão da empresa.
— Eles deixaram alguma instrução específica? — perguntei,
preocupado com o que teríamos que lidar durante a ausência deles.
Ester balançou a cabeça tranquilamente.
— Não muita coisa. Apenas disseram para continuarmos a cuidar
das coisas como já estamos fazendo.
Fui até a cozinha e me despedi dos meus pais, depois fiquei na sala
com Ester, para assistirmos ao filme que eu havia escolhido. No entanto,
antes mesmo dos créditos começarem a rolar, ela começou a falar.
— Então, como as coisas estão indo com a Emma? — ela
perguntou, seu olhar curioso fixado em mim.
Suspirei, ponderando sobre como responder. Emma e eu estávamos
tentando acertar as coisas, mas estava cautelosa, hesitante em mergulhar de
cabeça novamente.
— Estamos tentando — respondi, escolhendo minhas palavras com
cuidado. — Mas se for mais devagar do que já está indo, acho que paramos.
Ester sorriu.
— Você tem que respeitar o tempo dela, Brandon. Emma sempre foi
completamente apaixonada por você — a afirmação me deu um pouquinho
de esperança.
Havia uma verdade inegável nelas, uma verdade que eu sempre
soube, mas às vezes era difícil de acreditar.
— Eu sei, mas é difícil, sabe? — admiti.
Ester assentiu, colocando uma mão reconfortante em meu braço.
— Eu sei, Brandon. Mas vocês dois precisam confiar um no outro e,
acima de tudo, serem honestos sobre o que querem e o que precisam. — Ela
me olhou nos olhos. — Não deixem o medo ou o orgulho atrapalharem o
que vocês têm.
Ester sempre teve um jeito de me fazer enxergar as coisas de uma
maneira diferente, de me confortar quando eu mais precisava.
— Obrigado, as vezes você parece bem mais velha do que eu.
Sempre sabe o que dizer — murmurei.
Ela sorriu, inclinando-se para um abraço rápido antes de voltarmos
nossa atenção para a tela da TV.
O filme estava quase no fim quando meu celular tocou, quebrando o
silêncio da noite. Olhei para o visor e vi o nome de Sean piscando na tela.
— Sean, tudo bem? — cumprimentei.
Do outro lado da linha, Sean parecia tenso, suas palavras saindo
rapidamente.
— Eu preciso que você encontre alguém na rota da ilha para nos
buscar. Eu queria ficar aqui mais um pouco, mas o tiro pode acabar saindo
pela culatra... não posso mais mantê-la aqui — sua voz estava urgente.
— Eu sabia que isso ia acabar dando merda! Por que não usa o
barco para sair?
— Porque Margot pensa que fomos sequestrados. Ela não pode
saber sobre o barco — ele explicou, calculista. — Acha que não teria ido
se não fosse por esse motivo?
— Você é um belo babaca, sabia?
— Eu sei, eu sei. Mas você não a conhece, eu a conheço. Se ela
descobrir, ela vai surtar. Preciso fazer isso do meu jeito — ele estava
mesmo desesperado.
— Você vai acabar se complicando ainda mais.
— Só faz as coisas do meu jeito e para de me questionar, porra!
— Eu deveria deixar você se foder só para deixar de ser otário, mas
como bom irmão que sou, vou dar um jeito.
Ele encerrou a chamada, mas algo me dizia que ele ainda precisaria
de mim — e eu estava certo — na manhã seguinte tive que ir até lá para
buscá-los e Margot não estava nada bem.

Enquanto estava parado ao lado do carro esperando por eles, recebi


uma mensagem de Emma.
“Estou indo falar com Antony, fui até a sua casa, mas Ester disse
que você teve algo urgente. Nos falamos mais tarde.”
PORRA!
— Bom te conhecer de verdade, Margot — sorri sem humor. — Sou
Brandon, o irmão desse idiota! Desculpe pela atitude de merda do meu
amigo. Ele pode ser um completo imbecil às vezes.
— Tudo bem. Obrigada por nos buscar.
A voz dela soou trêmula e quase inaudível, estava claramente
desconfortável. Estendi a mão para ajudá-la a entrar no carro.
— Vamos, entre. Vou levá-la para onde precisar. — Sabia que isso
irritaria Sean.
Ela olhou para Sean esperando confirmação, desconfiada de mim!
Só pode ser maluca, foi ele quem a sequestrou.
Sean estava tenso, os olhos fixos em mim, um aviso claro.
— Eu... — ela começou, mas Sean a interrompeu.
— Seja qual for a merda que está passando, a culpa não é minha! —
me alertou com raiva. — Trate de tirar as mãos dela.
— Como não? Deixei tudo para vir salvar a sua bunda... ao menos
seja grato, otário! — Respondi furioso.
Sabia que minha raiva não era culpa dele, estava assim depois de
saber que Emma estava com aquele idiota.
A raiva fervia dentro de mim, saber que Emma estava com Antony,
o homem que apenas por ter estado com ela, tornou-se quem eu mais odiava
no mundo. Senti como se ela tivesse me abandonado.
Meus punhos se cerraram com tanta força que minhas unhas
começaram a cravar em minhas palmas.
Levei Margot e Sean até Denver, que foi para onde meu irmão pediu
que os levasse.

Cheguei em casa de péssimo humor. Os dois dias haviam sido


exaustivos, e a ausência de Emma ao meu lado tornava tudo ainda mais
difícil de suportar. Ester estava na sala quando entrei, ocupada com alguns
papéis da empresa dos nossos pais.
— Oi, Brandon. Como foi o com seu amigo? — ela perguntou,
levantando os olhos dos documentos quando me viu entrar.
Deixei minha mochila cair no chão com um baque, a frustração
transparecendo em meu rosto.
— Cansativo. E o seu? — respondi, tentando manter a voz calma,
mas sem sucesso.
Ester suspirou, parecendo entender a minha irritação.
— Sem você aqui fiquei com medo de cometer algum deslize — ela
explicou, parecendo um pouco cansada e sobrecarregada.
Revirei os olhos, sentindo-me ainda mais frustrado com a ideia de
ter que lidar com mais responsabilidades enquanto tudo o que eu queria era
que Emma voltasse.
— Ótimo. Mais uma coisa para me preocupar — resmunguei,
deixando claro o meu incômodo.
Ester levantou uma sobrancelha, claramente notando a minha
irritação.
— Brandon, você precisa relaxar um pouco. Tudo vai dar certo.
Emma passou aqui, antes de ir... Ela disse que precisava resolver algumas
coisas com Antony e a faculdade — ela acrescentou, tentando me acalmar.
Eu bufei, incapaz de conter a frustração que estava sentindo.
Ester olhou para mim entendendo por que de eu estar irritado, mas
não disse nada. Sabia o quanto aquela situação estava me afetando, e que
não podia fazer nada para mudar isso.
