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(LIDO) Análise Da Absorção Acústica Da Fibra Shoddy e Comparação Com Espuma Acústica

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

ANÁLISE DA ABSORÇÃO ACÚSTICA DA FIBRA SHODDY


E COMPARAÇÃO COM ESPUMA ACÚSTICA

por

Laura Santos Telles

Monografia apresentada ao Departamento


de Engenharia Mecânica da Escola de
Engenharia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, como parte dos requisitos
para obtenção do diploma de Engenheira
Mecânica.

Porto Alegre, Novembro de 2018.


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Mecânica

ANÁLISE DA ABSORÇÃO ACÚSTICA DA FIBRA SHODDY


E COMPARAÇÃO COM ESPUMA ACÚSTICA

por
Laura Santos Telles

ESTA MONOGRAFIA FOI JULGADA ADEQUADA COMO PARTE DOS


REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE
ENGENHEIRO MECÂNICO
APROVADA EM SUA FORMA FINAL PELA BANCA EXAMINADORA DO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Prof. Thamy Cristina Hayashi


Coordenador do Curso de Engenharia Mecânica

Área de Concentração: Mecânica dos Sólidos

Orientador: Prof.ª Dr.ª LETÍCIA FLECK FADEL MIGUEL

Comissão de Avaliação:

Prof.ª Dr.ª Letícia Fleck Fadel Miguel

Prof. Dr. Edson Hikaro Aseka

Prof. Dr. Daniel de Leon

Porto Alegre, 12 de novembro de 2018.

ii
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, pincipalmente aos meus pais, Alcides


Magalhães Telles e Rejane Santos Telles por me apoiarem e serem grandes exemplos de vida.
Agradeço ao meu irmão, meu porto seguro, hoje e sempre. Agradeço minha madrasta e minha
amiga de coração, Isabel Hister. Agradeço minha amada e eterna avó, Zilda Luiza, que me
criou e esteve presente com incrível sabedoria de vida e humildade, onde estiveres tenho
certeza que estará iluminando meu caminho.
Após todos esses anos de estudos chego à minha tão sonhada graduação, preciso
agradecer quem fez dela momentos memoráveis de risos fáceis e amizades verdadeiras:
Jennifer Bringhenti, Camila Zanin e os guris que me adotaram na barra 2012/01. Além da
minha irmã de coração, Camila Jacques, colega no curso que entrei primeiramente na UFRGS,
Engenharia de Energia. Dessa faculdade também levo comigo um grande amigo de anos que
me faz sorrir diariamente e tenho a felicidade de chamar de namorado, Guilherme Cabral.
Obrigada equipe do Laboratório de Vibrações e Acústicas (LVA) da UFSC pela
recepção e ajuda nos ensaios experimentais que foram parte principal nesse trabalho.
Agradeço principalmente Rafael Correia, bolsista no laboratório. Agradeço também a
professora Letícia Fleck Fadel Miguel por todo apoio durante a realização desse trabalho.

iii
“Somos o que repetidamente fazemos.
A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito.”
Aristóteles

iv
TELLES, L. S. Análise da absorção acústica da fibra Shoddy em comparação com
espuma acústica. 2018. 15 folhas. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso em
Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

RESUMO

O presente trabalho busca comparar a absorção acústica da fibra de resíduo têxtil,


denominada Shoddy, com duas qualidades de espumas acústicas tradicionais. O objetivo é
comparar a absorção e avaliar a possibilidade de substituir a espuma, material de absorção
acústica derivado de fontes fósseis, por Shoddy, material em abundância descartado em
aterros. Os ensaios são realizados em um tubo de impedância de acordo com o padrão ISO, os
resultados obtidos para o coeficiente de absorção são analisados e comparados. Conclui-se
que a fibra Shoddy tem grande potencial para se tornar um absorvente acústico eficaz,
sustentável e economicamente vantajoso. No entanto, existem modificações necessárias para
o material de estudo atender aos requisitos do mercado.

PALAVRAS-CHAVE: Shoddy; resíduo têxtil; absorção acústica.

TELLES, L S. Analysis of acoustic absorption of Shoddy fiber compared to acoustic


foam. 2018. 15 pages. Monograph (Final paper in Mechanical Engineering) – Mechanical
Engineering Department, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2018.

