LARA - Freud, Frangas e Marias
LARA - Freud, Frangas e Marias
LARA - Freud, Frangas e Marias
Faculdade de Psicologia
Belo Horizonte
2023
Otávio Augusto de Oliveira Lara
Belo Horizonte
2023
Otávio Augusto de Oliveira Lara
___________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Cristina Campolina Vilas Boas - PUC Minas (Orientadora)
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Hélio Cardoso de Miranda Júnior - PUC Minas (Banca Examinadora)
Aos meus pais, Neiva e José Márcio, atleticanos, por todo o amor, suporte e estímulo
ao longo de toda minha vida. A meu irmão e melhor amigo José, meu maior companheiro de
estádios, minha maior referência. Por toda inspiração na construção do meu pensamento social
e político, ao seu papel protagonista na minha inserção na vivência do sentimento de amor
sincero ao querido Clube Atlético Mineiro. À minha cunhada Beatriz, pelo apoio, pelas risadas
e pela profunda admiração e influência como musicista, progressista, feminista, atleticana. Ao
Belmiro, Belchior e Lolita. À toda família Lara e Oliveira pelo amor de sempre.
À Luísa Brunialti, pelo amor, inspiração, estímulo e apoio; por ser para mim uma
enorme referência como futura psicóloga, por proporcionar e compartilhar comigo momentos
de mais pura felicidade e leveza. Ao Antônio Neto, Daniela Brunialti, Betina e Amora pelo
carinho.
Pela contribuição de material para este trabalho: meu querido primo Fábio Vilela,
Bernardo Mourão, Brunelle Fonseca, Leonardo Ferreira, Guilherme Lessa.
Ao meu irmão de coração, João Eduardo, pela amizade e companhia sincera, pela
afinidade e pelos grandes momentos compartilhados banhados a Galo, cerveja e punk rock.
Aos queridos Victor Eduardo, Rafael Campolina, Ricardo Viana, Scheherazade Paes,
Guilherme e Renato Oliveira, Henrique Santiago, Arthur Morato, Germana Grassi, Pedro
Campos, Adriano Diniz, Rafael Lima, Leonardo Castro, Armando de Oliveira, Gabriel Correia,
Victor Sanders, Francisco Cardoso, Laura Braga, Luiz Henrique, Diego Faria, Henrique
Rezende, Luíz Moreira, Patrícia Ferreira, Luciana Parisi, Jean Brunialti e Caio Resende. Ao
Gabriel Silveira, pela amizade, presença, estímulo, pelos devaneios e seu ouvido sincero. À
Maria Clara Teodoro, pela amizade, apoio e exemplo de força. À Júlia Sayuri pelo
companheirismo nessa trajetória e pela amizade; à Sabrina Marques pela amizade e parceria.
À todas as amigas, amigos e colegas que fizeram destes cinco anos de graduação um lugar mais
afetuoso: Ítalo Rodrigo, Júlia Caixeta, Bruna Silveira, Erick Mayrink, Cristine Mattos, Rômulo
Mascarenhas, Lucas Alvim, Samuel Santana, Marcella Moscovitch, Luísa Morais, Isabela
Araújo, Bruna Borba, Laura Demétrio, Samuel Gonçalves, Christiana Sadok, Marcelly Crabi,
Raqueline Machado, Patrícia Beling, Adriana Strambi, Rafaela Rezende, Luíza Mol, Taísa
Pinheiro, Isabela Guimarães, Marcelo Rezende, Sophia Faleiro, Luíz Lara, Sofia Marotta, Ana
Bárbara Freitas, Júlia Rodrigues, Sandy Maria e José Neto. À minha professora e orientadora
Cristina Campolina, minha mais sincera admiração. Agradeço pelo estímulo, paciência, por
acreditar no meu potencial e apoiar minhas ideias. Ao professor Hélio Miranda, leitor deste
trabalho, pela referência, admiração e identificação ao longo do curso. A todas as professoras
do curso de Psicologia, em especial: Jaqueline Moreira, Cláudia Moreira, Luciana Kind,
Valéria Freire, Thaís Limp, Nathália Colen, Aline Mendes, Betânia Diniz, Mirelle França,
Érica Espírito Santo, Maria Luísa Cardoso, Edward Guimarães e Flávio Durães.
In memoriam do atleticano Vô Zé Lara.
Ao Movimento 105 Minutos, por ter me ensinado a apoiar o Atlético Mineiro
incondicionalmente.
Ao Galo, por ter me inspirado a ter força e raça em momentos insuportáveis.
Uma vez por semana, o torcedor foge de casa e vai ao estádio.
Ondulam bandeiras, soam as matracas, os foguetes, os tambores, chovem serpentinas,
e papel picado: a cidade desaparece, a rotina se esquece, só existe o templo. Neste
espaço sagrado, a única religião que não tem ateus exibe suas divindades. Embora o
torcedor possa contemplar o milagre, mais comodamente, na tela de sua televisão,
prefere cumprir a peregrinação até o lugar onde possa ver em carne e osso seus anjos
lutando em duelo contra os demônios da rodada.
Aqui o torcedor agita o lenço, engole saliva, engole veneno, come o boné, sussurra
preces e maldições, e de repente arrebenta a garganta numa ovação e salta feito pulga
abraçando o desconhecido que grita gol ao seu lado. Enquanto dura a missa pagã, o
torcedor é muitos. Compartilha com milhares de devotos a certeza de que somos os
melhores, todos os juízes estão vendidos, todos os rivais são trapaceiros.
É raro o torcedor que diz: “Meu time joga hoje”. Sempre diz: “Nós jogamos hoje”.
Este jogador número doze sabe muito bem que é ele quem sopra os ventos de fervor
que empurram a bola quando ela dorme, do mesmo jeito que os outros onze jogadores
sabem que jogar sem torcida é como dançar sem música.
Quando termina a partida, o torcedor, que não saiu da arquibancada, celebra sua
vitória, que goleada fizemos, que surra a gente deu neles, ou chora a sua derrota, nos
roubaram outra vez, juiz ladrão. E então o sol vai embora, e o torcedor se vai. Caem
as sombras sobre o estádio e se esvazia. Nos degraus de cimento ardem, aqui e ali,
algumas fogueiras de fogo fugaz, enquanto vão se apagando as luzes e as vozes. O
estádio fica sozinho e o torcedor também volta à sua solidão, um eu que foi nós; o
torcedor se afasta, se dispersa, se perde, e o domingo é melancólico feito uma quarta-
feira de cinzas depois da morte do carnaval (GALEANO, 2022, p. 14-15).
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo compreender através da psicanálise o papel das relações
de gênero e sexualidade nas manifestações orais e imagéticas de torcedores do Clube Atlético
Mineiro e Cruzeiro Esporte Clube, os dois principais clubes de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Aborda-se um pouco da história do futebol, seus sentidos e contradições na construção do
imaginário social brasileiro, passando também por uma aproximação mais aprofundada sobre
torcidas e torcedores de futebol de modo geral, suas características e peculiaridades. Após a
abordagem de conceitos da psicanálise como castração, complexo de Édipo, identificação e
psicologia de grupos, analisa-se, a partir da metodologia da análise de conteúdo elaborada por
Bardin, amostras de gritos, cantos, expressões corriqueiras, memes e imagens que se constituem
de elementos que atribuem ao rival características femininas, homossexuais e também
manifestações que representam o balanço de poder entre as equipes e torcidas através de uma
metáfora que evoca uma cena de relação sexual. Por fim, chega-se à conclusão de que o
ambiente grupal da torcida permite um afrouxamento de barreiras que restringem pulsões
(Trieb) homoafetivas naturais e constitutivas da identificação masculina de sua livre circulação,
ao passo que tais manifestações em questão objetivam projetar ao adversário o que se pretende
excluir de si para a manutenção de uma ficção sobre a masculinidade heteronormativa.
