Motrizef,+3220 Dagmar
Motrizef,+3220 Dagmar
Motrizef,+3220 Dagmar
2010
Artigo Original
material de estudo. E, Goellner (2003) enfatiza para a fundamentação deste texto que, trata-se
que recorrer, portanto, à pesquisa histórica de um olhar relativamente contemporâneo de se
significa recorrer a memórias entendendo-as fazer história. Esta forma surgiu por volta de 1920
como possibilidades de compreender que ali e tem como seus principais idealizadores, Bloch e
estão inscritas sensações, ideologias, valores, Febvre, que segundo Vainfas (1997, p.130):
mensagens e preconceitos que permitem ... Combatiam uma história que, pretendendo-se
conhecer parte do tempo onde foram produzidos científica, tomava como critério de cientificidade
e que podem nos auxiliar a compreender um a verdade dos fatos, à qual se poderia chegar
mediante a análise de documentos verdadeiros
tempo que pouco conhecemos.
e autênticos (ficando os ‘mentirosos’ e ‘falsos’ à
Na linha de pensamento da autora significa margem da pesquisa histórica) (...) Combatiam,
perceber que, ainda que as Ginásticas tenham enfim, uma história que se furtava ao diálogo
com as demais ciências humanas, a
altamente se configurado na vida moderna, elas antropologia, a psicologia, a lingüística, a
não são invenções do presente. Resultam de geografia, a economia e, sobretudo, a
conceitos e práticas há muito estruturadas no sociologia, rainha das disciplinas humanísticas
pensamento ocidental cujos significados foram e na França desde a obra de Durkheim.
são alterados não só no tempo mas também no A história, que atravessa o século XX
local onde aconteceram e acontecem. perfazendo grupos contrários às diferentes formas
A história, não apenas no campo da Educação de compreensão, interpretação e aplicação da
Física, mas em outros campos educacionais, mesma é visualizada por Chartier (1994, p.98)
apresentou extremas transformações quanto à como uma disciplina que:
sua metodologia e objetos de estudo. Buscando se afastou de uma simples cartografia das
sistematizar as transformações na história no particularidades ou de um simples inventário,
último século, Burke (1992) destaca que a mesma jamais concluído, aliás, de casos ou fatos
singulares. A história pôde assim retomar a
expandiu como ofício e forma de conhecimento
ambição que havia fundado no início deste
principalmente porque, superou a base clássica século a ciência social, especialmente na sua
da história política incorporando aos estudos versão sociológica e durkheimiana: identificar
históricos a totalidade da atividade humana em estruturas e regularidades, e portanto, formular
suas múltiplas possibilidades temáticas e relações gerais.
metodológicas; passou a compartilhar Segundo o autor, nas últimas duas décadas a
conhecimentos com as demais ciências sociais história modificou-se completamente quanto à
que estudam o homem; buscando um estatuto maneira de tratar seu(s) objeto(s) de estudo(s), se
científico, projetou uma análise das estruturas e baseando agora em “modelos interacionistas e
movimentos sociais de caráter mais geral em etnometodológicos”. Chartier (1994, p.98) ainda
detrimento da narrativa acontecimental; substitui a alega que não são mais “as estruturas e os
preocupação com a trajetória dos heróis e dos mecanismos que regulam, fora de qualquer
personagens – vistos como sujeitos históricos – controle subjetivo, as relações sociais, e sim as
pela idéia de ‘história vista de baixo’ trazendo a racionalidades e as estratégias acionadas pelas
tona múltiplas experiências, olhares e vozes de comunidades, as parentelas, as famílias, os
uma dada temporalidade; ampliou a idéia de fonte indivíduos”.
documental em função da diversificação dos
objetos e dos problemas pertinentes à A história passou de uma história de heróis e
investigação histórica; redimensionou a idéia de grandes feitos baseados nas “narrativas antigas”
verdade objetividade. para uma “nova história” em que “se instalava
entidades anônimas e abstratas” (CHARTIER,
Diante destas transformações ocorridas no
1994, p.98). Hoje, se pondera a possibilidade de
campo da história, também as Ginásticas, seja
conceitos mais amplos e flexíveis de história,
com caráter de atividades físicas ou de
como a história social e a história cultural que o
modalidades esportivas, apresentaram nuances
autor retrata em seu texto, desmistificando quase
diferenciadas no decorrer de seu processo
que completamente um conceito de história tendo
configuracional. Com isso, partir-se-á de uma
como objeto de estudo apenas e exclusivamente
revisão de literatura apresentando o significado da
o que ‘passou’, o que ‘morreu’.
