Noções de Petrografia
Noções de Petrografia
Noções de Petrografia
Uma rocha pode ser definida como um agregado natural, sólido, multigranular, composto de um ou mais tipos
minerais e/ou mineralóides e com certo grau de persistência química, mineralógica e espaciotemporal. Ao estudarmos uma
rocha, começamos com a caracterização de seus constituintes minerais. Tipo e proporção de minerais, juntamente com
relações de tamanho e forma como eles estão dispostos na rocha, são as mais importantes propriedades utilizadas na
classificação das rochas. Fala-se, portanto, em composição mineralógica, estrutura e textura de uma rocha.
As feições de uma rocha podem ser descritas macroscopicamente, correspondendo àquelas percebidas pela vista
desarmada (ou com uma lente de aumento 10 a 20 vezes), e microscopicamente, com o uso de aparelhos de grande
aumento (microscópios óticos e eletrônicos), fazendo-se necessários processos especiais de preparação da amostra.
Considerando-se o modo de formação, pode-se classificar a maioria das rochas em uma das três grandes famílias:
ígneas, sedimentares e metamórficas.
As rochas ígneas ou magmáticas são formadas a partir do resfriamento e consolidação de uma fusão silicatada
natural denominada magma.
As rochas sedimentares são formadas pela compactação e/ou cimentação de materiais derivados do intemperismo
físico-químico que atua nas rochas pré-existentes, ou por processos de precipitação química ou acumulação orgânica em
uma bacia de sedimentação continental, marinha ou transicional.
As rochas metamórficas são formadas como resultado de transformações de rochas pré-existentes, sob condições
de pressão e temperatura distintas das condições de formação das rochas pré-existentes e das condições do intemperismo.
Algumas rochas não são enquadradas convenientemente em uma daquelas três grandes famílias, ocupando
posições intermediárias entre duas famílias e incorporando
características de ambas. Três grupos transicionais são Rochas ígneas
particularmente importantes:
- rochas piroclásticas - formadas por materiais ejetados
de vulcões e que são sedimentados e cimentados em um
agregado coerente. São transicionais entre rochas ígneas
e rochas sedimentares; Migmatitos Rochas piroclásticas
- rochas anquimetamórficas - formadas por mudanças
na composição e/ou textura de rochas sedimentares em
condições de baixa temperatura. Elas parecem rochas
sedimentares em muitos aspectos de composição,
textura e modo de ocorrência, porém são transições entre
essas e as rochas metamórficas; Rochas anqui-
- migmatitos - rochas intermediárias entre rochas ígneas Rochas metamórficas Rochas
e metamórficas. Muitos migmatitos são formados sob metamórficas sedimentares
condições de intenso metamorfismo, nos limites da fusão
das rochas pelas altas temperaturas e pressões
envolvidas.
As três grandes famílias de rochas estão plotadas nos vértices do triângulo ao lado. As famílias de rochas que são
transicionais situam-se nos lados do triângulo. Por exemplo, rochas piroclásticas contêm fragmentos de materiais
ejetados de vulcões, e nesse sentido têm características ígneas. Mas os fragmentos são compactados e cimentados para
formar a rocha, então, as rochas piroclásticas têm, também, características sedimentares (Skinner & Dietrich, 1979).
1.3 Textura
Refere-se ao tamanho, forma e arranjo dos minerais essenciais da rocha.
O resfriamento do magma no interior da litosfera ocorre em um grande intervalo de tempo e por isso as
rochas intrusivas são constituídas exclusivamente por minerais, não contendo vidro. Nesse caso, a textura é
dita holocristalina (só minerais).
As rochas extrusivas, por outro lado, formam-se pelo resfriamento do magma em condições de superfície
ou muito próximas à superfície terrestre, em regime de resfriamento rápido. A textura pode ser holocristalina,
holohialina (ou vítrea, só vidro) e hipocristalina (ou semi-vítrea = mineral + vidro vulcânico). A presença de
vidro vulcânico deve-se ao brusco resfriamento da lava.
A formação das rochas ígneas plutônicas ocorre pela lenta cristalização e envolve escalas de tempo de
milhares de anos. Além de holocristalina, a textura resultante é caracterizada por minerais essenciais visíveis a
olho nu (textura fanerítica) com dimensões superiores a 4mm. Diz-se, então, que a textura é fanerítica
grossa. Quando os minerais são muito grandes (mais de 4cm), a textura é pegmatítica.