The present study aims to understand, through psychoanalysis, the role of gender relations and
sexuality in the oral and visual manifestations of fans of Clube Atlético Mineiro and Cruzeiro
Esporte Clube, the two main clubs in Belo Horizonte, Minas Gerais. It approaches a little of
the history of football, its meanings and contradictions in the construction of the Brazilian
social imaginary, also going through a more in-depth approach to football fans and group of
fans in general, their characteristics and peculiarities. After approaching psychoanalytic
concepts such as castration, Oedipus complex, identification and group psychology, we
analyze, using the content analysis methodology developed by Bardin, samples of cries, chants,
common expressions, memes and images that constitute of elements that attribute feminine,
homosexual characteristics to rivals and also manifestations that represent the balance of
dispute between the teams and fans through a metaphor that evokes a scene of sexual
intercourse. Finally, we come to the conclusion that the group environment of the fans allows
a loosening of barriers that restrict homoaffective drives (Trieb) that are natural and constitutive
of the male identification from their free circulation, while such manifestations in question aim
to project to the opponent what they intend to exclude from themselves for the sake of
maintenance of a fiction about heteronormative masculinity.
El presente estudio tiene como objetivo comprender, a través del psicoanálisis, el papel de las
relaciones de género y la sexualidad en las manifestaciones orales y visuales de los aficionados
del Clube Atlético Mineiro y del Cruzeiro Esporte Clube, los dos principales clubes de Belo
Horizonte, Minas Gerais. Abarca un poco de la historia del fútbol, sus significados y
contradicciones en la construcción del imaginario social brasileño, pasando también por un
acercamiento más profundo a los aficionados y grupos de aficionados al fútbol en general, sus
características y peculiaridades. Luego de abordar conceptos psicoanalíticos como castración,
complejo de Edipo, identificación y psicología de grupo, analizamos, utilizando la metodología
de análisis de contenido desarrollada por Bardin, muestras de gritos, canciones, expresiones
comunes, memes e imágenes que se componen de elementos que atribuyen lo femenino,
características homosexuales al rival y también manifestaciones que representan el equilibrio
de poder entre los equipos y los aficionados a través de una metáfora que evoca una escena de
relación sexual. Finalmente, llegamos a la conclusión de que el entorno grupal de los fans
permite un aflojamiento de las barreras que restringen las pulsiones homoafectivas (Trieb) que
son naturales y constitutivas de la identificación masculina de su libre circulación, mientras
que dichas manifestaciones en cuestión pretenden proyectar al adversario lo que uno pretende
excluir de sí mismo para mantener una ficción sobre la masculinidad heteronormativa.
4 METODOLOGIA E ANÁLISE.........................................................................................31
4.1 Metodologia.......................................................................................................................31
4.2 Análise e discussão de dados.............................................................................................33
4.2.1 A metáfora da relação sexual como atualização do balanço de poder entre as
torcidas....................................................................................................................................33
4.2.2 A atribuição do feminino ao rival..................................................................................37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................44
REFERÊNCIA........................................................................................................................46
10
1 Introdução
Este trabalho toma como inspiração um estranhamento pessoal de algo que acontece,
por exemplo, em um domingo de campeonato de futebol, um grande clássico1 estadual como
Atlético Mineiro contra Cruzeiro, ao se deparar com cantos, gritos e outras expressões de
torcedores que se utilizam do artifício de feminizar o adversário – como o uso do termo “franga”
dos cruzeirenses para os atleticanos, e do termo “maria” dos atleticanos para se referirem aos
cruzeirenses. Mais estranho ainda é a tendência de aludir ao sexo anal em forma de metáfora
para compor um cenário simbólico de dominância do vencedor sobre o perdedor, através da
expressão de “comer o cu” do adversário para aludir à vitória na partida – onde os vencedores
ocupam uma posição “ativa” e os perdedores uma posição “passiva” nessa metáfora sexual.
Este estudo pretende analisar, com base na teoria psicanalítica, o papel de manifestações
de cunho homofóbico e sexista, e sua relação com o fenômeno grupal das torcidas. É essencial
a ressalva de que não se pretende restringir este fenômeno somente às torcidas organizadas.
Cada torcida, de forma geral, dispõe de cantos, gritos e manifestações que se generalizam para
além dos membros de uma torcida organizada e muitas vezes são cantadas por um estádio
inteiro. As principais torcidas organizadas dos clubes têm um papel fundamental na imagem e
na performance da torcida nas partidas de futebol, sendo bastante influentes na composição do
imaginário dos torcedores para com seus “clubes do coração”. A relevância deste estudo se
baseia no pressuposto de que o machismo, a LGBTQIAP+fobia e o racismo são temas de
importância incomensurável para pensarmos os problemas de nossa sociedade e propostas para
transformar essas relações de opressão historicamente estruturantes da sociedade ocidental e
sua moralidade.
O foco da análise pretende se concentrar nos elementos que remetem aos conteúdos
sexuais e de gênero encontrados em expressões orais e imagéticas das torcidas do Clube
Atlético Mineiro e do Cruzeiro Esporte Clube. Não será tratado especificamente sobre o
racismo, por compreender que este tema pertencente ao espectro de opressões que fundam de
forma sangrenta a sociedade brasileira, já não é tão presente nos cantos, gritos e manifestações
de torcidas brasileiras como a temática de gênero e sexualidade, embora se veja diversas
ocorrências de discriminação racial em estádios. O racismo como marca imponente da estrutura
1
Um clássico se refere à partida entre dois grandes rivais. No Brasil, rivalidades se constroem normalmente entre
equipes de uma mesma cidade. Em países como Inglaterra e Alemanha, muitas rivalidades se dão entre clubes de
cidades ou regiões vizinhas.
11
do Brasil e sua história reflete-se nas origens do futebol no país e inclusive atravessa a história
de formação de diversos clubes no Brasil, tanto por clubes que rejeitavam negros e clubes
formados por negros (LUCCAS, 1998; MASCARENHAS, 1993). Existem inúmeros episódios
de racismo envolvendo torcidas, dirigentes e outros profissionais ligados ao futebol e seus
eventos, que não devem ser considerados casos isolados2. Contudo, talvez pelo caráter bastante
popular da Galoucura e da Máfia Azul, principais torcidas organizadas do Atlético Mineiro e
Cruzeiro, respectivamente, expressões racistas se mostram raras em seus cantos e demais
manifestações. Estudar o racismo no futebol é estudar as raízes da popularização do esporte no
Brasil (LUCCAS, 1998), e renderia importantes estudos para compreender o atravessamento
de elementos culturais e estruturais em âmbitos mais específicos como dentro dos estádios de
futebol – assim como se pretende aqui, no que tange ao gênero e à sexualidade em sua dimensão
própria e compartilhada.
Vale ressaltar que não há uma vasta quantidade de produções acadêmicas voltadas para
esse tema, e, dada sua interseção com aspectos que envolvem a emergente necessidade de se
investigar e combater práticas discriminatórias e opressivas, acreditamos se tratar de uma
produção necessária. O conhecimento que se produzirá nesta pesquisa fortalecerá a
compreensão dos desdobramentos do machismo e da homofobia em um setor de enorme apelo
popular – que além de palco da discriminação, também pode e deve ser palco de uma
transformação de dentro (dos estádios) para fora. Este trabalho poderá contribuir para o campo
acadêmico da Psicologia por utilizar-se de um conteúdo considerado vulgar e que passa
despercebido como apenas mais uma forma de violência simbólica, tais como as expressões
sexistas, homofóbicas e referentes às representações genitais e anais, mas que operam em forma
de metáforas a disputa subjetiva dos grupos que entoam as canções e provocam seus adversários
utilizando-se de tal conteúdo.