Falei com Emma constantemente nas semanas que se seguiram, mas
não era o suficiente para aliviar um pouco a saudade que me consumia dia
após dia.
— Oi, Brandon. Como você está? — a voz dela soou do outro lado
da linha, suave e familiar, mas carregada com uma tensão que não
conseguia ignorar.
— Eu... Estou bem. Só... Sinto sua falta, Emma — minha voz soou
mais fraca do que eu pretendia, revelando mais do que gostaria sobre o
quão perdido eu me sentia sem ela ao meu lado.
— Eu também sinto sua falta, mas precisamos conversar sobre isso
— ela disse, e eu pude ouvir a hesitação em suas palavras.
Um nó se formou em minha garganta, a ansiedade me sufocando
enquanto esperava o que viria.
— Eu sei que tenho dado desculpas com frequência, mas... Eu
realmente não posso voltar agora. As coisas ainda estão complicadas aqui
com a faculdade, e... — ela fez uma pausa, como se buscasse as palavras
certas. — Eu preciso de mais tempo.
Travei o maxilar de uma maneira que tenho quase certeza que ela
pôde ouvir. Eu queria gritar com ela, mandar que voltasse, mas sabia que
não podia pressioná-la.
— Emma... — minha voz soou mais firme agora, tentando
transmitir toda a confiança que eu sentia, mesmo que por dentro estivesse
desmoronando.
— Me desculpa, Brandon. Eu quero voltar, mas a faculdade é
importante para mim, não consegui a transferência ainda, preciso fazer as
provas. Eu preciso resolver as coisas primeiro. Você entende, não é? — sua
voz estava cheia de apreensão, como se estivesse buscando por minha
aprovação.
Eu queria dizer que entendia, queria dizer que iria esperar o tempo
que fosse necessário, mas a verdade era que eu estava lutando para lidar
com essa situação. Eu sentia como se estivesse em um limbo.
— Queria ser capaz de dizer que sim, mas sinto que você está se
afastando cada vez mais. E eu não sei se consigo lidar com isso por muito
mais tempo — admiti. — Você... você voltou para ele?
— Não! Está louco? Antony entendeu... eu nunca escondi dele —
suspirou— Brandon, sei que isso é difícil, principalmente porque nós
estamos tentando nos acertar. Mas por favor, me dê mais um tempo. Eu
prometo que vou resolver tudo o mais rápido possível, só... preciso de mais
tempo — ela também parecia angustiada.
— Tudo bem, Emma. Vou tentar ser paciente. Mas por favor, não
demore muito. — Ela nem imagina quantas vezes eu quase a rastreei para ir
atrás dela, Ester foi quem me barrou.
— Obrigada. Sua confiança é muito importante para mim.
Capítulo
36
Receber aquele celular não rastreável foi como uma descarga de
adrenalina percorrendo meu corpo. Era uma nova missão, eles nos queriam
de volta. Estava com a cabeça um caos, e uma missão exigiria toda a minha
atenção e habilidades. Enquanto segurava o dispositivo em minhas mãos,
minha mente se acelerava, antecipando o que estava por vir.
Eles me deram a opção de resolver aquilo sozinho, fazer uma nova
equipe, estavam de olho e sabiam que Connor e Sean estavam passando por
alguns momentos complicados, mas não entendiam que eu também estava,
afinal Emma mal conseguiu ficar comigo.
Liguei para Sean, queria saber o que pensariam disso, não ia
esconder dos meus irmãos.
— Oi, Brandon. O que foi? — Direto como sempre.
Fiquei em silencio por alguns momentos, ainda pensando se deveria
ou não falar, tanto ele quanto Connor precisavam de mais tempo, mas eu
também.
— Sean, eles nos querem de volta — suspirei profundamente. —
Houve uma situação atípica, e eles nos convocaram para uma missão de
emergência. Eu faria sozinho...
— Somos uma equipe, irmão. Você não vai sozinho a lugar algum.
Sei que ele está tão apreensivo quanto eu nesse momento, mas é um
alívio para mim saber que eles estariam ao meu lado. Não houve uma
missão sequer nos últimos dez anos de serviço em que eles não estivessem
comigo.
— Eu sei disso... — murmurei.
— Sabe o que está acontecendo? Por que a pressa toda? — Sean
perguntou.
— Não me explicaram muita coisa, Sean. Sabe que nunca dizem
muito se não estão diante de nós, eu penso que seja resgate de alguém muito
importante — respondi um pouco tenso.
— Estarei aí o mais rap... — começou a dizer, mas foi interrompido
pela voz feminina, que suponho, ser de Margot.
— Sean, o que está acontecendo? — A ouço perguntar.
Conversamos mais um pouco e combinamos de seguir da minha
casa para a casa de Connor, iriamos sair de lá e se Emma não retornasse eu
iria para essa missão sem vê-la.

Quando Sean chegou na minha casa dei as primeiras risadas sinceras


em dias. Assim que fomos chamados de volta, comecei a investigar o que
seria a nossa missão, ainda tinha muitos contatos no SEA WOLF e o que
descobri me deixou preocupado... era vingança.
— Caralho, você é mesmo muito louco — Disse sorrindo quando vi
Margot algemada ao meu irmão. — Eu já te vi fazer muita merda, mas essa
é uma nova para mim.
Margot, por outro lado, não parecia estar muito feliz com a situação,
assim que me viu sorrido fechou ainda mais a cara.
— Não tem nada de engraçado nisso — retrucou, sua voz saindo
ríspida. — Seu amigo está me mantendo aqui sem o meu consentimento.
Mais uma vez...
Parei de sorrir, entendendo o lado dela, mas que aquilo era
engraçado, isso era.
Convidei os dois para entrar, mas olhei para a varanda da casa de
Emma, na esperança de vê-la ali, mas não havia ninguém...
— Brandon, está tudo bem? — a voz de Margot interrompeu meu
devaneio.
Suspirei tentando disfarçar meu desconforto.
— Desculpem, só estava pensando em algo. Por favor, entrem,
vamos conversar — respondi.
Depois de vê-los discutindo, chegou o momento de falar sobre o que
eu tinha descoberto.
Olhei para meu irmão com um pouco mais de seriedade.
— Sean, precisamos conversar em particular — comecei. — Se
puder soltá-la...
— Ela pode ouvir o que você tem a dizer. Estou tentando não ser
ainda mais idiota — respondeu.
Observei os dois por um momento, ponderando se deveria ou não
entrar naquele assunto na frente dela.
— Não é uma boa ideia, mas está bem, vamos falar abertamente —
concordei por fim. — Precisamos ir para Chicago para aguardar novas
ordens. Mas há algo estranho acontecendo.
Sean estreitou os olhos.
— O que quer dizer com "algo estranho"? — questionou ficando
tenso.
Hesitei, escolhendo com cuidado as palavras, queria dar a ele o
direito de explicar tudo com calma para Margot.
— Ouvi rumores de que um caso antigo seu, algo que parecia
enterrado, está ressurgindo — expliquei, olhando para os dois. — E parece
que tem a ver com... ela.
