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Precessao Do Perielio de Mercurio

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PRECESSÃO DO PERIÉLIO DE MERCÚRIO

GAMA, Fernando José de Almeida1 & BRAGA, Renato P.2 & CUNHA, Emanuel3

1. INTRODUÇÃO planetas deveriam ser elipses fechadas, com


o Sol
ol situado em um dos focos e os eixos
Poucos sãoão os estudos da Teoria Geral apontando sempre as mesmas direções do
da Relatividade comprovados e bem espaço. Na prática, porém, a elipse não fica
estabelecidos experimentalmente, pois no mesmo lugar o tempo todo. Em particular,
poucos são os testes viáveis o ponto de máxima aproximação ao Sol
experimentalmente acerca destas teorias (periélio) muda de localização conforme
sobre campos gravitacionais, e a principal mostrado na Fig. 1.
razão disto é a nossa localização (do Planeta
Plan
Terra), que propicia fracos efeitos devido às
pequenas distâncias, que não significam
diferenças consideráveis em relação aos
resultados obtidos através da Teoria
Newtoniana.
Os principais testes comprovados
experimentalmente sobre a Teoria Geral da
Relatividade, chamados de “testes
clássicos”, propostos pelo próprio Einstein
que são:
1. Deflexão de um feixe de luz por um
campo gravitacional: isto foi comprovado Fig. 1: O avanço do periélio da órbita do planeta
pela observação de e estrelas durante o Mercúrio (ponto de maior proximidade em relação ao Sol
aqui representado pelos pontos P1, P2 e P3) só pode
eclipse de 1919 e posteriormente com ser corretamente explicado com base na Teoria da
outros eclipses e outros tipos de Relatividade Geral.
observações (ver, por exemplo, a lista
11). 2. MOVIMENTO CLÁSSICO DE KLEPER
2. Desvio gravitacional da freq
frequência de um
feixe de luz num campo gravitacional: isto Vamos inicialmente rever o problema
foi comprovado pela experiência de clássico segundo Kepler descrevendo o
Pound e Rebka na torre de Harvard em movimento de uma partícula de teste no
1960. Como frequência
ência é o inverso do campo gravitacional de um corpo massivo
tempo, a marcha de um relógio é afetada para depois considerar a contrapartida da
por um campo gravitacional e isto foi Relatividade Geral.
testado colocando-se se relógios em um Inicialmente vamos considerar uma
avião. partícula de massa m movendo-se sob a
3. Precessão do periélio de Mercúrio: havia influência de uma força proporcional ao
uma pequena discrepdiscrepância entre a inverso do quadrado da distância ao centro
precessão calculada pela mecânica de atração localizado na origem O, isto é:
newtoniana e a precessão observada, (1)
43,11″±0,45″ por século. Quando Einstein
calculou o valor desta precessão, usando Onde µ é uma constante. Assim pela
a relatividade geral, ele encontrou quase Segunda Lei de Newton, temos:
43″. (2)
Vamos analisar um pouco mais afundo O momento angular de m é dado por:
este terceiro
erceiro item. De acordo com a (3)
mecânica newtoniana, as órbitas dos Logo:

1. Primeiro autor aluno de Mestrado do Departamento de Física Universidade Federal de Campina Grande. R-R
Aprigio Veloso 882 – Universitario – PB. CEP.: 58 429-140, Bloco CY, Sala 103. E-mail:
mail:
fernando_gama@uol.com.br
ernando_gama@uol.com.br
2. Segundo autor aluno de Mestrado do Departa
Departamento
mento de Física Universidade Federal de Campina Grande. RR-
Aprigio Veloso 882 – Universitario – PB. CEP.: 58 429-140, Bloco CY, Sala 103. E-mail:
mail: natopb@bol.com.br
3. Terceiro autor aluno de Mestrado do Departamento de Física Universidade Federal de Campina Grande. R-R
Aprigio Veloso 882 – Universitario – PB. CEP.: 58 429-140, Bloco CY, Sala 103. E-mail:
mail:
emanuel.cunha@yahoo.com.br
manuel.cunha@yahoo.com.br
  estabelecer o resultado clássico da Teoria de
          ̂   0
  Newton para um problema com duas
Portanto, o produto interno de  por ele partículas, ou seja, dois pontos massivos
mesmo e de r por ̂ se anulam porque os movendo-se sob a influência mútua de seus
vetores são paralelos, assim o momento campos gravitacionais pode ser reduzido a
angular é conservado e   , onde h é um problema de uma única partícula.
um vetor constante. Se assumimos h≠0, Consideremos duas massas m1 e m2 nas
teremos r sempre perpendicular a h, assim o posições r1 e r2 respectivamente, conforme
movimento da partícula fica restrito a um figura abaixo:
plano. Se introduzirmos coordenadas polares
no plano (r, Φ), a equação de movimento
fica:
 