Por outro lado, nas rochas vulcânicas, quando se formam minerais, eles são de pequeno tamanho, com
dimensões geralmente inferiores a 1mm. Eles são, portanto, imperceptíveis a olho nu ou perceptíveis, mas de
difícil identificação. No primeiro caso, diz-se que a rocha apresenta textura afanítica e, no segundo caso,
textura fanerítica fina.
Rochas intrusivas hipoabissais formam-se em condições intermediárias e apresentam textura fanerítica
média (1mm a 3-4mm).
A textura ainda pode ser porfirítica, quando os tamanhos dos minerais essenciais se distribuem em
duas classes: a dos cristais grandes (fenocristais) e a dos minerais menores (a matriz). Essa textura indica ter
havido movimentação do magma após o início da cristalização.
1.4 Estrutura
O aspecto estrutural predominante nas rochas magmáticas é a ausência de orientação na disposição de
seus constituintes minerais. Diz-se, então, que a rocha é maciça ou isotrópica. Algumas rochas magmáticas,
no entanto, podem apresentar orientação de fluxo devido à orientação dos minerais prismáticos e tabulares
adquirida durante a movimentação do magma.
As rochas magmáticas extrusivas ou vulcânicas podem apresentar uma estrutura vesicular, por ação de
voláteis que se expandem da lava, dando origem a cavidades esféricas a subesféricas. A pedra-pomes e o
basalto vesicular são exemplos bem conhecidos. O preenchimento destas vesículas por minerais secundários
origina a estrutura amigdalóide.
1.5 Ocorrência
Geneticamente, podemos dividir as rochas magmáticas em duas sub-classes:
- rochas magmáticas intrusivas: formadas pela consolidação do magma no interior da litosfera. Conforme a
profundidade em que se formam, as rochas intrusivas podem ser classificadas em plutônicas (grande
profundidade) ou hipoabissais (profundidades intermediárias). A textura das rochas intrusivas é fanerítica
e as plutônicas podem ser reconhecidas pela textura fanerítica grossa ocasionada pelo lento resfriamento
do magma em condições de profundidade. Exemplos de rochas plutônicas são o granito e o gabro. Nas
rochas hipoabissais são comuns as texturas fanerítica média e porfirítica. Um exemplo de rocha
hipoabissal é o diabásio;
- rochas magmáticas extrusivas ou vulcânicas: são provenientes da atividade vulcânica. O magma chega
até a superfície da crosta e flui como lava vulcânica ou é ejetado na atmosfera e depositado próximo ao
cone vulcânico pela ação da gravidade. No primeiro caso, formam-se as rochas de derrame e, no segundo,
as rochas piroclásticas. A mais comum das rochas de derrame do Brasil é o basalto, aflorante em grandes
extensões no sul do país. A olho nu, a textura das rochas extrusivas é geralmente afanítica e/ou vítrea
devido ao rápido resfriamento da lava em contato com a atmosfera ou a hidrosfera. Exemplos de rochas
vulcânicas são o riolito (correspondente vulcânico do granito), basalto (correspondente vulcânico do gabro),
obsidiana (vidro vulcânico), pomes.
Tabela simplificada para a classificação dos tipos mais comuns de rochas ígneas
ÍNDICE COLORIMÉTRICO
%máficos: menor que 30%__________________________________________________________________________________________________________________> > 90%
Leucocrática Leucocrática Meso/melano Melanocrática Ultramáfica
COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA
Minerais Essenciais:
Feldspatos Álcali-feldspato>>>Plag. Álcali-feldsp>>>Plag Plagioclásio>>>K-feld Plagioclásio Sem feldspato
Quartzo Quartzo >20% sem Quartzo sem Quartzo sem Quartzo sem Quartzo
Máficos não são essenciais não são essenciais Anfibólio + Pirox. Piroxênio Pirox., Oliv. Anf.