Os dois ficaram sem entender.
— Com ela? Do que está falando? — perguntou ele, sua voz
carregada de desconfiança.
Neguei.
— Não com Margot, Sean, ela... a dançarina — o corpo dele se
retesou e seu maxilar travou — Parece que alguém está tentando chamar a
atenção do presidente para nós três, algo que nos faça ser chamados de
volta — continuei. — E, pelo que ouvi, essa situação tem relação com...
com você.
— Do que diabos estão falando? — Margot perguntou. — Que
dançarina?
Olhei para ela.
— Explicar a situação é com ele... — Olhei para Sean, mas ele já
parecia perdido em seu passado.
Margot assentiu levemente.
— Preciso sair para resolver algumas coisas, vou dar um tempo a
vocês para conversarem.
Eu tinha meus próprios problemas para resolver e não tinha mais
tempo para fazer da maneira que gostaria.
Fui até meu quarto e me sentei, o celular em mãos, preparado para
fazer uma ligação que eu sabia que seria difícil. Quando finalmente ouvi a
voz de Emma do outro lado da linha, meu coração se apertou ao perceber o
choro de Brian ao fundo.
— Emma, está tudo bem? — perguntei, minha preocupação
imediata direcionada ao pequeno.
Ela respirou fundo antes de responder, sua voz embargada pelo
choro.
— Ele tem estado doentinho. Está com febre e... — Sua voz vacilou,
e eu pude sentir o peso de sua angústia através da linha.
— Sinto muito, Emma. Espero que ele melhore logo, queria estar aí
com você — murmurei, desejando poder estar lá para confortá-la.
Mas havia algo mais que eu precisava compartilhar com ela, algo
que eu sabia que a deixaria ainda mais preocupada. Respirei fundo,
preparando-me para falar.
— Preciso falar algo com você — comecei, minha voz séria. —
Estou indo para uma missão.
Houve um breve silêncio do outro lado da linha antes de Emma
responder, sua voz trêmula.
— Por que você parece tão apreensivo? — ela perguntou, e pude
sentir a preocupação em suas palavras.
Suspirei, tentando encontrar as palavras certas para explicar a
situação.
— Dessa vez é diferente, Emma. É por vingança. Alguém está nos
atraindo para uma emboscada, eles estão preparados e estão nos esperando.
Somos treinados, preparados para esse tipo de situação, mas... — Minha
voz falhou por um momento, incapaz de encontrar uma forma de amenizar
a gravidade da situação.
Do outro lado da linha, pude ouvir o soluço de Emma enquanto ela
processava minhas palavras.
— Por que você está indo se sabe que é uma emboscada? — ela
perguntou, sua voz carregada de angústia.
Eu me senti impotente diante de sua pergunta, sabendo que não
havia uma resposta satisfatória.
— Não temos escolha, Emma. É o que fazemos. Mas sempre que
puder, entrarei em contato com você. Eu prometo.
Ouvir Emma soluçar do outro lado da linha partiu meu coração em
pedaços. Eu queria poder estar lá com ela, para confortá-la e protegê-la,
mas eu estava preso nesta missão, nesta obrigação que parecia me afastar
cada vez mais dela.
— Emma... — murmurei. — Eu vou voltar, eu prometo. Vou voltar
para você.
Mas as palavras dela, cheias de medo e preocupação, ecoaram em
meus ouvidos, cortando-me mais profundamente do que qualquer ferida
física.
— Brandon, eu nunca te vi receoso. Isso me assusta... — sua voz
vacilou, sua angústia evidente.
Eu queria poder dizer a ela que tudo ficaria bem, que eu voltaria
ileso e que nós estaríamos juntos novamente em breve. Mas a verdade era
que eu não podia garantir isso, não dessa vez.
— Eu não queria te preocupar, Emma. Mas também não podia
mentir para você — confessei, lutando contra a sensação de impotência que
me consumia.
Ela soluçou do outro lado da linha, e cada som parecia uma
punhalada no meu coração.
— Por favor, Brandon... volte. Não posso suportar a ideia de algo
acontecer com você agora, não agora que estamos... bom, nem mesmo
antes, mas agora...— sua voz era um sussurro desesperado, implorando por
minha segurança.
Eu podia sentir que ela estava escondendo algo, que havia mais em
suas palavras do que ela estava deixando transparecer. Mas ela não disse
nada mais, e eu não queria pressioná-la a falar quando estava tão
vulnerável.
— Eu vou voltar, Emma. Eu prometo. Não suportaria a ideia de te
deixar sofrer — declarei, minha voz firme, mesmo que meu coração
estivesse em pedaços.
Eu queria poder segurar Emma em meus braços, secar suas lágrimas
e garantir-lhe que tudo ficaria bem. Mas no momento, tudo que eu podia
fazer era prometer que eu voltaria para ela.
Capítulo
37
Os dias se arrastavam como se fossem anos, e eu me encontrava
presa em um mar de incertezas e arrependimentos. Brandon não atendia
minhas ligações, ignorava minhas mensagens, e o vazio que sua ausência
deixava em meu peito parecia insuportável.
Olhando para Brian dormindo na cama do pai, meu pequeno anjo
inocente, eu não podia deixar de me arrepender amargamente por não ter
contado a Brandon sobre ele. Agora, enquanto enfrentava todo esse tempo
sem notícias dele, eu me perguntava se teria a chance de fazer isso, se ele
voltaria para nós.
Voltei para casa na mesma semana em que Brandon partiu para sua
missão, e desde então tudo parecia estar em um caos constante. Cada
segundo sem notícias dele era uma eternidade, e o medo se infiltrava em
cada pensamento, cada batida do meu coração.
Brian estava doentinho, e eu me encontrava lutando contra minha
própria angústia para cuidar dele da melhor maneira possível. Mas por
dentro, eu estava desmoronando lentamente, sem saber se Brandon estava
bem, se ele estava seguro.
Cada vez que o celular tocava, meu coração disparava de esperança,
apenas para se despedaçar quando percebia que não era ele. Eu me
perguntava onde ele estava, o que estava fazendo, se estava enfrentando
perigos que eu nem sequer ousava imaginar.
E assim os dias passavam, como uma tortura silenciosa, enquanto eu
me encontrava presa em uma espiral de desespero. Eu só queria que
Brandon voltasse para nós, que pudéssemos estar juntos novamente. Mas no
momento, tudo o que eu podia fazer era esperar, rezar e continuar cuidando
de Brian, na esperança de que seu pai voltasse para nós, são e salvo.
Estava no quarto dele novamente, como eu fazia quando era apenas
uma adolescente apaixonada, mas dessa vez estava com nosso filho nos
braços, sem saber se teria a chance de ele conhecer seu pai.
Ester entrou no quarto, meus olhos marejaram no mesmo instante.