história e do conhecimento histórico das
Ginásticas, refletindo significativamente sobre sua Conforme explicitado acima, a fundamentação
acuidade na formação. conceitual referente à ‘nova’ história permite
pensar a maneira como a história das Ginásticas
O Significado da História na Formação vem sendo estudada e disseminada em meio
Inicialmente partir-se-á da introdução dos acadêmico. O valor desse conhecimento histórico
conceitos gerais de história que serviram de base é demasiado importante na medida em que,
Melo (1997, p.57) que discute também em seu Para apreender este passado “é preciso encerrá-
texto a inclusão de cadeiras (termo mais utilizado lo estreitamente numa rede de perguntas sem
para disciplinas no início da criação dos cursos de escapatória, obrigá-lo a confessar-se” (MARROU,
Educação Física no Brasil), afirma que era 1969, p.53).
diferenciado o status destinado a cadeiras
Para tanto, Melo (1997) aponta a necessidade
teóricas e práticas, bem como cadeiras da área
de melhorias na história que se ensina nos cursos
médica e não médica. Assim, a cadeira de história
de graduação, uma vez que assim é possível
“gozava de um prestígio intermediário, já que
fazer com que esse passado ‘se confesse’ a partir
embora fosse teórica, era não-médica” e, o autor
de uma ‘rede de perguntas’, e permita novas
complementa colocando que este prestígio
mudanças às práticas corporais, especificamente
acabava por ser reduzido, pois a cadeira acabava
as Ginásticas. Com base em Melo (1997), o valor
“por ser considerada de uma utilidade prática
do conhecimento histórico que as Ginásticas
menor” (grifo do autor).
geram deve ser instituído nos cursos de
A questão da “preocupação prática” na área da graduação como fator de referência para a
Educação Física, alertada por Melo (1997, p.57), conservação da memória de manifestações
possivelmente relegou à história, nos currículos corporais historicamente construídas.
dos cursos de formação profissional, um espaço
Observando a maneira plural e interdisciplinar
de segundo plano. Ele destaca que:
pela qual a história se aplica a todas as ciências,
Isto é, se acharmos que a formação e a para as diversas áreas do saber, dentro de
preparação profissional em nível superior tem o
único intuito de dar fórmulas fechadas, soluções diferentes campos de estudo, a preservação de
lineares, modelos de atuação a serem seguidos seu conhecimento é de suma importância.
inquestionavelmente, a História tem realmente Destarte, é preciso que se faça a reconstrução
uma duvidável validade e relevância. Dentro dos conhecimentos históricos da humanidade
desta perspectiva, suas funções se restringiriam
à mera informação despretensiosa, um objeto para resguardar os fatos que refletem no presente
de curiosidade ou a distorcidamente justificar o e assim também o farão no futuro, não sendo
presente. menos importante para o campo da Educação
Física, designadamente na área das Ginásticas.
Goellner (2005, p.79) afirma que no estudo de
Nesse sentido, seguem momentos importantes da
história, e a autora trata especificamente de
história das Ginásticas, que notadamente, porém
estudos sobre esporte, não é satisfatório apenas
não somente, deveriam ser abordados nos cursos
“evitar o esquecimento”. E, continua destacando
de formação acadêmica em Educação Física.
que “não basta resgatar e preservar a memória
(ainda que essa seja tarefa necessária), mas Contextualização Histórica das
fundamentalmente, há que lhe conferir
Ginásticas
significações, contextualizá-la no seu tempo,
analisá-la, permitir que dela originem-se Ao analisar as Ginásticas no tempo, notou-se
diferentes interpretações”. E, aqui cabe questionar que seu passado foi se modificando de acordo
se os cursos de formação acadêmica em com as necessidades de cada momento histórico,
Educação Física estão resgatando, preservando, e de cada nação. Segundo Fiorin (2002, p.17) “a
conferindo significação e originando diferentes Ginástica, sendo entendida como sinônimo de
interpretações das manifestações corporais atividades físicas em geral vai ganhando
historicamente concebidas, como por exemplo, as roupagens diferentes de acordo com as épocas,
Ginásticas. culturas e interesses distintos” (grifo da autora).