Também toma parte como motivação deste estudo um dos princípios fundamentais do
Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005, p. 7), a saber: “O psicólogo atuará com
responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica,
social e cultural”. Compreende-se que a produção de conhecimento aqui desenvolvida pretende
a transformação da realidade das opressões de gênero e sexualidade, e que uma possível
intervenção no fenômeno do futebol e da cultura de estádios depende da compreensão de suas
2
Ver o trabalho do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, disponível em:
https://observatorioracialfutebol.com.br/.
12
3
“A identificação é conhecida pela psicanálise como a mais remota expressão de um laço emocional com outra
pessoa” (FREUD, 1996b, p. 115).
13
4
DA MOTTA, Roberto. Esporte na Sociedade: Um Ensaio sobre o Futebol Brasileiro. In: DA MATTA, Roberto
et alii. Universo do Futebol: esporte e sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982, p. 29.
14
de borracha (LUCCAS, 1998). As primeiras ligas e campeonatos surgem nas grandes cidades,
de modo que a partir da década de 20, diversas das unidades federativas já possuíam seus
campeonatos, criando grande impacto na formação de identidades nos grandes centros urbanos
(MASCARENHAS, 2012).
Não se pode permitir uma abordagem da história do futebol no Brasil sem que suas
contradições sejam evidenciadas, para que não se corra o risco de alimentar nem um mítico e
saudosista “futebol raiz” que muitos se utilizam na atualidade para objetar uma aproximação
crítica do futebol, nem alimentar o negacionismo do racismo constituidor da história do Brasil.
Tal como alerta Luccas (1998, p. 31),
o futebol apresenta-se como elemento independente das relações nas sociedades onde
se desenvolveu, a ponto de ser considerado, simplesmente, um esporte. Esta
independência estrutural esconde a história de seu próprio desenvolvimento e procura,
de certa forma, retomar a ancestralidade e presença do jogo em todas as culturas,
apelando para um saudosismo e romantismo. Mas, procedendo desta forma, oculta e
aliena as relações sociais, políticas e econômicas que determinam o fenômeno. [...] Na
medida em que o futebol impõe aos seus praticantes a ilusão de igualdade, ele ultrapassa
as fronteiras do esporte e ganha as massas populares, perpetuando-se definitivamente
entre elas como grande fenômeno do século.
José Miguel Wisnik (2008, p. 404) aborda tais contradições com uma analogia de
Machado de Assis, para a literatura, e Pelé para o futebol:
Wisnik (2008) aponta para uma “dupla cena” do início no futebol no Brasil: sua
dimensão “visível”, do futebol como uma fina importação cosmopolita britânica, praticada pela
elite em clubes bem gramados, isolados do povo. A cena visível se mostrou pretensiosamente
(pseudo)helenista, com ares eugenistas e orgulhosamente classistas, que seria frustrada por uma
disseminação implacável nas ruelas e “campos pelados”, uma abrupta, porém “invisível” e “[...]
insuspeitada tomada simbólica do campo futebolístico brasileiro por negros e mulatos”
(WISNIK, 2008, p. 204). Uma “radiografia” do futebol no Brasil permite - a partir da
comparação de Machado e Pelé por Wisnik (2008, p. 406) - fazer “[...] o país saltar aos nossos
olhos como melhor do que ele mesmo”, por conter nele todas as contradições e ao mesmo tempo
as potencialidades, por representar estética e logicamente modos de pensar (e de jogar) no
terceiro mundo, diante do imprevisível ou da necessidade do improviso:
15
o futebol é [...] o saldo ambivalente desse déficit, seu veneno e seu remédio prodigioso.
Seria mais um mecanismo de fuga entre outros se não fosse, ao mesmo tempo, o campo
em que a experiência brasileira encontrou uma das vias privilegiadas para atravessar o
seu avesso e a tocas as fraturas traumáticas que nos constituem e permanecem em nós
como um atoleiro. Ele é a confirmação do paradoxo da escravidão brasileira como um
mal nunca superado e, ao mesmo tempo, como um bem valioso em nossa existência,
não pela escravidão enquanto tal - o que é óbvio e gritante aos céus -, mas pela
amplitude de humanidade que desvelou. Por isso mesmo, ele figura como redenção e
como falha irresolvida, como o remédio irremediável em que pendular, a incapacidade
de estender os seus dons vitoriosos e potentes às outras áreas da vida nacional - em
especial à educação e à política, com implicações para todo o resto. E a mesma cegueira
faz com que se queira gozar os seus efeitos como se fossem dados de presente e desde
sempre e que se recuse a reconhecer o custo permanente de sua construção (WISNIK,
2008, p. 407-408).
Uma torcida de futebol pode ser definida como o público, de forma geral, que vai ao
estádio para assistir a uma partida, seja por identificação a um determinado clube, seja para
apoiar o time ou simplesmente apreciar a disputa entre as equipes. Já uma torcida organizada
(TO) pode ser definida como um grupo estruturado, muitas vezes com distintos níveis
hierárquicos e/ou diferentes funções distribuídas entre seus membros, que possui como
principal objetivo mostrar-se como referência na torcida, sempre presente nos estádios em apoio
ao seu clube. Torcidas organizadas de um mesmo clube podem ser bastante diferentes entre si,
em termos de coesão ou da origem de seus membros. Há torcidas que levam para os estádios
pautas sociais, como o combate ao racismo, ao machismo, ao elitismo e à homofobia, enquanto
outras abominam sua associação a qualquer pauta politizadora. Mesmo assim, é relativamente
comum ver torcidas organizadas envolvidas em campanhas sociais de arrecadação de recursos
para apoiar comunidades ou determinadas causas – o que por si só revela uma dimensão do
fator “extracampo”, ou para além do esporte, que muitas torcidas acabam por enredar-se.
podemos vê-lo como uma prática humana onde o conflito, instalado entre dois lados
em oposição, sempre se fez atualizável e representável através do jogo. Esta espécie de
conflito admite uma terceira posição: a dos espectadores, diretos ou indiretos. De
qualquer forma, portanto, é possível admitirmos a presença de expectativas e de algum
meio de expressão, em relação ao resultado do conflito (LUCCAS, 1998, p. 46).
Conforme aponta Toledo (1993, p. 20), “a fruição do futebol consiste também em uma
experiência da ordem do vivido e do falado; fenômeno recorrente do imaginário popular
acionado verbalmente no discurso cotidiano e que é recriado e reinventado diariamente através
5
A título de exemplo, ver: Pimenta, 2000; Moraes, Moraes, 2021; Santos, 2010, Silva, Barbosa, 2017.
6
ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Lisboa, DIFEL, 1992.
18
de uma linguagem que transcende o tempo e o espaço ritualístico do momento de cada partida”.
Nas palavras de Barison (2010, p. 89), no ritual do conflito futebolístico “[...] o mais fantástico
é que depois de apurado o vencedor e o derrotado, o próximo jogo recomeça no zero a zero,
dando a chance de um eterno recomeço.”