Era como se uma âncora tivesse sido lançada em meio à tempestade que era
minha mente, e eu me agarrei a ela desesperadamente.
Sem dizer uma palavra, nos abraçamos, e as lágrimas começaram a
escorrer pelo meu rosto sem controle. Ester era minha âncora, e naquele
momento eu precisava desesperadamente de seu apoio.
Entre soluços, consegui articular as palavras que estavam presas em
minha garganta.
— Ester, eu... Eu me arrependo tanto de não ter contado a verdade a
Brandon antes. Agora, não sei se terei a chance de fazer isso. — Minha voz
tremia com a intensidade da minha angústia, e eu me sentia frágil,
vulnerável.
Ester me segurou com firmeza, seu abraço transmitindo conforto e
força.
— Emma, Brandon é treinado para enfrentar situações como essa.
Ele vai voltar, eu tenho certeza. — Suas palavras eram um calmante para
minha alma aflita, mas mesmo assim eu não conseguia conter o medo que
me consumia por dentro.
Eu queria acreditar nas palavras dela, queria acreditar que Brandon
estava seguro e que voltaria para nós. Mas a incerteza continuava a me
assombrar, sussurrando dúvidas e temores em meus ouvidos.
Não podia contar a verdade sobre a missão de Brandon, não queria
preocupar ainda mais a família dele. Então, chorei em silêncio, deixando
minhas lágrimas expressarem os medos e as ansiedades que eu não podia
colocar em palavras.
A campainha tocou quando estávamos descendo.
— Não estava esperado ninguém — Ester comenta, indo em direção
a porta.
Momentos depois, ela retorna com um pedaço de papel nas mãos.
— É para você — me entrega ao papel nas mãos fica perto para ver
do que se trata.
“Minha amada,
Não sei por onde começar, nem como expressar a profundidade do
meu remorso por não ter conseguido entrar em contato antes. As últimas
semanas foram... complicadas, para dizer o mínimo, e em meio a tudo isso,
uma coisa permaneceu constante: meu pensamento em você.
Emma, cada dia, cada hora, cada minuto longe de você tem sido
uma batalha para mim. Cada batida do meu coração é um lembrete
doloroso de que você não está ao meu lado. Eu sinto sua falta mais do que
as palavras podem expressar, mais do que jamais imaginei ser possível. É
como se uma parte de mim estivesse faltando, como se minha alma
estivesse incompleta sem você.
As coisas estão difíceis, mas saiba que você está sempre presente em
meus pensamentos, em meu coração. Eu penso em você a cada instante,
imagino seu sorriso, sua voz, seu toque. Você é a luz que ilumina meus dias
mais sombrios, a esperança que me mantém seguindo em frente, mesmo nos
momentos mais tempestuosos.
Quero que saiba que estou contando os segundos até o momento em
que poderei vê-la novamente, abraçá-la e dizer o quanto eu a amo. Nada
no mundo pode me impedir de voltar para você, de estar ao seu lado onde
eu pertenço.
Por favor, meu amor, perdoe-me por não ter sido capaz de estar
presente como deveria. Eu prometo que vou compensar cada segundo
perdido quando estivermos juntos novamente. Até lá, mantenha-se forte.
Com todo o meu amor e saudade,
Seu fuzileiro.”
Ao ler cada palavra da carta de Brandon, foi como se meu coração
se partisse em mil pedaços. Os soluços que estavam presos em minha
garganta finalmente encontraram uma saída, e as lágrimas começaram a
escorrer livremente pelo meu rosto. A distância entre nós estava se tornando
insuportável, uma dor constante que parecia crescer a cada dia.
Eu me sentia como se estivesse à beira de um abismo, prestes a
perder o chão sob meus pés. A ideia de que poderia perdê-lo para sempre
me apavorava profundamente. Brandon era mais do que apenas o amor da
minha vida; ele era quem dividia meu coração com nosso filho, parte da
minha razão de viver.
Cada palavra de sua carta ressoava dentro de mim, tocando lugares
profundos da minha alma. Seu amor por mim gravado em cada sílaba, mas
a saudade, a incerteza do que o futuro reservava, era uma dor que parecia
não ter fim.
Eu sabia que precisava ser forte, que precisava manter a fé de que
logo estaríamos juntos novamente. Mas, naquele momento, era difícil
encontrar forças para continuar. Tudo o que eu queria era estar nos braços
dele, sentir seu calor, ouvir sua voz...
A carta de Brandon era um lembrete doloroso de tudo o que eu
podia perder, mas também a certeza de que ele está bem.
— Vai ficar tudo bem — Ester me confortou. — Ele logo voltará
para nós.
Repeti aquelas palavras em minha mente como se fosse uma prece.
Ele voltaria para nós.
Capítulo
38
Duas semanas haviam se passado desde que eu recebi a carta de
Brandon, e cada dia parecia mais longo do que o anterior. E a dor aguda
pela distância persistia. Cada momento sem notícias dele era uma
eternidade, uma espera angustiante que parecia não ter fim.
Nesse período, eu me afundei em pensamentos sobre ele, revivendo
nossos momentos juntos em minha mente, desejando desesperadamente tê-
lo ao meu lado novamente. Brian, era a única pessoa capaz de me trazer
paz, seus lindos olhos azuis como os do pai era um lembrete constante do
amor que compartilhávamos.
As noites eram as mais difíceis. Eu me via olhando para o telefone,
esperando por uma ligação que não vinha, lutando contra o medo crescente
de que algo terrível pudesse ter acontecido a ele. Meu sono era dominado
por pesadelos, o que me deixou com um profundo receio de dormir.
Então, finalmente, a ligação chegou. Eu mal pude acreditar quando
ouvi sua voz do outro lado da linha, meu coração acelerou, e um suspiro de
alívio escapou de meus lábios.
— Emma...? — Sua voz estava carregada de cansaço, mas também
de um amor profundo que atravessava a distância entre nós.
— Brandon! — Minha voz saiu como um suspiro de alívio,
misturado com alegria e saudade. — Eu estava tão preocupada... Onde você
está? Está tudo bem?
— Estou bem, Emma, apenas um pouco cansado. Estamos em uma
área remota e as coisas estão complicadas por aqui. Mas consegui ligar
para você, precisava ouvir sua voz.
A simples menção de que ele precisava ouvir minha voz trouxe um
calor reconfortante ao meu coração, dissipando parte da angústia que eu
havia sentido nos últimos dias.
— Eu também precisava ouvir você, Brandon. Tenho pensado em
você todos os dias, imaginando onde você está, se está seguro...
— Eu estou fazendo o meu melhor para me manter seguro, Emma.
Mas, mais do que isso, estou fazendo o meu melhor para voltar para você.
Eu sinto tanto a sua falta.
As lágrimas vieram aos meus olhos, uma mistura de alívio, amor e
gratidão inundando minha alma.
— Eu também sinto tanto a sua falta, Brandon. Tem sido difícil não
ter você aqui comigo, não poder sentir seu toque...
