Aula Sobre Modernismo em Portugal VV
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MODERNISMO EM PORTUGAL/
FERNANDO PESSOA
PROFESSORA DIRCE MEINHARDT
ALBERTO CAEIRO
RICARDO REIS
Alberto Caeiro representa o poeta que busca o campo e a vida ingênua e
simples, despojada de inquietações intelectuais. Seu olhar é o olhar de quem A veia clássica dos heterônimos de Fernando Pessoa. Monarquista, educado
vê o mundo pela primeira vez, sem metafísica ou religião. em colégio de jesuítas, amante das culturas grega e latina. Buscou sempre o
Para ele, o que importava era viver o mundo, era nele estar presente, sem mais alto, o impossível em sua poesia, esta refinada, concisa, com linguagem
querer saber o porquê de estar-se ali naquele momento, sem interrogar-se do bem trabalhada e vocabulário rebuscado.
que se vive. O objetivo era aprender a desaprender, aprender a não pensar, a Seus poemas eram odes, poemas líricos, com métrica, estrofes regulares e
silenciar a mente, a somente viver o contato direto com a realidade que se variáveis. Suas odes voltavam-se aos deuses da mitologia grega. Ao contrário
tinha à frente, palpável. A vida para ele era o puro sentir. de seu mestre, Reis pensava bastante nos deuses, esses que, para ele,
controlavam o destino dos homens e estavam acima de tudo.
O guardador de rebanhos
“(...) O meu olhar é nítido como um girassol, Tão cedo passa tudo quanto passa!
Tenho o costume de andar pelas estradas Morre tão jovem ante os deuses quanto
Olhando para a direita e para a esquerda, Morre! Tudo é tão pouco!
E de vez em quando olhando para trás... Nada se sabe, tudo se imagina.
E o que vejo a cada momento, Circunda-te de rosas, ama, bebe
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, E cala. O mais é nada.
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial! No poema, há um questionamento sobre o que fazer diante da passagem
Que tem uma criança se, ao nascer, do tempo, uma vez que tudo passa muito rápido e conhecemos tão pouco da
Reparasse que nascera deveras... vida e nada da morte – “Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina”. A
Sinto-me nascido a cada momento saída é circundar-se de rosas, amar, beber e calar, ou seja, aproveitar do
Para a eterna novidade do Mundo... pouco que a vida oferece. Termina, contudo, o poema afirmando que “O mais
Creio no mundo como num malmequer, é nada”, como se não houvesse esperança.
Porque o vejo. Mas não penso nele A tensão preponderante entre a razão e a emoção, que se estabelece no
Porque pensar é não compreender... universo da criação heteronímica como força geradora das personalidades
O Mundo não se faz para pensarmos nele
poéticas, garantindo-lhes natureza específica, tende em Reis ao primado da
(Pensar é estar doente dos olhos)
razão.
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, ÁLVARO DE CAMPOS
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama Apresentou-se como o mais moderno entre os heterônimos. E, pode-se
dizer também, o mais indisciplinado. Homem voltado para o impulso das
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... emoções, para o presente, para as modernidades que o mundo apresentava,
aberto à realidade. Foi o heterônimo que mais se aproximou da terceira fase
Amar é a eterna inocência,
do modernismo português.
E a única inocência não pensar... (...)”
Nesse poema, fica evidente o niilismo do eu lírico. Ele não crê me nada, não
vê sentido em nada, rejeita todas as teorias e interpretações sobre o sentido
da vida humana: “Não me venham com conclusões! / A única conclusão é
Lisbon Revisited (l923) morrer”. Por isso recusa, também, as convenções da vida burguesa, o
NÃO: Não quero nada. casamento, a vida social. A natureza não lhe diz nada: “ Ó céu azul- o
Já disse que não quero nada. mesmo da minha infância-/ Eterna verdade vazia e perfeita!”
Que mal fiz eu aos deuses todos? Ó mar salgado, quanto do teu sal
Se têm a verdade, guardem-na! São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. Quantos filhos em vão rezaram!
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus! Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? Quem quer passar além do Bojador
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? Tem que passar além da dor.
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Assim, como sou, tenham paciência! Mas nele é que espelhou o céu.
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Esse poema está presente na obra Mensagem. Essa obra é composta por
Para que havemos de ir juntos? pequenos poemas que, no conjunto, contam a história de Portugal e
projetam, de maneira mística, o sonho de um futuro novo império.
Não me peguem no braço!
No poema, o eu lírico incorpora em sua fala, o próprio povo português –
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. (...)
Ó céu azul — o mesmo da minha infância — falando em nome de uma coletividade e faz alusão às grandes navegações
Eterna verdade vazia e perfeita! (...) portuguesas dos séculos XV e XVI.
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.