  ̂    ̂
   (4)
  
Tomando o produto escalar desta equação
por , fazendo     !"#$  %, que na
verdade indica a conservação de &'(. Fazendo Fig. 2: Problema de dois corpos
o produto escalar desta mesma equação por
)*, obtemos: Definindo o vetor posição de m1 em relação à

   (5) m2 como: R = r1 – r2.
+ Se F12 é a força de m1 sobre m2 e F21 a força
Como queremos achar a orbita r em função
de m2 sobre m1, conforme a Terceira Lei de
de Φ, introduzimos a variável u=1/r na
Newton, temos que: F12 = - F21.
equação acima e ela torna-se a Equação de
Usando a Segunda Lei de Newton e a Lei da
Binet:
Gravitação Universal, obteremos:
,  9 9
,  7        8 :   ̂ (8),
  % 

Esta equação tem como solução: e assim:


;9 ;9: ;19: <9 3

,   - cos 1 2 3 (6)      ̂ ̂  ̂
+   
Onde C e Φ0 são constantes. Definindo l = (9)
2 2
h /µ e e = Ch /µ. Substituindo na equação Assim podemos concluir que a equação do
acima, ficamos com: movimento pode realmente ser escrita como:
4 
 1 6!"$1 2 3 (7) 7    ̂
 
Esta é a equação polar de uma seção cônica Onde m é a massa reduzida dada por: m =
onde l determina a escala, e a excentricidade m1 m2 / (m1 + m2) e µ = G (m1 + m2).
e Φ0 a orientação em relação ao eixo x. Em um modelo simples de movimento
Onde temos que para: planetário, nós fazemos m2 como a massa
0 < e < 1, um movimento elíptico (e=0, um do Sol e m1 a massa do planeta. Que é uma
círculo) interpretação adequada do movimento de
e = 1, um movimento parabólico um planeta e é novamente uma elipse de
e > 1, um movimento hiperbólico Kepler.
No caso que estamos estudando,
temos um movimento elíptico e o ponto mais 3. AVANÇO DO PERIÉLIO DE
próximo da origem é chamado de Periélio, MERCÚRIO
conforme mostrado na figura abaixo:
Vamos analisar o problema de um corpo
conforme a Relatividade Geral. Assumindo
que o corpo central produz um campo
gravitacional esférico e simétrico sobre uma
partícula de teste, a solução apropriada na
relatividade geral para este caso é a solução
de Schwarzschild, além disso, a partícula de
Fig.1: Movimento elíptico de Kepler teste se move através de uma de uma
geodésica temporal, assim devemos estudar
O movimento de uma partícula de a solução da geodésica de Schwarzschild
teste no campo de um corpo massivo é cuja métrica é dada pela equação:
chamado de problema de um corpo. Vamos
? ? B@  ^ 9
=>?  @  =A? 1@ 3 =)? )? =C? , 3 , (11)
) ) _ a
? ? ?
) DEF C=G  ?H  @ (1) Esta é a versão relativística da Equação de
Do capítulo 7, no parágrafo 7.6 temos que: Binet, diferindo do resultado Newtoniano pela
?H  IJK LJ LK  @, e restringindo o presença do último termo.
movimento ao plano equatorial como foi ef h?
N Fazendo R , g , e lembrando
estudado na teoria Newtoniana, onde M  , ? i?
 ? =G
que ) 
ficamos com: =\
? ? B@ a equação (11) pode ser escrita como:
@  =A? 1@ 3 =)? )? =G?  @ ^
) )
,  j11 k, 3 (12)
(2) _
Pegando um ponto de diferenciação em Como primeira aproximação para as órbitas,
relação ao tempo próprio O, nós vamos examinar o caso em que r é muito
encontraremos a geodésica temporal. grande. Na equação (12), para r2 >> b, bu2
Acontece que é suficiente restringirmos → 0, tornando-se:
nossa atenção para três equações, que são ^
,j (13)
PQ _
dadas quando a = 0, 2, 3, em: R PL Portanto, as órbitas serão Newtonianas se a
= PQ
  T, que são: velocidade própria na direção Φ for muito
=S PLR
 9 menor que a velocidade da luz, pois a
V 1  W  0 (3) correção da Relatividade Geral introduzida
U 