Cabe colocar que, como a história num contexto
Na ampliação de pesquisas na área da geral, também a história das Ginásticas passou
Educação Física, é possível observar que de por uma mutação, com explicações às suas
certa forma as Ginásticas são e, talvez continuem mudanças (LE GOFF, 1992). Ao estudar a história
sendo, expostas em estudos diversos com os das Ginásticas, deve-se estar convicto do objeto
mais variados objetivos, uma vez que perfazem o de estudo, já que a historiografia a cerca deste
processo de constituição histórica da Educação conteúdo remonta de muitos anos aplicando-se a
Física mundial. Contudo trata-se de uma diversas formas de movimentações corporais,
descrição histórica e muito pouco de uma que foram melhor ‘racionadas’ há cerca de meio
contextualização e discussão que busque no século.
conhecimento histórico o que foi e o que vem a
ser as Ginásticas. Construir uma representação As Ginásticas – com interpretação própria do
de um determinado passado humano é aceitar termo – surgem na Antigüidade, em que
sua complexidade, tudo que lhe pertenceu, estudiosos gregos criaram o termo Gymnus: nu
tentando apreender o máximo possível sobre ele. (tratando-se da prática de atividades com o corpo
desnudo). Na época foram também criadas as
192 Motriz, Rio Claro, v.16, n.1, p.189-198, jan./mar. 2010
Conhecimento Histórico das Ginásticas
primeiras sistematizações de atividades físicas, o Física pelo mundo. Ayoub (2003, p.107) destaca
que para Publio (2002) ressalta a importância da “que durante todo o séc. XIX e início do séc. XX,
Antigüidade Grega no aspecto histórico das a ginástica (que compreendia exercícios militares,
Ginásticas. jogos, dança, esgrima, equitação e canto) era o
conteúdo de ensino da Educação Física escolar”.
Marrou (1969, p.185) coloca com propriedade
o auge das Ginásticas na Antigüidade grega: É inegável, portanto, a contribuição das
(...) a ginástica permanece o elemento, senão Ginásticas para o desenvolvimento histórico da
preponderante, pelo menos característico da Educação Física escolar. Foi utilizando a
formação do jovem grego, o gosto pelos nomenclatura Ginástica que as atividades
desportos atléticos e pela sua prática constitui, relacionadas ao corpo e ao movimento
como na época arcaica, um dos traços
dominantes da vida grega, (...). penetraram em âmbito educacional compondo os
currículos obrigatórios. Assim, pensar nas
Neste período – Greco-Romano – existiam Ginásticas leva à necessidade de refletir a
diferentes formas de aplicação das Ginásticas. respeito de quem as ministrava e de que maneira
Em Atenas tinha-se o ideal do culto ao corpo, acontecia a formação destas pessoas.
sendo a prática de exercícios físicos altamente
valorizada como educação corporal (SOUZA, A Formação do Educador Ginástico: da
1997). Enquanto os espartanos e romanos Antigüidade à Modernidade
praticavam exercícios físicos para a preparação Já na Antigüidade nota-se a existência do
de soldados para guerrear. Souza (1997) ‘educador de Ginástica’ ou ‘educador físico’, o
descreve que em Roma, as Ginásticas também ‘paidotribé’, que era além de um monitor de
serviam de preparo para as atividades esportivas Ginásticas, tratava-se de um educador:
do período – luta de gladiadores e cavaleiros. (...) que à sua competência desportiva, devia
Com o Iluminismo, filósofos e pedagogos reunir profundo conhecimento das leis da
higiene e de tudo o que a ciência médica grega
relegaram grande importância à prática das elaborara quanto a observações e prescrições
Ginásticas – como um bem para a formação relativas ao desenvolvimento do corpo, aos
integral do homem seguida dos médicos que, efeitos dos diversos exercícios, aos regimes
acreditavam na atividade física como benefício à convenientes aos diversos temperamentos.