TEXTURA
Fanerítica ULTRAMÁFICA
grossa a média GRANITO SIENITO DIORITO GABRO Dunito (olivina)
Afanítica,ou Piroxenito (pirox)
fanerítica fina RIOLITO TRAQUITO ANDESITO BASALTO Peridotito (pirox. +
olivina)
Fanerítica média DIABÁSIO Hornblendito (anfib)
BASALTO
Porfirítica de RIOLITO TRAQUITO ANDESITO
matriz afanítica ou PÓRFIRO e
PÓRFIRO PÓRFIRO PÓRFIRO
fanerítica fina DIABÁSIO
PÓRFIRO
GABRO
Porfirítica de GRANITO SIENITO DIORITO
matriz fanerítica PÓRFIRO e
PÓRFIRO PÓRFIRO PÓRFIRO
média (a grossa) DIABÁSIO
PÓRFIRO
Vítrea OBSIDIANA ou VIDRO VULCÂNICO
Pegmatítica PEGMATITO
2. ROCHAS SEDIMENTARES
Os sedimentos e as rochas sedimentares perfazem menos de 10% da crosta terrestre em volume, mas
cobrem cerca de 75% da superfície terrestre. Tal abundância, aliada a grande quantidade de informações
paleoambientais e paleoclimáticas obtidas a partir desses materiais, torna o seu estudo essencial para o
entendimento da história evolutiva da Terra.Sedimentos são materiais derivados do intemperismo físico,
químico e biológico de rochas pré-existentes, da erosão, transporte e deposição ou precipitação desses
materiais em uma bacia de sedimentação. Pela diagênese, os sedimentos são compactados, cimentados ou
consolidados, originando as rochas sedimentares.
2.1 Componentes das rochas sedimentos
Os materiais transportados por arraste, saltação ou suspensão são fragmentos de rochas pré-existentes,
minerais resistentes ao intemperismo e minerais formados pelo intemperismo. Os materiais mantidos em
solução na água constituem a fração solúvel, que é precipitada quimicamente. Os primeiros materiais são
denominados terrígenos ou siliciclásticos e dão origem às rochas sedimentares terrígenas. A fração
solúvel que precipita é o componente químico, que pode formar o cimento das rochas terrígenas ou, quando é
predominante em volume, formar as rochas químicas. Há ainda os materiais de origem orgânica, como o
carvão.
2.2 Textura
A textura das rochas terrígenas é clástica (ou detrítica), pois nessas rochas predominam clastos (ou
fragmentos, detritos).
Se o material precipitado quimicamente não sofrer remobilização mecânica, diz-se que a textura da
rocha é cristalina. Se o material precipitado for revolvido por correntes diz-se que a rocha tem textura
clástica, à semelhança da textura das terrígenas. Mais 3/4 da fração química dos sedimentos são constituídos
por carbonatos; a sílica constitui o segundo componente mais abundante. Outros constituintes, contudo, podem
ser abundantes localmente, tais como os sulfatos, halóides, fosfatos, óxidos e matéria orgânica.
2.3 Elementos texturais das rochas sedimentares
De acordo com o item anterior, as rochas sedimentares dividem-se em dois grandes grupos texturais: o
das rochas clásticas e o das rochas cristalinas. Nas cristalinas, os minerais se justapõem (a superfície
externa de cada um se encaixa na superfície de seus vizinhos). Nas clásticas os constituintes não têm
correspondência de forma e apenas se tocam imperfeitamente, deixando espaços que podem permanecer
vazios ou não. No último caso, os espaços são preenchidos por precipitados químicos ou por materiais de
origem terrígena e de granulometria mais fina do que a granulometria dos constituintes principais. Na textura
clástica, portanto, pode haver três componentes texturais: as partículas, que são os grãos que estruturam o
arcabouço da rocha, a matriz, que é constituída por material clástico fino que preenche os interstícios entre as
partículas, e o cimento, que é de origem química e liga as partículas.
Um parâmetro importante da textura clástica é o tamanho dos constituintes detríticos das rochas.
Wentworth estabeleceu uma escala para definir a ordem de grandeza destes constituintes, e na tabela que se
segue, ao lado das classes granulométricas vêm representados também os tipos granulométricos de
sedimentos, estabelecidos de acordo com as classes granulométricas que neles predominam. A escala de
Wentworth é apresentada na página seguinte.
2.4 Estrutura
As estruturas resultantes do transporte e deposição de sedimentos são denominadas estruturas
primárias e incluem feições como estratificação, marcas onduladas, greta de ressecamento e fósseis,
dentre outras. Os elementos estruturais mais característicos das rochas sedimentares são os planos
correspondentes às superfícies deposicionais. Embora a sedimentação seja contínua, os fatores físicos durante
a sedimentação variam, produzindo mudanças na natureza dos materiais depositados. Cada unidade
deposicional diferenciada constitui um estrato ou camada, e o depósito diz-se estratificado.