X  M   $6#M!"$M   0 (4) na equação (12) é muito pequena e para as
U
 velocidades usuais o desvio introduzido é
  $6# M   0 (5) desprezível nas órbitas Newtonianas.
U
Mas nós precisamos de quatro equações Esta correção representa três vezes o
diferenciais para encontrar as quatro quadrado da velocidade orbital do planeta,
incógnitas, que são: g h? ) =G ?
  1Y3   1Y3 M  M1Y3 ou seja: gS?  )?  l?)?  h Vl =\ W m @
  1Y3 Tomando como exemplo a Terra que tem
2
Obtemos a quarta equação substituindo a velocidade orbital de 30km/s, o valor de bu é
-8
equação (3) e (5) em (1): da ordem de 10 .
)? DEF? C=G?  @ , como M  π/2, integrando Para calcular o avanço no periélio usando a
em relação a Φ, temos: equação (11), adotamos um procedimento
=G
    &, ou seja, )?
interativo, expandindo a solução em
 (6) 2
=\ potencias de m/L , então:
Integrando a equação (3), obtemos: 123 13
,, , n , onde u é a solução da
(0)
? =A
@  1 3 H (7) equação newtoniana obtida fazendo-se 3mu
2
) =\ (1)
onde E e L são constantes de movimento. = 0 e u é uma pequena correção, ou seja:
  ^1o3 9
Usando as equações (6) e (7) em (2), , 123  , cuja solução de é dada por:
_ a
ficamos com: 123 9
=) ? ? ? ,  a X1 6 cos1 2 3p,
=\
 H? 1)? @31@ )
3T (8) por conveniência fazemos Φ0 = 0
=) =) =G  =) 9
Fazendo: ]  , ficamos com: , 123  a 11 6 cos 3 (14)
=\ =G =\ )? =G
(1)
 =) ? ? ? Conforme a equação (11) para u , temos:
 H? 1 @31@ 3T (9)
)? =G )? )   , 13
Multiplicando por 1/L e chamando S  ) ,
2 B@ ,13  3 1,2 3
2  
(onde: du/dλ= - u dr/dλ), obtemos: 
^  `  B 9 3 11 6 cos 3
 ,  , 2 ,b (10) &
_ a a b
Que é uma equação diferencial de primeira 3 11 6 cos 3
ordem para determinar a órbita da partícula &q
  ^1:3 b9r t9r
de teste ou mais precisamente a trajetória do _
, 13  as as
6 cos 
corpo de teste projetado no plano onde t = b9r 
N 6 !"$   (15)
Constante. (M  ) as