ABSTRACT

The present work aims to compare the acoustic absorption of the textile waste fiber,
called Shoddy, with two qualities of traditional acoustic foam. The objective is to evaluate the
possibility of replacing the foam, acoustic absorption material derived from fossil sources, by
Shoddy, material in abundance discarded in landfills. The tests are performed in an impedance
tube according to the ISO standard, then the results obtained for the absorption coefficient are
analyzed and compared. It turned out that Shoddy has great potential to become an effective,
sustainable and economically advantageous acoustic absorber. However, there are
modifications needed to make the study material fill market requirements.

KEYWORDS: Shoddy; textile waste fiber; sound absorption.

v
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
2. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 1
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................... 1
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................................. 2
4.1. COEFICIENTE DE ABSORÇÃO SONORA ...................................................................... 2
4.2. PROPRIEDADE DE ABSORVEDORES ACÚSTICOS ..................................................... 2
4.2.1. PROPRIEDADES ACÚSTICAS DA FIBRA E SUA APLICAÇÃO PARA SHODDY.... 3
4.3. MEDIÇÃO DE ABSORÇÃO SONORA E IMPEDÂNCIA ACÚSTICA ................................. 4
5. METODOLOGIA..................................................................................................................... 7
6. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ...................................................................................... 8
6.1. TUBO DE IMPEDÂNCIA .................................................................................................. 8
6.2. AMOSTRAS .................................................................................................................... 8
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................................... 11
8. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 14
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 15
ANEXO .................................................................................................................................... 16
APÊNDICE ............................................................................................................................... 17

vi
1. INTRODUÇÃO

A Indústria Têxtil está entre os grandes setores econômicos do país, empresas


de todos os portes empregam mais de 1,5 milhão de trabalhadores e geram um
faturamento anual de US$ 45 bilhões. O Brasil tem o quarto maior parque produtivo de
confecção do mundo de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção (ABIT). Resultando na geração de resíduos têxteis em larga escala para as
indústrias de confecção, grande parte dos mesmos tem como destino final os aterros
sanitários, lixões e a incineração.
A absorção acústica é um dos principais fenômenos físicos do som que deve
ser levado em consideração para o tratamento acústico de recintos fechados. Ela
consiste na capacidade de uma superfície em absorver o som, fenômeno que ocorre
essencialmente por dissipação da energia sonora por atrito devido ao movimento das
partículas do ar no interior do material.
A grande maioria dos materiais de absorção sonora encontrados no mercado
apresenta em sua estrutura uma composição sintética como base, por exemplo, lã de
rocha, lã de vidro, poliuretano e etc. Esses materiais possuem processos de produção
caros, elevado consumo de energia e alto impacto ambiental. A motivação do presente
trabalho baseia-se no estudo do material reciclado de fibra têxtil, chamado Shoddy,
como uma alternativa viável para uma opção de absorvedor acústico sustentável. Esse
material apresenta bom comportamento frente às ondas sonoras, semelhante ao dos
materiais fibrosos e porosos tradicionais, além do baixo impacto nos custos de
produção, graças ao uso de resíduos derivados de outros ciclos de produção.

2. OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo, através de procedimentos experimentais com


tubo de impedância, quantificar o coeficiente de absorção sonora da fibra de Shoddy,
resíduo de fibra têxtil desfibrado, no formato de manta. As curvas de absorção sonora
da fibra de Shoddy serão comparadas com as curvas de absorção de espuma
comercial e será realizado um estudo da eficácia acústica que a fibra têxtil é capaz de
proporcionar.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O estudo da acústica de recintos foi desenvolvido em 1868 pioneiramente por


Wallace Clement Sabine, professor de física da Universidade de Harvard. Sabine
definiu o coeficiente de absorção acústica.
A medição da absorção acústica em um tubo de impedância excitado por ruído
de banda larga foi publicado primeiramente por Seybert e Ross (1977) em um artigo
que descreve o procedimento. Posteriormente, Bóden e Abom (1988) apresentam
estudos da faixa de frequência que deve ser realizada o experimento para minimizar
os erros de medição.
A norma ISO 10534-2 (1998) estabeleceu os princípios matemáticos básicos e
estruturais necessários para o sistema de medição do coeficiente de absorção e
impedância.
Manning e Raymond (2013) estudaram a macroestrutura de Shoddy na
tentativa de descrever sua caracterização acústica.

1
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A seguir apresenta-se uma breve fundamentação teórica sobre algumas


definições e conceitos utilizados no presente trabalho.