No que tange à dimensão de gênero no futebol e suas torcidas, ainda que se constate
uma abundante presença feminina nos estádios na atualidade, a topografia da cultura
futebolística ainda delimita distinções de gênero7, de forma que suas normas e representações
indicam que os ambientes que respiram o futebol são eminentemente masculinos. Conforme
aponta Júnior (2019), a situação de discrepância e desigualdade que coloca a mulher abaixo no
mercado de trabalho também ataca as jogadoras de futebol, tanto no quesito financeiro quanto
no que tange à representatividade feminina. Este autor realiza um levantamento de capas de
revistas que revela a baixa representatividade das mulheres com relação ao esporte por elas
praticado, e a predominância de sua representação sexualizada e como acompanhantes de
atletas famosos (JÚNIOR, 2019). Martins (2017) aponta, a partir de relatos coletados de
torcedoras paulistas, que torcedoras têm de seguir “códigos de conduta” específicos e ditados
pela cúpula masculina da TO da qual faziam parte, e deveriam segui-lo no intuito de ter
reconhecida sua presença e adesão à torcida. Para reforçar os pressupostos já explicitados sobre
masculinidade e feminilidade, uma devida consideração da categoria gênero, segundo Santos
(2012, p. 2), deve-se ter em mente que
Para além da hierarquia com base nas relações de gênero, as torcedoras devem também
submeter-se à prática de cantos machistas direcionados ao adversário. Essa recorrente
modalidade de provocação se dá através da “feminização” do jogador ou torcedor rival, com o
objetivo de irritá-lo e diminuí-lo, atribuindo-lhes substantivos, pronomes e adjetivos que se
associam ao feminino dentro desse mosaico representacional da disputa de gênero. O caráter de
7
Ver o trabalho de Leda Maria da Costa (2006): “O que é uma torcedora? Notas sobre a representação e auto-
representação do público feminino de futebol”, e Mariana Zuanetti Martins (2017): “Mulheres torcedoras de
futebol: questionando as masculinidades circulantes nas arquibancadas”.
19
8
AUAD, Daniela. Educar meninas e meninos: relações de gênero na escola. São Paulo: Ed. Contexto, 2006.
20
que, segundo Júnior (apud WISNIK, 2019)9, normalmente não se reproduzem em outras
situações do cotidiano.
Apesar de existirem hoje iniciativas que visam maior representatividade feminina, pelo
respeito à diversidade sexual e o combate de opressões no futebol11, a maior parte do conteúdo
sobre essa questão são notícias que relatam episódios de violência contra pessoas LGBTQIAP+,
como por exemplo, uma matéria publicada pelo portal do Observatório da Discriminação Racial
no Futebol (2017), onde torcedoras do Clube Atlético Mineiro e do Cruzeiro Esporte Clube
relatam suas experiências de discriminação dentro dos estádios. Este tema poderia render um
novo capítulo para este trabalho, ou, por si, inúmeros outros trabalhos. No entanto, não integra
o objetivo dessa pesquisa. Mas há de se ressaltar, felizmente, que “a invisibilização ou
depreciação do feminino em diversos espaços, sejam acadêmicos ou esportivo, têm sofrido com
os impactos de movimentos sociais que, tal como o feminismo (nas suas mais diversas
correntes), ora reivindicam igualdade ora diferenciação” (PISANI; KESSLER, 2022).
Conforme aponta Ceccarelli (2015, p. 2),
pai, mãe, paternidade e maternidade são funções sociais, cujos conteúdos se redefinem
ao longo do tempo e da história. A contemporaneidade tem, sem dúvida, nos levado a
uma profunda revisão desses conceitos. Um dos principais promotores dessas
9
WISNIK, José Miguel. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
10
PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Torcidas organizadas e futebol: violência e auto-afirmação - aspectos
teóricos da construção das novas relações sociais. Taubaté: Vogal, 1997.
11
Dentre as iniciativas de atleticanxs, cito: Galo Queer, Grupa, Universo Feminino Alvinegro (UFA), Resistência
Alvinegra, Força Atleticana Revolucionária. De cruzeirenses, cito: Marias de Minas, Resistência Azul Popular
(RAP).
21
À medida que este trabalho se inclina sobre um material com características específicas
(presença de aspectos referentes ao gênero e sexualidade) que, a princípio, pouco ou nada tem
a ver com a prática do futebol em si, pode-se apostar que a presença dessa temática nos materiais
a serem analisados se explica a partir de elementos subjacentes à enunciação ou exibição dos
mesmos. Qual a relação entre o futebol, ou seja, a competição esportiva e a representação da
mesma através de um conteúdo sexual, ou que coloca em questão uma diferença entre o
masculino e o feminino, ou o heterossexual e o homossexual? Por que esta forma e não outra
de representar o conflito?
Tal reviravolta conceitual foi de tamanho impacto para a ciência que viria a se
desenvolver no século XX que o trabalho de Freud foi colocado juntamente com os de Nicolau
Copérnico (1473-1543) e Charles Darwin (1809-1882) como o terceiro golpe narcísico da
humanidade, por sedimentar o lugar protagonista da racionalidade no conhecimento do ser
humano sobre si mesmo e por “[...] fazer da consciência um mero efeito de superfície do
inconsciente” (GARCIA-ROZA, 1985, p. 21). Luccas (1998, p. 87), citando o psicólogo Luís
Cláudio Figueiredo12, afirma que “[...] é provável que nenhum dos outros saberes
contemporâneos tenha expressado melhor e mais fundamentalmente a falência do sujeito da
12
FIGUEIREDO, Luís Cláudio Mendonça. Revisitando as psicologias: da epistemologia à ética das práticas e
discursos psicológicos. São Paulo: EDUC; Petrópolis/RJ: Vozes, 1995, p. 21.
23
Para compreender adequadamente as origens deste conflito, primeiro, optou-se por uma
explanação mais geral acerca da sexualidade infantil e os processos de constituição psíquica do
sujeito. Sem dúvida, um dos principais feitos de Freud foi o de combater através de sua ciência
toda crença ou o tabu da sexualidade infantil, através do reconhecimento da naturalidade e
normatividade da pulsão13 sexual14 na infância. Em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade
(FREUD, 1905/1996a), publicado em 1905, Freud causa um verdadeiro reboliço dentro do
paradigma científico de sua época, por, no primeiro capítulo, discorrer sobre a frágil ligação
entre a pulsão sexual (libido15) e o objeto sexual (a proveniência da atração sexual),
contribuindo para a despatologização da homossexualidade, ou, no vocabulário arcaico do
autor, a retirada da “inversão” do espectro da “degeneração” (FREUD, 1905/1996a). O segundo
capítulo dessa obra já explora a sexualidade infantil propriamente dita, rompendo com a
concepção popular de que a sexualidade estaria ausente na infância. O pai da psicanálise aponta
para as formas de manifestação da sexualidade infantil, através do “chuchar” (sugar com
13
Segundo Garcia-Roza (1985), a pulsão se refere a um construto teórico que não diz respeito a uma realidade
observável, mas um conceito que serve para a psicanálise para delimitar a intermitência do inconsciente. Para o
autor, “são puras construções teóricas ou, se preferimos, ficções teóricas que permitem e produzem uma
inteligibilidade distinta daquela fornecida pela descrição empírica. Esses conceitos não descrevem o real, eles
produzem o real; ou, se quisermos, eles permitem uma descrição do real segundo um tipo de articulação que não
pode ser retirado desse próprio real enquanto “dado” (GARCIA-ROZA, 1985, p. 115). Segundo Freud (apud
GARCIA-ROZA, 1985, p. 116), “é “um conceito situado na fronteira do mental e o somático”; ou ainda, “é o
representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente”.”.
14
“O fato da existência de necessidades sexuais no homem e no animal expressa-se na biologia pelo pressuposto
de uma “pulsão sexual”. Segue-se nisso a analogia com a pulsão de nutrição: a fome. Falta à linguagem vulgar [no
caso da pulsão sexual] uma designação equivalente à palavra “fome”; a ciência vale-se, para isso, de “libido”
(FREUD, 1905/1996a, p. 128).