— Não vou demorar muito mais, meu amor. Em breve estaremos
juntos — um chiado de dor escapou por seus lábios quando o ouvi se mover.
— Preciso desligar, sinto por não ter mais tempo, eu te amo.

Três longos meses se arrastaram como uma tortura lenta e


implacável desde que Brandon partiu. Cada dia, cada hora, cada minuto era
uma batalha contra a incerteza e a ansiedade.
Finalmente, a notícia chegou: Brandon estava de volta. Mas não era
o tipo de notícia que eu esperava. Não veio em forma de uma ligação ou
mensagem dele, mas sim através de estranhos que vieram me buscar e me
levaram para Chicago. Não deram muitas explicações, apenas disseram que
eu precisava acompanhá-los.
Deixei Brian com nossas famílias, a essa altura os pais de Brandon
já sabiam sobre o neto.
O caminho até Chicago foi horrível. Meu coração batia
descompassado dentro do peito, minha mente uma bagunça de medo e
expectativa. Muitas perguntas ecoavam em minha mente, mas eu não tinha
respostas.
Quando chegamos, os homens me levaram até um hospital, o mundo
pareceu girar ao meu redor. Cada passo que eu dava era como se estivesse
pisando em terreno instável, prestes a desabar a qualquer momento. Eu me
segurava firme, tentando manter a compostura, mas por dentro estava em
frangalhos.
Ao entrar no hospital, fui recebida por uma enfermeira que me levou
até a sala de espera do quarto de Brandon. Meu coração estava na garganta,
batendo tão forte que eu mal conseguia respirar.
Passados alguns minutos, outras duas mulheres chegaram, pareciam
tão atordoadas quanto eu.
— O médico está verificando os pacientes, assim que estiverem
prontos vão chamá-las — uma enfermeira nos avisou.
Finalmente o médico e mais um enfermeiro saíram do quarto.
— Podem entrar, mas mantenham uma distância segura. Eles estão
muito frágeis e precisam de repouso e cuidados — o médico nos alertou.
Ele estava deitado na cama, pálido e frágil, cercado por tubos e fios.
Seu rosto estava tranquilo, mas havia uma fragilidade nele que me cortou
como uma faca. Brandon, o homem forte e corajoso que eu conhecia, agora
parecia tão vulnerável, tão humano.
Fiquei paralisada ao entrar, levou um tempo até que eu conseguisse
me recuperar do choque, mais precisamente quando um dos três homens
falou.
— Será que vocês podem vir até nós logo? — Disse com um leve
tom de sarcasmo. — Se não perceberam ainda, não podemos ir até vocês.
Me aproximei lentamente, minhas pernas amolecendo, minhas mãos
tremendo. Eu o segurei com força, como se pudesse protegê-lo de todo o
mal apenas com o meu toque. Seus olhos estavam fixos em mim, e vi a dor
e o alívio misturados em seu olhar quando me viu.
— Emma... — Sua voz saiu fraca, mas cheia de emoção. — Eu senti
tanto a sua falta.
As lágrimas vieram aos meus olhos, incontroláveis e abundantes.
— Eu também senti sua falta, Brandon. Oh Deus, o que aconteceu
com você?
— Não vamos falar sobre isso, estou aqui agora.
— Eu pensei que tinha te perdido... Pensei que nunca mais ia te ver
novamente. — Minha voz saiu em um sussurro, carregado de emoção.
— Em alguns momentos, confesso que também pensei. Mas eu
prometi que voltaria para você, lembra? Eu sempre vou voltar para você.
Mesmo com uma careta de dor, ele me puxou para seus braços, nos
perdemos em um abraço que parecia durar uma eternidade. Toda a dor, o
medo, a angústia dos últimos meses desapareceu naquele momento,
substituída apenas pelo amor e pela gratidão por estarmos juntos
novamente.
Por algum tempo, Brandon e eu estávamos completamente
absorvidos um pelo outro, como se fôssemos os únicos habitantes do
universo. Mas, de repente, como se tivéssemos sido despertados de um
sonho, começamos a perceber os sussurros e risinhos ao nosso redor, os
olhares furtivos e os gestos íntimos trocados entre os outros casais.
Era um pedido de casamento...
— Que tal começar pelo “SIM” — o mais engraçadinho disse.
— É claro que sim! Sim eu aceito. — Disse a moça que foi pedida
em casamento, pouco antes de se jogar em cima de seu noivo, causando
nele dor. — Desculpe.
— Não tem problema, meu amor... são só algumas costelas
quebradas — ele tentou remediar.
— E alguns tiros, outros ossos quebrados, pancadas... — Brandon
começou.
— Acho melhor você se calar, não quer que todos saibam que você
teve uma concussão feia e que Connor e eu tivemos que carregar você por
três dias apagado, quer? — O engraçadinho falou.
Eu e as outras duas mulheres presentes no quarto levamos as mãos
até a boca e começamos a chorar.
— Calem a boca seus idiotas! — O mais nervosinho que pediu a
moça em casamento brigou. — Queria que fosse tudo mais perfeito e
romântico, mas como pode ver... não tenho muita escolha. — Murmurou
irritado.
Olhei para Brandon e não consegui sequer imaginar pelo que ele
passou, mas sei que estive muito perto de perdê-lo.

Foi uma decisão difícil, mas eu sabia que não poderia mais adiar o
inevitável. Eu já estava morrendo de saudades do meu filho, não
conseguiria passar mais uma hora sequer longe dele. Então, pedi a Ester que
o trouxesse e assim que contasse tudo a Brandon, ele poderia conhecer seu
filho.
Brandon me apresentou seus irmãos e as noivas deles, parecem ser
pessoas maravilhosas, embora não muito certas da cabeça. Após dois dias
naquele ambiente tenso e carregado de emoções, percebi que não
conseguiria mais suportar a dor de manter esse segredo só para mim. Brian
precisava conhecer o pai, e Brandon tinha o direito de saber sobre a
existência do filho que tínhamos juntos.
Esperando o momento certo, aproveitei uma brecha na conversa dos
outros para conversar, mesmo que fosse impossível ter uma conversa
particular. Seus olhos encontraram os meus, e senti meu coração apertar
ainda mais diante do que estava prestes a fazer.
Era hora de enfrentar a verdade, de encarar as consequências das
minhas escolhas.
Brandon me olhou intensamente, seu olhar penetrando minha alma
enquanto eu reunia toda a coragem que tinha para revelar o segredo que
carregava comigo há tanto tempo. Então, comecei a falar.
— Brandon, há algo que eu preciso te contar — murmurei, minha
voz vacilante com a gravidade do momento. Ele assentiu, sua expressão
ficando tensa.
Respirei fundo, reunindo minhas forças para continuar.
— Brian, o meu filho que você não teve a chance de conhecer... ele
é seu filho — as palavras saíram de minha boca em um sussurro, pesadas
como chumbo.