(MARROU, 1969, p.196)
saúde, auxiliando na ascensão das Ginásticas
pelo Ocidente. Segundo o autor, não era apenas pelo
Em meados do século XVIII, surgem os exemplo e pela prática que se ensinavam as
primeiros idealizadores, ou ‘sistematizadores’ das Ginásticas nesse período, havia a apropriação de
Ginásticas e, a partir deles os Métodos um conhecimento superior, ou seja, aqueles que
Ginásticos. Estes idealizadores formularam seus ensinavam Ginásticas deveriam ter uma
Métodos “(...) com princípios da cultura da Grécia abrangente sabedoria filosófica sobre corpo e
antiga, que enaltecia a saúde, a força e a beleza mente. Marrou (1969, p.197) relata que para os
(...)” (BREGOLATO, 2002, p.75). A autora gregos “o gosto pelo pensamento claro exigia
discorre que dentre os Métodos idealizados no tomada de consciência, uma análise minuciosa
século XVIII, os Métodos Alemão, Sueco e dos diferentes movimentos postos em jogo pelos
Francês, foram os que obtiveram maior exercícios”.
penetração na Europa e nos demais continentes. Na Idade Contemporânea, com a ascensão
Os Métodos Ginásticos tiveram dos Métodos Ginásticos e sua inserção na escola
desenvolvimentos simultâneos, favorecendo a houve a necessidade de se criar escolas que
troca de informações entre os mesmos. A formassem esses educadores. Surgem então, por
ascensão destes Métodos se difundiu por toda a todo o continente europeu, escolas e institutos
Europa, dotada de um sentimento nacionalista voltados à formação de professores de Ginástica.
como forma de causar melhorias físicas aos O dinamarquês Franz Netchegal, que
jovens que enfrentariam as guerras da época, influenciou as Ginásticas em seus aspectos
bem como melhorias étnico-raciais à nação educativos, “em 1808 inaugura um instituto civil
(MENEGHETTI, 2003). de Ginástica para a formação de professores”
Para Bregolato (2002, p.76), “as atividades (OLIVEIRA, 1985, p.7). Em 1852, na França,
físicas eram de utilidade para o indivíduo, que se Amoros – idealizador do método Francês – funda
reverteria em utilidade para a nação”. Estas “a Escola Normal de Ginástica de Joinville-le-
prerrogativas políticas militares dos Métodos Pont, próxima de Paris, onde oferecia cursos de
Ginásticos permaneceram no século XX, Ginástica para oficiais” (BREGOLATO, 2002,
acompanhando o desenvolvimento da Educação p.89)
A formação do educador contemporâneo era regulamentação através da Lei nº. 630, que
tão ampliada quanto à dos paidotribés gregos, confere a obrigatoriedade das Ginásticas nas
dado a gama de práticas que as Ginásticas escolas (DARIDO, 2003; PIRES, 2006).
compreendiam desde a Antigüidade. Para
Marinho (1943) relata que, as iniciativas de
elucidar a questão do educador ginástico
formação de professores para ministrarem
contemporâneo, Soares (2000, p.55-56), adota as
Ginásticas que avançaram no Brasil, como a
obras dos franceses Amoros e Demeny – biólogo
criação da Escola de Educação Física da Força
que realizou estudos sobre a formação do
Policial em 1909, restringiram-se à capacitação
educador ginástico.
militar.
Amoros, segundo a autora, acreditava que
Melo (1997), aponta que em 1922, é fundado o
para se ensinar Ginásticas, era de grande
Centro Militar de Educação Física no Rio de
importância ter “formação no campo da Filosofia”
Janeiro, que daria origem futuramente à Escola
e refletir sobre a “educação dos sentidos”
de Educação Física do Exército (EsEFEx). A
realizando um “refinamento do espírito”, em que
EsEFEx foi criada com a intenção de formar
os “saberes sensíveis” seriam o alicerce da
instrutores, monitores, mestre d’arma, monitores
formação. A partir destes, é que se poderia
de esgrima e médicos especializados para o
passar aos “saberes científicos” como, “Anatomia,
exército. Seus cursos eram oferecidos para
Fisiologia, Mecânica”. O educador de Ginásticas
militares e, eventualmente, civis podiam realizar o
ainda deveria comportar conhecimentos sobre
curso de monitor.