15
“Estabelecemos o conceito de libido como uma força quantitativamente variável que poderia medir os processos
e transformações ocorrentes no âmbito da excitação sexual. Diferenciamos essa libido, no tocante a sua origem
particular, de energia que se supõe subjacente aos processos anímicos em geral, e assim lhe conferimos também
um caráter qualitativo. Ao separar a energia libidinosa de outras formas de energia psíquica, damos expressão à
premissa de que os processos sexuais do organismo diferenciam-se dos processos de nutrição por uma química
especial. [...] Vemo-la então concentra-se nos objetos, fixar-se neles ou abandoná-los, passar de uns para outros e,
partindo dessas posições, nortear no indivíduo a atividade sexual que leva à satisfação, ou seja, à extinção parcial
e temporária da libido” (FREUD, 1905/1996a, p. 205-206).
24
16
“O chuchar [Ludeln ou Lutschen], que já aparece no lactente e pode continuar até a maturidade ou persistir por
toda a vida, consiste na repetição rítmica de um contato de sucção com a boca (os lábios), do qual está excluído
qualquer propósito de nutrição. Uma parte dos próprios lábios, a língua ou qualquer outro ponto da pele que esteja
ao alcance - até mesmo o dedão do pé - são tomados como objeto sobre o qual se exerce essa sucção” (FREUD,
1905/1996a, p. 169).
17
“Como traço mais destacado dessa prática sexual, salientamos que a pulsão não está dirigida para outra pessoa;
satisfaz-se no próprio corpo, é auto-erótica” (FREUD,1905/1996a, p. 170).
18
Transgressões, aqui, referem-se ao alastramento da possibilidade de extração de prazer para todas as partes do
corpo: “somente em raríssimos casas a valorização psíquica com que é aquinhoado o objeto sexual, enquanto alvo
desejado da pulsão sexual, restringe-se a sua genitália; ele se propaga, antes, por todo o seu corpo, e tende a
25
que, conforme a idade da criança, os diques anímicos contra os excessos sexuais - a vergonha,
o asco e a moral - ainda não foram erigidos ou estão em processo de construção” (FREUD,
1905/1996a, p. 180). Os “diques anímicos” referem-se ao Freud (1905/1996a) atribui em grande
parte à educação em um sentido moralizante, recriminatório e tolhedor das manifestações
sexuais da infância, responsáveis por produzir os referidos “excessos”.
abranger todas as sensações provenientes do objeto sexual. A mesma supervalorização irradia-se pelo campo
psíquico e se manifesta como uma cegueira lógica (enfraquecimento do juízo) perante as realizações anímicas e
as perfeições do objeto sexual, e também como uma submissão crédula aos juízos dele provenientes. Assim é que
a credulidade do amor passa a ser uma fonte importante, se não a fonte originária da autoridade” (FREUD,
1905/1996, p. 142).
26
de uns e a não posse por parte de outros (NASIO, 1997). Representa a clivagem deste estado
psíquico originário, e constitui um dos tempos do chamado complexo de Édipo. Este, por sua
vez, consiste na teorização de Freud, baseado na tragédia sofocliana do Édipo Rei 19, sobre o
momento da infância em que a criança já não se percebe como sendo essa unidade acabada e
perfeita com a figura materna (NASIO, 2007). Findo o primeiro momento do Édipo, o período
imaginário da relação especular com a figura materna, passa-se ao segundo momento em que
há a interdição da figura paterna à relação - que tanto pode ser de fato o pai quando qualquer
outro foco do olhar da mãe (GARCIA-ROZA, 1985). A entrada deste terceiro marca o fim de
um movimento libidinal voltado para a própria psique para o investimento em um Outro
alienado do corpo da criança. Somado à crescente descoberta das zonas erógenas, a criança se
vê diante um desejo incestuoso para com a figura materna e uma dramática e ambígua
hostilidade para com a figura paterna:
O menino nota que o pai se coloca em seu caminho, em relação à mãe. Sua identificação
com ele assume então um colorido hostil e se identifica com o desejo de substituí-lo
também em relação à mãe. A identificação, na verdade, é ambivalente desde o início;
pode tornar-se expressão de ternura com tanta facilidade quanto um desejo do
afastamento de alguém (FREUD, 1921/1996b, p. 115).
o único valor desse desejo insensato de ir para a cama com a mãe e matar o pai é ser a
alegoria do louco desejo de retorno ao estado original de beatitude intrauterina. Para a
psicanálise, cada um de nossos desejos cotidianos – o prazer sensual de contemplar um
quadro ou acariciar o corpo do amado, por exemplo -, cada um desses desejos tenderia,
de um ponto de vista teórico, insisto, para a felicidade perfeita de que gozariam dois
seres conjugados em Um.
19
““Édipo Rei” é a tragédia emblemática do teatro grego e, em conjunto com Romeu e Julieta e Hamlet, de
Shakespeare, constitui a peça mais conhecida da literatura ocidental. Sua reputação cresceu ainda mais depois que
Freud tirou o herói do palco e o deitou no divã, nomeando a partir dele o complexo que descreve a atração que
todo filho sente em algum momento por sua mãe. É preciso, no entanto, distinguir o Édipo freudiano do sofocliano.
À ignorância, e não ao inconsciente, devem-se creditar as ações do herói, que consuma o casamento com Jocasta,
sua mãe, desconhecendo o vínculo de parentesco que os une. É isso justamente que torna a história de Édipo
paradigmática, pois, em vista de seu conhecimento limitado e limitante, os homens estão condenados a tatear na
escuridão” (DUARTE, 2018, p. 10).
20
Nasio (2017) expõe com clareza nesta obra o processo edípico do menino e da menina. Reforço que neste
momento e para os fins deste trabalho, o processo do complexo de Édipo vivido pelo menino parece mais pertinente
para se compreender um ambiente dominado pela masculinidade e suas produções opressoras.
27
ocupa a posição de falo, primeiro objeto que suplanta a “falta” constatada no corpo feminino
(NASIO, 2007). Ei-lo, o complexo de castração: o processo que coloca a criança diante da
necessidade de se posicionar diante do gozo impossível. “Ao renunciar à mãe, dessexualiza
globalmente os dois pais e recalca desejos, fantasias e angústia. Aliviado, pode agora abrir-se a
outros objetos desejáveis, mas dessa vez legítimos e adaptados às suas possibilidades reais”
(NASIO, 2007, p. 37).
No menino, o complexo de Édipo chega à sua resolução quando a criança sucumbe ante
a angústia de castração, a experiência inconsciente que anuncia sua desistência do desejo
primordial de possuir a mãe (NASIO, 2007). Insta à criança, a partir deste momento, a
necessidade de direcionar seu desejo para os objetos dispostos no mundo externo à verdade
parental, para os objetos dispostos pela cultura a qual se insere:
uma vez consumada a ruptura, o eu deve seguir seu caminho com a marca indelével
que este processo inscreverá nele: a precariedade, a falta. Certamente, a irredutível
necessidade de abdicar de suas fantasias primárias de fusão [...] impõe à consciência a
sujeição às interdições culturais. Assim, a psique abre-se para o mundo, aceitando seu
convite no sentido de investir afetiva e incessantemente os objetos e horizontes que ele
desvela: as significações socialmente constituídas, os outros, os valores, os ideais que
constituirão formas tardias de identificação (PAIVA, 2009, p. 266).