Vi o choque passar pelo rosto de Brandon, seus olhos se arregalando
em surpresa diante da revelação. Senti meu coração apertar com a
intensidade de suas emoções, mas sabia que precisava continuar.
— Eu descobri depois que nos separamos, depois do seu casamento
— continuei, minha voz tremendo ligeiramente. — Eu não sabia como te
contar na época, e... eu não queria atrapalhar o seu casamento — as
palavras saíram em um fio de voz, carregadas de arrependimento e tristeza.
Brandon respirava pesadamente, seu peito subindo e descendo com
cada respiração. Parecia completamente atordoado, incapaz de processar
tudo o que eu estava contando.
— Por que você não disse nada antes? — sua voz soou rouca.
Encarei seus olhos, vendo a tempestade de sentimentos que se
agitava dentro dele.
— Eu... eu não sabia como — admiti, minha voz falhando. — Eu só
queria seguir em frente, sem atrapalhar sua vida... Amber já era terrível
comigo, imagina como seria se ela soubesse da minha gravidez...
Ele ficou em silêncio por um momento, suas feições contorcidas em
uma mistura de raiva, surpresa e confusão. Mas eu o entendia.
Enquanto aguardava sua reação, senti-me consumida pela incerteza
e pelo medo do que viria a seguir.
Eu não estava preparada para a explosão que se seguiu. Brandon
estava furioso, e suas palavras me atravessaram como flechas, perfurando
meu coração já tão frágil.
— Você não tinha o direito de esconder isso de mim, Emma! — sua
voz ressoou no quarto, carregada de raiva e decepção. — Não importa se eu
estava casado, eu tinha o direito de saber que tinha um filho!
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto enquanto eu
tentava desesperadamente encontrar as palavras certas para me defender.
— Eu sei, Brandon, eu sei que errei — minha voz saiu como um
soluço, minha respiração entrecortada pela emoção. — Eu... eu só...
Mas minhas palavras pareciam cair em ouvidos surdos diante da
fúria de Brandon. Ele continuou a lançar acusações, cada palavra uma
punhalada que perfurava minha alma.
— Eu perdi toda a gestação, Emma — sua voz tremia com a
intensidade de suas emoções. — Perdi os primeiros meses de vida do meu
filho! Eu jamais poderei recuperar as memórias que eu não tive, tudo por
sua causa!
Senti-me desmoronar diante de sua dor, a culpa pesando em meu
peito como chumbo.
— Eu sinto muito, Brandon, eu sinto tanto — minhas palavras
saíram em um sussurro, mal audíveis entre soluços. — Eu nunca quis te
machucar, eu juro.
Mas minhas desculpas pareciam vazias diante da magnitude do que
eu tinha feito. Eu tinha magoado o homem que amava, traído a confiança
dele de uma maneira irreparável. E agora precisava enfrentar as
consequências de minhas ações.
Enquanto Brandon continuava a desabafar sua dor e sua raiva, eu
me sentia completamente impotente, incapaz de fazer qualquer coisa para
consertar o estrago que eu tinha causado.
Eu me sentia em uma montanha-russa, sendo sacudida pelas
palavras raivosas de Brandon, mas ao mesmo tempo afogada em um mar de
remorso e arrependimento. Seu olhar furioso queimava em minha pele, mas
eu sabia que merecia cada centelha de sua raiva.
— Nós tínhamos acabado de terminar — minhas palavras saíram em
um sussurro, lutando contra o nó na minha garganta. — Você tinha acabado
de se casar, Brandon. Eu não queria ser a ex ressentida que voltava para
atrapalhar e estragar a felicidade do casal. Eu só... Eu só queria seguir em
frente.
A expressão de Brandon suavizou ligeiramente, mas a dor ainda era
visível em seus olhos. Ele respirou fundo, como se estivesse tentando
encontrar alguma paz dentro de si mesmo antes de falar.
— Não quero discutir, Emma — sua voz soou mais calma agora,
mas ainda carregada de emoção. — Mas isso não muda o que estou
sentindo agora.
Fiquei aliviada, mas ainda apreensiva.
— Ester está a caminho, pedi que ela viesse para Chicago ontem —
murmurei, tentando controlar as lágrimas. — Logo irá conhecê-lo. Brian é a
sua cara.
Eu sabia que a verdade iria machucá-lo, mas não adiantava mais
evitar.
Brandon me encarou com um misto de esperança e ansiedade em
seus olhos.
— Brian está mesmo chegando? — Ele perguntou, sua voz
carregada de expectativa.
Eu assenti com um sorriso reconfortante.
— Sim, Brandon. Ester está a caminho com ele. Logo estaremos
todos juntos.
Brandon virou-se para os irmãos, com os olhos marejados, mas um
brilho de emoção neles que eu não conseguia ignorar.
— Eu tenho um filho! — ele anunciou, sua voz ecoando pelo quarto
quase como um grito de triunfo.
Sean, Connor, Margot e Valerie olharam para nós com sorrisos
radiantes, suas expressões cheias de calor e felicidade genuína.
— Isso é maravilhoso, Brandon — Sean disse, com um toque de
emoção em sua voz. — Parabéns.
Connor e Margot rapidamente se juntaram aos parabéns.
— Estamos tão felizes por vocês — disse Connor, com um sorriso
sincero.
— Isso é incrível, Emma — Valerie acrescentou, sua voz
transbordando de alegria. — Nosso bebê já terá um amiguinho para brincar.
Brandon tocou minha mão e me puxou para mais perto, meu
coração deu um salto, mas seu olhar me fez entender suas intenções. Seus
lábios encontraram os meus em um beijo calmo e apaixonado, como se
estivéssemos nos redescobrindo. Era como se cada toque, contasse uma
história de amor que ainda não havia sido completamente escrita.
Enquanto nos beijávamos, todas as palavras não ditas entre nós
pareciam se dissipar no ar. Sentia-me envolvida pela ternura de seus lábios,
pela doçura de seu toque. Brandon quebrou o beijo por um momento,
olhando-me nos olhos com uma expressão sincera.
— Eu não consigo ficar bravo com você — sua voz era suave, cheia
de emoção. — Sinto muito por ter explodido. Eu... quase entendo seus
motivos, mas você deveria ter me procurado.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu tentava encontrar
as palavras certas para responder. Brandon gentilmente limpou minhas
lágrimas com a ponta dos dedos, e um sorriso terno se formou em seus
lábios.
— Agora, vamos ter que fazer mais um bebê para que eu possa
acompanhar toda a gestação desde o comecinho. — Seu tom brincalhão
trouxe um calor reconfortante ao meu coração.
Sorri através das lágrimas, sentindo-me grata por tê-lo ao meu lado.
Era um novo começo para nós, um capítulo que ainda estava por ser escrito.
E, apesar de tudo, ele sempre foi e sempre será o meu primeiro e único
amor.
Envolvi meus braços ao redor dele, sentindo-me em casa em seu
abraço. Pela primeira vez em muito tempo, sentia que tudo ficaria bem.
