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RESENHA
Nos momentos iniciais desta o autor irá trazer um discursão acerca da Geografia
Politica Clássica, onde trará em destaque dois geógrafos, o alemão Friedrich Ratzel e o
geografo francês Camille Vallaux, que através de seus estudos trouxeram reflexões que
formularam pioneiramente conceitos e teorias fundamentais que marcaram profundamente o
desdobramento posterior desse ramo do conhecimento.
Friedrich Ratzel nos adianta o núcleo de sua concepção sobre o território e o Estado.
Para ele, os Estados são organismos que devem ser concebidos em sua intima conexão com o
espaço. A ideia de organismos foi emprestada por Ratzel à biogeografia, para qual o solo
condiciona as formas de vida elementares e complexas da vida. Ao Estado caberá estreitar o
mais possível os seus laços de coesão e unidade de modo a atingir toda a extensão do
ecúmeno, reforçando a ideia de que para ele o desenvolvimento dos povos, particularmente
dos alemães, passa necessariamente pelo alargamento do horizonte geográfico.
Em contra partida, Camille Vallaux, tem o mérito de apresentar o primeiro estudo
completo e sistemático em geografia politica desde Ratzel. O titulo de seu trabalho, O solo e o
Estado, é proposital, já que ao longo de toda exposição ele praticamente estabelece com o
famoso geógrafo alemão um dialogo exaustivo, aceitando, contrapondo e superando cada
conceito e teoria ali expostos. Seu modo particular de abordar a relação do Estado com o solo
se inicia com uma critica as teorias sociológicas racionalistas e românticas sobre este, para ele
o Estado deve ser considerado como “uma forma essencialmente geográfica da vida social”.
Em sua definição de tipos de Estados, o autor reconhece dois principais: os simples e
os complexos. O primeiro caracteriza-se pelo fato de que seu nível de coesão interna é baixo,
e ao contrário, o segundo apresentariam tendências a uma forte coesão interna. Durante todo o
“dialogo” com Ratzel, o ponto de maior “fricção” entre os dois é, sem dúvida, o que se refere
ao conceito de espaço. Vallaux parte de uma ideia de espaço concreto, isto é, uma, “extensão
fricções” em escala global. Dentro desse contexto surge A. T. Mahan com uma “ótica norte
americana” é reconhecido como o precursor das teorias geopolíticas sobre o poder marítimo
na época contemporânea. A sua argumentação baseia-se na premissa de que um governo só
terá sucesso em sua política voltada para a construção de um poder marítimo
Ainda dentro dessa abordagem, surge o geografo inglês H. Mackinder que ocupara
lugar de destaque na discussão da geopolítica. O pragmatismo dele caracteriza-se por uma
tentativa permanente de aliar a análise política do equilíbrio de poder do quadro internacional
e os elementos empíricos (para ele concretos) fornecidos pelos estudos correntes produzidos
pela geografia, ele defende a ideia de que a disputa pela hegemonia em escala global dependia
da importância cada vez maior do que chamou “poder terrestre”, destacando assim pelo autor
dois fatores recentes (na época) que produziram resultados diversos: primeiro o Canal de Suez
e segundo as Ferrovias.
Partindo dessa discussão o autor trará uma abordagem acerca da Geografia Política no
Período do Interguerras, trazendo uma análise do pós-guerra, e como a geopolítica e a
Geografia Politica irá apresentar-se dentro deste cenário. Isaiah Bowman geógrafo norte
americano, publicou em 1921 o mais prestigiado estudo geográfico político sobre o quadro
europeu e mundial do período pós Primeira Guerra, influenciando o interesse pela Geografia
Política. Em seu trabalho Bowman entende que a guerra produziu um mundo novo, onde
chama atenção para um fato novo, a entrada de uma nova potência mundial no pós-guerra, os
EUA.
Sob qualquer ponto de vista, a devastação da guerra e as soluções encontradas
especialmente as políticas territoriais na Europa Centro Ocidental definiram um autêntico
quadro de paz cartaginesa para o mundo, em que as tensões latentes não tardariam a aflorar
num futuro não muito distante. A própria situação de paz cartaginesa, instalada pelos tratados
de paz nos primeiros anos após o fim da primeira guerra, contribuiu para o clima de
instabilidade latente na Europa e em amplas porções do Globo, refletindo nas produções em
geografia política com um crescimento notável de publicações, mas será na Alemanha, em
particular, que se desenvolvera como nunca a vertente dessa disciplina conhecida como
geopolítica.
E nesse cenário que surge a figura do general geografo K. Haushofer, no qual
constituirá a mais famosa e controvertida escola de geopolítica de todos os tempos. Partindo
das ideias de Ratzel, mas inspirando-se principalmente em Kjéllen, repercutindo fortemente
não apenas na Alemanha, mas em amplos círculos acadêmicos, militares e diplomatas para
além desse país, provocando as maiores reações críticas da comunidade geográfica.
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Messias da Costa-São Paulo: HUCITEC: Editora da universidade de São Paulo, 1992.
Durante esse período de guerras torna-se amigo de Rudolf Hess, que mais tarde será
seu aluno e seu canal direto com Hitler e o Terceiro Reich, no entanto essa relação com os
nazistas e o próprio Hitler nunca ficou completamente esclarecida. Apesar dessa possível
“simpatia” com as ideias nazistas, Haushofer passa a discordar da pratica política exterior
nazista. Outro tema de suas teorias geopolíticas, e que se transformou no assunto mais
comentado no âmbito da geografia política e até mesmo fora dela é o que se refere à sua ideia
de um bloco euroasiático continental.