Ernest Becker (2021) em sua obra “A negação da morte”, propõe uma releitura da
psicanálise visando compreender a constituição psíquica do sujeito não a partir das “fórmulas
sexuais” de Freud e sim através repressão da morte. Em seu esforço reflexivo sobre o período
da diferenciação sexual, postula acerca do caráter frágil e limitador que tal diferenciação
infringe sobre a criança que, neste período, carece dos recursos culturais para se proteger de um
mundo assombrado pela finitude inescapável:
O problema não está tanto no fato de a criança perceber que nenhum dos dois sexos é
“completo” em si mesmo ou de ela compreender que a particularidade de cada sexo é
uma limitação de potencial, uma derrota para a fantasia de viver a plenitude sob certas
formas - ela não pode mesmo saber dessas coisas ou senti-las plenamente. O que
acontece é que não se trata de um problema sexual; ele é mais global, sentido como a
maldição da arbitrariedade que o corpo representa. [...] Trata-se de uma queda da ilusão
para a dura realidade. É um horror de assumir um imenso fardo novo, o fardo do
significado da vida e do corpo, da fatalidade da imperfeição do indivíduo, de sua
impotência, de sua finitude (BECKER, 2021, p. 64).
Em seguida, prossegue:
A pessoa é tanto um eu como um corpo, e desde o começo há uma confusão sobre onde
“ela” realmente “está” - no simbólico eu interior ou no corpo físico. Cada um destes
reinos fenomenológicos é diferente. O eu interior representa a liberdade de pensamento,
a imaginação, e a esfera infinita do simbolismo. O corpo representa determinismo e
confinamento. A criança vai aprendendo aos poucos que a sua liberdade é entravada
pelo corpo e seus apêndices, que ditam “o que” ela é (BECKER, 2021, p. 65).
28
Ceccarelli (1998) aponta para o caráter não natural, não objetivo tanto da masculinidade
quanto da feminilidade, e que as prescrições de gênero são construídas a partir do arcabouço
simbólico que cada sociedade porta ao longo do tempo e espaço, sendo constantemente alvos
de crises e revisões. A masculinidade, portanto, se dá através de um processo de “aquisição”
mediante uma relação bilateral: tanto no movimento de investimento que o filho pode fazer em
direção ao pai para de alguma forma “ser como ele” quanto na esfera qualitativa e quantitativa
do investimento paterno ao filho, que, por sua vez, se dá pela reatualização - mais ou menos
elaborada - dos conflitos desse pai com seu próprio pai (CECCARELLI, 1998). O pai, ou a
figura paterna, torna-se um portador de um arsenal de símbolos para o menino, fazendo com
que, do ponto de vista deste, o pai se torne “[...] objeto de investimento erótico e representante
do mundo masculino, oferecendo este mundo para o menino se identificar. Isto é gerador de
conflito, pois, ao mesmo tempo em que o menino tem que ser homem e, portanto, desejar
mulheres, tem que amar os homens para se identificar com eles” (BARISON, 2010, p. 87).
Entretanto, é sempre válido a elucidar “[...] o quanto a noção de família, paternidade e
masculinidade são dependentes do momento sócio-histórico e da cultura analisada”
(CECCARELLI, 2015).
tais valores patriarcais. Por se tratar de um esporte cujos eventos são frequentados
majoritariamente pelo público masculino, há de se constatar que muito de sua produção de
símbolos, cantos, gritos, imagens, memes, etc, irão se constituir através de valores e ideais
heteronormativos. Esse termo, por sua vez, pode ser compreendido “como um arsenal de
normas, regras, posicionamentos e controle que impõe padrões no que diz respeito ao controle
da sexualidade, tendo a heterossexualidade como norma” (JÚNIOR, 2019, p. 8).
Mas é no “[...] fato fundamental de que o indivíduo num grupo está sujeito, através da
influência deste, ao que com frequência constitui profunda alteração mental” (FREUD,
1921/1996b, p. 99) que se poderá explicar a emergência de certos comportamentos e
manifestações de torcedores. Dessa forma, pode-se muito bem apreender um ponto de partida
para a compreensão de diversos fenômenos, da violência física à verbal, mas também das
30
Dessa forma, o grupo pode ser um meio eficiente por provocar o afrouxamento de certas
barreiras impostas pelas normas de sociabilidade, de modo a viabilizar a circulação de afetos
com maior liberdade: “como a nação é representada no futebol como uma irmandade passional,
ela é obrigada a distinguir sua própria homossociabilidade da mais explicitamente sexualizada
relação entre homens, o que requer a identificação, o isolamento e a contensão do
homossexualismo masculino” (SOUZA, 1996, p. 115).
21
DAOLIO, Jocimar. O drama do futebol brasileiro - uma análise sócio-antropológica. Revista Paulista de
Educação Física, 1997.
31
4.1 Metodologia
torcedor atleticano, foi solicitado ao círculo de amigos cruzeirenses mais próximo que
auxiliassem no processo de coleta de materiais de análise produzidos por torcedores do
Cruzeiro, compatíveis com a ideia da pesquisa. Em seguida, a psicanálise serviu-se de lente
teórica para a finalidade de se desenvolver um esforço interpretativo dos elementos coletados.
Foram elaboradas duas categorias de análise dentre diversas possibilidades que para este
trabalho podem ser suficientes para uma primeira abordagem dos atravessamentos das relações
de gênero e sexualidade nas manifestações de torcedores de futebol. Partindo do estranhamento
que motiva a seleção do tema de pesquisa, planejou-se que as duas categorias se constituam
através da identificação de modalidades de manifestação discursivas e representativas da
estrutura de poder cis-heteronormativa. A primeira categoria compreende os fenômenos que
têm em comum o operador alegórico da relação sexual como forma de simbolizar a disputa
entre torcidas. A segunda categoria de análise compreende as manifestações de torcidas que se
utilizam de substantivos, pronomes e adjetivos do gênero feminino para se referirem aos rivais.
Categoria 1 Categoria 2
22
D’UNRUG, Marie Christine. Analyse de contenu et acte de parole. Ed. Universitaires, 1974.
33
4.2.1 A metáfora da relação sexual como atualização do balanço de poder entre as torcidas
A primeira categoria de análise para que seja possibilitada a construção de uma análise
é aquela se que constitui por metáforas de relações sexuais. Parte-se do pressuposto, conforme
apontado anteriormente, de que a vivência das torcidas e seus papéis na constituição do
fenômeno do futebol constitui-se de uma dimensão ritualística (JÚNIOR, 2019), como “[...]
prática humana onde o conflito, instalado entre dois lados em oposição, sempre se faz
atualizável e representável através do jogo” (LUCCAS, 1998, p. 46).
Fonte: WhatsApp
Pode-se constatar que há na metáfora da relação sexual oral uma inversão das posições
de privilégio tal como concebidas socialmente pela cultura machista: na relação sexual
penetrativa, a posição privilegiada é a de quem penetra (posição ativa) e a desprivilegiada é a
de quem é penetrado (posição passiva). Já na concepção da relação sexual oral, quem ocupa a
posição de sucção é desprivilegiado (posição ativa), e quem recebe a sucção ocupa uma posição
de privilégio (posição passiva), atestando o aspecto altamente falocêntrico das formas como a
metáfora sexual serve de matriz para a simbolização da disputa entre as torcidas. Pode-se
afirmar, portanto, que nestes cenários simbólicos o personagem que representa posição do
vencedor passa a ser reconhecido como o detentor do falo, neste caso, diretamente associado
ao reconhecimento pela posse do pênis. Segundo Lima (2022, p. 99), “[...] na constituição da
masculinidade, o pênis é tomado como um centro de controle corporal, permitindo uma ilusão
de mestria do portador sobre o seu órgão, ilusão que se encontra na base da construção da
virilidade”. O perdedor, por sua vez, tem revogada sua possibilidade de possuir o falo, e assume
a posição de proporcionar o gozo do vencedor, e fica identificado com características e posições
socialmente atribuídas ao feminino, como a submissão, fragilidade, passividade, cuidado, etc
(AUAD apud SANTOS, 2012, p. 4)24.