Capítulo
39
Ao ver Ester entrar no quarto com meu filho nos braços, uma onda
de emoção me atingiu em cheio. Era como se o mundo inteiro
desaparecesse, deixando apenas nós três naquele momento mágico. Meus
olhos se encheram de lágrimas, incapazes de conter a intensidade do que
estava sentindo. Aquela criança, tão pequena e tão perfeita, era a
personificação do amor entre Emma e eu.
O coração batia descompassado no peito, transbordando de alegria.
Os olhos curiosos de Brian, um reflexo dos meus próprios olhos, pareciam
absorver cada detalhe do quarto. Era difícil acreditar que aquele pequeno
ser era parte de mim, um elo indissolúvel que nos ligava para toda a
eternidade.
Quando Emma o segurou nos braços e o levou até a beirada da
cama, o sorriso inocente de Brian iluminou todo o ambiente. Era um sorriso
puro, genuíno, capaz de derreter até o coração mais endurecido. Eu me vi
refletido naqueles olhinhos brilhantes, sentindo uma conexão instantânea e
indescritível com aquele ser tão pequeno e tão precioso.
— Esse é Brian, o nosso filho. — Ela disse com a voz embargada.
As lágrimas corriam livremente pelo meu rosto, uma mistura de
felicidade, emoção e gratidão. Era como se, naquele momento, todas as
peças do quebra-cabeça da minha vida se encaixassem perfeitamente,
formando uma imagem de amor e realização.
Ester cobriu o rosto chorando, todos no quarto tinham os olhos
marejados. Era como se o amor estivesse presente em cada lágrima, em
cada sorriso, em cada gesto de carinho. Era um momento único, eternizado
pela pureza e pela beleza daquela pequena vida que agora fazia parte da
nossa história.
Eu sabia, naquele instante, que minha vida estava completa. Ao lado
de Emma e Brian, eu encontrei a plenitude e a felicidade que nem sabia que
havia buscado a vida toda até ela me ser entregue.
— Ele é lindo — minha voz se perdeu em um sussurro embargado,
deixando transparecer todo o encantamento que aquele pequeno ser
despertava em mim. Emma sorriu, concordando com um aceno suave, e eu
senti um aperto no peito ao perceber que, pela primeira vez, eu estava
diante do meu filho.
— Quer segurar ele um pouco?
— É claro que sim...
A ansiedade e alegria se misturavam com o desejo intenso de
segurar aquele pedacinho de mim pela primeira vez.
Com cuidado, Emma colocou Brian em meus braços, e eu senti meu
coração disparar. Era uma sensação indescritível, sentir o peso leve e
caloroso daquele pequeno corpo contra o meu peito. Eu me esforcei para
segurá-lo da maneira mais delicada possível, temendo machucá-lo.
Ao olhar nos olhos curiosos de Brian, senti uma onda de ternura me
invadir.
— Olá, pequeno — murmurei — Eu sou seu papai.
Seus olhinhos brilharam em resposta, e ele balbuciou algumas
palavras ininteligíveis, como se estivesse tentando me responder. Um
sorriso involuntário se formou em meus lábios, e eu me vi encantado por
aquele ser tão pequeno e tão perfeito.
Inclinei-me para mais perto e pressionei um beijo suave na testa de
Brian. Era um gesto simples, mas carregado de significado. Naquele
momento, eu estava prometendo protegê-lo e amá-lo para sempre.
— Ele é tão perfeito — Emma sussurrou acariciando a cabeça do
nosso filho.
— Sim, ele é — respondi, incapaz de conter a admiração em minha
voz. —Você fez um trabalho incrível, Emma.
De repente, Brian soltou uma risadinha, como se estivesse
compartilhando da nossa conversa. Eu me peguei rindo também, contagiado
pela alegria daquela criança.
— Ele é um rapazinho esperto — comentei, admirando a expressão
curiosa de Brian. — Sabe que estamos falando dele.
— E é a sua cara... não tinha como dizer que não é seu filho.
Nós dois nos entreolhamos, compartilhando um momento de pura
felicidade. Era incrível como aquele pequeno havia unido ainda mais nossos
corações de uma maneira tão profunda.

Finalmente em casa, depois de meses internado no hospital, minha


prioridade era garantir que Emma e Brian tivessem um lar. Eu não
conseguia mais imaginar um único momento sem eles ao meu lado. Fui
direto procurar uma casa para nós.
— Brandon, isso é rápido demais — Emma protestou quando eu lhe
mostrei nossa casa.
Eu a encarei com ternura, segurando sua mão com firmeza.
— Emma, nós já esperamos demais para estarmos juntos como
deveríamos. Eu não posso mais ficar longe de você e do nosso filho. Esta é
a nossa chance de recomeçar, de construir uma vida juntos e eu não vou
deixa-la passar.
Ela suspirou, olhando ao redor da casa com uma mistura de surpresa
e admiração.
— É linda, Brandon. Mas ainda assim...
— Mas ainda assim nada — interrompi, sorrindo para ela. — Nós
merecemos isso, Emma. Merecemos ser uma família de verdade, vivendo
sob o mesmo teto, compartilhando cada momento juntos.
Emma me olhou nos olhos, vendo a determinação refletida neles.
— Você tem certeza disso, Brandon?
Eu assenti, segurando sua mão com mais força.
— Absolutamente certeza. Eu quero isso mais do que qualquer coisa
no mundo.
Ela sorriu, os olhos brilhando com emoção.
— Então vamos fazer isso.
Juntos, começamos a planejar nossa mudança para a nova casa.
Enquanto organizávamos os móveis e decorávamos cada cômodo, a
atmosfera estava repleta de amor e felicidade. Brian, o pequeno anjo que
nos uniu, ria e brincava ao nosso redor, trazendo uma alegria indescritível
para nossas vidas.
— Eu não poderia pedir por nada mais — murmurei para Emma
enquanto observávamos Brian brincar com Ester no jardim.
Ela sorriu, os olhos brilhando de felicidade.
— Eu também não. Esta é a nossa família, e eu não poderia estar
mais grata.
Seis meses depois
O coração batia descompassado dentro do meu peito, uma mistura
de nervosismo e excitação me consumia enquanto eu aguardava
ansiosamente por Emma. Estávamos na nossa cabana, aquele refúgio
tranquilo que se tornara o cenário perfeito para este momento único em
nossas vidas. Ao meu lado estavam Connor e Sean, os padrinhos, meus
irmãos que sempre estiveram ao meu lado nos momentos mais importantes.
Olhei ao redor, absorvendo cada detalhe do ambiente. A cabana
estava decorada de forma simples, mas acolhedora, com flores selvagens
espalhadas delicadamente pelos cantos. A luz suave do entardecer, criando
uma atmosfera mágica ao nosso redor.