O acamamento pode apresentar-se em lâminas (espessura menor que 1 cm) e camadas (espessura > 1
cm), planares e paralelas (estratificação planar-paralela), como a do varvito de Itu, ou em camadas
primariamente inclinadas em relação à principal superfície deposicional (estraficação cruzada).
Outra estrutura típica das rochas sedimentares é a marca ondulada (ripple marks). A superfície de
sedimentos incoerentes pode adquirir aparência ondulada por ação de correntes aquosas ou de ventos.
Sedimentos de granulometria argila, quando são depositados em meio aquoso e posteriormente
expostos ao ar, geralmente se contraem e se racham por desidratação e ressecamento, formando as gretas
de dissecação (mud cracks).
Escala granulométrica de Wentworth e classificação das rochas terrígenas mais comuns
3. ROCHAS METAMÓRFICAS
Rochas metamórficas são aquelas que resultam da transformação de rochas pré-existentes em
condições de temperatura e pressão diferentes das condições de formação da rocha e superiores àquelas que
prevalecem na superfície terrestre. As transformações metamórficas têm lugar no interior da crosta terrestre e
em presença de fluídos que preenchem os poros e as fendas das rochas. A modificação pode ser relativa à
textura da rocha, estrutura e/ou composição mineralógica.
A pressão, na crosta da Terra, aumenta com a profundidade e é representada pelo peso da coluna de
rocha acima do ponto considerado. A temperatura também aumenta com a profundidade, pois a Terra possui
um gradiente de temperatura estimado em cerca de 30°C por quilômetro de profundidade. Compreende-se,
portanto, que quando uma rocha sedimentar é recoberta por camadas sucessivas de sedimentos, ela
experimenta temperaturas e pressões cada vez mais elevadas. Ao contrário, nas regiões desgastadas pela
erosão, as rochas intrusivas ali existentes vão sendo aliviadas do peso das rochas sobrejacentes e, ao mesmo
tempo, vão se resfriando em virtude de sua maior proximidade com a superfície do terreno. Em ambos os
casos, as rochas afastam-se de suas condições originais de equilíbrio.
Há dois tipos principais de variações dos fatores físicos capazes de afetar sensivelmente o equilíbrio no
interior da crosta. O primeiro é a elevação da temperatura das rochas que são intrudidas por um magma. A
modificação correspondente é denominada metamorfismo térmico ou de contato. Outro tipo de
transformação fundamental é aquela em que, em virtude de deslocamentos da litosfera, as rochas acham-se
sujeitas ao mesmo tempo a temperaturas e pressões crescentes. A transformação resultante é denominada
metamorfismo termodinâmico ou regional, pois, ao contrário do metamorfismo de contato, atinge regiões
extensas, cobrindo milhares de quilômetros quadrados.
ESTRUTURA MACIÇA ou não. Granulação fina a grossa com quartzo como mineral
predominante, podendo conter mica, hematita e outros minerais que dão a variedade da
rocha: quartzito micácio, quartzito hematítico. QUARTZITO
Cor geralmente clara.
ESTRUTURA MACIÇA ou não. Pode ser constituída predominantemente de calcita -
mármore calcítico, ou de dolomita - mármore dolomítico. MÁRMORE
Todas as cores, do branco ao preto.
Bibliografia recomendada:
MACHADO, F.B.; MOREIRA, C.A.; ZANARDO, A; ANDRE, A.C.;GODOY, A.M.; FERREIRA, J. A.;
GALEMBECK, T.; NARDY, A.J.R.; ARTUR, A.C.; OLIVEIRA, M.A.F.de. Atlas de Rochas. [on-line]. ISBN:
85-89082-12-1.Disponível em: < http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/introducao.html >.
MENEGAT, R. Para entender a Terra. Porto Alegre: Bookman, 2006, 656p. (Tradução de Understanding
Earth).
SGARBI, G.N.C. (org). 2007. Petrografia Macroscópica das rochas ígneas, sedimentares e metamórficas. Belo
Horizonte: Ed. UFMG.
SKINNER, B.J & DIETRICH, R.V. 1979. Rocks and rock minerals. New York, John Willey & Sons.
Rocks: Igneous, Metamorphic and Sedimentary. Disponível em: < http://geology.com/rocks/ >.
Major Rocks Types. Disponível em: < http://www.galleries.com/Rocks/default.htm >.