23
A alusão ao sexo oral aqui faz menção a uma expressão típica do meio do futebol que é a do ato de “secar”, que
se trata do ato de torcer contra um rival em outro jogo. Aqui o secador alude a esta expressão e representa um
pênis. Trata-se de uma “figurinha” de WhatsApp e pode ser utilizada em uma situação em que se pretende provocar
um cruzeirense que torceu para um outro time que estava jogando contra o Atlético, mas não obteve sucesso.
24
AUAD, Daniela. Educar meninas e meninos: relações de gênero na escola. São Paulo: Ed. Contexto, 2006.
35
Fonte: WhatsApp
“Memorial 6x1” refere-se ao maior placar de uma vitória do Cruzeiro sobre o Atlético.
A expansividade do placar parece refletir na produção da representação sexual, em forma de
uma cena de uma relação sexual violenta, invasiva, como um estupro. Metaforizar a partida de
futebol, seus ápices - o gol, a definição do lado vencedor -, tem como possibilidade de ser
explicada, considerando os moldes patriarcais e o compartilhamento das normas estruturantes
25
Canto da Máfia Azul para a torcida do Atlético.
36
Becker (2021) aponta para os meios pelos quais o ser humano constitui seu sentimento
de valor próprio mediante a formulação compartilhada de símbolos, sendo muitos desses
símbolos oriundos do próprio estranhamento diante do mistério do corpo humano. O autor
indica no conceito de “analidade” - compreendendo o ânus como um locus simbólico do asco,
da finitude, da natureza em oposição à fantasia infinita e ilimitada - a possibilidade de se
compreender o anseio do ser humano de se libertar dos grilhões da natureza e o terror da morte.
Dessa forma, poder-se-ia interpretar que a evocação de um cenário simbólico em que um
vencedor ocupa a posição ativa, penetrando o ânus do perdedor como um movimento de
celebração do valor próprio, da imortalidade, ou da vitória contra o finito ou daquele que
representa a oposição à fantasia - dessa forma, jubilosamente gozando de sua imortalidade
garantida na alteridade do perdedor.
Pau no cu do Cruzeiro!
Bicharada do Brasil!
Dão o cu aonde for
Só pra ver meu pau entrar
No seu cuzão!26
26
Canto da torcida do Atlético para o Cruzeiro, evocando uma cena de sexo anal bastante explícita.
37
Conforme se constata nas amostras a seguir, uma técnica não só de provocação, mas de
simbolização do balanço de poder entre torcidas é a de representar o rival através de pronomes
e características femininas. A utilização do termo “Maria” por parte dos atleticanos para se
referirem aos cruzeirenses, e o termo “Franga” ou galinha na relação inversa é o exemplo mais
representativo deste processo de feminização no dia a dia da vivência dessas torcidas. Acredita-
se que a utilização do termo “Maria” para cruzeirenses decorre de uma intervenção de
atleticanos a pichações de membros da Máfia Azul, onde bastava uma pequena alteração na
letra F para transformá-la em uma letra R, formando a expressão “MARIA AZUL” (SIMÕES,
2019). Há uma crença de que o termo “Maria” seria decorrente de um clássico no ano de 1974
em que a equipe celeste teria jogado utilizando saias ao invés do tradicional calção,
popularizada pela foto em que o jogador atleticano caçoa do rival pela vestimenta. A versão da
saia, no entanto, não é verdadeira, e o calção do jogador do Cruzeiro apenas teria se rasgado
durante a partida. Mesmo amplamente que se saiba da não veracidade dessa versão, o mito da
saia cai como uma luva no universo de provocações entre as torcidas.
38
Já o uso do termo “Franga” ou galinha se deve ao fato de que desde o ano de 1945 o
cartunista Mangabeira criou para o Atlético Mineiro, Cruzeiro e América mascotes que
representavam características popularmente atribuídas aos estilos de jogo de cada equipe. O
mascote atleticano se tornou um Galo sob inspiração de um galo preto e branco que dominava
as rinhas de Belo Horizonte na década de 30 (CLUBE ATLÉTICO MINEIRO, 2023). Dessa
forma, bastou inverter a representação de um Galo imbatível para seu suposto contrário, como
galinha, fêmea, animal também popularmente utilizado para representar um indivíduo covarde.
Em momento algum se cogita um nome masculino para os cruzeirenses ou o termo “frango”
para os atleticanos. Um outro apelido provocativo usado por cruzeirenses para se referir aos
atleticanos é o de “Lourdinha”, decorrente do fato de que a sede do Atlético Mineiro se encontra
no bairro de Lourdes, em Belo Horizonte. “Maria, eu sei que você treme sempre que o Galo vai
jogar”, bradam os atleticanos em uma de suas canções mais populares, em que se sugere que os
cruzeirenses, feminizados, se apavoram ao jogar contra o Atlético.
39
Fonte: Pinterest
A torcida do Atlético, quando finalizada uma partida em que a rodada seguinte é uma
partida contra o Cruzeiro, costuma cantar a seguinte canção na saída do estádio:
Ô mariposa, ô mariposa
Tô com saudade da buceta da raposa!
Além de retornar à categoria de análise anterior, onde é sugerido que se busca o órgão
sexual feminino para se obter prazer, constata-se o jogo de palavras em que a palavra
“mariposa” pode ser dissecada em “Maria” + raposa (mascote do Cruzeiro). Seguindo a lógica
do artifício da feminização, este jogo de palavras vem a calhar por formar o nome de um outro
animal denominado por um substantivo feminino.
Ceccarelli (2013) aponta para a histórica primazia masculina nos ditames discursivos
sobre a sexualidade, encontrando na tradição bíblica a mitologia que culmina com a
representação da mulher (Eva) como agente do declínio da humanidade em direção ao pecado.
O ponto central de Ceccarelli (2013) ao tangenciar esta abordagem bíblica é referenciar a
fundamentação cristã da cultura ocidental, sob a influência de Agostinho de Hipona. Esse autor
medieval concebe o pecado inicial como um pecado sexual, e assim funda-se de um modelo
androcêntrico onde a mulher passa a representar uma sexualidade que precisa ser controlada
para que o homem, espiritualmente inocente, como Adão perante Eva, não seja por ela
40
Pode-se compreender que atribuir o feminino ao rival é atribuir a ele a ausência do falo.
Em uma cultura onde o discurso sobre o poder se inscreve em referência à posse do falo,
naturalmente aquele desprovido do mesmo, aquele que é castrado no real do corpo é quem deve
ocupar a posição de submissão, que deve ser detido pelo bem do próprio androcentrismo.