Dentro desse período de Guerras Mundiais surge um debate teórico sobre a Geografia
Política, onde aos autores agora estão preocupados com uma concepção de geografia política
fundamentada no “movimento social”, cuja abordagem qualificam de sociologia geográfica,
agora o Estado não sendo mais analisado sob a forma do determinismo territorial de Ratzel,
cabe agora concebe-lo em sua diversidade intrínseca, onde são as sociedades que determinam
o papel do Estado.
Finalmente Hartshorne examina o papel das fronteiras como elementos de
fragmentação de “associações a nível local”. O autor defende as políticas destinadas a
promover a integração e a coesão territoriais. A rede de circulação e os fatores de coesão
destinam-se, portanto, a evitar fenômenos de desintegração e dispersão, como regionalismo e
a natureza instável de certas zonas fronteiriças, argumenta que o Estado central, tende a
unificar o mais possível o “Estado área”, é sob esse ângulo que devem ser examinadas as
relações no interior de um “Estado área”, e são dessa relação entre estado e cidadanias que ele
deduzirá o controvertido conceito de nação, referindo-se a um “sentimento comum”, de
autoafirmação de um grupo frente aos demais, linguagem, sangue, raça, semelhanças
culturais.
A evolução da Geografia política nos EUA é caracterizada por uma diversidade
interna quanto aos seus pressupostos teóricos e objetivos. Dentre todos os que examinaram a
nova posição geopolítica e as projeções do poder dos EUA no contexto da Segunda Guerra, o
geografo N. Spykman tem especial destaque, onde apresentou um estudo exaustivo sobre os
principais aspectos envolvidos com posição estratégica mundial de seu país, onde deduz a
“potência” dos Estados das relações de poder enquanto relação social.
Do seu ponto de vista e dos EUA, todas as relações interestatais são políticas por
excelência e se manifestam como “colaboração, adaptação e posição”, onde essas relações
internacionais são, antes de tudo, produto das relações bilatérias e multilaterais entre os
Estados, o que torna os esquemas centrados em alianças e blocos a forma dominante na
política mundial. Para ele, a geografia ainda era fator fundamental para a política externa dos
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Estados, pois constituía o seu dado elementar e permanente, como a posição dos continentes,
países, etc.
Dentro desse contexto é importante analisar a Geografia Militar e Geopolítica no
Brasil. Neste país assim como em outros países da América Latina, “importou-se”
prontamente e exclusivamente a geopolítica, os estudos da geopolítica desde logo tiveram a
hegemonia do pensamento militar e de suas instituições, não havendo um pensamento
geopolítico e muito menos geográfico político que possa ser referido como produto de um
ambiente de reflexão acadêmico especificamente universitário, caracterizando um atraso
cultural, teórico e técnico.
A comunidade geográfica manteve-se (prudentemente?) afastada da geografia política
e especialmente da geopolítica, até recentemente. Os geógrafos brasileiros, no caso, não
foram os únicos a adotar essa postura, ao que tudo indica procuraram rejeitar com o silencio o
que identificavam como pseudociência, ou ideologias perigosas. Esse fato demostra que os
círculos de elite militar e conservadora brasileira, tiveram na geografia (em geral) um
excelente instrumento prático e teórico para parte substantiva de suas justificações
“científicas” a respeito dos “problemas nacionais”. Bertha Becker foi uma das geografas
brasileiras que deixa claro, em seu artigo que o resgate crítico desse discurso pelos geógrafos
é fundamental para a tarefa teórica atual de desvendar os complexos mecanismos do poder
que envolvem o espaço na época contemporânea, em sua própria fala ela afirma este conceito
“A Geopolítica torna-se incompreensível sem a consideração da moldagem do planeta pelo
vetor cientifico tecnológico moderno”.
A partir daí começasse trilhar novos caminhos para tornar a Geografia Política em
uma Disciplina Cientifica. Em 1954 Stephen B. Jones publica um artigo pelo qual ele propõe
que haja um “continuum” da ciência política para a geografia política, uma
interdisciplinaridade, mantendo cada uma a sua especificidade, mas num campo teórico
crescentemente unificado, onde defende que é necessário que o geografo deixe de aproximar-
se da ciência política apenas pelos jornais, e que os cientistas políticos abandonem a ideia de
que a geografia é apenas um “conjunto de fatores físicos do espaço”. O estágio atual dos
estudos na área deve-se em grande parte ao movimento de renovação ocorrido na década de
70, que coincide, aliás, com as notáveis mudanças teóricas e metodológicas verificadas em
toda geografia social no período.
. É sabido que os estudos geográficos, sobre os fatos da política não possuem, entre
geógrafos, a importância dos estudos urbanos ou econômicos, por exemplo, que são, afinal, os
preferidos do momento. Apesar disso, é inegável que a geografia abriu-se generosamente para
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COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica: Discurso sobre o Território e o Poder/ Wanderley
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E durante esse debate de Geopolítica e Geografia Política, surgem conceitos que hoje
são de extrema importância para o estudo geográfico. Dentre eles, os conceitos de fronteira,
nação, território foram amplamente explanados nesta obra. Observa-se que assim como tudo
evoluem esses conceitos foram evoluindo e se encaixando dentro nosso atual cenário
territorial, onde foram ganhando novos significados.