4.1. Coeficiente de absorção sonora

Após a incidência do som sobre uma superfície, uma parte da energia sonora é
refletida, enquanto a outra parte é absorvida. A energia sonora absorvida é subdividida
em energia sonora dissipada e energia sonora transmitida pela parede, podendo ser
descrita matematicamente por 𝐸𝑎𝑏𝑠 = 𝐸𝑑𝑖𝑠 + 𝐸𝑡𝑟𝑎 . A Figura 4.1 ilustra o fenômeno:

Figura 4.1 – Balanço energético do som incidindo sobre uma superfície.

A capacidade de uma superfície absorver a onda sonora é definida pelo


coeficiente de absorção sonora α:

𝐸𝑎𝑏𝑠 𝐸𝑖𝑛𝑐 − 𝐸𝑟𝑒𝑓 𝐸𝑟𝑒𝑓


𝛼= = = 1− (4.1)
𝐸𝑖𝑛𝑐 𝐸𝑖𝑛𝑐 𝐸𝑖𝑛𝑐

Onde:

𝐸𝑎𝑏𝑠 é a energia sonora absorvida;


𝐸𝑑𝑖𝑠 é a energia sonora dissipada;
𝐸𝑖𝑛𝑐 é a energia sonora incidente;
𝐸𝑟𝑒𝑓 é a energia sonora refletida; e
𝐸𝑡𝑟𝑎 é a energia sonora transmitida.

O coeficiente de absorção sonora ou índice de absorção acústica, α, é utilizado


para avaliar a eficácia de um material quanto a sua absorção de ondas sonoras; os
valores variam entre zero e um para superfícies lisas. Um material refletor apresenta
uma absorção sonora quase nula, 𝛼 ≅ 0, e um bom material absorvente apresenta
valores mais próximos possíveis de um, 𝛼 ≅ 1.
O conhecimento do coeficiente de absorção é imprescindível para o estudo de
acústica de ambientes, pois visa tratar um recinto para o som emitido, proporcionando
uma melhoria no desempenho acústico de um determinado espaço. Fabricantes
costumam fornecer o valor do coeficiente de absorção sonora na descrição de seus
materiais acústicos.

4.2. Propriedade de absorvedores acústicos

Materiais absorvedores acústicos são desenvolvidos para absorver as ondas


sonoras quando estas são indesejáveis. Utiliza-se a designação “material absorvedor

2
acústico” quando a absorção sonora ocorre devido às características físicas do
material, por exemplo, textura superficial, densidade, entre outros.
Os materiais e sistemas absorvedores acústicos podem agrupar-se em três
grandes categorias: porosos e fibrosos, ressoadores e membranas. Como é possível
observar na Figura 4.2, a absorção varia tipicamente com a frequência do som
incidente, os materiais porosos ou fibrosos são mais eficazes em altas frequências
(acima dos 1 000 Hz), os ressoadores são normalmente mais eficazes em frequências
médias (sensivelmente entre os 400 e os 1 000 Hz) e as membranas apresentam uma
maior absorção sonora para baixas frequências. A Figura 4.2 resume os conceitos
explicitados anteriormente.

Figura 4.2 – Comportamento da frequência versus absorção sonora de diferentes tipos


de absorvedores sonoros.

Os materiais absorvedores acústicos conhecidos por apresentarem fibras em


sua constituição são as lãs de vidro e as lãs de rocha; os exemplos de materiais
porosos são as espumas de poliuretano. A capacidade de absorver ruído varia de
materiais porosos e fibrosos advém da existência de micro cavidades que se
comunicam entre si e que se encontram preenchidas por ar. O ar contido nesses
orifícios está submetido a pequenos movimentos oscilatórios que permite, através do
atrito sobre as paredes sólidas, a transformação de parte da energia sonora em
energia térmica. Devido a esses fenômenos, quanto maior a resistência ao fluxo de ar,
melhor o absorvente acústico.
As variações do coeficiente de absorção versus frequência para materiais
fibrosos e porosos ocorrem devido a estrutura do material. A densidade e a espessura
são as características que apresentam maiores alterações na eficácia de um
absorvedor fibroso.