“tecnologia”, apreendendo “cálculo e geometria”
para a “construção, reforma e criação de Muitas propostas quanto à criação de cursos
máquinas e instrumentos para as aulas”. Toda surgiram durante as décadas de 20 e 30, no
esta gama de conhecimentos serviria para o entanto Pires (2006, p.182) afirma que:
educador desenvolver nos alunos as faculdades (...) o primeiro programa sistematizado de
físicas e morais. Educação Física no Brasil, foi o curso da Escola
de Educação Física do Estado de São Paulo,
Já para Demeny, a autora destaca que, “quem criado em 1931, mas que só começou a
ensinava Ginástica deveria reunir os funcionar em 1934. Este curso tinha como
conhecimentos do sábio, bem como aqueles do propósito a formação de dois profissionais
distintos, quais sejam: Instrutor de Ginástica e o
prático para, então, adaptá-los ao conhecimento Professor de Educação Física.
do homem”. Demeny denominava o educador
ginástico de ‘engenheiro biologista’, o que reforça O autor descreve que os saberes do instrutor
muito a valorização tecno-científica e biologicista de ginástica deveriam abranger “o estudo da vida
da época. “E a Ginástica compunha este mosaico humana em seu aspecto celular, anatômico,
de certezas, onde apenas as ações úteis e funcional, mecânico, preventivo, estudo dos
passíveis de comprovações experimentais tinham exercícios físicos da infância a idade madura,
lugar”. estudos dos exercícios motores, lúdicos e
agonísticos” (p.182).
Deste modo, é possível observar que as
Ginásticas passam de uma atividade meramente Em 1939, com a realização de revisão na
prática, para uma atividade que requer formação proposta de formação profissional do curso
técnica, teórica e intelectual em que, aquele que citado, passam agora a ser cinco formações quais
as ministrava deveria ter o mínimo de sejam: instrutores de ginástica (professores
conhecimento para ensiná-las. No Brasil a primários), professor de Educação Física, médico
maneira como se dá o desenvolvimento da especializado em Educação Física, técnico em
formação de profissionais capacitados para o massagem, técnico desportista. (PIRES, 2006)
trabalho com as Ginásticas não é muito diferente É notório que as Ginásticas perfazem a
do que acontece no restante do mundo. E assim formação dos profissionais e dos cursos
como na maioria dos países, também no Brasil, superiores, sendo inegável sua contribuição ao
são as Ginásticas que vão figurar o que na desenvolvimento do que hoje se concebe como
seqüência é denominado Educação Física, como Educação Física seja na escola, seja na
será relatado a seguir. universidade.
A Formação para o Trabalho com as No âmbito da educação básica, antes mesmo
Ginásticas no Brasil que houvesse profissionais proferindo o ensino
A necessidade de se formar professores que das Ginásticas, estas passam a fazer parte dos
trabalhassem com atividade física – educação conteúdos a serem desenvolvidos na escola.
corporal – surge com a Reforma Couto Ferraz, Dessa maneira, por meio das mais diversas
em 1851, e, três anos depois, com sua indicações de profissionais como médicos e
pedagogos, alegadas por diferentes objetivos que de Ginásticas a ser implantado no país
vão desde a saúde da nação à retidão militar, as oficialmente foi o alemão, na primeira metade do
Ginásticas passam para o espaço da educação século XIX (MARINHO, 1943).
formal, sendo incluídas agora nos currículos
Dentro dos momentos históricos das
educacionais.
Ginásticas no país, Meneghetti (2003, p.16)
A inclusão das Ginásticas na Escola e registra que a introdução do Método Alemão no
Brasil deve-se ao significativo número de
nas Escolas Brasileiras
imigrantes refugiados da guerra que se instalaram
As Ginásticas com caráter pedagógico foram no país e que tinham como hábito essa prática.
idealizadas a princípio pelo alemão Guths Muths Segundo a autora, “esse contingente populacional
em 1793, “mas suas idéias ficaram em segundo de origem alemã cria inúmeras sociedades de
plano quando Napoleão derrotou os alemães em Ginástica com as características básicas traçadas
1805” (BREGOLATO, 2002, p. 84). Este fato por Jahn, Guts Muths e Spiess”.
despertou um forte sentimento nacionalista
enaltecendo o Método Alemão, onde seu O Método Alemão, por volta de 1860, é
idealizador Friedrich Ludwing Jahn, se apóia em consagrado como o método oficial do exército
características sócio-militares para desenvolvê-lo. brasileiro e, em 1870 o Ministro do Império
determina a tradução e publicação do ‘Novo Guia
Adolph Spiess – nome importante da Ginástica para o ensino de Ginástica nas Escolas Públicas
alemã – “preocupa-se com a Ginástica nas da Prússia’.