Considerando-se órbitas de pequena
Diferenciando a equação (10) em relação a u
^ ^ excentricidade, como a de Mercúrio, os
e admitindo _ c 0, pois _  0 corresponde termos de segunda ordem e superiores
à órbitas circulares, temos: podem ser desprezados em primeira
aproximação, portanto o primeiro e o terceiro pequeno período, a posição do periélio pode
termo da equação (15) podem ser ser observada com precisão. Antes da
desprezados e o único termo que produz relatividade geral, havia uma discrepância de
efeito observável é o termo em cosΦ, cuja 43 segundos por século entre o valor
contribuição aumenta a cada revolução, calculado pela teoria clássica e o valor
então ficamos com: observado. Embora seja uma diferença muito
  ^1:3 t9 r pequena, ela é muito significante em uma
,13  6 cos  (16)
_ as escala astrofísica, pois representa
b9r
Cuja solução é: ,13  s 6 sen  (17) aproximadamente cem vezes o erro
a
Então: probabilístico em uma observação. Essa
9 discrepância era motivo de preocupação dos
,  ,123 ,13   X1 6 cos 
a astrônomos até meados do último século.
b9
6 sen p, ou seja: O resultado obtido para o avanço do
a
 h? periélio de Mercúrio é provavelmente a mais
S  ? X@ E wxy G ?
EG yz{ |p (18) importante confirmação da Relatividade
Na equação (18) podemos ver que o termo Geral, contudo deve ser dito que os valores
h? observados foram extraídos de observações
que difere da solução clássica é }G  ? G,
 complicadas cujas causas têm várias
considerando ∆Φ<< 1, a equação (18) pode origens.
ser escrita como: A precessão do Periélio de Mercúrio é

S  ? X@ E wxy G }G E yz{ |p (19) de aproximadamente 5.600,73±0,41

Para   2~, ou seja, após uma volta segundos por século. Destes, 5025
b9 segundos estão associados à precessão da
completa, temos: ∆  2~   . Em
a Terra e os outros planetas adicionam
unidades relativísticas, teremos, para: aproximadamente 532 segundos à
; N ; ;
  ,     , j   , obtemos: precessão de Mercúrio devido a interação
€ ‚ ƒ€ a
?„ h R? gravitacional newtoniana. A Teoria
}G  (20)
l? †? 1@BE? 3 Newtoniana prevê ∆φn ~ 5.557,62±0,21
Onde: a - é o semi-eixo maior da elipse segundos. A diferença de 43,11±0,45
T - é o período da órbita segundos é explicada pela Teoria Geral da
c - é a velocidade da luz Relatividade, como vimos acima.
e - é a excentricidade da elipse
Considerando: 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
10 -11 3 -1
a = 5,546 . 10 m G = 6,6732 . 10 m . s
8
T = 0,24085 anos c = 2,998 . 10 m/s D’INVERNO, R. A. Introducing Einstein’s
e = 0,205615 Relativity. Faculty of Mathematical Satudies,
-7
Encontramos: ∆Φ = 5,012 . 10 rad./órbita, University of Southampton. Claredom Press,
-1
ou ∆Φ = 1,034 . 10 segundos /órbita, ou Oxford, 1998.
ainda: HARTLE, J. B. Gravity: an introduction to
∆Φ = 42,93 segundos /século Einstein’s general relativity. Addison
O resultado observado é de 43,11±0,45 Wesley. San Francisco, 2003.
seg./século SARAIVA, A. Correcção da precessão do
periélio de Mercúrio. The General Science
4. CONCLUSÃO Journal, 2009. Disponível em:
<http://www.wbabin.net/saraiva/saraiva11p.p
De fato na Teoria Newtoniana temos um df > Acesso em 08 de janeiro de 2010.
avanço no periélio. Isto porque o sistema TAYLOR, E. F.; WHEELER, J. A. Exploring
planetário não é um sistema de dois corpos, Black Holes – Introduction to General
mas um sistema de n-corpos, e todos os Relativity. Addison Wesley Longman. San
outros planetas, asteróides e meteoros Francisco.
produzem efeito de perturbação no Notas de aula da disciplina Relatividade
movimento de um planeta em particular. O Geral I do Curso Mestrado em Física da
planeta Júpiter, por exemplo, produz uma UFCG, ministrado pelo professor Fábio Leal
perturbação considerável, pois tem uma de Melo Dahia.
massa muito grande, de aproximadamente
0,1% da massa do Sol. Como Mercúrio tem
uma órbita com alta excentricidade e

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