Fonte: WhatsApp
Na imagem acima, seu sentido só se permite servir como forma de provocação pela
presença dos escudos do Cruzeiro no personagem masculino Chico Bento e do Atlético na
personagem feminina Rosinha. Do contrário, não haveria na imagem senão uma cartilha lúdica
ideológica acerca das prescrições culturais a cada sexo, contextualizados no universo do Chico
Bento. Não obstante, referindo-se a um clássico, a presença do escudo celeste no homem e do
escudo alvinegro na mulher induz a uma designação social e culturalmente inequívoca da
proposição das posições de poder. Tratando-se de um meme feito por torcedores do Cruzeiro,
os mesmos representam a si mesmos na figura masculina, indicando uma relação de poder sobre
a mulher que representa torcedores do Atlético Mineiro. É essencial também para o sentido da
41
Fonte: YouTube
grande parte da carga de afeto é dirigida ao time do coração e aos ídolos do time. Estes
são personagens que são oferecidos ao menino como objetos para identificação. São
homens adultos exteriores ao ambiente familiar e que se pode acompanhar a vida
privada, desejar coisas boas para eles, enfim, amar. É assim que muito das cargas
homossexuais ganham contorno de naturalidade, não só sendo permitida como também
estimulada (BARISON, 2010, p. 88)
27
PINTO, Maurício Rodrigues. Torcidas livres e queer em campo: Sexualidade e novas práticas discursivas no
futebol. Disponível em: https://www.fespsp.org.br/seminario2014/anais/GT1/5_Torcidas_Livres.pdf, Acesso em:
24 mar 2018
43
Fonte: WhatsApp
privilégios são mantidos a homens cis, brancos e heterossexuais, mesmo que esses
homens em momentos liminares impostos pela realização dos jogos, rompem fronteiras
colocando seus corpos em contato direto com outros corpos masculinos, mesmo que o
outro corpo seja de um desconhecido que durante a comemoração de um gol tornam-
se uma comunidade (JÚNIOR, 2019, p. 10).
5 Considerações finais
Optou-se por percorrer neste trabalho um caminho que passasse por uma breve
aproximação pelo futebol no Brasil e suas contradições, sua incompatibilidade com um discurso
saudosista e negacionista. Trilhou-se um caminho mais detalhado sobre as peculiaridades e
contradições que se presentificam em uma torcida e toda sua complexidade. A psicanálise então
permeia a discussão através de construções teóricas como o complexo de castração e o
complexo de Édipo, para contextualizar o papel da identificação masculina no processo de
constituição subjetiva. Este processo, tal como apresentado, culmina com a emergência de um
sujeito que se vê divido, em conflito, cindido pelo desejo e sob a instancia de buscar na cultura
e no Outro os recursos para suplantar a falta do objeto de desejo primordial (PAIVA, 2009).
Mas a própria identificação é contraditória, pois a cultura prescreve que o menino tem de
aprender a ser homem – amando aos homens – para desejar as mulheres (BARISON, 2010). E
uma possibilidade de encontrar na cultura os modelos e os ambientes para lidar com a
contradição entre a pulsão e a norma é o futebol: “[...] é mais fácil investir a paixão numa
equipe, e, deste modo num clube, [...] do que num indivíduo” (ROSENFELD apud FREITAS,
2007, p. 9)28.
28
ROSENFELD, Anatol. Negro, macumba e futebol. São Paulo: Perspectiva, 1993.
45
ao rival. A vitória no jogo implica ao vencedor a posição ativa na metáfora sexual por seu
heroísmo, por sua supressão da carga pulsional atribuída como feminina, carga essa que precisa
ser domada para o mesmo fim de construção do ideal masculino e sua inserção nas normativas
sociais.
46
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 1. ed. São Paulo: Edições 70, 2011
BARISON, Osvaldo Luís. Para o gol: latência e identidade de gênero. Jornal Psicanalítico,
São Paulo, v. 43, n. 79, p. 83-99, 2010. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352010000200005
Acesso em: 23 mar 2023
BECKER, Ernest. A negação da morte. 14. ed. Rio de Janeiro: Record, 2021.
CECCARELLI, Paulo Roberto. A masculinidade e seus avatares. Catharsis, São Paulo, ano
IV, 19, p. 10-11, 1998. Disponível em: https://hypersonic2012.wordpress.com/3715-2/ Acesso
em: 27 out 2023.
COSTA, Leda Maria da. O que é uma torcedora? Notas sobre a representação e auto-
representação do público feminino de futebol. Esporte e Sociedade, Rio de Janeiro, ano 2, n
4, 2006. Disponível em: https://periodicos.uff.br/esportesociedade/article/view/48008 Acesso
em: 02 nov 2023.
DUARTE, Adriane da Silva. Sófocles e o Édipo Rei. In: SÓFOCLES. Édipo Rei. Rio de
Janeiro: Zahar, 2018.
47
FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: FREUD, Sigmund. Edição
Standard brasileiras das obras completas de Sigmund Freud: volume 7. Rio de Janeiro:
Imago, 1996a.
FREUD, Sigmund. Psicologia de grupo e análise do ego. In: FREUD, Sigmund. Edição
Standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud: volume 18. Rio de Janeiro:
Imago 1996b.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MORAES, Gustavo Hermínio Salati Marcondes de; MORAES, Olga Maria Salati Marcondes
de. Futebol e violência: Freud explica? Rio de Janeiro: Estudos e Pesquisa em Psicologia,
2012. Disponível em https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/8309/6089 Acesso em 14 out 2022.
48
NASIO, Juan-David. Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro:
Zahar, 2007.
REIS, Heloisa Helena Baldy dos; LOPES, Felipe Tavares Paes; MARTINS, Mariana Zuaneti.
As explicações de Eric Dunning sobre o hooliganismo à luz do contexto brasileiro: uma
reflexão crítica. Movimento, [S. l.], v. 21, n. 3, p. 617–632, 2015. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/index.php/Movimento/article/view/48189 Acesso em: 28 out. 2023.
PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Violência entre torcidas organizadas de futebol. São
Paulo: Perspectiva, 2000. Disponível em https://doi.org/10.1590/S0102-88392000000200015
Acesso em 18 nov 2022.
SANTOS, Heliany Pereira dos. Gênero e torcidas organizadas de futebol: notas sobre as
representações do lugar da mulher nos grupos constituídos no Brasil. In: Simpósio
Internacional Processos Civilizadores, XIV, 2012, Catalão. Civilidade, Fronteira e
Diversidade. Disponível em http://www.uel.br/grupo-
estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais14/arquivos/workshop.html Acesso
em: 14 out 2022.
SANTOS, Márcia Batista dos. Uma leitura psicanalítica sobre as torcidas organizadas de
futebol frente ao declínio da lei em tempos de violência. Revista Espaço Acadêmico, v. 10,
n. 111, p. 1-8, 2 ago. 2010. Disponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/10789 Acesso em: 19
nov. 2023.
SILVA, Hygor Ferreira da; BARBOSA, João Victor Alves. O fenômeno grupal como fator
preponderante para a violência entre torcidas organizadas. Psicologia.pt [S.l.], 2017.
Disponível em https://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?o-fenomeno-grupal-como-
49
fator-preponderante-para-a-violencia-entre-torcidas-organizadas&codigo=A1156&area=d9
Acesso em 11 maio 2023.
SIMÕES, Alexandre. Dia do orgulho LGBTI: ‘Maria’ e ‘Franga’ são colocados na marca do
pênalti pelo STJD. Hoje em Dia. Belo Horizonte, 27 jun. 2019. Esportes. Disponível em:
https://www.hojeemdia.com.br/esportes/dia-do-orgulho-lgbti-maria-e-franga-s-o-colocados-
na-marca-do-penalti-pelo-stjd-1.723931. Acesso em: 16 out. 2023.
SOUZA, Marcos Alves de. Gênero e raça: a nação construída pelo futebol brasileiro.
Cadernos Pagu, [S. l.], n. 6/7, p. 109–152, 2010. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1864. Acesso em: 2
nov. 2023.
TOLEDO, Luiz Henrique de. Por que xingam os torcedores de futebol? Cadernos de
Campo, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 20-29, 1993. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50573 Acesso em: 28 out. 2023.
WISNIK, José Miguel. Veneno e remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.