4.2.1. Propriedades acústicas da fibra e sua aplicação para Shoddy

O “algodão Shoddy” ou simplesmente “Shoddy” pode ser definido


simplificadamente como fibras têxteis sustentáveis provenientes de resíduos de
indústrias têxteis, como fiações, tecelagens e confecções.
Há na literatura acústica diversos trabalhos de investigação e modelagem da
absorção acústica de materiais porosos e fibrosos baseado em parâmetros
macroscópicos. São considerados parâmetros a porosidade, a resistividade ao fluxo,
tortuosidade e o comprimentos característicos. Porosidade é a relação volume da fase

3
fluída e volume total do material. Resistividade ao fluxo é a resistência que o ar
enfrenta para penetrar no material e fluir entre sua espessura. Tortuosidade é a
relação entre o grau de sinuosidade dos poros. E comprimento característico é a
relação entre os raios de poros menores e maiores.
O uso desses parâmetros para descrever o comportamento acústico do
Shoddy apresenta baixa precisão de resultados e exige conhecimento da constituição
do material que é difícil de medir. Esse fato ocorre devido à variabilidade da
composição de Shoddy quando comparado às fibras naturais ou sintéticas. Esse
material é a composição de vários diferentes tipos de fibras, presentes em diferentes
proporções e comprimentos, bem como diâmetros variados. Segue Figura 4.3
identificando esse fenômeno de arranjo de fibra aleatória e as setas apontando cada
uma para uma fibra diferente. Há também figuras complementares quanto à
visualização microscópica do Shoddy em Anexo

Figura 4.3 - Digitalização de microscópio eletrônico da estrutura Shoddy


[Fonte: Manning e Panneton (2013)].

4.3. Medição de absorção sonora e impedância acústica

Os métodos tradicionais para a medição do coeficiente de absorção sonora dos


materiais absorvedores acústicos são: Câmara Reverberante e Tubo de Impedância.
O primeiro é utilizado para campo difuso e necessita de um ambiente especial de
laboratório chamado câmara reverberante, o método é descrito pela ISO 354; a
segunda forma de medição da absorção sonora apresenta resultados para incidência
de ondas planas em direção perpendicular às amostras, o método é descrito pela ISO
10534-1 e ISO/FDIS 10534-2.
O método do Tubo de Impedância foi escolhido para o presente trabalho em
função da maior simplicidade do dispositivo de medição quando comparado à Câmara
Reverberante, sendo possível obter medidas rápidas, fáceis e perfeitamente
reproduzíveis. É um método bem consolidado, pois além de ser extensivamente usado
para caracterização acústica de materiais, é utilizado para avaliar a eficiência de
outros métodos de medição. Usualmente o experimento é parte da rotina de um
conjunto de instrumentação utilizado nos setores de pesquisa e desenvolvimento de
produto.
A norma ISO 10354-2 (1998) Acoustics – Determination of Sound Absorption
Coefficient and Impedance in Impedance Tube estabelece os princípios matemáticos
básicos do sistema de medição do coeficiente de absorção e impedância que foi
publicado primeiramente por Seybert e Ross. A medição normatizada consiste em um
tubo de impedância reto, liso e com paredes suficientemente rígidas equipado de um
alto falante em uma das extremidades e na extremidade oposta está a amostra a ser

4
testada, além de dois microfones para captação do sinal sonoro, como mostrado na
Figura 4.2:

Legenda:

1. Microfones
2. Ondas planas
3. Amostra
4. Parede rígida
5. Alto falante

Figura 4.4 - Representação esquemática de medição em tubo de impedância


[Adaptado de ISO 10534-2].

A faixa de frequência permitida para o ensaio depende do diâmetro do tubo e


do espaçamento entre as posições do microfone. A Figura 4.4 ilustra dois microfones
espaçados por uma distância s, com o microfone 1 a uma distância 𝑥1 em relação à
amostra, que possui uma espessura ℎ. O tubo possui um diâmetro 𝑑, que permite o
cálculo da frequência máxima de análise para que ondas planas possam ser
consideradas no seu interior. Essa frequência, segundo a norma ISO 10532-2 é dada
pela Equação 4.3:

1,84𝑐0
𝑓𝑐 = (4.2)
𝜋𝑑

sendo 𝑓𝑐 a frequência de corte do tubo, 𝑑 o diâmetro do tubo e 𝑐0 a velocidade do som


no interior do tubo.
Além do diâmetro do tubo, há outro fator que limita a frequência de análise: a
existência de modos transversais, que está relacionado com o espaçamento entre os
microfones. Recomenda-se que a distância 𝑠 entre os microfones deve ser 𝑠 < 0,45𝜆𝑢 ,
sendo 𝜆𝑢 o comprimento de onda da maior frequência de interesse. Entretanto, um
pequeno espaçamento entre os microfones pode acabar medindo a mesma pressão
sonora em baixas frequências e por isso também se recomenda que 𝑠 > 0,05𝜆𝑙 , sendo
𝜆𝑙 o comprimento de onda da menor frequência de interesse. Segue inequação para
restrição da frequência em função do espaçamento de microfones, Equação 4.4:

0,05𝜆𝑙 < 𝑠 < 0,45𝜆𝑢 (4.3)

Em seu trabalho, Bóden e Abom (1988) apresentam alguns indicativos práticos


para minimizar os erros dos métodos de medição e, entre eles, a relação sobre a
distância entre microfones e faixas de frequência é dada pela Equação 4.5:

0,1𝑐0 0,8𝑐0
<𝑓< (4.4)
2𝑠 2𝑠

Após estudo das restrições atribuídas à frequência de operação no interior do


tubo de impedância, o método descrito na norma seria viável a partir de uma simples
função de transferência 𝐻(𝑓) entre os microfones, dada pela Equação 4.6:

𝑃2 (𝑓)
𝐻(𝑓) = (4.5)
𝑃1 (𝑓)

5
sendo 𝑃1 (𝑓) e 𝑃2 (𝑓) as pressões coletadas pelos Microfones 1 e 2, respectivamente,
no domínio da frequência.
Entretanto, recomenda-se que haja uma espécie de calibração da função de
transferência visando minimizar as características de amplitude e diferença de fase
entre os microfones. Essa correção é realizada a partir da troca de posições entre os
microfones e uma repetição da medição com as posições invertidas; assim, resulta em
uma nova função de transferência calculada pela Equação 4.6, 𝐻 ∗ (𝑓). A calibração é
obtida com a seguinte função de transferência calibrada 𝐻12 (𝑓), dada pela Equação
4.7:

𝐻12 = [ 𝐻(𝑓). 𝐻 ∗ (𝑓) ]0,5 (4.6)

O coeficiente de absorção sonora deriva do coeficiente de reflexão 𝑟. Este, por


sua vez, pode ser obtido a partir da função de transferência calibrada 𝐻12 (𝑓), junto a
propriedades como o número de onda no ar, 𝑘0 , e a distância entre os microfones, 𝑠.
Calcula-se então, o coeficiente de reflexão segundo a recomendação da ISO 10534-2
pela Equação 4.8:

𝐻12 − 𝑒 −𝑖𝑘0 𝑠 2𝑘 𝑠
𝑟 = 𝑖𝑘 𝑠 𝑒 0 (4.7)
𝑒 0 − 𝐻12

sendo 𝑘0 o número de onda complexo no ar, normalizado pela Equação 4.9:

𝑤 √𝑓
𝑘0 = ( ) − 𝑗0,0194 ( ) (4.8)
𝑐0 𝑐0 𝑑

em que 𝑓 é a frequência em Hertz e 𝑤 = 2𝜋𝑓 a frequência angular em análise. A partir


do coeficiente de reflexão 𝑟, pode-se obter outra característica acústica denominada
impedância de superfície 𝑍𝑠 do material, Equação 4.10:

1−𝑟
𝑍𝑠 = (4.9)
1+𝑟

Assim, pode-se estimar o coeficiente de absorção por incidência normal à


superfície do material, obtido pela Equação 4.11:

𝛼 = 1 − |𝑟|2 (4.10)

Além dos princípios matemáticos do sistema de medição do coeficiente de


absorção e impedância para caracterização do material absorvedor acústico, a ISO
10534-2 também estabelece uma descrição minuciosa do conjunto de equipamentos
utilizados. O aparato completo é responsável pela formação de ondas planas
internamente em um tubo e sua posterior leitura. A Figura 4.5 mostra o esquema de
funcionamento do conjunto.

6
Legenda:

1. Microfone 1
2. Microfone 2
3. Amostra
4. Tubo de Impedância
5. Alto falante
6. Amplificador
7. Gerador de sinal
8. Analisador de sinal e
Computador

Figura 4.5 - Esquema de funcionamento de experimento via tubo de impedância


[Adaptado de ISO 10534-2].

Um espectro com valor de nível de pressão sonora constante no domínio da


frequência, denominado ruído branco, é produzido pelo gerador de sinal. Esse ruído é
amplificado e enviado para o alto falante emitir internamente no tubo. A diferença de
pressão sonora interna no tubo é captada pelos microfones de acordo com suas
posições e logo em seguida é enviada para um analisador de sinais. O analisador de
sinais é responsável por calcular a função de transferência entre as pressões sonoras.
Sequencialmente, um computar recebe informações do analisador de sinais e
processa de acordo com uma rotina de cálculo em algum software instalado e entrega
resultados sobre a impedância e absorção acústica do material analisado.