escolas” (OLIVEIRA, 1985, p.07). Spiess propõe
que um período do dia seja dedicado ao exercício Como já citado anteriormente, as Ginásticas
físico, porém, sua sistematização de Ginásticas é chegam às escolas brasileiras por intermédio da
mecânica e funcional (MENEGHETTI, 2003), e reforma Couto Ferraz, tendo como aporte o
mesmo assim é implantada nas escolas alemãs Método Alemão. Porém a consolidação das
por volta de 1820. Ginásticas na escola se dá a partir de Rui
Barbosa, com a reforma de 1882, quando institui
Foi a Dinamarca, em 1801, o primeiro país a o Método Sueco na educação.
incluir as Ginásticas nas escolas, influenciada
Em 1882, Rui Barbosa deu seu parecer sobre o
pelas idéias de Franz Netchegal, que em 1928, Projeto 224 — Reforma Leôncio de Carvalho,
consegue que o ensino das Ginásticas na escola Decreto n. 7.247, de 19 de abril de 1879, da
seja obrigatório (OLIVEIRA, 1985). O Método Instrução Pública —, no qual defendeu a
Dinamarquês não teve a mesma força de inclusão da ginástica nas escolas e a
equiparação dos professores de ginástica aos
aceitação como o Alemão, Francês e Sueco, das outras disciplinas. Nesse parecer, ele
justamente pelo seu caráter pedagógico em destacou e explicitou sua idéia sobre a
contraposição ao militar. importância de se ter um corpo saudável para
sustentar a atividade intelectual. (BRASIL,
Outro fato importante para as Ginásticas se 1997, p.19)
retrata a partir do Método Francês na segunda
metade do século XIX, em que Bregolato (2002, Com a reforma, “houve recomendação para
p.89) coloca: que a Ginástica fosse obrigatória, para ambos os
sexos, e que fosse oferecida para as Escolas
Após a derrota na guerra franco-prussiana de
1870-71, as autoridades atribuíram à Normais” (DARIDO; SANCHEZ NETO, 2005, p.2).
degeneração física e moral a culpa pela derrota Contudo, os autores, bem como Betti (1991)
nacional. Com isso, leis foram criadas no colocam que até os primeiros anos da década de
sentido de tornar obrigatória a Ginástica no 30, as leis propostas pela reforma, foram aderidas
currículo escolar, com o fim de melhorar a
condição física e moral do povo. apenas pelas escolas do Rio de Janeiro, como
município da corte imperial e capital da República,
Com isso, o Método idealizado por Amoros é e as escolas militares.
implantado em todas as escolas da França, sendo
Em 1920 passa a ganhar espaço na escola o
sua prática obrigatória para os escolares de
Método Francês, que a partir de 1930 passa a ser
ambos os sexos. Seguindo a mesma orientação
usado como meio para a política Getulista, onde
de diversos países, os quais passam a ter a
se pretendia um homem forte para a produção da
prática de Ginásticas como atividade obrigatória
indústria brasileira. É também na década de 20
em seus currículos escolares, é que o Brasil vai
que “vários estados da federação começam a
incluir as Ginásticas nas escolas.
realizar suas reformas educacionais e incluem a
Em meados do século XVIII, as Ginásticas Educação Física, com o nome mais freqüente de
foram inseridas no Brasil, visando a preparação Ginástica” (DARIDO; SANCHEZ NETO, 2005,
física dos soldados da Corte e, o primeiro sistema p.2).
O Método Francês passa a ser obrigatório nas Ginástica Aeróbica – também utilizada
escolas brasileiras até por volta de 1960, quando como forma de condicionamento, foi
o esporte começa a ser inserido em âmbito recentemente incluída dentro da esfera
escolar, reforçado pelas vitórias da Seleção competitiva, podendo ser masculina,
Brasileira de Futebol em duas Copas do Mundo feminina ou mista, realizada em duplas,
trios ou grupos;
(DARIDO; SANCHEZ NETO, 2005). Também a
Trampolim Acrobático, Tumbling e Duplo-
nomenclatura mais utilizada agora é a de mini (mini-trampolim) – são também
Educação Física e as Ginásticas aos poucos vão modalidades novas no contexto esportivo.
deixando de ser ‘a’ Educação Física para se Estes trampolins podem propulsar tão alto
tornar um conteúdo a ser ministrado nas aulas na os atletas treinados, que estes chegam a
escola. até 30 pés durante as performances, que
exigem demonstrações seqüenciais de
Dessa maneira, a partir de um amplo saltos ginásticos e acrobáticos, podendo ser
desenvolvimento tecnológico e de mudanças realizado individualmente ou em grupo, de
epistemológicas no campo Educação Física, as forma sincronizada.