E então, o som do piano preencheu o ar, ecoando suavemente pelas
paredes de madeira. Meu coração deu um salto quando vi Emma começar a
caminhar em minha direção. Ela estava deslumbrante, envolta em um
vestido simples, mas elegante, que combinava perfeitamente com a
simplicidade do local. O tecido branco fluía em torno dela enquanto ela se
movia graciosamente.
Seus cabelos caíam em cascata sobre os ombros, emoldurando o
rosto suavemente iluminado por um sorriso radiante. Seus olhos
encontraram os meus e, por um momento, todo o resto desapareceu. Eu não
conseguia desviar o olhar dela, tão deslumbrado estava com sua beleza e
presença cativante.
Emma estava deslumbrante, como sempre, mas havia algo mais,
algo que ia além da beleza física. Havia uma aura de serenidade e confiança
ao seu redor, uma certeza de que estávamos no caminho certo, unidos pelo
amor que compartilhávamos.
Tudo o que importava naquele momento era ela e eu, juntos.
Quando finalmente ela chegou ao meu lado, eu a tomei
delicadamente pela mão, sentindo um arrepio percorrer minha espinha ao
toque suave da pele dela. Nossos olhares se encontraram, e eu vi nos olhos
dela o mesmo amor que sentia dentro de mim.
— Diante de todos os nossos entes queridos, hoje me uno a você,
Emma, para compartilhar todos os momentos da vida. Prometo amar você
incondicionalmente, em todas as circunstâncias, nos bons e maus
momentos. Respeitar sua individualidade e apoiá-la em todos os seus
sonhos e aspirações.
— Prometo ser seu companheiro, seu amigo e seu amante, para
sempre. Cuidar de você em todas as situações, ser seu porto seguro nos dias
difíceis e seu parceiro de aventuras nos dias ensolarados. Prometo Estar ao
seu lado em todas as jornadas, compartilhando alegrias e superando
desafios juntos.
— Emma, você é minha luz, minha inspiração, minha razão de
viver. Com você, encontrei o verdadeiro significado do amor, prometo
dedicar minha vida a fazer você feliz. Prometo te amar hoje, amanhã e para
sempre.
Emma segurava o buquê trêmula, seus olhos brilhavam com
lágrimas, e uma ternura que aquecia até mesmo os cantos mais frios do meu
coração. Meus dedos tocaram suavemente sua pele, limpando as lágrimas
que teimosamente escapavam.
— Meu amor, prometo ser verdadeira com meu coração e com o
nosso amor. Prometo amar você, Brandon, em todas as horas, em todos os
dias, em todos os instantes que a vida nos der. Caminhar ao seu lado,
enfrentando todas as tempestades e celebrando todas as vitórias.
— Prometo ser sua companheira, sua amiga e sua confidente, para
rir com você nos momentos de alegria e secar suas lágrimas nos momentos
de tristeza. Prometo cuidar de você com ternura, respeito e compreensão,
valorizando cada detalhe que nos torna únicos e especiais.
— Eu te amo. Te amei ontem, te amo hoje e te amarei amanhã, até o
meu último suspiro.
Então, eu fiz de Emma minha esposa.
Pensei que aquele era o auge da minha felicidade, mas estava
enganado, ela inda conseguiu me fazer mais feliz
A música tocava suavemente enquanto dançávamos com Brian
aninhado entre nós, o mundo parecia perfeito, completo. Mas então, ela
olhou nos meus olhos com aquele brilho único que só ela tinha, e sussurrou:
— Brandon, tenho algo para te contar.
— O que é, amor? —perguntei, segurando-a um pouco mais perto.
Ela respirou fundo, seus olhos transbordando de emoção.
— Estou grávida novamente — sussurrou, com um sorriso que
iluminava seu rosto.
Meus olhos se arregalaram com surpresa e alegria.
— Sério? — exclamei, mal conseguindo conter minha empolgação.
— Isso é incrível!
Emma assentiu, as lágrimas de felicidade começando a se formar em
seus olhos.
— Sim, Brandon. Estamos esperando outro bebê.
Meu coração pareceu parar por um instante antes de começar a bater
mais rápido do que nunca. Era como se o tempo tivesse congelado ao nosso
redor, e só existíamos nós três naquele momento de pura felicidade.
A sensação de saber que estávamos esperando outro filho, que nossa
família estava crescendo, era avassaladora. Uma mistura de alegria,
gratidão e um amor tão profundo que era difícil de descrever. Todos os
meus sonhos estivam se tornando realidade.
Naquele momento, percebi que realmente viveríamos esse amor
para sempre, construindo nossa história dia após dia, com cada novo
sorriso, cada novo desafio e, agora, com cada nova vida que se unia à nossa.
Era o começo de um novo capítulo, e eu não poderia estar mais feliz por ter
Emma ao meu lado para vivê-lo.
Fim.
Angel veio ao mundo em 9 de fevereiro de 1995, em solo
paulistano. Desde muito nova, com apenas oito anos, sua mente já se perdia
nas páginas dos livros, mergulhando em mundos imaginários. Sua alegria
era facilmente conquistada por aqueles que compreendiam sua paixão:
bastava presenteá-la com um exemplar, e um sorriso genuíno iluminava seu
rosto.
Seu coração, entretanto, batia mais forte por um gênero literário em
particular: o romance. Nas páginas onde amores floresciam, ela encontrava
refúgio e inspiração. Crescendo e amadurecendo, essa paixão apenas se
fortaleceu, guiando suas leituras e, eventualmente, sua própria escrita.
A vida de Angel, repleta de capítulos coloridos, ganhou personagens
centrais: seu amado esposo, o coração fora do peito que chama de filhos e
uma adorável trupe de três doguinhos.
Há pouco mais de quatro anos, Angel embarcou na jornada de
escritora. Seu talento encontrou um lar na plataforma Dreame, onde
depositou pedacinhos de sua alma em diversas obras. Sua preferência recaía
sobre os romances clichês, nas profundezas dos enredos dark e explorando
as emoções do new adult.
Em 28 de março de 2023, Angel lançou seu primeiro livro na
plataforma Amazon, intitulado “O Playboy e a Secretária”. Essa conquista
representou um passo significativo em sua jornada literária.
Acompanhem-na no Instagram para ficar por dentro de todas as
novidades.
@angel_autora
. Obrigado por acompanharem esta história, por embarcarem nesta
jornada de altos e baixos, de amor e superação. Seu apoio e carinho
tornaram cada capítulo especial, e foi a presença de vocês que deu vida a
cada personagem, cada momento compartilhado.
Cada comentário, cada mensagem de incentivo, foi um raio de luz
em meio às incertezas, uma confirmação de que esta história tocava os
corações de vocês, e que sempre vamos nos emocionar em cada despedida.
Quero expressar minha mais profunda gratidão a cada um de vocês.
Obrigado por fazerem parte desta história, por tornarem este mundo
imaginário um lugar mais real e significativo.
Com todo o meu carinho e eterna gratidão,
Angel.

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