5. METODOLOGIA
A metodologia utilizada nesta monografia é de caráter experimental,
abrangendo o referencial bibliográfico e pesquisas efetuadas até o momento voltadas
para a absorção acústica em Tubos de Impedância.
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Vibrações e Acústica (LVA) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e as amostras de Shoddy foram
coletadas com o objetivo de avaliar a possibilidade de aplicação desse material
sustentável como um absorvedor acústico em um experimento que fornecesse
resultados de absorção acústica. Entretanto, além das amostras do material de
estudo, é de grande valia comparar as mesmas com materiais específicos utilizados
como absorvedores acústicos. Para o experimento foram utilizadas espumas acústicas
de poliuretano, facilmente encontrada em casas especializadas na venda de soluções
em tratamento acústico de ambientes. O uso dessa metodologia torna mais realístico o
estudo da viabilidade do uso de um material sustentável em relação ao que o mercado
fornece atualmente tratando-se de conforto acústico.

7
6. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

6.1. Tubo de impedância

O tubo de impedância utilizado pode ser visto na Figura 5.1 e pertence ao


laboratório da Universidade. Esse tubo de impedância foi escolhido dentre os demais
disponíveis por apresentar resultados que varrem o campo de frequência mais
próximo à audição do ser humano. Isso ocorre, conforme explicado na Seção 4.3,
devido às características estruturais.
O material de fabricação do tubo é aço inox, mede 27 mm de diâmetro, 𝑑, e
espaçamento de microfones, 𝑠, de 23 mm. Esses dados, conforme enunciado
anteriormente, são fundamentais para delimitar as frequências que podem ser
consideradas para análise da absorção acústica. Assim, conforme a Equação 4.3, a
frequência de corte obtida encontra-se próximo a 7500 Hz e conforme a Equação 4.5,
a faixa de frequência para realizar o estudo com mínimos erros encontra-se entre 746
e 5970 Hz. Valores adequados, pois captam a faixa audível de frequência do ser
humano.

Figura 5.1: Tubo de Impedância do Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC.

6.2. Amostras

As amostras de manta de fibra Shoddy foram obtidas em parceria com uma


empresa que realiza a reciclagem de retalhos têxtis de indústrias de confecção para a
reutilização do material em enchimento de almofadas, enchimento de estofados e
placas acústicas automotivas. Para a constituição da fibra Shoddy no formato de
manta foi necessário processo de descaracterização dos variados retalhos de fibras
presentes na sua composição, chamada desfibragem, e posteriormente ocorre o
processo de aglutinação ou colagem.
As características nominais da manta são 10 mm de espessura e densidade
em torno de 51,5 kg/m³. A Figura 5.2 mostra uma foto da manta utilizada no
experimento.

8
Figura 5.2 Resíduo de tecido têxtil desfibrado em formato de manta, Shoddy.

O estudo comparativo será realizado com amostras de espumas acústicas de


poliuretano de duas diferentes eficiências acústicas e ambas confrontadas com a
manta de fibra Shoddy. Dessa forma, serão utilizadas três amostras diferentes para o
experimento: espuma A, espuma B e manta de fibra shoddy. A espuma A é
pertencente a uma qualidade mais elevada, reconhecida como uma marca líder em
vendas; a espuma B, pertence ao grupo de espumas acústicas de média qualidade e
preços mais baixos. A Figura 5.3 mostra as duas espumas de poliuretano utilizadas.

Figura 5.3 Espuma A e B, respectivamente da esquerda para a direita.

As características nominais para a amostra A são densidade de 11 kg/m³ e 30


mm de espessura; as características da amostra B são densidade de 23 kg/m³ e 20
mm de espessura. Todas as amostras passaram pelo processo de recorte em formato
circular de 27 mm de diâmetro com um instrumento disponível no laboratório
denominado de “corta amostra”, conforme Figura 5.4. A precisão desse recorte é
necessária para ser possível o correto encaixe no diâmetro do tubo de impedância do
laboratório, conforme a Figura 5.5.

9
Figura 5.4 – Instrumento corta amostra.

Figura 5.5 – Encaixe amostra no Tubo de Impedância.