Ginásticas passam a ser uma sub-área da III) Ginásticas Fisioterápicas – utilizam o exercício
Educação Física, sendo divididas em campos físico para prevenção e tratamento de doenças, e
distintos de atuação que são apresentados na também auxilia na recuperação de lesões. São as
seqüência. mais utilizadas: a RPG (Reeducação Postural
Global), que se baliza na postura correta do corpo
Campos de Atuação da Ginástica como forma de exercício; a Cinésioterapia e a
Isostreching.
Souza (1997) apresenta uma divisão para IV) Ginásticas de Conscientização Corporal –
demarcar o amplo universo das Ginásticas e reúnem as novas propostas de abordagem do
melhor compreendê-lo. Nele são apresentados corpo, também conhecidas como Técnicas
cinco grandes grupos que englobam os principais Alternativas ou Ginásticas Suaves. Estes tipos de
campos de atuação das Ginásticas. Dentro destes Ginásticas, pelo menos grande parte, tiveram sua
campos de atuação a autora também exemplifica origem na busca da solução de problemas físicos
as modalidades que os constituem. posturais. Fazem parte deste campo a Ginástica
Holística, que é um trabalho corporal
I) Ginásticas de Condicionamento Físico – fazem complementar atendendo áreas como a
parte todas as Ginásticas que objetivam adquirir neurologia, ortopedia e reumatologia; a Anti-
ou manter a condição física do indivíduo. Dentro Ginástica; a Eutonia; o Método Feldenkrais; a
deste campo tem-se: Ginástica Localizada, Bioenergética; dentre outras.
Musculação, Step, Ritmos, etc. – são exercícios V) Ginásticas de Demonstração – a principal
de repetição com ou sem peso adicional, com ou característica deste tipo de Ginástica é o fato de
sem aparelhos, atuando sobre um ou mais não ser competitiva, se preocupando mais com a
músculos, aumentando ou mantendo a interação social entre os indivíduos. A Ginástica
capacidade aeróbica e/ ou anaeróbica do Geral é a única representante deste grupo
indivíduo. englobando várias atividades como: as
II) Ginásticas de Competição – são todas aquelas modalidades oficiais de Ginásticas competitivas, a
que possuem códigos e regras, onde o objetivo a dança em seus aspectos coreográficos
ser alcançado é a vitória. As Ginásticas expressivos e, pode ser realizada com ou sem
Competitivas são: aparelhos.
Ginástica Artística – com utilização de
A partir do contexto histórico de
aparelhos, seis no masculino e quatro no
feminino, e para a contagem das notas são desenvolvimento das Ginásticas, bem como de
considerados: dificuldade, combinação, sua atual configuração, é possível observar que a
originalidade e execução dos elementos; abrangência destas ainda é vasta, comportando
Ginástica Rítmica – é uma Ginástica diferentes esferas de movimentações corporais e,
exclusivamente feminina, envolvendo segundo Souza (1997, p.25):
movimentos de expressão corporal com (...) o estabelecimento de um conceito único
ênfase em danças de variados tipos e para ela, restringiria a compreensão deste
dificuldades, combinadas com a imenso universo que a caracteriza como um
manipulação de equipamentos pequenos, dos conteúdos da Educação Física. Esta
como cordas, arcos, massas, fitas e bolas; modalidade no decorrer dos tempos tem sido
Ginástica Acrobática – também conhecida direcionada para objetivos diversificados,
como Acrobacia, e apesar de muito ampliando cada vez mais as possibilidades de
desenvolvida no séc. VII, devido à criação sua utilização (...).
do circo, ela é uma modalidade Considerações Finais
relativamente jovem, dividida em masculino,
feminino e mista, podendo ser trabalhada A partir dessa breve revisão literária,
em duplas, trios ou quartetos; discorrendo alguns momentos históricos
referentes às Ginásticas, bem como suas