As espumas comerciais das Amostras A e B apresentam estrutura homogênea,


portanto utilizaram-se apenas cinco amostras. Entretanto, a fibra Shoddy foi estudada
com base em dez amostras devido às características heterogêneas da estrutura
apresentadas na Seção 4.2.1, além de ser o objeto de estudo do ensaio. Evidencia-se
uma característica comum nesse tipo de ensaio: amostras de pequenas dimensões e
número. A Figura 5.6 mostra uma foto das amostras utilizadas.

Figura 5.6 – Amostras prontas para ensaio.

10
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Primeiramente, para validar o correto funcionamento das condições do


equipamento é realizado um simples teste de absorção acústica da parede rígida.
Esse teste consiste na excitação do tubo de impedância com ruído branco e ausência
de amostra, obtendo resultado para a absorção acústica da parede rígida no tubo.
Esperam-se valores baixos de α para todas as frequências em um tubo de impedância
trabalhando de acordo com a norma. É possível verificar nas Figuras 6.1 e 6.2 pela
linha de cor cinza os resultados desse teste para o tubo utilizado no experimento.
A amostra B corresponde à espuma de média qualidade, ela apresenta um
coeficiente de absorção crescente até o máximo de 0,75 em 4500 Hz. Uma leve queda
nesse valor é verificada a partir dessa frequência e perde-se resultados de
coeficientes de absorção em torno de 6000 Hz. Verifica-se que o comportamento
frente à perda de informações do teste para frequências superiores a 5970 é um fator
previsto na Seção 5, segundo características estruturais do tubo.

Figura 6.1. Resultados obtidos em tubo de impedância para Amostra B –


Curva média de coeficiente de absorção para as cinco amostras.

Observa-se que a espuma da amostra A de alta qualidade apresenta a curva


do coeficiente de absorção mais ascendente, alcançando rapidamente valores de 0,70
em 2000 Hz. A partir dessa frequência a curva cresce em ritmo mais lento até 3800 Hz
com valor em torno de 0,8. Apresenta uma leve queda a partir dessa frequência
chegando a 0,65 em torno de 5000 Hz.

11
Figura 6.2. Resultados obtidos em tubo de impedância para Amostra A –
Curva média de coeficiente de absorção para as cinco amostras.

Na Figura 6.3 podem-se observar os resultados obtidos para as amostras de


fibra Shoddy sobrepostos, além da média em linha mais grossa. Foram realizadas 10
medições para espessura de 20 mm e outras 10 medições para espessuras de 30 mm
da manta Shoddy. A fibra apresentou valores altos para coeficientes de absorção em
quase toda faixa de frequências, curva de rápido crescimento inicial e grande
estabilidade após valor máximo para ambas as espessuras.

Figura 6.3 Resultados obtidos em tubo de impedância para Amostra Fibra Shoddy.

Observa-se que a curva da Figura 6.3 desloca-se verticalmente com a


mudança de espessura. Esse comportamento da curva frente à alteração física reflete
em um dos importantes fatores que influenciam na variação da absorção acústica
conforme enunciado na Seção 3. A Figura 6.4 exemplifica a variação esperada nos
resultados segundo mudança na espessura.

12
Figura 6.4 Resultado esperado para α segundo variação da espessura
[Fonte: Bistafa (2011)].

Observa-se que alguns valores para a fibra Shoddy não apresentam


comportamento tão similar quanto à média dos valores, isso ocorre devido aos
pequenos erros de medição durante os experimentos. Essas variações podem ser
resultantes da colocação incorreta da amostra na porta amostra, fechamento incorreto
da porta amostra, ou mesmo variações do próprio sistema, entre outros.
Nas Figuras 6.5 e 6.6 são apresentados os resultados sobrepostos dos
coeficientes de absorção médios das amostras de fibra Shoddy e das espumas
acústicas comerciais de Média e Alta qualidade, respectivamente.

Figura 6.5 Coeficientes de absorção médios das amostras de Shoddy e espuma amostra B.

13
Figura 6.6 Coeficientes de absorção médios das amostras de Shoddy e espuma amostram A.

Segundo a Norma ISO 10534-2 a incerteza para determinação do coeficiente


de absorção em tubos de impedância é de 1% utilizando os microfones
recomendados. A construção do tubo de impedância do Laboratório de Vibrações e
Acústica da UFSC foi elaborada seguindo as recomendações técnicas da referida
norma. Há gráficos complementares no Apêndice do trabalho.

8. CONCLUSÕES

O resultado comparativo entre as espumas comerciais e a fibra Shoddy foi


surpreendente, pois o resíduo têxtil apresentou melhor eficiência no coeficiente de
absorção frente às amostras de ambas as qualidades de espumas comerciais. Além
do desempenho técnico obtido no presente trabalho, é importante ressaltar outros dois
parâmetros de grande vantagem do uso do Shoddy frente às espumas: ambiental e
econômica.
A principal restrição existente no trabalho deve-se aos resultados de coeficiente
de absorção dos materiais serem válidos apenas para incidência normal. As
informações obtidas são importantes para caracterizar os materiais, porém um
absorvedor acústico aplicado em um ambiente recebe incidência sonora difusa, ou
seja, de todas as direções possíveis.
Observa-se que frente ao mercado competitivo, a característica do
desempenho acústico para venda de absorvedores acústicos é de extrema
importância, porém não é o único fator restritivo. Há critérios relacionados ao design e
estética razoável, durabilidade do material, absorção umidade para prevenção de
fungos e principalmente as exigências legais quanto à resistência ao fogo.
Conclui-se que há uma grande oportunidade de nicho de mercado, sobretudo
em função da consciência ambiental cada vez mais influente na decisão do
consumidor. Porém, o material precisa ser tratado para garantir outros aspectos
fundamentais, inclusive legais, para a colocação no mercado.

7.1. Sugestão de trabalhos futuros

Uma sugestão para trabalho futuro é avaliar o coeficiente de absorção da fibra


Shoddy para incidência sonora difusa conforme a norma ISO 354, isto é, utilizando
Câmara Reverberante. Adicionalmente, os resultados encontrados podem ser
diretamente confrontados com os coeficientes de absorção fornecidos por fabricantes

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de espumas, pois os mesmos caracterizam a absorção segundo essa norma
especificamente.
Outra sugestão seria trabalhar no estudo da estrutura do Shoddy, ou seja,
controlar quais tecidos constituem sua matriz e a proporção de influência que cada um
apresenta na absorção acústica. Avaliando como se desloca a curva do coeficiente de
absorção sonora versus frequência dependendo da modificação das características
construtivas do material. Esse estudo também pode focar em obter método de
caracterização da porosidade, resistividade ao fluxo, tortuosidade e comprimentos
característicos para essa estrutura complexa.
Seria de grande valia, além de todos os estudos mencionados acima, estudar
como melhorar as características de mercado para a fibra Shoddy, por exemplo,
design, resistência ao fogo e durabilidade. Assim, viabilizar a comercialização da fibra
como absorvente acústico.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bistafa, S. R. “Acústica Aplicada ao Controle do Ruído”, Edgard Blücher,


Brasil, 2ª edição, 2006.

Brandão, E. “Acústica de Salas – projeto e modelagem”, Blucher, 1ª edição,


2016.

Bodén, H. e Abom, M., “Error analysis of two-microphone measurements in


ducts with flow”, JASA, vol. 83, nº 6, 1988.

ISO 10534-2:98. “Acoustics – Determination of Sound Absorption


Coefficient and Impedance in Impedance Tubes” – Part 2: Transfer function,
Multiple. Distributed through American National Standards Institute (ANSI), USA, 1998.

ISO 354:2003 “Acoustics - Measurement of sound absorption in a


reverberation room” - Distributed through American National Standards Institute
(ANSI), USA, 2003.

Manning, J e Panneton, R “Acoustical model for Shoddy-based fiber


sound absorbers”, Artigo, Textile Research Journal, 2013.

Mareze, P. H. “Análise da influência Microgenia na Absorção Sonora de


Materiais Porosos de Estrutura Rígida”, Tese de doutorado, Universidade Federal
de Santa Catarina, 2013.

Miguel, L. F.F.; Tamagna, A. “Tópicos de Acústica Aplicada-Notas de Aula


de Eng03015-Acústica Aplicada”, Brasil, 1ª edição, 2007.

Pessoa, A. S. M. “Melhoria do desempenho acústico de uma sala de aula


com materiais de desperdício”, Dissertação de mestrado, Universidade do Porto,
2018.

Seybert, A.; Ross, D. “Experimental determination of acoustic properties


using two-microphones random-excitation technique”, The Journal of the
Acoustical Society of America, 61:1362-1370, 1977.

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ANEXO

Figura A1- Variação na distribuição de fibra Shoddy na rede.

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APÊNDICE

Figura A2 - Absorção acústica Shoddy 20mm e parede rígida.

Figura A3 - Absorção acústica Shoddy 30mm e parede rígida.

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